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ISSN 0102-2571

Nº 39 Nº 39 Nº 39
2019 2019 2019

Neste número
Ángel Muñoz Vicente
António Ponte
Bettina Bray
Celia Martínez Yáñez
César Augusto Angel Valencia
Cristina Escobar
Dayanara Carrasco Yépez
Guadalupe Espinosa
Libertad Troitiño Torralba
Luís Araújo
Magali Da Silva
Miguel Ángel Troitiño Vinuesa
Natalia Vázquez Cerón
Patricia Cupeiro López
Paula Silva
Peter Debrine
Rosário Correia Machado
Silvia Fernández Cacho
Silvia Martínez
Zurab Pololikashvili

Gestão turística em
sítios patrimoniais:
boas práticas internacionais
Edições
Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional

Brasília | Iphan | 2019


Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional nº 39 / 2019
ISSN 0102-2571

Gestão turística em
sítios patrimoniais:
boas práticas internacionais
Organização: Marcelo Brito
Presidente da República do Brasil Revista do Patrimônio do Iphan n° 39 Fotos
Jair Bolsonaro Luva: Sem título, série Sudário, Carlos
Organização Vergara, São Miguel das Missões (RS),
Marcelo Brito 2006.
Ministro da Cidadania
Osmar Terra Capa: Retrato de família, Paraná. Foto:
Coordenação Editorial Augusto Weiss. Acervo: Instituto Moreira
André Vilaron Salles.
Secretário Especial da Cultura
Ricardo Braga Foto contracapa: Cruz Machado,
Produção Editorial Santana (PR), 2012. Foto: Orlando
Isabella Atayde Henrique Azevedo.
Presidente do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional Falsa folha de rosto: Paraná, 1910
Direção de Arte e Diagramação (circa). Foto: Luiz Bianchi. Acervo: Casa
Kátia Bogéa Cristiane Dias (a partir do projeto da Memória de Ponta Grossa (PR).
gráfico de Victor Burton) Folha de rosto: Vista de São Luís do
Diretores do Iphan
Maranhão. Óleo sobre tela, Joseph Léon
Andrey Rosenthal Schlee Pesquisa Iconográfica Righini, 49,6 x 98,7 cm, 1863 (circa),
Hermano Queiroz André Lippmann doação da Fundação Estudar.
Marcelo Brito Bruna da Silva Ferreira Foto: Isabella Matheus. Acervo:
Marcos José Silva Rêgo Bruna Machado Ferreira Pinacoteca de São Paulo.
Robson Antônio de Almeida Isabella Atayde Henrique Página de créditos: Il Gaucho Oriental.
Oscar Liberal Grafite, nanquim e aguada de nanquim
Superintendente do Iphan no Paraná Ronaldo Nogueira sobre papel, Edoardo De Martino,
José Luiz Desordi Lautert 21 x 27cm, Coleção Martha e Erico
Edição de Imagens Stickel, Uruguai, 1871. Acervo: Instituto
Bruna Machado Ferreira Moreira Salles.
Superintendente do Iphan no
Ronaldo Nogueira
Rio Grande do Sul
Renata Galbinski Horowitz A equipe da Revista do Patrimônio
Pesquisa e Edição de textos literários agradece aos servidores do Iphan que
Bruna da Silva Ferreira se empenharam para que a nossa
Superintendente do Iphan em publicação fosse produzida da melhor
Santa Catarina Edição e Copidesque forma possível. Agradecemos também as
Liliane Janine Nizzola Mariana Moura parcerias estabelecidas com fotógrafos
e instituições, públicas e privadas, e as
Revisão e Preparação dos Textos respectivas equipes, que com dedicação
Gabriel Guimarães contribuíram para a realização deste
número.
Lucia Leiria
A Revista do Patrimônio é publicada
Versão para o inglês pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Aline Lorena Tolosa Artístico Nacional desde 1937.

Versão para o espanhol Os artigos são autorais e não refletem


Julieta Sueldo Boedo necessariamente a posição
do Iphan e do organizador deste
Divisão de Editoração e Publicações - número, Marcelo Brito.
Iphan (apoio)
Amarildo Machado Martins Instituto do Patrimônio Histórico e
Luciano Barbosa da Silva Artístico Nacional
Silvana Lobato Silva Marra SEPS 713/913, Bloco D, Edifício Iphan.
70.390-135 - Brasília (DF)
www.iphan.gov.br
publicacoes@iphan.gov.br
Revista do Patrimônio nº 39/2019
Kátia Bogéa António Ponte
Apresentação 07 O papel dos centros interpretativos 159
na comunicação do patrimônio
Vale
Apresentação 14 Rosário Correia Machado
A Rota do Românico em Portugal: 181
Marcelo Brito experiência fundada na história
Apresentação 17
Patricia Cupeiro López
Zurab Pololikashvili Paradores de Turismo na Espanha: 197
Cultura e turismo como estratégias para 33 modelo de gestão do patrimônio cultural
o desenvolvimento sustentável
Silvia Fernández Cacho e
Peter Debrine Ángel MuñozVicente
Estratégias para a gestão do turismo sob 43 Paisagem cultural, arqueologia e 215
a perspectiva do patrimônio cultural turismo: Enseada de Bolonia (Espanha)
Declarações de Siem Reap, Mascate e
Istambul Cristina Escobar e Bettina Bray
A valorização turística das 239
Celia MartínezYáñez Missões Jesuíticas do Paraguai
Carta Internacional de Turismo Cultural 71
do Icomos de 1999: primeira aproximação Silvia Martínez
para sua revisão e atualização O patrimônio cultural imaterial como 257
ativo para o turismo sustentável
Luís Araújo
Revive: um progama que valoriza 91 Guadalupe Espinosa, Dayanara Carrasco
o patrimônio Yépez e NataliaVázquez Cerón
A capacidade de carga na visitação 273
Paula Silva turística de sítios arqueológicos
Desafios da gestão patrimonial e 101 no México
economia em Portugal
César Augusto AngelValencia
Magali Da Silva Paisagem Cultural Cafeeira: turismo e 291
A política de desenvolvimento do 117 revalorização da cultura e natureza
turismo cultural na França
Notas biográficas 308
Miguel Ángel TroitiñoVinuesa e
Libertad Troitiño Torralba
Cidades patrimoniais e turismo: 129
uma experiência espanhola
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

6
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
K á t i a B og é a

a c i o n a l
Apresent ação

N
Introduction

r t í s t i c o
presentación

A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Na Casa Velha os quartos têm nome:
varandinha, quarto escuro, quarto de oratório,
alcova da vó Fiinha, sobradão, sobradinho, quarto

P
da Felizarda. O quarto donde escrevo chama-se

d o
sobradinho. A janela do sobradinho olha o rio e

e v i s t a
eu, da janela, olho o mundo.
Cora Coralina1

R
 

Decifrar as tramas da poesia de Cora


Coralina é adentrar o espaço da memória
de Villa Boa de Goyaz, fundada no início
do século XVIII. Atual Cidade de Goiás,
configura-se quase como uma personagem 7

da poetisa, perpassando toda a sua obra,


que dá vida às pessoas, becos, casarios e
pontes, por meio de uma deliciosa viagem
entre passado e presente. Por meio da poesia
é possível compreender as histórias, os
personagens e o movimento cotidiano da
vida daquela cidade histórica.
Compartilho com vocês essa experiência,
porque andar pelas ruas de pedra do centro
de Goiás é conhecer de perto a história
Cidade de Goiás (GO),
do Brasil, a ocupação do território pelas 2019.
Foto: André Vilaron.
bandeiras e o ciclo do ouro, é margear Acervo: Iphan.

1. Villa Boa de Goyaz, 2003, p. 31.


o Rio Vermelho e ver um dos mais ricos A adequada gestão turística dos sítios
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

mostruários da arquitetura barroco-colonial. culturais possibilita a estruturação de


a c i o n a l

É também conhecer a obra de Cora destinos na perspectiva da valorização da


Coralina, que, além de escritora, era doceira cultura, proporcionando ao visitante uma
e junto com outras doceiras (uma deliciosa experiência ampliada, na qual tem contato
N
r t í s t i c o

tradição local) conferia à bucólica cidade com a história da cidade e da região, com
arte e simplicidade através de uma alma celebrações, arte, arquitetura, culinária, bem
A

feminina inconfundível. como com a dinâmica das comunidades,


e

Mas o que têm em comum cidades como agregando valor, gerando renda e
i s t ó r i c o

Goiás, São Luís, Ouro Preto, Córdoba, valorizando a cultura e o patrimônio.


Cuzco e Évora? São todas reconhecidas Na perspectiva dessa rica discussão,
H

como Patrimônio Mundial pela Organização solicitei a Marcelo Brito que organizasse
a t r i m ô n i o

das Nações Unidas pela Educação, a Ciência estas duas novas edições, simultâneas, da
e a Cultura (Unesco). Há diversos sítios Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
P

históricos que se destacam em âmbito Nacional. A edição 39 apresenta diversos


d o

local, nacional ou pelo valor universal, estudos de caso de países como Portugal,
e v i s t a

e que constituem um verdadeiro motivo França, Espanha, México e Peru, com


de orgulho não só para cada cidadão do artigos assinados por nomes que são
R

país, mas também para a comunidade referência internacional sobre o assunto.


internacional. O patrimônio cultural É lançada em conjunto com o número 40,
é o legado que recebemos do passado, que destaca a questão no Brasil, com foco
vivenciamos na dinâmica do presente e na riqueza cultural da Região Sul.
transmitimos às futuras gerações. É como Fico orgulhosa de, na minha gestão,
uma pedra fundamental, referência que termos retomado a periodicidade da nossa
8 contribui sobremaneira para formar nossa publicação, que, há mais de oito décadas,
identidade. é um farol para o conhecimento e a difusão
Pela primeira vez a Revista do Patrimônio dos temas patrimoniais. E o fazemos com
Histórico e Artístico Nacional tem como muito trabalho, no presente, mas mirando
tema “patrimônio e turismo”, apresentando o futuro, com a certeza da importância do
casos emblemáticos de práticas de gestão patrimônio cultural brasileiro como grande
turística em sítios patrimoniais. Os artigos vetor de transformação social.
trazem reflexões importantes sobre um Vamos em frente.
debate oportuno, já que, no Brasil, essas
duas grandes áreas estão cada vez mais Kátia Bogéa
integradas e a atuação conjunta e responsável Presidente do Iphan
de gestores públicos e privados tem a
capacidade de potencializar ações de inclusão
social, fomento, preservação, salvaguarda,
gestão do patrimônio e turismo sustentável.
In Casa Velha rooms have names: (UNESCO) acknowledge them as World

Apresentação
balcony, gloomy room, chapel room, Heritage sites. Several historical sites stand out
grandma Fiinha’s den, sobradão, sobradinho,

a c i o n a l
locally, nationally or due to their universal
Felizarda’s room. The room where I write is called value, and constitute a real source of pride for

K á t i a B og é a
sobradinho. A window opens on the river, and
every native citizen, besides the international

N
I see the world from that window.

r t í s t i c o
community. Cultural heritage is the legacy we
Cora Coralina1
inherit, the experience of present-day dynamics

A
and what we shall pass on to future generations.
Decoding Cora Coralina’s poetry is like

e
It is like a cornerstone, a benchmark that plays a

i s t ó r i c o
stepping into Villa Boa de Goyaz’s history,
major role in shaping our identity.
which was founded in the early 18th century.
For the first time, the National Historical

H
Currently known as the City of Goiás, the
and Artistic Heritage Magazine addresses

a t r i m ô n i o
town is practically one of the poet’s characters,
“heritage and tourism”, featuring some of
pervading all her work and breathing life into
the most iconic cases of tourism management
people, alleys, houses and bridges, in a delectable

P
practices in heritage sites. These articles offer

d o
bond between past and present. Poetry makes
important insights into a timely debate, since

e v i s t a
sense of the stories, the personages and day-to-
these two major areas have become increasingly
day life in that historic city.
intertwined in Brazil, and the joint and

R
I share this experience with you because
responsible actions of public and private
wandering the cobblestone streets of downtown
managers bear the potential to leverage social
Goiás means getting acquainted with the history
inclusion, incentives, conservation, safeguarding,
of Brazil and with the occupation of Brazilian
heritage management and sustainable tourism
territory by Bandeiras2 and the gold-mining
initiatives.
economic cycle, flanking the Rio Vermelho and
Appropriate tourism management in
seeing one of our most rich-storied displays of 9
cultural sites gives rise to structured destinations
baroque-colonial architecture. It is also about
where culture is duly appreciated, offering
discovering the work of Cora Coralina, who was
visitors an enhanced experience where they
not only a writer, but also a candy maker who,
come in touch with local and regional history,
with other confectioners (a very delightful local
festivals, art, architecture, cuisine and the
tradition), endowed this bucolic city with an
dynamics of their respective communities,
art and simplicity that have an unequivocally
adding value, generating income and
feminine soul.
maximizing culture and heritage.
What do cities like Goiás, São Luís, Ouro
Considering this fertile context, I asked
Preto, Córdoba, Cuzco and Évora have in
Marcelo Brito to organize two new and
common? The United Nations Educational,
simultaneous issues of the National Historic
Scientific and Cultural Organization
and Artistic Heritage Magazine. Issue 39
features several case studies from countries such
1. Villa Boa de Goyaz, 2003, p. 31.
as Portugal, France, Spain, Mexico and Peru,
2. Translator’s Note: The Bandeiras were slave-hunting expeditions
into the Brazilian hinterlands led by the Portuguese. with contributions by internationally renowned
authors. It is released alongside number 40, En la Casa Vieja las habitaciones tienen nombre:
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

which emphasizes the question from the balconcito, cuarto oscuro, cuarto de oratoria, alcoba
de la abuela Fiinha, mansión, casita, cuarto de
a c i o n a l

standpoint of the cultural treasures of


Southern Brazil. Felizarda. El cuarto desde el que escribo se llama
casita. La ventana de la casita mira al río y yo, desde
I am honored to announce that we have
N

la ventana, miro el mundo.


r t í s t i c o

once again taken up regularly scheduled


Cora Coralina1
National Historic and Artistic Heritage
 
A

Magazine publication. This journal has been


Descifrar las tramas de la poesía de Cora
e

a beacon for knowledge and dissemination of


i s t ó r i c o

Coralina es entrar en el espacio de la memoria


heritage issues for over eight decades. We put a
de Villa Boa de Goyaz, fundada a principios
great deal of effort into this work in the present
H

del siglo XVIII. La actual ciudad de Goiás se


day but always treasure our outlook on the
a t r i m ô n i o

configura casi como un personaje de la poeta,


future because we are sure of the importance of
atravesando toda su obra, que da vida a las
Brazilian cultural heritage as a major driver of
personas, callejones, casas y puentes, a través de
P

social change. So we move forward.


d o

un delicioso viaje entre el pasado y el presente.


e v i s t a

Por medio de la poesía podemos comprender


Kátia Bogéa
las historias, los personajes y el movimiento
President of Iphan
R

cotidiano de la vida de esa ciudad histórica.

1. Villa Boa de Goyaz, 2003, p. 31.

10
Comparto con ustedes esta experiencia las acciones de inclusión social, promoción,

Apresentação
porque caminar por las calles de piedra del preservación, salvaguardia, gestión del

a c i o n a l
centro de Goiás es conocer la historia de Brasil, patrimonio y turismo sostenible.
la ocupación del territorio por las banderas La gestión turística adecuada de los

K á t i a B og é a
y el ciclo del oro, es bordear el río Vermelho sitios culturales permite la estructuración de

Nr t í s t i c o
y ver uno de los muestrarios más ricos de la destinos desde la perspectiva de la valorización
arquitectura barroco-colonial. También es cultural, brindándole al visitante una

A
conocer el trabajo de Cora Coralina, quien, experiencia ampliada, en la que tiene contacto

e
además de escritora, hacía dulces y con otras con la historia de la ciudad y la región, con

i s t ó r i c o
reposteras (una deliciosa tradición local) le daba celebraciones, arte, arquitectura, gastronomía y
arte y simplicidad a la bucólica ciudad a través con la dinámica de las comunidades, agregando

H
de un alma femenina inconfundible. valor, generando ingresos y valorando la cultura

a t r i m ô n i o
¿Pero qué tienen en común ciudades como y el patrimonio.
Goiás, São Luís, Ouro Preto, Córdoba, Cuzco En la perspectiva de esta rica discusión, le

P
y Évora? Todas han sido reconocidas como pedí a Marcelo Brito que organizara estas dos

d o
Patrimonio Mundial por la Organización de nuevas ediciones simultáneas de la Revista del

e v i s t a
las Naciones Unidas para la Educación, la Patrimonio Histórico y Artístico Nacional. La
Ciencia y la Cultura (UNESCO). Hay diversos edición 39 presenta diversos estudios de caso de

R
sitios históricos que destacan tanto local, como países como Portugal, Francia, España, México
nacionalmente o por su valor universal, y son y Perú, con artículos firmados por nombres que
una verdadera razón de orgullo no solo para son una referencia internacional sobre el tema.
cada ciudadano del país, sino también para Se lanza junto con el número 40, que destaca
la comunidad internacional. El patrimonio el tema en Brasil, centrándose en la riqueza
cultural es el legado que recibimos del pasado, cultural de la Región Sur.
experimentamos en la dinámica del presente Me enorgullece que en mi gestión hayamos 11

y transmitimos a las generaciones futuras. Es reanudado la periodicidad de nuestra


como una piedra angular, una referencia que publicación, que desde hace más de ocho décadas
contribuye en gran medida con la formación de es un farol para el conocimiento y la difusión
nuestra identidad. de los temas patrimoniales. Y lo hacemos con
Por primera vez la Revista del Patrimonio mucho trabajo en el presente, pero apuntando
Histórico y Artístico Nacional tiene como hacia el futuro, con la certeza de la importancia
tema “patrimonio y turismo”, presentando del patrimonio cultural brasileño como un gran
Cidade de Goiás (GO),
casos emblemáticos de prácticas de gestión vector de transformación social. década de 1970 (circa).
Acervo: Museu Casa de Cora
turística en sitios patrimoniales. Los artículos Sigamos adelante. Coralina.

traen importantes reflexiones sobre un debate


oportuno, ya que en Brasil estas dos grandes Kátia Bogéa
áreas están cada vez más integradas y la acción Presidente del Iphan
conjunta y responsable de los gestores públicos
y privados tiene la capacidad de potenciar
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

12
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R
13

Antonina (PR).
Foto: Jesus Santoro.
Acervo: Museu da Imagem e
do Som do Paraná. Coleção:
Jesus Santoro

Laguna (SC).
Acervo: Arquivo Histórico
José Ferreira da Silva
– Fundação Cultural de
Blumenau.
Val e
A p r e se ntaç ão
Introduction
presentación

A Vale é uma mineradora global que Vale is a global mining company that
acredita no potencial transformador da believes in the transformative potential of
cultura. Por isso, patrocina iniciativas de culture. We sponsor initiatives that promote,
valorização, preservação e divulgação do conserve and disseminate material and
patrimônio, material e imaterial, em toda intangible patrimony in all its diversity and
a sua diversidade, contribuindo para o contribute to the growth of places and people.
desenvolvimento dos locais e das pessoas. We are proud to be part of this issue of
É motivo de orgulho estar presente neste the National Historic and Artistic Heritage
número da Revista do Patrimônio Histórico Magazine, which is a source of information
e Artístico Nacional, que reúne informações about locations that the United Nations
sobre alguns sítios reconhecidos como Educational, Scientific and Cultural
Patrimônio Mundial pela Organização das Organization (UNESCO) acknowledged
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e as World Heritage sites. The major legacies
a Cultura (Unesco). Esta publicação é uma mentioned in this publication afford the
oportunidade de oferecer ao público, por opportunity of bringing awareness of
meio dos grandes legados, o conhecimento distinctive customs, history and identities to
dos diferentes costumes, da história e da the public at large. Discovering them means
14 identidade dos povos. Conhecê-los é descobrir revealing their heritage and understanding
suas memórias e entender o papel dinamizador the dynamic role of culture.
da cultura.
Vale es una compañía global de minería Esta publicación es una oportunidad de
que cree en el potencial transformador de ofrecerle al público, por medio de grandes
la cultura. Por eso, patrocina iniciativas de legados, el conocimiento de las distintas
valorización, preservación y difusión del costumbres, la historia y la identidad de los
patrimonio material e inmaterial, en toda su pueblos. Conocerlos es descubrir sus memorias y
diversidad, contribuyendo con el desarrollo de entender el papel dinamizador de la cultura.
los lugares y las personas.
Nos enorgullece estar presentes en este
número de la Revista del Patrimonio
Histórico y Artístico Nacional, que
reúne información sobre algunos sitios
reconocidos como Patrimonio Mundial por
la Organización de las Naciones Unidas
para la Educación, la Ciencia y la Cultura
(UNESCO).

15

Praça São Francisco,


São Cristóvão (SE), 2016.
Foto: Vitor Hugo Mori.
Acervo: Iphan.
M arcel o Br i to

a c i o n a l
Ap r es en t a ç ã o

N
Introduction

r t í s t i c o
Presentación

A
e
i s t ó r i c o
Trazer boas práticas de gestão turística à brasileira, bem como exercícios
em sítios patrimoniais implementadas pelo empreendidos em distintas tipologias

H
mundo afora constitui o objetivo central patrimoniais, permitindo um olhar amplo

a t r i m ô n i o
desta edição. O enfoque internacional sobre a diversidade de bens existentes,
proposto oferece ao leitor uma abordagem tanto em relação às formas de atuação, aos
sobre conceitos e ações em curso em outras atores envolvidos quanto aos requisitos

P
d o
latitudes. Além disso, o debate e a reflexão exigidos para uma gestão exitosa. Os casos

e v i s t a
feitos em espaços multilaterais ampliam aqui discutidos traduzem a aliança entre
os entendimentos quanto à necessidade patrimônio e turismo, sobre a qual o

R
de elaborar modelos de colaboração Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
entre cultura e turismo, fomentando o Nacional (Iphan) dedica suas atenções
desenvolvimento do turismo sustentável em nesta edição, servindo de referência sobre a
bases culturais sólidas e de modo a trazer matéria para o leitor.
benefícios a todos. Destaco os esforços de toda a equipe
São apresentadas, assim, várias editorial, que se dedicou à elaboração
experiências em órbitas culturais próximas desta publicação. 17

Cânion Boa Vista, Pedra


da Catedral, São José dos
Ausentes (RS), 2012.
Foto: Leopoldo Plentz.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

18
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
This issue’s primary purpose is to showcase Presentar buenas prácticas de gestión turís-

Apresentação
good tourism management practices in heritage tica implementadas en sitios patrimoniales de

a c i o n a l
sites around the world. Its international todo el mundo es el objetivo central de esta edi-
approach gives the reader an overview of ción. El enfoque internacional propuesto ofrece

Marcelo Brito
current concepts and initiatives in other al lector un abordaje sobre conceptos y acciones

N
r t í s t i c o
latitudes. Additionally, the discussion and en curso en otras latitudes. Además, el debate
deliberations that take place in multilateral y la reflexión que se llevan a cabo en espacios

A
settings broaden perceptions about the need to multilaterales amplían la comprensión en cuan-

e
devise collaborative strategies between culture to a la necesidad de desarrollar modelos de co-

i s t ó r i c o
and tourism that foster sustainable tourism laboración entre cultura y turismo, fomentando
development on sound cultural foundations for el desarrollo del turismo sostenible sobre bases

H
the benefit of all of us. culturales sólidas y brindando beneficios a todos.

a t r i m ô n i o
Several cultural experiences similar to Se presentan, por ende, varias experiencias en
that of Brazil are introduced along with órbitas culturales cercanas a la brasileña, así como

P
different heritage typology initiatives that give ejercicios realizados en distintas tipologías patri-

d o
a comprehensive overview of asset diversity in moniales, lo que permite una visión amplia de la

e v i s t a
terms of performance, stakeholders and the diversidad de bienes existentes, tanto en relación
requirements for successful management. The

R
con las formas de actuación y los actores involu-
cases under discussion represent partnerships crados, como en cuanto a los requisitos necesarios
between heritage and tourism, to which the para una gestión exitosa. Los casos que aquí se
National Institute of Historical and Artistic discuten reflejan la alianza entre patrimonio y
Heritage (Iphan) dedicates this edition, turismo, sobre la que el Instituto de Patrimonio
offering the reader solid references on Histórico y Artístico Nacional (Iphan) dedica su
the subject. atención en este edición, sirviendo como referen-
I wish to commend the efforts of the entire 19
cia sobre el tema para el lector.
editorial team, who have invested all their
Destaco los esfuerzos de todo el equipo
talent in this publication.
editorial, que se dedicó a la elaboración de
esta publicación.

Serraria,
Benedito Novo (SC), 1985.
Foto: Leopoldo Plentz.
Sem título, série Sudário,
Carlos Vergara, São Miguel
das Missões (RS), 2006.
Sem título, série Sudário,
Carlos Vergara, São Miguel
das Missões (RS), 2006.
Sem título, série Sudário,
Carlos Vergara, São Miguel
das Missões (RS), 2006.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

26
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Porto Alegre (RS).


década de 1920-1930,
Rua Sete de Setembro,

Astor e Eduardo Aigner.


Projeto MemoPOA, 2016,
de Marcelo Curia, Anderson
Már i o Qui n tan a

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


a c i o n a l
M a pa - m ú n d i 1

N
r t í s t i c o
A facilidade de comunicações acabou com esses
tanques em que floresciam as diferentes culturas.
Quando antes se olhava o mapa-múndi e via-se cada

A
e
país de um colorido diferente, podia-se tomar isso ao

i s t ó r i c o
pé da letra. É verdade que o mundo continuou a ser
uma colcha de retalhos; mas são todos da mesma cor.

H
Bombaim, Roma, Tóquio, que se escondiam,

a t r i m ô n i o
cada um com seu peculiar mistério, nos
compartimentos estanques da sua própria civilização,

P
agora, a julgar pelos filmes, estão perfeitamente

d o
padronizados, universalizados.

e v i s t a
E, no mundo de hoje, para desconsolo dos
descendentes de Sindbad e de Marco Polo, a única

R
cor local das cidades famosas são os turistas.

27

1. Publicado em Poesia completa, em 2005, pela Nova Aguilar.


R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

28
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Paço Municipal,

Projeto MemoPOA, 2016.


Prefeitura de Porto Alegre (RS).
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
29

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

30
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Porto Alegre (RS).


conhecido como Viaduto

Projeto MemoPOA, 2016.


da Borges, tombado como
patrimônio histórico em 1988,
Viaduto Otávio Rocha, também
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
31

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

32
Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável
Zurab Pololikashvili

a c i o n a l
C ultura e turismo como estratégias para

N
o desenvolvimento sustentável

r t í s t i c o
C u lt u r e a n d t o u r i s m a s s u s ta i n a b l e d e v e l o p m e n t s t r at e g i e s

C u lt u r a

A
y t u r i s m o c o m o e s t r at e g i a s pa r a e l d e s a r r o l l o s o s t e n i b l e

e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

O turismo pode não só ser uma fonte Tourism is potentially a significant generator

P
d o
significativa de renda e desenvolvimento of income and economic development, but it

e v i s t a
econômico, mas também contribuir para can also be instrumental in safeguarding and
a salvaguarda e promoção do patrimônio promoting cultural heritage. As such, fostering

R
cultural. Por isso, fomentar o crescimento sustainable tourism growth is one of the current
priorities of the World Tourism Organization
sustentável do setor é uma das prioridades
(WTO). Good tourism management is
atuais da Organização Mundial do Turismo
essential to achieve this, and should engage all
(OMT). Uma boa gestão turística é
stakeholders, whether they are governments,
fundamental, para tanto, e deve envolver
regional and local authorities, private initiative
todas as partes interessadas, desde governos,
or any other pertinent entities, such as the 33
autoridades regionais e locais, a iniciativa
United Nations Educational, Scientific and
privada e até outras entidades competentes, Cultural Organization (UNESCO). Over
como a Organização das Nações Unidas para the past few years, cooperation between these
Machu Picchu (Peru), 2013.
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). two UN agencies yielded the Siem Reap Foto: Danilo Curado.
Acervo: Iphan
Nos últimos anos, a cooperação entre as (2015), Muscat (2017) and Istanbul (2018)
duas agências resultou nas Declarações Declarations, which provide a benchmark for
Pampulha. Gravura,
de Siem Reap (2015), Mascate (2017) e best practices in sustainable tourism. Paulo Farsette, 2018.

Istambul (2018), que servem de parâmetro


para o estabelecimento de boas práticas de
turismo sustentável.
Resumen interesados, desde los gobiernos, las autoridades
Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável

regionales y locales, la iniciativa privada e


a c i o n a l

El turismo no solo puede ser una incluso otras entidades relevantes como la
fuente significativa de ingresos y desarrollo Organización de las Naciones Unidas para la
N

económico, sino que también puede contribuir Educación, la Ciencia y la Cultura (Unesco).
r t í s t i c o

a salvaguardar y promover el patrimonio En los últimos años, la cooperación entre


cultural. Por lo tanto, fomentar el crecimiento las dos agencias ha dado como resultado las
A

sostenible del sector es una de las prioridades Declaraciones de Siem Reap (2015), Muscat
e
i s t ó r i c o

actuales de la Organización Mundial (2017) y Estambul (2018), que sirven como


del Turismo (OMT). Una buena gestión parámetro para el establecimiento de buenas
H

turística es clave y debe involucrar a todos los prácticas de turismo sostenible.


a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i
R

34
Em 2018, dois anos antes do esperado, por esse crescente setor não se restringem

Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável


o número de turistas internacionais aos destinos mais convencionais, ajudando a

a c i o n a l
ultrapassou a marca de 1,4 bilhão (OMT, combater o desemprego e o êxodo rural. De
2019). Enquanto outros setores da economia forma análoga, nas cidades, onde está a maior
enfrentam dificuldades, as pessoas continuam concentração de sítios declarados Patrimônio

Nr t í s t i c o
motivadas a realizar viagens de lazer, mesmo Mundial pela Organização das Nações Unidas
que curtas ou para mais perto de casa. O para a Educação, a Ciência e a Cultura

A
que leva alguém a fazer as malas e sair do seu (Unesco), as receitas geradas pelo segmento

e
país natal por alguns dias ou mesmo vários ajudam a financiar a revitalização urbana,

i s t ó r i c o
meses? Entre as diversas motivações, a mais o que inclui melhorias de infraestrutura,
importante é a cultura, o desejo de ver e trazendo consequências positivas tanto para

H
conhecer coisas novas. os moradores quanto para os visitantes.

a t r i m ô n i o
Segundo um estudo da Organização No entanto, o potencial do turismo
Mundial do Turismo (OMT) de 2018, 40% não se limita ao fomento do crescimento

P
dos turistas identificam-se como viajantes econômico e à criação de empregos. Quando

d o
culturais. Essa proporção deve aumentar para gerido de forma eficiente, pode contribuir

e v i s t a

Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i
acompanhar a demanda por experiências para a salvaguarda e promoção do patrimônio

R
únicas e autênticas, uma vez que a vivência da cultural – tanto o material (obras de
cultura local oferece a chance de compreender arte, monumentos e edifícios de interesse
determinado lugar, seu povo e sua história. No arquitetônico) quanto o imaterial (narrativas
entanto, não são apenas os visitantes que se orais, música e artes, produção artesanal e os
beneficiam do foco crescente no segmento, que saberes e a compreensão da natureza locais)
também se firmou como um dos principais – não só de comunidades individuais, mas
vetores do desenvolvimento sustentável em também de regiões e países inteiros. Uma
35
todo o mundo. Quando bem administrados, vez que os turistas atuais exigem vivências
os setores cultural e turístico convergem para cada vez mais únicas e autênticas, uma forma
melhorar vidas, criando oportunidades tanto de atingir esse objetivo é interagir com a
no presente quanto no futuro. cultura local, desfrutando-a. Em troca, o
No plano mais básico, o turismo dinheiro despendido pelos viajantes pode ser
cultural é uma fonte significativa de renda. aproveitado para preservar essas tradições para
Hoje em dia, uma em cada 11 vagas no as gerações futuras.
mundo inteiro está vinculada, direta ou Uma das prioridades da OMT é fomentar
indiretamente, a essa indústria (OMT, 2016). o crescimento sustentável do turismo. Desde
Como um catalisador de oportunidades e a cooperação com o Centro Culinário Basco
igualdade, é um dos principais empregadores para ampliar os benefícios econômicos e
daqueles que durante muito tempo viram- sociais do turismo gastronômico no norte
se marginalizados no mercado de trabalho, da Espanha (OMT e Centro Culinário Grupo de pirâmides
(Egito), papel albuminado,
incluindo mulheres e jovens. Ao mesmo Basco, 2019) até a colaboração com diversos década de 1870.
Acervo: Fundação Biblioteca
tempo, os benefícios econômicos propiciados parceiros asiáticos para salvaguardar os Nacional – Brasil.
Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
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a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i
R

bens culturais ao longo de toda a histórica interessadas em todos os âmbitos, incluindo


Rota da Seda (OMT, s.d.), a oferta de uma governos e autoridades regionais e locais,
36
experiência única contribui para que um bem como o setor privado. Como a OMT
destino se destaque, atraindo mais visitantes, é a entidade da Organização das Nações
diversificando seu mercado e multiplicando Unidas (ONU) responsável pelo turismo e a
ainda mais as externalidades positivas trazidas Unesco dedica-se à proteção do patrimônio, é
pelo setor. pertinente que trabalhem juntas para projetar
a atuação do segmento no futuro.
Bumba meu boi na
Festa de São João,
Cooperação e boa gestão Em 2015, as duas organizações
São Luís (MA), 1978. pa r a o t u r i s m o c u lt u r a l apresentaram conjuntamente a Declaração de
Foto: Maureen Bisilliat.
Acervo: Instituto Moreira Salles.
Siem Reap (OMT e Unesco, 2015) durante a
Uma boa gestão é fundamental Conferência Mundial sobre Turismo e Cultura,
Seu João do Boi e os
netos, Calango e Nêgo, para que o turismo cultural atinja o seu realizada no Camboja, lançando, assim,
tocam samba
de roda, São Braz, enorme potencial como catalisador do os alicerces de uma parceria mais estreita e
Santo Amaro da
Purificação (BA), 2004. desenvolvimento sustentável. Para a OMT, direcionada entre os diversos atores envolvidos.
Foto: Luiz Santos.
Acervo: Iphan. a prioridade é a participação das partes Em 2017, em Omã, a Declaração de Mascate
Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
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e
i s t ó r i c o
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a t r i m ô n i o
P
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e v i s t a

Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i
R
(OMT e Unesco, 2017) selou o compromisso tempo que apreciamos as muitas benesses
de seus apoiadores no sentido de reforçar a que o aumento contínuo do segmento pode
37
contribuição desses setores nas estratégias proporcionar, devemos reconhecer os desafios
nacionais de consecução dos Objetivos significativos que daí advêm. Se não for bem
do Desenvolvimento Sustentável (ODS), gerido, o turismo de massa causará mais
estabelecidos pela ONU (2015). Ambas as malefícios do que benefícios. Por exemplo,
declarações indicam que não só devemos nos um monumento pode ser danificado
engajar na criação de parcerias, mas também sob a pressão do movimento intenso, ou
aproveitar seu potencial para gerar um impacto o patrimônio imaterial que buscamos
positivo nas comunidades e melhorar a salvaguardar pode ser comprometido se
percepção geral da experiência dos viajantes. as comunidades forem marginalizadas ou
Recentemente, na Conferência Mundial expulsas de seus lares em decorrência do
sobre Turismo e Cultura de 2018, realizada aumento de preços. Esse setor só é uma força
em Istambul, destacou-se a importância positiva que contempla todos quando se
do trabalho direto com as comunidades trabalha diretamente com as comunidades e
locais (OMT e Unesco, 2018). Ao mesmo os atores locais, ouvindo sempre suas vozes.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

38
Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável
Vislumbrando Referências

Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável


o futuro

a c i o n a l
OMT – Organização Mundial do Turismo. The tourism
Na próxima Conferência Mundial sobre
sector and the Sustainable Development Goals: responsible
Turismo e Cultura, que ocorrerá no final tourism, a global commitment. 2016. Disponível em:

N
de 2019 em Quioto, no Japão, a OMT http://cf.cdn.unwto.org/sites/all/files/pdf/turismo_

r t í s t i c o
responsable_omt_acc.pdf. Acesso em: 27 ago. 2019.
buscará, entre outras metas, prosseguir com a
OMT – Organização Mundial do Turismo. International
estratégia de fomentar o empreendedorismo Tourist arrivals reach 1.4 billion two years ahead

A
e a transformação digital do setor. A of forecasts. OMT, 21 jan. 2019. Disponível em:

e
https://www2.unwto.org/press-release/2019-01-21/

i s t ó r i c o
tecnologia, nesse sentido, pode ser usada
international-tourist-arrivals-reach-14-billion-two-years-
para compartilhar a história de determinada ahead-forecasts. Acesso em: 27 ago. 2019.
cultura de forma ampla e abrangente, e as

H
OMT – Organização Mundial do Turismo. Survey on big

a t r i m ô n i o
exposições digitais podem aumentar ainda data and cultural tourism. 2018. Disponível em: http://
www2.unwto.org/webform/survey-big-data-and-cultural-
mais a popularidade dos museus e outras tourism. Acesso em: 27 ago. 2019.
atrações. Paralelamente, a Unesco tem OMT – Organização Mundial do Turismo. Technical

P
tido experiências bem-sucedidas no uso de Cooperation and Silk Road. s.d. Disponível em: https://

d o
silkroad.unwto.org/. Acesso em: 27 ago. 2019.

e v i s t a
aplicativos, realidade virtual1 e tecnologia

Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i
OMT – Organização Mundial do Turismo; Centro
vestível2 para enfrentar a problemática da Culinário Basco. Guidelines for the Development of

R
superlotação dos sítios Patrimônio Mundial, Gastronomy Tourism. 2019. Disponível em: https://
ao mesmo tempo que enriquece a vivência do www.e-unwto.org/doi/pdf/10.18111/9789284420957.
Acesso em: 27 ago. 2019.
visitante e protege os monumentos.
OMT – Organização Mundial do Turismo; UNESCO
O setor vive tempos animadores embora – Organização das Nações Unidas para a Educação,
desafiadores. É o momento propício de a Ciência e a Cultura. Declaración de Estambul sobre
Turismo y Cultura: en beneficio de todos. 2018.
assumir uma posição de destaque. Com Disponível em: http://cf.cdn.unwto.org/sites/all/files/
efeito, em 2018, 40% dos turistas globais docpdf/unwtounescoistanbuldeclaration30119es.pdf. 39
consideravam-se viajantes culturais, e não Acesso em: 10 jul. 2019.
OMT – Organização Mundial do Turismo; UNESCO
há sinais de que o percentual vai parar de
– Organização das Nações Unidas para a Educação,
aumentar. O grande desafio consiste em a Ciência e a Cultura. Muscat Declaration on Tourism
garantir que esse crescimento traduza-se em and Culture: Fostering Sustainable Development.
2017. Disponível em: https://www.e-unwto.org/doi/
benefícios reais, não só em termos de criação pdf/10.18111/unwtodeclarations.2017.26.05. Acesso
de emprego e desenvolvimento econômico em: 10 jul. 2019.
e social, mas também na garantia de que o OMT – Organização Mundial do Turismo; UNESCO
– Organização das Nações Unidas para a Educação, a
turismo exerça uma função de proteção e
Ciência e a Cultura. Siem Reap Declaration on Tourism
dinamização do patrimônio. and Culture: Building a New Partnership Model.
2015. Disponível em: https://www.e-unwto.org/doi/
pdf/10.18111/unwtodeclarations.2015.24.01. Acesso
em: 10 jul. 2019.
1. Interface que permite ao usuário, por meio de óculos 3D, a
imersão em um ambiente virtual. ONU – Organização das Nações Unidas. Objetivos Diana, Júlia e Ágata.
de Desenvolvimento Sustentável: 17 objetivos para Kitty Paranaguá,
2. No inglês, wearable technology, é a incorporação de dispositivos Projeto Campos de
eletrônicos em acessórios e roupas, como relógios, pulseiras, transformar nosso mundo. 2015. Disponível em: https:// Altitude, Rio de Janeiro,
mochilas e óculos. nacoesunidas.org/pos2015/. Acesso em: 12 jun. 2019. 2016-2017.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

40
Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

Acervo: Iphan.
Foto: Vitor Hugo Mori.
Petra (Jordânia), 2015.
41

Z u ra b Po l o l i k a s h v i l i Cultura e tur ismo como estratég ias para o desenvolvimento sustentável


R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

42
Pe t e r D e b r i n e E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
Peter Debrine

a c i o n a l
E stratégias para a gestão do turismo sob a

N
perspectiva do patrimônio cultural

r t í s t i c o
Tourism m a n a g e m e n t s t r at e g i e s f r o m a c u lt u r a l h e r i ta g e p e r s p e c t i v e

A
E s t r at e g i a s pa r a l a g e s t i ó n d e l t u r i s m o d e s d e l a p e r s p e c t i v a d e l pat r i m o n i o c u lt u r a l

He
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

Uma das prioridades da Organização das Safeguarding natural and cultural

Pd o
Nações Unidas para a Educação, a Ciência heritage is one of the United Nations

e v i s t a
e a Cultura (Unesco) é a salvaguarda do Educational, Scientific and Cultural
patrimônio natural e cultural. Quando Organization’s (UNESCO) priorities. When

R
valorizados e protegidos, esses bens podem these assets are valued and protected they can
proporcionar os recursos necessários para o bring the funds that are needed to develop
desenvolvimento do turismo, que, por sua tourism, which, in turn, must be adequately
vez, deve ser fomentado de forma adequada leveraged to achieve economic, environmental
para atingir a sustentabilidade econômica, and social sustainability. Accordingly,
ambiental e social. Nesse sentido, aliar a aligning the conservation of monuments
43
conservação dos monumentos a uma gestão with sustainable tourism management drives
turística sustentável norteia a atuação UNESCO efforts in the industry. This
da entidade no setor. Essa abordagem é approach promotes heritage values while
capaz de promover os valores patrimoniais strengthening local communities by respecting
enquanto fortalece as comunidades locais, the destinations’ absorption capacity and
respeitando a capacidade de acolhimento fostering the restoration of damaged public
dos destinos e propiciando a recuperação facilities and historic sites. This allows a Caboclo de penas do
de espaços públicos e centros históricos balance between tourism potential and grupo Boi de Matraca, de
bumba meu boi,
São Luís (MA), 2019.
deteriorados. Assim, é possível encontrar um hazards to be struck. Foto: Márcio Vasconcelos.

equilíbrio entre o potencial e os riscos


do turismo.
Resumen En este sentido, combinar la conservación
E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l

de los monumentos con una gestión turística


a c i o n a l

Una de las prioridades de la Organización sostenible orienta la actividad de la entidad


de las Naciones Unidas para la Educación, en el sector. Este enfoque puede promover
N

la Ciencia y la Cultura (Unesco) es la los valores del patrimonio al tiempo que


r t í s t i c o

salvaguardia del patrimonio natural y cultural. fortalece las comunidades locales, respetando
Cuando se valoran y protegen, estos bienes la capacidad de acogida de los destinos y
A
e

pueden proporcionar los recursos necesarios permitiendo la recuperación de espacios


i s t ó r i c o

para el desarrollo del turismo, que, a su vez, públicos y centros históricos deteriorados.
debe fomentarse adecuadamente para lograr la Así se puede encontrar un equilibrio entre el
H
a t r i m ô n i o

sostenibilidad económica, ambiental y social. potencial y los riesgos del turismo.


P
d o
e v i s t a

Pe t e r D e b r i n e
R

44
Quando pensamos em patrimônio, responsáveis por modelar as identidades,

E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
lembramo-nos de preservação, escavação e as quais, por sua vez, são uma fonte

a c i o n a l
restauração de sítios ancestrais e edifícios insubstituível de inspiração, emoção e senso
antigos. Evidentemente, no entanto, trata- de pertencimento, elementos cruciais para
se de um conceito muito mais abrangente. o desenvolvimento turístico no presente e

N
r t í s t i c o
Patrimônio é o conjunto das nossas tradições para as gerações futuras. A degradação de
herdadas, práticas, expressões, representações, tais valores não é só uma perda irremediável

A
monumentos e artefatos. É a natureza para toda a humanidade, mas também um

e
que nos rodeia. A música, a comida e a prejuízo econômico vinculado à intensa

i s t ó r i c o
língua com que nos identificamos são tão competição global entre destinos conforme
importantes quanto os prédios históricos e os sua atratividade diminui. O patrimônio

H
sítios arqueológicos. imaterial enfrenta maior risco em função dos

a t r i m ô n i o
O leque de atividades, significados e impactos negativos atrelados à globalização,
comportamentos da contemporaneidade nos embora tenha virtudes que podem ser

P
condiciona e nos molda. Por ser dinâmico aproveitadas pela indústria turística.

d o
por natureza, transforma-se à medida que Essa questão é muito preocupante nos

e v i s t a

Pe t e r D e b r i n e
os povos e as comunidades interagem, e os países emergentes e em desenvolvimento,

R
conhecimentos, as culturas e as práticas são onde o turismo patrimonial representa
transmitidos. Quando compartilhado, esse uma oportunidade expressiva de expansão
conjunto torna-se simultaneamente local e econômica e redução da pobreza, ainda
global, podendo representar uma plataforma que essas nações não estejam devidamente
de diálogo intercultural que traz em si um preparadas para mitigar o problema. Quando
potencial de crescimento econômico através mal gerido e descontrolado, o setor pode
do turismo sustentável. representar uma séria ameaça aos valores
45
Uma das prioridades da Organização das patrimoniais e ao crescimento de longo prazo,
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e bem como provocar transtornos sociais,
a Cultura (Unesco) é a conservação, proteção culturais e econômicos de efeito devastador
e salvaguarda do patrimônio natural e em ambientes vulneráveis, em decorrência
cultural, norteadas pelas diversas convenções de uma oferta turística degradada, menos
adotadas pelos Estados Partes. Os bens a atraente e competitiva.
serem valorizados e protegidos, muitas vezes, Essa indústria, segundo dados da
proporcionam os recursos necessários para o Organização Mundial do Turismo (OMT),
desenvolvimento do turismo, que, por sua pode ser compreendida como um vetor de
vez, deve ser fomentado de forma adequada geração de empregos, pois é responsável
para atingir a sustentabilidade econômica, por cerca de uma em cada 11 vagas de
ambiental e social. trabalho do planeta. Além disso, representa
A conservação do patrimônio traz em mundialmente cerca de 30% das exportações
seu bojo, portanto, a preservação dos valores de serviços e, de forma direta e indireta, Sabrosa, Vila Real, Douro
(Portugal), 2016.
culturais, sociais e econômicos dos povos, responde por aproximadamente 10% do Foto: Delfina Brochado.
a c i o n a l
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A
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i s t ó r i c o
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a t r i m ô n i o
P
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e v i s t a
R

produto interno bruto (PIB) (OMT, 2016, pobreza através da criação de vínculos entre
p. 12). Trata-se, portanto, de uma fonte o segmento e os fornecedores locais de bens
cada vez mais importante de crescimento, e serviços; e apoiar o desenvolvimento de
emprego, rendimento e receita para muitos recursos humanos, melhorando a educação,
46 países em desenvolvimento, reduzindo a a formação e o trabalho digno, fornecendo
pobreza e promovendo a sustentabilidade também capacitação.
ambiental, quando bem estruturado. Para a entidade, a fim de ser sustentável, o
Portanto, a via do progresso passa por turismo implica o desenvolvimento e a oferta
uma abordagem na qual a conservação de atividades para visitantes que contribuam
ocorre em paralelo ao desenvolvimento para a proteção, exposição e transmissão
sustentável do turismo com planejamento dos valores patrimoniais do destino. Gera,
harmonizado. Esse objetivo norteia os além disso, crescimento socioeconômico e
esforços da Unesco em sua atuação no traz benefícios tangíveis e intangíveis para
setor. No âmbito da assistência técnica, o fortalecimento das comunidades locais e
Carnaval,
Olinda (PE), 2016. destacam-se alguns eixos-chave: desenhar as regionais de forma equitativa e compatível
Foto: Aurélio Velho.
Acervo: Iphan. bases da boa governança e sustentabilidade com a conservação do patrimônio.
turística; fomentar investimentos nacionais Deve haver, para tanto, a colaboração
Carnaval,
Olinda (PE), 2017. e estrangeiros para o crescimento sustentável entre as partes interessadas, com parcerias
Foto: Aurélio Velho.
Acervo: Iphan. dessa indústria; promover a redução da eficazes que otimizem os resultados da
a c i o n a l
N
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A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R
proteção e exposição, ao mesmo tempo Já a administração dos sítios deve pautar-
minimizando as ameaças e os impactos -se na cadeia de ofertas turísticas relevantes
adversos decorrentes dessa indústria. Assim, e nas questões mais abrangentes suscitadas
com planejamento e monitoramento pelos destinos, incluindo o gerenciamento
contínuos e proativos de forma inclusiva e dos congestionamentos e a qualidade de vida 47
participativa, as atividades turísticas podem das populações locais. Da mesma forma, as
ser desenvolvidas em prol da salvaguarda infraestruturas e instalações para visitantes
cultural, sempre respeitando a capacidade precisam ser cuidadosamente planejadas,
de cada bem em absorver a visitação sem localizadas, projetadas e construídas, além
comprometer os valores patrimoniais. Nesse de atualizadas periodicamente, conforme
sentido, a comunidade local deve ser não só necessário, por meio de sistemas de gestão e
conscientizada da importância do patrimônio monitoramento dotados de competências,
na vida cotidiana, mas também capacitada capacidades e recursos adequados.
para atuar em sua divulgação e preservação, Os órgãos públicos pertinentes, em associação
incluindo os proprietários dos monumentos à administração dos sítios, devem certificar-se
e os agentes mantenedores tradicionais ou de que uma parcela da receita proveniente das
indígenas, sem deixar de reconhecer suas atividades turísticas seja aplicada para viabili-
capacidades e sua vontade de participar nas zar a proteção, conservação e gestão
práticas turísticas. dos valores patrimoniais.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

48
Pe t e r D e b r i n e E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
Assim, garantem-se experiências satisfatórias a contribuição do turismo cultural para a

E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
e de qualidade, assegurando também que as Agenda 2030. Eles reconheceram que uma

a c i o n a l
comunidades locais sejam respeitadas e que o abordagem sustentável, com a participação
contexto ambiental, social e cultural circun- de todos os atores envolvidos, é de suma
dante não sofra impactos adversos expressivos. importância tanto para o segmento quanto

N
r t í s t i c o
Nos últimos anos, houve uma série para a consolidação da paz e a proteção do
de conquistas políticas significativas patrimônio. O resultado do encontro foi a

A
relacionadas ao desenvolvimento do turismo assinatura da Declaração de Istambul (OMT

e
sustentável, que tem um papel importante a e Unesco, 2018).

i s t ó r i c o
desempenhar, por exemplo, na consecução dos A Unesco propõe, no âmbito da
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável indústria turística, a gestão e o planejamento

H
(ODS) no âmbito da Agenda 2030 para global da visitação, proporcionando

a t r i m ô n i o
o Desenvolvimento Sustentável (ONU, orientação política e ferramentas calcadas
2015). O setor foi especificamente incluído nas melhores práticas para a exposição e

P
como meta nos ODS 8, 12 e 14, relativos, divulgação dos sítios. Preconiza, ainda,

d o
respectivamente, ao crescimento econômico a participação de todos os intervenientes

e v i s t a

Pe t e r D e b r i n e
inclusivo e sustentável, ao consumo e à ligados à conservação e ao turismo no
produção sustentáveis (CPS) e ao uso processo de planejamento e gestão dos

R
sustentável dos oceanos e recursos marinhos. destinos. Uma vez que o setor é também
Destaca-se também a política adotada um elemento importante para as estratégias
pela Assembleia Geral dos Estados Partes de regeneração urbana, a entidade procura
da Unesco durante a Convenção do Patri- reforçar o papel da cultura nesse contexto,
mônio Mundial de 2015, que introduziu a apoiando iniciativas de revitalização de
perspectiva do desenvolvimento sustentável espaços públicos, recuperação de áreas
nos processos decisórios da Convenção do industriais e centros históricos deteriorados. 49

Patrimônio Mundial (Unesco, 2015). Esse O relatório global intitulado Cultura:


documento permite que Estados, profissio- futuro urbano (Unesco, 2016) é o primeiro
nais, instituições, comunidades e redes cana- referencial a propor um arcabouço de
lizem o potencial do Patrimônio Mundial e políticas que potencializam o papel da cultura
dos monumentos em geral, contribuindo para no desenvolvimento urbano sustentável.
um desenvolvimento que preserve os recursos Essas recomendações defendem a integração
naturais e o meio ambiente. entre todos os aspectos da conservação
Em dezembro de 2018, durante a III e salvaguarda do patrimônio cultural e
Conferência sobre Cultura e Turismo da estratégias de regeneração dos grandes centros
Unesco e OMT, cerca de 30 ministros voltadas para as pessoas, com o objetivo
e vice-ministros de ambos os setores e de melhorar a habitabilidade das cidades,
800 participantes de mais de 50 países sempre respeitando suas identidades, o que é
reafirmaram o compromisso de fortalecer as fundamental para garantir uma boa relação
Oaxaca (México), 2018.
sinergias entre as duas áreas e impulsionar entre visitantes e moradores. Foto: Antônio Brito.
E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o

Segundo o documento, uma perspectiva e as comunidades. Os bens Patrimônio


e v i s t a

Pe t e r D e b r i n e

calcada na cultura pode aumentar a resiliência Mundial estão sendo sobrecarregados por um
R

das cidades, desde o reforço estrutural de bens número crescente de visitantes, o chamado
construídos, para não sucumbir aos futuros overturismo. O termo designa uma situação
impactos das mudanças climáticas, até a na qual o impacto turístico, em determinados
implementação de programas patrimoniais momentos e locais, excede a capacidade física,
e artísticos para os cidadãos no contexto de ecológica, social, econômica, psicológica e/
uma reconstituição pós-catástrofe. Da mesma ou política das localidades, comprometendo
50 forma, a recuperação de áreas verdes nas urbes o patrimônio cultural e natural, destituindo
e em seus entornos pode criar um espaço direitos dos povos e ocasionando a perda
de resistência. da autenticidade, o que ameaça a futura
O aumento do envolvimento das atratividade do destino.
comunidades locais no planejamento e na As causas mais profundas do fenômeno
gestão turística tem enorme potencial para podem ter relação com os baixos custos de
incentivar a participação maciça desses grupos transporte e as novas tecnologias, embora
na sensibilização para além das fronteiras. nos faltem dados sobre o assunto. De acordo
Quando construído de acordo com princípios com um relatório recente da União Europeia
culturais e sociais, o setor representa um (2018, p. 16), “os destinos mais vulneráveis
trunfo para a inovação, a criatividade, não são cidades, mas sobretudo zonas
a formação de pequenas empresas e o costeiras, ilhas e sítios de patrimônio rural”.
lançamento de novos produtos e serviços. O desafio é encontrar um equilíbrio entre o
Fabricação de instrumento
para fandango caiçara. Reconhecemos igualmente os perigos de potencial e os riscos do turismo. Isso pressupõe
Foto: Felipe Varanda.
Acervo: Iphan. um turismo mal gerido para o meio ambiente a colaboração entre todas as partes interessadas
e uma abordagem interdisciplinar de grande sustentável nos sítios declarados Patrimônio

E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
alcance. Requer também um aumento de Mundial e em seus arredores através da

a c i o n a l
investimento na proteção e conservação do divulgação e do compartilhamento de
patrimônio cultural, que é assim classificado boas práticas, cooperação internacional,
devido a seus aportes ao conhecimento e colaboração entre esses locais e,

N
r t í s t i c o
à cultura, constituindo, nesse sentido, um principalmente, concretização das metas de
elemento qualificador da riqueza das nações. conservação que nos são confiadas.

A
Assim, em uma perspectiva econômica, os

e
monumentos incorporam, conservam e geram Referências

i s t ó r i c o
um valor cultural que ultrapassa o econômico
OMT – Organização Mundial do Turismo. International
intrínseco, o que contribui para a criação de

H
Tourist Arrivals Reach 1.4 billion Two Years Ahead of
um amplo ecossistema de atividades produtivas

a t r i m ô n i o
Forecasts. OMT, 21 jan. 2019. Disponível em: https://
voltadas para sua proteção, manutenção e uso www2.unwto.org/press-release/2019-01-21/internatio-
nal-tourist-arrivals-reach-14-billion-two-years-ahead-fo-
pelo público.
recasts. Acesso em: 27 ago. 2019.

P
No entanto, parte substancial deles foi OMT – Organização Mundial do Turismo. The tourism

d o
severamente comprometida. Em algumas sector and the Sustainable Development Goals: responsible

e v i s t a

Pe t e r D e b r i n e
economias desenvolvidas, condições fiscais tourism, a global commitment. 2016. Disponível em:
http://cf.cdn.unwto.org/sites/all/files/pdf/turismo_res-
adversas restringem os recursos públicos

R
ponsable_omt_acc.pdf. Acesso em: 27 ago. 2019.
destinados à sua preservação e gestão. Em OMT – Organização Mundial do Turismo; UNESCO
certos locais atingidos por conflitos, bens – Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura. Declaración de Estambul sobre Turis-
emblemáticos foram atacados e destruídos,
mo y Cultura: en beneficio de todos. 2018. Disponível
com consequências dramáticas para os fluxos em: http://cf.cdn.unwto.org/sites/all/files/docpdf/unw-
de entrada de turistas e para as perspectivas tounescoistanbuldeclaration30119es.pdf. Acesso em: 10
jul. 2019.
econômicas dos países onde se situam. É
ONU – Organização das Nações Unidas. Objetivos de
preciso, nesse sentido, encontrar novas formas 51
Desenvolvimento Sustentável: 17 objetivos para transfor-
de engajar gestores, investidores institucionais mar nosso mundo. 2015. Disponível em: https://nacoe-
sunidas.org/pos2015/. Acesso em: 12 jun. 2019.
e tomadores de decisão para que o
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a
patrimônio seja considerado um tipo de ativo
Educação, a Ciência e a Cultura. Culture: urban future.
contemplado por investidores financeiros para Global report on culture for sustainable urban develop-
fins de conservação. ment. 2016. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/
ark:/48223/pf0000245999. Acesso em: 27 ago. 2019.
Considerando que a mobilidade pode
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a
promover o intercâmbio e o diálogo Educação, a Ciência e a Cultura. Policy Document for
intercultural e que, hoje em dia, mais de the Integration of a Sustainable Development Perspective
into the Processes of the World Heritage Convention. Paris:
1,4 bilhão de pessoas atravessa fronteiras
Unesco, 2015. Disponível em: http://whc.unesco.org/
internacionais todos os anos (OMT, 2019), document/139747. Acesso em: 27 ago. 2019.
existem mais oportunidades de romper as UNIÃO EUROPEIA. Overtourism: impact and possible
barreiras que separam os povos do que no policy response. Bruxelas: União Europeia, 2018. Dispo-
nível em: https://www.europarl.europa.eu/RegData/etu-
passado. Podemos, portanto, promover, des/STUD/2018/629184/IPOL_STU(2018)629184_
reconhecer e incentivar o desenvolvimento EN.pdf. Acesso em: 27 ago. 2019.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

52
Pe t e r D e b r i n e E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
53

Pe t e r D e b r i n e E s t r a t é g i a s p a r a a g e s t ã o d o t u r i s m o s o b a p e r s p e c t i va d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l

Foto: Joaquim Paiva.


Brasília (DF), 1981.
Rodoviária,
Declaração de Siem Reap - em 2012, pela primeira vez, atingiu-se a
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

s o b r e T u r i s m o e C u lt u r a : marca de um bilhão de turistas internacionais


a c i o n a l

construindo um novo e, em 2014, a Lista do Patrimônio Mundial


m o d e l o d e p a rc e r i a chegou a mil sítios.
N

- a cultura, expressa pelo patrimônio,


r t í s t i c o

Os ministros do Turismo e da Cultura tradições e também arte contemporânea,


e chefes de delegação dos Estados membros línguas, gastronomia, música, artesanato,
A

da Organização Mundial do Turismo museus e literatura, tem importância


e
i s t ó r i c o

(OMT) e da Organização das Nações incomensurável para as comunidades


Unidas para a Educação, a Ciência e a que a abrigam. Ela molda as identidades
Cultura (Unesco), representantes da OMT, comunitárias e promove o respeito e a
H
a t r i m ô n i o

da Unesco, da Aliança das Civilizações das tolerância entre as pessoas; assim, constitui
Nações Unidas, de organizações regionais, da um ativo turístico fundamental que estabelece
academia, do setor privado, de instituições diferenças claras entre destinos.
P

- o turismo cultural pode trazer aportes


d o

culturais e de turismo e de organizações


e v i s t a

não governamentais, reunidos por ocasião significativos para o desenvolvimento


da Conferência Mundial sobre Turismo e socioeconômico e para a capacitação das
R

Cultura da OMT/Unesco: construindo um comunidades locais.


novo modelo de parceria, realizada em Siem
Reap, Camboja, em 4 a 5 de fevereiro de E consideram que:
2015, sob o alto patrocínio de Sua Excelência - A salvaguarda da cultura, em suas
Samdech Akka Moha Sena Padei Techo diversas manifestações, é uma garantia de
Hun Sen, Primeiro-Ministro do Reino do desenvolvimento sustentável, conforme
54 Camboja, do secretário-geral da OMT e do destacado em vários instrumentos
diretor-geral da Unesco. internacionais de normalização, entre os
quais:
Recordam que: a Convenção da Unesco de 2005 para a
- nas últimas décadas o turismo cresceu, Proteção e Promoção da Diversidade das
tornando-se um dos mais importantes Expressões Culturais;
setores socioeconômicos mundiais dos nossos a Convenção da Unesco de 2003 para
tempos. a Salvaguarda do Patrimônio Cultural
- o turismo engendra oportunidades Imaterial;
substanciais para o crescimento econômico a Convenção da Unesco de 2001 sobre
inclusivo e para o desenvolvimento a Proteção do Patrimônio Cultural
sustentável através da criação de empregos, Subaquático;
da regeneração de áreas rurais e urbanas e da a Convenção da Unesco de 1972 para
valorização e proteção do patrimônio natural a Proteção do Patrimônio Mundial,
e cultural. Cultural e Natural;
a Convenção da Unesco de 1970 sobre sociedade civil e o setor privado a formar

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


Medidas a serem adotadas para Proibir parcerias globais para fomentar ambientes,

a c i o n a l
e Impedir a Importação, Exportação e processos e produtos criativos.
Transferência Ilícitas dos Bens Culturais; - A OMT e a Unesco já trabalham juntas há

N
a Convenção da Unesco para a Proteção muito tempo para aumentar a conscientização

r t í s t i c o
dos Bens Culturais em Caso de Conflito e fortalecer as vigorosas articulações entre
Armado, de 1954. turismo e cultura, enfatizando a necessidade

A
- O turismo sustentável pode ser um de estabelecermos modelos de parceria

e
i s t ó r i c o
instrumento muito importante para a mutuamente proveitosos, nomeadamente
salvaguarda e valorização do patrimônio através do Programa de Turismo Sustentável
material e imaterial e para o incentivo ao do Patrimônio Mundial da Unesco.

H
a t r i m ô n i o
desenvolvimento das artes, do artesanato e de - A construção de novos modelos de
outras atividades criativas. parceria para a colaboração entre turismo e
- O artigo 4º do Código de Ética Mundial cultura insere-se no consenso internacional

P
d o
para o Turismo, adotado pela Assembleia emergente sobre as conexões fundamentais

e v i s t a
Geral da OMT em 1999 e aprovado pela que existem entre cultura e patrimônio.
Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) A questão merece consideração no âmbito

R
em 2001, ressalta que “o turismo se vale da agenda de desenvolvimento
do patrimônio cultural da humanidade e sustentável pós-2015.
contribui para a sua valorização”.
- A Resolução da Assembleia Geral da ONU Reconhecem que:
de 2013 sobre Cultura e Desenvolvimento - Apesar das inúmeras sinergias entre
Sustentável (A/RES/68/223) reconhece que turismo e cultura, os dois setores muitas
a cultura contribui para o desenvolvimento vezes operam em estruturas governamentais 55
econômico inclusivo. e administrativas desarticuladas ou mal
- A Declaração de Hangzhou de maio de coordenadas, com resultados abaixo
2013, que traz a cultura para o centro das do ideal para o desenho de políticas de
políticas de desenvolvimento sustentável, desenvolvimento e planejamento e para o
reafirma que ela deve ser considerada um desenvolvimento nacional e regional.
fator fundamental para a sustentabilidade, - Nesse momento de crescimento sem
uma fonte não só de significado e energia, precedentes do turismo, é importante
mas também de criatividade e inovação, enfatizar a responsabilidade compartilhada
além de um recurso para enfrentar desafios e entre os atores da cultura e do turismo.
encontrar soluções adequadas. - Resultados satisfatórios exigem o
- A Declaração de Florença de 2014 sobre engajamento dos atores da cultura e do
Cultura, Criatividade e Desenvolvimento turismo em todos os âmbitos a fim de
Sustentável, Pesquisa, Inovação e equacionar responsabilidades transversais
Oportunidades convida os governos, a em campos como governança, participação
comunitária, inovação e responsabilidade - As rotas culturais que ligam esses locais
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

social corporativa. oferecem oportunidades importantes para o


a c i o n a l

- Para que o turismo alcance sustentabilidade desenvolvimento do turismo, para a integração


social, econômica e ambiental, os bens regional e para o desenvolvimento econômico,
promovendo simultaneamente a revitalização
N

naturais e culturais de todas as nações


r t í s t i c o

e comunidades devem ser valorizados e e o fortalecimento dos vínculos culturais e


protegidos. econômicos entre pessoas e comunidades.
A

- O turismo sustentável pode ser um vetor - O turismo cultural pode contribuir para o
e
i s t ó r i c o

fundamental para a preservação e valorização desenvolvimento cultural, o crescimento e


do patrimônio cultural, estimulando o o rejuvenescimento das áreas urbanas e das
orgulho e a autoestima das comunidades e cidades históricas.
H
a t r i m ô n i o

dos povos.
- Destinos em qualquer lugar do mundo, Assim, reafirmam o seu compromisso de:
se mal geridos e desenvolvidos, podem 1. Construir novos modelos de
P

parceria entre turismo e cultura para:


d o

comprometer esse patrimônio.


e v i s t a

- O desenvolvimento do turismo e as 1.1. reforçar o trabalho de integração


atividades associadas ao patrimônio cultural entre a cultura e o turismo na agenda de
R

podem alcançar a sustentabilidade através desenvolvimento pós-2015;


da criação de estruturas de governança 1.2. reduzir os entraves e viabilizar
responsáveis, garantindo assim proteção modelos de parceria e estruturas de
e conservação, gerando investimentos, governança eficazes no âmbito dos
promovendo a redução da pobreza, governos nacional, regional e local, para
facilitando vínculos entre setores turísticos desenvolver, coordenar e aplicar políticas
56 e os fornecedores locais de bens e serviços, e práticas de turismo e cultura de maneira
divulgando as culturas regionais e apoiando o mais integrada;
desenvolvimento de recursos humanos. 1.3. incentivar e viabilizar
- É preciso reforçar e expandir a contribuição parcerias eficazes entre organizações
das culturas vivas e das indústrias criativas, governamentais, privadas e comunitárias,
como a música, a multimídia, o artesanato, tanto no setor do turismo como no do
a gastronomia, a arquitetura e o design, para patrimônio cultural;
a conquista de um turismo sustentável. Elas 1.4. desenvolver políticas de turismo
têm funções cada vez mais importantes na cultural que reconheçam, protejam e
criação de uma experiência única e marcante promovam a autenticidade da cultura e
para cada destino, e o investimento turístico do patrimônio cultural e forjar sinergias
pode trazer novos consumidores, promover eficazes por meio de uma gama de
a inovação e o intercâmbio de experiências tecnologias pertinentes e plataformas
que desenvolvem as indústrias criativas, com de mídia social, nas quais todos os
mercados em expansão. participantes compartilhem mais
informações, experiências e melhores 2.6. apoiar exemplos de gestão

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


práticas nesta área; e responsável e sustentável do turismo nos

a c i o n a l
1.5. utilizar o turismo e a cultura como sítios Patrimônio Mundial e zelar para que
instrumentos fundamentais na cooperação a comunidade local ou de acolhimento
seja beneficiada pelo setor;

N
para o desenvolvimento dos países em vias

r t í s t i c o
de desenvolvimento e para a recuperação 2.7. assegurar que as populações
de locais atingidos por crises. étnicas e indígenas e as suas culturas

A
sejam respeitadas e protegidas e que

e
i s t ó r i c o
o desenvolvimento e o fomento do
2. Promover e proteger o patrimônio
turismo decorram de forma plenamente
cultural para:
participativa, com parcerias equitativas;

H
2.1. incentivar aquelas iniciativas

a t r i m ô n i o
2.8. implantar procedimentos eficazes e
turísticas que contribuem para sensibilizar
apropriados para a avaliação de impacto
o público e apoiam a defesa e a
sobre o patrimônio e a sustentabilidade

P
conservação do bem cultural, sobretudo
socioeconômica antes da aprovação de

d o
pela divulgação das características e

e v i s t a
projetos turísticos associados aos sítios
dos valores patrimoniais na cadeia de
Patrimônio Mundial e às comunidades
experiências turísticas;

R
locais nas suas proximidades; e
2.2. atender às aspirações das
2.9. fomentar a melhoria da qualidade
comunidades de acolhimento na
dos serviços, bem como a utilização
determinação e gestão do uso da cultura
de tecnologias e de ações de pesquisa
material e imaterial;
de visitantes, a fim de aumentar a
2.3. assegurar que as receitas competitividade dos sítios culturais.
provenientes do turismo sejam suficientes 57
para a gestão e conservação do patrimônio 3. Estabelecer vínculos entre as pessoas
cultural e natural e estimular o e promover o desenvolvimento sustentável
engajamento dos turistas; através de itinerários culturais, para:
2.4. proteger e dirigir os sítios do 3.1. sempre que oportuno, incentivar
patrimônio mundial de forma sustentável e viabilizar iniciativas internacionais
e incentivar a adesão ao Programa de e nacionais que congreguem sítios
Turismo Sustentável do Patrimônio patrimoniais com ligações históricas
Mundial, incluindo a implantação ou temáticas, incluindo os que são
de medidas eficazes de administração Patrimônio Mundial, em rotas, corredores
do congestionamento turístico, de ou circuitos turísticos;
treinamento e capacitação de gestores de 3.2. construir redes internacionais
sítios e outros atores; ou regionais que abranjam agências
2.5. apoiar a luta contra o tráfico de governamentais de cultura e turismo
patrimônio cultural; e outras áreas pertinentes, tais como
relações internacionais, transportes, 4. Incentivar o estreitamento dos laços
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

administração interna ou imigração; entre o turismo, as culturas vivas e as


a c i o n a l

3.3. cooperar para além das fronteiras indústrias criativas ao:


regionais ou nacionais para estimular, 4.1. fomentar oportunidades para que o
N

dinamizar e construir modelos de turismo cultural torne-se um importante


r t í s t i c o

governança e certificação que garantam a catalisador de oportunidades de negócio


qualidade e a coerência da experiência dos e de desenvolvimento socioeconômico
A

visitantes ao longo das rotas culturais; para as indústrias criativas e para o setor
e
i s t ó r i c o

3.4. promover a equidade das estruturas cultural;


de governança, o desenvolvimento do 4.2. fomentar e viabilizar novas formas
turismo, as parcerias público-privadas
H

de turismo cultural, como o criativo


a t r i m ô n i o

e as atividades comerciais ao longo do e o vinculado a interesses específicos,


percurso cultural; e por exemplo, os museus e o patrimônio
3.5. consultar as comunidades locais industrial, subaquático ou memorial;
P
d o

e engajá-las como parte interessada na 4.3. incentivar cadeias de valor


e v i s t a

formulação e gestão do turismo ao longo sustentáveis nas comunidades locais que


das rotas culturais. garantam a consistência da qualidade e
R

criatividade de apresentação e/ou atuação


das indústrias culturais;
4.4. favorecer a capacitação local e
oferecer oportunidades educacionais
para a continuidade da participação e do
crescimento das indústrias culturais; e
58
4.5. incentivar o investimento público
e privado em infraestruturas físicas e
institucionais para sustentar as indústrias
criativas locais.

5. Estimular a contribuição do turismo


cultural para o desenvolvimento urbano
ao:
5.1. incentivar as tradições culturais
locais, os museus e as indústrias criativas
contemporâneas a participar dos
programas de desenvolvimento e/ou
regeneração urbana;
5.2. incentivar a regeneração de zonas II C o n f e r ê n c i a

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


industriais degradadas ou abandonadas M u n d i a l d a OMT /

a c i o n a l
das cidades históricas para inclusão como Unesco sobre Turismo
patrimônio cultural; e C u lt u r a : f o m e n ta n d o

N
5.3. incentivar o desenvolvimento o d e s e n v o lv i m e n t o

r t í s t i c o
urbano empreendido em colaboração com sustentável
as comunidades locais e proporcionar

A
oportunidades igualitárias de Um evento oficial do Ano Internacional

e
i s t ó r i c o
desenvolvimento socioeconômico; do Turismo Sustentável para o
5.4. fomentar a integração social e Desenvolvimento – 2017
cultural do desenvolvimento urbano

H
a t r i m ô n i o
com outras áreas urbanas, melhorando Mascate, Sultanato de Omã,
a interação entre as comunidades 11 e 12 de dezembro de 2017.
residenciais novas e as que já existem; e

P
D e c l a r a ç ã o d e M a s c at e s o b r e

d o
5.5. fomentar os programas culturais e
T u r i s m o e C u lt u r a : f o m e n ta n d o o

e v i s t a
as iniciativas das indústrias criativas que d e s e n v o lv i m e n t o s u s t e n t á v e l
visam à regeneração dos espaços urbanos, Nós, representantes das gestões de Tu-

R
incluindo a participação dos turistas e das rismo e Cultura e chefes de delegação dos
populações locais. Estados Membros da Organização Mundial
do Turismo (OMT) e da Organização das
Manifestam o seu sincero apreço e Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
gratidão a Sua Majestade Preah Bat Samdech a Cultura (Unesco), representantes da OMT,
Preah Baromneath Norodom Sihamoni, Rei da Unesco, de organizações internacionais e
regionais, de universidades, do setor privado, 59
do Camboja, que muito gentilmente nos
proporcionou uma oportunidade inesquecível de comunidades locais e de organizações não
de conhecer o rico patrimônio cultural governamentais, reunidos por ocasião da
cambojano, como também ao Governo Conferência Mundial sobre Turismo e Cul-
Real do Camboja e ao Governo Provincial tura da OMT/Unesco: fomentando o desen-
de Siem Reap pela calorosa acolhida, pela volvimento sustentável, um evento oficial do
excelente organização da conferência e pela Ano Internacional do Turismo Sustentável
contribuição fundamental para o avanço para o Desenvolvimento – 2017, realizado em
das articulações entre turismo e cultura, Mascate, Sultanato de Omã, em 11 e 12 de
promovendo um futuro mais sustentável dezembro de 2017, sob o alto patronato de
para todos. Sua Alteza Real Sayyid Fahd bin Mahmoud
al Said, Vice-Primeiro-Ministro do Conselho
Siem Reap, Camboja, de Ministros de Omã, com a presença do Museu das Missões,
São Miguel das Missões
5 de fevereiro de 2015. secretário-geral da OMT e do diretor-geral (RS), 2007.
Foto: Eneida Serrano.

adjunto para a Cultura da Unesco. Acervo: Iphan.


Recordando que: A Convenção da Unesco sobre a Proteção
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

A Declaração da Siem Reap sobre Turismo e Promoção da Diversidade das Expressões


a c i o n a l

e Cultura: construindo um novo modelo Culturais, adotada pela Conferência Geral da


de parceria (2015) estabelece uma série de Unesco em 20 de outubro de 2005, protege
prioridades e oportunidades de ação no e promove a diversidade das expressões
N
r t í s t i c o

amplo campo do turismo cultural, com culturais.


destaque para seu impacto nos Objetivos A Convenção da Unesco para a Proteção
A

de Desenvolvimento Sustentável da Agenda do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural


e

2030 das Nações Unidas.


i s t ó r i c o

(Convenção do Patrimônio Mundial),


A Resolução 70/1 da Assembleia Geral das adotada pela Conferência Geral da Unesco
Nações Unidas (ONU), de 25 de setembro em 16 de novembro de 1972, versa sobre
H
a t r i m ô n i o

de 2015: Transformando o nosso mundo: a proteção, conservação e apresentação


a Agenda 2030 para o Desenvolvimento do patrimônio cultural e natural de
Sustentável e os 17 Objetivos de valor universal excepcional para toda a
P

Desenvolvimento Sustentável (ODS). humanidade.


d o
e v i s t a

A Resolução A/RES/70/193 da ONU


institui 2017 como o Ano Internacional do Reafirmamos o nosso compromisso de:
R

Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, 1. Reforçar as sinergias entre o turismo


uma oportunidade única para promover a e a cultura e promover a contribuição do
contribuição do turismo e da cultura como turismo cultural para a Agenda 2030 para
atividades humanas do século XXI para o o Desenvolvimento Sustentável e os 17
desenho de um futuro melhor para as pessoas ODS ao:
e o planeta. 1.1. conceber uma visão precisa e
60 O Código de Ética Mundial para o Turismo quadros definidos nos planos local,
da OMT, adotado pela Assembleia Geral da nacional, regional e internacional para
OMT em 1999 e aprovado pela Assembleia dinamizar a articulação e a cooperação
Geral da ONU em 2001, reafirma que entre os intervenientes do setor público
“o turismo [é] fator de aproveitamento e e privado, bem como das comunidades
enriquecimento do patrimônio cultural da locais, nos domínios do turismo e da
humanidade”. cultura;

A Conferência das Nações Unidas sobre 1.2. gerar mais informação sobre o
Habitação e Desenvolvimento Urbano turismo cultural, incluindo o recurso a
Sustentável, realizada em Quito, Equador, fontes de dados existentes e a grandes
em outubro de 2016, adotou a Nova Agenda volumes de dados para medir e mapear as
Urbana, uma nova estrutura que estabelece sinergias entre o turismo e a cultura;
como as cidades devem ser planejadas e 1.3 desenvolver políticas de turismo
gerenciadas para promover a urbanização cultural que promovam a contribuição
sustentável. da cultura e do turismo para o
desenvolvimento sustentável e que investigação sobre o papel do turismo na

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


estejam alinhadas com a Agenda 2030 da consolidação da paz, na reconciliação e na

a c i o n a l
ONU; segurança;
1.4 estimular a participação do setor 2.4. integrar o turismo cultural

N
privado e das comunidades locais no sustentável aos sistemas de segurança

r t í s t i c o
turismo e no desenvolvimento do turismo como resposta global às questões desta
cultural, assim como na preservação do área e incluir a proteção do patrimônio

A
patrimônio cultural; e nas estruturas de defesa nacionais,

e
i s t ó r i c o
regionais e internacionais; e
1.5 fomentar uma atmosfera de respeito
entre os turistas e as comunidades locais, 2.5 salientar a importância de proteger os
sítios do patrimônio histórico que apresen-

H
considerando suas identidades, modos

a t r i m ô n i o
de vida e crenças quando visitam locais tam valores culturais e religiosos comuns,
e destinos para fins de turismo cultural como os de Jerusalém, conservando e am-
sustentável. pliando sua diversidade social em benefício

P
d o
de todos os seus povos, da população da

e v i s t a
região em geral e do mundo.
2. Reforçar o papel do turismo e

R
da cultura na construção da paz e na
proteção do patrimônio, especialmente 3. Promover a gestão responsável e
nas zonas afetadas por conflitos, mediante sustentável do patrimônio cultural através
as seguintes ações: do turismo ao:

2.1. tornar o turismo cultural sustentável 3.1. proteger o patrimônio cultural e


mais “sensível à paz”, para assim reforçar salvaguardar o imaterial, que são essenciais
a cidadania global e incentivar visitas a para a manutenção da atratividade dos
61
locais relacionados com a paz, viagens destinos turísticos;
transfronteiriças, visitas de intercâmbio e 3.2. promover uma gestão responsável
turismo religioso; e sustentável do turismo nos sítios
2.2. promover as experiências culturais, Patrimônio Mundial;
o intercâmbio cultural e o diálogo com 3.3. assegurar a participação das
modelos de turismo inovadores que comunidades locais na gestão do
permitam a interação entre o anfitrião e o turismo nos sítios patrimoniais de forma
hóspede, valorizem a diversidade cultural sustentável, responsável e inclusiva e
e o patrimônio, engajem e fortaleçam as satisfazer as aspirações dessas comunidades
comunidades locais; no que diz respeito à salvaguarda e
2.3. sensibilizar os intervenientes transmissão do seu bem e seus valores
internacionais, nacionais e locais sobre o culturais tangíveis e intangíveis;
impacto do turismo cultural sustentável 3.4 promover a gestão sustentável do
nas sociedades pacíficas e aprofundar a turismo de sítios culturais de acordo
com critérios de administração eficaz dos 5. Explorar as sinergias entre a
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

visitantes e qualidade de sua experiência, e cultura e a natureza no turismo


a c i o n a l

eficiência na utilização dos recursos; e sustentável, procurando:


3.5 assegurar o financiamento 5.1. integrar as políticas e a gestão
N

apropriado para preservar os sítios do do patrimônio natural e cultural ao


r t í s t i c o

patrimônio cultural e para salvaguardar desenvolvimento turístico sustentável;


o patrimônio cultural imaterial 5.2. criar novos métodos que valorizem
A

através de investimentos e modelos de o caráter integrado dos valores naturais,


e
i s t ó r i c o

autofinanciamento. culturais e sociais da paisagem terrestre e


marítima através do turismo sustentável;
H

4. Incentivar uma abordagem criativa e 5.3. desenvolver e promover programas


a t r i m ô n i o

inovadora para o desenvolvimento urbano de turismo cultural que apoiem o


sustentável através do turismo cultural, ao: desenvolvimento sustentável do turismo
cultural nas zonas rurais, sobretudo
P

4.1. empregar novas tecnologias e


d o

através do apoio às pequenas e médias


inovação para desenvolver experiências
e v i s t a

empresas locais; e
interessantes de sensibilização sobre o
5.4 promover itinerários e rotas
R

patrimônio material e imaterial;


interpretativas temáticas nacionais
4.2. incentivar a inovação na e transfronteiriças que otimizem o
interpretação, nos produtos e nos engajamento e os benefícios para as
serviços de turismo cultural, elaborando comunidades de destino, e incentivem a
experiências turísticas voltadas para o compreensão cultural e as relações entre
turismo do patrimônio cultural urbano; cultura e turismo de natureza.
62
4.3. promover experiências de turismo
cultural que contemplem a diversidade Manifestamos o nosso sincero apreço e
cultural; gratidão a Sua Majestade, o Sultão Qaboos
4.4 fomentar oportunidades de bin Said, Sultão de Omã, bem como ao
Governo de Omã pela sua cordial acolhida e
negócio criativas para o turismo
pela contribuição fundamental para o avanço
cultural e aumentar os benefícios
das relações entre turismo e cultura, com
socioeconômicos das cidades criativas
o intuito de proporcionar um futuro mais
e do desenvolvimento urbano
sustentável para todos.
sustentável, especialmente no que diz
respeito à criação de emprego e ao
empreendedorismo; e Mascate, Sultanato de Omã,
4.5 alinhar as políticas de turismo 12 de dezembro de 2017.
urbano e de turismo cultural nas cidades
com a Nova Agenda Urbana.
III C o n f e r ê n c i a M u n d i a l A Resolução 70/193 da Assembleia Geral das

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


s o b r e T u r i s m o e C u lt u r a Nações Unidas (ONU), de 22 de dezembro

a c i o n a l
d a OMT / U n e s c o : e m de 2015, que institui 2017 como o Ano
prol do bem comum Internacional do Turismo Sustentável para
o Desenvolvimento, visa sensibilizar os

N
r t í s t i c o
Istambul, Turquia, tomadores de decisão e o público em geral
de 3 a 5 de dezembro de 2018. sobre a contribuição do turismo sustentável

A
para o desenvolvimento.

e
D e c l a r a ç ã o d e I s ta m b u l s o b r e

i s t ó r i c o
A Resolução 70/1 da Assembleia Geral
T u r i s m o e C u lt u r a : e m p r o l d o
da ONU, de 25 de setembro de 2015,
bem comum
Transformando o nosso Mundo: a Agenda

H
Nós, representantes das entidades de

a t r i m ô n i o
2030 para o Desenvolvimento Sustentável
turismo e cultura dos Estados Membros da
e os 17 Objetivos de Desenvolvimento
Organização Mundial do Turismo (OMT)
Sustentável.
e da Organização das Nações Unidas para a

P
d o
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), O Código de Ética Mundial para o

e v i s t a
representantes de organizações internacionais Turismo da OMT, adotado pela Assembleia
e regionais, do setor privado, da academia, Geral da OMT em 1999 e aprovado pela

R
de comunidades locais e da sociedade civil, Assembleia Geral da ONU em 2001, reitera
nos reunimos por ocasião da III Conferência a importância crescente do patrimônio
Mundial sobre Turismo e Cultura da OMT/ cultural para o turismo, ao mesmo tempo que
Unesco: em prol do bem comum, em Istam- contribui para a sua valorização.
bul, de 3 a 5 de dezembro de 2018, sob o pa- A Convenção da Unesco sobre a Proteção
trocínio de Sua Excelência, Senhor Mehmet e Promoção da Diversidade das Expressões
Nuri Ersoy, Ministro da Cultura e Turismo Culturais, adotada pela Conferência Geral 63

da República da Turquia, com a presença dos da Unesco em 2005, a Convenção para


mais altos escalões da OMT e da Unesco. a Salvaguarda do Patrimônio Cultural
Imaterial, adotada em 2003, e a Convenção
Recordamos os seguintes pontos: sobre a Proteção do Patrimônio Cultural
A Declaração de Mascate sobre Turismo e e Natural Mundial, adotada em 1972,
Cultura: fomentando o desenvolvimento são voltadas à proteção, à conservação e à
sustentável (2017) e a Declaração de Siem apresentação do patrimônio cultural e natural
Reap sobre Turismo e Cultura: construindo com valor universal excepcional para toda a
um novo modelo de parceria (2015) humanidade.
convidam a reforçar a contribuição do
turismo e da cultura para as estratégias Reafirmamos os seguintes compromissos:
nacionais dos Objetivos de Desenvolvimento 1. Fortalecer as sinergias entre o
Sustentável (ODS) e a estabelecer prioridades turismo, a cultura e os intervenientes
para facilitar esse processo. das comunidades locais, continuando a
contribuir com a Agenda 2030 para o um catalisador do desenvolvimento
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Desenvolvimento Sustentável e com os 17 sustentável, sobretudo nas cidades, onde


a c i o n a l

ODS, ao: as atividades e instituições culturais


1.1. incentivar uma articulação mais devem ser sustentáveis e vibrantes;
N

estreita na criação de políticas e estratégias 2.2. sensibilizando para a importância


r t í s t i c o

baseadas em dados concretos e na das cidades, que sempre abrigam uma


medição dos impactos econômicos, sociais vasta gama de destinos e recursos
A

e ambientais do turismo cultural; turísticos, como pioneiras na promoção


e
i s t ó r i c o

1.2. criar estruturas de governança do turismo cultural sustentável;


que associem turismo e cultura e 2.3. fortalecendo o papel de cidades em
H

proporcionem uma vasta gama de todo o mundo como observatórios locais


a t r i m ô n i o

benefícios a destinos, empresas, de dados e análises e como laboratórios


visitantes e populações locais, mantendo de práticas inovadoras para criação de
sempre um equilíbrio saudável entre o modelos de desenvolvimento sustentável
P
d o

desenvolvimento turístico e a conservação no turismo, o que contribui diretamente


e v i s t a

e salvaguarda do patrimônio; para a implementação da Agenda 2030


1.3. defender as perspectivas e os para o Desenvolvimento Sustentável;
R

interesses das comunidades locais nas 2.4. usufruindo plenamente do potencial


políticas e estratégias de turismo cultural; que as organizações intergovernamentais
1.4. assegurar que as parcerias público- e panregionais, assim como as redes
privadas e as práticas de investimento internacionais, oferecem, estimulando
abordem sistematicamente os desafios do o intercâmbio e a colaboração mundial
desenvolvimento sustentável e promovam entre cidades e autoridades locais em
64
oportunidades de trabalho digno nos prol da construção de um ecossistema
destinos turísticos e no setor cultural. sustentável no setor do turismo,
juntamente com outros intervenientes e
atores.
2. Configurar o turismo cultural para
cidades sustentáveis e criativas:
3. Ampliar o protagonismo do turismo
2.1. reconhecendo que a
responsável como aliado na salvaguarda
contribuição do turismo não se limita
do patrimônio cultural imaterial:
a gerar oportunidades econômicas,
particularmente nos setores culturais e 3.1. sensibilizando os cidadãos locais,
criativos e nos contextos urbanos, mas nacionais e internacionais e assegurando
constitui um elemento essencial de a apreciação recíproca da importância do
todas as dimensões do desenvolvimento. patrimônio cultural imaterial;
Ademais, o turismo centrado nas pessoas 3.2. fortalecendo o poder de decisão
e orientado para a cultura pode ser das comunidades locais, incluindo os
detentores e guardiões do patrimônio Manifestamos a nossa mais sincera

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


cultural imaterial, bem como dos povos gratidão ao Excelentíssimo Senhor Mehmet

a c i o n a l
indígenas, mulheres e jovens, no que diz Nuri Ersoy, Ministro da Cultura e do
respeito ao desenvolvimento do turismo Turismo da República da Turquia, e a toda a
e às melhores opções para o aumento da equipe pela calorosa recepção em Istambul e

Nr t í s t i c o
qualidade de vida; pela excelente organização da conferência.
3.3. criando plataformas de colaboração

A
entre comunidades, autoridades turísticas Istambul, República da Turquia,

e
4 de dezembro de 2018.

i s t ó r i c o
e outros intervenientes para assegurar
a valorização do patrimônio cultural
imaterial, promovendo a diversidade

Ha t r i m ô n i o
cultural e a criatividade humana.

4. Impulsionar o turismo cultural para

Pd o
todos através da transformação digital ao:

e v i s t a
4.1. incentivar estratégias baseadas na
tecnologia e soluções personalizadas que

R
favoreçam a investigação, a gestão dos
congestionamentos e o acesso universal
aos bens culturais, contemplando
igualmente as pessoas com deficiência e os
requisitos específicos de acesso;
4.2. utilizar as tecnologias da informação
e da comunicação para salvaguardar, 65

arquivar, preservar, gerir e promover o


patrimônio cultural, oferecendo vantagens
competitivas aos destinos e promovendo a
inclusão social;
4.3. melhorar a experiência dos visitantes
nos sítios culturais através da inovação
tecnológica, sem banalizar a representação
e a interpretação do patrimônio cultural
constituído;
4.4. acolher as oportunidades que a
transformação digital traz aos setores
Caçador de onça. Vitalino
do turismo e da cultura, promovendo Pereira dos Santos,
conhecido como Mestre
soluções inteligentes para a capacitação. Vitalino (1909-1963), 1960
(circa), Museu do Barro de
Caruaru, Caruaru (PE).
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

66
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
Anita Garibaldi,
entre 1842 e 1849.
Juan Manuel Blanes,
Lancero de la época de
Rivera. Óleo sobre tela,

36 x 24,5 cm, século XIX.

R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
67

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

68
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
69

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Foto: Cristiano Mascaro.


São Francisco do Sul (SC).
Embarcações Brasileiras,
Museu Nacional do Mar –
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

70
Celia Martínez Yáñez C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
Celia Mar tínez Yáñez

a c i o n a l
C a r ta I n t e r n a c i o n a l de T u r i s m o C u lt u r a l
Icomos 1999:

N
do de primeira aproximação

r t í s t i c o
pa r a s u a r e v i s ã o e at u a l i z a ç ã o

A
e
I comos I nternational C ultural T ourism C harter of 1999: a preliminary review and update

i s t ó r i c o
L a C arta I nternacional de T urismo C ultural de I comos de 1999: primera aproximación a
su revisión y actualización

H
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

P
d o
e v i s t a
O objetivo deste artigo é suscitar uma This paper presents a preliminary discussion
primeira reflexão sobre a futura revisão da about the future review of the International

R
Carta Internacional sobre o Turismo Cultural, Cultural Tourism Charter adopted by the
adotada pelo Conselho Internacional de International Council on Monuments and Sites
Monumentos e Sítios (Icomos) em 1999. (Icomos) in 1999. To this end, we first introduce
Para isso, em primeiro lugar, apresentamos o the importance of Icomos for global policy and
papel da organização na doutrina e no debate debate about conservation within the framework
mundial sobre a conservação no âmbito of tourism and point out the key guidelines of
turístico e salientamos as principais diretrizes its two Charters on Cultural Tourism (1976 71
de suas duas Cartas de Turismo Cultural and 1999). We then trace the background and
(1976 e 1999). Em seguida, delineamos the reasons that led to the review/update of the
os antecedentes e as causas que levaram à latter, with special attention to the exponential
revisão/atualização do segundo desses textos, growth of visitors to cultural heritage sites and to
dando especial atenção ao crescimento the urgent need for a sustainable redirection of
exponencial de visitantes aos bens culturais this sector. Lastly, we address the most important
e à urgência de redirecionar esse setor a um elements of the review, focusing on the
patamar sustentável. Por último, apontamos implementation of indexes for each dimension
os principais pontos da revisão, com ênfase na of tourism activity absorption limits and the
implementação de indicadores relacionados às importance of aligning the resulting document
diferentes dimensões da capacidade de carga with other applicable documents from Icomos
Atenas (Grécia), 2019.
e na necessidade de alinhar o documento and other relevant authorities. Foto: Adriana Salay.

resultante com os instrumentos do Icomos e


de outras entidades competentes.
Resumen A continuación delineamos los antecedentes
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o

y las causas que llevaron a la revisión/


a c i o n a l

El propósito de este artículo es plantear una actualización del segundo de estos textos,
primera reflexión sobre la futura revisión de la prestando especial atención al crecimiento
exponencial de los visitantes a los bienes
N

Carta Internacional sobre el Turismo Cultural,


r t í s t i c o

adoptada por el Consejo Internacional de culturales y la urgencia de redirigir este sector


Monumentos y Sitios (Icomos) en 1999. Con a un nivel sostenible. Por último, señalamos los
A

este fin, presentamos en primer lugar el papel puntos principales de la revisión, con énfasis en
e

de la organización en la doctrina y en el debate la implementación de indicadores relacionados


i s t ó r i c o

mundial sobre la conservación en el ámbito del con las diferentes dimensiones de la capacidad
turismo y destacamos las principales directrices de carga y en la necesidad de alinear el
H

documento resultante con los instrumentos de


a t r i m ô n i o

de sus dos Cartas de Turismo Cultural


Icomos y de otras entidades competentes.
Celia Martínez Yáñez

(1976 y 1999).
P
d o
e v i s t a
R

72
Icomos com as transformações produzidas pelo

C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
e proteção do
pat r i m ô n i o n o â m b i t o segmento; inúmeras publicações, simpósios

a c i o n a l
do turismo científicos e debates realizados para abordar
a problemática; estabelecimento do Comitê
Científico Internacional de Turismo

N
Os regulamentos internacionais relativos

r t í s t i c o
ao turismo são muito amplos e incluem Cultural (ICTC); e redação de duas cartas
recomendações e cartas promulgadas pela internacionais sobre a matéria. Este artigo se

A
Organização Mundial do Turismo (OMT); concentrará exclusivamente nos três últimos.

e
Criado na década de 1980 e hoje formado

i s t ó r i c o
por organizações internacionais para a
proteção do patrimônio, como a Organização por 170 membros de 53 países, o ICTC tem
das Nações Unidas para a Educação, a como objeto de estudo a complexa relação

H
entre turismo e conservação do legado

a t r i m ô n i o
Ciência e a Cultura (Unesco) e o Conselho
patrimonial. O comitê não é apenas a voz

Celia Martínez Yáñez


Internacional de Monumentos e Sítios
(Icomos); e por outras instituições, como especializada do Icomos nesse campo, mas,

P
o Conselho da Europa, a Organização dos por meio de suas atividades – conferências,

d o
Estados Ibero-Americanos para a Educação, seminários, consultorias para diferentes

e v i s t a
a Ciência e a Cultura (OEI) etc. Essa administrações e presença no debate

R
regulamentação começou a ser desenvolvida internacional –, também proporciona um
nas décadas de 1970 e 1980 – quando foram fórum de diálogo entre especialistas na
promulgados documentos fundamentais, tutela de bens culturais, profissionais do
por exemplo, a Carta de Turismo Cultural turismo, estudiosos e acadêmicos, além
do Icomos (1976) e a Carta de Turismo de constituir uma plataforma de pesquisa
e Código do Turista da OMT (1985) – e multidisciplinar para os atores envolvidos.
desenvolveu-se mais intensamente a partir O intuito dessa atuação é definir e divulgar
73
dos anos 1990, quando o setor tornou-se uma critérios e estratégias para a gestão turística
das maiores indústrias mundiais e surgiram sustentável em todos os tipos de patrimônio
novos problemas, como sustentabilidade, cultural. O conselho, além disso, escreveu as
capacidade de carga e questões éticas. Cartas de Turismo Cultural de 1976 e 1999,
Fazendo parte desse marco institucional consideradas dois marcos cruciais da doutrina
e estando consciente do profundo impacto internacional sobre o assunto.
do turismo em todos os bens patrimoniais e A Carta de Turismo Cultural de 1976,
nas comunidades anfitriãs, o Icomos esteve assinada pelo Icomos durante o Seminário
envolvido na matéria praticamente desde que Internacional de Turismo Contemporâneo
foi criado, na década de 1960, principalmente e Humanismo, realizado em Bruxelas,
por meio de quatro mecanismos. São eles: na Bélgica, foi pioneira em sublinhar a
avaliação dos bens culturais candidatos à dimensão econômica e educativa dos bens
inscrição na lista do Patrimônio Mundial e culturais no âmbito turístico, estabelecendo a
monitoramento de seu estado de conservação, conscientização sobre os valores patrimoniais Praia da Barceloneta,
Barcelona (Espanha), 2018.
o que muitas vezes implica lidar diretamente como ferramenta educativa fundamental para Foto: Paola de Grenet.
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Celia Martínez Yáñez


P
d o
e v i s t a
R

cidadãos (especialmente crianças), visitantes das realizações mais importantes da carta foi
e gestores dos monumentos. Nesse momento, alertar sobre os múltiplos aspectos éticos,
já foi colocada a preocupação quanto ao sociais e econômicos da atividade, sendo a sua
aumento e aos efeitos do setor em posição absolutamente fundamental e vigente
locais patrimoniais: na problemática turística atual: “O respeito
74 O turismo é um fato social, humano, eco- ao patrimônio mundial, cultural e natural, é
nômico e cultural irreversível. Sua influência no o que deve prevalecer sobre qualquer outra
campo dos sítios e monumentos é particularmente consideração, por muito justificada que esta
importante e só pode aumentar, dados os conhe- se paute desde o ponto de vista social, político
cidos fatores de desenvolvimento de tal atividade ou econômico” (Icomos, 1976, p. 2).
(Icomos, 1976, p. 1). Com base no desenvolvimento dessas
Considerando que o documento foi noções, a Carta Internacional sobre o
escrito na década de 1970, quando o turismo Turismo Cultural de 1999 foi aprovada na
cultural era um nicho ainda complementar a XII Assembleia Geral do Icomos no México.
outras formas predominantes (especialmente Estruturada em torno de seis princípios, foi
as de sol e praia), é justo estimar que se e continua sendo, até hoje, um documento
adiantou ao seu tempo, antecipando as essencial para destacar o potencial do setor
consequências do desenvolvimento do como forma de colaboração e intercâmbio
segmento. Essa natureza antecipatória intercultural. Pode-se exigir, nesse sentido,
também se vê ressaltada pelo fato de que uma que a promoção turística colabore para
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Celia Martínez Yáñez


P
d o
e v i s t a
R
a proteção do legado, de modo que a social, econômico e cultural das comunidades de
experiência dos visitantes torne-se um acolhimento (Icomos, 1999, p. 4).
importante instrumento de conscientização.
Outra de suas grandes contribuições foi,
Da mesma forma, a dimensão dinâmica
sem dúvida, reivindicar uma abordagem
da relação entre turismo e patrimônio é
enfatizada, estabelecendo conceitos-chave turística orientada pela participação necessária
das comunidades locais, o que nunca havia 75
como limites aceitáveis de mudanças, sobre
os quais comentaremos nas seções a seguir. sido abordado com tanta profundidade até
Além disso, o documento e seu considerável então e tampouco foi totalmente alcançado
impacto em todas as doutrinas e estudos ou implementado nos dias atuais, como se vê
internacionais sobre o tema foram cruciais no trecho a seguir:
para proporcionar uma visão holística das
Os direitos e os interesses legítimos das comu-
várias dimensões nas quais reside
nidades de acolhimento, quer ao nível regional,
a sustentabilidade: quer local, os proprietários e as populações locais
Os [...] planos [de desenvolvimento] devem [...] devem ser respeitados. Essas comunidades
estabelecer os limites aceitáveis das modificações devem participar na elaboração e na execução de
suscetíveis de serem introduzidas nestes conjuntos, projetos de valorização do patrimônio cultural,
tendo em conta o impacto da utilização turística definindo os objetivos, as estratégias, as políticas e
sobre as características físicas, a integridade, os procedimentos que permitam identificar, con-
Angkor, Siem Reap
a ecologia e a biodiversidade dos espaços, os servar, gerir, apresentar e interpretar, num contexto (Camboja), 2018.
Foto: Vitor Hugo Mori.
acessos, os sistemas de transporte, e o bem-estar turístico (Icomos, 1999, p. 5). Acervo: Iphan.
Motivos da revisão diálogo e a tolerância intercultural e a cultura
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o

da
C a r ta d e 1 9 9 9 da paz, bem como promover a melhoria
a c i o n a l

das infraestruturas públicas que também


Apesar da vigência de princípios e beneficie as comunidades de acolhimento
etc. Entre seus efeitos adversos, cabe
N

conceitos tão importantes quanto os


r t í s t i c o

divulgados nessas duas cartas, a relação destacar: a deterioração física devido ao uso
entre a proteção do patrimônio e o impacto descontrolado e massivo dos bens culturais; as
A

do turismo no bem-estar dos povos e no restaurações, reconstruções e intervenções de


e

todos os tipos, muito inadequadas, às quais


i s t ó r i c o

desenvolvimento sustentável é hoje muito


contraditória. Embora, quando administrado os locais são frequentemente submetidos
adequadamente, o setor colabore para a para adaptar-se a determinadas expectativas
H

turísticas, por vezes medíocres, às custas de


a t r i m ô n i o

conservação dos monumentos e a economia


sua autenticidade e integridade; a crescente
Celia Martínez Yáñez

dos locais de acolhimento, a escalada do


segmento cultural banalizou e modificou banalização, reificação, comercialização
P

as pautas de sua fruição, tornada consumo, e homogeneização cultural e patrimonial


d o

não só empobrecendo a qualidade de vida como resultado da exploração econômica;


e v i s t a

e a identificação com o legado de muitas a superação da capacidade de carga e


R

comunidades anfitriãs, mas também degradação do entorno dos bens culturais;


consagrando sua função econômica em a gentrificação, elitização, museificação e
detrimento de sua capacidade para responder perda da diversidade econômica nos centros e
às necessidades imateriais de beleza, harmonia cidades históricas, resultado do foco turístico
e cultura, que só podem ser satisfeitas quando dos destinos, entre outros.
os bens culturais e naturais são visitados em Esses efeitos adversos são consequência
condições apropriadas. de quatro fatores claramente relacionados
76
É evidente, portanto, que o turismo entre si. O primeiro é a falta de coordenação
tem efeitos tanto positivos quanto negativos e comunicação entre as políticas públicas
sobre o patrimônio e as comunidades de (planejamento urbano, proteção do
acolhimento, cuja análise é essencial para patrimônio, turismo etc.), os agentes
repensar essa relação. Entre os positivos, públicos e privados e a própria sociedade
vale ressaltar: a contribuição do segmento local, que intervêm no desenvolvimento
para uma maior valorização do legado pela da atividade. O segundo é a abordagem
sociedade, que vê nele não só uma herança do imediatista que norteia a maior parte da
passado, mas também uma fonte de cultura, indústria e dos investidores, explorando
educação e riqueza; a capacidade de promover excessivamente determinados bens, cidades
a conservação e restauração dos bens (embora, históricas, paisagens culturais e destinos
infelizmente, nem sempre com critérios naturais, sem considerar a degradação
corretos); a influência multiplicadora no setor produzida ou a necessidade de respeitar
de serviços e emprego; o potencial de atrair princípios básicos essenciais, como a
capital de investimento externo, encorajar o capacidade de carga. O terceiro é a pressão
que o setor exerce sobre a economia e últimas décadas. Os números fornecidos pela

C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
os responsáveis pela gestão de políticas OMT (2017b) são mais que expressivos:

a c i o n a l
públicas associadas à área, uma vez que os se em 1950 os viajantes eram cerca de 25
benefícios financeiros gerados, especialmente milhões, e a grande maioria das pessoas não se
os induzidos, são tão grandes que é muito afastava mais de 100 quilômetros de casa em

N
r t í s t i c o
difícil renunciar a eles em prol de uma toda a sua vida, em 2019 já foi ultrapassado
sustentabilidade que ainda não recebeu com folga o trilhão de deslocamentos

A
conteúdo normativo suficiente no caso do internacionais, que podem chegar a 1,8

e
patrimônio. O quarto fator que mais afeta trilhão em 2030 de acordo com as previsões

i s t ó r i c o
a degradação, a banalização e a exploração da organização.
dos bens, como resultado de todos os Esses números são ainda mais chocantes

H
itens elencados, é o aumento excessivo de quando enquadrados no contexto do

a t r i m ô n i o
visitantes a locais patrimoniais que ocorreu patrimônio, já que grande parte dos turistas

Celia Martínez Yáñez


nas últimas décadas. internacionais, independentemente de

P
Embora esse crescimento seja, sem sua motivação, visita bens culturais que

d o
dúvida, sintomático do progressivo interesse muitas vezes não estão preparados para esse

e v i s t a
social nessas localidades e do nível cultural crescimento excessivo. Os templos de Angkor,

R
e educativo alcançado em muitos países, no Camboja, são um bom exemplo. O local
também indica que o patrimônio tornou-se foi inscrito na lista do Patrimônio Mundial
um componente fundamental do lazer, um da Unesco em 1992 e até 2006 recebia cerca
lugar-comum ou nada mais que um item de 7,7 mil visitantes anuais. No entanto,
de uma lista de coisas a fazer em viagem. em 2006, a Autoridade Nacional de Apsara,
Em conjunto com a redução substancial do responsável pela sua tutela, cedeu a venda de
valor dos transportes (com o consequente ingressos para uma companhia petrolífera
77
efeito sobre a mudança climática), isso nacional, a Sokimex, que comercializou quase
fundamentalmente explica a visita massiva 900 mil entradas a partir do ano seguinte,
aos bens mais conhecidos e relevantes. A continuando essa escalada insustentável em
transformação do legado cultural em recurso, 2010, 2011 e, especialmente, 2012, quando,
ou mais um objeto de consumo, indica que, em apenas um ano, o número foi acrescido
com frequência, o adjetivo “cultural” aplica- de um milhão de pessoas, atingindo um total
se a comportamentos turísticos relacionados de dois milhões de turistas. Não só os dados
apenas secundariamente ao conhecimento dos são surpreendentes, mas também o fato de
valores patrimoniais, mas que mesmo assim que, a despeito desse aumento, as autoridades
geram um impacto, positivo ou negativo, competentes aprovaram apenas em 2013 o
que deve ser previsto e analisado. Em vez de Plano de Gestão Turística de Angkor, talvez
falar sobre o aumento espetacular sofrido pelo em resposta aos vários relatórios sobre o
segmento, deveríamos nos referir ao turismo estado de conservação elaborados pela Unesco
cultural de massa, que, de fato, experimentou e seus órgãos consultivos, que indicavam
um desenvolvimento sem precedentes nas também outros problemas no monumento
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

78
Celia Martínez Yáñez C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
registrado (Winter, 2008; Smith, 2007; problemáticas turísticas durante um simpósio

C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
Channyda e Turton, 2015). Somente em realizado em Florença em 2017. O principal

a c i o n a l
2016, o governo retirou a venda de ingressos resultado do encontro foi a elaboração da
da controvertida empresa. Declaração de Florença sobre Conservação do
Esse e outros exemplos de locais Patrimônio Cultural e Turismo Sustentável

N
r t í s t i c o
patrimoniais massificados e degradados para o Desenvolvimento (Icomos, 2017c),
devido à escalada do turismo (Veneza, que convida o conselho e outras organizações

A
Amsterdã, Dubrovnik, Barcelona etc.) internacionais a formular um contexto e uma

e
demonstram que, se, nas décadas de 1980 agenda para abordar as questões urgentes e

i s t ó r i c o
e 1990, o aumento do número de turistas fornecer orientações sobre o assunto.
e a consideração otimista da cultura A Declaração de Florença, adotada alguns

H
e do patrimônio prometiam grandes meses depois na XIX Assembleia Geral do

a t r i m ô n i o
oportunidades de desenvolvimento e Icomos, realizada em Délhi (Resolução

Celia Martínez Yáñez


benefícios claros, hoje é evidente que 19GA 2017/20 – Icomos, 2017c), marcou,

P
precisamos de uma mudança urgente de portanto, o início da revisão da Carta de

d o
paradigma que analise não só a quantidade, 1999, estabelecendo o contexto doutrinário

e v i s t a
mas também a qualidade do turismo de sua futura atualização e iniciando o

R
patrimonial e seus mecanismos de marketing acompanhamento do processo pelo Conselho
e distribuição. Apesar dos esforços para Científico e Conselho Consultivo, nas
diversificar o mercado, o crescimento do seguintes assembleias gerais da organização:
setor é excessivo nos locais com monumentos Buenos Aires (2018), Marraquexe (2019) e,
mundialmente famosos e muito mais em breve, Sydney (2020).
modesto fora dos circuitos habituais.
Embora, como já assinalamos, a Carta Objetivos da revisão da
79
Internacional sobre o Turismo Cultural C a r ta d e 1 9 9 9
de 1999 continue a ser um documento
relevante para abordar esses problemas, o A necessidade de atualizar a Carta
crescimento exponencial e sem precedentes Internacional sobre o Turismo Cultural de
do segmento nos últimos 20 anos (669 1999 não é apenas consequência do aumento
milhões de visitantes em 2000, comparado vertiginoso do setor, da exploração excessiva
a 1,4 trilhão previsto para 2020 – OMT, sofrida por alguns bens e do imperativo
2017b) requer uma análise cuidadosa, de melhorar a gestão dos visitantes em
novas ferramentas e estratégias para evitar locais patrimoniais para não comprometer
os impactos negativos, reforçar os aspectos sua conservação e distribuir melhor seus
positivos e tentar responder aos desafios benefícios entre as comunidades anfitriãs.
sem elitizar o patrimônio. Portanto, após A tudo isso acrescenta-se que, desde a
vários debates e reuniões científicas sobre o publicação do documento, os conceitos Ta Prohm, um dos templos
de Angkor, Siem Reap
assunto, o ICTC decidiu revisar a Carta de de patrimônio e sustentabilidade foram (Camboja), 2018.
Foto: Vitor Hugo Mori.
1999 para adaptá-la às atuais circunstâncias e ampliados, assim como as demandas cidadãs a Acervo: Iphan.
esse respeito. Portanto, para a revisão da carta, Por último, o quarto objetivo – um dos
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o

o grupo de trabalho do ICTC estabeleceu mais importantes – é que a carta esteja ali-
a c i o n a l

alguns objetivos. nhada com os demais regulamentos interna-


O primeiro, em conformidade com o cionais em matéria de turismo e patrimônio,
exposto, é incluir, entre os seus princípios, o que implica sua coordenação não só com os
N
r t í s t i c o

as atuais tendências de identificação, próprios documentos emitidos pelo Icomos,


proteção, divulgação e desenvolvimento mas também com os de outras organizações.
A

sustentável e participativo do patrimônio. Entre as principais referências a conside-


e

Isso significa promover a igualdade de rar, destacam-se os documentos doutrinários


i s t ó r i c o

gênero, com participação e benefícios iguais do próprio Icomos, em particular: Carta de


no âmbito turístico; fortalecer o apoio Veneza (1964), Carta de Burra (2013 [1981],
H

a grupos indígenas e todos os tipos de bem como as revisões de 1988 e 1999); o


a t r i m ô n i o

comunidades anfitriãs que participam do Documento de Nara sobre Autenticidade,


Celia Martínez Yáñez

turismo patrimonial ou são por ele afetadas; elaborado pela Unesco, Centro Internacional
P

levar em conta a mudança climática; avaliar de Estudos para a Conservação e Restauro de


d o

as diferentes dimensões da capacidade de Bens Culturais (ICCROM) e Icomos (1994);


e v i s t a

carga e sua necessária aplicação na gestão a Carta sobre a Interpretação e Apresentação


R

de visitantes; profissionalizar a divulgação e de Sítios de Patrimônio Cultural (2008); a


interpretação do patrimônio; conscientizar Declaração de Paris sobre o Patrimônio como
o setor em relação às prioridades um Motor de Desenvolvimento (2011b); o
de conservação. Projeto Conectando Práticas, que o Icomos
O segundo é aumentar o senso de e a União Internacional para a Conservação
responsabilidade quanto aos diferentes da Natureza (UICN) desenvolvem em con-
graus de impacto (positivos e negativos) do junto desde 2013; a Declaração de Délhi
80
turismo sobre os variados tipos de bens e sobre Patrimônio e Democracia (2017a); a
destinos patrimoniais para os diversos tipos iniciativa Nossa dignidade comum: avançan-
de atores envolvidos e, especialmente, para do em abordagens baseadas em direitos para
essa indústria, conseguindo uma melhor a conservação do patrimônio [Our Common
compreensão da problemática turística para a Dignity: advancing rights-based approaches
conservação, dentro e fora do Icomos. to heritage conservation], cujos relatórios são
O terceiro objetivo é estimular a apresentados anualmente nas assembleias
participação dos comitês científicos nacionais gerais do Icomos (s.d.); bem como diversas
e internacionais da entidade, uma vez que diretrizes do conselho sobre temas relacio-
todas as áreas temáticas são afetadas de nados, entre as quais se destaca o Guia para
alguma forma pelo setor turístico. Além a Avaliação do Impacto Patrimonial para os
disso, seus membros devem ser apoiados Bens Culturais Mundiais (2011a).
e empoderados nos conflitos advindos Deve-se mencionar também, a Agenda
dessa atividade, implicando o conjunto da 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento
organização no documento resultante. Sustentável (ODS) da Organização das
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Celia Martínez Yáñez


P
d o
e v i s t a
R
81
Nações Unidas (ONU, 2015), com os quais objetivos propõem-se a “até 2030, elaborar
o Icomos e o ICTC estão comprometidos e implementar políticas para promover o
por meio de um Grupo de Trabalho turismo sustentável, que gera empregos e
Interdisciplinar e um Plano de Trabalho promove a cultura e os produtos locais” bem
específico sobre o tema, visam projetar como “fortalecer esforços para proteger e
indicadores para os ODS relacionados salvaguardar o patrimônio cultural e natural
com a proteção do patrimônio cultural e do mundo” (ONU, 2015, s.p.). Por sua vez,
turismo (Icomos, 2017b). São abordados, o ODS 14.7 visa: “Até 2030, aumentar os
em particular, os ODS 8 (Trabalho decente benefícios econômicos para os pequenos
e crescimento econômico), 11 (Cidades e Estados insulares em desenvolvimento e os
comunidades sustentáveis), 12 (Consumo países menos desenvolvidos, a partir do uso
e produção responsáveis) e 14 (Vida na sustentável dos recursos marinhos, inclusive
água), e seus objetivos específicos 8.9, 11.4, por meio de uma gestão sustentável da pesca,
Cusco (Peru), 2017.
12.b e 14.7. O primeiro e o segundo desses aquicultura e turismo” (ONU, 2015, s.p.). Foto: Vincent Bonnet.
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Celia Martínez Yáñez


P
d o

Embora, nesse programa, as referências ao Manual para a Gestão do Turismo em Sítios


e v i s t a

legado cultural sejam bastante generalistas Patrimônio Mundial (Pedersen, 2002) e suas
R

e instrumentais, os ODS e seus indicadores inúmeras declarações e recomendações sobre


ainda têm um longo caminho a percorrer, a o tema, que de alguma forma substituem a re-
partir do qual talvez surja uma aproximação ferência mínima de aplicação à problemática
mais profunda da, sem dúvida, importante turística feita pela Convenção para a Proteção
contribuição da proteção patrimonial para o do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural
desenvolvimento sustentável. (Unesco, 1972), que a menciona, de fato,
O Programa Patrimônio Mundial e Tu- tangencialmente, apenas quando o formato
82
rismo Sustentável da Unesco, por sua vez, dos dossiês de inscrição refere-se aos fatores
propõe “uma nova abordagem baseada no que podem afetar os bens inscritos.
diálogo e cooperação das partes interessadas Também são importantes a doutrina
para integrar o planejamento do turismo e e as recomendações emanadas da
a gestão do patrimônio como destino, com OMT, especialmente a Declaração de
o objetivo de proteger e valorizar os bens Chengdu sobre Turismo e Objetivos de
culturais e naturais para desenvolver um Desenvolvimento Sustentável (OMT, 2017c);
turismo adequado” (Unesco, s.d., s.p.). Esse a Declaração de Siem Reap sobre Turismo e
importante programa ficará completo com a Cultura: construindo um novo modelo de
próxima Ferramenta para Avaliação da Gestão parceria, da Unesco e OMT (2015); e, acima
de Visitantes (VMAT, sigla em inglês para de tudo, a minuta da Convenção Marco
Visitors’ Management Assessment Tool), com a sobre a Ética do Turismo (OMT, 2017a),
qual a revisão da Carta de 1999 estará alinha- que tornará o Código de Ética Mundial para
da. Além disso, complementa outros instru- o Turismo (OMT, 1999) um instrumento
mentos promulgados pela Unesco, como o jurídico vinculante para os países signatários,
uma vez aprovado em 2019 na XXIII Sessão pelos responsáveis por sua proteção e gestão,

C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
da Assembleia Geral da OMT em São à necessidade de manter a qualidade da

a c i o n a l
Petersburgo (OMT, 2019). experiência do visitante e à obrigação moral
Junto com a cooperação de todos de garantir a participação das comunidades
os comitês científicos internacionais do

N
anfitriãs no desenvolvimento do turismo e na

r t í s t i c o
Icomos e entre o conselho e organizações distribuição equitativa de seus benefícios.
competentes, outro ponto importante Para nos aproximar de uma gestão de

A
para a revisão da Carta de 1999 é fornecer visitantes coerente com essas exigências, é

e
conteúdo e diretrizes para a sustentabilidade preciso, sem dúvida, estabelecimento, respeito

i s t ó r i c o
do turismo nos bens culturais. Embora essa e monitoramento contínuo das diferentes
questão tenha sido tratada extensivamente no dimensões da capacidade de carga por meio

H
âmbito do patrimônio natural ou do meio

a t r i m ô n i o
de indicadores de acompanhamento que não
ambiente, a concretização de regulamentações

Celia Martínez Yáñez


estavam totalmente desenvolvidos em 1999.
internacionais em instrumentos legais e Portanto, outro dos nossos principais objetivos

P
ferramentas específicas para assegurá-la é incluir, entre os princípios do futuro

d o
continua sendo insuficiente no caso do documento, a obrigação de implementar essas

e v i s t a
legado cultural (incluindo a regulamentação ferramentas de controle e gestão em todos os

R
mencionada, com exceção, logicamente, tipos de bens culturais, abrangendo, como já
da promulgada pelo Icomos e pela Unesco, dissemos, as diversas acepções que a capacidade
como algumas das cartas, declarações e de carga ou acolhimento pode ter, como as que
convenções citadas). elencamos a seguir.
Tendo em vista a indeterminação
patrimonial de alguns dos mecanismos - Capacidade de carga física: mede o quanto
mencionados, a revisão da Carta de 1999 o sistema pode oferecer serviços turísticos e
o quanto os bens culturais podem receber 83
pretende tratar de aspectos concretos da
relação entre turismo e conservação do visitantes com base em sua extensão, estado
patrimônio, conscientizando os atores de conservação e fragilidade.
envolvidos de que o turismo sustentável - Capacidade de carga ecológica: mede o
é um processo contínuo cujos impactos quanto o meio natural pode responder ao
devem receber um acompanhamento uso turístico.
constante. Assim, pode-se introduzir - Capacidade de carga social ou psicológica:
medidas preventivas ou, no pior dos casos, mede tanto o nível de tolerância da população
corretivas, que sejam essenciais, estabelecidas residente em relação aos visitantes quanto a
por instrumentos de gestão dos fluxos qualidade da experiência do turista.
de visitantes. Essa gestão não pode ser - Capacidade de carga econômica: é o limite
determinada pela demanda potencial, mas além do qual a função turística perturba ou
pelo respeito rígido à capacidade de carga eclipsa outras atividades locais.
Massificação de visitantes
ou acolhimento dos diversos bens culturais, - Capacidade de gestão turística: reside em na Praça de São Marcos,
Veneza (Itália).
às prioridades de conservação impostas vários aspectos, como o grau de cooperação Foto: Celia Martínez Yáñez.
entre as administrações públicas e privadas, e as políticas turísticas nacionais, regionais e
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o

a participação dos moradores em ações turís- locais deveriam, portanto, ser dirigidas a esses
a c i o n a l

ticas, a compreensão do mercado turístico e agentes, apelando para sua responsabilidade


suas tendências, e a capacidade dos gestores direta e limitando sua importante influência
na gestão desses bens.
N

de canalizar o turismo para os fins desejados.


r t í s t i c o

O segundo é a necessidade de certa flexi-


Obviamente, levando em conta essa
bilidade e adaptação dos conceitos de capaci-
diversidade de acepções, a efetividade das
A

dade de carga e limites aceitáveis de mudança,


e

abordagens baseadas na capacidade de carga uma vez que são noções multidimensionais e
i s t ó r i c o

e nos limites de mudança desejável resulta da variam de acordo com as percepções distintas
combinação de vários fatores. de diferentes grupos de atores.
H

O primeiro deles é a necessidade de


a t r i m ô n i o

Em terceiro lugar, os indicadores de


consenso entre todos os atores sobre a
Celia Martínez Yáñez

capacidade de carga e os limites aceitáveis de


necessidade de implementar essas iniciativas. mudança devem ser projetados com base nas
P

Embora os especialistas em patrimônio, as características específicas do bem cultural,


d o

organizações e a doutrina internacional e da cidade ou paisagem em questão. Devem,


e v i s t a

até mesmo as comunidades locais estejam ademais, ser continuamente comparados,


R

cientes do impacto do turismo de massa, monitorados e atualizados para continuarem


não podemos dizer o mesmo do mercado, relevantes na avaliação dos itens examinados.
da indústria e dos investidores, dada sua E, finalmente, à sua implementação deve
habitual relutância em reduzir o número de seguir-se o desenvolvimento de estratégias
visitantes em prol da conservação dos bens e ferramentas concretas para a gestão de
culturais. As recomendações internacionais turistas, por mais impopulares que algumas

84
possam ser. Entre elas, destacam-se: limites ao a sociedade – ferramenta tutelar básica

C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
acesso gratuito, sistemas de reserva antecipada estabelecida, pela primeira vez, na Carta de

a c i o n a l
(essenciais para o planejamento, tanto dos Atenas de 1931 e tão necessária na época
responsáveis pelo patrimônio quanto dos quanto hoje – e a profissionalização da
próprios visitantes), cobrança de taxas, interpretação e divulgação do bem com fins

N
r t í s t i c o
medidas relacionadas a planejamento urbano, turísticos – proposta que a atualização da
regulação do trânsito, educação, formação e Carta de 1999 defende. A pressão cidadã

A
controle do mercado turístico etc. para redirecionar essa atividade para padrões

e
sustentáveis e benéficos e a crescente

i s t ó r i c o
Conclusões turismofobia que já atinge muitas cidades e
destinos patrimoniais podem ser um grande

H
Embora a Carta de Turismo Cultural de incentivo para estimular a responsabilidade

a t r i m ô n i o
1976 tenha alertado desde o início sobre os social corporativa nesse sentido.

Celia Martínez Yáñez


possíveis efeitos devastadores do turismo so-  A persistência desses problemas e o

P
bre o patrimônio, como já vimos, o segmen- repetido apelo – não apenas por parte

d o
to não se retraiu; pelo contrário, continua do Icomos, mas de todas as organizações

e v i s t a
aumentando exponencialmente. Isso mostra internacionais e especialistas na área – a fim
que a maioria dos atuais sistemas de gestão do de redirecionar o turismo patrimonial para

R
legado cultural e as políticas turísticas não são limiares sustentáveis indicam que os efeitos
suficientes para lidar com as disfuncionalida- adversos do setor sobre os bens culturais não
des da atividade (congestionamento, gentrifi- vão diminuir, a menos que sejam tomadas
cação, banalização e degradação do bem). Elas medidas muito concretas para assegurar o
devem-se à ausência de um diálogo frutífero diálogo e a coordenação entre conservação
entre a proteção do patrimônio e a indústria e desenvolvimento, tanto nos destinos
do turismo, à falta de profissionalização e emergentes quanto nos consolidados. 85

conteúdos tutelares de iniciativas como in- A revisão da Carta de 1999 pretende


terpretação e valorização do monumento. justamente contribuir para essa reformulação.
Outros empecilhos, da mesma forma, são o Isso implica, primeiro, mudar o sistema
imediatismo e a relutância de alguns setores patrimonial e turístico. A administração
em implementar qualquer medida destinada a cultural deveria ter competências mais
controlar a capacidade de carga/acolhimento importantes no turismo para mitigar sua
e proteger os bens culturais de uma explo- pressão e seus efeitos negativos sobre o
ração excessiva e insensível à necessidade de monumento, e, por sua vez, os turismólogos
conservá-los não só para as gerações futuras, também precisam estar presentes na gestão
mas também para que possam continuar a ser e proteção dos bens para assegurar uma
uma fonte de emoção, conhecimento e rique- coordenação entre ambas as políticas, que já
za no momento presente. são essenciais e urgentes em nossos dias.
Metropolitan Museum of
Fundamentais, nesse sentido, serão Em suma, de acordo com os critérios Art, Nova York (Estados
Unidos), 2019.
a conscientização patrimonial de toda do Icomos e de organizações similares, o Foto: Shana Santos.
turismo sustentável é uma exigência que, por que mudou dramaticamente neste século
C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o

meio de um planejamento adequado, deve e no qual, muitas vezes, decisões sobre o


a c i o n a l

atender a todos os segmentos (não apenas desenvolvimento turístico são tomadas


um nicho turístico, como às vezes tem sido sem levar em conta seu impacto sobre o
caracterizado), estando de acordo com, no monumento e as comunidades afetadas.
N
r t í s t i c o

mínimo, os seguintes princípios. O turismo


sustentável deve otimizar o uso do patrimônio Referências
A

cultural e natural e incentivar a colaboração


e

da indústria turística na conservação dos CHANNYDA, Chhay; TURTON, Shaun. Govt’ takes
i s t ó r i c o

back Angkor ticketing back from powerful Sokimex. The


bens explorados; garantir o controle, Phnom Penh Post, 5 ago. 2015. Disponível em: https://
pelas comunidades anfitriãs, dos fluxos de www.phnompenhpost.com/post-weekend/govt-takes-
H

pessoas, serviços de acolhimento, benefícios angkor-ticketing-back-powerful-sokimex. Acesso em:


a t r i m ô n i o

5 ago. 2019.
gerados (diretos, indiretos e induzidos) e
Celia Martínez Yáñez

CONGRESSO INTERNACIONAL DE ARQUITE-


oportunidades de emprego associadas, sem TOS E TÉCNICOS DE MONUMENTOS HISTÓRI-
P

negligenciar o envolvimento igualitário COS. Carta de Atenas. 1931. Disponível em: http://portal.
d o

iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20
e intergeracional; estabelecer, respeitar e
e v i s t a

Atenas%201931.pdf. Acesso em: 5 ago. 2019.


monitorar a capacidade de carga dos lugares; ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos
R

implementar atividades e estratégias que e Museus. Carta Internacional sobre la Conservación y la


modifiquem os fluxos turísticos, mitiguem Restauración de Monumentos y Sitios (Carta de Venecia
1964). 1964. Disponível em: https://www.icomos.org/
a sazonalidade, distribuam os visitantes de images/DOCUMENTS/Charters/venice_sp.pdf. Acesso
maneira racional no tempo e no espaço, em: 5 ago. 2019.
sendo viáveis em longo prazo; e, por último, ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos
e Museus. Guidance on Heritage Impact Assessments
conscientizar os turistas sobre os valores do
for Cultural World Heritage Properties. Paris: Icomos
legado e seu impacto no financiamento e na International Secretariat. 2011a. Disponível em: https://
86
conservação do bem. www.icomos.org/world_heritage/HIA_20110201.pdf.
Acesso em: 5 ago. 2019.
Considerando tudo isso, a revisão/
ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos e
atualização da Carta Internacional sobre Museus. Our Common Dignity: advancing rights-based
o Turismo Cultural de 1999 pretende approaches to heritage conservation. s.d. Disponível em:
contribuir com esses objetivos, com o https://www.icomos.org/en/focus/our-common-dignity-
initiative-rights-based-approach. Acesso em: 5 ago. 2019.
debate e a tomada de decisões sobre
ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos
o assunto, oferecendo à comunidade e Museus. The Burra Charter. 2013 [1981]. Disponível
internacional um documento doutrinário em: https://australia.icomos.org/wp-content/uploads/
The-Burra-Charter-2013-Adopted-31.10.2013.pdf.
atualizado e focado na problemática da
Acesso em: 5 ago. 2019.
conservação no âmbito do turismo. Assim,
ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos
é possível enfrentar os muitos, complexos e e Museus. The Icomos Charter for the Interpretation and
multidimensionais aspectos da relação entre Presentation of Cultural Heritage Sites. 2008. Disponível
em: https://www.icomos.org/images/DOCUMENTS/
proteção patrimonial e gestão de visitantes,
Charters/interpretation_e.pdf. Acesso em: 5 ago. 2019.
aumentando a credibilidade e a relevância ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos
do Icomos e do ICTC em um contexto e Museus. The Nara Document on Authenticity. 1994.
Disponível em: https://www.icomos.org/charters/nara-e. OMT – Organização Mundial do Turismo. Proyecto

C a r t a I n t e r n a c i o n a l d e Tu r i s m o C u l t u r a l d o I c o m o s d e 1 9 9 9 :
p r i m e i r a a p r ox i m a ç ã o p a r a s u a r ev i s ã o e a t u a l i z a ç ã o
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Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
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88

It al o C al vi n o
A s c i d a d e s i nvi s ív eis 1
Kublai Khan percebera que as cidades de Marco Polo eram
todas parecidas, como se a passagem de uma para a outra não
envolvesse uma viagem mas uma mera troca de elementos. Agora,
para cada cidade que Marco lhe descrevia, a mente do Grande
Khan partia por conta própria, e, desmontando a cidade pedaço
por pedaço, ele a reconstruía de outra maneira, substituindo
ingredientes, deslocando-os, invertendo-os.

1. Excerto do romance homônimo, cuja edição brasileira foi publicada em 2003


pela Biblioteca Folha.
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
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Ra c i o n a l
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a t r i m ô n i o
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e v i s t a
89

(des)construções #9.
Fotografia e colagem,
Letícia Lampert,
85 x 105 cm, 2008.

(des)construções #5.
Fotografia e colagem,
Letícia Lampert,
85 x 105 cm, 2008.

(des)construções #11.
Fotografia e colagem,
Letícia Lampert,
85 x 105 cm, 2008.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

90
Luís Araújo Revive: um prog rama que valor iza o patr imônio
Luís Araújo

a c i o n a l
R evive : um programa que valoriza o patrimônio

N
The Revive Program: a d d i n g v a l u e t o pat r i m o n y

r t í s t i c o
Revive: u n p r o g r a m a q u e v a l o r a e l pat r i m o n i o

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a t r i m ô n i o
Resumo Summary

Este artigo discorre sobre o Programa This essay discusses the Revive

P
d o
Revive, implementado em 2017 pelo Program, which the Portuguese government

e v i s t a
governo português com o objetivo implemented in 2017 to encourage the
de promover a requalificação e o renovation and use of a certain number of

R
aproveitamento turístico de um conjunto sites for tourism purposes. These underused
de imóveis que – apesar de seu valor estates, despite their architectural, heritage,
arquitetônico, patrimonial, histórico e historical and cultural merits, were mostly in
cultural – não estavam sendo usufruídos an advanced state of decay that required very
e que, na sua maioria, se encontravam em substantial investments. Revive provides for
the conservation and sustainable economic
avançado estado de degradação, de modo a
recovery of cultural heritage and develops 91
exigir investimentos muito significativos.
tourism as a strategic asset, thereby also
O Revive prevê a preservação e a valorização
supporting the continuity and improvement
econômica sustentável do patrimônio
of the resident communities’ livelihoods.
cultural, bem como o desenvolvimento
The ingrained history, culture and identity Pavilhões do Parque
turístico como ativo estratégico, D. Carlos I, edificação
of these territories are recognized as de fins do século XIX,
contribuindo para a permanência e para Caldas da Rainha
distinctive assets. Adding to their value (Portugal).
a melhoria da qualidade de vida das Acervo: Turismo de
also booststhe economy. Portugal, I.P.
comunidades residentes. São identificadas
como ativos diferenciadores a história,
a cultura e a identidade próprias dos
territórios. Valorizá-las é uma forma de
impulsionar a economia.
Resumen inversiones muy significativas. El Programa
Revive: um prog rama que valor iza o patr imônio

Revive prevé la preservación y la valorización


a c i o n a l

Este artículo discurre sobre el Programa económica sostenible del patrimonio cultural,
Revive, implementado en 2017 por el así como el desarrollo del turismo como un
N

gobierno portugués con el objetivo de promover activo estratégico, que contribuya con la
r t í s t i c o

la recualificación y el aprovechamiento permanencia y la mejora de la calidad de vida


turístico de un conjunto de inmuebles que, a de las comunidades residentes. Se identifican
A
e

pesar de su valor arquitectónico, patrimonial, como activos diferenciadores la historia,


i s t ó r i c o

histórico y cultural, no se usufructuaban y la cultura y la identidad de los territorios.


que, en su mayoría, estaban en un avanzado Valorarlos es una forma de impulsar
H

Luís Araújo

estado de degradación, lo que requeriría la economía.


a t r i m ô n i o
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92
O1 processo de degradação progressiva Todas as intervenções promovidas são

Revive: um prog rama que valor iza o patr imônio


do patrimônio de um país, decorrente do cuidadosas e criteriosas, impedindo-se, dessa

a c i o n a l
passar do tempo, como na sobrecarga de maneira, a descaraterização dos imóveis e dos
usos, ou no desajustamento do desenho locais onde se situam, pois as suas particulari-
urbano e sua reorganização diante de novos dades e histórias são fundamentais para a ca-

N
r t í s t i c o
modos de vida, foi encarado pelo governo pacidade de atração das cidades e das regiões.
português como uma oportunidade de Ainda assim, deve-se evitar a velha dicotomia

A
intervenção integrada sobre o território. entre conservação e modernização. Em vez

e
Assim, no âmbito da estratégia nacional para disso, o patrimônio de interesse é encarado

i s t ó r i c o
o setor do turismo, foi lançado, em 2016, como uma oportunidade e um desafio, uma
o Programa Revive , com o objetivo de
2
herança da qual todos devemos usufruir.

Luís Araújo
promover a requalificação e o aproveitamento No que concerne especificamente à

a t r i m ô n i o
turístico de um conjunto de imóveis do reabilitação individual ou conjunta de um
Estado com valor arquitetônico, patrimonial, patrimônio edificado, devem estar sempre

P
histórico e cultural, convertendo-os em ativos presentes o conhecimento e o respeito pela

d o
econômicos, geradores de emprego e riqueza. arquitetura e pelas características morfológicas

e v i s t a
Além de propor a recuperação do edifício, e tipológicas das edificações. Nesse sentido,

R
que inclui também a intervenção no espaço deve-se privilegiar, sempre que possível, ações
público e a incorporação de componentes de reparação e preservação, em detrimento
sociais, ambientais e de qualidade, o Revive daquelas de substituição e alteração.
encara essa tarefa como uma ferramenta A reabilitação urbana deve basear-se em
para promover a revitalização do espaço e critérios de sustentabilidade, demonstrando
o respeito pela sua identidade. Acautela-se, claramente uma preocupação ambiental,
assim, a regeneração criteriosa do patrimônio econômica e social, que pode, ainda, ser
93
selecionado, de modo que este contribua concretizada com criatividade e inovação.
de forma sustentada para a atratividade dos A recuperação do patrimônio contribui
territórios onde se encontra. para o desenvolvimento das chamadas
O uso turístico, como alavanca para cidades inovadoras, inteligentes, criativas e
a economia das regiões, ajuda, através do acessíveis, podendo ter um impacto muito
programa, a colocar em marcha importantes significativo na sustentabilidade local e na
processos de renovação arquitetônica e criação de um ambiente favorável à captação
urbana, garantindo que determinados espaços de investimentos. Assim, há repercussões na
sejam, de novo, habitados e vividos. dinâmica econômica da cidade e, em última
análise, no bem-estar e na qualidade de vida
da sua população.
1. O texto original foi escrito em português de Portugal, tendo O Programa Revive permite a regeneração
sido posteriormente editado conforme a variedade brasileira pela
equipe responsável pela revista. de locais envelhecidos e despovoados (seja Santuário do Cabo
Espichel, Sesimbra,
2. Todos os dados apresentados sobre o Revive ao longo deste de propriedade privada ou pública) nos Lisboa (Portugal).
artigo estão disponíveis na página eletrônica do programa: Acervo: Turismo de
https://revive.turismodeportugal.pt/. núcleos urbanos, majoritariamente nas zonas Portugal, I.P.
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a c i o n a l
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Paço Real de Caxias, Oeiras, Lisboa (Portugal). Construído em


meados do século XVII como residência de férias da família real.
Acervo: Turismo de Portugal, I.P.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
95

Luís Araújo Revive: um prog rama que valor iza o patr imônio
Revive: um prog rama que valor iza o patr imônio
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mais antigas das cidades. Também contribui estratégias de regeneração urbana, com
significativamente para a revitalização soluções inovadoras de sustentabilidade
de espaços degradados que desvirtuam a ambiental, podem gerar um efeito muito
96
paisagem em solo rural. positivo na melhoria da qualidade de vida e
Essa proposta traz às regiões do ambiente urbano.
não só a dinamização dos imóveis, Outro objetivo do programa é, ainda, a
predominantemente devolutos e/ transmissão às gerações futuras do patrimônio
ou degradados, mas também de áreas português, bem como de sua história e
exteriores de fruição pública recuperadas identidade, devolvendo às comunidades
ou transformadas em novos lugares, como imóveis atualmente fechados e inacessíveis.
estacionamentos. A renovação urbana é ainda Foram identificados 33 imóveis, de norte
uma oportunidade para a introdução de a sul de Portugal, incluindo o Arquipélago
Mosteiro do equipamentos e sistemas que contribuam para dos Açores, cujo potencial de atratividade
Lorvão, Penacova,
Coimbra (Portugal). um melhor desempenho ambiental, como não era aproveitado pelas regiões onde estão
Com elementos
arquitetônicos tecnologias que propiciem o aumento de localizados e cuja fruição tampouco era
medievais, remonta à
primeira reconquista eficiência energética ou técnicas construtivas viabilizada pelas respectivas comunidades.
cristã de Coimbra, em
878 d.C. que permitam maximizar o aproveitamento Em alguns casos, os edifícios estavam em
Acervo: Turismo de
Portugal, I.P. da luz natural. As cidades que apostam em adiantado estado de degradação.
Para a concretização do programa, foi A execução da obra no Convento de São

Revive: um prog rama que valor iza o patr imônio


constituída uma equipe que, sob a égide Paulo encontra-se já em fase adiantada, pre-

a c i o n a l
da Secretaria de Estado do Turismo e com vendo-se a sua abertura em finais de maio de
coordenação do Turismo de Portugal, integra 2019 como um hotel quatro estrelas, com 164
representantes dos Ministérios da Cultura, camas, do grupo Vila Galé. É o mesmo res-

N
r t í s t i c o
das Finanças e da Defesa, bem como dos ponsável pelo projeto da Coudelaria de Alter,
concelhos3 onde as construções se localizam. em Alter do Chão, que prevê um hotel quatro

A
A exploração dos imóveis é assegurada estrelas com capacidade máxima de 152 camas.

e
pelo setor privado, cujas entidades são Também os Pavilhões do Parque D.

i s t ó r i c o
selecionadas através de concursos públicos Carlos I, nas Caldas da Rainha, darão lugar
internacionais de concessão. No termo dos a um hotel cinco estrelas, com capacidade

Luís Araújo
contratos, garante-se que as propriedades máxima de 248 camas, em um projeto do

a t r i m ô n i o
retornem à posse pública, não havendo, grupo Visabeira. O local foi projetado no
portanto, a alienação da propriedade. final do século XIX por Rodrigo Berquó

P
Dos 33 imóveis integrados no Programa para ser uma estância termal, mas nunca

d o
Revive, metade localiza-se no interior do chegou a cumprir essa função. Durante

e v i s t a
país, e 17 já foram disponibilizados para mais de 100 anos, serviu para abrigar um
concurso. Até o momento, foram assinados quartel militar, uma esquadra da polícia e

R
contratos com os vencedores de sete deles, uma escola secundária. Atualmente, está
em um investimento estimado em mais de 50 desativado e já apresenta alguns vestígios da
milhões de euros. passagem do tempo. O complexo edificado,
O primeiro imóvel a ser submetido a de arquitetura singular, enquadra o Hospital
concurso foi o Convento de São Paulo, em Termal das Caldas da Rainha, o lindíssimo
Elvas (na região do Alentejo). De arquitetura
setecentista, é a quarta e última casa da 97

Ordem de São Paulo; sua construção teve


início em 28 de outubro de 1679 e foi
concluída em 31 de dezembro de 1721. A
igreja manteve-se na posse da Irmandade da
Ordem Terceira de São Domingos até 1886 e
foi, no ano seguinte, entregue ao Regimento
de Cavalaria de Elvas, que nela instalou um
tribunal militar. Após a extinção das ordens
religiosas, o convento entrou em um processo Casa de Marrocos,
Idanha-a-Nova
de degradação que culminou no incêndio que (Portugal). Acredita-
se que o solar tenha
o arrasou definitivamente. sido construído na
década de 1950
sobre um antigo
fórum romano do
século I a.C.
Acervo: Turismo de
3. Unidade administrativa semelhante ao município no Brasil. Portugal, I.P.
Parque D. Carlos I (jardim romântico Os usos permitidos não se limitam a
Revive: um prog rama que valor iza o patr imônio

construído na mesma altura para apoiar empreendimentos turísticos, mas também


a c i o n a l

as termas) e a Mata Rainha D. Leonor, e englobam outras formas de alojamento


é considerado um dos principais marcos ou projetos de vocação turística, como
N

distintivos da cidade. restauração, espaços culturais/museus ou


r t í s t i c o

Hoje, estão em aberto quatro concursos centros interpretativos. Como exemplo,


para revitalização dos seguintes bens: o nos fortes situados na costa, poderão surgir
A

Convento do Carmo, em Moura; o Mosteiro escolas de surfe ou outras atividades realizadas


e
i s t ó r i c o

de Lorvão, em Penacova; o Castelo de Vila com igual sucesso nas praias portuguesas. A
Nova de Cerveira, em Viana do Castelo; e definição do uso cabe à equipe do Revive e
o Paço Real de Caxias, em Oeiras. A seleção leva sempre em conta as características do
H

Luís Araújo
a t r i m ô n i o

relativa ao Quartel do Carmo, nos Açores, imóvel, a sua localização e as manifestações de


encontra-se em fase de análise de propostas. interesse do setor privado.
Por sua vez, os concursos que concernem ao Para o Programa Revive, o turista
P

Convento da Graça, em Lisboa, e à Casa de é um consumidor de bens e serviços, e


d o
e v i s t a

Marrocos, em Idanha-a-Nova, estão em fase a sua presença gera riqueza e emprego,


de análise de candidaturas. introduz novas modalidades de consumo,
R

98
Revive: um prog rama que valor iza o patr imônio
a c i o n a l
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potencializa o desenvolvimento de dando, assim, ao investidor privado um sinal

e v i s t a
diversos ramos de atividade para atender de compromisso do Estado em proceder

R
diretamente as suas necessidades de com sucesso à reabilitação do patrimônio.
consumo: hotelaria, restauração, comércio O Revive já reuniu até hoje cerca de
e atividades de animação turística. Isso tem 500 manifestações de interesse. A equipe
um efeito multiplicador sobre outros setores recebe diariamente investidores nacionais
produtivos. O turismo constitui, assim, e estrangeiros que procuram conhecer o
um pilar importante para a economia de programa e os imóveis que abrange.
muitas cidades históricas, podendo, assim, Além disso, o programa vai ao encontro
99
contribuir para pôr em marcha importantes dos objetivos da Estratégia Turismo 2027,
processos de reparação arquitetônica e o referencial estratégico para o turismo em
urbana, como é o caso do Revive. Portugal nos próximos anos, que tem a
Os fatores decisivos para o sucesso do valorização do território como um dos seus
programa são a estreita articulação entre as eixos prioritários. Mais do que recuperar o
entidades públicas envolvidas na gestão dos patrimônio público a fim de transformá-lo
imóveis e a capacidade de definição de um em ativo econômico, pretende-se oferecer o
modelo que vai ao encontro do interesse dos seu usufruto pela comunidade e transmiti-lo
investidores privados e, simultaneamente, às gerações futuras, reforçar a atratividade
se baseia em parâmetros específicos de do país como destino turístico, criar
intervenção que assegurem a recuperação postos de trabalho e captar investimento, Convento de São Paulo,
arquitetura do século
do patrimônio de forma sustentada. Nesse com a preocupação central de reduzir os XVIII, Elvas (Portugal).
Primeiro imóvel a ser
sentido, o programa foi pioneiro em reunir desequilíbrios que ainda persistem no recuperado pelo Revive,
inaugurado como hotel
várias entidades públicas de setores distintos desenvolvimento econômico das diferentes em junho de 2019.
Acervo: Turismo de

para a resolução conjunta de problemas, regiões do país. Portugal, I.P.


R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

100
Pa u l a S i l va D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
Paula Silva

a c i o n a l
D esafios da gestão patrimonial e

P ortugal

N
economia em

r t í s t i c o
Challenges of H e r i ta g e management and the economy in Portugal
Desafíos de Portugal

A
l a g e s t i ó n pat r i m o n i a l y e c o n o m í a e n

e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

A intenção deste artigo é proporcionar This paper gives an overview of the

P
d o
uma visão panorâmica sobre as grandes linhas Portuguese Government’s main lines of action

e v i s t a
de ação do governo português em matéria for heritage management implemented by
de gestão patrimonial por meio da Direção- the General Cultural Heritage Department

R
Geral do Patrimônio Cultural (DGPC), (DGPC) under the Ministry of Culture. The
sob tutela do Ministério da Cultura. A DGPC delves into fields such as architecture,
entidade desenvolve suas atividades técnicas, archeology, museology, conservation and
operacionais e científicas em diversos campos restoration, heritage archives and archaeological
disciplinares, nomeadamente arquitetura, sciences to undertake its technical, operational
arqueologia, museologia, conservação and scientific activities. In this context, we
e restauro, arquivística patrimonial discuss some of the most representative recent 101

e arqueociências. São evidenciados, projects that comply with the international


nesse âmbito, alguns dos projetos mais guidelines that have leveraged the significance
emblemáticos realizados nos últimos anos, de of cultural industries for the development
acordo com as orientações internacionais que of societies and of countries. We also look at
têm alavancado o papel do setor cultural no Portugal’s experience in the light of the new
desenvolvimento das sociedades e dos países. considerations and dynamics in the European
Paralelamente, enquadra-se a experiência de geopolitical context, which is increasingly
Portugal à luz dos novos entendimentos e committed to the conservation of memory and
dinâmicas que se consolidam no contexto to the importance of cultural heritage as a Mosteiro de Alcobaça,
Alcobaça (Portugal), 2014.
geopolítico de uma Europa cada vez mais fundamental humanist value. Acervo: DGPC.

comprometida com a preservação da memória


e a valorização do patrimônio cultural como
valor humanista fundamental.
Resumen
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
a c i o n a l

El propósito de este artículo es proporcionar


una visión panorámica sobre las grandes líneas
N

de acción del gobierno portugués en el campo de


r t í s t i c o

la gestión patrimonial a través de la Dirección


General de Patrimonio Cultural (DGPC), bajo
A

la tutela del Ministerio de Cultura. La entidad


e

desarrolla sus actividades técnicas, operativas y


i s t ó r i c o

científicas en diversos campos disciplinarios, a


saber, arquitectura, arqueología, museología,
H

Pa u l a S i l va
a t r i m ô n i o

conservación y restauración, archivo patrimonial


y arqueociencias. En este contexto, destacamos
algunos de los proyectos más emblemáticos
P

llevados a cabo en los últimos años, de


d o

conformidad con las directrices internacionales


e v i s t a

que han potenciado el papel del sector cultural


R

en el desarrollo de las sociedades y los países.


Asimismo, la experiencia de Portugal se ajusta a
la luz de los nuevos entendimientos y dinámicas
que se consolidan en el contexto geopolítico de
una Europa cada vez más comprometida con la
preservación de la memoria y la valorización del
patrimonio cultural como un valor humanista
102
fundamental.
Introdução De fato, entre muitas outras virtudes,

D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
o setor cultural, entendido em todas as

a c i o n a l
Desde 1970 , o impacto da cultura na
1 suas dimensões e ações, é indissociável da
economia tem se afirmado como um tema perspectiva estética que, de resto, inscreve-se
na história da humanidade, tão essencial à

N
relevante na esfera acadêmica, assistindo-se

r t í s t i c o
paulatinamente à extensão dessa notoriedade natureza humana e à própria construção da
a diversos organismos internacionais, como vida em sociedade. Mas a cultura é muito

A
o Programa das Nações Unidas para o mais do que entretenimento, fruição, muito

e
mais do que um supérfluo adorno.

i s t ó r i c o
Desenvolvimento (Pnud) e a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a E também é muito mais do que economia,
Cultura (Unesco). ainda que seja importante reconhecer e estudar

Pa u l a S i l va
o seu impacto nesse campo. A cultura tem um

a t r i m ô n i o
Em outubro de 2006, a Comissão
Europeia publicou um estudo sem inquestionável valor intrínseco, que atravessa
precedentes em escala continental, cujo texto os tempos e transcende as demais esferas,

P
foi apresentado então como a “primeira constituindo-se como imensurável riqueza

d o
tentativa de captar o impacto socioeconômico per si. É essa superior plenitude que define a

e v i s t a
direto e indireto do setor cultural e criativo criação cultural e artística do homem, desde a

R
na Europa” (Comissão Europeia, 2006, pré-história.
p. 1, tradução nossa), inequivocamente Por isso, quando a Europa assume ine-
referenciado como um domínio em quivocamente o papel da cultura para o de-
franco e acelerado crescimento. Nesse senvolvimento harmonioso das populações,
documento, merecia já especial destaque o dá um passo de gigante. Hoje, no discurso
reconhecimento da cultura como fator de do cidadão, nas iniciativas da sociedade civil,
desenvolvimento social e econômico, com um nas palavras dos governantes, nas orientações
103
papel determinante na promoção de valores das instâncias supranacionais, o setor cultural
humanistas basilares: cidadania, inovação, e criativo é reconhecido como incontornável
coesão, tolerância, conhecimento e paz. pilar de desenvolvimento. E os meios finan-
Foi depois da Segunda Guerra Mundial ceiros a ele alocados começam a ser percebi-
que o circuito da produção, circulação dos como um investimento, não um gasto.
e consumo de bens e serviços culturais O Programa Capitais Europeias da
começou a ser encarado como um segmento Cultura constitui vivo exemplo da dinâmica
relevante na economia das nações. Longo e em curso. Todos os anos são selecionadas
lento tem sido o caminho para consolidar cidades que promovem a cultura e cujos
essa perspectiva, contrariando a mentalidade planos urbanístico, educacional e social são
segundo a qual a cultura é um luxo que existe desenvolvidos. É absolutamente consensual
apenas para embelezar a nossa existência. o impacto muito positivo, em médio e
longo prazo, que advém dessa celebração Museu Nacional
Resistência e Liberdade,
1. O texto original foi escrito em português de Portugal, tendo temporária. A esse propósito, importa Fortaleza de Peniche
sido posteriormente editado conforme a variedade brasileira pela (Portugal), 2019.
equipe responsável pela revista. igualmente aludir à transformação radical Acervo: DGPC.
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
a c i o n a l
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r t í s t i c o
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i s t ó r i c o
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Pa u l a S i l va
a t r i m ô n i o
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e v i s t a
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104

operada na cidade espanhola de Bilbao devido absoluto, de um sentido de partilha e de


à abertura do Museu Guggenheim, um caso responsabilidade que precisamos ser capazes de
que se tornou uma referência incontornável. transmitir às futuras gerações.
Por via dessas conquistas e dessa tomada de No domínio do patrimônio cultural,
consciência, desvenda-se um novo e auspicioso a área em que atuo, têm sido dados sinais
ciclo, materializado em ações provindas de muito incisivos, visando essencialmente
diversos quadrantes. São pequenas sementes à saudável contaminação da ideia de que
Elvas, Portalegre lançadas à terra, que vão dando frutos, mas o patrimônio é uma herança de todos e
(Portugal).
Acervo: DGPC. cujo sucesso e continuidade dependem, em de cada um de nós, de modo que não há
como não partilhar a responsabilidade de Estamos perante desafios exigentes que o pa-

D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
preservá-lo e valorizá-lo. Porém, em bom trimônio cultural enfrenta com impacto, desde a
transição para a era digital até a pressão ambiental

a c i o n a l
rigor, a Comissão Europeia (2006) não
e física, sem esquecer a prevenção e o combate do
confere ainda particular destaque ao setor
tráfico ilícito de bens culturais. Daí a necessidade
do patrimônio cultural. Até hoje, salvo

N
de promover o que recebemos em ligação com a

r t í s t i c o
algumas exceções, essa área tem merecido
diversidade cultural, o diálogo entre culturas e a
menor atenção por parte dos designados
coesão social (Martins, s.d., s.p.).

A
economistas da cultura.

e
Nenhum Estado, por mais recursos Durante o Ano Europeu, esteve também

i s t ó r i c o
financeiros de que disponha, consegue em foco a contribuição econômica do
assumir tão exigente tarefa sem a patrimônio cultural para o desenvolvimento,

H
assim como o seu papel nas relações

Pa u l a S i l va
participação do conjunto da sociedade. E, se

a t r i m ô n i o
porventura o fizesse, estaria subtraindo aos internacionais, desde a prevenção de conflitos
cidadãos uma responsabilidade que é, acima à reconciliação pós-conflito e recuperação de

P
de tudo, um direito. patrimônio destruído. Em particular na esfera

d o
Precisamente sob esse espírito, assinalou- governamental, reconhecer a centralidade da

e v i s t a
se em 2018 o Ano Europeu do Patrimônio cultura passa, inevitavelmente, por assumir,
promover e valorizar o seu caráter transversal.

R
Cultural, uma iniciativa histórica que se
materializou em milhares de iniciativas Aos responsáveis pela formulação
e ações desencadeadas por diversos e execução de políticas públicas, essa
setores da sociedade, em todos os países- transversalidade impõe pensar a cultura na sua
membros. Ao convocar essa celebração, a dimensão econômica. O caminho não pode
União Europeia reafirmou a importância deixar de se fazer por esse trilho, sob pena
fundamental da cultura do continente como de perdermos o norte e alocarmos os quase
105
fator de identidade, de pertença a um espaço sempre parcos recursos disponíveis a uma
que se quer inclusivo e aberto ao mundo, estéril e inconsequente navegação sem rumo.
mas é capaz de interrogar-se sobre si próprio. O patrimônio arquitetônico e
Em Portugal, o Ano Europeu suscitou arqueológico é exigente, não se compadece
uma expressiva participação, por diversas do abandono ou o esquecimento. Requer
vezes saudada nas instâncias internacionais. atenção e cuidados. E não podemos pensar
Nas palavras do coordenador nacional, que recuperar o bem, no sentido de fazer
Guilherme d’Oliveira Martins, tratou-se obras estruturais, é, por si só, suficiente.
efetivamente de um “marco emblemático” Mais do que isso, ele tem de ter uso. É
para nos lembrar, entre outros aspectos, necessário que existam planos de gestão
de que “ter memória é respeitarmo- que equacionem o que fazer depois da
nos, é estudar a História e conhecer as recuperação. É preciso promovê-la e fazer
raízes”, sendo nosso dever “cuidar do que com que ela possa vir a constituir-se como
recebemos”. O coordenador um fator de desenvolvimento econômico
também acentuou: para um território. Deve-se pensar em uma
perspectiva de itinerário, que leve as pessoas a Piedade. O conjunto de fortificações de
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l

fazer um percurso, a querer conhecer outros Elvas, cuja fundação remonta ao reinado
a c i o n a l

patrimônios, que conte uma história, que de D. Sancho II, no século XIII, é o maior
traga felicidade e tranquilidade. do mundo na tipologia de fortificações
Portugal tem um leque de características abaluartadas terrestres, com um perímetro
N
r t í s t i c o

muito favoráveis à ascensão da cultura e de oito a dez quilômetros e uma área de 300
do patrimônio como vetor estratégico de hectares. O reconhecimento pela Unesco
A

progresso econômico e social. Essa feliz impulsionou uma dinâmica de ações e


e

condição tem sido objeto de unânime projetos que trouxeram novo alento à região,
i s t ó r i c o

reconhecimento ao longo dos últimos imprimindo-lhe acrescida visibilidade no


20 anos, inscrevendo-se cada vez mais na mapa turístico e propiciando benefícios à
H

Pa u l a S i l va

gênese de projetos e ações desenhados nas comunidade local.


a t r i m ô n i o

estruturas do poder central e local. A riqueza Muitos outros exemplos poderiam ser
de monumentos do país encontra eco no mencionados, extensíveis ao continente e às
P

reconhecimento pela Unesco de muitos dos regiões autônomas dos Açores e da Madeira.
d o

tesouros culturais e naturais nacionais. Há um Portugal é, nesse sentido, afortunado, pois à


e v i s t a

total de 15 bens classificados como Patrimônio cultura secular que nos identifica e distingue
R

Mundial pela organização, além das seis podemos acrescentar um outro imensurável
tradições admitidas na categoria, mais recente, tesouro: a paz. É o chamado ouro sobre azul,
do Patrimônio Imaterial da Humanidade. sobretudo à luz do tempo conturbado que é
A chancela da Unesco, fator de prestígio o nosso. A essa fórmula mágica, juntam-se
e orgulho nacional, produz um efeito de ainda dois fatores de peso: um clima aprazível
atratividade turística, com natural impacto na e uma gastronomia de excelência.
esfera econômica, propulsionando variados Somos, assim, chamados a assumir o
106
benefícios para a região envolvente. Refira- desígnio de transformar essa extraordinária
se, como exemplo, ao Complexo da Cidade constelação em alavanca de desenvolvimento,
Fronteiriça e de Guarnição de Elvas e suas com os olhos no futuro de médio e longo
Fortificações. Situada a oito quilômetros de prazo, no legado que queremos deixar às
Badajoz, na Espanha, a cidade alentejana próximas gerações. Para tal, é necessário que
de Elvas, no sul de Portugal, constituiu um saibamos garantir um equilíbrio tão delicado
ponto estratégico de defesa da fronteira e quanto vital: aquele que se joga entre a
herdou um vasto patrimônio militar de preservação da memória e a adequação às
reconhecido valor e autenticidade. exigências do mundo atual. Essa ambivalência
Em 2012, foram classificados como é ainda mais evidente no que concerne ao
Patrimônio Mundial todo o centro histórico, patrimônio cultural imóvel.
as muralhas abaluartadas do século XVII, os Hoje em dia, intervir no edificado
Fortes de Santa Luzia e da Graça, o Aqueduto requer uma cuidadosa ponderação de pelo
da Amoreira e os três fortins: de São Pedro, menos três aspectos, por vezes dificilmente
de São Mamede e de São Domingos ou da conciliáveis: nível de conforto, eficiência
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
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e v i s t a
energética e acessibilidade. A complexidade ricos mostra-nos uma afluência de pontos de
da tarefa é tal que eu diria estarmos interesse patrimonial que, há apenas dez anos,
perante um verdadeiro desafio, que nos não poderíamos nem sequer imaginar.
suscita questões de âmbito ideológico e até Esse sentido de fruição, de presença hu-
107
filosófico, considerando o diálogo entre a mana, é a razão de ser da missão abraçada
cultura e seu tempo. por todos nós, profissionais do patrimônio:
Ora, um dos mais extraordinários fenô- preservar, estudar e divulgar os bens culturais
menos da contemporaneidade é seguramente à nossa guarda, conscientes do imensurável
o turismo, que, evoluindo para uma dinâmica valor que a cultura acrescenta à vida de cada
de massas em escala global, tem impulsionado um de nós, no plano simbólico e prático. Su-
fortemente a economia e a cultura. Por toda cede, porém, que o turismo, apesar de ser um
a Europa, não faltam exemplos de localidades fenômeno indiscutivelmente positivo, acarre-
substancialmente impactadas pelo aumento ta alguns aspectos perniciosos, que devem ser
do fluxo turístico, como sucedeu com Bilbao, neutralizados de forma inteligente e coorde-
na Espanha, devido ao Museu Guggenheim, nada, ou seja, com pensamento estratégico.
como já mencionamos. Em Portugal, as cida- Refiro-me, nomeadamente, à superlotação de
des de Lisboa e Porto são hoje intensamente alguns monumentos e de algumas zonas nas
procuradas como destinos de cultura e de his- cidades, que envolve um risco acrescido de Mosteiro da Batalha, Beira
Litoral (Portugal), 2010.
tória. Um simples passeio pelos centros histó- desgaste do legado edificado. Acervo: DGPC.
Atentemos ao que nos dizem as estatísticas oferta turística internacional – e, por sinal,
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l

de anos recentes coletadas pela Direção- uma presença forte, expressiva, consistente.
a c i o n a l

Geral do Patrimônio Cultural (DGPC) . Em 2


Há, claramente, uma relação de causa e
2017, o número de visitas nos 23 palácios, efeito entre o fenômeno do turismo em larga
monumentos e museus tutelados pelo órgão escala e a dinâmica de fruição do patrimônio
N
r t í s t i c o

superou os cinco milhões. Cerca de 70% nacional. Monumentos icônicos são hoje um
deles eram estrangeiros. No universo global objeto de procura sem precedentes.
A

dos museus portugueses, segundo um estudo O turismo de massa surge no contexto


e

recentemente divulgado em um programa de um mundo altamente conectado, favore-


i s t ó r i c o

televisivo pela Fundação Francisco Manuel cido pela disseminação do conceito de low
dos Santos, a quantidade de visitantes cresceu cost e no âmbito de uma lógica social que
H

Pa u l a S i l va

70% de 2012 a 2017, passando de 10,1 democratizou o acesso à cultura, ao lazer e


a t r i m ô n i o

milhões para 17,2 milhões. às viagens. É nesse quadro que o progressivo


Em mais de metade dos equipamentos aumento dos cidadãos estrangeiros que nos
P

do DGPC, a percentagem dos visitantes visitam acaba por ter um efeito de saudável
d o

estrangeiros ultrapassa os 50%. E se contágio nos públicos nacionais, que ficam


e v i s t a

considerarmos separadamente o conjunto dos mais motivados para aventurar-se na desco-


R

seis monumentos nacionais – o Convento de berta do patrimônio que é seu. Temos assim o
Cristo, os Mosteiros de Alcobaça, da Batalha turismo, nacional e internacional, associado a
e dos Jerônimos, o Panteão Nacional e a Torre uma cada vez maior movimentação de pessoas
de Belém –, esse público chega aos 82,4%. em torno de grandes pontos referenciais, dos
É interessante notar que, excetuando o centros históricos e culturais, dos mais conhe-
Panteão Nacional, todos eles são Patrimônio cidos monumentos.
Mundial. Fora da capital, é expressivo que Contudo, as concentrações excessivas em
108
tanto o Convento de Cristo, em Tomar, determinados espaços suscitam a imposição
como os Mosteiros de Alcobaça e da Batalha de medidas restritivas com o objetivo de sal-
demonstrem notória capacidade de atrair vaguardar a segurança de pessoas e bens. Em
gente de fora, ao ponto de representar mais face desse cenário, tem sido feita uma aposta
de 60% das entradas. na criação de redes e rotas patrimoniais, assim
Em números absolutos, estamos falando como equipamentos culturais que descentra-
de 3,5 milhões de cidadãos estrangeiros que lizem os fluxos turísticos. Essa opção, testada
quiseram conhecer mais sobre a história, já com inequívoco sucesso em diversos pontos
a cultura e os bens portugueses. Na era da do país, tem desvendado novas perspectivas
globalização, da massificação, da comunicação de desenvolvimento à escala local e nacional.
voraz, é muito significativo que um pequeno O pressuposto é a valorização de itinerá-
país como Portugal marque presença na rios através de planos de gestão integrada que
envolvam diversos agentes e entidades locais,
2. Os dados levantados pela DGPC e citados neste artigo podem em uma lógica de trabalho em rede. Nessa
ser consultados em: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/
museus-e-monumentos/dgpc/estatisticas-dgpc/. estratégia, o ponto de partida é a criação de
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
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Pa u l a S i l va
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Ra t r i m ô n i o
d o
e v i s t a
motivos de interesse em regiões periféricas, captação de públicos para regiões de baixa
afastadas dos pontos de chegada dos turistas densidade populacional desencadeia um ciclo
e, em regra, menos favorecidas do ponto de virtuoso: gera emprego, estimula a economia 109
vista geográfico, econômico e demográfico. local, impulsiona a iniciativa privada,
Paralelamente, torna-se possível contrariar fortalece a coesão social e o espírito de
outro fenômeno expressivo em Portugal: comunidade e, em última análise, contribui
a desertificação. Com medidas políticas para fixar as populações.
fortes, pode-se impedir que as populações Portugal, sendo um país pequeno em
desloquem-se do interior para a faixa costeira, termos de área, mas extraordinariamente
do meio rural para os centros urbanos. rico e diverso no que se refere à sua paisagem
Chega-se, então, a um ponto de confluência natural e cultural, tem as características ideais
entre patrimônio cultural e crescimento para a criação de rotas inspiradas nas mais
econômico e social. O delinear de novas vias distintas temáticas, com destaque para a
de desenvolvimento territorial passa, hoje, história e a natureza.
por assumir o papel matricial da cultura, em Uma delas é a Rota das Catedrais, que
Biblioteca do Palácio
sentido lato. Poucos fatores têm um potencial constitui um exemplo paradigmático de Nacional de Mafra, Mafra,
Lisboa (Portugal), 2011.
de atratividade tão forte. Nesse sentido, a uma ação combinada e participada com Acervo: DGPC.
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
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a t r i m ô n i o
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d o
e v i s t a
R

repercussões no conjunto do território devolvesse às catedrais “uma atenção global


nacional. Nascido de um acordo de e corresponsabilizante” (Ippar e Conferência
110 cooperação firmado em 2009 entre Episcopal Portuguesa, 2009, s.p.). Em
o Instituto Português do Patrimônio uma genuína lógica de rede, a rota envolve
Arquitetônico (Ippar), organismo parceiros locais, regionais e nacionais:
governamental que antecedeu a DGPC, cabidos, paróquias e direções regionais de
e a Conferência Episcopal Portuguesa, o cultura. Ao longo dos anos, essa convergência
roteiro percorre as 26 catedrais nacionais, de esforços e de vontades já se materializou
que constituem “um tecido essencial de em muitas obras e caminhos.
memória e de identidade, profundamente No momento do seu lançamento,
caracterizador do território e das suas pretendia-se “não apenas acudir a situações
gentes, de Norte a Sul do País, do Litoral de mais evidente degradação, mas sobretudo
ao Interior, passando pelas Regiões alcançar a capacitação dos monumentos,
Autônomas da Madeira e dos Açores”. O através de uma qualificada intervenção
objetivo da iniciativa é dinamizar “uma de recuperação e conservação de valores
Sabrosa, Vila Real, Douro atuação concertada e contratualizada, patrimoniais inestimáveis”. Assumia-se
(Portugal), 2015.
Foto: Delfina Brochado. planeada, criteriosa e exigente” que igualmente o objetivo de concretizar uma
oferta cultural de excelência, capaz de conjunto, ocupam o centro de um triângulo

D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
devolver os monumentos à comunidade. cujos vértices são Patrimônio Mundial: Porto,

a c i o n a l
Por fim, o protocolo era explícito no seu Guimarães e o Vale do Douro. A região,
propósito de promover a estima coletiva outrora povoada por famílias nobres que
e o cuidado partilhado em face de um ajudaram os primeiros reis na Reconquista

N
r t í s t i c o
patrimônio “profundamente identitário, cristã do território que hoje é Portugal,
plural e multifacetado, memória viva de preserva de forma notável, nomeadamente

A
um povo” (Ippar e Conferência Episcopal através do seu legado arquitetônico, a memória

e
Portuguesa, 2009, s.p.). do início da nação portuguesa. Deve-se fazer

i s t ó r i c o
No verão de 2018, no Palácio Nacional a ressalva de que a arquitetura românica está
da Ajuda (e de novo em parceria com o essencialmente concentrada no noroeste e

H
Secretariado Nacional para os Bens Culturais no centro do país, sendo contemporânea do

Pa u l a S i l va
a t r i m ô n i o
da Igreja), foi apresentada uma exposição período em que se estrutura o seu habitat. A
inédita que reuniu alguns dos mais preciosos expansão do estilo românico não corresponde

P
tesouros de todas as catedrais portuguesas. propriamente à Reconquista, mas à

d o
Pretendeu-se, com essa iniciativa, relançar a reorganização do território.

e v i s t a
rota física, que queremos ver cada vez mais As dioceses dividem-se em paróquias
percorrida, acentuando a ideia de que, através que têm, no Entre-Douro-e-Minho, uma

R
das catedrais, há para conhecer todo um país, rede muito densa, já que o clero e as ordens
além de sua história, sua cultura. Em 2019, religiosas ajudavam a fixar as populações.
à parte as ações regionais, vamos também Sendo uma arquitetura predominantemente
realizar o programa Música nas Catedrais. religiosa, o românico está muito relacionado
Outro projeto de natureza idêntica é a com a organização eclesiástica diocesana
Rota do Românico, um percurso por 58 e paroquial e com os mosteiros das várias
monumentos localizados no norte de Portu- ordens monásticas, fundados ou reconstruídos 111

gal, junto aos Rios Sousa, Douro e Tâmega. nos séculos XII e XIII.
Constituindo vivo e meritório exemplo de A Rota do Românico divide-se em três
visão estratégica, espírito de união e empreen- pequenos percursos que se ligam entre si por
dedorismo, o projeto começou a tomar forma estrada, seguindo os vales dos rios: Rota do
ainda na década de 1990, fruto da junção de Vale do Sousa, com 19 monumentos; Rota do
esforços entre a Associação de Municípios do Vale do Tâmega, com 25 monumentos; e Rota
Vale do Sousa (Valsousa) e o Ippar. O itinerá- do Vale do Douro, sensivelmente entre Castelo
rio está hoje perfeitamente consolidado, mo- de Paiva e Resende, com 14 monumentos.
bilizando um fluxo turístico muito relevante Muito próximo, desvenda-se a impres-
em torno dos concelhos3 envolvidos. sionante paisagem cultural do Alto Douro
A rota inclui mosteiros, igrejas, pontes, Vinhateiro, Patrimônio Mundial desde 2001.
castelos, torres e memoriais, que, no seu Nela conjugam-se a natureza monumental
do Vale do Rio Douro, feita de encostas ín-
3. Unidade administrativa semelhante ao município no Brasil.
gremes e solos pobres e acidentados, e a ação
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

112
Pa u l a S i l va D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
ancestral e contínua do homem, adaptando o sobre a enorme importância artística e cientí-

D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
espaço às necessidades agrícolas de tipo me- fica das gravuras rupestres e do grande núme-

a c i o n a l
diterrâneo que a região suporta e criando um ro de sítios descobertos.
ecossistema de valor único. Foi uma decisão histórica, internacional-
A região produz o famoso vinho do Porto,

N
mente saudada, que resultou na criação do

r t í s t i c o
principal vetor de dinamização da tecnologia, Parque Arqueológico do Vale do Côa, dotado
cultura, tradição e economia local. Segundo a da missão de proteger e mostrar ao público o

A
Comissão Nacional da Unesco (s.d., s.p.), “o imenso patrimônio existente na região.

e
grande investimento humano nesta paisagem O Vale do Côa foi reconhecido pela Unesco,

i s t ó r i c o
de singular beleza tornou possível a fixação em 1998, como o maior conjunto mundial
das populações desde a longínqua ocupação de arte paleolítica ao ar livre. No processo

Pa u l a S i l va
romana”, dele resultando uma “realidade viva

a t r i m ô n i o
de classificação mais rápido que já foi feito,
e em evolução, ao mesmo tempo testemunho concluiu a Unesco (apud A Luta pelo Côa,
do passado e motor do futuro, solidamente s.d., s.p.):

P
ancorado na otimização dos recursos naturais

d o
A arte rupestre do paleolítico superior do Vale
e na preservação das ambiências”.

e v i s t a
do Côa é uma ilustração excepcional do desenvol-
Também ao norte, sobressai na história
vimento repentino do nosso gênio criador durante

R
recente de Portugal o extraordinário projeto
a alvorada do desenvolvimento cultural humano; a
que abrange o Parque Arqueológico do arte rupestre do Vale do Côa demonstra de forma
Vale do Côa e a construção de um museu excepcional a vida social, económica e espiritual
dedicado à arte rupestre, um forte e ousado dos nossos antepassados pré-históricos.
investimento na criação de infraestruturas
descentralizadas de atratividade cultural. O reconhecimento dos núcleos de
Na gênese desse museu de características gravuras rupestres como Patrimônio
Mundial representou, pois, o auge de um 113
únicas, está uma história que, por sua vez,
teve enorme notoriedade midiática aquém e processo que marcaria indelevelmente, em
além-fronteiras. Portugal, o estatuto da arte pré-histórica, da
Em 1994, foi feito o anúncio da desco- arqueologia e do bem cultural. Em 2010, a
berta de uma rocha gravada no local desig- chancela estendeu-se à vizinha arte rupestre
nado por Canada do Inferno, avistada três paleolítica de Siega Verde, em Ciudad
anos antes pelo arqueólogo Nelson Rebanda, Rodrigo, Espanha.
enquanto acompanhava a construção de uma Nesse mesmo ano foi inaugurado
barragem no Côa. Ao entrar no domínio o Museu do Côa, obra projetada pelos
público, o tema suscitou intensa discussão na arquitetos Camilo Rebelo e Tiago Pimentel,
sociedade portuguesa, já que a obra implicaria um edifício arrojado cuja função e forma
a submersão da arte pré-histórica de todo o são indissociáveis do parque que se espraia
Vale do Côa. Dois anos depois, o governo no horizonte. É um dos maiores museus
Museu do Côa, Vila Nova
português decidiu abandonar o projeto da portugueses. Contudo, distingue-se por de Foz Côa, Guarda, Douro
(Portugal), 2009.
represa, atendendo à opinião dos especialistas assentar graciosamente, “com parte do seu Acervo: DGPC.
volume, como que engastado no topo da humanos. Entre os seus membros fundadores,
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l

colina que, na sua margem esquerda, encima figuram a Fundação Côa Parque, universidades
a c i o n a l

a foz do Côa, celebrando o encontro dos dois e um conjunto alargado de municípios.


patrimônios mundiais da região: a Arte Pré- Na mesma linha, sob o desígnio da
Histórica do Vale do Côa e a Paisagem do descentralização e do desenvolvimento
N
r t í s t i c o

Douro Vinhateiro” (Museu, s.d., s.p.). territorial, evidencia-se o caso de Peniche,


A pérola arquitetônica revela-se em um uma pequena vila de pescadores a uma
A

edifício que sugere um rochedo altivo na centena de quilômetros de Lisboa que está
e

inóspita e esplendorosa paisagem de xisto. Para prestes a figurar no roteiro internacional


i s t ó r i c o

assegurar a gestão desse complexo – museu e dos monumentos que celebram os direitos
parque –, foi constituída em 2011 a Fundação humanos, na sequência de igualmente
H

Côa Parque, que tem por missão a proteção, histórica decisão governamental. O XV
Pa u l a S i l va
a t r i m ô n i o

conservação, investigação e divulgação da Museu Nacional está sendo construído


arte rupestre e demais patrimônios da região. na imponente Fortaleza de Peniche, uma
P

Seu objetivo consiste, precisamente, na estrutura defensiva militar edificada no século


d o

promoção do desenvolvimento integrado da XVI, transformada em severa prisão política


e v i s t a

área, “aliando parceiros e agentes econômicos pelo regime repressivo do Estado Novo
privados, realçando a importância da economia (1926-1974). A obra é da responsabilidade da
R

da cultura e o seu contributo para o bem-estar DGPC, e o projeto arquitetônico, atribuído


do país” (Fundação, s.d., s.p.). Cumprindo a por concurso público nacional, é da autoria
filosofia inerente ao trabalho em rede, essencial do Atelier AR4, sob a coordenação do
para a congregação de esforços em regiões de arquiteto João Barros Matos.
baixa densidade populacional, como é o caso No último dia 25 de abril, por ocasião
do Vale do Côa, a fundação integra entre os da celebração dos 45 anos da Revolução dos
114 seus atuais fundadores a DGPC, o Turismo de Cravos, que pôs fim à ditadura em Portugal,
Portugal, a Agência Portuguesa do Ambiente, assinalou-se a reabertura do monumento ao
a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia público, inaugurando uma exposição que
e Ensino Superior, a Associação de Municípios antecipa os conteúdos do futuro museu,
do Vale do Côa e o Município de Vila Nova de intitulada “Por teu livre pensamento”, bem
Foz Côa. como um memorial aos presos políticos, em
Em um outro inequívoco sinal da que estão inscritos 2.510 nomes. O evento
vitalidade da sociedade civil portuguesa, está mereceu uma entusiástica participação da
atualmente em fase de constituição a criação população e o expressivo interesse da imprensa
de uma Rede Nacional de Arte Rupestre, que nacional e internacional. Antevê-se que o
se propõe a promover, valorizar e capacitar os novo museu, espaço de cultura e memória que
recursos patrimoniais e humanos das entidades presta a mais justa homenagem às mulheres e
relacionadas, aumentar o impacto e a missão homens que lutaram contra a repressão, venha
dos sítios detentores de arte rupestre e instituir naturalmente impor-se como um destino de
mecanismos de partilha de recursos físicos e viagem para cidadãos nacionais e estrangeiros,
D e s a f i o s d a g e s t ã o p a t r i m o n i a l e e c o n o m i a e m Po r t u g a l
N
A
Ha c i o n a l
r t í s t i c o
e
i s t ó r i c o

Pa u l a S i l va
P
Ra t r i m ô n i o
d o
e v i s t a
gerando dinâmicas de desenvolvimento Disponível em: https://www.unescoportugal.mne.pt/
pt/temas/proteger-o-nosso-patrimonio-e-promover-
extensíveis a toda a região.
a-criatividade/patrimonio-mundial-em-portugal/alto-
Partilhei algumas experiências que nos douro-vinhateiro. Acesso em: 24 maio 2019.
fazem sentir que estamos avançando no FUNDAÇÃO. Côa Parque. Vale do Côa: Fundação
rumo certo. Acredito que cada vez mais se Côa Parque, s.d. Disponível em: https://arte-coa.pt/
fundacao/. Acesso em: 24 maio 2019. 115
consolida e enraíza uma consciência ativa em
MUSEU. Côa Parque. Vale do Côa: Fundação Côa
torno das questões do patrimônio e que as Parque, s.d. Disponível em: https://arte-coa.pt/museu/.
pessoas estão mais informadas, mais vigilantes Acesso em: 24 maio 2019.

relativamente aos monumentos, ao legado MARTINS, Guilheme d’Oliveira. Mensagem do


coordenador nacional: ter memória é respeitarmo-
artístico, às tradições que permanecem. nos. Ano Europeu do Património Cultural 2018. s.d.
Disponível em: http://anoeuropeu.patrimoniocultural.
Referências gov.pt/index.php/ano-europeu-do-patrimonio-
cultural-2018/mensagem-do-coordenador/. Acesso em:
24 maio 2019.
A LUTA PELO CÔA. Côa Parque. Vale do Côa:
IPPAR – INSTITUTO PORTUGUÊS
Fundação Côa Parque, s.d. Disponível em: https://arte-
DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO;
coa.pt/a-luta-pelo-coa/. Acesso em: 21 ago. 2019.
CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA.
COMISSÃO EUROPEIA. The Economy of Culture in Acordo de Cooperação entre o Ministério da Cultura e a
Europe. S.l: KEA European Affairs, out. 2006. Disponível Conferência Episcopal Portuguesa para a Implementação
em: http://ec.europa.eu/assets/eac/culture/library/studies/ do Projeto “Rota das Catedrais”. Lisboa: Ministério da
cultural-economy_en.pdf. Acesso em: 14 ago. 2019. Cultura; Conferência Episcopal Portuguesa, 2009.
Torre de Belém, Lisboa
COMISSÃO NACIONAL DA UNESCO. Alto Douro Disponível em: http://www.rotadascatedrais.com/pt/ (Portugal).
Vinhateiro. Lisboa: Comissão Nacional da Unesco, s.d. acordo-de-cooperacao. Acesso em: 24 maio 2019. Acervo: DGPC.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

116
Magali Da Silva A política de desenvolvimento do tur ismo cultural na França
Magali Da Silva

a c i o n a l
A política de desenvolvimento do

F rança

N
turismo cultural na

r t í s t i c o
T h e c u lt u r a l t o u r i s m d e v e l o p m e n t p o l i c y i n F r a n c e
L a p o l í t i c a d e d e s a r r o l l o d e l t u r i s m o c u lt u r a l e n F r a n c i a

A
He
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
Resumo from the highest levels of government, which
translates mainly into the implementation of
O desenvolvimento do turismo cultural, an agreement between the ministries in charge

P
of culture and tourism and into investments

d o
dada a diversidade do patrimônio que

e v i s t a
representa, é um desafio importante para from a variety of public and private
fortalecer a atratividade e a competitividade stakeholders. This paper discusses the priorities

R
da oferta turística da França. A excelência e outlined by the French national policy for the
a autenticidade dos destinos no país fazem tourism industry.
o setor destacar-se mundialmente, e sua
estruturação desfruta do apoio dos níveis Resumen
mais altos do governo, o que se traduz,
principalmente, na implementação de um El desarrollo del turismo cultural, dada la
acordo entre os ministérios responsáveis pela diversidad del patrimonio que representa, es un 117

cultura e turismo e nos investimentos feitos reto importante para fortalecer la atractividad
por uma multiplicidade de atores públicos y la competitividad de la oferta turística de
e privados. Este artigo visa apresentar as Francia. La excelencia y autenticidad de los
prioridades definidas pela política nacional destinos en el país hacen que el sector tenga
francesa em prol do segmento. un destaque mundial, y su estructuración
cuenta con el apoyo de los más altos niveles
Summary del gobierno, lo que se traduce principalmente
en la implementación de un acuerdo entre
Cultural tourism is a major challenge los ministerios responsables de la cultura y el
to strengthen the attractiveness and turismo y en inversiones realizadas por una
competitiveness of France’s tourism offer, given multiplicidad de actores públicos y privados. Vitória de Samotrácia,
estátua em mármore,
the diversity of its heritage. The excellence Este artículo tiene como objetivo presentar las 328 cm, 190 a.C.,
encontrada na ilha grega
and authenticity of French destinations help prioridades definidas por la política nacional de Samotrácia, 1863.
Museu do Louvre, Paris
distinguish them worldwide thanks to support francesa a favor del sector. (França).
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

118
Magali Da Silva A política de desenvolvimento do tur ismo cultural na França
C u lt u r a dois eixos complementares, pois a atratividade

A política de desenvolvimento do tur ismo cultural na França


e economia
do turismo calca-se fortemente nos sítios patrimoniais e,

a c i o n a l
inversamente, a rentabilidade econômica de
O turismo é um setor econômico um bem depende muito do fluxo de pessoas,
que representa mais de 60% da visitação a

N
essencial na França. Sua importância

r t í s t i c o
manifesta-se, sobretudo, na porcentagem esses locais. Assim, a presença turística tem
do produto interno bruto (PIB) que o um impacto direto no desenvolvimento

A
consumo do segmento representa: 7,2%. econômico dos destinos culturais, em termos

e
tanto de emprego quanto de renda.

i s t ó r i c o
Embora continue sendo o principal
destino do mundo, com 89 milhões de
visitantes estrangeiros, em 2018 figurou em O pa p e l d o E s ta d o

H
a t r i m ô n i o
quinto lugar em termos de rendimentos,
enfrentando a concorrência crescente de Os Ministérios do Turismo e da Cultura,
países como Estados Unidos e Espanha. conscientes da importância do turismo

Magali Da Silva
P
Ademais, nações vizinhas, como Alemanha, cultural na França e da necessidade de

d o
e mais distantes, como Rússia, Tailândia e uma ação articulada para desenvolvê-lo,

e v i s t a
China, alcançaram uma posição entre os assinaram em 2009 um acordo que propõe

R
dez principais destinos mundiais em poucos diretrizes para reforçar a cooperação entre os
anos. Diante desse contexto competitivo, a ministérios competentes e seus organismos
atratividade e a competitividade dos serviços associados, a fim de promover uma
turísticos franceses tornaram-se desafios. instrumentalização econômica, razoável e
Considerando que a oferta cultural é um dos respeitosa do patrimônio cultural nacional.
principais motivadores de turistas nacionais Várias ações estruturantes resultaram dessa
e estrangeiros, independentemente do parceria interministerial, visando à melhoria
119
país de origem, a valorização dos recursos do acolhimento de turistas em locais de
patrimoniais é uma oportunidade de criar interesse e ao apoio à profissionalização dos
atividades diversificadas e de qualidade, atores que integram o setor. Concretamente,
despertando o desejo dos visitantes de foi lançado um processo de implantação
descobrir ou redescobrir a França. de duas Denominações de Origem
Com quase 44 mil monumentos nacionais, Turismo de Qualidade e Turismo
históricos protegidos, mais de oito mil e Deficiência, este último para garantir
museus, 1,5 mil festivais e 40 sítios que que a acessibilidade seja contemplada
figuram na lista do Patrimônio Mundial nos serviços oferecidos. O projeto, que já
da Organização das Nações Unidas para a vem sendo executado há vários anos por
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), muitos atores governamentais, contribuiu
sem falar nos parques, jardins e todo o bem significativamente para o incremento da
científico e tecnológico do país, a oferta atratividade patrimonial francesa.
Opéra National de Paris,
cultural representa uma das principais Com efeito, uma pesquisa recente sobre a Paris (França), 2010.
Foto: Vitor Hugo Mori.
atrações da França. Turismo e patrimônio são satisfação de quem visita a França – conduzida Acervo: Iphan.
pela Diretoria-Geral de Empreendedorismo e de concessão de destinos, que visa
pelo Programa Turismo de Qualidade – revela envolver os agentes públicos e privados na
que a qualidade da oferta cultural é percebida implementação de estratégias para promover
pelos clientes estrangeiros como uma das a diversidade do turismo francês e atrair
áreas de excelência do país. Por conseguinte, a novos visitantes internacionais. De fato,
120 satisfação do visitante é alta e vem aumentando entre os 22 contratos assinados entre o
constantemente, sobretudo em função da governo, a agência e as autoridades locais,
acolhida nos locais, bem como da manutenção alguns baseiam-se diretamente na valorização
e valorização do patrimônio histórico. Além do patrimônio. É o caso, por exemplo,
disso, a França tem uma vantagem competitiva dos contratos Vale do Loire, Destinos do
em relação à média europeia pela diversidade Impressionismo, Entorno do Louvre-Lens
de atividades e eventos promovidos. e Monte Saint-Michel, cujos signatários
O país também favorece a integração da incluem grandes operadores culturais como
oferta cultural nas operações de promoção o Centro dos Monumentos Nacionais2, o
turística conduzidas pela agência nacional Museu d’Orsay e o Museu do Louvre.
Atout France com os atores locais. Essa
1

diretriz reflete-se na política governamental

1. Entidade nacional encarregada de promover o turismo 2. Instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura
internacionalmente e oferecer suporte de engenharia aos destinos e Comunicação francês, responsável por administrar e
turísticos para fortalecer os serviços locais. Está vinculada aos disponibilizar para visitação monumentos nacionais que são de
ministérios responsáveis pelo turismo da França. propriedade do Estado.
I n o va ç ã o em sítios local, os proprietários desses monumentos
pat r i m o n i a i s históricos, públicos ou privados, são
frequentemente afetados pelos custos elevados
Diante dos desafios crescentes que de manutenção e valorização decorrentes
acompanham a estruturação do turismo da natureza excepcional dessas localidades.
cultural, os ministérios responsáveis pela O desenvolvimento de serviços comerciais 121
pauta decidiram estreitar sua cooperação para – como hotelaria, alimentação ou lazer –
aumentar o impacto econômico do segmento pode, nesse contexto, constituir uma forma
através da promoção de locais e eventos de disponibilizar recursos financeiros para a
culturais. Essa estratégia mais agressiva foi conservação ou até o restauro das edificações.
concretizada com a assinatura de um novo A partir dessas premissas, o governo francês
acordo em 2018. O roteiro proposto pelo realizou um estudo nacional inovador que
governo, com um enfoque mais operacional, visava determinar as condições necessárias
inclui novas áreas de intervenção, sobretudo para a implementação de diferentes serviços
no apoio à tecnologia digital, inovação e turísticos nos sítios patrimoniais franceses e
desenvolvimento de novos serviços comerciais formular recomendações operacionais para
em sítios históricos. facilitar o lançamento de atividades-piloto
Embora as atividades turísticas em em um conjunto de bens. De acordo com
Place des Vosges, Paris
sítios patrimoniais tenham um impacto as recomendações resultantes do estudo, (França), 2010.
Foto: Vitor Hugo Mori.
direto muito significativo na economia publicado em 2018, verificou-se a necessidade Acervo: Iphan.
A política de desenvolvimento do tur ismo cultural na França
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Magali Da Silva
P
d o
e v i s t a
R

122

de melhorar o suporte de engenharia e a milhão de euros, para desenvolver projetos de


acessibilidade dos sistemas de apoio, mediante investimento economicamente equilibrados
a definição de um quadro nacional para em sítios patrimoniais, envolvendo
incentivar novos projetos que contribuam proprietários públicos e operadores privados.
para a salvaguarda dos edifícios históricos em Esse sistema, cuja gestão foi confiada ao
Banque des Territoires3 e à agência Atout
questão e colaborem com a atratividade do
local de implantação.
3. Entidade pública nacional que reúne competências e meios
Em resposta a essa demanda, em maio de investimento governamentais voltados ao desenvolvimento
de projetos inovadores nos territórios franceses. Na qualidade de
de 2019, o governo anunciou a criação de parceiro fundamental dos ministérios na execução de suas políti-
cas públicas, apoia os responsáveis pelos projetos, tanto privados
um fundo de apoio à engenharia dedicado quanto públicos, investindo de forma conjunta na implantação
ou modernização de serviços de hotelaria, instalações turísticas
a turismo e patrimônio, dotado de um e de lazer.
A política de desenvolvimento do tur ismo cultural na França
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Magali Da Silva
P
d o
e v i s t a
R
123

France, é o terceiro componente do Programa A criação de um componente dedicado


Engenharia de Turismo na França, voltado à valorização do patrimônio no âmbito
para o setor, uma iniciativa governamental do programa ilustra a importância da
criada em 2018 para dar assistência aos estruturação do turismo cultural na gestão
locais turísticos e empreendedores privados das políticas públicas francesas. É um setor
na consolidação de projetos estruturantes e que tem forte apoio das autoridades públicas
inovadores nos destinos. Com um orçamento e cuja estratégia, definida no âmbito de
total de 15 milhões de euros, busca-se, um acordo interministerial, é aplicada, de
particularmente, reforçar os investimentos no diferentes formas, por um grande número
segmento para aumentar a competitividade e de atores públicos e privados em todo o Centro Georges Pompidou,
Paris (França), 2014.
Foto: Vitor Hugo Mori.
a atratividade da oferta turística no exterior. território nacional. Acervo: Iphan.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

124
Magali Da Silva A política de desenvolvimento do tur ismo cultural na França

Pirâmide do Louvre,
Paris (França), 1994.
Foto: Luiz Gallotti Póvoa.
Paris (França).
Museu do Louvre,
212 x 284 cm, 1486-1490,
afresco, Sandro Botticelli,
a uma jovem mulher,
oferecendo presentes
Vênus e as três graças

R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
125

Magali Da Silva A política de desenvolvimento do tur ismo cultural na França


126

Frame do videoclipe
Apeshit, de Beyoncé
e Jay Z, direção
de Ricky Saiz,
2018. Reprodução
YouTube.
127

Oferenda ao Bará
do Mercado Público,
Porto Alegre (RS),
2010.
Foto: Mirian Fichtner.
Miguel Ángel Troitiño Vinuesa e Libertad Troitiño Torralba

a c i o n a l
C idades patrimoniais e turismo :

N
uma experiência espanhola

r t í s t i c o
H e r i ta g e cities and tourism: the S pa n i s h e x p e r i e n c e

A
Ciudades pat r i m o n i a l e s y t u r i s m o : u n a e x p e r i e n c i a e s pa ñ o l a

e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Resumo em 25 anos transformaram-se em destinos
patrimoniais. É preciso ajustar seus sistemas
As cidades patrimoniais, quando se de gestão, em termos de oferta cultural, para

P
d o
configuram como destinos turísticos, que sejam integradores e sustentáveis.

e v i s t a
enfrentam o desafio, com oportunidades
e riscos, de integrar o turismo de forma Summary

R
equilibrada. Este texto, que parte do
protagonismo crescente do setor e da When they become tourist destinations,
necessidade de controlá-lo, aproxima-se heritage cities face the challenges, opportunities
das sinergias e tensões entre o segmento e and risks of successfully integrating tourism in
o patrimônio. Os múltiplos aspectos dessa a controlled manner. This paper looks at the
atividade e sua natureza massiva evidenciam increasingly important role played by tourism
a necessidade de discutir, no planejamento and the importance of regulation, drawing on 129

das cidades e seus bens, a capacidade de the synergies and tensions between this industry
acolhimento dos locais em suas dimensões and patrimony. The multiple facets and massive
física, psicológico-perceptiva, sociocultural scope of tourism suggest the urgent need to
e econômica, como uma ferramenta de discuss the physical, psychological-perceptive, Palácio dos Golfines de
Abajo, Cáceres (Espanha),
conhecimento e ação para racionalizar e, se social, cultural and economic dimensions of city 2016.
Acervo: GCPHE.
for preciso, limitar a inserção do turismo. and patrimony planning as a tool that delivers
O estudo de caso são as cidades espanholas insight and stimulates action to rationalize
Ibiza (Espanha), 2016.
incluídas na lista do Patrimônio Mundial, que and, if necessary, limit the impact of tourism. Acervo: GCPHE.
The case study concerns the Spanish cities y tensiones entre el segmento y el patrimonio.
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

on the World Heritage list that have become Los múltiples aspectos de esta actividad y su
a c i o n a l

heritage destinations over the past 25 years. naturaleza masiva ponen en evidencia la
Their cultural portfolio management systems necesidad de discutir, en la planificación de las
ciudades y sus bienes, la capacidad de acoger los
N

need to be updated to ensure integration and


r t í s t i c o

sustainability. lugares en sus dimensiones física, psicológico-


perceptiva, sociocultural y económica, como
A

una herramienta de conocimiento y acción


M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a

Resumen
e

para racionalizar y, de ser necesario, limitar


i s t ó r i c o

la inserción del turismo. El estudio de caso son


Las ciudades patrimoniales, cuando se las ciudades españolas incluidas en la lista del
H

configuran como destinos turísticos, enfrentan el Patrimonio Mundial, que en 25 años se han
a t r i m ô n i o

reto, con oportunidades y riesgos, de integrar el convertido en destinos patrimoniales. Hay que
turismo de manera equilibrada. Este texto, que ajustar sus sistemas de gestión, en cuanto a la
P

parte del creciente protagonismo del sector y la oferta cultural, para que sean integradores y
d o

necesidad de controlarlo, se acerca a las sinergias sostenibles.


e v i s t a
R

130

Cuenca (Espanha), 2016.


Acervo: GCPHE.
Turismo as necessidades de conservação; caso

Cidades patrimoniais e turismo:


uma experiência espanhola
nas cidades
pat r i m o n i a i s contrário, podem ser destruídos.

a c i o n a l
A inserção equilibrada do turismo,
As cidades patrimoniais1, transformadas sobre a qual se teoriza há mais de meio
século, está se mostrando difícil, devido,

N
ou não em destinos turísticos, enfrentam

r t í s t i c o
profundas mudanças funcionais e sociais. entre outros motivos, a certa negligência de
Nelas, ou em seu entorno imediato, suas dimensões sociais e funcionais, como

A
evidenciam cidades espanholas como Ávila,

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
estão imbricadas as realidades históricas,

e
Cuenca, Salamanca, Segóvia, Toledo ou

i s t ó r i c o
econômicas, culturais e simbólicas, e
Santiago de Compostela (Troitiño Vinuesa
também se configuram como territórios
e Troitiño Torralba, 2009). Portanto, parece

H
onde coexistem em permanente tensão – a
oportuno formular algumas perguntas. Quais

a t r i m ô n i o
tensão da mudança – velhas e novas funções.
são as oportunidades e os limites do uso
A recuperação urbana e a revalorização
turístico do patrimônio? Qual é a capacidade
social a cada dia estão mais relacionadas

P
de acolhimento real dos recursos e dos

d o
ao planejamento e à gestão do turismo e
conjuntos patrimoniais? Temos instrumentos

e v i s t a
precisam de uma visão urbana integradora
adequados de planejamento e gestão para
que, superando as abordagens da proteção

R
canalizar o turismo de acordo com os
física do patrimônio ou da promoção
interesses e as necessidades de conservação?
turística, leve em conta as oportunidades
O patrimônio cultural, natural e paisagístico
e os limites do seu desenvolvimento. O
pode tornar-se um pilar importante para o
turismo cultural, sendo minoritário e de desenvolvimento sustentável?
elite, desejado e valorizado como bom, A recuperação e a utilização produtiva
nas últimas décadas tornou-se de massas, do patrimônio cultural, no marco do
e os conjuntos patrimoniais têm que se 131
fortalecimento das centralidades turísticas,
aparelhar com instrumentos adequados para simbólicas e culturais, requerem a superação
controlá-lo de acordo com sua capacidade de de abordagens urbanísticas simplistas
acolhimento ou carga2 e canalizá-lo conforme que, focadas na conservação física do
patrimônio, têm negligenciado as complexas
1. Entendemos serem aquelas que contam com um rico legado
patrimonial, tanto material quanto imaterial, que constitui o
problemáticas relacionadas com a irrupção
principal recurso e a razão pela qual atraem turistas e excursões. do turismo massivo. As cidades patrimoniais
Por destino patrimonial, consideramos as cidades patrimoniais
que já têm certo nível de desenvolvimento turístico e que têm que se preparar para integrar, de maneira
adaptaram, em maior ou menor grau, a cidade e seu patrimônio
para essa função. responsável e inteligente, as funcionalidades
2. O conceito de capacidade de carga surgiu, em primeiro lugar, emergentes, sejam elas turísticas ou culturais.
em relação ao uso de pastagens nas fazendas de gado e, um pouco
mais tarde, passou a ser utilizado em relação ao controle de Para isso, é necessário estabelecer conexões
visitação e uso público de espaços protegidos. Em monumentos,
conjuntos patrimoniais e paisagens culturais, é utilizado no entre as dimensões urbanísticas, culturais,
controle e na gestão do fluxo de visitantes. Aqui, por se tratar de patrimoniais e turísticas, porque o bom
espaços de uso social, preferimos utilizar o conceito de capacidade
de acolhimento, pois as cidades patrimoniais são construções uso do patrimônio, entre outras razões, é a
sociais e, portanto, locais de acolhimento e de relações entre
pessoas das mais diversas origens, crenças e posições econômicas. melhor garantia para sua conservação, e o
turismo possibilita sua valorização. O bem, capacidade de acolhimento (García Hernández,
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

impulsionado pelo turismo, transcende a 2003), entendida em seu sentido integral,


a c i o n a l

dimensão cultural, transforma-se em um considerando as dimensões físicas, culturais,


importante recurso produtivo e facilita econômicas, funcionais e patrimoniais. As
políticas para a recuperação e reutilização tensões e os conflitos estão aumentando e
N
r t í s t i c o

do capital patrimonial. O turismo, que é necessário enfrentá-los. Embora existam


movimenta o mundo, e os turistas, que demandas legítimas do setor, isso não
A

chegam a todas as partes do planeta, do pode ser feito sem atender as necessidades
M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e

Everest à Antártida, tornaram-se um poderoso dos moradores. Somente por essa via será
i s t ó r i c o

motor econômico, que gera 10% do produto possível evitar que apareçam – como já
interno bruto (PIB) mundial (OMT, 2019) acontece em Sevilha, Palma de Maiorca,
H

e 13% do PIB da Espanha (INE, 2018a); é Barcelona, Santiago de Compostela ou San


a t r i m ô n i o

tão poderoso que, se não for controlado, pode Sebastián – reações, por parte dos cidadãos,
acabar com a multifuncionalidade dos centros rotuladas como turismofobia, de aversão ao
P

históricos, uma das características identitárias turismo e aos turistas (Blanco, Blázquez e
d o

de cidades mediterrâneas. Morell, 2018). O problema real não são os


e v i s t a

O turismo gera importantes mudanças visitantes. Esse setor é um componente da


R

funcionais, sociais e paisagísticas, relacionadas nossa contemporaneidade, e sua vertente


ao aumento de visitantes, hotéis, restaurantes, internacional movimenta 1,5 bilhão de
lojas, espaços de lazer etc. Uma vez pessoas. O problema são as formas de ordená-
superados certos limiares, esse crescimento lo e administrá-lo, pois, devido a seu poder
entra em conflito com os moradores, o e capacidade de transformação, não pode ser
comércio tradicional e os modos de vida. deixado ao acaso, ainda mais quando está
Gera, ainda, desequilíbrios que induzem se tornando um dos principais suportes de
132
o despovoamento, a tensão social e o um novo ciclo de renovação urbana (Álvarez
desapego patrimonial. Na Espanha, esses Mora e Camerín, 2019).
processos aceleraram-se nas duas últimas
décadas, quando as cidades históricas (Calle Sinergias e tensões entre
Vaquero, 2002) e, sobretudo, as patrimoniais pat r i m ô n i o e t u r i s m o
consolidaram-se como destinos turísticos . 3

O desenvolvimento do turismo pode No turbulento início do século XXI,


contribuir para a revitalização funcional um bom número de cidades patrimoniais
dos conjuntos patrimoniais, mas o forte estava associado ao turismo e, nelas, a sus-
aumento dos fluxos de visitantes exige o tentabilidade deveria estar relacionada com
desenvolvimento de um planejamento urbano a realização de modelos turísticos integrados
mais preciso e de uma gestão adaptada à sua na economia e na sociedade, respeitadores
do patrimônio cultural e preocupados com
3. Nesse sentido, cabe destacar que as 15 cidades do Grupo de as demandas do setor, mas não a elas subor-
Cidades Patrimoniais da Humanidade da Espanha recebem mais
de cinco milhões de viajantes nos seus estabelecimentos hoteleiros. dinada. A realidade das cidades espanholas é,
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R
certamente, muito heterogênea. Enquanto em No último meio século, o vínculo entre
alguns poucos casos – como em Santiago de cultura, patrimônio e turismo foi reforçado
133
Compostela, Granada, Girona, Sevilha, To- (Velasco González, 2013), sendo identificado
ledo, Ronda ou Salamanca – já se enfrentam com uma forma diferenciada de consumo,
problemas de saturação e congestionamento o chamado turismo cultural (Morère e
em certas épocas do ano, em muitos outros Perelló, 2013). Embora esteja na origem do
há o desejo e a possibilidade de aumentar o turismo moderno, essa vertente conheceu
número de visitantes, considerando que exis- um primeiro impulso após a Segunda Guerra
tem 970 conjuntos históricos tombados na Mundial e, com o aumento da renda e do
Espanha – e sem dúvida é o que vai acontecer consumo, foi reforçada a partir da década
nos próximos anos. Será necessário promover de 1960, beneficiando-se da aura de um
políticas que, por um lado, evitem a concen- bom turismo que estimulava a economia
tração em um pequeno número de destinos, e ajudava a conservar o patrimônio. Nos
como pode ser o caso das cidades que são Pa- anos 1990, sofreu um período de profunda
trimônio Mundial, e, por outro, não foquem transformação, e, se antes a clientela era
os marcos monumentais, museus ou espaços minoritária, de elite e respeitosa com
Cuenca (Espanha), 2015.
patrimoniais de primeiro nível. o patrimônio, passa a predominar um Acervo: GCPHE.
turismo massivo (Richards, 2018). O termo
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

“turismo cultural” é um grande guarda-chuva


a c i o n a l

que abriga diversas categorias: artística,


museológica, patrimonial, arqueológica,
N

gastronômica, etnográfica etc. Em nosso


r t í s t i c o

caso, quando tratarmos de cidades históricas,


falaremos do patrimonial.
A

As organizações internacionais, há
M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e

décadas, têm prestado atenção às relações e


i s t ó r i c o

sinergias entre turismo e patrimônio (Lobo


Montero, 2001). Uma primeira definição de
H
a t r i m ô n i o

turismo cultural remonta a 1976, quando foi


publicada a Carta de Turismo Cultural do
Conselho Internacional de Monumentos e
P

Sítios (Icomos):
d o
e v i s t a

O turismo cultural é aquela forma de


turismo que tem por objetivo, entre outros fins, o
R

conhecimento de monumentos e sítios histórico-


artísticos. Exerce um efeito realmente positivo
sobre estes tanto quanto contribui para satisfazer
seus próprios fins – sua manutenção e proteção
(Icomos, 1976, p. 2).

Ressaltamos o forte desenvolvimento das


134 atividades turísticas e suas implicações sociais,
econômicas e culturais, bem como os efeitos
nocivos e destrutivos do uso indevido de mo-
numentos e sítios. O respeito pelo patrimônio
deveria prevalecer sobre qualquer outra con-
sideração, por mais justificada que fosse do
ponto de vista social, econômico ou político.
O turismo patrimonial pode ser
definido como o movimento de pessoas
para conjuntos de interesse patrimonial,
localizados em lugares onde não residem,
tanto em seu país quanto no exterior, para
conhecê-los e vivenciar experiências, mais
ou menos profundas, relacionadas a eles.
A natureza massiva desse tipo de atividade
está relacionada à expansão da base social essencial do visitante é aprender, descobrir,

Cidades patrimoniais e turismo:


uma experiência espanhola
da demanda e, também, à existência de experimentar e consumir os atrativos/

a c i o n a l
visitantes com motivações diversas. Seguindo produtos culturais tangíveis e intangíveis em
a classificação de McKercher e du Cross um destino turístico” (OMT, 2017, p. 4).
(2002) para os turistas culturais, podemos É nos centros patrimoniais, juntamente

N
r t í s t i c o
diferenciar cinco tipos: o turista patrimonial com alguns sítios arqueológicos e museus,
intencional procura uma experiência onde ocorrem as maiores concentrações de

A
enriquecedora e profunda com o bem, visitantes. Muitos deles apenas passeiam pelos

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
visto que este é o principal motivo por trás espaços, sem conhecer os monumentos ou

i s t ó r i c o
da escolha do local de visita; para o turista museus, especialmente aqueles que não são
patrimonial de locais de interesse, o legado gratuitos. O turismo patrimonial, após ter

H
cultural também é o principal motivo para sido minoritário e elitista, está se tornando

a t r i m ô n i o
visitar um destino, mas a experiência e o massivo, sendo um protagonista fundamental
contato com ele são superficiais; o turista na dinâmica dos conjuntos de monumentos

P
patrimonial por acaso é aquele que não viaja e sítios, gerando uma pressão excessiva em

d o
por motivos patrimoniais, mas acaba por ter algumas ruas e praças (García Hernández

e v i s t a
uma profunda experiência nesse sentido; para et al., 2017).

R
o turista patrimonial ocasional, o bem é um As relações entre urbanismo, território,
motivo secundário da viagem e a experiência paisagem, patrimônio e turismo são muito
e o contato com ele são superficiais; e o turista evidentes, embora, com certa frequência,
patrimonial secundário é aquele que não viaja não sejam compreendidas corretamente.
por razões patrimoniais, mas participa de O patrimônio cultural, sendo de grande
visitas aos conjuntos ou marcos patrimoniais diversidade, tem um uso turístico e
e tem experiências superficiais. potencialidades de utilização muito diversas
135
O consumo de locais patrimoniais tem (Calle Vaquero, 2013), variáveis não só
aumentado. Um relatório recente sobre as de acordo com as características do bem
sinergias entre turismo e cultura (OMT, (monumentos, ruas, paisagens, festas,
2018) destaca a importância desse nicho, que procissões etc.), mas também com os donos
se configura como um importante pilar da da propriedade e os modelos de gestão.
política governamental do setor. Estima-se Portanto, a fim de implementar estratégias
que, em 2017, representava a motivação de de divulgação quando forem necessárias,
mais de 39% (cerca de 516 milhões) de todos deve-se ter um bom conhecimento dos
os viajantes internacionais. Para corroborar níveis de funcionalidade turística dos
Semana Santa, Cuenca
uma compreensão ampla desse conceito, diferentes recursos (Troitiño Vinuesa et al., (Espanha), 2010.
Acervo: GCPHE.
na XXII Sessão da Assembleia Geral da 2011a; Troitiño Torralba, 2010; Troitiño
Organização Mundial do Turismo (OMT), Vinuesa e Troitiño Torralba, 2016).
Concerto na Cidade
realizada em Chegdu, na China, em 2017, o O turismo pode servir para reforçar a da Cultura da Galícia,
Santiago de Compostela
turismo cultural foi definido como: “Um tipo multifuncionalidade dos lugares e dar-lhes (Espanha), 2011.
Foto: Oscar Corral.
de atividade turística na qual a motivação uma dimensão social, mas é preciso assumir, Acervo: GCPHE.
de início, que o potencial de crescimento Ibarra, 2001). A crise turística do início da
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

não é infinito e, portanto, precisa ser década de 1990 já mostrou certo esgotamento
a c i o n a l

canalizado apropriadamente, colocando das fórmulas tradicionais do setor, e os


limites quando necessário. planos estatais espanhóis, chamados de
O sucesso de uma cidade patrimonial, em Futures I e Futures II, começaram a dar uma
N
r t í s t i c o

termos de conservação e recuperação urbana, atenção diferenciada ao turismo cultural,


depende tanto da coordenação de políticas primeiro com o Plano de Impulsionamento
A

setoriais (meio ambiente, planejamento do Turismo Cultural e Idiomático (2001)


M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e

urbano, infraestrutura, cultura, segurança, e depois com o Plano para a Promoção do


i s t ó r i c o

turismo etc.) quanto da formulação explícita Turismo Cultural (2009-2012). Em 2001


de políticas turísticas ou patrimoniais. Um apenas 10,6% (cerca de cinco milhões) dos
H

bom número de destinos enfrenta o desafio turistas estrangeiros escolhiam a Espanha


a t r i m ô n i o

de aproveitar as oportunidades que o setor por razões culturais, e o país captava apenas
lhes oferece para movimentar, de maneira 8% das viagens culturais dos europeus
P

responsável, seus recursos patrimoniais (Instea (Turespaña, 2001). Em 2008, quando a crise
d o

e Patronato de Alhambra e Generalife, 2012). já havia começado, a Espanha recebeu 7,6


e v i s t a

Para isso, é essencial trabalhar em várias milhões (13,7%) dos 55,8 milhões de turistas
frentes e buscar parcerias, porque a promoção internacionais, quando o turismo estrangeiro
R

continua a prevalecer, e a tarefa de incorporar diminuiu 2,3% (Troitiño Torralba, 2011).


o turismo à causa da conservação ainda está Em 2017, dos 82 milhões de turistas
pendente. Para uma cidade patrimonial se que chegaram à Espanha, 12,8 milhões
tornar um destino turístico, é necessário (15,6%) o fizeram por motivos culturais,
garantir, por um lado, o bom estado de e 31,31 milhões (38,38%) realizaram
conservação dos seus recursos e, por outro, atividades culturais durante a viagem (INE,
136 torná-los acessíveis e adaptá-los para visitas 2018c). Entre 2003 e 2018, o crescimento
públicas, além de dotá-los de infraestrutura, da chegada de visitantes estrangeiros, apesar
equipamentos, acomodações e serviços que a dos efeitos negativos da crise econômica, foi
função turística exige. de 56,87%, ao passo que o turismo cultural
Na Espanha, o despertar do turismo, no teve um aumento de 114,40%. Na pressão
início do século XX, caminhou lado a lado turística sobre os destinos patrimoniais da
com o patrimônio, primeiro com o impulso Espanha, o interesse interno tem um papel
pioneiro do Marquês de la Vega-Inclán, no muito importante, visto que, enquanto
Comissariado Real de Turismo, e depois em 2001 apenas 3,5 milhões de espanhóis
do Patronato Nacional de Turismo durante viajaram por razões culturais, em 2017 foram
a Segunda República (Ortega, 2014). No 12,5 milhões, e 38,4 milhões realizaram
entanto, a decolagem do turismo cultural é atividades culturais em viagem (INE, 2018b).
bastante tardia, apenas no final do século XX, Em uma conjuntura turística tão ampla
ao contrário do que já acontecia em outros quanto a atual, em 2018 a Espanha atingiu
países europeus (Richards, 2001; Grande o recorde de recepção de 82,6 milhões de
viajantes internacionais. Os destinos urbanos dos conjuntos de monumentos e sítios

Cidades patrimoniais e turismo:


uma experiência espanhola
e patrimoniais estão sofrendo, de forma como destinos turísticos (Brito, 2009).

a c i o n a l
bastante desigual, os efeitos desse forte O turista é um grande consumidor
crescimento, acelerando o processo turístico de bens e serviços, sua presença estimula
de alguns bairros, gerando conflitos sociais e vários setores econômicos, gera riqueza e

N
r t í s t i c o
agravando a perda de vitalidade residencial. emprego e introduz novas modalidades de
O aumento da rede hoteleira e de restauração, uso do solo. Em primeiro lugar, promove o

A
juntamente com a explosão descontrolada desenvolvimento de atividades que atendem

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
de moradias de uso turístico, evidencia diretamente às suas necessidades (hotelaria,

i s t ó r i c o
uma pressão e conflitos crescentes tanto nas restauração, transporte, comércio e lazer)
grandes cidades – como Madrid e Barcelona e também impulsiona o desenvolvimento

H
– quanto nos destinos patrimoniais – como de outros setores. Muitas cidades históricas

a t r i m ô n i o
Santiago de Compostela, Sevilha ou Toledo. espanholas, nas últimas duas décadas,
mais do que dobraram suas instalações de
Turismo

P
e acolhimento hospedagem, restauração e comércio. O

d o
nos conjuntos turismo passou a desempenhar um papel de

e v i s t a
pat r i m o n i a i s liderança, por sua importância na economia
urbana e também em um setor que é objeto

R
Hoje, os centros históricos e as paisagens da propaganda política do sucesso.
urbanas estão intimamente associados ao O segmento contribui para melhorar
turismo, aumentando a sua simbiose com o a renda da população e gera um aumento
patrimônio. Para evitar os efeitos negativos de significativo no faturamento das empresas
um afluxo descontrolado de pessoas, sobre os locais4. Seu desenvolvimento colabora para
quais o Icomos, a OMT, a Organização das a revitalização financeira dos destinos, mas
137
Nações Unidas para a Educação, a Ciência também tem seu lado obscuro, pois, quando
e a Cultura (Unesco) etc. vêm chamando a economia depende em excesso dele, uma
a atenção, é preciso assumir, de início, que diminuição no fluxo de visitantes ou nos
a capacidade de acolhimento turística das gastos turísticos pode causar uma crise no
cidades é limitada. Suas estruturas urbanas, sistema produtivo. À oferta de emprego
patrimoniais, sociais e ambientais impõem gerada por atividades que servem diretamente
fortes restrições relacionadas a acessibilidade ao turismo, devemos acrescentar as vagas
e mobilidade, mudanças funcionais e indiretas e aquelas induzidas por segmentos
intervenções arquitetônicas (Fernández-Baca de bens e serviços (Vernieres, 2012). Em
Casares, Salmerón Escobar e Sanz, 2009). geral, existe uma estreita relação entre o
Além disso, raramente as áreas patrimoniais esforço na conservação e na valorização do
e seu entorno contam com a infraestrutura e
os serviços de acolhimento necessários, pois 4. Além das licenças para a abertura de estabelecimentos voltados
à atividade turística, vemos a concessão excessiva de licenças para
até recentemente a administração de turismo bares e restaurantes colocarem mesas e cadeiras nas ruas e parklets
em vias e praças. Além de ter um impacto negativo na paisagem,
local mal havia intervindo na conformação esses recursos reforçam a pressão turística em determinados locais.
patrimônio e o influxo turístico, evidente O excesso de turistas, principalmente em
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

em cidades como Santiago de Compostela, excursões, já é uma ameaça, especialmente em


a c i o n a l

Girona, Ávila, Cuenca, Salamanca, Cáceres conjuntos patrimoniais localizados em áreas


ou Úbeda. urbanas (como Toledo, Ávila, Segóvia, Cuenca,
Os centros e paisagens históricos das Chinchón, Girona etc.) ou nas proximidades
N
r t í s t i c o

cidades mediterrâneas, além de espaços de destinos de sol e praia (Ronda, Morella,


para visitação, são lugares de memória, de Vic etc.).
A

vida e de trabalho, onde a pressão turística A Carta Internacional sobre Turismo


M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e

excessiva introduz desequilíbrios perigosos. Cultural do Icomos (1999), após apontar


i s t ó r i c o

Já faz mais de duas décadas que apontamos o direito e a responsabilidade, individual e


que as cidades patrimoniais precisam coletiva, de compreender, respeitar, valorizar
H

enfrentar o desafio de adaptar seus tecidos e preservar ativamente o patrimônio cultural,


a t r i m ô n i o

urbanos para que, preservando seus valores destaca a interação dinâmica entre turismo
e singularidades, a função turística se integre e patrimônio cultural. Aquele oferece
P

de forma equilibrada e se torne aliada de oportunidades de intercâmbio cultural e de


d o

sua recuperação (Troitiño Vinuesa, 1998b). experiências vitais, constituindo também


e v i s t a

A revalorização e a utilização turística do uma força positiva para a conservação e um


R

patrimônio cultural exigem, contudo, que fator de desenvolvimento. O patrimônio é,


sejam incorporadas num projeto cultural em sem dúvida, um grande atrativo turístico e
que, em certa medida, invertam-se as regras deveria trazer benefícios para a comunidade
do mercado e da oferta, pois o patrimônio anfitriã. Nesse marco de referência, coloca-
precisa ser priorizado em relação à demanda e se a necessidade de diálogo e parcerias entre
aos turistas (Mosser, 1994). os interesses da conservação do patrimônio
cultural e os da atividade turística. O
138
Fluxos turísticos Código de Ética Mundial para o Turismo
e c a pa c i d a d e d e (OMT, 1999) e as Conferências Mundiais
acolhimento sobre Turismo e Cultura, promovidas
conjuntamente pela OMT e Unesco,
Os destinos patrimoniais recebem milhões seguem nessa mesma direção. Na conferência
de visitantes, nacionais e estrangeiros, atraídos realizada em 2015, em Siem Reap, no
pelos bens arquitetônicos e urbanísticos, Camboja, o então secretário-geral, Taleb
pelos museus, pela paisagem, pela cultura ou Rifai, destacou:
pelo meio ambiente. O aumento do fluxo
O patrimônio cultural conta a história da
de pessoas, para não ter efeitos nocivos, deve
humanidade, conta nossa história. Se administrado
ocorrer conforme a capacidade de acolhimento
adequadamente, o turismo pode proteger e revita-
dos monumentos, museus ou conjuntos lizar esse patrimônio, gerar novas oportunidades
históricos, algo necessário para estabelecer para as comunidades locais e promover a tolerância
formas e comportamentos responsáveis pelo e o respeito entre os povos e as nações (OMT e
uso e pelo aproveitamento do patrimônio. Unesco, 2015b, s.p.).
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A

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e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
A preocupação com a gestão responsável de carga física, dada pela simples relação

d o
foi reforçada quando, na década de 1990, as entre o espaço disponível e a necessidade de

e v i s t a
abordagens de desenvolvimento sustentável espaço por visitante; 2) capacidade de carga

R
foram incorporadas ao discurso turístico, real, determinada ao se submeter a capacidade
elaborando metodologias para calcular a de carga física a uma série de fatores de
capacidade de carga/acolhimento dos lugares, correção que são específicos de cada local; 3)
porque não há sustentabilidade possível capacidade de carga efetiva ou permissível, que
se os limites máximos de visitantes não leva em consideração o limite aceitável de uso
forem definidos. O conceito foi criado a e a capacidade de gestão da administração
partir de diferentes abordagens, utilizando responsável (García Hernández e Calle
139
inicialmente uma perspectiva ambiental Vaquero, 2012).
para preservar o equilíbrio ecológico e a Existem, pelo menos, quatro dimensões
qualidade da experiência recreativa dos de capacidade de acolhimento que devem
visitantes. Testando sua aplicação em recursos ser consideradas de forma combinada e
e conjuntos patrimoniais, foram introduzidos complementar: a física, relacionada ao limiar
fatores econômicos, sociais e culturais. A de visitantes a partir do qual se danificam
OMT define a capacidade de carga turística os recursos patrimoniais e o meio ambiente
como: “O número máximo de pessoas que local; a perceptiva ou psicológica, relacionada à
podem visitar um destino turístico ao mesmo saturação que determina que a qualidade da
tempo, sem pôr em perigo o ambiente físico, experiência do visitante diminui e deixa de ser
econômico ou sociocultural e causando enriquecedora; a sociocultural, que indica o
uma diminuição no nível de satisfação dos limite até o qual a população e a cultura locais
visitantes” (OMT, 1999, p. 7). toleram o turismo e os turistas se suportam
No processo de estabelecer limites, três entre si; a econômica, entendida como o limite Praça Mayor, Salamanca
(Espanha), 2016.
níveis estão sendo considerados: 1) capacidade até o qual as atividades turísticas podem Acervo: GCPHE.
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

ser desenvolvidas na rede produtiva local, e urbana. Os planos de gestão que a Unesco
sem que sejam afetadas negativamente ou vem exigindo das cidades incluídas na lista
deslocadas outras funções e atividades. do Patrimônio Mundial são o instrumento,
A estimativa da capacidade de desde que sejam feitos de acordo com a
acolhimento e seu uso na gestão dos fluxos estrutura de uma interpretação adequada
de visitantes são viáveis em monumentos e das complexas relações estabelecidas entre os
140 conjuntos patrimoniais musealizados, como lugares e os visitantes (Chamorro, 2006). Os
em Alhambra, em Granada; Medina Azahara,
destinos patrimoniais, diante de um turismo
em Córdoba; Real Alcázar, em Sevilha;
massivo, têm que desenvolver estratégias
La Pedrera, em Barcelona; ou na muralha
orientadas para controlar e qualificar a visita,
da cidade de Ávila. No entanto, é muito
pois, a partir de certos níveis de turistização5,
complexa em cidades patrimoniais vivas
voltar atrás é praticamente impossível.
porque, embora existam modelos teóricos que
inter-relacionem as diferentes dimensões, sua
5. Usamos o termo turistização em um sentido duplo.
concretização prática, devido à existência de Primeiramente, referimo-nos à situação de saturação turística
existente em um determinado espaço urbano – centro histórico,
interesses conflitantes e à pressão dos setores bairro ou complexo patrimonial – em decorrência do crescimento
excessivo de atividades diretamente relacionadas ao turismo
imobiliário e turístico, é ilusória. (hotéis, apartamentos, moradias de uso turístico, comércio de
lembranças ou suvenires, espaços de lazer, museus ou diversos
O estudo da capacidade de acolhimento serviços orientados ao turista), provocando monocultura ou
Vista de uma das torres da
e o estabelecimento de limites no controle do simplificação funcional. O segundo sentido é usado para explicar
Catedral de Santiago de
Compostela o processo de desenvolvimento do turismo, que envolve a
(Espanha), 2014. fluxo de visitantes devem ser integrados no transição de uma realidade urbana multifuncional para uma outra
Foto: Oscar Corral. de saturação de visitantes, podendo gerar reações negativas contra
Acervo: GCPHE. planejamento e na administração patrimonial o turismo e os turistas pela população local.
O Centro do Patrimônio Mundial, sua capacidade de acolhimento. O grupo

Cidades patrimoniais e turismo:


uma experiência espanhola
seguindo as abordagens do Comitê de pesquisa Turismo, Patrimônio e Desen-

a c i o n a l
de Turismo Cultural do Icomos, tem volvimento, da Universidade Complutense
se posicionado diante do impacto do de Madri (UCM), desde o final do século
XX, vem desenvolvendo uma metodologia

N
crescente desenvolvimento turístico sobre

r t í s t i c o
o patrimônio. Nas Diretrizes Práticas para que tem sido utilizada em Alhambra, em
a Aplicação da Convenção do Patrimônio Granada; no Conjunto Arqueológico de

A
Mundial (Unesco, 2008), surge essa Carmona; em San Isidoro em León; na Ca-

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
tedral de Santiago de Compostela; ou no

i s t ó r i c o
preocupação, e a capacidade de acolhimento
e suas conexões com o planejamento e a Real Alcázar, em Sevilha, tendo sido imple-
gestão já estavam presentes em um manual de mentada, com resultados satisfatórios, em

H
Alhambra (Troitiño Vinuesa, 2000; García

a t r i m ô n i o
Gestão do Turismo em Sítios do Patrimônio
Mundial (Pedersen, 2005). Três categorias Hernández, 2001). Não existe uma fórmula
são definidas: as capacidades de carga física, mágica: a capacidade de acolhimento se

P
ecológica e social, mas não se chega a propor refere ao número máximo de visitantes ou

d o
limites nem limiares absolutos, apenas se ao limite além do qual a exploração turística

e v i s t a
recorre a sistemas mais flexíveis baseados de um recurso/destino se torna insusten-

R
nas metodologias do Limite de Mudança tável. Os limiares máximos de aferição são
determinados por, pelo menos, três critérios
Aceitável6 (LAC, da sigla em espanhol). Na
(densidade de uso, parâmetros de gestão e
Conferência Internacional sobre Turismo
comportamento turístico) e cinco categorias
Cultural da OMT, realizada no Camboja,
de variáveis (características físicas do espaço
em 2000, também foi discutida a capacidade
de visita, número total de visitantes e sua
de carga para minimizar o impacto do
distribuição, rotatividade da visita, padrões
turismo sobre os sítios patrimoniais. Alguns 141
de comportamento dos visitantes e gestão
anos depois, foi publicado um guia sobre
da visita), destacando que a capacidade de
a gestão da saturação turística em locais de
acolhimento turístico dos recursos é marcada
interesse natural e cultural (OMT, 2005), que
pela dimensão ou variável que apresentar as
inclui exemplos de boas práticas, como o de
possibilidades de uso mais restritivas (García
Alhambra, em Granada.
Hernández e Calle Vaquero, 2012).
Poucos recursos e conjuntos patrimo-
Não há números precisos sobre a
niais dispõem de estudos sistemáticos sobre
pressão turística nos conjuntos patrimoniais
espanhóis. No entanto, com os trabalhos
6. O limite de mudança aceitável é uma metodologia que se
baseia, por um lado, no estabelecimento das condições desejadas realizados pelo nosso grupo de pesquisa,
para o desenvolvimento turístico de uma cidade patrimonial
e, por outro, na aplicação de estratégias que visem atingir podemos dizer que em cidades como
os objetivos definidos. Em seu desenvolvimento, normas e
indicadores são contemplados para quantificar não só quando os Sevilha, Granada, Córdoba e Santiago de
impactos ecológicos, físicos, econômicos ou sociais da atividade Compostela são mais de três milhões de
turística no destino começam a ser negativos, mas também em
que momento limitações ou restrições devem ser introduzidas turistas; em Toledo e Salamanca, em torno de
para evitar a deterioração dos recursos patrimoniais ou outros
efeitos ambientais, econômicos e sociais indesejados. dois milhões; e em Ávila e Segóvia, mais de
um milhão. Os indicadores que relacionam bem do Patrimônio Mundial por razões de
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

viajantes em estabelecimentos hoteleiros prestígio e rentabilidade turística.


a c i o n a l

e moradores têm validade limitada, mas Desde que, em 1978, inscreveram-se os


expressam melhor a realidade – isto é, os centros históricos de Quito e Cracóvia, as
cidades tiveram um protagonismo especial.
N

índices – entre visitantes e residentes de


r t í s t i c o

conjuntos históricos ou a porcentagem de Em 1991, por ocasião da reunião de Quebec


superfície ocupada pelos usos das atividades sobre as cidades do Patrimônio Mundial,
A

turísticas em relação ao total de usos do foi criado um grupo de trabalho e, em


M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e

conjunto patrimonial (Turismo de Santiago 1993, na assembleia de Fez, foi constituída


i s t ó r i c o

de Compostela, 2018). a Organização das Cidades Patrimônio


Mundial (OCPM), que atualmente reúne
H

Grupo das Cidades mais de 300 cidades em cujo território há um


a t r i m ô n i o

P at r i m ô n i o d a sítio inscrito na lista da Unesco.


H u m a n i d a d e d a E s pa n h a
Origem
P

e d e s p e r ta r
d o

A Convenção para a Proteção do turístico


e v i s t a

Patrimônio Mundial, Cultural e Natural


Em Ávila, no ano de 1993, foi fundado
R

da Unesco, de 1972, assinada pela Espanha


o Grupo das Cidades Patrimoniais da
em 1982, tem entre seus instrumentos
Humanidade da Espanha (GCPHE)8, com
operacionais a lista do Patrimônio Mundial7,
Ávila, Cáceres, Salamanca, Santiago de
atualmente integrada por 1.073 bens (832
Compostela, Segóvia e Toledo como cidades
culturais, 206 naturais e 35 mistos). Essa
promotoras. Córdoba foi incorporada em
lista, criada para preservar, valorizar e
1996; Cuenca, em 1998; Alcalá de Henares,
142
gerenciar de maneira responsável os bens que
em 2000; Ibiza e San Cristóbal de La Laguna,
a compõem, está sujeita a discussão, e um
em 2002; Mérida e Tarragona, em 2006; e
dos principais problemas está relacionado
Úbeda e Baeza, em 2014. No art. 6º
com sua instrumentalização turística
dos estatutos (GCPHE, 2017), entre os
(Villafranca e Chamorro, 2007). A saturação
objetivos do grupo, inclui-se atuar em
de determinados destinos e a sua conversão
conjunto na defesa do patrimônio histórico e
em parques temáticos mostram que os
cultural, estabelecer políticas para a troca de
excessos do turismo são um perigo real para a
experiências, planejar uma política turística
conservação e para a vida urbana (em cidades
e de divulgação de imagem, favorecer a
como Veneza, Praga, Amsterdã, Barcelona,
acessibilidade combinada com o respeito
Lisboa). A Espanha tem 47 bens inscritos, e
existe uma corrida competitiva para ser um 8. De acordo com o art. 1º dos seus estatutos (GCPHE, 2017),
o grupo é composto por aqueles municípios com conjuntos
históricos incluídos na lista do Patrimônio Mundial da Unesco.
7. A lista do Patrimônio Mundial é o registro onde são incluídos, Para fazer parte da associação, tem sido usada uma interpretação
a pedido dos Estados e após os relatórios das comissões restritiva do conjunto histórico. Isso explica por que Granada, com
especializadas, os bens que valorizam a autenticidade e têm um o Albaicín e la Alhambra, ou Aranjuez, cuja paisagem cultural
valor universal excepcional. integra o conjunto histórico, não fazem parte do GCPHE.
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola
N
Aa c i o n a l
r t í s t i c o

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
H
P
Re
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
d o
e v i s t a
ao patrimônio e promover medidas para a O plano estatal de turismo Futures I
proteção integral dos centros históricos . 9
(1992-1995), com os Planos de Excelência
Entre as iniciativas consideradas pelo Pro- Turística (PETs)10, ofereceu possibilidades 143
grama de Ação do GCPHE (1994-2004) em de ação nas cidades históricas. No entanto,
vários campos (meio ambiente, transporte, dos 1.760 projetos que, com esse incentivo,
trânsito, moradia, equipamentos etc.), o turis- foram concluídos ou estavam em execução
mo não era uma questão, talvez porque não se até dezembro de 1995, apenas 35 eram
imaginava na época o papel proeminente que especificamente relacionados a cidades
o segmento adquiriria, uma vez que, em 1990, históricas (Troitiño Vinuesa, 1998a). Essa
Ávila tinha uma rede hoteleira com apenas 558 situação explica-se devido às fragilidades das
leitos e Cuenca, com 858. A situação mudou infraestruturas de gestão, à proeminência
logo, e a preocupação com o setor ganhou de uma política de turismo local focada Ávila (Espanha), 2016.
Foto: Rafael Delgado Hidalgo.
destaque, incentivando a criação de pacotes na promoção e à experiência limitada no Acervo: GCPHE.

turísticos específicos.
10. É uma das iniciativas turísticas mais interessantes da política
turística espanhola. São planos que se desenvolvem por meio de
9. Para atingir esses objetivos, o grupo organiza-se em três um acordo de colaboração entre as administrações estatais, da
grandes áreas: Cidade e Patrimônio; Educação e Cultura; comunidade autônoma e local, em alguns casos contando com a
Representação, Promoção e Turismo. parceria do setor hoteleiro.
desenvolvimento de projetos que requeriam pontos turísticos12 11 das 13 cidades
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

cooperação interadministrativa. que hoje constituem o GCPHE. Elas,


a c i o n a l

No plano Futures II (1996-1999), novas com 35.526 leitos na rede hoteleira,


vias de ação foram abertas, incorporando os receberam 3,7 milhões de viajantes em seus
Planos de Dinamização Turística (PDTs). estabelecimentos, 2,7 milhões deles espanhóis
N
r t í s t i c o

Em 1998, Cuenca foi a primeira cidade e 1 milhão de estrangeiros. A quantidade de


Patrimônio Mundial a ter um PDT, ao passo visitantes dos principais marcos monumentais
A

que Ávila e Segóvia passaram a ter um PET e museus já atingia números significativos,
M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e

em 1999. A complexa problemática desses e a rede hoteleira e de restauração tinha sido


i s t ó r i c o

centros mostrava que era necessário avançar reforçada e modernizada.


pela via da conciliação, e o Ministério de Em 200613, os 13 municípios do grupo
H

Obras Públicas, Transportes e Meio Ambiente contavam com 489 bens de interesse cultural,
a t r i m ô n i o

lançou o Programa de Ações Conciliadas mas apenas uma pequena parcela estava
em Cidades Históricas, que já considerava preparada para a visita pública. Somente 26 –
P

o turismo, com seus impactos positivos e aqueles bens que tinham registro de visitantes
d o

negativos, como um dos fatores centrais de – receberam 5,51 milhões de pessoas, sendo
e v i s t a

sua dinâmica. O Plano Integral de Qualidade a Mesquita-Catedral de Córdoba a mais


procurada (1,2 milhão) e depois dela, bem
R

do Turismo Espanhol (2000-2006) favoreceu


o desenvolvimento dos PETs de Mérida, distantes, o Museu de História de Tarragona
Salamanca e Córdoba – eles também foram (595 mil) e o Alcázar de Segóvia (504 mil),
implantados em Toledo, Alcalá de Henares predominando um modelo tradicional de
e Santiago de Compostela. No âmbito do visita, polarizado nos marcos de relevância
Plano do Turismo Espanhol Horizonte monumental. A oferta de hospedagem era
2020 , será desenvolvido o Plano de
11 de 36.790 leitos, distribuídos entre 454
144
Competitividade Turística de Tarragona. estabelecimentos, com primazia dos hotéis,
Em 2003, foi assinado com a Secretaria- ocupando 82,86% da capacidade. Albergues
Geral de Turismo o acordo Marco de e pensões vinham perdendo relevância, e
Cooperação para o Desenvolvimento e a ainda era rara a presença de estabelecimentos
Promoção Turística do Grupo de Cidades cinco estrelas. Os destinos com a maior
Patrimônio da Humanidade da Espanha. rede hoteleira eram Santiago de Compostela
No ano seguinte, foi lançado o Clube (5.555) e Ibiza (5.420)14.
de Produtos de Cidades Patrimônio da
Humanidade da Espanha, apostando na
gestão profissionalizada e integrada dos 12. Na Enquete de Ocupação Hoteleira do INE, considera-se
como ponto turístico “o município onde a concentração da oferta
destinos. Em 2005, o Instituto Nacional turística é significativa” (INE, 2005, p. 11).

de Estatística (INE) já considerou como 13. Em 2006, foi assinado um acordo entre o GCPHE e o
grupo de pesquisa Turismo, Patrimônio e Desenvolvimento
da Universidade Complutense de Madri para a elaboração do
observatório turístico.
11. Esse plano, um dos mais rigorosos e inovadores do
planejamento turístico espanhol, foi interrompido pela crise e 14. Esses dados constam do relatório de 2008 do observatório
pela mudança de governo do país. turístico do GCPHE, inédito.
Os equipamentos e estabelecimentos aos atentados em Nova York, Madri e

Cidades patrimoniais e turismo:


uma experiência espanhola
suscetíveis de receber feiras, congressos, Londres. A realidade dos destinos era

a c i o n a l
seminários e reuniões, entre outros eventos, muito diferente em lugares como Cuenca,
totalizavam 225, com uma capacidade Cáceres, Mérida e Ávila: os estrangeiros
agregada de 142.041 vagas. Pavilhões não chegavam a 15%; em Santiago de

N
r t í s t i c o
para congressos e locais para feiras, Compostela e Córdoba representavam cerca
importantes para o turismo de congressos, de 35%; e somente em Ibiza, um destino

A
já existiam em Córdoba, Cuenca, Mérida, patrimonial em um território de sol e praia,

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
Salamanca, Santiago e Tarragona e estavam se aproximavam de 50%. A taxa média de

i s t ó r i c o
em construção em Ávila e Toledo. O ocupação dos hotéis era baixa: 47,17% em
turismo idiomático ganhava força, 67 2003 e 50,21% em 2006. A mais alta, sem

H
centros ofereciam ensino de espanhol para nunca chegar a 70%, correspondia a Ibiza; e

a t r i m ô n i o
estrangeiros, sendo as ofertas mais potentes as mais baixas, a Tarragona e Ávila. A duração
as de Salamanca e Alcalá de Henares. média da estadia era curta, de 1,9 pernoite,

P
A preocupação com a qualidade estava com exceção de Ibiza, com 4,6 pernoites

d o
começando a dar frutos, mas, em 2006, havia (Troitiño Vinuesa et al., 2007). No mercado

e v i s t a
apenas 66 entidades certificadas com o “Q” turístico nacional, com um importante peso

R
de qualidade turística. do fator da proximidade, os madrilenhos
As 11 cidades consideradas pontos ocupavam o primeiro lugar, seguidos pelos
turísticos tinham passado de 3,2 milhões de catalães, andaluzes e valencianos. No mercado
viajantes e 6,1 pernoites em 2003 para 3,9 externo, predominavam os franceses, alemães
milhões e 7,3, respectivamente, em 2006. e britânicos, sendo também importante a
Considerando as demandas, as dinâmicas presença de norte-americanos e japoneses.
e a situação turística, diferenciavam-se Os planos de dinamização e excelência
145
quatro categorias de destinos: consolidados do turística favoreceram o desenvolvimento de
interior (Córdoba, Santiago de Compostela, infraestruturas de gestão e, em 2007, Alcalá
Salamanca e Toledo), emergentes (Ávila, de Henares, Ávila, Cáceres, Cuenca e Toledo
Cuenca, Cáceres, Segóvia e Mérida), contavam com secretarias exclusivas de
dependentes do turismo de litoral (Ibiza, San Turismo. Os órgãos autônomos, de capital
Cristóbal de La Laguna e Tarragona) e de público ou misto, eram recentes, como as
regiões urbanas, o caso de Alcalá de Henares Patronais de Toledo e Tarragona, o Consórcio
(Troitiño Torralba, 2010). de Córdoba, a Fundação Turística de Cuenca;
A dinâmica turística das cidades do também existiam três empresas públicas de
GCPHE era muito dependente do visitante turismo, em Salamanca, Segóvia e Santiago
nacional, que correspondia a 72,4% dos de Compostela. Os Convention Bureaus
hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros. estavam presentes em sete cidades, e os Film
Entre 2003 e 2006, o número de turistas Comissions, apenas em três. O orçamento da
nacionais aumentou 28% e o de estrangeiros, área turística era de cerca de 16 milhões de
apenas 6%. Eram anos de incerteza devido euros, sendo a razão média entre orçamento
e habitante de 10,42 euros, com fortes em Santiago de Compostela, Tarragona ou
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

disparidades: em Santiago de Compostela era Salamanca, e bastante fracos em San Cristóbal


a c i o n a l

de 39,2 euros e, em Toledo, apenas 2,9315. de La Laguna, Toledo ou Cuenca.


Em termos urbanísticos e patrimoniais,
as cidades contavam com planos gerais Da cr i s e à a t u a l
N
r t í s t i c o

municipais e especiais de proteção para seus explosão turística


conjuntos de bens. Havia também cinco
A

consórcios16, em Santiago de Compostela, Em 2008, o impacto da crise já era


M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e

Toledo, Cuenca, Mérida e Ibiza, focados na evidente, com quedas no número de


i s t ó r i c o

conservação e recuperação do patrimônio, viajantes e pernoites (Troitiño Vinuesa


nos quais a atenção dada ao turismo, embora et al., 2009), sendo maior no turismo
H

fosse uma de suas finalidades, era escassa. estrangeiro: - 5,3% nos viajantes e - 6,4%
a t r i m ô n i o

Os planos de excelência e dinamização, nos pernoites. A crise estava generalizada


bem-sucedido instrumento de conciliação nos destinos do GCPHE. Apenas Salamanca
P

administrativa, foram para algumas cidades cresceu ligeiramente, devido aos eventos do
d o

um marco na reformulação do modelo II Centenário da Guerra da Independência.


e v i s t a

de intervenção turística no destino. Das Apesar disso, o setor hoteleiro, em razão da


13 cidades do GCPHE, 11 tinham os dinâmica imobiliária, ainda estava sob os
R

desenvolvido ou estavam fazendo um, com efeitos expansivos da conjuntura anterior,


um investimento direto mobilizado de 40 e a oferta de hospedagem aumentou
milhões de euros. 9,64%. Em 2009, os maus presságios foram
Durante esses anos, um esforço foi feito confirmados, tendo sido um ano crítico
para melhorar a competitividade, despertando para a dinâmica turística; no entanto,
de uma longa letargia à qual tinham sido a rede hoteleira continuou a crescer,
146 acentuando os desequilíbrios entre oferta
levados pela inércia promocional do setor.
Então, novas abordagens de planejamento e demanda17. Em 2010, uma recuperação
foram assumidas, com base na qualidade, tímida iniciou-se, a rede hoteleira manteve-
sustentabilidade e cooperação público- se, a oferta de restaurantes cresceu, os
privada, buscando criar e consolidar viajantes domésticos estabilizaram-se e os
estruturas de gestão do turismo adaptadas às estrangeiros aumentaram significativamente:
novas necessidades, mesmo quando houvesse 19,9% em viajantes e 24,7% em pernoites.
diferenças importantes nos modelos e níveis Também aumentaram os visitantes aos
de desenvolvimento organizacional, potentes marcos patrimoniais, 4,8 milhões em 2009
e 5,2 milhões em 201018. Os efeitos da crise
15. Esses dados constam do relatório de 2008 do observatório ainda eram muito evidentes, e em 2011 a
turístico do GCPHE, inédito.

16. Esses consórcios, cuja primeira experiência de sucesso foi


a de Santiago de Compostela, nasceram com uma vocação 17. Esses dados constam do relatório de 2010 do observatório
principal focada na cultura, na conservação e na recuperação turístico do GCPHE, inédito.
patrimonial. Sua finalidade é decidir, coordenar e desenvolver
ações e investimentos públicos (Estado, comunidades autônomas 18. Esses dados constam do relatório de 2011 do observatório
e prefeituras). turístico do GCPHE, inédito.
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R
recuperação foi interrompida devido a um A Comissão de Turismo do GCPHE
novo declínio do turismo nacional. concentrou seu trabalho internacional,
As 13 cidades do GCPHE acumulavam em estreita colaboração com a Turespaña,
um poderoso capital patrimonial e turístico: de fortalecimento da marca Cidade
13 conjuntos históricos de âmbito mundial, Patrimônio, procurando abrir um espaço
147
mais de 500 bens de interesse cultural, cerca nos mercados emergentes. O horizonte não
de 900 estabelecimentos hoteleiros e 60 mil estava inteiramente claro, tanto nacional
leitos, 2,55 mil restaurantes, mais de 5 milhões como internacionalmente. O GCPHE
de visitantes aos marcos patrimoniais, 369 tinha começado a reascender-se, agora de
instalações para reuniões e congressos, com mãos dadas principalmente com o turismo
capacidade superior a 200 mil lugares . A 19
estrangeiro. Tudo indicava que a crise havia
rede hoteleira continuou a expandir, e, apesar sido usada para ajustar e reorientar o setor,
das reduções orçamentárias, mantiveram-se buscando torná-lo mais competitivo e
os serviços de acolhimento e a modernização sustentável, reforçando sua posição referencial
da gestão. Os estabelecimentos hoteleiros no turismo cultural espanhol.
receberam cerca de 4 milhões de viajantes, o A recuperação começou em 2013, e, no Vista panorâmica
do Casco Histórico
que significou 8 milhões de pernoites. quinquênio 2013-2017, os viajantes em esta- a partir do Museu
Paleontológico,
Cuenca (Espanha),
belecimentos hoteleiros aumentaram 29,14%, 2016.
19. Esses dados constam do relatório de 2012 do observatório Foto: Javier Romero.
turístico do GCPHE, inédito. passando de 3,98 milhões em 2012 para 5,15 Acervo: GCPHE.
milhões em 201720. A dinâmica dos pernoites lista do Patrimônio Mundial, recebeu 275
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola

também era expansiva, embora com taxas mil turistas, um aumento de 48,21% em
a c i o n a l

um pouco menores, de 22,76%, passando de um ano.


7,49 a 9,18 milhões. De maneira geral, a me- A oferta regulada de apartamentos
lhoria foi evidente, mas, devido aos diferentes turísticos tem crescido significativamente.
N
r t í s t i c o

tipos de destinos, houve disparidades. Em 2017, foi de 5.484, sendo que os


O relatório de 2018 do observatório números mais elevados foram observados
A

turístico do GCPHE, elaborado pela em Ibiza, Tarragona, Córdoba, Salamanca


M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e

empresa de consultoria Braintrust (2018), e Alcalá de Henares. A pressão turística


i s t ó r i c o

reflete uma maior presença de turistas não está relacionada apenas com
estrangeiros: 40,2% dos viajantes e 43,1% os estabelecimentos hoteleiros e os
H

dos pernoites, subsistindo as disparidades. apartamentos, mas, principalmente, com o


a t r i m ô n i o

Apenas em Ibiza, Santiago de Compostela, crescimento desenfreado das moradias de


Córdoba e Tarragona, os estrangeiros uso turístico, dos bares, dos restaurantes e do
P

representaram mais de 40% do total de comércio turístico. Santiago de Compostela,


d o

visitantes. A duração média da estadia, destino patrimonial-religioso que recebe


e v i s t a

de 1,79 pernoite, continuou a diminuir, em torno de 3 milhões de visitantes anuais


tanto no turismo doméstico quanto no e onde os leitos dos hotéis passaram de
R

internacional, com um valor máximo de 5.857 em 2004 para 8.198 em 2017,


3,7 pernoites, em Ibiza, e um mínimo de sofreu uma explosão de moradias para uso
1,5 pernoite, em Ávila, Toledo e Mérida. turístico, 4.325 vagas entre as registradas
Os visitantes dos locais de interesse e as não registradas. A cidade histórica
ultrapassaram os 6 milhões, mantendo o concentra 48,3% das moradias desse tipo
foco em um pequeno número de marcos. registradas e 46,6% das não registadas, além
148 O ranking dos referenciais turísticos de 44,6% da superfície hoteleira, 37,6%
das cidades foi liderado pela Mesquita- das vagas de hospedagem turística, 35,7%
Catedral de Córdoba, que, com quase 2 da superfície dos imóveis para uso turístico
milhões de visitantes, teve um aumento de e 27,3% da restauração (Turismo de
59,17% em relação a 2006. Em seguida, Santiago de Compostela, 2018). A pressão
vieram a muralha de Ávila, com 50,5%; o sobre o espaço residencial e o comércio
Museu El Greco de Toledo, com 40%; o tradicional é importante, colocando em
Alcázar de Segóvia, com 23%. O conjunto risco um dos pilares de sua identidade,
arqueológico de Medina Azahara, em a multifuncionalidade, e caminha
Córdoba, onde o número de visitantes perigosamente para a turistização.
permanecia estável, em torno de 190 mil em O impacto econômico do turismo
2018, devido ao efeito de sua inclusão na melhorou a posição de todas as cidades. O
emprego direto gerado, sem os bares, é de
512 mil postos de trabalho, 4,9% do total
20. Os dados finais de 2018 não estão disponíveis e os provisórios
estão incompletos.
de vagas nas cidades, com um máximo de
10%, em Ibiza, e um mínimo de 3,4%, em P r o p o s ta

Cidades patrimoniais e turismo:


uma experiência espanhola
utópica de
Alcalá de Henares (Braintrust, 2018); esse planejamento e gestão

a c i o n a l
número triplicaria se o emprego indireto d e d e s t i n o s pat r i m o n i a i s
fosse levado em conta21. Existem mais de
cinco mil empresas diretamente ligadas

N
O turismo patrimonial já é massivo, no

r t í s t i c o
ao turismo, com um forte peso no setor entanto, a valorização e a utilização turística
de restauração (61,1%). No entanto, vale do patrimônio raramente estão integradas em

A
ressaltar que o crescimento do emprego era um projeto de cidade em que o patrimônio

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
de 8,7%, quando nesse mesmo período os

i s t ó r i c o
e a sociedade prevaleçam sobre as vontades
viajantes em estabelecimentos hoteleiros do negócio da chamada indústria turística,
cresceram quase 16%, evidenciando os riscos um lucro que mascara, com frequência,

H
a t r i m ô n i o
implicados na massificação . 22
projetos imobiliários especulativos. Alcançar
Os destinos do GCPHE têm uma relação harmoniosa entre turismo e
desenvolvido uma ampla gama de ações em patrimônio em grande parte é uma tarefa

P
prol do desenvolvimento do turismo local: utópica, uma vez que duas racionalidades

d o
criação e melhoria do produto patrimonial, são enfrentadas: a mercantil, que busca

e v i s t a
infraestruturas e serviços de acolhimento, lucratividade em curto prazo, e a patrimonial-

R
promoção e apoio à comercialização, cultural, voltada à defesa de valores coletivos.
qualidade e inteligência turística etc. Em 25 Seja como for, coloca-se a necessidade de
anos, sua posição turística foi consolidada, superar as políticas turísticas de crescimento
contribuindo não só para melhorar e quantitativo e apostar em abordagens
diversificar a oferta espanhola, mas também integrais de natureza qualitativa que, além
para complementar outros destinos (Troitiño de contribuir para a valorização de novos
Torralba, 2011). O turismo vem ganhando recursos, propiciem sua conservação.
149
posições na agenda política local, e começam O desenvolvimento do turismo
a ser impulsionadas estratégias urbanas responsável é uma oportunidade real
que o consideram um importante motor para o patrimônio, oferecendo maneiras
de desenvolvimento e recuperação (Calle de conciliar a conservação com as novas
Vaquero e García Hernández, 2016). demandas e necessidades sociais. O turismo
implica, acima de tudo, mudança, e apenas
uma análise comparativa de seus custos
e benefícios, sociais e culturais, tornará
21. Acreditamos que o número real seja muito maior, já que operacional o conceito de sustentabilidade.
o turismo é um dos setores com mais empregos indiretos,
precariedade trabalhista e fortes diferenças entre a alta e a Os fluxos turísticos devem ser gerenciados
baixa temporada.
de acordo com a capacidade de acolhimento
22. Em termos urbanísticos, não há indicadores para medir a
pressão do turismo, já que não temos estatísticas confiáveis de dos destinos, para responder às demandas
visitantes (turistas + excursões). Portanto, o índice de viajantes
por habitante é pouco significativo, um valor médio de 3,88 no
de conservação dos valores patrimoniais e
GCPHE, com picos de 8,9 em Santiago de Compostela e 7,4 deter os efeitos negativos que acompanham
em Toledo, e mínimas de 1,6 em Tarragona e 2,8 em Cáceres
(GCPHE, 2018). a turistização. Por isso, é urgente promover
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A

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e
i s t ó r i c o
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a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

150

parcerias que mantenham ou introduzam, turismo. As cidades patrimoniais têm de


novamente, a complexidade funcional. assumir – conforme fizeram alguns conjuntos
Seria uma questão de promover estratégias monumentais, como o de Alhambra, em
de multifuncionalidade, porque só assim Granada (Villafranca e Salmerón, 2010) –
os destinos patrimoniais poderão preservar que o turismo deve estar totalmente
sua identidade como realidades vivas e integrado a seus modelos de gestão urbana
funcionar melhor em termos turísticos. e patrimonial.
Para além das medidas de proteção A Unesco, desde o início do século
necessárias, são importantes os planos de XXI, tem apontado para as cidades
gestão, entendidos como ferramentas de incluídas na lista do Patrimônio Mundial
conciliação e coordenação, integrando as a necessidade de um plano de gestão que
dimensões patrimoniais, sociais e funcionais, garanta a conservação do excepcional valor
Cáceres (Espanha), 2011.
Acervo: GCPHE. de modo a prestar a devida atenção ao universal e da autenticidade dos bens, algo
que requer um uso sustentável dos recursos pelo turismo de massa; e a pressão dos

Cidades patrimoniais e turismo:


uma experiência espanhola
patrimoniais. Para abordar essa complexa negócios voltados aos visitantes.

a c i o n a l
tarefa, países como Itália, Alemanha e O plano define seus objetivos estratégicos
França desenvolveram guias metodológicos. para a revitalização da cidade histórica e

N
Algumas cidades como Florença, Évora e fornece orientações para sua configuração

r t í s t i c o
Porto elaboraram esses planos, dando especial inteligente como cidade patrimonial. São
atenção ao turismo (Troitiño Vinuesa et al., definidos seis objetivos estratégicos:

A
2011b). As cidades espanholas incluídas na

M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
i s t ó r i c o
lista do Patrimônio Mundial, tendo avançado 1) desenvolver o potencial de acolhimento
de forma significativa na conservação do residencial da cidade histórica e recuperar as
patrimônio e em suas políticas de turismo, atividades comerciais e culturais;

H
a t r i m ô n i o
não terminaram de formulá-los. Alguns 2) garantir a conservação do patrimônio
foram interrompidos, como em Segóvia, histórico-arqueológico dentro de um marco
Ávila e Aranjuez. Salamanca aprovou o dela a de funcionalidade contemporânea;

P
partir de 2017, e em Santiago de Compostela

d o
3) integrar a cidade histórica em sua base
está disponível uma primeira versão.

e v i s t a
territorial;
Em Salamanca, trata-se de um 4) reorientar o modelo turístico, reforçando

R
plano rigoroso e sistemático de proteção a conservação do patrimônio e um
patrimonial, em que a problemática turística, relacionamento amigável com os moradores;
surpreendentemente, não é abordada 5) aprofundar o conhecimento do
(Ayuntamiento de Salamanca, 2017). Em patrimônio;
Santiago de Compostela, o plano de gestão23 6) promover o vínculo da cidade histórica
tem como objetivo reunir o conjunto de com a inovação e o conhecimento do
planejamentos e decisões relevantes que afetam patrimônio, juntamente com o apoio de 151
a cidade histórica, para garantir a coerência atividades criativas.
e a coesão internas dos diferentes planos,
programas e grandes projetos realizados no No bloco propositivo, são sinalizadas
municípios nos próximos anos (Concello de as indicações para a aplicação da estratégia
Santiago de Compostela, 2019). Na análise nos instrumentos urbanísticos, de modo
e no diagnóstico, destacam-se o crescimento a compatibilizar a proteção, a reabilitação
da atividade turística e suas disfunções: a e a salvaguarda da cidade histórica viva e
pressão do excursionismo; a concentração
habitada. Em seguida, são estabelecidas
espacial e temporal dos fluxos; a visita banal; a
as orientações para os planejamentos
relação ruim entre custos e benefícios sociais,
confluentes. Em relação ao Plano Estratégico
econômicos e culturais; a perda de identidade
de Turismo, guia para consolidar Santiago
da cidade histórica; a banalização da cultura
como destino sustentável, são estabelecidas
diretrizes para cada um dos oito objetivos
23. Esse plano foi elaborado como um documento que será
desenvolvido com o Plano Especial da Cidade Histórica. estratégicos do Plano de Gestão, em
Cidades patrimoniais e turismo:
uma experiência espanhola
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
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M i g u e l Á n g e l Tr o i t i ñ o V i n u e s a e L i b e r t a d Tr o i t i ñ o To r r a l b a
e
i s t ó r i c o
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a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

um total de 2724. Por fim, são definidas A abordagem na linha do plano de


R

diretrizes e programas em 12 campos de gestão de Santiago de Compostela, uma vez


ação: habitabilidade; moradia; metabolismo que fossem especificadas suas determinações
urbano ; telecomunicações; atividades
25
e conexões com as medidas de proteção,
produtivas urbanas; mobilidade; final de permitiria avançar no desenvolvimento da
Santiago e início do Caminho; conhecer, proposta – apontada por Brito (2009) – de
comunicar e difundir patrimônio; atividades uma certificação de patrimônio, que seria
152 criativas urbanas; inovação e conhecimento; concedida aos conjuntos patrimoniais que
gestão da marca Santiago; e gestão de risco e cumprissem uma série de condições básicas e
Fachada barroca
da Catedral de contingências. Na versão atual do plano, as assumissem compromissos específicos como
Santiago de Compostela
(Espanha), 2016. diretrizes e os programas de turismo não são destinos sustentáveis. A Carta Mundial do
Foto: Oscar Corral.
Acervo: GCPHE. especificamente estabelecidos26. Turismo Sustentável +20 (Cumbre Mundial
de Turismo Sostenible, 2015), as Declarações
24. Um conjunto de princípios sobre comportamento dos
turistas, taxa de turismo em pernoites, imposto sobre os da OMT e Unesco de Siem Reap (2015a),
excursionistas, roteiros fora da área central, conhecimento
de valores e interpretação, promoção conjunta de cidades
Mascate (2017) ou Istambul (2018) sobre
patrimoniais, turismo corporativo, conteúdos de divulgação Turismo e Cultura e as agendas urbanas
patrimonial, exclusão da oferta turística ilegal, melhorias nos
transportes públicos, mobilidade elétrica e espaços de gestão para deveriam servir de incentivo para a formulação
compatibilidade entre moradia e turismo etc.
de propostas concretas, realistas e operacionais
25. Abordagem que considera a cidade como se fosse um
organismo vivo, quantificando os materiais e bens necessários ao que contribuam para consolidar práticas
suporte das tarefas humanas nas cidades.
turísticas sustentáveis. As estratégias e planos
26. De qualquer forma, trata-se de uma experiência a ser seguida,
especialmente no que diz respeito à forma como a inserção e a devem ser formulados, portanto, em termos de
gestão do turismo são articuladas, em termos legais, no Plano
Especial para a Proteção da Cidade Histórica. oferta patrimonial-cultural, e não de demanda
turística. Esse pode ser um caminho para CONCELLO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA.

Cidades patrimoniais e turismo:


uma experiência espanhola
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R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

156
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Foto: Norberto Valério.


Marco de Canaveses,
Capela da Senhora da

Acervo: Rota do Românico.


Porto (Portugal), 2014.
Livração de Fandinhães,
Jo s é Sa ra mago

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


a c i o n a l
Vi a g em a Port ugal 1

N
r t í s t i c o
[...] Sem tirar nada ao que a Sé Velha de Coimbra é e tem,
é mais profundamente tocado pelas pequenas e rústicas igrejas
românicas do Norte, quase nuas tantas vezes, roídas por todos

A
e
os lados, dentro e fora, já polidas como um seixo rolado, mas

i s t ó r i c o
tão próximas do coração que se sente o pulsar da pedra.

H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R
157

1. Excerto da crônica “Coimbra sobra, Coimbra desce”, presente na coletânea Viagem a Portugal,
cuja edição brasileira foi publicada em 1997 pela Companhia das Letras.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

158
A n t ó n i o Po n t e O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio
António Ponte

a c i o n a l
O papel dos centros interpretativos na

N
comunicação do patrimônio

r t í s t i c o
T he role of interpretive centers for heritage dissemination

A
E l papel de los centros de interpretación en la comunicación del patrimonio

He
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

A necessidade de valorizar o patrimônio The necessity of recognizing cultural

Pd o
cultural como veículo de construção da heritage as a driving force behind community

e v i s t a
identidade comunitária e impulsionador de identity and socioeconomic development
desenvolvimento socioeconômico, através do through tourism has led to passionate debate

R
turismo, tem suscitado um intenso debate about the best way to introduce this heritage.
quanto à melhor forma de apresentar os bens. The major rise in museology at the end of the
A grande explosão do universo museológico, twentieth and the beginning of the twenty-first
no final do século XX e início do XXI, centuries, when museums took on important
em que o museu assumiu um importante educational and social roles, has led to novel
papel educativo e social, propiciou a methods of appropriation and communication
criação de novas formas de apropriação e
that are more interactive and closely linked to 159
comunicação, com modelos mais interativos
the requirements of contemporary mediation.
e articulados com as exigências da mediação
Interpretive centers offer the audience unique
contemporânea. Para atender essa demanda,
and complementary approaches to this need,
os centros interpretativos surgem como
providing access to this heritage and the chance
espaços que oferecem ao público abordagens
to understand it gradually. There are five
diferenciadas e complementares, permitindo
centers in northern Portugal encompassing a
o acesso ao patrimônio e o seu entendimento
variety of territories and subjects focusing on a
de forma gradual. São apresentados, assim, Centro Interpretativo do
communication process that fosters awareness Vale do Tua, Carrazeda de
cinco centros situados no norte de Portugal, Ansiães (Portugal), 2018.
and appreciation of cultural legacies. Acervo: Rota do Românico.
de abrangência territorial e temática
diversa, cujo foco está em um processo
comunicacional que permite a apreensão e o
reconhecimento do legado cultural.
Resumen interactivos y articulados con las exigencias de
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio

la mediación contemporánea. Para satisfacer


a c i o n a l

La necesidad de valorizar el patrimonio esta demanda, los centros de interpretación


cultural como vehículo para construir la surgen como espacios que ofrecen al público
N

identidad comunitaria e impulsar el desarrollo abordajes diferenciados y complementarios,


r t í s t i c o

socioeconómico a través del turismo ha que les permiten el acceso al patrimonio y a


provocado un intenso debate con respecto a la su entendimiento de una manera gradual.
A

mejor manera de presentar los bienes. La gran Se presentan, por ende, cinco centros situados
e
i s t ó r i c o

explosión del universo museológico a finales al norte de Portugal, de alcance territorial y


del siglo XX y principios del XXI, en la que el temática diversa, que se centran en un proceso
museo asumió un importante papel educativo y comunicacional que permite la aprehensión y el
H
a t r i m ô n i o

social, favoreció la creación de nuevas formas de reconocimiento del legado cultural.


apropiación y comunicación, con modelos más
P
d o

A n t ó n i o Po n t e
e v i s t a
R

160
Nos últimos anos1, a abordagem do modo de vida de uma sociedade, em todos os

O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio


patrimônio cultural tem integrado um seus domínios (WCCD, 1996, p. 13 e 17).

a c i o n a l
novo conjunto de estruturas e conceitos Já para alguns autores (Bordier, 1973, p. 19;
que visam à apropriação de seus valores pela Barilli, 1995, p. 18) e para a Enciclopédia
comunidade. A necessidade de valorizá-lo por Larousse (1997, p. 2.838), é o conjunto de

Nr t í s t i c o
seu fundamental papel tanto na construção fenômenos materiais e ideológicos, como a
da identidade comunitária quanto para o linguagem, os gestos, o vestuário, as tradições,

A
desenvolvimento socioeconômico de um local que caracteriza um determinado grupo

e
ou região, através do turismo, tem suscitado em oposição a outro, sendo um conceito

i s t ó r i c o
um intenso debate entre os profissionais da unicamente aplicável à raça humana.
área no sentido de buscar a melhor forma de Independentemente da sua classificação,

H
apresentar os bens ao público. cultura é uma produção da atividade humana

a t r i m ô n i o
Assim, é necessário fazer um percurso que resulta de um contexto econômico e do
teórico sobre alguns conceitos relevantes mundo envolvente (Heilbrun e Gray, 2004,

P
para a temática, como cultura, patrimônio p. 3). Ela processa-se através da criação e

d o

A n t ó n i o Po n t e
e mediação cultural. Em seguida, serão transmissão de conhecimentos, costumes,

e v i s t a
apresentadas cinco experiências em usos e outras práticas materiais e imateriais

R
funcionamento no norte de Portugal no que perduram ao longo do tempo (Cunha,
âmbito dos centros interpretativos como 2008, p. 167). Uma vez que é marcada pelas
forma de comunicar de maneira mais eficaz o características distintivas de cada grupo ou
legado aos visitantes. comunidade, sua individualidade torna-se cada
vez mais importante quanto mais globalizado o
C u lt u r a , pat r i m ô n i o e mundo fica (França, 1997, p. 165).
turismo É hoje comumente aceito que o patrimô-
161
nio cultural inclui todos os elementos repre-
Na Declaração Universal para a sentativos da identidade coletiva, ultrapassando
Diversidade Cultural, publicada em a concepção limitada que antes o relacionava
2002, a Organização das Nações Unidas a apenas objetos artísticos. Essa mudança con-
para a Educação, a Ciência e a Cultura ceitual levou à aceitação de uma noção mais
(Unesco) define cultura como um conjunto global, observando também os fenômenos
de características espirituais, materiais, sociais e culturais da sociedade. Falar de legado
intelectuais e emocionais de uma sociedade é falar de identidade, que se estrutura a partir
ou grupo social. Por sua vez, o Conselho do reconhecimento de valores materiais ou
Mundial de Dados de Cidades (WCCD, imateriais ao longo do tempo (Fernández de
sigla em inglês para World Council on City Paz e Agudo Torrico, 1999, p. 10). Nas pala-
Data) a entende como as particularidades do vras de León e Morón (1999, p. 32, tradução
nossa): “O patrimônio cultural resulta de cada Centro Interpretativo do
Mosteiro de São João de
1. O texto original foi escrito em português de Portugal, tendo sociedade e é um processo histórico concreto, Tarouca, Viseu (Portugal),
sido posteriormente editado conforme a variedade brasileira pela 2016.
equipe responsável pela revista. incluindo uma série de elementos (materiais e Acervo: Rota do Românico.
imateriais) que cada uma delas criou, transfor- e Sacco, 2007, p. 1; Jones, MacDonald e
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio

mou e está criando. Insistimos em seu caráter McIntyre, 2008, p. 1; Towse, 2010, p. 238).
a c i o n a l

dinâmico e processual.” Nos últimos anos, foi produzido um número


Apesar da complexidade do termo significativo de estudos acerca do assunto.
N

patrimônio , que ganhou grande projeção


2
Alguns enfatizam a importância do turismo
r t í s t i c o

a partir das décadas de 1970 e 1980, de na conservação dos bens, ao passo que
imediato remete-se a visitas a monumentos, outros reconhecem a prevalência do campo
A

sítios arqueológicos e diversas tipologias patrimonial sobre o econômico, em especial


e

em relação aos efeitos que o turismo pode


i s t ó r i c o

arquitetônicas. Mais do que isso, a palavra


diz respeito também a um conjunto de bens causar na utilização dos monumentos.
móveis e imóveis, tangíveis e intangíveis, que Com vistas a constituir-se como
H
a t r i m ô n i o

permitem o contato com outras culturas e verdadeiro produto cultural, o patrimônio


com outros tempos da vivência do homem. tem sido alvo de atenção especial3. Nesse
Por meio deles, pode-se criar uma imagem e sentido, uma planificação estratégica tem sido
P

uma identidade de um local ou grupo. trabalhada para disponibilizá-lo, integrada


d o

A n t ó n i o Po n t e

Atualmente, o patrimônio é um dos e articuladamente, na forma de rotas,


e v i s t a

segmentos turísticos que mais têm aliado itinerários, percursos e outros programas.
R

o desenvolvimento econômico e local à Nela são incorporados elementos como


sustentabilidade (Prentice, 1993, p. 21; espetáculos e contatos com tradições e
Boniface e Fowler, 1993, p. 11; Ashworth comunidades locais, os quais potencializam
e Howard, 1999, p. 10; Fernández de Paz e as atividades de marketing, objetivando
Agudo Torrico, 1999, p. 7; Prieto, Figueira uma comunicação mais adequada por
e Fernandes, 2001, p. 2; Anastassova, 2007, meio de folhetos, catálogos, mapas e outros
p. 1; Benediktsson, 2004, p. 8; Pugliese instrumentos de divulgação. Essa abordagem
162
facilita a promoção do destino, destacando
2. Alguns autores questionam o que é verdadeiramente o a autenticidade, a qualidade e o esforço
patrimônio; todavia, refere-se consensualmente a algo que
remete ao passado. Por exemplo, Ashworth e Howard (1999, despendido na sua conservação (Prentice,
p. 7, tradução nossa) afirmam: “A noção de patrimônio está
intimamente associada às pessoas e à identificação pessoal, bem 1993, p. 35-36; Icomos, 1999, s.p.; Esap,
como aos lugares em que elas vivem. Sete categorias de bens
patrimoniais foram propostas: natureza; paisagem; monumentos; 2001, p. 14; Anastassova, 2007, p. 1; Jones,
artefatos; atividades; pessoas; e locais. Salienta-se a importância
de considerar esses aspectos de forma conjunta.” Por sua vez,
Sterry (1998, p. 21, tradução nossa) postula: “Tradição, passado, 3. Por todo o mundo percebe-se o interesse na lista do Patrimô-
identidade, história, cultura, nostalgia: todos esses termos já foram nio Mundial da Unesco, como meio de difundir e valorizar os
usados para descrevê-lo [o patrimônio]. Para alguns, trata-se da ativos patrimoniais existentes. A Europa assume-se, por exce-
perpetuação do passado, ao passo que outros o concebem como lência, como o continente do patrimônio, que, ao ser encarado
um produto puramente contemporâneo, como a Disneylândia.” Já como produto, torna-se um elemento vital para a economia da
para Prentice (1993, p. 5, tradução nossa): “O patrimônio, na sua região (Ashworth e Howard, 1999, p. 65). A votação na eleição
acepção mais literal, é algo herdado; a palavra ‘patrimônio’ significa das Sete Maravilhas do Mundo Moderno movimentou inúmeros
uma herança ou um legado; coisas de valor que são transmitidas interesses, pois esse conjunto de monumentos é alvo de procura
de uma geração para outra.” Por último, segundo Towse (2010, incalculável, o que dinamiza enormemente os locais onde estão.
p. 237, tradução nossa): “‘Patrimônio cultural’ é um termo muito Os bens patrimoniais que são reflexo de políticas ditatoriais e
amplo que abrange arqueologia, artefatos, edifícios antigos e opressoras, de guerras, bem como as alterações operadas em
modernos, museus, arquivos, obras de arte e afins; para além determinadas localidades após a queda de alguns regimes, têm
dos itens fabricados pelo homem, o patrimônio inclui também sido a motivação da visita a muitos destinos. Veja-se a curiosidade
elementos imateriais tais como tradições herdadas, conhecimentos, pela cultura cubana, pelas transformações na cidade de Berlim e
competências e o patrimônio natural.” em todo o Leste europeu, entre outras.
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio
N
A
H
Pa c i o n a l
r t í s t i c o
e
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
d o

A n t ó n i o Po n t e
Re v i s t a
MacDonald e McIntyre, 2008, p. 1, 3-4; introduzidas na pauta política a demanda de
Vida, Martins e Baptista, 2011, p. 18). O desenvolvimento tecnológico e a consciência
estudo, a interpretação e a comunicação do das vantagens competitivas da criatividade na
163
patrimônio serão determinantes na avaliação economia global.
da qualidade da oferta e no enriquecimento Através das suas agendas nacionais e
da experiência vivida, no sentido de facilitar regionais prioritárias, a União Europeia
a compreensão dos locais visitados (Boniface tem, como um de seus objetivos, possibilitar
e Fowler, 1993, p. xii; OMC, 1998, p. 76; que as cidades e as regiões posicionem-se
Jones, MacDonald e McIntyre, 2008, p. 1-5; na corrida global para atrair investimento,
Almeida, 2007, p. 153). talento e turismo, utilizando a cultura como
Na Europa, a necessidade de renovação ferramenta-chave (Hesmondhalgh, 2002, p. 4
econômica dos países e das regiões deu e 6; Throsby, 2004, p. 93; Kolb, 2005, p. 73;
origem, em março de 2000, à Agenda de Ruijter, Heese e Raes, 2007, p. 18; Addict,
Lisboa, a qual estabeleceu o compromisso 2009, p. 23-24; Towse, 2010, p. 516). A
de fazer do continente a mais dinâmica conjugação da oferta de serviços criativos,
economia do conhecimento do mundo, aglomerados em determinados locais,
Casa da Memória de
capaz de um crescimento sustentável, com facilita a sua comercialização e aumenta o Guimarães, Guimarães
(Portugal), 2016.
emprego e coesão social. Nesse sentido, foram interesse das pessoas. É assim que se desenha Acervo: Rota do Românico.
o papel da cultura no desenvolvimento ou Considerando o valor social e
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio

na regeneração econômica desses lugares, econômico do patrimônio cultural, surgiram


a c i o n a l

contribuindo para uma expansão desse documentos reguladores no seio do Conselho


segmento turístico, associando antigo e Internacional de Monumentos e Sítios
N

moderno, e atingindo um público mais (Icomos), entre os quais destacamos a Carta


r t í s t i c o

amplo (Throsby, 2004, p. 124; Ruijter, Heese de Itinerários Culturais (2008b) e a Carta
e Raes, 2007, p. 18; Towse, 2010, p. 516). para a Interpretação e Apresentação dos
A

Para evitar a repetição de modelos Sítios Culturais (2008a)5, ratificadas na XVI


e
i s t ó r i c o

utilizados e estudados em outros locais, a Assembleia Geral do Icomos, que teve lugar
solução é cada destino procurar elementos em Quebec, no Canadá, em 2008.
identitários próprios e desenvolver produtos Nesse contexto, a diversidade cultural
H
a t r i m ô n i o

diferenciados com base na criatividade . Dessa 4


é apresentada pela Resolução nº 65/166
forma, é possível propiciar experiências únicas da Unesco (2010)6 como o quarto pilar do
e ricas, resultado de uma interação entre o desenvolvimento. Reconhece-se, assim, a
P
d o

promotor da oferta turística e o visitante.


A n t ó n i o Po n t e

importância da cultura para o crescimento


e v i s t a

Reconhecendo a importância e a econômico das sociedades, nomeadamente,


diversidade do patrimônio, é essencial criar como motor da atratividade desse segmento
R

condições para que ele seja requalificado, do turismo. No âmbito da proteção cultural,
interpretado e comunicado a todos os a Unesco desenvolve um papel fundamental
cidadãos, sendo o turismo um dos principais ao produzir importantes documentos
veículos de difusão e intercâmbio cultural. que alertam para a necessidade da sua
A valorização patrimonial deve permitir que
a cultura das diferentes comunidades seja 5. Dando continuidade ao proposto na Carta de Veneza de 1964
(Icomos, 1964) e valorizando a comunicação do patrimônio com
164 vivenciada e compreendida (Icomos, 1999). o público, o Icomos produziu um documento com os seguintes
objetivos (Icomos, 2008a, p. 2, tradução nossa): “Ao reconhecer
Além disso, deve-se buscar uma gestão que a interpretação e a apresentação são parte integrante do pro-
cesso de conservação e gestão do patrimônio cultural, esta Carta
sustentável, que permita a manutenção dos tem por objetivo estabelecer sete princípios básicos que funda-
mentarão toda interpretação e apresentação de Sítios Patrimônio
recursos para as gerações futuras. Cultural, sob qualquer forma ou meio que for considerado o
mais indicado para circunstâncias específicas: princípio 1: acesso
e compreensão; princípio 2: fontes de informação; princípio 3:
respeito ao ambiente e ao contexto; princípio 4: preservação da
autenticidade; princípio 5: planejamento para sustentabilidade;
4. Isso é comprovado pelo estudo desenvolvido pela Fundação princípio 6: observação da inclusão; princípio 7: importância da
de Serralves (2008, p. 34) na região metropolitana do Porto: “O pesquisa, capacitação e avaliação.”
desenvolvimento do Turismo Criativo implica novos desafios
quer para o destino quer para o turista. Uma das implicações mais 6. Ao enfatizar a necessidade de preservação da diversidade
diretas deste tipo de turismo é a necessidade dos destinos serem cultural, a Unesco reconhece a sua importância para o setor do
criativos de modo a transformarem os seus recursos intangíveis, que turismo: “[…] Incentiva todos os Estados-Membros, organismos
são característicos e específicos da sua identidade (tal como as tradi- intergovernamentais, organizações do sistema das Nações
ções locais), em experiências criativas para os turistas. Não se trata Unidas, organizações não governamentais pertinentes e todas
apenas de oferecer aos turistas atividades criativas: deverá existir um as partes interessadas a intensificar seus esforços de cooperação
sistema de ‘coprodução’ entre o turista e os criativos. Experiências internacional de apoio a países em desenvolvimento no fomento
de turismo criativo há muito são oferecidas em vários destinos, e na consolidação de suas indústrias culturais, do turismo cultural
embora nem sempre com esta designação (safáris fotográficos, e das microempresas ligadas à cultura, apoiando igualmente o
campos de férias de dança, etc.). A grande evolução que se registra desenvolvimento das infraestruturas e competências necessárias
atualmente é o fato de experiências criativas serem ativamente nesses países, a apropriação de tecnologias de informação e
desenvolvidas e oferecidas aos turistas em pacote, por diversos comunicação e o acesso a novas tecnologias, sob condições
destinos, numa tentativa de diversificar o produto turístico.” mutuamente acordadas” (Unesco, 2010, s.p., tradução nossa).
salvaguarda, independentemente da tipologia comunidade. Com a atividade dos museus,

O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio


do patrimônio. Nessa visão, considera-se é hoje possível conhecer o passado,

a c i o n a l
que a preservação dos valores culturais da compreender o presente e preparar o futuro
humanidade pode aproximar os povos e (Ambrose e Paine, 1993, p. 3).
dinamizar tanto a economia mundial como Dificilmente, nos dias de hoje, imaginamos

N
r t í s t i c o
o intercâmbio entre eles através de políticas um mundo sem museus, galerias, centros
articuladas nas diversas áreas em que o de interpretação, entre outras organizações

A
turismo atua. culturais. As últimas gerações assistiram ao

e
surgimento de um sem-número de entidades

i s t ó r i c o
Instituições c u lt u r a i s desse tipo, assim como a uma expansão e
diversificação das suas atividades. Depois

H
As instituições culturais, em especial os das décadas de 1970 e 1980, verificou-se

a t r i m ô n i o
museus, desempenham um papel essencial um verdadeiro boom museológico. Essas
na interseção entre cultura e turismo. O instituições, com diferentes características e

P
visitante procura nelas conhecimentos dimensões, espalharam-se por todo o planeta,

d o

A n t ó n i o Po n t e
e vivências inovadoras, com respostas povoando memórias de viagens e passeios,

e v i s t a
adequadas às exigências que a globalização e desde os períodos de vivência escolar até as

R
a tecnologia impõem ao modo de trabalho experiências da vida adulta.
dessas organizações, nomeadamente, na Esse fenômeno tem sido investigado
consistência das informações apresentadas e por muitos pesquisadores e críticos. Os
na comunicação com os públicos, que, por estudos da museologia atual devem encarar
serem diferenciados, pedem respostas distintas, os museus e centros de interpretação a
conforme destaca Eilean Hooper-Greenhill: partir da intrincada relação entre estruturas
históricas e narrativas, estratégias e práticas
Os museus e as galerias de arte do mundo 165
de exposição, sem esquecer as ideologias
inteiro estão em processo de renovação. Surgem
novas configurações de museus, novas formas de
políticas que estão na base da atividade do
trabalhar com objetos, novas abordagens para setor em cada espaço em análise.
exposições e, sobretudo, novas formas de relacio- Para Eilean Hooper-Greenhill (1996,
nar-se com o público dessas entidades. No final p. 6), os museus devem desenvolver uma
do século XX, as antigas estruturas começam a ser clara função social, com vistas a uma
substituídas, preparando-se para o novo século. democratização cada vez maior de acesso aos
Muitos organismos sociais, entre os quais os mu- produtos culturais. Essa política tem sido
seus e as galerias de arte, estão revendo suas fun-
promovida por unidades museológicas de
ções e potencialidades (Hooper-Greenhill, 1996,
todo o mundo, em instituições de diferentes
p. 6, tradução nossa).
tipologias e dimensões, não só conferindo
Essas instituições desempenham a tais locais uma autoridade no domínio do
um papel essencial na compreensão da conhecimento e na formação intelectual dos
identidade e no desenvolvimento do visitantes, mas também ocupando um lugar
sentimento de pertencimento de uma de destaque no mercado do lazer.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

166
A n t ó n i o Po n t e O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio

Acervo: Rota do Românico.


(Portugal), 2019.
do Românico, Lousada
Centro de Interpretação
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
167

A n t ó n i o Po n t e O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio


Entre as novas funções dos museus, um papel ativo na descoberta. Os museus e
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio

Herreman (apud Hooper-Greenhill, 1996, centros de interpretação são, muitas vezes, os


a c i o n a l

p. 8) destaca a organização turística. Nesse únicos espaços onde os turistas conseguem


sentido, os museus e espaços de caráter estabelecer algum contato com a localidade
museológico, de diferentes tipologias,
N

e, não menos frequentemente, é o único


r t í s t i c o

podem chegar a ter projeção nacional e local visitado em uma cidade. Esse momento
internacional. Alguns, inclusive, assumem pode ser determinante para a criação de uma
A

um papel de liderança na afirmação da imagem do lugar:


e

cidade onde se inserem, promovendo-a,


i s t ó r i c o

Quando o museu transforma-se em símbolo


conservando o seu patrimônio e fomentando
de determinado local, ele também se torna um
o contato entre os turistas e as respectivas
H

espaço de urbanidade. Os “museus-evento”, verda-


comunidades (Moore, 1994, p. 144;
a t r i m ô n i o

deiros ícones locais, tornam-se “pontos de apoio”


Prévélakis, 2008, p. 17). Assumindo tais
para o fluxo turístico de uma localidade. Assim, a
características, essas instituições criam uma circulação, o movimento, a iconografia e as suas
P

representação imagética da própria localidade. inter-relações são noções férteis e presentes na


d o

A n t ó n i o Po n t e

À medida que a globalização avança, muitas reflexão sobre a dinâmica do mundo contemporâ-
e v i s t a

iconografias nacionais são substituídas por neo. A iconografia torna-se, cada vez mais, parte
R

outras transcontinentais, mas, ao mesmo da capacidade de atração e da mobilidade (Eirest,


tempo, as locais começam a ganhar mais 2011, p. 3, tradução nossa).
importância como referência de segurança
Nessas instituições, os turistas
e identidade comunitária. É segundo esse
pressuposto que os museus regionais e os familiarizam-se com a história e a cultura
centros de interpretação ganham mais espaço das diferentes nações, regiões ou cidades,
e relevância na valorização do legado cultural o que potencializa o desenvolvimento
168 de sentimentos de identidade7. Objetos
e na operação do turismo.
O público deseja, cada vez mais, ser verdadeiros podem representar a cultura
surpreendido e motivado pelos museus e local de maneira autêntica e íntegra,
galerias, como ocorre nos teatros ou nos além de demonstrar sua história e suas
espetáculos de música. Para tanto, ele problemáticas. A essa autenticidade
precisa conectar-se com algo que lhe seja deve estar associada uma nova forma de
familiar, cujo conhecimento seja veiculado
7. Stevens (1998, p. 26, tradução nossa) exprime com clareza
por meios de comunicação eficazes, que o papel dos museus na difusão dos valores culturais dos locais
transmitem mensagens verdadeiras e visitados: “Quando o turista conhece um país, ele sempre deve
ter fácil acesso aos locais mais emblemáticos e às coleções mais
representativas de realidades próximas. importantes. O museu proporciona ao visitante a oportunidade
de conhecer a cultura do país, uma vez que as exposições que vê
O visitante atual deixou de satisfazer-se são, provavelmente, as mais representativas, apresentadas em um
contexto harmonioso. Os museus reúnem as melhores condições
somente ao olhar os objetos nas vitrines, para oferecer essa oportunidade aos turistas. […] Os museus,
limitando-se a uma fruição estética; quer em particular, são nitidamente instados a exercer uma influência
direta e positiva no processo de diálogo entre o turista e a cultura
interagir com eles e os seus contextos, quer do país visitado. A sua missão é coletar, preservar e proteger tudo
o que é efêmero na cultura e com isso colaborar para evitar a
estar envolvido, quer experimentar e ter perda de identidades culturais.”
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio
A n t ó n i o Po n t e
apresentação e comunicação dos conteúdos, estruturas complexificam-se e passam a exigir
mais apelativa e original. Uma atividade com um leque mais alargado de especialidades
tais características transforma a instituição profissionais (Hernández, 1998, p. 259;
museológica em um aliado perfeito para Lira, 2002, s.p.; Miles e Zavala, 2002, p. 2;
os agentes de turismo e para as populações Skramstad, 2004, p. 127; Gonçalves, 2007,
169
autóctones, sendo reconhecidos a sua p. 11-12; Baltazar, 2008, p. 27-28).
honestidade e o seu valor. Com essa atitude, Ao observar a capacidade de os museus
os museus e o patrimônio desempenham transformarem-se em instrumentos de
um papel determinante na preservação dos comunicação cada vez mais eficazes, Jean
ativos culturais específicos em um mundo Davallon, admite que:
cada vez mais globalizado, promovendo as
Parte-se hoje do princípio de que a tecnologia
culturas locais e as distanciando de uma
própria do museu é a exposição. O desenvolvimen-
noção universalizada e universalizante.
to técnico, o surgimento de critérios de qualidade
Essas instituições precisam adaptar-se e
de produção, o uso de suportes característicos
disponibilizar textos em diversas línguas e
(layout das unidades de exposição, painéis, vídeos
linguagens e realizar atividades inovadoras. etc.) e o domínio completo sobre os efeitos dese-
Assim, as visitas tornam-se memoráveis, jados, desde a fase de concepção, permitem que os
convertendo-se em marcos inesquecíveis museus – ou, pelo menos, alguns deles – tornem-se
Castelo de Guimarães,
de experiências particulares e fator de uma verdadeira unidade econômica de produção Guimarães (Portugal),
2012.
desenvolvimento dos diferentes locais, cujas de exposições, concebidas como autênticas ferra- Acervo: Rota do Românico.
mentas de comunicação (Davallon, 1992, p. 101, objetivos são tanto educacionais quanto
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio

tradução nossa). recreativos ou cívicos. Para Jean Davallon:


a c i o n a l

A modelagem contemporânea da unidade Mediação cultural pode ser definida, sem dú-
museológica, a ascensão do seu papel como vida, por sua funcionalidade: ela visa fazer aceder
N

mediador de cultura e comunicação e a sua um público a obras (ou saberes), e a sua ação con-
r t í s t i c o

siste em construir uma interface entre esses dois


ação educativa8 a transportam cada vez mais
universos estranhos um ao outro (o do público e
para o centro das atenções do turismo cultural
A

o, digamos, do objeto cultural) com o fim preci-


e

e das estratégias de desenvolvimento urbano.


samente de permitir uma apropriação do segundo
i s t ó r i c o

Nessa perspectiva (Hooper-Greenhill, 1994b, pelo primeiro (Davallon, 2003, p. 5).


p. 133), o museu é um local alegre, divertido,
H

acolhedor e enriquecedor, rentabilizando os Segundo Sophie Joli-Cœur (2007), essa


a t r i m ô n i o

serviços internos e disponibilizando ao público mediação é uma forma mais recente de elabo-
novas propostas e respostas capazes de adequar- rar atividades culturais – em termos não só da
prática profissional e da relação com o público,
P

se aos novos conceitos e mentalidades.


d o

A n t ó n i o Po n t e

mas também do discurso e da participação do


e v i s t a

Mediação c u lt u r a l Estado – por causa da sua importância polí-


tica e cívica. Na verdade, tal como concebida
R

A mediação cultural assume-se como pelos tomadores de decisões e profissionais de


uma das preocupações mais amplamente cultura, visa ao trabalho conjunto no que diz
reconhecidas em termos de valorização do respeito tanto ao significado (vida com o pen-
patrimônio. A comunicação entre duas partes samento) quanto à convivência.
– o emissor e o receptor de uma mensagem Esse instrumento representa uma exi-
relacionada com a arte, as práticas e as gência social determinante na relação entre
170 o singular e o coletivo. Por meio dele, são
expressões culturais de uma população, tendo
em conta a diversidade e a individualidade desenvolvidas formas culturais de pertença e
dos estilos de vida, dos valores e das de sociabilidade que lhe dão uma linguagem
identidades dos interlocutores – é essencial e determinam a maneira como a comunidade
para o processo de patrimonialização, apropria-se dos objetos constitutivos da cul-
situando-se no âmbito da “educação tura que funda simbolicamente as estruturas
não formal”, na interseção entre cultura, políticas e institucionais do contrato social.
educação, educação continuada e lazer. Seus Atualmente, as políticas públicas voltadas
para a cultura incorporaram essa abordagem
8. Ao abordar a importância dos serviços educativos nos museus como fator essencial para a ação dos
e a sua crescente influência nos novos desafios museológicos,
Hooper-Greenhill (1994a, p. 229, tradução nossa) afirma: “A equipamentos culturais. Museus e estruturas
educação nos museus é frequentemente percebida, de forma
muito restrita, como uma oferta direcionada para grupos
patrimoniais não podem somente ser criados
estruturados, com forte ênfase nos escolares. O trabalho e abertos ao público. Do seu programa de
pedagógico do museu, no entanto, é muito mais amplo. A
própria noção de excelência e equidade indica categoricamente ação, devem constar estratégias de mediação
que a educação está no cerne dos serviços prestados pelo museu
ao público, e que esse público é diversificado.” para determinar o seu posicionamento.
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio
N
A
H
Pa c i o n a l
r t í s t i c o
e
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
d o

A n t ó n i o Po n t e
Re v i s t a
Centros d e i n t e r p r e ta ç ã o tratar-se de espaços sem coleção criados com o
objetivo de valorizar e difundir o patrimônio e
destinados a um público vasto, e outros afirmam
Diferentemente dos museus tradicionais,
tratar-se de um tipo específico de novo museu, 171
os centros de interpretação, em geral, não
muitas vezes associados com centros de visitantes
visam colecionar ou conservar objetos. São
ou ecomuseus e localizados próximos a sítios cultu-
instituições especializadas em mediação rais, históricos ou naturais, recorrendo a diferentes
cultural, na comunicação da importância e meios de comunicação de modo a facilitar a com-
do significado do patrimônio. Sua função é preensão de um determinado patrimônio (Pizarro,
educar e consciencializar. Ainda assim, não 2017, p. 125).
é simples definir esses locais, como explica
Manuel Pizarro: Os centros de interpretação utilizam
diferentes meios de comunicação para
Uns consideram tratar-se de instituições para
apresentar o legado cultural. Para auxiliar e
a disseminação do conhecimento do patrimônio
estimular o processo de conexão emocional
cultural ou natural; um espaço onde confluem
e intelectual do visitante, as estratégias
linhas argumentais de um discurso interpretativo
pensado em um território determinado, onde se comunicativas tendem a ser mais amigáveis e
Centro de Interpretação
dá uma ideia de conjunto, apresentando propostas interativas, usando muitas vezes cenografia, do Românico, Lousada
(Portugal), 2019.
culturais, educativas e turísticas; outros defendem exposições e programas multimídia. Acervo: Rota do Românico.
Essa abordagem é uma solução eficaz Complementando as funções
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio

em municípios e áreas rurais onde os desempenhadas pelo Centro de


a c i o n a l

recursos podem não ser suficientes para a Interpretação da Escultura Românica, o CIR
construção de um museu tradicional e onde assume-se como: elemento construtor de
o patrimônio pode ser um fator importante
N

identidade coletiva com base no patrimônio;


r t í s t i c o

para o desenvolvimento do turismo. exemplo de arquitetura contemporânea


Levando em conta os conceitos com base na simbologia e nos traços da
A

discutidos, apresentamos cinco experiências arquitetura medieval; e ponto de partida


e

portuguesas de centros interpretativos de


i s t ó r i c o

ou chegada da Rota do Românico,


dimensão e contexto muito diversos. apresentando e interpretando as bases da
arte românica, valorizando os homens que
H

C e n t r o I n t e r p r e tat i v o d a
a t r i m ô n i o

a produziram e os sistemas construtivos da


R o ta d o R o m â n i c o ( C I R ) Idade Média.
O projeto expositivo desse grande
P

Aberto ao público desde 27 de


d o

equipamento de divulgação do patrimônio


A n t ó n i o Po n t e

setembro de 2018, em Lousada, o Centro


e v i s t a

histórico-cultural distingue-se não só pela


de Interpretação do Românico (CIR) é
sua arrojada arquitetura contemporânea,
R

promovido pela Rota do Românico, sob


mas também pelas múltiplas experiências
a tutela da Associação de Municípios
interativas proporcionadas pelos conteúdos
do Vale do Sousa (Valsousa). Através
museográficos. Além dos espaços da
da valorização do patrimônio de estilo
recepção, cafeteria e biblioteca, o centro é
românico, essa rota pretende contribuir
constituído por uma superfície expositiva de
para um desenvolvimento sustentado da
cerca de 650 metros quadrados, distribuídos
região do Tâmega e Sousa, criando um
172 por um amplo átrio central e por seis
produto turístico e cultural de excelência.
salas temáticas.
Os objetivos da iniciativa são: valorização
do legado como meio de ordenar o Trata-se do cenário ideal para iniciar a
território; criação de um novo setor viagem de descoberta da Rota do Românico
produtivo ligado à cultura e ao turismo; e do seu território de influência, bem como
mudança da imagem (interna e externa) da arte e do simbolismo que marcaram
do Tâmega e Sousa, anulando aquela de Portugal e a Europa durante a Idade
uma região desinteressante e promovendo Média. O percurso reúne, atualmente, 58
a potencialidade do seu patrimônio; monumentos, distribuídos por 12
qualificação dos recursos humanos da região municípios dos Vales do Sousa, Douro e
a partir de um programa de requalificação Tâmega (Amarante, Baião, Castelo de Paiva,
profissional para as diferentes necessidades de Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras,
salvaguarda e valorização dos bens, incluindo Lousada, Marco de Canaveses, Paços de
as provocadas pelo aumento da procura Ferreira, Paredes, Penafiel e Resende), no
turística; e empregabilidade qualificada. norte de Portugal.
Casa da Memória significativo conjunto de eventos culturais

O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio


de
Guimarães e serviços educativos. Para a curadora,

a c i o n a l
Inês Moreira, ela “assume os riscos de
Instalado em uma antiga unidade proposta experimental, extravasa abordagens
estritamente históricas e cânones museológicos,

N
industrial, no centro de Guimarães, sob

r t í s t i c o
responsabilidade da Câmara Municipal, esse desafiando leituras por camadas, parciais e
centro de interpretação está assentado em dois multidimensionais, e convidando à revisita e

A
pilares essenciais: o território e a comunidade. reinterpretação” (Moreira, 2017, p. 15).

e
O visitante é confrontado com o pas-

i s t ó r i c o
Segundo José Bastos (2017, p. 6), “a Casa
da Memória é um centro de interpretação sado do concelho9 de Guimarães, mas ao
e aprendizagem que pretende contribuir mesmo tempo é desafiado a colocar o futuro

H
em perspectiva, experimentar as sensações

a t r i m ô n i o
para um melhor conhecimento da cultura,
território e história de Guimarães, das suas que o local suscita, viver as festas e ter uma
gentes e do seu trabalho”. Para o mesmo experiência sensorial profunda. A vivência

P
autor, um museu da memória evoca o epíteto termina com a possibilidade de escutar

d o

A n t ó n i o Po n t e
de guardião da cultura-alma coletiva de um depoimentos de residentes nativos sobre a

e v i s t a
povo: sua produção e sua identidade, além terra, as tradições, enfim, sobre o espírito

R
dos traços que o identificam e caracterizam. vimaranense.
Trata-se de um lugar complexo, “onde a
memória se compreende e se reinventa, e C e n t r o I n t e r p r e tat i v o do
onde se expõem, comunicam e interpretam Castelo de Guimarães
testemunhos materiais e imateriais de
diferentes lugares e pessoas da sociedade O Castelo de Guimarães, administrado
vimaranense” (Bastos, 2017, p. 5). pela Direção Regional de Cultura do Norte,
173
O processo de constituição da Casa da é um dos mais icônicos monumentos de
Memória resultou em um projeto expositivo Portugal, símbolo do nascimento do país
que considera território, sociedade e e do processo de construção de estruturas
vivências do espaço público, privilegiando defensivas para proteger o território.
o contato com a comunidade e as suas Depois dos seus tempos áureos, entrou
produções em detrimento de uma grande em um processo de decadência que só foi
coleção. A configuração desse equipamento interrompido por um profundo restauro no
cultural é diferente da de um museu formal, período de 1936 a 1940. Em seguida, abriu
procurando apresentar uma interpretação ao público sem conteúdos expositivos e/ou
particular, de acordo com as diversas interpretativos, o que se manteve até 2016,
perspectivas das memórias vimaranenses. Seu quando foi criado um centro interpretativo
objetivo é ser uma verdadeira casa de cultura na Torre de Menagem do Castelo, atendendo
e um arquivo de memórias da comunidade. a critérios de acessibilidade.
A partir do elemento estrutural do centro,
a exposição permanente, desenrola-se um 9. Unidade administrativa semelhante ao município no Brasil.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

174
A n t ó n i o Po n t e O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio
Integrado no Centro Histórico C e n t r o I n t e r p r e tat i v o

O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio


do
de Guimarães e inscrito na lista do Mosteiro de São João de

a c i o n a l
Patrimônio Mundial da Unesco, o local Tarouca
recebe anualmente centenas de milhares

N
de visitantes. Essa demanda impôs a O complexo do Mosteiro de São João de

r t í s t i c o
necessidade de oferecer uma melhor Tarouca, administrado pela Direção Regional
fruição do monumento e apresentá-lo em de Cultura do Norte, é composto por uma

A
diferentes dimensões. série de elementos em que se distinguem: a

e
i s t ó r i c o
Além de dotar a Torre de Menagem com igreja, a área arqueológica, a cerca de clausura
um espaço para serviço educativo, planejou- (ao longo da qual há alguns edifícios) e a Casa
se nos três pisos superiores uma exposição da Tulha. Desde 2009, tem sido desenvolvido

Ha t r i m ô n i o
que permitisse compreender a importância um importante trabalho de salvaguarda e
tanto de Guimarães no contexto da valorização no local, inserido no conjunto de
formação do país e quanto do castelo na bens que constituem a Rede de Monumentos

P
do Vale do Varosa, no norte de Portugal.

d o
organização urbana da cidade ao longo

A n t ó n i o Po n t e
A igreja sofreu intervenções, a cerca de

e v i s t a
dos séculos. Uma figura bastante presente
clausura foi estudada e a área arqueológica foi
no acervo é a de D. Afonso Henriques,

R
escavada, interpretada e valorizada. Além dis-
primeiro rei de Portugal, cuja imagem
so, foi elaborado um corpo documental para
foi interpretada por inúmeros artistas
apresentar o vasto complexo aos visitantes. Foi
portugueses. Com linguagem acessível e
criado também o centro de interpretação, cujos
recursos gráficos, a exposição contou com
recursos levam o público a conhecer de forma
a colaboração de professores universitários
mais eficaz os monumentos, o modo de vida
para o desenvolvimento dos conteúdos,
monástico e o trabalho desenvolvido ao longo
os quais foram posteriormente adaptados 175
dos últimos anos.
por empresas de comunicação. Também é
No centro, o espaço patrimonial é
oferecido um serviço educativo em que os
recriado para que se compreenda a circula-
visitantes podem viver as épocas áureas
ção das diversas categorias de monges, além
da formação de Portugal, por meio da maneira como organizava-se o seu dia a
de recriações históricas, teatros de fantoches dia, como eram constituídos os diferentes
e ateliês. espaços. Dessa forma, são criadas lógicas
O impacto dessas atividades na região interpretativas de fácil compreensão. Os
é bastante positivo. Os visitantes do castelo conteúdos selecionados também informam o
aumentaram desde que o centro foi aberto, grau de destruição dos imóveis e os seus pro-
os conteúdos foram reforçados, bem cessos de reabilitação, bem como a contextua-
como a colaboração com a comunidade lização histórica e geográfica do Mosteiro de
escolar. Assim, cultura, educação e São João de Tarouca.
Centro de Interpretação
turismo conjugam-se de forma articulada Na entrada, os visitantes são confronta- do Românico, Lousada
(Portugal), 2018.
e consistente. dos com o processo de recuperação através Acervo: Rota do Românico.
do contato com peças que foram escavadas como espaço de acolhimento para a promo-
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio

na área arqueológica e com um filme sobre a ção turística, o outro abriga tanto a exposição
a c i o n a l

intervenção realizada. Em seguida, é exibido permanente quanto as temporárias em um


um vídeo que recria o ambiente monástico, espaço polivalente.
mostrando sua evolução ao longo dos séculos. O Centro Interpretativo do Vale do Tua
N
r t í s t i c o

Vários instrumentos representativos do (CIVT) procura revelar a riqueza natural e


tempo e do espaço estão à mostra, desde reló- histórica de uma região que, ao longo dos
A

gios de sol a objetos construtivos. No espaço tempos, foi sendo transformada pela ação do
e

da cozinha, há um conjunto de sementes re- homem. Os objetivos do local são: manter viva
i s t ó r i c o

colhidas nas escavações e um armário de lou- a memória do Vale do Tua em todos os seus
ça especialmente produzido para o mosteiro. componentes (patrimonial, paisagístico, eco-
H

O cotidiano é apresentado em vários níveis, lógico, geológico e ferroviário); ser um espaço


a t r i m ô n i o

conjugando peças e elementos interpretativos com forte orientação pedagógica; desenvolver e


que permitem ao visitante conhecer esse pa- dinamizar uma relação com a comunidade de
P

trimônio de maneira mais eficaz. forma sustentada, duradoura e financeiramente


d o

A n t ó n i o Po n t e

Os itens expostos não foram seleciona- sustentável; e ser um polo de atração turística,
e v i s t a

dos unicamente pelo seu valor artístico e/ou fomentando o desenvolvimento local.
R

patrimonial, mas também pelo seu potencial A musealização do espaço está dividida em
narrativo, complementado com textos expli- três temas principais para envolver o público
cativos que se articulam com as publicações já nas dimensões natural e humana do vale. Em
referidas. O objetivo, assim, é disponibilizar um túnel construído em cortiça, foi criada
o acesso à história local através de uma pers- uma cápsula temporal na qual o visitante faz
pectiva emocional, pelo reconhecimento dos um percurso de milhares de anos, que mostra
gestos praticados no tempo em que se vivia desde a configuração geológica e natural da
176
no mosteiro. região, incluindo a fauna e a flora, até o seu
povoamento remoto e recente. Já na Linha do
C e n t r o I n t e r p r e tat i v o Tua é possível compreender a realidade local
do Vale do Tua através do caminho de ferro. O ponto alto é
a ligação entre a via férrea e os residentes do
Após a realização de um estudo de impac- Douro e Trás-os-Montes. Por último, a bar-
to ambiental, em 2009, foi desenvolvido um ragem demonstra a relação estabelecida entre
projeto que contemplou a construção de um paisagem e tecnologia pelo desenho do arqui-
centro interpretativo na localidade de Foz- teto, Eduardo Souto de Moura.
-Tua, sob a tutela da Câmara Municipal de O recurso sistemático a instrumentos de
Carrazeda de Ansiães e da Agência de Desen- interpretação multimídia e sensorial sobre os
volvimento Regional do Vale do Tua. Situado bens patrimoniais permite que se conheçam o
na Estação Ferroviária de Foz-Tua, ocupa território e os seus componentes. A proposta
dois edifícios, um em cada lado da Linha do visa aproximar a comunidade de um projeto
Douro. Enquanto um dos prédios funciona altamente transformador da paisagem: a bar-
O papel dos centros inter pretativos na comunicação do patr imônio
N
A
H
Pa c i o n a l
r t í s t i c o
e
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
d o

A n t ó n i o Po n t e
Re v i s t a
ragem, que pode ser indutora de desenvolvi- Referências
mento cultural e socioeconômico, ao passo
que essa mesma comunidade tem de adaptar- ADDICT – Agência para o Desenvolvimento das Indús-
trias Criativas. Estratégia de Eficiência Colectiva para o
-se à nova paisagem e aos visitantes.
Desenvolvimento do Cluster das Indústrias Criativas: pro-
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177
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R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

180
Rosário Correia Machado A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
Rosár io Cor reia Machado

a c i o n a l
A R ota do R omânico em P ortugal :

N
experiência fundada na história

r t í s t i c o
T he R omanesque R oute in P ortugal : experience based on history

A
La R uta del Románico en Portugal : una experiencia fundada en la historia

He
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
Resumo adding new value. Besides the 58 heritage
assets that currently comprise the Route, it also
Tomando como ponto de partida a offers a study center and an interpretation

P
facility where educational services are

d o
importância do patrimônio histórico na
available. Consequently, this circuit delivers

e v i s t a
sociedade atual e do turismo como forma
a framework of activities associated with its
de valorizá-lo, este artigo debruça-se

R
touristic and cultural revival, the production
sobre a Rota do Românico, no norte de
and dissemination of knowledge, community
Portugal, desde sua criação até os produtos
involvement and international cooperation.
turísticos oferecidos hoje. Além dos 58 bens
patrimoniais que o compõem atualmente,
Resumen
o roteiro dispõe de um centro de estudos e
outro de interpretação, onde também são Tomando como punto de partida la
oferecidos serviços educativos. Assim, no 181
importancia del patrimonio histórico en la
âmbito desse circuito, realiza-se um conjunto sociedad actual y del turismo como una forma
de ações inerentes à sua dinamização turística de valorizarlo, este artículo se centra en la
e cultural, à produção e disseminação Ruta del Románico en el norte de Portugal,
de conhecimento, ao envolvimento da desde su creación hasta los productos turísticos
comunidade e à cooperação internacional. que se ofrecen hoy. Además de los 58 bienes
patrimoniales que lo componen actualmente,
Summary el itinerario cuenta con un centro de estudios y
un centro de interpretación, donde también se
This paper examines the Romanesque ofrecen servicios educativos. Por lo tanto, dentro
Route in northern Portugal from its creation de este circuito, se llevan a cabo un conjunto de
to the tourism products on offer today, acciones inherentes a su dinamización turística
from the point of view of the significance y cultural, a la producción y difusión del Ferreira,
Paços de Ferreira
of historical heritage in present-day society conocimiento, a la participación comunitaria y (Portugal), 2014.
Foto: Norberto Valério.
and the importance of tourism as a means of a la cooperación internacional. Acervo: Rota do Românico.
A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P

Rosário Correia Machado


d o
e v i s t a
R

A1 raiz epistemológica do conceito de Quando, em 1998, começou-se a se pen-


patrimônio está ligada à estrutura familiar, sar no projeto de valorização e salvaguarda
182 ou seja, àquilo que o pai (pater) deixa ao dos bens românicos na porção setentrional de
filho. Patrimônio histórico é o que se herda Portugal, um conjunto de entidades tinha a
da ação humana (em termos físicos ou certeza de que valeria a pena trabalhar, sob a
imateriais) ao longo dos tempos. Segundo égide do desenvolvimento, um território de
Françoise Choay (2001), é um bem que se riqueza patrimonial ímpar associada a uma ri-
destinava ao usufruto de uma comunidade e queza humana também extraordinária. Desse
que assumiu uma dimensão maior. Na nossa modo, a Associação de Municípios do Vale do
sociedade atual, midiática, errante e em Sousa (Valsousa), a Comissão de Coordena-
constante transformação, fruto da recente ção e Desenvolvimento Regional do Norte de
mobilidade e ubiquidade, ele tornou-se Portugal (CCDR-N), a antiga Direção-Ge-
Torre de Vilar, uma das palavras-chave para compreender a ral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
Lousada (Portugal), 2007.
Acervo: Rota do Românico. identidade de um povo. (DGEMN) e o antigo Instituto Português do
Patrimônio Arquitetônico (Ippar), entre ou-
1. O texto original foi escrito em português de Portugal, tendo tras instituições portuguesas, deram início a
sido posteriormente editado conforme a variedade brasileira pela
equipe responsável pela revista. um processo de colaboração que culminou na
criação da então Rota do Românico do Vale protegendo-o e impulsionando seu correto

A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
do Sousa, atualmente designada como Rota reordenamento, através do planejamento

a c i o n a l
do Românico. turístico dos recursos, das infraestruturas
No território dos vales dos Rios Sousa, de suporte e das facilidades de apoio aos
Douro e Tâmega, no coração do norte visitantes. Além disso, o desenvolvimento

N
r t í s t i c o
de Portugal, ergueu-se um importante de uma nova fileira produtiva, associada ao
patrimônio arquitetônico de origem turismo e com forte potencial de dinamização

A
românica. Sua preciosidade e singularidade de atividades conexas, pode compensar a

e
estiveram na gênese do projeto, um itinerário tradicional monodependência industrial

i s t ó r i c o
estruturado que leva os visitantes à descoberta da região. A oferta de cursos e ações de
de quase 60 bens, entre mosteiros, igrejas, formação, por sua vez, contribui para a

H
capelas, memoriais, pontes, castelos e torres. capacitação dos profissionais do turismo e

a t r i m ô n i o
Construídos sobretudo entre os séculos de setores associados, facilitando o aumento
XII e XIV, eles estão intimamente ligados da empregabilidade qualificada. Por último,

P
à fundação da nacionalidade e são um o circuito favorece a melhoria da imagem,

Rosário Correia Machado


d o
testemunho do papel relevante que a região interna e externa, do Tâmega e Sousa,

e v i s t a
outrora desempenhou na história da nobreza reforçando a autoestima coletiva.

R
e das ordens religiosas em Portugal.
Desde a sua origem, a Rota do D e s e n v o lv i m e n t o
Românico (Machado, 2017; Machado e do projeto
Magalhães, 2016) assume-se como um
projeto de caráter supramunicipal que Criar, elaborar e dinamizar um projeto é
visa contribuir para o desenvolvimento um desafio permanente. Em 2003, no âmbito
integrado e sustentado de toda uma região, dos financiamentos liberados pelos Fundos
183
fomentando a competitividade, a coesão Estruturais e de Investimento da União
e a identidade territoriais, na ótica da Europeia, o desenvolvimento concreto da
qualificação e valorização econômica de um rota começou através das ações de restauro,
conjunto de recursos endógenos distintivos conservação e valorização de 21 monumentos
– o denso e rico patrimônio edificado e selecionados dos seis municípios que
intangível do local. Ancorado em uma compõem a Valsousa: Castelo de Paiva,
série de monumentos de grande valor e Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira,
de excepcionais particularidades, o roteiro Paredes e Penafiel.
pretende assumir um papel de excelência No período de 2005 a 2007, procedeu-
no âmbito do turismo cultural, capaz de se ao planejamento de estudos, nos quais
posicionar a área do Tâmega e Sousa como se definiram as propostas de atuação para
destino de referência do românico nacional. os conjuntos arquitetônicos e as paisagens
Outros importantes objetivos da rota envolventes dos 21 monumentos. Em
envolvem a melhoria da qualidade ambiental simultâneo, foi implementado um programa
e reestruturação física do território, inicial de formação profissional (2005-2006)
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

184
Rosário Correia Machado A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a

Acervo: Rota do Românico.


Foto: Norberto Valério.
(Portugal), 2014.
Travanca, Amarante
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
185

Rosário Correia Machado A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a


A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P

Rosário Correia Machado


d o
e v i s t a
R

pela Associação para o Desenvolvimento promocional, um mapa de bolso, um website2


186
Rural das Terras do Sousa (Ader-Sousa). e algumas peças de merchandising. Foram
Seu objetivo era reverter as deficiências de instalados painéis informativos bilíngues com

especialização e qualificação dos recursos dados geográficos, históricos e arquitetônicos


em todos os monumentos do circuito, assim
humanos locais no setor do turismo, assim
como sinalização turística e cultural em toda
como contribuir para o fomento do emprego.
a rede viária da região.
Para além do componente infraestrutural,
Além disso, perante o imperativo cidadão
entendeu-se que o Plano de Ação da Rota do de promover a mobilidade e a acessibilidade
Românico deveria incluir um fator imaterial, para todos, tem sido implementado, desde
que permitisse a elaboração de uma série de 2008, o Plano de Promoção da Acessibilidade
conteúdos informativos e de divulgação do da Rota do Românico. Já foram identificadas,
patrimônio românico da região. Entre eles, nesse sentido, as necessidades de intervenção
Palcos do Românico,
Igreja de São Gonçalo,
Amarante, estavam uma publicação científica, um guia
Porto (Portugal), 2014. 2. A página oficial da Rota do Românico pode ser acessada pelo
Acervo: Rota do Românico. turístico, um livro em brochura e um vídeo endereço: http://www.rotadoromanico.com.
nos monumentos, nas proximidades e nos valorização assumem-se, desde sua origem,

A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
acessos aos transportes públicos. No âmbito como uma das máximas da rota.

a c i o n a l
da comunicação e da infoacessibilidade, foram Assim, os projetos deram prioridade à
produzidos materiais em braille e um vídeo salubridade dos edifícios e à sua estabilidade
promocional com legendagem e língua de estrutural, bem como à conservação de

N
r t í s t i c o
sinais. Procedeu-se, ainda, à criação de uma coberturas, madeiramentos, alvenarias
ferramenta que permite uma versão falada dos autoportantes e dos bens móveis que

A
conteúdos do site oficial em tempo real. integram o edificado, tais como pintura

e
Em março de 2010, os seis municípios mural, madeiras policromadas, azulejaria,

i s t ó r i c o
restantes da Nomenclatura das Unidades entre outros elementos. Essas intervenções
Territoriais para Fins Estatísticos (Nuts) III – têm por normativa o recurso, sempre que

H
Tâmega (Amarante, Baião, Celorico de Basto, possível, a materiais e técnicas tradicionais,

a t r i m ô n i o
Cinfães, Marco de Canaveses e Resende) sem recusar a linguagem contemporânea do
firmaram um protocolo de adesão à rota. O desenho arquitetônico.

P
processo de seleção do patrimônio de origem Na salvaguarda dos bens, além do aspecto

Rosário Correia Machado


d o
românica desses municípios culminou na material ou físico, deve-se entender o signifi-

e v i s t a
integração de 34 bens, localizados na região cado que as pessoas associam a ele, o imaterial

R
do Baixo Tâmega ou do Douro Sul, e de ou intangível. Foi esse princípio que balizou
mais três, no Vale do Sousa. Atualmente, 58 as intervenções levadas a cabo, cujas recomen-
monumentos fazem parte do itinerário. dações obviamente estiveram sempre espelha-
Ao todo, desde 2003, 53 monumentos das nas cartas e convenções internacionais.
sofreram intervenções, sendo que em alguns Por isso, embora uma grande quantidade de
deles o trabalho foi dividido em mais de uma monumentos estivesse conservada, o significa-
fase, tanto no patrimônio edificado quanto do dos bens que acusavam um profundo es-
187
em termos de patrimônio móvel e integrado. tado de degradação no imaginário das popu-
Em setembro de 2018, foi dado um passo lações próximas foi avaliado, optando-se por
fundamental para a dinamização do roteiro reabilitá-los, em detrimento da manutenção e
com a abertura do Centro de Interpretação conservação da ruína.
do Românico. Então, para a avaliação dos resultados
atingidos, a despeito das restrições
Áreas de intervenção financeiras inerentes ao projeto,
foram levadas em conta as relações
C o n s erva ç ã o e salvaguar da afetivas das comunidades locais com
O processo de conservação e salvaguarda o objeto patrimonial. Nesse sentido, o
patrimonial partiu do princípio metodológico comportamento emocional dos residentes
de que as intervenções deveriam incidir foi e é francamente positivo, tendo o bem
prioritariamente na preservação do contribuído para a sua autoestima, de
patrimônio edificado e móvel como parte modo que eles próprios se assumem como
integrante do conjunto. Essas ações de responsáveis pela sua manutenção e guarda.
Assim, tem se concretizado o princípio primeira fase, o Plano de Manutenção
A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a

nuclear da conservação dos bens como dos Monumentos da Rota do Românico,


a c i o n a l

elementos constitutivos de identidade que que atualmente já foi aplicado em todo


dão sentido à vida, seja no plano local, o trajeto. Considerado uma ferramenta
regional ou nacional. Conjugando essa mais- de gestão e conservação preventiva, tem
N
r t í s t i c o

valia do envolvimento das comunidades, o como principais objetivos otimizar o


propósito estratégico é que o patrimônio planejamento dos recursos, maximizar a
A

seja vivido por elas, como parte integrante preservação da autenticidade, garantir a
e

das suas experiências e práticas cotidianas, qualidade do produto turístico, potencializar


i s t ó r i c o

fator fundamental para a sua manutenção. o envolvimento e a capacitação dos usuários.


Por trás dessa noção, está a certeza de que os Assim, promovem-se a futura salvaguarda e
H

objetivos do projeto só serão atingidos caso autossustentabilidade do patrimônio.


a t r i m ô n i o

o envolvimento da população se mantenha Para o desenvolvimento conceitual


vivo, permanente, e seja partilhado pelas e respectiva implementação desse plano,
P

gerações atuais e futuras. foi contratada uma consultoria técnica


Rosário Correia Machado
d o

Esse parâmetro contribui para qualificar especializada que o acompanhou e avaliou


e v i s t a

o território quando se atua salvaguardando na sua íntegra. A metodologia proposta


R

os bens e a sua paisagem envolvente. pressupôs dois níveis de intervenção: (1) nos
A conjugação desses dois aspectos – o imóveis, através do planejamento de rotinas de
envolvimento da população e a qualificação inspeção, monitoramento e manutenção; (2)
da área – já tem impacto na tomada de nos usuários, mediante ações de boas práticas
decisão dos poderes públicos que gerem de sensibilização e capacitação para a utilização
a região, bem como na interiorização de e manutenção cotidiana do patrimônio.
modelos de referência pelas populações locais. Como parte da gestão integrada, foi
188
Portanto, a avaliação do valor da Rota elaborada uma base de dados integrando
do Românico nas políticas e práticas os seguintes campos: Identificação,
de conservação tem sido sustentada no Caracterização, Diagnóstico (incluindo
entendimento de que não se trata de monitoramento estrutural, conforto
um objeto isolado de contemplação, higrotérmico e mapeamento de anomalias),
mas um conjunto de bens associados e assim como Manuais de Manutenção
intrinsecamente interligados ao território e (com cadernos de encargos e estimativas
às populações que nele vivem e ao qual, em orçamentárias, de fins técnicos) e Manuais
primeira instância, pertencem. Assim, todos de Utilização (destinados a gestores e
esses elementos são fundamentais para a cuidadores). Simultaneamente, e considerando
essência e a dignidade do patrimônio. a importância da transferência de informação
Em 2011, passados alguns anos e da capacitação de agentes e usuários do
desde o início das ações de revitalização, patrimônio, foram desenvolvidas ações de
e dando continuidade às indicações das boas práticas de manutenção e de utilização,
cartas internacionais, começa, em uma destinadas a empresas locais de construção, aos
A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
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A
H
Pa c i o n a l
r t í s t i c o
e
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o

Rosário Correia Machado


Rd o
e v i s t a
gestores dos imóveis e a usuários cotidianos, Na estreita ligação entre elementos de
como cuidadores e zeladores (Ferreira, 2014). memória, arte e sagrado no patrimônio 189
Embora a qualificação do patrimônio cultural, o uso dos espaços pelas comunidades
histórico e cultural seja fundamental, desde de pertença passa a assumir uma nova função
2004 outros componentes considerados e uma nova capacidade de atração, tão bem
cruciais para a sua dinamização têm sido pontuadas por Roland Barthes, em “O Guia
implementados. Azul”, escrito na década de 1950 e publicado
em Mitologias:

R o ta t u r í s t i ca A Espanha do Guia Azul conhece apenas um


Ainda que não seja uma criação espaço, aquele que tece, através de alguns vazios
recente, o turismo cultural tem assumido sem nome, uma cadeia cerrada de igrejas, de
sacristias, de retábulos, de cruzes, de custódias,
um crescimento econômico significativo,
de torres (sempre octogonais), de conjuntos
resultado de um conjunto muito amplo de
escultóricos (a Família e o Trabalho), de portais
fatores, nomeadamente, a atual definição das românicos, de naves e de crucifixos de tamanho
Centro de Interpretação
estratégias de desenvolvimento dos territórios natural. Todos estes monumentos, como se vê, são do Românico, Lousada
(Portugal), 2019.
em âmbito global. religiosos, porque de um ponto de vista burguês é Acervo: Rota do Românico.
A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
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i s t ó r i c o
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a t r i m ô n i o
P

Rosário Correia Machado


d o
e v i s t a
R

quase impossível imaginar uma História de Arte físico, e todos os agentes são cruciais para
que não seja cristã e católica. compor esse produto.
O cristianismo é o primeiro fornecedor do Foi necessário, nesse sentido, perceber
190 turismo e não se viaja senão para visitar igrejas a área para se desenharem os grandes eixos
(Barthes, 1988, p. 114). estruturantes da Rota do Românico – os
rios. Na sua temporalidade, a maioria dos
Nesse sentido, devemos conjugar ideias
elementos patrimoniais foi implantada
fundamentais, intrinsecamente ligadas ao
na meia encosta dos principais rios que
patrimônio, como valor de herança, valor
atravessam a região do Douro, do Tâmega
de pertença, identidade e memória. As
e do Sousa, resultando nos três grandes
identidades são construídas de memória, e o
percursos que a integram e agregando 58 bens
patrimônio é o elemento que a transporta de de origem românica.
uma geração a outra. Assim, na estruturação O trabalho desenvolvido na região foi
do produto, todos os elementos devem publicamente reconhecido em 2010, com
ser levados em conta, fundamentalmente, a atribuição de quatro importantes prêmios
conjugando um território físico e outro nacionais e internacionais: a Medalha de
Mosteiro de Ancede, humano e humanizado. A leitura da riqueza Mérito Turístico, pelo governo português;
Ancede (Portugal), 2012.
Foto: Antonio Cabral.
socioeconômica precisa ser aliada ao espaço o Prêmio Requalificação de Projeto Público
2009, pelo Turismo de Portugal; o Prêmio Para além dos prêmios e distinções, o

A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
Novo Norte, Norte Civitas 2009, pela trabalho feito em prol do desenvolvimento

a c i o n a l
CCDR-N e pelo Jornal de Notícias; e o XXXV sustentado do Tâmega e Sousa tem sido
Troféu Internacional de Turismo, Hotelaria e igualmente reconhecido pelo seu papel no
Gastronomia. Em 2012, a rota foi distinguida aparecimento ou crescimento de uma série

N
r t í s t i c o
com o Prêmio Inovação de Produto/Serviço, atividades e negócios, geradores de receitas,
atribuído no âmbito da Bolsa de Inovação emprego e notoriedade para a região.

A
em Turismo (BiT), e com a Medalha de Destacam-se, nesse sentido, as unidades

e
Ouro de Mérito Municipal, da Câmara de hospedagem de qualidade superior e

i s t ó r i c o
Municipal de Lousada. Em 2013, foi a vez a criação de um Selo de Qualidade Rota
de a Associação Portuguesa de Museologia do Românico, atribuído, em processo de

H
premiar a nossa linha de merchandising, e, candidatura, a um conjunto de unidades de

a t r i m ô n i o
em 2014, o filme promocional do projeto alojamento, restauração e venda de produtos
ganhou o Festival Internacional de Cinema locais. A implementação de um sistema de

P
Turístico (ART&TUR) 2014, na categoria monitoramento e certificação dos produtos

Rosário Correia Machado


d o
Turismo Cultural. No mesmo ano, houve dois e serviços associados à vertente turística do

e v i s t a
grandes reconhecimentos: a ilustração dedicada circuito se impôs também como um dos
às fases de construção de um monumento grandes objetivos do projeto.

R
românico publicada na revista National Em 2008, teve início um processo
Geographic e elaborada em parceria com a Rota de concertação entre os vários agentes
do Românico foi distinguida pela National econômicos locais, tanto públicos como
Geographic Society na categoria Best Graphic, privados, com o objetivo de apresentar uma
no âmbito do National Geographic Magazine verdadeira estratégia de eficiência coletiva
Awards; e o aplicativo para celular sobre esse em torno de um objetivo comum – a
produto turístico foi um dos oito selecionados dinamização do circuito. Nesse sentido, a 191

para representar Portugal no World Summit comunicação é considerada um ponto crucial


Award, uma iniciativa da Organização das no seio da estratégia da equipe. Para além
Nações Unidas (ONU) que visa premiar do material promocional, o circuito tem
os aplicativos para dispositivos móveis mais marcado presença nas principais feiras de
inovadores. Em 2017, foi concedido o título turismo mundiais, nomeadamente, a Feira
de Emblema Regional da Região Norte. Internacional de Turismo (Fitur), realizada
Isso demonstra como tem sido na Espanha, e a Internationale Tourismus-
reconhecida pelo projeto a importância das Börse (ITB), que ocorre na Alemanha. A par
novas ferramentas tecnológicas. Um site disso, a adesão, em 2009, à Transromanica, a
cada vez mais interativo, incluindo visitas maior rede de locais e itinerários românicos
virtuais aos monumentos, e um aplicativo europeus e considerada uma Rota Cultural do
para telefone celular e tablet são apenas alguns Conselho da Europa, demonstra a aposta no
dos instrumentos que procuram auxiliar o trabalho em parceria e na internacionalização
planejamento e a fruição da visita. da iniciativa.
S e rviço a história e a arte desse legado de quase mil
A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a

edu c ativo e

e n volvimento da c omunidade anos. A atividade aborda também a paisagem


a c i o n a l

Sensibilizar os cidadãos para a temática do natural, os saberes tradicionais e as gentes que


patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e caracterizam esse território.
paisagístico, despertando-os para a importância A programação abrange, ainda,
N
r t í s t i c o

da preservação dos seus recursos, não só atividades complementares dirigidas aos


constitui um relevante elemento de integração, diferentes níveis de ensino, do pré-escolar
A

educação e formação das populações, mas ao universitário, que poderão ser solicitadas
e

também permite criar e estimular um sentido ao longo do ano letivo, além de propostas
i s t ó r i c o

ímpar de apropriação. Nesse sentido, a rota para os períodos de férias escolares e várias
pretende, através do seu serviço educativo, sugestões para as famílias desvendarem o
H

assumir-se como um instrumento fundamental roteiro. O serviço educativo já realizou um


a t r i m ô n i o

para a definição e realização de um amplo e total de 949 atividades, com 30.588 alunos
contínuo projeto de educação patrimonial, acompanhados por 2.132 professores.
P

capaz de difundir e valorizar o extenso legado Além da comunidade escolar, também


Rosário Correia Machado
d o

histórico do território. Consideramos que o tem sido fomentada a relação da rota com a
e v i s t a

envolvimento da comunidade de uma forma comunidade local em geral, sensibilizando-a


R

interativa, através de atividades lúdicas e para as questões do patrimônio e


pedagógicas em contexto educativo, cultural despertando o seu interesse pela riqueza
e social, reforça o interesse pela história e pelo arquitetônica e artística da região. São
patrimônio local, promove o orgulho pelo dinamizadas sessões de informação e visitas
passado e contribui para o desenvolvimento de guiadas aos monumentos, abrindo, assim,
novos saberes e competências. as portas à população e convidando-a a
O projeto pedagógico foi concebido (re)descobrir a época medieval através da
192
em complementaridade com o currículo arquitetura e da história.
escolar e envolve crianças do primeiro ciclo Foram ainda desenvolvidas iniciativas
do ensino básico de todas as escolas dos dirigidas aos párocos, catequistas e
concelhos do Tâmega e Sousa (Amarante,
3 catequizandos, quer nos edifícios religiosos
Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, integrados no roteiro, quer nas igrejas
Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de das paróquias onde estão localizados os
Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel monumentos de arquitetura civil. Dessa
e Resende). Os alunos podem viver um dia forma, também se pode aprender a doutrina
diferente na Rota do Românico, conhecendo cristã pela arte e pelo patrimônio, a partir do
não só o estilo, a sociedade e a cultura da conhecimento da arquitetura e da iconografia
época medieval no Tâmega e Sousa, mas dos edifícios religiosos.
também o patrimônio através do contato O envolvimento com a comunidade local
direto com os monumentos, refletindo sobre tem sido fundamental tanto para a construção
do sentido de pertença e de sustentabilidade
3. Unidade administrativa semelhante ao município no Brasil. quanto para a dinamização da rota.
Dinamização O projeto expositivo desse equipamento

A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
c u lt u r a l
de divulgação do patrimônio histórico-

a c i o n a l
Uma das grandes apostas ligadas à cultural distingue-se tanto pela sua
dinamização cultural do projeto aconteceu em arquitetura contemporânea arrojada
2014, com o programa intitulado Palcos do quanto pelas múltiplas experiências

N
r t í s t i c o
Românico, no qual os monumentos serviram interativas proporcionadas pelos conteúdos
de cenário para manifestações artísticas, museológicos. Além dos espaços de recepção,
sem esquecer os equipamentos culturais do bar e biblioteca, o CIR é constituído por uma

A
e
território. Nos 12 municípios que fizeram superfície expositiva de cerca de 650 metros

i s t ó r i c o
parte do itinerário, mais de 200 eventos, entre quadrados, distribuídos entre um amplo
teatro, música, dança, exposições, oficinas átrio central (claustro) e seis salas temáticas:

H
etc., envolveram mais de 50 agentes culturais Território e Formação de Portugal; Sociedade

a t r i m ô n i o
profissionais nacionais e 12 da região. Houve a Medieval; O Românico; Os Construtores;
participação de 1,8 mil pessoas da comunidade Simbolismo e Cor; e Os Monumentos ao
local e mais de 20 mil espectadores. Longo dos Tempos.

Rosário Correia Machado


d o
Esse centro de interpretação perfila-se,
Centro de Estudos

e v i s t a
assim, como o cenário ideal para iniciar a
do Românico e do viagem de descoberta da Rota do Românico
T e rr i t ó r i o

R
e da sua área de influência, bem como da arte
e do simbolismo que marcaram Portugal e
O Centro de Estudos do Românico e do a Europa durante os vários séculos da Idade
Território tem igualmente desempenhado Média. Está ainda prevista, durante o ano de
um papel crucial na produção e disseminação 2019, a abertura do Centro de Interpretação
de conhecimento, viabilizando a edição de da Escultura Românica, em Abragão, no
diversas publicações dirigidas a um público concelho de Penafiel.
cada vez mais abrangente. Além da linha 193

editorial, o centro criou, com o apoio da Fun-


Considerações finais
dação Calouste Gulbenkian, uma pequena
biblioteca temática e uma comissão científica
O patrimônio cultural ganha uma nova
constituída por membros de reconhecimento
importância na vida política e econômica
nacional nas várias áreas do conhecimento
contemporânea. As rotas culturais oferecidas
que se entrecruzam no circuito.
em função de bens por todo o mundo são um
Centros d e i n t e r p r e ta ç ã o
grande exemplo disso. O desenvolvimento hu-
mano não é compreensível nem realizável sem
Em 2018, foi aberto ao público o Centro o reconhecimento do papel da criação cultural
de Interpretação do Românico (CIR), em concretizada nos seus exemplos materiais. Dei-
Lousada. Pensado para ser um espaço de xou de fazer sentido a oposição entre políticas
acolhimento a todo o itinerário, tem como públicas centradas no patrimônio histórico e a
principal objetivo enquadrar o visitante no criação contemporânea. A complementaridade
território, no tempo e na arte românica. é óbvia e necessária. Basta olharmos os gran-
194
des marcos da presença humana ao longo do

A R o t a d o R o m â n i c o e m Po r t u g a l : e x p e r i ê n c i a f u n d a d a n a h i s t ó r i a
tempo para percebermos que há sempre uma

a c i o n a l
simbiose de diversas influências, de diversas
épocas, ligando patrimônio material e imate-

N
rial, herança e criação.

r t í s t i c o
Assim, gerir o patrimônio é conservar,
salvaguardar, mas, acima de tudo, dinamizar.

A
Quando não o fazemos, estamos destruindo

e
i s t ó r i c o
memória e identidade. Segundo Irina Bokova
(2012, s.p., tradução nossa): “Destruir a
cultura prejudica as sociedades no longo

H
a t r i m ô n i o
prazo, privando-a de repositórios de memória
coletiva, bem como de preciosos ativos sociais
e econômicos”. A Rota do Românico tenta,

Rosário Correia Machado


d o
assim, não só proteger os bens valiosos de um

e v i s t a
território e das suas gentes, mas também lhe
dar vida e retorno. E, para que as comunidades

R
possam reconhecer sua importância, é
necessário interpretá-lo e torná-lo dinâmico.

Referências

BARTHES, R. Mitologias. Lisboa: Edições 70, 1988.


BOKOVA, I. Culture in the cross hairs. New York Times, 195
3 dez. 2012. Disponível em: https://www.nytimes.
com/2012/12/03/opinion/global/cultural-sites-must-be-
protected.html. Acesso em: 27 jul. 2019.
CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Editora
Unesp, 2001.
FERREIRA, T. Plano de Manutenção dos Monumentos da
Rota do Românico: manuais. Lousada, 2014.
MACHADO, R. A gestão do patrimônio: o caso da
Rota do Românico. In: FÓRUM INTERNACIONAL
PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO PORTUGAL
BRASIL 2017, 4., 2017, Felgueiras. Anais... Felgueiras:
Mosteiro de Pombeiro, 2017. p. 13-19,
MACHADO, R; MAGALHÃES, R. A humanidade
do patrimônio histórico: a conservação e a salvaguarda
na Rota do Românico. In: CONGRESSO
INTERNACIONAL SOBRE PATOLOGIA E Centro de Interpretação
do Românico, Lousada
REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS, 12., 2016,
(Portugal), 2017.
Porto. Anais... Porto: Cinpar, 2016. Foto: Antonio Cabral.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

196
Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
Patr icia Cupeiro López

a c i o n a l
P aradores de T urismo na E spanha :

N
modelo de gestão do patrimônio cultural

r t í s t i c o
T ourist P arators in S pain : a cultural heritage management model
Paradores de Turismo en España: modelo de gestión del patrimonio cultural

A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

Este artigo pretende fazer um breve This essay presents the 91-year history of

P
d o
percurso pelos 91 anos de história da rede Spain’s network of Tourism Paradors created by

e v i s t a
de Paradores de Turismo da Espanha,
the Marquês de la Vega-Inclán, head the Royal
concebida por Marquês de la Vega-Inclán,

R
Office of Tourism and Popular Culture - the
à frente da Delegacia Real do Turismo e Parador de
first administrative body fully oriented towards Ronda, Málaga
da Cultura Popular, a primeira entidade (Espanha), 2011.

administrativa completamente orientada para the budding tourism management industry Foto: Patricia Cupeiro
López.

a incipiente gestão turística e a promoção and to fostering Spanish culture. Currently,


da cultura nacional. Atualmente, conta com there are 97 hospitality establishments spread Casas colgadas,
Cuenca
97 estabelecimentos hoteleiros espalhados throughout the Spanish territory as well as (Espanha), 2006.
Acervo: GCPHE.
pelo território espanhol junto com sua its first franchise in northern Portugal. We 197
primeira franquia no norte de Portugal.
will look at historical processes, political
Atravessaremos processos históricos,
circumstances and cultural movements, using
circunstâncias políticas e movimentos
evidence-based examples from milestones
culturais, considerando exemplos concretos
enquadrados em diferentes momentos da in Spain’s recent history to show how this
história recente do país, para comprovar publicly owned hotel network evolved
como essa rede hoteleira de titularidade to date, sparking international
pública evoluiu até os dias atuais, despertando interest as a model for tourism
interesse fora de suas fronteiras como modelo and heritage management.
de gestão turística e patrimonial.
Resumen con 97 establecimientos hoteleros esparcidos
P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l

por el territorio español junto con su primera


a c i o n a l

Este artículo tiene como objetivo hacer franquicia en el norte de Portugal. Pasaremos
un breve recorrido por los 91 años de historia por procesos históricos, circunstancias políticas y
N

de la red española de Paradores de Turismo, movimientos culturales, considerando ejemplos


r t í s t i c o

concebida por el Marqués de la Vega-Inclán, concretos enmarcados en diferentes momentos


al frente de la Comisaría Real de Turismo de la historia reciente del país, para demostrar
A

cómo esta cadena hotelera de titularidad


e

y Cultura Popular, la primera entidad


i s t ó r i c o

administrativa completamente orientada hacia pública ha evolucionado hasta nuestros días,


la incipiente gestión turística y la promoción despertando interés fuera de sus fronteras como
H

de la cultura nacional. Actualmente cuenta modelo de gestión turística y patrimonial.


a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
R

198
Na década de 1920, na Espanha, foi original e único de contribuição do Estado

P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
criada uma série de estabelecimentos para a reutilização de imóveis históricos e

a c i o n a l
hoteleiros que, ao longo do tempo, formaram seu aprimoramento como recurso turístico.
uma ampla rede, combinando a conservação Esse empreendimento exerceu influência
do patrimônio cultural e a oferta de um

N
internacional, tanto que, em meados do

r t í s t i c o
serviço turístico de qualidade. Embora os século passado, em Portugal, foi implantada
Paradores de Turismo tenham emergido de a rede Pousadas de Portugal, que apresenta

A
maneira um tanto intuitiva, quando as regras características semelhantes às da organização

e
de proteção dos bens eram insuficientes e a

i s t ó r i c o
espanhola, por ser de propriedade pública,
gestão turística era incipiente, sua estrutura ainda que, no século XXI, a maioria de seus
foi evoluindo de acordo com as novas ativos tenha sido transferida para o Grupo

H
exigências dos clientes e os gostos

a t r i m ô n i o
Pestana (Cupeiro López, 2012; Cardoso e
da sociedade.
Moura-Pires, 2002; Venda, 2008; Lobo,
Na história recente do país, a empresa foi
2007; Rodríguez Pérez, 2015).

P
avaliada positivamente por todos os governos

d o
A iniciativa espanhola teve sua origem na
como parte da política estatal de turismo,

e v i s t a
década anterior à inauguração dos primeiros
associada implicitamente à conservação

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
hotéis, com o estabelecimento, em 1911,

R
monumental. Seu único acionista, desde a
da Delegacia Real do Turismo e da Cultura
fundação, é a Direção-Geral de Patrimônio
Popular, patrocinada pelo monarca Alfonso
do Estado, e, embora a rentabilidade da
XIII1 e pelo governo de José Canalejas2. Ao
entidade tenha variado dependendo das
longo de 17 anos, o primeiro órgão criado
circunstâncias históricas, os benefícios
para a gestão do turismo e a promoção do
derivados da exploração hoteleira dos recursos
patrimônio espanhol realizou inúmeras
turístico-culturais pela rede contribuem para
tarefas para fomentar o setor, como a criação 199
a criação de estabelecimentos e a renovação
dos bens construídos. Isso permite o dos primeiros parques nacionais (1918)
deslocamento dos fluxos turísticos para áreas e a declaração dos Sítios e Monumentos
menos frequentadas, mas dotadas de atrativos Naturais de Interesse Nacional (1927), além
culturais e naturais. da construção de abrigos e infraestrutura em
Os paradores são um dos primeiros regiões montanhosas nos anos 1920 (Moreno
produtos de turismo cultural na história da Garrido, 2005).
Espanha, criado em um período anterior Portanto, não é de surpreender que
à própria definição de turismo cultural, o primeiro imóvel da rede, o Parador de Gravura de William Miller
para o romance The
estabelecida pela primeira vez no âmbito Gredos, inaugurado em 1928 por Benigno Alhambra’s pile, 1872.

da Organização das Nações Unidas para a


Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 1. Afonso XIII (1886-1941) ocupou o trono espanhol desde o
seu nascimento até 1931, quando abdicou do posto por forte
em 1976, quando se destacou a proteção do rejeição popular, tendo início o período da Segunda República
Espanhola.
patrimônio como um pilar fundamental.
2. José Canalejas (1854-1912) foi presidente da Espanha de 1910
Estamos, nesse caso, diante de um modelo a 1912, quando foi assassinado.
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
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a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

de la Vega-Inclán e Flaquer3, quando estava à capital da comunidade autônoma4 de


frente da Delegacia Real (Cabanillas García, Estremadura. O principal objetivo cultural
2011), estivesse localizado onde antes havia da proposta era atender a demanda por
um abrigo de montanha. Atualmente, um hospedagem advinda da celebração da
200 terço dos estabelecimentos da empresa está Exposição Ibero-Americana, que se realizaria
em áreas de proteção ambiental, onde a em 1929 em Sevilha, pois se esperava que
promoção do patrimônio natural e as vistas um grande número de viajantes precisasse
panorâmicas de extraordinária beleza são fazer paradas ao longo da estrada entre
a prioridade. Madri e aquela cidade (Terreros Guardiola,
A essa primeira linha de ação, logo 1993). Embora as obras tenham sido
foi acrescentada a intenção de renovar iniciadas em 1928, a inauguração foi adiada
o legado monumental, a fim de adaptá- até 1933 por diferentes motivos, que vão
lo ao uso hoteleiro. Para isso, o marquês desde a doença do arquiteto responsável pelo
(Menéndez Robles, 2006; Ordieres Díez, trabalho até a extinção da Delegacia Real.
Plano da Exposição Ibero- 1995) promoveu um segundo projeto, no Em 1928, em decorrência de interesses
Americana, realizada em
Sevilha (Espanha), 1929. Convento de Jesús Nazareno, em Mérida, políticos e comerciais, a entidade foi
substituída por um novo órgão, chamado
3. Benigno de la Vega-Inclán e Flaquer (1858-1942), segundo
Marquês de la Vega-Inclán, chefiou a Delegacia Real desde 1911
até a extinção do órgão, em 1928. 4. Unidade administrativa semelhante ao estado no Brasil.
Patronato Nacional de Turismo (PNT). Os de beira de estrada7, quantidade equivalente

P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
planos de Vega-Inclán foram frustrados, e a praticamente metade dos que continuam

a c i o n a l
ele encontrou-se repentinamente afastado abertos até hoje.
do desenvolvimento de seu projeto mais Mais tarde, em 18 de janeiro de
1991, a entidade foi testemunha de uma

N
ambicioso, mas com o compromisso de

r t í s t i c o
entregar o Parador de Mérida ao PNT, que transformação fundamental para seu futuro:
seria responsável, a partir de então, pela Paradores de Turismo da Espanha ganhou

A
gestão e abertura dos novos estabelecimentos a forma jurídica de sociedade anônima,

e
passando a ser responsável pela gestão dos

i s t ó r i c o
da rede (Cupeiro López, 2016). Já na década
edifícios. Trata-se de uma sociedade comercial
de 1930, foram inaugurados os Paradores
de titularidade pública, cujo único acionista

H
de Oropesa (província5 de Toledo, na
é a Direção-Geral do Patrimônio do Estado

a t r i m ô n i o
comunidade autônoma de Castela-Mancha),
espanhol. Desse modo, a empresa chegou
Úbeda (Jaén, Andaluzia) e Ciudad Rodrigo
aos dias de hoje como um instrumento de
(Salamanca, Castela e Leão).

P
política turística que mantém os objetivos de

d o
Devido à demora nas obras de Mérida,
desenvolvimento territorial e recuperação do

e v i s t a
Oropesa foi o segundo da organização a ser

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
patrimônio cultural.
inaugurado e o primeiro parador histórico-

R
Dos 30 leitos oferecidos quando da inau-
artístico a abrir suas portas, dando início à guração do primeiro parador, hoje há mais
prática, promovida desde então, de renovar de 10 mil, distribuídos em um total de 97
imóveis desse tipo. As intervenções feitas em monumentos entre construções de planta
monumentos construídos com o objetivo de nova e edifícios históricos reabilitados com
criar um parador variaram com o passar do fins turísticos. Entre eles, há 31 estabeleci-
tempo e os resultados foram desiguais, com mentos situados em Bens de Interesse Cul-
201 201
melhores e piores consequências para os bens, tural (BIC) ou em um recinto ou ambiente
dependendo do projeto. considerado BIC, que é a mais alta categoria
Após a origem e o desenvolvimento da de proteção concedida pelo Estado espanhol.
rede no primeiro terço do século XX, assistiu- Além desses, 23 imóveis estão em proprieda-
se na empresa, nos anos 1960 e 1970, a uma des culturais classificadas em outro tipo de
enorme expansão, que teve Manuel Fraga categoria de salvaguarda histórico-artística.
Iribarne6 como figura-chave. Nos sete anos Do total de paradores, 54 situam-se em
em que esteve à frente do Ministério de bens histórico-culturais, sendo que 11 estão

Informação e Turismo, foram inaugurados 50


7. As pousadas de beira de estrada eram um segundo tipo de
estabelecimentos, entre paradores e pousadas hotel que existia naquela época e atualmente não existe mais
na rede. Produzidas em série, em edifícios novos, de dimensões
reduzidas e baixo custo, foram criadas durante o período do
5. Unidade administrativa inexistente no Brasil, hierarquicamente PNT para fomentar os pernoites breves no trânsito pelas estradas
situada entre a comunidade autônoma e o município. gerados pelo auge do turismo em automóvel. Na década de
1980, boa parte delas foi fechada por não ter mais a utilidade do
6. Manuel Fraga Iribarne (1922-2012) foi ministro de passado, ainda que algumas tenham sido ampliadas para serem
Informação e Turismo de 1962 a 1967, durante a ditadura de transformadas em paradores (Rodríguez Pérez e Ceresuela Puche,
Francisco Franco. 2015, p. 20-22).
P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
a c i o n a l
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P
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e v i s t a

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
R

em cidades reconhecidas como Patrimônio estudado, impede um entendimento global


202
Mundial, seja em edifícios históricos, como do fenômeno. Atualmente, disciplinas do
o Parador de Cuenca (Castela-Mancha), seja ramo de humanidades, como geografia,
em prédios novos, como o Parador de Sala- sociologia ou direito, introduziram novas
manca (Castela e Leão). abordagens que também oferecem uma
O vasto patrimônio guardado pela rede – análise qualitativa. Uma área que aderiu
ao qual se deve adicionar uma coleção de arte recentemente a essa tendência foi a história
de mais de nove mil obras, adquirida para fins da arte, fundamental para o estudo dos
decorativos – é um amplo e singular docu- efeitos das atividades turísticas sobre os
mento histórico-artístico. As edificações per- bens culturais, assim como outros campos
mitem compreender a história da reabilitação científicos, como a biologia, que avalia o
arquitetônica na Espanha, do ponto de vista impacto do meio ambiente e sua relação
alternativo do valor turístico e patrimonial. com o patrimônio natural. A partir desse
A perspectiva quantitativa, em termos viés, avaliaremos o impacto da atividade
Parador de Gredos, econômicos e comerciais, a partir da qual dos Paradores de Turismo no legado
Ávila (Espanha), 2018.
Foto: Patricia Cupeiro López. o turismo tem sido tradicionalmente cultural espanhol.
Embora um grande número de imóveis Castela8 deu o título de conde, esse conjunto

P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
tenha sido renovado com base em critérios monumental é basicamente uma construção

a c i o n a l
conservadores de respeito ao monumento, de alvenaria, com uma planta de tendência
muitas intervenções foram realizadas antes de trapezoidal de grandes dimensões. No entanto,

N
sua conversão em parador, sem considerar um o parador ocupa apenas a parte mais moderna

r t í s t i c o
do complexo arquitetônico, onde se localizava
estudo histórico-artístico detalhado. O maior
a área residencial da propriedade. Trata-se,
ponto de inflexão nesse sentido ocorreu com

A
portanto, de um tipo misto de castelo-palácio.

e
a promulgação da Lei nº 16/1985 (Espanha,

i s t ó r i c o
O núcleo do imóvel conhecido como
1985), que trata do patrimônio histórico
Palácio Velho foi construído na época do
espanhol, ainda que o impacto produzido
segundo senhor de Oropesa, Fernando

H
por esse regulamento tenha sido mais recente,

a t r i m ô n i o
Álvarez de Toledo, no final do século XIV.
devido ao tempo de adaptação à norma e Está geminado no castelo, com um estilo
padronização até que todos os seus postulados inicialmente gótico-mudéjar, que ainda pode

P
fossem efetivamente implementados. ser encontrado na galeria de arcos trilobados

d o
A renovação de imóveis mais antigos de pedra com vista para a Serra de Gredos. O

e v i s t a

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
tem um caráter pitoresco, relacionado com segundo conde de Oropesa, Francisco Álvarez

R
a mentalidade oitocentista do Marquês de Toledo, promoveu as obras do Palácio Novo
de la Vega-Inclán, a qual, embora tenha já no século XVI, as quais continuaram ainda
continuado a exercer influência, foi durante o século seguinte, com a ampliação do
especialmente apreciada nas intervenções edifício (Marías, 1985, p. 357-358).
Abandonado no século XIX, sofreu
realizadas entre as décadas de 1920 e 1930.
vários incêndios e foi reformado para servir
Como exemplo desse período inicial, e por
a diversos usos no século XX. Em 1929, foi 203
sua importância como primeiro edifício
cedido pela Prefeitura de Oropesa ao PNT,
histórico-artístico a ser inaugurado após a
tendo o arquiteto Luis Martínez-Feduchi
renovação hoteleira, destaca-se o Parador
como o responsável por transformá-lo
de Oropesa, uma edificação com uma em hotel. As obras de remodelação, que
história longa e que mostra a relevância do terminaram em novembro do mesmo ano,
patrimônio da rede. transformaram o Palácio Novo em uma
Instalado no terreno de um imponente pequena, mas confortável, hospedaria com
castelo na cidade homônima, esse bem começa apenas seis quartos – alguns com banheiro
sua história como uma modesta construção embutido –, sala de jantar para 30 pessoas
defensiva árabe demolida na Reconquista e em e ambientes de recreação. Tal como outros
cujas fundações assentou-se um castelo feudal, paradores desse primeiro período, com
que foi transformado em palácio no século o tempo, passou por obras de restauro,

XVI. De propriedade dos Álvarez de Toledo,


8. Isabel I de Castela (1451-1504), apelidada de Isabel, a
senhores de Oropesa a quem Isabel I de Católica, foi rainha de Castela e Leão de 1474 até sua morte.
reparação e ampliação. Na década de 1960, o As intervenções feitas no complexo
P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l

número de quartos atingiu meia centena. Esse pelo arquiteto, com base nos critérios de
a c i o n a l

processo foi compartilhado por outros bens. restauração científica, foram um marco na
Após a Guerra Civil Espanhola9, os história do reparo na Espanha. As obras
recursos econômicos tornaram-se escassos
N

do Convento de São Francisco, embora


r t í s t i c o

em face da necessidade de reconstruir um não sejam tão conhecidas quanto aquelas


país devastado, de modo que a atividade realizadas no Pátio dos Leões ou na Sala
A

dos Paradores de Turismo foi drasticamente dos Reis, em Alhambra, constituem um


e

reduzida. Nesse momento, foi promovida,


i s t ó r i c o

claro exemplo de sua linha de trabalho e


principalmente, a restauração de edifícios pré- pensamento. Torres Balbás consolidou o
existentes que, na maioria dos casos, haviam edifício, dando-lhe uma nova função como
H
a t r i m ô n i o

sido danificados no conflito. Somente a partir residência para pintores entre 1927 e 1929.
de 1945, novas intervenções começaram a ser A documentação que fez de todo o processo
realizadas, tanto no patrimônio construído de restauração é um valioso documento
P

quanto em prédios novos. A renovação do


d o

de estudo do imóvel. Graças ao seu


Convento de São Francisco no complexo
e v i s t a

trabalho, atualmente o conjunto monacal


Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z

monumental de Alhambra, fundado pela conserva intacta a maior parte de seus


R

Rainha Isabel I, após a conquista de Granada,


restos ornamentais, inclusive os elementos
é não só o exemplo mais notável desse
anteriores ao convento, de um antigo
período e um dos estabelecimentos mais
palácio nasrida.
representativos da rede, mas também um dos
O renomado profissional abriu
culturalmente mais fascinantes do mundo por
caminho para seu sucessor no cargo de
sua localização, carga simbólica e interessante
arquiteto chefe do Patronato de Alhambra
história, já que abrigava o túmulo provisório
204 e Generalife, Francisco Prieto-Moreno, que
dos reis católicos antes que seus restos mortais
se limitou a modificar a função do prédio
fossem finalmente depositados na Capela Real
com o objetivo de proporcionar maior
de Granada. Além disso, o local está ligado às
rentabilidade, tornando-o uma hospedaria-
obras de restauração realizadas em Alhambra
parador, mas respeitando o caráter que
durante a década de 1920 por Leopoldo
seu professor e amigo tinha imprimido à
Torres Balbás10, antes de sua remodelação
integridade da edificação, embora Torres
como parador em 1945.
Balbás tivesse criticado a exploração
9. A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi um conflito comercial da propriedade (Gallego Roca,
armado travado entre republicanos e nacionalistas. Enquanto
o primeiro grupo era formado por sindicatos, trabalhadores
1995, p. 235; Prieto-Moreno Pardo, 1948,
urbanos, camponeses e diferentes organizações políticas de p. 490). O edifício é um exemplo único de
esquerda, o segundo agregava monarquistas, grandes proprietários
de terra, Exército e Igreja Católica. Liderados por Francisco colaboração interdepartamental, pois sua
Franco, os nacionalistas saíram vitoriosos por seu maior poderio
bélico, dando início ao período da Ditadura Franquista. reforma envolveu a participação tanto do
10. Leopoldo Torres Balbás (1888-1960) foi um arquiteto Patronato de Alhambra e Generalife quanto
e arqueólogo espanhol, considerado o pai da restauração
monumental na Espanha. da Direção-Geral de Turismo.
P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
a c i o n a l
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e v i s t a

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
R
Durante a Ditadura Franquista11, remuneradas e automóvel particular,
especialmente no contexto do Ministério melhoria da infraestrutura de transporte,
da Informação e Turismo (1951-1977), o entre outros avanços. A isso acrescenta-
ministro Manuel Fraga Iribarne incentivou se também o surgimento de agências de
o desenvolvimento do turismo de massa viagem e operadores de turismo, aliado às
na Espanha. Como resultado, um método condições geográficas do país, próximo às 205

quase sistemático de trabalho nos paradores nações emissoras e com atrativos naturais,
ampliou-se, com maior velocidade de paisagísticos e climatológicos fomentados
execução e economia de meios. junto com os culturais.
Uma vez superado o processo de O auge do turismo acarretou
reconstrução do país após a Guerra Civil, consequências diretas na proposta das
a época desenvolvimentista trouxe grande inaugurações. Na escolha de muitos dos
sucesso ao turismo espanhol devido, em novos locais monumentais, não se levou
grande medida, às condições de vida em consideração os aspectos histórico-
conquistadas pela sociedade: incentivo à artísticos dos imóveis. Embora seja possível
cultura do lazer, crescimento da renda, reconhecer a aplicação de certos critérios
classe trabalhadora com acesso a férias estéticos nos trabalhos realizados, o respeito
pelos restos preservados variou dependendo
11. A Ditadura Franquista (1939-1975), liderada por Francisco do arquiteto responsável. Parador de Salamanca
Franco, foi o regime autoritário que se sucedeu à Guerra Civil, (Espanha), 2016.
mantendo-se até a morte do ditador. Acervo: GCPHE.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

206
Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
Nesse período, podemos encontrar, por No entanto, as obras encontraram

P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
um lado, um caso concreto de conservação empecilhos nas características morfológicas

a c i o n a l
de uma parede-mural em estado de ruína, desse tipo de construção, como as reduzidas
como aconteceu com a renovação do Castelo dimensões hábeis que o interior desse tipo
de Carlos V em Hondarribia (Guipúzcoa, de imóvel tem para a realização de uma

Nr t í s t i c o
País Basco), fruto da intervenção do reforma, a espessura dos muros, a dificuldade
arquiteto Manuel Sáinz de Vicuña. Por de tornar acessível a circulação interna

A
outro lado, há casos de destruição completa em elementos verticais como torres e o

e
de um edifício para construir outro com estado de conservação em que muitas vezes

i s t ó r i c o
um plano semelhante, uma prática usual no encontravam-se aqueles castelos ou recintos
trabalho do arquiteto Jesús Valverde Viñas, fortificados onde foi possível obter resultados

H
que podemos observar à luz da comparação aceitáveis. Como consequência, as grandes

a t r i m ô n i o
entre o Parador de Cambados (Pontevedra, fundações construídas na segunda metade
Galícia) e as imagens da antiga mansão de do século XX produziram uma destruição

P
Bazan na década de 1920 (Díaz Martínez, sistemática do solo e dos potenciais sítios

d o
2005, p. 49). arqueológicos.

e v i s t a
Naquela época, as reformas em Ainda assim, quando se fala dessa época

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
R
conjuntos fortificados alcançaram seu auge. em particular, é necessário fazer uma breve
O Ministério de Informação e Turismo menção à atividade do Instituto Nacional
promoveu propagandas do setor e de certas da Indústria, do qual dependia outra
questões de caráter cultural focadas em estatal dedicada à promoção do turismo, a
valorizar determinados períodos históricos Empresa Nacional de Turismo (Entursa).
e, consequentemente, tipos específicos de Em seu cerne, surgiram dois dos edifícios
construção. A promulgação, pelo Ministério mais emblemáticos da rede hoteleira – o
207
de Educação Nacional, do Decreto de 22 Hospital dos Reis Católicos, em Santiago
de abril de 1949 (Espanha, 1949), sobre a de Compostela (Galícia), e o Hospital San
proteção dos castelos espanhóis – por meio Marcos, em Leão (Castela e Leão) –, assim
do qual todas as fortificações ficavam sob a como o Hotel La Muralla, em Ceuta (Cidade
tutela do Estado, independentemente de sua Autônoma de Ceuta).
condição de preservação –, não correspondeu, Essas construções, de grande interesse
de forma alguma, à atividade frenética patrimonial, foram renovadas nas décadas
da empresa em torno deles nas décadas de 1950 e 1960 segundo critérios muito
seguintes. Foram realizadas intervenções diferentes dos comumente adotados na
em 13 das 17 edificações fortificadas de empresa. Tratava-se de prédios com uma
interesse cultural guardadas pela rede devido decoração de interiores moderna e um
ao interesse das autoridades franquistas. A grande número de quartos. Ao contrário
Detalhe da parede-mural
maioria das reformas para fins turísticos em das dimensões modestas dos paradores em estado de ruína do
Castelo de Hondarribia,
castelos, fortalezas, alcáceres e torres ocorreu inaugurados até então, que tinham entre Guipúzcoa, País Basco
(Espanha), 2011.
nesse momento. 50 e 60 quartos, os estabelecimentos da Foto: Patricia Cupeiro López.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

208
Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
Entursa chegavam a ter uma centena de em continuidade com a tradição anterior.

P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
aposentos para acomodar um maior número Pertencem a esse período revitalizações

a c i o n a l
de visitantes. como as dos Paradores de Cuenca (Castela-
Durante o regime de Franco, adquire Mancha), Limpias (Cantábria) ou Cangas
certa notoriedade a renovação de imóveis com

N
de Onís (Astúrias). Com certo atraso, já

r t í s t i c o
tipologia hospitalar, por estarem, em muitos no século XXI, as obras passaram a ser
casos, ligados a estradas e santuários de adjudicadas por meio de concurso público,

A
peregrinação. A ascensão do turismo religioso reflexo de uma mudança de mentalidade

e
levou a Entursa a pensar, inclusive, na criação

i s t ó r i c o
especialmente no âmbito administrativo, o
de uma rede de albergues no Caminho de que implica projetos mais inovadores, com
Santiago. A ideia começou a concretizar-se, a realização de estudos histórico-artísticos

H
de fato, no Hospital dos Reis Católicos, a

a t r i m ô n i o
dos bens e o uso de novas tecnologias
poucos metros da catedral compostelana. a partir de critérios de reversibilidade e
As reformas para conversão em parador interdisciplinaridade.

P
tanto do Hospital dos Reis Católicos Ligada à própria raiz da intenção de

d o
quanto do Hospital de San Marcos foram renovar edificações histórico-artísticas

e v i s t a
impulsionadas pelo Instituto Nacional

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
para fins turísticos, como o Convento de

R
da Indústria por ocasião da celebração de Jesús Nazareno em Mérida, a arquitetura
dois Anos Santos Compostelanos12, 1954 e cenobial13 tornou-se a tipologia histórica
1965. Posteriormente, foram incorporados que mais parece adaptar-se às demandas dos
à organização e promovidos pelo Ministério critérios atuais de proteção patrimonial e
da Informação e Turismo os Paradores de que vem concretizando-se e ampliando-se
Guadalupe (Cáceres, Extremadura) e Santo
na regulamentação espanhola desde os anos
Domingo de la Calzada (La Rioja), também
1980. A revitalização desse tipo de construção 209
incluídos nessa tipologia assistencial, embora
é muito mais compatível com o uso hoteleiro
fora do Caminho de Santiago.
do que a dos castelos, uma vez que também
Com a transição para o regime
é, na sua origem, uma residência coletiva.
democrático, foram definitivamente
Desde a época conhecida como a Transição
estabelecidos novos critérios de restauro
Espanhola14, foram realizadas 12 restaurações
patrimonial na Espanha, o que trouxe outras
desse tipo construtivo, incluindo o Mosteiro
práticas para as intervenções nos imóveis com
de San Juan Bautista (Corias, Astúrias) e o
fins turísticos. Em um primeiro momento,
Convento de Roser (Lleida, Catalunha). Parador Hospital dos Reis
as atividades da rede foram assumidas por Católicos em Santiago
As experiências mais bem-sucedidas de Compostela, Galícia
arquitetos formados no âmbito do Ministério (Espanha), 2008.
da empresa em termos de salvaguarda Foto: Estúdio Ukaná.
de Informação e Turismo, responsáveis pela
maior parte dos trabalhos de renovação,
13. Arquitetura empregada na construção de habitação para
monges.

12. Também conhecido como Jubileu Compostelano ou Ano 14. Período histórico que marcou a transição entre o fim da
Santo, é celebrado desde a Idade Média pelos fiéis católicos e Ditadura Franquista, em 1975, e o início do regime democrático,
ocorre em intervalos de seis, cinco, seis e 11 anos. com a promulgação da Constituição de 1978.
P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
a c i o n a l
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P
d o

patrimonial estão relacionadas a essa uma das obras mais representativas da rede
e v i s t a

tipologia, embora, entre os imóveis histórico- no século XXI, tendo sido reconhecido
Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z

artísticos de categoria BIC, apenas cinco internacionalmente, pois foi selecionado para
R

sejam conventos ou mosteiros. Além disso, uma exposição do Museu de Arte Moderna
para certas ordens religiosas, a localização de Nova York (MoMa) dedicada às novas
desses edifícios em ambientes naturais de tendências da arquitetura espanhola.
grande relevância favorecia a oração e a vida O valor de uso desses imóveis tem sido
contemplativa, de modo que são igualmente o ponto-chave para serem considerados
ambientes muito agradáveis para viajantes um recurso econômico e turístico. É
210
que buscam fugir do barulho e do estresse por isso que sua eficiente adaptação às
da vida moderna, como o Mosteiro de Santo atividades turísticas desenvolvidas deve ser
Estevo de Ribas de Sil (Ourense, Galícia), realizada com o maior cuidado e o devido
situado na Ribeira Sacra, uma região isolada planejamento. Essa eficiência não pode
do ruído mundano. ser apenas demonstrada por um balanço
Outras tipologias arquitetônicas históricas econômico positivo a cada ano; é necessário
não tiveram tanto sucesso quanto o caso também monitorar a manutenção do bem,
único de renovação patrimonial de uma porque a perda de seus valores culturais
Prefeitura em Ronda (Málaga, Andaluzia) não pode ser quantificada. O patrimônio
ou de um prédio dedicado à docência como cultural, assim como o natural, é um recurso
o colégio universitário onde atualmente está não renovável, pois, uma vez danificados os
localizado o Parador de Alcalá de Henares seus valores, não é possível restituí-los.
Castelo-palácio dos
Álvarez de Toledo, (Madri). Na primeira, por não ser protegida A eficiência hoteleira não precisa
atualmente Parador
de Oropesa, Toledo pelo planejamento municipal, foi aplicado estar em desacordo com a conservação do
(Espanha), 2010.
Foto: Patricia Cupeiro López. um critério de fachada. Já o segundo é patrimônio. Para elaborar um programa
P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
hoteleiro considerado rentável e adaptado patrimoniais com determinadas exigências

e v i s t a
às exigências atuais, é necessário considerar das regulamentações atuais, como as de

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
as dimensões iniciais do edifício, pois o eficiência energética, equipamentos e

R
objetivo, em muitos casos, é criar hotéis instalações, acessibilidade, entre outras.
com mais de cem apartamentos. Imóveis As administrações turística e cultural devem
que dispõem de poucos quartos não são trabalhar em conjunto para elucidar se é
de interesse desde a década de 1960, necessário estabelecer regras específicas ou
pois impactam negativamente na renda determinar os canais legais apropriados
da rede, embora haja exceções, como a para esse tipo de edificação, cujos custos,
211
recente renovação do Castelo de Monterrei por vezes, não podem competir com os de
(Ourense, Galícia), que não tem mais do construções novas.
que uma dúzia de quartos. Nesse sentido, Como vimos, o impacto produzido pela
o modelo de dimensões reduzidas poderia implementação dos Paradores de Turismo na
levar a outro tipo de exploração, na linha de Espanha gerou consequências de diferentes
hotel-boutique ou das pousadas de charme envergaduras no patrimônio edificado. No
de Santiago de Compostela. Categorizar entanto, se não fosse por essa iniciativa, a
os estabelecimentos de acordo com suas conservação da maior parte desses imóveis,
características e a tipologia que o viajante muitos em estado de ruína antes de serem
vai encontrar pode ser uma boa opção, o convertidos em parador, provavelmente teria
que permite diversificar a oferta e até criar sido muito mais complicada. A empresa
produtos específicos para determinados tipos permitiu prolongar o ciclo de vida desses
de cliente. prédios históricos, proporcionando-lhes
Outro problema que a rede precisa uma nova função compatível com a
resolver é a incompatibilidade dos bens sua preservação.
P a r a d o r e s d e Tu r i s m o n a E s p a n h a : m o d e l o d e g e s t ã o d o p a t r i m ô n i o c u l t u r a l
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
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i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

Pa t r i c i a C u p e i r o L ó p e z
R

A crise econômica que assolou o mundo florescimento, com a previsão de uma série
nos últimos anos não poupou a rede, que de inaugurações, como o parador de constru-
tem superado progressivamente as dificul- ção nova em Muxía (Corunha, Galícia) ou
dades e continua sua caminhada em direção a reabilitação da parte barroca do Mosteiro
à celebração do seu primeiro centenário em Real de Santa María de Veruela (Zaragoza,
2028, sem deixar de investir na recuperação Aragão). Por mais que os custos dessas ações

Detalhe do jardim
do patrimônio cultural. Após vários anos de sejam altos, o patrimônio de paradores é de
esculpido do Parador de
Alcalá de Henares, Madri cortes e medidas de contingenciamento, que um valor incalculável. Felizmente, os suces-
(Espanha), 2012.
Foto: Patricia Cupeiro López. afetaram o quadro de funcionários e produzi- sivos governos espanhóis foram capazes de
ram fechamentos temporários de alguns esta- reconhecer e salvaguardar a missão da empre-
Cartaz da Exposição Ibero- belecimentos menos frequentados em baixas sa, protagonista de alguns dos capítulos mais
Americana, realizada em
Sevilha (Espanha), 1929. temporadas, atualmente presenciamos um relevantes da história do turismo espanhol.
MORENO GARRIDO, Ana. Turismo de élite y
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R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

214
S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)
Silvia Fer nández Cacho e Ángel Muñoz Vicente

a c i o n a l
P aisagem cultural , arqueologia e turismo :

E nseada B olonia (E spanha )

N
de

r t í s t i c o
C ultural environment , archaeology and tourism : E nseada de B olonia (S pain )

A
P aisaje cultural, arqueología y turismo: E nsenada de Bolonia (E spaña)

e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

Em um contexto mundial de The discussion on what is the acceptable

P
d o
crescimento do turismo devido à abertura limit for change in protected territories is

e v i s t a
de novos mercados e à expansão da oferta ascendant in the current worldwide context
a preços competitivos, surge o debate
of tourism growth due to new markets and an

R
sobre o limite aceitável das mudanças
ever-expanding supply at competitive prices. In
em territórios protegidos. O objetivo da
this sense, the purpose of public administration
administração pública é, nesse sentido,
is to ensure the protection of local values
garantir a preservação dos valores locais sem
without overlooking the social, cultural and
desconsiderar os benefícios sociais, culturais
economic benefits that arise from the pursuit
e econômicos advindos das atividades desse
setor. Este trabalho apresenta uma reflexão of such activities. This essay discusses how the
215
sobre a qualificação da experiência turística tourist experience was improved by research,
por meio de ações de pesquisa, planejamento, planning, intervention and dissemination
Conjunto Arqueológico de
intervenção e divulgação desenvolvidas na activities in the Enseada de Bolonia (a bay in Baelo Claudia, Tarifa, Cádiz
(Espanha), 2019.
Enseada de Bolonia (localizada em Tarifa, na Tarifa, province of Cadiz, Spain) based on Acervo: Conjunto
Arqueológico de Baelo Claudia e
província de Cádiz, na Espanha) a partir da cultural management. These activities stem Núcleo El Lentiscal.

gestão cultural. Essas atividades tiveram como from a backbone of knowledge generation
espinha dorsal a geração de conhecimento and scientific dissemination, a strategy that Factoría de salazón,
Conjunto Arqueológico de
e a divulgação científica, uma estratégia promotes sustainable tourism as an alternative Baelo Claudia, Tarifa, Cádiz
(Espanha), 2016.
que parece certa para promover o turismo to mass tourism. Foto: Ángel Muñoz.

sustentável como alternativa ao de massa.


Resumen presenta una reflexión sobre la cualificación
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

de la experiencia turística por medio de


a c i o n a l

En un contexto mundial de crecimiento acciones de investigación, planificación,


del turismo debido a la apertura de nuevos intervención y difusión desarrolladas en la
N

mercados y la expansión de la oferta a precios Ensenada de Bolonia (ubicada en Tarifa,


r t í s t i c o

competitivos, surge el debate sobre el límite provincia de Cádiz, España) a partir


aceptable de cambios en territorios protegidos. de la gestión cultural. Estas actividades
A

tuvieron como eje central la generación de


e

El objetivo de la administración pública es,


i s t ó r i c o

en este sentido, garantizar la preservación conocimiento y la difusión científica, una


S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e

de los valores locales sin desconsiderar los estrategia que parece correcta para promover
H

beneficios sociales, culturales y económicos el turismo sostenible como una alternativa al


a t r i m ô n i o

de las actividades de este sector. Este trabajo turismo de masas.


P
d o
e v i s t a
R

216
Introdução c) Os fatores anteriores incentivaram a

Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:


Enseada de Bolonia (Espanha)
construção de instalações de uso turístico,

a c i o n a l
A Enseada de Bolonia se localiza na cidade quando as leis eram mais flexíveis nesse
de Tarifa, a sudoeste da província de Cádiz, no
1 sentido, em áreas costeiras mais vantajosas.

N
sul da Espanha. Sua configuração física per- Atualmente a legislação é mais restritiva e a

r t í s t i c o
mite a identificação de seus limites geográficos população, mais ativa na defesa do território.
tanto na linha costeira quanto em direção ao
A administração pública realizou diversas

A
interior, por conta de um cinturão de monta-

e
ações que visam à proteção dos valores

i s t ó r i c o
nhas (a Sierra de la Plata e a Sierra de San Bar-
culturais e naturais do local, bem como à

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
tolomé) que circunda a área, formando uma
qualificação do seu usufruto público, isto é,
bacia visual que delimita claramente o espaço.

H
o compromisso de promover a qualidade da

a t r i m ô n i o
A existência de um conjunto arqueológico
experiência turística e sua sustentabilidade,
de primeira ordem, chamado Baelo Claudia,
mais que priorizar o aumento de visitas,
em uma posição central e em uma das praias
pondo em risco a preservação desses valores.

P
mais singulares da costa espanhola, a praia de

d o
Dessa forma, são favorecidos um “turismo

e v i s t a
Bolonia, garantiu a constância no fluxo de
lento” e uma diversificação da oferta para
visitantes nas últimas décadas. No entanto,
uma visita de espectro territorial mais amplo

R
historicamente vários fatores atrapalharam o
e menos focado, como é aconselhável no
desenvolvimento de uma indústria turística
âmbito do turismo patrimonial (Troitiño
massiva na enseada e em seus arredores.
Vinuesa e Troitiño Torralba, 2018).
a) A climatologia caracterizada pelos ventos. Parte-se da ideia de que a proteção
Tarifa é o município espanhol com mais dias do patrimônio incentiva a melhoria da
de vento (leste e oeste), cuja maior incidência experiência turística (Basurto Cedeño,
Pennigton-Gray e Mattheuws, 2015), que 217
é nos meses de verão (Viedma Munõz,
1998). Isso torna a costa de Tarifa atraente também deve ser respaldada pela existência
para a prática de atividades esportivas como de pesquisas de longo prazo sobre o lugar.
windsurfe, kite-surf, stand up paddle etc., No caso da Enseada de Bolonia, o fato de
mas limita a vinda maciça de turistas que ser considerada paisagem cultural beneficia
procuram sol e praia. também, como veremos, a execução de ações
b) A presença de regiões de controle militar integrais voltadas para o mesmo fim.
nas proximidades. A posição estratégica da Este artigo apresenta uma reflexão sobre
Enseada de Bolonia explica a presença de as possibilidades oferecidas pela gestão
numerosas instalações militares nas suas pública do território da Enseada de Bolonia,
proximidades, tanto a oeste (Punta Camarinal entendido como paisagem cultural, na
e Sierra de la Plata) quanto a leste (Sierra de qualificação da experiência turística. As ações
San Bartolomé e Punta Paloma). realizadas por essa gestão tiveram como eixo Ruínas romanas, Conjunto
Arqueológico de Baelo
a geração de conhecimento para qualificar a Claudia, Tarifa, Cádiz
(Espanha), 2007.
1. Unidade administrativa superior ao município no Brasil. experiência da visitação ao local. Foto: Roland Geider.
Valores n at u r a i s , dos recursos pesqueiros, que, em termos
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

c u lt u r a i s e pa i s a g í s t i c o s geopolíticos, sofrem influência direta de Gadir


a c i o n a l

ou Gades (atual Cádiz). Essas condições


A Enseada de Bolonia faz parte da geofísicas favoreceram modos comuns de
entender as relações do ser humano com
N

região do Estreito de Gibraltar, terra mítica


r t í s t i c o

desde a Antiguidade, considerado pelos o ambiente natural desde a pré-história,


autores clássicos como a porta de entrada momentos em que foram documentados
A

para o Mare Tenebrosum e área de intensa os primeiros vestígios humanos da enseada,


e

representados pelas gravuras e pinturas da


i s t ó r i c o

circulação de pessoas e bens durante toda a


história. É um território-chave para a fauna Cueva del Moro, na Sierra de la Plata, uma das
S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e

devido ao trânsito de espécies marinhas e mais antigas manifestações de arte rupestre da


H

Península Ibérica.
a t r i m ô n i o

à migração de aves, um lugar para onde as


águas do Mar Mediterrâneo e do Oceano Geograficamente, a Enseada de Bolonia
Atlântico convergem e onde as placas forma uma pequena baía delimitada por dois
P

tectônicas euroasiática e africana se separam. cabos, denominados Punta Paloma e Punta


d o

Do ponto de vista humano, destaca-se por Camarinal. Um cinturão de montanhas forma


e v i s t a

sua extensa ocupação e por sua importância em torno dela um semicírculo, que pode ser
R

geoestratégica. Mas sua verdadeira relevância acessado somente através do chamado Porto
está no tráfego marítimo mundial, nas de Bolonia, a verdadeira porta da enseada por
comunicações, em seu papel de fronteira via terrestre. A partir dessa espécie de muro
entre a Espanha e o norte da África, uma montanhoso, se desenha um declive suave de
linha divisória entre duas concepções de onde descem vários cursos de água. A cidade
mundo e entre duas culturas: a ocidental hispano-romana de Baelo Claudia fica na parte
e a oriental. É lá que se localiza a Enseada final dessa encosta, voltada para o mar, uma
218
de Bolonia, onde se encontram, de forma grande fonte de riqueza desde sua origem.
muito marcante, as características definidoras Baelo Claudia foi um porto tanto
de seu contexto geográfico e onde se unem estratégico – como centro de comunicações
valores ecológicos, geológicos, paisagísticos, militares entre as províncias romanas de
históricos e culturais de caráter excepcional Hispânia Bética, ao sul da atual Espanha,
(Sánchez e Diañez, 2005, p. 184 e segs.). e Mauritânia Tingitana, ao norte do atual
Sua localização no sudoeste da Península Marrocos – quanto comercial, pois recebia
Ibérica lhe outorga o pertencimento a um manufaturas e exportava peixes salgados e
espaço cultural mediterrâneo, no extremo oeste molhos de peixe, como o conhecido garum,
de um território geográfico de características cuja fabricação e comercialização trouxeram
comuns que a historiografia arqueológica muitos benefícios para o desenvolvimento da
de meados do século XX batizou de Círculo cidade. Todas essas circunstâncias se refletem
do Estreito (Tarradell, 1960). É uma região na forma e no conteúdo físico da localidade,
na qual encontramos modelos econômicos que se adapta à configuração geográfica da
muito homogêneos em torno da exploração pequena baía onde se assentou em termos da
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)
N
Aa c i o n a l
r t í s t i c o
e
i s t ó r i c o

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
H
Pa t r i m ô n i o
d o
e v i s t a
obtenção, exploração e transformação dos a área industrial e possivelmente algumas

R
recursos pesqueiros. residências de pescadores e comerciantes, que
A planta de Baelo Claudia corresponde a ocupam quase um terço da superfície; fora
um esquema clássico do urbanismo romano das suas muralhas, estão as estruturas por-
em todos os seus elementos fundamentais. tuárias nas proximidades de um desses cursos
Nela se identifica a rede viária ortogonal que de água, que marcaram a fisionomia local a
divide a superfície de aproximadamente 13 partir da parte mais alta da cidade e de onde
hectares, adaptada à topografia. Rodeado por embarcariam as mercadorias com destino a
219
cerca de 1,5 quilômetro de comprimento, muitos portos do Império Romano, onde os
o traçado acompanha os dois cursos de molhos e os peixes salgados de Baelo Claudia
água que a delimitam a leste e a oeste: os eram conhecidos por sua excelência.
Córregos de las Chorreras (leste) e de las A Enseada de Bolonia tem condições
Villas (oeste). A nordeste, o primeiro faz a ambientais verdadeiramente excepcionais, é
cidade se estreitar até formar um vértice com composta de ecossistemas marinhos, fluviais
o alinhamento ocidental. e terrestres que atualmente se combinam com
É possível diferenciar claramente três atividades apoiadas na pecuária, na pesca
áreas. Na região alta, praticamente nenhuma artesanal, nos serviços turísticos e de lazer e
intervenção arqueológica foi realizada, possi- no patrimônio cultural. Nesse espaço, ostenta
velmente de uso residencial. Já na região cen- um protagonismo singular o Conjunto Ar-
tral, localizam-se os principais edifícios públi- queológico de Baelo Claudia (CABC), que
Basílica, Conjunto
cos, comerciais e de lazer, em torno do fórum, administra a cidade romana em todas as face- Arqueológico de Baelo
Claudia, Tarifa, Cádiz
o espaço público por excelência. Por sua vez, tas que compõem a proteção dos bens cultu- (Espanha), 2016.
Acervo: Conjunto Arqueológico
na região baixa, junto à praia, localizam-se rais, o epicentro gerador do uso do território. de Baelo Claudia.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

220
S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

Foto: Ángel Muñoz.


(Espanha), 2016.
Área do foro e templos,
Conjunto Arqueológico de
Baelo Claudia, Tarifa, Cádiz
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
221

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:


Enseada de Bolonia (Espanha)
Nesse contexto, Baelo Claudia constitui uma sociedade muito hierarquizada, embora
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

um marco histórico e paisagístico da enseada. a presença de túmulos individuais sugira a


a c i o n a l

Seu estado de conservação – recuperação importância que o sujeito gradualmente foi


de sua estrutura urbana no nível da planta, adquirindo diante da comunidade (Castañeda
feita a partir do início do século XX – e sua Fernández, 2008, p. 50).
N
r t í s t i c o

localização especial a caracterizam como um Finalmente, o grande complexo de cemi-


bem patrimonial de primeira ordem, com térios de Betis, que remonta ao início da Ida-
A

ótimas perspectivas de uso. De qualquer forma, de Média, abre o caminho para um corredor
e

a estrutura da cidade romana e sua localização, que, desde a Antiguidade, comunicou por ter-
i s t ó r i c o

em uma região de grande valor ambiental e ra as Enseadas de Bolonia e de Valdevaqueros.


S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e

geoestratégico, fazem dela um recurso com Essa circunstância condicionou a ocupação


H

grandes possibilidades de interpretação do do território, marcadamente, ao longo dos


a t r i m ô n i o

conceito patrimônio-território. séculos, à influência de ambas as enseadas,


A Enseada de Bolonia também se autênticos núcleos povoados de forma inin-
P

apresenta como uma entidade diferente do terrupta desde a pré-história até o presente.
d o

resto do território circundante, caracterizada A essa densidade de vestígios


e v i s t a

pela alta porcentagem de sítios arqueológicos arqueológicos do passado, devemos


R

conhecidos. Ao que já foi comentado, acrescentar a permanência das atividades


devemos acrescentar alguns pontos muito que caracterizaram a região desde a
relevantes no assentamento da área, como o Antiguidade. A enseada se distingue por uma
oppidum (cidade fortificada) proto-histórico geomorfologia adequada para se viver do mar,
de Silla del Papa, objeto, nos últimos anos, tanto por meio da exploração dos recursos
de um projeto geral de pesquisa arqueológica pesqueiros quanto por representar um veículo
sobre a presença humana na região em de comunicação e articulação da paisagem.
222
diferentes épocas da história, desde a Idade do Desde sempre, a pecuária foi explorada como
Ferro até o Reino Visigótico. atividade complementar à pesca, refletida
Também se destaca a necrópole pré- nas moedas do Bailo ou nas instalações
histórica de Los Algarbes, um complexo agropecuárias antigas e atuais. Da mesma
funerário que corresponde aos momentos de forma, a gastronomia local é marcada pela
transição entre o fim da Idade do Cobre e o história, desde os molhos e peixes salgados
início da Idade do Bronze, nos milênios III e da Antiguidade até o atum acebolado e a
II a.C., composto de uma série de estruturas carne bovina do tempo presente. Também
escavadas na rocha onde foi depositada uma permaneceram tipologias construtivas de
série de cadáveres com seus enxovais, que arquitetura popular, desde os chozos pastoris
contavam com objetos de marfim e ouro, até as moradias de telhado vegetal como os
denotando uma diferenciação social (Lazarich, marjales. Outras atividades também deixaram
2009, p. 81). Esses sepultamentos lembram sua marca na enseada, como as extrativistas,
os sistemas tradicionais de inumação e a visíveis nas pedreiras que nutriram de material
continuidade de um modo de vida tribal em as construções locais, ou as defensivas, como
alguns bunkers costeiros da Segunda Guerra Não há dúvida de que o processo de

Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:


Enseada de Bolonia (Espanha)
Mundial agora em desuso (Salmerón Escobar pesquisa, que fornece conhecimento científico

a c i o n a l
et al., 2004, p. 84 e segs.). sobre os recursos culturais, é essencial para
Tudo isso ajuda a conhecer o modo as demais disciplinas envolvidas na proteção
de vida das sociedades que habitaram esse de qualquer bem cultural. São ações que

N
r t í s t i c o
território e por ele transitaram desde a devem ser entendidas como transversais e
Antiguidade até o presente, voltadas para que envolvem diferentes áreas. Por exemplo,

A
a exploração de seus recursos, em um claro no patrimônio arqueológico, o estado de

e
exemplo de paisagem cultural configurada conservação é um critério discriminatório

i s t ó r i c o
entre o mar e a terra. É um território, em essencial a ser levado em conta para o

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
todos os momentos, percebido a partir das uso público, e, por sua vez, a pesquisa

H
instalações do novo centro de visitantes do e o conhecimento são fundamentais na

a t r i m ô n i o
conjunto arqueológico e onde, desde o início, determinação dos fatores de degradação para
o visitante entra em contato visual com que medidas de conservação sejam tomadas.

P
esses dois elementos que o caracterizam. O Nesse sentido, há uma ampla bagagem

d o
itinerário do turista é um autêntico mirante de conhecimentos sobre os valores culturais

e v i s t a
da paisagem da enseada. da Enseada de Bolonia. As investigações

R
realizadas em seu território, desde o final
A pesquisa na Enseada do século XIX, cobriram todas as etapas da
de Bolonia história, desde o paleolítico, representado
pelas gravuras da Cueva del Moro, até as
Nem todos os valores ou recursos recentes escavações arqueológicas na igreja
culturais podem ser considerados recursos visigótica de Silla del Papa. No entanto,
turísticos em sua totalidade. Alguns recursos embora, no século XIX, tenham sido
223
culturais, incluindo a maioria daqueles desenvolvidas algumas atividades na enseada,
arqueológicos, são difíceis de projetar para o como as prospecções de Jules Furgus na
turismo porque é um patrimônio em geral necrópole ocidental de Baelo Claudia e o
muito fragmentado, frágil e disperso. Para estudo do fenômeno pré-histórico na região
serem interpretados corretamente, precisam da atual Facinas, somente a partir do início
da mediação de informações preparadas para do século XX podemos falar de pesquisas
o público em geral, por meio de recriações, científicas, primeiro realizadas pelo hispanista
folhetos, painéis etc. (Moreno Megarejo e francês Pierre Paris, que, junto com George
Sariego López, 2017). Filtrar as informações Bonsor, promoveu várias campanhas de
não significa perder sua solvência do ponto escavação em Baelo Claudia. Esses trabalhos
de vista científico. De fato, quanto maior e significaram o reconhecimento, por parte
melhor for o conhecimento científico, mais do mundo científico, dessa cidade hispano-
esclarecedora será a informação transmitida romana e também a razão pela qual as
àqueles que visitam o patrimônio e mais autoridades espanholas tomaram consciência
agradável será sua experiência. de sua importância e a declararam, em
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

1925, Monumento Histórico Nacional2. que continuará sem interrupção até 1990.
A importância do conhecimento como Esses trabalhos permitiram que a maior
estratégia para a proteção do patrimônio parte dos edifícios públicos da cidade fosse
arqueológico fica clara nesse fato de vital desenterrada e, consequentemente, habilitada
importância para o futuro do patrimônio como recurso arqueológico visitável. Essas
224 arqueológico da enseada, pois levou à construções foram rapidamente incorporadas
tomada de medidas de proteção legal, sem às visitas públicas guiadas, iniciadas em
as quais outras ações de tutela não teriam 1968 pela Guarda Oficial das Ruínas. Desde
sido possíveis. então, a dimensão social do sítio se fortaleceu
Após o parêntese da Guerra Civil acompanhando o ritmo das escavações, que,
Espanhola e um pouco mais de duas décadas em campanhas anuais, concentradas nos
de esquecimento, o interesse em continuar meses de verão, expunham novas estruturas
pesquisando Baelo Claudia retornou em arqueológicas. No entanto, essas escavações
1966. Mais uma vez, equipes de pesquisa não foram acompanhadas por ações de
francesas, sob o amparo da instituição conservação, o que, após alguns anos, gerou
cultural de altos estudos hispânicos Casa de o início de sua degradação, principalmente
Velázquez, iniciam um programa de escavação devido a fatores naturais, uma vez que
os restos arqueológicos ficam expostos a
2. O reconhecimento foi formalizado pela Ordem Real de 19 de intempéries do clima e ao crescimento da
janeiro e publicado na Gaceta de Madrid nº 24, de 24 de janeiro
de 1925. vegetação. Começou assim uma fase de
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R
deterioração gradual com perdas de materiais conservação e acesso, como o teatro e as
da construção, que progressivamente incidiu termas, que estavam sujeitos à abertura
na piora da apresentação pública do local. somente quando as condições de limpeza e
Como consequência lógica dessa situação apresentação fossem recomendáveis.
anômala de divergência entre pesquisa e Em 1999, essa situação mudou graças
conservação, a partir de 1989, houve uma a um projeto de melhorias ambientais em 225
estagnação do conhecimento, pois foi
Baelo Claudia e seus arredores, que permitiu
decidido paralisar as pesquisas para ordenar
avaliar, como nunca fora feito, sua tutela em
as facetas de proteção e conservação. Esse
termos de musealização e visitação pública.
fato coincide com os anos em que o Estado
O resultado foi espetacular e transformou
transferiu, para a comunidade autônoma
tanto a paisagem, com reflorestamentos e
de Andaluzia, as competências em matéria
plantações, quanto a própria cidade romana,
de Cultura. Dessa forma, de 1989 a 2005,
com a criação de estradas de cascalho sobre
pequenos projetos de consolidação foram Sede institucional do
Conjunto Arqueológico de
realizados nos prédios desenterrados. Foi parte do traçado ortogonal da cidade, o que Baelo Claudia, Tarifa, Cádiz
(Espanha), 2014.
concebido um primeiro circuito de visitas ajudou a entender seu planejamento urbano Acervo: Conjunto Arqueológico
de Baelo Claudia.

a determinados espaços que ofereciam e seu desenvolvimento histórico. Essa nova


condições para uso público, e, ao mesmo dimensão pública do sítio fez com que Museu de Baelo Claudia,
Tarifa, Cádiz (Espanha),
tempo, foi restringida a entrada em outras aumentasse em mais de 50% o número de 2016.
Acervo: Conjunto Arqueológico
áreas que apresentavam problemas de visitantes anuais, passando de 46.470, em de Baelo Claudia.
1998, para 100.149, em 20013, coincidindo e Atividades Haliêuticas, dirigido pelo
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

com a conclusão do projeto ambiental. professor Darío Bernal, que integrou, nos
a c i o n a l

No entanto, esse aprimoramento das últimos anos, o projeto do professor Simon


ações de conservação e divulgação não foi Keay da Universidade de Southampton,
acompanhado por avanços no campo da intitulado Portus Limen, incorporando a
N
r t í s t i c o

pesquisa, de modo que, em poucos anos, a região portuária de Baelo Claudia à pesquisa
estagnação na produção de conhecimento internacional.
A

sobre a cidade de Baelo Claudia foi notada Por outro lado, o início da construção de
e

no mundo científico. Apenas um Curso um novo edifício administrativo e museu,


i s t ó r i c o

Internacional de Arqueologia em Baelo em 2003, gerou uma série de ações diversas


S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e

Claudia, patrocinado e financiado em que visavam preparar o circuito de visitas


H

seus primeiros anos pela Universidade para sua abertura no final de 2007. Com
a t r i m ô n i o

de Cádiz (UCA), foi responsável por dar esse fim, realizaram limpezas e escavações na
prosseguimento à pesquisa científica no muralha sudeste, uma vez que a existência
P

local, mas os esforços foram claramente do novo prédio deslocou o início do circuito
d o

insuficientes. Era necessário retomar a para essa área, que praticamente não havia
e v i s t a

implicação do mundo científico na tutela do sido explorada anteriormente. Com o


R

sítio com vistas à programação das demais mesmo propósito, foi feita a escavação do
matérias, como a conservação e a divulgação. trecho pendente do decúmano máximo,
Esse período de escassez de pesquisas, entre o portão oriental e a praça meridional
que se iniciou em 1989 e se estendeu até da basílica, o que exigiu previamente a
os primeiros anos do atual século, teve seu demolição da antiga sede institucional,
ponto de virada em 2005, quando a tutela de um antigo quartel da Guarda Civil, que se
Baelo Claudia foi compreendida de maneira localizava parcialmente sobre essa via.
226
global, incidindo na correção de deficiências A participação da Casa de Velázquez,
nos diferentes campos (Muñoz Vicente, oficialmente concluída em 1990, foi reativada,
2018). Na pesquisa, foram promovidos e foi assinado um convênio de colaboração
Cursos Internacionais de Arqueologia que envolvia o retorno de equipes francesas de
Clássica, financiados pela primeira vez em pesquisa a Baelo Claudia com projetos como:
conjunto com a UCA, e se estabeleceu a o edifício sudeste do fórum, dirigido pelo
necessidade de uma estrutura de colaboração professor Laurent Brassous, da Universidade
para garantir sua continuidade no futuro. O de La Rochelle; o estudo arqueológico e
resultado foi a assinatura, em julho de 2006, arquitetônico do teatro, encabeçado por
de um Protocolo de Colaboração entre as Myriam Finker, da Universidade de Lyon; o
duas instituições, que trouxe também, como projeto do sítio de Silla del Papa, denominado
consequência, o início de outro projeto de Oppidum, Necrópole e Território, sobre as
pesquisa denominado Economia Marítima origens de Baelo Claudia, coordenado por
Pierre Moret, pesquisador da Universidade de
3. Dados fornecidos pelo CABC. Toulouse; e, recentemente, o projeto Gestão
da Água, Técnicas Construtivas no Território estudantes em parceria com o Gabinete

Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:


Enseada de Bolonia (Espanha)
de Baelo, de Laetitia Borau, pesquisadora da Pedagógico de Belas Artes.

a c i o n a l
Casa de Velázquez. De 2009 a 2011, foi elaborado o I Plano
Outras universidades também iniciaram Diretor do Conjunto Arqueológico (Muñoz
parcerias com o CABC. A Universidade Vicente, 2015, p. 43-62). Grande parte de

N
r t í s t i c o
de Alicante lançou um projeto de estudo e seu conteúdo, especialmente em relação aos
reescavação da necrópole sudeste chamado programas operacionais de conservação,

A
Morte e Ritual Funeral em Baelo Claudia, proteção e consciência social, tem sido

e
sob a direção do professor Fernando Prados, canalizada através do Projeto de Ação na

i s t ó r i c o
que permitiu reavaliar para visitação pública Paisagem Cultural da Enseada de Bolonia,

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
esse espaço formativo da cidade de Baelo que será apresentado na seção seguinte deste

H
Claudia, abandonado aos desígnios da artigo e que apresenta um dos mais altos

a t r i m ô n i o
natureza desde a sua escavação nos primeiros níveis de compreensão e musealização de
anos do século XX. A Universidade de sítios arqueológicos na Espanha.

P
Salamanca e a Universidade Técnica da Além da cidade romana e das obras

d o
Renânia do Norte-Vestfália/Vestefália, em já mencionadas no sítio arqueológico de

e v i s t a
Aachen, na Alemanha, desenvolvem o Estudo Silla del Papa, também a partir do CABC,

R
Arqueossismológico na Cidade Hispano- foi incentivada uma pesquisa da UCA na
Romana de Baelo Claudia, que permitiu necrópole de Los Algarbes. Sob a direção
documentar vários episódios sísmicos e do professor Vicente Castañeda, diversas
identificar seus efeitos nos prédios da cidade. campanhas esclareceram e revalorizaram um
Finalmente, com a Universidade Autônoma dos mais relevantes complexos arqueológicos
de Madri, no marco de um projeto nacional da Idade do Bronze da província de Cádiz,
de investigação técnica em inovação, voltado escavado pela primeira vez na década de 1970
227
para o estudo de técnicas construtivas na por Carlos Posac Mon.
Hispânia e na Mauritânia Tingitana, a basílica Esses projetos de pesquisa tiveram sua
e as termas de Baelo foram pesquisadas sob linha de divulgação tanto do ponto de
a direção da professora Lourdes Roldan vista científico, em jornadas, congressos e
e do professor Juan Blánquez, propondo publicações de artigos e livros, quanto em
uma importante releitura dos edifícios mais exposições temporárias no Museu de Baelo
emblemáticos da cidade. Claudia, a fim de transmitir seus resultados
Em outro âmbito, foi reformado o para a sociedade.
circuito de visitas com uma sinalização e Não há dúvida de que o aumento gradual
elementos de proteção menos perceptíveis e do conhecimento, gerado pelas numerosas in-
mais de acordo com a filosofia do novo prédio vestigações realizadas, ampliou claramente as
administrativo e museu, obra do arquiteto possibilidades de apresentação pública desse
sevilhano Guillermo Vázquez Consuegra. patrimônio arqueológico na Enseada de Bo-
A divulgação foi bem potencializada e lonia, incrementando sua divulgação e apro-
se realizaram programas didáticos para ximação da sociedade em geral, melhorando
a compreensão dos marcos arqueológicos do
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

território que podem ser musealizados (Baelo


a c i o n a l

Claudia, necrópole de Los Algarbes e tum-


bas de Betis). Essa dinâmica de intervenção
sequencial e, ao mesmo tempo, transversal
N
r t í s t i c o

nos bens arqueológicos tem um claro reflexo


nas estatísticas dos visitantes e turistas, como
A

veremos mais adiante.


e
i s t ó r i c o

Paisagem c u lt u r a l
S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e

como referência
H
a t r i m ô n i o

Enseada de Bolonia
c o m o pa i s a g e m c u lt u r a l
P

De 2000 a 2004, o Instituto Andaluz


d o

do Patrimônio Histórico (IAPH) liderou


e v i s t a

um projeto no âmbito do programa Cultura


R

2000, da União Europeia, sob o título


Alianças para a Conservação: Laboratório de
Paisagem e Recursos Culturais e Econômicos
em Sítios Arqueológicos (doravante projeto
Alianças), que nasceu como resultado de um
encontro sobre cidades que são Patrimônio
Mundial em Évora, em Portugal, tendo
228
o turismo como fio condutor (Salmerón
Escobar et al., 2004).
Desse projeto, participaram quatro
países em torno de quatro grandes sítios
arqueológicos: Baelo Claudia (Espanha),
Miróbriga (Portugal), Cortona (Itália) e
Tessalônica (Grécia). O trabalho se deu na província de Cádiz, de Tarifa a Barbate, e
perspectiva da integração dos bens culturais
concluída com uma proposta de proteção,
no território e em conexão não só com o
gestão e ordenamento da Enseada de Bolonia,
ambiente físico, mas também com o social
considerada, pela primeira vez, como
e o conjunto de agentes públicos e privados
envolvidos na sua manutenção, uso e gestão. paisagem cultural, reconhecimento que já
No caso espanhol, a análise de contexto tinha sido concedido pela Organização das
de Baelo Claudia foi realizada tendo como Nações Unidas para a Educação, a Ciência
referência a frente litoral atlântica da e a Cultura (Unesco), em 1992, como parte
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)
N
Aa c i o n a l
r t í s t i c o
e
i s t ó r i c o

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
H
P
Ra t r i m ô n i o
d o
e v i s t a
229

do patrimônio cultural suscetível de compor O projeto Alianças se desenvolveu


a lista do Patrimônio Mundial. O Guia da paralelamente à promulgação e à entrada em
Paisagem Cultural da Enseada de Bolonia vigor do Convênio Europeu da Paisagem4
(CEP). Portanto, a metodologia se tornou Vista aérea do Conjunto
(doravante Guia da Paisagem) se torna, assim, Arqueológico de Baelo
Claudia, Tarifa, Cádiz
uma proposta metodológica e operacional uma das primeiras propostas de inovação (Espanha).
Acervo: Conjunto Arqueológico
para a gestão de uma paisagem cultural na gestão patrimonial aplicada no âmbito de Baelo Claudia.

baseada no conhecimento do território


4. Foi promulgado em Florença em 20 de outubro de 2000 e
produzido e filtrado em escala territorial. entrou em vigor em 1º de março de 2004.
do CEP a esse novo e complexo tipo de - Percepção visual. Além da análise da bacia
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

patrimônio, o paisagístico, ainda carente de visual, foi realizada uma enquete com uma
a c i o n a l

referências de boas práticas. seleção de visitantes do CABC, na qual se


Já em 2015, a Enseada de Bolonia foi pedia que identificassem os elementos da
paisagem que consideravam mais relevantes
N

incluída na seleção das 100 Paisagens Culturais


r t í s t i c o

da Espanha, elaborada pela Comissão de na enseada. Os resultados destacaram os


Acompanhamento do Plano Nacional de de fronteira (mar e montanhas), apenas
A

Paisagens Culturais do então Ministério de superados pela própria cidade romana como o
e

Educação, Cultura e Esporte, e no Registro de lugar central desse espaço (Salmerón Escobar
i s t ó r i c o

Paisagens de Interesse Cultural da Andaluzia, et al., 2004, p. 163 e segs.).


S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e

realizado pelo IAPH, que foi apresentado no Por outro lado, a consideração da paisagem
H

cultural como objeto de estudo implica


a t r i m ô n i o

Conselho de Governo da Junta de Andaluzia


(2016), em 9 de fevereiro de 2016. levar em conta o ambiente físico e as ações,
transformações e percepções humanas, em
P

Desafios metodológicos consonância com a definição de paisagem do


d o

A mudança de escala que envolve a CEP5. Para isso, a estratégia de conhecimento


e v i s t a

gestão de uma paisagem cultural de um se baseou nas seguintes premissas.


R

sítio arqueológico implica a incorporação - Da caracterização da paisagem, participaram


de novas variáveis em sua proteção, gestão profissionais de diversos perfis disciplinares,
e ordenamento, incluindo entre elas a como história, arqueologia, história da
promoção turística. arte, arquitetura, geografia, economia
Em primeiro lugar, para trabalhar um e antropologia. A interdisciplinaridade
território, é necessário conhecer seus limites e, permitiu a elaboração de um documento que
no caso das paisagens culturais, esses limites integrava abordagens diversas e, ao mesmo
230
devem transcender os fatores puramente tempo, complementares.
geográficos. De fato, a Enseada de Bolonia - A análise dos recursos culturais transcendia
tem uma configuração física que permite uma a elaboração de um catálogo. Os bens patri-
delimitação simples baseada na bacia visual moniais foram entendidos como parte de um
desenhada pelo mar e pelas serras internas. sistema diacrônico de relações funcionais e

No entanto, para ir além desse critério único articulados em torno das atividades antrópi-
cas desenvolvidas historicamente na enseada
e contrastá-lo com outros, foram realizadas as
(pecuária, agricultura, pesca, comércio, culto
seguintes análises.
etc.). Cada uma dessas atividades deixou sua
- Densidade e singularidade de recursos marca na paisagem ao longo do tempo.
patrimoniais: na enseada se registrava a maior - O estudo das percepções foi tratado
densidade de recursos patrimoniais do litoral extensivamente, incluindo as locais,
de Tarifa-Barbate, sendo também os mais
singulares segundo as variáveis analisadas 5. “Qualquer parte do território, como percebido pela população,
cujo caráter é o resultado da ação e interação de fatores naturais
(Salmerón Escobar et al., 2004, p. 68 e segs.). e/ou humanos” (CEP, 2000, p. 2).
institucionais, sensoriais, artísticas e turísticas. múltiplas competências. No entanto,

Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:


Enseada de Bolonia (Espanha)
- Muitas informações tratadas para a elabora- algumas das suas propostas se materializaram

a c i o n a l
ção do Guia da Paisagem já existiam, mas a nos anos subsequentes, seja promovidas pelo
abordagem foi feita a partir de outra perspec- então Ministério do Meio Ambiente, pela
Prefeitura de Tarifa ou pelo próprio CABC

N
tiva, devido aos objetivos do projeto e à mu-

r t í s t i c o
dança de escala, tornando necessária a síntese através do seu Plano Diretor. Vamos nos
nos conteúdos e sua combinação correta. referir aqui àquelas que, conectadas com

A
algumas das propostas do Guia da Paisagem,

e
Finalmente, após caracterizar a paisagem
o próprio IAPH executou, com a colaboração

i s t ó r i c o
cultural, o Guia da Paisagem apresentou
da CABC e o financiamento do então

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
19 propostas de projetos concretos para Ministério da Cultura do Governo

H
proteção, gestão e ordenamento da paisagem. da Espanha.

a t r i m ô n i o
Essas proposições foram estruturadas com No geral, poderíamos dizer que todos
base nos objetivos a serem alcançados e nos os projetos propostos no Guia da Paisagem
aspectos relevantes de seu desenvolvimento.

P
estão ligados ao objetivo de melhorar a

d o
Em cada uma delas, foram especificados os experiência da visita à Enseada de Bolonia.

e v i s t a
agentes públicos e/ou privados que devem ser Um local onde uma gestão combinada
envolvidos, bem como os aspectos favoráveis

R
entre os diferentes agentes envolvidos
e desfavoráveis para sua execução, seu direciona a atenção para a preservação de
grau de prioridade e uma estimativa de seus valores naturais e culturais, bem como
sua viabilidade. para seu desenvolvimento social e econômico
Pela primeira vez, a Secretaria de Cultura sustentável, sem dúvida, proporcionará uma
da Junta de Andaluzia patrocinou um oferta turística e cultural de maior qualidade.
documento propositivo de ampla abrangência O desconhecimento por parte de
territorial e paisagística. Nele se propunha 231
visitantes do patrimônio cultural da enseada
a ação coordenada de instituições locais, e sua demanda por informações de maior
supralocais, regionais e nacionais, associações, qualidade, segundo concluía a pesquisa
empresas públicas e privadas e representantes de percepção do público mencionado,
da cidadania para proteção, gestão e orientaram a proposta final de ações que o
ordenamento de uma paisagem cultural. IAPH decidiu empreender. O projeto de
intervenção foi executado de 2010 a 2012,
Ações pa r a m e l h o r a r a pa i s a g e m após um longo processo de ajuste em que
e a experiência turística as exigências de todas as administrações
O Guia da Paisagem foi apresentado em públicas envolvidas foram integradas.
2004 como um documento metodológico O principal objetivo da proposta foi
de caráter propositivo, aberto ao debate e melhorar a compreensão, a acessibilidade e
sem capacidade executiva, uma vez que a o aproveitamento do patrimônio cultural da
gestão territorial da Enseada de Bolonia enseada, evidenciando três pontos específicos:
é distribuída entre diferentes órgãos com o CABC, as tumbas antropomórficas escava-
das na rocha ao lado do povoado de Betis e a da cidade romana e em outros pontos da
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

necrópole pré-histórica de cavernas artificiais enseada, como no caminho de acesso às


a c i o n a l

de Los Algarbes. Assim, esses últimos locais tumbas antropomórficas de Betis, onde se
foram incorporados à visitação turística da instalou um mirante paisagístico, ou na
enseada e completaram com elementos cultu- própria necrópole de Los Algarbes.
N
r t í s t i c o

rais algumas das trilhas existentes no Parque


Com essa intervenção, se encerrava o ciclo
Natural del Estrecho, uma matéria pendente
conhecimento-planejamento-intervenção-
A

em alguns parques naturais da Andaluzia


-divulgação, que contribuiu para qualificar a
e

(Castañeda Fernández, 2008).


i s t ó r i c o

experiência turística na Enseada de Bolonia.


Sem entrar nos detalhes do projeto,
S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e

Graças a isso e à qualidade dos trabalhos reali-


que podem ser consultados em diversas
H

zados, o IAPH recebeu, por esse conjunto de


publicações que mostram tanto a ideia inicial
a t r i m ô n i o

ações, importantes reconhecimentos, como


(Casares Fernández-Baca et al., 2007) quanto
o prêmio Hispania Nostra, em 2014, pela
a de fato executada (Casares Fernández-Baca,
melhor intervenção na paisagem, e a represen-
P

García-Casasola e Castellano Bravo, 2014),


d o

tação oficial espanhola no Prêmio Europeu da


cabe destacar o significativo compromisso
e v i s t a

Paisagem do Conselho da Europa 2018/20196.


institucional para melhorar a transmissão do
conhecimento, por meio de uma adaptação
R

Conclusões
da visitação nos diferentes locais sob
intervenção; o aperfeiçoamento das condições
Segundo J. F. Castro León (2005),
de acesso e visita a outros sítios arqueológicos
a qualidade é a principal ferramenta de
da enseada próximos do CABC; a aposta
gestão associada ao turismo cultural. A
de aprimorar a percepção paisagística em
qualidade deve ser técnica (transmissão
cada um dos locais trabalhados; e a sempre
ótima de conhecimento), de serviços e do
232 importante adaptação e modernização das
próprio patrimônio para que a satisfação
instalações. Concretamente, os seguintes
do visitante seja completa. Essa é também
aspectos podem ser destacados.
a recomendação da Carta Internacional
- A construção de uma passarela na beira sobre Turismo Cultural, adotada na XII
oeste de Baelo Claudia favorece hoje a Assembleia Geral do Conselho Internacional
contemplação da cidade desde a praia e de Monumentos e Sítios (Icomos, 1999)
da praia desde o percurso interno, como no México, uma referência para outros
acontecia na Antiguidade. documentos, como a Gestão do Turismo em
- A modificação do percurso através dos Sítios do Patrimônio Mundial (Pedersen,
restos arqueológicos nos permite reconhecer o 2005) ou cartas e recomendações sobre
traçado ortogonal original da cidade, ao qual turismo e sustentabilidade coletadas na Carta
também foi adaptado o fechamento externo Mundial para o Turismo Sustentável, adotada
que se conecta com a praia.
- Foram incorporados mirantes no interior 6. Até o final da escrita deste artigo, o resultado do prêmio ainda
não tinha sido divulgado.
em 2015 no âmbito da Cúpula Mundial do do turismo cultural. Analisando séries de da-

Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:


Enseada de Bolonia (Espanha)
Turismo Sustentável realizada em Vitoria- dos comparáveis, desde 2012 o aumento do

a c i o n a l
Gasteiz (OMT, 2015). turismo cultural em Andaluzia foi de 42%, ao
Os dados oferecidos pelos relatórios passo que as visitas a Baelo Claudia aumenta-
estatísticos sobre o turismo cultural na

N
ram apenas 14,4% no mesmo período7.

r t í s t i c o
Andaluzia (Andalucía, s.d.) mostram três Apesar da grande atratividade da praia,
tendências relevantes. as condições climáticas e sua localização

A
A primeira é que seu crescimento está excêntrica em relação aos grandes centros

e
ocorrendo acima dos demais segmentos do

i s t ó r i c o
urbanos, bem como a oferta reduzida de
turismo. De acordo com o último relatório leitos de hotéis nas proximidades, segundo já

S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e
publicado, referente ao ano de 2017, somente foi observado, limitam o afluxo de público.

H
naquele ano, houve uma taxa de crescimento

a t r i m ô n i o
O objetivo a ser perseguido, entretanto,
de 15,1% em relação ao ano anterior, quase não é necessariamente aumentar o número
três vezes mais do que a registrada no turismo de visitantes de forma exponencial, mas

P
em sua totalidade em 2016. Em termos ab- qualificar sua experiência, promover sua

d o
solutos, passou-se de 4,7 milhões de turistas maior permanência no local e aumentar sua

e v i s t a
culturais em 2003 para 9,5 milhões em 2017. fidelidade, sem comprometer o delicado

R
Outra tendência é a de que o turismo equilíbrio ambiental e a preservação do
cultural oferece menos sazonalidade do que patrimônio cultural (Rivera Mateos, 2013;
outros setores. Nenhum dos trimestres do ano Moreno Megarejo e Sariego López, 2017,
oferece um percentual de turistas inferior a p. 173). Esse objetivo, além disso, é lucrativo.
20% do total anual, ao passo que o primeiro
As pessoas que praticam turismo cultural
e último trimestres do ano caem abaixo desse
gastam o dobro do tempo despendido por
valor no que se refere à totalidade do turismo.
outros turistas e precisam de serviços mais 233
Por último, a proporção do turismo
especializados. Esse é talvez um fator que
de origem internacional está crescendo em
explica o fato de o município de Tarifa, onde
comparação com aquele de procedência
se situa Baelo Claudia, com uma população
nacional, embora em números absolutos
de pouco mais de 18 mil habitantes, ter sido
ambos estejam evoluindo de maneira
o que mais gerou empregos em Andaluzia no
ascendente. Em 2003 (primeiro relatório
setor de turismo em 2018 (+ 17,4%) e onde o
disponível), o turismo cultural nacional
rendimento médio por apartamento (13,7%)
representou 70% do total, enquanto em 2017
aumentou durante a alta temporada, o que
esse número caiu para 53,4%.
levou a um aumento da rentabilidade de
Essas tendências se refletem também no
13,7% no setor de turismo (Exceltur, 2019).
número e nas características dos visitantes em
Os dados, então, parecem endossar as
sítios arqueológicos como Baelo Claudia, que
políticas de crescimento prudente do turismo,
também experimentam uma tendência de alta
sustentada ao longo do tempo, embora mais
7. Dados extraídos das estatísticas dos espaços culturais da
moderada do que a registrada na totalidade Andaluzia (Junta de Andalucía, 2019).
priorizando a manutenção das características romana de Silla del Papa podem ser objetivos
Paisagem cultural, arqueolog ia e tur ismo:
Enseada de Bolonia (Espanha)

distintivas do lugar, com base em seu alcançáveis no médio prazo, considerando


a c i o n a l

excepcional patrimônio cultural e natural, que os recursos patrimoniais e paisagísticos


e a aplicação do princípio da precaução da Enseada de Bolonia e seus arredores não
N

(Cózar Escalante, 2005), defendido pelo são só uma reivindicação por si mesmos, mas
r t í s t i c o

Fórum de Cultura e Meio Ambiente para o também agregam valor a outros segmentos
desenvolvimento do plano de ação da Carta do mercado turístico, como o de esportes
A

Cultural Ibero-Americana (OEI, 2010). Isso aquáticos (Rivera Mateos, 2016), que são
e

especialmente relevantes nessa área.


i s t ó r i c o

favorecerá uma atuação cautelosa diante dos


planos e projetos urbanísticos que possam
S i l v i a Fe r n á n d e z C a c h o e Á n g e l M u ñ o z V i c e n t e

supor um risco para a manutenção de valores


Referências
H
a t r i m ô n i o

extraordinários e já quase inexistentes em


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P

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d o

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e v i s t a

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e o mais bem avaliado no Google pela BASURTO CEDEÑO, Estefania M.; PENNINGTON-
R

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singularidade de seu patrimônio natural e
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cultural. Para manter esse grau de satisfação turístico. Revista Turydes: Turismo y desarrollo local
geral, é importante continuar promovendo sostenible, v. 8, n. 19, 2015. Disponível em: http://www.
eumed.net/rev/turydes/19/patrimonio.html. Acesso em:
a divulgação dos valores locais, fomentando 23 mar. 2019.
a pesquisa e incorporando novos lugares à CASTAÑEDA FERNÁNDEZ, Vicente. Vida y muerte
oferta cultural da enseada. Nesse sentido, en la prehistoria de Cádiz. In: ARMARIO, Francisco
Javier Guzmán; FERNÁNDEZ, Vicente Castañeda
234 a intervenção na paisagem foi feita para
(Coords.). Vida y muerte en la historia de Cádiz. Cádiz:
melhorar o roteiro e o entorno imediato Cemabasa, 2008. p. 33-56.
da cidade romana, e a atuação em outros CASTRO LEÓN, Juan Fco. La calidad como
herramienta de gestión del turismo cultural. Pasos:
sítios arqueológicos e mirantes apontam na
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direção certa. A abertura permanente da n. 1, p. 143-148, mar. 2005.
necrópole de Los Algarbes9 ou a incorporação CEP – Convênio Europeu da Paisagem. Convenio
na oferta turística e cultural da cidade pré- Europeo del Paisaje. 2000. Disponível em: http://www.
upv.es/contenidos/CAMUNISO/info/U0670786.pdf.
Acesso em: 27 maio 2019.
8. Um exemplo dos últimos anos foi o projeto de construção de
um complexo hoteleiro na Enseada de Valdevaqueros (próximo à CÓZAR ESCALANTE, José Manuel de. Principio de
Enseada de Bolonia), que mobilizou a sociedade civil e que, após precaución y medio ambiente. Rev. Esp. Salud Pública,
seis anos de litígios, foi anulado pelo Supremo Tribunal de Justiça v. 79, n. 2, p. 133-144, mar./abr. 2005. Disponível em:
de Andaluzia (Ecologistas em acción, 2018).
http://scielo.isciii.es/pdf/resp/v79n2/colaboracion1.pdf.
9. É sintomático que o número de comentários e a avaliação Acesso em: 30 maio 2005.
no Google das tumbas antropomórficas sejam maiores que os
da necrópole de Los Algarbes (a avaliação é de 4,3 contra 4), se ECOLOGISTAS EN ACCIÓN. El TSJA anula el plan
considerarmos que este último está mais preparado para a visita- parcial de Valdevaqueros. 2018. Disponível em: https://
ção pública. A impossibilidade de acesso sem agendamento em
Los Algarbes diante do livre acesso dos túmulos antropomórficos www.ecologistasenaccion.org/96352/el-tsja-anula-el-
poderia ser o motivo dessa diferença. plan-parcial-de-valdevaqueros/. Acesso em: 3 abr. 2019.
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MUÑOZ VICENTE, Ángel. Procesos de recuperación 1998.
Rober t Avé-Lallement
1858, viagem pelo P araná 1

Mate, mate e mais mate! Essa a senha são, nem sequer dão uma ideia da profunda
no planalto, a senha nas terras baixas, na significação do mate, na América do Sul, que
floresta e no campo. Distritos inteiros, aliás, não se pode descrever com palavras, nem
províncias inteiras, onde a gente desperta cantar, nem dizer, nem pintar, nem insculpir
com o mate, madraceia o dia com o mate e em mármore.
com o mate adormece. As mulheres entram Nas folhudas matas, a centenas de pés de
em trabalho de parto e passam o tempo de altura, do Rio Grande, Santa Catarina, São
resguardo sorvendo mate e o último olhar do Paulo e Curitiba e muito além na América
moribundo cai certamente sobre o mate. É do Sul, cresce a árvore encantada que fornece
o mate a saudação da chegada, o símbolo da a erva ou erva-mate; e por isso se chama
hospitalidade, o sinal da reconciliação. Tudo o erval a região particularmente abundante em
que em nossa civilização se compreende como mate. [...] A consistência da folha é sólida,
amor, amizade, estima e sacrifício, tudo o que meio coriácea e um tanto seca, a cor é de um
é elevado e profundo e bom impulso da alma bonito verde um tanto escuro; ao secar, a cor
humana, do coração, tudo está entretecido escurece mais. O gosto, ligeiramente amargo
e entrelaçado com o ato de preparar o mate, e aromático, é sui generis!
servi-lo e tomá-lo em comum. A veneração [...] Vestidos apenas de calças e armados
do café e o perfumado fetichismo do chá nada com um facão de mato, os ervateiros decepam

1. Trechos do relato de viagem publicado em 1995 pela Fundação Cultural de Curitiba.


não somente as folhas e ramos finos, mas Esses fardos de mate, preparados de
também galhos regularmente grossos com maneira originalíssima com couros de boi,
tudo o que neles se acha. A folhagem é secada têm uma enorme significação e dificilmente
a fogo brando e depois pilada, com os ramos se pode dar uma ideia da quantidade de uma
finos, em cestas de bambu especialmente mercadoria da qual nada se sabe na Europa
preparadas para esse fim ou em sacos de couro que toma chá e café. [...] Em qualquer caso,
cru. Preparada a porção colhida, é enviada seria enorme perda de tempo querer discretear
para casa, onde, em grandes estâncias, são sobre o tempo e seu emprego nas regiões
entregues a um engenho próprio para mate, onde se bebe o mate. Naquelas regiões não
ou a um maior. Aqui a erva e a parte lenhosa há jornais regulares, nem cafés. O bebedor de
delgada são piladas e moídas, reduzidas ao pó mate constrói o seu próprio mundo político
mais fino possível e depois malhadas em sacos e sozinho, diante de sua cuia de mate, é mais
de couro cosidos muito regularmente, o que feliz do que se estivesse sentado num café.
muito contribui para a valorização do artigo.

Gaúchos chimarreando.
Óleo sobre tela,
Pedro Weingärtner, 1911.
Foto: F. Zago-Studioz.
Acervo: Pinacoteca Aldo Locatelli.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

238
Cr istina Escobar e Bettina Bray A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
Cr istina Escobar e Bettina Bray

a c i o n a l
A valorização turística das
M issões J esuíticas do P araguai

N
r t í s t i c o
D e v e l o p i n g t o u r i s m i n t h e J e s u i t M i s s i o n s o f P a r a g u ay
L a v a l o r i z a c i ó n t u r í s t i c a d e l a s M i s i o n e s J e s u i ta s d e P a r a g u ay

A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

Este artigo discorre sobre o trabalho de This study discusses tourist development

P
d o
valorização turística das Missões Jesuíticas do activities promoted by the National Secretariat

e v i s t a
Paraguai, realizado pela Secretaria Nacional of Tourism of Paraguay (Senatur) at the
de Turismo do Paraguai (Senatur), através de Jesuit Missions of Paraguay. The Jesuit Multi-

R
alguns projetos. Um deles é o impulsionamen- Destination Route, which encompasses a
to da Rota Jesuíta Multidestino, que abrange number of territories in Brazil, Argentina,
parte dos territórios de Brasil, Argentina, Bolivia, Uruguay and Paraguay, is one of
Bolívia, Uruguai e Paraguai. O percurso conta these projects. This route comprises seven
com sete sítios arqueológicos declarados Patri- archaeological sites which have been listed
mônio Mundial pela Organização das Nações as World Heritage Sites by the United
239
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Nations Educational, Scientific and Cultural
(Unesco), que fazem parte dos chamados 30 Organization (UNESCO). They are the 30
povoados correspondentes aos assentamentos villages located in former the Jesuit-Guarani
jesuítico-guarani dos séculos XVII e XVIII. settlements of the XVII and XVIII centuries.
Além disso, a Senatur apoia não só o setor Senatur also supports the tourism services sector
de prestação de serviços turísticos por meio through programs such as Pousadas Turísticas
de programas como Pousadas Turísticas do del Paraguay and Hortas Orgánicas, as well as
Paraguai e Hortas Orgânicas, mas também local indigenous communities. Interventions
as comunidades indígenas locais. Além disso, to strengthen cultural tourism were also
foram realizadas intervenções destinadas à implemented, such as the creation of circuits,
revalorização do turismo cultural, como a cria- management plans and upkeep of monuments,
Projeção audiovisual com
ção de roteiros, planos de gestão e manutenção emphasizing sustainability mapeamento em 3D,
Missão Jesuítico-Guarani
de monumentos, com foco na sustentabilidade and accessibility. de Jesús de Tavarangüe,
Itapúa (Paraguai), 2019.
e acessibilidade. Acervo: Senatur.
Resumen (UNESCO), que forman parte de los llamados
A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i

30 pueblos correspondientes a los asentamientos


a c i o n a l

Este artículo versa sobre el trabajo de jesuítico-guaraníes de los siglos XVII y XVIII.
valorización turística de las Misiones Jesuitas Además, Senatur apoya no solo el sector de
N

de Paraguay, realizado por la Secretaría servicios turísticos a través de programas como


r t í s t i c o

Nacional de Turismo de Paraguay (Senatur), Posadas Turísticas de Paraguay y Huertyas


a través de algunos proyectos. Uno de ellos es Orgánicas, sino también a las comunidades
A

la promoción de la Ruta Jesuita Multidestino, indígenas locales. Asimismo, se llevaron a cabo


e
i s t ó r i c o

que abarca parte de los territorios de Brasil, intervenciones dirigidas a la revalorización


Argentina, Bolivia, Uruguay y Paraguay. del turismo cultural, como la creación de
H

La ruta cuenta con siete sitios arqueológicos itinerarios, planes de gestión y mantenimiento
a t r i m ô n i o

de monumentos, centrados en la sostenibilidad


Cr istina Escobar e Bettina Bray

declarados Patrimonio Mundial por la


Organización de las Naciones Unidas para y la accesibilidad.
P

la Educación, la Ciencia y la Cultura


d o
e v i s t a
R

240
partir dos níveis de 2016, bem como aumen-

A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
tar a popularidade do Paraguai como destino

a c i o n a l
turístico; estruturar a gestão e a promoção
da atividade turística no Paraguai; aumentar
o número de turistas que chegam ao país;

N
r t í s t i c o
aumentar o gasto per capita dos turistas e seu
tempo médio de permanência.

A
e
R o ta J e s u í t i c a e

i s t ó r i c o
C o rr e d o r I n t e r n a c i o n a l
d o s J e s u í ta s

H
a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray


Entre os quatro principais projetos
catalizadores previstos, consta do Plano

P
Diretor o impulsionamento à Rota

d o
Jesuítica Multidestino. É uma das quatro

e v i s t a
A Secretaria Nacional de Turismo do iniciativas operacionais de alto impacto no

R
Paraguai (Senatur) atualizou o Plano Dire- desenvolvimento imediato do setor, que já
tor para o Desenvolvimento Sustentável do está em andamento e tem sua implantação
Setor Turístico para o período 2019-2026 prevista para antes do final de 2020. Assim,
(Paraguai, 2018), de acordo com o Plano o Paraguai poderá se posicionar como um
Nacional de Desenvolvimento do Paraguai destino interessante para o turismo cultural
2030 (PND-2030) e a Agenda 2030 para por meio da venda de experiências ligadas
o Desenvolvimento Sustentável das Nações a um recurso de alto valor, com capacidade
241
Unidas (ONU). Por trás da medida, está a de atração internacional, por ser Patrimônio
ideia de que um planejamento adequado da Mundial reconhecido pela Organização das
atividade turística – como proposto no Plano Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Diretor – contribui para a implementação da Cultura (Unesco).
agenda para os Objetivos de Desenvolvimen- Incentivada pelo Paraguai, com a parti-
to Sustentável (ODS) no país, permitindo um cipação de Argentina, Brasil, Bolívia e Uru-
avanço efetivo no sentido de alcançar uma guai, a Rota Jesuítica Multidestino está em
sociedade pacífica, justa e inclusiva. processo de fortalecimento, em um esforço
Um dos objetivos estratégicos do Plano multinacional conjunto que contribuirá para
Missão Jesuítico-Guarani
Diretor é ampliar a capacidade do turismo re- o estabelecimento de uma série de atrações de Santísima Trinidad del
Paraná (Paraguai), 2008.
ceptivo, para que seu crescimento seja realizado turísticas em torno do legado jesuíta desses Acervo: Senatur.

de forma sustentável em suas três dimensões: países. A abordagem regional é justamente


econômica, social e ambiental-cultural. o que despertou o interesse do Banco In- Museu das Missões,
São Miguel das Missões
Mais especificamente, o documento visa teramericano de Desenvolvimento (BID) (RS), 2007.
Foto: Eneida Serrano.
aumentar os indicadores básicos do turismo a para aprovar uma linha de financiamento Acervo: Iphan.
de 100 milhões de dólares para a ampliação turístico do país, tanto pelo seu valor
A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i

do chamado Corredor Internacional Jesuíta. histórico e cultural quanto pelo seu nível de
a c i o n a l

Nesse sentido, o BID promove a criação do desenvolvimento turístico até a atualidade.


Caminho dos Jesuítas como um itinerário As Missões Jesuítico-Guarani da Santísima
histórico-cultural da América do Sul e um Trinidad del Paraná e de Jesús de Tavarangüe
N
r t í s t i c o

instrumento para fomentar o turismo e gerar foram declaradas Patrimônio Mundial pela
renda, emprego e bem-estar para a população Unesco em 1993. Oito dos 30 povoados
A

de forma sustentável. fundados pelos jesuítas nessa região da


e

Por um lado, o Caminho dos Jesuítas na América do Sul se encontram no território


i s t ó r i c o

América do Sul é um itinerário religioso reco- atual do Paraguai: San Ignacio Guazú,
nhecido pelo Vaticano e, por outro, o itinerá- Santiago Apóstol, Santa María de Fe e
H

rio histórico-cultural dos jesuítas na América Santa Rosa de Lima, no departamento1 de


a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray

do Sul (Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Misiones; e Santísima Trinidad del Paraná,
Uruguai) é reconhecido pela Unesco por seu Jesús de Tavarangüe, San Cosme y San
P

valor cultural. O objetivo é usar o programa Damián e Nuestra Señora de la Encarnación,


d o

de corredores turísticos como uma ferra- no departamento de Itapúa.


e v i s t a

menta de financiamento para projetos que A Câmara Paraguaia de Turismo das


R

fortaleçam a integração regional no âmbito Missões Jesuíticas é a entidade responsável


do circuito turístico das Missões Jesuíticas. O pela promoção e pelo posicionamento do
aprimoramento dessa rota ajudará a valorizar destino da Rota Jesuítica, tanto nacional
uma série de recursos complementares, tais quanto internacionalmente. O órgão planeja
como o artesanato, a gastronomia, a natureza, e realiza ações para melhoria e fortalecimento
entre outros. dos serviços e das atividades turísticas nesse
A rota conta com sete sítios arqueológicos território. A câmara é formada por parceiros
242
declarados Patrimônio Mundial pela Unesco, dos setores de hotelaria, gastronomia,
que fazem parte dos chamados 30 povos que transporte, guiamento turístico e artesanato,
correspondem aos assentamentos jesuítico- além de outros ligados ao turismo em geral,
guarani dos séculos XVII e XVIII, localizados e tem o objetivo de promover o crescimento
na província Paraquaria. A concretização da econômico de seus membros com base na
Rota Jesuítica Multidestino oferecerá uma cooperação mútua, consolidando a rota como
experiência cultural, histórica e arquitetônica destino em parceria com os setores público
em torno dessas missões, onde ainda é e privado.
possível contemplar antigas casas, praças e Ao longo de 2018, e também em 2019, o
templos que, no passado, eram utilizados para gabinete da câmara promoveu a socialização
catequisar as populações indígenas guarani. dos caminhos, organizando duas caminhadas
Trata-se, sem dúvida, de um dos recursos experimentais nos departamentos de Misiones
turísticos mais importantes da região. e Itapúa, com a participação das operadoras
No Paraguai, o patrimônio jesuítico
destaca-se como o principal recurso 1. Unidade administrativa semelhante ao estado no Brasil.
de turismo Caminho das Missões (Brasil) e da história e da valorização de costumes
La Misión (Paraguai). Também implementou e tradições dos povoados, é fomentar o
um plano de ação para consolidar o Caminho crescimento das comunidades a partir do
243
das Missões, estimulando o desenvolvimento turismo religioso, rural e de natureza, na
das comunidades e permitindo a ativação da região da Rota Jesuítica.
Rota Jesuítica com novas ofertas de turismo e A criação de novas rotas e circuitos
experiências. turísticos vem sendo estimulada, bem como
Da mesma forma, foram feitos a o fortalecimento das já existentes, para
verificação e o levantamento dos trechos oferecer cada vez mais atrações para turistas
que compõem o projeto Caminho das nacionais e estrangeiros. É o caso da Rota
Missões Tape Tuja (Caminho Antigo), no da Erva-Mate (Ka’a rape). Nela, os visitantes
departamento de Itapúa, que originalmente têm a oportunidade de aprender sobre a
se comunicava com as Missões Jesuítico- erva-mate, desde o plantio até o uso – seja
Guarani da Santísima Trinidad del Paraná e como tereré, mate ou chá mate, bebidas
de Jesús de Tavarangüe. A iniciativa contou tradicionais paraguaias. O intuito é valorizar Missão Jesuítico-Guarani
de Jesús de Tavarangüe,
com o apoio técnico da Senatur na área as atrações do nordeste de Itapúa e a cultura Itapúa (Paraguai), 2016.
Foto: Cristiane Dias.
das trilhas. O objetivo, por meio do resgate e a história paraguaias, tendo como eixo a Acervo: Iphan.
erva-mate. Esse passeio abrange nove distritos pousadas. O acordo também incluiu o
A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i

do departamento de Itapúa, destacando as treinamento de funcionários da Senatur


a c i o n a l

atrações de cada município, entre as quais para monitorar a qualidade das pousadas e
estão Santísima Trinidad del Paraná e Jesús de repassar o conhecimento aos proprietários.
Tavarangüe. A erva-mate, também chamada Elaborado em parceria com os Paradores de
N
r t í s t i c o

de “ouro verde” ou “chá jesuíta”, deixou de ser Turismo da Espanha e a Agência Espanhola
uma planta silvestre e se tornou uma planta de Cooperação Internacional para o
A

de cultivo nas Missões Jesuítico-Guarani. Desenvolvimento (Aecid), o Manual de Boas


e

Além disso, era o principal produto de Práticas para as Pousadas Turísticas exige um
i s t ó r i c o

exportação da província do Paraguai naquela padrão mínimo de qualidade a ser seguido


época, e a renda gerada com sua venda era pelos estabelecimentos para permanecer no
H

paga como tributo ao rei. programa, organizando-os em diferentes


a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray

A Senatur, com a ajuda da Câmara categorias a depender da infraestrutura e dos


Paraguaia de Turismo da Rota Jesuítica, serviços oferecidos.
P

em um esforço conjunto público-privado, Além disso, por meio da cooperação


d o

também investe em equipamentos turísticos, com diversas instituições do Estado, como


e v i s t a

produtos e serviços de qualidade. Nesse o Crédito Agrícola de Habilitação, foi


R

sentido, promove a geração de hospedagem criada a linha de crédito Turismo Rural, de


turística, oferece treinamentos relacionados financiamento acessível para empreendedores
ao artesanato e à gastronomia local e fornece do turismo. Essa alternativa permitiu que o
apoio às comunidades indígenas do entorno programa Pousadas Turísticas do Paraguai
da Rota Jesuítica, que fazem parte do fosse altamente bem-sucedido (com 0% de
patrimônio cultural da região. inadimplência), tanto para as famílias quanto
para as comunidades envolvidas.
244
Pousadas Turísticas Da mesma forma, e em conjunto com
do Paraguai o Ministério da Fazenda, foi feito um
trabalho para formalizar o funcionamento
Como resultado do programa Pousadas das pousadas turísticas com o registro e
Turísticas do Paraguai, aumentou o número a atualização de dados dos contribuintes,
total de leitos oferecidos aos turistas, não para que pudessem emitir nota fiscal
só nessa região, mas também em todo o para os turistas. O programa recebeu
país. Por meio de parcerias com empresas importantes reconhecimentos nacionais,
privadas, as hospedarias estão equipadas como as declarações de Interesse Nacional
com cobertores, toalhas de mesa, cortinas, do Congresso Nacional, de Interesse
tapetes e sinalização, tudo ao estilo do Institucional do Ministério da Mulher e de
artesanato típico nacional. Graças a uma Interesse Distrital em oito municípios do
parceria com a cadeia de hotéis Paradores país. Internacionalmente, o programa ganhou
de Turismo da Espanha, foi desenvolvida o prêmio Excelências Turísticas 2016 na Feira
uma proposta de categorização das Internacional de Turismo da Espanha (Fitur).
Programas de oportunidades de geração de renda para
empoderamento mulheres com treinamentos de bens e serviços
econômico para o turismo em áreas rurais e urbanas. Da
mesma forma, a Senatur apoia, por meio de
245
O turismo é uma ferramenta que, treinamentos, a produção de artesanato local
com políticas adequadas, colabora para nas cidades que compõem a Rota Jesuítica.
o desenvolvimento econômico e social,
atingindo todos os níveis da economia. Nesse Apoio a comunidades
sentido, em relação ao empoderamento indígenas
econômico das comunidades do entorno
da Rota Jesuítica, a Senatur implementou Por meio de programas de apoio às
programas e projetos para impulsionar comunidades indígenas, os povos originários
microempresas produtivas relacionadas às das Missões Jesuítico-Guarani de Pindó,
atividades de turismo, tais como as Hortas Guavirami e Kambay recebem treinamento
Orgânicas, que fornecem vegetais livres na produção e comercialização de seu
de agrotóxicos nas pousadas turísticas. artesanato. Além disso, tem havido a inserção
Essa iniciativa faz parte do Programa de de alguns no mercado de trabalho como guias Coro M’Bya Guarani da
comunidade Guavirami,
Empoderamento Econômico das Mulheres turísticos nas Missões de Trinidad, Jesús e Trinidad, Itapúa
(Paraguai), 2017.
por meio do Turismo, que promove San Cosme y San Damián. Acervo: Senatur.
Além de vincular essas comunidades ao também esforços de conservação e restauração
A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i

circuito das Missões, a Senatur promove predial conforme os regulamentos nacionais


a c i o n a l

o conhecimento e a divulgação da cultura e internacionais da área, considerando que


indígena por meio da atuação do coro M’Bya- o patrimônio histórico e arquitetônico é
N

Guarani, da comunidade de Guavirami, em parte da memória coletiva, da memória


r t í s t i c o

eventos especiais e, por vezes, no espetáculo histórica de uma comunidade, e constitui


de Luz e Som da Missão de Trinidad e no um legado cultural que cada país deve
A

mapeamento na Missão de Jesús.


2 transmitir às gerações futuras, respeitando sua
e

autenticidade. Além disso, foram realizadas


i s t ó r i c o

Nos últimos anos, a Senatur realizou


diversas intervenções nas Missões Jesuítico- ações relacionadas ao campo do turismo
Guarani que são Patrimônio Mundial da cultural, como as descritas a seguir.
H
a t r i m ô n i o

Unesco, as Missões da Santísima Trinidad del


Cr istina Escobar e Bettina Bray

Luz, Som e Imagem


Paraná e de Jesús de Tavarangüe; e na Missão
de San Cosme y San Damián, que já foi um
P

Desde 2009, é possível fazer uma visita


d o

centro científico da região especializado em


noturna de características excepcionais na
e v i s t a

observação e interpretação astronômica. Essas


Missão de Santísima Trinidad del Paraná. O
intervenções envolvem preservação, gestão e
R

espetáculo Luz, Som e Imagem é uma expe-


transmissão dos valores culturais do acervo
riência sensorial que permite aos visitantes
patrimonial, que é um legado e testemunho
entrar em contato, por um momento quase
da ação catequizadora dos jesuítas nessa
eterno, com os vários anos de vivência que
região da América. Foram despendidos
os Guarani e jesuítas compartilharam no
século XVII naquele lugar. 
2. Espetáculo que consiste na projeção em mapeamento 3D sobre a
experiência da Companhia de Jesus nas missões fundadas na região.
246
O espetáculo começa com efeitos de luz audiovisual de mapeamento em 3D.

A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
tênues projetados por luminárias dentro A projeção audiovisual, de cerca de 15

a c i o n a l
das casas destinadas aos Guarani. Os efeitos minutos, é feita na parede correspondente ao
sonoros reproduzem os sons da natureza: altar-mor da igreja da missão. A experiência
o vento, o canto dos pássaros, a chuva. A

N
jesuítico-guarani é contada a partir de nove

r t í s t i c o
música é onírica e relaxante. O visitante quadros ou cenas, formados por imagens
mergulha na escuridão. A seguir vemos e música, que relatam a Aventura Jesuítica

A
o encontro dos Guarani com os jesuítas Universal, depois a sua instalação em

e
com efeitos de luz, imagens e músicas,

i s t ó r i c o
Paraquaria e, especificamente, em Jesús
que assumem um papel de protagonismo.
de Tavarangüe.
Música sacra de excelente qualidade e

H
Com essa inovação tecnológica,
imagens são projetadas nas altas paredes

a t r i m ô n i o
a divulgação e a valorização do sítio

Cr istina Escobar e Bettina Bray


da Igreja Maior.
arqueológico tombado se fortalecem,
O espetáculo Luz, Som e Imagem
atraindo o turismo cultural. Além de

P
é constantemente renovado, e está em

d o
conhecer uma abordagem diferente do local,
andamento o trabalho de renovação das

e v i s t a
imagens projetadas no muro correspondente o visitante pode pernoitar na cidade, o que
fomenta o crescimento econômico local. De

R
ao altar-mor da Igreja Matriz.
fato, desde a inauguração do evento, duas
Projeção de mapeamento pousadas já abriram na cidade, considerando
que anteriormente não havia lugares de
Em 2018, foi patrocinada pela Senatur, hospedagem para os turistas. Missão Jesuítico-
Guarani de Jesús de
em parceria com a Unesco, a implantação Tavarangüe, Itapúa
(Paraguai), 2018.
e instalação de um vídeo com a técnica Acervo: Senatur.
247
A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray


P
d o
e v i s t a
R

Museu Lítico de Trinidad tígios arquitetônicos locais. O Museu Lítico


já cumpria a função de conservação e, com a
248 O Museu Lítico de Trinidad localiza- execução do projeto, foi possível complemen-
se na antiga sacristia da Igreja da Missão tar e reforçar as outras funções esperadas de
Jesuítico-Guarani da Santísima Trinidad qualquer museu, isto é, de exposição e divul-
del Paraná. A coleção do museu é gação, pesquisa e aprofundamento do acervo.
formada, principalmente, por vestígios O objetivo geral do roteiro museológico é
arquitetônicos e ornamentais feitos em mostrar ao visitante a importância histórica e
pedra que pertenciam à antiga igreja e artística da Igreja de Trinidad del Paraná no
foram recuperados e depositados ali após contexto arquitetônico e cultural paraguaio.
escavações realizadas nas décadas O novo roteiro aborda os aspectos
de 1970 e 1980. arquitetônicos, esculturais e iconográficos
No ano de 2017, com o objetivo de valo- da coleção lítica. Para a correta avaliação
rizar o museu e otimizar seu funcionamento, e interpretação dessa compilação, a atual
a Senatur foi responsável pela execução de museografia foi completada com novos
Museu Lítico de Trinidad um novo roteiro museográfico para melhorar suportes, modelos, infográficos e cartazes
(Paraguai), 2017.
Acervo: Senatur.
a interpretação histórica e artística dos ves- informativos. Estes são os conteúdos gerais
que compõem o roteiro museológico do Trinidad, foram feitas rampas e plataformas

A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
museu: 1. a história da Igreja de Trinidad: de acesso à praça central, à Igreja Matriz

a c i o n a l
glória e destruição; 2. a Igreja de Trinidad (onde parte do piso original se encontra
na arquitetura paraguaia; 3. a arquitetura e protegida) e ao Museu Lítico. Já na Missão
a ornamentação de Trinidad; 4. o programa

N
de Jesús, foram feitas rampas e plataformas na

r t í s t i c o
iconográfico da Igreja de Trinidad; 5. os igreja; um mirante com rampa, que permite
retábulos líticos de Trinidad; 6. a escultura a conexão visual entre as Missões de Jesús e

A
jesuítico-guarani em Trinidad; 7. resumo das Trinidad e o reconhecimento dos arredores

e
pesquisas, resgates e achados arqueológicos e

i s t ó r i c o
do complexo. A terceira e última etapa do
valorização de Trinidad. Plano Diretor de Turismo Acessível para as
Missões será implementada ainda em 2019,

H
Plano Diretor de

a t r i m ô n i o
com a execução de rampas e da trilha que

Cr istina Escobar e Bettina Bray


Turismo Acessível completará o percurso da Missão de Jesús, a
partir da igreja até o mirante construído em

P
A fim de garantir o direito de todas as

d o
uma parte da horta.
pessoas de vivenciar experiências turísticas

e v i s t a
Por se tratar de dois sítios Patrimônio
sem qualquer discriminação, a Senatur
Mundial da Unesco, o critério de intervenção

R
criou um programa de turismo acessível
levou em consideração todas as condições
em parceria com a Secretaria Nacional dos
de atenção ao patrimônio, alcançando o
Direitos da Pessoa com Deficiência (Senadis)
equilíbrio entre a acessibilidade a todos e
e de acordo com o Plano Nacional de Ação
o respeito ao patrimônio, a reversibilidade
para os Direitos das Pessoas com Deficiência
das intervenções, o uso de materiais
(2015-2030). A iniciativa é responsável por
de fácil manutenção. Nesse sentido,
garantir a acessibilidade e a inclusão nos
as melhorias incluem estacionamento, 249
diferentes destinos turísticos nacionais.
atendimento ao visitante, percurso do local
O programa permitiu notáveis avanços
e serviços de higiene, bem como busca da
na acessibilidade turística, particularmente
na Missão Jesuítico-Guarani de Santísima autonomia pessoal. O projeto considerou
Trinidad del Paraná, que, desde 2016, tem a regulamentação espanhola e a legislação
rampas de acesso, além de sinalização em es- paraguaia sobre acessibilidade, a fim de
panhol, guarani, inglês e braile. Isso foi pos- facilitar o acesso e o uso não discriminatório,
sível graças ao apoio da Aecid, da Embaixada independente e seguro da infraestrutura do
da Espanha no Paraguai e da cooperação edifício para pessoas com deficiência.
técnica da fundação espanhola ACS3. Com esse projeto, o Paraguai se tornou,
Nas duas primeiras fases de como país, uma referência regional no
implementação do projeto, na Missão de tratamento da acessibilidade em sítios
patrimoniais. Assim, o patrimônio jesuítico-
3. Fundação pertencente ao Grupo ACS (sigla para Actividades guarani passa a pertencer efetivamente a
de Construcción y Servicios), do ramo de construção e
desenvolvimento de infraestruturas. todos os cidadãos, sem discriminação.
A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray


P
d o
e v i s t a
R

O b s e r va ç ã o d e av e s Missão Jesuítico-
250 Guarani de San Cosme y
Desde a Semana Santa de 2019, a obser- San Damián
vação de aves é a nova atração das Missões
Jesuítico-Guarani de Jesús de Tavarangüe e No complexo arquitetônico da Missão
da Santísima Trinidad del Paraná. Os facili- Jesuítico-Guarani de San Cosme y San
tadores e guias turísticos de ambas as missões Damián, foi preservada a autenticidade da
foram treinados a identificar aves da região, forma e do design evidentes na disposição
graças ao apoio do Corpo de Paz dos Estados original dos edifícios. Devido às suas
Programa de turismo
acessível, Missão Jesuítico- Unidos. A Senatur, dessa forma, promoveu características tecnológicas e às condições
Guarani de Santísima
Trinidad del Paraná a ampliação da oferta turística dos destinos, sociais próprias da região, o local sofreu
(Paraguai), 2018.
Acervo: Senatur. promovendo a conservação das espécies e seu algumas intervenções desde sua construção
ambiente, já que, nesses locais, existe uma em 1718, porém não afetaram suas
Interior da Igreja da abundante diversidade de espécies de aves. características morfológicas, envolvendo
Missão Jesuítico-Guarani
de San Cosme y San Disponibiliza-se, desse modo, a oportunidade apenas a substituição de materiais degradados
Damián (Paraguai), 2018.
Acervo: Senatur. de conhecer as aves nativas do Paraguai. na igreja. Portanto, o padrão arquitetônico
se constitui no melhor testemunho da parte posterior à igreja. Ainda é possível ver

A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
época, pois se encontra em bom estado a tipologia das chamadas casas de índios ao

a c i o n a l
de conservação e ainda não foi estudado redor da praça, habitadas e com pequenas
arqueologicamente. transformações para o uso moderno.
Esse é o único dos 30 povoados jesuítico- A igreja paroquial foi solenemente

N
r t í s t i c o
guarani onde a igreja manteve, ao longo consagrada em março de 1978, e, desde
dos anos, sua função original de culto então, a missa é celebrada ali regularmente.

A
religioso para uso do povo. Além de dar No local, há 22 imagens sacras originais

e
lugar ao culto religioso cristão realizado pela esculpidas em madeira, algumas com

i s t ó r i c o
comunidade, o edifício restaurado é usado policromia original e outras que foram
como um centro de atividades comunitárias restauradas por peritos especializados nesse

H
até hoje, exceto por um breve período em tipo de obra. Chama a atenção a fisionomia

a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray


que foi desativado devido a um incêndio. A de algumas delas, como o Cristo, com traços
cidade contemporânea de San Cosme y San indígenas, demonstrando a inspiração em

P
Damián ainda se desenvolve a partir do plano modelos nativos. Há também uma série de

d o
urbanístico das Missões Jesuíticas, mantendo peças originais, como poltronas, uma pia

e v i s t a
viva a devoção a seus patronos, que deram de água benta esculpida em pedra e outros
objetos religiosos para uso litúrgico.

R
nome ao povoado.
Além da igreja, San Cosme y San Damián
é a única das 30 missões que ainda conserva,
com telhado, os cômodos correspondentes
à residência dos padres e ao colégio, uma
estrutura de dois andares onde ainda é
possível observar a pintura original do forro,
251
bem como outros atributos que o tornam
único, a exemplo do pátio correspondente ao
claustro das oficinas. Os cômodos ou salas do
colégio mantêm trechos de pintura original,
baseada em elementos naturais, bem como
outros elementos batismais de pedra esculpida
e ornamentos que fazem parte do ensino e das
virtudes jesuíticas. Nos cômodos do colégio,
as aulas de catecismo são ministradas até hoje.
O setor correspondente ao lado esquerdo,
que define o claustro e onde seriam as
oficinas, está totalmente coberto e não sofreu
intervenção. Arqueologicamente, o claustro
e a área oeste não foram descobertos. O setor
da horta também se encontra conservado na
252

Devido à sua localização geográfica, à que mostra as características do lugar a partir


época, o local foi considerado um observató- das medições dos instrumentos criados por
rio astronômico. Em 1703, o padre e cientista Buenaventura, em formato digital, assim
Buenaventura Suárez, assim que chegou, como um telescópio para observar o céu.
começou a trabalhar e estudar astronomia. É um dos mais importantes patrimônios
Ajudado pelos M’Bya-Guarani, construiu culturais, históricos e religiosos do país.
um telescópio, um quadrante astronômico e
um relógio de sol que, embora rudimentares, Projeto Cinturão
funcionavam com precisão. O relógio de sol Ecológico
ainda se encontra preservado no pátio do co-
légio, e sua acurácia surpreende. Dessa forma, Com base nas recomendações dadas des-
a Missão San Cosme y San Damián tornou-se de o momento de avaliação da nominação
um centro de estudos astronômicos. Atual- do bem à lista do Patrimônio Mundial, o
mente, existe ali um centro de astronomia Paraguai pretende rever e ampliar as áreas de
autoridades nacionais e locais, e atores-chave

A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
locais, adaptando a região aos limites dos

a c i o n a l
atuais blocos urbanos e rurais. Também foram
determinadas medidas regulatórias para essas
áreas de amortecimento, demarcando usos

N
r t í s t i c o
do solo e indicadores urbanos para novos
desenvolvimentos e garantindo a proteção da

A
vista dos componentes do bem seriado. Dessa

e
forma, será possível estabelecer um equilíbrio

i s t ó r i c o
adequado entre a preservação do patrimônio e
a regulação da atividade turística, assegurando

H
que o crescimento da infraestrutura turística

a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray


seja feito de forma sustentável e respeitando o
patrimônio cultural.

P
d o
P l a n o d e g e s t ã o pa r a o

e v i s t a
P at r i m ô n i o M u n d i a l

R
Em 2018, com o apoio da Unesco, a
Senatur realizou o desenvolvimento do
plano de gestão coordenado, participativo e
sustentável para as duas Missões Jesuítico-
Guarani que são Patrimônio Mundial no
Paraguai, Santísima Trinidad e Jesús de
253
Tavarangüe. O plano se limita às duas missões
amortecimento, denominadas “cinturão eco- inscritas na lista do Patrimônio Mundial
lógico”, onde se realizou uma série de ações da Unesco, sem negligenciar a importância
nos últimos anos, no âmbito da Assistência de promover trabalhos coordenados e em
Internacional e dos procedimentos adotados conjunto com o restante delas que não conta
pelo Comitê do Patrimônio Mundial. com esse reconhecimento.
Entre 2016 e 2017, o Projeto de Extensão Para a elaboração do plano de gestão,
e Regulamentação do Cinturão Ecológico foi no período de cinco meses, foram realizadas
implantado nas Missões Jesuítico-Guarani quatro oficinas participativas promovidas pela
de Santísima Trinidad del Paraná e Jesús de Senatur, com a orientação de especialistas
Tavarangüe, componentes do Patrimônio nacionais e internacionais. Foram realizadas
Mundial, com a assistência técnica da atividades nas cidades de Encarnación,
Unesco. Como resultado do projeto, foi Trinidad e Jesús, incluindo o levantamento Relógio de sol, Missão
Jesuítico-Guarani de San
feita uma proposta para definir as áreas territorial, que teve a participação de atores Cosme y San Damián
(Paraguai), 2018.
de amortecimento, com a participação de direta e indiretamente relacionados com Acervo: Senatur.
a gestão das Missões Jesuítico-Guarani, universal da série e, além disso, identificar
A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i

tais como autoridades nacionais e locais, e ações reativas em caso de sinistro; contribuir
a c i o n a l

representantes da sociedade civil das para o desenvolvimento turístico sustentável


duas localidades. do local e seus entornos e, ao mesmo
Em relação à visão do plano de gestão, tempo, melhorar a experiência do visitante;
N
r t í s t i c o

considerou-se que os bens em série das promover estratégias para a valorização


Missões Jesuíticas Santísima Trinidad del integral do patrimônio tangível e intangível,
A

Paraná e Jesús de Tavarangüe, que são cultural e natural, considerando o sistema


e

Patrimônio Mundial, constituem um jesuítico-guarani nacional, regional e


i s t ó r i c o

modelo de gestão integral e excepcional para internacional; melhorar a experiência cultural


a América Latina e o mundo, considerando a e turística dos visitantes nas Missões de
H

proteção, a conservação e o desenvolvimento Jesús e Trinidad; e estimular o governo e a


a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray

sustentável dos locais e de seus entornos. população local a serem os principais atores
É, além disso, a atração cultural mais no desenvolvimento turístico do ambiente
P

importante da região e, portanto, um motor missionário.


d o

da economia local. Para atingir esses objetivos, as políticas


e v i s t a

Em relação à missão, o plano de gestão elaboradas e combinadas pelas organizações e


coordenado, participativo e sustentável para comunidades locais diretamente relacionadas
R

as Missões Jesuíticas da Santísima Trinidad com os componentes do patrimônio são


del Paraná e Jesús de Tavarangüe está divididas em programas, projetos e atividades
orientado no sentido de não só proteger e que formam o plano de gestão, considerando
preservar a integridade e autenticidade dos não só o próprio patrimônio histórico,
componentes, mas também de contribuir mas também a região de amortecimento.
com a transmissão dos seus valores e atributos O esquema de governança proposto para
254 para as gerações futuras. O fomento a a implementação do plano de gestão é a
experiências culturais nas Missões de Jesús e criação de um comitê de gestão, composto
Trinidad e a atualização da infraestrutura de por membros eleitos da Senatur, de cada um
atendimento ao turista aumentam o número dos dois municípios e da comunidade local.
de visitantes e promovem o desenvolvimento Essa junta é um exemplo de participação
econômico e cultural sustentável do destino. e articulação cidadã, no qual os principais
Entre os objetivos do plano de gestão, atores do território debatem, trocam
foram identificados os seguintes: contribuir ideias e decidem planos de ação para o
para a preservação do caráter unitário dos território – nesse caso, para a área ou o
componentes patrimoniais, bem como da local do patrimônio cultural. As decisões
sua autenticidade; fortalecer a governança do comitê de gestão, apesar de não serem
e a participação das comunidades locais na obrigatórias, permitem que os membros
gestão e no uso dos patrimônios inscritos na ajam no sentido do desenvolvimento e da
lista do Patrimônio Mundial; evitar riscos aplicação de políticas públicas. Em termos de
que possam ameaçar o excepcional valor planejamento estratégico, entendido como
o processo sistemático de implementação de interno, como a publicação da revista Jahá e

A va l o r i z a ç ã o t u r í s t i c a d a s M i s s õ e s Je s u í t i c a s d o Pa rag u a i
planos para alcançar propósitos ou objetivos, a campanha de promoção do turismo interno

a c i o n a l
é de vital importância a diretriz que o plano chamada Faça um tour pelo seu país. Além
de gestão deve seguir, tendo como objetivo disso, a comunicação foi reforçada com a
final a consecução das metas traçadas, que publicação de cadernos em jornais de grande

N
r t í s t i c o
se traduzem em crescimento econômico, circulação nacional, como o Paraguai de carro,
humano ou tecnológico. que impulsionou o alcance da campanha.

A
No âmbito da promoção do turismo

e
Cooperação e promoção internacional, a Senatur promoveu a

i s t ó r i c o
internacional campanha Experimente o autêntico, em nove
idiomas, através da rede de televisão CNN,

H
Durante esses anos, foram criadas várias em 2018. Nela, foi enfatizada a riqueza

a t r i m ô n i o

Cr istina Escobar e Bettina Bray


ações de cooperação internacional, com a histórica, cultural e natural do país, em
assinatura de convênios, particularmente na torno da grande atração gerada pelas Missões

P
área de treinamento e assistência técnica, com Jesuítico-Guarani, com o slogan: Paraguai,

d o
diversos países e organizações internacionais. você precisa senti-lo.

e v i s t a
Entre as mais destacadas, em relação às O Paraguai participou das principais
Missões Jesuítico-Guarani, além das já feiras internacionais de turismo e de missões

R
mencionadas, há a troca de experiências e comerciais, em que foram apresentados a
a transferência de conhecimento entre o marca do país e seus principais destinos,
Caminho de Santiago e a Rota Jesuítica, como a Rota Jesuítica, em parceria com o
com o apoio da Comunidade Autônoma setor privado. Além disso, a promoção do
da Galícia. Há também o apoio da turismo religioso resultou na incorporação
Organização Mundial do Turismo (OMT) do Paraguai no Catálogo da Ópera Romana
para o fortalecimento da Rota Jesuítica, por Pellegrinaggi do Vaticano, que incluiu o país 255

exemplo, com a realização do Seminário entre os destinos recomendados em todo


Itinerário Turístico do Mercosul, ocorrido o mundo, destacando a Rota das Missões
em Encarnación, no Paraguai, em 2014, Jesuíticas, o Caminho Franciscano e a
com a presença de autoridades da OMT e Peregrinação a Caacupé, entre outros.
representantes de países onde há vestígios
jesuíticos; e com o apoio à realização do I e Referências
do II Seminário de Rotas Multidestino, em
PARAGUAI. Secretaría Nacional de Turismo. Plan
2015 e 2017, com a presença do secretário- Maestro de Desarrollo Sostenible del Sector Turístico del
geral da entidade. Paraguay 2019-2026. Assunção: Secretaría Nacional de
Turismo, 2018.
Em termos de promoção turística, a
Senatur realiza feiras internas para posicionar
a oferta turística da Rota Jesuítica no
território nacional, além de desenvolver uma
série de produtos para promover o turismo
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

256
Silvia Martínez O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
Silvia Mar tínez

a c i o n a l
O pat r i m ô n i o c u lt u r a l i m at e r i a l c o m o

N
at i v o pa r a o t u r i s m o s u s t e n t á v e l

r t í s t i c o
I m m at e r i a l c u lt u r a l h e r i ta g e a s a n a s s e t f o r s u s ta i n a b l e t o u r i s m

A
El pat r i m o n i o c u lt u r a l i n m at e r i a l c o m o a c t i v o pa r a e l t u r i s m o s o s t e n i b l e

e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

P
O presente artigo procura estabelecer This paper explores the nexus between

d o
nexos entre o patrimônio cultural imaterial intangible cultural heritage and sustainable

e v i s t a
e o turismo sustentável, considerando tourism in light of the persistent claim that this

R
a reiterada afirmação de que este é uma is a solution to the shortage of funds and to the
solução para a escassez de recursos e para destitution of heritage-holding communities.
a pobreza das comunidades detentoras dos However, certain long-term sustainability
bens intangíveis. No entanto, a relação entre criteria should be observed with regard to a
os dois campos exige a adoção de certos relationship between these two spheres, i.e.
critérios de sustentabilidade em longo prazo, any measures that the industry implements
ou seja, as ações empreendidas pelo setor must be economically viable and ethically and
257
precisam ser tanto economicamente viáveis socially equitable for the communities involved
quanto equitativas do ponto de vista ético while also fostering intercultural dialogue
e social para os povos e promover o diálogo and citizenship. This is the industry’s only Dona Dalva, samba de
intercultural e a cidadania. Apenas dessa viable way forward to emerge as a powerful roda no Recôncavo Baiano,
Cachoeira (BA), 2004.
forma o segmento torna-se um poderoso development agent with the potential and Foto: Luis Santos. Acervo: Iphan.

instrumento de desenvolvimento, que pode duty to be an active stakeholder in sustainable Muruti, Wajàpi, 2000. Arte
e deve participar ativamente do crescimento development and asset management, involving Kusiwa, pintura corporal
e arte gráfica Wajãpi,
sustentável e da gestão patrimonial, com a interested party accordingly. Patrimônio Cultural da
Humanidade.
participação adequada de seus detentores.
Resumen criterios relacionados con la sostenibilidad a
O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável

largo plazo, es decir, las acciones tomadas por


a c i o n a l

el sector deben ser económicamente viables,


Este artículo busca establecer vínculos
equitativas desde el punto de vista ético y
entre el patrimonio cultural inmaterial y
social para las personas y promover el diálogo
N

el turismo sostenible, teniendo en cuenta


r t í s t i c o

intercultural y la ciudadanía. Solo de esta


la reiterada afirmación de que esta es una
manera el sector se puede convertir en una
solución para la escasez de recursos y la
A

poderosa herramienta de desarrollo que puede


e

pobreza de las comunidades detentoras de este y debe participar activamente en el desarrollo


i s t ó r i c o

patrimonio. Sin embargo, la relación entre sostenible y la gestión patrimonial, con la


los dos campos requiere la adopción de ciertos participación adecuada de sus detentores.
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

Silvia Martínez
R

258
Já faz algumas décadas que, na Ainda assim, juntamente com o com-

O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
América Latina, o turismo associado ao promisso ético, há um crescente interesse

a c i o n a l
desenvolvimento sustentável vislumbra-se turístico por novas experiências, valores, tra-
como uma ferramenta eficaz para alcançar o dições locais e diferentes modos de vida, que
crescimento econômico, reduzir a pobreza são um atrativo capaz de mobilizar visitantes

N
r t í s t i c o
e coibir o êxodo rural por meio da criação do mundo todo. No entanto, para ser de
de postos de trabalho locais. Essa visão tem interesse turístico, uma cultura precisa passar

A
amparo no consenso internacional proposto por um processo de valorização ou reconheci-

e
pela Organização das Nações Unidas (ONU) mento local, nacional ou mundial, na forma

i s t ó r i c o
nos 17 Objetivos do Desenvolvimento de patrimônio. Tomando esse processo como
Sustentável (ODS) da Agenda 2030. O ponto de partida para o planejamento de

H
ODS 8, sobre trabalho decente e expansão estratégias integrais no âmbito do turismo

a t r i m ô n i o
da economia, tem, como uma de suas metas, sustentável, é possível trazer benefícios para as
“elaborar e implementar políticas para comunidades e pessoas detentoras de um bem

P
promover o turismo sustentável, que gera cultural imaterial. É exatamente das relações

d o
empregos e promove a cultura e os produtos entre turismo sustentável e esse tipo de obra

e v i s t a

Silvia Martínez
locais” (ONU, 2015, s.p.). Assim, o setor é que trataremos.

R
considerado uma das forças propulsoras da Na América Latina, há diversas propostas
produção inclusiva e sustentável, bem como de desenvolvimento social com ênfase no tu-
do trabalho proveitoso e decente. rismo sustentável, estabelecendo uma relação
O segmento, dessa maneira, poderia ofe- tácita e imediata com o patrimônio cultural
recer alternativas de subsistência para aqueles imaterial. Esse pressuposto pode ser observa-
que não têm acesso a recursos básicos de saúde, do em programas ou projetos executados por
educação ou renda, mas que, ainda assim, Estados ou organizações internacionais, bem
259
precisam responder aos desafios da mudança como no discurso eleitoral de candidatos a
climática. É também, precisamente, nessa meta cargos políticos que encontram nessa correla-
da Agenda 2030 que o turismo encontra uma ção uma solução para a escassez de recursos e
relação direta com a cultura, na medida em a pobreza de populações que exercem práticas
que é convocado para promovê-la e protegê-la. consideradas patrimônio.
Nessa linha, o art. 4º do Código de Ética Nessa linha de trabalho, segmentos como
Mundial para o Turismo (OMT, 1999a) turismo comunitário rural, ecoturismo, turis-
recomenda a proteção do patrimônio, seja mo agrário e etnoturismo sugerem uma relação
natural, artístico, arqueológico ou cultural, positiva entre os bens e o turismo sustentável,
para que continue a existir. Da mesma forma, em que aqueles são uma espécie de insumo
em relação aos produtos vivos, como o deste. As expressões identitárias são colocadas
folclore e os ofícios tradicionais, a diretriz é como ativos, o que incita sua patrimonializa-
que continuem a reproduzir-se e mantenham ção por estados, municípios e grupos de poder,
Festa da Virgen del
sua diversidade, em vez de serem pressionados que as estruturam como narrativa e memória. Carmen, Paucartambo,
Cusco (Peru), 2016.
a homogeneizar-se. Os bens culturais são inventariados e inscritos Foto: Reenzo Velasquez Bernal.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

260
Silvia Martínez O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável

Acervo: Iphan.
Foto: Oscar Liberal.
Florianópolis (SC), 2019.
Santo Antônio de Lisboa,
das Necessidades,
Igreja Nossa Senhora
2012-2019.
Foto: Paula Giordano.
Patrimônio Cultural da
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
Humanidade, Belém (PA),
Série Catarse da Devoção.
261

Silvia Martínez O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

Silvia Martínez
R

em algum sistema de reconhecimento, seja lo- O processo de institucionalização da cultura


cal, como patrimônio municipal, seja nacional, transformada em patrimônio é acompanhado
262 por uma imensa mobilização de legitimação, que
como patrimônio nacional, ou internacional,
inclui acordos internacionais, legislações nacionais
como Patrimônio Mundial da Organização das
e subnacionais e um forte apoio político e intelec-
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
tual. Essa mobilização é, em si, um interessante
Cultura (Unesco).
campo de estudo, repleto de desafios do ponto de
Os processos de patrimonialização, isto é, vista legal e político. Isso ocorre porque a patri-
o conjunto de esforços por reconhecimento, monialização da cultura promove respostas locais,
são complexos porque envolvem lutas que nem sempre se adaptam ao esperado por seus
internas pelo poder simbólico de uma promotores. Podemos encontrar, inclusive, abertas
comunidade. Se, além disso, existirem resistências, que se cristalizam no surgimento de
expectativas de alcançar grandes ganhos novos conceitos, como o de “patrimônio biocultu-
ral coletivo” [...]. Alguns questionamentos-chave
econômicos por meio do turismo, eles
nesse sentido são: quem deve decidir quais mani-
tornam-se ainda mais complicados e podem
festações da cultura podem ser patrimonializadas e
acarretar conflitos, o que deve ser evitado.
quais não, quais interesses devem ser considerados
Apresentação de mariachi, Sobre esse assunto, Beatriz Pérez Galán e no momento de valorizar a cultura e como geren-
México, 2008.
Foto: Edgar Martinez. Raúl H. Asensio alertam que: ciar os dilemas advindos do que, por um lado, se
perde e, por outro, é adquirido nos processos de integrados ou não no mesmo território.

O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
objetificação e comercialização cultural (Asensio e Gera, ainda, um senso de identidade: o
Pérez Galán, 2012, p. 2-3).

a c i o n a l
pertencimento a um grupo advém da partilha
de um universo simbólico comum, o que
Assim, sugerimos uma revisão da relação
contribui para a coesão social, fomentando

N
entre esses conceitos e o que, de fato, vem

r t í s t i c o
um sentimento de responsabilidade para com
acontecendo quanto à sua vinculação ao
a comunidade e seu futuro.
turismo e desenvolvimento. Finalmente,

A
É importante ressaltar que o patrimônio
recomendamos algumas diretrizes de gestão

e
aqui em pauta é transmitido de geração

i s t ó r i c o
para um trabalho mais efetivo e dialógico entre
em geração e pode ser compartilhado com
essas noções, tanto considerando o patrimônio
outros povos, colaborando para o respeito à

H
cultural imaterial como um ativo econômico
diversidade cultural. Cultura, nesse sentido, é

a t r i m ô n i o
para o turismo quanto entendendo esse setor
um conjunto de símbolos comunitários que
como um meio de salvaguardar uma expressão
mudam e são transformados pela interação
cultural identitária.

P
entre cada grupo humano, bem como entre o

d o
homem, sua natureza e sua história (Unesco,

e v i s t a
P at r i m ô n i o e turismo

Silvia Martínez
2003, p. 4).
s u s t e n t á v e l 

R
Os dois principais conceitos, para
a convenção de 2003, são identidade e
No âmbito da Convenção para a
comunidade. Nesse sentido, o patrimônio
Salvaguarda do Patrimônio Cultural
cultural imaterial só pode ser assim
Imaterial da Unesco (2003, p. 4), esse considerado se for reconhecido pelas
bem é compreendido como as “práticas, comunidades, grupos ou indivíduos que o
representações, expressões, conhecimentos criam, mantêm, transmitem e consideram
e técnicas – junto com os instrumentos, 263
seu. Além disso, os Estados são chamados a
objetos, artefatos e lugares culturais que tomar medidas que garantam sua salvaguarda,
lhes são associados – que as comunidades, bem como os povos são incitados a dar seu
os grupos e, em alguns casos, os indivíduos consentimento livre, prévio e informado
reconhecem como parte integrante de seu sobre ela.
patrimônio cultural”. São categorizadas em De acordo com a Carta do Turismo
tradições orais; expressões artísticas; práticas Sustentável, da Organização Mundial do
sociais, rituais e atos festivos, conhecimentos Turismo (OMT, 1995), o desenvolvimento
e práticas relacionados à natureza e ao turístico deve ser baseado em critérios
universo; e técnicas artesanais tradicionais. de sustentabilidade, ou seja, deve ser
Entre as características que a Unesco ecologicamente sustentável em longo prazo,
atribui a esse patrimônio, estão a de que economicamente viável e equitativo, a
é contemporâneo, ou seja, é uma cultura partir de uma perspectiva ética e social para
viva; é inclusivo, de modo que expressões as comunidades locais. Assim, o turismo
culturais são compartilhadas com os vizinhos, sustentável é “um caminho para a gestão de
todos os recursos de forma que possa atender venda de produtos culturais.
O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável

às necessidades econômicas, sociais e estéticas, Entretanto, há uma divergência


a c i o n a l

respeitando ao mesmo tempo a integridade fundamental entre os dois conceitos. Para


cultural, os processos ecológicos essenciais, a salvaguarda patrimonial, por um lado,
a diversidade biológica e os sistemas que o que importa é o caráter identitário das
N
r t í s t i c o

sustentam a vida” (OMT, 1999b, p. 22). manifestações, isto é, o patrimônio existe


O desenvolvimento sustentável é um porque há um grupo de indivíduos que
A

processo orientado que engloba uma gestão o sente como seu. O que interessa para o
e

mundial de recursos, a fim de garantir turismo, por outro lado, é o caráter de ativo
i s t ó r i c o

sua durabilidade, permitindo conservar econômico que os bens culturais detêm,


o capital natural e cultural, o que inclui ou seja, o que importa é sua relação com o
H

proteger as áreas de cada coletivo humano. mercado consumidor, e é por isso que devem
a t r i m ô n i o

Sendo o turismo um poderoso instrumento ser protegidos.


de crescimento, pode e deve participar Essa questão fica ainda mais complexa
P

ativamente dessa estratégia. Uma boa gestão na América Latina, uma vez que uma
d o

turística exige, nesse sentido, a preservação grande diversidade de práticas culturais


e v i s t a

Silvia Martínez

dos recursos dos quais depende, sendo um pode ser reconhecida como patrimônio em
deles o capital humano que o sustenta. Deve comunidades indígenas originárias, grupos
R

basear-se, portanto, nas pessoas e na relação afrodescendentes e diversos migrantes que


entre elas e seu entorno. têm sido invisibilizados na história oficial de
Ambos os conceitos, patrimônio cultural seus países. A narrativa de reivindicação que
imaterial e turismo sustentável, implicam esses povos buscam muitas vezes não está,
uma noção de comunidade associada a necessariamente, orientada a atender um
uma história e um território, pensando nas mercado turístico.
264 gerações futuras. Nessa visão, o turismo
sustentável tem o compromisso ético de Conflitos nos processos
respeitar os grupos comunitários e os d e pat r i m o n i a l i z a ç ã o
significados que eles dão às suas expressões
culturais. Por sua vez, espera-se que a Na América Latina, nos últimos anos, tem
população local forneça narrativas que havido um interesse incomum em inscrever
proporcionem aos visitantes satisfações sociais expressões culturais na lista de Patrimônio
e estéticas em torno do prazer de viajar e ter Mundial da Unesco, em listas nacionais
experiências inovadoras. Espera-se, ainda, ou outras categorias relacionadas. Por trás
que a relação entre os dois campos traga um desses esforços, estão duas pressuposições:
impacto positivo nas localidades, o que se a de que o mercado vai proporcionar renda
traduz em um maior número de visitas e diretamente, sem que seja necessário um
mais consumo. Isso, por sua vez, beneficia os grande investimento do Estado nos territórios
detentores de patrimônio, gerando emprego das comunidades detentoras; e a de que todos
e incrementando a receita econômica com a podem ter acesso ao mercado em igualdade
O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

Silvia Martínez
R
de condições. Ainda assim, será que é possível da chancela oficial. Contudo, a demora de
que a indústria turística supra a falta de respostas do Estado leva as pessoas a conti-
investimentos do Estado? nuar a interagir com a lógica mercadológica
Uma vez que um bem é reconhecido como sempre fizeram: os que ganham mais
como patrimônio cultural, logo surgem con- são aqueles que têm maior acesso à educação,
flitos entre os grupos detentores, aumentando que já estavam no mercado, tinham capital
ainda mais as lacunas econômicas existentes, financeiro ou mais contatos com o mun-
pois a patrimonialização das expressões cul- do exterior. E, certamente, ganham menos
turais não as transforma de maneira imediata aqueles que estão mais afastados do mercado,
Tecelãs do Lago Puray,
em ativos financeiros, tampouco torna os frequentemente os mais pobres, advindos de onde há cooperativa de
artesãs que vivem do
membros dessas comunidades sujeitos eco- regiões mais rurais e, em alguns casos, os que turismo e utilizam técnica
milenar, de sabedoria
nomicamente ativos de modo a participarem falam línguas originárias e foram historica- ancestral,
Cusco (Peru), 2019.
necessariamente dos benefícios que decorrem mente abandonados. Foto: Renan Cepeda.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

266
Silvia Martínez O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
Muitas vezes, as comunidades criam a uma história, três idiomas (aimará2, quíchua3

O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
expectativa de que o reconhecimento oficial e castelhano) e diversas expressões culturais

a c i o n a l
acompanha a melhoria de sua qualidade de (Festa de Alasitas4, diablada5, saya6, morenada7
vida. Porém, nesse processo, o Estado é repre- e outras danças e gêneros musicais). A origem
sentado apenas pelo funcionário público de dessas práticas partilhadas foi reclamada pelos

N
r t í s t i c o
uma repartição de cultura, que não é capaz de dois países, gerando embates desde as ruas até
responder às inúmeras demandas sociais e até o âmbito diplomático. 

A
históricas que a patrimonialização acarreta. Esses conflitos também são causados pela

e
Vale destacar que, na América Latina, a apropriação cultural, quando membros da

i s t ó r i c o
maioria dessas práticas culturais manifesta-se sociedade hegemônica, e não da comunidade
em territórios mergulhados na pobreza, aonde local, comercializam o conhecimento coletivo.

H
o Estado não chegou ou onde está presente

a t r i m ô n i o
Isso foi observado no caso dos chamantos8
de maneira incipiente, faltando, muitas vezes, de Doñihue, no Chile, ou das artesãs de
estradas, iluminação pública e água potável. Aguacatenango, no estado de Chiapas, no

P
Um caso que ilustra essa questão é a Festa México, que denunciaram a empresa de moda

d o
da Virgen del Carmen, que acontece em Zara por imitar um estilo tradicional de

e v i s t a

Silvia Martínez
Paucartambo, no departamento de Cusco, 1
bordado. Muitas vezes, essas querelas ocorrem

R
no Peru. Atraindo multidões, de moradores mais no meio social do que no jurídico, pois
locais até milhares de turistas, o evento ocorre não existem ainda ferramentas suficientes
durante cinco dias em uma das cidades mais no campo do direito coletivo para sustentá-
pobres do país. A festividade, entretanto, las. Nos grupos detentores de patrimônio
não é capaz de estimular o crescimento cultural imaterial, é comum encontrarmos
econômico local devido a fatores como falta a percepção de que suas expressões culturais
de emprego, emigração dos mais jovens e são bens limitados e que são roubadas
267
miséria geral dos habitantes. ou copiadas por estrangeiros. Sua maior
Os numerosos conflitos locais resultan- preocupação é evitar essa usurpação, por isso Francisca, peregrina da
nação Quispicanchi, na
tes desse processo devem ser analisados caso propõem uma salvaguarda que lhes confira peregrinação a Qoyllur
Ritti, Cusco (Peru), 2019.
pretenda-se desenvolver uma relação efetiva direitos autorais coletivos. Foto: Renan Cepeda.

entre turismo sustentável e patrimônio cultu-


ral imaterial. Entre os mais recorrentes, está 2. Um dos idiomas oficiais do Peru e da Bolívia, é falado por
membros da etnia Aimará.
a reivindicação de autenticidade feita pelas
3. Um dos idiomas oficiais do Peru, da Bolívia e do Equador,
comunidades para legitimar socialmente o tem milhões de falantes espalhados entre diversos grupos étnicos
andinos.
valor mercadológico de seus bens, distinguin-
4. Celebração tradicional a Ekeko, deus da prosperidade dos
do-o do resto da oferta existente no merca- povos andinos, com danças, músicas e comidas típicas dessa
cultura.
do. Na América Latina, um dos casos mais
5. Dança tradicional em que os dançarinos usam máscara de
emblemáticos é o do altiplano andino, entre demônio.
Bolívia e Peru, um território que compartilha 6. Dança e gênero musical de origem afrodescendente.

7. Dança tradicional que mistura elementos africanos e indígenas.

1. Unidade administrativa semelhante ao estado no Brasil. 8. Poncho típico chileno.


Outro fenômeno frequente nos processos celebram o Qoyllur Ritti9 na localidade
O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável

de patrimonialização é a reprodução de Ausangate, em Cusco, no Peru, ou as


a c i o n a l

dos padrões tradicionais de dominação comunidades do altiplano andino, das quais


e desigualdade econômica, que criam falamos anteriormente, que não reconhecem
conflitos, tanto dentro das comunidades
N

o compartilhamento de elementos culturais


r t í s t i c o

quanto entre elas e suas vizinhas, em torno comuns. No entanto, existem grupos que
dos bens culturais. Na maioria dos casos, apreciam a ação do turismo e a recriação de
A

não há respostas estatais, e as populações suas expressões culturais em outras latitudes.


e

são deixadas à mercê das regras do mercado. Por exemplo, no México, é promovido
i s t ó r i c o

Para ter acesso a ele, é necessário dispor de um concurso internacional de mariachi10,


competências básicas como conhecimentos, valorizando a divulgação de sua expressão e
H

habilidades, pensamentos e motivações de


a t r i m ô n i o

celebrando a existência de apreciadores desse


maneira integral, condições difíceis de serem gênero musical em todo o mundo.
alcançadas pelos menos favorecidos. Nas
P

apostas pelo turismo sustentável, muitas Relação frutífera entre


d o

vezes pressupõe-se que os grupos sejam pat r i m ô n i o e t u r i s m o


e v i s t a

Silvia Martínez

homogeneizados e que todos possam entrar sustentável


R

no meio mesmo sem treinamento formal,


apenas sendo trabalhadores ou operadores Reivindicação de autenticidade, ausência
turísticos intuitivamente. É nesse sentido de investimento do Estado, reprodução de
que o Estado faz-se necessário, ao fornecer padrões tradicionais de dominação e apro-
uma educação de qualidade para todos, priação cultural são preocupações que emer-
baseada nas necessidades e particularidades gem após a patrimonialização e que exigem
de cada povo. No entanto, observamos que respostas dos governos perante os cidadãos
268
essa situação está longe de ser realidade. detentores de patrimônio cultural imaterial.
Comunidades não são uma entidade Esses problemas podem ser mitigados com o
homogênea. Existem, em todas elas,
uso das quatro ferramentas de gestão a seguir.
mesmo na menor e mais invisível, grupos
Em primeiro lugar, é necessário que sejam
de interesses e fatores de desigualdade que
identificados os atores sociais que têm uma
devem ser compreendidos antes de se fazer
expressão cultural, quais são seus interesses
uma intervenção. Suas particularidades
e pontos de provável conflito e, acima de
devem ser consideradas, assim como seu
tudo, as possibilidades de consenso, a fim
relacionamento anterior com o mercado.
de traçar um caminho para a salvaguarda
No trabalho que realizamos em campo,
apoiando alguns coletivos na formulação 9. Festividade em que milhares de pessoas de diferentes nações
de planos de salvaguarda de seu patrimônio indígenas vão, em peregrinação, a Ausangate cultuar uma imagem
de Jesus Cristo, fundindo antigos cultos andinos a rituais cristãos.
cultural imaterial, deparamo-nos com 10. Termo que se aplica tanto ao gênero musical quanto aos
povos que querem fechar suas portas para grupos musicais que se dedicam a essa manifestação popular,
que mescla elementos rítmicos europeus e astecas. Em 2012, o
os forasteiros, como as irmandades que mariachi foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial.
dessa prática. Um dos resultados mais de horas trabalhadas e a mão de obra

O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
valiosos da implementação da Convenção empregada na produção artesanal, uma vez

a c i o n a l
para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural que geralmente o mercado paga um preço
Imaterial da Unesco (2003) tem sido a menor. É necessário estabelecer sistemas
geração de participação cidadã, uma vez de valores justos para não comprometer a

N
r t í s t i c o
que o envolvimento na discussão gera um continuidade das expressões culturais.
compromisso com o exercício da cidadania. É Um terceiro ponto para uma relação

A
preciso estender a participação popular para a efetiva entre turismo e patrimônio cultural

e
análise desses pontos, embora a relação entre imaterial é não perder de vista a ação

i s t ó r i c o
cultura e desenvolvimento não tenha sido um necessária do Estado, que deve fornecer
objetivo da convenção. um piso básico de oportunidades de saúde

H
Um segundo ponto a ser destacado é e educação, bem como uma infraestrutura

a t r i m ô n i o
a geração de espaços de debate e consenso apropriada de estradas e caminhos que
em torno das manifestações culturais, permitam às comunidades um acesso mais

P
especialmente as que têm maior continuidade equitativo ao mercado e aos turistas, a fim de

d o
ao longo do tempo. Em uma oficina com garantir uma experiência satisfatória, com o

e v i s t a

Silvia Martínez
artesãos no Paraguai, certa vez surgiu menor risco possível. Nessa perspectiva, em
a questão da relação com o mercado um estudo sobre as relações entre turismo

R
consumidor, a qualidade do produto e o sustentável e patrimônio, a OMT (2013)
comércio justo. Uma das artesãs disse que recomenda a criação de espaços ou instalações
não queria continuar transmitindo seus que sirvam para expô-lo; a combinação ou
conhecimentos ancestrais porque não existe o entrelaçamento de atrações turísticas para
um preço justo para a relação entre número criar um conjunto temático com maior apelo

269

Arte Kusiwa, pintura


corporal e arte
gráfica Wajãpi,
Patrimônio Cultural da
Humanidade.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

270
Silvia Martínez O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
de mercado; o desenvolvimento de novos países na construção de uma cultura de paz,

O patr imônio cultural imater ial como ativo para o tur ismo sustentável
roteiros, circuitos ou redes de bens; o uso de graças ao reconhecimento e à valorização da

a c i o n a l
circuitos existentes ou a revitalização de redes, diversidade, partindo de uma abordagem que
como os itinerários de peregrinação; e o uso
seja baseada em direitos e promova a fruição e
ou o fortalecimento de festivais e eventos.

N
a recreação a partir do turismo sustentável.

r t í s t i c o
Como um quarto ponto, recomendamos
distinguir tipos de mercado e interesses de
Referências

A
acordo com categorias patrimoniais, uma

e
vez que a função do comércio é diferente

i s t ó r i c o
para cada manifestação cultural e a causa de ASENSIO, Raúl H.; PÉREZ GALÁN, Beatriz (Eds.).
¿El turismo es cosa de pobres?: patrimonio cultural, pueblos
tensões e conflitos varia de acordo com o

H
indígenas y nuevas formas de turismo en América Latina.
tipo de expressão. Por exemplo, no caso do

a t r i m ô n i o
Tenerife: ACA; Pasos; RTPC; Instituto de Estudios
artesanato, o interesse está focado em direitos
Peruanos, 2012.
coletivos; no caso de festivais e peregrinações,
OMT – Organização Mundial do Turismo. Carta del

P
o ponto principal é o uso do espaço público;

d o
Turismo Sostenible. Lanzarote: OMT, 1995. Disponível
no caso da música, a atenção pode estar vol- em: https://www.biospheretourism.com/assets/arxius/

e v i s t a

Silvia Martínez
tada para as formas de transmissão através da cc909a3b8279ee1838274c43114f54a2.pdf. Acesso em:

R
educação formal e não formal. Essas questões 19 jul. 2019.

colocam novos desafios para o desenvolvi- OMT – Organização Mundial do Turismo. Código
mento do patrimônio e para a mediação dos Ético Mundial para el Turismo. Santiago de Chile. 1999a.

níveis de conflito em torno dele. Disponível em: http://cf.cdn.unwto.org/sites/all/files/


docpdf/gcetbrochureglobalcodees.pdf. Acesso em: 10 jul.
Quando a gestão desse patrimônio ou sua
2019.
salvaguarda passa pelo monitoramento desses
OMT – Organização Mundial do Turismo. Desarrollo
quatro pontos, contribui para o crescimento
turístico sostenible: guía para administraciones locales. 271
e o turismo sustentável, pois estabelece um 1999b. Disponível em: https://www.e-unwto.org/doi/
espaço de diálogo no campo simbólico entre pdf/10.18111/9789284403073. Acesso em: 2 set. 2019.
os atores que são chamados a dar viabilidade OMT – Organização Mundial do Turismo. Estudio
econômica a um elemento cultural. sobre el turismo y el patrimonio cultural inmaterial. 2013.
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imaterial e turismo implica um desafio Acesso em: 2 set. 2019.

para a administração territorial e os ONU – Organização das Nações Unidas. Objetivos

objetivos do desenvolvimento sustentável de Desenvolvimento Sustentável: 17 objetivos para


transformar nosso mundo. 2015. Disponível em: https://
no sentido da criação e elaboração de
nacoesunidas.org/pos2015/. Acesso em: 12 jun. 2019.
instrumentos de planejamento e gestão
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a
integrados e consensuais que atendam tanto
Educação, a Ciência e a Cultura. Convenção para a
às comunidades portadoras de patrimônio
Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Unesco, Feira em frente ao
quanto ao consumidor turístico. Essa 17 out. 2003. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ Convento Santo Domingo
de Guzmán, construído
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(México), 2019.
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R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

272
G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z A capacidade de carga na visitação turística
de sítios arqueológicos no México
Guadalupe Espinosa, Dayanara Carrasco e Natalia Vázquez

a c i o n a l
A capacidade de carga na visitação turística

M éxico

N
de sítios arqueológicos no

r t í s t i c o
T o u r i s m a b s o r p t i o n c a pa c i t y in Mexican archaeological sites

A
L a c a pa c i d a d d e c a r g a e n l a v i s i ta c i ó n t u r í s t i c a d e s i t i o s a r q u e o l ó g i c o s e n México

e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

Este artigo analisa a capacidade de This paper examines the tourism absorption

P
d o
carga em sítios arqueológicos no México, capacity of archaeological sites in Mexico,

e v i s t a
especialmente aqueles que recebem um especially those that have a large influx of
grande fluxo turístico. A gestão desse tourists. Managing this heritage encompasses

R
patrimônio engloba questões mais complex issues rather than just designing plans
complexas do que apenas a elaboração de for access, circuit and exit. Parking, ticketing
um esquema de acesso, percurso e saída. (if any), commerce, museums or interpretation
Deve-se considerar também estacionamento, facilities, additional service areas and other
bilheteria (se houver), comércio, museus facilities should also be considered. The
conservation status of these monuments and
ou salas de interpretação, áreas de serviços
their accessibility according to the assessment 273
adicionais etc. Além disso, é preciso levar em
of their architectural or ornamental style and
conta um elemento fundamental: o estado
to the materials they are built with are a key
de conservação dos monumentos e sua
element that must be addressed, since the risk
acessibilidade de acordo com o diagnóstico
of damage to cultural assets can be attenuated
do estilo arquitetônico ou decorativo e
by mitigation or control measures. All these
os materiais usados em sua construção,
issues must consequently be envisaged to ensure
pois o risco de impacto nos bens culturais adequate governance to safeguard the property Uxmal,
Yucatán (México), 2017.
pode ser reduzido através de medidas de for future generations. Foto: Vitor Hugo Mori.
Acervo: Iphan.
amortecimento ou controle. Todos esses
aspectos devem, assim, ser levados em
conta para uma administração adequada,
que garanta a preservação dos bens para as
gerações futuras.
Resumen tener en cuenta un elemento fundamental: el
de sítios arqueológicos no México
A capacidade de carga na visitação turística

estado de conservación de los monumentos y


a c i o n a l

Este artículo analiza la capacidad de su accesibilidad según el diagnóstico del estilo


carga de los sitios arqueológicos en México, arquitectónico o decorativo y los materiales
N

especialmente los que reciben un gran flujo usados en su construcción, ya que el riesgo de
r t í s t i c o

turístico. La gestión de este patrimonio impacto en los bienes culturales puede reducirse
abarca cuestiones más complejas que el simple con medidas de amortiguación o control. Por
A

diseño de un esquema de acceso, recorrido lo tanto, hay que tener en cuenta todos estos
e
i s t ó r i c o

y salida. También hay que considerar el aspectos para una administración adecuada,
estacionamiento, la taquilla (si hay), comercio, que garantice la preservación de los bienes para
G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z

museos o salas de interpretación, áreas de las generaciones futuras.


H
a t r i m ô n i o

servicio adicionales, etc. Además, se debe


P
d o
e v i s t a
R

274
C a pa c i d a d e cultural da distância que as pessoas mantêm

de sítios arqueológicos no México


A capacidade de carga na visitação turística
de carga
e gestão de sítios entre si nos espaços. Nesse sentido, a distância

a c i o n a l
arqueológicos íntima (de 15 a 45 cm) é estabelecida nas
relações interpessoais; a distância pessoal
(de 45 a 120 cm) permite a relação de dois

N
Desde 1798, Thomas Malthus (1998

r t í s t i c o
[1798]) já antecipou a necessidade de indivíduos sem ultrapassar limites físicos
pensar a capacidade de carga. Analisando e emocionais; e a distância pública (de 3,5

A
o comportamento do crescimento a 9 m) é aquela em que o espaço funciona

e
como uma extensão do corpo, de modo que

i s t ó r i c o
populacional, o economista concluiu que,
no futuro, caso se mantivesse no mesmo as pessoas ficam mais separadas ao deslocar-

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
ritmo, a produção de alimentos não seria se em um ambiente amplo. A proxêmica

H
torna-se relevante na gestão do uso público

a t r i m ô n i o
suficiente para suprir esse contingente. Mais
tarde, na década de 1980, no campo da de sítios arqueológicos uma vez que tanto
ecologia, a noção de carga foi definida como as áreas de monumentos abertos à visitação

P
o tamanho da população que um habitat quanto os espaços de serviços (banheiros,

d o
pode suportar sem que o ecossistema seja estacionamentos, trilhas etc.) estão sujeitos a

e v i s t a
danificado. O conceito foi aplicado para limites físicos em sua capacidade de acomodar

R
populações de animais e humanos, levando certo número de pessoas ao mesmo tempo.
em conta suas particularidades. Enquanto, O patrimônio cultural exposto ao público,
para os animais, o foco está na relação entre como recurso turístico, deve pressupor o
o que é afetado e o número de indivíduos estabelecimento de estratégias sob o princípio
em um habitat, para o ser humano, o ponto da sustentabilidade, a fim de ser conservado
principal é a quantidade máxima tanto de (Ballart Hernández e Juan i Tresseras, 2001).
recursos consumidos pela população quanto Já desde a primeira década do século XX,
275
de resíduos gerados em uma região, sem monumentos em várias partes do México
impactar negativamente a bioprodutividade e começaram a ser explorados e habilitados para
a integridade ecológica (Bunge, 2010). visitação. Nesse período, os turistas recebiam
Quando aplicada ao turismo, a uma atenção específica por meio de sistemas
capacidade de carga refere-se ao número de delimitação de áreas e oferta de serviços, a
de indivíduos que podem ser acomodados exemplo da venda de artesanato local.
em um lugar sem afetar o meio ambiente, a No país, existem atualmente 192 sítios
população local ou a satisfação do próprio arqueológicos oficialmente abertos ao públi-
visitante. São contempladas as características co, junto com uma série de locais que não
dos turistas e dos recursos do destino, bem contam com esse status, mas que também
como as particularidades e os interesses da recebem pessoas. Responsável pela salvaguar-
população local (Bunge, 2010). da tanto dos monumentos quanto dos visi-
Dando prosseguimento a essa discussão, tantes, o Instituto Nacional de Antropologia
Teotihuacan, estado do
na década de 1960, Edward Hall (2003) e História (Inah) estabelece estratégias para México (México), 2014.
Foto: Cléo Alves Pinto.
introduziu a teoria proxêmica como o estudo garantir a conservação do patrimônio, bem Acervo: Iphan.
como a segurança dos turistas e do quadro no contexto da gestão de visitação a sítios
operacional de funcionários. Assim, por meio arqueológicos. Seu estudo permite estabelecer
do cálculo da capacidade de carga como as áreas de ocupação dos indivíduos em
fator regulador, pode-se encontrar o equi- diferentes condições de permanência; por
líbrio entre o uso público e seu impacto na exemplo, levando em consideração se estão
conservação dos bens, considerando ainda a em trânsito em espaços abertos ou trilhas ou
experiência do visitante, que deve ser segura e se estão sentados. Há, ainda, alguns modelos
agradável (Bunge, 2010). que calculam a carga máxima, incluindo a
Desde 2008, a Direção de Operação de capacidade de veículos em estacionamentos.
Sítios, vinculada ao Inah, tem sido pioneira Nesse sentido, para determinar esse limite,
nos estudos de capacidade de carga, em deve-se avaliar as condições qualitativas
especial, naqueles declarados Patrimônio e quantitativas particulares de cada sítio,
276 Mundial da Organização das Nações Unidas associadas a uma estratégia que contemple
para a Educação, a Ciência e a Cultura vias de acesso, acomodação, saída e
(Unesco). Tais locais costumam receber um ordenação, para que o fluxo de carga seja
alto fluxo de visitantes, em consequência do distribuído de forma otimizada.
reconhecimento oficial, principalmente na Assim, surge a seguinte fórmula para
Semana Santa, no equinócio da primavera e calcular a capacidade de carga turística
nas férias de verão e inverno. (Bunge, 2010).
Assim, definimos a capacidade de carga
máxima como a maior quantidade de MDC = (MDI) (TD)
visitantes que podem entrar em um espaço,
em um determinado intervalo de tempo, sem Em que:

que os bens sejam afetados, com condições MDC = Capacidade máxima diária de turistas
Equinócio de primavera,
Sítio Arqueológico de MDI = Capacidade máxima instantânea de turistas
Cuicuilco, Cidade do confortáveis e seguras para a permanência
México (México), 2019. TD = Ciclo de usuários diário ou total do número
Acervo: Instituto Nacional de do público. De modo geral, o conceito é de horas de atividade por dia/número de horas de
Antropologia e
História do México. aplicado como uma medida de regulação atividade por turista
Metodologia Em que:

de sítios arqueológicos no México


A capacidade de carga na visitação turística
pa r a o
S = Superfície disponível em m2
c á l c u l o d a c a pa c i d a d e
Sp = Superfície usada por uma pessoa (1 m2)

a c i o n a l
de carga NV = Número de vezes que o sítio pode ser visitado
em um dia

N
Os estudos de caso apresentados a seguir NV = Hv/Tv

r t í s t i c o
são fruto da análise elaborada pela Direção
Em que:
de Operação de Sítios do Inah com base na Hv = Horário de visita

A
capacidade de carga dos sítios arqueológicos Tv = Tempo médio de percurso

e
i s t ó r i c o
com visitação pública tutelados pelo
instituto. Em 2008, a proposta metodológica, Capacidade de carga real:

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
adaptada de Cifuentes (1992), foi aplicada CCR = CCF * (FCbs*FCpp*FCan*FCdv)

H
a t r i m ô n i o
aos monumentos de Cuicuilco, Tlatelolco1 e
Em que:
Tula2. Partiu-se do pressuposto de que a carga
FCbs = Fator de correção de brilho solar
não implica apenas o cálculo do número
FCbs = (1-hsl)/ht

P
máximo de visitantes por intervalo de tempo,

d o
mas também as medidas necessárias para Em que:

e v i s t a
mitigar o impacto da visita sem muitos efeitos hsl = Horas de sol limitadoras por ano (de maior
intensidade solar)

R
sobre a experiência do visitante.
ht = Horas por ano em que o sítio está aberto
De modo geral, a metodologia FCpp = Fator de correção de precipitação pluvial
contemplou quatro etapas: realizar o estudo FCpp = (1-hch)/ht
dos tempos, movimentos e perfil do visitante;
Em que:
procurar informações técnicas do sítio
hch = Horas por ano em que chove durante o
arqueológico; calcular a capacidade de carga; horário de visita
e definir os aspectos operacionais para o ht = Horas por ano em que o sítio está aberto
277
controle de visitantes. Também incluiu dois FCal = Fator de correção de alagamento
FCal = (1-ma)/mt
cálculos, um para áreas abertas e outro para
monumentos com acesso a pedestres. Para
Em que:
ambos, foi necessário calcular duas cargas ma = Área (m2) com problemas de alagamento
parciais: a capacidade de carga física (CCF) e mt = Área total (m2) que pode ser visitada no sítio
a capacidade de carga real (CCR). FCdv = Fator de correção de densidade de visita
FCdv = mdv/mt

Fórmulas pa r a á r e a s a b e rta s Em que:


Capacidade de carga física: mdv = Área (m2) com densidade de visita
CCF = (S * NV)/Sp mt = Área total (m2) que pode ser visitada no sítio

1. Cuicuilco e Tlatelolco são sítios arqueológicos situados na Cida-


de do México, o primeiro de origem olmeca e o segundo, asteca.

2. Tula é uma antiga cidade tolteca, localizada no estado de


Hidalgo.
Fórmulas conceito de capacidade de carga física foram
de sítios arqueológicos no México
A capacidade de carga na visitação turística

pa r a m o n u m e n t o s c o m

a c e s s o pa r a p e d e s t r e s retomados nessa análise: frequência de visita,


a c i o n a l

Capacidade de carga de monumento: densidade de ocupação e parâmetros de


CCM = (S*NV*FC)/sp percepção dos visitantes.
Para o cálculo da densidade de
N
r t í s t i c o

Em que:
ocupação, foi aplicado um modelo de
S = Superfície acessível (m2)
distribuição espacial e temporal de visitantes,
Sp = Superfície usada por pessoa (1 m2)
A

NV = Número de vezes que o monumento pode ser


preestabelecendo fatores de densidade
e

ideal e máxima, que são valores constantes.


i s t ó r i c o

visitado em um dia
NV = Hv/tv Enquanto o primeiro fator refere-se ao
G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z

número máximo de pessoas por metro


H

Em que: quadrado que cabem na área de recepção,


a t r i m ô n i o

Hv = Horário de visita
o segundo é um valor recomendado de
Tv = Tempo médio de percurso
ocupação, determinado por critérios de
FC = Fator de conservação (obtido da tabela de fator
P

ponderação relacionados à integridade dos


d o

de desgaste)
elementos arqueológicos, segurança dos
e v i s t a

visitantes e experiência da visita.


Limite de saturação do monumento:
R

Para esse estudo, determinou-se que


LSM = (S*FC)/sp o fator de ocupação ideal era de 10 m2/
visitante, ao passo que o fator de ocupação
Em que:
S = Superfície acessível (m2)
máxima era de 1 m2/visitante. Assim, para o
Sp = Superfície usada por pessoa (1 m2) cálculo da densidade de ocupação, temos:
FC = Fator de conservação (obtido da tabela de fator
de desgaste) Densidade de ocupação:
278
DO = SR/FV

O p e r at i v o d e a lt o f l u x o Em que:
DO = Densidade de ocupação
SR = Superfície de receptividade
Em março de 2010, avaliou-se a
FV = Frequência de visita
distribuição temporal e espacial dos visitantes
de Teotihuacan3 ao longo de um único dia. A
A fórmula foi aplicada para cada registro
amostragem foi dividida em quatro setores:
de visitação e comparada com os fatores de
Cidadela; Pirâmide e Praça do Sol; Calçada
ocupação ideal e máxima para determinar
dos Mortos (Seção Norte); e Pirâmide e Praça
se esses parâmetros tinham sido excedidos.
da Lua. Em cada um, a frequência de visita
Para averiguar a percepção dos visitantes, foi
foi registrada, dividida em nove intervalos
realizada uma enquete com 360 indivíduos,
de tempo, das 7h às 17h. Três fatores do
que deviam responder apenas sim ou não se
consideravam que havia muita gente naquele
3. Cidade pré-colombiana situada a 48 km da Cidade do México,
reconhecida como Patrimônio Mundial pela Unesco. horário e local.
Em 2014, a mesma metodologia foi Para calcular a capacidade máxima:

de sítios arqueológicos no México


A capacidade de carga na visitação turística
aplicada no Sítio Arqueológico de Tepozteco4 CM = –A
a

a c i o n a l
para identificar os espaços utilizados pelo
público e observar as atividades neles Em que:
CM = Capacidade máxima
realizadas. A pirâmide está localizada em cima

N
A = Área da superfície a ocupar

r t í s t i c o
de um morro, e a área aberta ao público só a = Área-padrão do indivíduo
expõe algumas estruturas. De acordo com o
controle de visitantes, nos dias regulares vão

A
Para calcular a capacidade máxima mista:

e
ao local até 900 pessoas, número que chega CMM = y+n

i s t ó r i c o
a 1,5 mil por dia durante a alta temporada.

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
O horário de visitação é das 9h às 17h30, Em que:

H
mas há problemas de acesso, pois o público y = Número de adultos

a t r i m ô n i o
n = Número de crianças
desconhece o tempo que leva a subida ao local.
Durante uma visita, observou-se que a
Para calcular n:

P
falta de organização e infraestrutura para
n = (CM - y)(1,4)

d o
descanso leva as pessoas a sentar-se na

e v i s t a
pirâmide principal e nas ruínas de aposentos
Para calcular todas as possibilidades, temos
usados para habitação. Além disso, o trânsito

R
a seguinte função:
constante de indivíduos causou uma séria
f (y) = y + (CM - y)(1,4)
erosão na superfície, expondo, em alguns
CM ≥ y ≥ 0
trechos, restos de elementos e materiais
arqueológicos.
Já a capacidade sugerida para indivíduos
Essa situação levou a avaliar a capacidade
em posição sentada clássica é o número
de carga nas estruturas arqueológicas visita-
sugerido de visitantes em relação à área
das. No que diz respeito à ocupação por vá- 279
usada para sentar-se. Nesse caso, o padrão
rios indivíduos em posição sentada, foi deter-
de medida adotado é um pouco maior: um
minada uma medida de tamanho para adultos
adulto ocupa uma área de 0,32 m2 e uma
e crianças, por meio dos seguintes cálculos.
criança, 0,26 m2, de modo que 1 adulto
A capacidade máxima para indivíduos em
equivale a 1,23 criança.
posição sentada clássica refere-se à quantidade
máxima de espaço disponível para que os
Para calcular a capacidade sugerida:
visitantes sentem-se. Para o cálculo, levou-se
CS = –A
em consideração, como padrão de medida, a
que um adulto ocupa uma área de 0,20 m2 e Em que:
uma criança, 0,14 m2, de modo que 1 adulto CS = Capacidade sugerida
equivale a 1,4 criança. A = Área da superfície a ocupar
a = Área-padrão do indivíduo

4. Localizada no estado mexicano de Morelos, a grande atração


do sítio é uma pirâmide que abriga um templo em que era
cultuado o deus asteca Tepozt catl.
Para calcular a capacidade sugerida mista: Para calcular todas as possibilidades, temos
de sítios arqueológicos no México
A capacidade de carga na visitação turística

CSM = y+n a seguinte função:


a c i o n a l

f (y) = y + (CS - y)(1,23)


Em que: CS ≥ y ≥ 0
y = Número de adultos
N
r t í s t i c o

n = Número de crianças

Exemplo: supõe-se uma área de 4 m2 em


Para calcular n:
A

que se deseja calcular a capacidade máxima e


e

n = (CS - y)(1,23) a capacidade sugerida.


i s t ó r i c o

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z

CM = 4m2 = 20 adultos
H

0,20m2
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

Adultos Total de crianças Total de pessoas


R

0 28 28
1 26,6 27,6
2 25,2 27,2
3 23,8 26,8
4 22,4 26,4
5 21 26
6 19,6 25,6
280
7 18,2 25,2
8 16,8 24,8
9 15,4 24,4
10 14 24
11 12,6 23,6
12 11,2 23,2
13 9,8 22,8
14 8,4 22,4
15 7 22
16 5,6 21,6
17 4,2 21,2
Tabela 1 18 2,8 20,8
Possibilidades de
capacidade 19 1,4 20,4
máxima mista
(adultos e crianças)
20 0 20
Estudos A = T – 4n

de sítios arqueológicos no México


A capacidade de carga na visitação turística
d e c a pa c i d a d e
de carga veicular

a c i o n a l
Em que:
A = Total de vagas restantes para automóveis, picapes
Em 2016, no Sítio Arqueológico de ou vans

N
Rincón Colorado, foi realizado o estudo da T = Capacidade total do estacionamento

r t í s t i c o
capacidade de carga dos veículos na estrada n = Número de ônibus

de acesso e no estacionamento. Primeiro,

A
foi investigado o padrão das medidas dos Em 2016, foi estimada a capacidade

e
veicular do Sítio Arqueológico de Xcambó6,

i s t ó r i c o
diferentes tipos de veículos dos usuários.
As dimensões adotadas para um automóvel tomando o mesmo padrão de medidas de

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
compacto foram de 5 x 2,4 m; para uma veículos apresentado anteriormente. A largura

H
da estrada de acesso ao local variava de 3,7 a

a t r i m ô n i o
picape, 6 x 2,4 m; para uma van, 6 x 2,4 m; e
para um ônibus, 14 x 2,6 m. 4,8 m, portanto, uma faixa de retorno não
Para averiguar a capacidade de carga de era viável. Considerando as medidas dos

P
veículos na estrada de acesso a esse sítio, automóveis, o estacionamento no acesso

d o
foram mensuradas, por meio do programa veicular não foi recomendado, uma vez que o

e v i s t a
Google Earth , a área total (14.128,53 m ) e
5 2 espaço não seria suficiente.

R
a distância percorrida (2,81 km), sendo que a Atualmente Xcambó conta com uma
largura da estrada é de 3 a 6 m. A proposta de pequena área de estacionamento, de
carga ideal é o fluxo de um veículo em apenas 1.161,68 m2, onde se calculou o espaço de
uma direção, independentemente do modelo, manobra para cada veículo. Uma vez que
porque a largura da estrada é reduzida em até carros exigem 5 m de espaço para manobrar;
3 m em alguns trechos. picapes e vans, 6 m; e ônibus, 8 m, e levando
Quanto ao cálculo da capacidade de em conta a área disponível, a capacidade
281
carga do estacionamento, o ponto de máxima de carros, picapes ou vans é de 42
partida foi a área disponível (298 m2). Em automóveis. Como o espaço ocupado e o
seguida, foram consideradas as dimensões necessário para um carro ou van manobrar
dos veículos e o espaço de manobra ideal, são similares, a combinação não impacta
sendo que a capacidade máxima é de 13 diretamente na capacidade, apenas na
picapes, vans ou automóveis compactos. redução do espaço de manobra.
Se essas vagas estiverem ocupadas, não há Em relação a ônibus, estima-se que o
espaço para que um ônibus estacione. Caso volume ocupado seja equivalente ao de três
seja necessário, para que caiba um ônibus, carros. Para a fórmula proposta, o espaço
quatro automóveis deverão ser subtraídos. necessário para manobra é um pouco
Assim, para calcular o estacionamento misto, maior do que o padrão de medida para um
propõe-se a seguinte fórmula: veículo compacto.

5. Programa de computador que reproduz um modelo


tridimensional do planeta Terra a partir de imagens de satélite,
permitindo acessar virtualmente qualquer lugar do mundo. 6. Cidade maia localizada no estado de Yucatán.
Ainda em 2016, foi realizado um estudo (Sedesol). Estimou-se a presença de cinco mil
de sítios arqueológicos no México
A capacidade de carga na visitação turística

semelhante no Sítio Arqueológico de Pahñú , 7


pessoas, vindas de todo o país, que ocupariam
a c i o n a l

em que estavam disponíveis dimensões desde a medida do santuário no centro da


maiores para estacionamento. Com medidas praça até uma área de amortecimento.
N

de 28 x 32 m, sua superfície é de 896 m2, que Com o auxílio do programa Google


r t í s t i c o

equivale a uma capacidade para Earth, a carga das filas foi avaliada com
29 veículos. uma margem de erro de aproximadamente
A

Para estacionamento com ônibus, estima- 10 m na área proposta pelos organizadores,


e
i s t ó r i c o

se que o volume ocupado por esse veículo conforme a Tabela 2. O cálculo incluiu a
seja equivalente ao de 3 automóveis. Para a medida do santuário que está no centro
G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z

fórmula proposta, contempla-se um pouco da praça, bem como uma área sugerida de
H
a t r i m ô n i o

mais do que a medida padrão para um veículo amortecimento ou que delimita a distância.
como espaço necessário para manobras.
Em Xcambó, no final da estrada de
P

acesso, há uma pequena rotatória, com


d o

Máxima 55 filas de 105 pessoas


347 m2 de área, que também pode ser usada
e v i s t a

11 filas de 82 pessoas
como um local alternativo de estacionamento.
R

De acordo com as dimensões dos veículos


Sugerida 55 filas de 93 pessoas
e o espaço ideal de manobra, a capacidade
máxima dessa rotatória é de seis automóveis
do tipo padrão, picape ou van. Devido à
C a pa c i d a d e de carga
redução do espaço, a parada de ônibus
pa r a e v e n t o s d e v i s i ta
não é viável.
noturna
282
C a pa c i d a d e de carga
Em 2017, foi calculada a capacidade
pa r a e v e n t o s c í v i c o s
de carga nas áreas propostas para percurso
e aproveitamento do espetáculo noturno
Em relação ao comportamento do
oferecido no Sítio Arqueológico de
público em cerimônias oficiais, analisou-
Teotihuacan. O público partiria da escadaria
se o evento ocorrido em Tula8 no Dia
de acesso da Porta 2 e caminharia em direção
Internacional dos Povos Indígenas de à Pirâmide da Lua, retornando, em seguida,
2016. Nessa oportunidade, a capacidade de ao ponto de partida. Essa escadaria serviria
carga foi calculada para aferir a viabilidade ainda como uma arquibancada para assistir
Tabela 2
Estimativa de carga da realização do evento, organizado pela ao mapeamento em vídeo projetado sobre
em filas para evento
em Tula Secretaria de Desenvolvimento Social a Pirâmide do Sol. A plataforma da mesma
escadaria, uma superfície plana, poderia ser
7. Assentamento da antiga cultura Xajay, no estado de Hidalgo.
usada por cadeirantes ou carrinhos de bebê.
8. Antiga cidade ocupada por diversos povos pré-colombianos
localizada no estado de Hidalgo. Durante a caminhada, os visitantes ouviriam,
por meio de um dispositivo eletrônico, uma base nas fórmulas e parâmetros utilizados nos

de sítios arqueológicos no México


A capacidade de carga na visitação turística
explicação sobre cada estação de acordo com demais casos, foram desenvolvidas diversas

a c i o n a l
a logística do evento. sugestões de apoio logístico, levando em
De acordo com fórmulas estabelecidas conta que o público entra pela Porta 2.
e executadas pela Direção de Operação de Com o propósito de realizar o acesso

N
r t í s t i c o
Sítios em outros sítios arqueológicos, foi feito à Calçada dos Mortos de forma ordenada,
um cálculo estimado de pessoas sentadas na propôs-se o ordenamento por filas nas rampas

A
escadaria de acesso da Porta 2. Considerando laterais anexas à plataforma da escadaria ou

e
que essa arquibancada tem 30,75 m de junto a grades. Aferiu-se a possibilidade de

i s t ó r i c o
comprimento, 1,5 m de largura e 30 m de 67 fileiras de 4 pessoas e 1 fileira de 2 pessoas,

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
altura, e que um adulto ocupa uma área totalizando a estimativa mencionada de 270

H
de 0,20 m e uma criança, 0,14 m , foram indivíduos, que deveriam ser ordenados antes

a t r i m ô n i o
2 2

propostas as seguintes estimativas: da subida à escada. Também foram sugeridas


instruções para a acomodação dos convidados
- 220 adultos com 20 cm de espaço entre uma

P
durante a projeção.

d o
pessoa e outra, ou 154 adultos e 65 crianças com
A largura da área de percurso na Calçada

e v i s t a
20 cm de espaço entre uma pessoa e outra.
dos Mortos é de aproximadamente 18 m,
- 190 adultos com 30 cm de espaço entre uma

R
sendo que 600 m separam a escadaria de
pessoa e outra ou 133 adultos e 56 crianças com
acesso da Porta 2 ou as grades e a Pirâmide
20 cm de espaço entre uma pessoa e outra.
da Lua. Vale ressaltar que as áreas de
Tomando esse cálculo como base, foi delimitação de cada edifício arqueológico
estabelecida uma capacidade de 270 pessoas. são marcadas com grama, preservando uma
No topo da plataforma, vista da planta, área de 1 a 4 m em relação à onde se faz
há uma superfície nivelada de 20 x 6 m. o percurso.
283
Inicialmente, sugeriu-se que o local receberia Estabelecendo que uma pessoa ocupa
cadeirantes, considerando que o padrão de 0,75 m, foram feitos cálculos para o tempo
medida de uma cadeira de rodas é de de deslocamento do público, de acordo com
60 cm e a área necessária para manobra, os horários definidos pela estação estabelecida
1,12 m. Assim, no cálculo de ocupação pelo evento, chegando-se ao resultado de
máxima, haveria espaço (inclusive para 18 segundos para um deslocamento de 10 m.
manobra) para 66 pessoas em 3 fileiras (22 Diferentes estimativas da duração de percurso
pessoas por fileira). Se for considerada, nessa também foram realizadas, considerando o
mesma superfície, uma área aproximada de 15 deslocamento e o tempo de áudio de
x 6 m, caberiam 48 cadeirantes em 3 fileiras cada estação.
(16 por fileira). Durante a execução, embora Foram sugeridas maneiras de
tenham sido recebidos visitantes em cadeira de acomodação, considerando um único grupo
rodas, não foi necessário ocupar todo o espaço. de 270 pessoas representando a carga,
No contexto da execução do projeto de distribuídas em diferentes formatos de
visita noturna a esse sítio arqueológico, com agrupação. Distribuindo-se a carga em 10
grupos de 27 pessoas, sugeriu-se esperar 1h30 com apenas um banheiro e estacionamento
de sítios arqueológicos no México
A capacidade de carga na visitação turística

entre a saída de cada grupo, acompanhado limitado.


a c i o n a l

por um guia e um segurança. As condições qualitativas do sítio não


estão aptas para receber visitação massiva,
C a pa c i d a d e de carga uma vez que os espaços abertos são poucos.
N
r t í s t i c o

pa r a e v e n t o s m a s s i v o s Nesse sentido, foi estabelecida uma


proposta de regulação de carga: a máxima
A

Em 2018, antes de um grande concerto é determinada pelo valor mínimo aceito


e

musical em Chichén Itzá , foram realizadas


9 no fator de dispersão, pois, quanto menor
i s t ó r i c o

várias avaliações e propostas para a regulação a distância entre as pessoas, maior o risco
G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z

de carga. Em primeiro lugar, considerando de danos. Deve-se considerar, também, a


H

o conjunto arquitetônico conhecido como largura e o comprimento das trilhas de forma


a t r i m ô n i o

Grande Nivelação, determinou-se a área linear, a fim de determinar não só quantas


para o palco e as cadeiras. Também foram pessoas podem transitar ao mesmo tempo,
P

estabelecidas, de acordo com o fluxo mas também se o fluxo é unidirecional ou


d o

confortável e seguro para a acomodação dos bidirecional.


e v i s t a

visitantes, as distâncias a serem mantidas De modo geral, a fórmula para calcular a


R

entre os blocos de 200 cadeiras, 1 m de cada capacidade de carga em condições de trânsito


lado, considerando o espaço para pessoas com é a seguinte:
deficiência. Além disso, levando em conta a c= A
conservação dos monumentos que poderiam (a + Fd)
estar no subsolo, calculou-se o peso do palco
e o limite de decibéis para evitar danos por Em que:
vibração. C = Carga
284
A = Área da superfície a ocupar
Caso de Rincón a = Área padrão do indivíduo
Colorado Fd = Fator de dispersão

No final de 2018, foi aberto ao público São oferecidos dois roteiros: o das janelas
o Sítio Paleontológico de Rincón Colorado, paleontológicas e o do tempo geológico. A
localizado no estado de Coahuila. Lá estão largura das trilhas varia de 1 a 3 m, portanto,
preservadas jazidas paleontológicas de grande em alguns trechos, o tráfego bidirecional
interesse para o estudo da origem e evolução é difícil. Ponderando as adversidades que
da vida na Terra. O roteiro do monumento podem ocorrer em uma eventual ação de
abrange aproximadamente 1,1 km de trilhas, evacuação, para a carga máxima, recomenda-
com sete janelas paleontológicas, um mirante se o trânsito unidirecional de uma pessoa,
e uma área de lazer, além da área de serviços, isto é, por meio de um trajeto de circulação
em fila. Além disso, sugere-se um fator de
9. Antiga cidade maia localizada no estado de Yucatán. dispersão de 1,5 m.
Nesse sentido, considerando que a trilha Xochicalco, Edzná, Teopanzolco, e Cholula,

de sítios arqueológicos no México


A capacidade de carga na visitação turística
tem 1.100 m, o padrão de medida para uma contando com outras propostas de execução

a c i o n a l
pessoa é 0,75 m e o de dispersão é 1,5 m, em Cantona, Palenque, El Cerrito, El Chanal e
temos: Monte Albán10.
c= A Uma vez que esses espetáculos ocorrem

N
r t í s t i c o
(a + Fd) principalmente em locais declarados
Patrimônio Mundial pela Unesco e, por isso,

A
1.100 recebem maior fluxo turístico, ao longo dos

e
(0,75 + 1,5) anos, foram feitas tentativas de regularizar

i s t ó r i c o
esses eventos com o objetivo tanto de oferecer

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
1.100 uma melhor fruição quanto, sobretudo,

H
(2,25) de promover o cuidado, a preservação,

a t r i m ô n i o
a valorização e o conhecimento dos
488 monumentos arqueológicos.

P
A Carta de Taxco (Inah, 2009, p. 2)

d o
Assim, a capacidade máxima de carga é de determina que:

e v i s t a
488 pessoas ao mesmo tempo para garantir
Os sistemas de iluminação são uma parte
a preservação dos monumentos, além de

R
essencial da história da arquitetura, tanto os meios
proporcionar uma estadia confortável e segura arquitetônicos que usam a luz solar quanto aqueles
para os visitantes. baseados na combustão de várias substâncias e,
desde as últimas décadas do século XIX, no consu-
Regulamento pa r a mo de energia elétrica. Em todos os sistemas tem
espetáculos de luz e som havido contribuições artísticas muito significativas,
na forma de vitrais, claraboias, luminárias, tochas,
castiçais e um grande número de elementos obso- 285
Os exercícios apresentados evidenciaram
letos na atualidade.
a necessidade não só de proteger os sítios
arqueológicos conforme seus usos turísticos, A implantação de luz artificial nos
mas também de criar diretrizes para regular monumentos e centros históricos, como ato
os espetáculos de luz e som oferecidos nos meramente contemplativo e ambiental, é um
locais. Esse tipo de evento, realizado em fenômeno relativamente novo. No entanto,
monumentos históricos de todo o mundo, comumente o recurso é feito de forma
surgiu na primeira metade do século XX.
Tendo início no Partenon, em Atenas (Grécia), 10. Uxmal, Xcaret, Tulum, Edzná e Palenque são sítios
arqueológicos maias, sendo que os dois primeiros localizam-se
no Coliseu, em Roma (Itália), e nas Pirâmides no estado de Yucatán; o terceiro, em Quintana Roo; o quarto,
de Gizé (Egito), o modelo logo se expandiu em Campeche; e o último, em Chiapas. El Tajín é cidade pré-
colombiana no estado de Veracruz. Já Xochicalco fica no estado
para outros lugares do planeta, especialmente de Morelos. Por sua vez, Teopanzolco, de origem asteca, situa-se
em Morelos. Cholula é considerada a maior pirâmide do mundo
na América Latina, como Machu Picchu em termos de volume e fica no estado de Puebla, onde também se
localiza o sítio de Cantona. El Cerrito, no estado de Querétaro, é
(Peru). No México, acontece em Teotihuacan, um sítio de origem tolteca. De origem indeterminada, El Chanal
fica no estado de Colima. Por último, no Monte Albán está a
Uxmal, Chichén Itzá, Xcaret, Tulum, El Tajín, antiga capital dos zapotecas, no estado de Oaxaca.
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

excessiva e desmedida. A fim de valorizar os (como arquitetos, historiadores, urbanistas, res-


edifícios e espaços públicos e atrair fluxos tauradores, engenheiros e até mesmo clérigos –
286 turísticos, as autoridades governamentais e no caso de igrejas) e usuários dos espaços, com
a sociedade acabaram por criar mecanismos o objetivo de evitar e impedir a deterioração
inadequados. Como consequência, dos monumentos e centros históricos com ins-
desenvolveu-se um mercado próspero no talações e projetos de iluminação inadequados,
campo da construção, formado por empresas bem como promover intervenções que respei-
que carecem de ética, conhecimento e tem a historicidade e estética dos bens.
preparação, guiadas apenas pelo lucro, que É preciso, também, avaliar o impacto ambien-
intervêm e realizam projetos de iluminação tal associado à poluição visual causada pela
nos monumentos e centros históricos, sem excessiva iluminação noturna em cidades e
uma regulação institucional. povoados, devendo ajustar-se de acordo com
Nesse sentido, em vista dessa crescente de- as recomendações do Relatório Técnico
Equinócio de
primavera, Sítio manda, é fundamental ter uma base legal que nº 126 de 1997 da Comissão Internacional
Arqueológico de
Teotihuacan, estado do justifique e regule o manuseio adequado da de Iluminação (CIE, sigla em francês para
México (México), 2010.
Acervo: Instituto Nacional de luz e do som por meio de escalas estabelecidas. Commission Internationale de L’éclairage),
Antropologia e
História do México. Assim, é possível induzir e treinar profissionais que estabeleceu os seguintes parâmetros:
- Manter, o máximo possível, as condições naturais suas condições de segurança e higiene devem

de sítios arqueológicos no México


A capacidade de carga na visitação turística
das horas noturnas, em benefício dos ecossistemas ser garantidas para sua saúde.
em geral.

a c i o n a l
Após vários estudos, determinou-se que a
- Prevenir e corrigir os efeitos do brilho da luz quantidade máxima de decibéis em um sítio
noturna na visão do céu.

N
arqueológico poderia chegar a 80, sempre

r t í s t i c o
- Promover a eficiência energética da iluminação dependendo do tipo de projeto proposto, da
exterior, economizando energia, sem prejuízo da
estabilidade e do estado de conservação dos
segurança dos usuários.

A
bens móveis e imóveis. Consideramos, assim,

e
- Minimizar a entrada de luz no ambiente domésti-

i s t ó r i c o
que, no desenvolvimento de projetos de
co e, portanto, reduzir seus incômodos e prejuízos.
iluminação em monumentos como parte de

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
- Adaptar os requisitos e características técnicas
uma proposta integral ou específica, deve-se

H
das instalações de iluminação exterior às recomen-

a t r i m ô n i o
contar com conteúdo de pesquisa, proposta
dações e regulamentos em vigor (CIE, 1997 apud
Inah, 2009, p. 3).
conceitual e operação de desenvolvimento,
levando a uma opinião técnica de viabilidade,

P
Dessa forma, projetos de iluminação em sempre prevalecendo o impacto mínimo para

d o
monumentos devem basear-se em pesquisas

e v i s t a
a área de monumentos.
que contemplem medições, em horários Deve-se elaborar e manter um relatório

R
diferentes e englobando áreas distintas, e contendo as informações coletadas no
proponham um conceito e uma forma de reconhecimento, com os documentos que o
execução segundo uma opinião técnica de complementam e os dados obtidos durante
viabilidade, sempre prevalecendo o impacto a avaliação com, pelo menos, as seguintes
mínimo para o espaço a ser preservado. No
informações:
México, devem ser adotadas as instruções
estabelecidas pela Norma Padrão NOM- - relatório descritivo das condições normais
287
025-STPS-2008, sobre condições de de operação, nas quais foi realizada a
iluminação nos locais de trabalho avaliação dos níveis de iluminação, incluindo
(México, 2008). as descrições do processo, as instalações,
Uma vez que as vibrações sonoras podem os postos de trabalho e o número de
afetar os monumentos ou levar a uma maior trabalhadores expostos por área e cargo;
deterioração, a emissão de som em eventos - distribuição da área avaliada, com a
também é um elemento a ser considerado indicação da localização dos pontos de
no estado de preservação dos sítios, nos medição;
materiais constitutivos e decorativos
- resultados da avaliação dos níveis de
e no uso ou adesão de outras técnicas
iluminação, indicando sua incerteza;
arquitetônicas ou complementares. Por essa
razão, embora os sítios arqueológicos sejam - comparação e interpretação dos resultados
espaços de diversão e lazer, também são obtidos, em relação ao estabelecido no
considerados centros de trabalho enquanto projeto inicial;
houver pessoal de serviço nesses recintos – e - horário em que as medições foram feitas;
de sítios arqueológicos no México
A capacidade de carga na visitação turística
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

- programa de manutenção; Comentários finais


288
- cópia do documento que atesta a calibração
do medidor de luz emitido por um Os benefícios gerados pelos estudos
laboratório credenciado e aprovado de acordo de capacidade de carga desenvolvidos
com as disposições da Lei Federal mexicana no México permitiram regular alguns
sobre Metrologia e Normalização, e que usos, especialmente associados a eventos
está em conformidade com as disposições musicais, culturais ou recreativos de
estipuladas na Norma Padrão NOM-025- diferentes proporções, que geralmente
STPS-2008; são incompatíveis com a natureza da
conservação dos monumentos. Atualmente,
- conclusão técnica do estudo;
o Inah tem a capacidade para gerenciar a
- medidas de controle a serem desenvolvidas e carga nos sítios arqueológicos do país, o que
programa de implementação; e implica a redução de riscos do impacto de
- nome e assinatura da pessoa responsável tais eventos sobre a conservação e a operação
pelo estudo. dos bens.
de sítios arqueológicos no México
A capacidade de carga na visitação turística
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o

G u a d a l u p e E s p i n o s a , D aya n a ra C a r ra s c o e N at a l i a V á z q u e z
H
a t r i m ô n i o
P
d o
Além da capacidade de carga, o planeja- Referências

e v i s t a
mento de fluxos de acesso, roteiros e acomoda-
ções, que normalmente acompanha a estratégia BALLART HERNÁNDEZ, Josep; JUAN I

R
TRESSERAS, Jordi. Gestión del patrimonio cultural.
de gestão, tem sido bem-sucedido em termos Barcelona: Editorial Ariel Patrimonio, 2001.
de proteção civil, prevenção de riscos e outros
BUNGE, V. La capacidad de carga en la planeación
fatores que contribuem para uma visitação territorial: una propuesta para su análisis. Cidade do
pública adequada. Projetos que contemplam México: Instituto Nacional de Ecología, 2010.

esses elementos já foram oficialmente imple- CIFUENTES, Miguel. Determinación de capacidad


de carga turística en áreas protegidas. Turrialba: Centro
mentados, especialmente em casos de grande
Agronómico Tropical de Investigación y Enseñanza,
289
movimento turístico ou eventos extraordiná- 1992.
rios, como visitas noturnas, de acordo com re- HALL, Edward. La dimensión oculta. Cidade do México:
latórios técnicos de execução para uma direção Siglo XXI, 2003.
coordenação de visitantes tendo a capacidade INAH – Instituto Nacional de Antropologia e História.
de carga como fator regulador. Carta de Taxco. 2009. Disponível em: http://www.
academiadelpartal.org/files/carta_taxco_061111.pdf.
É importante, finalmente, mencionar Acesso em: 9 ago. 2019.
a riqueza do patrimônio arqueológico Montagem do evento
MALTHUS, Thomas. An essay on the principle of Celebrando a Armando
mexicano, que abrange desde monumentos, population. s.l.: Eletronic Scholarly Publishing, 1998 Manzanero en Vivo
desde Chichén Itzá,
locais com representações gráfico-rupestres [1798]. Disponível em: http://www.esp.org/books/ Sítio Arqueológico de
malthus/population/malthus.pdf. Acesso em: 7 ago. Chichén Itzá,
até o recém-inaugurado sítio paleontológico 2019. Yucatán (México), 2018.
Acervo: Instituto Nacional
de Rincón Colorado. Cada um merece de Antropologia e História
MÉXICO. Secretaria del Trabajo y Prevision Social. do México.
atenção especial para que estratégias de Norma Oficial Mexicana NOM-025-STPS-2008:
manejo adequadas sejam aplicadas, a fim de condiciones de iluminación en los centros de trabajo.
Diario Oficial, 30 dez. 2008. Disponível em: http://www. Chichén Itzá, Yucatán
garantir sua preservação e o aproveitamento stps.gob.mx/bp/secciones/dgsst/normatividad/normas/
(México), 2013.
Foto: Vitor Hugo Mori.
da visita turística. Nom-025.pdf. Acesso em: 9 ago. 2019. Acervo: Iphan.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

290
C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
César Augusto Angel Valencia

a c i o n a l
P aisagem C ultural C afeeira :

N
turismo e revalorização da cultura e natureza

r t í s t i c o
T h e C o f f e e C u lt u r a l L a n d s c a p e : t o u r i s m a n d r e c o g n i t i o n o f c u lt u r e a n d n at u r e

P a i s a j e C u lt u r a l C a f e t e r o : t u r i s m o y r e va l o r i z a c i ó n d e l a

A
c u lt u r a y l a n at u r a l e z a

H e
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
Resumo Summary

Na Colômbia, a produção cafeeira Coffee plays a key role for the Colombian

P d o
desempenha um papel fundamental para a economy by leveraging agribusiness

e v i s t a
economia, alavancando o desenvolvimento development. Over the last few years, coffee
agroindustrial. Nos últimos anos, como farmers have begun to offer tourism services

R
forma de diversificar as fontes de renda, os in Colombia to diversify their income sources.
cafeicultores começaram a fornecer serviços This essay presents and acknowledges the work
turísticos no território. Este artigo apresenta of designing and implementing a tourism
Montenegro,
e reconhece o trabalho de concepção e portfolio based on a variety of products, travel Quindío (Colômbia).
Acervo: Banco de
implementação de uma oferta turística experiences, routes and a wide range of circuits. Imágenes PCC – Ministerio
de Comercio, Industria y
baseada em variados produtos, vivências de The principles and criteria of sustainability Turismo.

viagem, roteiros e uma grande diversidade define the values and attributes of a region 291
Café.
de itinerários. São apresentados, assim, sob that was recognized as a World Heritage Site Desenho botânico.
Acervo: wikimedia,
princípios e critérios de sustentabilidade, os by the United Nations Educational, Scientific creative commons.
Brockhaus and Efron
valores e atributos de uma região que, em and Cultural Organization (UNESCO) in Encyclopedic Dictionary.

2011, foi reconhecida como Patrimônio 2011, and become one of Colombia’s main
Mundial pela Organização das Nações Unidas destinations through the Coffee
para a Educação, a Ciência e a Cultura Cultural Landscape
(Unesco), projetando-se como um dos Trail brand.
principais destinos da Colômbia por meio da
marca Rotas da Paisagem Cultural Cafeeira.
Resumen
Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
a c i o n a l

En Colombia, la producción de café


desempeña un papel clave en la economía, al
N

impulsar el desarrollo agroindustrial. En los


r t í s t i c o

últimos años, como un medio de diversificar las


fuentes de ingresos, los cafeicultores empezaron
A

a proporcionar servicios turísticos en el


e

territorio. Este artículo presenta y reconoce


i s t ó r i c o

el trabajo de concepción e implementación


de una oferta turística basada en variados
H
a t r i m ô n i o

productos, experiencias de viaje, rutas y una


gran diversidad de itinerarios. Se presentan,
por lo tanto, bajo principios y criterios de
P

sostenibilidad, los valores y atributos de una


d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a

región que, en 2011, fue reconocida como


e v i s t a

Patrimonio Mundial por la Organización


R

de las Naciones Unidas para la Educación,


la Ciencia y la Cultura (UNESCO),
poyectándose como uno de los principales
destinos de Colombia por medio de la marca
Rutas del Paisaje Cultural Cafetero.

292
O de maturidade. Os departamentos1 cafeeiros

Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
legado das famílias
cafeeiras adquiriram maior estabilidade econômica

a c i o n a l
em comparação com outras partes do país, o
O século XIX foi testemunha de que se evidenciou na melhoria dos serviços
públicos e da infraestrutura. Numerosas

N
grandes migrações na Colômbia. A

r t í s t i c o
chamada colonização de Antióquia levou fazendas familiares se localizavam nas terras
ao povoamento da região que hoje faz montanhosas ocupadas nos tempos da

A
parte da paisagem cultural do café. Uma colonização de Antióquia, onde a oferta

e
ambiental e o clima ofereciam boas condições

i s t ó r i c o
geração de homens e mulheres desbravou a
para o cultivo de café. Pequenos e médios
difícil geografia do centro-oeste dos Andes
agricultores se integraram ao mercado cafeeiro,
colombianos, em busca de terras não cultivadas

H
liderado por empresários que gerenciavam

a t r i m ô n i o
que se encontravam ao sul de Antióquia, uma
os recursos financeiros e empresariais e se
terra que ficou isolada durante a conquista e
relacionavam com os importadores no exterior.
o período colonial e que se acredita que esteve

P
Não demorou para que a produção fosse

d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a
povoada por indígenas por cerca de 10 mil
aprimorada por avanços tecnológicos, com o

e v i s t a
anos. Os últimos deles foram os integrantes
surgimento de máquinas simples fabricadas
da tribo Quimbaya, que povoou o território

R
pela indústria nacional, como as que tiravam
até o seu extermínio, como consequência da
sementes mecanicamente.
ocupação espanhola.
O chamado Eixo Cafeeiro se tornou
Cheios de sonhos e ilusões, fugindo
o maior produtor nacional de café. As
da guerra e da violência advinda dos
lavouras se expandiram, não só nas
primeiros anos da independência, quando
pequenas unidades produtivas familiares
liberais e conservadores lutavam para
mas também nas fazendas de pequeno e
impor sua hegemonia política, homens e 293
médio porte, o que ocasionou um impacto
mulheres viajaram pelas duras montanhas,
considerável na economia colombiana.
cruzando florestas, cânions profundos
Com os recursos provenientes da exportação
e rios caudalosos, fundando um grande
de café, Antióquia passou a investir em
número de povoados, nos quais constituíram outros produtos agrícolas, na pecuária,
uma sociedade democrática formada por no comércio e na indústria. Embora o
numerosos proprietários rurais. Nas pequenas mundo se debatesse entre guerras mundiais
propriedades, logo surgiu uma economia e problemas econômicos, essa região
cafeeira. Na segunda metade do século XIX, consolidava as condições que a levariam a
as plantações de café começaram a crescer liderar a economia do país. Trekking paisagístico,
em diferentes partes da Colômbia, com o Em cidades que mais tarde seriam capitais
Nevado Santa Isabel,
Risaralda (Colômbia),
2019.
estímulo dos fluxos de divisas que vinham da de departamento, já eram evidentes os avanços Acervo: Banco de Imágenes

Europa e dos Estados Unidos. significativos no início do século XX.


PCC – Ministerio de Comercio,
Industria y Turismo.

No início do século XX, a produção de


café na Colômbia havia atingido um estágio 1. Unidade administrativa semelhante ao estado no Brasil.
Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a
e v i s t a
R

294
Igrejas majestosas davam identidade às A Federação Nacional dos Cafeicultores se
praças, os primeiros carros andavam pelas diferencia de associações semelhantes àquelas
empoeiradas estradas recém-construídas e que existem nos demais países produtores,
a organização democrática foi consolidada pois cria um marco em torno da distinção de
com a criação da Federação Nacional de seu café, desenvolvendo uma plataforma de
Cafeicultores em 1927. comunicação da marca que destaca o próprio
Pouco mais de uma década depois, em cafeicultor como ator mais relevante da eco-
1938, os cafeicultores criaram o Centro nomia cafeeira. Foi assim que, em 1959, nas-
Nacional de Pesquisa Cafeeira (Cenicafé, ceu o personagem Juan Valdez, que represen-
2019, p. 1), “com o objetivo de estudar os tava os valores dos cafeicultores colombianos,
aspectos relacionados a produção agrícola, o compromisso com a família, a qualidade
colheita, beneficiamento, qualidade dos grãos, do grão, a capacidade e a determinação para
manejo e uso de subprodutos da exploração superar os obstáculos, diferenciando o café
Santa Cruz de Mompox do café e conservação dos recursos naturais da colombiano e orgulhosamente o associando à
(Colômbia), 2019.
Foto: David Fuentes Diego. região cafeeira colombiana”. marca “Café da Colômbia”.
Como disse o prefeito da cidade de Pereira, renda se reduzir, suas colheitas se restringirem

Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
na reativação da Associação de Prefeitos da Pai- pela ação das pragas e o país mergulhar em

a c i o n a l
sagem Cultural Cafeeira, em julho de 2016, a uma crise política e social.
região era como Mônaco da Colômbia, já que A década de 1990, sem dúvida, foi um
a prosperidade era evidente, tanto nas fazendas período muito difícil para o Eixo Cafeeiro. A

N
r t í s t i c o
de café quanto no desenvolvimento urba- guerrilha, o narcotráfico e o paramilitarismo,
nístico dos novos departamentos de Caldas, somados à crise econômica, não favoreciam

A
Quindío e Risaralda. Uma comunidade com em nada as condições para pensar no turismo

e
essas condições nunca considerou o turismo como uma opção para a região.

i s t ó r i c o
como uma atividade econômica de interesse. Diante da crise e para cobrir alguns custos
No governo de Belisario Betancur, no início da de manutenção, as casas das grandes fazendas

H
década de 1980, o turismo rural chegou a ser de café começaram a ser alugadas para amigos

a t r i m ô n i o
sugerido como alternativa de geração de renda, ou visitantes ocasionais, e foi assim que os
mas, como a economia andava bem, não se via proprietários identificaram uma possível nova

P
necessidade de promovê-lo. fonte de renda. Mas como tornar o turismo

d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a
uma alternativa econômica e viável onde,

e v i s t a
Aprendizado p e l a s cr i s e s basicamente, se produziu apenas café por

R
mais de um século?
Fatores como a deterioração do solo, Em fevereiro de 1995, foi inaugurada a
as pragas associadas à produção cafeeira primeira etapa de “uma grande obra, em meio
e a instabilidade política e social do país, a uma grande crise do café” (García, 2012, p.
resultado de décadas de guerra entre 1), com a fundação do Museu Nacional do
diferentes grupos guerrilheiros e o Estado Café, que continha um arquivo histórico da
colombiano, além do surgimento do primeira indústria nacional. Hoje conhecido
295
narcotráfico e da violência terrorista, no final como Parque do Café, com mais de 25 anos
da década de 1980, provocaram a pior crise de história, é um ícone do turismo regional e
que a economia cafeeira experimentou desde nacional, visitado por milhões de pessoas.
o seu surgimento, no século XIX. Embora a criação do Parque do Café
Em 1989, os membros da Organização tenha gerado esperança e otimismo na região,
Internacional do Café (OIC) decidiram as condições do país não melhoraram, e os
pôr um fim ao sistema de mercado que os anos 1990 terminariam com a pior recessão
favoreceu por quase três décadas, no qual da história da Colômbia, a tal ponto que,
produtores e consumidores estabeleciam cotas em 1999, o produto interno bruto (PIB) se
de produção, o que lhes permitia controlar reduziu a 4,5% negativos (Moncayo Cruz e
a oferta para garantir níveis razoáveis de Morotti, 2015).
preço em relação aos cafeicultores em todo o Naquele mesmo ano, no dia 25 de
mundo. No entanto, naquele momento, as janeiro, um forte terremoto de magnitude
cidades prósperas, os grandes e os pequenos 6,4 na escala Richter afetou a região
produtores e as fazendas de café viram sua cafeeira. Os maiores prejuízos se deram na
produção e na infraestrutura. Quase duas As notícias de sequestros massivos nas estradas
Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a

mil pessoas morreram e pelo menos oito mil incutiram na população o medo de viajar. Um
a c i o n a l

fazendas de café foram seriamente afetadas, estudo da Organização Mundial do Turismo


interrompendo temporariamente a principal (OMT, 2009) destaca as diferentes ações em-
atividade econômica da região. preendidas, tanto nacional quanto internacio-
N
r t í s t i c o

nalmente, para reativar essa indústria.


A definição de Uma delas, de grande importância,
A

um destino começou no final do governo do presidente


e

Andrés Pastrana (1998-2002) e continuou


i s t ó r i c o

Com o apoio dos colombianos e o no marco da política de segurança cidadã do


pagamento, por parte da população, do governo do presidente Álvaro Uribe Vélez
H

imposto denominado três por mil em (2002-2010). A campanha “Viva a Colômbia,


a t r i m ô n i o

transações bancárias, a reconstrução foi viaje por ela” foi proposta como uma medida
viabilizada. A política tradicional foi que objetivava recuperar a confiança dos
P

mantida, e a participação da sociedade civil colombianos, permitindo a livre circulação


d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a

na execução dos projetos foi promovida para da população e um aumento substancial


e v i s t a

que se alcançassem resultados positivos no do turismo interno, para que a população


R

curto prazo. Mais uma vez, os descendentes percorresse o país em direção a destinos de
dos primeiros colonos de Antióquia interesse cultural ou recreativo.
demonstraram que era possível e encararam a As caravanas promovidas facilitaram o
nova realidade com total integridade. deslocamento de milhões de pessoas por ano,
Em geral, as estradas nos municípios e um dos destinos visitados foi justamente o
afetados, bem como a conectividade entre Eixo Cafeeiro. Assim, o setor de turismo foi
eles, melhoraram significativamente. Além fortalecido, e novas infraestruturas hoteleiras
296
disso, setores como o turismo e a construção e parques temáticos, bem como atividades de
civil foram priorizados como impulsionadores cultura, aventura e natureza nos departamentos
da economia local. da região cafeeira, foram desenvolvidas.
Em um artigo, Boix (2003) define Embora o país estivesse, há várias
Quindío como “o patinho feio do turismo, décadas, marcado pela violência, a política
que virou cisne”, apresentando o turismo de segurança democrática e o programa de
rural nesse departamento como um caso de roteiros seguros continuaram a estimular o
sucesso. O êxito se deve à implementação deslocamento de colombianos pelo interior
de um clube que ainda é conhecido como do país. Agora a questão era como conquistar
Haciendas del Café, com base em um sistema mercados internacionais de turismo.
de gestão e garantia de qualidade, projetado No ano de 2004, o projeto Identidade
para acomodações e restaurantes das áreas Colômbia deflagrou a necessidade de criar
rurais desse departamento. uma marca reconhecível para acompanhar a
No resto do país, a crise de segurança havia já grande aceitação de produtos, como o café
confinado os colombianos dentro das cidades. e o artesanato colombianos, no exterior. Uma
N
A
H
P
Ra c i o n a l
r t í s t i c o
e
i s t ó r i c o
a t r i m ô n i o
d o
e v i s t a
aliança entre o Instituto para a Exportação e Experiências únicas
Moda (Inexmoda) e a ProExport Colombia na Colômbia
decidiu criar uma marca nacional que deveria
297
aludir ao sentimentalismo dos colombianos, à Um estudo sobre experiências únicas
sua qualidade humana. A ideia deu origem ao na Colômbia, promovido pela consultoria
slogan “Colômbia é paixão” e à logomarca de THR – Innovative Tourism Advisors (THR,
um coração vermelho. 2014), uma das mais reconhecidas empresas
Procurou-se, com isso, mudar o de consultoria em turismo do mundo,
estigma da Colômbia de um país perigoso e analisou a oferta turística colombiana a partir
complicado, restaurando, assim, a confiança das experiências de seus visitantes. Entre as
dos estrangeiros no país. As campanhas 25 experiências memoráveis elencadas pela
“Colômbia é paixão” e “Colômbia, o risco empresa, quatro pertenciam ao Eixo Cafeeiro:
é querer ficar”, além da atual “A resposta é o sabor e a cultura do melhor café do mundo;
Colômbia”, com sua estratégia de promoção o passeio pela exuberante paisagem cafeeira
internacional para o setor de turismo, e suas cidades encantadoras; o vale com as
bem como “Colômbia, realismo mágico”, palmeiras mais altas do mundo; e tudo o que Colheita do café
(Colômbia), 2017.
contribuíram para a melhoria da imagem do é possível fazer nos Andes a quatro mil metros Acervo: Banco de Imágenes
PCC – Ministerio de Comercio,
país no exterior. de altitude. Industria y Turismo.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

298
C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
Com base nesse estudo, nasceu a Esses valores e atributos são a razão pela

Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
campanha “Colômbia: realismo mágico”. qual se pretende “preservar e desenvolver

a c i o n a l
Começa, então, “uma nova etapa para a os valores produtivos, sociais, culturais e
promoção do turismo no exterior, criada para ambientais dessa região” (Angel Valencia,
despertar o interesse de turistas estrangeiros

N
2013c, s.p.).

r t í s t i c o
que buscam experiências ‘diferentes’, A Paisagem Cultural Cafeeira da
‘mágicas’, ‘únicas’ e ‘surpreendentes’ e para Colômbia mostra, assim, como os colonos

A
lhes oferecer uma resposta: a Colômbia” de Antióquia, seus descendentes e a geração

e
(Baron, 2013, s.p.).

i s t ó r i c o
atual são um exemplo vivo de adaptação,
uso da terra e criação permanente de
P a i s a g e m C u lt u r a l expressões culturais. Hoje essa é não só a

H
Cafeeira

a t r i m ô n i o
herança dos antepassados para os habitantes
dos 51 municípios situados no Eixo
Após 15 anos de trabalho, em que foram Cafeeiro, mas também um incentivo para

P
elaborados não só um dossiê completo conhecer a paisagem e viver experiências

d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a
descrevendo os atributos que tornam a região únicas e memoráveis em um destino que é

e v i s t a
cafeeira única, mas também um plano de Patrimônio Mundial.

R
gestão detalhado, em 25 de junho de 2011,
a Paisagem Cultural Cafeeira (PCC) foi R o ta s d a P a i s a g e m
incluída na lista do Patrimônio Mundial C u lt u r a l C a f e e i r a 2
da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Após ser declarada Patrimônio
Os critérios considerados pela agência
Mundial pela Unesco, a região avançou
das Nações Unidas englobam quatro valores
em diferentes projetos, que a unificaram 299
excepcionais: o esforço humano passado de
e fortaleceram como destino. Em 2009,
geração em geração para produzir um café
a Câmara de Comércio de Armênia, em
de excelente qualidade, uma cultura cafeeira
Quindío, apresentou o projeto Roteiro do
de influência mundial, um capital social
Café, que contou com o apoio do Banco
estratégico, bem como a conservação e o
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e
equilíbrio entre tradição e tecnologia para
da National Geographic. Em sua fase inicial,
garantir a qualidade e a sustentabilidade. Para
contemplava a criação de um roteiro que
a seleção dos municípios a serem incluídos na
levaria aqueles que visitam o departamento
PCC, foi levada em conta a existência de 15
do Quindío a diferentes atrações turísticas
atributos, entre os quais se destacam café de Cartagena
relacionadas à produção de café e à cultura (Colômbia), 2018.
montanha, instituições do café e redes afins, Foto: David Fuentes Diego.
da região.
predominância do café na economia local,
cultivo de encosta, idade da cafeicultura,
patrimônio natural e disponibilidade de água
2. Mais informações sobre a marca podem ser encontradas na
(PCC, 2017). página oficial: https://rutasdelpaisajeculturalcafetero.com/
Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o

Quando terminou, em 2015, de acordo Cultural Cafeeira, implementou um


com seu relatório final (Fomin, 2015), manual de boas práticas turísticas entre
P
d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a

através de uma articulação público-privada, os prestadores de serviços turísticos e


e v i s t a

o projeto havia se concretizado no Comitê desenvolveu uma plataforma tecnológica


Técnico de Turismo da Paisagem Cultural para apoiar a estratégia de comunicação
R

Cafeeira, integrando os governos de quatro e promoção do destino. Essa plataforma


departamentos, as câmaras de comércio, não se limitou apenas a Quindío, uma vez
o órgão ProColombia, o Ministério do que foi projetada para abranger os quatro
Comércio, Indústria e Turismo, a Federação departamentos da Paisagem Cultural Cafeeira
Nacional dos Cafeicultores e as associações e os 51 municípios localizados em sua área de
de turismo, a fim de gerenciar recursos para influência. Atualmente, mais de 300 empresas
300 o desenvolvimento turístico na região. O de quatro departamentos têm o direito de
fluxo de passageiros no destino aumentou usar a marca, e muitas delas receberam o
41% de 2010 a 2014. O emprego formal no certificado de sustentabilidade turística3.
setor de turismo cresceu 30%. Além disso, os
empresários afirmaram ter reduzido os custos,
3. Na Colômbia, há mais de 15 anos, uma cultura de turismo
aumentado as vendas e melhorado sustentável vem sendo construída. Em 2012, após a sanção da Lei
nº 1.558, que reformou a legislação turística no país, foi proposto
a lucratividade. que toda empresa que prestar serviços turísticos na Colômbia
O projeto elaborou um inventário fosse certificada conforme um padrão técnico setorial de turismo
sustentável. Nesse sentido, estabelecimentos de alojamento
atualizado de produtos, recursos, atividades e e hospedagem, agências de viagens, empresas de alimentos e
bebidas, entre outros, localizados na Paisagem Cultural Cafeeira,
serviços de Quindío (Angel Valencia, 2013a), com apoio financeiro do Ministério do Comércio, Indústria e
Turismo, implementaram essas normas. Com a criação da marca
realizou estudos de demanda internacional, regional Rotas da Paisagem Cultural Cafeeira, um manual de
boas práticas foi implementado, e o processo resultou em um
treinou mais de sete mil pessoas, implantou número significativo de empresas certificadas como sustentáveis,
sistemas de gestão da qualidade em 117 título alcançado também por vários municípios nos últimos dois
anos. Atualmente estão certificados como destinos sustentáveis na
pequenas e médias empresas, conceituou Paisagem Cultural Cafeeira os municípios de Marsella e Santa Rosa
de Cabal, no departamento de Risaralda; Salento, Pijao e Filandia,
e desenhou a marca Rotas da Paisagem em Quindío; e o centro histórico de Manizales, em Caldas.
Outros projetos foram apoiados por Já o roteiro “Viagem à origem do melhor

Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
entidades como a iNNpulsa Colombia café do mundo” (THR, 2014) convida o

a c i o n a l
e o Ministério do Comércio, Indústria e turista a embarcar em uma jornada para
Turismo, com recursos do Fundo Nacional descobrir as origens da Paisagem Cultural
de Turismo (Fontur). Nesse âmbito, as rotas Cafeeira, como a água vulcânica que nasce

Nr t í s t i c o
temáticas do Quindío foram concebidas, no Parque Nacional Natural Los Nevados.
e a experiência em hotéis, parques e Nas fazendas de Manizales e Chinchiná, no

A
hospedagens rurais foi aprimorada. Depois, departamento de Caldas, o turista aprende

e
participaram da concepção e da estruturação sobre o cultivo tradicional e o processamento

i s t ó r i c o
de produtos turísticos para a Paisagem do café. E, em cidades como Salamina ou
Cultural Cafeeira a consultoria THR e o Aguadas, também em Caldas, é possível

H
Sistema Universitário do Eixo Cafeeiro admirar as cores do estilo arquitetônico que

a t r i m ô n i o
(Sueje), que definiram quatro categorias remonta à colonização de Antióquia, além de
turísticas de produtos: 1. saborear a cultura degustar diversos tipos de cafés especiais.

P
do melhor café suave do mundo; 2. desfrutar Por sua vez, o roteiro “Natureza

d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a
de natureza e paisagem únicas; 3. aprender exuberante e paisagem cafeeira” (THR,

e v i s t a
sobre ofícios autênticos; 4. viver ótimas 2014) combina os segredos do café com

R
experiências em lugares exclusivos. belas cidades e permite a contemplação de
Assim, o destino conta com quatro pro- paisagens localizadas entre mil e quatro mil
dutos, seis grandes roteiros e 27 experiências, metros acima do nível do mar. Lá, é possível
sendo a Paisagem Cultural Cafeeira a primei- passear por florestas nubladas e se aventurar
ra região da Colômbia a adaptar sua oferta em santuários de flora e fauna como Otún
turística ao conceito de experiências únicas e Quimbaya, nas cercanias de Pereira, no
alinhá-las à estratégia de promoção interna- departamento de Risaralda. O turista
301
cional “Colômbia, realismo mágico”. pode se aproximar de vulcões e caminhar
A rota “Cidades encantadoras e paisagens em meio a plantas gigantes do páramo no
cafeeiras” (Angel Valencia, 2013b) permite Parque Nacional Natural Los Nevados, onde
que se viva o universo do café entrando nas também se pode relaxar em águas termais
fazendas e aprendendo como prepará-lo e e cachoeiras.
degustá-lo. O roteiro percorre paisagens em Na rota “Cafés especiais, da origem à
meios de transporte autênticos, que levam revelação” (THR, 2014), o visitante tem seus
o turista a cidades com sacadas coloridas e sentidos aguçados enquanto eleva a um nível
pessoas amigáveis, como Filandia, Salento superior seu conhecimento sobre o universo
ou Pijao, em Quindío. Na viagem, é possível dos cafés especiais. É possível aprender,
passear entre as palmeiras mais altas do diretamente nas fazendas, as diferenças
mundo no Vale do Cocora e desfrutar de entre diversos tipos de café: os de origem Produtor de cafés
de origem especial
um passeio a cavalo ou de uma caminhada controlada, com qualidades únicas; os (Colômbia), 2017.
Acervo: Banco de
cercada por vales interandinos, como os de sustentáveis, cultivados pelas comunidades Imágenes PCC –
Ministerio de Comercio,
Quindío ou Maravelez, no Vale do Cauca. comprometidas com a proteção do meio Industria y Turismo.
ambiente; e os de preparação, especiais por só ocorre em países andinos. No passeio,
Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a

sua aparência e forma. O turista também é possível desfrutar da grande diversidade


a c i o n a l

é ensinado a preparar um bom café e pode de paisagens da Cordilheira Central dos


saborear numerosos aromas. Andes, chegando até mais de quatro mil
Já no roteiro “Trekking paisagístico de metros de altitude. Nessa aventura, são
N
r t í s t i c o

mil a quatro mil metros” (THR, 2014), o visitadas três áreas protegidas (Los Nevados,
visitante explora a pé um dos ecossistemas Campo Alegre e Ucumary), além de florestas
A

mais exclusivos do planeta: o páramo, que nubladas e subandinas.


e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a
e v i s t a
R

302

Palmas de cera
(Colômbia), 2017.
Acervo: Banco de Imágenes
PCC – Ministerio de Comercio,
Industria y Turismo.
O último roteiro, sem dúvida o mais Referências

Pa i s a g e m C u l t u r a l C a f e e i r a : t u r i s m o e r eva l o r i z a ç ã o d a c u l t u r a e n a t u r e z a
especializado, destaca a posição da Colômbia

a c i o n a l
como o país com maior número de espécies ANGEL VALENCIA, César Augusto. Consultoría para
diagramación y geo referenciación de los planos, recorridos
de aves no mundo. “Birding nos Andes
y puntos del destino. Armenia: Câmara de Comércio de
tropicais” (THR, 2014) é um passeio para

N
Armenia, 2013a.

r t í s t i c o
os observadores mais exigentes de pássaros. ANGEL VALENCIA, César Augusto. Consultoría
Na Paisagem Cultural Cafeeira, convergem técnica para el diseño y planificación de dos rutas turísticas
temáticas en Quindío. Armenia: Câmara de Comércio de

A
dois focos de biodiversidade (o Chocó Armenia, 2013b.

e
Biogeográfico e os Andes tropicais), onde há

i s t ó r i c o
ANGEL VALENCIA, César Augusto. Diseño de la ruta
14 Áreas Importantes para Preservação de Serranía del Nudo para el municipio de Dosquebradas.
Dosquebradas: Prefeitura de Dosquebradas, 2013c.
Aves (IBAs, sigla em inglês para Important

H
BARON, Marley. Colombia realismo mágico. 2013.
Bird and Biodiversity Area). É possível visitar

a t r i m ô n i o
Disponível em: http://www.procolombia.co/print/7622.
santuários mundiais de aves, como o Otún Acesso em: 31 maio 2019.
Quimbaya, a Reserva Ecológica Rio Blanco BOIX, J. P. El patito feo del turismo, que se convirtió en

P
ou o Parque Nacional Natural Tatamá, onde cisne. Turismo rural del Quindío: radiografía de un éxito.

d o

C é s a r A u g u s t o A n ge l Va l e n c i a
Turismo y Sociedad, v. 2, p. 91-100, nov. 2003.
se podem observar cerca de 900 espécies, das

e v i s t a
CENICAFÉ – Centro Nacional de Investigaciones de
quais 35 são endêmicas. Café. Quiénes Somos/Historia. 2019. Disponível em:

R
O projeto Rotas da Paisagem Cultural http://www.cenicafe.org/es/index.php/quienes_somos/
historia. Acesso em: 31 maio 2019.
Cafeeira venceu a categoria Inovação
FOMIN – Fondo Multilateral de Inversional. Reporte
em Negócios nos prêmios Ulises 2015, de Estado del Proyecto (Final). 2015. Disponível
realizados pela OMT, que exaltam a em: http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.
excelência e a inovação turística do aspx?docnum=39807370. Acesso em: 31 maio 2019.
GARCÍA, Óscar Jaramillo. Les contamos la historia del
mundo todo.
Parque del Café. 2012. Disponível em: http://www.
Atualmente, a marca Rotas da cronicadelquindio.com/noticia-completa-titulo-les_
303
Paisagem Cultural Cafeeira está nas mãos contamos_la_historia__del_parque_del_cafe-seccion--
nota-51209.htm. Acesso em: 31 maio 2019.
de empresários e comunidades, filhos e
MONCAYO CRUZ, Víctor Manuel; MOROTTI,
herdeiros, em sua maioria, dos primeiros
Fernanda Gdynia. Colômbia. Enciclopédia Latino-
colonos de Antióquia, que atravessaram americana. 2015. Disponível em: http://latinoamericana.
montanhas, fundaram cidades e deram wiki.br/verbetes/c/colombia. Acesso em: 4 jun. 2019.

vida a um destino que hoje é famoso OMT – Organização Mundial do Turismo. Colombia: de
nuevo en el mapa del turismo mundial. 2009. Disponível
mundialmente por ser um exemplo em: https://www2.unwto.org/es/agora/colombia-de-
excelente de uma cultura que se adapta a nuevo-en-el-mapa-del-turismo-mundial. Acesso em: 4
jun. 2019.
características geográficas e naturais únicas
PCC – Paisaje Cultural Cafetero. Generalidades –
no mundo. Trata-se de uma cultura e de um
Preguntas Frecuentes. 2017. Disponível em: http://
capital social excepcionais, reconhecidos paisajeculturalcafetero.org.co/contenido/preguntas-
como Patrimônio Mundial e revalorizados frecuentes1. Acesso em: 4 jun. 2019.

por empreendedores turísticos locais que, THR – Innovative Tourism Advisors. Diseño y
estructuración de los productos turísticos del Paisaje Cultural
orgulhosamente, os apresentam Cafetero. Pereira: Fundo Nacional de Turismo (Fontur);
aos visitantes. Ministério de Comércio, Indústria e Turismo, 2014.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

304
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
Helena Kolody

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


a c i o n a l
A raucária 1

Nr t í s t i c o
Araucária,
Nasci forte e altiva,

Ae
Solitária.

i s t ó r i c o
Ascendo em linha reta
– Uma coluna verde-escura

H
No verde cambiante da campina.

a t r i m ô n i o
Estendo braços hirtos e serenos.
Não há na minha fronde
Nem veludos quentes de folhas,

Pd o
Nem risos vermelhos de flores,

e v i s t a
Nem vinhos estonteantes de perfumes.
Só há o odor agreste da resina,

R
E o sabor primitivo dos frutos.
Espalmo a taça verde no infinito.
Embalo o sono dos ninhos
Ocultos em meus espinhos.
Na silente nudez do meu isolamento.

305

Maria Mia,
Russos Brancos,
1. Poema publicado em Viagem no espelho, 5. ed., Santa Cruz (PR), 2008.
em 1999 ,pela Editora da UFPR. Foto: Orlando Azevedo.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

306
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
Postaes do Brazil: 1893-1930, 2002.
Fonte: Pedro Karp Vasquez,
(RJ), subscrito a 14 de julho de 1926.
Praça XV de Novembro, Rio de Janeiro
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
307

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais


N o ta s
Notas biográficas

biográficas
a c i o n a l

ÁNGEL MUÑOZ VICENTE CELIA MARTÍNEZ YÁÑEZ


Bacharel em Filosofia e Letras pela Universidade Professora titular de História da Arte na
N

de Sevilha (Espanha). É arqueólogo do Corpo Universidade de Granada (Espanha) e orientadora


r t í s t i c o

Superior Facultativo de Conservadores do do Mestrado em Arquitetura e Patrimônio


Patrimônio Histórico de Andaluzia e chefe Histórico da Escola Técnica Superior de
A

do Departamento de Proteção do Patrimônio Arquitetura de Sevilha, do Instituto Andaluz do


e

Patrimônio Histórico e do Patronato de Alhambra


i s t ó r i c o

Histórico da Delegação Territorial da Secretaria


da Cultura e Patrimônio Histórico da Junta de e Generalife. É vice-presidente do Comitê
Andaluzia. Foi diretor do Conjunto Arqueológico Científico Internacional de Turismo Cultural do
H

de Baelo Claudia. Conselho Internacional de Monumentos e Sítios


a t r i m ô n i o

(Icomos) e Secretária Adjunta do Conselho do


ANTÓNIO PONTE Icomos na Espanha. É também autora, palestrante
e editora-chefe da ERPH: Revista Electrónica de
P

Doutor e mestre em Museologia pela Faculdade


d o

Patrimonio Histórico.
de Letras da Universidade do Porto (Portugal).
e v i s t a

Especialista em Gestão Estratégica do Patrimônio


CÉSAR AUGUSTO ANGEL VALENCIA
na Administração Pública e Autárquica pelo
R

Profissional de Administração Turística, mestrando


Instituto de Gestão do Patrimônio Arquitetônico
em Gestão do Turismo Sustentável, técnico
e Arqueológico (Igespar) e Instituto Superior
profissional em Operação Turística e tecnólogo
Politécnico de Gaia. Diretor regional de Cultura
em Gestão de Recursos Naturais. É membro do
do Norte e professor assistente convidado da
Conselho da Associação Colombiana de Turismo
Escola Superior de Hotelaria e Turismo e da Escola
Responsável (Acotur), palestrante e professor de
Superior de Educação do Instituto Politécnico do
turismo e interpretação do patrimônio. Foi gerente
Porto, além de professor afiliado da Faculdade de
308 da Nature Trips Colombia e diretor do projeto
Letras da Universidade do Porto.
de planejamento e estruturação dos produtos
turísticos da Paisagem Cultural Cafeeira.
BETTINA BRAY
Mestra em Restauração Arquitetônica pela CRISTINA ESCOBAR
Universidade Politécnica de Madri (Espanha) Graduada em Arquitetura pela Universidade
e graduada em Arquitetura pela Universidade Nacional de Assunção e Universidade Católica
Nacional de Assunção (Paraguai). É especialista de Assunção (Paraguai). É diretora de Patrimônio
na restauração de edifícios patrimoniais, além Turístico na Secretaria Nacional de Turismo do
de membro do Conselho Internacional de Paraguai (Senatur), além de coordenadora das
Monumentos e Sítios (Icomos). Trabalha Convenções Culturais da Organização das Nações
como profissional independente e consultora Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
em Conservação e Restauração do Patrimônio (Unesco), secretária do Comitê Paraguaio de
Mundial na Secretaria Nacional de Turismo do Patrimônio Mundial no escritório da Comissão
Paraguai (Senatur). Nacional de Cooperação com a Unesco e gestora
nacional do Patrimônio Mundial da agência das
Nações Unidas.
Notas biográficas
a c i o n a l
DAYANARA CARRASCO YÉPEZ LUÍS ARAÚJO
Graduada em Arqueologia pela Escola Nacional Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa

N
de Antropologia e História (México). É chefe do (Portugal). É presidente do Turismo de Portugal.

r t í s t i c o
Departamento da Área de Proteção Técnica da Como membro do Conselho de Administração
Direção de Operação de Sítios da Coordenação do Pestana Hotel Group, foi responsável pelas

A
Nacional de Arqueologia do Instituto Nacional de operações hoteleiras da América hispânica e pela

e
i s t ó r i c o
Antropologia e História (Inah). Realiza estudos área de desenvolvimento e operações na sucursal
atuariais e tem amplo conhecimento sobre do grupo no Brasil. Também coordenou o
fórmulas e estatística. Departamento de Sustentabilidade e foi assessor

H
jurídico do mesmo grupo. Foi, ainda, chefe de

a t r i m ô n i o
GUADALUPE ESPINOSA Gabinete do Secretário de Estado do Turismo.
Doutora em Sociedade e Cultura com
MAGALI DA SILVA

P
especialização em Gestão de Cultura e Patrimônio

d o
pela Universidade de Barcelona (Espanha). É Graduada em História da Arte e Turismo pela

e v i s t a
responsável pela Direção de Operação de Sítios Universidade de Paris I – Sorbonne (França).
da Coordenação Nacional de Arqueologia do É responsável pelo Departamento de Turismo

R
Instituto Nacional de Antropologia e História do Ministério da Economia e Finanças francês,
(Inah). Trabalha há mais de 25 anos nos sítios trabalhando com a implementação de políticas
arqueológicos que recebem visitação pública. Foi públicas de turismo cultural e com o apoio à
indicada como gestora cultural pelo Centro do implantação de tecnologias digitais em destinos e
Patrimônio Mundial da Organização das Nações locais turísticos.
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco). MIGUEL ÁNGEL TROITIÑO VINUESA
309
Geógrafo, catedrático emérito de Geografia
LIBERTAD TROITIÑO TORRALBA Humana na Universidade Complutense de
Doutora em Geografia pela Universidade Madri (Espanha) e diretor do grupo de pesquisa
Complutense de Madri (Espanha), membro Turismo, Patrimônio e Desenvolvimento. Suas
do grupo de pesquisa Turismo, Patrimônio e áreas de atuação são desenvolvimento territorial,
Desenvolvimento, e professora do Departamento geografia urbana, patrimônio e turismo. Recebeu
de Geografia na mesma universidade. Suas as seguintes honrarias: Prêmio Nacional de
preocupações acadêmicas estão focadas Urbanismo (Mopu, 1981), Prêmio Europeu de
no interesse, utilidade e aplicabilidade do Urbanismo (Associação Europeia de Urbanistas,
conhecimento geográfico em relação a turismo, 2002) e Primeiro Prêmio de Transferência de
patrimônio, paisagem, turismo cultural e Tecnologia e Conhecimento na área de Ciências
planejamento e gestão turístico-patrimonial de Sociais e Humanas da Universidade Complutense
territórios e conjuntos monumentais. de Madrid (2014).
NATALIA VÁZQUEZ CERÓN PETER DEBRINE
Notas biográficas

Graduada em Arqueologia pela Escola Nacional de MBA pela Escola Thunderbird de Administração
Antropologia e História (México). É pesquisadora Global, da Universidade Estadual do
a c i o n a l

assistente da Direção de Salvamento Arqueológico Arizona (EUA), e graduado em Química


do Instituto Nacional de Antropologia e História pela Universidade do Colorado. É assessor
N

(Inah). Realiza estudos de química e tem amplo do Programa Mundial para o Patrimônio da
r t í s t i c o

conhecimento sobre fórmulas e estatística. Humanidade, da Organização das Nações


Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
A

PATRICIA CUPEIRO LÓPEZ (Unesco), coordenando as atividades gerais do


e
i s t ó r i c o

Doutora em História da Arte com Menção programa, incluindo gerenciamento de projetos,


Internacional pela Universidade de Santiago de divulgação e mobilização de recursos, integração e
Compostela (USC, Espanha), distinguida com o implementação de políticas e estratégias de turismo
H
a t r i m ô n i o

Prêmio Extraordinário de Doutorado da mesma sustentável.


universidade. Mestra em Renovação Urbana e
Reabilitação e membro do Grupo Iacobus da ROSÁRIO CORREIA MACHADO
P

USC. Desenvolveu sua atividade profissional Doutoranda em Estudos Culturais pela


d o

entre a universidade e a iniciativa privada como Universidade do Minho (Portugal). Pós-Graduada


e v i s t a

pesquisadora, professora, orientadora, gestora em Gestão de Centros Urbanos e em Turismo,


e documentalista do patrimônio cultural. Em Ordenamento e Gestão do Território. Licenciada
R

2017, conquistou o quarto lugar no concurso em Sociologia pela Universidade de Coimbra.


para a remodelação da Praça de Armas de Ferrol É diretora da Rota do Românico e do Centro
(Espanha). de Estudos do Românico e Território, além de
copresidente da Comissão Científica da Rota do
PAULA SILVA Românico e membro da Direção Executiva da
Licenciada em Arquitetura pela Escola Superior Transromânica. É, ainda, membro do Conselho
de Belas Artes do Porto (Portugal) e mestra em Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos).
310
Arqueologia pela Universidade do Minho. É
diretora-geral do Patrimônio Cultural. Chefiou a SILVIA FERNÁNDEZ CACHO
Divisão de Monumentos da Direção Regional dos Doutora Europeia em História e especialista
Edifícios e Monumentos do Norte, foi diretora em Proteção, Gestão e Ordenamento da
regional do Instituto Português do Patrimônio Paisagem. Graduada em História e Geografia
Arquitetônico (Ippar-Porto), diretora dos Bens pela Universidade de Sevilha (Espanha). É
Culturais da Direção Regional de Cultura do chefe do Centro de Documentação e Estudos.
Norte, diretora regional de Cultura do Norte e Foi coordenadora da Área de Arqueologia e do
chefe de Divisão dos Museus e Patrimônio da Laboratório de Paisagem Cultural do Instituto
Câmara Municipal do Porto. Andaluz do Patrimônio Histórico (IAPH) e
participou de projetos relacionados a sistemas de
informação patrimonial e paisagens culturais na
mesma entidade.
SILVIA MARTÍNEZ ZURAB POLOLIKASHVILI

Notas biográficas
Mestra em Sociologia Política e Políticas Sociais Graduado em Economia pela Universidade
pela Universidade Nacional de San Marcos Técnica da Geórgia, em Tbilisi (Geórgia). É

a c i o n a l
(Peru) e Negociação e Gestão da Cooperação secretário-geral da Organização Mundial de
Internacional pela Universidade Alberto Turismo (OMT), depois de ter sido eleito pela

N
Hurtado (Chile). É coordenadora de cooperação XXII Sessão da Assembleia Geral da entidade. Foi

r t í s t i c o
multilateral no Ministério da Educação do Peru embaixador da Geórgia na Espanha, Andorra,
e da Comissão Nacional Peruana de Cooperação Argélia e Marrocos e representante permanente

A
com a Organização das Nações Unidas para a da Geórgia na OMT. Foi, ainda, ministro do

e
i s t ó r i c o
Educação, a Ciência, a Cultura (Unesco). Foi Desenvolvimento Econômico de seu país natal.
responsável pela implementação do Centro
Regional para a Salvaguarda do Patrimônio

Ha t r i m ô n i o
Imaterial da América Latina (Crespial), vinculado
à Unesco.

P
Rd o
e v i s t a
311

O Palácio do Infante Dom


Pedro em o Corpus Sancto
em Lixboa. Gravura em
água-forte, 14 x 23 cm,
Dirck Stoop, 1662.
Acervo: Fundação Biblioteca
Nacional – Brasil.
Executive
E xe c u t i ve b i o g r a p h i e s

biographies
a c i o n a l

ÁNGEL MUÑOZ VICENTE CELIA MARTÍNEZ YÁÑEZ


A. Muñoz holds a Bachelor of Philosophy and C. Martínez is a Full Professor of Art History at
N

Literature degree from the University of Seville the University of Granada (Spain) and Advisor to
r t í s t i c o

(Spain). He is an archaeologist at the Historic the Master’s Degree in Architecture and Historical
Heritage Conservation Advisory Board of Andalusia Heritage of the Polytechnic School of Architecture
A

and head of the Department of Historic Heritage of Seville, the Andalusian Institute of Historical
e
i s t ó r i c o

Protection of the Territorial Delegation/ Secretariat Heritage and the Patronage of Alhambra and
of Culture and Historic Heritage of the Junta de Generalife. She is Vice-President of the International
Andalusia province. He was formerly director of the Scientific Committee on Cultural Tourism of the
H

Baelo Claudia Archaeological Complex. International Council on Monuments and Sites


a t r i m ô n i o

(Icomos) and Deputy Secretary of the Icomos Board


ANTÓNIO PONTE in Spain. She is also the author, lecturer and editor-
A. Ponte holds a PhD and an MSc in Museology
P

in-chief of ERPH: Revista Electrónica de Patrimonio


d o

from the Faculty of Literature of the University of Histórico.


e v i s t a

Porto (Portugal). He is a Specialist in the Strategic


Management of Heritage for Public and Municipal CÉSAR AUGUSTO ANGEL VALENCIA
R

Administration by the Institute of Architectural and C. A. Angel is a professional Tourism Manager, a


Archaeological Heritage Management (Igespar) and Master’s degree student of Sustainable Tourism Man-
the Polytechnic Higher Institute of Gaia. He is the agement and a technical expert in Tourism Opera-
Regional director of Northern Culture, a visiting tion with an Associate degree in Natural Resources
assistant professor at the Higher School of Hospitality Management. He is a member of the Board of the
and Tourism and at the Higher School of Education Colombian Association of Responsible Tourism (Aco-
of the Porto Polytechnic Institute, as well as an tur), a speaker and professor of tourism and heritage
312 affiliated professor at the Faculty of Literature of the interpretation. He was manager at Nature Trips Co-
University of Porto. lombia and head of the project to design and develop
tourism products for the Coffee Cultural Landscape.
BETTINA BRAY
B. Bray holds a Master’s degree in Architectural CRISTINA ESCOBAR
Restoration from the Polytechnic University of C. Escobar majored in Architecture at the National
Madrid (Spain) and a degree in Architecture from University of Asunción and Catholic University of
the National University of Asunción (Paraguay). Asunción (Paraguay). She is director of Heritage
She is a specialist in the restoration of heritage Tourism at the National Tourism Secretariat of
buildings, as well as a member of the International Paraguay (Senatur) and coordinator of the Cultural
Council of Monuments and Sites (Icomos). She Conventions of the United Nations Educational,
works as an independent professional and consultant Scientific and Cultural Organization (UNESCO),
in World Heritage Conservation and Restoration secretary of the Paraguayan World Heritage
at the National Secretariat of Tourism of Paraguay Committee at the office of the National Cooperation
(Senatur). Committee with UNESCO and World Heritage
national manager at this United Nations agency.
E xe c u t i ve b i o g r a p h i e s
a c i o n a l
DAYANARA CARRASCO YÉPEZ LUÍS ARAÚJO
D. Carrasco holds a B.A. in Archaeology from L. Araújo holds a degree in Law from the University

N
the National School of Anthropology and History of Lisbon and presides Portugal Tourism. As a

r t í s t i c o
(Mexico). She is Head of the Technical Conservation member of the Pestana Hotel Group Board of
Department of the Site Operation Bureau at the Directors, he headed hotel operations in Hispanic

A
National Archaeological Office/National Institute America and undertook development and operations

e
i s t ó r i c o
of Anthropology and History (Inah). She performs for the Pestana Hotel branch in Brazil. He also
analytical studies and has ample experience with coordinated their Sustainability Department and
mathematics and statistics. provided legal counsel. M. Araújo is the former Chief

H
of Staff of the Secretary of State for Tourism.

a t r i m ô n i o
GUADALUPE ESPINOSA
G. Espinosa holds a PhD in Society and Culture MAGALI DA SILVA

P
and a specialization degree in Culture and Heritage M. da Silva holds a B.A. in Art History and Tourism

d o
Management from the University of Barcelona from the University of Paris I - Sorbonne (France).

e v i s t a
(Spain). She is responsible for Site Operations She is Head of the Department of Tourism of the
Management at the National Archaeological French Ministry of Economy and Finance, where

R
Department of the National Institute of Anthropology she works with the implementation of cultural
and History (Inah). She has worked with tourism public policies and with support to digital
archaeological sites hosting public visitation for technologies in tourist destinations and places.
over 25 years. The World Heritage Center of the
United Nations Educational, Scientific and Cultural MIGUEL ÁNGEL TROITIÑO VINUESA
Organization (UNESCO) nominated M. Espinosa M. A. Troitiño is a Geographer, professor emeritus of
for the position of “cultural manager”. Human Geography at the Complutense University
313
of Madrid (Spain) and director of the Tourism,
LIBERTAD TROITIÑO TORRALBA Heritage and Development research group. His
L. Troitiño holds a PhD in Geography from the areas of expertise are territorial development,
Complutense University of Madrid (Spain). She is a urban geography, heritage and tourism. He has
member of the Tourism, Heritage and Development been awarded the following honors: National Prize
research group and a Professor at the Complutense for Urbanism (Mopu, 1981), European Prize for
University of Madrid’s Geography Department. Her Urbanism (European Association of Urbanists, 2002)
academic pursuits focus on the interest, utility and and First Prize for the Transfer of Technology and
applicability of geographical knowledge for tourism, Knowledge in the Social and Human Sciences of the
heritage, landscape, cultural tourism and heritage Complutense University of Madrid (2014).
tourism and on planning and management for
territories and their monument complexes.
NATALIA VÁZQUEZ CERÓN PETER DEBRINE
E xe c u t i ve b i o g r a p h i e s

N. Vázquez majored in Archaeology at the National P. Debrine holds an MBA from the Thunderbird
School of Anthropology and History (Mexico). School of Global Management, Arizona State
a c i o n a l

Assistant researcher in the Archaeological Rescue University, and a B.A. in Chemistry from the
Bureau of the National Institute of Anthropology University of Colorado. He is an advisor to the
N

and History (Inah). She performs chemical tests and World Heritage Program of the United Nations
r t í s t i c o

has comprehensive understanding of formulae and Educational, Scientific and Cultural Organization
statistics. (UNESCO), where he heads the program’s outreach
A

activities, including project management, resource


e
i s t ó r i c o

PATRICIA CUPEIRO LÓPEZ dissemination and mobilization and the integration


P. Cupeiro holds aPhD in Art History with and implementation of policies and strategies for
International Mention from the University of sustainable tourism.
H
a t r i m ô n i o

Santiago de Compostela (USC, Spain), where


she was also awarded the Outstanding Doctoral ROSÁRIO CORREIA MACHADO
honor. She holds an MSc in Urban Renovation R. Machado is a Cultural Studies Doctoral student
P

and Rehabilitation and is a member of the USC at the University of Minho (Portugal). She holds
d o

Iacobus Group. Her professional activity includes Post-Graduate degrees in Urban Center management
e v i s t a

university and private sector work as a cultural and in Tourism, Planning and Spatial Management
heritage researcher, teacher, advisor, manager and and a B. A. in Sociology from the University of
R

documentalist. In 2017, she won fourth place in Coimbra. She is also the director of the Romanesque
the tender for remodeling the Ferrol Plaza de Armas Route and of the Centre for Romanesque and
(Spain). Territorial Studies, co-chairperson of the Scientific
Board of the Romanesque Route and member of
PAULA SILVA the Transromânica Executive Board. She is also a
P. Silva holds a B.A. in Architecture from the School member of the International Council of Monuments
of Fine Arts of Porto (Portugal) and an MSc in and Sites (Icomos).
314
Archeology from the University of Minho. She is
the Cultural Heritage Chief Executive Director. SILVIA FERNÁNDEZ CACHO
M. Silva was formerly head of the Monuments S. Fernández earned a European Doctor degree in
Division of the Regional Department of Northern History and a Specialization degree in Protection,
Buildings and Monuments, regional director of the Management and Environmental Planning. She
Portuguese Institute of Architectural Heritage (Ippar- has a B.A. in History and Geography from the
Porto), Director of Cultural Assets of the Northern University of Seville (Spain). M. Fernández is head
Directorate of Regional Culture, Regional Director of the Center for Documentation and Studies. She
of Northern Culture and head of the Museums and coordinated the Archaeology department and the
Heritage Department at Porto City Hall. Cultural Landscape Laboratory of the Andalusian
Institute of Historical Heritage (IAPH), where
she also contributed to projects regarding heritage
information systems and cultural environments.
SILVIA MARTÍNEZ ZURAB POLOLIKASHVILI

E xe c u t i ve b i o g r a p h i e s
S. Martínez holds a Master’s Degree in Political Z. Pololikashvili majored in Economics at the
Sociology and Social Policies from the National Georgia Technical University in Tbilisi (Georgia).

a c i o n a l
University of San Marcos (Peru) and in Negotiation He is General Secretary of the World Tourism
and Management of International Cooperation Organization (WTO), nominated by the 22nd WTO

N
from the Alberto Hurtado University (Chile). General Assembly Session. He was Ambassador of

r t í s t i c o
She coordinates multilateral cooperation at the Georgia to Spain, Andorra, Algeria and Morocco and
Ministry of Education of Peru and is a member of permanent Georgia representative to the WTO. He

A
the Peruvian National Board for Cooperation with was formerly Minister of Economic Development in

e
i s t ó r i c o
the United Nations Educational, Scientific and his homeland.
Cultural Organization (UNESCO). Formerly in
charge of implementing the Regional Center for the

H
a t r i m ô n i o
Safeguarding of the Intangible Heritage of Latin
America (Crespial), under UNESCO.

P
d o
e v i s t a
R
315

Bota Fogo. Gravura a


água-tinta, Friederich
Salathé, 1835. Acervo:
Fundação Biblioteca
Nacional – Brasil.
N o ta s
Notas biográficas

biográficas
a c i o n a l

ANGEL MUÑOZ VICENTE CELIA MARTÍNEZ YÁÑEZ


Licenciado en Filosofía y Letras por la Universidad de Profesora titular de Historia del Arte de la
N

Sevilla (España). Es arqueólogo del Cuerpo Superior Universidad de Granada (España) y orientadora del
r t í s t i c o

Facultativo de Conservadores del Patrimonio Máster de Arquitectura y Patrimonio Histórico de la


Histórico de Andalucía y jefe del Departamento de Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Sevilla,
A

Protección del Patrimonio Histórico de la Comisaría del Instituto Andaluz del Patrimonio Histórico y
e
i s t ó r i c o

Territorial de la Secretaría de Cultura y Patrimonio del Patronato de la Alhambra y el Generalife. Es


Histórico de la Junta de Andalucía. Fue director del vicepresidenta del Comité Científico Internacional
Conjunto Arqueológico de Baelo Claudia. de Turismo Cultural del Consejo Internacional de
H

Monumentos y Sitios (Icomos) y Secretaria Adjunta


a t r i m ô n i o

ANTÓNIO PONTE del Consejo de Icomos en España. También es autora,


Doctor y Máster en Museología por la Facultad conferenciante y editora en jefe de la ERPH: Revista
de Letras de la Universidad de Oporto (Portugal). Electrónica del Patrimonio Histórico.
P
d o

Especialista en Gestión Estratégica del Patrimonio


e v i s t a

en Administración Pública y Autárquica por el CÉSAR AUGUSTO ANGEL VALENCIA


Instituto de Gestión del Patrimonio Arquitectónico Profesional de Administración de Turismo, cursando
R

y Arqueológico (Igespar) y el Instituto Superior Máster en Gestión de Turismo Sostenible, Técnico


Politécnico de Gaia. Director regional de Cultura Profesional en Operación Turística y Tecnólogo en
del Norte y profesor asistente invitado de la Escuela Gestión de Recursos Naturales. Es miembro del
Superior de Hotelería y Turismo y de la Escuela Consejo de la Asociación Colombiana de Turismo
Superior de Educación del Instituto Politécnico de Responsable (Acotur), conferenciante y profesor de
Oporto, además de profesor afiliado a la Facultad de turismo e interpretación del patrimonio. Fue gerente
Letras de la Universidad de Oporto. de Nature Trips Colombia y director del proyecto
316
de planificación y estructuración de los productos
BETTINA BRAY turísticos del Paisaje Cultural Cafetero.
Máster en Restauración Arquitectónica por la
Universidad Politécnica de Madrid (España) y CRISTINA ESCOBAR
licenciada en Arquitectura por la Universidad Licenciada en Arquitectura por la Universidad
Nacional de Asunción (Paraguay). Es especialista en Nacional de Asunción y la Universidad Católica de
restauración de edificios patrimoniales, además de Asunción (Paraguay). Es Directora de Patrimonio
miembro del Consejo Internacional de Monumentos Turístico en la Secretaría Nacional de Turismo de
y Sitios (Icomos). Trabaja como profesional Paraguay (Senatur), además de coordinadora de
independiente y consultora en Conservación y las Convenciones Culturales de la Organización de
Restauración del Patrimonio Mundial en la las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia
Secretaría Nacional de Turismo de Paraguay y la Cultura (UNESCO), secretaria del Comité
(Senatur). Paraguayo de Patrimonio Mundial en la oficina de la
Comisión Nacional de Cooperación con la UNESCO
y gestora nacional del Patrimonio Mundial de la
agencia de las Naciones Unidas.
Notas biográficas
a c i o n a l
DAYANARA CARRASCO YÉPEZ LUÍS ARAÚJO
Licenciada en Arqueología por la Escuela Nacional Licenciado en Derecho por la Universidad de Lisboa.

N
de Antropología e Historia (México). Es jefe del Es presidente de Turismo de Portugal. Como miembro

r t í s t i c o
Departamento de Área de Protección Técnica de la del Consejo de Administración del Pestana Hotel
Dirección de Operación de Sitios de la Coordinación Group, fue responsable de las operaciones hoteleras en

A
Nacional de Arqueología del Instituto Nacional de Hispanoamérica y del área de desarrollo y operaciones

e
i s t ó r i c o
Antropología e Historia (Inah). Realiza estudios en la sucursal del grupo en Brasil. También
actuariales y tiene un amplio conocimiento de coordinó el Departamento de Sostenibilidad y fue
fórmulas y estadísticas. asesor jurídico del mismo grupo. Asimismo, fue jefe

H
Gabinete del Secretario de Estado de Turismo.

a t r i m ô n i o
GUADALUPE ESPINOSA
Doctora en Sociedad y Cultura con especialización en MAGALI DA SILVA
Gestión de Cultura y Patrimonio por la Universidad

P
Licenciada en Historia del Arte y Turismo por la

d o
de Barcelona (España). Es responsable de la Universidad de París I - Sorbona (Francia). Se

e v i s t a
Dirección de Operación de Sitios de la Coordinación encarga del Departamento de Turismo del Ministerio
Nacional de Arqueología del Instituto Nacional de Economía y Finanzas de Francia, trabajando en

R
de Antropología e Historia (Inah). Trabaja desde la implementación de políticas públicas de turismo
hace más de 25 años en sitios arqueológicos que cultural y el apoyo a la implantación de tecnologías
reciben visita pública. Fue nominada como gestora digitales en destinos y lugares turísticos.
cultural por el Centro del Patrimonio Mundial de
la Organización de las Naciones Unidas para la MIGUEL ÁNGEL TROITIÑO VINUESA
Educación, la Ciencia y la Cultura (Unesco). Geógrafo, Catedrático Emérito de Geografía Humana
en la Universidad Complutense de Madrid (España)
317
LIBERTAD TROITIÑO TORRALBA y director del grupo de investigación Turismo,
Doctora en Geografía por la Universidad Patrimonio y Desarrollo. Sus áreas de actuación son
Complutense de Madrid (España), miembro desarrollo territorial, geografía urbana, patrimonio
del grupo de investigación Turismo, Patrimonio y turismo. Recibió los siguientes honores: Premio
y Desarrollo, y profesora del Departamento Nacional de Urbanismo (Mopu, 1981), Premio
de Geografía de la misma universidad. Sus Europeo de Urbanismo (Asociación Europea de
preocupaciones académicas se centran en el interés, Urbanistas, 2002) y Primer Premio de Transferencia
la utilidad y la aplicabilidad del conocimiento de Tecnología y Conocimiento en el área de Ciencias
geográfico en relación con el turismo, el patrimonio, el Sociales y Humanas de la Universidad Complutense
paisaje, el turismo cultural y la planificación y gestión de Madrid (2014).
turístico-patrimonial de territorios y
conjuntos monumentales.
NATALIA VÁZQUEZ CERÓN PETER DEBRINE
Notas biográficas

Licenciada en Arqueología por la Escuela Nacional MBA por la Escuela Thunderbird de Administración
de Antropología e Historia (México). Es investigadora Global de la Universidad Estatal de Arizona
a c i o n a l

asistente en la Dirección de Rescate Arqueológico y licenciado en química por la Universidad de


del Instituto Nacional de Antropología e Historia Colorado. Es asesor del Programa Mundial para
N

(Inah). Realiza estudios de química y tiene un amplio el Patrimonio de la Organización de las Naciones
r t í s t i c o

conocimiento de fórmulas y estadísticas. Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura


(Unesco), coordinando las actividades generales
A

PATRICIA CUPEIRO LÓPEZ del programa, incluida la gestión de proyectos, la


e
i s t ó r i c o

Doctora en Historia del Arte con Mención difusión y movilización de recursos, la integración y
Internacional por la Universidad de Santiago de la implementación de políticas y estrategias de
Compostela (USC, España), distinguida con el turismo sostenible.
H
a t r i m ô n i o

Premio Extraordinario de Doctorado de la misma


universidad. Máster en Renovación Urbana y ROSÁRIO CORREIA MACHADO
Rehabilitación y miembro del Grupo Iacobus Doctoranda en Estudios Culturales en la Universidad
P

de la USC. Desarrolló su actividad profesional de Minho (Portugal). Posgraduada en Gestión de


d o

entre la universidad y la iniciativa privada como Centros Urbanos y en Turismo, Ordenamiento y


e v i s t a

investigadora, profesora, orientadora, gestora Gestión del Territorio. Licenciada en Sociología por
y documentalista del patrimonio cultural. En la Universidad de Coimbra. Es directora de la Ruta
R

2017 ganó el cuarto lugar en el concurso para del Románico y del Centro de Estudios del Románico
la remodelación de la Plaza de Armas de Ferrol y Territorio, además de copresidenta de la Comisión
(España). Científica de la Ruta del Románico y miembro de la
Dirección Ejecutiva de la Transrománica. También es
PAULA SILVA miembro del Consejo Internacional de Monumentos y
Licenciada en Arquitectura por la Escuela de Bellas Sitios (Icomos).
Artes de Oporto (Portugal) y Máster en Arqueología
318
por la Universidad de Minho. Es directora general SILVIA FERNÁNDEZ CACHO
del Patrimonio Cultural. Dirigió la División de Doctora Europea en Historia y especialista en
Monumentos de la Dirección Regional de los Edificios Protección, Gestión y Ordenamiento del Paisaje.
y Monumentos del Norte, fue directora regional del Licenciada en Historia y Geografía por la
Instituto Portugués del Patrimonio Arquitectónico Universidad de Sevilla (España). Es jefa del Centro
(Ippar-Porto), Directora de Bienes Culturales de la de Documentación y Estudios. Fue coordinadora del
Dirección Regional de Cultura del Norte, directora Área de Arqueología y del Laboratorio de Paisaje
regional de Cultura del Norte y jefa de la División de Cultural del Instituto Andaluz del Patrimonio
Museos y Patrimonio de la Cámara Municipal Histórico (IAPH) y participó en proyectos
de Oporto. relacionados con sistemas de información patrimonial
y paisajes culturales en la misma entidad.
SILVIA MARTÍNEZ ZURAB POLOLIKASHVILI

Notas biográficas
Máster en Sociología Política y Políticas Sociales Licenciado en Economía por la Universidad Técnica
por la Universidad Nacional de San Marcos de Georgia en Tbilisi (Georgia). Es secretario general

a c i o n a l
(Perú) y Negociación y Gestión de la Cooperación de la Organización Mundial de Turismo (OMT),
Internacional de la Universidad Alberto Hurtado después de haber sido elegido por la XXII Sesión de la

N
(Chile). Es coordinadora de cooperación multilateral Asamblea General de la entidad. Fue embajador de

r t í s t i c o
en el Ministerio de Educación del Perú y en la Georgia en España, Andorra, Argelia y Marruecos y
Comisión Nacional de Cooperación del Perú con representante permanente de Georgia ante la OMT.

A
la Organización de las Naciones Unidas para la También fue Ministro de Desarrollo Económico de su

e
i s t ó r i c o
Educación, la Ciencia y la Cultura (UNESCO). Fue país natal.
responsable de la implementación del Centro Regional
para la Salvaguardia del Patrimonio Inmaterial de

Ha t r i m ô n i o
América Latina (Crespial),
vinculado a la UNESCO.

P
Rd o
e v i s t a
319

Araucária, Paraná,
entre 1880 e 1884.
Foto: Marc Ferrez.
Acervo: Fundação Biblioteca
Nacional – Brasil.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

320
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

(SC), 2018.
Pesca da tainha,

Foto: Hermes Daniel.


Campeche, Florianópolis
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
321

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Foto: Mara Freire. Acervo: Iphan.


Florianópolis (SC), 2010.
Passos de Santa Catarina,
Procissão do Senhor dos
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

322
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

(RS), 2007.

Acervo: Iphan.
Foto: Eneida Serrano.
Comunidade M’Bya-
Guarani, Tava (lugar

São Miguel das Missões


sagrado do povo Guarani),
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
323

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Acervo: Iphan.
Foto: Eneida Serrano.
(RS), 2007.
São Miguel das Missões
sagrado do povo Guarani),
Guarani, Tava (lugar
Comunidade M’Bya-
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

324
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

(RS), 2007.

Acervo: Iphan.
Foto: Eneida Serrano.
Comunidade M’Bya-
Guarani, Tava (lugar

São Miguel das Missões


sagrado do povo Guarani),
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
325

Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais

Acervo: Iphan.
Foto: Eneida Serrano.
(RS), 2007.
São Miguel das Missões
sagrado do povo Guarani),
Guarani, Tava (lugar
Comunidade M’Bya-
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

326
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
Gestão turística em sítios patr imoniais: boas práticas inter nacionais
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R
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Comunidade M’Bya-
Guarani, Tava (lugar
sagrado do povo Guarani),
ruína da Igreja de
São Miguel Arcanjo,
São Miguel das Missões
(RS), 2007.
Foto: Eneida Serrano.
Acervo: Iphan.
A publicação da Revista do Patrimônio não seria possível sem a inestimável colaboração das instituições representadas por
seus dirigentes e servidores que, com dedicação e profissionalismo, nos permitem acessar seus acervos e utilizar documentos
e imagens para o enriquecimento das matérias veiculadas. Queremos agradecer a estes profissionais e instituições que lidam
diretamente com os acervos.

Arquivo Histórico de Joinville


Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul
Arquivo Histórico José Ferreira da Silva – Fundação Cultural de Blumenau
Ashmolean Museum – Oxford (Reino Unido)
Associação de Municípios do Vale do Sousa – Rota do Românico (Portugal)
Associação do Bairro do Sambaqui
Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba
Casa da Memória – Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes
Casa da Memória – Ponta Grossa
Casarão e Engenho dos Andrades
Consejería de Cultura y Patrimonio Histórico – Junta de Andalucía (Espanha)
Fundação Biblioteca Nacional – Brasil
Fundação Iberê Camargo
Fundação Museu do Homem Americano
Grupo de Ciudades Patrimonio de la Humanidad de España
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Rio Grande do Sul)
Instituto Memória Histórica e Cultural – Universidade de Caxias do Sul
Instituto Moreira Salles
Museu ao Ar Livre Princesa Isabel
Museu Casa Alfredo Andersen
Museu Casa de Cora Coralina
Museu da Comunicação Hipólito da Costa
Museu da Imagem e do Som do Paraná
Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade Federal de Santa Catarina – Professor Oswaldo Rodrigues Cabral
Museu de Arqueologia e Etnologia/Universidade Federal do Paraná
Museu de Arte de Santa Catarina
Museu de Arte do Rio Grande do Sul
Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo
Museu Julio de Castilhos
Museu Municipal Professor Hugo Daros (Gramado)
Museu Paranaense
Museu Victor Meirelles
Museus Castro Maya
Pinacoteca Aldo Locatelli
Pinacoteca de São Paulo
Programa Revive – Reabilitação, Patrimônio e Turismo (Portugal)
Projeto Brusque Memória
Secretaria de Turismo e Comércio de Antônio Prado
Secretaria Municipal de Turismo de Bento Gonçalves
Viceministerio de Turismo del Ministerio de Comercio, Industria y Turismo – Republica de Colombia

Esta revista foi composta nas tipografias Adobe Garamond (texto) corpo 10/15 e Frutiger Bold (títulos)17/25,5,
papel eurobulk 100g (miolo). Tiragem de 2.800 exemplares. Impressa em outubro de 2019.

Apoio Apoio institucional


ISSN 0102-2571
Nº 39 Nº 39 Nº 39
2019 2019 2019

Neste número
Ángel Muñoz Vicente
António Ponte
Bettina Bray
Celia Martínez Yáñez
César Augusto Angel Valencia
Cristina Escobar
Dayanara Carrasco Yépez
Guadalupe Espinosa
Libertad Troitiño Torralba
Luís Araújo
Magali Da Silva
Miguel Ángel Troitiño Vinuesa
Natalia Vázquez Cerón
Patricia Cupeiro López
Paula Silva
Peter Debrine
Rosário Correia Machado
Silvia Fernández Cacho
Silvia Martínez
Zurab Pololikashvili

Gestão turística em
sítios patrimoniais:
boas práticas internacionais
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