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Educação Patrimonial,

Diversidade e Meio Ambiente

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Presidente da República Governo do Distrito Federal Organização
Luiz Inácio Lula da Silva Vinicius Prado Januzzi
Governador
Ana Carolina Lessa Dantas
Ministra da Cultura Ibaneis Rocha Barros Junior
Vanessa Nascimento Freitas
Margareth Menezes da Purificação Costa
Rodrigo Capelle Suess
Instituto do Patrimônio Histórico Secretária de Estado de Educação do Fábio da Silva
e Artístico Nacional Distrito Federal Inara Bezerra Ferreira de Sousa
Hélvia Miridan Paranaguá Fraga
Presidente Autores
Subsecretária de Educação Inclusiva e Alessandra Lucena Bittencourt
Leandro Antônio Grass Peixoto
Integral Ana Carolina Lessa Dantas
Vera Lúcia Ribeiro de Barros Átila Bezerra Tolentino
Diretores do Iphan
Maria Silvia Rossi Gerente de Educação Ambiental, Beatriz Coroa do Couto
Andrey Schlee Patrimonial, Língua Estrangeira e. Beatriz de Oliveira Alcantra Gomes
Deyvesson Gusmão Arte-Educação Cláudia Garcia
Desirée Tozi Silvia Alves Ferreira Pinto Fabiana Maria de Oliveira Ferreira
Bruno Ferreira da Paixão Hugo de Carvalho Sobrinho
Ilka Lima Hostensky
Superintendente do Iphan Créditos da publicação Laura Ribeiro de Toledo Camargo
Educação Patrimonial, Diversidade e Meio Luís Fernando Celestino da Costa
no Distrito Federal Márcia Cristina Pacito Fonseca Almeida
Ambiente no Distrito Federal
Thiago Pereira Perpétuo Maria Andreza Costa Barbosa
Marielle Costa Gonçalves
Maurício Guimarães Goulart
Paulo Moura Peters
Rodrigo Capelle Suess
Rosângela Azevedo Corrêa
Rosinaldo Barbosa da Silva
Sônia Regina Rampim Florêncio
Vanessa Nascimento Freitas
Vinicius Prado Januzzi
Projeto gráfico e diagramação
Carolina Menezes
Revisão e Correções
Sarah Torres Nascimento de Abreu

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional
www.iphan.gov.br
publicacoes@iphan.gov.br
iphan-df@iphan.gov.br
Educação Patrimonial
e Turismo Cultural

elaborado por

Cláudia da Conceição Garcia1

Introdução

Nas últimas décadas, é conside- Considerando as potencialidades


rável o crescimento do turismo no de nosso país, o Brasil possui opções
Brasil e no mundo. Conforme pesqui- singulares que, associadas à nossa
sas desenvolvidas pela WTTC (World cultura e a toda capacidade criativa
Travel & Tourism Concil), em 2018, dos brasileiros, permitem o investi-
esse setor apresentou uma alta de mento em distintas oportunidades,
3,9% e foi responsável por gerar US$ que incluem desde o ecoturismo, o
8,8 trilhões na economia global. Esse turismo rural, o turismo de aventura
crescimento contribuiu, segundo a e, principalmente, o turismo cultural.
pesquisa, para promover a oferta de Entretanto, é importante um inves-
pelo menos um em cinco dos novos timento disciplinado por parte dos
empregos gerados no mundo nos diferentes setores da nossa socie-
últimos cinco anos e, nesses termos, dade, à luz de um planejamento
pode contribuir positivamente para adequado com vistas ao desenvol-
o desenvolvimento socioeconômico vimento, à promoção e à divulgação
de uma cidade. de cada um desses segmentos do
turismo brasileiro.

1 Cláudia Garcia (Resende, RJ), arquiteta (UnB, 1989), Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UnB, 1998), Doutorado na área de estética e história da arte e da
arquitetura (UnB, 2009). Professora Associada 2 do Departamento de Projeto, Expressão e Representação, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade
de Brasília, desde 1995.

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Corroborando com esse poten- a chegada até a saída de uma cidade,
cial, vale destacar que o setor estado ou país.
turístico no Brasil tem crescido signi- Considerando toda a diversi-
ficativamente em várias regiões do dade brasileira no setor turístico, que
país. Em 2018, o país recebeu, para inclui, além de nossas belezas natu-
se ter uma ideia, 6,5 milhões de turis- rais, a nossa diversidade cultural,
tas estrangeiros. Além disso, o Brasil riquíssima e que deve ser reconhe-
possui os patrimônios naturais e de cida como nosso maior patrimônio,
biodiversidade mais ricos do planeta é importante vislumbrar como o
e a prova disto é que, de acordo com investimento no turismo cultural
o ranking de competitividade do pode representar um dos caminhos
Fórum Econômico Mundial, o Brasil capazes de promover e preservar
se encontra em primeiro lugar no toda nossa cultura.
mundo no quesito recursos natu- O Ministério do Turismo (BRASIL,
rais e em oitava posição no quesito 2008, p. 16) define Turismo Cultural
recursos culturais. como aquele que “compreende as
Desta forma, o turismo abrange atividades turísticas relacionadas à
a interrelação de diferentes setores vivência do conjunto de elementos
de atividade econômica, a fim de significativos do patrimônio histó-
se promover uma viagem cultural, rico e cultural e dos eventos culturais,
religiosa, de lazer ou de negócios. valorizando e promovendo os bens
Entretanto, é fundamental uma polí- materiais e imateriais da cultura”, ou
tica nacional que incentive a provisão seja, pode estar vinculado às mani-
de transporte, acomodação, recre- festações culturais e aos saberes
ação, alimentação e outros serviços locais com a perspectiva de valori-
relacionados para o atendimento zação de suas heranças tradicionais.
das necessidades dos viajantes
domésticos e internacionais, desde

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Portanto, é fundamental promo- para o processo permanente e siste-
ver e valorizar o envolvimento das mático focado no patrimônio cultural
comunidades vinculadas às distintas e representa, um dos caminhos para
culturas, de norte a sul do Brasil. Essa a preservação e conservação de
iniciativa representa uma das ações todo o nosso patrimônio, além de
primordiais para o desenvolvimento contribuir para o fortalecimento
do Turismo Cultural, considerando dos sentimentos de identidade e
que o reconhecimento e a valoriza- cidadania, fundamentais para a
ção da identidade e do patrimônio sustentabilidade do turismo cultural.
de uma sociedade nascem a partir Ponderando o contexto do fios condutores da formação cultural
da própria comunidade. Distrito Federal, de seu entorno deste território.
Nesses termos é que se converge e de suas particularidades cultu- Considerando todo esse poten-
a relação entre o turismo cultural e a rais, é importante considerar toda a cial de configuração sócio-regional
educação patrimonial, pois é funda- herança cultural da sua preexistên- do DF, a formação em educação
mental a realização de um trabalho cia, ou seja, toda as suas estórias e patrimonial contribui para que os
contínuo com vistas ao reconheci- histórias pregressas e, além disso, agentes culturais e a própria socie-
mento, à valorização e à apropriação valorizar inclusive as diferentes dade possam definir estratégias e
de toda a herança cultural das distin- culturas que foram agregadas à metodologias para a inventariação
tas comunidades que formam a formação do DF. A reunião de todos de referências culturais, além de
cultura brasileira. esses aspectos associados aos ideá- construir planos de preservação para
A educação patrimonial repre- rios implícitos ao desenho de Lucio toda a sua cultura local.
senta uma ferramenta que contribui Costa para o Plano Piloto definem os

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1. Turismo Cultural: uma perspectiva de preservação
e valorização do patrimônio cultural Brasileiro

No contexto brasileiro, conside- Constituição Federal de 1988, em


rando todas as suas potencialidades seu Artigo 216, ampliou esse conceito
no que se refere tanto a sua extensão de patrimônio, ao substituir a deno-
geográfica quanto ao seu potencial minação de patrimônio histórico
cultural — marcado por uma imensa e artístico por patrimônio cultu-
diversidade de bens patrimoniais — ral brasileiro, incorporando assim
é fundamental que haja, por parte o conceito de referência cultural e
dos gestores públicos, investimentos a definição dos bens passíveis de
com a perspectiva de preservação e reconhecimento, sobretudo os de
de valorização do patrimônio cultu- caráter imaterial. Como forma de
ral brasileiro. ampliar essas possibilidades, a Carta
Segundo Camargo (2002), pode- Magna abriu a possibilidade de se
mos definir patrimônio como um constituir parcerias entre o poder
conceito clássico destinado ao reco- público e as comunidades para a
nhecimento dos “bens culturais ou promoção e proteção do Patrimônio
monumentos de excepcional valor Cultural Brasileiro.
histórico e artístico nacional [...]
traçado urbano, centros históricos,
cidades históricas e monumen-
tos isolados” (p. 95). Entretanto, a

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Na esteira dessa possibilidade, Costa (2009), o turismo configura-
cabe nos questionar: como podemos -se como uma atividade com caráter
contribuir para preservação de toda cultural, impulsionado pelo desejo
a riqueza cultural do Brasil, aliada à dos grupos sociais em vivenciar
divulgação desses bens patrimoniais experiências diferenciadoras de
não apenas aos brasileiros, mas a seu cotidiano, projetando, dessa
toda humanidade sob a perspectiva forma, o patrimônio cultural como
do turismo cultural? instrumento mediador de aprendi-
Atualmente o Brasil possui 14 zagem e educação.
sítios reconhecidos como patrimônios Por outro lado, o turismo,
materiais da humanidade pela além de viabilizar a divulgação do
Organização das Nações Unidas para patrimônio cultural dos diferentes
a Educação, a Ciência e a Cultura grupos sociais, pode contribuir para
(Unesco), que desvelam toda a uma articulação entre as diferentes
dimensão histórica do desenvolvi- culturas nacionais e internacionais,
mento cultural brasileiro. Somado a oportunizando e ampliando diversas
esse reconhecimento internacional, estratégias que permitam dar visibi-
há centenas de outros bens materiais lidade às distintas culturas, atuais ou
e imateriais listados e reconhecidos passadas. Esse movimento viabiliza
no âmbito nacional pelo Instituto o reconhecimento ou até mesmo o
do Patrimônio Histórico e Artístico surgimento de novos valores a esses
Nacional (Iphan). patrimônios: seja pela redefinição de
Diante dessa herança, é outros usos e significados, sem que
primordial incluir o Turismo Cultural se distancie das tradições agregadas
como um dos caminhos viáveis para ao bem, que pode introduzir legados
a preservação e a valorização do específicos e, além disso, permitir
patrimônio cultural brasileiro, pois uma constante interação com a
essa atividade se constitui como um história sociocultural de uma nação.
dos principais fatores do trânsito ou
da mobilidade humana. Segundo

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Entretanto, corroborando com
Goodey (2002), o turismo cultu-
ral demanda um público educado
e informado, que compartilhe com
os órgãos do patrimônio o reco-
nhecimento dos lugares, eventos
e coleções culturais de sua socie-
dade ou comunidade. Além disso, pectiva de atender às necessidades
o turismo cultural deve ser visto do consumo visual e estético dos
pelos órgãos de preservação como visitantes; a cenarização do patri-
um meio de arrecadar recursos mônio histórico e arquitetônico com
para a manutenção desses luga- o consequente remanejamento da
res e manifestações, bem como população residente das áreas de
um instrumento de informação ao interesse turístico; e, ainda, altera-
público visitante. ções na sociabilidade dos moradores
O argumento apresentado por em relação à presença de turistas em
Goodey é de extrema relevância, sua comunidade.
pois deve-se evitar uma apropria- Embora sejam inúmeras as
ção inadequada, a fim de obstar estratégias de se evitar a destruição
interferências negativas, como as ou descaracterização das tradições
apontadas por Sotratti (2010): a culturais, podemos indicar pelo
descaracterização das manifesta- menos dois caminhos viáveis para se
ções populares, dos valores e das evitar esses prejuízos irreparáveis a
tradições locais, apenas pela pers- toda herança cultural brasileira.

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O primeiro refere-se ao acesso
e ao conhecimento da Política
Nacional do Turismo no Brasil, que,
pautada pelos princípios constitu-
cionais, reconhece a necessidade da
livre iniciativa, da descentralização,
da regionalização e do desenvol-
vimento econômico-social justo e
sustentável, respeitando e preser-
vando a identidade cultural das
comunidades e das populações
tradicionais eventualmente afetadas
pela atividade turísticas. O segundo
caminho seria o desenvolvimento
de um turismo pedagógico pautado
na educação patrimonial, ou seja,
que inclui a participação política
das comunidades, com o planeja-
mento organizado das atividades
turísticas alinhado à gestão pública
adequada à preservação do patri-
mônio cultural.

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2. Política Nacional do Turismo no Brasil

A Lei nº 11.771/2008 dispõe sobre Em 2013, o governo fede-


a Política Nacional de Turismo e ral apresentou o Programa de
define as atribuições do Governo Regionalização do Turismo por consi-
Federal no planejamento, desen- derar que a dimensão e a diversidade
volvimento e estímulo ao setor do território brasileiro são de tal
turístico. Conforme o disposto em ordem que exigem a estruturação e
seu art. 6º, parágrafo único, que a organização da oferta turística no saiba mais
versa sobre os Planos Nacionais de Brasil, pois constituem um grande Fique por dentro da legis-
Turismo, o governo federal aprovou desafio para a gestão e o desenvol- lação vigente:
o Plano Nacional de Turismo 2018- vimento sustentável dessa atividade. Lei 11.771/2008 dispõe sobre a
2022 com as seguintes diretrizes: I À luz dessa perspectiva, enten- Política Nacional de Turismo
- fortalecimento da regionalização de-se que a estruturação da oferta Decreto nº 9.791, de 14 de
do turismo; II - melhoria da quali- turística pode ser potencializada, se maio de 2019
dade e da competitividade no setor considerada em sua dimensão regio- Plano Nacional de
de turismo; III - incentivo à inovação; nal, em que diversos municípios se Turismo 2018 - 2022
e IV - promoção da sustentabili- integram e se complementam na Programa de regionalização do
dade. O Plano foi regulamentado prestação de serviços aos turistas, Turismo – Diretrizes (2013)
pelo Decreto nº. 9.791, de 14 de agregando valor aos territórios.
maio de 2019. Nessa perspectiva, os municípios são
No contexto da estruturação incentivados a um trabalho conjunto
do turismo brasileiro, o plano visa de estruturação e promoção, em que
promover a valorização do patrimô- cada peculiaridade local pode ser
nio cultural e natural para visitação contemplada, valorizada e integrada
turística. De fato, a política de valo- num mercado mais abrangente.
rização do turismo brasileiro tem
crescido a cada governo fede-
ral instaurado.

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3. Relação entre Educação Patrimonial
e Turismo Cultural

O Plano Nacional de Turismo Temas relacionados à educa-


2018-2022, dentro das estratégias ção patrimonial podem contribuir
para promover a valorização do não só para a assimilação da impor-
patrimônio cultural e natural para tância desses bens, como também
visitação turística, considera impor- para a criação de novas abordagens
tante o investimento em educação turísticas, tornando-os mais atrati-
patrimonial e ambiental, com vistas à vos ao público e gerar mais fluxo na
valorização do patrimônio brasileiro, cadeia turística.
bem como ao seu aproveitamento Embora o setor turístico esteja
como atrativo turístico. A educação fortemente vinculado ao desenvol-
patrimonial favorece a capacitação vimento do setor produtivo, à luz
dos membros da comunidade, no do crescimento econômico para o
território onde os bens culturais e Brasil, não podemos deixar de consi-
naturais estão assentados, e obje- derar que a valorização do turismo
tiva sensibilizá-los a perceber e a cultural relacionado aos sítios urba-
reconhecer o ambiente que os cerca, nos de valor patrimonial representa
a fim de promover uma relação de uma perspectiva de investimentos
pertencimento. nesses locais.

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Entretanto, a valorização do resilientes e sustentáveis; fortalecer
turismo cultural depende funda- as ações de proteção e salvaguarda
mentalmente de políticas especiais do patrimônio cultural e natural do
destinadas à compreensão das mundo, de modo a torná-lo aces-
complexas relações entre turismo e sível a todos; e tornar culturas e
cultura, comumente apresentadas civilizações mais conhecidas e, com
nas convenções, nas declarações isso, melhorar as condições de vida
e nos textos da Organização das diárias e reduzir a pobreza.
Nações Unidas para a Educação, a Nesse sentido, é fundamental
Ciência e a Cultura (Unesco). Esses destacar o papel da educação patri-
documentos associam cultura e monial, que viabiliza a socialização
desenvolvimento sustentável com do patrimônio cultural de uma deter-
o objetivo de sensibilizar os toma- minada sociedade referente a sua
dores de decisão e os atores do produção histórico-social para toda a
turismo e da cultura, além das socie- humanidade. Segundo Duarte (1993),
dades que hospedam turistas, e os a formação geral do ser humano
próprios turistas, favorecendo assim é constituída de socialização e
o diálogo entre culturas e desen- de apropriação de seu patrimô-
volvimento local. nio, entretanto, o distanciamento
Segundo a Unesco, o turismo da sociedade em relação a esse
cultural tem um papel importante patrimônio torna-se um processo
por desempenhar e facilitar o diálogo desumanizador e que pode implicar
entre culturas. Consequentemente, em perda de identidade. O distancia-
pode viabilizar a paz entre os povos. mento de uma determinada cultura
Além disso, por meio de políticas impede sua importante contribui-
governamentais permite: tornar ção para a construção histórica de
as cidades e os assentamentos toda a humanidade.
humanos mais inclusivos, seguros,

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A educação patrimonial, à luz de
estratégias pedagógicas, trabalha-
das, por exemplo, com os Inventários
Participativos, pode assumir um
papel importante se considerada
como um caminho de mediação
na atividade turística de caráter valorização do lugar com vias a
cultural. Portanto, é fundamental a incentivar a participação comuni-
construção de uma política nacional tária. Na medida em que a pessoa
e local que viabilize o planejamento se sente coautora das ações rela-
dessa atividade. Considerando nossa cionadas à cidade, tudo o que for
dimensão territorial e as diferentes construído de forma participa-
culturas de norte a sul do Brasil, é tiva provocará o sentimento de
primordial reconhecer e valorizar o corresponsabilidade, permitindo a
caráter patrimonial de todas essas percepção de que os resultados atin-
regiões, identificando e reconhe- gidos são uma conquista de todos
cendo sua história local, seu folclore, do grupo, pois representa o esforço
sua tradição na música, na arte e na individual de cada um e, consequen-
culinária, além de sua arquitetura, temente, traduz-se como espírito de
ou seja, todos os seus hábitos, valo- cidadania. Significa viabilizar uma
res e costumes locais. formação cidadã de espírito crítico
Na esteira desse reconheci- com a capacidade de interagir de
mento, viabilizam-se a construção forma ativa e reflexiva na sociedade
do sentimento de pertencimento com participação, contextualização
e a possibilidade de estímulo e de e significação do lugar.

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O ponto de partida, segundo e, em alguns casos, os indivíduos,
a Unesco, é o reconhecimento de reconhecem como parte integrante
que o conceito de Patrimônio pode de seu patrimônio cultural. Essas
ser entendido a partir de duas clas- informações foram trabalhadas de
sificações, seja como patrimônio forma mais extensa ao longo de
material ou patrimônio imaterial: todo este curso.
o patrimônio material destina-se Entretanto, é fundamental
ao reconhecimento do conjunto destacar que cada comunidade, ou
de bens culturais móveis e imóveis sociedade, pode valorizar e reco-
tangíveis no país, cuja conservação nhecer como patrimônio local seus
seja de interesse público, quer por lugares e suas tradições, cujo valor
sua vinculação a fatos memoráveis representa e traduz um signifi-
da história, quer por seu excepcional cado fundamental para sua história
valor, seja ele arqueológico ou etno- sociocultural, mesmo que estes não
gráfico, bibliográfico ou artístico; e estejam, necessariamente, vincu-
o patrimônio imaterial destina-se ao lados a um reconhecimento
reconhecimento de bens intangíveis, institucional por parte das instâncias
ou seja, as práticas, representações, reguladoras como a Unesco e o Iphan.
expressões, conhecimentos e técni-
cas cujas comunidades, os grupos

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Nessa perspectiva, o turismo
cultural engloba diferentes expres-
sões da cultura, abrangendo toda
nossa diversidade, em seu caráter
religioso, cívico, místico, esotérico,
étnico, cinematográfico, arqueo-
lógico, gastronômico e ferroviário.
Portanto, é fundamental identificar
as inúmeras adequações em todo o
sistema de infraestrutura de uma saiba mais
cidade como transporte, estadia, Que saber um pouco mais sobre
diversão e alimentação, a fim de estratégias pedagógicas e forma-
ção em educação patrimonial?
atender as demandas dos turistas Acesse Cultura e desenvolvi-
domésticos e internacionais. mento no Brasil.
Sendo assim, é imprescindível
que o turismo cultural se vincule,
necessariamente, a uma ação de
caráter educativo, com vistas ao de parcerias com profissionais de
conhecimento e ao reconhecimento diferentes áreas de conhecimento,
do patrimônio cultural de um deter- como historiadores, antropólogos,
minado local ou sociedade. Essa ação sociólogos, arqueólogos, museólo-
exige uma formação adequada dos gos, educadores, juntamente com os
agentes culturais no sentido de profissionais de turismo, para reali-
contribuir para o aprimoramento zar ações complementares a fim de
do trabalho educativo aos turistas. viabilizar a elaboração e implemen-
Para uma formação ampla, é tação de projetos de interpretação e
indispensável estabelecer uma rede educação patrimonial (BRASIL, 2010)

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4. Construindo estratégias para o desenvolvi-
mento do turismo cultural local

O primeiro aspecto a ser todos saberes e fazeres locais que


considerado é investigar na sua contribuem para caracterização e
região a viabilidade para o desen- identidade cultural da sua região.
volvimento do turismo cultural. Uma abordagem ampla e diversi-
Você deve identificar e reconhecer as ficada contribui para a exploração de
potencialidades a partir da identifi- diversos aspectos de uma região e,
cação de distintas referências, como: além disso, incentiva a permanência
sítios urbanos históricos, fazendas, do turista na cidade ao longo do
quilombos; edifícios, construções ano, sem necessariamente haver a
ou ruínas históricas; obras de arte concentração apenas nos períodos
relacionadas aos espaços e institui- clássicos de férias escolares.
ções culturais como museus e casas
de cultura; aspectos referentes ao
valor imaterial, como festas, festivais
e celebrações locais, associando
a gastronomia típica e peculiar
da região, além da valorização do
artesanato e dos produtos típicos. É
imprescindível considerar também
suas músicas, danças, ou seja,

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Outro ponto importante a ser No desenvolvimento dessa abor-
considerado é buscar construir dagem, é importante destacar que
referências a partir dos antigos mora- essas informações sobre a história e
dores da região, pois são peças-chave a cultura local podem contribuir para
para a construção da memória cultu- o entendimento e a valorização do
ral do lugar; eles são os detentores patrimônio pela própria comuni-
de todo o saber local, muitas vezes dade, pois, a partir daí, podem ser
não revelado formalmente em livros desenvolvidos trabalhos educativos
ou em outros instrumentos de comu- com os turistas, exigindo-se destes
nicação e educação. Suas estórias uma relação de respeito e de valori-
podem revelar a memória, os perso- zação para com o patrimônio local.
nagens e os fatos do cotidiano local, É importante valorizar aspec-
ou seja, a identidade do lugar, mas tos turísticos que não sejam apenas
considera-se que tais fatos devam consagrados pela cultura erudita,
estar relacionados ao senso comum vinculados a museus, locais e edifí-
da comunidade. cios históricos etc. Isso não significa
Esse processo de reconheci- que devemos excluir essas possibili-
mento da vivência histórica do dades, mas apenas vislumbrar todas
local, incorporado e valorizado as potencialidades da região.
pelo turismo, pode enriquecer a
experiência do turista, pois reforça
aspectos do pertencimento local
daquela comunidade.

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Outro aspecto importante para instrumentos. A não observância ticas para a abordagem do turismo
a consolidação do turismo cultu- das leis ou o desrespeito ao patri- cultural. O processo de tematização
ral é a identificação dos aspectos mônio cultural que possam causar constitui um caminho que visa valo-
legais para sua atuação, pois exis- danos ou ameaças a sua integridade rizar a identidade cultural em torno
tem marcos legais que incidem implica em punição. de aspectos muitas vezes pitorescos
sobre o segmento e observam seus Entre as estratégias de plane- e peculiares daquela comunidade ou
interesses, considerando aspectos jamento, é pertinente considerar região, podendo, inclusive, contribuir
culturais, ambientais e turísticos. constituir parcerias com a superin- com estratégias para o planeja-
São documentos que definem, orien- tendência do Instituto do Patrimônio mento da abordagem ao turista, a
tam, estruturam e ordenam ações e Histórico e Artístico Regional exemplo da valorização da gastro-
procedimentos em relação ao terri- (Iphan-DF), por ser o órgão federal nomia, do artesanato, das feiras ou
tório, respeitando as necessidades responsável pela proteção de todo de manifestações culturais de diver-
da nossa população. patrimônio material e imaterial sas naturezas, entre outros aspectos.
Vale ressaltar, como já mencio- brasileiro. Outros órgãos, regio- A tematização pode contribuir na
nado anteriormente, que a nais, estaduais e/ou municipais, são formação de roteiros turísticos em
Constituição Brasileira de 1988, em igualmente bem-vindos no conjunto uma cidade ou região.
seu artigo 216, determina que nosso dessas iniciativas.
patrimônio cultural é formado por Uma vez identificadas as
bens de natureza material e imate- potencialidades locais ou regio- saiba mais
rial e define aspectos acerca da sua nais, respeitadas as normas e leis, é A Secretaria de Turismo do
proteção, de sua promoção e de seus possível construir estratégias temá- Distrito Federal dispõe de Rotas
Temáticas no Distrito Federal,
que podem ser acompanhadas,
inclusive, em formato virtual.
Além de servirem como orienta-
ção aos turistas e aos habitantes
do DF, elas também podem servir
como suporte em sala de aula!

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Dentre todos esses aspectos,
é importante compreender que a
razão primordial do Turismo Cultural
é a própria cultura e seus diferentes
bens patrimoniais e atividades cultu-
rais relacionadas ao saber local e que
são produzidos independentemente
da atividade turística. Significa dizer
que a importância deve estar na
valorização e preservação da identi-
dade de uma determinada cultura e
não no investimento “pasteurizado”
no sentido figurado de vulgariza-
ção, para ser melhor consumido no
contexto do turismo especulativo que
visa apenas aspectos econômicos.
Uma vez abordados os aspectos
gerais sobre educação patrimonial e
turismo cultural, podemos abordar
no tópico seguinte as experiências
relacionadas ao Distrito Federal.

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5. Experiências de Turismo Cultural no Distrito Federal

Segundo a Comissão de acervos arquitetônicos modernistas rística administrativa particular, é


Desenvolvimento Regional e Turismo do mundo desenhado por Oscar administrado por um governador e
(CDR), vinculada ao Senado Federal, Niemeyer, seja pela riqueza e este indica os administradores das
que, dentre outras competências, diversidade cultural constituída regiões administrativas, inclusive
busca proposições que tratem de pelos trabalhadores de todas as a de Brasília. Há aqueles que
assuntos referentes às desigualdades regiões brasileiras que construíram confundem Brasília como a capital
regionais e às políticas de desenvol- Brasília, ou pela própria história de do Distrito Federal, mas, oficial-
vimento regional dos estados e dos preexistência da região. mente, ela é a sede do governo do
municípios, Brasília tem potencial Apesar de todas essas potenciali- DF e todos que nascem no território
turístico para competir com qualquer dades culturais e turísticas, devemos do Distrito Federal são reconhecidos
outra capital do mundo. ampliar nosso olhar à dimensão como brasilienses ou candangos.
São distintos aspectos que territorial do Distrito Federal com as
justificam essa afirmação, seja suas 33 (trinta e três) regiões admi-
por ser a Capital Federal do Brasil, nistrativas. Diferente dos estados
por ser uma cidade cujo desenho brasileiros, o DF não está dividido
proposto por Lucio Costa motivou em municípios e possui aproxi-
o reconhecimento do Plano Piloto madamente 5,78 mil km², onde
como Patrimônio da Humanidade, se estima que vivam 2,85 milhões
seja por possuir um dos principais de habitantes. Com essa caracte-

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Embora os nascidos no terri-
tório do DF sejam chamados de
Candangos, o referido termo, origi-
nalmente, foi utilizado para definir
os pioneiros construtores de Brasília
e comumente se referia aos milha-
res de trabalhadores (a maioria
deles, nordestinos) que deixaram
sua cidade natal para assumir a
responsabilidade de construir a nova
capital do Brasil e permaneceram
até hoje no território do DF, consoli- por outro lado foi prejudicada, por
dando um vínculo afetivo e simbólico parte de seus residentes, pela falta de
com a região. vínculo de natividade com a cidade.
Desta maneira, a fundação da A natureza de todos esses atribu-
cidade foi marcada por uma impor- tos reunidos configura a identidade
tante diversidade cultural e muito de nossa capital. Brasília reúne um
determinou a formação da sociedade pouquinho de cada uma das regi-
brasiliense, que nasceu marcada ões brasileiras pela sua diversidade
pela diversidade do povo brasileiro. cultural heterogênea e miscigenada,
Se, por um lado, se caracterizou por além de ser identificada como uma
essa riqueza e diversidade cultural, das capitais mais belas do mundo.

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6. A experiência do Turismo Pedagógico
no Distrito Federal
saiba mais
Fique por dentro da Programação
Projeto Territórios Culturais em Projeto Territórios Culturais.

Em 2017, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa mediação entre estudantes, professores e educadores
(SECEC) e a Secretaria de Educação (SEEDF) firmaram dos museus, onde são apresentados a saberes relativos
uma parceria conjunta prevendo ações a serem execu- ao Patrimônio Cultural de Brasília. Com essas vivências
tadas ao longo de cinco anos. Nesse contexto, surgiu o e atividades pedagógicas interdisciplinares, se oportu-
“Projeto Territórios Culturais”, destinado à promoção e niza às crianças o desenvolvimento de uma visão mais
ao desenvolvimento de ações pedagógicas fundamen- crítica e reflexiva por meio da experimentação e da
tadas na educação patrimonial. O projeto atende à Lei fruição artística.
nº 4.920/2012, que dispõe sobre o acesso dos estudantes Embora a proposta não esteja voltada para o público
da Rede Pública de Ensino do DF ao Patrimônio Artístico, em geral e não seja efetivamente destinada ao setor do
Cultural, Histórico e Natural do DF, e fortalece a Política turismo, é importante reconhecer que se trata de expe-
de Educação Patrimonial da Educação, instituída pela riência que pode ser destinada a outros públicos e que
Portaria nº 265/2016 da Secretaria de Estado de Educação pode ser incorporada a roteiros pedagógicos dentro
do Distrito Federal (SEEDF). de uma perspectiva de turismo cultural destinada a
O nome “Territórios Culturais” vem do entendimento crianças e jovens.
de que não se tratam apenas de espaços culturais ou De acordo com cronograma previsto na Portaria
equipamentos públicos de cultura, mas sim de territó- Conjunta nº 17/2017, o Projeto Territórios Culturais, em
rios culturais na perspectiva da educação patrimonial sua primeira versão, se encerrou em 2020, cumprindo as
– identidade, memória e pertencimento de um lugar/ ações em conformidade com o calendário escolar anual.
território. A essência do projeto é disponibilizar aos estu- Em uma segunda versão, com um Plano de Trabalho que
dantes da rede pública de ensino do Distrito Federal o abarca a educação patrimonial, as artes e as políticas de
acesso aos equipamentos museológicos e culturais da incentivo à leitura, a Portaria Conjunta nº 05/2019 insti-
cidade, a fim de se reconhecer, se valorizar e se apropriar tuiu o Programa Territórios Culturais. A partir dela, foi
afetivamente dos bens culturais (materiais e imateriais) lançado o Edital 08/2021 a fim de selecionar os/as profes-
por meio dos processos de mediação cultural e integra- sores/as da SEEDF para atuarem nos seis Territórios
ção entre os territórios que são igualmente educativos Culturais, dando continuidade ao trabalho a partir do
e culturais (FREITAS, COSTA, 2020). segundo semestre de 2021..
O projeto compreende, assim, uma oportunidade
de acesso à cultura e à história local da cidade, com

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Brasília, nossa capital - Turismo cívico-pedagógico
para o Brasil e para o mundo

Uma experiência recente e de caráter institucional que


visa favorecer o turismo cívico na capital federal foi cons-
tituída por uma parceria entre Secretaria de Turismo do
DF (Setur) e Ministério do Turismo. Trata-se do programa
“Brasília, nossa capital – Turismo cívico-pedagógico para
o Brasil e para o mundo”. Esse projeto busca promover
Brasília como capital do país e se destina aos estudan-
tes e professores de escolas públicas e privadas de todo
o Brasil, com foco na educação para a cidadania, desti- saiba mais
nada à formação de cidadãos que queiram conhecer e Fique por dentro do turismo
compreender como funcionam as instituições federais cívico em Brasília
na capital e como elas interagem. Turismo Cívico em Brasília –
Agregando esses aspectos, o programa valoriza o fato Passeio Cívico Pedagógico
de a cidade ter sido planejada para ser a capital federal Turismo cívico de olho em
e ser reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural estudantes de todo o mundo
– Agência Brasília (agenciabra-
da Humanidade e Cidade Criativa do Design. silia.df.gov.br)

⚫ Ponto de Memória da Estrutural

O Ponto de Memória da Estrutural é um museu de base


comunitária, gerido por lideranças e representantes de
diversos grupos, coletivos e movimentos da cidade, para
pensar e desenvolver ações voltadas à valorização das
histórias e das memórias daquela localidade, que estão
fortemente atreladas às suas lutas e resistências pelo
direito a moradia, a condições dignas de habitabilidade
e a espaços de trabalho e lazer. A própria experiência de
criação e gestão desse ponto de memória é um processo
educativo, que, para realização de suas ações, envolve
rodas de diálogo, decisões coletivas, inventário participa-
tivo, registros audiovisuais, escolha e seleção de objetos
que retratem as identidades e memórias coletivas, bem
como curadorias participativas na organização e monta-
gem de exposições.

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7. Brasília como patrimônio,
para além de seu Plano Piloto

Embora, tradicionalmente, fragmentos dessa história. A região


quando se trata do patrimônio do ocupada pelo atual Distrito Federal
Distrito Federal, costume-se valo- tem história antes de Brasília e além
rizar o que foi consagrado em sua de seu Plano Piloto.
história recente (o projeto arquite- O trabalho de Paulo Bertrand
tônico da Nova Capital, com seus (1994), por exemplo, analisa a história
edifícios e monumentos moder- do Cerrado Pré-Distrito Federal e nos
nistas, bem como as edificações mostra que, antes mesmo da cons-
que serviriam de testemunho da trução da nova capital, esta região
empreitada de desenvolvimento e contou com a presença de vários
interiorização do país, liderada por grupos humanos, com relações
Juscelino Kubistchek), é necessário sociais, infraestrutura de produção
construir um olhar mais inclusivo, e circulação próprias. Isso pode ser
reconhecendo as preexistências corroborado com as investigações
históricas da região, além de valo- feitas pelo setor de arqueologia
rizar as culturas que foram trazidas do Iphan, que registrou no Distrito
das diferentes regiões do Brasil à Federal 51 sítios arqueológicos.
época da construção de Brasília. Desses, 26 são sítios líticos vincula-
É importante valorizar os bens já dos a grupos de caçadores-coletores
consagrados oficialmente como e 7 sítios cerâmicos que remetem ao
patrimônio cultural, entretanto, é período pré-colonial.
fundamental resgatar os demais

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Esse fato nos faz refletir sobre a Brazlândia) já existiam como cidades,
relação que o Distrito Federal esta- bem antes da inauguração da capi-
belece com a região que o circunda. tal. Ademais, alguns bairros levam
Brasília não foi construída numa “ilha” o nome de antigas fazendas, como
isolada, descontextualizada histo- Gama, Papuda, Guariroba, Santa
ricamente no interior do Planalto Maria e Sobradinho. Mas não foram
Central. Durante o período colonial, somente alguns nomes que perma-
a região do Distrito Federal teve sua neceram na cidade modernista.
ocupação relacionada principal- Por exemplo, algumas expressões
mente com a expansão bandeirante culturais aqui preestabelecidas hoje
e com o ciclo de mineração, sendo fazem parte do patrimônio imaterial
estabelecidas na região fazendas do DF – Catira, Folia de Reis, Festas constituídos pela relação entre
com produção de algodão, mandioca do Divino, modos de fazer alimentos, os grupos aqui estabelecidos e o
e pequenos engenhos, rotas de conhecimentos medicinais relacio- Cerrado como meio. O uso de plan-
comércio, entrepostos comerciais e nados à tradição de raizeiras –; são tas medicinais, o manejo da terra
de cobrança de impostos. tradições e saberes que se desenvol- para plantação, o cultivo e domesti-
Quando da construção da capi- veram durante o período colonial e cação de certas espécies de plantas,
tal, resquícios da configuração social atravessaram os séculos, a despeito tudo isso construído ao longo dos
do período colonial permaneciam no do projeto modernizador de JK. séculos por povos originários e
território. Não é por acaso que duas Vale destacar que tais conhe- grupos que posteriormente aqui se
regiões administrativas (Planaltina e cimentos e tradições foram estabeleceram.

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Num segundo momento, com a grupos de quadrilha, os repentistas,
construção da cidade, permeada por os cordelistas, violeiros, as esco-
seus conflitos e disputas, um imenso las de samba e blocos de carnaval,
contingente de imigrantes aqui se o hip hop, as expressões religiosas,
estabeleceu, provindos de diversas expressões artísticas como bumba
regiões do país, sobretudo de esta- meu boi, maracatu, frevo, ternos de
dos nordestinos, do próprio Goiás e congada e Moçambique. Além das
de Minas Gerais. Esses imigrantes edificações modernistas, os espa-
trouxeram de seus estados tradições, ços de festejo, de manifestação da
mas aqui também desenvolveram, fé religiosa, de expressão dessas
junto com a leva de trabalhadores tradições: feiras, praças, centros de
que provinham de antigas comuni- tradições, Casa do Cantador, Morro
dades rurais aqui já estabelecidas, da Capelinha, Vale do Amanhecer,
novas práticas e, dessa maneira, Prainha e Praça dos Orixás.
foram construindo o patrimônio do Projetos de educação patrimo-
Distrito Federal. nial no Distrito Federal, à luz do
Esse conjunto de processos turismo cultural, devem contemplar
conforma o que é hoje o patrimônio a complexidade de fatos e elementos
de Brasília: é composto pelo patrimô- que compõem o patrimônio do DF
saiba mais
nio cultural oficialmente tombado, e as mais diversas narrativas dessa
Descubra o que há fora do mas também é constituído por todo história. Portanto, é importante
“quadrado” Rota Fora dos Eixos: o conjunto de tradições que para cá resgatar as biografias individuais,
mais de 20 atrativos nas regiões
administrativas. foram trazidas e aqui construídas, identificar o que elas reconhecem
conforme a cidade foi se desenvol- como seu patrimônio e relacionar/
vendo. São as feiras, os centros de contrastar o que foi identificado com
tradições, as festas de São João e os o que é atualmente consagrado.

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Referências
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ções básicas. Brasília: Ministério do Turismo, 2008. projeto de Educação Patrimonial para escolas do Distrito
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