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Apresentamos este curso com dos estudantes, das professores/as culo, tais como os princípios da
o fim de iniciar às reflexões acerca e de toda a comunidade escolar. educação integral, os articulado-
dos conceitos e temas relacionados Inicialmente, realizou-se a tarefa res do currículo integrado e os eixos
à Educação Patrimonial(EP) e ao de se reconhecer o Currículo em transversais, e realizamos algumas
Currículo em Movimento do Movimento do Distrito Federal como reflexões e proposições de sua apli-
Distrito Federal (CMDF). Ao a principal referência documental cação à Educação Patrimonial no
enfatizar esse vínculo, destacamos, para a condução das atividades peda- Distrito Federal.
sobretudo, que os processos de gógicas na rede pública de ensino do
ensino e de aprendizagem Distrito Federal, com foco nas possi-
desenvolvidos com base nos bilidades em Educação Patrimonial.
conteúdos do Currículo devem levar Posteriormente, identificamos os
em conta o contexto sociocultural pressupostos teóricos desse currí-
1 Rodrigo Capelle Suess é graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG-2014), mestre em Geografia pela Universidade de Brasília (UnB,
2016), e doutor em Geografia pela UnB. Professor da Carreira Magistério Público da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), componente
curricular Geografia. Integrante do Grupo de Pesquisa Ensino, Aprendizagem e Formação de Professores em Geografia (GEAF-UnB). Lattes: http://lattes.cnpq.
br/4727367551462113. Contato: rodrigo.capellesuess@gmail.com
2 Vanessa Nascimento Freitas é graduada (Licenciatura e Bacharelado) em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília (UnB-2009/2010) e mestre em Artes
(2013) pela mesma instituição. Doutora em Museologia pelo Departamento de Ciências e Técnicas do Patrimônio da Universidade do Porto, em Portugal
(2018). Professora de Artes Visuais da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Integra a Equipe Gestora do Nível Central responsável pela Política
de Educação Patrimonial da SEEDF. Contato: nasfre.vanessa@gmail.com
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Entre os diversos temas ter uma atitude propositiva para o
direta e indiretamente sugeridos desenvolvimento de uma sociedade
aqui, optou-se por desenvolver a sonhada. Assim, a aliança entre a
perspectiva da “Escola como patri- Educação Patrimonial e o Currículo
mônio cultural e educativo” e, por em Movimento do Distrito Federal
fim, foram relacionados alguns é, sobretudo, fruto do reconheci-
conceitos científicos como cultura, mento de que os saberes escolares e
mediação cultural, identidade, os conhecimentos tácitos se cruzam
memória, pertencimento, territó- e se complementam.
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rio e lugar como ferramentas úteis Para isso, a Secretaria de Estado A política pública de Educação
para a construção das aprendiza- de Educação do Distrito Federal vem Patrimonial da SEEDF (Porta-
ria nº 265/2016) toma para si a
gens, conforme o CMDF, e para a desenvolvendo a política pública de seguinte definição de Educação
consolidação da política pública de Educação Patrimonial como uma Patrimonial: “é uma dimensão da
Educação Patrimonial da Secretaria dimensão fundamental da educa- educação, é atividade intencional
da prática social, que deve impri-
de Educação do Distrito Federal. ção e de seus processos de ensino e mir ao desenvolvimento integral
Um dos desafios dos processos aprendizagem, cujo trabalho deve do sujeito um caráter social,
de educação patrimonial é fortalecer ser executado de forma transver- considerando a identidade, em
sua relação com os bens culturais
nos conteúdos escolares os sentidos e sal e interdisciplinar. As ações e os
de natureza material e imate-
os significados fundamentais da vida projetos realizados buscam arti- rial, bens naturais, paisagísticos,
cotidiana e, portanto, da cultura. A cular os componentes curriculares, artísticos, históricos e arqueo-
lógicos, visando potencializar o
partir da construção dessas relações, incluindo os conteúdos e os objeti-
processo de ensino-aprendiza-
espera-se que os estudantes sejam vos, com a vivência dos estudantes gem e preservação da memória”.
capazes de desenvolver reflexões e dos professores em seus espa- Conheça mais a respeito desse
críticas sobre si e sobre o mundo e ços e comunidades instrumento normativo.
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O Currículo em Movimento do Além disso, objetiva-se consti-
Distrito Federal, currículo oficial tuir um currículo mais reflexivo e
da rede pública de ensino, absorve menos normativo e prescritivo, com
alguns princípios da educação inte- saberes mobilizados pela interdisci-
gral: integralidade, intersetorização, plinaridade e transdisciplinaridade,
transversalidade, diálogo esco- feito em diálogo da escola com
la-comunidade, territorialidade, a comunidade.
trabalho em rede e convivência Dessa forma, rompe-se a lógica
escolar negociada. Busca-se uma formal da educação restrita aos
formação integral dos estudantes, muros escolares e entende-se a
com a devida atenção às dimensões necessidade de compreender a terri-
humanas, em um esforço com diver- torialidade dos estudantes. Trabalho
sos setores da sociedade que podem que somente se concretiza em uma
contribuir com a educação básica. rede de interação.
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Você pode baixar os arquivos
do Currículo em Movimento
do Distrito Federal no site
oficial da SEEDF.
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O termo movimento não foi adotado por acaso pela rede pública de ensino do
Distrito Federal. Ele remete à vida e à mudança, à teoria e à prática, ao senso
comum e à ciência. Ele está posto a serviço da transformação social, ele é obra cole-
tiva e participativa de todos entes da educação e da sociedade. “É um documento
a ser permanentemente avaliado e significado a partir de concepções e práticas
empreendidas por cada um e cada uma no contexto concreto das escolas e das
salas de aula desta rede pública de ensino”. Então, podemos fazer uma Educa-
ção Patrimonial em movimento, concordam? (DISTRITO FEDERAL, 2018, p. 20).
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O princípio da integralidade também para o entendimento do
busca dar a devida atenção para patrimônio cultural em sua multies-
todas as dimensões humanas, calaridade, e da escala do corpo à
com equilíbrio entre os elementos escala do mundo.
cognitivos, afetivos, psicomotores A Educação Patrimonial na
e sociais (DISTRITO FEDERAL, 2018). integralidade na educação básica
A Educação Patrimonial pode cola- se relaciona, igualmente, com a
borar para o cumprimento desse compreensão da diferença, com o
princípio ao permear e integrar os desvelamento do significados das
componentes curriculares por meio diferentes paisagens humanas e
de seus conceitos como identidade, terrestres, com o avanço do pensa-
memória, pertencimento, lugar e mento simples ao complexo e com
território. A sua abordagem pode a busca dos elementos da unici-
facilitar a compreensão integrada dade e da diversidade humana. Sua
dos processos naturais e sociais, a prática, ademais, auxilia no cumpri-
conexão dos conhecimentos escola- mento dos saberes necessários
res com o mundo vivido e cotidiano para a educação do futuro, como
dos estudantes. Pode contribuir defende Morin (2004).
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A intersetorialização no âmbito A transversalidade permite a
do poder público e do currículo, espe- integração dos conhecimentos esco-
cialmente, do Governo do Distrito lares por meio da conexão entre
Federal, visa mobilizar políticas conhecimentos sistematizados e
públicas de diferentes campos, como as questões da realidade vivida.
cultura, economia, saúde, esporte, O ponto de partida é a comunica-
meio ambiente e projetos sociais ção entre os conhecimentos pela
de forma contributiva com vistas à interdisciplinaridade (DISTRITO
melhoria da qualidade da educa- FEDERAL, 2018). O CMDF se mobi-
ção (DISTRITO FEDERAL, 2018). Em liza nesse princípio, especialmente,
educação patrimonial, particular- para a vinculação da aprendizagem
mente pode-se destacar o seu papel aos interesses e aos problemas reais
enquanto instrumento mobilizador dos estudantes e da comunidade.
de políticas públicas de diferentes Em sua transversalidade, a
campos, como educação, patrimônio Educação Patrimonial na rede pública
cultural, meio ambiente, turismo e de ensino do Distrito Federal pode
museologia e o seu papel enquanto corroborar a construção do conhe-
mediadora na construção de conhe- cimento por meio da efetivação dos
cimentos escolares. objetivos de aprendizagens, junta-
mente com os eixos transversais do
Currículo em Movimento e com os
temas transversais dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs).
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Ética (Respeito Mútuo, Justiça, Diálogo, Solida- Pluralidade Cultural e Cidadania), Trabalho
riedade), Orientação Sexual (Corpo: Matriz da e Consumo (Relações de Trabalho; Trabalho,
sexualidade, relações de gênero, prevenções Consumo, Meio Ambiente e Saúde; Consumo,
das doenças sexualmente Transmissíveis) , Meios de Comunicação de Massas, Publici-
Meio Ambiente (Os ciclos da natureza, socie- dade e Vendas; Direitos Humanos, Cidadania)
dade e meio ambiente, manejo e conservação e outros temas locais são os temas transver-
ambiental), Saúde (autocuidado, vida coletiva), sais dos Parâmetros Curriculares Nacionais
Pluralidade Cultural (Pluralidade Cultural e a (PCNs). Para saber mais, consulte o docu-
Vida das Crianças no Brasil, constituição da mento disponível no portal do Ministério
pluralidade cultural no Brasil, o Ser Humano da Educação:<http://portal.mec.gov.br/seb/
como agente social e produtor de cultura, arquivos/pdf/livro01.pdf>
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O CMDF aponta para a neces- a construção e o reconhecimento
sidade de se transformar a escola da identidade local, o resgate da
em um espaço comunitário, legiti- memória, a valorização da institui-
mando os diversos saberes locais ção escolar como um patrimônio
como sendo do mundo e da vida. cultural e o fortalecimento do adje-
Essa ambição somente se torna tivo escola-patrimônio no Distrito
viável por meio do diálogo escola- Federal: todos são caminhos para o
-comunidade (DISTRITO FEDERAL, alcance desse princípio na educação
2018). A Educação Patrimonial pode básica pública distrital.
se constituir em uma facilitadora O reconhecimento das espe- saiba mais
desse processo. Esse diálogo pres- cificidades do território em suas Conheçam as edições especiais
supõe uma comunicação efetiva da múltiplas dimensões, diversidades da Revista Com Censo: Estudos
Educacionais do Distrito Federal de
escola com as dimensões ambientais e potencialidades é um elemento Número 20 e 22:
e sociais locais. O Cerrado, os proble- necessário para a construção de
mas sociais, as especificidades do processos de ensino e aprendiza- Edição Nº 20 - Brasília 60 anos:
mundo do trabalho, o modo de orga- gem. Enquanto princípio curricular Educação e Patrimônio <https://
periodicos.se.df.gov.br/index.
nização e de disposição dos espaços no DF, a territorialidade pretende php/comcenso/issue/view/22 >.
locais e regionais, os hábitos e estilos romper com os muros escolares,
de vidas referendados nos espaços entendendo a cidade e o campo Dossiê temático na Edição Nº
comunitários locais devem ser leva- como um rico laboratório de refle- 22 - Jornadas do Patrimônio DF
2020 <https://periodicos.se.df.
dos em consideração na efetivação xões críticas e proposições (DISTRITO gov.br/index.php/comcenso/
desse princípio. O pertencimento, FEDERAL, 2018). issue/view/24>
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Assim, a partir de uma perspectiva alargada e permeável, é preciso mapear
os potenciais educativos do território em que a escola se localiza. São carac-
terísticas e feições que podem qualificar positivamente o ensino na rede
pública de ensino:
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O Currículo integrado pressu- Nessa lógica, a teoria se reafirma
põe oferecer uma educação que como um estudo, uma abstração da
contemple todas as formas de realidade, uma tomada de consciên-
conhecimentos produzidas pela cia dos fatos que pode transformar
atividade humana, não separando a prática, o modo como agimos, por
o conhecimento acumulado pela meio de uma ação mais consciente e
humanidade, na forma de conheci- efetiva sobre e com o mundo em que
mento científico, daquele adquirido vivemos, ou vice-versa, uma prática
pelos educandos no cotidiano. Ele que possa qualificar e impulsionar as
possibilita uma abordagem da reali- teorias (PIMENTA e LIMA, 2011). Esse
dade como totalidade (KUENZER, caminho corrobora uma leitura e
2002, p. 43-44). releitura do mundo e da palavra mais
Dessa forma, a dissociação entre qualificadas, como defende Paulo
teoria e prática resulta em um Freire (1991). A Educação Patrimonial
empobrecimento do currículo na não deve se constituir apenas em um
escola e, portanto, é preciso resga- arcabouço conceitual do patrimô-
tar o sentido de indissociabilidade nio cultural, mas também em uma
entre esses campos para a efetiva- ferramenta que coloca o estudante
ção de um currículo transformador em contato direto com a aplica-
na rede pública de ensino do DF, o ção dessas ideias e com a vivência
que muitos autores vão denominar e a sensibilidade necessárias para a
de práxis social. manutenção da sobrevivência e da
continuidade da espécie humana.
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A interdisciplinaridade na A Educação Patrimonial nasce
perspectiva do currículo inte- com a essência da interdiscipli-
grado funciona como um princípio naridade. A comunicação entre
organizador do espaço e do tempo o conhecimento e a mobilização
do conhecimento. Trata-se de do conhecimento para a resolu-
colocar as disciplinas e seus conte- ção de problemas comuns à vida
údos à luz das questões concretas humana e aos diversos componen-
exigindo uma boa postura no fazer tes curriculares é um feito que a
pedagógico para a construção de Educação Patrimonial mais efetiva-
conhecimentos. mente realiza em linguagens e em
Como você poderá explo- ciências humanas, mas também
rar a interdisciplinaridade? É possui grande potencialidade em
possível trabalhar a partir de articular os conhecimentos das
duas perspectivas: ciências naturais e exatas.
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Uma das formas mais eficien-
tes de integração curricular é por
meio da situação do conhecimento
numa dada realidade. Trata-se de
uma estratégia de problematiza-
ção, de mediação e de construção de
conhecimentos escolares conhecida
como contextualização (DISTRITO
FEDERAL, 2018). Compreender o
contexto cultural, histórico e geográ-
fico do espaço em que professores e
estudantes não apenas estudam,
mas vivem e participam de sua trans-
formação, é essencial para atribuir
mais sentidos aos saberes mobiliza-
dos no espaço escolar. Trata-se de dar
localidade à cidadania, à sustentabi-
lidade, à democracia e à humanidade
tão presentes nos discursos escola-
res. A contextualidade na Educação
Patrimonial na SEEDF pode se forta-
lecer como uma dimensão da cultura
na educação de (re)construção e
apropriação do patrimônio cultural
a partir dos espaços de exclusão.
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A f lexibilização, enquanto a Educação Patrimonial como um
elemento articulador do currículo importante arcabouço filosófico e
integrado da rede pública do Distrito metodológico para as adequações
Federal, não deve ser confundida necessárias do currículo aos diver-
com precarização e aligeiramento. sos contextos sociais, culturais,
A postura flexível vai ao encontro políticos e econômicos de produção
da mudança comprometida com e mobilização de conhecimentos nas
as transformações sociais. A flexi- diversas Regiões Administrativas do
bilidade pretendida é também o Distrito Federal.
resultado dos diversos projetos-pe- Levando em consideração a
dagógicos das unidades escolares e flexibilidade do CMDF do DF, quais
das especificidades locais e regio- eixos transversais podem ser apro-
nais do DF e se encontra aberta fundados? Estão previstas três
para atualização e para diversifi- perspectivas relacionadas:
cação de formas de produção dos • Educação para a diversidade;
conhecimentos e desenvolvimento • Cidadania em e para os Direitos Humanos;
intelectual dos estudantes (DISTRITO • Educação para a Sustentabilidade.
FEDERAL, 2018). Assim, considera-se
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Resumidamente,
Ao considerar o CMDF esses
como pres-
documento Aoorientador
considerar
dootrabalho
CMDF como
peda-
supostos
gógico, articulado
somentecom fazema Educação documento
sentidoPatrimonial, orientador
pretende-se do traba-
reforçar que
no
todos
espaço
os processos
escolar dese ensino
são coloca-e aprendizagem
lho pedagógico,
devem estar
articulado
fundamenta-
com a
dos nos
a serviço
aspectos justiça social, da Educação Patrimonial, pretende-
da socioculturais.
democratização
Nesse aspecto, doquanto
conhecimento,
à escala da escola,
-se reforçar
da comunidade,
que todos os das
processos
Regiões
da emancipação,
Administrativas e do da
Distrito
humaniza-
Federal, é recorrente
de ensinoem e aprendizagem
seus objetivos edevem
conte-
ção
údosdos
a menção
seres humanos
a temas quee, também,
têm por finalidade
estar fundamentados
despertar o sentimento
nos aspectos
de
da resolução de
pertencimento, problemasdoepatrimônio
apropriação da socioculturais.
cultural e ambiental dos estu-
transformação social (DISTRITO
dantes a essas localidades 1
. Nesse aspecto, quanto à escala
FEDERAL, 2018). da escola, da comunidade, das
Regiões Administrativas e do Distrito
saiba mais Federal, é recorrente em seus obje-
Humanização do ser humano? Trata-se de um movi- tivos e conteúdos a menção a temas
mento do próprio ser humano se entender enquanto que têm por finalidade despertar o
sujeito social. Esse processo implica em uma constante
ampliação da consciência a respeito de suas condições e sentimento de pertencimento e de
possibilidades biopsicossociais. O educador Paulo Freire apropriação do patrimônio cultu-
é um dos autores que mais corroboram a pensar nesta ral e ambiental dos estudantes a
problemática. Para ele, o reconhecimento de que os
seres humanos são históricos e inconclusos é um impor-
essas localidades1.
tante passo para a humanização.
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Acredita-se que a Educação Se o CMDF pode ser consi-
Patrimonial é importante para valo- derado um patrimônio, o que
rizar e resgatar as peculiaridades dizer das escolas?
históricas e culturais da comunidade A escola pode se fortalecer como
escolar e pode constituir uma ação um patrimônio educativo e cultu-
pedagógica estratégica para comba- ral no DF e resgatar o patrimônio
ter a evasão, a defasagem escolar, como elemento indivisível do termo
bem como para promover a cultura “escola”; para assim defender a
construção e apropriação de saberes
de paz nas unidades escolares. Nesse escola-patrimônio como uma formu-
a respeito de objetos e manifesta-
aspecto, diante do contexto histó- lação necessária para construção da
ções que são considerados essenciais
rico e geográfico peculiar e diverso identidade preservacionista, da iden-
para a sobrevivência, a identidade, a
que caracteriza o Distrito Federal, tidade de resistência e da identidade
história e a memória de um indiví-
no qual grandes disparidades socio- de projeto no/do Distrito Federal na
duo ou grupo, isto é, bens culturais
econômicas contribuem, sobretudo, rede pública de ensino.
comuns que remetem a algum senti-
no imaginário e no sentimento de Antes de adentrar nas especificida-
mento de pertencimento. Trata-se
pertencimento das populações, des da escola-patrimônio, voltemos a
de uma apropriação da cultura ou de
cabe à Educação Patrimonial corro- algumas reflexões teóricas a respeito
parte dela que é representativa para
borar a construção da noção de do patrimônio cultural e da educação
a coletividade.
bem comum, em outros espaços e patrimonial. A Educação Patrimonial
tempos, além do Plano Piloto. é um processo intencional que visa a
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Assim, te convidamos a imaginar Portanto, a educação patri-
uma pessoa que, para seguir cami- monial é uma dimensão da
nhando no mundo – e, muitas vezes, cultura na educação, uma roupa-
nesse processo, o movimento não é gem teórica para tratar questões
uma escolha –, precisa de elemen- importantes como a identidade,
tos e materiais em sua bagagem/ a memória, o pertencimento, os
mochila. O início dessa viagem é o lugares, os fazeres, as utopias,
nascimento, o ponto de chegada os sentidos das aprendizagens, o
é indefinido, incerto, impreciso. O sentido da escola e a construção de
conteúdo dessa bagagem vai se significados em educação.
alterando, ora mais leve, ora mais Agora sim! A partir dessas pers-
pesado, carregado de escolhas e pectivas, é possível desenvolver
renúncias. A Educação Patrimonial as reflexões sobre a escola como
é então uma bagagem que escolhe- patrimônio cultural e educativo.
mos carregar para melhorar a nossa
sobrevivência, reforçar quem somos
e alavancar o que podemos ser.
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Escola como patrimônio cultural e educativo
Inspirados nas ideias de Marilena Podemos tomar a escola como patrimônio cultural
Chauí (2003) e Milton Santos (2012), em duas perspectivas:
é possível dizer que a escola é
uma instituição social, e como tal, a lato sensu:
exprime a estrutura e o modo de • ao reconhecer o valor histórico dessa instituição social, em qualquer
funcionamento da sociedade e tempo e espaço, como patrimônio cultural inestimável da humanidade,
possui reconhecimento público associada a incentivos reais para o fortalecimento dessa unidade terri-
de sua legitimidade e de suas atri- torial na comunidade;
buições. Enquanto espaço escolar,
constitui-se em sistemas de objetos • para o fortalecimento da patrimônio cultural como mediador no
e ações dispostos com a finalidade de processo de transformação de conhecimentos cotidianos em conheci-
promover a interação entre profis- mentos científicos, constituindo-se em um facilitador da comunicação
sionais da educação e estudantes, entre escola e estudantes;
visando construir aprendizagens
de saberes locais e predispostos no • para o fomento ao protagonismo juvenil na atribuição de significados
currículo de referência. práticos e úteis aos conteúdos escolares;
e a strictu sensu:
• na atribuição do devido valor patrimonial a escolas com reconhecido
valor histórico para a construção de nossa identidade histórica e cultu-
ral distrital e nacional, de proporção igual ou superior a igrejas, fortes,
cadeias e câmaras, com mais tombamentos de escolas pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pela Secretaria de
Cultura e Economia Criativa (Secec) (Figura 1).
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Figura 1. Exemplo de escola como patrimônio cultural - Escola Júlia Kubitschek, a primeira
escola pública do Distrito Federal.
Fonte: Acervo do Museu da Educação do Distrito Federal, 1957.
A escola mantém estreita rela- social mais benéfica para a valori- imaterial responsável pela educação
ção com o patrimônio cultural e o zação, a construção e a apropriação formal. Trata-se de um espaço privi-
seu programa expressa, ou deveria do patrimônio cultural local, regio- legiado para a construção de saberes
expressar, aquilo que é delimitado nal e nacional, pois é ela que mais e fazeres necessários para a forma-
e definido como essencial para a sistematicamente introduz e dá ção do ser humano, atentando-se,
sobrevivência do jovem cidadão em continuidade à ampla discussão é claro, para as variadas concep-
uma sociedade e para o processo de do patrimônio cultural em todas ções de ser humano dos diversos
identificação, ou não, a ela. as sociedades. sistemas sociais.
O conhecimento é o patrimô- Enquanto patrimônio educativo
nio humano que permite o legado, – e, aí, cabe ressaltar a sua indissocia-
a continuidade e a potencialização bilidade com o patrimônio cultural
da presença humana no planeta. A –, entendemos que a escola se cons-
escola pode mobilizar uma prática titui na principal força material e
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Reconhecer a escola como patri- estão atuando, de modo geral, na
mônio cultural, além de valorizar os perspectiva de ofertar um serviço
bens materiais e imateriais que são educacional de excelência para a
próprios da comunidade escolar e comunidade, e a todos, de modo
da unidade territorial pertencente, específico, que estão desenvolvendo
é algo paralelo ao processo de valo- projetos em educação patrimonial
rização do patrimônio humano e na rede de ensino.
afetivo que lhe é próprio. Estamos O que defendemos a partir
especificamente falando da comu- dessas formulações é colocar em
nidade escolar composta por evidência o adjetivo patrimô-
estudantes, seus responsáveis, nio como elemento indivisível do
professores, gestores, atores locais termo escola e, assim, defender a
e outros profissionais da educação e escola-patrimônio como uma formu-
das relações sociais, afetivas e profis- lação necessária para construção
sionais estabelecidas entres eles que da identidade preservacionista, da
potencializam o processo de ensino- identidade de resistência e da iden-
-aprendizagem na escola. tidade de projeto no/do DF na rede.
Assim, pensar a escola como
patrimônio cultural é um desafio
teórico e metodológico que não se
esgota nas possibilidades levanta-
das aqui; ele se coloca a todos que
19
Quando nos referimos à noção sociedade e tem valor inestimável
de escola-patrimônio, estamos para o seu desenvolvimento.
evocando também a necessidade Entendemos a identidade, a
de uma apropriação mais robusta partir de Brandão (2019), como uma
da comunidade a esse espaço, do concepção que o indivíduo tem de
entendimento substancial de sua si mesmo e do seu pertencimento
relevância para qualquer projeto e sua afiliação a grupos. Manuels
de sociedade e de desenvolvimento Castells (1999) identifica três tipos
social que possamos alçar, da luta de identidades: a legitimadora, a de
necessária e diária para a sua quali- resistência e a de projeto. Fazendo
ficação positiva para os jovens alusão ao seu pensamento, defen-
escolares, com maior atenção àque- demos que a escola patrimônio pode
les que vivem em difíceis condições corroborar para a construção das
sociais. Uma escola-patrimônio é seguintes identidades: a preservacio-
uma escola que pertence a alguma nista, a de resistência e a de projeto.
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Entendemos como identidade laborativas que são fundamentais
preservacionista a concepção que para a manutenção da espécie, aos
visa preservar os elementos que são hábitos de cuidado com a vida, o
essenciais para a manutenção da meio ambiente e os valores huma-
identidade, como as raízes e tradi- nos que favorecem a comunicação
ções culturais. Estamos falando e a promoção do bem estar da espé-
também da necessidade de preser- cie, entre outros.
var aqueles elementos que são Essa formulação aplicada ao
transcendentais para a história do contexto do DF nos impõe alguns
ser humano e remetem à sobrevivên- questionamentos muito importan-
cia, à moradia, ao abrigo, às práticas tes para os processos de ensino e
aprendizagem:
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Preocupados com o legado posi- Com isso, no contexto esco-
tivo, mas também com o projeto que lar, almeja-se que a educação
podemos construir enquanto socie- patrimonial se constitua em uma
dade, a escola-patrimônio também esfera articuladora da cultura e
deve favorecer a construção de uma do conhecimento humano e que
identidade de projeto — é o projeto a escola-patrimônio incorpore em
de uma sociedade democrática de sua estrutura basilar as dimensões
alta intensidade (SANTOS, 1999), filosófica, educativa e política da
em que haja justiça social, forma- educação patrimonial. A dimen-
ção cidadã e a devida importância da são filosófica estará direcionada
diversidade cultural, historicamente, a pensar o patrimônio e sua rela-
negada no processo de constituição ção com a sobrevivência da espécie
deste Estado-Nação; projeto com o humana; a dimensão educativa,
qual ainda temos dificuldades em voltada à garantia da formação,
lidar, passados mais de quinhentos à continuidade social, ao legado
anos após à chegada dos portu- social; e a dimensão política estaria
gueses ao território que chamamos comprometida com a manutenção,
Brasil. Trata-se de se reconhecer a a difusão e a ampliação do direito
diversidade como eixo transversal ao patrimônio para todos, impli-
de todas as mudanças profundas e cada diretamente na melhoria da
necessárias que almejamos construir qualidade de vida das populações
coletivamente neste país e neste do campo e da cidade, no reconhe-
Distrito Federal. cimento das múltiplas identidades
e na redução das injustiças sociais.
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Não há momento mais opor- extinguir diversas mazelas como
tuno para que nós, profissionais da desigualdade social, analfabe-
educação, possamos nos apropriar tismo, violência, fome e preconceito.
do contexto do Distrito Federal e Certamente não é Brasília a respon-
de nossa educação para ressignifi- sável, por si mesma, pelas conquistas
car as nossas práticas. Refere-se à e derrotas brasileiras, mas é uma
capital federal do país que foi trans- importante estrutura material
ferida para o planalto central como e social que dá forma às ações e
eixo central do novo projeto de intenções daqueles que podem
desenvolvimento e de sociedade no continuar transformando positiva-
Brasil. O sonho de integração nacio- mente a nossa cidade, a nossa região
nal, desenvolvimento econômico, e o nosso país. Estamos falando
industrialização, qualidade de vida dos sujeitos históricos de Brasília,
e planejamento urbano nos moveu certamente todos vocês que estão
por muito tempo. Por outro lado, fazendo essa leitura.
esse plano não foi suficiente para
23
Conceitos e a educação patrimonial
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Quando tratamos de media- Assim, a concepção de cultura
ção cultural no desenvolvimento influencia diretamente a compre-
da educação patrimonial é preciso ensão da Educação Patrimonial dos
destacar que a cultura, enquanto indivíduos e/ou grupos. Se optamos
objeto de reflexão entre professores/ ou a entendemos em uma perspec-
as e estudantes, possui uma pers- tiva rígida, inflexível e, também,
pectiva interpretativa, composta como um privilégio, estaremos
de significados criados e recriados realizando ações destinadas à manu-
socialmente, sobre os quais cabe tenção do status quo do sistema de
o estudo aprofundado, a análise significados estabelecidos. Por outro
crítica e o diálogo amplo no contexto lado, o entendimento da cultura
escolar. Isso se mostra fundamen- como algo dinâmico, democrático e
tal à construção e à reconstrução em processo nos permite transfor-
de significados como um processo mar a Educação Patrimonial em um
contínuo e renovador (CORRÊA; sistema de pensamento útil para a
ROSENDAHL, 2011, 2012; MOREIRA; transformação social, especialmente
CANDAU, 2007). em seu aspecto de busca constante
de sentido e pertencimento pelos
sujeitos, tão importante ao processo
educacional (SUESS; SOUZA, 2020).
25
Quando se constrói um processo presente” (JAPIASSÚ; MARCONDES, para conectar as pessoas, como um
de mediação cultural para a educação 1996, p. 178). Se, na prática, não elemento de diferenciação e aproxi-
patrimonial, é preciso compreender podemos alterar fatos ocorridos, mação a elementos culturais — tais
a história como uma possibilidade. é possível revisitar e ressignificar como a religião, a língua, a memó-
Isto é, não há uma história única, a história e a memória, a fim de ria, a classe, o gênero, a sexualidade,
determinada, fatalista, mas uma encontrar múltiplas perspectivas, a etnia, a nacionalidade e os movi-
história que pressupõe diferentes fortalecer representatividades e mentos alternativos (BAUMAN,
hipóteses de futuro. Além disso, valorizar as diversas identidades. 2005; HALL, 2006).
como já frisamos, o patrimônio Assim, a identidade, tão cara aos
cultural é lugar de memória (NORA, processos e à educação patrimonial,
1993), Sendo assim, a memória é “[...] se relaciona com a concepção
compreendida “[...] como a capaci- que o indivíduo tem de si mesmo e
dade de relacionar um evento atual do seu pertencimento e sua afilia-
com um evento passado do mesmo ção a grupos” (BRANDÃO, 2019, s. p.).
tipo, portanto, como uma capaci- Esse conceito tem diversos desdo-
dade de evocar o passado através do bramentos e vem sendo tratado
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Todos esses elementos contri-
buem para que os sujeitos se sintam
pertencentes a um grupo, a um
lugar ou a um território. A experi-
ência e a percepção, individual ou
coletiva, permitem que cada pessoa
ou grupo construa significados mais
íntimos ou comuns que podem ser,
mais ou menos, compartilháveis. O
lugar envolve relativa permanên-
cia, mas, sobretudo, uma relativa
estabilidade de sentimentos, topo-
fílicos e/ou topofóbicos (TUAN, 2013;
SANTOS, 2012). Por esse motivo,
constitui um tópico importante para
a Educação Patrimonial, pois reflete
a dimensão espacial da cultura, do
patrimônio, do pertencimento e
dos significados.
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Outro conceito importante é o que torna o seu entendimento
o território: um espaço definido necessário ao trabalho de educa-
e delimitado por e a partir das ção patrimonial.
relações de poder. Esse poder se É preciso ter em mente que
estabelece por meio da domina- a educação tem grande respon-
ção e/ou pela apropriação simbólica sabilidade na continuidade,
— desde a materialidade das rela- especialmente, pelo
ções econômico-políticas ao poder papel de trabalhar com os
mais simbólico das relações de conhecimentos acumulados e
ordem estritamente cultural. Em refletir sobre as possibilidades para
uma perspectiva integradora, o as mudanças. Se é fazendo histó-
território envolve o natural, econô- ria que a gente aprende a história
mico, político e cultural, portanto (FREIRE, 2014), podemos afirmar que
é multidimensional e, também, é fazendo Educação Patrimonial que
multiescalar (HAESBAERT, 2016). aprendemos Educação Patrimonial,
Vê-se que a narrativa e a apropria- em um processo que é sempre
ção do patrimônio cultural sempre ação-reflexão-ação.
foram uma questão de território, Assim, continuemos!
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