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Educação Patrimonial,

Diversidade e Meio Ambiente

módulo 3

1
Presidente da República Governo do Distrito Federal Organização
Luiz Inácio Lula da Silva Vinicius Prado Januzzi
Governadora
Ana Carolina Lessa Dantas
Ministra da Cultura Celina Leão Hizim Ferreira
Vanessa Nascimento Freitas
Margareth Menezes da Purificação Costa
Secretária de Estado de Educação do Rodrigo Capelle Suess
Instituto do Patrimônio Histórico Distrito Federal Fábio da Silva
e Artístico Nacional Hélvia Miridan Paranaguá Fraga Inara Bezerra Ferreira de Sousa
Subsecretária de Educação Inclusiva e Autores
Presidente
Integral Alessandra Lucena Bittencourt
Leandro Antônio Grass Peixoto
Vera Lúcia Ribeiro de Barros Ana Carolina Lessa Dantas
Diretores do Iphan
Maria Silvia Rossi Gerente de Educação Ambiental, Átila Bezerra Tolentino
Andrey Schlee Patrimonial, Língua Estrangeira e. Beatriz Coroa do Couto
Deyvesson Gusmão Arte-Educação Beatriz de Oliveira Alcantra Gomes
Desirée Tozi Silvia Alves Ferreira Pinto Cláudia Garcia
Fabiana Maria de Oliveira Ferreira
Hugo de Carvalho Sobrinho
Superintendente do Iphan Ilka Lima Hostensky
Créditos da publicação
no Distrito Federal Laura Ribeiro de Toledo Camargo
Educação Patrimonial, Diversidade e Meio
Thiago Pereira Perpétuo Luís Fernando Celestino da Costa
Ambiente no Distrito Federal
Márcia Cristina Pacito Fonseca Almeida
Maria Andreza Costa Barbosa
Marielle Costa Gonçalves
Maurício Guimarães Goulart
Paulo Moura Peters
Rodrigo Capelle Suess
Rosângela Azevedo Corrêa
Rosinaldo Barbosa da Silva
Sônia Regina Rampim Florêncio
Vanessa Nascimento Freitas
Vinicius Prado Januzzi
Projeto gráfico e diagramação
Carolina Menezes
Revisão e Correções
Sarah Torres Nascimento de Abreu

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional
www.iphan.gov.br
publicacoes@iphan.gov.br
iphan-df@iphan.gov.br
Educação Patrimonial e
Patrimônio Material

elaborado por

Beatriz de Oliveira Alcantara Gomes1


Laura Ribeiro de Toledo Camargo2
Maurício Guimarães Goulart3
Beatriz Coroa do Couto4

Neste módulo, traremos os e gestão compartilhada do patrimô-


conceitos referentes a outros compo- nio cultural entre as esferas federal
nentes do patrimônio cultural e distrital. Por fim, apresentamos os
material: bens móveis, imóveis e inte- bens tombados no DF, detalhando
grados, protegidos individualmente mais a fundo o Conjunto Urbanístico
ou em conjunto, portadores de refe- de Brasília (CUB) e os conceitos rela-
rências da cultura e dos modos de cionados ao patrimônio moderno,
viver e fazer aqui desenvolvidos, com o objetivo de fornecer as bases
tendo como recorte temático aque- de entendimento sobre o assunto
les presentes no Distrito Federal. e estimular a difusão do conheci-
O módulo se desenvolve a mento entre diferentes atores que
partir do histórico do processo de partilham desse conjunto urbano,
patrimonialização nacional e local, permitindo a apropriação social e
apresenta conceitos e práticas inte- valorização do patrimônio cultural.
grados à preservação, conservação

1 Arquiteta na Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Distrito Federal (Iphan-DF). Arquiteta e urbanista graduada
pela Universidade de Brasília (UnB), com passagem pela Università degli Studi di Firenze (Itália).
2 Arquiteta na Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Distrito Federal (Iphan-DF). Graduada em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade de Brasília (UnB) e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB).
3 Arquiteto na Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Distrito Federal (Iphan-DF). Possui graduação em Arquitetura
e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília (UnB).
4 Analista na área de Gestão do Patrimônio Cultural no Governo do Distrito Federal. Mestre em Arquitetura e Urbanismo na área de Urbanização, Projetos
e Políticas Físico-Territoriais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Especialista em Gestão do Patrimônio Cultural pela Universidade
Estadual de Goiás (UEG) e graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

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1. Monumento, monumento histórico,
patrimônio: a evolução de um conceito.

A palavra “monumento”, em sua fazer lembrar ao usuário-observador


origem, vem do latim monumen- um fato histórico, uma homenagem,
tum, derivada de monere (advertir, uma data ou pessoa importante,
lembrar) e possui natureza afetiva, este é um objeto (uma construção
remetendo, segundo a historia- por exemplo) que adquiriu, com o
dora Françoise Choay, a “tocar, pela tempo e os usos que fizeram dele,
emoção, uma memória viva”. Para um significado especial que o distin-
ela, o monumento “é uma defesa gue dos demais edifícios e coisas.
contra o traumatismo da existên-
cia”, “tenta combater a angústia saiba mais
da morte e do aniquilamento”. Um françoise choay
monumento, no entanto, não se Explorando a ideia de monumento em seu clássico A
confunde com um monumento alegoria do patrimônio, a pesquisadora francesa afirma
que, para Riegl (historiador da arte austríaco, em ativi-
histórico. Enquanto aquele é uma dade na virada do século XIX para o XX), “o monumento
criação pensada para a função de é uma criação deliberada [...] cuja destinação foi pensada
a priori, de forma imediata, enquanto o monumento
histórico não é, desde o princípio, desejado [...] e criado
como tal; ele é constituído a posteriori pelos olhares
convergentes do historiador e do amante da arte, que
o selecionam na massa dos edifícios existentes, dentre
os quais os monumentos representam apenas uma
pequena parte” (CHOAY, 2001, p. 25).

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Na era que se inaugurou com a manual e a tomada de consciência
Revolução Industrial, a valorização sobre as consequências da Revolução
dos monumentos históricos por atri- Industrial fizeram o monumento
butos estéticos e de sensibilidade e, histórico se inscrever “sob o signo do
também, as novidades em termos de insubstituível”, segundo Choay: “os
hierarquia de valores, delimitação danos que ele sofre são irreparáveis,
espaço-temporal, estatuto jurídico sua perda irremediável”.
e tratamento técnico dispensado ao De acordo com o arquiteto
patrimônio, guardam relação com a Leonardo Castriota,
destruição ambiental característica
do período. A ruptura com o fazer inicialmente, concebia-se o patrimônio arquitetônico como uma espé-
cie de ‘coleção de objetos’, identificados e catalogados por peritos
como representantes significativos da arquitetura do passado e, como
tal, dignos de preservação [...]. No entanto, tal concepção, muito presa
ainda à ideia tradicional de monumento único, vai sendo ampliada:
tanto o conceito de arquitetura quanto o próprio campo de estilos e
espécies de edifícios considerados dignos de preservação expandem-
-se paulatinamente. Assim, ao longo do século XX, vão penetrando
no campo do patrimônio conjuntos arquitetônicos inteiros, a arquite-
tura rural, a arquitetura vernacular, bem como etapas anteriormente
desprezadas, e mesmo a produção contemporânea (o ecletismo, o
Art Nouveau).
(castriota, 1999, p. 135)

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A evolução do ideário sobre como amadurecimento das refle-
o patrimônio pode ser ainda xões sobre preservação de conjuntos
descrita pelas Cartas Patrimoniais, urbanos ou sítios históricos, na
documentos resultantes das confe- tentativa de agregar as temáticas
rências internacionais sobre o tema. preservacionista, urbana e ambien-
Duas dessas cartas são emble- tal, principalmente no âmbito das
máticas no sentido de ampliar a políticas públicas.
leitura do patrimônio, conceitual, Vemos, portanto, que a noção
temporal e espacialmente: a Carta de ‘patrimônio cultural’ se alargou
Internacional sobre a Conservação e paulatinamente, com a inclusão
o Restauro de Monumentos e Sítios da diversidade estilística e étnica
(“Carta de Veneza”, 1964) e a Carta na valorização de objetos, produ-
Internacional para a Salvaguarda tos de tradições culturais diversas,
das Cidades Históricas (“Carta de acompanhando a dinâmica desen-
Washington”, 1987). volvimentista. Ao integrar a
Vemos, portanto, que a noção dimensão ambiental, chega-se à
de ‘patrimônio cultural’ se alargou categoria de ‘patrimônio cultural
paulatinamente, com a inclusão urbano’. Nesse sentido, o conceito
da diversidade estilística e étnica de ‘patrimônio cultural urbano’ surge
na valorização de objetos, produ- como amadurecimento das refle-
tos de tradições culturais diversas, xões sobre preservação de conjuntos
acompanhando a dinâmica desen- urbanos ou sítios históricos, na
volvimentista. Ao integrar a tentativa de agregar as temáticas
saiba mais dimensão ambiental, chega-se à preservacionista, urbana e ambien-
Para aprofundar: Leia a categoria de ‘patrimônio cultural tal, principalmente no âmbito das
Carta de Veneza e a Carta de urbano’. Nesse sentido, o conceito políticas públicas.
Washington na íntegra.
de ‘patrimônio cultural urbano’ surge

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saiba mais
Em 1992, a categoria “paisagem A categoria paisagem cultural
cultural” é criada no âmbito da foi regulamentada pela Conven-
ção Europeia da Paisagem, em
UNESCO. Em 1995, é elaborada uma 2000. No Brasil, ela foi incorpo-
Recomendação sobre a conservação rada como nova categoria de
integrada de paisagens, que traz patrimônio cultural pela Porta-
ria nº 127 de 2009, do IPHAN. A
a definição de paisagem cultural recente inscrição da cidade do
para constituir as dimensões Rio de Janeiro na Lista do Patri-
territorial, histórica, ambiental e de mônio Mundial deu-se nessa
categoria, com o projeto “Rio de
diversidade cultural que configuram
Janeiro: paisagens cariocas entre
o espaço urbano. a montanha e o mar”.
Como lembra Castriota,

parece-nos que, para se pensar hoje em preservação do patrimônio, faz-se impor-


tante considerar, antes de mais nada, a amplitude do patrimônio cultural, que deve
ser contemplado em todas as suas variantes: devem-se trabalhar todos os diversos
suportes da memória — as edificações e os espaços, mas também os documentos,
as imagens e as palavras. [...] Na medida em que se amplia o próprio conceito de
patrimônio, torna-se necessária a ampliação dos instrumentos de conhecimento
e análise, com a incorporação das perspectivas dos mais diversos profissionais e
os da própria população, enquanto usuária e produtora do patrimônio”.
(castriota, 1999, p. 136)

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2. Patrimônio cultural no Brasil:
trajetória de estruturação da política pública e seus instrumentos

No Brasil, o reconhecimento
da necessidade de proteger o A primeira instituição nacional,
patrimônio histórico e artístico de que se tem conhecimento, voltada
nacional já era apontado desde para a preservação do patrimônio
os anos 20, em que se registram cultural brasileiro foi a Inspetoria de
iniciativas locais e estaduais de Monumentos Nacionais, vinculada
preservação de monumentos, ao Museu Histórico Nacional, criada
época marcada também por viagens pelo Decreto nº 24.735, de 14 de julho
nacionais para pesquisas feitas por de 1934, a qual fiscalizava imóveis
intelectuais e movimentos artísticos classificados como monumentos
que buscavam uma arte genuina- nacionais. Quase simultaneamente
mente brasileira. Essas iniciativas ao referido Decreto (dois dias após)
demonstram interesse no acervo há a promulgação da Constituição
histórico e artístico nacional, além de 1934, que estabelece o dever
de serem a base para a construção do Estado de “proteger as belezas
da noção de patrimônio no Brasil. naturais e os monumentos de valor
histórico ou artístico, podendo impe-
saiba mais dir a evasão de obras de arte”.
Semana de Arte Moderna de 1922
- Para comemorar os 80 anos da
Semana de Arte Moderna de 1922, a
TV Cultura produziu em 2002 este
programa que destaca os principais
fatos, personagens, atos e efeitos do
movimento Modernista.

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Os eventos e legislações citados Oficialmente, o órgão foi criado
compõem o contexto histórico para no ano seguinte, com a publicação
a criação do Serviço do Patrimônio da Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937,
Histórico e Artístico Nacional integrado à estrutura do Ministério
(SPHAN), primeira denominação da Educação e Saúde, na catego-
do órgão federal de proteção ao ria de Instituições de Educação
patrimônio cultural, hoje Instituto Extraescolar dos Serviços relativos
do Patrimônio Histórico e Artístico à Educação. O Art. 46 da referida
Nacional (Iphan). O início de seu Lei determinou os objetivos da cria-
funcionamento remonta a 1936, por ção do SPHAN de: “promover, em
determinação do presidente Getúlio todo o País e de modo permanente,
Vargas ao Ministro da Educação e o tombamento, a conservação, o
Saúde Pública, Gustavo Capanema. enriquecimento e o conhecimento
do patrimônio histórico e artístico
nacional”. O órgão, que também
saiba mais incorporou as funções do Conselho
Em substituição à Inspetoria de Monumentos e a seu diretor, Gustavo Nacional de Belas Artes, contava com
Dodt Barroso, que tinha orientação mais tradicionalista, o ministro um grupo de arquitetos do "movi-
Capanema convidou Rodrigo Melo Franco de Andrade, para dirigir
a instituição recém-fundada, que se manteve no cargo de diretor mento moderno" (Lucio Costa, Oscar
até 1968. Com ele vieram intelectuais e arquitetos do "movimento Niemeyer, Carlos Leão, José de Souza
moderno", como Lucio Costa e Mário de Andrade, para estruturar o Reis e Alcides da Rocha Miranda),
Serviço do Patrimônio com nova agenda, promovendo um diálogo
entre o acervo pretérito e a nova arquitetura. Houve inicialmente uma
na ênfase nos monumentos de
disputa de posições entre os defensores do "neocolonial" (entre os "pedra e cal" que marcou a gestão
quais Barroso) e os "modernistas", na qual prevaleceram os últimos. de Rodrigo Melo Franco. Os dois
últimos arquitetos citados possuem
Sugestão de livros “Arquitetura contemporânea no Brasil”, de Yves obras construídas em Brasília, a
Bruand e “Moderno e brasileiro”, de Lauro Cavalcanti. Escola-Parque 307/308 Sul, de Reis,
e a Faculdade de Educação/Auditório
Dois Candangos da UnB, de Miranda.

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Em 30 de novembro do mesmo valor arqueológico ou etnográfico,
ano, o Decreto-Lei nº 25 foi promul- bibliográfico ou artístico”. Eram
gado, regulamentando o ato de também classificados como patri-
tombamento de bens móveis e mônio “monumentos naturais, bem
imóveis, designando o SPHAN como como sítios e paisagens que importe
o órgão competente para gerir essa conservar e proteger pela feição
política. O Decreto-Lei nº 25/1937 notável com que tenham sido dota-
definiu o patrimônio histórico e dos pela natureza ou agenciados
artístico nacional como o “conjunto pela indústria humana”.
de bens móveis e imóveis existentes O atual Iphan teve vários
no país e cuja conservação seja do nomes ao longo de seus 80 anos
interesse público quer por sua vincu- de existência: de Serviço, passou a
lação a fatos memoráveis da História Departamento, Instituto, Secretaria
do Brasil, quer por seu excepcional e, de novo, Instituto.

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Os instrumentos de proteção

O tombamento, regulamentado ral material não pode depender de


pelo Decreto-Lei nº 25/1937, é um um único instrumento para preser-
dos instrumentos aplicáveis para a vação. Dessa forma, o documento
preservação do patrimônio cultural. elenca dez processos institucionais
A recente Portaria nº 375, publi- diretamente relacionados a este
cada pelo Iphan em 17 de agosto de objetivo: 1) educação patrimonial;
2018, define a Política de Patrimônio 2) identificação; 3) reconhecimento;
Cultural Material. O documento tem 4) proteção; 5) normatização; 6)
como premissas os preceitos consti- autorização; 7) participação no licen-
tucionais e a necessária participação ciamento ambiental; 8) fiscalização;
social para atingir seus objetivos. 9) conservação e 10) interpretação,
Patrimônio cultural mate- promoção e difusão.
rial é definido como “o universo de
bens tangíveis, móveis ou imóveis,
tomados individualmente ou em saiba mais
conjunto, portadores de refe- 17 de agosto é o Dia do Patrimônio Cultural. A
rência à identidade, à ação, à data foi escolhida em razão do nascimento,
em 1898, de Rodrigo Melo Franco de Andrade,
memória dos diferentes grupos o primeiro presidente da instituição e que ficou
formadores da sociedade brasileira” no cargo por 30 anos. Rodrigo também é home-
(Art. 1º, Parágrafo único), acepção nageado dando nome ao prêmio que o Iphan,
há mais de 30 anos, oferece às melhores ações
esta que amplia o conceito antes em prol da preservação do patrimônio cultural
exposto pelo Decreto-Lei nº 25/1937. brasileiro, com periodicidade anual.
Diante da diversidade de bens mate-
riais e de grupos sociais brasileiros,
fica evidente que o patrimônio cultu-

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Dentre esses processos, primeiro instrumento desenvol-
destacam-se as atividades de vido e regulamentado pelo poder
“reconhecimento” e “proteção”, público, a sua criação está intima-
que possuem três instrumentos mente conectada com a construção
coincidentes (artigos 20, 21 e 27): do conceito de patrimônio nacional,
tombamento, aplicável aos bens da instituição responsável e das polí-
materiais em geral; cadastro – ticas de preservação.
aplicável aos bens arqueológicos;
e valoração – atribuída aos bens saiba mais
ferroviários da extinta Rede O objetivo do reconhecimento é “explicitar
Ferroviária Federal S.A. os valores e a significação cultural atribuídos
aos bens materiais” (Art. 19). As atividades de
A partir do exposto, verifica-se proteção, por sua vez, têm por objetivo “tutelar
que o tombamento é o único instru- o patrimônio cultural material” (Art. 26) com
mento aplicável a qualquer bem de a finalidade de “evitar a descaracterização,
deterioração ou destruição de bens culturais
natureza material, integrando ativi- materiais; impedir a evasão de bens culturais
dades tanto de reconhecimento móveis e garantir à sociedade o direito de
quanto de proteção. Tendo sido o conhecer, interpretar e interagir com os bens
culturais materiais” (Art. 28).

Complementarmente, as atividades de reco-


nhecimento têm a chancela, aplicável às
Paisagens Culturais, e a declaração, aplicável
aos Lugares de Memória. Enquanto as ativida-
des de proteção incluem também a proibição
de exportação, aplicável às obras de arte e
ofícios produzidos no Brasil até o fim do perí-
odo monárquico.

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O tombamento é a forma pela tombamento, são criadas obrigações
qual o poder público seleciona para os proprietários de bens tomba-
coisas que, por seus atributos cultu- dos, para o poder público e para a
rais, devem ser preservadas contra sociedade, de manter e conservar
mutilações e destruição. O seu obje- o bem cultural. O tombamento, ao
tivo é impor a preservação de bens reconhecer o valor histórico-artís-
materiais, públicos ou privados, aos tico de um bem, atribui-lhe uma
quais são atribuídos valores culturais função social e confere ao Estado a
diversos pela comunidade na qual função de tutelá-lo.
estão inseridos. Com a imposição do

O reconhecimento de valores simbólicos pela comunidade, assim como a atribuição de valores relativos
ao interesse coletivo e difuso, referentes aos processos de patrimonialização, constituem temas dos Direi-
tos Culturais. Maria Cecília Londres Fonseca explica que o direito ao patrimônio cultural é um interesse
difuso, uma vez que seu sujeito é indeterminado (uma comunidade, a humanidade etc.), seu objeto, fluido
e seu conteúdo tem caráter mutável. Assim, na defesa do patrimônio, “a tutela do Estado recai sobre aque-
les aspectos do bem considerados de interesse público — valores culturais, referências da nacionalidade”
(FONSECA, 2005, p. 39). Não é por outra razão que a preservação do patrimônio — enquanto presta-se a
manter, para as próximas gerações, os “bens portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (para ficarmos com a definição constitucional) —
depende da separação entre esse direito difuso e o direito à propriedade, incidindo seus instrumentos sobre
objetos construídos (edifícios, conjuntos urbanos, que são apenas dois exemplos desses bens), independen-
temente de quem sejam seus proprietários formais.

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O termo passou a ser conhe-
cido no Brasil, na década de 1930, a
partir de sua utilização em uma das
propostas de norma de proteção
A origem e a etimologia da pala- ao patrimônio histórico e artístico
vra “tombamento” são bastante do país, anteprojeto de Mário de
discutidas por especialistas, não Andrade (1936) que precedeu a cria-
havendo ainda um consenso. O ção do órgão e, com a publicação
entendimento do termo no sentido do Decreto-Lei nº 25/1937, o termo
de classificar, inscrever, arquivar passou a ser reconhecido como um
se alia à hipótese de que o termo instrumento jurídico, a partir do qual
brasileiro tombamento faz referên- o Estado põe sob sua tutela deter-
cia à Torre do Tombo, localizada em minado bem material (Art. 1º), para
Lisboa, Portugal, onde funcionou conservação e proteção que, por
o Arquivo Público do Reino (atual seu valor arqueológico, etnográfico,
Arquivo Nacional das Torres do bibliográfico ou artístico, passam
Tombo), o qual abrigava os arqui- a integrar o chamado patrimônio
vos de administração da Coroa cultural do país.
Portuguesa, dentre os quais desta-
cam-se aqueles resultantes de saiba mais
demarcações de terras (ou tombos). O Decreto-Lei nº 25/1937 também Belas Artes, as coisas de arte erudita,
estabeleceu (Art. 4º) os quatro nacional ou estrangeira; 4) no Livro
Livros do Tombo, nos quais do Tombo das Artes Aplicadas, as
saiba mais são inscritas as obras tomba- obras que se incluírem na catego-
Dicionário Iphan de Patrimônio das, a saber: ria das artes aplicadas, nacionais ou
Cultural: Livro do Tombo. “1) no Livro do Tombo Arqueoló- estrangeiras.”
gico, Etnográfico e Paisagístico, O Decreto previa a possibilidade de
as coisas pertencentes às cate- inscrição de um bem em um ou mais
gorias de arte arqueológica, Livros do Tombo, de acordo com os
etnográfica, ameríndia e popular valores atribuídos a ele. Os bens, por
e também os monumentos natu- sua vez, eram de natureza material:
rais [...]; 2) no Livro do Tombo bens móveis, imóveis, monumentos
Histórico, as coisas de interesse naturais, sítios e paisagens.
histórico e as obras de arte histó-
ricas; 3) no Livro do Tombo das
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Em 1988, a Constituição Federal físicos e materiais por meio dos quais
recepcionou o tombamento como é possível resgatar parte da nossa
um instrumento de proteção dentre história, evidenciando que o patri-
os vários do gênero (inventários, mônio arqueológico é um tipo de
registros, vigilância, dentre outras), patrimônio cultural material.
especificou as competências legis- Além dos bens vinculados a
lativa e executiva em relação à "fatos memoráveis da história do
preservação do patrimônio cultural Brasil" ou de "excepcional valor", a
e sua operacionalidade por meio do Constituição de 1988 incorporou ao
instrumento do tombamento. nosso patrimônio cultural quaisquer
Estamos vendo, portanto, que outros bens "portadores de referên-
o patrimônio cultural brasileiro é cia à identidade, à ação, à memória
constituído por várias camadas, dos diferentes grupos formadores da
dimensões e agentes sociais, como o sociedade brasileira". Ao exemplificar
patrimônio arqueológico, estudado com "as formas de expressão" e "os
no módulo anterior. Os sítios arque- modos de criar, fazer e viver", a Carta
ológicos e seus acervos condensam acrescenta ainda os bens culturais de
vestígios de ocupação humana, natureza imaterial como passíveis de
resgatados por fragmentos cerâmi- acepção no arcabouço patrimonial
cos, pinturas rupestres, locais com cultural. Tudo isso reflete a evolu-
sulcos de polimento, dentre outros. ção e a ampliação do conceito de
Percebe-se que os estudos arqueo- patrimônio cultural, como acaba-
lógicos são feitos a partir de rastros mos de mostrar.

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3. Patrimônio cultural material no
Distrito Federal

O início das reflexões sobre a a responsabilidade de governos e e respaldada pela criação de órgãos
preservação de Brasília somente secretarias dos entes federados pela estaduais e municipais – em 1975
foi possível com a consolidação conservação, preservação, catalo- foi criada a Divisão de Patrimônio
da nova capital e a “aceitação”, por gação e políticas educativas quanto Histórico e Artístico (Decreto nº
parte da sociedade brasileira, de aos bens culturais; a necessidade de 2.893, de 13/05/1975), subordinada
que a transferência era irreversível, criação de órgãos de preservação em ao Departamento de Cultura da
o que ocorreu a partir da década conformidade com os Conselhos de então Secretaria de Educação e
de 1970. Já em 1970, Brasília recebe Cultura (iniciada logo depois); bem Cultura do DF. Essa Divisão deu
o 1º Encontro dos Governadores de como a importância da criação de origem ao Departamento de
Estado, secretários estaduais da um Ministério da Cultura (o que Patrimônio Histórico e Artístico,
área cultural, prefeitos de muni- se concretizou apenas na década mais conhecido como DePHA, que
cípios interessados, presidentes seguinte). O “Seminário de Estudos teve nas décadas de 1980 e 1990 seu
e representantes de instituições dos Problemas Urbanos de Brasília”, período áureo de atuação.
culturais, que resulta na elabora- ocorrido em 1974, foi o primeiro
ção do “Compromisso de Brasília”, grande debate sobre o desenvolvi- saiba mais
considerada uma das “cartas patri- mento e a preservação de Brasília. A partir dos anos 2000, a preser-
moniais” brasileiras — no sentido Acompanhando a repercussão vação do patrimônio cultural
do DF se divide entre o órgão
de que também são documentos das orientações internacionais de cultura — responsável pelo
resultantes de discussões acerca dos no estabelecimento de linhas tombamento de objetos, móveis,
conceitos e métodos de conservação gerais para uma nova política imóveis, sítios e paisagens, e o
órgão de planejamento urbano
do patrimônio, como as de Veneza e de preservação – pautada na — responsável pela gestão e
Washington, exemplos citados ante- articulação entre poderes públicos preservação do Conjunto Urba-
riormente. O documento enfatiza nístico de Brasília.

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Vale lembrar que, em 1977, de madeira”) e o espaço moder- recuperação e adaptação do espaço
o Brasil tornou-se signatário da nista projetado por Lucio Costa e à função museal. O esforço de reco-
“Convenção para a Proteção do Oscar Niemeyer. nhecimento do Conjunto Urbanístico
Patrimônio Mundial, Cultural e Pode-se dizer que decorrem do de Brasília como patrimônio mundial
Natural da UNESCO”, que institui estudo do GT-Brasília, bem como também decorreu no trabalho do
a “Lista do Patrimônio Mundial”. do contexto político favorável GT, cujo relatório foi inicialmente
Ainda seguindo o movimento inter- que se estabeleceu com a anistia apresentado à UNESCO, embora
nacional e nacional na instituição e a abertura do regime, mesmo a efetivação da inscrição tenha
de órgãos locais de preservação, “lenta e gradual”, a partir de 1979, ocorrido por outros meios.
foi criado o Grupo de Trabalho para as primeiras mobilizações para Assim, considera-se que o
a Preservação do Patrimônio a proteção do nosso patrimônio. Patrimônio Cultural no DF, stricto
Histórico e Cultural de Brasília em Um exemplo foi o “acampamento sensu, é composto pelo conjunto
fevereiro de 1981, conhecido como pioneiro” do Hospital Juscelino de bens materiais, submetidos ao
“GT-Brasília”, para “estudar, propor, e Kubitschek de Oliveira (HJKO). regime do instrumento jurídico do
adotar medidas que visem à preser- Aquele casario de madeira contou tombamento, que passam a ter reco-
vação do Patrimônio Histórico e com a resistência de seus últimos nhecimento do interesse coletivo e
Cultural de Brasília” (GT-Brasília, moradores, na década de 1980, difuso na preservação de objetos,
1985). Iniciam-se, assim, os primeiros para resultar em seu tombamento móveis e imóveis, que constituem
estudos de reconhecimento do patri- pelo Distrito Federal (em 1985) e propriedade privada ou pública,
mônio existente no Distrito Federal, posterior transformação em Museu por seu valor histórico, artístico,
que identificam fazendas antigas Vivo da Memória Candanga (MVMC), científico, documental, iconográfico,
(pré-existências), assentamentos passando pela instalação da própria etnográfico, social e ambiental para
operários (considerados “patrimônio sede do DePHA em meio às obras de o Distrito Federal.

saiba mais
O processo de reconhecimento ou publicação de portaria assinada pelo ológico, etnográfico, bibliográfico,
declaração de um bem como patri- Ministro, no âmbito federal, e de histórico e artístico; Livro II - edifí-
mônio cultural, stricto sensu, se decreto assinado pelo governador, cios e monumentos isolados; Livro III
dá por meio de análise de mérito, no âmbito distrital. Por fim, o bem - conjuntos urbanos e sítios históri-
seguida de instrução processual no é inscrito no livro de tombo corres- cos; e Livro IV - monumentos, sítios,
órgão de patrimônio, com a elabo- pondente à sua natureza. paisagens naturais e arqueológicas.
ração de dossiê e inventário de
Em nível distrital, a classificação
caracterização do bem. Em seguida,
buscou adaptar-se às particularida-
o processo deve ser homologado
des locais, por meio da Lei nº 47/1989:
pelo órgão colegiado correspon-
Livro I - bens móveis de valor arque-
dente, para posterior assinatura e

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O Patrimônio Cultural no DF Do conjunto de bens imóveis,
possui a particularidade de represen- destacam-se três tipologias de
tar, por um lado, a dimensão urbana, construções, que marcam esti-
que corresponde à cidade decorrente los e períodos históricos no DF: 1)
do Plano Piloto projetado por Lucio construções em taipa ou adobe,
Costa e, por outro, os demais bens, de estilo colonial (antigas sedes de
sejam móveis, imóveis ou integrados, fazendas e remanescentes do Setor
como normalmente ocorre na gestão Tradicional de Planaltina); 2) cons-
do patrimônio em outras cidades truções em madeira (o Catetinho
brasileiras. Além disso, atuam simul- e os remanescentes dos acampa-
taneamente várias entidades, uma mentos da época da construção de
federal (o Iphan) e duas distritais (a Nova Capital, como a Fazendinha, na
Secretaria de Cultura e a Secretaria Vila Planalto, e o Hospital Juscelino
de Desenvolvimento Urbano e Kubitschek de Oliveira, atual Museu
Habitação), esta última com atri- Vivo da Memória Candanga); e 3)
buições específicas quanto à gestão construções em concreto (edifícios
urbana e à preservação do CUB. simbólicos do Eixo Monumental,
No DF, existem, aproximada- com destaque para a Esplanada dos
mente, 270 bens imóveis tombados, Ministérios, a Praça dos Três Poderes,
entre monumentos, edificações, os Palácios e os edifícios residen-
pequenos conjuntos urbanos e ciais das superquadras). Alguns dos
jardins; além de 195 painéis, murais exemplares desta última tipologia de
e arte integrada à arquitetura. No construção estão inseridos no CUB
Anexo 1, ao final deste módulo, e é sobre esse conjunto que iremos
você encontra mais informações falar a seguir.
sobre esses bens.

saiba mais
Publicação do Iphan sobre os
Acampamentos Pioneiros na
construção de Brasília.

17
4. Conjunto Urbanístico de Brasília

Quando se trata de movimento o sol, a vegetação e o espaço como


moderno, é indispensável mencio- matérias primas do urbanismo
nar sua importância em âmbitos não funcional. Ao fazer essa definição
apenas arquitetônicos e urbanísticos, o documento endossa o desejo do
mas sua origem na busca por respos- movimento moderno por locais
tas para questões sociais. A cidade mais permeáveis, fluidos e salu-
moderna vai além da proposta de bres, em oposição à conhecida
um traçado urbano, ela explora cidade industrial.
uma nova forma de viver e conviver. Enquanto na Europa o movi-
A Carta de Atenas, manifesto resul- mento moderno surgiu por meio
tado do IV Congresso Internacional da elaboração da sua teoria e pela
de Arquitetura Moderna (CIAM), teve materialização dos primeiros e
sua versão final redigida em 1941 e importantes projetos, propiciados
trouxe em listagem o que seria uma pela necessidade de reconstrução
espécie de manual para a confecção das cidades destruídas pela guerra,
da cidade moderna. O documento no resto do mundo ele foi ramifi-
se propõe a solucionar aflições urba- cado e diversificado, alcançando
nísticas de um mundo pós-guerra diferentes características. Nos
onde se almejavam melhorias países emergentes, que passavam
de qualidade de vida, moderni- por acelerado processo de desenvol-
zação, funcionalidade e respeito vimento, o modernismo encontrou
ao ser humano. espaço fértil. Foi justamente esse
Ao ler tal carta, chama atenção cenário que permitiu a idealização e
o trecho que coloca explicitamente concretização de Brasília.

18
Na década de 50 do século nacional seria interiorizado. Como
passado, o governo de Juscelino ponto de partida, realizou-se um
Kubitschek foi eleito com base em concurso para a seleção do desenho
um plano de metas, cuja “meta- urbano da nova capital. Na ocasião,
-síntese” era a transferência da o arquiteto e urbanista Lucio Costa
capital para o interior, já que se saiu vencedor do certame com a
acreditava que, por meio da abertura proposta do traçado modernista que
de estradas e do povoamento do lembrava um avião.
território, o próprio desenvolvimento

Croquis de Lucio Costa para o projeto do Plano Piloto.


Fonte: Acervo Iphan.

19
Resumidamente, apenas para se este (Eixo Monumental). Além disso,
ter uma noção da composição urba- os espaços da cidade são definidos e
nística e arquitetônica de Brasília, setorizados a partir de quatro gran-
é possível descrevê-la como funda- des grupos, as chamadas escalas,
mentada em dois eixos principais que controlam aspectos como uso
que cruzam a cidade nos sentidos e densidade dos espaços, alturas e
norte-sul (Eixo Rodoviário) e leste-o- volumetrias das edificações.

Cruzamento dos Eixos, 1957.


Fonte: M. M. Fontenelle, Arquivo Público do Distrito Federal.

20
Assim, na região central da máximo de seis pavimentos sobre
cidade, onde acontece o cruzamento pilotis e possuem vasta área verde.
dos Eixos Rodoviário e Monumental, Aliás, espaços verdes permeiam
adotou-se a Escala Gregária, onde quase toda a cidade e configuram a
os prédios podem ser mais altos e chamada Escala Bucólica, cujo cará-
há maior confluência de pessoas, ter é mais fluido. Por último, a Escala
devido à concentração dos postos Monumental fica disposta ao longo
de trabalho e dos estabelecimen- do Eixo Monumental abrigando os
tos de diversão. Na chamada Escala edifícios modernistas mais icôni-
Residencial, densidades e alturas são cos de Brasília e o centro do poder
menores, os prédios são limitados ao político do país.

Eixo Monumental, 2009.


Fonte: Kenia Ribeiro, Acervo Iphan.

21
Apesar da indissociável relação passou a receber as mais variadas vação do patrimônio moderno.
entre Brasília e seus mais conhecidos contribuições, não só de arquitetos Dentre as várias discussões levanta-
projetistas, o urbanista Lucio Costa e e engenheiros, mas também dos das naquele momento, estavam as
o arquiteto Oscar Niemeyer, faz-se milhares de candangos responsáveis dificuldades para identificar o patri-
necessário entender que a cidade por levantar as estruturas inventa- mônio moderno e compreender suas
vai além desses célebres persona- das e criar outras tantas, a exemplo especificidades. Nesse contexto, em
gens, afinal, sua existência é anterior dos acampamentos e vilas criados 1987, ocorre o tombamento distri-
ao traçado regulador e se estende provisoriamente naquele período, tal, seguido pelo reconhecimento
além do sonhado para ela. A cidade mas que com o tempo se tornaram pela UNESCO de Brasília como
enquanto projeto de um único autor permanentes e parte fundamental patrimônio mundial e, em 1990, o
se encerra no momento em que da identidade da cidade. tombamento federal pelo Iphan.
Lucio Costa recebe a premiação no Durante as décadas de 80 e 90,
concurso para a nova capital. A partir o mundo presenciou uma onda de
de então, o plano inicial do urbanista interesse de instituições na conser-

saiba mais
As características identificadas pela UNESCO que levaram ao reconhecimento de Brasília foram os seguintes:
Critério (i): Brasília é uma realização artística singular, uma criação primordial do gênio humano, representando, em escala
urbana, a expressão viva dos princípios e ideais propostos pelo Movimento Modernista, refletidos nos projetos de Lucio
Costa e Oscar Niemeyer. A experiência brasileira se destaca pela grandiosidade do projeto, intimamente ligado a uma
ambiciosa estratégia de desenvolvimento e a um processo de autoafirmação nacional perante o mundo.
Critério (iv): Brasília é um exemplo único de planejamento urbano concretizado no século 20, uma expressão dos princí-
pios urbanos do Movimento Modernista, conforme proposto por Le Corbusier e estabelecido na Carta de Atenas, e nos
projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer (ex. Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional, Cate-
dral, Memorial Juscelino Kubitschek e Teatro Nacional).

22
Referências

Sugestões de livros de literatura, não acadêmicos, que têm BEÚ, Edson. Expresso Brasília: a história contada pelos
Brasília como contexto. candangos. Brasília: Editora UnB, 2012.

ALMINO, João. Cidade Livre. Rio de Janeiro: Record, 2010. BILÁ, Gabriela. O novo guia de Brasília. Brasília, 2014.

BEHR, Nicolas. Brasilírica: Antologia poemas escolhidos HATOUM, Milton. A noite da espera. São Paulo: Companhia
1977-2017. Brasília: Teixeira Gráfica e Editora, 2017. Dispo- das Letras, 2017.
nível em: http://www.nicolasbehr.com.br/livros.php. Acesso
em 2 set. 2020. LEONEL, Elisa. Gabriel em Brasília: a cidade com asas. 2ª
reimpr. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
BEHR, Nicolas. BrasíliA-Z: Cidade-palavra. Brasília: Teixeira Nacional, 2021. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/
Gráfica e Editora, 2014. uploads/publicacao/gabriel_em_brasilia_a_cidade_com_
asas.pdf. Acesso em 28 fev. 2023.
BEHR, Nicolas. Poesília: poesia pau-brasília. Brasília: Editora
do Autor, 2002. Disponível em: http://www.nicolasbehr. LISPECTOR, Clarice. Brasília. In: ______. Para não esquecer.
com.br/livros.php. Acesso em 2 set. 2020. São Paulo: Siciliano, 1992. p. 40-63.

BEHR, Nicolas. Braxília revisitada. Brasília: LGE, 2005. Dispo- LISPECTOR, Clarice. Oscar Niemeyer. In: ______. De corpo
nível em: http://www.nicolasbehr.com.br/livros.php. Acesso inteiro. São Paulo: 1992. p. 97-104.
em 2 set. 2020.
LISPECTOR, Clarice. Nos primeiros começos de Brasília. In:
BEHR, Nicolas. A teus pilotis. Brasília: Editora do Autor, 2012. XAVIER, Alberto. KATINSKY, Julio. Brasília, antologia crítica.
Disponível em: http://www.nicolasbehr.com.br/livros.php. São Paulo: Imprensa Oficial/Cosac Naify, 2012. p. 179-182.
Acesso em 2 set. 2020.
MIRANDA, Ana. Flor do cerrado: Brasília. São Paulo: Compa-
nhia das Letrinhas, 2004.

23
Material Complementar

ASSIS, Bruna Aparecida Silva de; RUFINONI, Manoela Rossi- BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil.
netti. Tombamento e Destombamento: Ambiguidades e Tradução de Ana M. Goldberger. 4. ed. São Paulo: Pers-
conflitos na atribuição de valores aos bens culturais. In: pectiva, 2005.
BRANDÃO, Angela; TATSCH, Flavia; DRIEN, Marcela (Orgs.).
Políticas na História da Arte: Redes, contextos e discursos CASTRIOTA, Leonardo Barci. Alternativas contemporâneas
de mudança. São Paulo: Programa de Pós Graduação em para políticas de preservação. Topos, Belo Horizonte, v. 1,
História da Arte, UNIFESP, 2017. Disponível em: https:// n.1, p. 134-138, jul./dez. 1999.
www.academia.edu/35319584/Tombamento_e_Destom-
bamento_ambiguidades_e_conflitos_na_atribui%- CAVALCANTI, Lauro. Introdução à primeira edição. In:
C3%A7%C3%A3o_de_valores_aos_bens_culturais. Acesso CAVALCANTI, Lauro [Org.]. Modernistas na repartição. 2.
em 2 set. 2020. ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/MinC/IPHAN. p. 11-24. Coleção
Risco Original
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. GT Brasília: Memórias da CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: a história de uma
preservação do patrimônio cultural no Distrito Federal. nova linguagem na arquitetura (1930-60). Rio de Janeiro:
Brasília: IPHAN, 2016. Disponível em: http://portal.iphan. Jorge Zahar Ed., 2006.
gov.br/uploads/publicacao/digital_gtbrasilia.pdf. Acesso
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de
em 2 set. 2020.
Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação Liberdade/Ed.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio UNESP, 2001. 283 p.
Histórico e Artístico Nacional. Roteiro dos acampamentos
COSTA, Lucio. Relatório do Plano Piloto de Brasília. Brasí-
pioneiros no Distrito Federal. Brasília: IPHAN, 2016. Dispo-
lia: IPHAN; Secult, 2014. Disponível em: http://portal.iphan.
nível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/
gov.br/uploads/publicacao/lucio_costa_miolo_2018_reim-
roteiro_dos_acampamentos_pioneiros_no_distrito_fede-
pressao_.pdf. Acesso em 2 set. 2020.
ral.pdf. Acesso em 2 set. 2020.
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura
moderna. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo:
Martins Fontes, 1997.

GOROVITZ, Matheus. Brasília, uma questão de escala. São


Paulo: Projeto, 1985.

LE CORBUSIER. A Carta de Atenas. São Paulo: HUCITEC,


EDUSP, 1993.

RABELLO, Sonia. O tombamento. In: REZENDE, Maria


Beatriz; GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON,
Analucia (Orgs.). Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural.
1. ed. Rio de Janeiro, Brasília: IPHAN/DAF/Copedoc, 2015.

RABELLO, Sonia. O Estado na Preservação de Bens Cultu-


rais: O Tombamento. Rio de Janeiro: Renovar, 1991.

24
ANEXO 1

LISTA DOS BENS TOMBADOS NO DF

bem cultural livro de tombo ano de inscrição abrangência

Igreja Nossa Senhora Livro II - Edifícios e


1982 Nacional e Distrital
de Fátima (Capela) Monumentos Isolados

Igreja São Sebastião Livro II - Edifícios e


1982 Distrital
– Planaltina Monumentos Isolados

Livro I - Bens Móveis


de Valor Arqueológico,
Etnográfico, Bibliográfico,
Museu da Cidade Histórico e Artístico; Livro 1982 Nacional e Distrital
II - Edifícios e Monumentos
Isolados; Livro de Belas
Artes do Iphan

Museu Histórico e Livro II - Edifícios e


1982 Distrital
Artístico de Planaltina Monumentos Isolados

Livro II - Edifícios e
Pedra Fundamental 1982 Distrital
Monumentos Isolados

Livro IV - Monumentos,
Árvore do Buriti Sítios, Paisagens Naturais 1985 Distrital
e Arqueológicas

Remanescentes do
Hospital Juscelino Livro III - Conjuntos
1985 Distrital
Kubitschek de Oliveira Urbanísticos e
2015 Nacional
(Museu Vivo da Sítios Históricos
Memória Candanga)

25
bem cultural livro de tombo ano de inscrição abrangência

Coleção Arqueológica Livro Arqueológico,


1986 Nacional e Distrital
João Alfredo Rohr Etnográfico e Paisagístico

Livro I - Bens Móveis


de Valor Arqueológico,
Etnográfico, Bibliográfico,
Histórico e Artístico; Livro
Memorial JK II - Edifícios e Monumentos 1986 Nacional e Distrital
Isolados; Livro de Belas
Artes do Iphan; Livro
Arqueológico, Etnográfico
e Paisagístico do Iphan

Placa de Ouro Oferecida


Livro Histórico do SPHAN 1986 Nacional e Distrital
a Rui Barbosa

Livro III - Conjuntos


Conjunto Urbanístico Urbanísticos e Sítios 1987 Distrital
de Brasília Históricos; 1990 Federal
Livro Histórico do IBPC

Livro II - Edifícios e
Ermida Dom Bosco 1988 Distrital
Monumentos Isolados

Livro II - Edifícios e
Escola Classe 308 Sul 1988 Distrital
Monumentos Isolados

Livro III - Conjuntos


Vila Planalto Urbanísticos e 1988 Distrital
Sítios Históricos

Relógio da Praça Central Livro II - Edifícios e


1989 Distrital
de Taguatinga Monumentos Isolados

Livro de Belas Artes


Catedral
Livro II - Edifícios e 1991 Nacional e Distrital
Metropolitana de Brasília
Monumentos Isolados

26
bem cultural livro de tombo ano de inscrição abrangência

Livro Histórico do DPHAN


Museu do Catetinho Livro II - Edifícios e 1959 Nacional e Distrital
Monumentos Isolados

Livro II - Edifícios e
Igreja São Geraldo 1993 Distrital
Monumentos Isolados

Livro II - Edifícios e
Igreja São José Operário 1998 Distrital
Monumentos Isolados

Centro de Ensino Livro II - Edifícios e


1995 Distrital
1º Grau Metropolitana Monumentos Isolados

Livro II - Edifícios e
Escola Parque 307/308 Sul 2004 Distrital
Monumentos Isolados

Livro III - Conjuntos


Casa da Fazenda Gama Urbanísticos e 2006 Distrital
Sítios Históricos

Livro III - Conjuntos


Cine Brasília Urbanísticos e 2007 Distrital
Sítios Históricos

Livro I - Bens Móveis


de Valor Arqueológico,
Teatro Dulcina De Moraes
Etnográfico, Bibliográfico,
e Acervos Fotográfico, 2007 Distrital
Histórico e Artístico;
Textual E Cênico Da Atriz
Livro II - Edifícios e
Monumentos Isolados

Casa de Chá (Touring Club) Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital

Livro de Belas Artes; Livro


Congresso Nacional Arqueológico, Etnográfico 2007 Nacional e Distrital
e Paisagístico

27
bem cultural livro de tombo ano de inscrição abrangência

Conjunto Cultural
Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital
da República

Conjunto Cultural Funarte Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital

Conjunto do
Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital
Palácio da Alvorada

Livro de Belas Artes;


Conjunto dos
Livro Arqueológico, 2007 Nacional e Distrital
Ministérios E Anexos
Etnográfico e Paisagístico

Espaço Lucio Costa Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital

Espaço Oscar Niemeyer Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital

Memorial dos
Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital
Povos Indígenas

Livro de Belas Artes;


Palácio da Justiça Livro Arqueológico, 2007 Nacional e Distrital
Etnográfico e Paisagístico

Livro de Belas Artes;


Palácio do Planalto Livro Arqueológico, 2007 Nacional e Distrital
Etnográfico e Paisagístico

Livro de Belas Artes;


Palácio do Itamaraty
Livro Arqueológico, 2007 Nacional e Distrital
e Anexos
Etnográfico e Paisagístico

Livro de Belas Artes;


Palácio do Jaburu Livro Arqueológico, 2007 Nacional e Distrital
Etnográfico e Paisagístico

28
bem cultural livro de tombo ano de inscrição abrangência

Livro de Belas Artes; Livro


Panteão da Liberdade
Arqueológico, Etnográfico 2007 Nacional e Distrital
e Democracia
e Paisagístico

Pombal Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital

Livro de Belas Artes; Livro


Praça dos Três Poderes Arqueológico, Etnográfico 2007 Nacional e Distrital
e Paisagístico

Livro de Belas Artes; Livro


Quartel
Arqueológico, Etnográfico 2007 Nacional e Distrital
General do Exército
e Paisagístico

Livro de Belas Artes; Livro


Supremo Tribunal Federal Arqueológico, Etnográfico 2007 Nacional e Distrital
e Paisagístico

Teatro Nacional
Livro de Belas Artes 2007 Nacional e Distrital
Cláudio Santoro

Livro I - Bens Móveis


de Valor Arqueológico,
Revista Brasília 2008 Distrital
Etnográfico, Bibliográfico,
Histórico e Artístico

Livro I - Bens Móveis


Acervo da Obra Musical
de Valor Arqueológico,
e Pictórica do Maestro 2009 Distrital
Etnográfico, Bibliográfico,
Cláudio Santoro
Histórico e Artístico

Livro II - Edifícios e
Monumentos Isolados;
Clube de Golfe de Brasília Livro IV - Monumentos, 2009 Distrital
Sítios, Paisagens Naturais
e Arqueológicas

29
bem cultural livro de tombo ano de inscrição abrangência

Livro I - Bens Móveis


de Valor Arqueológico,
Etnográfico, Bibliográfico,
Histórico e Artístico; Livro
Obra de Athos Bulcão 2009 Distrital
de Belas Artes do Iphan;
Livro Arqueológico,
Etnográfico e
Paisagístico do Iphan

Livro III - Conjuntos


Unidade de Vizinhança
Urbanísticos e 2009 Distrital
107/307 e 108/308 Sul
Sítios Históricos

Livro I - Bens Móveis


de Valor Arqueológico,
Etnográfico, Bibliográfico,
Jardins de Burle Marx Histórico e Artístico; 2011 Distrital
Livro IV - Monumentos,
Sítios, Paisagens Naturais
e Arqueológicas

Reservatório Elevado Livro II - Edifícios e


2013 Distrital
de Ceilândia Monumentos Isolados

Centro de Ensino Médio


Livro II - Edifícios e
Escola Industrial de 2014 Distrital
Monumentos Isolados
Taguatinga (EIT)

Livro II - Edifícios e
Templo Budista 2014 Distrital
Monumentos Isolados

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31

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