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UNIVERSIDADE
CATÓLICA DE
BRASÍLIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Mestrado
BRASÍLIA 2005
13
BRASÍLIA
Formatado: Centralizado,
Espaço Antes: 1 linha, Depois
2005 de: 1 linha, Espaçamento
entre linhas: 1,5 linha
14
Termo de Aprovação
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
Brasília
UCB
16
Aos meus pais, Deusdete e Catarina (in memorian), que sempre foram o meu
referencial e onde quer que estejam velam por mim, me iluminando...
Ao meu filho, Marcius Ainon, meu grande amor, que inúmeras vezes abriu mão de
minha presença e compreendeu a significação que este passo (realizar o mestrado ) tem para
mim...
E, em especial, a minha linda e jovem sobrinha/filha, Grace Kelly (in memorian) que
teve retirada a sua oportunidade/direito de envelhecer, de esculpir, com o tempo, os traços
dos anos e da experiência em seu rosto...
17
Agradecimentos
Agradeço especialmente:
A minha irmã, Lyndete, pelo incentivo e apoio para prosseguir na árdua caminhada; Formatado: Cor da fonte:
Automática, Português (Brasil)
Formatado: Recuo de corpo
Ao companheiro, Walker, pelo carinho, paciência e por compreender meu objetivo de texto 3, À esquerda, Espaço
Antes: 0 pt, Depois de: 0 pt,
traçado; Espaçamento entre linhas:
simples
Formatado: Fonte: Não
A minha orientadora Profª Drª Altair que acreditou em mim, conduziu-me pela mão, Negrito, Cor da fonte:
Automática, Português (Brasil)
compartilhou de minhas alegrias e tristezas e, sempre que necessário, reconduziu-me ao Formatado: Cor da fonte:
Automática, Português (Brasil)
caminho, com a capacidade de me fazer mergulhar com escamas nos sonhos e emergir com Formatado: Fonte: Não
Negrito, Cor da fonte:
asas após a transformação; Automática, Português (Brasil)
Formatado: Cor da fonte:
A minha ancestral Oyá, deusa guerreira, dona do meu ori, que, tenho certeza, está Automática, Português (Brasil)
Formatado: Fonte: (Padrão)
sempre ao meu lado. Monotype Corsiva, Itálico, Cor
da fonte: Automática
18
Resumo
1
Organizacionalidade significando uma organização sempre se fazendo e refazendo na consideração da
dimensão simbólica. Antropolítica por ser centrada na pessoa humana.
20
Abstract
______________________
¹ Organizationality meaning an organization always thinking and re-thinking itself in its symbolical dimension.
Antro-political for being human-centered.
21
SUMÁRIO
Parte IV: Pegadas que ficaram na areia - As pistas culturanalíticas ......................... 193
Capítulo 7 – (In) Conclusões ............................................................................................ 193
ANEXOS
Anexo 1 - Missão e Visão de Futuro da Universidade Católica de Brasília ..... 214
Anexo 2 - Organograma da DPE/PROEx/UCB, ano 2004/2005 ...................... 215
Anexo 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................ 216
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Percebe-se hoje que a sociedade - em seu discurso - vem se voltando mais para as
questões do fenômeno da velhice e do processo de envelhecimento. Todavia, na prática,
atividades planejadas, organizadas e pensadas com os idosos ainda são incomuns. O
fenômeno da velhice e o processo do envelhecimento, teoricamente, vêm sendo mais
estudados e politicamente tem sido dado a ambos e a condição do velho, um pouco mais de
atenção. Contudo, resta a implementação e a implantação dos estudos realizados, a interação
teoria/prática que resulte em ações. É preciso, de fato, ver o idoso - o ser humano com mais
idade que os outros, o homem mais vivido, o velho -, como cidadão; mas é importante que o
próprio idoso se auto-valorize, que lute por fazer-se valorizar, se engajar nos movimentos e
fazer-se representar nas políticas públicas do país. Para tal é preciso reunir forças, talvez já
um tanto fracas, mas é fundamental ter consciência do seu valor como ser humano,
entendendo a sua velhice, ou o seu processo de envelhecimento como algo natural, próprio da
natureza humana, impregnado da cultura.
Cabe aqui lembrar como, poeticamente, Cecília Meireles (1939), ainda jovem - 38
anos - revela sua surpresa e “angústia com o passar do tempo”, ao se perguntar:
“(...)
Em que espelho ficou perdida
A minha face?”
Ao lado deste halo negativo envolvendo a velhice, convém anotar que, como escreve
Excluído:
Lahud Loureiro (1998, p. 21), a velhice é apenas mais uma etapa da vida que tem que ser
Excluído:
vivida; entretanto este viver, apesar das formas fragilizadas, deve e pode, como as demais,
“ser bem vivida, com ainda encantos, apesar dos possíveis desencantos”, mas também com
possíveis “reencantos” ou novos encantos.
A sociedade não se preparou para a velhice, para ser composta por este batalhão que
cresce, estatisticamente comprovado, de pessoas com mais de sessenta anos. As pessoas, por
sua vez se preparam para, se menino, ser homem e, se menina, ser mulher, mas não para ser
velho, para viver a sua velhice, etapa natural do ciclo da vida. Este não-preparo tem como
pano de fundo uma série de questões de ordem política, econômica, psicológica e cultural.
“Se ainda há vida, há também direitos e deveres; direitos que precisam ser
reivindicados e deveres que podem ser ainda cumpridos. Direito de ser respeitado
para viver com dignidade e dever de respeitar para a aceitação e pertencimento aos
grupos com menos idade.”
O respeito é uma via de mão dupla nem sempre concretizada na prática dos idosos.
em todas as idades, é um ser social e como tal precisa conviver em sociedade, respeitando os
limites do outro. É possível, para que esta convivência ocorra de forma harmoniosa, a
necessidade de uma revisão sensata, humana e constante destes direitos a usufruir e dos
deveres a cumprir. Eles podem ser aprendidos ou reaprendidos, modificados ou assumidos
constantemente. Ter direito, lembrar e lutar por esta prerrogativa é fácil para o homem jovem
ou maduro, o que às vezes torna-se difícil para o homem velho. Ecléa Bosi escreve: “o velho
não tem armas, nós é que temos que lutar por eles”. (LAHUD LOUREIRO, 2000, p. 43), mas
o velho saudável tem o dever de propugnar por seu lugar digno nos espaços que habita.
Excluído: ¶
A educação, em sentido amplo, por ter intrínseca a característica de oportunizar a <sp>
2
Coordenadora do Programa de Saúde do Idoso, do Ministério da Saúde, no ano de 2003. Excluído: n
17
pelo governo para os outros estágios do desenvolvimento humano, como por exemplo,
adaptar uma política pública da infância/adolescência para o idoso.
3
O capítulo 3 desta dissertação, irá tratar sobre as Universidades Abertas à Terceira Idade e o seu surgimento no
mundo e no Brasil.
18
Nesta recíproca relação geracional positiva, todos saem ganhando: o aluno novo é
capaz de aprender com o aluno velho e o aluno velho é capaz de aprender com o aluno novo.
A rejeição da sociedade estigmatizante para com o idoso começa a se diluir desta forma e a
aceitação e entendimento do valor da velhice e do velho se processa; faz com que o velho se
sinta na sua justa importância sem negar valor às outras idades e tenha sua auto-estima
estimulada, conservada ou recuperada em alta. O jovem é assim conquistado para lutar pelo
velho, pois, como já foi dito, se “o velho não tem armas. (...) temos que lutar por ele”. (BOSI
apud LAHUD LOUREIRO, 1999, p. 43).
O despertar para esta pesquisa se deu pelo interesse em responder questões, como:
5
Na mitologia grega Cronos, considerado como uma divindade primordial, era o mais jovem dos Titãs e
simboliza o tempo.
22
6
Ver quadro de Identificação (sexo, idade, grau de instrução) dos sujeitos-autores do protocolo no capítulo 4
desta dissertação.
23
Para falar de um programa universitário voltado para a terceira idade foi necessário
mergulhar em teorias gerontológicas, buscando sentir e aprender mais sobre o tema da
velhice, a situação atual do velho na sociedade, o processo de envelhecimento, situar o velho
no tempo e no espaço, romper barreiras e tentar desmitificar mitos solidificados ao longo dos
anos pela sociedade. Foi preciso falar sobre o surgimento destes programas oferecido pelas
instituições de ensino superior, que por oferecerem atividades de ensino, pesquisa e extensão,
são considerados pequenas universidades temáticas: Universidade Aberta à Terceira Idade.
Seguindo uma cadência de pensamentos, foi proposto uma redução no foco do objeto,
passando pelo histórico das UnATI’s no mundo, no Brasil e em Brasília - DF, até chegar à
Universidade Católica de Brasília, situada em Taguatinga – DF. Para fazer um link entre a
temática da velhice – capítulo 1 - e a temática das UnATI’s – capítulo 3 -, foi necessário falar
um pouco do processo de ensino-aprendizagem, especialmente sobre uma pedagogia voltada
para o idoso, uma gerontogogia – capítulo 2.
Os temas tratados nos 3 (três) capítulos são instigantes a medida que buscam um
novo olhar para o novo paradigma que surge: viver a velhice com qualidade de vida.
24
“(...)
Sua vida cheia de histórias
E essas rugas marcadas pelo tempo
Lembranças de antigas vitórias
Ou lágrimas choradas ao vento (...)” Excluído: Lembranças de
antigas vitórias¶
Roberto e Erasmo Carlos Ou lágrimas choradas ao vento¶
Sua voz macia me acalma¶
E
1.1 - Uma visão geral do fenômeno da velhice, das situações do velho e do processo
de envelhecimento.
que o aumento da expectativa de vida vem se ampliando. Os romanos não viviam, em média,
além dos 18 anos; no século XVII, a média de vida era de até os 25 anos e no século XVIII,
até os 30 anos aproximadamente. Durante muitos séculos, um número muito reduzido de
pessoas chegava aos 60 anos. No início do século XX o número de pessoas com idade
aproximada aos 80 anos dobrou na França. Embora a expectativa de vida tenha aumentado ao
longo dos tempos, este aumento tem sido diferente entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento e/ou subdesenvolvidos. (LAHUD LOUREIRO, 2000, p. 39).
7
Citação feita por Nóbrega, em 08/09/2003, em aula/palestra sobre “O processo do envelhecimento”, ministrada
na disciplina Tópicos Especiais do Envelhecimento, doPrograma Stricto Sensu em Gerontologia da UCB.
25
Viver muito e bem sempre foi um desejo do ser humano, o que é também um direito.
Desde os tempos mais remotos, por mais que a idéia do envelhecer trouxesse o medo pela
perda da força física, imprevisibilidade do futuro e o temor da morte, sempre houve o desejo
Excluído:
de se viver muito, o que se prova através da célebre frase de saudação: Vida longa ao ... .
O homem sempre quis viver mais e muito na juventude. Não previu que o viver mais,
expresso nas estatísticas acima, o faria viver mais na velhice, viver mais tempo como velho.
Aspirou viver muito tempo jovem e não velho.
Hoje, o homem continua aspirando a vida longa, mas com qualidade de vida,
entendida no seu sentido mais amplo, não só com a manutenção do corpo. É possível entender
a velhice como uma fase da vida, onde se somam as glórias de todas as fases passadas -
infância, adolescência e idade madura – com a esperança e a construção do futuro que os
aguarda. Como bem expressa Morin, em algum lugar, “é agora no envelhecimento e
rejuvenescimento misturados que sinto em mim todas as idades da vida. Sou
ininterruptamente a sede de uma dialógica entre infância/adolescência/maturidade/velhice”.
8
Citação feita por Guita Debert, em 28/03/2005, em Aula Magna ministrada no Programa Stricto Sensu em
Gerontologia da UCB. Tema: “Desafios e Perspectivas nos estudos sobre a Velhice o Envelhecimento”.
26
O bem viver inclui a aceitação da idade que se tem e a consideração tranquila dos
bordados que o tempo faz em nossas nas faces. Adélia Prado em seu poema, diz:
Mas nem todos as assumem ou mesmo aspiram, como Adélia Prado. Alguns podem
encará-las como esculturas, como desenhos feitos pela ação do tempo, como escreve Lahud
Loureiro (1999, p. 82) ao registrar, “se pudéssemos abrir cada ruga de uma face envelhecida,
quanta história encontraríamos dentro dela”, ou como, Melgarejo (2003), que escreve, cada
ruga ou traço de expressão, “revela um riso, um choro, um orgasmo, um êxtase místico ou
sádico, um momento de suspeita paranóica”. Assim, alguns velhos ao ver refletido no espelho
suas próprias rugas poderão ver o que os autores acima dizem, porém, outros, poderão não ver
da mesma forma e poderão ter sua auto-estima diminuída. Seria prudente não deixar que a
Excluído: a
lâmina de um espelho sirva de barreira que o impeça de viver o presente, preservar o futuro, e
Excluído: perdido
o leve apenas a buscar um passado já vivido. As lembranças são importantes para o velho,
mas ele não pode viver somente de recordações. O ser humano idoso pode criar, viver novas e
inéditas situações, usufruir de novos hábitos, novas atitudes, novas doçuras, aprender e
construir uma vida nova na velha idade. Isto vai depender de múltiplos fatores interligados no
complexo processo do viver e do envelhecer, entre eles, do imaginário de cada um:
imaginário de luta, de acomodação ou de harmonização dos contrários, frente à realidade,
como exprime as estruturas antropológicas do imaginário, identificadas por Gilbert Durand
(2001, p. 241), como heróica (ou esquizomórficas), mísitcas (ou antifrásicas) e sintéticas (ou
dramáticas).
1.1.1. – A Velhice
Excluído: bonitos
“Esses seus cabelos brancos, (...)
Esse olhar cansado, profundo (...)
E esses passos lentos de agora (...) Excluído: Me dizendo coisas
Já correram tanto na vida (...)” num grito¶
dos cabelos brancos. Numa fase bem mais avançada, a marcha se torna mais lenta; a postura
decaí, encurva; e a capacidade auditiva e visual se reduz, como diz a epígrafe citada.
Excluído: Porque sempre há
Todas essas modificações contribuem para a idéia pré-concebida da associação entre quem diga¶
no meio da minha alegria:¶
velhice e feiúra, entre velhice e fragilidade, que motivaram os preconceitos. Como escreve "põe o agasalho"¶
"tens coragem?"¶
Barreto (1992, p. 26), referindo-se a estereótipos atuais, “o ideal estético é erigido sobre um "por que não vais de óculos?"¶
Mesmo rosa sequíssima e seu
perfume de pó,¶
corpo jovem, o velho é feio. (...) O corpo do velho é um corpo frágil.” Nestas circunstâncias, o quero o que desse modo é doce,¶
o que de mim diga: assim é.¶
espelho, na velhice, torna-se indiscreto, torna-se um inimigo, pois mostra uma determinada Pra eu parar de temer e posar pra
um retrato,¶
construção da realidade, uma imagem, como ela é, sem camuflar a ação do tempo. Mas é ganhar uma poesia em
pergaminho.¶
comum na velhice pensar, como cita Lahud Loureiro (1999, p. 84), que é o espelho que já não
reflete bem, que não devolve, no seu refletir, a imagem que se tinha, a imagem esperada e
que, “quem está velho é o espelho”.
Com o aumento da expectativa de vida, a velhice tornou-se uma etapa mais longa.
Quanto tempo dura hoje cada etapa do ciclo de vida do homem? Quanto tempo dura a
infância, a adolescência e a vida madura? Se não tivermos nossa vida interrompida, seremos
Excluído: durant
adultos durante mais tempo, pois a fase da velhice foi prolongada no tempo.
Embora existam controvérsias em relação tanto a data para entrada na velhice como
para a delimitação das suas fases ou etapas, estas etapas se definem por características
pessoais, sociais e culturais. Elas podem trazer consigo uma situação existencial de crise, em
decorrência de um conflito entre o desejo de amadurecimento, de crescimento, de sapiência e
9
Citação feita por Maria Laís Mousinho Guidi, em 23/08/2003, em uma aula/palestra sobre “Cultura”,
ministrada na disciplina Tópicos Especiais do Envelhecimento, do Programa Stricto Sensu em Gerontologia da Excluído: o
UCB.
28
serenidade e o declínio biológico e social contínuo no passar dos anos e a certeza da morte.
Tal crise, conforme texto base da Campanha da Fraternidade para o ano 2003 (CNBB, 2002,
p. 60).
Simone de Beauvoir (apud LAHUD LOUREIRO, 2000, p. 21), diz que a velhice é
“uma fase da existência diferente da juventude e da maturidade, mas dotada de um equilíbrio
próprio, deixando aberta ao indivíduo uma ampla gama de possibilidades”. Repetimos com
Lahud Loureiro (1999, p. 79), que a velhice “(...) é apenas mais uma das etapas da vida.
Talvez a última, mas ainda vida, como as demais, que precisa e deve ser vivida com
intensidade; ser bem vivida com encantos e ... ‘reencantamentos’ ”.
compreensão antropológica, as nossas definições sectárias da verdade. (...)” e que “no seio
do puritanismo racionalista e dessa cruzada para a ‘desmitificação’ a potência fantástica dá
a volta à exclusão objetiva (...)” (ibidem, p. 429).
Embora a velhice esteja sujeita aos seus limites impostos pelas perdas físicas e com a
Excluído: faz-se mister
“mudança de papéis”, a implementação de políticas sociais específicas com o objetivo de
reinserir ou manter o idoso no meio social, é salutar desde que estas respeitem a cultura
específica dos grupos, as possibilidades do lazer e a educação permanente. Como escreve
Salgado, (1998, p. 36).
com a aposentadoria. Além de perder o que construiu, nem sempre lhe é dada a oportunidade
de construir um novo papel social.
A perda de papéis sociais requer criação de novos papéis e/ou modificação dos já
existentes. Os papéis sociais envolvem padrões de comportamento que influenciam os
relacionamentos e servem como base para a percepção que o indivíduo tem de si mesmo, pois
descrevem e identificam quem os desempenha. Não pode ser possível que com a chegada da
velhice, o velho troque todos os seus papéis sociais por apenas um: o de avô. O velho tem sua
própria vida, onde os netos podem ser importantes, mas a sua vida é sua, é única.
Na velhice, o velho ao modificar os seus papéis, não pode assumir apenas o de ser
avô, não pode abandonar tudo o que foi, pois sua experiência, sua história de vida tem muito a
contribuir. Nesta nova condição ele pode não ser mais apenas um produtor de força de
trabalho, mas um produtor de felicidade. Felicidade de ter contribuído com o estabelecido e
felicidade, por agora ser dono do seu tempo, de agir sem as pressões que o meio lhe impõe.
A velhice nos permite olhar o horizonte que se mostra com o privilégio de ter um
passado já vivido de acertos e possíveis erros e de um futuro que poderá se realizar ou
Excluído:
continuar realizando como ser humano. Convém, então, encarar a velhice com bom humor,
Excluído: É preciso,
com coragem, determinação, liberdade de espírito, e perceber a “esperança” que ela pode
apontar. Existem coisas que podem e devem ser feitas, nesta etapa da vida terrena, além de
31
apenas esperar a chegada da morte. Mas não se pode ficar no discurso exotérico e vazio; por
tal, como gerontólogo, procura-se desvendar cada vez mais as várias dimensões que compõem
o fenômeno da velhice, o processo do envelhecimento e a(s) situação(ções) do ser humano
velho. Dentre estas dimensões, ocupa-se esta dissertação, da dimensão simbólica, dos mitos
que perpassam o fenômeno da velhice, do processo do envelhecimento, assim como do
imaginário do homem velho associando-os a possíveis aprendizagens novas.
1.1.2. – O Velho
mudança gera, também, um outro tipo de preconceito: idoso rico x velho pobre. O fato é que a
Excluído: .
sociedade percebe de forma diferente os velhos, e a condição sócio econômica pesa!
Nas culturas mais antigas, assim como nas orientais, o velho era visto como sinônimo
de sabedoria e impunha respeito. Os idosos eram tidos como exemplos de vida; serviam de
conselheiros, ou eram citados como modelos para os jovens, e, sendo os portadores da
memória cultural e das tradições da sociedade, eram tidos como os responsáveis pela
transmissão dos conhecimentos e valores às novas gerações. Porém o “velho sábio”
desapareceu de nossa realidade, permanecendo apenas um conceito abstrato.
“Na sociedade atual, os velhos sofrem enorme pressão para que ajam como
jovens, retirando-lhes o direito de envelhecer, sob pena de serem isolados e até
excluídos. Os que já apresentam deficiências em sua capacidade muscular e
acuidade sensorial são postos de lado, porque o valor do ser humano não se
relaciona com a capacidade psicológica, já que há um intenso culto ao físico.”
(MELGAREJO, 2003).10
O problema está em confundir-se a velhice com a doença. Os escritos têm se
fundamentado mais na emoção da lágrima, do sofrimento, da dor do velho, desprezando a
velhice saudável.
“(...) obras literárias, a apoteose está sempre no final, o final é sempre mais
emocionante. Por que na vida seria diferente? Por que a qualidade e o valor da
existência estão apenas na juventude? (...) Certamente deve haver um sentido de Excluído: ¶
vida na velhice, mas que depende da apropriação que cada um faça da sua própria
existência. Temos que descobrir o mistério do envelhecimento e conferir para esse
tempo de vida uma qualidade, senão superior, pelo menos tão simpática, tão
gostosa, tão valorizada como foram as etapas anteriores.”
Esta é uma tarefa também do próprio velho.
O mesmo autor (1998, p. 37) ressalta que cada velho sadio tem que ter o
Excluído: i
compromisso de lutar e conquistar seu espaço e sua dignidade. “Se a sociedade inventou a
velhice, os idosos devem reinventar a sociedade”, transformando-a numa sociedade inclusiva
que reserve lugar para eles; é preciso “reinventar a velhice” Debert (1999). Todavia, apesar
do discurso de Salgado, que o velho tem que lutar, refletimos, com Ecléa Bosi, (1987), que
políticamente assume que “o velho não tem armas, nós é que temos que lutar por eles!”
(BOSI apud LAHUD LOUREIRO, 2000, p. 43). Pode ser que o tempo decorrido entre o
estudo de um autor e do outro modificou a visão sobre a velhice; ou o imaginário, a visão de
mundo de um e de outro se diferenciam, não só no tempo, mas em suas posturas ante o
10
Melgarejo traz a tona a realidade de um dos pólos a considerar na busca pretendida desta dissertação do
imaginário do grupo: a “pressão do meio cósmico social”. Remete-se ao capítulo 5 que vai falar da Teoria do
Imaginário de Gilbert Durand.
33
1.1.3. – O Envelhecimento
“(...) é também cercado por determinantes sociais que contribuem para que
esse processo varie de cultura para cultura e de sociedade para sociedade. (...) O
aspecto social do envelhecimento é fundamental, pois significa que a idade social é
determinada por normas e expectativas sociais, que enquadram as pessoas em
termos dos direitos e deveres, atribuindo tarefas a serem desempenhadas dentro das
idades biológica e cronológica.”
Aqui lembramos a obra de Guita Debert intitulada “a reinvenção da velhice” (1999),
onde a autora diz que se a sociedade inventou o velho, o velho agora precisa reinventar a
sociedade; bem como a obra de Jack Messy “a pessoa idosa não existe” (1999), onde este
autor também registra que a velhice foi uma categoria inventada pela sociedade.
O Brasil, considerado por até bem pouco tempo um país de jovens, pensa ser, ainda,
este “país jovem” e não se preparou para receber a população que envelheceu, está
envelhecendo e que o transforma em “um país jovem com cabelos brancos” (VERAS, 1994).
Excluído: Talvez o
O Brasil ainda não se deu contas de seus cabelos brancos, pois como escreve Beauvoir (apud
Excluído:
(FEATHERSTONE, 1998, p. 11) a “velhice é algo não realizável, que não entendemos até
Excluído: dizia que
sermos velhos” e como diz Sartre, é um “etre pour outre” (um ser para o outro). É no outro
que percebemos o passar do tempo, as rugas: a velhice. Quem envelhece são os outros!
cósmico e social” (DURAND, G., 2001, p. 41). Como diz Lahud Loureiro, (1994, p. 75) “são
arquivos vivos, a se deixarem, com prazer, folhear (...)”.
Excluído:
Segundo Neri (1995, p. 17), as informações originadas do século XIX, nas áreas da
Psicologia Experimental, da Psiquiatria, e da Psicometria, confirmavam a noção de que após a
adolescência cessaria o desenvolvimento bio-psíquico. Assim sendo, não cabiam mais à
psicologia estudos nesta área.
estar no meio do povo rindo, brincando, e me divertindo (...)11. O aluno idoso, no mais das
vezes, é um aluno zeloso e sua aprendizagem é facilitada pela associação com experiências
anteriores.
Os conteúdos, os conceitos, as aulas não precisam ser, aplicados dentro das salas de
aula ou limitar-se aos muros da escola; podem ser ministrados em outros locais ou pela mídia,
pois o espaço escolar não se constitui no único reduto de formação. É o que vem acontecendo
11
Ver Capítulo 7, p. 197.
39
De acordo com Furter (apud RODRIGUES, N.C., 1993, p. 48) “o homem, por ser
inacabado tende à perfeição; a educação é, portanto, um processo contínuo que só se acaba
com a morte”. Os ditos populares concordam com o autor quando das expressões “vivendo e
aprendendo..., a gente aprende até a hora da morte ...; a gente morre aprendendo ....”.
A partir deste cenário, muitas universidades vêm criando espaços para os idosos,
tendo a oportunidade de consolidar e expandir seu compromisso social, integrando aqueles
que se encontram à margem do processo de desenvolvimento na sociedade – os idosos – a um
novo aprendizado: o do viver a velhice e do envelhecer cidadão, que não caracterizam apenas
o envelhecimento bio-psico-socio-cultural, mas a dinâmica da própria aprendizagem.
Quem é o velho que freqüenta as atividades práticas físicas ou não e as salas de aula
formais na busca de novos ou revisitados conhecimentos e descobertas adequadas as suas
capacidades de velho? O que querem aprender ou reaprender? O que precisam mudar ou
adequar a sua nova condição de aluno velho? “Querer ser e dever ser” – o conflito dialético
que impulsiona a ação equilibrada da simbiose dos desejos com as necessidades.
quando se decide a lutar para aprender e vencer; pode ser mística, quando se aconchegar na
paz, sem enfrentamento do “monstro”, dos perigos e percalços que surgem na trajetória da
vida; ou ainda sintética quando apaziguador que contrabalança momentos e ações de não
aceitação do pré-estabelecido com atitude de aceitação. As imagens relacionadas entre si, as
constelações de imagens, evidenciam uma maneira de ver, ou carregar o mundo. São estas
imagens, ou melhor, enxames de imagens que nesta pesquisa procuramos desvelar; retiramos
o véu e a mítica – os micro-universos míticos e o universo mítico - emergiu nos protocolos do
teste AT-9 – analisados e registrados no capítulo 6 desta dissertação -, nas falas, silêncios,
emoções, postura e trejeitos do grupo.
Excluído:
“A questão social dos velhos não pode continuar sendo secundarizada, nem
sendo objeto de políticas tímidas e soluções menores. A existência plena não é
propriedade dos jovens, é um direito de todos os que estão vivos. Os velhos têm
algumas décadas a mais de cidadania do que os jovens. Se isso não lhes confere a
precedência, lhes dá, pelo menos, o direito de lutar por uma melhor qualidade de
vida.”
Com a entrada do idoso no âmbito da universidade, a integração entre gerações
- intergeracionalidade - ocorre, essencialmente, provocando debates, colocando na berlinda
preconceitos e discriminações aceitos pela sociedade e que na verdade se mantém sem
nenhuma sustentação científica. Desta forma, precisam ser rompidos os muros da
universidade, diminuída a distância que existe em relação à sociedade, oportunizando
conhecimentos atraentes e interessantes aos idosos, desenvolvendo um trabalho multi e
interdisciplinar.
Para participar dos programas oferecidos pelas UNATI’s não é necessário que o idoso
interessado seja graduando, graduado ou ter formação profissional específica. A UNATI deve
ser, um espaço que ampare aos idosos, independente de nível sócio-econômico e grau de
instrução, oferecendo palestras, oficinas, terapias ocupacionais, alfabetização para idosos,
teatro, atividades físicas, lazer, entre outras. É importante que as UnATI’s sejam um espaço
de conversação entre diferentes vozes que se identificam e se unem para a edificação de
ambiente de atuação, sem, no entanto, cada um deixar de ser ele mesmo, conservando, assim,
sua maneira de pensar, seus saberes, e suas experiências de vida. É a mistura de diferentes
idades e de diferentes níveis de escolarização que faz surgir a riqueza dos programas. As
43
UNATI’s surgem como espaço de orientação, de abertura, de criticidade, onde o idoso tem a
oportunidade de não apenas adquirir conhecimentos científicos, culturais, mas de construir
seu aprendizado através de suas experiências, de sua história de vida reconhecendo-se como
cidadão consciente de suas responsabilidades e direitos, tendo a manutenção ou elevação de
sua auto-imagem, considerando-se produtivo, útil, capaz de muito, ainda, colaborar para a
sociedade a qual pertence. Nesta missão, pode iniciar-se a transformação progressiva do lugar
social do idoso, esboçando a possibilidade de reconhecimento do velho como sujeito psíquico
existente e como agente social. Assim o idoso terá a oportunidade de se redescobrir, de Ser -
na verdadeira concepção existencial -, talvez como jamais tenha tido a oportunidade de ter
sido.
“O homem atual (...) surge cada vez mais como um ser inacabado. O
inacabamento da formação tornou-se necessidade num mundo marcado pela
subversão permanente das técnicas, o que implica uma educação do mesmo modo
permanente. (...) Nenhum ser humano se humaniza sozinho. Sempre precisa de
outro, aquele que testemunha seu inacabamento. Por isso humanizar o humano é
tarefa que tem um norte, mas não tem fim.” (LAPASSADE apud OLIVEIRA, P.S.,
1996, p. 8-9).
Baseado em pesquisadores do assunto, notadamente Cachioni (2003), Liberato
(1996) e Lahud Loureiro (1993) que citamos e transcrevemos de forma pontual, apresentamos
a seguir, os registros importantes para o desenvolvimento desta Dissertação.
internacionais da Europa e América do Norte. Após angariar a base teórica, e até criar novas
teorias, lançou-se à pesquisa de campo, visitando “hospícios, alojamentos e pensões de
aposentados” (ibidem, p. 48) e constatou duas (02) pressuposições: 1ª - o que faltava aos
idosos eram oportunidades, e 2ª - “muitos processos patológicos tinham como origem o
problema da exclusão social” (idem). Vellas fez a “proposição de que a universidade deveria
abrir-se a todos os idosos, indistintamente, para oferecer-lhes programas intelectuais,
artísticos, de lazer e de atividade física para idosos” (idem).
Com a expansão do programa, devido à expressiva procura por parte dos idosos, e
com interesse de outras IES francesas de, do mesmo modo, direcionar-se para atividades
voltadas para o idoso, as Universidades da Terceira Idade - UTI passaram a dedicar-se,
também, às pesquisas na área gerontológica. Neste novo contexto, tais pesquisas ganharam
sustentáculo institucional e descobriram, nesse ambiente excepcional, um espantoso campo de
investigação, cooperando para a promoção dos níveis de vida e saúde de seus estudantes
idosos, assim como para todos os idosos daquele país e do mundo.
constatou que esta seguiu o mesmo da traçado primeira Universidade Aberta da Terceira
Idade, em Toulouse. Segundo Lahud Loureiro (1993, p. 495), a referida instituição atendia
uma elite de idosos sadios, genebrenses ou não. Seu planejamento incluía atividades como
excursões, grupos e comissões temáticas, cursos universitários e conferências realizadas em
diversas áreas do saber realizadas nos anfiteatros da universidade (ibidem, p. 496-497).
O jornal suiço “Avenirs” ao fazer uma reportagem sobre uma conferência que tinha
como público alvo a terceira idade, cria a seguinte manchete: “Os avós se desenrugam nos
anfiteatros” (apud LAHUD LOUREIRO, 1993, p. 502) e descreve:
“(...) o auditório está atento. Alguns tomam notas, outros escutam (...) Na
aparência nada mais que o banal (...) mas estes estudantes não são como os outros.
Seus rostos testemunham uma vida já bem vivida (gasta). Eles não estão lá para
receber diploma, nem assegurar um futuro profissional. Eles vêm pelo prazer de
aprender. Porque a formação hoje é uma viagem tão longa como a vida (...).”
(idem).
Com a difusão das Universidades da Terceira Idade na França e no mundo, na década
de 70, foi criada, a Associação Internacional das Universidades da Terceira Idade
(L’Association Internaionale des Universités du 3ª Âge – AIUTA), composta por 14 países
(LAHUD LOUREIRO, 1993, p. 496) e, segundo Veras e Caldas (2004, p. 40) em 1980 já
havia sido organizada a União Francesa de Universidades da Terceira Idade. A atuação das
universidades reunidas tinha o objetivo de prezar pela qualidade de vida dos idosos, contribuir
para a continuidade de sua formação, buscar novas pesquisas sobre o tema e prestar serviço à
comunidade. Quase 3 (três) décadas depois esta atuação ainda continua nas UnATI’s,
especialmente, podemos atestar na UnATI/UCB.
A matriz Universidade Aberta de Toulouse, criado por Pierre Vellas, referencial para
todas as instituições voltadas para a terceira idade, foi desdobrada em 2 (dois) grandes
modelos: o modelo francês – original - e o modelo inglês. O modelo francês tem como base
“o sistema tradicional universitário” (CACHIONI, 2003, p. 51). No modelo inglês os
“freqüentadores podem atuar tanto como professores quanto como alunos” e baseia-se no
“ideal de auto-ajuda e na idéia de que a experiência de vida confere aos idosos um cabedal
de conhecimentos que deve ser compartilhado” (idem). Com o passar do tempo ocorreu em
alguns países a junção dos dois modelos – francês e inglês-. No Brasil a predominância é do
modelo francês.
Excluído: ¶
Excluído: 1
3.2. - As Universidades Aberta à Terceira Idade no Brasil
saúde do idoso. E, em 1994, o projeto foi ampliado e originou o Núcleo Integrado de Estudos
e Apoio à Terceira Idade – NIEATI. (CACHIONI, 2003, p. 53).
Brasília – Distrito Federal -, quando ainda uma capital nova, mas tendo já certo
contingente de pessoas aposentadas na idade madura12 - 45/50 anos – também sentiu a
necessidade de adequar-se a essa nova proposta extensionista que acontecia no Mundo e no
Brasil. Em 1993, a Universidade de Brasília - UnB já havia implantado o Núcleo de Estudos e
Pesquisa de Terceira Idade – NEPTI (LAHUD LOUREIRO, 1993, p. 504). E, em 1995, a
Universidade Católica de Brasília – UCB iniciou suas atividades com um Grupo Interno de
Trabalho - GIT indicado para estudar e desenvolver atividades junto à terceira idade. Este
grupo foi o responsável por fecundar o embrião da Universidade Aberta à Terceira Idade da
Universidade Católica de Brasília – UnATI/UCB13. A partir das experiências dessas 2 (duas)
universidades, outras Instituições de Ensino Superior do Distrito Federal – Faculdades e
Centros Universitários – estão desenvolvendo seus programas gerontológicos.
12
Na antiga legislação sobre aposentadoria, muitas pessoas se aposentavam com 45-50 anos, após contagem dos
anos trabalhados. Não trataremos aqui este tema por não ser objeto desta pesquisa.
13
O Grupo Interno de Trabalho – GIT designado para estudar e desenvolver atividades voltadas para a terceira
idade na UCB, está citado no histórico da UnATI/UCB, que será tratado, ainda neste capítulo, item 3.3 – A
UnATI da Universidade Católica de Brasília – UCB.
50
Excluído: um
e sócioculturais, proporcionando ao idoso espaço de debate, aprendizagem, convivência e
lazer, e vêm, também, preparando a sociedade para o seu próprio envelhecimento, com
dignidade e cidadania, pois não convém fechar os olhos e desprezar o idoso como ser
pensante, como cidadão.
embora a legislação considere na 3ª idade pessoas acima de 60 anos, pois entende que é
preciso, também, preparar o cidadão para o seu envelhecimento.
Excluído: 2
3.3. – A UNATI da Universidade Católica de Brasília - UCB
instituição, na época, tinha a presença “diurna” das imagens que encaminha a identificação de
uma “estrutura heróica”.
Conforme anotações nas agendas de atividades dos anos de 1995 e 1996 de uma das
fundadoras da UnATI/UCB, ao qual denominou Fragmentos de Memória: criação do
trabalho com a 3ª Idade na UCB - cedida gentilmente -, em 1995 é formada a primeira
53
O projeto FÊNIX, inteiramente gratuito, exigia apenas que, para engajar-se nele, o
idoso deveria comprovar ser carente. Suas atividades eram oferecidas em duas (02) áreas:
modalidades físicas e oficinas pedagógicas.
14
Na mitologia antiga, a Fênix habitava os desertos da Arábia e vivia muitos séculos. Era do tamanho de uma
águia, tinha na cabeça uma crista brilhante, as penas do pescoço eram douradas e as outras, de cor púrpura, a
cauda era branca com plumas encarnadas e os olhos brilhantes como estrelas. Diz-se que, quando sentia
aproximar seu fim, fazia um ninho com ramos untados de gomas odoríferas, expunha-o aos raios do Sol, nele se
abrasando. Das suas cinzas nascia um verme, ou um ovo, segundo outras versões, do qual nascia uma nova
Fênix.
56
cursos, palestras, workshop e o coral de vozes dos idosos da UCB. O oferecimento das
oficinas dependia de haver quorum de idosos para formação de turmas e da disponibilidade de
monitores ou voluntários.
As atividades que já estavam sendo propostas pelo projeto Fênix, não foram
suficientes para satisfazê-lo em seu desejo de trazer o idoso à Universidade. Era preciso mais!
Era preciso não só a Extensão lutando pelo idoso, mas, também, a Pesquisa e o Ensino
deveriam dar as mãos nesta empreitada.
Enquanto isso, num espaço de tempo próximo, numa outra esfera da Universidade,
no segmento ensino, o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão - Consepe, no 2º semestre de
2001, havia feito uma revisão em sua legislação intena e a Pró-Reitoria de Graduação – PRG
implantou, oficialmente, a matrícula em disciplinas isoladas com base no Artigo 50 da Lei de
Diretrizes e Bases - Lei 9.394/96, que diz: “As instituições de educação superior, quando da
ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus cursos a alunos não regulares
que demonstrem capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.”
O candidato a disciplinas isoladas não possui um vínculo com o curso. Sua matrícula
está condicionada à existência de vagas ociosas nas disciplinas dos diversos cursos. Esta
medida - vaga em disciplinas isoladas - de alto alcance social e cultural só foi possível ser
implantada na UCB, em virtude do seu sistema acadêmico de matrícula/grades curriculares
ser organizado por crédito - com exceção do Curso de Medicina.
Para cursar a disciplina nessa modalidade, o candidato não precisa ter concluído uma
graduação, o pré-requisito estabelecido é que o requerente tenha comprovante que algum dia
ingressou num curso superior, em qualquer Instituição de Ensino Superior – IES, credenciada
pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC e faça uma justificativa para a solicitação.
Todas as solicitações para cursar disciplinas nessa modalidade são analisadas e classificadas
57
O projeto FÊNIX, tendo constatado que várias IES ao implantarem suas UNATI’S,
dedicaram-se apenas às oficinas, palestras, seminários, reuniões para troca de experiências,
pretendeu em seu programa, colocar um diferencial. No segundo semestre de 2001
apoiando-se na rotina de matrícula em disciplinas isoladas, já estabelecida nos cursos de
graduação, como dito anteriormente, e com o forte desejo de inserir pessoas da terceira idade
na comunidade acadêmica, num ambiente de graduação, faz um projeto incentivando o idoso
a cursar disciplinas isoladas, respeitando os quesitos exigidos pela legislação interna da UCB,
mas acima de tudo, promovendo o relacionamento intergeracional, nas salas de aulas, nas
atividades acadêmicas. Com este ato, a UCB cria o que ela denomina Universidade Aberta à
Terceira Idade: UNATI/UCB.
O público alvo que freqüenta o projeto FÊNIX é heterogêneo no seu grau de instrução:
são pessoas carentes, analfabetas, alfabetizadas, com a conclusão apenas do ensino
fundamental ou do médio, com curso superior completo e alguns casos com especializações.
O que pode parecer um problema passa a ser a riqueza no caleidoscópio do grupo.
58
O número de alunos idosos que cursaram disciplinas isoladas nos diversos cursos de
graduação foi crescendo timidamente dentro da UCB. No segundo semestre de 2001 eram
quatro (04) alunos idosos. Em 2002 este número elevou-se para dez (10). Durante este
período a UCB destinou 50% (cinqüenta por cento) de bolsa de estudos sociais para os idosos
que cursavam disciplinas isoladas. No 1º semestre de 2003, o projeto havia ganhado grande
repercussão, devido à assistência dada a esses alunos pelas Direções de Cursos em
concomitância com os coordenadores do Projeto FÊNIX e com o incentivo da “Bolsa Social”,
que havia elevado o percentual para 100% (cem por cento). Nesse semestre o número de
alunos idosos subiu para 64 (sessenta e quatro). Já no 2º semestre de 2003, com mudança da
exigência da idade de 50 para 60 anos, para ingresso no Projeto FÊNIX, este número reduziu-
se a 11 (onze) alunos idosos, todos com mais de 60 anos.
No final do ano de 2003, ao executar o Plano de Ação para o ano de 2004, ocorreram
novas alterações na Pró-Reitoria de Extensão, tanto em estrutura, quanto em nomenclatura e
eliminação de alguns órgãos e coordenações. Nesse novo organograma a UnATI,
praticamente sem definição de atribuições, continua mantendo-se, hierarquicamente, ligada ao
Projeto FÊNIX15.
No primeiro semestre letivo de 2003, o projeto FÊNIX, atingiu sua meta de junto com
a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa - PRPGP, de instalar o Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Gerontologia. E, no 2º semestre letivo de 2003, para viabilizar o
oferecimento da disciplina Estágio Supervisionado de caráter optativo do referido programa
Stricto Sensu, criou junto à Graduação a disciplina Introdução a Gerontologia, de natureza
multi e interdisciplinar. Tal disciplina foi oferecida aos alunos dos diversos cursos de
graduação, ministrado pela UCB, como disciplina eletiva/optativa – não obrigatória -, onde
qualquer discente poderia cursá-la em caráter extracurricular – a turma foi fechada com 26
alunos e a disciplina cursada foi inserida no histórico escolar destes discentes -. Contudo no
15
Para o ano de 2004, o Projeto Fênix iria reduzir a oferta de oficinas, passando as atividades físicas para o
Projeto Geração de Ouro. Sua equipe foi reduzida novamente a 2 (dois) professores, sendo um deles responsável
apenas pela área de atividades físicas e pela intermediação entre as atividades físicas do Projeto Fênix e do
Projeto Geração de Ouro, citado adiante, ainda neste item/capítulo, páginas 63-64.
59
ano de 2004, por falta de divulgação precisa, não houve procura dos acadêmicos graduandos
para cursar esta disciplina e, consequentemente, não foram formadas turmas na graduação.
Paralelo a isto, para o ano de 2004, o projeto FÊNIX, por mudanças de políticas
sociais para oferta de bolsas de estudos deixou de investir nas disciplinas isoladas para os
idosos, o que trouxe bastante pesar, pois cada um desses alunos idosos possuía um projeto de
vida, que almejava alcançar a curto, médio ou longo prazo. Um grande número deles
desejava, após se curarem do temor de enfrentarem os bancos escolares causado pelos anos de
ausência, anos longe da escola, buscavam ingressar num curso de nível superior - de menor ou
maior duração - e graduar-se. E todos que cursaram disciplinas isoladas demonstraram o
prazer e o orgulho de estarem ativos na comunidade acadêmica, tendo assim sua auto-estima
elevada.
Para os idosos, tais oficinas trazem uma nova vivência, se descobrem como pessoas,
sentem sua auto-estima elevada quando são capazes de produzir poesias, dicas de saúde, de
culinária, entrevistas, noticiários e artigos sobre temas diversos e desafiantes dentro da área do
envelhecimento.
outros”. Temos também depoimentos de alunos graduandos como: “eles (idosos) têm a
experiência de vida que eles levaram anos para conquistar, nós temos a parte técnica, que
aprendemos com o Curso (...) isto trouxe o engrandecimento do trabalho”; “o interessante
neste trabalho foi a troca de experiência com o aprendizado da vida”; “é preciso valorizar o
temos ao nosso lado”.
Outros cursos de graduação da UCB também estão voltando o olhar para área do
envelhecimento, ofertando em seus currículos, disciplinas que abordam o tema da terceira
idade. Temos, então, o Curso de Medicina que oferece a disciplina Métodos de Abordagem
em Saúde Comunitária III - que estuda as questões do envelhecimento -, o Curso de
Psicologia que oferece a disciplina Psicologia do Desenvolvimento III - que estuda o
envelhecimento -, o Curso de Nutrição que oferece a disciplina Nutrição na Terceira Idade.
Inserindo o tema da terceira idade nos seus cursos de graduação a UCB tenciona qualificar
recursos humanos para trabalhar na área do envelhecimento e contribuir para o
“desenvolvimento de um saber novo que leve em conta uma perspectiva multidisciplinar
buscando preparar e formar docentes, pesquisadores e profissionais para essa área de
demanda crescente” (UCB, 2004, p. 57).
As apresentações feitas por este grupo cantante, tem sido um marco na vida da
maioria dos integrantes do grupo, pois muitos deles são pessoas simples e com pouco grau de
instrução, que jamais tiveram a oportunidade de participar de um momento como este.
Algumas das pessoas que formam o Coral não haviam terminado sequer a 4ª série do Ensino
Fundamental, outras ainda não eram alfabetizadas. Com ingresso no Coral da UCB surgiu
nestas pessoas o desejo de iniciar ou retomar os estudos para melhor fazer a leitura das
partituras musicais.
62
Assistência Farmacêutica e promoção da saúde do idoso, ampliando sua parceria inicial citada
no item 5 deste parágrafo.
OURO desenvolviam suas atividades sem integração entre os dois projetos. Existia apenas uma
consulta para não haver choque de espaços físicos – salas destinadas para atividades físicas -,
tendo em vista que ambos ofereciam atividades físicas para os idosos. Havia, assim, uma
repetição destas atividades que ocupavam o mesmo espaço: instalações do Curso de Educação
Física da UCB, Campus I - Taguatinga, e uma necessidade de contratação de mais estagiários
ou conquista de mais voluntários. Diante deste fato, o projeto FÊNIX enxugou suas atividades
encaminhando seus idosos participantes das atividades físicas, para o projeto GERAÇÃO DE
OURO, criando, então, uma parceria entre os dois projetos e evitando o oferecimento de
atividades sobrepostas.
No ano de 2004, o projeto GERAÇÃO DE OURO, apesar de não receber mais verba do
Ministério dos Esportes, além de receber os alunos das modalidades físicas desenvolvidas
pelo projeto FÊNIX, ampliou seu atendimento aos idosos dependentes asilados do Distrito
Federal, proporcionando-lhes a oportunidade de praticar atividades físicas programadas e
orientadas, tendo em vista que “em pesquisa realizada por professores do Laboratório de
Estudos em Educação Física e Saúde – LEEFS constatou-se que nenhuma instituição
cuidadora de idosos possui um programa de atividades físicas”. (UCB, 2004, p. 13)
16
Um dos professores tem a função de interação entre o Projeto Geração de Ouro e o Projeto Fênix, conforme
citado na nota de rodapé nº 14.
65
desde julho de 2003, podendo este projeto ser extinto por falta de verba (UCB, 2004 p. 20);
do fato de atenderem a mesma clientela; da percepção de que a hierarquia ao qual a UnATI,
estava desenhada, desde sua concepção parecia bem confusa - pois a UnATI não poderia
limitar-se apenas oferecer disciplinas isoladas realizadas num cursos de graduação -; e que se
a UnATI é uma Universidade Aberta, deve trabalhar com os diferentes segmentos da
universidade - ensino, pesquisa e extensão -, e deve oferecer diversas atividades em diferentes
áreas, ou seja, ela deveria ter uma concepção muito maior que os projetos FÊNIX e GERAÇÃO
DE OURO estavam tendo isoladamente. A UnATI deveria unificar os 2 (dois) projetos. Os
projetos precisavam ser revistos de modos a ficarem coerentes.
Quanto ao número de idosos atendidos nos projetos levantamos que não existe
registro de atendimento do Programa NUVEN. Somente, a partir de 2000, com o projeto
FÊNIX, é que os atendimentos foram registrados e quantificados. No período compreendido
entre o ano 2000 até o 2º semestre de 2004, foram atendidos 6.500 idosos nas diversas
modalidades do FÊNIX; sendo que, no 2º semestre de 2004, foram atendidos 766 idosos.
Quanto ao projeto GERAÇÃO DE OURO, no ano de 2004, registrou o atendimento de 400 idosos
nas diversas atividades oferecidas.
Não existe no âmbito da UCB um espaço específico para a UnATI. Ela ocupa os
mesmos espaços da graduação, ou melhor, os espaços que sobram dos horários dos cursos de
graduação. Os horários que a UnATI firma para as atividades de natação e de hidroginástica,
desenvolvidas na piscina, são os horários/espaços livre do Curso de Educação Física; o
mesmo se dá em relação a sala ambiente de ginástica e de GRD.
Existem ocasiões em que os idosos não sabem as salas em que serão ministradas
determinadas atividades que estão se inciando (1º dia de aula) e têm que descobrir o local para
que possa assistir às aulas/oficinas que é de importância imensa para si. Eles (idosos)
procuram uns aos outros, e em duplas ou grupos desenvolvem o raciocínio nessa descoberta
de espaço e se movimentam nesta busca. A busca pelo encontro da sala/aula que lhe fará
sentir a sensação de prazer, de renascimento, como dito pelo idoso participante da oficina de
jornalismo.
valorizar o outro, ser valorizado, enfim, elevar sua auto-estima. É o somatório de todo um
montante de benefícios, que traz a qualidade de vida e um envelhecer saudável. É na
arquitetura desta Universidade Temática, que o idoso se descobre e se re-descobre, se encanta
e re-encanta. Resignifica esta arquitetura com a sua presença, afetividade e emoção.
68
Capítulo 4 - Metodologia
Para tal, valemo-nos da Pedagogia da Escuta, preconizada por Paula Carvalho (1999,
17
p. 31) escutando e registrando, em entrevistas não-estruturadas a fala de alunos idosos que
17
Para Paula Carvalho (1999, p. 31) “a Pedagogia da Escuta significa que temos que aprender com a lição das
palavras e com a lição dos mestres (...) ‘escuta’ se refere, e envolve, ‘obediência’, (...) ela abre o ‘ouvido
interior’. (...) está logo presente a ‘humildade’, que remete por sua vez a ‘humus’ e a ‘homem’.”
69
aceitaram participar da pesquisa, bem como foi utilizado o Arquétipo Teste de Nove
Elementos – AT-9, de Yves Durand.18, complementando com informações buscadas em
documentos oficiais da Universidade Católica de Brasília – UCB, acrescidos dos registros
mnemônicos da pesquisadora que participou, à época, dos fatos. O universo da pesquisa se
compôs por uma população, aleatoriamente, definida por um grupo de 16 (dezesseis) alunos-
idosos e 2 (dois) sujeitos, gestores atuais do projeto, sendo que um deles informa ter 46 anos.
População
Identificação Alunos-Idoso Dirigentes
Masculino 2
Sexo
Feminino 14 2
46 anos 1
60 anos 2
61 anos 1
62 anos 3 1
Idade 63 anos 1
64 anos 1
67 anos 1
69 anos 2
71 anos 1
72 anos 3
74 anos 1
Doutoranda 1
Mestre 1
Grau de Superior
4
Instrução
Médio 6
Fundamental 2
( 2ª fase)
Fundamental 4
(Primário e EJA
1º segmento)
Total Geral 16 2
Média de Idade dos alunos-idosos da UNATI/UCB = 66,25 anos
18
Os participantes da pesquisa assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido com a pesquisa efetuada.
70
¾ ofercer vetores ou pistas prospectivas para a UNATI/UCB para uma possível re-
organização, se requerida, com a consideração da dimensão simbólica.
Excluído: . ¶
cultura à qual ele pertence, “O homem vive num mundo de significados” e isto o torna um ser
qualitativo. “O real não é o objeto, não é o fato, não é a lei. O real é o significado sentido, a
interpretação, o contexto. (...) A realidade cultural é uma construção social”.
(ASSUMPÇÃO, 2003)
Bachelard (apud DURAND, G., 2001, p. 30) afirma ser fundamental ter presente que
19
Conhecendo o imaginário torna-se possível a interação entre as dimensões, disciplinas, diferenciais: permite
ou condiciona a interdimensionalidade condutora à interdisciplinariedade, como na gerontologia.
72
Bachelard (apud ROCHA PITTA, 1979, p. 18) diz que “o símbolo centraliza as
forças que estão dispersas em todos os seres do mundo (...) e o simbolismo aberto nos prova
que o homem tem necessidade de imaginar, que ele tem o direito de imaginar, que ele tem o
direito de aumentar o real”. Lahud Loureiro (op. cit., p. 20) sintetiza que “o símbolo é sempre
produto dos imperativos biopsíquicos pelas intimações do meio (...) e é este produto que G.
Excluído: Durand
Durand chama de Trajeto antropológico”. Afirma, ainda, que:
20
Negüentropia entendida como a negação da entropia. (PAULA CARVALHO, 1990, p. 28)
73
A primeira dominante reflexa, segundo Betcherev, (apud DURAND, G., 2001, p. 48)
é a “de posição”, que coordena os reflexos e ordena as posições do corpo, relaciona-se a
verticalização do corpo, a postura, sendo conhecida como a dominante postural. A segunda
dominante reflexa, ainda com Betcherev, é a “de nutrição”, que está relacionada à deglutição
e à defecação, e é denominada dominante digestiva. A terceira dominante é a de movimento
que corresponde aos esquemas rítmicos, dialético e progressista e é chamada de “dominante
copulativa”.
21
Na tradução do francês para o português, alguns autores fazem a tradução da palavra “schème” como
esquema. Contudo, segundo Danielle Rocha Pitta, não existe uma tradução precisa para esta palavra. “Schème”
significa “(...) o esboço funcional da imaginação” (CHAVES, 2000, p. 41).
74
Para Gilbert Durand (2003, p. 62), na extensão dos ‘Schème’, arquétipos e símbolos
podemos analisar o mito. Esse autor considera que o mito é concebido como “sistema
dinâmico de símbolos, de arquétipos e de esquemas que sob a impulsão de um esquema - ou
de um grupo de esquemas - tende a se compor em narrativa”. (apud DURAND, Y., 1988,
p. 39). E a organização dinâmica do mito, muitas vezes, está ligada à organização estática a
que chamamos de “constelação de imagens”. (DURAND, G., op.cit, p. 63).
O regime das imagens é bipartido por Gilbert Durand em: Regime Diurno e Regime
Noturno.
O regime diurno, onde está contida a dominante reflexa postural, é caraterizado, por
G. Durand, pela antítese polêmica das estruturas heróicas ou esquizomóficas, cuja simbólica
se expressa pela distinção e oposição entre os símbolos. G. Durand registra, neste regime, a
teriomorfia - o simbolismo animal -, a nictomorfia – o simbolismo das trevas – e a catamorfia
– representando o simbolismo da queda -. Considera, ainda, os símbolos ascensionais no
regime diurno das imagens – que leva para a luz e para o alto -, os simbolismos espetaculares
– dizendo respeito à luz, ao luminoso -, e os simbolismos diairéticos – símbolos referentes à
separação cortante entre o bem e o mal. “O regime diurno expressa a dialética entre o
75
REGIMES OU
POLARIDADES DIURNO NOTURNO
Esquizomórficas Sintética Mística
(ou heróicas) (ou dramáticas) (ou antifrásicas)
1ª - idealização e “recuo” autístico. 1ª - coincidência “oppositorum” e 1ª - redobramento e preservação.
Estruturas 2ª - diairetismo (Spaltung). sistematização. 2ª - viscosidade, adesividade
3ª - geometrismo, simetria, 2ª - dialética dos antagonistas, antifrásica.
gigantismo. dramatização. 3ª - realismo sensorial.
4ª - antítese polêmica. 3ª - historização. 4ª - miniaturização (Gulliver).
4ª - progressismo parcial (ciclo) ou
total.
Representação objetivamente Representação diacrônica que liga Representação objetivamente
heterogeneizante (antítese) e as contradições pelo fator tempo. O homogeneizante (preservação) e
Princípios de
subjetivamente homogeneizante Princípio de CAUSALIDADE, sob subjetivamente heterogeneizante
explicação e de (autismo). Os Princípios de todas as suas formas (espec. FINAL (esforço antifrásico). Os Princípios
justificação ou lógicos EXCLUSÃO, de CONTRADIÇÃO, e EFICIENTE), funciona de ANALOGIA, de SIMILITUDE
de IDENTIDADE funcionam plenamente. funcionam plenamente.
plenamente.
Dominante POSTURAL com os seus Dominante COPULATIVA com os Dominante DIGESTIVA com os
Reflexos dominantes derivados manuais e o adjuvante das seus derivados motores rítmicos e os seus adjuvantes cenestésicos,
sensações à distância (vista, seus adjuvantes sensoriais térmicos e os seus derivados
audiofonação). (quinésicos, músico-rítmicos, etc.). táteis, olfativos, gustativos
DISTINGUIR LIGAR CONFUNDIR
Esquemas “verbais” Separar ≠ Misturar Subir ≠ Cair Amadurecer Voltar Descer, Possuir, Penetrar
Progredir Recensear
Arquétipos “Atributos” Puro ≠ Manchado Alto ≠ Baixo Para a frente, Para trás, Profundo, Calmo, Quente, Íntimo,
Claro ≠ Escuro Futuro Passado Escondido
Situação das O GLÁDIO (O Cetro) O PAU O DENÁRIO A TAÇA
“categorias” do jogo de
Tarô
A Luz ≠ O Cume ≠ O Fogo- A Roda. O Micro- A Morada.
As Trevas. O Abismo Chama. A Cruz. cosmo. O Centro.
Arquétipos O Ar ≠ O Céu ≠ O Filho. A lua. A Criança, o A Flor.
“Substantivos” O Miasma. O Inferno A Árvore. O Andrógino. Polegar. A Mulher.
A Arma Heróica ≠ O Chefe ≠ O Geme. O Deus Plural. O Animal O Alimento.
A Atadura O Inferior gigogne. A Substância.
O Batismo ≠ O Herói ≠ A Cor.
A Mancha O Monstro A Noite.
O Anjo ≠ A Mãe.
O Animal O Recipiente.
A Asa ≠
O Réptil
O Sol, A Escada de O Calendário, A Aritmologia, a O Ventre, O Túmulo,
O Azul celeste, mão, Tríade, a Tétrade, a Astrobiologia Engolidores e O Berço,
O olho do Pai, A Escada, A Iniciação, O Sacrifício, Engolidos, A Crisálida,
Dos Símbolos aos As Runas, O Bétilo, O “Duas-vezes O Dragão, Kobolds, A Ilha,
Sistemas O Mantra, O Campanário, nascido”, A Espiral, Dáctilos, A Caverna,
As Armas, O Zigurate, A Orgia, O Caracol, Osíris, O Mandala,
A Vedação, A Águia, O Messias, O Urso, As Tintas, A Barca,
A Circuncisão, A Calhandra, A Pedra O Cordeiro. As Pedras O Saco,
A Tonsura, etc. A Pomba, Filosofal, A Lebre, Preciosas, O Ovo,
Júpiter, etc. A Música, etc. A Roda de fiar, Melusina, O Leite,
O Isqueiro, O Véu, O Mel,
A Baratte, etc. O Manto, O Vinho,
A Taça, O Ouro, etc.
O Caldeirão,
etc.
Fonte: DURAND, G., 2001, p. 441.
citado por G. Durand (apud LAHUD LOUREIRO, 1998, p. 15) “a imaginação consola o
homem da fugacidade do tempo”.
Excluído: ¶
5.2 – Teoria da Complexidade, de Edgar Morin Excluído: ¶
22
Organizacionalidade antropolítica, considerada com Paula Carvalho, uma organização sempre se fazendo e
refazendo centrada no próprio homem. (1990, 17).
78
A criação das imagens tidas pelo homem precisa ser, de início, irreal para depois se
tornar real. É satisfatório saborear a realização de uma situação imaginada. Pierre Auger e
Jacques Monod (apud MORIN, 1973, p. 226), consideram que o
“(...) homem é portador de um novo reino, o das idéias (...) as idéias unem-
se em seqüências organizadas, tornando-se mitos ideológicos, seres antropomorfos,
o que as torna ainda mais semelhantes aos seres vivos (....).”
O homem, de acordo com Morin (2003, p. 58) é um ser complexo, pois traz em si, de
modo bipolarizado, caracteres antagonistas: “O homem do trabalho é também o do jogo. O
homem empírico é também o homem imaginário. (...) O homem prosaico é também o da
poesia, (...), da participação, do amor, do êxtase”. Desta forma, o homem não vive apenas de
racionalidade, ele se entrega, se dedica a várias atividades de cunho diferentes. Ele acredita na
vida, é ritualístico, mítico, místico, “crê nas virtudes do sacrifício, viveu freqüentemente para
preparar sua outra vida além da morte” (ibidem, p. 59). Como será que os alunos idosos da
UnATI/UCB percebem, sentem, ... imaginam esta polivalência?
79
O valor que a fantasia e o imaginário possuem para o ser humano é extremo. Morin
(ibidem, p. 20) escreve que;
Repetindo Bachelard, registramos que há “(...) a vontade que sonha e que, ao sonhar
dá um futuro a (...) ação”. Cabe aqui anotar com Andrade, citada por Lahud Loureiro,
(2004a., p. 3) quando escreve: “os velhos (...) parecem manter ou ter acordado para uma
grande capacidade de sonhar”.
80
Excluído: ¶
¶
5.3 – Culturanálise de Grupos, de Paula Carvalho
Excluído: ¶
(resenhar Edgar Moran)¶
“(...) ¶
E a agulha do real
Nas mãos da fantasia
Fosse borbando ponto a ponto Nosso dia a dia (...)”
Gilberto Gil
O pólo patente é evidente, objetivo. Está relacionado com o nível racional, com as
interações grupais, atua como fator de agregação do grupo. É o espaço de ação com diretrizes
solidificadas ou a serem perpetuadas. Na cultura patente todos “(...) olham pela mesma lente,
com a mesma cor, mas que, no fato de nem todos verem da mesma cor e tamanho, apesar da
mesma lente, reside a possibilidade, evidências das emiscões da cultura latente” (LAHUD
LOUREIRO, 1993, p. 51). “É o nível racional de funcionamento do grupo regido pelos
perceptos e pelas funções conscienciais pragmático-reflexivas (...)”, que traduz a organização
do grupo “como uma estrutura racional produtiva”. (PAULA CARVALHO apud LAHUD
LOUREIRO, 1993, p. 51).
Morin (apud PAULA CARVALHO, 1990 a, p. 40) percebe que no campo semântico
a culturanálise está em constante oscilação
Excluído: (resenhar
Cultura – de preferência Laís
5.4 – AT-9 - Arquétipo Teste de Nove Elementos, de Yves Durand Mousinho¶
e Paula Carvalho)¶
Excluído: ¶
“(...) Começamos a compreender hoje algo que o século XIX, não podia nem
mesmo pressentir: que o símbolo, o mito, a imagem pertencem à substância da vida
espiritual, que podemos camuflá-los, mutilá-los, desgradá-los, mas que jamais
podemos extirpá-los.”
Mircea Eliade
O Arquétipo Teste de Nove Elementos, o AT – 9, foi criado por Yves Durand a partir
da sistematização das estruturas antropológicas do imaginário de Gilbert Durand. Seus
resultados validaram a teoria do antropólogo, confirmando a existência das estruturas
imaginárias.
imaginário pleno das suas angústias, medos, esperanças, desejos e pressões (simbiotizados)
que podem ser lidos, durandianamente, na disposição ou organização dos “enxames” de
imagens (pictóricas e semânticas) em torno de um pólo, nó aglutinador, energia psíquica, que
identifica o regime – diurno ou noturno - das imagens a que pertencem.23
Conforme Lahud Loureiro (1998, p. 32), baseada em Gilbert Durand e Yves Durand,
a busca das imagens e a identificação das estruturas acontecem no “trajeto antropológico”
onde nossas ações e palavras não significam apenas nossa vontade nata, elas expressam,
também, influências culturais e sociais numa espécie de simbiose, após uma via de mão dupla,
onde não existe mais o eu interior ou exterior, mas sim um terceiro ponto de identificação.
Este trajeto é dinâmico, silencioso, e apesar de sedimentado na cultura, e muitas vezes no
mesmo contexto, mostra que os indivíduos e os grupos se diferenciam, e se revelam através de
símbolos e de mitos diferentes. Os grupos e a sociedade são controlados por mais mitos do
que eles e ela podem controlar. Existe a força mítica a impregnar as ações, as organizações e
desorganizações.
Lahud Loureiro (1998, p. 32) amparada em Yves Durand registra que o símbolo é o
“termo que comporta sempre a idéia de reunião de um ‘sentido’ e de uma ‘imagem’: de um
aspecto ‘vivido’ (o sentido) de um comportamento ‘espacial’ (a imagem).” Assim sendo, o
teste AT-9, se compõe de um desenho (imagem) e de uma narrativa (sentido).
23
O regime das imagens está explicitado no capítulo 5, item 5.1, desta dissertação.
86
significar a perda de um ponto de apoio, a perda do equilíbrio, o cair realmente. Ela representa
muito mais que um simples elemento, pode representar um schème fundamental. O elemento
queda para ser representado necessita dar forma à “qualquer coisa que cai” (DURAND, Y.,
1988, p. 147). Segundo Gilbert Durand pode representar a catamorfia, podendo ser positiva ou
negativa. Há a idéia de cair para poder se levantar. Para Lahud Loureiro (1998, p. 25) a queda
pode “designar o erro existencial da angústia humana e representa, mais facilmente, o fim, a
morte, do que a origem, a vida”.
esconderijo. Remete ao regime noturno das imagens e à estrutura mística. O simbolismo pode
ser positivo ou negativo.
(ibidem, p. 26). O monstro simboliza a morte. O arquétipo do monstro pode ser representado
de forma bastante variada quanto às imagens, pois pode representar-se em imagens de
animal/zoomorfia (real, pré-histórica e fantástica), antropomorfia (com forma humana real e
fantástica), meio ambiente (natural e produto humano), abstração (redução figurativa) e
imagem não figurada. (DURAND, Y., 1988, p. 156-157). Trata-se do estímulo arquetípico
87
que suscita a idéia de morte, mas também pode, raramente, identificar aspecto positivo no
contexto do imaginado na dramatização.
5. Alguma coisa cíclica (algo que gira, que produz ou que progride) - Induz pensar
em algo prolongado, com movimentos. Pode ser colocado tanto num regime diurno quanto
num regime noturno das imagens. Sugere o imaginário sintético (quando alude ao movimento
rítmico, lembrando a dominante sexual, copulativa, rítmica de movimento), porém, algo
cíclico pode estar presente, também, num imaginário heróico (de acordo com o movimento da
mão do personagem para pegar uma espada) ou num imaginário místico (quando se refere ao
movimento da lua, a ciclo de menstruação). Yves Durand (1988, p. 161), encontrou em sua
pesquisa que
peixes e pode remeter ao sintético, quando, por exemplo, é desenhado uma serpente, que é o
símbolo da transformação temporal - mudança de pele -, da fecundidade e da perenidade
ancestral. Segundo G. Durand o que identifica a estrutura do imaginário não é o animal em si,
mas sim as qualidades que o animal possui. Nos símbolos teriomorfos, o autor inclui o
polimorfismo do simbolismo animal: agrega valorizações tanto negativas, exemplo aos
répteis, ratos e pássaros noturnos, como positivas, exemplo aos animais domésticos e a
pomba. A função devoradora, negativa, do animal é amplamente expressa na obra “As
Estruturas Antropológicas do Imaginário”, onde encontramos termos como moder, mastigar,
comer, ao se referir ao animal.
Segundo Lahud Loureiro (1998, p. 32), Yves Durand procura compreender como se
dá a organização interna do conjunto das mensagens míticas, considerando os dois regimes –
89
diurno e noturno - e os três tipos de estruturas dos universos míticos - heróico, místico ou
sintético - especificados por Gilbert Durand.
2.1. Super mística – Segundo Yves Durand (ibidem, p. 94) neste caso o repouso do
personagem está em torno do refúgio ou de uma paisagem, mas falha o
arquétipo da espada, ou seja, a síntese está incompleta.
“reside numa força de coesão mística. Essa força de coesão cristaliza uma
atmosfera de descanso, de calma, marcada em todas as categorias e se atualiza
pela organização dos nove elementos num espaço criado do quadro ao seu
arranjo.” (ibidem, p. 99).
Formatados: Marcadores e
3. Estrutura Sintética (Dramática) – Neste micro-universo “as seqüências heróicas e numeração
místicas são atualizadas como subconjuntos em uma estrutura unificada” (ibidem, p. 102).
1. Incidência do sexo – Não existe distinção entre sexos. Yves Durand constatou
que não há ligação entre a produção de um tema heróico ou místico e o fato o
sujeito-autor ser homem ou mulher.
94
A partir das teorias apresentadas, especificamente nos estudos de Yves Durand, será
aplicado o Arquétipo Teste de Nove Elementos - AT-9 em 2 (dois) dirigentes – um deles
idoso – e 16 (dezesseis) alunos-idosos, dos que compõem o universo da UNATI/UCB e que
aceitaram participar da presente pesquisa, de maneira a que possamos levantar o imaginário
de cada um deles, suas idéias de vida e de morte e o enfrentamento de suas angústias.
Levantando o imaginário de cada um deles, será possível chegar ao imaginário do grupo, o
que está subjacente e sua perspectiva de continuidade.
Excluído: ¶
(resenhar o AT-9)¶
Parte III: Retratos do imaginário – O cintilar da alma Excluído: ¶
¶
Quebra de página
“Acreditamos (...) poder falar de uma imaginação ativista, e (...) de uma
vontade que sonha e que, ao sonhar, dá um futuro à sua ação.”
Gaston Bachelard
Protocolo Nº 1
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: GAIA
Sexo: Feminino
Idade: 62 anos e 7 meses
Grau de Instrução: Superior (Doutoranda)
Profissão: Professora
Reside com: 1 filha
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
Manuelino foi passear e se perdeu na Montanha Encantada que tem uma linda
cachoeira. Ele parou num dos picos da montanha e quase morre de medo pois estava tendo
um incêndio num dos lados da montanha. Ele pensou em descer a montanha mas ... saiu da
caverna um monstro empunhando uma espada e ameaçando-o! Meu Deus, pensou ele: vou
pular no lago formado pela queda d’água mas ... avistou uma cobra gigantesca!!!
Assustado, Manuelino raciocinou: terei que descer a montanha, pegando outro lado,
que vai dar num lindo vale, cheio de pássaros.”
98
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“Faria igual a Manuelino.”
A espada está em mãos erradas, está desfuncionalizada, pois está na mão do monstro,
e é exageradamente grande (ampliação da monstruosidade/morte).
no ar, e mesmo com tanto perigo, o personagem não luta, mas foge em busca da vida:
encontra uma solução de aconchego e paz (mística), o seu atrativo.
Contudo, numa análise geral, o personagem que tenta fugir para todos os lados, sai
vitorioso. Não enfrenta nenhuma das situações perigosas, não é heróico o seu imaginário
(apesar de existir o personagem, o monstro e a espada desfuncionalizada - potencializada); o
personagem não precisa desgastar-se, ele encontrou a solução para os problemas, encontrou o
seu refúgio/místico imaginado: o lindo vale, cheio de pássaros. O personagem desvencilha-se
de 3 (três) perigos sem lutar. Para que enfrentar os perigos, onde poderá encontrar a morte se
existe um outro caminho que leva ao sossego e a longevidade? (Presença marcante de um
imaginário místico.)
Ernst Bloch apud Lahud Loureiro (1993, p. 113), referindo-se à esperança, lembra
que “o homem possui em si aquilo que impulsiona para adiante (...). Quando tudo parece ruir
do mais profundo de nós mesmos alguma coisa surge e procura se agarrar, é a tensão (...)
aspiração que se dirige para fora”.
Voltando à Gaia, o personagem tem que descer (andando) para chegar lá. Não se
sabe se o lindo vale o salva, mas é uma possibilidade, a esperança, “a imagem – desejo” e
provavelmente será salvo.
“Um lindo vale, cheio de pássaros”. De acordo com Chevalier (2003, p. 929), o vale
simboliza “o lugar das transformações fecundantes, onde a terra e a água do céu se unem
para dar ricas colheitas, onde a alma humana e a Graça de Deus se unem para dar as
revelações e os êxtases místicos”
Embora a saída citada pelo sujeito-autor nos leve a pensar num vale que expressa
beleza e descanso, o que pode remeter ao místico, o vale é o local de transformações e
colheita, portanto têm movimento e produtividade. Os pássaros simbolizam movimento e
imortalidade, logo, vida.
Por meio da escuta, percebe-se que o sujeito-autor expressa-se como uma pessoa
angústiada, que considera que a pessoa envelhecer é uma benção de Deus, mas pensa/reclama
que “o velho deveria ser mais valorizado na sociedade”. Contesta o preconceito e o descaso
contra os idosos (impureza heróica).
Protocolo Nº 2
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: HEFESTO
Sexo: Feminino
Idade: 46 anos e 2 meses
Grau de Instrução: Superior (Mestre)
Profissão: Professora
Reside com: Marido e 1 filha
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“Um homem morava no interior de Minas Gerais, numa área importante para o
ESTADO, pois havia uma Usina hidrelétrica que fornecia energia para grande parte do
ESTADO de MG e do R.J. Ele sentia que era um pouco dono desta área devido aos anos
vividos nela, quantas vezes controlava até o funcionamento da USINA. Um certo dia surgiu
um animal mamífero com uma aparência terrível vindo em sua direção que o fez procurar
por uma arma para se defender e proteger seus filhos que se encontravam em sua casa “Seu
Refúgio”. A única arma existente era uma espada e com ela a utilizou para espantar aquele
animal.
Era noite muito fria e a fogueira já estava pronta a todo vapor esperando pela sua
família para curtir a noite nas montanhas.
Um lugar especial onde conta com a presença da movimentação das águas da
cachoeira proporcionado o ciclo constante de renovação de energias tão importante às
nossas vidas com tantos significados para a nossa Reflexão.”
104
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“EM PARTE ESTOU NA AÇÃO OCORRIDA RESolvendo PROblemas
EM OUTRAS SENDO CONVIDADA PAA PASSAR ALGuns DIAS POR LÁ.”
A imagem parece ser noturna uma vez que existe uma fogueira e luzes elétricas
acesas, apesar de dizer: “um certo dia”.
Desenha antenas que podem estar significando que o personagem está ligado,
antenado ao mundo exterior, o que também faz-nos pensar no heroísmo, assim como aves
voando. Já a queda d’água, que ao cair produz movimento, e o objeto cíclico, que parece
produzir energia, fazem alusão à síntese.
25
A escolha do nome Hefesto deu-se pelo fato do sujeito-autor, em sua narrativa, falar de usina e produção de
energia. Na mitologia grega, Hefesto é o deus do fogo e foi o responsável pela difusão da arte de usar o fogo e da
metalurgia. Na mitologia romana, Hefesto era chamado de Vulcano e considerado o ferreiro dos deuses.
106
simboliza vida. O fogo é expresso de forma positiva, uma vez que sua função é de utilidade,
serve para produzir calor/aquecer.
Hefesto para produzir sua composição reportou-se a sua infância numa cidade do
interior, levando-nos a pensar que tem saudades (lembranças) de um tempo de outrora. Quer
eliminar o animal, porque prefere o descanso à luta e deixa clara a responsabilidade que tem
como chefe de família e no trabalho.
“Se as águas precedem a criação, é evidente que elas continuam presentes para
recriação (...) A água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma,
das motivações secretas e desconhecidas” (CHEVALIER, 2003, p. 18, 21-22). A
movimentação das águas da cachoeira (um dos elementos considerados essenciais pelo
sujeito-autor), que proporciona o ciclo de renovação de energias, leva a pensar no desejo de
não acomodação e vontade de recriar, num intuito de chegar mais próximo à perfeição. Não
deixa de ser um ato de heroísmo, mas o movimento remete a síntese.
Após análise, julgo que o sujeito-autor, neste protocolo, deixa emergir um Micro-
universo Mítico Sintético do tipo DUEX - Duplo Universo Existencial Diacrônico.
107
Protocolo Nº 3
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: APOLO
Sexo: Feminino
Idade: 60 anos e 11 meses
Grau de Instrução: Superior
Profissão: Professora (Professora de 1º e 2º graus)
Reside com: 1 filho
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“Nesta gravura que eu desenhei havia um homem que queria devorar uns peixinhos
mas quando ele viu o papagaio ele ficou com medo porque a espada estava lá no alto e ele
pensou:
Será que atrás da espada tem um outro indivíduo as ocultas e está querendo me
matar?”
108
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“Numa floresta e faria o seguinte:
Pegava um dos meus cavalos, o mais bonito: o ‘machador’ e ia cavalgar a tarde
inteira até o anoitecer.”
A narrativa – a parte semântica do teste - feita por Apolo não está totalmente ligada a
sua pictografia.
Alguns dos elementos não são representados, não têm seus significados expressos
apenas com o desenho (queda, refúgio, fogo, monstro, cíclico). No caso do peixe, está
representado na boca do papagaio. É necessário recorrer ao relato para colher dados para a
análise e identificações.
Em muitas culturas o cavalo está ligado ao mal e a morte. “No apocalipse a morte
cavalga o cavalo esverdeado”. (DURAND, G., 2001, p. 76). Para G. Durand “o cavalo é o
isomorfo das trevas e do inferno”. Mesmo na figura do cavalo solar pode-se fazer uma
correlação com o cavalo octônico, pois o sol não é apenas uma grande luminária para a terra.
26
A escolha do nome fictício de Apolo para o sujeito-autor, deu-se pelo fato de, na mitologia grega, o deus
Apolo ser uma figura complexa e enigmática, que transmitia o segredo da vida e morte. O sujeito-autor da
dramatização demonstra, em sua narrativa certa complexidade e enigma quanto a figura do papagaio, do
monstro, do homem, do medo de existir algum “outro indivíduo as ocultas”, e da dualidade vida-morte.
110
Ele pode ser imperioso e destruidor, causando a fome, a seca, a morte. O cavalo por se ligar
aos grandes relógios naturais (sol / dia – lua / noite) é considerado o símbolo do tempo.
Complementa G. Durand que “primitivamente o cavalo é o símbolo da fuga do tempo, ligado
ao Sol Negro (...). Pode-se, por isso, em geral, assimilar o semantismo do cavalo solar ao
cavalo octônico. O corcel de Apolo não é mais que trevas domadas”. (DURAND, G.,
2001, p. 75-78).
A presença do papagaio, com a sua beleza, fez o monstro (homem) parar para refletir
no que faz, como se nesse momento deixasse de ser monstro para ser humano e passar a temer
o outro - suposto indivíduo que pode estar escondido, pronto para atacá-lo -. É um animal, côo
na idéia inspiradora da dramatização aqui registrada, que simboliza/representa a imagem do
refúgio, quer dizer na beleza da natureza animal, do seu canto e encantos diferentes do
humano, onde ele (o sujeito-autor) encontra um pouco de paz, mas mesmo aí se percebe a
confusão: nunca vi um papagaio cantar a não ser o domesticado!!
111
Apolo se projeta no personagem que ora parece ser o monstro, ora parece ser
humano, o que faz-nos pensar numa possível desestrutura. O medo da
morte/perigo/desconhecido/oculto que o monstro/Pirulito, que também é o
personagem/homem tem e a não conclusão da história: “estaria numa floresta (...) pegava (...)
cavalo (...) ia cavalgar a tarde inteira até o anoitecer”, também nos remete simbolicamente à
angústia de uma idosa que quer viver agitada o entardecer da sua vida, como se porta na
UNATI/UCB, em movimento “a tarde inteira”, até a noite chegar, “até o anoitecer” (seria a
morte?), o que leva a crer numa desestrutura com tendência ao sintético/disseminatório. Quem
comanda a cena é o personagem assustado medroso e o monstro oculto que não ataca na
realidade, mas é imaginado na sua possibilidade de atacar e ferir com a posse da espada ainda
solta no ar - a presença do fiapo de heroísmo negativo -. A confusão e a fusão estão presentes!
Quando o sujeito-autor tem que se posicionar num local da cena composta, alega que
“pegava um dos meus cavalos, o mais bonito, o ‘marchador’ e ia cavalgar a noite inteira até
o anoitecer”. Tal resposta, não tem cadência com o desenho ou narrativa, o que novamente
leva-nos a crer numa desestrutura. Parece que o autor quer desprender-se da história. A alusão
ao cavalo remete à morte, a tarde - fim do dia - e o movimento do galope - fuga do tempo,
corrida - ao sintético/disseminatório/cíclico e o anoitecer ao místico, como se fosse em busca
de algo, de refúgio, de paz. No entanto a desestrutura se evidencia outra vez quando no
quadro do teste representa o elemento cíclico com a imagem das estrelas, com função de
brilhar simbolizando o céu - que por sua vez é comumente relacionado com a morte -,
colocadas no desenho, mas, não mais referidas na história, a não ser forçadamente entendidas
no “até o anoitecer”.
Diante das pontuações feitas acima, julgo que o sujeito-autor apresenta um Micro-
universo Mítico Pseudo-desestruturado que apresenta laivos da estrutura mística, ao lado
de fiapos de heroísmo.
os idosos. É alegre, vaidosa, e está gostando muito de envelhecer (místico?), pois, segundo
ela, hoje existe muito mais passeios e divertimentos que antigamente (sintético?).
James Hillman no seu livro A força do caráter e a poética de uma vida longa
(2001, p. 108) cita Pascal, em epígrafe no capítulo intulado Inquietação confusa: “Todo mal
humano vem daí, da incapacidade do homem de sentar-se quieto num quarto.”
Hillman diz que “(...) o corpo que vagueia está seguindo as agitações da mente que
vagueia, e criando problemas. (...) As pessoas dizem: ‘Por que é que ele não quer ficar quieto
em casa?’ Não compreendem que ficar quieto nos faz girar ainda mais para dentro da
perturbação da inquietação”. (idem).
Quanto à fusão e confusão o autor diz que “a confusão é resultado de uma fusão.”
(p.109). E, “quando a confusão começa, segue-se a agitação (....) sentimo-nos como um
adulto que está escorregando” (ibidem, p. 110)
113
Protocolo Nº 4
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: ULISSES
Sexo: Feminino
Idade: 72 anos e 4 meses
Grau de Instrução: Superior
Profissão: Professora
Reside com: Um filho e um neto de 6 anos
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“Certa vez um pescador saiu em seu barco para pescar. Houve uma grande
tempestade que destruiu o barco e a correnteza levou o pescador somente com sua espada.
Numa queda dágua havia uma roda dágua para produzir energia. Coitado do
pescador, quando lá caiu e viu um enorme tubarão foi se escondendo próximo da roda até
que conseguiu chegar à margem da represa. Estafado machucado, quase gelado pela água e
o pavor do acontecido, descansou um pouco, fez uma fogueira e deitou-se para repousar e
dar glória a Deus.”
114
3ª parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“Eu estaria no personagem.
Eu me entregava total ao Pai.”
De acordo com Ulisses, o personagem, identificado como pescador, sai para pescar
em seu barco. Embora estar dentro do barco lembre o aconchego, o pescador ‘sai para’, o que
verbaliza movimento. Contudo, está sempre preocupado com o perigo, com a morte. O
universo da angústia está presente, com o medo da morte e certa negatividade.
A tempestade ocorrida é a primeira dificuldade/angústia encontrada. Ela destrói o
barco - mais uma angústia: barco destruído/desproteção - e embora o personagem tenha sido
levado pela correnteza, foi levado com a espada - que não serviu para nada na fuga ou
vitória -. Ser levado pode significar poupar esforços - não luta, se deixa levar - e não derrota,
tendo em vista que não largou a espada - que não usou para se defender e sim para construir a
fogueira -.
Encontra com o monstro – morte (tubarão) –, que novamente coloca-o numa situação
de angústia/medo. Foge refugiando-se numa roda d’água que produzia energia, que simboliza
vida. Em outras palavras, ele vê a morte (tubarão) e refugia-se na vida (roda) que remete a
pólos contrários e complementares que fazem a realidade da vida. Sem vida não há morte.
Sem morte não há vida.
O sujeito-autor da dramatização registrada neste protocolo, quando escutado,
comenta que para ele, um dos encantos da velhice é o fato de que com a idade avançada,
pode-se ter liberdade, fazer o que quer, na hora que quer, “e quando não dá, os outros
perdoam”. Acredita que a velhice não está na idade: existem jovens-velhos e velhos-jovens.
Embora septuagenária, não se acha velha, mesmo tendo limitações na saúde. “Existem jovens
de 20-30 anos que são mais velhos do que uns de 80 anos”. Na verdade, para ela, ser velho é
“quando acabou a vontade de viver”. Na dramatização há bem presente a vontade de viver,
mas sem luta, pois Deus/fé ajuda. Ela eufemiza e despista o perigo, o monstro, sem matá-lo. A
queda expressa é a do rio onde está navegando o pescador, tem função de destruição e
simboliza negativamente morte.
Quando refugiado na roda (vida), o personagem busca o esconderijo, para despistar o
tubarão/monstro e conseguir chegar a margem da represa. Não há luta e sim fuga na busca do
aconchego da fogueira para dormir/deitar. No desenho aparecem imagens do personagem em
três posições; entre elas uma deitada e na resposta da questão “e” do questionário do teste diz
que: “Eu me entregaria total ao Pai”.
Todo o imaginário do sujeito-autor dá a idéia de vontade de se aconchegar, de
passear, de pescar em paz, pois, mesmo com as angústias acentuadas, o que ele quer é
repousar/lazer. Atribui a função de lazer ao elemento personagem/pescador e ao elemento
117
Protocolo Nº5
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: CALÍOPE
Sexo: Feminino
Idade: 64 anos e 7 meses
Grau de Instrução: Ensino Médio
Profissão: Várias – Nunca ficou parada (empresária, pintora, professora, artesã)
Reside com: 1 filho
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“Havia, um homem. Que vivia em uma caverna, em contato direto com a natureza.
Sempre gostava de ficar perto de uma cachoeira que corria, perto do seu
esconderijo.
Ele ficava durante muitas horas olhando aquele espetáculo da natureza, os
peixinhos que desciam pela agua abaixo. Um dia ele acendeu uma fogueira, e apareceu um
urso, que ficou do outro lado da árvore lhe observando, não foi possivel ele usar aquela
espada, pois o animal ficou ali parado perplexo.”
119
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“no lugar do homem, de frente para a fera.”
Observando o desenho elaborado por Calíope, vemos um homem de pé, com uma
espada, mas a espada está direcionada para o chão. Em frente ao homem está posicionado um
monstro zoomórfico (urso). Contudo, entre eles existe um rio que os separa, mantendo o
monstro distante. Esta separação pode nos levar a crer numa divisão de 2 pólos: regime
noturno - lado do personagem com o aconchego (caverna) - e o regime diurno - lado do
monstro (perigo) -. Mas não é bem assim, pois o personagem está de pé, numa postura
heróica. Ele possui uma espada grande na mão, mas ela está abaixada. Contudo, é dito no
quadro das representações, funções e simbolismos atribuídos a cada um dos 9 elementos do
teste que a espada tem função de cortar e simboliza defender. Talvez, pela existência do rio, o
personagem se sinta resguardado e ache desnecessário o uso da espada, mas ela está na mão e
ele poderá usá-la contra o monstro, se necessário. Poderá dar ação àquilo que está, no
momento, sem função aparente.
Identifica como elemento cíclico o pássaro voando, que simboliza leveza. O pássaro,
pelo fato de levantar vôo para o céu, remete ao heroísmo. Porém, segundo Chevalier (2003,
p. 687), a leveza do pássaro carrega em si um aspecto negativo: “São João da Cruz vê nela o
símbolo das operações da imaginação, leves, mas sobretudo instáveis, esvoaçando de lá para
28
Na mitologia Calíope é uma musa, que se dedicou a poesia épica. É filha de Zeus - rei do Olimpo e dos deuses
- e Minemósine - deusa protetora da memória, filha de Urano e Gaia. Em comum com o sujeito-autor, temos que
esta senhora sexagenária, é uma poetiza. Adora criar poesias e recitá-las. Nos encontros das oficinas de
Jornalismo Comunitário não perde a oportunidade de mostrar suas poesias e prosas e falar para os jovens sobre o
amor. É uma eterna apaixonada.
121
cá, sem método e sem seqüência; o que o budismo chamaria de distração ou, pior ainda, de
divertimento”.
Para o sujeito-autor todos nós temos que ter o nosso esconderijo, nossa privacidade,
nosso canto. Quando da aplicação do protocolo, num momento de informalidade, de escuta,
deixou transparecer que ser velho é “amadurecer com mais consciência”. Consciência esta
que só pode ser adquirida com a reflexão, com o tempo, talvez seja por isto que expresse
“desciam pela água abaixo”. Pensa que só seremos velhos quando não produzirmos mais,
quando vivermos em função do outro e, na vida só podemos ser dependentes de Deus - por
isto não luta, não levanta a espada para o monstro -. Acha que é gratificante viver. Não quer
enfrentar a morte. Acredita que só é duradouro aquilo que se renova como o amor e que a
idade é questão de tempo e não de velho-jovem.
Assim sendo, temos então, na UNATI/UCB uma pessoa que está mais para o lado do
aconchego, do que para a luta, mas que pensa que as pessoas devem ser incentivadas a ter
mais liberdade de sentimentos, da expressão, de pensamento. Pensa que o velho, atualmente,
122
está mais ajudado e que antes, “o velho ficava de pijama em casa” - a espera da morte, diante
do seu monstro -. Agora, o velho continua a viver.
Com base nas observações julgo que Calíope demonstra atitudes de quem possui um
Micro-universo Mítico Místico com Impureza de heroísmo.
123
Protocolo Nº 6
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fitício: ÉDIPO
Sexo: Masculino
Idade: 69 anos e 11 meses
Grau de Instrução: 1º Grau
Reside com: Esposa
2ª Parte:
a) Pictografia
Formatados: Marcadores e
numeração
124
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“De alguma maneira sou o homem. Estou preso ao governo.
Faria uma carta ao Presidente dando sugestões para que tudo mudasse para
melhor.”
Ao desenhar sua história, Édipo dispôs os elementos soltos, sem conexão, o que
remete, a princípio, a uma possível desestrutura.
Com o auxílio da narrativa notamos que quis enfocar sua história na luta diária de um
trabalhador, comparando-a com uma queda de braço.
Na queda de braço, as mãos se unem não num gesto amigo, de união, mas de
competição, de saber quem será o vencedor e quem será derrotado; quem é o mais forte e
quem cairá: se a situação difícil de vida ou o trabalhador que luta por melhores condições de
vida e de sobrevivência. Contudo, nesta luta não existe combate físico. O homem não
empunha a espada e não sai para a guerra, apenas come uma maçã e olha a criação.
O homem come a maçã, reflete em seus pensamentos, busca a melhor arma para
lutar, enquanto olha a criação (cachorro, pato) que tomavam a água que corria da torneira. A
água, purificadora, que é fonte de vida e de morte, com o poder de manifestar o transcendente,
escorre pela torneira, sem nada que a impeça, corre e cria seu curso dando de beber, sendo
fonte de vida para os animais.
Na reflexão o homem entende que a luta imposta pelas dificuldades da vida, não será
vencida pela força ou habilidade física, mas sim “com inteligência (cabeça)”.
29
Para o sujeito-autor o homem vence a luta com a inteligência. Lembra o mito de Édipo que, conta a história,
foi o único homem a vencer o enigma da Esfinge na cidade de Tebas. A Esfinge aterrorizava a todos que
queriam entrar na cidade de Tebas e Édipo venceu-a não com a força física, mas decifrando um enigma que
ninguém, até aquele momento, havia conseguido decifrar.
126
Não representou o fogo e o elemento cíclico, mas comenta que o cíclico representa
“uma criança de rua querendo uma fruta. Ela gira para conseguir a fruta. Não sabe se pede,
se rouba, ela gira e fica com fome.”
Protocolo Nº 7
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: ARETUSA
Sexo: Feminino
Idade: 62 anos e 7 meses
Grau de Instrução: Ensino Fundamental
Incompleto (Primário)
Reside com: Marido e um filho
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“Um certo dia Joãozinho estava ao lado de sua casa admirando os peixes que
estavam nadando nas águas cristalinas do rio, ao mesmo tempo ele observava um pássaro
voando. De repente ele viu um monstro se aproximando, aí ele fez um fogo para afastar o
animal. Como o monstro não teve medo do fogo.
Ele correu para dentro do casebre procurando refúgio. Só assim ele ficou protegido
do monstro.
128
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“O mesmo que o personagem, procuraria me proteger”
30
O mito de Aretusa lembra um pouco a história narrada pelo sujeito-autor. Na dramatização narrada o personagem
estava nadando nas águas cristalinas do rio, quando de repente viu um monstro se aproximando. Como não conseguiu
afastar o monstro, procurou refúgio. Na mitologia grega, Aretusa foi uma ninfa, que acompanhava Ártemis (ou Diana).
A ninfa adorava andar livremente e admirar a beleza da natureza. Um dia percebeu um rio cristalino e decidiu banhar-
se em suas águas convidativas. Mas, tão logo entrou no rio, percebeu que não estava só, porque o deus desse rio,
Alfeus, ficou enrubescido pela beleza de Aretusa e imediatamente apaixonou-se pela ninfa. Aretusa, no entanto, nada
queria com o passional deus do rio. Aretusa foi perseguida, mas, por fim, ela encontrou refúgio.
130
monstro incompleto. Pode, no entanto, ser que o quadro deixou de ser completado por falta de
tempo ou por desânimo na execução das ordens dadas nas consignas, pois não há desestrutura
e a coerência mítica se evidencia na história bem encadeada e no desenho representativo de
um imaginário estruturado. A desestrutura pode estar no título dado à dramatização
imaginada: “O dia seguinte”, que parece não ter correlação com a mesma. Coloca ao mesmo
tempo como essenciais o elemento queda/natureza, o monstro, o peixe – talvez querendo
referir-se ao elemento animal que não representa, não simboliza, nem lhe atribui função, no
quadro do teste, representando-o, apenas, no desenho e na história -, e o casebre, dito
casa/refúgio/moradia no quadro do teste. Isto pode estar indicando laivos de desestrutura no
imaginário registrado no protocolo.
No inicio da sua história o autor dá ênfase a um ambiente bucólico, cheio de paz,
admirando peixes que nadavam em águas cristalinas ao mesmo tempo em que observava um
pássaro voando.
A água limpa traz vida, força e pureza. É símbolo da sabedoria, da graça, da virtude,
da fertilidade e da fecundidade (CHEVALIER, 2003, p. 15). Tal como a água, o peixe
também traz vida e fecundidade. Ambos remetem à antifrasia/misticismo. Embora o pássaro
remeta ao heroísmo, nesta história ele (o pássaro) fortalece o clima místico, pois simbolizam
“os estados espirituais, os anjos, os estados superiores do ser. (...) Os pássaros são, de algum
modo, símbolos vivos da liberdade divina, eximido das contingências terrestres”
(ibidem, p. 687-688).
O personagem não consegue espantar o monstro, tampouco enfrentá-lo. Foge e
refugia-se no casebre, ficando protegido. A casa, segundo Bachelard, significa o ser interior.
É na pequena casa que o personagem refugia-se do monstro obtendo a vitória: conseguir
salvar-se, o que identifica o imaginário positivo contido neste micro-universo mítico.
O sujeito-autor desenha no céu, além do pássaro voando, nuvens e sol.
Segundo Chevalier (ibidem, p. 648) a nuvem “é o símbolo da metamorfose viva, não
por causa de alguma de suas características, mas em virtude de seu próprio vir a ser”.
O sol é a fonte de luz e de calor. É símbolo da vida e renovação de autoridade de
imortalidade; “está no centro do céu como o coração no centro do ser” (ibidem, p. 837). Por
estar no alto, e ser a própria claridade, remete ao heroísmo, o que neste protocolo representa
uma impureza na estrutura mística configurada.
Julgo, após análise que o Micro-universo Mítico do sujeito-autor é Místico com
impureza de heroísmo, portanto: Místico Impuro.
131
Protocolo Nº 8
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: MORFEU
Sexo: Feminino
Idade: 63 anos
Grau de Instrução: Científico
Reside com: Esposo
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“Eu via nos meus sonhos uma cachoeira, com uma queda enorme dagua, que
saia um soldado com uma espada, mais na frente tinha uma igreja que era meu refugio,
pois estava muito a Sustada, mais adiante tinha um monstro que queria me devorar. lá
na frente encontrei um carro que me deu bastante alegria que iria me levar a outro
lugar, pois eu sou o personagem fiquei muito alegre, com aquêle belicimo, mar de água,
pois eu ia pescar grandes peixes para minha alegria, ao anoitecer eu vi o sol nascendo
parecia uma toalha de fogo de tão bonito estava, era só aquela imaginação da minha
história.”
132
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“no refugio”
Morfeu criou uma narrativa com os elementos que compõem o AT-9, na mesma
ordem em que foram apresentados para a atividade, demonstrando a preocupação em utilizar
todos, gerando um discurso, a princípio, sem interligação de acontecimentos.
Morfeu, em seu sonho, vê uma cachoeira com uma queda. Aqui a queda é positiva
por não ser do herói. Desta queda d’água sai um soldado com uma espada, mas esta não é
usada e fica desfuncionalizada. Vê a igreja como um refúgio, mas não entra dentro dela, pois
estava muito assustada. O texto criado não diz que o soldado com a espada perseguia a
personagem. Será que o personagem fugia ou apenas prosseguia na caminhada? Se fugia, de
que ou de quem fugia? Por que não se refugiou na igreja? Se apenas caminhava, por que
estava assustada?
31
A escolha pelo nome de Morfeu deu-se pelo fato do sujeito-autor contar um sonho. Segundo a mitologia grega,
Morfeu é o deus dos sonhos e é filho de Hipnos, deus do sono.
134
A igreja nos faz pensar num local de aconchego para o corpo e para o espírito, onde
se acredita que se pode estar mais perto de Deus e ter a sua proteção – lugar de busca/refúgio.
Segundo Chevalier (ibidem, p. 501) a igreja é considerada como a mãe do cristianismo e pode
ter a ela aplicado todo o simbolismo da mãe. Está sempre pronta para receber a todos
independente de estilo de vida e de pecados. Mas, apesar de assustada, a personagem não
entra no refúgio (igreja) e continua o seu trajeto. Vê um monstro antropomórfico que quer
devorá-la, mas ela encontra um carro (cíclico) que a levará para outro lugar, um lugar
belíssimo, que será o seu refúgio.
O lugar tranqüilo era um “belíssimo mar de água”, com grandes peixes. O mar, por
ter movimento, é o símbolo da dinâmica da vida, é o lugar de transformações. Para Chevalier
(ibidem, p. 592) “o mar simboliza um estado transitório entre as possibilidades ainda
informes das realidades configuradas, uma situação de ambivalência, que é a de incerteza, de
dúvida, de indecisão, e que pode se concluir bem ou mal. (...) o mar é ao mesmo tempo a
imagem da vida e da morte.” Mas, o mar de Morfeu possui vida, pois contém grandes peixes
para serem pescados. É a vida que se tira do mar para servir, provavelmente, de alimento para
uma outra vida (salvação).
Embora o sujeito-autor diga em seu texto que “ao anoitecer eu vi o sol nascendo
parecia uma toalha de fogo”, acredito que houve um equívoco na redação. O sujeito-autor
quis referir-se ao pôr do sol, ao sol que morre em todos os finais de tarde, para no dia
seguinte, nascer novamente, referir-se ao crepúsculo, que, como diz Paula Carvalho (1999,
p. 38) “a imagem do sol mostra que, mesmo em se pondo, no crepúsculo, ele continua (...) sua
morte é aparente, na verdade, mudança de registro, dimensão e hemisfério”.
“O sol imortal nasce toda manhã e se põe toda noite no reino dos mortos;
portanto, pode levar com ele os homens e, ao se por, dar-lhes a morte; mas ao
mesmo tempo, pode guiar as almas pelas regiões infernais e trazê-las de volta à luz
no dia seguinte”.
No protocolo o sujeito-autor diz que viu sol “parecia uma tolha de fogo de tão bonita
que estava”. Tal expressão (“toalha de fogo”) é uma metáfora usada por Morfeu para
representar a vermelhidão no céu, no local onde o sol irá morrer, para depois renascer (no
lado oposto). A cor vermelha (vermelhidão), num tom claro, parece mais leve, pode
representar a alegria da vida. “É diurno, macho, tônico, incitando à ação, lançando como um
sol, seu brilho sobre todas as coisas, com uma força imensa e irredutível”. Porém, numa
nuance mais escura, torna-se uma cor mais pesada, de amadurecimento, com certo toque de
tristeza, representa o “noturno, fêmea, secreto (...) representa não a expressão, mas o mistério
da vida. Um seduz, encoraja, provoca (...) o outro alerta, detém, incita vigilância e, no limite,
inquieta ...” (ibidem, p. 944). O vermelho representa, então, o mistério da vida (vida, morte e
imortalidade).
Embora Morfeu indique, no final de sua narrativa, que tudo aconteceu na imaginação
de sua história, em vários símbolos desenhados percebemos a idéia de vida e de morte. E, na
sintonização da narrativa, vemos que a morte está muito mais presente, porém com o objetivo
de renascimento, de transformação, dedicando-se mais ao amadurecimento, a espiritualidade,
ao aconchego, ao místico.
Excluído: Unati
Protocolo Nº 9
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: CRONOS
Sexo: Feminino
Idade: 67 anos e 2 meses
Grau de Instrução: Segundo Grau
Reside com: Só (tem uma filha)
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“Era uma vez, um militar do exército, êle queria muito progredir, ter sussesso na
vida, em seu 1º ano de carreira teve uma queda, porém usando uma espada e um relógio
tornou-se um monstro devorante, fez uma roda entrou dentro do mesma como um
personagem da água (peixe) que não gosta de fogo.”
137
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“me refugiava”
O sujeito-autor deste protocolo é uma senhora de 66 anos que, a partir de agora será
identificada com o nome fictício de Cronos32.
Excluído: Unati
Cronos freqüenta a UNATI/UCB há algum tempo, em várias oficinas. Gosta de todas,
Excluído: Unati
especialmente da hidroginástica. Busca na UNATI a possibilidade de atualização dos seus
conhecimentos.
O militar (personagem) queria progredir, evoluir, mas teve uma queda, o que nos faz
entender que seja de ordem profissional.
O personagem aspirava progredir, ter sucesso, mas teve uma queda, onde não
sabemos se conseguiu levantar-se. Usando uma espada e um relógio, transformou-se num
monstro devorante. Monstro este, que está concebido como relógio que representa tempo.
32
A alusão ao nome de Cronos fazendo uma analogia entre o sujeito-autor e o personagem da mitologia grega,
deu-se pelo fato da preocupação com o tempo/relógio.
A mitologia grega identifica Cronos como uma figura enigmática, que simboliza o tempo. É filho de Urano
(Céu) e Gaia (Terra) e pai de Zeus. Excluído:
139
O discurso não deixa claro o porquê do tempo como monstro devorante, no qual o
personagem se transforma. Contudo, no caso deste protocolo, a angústia não está presente
pela infinitude do tempo, mas justamente pelo seu oposto: sua limitação. A sociedade
contemporânea vive numa luta constante contra os limites do tempo. Temos que ter tempo e
espaço para tudo, só não temos tempo para nós mesmos. O tempo é exigente e limitado, o
minuto que se foi não se recupera mais. Tornamo-nos escravos deste deus - tempo -. Deus ou
monstro? Para o sujeito-autor, monstro que devora!
Percebe-se que Cronos joga com as palavras do teste AT-9 para criar a sua narrativa,
mas, inconscientemente, revela sua angústia: o pavor do tempo e de suas limitações. O
personagem/monstro refugia-se na roda que criou, “como um personagem da água (peixe) que
não gosta de fogo”. Descreve aqui, a água em oposição ao fogo. São dois símbolos
antagônicos, mas cada um deles pode significar vida, morte, renascimento, purificação. Os
140
papéis podem ser invertidos ou aliados, ou simplesmente um dominar o outro. Mas como o
peixe precisa da água para ter vida, é neste contexto, um elemento positivo e o fogo negativo.
São oposições que se completam, numa interdependência, como molhado-seco, “yin-yang”,
bem-mal.
Excluído: Diante das pontuações
Continuando na análise das co-relações entre o desenho, a narrativa e quadro síntese feitas, julgo que o Micro Universo
Mítico do sujeito-autor seja
de especificações dos elementos do teste, percebemos que parece existir, no protocolo, certa Sintético Simbólico de forma
Diacrônica, pois o personagem é
desestrutura: aparece um cachorro no quadro e no desenho que não existe na história um militar o que remete ao
heroísmo, quer vencer, quer ter
sucesso (heroísmo), mas ao
imaginada (narrativa); o militar teve uma queda, mas no desenho esta imagem não se transformar-se no monstro
(tempo), com a ajuda da espada e
confirma, nem no quadro, onde é representado por bonecos caindo/insucesso; usa boneco e do relógio, refugia-se (místico).
Refugia-se na infinitude do tempo
espada/briga/ruim, como representação, função e simbolismo do elemento espada, o que não (eternidade) o que leva a crer que
ele passa a viver num outro
aparece na história nem no desenho; se refugia na correria/compromisso; tornou-se um universo: o de tranqüilidade, sem
cobranças,¶
monstro devorante, um homem quadrado ou um quadrado homem/insucesso/fracasso. Entrou Excluído: uma
Excluído: : a
no cíclico/roda – vencido, como um soldado submisso/ordem entra na água/chuva (como
Excluído: que
quem está na chuva é para se molhar), mas não quer se queimar, correr riscos (hierárquicos Excluído: .
militares), se acabar – não gosta do fogo (riscos pra cima). Prefere ou escolhe cumprir para ter Excluído: . O
Excluído: i
sucesso na vida militar, na ordem estabelecida que no início ele descumpriu.
Diante das pontuações feitas, julgo que o Micro-universo Mítico do sujeito-autor seja
Sintético Simbólico de forma Diacrônica, pois o personagem é um militar o que remete ao
heroísmo, quer vencer, quer ter sucesso (heroísmo), mas ao transformar-se no monstro
(tempo), com a ajuda da espada e do relógio, refugia-se (místico). Refugia-se na infinitude do
tempo (eternidade) o que leva a crer que ele passa a viver num outro universo: o de
Excluído: sem
tranqüilidade, o de não lutar contra o pré-estabelecido, o de submissão, de acomodação.
Excluído: ???Conceição aí é que
Aceita as ordens militares que antes ele descumpriu e por isto se disse em queda. Ao aceitar o ele está submisso, a
Excluído: ando
pré-estabelecido ele se considera um monstro devorante que se o faz é para não ter queda e
Excluído:
sim sucesso na vida militar. Excluído:
141
Protocolo Nº 10
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: HEBE
Sexo: Feminino
Idade: 69 anos e 9 meses
Grau de Instrução: 2º Grau
Reside com: Esposo
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“Era uma vez uma menina chamada Krystal, levada como só ela, brincando ele
levou uma queda na escada, mas não machucou.
Sua imaginação era muito fértil sua brincadeira predileta com seu irmão era o
jogo das espadas, ou então se esconder dentro de um baú, era sua caverna, derepente
ouviu-se um grito, olha uma cobra e saiam correndo.
Em dias de sol forte, enchiam a piscina de plástico, faziam barquinhos de papel e
com os peixes de plásticos, era aquela farra.
Com a chegada da noite todos iam para o quintal sentar-se perto da fogueira,
pediam para contar histórias e a preferida era do Saci-pererê.”
142
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“Estaria junto à fogueira, e também contando uma bela história.”
O desenho realizado por Hebe mostra figuras isoladas, a principio, sem conexão
entre elas e com nomes identificando-as. Numa visão inicial, podemos identificar um
imaginário não-estruturado.
Com o auxílio da narrativa, vemos que a história contada tem uma cadência de
pensamentos, onde a personagem principal, no qual o sujeito autor se projeta, é uma menina
levada, que passa o dia brincando.
Hebe inventou sua historia, inspirada no “dia de uma criança”. Uma menina levada,
cheia de energia e de imaginação, que brinca de “faz de conta”, criando situações. A criança é
o símbolo de pureza e espontaneidade. Em sua fase – infância - tudo é inocência e
simplicidade. Não existem pressões com as limitações de tempo, com as cobranças de ordem
profissional ou de demonstrar aquilo que não se sente. Ser criança é ser autentico, é viver cada
minuto da vida, sem se importar com o futuro, viver com toda a intensidade. De acordo com
Chevalier (2003, p. 302), “na evolução psicológica do homem, atitudes pueris ou infantis (...)
assinalam períodos de regressão; (...) a imagem da criança pode indicar uma vitória sobre a
complexidade e a ansiedade, e a conquista da paz interior e da autoconfiança.” Paula
Carvalho (1999) se refere ao par arquetípico puer-senex, como “fundamento da antropolítica
da neotenia humana e da pedagogia do ócio imaginário”.
Essa criança ativa, cheia de energia, cria vários tipos de brincadeiras. Inventa
brincadeiras de esconder, entrando dentro do refúgio/baú/solidão/ficar só, fazendo de conta
que é uma caverna, o que é típico do micro-universo místico. Em dias de sol forte – “tudo que
o ser humano precisa/luz” -, brinca na água da piscina, brinca com a “vida” que “representa
tudo” e com outros tipos de brincadeiras. São dias intensos cheios de alegria. Até mesmo
quando sofre uma queda na escada, não se machuca, quer continuar brincando, fazendo
exercícios físicos, extravasando sua energia. A idéia principal desta dramatização é a
“criança”, que no quadro do teste representa o elemento queda, com a preocupação de “ter
cuidado” simbolizando “alerta”. Mesmo brincando a pessoa idosa se preocupa com as
possíveis quedas e suas conseqüências.
33
A escolha do nome de Hebe para o sujeito-autor deve-se ao fato de na mitologia grega, Hebe ser considerada
como a deusa da juventude e a história narrada contar sobre brincadeiras de criança, momentos de juventude.
144
Após um dia/vida cheio de energia, todos se reuniam perto da fogueira para ouvirem
histórias. Com a noite/velhice, chega à hora das atividades passivas, onde, na “hora do conto”
- rememorizações -, renovam-se as energias para o dia seguinte - para continuar vivendo -. É
um momento de descanso, de aconchego. - Estaria se referindo a sua velhice? -
Hebe tem como temática o dia de uma criança e enfatiza o ato do contar histórias, do
faz de conta. Termina a cena com todos reunidos e, se tivesse que participar da cena, estaria
junto à fogueira contando uma bela história. Provavelmente deixando emergir lembranças.
Talvez esta criança levada simbolize o seu tempo passado, a sua infância, com bastante
energia e agora seja o tempo da tranqüilidade, de repassar suas vivências, suas histórias, para
outros.
Considero que Hebe, neste protocolo do teste AT-9, deixou emergir um imaginário
com uma Pseudo-desestrutura com tendência a estrutura Mística Lúdica. Trata-se de um
Micro-universo Mítico Pseudo-desestruturado com tendência no Místico-Lúdico, que se
refugia na noite, com os amigos, em volta da fogueira, contando lendas e histórias, mostrando
a idéia de vida em um imaginário pleno do desejo do aconchego, onde os elementos heróicos
são eufemizados em brincadeiras/brinquedos, mas que apresenta um desenho explodido onde
não aparecem conexões entre os elementos.
145
Protocolo Nº 11
Identificação:
Nome Fictício: MÉTIS
Sexo: Feminino
Idade: 71 anos e 9 meses
Grau de Instrução: 2º Grau
Reside com: Sozinha
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“As margens do lago; formado por uma bela queda d’agua, Pedro pesca
tranquilamente, o peixe que seria o seu sustento. Pedro mora numa velha
choupana, em companhia de seu cão; o amigo fiel que lhe acompanha há muito
tempo. Pedro, embora seja um pobre pescador, vive feliz no seu rincão; onde pode
contemplar o céu, o sol e os pássaros, em paz total.
Pedro no seu refúgio; está longe da violência (monstro devorante) da
grande cidade”
146
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“Junto à Pedro na beira do lago.
Procuraria entender sua felicidade diante do simples.”
O discurso confirma a imagem pictórica, onde um homem pobre e feliz pesca o peixe
que será seu alimento.
O peixe, símbolo da vida, é também alimento. Em uma passagem bíblica Cristo fez o
milagre da multiplicação do pão e do peixe para alimentar aos desprovidos. Comeu do peixe e
transformou-o no símbolo do alimento eucarístico.
Métis qualifica Pedro como um pobre pescador que vive feliz. A pobreza, em seu
aspecto positivo, pode ser um símbolo de desprendimento do espírito, do mundo material, o
caminho da exultação a Deus, que leva ao encontro da felicidade.
Na história, o personagem Pedro, tal como o sujeito-autor, vive sozinho. Porém tem a
companhia de seu cão, “amigo fiel que lhe acompanha há muito tempo”. O cão possui
diferentes simbolismos, com aspectos antagônicos de acordo com cada cultura. Segundo
Chevalier a “1ª função mítica do cão, universalmente atestado, é a de psicopombo, guia do
homem na noite da morte, após ter sido seu companheiro no dia da vida”. Em algumas
civilizações o cão era tido como o intercessor, o mensageiro entre o mundo real e o além. E,
por conhecer os 2 mundos, era tido, também, como o herói civilizador, o ancestral mítico. Sua
fidelidade ao seu dono é louvada: “Se um homem não tem irmãos, os cães são seus irmãos. O
coração de um cão assemelhasse ao coração de seu amo.” (2003, p.176-180).
34
Métis, na mitologia grega, era tida como a deusa da prudência. O sujeito-autor em sua narrativa conta a história
de um personagem que vive num local de paz, tranquilidade e serenidade, e transparece prudência em suas
atitudes.
Embora Métis seja a deusa da prudência, houve um momento em que ela não foi prudente. Conta a mitologia
que Métis foi a primeira esposa de Zeus. Após casados, ele foi advertido por sua avó Gaia, que Métis lhe daria
um filho, e que este o destronaria. Amedrontado, Zeus resolveu engolir Métis. Para tanto, utilizou-se de um
fabuloso ardil. Convenceu sua esposa a participar de uma brincadeira divina, na qual cada um deveria se
transformar em um animal diferente. Métis, ingenuamente, se transformou numa mosca e Zeus aproveitou a
oportunidade e a engoliu. Todavia, Métis já estava grávida de Zeus, e continuou a gestação na cabeça do marido.
148
Métis revela que o local onde Pedro vive, com toda a sua contemplação, é o seu
refúgio contra a violência da grande cidade. Violência esta que é o grande monstro. Talvez o
monstro não seja de fato a violência, mas seja estar sem Deus. A cidade é o grande monstro
que nos devora com as rotinas, afazeres e ocupações. Ficamos sem tempo para pensar em nós
mesmos e apreciar a grande obra da natureza. A violência pode ser apenas fruto de uma
sociedade doente.
O sujeito-autor diz, em seu questionário (3ª parte do protocolo), que conheceu este
Pedro. “É a figura típica do homem pobre na qual se cria histórias.” Nomeia como elementos
essenciais o personagem (Pedro), peixe, cão, água (lago), casa, o pássaro e o sol. Eliminaria a
espada, e garante que Pedro jamais a usaria. Não afirma querer ser Pedro, mas gostaria de
estar ao lado dele na beira do lago. Na representação do personagem, o sujeito-autor se projeta
em Pedro (pescador).
Protocolo Nº 12
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: HEMERA
Sexo: Feminino
Idade: 62 anos e 8 meses
Grau de Instrução: 2º Grau
Reside com: Com o filho
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“estaria numa queda Dagua faria munitas observações”
A pictografia apresentada por Hemera, mostra várias pessoas de pé, tomando banho
em uma queda d’água, onde aparece destacado, bem acima, um homem em pé, possivelmente,
com uma grande espada perto dele, voltada para baixo. Embora destacado, o homem
encontra-se junto ou bem próximo ao grupo. - O desenho do sujeito-autor (mesmo o original)
está um pouco confuso, dificultando a identificação exata e interpretação -. Ao lado existe
uma casa separando esta ação de prazer de outra onde aparece um cachorro/monstro,
posicionado em sentido contrário às pessoas, demonstrando não ter a intenção de atacá-las,
mas que por brincadeira ou maldade, destrói um cata-vento/roda que gira. Numa primeira
vista, parece-nos que há uma divisão de cena, com 2 situações.
Buscando a narrativa vemos que a cena se passa num lugar lindo, com muitas
pessoas dentro da água, simbolizando pureza, numa queda d’água simbolizando limpeza. E,
ao lado ou próximo, existe uma casa, dita no quadro do teste com função de refúgio,
simbolizando descanso, que parece separar os dois imaginários: a) o do personagem que
observa, como diz o sujeito-autor no quadro de representações do teste: “faria muitas
observações”, quer dizer, estaria em guarda, com idéias/imaginário de defesa - defender a
Pátria matando com a espada/arma simbolizando guerra -, se necessário, o que identifica a
presença de um imaginário heróico, talvez descontraído; e b) um homem, com uma espada,
que se refugia numa casa - na pictografia o homem não é desenhado pelo fato de estar dentro
da casa -, enquanto um cachorro/monstro/fera devora o cata-vento/roda. O perigo/angústia
está assim presente e representado com a imagem do cachorro devorador: medo da morte. Os
elementos que identificam uma estrutura heróica estão presentes, mas a casa/refúgio está ali
simbolizando descanso, o que identifica a presença de duas estruturas de dois universos
35
A escolha do nome Hemera deu-se pelo fato da história narrada estar se passando durante o dia. De acordo
com a mitologia grega, Hemera é filha de Caos e mãe do céu e simboliza o dia.
153
O cachorro que é um animal doméstico devora um objeto (brinquedo). Tal ato pode
representar uma brincadeira do animal ou um instinto destruidor. Contudo, o objeto que é
devorado trata-se de um cata-vento que simboliza a roda36 que gira com vento. Segundo
Chevalier, a roda se refere “ao mundo do vir a ser, da criação contínua, portanto da
contingência e do perecível” (2003, p. 783). Acrescenta, ainda, ser a roda o “símbolo
privilegiado do deslocamento, da libertação das condições de lugar e do estado espiritual
que lhes é correlativo” (idem). Num contexto mais objetivo, “a roda se revela como um
símbolo do mundo.” (idem). Não podemos pensar em mundo, em Cosmos, sem pensar em
tempo. O que realmente o cachorro destrói? Numa brincadeira destrói a roda que gira, o
tempo, como se ele fosse o brinquedo do momento, ou devora, a roda que gira, o tempo, que é
implacável e que nunca é vencido?
36
A roda já teve uma acepção lunar. Passou a ser considerada um símbolo solar, quando, por razões técnicas foi
munida de raios. (CHEVALIER, 2003, p. 783).
154
dizendo-o “atual”. Termina dizendo (questão “e”) que se tivesse que participar da cena
composta, “estaria numa queda d’água ...” o que remete a limpeza heróica -, “faria muitas
observações”, quer dizer: estaria atento, pronto para lutar, se necessário.
O sujeito-autor poderia estar junto com as outras pessoas se divertindo, mas decide
ser um sentinela e ficar no papel de observador de uma cena que acontece fora daquele
espaço, mas é o que o personagem faz: ele observa uma outra cena que não é a que está
inserido. – o personagem se desdobra, pois na verdade está observando as duas cenas.
O cão/cachorro traz a idéia de morte, de outro plano astral, devido a sua função
mítica de psicopombo. Como pode se constatar no protocolo anterior (Nº 11), realizado por
Métis, o cão pode ser representado como o amigo eterno, mas, pode ser representado,
também, como o maldito, aquele que se deixou levar pelo demônio e traiu a Deus, na missão
de preservar o homem dos encontros com o diabo. O que percebemos, então, é uma dualidade
da simbologia do cão: bem-mal. De acordo com Chevalier, “a figura do cão abarca um
simbolismo de aspectos antagônicos, que nem todas as culturas conseguiram resolver” (2003;
p. 182). Hemera percebe este antagonismo descrito por Chevalier, quando representa o
cachorro como amigo do homem e como monstro destruidor.
Diante das análises feitas nos registros das diferentes etapas do protocolo aplicado no
sujeito-autor, considero que o mesmo possui um Micro-universo Mítico Sintético do tipo
Duplo Universo Existencial Sincrônico.
155
Protocolo Nº 13
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: HÉLIO
Sexo: Feminino
Idade: 60 anos e 8 meses
Grau de Instrução: Superior
Reside com: Esposo e 1 filho
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
“O ataque
Era ao cair da tarde de um lindo verão, o sol no firmamento escondia o clarão,
enquanto uma senhora contemplava o lindo sol, aparece um monstro que se aproximou dela e
vendo a espada caída no chão apressou em apanhá-la. De repente passava voando um lindo
pássaro e o monstro distraiu-se e saiu correndo para pega-lo. Nisso tropeça e cai no
redemoinho que o joga para cima de uma fogueira. Enquanto isso a sra foge e se esconde na
casinha que estava próxima.
O monstro gritava por socorro, mas ninguém apareceu para salva-lo.
Nunca mais ele pode atacar ninguém .”
156
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“seria a senhora, faria o mesmo, fugiria”
Hélio é uma sexagenária que freqüenta a UNATI/UCB há quase 3 anos. Vem para
Universidade Católica de Brasília na companhia do filho que é aluno da graduação. É a
oportunidade que tem para fazer o que gosta: estudar e relacionar-se com as pessoas. Desta
forma Hélio interage num ambiente com pessoas de várias idades e com diferentes
experiências, é a intergeracionalidade acontecendo.
37
“Era ao cair da tarde de um lindo verão, o sol no firmamento (...).” O trecho da narrativa nos faz lembrar o
deus sol, que de acordo com a mitologia grega era chamado de Hélio. Conta a história que este deus, percorria
todos os dias o céu de leste a oeste, num carro flamejante. Em homenagem ao deus sol, o sujeito-autor deste
protocolo será chamado de Hélio.
158
dia. “Reveste-se, (...), da beleza nostálgica de um declínio e do passado, beleza essa que ele
simboliza. É a imagem e a hora da saudade e da melancolia”. (ibidem, p. 300).
O fogo que destrói, que devora, e que pode ser interpretado como negativo, neste
contexto, torna-se positivo, quando é capaz de devorar o mal (monstro). É a força profunda,
que consome, que aniquila o que é ruim. É também símbolo de purificação, de regeneração,
capaz de nos libertar e nos livrar de certos males, mas como o símbolo só adquire sentido
quando contextualizado, neste drama imaginado por Hélio, o fogo simboliza destruição que
passa a ser positivo.
A morte do monstro é a solução dos problemas definitivamente, pois ele nunca mais
atacará ninguém. Fazendo uma alusão aos contos, o bem sempre vence o mal. Embora, na
vida real, não seja sempre assim.
Protocolo Nº 14
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: ÁRTEMIS
Sexo: Feminino
Idade: 72 anos e 2 meses
Grau de Instrução: Superior
(Especialização)
Reside com: Uma filha
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“no papel do personagem.”
O sujeito-autor deste protocolo é uma senhora de 72 anos, sem netos, que freqüenta a
UNATI/UCB há 2 anos em busca de atualização e convivência. Doravante será identificada
com o nome fictício de Ártemis38.
O desenho elaborado por Ártemis, mostra várias pessoas: uma caindo e as demais de
pé. Duas delas refugiadas numa caverna e duas lutando com uma espada. Uma pessoa de
tamanho maior, a personagem, mulher (que pode ser uma adulta ou ter algum diferencial) e o
monstro. Estes 2 últimos possuem formas geométricas, o monstro com mais evidência
(abstração) e a personagem desenhada com muitos corações.
Ártemis narra uma história que parece dividida em 3 atos. Primeiro: 2 coleguinhas
estão brincando, percebem 2 homens brigando com uma espada e procuram refúgio. Segundo
ato: um monstro passava por perto quando surge um ciclone. Terceiro: após a tempestade,
Marilena/mulher - personagem principal, no qual Ártemis se projeta -, que parece ser uma
pessoa mais velha, vê as duas meninas escondidas e assustadas e as leva para a margem de um
rio, com lindas praias, pássaros voando e cantando, onde as meninas se divertem. No quadro
do teste o personagem mulher tem a função de “dar paz e tranqüilidade”, mas não está
simbolizada explicitamente, mas, por dedução contextualizada, é a proteção, amparo ou
socorro. Ártemis se projeta nas meninas para expressar sem culpas, sua angústia e o medo da
morte, mas logo reage e se projeta na Marilena – adulta -, que espera o perigo passar e vai se
divertir.
Na narrativa não existe confronto do monstro com nenhum personagem. Ele não
ataca, não morre. Não se sabe se o ciclone o levou. De certa forma podemos dizer que o
monstro está sem função, apesar de no quadro do teste se encontrar registrado pelo
sujeito-autor, com a imagem do homem feio, com função apenas de “assustar”, simbolizando
medo/susto. O ciclone, dito no quadro do teste, redemoinho, cumpre sua função
“desequilibrar”, fazendo as duas meninas caírem, como se vê no desenho, certamente é a
angústia do medo da morte, da queda/desequilíbrio, do monstro/susto. O elemento cíclico
estimula o arquétipo do tempo que passa e pode desequilibrar Ártemis. Também não é
descrito o que acontece com os 2 homens que estavam brigando com uma espada. Trata-se de
uma cena para assustar o que reforça a monstruosidade, a angústia e o medo, pois apresenta
38
Ártemis, na Grécia Antiga, apesar de ser considerada uma deusa caçadora, era tida como virgem defensora da
pureza. Pelo fato da história narrada pelo sujeito-autor falar da proteção a duas crianças e, por ser a figura da
criança vista por muitos como símbolo de pureza, a autora da dramatização recebeu esta homenagem.
163
crianças inocentes – nas quais Ártemis se projeta inicialmente - que brincam, se assustam e se
escondem. Quem procura a caverna e se esconde são as meninas/coleguinhas e não o
personagem (adulto) salvador que leva as meninas para a margem do rio, para as lindas
praias/paz. A imagem das praias está registrada, no desenho, no discurso e na resposta à
questão “d” do questionário.
O sujeito-autor transita entre PUER e SENEX, como disse Paula Carvalho (1999),
citado no protocolo nº 10, realizado por Hebe. Como criança brinca eufemizando o monstro
antropomórfico e como idosa/Marilena cumpre a responsabilidade de ainda dar tranqüilidade
e paz aos menores, talvez netas: Sandra e Ana. No questionário, acha essencial a queda –
desequilíbrio -, a água – brincadeira - e o animal – paz e alegria -. A queda não representada
no quadro, é simbolicamente mostrada como o desequilíbrio das meninas, na brincadeira de
equilibrista. A água é representada no discurso pela margem de um rio/praia e no quadro tem
função de tomar banho e simboliza brincar. A ludicidade aqui se expressa como eufemismo
do perigo. Esta água não se apresenta de forma parada, tem movimento. Proporciona
tranqüilidade. “A água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma,
das motivações secretas e desconhecidas” (CHEVALIER, 2003, p. 22). O animal,
representado pelos pássaros voando e cantando, também demonstra o ambiente de
tranqüilidade e paz. Ártemis responde o questionário afirmando que tem vontade de eliminar
o monstro e o fogo. De certa forma já eliminou, pois o fogo (“mata pega
fogo/queimar/queimada” - quadro de representações do protocolo) não aparece na história, a
não ser no desenho de forma desconexada das demais imagens que formam a dramatização
imaginada; o monstro passa despercebido, sendo registrado apenas como um homem feio que
passava por perto, mas que não ataca, apenas assusta causando medo/susto.
Protocolo Nº 15
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: DESTINO
Sexo: Feminino
Idade: 74 anos e 7 meses
Grau de Instrução: 1º Grau
Reside com: Sozinha
2ª Parte:
a) Pictografia
b) Narrativa
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“na casa de refugio chupando laranja, com o amigo e pescando, e comendo peixe
assado e bebendo água tranqüila.”
39
Recebeu o nome fictício de Destino pelo fato de, ao finalizar sua história, se entregar ao seu destino.
Destino, na antiga cultura grega, representa uma divindade cega, inexorável. É filho de Caos e de Nix (noite).
168
humanos para a morte. Neste contexto tomam a “significação perigosa de paraísos ilusórios”
(ibidem, p. 533). Contudo, o lago descrito na história possui vida, possui peixes que pescados
e assados servirão de alimento, para que os amigos saiam sem fome e sem sede. O lago
produz a vida que abastecerá outro ser vivo proporcionando-lhe o alimento imprescindível
para a sua vida. Alimentado o personagem entrega-se “ao seu destino”, a sua sina. Não se
sabe qual é a sina, mas, certamente, a Deus pertence.
De acordo com o questionário e quadro síntese de especificações dos elementos (3ª
parte do protocolo), o sujeito-autor (Destino) projeta-se no personagem. Se estivesse
participando da história estaria atuando na cena bucólica criada/imaginada e estaria “feliz”,
dentro da casa (refúgio). Acha todos os 9 elementos do teste importantes, mas se pudesse
eliminaria o monstro (a morte/“muita feiúra”, que ele diz no discurso ser “mais forte que eu”).
A queda sofrida, embora acentuada (despencar) simboliza um obstáculo, apenas um engano.
O elemento cíclico representa uma laranja que tem por função/papel alimentar e simboliza
gostosura, que ele feliz gostaria de estar chupando/desfrutando no acabar da cena imaginada.
O elemento fogo tem a função de cozimento do alimento, para assar os peixes pescados com o
amigo. O personagem – “pessoas” - tem a função de caminhar, uma caminhada acompanhada,
juntos, é simbolizado pelo encontro.
Em todos os momentos da narrativa percebe-se que o sujeito-autor não quer lutar.
Com seus 74 anos, vê ou encontra a morte; mas dribla o monstro (a morte), “escapa”, sem
usar a espada, que carrega “talvez” para se defender ou apenas “limpar o caminho”.
Protege-se na idéia de viver com gostosura a vida, talvez na espiritualidade. Gostaria de estar
aconchegada, dentro da casa, num ambiente de tranqüilidade com o amigo (também
personagem, segundo registra no quadro do teste).
Embora Destino comece a história em pé, com a espada na mão e subindo a
montanha/galgando à subida - o que poderia remeter a uma estrutura heróica distendida, é
bom anotar que esta espada carregada, não é usada para defesa e é dita também para limpar o
caminho, o que a transforma em utensílio e não arma. O monstro, outro elemento do teste
característico da estrutura heróica, existe, mas não ataca: apenas faz o personagem considerar
que ele (monstro) é mais forte que ele (personagem). São impurezas heróicas, quer dizer de
um outro regime de imagens, que não são suficientes para identificar um duplo universo
mítico. Escapa para a casinha, refúgio - elemento do teste característico da estrutura mística -,
refúgio avistado e usado pelo personagem que só quer ser feliz. Trata-se, portanto, de um
Micro-universo Mítico Místico, no caso, do tipo Místico Impuro.
169
Protocolo Nº 16
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: AGLAIA
Sexo: Feminino
Idade: 72 anos e 5 meses
Grau de Instrução: Cursando o 3º Semestre do 1º Segmento (EJA).
Profissão: Do lar
Reside com: 3 filhos e 2 netos
2ª Parte:
a) Pictografia
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“Eu apenas presenciei. Mas se tivesse que participar, eu ajudaria a ele, pois se está
correndo, está cansado.”
40
Do casamento de Zeus com Eurímone, nasceram 3 graças (filhas), que personificam a beleza, o charme e o
encanto. Uma delas foi chamada de Aglaia, que como suas irmãs, estavam sempre cantando, dançando e
espalhando a alegria por toda a natureza e no coração dos homens.
O sujeito-autor deste protocolo é uma senhora franzina, que se apresenta sempre sorrindo, brincando,
contando histórias engraçadas e é admirada pelos colegas, por ter sempre um bom astral e estar disposta a ajudar
a todos, com palavras de amizade e lições positivas. Foi este espírito de alegria contagiante e de positivismo, que
nos fez homenageá-la com o nome de Aglaia.
172
de beber”. É a água que nasce e não se esgota, que sai nua e límpida de dentro da terra, para
servir.
O que se vê na verdade, é que Aglaia não criou o monstro. O homem que corre não
sabe se o monstro (tartaruga) realmente está atrás dele. E se estiver talvez este monstro seja o
conhecimento. Muitas vezes nós nos espantamos diante do conhecimento e do novo, pois
implica em mudança dentro de nós e mudar nem sempre é fácil. Para o personagem é mais
cômodo ficar em seu ambiente, vivendo (refugiando-se, isolando-se) numa caverna/moradia,
sem mudar o que já está estabelecido. A prova é que o cata-vento (símbolo de movimento, do
tempo, do vento que passa) que existia perto de seu esconderijo (morada) ele não sabia por
que estava ali, mas “conservava para não estragar”. Eis aí a angústia do passar do tempo!
Aglaia não acha que a idade a impede de estudar. Pelo contrário, como ela costuma
dizer: “agora chegou a minha vez”. Com seus 72 anos e corpo franzino, desafia o tempo com
sua alegria e vontade de viver. Para ela, a vida é válida. O idoso já passou por muitas coisas,
boas e ruins e aprende-se com isto. Pode-se escutar quando ela diz: “O tempo passa e
amadurecemos. (...) Não importa o que ficou para trás, importa o que vem pela frente.”
Acredita que estamos “engatinhando para o respeito com o velho. (...) Hoje a sociedade, com
o Estatuto do Idoso, está tentando corrigir erros da própria sociedade e especialmente a
família, pois todos vão ficar mais velhos”.
Protocolo Nº - 17
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: LÁQUESIS
Sexo: Masculino
Idade: 62 anos e 11 meses
Grau de Instrução: 1ª série do Ensino Fundamental
Profissão: Funcionário Público (Aposentado)
Reside com: Mulher, 2 filhos e 1 neta
2ª Parte:
a) Pictografia
“Tentei desenhar uma pessoa que sofreu muito. Ela ‘veve’ sofrendo pelas ruas,
pedindo a um e a outro. Está procurando um abrigo, uma casinha para se esconder.
O pássaro estava voando e o ‘caboco’ atirou nele e ele caiu sem vida. Hoje o que
mais se vê são crimes ecológicos.
Tentei fazer uma vaquinha para tirar um leitinho para tomar. Usamos os bichinhos
que dão leite para os filhos da nação e depois nós matamos as coitadinhas para comer.
Tentei desenhar uma queda de água. A árvore já está tombada para cair. Seria a
queda da árvore.
Desenhei um peixe-boi que seria a conservação da natureza. Quando você vê é
porque é criado num cativeiro.
Uma espada que as pessoas usam como uma arma fria que usa para sacrificar a
vida dos seres humanos e dos viventes.
Tentei fazer uma roda d’água. Por aqui não se vê uma roda para puxar água.
Eu acho muito esquisito. Nós temos que preservar a natureza, pois necessitamos
dela.”
175
3ª Parte:
Questionário
A vaca que produz leite é morta para servir de alimento. Afirma Chevalier (2003,
p. 927) que “a vaca produtora de leite é o símbolo da terra nutriz. (...) Ela é a fertilidade, a
riqueza, a renovação”. Contudo a vaca, quando morta, faz de sua carne o último alimento. Ali
ela se acaba. Não existirá mais oportunidade de produção de alimento (leite), de fertilidade
(filhotes), tampouco de renovação. O peixe-boi só sobrevive porque está em cativeiro. A
espada é usada não para defesa, mas sacrificar vidas. A roda d’água não se vê mais. São
vários exemplos que Láquesis utiliza para exprimir a inconsciência dos homens.
41
Segundo a lenda grega Cloto, Láquesis e Átropos, eram 3 irmãs que determinavam os destinos dos homens,
tanto no aspecto de duração quanto nas designas de atribulação e sofrimento. Cloto, em grego "fiar", segura o
fuso e puxa o fio da vida. Láquesis ("sortear") enrola o fio e sorteia o nome dos que vão morrer e Átropos ("não
voltar", ser inflexível) corta o fio.
A narrativa apresentada mostra um ambiente de negatividade, com a vida por um fio, como se Láquesis
estivesse indicando à Átropos, os que deveriam fazer sua eterna viagem. E esta, implacável, cortasse o fio da via
dos sorteados.
177
Protocolo Nº 18
1ª Parte:
Identificação:
Nome Fictício: PANDORA
Sexo: Feminino
Idade: 61 anos e 9 meses
Grau de Instrução: 2ª Série do Ensino Fundamental
Profissão: Comerciante (Quiosque – salgados e balas)
Reside com: Marido e 5 filhos (Possui 12 filhos e 24 netos)
2ª Parte:
a) Pictografia
3ª Parte:
Questionário
e) Se você tivesse que participar da cena composta, onde você estaria? O que faria?
“No lugar do peixe. Queria viver mais!.”
Seu desenho exibe elementos soltos, explodidos, sem vinculação entre eles, o que a
princípio leva-nos a crer que estamos na presença de um imaginário com desestrutura.
42
Pesquisando a mitologia grega, identificamos Pandora como a 1ª mulher gerada. A lenda de Pandora
atravessou os séculos. Conta a história que ela, inadvertidamente, ao abrir uma caixa que Epimeteu possuía
deixou escapar todos os males. Pandora tentou fechar a caixa e conseguiu impedir que a esperança saísse. Desta
forma, por pior que seja o mal que possa nos abater, não seremos inteiramente desgraçados. Pandora ao abrir a
caixa deixa escapar todos os males, o sujeito-autor, relata esses males em situações atuais. Mas, por mais que
trace um panorama dicífil, percebe-se que, mesmo sem escrever, nas entrelinhas, existe esperança de uma
melhora.
43
Este protocolo foi aplicado no 1º semestre de 2004, onde o cenário político era um pouco diferente do atual
(julho/2005).
181
Com a escuta, percebe-se a indignação de Pandora pela forma como a sociedade trata
o velho. Para ela a sociedade vê o envelhecimento “como um lixo! (...) Eles têm a velhice
como doença.” Gostaria que todos os idosos, independente de classe social, tivessem uma
vida mais digna, pois ser velho é apenas “o tempo que corre”, e ter muita história de vida, é
aprendizagem.
182
Diante de todas as análises, e por meio da escuta encontramos que há uma coerência
mítica, não no desenho explodido, mas no discurso do sujeito-autor quando simbolicamente
apresenta um drama real. As imagens se aglutinam em torno do descontentamento com o pré-
estabelecido, e isto significa esquizomorfia e não paz. Trata-se de uma jovem velha, ou de
uma velha jovem com quase 62 anos, politizada, ligada ao mundo, crítica e lutadora por seus
direitos. Pandora não se acomoda. Estamos na presença de um Micro-universo Mítico
Pseudo-desestruturado, um imaginário simbólico com traços de negatividade, com forte
tendência ao Heróico.
183
A - Representados por
Elementos
Protocolo Queda Espada Refúgio Monstro Cíclico Personagem Água Animal Fogo
Nº 1 cachoeira espada caverna o gigante movimento garoto lago cobra queima-
Gaia de um olho da água da da
só cachoeira
Nº 2 cachoeira o instru- a casa onde animal a roda da um homem água de peixe da
Hefesto mento mora selvagem usina cachoeira fogueira
na mão
Nº 3 Monta- espada papagaio Pirulito estrelas homem água papagaio fogo
Apolo nha
Nº 4 rio, queda espada a base da tubarão a roda pescador rio tubarão fogueira
Ulisses roda girando
Nº 5 Água um caverna urso o pássaro o homem a queda da urso fogueira
Calíope objeto voando água
na mão
do
homem
Nº 6 queda de espada casa --- --- o homem água caindo cachorro, ---
Édipo braço da bica pato
Nº 7 da água --- casa um animal --- um menino um rio --- fogueira
Aretusa
Nº 8 d’água briga – igreja homem carro eu tranqüi- peixe entarde-
Morfeu luta lidade cer
Nº 9 bonecos boneco 1 relógio 1 quadra- roda um soldado forma de cachorro riscos
Cronos caindo e espada do homem chuva pra
cima
Nº 10 uma um uma cobra que é sol é vida saci-pererê vida, rios, peixe fogo
Hebe criança guerrei- caverna p/ perigo mares símbolo também
caindo da ro esconder de Cristo é vida
escada
Nº 11 cachoeira --- casa violência o sol Pedro lago cão – ---
Métis (choupana) (fig.) (pescador) peixe
Nº 12 Água arma casa cachorro roda homem água um destrói
Hemera cachorro
Nº 13 o pássaro defesa casa ataque cata-vento senhora, dentro da pássaro fogueira
Hélio monstro casa
Nº 14 --- espada caverna homem redemoinho mulher Rio pássaro mata
Ártemis feio / ciclone pega
fogo
Nº 15 persona- e levava 1 casa que cara feia laranja pessoas lagoa c/ peixe fogueira
Destino gem caiu na mão ele avistou peixes assar os
do peixes
barranco
Nº 16 o homem espada caverna de tartaruga cata-vento homem grota lesma fogueira
Aglaia escorre- pedra d’água,
gando nascente
Nº 17 pássaro espada casa --- roda homem --- peixe-boi fogo na
Láquesis que caiu d’ água mata
Nº 18 Dragão espada caverna de dragão a cabeça do Lula Lago ema fogueira
Pandora palha Presidente
185
B - Funções/Papéis
Elementos
Protocolo Queda Espada Refúgio Monstro Cíclico Personagem Água Animal Fogo
Nº 1 movimen- assustar esconde- assustar renova- criança salvação assustar dificul-
Gaia to rijo ção levada dade
Nº 2 servir a defesa moradia ameaçador, reprodu- chefe de importante está no produzir
Hefesto usina atacar o zir família à vida seu calor
homem energia habitat,
ambiente
Nº 3 esconder atacar cantar observar brilhar observar molhar peixe queimar
Apolo os
persona-
gens
Nº 4 destruição construir proteção alimentar- produzir lazer lazer, terror aquecer,
Ulisses a contra o se energia alimento, salvar
fogueira tubarão serviço, vida
meio
ambiente
Nº 5 matar a cortar esconderijo matar voar criatividade que corre selvagem queima,
Calíope sede alumia
Nº 6 união de defende refúgio --- --- lutar pela desperdício amigo do ---
Édipo 2 pessoas sobrevivên- (água conta- homem
cia minada)
Nº 7 natureza --- refúgio --- --- infância --- --- destruí-
Aretusa ção
Nº 8 necessi- luta lugar de --- socorro a procura harmonia salvação muita
Morfeu dade buscar paz
Nº 9 mostra briga compro- insucesso rolando submisso coisa boa defesa queimar
Cronos queda misso
Nº 10 ter represen representa amedrontar tudo q/ o enganador, representa representa não se
Hebe cuidado ta ficar só ser sagaz tudo vida vive
desafio humano sem ele
precisa
Nº 11 --- --- --- --- --- --- --- --- ---
Métis
Nº 12 dar banho matar refúgio devorar girando defesa vida amigo queimar
Hemera cata-vento
Nº 13 distraiu o defesa abrigo, ataque destruí- ataque e para atenção destruí-
Hélio monstro fuga ção defesa acalmá-la ção
Nº 14 --- filme proteger assustar desequili- dar paz e tomar compor a queimar
Ártemis brar tranqüilidade banho cena
Nº 15 obstáculo em uma casa destruir alimentar caminhar matar a peixe / assar os
Destino defesa refugiar sede alimentar peixes
talvez
Nº 16 derrubar se se esconder procurar girar com andar dar de andar para se
Aglaia defender alimento o vento beber esquentar
clarear a
noite
Nº 17 semear a matar se esconder fazer o que jogar defender o matar a sede, beleza usa p/
Láquesis natureza orar não presta água para país – limpeza, cozinhar
as casas trabalho fazer queima -
alimento mata
Nº 18 Dói machu- nação que acabando pensa melhorar mais para que o correr do queimar
Pandora car não tem com a nação demais, o salário peixe possa fogo a floresta
casa virou teia viver *(mas
de aranha não
podemos
viver s/ o
fogo)
186
C – Simbolizando
Elementos
Protocolo
Queda Espada Refúgio Monstro Cíclico Personagem Água Animal Fogo
Nº 1 Vida arma moradia perigo renovação criança vida medo, perigo
Gaia da vida perigo
Nº 2 natureza arma sossego procura movimento responsabi- natureza vida utilida-
Hefesto de da roda lidade de
alimento
Nº 3 Montes ferimen- cantares inteligên- céu natureza derrama- belezas queima-
Apolo to diferentes cia mento das
Nº 4 Morte ajuda esteios da animal roda homem causa de devorador aconche
Ulisses roda destruição -go,
e morte amor
Nº 5 de amor defen- privaci- instinto leveza livre arbítrio alimento, feroci- cinzas
Calíope der dade p/ amar matar a sede dade
Nº 6 a luta pela a luta abrigo a somatória --- humanidade desperdício guarda da ---
Édipo sobrevi- da casa
vência situação, é
viver no
limite
Nº 7 Beleza --- moradia --- --- criança --- --- ---
Aretusa
Nº 8 Paz guerra refúgio --- tirar do a busca paz --- luz
Morfeu lugar
Nº 9 insucesso ruim correria fracasso vencido ordem --- amigo acabar
Cronos
Nº 10 Alerta luta solidão medo luz zombeteiro vida amor paixão
Hebe
Nº 11 natureza arma casa violência fonte de pescador fonte de lealdade / ---
Métis vida (t. nós) vida alimento
Nº 12 limpeza guerra descanso uma fera uma roda Pátria pureza animal devorar
Hemera
Nº 13 alegria ataque e amparo raiva defesa ataque, alegria defesa destruí-
Hélio defesa defesa ção
Nº 14 desequi- --- proteção medo / surpresa --- brincar paz / queima-
Ártemis líbrio susto alegria da
Nº 15 Engano defesa na casa, muita gostosura encontro desedentar alimento cozimen
Destino ou refugiar feiúra to
limpar o
caminho
Nº 16 a pessoa Pensa- morada bicho o tempo, o perdido no vida, saúde, uma coisa clarida-
Aglaia pode mento perigoso, vento que mato, pessoa limpeza q/ anda de vida,
machucar de medo passa, desesperada por andar, pois
defesa movimento nojento com o
fogo se
alimenta
Nº 17 natureza arma fria Nação perigo lua cheia q/ Jesus Cristo perigo --- perigo e
Láquesis – floresta – brasileira é redondo – somos a (afogamen- coisas
batalha, semelhança to), lazer boas
guerra dele (brincar) também
Nº 18 pobreza violência pobreza inflação nosso Nação vida nossa represen
Pandora Brasil (pouca) vida ta vida
**(nossa ***(quando
vida é pouca) estamos em
perigo
tentamos
correr)
187
6.2.2. – Quadro síntese dos protocolos indicando sexo, idade e idéia de vida e
morte contida nos simbolismos dos elementos
Em uma caminhada há sempre a possibilidade das marcas dos pés e rodas serem
deixadas, gravadas, fortes ou suaves no caminho percorrido. No caminho seguido nesta
pesquisa, sedimentada nas teorias adotadas e na experiência vivida, vislumbram-se as pegadas
dos seus transeuntes, o seu imaginário. Rastros delicados deixados, na suavidade decorrente
da característica dos não corriqueiros instrumentos/veículos usados na trajetória – o AT-9 e a
escuta -, bem como do nível – mestrado – onde se inclui esta dissertação. Mas brechas
ficaram abertas para futuros aprofundamentos do estudo, em outros níveis.
Capítulo 7 - (In)Conclusão
“Não é preciso consenso (...)
Nem beleza ou idade: (...)
A vida pode florescer
Numa existência inteira.
Mas tem de ser buscada, tem de ser
Conquisatada.”
Lya Luft
Ao final desta dissertação ratificamos que a educação transcende aos espaços das
salas de aula e que é um conceito mais amplo e mais abrangente que o ensino. Significa um
processo contínuo de aprendizagem, um “aprender a aprender”44 (DELORS, 2003, p. 101)
que não termina com os níveis, etapas e graus de ensino previsto no Sistema Educacional de
Ensino; que não termina na adolescência ou na idade madura, é um eterno “vir-a-ser” (Freire,
1989, p. 51); que cada fase pode e deve ser vivida na intensidade do constante aprender como
diz Lahud Loureiro (Sessão de orientação, 2005).
44
Segundo o Relatório da UNESCO - Educação um tesouro a desconrir (...), 2003 -, a educação deve estar
alicerçada em 4 pilares, Aprender a conhecer – aprender a aprender -, aprender a fazer, aprender a viver juntos -
conviver - e aprender a ser.
194
Podemos perceber como o olhar sobre a velhice, em suas múltiplas dimensões, vem
se ampliando e a dimensão educacional não pode ficar de fora; ela vem se alterando e se
expandindo no tempo e no espaço, com prenúncios de consideração à longevidade entendendo
a necessidade das novas gerações de começarem a entender a velhice, o processo de
envelhecimento e a consideração não preconceituosa do idoso bem como oferecer
possibilidade de educação continuada aos mais velhos.
O ser humano velho, como todo ser humano, e em qualquer idade, sonha, imagina, se
conflitua, prevê conquistas que ainda poderão ser obtidas, deseja, ama, lembra, relembra suas
histórias. Histórias de alegria, de amor, medo, de espera, de prazer, de indiferença, histórias
que explodem no peito de dor, de felicidade, de esperança, de inquietação, de saudade... .
Histórias contidas em cada ruga, como diz Lahud Loureiro (1999, p. 82), histórias que ainda
podem levar o idoso a querer construir, querer viver, querer renovar-se. Daí o papel e a
importância da existência das UnATI’s.
O idoso gosta de ficar dentro d’água, remetendo a possibilidade desejada por ele de
um retorno ao saudoso e já distante útero materno, o que remete ao místico, ao aconchego, ao
195
ato/situação de estar dentro. Percebe-se desde aqui que o seu imaginário se encaminha para
uma estrutura mística45, pois eles dizem procurar uma “renovação da vida”46, “tirar o
pijama”47 e vir para a UnATI, mas não lutam e sim aceitam as “ofertas” da UNATI/UCB,
pode também estar representando o medo da queda – catamorfia48 – daí procurarem o
fortalecimento de seus ossos e musculatura, dentro da água evitando traumatismos, o que
demonstra um indício de impureza heróica49 num universo mítico místico.
45
Ver capítulo 5, item 5.4., página 90-91.
46
Como dito por Gaia – protocolo nº 1.
47
Como dito por Calíope – protocolo nº 5.
48
Ver capítulo 5, item 5.1., página 74.
49
Ver capítulo 5, item 5.4., página 89-90.
196
Yves Durand (1988, p. 138) considerou, à luz das suas pesquisas, que nas pessoas
mais velhas verifica-se a tendência de um imaginário com estruturação defeituosa ou mística
e, nos mais jovens, existe uma tendência maior ao universo heróico. Com esta consideração,
ele coloca em xeque a credibilidade da utilização do teste em pessoas idosas. Todavia Paula
Carvalho (apud LAHUD LOUREIRO, 2004 b, prefácio) escreve que com a aplicação do AT-
9 nas pesquisas conduzidas e orientadas por Lahud Loureiro, em grupos de idosos, tal
hipótese foi eliminada e reconsiderada pelo próprio Y. Durand. As pesquisas de Lahud
Loureiro possibilitaram que outros pesquisadores, valendo-se do AT-9, comprovassem a
validade do teste nesta fase da vida. No capítulo 5, item 5.4, explicitamos, com Yves Durand
(1988, p. 138-140) os fatores de diferenciação. Entre eles, anotamos, ao lado da idade e do
sexo, o nível mental e o contexto sóciocultural, considerados e a considerar nas pesquisas com
a utilização do AT-9, com idosos, a influenciar nos resultados das pesquisas.
graduação não o fazem para adquirir um diploma ou para obterem ascensão profissional, mas
por prazer interior, o que confirma o imaginário da antifrasia.
Como constatamos nesta pesquisa, assim como Yves Durand encontrou em suas
pesquisas, são 07 os micro-universos míticos místicos ao lado de outros 07 protocolos onde se
evidenciam a não-estruturação. Somente 04 protocolos registram a estrutura sintética do
imaginário (nº 2, realizado por Hefesto; nº 9, realizado por Cronos; nº 12, realizado por
Hemera; e nº 13, realizado por Hélio).
Refletindo sobre a consideração apresentada por Yves Durand sobre a idade, como
fator de diferenciação e até de não validade na utilização do AT-9 entre idosos, com Lahud
Loureiro (2005, sessão de orientação) acreditamos tratar-se mais da influência do contexto
social e situação econômica, tal diferenciação, e não da idade.
50
Ver quadro com identificação de sexo, idade e grau de instrução, no capitulo 4 desta dissertação.
51
Ver capítulo 1, item 1.1.1 – a velhice, que discorre sobre a divisão das etapas da velhice.
198
que freqüenta o curso a 06 semestres. Estes três assumem que possuem dificuldades de
aprendizagem, mas, de acordo com palavras de Pandora, “não vou para a escola para
aprender, pois tenho problemas de cabeça, vou para disparecer a cabeça das coisas do dia-
a-dia (...) quero mais é estar no meio do povo rindo, brincando, e me divertindo (...)”.
Embora Pandora diga que não vai para a escola para aprender, percebemos em sua fala e no
seu protocolo que é uma pessoa crítica e participativa. Ela desenha o personagem da sua
história imaginada como uma cabeça (protocolo nº 18).
O fator sexo também não condicionou diferenciação nos resultados do teste. Dos 18
(dezoito) protocolos – utilizados em alunos-idosos e dirigentes -, apenas 2 (dois) são do sexo
masculino e os 02 (dois) apresentam a não-estruturação (100%), mas 5 (cinco) dos demais
protocolos, realizados por mulhres, também apresentam desestrutura (31,25%).
Anotamos, ainda, que os idosos da UNATI/UCB possuem uma baixa situação sócio-
econômica, pois um dos quesitos para freqüentar a UNATI/UCB é a comprovação de
carência.52
52
Para verificar o grau de carência é realizado um cáculo da renda per-capita familiar.
199
administrativo na UNATI/UCB alguns idosos com desesperança, ela dribla a morte achando
uma saída, um refúgio: “um lindo vale, cheio de pássaros”, o que caracteriza seu imaginário
com estrutura Mística Impura. O protocolo nº 2, realizado por Hefesto, após espantar o
monstro - ameaças, dificuldades no trabalho -, descansa ao lado de sua família protegida;
“(...) é o retorno a uma vida pacifica, após o combate (...)” (DURAND, Y., 1988, p. 102); o
imaginário deste sujeito-autor se apresenta como um Duplo Universo Mítico Sintético
Existencial do tipo Diacrônico. No protocolo nº 3, realizado por Apolo, aparece de forma
marcante a angústia, o medo da morte e percebe-se “fusões e confusões” como citado por
Hilman (2001, p. 109-110). Tais fusões, confusões e angústias influenciam no registro da
Não-Estruturação Mítica, do tipo Pseudo-desestruturado com tendência ao Sintético. O
protocolo nº 4, realizado por Ulisses, apresenta um Micro-Universo Mítico Místico Impuro.
Em toda a história percebemos a idéia do personagem em buscar a paz, o aconchego e a
tranqüilidade. Apesar da presença do monstro e da espada, o personagem não precisa lutar e
ambos os elementos esquizomorfos são apenas uma impureza de heroísmo, tendo em vista
que eles não são suficientes para determinar a presença da estrutura sintética. No protocolo
nº 5, o monstro também não precisa ser enfrentado e a espada fica desfuncionalizada,
podendo ser usada por Calíope – sujeito-autor -, se necessário, o que determina a impureza
contida no Micro-Universo Mítico Místico do protocolo. O sujeito-autor que denominamos
ficticiamente por Calíope é uma poetiza que não perde a oportunidade de falar do amor
fraternal, da paixão, da família. No protocolo nº 6, realizado por Édipo, emergiu um Micro-
Universo Mítico “Defeituoso”, do tipo Pseudo-desestruturado. Os desenhos foram
pictografados soltos e a história tenta buscar coerência. Existem “fiapos” de coerência mítica
que se expressam na tendência à síntese sincrônica do discurso, quando o sujeito-autor, no
momento em que come, místicamente, uma maçã, imagina heróicamente uma luta: “a luta
pela sobrevivência”. O protocolo de Aretusa, nº 7, apresenta um garoto que tenta espantar o
monstro, mas ao falhar, refugia-se, protegendo-se dentro do casebre. A tentativa de afugentar
o monstro não é o suficiente para caracterizar um micro universo sintético, trata-se de um
Micro-Universo Mítico Místico Impuro. No protocolo nº 8, Morfeu, apresenta uma
pictografia explodida, sem conexão, o que remete a uma da Não-Estruturação, tipo Pseudo-
desestruturado; apresenta cada “elemento desenhado separadamente (...) não exprimindo
cenário algum, nenhum agrupamento de elementos” (DURAND, Y., op.cit., p. 132), mas sua
narrativa tenta dar coerência mítica aos desenhos, formando uma história estruturada. Morfeu
não enfrenta o monstro: as situações difíceis do dia-a dia e foge. Apesar de apresentar um
Micro-Universo Mítico Pseudo-desestruturado, nele existe a presença de uma forte tendência
200
Mística. O protocolo nº 9, realizado por Cronos, conta a história de um militar que queria
progredir, mas teve uma queda e com sua espada e seu relógio transformou-se num monstro
devorante. Buscou refúgio numa roda, no cíclico, que simboliza a mudança, no caso a
mudança para o sucesso na carreira. O Micro-Universo Mítico emergido foi o Sintético
Simbólico de Forma Diacrônica. O protocolo nº 10, identificado ficticiamente pelo nome de
Hebe, apresenta o Micro-Universo Mítico da Não-Estruturação, do tipo Pseudo-
desestruturado com tendência no Místico Lúdico, pois apesar de apresentar os desenhos de
forma solta, sem conexão entre eles e denominando cada figura apresentada, possui uma
narrativa com certa coerência, relatando brincadeiras de criança. O sujeito-autor eufemiza o
monstro na brincadeira, ou seja, sugere a ação heróica e até a existência de um combate, com
um jogo de espadas, mas não passa de uma brincadeira. No protocolo nº 11, realizado por
Métis, observamos a presença do Micro-Universo Mítico Místico, do tipo Super Místico, pois
aqui o estímulo arquetipico espada falha e o monstro não ataca. O personagem está vivendo
no seu refúgio, longe do monstro: “a violência da cidade”. No protocolo nº 12, realizado por
Hemera, verificamos que o personagem ao mesmo tempo em que está num local, praticando
uma determinada ação, imagina outra ação, onde ele também está presente. Trata-se da
presença de um Micro-Universo Mítico Sintético do tipo Duplo Universo Existencial
Sincrônico, pois o personagem vive 2 momentos ao mesmo tempo: “vive num universo
existencial místico e se vê (...) em um combate” (ibidem, p. 104). O protocolo realizado por
Hélio, nº 13, apresenta um Micro-Universo Mítico Sintético do tipo Duplo Universo
Existencial Diacrônico, pois após a iniciativa de enfrentar o monstro, foge e se esconde na
casa. O combate com o monstro – a morte – não é necessário, pois ao acaso, o pássaro que
aparece, tira a atenção do monstro que acaba sendo vencido. O protocolo nº 14, Ártemis, não
enfrenta o monstro e vai com 2 meninas para a margem de um rio. Deixa emergir um Micro-
Universo Mítico Místico, do tipo Impuro, pois a espada não está com o personagem, o
monstro não ataca e não existe luta. O susto é para as crianças e não para o personagem. O
protocolo nº 15, realizado por Destino, nome fictício do sujeito-autor, apresenta um
personagem que foge do monstro, pois o considera mais forte. Com 74 anos foge do monstro
- morte - e encontra um pé de laranjeira onde “suas sementes brotaram, nasceram mais pés de
laranjas”; o tempo está muito presente com a idéia do cíclico, da renovação da vida, onde as
sementes darão novas árvores e novos frutos e transforma a vida numa “gostosura”. Seu
imaginário foi caracterizado como Místico Impuro, pois no início da história existem indícios
de heroísmo. O protocolo nº 16, realizado por Aglaia, apresenta o imaginário da Não-
Estruturação, do tipo Pseudo-desestruturado. Na persistência de encontrar “fiapos” de
201
coerência para a história, encontramos uma tendência heróica. Embora o monstro - tartaruga -
simbolize bicho perigoso e medo para o sujeito–autor, este demonstra traços de heroísmo,
quando luta contra o pré-estabelecido. Aglaia com seus 72 anos busca ampliar seus
conhecimento freqüentando uma escola pública – EJA – todas as noites e a UNATI/UCB
durante algumas tardes. O protocolo nº 17, realizado por Láquesis, apresenta-se num
universo negativo. Em cada fato da história narrada, a negatividade, o monstro, está presente.
O único ponto onde traz resquícios de otimismo é quando responde a pergunta sobre como
acaba a cena imaginada e, condicionalmente, diz: “poderíamos terminar pedindo para a
Nação ter mais consciência um com o outro”. Existe a presença de um Micro-Universo
Mítico Heróico de forma Negativa, pois a morte sempre vence, porém maior é a presença da
Não-Estruturação Verdadeira, tendo em vista que os desenhos são apresentados de forma
explodida e a história é fragmentada, com frases soltas, de acordo com a ordem dos elementos
apresentados. Não existe ligação entre a dramatização dos elementos. O protocolo nº 18,
realizado por Pandora está caracterizado como o Micro-Universo Mítico da Não-
Estruturação, do tipo Pseudo-desestruturado. Na história pictografada os desenhos são
explodidos, apresentam-se sem ligação entre si. Na narrativa os males já estavam soltos, a
caixa de Pandora já havia sido aberta e nela ficado apenas a esperança; esperança de que o
Brasil possa melhorar. Embora haja uma desestrutura no micro-universo mítico do
sujeito-autor, com traços de negatividade, também aparece uma tendência heróica, pois no
questionário do teste, Pandora responde que “vamos conseguir a vitória, com a organização
do Brasil. Vamos acabar com a miséria, com as crianças jogadas nas ruas, mendigos, dragão
(inflação)” – desejo, pulsão interior -.
mostra que apesar da ação do monstro, do personagem e da função da espada, descritas nos
diversos protocolos, existe a idéia do aconchego, do descanso: Lutar só se for necessário, mas
enquanto não é preciso lutar, é bom ficar na paz e na tranqüilidade, mas sem perder a
esperança de um mundo melhor, de uma velhice respeitada, de uma velhice com voz e
cidadania, e acima de tudo, com qualidade de vida e com o desejo de ainda poder contribuir
para novas gerações, contribuir com a sociedade.
Como educadora, agora gerontóloga, não podemos nos furtar de apresentar, algumas
sugestões neste final de dissertação, após os dados obtidos sobre imaginário da população da
UNATI/UCB e sobre a organização da própria UnATI.
53
Ver Introdução, página 19 desta dissertação.
54
Art. 22 - Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao
processo de envelhimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir
con conhecimento sobre a matéria. (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, Capítulo V – Da educação, cultura,
esporte e lazer).
204
Nação, mas é necessário, também, considerar o velho, que ainda pode ser produtivo com
qualidade de vida, de trabalho e experiência. Como escreve Lahud Loureiro o velho pode
ainda ser um produtor, mas um produtor de felicidade. (1994, p. 75).
Em conclusão, ainda uma vez com Gilbert Durand (2001, p. 138), lembramos que
todo este trabalho de classificação/identificação da estrutura imaginária do grupo, não
representa o mais importante para o autor, o que importa “é a maneira de carregar
universalmente (...) com um sentido segundo, como um sentido que seria a coisa do mundo
mais universalmente partilhada (...)”.
205
Parte V: Bibliografia
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Programa de Educação Continuada/Diretoria de Programas de Extensão/Universidade
Católica de Brasília-UCB (Documento Interno). Brasília/DF. 2002.
VERAS, Renato Peixoto. País jovem com cabelos brancos: A saúde do idoso no Brasil. Rio
de Janeiro. Editora Relume-Dumará. 1994.
2 – Bibliografia Complementar
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FREITAS, Elizabete Viana de. et.al. Tratado de Gerontologia e Geriatria. Rio de Janeiro.
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segundo brasileiros não idosos. São Paulo. Editora da Unicamp. 1991.
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Terceira Idade. Volume 13. Nº 25. Agosto /2002, p. 63-73.
3 – Observações
Excluído: ¶
213
Anexos
214
Anexo 01
Missão da UCB
A Universidade Católica de Brasília
tem como missão
atuar solidária e efetivamente
para o desenvolvimento integral da pessoa
humana e da sociedade,
por meio da geração e comunhão do saber,
comprometida com a qualidade
e os valores éticos e cristãos,
na busca da verdade.
Anexo 02
Organograma da DPE/PROEx/UCB,
ano 2004/2005
Pró-Reitoria de Extensão / Diretoria de Programas de Extensão / Educação Continuada
UCB
PROEX
Excluído: ¶
DIRETORIA DE PROGRAMAS
DE EXTENSÃO – DPE
UNATI
Anexo 03