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difusão de narrativas sonoras, imagéticas e audiovisuais

difusão de narrativas sonoras, imagéticas e audiovisuais

Organização: Lia Mity Ono e Ronaldo Corrêa

paisagenscaicaras.wordpress.com

Exposição fruto da parceria interinstitucional entre a Universidade Federal do


Paraná (UFPR), a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) no Paraná e as Comunidades detentoras do Fandango Caiçara no
litoral brasileiro

Curitiba - Iphan - 2021


Presidente da República do Brasil
Jair Bolsonaro

Ministro do Turismo
Gilson Machado neto

Secretário Especial da Cultura


Mário Luís Frias

Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico


e Artístico Nacional
Larissa Peixoto

Diretores do Iphan
Arlindo Pires Lopes
Arthur Lázaro Laudano Bregunci
Leonardo Barreto de Oliveira
Raphael João Hallack Fabrino
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca do IPHAN-PR Tassos Lycurgo

Superintendente do Iphan no Paraná


P149 Rosina Coeli Alice Parchen
Paisagens caiçaras : difusão de narrativas sonoras, imagéticas e audiovi-
suais / Organização: Lia Mity Ono e Ronaldo Corrêa. – Dados eletrônicos Setor de Difusão e Educação Patrimonial
(1 arquivo PDF). – Curitiba, PR : IPHAN, 2021. Lia Mity Ono (Técnica)
59 p. : il. color..

Setor de Patrimônio Imaterial


Modo de acesso : www.gov.br/iphan/pt-br Juliano Martins Doberstein
ISBN : 978-65-86514-38-4
Marcelo Gruman
1. Paisagem cultural. 2. Fandango caiçara. 3. Patrimônio cultural. Rafael Antônio Motta Boeing
(Técnicos)
CDD 363.69

Elaborado por: Joana Coradi – CRB-9/1694


EXPOSIÇÃO PAISAGENS CAIÇARAS

Organização & Curadoria Colaboradores Marcela Cristina Bettega


Ary Giordani Aline Pontes Barbosa Marcio RM
Lia Mity Ono André Alves Maria Angélica de Moura Miranda
José Carlos Muniz Antonia Regina Moura Marília Kubota
Juarez Bergmann Filho Ariana Leal Prestes Neide da Rocha Palumbo
Juliano Martins Doberstein Aurélio Rufo Nicia Guerriero
Marcelo Gruman Carla Beatriz Franco Ruschmann Paulo Trindade Alberton
Rafael Antônio Motta Boeing Carlos Henrique Leite Rogério Soares
Ronaldo Corrêa Carlos Mendes Rodolfo Vidal
Carolina Bee Araujo Sueli Aparecida Antunes da Silva
Consultoria Cia de Teatro de Bonecos La Polilla Vagner Pereira Gonçalves
Viviane Vedana Cintia Bendazzoli Yasmin Alves Gonçalves
Claudia Maria Viana Barreto
Assistência de Produção
Cristina Schimidh
Luiz Henrique Tovar
Elizangela Sarraf Contatos
Projeto Gráfico Etiene Flor Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Manoela Leão Flavio Rogerio Rocha www.iphan.gov.br
Geslline Giovana Braga publicacoes@iphan.gov.br
Assessoria de Comunicação Henrique Luís Almeida
Juliana Brascher Ivan Ivanovick Superintendência do Iphan no Paraná
Webdesigner Isabel Taliberti Galvanese iphan-pr@iphan.gov.br
Nilberto Júnior Janelize Nascimento Felisbino Telefone: (41) 3218-7000
Juliana Camargo Macedo
Laís Pinheiro Projeto Paisagens Caiçaras
Lauro Borges paisagenscaicaras@gmail.com
Lizangela Pinto Siqueira
SUMÁRIO
10 ––– APRESENTAÇÃO
Larissa Peixoto
NARRATIVAS IMAGÉTICAS E 37 ––– ANTONINA/PR
Cristina Schimidh
54 ––– PAISAGENS TRADICIONAIS
Sueli Aparecida Antunes da Silva
Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico TEXTUAIS 38 ––– ARTESÃOS E ARTESANIAS 55––– CANOAS CAIÇARAS
Nacional
Flávio Rocha Vagner Pereira Gonçalves
26 ––– ILHA DOS VALADARES – DA PONTE PRA CÁ
12 ––– O FANDANGO E A PAISAGEM CULTURAL Aline Pontes Barbosa 39 ––– GUARÁ SOL CAIXETA 55 ––– O OLHAR CAIÇARA
CAIÇARA Etiene Flor Yasmin Alves Gonçalves
27 ––– FRAGMENTOS VISUAIS
Juliano Martins Doberstein, Marcelo Gruman e
André Alves 40 ––– O TOQUE DA LUZ 56 ––– MULHER NA PESCA
Rafael Boeing
Geslline Giovana Braga Maria Angélica de Moura Miranda
Superintendência do Iphan no Paraná 28 ––– TOMEI UM TEMPO
Antonia Moura 41 ––– PROCISSÃO DE SÃO PEDRO
16 ––– IMAGENS E SONS: PAISAGENS QUE Henrique Luís Almeida
30 ––– PARATY - NATUREZA EM ARTE
RESISTEM
Ary Giordani e Juarez Bergmann Filho
Ariana Leal Prestes 42 ––– FOTOGRAFIAS DO FANDANGO CAIÇARA NARRATIVAS SONORAS E
Ivanovik
Universidade Federal do Paraná (UFPR) 31 ––– PAISAGENS CAIÇARAS DE ILHABELA
Aurélio Rufo
AUDIOVISUAIS
43 ––– PESCADORES DO GRANDE MAR REDONDO
18 ––– NARRATIVAS AUDIOVISUAIS COMO Janelize Nascimento Felisbino 57 ––– BOAS VINDAS
32 ––– EXPEDIÇÃO 2007
EXPERIÊNCIA DE ENCONTRO COM AS PAISAGENS (2021, cor, 7 min.)
Carla Beatriz Franco Ruschmann 44 ––– VIDAS AO MAR
CAIÇARAS
Juliana Camargo Macedo 58 ––– PEIXE MORTO
Viviane Vedana 33 ––– OLHARES CAIÇARAS
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Carlos Mendes 46 ––– LITORAL DO PARANÁ (2020, cor, 16 min.)
Laís Pinheiro 58 ––– FISCAL DO IBAMA
33 ––– CASA CAIÇARA, BARRA
20 ––– OS CAIÇARAS SÃO MAIS RELATIVOS A (2020, cor, 3 min.)
GRANDE. PARATY, 2020 47 ––– CLICKES NO LITORAL
ÁGUAS OU A TERRAS?
Carlos Henrique Leite Lizangela Pinto Siqueira
Lia Mity Ono 59––– VERSA, ELA
Superintendência do Iphan no Paraná 34 ––– VIVÊNCIAS ESTUARINAS 48 ––– CORPO DE SONHO (2019, cor, 5 min.)
Carolina Bee Araújo Marcela Béttega 59––– GUAPURUVU - PROJETO VIOLA CAIÇARA
24 ––– UM CLICK É APENAS UM OLHAR SOBRE A
35 ––– MANGUEZAVES 49 ––– ENSAIO CAIÇARA
CULTURA CAIÇARA
Carolina Bee Araújo Márcio RM
José Carlos Muniz
Grupo Canutilho Temperado de Fandango Caiçara 36 ––– ARQUIPÉLAGO CAIÇARA 50 ––– BICICLETAS CAIÇARAS
Cintia Bendazzoli Marília Kubota & Lauro Borges
36 ––– ESPELHO 52 ––– CORES CAIÇARAS
Claudia Maria Viana Barreto Nicia Guerriero
APRESENTAÇÃO
Larissa Peixoto
Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Há 84 anos o Instituto do Patrimônio Histórico e O termo “caiçara” costuma ser aplicado às comu- expressão registrada como Patrimônio
Artístico Nacional (Iphan) cumpre a nobre missão nidades, práticas, lugares e demais elementos da Cultural do Brasil desde 2012.
de ser guardião do Patrimônio Cultural brasileiro. cultura, meio ambiente e sociedade encontrados
Neste catálogo reunimos parte do ma-
Em um país marcado pela pluralidade de tradições no território que se estende desde o litoral sul
terial enviado pelos participantes, uma
e pela diversidade de matrizes culturais, cuidar do do estado do Rio de Janeiro até a costa norte de
pequena mostra de olhares sobre a pai-
Patrimônio significa trabalhar todos os dias com a Santa Catarina. O projeto Paisagens Caiçaras
sagem cultural, de diferentes pontos de
principal riqueza de um povo. - Difusão de Narrativas Sonoras Imagéticas e
vista e lugares de fala, o que é visto de
Audiovisuais é fruto de um trabalho colaborativo
Para que essa missão se concretize é preciso dentro ou de fora. São múltiplas inter-
que apresenta as referências culturais dessas
aliar o conhecimento técnico com o diálogo sem pretações de um território que vai além
comunidades, por meio de textos, fotografias,
barreiras com a sociedade. Apenas quando o do mapa e de suas fronteiras. A tradição
ilustrações, músicas e sons, depoimentos e víde-
cidadão se sente representado, o órgão cumpre continua viva e o Iphan se orgulha em
os, mostrando um universo de representações em
plenamente suas funções e entra em sintonia partilhar com a população um material
constante movimento.
com os anseios da população. Apresentamos e um processo de criação tão rico que
aqui uma dessas experiências construídas cole- Este projeto foi criado a partir da articulação potencializa o alcance de sua cultura
tivamente com o apoio da sociedade com intuito entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR) como também as formas de reconhe-
de mostrar as práticas culturais, o território e as e o Iphan, e se associa ao trabalho institucional cimento e preservação do Patrimônio
memórias dos diferentes coletivos caiçaras que de salvaguarda do Fandango Caiçara, forma de Cultural Brasileiro.
habitam o Brasil.
PAISAGENS CAIÇARAS

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O FANDANGO E A PAISAGEM de fandangos. O contexto da salvaguarda desse
bem cultural tem proporcionado o fortalecimen-
to de práticas culturais que lhe são associadas,

CULTURAL CAIÇARA como o apoio à realização de bailes em eventos


nas localidades onde foi identificada a ocorrência
dessa prática cultural; o apoio a iniciativas locais
Juliano Martins Doberstein, Marcelo Gruman e Rafael Boeing de transmissão de saberes relacionados à pro-
dução artesanal de instrumentos; a realização de
Superintendência do Iphan no Paraná
ações de valorização de mestres fandangueiros e
de apoio à formação de músicos e de grupos de
O Fandango Caiçara foi reconhecido como vos – mutirões, puxirões ou pixiruns – nos roçados, nas dança entre jovens e crianças, principalmente por
Patrimônio Cultural do Brasil em 2012, quando colheitas, nas puxadas de rede ou na construção de ben- meio de vivências nos bailes e junto aos mestres.
foi inscrito no Livro de Registro das Formas feitorias. Nessas ocasiões, o organizador oferecia, como As diversas parcerias locais para realização de
de Expressão, com base no Decreto federal retribuição aos ajudantes voluntários da comunidade, atividades de salvaguarda conformam uma rede
nº 3.551/2000. Enquanto forma de expressão uma espécie de baile com comida farta. Para além dos de preservação que possibilita maior ou menor
diretamente vinculada a comunidades tradi- mutirões, o fandango era a principal diversão e momento ocorrência de ações locais de acordo com as
cionais que ocupam o litoral sul e sudeste do de socialização dessas comunidades, estando presente condições conjunturais de atuação do Iphan com
Brasil, a salvaguarda do Fandango Caiçara em diversas festas religiosas, batizados, casamentos e, esses parceiros (municipalidades, associações,
mobiliza não apenas o debate em torno da especialmente, no carnaval, em que se comemoravam os coletivos, etc.).
transmissão de saberes associados à sua mu- quatro dias ao som dos instrumentos do fandango.
Simultaneamente, o plano de salvaguarda do
sicalidade, coreografia e poética, mas também
Atualmente, é cada vez mais rara a realização de muti- Fandango Caiçara vem sendo debatido por um
ao contexto cultural e ambiental mais amplo
rões. Com o avanço da especulação imobiliária e a trans- coletivo formado por dezesseis representantes de
de manutenção dos modos de vida tradicio-
formação de grandes áreas da região em unidades de seis municípios litorâneos, escolhidos de forma
nais das comunidades caiçaras.
conservação ambiental e ecológica, inúmeras comunida- direta pelos próprios fandangueiros, articulado ao
Nos bailes de fandango participam grupos des tradicionais foram obrigadas a migrar para outras re- movimento histórico mais amplo de preservação
musicais e de dança, nos quais instrumentos giões, desarticulando importantes núcleos organizadores dos modos de vida tradicionais das comunidades
artesanais, como a rabeca e o adufe, junta- caiçaras nos territórios e paisagens secularmente
mente com as “marcas” dos tamancos no ta- habitados e vivenciados por elas.
blado, conformam uma complexidade musical
Muito recentemente, no Brasil, a paisagem cultural
com modas, melodias, danças e coreografias
apareceu como uma nova categoria para a preser-
que se atualizam continuamente, fazendo des-
vação do patrimônio cultural. No que diz respeito
ta forma de expressão uma tradição cultural
às propostas institucionais para a proteção das
viva. Tradicionalmente, a realização de fan-
paisagens culturais, é no interior da Unesco, em
dangos ou bailes de fandango sempre esteve
1992, que a paisagem cultural é criada como uma
vinculada à organização de trabalhos coleti-
categoria específica do patrimônio cultural.
PAISAGENS CAIÇARAS

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composto de elementos materiais construídos associa- cotidiana da população que o habita: a pesca artesanal, a Textos Adaptados de:
dos a determinadas morfologias e dinâmicas naturais, navegação em canoas, a construção em madeiras, o cul-
INSTITUTO do Patrimônio
formas estas que se vinculam a conteúdos e significados tivo de roças, as procissões marítimas, os encontros em
Histórico e Artístico Nacional
dados socialmente. festas, mutirões, romarias, entre outras atividades sociais,
(Brasil). Saberes, fazeres, gingas
religiosas, de trabalho e de lazer, que se realizam no mar,
O recorte espacial é estabelecido a partir de uma condi- e celebrações: ações para a
nas praias, nos mangues. Evita-se, assim, um enquadra-
ção peculiar e representativa de determinadas relações salvaguarda de bens registrados
mento do patrimônio imaterial como fenômeno isolado,
estabelecidas entre os grupos sociais com a natureza. como patrimônio cultural do Brasil
descolado do ambiente natural e material que envolve os
Ou seja, do ponto de vista da preservação, o que identifi- 2002-2018. Instituto do Patrimônio
seus detentores e que é também formado e conservado
ca as paisagens culturais a serem protegidas é o caráter Histórico e Artístico Nacional
por estas comunidades. A salvaguarda desse bem regis-
peculiar dessa relação tecida ao longo do tempo e que se (Brasil); coordenação de edição de
trado demanda que voltemos o olhar não apenas para as
revela a partir das formas específicas de uso e apropria- Rívia Ryker Bandeira de Alencar.
modas, as coreografias e os instrumentos em si próprios,
ção da natureza pelo trabalho humano. Essas relações Brasília: Iphan, 2018.
mas para tudo o que está ao seu redor e que nos fala
podem tanto materializar-se na sua morfologia, como
sobre a relação tão singular que cada comunidade caiça- SCIFONI, Simone. Paisagem
podem ser explicitadas por meio de valores que lhe são
ra vem desenvolvendo, histórica e socialmente, com os cultural. In: GRIECO, Bettina;
atribuídos socialmente.
ecossistemas do litoral sul e sudeste brasileiro. TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON,
O enfoque da paisagem cultural permite, assim, superar Analucia (Orgs.). Dicionário Iphan
um tratamento compartimentado entre o patrimônio na- de Patrimônio Cultural. 2. ed.
tural e cultural, mas também entre o material e imaterial, rev. ampl. Rio de Janeiro, Brasília:
entendendo-os como um conjunto único, um todo vivo e Iphan/DAF/Copedoc, 2016.
dinâmico. Permite compreender as práticas culturais em (verbete). ISBN 978-85-7334-299-
estreita interdependência com as materialidades produzi- 4. Disponível no portal eletrônico
Já no Brasil, ela foi incorporada como nova das e com as formas e dinâmicas da natureza. do Iphan: <http://portal.iphan.gov.
categoria de patrimônio cultural pela Portaria br/dicionarioPatrimonioCultural/
Pensar o Fandango Caiçara sob a perspectiva que nos
nº. 127 de 2009, do Iphan, a mesma que ins- detalhes/82>, acessado em 04
é oferecida pela categoria de paisagem cultural é consi-
tituiu um novo instrumento jurídico para sua de maio de 2021.
derar que essa forma de expressão está intrinsicamente
proteção, denominado de chancela.
vinculada a um território e às diversas esferas da vida
Um elemento comum às experiências nos
diversos âmbitos institucionais diz respeito
à definição do que vem a ser a paisagem
cultural. Inicialmente o que a define é a sua
escala de abrangência: a paisagem cultural
diz respeito à determinada porção espacial ou
recorte territorial. A paisagem cultural é enten-
dida, assim, sempre como conjunto espacial
PAISAGENS CAIÇARAS

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IMAGENS E SONS:
PAISAGENS QUE RESISTEM
gostos, cheiros e cores. Os sons e as cores do
cotidiano e do modo de viver caiçara se fundem
e confundem em uma mistura heterogênea de
sentidos e intencionalidades. Ao ouvir um serrote,
Ary Giordani e Juarez Bergmann Filho cortando uma peça de caxeta, disparam-se senti-
dos de território e pertencimento, da umidade do
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
mangue onde brota a madeira às técnicas secu-
lares da manufatura de instrumentos musicais,
Como nos mutirões, o projeto Paisagens Caiçaras As cores, as texturas e os sons nos apresentam canoas e artefatos de usos múltiplos. de ímpar, convergem em melodias nos bailes das
foi construído a muitas mãos, envolvendo deten- narrativas imersivas onde a maritimidade e a comunidades. A dança se desenrola no ritmo da
Sons e imagens que nos remetem a experiências
tores de bens imateriais, pesquisadores, técnicos musicalidade sobrepõe o ancestral e o hodier- batida dos mestres caiçaras em diálogo com o
sensoriais, onde sentimos o cheiro da serra-
e instituições no intuito de dar vazão as potencia- no num continuum dinâmico para manutenção toque do adufes e do movimento das marés.
gem da madeira nos ateliês de construção dos
lidades imagéticas e sonoras do vasto território da identidade caiçara frente aos desafios da
instrumentos musicais, violas, rabecas, adufes, O vento, o mar, a labuta diária e a insurgência em
caiçara, das nuances presentes nas cores, nos contemporaneidade.
machetes e tambores que animam o Fandango busca de dias melhores se tornam versos, rimas
sons e movimentos que historicamente rompem
As imagens aqui apresentadas, representam Caiçara, as Folias do Divino Espírito Santo e os e movimentos que transbordam nas melodias
a contemporaneidade firmando e reinventando
exemplos de fragmentos visuais do modo de ser autos de Boi de Mamão. As batidas do martelo se produzidas pelas rabecas, ou cantados ao som
processos de sociabilidade frente às adversidades
caiçara. Fotos e desenhos narram parte de traje- transformam, do cerne da laranjeira, e da madeira da viola. Tais paisagens englobam sons, ritmos,
e lutas constantes em defesa do território e da
tórias de vida que se encontram em comunidade. emergem as batidas do tamanco. As vozes das movimentos, trabalho, alegria e resistência, onde
cultura ancestral dessas populações.
Pessoas, lugares e práticas são registrados a conversas, em peculiares dialetos de musicalida- imagens e sons testemunham a vida.
Na presente etapa de seleção, foram recebidos partir do olhar atento e preocupado com o univer-
340 trabalhos, de 38 colaboradores, em diálo- so caiçara. A natureza, o mar, a pesca, a dança,
go com a galeria já existente no site do projeto, a música e o trabalho compõem um cenário que
selecionados e adequados ao recorte cultural e mostra um pouco das pessoas que compartilham
territorial proposto pela comissão de curadoria. modos e maneiras de estar no mundo.
A interação do caiçara com o meio onde habita
Também composta por sons, nossas paisagens
foi uma das premissas do processo curatorial,
conformam formas e sentidos, texturas, volumes,
suas marcas, tecnologias e modos de vida, luta
por território e resiliência de uma população que
habita santuários naturais, regiões metropolitanas
e também centros urbanos num território que se
estende do litoral sul fluminense ao litoral norte
de Santa Catarina.
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS AUDIOVISUAIS
COMO EXPERIÊNCIA
DE ENCONTRO COM AS
PAISAGENS CAIÇARAS
Viviane Vedana
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

A elaboração das paisagens audiovisuais do dos coletivos caiçaras, sobre os engajamentos de linearidade narrativa que poderia fixar as pessoas fazer jus a este habitar, optamos por compor
projeto Paisagens Caiçaras se inspira na diversi- gestos e práticas com o ambiente. Ponderamos e seus lugares em temporalidades ou especiali- “misturas”. Como diz Marcel Mauss, “misturam-
dade dos modos de fazer e de ser que compõem a importância de apresentar nestas paisagens dades limitadas. Neste sentido, o desafio destas -se as almas nas coisas, misturam-se as coisas
os coletivos caiçaras do litoral brasileiro. Esta audiovisuais a densidade da memória coletiva paisagens audiovisuais é evocar estas presenças nas almas” (MAUSS, 2003:212) e assim se tece o
inspiração é resultado de um longo processo de destes grupos, bem como a complexidade das caiçaras da água, dos encontros, dos artefatos, da social, nas trocas e nos encontros. Dessa forma,
imersão nas imagens visuais, sonoras e textuais experiências cotidianas que fazem acontecer as música, das festas, da religiosidade, dos gestos, combinamos fotografias, vídeos e sonoridades
que o projeto recebeu de colaboradores diver- paisagens caiçaras. dos sons, da pesca, enfim, dos modos específicos de origens diferentes para tentar uma aproxima-
sos que compartilharam seus olhares, escutas e de ocupar o litoral brasileiro que estas comuni- ção com as ambiências caiçaras e propor uma
Na concepção destas paisagens audiovisuais a
perspectivas sobre estas paisagens através de dades nos apresentam. Pensamos a paisagem imersão nestas paisagens. Com estas paisagens
preocupação fundamental foi reconhecer a diver-
fotografias, vídeos, textos, músicas, desenhos e como acontecimento, ou seja, como um desdo- audiovisuais pretendemos promover experiências
sidade destas formas de vida, recusando certa
sonoridades de ambiências locais. No decorrer bramento das práticas cotidianas das pessoas sensoriais que capturem aqueles que com elas
das reuniões da equipe de curadoria, analisamos na relação com os ambientes que habitam. Mais tiverem contato. Esperamos que as paisagens
cuidadosamente as imagens, com atenção aos do que uma paisagem idílica, concebida como audiovisuais deste projeto possam reverberar em
sentidos e presenças que evocavam, com o intuito apartada das pessoas, uma “vista” que é possível outras histórias e narrativas, desdobrando as pos-
de aprender com as imagens sobre quais histó- admirar ao longe, a ideia de paisagem que nos sibilidades de descoberta das paisagens caiçaras.
rias poderíamos contar. Privilegiamos na seleção inspira é a da paisagem vivida, refeita a cada dia.
das imagens, aquelas que nos contavam sobre as Pensamos a paisagem como um processo, pois
pessoas e seus modos de fazer, sobre os arte- ela é habitada pelas pessoas, ao mesmo tempo
fatos e suas relações com modos de existência em que também vive e habita em cada um. Para Referências

MAUSS, Marcel – 1923[2003]. Ensaio sobre a


dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades
arcaicas. In: Sociologia e Antropologia. São
Paulo: Cosac&Naify.
PAISAGENS CAIÇARAS

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OS CAIÇARAS SÃO MAIS
RELATIVOS A ÁGUAS OU
A TERRAS? Outro ponto de diálogo entre os materiais é a série
Artesãos e Artesanias, do fotógrafo Flávio Rocha,
sobre o ofício de lutier. A matéria-prima tradicional
para a construção de instrumentos tocados no
Fandango Caiçara é a caxeta. A árvore de madeira
Lia Mity Ono leve e macia, fácil de escavar, aplainar e entalhar, e
Superintendência do Iphan no Paraná por isso de bom aproveitamento na confecção de
instrumentos e artesanatos, tem seu corte proibi-
do por ser uma espécie nativa da Mata Atlântica.
O trabalho de Educação Patrimo- fias que não nos conectam com as pessoas do lugar. Por esse motivo, o roçado e o extrativismo, mesmo que para a Para a extração da caxeta e a continuidade da
nial iniciou-se nas reuniões da buscamos materiais que construíssem narrativas que nos levassem a subsistência, são criminalizados. Um exemplo tradição é necessária a elaboração de um plano
equipe de curadoria, composta compreender mais sobre o território caiçara, muito maior que do que desse desajuste é apresentado na série de filmes de manejo para a conservação da floresta. Há de
por pessoas de diferentes for- cabe em um mapa, e sobre a interação do homem com o meio. de animação do Coletivo Treboada. Entre eles, o se encontrar maneiras de preservação do patrimô-
mações. Ao abordar o tema das curta-metragem Fiscal do Ibama (dir. Paulo Alber- nio natural e cultural de forma integrada, garan-
Ao longo dos encontros, percebemos que era preciso fazer um recor-
Paisagens Caiçaras por variados ton, 2020) aborda com muito humor e delicadeza tindo os direitos das comunidades ao território
te, ancorar algumas ideias. E chegamos, sem plano de navegação,
lados, os encontros transforma- a perseguição dos órgãos ambientais a quem que lhes pertence.
aos modos de ser, viver e estar no território caiçara. Tínhamos, dessa
ram-se em frutíferos debates insiste em caçar e comer animais silvestres. A
forma, um tema gerador que imantava os outros assuntos, as outras Para a continuidade do fandango caiçara, os
sobre o que se via nos materiais saída para o imbróglio é jocosa, bem à maneira
histórias que queríamos compartilhar, como um acorde musical e cantos, as marcas, as danças devem ser ensi-
enviados pelos colaboradores e caiçara. A contação dos causos pela professora
seus harmônicos - proposição de uma metáfora sonora para esta nados e transmitidos às gerações futuras. E as
daquilo que não estava represen- Neide Palumbo reproduz um linguajar específico
paisagem tão vasta. celebrações também entram nessa mesma di-
tado, mas que nos parecia fun- do litoral norte de São Paulo, e podemos elencar
damental: a presença de mestres Os modos de vida tradicionais frequentemente são prejudicados por outros lugares - Ilha do Mel (PR), Ilha dos Valada- nâmica, simbolizada, por exemplo, na procissão
fandangueiros ou de comunida- leis que impedem a continuidade de sua existência no território. Mui- res (PR) - onde também há distintos falares. marítima de São Pedro, padroeiro dos pescadores,
des indígenas. O grupo dialogou, tas comunidades habitam áreas de proteção ambiental, unidades retratada por Henrique Luís Almeida. A devoção
A preservação da fabulosa biodiversidade pre- aos santos e as festas populares são emoldura-
trocou impressões e teceu finas de conservação, reservas ecológicas e parques nacionais. A caça,
sente no litoral, nos lagamares, estuários, ilhas, das por Cintia Bendazzoli. O baile de fandango é
relações, a partir de seus pró-
restingas, matas e manguezais está sintetizada traduzido por Ivanovick, em cores, tamancos, na
prios referenciais, em tentativas
em duas ilustrações, de Etiene Flor e Carolina roda e nos movimentos. O filme Versa, Ela (dir.
de imersão e de tradução dos
Bee Araújo. Representam o Guará-vermelho, ave Antonia Moura,2019) explora ainda a questão de
conteúdos com o propósito de
típica do litoral ameaçada de extinção. E na música
criar narrativas. Os materiais não
Guapuruvu (Rodolfo Vidal, 2013), que evoca a
selecionados são, na sua maior
árvore usada na construção de canoas. Será que
parte, imagens da belíssima
as crianças e jovens caiçaras sabem os nomes
paisagem natural da região. E por
dos bichos e plantas encontradas ao seu redor?
PAISAGENS CAIÇARAS

que ficaram de fora? São fotogra-


Sabem identificar um bagre ou um xarelete?

20 21
Soares, 2020), da Cia de Teatro de Bonecos La
Polilla. Em Vidas ao Mar, Juliana Camargo Ma-
cedo retrata a lida, as ferramentas e a relação
estreita entre os pescadores e os ecossistemas
costeiros e marinhos. Vagner Pereira Gonçalves
flagra o cardume na rede. As redes, outro elemen-
to estruturante dessa relação do homem com o
gênero no fandango e traz para o centro da cena mar, não escapam ao olhar de André Alves, em Uma casa de farinha é fotografada por Carla Bea-
as mulheres fandangueiras que, para além da Fragmentos Visuais. triz Franco Ruschmann e, assim, atentamos para
dança, são mestras que cantam versos e tocam a dieta caiçara. A mandioca é um dos alimentos
As cenas do cotidiano que integram a exposição
viola. Que espaços e quais papéis ocupam a essenciais dessa cultura. O costume de comer
nos aproximam das pessoas do lugar. A sociabili-
mulher caiçara hoje? Na crônica de Maria Angélica farinha e beiju é uma herança dos indígenas que,
dade caiçara está presente no trabalho de Ariana
de Moura Miranda, há igualmente espaço para a finalmente, de soslaio entram nessa história.
Leal Prestes. As brincadeiras e o lazer são temas
Mulher na Pesca.
explorados por Laís Pinheiro, Carolina Bee Araújo Observamos antigos costumes, de um tempo não
A pesca artesanal é um tema maior que agita o e Yasmin Alves Gonçalves. No depoimento de eletrificado, em fotografias levemente granuladas
imaginário desse universo caiçara. As canoas Maria Angélica, ouvimos as histórias dos mutirões do álbum Cores Caiçaras, de Nicia Guerriero. Os
fazem parte da rotina, difícil suprimi-las da paisa- para a construção de moradia dos compadres. peixes salgados que secam ao sol formam uma
gem! Elas geram uma atração incontrolável, pelo As casas caiçaras apresentadas por Aline Pontes paisagem onírica. São peixes-roupas, depen-
colorido das embarcações, capturado nas fotogra- Barbosa, Carlos Henrique Leite, Carlos Mendes, durados no varal. Esse jogo de transmutações
fias de Aurélio Rufo, Claudia Maria Viana Barreto e Antonia R. Moura Leite, Geslline Giovana Braga e surrealistas é brincado nos versos das Bicicletas
Lizangela Pinto Siqueira. Pelo traçado e rastro que Sueli Aparecida Antunes da Silva, são humildes, Caiçaras, de Marília Kubota: “Que sonham as
deixam na areia, como visto por Cristina Schimidh. feitas de madeira ou de taipa. De dia, deixam pas- bicicletas à espera de condutores? (…) Guidão em
Por sua forma, expressa no saber antigo de se sar a luz do sol, exalam fumaças do fogo à lenha guelras, dos quadros brotam barbatanas.” São
fazer uma canoa escavada em um pau só, num que, de noite, servem até para espantar mosqui- peixes? São anfíbios?
único tronco de árvore, observado por Marcio RM. tos. Tão singelas, essas moradas caiçaras são
Com o que sonham os caiçaras?
Ou pelo sentido de desbravamento do grande mar muito diferentes dos sobrados da rua da praia. As
redondo, como exposto por Janelize Nascimento ruínas dos antigos edifícios viram árvores, pouso
Felisbino. A canoa do pescador diante da insta- para passarinhos e pombos. Em Corpo do Sonho,
lação portuária de escala colossal, no litoral do Marcela Bettega percorre as ruas para mostrar o
Paraná, também coloca em diálogo os trabalhos abandono do patrimônio que conta parte da his-
que refletem sobre um embate de forças e modos tória da cidade. Como fazer para que as pessoas
de estar no mundo bastante antagônicos, ideia se identifiquem com paredes, pedras, calçadas,
que reverbera na peça Peixe Morto (dir. Rogério portas e janelas?
PAISAGENS CAIÇARAS

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UM CLICK É APENAS UM OLHAR
mos anos, patrimônio cultural reconhecido que
é, portanto, representante de nossa cultura. Mas
como registrar, para além da memória, as tardes

SOBRE A CULTURA CAIÇARA


frias e chuvosas em que, não podendo sair para
pescar, papai se debruçava na janela de casa, com
sua violinha ao peito e, depois de temperada esta,
ficava por horas a cantarolar modas que pareciam
José Carlos Muniz ‘brotar’ de sua memória, relembrando os tempos
Grupo Canutilho Temperado de Fandango Caiçara de Fandango no sítio.

Não. Parece-me que a paisagem caiçara não


Paisagem Caiçara. De temática um tanto su- Sem dúvidas, o nascer do sol seria uma das ima- se pode registrar apenas num click. Talvez nem
gestiva, fiquei pensando o que deve ser exposto, gens representativas de tamanha exuberância e, mesmo se consiga imprimi-la e mostrá-la, pois
ou melhor, o que se consegue mostrar em uma se captado os seus primeiros raios quando tocam é captada na vivência, onde o homem e a natu-
imagem ou outra sobre os Caiçaras. O que será o nosso estado paranaense, refletido no mar de reza a reconstroem em seu dia-a-dia, utilizando-
que o público em geral espera ver sobre a cultura Ararapira, são por excelência magníficos, mais ain- -se da máquina ‘memória’ e assim se aprende a
do povo caiçara? da quando os Guarás (Eudocimus ruber) cortam entender e respeitar o que se vê, cada singulari-
o horizonte, pintando o céu com seu vermelho-ru- dade, reconhecendo-as envoltas numa gama de
São questionamentos possíveis de diversos en-
bro, eis que denotam a beleza natural deste cená- valores culturais.
tendimentos, aos quais para alguns ainda procuro
rio, suas verdes matas e a tonalidade azul do mar. O pôr-do-sol, portanto, ou o boto (Sotalia guianen-
respostas, mas numa rápida reflexão sobre o
Merecido registro da paisagem caiçara. sis) saltando, os barrancos que a maré todo dia
que é uma ‘paisagem’, penso naquilo que o nos-
so olhar alcança. Porém, não menos esplendoroso, parecendo engole, o pescador acuado pela proibição de sua
transcender, é Seu Anísio Pereira, sentado ao pé- prática e mesmo assim confeccionando o seu cer-
Certamente poderíamos rever o conceito, acres-
-do-fogo tocando uma Chimarrita na rabeca que co, a mulher caiçara e as crianças a desmariscar
centando acerca das definições sobre o termo,
confeccionara em Caxeta (Tabebuia cassinoides), o sururu ou a fervura do lambe-lambe na panela,
uma vez que o olhar pode alcançar tanto a na-
sinônimo de quão integrada é a cultura e a natu- o temido rebojo ou o Garoçá (Ocypode) deixando
tureza, em sua forma propriamente dita, quanto
reza. E se fosse captada a imagem da entendida seus rastros pela praia, o fabriqueiro utilizando
a um produto da ação humana; ainda penso
Dona Genésia Cunha colhendo alguns remédios o alegre na confecção da viola cavoucada, ou o
naquele olhar que não consegue enxergar as
do mato utilizados no benzimento? Seria represen- picomá acumulado na cobertura de Guaricana
riquezas culturais que o cercam. Portanto, as
tativo também das nossas paisagens caiçaras? (Geonoma schottiana) de uma farinheira qualquer,
paisagens caiçaras têm sido retratadas com quais
parecem-me ser todas Paisagens Caiçaras.
tipos de olhares? Apresenta-se aqui um imperativo questionamen-
to: A paisagem não é apenas aquilo que o olhar Captadas na memória ou por diferentes ângulos “quero dar a despedia, despedida quero dar, não
Nosso território abriga os últimos remanescen- há machado que corte, a raiz do meu cantar”
alcança. É possível então registrar o que nosso e cores, qual cena das Paisagens Caiçaras você
tes de biomas e em sua rica biodiversidade se
olhar não enxerga? Me vem à memória o Fan- quer ver? Algumas são possíveis em apenas um (pé de moda do Fandango Caiçara)
encontram espécies como a Onça Pintada (Pan-
dango Caiçara, amplamente registrado nos últi- click; outras é preciso conhecer e entender, viver.
thera onca), o Papagaio-de-Cara-Roxa (Amazona
brasiliensis), o Mico-Leão-da-Cara-Preta (Leon- As paisagens se sobrepõem uma à outra, nature-
topithecus caissara), outras raras e endêmicas za e cultura, mas a escolha do ‘olhar’ é sua.
PAISAGENS CAIÇARAS

coabitando com o Caiçara, numa interação ho-


mem-natureza que ultrapassa os séculos.

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
ILHA DOS VALADARES –
DA PONTE PRA CÁ
Aline Pontes Barbosa

FRAGMENTOS VISUAIS
André Alves
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
TOMEI UM TEMPO
Antonia Moura

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PAISAGENS CAIÇARAS
NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
PARATY - NATUREZA EM ARTE
Ariana Leal Prestes

PAISAGENS CAIÇARAS
DE ILHABELA
Aurélio Rufo
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
OLHARES CAIÇARAS
Carlos Mendes

EXPEDIÇÃO 2007
Carla Beatriz Franco Ruschmann CASA CAIÇARA, BARRA
GRANDE. PARATY, 2020.
Carlos Henrique Leite
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
VIVÊNCIAS ESTUARINAS
Carolina Bee Araújo

MANGUEZAVES
Carolina Bee Araújo
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
ARQUIPÉLAGO CAIÇARA
Cintia Bendazzoli

ESPELHO ANTONINA/PR
Claudia Maria Viana Barreto Cristina Schimidh
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
ARTESÃOS E ARTESANIAS
Flávio Rocha

GUARÁ SOL CAIXETA


Etiene Flor
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
O TOQUE DA LUZ
Geslline Giovana Braga

PROCISSÃO DE SÃO PEDRO


Henrique Luís Almeida
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
PESCADORES DO GRANDE MAR REDONDO
Janelize Nascimento Felisbino

FOTOGRAFIAS
DO FANDANGO
CAIÇARA
Ivanovik
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
VIDAS AO MAR
Juliana Camargo Macedo
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
CLICKES NO LITORAL
Lizangela Pinto Siqueira

LITORAL DO PARANÁ
Laís Pinheiro
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
CORPO DE SONHO
Marcela Béttega

ENSAIO CAIÇARA
Márcio RM
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
BICICLETAS CAIÇARAS
Marília Kubota & Lauro Borges

(Sem título) Valadares

Que sonham as bicicletas Navegam em duas rodas os caboclos do mar.


à espera de condutores? Livres de medos e modas, firmes no pedalar.
Um dia afogarão no mar, Velho, mulher, criança, velozes ou devagar.
guidão em guelras Todos entram na dança, sentindo sol, vento e ar.
dos quadros brotam barbatanas Em cima da magrela carregam seu mundo:
anfíbias sacola, máquina, panela, botas de Pedro Segundo.
mergulham no fundo oceano A paisagem é como o mar, um mergulho no sonho,
A bicicleta que dorme uns olhos a passear, e um tanto de barulho.
na porta da mercearia,
a do padeiro,
a do peão da fábrica,
a de Júlia da Costa,
a de Brasílio Itiberê,
todas afogadas em sono.
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
CORES CAIÇARAS
Nicia Guerriero
PAISAGENS CAIÇARAS

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NARRATIVAS IMAGÉTICAS E TEXTUAIS
PAISAGENS TRADICIONAIS
Sueli Aparecida Antunes da Silva

O OLHAR CAIÇARA
Yasmin Alves Gonçalves

CANOAS CAIÇARAS
Vagner Pereira Gonçalves
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NARRATIVAS SONORAS E AUDIOVISUAIS
BOAS VINDAS
MULHER NA PESCA (2021, cor, 7 min.)

Depoimento de Maria Angélica de Moura


Maria Angélica de Moura Miranda
Miranda (abril, 2021).

Algumas vezes escutei meu avô falar pra minha avó: Enche uma garrafa de café e manda a Maria levar “As famílias antigas tinham o hábito de se visitar,
lá no rancho à tardinha! Minha avó respondia: Rancho de pesca não é lugar de menina! Que pena vó, que em Caraguá, em Ilha Bela e até em Ubatuba. Meus
você não conheceu a Jandira da Enseada (São Sebastião), a Ditinha de Búzios (Ilhabela), e tantas outras, pais e meus tios tinham o hábito de ir a festas de
que não ficaram limpando o peixe e salgando, partiram para o mar. A mulher subiu na canoa segundo o casamento e a festas do padroeiro. E tinha também
pasquim do Pombo Branco em 1948: “Nessa minha poca idade, tenho visto coisa boa, moça pobre vesti um tipo de reunião, que hoje em dia já não existe
seda mulher remá na canoa” Elas começaram a remar para pegar as coisas que haviam nos naufrágios mais, que era o seguinte: quando ia ser coberta
de navios, objetos que para os homens não tinham valor, mas que para elas interessavam: peças de teci- uma casa, o dono da casa convidava os amigos
dos, santinhas, pentes, espelhos, máquina de costura e uma infinidade de utensílios domésticos. Pegaram para vir ajudar a fazer o telhado. Muitas vezes na
gosto pela canoa e hoje em dia a Jandira e a Ditinha já comandam a pesca e os pescadores onde moram. minha vida, meu pai encheu o caminhão com os
Não sei se algum trabalho acadêmico acompanhou isso, acho que não, mas a verdade é que quando uma amigos e falava “Ah, nós vamos lá cobrir a casa de
mulher de pescador ficava viúva, subia na canoa que era do marido e trazia o sustento da família enfren- fulano. Nós vamos passar o dia lá”. A minha mãe
tando todo tipo de preconceito. A história dessas mulheres é parecida, a Jandira ouviu o pescador de outro fazia um monte de empadinhas, fazia um monte
barco falar: Volta pro fogão! É a mesma história dos carros, quando os homens viram mulheres dirigindo de coisa, porque a gente ia passar o dia naquele
criaram tanta piada, que agora as seguradoras já desmentiram. O mar é para todos, é democrático: ricos, evento. Os homens subiam o telhado e cobriam a
pobres, turistas, estrangeiros. E a mulher já conquistou o seu espaço! Parabéns! casa. Faziam a massa, fechavam a cumeeira com
massa. E as mulheres se reuniam com as crian-
ças para fazer um piquenique naquela casa recém
coberta. Eu vivi isso muitas vezes, em Ilha Bela, em
Caraguá, na Costa Sul… Meu pai participava demais
Crônica de Maria Angélica de Moura Miranda, selecionada na chamada pública do disso, porque ele era do ramo da construção civil.
projeto Paisagens Caiçaras, em abril de 2021. Maria Angélica é jornalista e foi diretora Então as pessoas sempre convidavam meus pais
do Jornal “O CANAL” de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais para este tipo de evento.”
do Vale do Paraíba. Em 1988 e 1989 publicou o jornal “Tebar em notícias” sobre o Trecho do depoimento de Maria Angélica
Terminal Marítimo Almirante Barroso. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral de Moura Miranda
Norte de São Paulo, realiza, desde 1993, o “Encontro Regional de Autores”.
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NARRATIVAS SONORAS E AUDIOVISUAIS
PEIXE MORTO
(2020, cor, 16 min.)

Rogério Soares (direção e texto); Líli Sarraff


(bonecos); Ruddy Castillo (trilha sonora);
Aorelio Domingues (música/ fandango Dinheiro
de Peixe Morto); Estúdio W7 (gravação e
FISCAL DO IBAMA
(2020, cor, 3 min.)
edição); Angélica Ripari (produção).
Neide Palumbo (criação e narração); Paulo
Alberton (direção e montagem); Isabel
VERSA, ELA
(2019, cor, 5 min.)
Galvanese (ilustrações); Rowena Crowe
(animações); Priscila Prisco (reparação de Antonia Moura (direção
imagens e animação); Bia Porto (design e edição); Com Dona
gráfico); Felipe de Souza (trilha sonora); Dursolina (Guaraqueçaba im
Emanuel Araújo (projeto educativo); memorian), Fandangueiras
Isabel Palumbo (imprensa e mídias de Ubatuba, Cananéia,
sociais); Marcos Tozzi (programação do Paranaguá e Guaraqueçaba,
app); Ana Cláudia Prado (execução do Dona Neusa (Cananéia),
projeto educativo). Dona Benedita (Paranaguá),
Rebeca Damian (Dança).
GUAPURUVU -
PROJETO VIOLA
CAIÇARA
(Rodolfo Vidal, 2013)
PAISAGENS CAIÇARAS

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Este catálogo foi construído com as fontes Roboto Condensed (24pt/28pt);

Roboto Light Italic (16pt/19pt); e Roboto Light (12pt/18pt);

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