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VII CONINTER - Congres s o Internacional Interd is cip linar em Sociais e Humanid ad es , Rio de J aneiro-RJ , 12 a 16 de novemb ro 2018

ISSN 2316-266X, nº 7

GESTÃO PARTICIPATIVA DE RECURSOS HÍDRICOS NA ÁREA DE


PROTEÇÃO AMBIENTAL DO CAIRUÇU – APA CAIRUÇU.

PAULA CALLEGARIO DE SOUZA 1


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social - UFRJ
paulinhapty@gmail.com

PAULA CHAMY PEREIRA DA COSTA 2


Pesquisadora Colaboradora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais - UNICAMP
paula.chamy@gmail.com

SIDNEY LIANZA 3
Professor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social - UFRJ
sidneylianza@gmail.com

RESUMO

Neste trabalho analisamos as oportunidades e estratégias que contribuam com a sustentabilidade e


distribuição equitativa de recursos hídricos por meio da gestão participativa em conselhos gestores de
áreas protegidas, por meio da experiência do CONAPA Cairuçu. Os dados foram sistematizados e
alicerçados na Teoria Fundamentada (Flick, 2009): revisão literatura, análise documentos produzidos
no âmbito do CONAPA e legislação pertinente, com ênfase na Lei 9.433/97 – Plano Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos e Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei
9.985/2000 regulamentada pelo Decreto 4340/2002) que orienta participação em áreas protegidas. Os
resultados demonstram que, além da criação de câmara temática para discutir a gestão da água no
território da APA de Cairuçu, ações para fomentar a gestão participativa dos recursos hídricos foram
implementadas, enfatizando a capacitação e incentivo ao protagonismo comunitário, práticas capazes
de contribuir para a promoção da justiça social e conservação ambiental.
Palavras-chave: participação. água. conservação. recuperação ambiental. câmara temática.

ABSTRACT
In this paper we analyze the opportunities and strategies that contribute to the sustainability and
equitable distribution of water resources through participatory management in protected areas
management councils, through the experience of CONAPA Cairuçu. The data were systematized and
based on the Grounded Theory (Flick, 2009): literature review, analysis documents produced within
CONAPA and relevant legislation, with emphasis on Law 9.433 / 97 - National Water Resources
Management Plan and National System of Water Resources Units Conservation (Law 9.985 / 2000
regulated by Decree 4340/2002) that guides participation in protected areas. The results demonstrate
that, in addition to the creation of a thematic chamber to discuss water management in the territory of
the Cairuçu APA, actions to increase the participatory management of water resources were
implemented, emphasizing capacity building and encouraging community participation, practices that
contribute to the promotion of social justice and environmental conservation.

Key-words: participation. water. conservation. environmental recovery. thematic camera.

Introdução:

ANINTER/SH - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS


- GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
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Nas últimas décadas o Brasil tem apresentado diversas experiências de participação


social na gestão pública e enfatizado a inclusão política de setores marginalizados com o
intuito de promover justiça social. Segundo Avritzer (2008), o Brasil foi considerado um dos
países que apresenta maior número de iniciativas participativas distribuídas e diversos
formatos (e.g. consultas públicas, conselhos municipais, estaduais e federais). Martelli,
Luchmann e Almeida (2016) apontam para a expansão dos setores que passaram a participar
na gestão pública. Na esfera ambiental existem inúmeros atores com interesses conflitantes no
uso dos espaços e recursos naturais (inclusive recursos hídricos), mas, no Brasil, o marco da
inserção da participação na gestão de políticas públicas, incluindo a ambiental, se deu com a
promulgação da Constituição Federal de 1988.
A gestão participativa de recursos naturais está prevista em diversos diplomas legais
brasileiros como: i) a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), Lei n° 6.938/81, que tem
como princípio a educação e capacitação da sociedade para participação ativa na defesa do
meio ambiente, além de ter instituído o maior colegiado participativo sobre meio ambiente - o
Conselho Nacional de Meio Ambiente, (CONAMA); ii) a já citada Constituição Federal de
1988, que no artigo 225 assegura a todos os cidadãos brasileiros um ambiente saudável e
equilibrado, mas determina como dever coletivo e do Poder Público o dever de protegê-lo; iii)
o Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC, Lei nº 9.985/2000 regulamentada
pelo Decreto nº 4.340/2002) que estabeleceu a necessidade de criação de fóruns como os
conselhos gestores e a compatibilização de diversos segmentos sociais no âmbito das áreas
protegidas.
No presente, existem inúmeros conflitos pela água distribuídos pelo planeta.
Contaminação dos recursos hídricos, privatização e mercantilização do recurso, escassez e
injustiças na distribuição da água são alguns dos problemas atuais no uso desse recurso vital.
Especificamente sobre recursos hídricos, objeto desse trabalho, fundamental para o estudo é
também a Política Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (PNGRH-Lei n°
9.433/1997).
A PNGRH possui, como fundamento, a gestão descentralizada dos recursos hídricos
com a participação do governo, dos usuários e das comunidades atingidas pelo uso do recurso.
A PNGRH também estabelece os Comitês de Bacia Hidrográfica, colegiados criados para
discutir questões relacionadas ao uso das águas, composto por representantes de instituições,
de diversos setores da sociedade e do poder público.

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A Área de Proteção Ambiental (APA) de Cairuçu está localizada no município de


Paraty, sul do Estado do Rio de Janeiro, abrange aproximadamente metade do município
(890,72 hectares) e abriga diversidade de populações tradicionais (indígenas, caiçaras e
quilombolas) e importante parcela do bioma Mata Atlântica. Criada em 1983 (Decreto
89.242), a APA "tem por objetivo assegurar a proteção do ambiente natural, que abriga
espécies raras e ameaçadas de extinção, paisagens de grande beleza cênica, sistemas
hidrológicos da região (grifo nosso) e as comunidades caiçaras integradas nesse
ecossistema” (BRASIL, 1983). A unidade de conservação (UC) teve também o intuito de
minimizar as tensões socioambientais geradas por intensos conflitos fundiários na região e
que envolveram diferentes tipos de comunidades tradicionais, em especial as comunidades
caiçaras explicitamente citadas em seu texto de criação (FONSECA & SILVA, 2015).
Seguindo os preceitos de participação das legislações mencionadas, foi formado, em
2001, o Conselho da Área de Proteção Ambiental do Cairuçu, o CONAPA Cairuçu. Nos
primeiros anos de sua criação o CONAPA teve pouca atuação junto às comunidades e
incentivos à participação. A partir de 2010, o CONAPA foi formado de fato, incentivou a
participação com algumas atuações importantes como: contribuição no plano diretor do
município de Paraty; revisão do plano de manejo da APA do Cairuçu, candidatura do
município de Paraty a patrimônio da humanidade pela UNESCO, realização do primeiro curso
de formação continuada do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) em gestão e manejo de
água.
Essa participação institucionalizada que se dá em conselhos têm especificidades que
devem ser consideradas, como as diferenças sociais, culturais e ambientais que existem entre
as diversas comunidades que integram esses fóruns de discussão, além é claro da participação
das demais organizações e interessados.
Embora a CONAPA Cairuçu tenha abrangência somente no município de Paraty, os
ecossistemas existentes são bastante diversos e as comunidades, bem como outros grupos de
interesse, têm demandas que coincidem e outras que são distintas. Deste modo, esses espaços
servem também como arenas de aprendizado e aprimoramento contínuo das capacidades de
dialogar para enfrentamento das práticas consolidadas de relações de poder até então
existentes.
Orientado por seu plano de ação, O CONAPA constituiu em 2016, quatro câmaras
temáticas (CT) de caráter permanente com base na demanda dos diversos setores que
compõem o conselho (órgãos públicos de ordenamento territorial, fomento e apoio;

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comunidades residentes caiçaras, quilombolas, indígenas e rurais; universidades, instituições


de pesquisa, movimentos sociais, organizações não governamentais e usuários), além de
grupos de trabalhos (GT) de caráter temporário. As câmaras temáticas são: i) comunidades
locais e povos tradicionais; ii) licenciamento ambiental; iii) recursos hídricos e iv)
comunicação, todas compostas por conselheiros, especialistas e voluntários interessados.
Esse artigo se concentra na CT de recursos hídricos, cuja água é direito humano e
condição para a realização de outros direitos humanos reconhecido pela Organização das
Nações Unidas desde 2002. No entanto, além de direito humano, há que se reconhecer que
outros seres vivos necessitam e têm, por visões de mundo distintas da visão antropocêntrica
(como por exemplo o bem viver inserido nas Cartas Magnas de países como Equador e
Bolívia) direito à água.

Objetivo:
Tendo sido os recursos hídricos reconhecidos pelo CONAPA Cairuçu como
fundamentais para manutenção da vida no planeta por meio da constituição de um CT
específico para gerir esses recursos e recurso e valor fundamental da APA Cairuçu, descrito
em seu Plano de Manejo, o objetivo desse artigo é verificar quais foram os instrumentos de
gestão participativa criados e analisar as estratégias e ações promotoras de participação a eles
vinculados.

Desenvolvimento e Resultados:
Trata-se de pesquisa qualitativa que analisa os processos que favorecem a gestão
participativa dos recursos hídricos. Foi realizada revisão bibliográfica, análise de legislação
nacional (Constituição Federal, instrumentos de políticas públicas, decretos, portarias,
normativas, entre outras), relatórios, atas e outros documentos produzidos no âmbito da APA
do Cairuçu (tabela 1) e alicerçados na Teoria Fundamentada nos Dados (FLICK, 2009). A
compreensão da participação social no CONAPA Cairuçu e a interação entre as diretrizes das
leis do SNUC e da PNRH (tabelas 2 e 3) presentes em ações e no planejamento da APA
Cairuçu, construídas pela atuação e participação das comunidades residentes inseridas em
unidades de conservação, foram fundamentais enxergar as oportunidades e estratégias para
gestão de recursos hídricos do território desta área protegida. Observamos pelas tabelas 2 e 3,
que as ações propostas e realizadas pela CT recursos hídricos, e por atividades transversais do
CONAPA Cairuçu, a práxis da inclusão social na proposta pela legislação.

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Tabela 1 – Principais documentos analisados da APA do Cairuçu


Espaços e Atividades Realizadas Demandas e produtos das ações.
Atividades
Participativos/
Educativas.
CONAPA Cairuçu - Divisão dos Conselheiros em ● Elaborar Curso de Formação de
Oficina de Formação grupos para a identificação e Aquaviários;
dos Conselheiros. apontamento dos pontos focais e ● Elaborar Curso de Maricultura;
demandas a serem identificados. ● Elaborar Programa de Educação
Pontos focais relacionados: Ambiental nas escolas (12)
● Águas (nascentes); abrangidas pela APA;
● Economia Local (pesca, ● Elaborar e realizar um Curso de
agricultura, turismo); Gestão Participativa (conselheiros,
● Gestão Compartilhada; lideranças e gestores);
● Formação Continuada ● Inventariar as nascentes e
CONAPA Cairuçu. captações de Água na APA
(Priorizar Aldeia Itaxi);
● Elaborar Plano de Recuperação de
Nascentes;
● Buscar informações sobre
qualidade e quantidade de água
doce disponível.
CONAPA Cairuçu - Seminário Águas do Carapitanga ● Curso de Capacitação Comunitária
Plano de Ação de Manejo e gestão das águas.
CONAPA: Eixo
prioritário Gestão das
Águas; Câmara
Temática das Águas.
CONAPA Cairuçu - ● Carta ao Carapitanga;
Seminário Águas do ● Mapa participativo com 173 pontos
Carapitanga de destaque;
● Plano de Ação de enfrentamento
conjunto dos desafios levantados.
CONAPA Cairuçu - Eixo Prioritário Água ● Declaração de Significância da
Revisão do Plano de APA: Na APA Cairuçu a Serra do
Manejo da APA do Mar é recortada por nascentes,
Cairuçu córregos e cachoeiras formando
rios, que são lugares de lazer,
aprendizagem e identidade das
comunidades que por eles são
banhados. Nos rios se aprende a
pescar, a nadar, remar e entender os
ciclos das chuvas, cheias e
vazantes. O ambiente montanhoso
quente e chuvoso, proporciona o
desenvolvimento de florestas
exuberantes e uma vasta rede de
drenagem, que ao descer a serra e
se aproximar ao mar, criam
condições favoráveis a formação de
ricos ecossistemas, como os

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caxetais e manguezais, no namoro


do rio com o mar.
● Recursos e Valores Fundamentais:
(i) Territórios e Comunidades
Tradicionais; (ii) Recursos
Manejados; (iii) Biodiversidade;
(iv) Águas; (v) Paisagem; (vi)
Manguezais e Caxetais; (vii) Ilhas,
praias e costões rochosos.
● Planejamento de Gestão de alta
prioridade da APA: A gestão das
águas já tem sido motivo de vários
conflitos, além de precisar melhorar
a qualidade da água e evitar que
elas se deterioram mais. É garantido
o livre uso e acesso irrestrito para
captação de água pelas
comunidades tradicionais dentro da
APA Cairuçu;
-Todos os estabelecimentos
comerciais tais como bares
restaurantes e estruturas de
hospedagem deverão possuir:
- Reaproveitamento de água de
chuva: captação e armazenamento
de águas pluviais em todas as áreas
impermeabilizadas, devendo ter no
mínimo a capacidade de
armazenamento equivalente a 1m3
de água para cada 10m2 de área
impermeabilizada;
- Reaproveitamento de águas
cinzas;
- Caixa de gordura com capacidade
adequada ao empreendimento;
- Utilização de materiais e técnicas
construtivas reconhecidas como de
baixo impacto ambiental e que
estimulem o baixo consumo de
água potável
CONAPA Cairuçu - Curso de Formação Inicial e ● Mapa águas do Carapitanga.
Câmara Temática Continuada Gestão da ÁGUA, ● Recuperação de Nascentes.
Gestão das Águas IFRJ/ ICMBIO/ Prefeitura
Municipal de Paraty
CONAPA Cairuçu - Antecedentes: ● Produtos do Curso:
Câmara Temática ● Projeto sobre Rio Carapitanga – Projeto Piloto de Recuperação de
Gestão Águas: Curso no Comitê de Bacia Hidrográfica Nascentes, pela Meliponicultura.
de Formação Inicial da Baía de Ilha Grande (CBH- – Mapeamento da qualidade da água da
e Continuada Gestão BIG) Microbacia do Carapitanga, e vídeo.
da ÁGUA, IFRJ/ ● Seminário Águas do – Cartilha para Projeto de tratamento de
ICMBIO/ Prefeitura Carapitanga(março/2016) esgoto ecológico, por Bacia de
Municipal de Paraty ● Reunião CONAPA Evapotranspiração.

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– Março a julho de Trindade(abril/2016) – Projeto Piloto de tratamento de esgoto


2018 ● Palestra sobre Projeto CBH- ecológico, por Bacia de Evapotranspiração
BIG no IFRJ (maio/2016) e gestão da água da localidade da Ponta
● Tele Reunião CT grossa.
ÁGUAS/CONAPA (julho/2016)
● ACT IFRJ/APA Cairuçu/ PM
Paraty (agosto/2017)
● Publicação do Edital do Curso
(dezembro/2017).
● FOCO: Bacia
Hidrográfica do Rio
Carapitanga
- 35 inscritos
- 6 indígenas
- 21 moradores do território da
APA Cairuçu
-14 sendo moradores da bacia do
Rio Carapitanga.
• Curso de 168 horas
• Formação de Agentes de
Gestão e Manejo de Água.
• Período: março a julho 2018.

OBJETIVO GERAL
Capacitar os comunitários e
profissionais de diversas áreas
em conceitos e práticas
relacionadas aos eixos temáticos
da Educação Ambiental,
Qualidade da Água, Saneamento,
Sustentabilidade, Saúde e
Desenvolvimento Social a fim de
melhor qualificá-los para
atuarem como agentes
comunitários e multiplicadores,
com empregabilidade no mundo
do trabalho.

Tabela 2: Ações de Gestão Participativa de Recursos Hídricos

Atuação Ideal do Conselhos segundo o Guia Atividades do CONAPA Cairuçu em Gestão de


dos conselhos (Icmbio, 2014). Recursos Hídricos.

Atuar pela conservação da biodiversidade e para ● Câmara temática Gestão das Águas –
Curso Formação Inicial e Continuada
o alcance dos objetivos da Unidade de (FIC) de Gestão e Manejo de Águas:
Conservação. Formação de Agentes de Gestão e Manejo
de Água • Período: março a julho 2018.

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● Novo Plano de Manejo da APA (2018) –


Diagnóstico Eixo Prioritário de Gestão:
Gestão e manejo das Águas:
Abastecimento precário e escassez de
Identificar os problemas e conflitos e propor água em algumas comunidades; Conflitos
por causa da má distribuição do recurso
formas para sua gestão.
em algumas comunidades (Ponta Grossa;
Parati mirim, Ilha do Algodão)
● Plano de Ação: Ação prioritária Gestão e
manejo das Águas

Identificar as potencialidades da Unidade de ● Ações de recuperação e conservação de


nascentes, indicadas no Plano de Manejo
Conservação e propor iniciativas que as e no plano de Ação do Conapa Cairuçu.
fortaleçam.

Compatibilizar os interesses dos diversos setores


● Reuniões do Conselho abertas à
relacionados com a UC. comunidade.

Buscar a integração da Unidade Conservação ● Projeto sobre Rio Carapitanga no Comitê


de Bacia Hidrográfica da Baía de Ilha
com o contexto local e regional no qual está Grande (CBH-BIG)
inserida.

● Seminário Águas do Carapitanga:


Demandar e propor, aos órgãos competentes,
➔ Carta ao Carapitanga;
ações e políticas que promovam a conservação ➔ Mapa participativo com 173 pontos de
destaque;
dos recursos naturais e o desenvolvimento ➔ Plano de Ação de enfrentamento conjunto
socioambiental da Unidade de Conservação e dos desafios levantados.

seu território de influência.

● Pauta proposta pelos Conselheiros.


Definir os mecanismos de tomada de decisão ● O voto de todos os setores possuem o
mesmo peso.
para a participação efetiva dos diferentes setores

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representados no Conselho.

● Câmara temática de Acompanhamento e


Participar da elaboração, implementação, revisão do Plano de Trabalho do
Conselho
monitoramento e avaliação dos instrumentos de ● CT de acompanhamento do Plano de
gestão da Unidade de Conservação. Manejo.

Tabela 3: Ações alinhadas do Conselho alinhadas à Política Nacional de Recursos Hídricos

Diretrizes gerais de ação para implementação Ações cumpridas e planejadas que incluem a
da Política Nacional de Recursos Hídricos participação social na gestão e do Conapa que
(PNRH) contempladas pelo Conapa Cairuçu. as diretrizes gerais da PNRH

Gestão sistemática dos recursos hídricos, sem ● Inventariar as nascentes e captações de


Água na APA.
dissociação dos aspectos de quantidade e
qualidade;

Adequação da gestão de recursos hídricos às ● Módulo de Saneamento ecológico na sede


da APA Cairuçu.
diversidades físicas, bióticas, demográficas,
● Plano de gestão participativa dos recursos
econômicas, sociais e culturais das diversas hídricos na localidade da Ponta Grossa.
● Ação Prioritária de Gestão no Plano de
regiões do País;
Manejo, Gestão e Manejo participativo da
Água.
Integração da gestão de recursos hídricos com a ● Planejamento Participativo de Gestão de
alta prioridade da APA: A gestão das
gestão ambiental;
águas .
Articulação do planejamento de recursos hídricos ● Projetos de Gestão e Manejo da Água
articulados com o Comitê de Bacia da
com o dos setores usuários e com os
Hidrográfica da Baía de Ilha Grande
planejamentos Regional, estadual e nacional;

Articulação da gestão de recursos hídricos com a ● Planos de gestão e ordenamento do


Comunitário - ações de recuperação e
do uso do solo;
conservação de nascentes e saneamento
ecológico.
Integração da gestão das bacias hidrográficas ● Ações ambientes estuarinos como
caxetais e manguezais
com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.

Conclusões:

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Pela avaliação das legislações e documentos produzidos pelo CONAPA Cairuçu


referentes a gestão participativa em áreas protegidas, verifica-se que a Câmara Temática de
Recursos Hídricos criou diversos instrumentos para gerir os recursos hídricos (tabela 1). Deste
modo, pode-se afirmar que o CONAPA tem sido em um espaço de atuação da comunidade,
com ações voltadas, até o momento, principalmente para a formação comunitária por meio de
informação, capacitação e desenvolvimento de práticas que têm gerado dupla função: i)
sensibilizar a população local e ii) melhorar a condição social e ambiental da unidade de
conservação.
Ainda que o conselho não esteja despido de conflitos entre os diferentes setores que o
compõe, existindo mesmo até setores com interesses nitidamente antagônicos (e.g. prefeitura
que tem interesse em expandir a especulação imobiliária e caiçaras que defendem
mecanismos de turismo de base comunitária e defesa de territórios), no caso da CT de
recursos hídricos, o compromisso coletivo reverberou na promoção de ações de gestão
participativa ativa, incluindo alocação de recursos para possibilitar a participação de setores
vulneráveis como comunidades indígenas.
A possibilidade de inclusão de populações constantemente marginalizadas na CT
demonstrou que, havendo incentivos e reunindo esforços para a efetiva participação, a
população consegue exercer seus direitos e construir sua cidadania de modo contínuo.

As ações de gestão participativa da CT de recursos hídricos até o momento foram: i)


nivelamento de informação e formação dos participantes do conselho (com extensão a pessoas
que demonstravam interesse na colaboração das atividades); ii) implantação de projeto piloto
para a recuperação de nascente associado a meliponicultura; iii) seminários; iv) curso de
formação em parceria como Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ); v) medições e
mapeamento para determinação da qualidade hídrica; vi) elaboração de cartilha para
desenvolvimento de projeto de evapotranspiração; vii) implementação de projeto bacia de
evapotranspiração.
Os resultados das ações (tabela 1) promovidas pelo CONAPA ressaltam os esforços
para a promoção da gestão participativa ativa dos recursos hídricos, com interlocução efetiva
entre os diferentes setores da sociedade, incluindo iniciativas para nivelamento de informação
e formação dos diferentes atores, o que pode contribuir para que se vençam os abismos nas
relações de poder não raros existentes em espaços que se denominam participativos.

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A interlocução entre os diferentes setores da sociedade na CT de recursos hídricos da


APA de Cairuçu revelou que o diálogo entre diferentes setores da sociedade é possível
quando há compromisso dos envolvidos. Essa CT foi a que promoveu maiores avanços em
número de iniciativas até o momento se comparado às outras CTs do CONAPA. Mesmo com
esses avanços, nos cursos promovidos verificou-se a necessidade de continuidade na
construção e adequação dos processos participativos para consolidar a conquista de cidadania.
Como espaço legítimo e de atuação da comunidade e com o apoio da equipe gestora
da UC, ações voltadas para a formação e informação dos conselheiros e comunidade
interessada podem resultar em efetiva melhoria das condições hídricas e sociais da APA de
Cairuçu e auxiliar a vencer os abismos nas relações de poder não raros existentes em espaços
que se denominam participativos.

Referências:

AVRITZER, Leonardo. Instituições participativas e desenho institucional: algumas


considerações sobre a variação da participação no Brasil democrático. In: Opin. Pública,
2008, vol.14, n.1, pp.43-64.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Documentação, 2017.
BRASIL. Decreto nº 98.242, de 27 de dezembro de 1983. “Dispõe sobre a criação da Área de
Proteção Ambiental de Cairuçu, no Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências”.
Brasília, 1983. Disponível em http://www.icmbio.gov.br/cairucu/.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. SNUC – Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza: Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000; Decreto nº 4.340, de 22 de
agosto de 2002; Decreto nº 5.746, de 5 de abril de 2006. Plano Estratégico Nacional de Áreas
Protegidas: Decreto nº 5.758, de 13 de abril de 2006. Brasília: MMA, 2011.
BRASIL. LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997. “Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos”.
Brasília: Casa Civil, 1997.
BRASIL. Decreto nº 8.243, 23 de maio de 2014. “Dispõe da criação da Política Nacional de
Participação e do Sistema Nacional de Participação”. Brasília. 2014.
FLICK, Uwe. “Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa”. Tradução: Joice Elias da Costa.
3ªed. - Porto Alegre: Artmed, 2009.
MEDEIROS, Leonilde Servolo de FEITOSA (Coord). Conflitos por terra e repressão no
campo no estado do Rio de Janeiro (1946-1988): Relatório Final. Annagesse; SILVA, Iby
Monteiro. Conflitos por terra e repressão no campo na região da costa verde, litoral
fluminense, Capítulo 5; p. 292 - 393. CPDA – Programa de Pós – Graduação de Ciências
Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade – UFRRJ, 2015.

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MARTELLI, Carla Giani; LÜCHMANN, Ligia.; ALMEIDA, Carla. Os sentidos da inclusão


e da representação nas Conferências Municipais de Políticas Públicas. In: ENCONTRO
DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIÊNCIA, 10., Belo Horizonte, 2016.

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