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Capítulo 6
Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos
INTRODUÇÃO
A preocupação do homem com a preservação do meio ambiente é recente. Na
antiguidade, vivia-se em pequenos bandos que migravam para explorar os recursos naturais
e satisfazer as suas necessidades básicas. Estes recursos eram abundantes, e o consumo da
pequena população não ameaçava a sua degradação. Com o passar dos tempos e consequente
aumento da população, foi necessário que o homem se fixasse em determinados locais,
normalmente às margens de grandes rios, e passasse a produzir alimentos, pois somente
a exploração não seria suficiente para fazer frente à crescente necessidade. No século
XX a atenção para com o ambiente e os recursos naturais ganhou relevância. A explosão
populacional, a produção agrícola em alta escala e a migração do homem do campo para as
cidades, causou sérios problemas de ordem ambiental.
O meio ambiente ecologicamente sustentável passou a ser discutido. Sustentabilidade,
segundo Fiorentin, (2002, p. 14) consiste no “uso dos recursos renováveis de forma
qualitativamente adequada e em quantidades compatíveis com a capacidade de renovação
e em soluções políticas e economicamente viáveis na satisfação das necessidades do viver”.
A preocupação ambiental reflete-se em nossa legislação, conforme se pode observar na
Constituição Federal, art. 225, que dedica um capítulo ao tema e estabelece que “todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” (BRASIL, 2001, p.102) A busca de se
construir uma sociedade mais justa, sustentável e ecologicamente correta tem por objetivo
viabilizar uma qualidade de vida adequada às gerações futuras e corrigir a relação entre o
homem e a natureza.
A consciência ambiental tem reflexos positivos na redução da produção de resíduos
industriais e domésticos. A população tem aderido a práticas corretas e exigido que as empresas
e entidades respeitem a natureza. No entanto, há muito que se avançar nesta seara. É preciso
fortalecer as ações ambientais que ainda não fazem parte da cultura de muitos lares e pátio
de empresas. Observa-se que grande parte dos resíduos ainda não tem destinação adequada,
sendo comum a ausência de preocupação com a contaminação do ar, água ou solo. Segundo o
IBGE, (2002, p.50) 63,6% dos Municípios brasileiros utilizam “lixões”, depósitos irregulares
a céu aberto para destinação dos resíduos sólidos urbanos.
O desrespeito ao ambiente tem gerado problemas ambientais, com consequências diretas
à qualidade de vida do ser humano. O efeito estufa, as mudanças climáticas e a proliferação
de doenças constituem efeitos visíveis e graves. O depósito irregular dos resíduos sólidos
urbanos contamina solo, lençóis freáticos e ar, sendo um vetor de doenças e outros males
que afetam o ser humano. Além disso, proporciona a atividade dos “catadores de lixo”, os
quais reviram o que foi descartado na busca de materiais que possam ser reaproveitados ou
de alimentos que possam saciar a fome de suas famílias.
Na região compreendida pelos Municípios paranaenses de Ivaiporã, Jardim Alegre,
Lidianópolis e Arapuã, denominada neste estudo como região do “Médio Ivaí”, a realidade
não é diferente. O tratamento dado aos resíduos sólidos nesses Municípios é, em geral,
insatisfatório com diversas implicações negativas para a saúde da população, para o meio
ambiente e para a relação com os órgãos de controle ambiental.
A modalidade de consórcios vem sendo apresentada como uma alternativa cooperativa
entre entes federados para a solução de problemas públicos de vários tipos, destacando-se
como uma forma coletiva de ação, com menores custos financeiros e que pode proporcionar
um adequado tratamento dos resíduos sólidos municipais. Contudo, a sua implementação e
satisfatório funcionamento dependem do atendimento de requisitos relacionados à viabilidade
econômica, técnica, ambiental e política. Neste trabalho, é realizada uma avaliação prévia
da questão a partir da opinião dos atores centrais dos Municípios da região do Médio Ivaí
acerca dos aspectos que envolvem a constituição de um consórcio intermunicipal para a
administração de um aterro sanitário. Especificamente, investigamos: o grau de conhecimento
a respeito do problema dos resíduos sólidos urbanos nos Municípios e na região, o grau de
gravidade atribuído à situação e as soluções preferidas; os principais fatores favoráveis e
restritivos à criação de um consórcio na região; e as condições de cooperação e competição
entre os Municípios para a criação do consórcio.
Com isso espera-se contribuir para a análise de alternativas institucionais inovadoras
e, em especial, na gestão local e regional de resíduos sólidos, incentivando dessa forma a
multiplicação de experiências desse tipo. Mais diretamente será possível o desenvolvimento de
metodologias a serem aplicadas para a implementação de sistemas que permitam a cooperação
entre entes federativos. No plano empírico, o processo e os resultados da pesquisa podem
resultar na implementação de medidas que levem à redução de problemas decorrentes da
inadequada destinação do lixo, melhorando o grau de consciência sobre o problema e suas
possíveis alternativas e a qualidade de vida na região do Médio Ivaí.
Este artigo está dividido em cinco partes. Além desta introdução, na parte seguinte
apresentam-se alguns conceitos centrais a respeito do papel do Estado e da política pública, do
federalismo, descentralização e cooperação entre os entes federativos e, como exemplo disso,
a figura do consórcio público. Nos itens três e quatro são expostos, respectivamente, alguns
dados da situação dos resíduos sólidos na região do Médio Ivaí e os aspectos metodológicos
da pesquisa de campo. Por fim, no item cinco, os resultados da pesquisa de campo são
apresentados e discutidos.
“organização política sob a qual vive o homem moderno. Ela caracteriza-se por ser a
resultante de um povo vivendo sobre um território delimitado e governado por leis que
se fundam num poder não sobrepujado por nenhum outro externamente e supremo
internamente.”
Constitui-se no organizador da vida em sociedade e o responsável direto por diversas
atividades destinadas a garantir a convivência pacífica, bem como assume o papel de prestador
de serviços de caráter geral, beneficiando toda a coletividade de acordo com o interesse
público. Para o desempenho desta atividade utiliza-se de políticas públicas, caracterizadas
como programas de ação governamental com a finalidade de coordenar os recursos para a
realização de sua missão. Neste sentido, as políticas públicas estão presentes em todas as
instâncias governamentais, seja local, regional ou nacional, bem como nos diversos setores
da Administração pública.
O Estado formula e implementa políticas públicas com o objetivo de cumprir a sua
missão em defesa da coletividade e do interesse público. Para a administração pública moderna
não basta implementá-las; é necessário avaliar a sua efetividade e eficiência, valendo-se de
métodos já experimentados. A avaliação de políticas públicas constitui-se em uma ferramenta
de gestão, por meio da qual se mede a viabilidade de um projeto, adaptando-o à realidade e
redefinindo as suas bases. Constitui-se também em um método de se prestar contas ao corpo
social das ações de governo.
Não existe um conceito preciso para avaliação, uma vez que o termo é empregado “por
uma variedade de disciplinas, tais como economia, política, administração e sociologia. Além
disso, a avaliação serve a uma ampla gama de necessidades, discussões, clientes, instituições
e praticantes.” (CUNHA, 2009, p.6)
É consenso que a avaliação de políticas públicas tem importância para a administração
pública gerencial, constituindo-se em instrumento fundamental no desenvolvimento das
ações governamentais. É equívoco pensar que a avaliação resume-se a um estudo de caso,
levada a efeito após a implementação da política pública com o objetivo de encontrar
eventuais problemas e não repeti-los no futuro. Não serve apenas para identificar desvios em
programas governamentais, pois “qualquer programa possui etapas ou processos passíveis de
aperfeiçoamento ou mesmo de ampliação, tendo em vista sua natureza cíclica - formulação,
implementação e resultados - que o torna um processo dinâmico e inacabado, sujeito à
complementaridade ou à renovação.” (CAVALCANTI, 2009, p.4) Trata-se de ferramenta mais
ampla e dinâmica servindo, também, para estabelecer a viabilidade de um projeto antes de
sua implementação ou mesmo para acompanhar o desenvolvimento de políticas públicas.
Apesar de sua inegável importância para as ações governamentais, a avaliação ainda
não está difundida na administração direta e indireta, com poucos exemplos de adesão.
Algumas iniciativas se colocam na vanguarda e indicam que esta prática poderá ocupar lugar
de destaque, até mesmo em pequenos Municípios. Neste sentido, o “Governo Federal brasileiro
tem realizado a avaliação sistemática de seus programas. Esta avaliação tem ênfase na eficácia
e eficiência dos programas expressos nos Planos Plurianuais.” (CUNHA, 2009, p.2)
A avaliação pode ser classificada sob diversos enfoques, possuindo uma literatura
bastante ampla e complementar. (CAVALCANTI, 2009) Para fins desta pesquisa, interessa
destacar o tipo de avaliação ex ante. Esse tipo de avaliação é realizado antes da implementação
de um programa, tendo por objetivo avaliar a viabilidade do projeto. Esta viabilidade é
considerada em todos os seus aspectos, seja ela econômica, política, ambiental, ou de outro
tipo. Consiste na “avaliação das propostas de intervenção nos problemas, no que se refere à:
pertinência ao problema; consistência interna das suas operações/ações; suficiência das ações
para superar as causas críticas; confiabilidade.” (GARCIA, 2001, p.60) O presente trabalho se
enquadra neste tipo de avaliação, ou seja: tem por objetivo buscar elementos que permitam
uma avaliação adequada quanto à possibilidade de se implantar um consórcio intermunicipal
para a gestão de aterro sanitário.
Consórcio público, a partir da edição da Lei 11.705/05, passou a ser entendido como
o acordo firmado entre entes da Federação no sentido de prestar serviços públicos na forma
cooperativa. O conceito legal está disciplinado pelo Decreto 6.017: (BRASIL, 2007)
Pessoa jurídica formada exclusivamente por entes da Federação, na forma da Lei no 11.107,
de 2005, para estabelecer relações de cooperação federativa, inclusive à realização de
objetivos de interesse comum, constituída como associação pública, com personalidade
jurídica de direito público e natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de direito
privado sem fins econômicos.
Surge a principal diferença entre convênios de cooperação e consórcios públicos, uma
vez que para a formação destes é necessária a constituição de uma pessoa jurídica, enquanto
para aqueles, esta formalidade é dispensada. Porém, vários consórcios foram criados antes
da edição da Lei de Consórcios Públicos sem a constituição de pessoa jurídica, surgindo a
discussão sobre a natureza jurídica que estes consórcios assumem a partir da edição da nova
lei que regulamenta os consórcios públicos. A orientação mais aceita e de que existem três
espécies de acordos de cooperação para prestar serviços públicos: convênios administrativos,
consórcios públicos e, a figura sui generis, consórcios administrativos despersonalizados,
firmados antes da edição da Lei 11.107/2005. (CARVALHO FILHO, 2009, p. 9)
O conceito de gestão associada, que é a finalidade do consórcio público e dos convênios
de cooperação, é estabelecido pelo Decreto 6.017/2007 (BRASIL, 2007) como o exercício
das atividades de planejamento, regulação ou fiscalização de serviços públicos por meio de
consórcio público ou de convênio de cooperação entre entes federados, acompanhadas ou não,
da prestação de serviços públicos ou da transferência total ou parcial de encargos, serviços,
pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.
O consórcio intermunicipal para tratamento de resíduos sólidos urbanos possibilita que
os Municípios somem esforços na busca de soluções para problemas comuns e na obtenção
dos recursos financeiros. Promove-se uma integração maior entre os Municípios participantes,
permitindo a expansão do acordo no que se refere à coleta, reciclagem e educação ambiental.
Permite, também, um planejamento integrado entre os Municípios participantes e a adoção
de tecnologias sustentáveis. (SILVEIRA, PHILIPPI, 2008, p. 219)
A capacidade de captar recursos poderia ser potencializada por representar um grupo
de Municípios, pois existe uma tendência de tratamento prioritário por parte das fontes
de recursos em relação aos pedidos isolados. Há um ganho de escala com a realização
de ações inacessíveis a uma única prefeitura e, consequente aumento na capacidade de
realização de políticas públicas, bem como de poder de diálogo, pressão e negociação dos
Municípios. (SILVEIRA, 2008, p. 116) Além disso, percebe-se que o governo do Estado
do Paraná tem incentivado a prática de soluções cooperadas, colaborando com incentivos
financeiros e disponibilizando a estrutura estatal para prestar apoio técnico na implantação
e desenvolvimento do consórcio. (PARANÁ, 2007)
O consórcio pode levar à especialização na prestação do serviço público. Uma pessoa
jurídica é constituída para este fim, extinguindo-se a prática recorrente de se alocar pessoal
despreparado e descompromissado com a questão do lixo urbano, profissionalizando
a atividade. Proporcionaria uma estabilidade na prestação do serviço, pois o consórcio
representaria a vontade de todos os participantes, dificultando ações individuais tendentes
a esvaziar os recursos e a consequente depósito inadequado dos resíduos decorrentes da
atividade humana.
No plano ambiental, de forma empírica, a formação do consórcio intermunicipal
para destinação de resíduos sólidos na região do Médio Ivaí poderia representar importante
vantagem. O lixo produzido passaria a ser tratado de forma ambientalmente sustentável,
possibilitando uma adequada destinação, evitando danos à natureza. No entanto, este
benefício poderia ser adquirido de forma individual, bastando cada Município construir e
operar um aterro sanitário para o depósito dos resíduos produzidos pela sua população.
No mesmo sentido, o consórcio possibilitaria uma redução do impacto ambiental
pelo uso de uma única área, enquanto que as soluções individuais impactariam quatro áreas
distintas. Outro aspecto está na seleção do local para construção do aterro não estando sujeito
aos limites municipais, ou seja, abre-se a possibilidade de escolha de um local ambientalmente
adequado, reduzindo a contaminação do solo e de lençóis freáticos.
Economicamente, a solução coletiva pode ser uma alternativa vantajosa para os
Municípios do Médio Ivaí. Os custos operacionais com a implantação, manutenção, pessoal
técnico e equipamentos de um aterro sanitário são altos e podem inviabilizar a correta
destinação dos resíduos sólidos. Assim, existe a possibilidade de um aterro tornar-se um
“lixão”, uma vez que a diferença entre ambos encontra-se no procedimento de depósito do
lixo, pois um aterro sanitário construído de acordo com as especificações técnicas pode se
tornar um “lixão” caso não seja operado de forma adequada.
O consórcio intermunicipal pode ser uma alternativa vantajosa, uma vez que
existem indicativos de redução de custos em razão do rateio de despesas de manutenção e
operacionalização do aterro sanitário, isto, se comparado com as soluções isoladas de cada
Município. A experiência de consórcios já existente tem demonstrado resultados positivos
na redução de despesas, conforme se observa no CITRESU (Consórcio Intermunicipal
de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos) em que o Município gaúcho de Três Passos
destinava R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) à empresa coletora de resíduos
anualmente, hoje o montante é suficiente para financiar campanhas de sensibilização, a
coleta de resíduos e a sua cota no rateio de despesas do Consórcio. (CALDAS, 2009, p. 11)
Além disso, a atividade de reaproveitamento e reciclagem pode gerar recursos extras com a
sua comercialização.
Neste sentido, o estudo de Ribeiro Filho, Galvão e Ceballos (2009, p.9) da solução
consorciada na destinação dos resíduos sólidos para os Municípios que compõem a região
de João Pessoa, Estado de Pernambuco, considerando todas as variáveis e arranjos possíveis,
concluiu que “o consórcio global é a forma mais econômica de implantação de um sistema
completo de destinação final de resíduos sólidos, havendo significativa redução de custos
para os municípios”.
Assim, os consórcios intermunicipais para a administração de aterros sanitários seriam
ambientalmente mais viáveis, pois proporcionam que a área escolhida seja a mais adequada
pelas características físicas e não por limites virtuais impostos pela abrangência do poder
municipal. Do ponto de vista econômico os consórcios também tendem a ser vantajosos por
proporcionarem um custo unitário menor para os resíduos ali dispostos devido à economia
de escala. (COTRIM; REICHERT, 2009, p.6)
Contudo, como qualquer política pública inovadora, a adoção de consórcios
intermunicipais para a gestão de resíduos sólidos urbanos deve superar um conjunto de
desafios presentes no contexto da administração pública municipal e intermunicipal no Brasil.
São os mais importantes desafios: a carência de recursos materiais, tecnológicos, humanos
e orçamentários; as disputas político-partidárias dentro dos Municípios, entre estes e entre
os Municípios e o governo do Estado; a pouca tradição de cooperação administrativa e
institucional vertical e horizontal entre os entes federativos.
Na sequência, procura-se aprofundar essa discussão com os dados coletados junto aos
Municípios que compõem a região do Médio Ivaí. Conforme já foi dito, o objetivo da pesquisa
é identificar como os atores centrais desses Municípios avaliam a adoção de um consórcio
intermunicipal para solucionar o problema da gestão dos resíduos sólidos na região.
3 METODOLOGIA
Este trabalho busca ampliar o nível de informações sobre o assunto e avaliar as
condições para a implementação de uma política pública. Neste sentido, trata-se de uma
pesquisa exploratória e pode ser classificada como ex ante, uma vez que objetiva avaliar as
condições favoráveis e contrárias para formação de um consórcio intermunicipal na região
denominada Médio Ivaí.
Para captar os dados necessários à conclusão do trabalho, utilizou-se como instrumento
uma pesquisa de campo, procurando coletar os dados a partir das pessoas que exercem
influência na tomada de decisões e que possam levar à construção do entendimento para a
implementação da política pública proposta.
A pesquisa de campo se formaliza dentro de aspectos qualitativos e quantitativos.
Ao aplicar entrevistas aos principais atores, os prefeitos municipais, valoriza-se a dimensão
subjetiva, buscando respostas pessoais e não, gerais, características presentes na pesquisa
qualitativa. Por outro lado, ao eleger questionário na coleta de dados para todos os atores,
Fonte: Autores.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da pesquisa de campo serão apresentados e discutidos segundo a ordem
dos objetivos específicos expostos anteriormente, ou seja: o grau de conhecimento a respeito do
problema dos resíduos sólidos urbanos; o grau de gravidade atribuído à situação e as soluções
preferidas; os principais fatores favoráveis e restritivos à criação de um consórcio na região; e
as condições de cooperação e competição entre os Municípios para a criação do consórcio.
Apurou-se que 93% dos atores centrais possuem informações do problema da destinação
dos resíduos sólidos urbanos em seu Município. Este conhecimento, provavelmente, deve-se à
cobrança por parte dos órgãos ambientais e do Ministério Público, bem como, à repercussão
na mídia local que exige a construção de aterros sanitários e outras políticas públicas para
o setor. Esta consciência pode, também, ser resultado da proximidade dos atores com o
problema, uma vez que os Municípios estudados não são de grande porte, situação esta que
facilita um contato maior com demandas desta natureza.
Os resultados apontam que 75% dos entrevistados dispõem de informações de
como funciona um consórcio público intermunicipal. O resultado pode ser decorrente da
experiência vivenciada pelos entrevistados com o consórcio intermunicipal para a saúde em
funcionamento entre os Municípios da região do Médio Ivaí e outros, próximos. Ressalte-
-se que este conhecimento pode ser superficial, traduzindo-se em uma ideia geral sobre a
cooperação, mesmo porque a lei que disciplina os consórcios públicos é recente e estabeleceu
substanciais inovações.
Este grau de conhecimento tende a aumentar, alcançando os indivíduos que
demonstraram estar alheios ao conceito do que seja consórcio público, isto porque, dentre
os cargos eletivos para os Poderes executivos e legislativos, ocorreu uma renovação de mais
da metade das cadeiras, e os novos vereadores e prefeitos assumiram as funções no mês de
janeiro de 2009, possuindo pouco mais de dois meses de mandato na data da captação dos
dados. Com o passar do tempo certamente adquirirão as informações ainda estranhas ao
seu cotidiano.
O conhecimento do problema facilita a tarefa de conscientização dos atores centrais
sobre a necessidade de providências para a destinação correta dos resíduos sólidos urbanos.
Assim, a constituição de um consórcio que busque a cooperação pode requerer intervenções
pontuais que esclareçam os benefícios e limitações da atuação conjunta, visando reduzir o
desconhecimento de um quarto dos entrevistados.
Observa-se que 97,7% dos entrevistados consideram que a boa gestão dos resíduos
sólidos deve ser prioridade, quase a totalidade dos entrevistados. No entanto, esta
conscientização não garante a adoção de medidas imediatas, é preciso traduzi-la em ações
concretas. Esta prioridade deve ser de fato, conforme afirma o Prefeito municipal de Ivaiporã
que “às vezes estamos à frente da administração municipal, cheio de problemas, tem 300
(trezentas) prioridades, e a questão dos resíduos sólidos é uma prioridade absoluta, é uma
questão de saúde pública, e é por isso que estamos procurando resolver”. (Cyro Fernandes
Correia Júnior, Ivaiporã, 14/04/2009)
Dos entrevistados, 64% consideraram a destinação irregular de resíduos sólidos
urbanos como crítica ou séria, ou seja, um grau de seriedade alto, e 34% consideram como
grau médio.
O fato de uma parte considerável dos atores centrais não estar convencida de que o
problema é sério, pode ser explicado pelo que fora levantado na presente pesquisa. A destinação
dada ao lixo pelo Município de Arapuã se aproxima do que é exigido pela legislação. Assim,
o grau de seriedade atribuído ao problema pelos entrevistados deste Município não é muito
expressivo, uma vez que a forma de tratamento está minimizando as consequências que podem
decorrer de uma destinação completamente inadequada. Podem ser necessárias intervenções
pontuais capazes de esclarecer as consequências para a saúde pública e para as gerações futuras
da destinação inadequada, mesmo que as providências adotadas se aproximem do ideal.
Desta forma, observa-se que existe uma consciência de que os problemas apresentados
são sérios e de que a boa gestão dos resíduos sólidos urbanos deve ser buscada de forma
A conscientização da população foi apontada por 83,6% dos entrevistados. Isto se deve,
provavelmente, ao fato de que a sua ausência pode inviabilizar qualquer iniciativa pelo falta
de apoio a medidas que consumiriam parte do orçamento municipal para resolver problemas
que desconhece. Neste sentido, “[...] qualquer resistência que tivéssemos poderia ser superada
com um trabalho de conscientização, de sensibilização e de convencimento mesmo porque
explicando para a população [...] as vantagens, não vejo quem pudesse se opor a algo assim.”
(Cyro Fernandes Correia Júnior, Prefeito Municipal de Ivaiporã, Ivaiporã, 14/04/2009)
Há elementos que indicam a existência desta conscientização, uma vez que a mídia
local tem destinado espaço considerável à questão, motivada pela situação precária dos atuais
depósitos existentes, combinada com atuação mais rigorosa dos órgãos públicos, principalmente
por parte do Ministério Público que tem exigido dos órgãos ambientais e das prefeituras uma
solução definitiva ao problema. Outra situação que leva a esta hipótese é o fato de que a coleta
está sendo realizada de forma inadequada, utilizando-se de caminhões basculantes que não
oferecem condições de higiene e segurança aos trabalhadores e à população.
O apoio de órgãos públicos figura entre os aspectos que favorecem a constituição do
consórcio intermunicipal, sendo apontado por 79,5% dos entrevistados. Existe uma disposição
do Governo do Estado do Paraná em participar e incentivar a constituição de consórcios
intermunicipais de gestão de resíduos sólidos urbanos. (PARANÁ, 2007) Os órgãos estaduais
incentivam as soluções cooperadas fornecendo apoio técnico e auxiliando no processo de
formação de consórcios. Assim, este apoio pode estar presente na região do Médio Ivaí, sendo
necessário iniciar as discussões e buscar a colaboração do governo e dos órgãos públicos.
A tradição cooperativa entre os Municípios foi assinalada como fator favorável por
68,2% dos entrevistados. Na região do Médio Ivaí existe em funcionamento um consórcio
intermunicipal de saúde, o qual está colhendo resultados que agradam os Municípios
participantes. Assim, este fato pode influenciar positivamente na disposição dos Municípios
firmarem acordo para gerenciamento cooperativo dos resíduos sólidos urbanos.
Entre os atores centrais, 65,9% entendem que um fator favorável seria a capacidade dos
representantes políticos locais de colocar o problema dos resíduos sólidos urbanos acima dos
interesses partidários e eleitorais. Para que exista uma cooperação efetiva entre Municípios é
preciso esquecer as diferenças de configuração partidária e focar apenas em aspectos técnicos.
A conscientização de que a questão ambiental é importante e deve superar aspectos políticos,
pode conduzir a soluções eficientes e menos onerosas que as obtidas de forma individual.
O Prefeito Municipal de Arapuã, ao ser questionado se as diferenças político-
partidárias poderiam ser um limite na criação de um consórcio intermunicipal, afirmou:
“Olha! Acredito que sim, tem muitas opiniões. De repente precisa conversar. Precisa ser
trabalhado a consciência de todos os prefeitos e chegar ao consórcio.” (Deodato Matias,
Arapuã, 16/04/2009) Compartilha deste entendimento o Prefeito Municipal de Jardim Alegre.
Por outro lado, os Prefeitos de Ivaiporã e Lidianópolis entendem que estas questões pouca
influência exercem, podendo ser sintetizadas no pensamento de Marcos Sobreira: “Acredito
que o meio ambiente é soberano a tudo isso e não há problemas em relação a isto.” (Prefeito
Municipal de Lidianópolis, 16/04/2009)
A maioria dos entrevistados entende que o local do aterro sanitário deve ser definido
com base em critérios técnicos, ou seja: verificando as condições de menor agressão ao meio
ambiente, bem como a distância a ser percorrida para o transporte dos resíduos sólidos por
todos os Municípios que comporão o consórcio.
Assim, a localização do aterro sanitário pode ser discutida posteriormente à formação
do consórcio, definindo-se o local através de um estudo pormenorizado que poderá ser
realizado pelo quadro de pessoal que irá compor o consórcio intermunicipal. Esta providência
é interessante, uma vez que a discussão antecipada poderia criar barreiras e dificultaria a
aprovação da medida cooperativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se na pesquisa que quase a totalidade dos atores centrais (prefeitos,
vereadores, presidentes de associações comerciais e secretários municipais de meio ambiente)
possui o conhecimento de que os seus Municípios destinam incorretamente os resíduos
sólidos urbanos. A maioria considera a situação grave e séria, demandando, portanto, ações
corretivas imediatas.
O funcionamento de um consórcio intermunicipal é conhecido por mais da metade
dos entrevistados, sendo que há indícios da presença dos fatores que podem colaborar com
a implementação da solução cooperada nos municípios do Médio Ivaí. Os fatores restritivos,
por sua vez, foram identificados e se estiverem presentes, poderão ser transformados em
favoráveis com a adoção de providências a serem definidas para cada situação específica.
A formação de um consórcio intermunicipal para o tratamento e destinação dos resíduos
sólidos na região do Médio Ivaí encontra respaldo por parte dos atores centrais, os quais
entendem que a solução cooperada é mais viável do que a competição. Ressalte-se que estes
atores centrais possuem influência direta no processo de implementação de um consórcio, pois
cabem aos representantes dos Poderes executivos a iniciativa da medida e aos representantes
dos Poderes legislativos a discussão, aprimoramento e a autorização, mediante lei, para que
o consórcio seja constituído, bem como, à sociedade organizada o acompanhamento, apoio
e cobrança de soluções.
No entanto, apesar das condições favoráveis, é necessário ainda avaliar a receptividade do
projeto junto à comunidade. Isso se torna relevante porque o apoio popular é indispensável para
a implantação e legitimação do consórcio. Primeiramente porque programas governamentais
para a área ambiental, principalmente para a questão do lixo, carecem de uma mudança de
comportamento geral, fato este que estará prejudicado caso a população não compreenda a
importância do assunto e as consequências do descaso. Em segundo lugar, porque a medida
necessita de aprovação política, seja do prefeito municipal ou dos vereadores, os quais poderão
ser influenciados pelas suas bases eleitorais. No entanto, este processo de esclarecimento e
convencimento pode ser realizado dentro da etapa de discussão do protocolo de intenções,
através de audiências públicas e reunião com setores mais resistentes à medida.
Ficou evidenciada a disposição cooperativa entre os Municípios pesquisados, facilitando
o processo de convencimento dos poderes políticos das vantagens oferecidas pelo modelo
a ser implementado. Constatou-se que os atores centrais entendem que estão presentes a
cooperação e a competição nas relações entre os Municípios que integram o Médio Ivaí, com
prevalência do modelo cooperativo. A competição não anula necessariamente a cooperação.
Ambos estão presentes, e a prevalência da cooperação reflete a necessidade criada pelo novo
modelo republicano que levou à descentralização de serviços. Os Municípios buscam arranjos
para suportar as novas atribuições, ou seja: para prestarem um serviço público de qualidade,
unem forças. Este fenômeno é observável principalmente em Municípios médios e pequenos
que convivem com ausência de recursos e deficiências estruturais que dificilmente poderiam
permitir a prestação de um serviço de qualidade sem comprometer outras áreas não menos
importantes. Desta forma, é razoável que a pesquisa apontasse para a prevalência do modelo
cooperativo entre os Municípios do Médio Ivaí, uma vez que são Municípios pequenos e
médios, os quais convivem com a ausência de recursos e veem na parceria uma saída para
cumprirem a sua missão.
A prioridade com que o assunto deve ser tratado ainda se constitui em um fato a ser
analisado, pois existe um prévio entendimento de que a questão deve figurar entre as mais
importantes, no entanto outras questões têm influenciado, e os recursos direcionados a
outras áreas que possuem um apelo maior na hora da decisão do governo. Portanto, devem-
se considerar, na análise da disposição dos atores para criar um consórcio, outros fatores
políticos e culturais que não puderam ser captados nesta pesquisa. Como a experiência tem
demonstrado, evidências de vantagens econômicas, técnicas e ambientais, embora necessárias,
podem não ser suficientes para sustentar a implementação de novas políticas públicas.
Atualmente não existe, na visão dos atores centrais, pessoal técnico capacitado para
realizar o trabalho de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. O consórcio intermunicipal
poderia ser uma solução para esta questão, pois as pessoas estarão trabalhando diretamente
com o assunto, acumulando experiências e realizando cursos de capacitação para prestar um
serviço profissional e eficiente, evitando a constante substituição de pessoal.
A pesquisa não esgota o tema em discussão, pois este não era o objetivo do trabalho.
Como pesquisa exploratória e inédita, buscou-se desencadear uma discussão sobre a
necessidade e alternativas de políticas públicas de maior eficiência na gestão de resíduos
sólidos, como propor elementos que possam servir de ponto de partida a outras investigações
que confirmem e ampliem as tendências identificadas. Esse é o caso de levantamentos sobre
a viabilidade técnica, econômica e ambiental do consórcio e de programas educacionais que
enfatizem a mudança de hábitos e valores em relação ao tratamento e à produção de resíduos
sólidos, a necessidade de reduzir o consumismo e o desperdício, e a valorização do espaço
público e do meio ambiente.
O essencial é que não cesse o debate sobre o tema e que esta contribuição sirva de
combustível para alimentar ideias que venham a solucionar o problema, que é urgente. O
adiamento de decisões pode trazer consequências irreversíveis ao meio ambiente e à saúde
pública.
REFERÊNCIAS
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