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História | Paraná 4o.

ano
Luana Zucoloto Mattos, Maria Bethânia de Araujo, Anos Iniciais
Roland Cirilo da Silva e Vanessa Carneiro Rodrigues

Paraná

Curitiba
2021
a
n ic
c

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c Diretor-Geral
Daniel Gonçalves Manaia Moreira
Ilustrações
Bel Pardal, Caco Bressane, Clara Gavillan,
fi

Diretor Editorial Elder Galvão, Vanessa Alexandre


Joseph Razouk Junior Editoração
Gerente Editorial Grafo Estúdio
Júlio Röcker Neto Pesquisa Iconográfica
Gerente de Produção Editorial Júnior Guilherme Madalosso
Cláudio Espósito Godoy Cartografia
Coordenação Editorial Ângela D. Barbara e Talita Kathy Bora
Silvia Eliana Dumont Engenharia de Produto
Coordenação de Arte Solange Szabelski Druszcz
Elvira Fogaça Cilka
Coordenação de Iconografia
Susan R. de Oliveira Mileski
Autoria
Luana Zucoloto Mattos, Maria Bethânia de Araujo,
Roland Cirilo da Silva e Vanessa Carneiro Rodrigues. Produção
Reformulação dos originais de Liz Andréa Dalfré Positivo Soluções Didáticas Ltda.
Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário
Edição de Conteúdo 80440 -120 – Curitiba – PR
Anna Baratieri (Coord.), Lysvania Villela Cordeiro (Coord.), Tel.: (0xx41) 3312-3500
Luiz Lucena (Coord.), Cynthia Amaral, Vanessa Carneiro Site: www.sistemapositivodeensino.com.br
Rodrigues, Willian Funke e EPN Editoria e Projetos
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Edição de Texto Gráfica e Editora Posigraf Ltda.
Shirlei França dos Santos Rua Senador Accioly Filho, 500
Revisão 81310-000 – Curitiba – PR
Jessica Seixas Fax: (0xx41) 3212-5452
Edição de Arte E-mail: posigraf@positivo.com.br
Juliana Ferreira Rodrigues 2021
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Fabíola Castellar editora.spe@positivo.com.br
Ilustrações da folha de rosto: Ailustra
Ilustração do sumário: Adilson Farias Todos os direitos reservados à
Imagens:©Shutterstock/Creativika Graphics, Mika Positivo Soluções Didáticas Ltda.
Besfamilnay, Moonnoon, olnik_y, yopinco, Sudowoodo,
Sunward Art, SpicyTruffel, WongJogja, YummyBuum

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)


(Angela Giordani / CRB 9-1262 / Curitiba, PR, Brasil)

S623 Sistema Positivo de Ensino: ensino fundamental : regional : 4º ano : história : Paraná
/ Luana Zucoloto Mattos ... [ et al. ]. – Curitiba : Positivo Soluções Didáticas, 2021.
: il.

ISBN 978-65-5540-243-8 (Livro do aluno)


ISBN 978-65-5540-242-1 (Livro do professor)

1. Educação. 2. História – Estudo e ensino. 3. Ensino fundamental. I. Araujo, Maria


Bethânia de. II. Silva, Roland Cirilo da. III. Rodrigues, Vanessa Carneiro. IV. Título.

CDD 370

© 2019 Positivo Soluções Didáticas Ltda.


o
História | 4 . ano

sumário

1. A cultura dos povos do Paraná ..... 4


2. Deslocamentos populacionaiss nnoo
Paraná ...... 116
6

3. Movimentos políticos e sociais noo


Paraná ..... 3
344
1. A cultura dos
povos do Paraná

Neste capítulo, você vai estudar algumas das

manifestações culturais da população paranaense.

A cultura do Paraná recebeu a influência

de muitos povos, como dos indígenas, que

já habitavam estas terras, dos portugueses

colonizadores e de africanos. Mais tarde,

poloneses, alemães, italianos, ucranianos,

e outros imigrantes também contribuíram

Clara Gavilan. 2020. Digital.


para a formação cultural do estado.
Diga aí
Você con
hece algu
m artista
ou vive n que nasc
o Paraná eu
? Se con
atividade hece, a q
artística ue
ele se de
dica?

O PARANÁ É RICO EM MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS


O curitibano Poty Lazzarotto (1924-1998) foi um dos grandes artistas que re-
trataram o nosso Paraná.
Ele se tornou bastante conhecido pelos seus 46 murais expostos em várias
cidades do Brasil, e seu primeiro trabalho, também um dos mais famosos, é o pai-
nel histórico da Praça Dezenove de Dezembro, localizado no Centro da cidade de
Curitiba, capital do Paraná.

©P. Imagens/Pith

LAZZAROTTO, Poty. 1º. Centenário da Emancipação Política do Estado do Paraná. 1953. 1 mural em azulejo, 3,45 m × 30 m.

Esse painel é composto de azulejos pintados em tons de azul e representa


a história do desenvolvimento do estado desde que se tornou independente da
província de São Paulo, no dia 19 de dezembro de 1853.
O painel foi inaugurado no ano de 1953 para Glossário
comemorar os 100 anos dessa independência e província: conjunto das divisões
administrativas que existiam no
apresenta sete cenas, organizadas de acordo com o Brasil Império, cada uma gover-
tempo em que os acontecimentos ocorreram. nada por um presidente.

História – Paraná - 4o. ano 5


Diga aí
Leia as cenas reproduzidas a seguir e as descreva relacionando essas imagens
com o que você estudou sobre a história do Paraná.

1 2 3

©P. Imagens/Pith
4 5

6 7

Criarte
Produzir um painel de azulejos é um processo criativo que envolve várias eta-
pas, desde a definição do tema até a instalação final.
Que tal criar um painel de imagens sobre a história da sua cidade?
Para isso, siga as instruções do professor.

6 1. A cultura dos povos do Paraná


FANDANGO NO PARANÁ

viu
já ou
Você
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falar
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Representação
de fandango, o
qual une dança,
tradição e
divertimento

Fandango é o nome de uma dança tradicional em diversos estados do Brasil.


Em cada local, são observadas algumas diferenças.
No Paraná, por exemplo, o fandango se originou das tradições portuguesas e
espanholas, mas acabou se misturando com as tradições dos povos que viviam no
litoral. Por esse motivo, foi chamado de "fandango caiçara".
As canções são acompanhadas por violas e rabecas e dançadas em pares ou
somente por homens. Existem dois tipos de danças: as batidas e as valsadas.
As danças batidas são rápidas e têm como característica o sapateado, realizado
geralmente com tamancos golpeados com força em um assoalho de madeira. Essas
batidas são chamadas de "rufar", pois remetem a tambores. Para acompanhar o sa-
pateado, os dançarinos batem palmas ao som da música. As danças valsadas, por
outro lado, são lentas e dançadas por um casal durante toda a execução da música.

História – Paraná - 4o. ano 7


Os tocadores de fandango

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Gerlof
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©P
Grupo musical
de fandango
tocando em um
encontro de tradições
na cidade de Antonina

Imagine um tempo em que não havia celular e nem televisão... Computador?


Nem pensar!
As pessoas se divertiam de outras maneiras,
e uma delas era fazer música. Para isso, utiliza-
vam diversos instrumentos.
No fandango, a rabeca, o adufe e a viola
são os instrumentos mais importantes e fei-
tos à mão pelos artesãos da comunidade.
A rabeca e a viola são de corda, e o
adufe é uma espécie de pandeiro quadrado,
©W

de origem árabe, que tem membranas (geral-


ikim
ed
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Co

mente de couro) esticadas dos dois lados. Em


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do
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vez do adufe, também pode ser utilizado o tradi- ckb
ook
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cional pandeiro brasileiro. Adufe é um instrumento


No fandango, algumas vezes, ocorre uma tradicional de origem
árabe muito utilizado
espécie de desafio (conhecido como porfia) en- em Portugal, de onde foi
tre os grupos musicais. trazido para o Brasil

8 1. A cultura dos povos do Paraná


Diga aí
1 Você já foi a uma festa onde se dançava fandango? Como foi essa experiên-
cia?
2 Que danças você conhece?
3 Que povos europeus influenciaram o fandango e que povos do Paraná se jun-
taram aos europeus nessa criação coletiva?
4 Quais são os principais instrumentos usados no fandango e como eles eram
feitos?
5 Quais são os dois tipos de danças executadas no fandango paranaense? Ex-
plique as diferenças entre ambas.

PARANISMO OU MOVIMENTO PARANISTA


Se você quisesse se transformar em um personagem de quadrinhos ou de
desenho animado, como você seria? Qual seria a sua identidade?
Assim como acontece com um personagem, um bairro, uma cidade ou até
mesmo um estado podem ter uma identidade. Por que não?
Entre 1920 e 1930, em Curitiba, nasceu o Movimento Paranista, também co-
nhecido como Paranismo. Naquela época, o estado do Paraná estava atravessan-
do uma fase de muito progresso e de desenvolvimento, e as pessoas viviam em
plena modernidade. Como objetivo político, o governo da época esperava criar
uma imagem do estado que unisse os paranaenses em torno de um ideal comum
de crescimento e, para isso, precisava criar uma identidade, como se o Paraná fos-
se um personagem.

Você imagina que elementos


representam o Paraná?

História – Paraná - 4o. ano 9


a/Coleção Particular
Considerando os vários elementos repre-
sentativos do Paraná, diversos artistas, escrito-

©Coleção Manoel Jorge de Lacerd


res e intelectuais, em sua maioria curitibanos,
decidiram marcar suas obras com aquilo que o
estado tinha de mais característico: a araucária
e sua semente, o pinhão.

Fonte de inspiração

©Wikimedia Commons/Webysther Nunes ©Wikimedia Commons/Rodrigomorante

eiros. Pinhão, semente


LANGE DE MORRETES, Frederico. Pinh Araucária, pinheiro
75 cm. da araucária
1921. 1 óleo sobre tela, color., 65 cm × que existia em
Coleção Manoel Jorge de Lace rda.
abundância no Paraná /FCC
mória
sa da Me
rvo Ca
©Ace

Assim, esses elementos pas-


saram a fazer parte de desenhos,
pinturas, esculturas, fachadas, le-
tras de música e outras expressões
artísticas, junto à bandeira do esta- Casa do Dr. Bernard Leinig, projetada
do, ao café e à erva-mate. em estilo paranista por João Turin

10 1. A cultura dos povos do Paraná


Embora nem todos os curitibanos da época conhecessem a intenção do mo-
vimento, o Paranismo repercutiu na cidade. Como forma de propaganda, símbo-
los de araucária foram reproduzidos em vários locais e são encontrados ainda na
atualidade, caso da pinha, o fruto onde estão os pinhões.
Bel Pardal. 2020. Digital.

Petit-pavé (pedras de calçada) na ©Shutter


stock/Alf Ribeiro

praça General Osório, no Centro de


Curitiba, capital do Paraná

©Coleção Particular
com...
Conectando
Observe novamente a imagem que
mostra as colunas da casa de Bernard Leinig,
em Curitiba. E, ao lado, veja os desenhos tam-
bém criados pelo escultor João Turin.
De acordo com a leitura das imagens,
responda a esta questão: Em sua opinião, os
desenhos têm relação com as colunas mos-
tradas nas fotografias? Por quê?

TURIN, João. Estudo de colunas e molde de


capitel. Século XX.

História – Paraná - 4o. ano 11


Criarte
1 Imagine que você fará uma viagem muito longa para outro país. Que objetos,
alimentos, lugares ou músicas lhe trariam lembranças da região onde você
mora atualmente? Por meio de desenho ou colagem de imagens, faça um re-
gistro criativo para responder a essa pergunta. Depois, compartilhe seu traba-
lho com um colega e explique a ele a sua escolha.
2 Verifique as imagens reproduzidas a seguir, marque X na que foi produzida
durante o Movimento Paranista e justifique a sua resposta.

São Paulo
©Coleção Marqueses de Bonneval/Coleção Particular,
DEBRET, Jean-Baptiste. Paranaguá. 1827. 1 aquarela sobre papel, color., 7,7 cm x 20 cm. Coleção
Marqueses de Bonneval. Coleção Particular, São Paulo.
©Coleção Simeão Mafra Pedroso

©Coleção Wladimir Trombini

BAKUN, Miguel. Pereiras. [s.d.] 1 óleo LANGE DE MORRETES, Frederico. Rei


sobre tela, color., 42 cm × 51 cm. Coleção solitário. 1953. 1 óleo sobre tela, color.,
Simeão Mafra Pedroso. 57 cm × 70,5 cm. Coleção Wladimir Trombini.

12 1. A cultura dos povos do Paraná


O PARANÁ DÁ MÚSICA!
No Paraná, há muitos músicos que se desta-
cam na música clássica, no chorinho, no jazz, na MPB
e também na música caipira ou regional.
Você já ouviu músicas desses gêneros
musicais? Que tal conhecê-los melhor escu-
tando alguns artistas paranaenses?

O violonista e maestro
Waltel Branco, em 2011

do
Interpretan ©Agência O Globo/Gu
ito Moreto

1 Formem grupos e, com o auxílio do professor, pesquisem a vida e a obra de


músicos, compositores ou grupos de artistas paranaenses. Na sequência,
eleja a música de que mais gostou entre as pesquisadas e responda a estas
questões:
a) Qual é o tema central da música?
b) Que sensação essa obra despertou em você?
c) Como você descreveria essa música?
2 Pesquise o gênero musical que predomina nas obras tocadas pelos grupos ou
músicos indicados a seguir. Se necessário, peça ajuda ao professor.
a) Orquestra a Base de Corda de Curitiba:
b) Orquestra a Base de Sopro de Curitiba:
c) Grupo Viola Quebrada:
d) Waltel Branco:
e) Glauco Solter:
f) Etel Frota:

História – Paraná - 4o. ano 13


Muitos músicos da atualidade se beneficiam da tecnologia utilizando aplicati-
vos para gravar, produzir e divulgar seus trabalhos artísticos.
Esse é o caso do grupo paranaense A Banda Mais Bonita da Cidade, que al-
cançou um grande público quando apresentou a música Oração nas redes sociais
em 2011.

©Folhapress/Carlos Cecconello
Esse grupo reúne diferentes
estilos de música e grava com-
posições próprias e de outros
compositores de uma maneira
diferente, pois interpretam as
letras como se estivessem em
uma peça teatral.

A Banda Mais Bonita


da Cidade em foto de
divulgação

Criarte
Agora, imagine que você e seus colegas vão criar um vídeo para a música de
um artista paranaense. Escolham uma das canções pesquisadas anteriormente e
leiam a letra. Se tal obra não tiver uma letra, analisem o título, as emoções e sensa-
ções que desperta e imaginem como poderiam representar esses elementos em
um vídeo do movimento paranista. Para fazer isso, considerem estas perguntas:
a) Qual e como seria o local de gravação?
b) Esse local seria o mesmo, do início ao fim, ou mudaria no decorrer da mú-
sica?
c) Haveria pessoas, animais ou objetos sendo exibidos no vídeo? Quais?
d) No caso de pessoas, o que elas estariam fazendo?
Descrevam as ideias no caderno e elaborem um roteiro para o que pensaram
em realizar.

14 1. A cultura dos povos do Paraná


Você sabia que a língua portuguesa ultrapassa os limites do Brasil na
fronteira com o Paraguai?
Leia o texto seguinte e entenda melhor como isso ocorre.

O português da ponte pra lá


Entenda como a língua portuguesa ultrapassa a fronteira do Brasil no extremo
oeste do Paraná

Você já deve ter ouvido falar da Ponte da Amizade, não é? Ela foi construída
entre 1950 e 1960 para ligar Foz do Iguaçu a Ciudad del Este, no Paraguai.
Todos os dias, muitas pessoas atravessam essa ponte para fazer turismo ou
compras no país vizinho. Mas se no Brasil se fala português e no Paraguai se fala
espanhol, como todas essas pessoas se entendem?
Foi essa pergunta que despertou o interesse do
sociolinguista Thiago Bolívar, que fez uma pesquisa sociolinguista
para saber como as duas línguas circulam entre es- é o pesquisador que se ocupa
de estudar os aspectos sociais
ses países. Ele descobriu que em Ciudad del Este do uso da língua.
há uma forte presença da língua portuguesa, tanto
em forma escrita (placas de sinalização, anúncios, cardápios) quanto na forma oral,
principalmente nas trocas comerciais. Em Foz do Iguaçu, a língua espanhola até
aparece em algumas placas de advertência e outros avisos, mas os comerciantes
iguaçuenses, diferente de seus vizinhos, não se expressam com a mesma facilidade
na língua estrangeira. Em outras palavras, quando os turistas e consumidores pa-
raguaios (ou argentinos ou chilenos ou bolivianos...) chegam ao Brasil, eles sentem
muito mais o impacto de ter de se comunicar em uma língua estrangeira do que
os brasileiros, que podem continuar a falar português normalmente do lado de lá
da ponte.
Uma das explicações para isso, segundo Bolívar, é o lugar de destaque que o
Brasil e, por consequência, a língua portuguesa ocupam na América do Sul. E não
apenas porque é o maior e mais populoso da região. Por ser considerado um líder
regional por causa de sua importância socioeconômica, a língua oficial do Brasil se
torna mais prestigiada. Assim, os paraguaios e argentinos que vivem na fronteira com
o Brasil sentem mais necessidade de aprender a se comunicar em língua portuguesa
do que os brasileiros em aprender espanhol.

História – Paraná - 4o. ano 15


2. Deslocamentos
populacionais no Paraná

Neste capítulo, você vai estudar os deslocamentos

populacionais originários de outras partes do Brasil

e de outros países em direção ao Paraná.

Também vai descobrir como esses grupos

de pessoas ajudaram a construir o

estado como é na atualidade.

Bel Pardal. 2020. Digital.


AS MIGRAÇÕES NO PARANÁ
A população do Paraná é formada por imigrantes, descendentes de diversos
povos, e migrantes, brasileiros vindos de outros estados. São pessoas que vieram
para o estado em diferentes momentos, geralmente em busca de uma vida melhor.

Diga aí
Leia, a seguir, trechos de depoimentos de imigrantes que chegaram ao Paraná
nos últimos anos.

Depoimento 1: Jean Patrice Michel, 35 anos, haitiano.


“Fui encaminhado para várias entrevistas de trabalho e, também, con-
segui uma vaga em um curso técnico de química. Nunca pensei em seguir
nessa área, mas estou apaixonado pela profissão, até pensando em ir além
e fazer uma faculdade”, afirma.
CONHEÇA a história de imigrantes que recomeçaram a vida no Paraná. 2018. Disponível em: <https://
www.bemparana.com.br/noticia/conheca-a-historia-de-imigrantes-que-recomecaram-a-vida-no-
parana#.XZISmUZKiiM>. Acesso em: 27 abr. 2020.

Depoimento 2: Carlos Arturo Petit, 22 anos, venezuelano.


“Aqui consegui melhores oportunidades e me adaptei bem ao clima.
A preservação da história e a parte cultural me lembra muito a minha
cidade natal. Estou feliz e não penso em voltar”, afirma.
CONHEÇA a história de imigrantes que recomeçaram a vida no Paraná. 2018. Disponível em: <https://
www.bemparana.com.br/noticia/conheca-a-historia-de-imigrantes-que-recomecaram-a-vida-no-
parana#.XZISmUZKiiM>. Acesso em: 27 abr. 2020.

Converse com o professor e os colegas sobre os depoimentos apresentados,


em seguida, responda a estas questões:
1 Quais são as origens desses imigrantes?
2 Você e sua família já migraram ou conhecem algum migrante? Converse so-
bre esse assunto com os colegas e o professor.

História – Paraná - 4o. ano 17


Elder Galvão. 2020. Colagem digital.

AS MIGRAÇÕES DA ATUALIDADE NO PARANÁ


Migrar é se deslocar, movimentar-se, ir de um lugar para outro. As migrações
podem ocorrer entre lugares não tão distantes uns dos outros, como também
acontecer entre regiões bastante longínquas. As pessoas que fazem esses desloca-
mentos são chamadas de migrantes. Contudo, há algumas diferenciações: quem
vai a outro país para morar é chamado de emigrante; mas, quando esse indivíduo
chega ao novo país, passa a ser um imigrante.
Na atualidade, o Paraná recebe migrantes, isto é, pessoas que chegam de ou-
tras regiões do Brasil, e imigrantes, que são as pessoas que se deslocaram do país
de origem para estabelecer sua moradia nestas terras. Entre os motivos que fazem
as pessoas saírem do lugar onde vivem para morar no Paraná, podemos citar a bus-
ca por emprego e por melhor qualidade de vida. Em vários casos, essas pessoas
passaram por dificuldades no local de origem, enfrentando desemprego, desas-
tres naturais (como terremotos ou furacões) ou violência, por exemplo. Por causa
desse tipo de situação, buscam um novo lugar para refazer a vida, muitas vezes,
quando possível, acompanhadas da família.

18
Eu, historiador
Considere as perguntas a seguir e entreviste um migrante ou imi-
grante que more próximo de sua casa, trabalhe ou estude na sua es-
cola ou ainda faça parte de sua família.

a) Qual é o seu nome?

b) De onde você veio e quando migrou?

c) Que motivos causaram a sua migração?

d) Os objetivos da migração foram alcançados? Explique a sua resposta.

e) Do que você mais gostou quando chegou ao Paraná?

f) Que dificuldades você enfrentou quando chegou ao Paraná?

g) Do que você sente mais falta em relação ao seu local de origem?

História – Paraná - 4o. ano 19


AS MIGRAÇÕES NO PASSADO
Estudamos os deslocamentos de pessoas que ocorreram na região nos últi-
mos anos. Entretanto, a história das migrações no território que atualmente forma
o Paraná é antiga.
Vamos descobrir mais informações sobre esse assunto?

Os paulistas chegaram ao litoral

O território parananense foi ocupado há


muitos anos. Quando os europeus chegaram,
encontraram indígenas vivendo aqui. Entre
os anos 1550 e 1600, foram os portugueses e
espanhóis que vieram para cá. Anos mais tar-
de, chegaram os moradores da Capitania de
São Paulo, que se estabeleceram no litoral.
Os paulistas se instalaram aqui com o
objetivo de explorar ouro e enriquecer e, as-
sim, deram início aos primeiros povoados,
como o de Paranaguá e Antonina. Nos garim-
pos, os trabalhos mais pesados eram realiza-
dos por africanos e indígenas escravizados.
A partir de 1600, a fim de obter mais
ouro, os paulistas subiram até o Planalto, mas
como não encontraram esse metal em gran-
de quantidade, iniciaram a criação de gado,
ocupando grandes áreas do território. Nessa
atividade, também utilizavam mão de obra
escravizada africana e indígena. Até 1829, a
população do território que atualmente co-
nhecemos por Paraná era formada, princi-
Vanessa Alexandre. 2020. Digital.

palmente, por paulistas, africanos e indígenas


escravizados, além das pessoas que nasce-
ram do casamento entre esses indivíduos.

20 2. Deslocamentos populacionais no Paraná


A chegada de novos imigrantes

Entre os anos 1801 e 1900, alguns imigrantes chegaram às terras paranaenses.


No ano de 1829, foi fundada a primeira colônia de imigrantes, chamada Rio Negro,
onde se instalaram famílias açorianas e alemãs.
A partir de 1850, grupos de europeus e asiáticos começaram a chegar em
maior número ao Brasil. Isso ocorreu por causa de uma lei criada em 1850, que
proibia a entrada de novos africanos na condição de escravizados no Brasil.
Naquela época, a maioria da população paranaense se dedicava à produção
de erva-mate e à criação de gado. Em 1888, a escravidão foi abolida no Brasil, e
a imigração foi ainda mais incentivada para que europeus e, em menor número,
asiáticos, passassem a realizar o trabalho anteriormente feito pelos escraviza-
dos. O governo imperial entendia que as terras do Paraná estavam pouco povoa-
das, por isso, planejou aumentar a população dessa parte do Brasil com pessoas
vindas principalmente da Europa.

Eu, historiador
Leia o trecho de documento a seguir.

Sendo conveniente ao meu real serviço e ao bem público, aumentar


a lavoura e a população, que se acha muito diminuta neste Estado; e
por outros motivos que me foram presentes: hei por bem, que aos es-
trangeiros residentes no Brasil se possam conceder datas de terras [...].

BRASIL. Collecção das Leis do Brazil de 1808. Rio de Janeiro:


Typographia Nacional, 1891. p. 166. Disponível em: <http:// Glossário
bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/18319>. Acesso em: datas de terras: lotes, pe-
27 abr. 2020. daços de terra.

De acordo com o documento, responda a estas questões:


1 O que o governo permitia conceder aos imigrantes?
2 Qual era a intenção do governo ao conceder terras aos imigrantes?

História – Paraná - 4o. ano 21


As colônias de imigrantes

No Paraná, muitos imigrantes que chegaram a partir de 1870 se estabelece-


ram perto de centros urbanos nas regiões de Guaraqueçaba, Cerro Azul (Colônia
Assungui), Curitiba, Paranaguá e Morretes. Algumas colônias para onde os imigran-
tes foram trazidos prosperaram; outras colônias desapareceram, pois elas esta-
vam isoladas das principais cidades e sem comunicação com essas áreas, pois
faltavam estradas, meios de transporte e de comunicação adequados.
Os imigrantes trabalhavam na agricultura produzindo alimentos para abas-
tecer a população das cidades. Alguns trabalhavam em obras públicas, como na
construção de estradas. Entre esses imigrantes, havia alemães, poloneses, ucra-
nianos, russos, suíços, suecos, italianos, espanhóis e franceses.

Lápis na mão
1 No caça-palavras, encontre os nomes atuais dos países de origem dos imi-
grantes que vieram para o Paraná a partir de 1870.

E T I T Á L I A L U Ç Z
A L E M A N H A T C G E
T E C G B H U G Y R D S
X D S E S V E T X Â S P
F Q U F G B L O Ç N X A
R A Í S U É C I A I U N
A W Ç R R E U S I A M H
N R A F T W F D V R A A
Ç J B P O L Ô N I A Q H
A H L C G B H U F K C N
N R Ú S S I A Z C F K E

2 Marque X na alternativa que indica o tipo de trabalho realizado pelos imigrantes.


Os imigrantes se dedicavam à agricultura produzindo alimentos que
abasteciam a população das cidades.

Os imigrantes trabalhavam em fábricas de chapéus, luvas e tecidos.

22 2. Deslocamentos populacionais no Paraná


Motivos da imigração e dificuldades no Paraná

As guerras na Europa continuaram após 1900 e diversos países se envol-


veram nesses conflitos. Tal situação causou miséria e dificuldades para a popu-
lação local. Diante dessas condições, um novo grupo de europeus resolveu vir
para o Paraná, em busca de uma vida melhor.
Esses imigrantes chegaram quando já não havia terras disponíveis nas prin-
cipais cidades paranaenses e, por isso, instalaram-se em áreas distantes das ci-
dades. Na nova terra, eles precisaram derrubar matas, abrir estradas e construir
moradias.

Clara Gavilan. 2020. Digital.

O trabalho na lavoura era realizado por todos os integrantes da família, até


mesmo pelas crianças. As atividades rurais eram ainda mais difíceis para os imi-
grantes que vinham de regiões frias, pois eles não estavam acostumados com o ca-
lor intenso do verão, com os insetos da região e com as doenças tropicais. Por causa
de tantas dificuldades, muitas pessoas não conseguiram permanecer em solo pa-
ranaense e voltaram para o país de origem. Outros imigrantes decidiram se dedicar
ao comércio e ao artesanato e conseguiram se mudar para as cidades.

História – Paraná - 4o. ano 23


Lápis na mão
Marque C nas frases corretas e I nas incorretas.
Muitos imigrantes se deslocaram para o Brasil e para o Paraná por cau-
sa de situações de guerra e da miséria que enfrentavam na Europa.

Alguns imigrantes que vieram para viver no campo não se adaptaram


às condições do ambiente e decidiram trabalhar no comércio ou com
artesanato.

A vida dos imigrantes era fácil, pois receberam terras, casas e dinheiro
suficiente do governo para recomeçar a vida.

car?
Vamos brin
Na viagem de deslocamento, os imigrantes trouxeram vários objetos: ins-
trumentos de trabalho; lembranças de parentes e amigos que deixaram na ter-
ra natal e objetos relacionados às histórias de vida de cada um. Esses objetos e
lembranças normalmente tinham valor sentimental.
No material de apoio, constam imagens que representam exemplos de ob-
jetos trazidos por imigrantes. Recorte essas imagens e cole-as conforme indicado.

INSTRUMENTOS DE TRABALHO OBJETOS COM VALOR SENTIMENTAL

24 2. Deslocamentos populacionais no Paraná


Vida dos imigrantes em diferentes tempos

Mesmo com todas as dificuldades, os imigrantes continuaram chegando em


grandes grupos ao Brasil durante todos os anos de 1800.
Com o passar do tempo, eles incorporaram experiências quanto à alimenta-
ção, às vestimentas, às festas, ao trabalho, à cultura e aos costumes dos habitantes
que já viviam na região. Os imigrantes também compartilharam as suas experiên-
cias e desenvolveram uma nova forma de viver.

Os europeus e os asiáticos que imi-


graram para a região onde atualmente
se localiza o município de Araucária
são um exemplo disso. Nessa região,
chamada antigamente de Tindiquera,
vivia o povo indígena Tingui.

Nos anos de 1600, os primeiros


colonizadores europeus, descen- Caco Bressane. 2020. Digital.

dentes de portugueses, foram mo-


rar na região, onde cultivavam a terra
para sobreviver e, nos momentos de
folga, realizavam festas. Por influência
dos indígenas, esses europeus adota-
ram o hábito de tomar chimarrão du-
rante as suas atividades.

História – Paraná - 4o. ano 25


A partir de 1801, imigrantes europeus, entre eles, ita-
lianos, alemães e, principalmente, poloneses, começaram
a se estabelecer em Araucária.
Essas pessoas trabalhavam em mutirão, uma forma
de colaboração em que as famílias se uniam para roçar a

Caco Bressane. 2020. Digital.


terra, plantar ou colher milho, feijão, trigo, entre outros ali-
mentos. Após esse trabalho coletivo, os imigrantes organi-
zavam pequenos bailes domésticos.
Essas pessoas também trabalhavam nas plantações
de erva-mate e na extração de madeira. Como resultado
Os imigrantes
desse tipo de atividade, uma parte significativa da vegeta- poloneses falavam
ção natural foi devastada. uma língua de origem
eslava. No Paraná, eles
A partir de 1970, outras pessoas começaram a se eram chamados de
deslocar para Araucária com o objetivo de trabalhar nas polacos, termo muitas
vezes usado para fazer
indústrias que surgiam na região. Naquela época, muitas
referência a pessoas
pessoas que viviam em áreas rurais, incluindo descen- de olhos e cabelos
dentes de imigrantes, migraram para a área urbana de claros, falantes de
línguas eslavas, como
Araucária, aumentando a população da cidade. russos e ucranianos,
que também imigraram
para Araucária.

Lápis na mão
1 De acordo com o que foi explicado sobre a população de Araucária, relacione
as duas colunas.
A Indígenas B Descendentes de C Poloneses
portugueses
Imigraram para a região de Araucária a partir dos anos 1800 e trabalha-
vam na agricultura formando mutirões.
Foram os primeiros habitantes de Araucária.

Chegaram à região nos anos 1600 e adotaram o hábito de tomar chi-


marrão.
2 O que a extração de madeira ocasionou no ambiente natural de Araucária?

26 2. Deslocamentos populacionais no Paraná


t e r p r e t a n d o
I n
Veja esta reprodução da obra Festa de polacos. Nela, o pintor Paul Garfunkel
representou uma festa de imigrantes poloneses na região de Mallet.
©Coleção Luiz Roberto Soares

GARFUNKEL, Paul. Festa de polacos. 1979. 1 óleo sobre tela, color., 54 cm × 73 cm. Coleção Luiz Roberto Soares.

De acordo com a leitura da imagem, responda a estas questões no caderno:


a) O que os imigrantes retratados estão fazendo?
b) De que maneira os personagens estão vestidos?
c) De que maneira a paisagem foi representada?

História – Paraná - 4o. ano 27


A ocupação de outras
regiões do Paraná

Noroeste
A partir de 1870, vários grupos de
Entre 1960 e 1980, a região
imigrantes começaram a ocupar e co- recebeu muitos migrantes
lonizar diversas regiões do Paraná. Nos vindos do Norte e do
Nordeste do Brasil. Eles
anos 1900, migrantes brasileiros tam- trabalhavam no cultivo de
bém chegaram ao estado, contribuin- erva-doce e de café.
do para a formação da atual população
paranaense.
Leia o infográfico e conheça os
grupos de maior destaque na ocupação
do estado.

Oeste
Em Foz do Iguaçu, Região Oeste, formou-se a
maior colônia de imigrantes árabes do Paraná.
Eles chegaram principalmente durante a
Segunda Guerra Mundial.

Sudoeste e Centro-Sul
Por volta de 1890, colônias de imigrantes, principalmente de poloneses e
ucranianos, estabeleceram-se no sudoeste do estado. A partir de 1920, chegaram
catarinenses e sul-rio-grandenses, descendentes de alemães, poloneses e
italianos. Esses grupos trabalhavam em lavouras, no comércio e na criação de
Vanessa Alexan

animais. A partir de 1927, imigrantes de outros países e migrantes do Sudeste e


Nordeste do Brasil vieram para esta região atraídos pela forte propaganda.
dre. 2020. Digital

28 2. Deslocamentos populacionais no Paraná


.
Norte Central
Muitos japoneses e
seus descendentes se
instalaram no município
de Maringá, dedicando-se
a atividades agrícolas,
como a horticultura.

Norte Pioneiro
A partir de 1860, migrantes mineiros e paulistas ocuparam a Região
Norte do Paraná e iniciaram o plantio de café. De 1870 a 1920, poloneses,
ucranianos, alemães, holandeses, japoneses, entre outros povos, também
chegaram ao norte do Paraná para trabalhar nas lavouras cafeeiras.
Anos depois, foram os espanhóis que chegaram ao Paraná fugindo da
Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945.

Centro-Oriental
No início dos anos 1900,
algumas famílias de
holandeses ocuparam a
região de Castro..

Região Metropolitana de Curitiba


Entre o fim dos anos 1900 e a primeira década
de 2000, muitos migrantes e suas famílias vindos
do Norte, do Nordeste e do Sudeste do Brasil
se deslocaram para a Região Metropolitana de
Curitiba com o objetivo de trabalhar em indústrias.

Fonte: INSTITUTO Paranaense de Desenvolvimento Econômico e


Social. Leituras regionais: Mesorregião Geográfica Norte Pioneiro
Paranaense/ Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico
e Social. Curitiba: Ipardes: BRDE, 2004. p. 6.

História – Paraná - 4o. ano 29


n e c t a n d o co m...
Co
Leia o mapa e faça o que se pede a seguir.

Divisões regionais do Brasil

Ângela D. Barbara

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro, 2018. Adaptação.

a) Identifique com a cor vermelha os estados que compõem as regiões de


onde vieram migrantes para o Paraná.
b) No mapa, ligue com setas os pontos de partida aos pontos de chegada dos
migrantes brasileiros que se deslocaram para o Paraná.

30 2. Deslocamentos populacionais no Paraná


t r o s o lh a r e s
Ou
No passado, a vida dos filhos de imigrantes era bem diferente da vida das
crianças da atualidade. Normalmente, os brinquedos eram construídos pelas
próprias crianças, afinal, não havia tantas opções, além de serem muito mais
caros.
Leia este relato da senhora Francisca, filha de imigrantes italianos que viviam
em Araucária. Ela fala sobre a própria infância, vivida nos anos de 1950.

Nós tínhamos boneca com a cabeça de louça e corpo de pano,


que a mamãe fazia. Fazia os bracinhos e o corpo, enchia de serra-
gem. Os meninos brincavam com a bola de meia [...]. Os meninos
chutavam bola, brincavam de bete-ombro [...]; as meninas brincavam
de mãe, de pedrinha do céu, de roda, lenço-atrás, pular corda.
A gente brincava de bolinha de gude, lenço-atrás, roda-cutia,
cabra-cega, bom-barqueiro e, com a influência do cinema, a gente
brincava de polícia e ladrão, bang-bang.
Na época de férias, a gente brincava num barracão [...], fazía-
mos uma cidade lá. Existia banco, delegacia [...]; a cadeia era no
galinheiro do seu Michel [...] isso era década de 50. As meninas
também participavam.

RIGOLINO, Francisca F. et al. Memória de Araucária: depoimentos cedidos à Roseli Boschilia, em


1990. In: PREFEITURA Municipal de Araucária. Os espaços de lazer em Araucária. Araucária, 2001.
p.  20.

Com base nesse relato, responda às seguintes questões.


a) O que é possível descobrir sobre a infância dos filhos de imigrantes nos
anos 1950?
b) No texto, sublinhe os trechos em que Dona Francisca cita os brinquedos e
as brincadeiras da época.
c) Quais dos brinquedos e brincadeiras citados você não conhece? Circule
o nome deles no texto e, depois, faça uma pesquisa a respeito. Registre as
informações em seu caderno.

História – Paraná - 4o. ano 31


HERANÇA CULTURAL DOS IMIGRANTES
Além de fazerem parte da história de formação do território, os diversos po-
vos que se estabeleceram no Paraná influenciaram a adoção ou a modificação de
inúmeros hábitos culturais.
Conheça mais informações sobre como isso aconteceu.
©Shutterstock/Gurezende

Influência árabe
Os árabes que migraram para
Foz de Iguaçu eram, em geral,
muçulmanos. Eles modificaram
a paisagem do local construindo
edificações como mesquitas,
que são os templos religiosos
dos adeptos da religião islâmica.
Em Foz do Iguaçu, também
influenciaram a alimentação
local ao comercializarem
comidas típicas como o quibe,
um prato muito apreciado por
diversos paranaenses.

©Pulsar Imagens/Gerson Gerloff


Influência ucraniana
A dança foi um dos hábitos
que os ucranianos trouxeram
para o Paraná. Na atualidade,
a dança típica dos ucranianos
é praticada por várias
pessoas, descendentes ou
não desse povo.
Outra herança cultural são
os quitutes, normalmente
servidos em restaurantes das
colônias ucranianas. Um dos
pratos mais conhecidos é o
pierogi, uma massa recheada
com batata e ricota, servida
com molho branco ou de
tomate.

32 2. Deslocamentos populacionais no Paraná


©Shutterstock/Jair Ferreira Belafacce

Influência japonesa
Os japoneses e seus
descendentes comemoram
a chegada da primavera
realizando uma festa chamada
Haru Matsuri. Nesse evento,
acontecem apresentações de
danças típicas com músicas e
comidas tradicionais do Japão.
Essa celebração também
ocorre em algumas regiões
paranaenses.
No que se refere à culinária,
alguns preparos japoneses,
como o sushi e o sashimi,
tornaram-se populares entre os
paranaenses.

Influência dos migrantes brasileiros


Em vários lares paranaenses, o hábito de comer tapioca, acarajé, baião de dois
e moqueca, por exemplo, foi trazido por migrantes nordestinos. Já o consumo de açaí
é uma influência de migrantes vindos de estados do Norte do Brasil. O consumo de
pamonha foi influenciado por paulistas. Os mineiros, por sua vez, contribuíram com o
pão de queijo, receita que faz parte do cotidiano de muitos moradores do Paraná.

Eu, cidadão
Pesquise informações sobre os migrantes ou imigrantes que fizeram parte da
história do município ou da região onde você vive e responda às questões a seguir:
a) Qual é o local de origem dessas pessoas?

b) Que trabalhos essas pessoas realizaram quando chegaram ao Paraná?

c) No caderno, faça um desenho para representar alguma influência estran-


geira deixada por esses povos no estado do Paraná.

História – Paraná - 4o. ano 33


3. Movimentos políticos e
sociais no Paraná

A unidade federativa do

Paraná foi palco de diversos

conflitos durante sua história.

Esses conflitos surgiram de

movimentos sociais e políticos que

tinham diferentes objetivos, mas, em

muitos deles, buscavam-se melhores

condições de vida para a população.

Neste capítulo, vamos conhecer

como se desenvolveram alguns

desses movimentos.

Caco Bressane. 2020. Digital.


MOVIMENTOS HISTÓRICOS
Desde a ocupação e formação do território que se tornou o Paraná, ocorre-
ram vários fatos importantes. A descoberta de ouro, o tropeirismo e as migrações
aconteceram durante a colonização do estado. Outros se desenvolveram muitos
anos depois, como a luta do Contestado. Esse conflito envolveu, de um lado, pes-
soas que buscavam o direito de possuir as terras que habitavam e, de outro, as
grandes companhias exploradoras de madeira.
Para estudarmos um tema, precisamos levar em conta vários fatos do mes-
mo período. Esse conjunto, que pode ser de fatos políticos, sociais, econômicos e
culturais, faz parte do processo histórico.

Diga aí
Leia as imagens. São registros de comícios do movimento “Diretas já”, ocorri-
do no Brasil entre 1983 e 1984. O movimento defendia o direito de as pessoas es-
colherem o presidente da República por meio do voto.

Documento I Documento II
©Pulsar Imagens/Mauricio Simonetti

©Estadão Conteúdo/AE/Arquivo

SIMONETTI, Mauricio. Comício Pró-Diretas - Campanha CAMPANHA pelas Diretas Já em Curitiba. 1984. 1
Diretas Já em Curitiba. 1984. 1 fotografia, color. fotografia, p&b.

Conforme a leitura dos dois documentos, responda às questões.


1 O que as imagens retratam?
2 Leia o cartaz que aparece no documento II e explique o que essa frase signifi-
ca para você.

História – Paraná - 4o. ano 35


Emancipação política do Paraná

Até 20 de agosto de 1853, o território do Paraná Glossário


província: antigo nome dado
pertencia à província de São Paulo. Era considerado a um território com gover-
como a 5ª.  Comarca de Curitiba. Naquele data, após no próprio, durante o Brasil
Império.
anos de lutas, as lideranças paranaenses consegui-
emancipação: independência.
ram a emancipação política do território que passou
a se chamar Paraná.
O primeiro presidente da província do Paraná, Zacarias de Góes e Vasconcelos,
chegou ao território em 19 de dezembro, dia que se tornou comemorativo, pois mar-
ca a emancipação política paranaense.
Com o passar do tempo, os nomes de alguns líderes do movimento para
emancipação do estado foram registrados em ruas e praças de cidades paranaen-
ses. Na capital, por exemplo, a Praça Zacarias, com esse nome, homenageia o pri-
meiro presidente da então província.

©Acervo do Palácio Iguaçu, Curitiba/Governo do Estado do Paraná

NÍSIO, Arthur J. Chegada do conselheiro Zacarias em Curitiba. 1953. 1 óleo sobre tela, color., 700 cm × 500 cm.
Palácio Iguaçu, Curitiba.

36 3. Movimentos políticos e sociais no Paraná


co m...
Conectando
Leia um trecho do Hino da Província do Glossário
solenidade: conjunto  de  forma-
Paraná, de autoria do professor João Baptista lidades  que  acompanham  cer-
Brandão de Proença. Essa composição foi execu- tos atos.
diadema: enfeite de cabeça, pa-
tada durante a solenidade de recepção do presi- recido com uma coroa.
dente da Província.

I III

Raiou, oh pátria querida Festejar devemos todos


O dia da separação. Um dia tão glorioso,

É província Curityba Que rico porvir promette

Por vontade da nação. A um povo tão generoso

ŪÕū

II IV

No dia vinte d’agosto Paraná é nova estrella

Nossa causa triumphou, Do diadema imperial.

Não foi em vão que lutamos, Nova província do Império,

O Paraná se elevou. Nova filha de Cabral.

PROENÇA, João B. B. Hino à Província do Paraná. In: STRAUBE, Ernani C. Símbolos: Brasil,
Paraná e Curitiba – histórico e legislação. Curitiba, 2002. p. 81-82.

a) As palavras também têm história e se transformam com o passar do tem-


po. No texto, circule as palavras que estão escritas de forma diferente da
que seria usada na atualidade. Depois, registre essas palavras com a grafia
atualizada.

b) Que dia é exaltado nesse hino? Atualmente, a comemoração da emanci-


pação do Paraná ocorre nesse mesmo dia?

História – Paraná - 4o. ano 37


Eu, historiador
Você já conhece alguns símbolos do Paraná, como a bandeira e o brasão,
além de alguns trechos do Hino da Província do Paraná. Nesta atividade, você vai
estudar mais um símbolo oficial de nosso estado.
Pesquise o atual Hino do Estado do Paraná, anote a letra da composição no
caderno. Depois, responda a estas questões:
a) Quando o atual hino do Paraná foi adotado?

b) Quem são os autores do atual hino do Paraná?

c) No hino, são citados os símbolos representados na bandeira e no brasão


do Paraná? Explique a sua resposta.

MOVIMENTOS SOCIAIS: ANOS 1700 A 1900


No decorrer da história do Paraná, diferentes grupos sociais defenderam
ideias e direitos.
A partir de agora, você vai estudar alguns movimentos que buscavam garantir
a posse de terra, a liberdade e melhores condições de trabalho.

Reação indígena nos campos de Guarapuava

A ocupação do interior do território do Paraná ocorreu em duas frentes: espa-


nhóis na parte oeste, e portugueses na parte leste do território.
Com o passar do tempo, os indígenas foram perdendo cada vez mais terras,
onde os indivíduos não indígenas se instalavam e formavam vilas e cidades.

38 3. Movimentos políticos e sociais no Paraná


Antes dessa ocupação europeia, os
campos de Guarapuava eram habitados
pelos indígenas Xokleng, também chama-
dos de Botocudos, e pelos Kaingang, tam-
bém chamados Coroados.

©Fun
Com a chegada dos colonizadores,

da
ção
os indígenas buscaram garantir a posse

Bibl
iote
ca N
do território que já habitavam e, para isso,

a ci
on
al,
atacavam fazendeiros, viajantes e tropei-

Rio
de
Ja
ne
ros com o objetivo de expulsá-los das terras.

iro
Essas situações motivaram o governo a organi-
zar expedições militares para tirar os indígenas das
terras. Uma dessas expedições foi comandada pelo
tenente-coronel Afonso Botelho de Sampaio e Representação do chefe coroado,
capitão Manoel. Ao fundo, vemos
Souza. Em 1771, ele foi mandando aos campos uma moradia indígena e
de Guarapuava para mapear os caminhos e as al- a vegetação nativa do local.
deias indígenas e também investigar se existiam KELLER, Franz. Capitão Manoel,
minas de ouro no local. chefe dos índios coroados do
Aldeamento de São Jerônimo. 1865.
O relato reproduzido a seguir é a versão do 1 ilustração, p&b. Biblioteca Nacional,
tenente-coronel sobre a sua expedição. Rio  de Janeiro.

[...]
[os indígenas] serão tratados com maior agrado, e afabilidade
animando-os com algumas dádivas, para capacitar a serem nossos
amigos.

SOUZA, Afonso B. de S. In: MENDONÇA, Joseli; SOUZA, Jhonatan U. (Org.). Paraná insurgente: história
e lutas sociais – séculos XVIII ao XXI. São Leopoldo: Casa Leria, 2018. p. 82.

Os primeiros contatos foram pacíficos, com troca de presentes entre o por-


tuguês Afonso Botelho e os indígenas moradores do local. Contudo, os encontros
foram se tornando mais tensos e, após alguns ataques, armadilhas e emboscadas,
a expedição abandonou a área. Os soldados passaram a descrever os indígenas
como desumanos, cruéis e selvagens.

História – Paraná - 4o. ano 39


©Coleção particular
Essa região só seria ocupada
pelos colonizadores no início dos
anos de 1800.

O pintor Joaquim José de Miranda fez


parte da expedição de Affonso Botelho aos
campos de Guarapuava. Ele registrou os
encontros com os indígenas em 37 desenhos
aquarelados, como o reproduzido ao lado.
MIRANDA, Joaquim J. de. Cena da expedição do
tenente-coronel Affonso Botelho. 1771-1772. 1 aquarela,
color., 42,5 cm × 55 cm. Coleção particular.

ares
Outros olh
Os indígenas não deixaram relatos escritos sobre como foram os encontros
com os colonizadores. No entanto, estudos históricos demonstram que esses po-
vos resistiram à colonização. A respeito da relação entre os governos brasileiro e
paranaense e grupos indígenas nos anos 1800, leia o seguinte texto do pesquisador
Lúcio Tadeu Mota.

As ações do governo estadual do Paraná e do governo federal confis-


cavam os territórios indígenas para distribuição em projetos de colonização,
estabelecimentos de cidades e vilas. Esse confisco, somado às invasões
implementadas pelas populações não indígenas que chegavam às áreas de
fronteiras, fez com que os povos indígenas implementassem estratégias
de sobrevivência e defesa do que restava de seus territórios.

MOTA, Lúcio T. A presença indígena no vale do rio Tibagi/PR no início do século XX. Antíteses, v. 7, n. 13,
p.  38-391, jan./jun. 2014, p. 360-361.

De acordo com o texto, responda às questões.


a) Que ações governamentais foram tomadas em relação aos indígenas?
b) Como os indígenas reagiam?

40 3. Movimentos políticos e sociais no Paraná


Os escravizados: o caso da Fazenda Capão Alto

A mão de obra escrava foi usada durante muito tempo no Brasil, desde o iní-
cio da colonização em 1500 até 1888. Quase todo o trabalho manual e pesado era
realizado pelos escravizados, grupo formado por indígenas e africanos. Apesar da
opressão, os escravizados lutavam contra essa situação, resistindo de diferentes
formas, como fugindo ou se recusando a realizar determinadas tarefas.
Um exemplo de resistência ocorreu na Fazenda Capão Alto, às margens do
Rio Iapó. Essa fazenda pertencia a padres carmelitas, que deixaram a proprieda-
de aos cuidados dos escravizados. Estes administravam todos os trabalhos desde
1770, criavam gado e produziam alimentos. No local, também viviam vários libertos,
isto é, escravizados que haviam conseguido a alforria.
Durante quase 100 anos, os escravizados viveram com relativa liberdade,
longe dos proprietários de terra. Formaram famílias, criaram laços de amizade e
realizavam diversas tarefas diárias. Muitos deles eram devotos de Nossa Senhora
do Carmo e acreditavam receber da santa as orientações de como organizar a
fazenda.
Em 1863, a Fazenda Capão Alto foi vendida e a comunidade de escravizados
também foi negociada. Em um primeiro momento, os moradores da fazenda pro-
curaram a Justiça para impedir que também fossem vendidos, justificando que os
compradores não haviam pago os impostos devidos. Entretanto a Justiça não deu
razão aos escravizados, permitindo que fossem negociados.
Na chegada dos representantes do comprador, os escravizados se organiza-
ram para a resistência. Resistiram por mais de quinze dias, mas a força policial con-
seguiu render o grupo.

Sede da Fazenda Capão


Alto, considerada patrimônio
cultural do Paraná

©Natu
reza
Brasil
eira/Z
ig Ko
ch
Em 1864, a comunidade foi separada e vendida para diferentes lugares, espe-
cialmente para trabalhar nas fazendas de café de São Paulo, e os líderes da resis-
tência foram presos nas cadeias de Castro e de Curitiba.
Mesmo vendidos, alguns cativos conseguiram fugir e formaram quilombos na
região. Esse episódio de rebeldia mostra que os escravizados agiam em defesa de
seus interesses e contra as injustiças do sistema que tratava seres humanos como
mercadorias.

Revolução Federalista

No Brasil, após a Proclamação da República, em 1889, ocorreram alguns movi-


mentos de contestação ao novo governo.
Um desses movimentos colocou dois grupos em lados opostos: republica-
nos (chamados também de pica-paus), apoiadores do presidente militar Floriano
Peixoto contra os federalistas (chamados de maragatos), que eram contrários à
permanência de Peixoto no poder. No Rio Grande do Sul, um grupo de federalistas
saiu em marcha com o objetivo de chegar à capital do país, que era o Rio de Janeiro
naquela época.

Cerco da Lapa

Quando chegaram próximo à cidade da Lapa, em 1894, os federalistas enfren-


taram a resistência dos republicanos. Os conflitos entre esses dois grupos no local
ficaram conhecidos como Cerco da Lapa.
Os apoiadores de Floriano Peixoto fizeram trincheiras e barricadas para impedir
a passagem dos federalistas, mas estes, buscando a vitória, fecharam todas as saídas
da cidade e impediram a população de receber alimentos e outros produtos. Após
26 dias de cerco, os federalistas venceram a resistência lapeana e tomaram a cidade.
Muitas pessoas morreram nesse conflito, e os prejuízos materiais foram grandes.
A  resistência de cidades paranaenses, como a que aconteceu na Lapa, per-
mitiu ao governo federal ganhar tempo para se organizar com tropas e armamen-
tos e, por fim, vencer os revoltosos.

O Barão de Serro Azul


Durante a Revolução Federalista, o prefeito de Curitiba, temendo a ação dos
federalistas, saiu da cidade, deixando-a desprotegida.
Ao chegar à capital, as tropas federalistas fizeram um acordo em troca de
dinheiro para não atacar a cidade. O responsável por esse acordo, que salvou a
população curitibana, foi Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul.
Com o fim da revolução, o Barão foi considerado traidor e executado com
outros moradores que o apoiaram. Posteriormente, sua história foi recuperada e
suas ações reconhecidas como necessárias para que a cidade de Curitiba não
sofresse com a invasão dos federalistas.

Eu, historiador
Atualmente, a memória do Barão do Serro Azul é lembrada na cidade de
Curitiba, onde há uma rua com o nome dessa personalidade histórica e a antiga
moradia do Barão foi transformada em um espaço cultural para a população.
1 Na cidade onde você mora, existem espaços que homenageiam personagens
da história local? Escolha um local, identifique o personagem homenageado e
escreva um resumo sobre a importância dele para a cidade.
2 As imagens a seguir são de Paranaguá na época da Revolução Federalista.
Observe-as.
©Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

©Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

REVOLUÇÃO Federalista em Paranaguá. [s. d.]. 1 óleo REVOLUÇÃO Federalista em Paranaguá. [s. d.].
sobre tela, color. Instituto Histórico e Geográfico do 1 óleo sobre tela, color. Instituto Histórico e Geográfico
Paraná, Curitiba. do Paraná, Curitiba.

a) Que meios de transporte foram representados nas imagens?


b) Você já usou alguns desses meios de transporte? Qual deles?
História – Paraná - 4o. ano 43
Contestado

O Contestado foi um dos mais importantes movimentos do Paraná. Ocorreu


entre os anos 1912 e 1916, com muita violência e marcou a história do Paraná e de
Santa Catarina, que, na época, não tinham as divisas de território definidas.
Esse conflito envolveu governo e poderosos fazendeiros, conhecidos como co-
ronéis, contra fazendeiros e camponeses pobres, chamados de sertanejos.
Os sertanejos tinham fortes crenças religiosas
Glossário
e trabalhavam como peões, ervateiros, roceiros e posseiros: pessoas que habi-
lavradores nas grandes propriedades. Alguns deles tam e cultivam uma área de
terra, mas não são donos de
sobreviviam da coleta de produtos da floresta e do direito, ou seja, não têm do-
cultivo em pequenos lotes de terra, que ocupavam cumentação que comprove
essa posse.
na condição de posseiros.
O conflito foi motivado pela construção de um trecho de estrada de ferro que
ligaria os municípios de União da Vitória e Marcelino Ramos. Para iniciar a construção,
muitos camponeses foram obrigados a deixar suas terras por onde passaria a estra-
da. Por outro lado, os donos da companhia férrea teriam posse de parte do território
às margens da estrada (aproximadamente 15 quilômetros em cada lado).

Região do Contestado

Talita Kathy Bora

Fonte: WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. 6. ed. Curitiba: Vicentina, 1988. Adaptação.

44 3. Movimentos políticos e sociais no Paraná


Essas condições revoltaram os camponeses, que, liderados pelo monge e
curandeiro José Maria, começaram a lutar pelas terras tomadas. Os sertanejos
ocuparam as cidades de Irani, Papanduva, Curitibanos, Campo Belo, Itaiópolis e
Cerrito e atacaram a companhia da estrada de ferro e as madeireiras e serrarias.
Na visão dos sertanejos, o conflito era travado para construir uma socieda-
de mais justa. Acredita-se que três monges tenham participado do conflito como
lideranças importantes para a população. Esses religiosos realizavam batizados,
organizavam rezas e, supostamente, curavam doentes com ervas. Também da-
vam conselhos, muitos deles ligados à preservação do ambiente, cuidados com
as fontes de água, plantas e animais e prevenção de queimadas.
Os conflitos eram tratados pelo governo como casos de polícia. Assim, um
grande grupo de militares foi deslocado para a região. Durante vários meses, fo-
ram travados combates entre os sertanejos e as tropas do governo. Por fim, es-
sas tropas, que tinham um armamento superior, cercaram a cidade e venceram
os revoltosos.
Naquela época, o registro fotográfico era
Acerv
o Doro
thy J ©Wikime
um importante meio de comunicação para
ansso d
n Mo ia Comm
retti/
Claro ons/
Jans
as pessoas que viviam em regiões distantes
son
dos grandes centros urbanos. Nos jornais
impressos e nas revistas eram publicadas
fotografias para ilustrar um fato.

JANSSON, Claro. Guerra do Contestado: infantaria do corpo de polícia marchando rumo a zona de combate. 1912.
1 fotografia, p&b. Coleção Dorothy Jansson Moretti.

História – Paraná - 4o. ano 45


Greve de 1917

Em muitos momentos da história, trabalhadores paranaenses lutaram para


ampliar seus direitos. Um desses eventos ocorreu em Curitiba, uma ampla greve,
que começou em maio de 1917.
Naquela época, o mundo passava por um conflito conhecido como Grande
Guerra. Esse conflito, mesmo ocorrendo em lugares distantes do Brasil, impac-
tou a vida cotidiana dos paranaenses. Desemprego, falta de alimentos, fecha-
mento de oficinas e fábricas por falta de matérias-primas e de consumidores
foram algumas consequências que atingiam principalmente a população mais
pobre.
O conflito do Contestado havia terminado há poucos anos, e os poderosos
temiam que novas revoltas ocorressem, pois vários grupos de trabalhadores es-
tavam se organizando para exigir melhores condições de trabalho.
Um movimento grevista havia começado em São Paulo e inspirou os traba-
lhadores de Curitiba. Entre as exigências, constavam os direitos a uma jornada de
trabalho de oito horas diárias, a se organizar em sindicatos e de fazer greve, além de
receberem um aumento de salários e de se combater a carestia.
Em Curitiba, no dia primeiro de maio, traba- Glossário
lhadores se concentraram na Praça Tiradentes carestia: falta de produtos indis-
pensáveis para a sobrevivência.
para comemorar o Dia do Trabalho e ouvir algu- comício: reunião, ato público em
mas lideranças. Dezoito dias depois, após um que uma pessoa expõe ideias e
projetos políticos.
comício, a greve foi iniciada.

Entre as reivindicações dos trabalhadores de Curitiba, destacam-se


as seguintes:
2. Jornada de 8 horas [...]
4. Impedimento de crianças menores de 14 anos no trabalho.
5. Impedimento de moças menores de 21 anos [...]
10. A responsabilidade dos patrões nos acidentes. [...]
11. A redução do preço dos gêneros alimentícios. [...]

RIBEIRO, Luis C. Experiência operária em Curitiba: a greve-geral de 1917. In: MENDONÇA, Joseli; SOUZA,
Jhonatan U. (Org.). Paraná insurgente: história e lutas sociais – séculos XVIII ao XXI. São Leopoldo: Casa
Leria, 2018. p. 232-233.

46 3. Movimentos políticos e sociais no Paraná


A greve provocou muitas alterações no cotidiano das pessoas: aconteceram
piquetes; o serviço de bondes e de parte da estrada de ferro foi paralisado; lojas
e fábricas foram fechadas; o fornecimento de energia elétrica, água e também de
gêneros alimentícios foi interrompido, pois pontes foram destruídas e as atividades
dos comerciantes que viviam nas colônias (verdureiros, padeiros, leiteiros e produ-
tores de carne) foram descontinuadas.
A ação da polícia desmobilizou os grevistas, e as Glossário
lideranças foram presas. O movimento foi encerrado piquetes: bloqueios de rua
ocorridos durante uma ma-
sem o atendimento das exigências, mas fortaleceu os nifestação política.
trabalhadores e possibilitou uma posterior regulamen-
tação trabalhista com a criação de leis e normas.

Eu, cidadão
1 Algumas reivindicações da greve de 1917 eram direcionadas às mulheres e
crianças. Transcreva essas reivindicações.

2 O que você sabe sobre as leis referentes aos direitos dos trabalhadores no
Brasil? Por exemplo, as crianças podem trabalhar na atualidade?

Revoltas camponesas

As revoltas camponesas ocorreram em diversos momentos da história do


Paraná. Em 1938, o governo promoveu uma grande ocupação de terras, que ficou
conhecida como Marcha para o Oeste. Esse processo de ocupação não levou
em consideração os povos indígenas que viviam nessas áreas.
No mesmo período da Marcha para o Oeste, ocorreram duas revoltas organi-
zadas por trabalhadores. Ambas foram reprimidas.

História – Paraná - 4o. ano 47


Revolta de Porecatu

A ocupação das regiões de Porecatu, Jaguapitã e Centenário do Sul teve início


com a posse de pequenos lotes de terra para o plantio de café, produção de gêne-
ros alimentares e criação de porcos.
Aos poucos, grileiros chegaram à região e formaram grandes propriedades
rurais ao expulsarem as pessoas que já viviam na região, os chamados posseiros.
Políticos, jagunços e pistoleiros eram aliados dos grileiros, que tomavam as
terras dos posseiros por meio da violência. Os posseiros, por sua vez, começaram a
se organizar para defender as terras que habitavam. Para isso, fechavam estradas,
ruas e avenidas para pressionar o governo a interceder e a regularizar a posse des-
sas áreas. Eles também invadiram fazendas e expulsaram jagunços e fazendeiros
desses locais. A situação dos posseiros comoveu a população das cidades envolvi-
das, a qual passou a apoiá-los.
O conflito armado durou de 1948 a 1951, e diversos jornais registraram os
acontecimentos por meio de reportagens.
Glossário
O governo do Paraná agiu com o auxílio grileiros: pessoas que falsificam
do exército e da polícia, que prendeu dezenas documentos para tomar posse de
terras.
de camponeses. Por fim, 380 famílias foram assentadas: pessoas que conse-
assentadas pelo governo, embora muitas outras guiram acesso a um lote de terra
para trabalhar e viver.
tenham ficado sem direito à posse de terra.
©Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press

Notícia veiculada
na revista O
Cruzeiro, em 14
de julho de 1951,
sobre o conflito em
Porecatu

FERREIRA, Jorge; OTTONI, Max. A guerra de Porecatu. O Cruzeiro, 14 jul.


1951. p. 92. Disponível em: <http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.
aspx?bib=003581&pagfis=76946>. Acesso em: 27 abr. 2020.

48 3. Movimentos políticos e sociais no Paraná


Revolta dos posseiros do Sudoeste

Um processo semelhante à Revolta de Porecatu aconteceu na região Sudoeste


do Paraná. Camponeses, vindos principalmente do Rio Grande do Sul, estabelece-
ram-se na Colônia Agrícola Nacional General Carneiro.
Para colonizar e organizar o território dessa parte do Paraná foram contratadas
companhias de colonização. O acordo entre a companhia e os camponeses garantia
que a terra e a madeira para a construção das casas seriam oferecidas pelas com-
panhias, assim como ferramentas e sementes para o cultivo de alimentos. Também
haveria atendimento médico e odontológico disponível para esses colonos.
Com o passar do tempo, a região prosperou, e as terras foram valorizadas. Esse
fato atraiu mais empresas colonizadoras para a região. As companhias já estabeleci-
das passaram a exigir dos colonos um pagamento pelas terras que foram oferecidas
gratuitamente. A prosperidade da região também chamou atenção de outras em-
presas, que queriam explorar a madeira local.
Para se manterem nas terras, os colonos se uniram. Em um primeiro momento,
fizeram abaixo-assinados e denunciaram às autoridades as pressões que sofriam
das companhias colonizadoras. Como essas ações não funcionaram, organizaram
uma luta armada contra as companhias.
O governo federal assumiu o
lado dos colonos em troca de apoio
©Arquivo Público do Paraná

nas próximas eleições. Os combates


acabaram com a saída de boa parte
das companhias colonizadoras da
região.
Nos anos seguintes, o governo
federal regularizou a propriedade das
terras de vários camponeses envolvi-
dos no conflito.

A revolta dos posseiros atingiu


vários municípios, entre eles,
Francisco Beltrão, Verê,
Santo Antônio do Sudoeste,
Capanema, Pato Branco, Dois CIDADE de Francisco Beltrão, cena e cenário. 10 out.
Vizinhos e Pérola do Oeste 1957. 1  fotografia, p&b. Arquivo Público do Paraná. Fundo
Documental Moysés Lupion.

História – Paraná - 4o. ano 49


a m o s bri n car?
V
Vamos revisar algumas informações sobre os diferentes movimentos sociais
e políticos que ocorreram no Paraná?
Siga a trilha ilustrada e complete o percurso conforme as informações das
casas do tabuleiro. Para jogar, use o dado e as peças do material de apoio.

Sua aldeia foi atacada por


colonizadores. Enquanto
procura um novo local
para viver, fique uma
rodada sem jogar.

Os indígenas
resistiram ao domínio
dos colonizadores Em 1853,
por muito tempo, o Paraná
mas perderam seus conseguiu sua
territórios nesse emancipação
processo. política e se
tornou uma
província com
governo próprio.

O Paraná se tornou uma


província emancipada de
São Paulo. Jogue mais
uma vez!

Os africanos
escravizados da
Fazenda Capão Alto
lutaram para conservar
costumes, seu modo
de vida e não serem
vendidos para os
fazendeiros de
café do
estado
de São
Paulo.

50
O movimento pelas
“Diretas já” começou
em Curitiba na
década de 1980. Muitas
Os posseiros pessoas participaram dessa
fecharam as estradas mobilização, que se
e você não pode espalhou pelo país.
prosseguir. Fique uma
rodada sem jogar.

É 1989 e você
vai votar pela
primeira vez
para presidente.
Avance uma
casa.

No Oeste, posseiros
lutaram para garantir
suas terras e, entre
1940 e 1950, dois grandes
movimentos aconteceram
no Paraná. Com a ocupação
da região, ocorreu uma
grande exploração
da natureza.

Você
precisa ir
para casa de
bonde, mas esse
meio de transporte não
está funcionando por causa
da greve. Volte
Você fugiu para 2 casas.
um quilombo com
a sua família.
Avance mais uma A greve de 1917
casa. foi um movimento
A cidade da
de trabalhadores
Lapa foi cercada
urbanos; eles
pelas as tropas
lutaram por
federalistas em

Elder Galvão. 2020. Colagem digital.


melhores condições
1894. O fechamento
de vida.
dos acessos à
cidade fizeram a
população sofrer
com a falta de
alimentos.

Você conseguiu
economizar
dinheiro e pode
comprar sua
O Contestado foi
alforria. Jogue
um importante
novamente.
movimento social
As tropas do Paraná e de
federalistas Santa Catarina.
fecharam as
estradas.
Fique uma
rodada sem
jogar.

51
com...
Conectando
Leia este trecho do poema A terra é nossa, do poeta e repentista Patativa do
Assaré.

ŪÕū

Se a terra foi Deus quem fez

Se é obra da criação

Deve cada camponês

Ter uma faixa de chão.

ŪÕū

ASSARÉ, Patativa do. A terra é nossa. In: FEITOSA,


Luiz T. Patativa do Assaré: a trajetória de um
canto. São Paulo: Escrituras Editora, 2003.
(Ensaios Transversais). p. 55.

a) Qual o tema principal desse poema?


O direito dos camponeses à terra.

O direito à educação.

b) Porque o narrador acredita ter direito à terra?

c) Esse poema tem relação com algum dos movimentos sociais estudados?
Qual?

52 3. Movimentos políticos e sociais no Paraná


Material de apoio

Página 24 – Vamos Brincar? — Exemplos de objetos trazidos por imigrantes

Clara Gavilan. 2020. Digital.

História – Paraná - 4o. ano 53


Material de apoio

Páginas 50 e 51 – Vamos Brincar? — jogo de tabuleiro: Movimentos sociais e políticos


do Paraná

Cortar

Dobrar

Cole
Cole

Elder Galvão. 2020. Colagem digital.

História – Paraná - 4o. ano 55

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