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Introdução À Ciência Sagrada
Introdução À Ciência Sagrada
À CIÊNCIA SAGRADA
Programa Agartha
FEDERICO GONZALEZ
Com a colaboração de
Francisco Ariza
ÍNDICE DE CONTEÚDOS
PREFÁCIO
Baxar os arquivos
Módulo I
Módulo II
Módulo III
FEDERICO GONZALEZ
e colaboradores
PREFÁCIO
O Agartha é um Programa, uma didática, um curso gradual que, seguindo com fé
e concentração produz os resultados previstos por aqueles que o criaram, pois suas
próprias experiências no trabalho interno e no conhecimento do Si Mesmo se
encontram nele expressadas. É um Ensinamento que requer paciência e vontade
para desenvolver a energia chamada inteligência; isto é igual a querer aprender
verdadeiramente a pensar, para o qual é necessário um treinamento, que o
Programa brinda. Requer-se do aluno estudo e dedicação e, sobretudo, da entrega
à sua sensibilidade e a seu reto juízo.
Não somos uma seita, nem realizamos cerimônias, nem estamos organizados de
maneira pseudo-religiosa nem de nenhuma outra forma, mas cremos que, em
razão dos tempos obscuros aos quais nos tocou viver, esta Introdução à Ciência
sagrada cumpre neste momento uma função transcendente relacionada com o
renascimento dos valores adormecidos no homem contemporâneo. Os seres atuais
funcionamos com apenas uma mínima parte das possibilidades que se lhe
entregaram ao ser humano. Portanto vivemos uma vida que está por debaixo de
nós mesmos. Resgatar as potencialidades individuais, hoje praticamente
esquecidas, é a função desta Introdução, pondo especial ênfase na regeneração do
ser, o que dá por fruto um mundo mais harmonioso e digno de ser vivido tal qual
se lhe brindou ao homem na liberdade de sua natureza e que este desconhece na
agitação da existência cotidiana.
Como já se disse, alguns dos métodos e meios de que se vale este Programa para
transmitir o Ensino e o Conhecimento de outra realidade à que se aspira são:
Cabala, Aritmosofia, Alquimia, Astrologia, Cosmogonia, Metafísica, Teurgia, etc.
Mesmo assim, faz-se especial empenho no vínculo com a Arte (Música, Dança,
Plástica, Arquitetura, Literatura, etc.) como forma de Conhecimento e tomada
como veículo apto para a contemplação da Beleza. Igualmente se insiste numa
relocação quanto às ciências modernas. Tudo isto gera outra dimensão do espaço
e do tempo que, no entanto, está ocorrendo aqui e agora no mais oculto do
coração do homem; o que constitui seu autêntico Ser, sua Identidade, o Alfa e o
Ômega destes estudos e trabalhos.
Queremos lembrar aqui algumas noções fundamentais que René Guénon expressa
em sua Aperçus sur l'Initiation:
– ... todo conhecimento exclusivamente 'livresco' não tem nada em comum com o
conhecimento iniciático, inclusive contemplado em seu estado simplesmente
teórico...
Nota. Pela mesma natureza "virtual" do meio através do qual se difunde este
Ensino, recomenda-se a impressão em papel destes textos, o que favorecerá seu
estudo, a concentração e a meditação necessários.
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA SAGRADA
Programa Agartha
MÓDULO I
1 A TRADIÇÃO HERMÉTICA
As verdades eternas, conhecidas unanimemente e expressadas por sábios de
todos os tempos e lugares, plasmaram-se no Ocidente no pensamento de
culturas estreitamente inter-relacionadas, que em distintos momentos
floresceram em regiões localizadas entre o Oriente Médio e a Europa,
durante esta quarta e última parte do ciclo, à qual se chamou Kali Yuga ou
Idade do Ferro, e que sempre se vinculou com o Oeste.
2 O EXOTÉRICO E O ESOTÉRICO
Todos os símbolos sagrados, tanto os expressados pela natureza como os
adquiridos pelos homens mediante revelação divina, sejam estes gestuais,
visuais ou auditivos, numéricos, geométricos ou astronômicos, rituais ou
mitológicos, macro ou microcósmicos, têm uma face oculta e uma aparente;
uma qualidade intrínseca e uma manifestação sensível, quer dizer, um
aspecto esotérico e outro exotérico.
Enquanto o homem profano (que é tal por seu estado de queda) unicamente
pode perceber o exterior do símbolo, pois perdeu a conexão com sua origem
mítica e sua realidade espiritual, o iniciado procura descobrir nele o mais
essencial, o que se encontra em seu núcleo, o que não é sensível, mas sim
inteligível e cognoscível, a estrutura invisível do Cosmo e do pensamento,
sua trama eterna, ou seja, o esotérico, que constitui também o ser mais
profundo do próprio homem, sua natureza imortal.
O Cosmo, a criação inteira, contém uma face oculta: sua estrutura invisível e
misteriosa, que o faz possível e que é sua realidade esotérica, mas que, ao se
manifestar, reflete-se em miríades de seres de variadíssimas formas que lhe
dão uma face exotérica, sua aparência temporal e mutável. No homem
sucede o mesmo: o corpo e as circunstâncias individuais são as que
constituem seu aspecto exotérico e aparente, sendo o espírito o mais
esotérico, a única Realidade, sua origem mais profunda e seu destino mais
alto.
3 A VIA SIMBOLICA
O símbolo é a pegada (ou o gesto) visível de uma realidade invisível ou
oculta. É a manifestação de uma idéia que assim se expressa a nível sensível
e se faz apta para o entendimento. Num sentido amplo, toda a manifestação,
toda a criação, é simbólica, como cada gesto é um rito, seja isto ou não
evidente, pois constitui um sinal significativo.
O símbolo nomeia as coisas e é uno com elas, não as interpreta nem define.
Em verdade, a definição é ocidental e moderna (ainda que nasça na Grécia
clássica) e poderia ser considerada como a porta à classificação posterior.
A via simbólica que este Programa propõe, com todas as experiências que
ela implica, poderá nos levar de uma maneira ordenada e gradual para esse
Conhecimento.
O símbolo plasma uma força, uma energia invisível, uma idéia. O que ele
expressa e o que contém em seu interior se correspondem em perfeita
harmonia. Não deve nunca se confundir com a alegoria, já que esta se
correlaciona mais com substituições e suposições e, portanto, carece de
conexão clara com o interno e com o verdadeiro. Também é importante
apontar que os símbolos aos quais nos referimos não são meras convenções
inventadas pelos homens; eles são "não-humanos", encontram-se na própria
estrutura do Cosmo e do homem. Ao serem os intermediários entre o
invisível e o visível, promovem a consciência de mundos superiores e
regiões supracósmicas.
Os símbolos sagrados são capazes de revelar esse modelo único, seu Criador,
e ainda o incriado; mas às vezes velam essas realidades superiores e se
cobrem de uma roupagem formal, ainda que conservem sempre seu aspecto
interno e invisível.
1
N.T. - Anquilosamento (do grego ankylósis) - é a imobilidade ou garroteamento de um
membro para que permaneça imobilizado.
4 ARITMOSOFIA
Os números possuem uma realidade mágico-teúrgica que os homens de
nossos dias esquecemos, e que trataremos de recuperar. Eles são módulos
harmônicos e medidas que relacionam o microcosmo (homem) com o
macrocosmo (universo), e respondem a vibrações secretas, que encontram
suas correspondências em todas as coisas. Desde os acontecimentos
mundiais aos acontecimentos locais e individuais, os quais formam parte da
harmonia universal, que se expressa também através de números e medidas,
semelhante a uma grande sinfonia. Dali a conexão com a música, e
particularmente com os ritmos e os ciclos.
Ainda que a sociedade moderna parecesse crer que os números fossem uma
invenção humana, produto do progresso, muito úteis para fazer cálculos
estatísticos, bem como para medir, classificar e em geral contar objetos de
toda índole, percebendo a série numérica como uma sucessão indefinida e
horizontal (numa só dimensão), carente em absoluto de outro significado,
nas sociedades tradicionais, pelo contrário, os números são concebidos como
deidades ordenadoras, como intermediários, portadores de energias e Idéias
superiores que eles mesmos plasmam no Cosmo inteiro.
5 O CÍRCULO
Dentre os símbolos fundamentais comuns a todos os povos, o círculo é sem
dúvida o mais generalizado e o que aparece mais freqüentemente em todas as
manifestações humanas conhecidas. Isto se deve, com efeito, à própria
natureza que a forma circular significa, já que tudo na vida e no mundo tende
a realizar este movimento, presente tanto nas expressões naturais como nas
humanas. Aliás, uma reta, ou sucessão de pontos, que progride
indefinidamente, descreve um movimento circular, que a curvatura do
espaço faria regressar a seu ponto de origem. Em forma de círculos se
expandem as radiações de energia, e esses redemoinhos ou espirais
conformam as estruturas de céu e terra, como bem pode observar-se no
sideral e no molecular. O círculo, junto com seus símbolos associados é,
pois, uma das imagens básicas do conhecimento simbólico e voltaremos uma
e outra vez sobre o tema.
Advertências:
b) Não se tem que se considerar aos símbolos como exteriores a nós, pois se
deve ter em conta que a esfera do universo nos envolve. Estamos dentro
dela, somos unos com ela.
6 CABALA
Pouco a pouco iremos desenvolvendo diferentes métodos Herméticos, entre
eles o da Cabala judaica, utilizada também pelos cristãos a partir do
Renascimento. "Cabala" significa literalmente "Tradição", e se refere tanto
ao legado da doutrina que foi revelada aos antigos patriarcas e profetas do
povo judeu, como à recepção e vivificação dessa doutrina que provém –
como todo Ensino verdadeiro– da Grande Tradição Unânime.
7 MÚSICA
Sabe-se que antes de o fazer pelo ar, o som se propaga pelo éter; este quinto
elemento ou quintessência Hermética é a origem dos quatro restantes. Por
sua extrema rarificação imaterial, superior à do fogo, com o qual às vezes se
identifica, o éter é o veículo por excelência da luz inteligível e do som
inaudível, cuja natureza vibratória faz serem todos os elementos uma só e
mesma coisa, antes de se diversificar através dos sentidos até o mundo
exterior. Por sua extrema plasticidade, pureza, e receptividade absolutas, a
Tradição também assimilou simbolicamente este elemento à água, à
substância universal. Por isso a concha marinha, cuja forma nos lembra ao
yoni feminino e à orelha humana, é o representante unânime (como as
conchas de água benta dos templos cristãos) do poder purificador, produtivo
e "generativo" deste supra-elemento divino.
8 ASTRONOMIA-ASTROLOGIA
Queremos nos aproximar ao tema da Astrologia como ciência cosmogônica e
veículo de realização. Damos aqui os símbolos dos planetas e dos signos
zodiacais, para aquele que ainda não está familiarizado com eles. Se não os
conhecer, é oportuno também tratar de os desenhar e, sobretudo, de os
identificar. Começaremos a tratar esta ciência cosmogônica, eminentemente
simbólica, pois ela constitui um dos caminhos mais importantes para o
conhecimento espacial e temporal da realidade na qual estamos inscritos.
Para isso começaremos com algo tão singelo como os nomes e signos dos
sete planetas tradicionais, assimilados a deuses, e a suas andanças pelo
espaço celeste, só limitado pelo cinturão zodiacal.
Cada uma destas sefiroth tem uma face oculta e outra visível. É receptiva
com respeito à anterior e ativa com relação à seguinte.
É importante fazer notar que em toda sefirah pode-se ver uma Árvore
Sefirótica completa e, em cada sefirah desta Árvore, outra mais, e assim até
o infinitamente pequeno. E vice-versa, qualquer Árvore por maior que a
imaginemos é só uma sefirah de outra Árvore maior, que por sua vez é só
outra sefirah de uma ainda maior, também ad infinitum, como é a estrutura
do espaço e do tempo, que contém mundos dentro de mundos e ciclos dentro
de ciclos, ou seja, a de uma esfera arquetípica dividida em dez numerações
(ou pequenas esferas) que se reproduzem indefinidamente.
10 ALQUIMIA
Outra das artes herméticas é a Alquimia. Assim se chamava na Antigüidade a
ciência das transmutações, minerais ou vegetais, da natureza. Estas operações
têm uma réplica no homem, que pode se ver nelas como num espelho que
refletisse seu próprio processo de desenvolvimento e simbolizam a
possibilidade da regeneração. Ou seja, a de mudar de condição e de forma, a
tal ponto que a substância com que se trabalha –neste caso a psique humana
nos primeiros níveis– passe a ser uma coisa distinta da que conhecemos
atualmente. Esta busca e achado do Ser é, em suma, a autêntica Liberdade,
não empanada por nenhum preconceito, e pode ser equiparada a um novo
nascimento.
12 A TRÍADE
A forma geométrica do triângulo eqüilátero também pode simbolizar o dito
anteriormente sobre a Alquimia e a Árvore Sefirótica, pois toda idéia
manifestada pelo símbolo pode ser expressada não só pelas figuras
geométricas e pelos números, mas também por um ritmo, um gesto ou um
som. Os Princípios Universais, representados pela tríade superior da Árvore,
estão sintetizados também pela figura do triângulo eqüilátero, pois ela
mostra instantaneamente as energias-força contidas na Idéia, revelando-nos
assim seu conhecimento e as indefinidas sugestões a que dá lugar.
1
N.T. – A palavra “triunidad” em espanhol não tem correspondentes em português. Por
este motivo foi traduzida como “triunidade” para que não se perdesse sua significação
mais profunda.
13 MITOLOGIA
Os mitos, junto com os símbolos e com os ritos, constituem a trilogia
sagrada e reveladora com que os povos arcaicos e as civilizações da
Antigüidade expressaram toda sua cultura, seu próprio ser. Se o símbolo
representa a "fixação", numa determinada substância, de um Pensamento ou
Idéia arquetípica, e o rito não faz senão pôr em movimento através do gesto
ritmado e generativo a energia do símbolo, o mito evoca o tempo das origens
primordiais e sacras dos povos, bem como as gestas e façanhas dos heróis e
deuses civilizadores que os criaram. Na origem de qualquer civilização,
religião ou cultura, sempre existe um Ser mítico, um deus feito homem ou
um homem transfigurado em deus, que lhes revela as ciências e as artes
sagradas. Sendo assim, e segundo nos diz a Tradição Unânime e Universal, o
relato mítico é um ensino que transmite, utilizando a linguagem emotiva da
poesia, uma história "exemplar", uma história-modelo a ser imitada pelos
homens. Neste sentido, diremos que todo relato mítico desperta uma emoção
intelectiva que aflora das profundidades mais recônditas de nosso ser,
transladando-nos, por seu intermédio, a um tempo onde o profano, linear e
sucessivo não existe. O tempo mítico é em verdade um não-tempo, no
sentido ao menos em que o computamos de ordinário, o que quer dizer que
está ocorrendo sempre, neste mesmo instante, pois na realidade do Ser
Universal também existem origens atemporais.
14 NOTA:
Talvez haja conceitos que por inabituais nosso leitor rejeite. No entanto,
insista neles e trate de relacioná-los com outros presentes nesta mesma
Introdução. Quiçá em outras ocasiões lhe resulte estranho a linguagem em
que se encontram expressados, já que a analogia se representa por imagens
e configura uma poética sempre presente. Trate de assimilar e fazer sua esta
linguagem própria do discurso da vida, da arte e da magia. Pense na
possibilidade de que por meio deste trabalho possa aceder às raízes das
coisas e ao seu entendimento cabal, a par que amplia seu panorama interno
através de uma atitude de acréscimo, cultivo e superação de suas
possibilidades pessoais. Por outra parte, esta atitude, que se refletirá
inconscientemente em outros âmbitos de você mesmo, igualmente lhe
ajudará a triunfar sobre os momentos em que se apresenta, como uma crua
realidade, sua solidão. Ou você se permita sentir compaixão de si mesmo.
15 HERACLES-HÉRCULES
Esta figura, protótipo do herói triunfante, do homem que através de uma
série de esforços e aventuras consegue "divinizar-se", ou melhor, retornar a
suas origens divinas (já que é filho de Zeus-Júpiter), é talvez a mais
importante e exemplificadora da Antigüidade greco-latina. Sua simbólica
inclui não só os doze famosos trabalhos e provas em que deve realizar as
exigências de Hera-Juno, a contraparte feminina de Zeus-Júpiter (este
último, símbolo do espírito fecundador), senão igualmente uma série de
fabulosas vitórias que correm casadas com suas nutridas fraquezas. Esta
oposição entre as energias masculinas, celestes e espirituais, e as femininas,
terrestres e materiais, prefiguradas pelo casal olímpico Zeus-Hera (Júpiter-
Juno para os romanos), marcará a vida de Heracles-Hércules, nascido
humano e que, por meio dos combates purificadores de toda sua existência, é
recebido no Olimpo como o filho preferido de seu Pai celestial, em razão do
continuado sacrifício mediante o qual não só venceu a inumeráveis inimigos
externos, senão que pôde sair vitorioso dos combates internos contra suas
indefinidas tendências para a densidade, reflexo de seus inumeráveis egos,
antes de aceder ao conhecimento e à paz, emblemas da imortalidade da alma
e da vida eterna que finalmente consegue por seu espírito combativo,
sublimado pela busca constante do Espírito e da Verdade, através de um
percurso limitado por erros, retificações e conquistas.
fig. 2
16 CABALA
A Cabala ensina que as energias percorrem a Árvore da Vida desde a
Unidade, Kether, marcada pelo número um, até a manifestação formal e
substancial, o mundo e a matéria tal qual os conhecemos e os percebem os
sentidos. Estes fluxos de energias, ou vibrações, quase imperceptíveis, são
chamados emanações, e conformam qualquer manifestação, seja qual for o
gênero, a espécie, forma, o tipo ou a dimensão em que ela se expresse. As
energias das sefiroth –todas elas invisíveis, menos Malkhuth, síntese e
recipiente de toda a Árvore– realizam um caminho descendente sucessivo
desde a unidade (1), Kether, até a década, a Terra, ou o Mundo, Malkhuth
(10), que é um reflexo invertido de Kether (10=1+0=1). As demais sefiroth,
ou numerações, são tomadas como intermediárias entre a imanifestação e a
manifestação. E se as considera como os distintos aspectos, ou atributos, de
uma só e mesma energia, tal qual as formas que tomasse um fio de água ao
baixar da montanha (manancial, ribeiro, remanso, cascata, afluente, rio, etc.)
até chegar ao mar.
17 ETIMOLÓGICAS
Um tema de interesse, e que amplia nosso campo investigativo, é o da
etimologia das palavras. As origens culturais são sagradas, já que um deus
ou uma deusa patrocina e revela sempre as artes, as ciências, as indústrias, a
organização, etc., e isto é unânime para todos os povos. Também a
linguagem foi ensinada aos homens num tempo mítico. Por isso, ao homem
foi dada a potestade de nomear, ou seja, de recriar, já que os nomes, para a
Cabala e o esoterismo em geral, designam a essência das coisas; e esta
potestade do Verbo se encontra implícita em toda linguagem. Isto quer dizer
que não há dissimilitude entre a coisa e seu nome, já que este significa a
realidade da coisa, a energia que esta representa e que o nome confirma e
revela. Não é, pois, a língua uma convenção, nem as palavras jogos
artificiais ou primitivos balbucios, que manifestam exclusivamente
necessidades "físicas" ou utilitárias. As origens das palavras são
importantíssimas e iluminadoras, pois as raízes de onde provêm, bem como
os diferentes sentidos que elas têm, ou podem ter, e as relações a que estas
analogias nos levam, configuram um estudo revelador acerca dos conceitos
de onde elas derivam, que por seu uso profano se desgastaram e perderam
assim seu imenso valor evocador e anímico, até se fazerem consumíveis e
insignificantes. Um simples dicionário que traga a etimologia das palavras é
tudo o que precisamos para começar nossa busca de raízes e origens, que nos
proporcionará mais de uma bela e agradável surpresa. Também, e em outro
sentido, averiguar o significado de nosso nome profano, o porque o levamos,
e a biografia daquele ou daqueles que se chamaram com o mesmo símbolo
apelativo. Por outra parte, na vida cotidiana há concatenações de palavras
relacionadas com a Astrologia, a Alquimia, a Cabala, a Magia, a Metafísica,
etc. Os dias da semana constituem um exemplo evidente: Segunda-feira
(lunes) = Lua, Terça-feira (martes) = Marte, Quarta-feira (miércoles) =
Mercúrio, Quinta-feira (jueves) = Júpiter, Sexta-feira (viernes) = Vênus,
Sábado = Saturno, Domingo = Sol (em inglês Sunday) (*).
(*) N.T.: Os nomes dos dias da semana, em espanhol, fazem a evocação referida pelo
Autor. Tal característica, contudo, se perde na tradução em português. Contudo, entre
parênteses, foram mantidos os nomes em espanhol para a devida comparação.
18 CABALA
O modelo da Árvore da Vida Sefirótica ordena de maneira prototípica as
forças verdadeiras que constantemente produzem o fato criacional, ou seja, o
descenso das emanações espirituais que conformarão posteriormente aquilo
que vulgarmente chamamos matéria, ou plano físico, ou hylico. Portanto,
graças à familiarização com estas energias, ou seja, com sua apreensão, pode
se tecer o sentido analógico de vibrações e correspondências que mantêm,
entre si, ligado o Universo em seus aspectos visíveis e invisíveis, materiais
ou imateriais, com o propósito de ascender a outros planos de identificação
com o Ser Universal por meio dos veículos Herméticos e da doutrina
tradicional. Na continuidade, oferecemos outras correspondências
astrológicas e alquímicas do diagrama. Também incluímos nele o En Sof
(Sem Fim), que se acha acima de Kether, simbolizando o Não-Ser, o
autenticamente metafísico e supra-cósmico, inclusive o não manifestado nem
sequer como Princípio.
Com o objetivo de ir "carregando" às esferas da Árvore da Vida com idéias
que sirvam de suporte à meditação e promovam a realização, queremos
adicionar alguns elementos referentes a suas relações astrológicas, que nos
ajudarão a compreendê-los melhor. Elas estão vinculadas com as nove
esferas da Cosmogonia tradicional, sete delas correspondentes aos planetas.
19 EXERCÍCIO PRÁTICO:
Desenhe uma Árvore Sefirótica. Carregue-a com concentração e paciência,
ou seja, trabalhe-a utilizando os conhecimentos e energias rudimentares que
obteve até agora. É oportuno dizer que os símbolos "despertam" quando se
os começa a invocar, e que as energias latentes neles começam a se revelar
em nós na medida em que estamos construindo uma via entre nosso ser e as
realidades que eles expressam. Por outra parte o símbolo, como expressão
da Idéia arquetípica, tem uma realidade própria, revelada àqueles que
puderam compreendê-lo, que por sua vez carregam a este símbolo com a
própria vivência. A vivificação do símbolo tem também uma leitura
terapêutica em cada um dos níveis em que se expressa: físico, psíquico e
intelectual-espiritual.
20 ASTROLOGIA
Vêem-se aqui algumas características a respeito dos sete
planetas que, como já vimos, articulam-se perfeitamente
no diagrama cabalístico:
VÊNUS: Conhecida deusa do Amor, encarrega-se nada menos que unir aos
fragmentos dispersos do ser e do universo. Em seu aspecto mais alto se
relaciona com os mistérios espirituais e místicos do amor, e o coito com os
deuses. Seu aspecto mais baixo se acha em relação com a personalidade e se
expressa pela posse do outro e a energia genital.
LUA: Astro evidente e noturno, está relacionado com a Terra –da qual ela é
uma imagem celeste–, com a fecundação e com a potência essencial dos
eflúvios vitais. Sua identificação com as águas e com a obscuridade resultam
singelas de compreender. Preside a noite, e sua débil luz, e a periodicidade
de seus ciclos, anunciam-nos a presença de outras realidades ocultas, mais
além dos fenômenos psíquicos que constituem seu reinado.
21 ALQUIMIA
Os 4 Elementos - É conhecida a divisão em quatro elementos que a
Antigüidade greco-romana estabeleceu em suas cosmogonias. Como nossos
leitores sabem eles são Fogo, Ar, Água e Terra, e se encontram presentes em
tal ou qual proporção em tudo aquilo que consideramos como matéria. Aliás,
estes elementos formam uma corrente, ou série sucessiva, já que o Fogo se
equipara ao princípio vital que o Ar transporta e a Água difunde, até se
concretizar na Terra. Há, por isso mesmo, distintas relações entre estes
elementos, a ponto de que a série pode alterar sua ordem, inclusive invertê-
la. E assim vemos que a Terra, equiparada ao sólido (gelo) pode se
liquidificar, para logo se evaporar e transformar-se em Ar (hálito vital)
emanado diretamente do Fogo (elemento radiante), verdadeiro agente
criacional, mediante sua dupla manifestação: luz e calor. Deve-se apontar
que estes elementos encontram em sua ronda um denominador comum ao
qual se referem e que é a sua essência, da qual dependem. Esse elemento
misterioso do qual os princípios radiante, aéreo, fluídico e compacto
dependem –já que é sua origem perpétua–, e que por sua vez os sintetiza, é
chamado pelos alquimistas quintessência. Aliás, o Fogo é seu primeiro
representante, já que toda ação cozinhada no Atanor ou cratera, tanto do
macro como do microcosmo, precisa de sua participação, capaz de gerar e
também de destruir, às vezes completamente. Pelo que um uso atinado e,
sobretudo, regulado deste elemento é imprescindível em qualquer operação
alquímica, já que todas elas, divididas em dois grandes temas, dissolver e
coagular, efetuam-se a partir da quantidade de fogo (luz e calor) utilizada ou
não em diferentes procedimentos transmutatórios.
Deve-se acentuar que estes "elementos" aos quais nos referimos não são
estritamente materiais, senão símbolos de Princípios Universais e não
substâncias concretas tomadas em sentido literal. Devemos esclarecer que
isto também é válido para os sete metais, identificados com os sete planetas
astrológicos, com os quais a Alquimia trabalha, já que tanto o ferro como o
mercúrio, etc., excedem os limites de sua designação com relação ao que
ordinariamente se entende por estas nomenclaturas.
Estes quatro planos começam com o mais alto, Olam Ha Atsiluth, que
significa Mundo das Emanações, e a ele pertencem as sefiroth Kether (1),
Hokhmah (2) e Binah (3). Esta triunidade de princípios compreende às
realidades ontológicas, referidas ao conhecimento do Ser Universal,
precedendo, portanto, à manifestação e progressiva solidificação de todas as
coisas. As energias mais invisíveis e profundas emanam desta tríade
suprema, que começa a se manifestar a partir do Mundo da Criação, Olam
Ha Beriyah, constituído pelas sefiroth Hesed (4), Gueburah (5) e Tifereth
(6). Como seu próprio nome indica, neste Mundo são geradas as primeiras
formas criacionais em seu aspecto mais sutil e informal, manifestadas através
do Mundo das Formações, Olam Ha Yetsirah, constituído por sua vez pelas
sefiroth Netsah (7), Hod (8) e Yesod (9). Esse processo de emanação finaliza
no Mundo da Concreção Material, Olam Ha Asiyah, constituído só pela
sefirah Malkhuth (10), que de toda a Árvore é a única visível e perceptível
aos sentidos, sendo a partir dela que começa nosso processo ascendente de
retorno à Unidade.
Desta forma, deve se ter presente que em cada plano há uma Árvore
Sefirótica completa: uma no mundo de Asiyah, outra no de Yetsirah, outra
mais em Beriyah, e finalmente outra no de Atsiluth. Nossa visão da Árvore
Cabalística adquire então tridimensionalidade, ou seja: podemos visualizá-la
(sem que por isso perca sua unidade essencial) em quatro níveis de leitura,
que estão em todas as coisas, inclusive em nós mesmos. Também os textos
sagrados e revelados de todas as tradições admitem ser lidos desta maneira.
Ditos níveis são, pois, graus hierarquizados de conhecimento. Por agora,
trabalharemos com a Árvore no nível de Asiyah, ou seja, da sefirah
Malkhuth, o plano físico e da concreção material, que é o do homem
condicionado por suas identificações egóticas e de seus sentidos, e daí,
invocando Kether, ascenderemos gradualmente por distintos mundos, do
mais grosseiro ao mais sutil, da casca ao núcleo, o que nos permitirá
conhecer outros estados de nossa consciência, que desta maneira vai se
universalizando, até sua plena identificação com o Ser, o Adam Kadmon ou
Adão Primordial.
23 A INICIAÇÃO
A Iniciação nos Mistérios supõe uma completa transmutação que terá de se
operar gradualmente no adepto, em diversos níveis, durante o caminho para
o conhecimento de si mesmo; é uma via gradual na qual se conhecerão,
pouco a pouco, os distintos estados do ser.
Para que a Iniciação ocorra, será necessário que o adepto permita que os
símbolos e ritos sagrados, proporcionados pela doutrina da Tradição
Unânime, penetrem em seu interior e operem essa transformação integral,
que terá que se produzir quando estes instrumentos despertadores da
consciência ordenem a inteligência e toquem as fibras mais sutis e
imperceptíveis que se conectam com as verdades eternas. Ela comporta um
desenrolar de potencialidades ocultas e misteriosas, que jazem em nossa
própria interioridade, e um desenvolvimento das possibilidades
verdadeiramente espirituais, que no estado ordinário se encontram
adormecidas. O estudo dos códigos simbólicos tradicionais –como aqueles
que são proporcionados por nosso Programa–, bem como a meditação e a
concentração –e a prática dos rituais iniciáticos–, serão veículos adequados
para que esta transmutação e despertar da consciência sejam produzidos e se
substituam progressivamente os apegos e as falsas identificações por aquilo
que se denomina a Suprema Identidade.
Esta morte comporta uma completa dissolução dos estados anteriores, que
deverá ser repetida cíclica e gradualmente –em diversos níveis cada vez mais
sutis e elevados– durante o curso do processo iniciático, até que renasça o
homem novo, o homem verdadeiro, totalmente regenerado, que terá
desenvolvido o leque de suas possibilidades humanas e estará pronto para
transcender aos estados supra-individuais e recobrar seu verdadeiro Ser. Terá
assim retornado ao estado virginal das origens, à pátria celeste.
Não queremos terminar sem dizer algo muito importante para se ter em
conta no processo iniciático ou de conhecimento: o de não confundir o plano
psicológico com o espiritual, erro que é muito freqüente hoje em dia. Isto
acontece porque o espiritual foi negado ao se fazer uma diferença cortante
entre alma e corpo, outorgando-se-lhe então a tudo o que não é material, ou
corporal, uma categoria espiritual, ou pseudo-espiritual.
24 A ANALOGIA
O Selo Salomônico. A realidade, sendo una e universal, apresenta-se, no
entanto, a nossos olhos como múltipla e fragmentária, particular, efêmera e
limitada. Esta visão de "superfície" implica, aliás, numa dualidade que
convém resolver, já que como tal não poderia realmente subsistir, estando
em si mesma dividida. As analogias e correspondências simbólicas são os
laços que permitem articular, dentro de uma mesma esfera inteligível, duas
realidades, estados ou mundos aparentemente díspares e inconexos. A
conhecida figura do Selo Salomônico, ou Estrela de David, sintetiza
esotericamente esta realidade, o desenrolar integral do Cosmo através da
cópula indissolúvel dos dois aspectos polarizados e complementares de uma
mesma entidade Universal. A projeção triangular dos princípios universais
do Ser (triângulo superior) no "espelho das águas" ou substância universal
(triângulo inferior) produz a "reflexão cósmica" de todas suas possibilidades
existenciais, o mundo em sua indefinida variedade e continuidade.
25 ALQUIMIA
Já dissemos que toda a transmutação alquímica, seja material, psicológica ou
espiritual, é produzida pelo fogo. Quem aspira ao Conhecimento tem de
saber que seu fogo interior –a sede pela Verdade e seu amor a ela– tem que
ser constante e contínuo, ou seja, que não se acenda tanto que por sua causa
arda e se perca nosso ânimo, e também que não diminua a ponto de se
apagar. É o delicado jogo dos equilíbrios de que falavam os alquimistas
medievais e renascentistas, os quais também aconselhavam que em todas as
operações deviam prevalecer as virtudes da paciência e da perseverança. Na
manutenção desse fogo e no controle natural de sua potência, radicam os
princípios fundamentais da Alquimia. Não obstante, para harmonizar essas
energias é imprescindível conhece-las e experimentá-las, sem negá-las nem
dá-las por supostas. Muito pouco sabe o homem ordinário do conhecimento
de outras realidades e de si mesmo, mesmo no mais elementar. Considera
que sua "personalidade" (quer dizer, seus egos, fobias e manias) é sua
verdadeira identidade, sem perceber que extraiu esses condicionamentos do
meio, de modo imitativo, carente de significado e de transcendência.
26 A ÁRVORE DA VIDA
Queremos aqui insistir sobre o mandala da Árvore Sefirótica com a qual
trabalhamos. Sugere-se efetuar ritualmente a construção de uma nova árvore
por sua mão e carregar nela todos os elementos que foram mencionados até o
momento. Igualmente tem que se buscar memorizar os nomes, sua tradução,
as equivalências entre distintas disciplinas, e se exercitar nelas. Tome lápis e
papel e se concentre neste trabalho. Pode também levá-lo ao tridimensional.
Os nomes hebreus das sefiroth têm um sentido mágico e teúrgico que excede
sua simples tradução à língua profana. Estes nomes de poder devem ser
memorizados corretamente e invocados em alta voz, seja de maneira
metódica, ou quando se julgue oportuno em relação a fatos e momentos
cotidianos. Por esta razão, localizar determinados acontecimentos externos e,
sobretudo, realidades internas nos distintos níveis de si mesmo, são
atividades sumamente convenientes. Cada plano, mundo ou nível de
consciência corresponde a uma realidade íntima que vai do mais periférico,
concreto e conhecido (Asiyah), ao mais sutil, invisível e desconhecido
(Atsiluth). Estas divisões do diagrama plano são também mundos ou níveis
que os homens portamos dentro de nós. Do conhecido e grosseiro ao
profundo e desconhecido.
Observe-se que a sucessão dos elementos é constante: fogo, terra, ar, água.
Ao terminar a série, voltam a se reciclar na mesma ordem. Ao longo dos 360
graus da circunferência, os 3 signos referentes ao mesmo elemento se
encontram em distintas porções do círculo, formando um trígono. (Ver
figura mais cima composta de 4 trígonos).
28 FILOSOFIA
O termo Filosofia, de origem grega, significa amor (Philo) à sabedoria
(Sophia), ou seja, uma filiação, ou identidade, com o Conhecimento. Sophia
é para os gnósticos uma entidade, um princípio, uma deidade. O homem
pode aspirar a ela, vivenciando-a como um estado de sua consciência. Não
esqueçamos que para a Cabala esta esfera é Hokhmah, Sabedoria, um dos
princípios ontológicos do Ser, o que conjuntamente com sua parelha
feminina, Binah, a Inteligência, conforma a base da primeira tríade da
Árvore da Vida, e é atributo, ou nome, da divindade. A autêntica sabedoria,
a Filosofia da Antigüidade, não só é uma Ontologia, e também uma
Cosmogonia, senão que toda sua estrutura tende à Metafísica. Em verdade,
poder-se-ia dizer que esta Filosofia é uma Teosofia.
29 CABALA
Em nosso último diagrama, vimos a divisão em tríades das sefiroth da
Árvore da Vida. Ali se pode perceber que aquelas se correspondem com os
três mundos cabalísticos mais elevados, ficando a última numeração
(Malkhuth) como receptáculo das emanações sefiróticas, que por esta divisão
em tríades incluem em sua forma os três princípios: ativo, passivo e neutro
que caracterizam as colunas ou pilares de nosso modelo cabalístico.
A segunda tríade (4, 5, 6) está composta pelas sefiroth Hesed (Graça, Amor,
Misericórdia), Gueburah (Rigor), também chamada Din (Juízo), e Tifereth
(Beleza ou Esplendor). Elas conformam o Mundo prototípico de Beriyah, ou
da Criação, reflexo direto do mundo arquetípico de Atsiluth, como bem o
expressa o triângulo invertido, que simboliza o descenso das energias divinas
no seio da manifestação. Hesed é o princípio construtor, enquanto Gueburah
representa o princípio destruidor, ainda que ambos surjam simultaneamente
da tríade superior como duas energias necessárias, que se neutralizam e se
equilibram em Tifereth. Se do seio de Hesed surgem todas as criaturas e
seres que têm de se manifestar (os que ele assinala com seu Amor e
Misericórdia inesgotáveis), de Gueburah emana o Rigor imprescindível que
põe limites à energia expansiva de Hesed, discriminando assim tudo o que é
supérfluo e desnecessário no processo criativo. Tifereth, a Beleza divina,
aparece então como o Centro onde esses opostos aparentes se conciliam,
manifestando a Unidade e o Ser em todas as coisas.
31 ARITMOSOFIA E GEOMETRIA
Os símbolos geométricos têm, como dissemos antes, uma relação simbólica
precisa com as cifras matemáticas. Como se verá, a cada número corresponde
exatamente uma ou mais figuras da Geometria; poderíamos dizer que estas
são a representação espacial das mesmas energias que os números também
expressam à sua maneira.
Como todos os números podem ser reduzidos aos nove primeiros (por
exemplo, o número 8765 = 8 + 7 + 6 + 5 = 26 = 2 + 6 = 8, e desse modo
poderíamos proceder com qualquer número maior que nove), limitar-nos-
emos por agora a descrever sucintamente o simbolismo dos nove primeiros
números, mais o zero.
·
O Um simboliza a Origem e o Princípio único do qual derivam os princípios
universais, e também o Destino comum ao qual todos os seres têm que
retornar. É, segundo a máxima Hermética, "o Todo que está em Tudo", ou
seja, o Ser Total.
3 – Mas como dissemos, para que a dualidade se produza tem de ter sempre
um ponto central do qual nasce a polarização:
4 = 1 + 2 + 3 + 4 = 10 = 1 + 0 = 1
5 – O cinco, que é o central na série dos nove primeiros números, na
geometria aparece quando a unidade se faz patente no centro do quadrado e da
cruz:
fig. 3
Diz-se que este número se produz pela soma dos três princípios mais os quatro
elementos, aos que também podemos vincular com as sete artes liberais da
Tradição Hermética, constituídas pela soma do trivium (gramática, lógica e
retórica) e do quadrivium (matemática, geometria, música e astronomia).
32 A RODA E A CRUZ
O símbolo da roda (a esfera, na tridimensionalidade) está estreitamente
associado com o do círculo, do qual já falamos. Tal como este, também se
encontra em todos os povos tradicionais, o que nos fala de sua
primordialidade, atestando assim sua importância como veículo para o
entendimento dos mistérios da Cosmogonia, considerada como um suporte
vivo que nos permite ter acesso ao conhecimento da Metafísica e das
verdades eternas. Aliás, ambos os símbolos se referem às mesmas idéias, pois
respondem à idêntica estrutura: um ponto central e a circunferência a que este
dá lugar por sua irradiação.
A roda, com a cruz em seu interior, é igualmente a imagem de todo ciclo, que
se divide segundo o modelo quaternário: as quatro fases da lua, do dia e do
ano, as quatro idades da vida do homem, as quatro grandes divisões do ciclo
cósmico (chamado Manvántara pela tradição hindu), que compreendem a
manifestação inteira do mundo e da humanidade, etc.
35 OS TRÊS GUNAS
Conquanto a Tradição Hermética constitui uma via do Ocidente para o
Conhecimento, isso não significa que não guarde estreitas analogias com
outras tradições que também manifestam o mesmo. Tal é o caso da tradição
hindu, sua Teogonia e Cosmogonia. Dela queremos destacar os três Gunas,
que representam energias ou princípios presentes em todas as coisas. A
primeira é Sattwa, assimilada à energia sutil e celeste, à qual se opõe Tamas,
identificada com a atração gravitacional da densidade da Terra. A força de
uma é invertida com relação à outra. Mas ambas em um ponto se unem,
complementando-se. Sattwa e Tamas se encontram sobre um mesmo eixo
vertical em diferentes níveis. E a distância média entre elas é o lugar em que
se conjugam. Esta identificação e neutralização dá lugar a uma terceira
energia, gerada pela expansão da potência das outras duas, gestando um
plano de irradiação horizontal, listras, que é a projeção das energias opostas
do plano vertical, a qual junto com elas, e como princípios presentes em
todas as coisas, no Cosmo inteiro, dará lugar ao Mundo.
36 A RESPIRAÇÃO
A respiração é a forma que tem o homem de se conectar com o universo.
Respiração é vida e bem se diz assim quando se fala do hálito vital. É
também a maneira com a qual o universo se comunica conosco, da qual
colhemos a energia necessária para a existência. A respiração é rítmica, e isto
é o primeiro que percebe aquele que quer tomar consciência dela. Estes
ritmos respiratórios, divididos em duas grandes categorias, conhecem-se
como a aspiração e a expiração. Pela primeira, sabe-se, o homem recebe o
alento cósmico. Pela segunda o devolve, uma vez que obteve por seu meio o
sustento imprescindível. Desde o ponto de vista do macrocosmo ou do
universo, seu expirar corresponde à aspiração do homem e sua aspiração à
expiração deste. Homem e mundo, microcosmo e macrocosmo, participam
da só e única realidade do Verbo. A respiração é, pois, algo transcendente, da
qual é importante tomar consciência, já que, como se vê, é um meio
poderoso e singelo ao alcance de qualquer um para poder entender em nosso
pequeno espaço, em nosso laboratório alquímico, e com nossas imagens, as
realidades cosmológicas que se refletem no homem, pois este foi gerado com
o próprio modelo do Cosmo.
37 ASTROLOGIA
Os signos zodiacais admitem uma divisão quaternária relacionada com os
elementos da tradição greco-romana e alquímica (ver N.º 21).
Os três de Fogo:
Os três de Terra:
Os três de Ar:
Os três de Água:
38 RESPIRAÇÃO: OS CICLOS
O estudo dos ciclos predispõe a mente a uma forma de conceber o tempo de
maneira diferente, não linear, senão circular, engrandecendo assim nossa
percepção, nosso espaço consciente, universalizando-o. O ciclo binário, e
sua potencialidade criativa (4 = 22), é o que conforma qualquer ciclo
quaternário de ida e retorno e a ele trataremos de adequar nossa respiração.
EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO:
Isto é tudo por agora. Tomem-se entre 15 e 30 minutos ao todo para efetuá-
los. Não é conveniente fatigar-se. Não se ponha demasiado eufórico ou se
desanime pelos resultados obtidos. A persistência diária é necessária e o
melhoramento neste treinamento é progressivo.
39 ASTROLOGIA
Como se sabe, o signo ao qual pertence uma pessoa é o natal, ou seja, o
assinalado pela época em que o Sol, em seu passo anual, toca a roda zodiacal
no ponto correspondente ao momento do nascimento. Damos, na
continuidade, as datas às quais pertencem os distintos signos do ano, com
referência ao calendário civil:
40 ALQUIMIA
Os princípios alquímicos, bem como os metais, não devem confundir-se com
as substâncias que os simbolizam. O alquimista aprendiz, conjugando e
ordenando estas energias sutis, experimenta a transmutação que sua Ciência
promove, utilizando para isso o Atanor, esse forno ou caldeira onde
cozinhará sua obra.
O Cosmo todo pode ser observado como um grande Atanor no qual estas
forças se inter-relacionam, opondo-se e se conjugando perpetuamente, tal
qual o afirma o Corpus Hermeticum. No interior do alquimista (microcosmo)
ocorre o mesmo: estes princípios e elementos se combinam entre si
produzindo desequilíbrios, combustões, alterações e contradições. Mas o
iniciado sabe que no constante desequilíbrio das partes em que
aparentemente o Cosmo se divide, radica o equilíbrio do conjunto, a ordem
do todo.
Isto, no entanto, é ignorado pelo homem ordinário, que se deixa levar pela
corrente da manifestação universal, que vai do sutil ao grosseiro, do único ao
múltiplo. Esta corrente, que está destinada a destruir, separar e dividir, é a
que impera no mundo profano; mas o adepto avança num sentido inverso: do
denso ao etéreo, construindo a ordem a partir do caos, unindo os fragmentos
dispersos da multiplicidade da manifestação transitória e aparente e sempre
procurando, e finalmente achando, a perfeição que simboliza o ouro, o
"elixir da imortalidade" ou a Pedra Filosofal, a realidade única que
transcende toda manifestação.
41 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Volte a repetir os três exercícios a, b, e c do N.º 38.
Não é raro que o velho homem que coexiste conosco negue toda
possibilidade de salvação de maneira inconsciente, ou trate de "consumir" o
conteúdo deste programa. Há um tempo e um espaço sagrados, que se
correspondem com os aspectos mais altos do ser, cada vez mais livre de seus
inumeráveis egos e paixões que tratam de subjugá-lo. É sumamente
conveniente fomentar a realização desse espaço e tempo diferentes e para
esse efeito o rito e a invocação, e o respeito pelo sagrado, devem se
modificar, desde o princípio, em nossa vida diária. Para o caso destes
trabalhos e práticas, aconselha-se uma hora determinada –que bem pode
ser noturna, quando as vibrações do meio se calam– e um lugar para as
realizar –localizado de preferência olhando para o norte ou para o oriente–
por pequeno que seja. Desta Forma, sublinhamos o conveniente de ter um
lugar especial relacionado com o material de Agartha. Isto se deve à
necessidade de distinguir, em qualquer nível, a diferença que existe entre
duas visões, ou leituras absolutamente distintas da realidade. A do homem
ordinário, ou profana, e a do aspirante ao Conhecimento, ou sagrada.
Fazendo-se a escusa de que o sagrado, ou metafísico, não é o que hoje em
dia se entende por "religioso", ou "piedoso", e que o profano não é aquilo
que o "moralismo" possa condenar como tal. O sagrado, ou metafísico,
excede amplamente o fenômeno "religioso", ou o "devoto", ou a superstição.
E a ética supera as "moralidades" locais, geralmente motivadas para impor
seus interesses e pontos de vista, tão passageiros quanto às modas ou às
mutações dos usos, costumes e gostos das personalidades.
43 CABALA
Tomamos certos pontos da ciência cabalística, apropriados para efetuar
nossos trabalhos com a Árvore da Vida Sefirótica, que relacionamos com
outros símbolos tradicionais e disciplinas herméticas, e igualmente com
outros exercícios e práticas que funcionam como meios ou despertadores
para ir observando, conhecendo e adquirindo, pouco a pouco, pela reiteração
destes rituais, outro grau de consciência ou uma leitura diferente da realidade
e da descrição que temos da mesma. Igualmente, devem anotar-se certos
riscos inerentes à queda de uma série de estruturas que, de não serem
substituídas pelos elementos que nos brinda a Doutrina Tradicional, levar-
nos-iam só a uma estéril vacuidade, ou a uma desesperação gratuita.
Adverte-se uma vez mais sobre a discrição e seriedade que devem rodear
nossos trabalhos, conselho repetido invariavelmente pelos adeptos da
Ciência e da Arte. Voltaremos a concentrar uma e outra vez sobre o
diagrama cabalístico, verdadeiro modelo do universo, com o ânimo de
interiorizá-lo, compreendê-lo, e intuir o cúmulo de imagens que nele estão
contidas e cuja manifestação promove. Desta forma, queremos lembrar que,
segundo o Sefer Yetsirah (ou Livro das Formações, verdadeiro clássico
cabalístico) reitera repetidamente, os sefiroth são dez. Não nove, senão dez.
Não onze, senão dez.
fig. 4
44 LITERATURA
Já observamos que as origens da cultura são sagradas. Isto é particularmente
notório nas artes, já que tanto a dança, como o teatro, a música e as artes
plásticas se remontam dos começos míticos e rituais do homem, e foi sempre
uma deidade a reveladora e patrocinadora destas disciplinas. Na
Antigüidade, as obras de arte eram anônimas, como seguem sendo ainda
entre diversos povos, e só a partir do Renascimento é que se conhece seus
autores em forma individualizada. Criar é repetir e reproduzir a situação da
Criação original. A literatura não escapa a este princípio, e as grandes obras
em verso e em prosa são aquelas que despertam e fazem pressentir a aflição
e o deslumbramento do Conhecimento. O poeta, bardo, ou vate (daí a
palavra “Vaticano”), é um transmissor inspirado das energias do sublime, e
sua linguagem se articula com um ritmo preciso e particular. Os textos
sagrados de todas as tradições dão conta cabal disso. A beleza da forma é a
roupagem e a atração da Beleza do Princípio e, portanto, reflete-o
harmonicamente. A arte é um veículo e uma maneira de conhecer, e são
numerosos os esoteristas que se expressaram por seu intermédio.
Lembremos que a sefirah Tifereth é Beleza, e que se acha no caminho
ascendente que vai de Malkhuth a Kether.
Num sentido amplo, todo escrito é literatura. Mas há alguns nos quais a arte
na maneira de dizer, a transparência das imagens com que se diz, a clareza e
a ordem dos conceitos, ainda que permaneçam velados, fazem-nos
memoráveis e os ligam a nós com laços emotivos e sutis. Assim, na memória
dos povos as lendas transmitem seus mitos. Os contos de fadas e de bruxos
nos aproximam a uma realidade prodigiosa. A poesia épica (a Ilíada, a
Odisséia) nos revela uma mensagem heróica. O classicismo de Dante e
Virgilio é completamente outra coisa sob uma leitura Hermética,
acrescentando desta maneira seu conteúdo e sua estética. As histórias do
Santo Graal, as gestas de cavalaria, as fábulas (como a Metamorfoses, ou
Asno de Ouro, de Apuleio), ou a produção Metafísica de um Dionísio
Areopagita, entre muitíssimas outras, são alguns dos exemplos da
potencialidade da Arte como transmissor de Conhecimento e promotor de
Iniciações espirituais.
45 CABALA
Surgida no século II de nossa era, no povo de Israel, a Cabala se
desenvolveu na Alta e Baixa Idade Média, em países cristãos como França e
Espanha, particularmente neste último, onde no século XIII foi escrito nada
menos que O Zohar, o grande livro cabalístico, brilhando na Itália durante o
Renascimento sob sua forma cristianizada, e passando aos países do norte e
centro da Europa, à Inglaterra, Polônia, etc., em distintas épocas, e onde
ainda hoje se mantém viva, bem como em Jerusalém e muitas outras cidades
do mundo moderno, entre judeus e não judeus. Isto quanto ao que se refere à
Cabala histórica.
46 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Nas mesmas condições em que efetuamos os exercícios anteriores e os que
seguirão, realizaremos agora uma prática nova: você já se familiarizou com
uma respiração simples de duas fases (aspiração-expiração). Agora
subdividiremos este ciclo em quatro. Desta forma, você se acostumou a
produzir tanto a aspiração como a expiração num determinado lapso igual
de tempo (4, 6 ou 8 pulsações, etc.). Trate de fazer este exercício que damos
na continuidade, outorgando a cada uma das quatro fases o mesmo número
de pulsações já eleitas. Vejamos o seguinte diagrama:
48 MOISÉS
O nome de Moisés evoca imediatamente a idéia do povo judeu, que ele
encarna e ao mesmo tempo gera. Efetivamente, tendo nascido no Egito, é
considerado como da família do Faraó, pois aparece como filho da irmã
deste e, como tal se diz, é iniciado pelos sumos sacerdotes nos mistérios
mais profundos de Isis e Osíris, onde se sobressai por seus conhecimentos.
Desde jovem, sente um chamado cada vez mais claro para algo que ainda
não se define, mas que não está relacionado nem com Egito, nem com a
posição invejável que ostenta, que, por outra parte, cada vez se lhe faz mais
difícil, pelos ciúmes, inveja e desconfiança de seu tio Ramsés II, e de seu
primo, que lhe sucederá no trono. A "casualidade" faz com que Moisés, ao
defender um escravo judeu injustamente tratado, mate o agressor e tenha que
fugir pois, para casos como o seu (Moisés era ministro do culto de Osíris), a
justiça do Faraó aplica as penas máximas. Refugia-se onde encontra outro
personagem chave: Jetro, rei de Salém, grande sacerdote e iniciado e pai
espiritual de numerosos povos nômades que povoavam os desertos e terras
entre as civilizações do Egito, Caldéia, Babilônia, etc., compostos por
semitas, árabes, etíopes, etc.
49 HERMES
Referir-nos-emos agora a Hermes, deidade chave na tradição egípcia, grega e
romana. Thot, o Hermes egípcio, que na Alexandria é conhecido como
Hermes Trismegisto, ou seja, o possuidor das três quartas partes da sabedoria
universal, é identificado igualmente com o Hermes grego e com o Mercúrio
romano. Sempre se considerou este deus como uma imagem da transmissão,
e a isso se deve que os atributos com os quais é identificado, capacetes e
sandálias aladas, estejam relacionados com o vento. Uma de suas
características é a rapidez de seu deslocamento, o que na Alquimia pode ser
observado, de forma análoga, quanto ao metal do mesmo nome, que
conhecemos como Mercúrio em sua versão latina.
Bem se diz que Hermes é eterno, seja este ou aquele o nome que lhe
dispensaram os distintos povos. Unanimemente é transmissor de ensinos e
segredos, chame-se Thot, Enoch, Elias ou Mercúrio, como já dissemos. Sua
revelação pelo batismo da inteligência se produz naqueles que encararam
sem preconceitos nem muletas o Conhecimento e se filiam intelectualmente
a seu patrocínio; sua invocação, a concentração e a aplicação dos distintos
métodos de sua ciência estabelecem uma comunicação direta com esta
altíssima entidade, que se manifesta internamente em qualquer grau nas
individualidades dispostas a isso. Como se sabe, esta deidade se manifestou
–e o segue fazendo– na história do Ocidente por meio da Tradição Hermética
e das disciplinas que a conformam.
"Já que o Demiurgo criou o mundo inteiro, não com as mãos, senão pela
palavra, concebe-lhe, pois, como sempre presente e existente, e tendo feito
tudo e sendo Um Só, e como tendo formado, por sua própria vontade, os
seres, porque, verdadeiramente, é este seu corpo, que não se pode tocar, nem
ver, nem medir, que não possui dimensão alguma, que não se parece a
nenhum outro corpo. Já que não é nem fogo, nem água, nem ar, nem alento,
mas todas as coisas provêm dele. Agora bem, como é bom, não quis dedicar-
se esta oferenda só a si mesmo nem enfeitar a terra só para ele, senão que
enviou aqui para baixo, como ornamento deste corpo divino, o homem,
vivente mortal, ornamento do vivente imortal."
fig. 5
50 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
É importante que se habitue a este exercício, ao que inclusive se lhe deve
dar um caráter ritual. Pode ser que as distintas fases respiratórias não
possam ser realizadas exatamente de acordo com o mesmo número de
pulsações. Por exemplo: que a aspiração e a retenção precisem tempos
diferentes, bem como a expiração e o vazio subseqüente. No entanto, tanto
os movimentos número 1 (aspiração), como o número 3 (expiração), devem
ser feitos em tempos iguais. Assim, a retenção e o vazio (fases números 2 e
4) devem se efetuar em igual tempo. A saber, que se a aspiração é realizada
em seis pulsações, a expiração deve corresponder a esse mesmo número.
Igualmente, se a retenção se faz em quatro pulsações, o vazio se efetuará no
mesmo tempo.
Seria muito conveniente que esta respiração começasse a ser para você
como uma forma ritual, à qual pudesse recorrer em qualquer momento,
distinguindo nitidamente do mundo da respiração ordinária este outro
espaço, no qual você efetua seu exercício. Ao se acostumar a fazê-lo à
vontade, começa o organismo a reconhecer outra possibilidade de si mesmo.
Se no princípio teve alguma dificuldade, não abandone. E reitere os esforços
para consegui-lo. Lembre-se de que o segredo desta prática radica em
expulsar totalmente o ar que possa ter em seus pulmões, na fase número 4,
produzindo-se assim uma morte simbólica, à qual necessariamente tem de
seguir um renascimento marcado por uma nova respiração. Lembre também
que os exercícios têm de se efetuar aspirando o ar pelo nariz e expulsando-o
pela boca. Se você consegue com estas práticas uma certa perfeição, poderá
ampliar um pouco os minutos do dia para lhe dedicar, e inclusive exercitar-
se nela em distintas ocasiões de sua jornada, e não só em seu gabinete de
trabalho e em postura ritual. Se você consegue incorporar esta nova
respiração a momentos determinados de seus horários ordinários, adquirirá
uma certa mecanicidade em sua prática e execução. Isto tem valor, já que
você está controlando à vontade sua recepção e entrega de energias, e sua
respiração já não é algo inconsciente, arbitrário e casual, senão algo
consciente, ordenado e efetivo. Ainda que não o tenhamos percebido, demos
um pequeno grande passo para a concentração de nossos esforços na busca
e reedificação de outras realidades adormecidas. Reitere e habitue-se a
estes exercícios, que facilitarão outras muitas potências latentes em seu
interior. Por certo, antes de se entregar a estas práticas, tem de ter um
mínimo de relaxamento e tranqüilidade indispensáveis.
51 PITÁGORAS
Na Antigüidade existia uma lenda segundo a qual Pitágoras foi engendrado
no seio materno graças a uma intervenção direta do deus Apolo, também pai
das Musas e herdeiro da lira de Hermes. Destacava-se assim a origem celeste
e divina de sua doutrina, máxime tendo em conta que Apolo (númen da Luz
inteligível, da Harmonia e da Beleza) era considerado uma deidade de
origem hiperbórea, o que o punha em relação com a Tradição Primordial. O
mesmo nome de Pitágoras procede da Pítia do templo de Delfos (dedicado a
Apolo) que profetizou seu nascimento como um bem doado aos homens,
nascimento que aconteceu aproximadamente no ano 570 a.C., na ilha grega
de Samos. Tendo recebido os mistérios órficos próprios da antiga tradição
grega, Pitágoras abandona sua pátria natal para realizar uma série de viagens
que o levarão por todo o mundo antigo, especialmente Fenícia, Babilônia e
Egito, país onde residiu durante um longo período de tempo, sendo iniciado
pelos sacerdotes egípcios, guardiões da sabedoria de Hermes-Thot.
Amadurecido seu pensamento, e depois de realizar a síntese de todo o saber
recebido, Pitágoras regressou a Samos trinta e quatro anos depois, preparado
para cumprir com o alto destino predito em seu nascimento, e que não era
outro senão o de criar as bases sobre as quais se assentaria a cultura grega, e
posteriormente a civilização ocidental.
Em Samos fundou sua primeira escola, que seria o germe das que mais tarde
se estabeleceram por toda a planície mediterrânea, especialmente na Magna
Grécia (Sicília), em cuja cidade de Crótona esteve o centro mais importante
na vida de Pitágoras. Seus ensinos (cosmogônicos, esotéricos e metafísicos)
articulavam-se em torno ao Número, onde residia a origem da Harmonia
Universal, pois através dele se revelam as medidas e proporções de todas as
coisas, celestes e terrestres, idéia que Platão recolhe no Timeu, seu livro
pitagórico por excelência. Para Pitágoras "tudo está disposto conforme o
Número" encontrando na tetraktys, ou Década, o número perfeito, e a
própria expressão dessa Harmonia, pois "serve de medida para o todo como
um esquadro e uma corda em mãos do Ordenador". Harmonia manifestada
fundamentalmente também por meio da música e das formas geométricas,
como atestam seus famosos teoremas e a estrela pentagramática ou pentalfa,
distintivo da própria fraternidade pitagórica, que continuou subsistindo
durante longo tempo, ao menos até a Alexandria dos séculos II e III d.C.,
onde acabou se integrando na Tradição Hermética, chegando assim até
nossos dias através das diversas artes e ciências que tendem à transmutação
do ser humano mediante a Sabedoria, a Inteligência, o Amor e a Beleza.
52 O SIMBOLISMO DO TEMPLO
O templo reúne dentro de si o espaço e o tempo sagrados. Apenas
traspassamos sua porta, faz-se evidente a diferença entre o mundo exterior e
profano onde o tempo decorre linearmente e em forma indefinida e amorfa, e
o recinto sacro, onde se percebe um tempo mítico e significativo: o "tempo"
das origens do ser humano, a eternidade e a simultaneidade, conhecidas e
compreendidas na interioridade do homem que estabelece esta comunicação
ritual desde as profundezas do templo. Por outra parte, o templo é um
modelo do Universo, ao qual imita em suas formas e "proporções" e, como
ele, tem por objeto albergar e ser o meio da realização total e efetiva do ser
humano. Nas tribos mais primitivas, encontramos a choupana ritual (ou a
casa familiar) como lugar de intermediação entre o alto e o baixo.
Efetivamente, nela o teto simboliza o céu e o chão, a terra; os quatro postes
onde se assenta são as colunas onde se apóia o macrocosmo. É muito
importante assinalar que sempre nessas construções há um ponto zenital que
está aberto a outro espaço. Exemplo: a pedra caput ou cimeira, que não se
colocava na construção das catedrais, ou o orifício de saída da choça
cerimonial (na casa familiar esta saída é simbolizada pela chaminé, o lar).
Esta construção, imagem e modelo do Cosmo, tem, pois, uma porta de
entrada que se abre ao percurso horizontal do templo (transposição da porta,
passagem pelas águas do batistério, perda no labirinto cuja saída desemboca
no altar, coração do templo), e posteriormente um orifício de saída sobre o
eixo vertical, desta vez localizado na sumidade, simbolizando o Coroamento
da Obra e o rendimento a outro espaço, ou mundo, inteiramente diferente,
que está "mais além" do Cosmo, ao qual o templo simboliza. É também o
templo uma imagem viva do microcosmo e representa o corpo do homem,
criado à imagem e semelhança de seu criador; inversamente, o corpo do
homem é seu templo. O centro de comunicação vertical é o coração, e ali,
nesse lugar, acende-se o fogo sagrado capaz de gerar a Aventura Real da
transmutação, após as provas e experiências de Conhecimento que levam até
lá. Em nosso diagrama Sefirótico, a porta horizontal se abre de Malkhuth a
Yesod, enquanto a vertical de Tifereth a Kether. Ou seja, que todo o trabalho
prévio, encaminhado ao Conhecimento, tem que ter por objetivo imediato a
chegada ao coração do templo, o fogo perene do altar sobre o qual se assenta
o tabernáculo, espaço vazio construído com as réguas e proporções
harmônicas do próprio templo, e do qual é sua síntese. Terá então terminado
com a primeira parte dos Mistérios Menores (mistérios da terra) e começará
sua ascensão simultânea pela segunda parte (os mistérios do céu), ficando
para além do templo, ou seja, para o supracósmico, os Mistérios Maiores,
que por serem inefáveis não podem ter aqui análise e nem comentário. Na
realidade, este processo é prototípico e válido para qualquer mudança de
plano ou estado, onde se manifesta à sua maneira.
53 O SÍMBOLO DO LABIRINTO
O símbolo do Labirinto exemplifica perfeitamente o processo do
Conhecimento, ao menos em suas primeiras etapas, naquelas em que o ser
tem de se enfrentar com a densidade de seu próprio psiquismo (reflexo do
meio profano em que nasceu e vive), isto é, com seus estados inferiores,
separando alquimicamente o espesso do sutil, que a alma experimenta como
sucessivas mortes e nascimentos –solve et coagula–, destinando ao mesmo
tempo numerosas provas e perigos que somente fazem traduzir o próprio
conflito ou psico-drama interior. Esse desassossego é próprio daquele que,
tendo abandonado suas seguranças e identificações egóticas, descobre ante si
um mundo completamente novo e, portanto, desconhecido, mas para o qual
se sente atraído, porque na verdade intui que ao atravessá-lo é que poderá se
reencontrar com sua verdadeira pátria e destino. Essa impressão indelével de
estarmos totalmente perdidos tem que nos levar imperiosamente a encontrar
a saída, ajudados sempre pela Tradição (e seus mensageiros: os símbolos),
que neste caso nos chega por meio do Agartha que, tal como um guia ou
eixo, tem de nos conduzir (desde que nossa atitude seja reta e sincera) a um
estado de virgindade, a um espaço vazio imprescindível, apto para a
fecundação do Espírito, o que se vive no mais interno e secreto do coração.
fig. 6
54 PLATÃO
Como no caso de Pitágoras, Platão é herdeiro da Antiga Tradição Órfica e
dos mistérios iniciáticos de Eleusis. Platão sintetiza, dá a luz, revela este
pensamento, recebido da boca de Sócrates e adquirido através de viagens e
estudos de toda índole ao longo de anos. A influência de Platão é decisiva
para a Filosofia, que a partir dele e de um de seus discípulos, Aristóteles,
gera-se. Sublinhe-se que a Filosofia promove a história do pensamento, e
que de sua aplicação prática em diversos níveis (que vão desde os
acontecimentos cívicos, econômicos e sociais, aos usos e costumes, a moral
e a religião, para acabar determinando as modas, as ciências, as técnicas e as
artes), surge o mundo em que os ocidentais vivemos, queiramo-lo ou não.
Apropriadamente, chamou-se "divino" a Platão. Na Antigüidade não se
tomava este apelativo como alegórico, senão que se acreditava na divindade
de Platão, ao qual também se considerou uma entidade, porque em seus
diálogos (que ocorrem entre vários personagens da Grécia clássica, que
expõem suas idéias, enquanto Sócrates as ordena e as rebate) não aparece
jamais. Os erros denunciados diretamente por Sócrates, e os mostrados por
Platão através dos distintos interlocutores, e da fina trama do diálogo, são,
curiosamente, os que, desenvolvendo-se desde então de maneira equivocada
e em progressão geométrica, desembocaram na crise do mundo moderno.
Nas obras de Platão está perfeitamente explicada a Cosmogonia Tradicional
e seu pensamento Filosófico e esotérico está tão vivo hoje em dia como no
momento em que o Mestre escreveu. Basta nos aproximarmos de suas idéias,
para se penetrar, quando é lido com suma concentração e sem preconceitos
culturais e formais, num mundo de imagens e signos que vamos percorrendo
levados por sua mão.
55 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Devemos repetir nossa prática respiratória assinalada nos dois capítulos
anteriores, à qual adicionaremos agora uma visualização singela, mas não
menos efetiva. Com os olhos fechados, trate de imaginar que a habitação, ou
espaço, no qual nos dispomos a efetuar este exercício, vai se enchendo de
uma fumaça de cor vermelha brilhante que emana suavemente de algum
ponto dela. Colocamo-nos, pois, em nossa postura costumeira, e enquanto
relaxamos, começamos lentamente a perceber que esta fumaça, ou este ar
vermelho brilhante, vem nos rodeando lentamente, e começamos a aspirá-lo,
retê-lo, expulsá-lo e a ficarmos sem ele, à medida que vamos ritualizando as
fases do exercício.
56 ARTES E ARTESANATOS
Para uma sociedade arcaica, tradicional, arte é tudo aquilo que o homem cria
com suas mãos partindo do modelo arquetípico que contém em seu interior,
e que pode observar nas leis sutis que regem as produções da natureza,
manifestação da própria harmonia e da ordem universal. Esse modelo não é
outra coisa que a idéia de Beleza considerada como a mais alta expressão da
própria Arte do Criador, de quem se diz que a tudo fez "em número, peso e
medida". Por isso todo ato criativo, quando é conforme a esse modelo, imita
o rito original da criação do mundo a partir da substância amorfa e caótica,
ainda que essa atividade se trate de arquitetura, de artes visuais (escultura e
pintura), de artesanatos em madeira ou outros materiais, de ourivesaria, da
cerâmica, da cestaria e da tecelagem, da ebanisteria, de costura, de tapeçaria,
etc.
57 ÍSIS
Na continuidade, queremos reproduzir uma oração à deusa egípcia Isis,
esposa de Osíris, associada à primeira iniciação, lunar, enquanto seu parceiro
se encontra vinculado com a segunda iniciação, solar, e ambos os dois se
acham conjugados na terceira e última iniciação, a polar, que faz possível a
realização do supracósmico, do não humano. Apuleio a inclui em sua obra
“As Metamorfoses” (ou O Asno de Ouro, século II d.C.) onde nos dá notícias
de que este antigo mito egípcio sobrevivia incólume na Roma de seu tempo.
Esta invocação é pronunciada uma vez que se efetua o descenso aos
infernos, onde se percebe diretamente e de modo potencial tudo o que
seguirá, do qual este descenso é só uma prova. Lembremos por último a
vinculação da deusa Isis com o arcano do Tarot, chamado “A Papisa” ou “A
Sacerdotisa”.
"Isis é, pois, a natureza considerada como mulher e apta para receber toda
geração. Este é o sentido em que Platão a chama 'Nodriza' e 'Aquela que a
tudo contém'. A maior parte a chama 'Deusa de infinitos nomes', porque a
divina Razão a conduz a receber toda espécie de formas e aparências. Sente
amor inato pelo primeiro princípio, pelo princípio que exerce, sobre todo
supremo poder, e que é idêntico ao princípio do bem; deseja-o, persegue-o,
fugindo e rejeitando toda participação com o princípio do mal. Ainda que
seja tanto para um como para o outro matéria e habitáculo, inclina-se sempre
voluntariamente para o melhor princípio; a ele se oferece para que a fecunde,
para que semeie em seu seio o que dele emana e o semelhante a ele.
Regozija-se ao receber estes germes e treme de alegria quando se sente
prenhe e cheia de germes produtores. Efetivamente, toda geração é imagem
na matéria da substância fecundante, e a criatura se produz a imitação do ser
que lhe deu a vida."
58 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Situe-se exatamente no centro da habitação em que realiza suas práticas
respiratórias. Observe atenciosamente as coordenadas que formam o espaço
onde se acha e coloque-se no eixo onde todas elas coincidam. Imagine que
você está localizado na sefirah Kether. Feche os olhos e comece a regular o
ritmo de sua respiração, aspirando pelo nariz e expirando pela boca,
segundo o modelo que estamos praticando. A fumaça ou gás vermelho
brilhante é emanado desse ponto e você o aspira suavemente. Sincronize as
distintas práticas que simultaneamente está praticando. De En Sof, do Nada
infinito, surge uma débil esfumatura que você aspira e com a qual se
alimenta. Ao expirá-la, esta vai lentamente inundando toda a habitação com
seu resplendor claro e luminoso. Você é Kether e se alimenta da luz não
manifestada. Você é o começo dessa luz que exala e expande toda a Árvore
da Vida, a Criação Universal. Por seu intermédio se vai conformando
Hokhmah e este dá lugar a Binah, para voltar finalmente a você,
visualizados como uma triunidade de Princípios. Aspire e exale a fumaça
vermelha brilhante e, ao se identificar com as sefiroth, às que visualiza,
retorne a si mesmo, sendo um com a totalidade do Cosmo.
Filhas de Zeus e Mnemósine, sua quinta esposa, com a qual se uniu sob a
aparência de um pastor, foram engendradas em nove noites distintas, longe
dos demais imortais, com o objeto de que tivesse quem celebrasse a vitória
dos Olímpicos sobre os Titãs.
Ainda que tenham nascido no morro Pierio, e ainda que visitem o Olimpo,
onde alegram as festas dos imortais com seus cantos com que fazem
resplandescer o palácio de seu pai, gostam de se reunir no cume do monte
Helicão, de onde se aproximam na noite até a morada dos homens, que
podem ouvir assim, na quietude, a melodia de suas vozes. Elas comunicam
também aos olímpicos os males e sofrimentos destes, o canto de cuja criação
é uma alegria para Zeus.
Ainda que apareçam como virgens, algumas tiveram filhos com deuses e
homens; no entanto os destinos desta descendência assinala como o
verdadeiro fim a geração espiritual, supracósmica, às vezes de forma trágica,
como é o caso de Lino, filho de Urânia e de um mortal, ou, segundo alguns,
de Apolo e Calíope –ou Terpsícore–, a quem este matou ao ser desafiado no
canto; outras, como exclusiva geração do amor, como o de Himeneo,
nascido da união de Apolo e Calíope.
Sendo ao começo três, quando nos tempos arcaicos, seu número ficou fixado
em nove segundo a Teogonia de Hesíodo, a quem elas mesmas a revelaram,
e seus próprios nomes estão unidos a sua função:
Eutherpe: "a que sabe agradar", e que preside a música de flauta e outros
instrumentos de sopro.
Thalía: a comédia, "a que traz flores", ou "a que floresce", nome também de
uma das três Graças, representada com a máscara da comédia e o bastão de
pastor.
Melpómene: a tragédia, a que canta "o que merece ser cantado", representada
com a máscara trágica e a clava de Hércules.
Terpsícore: a música em geral e a dança, a que "ama a dança", cujo atributo
é a cítara.
1
N.T. – Azinheira = Quercus ilex - Árvore de até 27 metros, de copa ovóide ou
arredondada. Ritidoma não suberoso e escamoso-gretado. Ramos principais eretos.
Raminhos estreitos e tomentosos. Folhas persistentes, orbiculares. As juvenis são serradas,
as adultas são inteiras. Bolotas de maturação anual, aquénios e cúpula, com escamas
imbricadas mais ou menos aplicadas e tomentosas.
61 MAGIA
Falaremos da palavra magia e de seus possíveis equívocos. A vida inteira,
que se está manifestando em todas as ordens neste mesmo momento, é desta
forma uma função permanente de magia, ou seja, que a realidade na qual
vivemos é mágica. Nesse mesmo sentido nossa atuação nela também o é, de
modo natural, e a participação do homem neste processo é parte integrante
do próprio processo. A vida e nossa existência se estão fazendo
permanentemente e nós podemos participar ou influenciar nela de acordo a
determinadas pautas, relacionadas com certos ritos especiais. Pois no caso do
rito sucede o mesmo que com o símbolo: conquanto toda manifestação é
simbólica e igualmente a vida um perpétuo rito, no entanto existem certos
símbolos e ritos particulares que em forma mágica atuam sobre nós, sempre
que o sujeito que pratique determinados exercícios se encontre no estado
adequado para os realizar e sejam sensatas e sãs suas intenções. A Tradição
Hermética trabalha constantemente com símbolos e também utiliza
determinadas "cerimônias", para vivificar esses símbolos trazendo-os assim
ao plano da ação. Determinados "métodos", gestos ou formas de trabalho,
capazes de promover em nós, e em nosso meio, determinadas situações e
energias aptas para serem moldadas por uma vontade lúcida e retamente
ordenada na triunidade Verdade-Beleza-Bem.
62 TROPEÇOS E DIFICULDADES
Sem dúvida o leitor que nos segue atenciosamente deve ter encontrado ao
longo deste curso variadas e diversas dificuldades. Isso é próprio de qualquer
aprendizagem, e se agrava numa deste tipo, aonde em algumas ocasiões se
vai contra muitas das formas de ver próprias do homem contemporâneo e da
sociedade que este formou (e na que nós criamos), que não crê na realidade
do Espírito, nem na de outras possibilidades da criação e do homem, salvo
naquelas estritamente ligadas com a comprovação estatística, a análise
empírica, e com a manifestação exclusivamente visível e fenomênica. Neste
sentido, nosso interesse por temas ocultos e espirituais pode nos criar
algumas dificuldades com respeito ao meio, que não sempre compreenderá
nossa vocação, ou nos crerá enganados e até defeituosos de razão. Isto vem
adicionar-se a nossos próprios tropeços internos e à aparição de dúvidas,
incapacidades, paixões latentes e desconhecidas que surgem, vacilações,
fobias, manias, etc., que jazem no fundo de si mesmo e que começam a
despertar –na sábia economia do Universo– a par que nos alumiam outras
tantas áreas com a luz que provém do Conhecimento. Os símbolos revelam e
velam ao mesmo tempo.
63 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Seguindo com nossa série de práticas respiratórias, trataremos de ir
interiorizando em forma inconsciente, o segundo plano cabalístico. Sente-se
novamente no centro de sua habitação. Agora você imagina que é Hesed, a
sefirah N° 4. Em verdade você é tal qual uma árvore, neste caso a Árvore da
Vida, que extrai seu corpo do alimento que o ar lhe brinda. Aspira, pois, do
plano dos Princípios Eternos, seu nutriente vital, e conforma com ele seu
próprio corpo, ou seja, o de Hesed. Quando exala sua energia, passa a
Gueburah, conformando-o. Logo você mesmo é Gueburah, que inala a força
de Hesed, a retém e a expele para Tifereth, dando-lhe existência dessa
maneira. Agora você é Tifereth, a síntese de toda a luz incriada da Árvore
da Vida e conjuga toda a possibilidade da manifestação Você e a fumaça
vermelha esplendente são uma mesma e única coisa. Ao inalar a energia
sucessiva do plano ou mundo de Atsiluth, você concentra toda a energia do
plano da Criação arquetípica, o que tem de sustentar a ordem em que se
produzem as formas invisíveis.
64 DANÇA
Desde a mais remota Antigüidade, e de maneira unânime em todos os povos,
aparece a dança como expressão do sentir do homem, e como um ato natural
nele. Unida sempre à música e ao canto, como uma trilogia rítmica
indissolúvel, ela constitui um gesto espontâneo que se articula com o ritmo
universal. Este se colocar "no ritmo", este "ritmar" com o Cosmo, é a
essência e a origem da dança, cujas coreografias e movimentos circulares se
inspiram na ordem dos planetas e seus efeitos e correspondências na
manifestação. O homem, o dançarino, é o intermediário entre céu e terra, e
seus passos repetem e representam a Cosmogonia primordial à qual
imediatamente assinala um caráter repetitivo e ritual. Graças a estes gestos e
figuras ideais, ou "patronos" simbólicos, e à total entrega à dança, o ser
humano se vê transportado a outro mundo, a outro espaço mental, onde sua
participação ativa no presente através do movimento faz com que se conecte
com uma só e única onda, ou vibração, compartilhada pela criação inteira.
Quando isto é assim, é que se compreendeu o sentido mágico da vida, da
qual é parte.
65 A NAVE
A nave, por sua estrutura, aparece como uma imagem simbólica do Cosmo.
Seu mastro central representa o Eixo do mundo, que vai do zênite ao nadir, e
a gávea, que em muitas ocasiões o rodeia circularmente por cima, equivale
ao "olho do domo" das catedrais e de todo edifício construído seguindo o
mesmo modelo cósmico. Advirtamos que o espaço interior do templo cristão
também se denomina nave, sendo esta precisamente um dos emblemas dos
pontífices católicos, também chamados "pastor e nauta". Desta forma, a nave
está orientada segundo os quatro pontos cardeais: a direção proa-popa
assinala o eixo vertical norte-sul, e a direção estibordo-bombordo o eixo
horizontal este-oeste. É também uma imagem da Arca boiando sobre a
superfície das Águas Inferiores, contendo os germes de um novo ciclo, pelo
que também é relacionada com a copa, a matriz, e por extensão com o
coração e a caverna.
A porta (emoldurada pelas duas colunas), com sua dupla função de separar e
comunicar dois espaços (o espaço profano do espaço sagrado), está em
relação com os ritos de "trânsito" ou de "passagem", ligados por sua vez com
os mistérios da Iniciação, que constituem os mistérios da vida e da morte.
Trata-se de um simbolismo primordial que se encontra, sob distintas formas,
em todas as tradições.
Pela Iniciação, o Cosmo, com todos seus mundos e planos, aparece como a
autêntica casa ou morada do homem, na qual já não se sente estranho ou
alheio, pois morreu para o velho homem, e se reintegrou ao pulsar do ritmo
universal, do qual toma parte.
67 CABALA
Anteriormente, demos a idéia do simbolismo das colunas e da porta. Na
continuação, queremos transpor este simbolismo para nosso diagrama da
Árvore Sefirótica, ou Árvore da Vida cabalística:
68 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Como nas duas lições anteriores, referentes aos exercícios respiratórios do
plano ou mundo de Atsiluth e do de Beriyah, respectivamente, começamos
tomando os cuidados convenientes para nossa prática. Agora tomemos
nosso alento diretamente da fonte da luz e do calor: Tifereth, o Sol. Este,
por sua vez a toma do espaço infinito e a emana diretamente para nós.
Agora estamos localizados em Netsah, a sefirah N° 7, e aspiramos essa
energia que nos inunda e se faz evidente na zona baixa de nosso plexo solar.
Começamos a expirá-la suavemente para Hod, a sefirah N° 8, percebendo
que o vermelho brilhante se faz mais intenso, bem como a sensação de
“corporalidade" em todo o exercício. Retemos toda essa força e a exalamos
para Yesod, a sefirah N° 9, e notamos como desce e se vai coagulando, até
ficar estática, sinal de que a transmissão se efetuou. A copa ficou prenhe de
frutos, e a receptividade de Yesod passa agora a cumprir um papel
generativo e fecundador. Expelimos então nosso alento para o plano ou
mundo de Asiyah, para a Concreção material, fruto e manifestação sensível
das emanações, e efetivização das energias de toda a Árvore da Vida
cabalística.
69 MITOLOGIA CABALISTICA
Todos os povos, desde a mais remota Antigüidade, conservaram a realidade
do mito como um componente essencial de sua concepção do mundo, de sua
Cosmogonia e Teogonia. Por muito longe que nos remontemos na história
das civilizações tradicionais, sempre encontramos nelas uma rica profusão
de relatos e lendas relacionados com seres míticos, que servem de
comunicação entre a Terra e o Céu, entre o de baixo e o de cima. A tradição
cabalística também conserva um grande número de gestas míticas vinculadas
com o descenso à Terra das energias celestes, angélicas ou espirituais.
Assim, na Cabala se acha com freqüência o nome de Metatron, que se
identifica com o arcanjo Miguel, também chamado o "Príncipe das Milícias
Celestes".
Certos anjos caíram acesos pelo amor que professavam às filhas dos homens
às quais, diz-se, "encontraram formosas e belas". De seu casamento,
nasceram seres semidivinos (os antepassados míticos), que revelaram aos
homens as ciências e as artes teúrgicas, mágicas e naturais, ou seja, todas
aquelas disciplinas que, como já sabemos, integram os textos sagrados dos
“Hermética” e do “Corpus Hermeticum”.
70 A MONTANHA E A CAVERNA
A montanha, junto com a pedra (forma reduzida desta) e a árvore, com que
se encontra associada, é um símbolo natural do "Eixo do Mundo". Por ser na
realidade uma elevação ou protuberância da terra, a estrutura imaginal do
homem sagrado vê na montanha um símbolo da sua própria natureza, que
aspira verticalmente para o superior ou celeste. Em geral todas as montanhas
têm esse significado, mas existem algumas que, devido a certas
correspondências espaciais relacionadas com a topografia sagrada estão
"carregadas" de influxos espirituais. Estas são as denominadas "Montanhas
Santas" ou "sagradas", morada de entidades espirituais. Por isso, muitos
templos e santuários (como é o caso, por exemplo, do Partenon grego) foram
construídos nos cumes de determinadas montanhas, ou seja, ali onde a Terra
parece tocar o Céu.
Existe aqui uma aplicação deste símbolo, que completa o que se disse até
agora, e é que como a caverna está no interior da montanha, podemos ver
que a reunião de ambos conforma o símbolo já conhecido do "Selo de
Salomão" ou "Estrela de David". Este é, como já sabemos, o símbolo da
analogia, que faz que o de baixo seja complementar com o de cima e vice-
versa. Portanto o triângulo invertido é um reflexo do outro, exatamente igual
que o microcosmo é um reflexo do macrocosmo, ou que a realidade relativa
do manifestado é um reflexo da Realidade Absoluta do imanifestado.
71 O SÍMBOLO DA PEDRA
Entre os materiais de construção, o mais importante é naturalmente a pedra.
Mas esta, como tudo o que forma parte do Templo, tinha para os
construtores das civilizações tradicionais que utilizaram esse material (pois
se sabe que antes dele se edificava com madeira), um sentido simbólico bem
preciso, que é o que lhe dá toda sua importância desde o ponto de vista
sagrado.
A pedra expressa dois aspectos bem distintos. Por um lado, e devido a sua
tosquedade e arestas, simboliza a natureza grosseira e imperfeita do homem
profano. Por outro, graças a sua solidez e estabilidade, reflete mais do que
nenhuma outra coisa a presença imutável de Deus no seio da Criação. E isto
é precisamente o que faz que uma determinada pedra seja venerada como
sagrada. É o caso dos betylos-oráculos2, que eram geralmente aerólitos, ou
pedras "descidas do céu", e associadas, portanto, com o raio e com a luz.
Adicionaremos que "betylo" procede de Beith-El (que significa "Casa de
Deus"), nome dado ao lugar onde Jacob repousou sua cabeça e teve o sonho
no qual via descer e ascender anjos por uma escada que unia o Céu e a Terra.
(Essa mesma palavra, Beith-El, converteu-se posteriormente em Beith-
Lehem, ou Belém, a "Casa do Pão", e designou a cidade na qual devia nascer
Cristo, o Verbo descido no seio da substância terrestre).
72 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Pratique os exercícios aos que já está acostumado durante uns vinte
minutos. Logo sinta como a energia sutil penetra suavemente por sua coroa
(Kether) e desce agora até seu coração (Tifereth), expandindo-se logo para
sua zona ventral e os genitais (Yesod). Sinta, ao ritmo de sua respiração,
como as energias descem até Yesod e finalmente se concretizam no plano
material (Malkhuth), e logo ascendem e retornam pelo mesmo caminho a
sua origem e são expelidas para fora de Kether através de um processo
evolutivo. Sua coluna vertebral é o eixo por onde começou a se enroscar a
serpente Kundalini, que, situada na base de sua coluna vertebral, começa a
se desenroscar; o que é o mesmo que o retorno das energias criativas a sua
Origem.
73 ARQUITETURA
A Arquitetura, ligada à arte da construção, nasce simultaneamente como
uma necessidade material e uma necessidade espiritual. Como necessidade
material, foi imperioso, num determinado momento da história, pôr-se a
coberto e abrigado das intempéries meteorológicas e de toda classe de
perigos e condições adversas. E como necessidade espiritual, porque toda
edificação, quaisquer fossem os materiais e os modelos arquitetônicos
utilizados, tinha e tem uma significação unida ao culto religioso e sagrado.
Um exemplo deste é o próprio Templo ou Santuário, do qual já falamos,
ainda que também estava, e está presente aonde ainda se conserva uma
cultura tradicional, na própria moradia, na qual destaca o lar ou fogo central
análogo ao Altar. Em ambos os casos a arte da construção se baseia na
contemplação de um gesto divino primordial: a Criação do Mundo. O
Cosmo físico, criação do divino Arquiteto, proporcionava ao arquiteto
humano o modelo de sua própria morada. Céu e Terra constituem a parte
superior e inferior do edifício. Neste sentido, sendo a realidade concreta do
Cosmo uma manifestação dos mundos invisíveis, a construção da casa
familiar e cultual deve cumprir uma função similar, ou seja, servir de
recipiente e suporte às energias criadoras do Universo, plasmando-as na
configuração de seu traçado e em cada uma de suas partes e elementos. E já
vimos que essas energias se expressam simbolicamente por meio de módulos
numéricos e geométricos, estreita e harmonicamente vinculados entre si.
Catedrais e mosteiros, por exemplo, são verdadeiros compêndios da vida
universal, onde estão representados na pedra os diversos reinos da natureza,
do mundo intermediário, e do mundo espiritual ou angélico, em suma, o
"Livro do Universo". Por isso os Mestres arquitetos e os operários a suas
ordens, divididos em diversos graus, tivessem um conhecimento perfeito da
Metafísica, a ontologia, a cosmologia e as ciências naturais. As próprias
ferramentas e elementos utilizados para a edificação são simbólicos, além de
práticos, e entre eles merecem ser destacados o compasso, o esquadro, o
nível, o prumo, a régua, a colher de pedreiro, o martelo e o cinzel.
74 A HIERARQUIA
Um dos maiores erros do homem atual, filho da sociedade contemporânea, é
acreditar numa suposta igualdade totalmente ausente na vida e na própria
natureza, já que todos os "reinos" e espécies se encontram perfeitamente
hierarquizados. Por este expediente igualitário se nega toda possibilidade de
superação, já que se atribui aos demais a pequena mediocridade do meio que
se vive e encarna, e as pessoais densidades e pesadelos que constituem a
existência individual dos que integram uma sociedade dessacralizada.
Projeta-se assim uma imagem rasteira, sem ter em conta nem por um
momento a experiência, a sabedoria, a idade, os estudos e as viagens
daqueles com os quais se pretende equiparar, numa comparação absurda que
se produz pelo fato de "crer" numa "igualdade" que é tomada como um
autêntico "bem" em si mesmo, e mesmo como um progresso cívico e
democrático.
É comum ver em povos e províncias que às pessoas, que por algum motivo
se destacam, trata-se de lhes "puxar o tapete”, ou de lhes “descer do
pedestal”. Esta última imagem é muito plástica: há que fazer "baixar o nível"
do outro quando não se pode ou não se quer ascender a seu nível.
75 ARTES MARCIAIS
As bem chamadas "artes" marciais constituem a possibilidade da consecução
permanente na conquista do equilíbrio através da ação-reação. Esta dança,
reflexo da [dança] cósmica, permite a defesa e o ataque e o intercâmbio
rítmico das energias amigo-inimigo, eu e o outro, no qual um deles deverá
necessariamente impor-se para que possa se perpetuar a harmonia universal
por meio da desarmonia do vencedor e do vencido.
Alguns estrategistas afirmam que uma boa defesa consiste num bom ataque e
alegam importantes razões a seu favor. Igualmente na guerra às vezes os
vencedores costumam ser os vencidos. Não se pode entrar na batalha com a
onipotência do que não respeita as leis da guerra, e muito menos se não se
tem a convicção de vencer.
76 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Ensaiaremos um exercício respiratório baseado na primeira Tríade da
Árvore da Vida. Não só o diagrama Sefirótico se divide em quatro planos
(Atsiluth = Fogo, Beriyah = Ar, Yetsirah = Água, Asiyah = Terra), mas
também cada uma de suas colunas (a da Força ou ativa, a da Forma ou
passiva, e a do Equilíbrio ou neutra), por sua vez representa: o princípio
ativo do fogo, expressado pela letra mãe hebraica Shin; seu oposto, o
princípio passivo da água, significado pela Mem; e o neutro do ar que
corresponde à letra Alef. Por isso, Kether, pertencendo à coluna central, ou
neutra, tem de levar à toda a Árvore o hálito vital, que recebe desde seus
inícios a contradição do fogo (coluna da Força formada por Hokhmah,
Hesed e Netsah) e da água (coluna da Forma constituída por Binah,
Gueburah e Hod).
77 CIÊNCIA
A Antigüidade não estabelecia diferenças nítidas entre Ciência, Arte e
Filosofia. Igualmente os alquimistas medievais se autodenominavam tanto
artistas como filósofos, e ao se referirem a suas atividades, faziam-no
chamando-as Ciência. Desse modo a vinculavam com a Ciência sagrada e
tradicional que não excluía as disciplinas cosmológicas nem a meditação
Metafísica, e tampouco o rito e a oração, segundo pode se ver em todos os
documentos emanados de suas mãos, que unanimemente o atestam.
A Ciência, tal qual a conheciam os antigos, não tinha nada que ver com um
método literal, como a concebem nossos contemporâneos (nascida esta idéia
com Descartes no Discurso do Método, aparecido recém no século XVII) e
menos ainda pensavam em sua substituição pela "técnica" ou "técnicas",
modos de ver estes exclusivamente empíricos e racionais, em contraposição
com a universalidade da autêntica Ciência. A chamada ciência moderna,
fundamentada na estatística e na comprovação de um mesmo fenômeno em
circunstâncias "ideais" não é de nenhuma maneira exata, como bem o sabiam
os alquimistas medievais (que repetiam um mesmo experimento centos de
vezes, sabendo que as circunstâncias eram sempre distintas, para obter
finalmente resultados palpáveis de transmutação natural), pois é sabido que
as mesmas coordenadas espaço-temporais não se dão de uma mesma
maneira indefinida num suposto mundo imóvel, frio e irreal (o que se
entende equivocadamente como "matemático"), e a melhor comprovação
disso é a observação atenciosa da terra e do céu, do macrocósmico e
microcósmico, sempre em contínuo movimento e perpétua geração de novas
formas de vida.
Por outro lado, queremos destacar que esta ciência "moderna", à qual
estamos nos referindo, é na verdade um esquema "antiquado" do século
XIX, que paradoxalmente permanece vigente nas casas de estudo oficiais.
No entanto, as comprovações da mais moderna ciência, ocorridas
aproximadamente desde uns 50 anos para cá, com uma concepção
absolutamente diferente do racionalismo mecânico, tocam-se com as
concepções da Antigüidade e descrevem uma cosmologia análoga à das
doutrinas tradicionais de todos os lugares e tempos, segundo daremos algum
exemplo em subseqüentes séries e capítulos.
78 O ALTAR
Arquitetonicamente, o Altar ou Ara é a "pedra fundamental" do templo.
Ainda que na prática, e desde o ponto de vista microcósmico, o trabalho de
construção material e de processo do Conhecimento, se realize de baixo para
cima, da multiplicidade à Unidade arquetípica, na realidade deve ter-se
sempre presente o ponto de vista metafísico, que considera o processo
cosmogônico como um passo dessa mesma Unidade à multiplicidade ou de
cima para baixo.
Por isso no Templo de Jerusalém –feito construir pelo sábio rei Salomão–, a
Arca da Aliança, em cujo interior eram simbolicamente recolhidos os
eflúvios divinos, estivesse depositada em cima da pedra chamada Shetiyah,
equivalente ao altar.
79 OS SONHOS
Em todas as cosmogonias tradicionais, os sonhos sempre foram considerados
como veículos intermediários entre a realidade concreta e sensível e a
realidade espiritual e Metafísica. Isto se deve à razão de que os sonhos
pertençam precisamente ao estado sutil intermediário, ou seja, ao plano de
Yetsirah ou das formações, participando portanto da dualidade inerente ao
citado plano, o que os faz suscetíveis de oferecer um aspecto escuro e
inferior, ligado ao orgânico e, por conseguinte, ao plano de Asiyah, e outro
aspecto, pelo contrário, luminoso e superior, relacionado com o plano de
Beriyah e o mundo das idéias. Não seria um erro dizer que é ao primeiro
destes dois aspectos ao que presta todo seu atendimento a psicanálise
freudiana, que se cinge exclusivamente ao fenomênico, aprofundando nisso,
enquanto é o segundo o que verdadeiramente é importante e significativo,
pois as imagens que constituem seu conteúdo não são senão idéias revestidas
de formas mentais, podendo ser consideradas então, efetivamente, como
autênticos símbolos veiculares e reveladores do que está mais além do
individual e, por conseguinte, do fenomênico, ou seja, que abrem a
determinadas possibilidades de realização interior, com a vantagem de que o
ser, no estado de sonho, encontra-se liberado de certas condições implícitas
na modalidade corporal e, portanto, espacial, de sua individualidade. Temos
o exemplo do conhecido "sonho" de Jacob, durante o qual este vê anjos (os
estados superiores) ascender e descer por uma escada, que é o Eixo do
Mundo unindo terra e céu, sem esquecer da importância concedida a
determinados sonhos em todas as vias iniciáticas, e muito especialmente nas
xamânicas de qualquer parte do mundo, que quase sempre se tratam do
recebimento de um desígnio, ou de uma revelação concedida pelos espíritos,
númenes ou deuses.
80 REALIDADE OU FICÇÃO?
Se a vida é ilusão para o hinduísmo, para o budismo, e desta forma os
mestres herméticos o afirmam, o que será então a realidade? E, igualmente, o
que será esta ficção? Se o homem é estrangeiro nesta terra, e como tal vive
ao começar um trabalho interno alheio aos outros, qual é o critério de
"verdade" ou "mentira"? Que soleira sutil se transpassa entre uma forma de
ver e a outra? Pois, embora o que se considere mais estranho no homem
contemporâneo (do qual somos ainda parte) é sua maneira de se aferrar e se
identificar com as coisas, aqueles que se permitem esta atitude interna ou
extraterrestre são considerados igualmente estranhos para o meio. Ao se
abrir uma porta e dar um passo à frente, as coisas estarão banhadas de uma
outra luz e de um outro conteúdo. Se fecharmos essa porta e dermos um
passo para trás, essas mesmas coisas aparecerão familiares em seu nível
rasante e cotidiano. Realidade ou ficção? Permitir-se ver é algo castigado
pela sociedade que não aspira a estes projetos. Do mais íntimo do coração
alguém se pergunta quem tem razão. Mas será a razão o instrumento
adequado, ou a ferramenta que nos permitirá elucidar estas experiências
pessoais? Ou será que simplesmente a experiência justificaria toda nossa
ação?
fig. 7
81 MITOLOGIA
Das que ainda se tem lembrança de sua existência, a civilização grega é,
quiçá, uma das que alberga o maior número de deuses e mitos. Efetivamente,
o panteão (palavra que deriva de pan, "todo", e theon, "deuses") grego é
verdadeiramente fecundo e prolixo, só comparável ao das culturas hindus, e
das pré-colombianas, especialmente a asteca e a maia. O próprio nome
“mito" é de origem grega, e sua raiz é a mesma da palavra "mistério",
derivando ambas da palavra “muein”, que significa "fechar a boca", "calar-
se", aludindo sem dúvida ao silêncio interior em que se recebem os segredos
da iniciação. Desde os mistérios órficos, passando pelas iniciações de
Eleusis, das quais participaram Pitágoras, Sócrates e Platão, até o crisol de
culturas que representou a Alexandria dos séculos II e III de nossa era, a
mitologia grega nutriu o universo sagrado de todas as culturas do Ocidente
mediterrâneo, particularmente a do Império de Roma.
Cada ciência e cada arte, bem como qualquer atividade manual, racional e
intelectual do homem, estava sob a proteção e influência de um deus, musa
ou gênio astral, o que redundava numa convivência harmônica com as forças
ordenadoras do Cosmo. Os gregos, como qualquer povo tradicional,
entendiam que os deuses e as entidades invisíveis eram modos ou formas de
ser da existência, e reuniam toda a variada gama de possibilidades essenciais
e arquetípicas da conduta e do pensamento humanos. Neste sentido, uma
filiação profunda une a deuses e a homens: todos surgem do casal de Urano
(o Céu) e Gea (a Terra). Assim, os deuses olímpicos representam os estados
superiores do homem, e os homens os estados terrestres dos deuses E isto é,
uma vez mais, uma aplicação da lei de analogia, que faz que "o de cima seja
como o de baixo, e o de baixo como o de cima”, conformando um todo
harmonioso e ordenado.
82 ASTROLOGIA
Todos os planetas percorrem aparentemente a roda do zodíaco, e a duração
desse percurso é a que determina o ciclo particular de cada um deles, sendo
claros os dos dois chamados "luminares", o Sol e a Lua, que produzem os
ciclos anuais e mensais. As influências que estes planetas exercem na terra
variam, segundo se encontrem numa ou noutra casa zodiacal, pois as
qualidades destes signos podem ser afins, indiferentes ou hostis aos diversos
influxos planetários.
83 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Você extrai do próprio Nada supra-essencial, incriado e eterno, de En Sof,
sua respiração, seu hálito vital, que é a própria da atmosfera vermelho
brilhante de Kether, que você exala mediante dois canais: a coluna ou braço
esquerdo, e a coluna ou braço direito da Árvore da Vida, que percorre,
conformando-o, resolvendo permanentemente a contradição alternada do
restritivo e do efusivo, e ultrapassando estas polaridades que não se
excluem, mas se correspondem. À tarefa respiratória, adicionaremos a esta
prática o gesto. Sente-se na posição costumeira, conservando-se na vertical
e relaxado. Junte suas mãos sobre seu peito à altura do coração. Aspire de
En Sof o alimento que a você o corresponda, e exale-o para a coluna da
força, ou de Shin; o Fogo, para Hokhmah. Simultaneamente tem de fazer um
pausado gesto com sua mão para a esquerda, que tem de durar todo o tempo
de sua exalação, até se deter. Na próxima aspiração, voltará seu braço e
sua mão ao seu peito, respeitando exatamente o mesmo tempo.
84 CABALA
Divisão dos 4 planos da Árvore de Vida em correspondência com outras
linguagens simbólicas presentes em textos sagrados hebreus:
86 ASTROLOGIA
Para realizar os cálculos astrológicos, além de observar as influências que
exercem os planetas nos distintos signos zodiacais, é importante também
tomar em conta as relações que eles têm entre si, segundo as distâncias em
que se encontrem uns dos outros. Isto determina o que se chamam os
"aspectos", entre os quais se destacam os seguintes:
87 EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO
Demos nesta Introdução, determinados exercícios de concentração,
respiração, visuais, e inclusive gestuais, todos eles relacionados com os
ciclos e os ritmos e vinculados diretamente com a Árvore da Vida Sefirótica.
Todas estas práticas favorecem o entendimento do que está mais além do
fenômeno e da matéria evidente. Se você não conseguiu realizar alguma
destas práticas, queremos lhe sugerir que volte a elas. Às vezes, o mais
singelo é o mais complicado, e é necessário voltar atrás para reencetar
nosso trabalho. Não desfalecer é o que se necessita. O mesmo quando nos
referimos ao entendimento intelectual, que às vezes nos excede, mas que
chega a nós através da perseverança, chave de nossos estudos e de suas
projeções posteriores. Não podemos imaginar o inimaginável. Portanto,
programamos ações e não resultados, que se darão tempo a tempo e por
acréscimo. A Fé, que se traduz em fatos e obras, é capaz de mover às
montanhas.
88 O RITO
Em diversas ocasiões falamos do rito como um componente básico do
conhecimento simbólico e, portanto, da própria vida, que na indefinida
variedade de suas formas sempre passageiras é a permanente reiteração de
uma ordem arquetípica invariável e eterna. Precisamente a palavra rito, que
procede do latim ritus, o que por sua vez deriva do sânscrito rita (raiz rt),
não significa outra coisa do que "ordem". Em verdade o rito é o próprio
símbolo em ação, pelo que sua reiteração constante em todos os atos de
nossa vida vai permitindo que o gradual entendimento das idéias -veiculadas
pelos símbolos–, acabem finalmente por incorporar-se em todo nosso ser,
balizando assim o processo que nos conduz ao Conhecimento. Por isso
quando falamos de ritos, não nos estamos referindo a cerimônias "mágicas",
civis ou religiosas. Os ritos iniciáticos de determinadas tradições ainda estão
vivos, ainda que seja difícil o acesso a eles. Algumas religiões ou
instituições tradicionais conservam os símbolos –e mesmo os ritos–, mas
estes carecem de todo conteúdo verdadeiro e estão como vazios, sendo
desconhecidos sua essência e esoterismo, ou seja, sua realidade e
significação. Para a Tradição Hermética são ritos os estudos efetuados a
partir de modelos Herméticos, a concentração que isso implica, a meditação
que promove, as práticas que efetivam a visão e o imaginário, a oração
incessante do coração como invocação permanente, a contemplação que
produzem a beleza e a harmonia da natureza e do Cosmo, e os trabalhos
auxiliares encaminhados à conquista do Conhecimento. Neste particular,
queremos trazer à memória que há uma identidade entre o ser e o
conhecimento. O homem é o que conhece. Que outra coisa poderia ser senão
a soma de si mesmo? Ser é conhecer. A saber: que sendo o que conhecemos,
a reiteração constante do rito, que sustenta o conhecimento de outras
realidades, mundos ou planos do Ser Universal, é uma garantia quanto à
identificação com esse Ser e seu conhecimento, através de um caminho
hierarquizado, povoado de espíritos, deuses, cores e energias mediadoras.
Fim do Módulo I
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA SAGRADA
Programa Agartha
MÓDULO II
1 RECORDAÇÃO
Nos capítulos anteriores, o leitor teve oportunidade de ver como se articula
este curso, onde as inter-relações das diferentes disciplinas da Tradição
Hermética (Simbolismo, Alquimia, Filosofia, Astrologia, Numerologia,
Cabala, Teurgia, etc.) têm um papel fundamental em nossos estudos. Na
verdade, igualmente ao que acontece com a evolução de qualquer planta e
seu desenvolvimento, o germe se encontra de maneira potencial nestas
primeiras páginas, às quais o leitor tem de voltar constante e ciclicamente, ou
seja com as características próprias de um rito. Não será demais advertir que
a reiteração deste rito, o tempo que se lhe dedica e a concentração que se
emprega nele, são diretamente proporcionais com o fruto que se obtém com
isso. Às vezes parecemos dispostos a efetuar empresas heróicas, e no entanto
não somos capazes, por fantasmas mentais, de realizar coisas singelas que
precisam de uma atitude conseqüente e perseverante. Se o estudante é capaz
de viver como objeto de seus experimentos, amparado na Doutrina e nas
diferentes disciplinas que toma a Tradição para se manifestar, poderá obter
satisfatórios resultados e benéficos dividendos, tanto físicos, como
psicológicos e espirituais. Ainda deve ser dito que estas ciências e artes só
podem ser usadas no mais alto nível, o que na Cabala seria Kether em
Atsiluth ou ainda mais longe, se assim se pode dizer, ou seja, ao do supra-
cósmico, (o que inclui, decerto, ao do "supra-microcósmico"). A meta das
investigações é muito elevada e não se devem confundir os objetivos
metafísicos com os fenômenos psicológicos que se poderão observar no
caminho. Os propósitos da Ciência Sagrada são verdadeiramente profundos.
A vida é coisa séria, apesar das imagens que o consumismo mental e a
dessacralização do mundo poderiam fazer supor.
O Agartha constitui uma rede invisível de vontades, unidas por laços tão
reais e indestrutíveis como os que unem à própria estrutura do Cosmo,
considerada um modelo arquetípico de manifestação. Esta corrente de união
transmite a mensagem da Philosophia Perennis, ou seja da Ciência Sagrada,
que por atemporal foi conhecida por todos os povos da Antigüidade, cujos
fragmentos ainda mantêm e conservam vivo ao próprio homem moderno
(inclusive ao ocidental e ao habitante das grandes cidades) ainda que este o
negue ou o desconheça, já que as raízes culturais das artes e das ciências
derivam de Princípios metafísicos e de Idéias Eternas.
2 NOTA:
Seguramente são muitas as perguntas que você se fez na dinâmica de nosso
curso. O I Ching ou "Livro das Mutações", livro de sabedoria e verdadeiro
oráculo chinês, diz que o mais difícil é formular as perguntas das quais se
quer obter resposta. Isto se deve em parte à multidão de interrogações que
as pessoas se fazem em relação com os temas tradicionais e com tudo aquilo
que se quereria saber de uma vez e para sempre. Desta forma, é exato que
na pergunta está implícita a resposta. Igualmente é comprovável que se
utilizamos o recurso da paciência, as respostas vão se produzindo por si
mesmas, sem necessidade de forçar as situações. Já sabemos que a semente
é a potencialidade da árvore e que esta pode crescer sã e vigorosa regando-
a com constância e podando as maldades que possam impedir seu
desenvolvimento.
3 CABALA
Não falamos ainda em nosso Programa de En Sof, (ainda que o tenhamos
citado de passagem) pois nos interessava apresentar primeiro o modelo da
Árvore da Vida e trabalhar com ele, para que o estudante se familiarizasse
com sua estrutura e ao mesmo tempo jogasse com as diferentes relações a
que dá lugar, o mesmo que com as letras e com outras imagens propriamente
cabalísticas. Queremos recordar que este modelo da Árvore corresponde
exatamente a Adam Kadmon, o homem total, e nos referimos primeiro a ele
para tratar de entender certas proporções que nos levarão à idéia do que é En
Sof para os cabalistas. Estamos falando de suas medidas, chamadas em
hebraico Shiur Koma, pois a Cabala identifica a Adam Kadmon com o
cosmos. A "altura dos calcanhares deste ser é de trinta milhões de
parasangas", afirma-se laconicamente. Mas depois se explica que "uma
parasangae do Criador tem três milhas, uma milha tem dez mil metros e um
metro três empans, e um empan contém o mundo inteiro".
4 O NÍVEL E O PRUMO
O nível e o prumo ocupam um lugar eminente no momento de se pôr "mãos
à obra" e de levantar os alicerces do labor construtivo. Com o nível se
comprova que a base do edifício está completamente plana, evitando assim
que possam existir desníveis e deformidades no terreno. Trata-se de que a
obra se erga com sua base perfeitamente horizontal, e todas suas partes
niveladas entre si, já que qualquer descuido neste sentido acabaria, tarde ou
cedo, com o desabamento de toda a edificação. Por sua vez, o prumo
desempenha um papel fundamental, pois graças a ele o edifício se eleva
vertical e perpendicularmente. Desta forma, nível e prumo se relacionam
com a horizontal (energia passiva) e com a vertical (energia ativa), e tudo o
que já se disse de ambos os símbolos pode ser aplicado aos ensinos que
derivam destes dois instrumentos. (ver Módulo I, N.º 34). A união do nível e
do prumo configura por isso o símbolo da cruz, que resulta do cruzamento de
um eixo vertical e de outro horizontal, os quais durante a construção do
edifício vão criando sua estrutura.
5 IMAGENS E SÍMBOLOS
Existe uma natural e lógica relação entre imagem e símbolo. Quando se
tratam de símbolos cujo marco de expressão é o espaço, como por exemplo
os geométricos, arquitetônicos e iconográficos, sua vinculação com a
imagem é óbvia. E quando se desenvolvem no tempo, como a música ritual e
sagrada, a poesia e os relatos orais dos mitos, estes geram, simultaneamente
a sua audição, imagens e visões simbólicas. E isso é assim porque, como
dizia já Aristóteles, o homem conhece por meio de imagens, ou seja que sua
natureza anímica e intelectual está especialmente capacitada para
compreender através das representações simbólicas. Desta forma a
linguagem sintética e universal das imagens simbólicas libera a psique da
dualidade de toda dialética existencial, onde o puramente mental e cerebral
prima sobre a verdadeira intuição intelectual que reside no coração, o que
equivale a uma purificação regeneradora, cujo fim é nos devolver a pureza
mental e a inocência virginal das origens; uma transmutação da consciência
tal que harmonize perfeitamente com o ser do mundo e das coisas.
6 O SÍMBOLO DA ESCADA
A escala ou a escada é, junto à árvore, um dos símbolos mais notórios do
Eixo do Mundo, e também dos mais difundidos em todas as tradições. Ainda
que mais adiante trataremos este importante símbolo com maior
desenvolvimento, relacionando-o com o simbolismo de passagem, baste-nos
por agora dizer que a escala está unida sobretudo à idéia de movimento de
ascensão e descenso ao longo de dito Eixo, conectando a terra (e o infra-
mundo) com o céu, e vice-versa, através dos diferentes níveis, mundos ou
estados do ser que conformam o conjunto da manifestação universal, níveis
representados pelos degraus horizontais que unem as duas traves laterais ou
montantes verticais, os quais se correspondem de maneira evidente com as
duas colunas laterais da Árvore Sefirótica, que pode ser visualizada desta
forma como uma escala. Dessas colunas, uma deve considerar-se como
ascendente e a outra como descendente, o que se realiza em torno ao eixo
central ou pilar do equilíbrio, que é o autenticamente axial. Este último faz
lembrar o símbolo da dupla espiral (presente na escada de "caracol"),
exemplificação das duas correntes de energia cósmica que se enrolam ao
redor do eixo central, tal e como podemos observar no Caduceu de Hermes-
Mercúrio.
7 O SÍMBOLO DA ESVÁSTICA
Entre as representações simbólicas do Centro do Mundo, a da esvástica tem
que ser especialmente destacada, pois além de ser um equivalente do
símbolo da cruz e da roda, e participar, portanto, de suas significações gerais,
nela aparecem outras variantes que nos confirmarão na certeza de que os
símbolos constituem autênticos veículos do Conhecimento.
8 TARÔ
O Tarô, origem do jogo de naipes, é um oráculo, um livro sagrado escrito
não em palavras senão em setenta e oito páginas ou lâminas desenhadas em
cores, cada uma com suas múltiplas e precisas correspondências e profundos
significados, que ao serem primeiro estudadas e depois "embaralhadas" ou
colocadas de diferentes formas simbólicas, atuarão magicamente no interior
do aprendiz, servindo como veículo despertador da consciência e
computador da inteligência; ou seja, como suporte simbólico do
conhecimento metafísico.
9 CABALA
Oferecemos a seguir as 22 letras do alfabeto hebraico para que o leitor vá se
familiarizando com elas. Igualmente é demonstrado o valor numérico
correspondente a cada letra. No hebraico antigo, as vogais não eram
sinalizadas, nem pontuadas, como se faz no presente. Portanto, as palavras
escritas só com consoantes podiam ser lidas de várias maneiras, ou com o
auxílio de diferentes vogais, aumentando assim seu poder evocativo e
semântico em múltiplas valorações e sentidos. As letras têm vinculações
também com outros símbolos, muitos deles animais, e de diferente natureza e
índole, o que se associa com o alfabeto, a palavra e a metafísica da
linguagem.
Alef Beth Guimel Daleth Hé Vav Zayin Heth Teth Iod Kaf
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 20
Lamed Mem Nun Samekh Ayin Fe Tsade Qof Resh Shin Taw
30 40 50 60 70 80 90 100 200 300 400
Está claro que se conhecemos o valor esotérico das letras, suas conotações
numéricas, e as transposições e permutas a que elas podem dar lugar no
contexto das palavras e das orações, a leitura de qualquer texto sagrado –em
particular A Bíblia– no qual o alfabeto hebraico se encontre presente, passará
a ter outro sentido que o comum, literal e exotérico, e adquirirá um relevo e
uma profundidade tanto mais rica quanto mais ampla. E é por estas
associações e correspondências entre números e letras, e as relações a que dão
lugar, que se produzem iluminações surpreendentes na raiz metafísica da
linguagem humana, as quais são chamadas pela Cabala "centelhas divinas".
Sete letras duplas (ou redobradas): Beth, Guimel, Daleth, Kaf, Fé, Resh e
Taw.
Doze letras simples: Hé, Vav, Zayin, Heth, Teth, Yod, Lambei, Nun, Samekh,
Ayin, Tsade e Qof.
Uma idéia nova é a da união das dez sefiroth, cifras, ou números, às vinte e
duas letras do alfabeto hebraico, que conjuntamente constituem os trinta e
dois caminhos da sabedoria.
10 ALGUNS EXERCÍCIOS PRÁTICOS:
Muitos dos exercícios aconselhados ao longo dos trabalhos herméticos são
com o fim de se adquirir consciência, tanto de si mesmo, quanto da situação
na qual se está envolvido. Os homens tendemos ao sonho e à modorra, por
isso a necessidade de se velar e estarmos vigilantes. Trata-se, pois, do
emprego de singelos despertadores, ou exercícios de tomada prolongada de
consciência. Exemplo: trate de manter uma medalha ou moeda em seu
punho fechado, tendo clara a idéia deste fato. Por quanto tempo pode você
manter fixa a atenção? Exercite-se nesta prática tratando de elevar suas
médias. Muitas vezes pensamos que somos capazes de grandes esforços
quando em verdade não podemos levar a cabo coisas aparentemente
pequenas. Trate de ir caminhando pelo mesma Senda à exata hora do dia
(por exemplo, ponha o despertador às 7 horas da manhã) ao banheiro,
durante um mês seguido. Muito dificilmente poderá efetuá-lo. A armadilha
deste exercício está em que depois da quinta ou sexta vez que se realiza (ou
da décima - quarta ou a décima - quinta) pode acreditar que é sumamente
singelo e que não custará nada cumpri-lo. Assim, desta maneira, não o
efetua. Este é o tipo de armadilha mental que nos impede de fazer um sem
número de coisas e obstaculiza o processo liberador e criativo.
11 SIMBOLISMO VEGETAL I
A vegetação, na indefinida variedade de suas espécies, formas, cores e
fragrâncias, constitui um mundo inesgotável de significações simbólicas
conhecidas por todos os povos desde a mais remota Antigüidade.
Recordemos, neste sentido, que o Paraíso terrestre é descrito como um
jardim ou um vergel, ao cuidado do qual estavam os primeiros homens. Por
este motivo, a agricultura (a "cultura do agro") é considerada como o
primeiro ofício nascido da sedentarização da humanidade, que dá lugar à
aldeia e posteriormente à cidade em pedra e à civilização tal qual a
conhecemos. Não esqueçamos que a palavra cultura deriva precisamente de
“cultivo”, o que está relacionado evidentemente com o vegetal. A isto se
deve, sem dúvida, o porquê do homem arcaico e tradicional ter incorporado
o vegetal na descrição simbólica de sua cosmogonia e de sua visão sagrada
do mundo. Efetivamente, nada há que expresse melhor o desdobramento da
vida universal do que uma planta em seu pleno desenvolvimento, como por
exemplo a árvore, que é também um dos símbolos naturais mais difundidos
do Eixo do Mundo, e o que mais claramente alude à estrutura cósmica e seus
diferentes planos ou graus de manifestação. Baste recordar a Árvore da Vida
Sefirótica, semelhante, quanto a sua significação essencial, a outras muitas
árvores sagradas pertencentes às mais diversas tradições de todos os tempos
e lugares, como a ceiba [N.T.: Ceiba Pentandra Gaertin, árvore existente na
América Central] entre os maias, o carvalho (ou encina [N.T.: Quercus ilex])
entre os celtas, a oliveira entre os povos mediterrâneos, a árvore Yggddrasil
entre os escandinavos, a palmeira entre os antigos egípcios e os árabes, etc.
12 SIMBOLISMO VEGETAL II
Dos três reinos da natureza, o vegetal é quiçá o que está mais diretamente
unido ao fluir dos ritmos e ciclos do Cosmo, refletidos na renovação
periódica e anual das plantas, na regeneração da potência fértil e fecunda de
sua seiva, propiciando desta maneira a alimentação e o sustento necessário a
homens e animais. Mas o realmente importante é que esta relação está na
própria base de muitos mitos e ritos agrários, cuja estrutura simbólica
reproduz as leis universais de correspondência e analogia (ou seja, de
harmonia) entre a ordem terrestre e a celeste, ou entre a ordem visível e a
invisível, não sendo, em suma, o mundo vegetal, ou melhor ainda a natureza
em seu conjunto, senão um símbolo vivo e sempre presente do sobrenatural e
do transcendente. Por isso mesmo, a germinação, desenvolvimento,
florescimento e doação dos frutos das plantas não deixa de ser um fato
assombroso e verdadeiramente mágico e misterioso para quem vive imerso
no sagrado, como era o caso dos habitantes das sociedades tradicionais, que
viam nisso a ação combinada de forças telúricas e cósmicas personificadas
nas deidades lunares e solares, terrestres (e infra-terrestres) umas e celestes
as outras, recebendo a planta o influxo das energias passivas e ativas,
femininas e masculinas do Cosmo através dos nutrientes substanciais da
terra e da água, a vivificação do ar, e o calor e a luz procedentes do fogo
solar. Daqui deriva a dupla natureza do vegetal, "asúrica" por sua vertente
subterrânea e "dévica" por sua parte aérea e vertical (axial), termos estes
pertencentes à tradição indiana, e que designam respectivamente às energias
telúricas e celestes conciliadas no ato mesmo da criação da planta. Isto cobra
um relevo especial nas chamadas "plantas sagradas", utilizadas nos ritos de
iniciação aos mistérios, e cuja ingestão (bebida ou comida) põe ao ser em
comunicação com seus estados inferiores e superiores, realizando a "viagem"
pelos diferentes planos de manifestação, descendo e ascendendo pelo Eixo
do Mundo.
13 ALQUIMIA
A ciência alquímica se expressa fundamentalmente por imagens gráficas e
gravuras. O símbolo, às vezes parcialmente oculto na iconografia, manifesta-
se assim de modo livre e sem comentários. O provérbio diz que "para o bom
entendedor meia palavra basta". Continuando com o sistema didático de
Agartha, onde se lhe presta bom atendimento ao ensino visual, o que
coadjuva assim mesmo a aprender a Ver, oferecemos aqui algumas gravuras
dos Adeptos à Arte da transmutação. Trata-se neste caso de signos dos
quatro elementos (ver Módulo I, N.º 21), aos quais se agregam outros
detalhes ornamentais diretamente referidos à Ciência dos Filósofos, ou Arte
Real.
fig. 8
14 SIMBOLISMO ANIMAL I
Os animais, além de expressar a parte instintiva e irracional da alma humana
(os impulsos, desejos e emoções do anima), sempre ocuparam um lugar
destacadíssimo na cosmogonia de todos os povos e culturas tradicionais, que
unanimemente viram neles manifestações das forças cósmicas e divinas em
sua ação sobre o mundo, constituindo-se em veículos e oráculos
transmissores da realidade do numinoso e, portanto, em mensageiros ou
intermediários entre o Espírito e o homem. Eles conformam, pois, um código
simbólico de suma importância, uma linguagem através da qual o homem
pôde e pode ler as chaves que lhe permitem compreender as leis e mistérios
do universo e, por conseguinte, conhecer-se a si mesmo, pois sendo um
microcosmo feito a imagem e semelhança do macrocosmo, contém dentro de
si todas as formas, o que é possível pela posição central que ocupa em seu
mundo, e que lhe foi designada pelo Criador. Neste sentido, os textos
tradicionais afirmam que os primeiros homens tinham a potestade de pôr
nomes a todos os seres e coisas, o que não seria tal se estes não formassem já
parte de sua natureza integral. Por isso, a língua adâmica e primordial foi
chamada a "língua dos pássaros", não sendo estes, efetivamente, senão os
mensageiros das realidades superiores, o que guarda relação com a
"languedoc" (d’oc), considerada na Idade Média e no sul de França como o
jargão simbólico utilizado pelos alquimistas, construtores, trovadores e
jograis para transmitir o Conhecimento. A "languedoc", ou a "língua dos
pássaros", é verdadeiramente a linguagem dos símbolos.
15 SIMBOLISMO ANIMAL II
É importante ademais destacar que quase todas as divindades zodiacais, não
importa de que tradição, estão representadas com formas de animais, e
recordaremos novamente que a palavra Zodíaco não quer dizer senão "roda
dos animais", ou "roda da vida", o que está obviamente unido à idéia de
movimento e de geração surgida do Ser universal, ou melhor, de sua energia
criadora, que permanentemente se recria a si mesma, neste caso através das
indefinidas formas animais. Isto concorda perfeitamente com a idéia, muito
difundida entre as civilizações pré-colombianas de que o Cosmo, isto é a
Vida universal, é um animal gigantesco, do qual todos fazemos parte
integrante (tal é o caso também da serpente alquímica Ouroboros), e isso
explicaria o porquê entre ditas culturas a Deidade criadora estar em bastantes
ocasiões representada como um animal (como ocorre na tradição indiana,
com o deus com forma de elefante Ganesha), ou bem caracterizada com as
partes mais significativas de um animal, geralmente a cabeça, como é o caso,
por exemplo, dos deuses assírio-babilônicos e do antigo Egito. Nas tradições
Centro-americanas o deus Quetzalcoátl quer dizer "pássaro-serpente", ou
"serpente emplumada", conjugando em sua natureza as energias aéreas que
tendem para o céu (o vertical), e aquelas que reptan e se movem pela terra (o
horizontal). A águia e a serpente são, efetivamente, os dois animais que
melhor representam esse antagonismo e complementaridade entre o celeste
urânico e o terrestre ctónico e telúrico.
16 NOTA:
Já observamos que a cultura (cuja raiz, e origem, é sagrada), é uma
intermediária entre o homem e a Deidade. E é desde este ponto de vista e
não desde a vaidade erudita, o enciclopedismo agrilhoador, ou a
literalidade mnemônica, que ela é iluminadora e um veículo especialmente
apto para o Conhecimento. Sem a essência da Cultura, que é o autêntico
saber, todo o resto do enfeitado aparelho cultural é só letra morta.
Igualmente isto é válido para os ritos, que às vezes são confundidos com
determinadas "cerimônias", totalmente vazias de conteúdo. Isto é assim
também para os exercícios, tanto intelectuais como físicos, que Agartha
promove.
17 A COROA
Numa primeira leitura, a coroa simboliza as virtudes mais elevadas que
existem no homem, eis o motivo de cingi-la sobre a cabeça, a "cúspide" do
microcosmo humano, isto é, naquela parte do mesmo que se corresponde
com o Céu, cuja forma circular a coroa reproduz. Mas, precisamente por
isso, a coroa também expressa o que está por "cima" ou "além" do Cosmo e
do homem: a realidade do divino e do transcendente. Poder-se-ia dizer que
no significado da coroa coincidem, pois, as qualidades mais nobres e
superiores do ser humano e, ao mesmo tempo, aquilo que as transcende por
constituir o arquétipo das mesmas. No caminho do Conhecimento, ou via
iniciática, ditas qualidades se vão desenvolvendo depois de um longo
processo de transmutação alquímica, durante o qual o aspirante a ele vai
tomando gradualmente consciência da sacralidade de sua existência, ou de
sua realidade no universal, até se identificar plenamente com esta.
19 TARÔ
Logo a seguir, oferecemos alguns significados sintéticos dos vinte e dois
Arcanos Maiores.
Permita que estas lhe falem de um modo mágico e as verá atuar em seu
interior como veículos iniciáticos e adequados transmissores de um
Conhecimento Vivo e de uma Tradição Primordial, com os quais você
poderá se unir desta maneira.
20 TARÔ
I — O MAGO: É a primeira carta do
Tarô; simboliza o Homem Verdadeiro
cuja missão é conseguir a união do
espírito e da matéria. Com sua mão
esquerda sustenta uma varinha mágica
que aponta para o céu, e com a direita
uma moeda de ouro, símbolo da terra, na
qual seus pés se encontram bem
plantados. A inversão das cores azul e
vermelha de suas roupas assinala o
equilíbrio dos opostos; e este personagem
empreende a obra alquímica trabalhando
com 3 princípios e 4 elementos
(simbolizados nas 3 pernas e nos 4
ângulos da mesa) para o qual se mantém
permanente-mente alerta. Para ele,
sempre, hoje é o primeiro e o último dia
da criação, à qual se soma, cooperando
com o Criador. O sentido mais elevado
da carta é determinado pelo seu número,
que indica o motor imóvel, o Princípio de
todas as coisas; ainda que seu chapéu em
forma de “oito deitado” [N.T.:
lemniscata] seja o signo do movimento
contínuo.
DIREITA INVERTIDA
Princípio – Começo Inércia - Quietude – Passividade
Sutileza - Maleabilidade Imobilidade - Auto-engano
Inteligência desperta - Rapidez Ausência de interesse - Torpeza
Despertar da consciência Falta de atenção - Divagação
Vigília - Estado de alerta Preguiça - Negligência - Inconveniência
Movimento - Atividade - Brilho Charlatanice - Brutalidade
Espontaneidade - Habilidade Estelionatário - Enganador - Sonho
Boas empresas - Agilidade Politicagem - Irresponsabilidade
21 A CIDADE CELESTE I
À mentalidade moderna resulta virtualmente impossível conceber a idéia de
uma Cidade celeste, em contraste com a mentalidade, plenamente
sacralizada, dos povos antigos e tradicionais, que não só creditavam sua
existência, mas também além disso viam nela a origem de sua cultura e
civilização, como muito bem o explicam as crônicas e textos sagrados que
nos legaram, nos quais se diz que dita cidade é a morada onde habitam os
deuses e os antepassados míticos, o que expressa deste modo a idéia de uma
genealogia espiritual, Por isso os nomes de "Terra dos Vivos", ou "Terra dos
Imortais" ou "Terra dos Bem-aventurados", como também se designa à
Cidade do Céu. Recordemos, neste sentido, que as cidades tradicionais,
sempre se construíram conforme ao modelo dessa Cidade mítica, quer dizer,
como a projeção no tempo e no espaço do mundo das Idéias e dos
Arquétipos, como é o caso de Teotihuacan (a "Cidade dos Deuses") dos
antigos toltecas mexicanos, ou de Jerusalém, chamada a "Cidade da Paz",
que representa a Jerusalém celeste descrita pelo profeta Ezequiel e
posteriormente por João no livro do Apocalipse. O Ming-tang chinês, cujo
nome significa "Templo da Luz", reproduz igualmente a estrutura
arquetípica da Cidade celeste, denominada na tradição extremo-oriental a
"Cidade dos Salgueiros", habitada pelos "Imortais".
22 A CIDADE CELESTE II
Também é importante advertir que a fundação das cidades, com seus
templos e santuários, era um símbolo que expressava a constituição ou
consolidação de uma doutrina tradicional, convertendo-se assim a cidade
terrestre na própria expressão dos princípios cosmogônicos e metafísicos
revelados por tal doutrina, pois esta sempre foi considerada como a
emanação direta da Doutrina do céu, que não é outra que a própria Sabedoria
Perene, Lei Eterna, ou Sanatana Dharma, contida na Tradição Primitiva, ou
o que é o mesmo, no Centro Supremo. Este, embora em um princípio era
acessível a todos os homens, tornou-se, por razões de ordem cíclica, oculto e
inacessível para a grande maioria, Por isso que seja através da compreensão
do sentido profundo e essencial do Ensino como se pode realmente
estabelecer a comunicação com tal Centro, quer dizer, quando a "intenção" e
a vontade de todo o ser se oriente para o Conhecimento, e se identifique e
seja um com ele, promovendo assim uma verdadeira transformação interior
casada com a realização de todas as possibilidades contidas no estado
humano, à luz de cuja plenitude todas as coisas aparecem reintegradas na
Unidade do Si mesmo, o qual está em relação com a frase evangélica:
"Procurem e encontrarão, peçam e serão saciados, chamem e se lhes abrirá".
A essa transformação (precedida por numerosas mortes e nascimentos)
refere-se a expressão hermética que sintetiza a consumação da Grande Obra:
"espiritualizar os corpos e corporificar os espíritos", ou "espiritualizar a
matéria e materializar o espírito", como se diz nas primeiras páginas deste
Programa.
23 O COMPASSO E O ESQUADRO
Ao falar da Arquitetura (Módulo I, N.º 73) indicamos a importância que tem
a forma do cosmo físico como modelo no qual se inspiravam os antigos
construtores para a edificação dos recintos sagrados e das moradias
humanas. E entre os principais instrumentos utilizados para tal fim
destacamos o compasso e o esquadro. Ambos são os símbolos respectivos do
Céu e da Terra, e assim os contempla em diversas tradições, ou mais
precisamente, iniciações, como o Hermetismo, a Maçonaria e o Taoísmo. O
círculo ao qual desenha o compasso, ou seu substituto a corda, simboliza o
Céu, porque este efetivamente tem forma circular ou abobadada, qualquer
que seja o lugar terrestre de onde o observe. Por sua vez, o quadrado (ou
retângulo), que traça o esquadro, simboliza a Terra, quadratura que lhe vem
dada, entre outras coisas, pela "fixação" no espaço terrestre dos quatro
pontos cardeais assinalados pelo sol em seu percurso diário. Além disso, a
Terra sempre foi considerada como o símbolo da estabilidade, e a figura
geométrica que melhor lhe corresponde é precisamente o quadrado, ou o
cubo na tridimensionalidade.
Mas no momento de pôr "mãos à obra", a casa não se começa pelo telhado.
O trabalho começa por baixo, em definitivo pelos alicerces, pelo
conhecimento das coisas terrestres e humanas. Aqui entra em função a
"ciência do esquadro", tão necessária para riscar com ordem e juízo os
planos de base do edifício e seu posterior levantamento, dando-lhe a
estabilidade e comprovando o perfeito talhado das pedras que servirão de
suporte e fundamento à abóbada, teto ou parte superior.
Por outro lado, esta união do círculo celeste e do quadrado (ou cruz)
terrestre, está em relação com o enigma hermético da "quadratura do círculo"
e a "circulatura do quadrante", que sintetiza os mistérios completos da
cosmogonia. Efetivamente, na "ciência do compasso" e na "ciência do
esquadro" estão contidos a totalidade dos "pequenos mistérios", cujo
percurso é, em primeiro lugar, horizontal (terrestre), e posteriormente
vertical (celeste). Com tudo isto, queremos indicar que na realidade existe
uma aplicação filosófica da Geometria, que poderíamos denominar a
"Geometria Filosofal", que era perfeitamente conhecida pelos construtores
medievais, os companheiros e maçons operativos, como por todos aqueles
que se dedicaram à Arquitetura ou ordem do cosmo como meio de elevar-se
ao conhecimento do que o ponto primitivo simboliza. Sem fatuidade, Platão
fez pôr sobre o frontispício de sua escola: "Que ninguém entre aqui se não
for geômetra", indicando assim que seus ensinos só podiam ser
compreendidos por quem conhecia o aspecto qualitativo e esotérico da
geometria.
fig. 10
24 CABALA
Já sabemos que as letras hebraicas, como as de qualquer língua sagrada, são
simbólicas, e como tal temos que as considerar em nossos estudos e
meditações. Efetivamente, tais letras têm uma forma ideogramática, quer
dizer que expressam idéias e princípios, intimamente relacionados com os
números e as figuras geométricas. Ao mesmo tempo, essas letras são sons
invertebrados de um Verbo único, as quais em suas múltiplas combinações
geram a totalidade da linguagem, ou seja, do que pode ser expresso, pois o
inexprimível pertence ao puramente metafísico e imanifestado.
Este é o caso da letra Iod (ou Yod), que constitui a primeira do
Tetragramaton, YHVH, o Nome Divino inefável. Essa primazia está
indicada por sua própria pequenez, que evoca um ponto, ou um germe,
simbolizando assim a essência indivisível, oculta e secreta da divindade. Esta
última a põe em relação direta com o centro geométrico e, é obvio, com a
unidade aritmética, símbolos também do Princípio imanifestado. Do mesmo
modo, temos que o valor numérico da Iod é dez, o qual expressa a totalidade
dos aspectos criados, simbolizados pelas dez sefiroth e pelos dez dedos das
mãos, totalidade que está compreendida dentro da própria unidade, pois 10 =
1 + 0 = 1. Por outro lado se diz que a letra Alef (que é a primeira do
alfabeto), está composta de quatro Iod, estando então relacionada com o
número 40, que por sua vez se reduz de novo à unidade, pois 40 = 4 + 0 = 4,
e 4 = 1 + 2 + 3 + 4 = 10 = 1 + 0 = 1. Tudo isto mostra as vinculações que
existem entre o denário e o quaternário, o primeiro simbolizando o
desenvolvimento completo da manifestação, enquanto que o segundo
expressa o vínculo que une essa manifestação a seu princípio, e vice-versa.
Isto é o que justamente simboliza a cruz inscrita na circunferência. Esta
mesma figura representa também os quatro rios do Pardés (ou Paraíso), que
emanam do centro da Árvore da Vida, distribuindo a unidade a todos os
limites da criação.
25 NOTA:
Ainda que pese o processo de dessacralização do mundo moderno, a força
do mito segue presente. Como já se indicou, uma prova disso são os
diferentes folclores, lendas e contos que sobrevivem na alma popular, e que
conservam o rastro dos mitos e símbolos sagrados e iniciáticos, embora é
certo que com freqüência estes apareçam degradados e com fortes doses de
superstição. Porém, também é verdade, que se não fora por essa
sobrevivência, ser-nos-ia virtualmente impossível ter conhecimento algum
de muitos desses mitos e símbolos, pois se teriam perdido para sempre. No
simbolismo astrológico, esta memória se vincula à esfera da Lua –e a
sefirah Yesod–, que na estrutura sutil do cosmo cumpre uma função
conservadora e receptora onde estão "depositados", em estado latente e
potencial, os "gérmens" sutis do ser individual. Uma vez despertadas as
possibilidades superiores contidas nesses germens, seguirá um
desenvolvimento gradual e ordenado cuja plenitude coincidirá com o
nascimento de um homem novo e completamente regenerado, o que equivale
ao renascimento espiritual.
Que o homem não pode prescindir dos mitos, pode-se ver hoje em dia na
grande quantidade de “comics”, novelas e filmes, aonde as histórias de
heróis justiceiros que lutam contra ladrões e assassinos estão perpetuando o
combate das potências luminosas contra as das trevas. O mesmo se pode
dizer do mito do amor (união dos princípios aparentemente antagônicos,
mas complementares, simbolizados pelo homem e a mulher) que é
possivelmente o que com mais força se perpetuou e o que nutre a maior
parte dos filmes e canções modernas populares. E isto é claro indício de que
a energia da deusa do Amor e da Beleza, Vênus, não se extinguiu, mas sim
continua plenamente vigente e cheia de vitalidade na alma dos homens,
como não poderia deixar de ser, já que se trata de uma energia imortal.
26 TARÔ
II — A SACERDOTISA: É a Sabedoria
oculta detrás dos véus das aparências.
Sentada como eixo central entre as duas
colunas do Templo, desentranha as
profundi-dades das coisas graças à
intuição superior e ao intelecto puro, que
são os olhos com os quais lê no Livro da
Vida. Ela nos ensina a olhar no interior de
nós mesmos, a guardar silêncio quando se
faz necessário calar, a penetrar as formas
procurando sempre a essência dos seres, e
a conhecer a Fé. Não as crenças
dogmáticas que só se impõem aos cegos,
mas sim, melhor, aquela certeza que
conhece quem tenha sido tocado pela
experiência espiritual, e que se guarda em
segredo como um precioso tesouro. É a
“Ísis com Véu” dos egípcios, que se
encontra coroada como rainha misteriosa,
cujo coração só pode abrir a chave do
Conhecimento, ao que chegaremos através
do olhar interno que propicia o trabalho
iniciático.
DIREITA INVERTIDA
Sabedoria – Intuição Ignorância - Cegueira – Idéias
Conhecimento - Intelecto puro fixas - Obscuridão – Egoísmo
Interioridade - O invisível, esotérico Miopia - Fixação - Obsessão
e secreto - Oração - Concentração Obcecação - Pessoa ou coisa
Silêncio - Excelente aptidão fechada - Rigidez - Cabeça
Campo fértil – Recolhimento dura - Surdez - Estupidez
O oculto, misterioso – Meditação Obstinação - Constipação
Receptividade - Olhar interno Infertilidade - Egocentrismo
Autoconhecimento Teimosia
27 MITOLOGIA
Os diversos significados dos mitos –assim como os dos símbolos– não se
contradizem, embora se sobreponham, ou dito de outro modo: estes
significados são multifacetados e se referem tanto a distintos planos da
realidade como a diferentes aspectos de sua manifestação. O fato é que um
grau ou tipo de leitura do mito (ou do símbolo) não tem porque
necessariamente excluir a qualquer outro, senão que estes sentidos se
complementam, pois muitas vezes se referem a aspectos da realidade que
coexistem nela intrinsecamente.
O homem moderno está acostumado a proceder em forma absolutamente
binária, ou seja, por “sim” ou por “não” (geralmente pelo "bom" –sempre
diferente e mutável–, o que leva a negar o "mal" implícito em qualquer
manifestação), razão que caracteriza a sua educação lógico-formal, que nos
séculos XVII e XVIII desemboca necessariamente no racionalismo. É o
produto de sua programação histórica, e com estes parâmetros acredita que
está perfeitamente capacitado para julgar e valorar tudo, sem compreender
que é uma vítima de seu baixo condicionamento, cuja ilusória ciência se
atreve a interpretar culturas e pensamentos que não só não foram cunhados
sob essas simplistas e ingênuas perspectivas, senão que, pelo contrário, esses
mesmos pensadores e culturas se encarregaram de advertir os riscos de tais
atitudes desde os começos de sua formulação, posto que os enganos da
sociedade moderna já estão expressos em forma embrionária nos gérmens da
Grécia clássica, ou dito de outra maneira, nos alicerces de todo organismo
vivo (tal qual uma civilização), que em virtude de seu crescimento múltiplo
cada vez se encontra mais afastado de seu estado original, levando em si
implícitos os elementos dissolventes que o precipitarão a sua degradação e
morte final. Por isso a errônea simplificação de positivo ou negativo (bom ou
mau) excluindo sempre um em benefício do outro, não é outra coisa que um
engano, já que as qualificações de que se trata são válidas só de um ponto de
vista –ignorando o contrário– e estão sujeitas à relatividade do tempo (o mau
de hoje é o bom de ontem, o que hoje pudesse considerar-se bom, o mau de
tempos passados, etc.).
O mito, em sua ambivalência, esclarece esta ignorância da que tanto se
vangloriam a maior parte de nossos contemporâneos que tratam de ser
"bons", ou ainda de maneira mais degenerada, "maus", sem compreender que
no conjunto das coisas do cosmo estas valorações arbitrárias estão sujeitas às
determinações individuais de seus próprios egos, cuja conveniência
interessada, seja social ou pessoal, é o produto de seus desejos, que os
sacodem em todas direções.
É este tipo de atitude, ou seja: o desconhecimento das leis da cosmogonia –a
qual os mitos se referem em primeiro lugar–, o que lhes leva a desprezar o
mito, a vivê-lo como fábulas ou fantasias, ou tentar sua classificação
mnemônica e erudita, ou no melhor dos casos a interpretá-lo com um
achatamento e mediocridade digna do pensamento da sociedade em que
vivem.
28 CABALA
A Cabala pode agrupar-se em duas grandes divisões. A primeira é a Cabala
do Bereshit –originada na letra Beth, com a que começa a criação–, e a outra
é a Cabala do Merkabah, ou a Cabala do Carro, relacionada com a
Triunidade das sefiroth supremas. A primeira se refere à Cosmogonia, e a
podemos vincular com as figuras geométricas do quadrado e do círculo, terra
e céu respectivamente, e também com a horizontalidade e a verticalidade.
Por certo, é com a Cabala do Bereshit com a qual você se liga por intermédio
da Agartha. Há cabalistas que vinculam diretamente os vinte e dois Arcanos
Maiores do Tarô com as vinte e duas letras do alfabeto sagrado, fazendo
corresponder à carta l, O Mago, com a letra Alef, e em sucessão as que
seguem. Não todos os hermetistas procedem exatamente da mesma maneira
na questão das equivalências, e isto pode dar lugar a distintos diagramas
sefiróticos em que os atalhos fiquem assinalados por cartas do Tarô distintas.
A seguir damos uma versão, com o fim de que o leitor possa seguir tecendo
relações e equivalências.
29 EXERCÍCIOS DE PACIÊNCIA:
A paciência, o aprender a esperar, é ativar a potência da energia passiva
que jaz em nós. A paciência é também aprender a receber e saber deixar
acontecer aquilo que não é estritamente de nossa incumbência, ou seja, que
igualmente atua como selecionador. São muitos os exercícios que qualquer
um pode efetuar referentes ao cultivo de sua paciência aproveitando a vida
cotidiana. Sugerimos dois para aqueles que conduzem automóvel: 1°)
Quando um automobilista tentar ultrapassá-lo de forma violenta, deixe-o
passar e pergunte-se aonde vai com tanto pressa: ligar o televisor? 2°) Se
você tiver que viajar por uma estrada em uma viagem longa, proponha uma
marcha de absoluta regularidade.
30 EXERCÍCIOS DE SILÊNCIO:
Praticar o silêncio é recorrer a uma das energias mais poderosas de que
pode dispor o homem. A tremenda concentração de uma consciência alerta,
que não desperdiça energia em valores e circunstâncias relativos e fugazes,
dá nascimento à autoconcepção dos mundos, aos que a prática do silêncio
conduz. Calar em uma conversação, ou em uma discussão, sobretudo se o
tema supõe um triunfo de seu ego, ainda que lhe seja negada a razão que
você tenha, é igualmente uma experiência muito interessante, só
reconhecível por aquele que a tenha vivido.
31 TARÔ
III — A IMPERATRIZ: É a Sabedoria
despojada de seus véus, que se vê aqui
refletida a si mesma na Inteligência, a
Virgem Rainha, cheia da Graça que será
derramada a toda a criação. Representa o
princípio feminino, passivo e receptivo,
ao qual se pode ver como uma copa
vazia, que é penetrada e fecundada pelo
Espírito. É doadora de formas, e como
toda mãe, ao dar a vida dá também a
morte, unindo os mistérios gozosos,
dolorosos e gloriosos. Ela é a Mãe Maior
ou matriz universal da qual emanam
todas as criaturas; e a Inteligência
reveladora e criativa, capaz de discernir o
verdadeiro e o falso. Sua beleza e
harmonia se manifestam na Natureza. É a
mulher sedutora e atraente e a esposa fiel
e amante. Igual que a IIII, é uma carta
exterior, relacionada com a graça e a
beleza das formas, bem como com a
nobreza e a autêntica "realeza".
AL DERECHO AL REVES
Inteligência - Energia criativa Falta de inteligência e de graça
Graça - Encanto Aparentar o que não se é
Firmeza - Responsabilidade Vulgaridade - Grosseria - Capri-
Boa disposição de ânimo chos - Afetação - Ridicularidade
Formas - Elegância Dificuldade de dar formas
Nobreza - Riqueza Falta de nobreza - Mau gosto
Facilidade - Alegria Instabilidade - Exagero
Poder de sedução Falsos brilhos e êxitos
Atração Impontualidade - Improvisação
32 CABALA
Quando falamos do simbolismo da letra Iod, indicamos que ela era a
primeira das quatro que compõem o Tetragramaton, ou Grande Nome de
Deus, YHVH, que recordamos é impronunciável, pois expressa um grande
mistério. Na continuidade, queremos propor um tema de meditação que se
refere à identidade dessas letras com as dez sefiroth, e que com toda
segurança ampliará nossos conhecimentos sobre o modelo da Árvore
Cabalística. Segundo o Zohar, a Iod expressa a união indivisível e ontológica
das duas primeiras sefiroth, Kether (a Coroa) e Hokhmah (a Sabedoria). A
ponta ou vértice superior da Iod representa a Kether, a "raiz suprema", que se
submerge e emana de En Sof, o Nada ilimitado e supra-essencial, idêntico ao
Não-Ser e ao Deus Absconditus, do qual extrai toda sua realidade, pois
recordaremos que Kether não é senão um ponto afirmado nessa infinitude.
Desse vértice, de Kether, emana Hokhmah, também chamado o "Pai",
simbolizado pelo resto da Iod, que se prolonga levemente para baixo,
representando o próprio Ser dando origem à manifestação. Mas para que isso
seja assim é necessário que Binah (a Inteligência), também chamada a "Mãe
Suprema", ou princípio passivo de Kether, seja fecundada por Hokhmah, o
princípio ativo, e essa fecundação é a que está expressando a segunda letra
do Tetragramaton, a Hé. A união desta com a Iod (Hokhmah) gera a terceira
letra, a Vav, à que se denomina o "Filho". A forma desta letra, com seu braço
inferior alongado para abaixo sugere perfeitamente a idéia de descenso dos
princípios superiores no seio da manifestação propriamente dita, pois essa
letra representa a síntese das seis sefiroth de construção cósmica, Hesed,
Gueburah, Tifereth, Netsah, Hod e Yesod, as quais, como diz o Zohar,
"transmitem a herança à Filha". Esta não é outra que a segunda Hé, última
letra do Tetragramaton, a qual simboliza a sefirah Malkhuth, o "Reino",
recipiente de todas as emanações sefiróticas, às quais distribui em toda a
ordem criada. A Cabala denomina a estas quatro letras de a "família divina",
esclarecendo que toda ela conforma uma unidade, como a própria Árvore da
Vida, ou a própria realidade do Cosmo, à qual aquela certamente simboliza.
fig. 11
33 O AMOR
A frase: "Deus é Amor", extraída do Evangelho de João, permite-nos
entrever a elevada natureza desta energia, considerada por todas as tradições
como um dos principais nomes ou atributos da Unidade (de Kether),
identificando-se com ela, como o atesta o fato de que em hebraico a palavra
Unidade (Ehad) e Amor (Ahabah) têm o mesmo valor numérico, o 13. Neste
sentido, já o Mestre Eckhart afirmava: "Onde queira que esteja a alma é onde
Deus opera sua obra. Esta operação é tão grande que não é outra coisa que
Amor, mas o Amor não é outra coisa que Deus. Deus se ama a Si Mesmo,
ama sua Natureza, sua Essência e sua Deidade. Mas no Amor com que Deus
se ama a Si Mesmo, ama também a todas as criaturas, não enquanto
criaturas, senão enquanto elas são Deus. No amor com que Deus se ama a Si
Mesmo, ama ao mundo inteiro".
Por isso, do amor se diz que é a força de atração dos contrários ou opostos, o
centro de união onde se conciliam as energias verticais e horizontais, ativas e
passivas do cosmos e do homem, fazendo possível o equilíbrio e a
verdadeira concórdia (ou "união dos corações") universal, por isso os antigos
gregos vissem nele o filho de Afrodite e Hermes (tal como sua irmã, a deusa
Harmonia), de onde nasce também o Hermafrodita, ou seja, o Rebis, que
representa no ser humano a união perfeita e harmoniosa de sua natureza
masculina e feminina, ativa e passiva, yang e yin. Efetivamente, é com o
fogo do amor, e a sutil paixão que ele gera, que se leva a cabo a obra da
transmutação alquímica, porque esse fogo é o próprio amor ao
Conhecimento e à Sabedoria e, como dizia Leonardo da Vinci: "O Amor é
filho do Conhecimento. O Amor é tanto mais elevado quanto o
Conhecimento é mais verdadeiro". A este amor, expressão do amor divino, é
ao que cantavam os trovadores medievais, e o que Dante vê personificado na
figura de Beatriz (que simboliza a Sabedoria), e certamente é o que invoca
Salomão no Cântico dos Cânticos, aonde trata precisamente das "bodas",
"casamento", ou união da alma humana com o Espírito.
34 METAFÍSICA
O estudo dos textos de nosso Programa –e todos os símbolos e exercícios
que utiliza– tende a conduzir-nos para o conhecimento e para a realização
das possibilidades superiores do ser, às quais definimos como de ordem
metafísica. E convém aqui fazer algumas observações a respeito do que
entendemos por metafísica, ainda que devamos advertir sobre as dificuldades
de expressar algo referente a um domínio que foi sempre considerado como
inexprimível, e a impossibilidade de definir aquilo que essencialmente é
indefinível.
É importante assinalar que com isto não estamos negando o físico, nem as
possibilidades individuais do ser. Só queremos recalcar que o metafísico é de
ordem superior, e que o físico se encontra incluído nele.
35 TARÔ
IIII — O IMPERADOR: A IIII
representa um rei, em tempo de paz, que
legisla e governa seu povo com firmeza e
amor. Com suas pernas realiza o sinal da
cruz, o quaternário que serve de
fundamento às leis do tempo e do espaço.
É símbolo das estruturas sociais,
familiares e de governo, às quais serve de
centro, ordenando-as e harmonizando-as.
Como arquiteto, desenha os planos
construtivos de seu império, que se levanta
e acrescenta sob sua autoridade. Em nosso
interior é aquela energia que nos governa e
controla, ordena nossas idéias, disciplina
as ações, e nos ensina a cumprir uma
missão. Simboliza também a paternidade:
o bom pai que corrige e educa seus filhos
unificando o rigor e o amor. As cartas III e
IIII são opostas e complementares, o que
se observa na posição do cetro e do
escudo, símbolos de comando, domínio e
poder.
DIREITA INVERTIDA
Autoridade - Força Tirania - Absolutismo - Despotismo
Poder - Domínio Arbitrariedade - Usurpação
Governo - Direito - Lei de poder - Falta de direito
Dotes - Missão Materialismo - Horizontalidade
Arquitetura - Construção Desordem - Falta de caráter
Vontade - Disciplina Debilidade - Severidade excessiva
Paternidade Militarismo - Literalidade
Flexibilidade Falta de domínio
Paz - Visão Obstáculo formidável
36 GEOGRAFIA SAGRADA
Para a Tradição, a geografia, tal qual a história, é considerada como uma
ciência sagrada, em contraposição ao que sob este mesmo nome estuda a
ciência contemporânea, que ignora que a Terra é um ser vivo que respira e
sente, e que possui, além de um corpo, uma alma e um espírito. A este
respeito, recordaremos o que nos ensina a Alquimia quando fala da geração e
transmutação dos metais e pedras no interior da Terra, interior que é
considerado como a matriz da Mater Genitrix, receptáculo das energias
verticais e numinosas expressadas através dos ritmos e ciclos cósmicos. Por
isso a geografia se complementa com a cosmografía, ramo anexo à ciência
astrológica, e pela qual é possível conhecer com exatidão o aspecto que o
Céu apresenta em cada momento, bem como as revoluções dos planetas e as
constelações estelares e zodiacais. Muitas vezes a própria toponímia revela
as analogias e correspondências que existem entre a ordem terrestre e a
celeste. Tal é o caso, por exemplo, da cidade de Santiago de Compostela,
palavra esta que precisamente quer dizer "campo de estrelas". O próprio
traçado do Caminho de Santiago se considera como uma projeção terrestre
da Via Láctea, querendo se indicar com isso a origem celeste desse caminho.
Igualmente a forma em que estão dispostos alguns acidentes topográficos –
como rios, montanhas, pedras, cavernas, vales, inclusive países e ilhas–
descrevem em sua configuração, e graças às harmonias sutis, certas
constelações e até o zodíaco inteiro, como o que se encontra desenhado sobre
a paisagem de Glastonbury, na comarca inglesa de Somerset.
37 A ASTROLOGIA E AS DEIDADES
Para a Ciência Sagrada os planetas são os aspectos visíveis e os símbolos das
entidades numinosas ou deuses, os quais com seu hálito vital lhes animam e
dão movimento. Precisamente no esoterismo judaico-cristão e islâmico se
menciona aos anjos como os verdadeiros regentes das esferas planetárias.
Recordemos que os deuses planetários são ciclos cósmicos que englobam a
outros mais reduzidos como os do homem, aos quais selam com suas
influências. Assim, o que os relatos mitológicos, lendas e teogonias
expressam como lutas, oposições, coincidências e amores entre as diferentes
forças divinas, não são senão o alternar-se de uns ciclos em outros, que ao se
relacionarem com os ritmos zodiacais incidem de maneira notória no plano
horizontal do mundo terrestre, desdobrando-se no espetáculo multiforme da
vida. Igualmente, e desde o ponto de vista da Ciência Sagrada, estas
vinculações entre as deidades configuram um mistério (recordemos que a
palavra "mistério" tem a mesma raiz que a palavra "mito"), ou seja, revelam
um modo de ser arquetípico e uma determinada qualidade da alma universal,
e igualmente da humana.
38 APRENDER A LER:
Uma das coisas mais importantes em nossas disciplinas é a de aprender
novamente a ler. Essa nova leitura dos textos, símbolo de outra apreciação
da vida e das coisas, inclui uma atitude diferente com respeito ao que se lê.
As leituras com as quais se nutre o neófito, textos teúrgicos e iniciáticos,
exigem uma adequação especial para que atuem verdadeiramente. Na
prática podemos distinguir uma leitura profana e superficial, de outra
profunda e sagrada. Estudar um texto não é só aprendê-lo de modo literal,
ou de "memória". Também não é passar sobre ele sem o compreender.
Singelamente se trata de apreender.
DIREITA INVERTIDA
Sacerdote - Mestre - Ensino Dogmatismo - Falsos profetas
Aprendizagem - Doutrina - Tradição Tergiversação - Falsificação
Autoridade moral e espiritual Equívoco - Enganos - Prejuízos
Paciência - Perseverança Impaciência - Fanatismo
Rigor - Retificação - Equanimi- Má informação - Rigidez
dade - Calma - Serenidade - Con- Liderança - Condicionamento
fiança - Generosidade - Cons- Mau conselheiro e intermediário
tância - Discrição - Bom sentido Insensibilidade - Competência
40 A BELEZA
Como o Amor –ao qual se encontra indissoluvelmente unida– a Beleza é um
nome ou atributo divino, conforme mostra e exemplifica a sefirah Tifereth,
também chamada Harmonia como sabemos. Devido a seu caráter universal,
a Beleza não é patrimônio de ninguém, e certamente escapa às classificações
da arte e do artista moderno, que só percebem dela o estético e superficial,
quando não simplesmente a negam, apostando pelo realmente grotesco e
confuso. A maioria dos que se autodenominam "artistas" esquecem que a
beleza é um permanente assombro que se acha implícito na textura mutável e
multifacetada da vida, e o que é mais importante, na essência e no próprio
ser das coisas e dos seres. Ela se identifica com o inapreensível, com o que
não pode ser medido nem computado, mas sim experimentado como um tipo
de emoção intelectiva e supra-racional, capaz de produzir aquela necessária
"ruptura de nível", que faça possível o contato direto com as realidades
espirituais que, ademais, toda a criação constantemente revela e sugere. Por
isso sempre foi considerada como uma energia intermediária entre o humano
e o divino, entre o horizontal e o vertical, tal como o símbolo, e como este é
um veículo que nos conduz ao Conhecimento.
41 GEOGRAFIA SAGRADA
Toda Terra Santa, ou Sagrada, própria a cada tradição, é o símbolo da Terra
Arquetípica, que se manifestou visivelmente ao começo do atual ciclo
terrestre e humano. Esta foi a residência do Centro Supremo ou Grande
Tradição Primitiva, a qual teve que se ocultar e se fazer invisível (passando a
outro plano) quando as condições nas que era possível sua existência se
tornaram difíceis. Geograficamente, o Centro Supremo esteve situado
aproximadamente no que hoje é o Pólo Norte, que os gregos denominaram a
Hiperbórea, e que naqueles primeiros tempos conservava condições
climáticas mais benignas que na atualidade: uma "primavera perpétua" como
assinalam algumas tradições. Isto se deveria, como já se disse antes, ao feito
de que o eixo terrestre não estava inclinado com relação ao eixo celeste,
acontecendo que não existissem a sucessão das estações.
42 NOTA:
Em diversas tradições, o Paraíso é representado pelo coração, que é o
centro do estado humano, equivalente ao "Coração do Mundo", ao "Santo
Palácio" interno, ou a Brahma-Pura (a "Cidade de Brahma"). Por isso há
que se entender a existência de uma analogia entre a Geografia mítica ou
sagrada e o próprio espaço interior ou espiritual do homem. Nesse espaço
também se encontram comarcas e regiões que são apenas estados de
consciência que o ser vai reconhecendo nas diferentes etapas ou graus de
sua evolução espiritual. "O Reino de Deus está dentro de vós", diz o
Evangelho; e o lamaísmo budista: “Shambala (a Comarca Suprema ou
Paraíso) está em nosso coração". À luz dessas concepções, o espaço
geográfico se transforma em seu arquétipo celeste, onde se vislumbra o
atemporal. A beleza do mundo, de Malkhuth, é o reflexo da Beleza, de
Tifereth. As visões enlevadas de certos místicos descrevem uma geografia
situada em outro plano da realidade, onde se produzem as teofanias e se
revelam as entidades angélicas e divinas. É a "Terra dos Bem-aventurados",
dos "Viventes", dos "Antepassados Imortais", à qual, entretanto, "não se
pode chegar nem com naves nem carros, a não ser somente pelo vôo do
espírito". A este respeito nos dizem os mestres herméticos: "O Paraíso está
ainda nesta terra, mas o homem está longe dele até que não se regenere".
Agartha é a gruta que se oculta na montanha, localizada-se no mesmo eixo
que a sumidade, como a cripta no templo.
43 VISÃO
A prática da Geometria e da Meditação são métodos de purificação do "olho
da alma", que cultivam a capacidade da Visão ou faculdade de contemplar a
Verdade: faculdade chamada também Inteligência do coração, a única que
pode unir o mundo manifestado com sua Origem.
44 TARÔ
VI — O ENAMORADO: Aqui se acha
um homem entre duas possibilidades, em
atitude de escolher livremente uma
delas. Uma mulher, que sinaliza as
partes exteriores dele, exerce atração
sobre ele para a corrente do mundo
profano, do materialismo e do engano
dos sentidos, oferecendo-lhe um amor
vulgar, não transcendente. A outra
sinaliza seu coração, atraindo-o para os
sentimentos mais nobres do amor
espiritual e simbolizando a verdade. O
cupido, a cujas costas brilha um sol
radiante, aponta com sua flecha à
segunda, embora o indivíduo se encontre
aqui em liberdade de escolher qualquer
opção, pondo seu coração onde esteja
seu verdadeiro tesouro. Também pode
simbolizar um casal ou um noivado. A
carta invertida denota os dilemas,
dúvidas e vacilações aos quais nos
submetem as tentações do mundo
profano. Mas quando está direita, insta-
nos a melhor decidir.
DIREITA INVERTIDA
Determinação - Livre eleição Vacilação - Dúvida - Dilemas
Amor - Vontade Eleição errônea - Indeterminação
Livre-arbítrio - Decisão Engano - Covardia - Risco
Auto-determinação Caminho equivocado
Movimento da vontade Medo - Indecisão
Heroísmo - Firmeza Indeterminação - Intrigas
Chamados - Nobre paixão Paixões - Sofrimento
Afetos - Sentimentos - Casal Traição - Perda de energia
União do casal - Noivado Impossibilidade - Crise afetiva
45 A ANALOGIA
No Módulo I, título N.º 24, dedicado à analogia, referíamos-nos à inversão
de duas ordens simbolizada pelo Selo de Salomão. Só adicionaremos que o
único aparece misteriosamente como múltiplo, assim que se reflete no
prisma da manifestação, e até muito mais quando o faz nas modalidades do
individual. Por isso as conhecidas reservas da Tradição a este respeito, ao
reiterar o caráter ilusório e relativo das aparências, que sendo imagens
reflexas e invertidas da realidade, são tomadas infelizmente por ela mesma.
Confundimos o símbolo com o simbolizado. A mesma proposição
hermética: "o que é acima é abaixo", exige uma interpretação correta das
correspondências, já que o de "cima" se acha simbolicamente expresso pelo
de “baixo”, mas em sentido inverso. "Os últimos serão os primeiros e os
primeiros serão os últimos". O pecado, o engano e seu comum denominador,
a ignorância, são apenas a idolatria do irreal e ilusório. Um puro absurdo que
deixa de sê-lo na medida em que o ser toma consciência efetiva do
verdadeiramente real e eterno.
46 O ARTISTA
A tarefa do artista é a de mediador entre a essência do símbolo (ou Verbo) e
sua manifestação no mundo temporário (obra do Verbo Criador). Dentre
todas as criaturas, só ao homem é dado o tomar consciência deste papel e,
através dele, é o Universo que se faz consciente de si mesmo. O propósito da
educação tradicional consiste em levar a cabo esta tomada de consciência,
despertando as capacidades latentes que todo homem leva ocultas, sendo esta
a função que cumpre o grêmio dos artistas, dirigido por um mestre que
conhece os princípios que governam a Arte.
Sons, formas, linhas, cores e materiais serão os meios para a alma desperta
que busca expressar-se em sua descida pelo arco do ciclo criativo,
devolvendo a forma visível, audível ou tangível ao vivido. Passivo com
relação ao Princípio do qual é servidor, e ativo com respeito a sua Arte, o
artista cria uma relação harmoniosa entre o universal, que anima sua obra, e
a particular maneira de dar forma a sua criação. A obra será a amostra da
perfeição alcançada pelo artista e, na medida em que esteja conforme com a
Origem, poderá lhe chamar original. Originalidade compreendida no amplo
sentido da palavra: a realização de uma concepção original e não só a
transitória originalidade individual.
O segundo refrão deu título a esta nota e diz: "Não é por muito madrugar
que amanhece mais cedo". Nele se adverte o oposto ao anterior, ainda que
se o note muito mais elaborado, já que nega de fato a simplória crença
literal que o primeiro sustenta, e aparece como uma clara sentença a um
dos enganos (pecados) maiores e difundidos dos contemporâneos: o de que
através das ações dos homens vai poder se obter o que sempre foi chamado,
inversamente, a Graça de Deus.
"O espírito sopra onde quer" pode ler-se no texto sagrado. Sim, onde quer o
espírito e não onde determinam os homens, ou em qualquer lado, por azar,
como poderia compreender um literal, ou um “justo” muito madrugador.
Um provérbio chinês diz: "Ao abusar da eficácia se produzem violências".
48 TARÔ
VII — A CARRUAGEM: Nesta carta
vemos um cocheiro conduzindo seu
veículo para uma meta prefixada. A livre
decisão que estava implícita na carta
anterior, foi já tomada, e o Iniciado se
encontra aqui em atitude de triunfo e de
vitória, ganhando a guerra entre os
contrários. Os cavalos e as rodas,
parecem dirigir-se para lugares opostos;
mas o chofer real, sem necessidade de
rédeas, leva-os pelo meio, superando os
obstáculos do caminho, unindo as
contradições e conjugando as oposições.
Nos galões se vêem duas máscaras, uma
que chora e outra que ri, representando a
tragédia e a comédia. A carta nos dá a
idéia de viagem, relacionada com a
primeira fase do processo iniciático; trata-
se das primeiras viagens que nos
prepararão para as viagens maiores, logo
depois das quais o movimento cessará e
se atracará à região do repouso. Não
confundir o veículo com a meta.
DIREITA INVERTIDA
Direção - Movimento Ausência de direção - Pressa
Superação de contradições Viagem adiada - Imobilidade
Triunfo - Vitória - Obtenção de Retrocesso - Derrota - Pesar
Êxito - Manejo de opostos Veículo ou caminho equivocado
Viagem - Mudança - Nova vida Ausência de escrúpulos - Fracas-
Superação de obstáculos so - Perda de controle - Estanca-
Objetividade - Reestruturação mento - Impossibilidade de chegar
Bom veículo ou Ruptura - Insatisfação
caminho Desespero
49 HISTÓRIA SAGRADA
A História se articula como uma série de acontecimentos no tempo onde se
projetam, tal como na Geografia, as energias e potências verticais. Assim
entendida, a História está balizada de feitos significativos que supõem uma
ruptura do nível temporal, ordinário e profano, que nada tem que ver com as
crônicas e estatísticas, às quais estão acostumados nossos contemporâneos,
que só são capazes de se fixarem em determinadas anedotas devidamente
documentadas (sempre com um propósito interessado, em particular no
político, econômico, racial ou religioso). Como o espaço, o tempo não é
homogêneo, mas tem cisões e fissuras por onde se revela o supra-histórico.
Por outro lado, o centro sagrado geográfico e espacial, simbolizado pela
Terra Sagrada, –e dentro de cada qual por seu próprio coração– é também o
centro do tempo, do atemporal, onde se faz efetiva a comunicação com os
estados superiores.
50 A TRADIÇÃO
A multiplicidade das tradições é uma forma evolutiva que reveste aquela
Tradição Única das origens, no processo cíclico de queda através das idades
históricas. E assim como na Árvore Sefirótica quatro planos
progressivamente densos separam à Primeira Deidade do Reino deste
Mundo, assim também no tempo as quatro idades –do ouro, da prata, do
bronze e do ferro– marcam a progressiva ocultação daquela Tradição
Primitiva sob o disfarce de tradições diversas e cada vez, na aparência, mais
distintas, até o ponto de chegar a admitir contradições entre elas no plano de
sua literalidade, que é o único que está ao alcance da generalidade dos
homens na atual idade obscura. A isso se refere o mito bíblico da Torre de
Babel, relativo ao momento em que o gênero humano começa a se interessar
pelo desenvolvimento da civilização –as artes, os ofícios e as grandes
empresas técnicas– e é "castigado" com a confusão das línguas.
51 GEOGRAFIA SAGRADA
Já dissemos que a geografia (grafia da terra) concebida como espaço mítico
destinado a ser reflexo da ordem celeste, é comum a todas a culturas
tradicionais. Queremos recordar que esse espaço mítico é o Centro do
mundo, onde o tempo (a história) também se contempla como não-sucessivo,
sendo sempre novo e a regeneração uma realidade permanente, ao não perder
a capacidade de assombro sua virgindade original. Na verdade a geografia
sagrada é invisível, pois existe a "idéia" de uma terra ilimitada e primitiva,
de uma "Terra Pura" ou de um Jardim edênico, que não esgota suas
possibilidades generativas ao estar unida e fecundada pelo Espírito. A
geografia é então um estado da alma (de se viver a própria existência
inserida no universal), que, efetivamente, pode ser manifestada
simbolicamente numa paisagem, no topo de uma montanha, no vazio de uma
caverna, ou em qualquer topografia significativa. Os templos e cidades se
erigiam nesses lugares, e sua construção se realizava segundo leis precisas
derivadas de uma ciência sacerdotal, revelada pelos deuses.
52 NOTA
Esperamos que à medida que foi avançando no curso dos ensinos e
exercícios contidos neste manual, ao qual se deve repassar freqüentemente,
você possa ter agora novos pontos de partida para a investigação, ao
mesmo tempo que a leitura destes textos lhe possa resultar muito mais
sugestiva, e talvez reveladora. De toda maneira, são os preâmbulos de nosso
trabalho integral, ao qual se deve dedicar igual firmeza e ardor que até o
momento. Você avançou um passo, embora não saiba de tudo. Acaso tenha
se feito evidente, redobre seus esforços, pois está fazendo algo por você
mesmo e sua superação, e sempre esta dedicação é recompensada de uma
ou outra maneira.
Pode ser que por falta de tempo, ou por outras razões muito específicas, o
leitor não tenha efetuado todas as práticas e exercícios que demos e
seguiremos dando. Nesse caso lhe sugerimos que vá anotando em uma ficha
aqueles que não realizou, e os ordene por temas. Certamente chegará o
momento em que possa efetuá-los e, então, você poderá praticá-los de forma
ordenada. Trate de não omitir nada do que Agartha lhe oferece e deixe que
o Ensino penetre completamente em você. Posteriormente, e de forma
natural, ir-se-ão selecionando em nós os caminhos particulares e os tipos de
temas de nossa inclinação, que deste modo podem se desenvolver em um
leque de possibilidades.
53 TARÔ
VIII — A JUSTIÇA: Aqui nos mostra
uma mulher sentada, que sustenta uma
espada com sua mão direita e uma balança
com a esquerda. Embora esteja
acostumado a se representar à justiça com
os olhos vendados, dando a entender que a
lei se aplica por igual a todos os homens,
sem restrições de nenhuma classe, aqui a
vemos com os olhos muito abertos,
indicando a objetividade com a qual emite
seus julgamentos. A espada se acha em
posição vertical, ascendente, pronta para
penetrar as aparências das coisas e atracar
aos estados superiores do ser; e a balança
está sustentada pelo eixo ou fiel, símbolo
do equilíbrio e da harmonia que se obtêm
quando se encontra o justo meio. Os
significados favoráveis desta carta estão
relacionados com as virtudes de um
verdadeiro juiz, objetivo, neutro e
desapaixonado; quando está ao contrário,
fala de seus vícios e em geral nos mostra
os desequilíbrios.
DIREITA INVERTIDA
Lei - Ordem - Objetividade Injustiça - Parcialidade
Imparcialidade - Regularidade Desequilíbrio - Aburguesa-
Justiça - Harmonia - Consciência mento - Desordem - Violência
Integridade - Equilíbrio Pleitos - Discussões
Rigor - Organização Arbitrariedade
Economia - Administração Ladrões - Corrupção
Desapaixonamento Bandidos - Esbanjamento
Bom critério Problemas econômicos
Neutralidade Falta de administração
54 ASTROLOGIA
Freqüentemente se confunde hoje em dia a Ciência da Astrologia com a
simples confecção de horóscopos, que sempre foi considerada pela Tradição
como secundária, derivada e contingente. Isto não quer dizer que careça de
interesse conhecer as influências planetárias que regem o dia e a hora de
nosso nascimento, cuja investigação pode se realizar como prática para nos
familiarizarmos com esta disciplina; mas é importante não perder de vista
que o fundamental é conhecer os princípios e as normas que governam o céu,
os quais se vêem também refletidos na ordem natural da terra. Não devemos
esquecer que é graças aos astros que temos a possibilidade de compreender
as leis que regulam o tempo e o espaço. Por um lado, é o lugar de saída do
Sol e dos planetas que nos permite ter uma orientação espacial,
conseqüentemente são também as esferas celestes que nos fazem ter a
concepção de dia e noite, semana, mês ou ano, ou seja, da durabilidade do
tempo.
55 O SIMBOLISMO DA ESPADA
Mais que nenhuma outra arma, possivelmente seja a espada a que melhor
serve para representar a luta que qualquer aspirante ao Conhecimento tem
que empreender em um determinado momento de seu processo contra
aqueles que constituem seus autênticos inimigos: os que leva em si mesmo.
Dito combate é a "grande guerra Santa" da que fala o profeta Mahoma
quando em uma de suas sentenças diz: "voltamos da pequena guerra Santa à
grande guerra Santa", indicando assim que a primeira não é mais que uma
representação exterior ou um símbolo da segunda. Não terá que esquecer,
neste sentido, que a espada é o principal atributo do deus Marte, o númen
que infunde o espírito guerreiro no homem, dotando-lhe, ao mesmo tempo,
do rigor necessário para que saiba distinguir o engano da verdade e negar a
negação. De fato, quase todos os heróis e deuses solares e civilizadores
vencem as potências das trevas e do caos (representadas em todos os mitos
pelas entidades ctônicas e telúricas como os Titãs, os dragões ou as
serpentes) ajudados com espadas, ou com qualquer outra arma semelhante,
como a lança, as flechas, o machado simples ou de duplo fio. Neste sentido,
todas estas são armas que tradicionalmente se associaram ao raio e à
luminosidade fulgurante do relâmpago, ou seja, que têm uma conexão direta
com o simbolismo da luz, entendida como uma energia essencialmente
fecundante, ao mesmo tempo que destruidora de tudo o que se opõe ao
superior, isto é, a escuridão tenebrosa e a ignorância. Com esse espírito
combate o herói germânico Sigfried, ou o cavaleiro cristão São Jorge,
reflexo humano de São Miguel arcanjo, o chefe das tropas celestes.
O segundo refrão deu título a esta nota e diz: "Não é por muito madrugar
que amanhece mais cedo". Nele se adverte o oposto ao anterior, ainda que
se o note muito mais elaborado, já que nega de fato a simplória crença
literal que o primeiro sustenta, e aparece como uma clara sentença a um
dos enganos (pecados) maiores e difundidos dos contemporâneos: o de que
através das ações dos homens vai poder se obter o que sempre foi chamado,
inversamente, a Graça de Deus.
"O espírito sopra onde quer" pode ler-se no texto sagrado. Sim, onde quer o
espírito e não onde determinam os homens, ou em qualquer lado, por azar,
como poderia compreender um literal, ou um “justo” muito madrugador.
Um provérbio chinês diz: "Ao abusar da eficácia se produzem violências".
56 TARÔ
VIIII — O ERMITÃO: A carta novena é
solitária e melancólica. O antigo Saturno
se apresenta aqui como um ancião sábio, o
Pai e Mestre interno, conhecedor dos
aspectos mais ocultos. Vê-se um homem
de idade, que caminha lentamente,
sustentando um abajur (símbolo da luz
interior) em sua mão direita, e levando um
bastão com a esquerda (que representa o
eixo). Um manto azul -com amarelo em
sua parte interior- cobre suas vestimentas
vermelhas, e um capuz também vermelho
cai sobre suas costas. Relaciona-se a carta
com Cronos, o Tempo, que devora a seus
filhos, e com a Antigüidade e a velhice,
que a Tradição sempre concedeu a maior
importância, respeito e veneração; e com a
experiência, a lentidão, a paciência, a
solidão, e, em geral, com as belas virtudes
da ancianidade. Ao contrário, esta carta
indica os vícios próprios de uma velhice
carente de espiritualidade.
DIREITA INVERTIDA
Tempo - Velhice - Tranqüilidade Irrealidade - Velhice - Solidão
Sabedoria - Solidão - Sensatez Misantropia - Indiferença
Interioridade - Experiência Falsas crenças - Ocultismo
Conhecimentos ocultos - Paciên- Ausência de generosidade
cia - Iluminação - Lembrança de Si Obscuridão - Amnésia
Desapaixonamento - Perseve- Ignorância - Avareza
rança - Generosidade - Filantro- Impaciência - Lentidão
pia - Silenciamento das pai- Certezas que não são tais
xões - Austeridade - Bondade Mau humor - Atitude senil
57 O JANTAR
Para este Programa, os mantimentos que nutrem o corpo físico são
considerados como símbolos dos espirituais, que são os que alimentam a
alma do ser humano. Este aspecto, que a sociedade moderna desconhece, é o
que dá a toda comida ou alimentação um caráter ritual e sagrado. O
estômago, que ocupa a parte média e central do corpo, representa um
verdadeiro Athanor alquímico a forja de Vulcano, no qual as substâncias
positivas dos mantimentos se sutilizam passando ao sangre (vivificador de
todo o organismo), e as negativas e imprestáveis grosseiras passam aos
condutos labirínticos do intestino para sua posterior evacuação. Quer dizer,
que se realiza a operação de separar o espesso do sutil. Já sabemos que para
qualquer cultura tradicional o corpo é uma entidade sagrada e seu
funcionamento está em correspondência com os ciclos e ritmos do universo,
constituindo também um receptáculo dos eflúvios divinos. Ao comer, o
homem assimila o cosmo exterior a seu próprio cosmo corpóreo e sutil, quer
dizer, integra-se harmonicamente com o mundo que o envolve e do qual
forma parte. E esta comunhão produz uma alegria, análoga em outro plano à
experimentada pela emoção que gera a contemplação da Beleza, pois
também viver de Beleza e Amor é alimento. Este, e não outro, era o sentido
que tinham as bacanais grego-romanas e a alimentação realizada pela
comunidade em determinadas festas de todas as tradições, que eram acima
de tudo comidas rituais coletivas onde se oferecia culto às energias celestes
por intermédio da manifestação das energias da vida e da natureza.
As qualidades dos sons, ligadas, como vimos, aos planetas, estão-no também
aos elementos. E igualmente os instrumentos que os reproduzem: de sopro,
corda, percussão, etc., têm ao ar e à terra como módulos terrestres, e ao fogo
como celeste, já que é o despertar do "fogo interno" a missão principal da
música, especialmente a sagrada. Como manifestação da Harmonia
Universal, a música contém em si potencialmente todas estas energias. E é
pelo fato de que "o semelhante atrai o semelhante" que sua ação sobre a
psique humana desperta logicamente seus respectivos homólogos, assim
como também o poder de os ritmar entre si. Os diferentes tempos e marchas
reconhecidos nas partituras clássicas ocidentais somente traduzem o efeito
das energias da alma sobre a criação musical e vice-versa: andante, alegro,
patético, brio, moto, são apenas estados da alma que revelam de por si um
drama interno entre vários ritmos e personagens, cuja descrição alegórica a
encontramos imemorialmente em todos os mitos e cosmogonias antigas.
59 NOTA:
Ocorre, às vezes, que há momentos neste trabalho onde aparentemente não
acontece nada. Em ocasiões, queixamos-nos dos tempos em que estamos
agitados; tudo nos move e as tormentas nos cambaleiam. Mas há outros
ainda piores nos quais não acontece absolutamente nada. São aqueles
períodos em que os navegantes da busca, da aventura do Conhecimento,
denominam "calmaria". A imobilidade aqui é pura rigidez e desesperança.
Este nada não é o En Sof da cabala hebraica, apenas seu reflexo invertido.
Tudo se apresenta como uma via morta, uma porta fechada ou uma
banalidade. Não há coisa mais dura que estar estagnado sem receber o
sopro ou o vento do Espírito, ou dos espíritos, ao menos. Aqui é onde
devemos redobrar nossos esforços. Este é o momento em que devemos
reiterar uma e outra vez nossos ritos e tomar consciência de que não há
vida, nem trabalho, sem sacrifício. Lutar nestes momentos é uma
necessidade e quanto mais encarniçado, inteligente, concentrado e honesto
seja nosso combate interno, maior é a possibilidade da vitória.
60 TARÔ
X — A RODA DA FORTUNA: Com o
décimo arcano termina o ciclo dos nove
números naturais mais o zero, e se
anuncia um novo ciclo. Carta de
mudança e de movimento, representa a
roda da vida e das encarnações (o que no
budismo se denomina Roda de Samsâra)
da qual teremos que nos liberar graças ao
processo iniciático, subindo a outras
regiões do ser. Dois animais giram ao
redor da roda –um desce e o outro sobe-
e sobre ela, mais à frente do movimento,
encontra-se uma esfinge, símbolo, entre
outras coisas, da união dos quatro
elementos. A circunferência se encontra
unida por seis raios ao ponto central da
roda -de cor vermelha-, da qual sai uma
manivela -a mão é invisível- que a faz
girar. A base, em forma de escada, fala-
nos das possibilidades da ascensão.
Relaciona-a também com a sorte e com a
fortuna, com o fortuito e com o azar.
DIREITA INVERTIDA
Mudança - Movimento Reiteração - Retorno
Circunstâncias favoráveis Lábia
Possibilidade de ascensão Irresponsabilidade
Saída do retorno - Forma ou Ma- Manias - Hábitos
neira de aproveitar oportunida- Rotina - Costumes
de - Boas possibilidades Instabilidade - Precipitação
Boa fortuna - Azar - Sorte Vagabundagem - Preguiça
Acontecimentos fortuitos Azar - Fortuna menor
Nova perspectiva da realidade Indolência – Boêmia
61 OS QUADRADOS MÁGICOS
Vimos em reiteradas ocasiões que o símbolo da Terra é o quadrado. Esta
figura geométrica de quatro lados iguais é a expressão do conceito de
quaternário e nos transmite imediatamente a idéia de ordem, harmonia e
equilíbrio entre as distintas tensões de suas partes, que se conjugam e
neutralizam em um ponto comum de onde igualmente emanam de maneira
permanente.
Deste modo, na Cabala hebraica estes números são suplantados pelas letras
de valor correspondente, abrindo o campo a toda sorte de imagens e
conceitos relacionados com as palavras e suas raízes, o que equivale a
trabalhar com a Ciência dos Nomes.
Letra A
63 TARÔ
XI — A FORÇA: Vemos aqui uma
bela mulher, que sem esforço aparente,
e sem exercer nenhuma violência, abre
as fauces de um leão, dominando-o.
Simboliza a força da inteligência, capaz
de dominar as paixões graças ao fogo
interno do amor e da vontade. O fato de
representá-la com uma figura feminina
nos indica que não se trata de uma força
bruta ou física, mas sim de uma energia
sutil, como a da mente, muito superior
em qualidade e elevação. Esta carta
significa o influxo espiritual que
penetra os corpos, transformando-os. A
matéria alquímica já está preparada, e o
fogo da paixão se acende para dar início
à obra da transmutação; esta poderá ser
obtida se o fogo permanece aceso.
Relaciona-a também com ocupação
manual e com a indústria, e nos ensina a
aceitar a responsabilidade que implica o
trabalho interior.
DIREITA INVERTIDA
Força interior - Inteligência Luta - Guerra
Força do amor e a paixão Conquista violenta
Influxo espiritual - Sutileza Luto - Incêndio - Cólera
Força da palavra - Localização Reações inesperadas
Força da Vontade - Adapta- Violência - Desgarra-
ção - Persuasão intangível mento
Dominação da matéria - Indús- Negatividade - Estupidez
tria - Artesanato - Aplicação da Desejos
ciência - Aceitação de Densidade
responsabilidade Operação cirúrgica
64 A LUZ
Quando nos diversos textos tradicionais se fala da Luz, terá que entendê-la
sobretudo como um símbolo da Inteligência, constituindo o aspecto material
seu suporte sensível e simbólico. Entendida desta maneira, a Luz representa
uma força ou energia divina, o núcleo central, interno e gerador do que se
irradia toda a vida do ser cósmico e individual. Essa Luz inteligível e sutil
procede do fogo do Espírito, como a luz física provém da enorme massa de
fogo que é o Sol. Daí que constantemente se faça uma transposição
simbólica entre um e outro. Esta qualidade da luz está claramente assinalada
pelo próprio processo da Iniciação, pois esta se concebe fundamentalmente
como uma progressiva “iluminação interior” que dissipa as trevas da
ignorância, que são assimiladas ao profano e infra-humano.
65 ALIMENTAÇÃO E SAÚDE
Estes dois termos do parágrafo estão intimamente relacionados com o
natural, e cabe perguntar-se o que é que cada um entende por isso.
Igualmente no que se relaciona ao conceito atual de saúde. Efetivamente, nos
povos tradicionais, ou primitivos, o conceito de saúde-enfermidade (dois
opostos que não se contradizem) é bem diferente do conceito moderno, que
só se refere a ele como ao funcionamento hipotético de um corpo físico
"ideal" que constitui nossa posse, e não toma em conta a inter-relação deste
corpo com o Universo e com as múltiplas forças que o conformam. Sendo
que, além disso, o oficialismo contemporâneo exclui do binômio saúde-
enfermidade a esta última, por uma espécie de associação com o mal, ao qual
o homem moderno nega, atribuindo a esse "mal" as características do que lhe
desagrada e não quer reconhecer em si, motivo pelo qual o bem não é a
conjunção constante de opostos, mas um imaginário estado a se alcançar,
que troca com os ventos da moda e da relatividade dos usos e costumes.
Neste sentido, seria interessante nos fazermos uma pergunta: qual é a
estranha associação que se faz atualmente entre a saúde e certos esportes?
Que relação guardam certas ginásticas e movimentos forçados, verdadeiros
castigos corporais, com a saúde?
66 NOTA:
Esperamos que tenham seguido com atenção o desenvolvimento do Ensino e
que ele tenha produzido seus efeitos em cada um. Igualmente nos felicitamos
de que tenhamos chegado conjuntamente a um ponto que constitui uma
baliza em nossa meta. Propomo-nos aprofundar e ampliar os temas que se
foram esboçando e destacando, com o fim de obter os frutos que este manual
se propõe. Para isso, devemos contar necessariamente com a participação
espiritual ativa do leitor e de sua sede renovada de conhecimentos, assim
como com sua vontade decidida, sua paixão pelo que faz, e o equilíbrio e a
paciência requeridos para a efetivação do trabalho alquímico.
67 TARÔ
XII — O ENFORCADO: Aparece nesta
lâmina um homem enforcado por um pé,
realizando o sinal do quaternário com as
pernas e o do ternário com os braços (3 x
4 = 12). É a carta da iniciação, que
simboliza o começo do processo vertical,
contra a corrente (como o salmão, que
nada em direção contrária procurando sua
origem e destino), e que leva toda a
intensidade do impulso inicial, nesta
viagem para outros planos e níveis do ser,
que sendo invertidos com relação ao
mundo ordinário, são também
complementares com este. Aqui há o
significado da determinação e do
sacrifício (sacrum facere) que realiza
quem se abandonou confidencialmente à
Vontade suprema, começando a desdobrar
e desenvolver suas potencialidades e
talentos, como uma boa semente, que
tendo sido semeada em boa terra, começa
a germinar, anunciando os frutos que se
produzirão com a perseverança.
DIREITA INVERTIDA
Iniciação - Determinação Dúvida - Vacilação
Movimento ascendente Girar no vazio
Intensidade Frustração - Esterilidade - Trai-
Abandono - Heroísmo ção - Detenção - Ausência
Reestruturação - Confirmação Ansiedade - Desconforto
Começo de um processo Vazio
Sacrifício com sentido Infertilidade
Boa semente - Crescimento Terra erma - Aridez
Semente - Fertilidade - Boa terra Sementes que não frutificam
68 DEUS EXISTE?
É lógico que se o conhecimento e a consciência que tem o homem de si
mesmo e do mundo não supera o horizonte de seus sentidos, este fracasse na
tentativa empírica e dialética de encontrar uma resposta ou demonstração a
tudo o que lhe ultrapassa e transcende. A própria noção de Deus não faz
senão englobar e resumir em uma palavra esse “tudo”. Como ser criado e
existente o homem não pode conceber senão o que existe ou é de algum
modo; a esta condição temos que acrescentar outra não menos importante: a
forma. Se o informal ou supra-individual escapa ao entendimento racional
imerso nos limites da sucessão temporal e da dualidade, tanto mais difícil lhe
será conceber o ilimitado, a um não-algo, ou seja, ao não manifestado, ao
que transcende por completo toda existência condicionada? O Um e sem par,
só pode ser conhecido necessariamente por si mesmo, como poderia Deus, o
Criador ou o Sujeito Universal por excelência, ser objeto de conhecimento
de alguém que não seja o Si-mesmo?
70 NOTA:
A esta altura do Ensino, pode ser que você ainda não soubesse ou
compreendesse com clareza o que é verdadeiramente o conteúdo deste
manual. Não o dê então por sabido como está acostumado a ser o habitual
e volte a estudá-lo, relendo em profundidade e com suma lentidão
(retardando o tempo) tudo o que nele se contém. É muito mais nobre e
produtiva esta humildade, ou melhor, esta franqueza para com a gente
mesmo, que supor o que ainda não se sabe, ou colocar uma rápida etiqueta
naquilo que se quer despachar para sair outra vez do passo. Estas
releituras lhe brindarão com mais de uma surpresa e lhe oferecerão
numerosas perspectivas, com as que neste momento, acaso, você não
acreditava contar. Pensamos que é válida e nos está permitida a sugestão
anterior avalizada pela experiência na realização de nosso Programa.
71 TARÔ
XIII — A MORTE: Nesta carta, em que
predomina a cor negra da imanifestação,
vê-se um esqueleto "vivo", que ceifa com
uma foice, cortando os membros dos
seres manifestados, dispersando-os. No
processo iniciático é necessário
experimentar em vários níveis o paradoxo
de viver a morte, morrendo aos aspectos
inferiores e renascendo "de cima" aos
estados superiores do ser. O adepto pensa
constantemente nela, tomando
consciência do ilusório desta vida
transitória, e sabendo que nos mistérios
da morte estão ocultos os da imortalidade.
Ela é uma aliada que nos ensina a meditar
no metafísico e no transcendente; é
regeneradora, e junto com a vida é nossa
verdadeira iniciadora. A idéia da morte
está ligada à de ressurreição, pois sempre
ocorre em um plano, terminando um ciclo
e dando lugar a um novo em outro nível.
DIREITA INVERTIDA
Ressurreição - Mudança de pele Fim necessário
Investigação - Metafísica Aniquilação - Imobilidade
Processo de desenvolvimento Morte em um plano
Vislumbre de consciência - Chamados Ausência - Detenção
Passo fundamental - Assinale Prazo que vence
Desenvolvimento cíclico Caminho sem saída
Morte em um plano Sonambulismo - Desvelo
Nascimento - Indicações Enfermidade
Movimento cíclico Enfermidades crônicas
72 ALQUIMIA
Há momentos no processo do conhecimento que a Alquimia denomina
putrefação e nigredo. Estas são etapas e estados dissolventes aonde o adepto
visita as vísceras da terra e perambula pelos corredores das trevas interiores.
Este perambular é análogo ao que se descreve no Bardo Todol ou Livro dos
Mortos Tibetano (e também de maneira similar no Livro Egípcio dos
Mortos, chamado por outra parte O Livro da Saída da Alma à Luz do Dia).
Trata-se da viagem de além-túmulo que se equipara ao percurso iniciático e
ao caminho que vivencia nos povos "primitivos" o Xaman em seu êxtase.
Percorrido que, tanto nas grandes civilizações como nas tradições arcaicas,
descreve-se como uma aventura cheia de perigos e lutas, em que se travam
batalhas e se produzem dificuldades (como o ter que cruzar rios) e se
referem tanto ao percurso da alma post-mortem, como à morte dessa alma
nesta vida.
fig. 14
fig. 15
73 O NASCIMENTO DA HISTÓRIA I
A História, entendida como consignação escrita dos fatos e acontecimentos
mais relevantes que ocorrem em uma determinada época, é relativamente
recente, e mais ainda se tivermos em conta a duração real que corresponde
ao ciclo completo da humanidade. Devemos retroagir até aproximadamente
o século VI antes de nossa era para encontrar os primeiros testemunhos
escritos, propriamente históricos. É interessante assinalar que, segundo os
dados tradicionais, o século VI A. C. criou um momento crítico no
desenvolvimento do ciclo humano, um período em que se produziram
grandes mudanças e reajustamentos da tradição, não só no Ocidente, mas
virtualmente em todos os povos e civilizações da antigüidade.
Para citar alguns exemplos dentre muitos, terá que se dizer que nessa época
vem se configurando a civilização de Roma, que acontece a era dos reis
legendários a seu período histórico propriamente dito; na Grécia aparece o
pitagorismo que em seu núcleo essencial herda os antigos mistérios órficos,
e se assiste ao surgimento da época clássica; é destruído o Templo de
Jerusalém e o povo judeu sofre o cativeiro de Babilônia, que parece ter
representado uma perda irreparável de uma parte importante da tradição de
Israel, como foi a de sua língua escrita original. Na China a antiga tradição
perde a unidade que conservava dos tempos primitivos, e se divide em duas
formas muito diferentes conhecidas como o Taoísmo e o Confucionismo,
conservando a primeira delas a parte dessa tradição que correspondia à
doutrina metafísica (esotérica) e à iniciação, enquanto que a segunda se
ocupava de seus aspectos puramente sociais e organizativos (exotéricos),
embora seus ritos e símbolos fossem herdados da primeira. Em geral, deu-se
um passo a mais no processo de solidificação que, desde os tempos
primitivos, vinha ocorrendo em todos os âmbitos da existência e da vida
espiritual do ser humano. E para que a lembrança de muitas coisas não
desaparecesse para sempre, foi necessário resguardá-la nos livros históricos
e sagrados.
Não ocorre o mesmo com a maioria dos historiadores antigos, que em seu
ofício foram autênticos intérpretes e conhecedores à perfeição da doutrina
tradicional, pelo que o estudo de suas obras é de uma ajuda inestimável para
compreender a história real, a sagrada, dos povos e civilizações. Neste
sentido, na história que relatam estes autores, pode ser vista uma expressão
maior da alma dos homens (análoga à alma do mundo); do gênio e do
espírito que preside o nascimento e da permanente regeneração de uma
cultura e de uma civilização.
E se nestes relatos o mito aparece como uma parte constitutiva dos mesmos,
é porque este é a conexão vertical com o atemporal e acronológico, e
portanto a possibilidade sempre presente de estabelecer um laço salvífico
com os princípios divinos e celestes dos quais dependem todas as coisas,
incluída, naturalmente, a própria História que, definitivamente, não deixa de
ser um símbolo de outra coisa, e neste caso um símbolo ou receptáculo onde
se armazena, por assim dizer, a memória do mundo. Por isso em alguns
documentos medievais e renascentistas pertencentes a determinadas
organizações iniciáticas, o conhecimento da História era tão imprescindível
como o das Ciências Naturais, das Matemáticas e da Geometria.
74 O NASCIMENTO DA HISTÓRIA II
No Ocidente, é na Grécia onde a História é contada por escrito. E em
primeiro lugar, terá que se mencionar a Heródoto, que é conhecido como o
"Pai da História" que, com seu livro chamado precisamente "História",
recolhe os acontecimentos havidos dos tempos lendários até o momento em
que ele escreve, no século IV a.C. Neste livro são relatados não só os
episódios históricos dos gregos, mas também igualmente dos egípcios,
persas e outras culturas, pois [Heródoto] viajou por quase a totalidade do
mundo conhecido. O livro consta de nove volumes (recordemos que o nove é
o número circular por excelência, e relacionado, portanto, com o cíclico e
com o temporal), sendo bastante significativo que cada um deles estivesse
dedicado a uma Musa, como se tivessem sido inspirados diretamente por
elas. Temos que recordar, a este respeito e como um dado extremamente
revelador, que a Musa que preside a História, Clío, é nascida do matrimônio
do Zeus-Júpiter com Mnemosyne, a Memória.
Séculos mais tarde achamos Plínio, o Velho, que escreveu uma "História
Natural", um estudo dos seres da natureza (incluídos os fabulosos) em seus
três reinos: animal, vegetal e mineral; e também a seu quase contemporâneo
Josefo, que nos legou uma "História Antiga" dos judeus; e a Plutarco, com
"Ísis e Osiris", ou "Vida dos doze Césares". Mais próximo se encontra
Alfonso X, o Sábio, autor, dentre outras coisas, de uma inacabada História
da Espanha e de uma mais extensa História Geral, que em realidade, e
tomando como fonte de consultas à Bíblia e todas as crônicas antigas que
pôde reunir, resume a História Sagrada do gênero humano desde seus
começos até o século XIII, época em que reinou.
Por tudo que foi exposto, pode-se dizer que qualquer tentativa para
reconstruir o passado histórico, que se empreenda na atualidade, deve passar
necessariamente por um conhecimento da doutrina tradicional dos ciclos,
que inclui também uma compreensão dos símbolos e dos mitos que,
invariavelmente, foram se repetindo em qualquer parte.
fig. 16
75 TARÔ
XIIII — A TEMPERANÇA: É o
símbolo da ressurreição e da nova vida.
Aqui vemos uma mulher alada, em
atitude de vôo, mesclando o conteúdo de
duas vasilhas, combinando as energias
contrárias, às quais complementa, o que
também está simbolizado pelas cores de
seus vestidos. Pode-se ver nela as Musas
e as Graças que inspiram ao artista e, em
geral, a Arte como veículo do
conhecimento. Abre nossa mente a novos
aspectos do ser, cada vez mais profundos
e sutis. Esta carta manifesta as
potencialidades ocultas que se vão
desdobrando, e as faculdades que se
desenvolvem e solidificam, assim como
as decisões que se tomam
confidencialmente e os estados de ânimo
produzidos pela calma e da harmonia. No
processo alquímico, representa os corpos
luminosos e nobres que surgem logo a
seguir da morte e da putrefação da
matéria vulgar.
DIREITA INVERTIDA
Combinação de contrários Derramamento - Insegurança
Mistura - Coisas que concretizam Impossibilidade de combinar
Vida Nova - Calma contrários - Incomunicação
Harmonia - Esperança - Ser Abatimento - Impotência
Paciência - Decisões felizes Congelamento - Dispersão
Vôo - Aspectos novos do Inconexão
conhecimento - Eqüidistância Fragmentação
Amalgamento - Intrepidez Falta de agilidade
Confiança - Inspiração artística Desatenção
Fluir - Boa disposição Incompetência
de ânimo - Forças que se Ausência de relações
complementam Detenção no fluir
fig. 17
78 NOTA:
Observou-se que a idéia de um trabalho e de um rigor estão presentes neste
manual, que são fundamentalmente intelectuais, no sentido maior que
estivemos outorgando a este termo.
DIREITA INVERTIDA
Energia sexual Desequilíbrio dos sentidos
Paixão - Desejo Desejos - Desordem - Sobre-
Atração - Magnetismo Excitação - Paixões desenfreadas
Intensidade - Energia oculta Escravidão dos sentidos
Possibilidades - Passos em falso Erros - Ignorância
Transbordamento de sentimentos Surpresas desagradáveis
Possessão de energias exacer- Achatamento - Pequenez - Ódio
bantes - Eros - Sensualidade Estupidez - Infantilidade
Vinho - Êxtase Mediocridade - Vaidade
80 QUADRADOS MAGICOS
Falamos dos quadrados mágicos, e em particular do quadrado natural de 9
casas, ou de Saturno (Ver N.º 61). Trabalharemos agora com os quadrados
correspondentes aos sete planetas, tomando-os como instrumentos para
começar a decifrar o inscrito dentro deles, advertindo que são tanto síntese
de sabedoria, como mapas da cosmogonia e, por sua vez, poderosos talismãs,
ou amuletos repletos de energias.
SATURNO: Quadrado de base 15; o total de números das casas soma 45:
JÚPITER: Quadrado de base 34; o total das colunas soma 136:
81 NOSSO PROGRAMA:
Nosso Programa tem uma estrutura didática circular e portanto, uma vez
que se seguiram as primeiras seqüências do Agartha e se conseguiu ligar
com seu ritmo particular, este pode ser repassado e ser relido em ordem
diferente, mesmo nos exercícios que o Programa contém, que poderão ser
praticados de maneira alternativa.
82 TARÔ
XVI — A TORRE DE
DESTRUIÇÃO: Aqui vemos uma torre
construída com tijolo (como a de
Babel), cuja cabeça está sendo cortada
por um raio celeste. É o símbolo da
destruição dos velhos esquemas, que
propicia a construção de outros novos.
A ira divina, que destrói a ilusão e a
mentira para implantar a verdade. Dois
personagens estrepitosamente caem a
terra, representando os falsos egos que
vão caindo por seu próprio peso para dar
lugar ao verdadeiro Eu, oculto e
essencial. O raio representa a luz do
espírito; e as borbulhas brancas, azuis e
vermelhas, os eflúvios celestes que
descendem à terra. É relacionada,
também, com o betilo (ou pedra do raio
caída do céu), com o martelo de Thor e
com o raio de Zeus; geralmente é
comparada às energias marciais e aos
deuses guerreiros e seu rigor. Invertida,
pode anunciar desgraças e cataclismos.
DIREITA INVERTIDA
Destruir para construir - Escala Destruição - Queda
Poder manifestado em forma Orgulho -
muito forte - Destruição de Impossibilidade de
esquemas - Fim definitivo de construir - Dor -
uma coisa - Corte Separação
Separação cortante - Ciclo dolorosa - Energias
Esquecimento de si mesmo - Sintoma de contrárias
enfermidade - Consciência Violência - Enfermidade
Iluminação - Explosão não pro- aguda
vocada pela vítima - Benefício Inimigos ocultos -
dos erros de outros Confusão
de línguas - Calamidades
- Ira
Cólera - Explosão
Vertigem - Catástrofe
Operação
cirúrgica
83 O BOSQUE
Dante inicia o primeiro canto de sua Divina Comédia com estas palavras: "à
metade da viagem da vida me encontrei em uma selva escura por me haver
afastado do caminho reto. Ah! Quão penoso me seria dizer o selvagem,
áspera e espessa que era esta selva cuja lembrança renova meu temor, temor
tão triste que a morte não o é tanto". A existência vulgar e profana oferece
aos olhos de Dante um aspecto análogo ao que nos ofereceria uma selva ou
bosque intrincado no qual seria angustiosa a sobrevivência, que nos evoca a
concepção platônica da vida terrestre como exílio da celeste. Efetivamente,
graficamente, a verticalidade de árvores e troncos, a horizontalidade dos
ramos, e a densa presença de plantas, flores e folhas, conformam um tecido
análogo ao da cotidianidade e suas veredas, dentro de cuja complicada
espessura existem, não obstante, clareiras e fissuras pelos quais penetra a
luz.
Efetivamente, a tradição faz dos gnomos, dos silfos, das ondinas e das
salamandras habitantes mágicos dos bosques, que nos oferece uma descrição
figurada de nossas próprias potências anímicas e terrestres. Estes seres estão
alquimicamente relacionados com os quatro elementos, respectivamente a
terra, o ar, a água e o fogo, assim como Branca-de-Neve se assemelharia, no
exemplo, ao quinto, o éter, cada um simbolizando a consciência e função
específica de cada elemento, consciências que habitam potencialmente
dentro de nossa própria natureza microcósmica, revelando-se como impulsos
e tendências elementares.
CAPRICÓRNIO: joelhos
AQUÁRIO: pernas
PEIXES: os pés
fig. 18
85 MOMENTOS DE INCERTEZA:
Há momentos de incerteza no caminho do Conhecimento ou Iniciação, e o
aspirante sofre o tormento da dúvida e da angústia de se sentir incapaz de
enfrentar o monte de maravilhas e boas novas que vislumbra. Para esses
momentos, permitimos-nos citar aqui um fragmento do Corpus Hermeticum,
capítulo XI:
"Tendo posto em teu pensamento que não há nada impossível para ti,
considera-te imortal e capaz de compreender tudo, toda arte, toda ciência,
o caráter de todo ser vivente. Ascenda mais alto que toda altura, desça mais
baixo que toda profundidade. Reúna em ti mesmo as sensações de todo o
criado, do fogo e da água, do seco e do úmido, considerando que estás, por
sua vez, em todas partes, sobre a terra, no mar, no céu, imagina que ainda
não nasceste, que estás no ventre materno, que és adolescente, velho, que
estás morto, que estás além da morte. Se abrangeres com o pensamento
todas essas coisas de uma vez, tempos, lugares, substâncias, qualidades,
quantidades, podes compreender Deus."
86 TARÔ
XVII — A ESTRELA: Carta da
natureza, é também da beleza, da poesia
e da naturalidade. Uma mulher nua, que
pousa um joelho na terra, derrama o
conteúdo de duas vasilhas vermelhas em
um rio (água), ao mesmo tempo em que
escuta a linguagem sutil do pássaro (ar) e
recebe os eflúvios das estrelas (fogo). Ela
não luta contra a natureza, mas sim se
harmoniza e se integra com ela em
unidade, o que lhe permite conhecer suas
leis e as experimentar, mostrando-nos
também o caminho para o sobrenatural. É
relacionada com a cor verde da esperança
e da regeneração, e com a boa fortuna
(boa estrela) que sua atitude propícia. Em
seu sentido invertido, representa esse
falso "naturismo" e "misticismo", tão em
voga entre aqueles que se supõem
possuidores de uma pretendida
"bondade", em que se esconde um
prejulgado moralismo próprio das seitas
dogmáticas.
DEREITA INVERTIDA
Natureza - Harmonia Artificialidade - Desarmonia
Naturalidade - Verde Antinaturalidade - Desespe-
Esperança - Beleza - Poesia rança - Impudor - Ideologias
Conhecimento da lei Escapismo - Materialismo
natural Falta de escrúpulos
Vida - Reintegração - Estar Romantismo - "Idealismo"
Boa fortuna "Projeções" - Falsas
Espontaneidade ilusões - Especulações
Tranqüilidade - Sinceridade Problemas corporais e de
Regeneração - Simplicidade ordem higiênica - Hipocrisia
O sobrenatural Estagnação
87 NÔMADES E SEDENTÁRIOS
Sendo o núcleo sagrado e espiritual essencialmente idêntico –por seu caráter
atemporal e metafísico– para todas as civilizações tradicionais, existem
entretanto em cada uma delas certos rasgos e particularidades que as fazem
diferentes entre si. Isto se deve a múltiplos causa (diversidade de etnias,
habitats, climas, etc.), mas possivelmente a diferença mais marcada e a mais
importante seja o que algumas destas culturas pertenceram aos povos
nômades e outras aos sedentários. Esta primeira grande diferença se produz
no preciso momento em que a humanidade abandona seu Centro Primitivo e
se pulveriza por toda a superfície do planeta. Os nômades, acostumados à
peregrinação constante por serem povos dedicados ao pastoreio,
desenvolveram uma cultura sensivelmente diferente à desenvolvida pelos
sedentários, que eram basicamente agricultores, ao permanecerem
enraizados em um determinado lugar. Estas duas formas de vida, com todos
os matizes que entranham, influíram poderosamente na maneira em que uns
e outros encararam a vida e o mistério do sagrado, e portanto na própria
constituição e estrutura de seus ritos, símbolos e mitos cosmogônicos. Isto
está claramente exemplificado no que respeita às artes e aos ofícios.
Não obstante, tudo o dito até aqui, não se deve ver entre estas duas formas de
vida um antagonismo radical que na verdade jamais existiu. A arte e a
simbólica áudio-visual são patrimônios de qualquer sociedade tradicional,
seja esta nômade ou sedentária. São, voltamos a repetir, as condições de
existência as provocadoras de que um simbolismo se desenvolva mais que
outro. Por outro lado, sempre houve entre ambos os povos permanentes
contatos (por exemplo, através do comércio, e inclusive através do rito
sagrado da guerra, que era também uma forma de comunicação) que
facilitaram e promoveram o intercâmbio de idéias, usos e costumes. Com
freqüência, isto representou uma opção regeneradora que evitou, ao menos
até certo período histórico, uma excessiva "petrificação" por parte dos
sedentários devido a seu assentamento, e uma excessiva "dissolução" entre
os nômades devido a seu constante ir e vir.
88 AS TRÊS GRAÇAS
Hesíodo diz em sua Teogonia que a Zeus: "Eurínome, filha de Oceano, de
sedutora beleza, deu-lhe as três graças de belas maçãs do rosto: Aglaia,
Eufrósine e a encantada Talia. Quando olham, brota de seus olhos o amor.
Belos são os olhares que lançam sob suas sobrancelhas!".
Efetivamente, essas três fêmeas foram identificadas como Beleza, Amor e
Prazer. Espargem alegria em qualquer parte e inundam os corações dos
homens. Vivem no Olimpo em companhia das Musas, com as quais soem
cantar muito belas melodias e também acompanham a Apolo quando este
tange sua lira. Costuma-se representá-las como três jovens nuas, unidas pelos
ombros; geralmente, duas delas olham em uma direção, e a do meio, na
direção oposta. Teceram o véu de Harmonia e são companheiras de Ateneu,
Afrodite, Dionísio e Eros; podemos invocá-los a todos eles com confiança.
Sêneca se perguntou no De beneficiis "por que são três as graças, por que são
irmãs, por que se colhem da mão?" e se responde: "Pelo triplo ritmo da
generosidade, que consiste em dar, aceitar e devolver", adicionando: "como
gratias agere, significa 'dar as graças' (agradecer); as três fases (desta
operação) devem estar encerradas em uma dança, como o estão as Graças; a
ordem dos benefícios requer que sejam dados em mão, mas que retornem ao
doador". Para os cabalistas cristãos do Renascimento, este símbolo
expressava as emanações celestes que os deuses enviam à terra, que
produzem uma inspirada vivificação nos seres, ou conversão, a partir da qual
estes as devolvem (ou se elevam) para seu lugar de origem. Descreve-se,
pois, um percurso triangular e se retorna ao princípio. Deve aqui se ter em
conta a identidade entre a figura do triângulo e o círculo e seu uso indistinto,
embora haja uma superioridade do primeiro relação ao segundo (32 = 9).
fig. 19
89 ARITMOSOFIA
A escola pitagórica considerava sexuados os números, ou seja portadores de
cargas energéticas positivas e negativas. Assim, os números ímpares eram
ativos, expansivos, masculinos (yang, em termos extremo orientais), e
semelhantes ao céu, enquanto que os pares eram passivos, contrativos,
femininos (yin), e representativos da terra. O número um, manifestação da
unidade metafísica, não era considerado nem como ativo nem como passivo,
e correspondia sexualmente, em termos platônicos e alquímicos, ao
"Andrógino Primigênio". Isto é válido também para a dezena, a centena, o
milhar, etc.
Os primeiros dez números triangulares são 3, 6, 10, 15, 21, 28, 36, 45 e 55.
Os primeiros dez quadrados: 4, 9, 16, 25, 36, 49, 64, 81, 100 e 121. Pode
observar-se que o número 36 (igual, proporcionalmente, aos 360), é ao
mesmo tempo quadrado e triangular.
De outro lado, quer se destacar que o número cinco era de importância vital
para os pitagóricos, enquanto soma do dois (par, passivo e feminino) e do
três (ímpar, ativo e masculino), motivo pelo qual era chamado "Número
Nupcial". Na Tradição Hermética, este número simboliza o microcosmo e é
representado geometricamente com o pentagrama.
Como dado interessante se adiciona que a soma de um número par com outro
ímpar é necessariamente ímpar, enquanto que o produto da multiplicação de
um par com um ímpar dá necessariamente um número par. Além disso, que a
soma de dois números é forçosamente par se estes números forem ambos
pares ou ímpares. Por outra parte o produto de uma multiplicação, quando é
ímpar, é o resultado forçoso de que seus dois fatores sejam ímpares.
90 TARÔ
XVIII — A LUA: Símbolo da noite,
representa o princípio feminino ou
matriz universal, esposa e mãe doadora
de formas, embora que, por sua vez, seja
deusa da imaginação, da fantasia e da
ilusão. Sua relação com os líquidos é
evidente (a lua determina as marés, a
circulação do sangue e da seiva das
plantas, assim como os ciclos
femininos), e isto a conecta com o
mundo psíquico e os mutáveis estados
do ânimo; como a água, é uma energia
maleável que toma a forma de seu
recipiente. Não tem luz própria, mas
reflete como em um espelho os raios
solares. Foi relacionada com as viagens,
em particular aquelas que se realizam
através das águas e que simbolizam as
mais profundas viagens interiores. E é a
carta da virgindade, ou a vacuidade
necessária para que o espírito fecunde.
Invertida, simboliza o sonho e o
psiquismo desordenado.
DEREITA INVERTIDA
Maternidade - Esposa Ilusões - Fantasias
Fidelidade - Receptividade Negação de sensibilidade
Imaginação - Fantasia Fantasmas - Sonhos - Evasão
Espiritualidade - Intuição Afastamento da realidade
Relação com água - Viagens Instabilidade - Viagens
Maleabilidade - Adaptabilidade Caprichos - Vaidades
Interioridade - Sensibilidade Transtornos psíquicos - Escape
Psiquismo Neurose - Histerias
Câncer - Espelho Subconsciente - Inconsciente
91 MAGIA
Entende-se aqui por Magia (sem desconhecer formas menores, ineficazes e
perversas desta ciência) toda atividade ritual intermediária dedicada a atrair
as energias celestes à realidade terrestre, de acordo com a doutrina
cabalística das emanações, que subordina o mundo elementar e corporal ao
mundo anímico e astral, e ambos ao plano estritamente espiritual ou, em
outra terminologia, intelectual ou pneumático.
DIREITA INVERTIDA
Luz - Vida - Calor Escuridão - Deserto – Frieza
Inteligência Falta de sentido - Engano dos
Arte - Criatividade sentidos - Seca - Tristeza
Razão - Energia radiante Falta de espírito criativo
União - Matrimônio - Casal Racionalismo - Vaidade - Sober-
Família - Criação ba - Presunção - Falsa juven-
Fraternidades tude - Decorado brilhante
Sociedades - Associações Brigas - Rixas - Inimizade
Irmandades - Sociedade civil Falso artista - Falsa aparência
93 OS CICLOS E A HISTÓRIA
O processo histórico das civilizações e das culturas está assinalado em
realidade pelas leis dos ciclos e dos ritmos que, como sabemos, são as
mesmas que regem em todas as ordens da manifestação universal. O simples
fato de comprovar que uma civilização, como todo ser, nasce, cresce, decai e
morre, é um exemplo a mais, e bastante gráfico, de que esta segue e repete a
seu nível correspondente a lei quaternária em que se fragmenta todo ciclo.
94 JANO
Janus-Bifrons, deus romano, de origem assírio-babilônica, e que se encontra
também em outras tradições muito arcaicas, olhe com seu rosto dual nas
direções opostas do espaço e do tempo calendárico. Espacialmente, marca o
eixo Norte-Sul; temporalmente, os solstícios de inverno e de verão. É pois
um mediador entre céu e terra, enquanto faz corresponder ao céu com o
Norte e, inversamente, à terra com o Sul. Igualmente, é a deidade que abre
no hemisfério Norte a porta do ano no inverno –movimento ascendente do
Sol– e a fecha no solstício de verão, quando o astro começa seu curso
descendente. De um ponto de vista iniciático o solstício de verão
corresponde à porta dos homens e constitui a entrada aos pequenos mistérios
da antigüidade, enquanto que o de inverno se vincula com a porta dos deuses
e os chamados grandes mistérios.
fig. 20
Com respeito à Gramática, dizia Aristóteles que ela era "escrever o que se
enuncia"; em todo caso, isto tem pouco a ver com o que hoje se entende por
gramática. E está bem claro que ela existia antes que sua mera codificação,
como é óbvio –para estabelecer uma similitude– que o direito existiu antes
que as leis romanas. A pretendida ciência moderna inclui certas rigidezes
que é preciso destruir; a gramática castelhana, tal qual a conhecemos,
nasce no século XVIII e é contemporânea de Descartes e do racionalismo.
Este problema vem de longe: Horácio afirmava que o uso é o árbitro e
senhor das línguas e as normas um artifício auxiliar. Esta mesma crítica é
válida a respeito da lógica, tomada como ciência, e sua assimilação, ora à
dialética, ora à retórica, e pode se pensar com razão que este engano da
mania classificatória vem do fundo da filosofia grega, em grande parte
iniciado pelo próprio Aristóteles, o que deu lugar aos "sistemas" dos
modernos (em especial depois do século "das luzes") e que desgraçadamente
hoje se identificam com a "filosofia".
96 TARÔ
XX — O JUÍZO: Este arcano, por seu
número, foi associado ao século XX. Vê-
se um anjo tocando uma trombeta e
sustendo uma bandeira com uma cruz
amarela. É o símbolo cristão da
ressurreição dos mortos e do juízo final.
Os três personagens nus que se levantam
da tumba, representam o matrimônio
alquímico do enxofre (masculino), do
mercúrio (feminino) e do sal (neutro),
estando o último de costas, representando
o sacerdote que os benze. É a carta dos
anúncios e das revelações, dos chamados
do espírito, e do despertar da consciência.
O esotérico, que por sua própria natureza
secreta se manteve oculto, aqui se faz
visível e sai à luz, anunciando o advento
de um mundo novo no qual a verdade será
acessível a todos os seres, como era na
origem. Símbolo de ritos e cerimônias,
invertida significa a superstição e a
idolatria.
DIREITA INVERTIDA
Revelações - Anúncios Falso espiritualismo - Bulha
Despertar - Realização Ruídos - Propaganda - Escânda-
Coisas esperadas que chegam los - Dificuldade na realização
União - Realidade Impossibilidade de obter a união
Coisas ocultas Superstição - Fanfarronice
O oculto que aflora Espiritismo - Satanismo - "Ritos"
Perfeição - Misticismo Obscurantismo - Idolatria - Fei-
Chamados - Sinais tiçaria - Bruxaria - "Misticismo"
Integridade - Ritos Malefícios - Fantasmas
97 CABALA
A Cabala dá fundamental importância à aparente contradição entre a
transcendência infinita de Deus e sua presença imanente na terra. Em sua
transcendência, o Supremo não pode ser compreendido nem conhecido; sua
imanência, sua criação deste mundo e sua habitação nele, é explicada pela
Cabala, como estivemos vendo ao longo deste manual, por uma série de
emanações sucessivas que constituem o cosmos e a Árvore da Vida
Sefirótica, ou seja, os atributos divinos conformando o Universo.
Mas essas emanações, ensina a Cabala, foram por sua vez originadas pela
Tsim Tsum. Para fazer lugar à criação, Deus se retira e deixa um espaço
descoberto, no qual brilha um pequeno ponto luminoso, a concentração da
luz divina que fará possível a primeira emanação, Kether, e dali no mais, o
fluxo permanente das emanações criativas e reveladoras. Esta é a teoria (no
sentido etimológico do termo) da Tsim Tsum cabalística. Uma "contração"
no espaço interno da deidade, que ao se retirar deixa um resíduo de si
(reshimu), que se converte por dilatação em sua força expansiva e criadora, e
as emanações que dela se desprendem são as que explicam a criação inteira,
o desdobramento do manifestado, e portanto a presença de Deus no Mundo,
a imanência divina.
98 ASTROLOGIA
Como já sabemos, há três signos zodiacais atribuídos a cada um dos
elementos, ou seja: fogo, terra, ar, água. Assim ao fogo correspondem os
signos de Áries, Leão e Sagitário; à terra, Touro, Virgem e Capricórnio; ao
ar, Gêmeos, Libra e Aquário; e à água, Câncer, Escorpião e Peixes, como se
pode apreciar na preciosa gravura logo abaixo.
fig. 21
Ver-se-á então nos signos da terra que Touro é passivo com relação a
Capricórnio, que é ativo, enquanto que Virgem aparece como neutro;
igualmente nos de ar, Libra é ativo, Aquário é passivo e Gêmeos neutro. O
mesmo nos de água aonde Câncer exerce como energia ativa, Escorpião
como passiva e Peixes como energia neutra.
DIREITA INVERTIDA
Fim de todo o ciclo – Meta Impossibilidade de chegar à
Coroação da obra meta - Adversidade - Forças
Êxtase - Glória contrárias - Desorientação
Segurança - Apoteose Falta de iniciativa
Perfeição Impossibilidade fatal
Recompensa - Êxito completo Projetos que nunca se
Sentido - Verticalidade realizam - Caminho equivocado
Outro mundo Mundo velho
Circunstâncias favoráveis Multiplicidade - Indisposição
Irredutibilidade - Centro Acontecimentos
Síntese - Boas notícias desagradáveis - Detenção
Chegada a bom termo Trocar-se por ninharias
102 ANGEOLOGIA I
É pela intermediação Angélica que o Absoluto se nos faz visível. "A Deus,
ninguém lhe viu jamais" diz o texto sagrado; mas há um rosto que Deus
mostra ao homem e esse é o Anjo da Face no qual repousa o Nome Divino
Supremo.
104 TARÔ
O LOUCO: É uma carta que não tem
número, mas se lhe atribui o 0 ou o 22,
representando o princípio e o fim. Origem
do curinga ou Joker, serve de vínculo
tanto dos Arcanos Maiores entre si, como
entre estes e os Arcanos Menores.
Desprendido de todas suas posses, leva
unicamente uma pequena mochila com
seus instrumentos mágicos, e um bastão
ou báculo, que lhe serve de sustento e
equilíbrio, assim como de união entre a
terra e o céu. Caminha à borda de um
abismo, e um cão -que representa os
perigos- espreita-o; mas ele vai crédulo
no Espírito, como um menino ou um
"primitivo" em estado de inocência,
mantendo a abertura de sua mente e de
seu coração a possibilidades indefinidas,
recebendo assim os eflúvios celestes. O
louco não tem razão, nem pretende
demonstrá-la; embora esteja claro que
não se trata de um estado patológico mas
sim de uma loucura de amor à Vida e ao
Conhecimento.
DIREITA INVERTIDA
Possibilidades indefinidas Eterno retorno
Inocência - Capacidade de Inconsciência - Multiplicidade
assombro - Caminho Caminhante sem rumo - Andar
Peregrinação - Aventura sem sentido - Sensibilidade
Desprendimento - Desapego adormecida - Anestesia
Busca do Sonho - Apegos - Ataduras
conhecimento - Busca Pessoa adormecida
da verdade - Movimento Auto-engano - Infantilidade
Abertura da mente Acreditar-se qualquer conto
Busca do Viagem sem sentido
milagroso e sem meta
105 ARITMOSOFIA
A aritmética tradicional prestava grande importância aos números
"proporcionais", quer dizer, a aquelas cifras que os caracterizavam, sem
importar, salvo de forma secundária, o agregado de um ou mais zeros. Assim
os números 26.000, 2.600, 260 e 26, sendo o primeiro deles a quantidade
"arredondada" correspondente à precessão dos equinócios (ver neste
Módulo, N.º 54), cuja metade é 13.000, ou seja, a quantidade de milhares de
anos do Grande Ano Caldeu e Grego. Quanto a 260, esta é a cifra do
calendário ritual centro-americano; com respeito aos 26, recordaremos que
este número é a soma das letras Iod = 10, Hé = 5, Vau = 6, e Hé = 5,
componentes do sagrado Tetragramaton hebreu IHVH (o nome do Iahvé, ou
Iahveh equivalente ao do Jehová ou Jehovah), nome que por respeito, ou
seja por temor de Deus, não se pode pronunciar, a não ser tão somente se
escrever, de acordo com a tradição cabalística.
De outro lado, e sempre com referência a estes números "proporcionais",
assinalaremos que multiplicar por cinco é o mesmo que dividir por dois. Ex.:
O número vinte e cinco mil novecentos e vinte (correspondente aos anos
exatos da precessão equinocial) dividido entre dois, resulta doze mil
novecentos e sessenta (25.920 ÷ 2 = 12.960); multiplicado por cinco resulta
cento e vinte e nove mil e seiscentos (25.920 x 5 = 129.600). Só há um zero
de mais. Inversamente, multiplicar por dois é igual a dividir entre cinco:
(25.920 x 2 = 51.840); (25.920 ÷ 5 = 5.184). Aqui a diferença é um zero
tirado à cifra-raiz numérica.
fig. 22
107 TARÔ: INDICAÇÕES PARA SEU USO
As cartas se batem, ou se embaralham, sobre a mesa com ambas as mãos,
deslocando-as com movimento circular, preferivelmente da direita para a
esquerda, como se escreve o alfabeto hebraico (isto deve ser feito assim para
que se mesclem umas com as outras, direitas e invertidas).
As cartas têm que ser tiradas do maço da parte de cima, e colocadas sobre a
mesa. Ao abrí-las, dever-se-á ter a precaução de o fazer virando-as
verticalmente (pegando-a, para isso, por seu extremo mais afastado) e
levando a carta para você. Este ponto é particularmente importante porque,
conforme saiam as cartas nas tiragens –quer dizer, direita ou invertida– seus
significados variam completamente posto que se acham invertidos entre si.
Deve se considerar que a carta está direita ou invertida, de acordo a como se
ache com relação ao que lê a tiragem de cartas.
PREPARAÇÃO
É também muito conveniente que você realize um rito –ainda que seja uma
simples cerimônia– quando receber pela primeira vez seu TARÔ. Espere
para abri-lo em um dia de lua nova, ou de lua cheia, e faça-o preferivelmente
em horas da noite. Acenda uma vela (fogo), um incenso (ar) e ponha uma
taça com água. O maço de cartas e a mesa simbolizarão a terra. Tire as cartas
do pacote em que venham guardadas, e logo siga os seguintes passos:
Você já está preparado para realizar sua primeira tiragem. Siga os passos e
recomendações que lhe demos, um a um, com atenção. Faça-o lenta e
relaxadamente.
A TIRAGEM DA CRUZ
A tiragem da cruz é a mais simples de todas e por sua vez a mais sintética, e
possivelmente a mais perfeita. É excelente para começar a aprender o
TARÔ, e nos será sempre útil quando quisermos obter uma resposta clara e
concisa.
a) Coloque 4 cartas para baixo, fazendo uma cruz, pondo-as na ordem que se
mostra, começando pela de cima.
b) Abra-as uma a uma, como lhe indicamos, virando a carta verticalmente e
para você.
Se a soma das quatro cartas desse por resultado o número de alguma que já
tenha saído, isto significa que o oráculo se nega a responder. (Exemplo: se
saíssem as carta números 7, 13, 11 e 3, a soma nos daria 34, que se reduz
3+4 = 7, e este número 7 já está fora). Neste caso junte as cartas, volte a
fazer a pergunta, baralhe e corte uma vez mais, e tente de novo. Se chegar a
se negar outra vez, prove uma última oportunidade. Se isto ocorrer por três
vezes seguidas, indica que o oráculo se nega a responder definitivamente.
Essa negativa já é uma resposta. Guarde seu TARÔ para outra ocasião.
2) Como se interpreta:
c) A carta de cima (N° 1) é uma síntese das duas anteriores –tese e antítese–
e se deve compreender relacionada com elas. Por sua vez, as duas primeiras
serão mais claras à luz desta terceira.
A TIRAGEM DO ARCO
2) Como se interpreta:
Se a tiragem da cruz pode ser vista como uma radiografia ou uma fotografia
do presente, esta deve ser lida mais horizontalmente, como se fora um filme
cinematográfico em que uma imagem vai se sobrepondo à outra,
sucessivamente, a anterior influenciando à seguinte, tal qual acontece com a
ritualidade do carma.
Esta tiragem leva esse nome pela ordem em que se colocam as cartas, tal
como se pode observar no diagrama. Sua estrutura é o quadrado de 4,
chamado também "quadrado mágico de Júpiter". Esta é uma forma muito
completa de tirar as cartas, pois permite diversos modos de interpretação que
podem ser feitos sucessiva ou simultaneamente.
Também soe fazer-se outra interpretação desta mesma tiragem, vendo nas 4
linhas horizontais da mesma aos 4 níveis ou planos do Árvore Sefirótica,
assim: as casas 4, 3, 2 e 1 se referem ao Mundo de Atsiluth; as numeradas 5,
14, 13 e 12, a Beriyah; as 6, 15, 16 e 11, a Yetsirah; e, finalmente, as 7, 8, 9
e 10, a Asiyah.
Como vemos, a mesma tiragem nos pode servir para fazer uma interpretação
no tempo sucessivo, e também para obter uma resposta do presente em
profundidade. A esta tiragem, como as que lhe seguem, podem acrescentar
os Arcanos Menores, à medida que se compreendam seus significados.
TIRAGEM ASTROLÓGICA
Esta tiragem tem uma estrutura similar à anterior, mas em forma circular,
servindo, neste caso, como base o símbolo do Zodíaco. Soe empregar-se esta
forma de colocar as cartas para investigar a respeito de um ciclo completo,
seja pequeno, como um ciclo diário, ou maior, como o do ano, ou para
observar ciclos históricos ou até ciclos cósmicos.
IV. Genitor: é a casa dos pais e das características herdadas do meio familiar
e social. Refere-se também ao patriotismo e às sucessões.
V. Filii: esta casa está relacionada com os filhos, e em geral com o que o
indivíduo produz, cria e engendra.
VI. Valetudo: casa dos súditos, dos escravos e dos animais domésticos, é
também do trabalho, dos deveres e das obrigações.
XII. Inimici: nesta casa se vêem os inimigos ocultos, a prisão, o exílio, assim
como as enfermidades, debilidades e doenças.
Deve ler o significado de cada carta que sai relacionado com os sentidos
atribuídos a cada casa. Ou seja, que têm que se combinar, para a
interpretação, os símbolos das cartas em relação às doze mansões, que
permanecem fixas e inalteráveis quanto a seus valores. Podem-se mesclar os
arcanos maiores e os menores nesta tiragem, assim como utilizar
exclusivamente os maiores.
108 MEMORANDUM
A disciplina fortalece o caráter e preludia a fecundação e a realização
espiritual. O abandono do meio e a mais profunda solidão se fazem
necessários, até se tornarem imprescindíveis em determinados momentos,
onde o silêncio é autêntico refúgio e o isolamento, protetor castelo interior.
Para isso, então, já se advertiu a impostura de considerar à solidão como um
tabu angustiante, ou como a ausência de uma "felicidade" (tão inexistente
como cobiçada); mas, pelo contrário, [deve se considerar a solidão] como a
predecessora de um mundo encantado de imagens mágicas, de sombras e
luzes da memória do universo, refletidas no cenário da consciência. (Tudo
isto é algo novo, ou simplesmente estava aqui e não fomos capazes de vê-lo
porque tínhamos uma descrição diferente e equivocada da vida?).
Por outra parte deve se destacar que às vezes os neófitos, sumidos em seus
profundos trabalhos de realização metafísica, mágica e espiritual, esquecem
o exilados que estão nesta terra, e podem chegar a acreditar que os demais,
que todo mundo, participa da realidade de suas crenças, quando isto
obviamente não é assim mas, pelo contrário, muitas das coisas ligadas à
Tradição são olhadas pelo mundo moderno com um ódio revulsivo, uma
repugnância irracional, ou um desprezo olímpico, tão exatamente invertidas
estão as coisas entre o mundo sagrado e o profano, entre o Conhecimento e a
ignorância.
Fim do Módulo II
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA SAGRADA
Programa Agartha
MÓDULO III
1 TARÔ
As 16 cartas chamadas "da Corte", somadas aos 22 Arcanos Maiores e os 40
Menores, completam os 78 arcanos do Tarô.
Este grupo de lâminas está constituído por 4 figuras: Rei, Rainha, Cavaleiro
–ou Cavalo– e Pajem que se repetem em cada um dos 4 naipes do baralho.
Estes quatro mundos, planos, estados ou níveis, não estão separados, mas
constituem uma unidade e, portanto, são inter-relacionados intimamente até
o ponto de, como explicamos, em cada plano da Árvore da Vida se achar
uma Árvore inteira com seus quatro mundos.
2 AS QUATRO IDADES
Para a tradição indiana, "de cada poro de Brahma brota um universo a cada
instante", e um ciclo de vida de um universo é chamado Kalpa, ao qual se
representa como uma respiração desse Ser invisível. Um Kalpa está por sua
vez dividido em quatorze Manvántaras, sendo cada um destes últimos um
ciclo humano completo de existência, ou um “dia” da terra, o qual por sua
vez é subdividido em quatro yugas, ou sub-ciclos, tal como às quatro idades
dos gregos.
À Idade de Ouro ou Satya Yuga, seguiu uma de Prata ou Treta Yuga; depois
veio a de Bronze ou Dvapara Yuga; e finalmente a de Ferro ou Kali Yuga
que, segundo dados astrológicos tradicionais, está a ponto de chegar a seu
fim.
Observemos agora dois ciclos: um, o de 25.920 anos, ao qual nos referimos
no Módulo II, título 54; o outro, mais amplo, de 64.800 anos, relacionado
numericamente com aquele. Uma maneira de vê-los é divididos em quatro
partes iguais, em cujo caso a cada uma das fases do primeiro seria de 6.480
anos e as do segundo de 16.200. Mas outra forma tradicional de subdividir
estes ciclos, que nos dá outra perspectiva sobre os mesmos, é a qual obtemos
utilizando a lei da Tetraktys pitagórica (10 = 1 + 2 + 3 + 4), em cujo caso se
atribui a cada uma das idades os seguintes números:
Por isso, desde o ponto de vista do primeiro ciclo pode se ver o começo do
Kali Yuga numa data muito próxima ao século VI a.C. (faz 2.592 anos),
enquanto desde a perspectiva do segundo esse começo se remontaria a 6.480
anos antes do fim de ciclo. Em todo caso é notável observar que os dados da
tradição nos mostram que ambos os ciclos estão chegando a seu final, e que
nos encontramos num ponto de transição, fato que a sua vez anuncia o
advento de uma nova Idade.
3 ARITMOSOFIA
As Magnitudes Lineares e Suas Proporções. As civilizações do Extremo
Oriente e as pré-colombianas tomaram o número cinco como seu modelo
matemático. Os pitagóricos o fizeram com o número dez. Isto supõe uma
perfeita concordância já que o cinco corresponde ao módulo dos dedos de
uma mão e o dez ao das duas. A mão, ou as duas mãos (e ainda em alguns
casos a soma dos dedos das mãos e os pés = 20), constituiu o modelo
numérico de onde derivaram todos seus conhecimentos macrocósmicos e
microcósmicos, que desde então não são pouca coisa, já que com este
módulo foram construídas as extraordinárias civilizações que hoje nos
assombram e que chegaram a calcular as distâncias e revoluções das estrelas,
inclusive o terceiro movimento, como de pião, da terra, chamado precessão
dos equinócios, que ela efetua cada 25.920 anos. Isto se deve às analogias
que estabeleceram entre todas as coisas e que a ciência mais moderna e seu
instrumental confirmam, pois é óbvio que inumeráveis gerações de homens –
ainda que vivessem 900 e 700 anos como na Bíblia se afirma– não poderiam
ter uma experiência deste último fato. Daremos só um breve exemplo das
proporções lineares referidas às potências de dez (as duas mãos).
fig. 23
Se o homem é dez elevado a zero (100), poderíamos dizer que sua habitação é
101. Dez à segunda potência (102) seria o campo que lavra um agricultor e
que rodeia sua casa. 103 seria equiparável à comarca que habita, enquanto 104
constituiria sua província e 105 seu país. Dez à sexta potência (106) seria seu
continente e 107 o mundo inteiro. 108 constituiria o sistema solar e 109 o
Universo infinito; nesse caso dez à décima potência que seria?
– Como bem se diz, o Ensino chega quando o estudante está a ponto para
recebê-lo. A saber: quando sua necessidade é absolutamente imperiosa.
5 NOTA:
A esta altura do Ensino, há a possibilidade de que você ainda não saiba ou
compreenda com clareza qual é verdadeiramente o conteúdo deste manual.
Não o dê então por sabido –como costuma ser o habitual– e volte a estudá-
lo relendo em profundidade e com suma lentidão (retardando o tempo) tudo
o que nele se contém. É muito mais nobre e produtiva esta humildade, ou
melhor, esta franqueza para consigo mesmo, que supor o que ainda não se
sabe ou colocar uma rápida etiqueta àquilo que se quer despachar para sair
outra vez do passo. Estas releituras lhe brindarão mais de uma surpresa e
lhe oferecerão numerosas perspectivas, com as quais, neste momento, talvez,
você não creia contar. Pensamos que é válida e nos está permitida a
sugestão anterior avalizada pela experiência na realização de nosso
Programa.
6 O MESTRE
Queremos aqui dizer umas palavras sobre alguns mal-entendidos vinculados
ao "mestre", próprios da confusão em que se existe, que obedecem a uma
dialética descendente do ciclo que o Ocidente e sua influência mundial
exemplificam, já que este pensamento profano se infiltrou no mundo inteiro.
Não nos referimos exclusivamente a determinadas apreciações que se fazem
sobre o particular, envolvidas com o simples poder pessoal em qualquer de
suas formas, nem às versões "cinematográfico-televisivas" sobre o tema.
Tampouco a uma forma de "sublimação", tanto seja esta dos temas que se
ensinam, como daqueles que os distribuem. Teme-se sempre, nestes casos,
uma falsa perspectiva com respeito à autêntica espiritualidade, que é
suplantada por adesões afetivas, ou empanadas pela penumbra de uma
"crença" demasiado materializada. Todas estas possibilidades podem se
enquadrar numa perspectiva linear e estreita, numa visão literal e –ainda que
não se queira– racionalista, quando não sentimental e seguramente
dependente. Estamos nos referindo às falsas idéias a respeito do "Mestre
Superman", aquele que possui maiores poderes físicos e psíquicos do que os
demais mortais, e ao tabu dos "dons" e do "ascetismo" deste personagem, ao
que se lhe destaca por seus egos, e não por seus Ensinos Metafísicos
diretamente conectados com o Espírito. Para pior, como alguns destes
"poderes" e "dons" simbólicos são verídicos quanto àqueles que vão
superando suas provas de Iniciação –ainda que jamais vistos desde uma
perspectiva grosseiramente materializada– criam-se muitas confusões que,
tal como são, não somos capazes de resolvê-las.
Devemos recordar que, segundo Platão, seu mestre Sócrates identificava sua
função com a de um obstetra, o que equivale a dizer que não considerava seu
ofício como algo idealizado e magisterial segundo o imaginam nossos
contemporâneos. O verdadeiro Mestre é uma energia celeste que se faz em
nós, já que em nossa interioridade existe essa possibilidade. O autêntico
Mestre é divino, é o Cristo interno, como o foi para os cristãos primitivos e
como o é para todos aqueles que não têm uma visão infantilóide das coisas.
A dificuldade de aceitar os ensinos deste Programa e realizá-los reside nesta
questão, ou seja, que o leitor deve fazer seu trabalho por si, à intempérie, em
solidão, sem o amparo que lhe brinda o que vulgarmente se entende por um
mestre, a identificação com uma etiqueta ou esta ou aquela "instituição" mais
ou menos aceita pelo meio.
7 EGITO
"... dado que o país santo de nossos antepassados se acha no Centro da Terra
e corresponde à zona média do corpo humano, santuário do coração,
habitáculo da alma, por esta razão, filho meu, os humanos desta região, não
menos dotados do que os demais pelo que faz ao resto do corpo, são
excepcionalmente mais inteligentes do que os restantes e mais sábios, dado
que nasceram e cresceram no lugar do coração." (Hermes Trismegisto,
Ensinos Secretos de Ísis a Hórus.)
É interessante também observar que José e Maria com o menino Jesus, por
conselho de um anjo que apareceu em sonhos, fugiram ao Egito para escapar
da matança de Herodes, “a fim de que se cumprisse o que tinha pronunciado
o Senhor por seu profeta, dizendo: “Do Egito chamei o meu filho” (Mateus,
2, 15)”. Alguns afirmam que Jesus regressou a esse país durante sua vida
oculta.
9 O TRABALHO
No terceiro capítulo do Gênesis se narra como Yahvé disse a Eva:
"Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez", e a Adão: "Por ti
será maldita a terra, com trabalho comerás dela todo o tempo de tua vida;
dar-te-á espinhos e abrolhos e comerás das ervas do campo. Com o suor de
teu rosto comerás o pão."
Por outro lado, podemos observar, sem nos esforçarmos demasiado, que esta
preferência pela contemplação é totalmente alheia ao meio no qual vivemos,
assinalado por uma incessante ação, por uma projeção de desejos que, por
serem tais como são, jamais poderão se cumprir, por uma angústia e
insatisfação permanentes que desembocam na ignorância e necessariamente
na violência e na destruição. Mas o que verdadeiramente é alarmante é que
esta ação –qualquer que seja o sentido que ela tenha– é considerada como
um bem em si; a tal ponto que a discutir, ou não, praticá-la é ser mau visto,
ou condenado por esse meio, pois o tema passou a ser uma questão moral
nascida da associação trabalho-bondade. No entanto, queremos esclarecer
que nada temos contra um trabalho que seria verdadeiramente sagrado, e
portanto autenticamente dignificante, se estivesse guiado pela Vontade e
pelo Livre Arbítrio. O que se critica é o conceito moderno do trabalho pelo
próprio trabalho, ou seja, sem nenhuma finalidade de ordem metafísica, e
sua equiparação a um fim e não a um meio veicular. Conquanto esta última
crítica poderia ser aplicada a outras áreas da atividade contemporânea (a arte
pela arte, a ciência pela ciência, o psíquico e o emocional, simplesmente
pelo psíquico e emocional, etc., etc.), o conceito moderno do trabalho –que
em termos sociais só faz do homem um fator da produção econômica,
individual ou coletiva– tem um ônus de alta potência destrutiva, quanto sua
obrigatoriedade e necessidade geram no alma uma série de turbações morais
e impedimentos materiais numa sociedade tão injusta como a qual vivemos.
fig. 24
10 CABALA
Já falamos das três letras mães, as sete duplas e as doze simples do alfabeto
hebraico. Logo a seguir, apresentamos três quadros onde essas letras figuram
com seu lugar no alfabeto, seu valor, e em particular com um determinado
signo ao que estão vinculadas de modo simbólico.
Recorde-se o leitor que a Cabala constitui um manancial de inter-relações e
associações de imagens que possibilitam a faculdade de conhecer de maneira
intuitiva e direta.
11 A ALMA
Números e letras conjuntamente formam um código gráfico cuja origem é
teúrgica, já que nas primeiras expressões deste tipo as grafias são "mágicas"
para passarem, posteriormente, a ser ideogramáticas, ou seja, que expressam
seus próprios sentidos conceituais. A multiplicação destes signos e sua
alteridade fazem possíveis (por exemplo, na escala numérica pitagórica)
todas as combinações e, portanto, seu discurso indefinido, ou seja, que fixam
simbolicamente a totalidade cósmica, mediante um "sistema" no qual nada
fica excluído, salvo o que nunca poderá ser exprimido, origem de qualquer
manifestação. Esta é a realidade do símbolo, que revela a ordem criacional
na qual todos os seres se acham compreendidos (e numerados como nas
cédulas de identidade, onde se utiliza ademais uma convenção como as
impressões digitais, que também não podem repetir-se em sua combinatória,
valha a comparação). Os pantáculos (pequeno todo) igualmente condensam e
cristalizam, tal qual a simbólica alquímica e hermética (Boehme, Agrippa,
etc.). Deve ser assinalado que esta atividade talismânica se encontra em
todos os povos. Só destacar a escritura maia e os hieroglífos egípcios. Desta
forma se encontra viva na atualidade entre os povos "primitivos".
Mais além deste discurso, nada entra nem sai, nem nada existe de nenhuma
forma, inclusive a alma individual ou universal, a qual, portanto, não vai a
nenhum lugar. Pelo que, unida a alma à manifestação, devemos situá-la no
plano intermediário entre o Criador e sua obra. Se isto é assim, a alma deve
conquistar para si, ou seja, adquirir-se um "corpo de luz", pois esse é o meio
"plástico" (por dizê-lo de alguma maneira) que nos leva ao Ser, que é
identificado de modo natural com a Unidade aritmética, o que é, por sua vez,
o passo necessário para a concepção do Não Ser –o En Sof da Cabala– e
finalmente a da Não dualidade, que é verdadeiramente o que os indianos
entendem como Suprema Identidade. Nesta última tradição, igualmente que
em muitas outras, esta conquista ou "ativação" das potências da alma (o
"polimento da pedra" na Maçonaria), é uma possibilidade que cada ser porta
em si mesmo, e também uma realidade que compete especificamente ao
homem, daí a necessidade unânime de trabalhos, provas e ritos que efetivam
esta União com o Ser, a ontologia como passo prévio ou suporte da
metafísica, ou seja o sacrifício desse Ser (que desde então já não é um
simples ego) no altar da "nuvem do não saber". Supõe-se que esta é a última
entrega e também o sentido da alma individual, como veículo, símbolo, ou
número, ou seja, como a assinatura do Criador –Verbo ou Logos– no mundo;
um veículo de acesso ao Espírito, quer dizer, para a dissolução naquilo que
tudo fundamenta, mas que, desde então, não existe, tal qual os objetos que os
sentidos percebem ou o cérebro elabora. Desta forma, notar a grande
quantidade de confusão que se produz com respeito a estas noções que, em
geral, as religiões abraâmicas desconhecem.
Com freqüência se esquece que todas as coisas podem ser e não ser ao
mesmo tempo. Depende às vezes de que se adote um ou outro ponto de vista.
12 GRÉCIA
No ponto de intersecção entre o extremo da Europa, Ásia Menor, e África
(Egito), a origem dos povos gregos ou helenos é indo-européia e, através
desta e da corrente tradicional (Apolínea) vinda do Norte, a Tradição Grega
expressa uma das confluências da Tradição Primordial e da Atlante. Esta
união das tradições é uma origem, um oriente [articulado dos séculos VII a
V] para um tempo posterior, que através do Império Romano, e das
sucessivas recorrências à Antigüidade que se darão na história, levará os
mistérios ao Ocidente, numa base de pensamento mítico. O pensamento
antigo, representado por Homero (Ilíada, Odisséia) e Hesíodo (Teogonia, Os
Trabalhos e os Dias), recolhe uma Teogonia e uma Cosmogonia arcaicas,
expressadas também através de uma geografia sagrada que é a da Antiga
Grécia, e nas quais se conserva a memória das 4 Idades da Humanidade,
designadas com os nomes dos metais que simbolicamente lhes
correspondem, Ouro, Prata, Bronze e Ferro. À ordem, ou cosmos tradicional
estabelecido por aquelas, unir-se-á mais tarde Apolo, deus da luz, da unidade
polar e portanto da harmonia, sendo Delfos o centro de toda Grécia, o
omphalos (umbigo), sustento da unidade dos povos que a formavam,
enquanto Elêusis e outros santuários análogos constituíam o coração, sendo
os depositários e transmissores dos Mistérios, nos quais se acham também as
origens sagradas do teatro, pois eles constituíam a representação das
façanhas dos deuses e dos homens no cumprimento do destino, que tem por
modelo a consecução de uma plenitude que corresponde a sua Identidade
Suprema. São os mistérios de Dionísio, vinculados com os Órficos,
anteriores, e traduzidos posteriormente na epopéia da alma do homem e do
mundo, recriada nos de Elêusis; e são desta forma expressados de outra
maneira, os do Número, que constituíram a essência do pensamento
pitagórico e que se reproduzirão na Teoria das Idéias de Platão.
13 ROMA I
Roma aparece no palco da história quando os povos da Hélade grega, que
descendiam em grande parte da Tradição primordial (o culto que estes
professavam ao Apolo hiperbóreo e ao Zeus olímpico é um exemplo disso),
estão em plena decadência crepuscular. Já nas origens míticas de Roma
encontramos a importante herança dos povos helenos, pois como conta
Virgilio na Eneida, o príncipe troiano Enéas –herói solar como Herakles-
Hércules– é eleito por Júpiter para fundar na região do Lácio ("onde antanho
Saturno manteve seu cetro...") uma colônia da qual surgiria posteriormente
Roma. Por outro lado, na mesma Eneida (livro VI) conta-se que de Enéas
surgiria a estirpe da qual descenderão os maiores estadistas e imperadores
romanos, entre os quais destacamos a Julio César e seu sobrinho César
Augusto.
Da mesma forma, quase todos os nomes dos deuses romanos foram versões
latinizadas dos gregos: Saturno por Cronos, Júpiter por Zeus, Marte por
Ares, Mercúrio por Hermes, Vênus por Afrodita, Minerva por Atenas, Baco
por Dionísio, etc. A mesma influência está presente nas artes, na literatura e
na filosofia. Neste sentido é notória a influência de Platão e seus sucessores
sobre Cícero, Varrão, Sêneca, Ovídio, Horácio e o já mencionado Virgílio, o
"príncipe dos poetas latinos", sem nos esquecer de todos aqueles filósofos e
teúrgos romanos ou romanizados que como Nigidius Figulus, Ário Dídimo,
Quinto Sextius, Cornelius Celsus e Apuleio (iniciado nos mistérios dos
sacerdotes egípcios e conhecedor das doutrinas herméticas surgidas em
Alexandria), fizeram parte da escola neoplatônica e neopitagórica,
contribuindo à difusão de seu pensamento por todos os cantos do Império.
Inclusive alguns imperadores, como por exemplo Juliano, participaram
inteiramente das idéias platônicas.
fig. 25
Pesando tudo isso, não se deve pensar que a civilização romana fora uma
cópia calcada da grega. O que, sim, é verdadeiro é que a partir de um dado
momento ambas constituíram uma só cultura, a greco-latina, que longe de
desaparecer continuou viva no Ocidente até os próprios alvores dos tempos
modernos.
14 AS MUSAS II
No cume do Helicon, montanha sagrada ao norte do Olimpo, achava-se o
altar de Zeus, e em seus declives, as fontes que davam a inspiração poética a
quem bebia delas (como a de Hipocrene, surgida da rocha por um coice de
Pégasus, ou a de Aganipe), de cujas azuladas águas (da cor do éter) também
as Musas bebem quando, cansadas, renovam seu vigor depois de dançar em
seus prados, nos quais às vezes se manifestam aos homens; também se
encontrava naquele Monte o sepulcro de Orfeu, as estátuas dos principais
deuses, e o bosque sagrado dedicado a elas e onde, anualmente, eram
celebradas junto a Cupido. Em seus brincos se acham as plantas fragrantes,
que têm a propriedade de privar às serpentes de seu veneno; em seus
declives, como nos do Pindo e do Parnaso, costuma apascentar Pégaso.
Também neste último Monte, brotam as fontes da inspiração profética: a de
Castália, cujas águas se utilizavam como purificação em Delfos, e se davam
ali de beber à Pythia, mana em meio a dois cumes, um dos quais está
consagrado a Apolo e às Musas e o outro a Dionísio-Baco. A ambos, invoca-
os Dante quando começa a cantar a ascensão que narra a terceira e última
parte de sua Comédia.
"Ser instruído na música, não consiste senão em saber como se ordena todo o
conjunto do universo e que plano divino distribuiu todas as coisas: pois esta
ordem, na qual todas as coisas particulares foram reunidas num mesmo todo
por uma inteligência artista, produzirá, com uma música divina, um concerto
infinitamente suave e verdadeiro" (Asclépio, 13).
15 MITRA
Deidade de origem índo-iraniana e caldaica (vinculado a Varuna, o Céu, e
formando em ocasiões casal com Ahura-Mazda, o deus salvador, em sua luta
com Ahrimán, o aspecto tenebroso da criação), Mitra foi adotado por Roma
como um de seus principais númenes tutelares, até o ponto de ser
considerado como o "protetor e sustento do Império". É de destacar que a
época de seu maior apogeu (entre os séculos I e IV) coincide com o
florescimento das doutrinas herméticas, gnósticas e neoplatônicas
alexandrinas, com as quais o mitraísmo teve sem dúvida seus contatos,
beneficiando-se de muitas de suas idéias. Contatos que também existiram
com o cristianismo incipiente, como o demonstram as numerosas analogias
entre as figuras de Mitra e de Cristo, já observadas por alguns pais da Igreja,
como Justino e Tertuliano.
Num antigo hino iraniano se diz que Mitra está sempre desperto e vigilante,
observando cuidadosamente todas as coisas. Vai à chamada dos débeis, e seu
poder é empregado sempre a favor do gênero humano. Mitra é, efetivamente,
o amigo e protetor dos homens, o que lhes infunde as virtudes heróicas: o
valor, a força interior, a lealdade, a fraternidade, e como deidade
intermediária entre o mundo superior e o inferior, é também (tal qual
Hermes) o guia que os conduz em sua ascensão para a origem através das
esferas planetárias. Neste sentido, assinalaremos que entre os romanos os
mistérios de Mitra se dividiam em sete graus, em correspondência com a
escala planetária, mas disposta na ordem seguinte: Lua, Vênus, Marte,
Júpiter, Mercúrio, Sol e Saturno. Ditos graus recebiam os nomes de Corvo
(Corax), Oculto –ou Noivo– (Cryphius), Soldado (Miles), Leão (Leo), Persa
(Perses), Correio –ou Companheiro– do Sol (Heliodromus), e por último Pai
(Pater). Os três primeiros constituíam um período de preparação, durante o
qual o adepto devia morrer para sua condição anterior, o que está claramente
expressado pelo Corvo, cuja cor escura simboliza precisamente a fase de
nigredo ou morte alquímica. Durante esse período, era instruído pela "força
forte das forças" e pela "Reta incorruptível", instando-lhe a um "persistir da
potência da alma numa pura pureza". Os mistérios culminavam com a
obtenção do grau do Pai, através do qual –como hierofante (pater sacrorum,
pater patrum) e chefe da comunidade mitríaca– atingia-se o Princípio
incondicionado, morada dos Bem-aventurados, "aonde já não existe um aqui
ou um ali, senão que é calma, iluminação e solidão como num oceano
infinito".
17 JESUS
Jesus nasce no seio do povo judeu, e sua linhagem se remonta aos reis de
Israel, à casa de David, da qual descende. Seu nome hebraico, com o
agregado do grego Cristo, identificam àquele que, enviado do Pai para a
Redenção e a Salvação da humanidade, gostava de se chamar "Filho do
Homem", evidenciando assim sua dupla natureza, divina e humana,
arquétipo da composição dual do homem, símbolo vertical e axial da
comunicação céu-terra, fato a imagem e semelhança de seu Criador. Jesus
nasce oculto num humilde lugar e é visitado e adorado por três reis e magos
que, seguindo a luz da estrela, chegaram a conhecê-lo. Depois vai crescendo
em sabedoria e bondade e depois de atravessar vários perigos, nos quais seus
pais o protegem, quer ser batizado por seu primo João, o asceta que vive no
deserto, que batiza com água, enquanto ele batizará com fogo, com seu
sangue sacrifical simbolizado pelo vinho. Dali em diante, desenvolve-se uma
história iniciática recolhida pelos Evangelhos pontualmente e onde prima o
sentido esotérico sobre qualquer outra coisa, a tal ponto que se não fora por
este sentido resultaria absurdo o que se afirma neles, por contraditório,
obscuro e confuso. Nos Evangelhos floresce o conhecimento da autêntica
tradição de Israel, aquela que deu forma a Moisés, o Egípcio, e que o
Salvador herda e plasma de acordo ao desenvolvimento do tempo e dos
ciclos e ritmos de todo processo. Tudo está nos Evangelhos quando se os
sabe ler. Seu enorme conteúdo emocional, e sua beleza excedem às
interpretações racionais e materiais e nos apresentam a tremenda e magnífica
semelhança do Homem-Deus e o paradoxal percurso de sua vida, que
acabará no coração da cruz, depois de ter sido recebido triunfalmente em
Jerusalém e depois de ter passado por provas e atravessado o Jordão várias
vezes. Ali entrega finalmente a vida e o tempo e renasce definitivamente na
Vida Eterna em comunhão com seu Pai com o que forma uma só e única
substância revestida de um Corpo de Glória. Tal é aquele homem histórico e
arquetípico, imagem viva do Cristo interno, Universal e Eterno, que disse:
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida"; também deixou dito: "Procurai e
encontrareis".
18 ROMA II
No Ocidente, foi necessária a chegada de Roma para que esta concepção
sagrada do Império se fizesse uma realidade histórica, difundindo o ideal de
civilização superior que encarnava e ao qual estava predestinada desde suas
origens lendárias. Da Ásia Menor e Oriente Próximo até a Hispania, do
Norte da África até os países germânicos, celtas e anglo-saxões, Roma
implantou sua cultura e sua visão unitária do mundo, e graças à Pax romana
os povos que estiveram sob sua órbita conheceram uma época de grande
esplendor e florescimento cultural. E conquanto essa implantação se realizou
muitas vezes mediante o uso das armas é porque para Roma (como para
muitos outros povos tradicionais) a guerra tinha um sentido completamente
diferente ao que se tem hoje em dia, começando porque se tratava de um rito
ou um ato sacralizado. Essa concepção transcendente da guerra explicaria
também por que Roma respeitava as tradições e os costumes ancestrais dos
povos que conquistava.
Em relação com este último, um fato importante para se ter em conta é que
antes de entrar em combate os romanos invocavam, mediante ritos
apropriados, a presença ativa de seus deuses, com o fim de que fossem estes
quem submetessem aos deuses respectivos de seus inimigos; ou seja, que a
guerra se produzia primeiramente no plano invisível e espiritual, pois a
conquista de um território, cidade ou país, implicava antes o domínio sobre
seus deuses, que passavam a fazer parte do panteão romano, e à manutenção,
portanto, da unidade do Império. Os antigos romanos sabiam perfeitamente
que para conseguir essa unidade não bastava só com invocar a energia
guerreira e combativa de Marte, senão que, acima desta, devia existir a
energia integradora e benéfica de Júpiter, o pai dos deuses e legislador
celeste dos homens, cujos distintivos são precisamente a águia imperial, o
raio (eixo), a coroa e o trono.
19 ALEXANDRIA
Quando no ano 332 a. C. Alexandre Magno chega ao Egito em sua
expedição conquistadora para Oriente, funda no delta do Nilo, e depois de
visitar no oásis de Siwa o oráculo do deus Amon (semelhante a Zeus-
Júpiter), a cidade que leva seu nome: Alexandria. Esta aparece como o
último grande centro da cultura clássica, o que determinará seu destino como
cidade-ponte, que fará possível a comunicação da antiga sabedoria ao novo
período histórico, que se abriria no Ocidente depois do desaparecimento
definitivo do Império Romano. Por outro lado, seu famoso farol ficou na
memória como um símbolo do que Alexandria representou para seu tempo:
um foco de luz intelectual que irradiou sua força civilizadora para todos os
confins do mundo mediterrâneo. Por essa razão sua influência se deixasse
sentir em quem, mesmo não vivendo em Alexandria, não obstante estavam
vinculados a ela como "farol" de sua época, tal o caso de Sêneca, Cícero,
Virgilio, Ovídio, Moderato de Cádiz, entre tantos outros.
Por tudo isso, não deve resultar estranho que esse ressurgir da Arte e da
Ciência de Hermes, acontecido nos primeiros séculos de nossa era, ocorresse
precisamente em Alexandria, ou seja, em terras do Egito, ao qual contribuiu
notavelmente a influência grega, sobretudo através da filosofia platônica e
pitagórica, em grande parte herdeira dos mistérios órficos e das tradições dos
antigos povos helenos, de origem igualmente primordial. A isto teria que
adicionar o aporte recebido de outras correntes tradicionais, como o
judaísmo, o recém nascido cristianismo, o gnosticismo não dualista e a
cosmologia astral dos sacerdotes caldeus, que chegaram a Alexandria, junto
com outros sábios orientais (principalmente indianos e budistas), através das
grandes rotas traçadas vários séculos antes por Alexandre Magno. Mas a
Tradição Hermética, sob a forma que adotou a partir de então e tal e como
chegou até nossos dias, é fundamentalmente de origem greco-egípcia, o que
lhe permitiria propagar-se com rapidez por todos os países onde estava
implantada, desde tempos mais antigos, a cultura grega, ou melhor greco-
latina: praticamente por toda a planície mediterrânea, a Ásia Menor e o
Oriente Próximo. Daí as constantes referências a Hermes e à doutrina
hermética entre os filósofos, magos e teúrgos dos mais diversos países e
regiões, o que deu lugar a uma comunidade de pensamento, ligada à
"corrente áurea" imemorial, que sob o influxo espiritual-intelectual do
Mensageiro dos deuses nutrirá e estará presente em todas as correntes
esotéricas e sapienciais forjadoras da identidade cultural do Ocidente.
22 A IDADE MÉDIA
O qualificativo de "idade obscura", que por parte da maioria dos
historiadores modernos se atribui ao Medievo, é uma prova a mais do
espesso véu que cobre à excessivamente materializada mentalidade atual,
que em seu desconhecimento a tudo confunde e inverte. No entanto, desde
algum tempo já, e desde diversos campos da investigação, voltou-se a pôr
este ciclo histórico no lugar ao qual corresponde, cuja característica mais
notória foi o esplendor e a presença do sobrenatural e do sagrado em todas as
expressões de sua cultura.
Para entender a Idade Média, tal como qualquer época histórica, há que
saber visualizá-la dentro do conjunto do ciclo ao qual pertence. O Medievo
europeu corresponde ao ciclo particular da tradição cristã, e representa um
segmento ou parte desse mesmo ciclo, exatamente sua metade, daí a
denominação de Idade Média. Com ela se atinge –entre os séculos VIII e
XIV– o ponto álgido, a culminação da idéia de civilização especificamente
cristã, que não obstante se gestara durante o curso dos séculos anteriores
(que não devem de jeito nenhum se desconhecerem), e concretamente desde
o momento em que, depois da morte de Cristo, os apóstolos e seus discípulos
começaram a difundir a mensagem por todo Ocidente, chegando até a
Inglaterra.
Neste sentido, há que se assinalar o papel que teve a península Ibérica, já que
fundamentalmente, através dela, a extraordinária riqueza da cultura árabe (e
com ela a recuperação da antiga filosofia grega, especialmente Pitágoras,
Platão e Aristóteles) foi conhecida em toda Europa. Por outro lado, temos os
intercâmbios mantidos pelos iniciados muçulmanos e os cristãos durante a
época das Cruzadas, fato que propiciaria uma comunicação de ordem
doutrinal entre Oriente e Ocidente, que perduraria além da Idade Média,
chegando até o Renascimento, depois do que se imporiam definitivamente as
filosofias e ciências racionalistas inspiradoras da era moderna, sem dúvida a
autêntica "idade obscura".
23 O HERMETISMO MEDIEVAL I
Coincidindo com a queda do Império Romano do Ocidente, durante os
séculos VI e VII se produz um período de ocultamento do pensamento
tradicional que contrasta com o apogeu conhecido nos séculos anteriores,
que, como assinalamos, teve em Alexandria seu foco de irradiação mais
importante. Este ocultamento também afetou a Tradição Hermética, que
depois do desaparecimento da escola de Alexandria e de Atenas se
concentrará em determinadas cidades do Próximo Oriente, e especialmente
em Bizâncio (Constantinopla), naquela época capital do Império Romano do
Oriente, já completamente cristianizado. Efetivamente, Bizâncio aparece
como a herdeira mais importante do legado hermético e neoplatônico, e em
definitivo da cultura clássica, que ali viverão um novo florescimento,
perdurando até bem depois do início da Idade Média. Essa herança está
presente, por exemplo, na obra do bizantino Miguel Psellos (século XI),
grande comentador do Corpus Hermeticum, de Platão, Proclo, Dionísio
Areopagita, etc., e que posteriormente exercerá uma notável influência na
tradição renascentista.
Por outro lado, não é mera casualidade, senão algo que depende dos
desígnios divinos que entretecem a estrutura invisível da história, que
simultaneamente à penetração árabe na Península Ibérica (século VIII),
estivesse sendo gestada a unidade política, cultural e religiosa da cristandade
sob a autoridade temporal e espiritual do Sacro Império Romano, instituído
por Carlos Magno, e com o qual começa definitivamente a Idade Média,
como vimos no capítulo anterior. Esta unidade vai facilitar que, através da
Espanha muçulmana (país que recebe a denominação de "Porta Real da
Alquimia" e "Porta Solar"), a arte e a ciência sagrada de Hermes cheguem
efetivamente a Europa. Por cima das diferenças que possam afetar às
relações que entre si mantêm os exoterismos das civilizações tradicionais,
sempre prevalecerá o ponto de vista esotérico e metafísico, que as identifica
no essencial. O Califado de Córdoba e, mais tarde, Toledo são as cidades nas
quais se produz o verdadeiro renascimento medieval, e onde frutiferamente
vão conviver as três tradições do livro: judaísmo, cristianismo e islã. Mas é
especialmente com a escola de tradutores de Toledo que começa a se verter
ao latim o hermetismo acumulado e desenvolvido pelos árabes. Sábios
vindos de todos os países da cristandade (por exemplo Miguel Escoto e
Gerardo de Cremona) coincidem na cidade imperial, "crisol de alquimistas".
24 DIONÍSIO AREOPAGITA
Durante toda a Idade Média e Renascimento, foi extraordinária a influência
deste autor, representante do pensamento neoplatônico e da autêntica
espiritualidade cristã. Supostamente se apresenta nosso personagem como
discípulo direto de São Paulo, que serve para difundir seus escritos e evitar
censuras por parte da igreja “oficial”. Sua “teologia negativa” na corrente de
Proclo e Plotino, influiu diretamente em toda a Idade Média anterior a São
Tomás (o que inclui vários séculos), em particular (para citar um só
exemplo) na escola do Chartres, e igualmente em mestre Eckhart (e em
Tauler e Suso), em Nicolás de Cusa e São João da Cruz, entre outros tantos
sábios, teólogos e teósofos ocidentais. Escreveu um tratado sobre Os Nomes
Divinos e outro texto sobre Teologia Mística, além de um livro sobre
Astronomia. Conservam-se, também, algumas de suas epístolas.
Reproduzimos aqui duas de suas cartas dirigidas a adeptos.
“A Doroteu, Ministro:
A treva divina é aquela luz inacessível na qual, diz-se, Deus habita1. E como
aquela seja inapreensível por causa da difusão exuberante de sua luz
sobrenatural, entretanto, nela descansa qualquer que mereça conhecer e ver
Deus, e pela mesma razão pela qual não vê nem conhece, este mesmo existe
naquele que transcende qualquer visão e conhecimento, sabendo só do que
está além das coisas sensíveis e inteligíveis, dizendo de uma vez que o
profeta: ‘para mim é admirável sua ciência, tão elevada que jamais poderei
alcançá-la’2.
Deste modo é como se diz do divino Paulo, que conheceu Deus quando
soube que ele existia transcendendo toda ciência e inteligência; deste modo
diz (ele) que seus caminhos são indecifráveis e inescrutáveis seus juízos3,
inenarráveis seus dons e sua paz ultrapassa a todo entendimento4, já que
descobriu Aquele que é totalmente transcendente e soube, de um modo que
ultrapassa qualquer inteligência, que Aquele que é autor de todas as coisas, é
também superior a todas elas.”
1
I Tim., VI 16.
2
Salmo 139 (Vulgata, 138), 6.
3
Romanos, XI, 33.
4
Filipenses, IV, 7
“A Sosipatro, Sacerdote:
Pois não é bastante que um objeto não seja vermelho ou brilhante, para que
seja branco; nem, se alguém não for cavalo, não por isso necessariamente é
um homem. E assim, se me quer escutar, isto é o que fará; desiste de falar
contra seus adversários, e que tudo o que diga seja para estabelecer a
verdade de tal maneira que não sejam válidas as coisas que se digam contra
ti.”
25 O SIMBOLISMO HERÁLDICO
A heráldica representa uma expressão mais da simbólica tradicional do
Ocidente. Propriamente dita, ela aparece com a constituição das ordens de
cavalaria medievais, pelo que tudo o que a ela se refere está diretamente
relacionado com a casta dos guerreiros e da nobreza em geral. Muito
apropriadamente era chamada a "ciência heróica" ou a "nobre ciência", ainda
que também é verdadeiro que existia uma arte heráldica eclesiástica e das
corporações de artesãos, esta última muito estendida durante o
Renascimento. O rico e complexo simbolismo heráldico seria mais uma
antiqualha se realmente não encerrasse um sentido esotérico e
fundamentalmente sagrado, que precisamente é o que lhe dá todo seu relevo
e importância, e sobretudo o que o converte em plenamente atual e vivo.
Sem dúvida a peça central e mais importante da heráldica é o brasão ou
escudo. Etimologicamente, o termo brasão deriva do verbo alemão blasen
que significa "sopro", revelando com isso a presença de uma inspiração
espiritual e divina na elaboração do mesmo. Neste sentido, antes do advento
de uma arte escrita e figurada, o brasão era clamado pelo heraldo de armas
no campo de batalha e nos torneios, utilizando para isso também a música,
ou seja, que era transmitido por meio da palavra e do som. E tudo o que já
dissemos no Programa Agartha sobre a semelhança e a complementaridade
entre o simbolismo sonoro e oral e o simbolismo geométrico e visual, cabe
neste caso particular. Em primeiro lugar, no escudo heráldico se plasma a
arte da divisa e do emblema. A divisa é uma sentença, uma frase
criptogramática que constitui a alma do que aparece no mesmo, enquanto o
emblema é a figura ou o corpo.
27 ALFONSO X, O SÁBIO - I
Por razões históricas e geográficas, Toledo é o centro da Península Ibérica.
Também o é por razões simbólicas e metafísicas, e a Tradição assinala, por
um lado, a antigüidade desta cidade, que se remonta à origem dos tempos, ou
seja, do tempo mítico, e por outro, a sua relação com a Atlântida, também
presente nas raízes TL de seu nome. Queremos nos referir neste trabalho a
Alfonso X, o Sábio, verdadeiro ponto central da história da Espanha (à qual,
por outra parte, recompilou), como o monarca mais importante de Castela,
que deu à Espanha sua unidade, sua língua, e inclusive sua época de
hegemonia mundial, incluindo a conquista da América.
fig. 28
28 A CIZÂNIA
A parábola evangélica da cizânia (Mateus XIII, 24-30 e 36-43), entre outras
significações de ordem espiritual, também nos ilustra a respeito da dualidade
implícita no processo iniciático, ao menos até certa etapa deste.
Entretanto, a mesma parábola nos explica que não devemos nos precipitar e
cortar a cizânia recém brotada, pois se corre perigo de cortar deste modo o
broto de trigo. No princípio, e enquanto se desenvolvem, terá que os deixar
crescer juntos.
Levado ao plano psicológico, "não dever cortar a cizânia até que tenha
crescido" quer dizer que é necessária a manifestação de todas as tendências
inferiores que levamos dentro, já que as ocultar poderia supor, por um lado,
o desconhecimento de uma parte de nosso ser, e por outro –haja vista que, de
uma maneira ou outra, essas tendências existem–, é provável que ao final, se
não forem expressadas ao exterior, acabem escavando o melhor de nós
mesmos.
Mas é importante o não esquecer que isso deve ser feito amparado na
Doutrina e na Tradição, que atuam como moldura protetora (sagrada). Só
assim o inferior poderá ser canalizado, purificado e transmutado (pelo fogo
sutil) num elemento superior, que na parábola fica exemplificado pela
dourada espiga de trigo, fruto que simboliza o estado de regeneração
iniciática e espiritual.
fig. 29
29 GEOMETRIA
O universo inteiro é uma dança cujo sentido só se pode achar nos traçados
invisíveis que ela forma. A Geometria se ocupa do estudo destes padrões e
ordens harmônicos que, longe de serem estáticos, são reflexos de idéias
geradoras. O Oriente desenvolveu estes padrões que irradiam de um centro e
que em sânscrito se chamam mandalas, como suportes para a meditação.
A Divina Comédia, escrita nos inícios do século XIV, apresenta uma viagem
através dos padrões do destino de acordo com as concepções cristãs
medievais. O inferno, o purgatório e o céu são concebidos como imensos
mandalas.
30 ALFONSO X, O SÁBIO - II
Foi precisamente sob o reinado do Alfonso X quando a Cabala conheceu sua
época de maior esplendor, escrevendo o Zohar e outros textos sagrados da
tradição judaica. Digamos que, sem a visão universal do acontecer histórico
que possuía Alfonso X, o Ocidente tivesse entrado em um processo de
decadência muito mais acentuado e rápido que o que se conheceu entre os
séculos XIV e XVII, decadência que encontra sua expressão mais clara em
nossos dias. Tampouco tivesse sido possível, com a intensidade com que se
produziu, o ressurgimento das doutrinas herméticas durante o Renascimento.
Por exemplo os sistemas astronômicos e astrológicos elaborados naquela
época tinham suas fontes nas traduções alfonsinas.
Uma das obras nas quais Alfonso X interveio mais diretamente, além da
História Geral foi o Setenario, onde se recolhem diversas matérias
cosmológicas, teológicas, históricas, jurídicas, além de alguns dogmas e
sacramentos próprios da tradição cristã. Mas Alfonso, o Sábio, destacou-se
também como um poeta que cantava a alma do Mundo, sua beleza e
harmonia, que viu encarnada na figura da Virgem Mãe. Alfonso X se
considerava um humilde trovador da Virgem, e em suas Cantigas da Santa
Maria são narrados alguns dos milagres intercedidos por nossa Senhora,
inclusive vários deles acontecidos na própria pessoa do rei. Entretanto terá
que assinalar que o culto à Virgem não tinha na Idade Média o caráter de
beatice simplória que teve posteriormente, e embora exotericamente sua
influência espiritual mantivesse um laço de união entre a devoção popular e
o sagrado, esotericamente era considerada como a "Rainha do Mundo", e
portanto mãe espiritual dos iniciados. As Cantigas de Alfonso o Sábio não
estavam tingidas de um vago misticismo; mais ainda, ao serem musicadas
advieram com freqüência verdadeiros hinos oferecidos a Vênus Urânia, a
deusa da Sabedoria, do Amor e da Beleza, três virtudes celestes que sem
dúvida este grande rei quis que fossem as pedras angulares de sua extensa e
importante, também para nós, obra cultural.
fig. 31
31 A TRADIÇÃO E A MENSAGEM
A tradição se transmite de maneira horizontal e fecundou diferentes
civilizações e individualidades. Mas isto foi possível mercê à permanente
reatualização vertical da Tradição Universal, que se revela com novas
formas (de acordo a um concerto de forças que se entrelaçam
harmonicamente e que incluem em sua orquestração as circunstâncias
pessoais daquele, ou daqueles que a encarnam e a transmitem),
regenerando assim a Tradição Originária, o que permite a continuidade da
cadeia de união ao longo da História e a possibilidade sempre presente da
iniciação, da realização espiritual, da metanóia. Por outra parte esta
urgência de transmitir a seus semelhantes esta Mensagem, que sentem
aqueles em quem a doutrina e o símbolo se vivificaram, encontra-se
particularmente aguçada nos tempos atuais, onde um fim de ciclo obriga a
redobrar energias na realização vertical, como igualmente na difusão
horizontal.
32 O HERMETISMO MEDIEVAL II
No Ocidente, o século XII representa a expansão das ordens monásticas e da
cavalaria, entre as quais se destaca a do Templo, que são as que detêm
praticamente a totalidade da doutrina e do saber tradicional. Não é de se
estranhar, pois, que fossem em sua grande maioria clérigos, abades e homens
de igreja os que, em suas peregrinações, serviram de enlace na propagação
do Hermetismo no continente, sem esquecer as relações que entre si
mantiveram a cavalaria cristã e islâmica. Mas a tradição de Hermes, com
seus mistérios mágicos e teúrgicos, infunde no espírito do homem medieval
um amor para a natureza que no Ocidente não se conhecia desde a
Antigüidade greco-latina; amor que é motivado também pela influência que
nesse tempo exerceu o "Cantar dos Cantares" de Salomão. "Redescobre-se",
por assim dizer, a dimensão sagrada da Natureza, sua beleza transcendente,
que se concebe como uma hierofania onde o divino e sobrenatural se faz
presente no próprio seio da “matéria”. Natureza, enfim, visualizada como
uma Mulher ao mesmo tempo Virgem –Natura Naturans– e também Mãe –
Natura Naturata–, que ao receber em sua substância as sementes do Espírito,
procria e dá vida (e por isso mesmo devora e mata) às inumeráveis formas
que manifestam a unidade do cosmos, pleno assim de significado simbólico.
Por tudo isso, o corpo humano, o microcosmos, é dignificado e devolvido a
sua função analógica de refletir em cada uma de suas partes à totalidade do
macrocosmo, seguindo nisto a máxima hermética de que "o de baixo é igual
ao de cima...".
33 METATRON
No Módulo I, título N.º 69, falávamos do Metatron e o associávamos com o
arcanjo Miguel; queremos ampliar aqui um pouco o tema desta figura
enigmática da doutrina cabalística. Começaremos dizendo que seu nome é
equivalente numericamente no nome Shaddai (314), que significa "o Todo-
poderoso", e em certas ocasiões o vê como o par da Shekhinah, a imanência
divina. Tal é sua importância que às vezes o confundiu com o princípio
chamado Moisés e até com o próprio Demiurgo.
35 O NOME I
Tudo o que escapa à atualidade de nosso conhecimento permanece como
inexistente ao não poder nomeá-lo. Nomear é, pois, dar existência inteligível
às coisas, resgatando delas sua identidade, sua qualidade e seu sentido
universal. A esta faculdade exclusiva do homem sempre se considerou como
um legado divino vinculado à intuição espiritual; não é sem motivo que seja
o próprio Jehovah (YHVH) no relato da Gênese, quem outorga a Adão o
poder de nomear todas as coisas, ou seja, o de atribuir função e destino a
todos os seres e elementos deste mundo em relação a sua natureza essencial.
36 ASTROLOGIA
Tal como vimos o zodíaco em seu ciclo anual, dividido em doze signos
mensais, também podemos vê-lo em um ciclo diário no qual a roda zodiacal
faz um percurso aparente completo ao girar a Terra ao redor de seu próprio
eixo. Alguns astrólogos consideram que, durante as vinte e quatro horas que
seguem ao nascimento de uma pessoa, refletir-se-á toda sua vida. Para
fazerem as observações, dividem a roda do zodíaco em doze Casas e fazem
corresponder duas horas a cada uma delas. Isto determinará o signo
ascendente e descendente do indivíduo e diversos aspectos de sua
personalidade. Deve tomar-se em conta, ao realizar o cálculo das Casas, a
latitude do lugar de nascimento, o dia do ano e a hora do dia. As Casas não
são, como os signos, de 30° exatos, mas sim oscilam entre os 17° e os 60°.
IV. Genitor: É a casa dos pais e das características herdadas do meio familiar
e social. Refere-se também ao patriotismo e às sucessões.
V. Filii: Esta casa está relacionada com os filhos, e em geral com o que o
indivíduo produz, cria e engendra.
fig. 33
39 NOTA: MAGIA
Entende-se aqui por magia (sem desconhecer formas menores, ineficazes e
perversas desta ciência) toda atividade ritual intermediária, dedicada a
atrair as energias celestes à realidade terrestre, de acordo à doutrina das
emanações cabalísticas que subordina o mundo elemental e corporal ao
mundo anímico e astral, e ambos ao plano estritamente espiritual, ou em
outra terminologia: intelectual. Por este motivo tanto as práticas cultuais,
como os encantamentos, exercícios, concentrações, meditações, estudos, e
especialmente a oração, devem efetuar-se tendo o ânimo e a inteligência
postos nas verdades mais elevadas, no Deus supremo e incognoscível, além
de sua própria criação. Isto fará com que estas práticas mágicas, ou melhor
teúrgicas e celestes, que pressupõem um conhecimento cosmogônico e
metafísico, sejam eficientes e adequadas proporcionalmente às necessidades
invocadas. Por outro lado, este movimento descendente de energias e forças
que se provoca tem que ser completamente subjetivo e interno, ou seja de
exclusivo interesse do sujeito que as pratica em íntima relação com o
benefício do Conhecimento. Sua característica tem que ser a da realização
de um rito simpático e rítmico com o universo, e estas correspondências e
analogias que se pretendem estabelecer devem ser efetuadas com um total
desinteresse sobre coisas particulares; ou seja com um alto grau de
"esvaziamento" e "impessoalidade", para que os eflúvios do mais alto se
derramem sobre o "operário" ou aprendiz de mago, que desse modo possa
aceder às verdades mais sutis e recônditas e às esferas mais altas do
intelecto divino, a um ponto tal que seu próprio ser se encontre identificado
em todo tempo e lugar com as mais transparentes emanações do cosmo e
advirta sua unidade e majestade em todas as coisas, de uma maneira
natural, pois estas verdades são já consubstanciais com seu próprio ser.
Neste tipo de identificação com o universo e com o que está além dele, tem
um papel extraordinariamente eficiente a Árvore da Vida Sefirótica, como
modelo do universo e instrumento veicular e revelador (como o TARÔ) das
energias intermediárias entre a Deidade mais alta e os seres e as coisas
manifestados de forma material, ou elementar.
40 MAGIA E ARTE
Uma representação pictórica é uma cerimônia congelada, um gesto
prototípico capaz de engendrar um sem-número de outros gestos igualmente
harmoniosos. Assim concebiam a Arte os mestres do Renascimento, e esse é
o caso da maior parte de suas criações, por exemplo, "A Primavera" de
Boticelli, cujo conteúdo mágico e esotérico é evidente, transmitindo as
emanações do doce mistério da vida, percebido plenamente pelo autor. Por
certo que Leonardo participava deste mesmo tipo de concepção, e se
encarregou de demonstrá-lo não só por meio de sua obra plástica, mas
também com sua ciência e com o matrimônio desta com sua arte em
representações mecânico-teatrais, onde manifestou o modelo cosmogônico
mediante um grandioso espetáculo que ofereceu na corte de seus protetores.
Shakespeare utilizou também da poesia e do teatro para expressar o
esotérico, como deste modo o fizeram os artistas renascentistas, não só
italianos, mas também alemães, franceses, flamengos e ingleses (com
expressões tão aparentemente afastadas como a construção de jardins
simbólicos herméticos, ou engenhos animados, etc. etc.), até o começo do
século XVIII. A arte era, pois, um rito, uma cerimônia mágica encaminhada
a estabelecer uma comunicação entre céu e terra, em altares de uma
harmonia energética universal designada com o radiante nome de Beleza.
Igualmente Magia e Arte têm que ser conectadas de forma direta com o
Amor, como sinônimo de União, que na prática cotidiana não só tem que se
identificar com ideais românticos mas também com a faustuosa genitalidade
da fêmea prototípica (vez por outra individualizada).
41 CABALA: O NOME - II
Para a Cabala o nome indica a essência do renomado e, portanto, a
identidade. Isto é assim porque ela configura uma metafísica da linguagem, e
como tal, as letras do alfabeto são produtos do Verbo e da Grafia divinos, de
sua Palavra e de sua Escritura.
Na letra está, pois, o sentido da criação, que foi realizada precisamente pelas
combinações e permutações dos signos do Santo Alfabeto Cósmico, grafados
pela pluma de Deus, cujo nome se tece de maneira oculta em cada uma
dessas letras e em todas as palavras e nomes, inclusive nos espaços vazios
que deixam livres os signos entre si.
Diz Orígenes que, tal como a magia, o nome e seu poder não são vãos e sem
importância, mas, pelo contrário, uma ciência temível; desta forma, terá que
utilizar com prudência e circunspeção estes nomes mágicos, cuja eficácia
deriva de sua pronúncia em sua língua original, porque é precisamente o som
o que atua.
fig. 34
42 O LABOR COTIDIANO
Insiste-se novamente sobre a necessidade –quase urgência– do trabalho
diário interno a aqueles que vão em busca do Conhecimento.
Desgraçadamente a natureza do homem é tal que tende a esquecer o que
verdadeiramente lhe interessa e procurou sempre, e é traído pelos sentidos,
ao que se soma a determinação do meio social contemporâneo,
absolutamente profano e afastado da autêntica realidade do que o mundo e
o ser humano são e representam. Este condicionamento a uma imagem fixa,
literal e falsa do que somos e o que nos rodeia, faz com que sejamos
absorvidos pela inegável força da mediocridade do meio, que de indefinidas
maneiras, inclusive com a violência e a "chantagem", trata de nos fazer
participar do achatamento de seus valores.
O leitor de Agartha sabe que deve empregar todas suas energias nessa luta
surda com o social (que está acostumado a se manifestar, às vezes, através
da família) ao se enfrentar com essas concepções que ele, queira-o ou não,
tem internalizadas mediante uma aprendizagem tão falsa quanto
equivocada, estando a se enfrentar consigo mesmo e seus próprios enganos
e misérias.
fig. 35
Por tudo isto é que nos permitimos recomendar novamente aos nossos
leitores a releitura do Programa Agartha. Não só porque terá uma visão
diferente do que aqui se diz, mas também porque em muitas coisas ela será
como nova, a tal ponto você foi capaz de modificar seu critério, seu ângulo
de visão. Este exercício lhe permitirá estabelecer comparações entre suas
antigas concepções e as novas e estabelecer assim seu grau de
"adiantamento", ou melhor: a porção do caminho espiral ascendido. Sua
elevação do plano da visão literal, às sutis percepções de outras formas da
consciência, que se constituem numa atmosfera diferente para o
desenvolvimento do ser, a tal ponto que pode então se falar de um antes e
um agora, de um homem velho e, portanto, de um homem novo, de uma
metamorfose ou, muito melhor, de autêntica metanóia .
43 QUIROLOGIA
À mão, que cumpre uma função de modelo simbólico, a Cabala lhe outorga
um profundo sentido sagrado. Da mesma forma, outras tradições, como a
Hermética ou o Islã (ver nesta última, por exemplo, a importância
talismânica que possui a mão da Fátima, a filha do Profeta). As duas mãos
unidas com seus respectivos cinco mais cinco dedos são uma imagem do
modelo do denário arquetípico e, portanto, da realidade que expressa a
Árvore da Vida Sefirótica. Mas o que hoje se entende por quiromancia ou
quirologia (do grego kheir, mão) é um vestígio, muito desfigurado –como é
também a Astrologia moderna–, pelo que outrora fora uma ciência de
alcance espiritual e oracular. Haveremos, pois, de insistir em que todas as
artes mânticas e adivinhatórias em geral assumem o verdadeiro sentido e
função que lhes compete só enquanto emolduradas dentro de uma
perspectiva espiritual e iniciática, do homem e do mundo, alheia a toda
superstição e literalidade. Embora que isto seja assim, é obvio que nas mãos
está impresso o mapa de nosso próprio destino e natureza, como também no
rosto ou na própria configuração física. Em qualquer caso, já se sabe que
todo o âmbito terrestre e corporal é um reflexo ou rastro de um modelo
celeste, pelo que cada parcela de sua geografia é portadora de uma
mensagem simbólica que está apenas manifestando esse modelo num nível
(assim é, por exemplo, quando recém-nascido o Buda Sakyamuni, os
sacerdotes decifraram seu importante destino espiritual partindo dos 32
signos impressos em sua pele).
fig. 36
44 CABALA
No começo de nosso Programa (Módulo I, título N.º 26), mostramos as
correspondências entre o modelo do Árvore da Vida e o corpo humano. Ali
propúnhamos umas correspondências e sugeríamos as visualizações
adequadas a elas. Também dizíamos ali que em futuras práticas tentaríamos
a inversão de polaridade de energias. Isso é o que faremos agora de acordo
ao seguinte quadro:
45 A ESTRELA E A ESPIGA
A viagem reiterada pelas dimensões do mundo do homem, à luz da estrela
entrevista no segundo de um outro tempo, mais atemporal, próximo às
origens, viagem de reconhecimento das direções qualitativas da caixa-cubo
do cosmo, é também o reconhecimento da obra de arte sagrada, que possui a
qualidade do holograma, obra também da luz, em que a parte contém
imanentemente o Todo. O mundo do homem é um todo unitário, um jogo de
relações e tensões que se equilibram em seu centro sempre virginal. Essas
viagens não são distintas da compreensão que a alma realiza reconhecendo
suas qualidades, seu desenho, sua forma prototípica, assinalada pela divina
proporção que nasce da relação da Estrela com a circunferência de seu
limite. Essa regra de ouro, ou proporção áurea, é o verdadeiro nome das
coisas, sua realidade no Homem primordial, que as resgata devolvendo o
mundo a seu Princípio, na síntese de sua morada originária.
A espiga, que o Sol fez crescer, mostrando-se sobre o meridiano, não poderia
seguir crescendo indefinidamente. Seu próprio peso, que deve à Terra,
inclina-a sobre si mesmo, traçando o anagrama de um Nome arquetípico
pelo que são feitas novas todas as coisas.
46 ALQUIMIA
Geralmente quando se fala da Ciência Alquímica se pensa naquela referente
ao reino mineral, cujo objetivo é a realização do ouro metálico através da
pedra filosofal. Esta forma da Arte Régia é a transmutação que se produz no
atanor ou forno por meio de diferentes procedimentos e etapas que o adepto
relaciona com seu próprio processo iniciático interno, análogo a qualquer
gestação, começando pela do Universo. Entretanto, já mencionamos a
alquimia vegetal como uma possibilidade idêntica, que utiliza o próprio
corpo humano como um atanor e persegue exatamente os mesmos fins, ou
seja, os da plena realização das possibilidades humanas por meio da
constante conjunção das energias opostas, que jazem no fundo de sua alma.
Também devemos mencionar uma alquimia desenvolvida através da
respiração, que pretende fixar o hálito vital (o prana dos hindus) como
alimento constante fluídico e permanente da criação íntegra.
47 VIRGILIO-DANTE I
É bastante freqüente, na história das civilizações tradicionais, o fato de que
quando estas, por imperativos cíclicos, estavam a ponto de desaparecer, a
doutrina metafísica e cosmológica que ordenou sua cultura e sua vida tenha
se refugiado nas obras de determinados personagens chave, e isso com o
propósito de que dita doutrina não se perdesse definitivamente. O destino
dos homens de Conhecimento que vivem durante esses períodos críticos
está, em parte, sujeito a essa missão de salvaguarda. Tal é o caso de Dante
em relação à Idade Média. Foi em "A Divina Comédia" onde Dante recolheu
e plasmou o essencial do esoterismo cristão que estava representado por
certos grupos artesanais, herméticos e cavalheirescos, como a Ordem
Templária. Como já dissemos em um parágrafo anterior, a própria
organização a que pertencia Dante, os "Fiéis de Amor", passava por ser um
ramo da própria Ordem do Templo, pelo que é de se supor que, quando esta
desapareceu em 1314, os "Fiéis de Amor" tenham continuado a manter –
embora em forma mais oculta e velada– grande parte do ensino iniciático e
tradicional que detinham os cavaleiros templários. É esta herança espiritual
que na verdade constitui o eixo medular que sustenta toda "A Divina
Comédia", e qualquer leitura que desta obra se faça deve ter em conta este
dado, quando se deseja conhecer o profundo sentido que encerra.
53 ALQUIMIA
Os Quatro Elementos (2). Os quatro elementos, ou melhor, os quatro
princípios que eles simbolizam (que constituem qualquer possibilidade de
manifestação e, portanto, a de toda matéria, posto que esta é a combinação
desses princípios ou elementos em rotação, alternando-os uns com os outros;
os que são apenas a emanação de um mesmo princípio criador universal que
toma diferentes modos ou formas designadas por distintos nomes) chamam-
se, como já bem sabe o estudante do Agartha, fogo, ar, água e terra. O fogo
simboliza o princípio radiante que é o mais alto de todos. Na Árvore da Vida
corresponderia a Atsiluth, ao ontológico, ou seja, ao Ser e ao Espírito. É a
primeira possibilidade da matéria, o hálito espermático do enxofre capaz de
fecundar a potência mercurial, a penetração pela palavra, ou seja, a luz pura
simbolizada por este princípio radiante, materializado no que significa o
ígneo, do qual o fogo é o emblema. O seguinte elemento, ou estado da
matéria, é o ar, ou energia refrigerante e sutil, correspondente à leveza e
instabilidade do emocional, ao plano de Beriyah, à primeira construção do
cosmogônico, à sublimação do fluídico, à transmissão de toda possibilidade,
ao sopro do ar como causador da generosidade das chuvas e da geração
vegetal, e também à alma superior, a que está por cima da superfície das
águas. O terceiro elemento é a água, gás condensado, ou energia fluídica,
capaz, como já se disse, de gerar, mas também de corroer. Toda matéria é
abrandada pela água, que igualmente sempre encontra um leito e que é capaz
de adaptar-se à forma que lhe toque. Corresponde ao plano de Yetsirah e ao
perigoso e atrativo psiquismo inferior; às belas e às artes. Também a uma
condensação do aéreo e, portanto, a uma progressiva solidificação, a uma
transformação daquele princípio radiante, daquela primeira emanação que se
expressou por um sopro que agora, ao se coagular, apresenta-se em estado
líquido. O último elemento é a terra, que é o receptáculo e ao mesmo tempo
contém em seu seio outros princípios, elementos, ou estados da matéria, e é a
energia solidificada dessa matéria, o summum de sua densidade e de suas
possibilidades de concreção. Corresponde ao plano do Asiyah, a grande mãe,
à potência do ato permanente, ao passivo em contínuo movimento, à última
manifestação da perfeição universal, espelho da perfeição de seu criador.
55 OS ASPECTOS DA ALMA
Os graus da alma humana, ou dos planos de consciência nos quais se
manifestam, são três, em correspondência com os mundos da Árvore
Sefirótica, e têm portanto três designações: nefesh, para o hálito vital; ruah,
para a alma interior; e neshamah, para o espírito.
56 AS CASTAS
Um dos temas menos compreendidos entre as concepções tradicionais é o das
castas devido à confusão que o mundo moderno (nascido no Renascimento,
confirmado nos séculos XVII e XVIII e efetivado no XIX e XX) projetou
sobre este assunto, confundindo-o com suas próprias problemáticas, suas
revoluções políticas e econômicas, suas divisões referentes às classes sociais
(verdadeiros tabus) e posteriormente o enfrentamento destas e portanto a
ruptura do organismo nacional e internacional.
a) Nada tem que ver o tema das castas com a divisão contemporânea
referente às classes sociais, motivo pelo qual o aspirante ao
Conhecimento, ainda filho de seu condicionamento histórico, não
tem em sua bagagem de imagens nada parecido que possa tomar
como ponto de referência; aconselha-se, portanto, não extrapolar
informações e menos ainda pretender julgar com elementos
exclusivamente contemporâneos, aos que se supõem universais, a
sociedades pretéritas das quais tudo se ignora.
Para pôr um só exemplo, diremos que os homens e mulheres mais
poderosos e de mais status da atualidade, presidentes, primeiros
ministros, líderes, e até reis e nobres, podem ser considerados de
uma perspectiva tradicional, ou seja espiritual, como os integrantes
da casta mais baixa de seres jamais conhecida neste ciclo humano de
existência.
b) A divisão em quatro castas não é um fato arbitrário ou casual, mas
sim está em correspondência com a ordem natural das coisas e com
a divisão quaternária de qualquer manifestação. É, pois, uma
realidade de ordem cosmológica verificável em qualquer sociedade
e/ou cultura.
c) Aos efeitos deste título utilizaremos a terminologia hindu para nos
referir ao assunto por ser a mais clara e conhecida, a que agrupa os
homens em quatro conjuntos denominados Brâhmanes, Kshatriyas,
Vaishyas e Shûdras. O primeiro corresponde ao estado sacerdotal ou
sapiencial. O segundo ao guerreiro e a nobreza; o terceiro aos
artesãos, comerciantes e administradores, e o último aos servos. Os
nascidos nos três primeiros podem renascer na Suprema Identidade,
podem ser iniciados nos mistérios; os que pertencem por nascimento
ao outro estamento, ou casta, estão destinados à reencarnação na
roda das existências, ainda que sejam milionários, chefes políticos,
artistas de êxito, ou talvez precisamente por isso, tomando devida
conta da degradação do mundo em que vivemos. Quer se chamar a
atenção de que esta separação em castas, ou em estados, não só se
apresenta na tradição hindu, mas também é clara na China (e em
todo o extremo oriente e também no oriente médio), na América
pré-colombiana, e inclusive em culturas tribais consideradas tão
“primitivas” como a África negra. Na organização social da Idade
Média ocidental é evidente, herdada não só das concepções cristãs
(o Cristo Rei por exemplo), mas também das antigas culturas
nórdicas e celtas, e deste modo de egípcios, caldeus, gregos e
romanos. Nos hebreus é nítida entre os reis-sacerdotes (ou melhor
sacerdotes-reis) e o séqüito escalonado de suas cortes.
Para finalizar, queremos fazer referência a uma quinta casta: Hamsa. Esta é
na verdade uma não casta e deve ser colocada acima da Árvore da Vida.
Corresponde aos seres não condicionados ou, os que tendo sido
condicionados pelo nascimento, foram liberados de sua determinação. Estes
iniciados são chamados ativarna, utilizando sempre a terminologia hindu.
57 CIÊNCIA
O que se entende hoje por ciência –a ciência profana– tem também uma
origem sagrada (como todas as Artes Liberais) que se foi degradando, desde
seus começos, onde a observação dos fenômenos naturais revelava o
funcionamento da grande máquina do mundo, manifestada pelas grandes
estruturas da cosmogonia, que simbolizava, em última instância, o que
estava além dela. Ou seja, às leis naturais como signos e arquétipos do
sobrenatural e como seu selo nas coisas e nos seres, incluído o humano,
como o fazia a alquimia em virtude da correspondência entre macro e
microcosmo.
58 CIÊNCIA I
Um conceito linear do universo, do tempo e do espaço faz com que estes
sejam vividos de uma maneira rígida e fixa, em acordo com a literalidade de
um pensamento só capaz de vislumbrar o mais imediato do que percebem os
sentidos. Na época atual, a ciência tomou formas quase exclusivas de
medição quantitativa, reduzindo os problemas científicos a meras
estatísticas, o que equivale a abandonar a busca da essência e as causas dos
fenômenos –de qualquer natureza que sejam– pela comodidade de sua mera
descrição e seus efeitos. Desgraçadamente, esta forma de pensar invalida a
ciência oficial que, empiricamente, enquadra as coisas por suas
características mais superficiais sem contar, tampouco, os fatores de
mudança permanente aos quais está sujeita qualquer manifestação, e
considera o homem contemporâneo, completamente condicionado por seu
meio e ideologia, como um modelo universal válido para ser aplicado em
toda circunstância. O mesmo, na realidade, faz com qualquer fenômeno, seja
este subatômico ou estelar, e termina mecanizando sua visão da vida a tal
ponto que é incapaz de distinguir entre a teoria e o fenômeno em si. Já
dissemos que esta pretendida ciência oficial não está de acordo com as
últimas investigações científicas, nascidas muitas delas a partir das teorias do
Einstein, mas estas ainda não puderam transformar o esquema oficial (ver
Módulo I, título N.º 77).
Assim, em nossa ignorância, os homens vão como aqueles burros aos quais
se lhes sustenta, por cima e diante de suas cabeças, uma vara na qual se
pendura uma cenoura, o que faz com que a besta caminhe e corra com o afã
de procurar seu alimento sem que possa consegui-lo.
60 CIÊNCIA II
A matéria, tal como se refere a física oficial, na verdade não existe. A
máquina do mundo permanece em constante atividade e ora se esfria, ora se
esquenta conjugando-se permanentemente na ronda dos quatro elementos
que a compõem, que alternativamente preponderam um sobre o outro. O
motor é ígneo: efetivamente é a intensidade do fogo que derrete o sólido,
liquidificando-o, e posteriormente transforma estes líquidos em gases, que
mediante esfriamento começam novamente a se condensarem e se
estabilizarem em sólidos.
Da Antigüidade greco-romana, esta roda de fogo, ar, água e terra preocupou
filósofos e sábios, que jamais consideraram à matéria como algo fixo e
imóvel, mas sim como um conjunto de elementos em permanente mudança e
reestruturação. A unificação matéria-energia, vale dizer, a unicidade da
matéria, foi um axioma alquímico tradicional. O mesmo aconteceu com a
unidade indissolúvel espaço-tempo, presente nas concepções dos povos
arcaicos.
63 ALQUIMIA
Às vezes a Alquimia se expressa numa linguagem e num simbolismo
complexo e “obscuro”, e isto é assim face aos cuidados de nosso
PROGRAMA que trata de sintetizar, esclarecer e expressar em uma
linguagem clara e atual verdades que, entretanto, necessitam para ser
compreendidas de uma reforma da compreensão profana, o que justifica em
algumas circunstâncias o uso dessa aparente obscuridade ou contradição,
para fazer funcionar os esforços pessoais através de uma série de exercícios
mentais (e físicos) regidos pela coerência interna dos mesmos símbolos e sua
estrutura lógica e, ao mesmo tempo, supra-racional. Por este motivo, a
importância do estudo e da meditação sobre o modelo cosmogônico no
primeiro grau iniciático, tratando de não deixar um oco na compreensão
deste, pois é um trampolim imediato para a integração no ontológico e
metafísico.
64 ANGEOLOGIA II
Dizer anjo quer dizer imagem. A imaginação não deve entender-se aqui
como a faculdade que produz o imaginário, o irreal, mas sim o ato pelo qual
se faz real o mundo das Formas e Figuras. O mundus imaginalis se situa no
tempo mítico da percepção visionária e revelação profética. Como diz o
poeta e pintor do século XVIII, William Blake, "quem não pode imaginar de
uma maneira mais real o que seu olho mortal pode ver, não imagina do
todo".
fig. 38
65 EXERCÍCIO PRÁTICO
Algo que se deseja recomendar é a leitura em voz alta como exercício
fecundo para se carregar interiormente. Comece a ler com suma claridade e
voz forte, e espaçadamente, qualquer parágrafo deste Programa. Faça-o
entendendo perfeitamente o que lê e acompanhando com sua voz (e até com
seu gesto) o texto. Se tiver em sua casa um gravador, permita-se utilizá-lo e
registrar nele sua leitura. Não só ouvirá vibrar sua voz, mas também sentirá
a aliviada e marcial sensação de estar novamente levantando âncora como
um privilégio concedido a sua decisão responsável. Diga-se para si mesmo:
“Voto a Hércules! Adiante com a navegação!” Além disso, você deve ter em
conta que cumpre uma função, que esta longa efetivação de um processo
interno, esta iniciação no Conhecimento por mediação da alquimia anímica
e espiritual, que nosso Programa oferece, é parte de nosso destino
individual. Uma alternativa que começa a se realizar em obras e se
manifesta de acordo com a nossa capacidade, tanto de compreensão, quanto
de expressão, para que possamos reconhecer em seus rastros o que é aquele
Destino para o qual fomos chamados.
66 MINUTA
Ser pobre, na verdade, é ter medo à pobreza, ou desejar possuir, qualquer
sejam os meios com os quais contemos. Igualmente ser rico é não
ambicionar o que não se tem; o que é o mesmo que estar de acordo –e não
resignado– com o que se é, seja o que for ou possua o que possuir.
67 O HORÓSCOPO
O horóscopo nos permite determinar a posição dos planetas e das estrelas nos
signos e casas zodiacais, em um dia e uma hora concretos. Costuma-se fazer
o cálculo para observar os aspectos astrais no momento do nascimento de
uma pessoa, em cujo caso se denomina “carta natal”; mas também se poderia
realizar a partir de qualquer outro acontecimento, especialmente significativo,
do qual queiramos saber suas influências celestes.
É necessário, para poder elaborá-lo, terem claros e precisos o dia e a hora que
vamos analisar, e o lugar, do qual teremos que obter sua latitude e longitude;
também possuir uma tabela de posições planetárias denominada
“efemérides”; uma tabela de casas em que se possa ver a posição destas na
latitude do lugar que se observa; e uma tabela de logaritmos. Estas pranchas
podem ser adquiridas em livrarias especializadas.
Vejamos como traçar, caso a posição resultante fora, por exemplo, a seguinte:
Saturno: 0° Sagitário
Júpiter: 22° Leão
Marte 18° Aquário
Sol: 23° Touro
Vênus: 3° Câncer
Mercúrio: 9° Gêmeos
Lúa: 4° Câncer
Por outro lado, alguns alimentos específicos são considerados como "bons"
ou "maus" de acordo a determinadas pautas que arbitrariamente fazem do
"natural" seu lema, e de sua saúde "ideal", em uma verdadeira cruzada do
tipo moralista e fanática, sem terem os conhecimentos elementares
necessários para isso, e sem estarem informados da história e da cultura
dos distintos povos que habitam desde sempre o mundo. É muito importante
destacar que em nenhum texto sagrado das diferentes tradições se toma à
alimentação como tema fundamental, e em geral nem o mencionam, já não
como requisito prévio para alcançar determinados estados de consciência,
nem mesmo de autêntica saúde corporal, senão que, em certos livros
sacros, como o Evangelho cristão, esclarece-se que o importante não é o
que entra pela boca, mas sim o que sai do coração do homem.
Acreditamos que o "natural" tem que ser transcendido para poder dar lugar
ao sobrenatural.
69 CABALA
A seguir oferecemos um singelo “talismã” numérico (recordemos que os
números são também letras) baseado na Estrela de Davi ou Selo Salomônico,
emblema de Israel.
Poder-se-á observar que a soma das seis fileiras de números dão um mesmo
resultado:
4 + 7 + 9 + 6 = 26 6 + 5 + 12 + 3 = 26
1 + 11 + 12 + 2 = 26 4 + 8 + 11 + 3 = 26
1 + 8 + 7 + 10 = 26 10 + 9 + 5 + 2 = 26
Y = 10, H = 5, V = 6, H = 5. Total = 26
70 GEOMANCIA
Respeitamos o nome Geomancia, com que se acostumou a conhecer esta
ciência, embora, rigorosamente, corresponder-lhe-ia o de Geologia, com o
qual o homem contemporâneo designa uma disciplina nascida no século
passado [N.T.: Século XIX]. Em chinês é chamada Feng-Shui e estuda as
energias da natureza, em sua íntima relação com a terra, e por certo que esta
ciência está estreitamente vinculada com a Geografia Sagrada. Na realidade,
todos os povos e sociedades tradicionais utilizaram a geomancia com o fim
de situar em determinados lugares e pontos chave tanto suas cidades, como
seus templos ou casas de culto, e da mesma forma suas moradias.
71 FILOSOFIA PERENE
Algumas pessoas, de formação exclusivamente profana, talvez pudessem se
surpreender com a existência de uma "Filosofia Perene", ou seja, de uma
série ordenada de conhecimentos inter-relacionados, de uma doutrina (jamais
de um dogma), capaz de explicar aos homens sua própria natureza e a do
mundo em que vivem. Certamente que esta "panacéia" universal, capaz de
responder a todas as perguntas, acalmar as angústias do mundo moderno e
suprimir o sofrimento provocado pela ignorância, não é uma criação
individual (nem muito menos "coletiva"), mas sim a expressão de uma
revelação espiritual direta, obtida por distintas pessoas em diversos lugares,
que reveste diferentes formas próprias e que, sobretudo, acha-se presente na
própria entranha do ser humano e do cosmo em que este habita. Portanto, a
revelação destes conhecimentos arquetípicos não é só horizontal e histórica,
mas sim fundamentalmente vertical e eterna, como são as "idéias", princípios
que formam o mundo e que se manifestam mediante leis universais, que
foram conhecidas de modo unânime pelas diferentes tradições que formaram
a História da humanidade ao longo de sua Geografia. Esta simples
observação, que qualquer leitor armado de boa vontade pode constatar
pessoalmente, supõe a idéia de um modelo universal, de um jogo de
estruturas imutáveis, visíveis e invisíveis, sem as quais o mundo e o homem
não seriam. Eis a importância de conhecer a cosmogonia como expressão
simbólica da Inteligência Universal, energia subjacente a qualquer
manifestação, tal e qual acontece com o pensamento, que antecede à palavra.
Com efeito, este jogo de estruturas essenciais se expressa simbolicamente, e
é por meio desses simbolismos, e de suas analogias e equivalências, que
podemos entender a realidade última do cosmo e sua instância final: sua
natureza incriada e, no entanto, sempre atuante. É este legado herdado das
grandes tradições da Antigüidade uma autêntica cosmogonia arquetípica que,
como tal, corresponde-se com as distintas simbólicas arcaicas, mediante as
quais se expressa, reatualizando deste modo a realidade do mundo atual que,
ainda órfão de todo conhecimento verdadeiro, segue constituindo uma
autêntica teofania para todos aqueles que são capazes de compreendê-lo.
Ademais, deve-se dizer então que se dedicar ao estudo das disciplinas
tradicionais, e efetuar suas práticas com o propósito de despertar as
potências adormecidas da alma, constitui um método apropriado do
Conhecimento.
72 SIMBOLISMOS DE PASSAGEM
Agartha propõe uma total conversão de nosso modo ordinário de ser e uma
busca perseverante de outros estados mais sutis aos quais devemos aportar.
A aventura do Conhecimento, como vimos, é representada como uma
viagem ou uma peregrinação ao Centro do Ser, para a Cidade Santa, ou seja,
para nossa própria interioridade. Essa viagem, cheia de peripécias e perigos
nos permite "passar", paulatinamente, a outras regiões mais internas, e cada
um desses "passos" supõe uma "recordação", cada vez mais nítida, do Si
Mesmo, da verdadeira identidade que permanece imóvel no meio de nosso
próprio coração. De fato, todo símbolo sagrado, por sua condição veicular,
supõe a possibilidade de uma "passagem", pois tem a característica de poder
transportar o homem da realidade material que lhe mostram os sentidos para
a verdade interior que se oculta detrás da aparência formal das coisas e dos
seres. O símbolo toca os sentidos permitindo que, a partir dessa percepção
sensível, elevemos-nos por seu intermédio para as regiões invisíveis que ele
mesmo representa, tornando possível, portanto, a "passagem" a outros
estados e graus de consciência e de vida.
73 AS TRADIÇÕES ARCAICAS
Aqui e ali, em distintos lugares do mundo, convivendo com a civilização
moderna, podem se conhecer distintos grupos que ainda vivem virtualmente
na "idade de pedra" ou na de "bronze", segundo o vocabulário (jargão) da
"ciência" atual. Estes povos que ainda conservam fragmentos mais ou menos
completos de suas tradições originais e vivem de acordo com elas, são
denominados "primitivos" pela ciência oficial, ao se lhe escapar o sentido de
seus costumes e de seus ritos, e ao não poder compreender a mentalidade
tradicional, que vê na natureza uma imagem do supra-natural e no mundo e
no homem uma série de energias invisíveis que constantemente o
determinam; portanto, tem-se suposto que estes seres, aos quais se considera
completamente faltos de inteligência, como estúpidos, ou no melhor dos
casos meninos que não podem sair de sua pretendida ignorância, constituem
uma espécie quase diferente, como de humanóides, muito próxima dos
macacos, existente antes de que o homem tivesse podido ser tal graças aos
adiantamentos e ao progresso instaurados pela ciência.
Na verdade, este tipo de critério poderia melhor ser aplicado aos habitantes
das grandes cidades, os que, de acordo com a programação do mundo
contemporâneo, só aparecem como autômatos, positivamente escravos de
seus condicionamentos culturais infligidos pela falsa religião da "ciência", o
que equivale a institucionalizar definitivamente a ignorância.
fig. 40
75 AS TRADIÇÕES
Ao longo de nosso Programa nos referimos com freqüência a muitas das
tradições ainda vivas ou já desaparecidas. E sempre destacamos o fato de que
nessas tradições existe uma identidade quanto a seus símbolos, ritos e mitos
principais, pois todas elas emanam de uma só e única Tradição, chamada
primordial precisamente por sua condição essencialmente vertical e supra-
histórica, o que lhe permitiu subtrair-se às mudanças do devir cíclico,
conservando integralmente o Conhecimento (a Gnose) e a possibilidade
permanente e salvífica de poder ser encarnado pelo homem de qualquer
tempo e lugar. Isto vale também para nossa época em que, apesar de sua
extrema obscuridão, ainda seguem vivas em diferentes lugares da Terra
determinadas culturas tradicionais que não perderam seu vínculo com a
Tradição Primordial, outorgando a influência espiritual-intelectual
imprescindível para iniciar o caminho que nos leve a realização interior e à
identidade com o Si Mesmo.
76 A PORTA
"Tinha um muro grande e alto e doze portas, e sobre as doze portas, doze
anjos e nomes escritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel:
da parte do oriente, três portas; da parte do norte, três portas; da parte do
meio-dia, três portas, e da parte do poente, três portas" (Apocalipse XXI,12-
13).
Por outra parte, esta primeira porta está também relacionada com o símbolo
da caverna e, em ambos os casos, o iniciado, uma vez que ingressou no
espaço interior, deve atravessar pelo labirinto que finalmente o conduzirá –se
não se perde– ao centro ou coração do templo, no qual se localiza a ara ou
altar. No simbolismo cristão, vemos como neste espaço central (guardando o
cálice ou taça, espaço vazio ou receptáculo da Shekhinah), há também outra
pequena porta que só o sacerdote abre e que cobre o mistério dos olhos
profanos. Esta porta se localiza em Tifereth –sefirah central que temos que
transpassar, nascendo de cima, para começar a vislumbrar a realidade oculta
sobre "a superfície das águas".
Havendo recebido o batismo de água que abre a primeira porta, e uma vez
realizado o percurso horizontal e labiríntico entre essa porta exterior e seu
centro, ou coração, no qual se recebe o batismo de fogo, o adepto tem que
iniciar uma "passagem" axial, vertical e ascendente pelo eixo invisível que
conecta o altar com o ponto central da cúpula –de Tifereth a Kether–. Os
ritos "primitivos" de subir a árvore, ou de subir pelo poste ritual,
exemplificam esta ascensão ao final do qual o adepto terá que atravessar a
porta mais estreita que se acha simbolicamente na sumidade do templo. Este
é o buraco da agulha pelo qual não pode passar nenhuma riqueza individual.
A agulha, com efeito, é um símbolo mais do eixo e do rito de enfiar uma
linha na agulha, então, deve ser uma representação desta "passagem" pela
porta estreita.
Não se pode amar o que não se conhece, e nem todas as formas de união são
um reflexo cabal do Amor.
Também é a terra pura, uma vez dissolvida a ignorância que por degradação
cíclica cobre o lugar das hierofanias, que sempre se dão no "centro do
mundo", inaugurando, se for necessário, um espaço ou um tempo ao qual
outorgam essa característica.
78 OS CICLOS I
Como dissemos no título N.º 2 deste Módulo III, um Kalpa representa o
ciclo de existência de um universo ou mundo, nascido do hálito de Brahma,
a Deidade criadora. Não há um ciclo mais extenso que o Kalpa, pois ele
contém todos os ciclos de ciclos possíveis, unidos entre si por esse hálito que
os sustenta e lhes dá a vida. Acrescentaremos que, quando um Kalpa chega a
seu fim, produz-se um Pralaya, a dissolução ou reabsorção desse mundo no
seio de Brahma, no imanifestado. A este respeito, lemos no Bhagavad-Gita,
livro sagrado da Índia: "Ao fim de um Kalpa, de um período de criadora
atividade, os seres e as coisas voltam para Mim". O Kalpa é um dia de
Brahma, e o Pralaya uma noite que, ao finalizar-se, aparece um novo Kalpa,
e assim de maneira indefinida, conformando o que se chama a "cadeia dos
mundos". Cada Kalpa contém 14 Manvântaras, e cada Manvântara
representa o ciclo completo de uma humanidade, que por sua vez se
subdivide em quatro yugas ou idades de desigual duração cada uma delas.
Nosso Manvântara é o sétimo dessa série, e ainda faltariam outros sete para
que finalize o Kalpa atual. Dizer, enfim, que a palavra Manvântara significa
"era de Manu", que é o Legislador universal ou Inteligência cósmica que
promulga, de acordo com a Sabedoria Eterna, a Lei ou Dharma que rege
todo o Manvântara desde seu princípio até seu fim.
Parece que todos estes acidentes se resolverão pelo fogo –por um raio
misericordioso– e que este elemento permitirá a regeneração desta
humanidade que perecerá totalmente e se reintegrará à névoa de onde
proveio, para dar lugar a outra, nascida de suas cinzas e gérmens, que fará
renascer um mundo novo e uma Idade de Ouro, graças aos esforços –e o
sangue– de iniciados e adeptos, que possibilitarão a continuidade da criação.
Certamente que a ignorância contemporânea despreza no público e oficial
este fato, que nega e desconhece –as escrituras dizem que os homens serão
colhidos de maneira imprevista, efetuando seus negócios e mentiras– embora
no privado alguns se sensibilizem, ainda que tendam às imagens literais e
físicas e muitos, inclusive, planejam "salvar-se" em uma espécie de Arca do
Noé material.
Por outra parte, deve se recordar que, na infinita harmonia de todas as coisas,
aonde tudo está contado, pesado e medido, o fim de um ciclo e seus
habitantes está em íntima relação com o começo de outro e o nascimento de
uma nova humanidade, que nada tem que ver com esta, a qual, é óbvio, não
pode subsistir pela própria dinâmica de sua multiplicação.
80 MARSÍLIO FICINO
Quando em 1450 Cosme de Médici confia ao ainda muito jovem Marsílio
Ficino (1433-1499) a criação da Academia Platônica de Florença, estava-se
dando um passo fundamental para o que ia ser um novo ressurgimento da
Tradição Hermética, depois do relativo obscurecimento acontecido do final
do Idade Média. Para encontrar as causas que fizeram possível a realidade
desta Academia (convertida no centro intelectual mais importante da época),
devemos retroceder até o ano 1439 em que, com objetivo de celebrar um
congresso de filosofia, vão a Florença sábios procedentes de diversos países
e religiões, entre os quais se acham também os filósofos neoplatônicos
bizantinos. Estes últimos trazem consigo todo o saber hermético e platônico
conservado intacto na cidade de Bizâncio (anteriormente Constantinopla)
dos tempos alexandrinos, e que só em parte tinha sido difundido pelo
Ocidente Medieval. Entre esses filósofos é Gemisto Pleto o que mais direta
influência exercerá sobre a Academia Platônica, pois por sua mediação
Marsílio Ficino e seu círculo esotérico traduzirão do grego todos os livros do
Corpus Hermeticum (na Idade Média unicamente foi conhecido o Asclépios
em versão latina), os "Oráculos Caldeus", e as obras de Platão, Proclo,
Jâmblico, Plotino, Dionísio Areopagita, Porfírio, Sinésio, para só citar uns
quantos. Deve ser destacado que, para Ficino, traduzir é sobretudo uma
forma de transmitir a tradição, tendo em conta além que estas três palavras –
traduzir, transmitir e tradição– equivalem a uma mesma realidade, já que
todas elas procedem de idêntica raiz etimológica. Neste sentido, convém
recordar que o mesmo conhecimento simbólico transmitido pelas culturas
tradicionais é uma tradução à linguagem e entendimento humanos das
verdades e arquétipos eternos. Assim, traduzindo, comentando e prefaciando
as obras da antiga sabedoria, Ficino se converte em um fiel intérprete dela.
No prólogo que fez ao Poimandres, Ficino estabelece a genealogia mítica e
espiritual que, como uma cadeia de ouro, a "cadeia áurea", unifica acima do
tempo e do espaço a ilustre família dos filósofos herméticos, "...cuja origem
está em Mercúrio e o apogeu em Platão". Retenhamos um parágrafo de dito
prólogo: "No tempo em que nasceu Moisés, florescia o astrônomo Atlas,
irmão do físico Prometeu (filiação esta que sem dúvida se refere à origem
única do céu e a terra), avô materno do antigo Mercúrio, cujo neto foi
Mercúrio Trismegisto, o maior dos sacerdotes e reis". A este rei-pontífice se
lhe deve a instrução "de Orfeu, quem revelou os mistérios a Aglaofemo,
sucedido por Pitágoras, que teve como discípulo a Filolau, mestre de Platão".
Considerando-se a si mesmo como um elo a mais dessa cadeia, Ficino
produzirá uma obra própria, que perpetuará a memória da "raça divina e
heróica", "proprietária dos séculos", adaptando-a às circunstâncias de seu
tempo.
Ao dizer de seu discípulo Policiano, Ficino foi "um novo Orfeu que resgatou
dos infernos a Eurídice platônica". Com efeito, o eixo ao redor do qual se
edificou dita obra foram os hinos órficos, nos quais o mestre descobre,
velados sob a linguagem evocadora da poesia, os mais altos segredos, pois
conforme afirmou Dionísio Areopagita, "o raio divino não pode nos alcançar
a menos que esteja coberto de véus poéticos". Esses véus são os próprios
deuses, ou melhor, as emanações que estes manifestam ao homem por
mediação das musas mensageiras –filhas de Zeus e da Memória– e pelas
Graças. Ficino, tal qual Pico de la Mirândola, mantinha que os deuses do
panteão órfico eram deuses "compostos" ou "híbridos", investidos do poder
da mutabilidade, adquirindo com isso todas as formas. Mas essa
mutabilidade é possível pelo auto-sacrifício do Ser que, ao se fragmentar e se
dividir, dá lugar à ordem cosmogônica, regida pelos mesmos deuses. Por
outro lado, que um deus contenha o seu contrário, ou que necessite de seu
oposto para expressar a totalidade de seus atributos, não resulta para nada
estranho a um mago renascentista como Ficino, para quem o universo é uma
estrutura tecida pelas constantes relações, tensões e lutas entre energias
opostas que, entretanto, perpetuamente se equilibram e harmonizam, atraídas
pela força do Amor, inseparável da Beleza, a porta por onde se acede à
identidade com o Conhecimento e a Sabedoria.
"Tal vai ser a velhice do mundo: falta de piedade, desordem, desprezo por
todo o bom. Quando tudo isto aconteça, Asclépio, então, o Senhor e Pai, o
deus cujo poder é soberano, governador do primeiro deus, contemplará esta
conduta e estes crimes insensatos e por um ato de sua vontade –que é a
benevolência de deus–, enfrentar-se-á com os vícios e a perversão de todas
as coisas, endireitará os enganos, purificará a maldade com um dilúvio ou
consumindo-a em chamas, ou acabará com ela difundindo por toda parte
enfermidades pestilentas. Então restituirá o mundo a sua beleza antiga, de tal
modo que o próprio mundo voltará a parecer que merece maravilha e culto,
e, com constantes bênções e cerimônias de louvor, a gente destes tempos
honrará ao deus capaz de fazer e restaurar uma obra tão grande. E esta será a
gênese do mundo: uma reforma de todas as coisas boas e uma restituição
muito sagrada e piedosa da mesma natureza, reordenada no curso do
tempo...". Asclépio, XXVI.
82 OS SIGNOS DA RENÚNCIA
Às vezes este universo se torna muito pequeno, quase como um brinquedo
ou um teatro de marionetes, uma ilusão por cuja realidade, apenas, alguém
apostaria se não fosse porque de momento se encontra dentro, vivendo e
sofrendo em e com ele constantemente. Pois separado de seu sentido
simbólico e teofânico, só é um multicolorido cenário de fenômenos, além do
qual começa o que é verdadeiramente ilimitado e real. Se algo nos "salva"
precisamente deste mundo, permitindo-nos vivê-lo-o mais harmoniosamente
possível, não é ele mesmo ou as coisas que nele existem, mas sim a
compreensão do que o excede e transcende. E só é a fé, nascida da intuição
direta, que nos permite seguir e compreender a ignorância de nossas dúvidas.
E quando dizemos "mundo", referimo-nos também aos dez mil seres que o
povoam, sendo estes uma prolongação sua microcósmica e transitória, assim
como seus afetos, paixões, instintos, ambições e desejos. Prisioneiro de uma
limitada visão de sua existência, dificilmente o homem concebe a idéia de
transpassar a soleira que o separa do "além", tanto como de superar o
sofrimento que implica perder tudo aquilo que ama e que deseja reter. Para
uma cultura que não concebe outra realidade que a material, a morte e o
sofrimento, tanto como a própria vida, são um absurdo completo, uma
interrogação para a qual não há mais resposta que o encolhimento de
ombros, ou as mais desatinadas suposições. É uma visão sem esperança nem
consolo, que termina por fomentar um ódio instintivo e destruidor contra
tudo, contra o próprio mundo, produzindo niilismo e ceticismo.
Podemos ver que nas circunstâncias cíclicas em que vivemos, esta doutrina é
uma autêntica medicina, um consolo para a alma que hoje, mais que nunca,
intui-se afastada de sua verdadeira pátria, exilada neste "vale de lágrimas".
Com efeito, o desejo e a paixão são os verdadeiros motores da ação (karma),
os quais jamais podem se ver satisfeitos pois a ação, por si mesma, jamais
conduz ao repouso, mas sim gera indefinidamente ações e reações
secundárias. Acabar com os desejos e paixões, mediante o conhecimento da
Cosmogonia como suporte do ser e passagem à metafísica, é deixar de atirar
lenha ao fogo e, portanto, liberar-se da contínua necessidade de fazer ou de
ter.
83 O ATRAVESSAR AS ÁGUAS
"No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra estava sem forma e vazia
e as trevas cobriam a face do abismo, mas o espírito de Deus pairava sobre a
superfície das águas. Disse Deus: ‘Haja luz’; e houve luz. E viu Deus ser boa
a luz, e a separou das trevas; e à luz chamou dia e às trevas noite, e houve
tarde e manhã, primeiro dia.
"Disse em seguida Deus: 'Haja firmamento em meio das águas, que separe
umas das outras' e assim foi. E fez Deus o firmamento, separando águas de
águas, as que estavam debaixo do firmamento das que estavam sobre o
firmamento. E viu Deus ser bom. Chamou Deus ao firmamento céu, e houve
tarde e manhã, segundo dia." (Gênese I, 1-8).
Entre os antigos egípcios o percurso que faz a alma uma vez que se libera de
sua morada terrestre é representado ritualmente como uma viagem que se
efetua em uma barca, cruzando as águas. Entretanto, é importante recalcar
que, para que esta se realize, não é necessária a morte física, pois a morte
iniciática faz que o adepto obtenha uma verdadeira separação de sua
circunstância individual e de seu corpo carnal e possa empreender em vida
esta viagem através das águas para sua morada eterna.
O modo como se simboliza essa passagem é variada:
a) Algumas vezes se olha como uma viagem da fonte do rio até o mar,
em cujo caso o oceano representa as águas superiores, sendo a
desembocadura como uma "boca" ou uma "porta" pela qual se
passará do cósmico ao supracósmico.
b) Outra forma de visualizar é como o cruzamento de uma margem a
outra do rio, o que se expressa com o símbolo da ponte que une suas
duas margens opostas. Neste caso, cada margem simboliza um grau
diverso do ser, correspondendo uma à terra e à morte e outra ao céu e
à imortalidade. Este símbolo –que também se relaciona com o arco-
íris–, representa aquela entidade intermediária que permite que as
energias celestes desçam ao mundo terrestre e que a terra se
comunique com o céu. A ponte é um lugar de passagem, de provas e
perigos, e o atravessá-la constitui no passar da terra ao céu.
Inversamente essa "passagem" já foi realizada por cada um dos seres
individuais que, provindo de um Princípio único, devieram em
criaturas manifestadas; e o verdadeiro trabalho do homem tem que
ser –segundo a Tradição– a de reencontrar ou "recordar" o caminho
de retorno que o leve a sua origem, atravessando essa ponte invisível
que une estados simultâneos do ser. A palavra pontifex (pontífice),
significa "construtor de pontes", e de fato o próprio Papa ou
Hierofante (ver o número 5 dos Arcanos Maiores do Tarô), sendo um
mediador que conecta o divino e o humano, é ele mesmo, portanto,
uma verdadeira ponte que comunica o homem com sua realidade
espiritual. Diz-se que essa ponte é estreita e –como no simbolismo da
porta– que permite a passagem só aos "eleitos", únicos capazes de
obter a identidade real com os estados mais sutis do Si Mesmo.
c) Outra forma de representar esse passar através das águas, é mediante
o símbolo de remontar o rio até sua fonte original, navegando contra
a corrente. Neste caso o oceano de onde se parte significa as águas
inferiores; a corrente, contra a qual tem que realizar o percurso, são
as forças que tratam de impedir a ascensão; e a fonte é a origem e o
destino –a identidade imutável– do ser verdadeiro e eterno.
"É propício atravessar as grandes águas". "É propício ver o Grande Homem".
(I Ching).
84 A INICIAÇÃO
Queremos abordar novamente o tema da Iniciação e sua possibilidade real e
devem ser feitas algumas considerações.
Em primeiro lugar, deve-se esclarecer que a Iniciação verdadeira é um
processo íntimo, secreto, onde o homem troca o conteúdo de suas imagens
mentais através da reforma total de sua psique e portanto inclui uma morte
ao mundo conceitual profano, que é uma reconversão do ser e, desta forma,
vem seguida de um novo nascimento a um estado diferente. Também se
assinalou que há duas destas mortes e portanto três nascimentos, dois
iniciáticos e o profano, e estes nascimentos são perfeitamente efetivos e
reais, claramente indicados por ciclos e sinais, para quem participa deles.
85 A TÁBUA DE ESMERALDA
A esta altura de nosso Programa, faz-se quase imprescindível publicar o texto
do mais importante documento Hermético. Trata-se da Tábua de Esmeralda,
legado do mítico e arquetípico Hermes Trismegisto, diretamente vinculado
com a Tradição Egípcia:
86 NOTA
A Kundalini é uma energia que sobe da terra para o céu, extremos para os
quais o homem, localizado no centro ou eixo do mundo, é um lugar de
encontro e fusão, energia que o iniciado deve conduzir conjugando os
opostos para obter através dessa ascensão escalonada a União (Yoga) com a
Origem imanifestada do universo, graças ao conhecimento paulatino, por
graus –ou estados do ser– do Todo universal.
87 EXERCÍCIO PRÁTICO
No yoga tântrico, a cada chakra corresponde um mantram e também uma
sílaba ou letra sagrada do alfabeto sânscrito, que pronunciada ritualmente,
tal como uma oração, dinamiza e possibilita a abertura do “lótus” ou ponto
virtual de energia contida nesse centro, despertando assim a Kundalini. Na
prática deste exercício, nós faremos o mesmo com os nomes das sefiroth
correspondentes a cada centro, quer dizer, nos remetendo à Cabala. Estes
nomes deverão ser pronunciados rítmica e reiteradamente, imaginando-os
escritos com luz branca sobre um fundo escuro, e girando ao redor de um
ponto. A ordem de começo deve ser de cima para baixo e, logo depois, de
baixo para cima.
88 O OCTÓGONO
Sendo o quadrado representação da terra e o círculo uma imagem do céu, o
octógono é considerado como uma figura capaz de unir ambos e, portanto,
como um símbolo do mundo intermediário, que comunica o inferior com o
superior. Por esse motivo que é relacionado com a idéia do mistério da
“quadratura do círculo” e da “circulatura do quadrado”, que serviu para
expressar o fato da espiritualização do corpo e da “corporificação” do
espírito –ou seja, da união indissolúvel do espiritual e do material–, e que
por sua vez seria utilizado para representar a “passagem” por esse mundo
intermediário. O número oito é freqüentemente relacionado com a morte, e
em particular com a morte iniciática. A carta treze do Tarô, com efeito, é
colocada na sefirah número oito (Hod) e, na Astrologia, a casa oitava é a
casa da morte. Isto nos indica que essa “passagem” terá que implicar na
morte aos estados profanos e na ressurreição aos mundos superiores e, nesse
sentido, o octógono simboliza uma verdadeira regeneração espiritual que
supõe uma transmutação e um novo nascimento.
fig. 42
89 PICO DE LA MIRANDOLA
Giovanni Pico de la Mirandola, Conde de Concórdia (1463-1494) foi, igual
que Marsílio Ficino, um dos filósofos herméticos mais importantes dos
primeiros anos do Renascimento. Dele se conta que, ao nascer, uma bola de
fogo apareceu de súbito no quarto de sua mãe, sendo que tal, mais que fato
anedótico, pode ser visto como um presságio da função e do destino
espiritual que deveria cumprir. Apesar do breve de sua vida, Pico de la
Mirandola deixou uma obra que seria decisiva para a definitiva consolidação
do Hermetismo renascentista, embora seus escritos não reflitam hoje com
exatidão a transcendência de seu trabalho.
Mas, sem dúvida, a mais importante empresa levada a cabo por Pico de la
Mirandola foi introduzir a Cabala na filosofia oculta do Renascimento. E
foram precisamente os judeus chegados na Itália, procedentes da Espanha,
que transmitiram a Cabala ao jovem conde. Dentre esses judeus, alguns eram
conversos e, por conseguinte, conhecedores tanto da Cabala quanto do
cristianismo. Era o caso de Leão Hebreu, Flávio Mitrídates e Paulo de
Heredia, que orientam a Pico no sentido de dar uma interpretação cabalística
do cristianismo, readaptando, de certo modo, uma tradição à outra.
Convencido de que a Cabala confirmava as verdades do cristianismo, Pico
dá forma à Cabala cristã, que se complementa perfeitamente com o
gnosticismo hermético e neoplatônico herdado de Ficino (ver neste Módulo
o título N.º 80). O estudo e conhecimento dos nomes divinos, e a invocação
de suas potências mediante a alquimia da oração, constituíam a pedra
angular do edifício cabalista cristão, pelo que se deduzia uma teurgia que
predispunha o adepto a uma comunicação com os estados angélicos.
Seguindo os rabinos cabalistas e os doutores da Igreja como São Jerônimo,
para os cabalistas cristãos cada uma das palavras, signos, sílabas e pontos
dos livros sagrados (Bíblia, Zohar, Sefer Yetsirah, Bahir, etc.) manifestam a
plenitude da mensagem divina na multiplicidade ordenada e hierárquica de
seus significados. Modificar ou suprimir algo do contido nesses livros supõe
cortar as “raízes das plantas”, e portanto interromper o acesso que conduz à
Árvore de Vida, que se eleva no centro do Pardes. Outra coisa bem distinta é
fazer uso da combinação e permutação entre as letras e palavras do alfabeto
sagrado, pois isso permite descobrir verdades de ordem doutrinal
extremamente reveladoras. Todo o sistema de combinação e permutação
cabalístico procedia das ciências das letras conhecidas como Guematria,
Notarikon e Themurah. Pico assimila o método de combinar as letras
(acrescentando seu correspondente valor numérico) ao ars combinandi de
Raimundo Lulio. O próprio Pico utilizou a “arte combinatória” para
demonstrar, como explica em suas “Conclusões mágico-cabalísticas”
(incluídas nas “Novecentas Teses”) que: “Não há ciência que mais certeza
nos dê sobre a divindade do Cristo que a magia e a cabala”. Isto, que
escandalizou os espíritos fechados do cristianismo, abria, entretanto,
possibilidades insuspeitadas para todos aqueles que procuravam uma via de
realização baseada na Teurgia e na Magia Natural. Por sua vez, na sétima
dessas “Conclusões”, Pico afirma enfaticamente: “Nenhum cabalista hebreu
pode negar que o nome de IESU (Jesus), interpretado segundo os princípios
cabalísticos, significa “Filho de Deus””. E na décima-quarta, conclui-se
dizendo que o nome de Jesus e do Tetragrama são idênticos, mas com
o agregado de uma Shin no meio das quatro letras: . Um
discípulo cabalista cristão de Pico, João Reuchlin, acrescentará anos mais
tarde em seu livro De Verbo Mirifico, que a consoante “s” (Shin) do nome de
Jesus, faz possível a pronúncia, e por conseguinte a audição, do inefável
Tetragrama. Esta era uma forma de demonstrar, cabalisticamente, a natureza
divina de Cristo, Verbo encarnado do Pai. Assim, o que o exoterismo judaico
negou (por ignorância), é afirmado pelo esoterismo. Para Pico e os cabalistas
cristãos, Jesus era o Messias, a culminação histórica e supra-histórica da
revelação sinaítica dada por Moisés ao povo de Israel. De suas Conclusões
reproduzimos as seguintes:
90 O HERMETISMO RENASCENTISTA I
Os parágrafos sobre Marsílio Ficino e Pico de la Mirandola serviram-nos de
introdução à filosofia hermética do Renascimento, cuja história, balizada de
visões luminosas e acontecimentos mágico-teúrgicos sempre relacionados
com a busca do Conhecimento, deixou um rastro indelével na cultura e na
alma do Ocidente. Como já apontamos, as sínteses levadas a cabo por Ficino
e Pico, junto com a irrupção do Corpus Hermeticum na Europa latina,
determinaram o começo de uma nova etapa e desenvolvimento da Arte
Régia, enriquecida notavelmente com a contribuição devida à Cabala cristã.
Do foco inicial, centrado na Itália, o Hermetismo renascentista conheceu
uma ampla difusão pela Alemanha, França e Inglaterra, para acabar
implantando-se virtualmente em todo o continente, incluída a, naquela
época, Espanha inquisitorial. Da Alemanha, precisamente, era oriundo o já
mencionado João Reuchlin (1455-1522), que em suas viagens à Itália contata
com os círculos neoplatônicos e cabalistas cristãos, representando o tipo de
humanista hermético na linha do Ficino e Pico. Reuchlin estuda e se
aprofunda nos mistérios da Cabala e da língua hebraica, desenvolvendo a
partir desses conhecimentos aspectos fundamentais da Cabala cristã,
assinalados por Pico nas Conclusões e no Heptaplus. A Reuchlin, grande
conhecedor da cultura grega (foi chamado “Pitágoras redivivo”), é devido o
ter trazido a numerologia pitagórica à teosofia cabalístico-cristã, por outro
lado já implícita nesse sistema graças à cosmologia e à metafísica platônicas.
Recordemos que Pico havia assinalado que “no número pode encontrar o
modo de investigar e compreender tudo o que é possível saber”. Vemos,
assim, que em sua primeira obra, De Verbo Mirífico (“O Verbo
Maravilhoso”), Reuchlin afirma a analogia entre o Tetragrama e a Tetraktys
pitagórica, e entre esta e as dez numerações e nomes divinos da Árvore da
Vida, diagrama que, a partir de então, passa a integrar-se definitivamente na
cosmovisão hermética, fora do âmbito estritamente judaico. Mas é com sua
segunda obra, De Arte Cabalistica, onde Reuchlin expõe a doutrina integral
da Cabala cristã, passando a ser o manual de estudo e meditação para todos
os adeptos da Ciência Hermética. Em De Arte Cabalistica se diz que a
Cabala é uma alquimia que transmuta o mundo das aparências externas em
percepções internas, produzindo uma cada vez maior sutilização das
faculdades humanas, até sua definitiva transformação em espírito e luz.
91 O HERMETISMO RENASCENTISTA II
Tanto quanto à Cabala cristã, a Alquimia também participou do
desenvolvimento e difusão do Hermetismo renascentista. Como é natural,
ambas as disciplinas eram e são inseparáveis e, de fato, a Grande Obra
alquímica facilitava aos cabalistas cristãos o conhecimento da natureza,
concebida como uma entidade mágica, mediante a qual se restabelecia a
realidade dos contatos com o plano ontológico e metafísico. Quer dizer, que
a Alquimia representava, em certo modo, o método “prático” para conseguir
a imprescindível transmutação interior que possibilitava a ascensão pelos
graus da scala philosophorum.
92 ALQUIMIA
Continuando com os mestres alquimistas do XVI, devemos mencionar
também ao grande médico Paracelso (1493-1541). Como alquimista, sua
experiência médica se centrou no estudo e observação da natureza e mais
exatamente na forma em que esta urde suas operações ocultas e invisíveis,
pois, em definitivo é o espírito, e por meio deste a alma do mundo e do
homem, o único que pode sanar os corpos doentes. Tomando como princípio
o postulado hermético de que “a magia é natural porque a natureza é
mágica”, a medicina do Paracelso se funda nas correspondências e analogias
entre o macrocosmo e o microcosmo, que formam um só organismo “no qual
as coisas se harmonizam e simpatizam reciprocamente”. Ambos “não são
mais que uma constelação, uma influência, um sopro, uma harmonia, um
tempo, um metal, um fruto”. Este íntimo laço entre o invisível e o visível,
que contribui a edificar a arquitetura do cosmo e da vida, Paracelso o resume
da seguinte maneira: “Os astros não influem diretamente sobre os corpos,
mas sim sobre a força vital. Por isso os órgãos não são em si mesmos senão
representações (símbolos) corporais de energias invisíveis que atuam em
todo o organismo. Na realidade, o verdadeiro fígado é uma força que circula
em todas as partes do corpo, mas que tem sua sede em um órgão ao qual
chamamos assim”. A enfermidade aparece no momento em que se produz
uma dissociação no seio dessa unidade macro e microcósmica, pois cada
órgão ou parte do corpo está em correspondência com um planeta ou signo
zodiacal, os quais, por sua vez, influem em determinados minerais, metais,
plantas e animais. Por este motivo, ao se resultar de uma carência um órgão
doente, haja compensação administrando –ou anulando a influência se, pelo
contrário, tratar-se de um excesso– o conseguinte produto natural com o que
dito órgão simpatize. Entretanto, segundo Paracelso, a enfermidade não é
unicamente excesso ou carência de algo (que seriam só o efeito), senão que
se trata de um “ser” ou de uma entidade do plano anímico intermediário,
vinculada, tal como a velhice, ao poder dissolvente e corrosivo do tempo,
pelo que a medicina alquímica e tradicional persegue “extrair a
‘quintessência’ das coisas, descobrir seus arcanos, preparando os elixires
capazes de devolver ao homem a saúde perdida”; e, o que é mais importante,
reintegrá-lo ao estado primordial. A enfermidade seria, pois, não um mal em
si mesmo, senão um suporte como outro qualquer para “remontar-se ao
plano divino”, conciliando os opostos que surgem de sua ação.
93 A ESCALA
Quando Jacob fugia de seu irmão Esaú, detendo-se para passar a noite,
tomou uma pedra que pôs de cabeceira:
“E teve um sonho; sonhou com uma escada apoiada na terra, e cujo topo
tocava os céus, e eis aqui que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E
viu que Yahveh estava sobre ela...” (Gênese, XXVIII, 12).
94 A TRADIÇÃO PRÉ-COLOMBIANA
Em finais do século XV e no XVI, os europeus “descobriram” a América.
Entretanto, a Tradição Pré-colombiana existia há muito e era conhecida essa
existência pela antigüidade segundo testemunho de Platão, que, falando da
Atlântida, continente-ilha desaparecido por uma catástrofe, diz-nos que suas
colônias se achavam pulverizadas pelo ocidente em pequenas ilhas,
arquipélagos e terra firme. Do mesmo modo, outras das colônias deste
continente se achavam na África e na Europa e delas são herdeiros nada
menos que o Egito (e por seu intermédio a Grécia e todo Ocidente), Caldéia
(de ingerência fundamental nos povos do Oriente-Médio e mediterrâneos) e
os celtas (de particular influência na Espanha, Irlanda, Inglaterra e França).
95 O RENASCIMIENTO ELISABETANO
Em meados do século XVI se produziu um certo declinar do movimento
hermético que com tanta força emergiu cem anos antes na Itália. Neste fato,
tiveram muito que ver as ações levadas a cabo pela contra-reforma, que, em
seu pretendido afã por conservar e defender o que ela entendia pela “pureza”
da religião católica, perseguia todas aquelas idéias que não correspondiam a
seus limitados critérios. Só nas nações onde os respectivos estados
abraçaram a Reforma persistia a tolerância religiosa, tal o caso da Alemanha,
Boêmia e Inglaterra. Mas as particulares circunstâncias geográficas deste
último país fizeram possível que ali se desse, mais que em nenhum outro, um
novo ressurgimento tradicional, propiciando o que com razão se deu em
chamar o Renascimento Elisabetano, no qual também participou o
hermetista e neoplatônico italiano Giordano Bruno, que residiu durante
vários anos na Inglaterra, e ao que se devem obras tão importantes como De
umbris idearum, Da causa, princípio e um, Dos heróicos furores, De
innumerabilibus, immenso et infigurabili, Do infinito, do universo e dos
mundos, Expulsão da besta triunfante, etc. Com efeito, sob o reinado de
Elisabete I, que vai de 1558 a 1606, a antiga Albion conheceu sua maior
época de esplendor no terreno cultural, e no qual certamente exerceram uma
notável influência as concepções herméticas. Do mesmo modo, deve-se
considerar que na Inglaterra daquela época sobreviviam algumas correntes
do cristianismo templário e cavalheiresco, que seguiam mantendo vivo o
antigo ideal medieval do Império cristão, encarnado ali na figura mítica do
rei Artur e seus doze cavaleiros da “Távola Redonda”, cuja lenda está
baseada também nas antigas tradições celtas. Assim, as favoráveis condições
que naquela época vivia a Inglaterra e sua decidida oposição ao poder quase
exclusivamente temporal em que havia caído a Igreja Católica, foram fatores
decisivos para que essa idéia da monarquia imperial renascesse com força. O
suporte doutrinal no qual se apoiaria dita monarquia não seria outro que o
Hermetismo e a Cabala cristã.
Por outro lado, e do ponto de vista em que aqui nos situamos, pouco importa
que a tão esperada reforma universal não chegasse a cumprir-se totalmente,
tal e como desejavam seus promotores. Longe de ter sido em vão, esse
intento gerou toda uma plêiade de escritores, poetas, artistas e cientistas
profundamente interessados na Ciência Sagrada. Baste recordar a
Shakespeare, cujas peças teatrais transluziam uma visão do mundo fundada
na cosmogonia hermética e cabalista cristã, especialmente em “A
Tempestade”, “O Mercador de Veneza” e “O Rei Lear”. Sem esquecer
tampouco a Edmund Spenser e seu poema épico “A Rainha Fada”,
intensamente saturado de neoplatonismo hermético e claramente alusivo à
função reformadora da monarquia Tudor. Mas o personagem chave do
Renascimento Elisabetano é sem dúvida John Dee, até tal ponto que resulta
impossível compreender este período da história esotérica do Ocidente sem
ter em conta este mestre, de quem se diz que possuía uma enorme biblioteca
abrangendo todos os ramos do saber hermético. Renomado matemático, Dee
desenvolveu sua concepção do cosmo apoiando-se inteiramente nas
proporções harmônicas dos números e da geometria, em total acordo com o
exposto por Reuchlin, Giorgi, Agrippa e inclusive Dürer, de quem Dee
extraiu sua teoria sobre ditas proporções no corpo humano. O essencial de
seu pensamento o verteu na que aparece como sua obra fundamental, a
Monas Hieroglyphica, quer dizer, a figura, gravura ou símbolo sagrado
(hieróglifo) representativo da Mônada ou Suprema Unidade. Basicamente, a
Monas Hieroglyphica explica como o Ser se desdobra, e é imanente, nos três
mundos, que por sua vez, e tomados em seu conjunto, formam uma imagem
“matemática, mágica, cabalística e anagógica”, pela qual é possível
remontar-se para a contemplação da própria Unidade, de sua transcendência.
Com efeito, é por meio da matemática pitagórica, da magia, da cabala e da
anagogia (busca e interpretação do sentido metafísico encerrado nas Santas
Escrituras) que o mistério fecundo da existência se revela em toda sua
plenitude e majestade. Para Dee, no mundo elementar as leis divinas se
expressam através da ciência matemática, entendida como tecnologia
aplicada; no intermediário, ditas leis regulam os ciclos astrológicos e astrais;
e no espiritual se manifestam como energias angélicas. Dee tampouco foi
alheio à Alquimia, especialmente à legada por Agrippa, que como sabemos
estava unida à Cabala cristã. Em Dee, Alquimia e Cabala efetuam um
sistema mágico-teúrgico, cujo principal objetivo consistia na comunicação
direta com os anjos, mediante o poder da invocação e da oração.
97 O MOVIMENTO ROSA-CRUZ
O conjunto da filosofia hermética do Renascimento encontrou sua última
expressão no que se chamou movimento rosa-cruz, ou rosacruciano, ao qual
pertenceram Robert Fludd, Michael Maier, Valentín Andreae, Enrique
Khunrath e Comenius, entre outros. Como já dissemos, este movimento
nasce em princípios do século XVII, concretamente nos países onde John
Dee dera a conhecer a mensagem da reforma universal, apoiada nos
postulados doutrinais do hermetismo alquímico e cabalístico-cristão, do qual
também é herdeiro o teósofo alemão Jacob Boehme (1575-1624), que teve
que lutar toda sua vida, como tantos outros mestres herméticos, contra a
intolerância religiosa, chegando inclusive a conhecer por algum tempo a
amargura do cárcere. Em suas obras –principalmente A Aurora que
desponta, De Signatura Rerum e Mysterium Magnum– Boehme expõe com
verbo inflamado as etapas pelas quais o homem pode recuperar seu “corpo
de luz” anterior à queda adâmica, nascendo como filho da Sabedoria Eterna.
99 AGARTHA
Ao longo deste Programa, referimo-nos muitas vezes a Agartha sob
diferentes formas, e acreditamos oportuno efetuar algumas elucidações sobre
este país invisível, sobre este território não localizável de maneira espacial –
mas que existe efetivamente no invisível e que todo ser humano pode
encontrar em seu interior mediante um processo ordenado e gradual– de que
este manual de introdução aos símbolos e à doutrina tradicional tomou seu
nome. René Guénon, o esoterista mais importante do século XX, referindo-
se à Agartha, disse:
“Falamos antes de alusões feitas por todas as tradições a alguma coisa que
está perdida ou oculta, e que se representa sob diversos símbolos; isto,
quando se toma em seu sentido geral –o que concerne a todo o conjunto da
humanidade terrestre– se relaciona precisamente com as condições do Kali-
Yuga. O período atual é, portanto, um período de obscurecimento e de
confusão; suas condições são tais que, enquanto persistam, o conhecimento
iniciático deve necessariamente permanecer oculto; de onde o caráter dos
“Mistérios” da Antigüidade chamada “histórica” (que nem sequer se remonta
até o princípio deste período) e das organizações que dão uma iniciação
efetiva onde ainda subsiste uma verdadeira organização tradicional, mas da
que não oferecem mais que a sombra quando o espírito desta doutrina deixou
que vivificar os símbolos, que não são mais que a representação exterior; e
isto porque, por diversas razões, todo vínculo consciente com o centro
espiritual do mundo terminou por romper-se, o que é o sentido mais
particular da perda da tradição, que concerne especialmente a tal ou qual
centro secundário, que deixa de estar em relação direta e efetiva com o
centro supremo”.
E adiciona:
“Trata-se sempre de uma região que, como o paraíso terrestre, torna-se
inacessível para a humanidade ordinária, e que está situada fora do alcance
de todos os cataclismos que transtornam o mundo humano no final de certos
períodos cíclicos”.
Recordemos que a Metafísica se refere a tudo aquilo que está mais à frente
do edifício cósmico, e inclusive além de seu princípio criador, que não é
outro que o Ser, ocupando-se exclusivamente do conhecimento
transcendente do Não-Ser, por cima do qual tão somente se encontra a Não-
Dualidade ou Perfeição Infinita da Suprema Identidade. O Ser, a Unidade, é
o Não-Ser afirmado e, portanto, representa já uma primeira determinação,
que embora seja a mais primordial de todas, está ainda condicionada com
relação a aquelas outras possibilidades, verdadeiramente infinitas, que não se
manifestarão jamais por sua natureza inefável e incondicionada, e que
pertencem inteiramente ao Não-Ser, o qual, por conseqüência, contém tanto
o que será manifestado através do Ser como o que nunca se manifestará.
Assim, distinguir entre o Ser e o Não-Ser, entre Kether e En Sof, é essencial
para quem empreende o caminho da verdadeira Gnose, que sempre têm que
ter como referência permanente o supra-cósmico e as idéias e princípios
mais universais, embora os interessados estejam recém iniciando esse
caminho e ainda tenham que complementar suas primeiras transmutações
alquímicas. Ou talvez por isso mesmo é que devam ser advertidos e
conhecer essa diferença no começo, evitando assim posteriores confusões
que lhes impediriam de ultrapassar as condições que lhe prendem a seu
estado individual e contingente.
Neste sentido, e para concluir, eis aqui o que diz a respeito o próprio
Guénon: “A metafísica e a religião não estão, nem estarão jamais, no mesmo
plano; disso resulta, por outra parte, que uma doutrina puramente metafísica
e uma doutrina religiosa não podem competir nem entrar em conflito, posto
que seus domínios são claramente diferentes”. (Oriente e Ocidente, 2ª parte,
Cap. IV). E do mesmo modo: “Pretender que a iniciação pudesse ter nascido
da religião [...] é inverter todas as relações normais que resultam da natureza
própria das coisas; e o esoterismo é verdadeiramente, com respeito ao
exoterismo religioso, o que é o espírito em relação com o corpo, tanto é
assim que, quando uma religião perdeu todo ponto de contato com o
esoterismo, não fica nela mais que 'letra morta' e formalismo
incompreendido, porque o que a vivificava era a comunicação efetiva com o
centro espiritual do mundo, e esta somente pode ser estabelecida e mantida
conscientemente pelo esoterismo e pela presença de uma organização
iniciática verdadeira”. (Apreciações sobre a Iniciação, cap. XI).
“... agora existe uma estirpe de ferro. Nunca durante o dia se verão livres de
fadigas e misérias nem deixarão de consumir-se durante a noite, e os deuses
lhe procurarão ásperas inquietações (...). O pai não se parecerá com os filhos
nem os filhos ao pai; o anfitrião não apreciará a seu hóspede, nem o amigo a
seu amigo, e não se quererá ao irmão como antes. Desprezarão a seus pais
apenas se façam velhos e lhes insultarão com duras palavras, cruelmente,
sem advertir a vigilância dos deuses (...). Nenhum reconhecimento haverá
para o que cumpra sua palavra nem para o justo e o honrado, mas sim terão
em mais consideração ao malfeitor e ao homem violento. A justiça estará na
força das mãos e não existirá pudor; o malvado tratará de prejudicar o varão
mais virtuoso com retorcidos discursos e, ademais, valer-se-á do juramento.
A inveja murmuradora, apreciadora do mal e repugnante, acompanhará a
todos os homens miseráveis”. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, versos 174-
195.
“Cuidei que ninguém vos engane, porque virão muitos em meu nome e
dirão: ‘Eu sou o Messias', e enganarão a muitos. Ouvireis falar de guerras e
rumores de guerras, mas não vos turveis, porque é preciso que isto aconteça,
mas não é ainda o fim. Levantar-se-á nação contra nação e reino contra
reino, e haverá fome e terremotos em diversos lugares. Mas isto será o
começo das dores do parto (...) Então se escandalizarão muitos e uns aos
outros se farão traição e se aborrecerão; e se levantarão muitos falsos
profetas, e pelo excesso de maldade se esfriará a caridade de muitos, mas o
que perseverar até o fim, esse será salvo”. Mateus 24, 4-13.
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