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1. Preliminarmente, certifico que o processo está devidamente instruído, regular e apto a ser
submetido à deliberação da Diretoria Colegiada.
2. Em deliberação, requerimento formulado pela Empresa Maranhense de Administração
Portuária - EMAP de autorização prévia para aplicação de recursos oriundos do ativo circulante da
Administração Portuária para aquisição de área fora dos limites da área do Porto organizado de Itaqui.
3. Em apertada síntese, a EMAP apresentou as seguintes justificativas:
a) o forte crescimento do Porto de Itaqui nos últimos anos, consolidando-se como o
quarto maior porto público do Brasil;
b) interesse da iniciativa privada interessados em investir em projetos voltados para a
área de apoio portuário, tancagem, porto seco, gás natural, entre outros;
c) a medida vem ao encontro da política de desenvolvimento econômico adotada pelo
Estado do Maranhão, no sentido de atração de recursos e negócios para o fomento a
geração de emprego e renda;
d) as áreas disponíveis para arrendamento dentro da poligonal do Porto do Itaqui se
tornaram escassas e possuem restrições de tamanho e de condições do solo, restando
atualmente poucas alternativas;
e) há tratativas junto a iniciativa privada, Secretária Nacional dos Portos e Transportes
Aquaviários – SNPTA, e EMAP, para arrendamento da área ao lado do IQI12, para
albergar terminal de armazenagem de granel sólido vegetal, comprometendo em sua
totalidade a área 4 e a disponibilidade de áreas para futuros investimentos dentro da
poligonal do Porto do Itaqui;
f) nos próximos 5 (cinco) anos estão previstos 7,7 bilhões em investimentos privados,
sendo R$ 3,8 bilhões na poligonal do Porto Organizado e R$ 3,9 bilhões fora da poligonal
utilizando a infraestrutura do porto, mas sem gerar outorga/receita de arrendamento
para a autoridade portuária.
4. No mérito, acompanho as manifestações técnicas das setoriais de regulação e outorga,
desta Agência, no sentido do indeferimento do pleito, as quais passam integrar a presente decisão,
independentemente de transcrição.
5. Senão vejamos.
6. De acordo com as informações acostadas aos autos, a área objeto da pretensa aquisição
pela EMAP é de propriedade da Secretaria de Estado de Industria e Comércio (SEINC) do Estado do
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Maranhão e está localizada no Parque Empresarial de Caxias, no Município de Caxias-MA. Para a área em
questão, de 100 hectares (1.000.000 m2), que, conforme Escritura Pública (fl. 29/32 do SEI 1726405) foi
doada pelo Município de Caxias/MA ao Estado do Maranhão - Secretaria de Estado do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio (SEDINC) para a implantação de Distrito Empresarial, a qual foi atribuído o valor de
mercado de R$ 38.902.932,22, sendo montante de R$ 23.230.000,00 referente ao valor venal do imóvel
(R$ 23,23/m2) e R$ 15.672.932,22 referente às benfeitorias realizadas na área, consoante documentos às
fls. 25/28 do SEI nº 1726405.
7. Apesar de não ter sido abordado pela documentação acostada pela EMAP, cumpre
registrar que o Município de Caxias-MA, local onde está situada a área que a EMAP pretende
adquirir, encontra-se a uma distância de mais de 371 km de São Luís-MA (Porto de Itaqui), se considerado
o trajeto do modal rodoviário. Ou seja, se trata de área localizada fora da área do Porto Organizado de
Itaqui e de suas adjacências, a uma distância razoável do entorno do porto.
§ 4º Caso seja firmado convênio ou acordo de cooperação para viabilizar a realização de obras
ou serviços de melhoria das vias de acesso ao porto ou para implantação de novos meios de acesso,
a autoridade portuária e o responsável pelas vias existentes ou pela área na qual serão
construídos os novos acessos deverão ajustar as responsabilidades pela manutenção do
empreendimento ao longo do tempo.
§ 5º Enquadram-se também ao caput deste artigo os projetos relacionados às ações de:
I - compensação socioambiental acordadas com as autoridades públicas competentes; ou
II - políticas de responsabilidade socioambiental promovidas pela própria entidade. (grifo nosso)
11. Igualmente, entendemos que o pleito em tela não se enquadra em nenhuma situação de
urgência ou emergência, com riscos à continuidade das operações portuárias realizadas no porto de
Itaqui, passível de respaldar eventual excepcionalidade na aplicação das receitas portuárias. Pelo
contrário, a referida iniciativa está mais correlacionada à implementação de políticas públicas, de médio e
longo prazo, do Estado do Maranhão, de atração e geração de cargas destinadas ao porto, por meio de
processo que a EMAP chamou de "interiorização do desenvolvimento do Estado do Maranhão".
12. Noutra vertente, façamos referência ao próprio Convênio de Delegação nº 016/2000
(SEI 1971132), o qual, em sua Cláusula Terceira, Parágrafo Segundo, estabelece que toda a receita
portuária será aplicada exclusivamente na manutenção e investimento no Porto. Vejamos:
Parágrafo Segundo - Será receita portuária a ser administrada pela EMAP, toda
remuneração proveniente do uso da infraestrutura aquaviária e terrestre, arrendamento de áreas e
instalações, armazenagem, contratos operacionais, aluguéis e projetos associados, a qual deverá
ser aplicada, exclusivamente, para o custeio das atividades delegadas, manutenção das
instalações e investimento no Porto e demais áreas delegadas. (grifo nosso)
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13. Ora, mediante o Convênio de Delegação nº 016/2000 (SEI 1971132), a União delegou ao
Estado do Maranhão, com interveniência da EMAP, a administração e exploração do Porto Organizado do
ltaqui, do Cais de São José de Ribamar, dos Terminais de ferry boat da Ponta da Espera e do Cujupe,
conforme expresso no caput da Cláusula Primeira e Cláusula Terceira desse instrumento de delegação.
14. Ademais, no seu requerimento, ao mencionar a aplicação de recursos oriundos do ativo
circulante da Administração Portuária, a EMAP não faz ressalvas quanto à origem dos recursos, o que
permite inferir que o pleito trata de utilização de receita portuária definida nos termos da Cláusula
Terceira do Convênio de Delegação nº 016/2000.
15. Desse modo, não resta dúvida que a área pretendida para aquisição pela EMAP,
localizada no Parque Empresarial de Caxias/MA, está fora do escopo delimitado para a aplicação das
receitas portuárias auferidas pela Autoridade Portuária. Ou seja, para a viabilização da operação de
aquisição com recursos portuários, seria imprescindível a modificação dos termos do Convênio de
Delegação ou a expedição de ato autorizativo do Poder Concedente.
16. Por fim, chamamos atenção para o fato de que, recentemente, o Estado do Maranhão
incrementou o rol de atividades passíveis de serem executadas pela EMAP, com o pressuposto de
implementação na política pública de desenvolvimento e atração de cargas para o porto. Deveras, o
Estatuto Social (SEI 1726406), juntado aos autos pela EMAP, foi modificado recentemente pelo DECRETO
Nº 38.215, de 3 de abril de 2023, do Governador do Estado do Maranhão. Dentre as modificações do
Estatuto Social da EMAP, se sobressaem as redações do inciso I do art. 3º e inciso XV do art. 4º,
transcritos abaixo:
Art. 3º A Empresa Maranhense de Administração Portuária - EMAP tem por objeto social realizar,
em harmonia com os planos e programas do Governo do Estado e do Governo Federal, a
administração e exploração comercial de portos e instalações portuárias no Estado do Maranhão,
assim como exercer a atividade de Autoridade Portuária, na forma prevista na Lei Federal nº 12.815,
de 05 de junho de 2013, em razão do Convênio de Delegação nº 016/2000, do art. 52 da Lei
Estadual nº 9.340, de 28 de fevereiro de 2011, do previsto na Lei Estadual nº 11.013, de 24 de abril
de 2019 e conforme Lei nº 11.909, de 29 de março de 2023, contemplando os critérios econômicos
de viabilização dos investimentos e a estratégia de desenvolvimento econômico e social do Estado
do Maranhão, e especificamente:
I - administrar, operar, explorar e desenvolver o Porto Organizado do Itaqui, em São Luís - MA, o cais
de São José de Ribamar, em São José de Ribamar - MA, os Terminais de Ferry-Boat da Ponta da
Espera, em São Luís - MA, e do Cujupe, em Alcântara - MA, e o Complexo Industrial e Portuário do
Maranhão;
[...]
Art. 4º Para a realização de seu objeto social, compete à EMAP:
I - gerir e explorar portos e instalações portuárias no Estado do Maranhão;
[...]
XV - administrar áreas destinadas a investimentos públicos ou privados que contribuam para a
geração de cargas a ser movimentadas pelo Porto do Itaqui; (grifo nosso)
17. Em face da referida expansão das atribuições da EMAP, insurge a preocupação regulatória
com o cumprimento do disposto no Convênio de Delegação, que vai além da questão do atendimento ao
pleito da EMAP, haja vista, especialmente, a possibilidade de administração de outras áreas fora do porto
organizado demandar ônus, por conta não só de investimentos em aquisições, mas também de seus
custeios/despesas, suportados por receitas portuárias. Note-se que não resta claro, por exemplo, se a
exploração do Complexo Industrial e Portuário do Maranhão, mencionado no inciso I do art. 3º transcrito
acima, constitui algum tipo de ônus financeiro para a Autoridade Portuária.
18. Neste ponto, cumpre esclarecer que as considerações acima não tratam de qualquer
assertiva de uso indevido de recursos portuários pela EMAP, mas sim para evidenciar a possibilidade de
conflitos envolvendo o uso de receitas portuárias pela EMAP, que demandam o olhar mais atento da
Agência sobre a atuação da empresa, razão pela qual proponho que o tema seja objeto de avaliação
específica por parte da setorial de regulação.
19. Posto isso, VOTO por:
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Diretor Relator
Documento assinado eletronicamente por Wilson Pereira de Lima Filho, Diretor, em 01/09/2023, às
14:31, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 1º, art. 6º, do Decreto nº 8.539, de
8 de outubro de 2015.
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