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NITERÓI
2021
ANDRESSA SOARES RODRIGUES
Niterói, RJ
2021
ANDRESSA SOARES RODRIGUES
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Valdecyr Herdy Alves (Presidente)
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF)
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Audrey Vidal Pereira (1° Examinador)
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF)
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Diego Pereira Rodrigues (2° Examinador)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA)
Niterói
2021
Dedico este trabalho à minha mãe, Idalme
Dalbem Soares, meu maior exemplo de força e
dedicação. A minha trajetória até aqui é fruto
de seu cuidado e amor por mim.
AGRADECIMENTOS
Não poderia começar os meus agradecimentos sem ser pelo meu maior sustento e
porto seguro. Posso afirmar que a minha entrada na UFF foi pela graça dEle, que proveu cada
detalhe, me deu amizades e abriu as portas. Então, à Ele, que me conduziu nessa trajetória, a
minha eterna gratidão e toda honra.
Agradeço à minha mãe, Idalme Dalbem, a mulher mais forte que conheço, que se
abdicou de tantas coisas para que eu conquistasse meus sonhos. Sou grata por ser filha de uma
mulher com tanta coragem, que ora e torce por mim e que abaixo de Deus, é o maior apoio.
Obrigada por todo esforço que você fez e faz por mim, por ser amiga, mãe e conselheira. Essa
conquista não é só minha, é nossa. “De todo amor que eu tenho, metade foi tu que me deu”.
Agradeço à minha família que me deu e dá todo suporte, por torcer e estar ao meu lado
em todos os momentos. Às minhas primas/irmãs, Lídia Luz e Poliana Luz, que me acolheram
como irmã, obrigada por todos os conselhos, por serem ombro, abraço, ouvidos e por sempre
me incentivarem a ir cada vez mais longe. À minha tia, Ivalme Dalbem, que é como uma
segunda mãe e mesmo de longe se faz presente com seu carinho e amor. Aos meus sobrinhos,
Theo, Helena e Analú, que realizaram meu sonho de ser tia e tornaram minha vida muito mais
feliz. Aos meus primos/cunhados Jorge Oliveira e Gustavo Morais, obrigada por sempre
zelarem por mim. Ao meu tio Gil Lucio e Sousa, obrigada pelo cuidado que tem por mim.
Obrigada, família, por confiar e acreditar em mim. Vocês fazem parte dessa história e são
fundamentais.
Aos amigos que a UFF me deu. Minha melhor dupla, Thaíssa Fernandes, que desde o
primeiro dia de trote esteve ao meu lado, orou por mim, segurou minha mão e enxugou
minhas lágrimas nos momentos mais difíceis. Obrigada por ceder às minhas vontades de Mc
Donald’s e furar a dieta por mim. Aos outros membros da “Torre”: Rhanã Macedo e Lavinia
Cardoso, obrigada pelo suporte e incentivo de sempre, por serem fonte de memes e risadas,
mas também de palavras acolhedoras e sábias. À Fernanda Reis e Letícia Machado, obrigada
por serem amigas que mesmo de longe demonstram cuidado e afeto. Nossos finais de semana
de praia contribuíram para a minha saúde mental em finais de período. Ao meu amigo Lucas
Melo, por toda ajuda, por se fazer presente em minha vida durante esses anos, por apresentar e
insistir que eu assistisse Friends, pelos memes diários, pelas risadas e por ser e acolhimento
quando mais preciso. Obrigada, amigos, pela parceria e por tornarem mais leves os pesos da
faculdade. Quero levá-los para além da UFF. Sentirei saudades dos nossos horários de almoço
na orla.
Ao meu querido orientador, professor Herdy, que confiou em mim desde o início,
abriu tantas portas e me aceitou como orientanda. Obrigada pelas palavras de incentivo de
sempre, por compartilhar seu conhecimento e por tornar esse processo tão mais leve. Você é
um grande exemplo e referência de pessoa e profissional. Me sinto honrada e privilegiada por
chegar aqui sendo orientada por uma pessoa tão brilhante.
Ao Grupo de Pesquisa Maternidade, Saúde da Mulher e da Criança, peça fundamental
em minha trajetória acadêmica, espaço onde tive a oportunidade de aprender e conhecer
pessoas tão especiais, como Maria Bertilla Riker, uma grande incentivadora e inspiração,
grande professora não só de pesquisa e iniciação científica, mas de vida. Obrigada por seu
carinho por mim, Bertilla, pelas oportunidades e ajuda. À Vivian Linhares, que através de seu
mestrado nasceu minha IC e TCC. Muito obrigada por todo suporte e paciência. Agradeço às
duas pela confiança em mim e em meu trabalho. Foi um prazer ser PIBIC de vocês.
À EEAAC, minha segunda casa, que me ensinou muito mais que enfermagem. Aos
professores que passaram e marcaram a minha formação. À UFF, a “mãe” dos uffianos, que
foi muito mais que uma instituição, que me deu muito mais que uma formação. Me ensinou a
ser uma pessoa melhor, me fez ampliar o olhar quanto sociedade e ser humano e me tirou da
zona de conforto. A UFF foi uma das minhas escolhas mais certas e felizes. Ao HUAP e a
todos os profissionais e pacientes que estiveram e passaram por mim nesses anos, muito
obrigada. A minha admiração e defesa pelo SUS foi fortalecida após a minha entrada no
HUAP e é por ele e os usuários que seguirei lutando pelo nosso sistema de saúde, que mesmo
com ataques e desmontes, segue salvando vidas há mais de 30 anos. Sinto-me privilegiada por
estar em uma universidade de excelência e pelo SUS, e é por isso que seguirei na luta a favor
e em defesa da universidade pública, da pesquisa científica brasileira e do SUS. Obrigada,
UFF, por realizar o meu sonho da formação em universidade pública e federal.
À minha banca, muito obrigada, professores Audrey e Diego, por aceitarem o convite.
Vocês são grande referência na área para mim. Obrigada por todas as contribuições que vocês
fizeram ao longo da minha jornada no grupo de pesquisa.
Obrigada, enfermeiras, que me inspiraram não só para o trabalho, mas também para a
escolha da minha futura área de atuação. Seguiremos na luta pelo parto adequado, respeitoso e
pela vida das mulheres. Às gestantes, parturientes e puérperas que acompanhei, esse trabalho
também é por vocês.
Meu obrigada também a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que eu
conseguisse chegar até essa etapa. É o fim da minha trajetória de graduação, mas não da
trajetória acadêmica.
“Eu elevo minha voz - não para gritar, mas para
que aquelas sem voz possam ser ouvidas. Não
podemos ser bem sucedidas se metade de nós
estão contidas.”
(Malala Yousafzai)
RESUMO
This study aimed to identify and analyze the production of knowledge about obstetric nurses’
care in childbirth based on the following research question: How does obstetric nursing work
with their care during normal birth? The present study will use as a method the Integrative
Review of Literature. The search was on U.S. National Library of Medicine, Cumulative
Index to Nursing and Allied Health Literature, Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde, Base de Dados da Enfermagem e Scientific Electronic Library Online
databases published between 2011 and 2021. Descriptors used were: Cuidados de
Enfermagem”, “Saúde da Mulher”, “Parto Humanizado”, “Enfermagem Obstétrica”, “Nursing
Care”, “Woman’s Health”, “Humanizing Delivery” and “Obstetric Nursing” with the boolean
operator AND. The final sample consisted of 23 studies. In the analyzed articles, the sensitive
practice of looking at the subjectivity of the parturient woman without losing the
technical-scientific practice was highlighted as nursing care. Humanization was present in all
articles, showing that the obstetric nurse values women's physiology and autonomy, in
addition to offering non-invasive technologies for pain relief. The perception of care that
professionals have is part of their academic training, but they become stronger based on their
experiences as a woman and as a professional, demonstrating that empathy is a form of care
for them. In conclusion, we see that the nurses' obstetric practices are in accordance with
public policies and manuals of reference agencies, in addition to closer care, creation of
bonds, attention to basic human needs and respect, encouraging women to persist in labor and
are able to give birth with a positive outcome. Improvement and updating of nurses should be
encouraged and included in institutions, as well as encouraging the publication and
dissemination of more detailed practices of nurses in the delivery room.
1 INTRODUÇÃO, p. 14
1.1 MOTIVAÇÃO E TRAJETÓRIA ACADÊMICA , p. 14
1.2 PROBLEMATIZAÇÃO, p. 16
1.3 QUESTÃO DE PESQUISA, p. 19
1.4 OBJETO DE ESTUDO, p. 19
1.5 OBJETIVOS, p. 19
1.6 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA, p. 19
2 REVISÃO DE LITERATURA, p. 20
2.1 BREVE HISTÓRICO DA ENFERMAGEM MODERNA , p. 20
2.2 ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO CAMPO DO PARTO E
NASCIMENTO, p. 21
2.3 WANDA HORTA E A TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS , p. 23
2.4 O CUIDADO SEGUNDO LEONARDO BOFF, p. 24
3 METODOLOGIA, p. 26
3.1 ETAPA 1: IDENTIFICAÇÃO DO TEMA E SELEÇÃO DA HIPÓTESE OU QUESTÃO DE
PESQUISA PARA A ELABORAÇÃO DA REVISÃO INTEGRATIVA , p. 26
3.2 ETAPA 2: ESTABELECIMENTO DE CRITÉRIOS PARA INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE
ESTUDOS/ AMOSTRAGEM OU BUSCA NA LITERATURA , p. 26
3.3 ETAPA 3: DEFINIÇÃO DAS INFORMAÇÕES A SEREM EXTRAÍDAS DOS ESTUDOS
SELECIONADOS/ CATEGORIZAÇÃO DOS ESTUDOS, p. 30
3.4 ETAPA 4: AVALIAÇÃO DOS ESTUDOS INCLUÍDOS NA REVISÃO INTEGRATIVA , p. 31
3.5 ETAPA 5: INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS , p. 31
3.6 ETAPA 6: APRESENTAÇÃO DA REVISÃO/SÍNTESE DO CONHECIMENTO , p. 31
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO, p. 32
4.1 OS CUIDADOS DAS ENFERMEIRAS OBSTÉTRICAS À MULHER NO PROCESSO DO
PARTO E NASCIMENTO, p. 40
4.2 A HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA PRESTADA PELAS ENFERMEIRAS OBSTÉTRICAS
À MULHER NO PROCESSO DO PARTO E NASCIMENTO, p. 41
4.3 A PERCEPÇÃO DE CUIDADO DAS ENFERMEIRAS OBSTÉTRICAS NO PROCESSO DO
PARTO E NASCIMENTO, p. 43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 45
6 DISSEMINAÇÃO DO ESTUDO, p. 47
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p. 48
14
1 INTRODUÇÃO
1
Optou-se por não usar a unificação gramatical ou a diferenciação o/a no texto no sentido feminino e masculino neste trabalho, mesmo sendo uma questão
central no trabalho em saúde. Na enfermagem, a maioria quase absoluta é constituída de mulheres. Portanto, para entendimento da leitura e por uma questão
estética, iremos nos reportar à enfermeira, no feminino.
16
1.2 PROBLEMATIZAÇÃO
O modelo de assistência intervencionista e medicalizada ao parto, onde a mulher não
tinha a autonomia sobre seu próprio corpo e a ocorrência de cesarianas são discutidos há
décadas. Por ser um processo com muitas peculiaridades e complexidades, os fatores que
envolvem o parto e a sua assistência têm levantado questionamentos que vão desde a
qualidade do cuidado obstétrico até o significado do momento para as mulheres (PATAH;
MALIK, 2011).
Antigamente, era comum que os partos ocorressem no domicílio da mulher e
acompanhados exclusivamente por parteiras. O nascimento fora de casa era visto como
anormal e só acontecia em situações extremas em que o médico era solicitado pela parteira
para atender casos mais complicados que ela não conseguia resolver. A parteira era vista de
forma social e economicamente mais acessível, além de ajudar nos afazeres da casa e
auxiliando a mulher no puerpério. Era uma época em que o hospital não era visto como um
ambiente seguro para a mulher parir (LEISTER; RIESCO, 2013).
Já no início do século XX, rotinas como ter o pré-natal acompanhado pelo médico,
frequentar consultórios de pediatras e fazer uso de medicações foram mudanças graduais na
vida das mulheres e o início da transição dos partos domiciliares para o hospitalar (ibid.).
Como afirmam Batista e Rissin (2018), no século passado, principalmente a partir dos
anos 50, a saúde a nível mundial passou por mudanças drásticas, tendo uma rápida alteração
nos padrões de natalidade e morbimortalidade. Nesse contexto de modificações radicais,
surgiu a chamada “epidemia de cesarianas'', o que caracteriza um modelo assistencial voltado
para a figura do médico, resultando em intervenções e na perda da autonomia e protagonismo
da mulher. O que antes era em casa, um evento familiar e assistido por mulheres, tornou-se
algo estéril e medicalizado, perdendo o olhar singular à parturiente e à família.
A cesárea, que surgiu como uma opção de redução de risco de complicações materna
e/ou neonatal, era utilizada somente para salvar a vida da mãe e/ou feto, mas tem se tornado
um procedimento cada vez mais comum em alguns países e é a primeira opção de via de
nascimento entre muitas mulheres, muitas vezes por passar a imagem de mais segura, a
sensação de controle e limpeza. É uma cirurgia de médio porte que envolve riscos, mas,
quando necessária e bem indicada, salva vidas.
17
1.5 OBJETIVOS
No alcance do aprofundamento do objeto do estudo desta pesquisa, desenvolvemos os
seguintes objetivos:
● Identificar a produção de conhecimento sobre o cuidado da enfermeira obstétrica no
campo do parto normal e nascimento;
● Analisar a produção de conhecimento sobre o cuidado da enfermeira obstétrica no
campo do parto normal e nascimento.
2 REVISÃO DE LITERATURA
sistematizado. Desde então, a enfermagem tem se mostrado como uma ciência que exige
estudo, pesquisa e ensino. Podemos dizer que Nightingale fundou a enfermagem moderna e
abriu caminhos para as especialidades e novos rumos que a profissão tem tomado até a
atualidade.
da mulher, além de serem fortemente criticados pelo movimento feminista brasileiro que
alegava que as mulheres fora do período gravídico-puerperal ficavam sem assistência na
maior parte de suas vidas (BRASIL, 2004).
Sendo assim, atendendo às reivindicações dos movimentos das mulheres, em 1983 o
Ministério da Saúde elaborou o Programa de Atenção à Saúde Integral da Mulher (PAISM),
um marco na história das políticas públicas voltadas às mulheres e que determinou a
modificação do foco das ações, os princípios norteadores e critérios para prioridades na área.
O PAISM era baseado no conceito da atenção à saúde integral da mulher, e não restringia-se
apenas ao papel reprodutor. O programa teve como princípio a integralidade, abrangendo para
ações voltadas para a educação e prevenção, diagnóstico, tratamento e recuperação, pré-natal,
parto e puerpério, climatério, planejamento familiar, tratamento de infecções sexualmente
transmissíveis (IST) e cânceres comuns em mulheres, além de atender outras demandas
identificadas através do perfil das brasileiras (NASCIMENTO et al., 2018).
A partir de 1999, o MS investiu na formação de enfermeiras obstétricas implantando e
financiando cursos de especialização com a finalidade de aumentar o número de profissionais
atuantes no sistema de saúde. Com essa expansão da enfermagem obstétrica, houve aumento e
incentivo ao parto normal, colaborando para a redução da taxa das cesarianas e intervenções
no momento do parto e nascimento, além da melhoria na atenção pré-natal (ABENFO, 2010).
Após entender a necessidade de uma atenção humanizada e incentivo ao parto normal,
em 2000 foi criado pelo MS o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento
(PHPN), voltado para as necessidades das gestantes, recém-nascidos e puérperas, que tinha
como objetivo a melhoria do acesso e qualidade à atenção ao pré-natal, assistência ao parto e
puerpério, entendendo que a humanização nesses momentos é a condição primária para uma
assistência qualificada. Essa iniciativa também buscava modificar as atitudes dos profissionais
envolvidos na prática do cuidado (BRASIL, 2002).
Em 2004, foi lançado o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e
Neonatal com o objetivo de promover uma melhoria da assistência obstétrica e neonatal.
Também foi instituída a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM),
que garante os direitos humanos das mulheres e a redução da morbimortalidade por causas
preveníveis e evitáveis através da implementação de ações de saúde. A PNAISM consolidou
os direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase mais uma vez, na melhoria da assistência
obstétrica, planejamento familiar, abortamento inseguro e combate da violência às mulheres.
Também traz a prevenção e tratamento das ISTs, doenças crônicas não transmissíveis e
cânceres ginecológicos (SANTOS; ARAÚJO, 2016).
23
Como traz o estudo feito por Oliveira e Celento (2016), após os programas e políticas
lançadas pelo Ministério da Saúde, em 2007 alcançamos o número de 89% de cobertura de
pré-natal e a captação de gestantes para primeira consulta no primeiro trimestre foi de 83,6%,
porém, ainda havia um número preocupante de mortes maternas, além da elevada taxa de
cesarianas no país. Em 2011, foi lançada a Rede Cegonha pelo MS como uma estratégia que
preconiza assegurar o direito à atenção ao pré-natal, parto e nascimento, puerpério e
puericultura no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Rede Cegonha é uma política pública que sugere a implementação de um modelo
assistencial ao parto e nascimento pautado na humanização. A partir da estratégia, ampliou-se
a formação e capacitação de enfermeiras obstétricas e obstetrizes, foram implantados os
centros de partos normais (CPN) como um ambiente propício às boas práticas obstétricas e
promover a inserção das enfermeiras no cenário do parto e nascimento de risco habitual com o
intuito da redução das intervenções desnecessárias e estimulação ao parto vaginal, além da
atuação no planejamento familiar, pré-natal e puerpério (GAMA et al., 2020).
O novo modelo de atenção que insere e incentiva as enfermeiras no campo obstétrico
foi baseado em evidências de melhorias dos índices, além de ser fortemente apoiado por
órgãos e associações que representam a enfermagem, como a Associação Brasileira de
Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO), Associação Brasileira de Enfermagem
(ABEn), Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), entre outros, o que mostra a
solidificação, parceria e reconhecimento da enfermagem obstétrica no país (OLIVEIRA et al.,
2016).
Ainda segundo Oliveira et al., foi através da Rede Cegonha que práticas como a
presença do acompanhante de livre escolha da paciente durante todo o processo do parto,
nascimento e puerpério, posição de livre escolha durante todo o trabalho de parto e parto
ganharam força. A enfermagem obstétrica destacou-se e obteve autonomia, principalmente
nos CPN. Estudos apontam que a inserção dessas profissionais trouxe mais autonomia à
mulher, menos intervenções e mais exercício das boas práticas. Sabe-se que a enfermeira traz
em sua essência profissional o cuidado e a atenção às necessidades do paciente.
Com base nessa definição, podemos traçar um paralelo com a essência da prática da
enfermeira que carrega em sua atuação a atitude da preocupação com o bem-estar do paciente,
a responsabilidade pela vida do outro que está em seus cuidados e, muitas vezes, há o
desenvolvimento de afeto pela gratidão e carinho pelo cuidado prestado.
Como resposta da filologia da palavra cuidado, isto é, o estudo da palavra, o autor traz
em outro trecho, na página 91, que o “cuidado significa então desvelo, solicitude, diligência,
zelo, atenção, bom trato (...) é uma atitude fundamental, um modo de ser mediante o qual a
pessoa sai de si e centra-se no outro com desvelo e solicitude”.
Boff diz também que é por meio do cuidado que discernimos os princípios, valores e
as atitudes que fazem da vida algo prazeroso e proveitoso. Um outro ponto retratado em seu
livro, é que o saber nos confere o poder. Ao sabermos cuidar, aplicamos esse poder em prol do
bem-estar do próximo. Como afirmam Silva et al. (2005), quando uma pessoa cuida do outro,
mostra a sua essência, satisfaz naquela atitude uma necessidade própria e do outro, projetando
naquele cuidado a qualidade de vida que ela quer ter e a atenção que quer receber, além de na
prática do cuidado exercer a constante busca de realização existencial.
Ainda segundo Boff, “o ser humano é essencialmente um ser de necessidades que
devem ser satisfeitas”, o que complementa com a teoria das NHB de Wanda Horta.
Ao entendermos que o cuidado faz parte de nossa essência, tanto no sentido de cuidar
quanto no de ser cuidado, vemos a importância de ter um profissional especializado no cuidar
e que tem isso como sua principal ferramenta de trabalho, que é o caso da enfermeira. O
cuidado de enfermagem é necessário dentro de qualquer contexto da saúde porque é através
de suas atitudes que suprimos as NHB, que têm como uma demanda o cuidado.
26
3 METODOLOGIA
Para a seleção dos artigos, a leitura ocorreu da seguinte forma: título, resumo e texto
integral. Em cada etapa, foram eliminados os artigos que não correspondiam com a temática
do presente estudo. Após terem sido selecionados, foram excluídos os que estavam duplicados
nas bases.
Na análise do texto completo, foram analisados na íntegra 26 artigos, sendo que
apenas 3 não atenderam o critério de inclusão proposto na metodologia deste estudo, por esse
motivo e entendendo a importância de que todos os artigos correspondam com a questão
norteadora, foram excluídos, chegando aos 23 artigos selecionados.
29
PubMed 24 2
Total 167 23
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos anos selecionados para o recorte temporal, pode-se observar que as práticas e
saberes de cuidados das enfermeiras têm sido divulgados, mas ainda precisam ser mais
abordados na literatura. Entre 2011 e 2021, a amostra foi de 23 publicações, sendo quatro em
2015 e 2017, três em 2016 e 2011, duas nos anos de 2020, 2019, 2013 e 2012, uma em 2018.
Não foram encontradas publicações nos anos de 2021 e 2014 referentes ao objeto do presente
estudo.
Os autores são filiados ao campo de enfermagem voltado para o cuidado em
obstetrícia. A maior parte das publicações (21) foi encontrada em revistas brasileiras, o que
reforça a ideia de que a produção científica da enfermagem do nosso país está aumentando.
Apenas 2 publicações são de periódicos internacionais.
As classificações das revistas das publicações selecionadas encontram-se em: A1, A2,
B1, B2 ou B3, cadastradas na plataforma Sucupira pelo sistema Qualis de avaliação de
periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do
Ministério da Educação no quadriênio de 2013-2016. Uma revista foi classificada como A1,
duas como A2, seis como B1, três como B2 e uma como B3, o que sinaliza um
reconhecimento na qualidade das produções.
Quanto à metodologia dos estudos, a maioria (20) baseia-se na abordagem qualitativa.
Dois utilizaram o método de revisão de literatura e um da abordagem quantitativa.
No que se diz respeito aos objetivos dos estudos, muitos analisaram os discursos das
enfermeiras e mulheres para entender a experiência e representação do parto e nascimento,
observar quais são os cuidados mais prestados pelas enfermeiras e explorar a humanização no
cenário do parto e nascimento através do discurso de entrevistados e cuidados prestados.
Os quadros de síntese são os instrumentos elaborados e apresentam as informações
extraídas dos 23 estudos selecionados. Quadros 04 e 05:
33
12 Obter uma 12 mães norueguesas A experiência de ser cuidada por uma III
compreensão mais de primeira viagem parteira que fornece presença é vital
profunda da experiência saudáveis, com idades para a mulher ser vista como um
de mães de primeira entre 22-34, que indivíduo. Quando a parteira tem uma
viagem sobre como a tiveram um parto perspectiva de promoção da saúde, ela
parteira pode promover normal e positivo pode ajudar mais facilmente a mulher a
um parto normal e uma foram entrevistadas desenvolver força interior e estratégias
experiência de parto cinco a seis semanas de enfrentamento.
positiva. após o parto.
e recursos humanos
OMS, que em 1985 lançou um documento intitulado “Tecnologia Apropriada para Partos e
Nascimentos” enfatizando o direito da população à assistência perinatal e informações de
qualidade e já criticava o modelo intervencionista e biomédico (CAMACHO; PROGIANTI,
2013).
No Brasil, a humanização no parto através da enfermagem obstétrica teve início após
o concurso público no Rio de Janeiro em 1985, em que enfermeiras obstétricas entraram em
um campo totalmente intervencionista e com profissionais médicos predominantemente
masculinos. Foi a quebra da hegemonia médica e mostrou às usuárias do SUS uma possível
nova realidade de atenção ao parto e nascimento. A partir de então, mais enfermeiras
chegaram e difundiram o novo modelo assistencial (VARGENS; SILVA; PROGIANTI, 2016).
O conceito da humanização é discutido até os dias de hoje. Possati et al. (2017) trazem
em seu estudo que para as enfermeiras, “a humanização é um movimento pautado na
individualidade e singularidade feminina, valorizando o protagonismo da mulher” e a partir
disso articular o cuidado com o sistema cultural de valores e crenças. Após desvelado o
significado do conceito “humanização”, esse processo deve ser aplicado à prática pelas
enfermeiras. Algumas manifestam o cuidado humanizado através do respeito à fisiologia da
mulher, explorando as tecnologias não invasivas para alívio da dor, assistência menos
intervencionista (GIANTAGLIA et al., 2017).
Com os avanços e criação de programas voltados para a prática humanizada, como o
PHPN, facilitou a identificação das práticas inadequadas ao parto e nascimento, com isso, as
profissionais se pautaram nas diretrizes das políticas nacionais para sua atuação. Sendo assim,
práticas que valorizam a autonomia da mulher, a troca de informações, o contato, o olhar, a
garantia de direitos da mulher e acompanhante foram caracterizados pelas enfermeiras como
humanização do parto (TAKEMOTO; CORSO, 2013).
Ao aplicar a humanização, a enfermeira empenha-se em “iniciativas que primam pela
qualidade do cuidado técnico associado ao reconhecimento da autonomia da mulher enquanto
ser humano e sujeito participativo do plano terapêutico” (NASCIMENTO et al., 2015).
Cordeiro et al. (2018) trazem uma reflexão muito importante em seu estudo e apontam
que a chave da humanização no processo do parto está no pré-natal de qualidade, que é o
momento em que a mulher irá conhecer as tecnologias que podem ser ofertadas, escolher a via
de nascimento, receberá as informações e se apropriará das suas decisões baseadas em
informações, com isso, chegará à maternidade com o real empoderamento e ciente das ações
não só dela, mas como da equipe.
43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embasada em toda abordagem que trouxe esta revisão integrativa, é possível perceber
o quanto a temática, o cuidado das enfermeiras na assistência ao parto e nascimento, é
abrangente e nos leva a várias reflexões, mas também nos mostra como a enfermagem
obstétrica ainda está consolidando e conquistando seu espaço no cenário brasileiro, apesar do
seu potencial e diferencial, o que nos leva a pensar que devemos colocar em prática as
políticas públicas e diversas evidências científicas que demonstram os benefícios das
profissionais na assistência do período gravídico-puerperal.
Nota-se que a enfermagem obstétrica é o rompimento de uma cultura medicalizada e
“patologizada” do parto e nascimento. Ela traz em si a humanização, cuidado e respeito às
gestantes, parturientes e puérperas, unindo o subjetivo às demandas do técnico-científico.
Esse é um fator crucial para que as mulheres sintam-se acolhidas e consigam parir em
segurança, evoluam em partos normais com segurança. Também é notório a necessidade de
investirmos em programas de incentivo à atualização e aprimoramento das profissionais
obstétricas para que andem em conjunto na prática baseada em evidências e para que sua
assistência seja cada vez mais qualificada e de referência.
Assim como também se faz necessário a divulgação e reconhecimento da enfermagem
obstétrica pela população brasileira que ainda acredita e só se sente segura com a figura do
médico na sala de parto. Essa divulgação deve ser feita também através de trabalhos e artigos
publicados. Ao detalhar os cuidados das enfermeiras, foi percebido que as mesmas ainda não
escrevem e publicam as suas práticas na assistência ao parto e nascimento, o que deveria ser
feito para o fortalecimento da classe profissional.
Percebeu-se que o SUS é o primeiro e maior incentivador da enfermagem obstétrica
no país, e as mulheres que querem desviar de partos no modelo biomédico tradicional estão
recorrendo às maternidades de risco habitual onde se faz presente a enfermagem obstétrica, o
que só reforça que devemos lutar e defender o SUS contra desmontes e ataques que ele vem
sofrendo ao longo dos anos. A assistência de referência está nele e acessível a qualquer pessoa
em solo brasileiro.
Na leitura dos 23 artigos, observou-se que a humanização está presente em todos eles,
assim como a discrição do cuidado mais próximo, empatia e criação de vínculo. Também
constatou-se que as profissionais estão utilizando mais as tecnologias não invasivas, estão
aderindo as boas práticas e evitando procedimentos invasivos e que não estão respaldados
46
cientificamente, como episiotomia e posição litotômica. O parto com enfermeiras tende a ser
mais respeitoso e mais fisiológico.
O cuidado da enfermeira inicia no acolhimento na maternidade e transcorre até o
alojamento conjunto para a alta com escuta qualificada e ativa, palavras de conforto, atenção e
resposta às necessidades humanas básicas, empatia, tecnologias não invasivas, humanização,
toque, empoderamento da mulher e garantia de direitos da mulher. Assim como ele contempla
a educação em saúde, educando e informando essas mulheres. Esse trabalho faz com que as
mulheres sintam-se satisfeitas e gratas, o que contribui para que outras mulheres queiram a
mesma assistência com enfermeiras obstétricas e não cedam à cesarianas sem real indicação.
A enfermeira obstétrica é uma pessoa com grande potencial e representatividade no
sistema de saúde, então deve conquistar seu lugar, fortalecer e aprimorar seus conhecimentos,
divulgar seus saberes técnicos e científicos e sua capacidade de atenção qualificada. A
enfermagem é a profissão do cuidar e tem feito isso honrosamente. Através de seus saberes e
formação, ela abrange as necessidades humanas básicas e as subjetividades do ser em seu
exercício profissional.
Vale ressaltar que as possibilidades de debate sobre o tema tratado neste estudo não se
encerram neste momento. A partir dos resultados da discussão e como contribuição para o
avanço do cuidado da enfermagem obstétrica, percebe-se a necessidade das profissionais se
atualizarem quanto às novas tecnologias não invasivas e rotinas obstétricas, aplicarem e
replicarem as práticas baseadas em evidência, reavaliarem a necessidade de toques vaginais
frequente, a punção de acesso venoso periférico como rotina e instituir como rotina o uso do
partograma. Também cabe pontuar a necessidade de novas publicações quanto às práticas de
cuidado das enfermeiras no parto e nascimento para o fortalecimento e divulgação científica
da profissão, porque a enfermagem precisa ter o reconhecimento como uma classe
profissional baseada em evidências científicas e que as pratica.
Como lacunas encontradas na busca da literatura do tema, como encontradas a falta da
descrição das práticas das enfermeiras no parto e as evidências científicas que as embasam.
Então, a partir desse apontamento, como sugestão de novos estudos, ressalto a necessidade de
novas publicações sobre as técnicas desempenhadas pelas profissionais no processo do parto e
nascimento correlacionando com a prática baseada em evidências.
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6 DISSEMINAÇÃO DO ESTUDO
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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