Você está na página 1de 9

CIA de Teatro IDE

Morto-vivo

Personagens:
1- Amadeu:
2- Dona Zenaide:
3- Lucinha:
4- Carlinhos:
5- Filha:
6- Médico:
7- Crente:
8- Mulher Loira:
9- Bêbado:
10- Empresário:
11- Mulher Unha de Fome:
12- Pessoa que serve café:
13- Narradora:
14- Mulher da Peruca:

Roteiro

1° Cena- Uma sala de um consultório médico.

Amadeu- (Surpreso) O que que o Senhor está me dizendo?! Eu estou morto


mesmo?

Médico- da Silva, meu amigo… Mortinho da Silva. A propósito, deixa eu te fazer


uma perguntinha: É… o Senhor pretende ser enterrado amanhã ou depois?

Amadeu- Eu não sei, mas eu não vou deixar de avisar o Senhor não. Pode ficar
sossegado.

2° Cena- Casa de Amadeu com a Família.

Amadeu- Oi

Zenaide- Oh seu Amadeu, que cara de defunto é essa?


Amadeu- Ué?! Você já sabe? E quem te contou? Aposto que foi a Dona Maria
gorda… a nossa vizinha…

Zenaide- Ninguém me contou, ou melhor, um passarinho, mas vamos lá, meu velho,
conte-me o que aconteceu. Por que é que você está com essa cara?

Amadeu- Óh Zenaide, eu conto, mas, antes, eu quero todos reunidos aqui na sala,
porque, neste momento, preciso fazer uma reunião familiar, já que a notícia que eu
tenho que dar, Zenaide, eu quero dar de uma vez, sem precisar repetir toda hora.

Zenaide- Ora, Amadeus, deixe de fazer velório e fale logo. Você nunca foi de reunir
a família.

Amadeu- Zenaide, chame logo nossos filhos e, por favor, respeite os mortos.

Zenaide- (irônica) Mortos. Tá bom. (chamando os filhos) Lucinha, Carlinhos,


venham aqui que o pai quer falar com vocês!

Lucinha- Já vou, mãe.

Zenaide- Ande, menino.

Carlinhos- O que é que a senhora quer, mãe?

Zenaide- Um discurso, menino, vem logo.

Lucinha- Oi pai. Olha, pai, o que o senhor estiver que me contar, conta logo, pois
eu preciso estudar , sabe? Eu preciso aproveitar bastante a minha vida, não é, pai?

Carlinhos- Qual é, minha coroa? Coroa no tempo, coroa na Terra, o que manda?

Zenaide- Muito bem, Amadeu, estão todos reunidos aqui. Qual é a notícia?

Amadeu- Bem, o negócio é o seguinte: … Bem, eu acho que vocês não vai
acreditar…, mas eu estou morto

(Todos riem, menos o Amadeus)

Amadeus- E escutem aqui, seus vampiros, suas hienas que comem carniças e dão
risadas. Eu não disse nenhuma piada, não. Eu estou falando sério. (suspiro) Eu
sabia que ninguém ia acreditar.
Carlinhos- Conta outra, coroa. Depois, eu vou contar uma lá do português que eu
aprendi na faculdade.

Lucinha- Ôh pai, acho que vou voltar para os meus cadernos. Posso, pai?

Amadeu- Ora, está bem, seus patetas. Vocês podem até pensar que eu estou
brincando, não é mesmo? Então tome aqui, mas leia alto. (Entrega um Atestado de
Óbito para Zenaide)

Zenaide- Seu Amadeu Pereira … Casado … Brasileiro… Causa da morte: Parada


Cardíaca. (Surpresa) Meu Deus, é verdade!

Amadeu- Viram só como eu não estava brincando? O papai aqui está mais morto
que nem o São Bento de Sorocaba. Lucinha, sente aqui a batida do meu coração.

Lucinha- Ai meu Deus! Não está batendo! Mãe, o papai está morto mesmo!

Amadeu- Carlinhos esperteza, sente aqui o meu pulso, afinal, você está fazendo
um curso de medicina.

Carlinhos- Incrível! Ele está mais parado do que o ataque do América no Rio de
Janeiro. Que isso, pai?

Amadeu- Então, seus topetes, acreditam agora?

Zenaide- Mas…

Amadeu- E vocês, não vão chorar? Ein? Não vão chorar? Porque, se vocês gostam
de mim, tem que chorar. Chorem.

Zenaide- (Confusa) Mas como é que é isso, Amadeu? Como é que você está morto
se você está vivo… em pé… andando… e falando?

Amadeu- O médico disse que é de teimosia, mas, assim que eu me acostumar com
a ideia, a coisa fica bem mais fácil.

Lucinha- Médico? Quer dizer que você foi ao médico?

Amadeu- É claro que fui, Lucinha. Quem você acha que assinou meu atestado de
óbito? O açougueiro Orlando? E como é que eu ia saber que eu estou morto?

Carlinhos- Olha aqui, pera aí, garota. Pai, o senhor, por acaso, pagou a consulta?

Amadeu- É claro que eu paguei, meu filho. Paguei R$120,00.


Carlinhos- Que isso? Como é que pode? Então, o senhor, me desculpe, mas o
senhor é muito burro, entendeu? Muito burro. Onde já se viu um homem pagar por
uma consulta médica na hora que ele está morrendo?

Amadeu- Sabe que você tem razão, meu filho. Quer dizer que, além de defunto
vivo, eu também sou morto burro?

Carlinhos- Com certeza.

Zenaide- Escute aqui, menino. Como é que você fica discutindo com o seu pai
numa hora dessas? Respeite o seu pai, afinal, ele é um defunto, respeite a memória
dele.

Lucinha- Ôh mãe, eu acho melhor a gente telefonar para o médico pra perguntar,
sabe? E também para confirmar se é para fazer o enterro ou não.

Amadeu- Então faz isso mesmo e, depois, você pode aproveitar e ligar para a
funerária e encomendar o meu caixão, tá bom? (Cantarolando) “Quando eu morrer,
me enterre lá, quando eu morrer…”

Zenaide- Escute aqui, Amadeu, você exagerou. Pare de brincar com coisa séria!

(Ligação com o Médico)

Zenaide- Alô, seu doutor, aqui é a dona Zenaide, mulher do Amadeu, aquele que
morreu, mas não morreu. O que o senhor me disse.

Médico- Bom, veja só, dona Zenaide… Olha, a Senhora pode ficar sossegada,
calma e já pode encomendar o vestido de luto. Sabe o porquê? Porque o seu
maridinho já era… Ah, e não me esqueça de me convidar para o enterro

Zenaide- Mas, doutor, como é que pode? Ele está morto, mas continua vivo?

Médico- Olha, dona Zenaide, a senhora me desculpe, mas eu não posso fazer
nada, veja bem o coração dele… não está trabalhando e a pulsação dele parou,
entende? Olha, clinicamente, ele está morto, e o lugar de morto a senhora já sabe
onde é, não é mesmo? Este é o mundo dos vivos.

Zenaide- Está bom, doutor. Muito obrigado mesmo, viu? Olha, o enterro será
amanhã sim, e o senhor está convidado

(Fim da ligação)
Carlinhos- Mãe, o que foi que o médico disse?

Zenaide- Ah meu Deus! O seu pai está morto mesmo!

Carlinhos- Que?

Amadeu- Está vendo? Eu não sou o homem da mentira, não. Quando eu digo que
eu estou morto, é porque eu estou morto mesmo, mas, outra coisa, eu sei que eu
serei o único defunto (Lucinha fica com medo e Amadeu percebe)... Tá com medo
de mim, Lucinha? Eu sou o único defunto que vai assistir ao próprio velório.
Carlinhos, meu filho, procure um alfaiate e pega aquele meu terno, eu quero ser
enterrado com ele. Vamos lá, por mim.

Carlinhos- Papai…

Amadeu- O que foi, Carlinhos?

Carlinhos- Ôh papai, eu nunca fui… o papai pode me conceder um último pedido


papai?

Amadeu- Vê se não pede dinheiro, né Carlinhos?

Carlinhos- Eu sei que o senhor é pão duro mesmo, papai. Eu nunca dei um abraço
num morto, pai. Posso abraçá-lo?

Amadeu- Pode, Carlinhos

(Amadeu e Carlinhos se abraçam)

3° Cena- Velório com o Amadeu no caixão

Amadeu- Nem Freud explica essa situação. Vamos entrando… senta em cima…
pede bebida que a conta é da casa.

Mulher da Loira- Ah, coitado, logo você que era um homem bom.

Amadeu- Ah coitado, além de homem eu também era bom, eu só não sei qual eu
era melhor, se eu era mais homem ou se eu era “mais bom”.

Mulher Unha de Fome- É, mas os bons sempre morrem mesmo. Pobre Amadeu.

Amadeu- O que não é o seu caso, né sua velhinha, unha de fome, Vai ficar com
fome a vida toda aqui na Terra.
Mulher da Peruca- Pobrezinho… Quem dera que fosse eu.

Amadeu- Eu também preferia que fosse a senhora, mas igual a senhora o inferno
nem está precisando. Tá pensando que o diabo quer problema?

Empresário- Amadeu, meu velho. Quanto tempo, peguei uma folga e interrompi
uma reunião e vim dar o meu último adeus, Amadeu.

Amadeu- Ora, Gustavo, não precisava se incomodar e nem tão pouco me interessa
aquela sua reuniãozinha de todo final de expediente com a sua secretária.

Bêbado- Amadeu, meu velho amigo. E agora? Como é que vai ficar as nossas
farras, Amadeu? Quem é que vai fazer comigo, Amadeu?

Amadeu- Calma, Penintino, assim tu me mata de tristeza.

Bêbado- Desculpa.

Amadeus- Eu sei, imbecil, é força de expressão.

Médico- Amadeu… Ei, Amadeu… Como é que você está?

Amadeu- Morto, né?

Médico- Amadeu, você vai me desculpar, mas posição de defunto é deitado.


Amadeu, você tem que deitar, é uma ordem.

Amadeu- Olha, Doutor, se eu estou morto, como é que eu vou escutar? Mortos não
obedecem ordens, não.

Médico- Tem razão, me desculpe. Em todo caso, minhas desculpas e meus


sentimentos. Ah, e quando você lá no céu, me manda um cartão postal, tá?

Amadeu- Aí é que tá o problema, doutor, quando a tampa desse caixão fechar, eu


sei que vou sentir muito medo. Eu não sei o que me espera lá do outro lado da vida.

Médico- Ora, Amadeu, você sempre foi um homem religioso, bom, honesto,
cumprindo os seus deveres da sociedade, mas é claro que você vai pro céu!

Amadeu- Eu sei, mas, no fundo, eu vou sentir muito medo. Doutor, quando eu ia
para a igreja, eles me ensinavam muita coisa, olha, eles me ensinaram a ser um
bom marido, me ensinaram a ser um bom homem na sociedade, a criar meus filhos
dentro dos princípios morais, eles me prepararam para tudo, doutor, eles só não me
prepararam para essa coisa…

Médico: O que?

Amadeu: Pra morrer, doutor.

Médico- Olha, Amadeu, é… vou te contar uma coisa, uma coisa que a minha mãe
me contou, quando eu era pequenininho, sabe? Ela me dizia umas histórias aí da
bíblia. Ela me dizia que a passagem para o céu era Jesus Cristo e não precisava
pagar, já que era de graça .

Amadeu- Mas eu tenho certeza que dessa passagem eu não consigo.

Crente- Fique calmo, você pode tê-la agora mesmo.

Amadeu- E você tem? Se você tem, me dê logo! Está quase na hora de eu partir,
aliás, toda hora é hora de partir, sempre é preciso possuir a passagem em mãos.

Crente- Para você conseguir esta passagem é muito fácil, você só precisa se
arrepender de seus pecados e pedir que Jesus Cristo venha morar em seu coração.

Amadeu- Mas é só isso? Não precisa de mais nada? Então é simples assim?

Crente- É claro

Amadeu- Mas eu não entendi, se eu estou morto, como é que Jesus vai morar no
meu coração?

Crente- Olha, Amadeus, todas as pessoas que não tem Jesus Cristo em seu
coração, estão mortos para Deus, mas, quando Jesus Cristo entra em uma vida,
significa que aquela pessoa passou da morte para a vida. É um salto de um
trapezista de circo e você precisa desse salto hoje.

Amadeu- Então, sendo assim, eu quero orar agora.

Crente- Então vamos orar.

Amadeu- Deus, eu não presto, eu sei que eu não valho de nada, mas, neste
momento, eu me arrependo de todos os meus pecados e peço que Jesus Cristo
venha morar em meu coração. Ah! E que ele também dirija a minha vida da maneira
que quiser. Amém!
Médico- (Surpreso) Amadeu! Amadeu, eu não sei o que está acontecendo aqui,
mas… (Ele vai pedindo licença até chegar perto de Amadeu), Amadeu, alguma
coisa que está acontecendo aqui de diferente que nunca aconteceu na minha vida.
Pera, deixa eu dar só uma escutadinha (Ele usa o estetoscópio no Amadeu).
Incrível, Amadeu! Eu nunca vi isso! É… é… Você está respirando! Amadeu, Seu
coração está batendo!

Amadeu- O que é que é isso, doutor?

Doutor- Amadeu, Amadeu, (Ele tenta falar, mas fica gaguejando pela surpresa) Teu
pulso está, está, eu não sei, é, é, é, tá normal! Amadeu, eu não sei como dizer, mas
você está vivo!

Todos- É um milagre!

Cena Congela

4° Cena- Narração

Narradora- Repararam? Amadeu está morto ou vivo? Talvez, hoje, eu poderia fazer
essa pergunta para você. O que você me responderia? Pense nisso. Amadeu vivia
uma vida cheia de aventuras, fazia o que bem entendia, o que achava melhor, talvez
pela ignorância, não sei, porque você é bem vívido. É o que eu fazia na minha vida
também, o melhor que me apraz eu fazia, buscava aventuras e aventuras e percebo
também que, agora, vocês me olhando e o Espírito Santo tocando no coração de
vocês e, mesmo assim, percebendo que eu devo estar louco, porque eu estou
rodando em círculos, círculos e mais círculos. Talvez os mais experientes possam
notar que isso é uma marcação, mas é uma marcação do Espírito Santo, porque
não foi marca minha que o Espírito Santo irá falar ao seu coração, porque um dia
ele me parou e me mostrou que a minha vida era um círculo e quantos tantos outros
aqui fez a mesma coisa. Que o espírito Santo possa falar ao seu coração, neste
momento, como falou ao meu um dia e eu aceitei a ele e disse:” Senhor, assuma a
minha vida daqui pra frente. E agora pode observar a minha vida daqui pra frente”.
E agora pude observar que a minha vida segue em linha reta, uma linha reta cheia
de amor, de paz, felicidade, de problemas também, mas tenho forças, porque a
Bíblia diz: “A alegria do Senhor é a nossa força”. E que o Senhor possa falar ao seu
coração, porque nosso ditado diz que a bíblia é o nosso slogan: “E conhecereis a
verdade, a verdade está na palavra de Deus, e a verdade vos libertará.” Como
Jesus fez comigo e com muitos que estão aqui, humildemente, tentando passar a
vocês qual é a verdade, a verdade que nos transforma, a que nos dá a cura interior,
que nos transforma, amor de estarmos aqui representando Jesus, aquele Jesus que
transformou a minha vida e quer transformar a sua. Ele está aqui, neste lugar, sinta
ele neste momento e que, em nome de Jesus, entregue a sua vida a ele. Talvez
sejam muitos os nossos problemas, mas eu posso te garantir que ele está
resolvendo todos os meus problemas assim como ele resolveu de tantos aqui. Aqui,
é a terra dos Milagres, aqui, Deus habita! Amém!

Você também pode gostar