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travessia muito arriscada.

Muitos haviam tentado e acabaram engolidos pelo mar


O DESCOBRIMENTO DO BRASIL tenebroso, sem nunca mais porem os pés em terras portuguesas. Assim, toda a
– ... E foi assim que, no dia 22 de abril de 1500, cidade acompanhava ansiosa a barca ou
Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. barriel, carraca ou galeão, contando os
– E o que aconteceu depois, papai? Puxa! Deve ter minutos para o grande evento.
sido uma aventura e tanto! Finalmente, em 9 de março de 1500
– Isso é o que vamos ver amanhã, filho. Agora está
(era um domingo), as treze embarcações e sua
na hora de dormir.
tripulação com mais de mil homens estavam
O quê? Mas vai acabar na Praia do Restelo. Era o grande dia tão
assim? Mil vira-latas esperado pelo rei! A côrte estava solenemente
me mordam! Eles estão perdidinhos nessa história, vestida de luto, como era o costume nessas despedidas, e o povo de Lisboa cobria
estão no mato sem cachorro! Não foi assim que as aquelas praias e campos de Belém, enquanto muitos batéis iam levando tanta
coisas realmente aconteceram. Eu sei. Eu, Caramelo,
gente e tantas bandeiras coloridas, que não parecia mar, mas sim um campo de
estava lá, e me lembro bem desse dia.... prestem
atenção, crianças, que vou contar direitinho como flores. Trombetas, atabaques, tambores, flautas, pandeiros e até gaitas levantavam
tudo se passou... o espírito dos tripulantes. No coração de cada um, a animação da aventura
próxima misturava-se as lágrimas: era nada menos que a mais poderosa armada
que daquele reino jamais partira, na mais temível viagem rumo ao desconhecido.
No mar, não há garantias: pode-se chegar ao cume da glória ou ao fundo do
oceano. Ali muitos pais viram seus filhos pela última vez.
Eram embarcações grandiosas, mas a maior de toda a armada era a nau
Capitânia, um navio de vela, de grandes dimensões, com três mastros principais
que seria comandada por Pedro Álvares Cabral.
Enquanto os ajudantes carregavam as embarcações e o povo festejava,
naturalmente todos se esqueceram dos cachorros...
E nada melhor que passar despercebido quando há
fartura de comida. Meus irmãos e eu saímos
farejando por todos os lados atrás de um pão
deixado na beira da mesa, uma torta a esfriar na
Eu já
janela, uma sardinha dando sopa na feira. Até que,
era
de repente, o aroma de biscoito e carne seca me
atraiu para dentro daquela nau.
Seguindo meus instintos caninos, avancei
rapazote, ou cachorrote, e em toda a cidade de Lisboa só se falava de uma coisa: para dentro do navio. Como todos estavam muito
em breve a maior armada de sempre partiria rumo a Índia, a singrar o Atlântico. atarefados para se preocupar com um misero
Circunavegar toda a África, passando pelas Canárias e Cabo Verde, e enfrentar o cachorro, atravessei o convés sem grandes dificuldades até chegar ao porão, onde
temível Cabo das Tormentas até enfim pisar em Calicute, na Índia, era uma ficavam os mantimentos. E me dei bem! Empanturrei-me do bom e do melhor.
O único problema foi que, de barriga cheia, quando pensei em voltar para O único problema foi que, de barriga cheia, quando pensei em voltar para
a terra firme, fui sentindo cada vez mais sono, meus olhos foram ficando a terra firme, fui sentindo cada vez mais sono, meus olhos foram ficando
cansados, e então decidi me aninhar entre os sacos e barris do porão, só para tirar cansados, e então decidi me aninhar entre os sacos e barris do porão, só para tirar
um cochilo rápido. Quando acordei, tomei um susto: estávamos em alto-mar. um cochilo rápido. Quando acordei, tomei um susto: estávamos em alto-mar.
– Um cachorro! – gritou um marinheiro, quando me viu no convés. – – Um cachorro! – gritou um marinheiro, quando me viu no convés. –
Quem foi que deixou um cachorro embarcar?! Quem foi que deixou um cachorro embarcar?!
Ninguém respondeu. Os demais marinheiros pareciam não dar a mínima Ninguém respondeu. Os demais marinheiros pareciam não dar a mínima
para minha presença ali. Mesmo assim, continuei andando pelo convés, para minha presença ali. Mesmo assim, continuei andando pelo convés,
desconfiado, com o rabo entre as pernas e as orelhinhas bem levantadas, à espera desconfiado, com o rabo entre as pernas e as orelhinhas bem levantadas, à espera
de um ataque que poderia chegar de qualquer lado. Eis que então ouvi outro de um ataque que poderia chegar de qualquer lado. Eis que então ouvi outro
tripulante dar a ordem. tripulante dar a ordem.
– Prendam aquele cachorro! Ele pode nos ser útil em algum momento. – Prendam aquele cachorro! Ele pode nos ser útil em algum momento.
Saí em disparada e ninguém viu meu rastro? Saí em disparada e ninguém viu meu rastro?
Corri e me escondi entre os mesmos sacos e barris de madeira no porão. Corri e me escondi entre os mesmos sacos e barris de madeira no porão.
Tudo parecia igual, mas meu faro me avisou que alguma coisa estava diferente. Tudo parecia igual, mas meu faro me avisou que alguma coisa estava diferente.
Havia algo sinistro no ar. Olhei para um lado, para outro, cocei minha barriga Havia algo sinistro no ar. Olhei para um lado, para outro, cocei minha barriga
com a pata traseira, mas só via os mesmos barris e sacos de mantimentos. Foi com a pata traseira, mas só via os mesmos barris e sacos de mantimentos. Foi
então que senti um cheiro suspeito e, perto da parede, notei um rastro de farelo de então que senti um cheiro suspeito e, perto da parede, notei um rastro de farelo de
biscoito de marear. Segui a trilha e, por fim, encontrei uma figura curiosa: um biscoito de marear. Segui a trilha e, por fim, encontrei uma figura curiosa: um
pequeno rato, com os pelos desgrenhados e sujos, que, apesar do ar desleixado, pequeno rato, com os pelos desgrenhados e sujos, que, apesar do ar desleixado,
tinha ainda assim aquela aparência dos ratos simpáticos de Lisboa. O mais tinha ainda assim aquela aparência dos ratos simpáticos de Lisboa. O mais
estranho, que me deixou com a pulga atrás da orelha, é que ele vestia trajes de estranho, que me deixou com a pulga atrás da orelha, é que ele vestia trajes de
pirata. Aproximei-me com decoro e, na melhor disposição diplomática de meus pirata. Aproximei-me com decoro e, na melhor disposição diplomática de meus
antepassados caninos, dei-lhe uma lambida. antepassados caninos, dei-lhe uma lambida.
– Olá, seu Rato, meu nome é Caramelo. Vejo que o senhor também gosta – Olá, seu Rato, meu nome é Caramelo. Vejo que o senhor também gosta
de biscoitos... de biscoitos...
Ele ficou imóvel, encarando-me com aqueles olhos vermelhos, muito Ele ficou imóvel, encarando-me com aqueles olhos vermelhos, muito
desconfiados. desconfiados.
– Meu nome é Ratonildo, às suas ordens – respondeu-me ele secamente. – – Meu nome é Ratonildo, às suas ordens – respondeu-me ele secamente. –
Sou descendente de uma linhagem de ratos piratas que quase foi exterminada Sou descendente de uma linhagem de ratos piratas que quase foi exterminada
pelos malditos portugueses. Ah, raça de víboras! Mas chegou o dia de eles terem pelos malditos portugueses. Ah, raça de víboras! Mas chegou o dia de eles terem
o que merecem... – E, avançando em minha direção com ar ameaçador, o que merecem... – E, avançando em minha direção com ar ameaçador,
arrematou: - e veja você, seu cachorro, de ficar bem longe do meu tesouro. Esses arrematou: - e veja você, seu cachorro, de ficar bem longe do meu tesouro. Esses
biscoitos são meus, todos e só meus! biscoitos são meus, todos e só meus!
cachorro, atravessei o convés sem grandes dificuldades até chegar ao porão, onde Seu olhar botava tanto medo, que instintivamente fui indo para trás até me
ficavam os mantimentos. E me dei bem! Empanturrei-me do bom e do melhor. ver encurralado.
– Calma, calma. – disse eu, sobre duas patas e encostando no tonel de especiarias na Índia, mas sim em busca de gigantescas, das lendárias, das
vinho. – Não sou nenhum cão dos mares, apenas me vi nessa nau, e agora não sei extraordinárias pirâmides de queijo no Egito, e vamos dominá-las para todo o
mais como voltar para a terra firme. sempre, criando o maior reino de roedores que esta Terra já viu: a Ratonilândia.
O rato estreitou os olhos e, dando uma mordida feroz em seu biscoito, Enquanto o rato esfregava as patinhas e soltava uma risada malvada, eu
anunciou seu plano maléfico com uma voz de ratazana: aproveitei para escapar correndo de volta para o convés.
A nau será sequestrada e ficará sob o comando de Ratonildo, seu capitão- Seu olhar botava tanto medo, que instintivamente fui indo para trás até me
mor. E ai de quem se colocar na minha frente. Não vamos mais atrás de ver encurralado.
especiarias na Índia, mas sim em busca de gigantescas, das lendárias, das – Calma, calma. – disse eu, sobre duas patas e encostando no tonel de
extraordinárias pirâmides de queijo no Egito, e vamos dominá-las para todo o vinho. – Não sou nenhum cão dos mares, apenas me vi nessa nau, e agora não sei
sempre, criando o maior reino de roedores que esta Terra já viu: a Ratonilândia. mais como voltar para a terra firme.
Enquanto o rato esfregava as patinhas e soltava uma risada malvada, eu O rato estreitou os olhos e, dando uma mordida feroz em seu biscoito,
aproveitei para escapar correndo de volta para o convés. anunciou seu plano maléfico com uma voz de ratazana:
Seu olhar botava tanto medo, que instintivamente fui indo para trás até me A nau será sequestrada e ficará sob o comando de Ratonildo, seu capitão-
ver encurralado. mor. E ai de quem se colocar na minha frente. Não vamos mais atrás de
– Calma, calma. – disse eu, sobre duas patas e encostando no tonel de especiarias na Índia, mas sim em busca de gigantescas, das lendárias, das
vinho. – Não sou nenhum cão dos mares, apenas me vi nessa nau, e agora não sei extraordinárias pirâmides de queijo no Egito, e vamos dominá-las para todo o
mais como voltar para a terra firme. sempre, criando o maior reino de roedores que esta Terra já viu: a Ratonilândia.
O rato estreitou os olhos e, dando uma mordida feroz em seu biscoito, Enquanto o rato esfregava as patinhas e soltava uma risada malvada, eu
anunciou seu plano maléfico com uma voz de ratazana: aproveitei para escapar correndo de volta para o convés.
A nau será sequestrada e ficará sob o comando de Ratonildo, seu capitão- Seu olhar botava tanto medo, que instintivamente fui indo para trás até me
mor. E ai de quem se colocar na minha frente. Não vamos mais atrás de ver encurralado.
especiarias na Índia, mas sim em busca de gigantescas, das lendárias, das – Calma, calma. – disse eu, sobre duas patas e encostando no tonel de
extraordinárias pirâmides de queijo no Egito, e vamos dominá-las para todo o vinho. – Não sou nenhum cão dos mares, apenas me vi nessa nau, e agora não sei
sempre, criando o maior reino de roedores que esta Terra já viu: a Ratonilândia. mais como voltar para a terra firme.
Enquanto o rato esfregava as patinhas e soltava uma risada malvada, eu O rato estreitou os olhos e, dando uma mordida feroz em seu biscoito,
aproveitei para escapar correndo de volta para o convés. anunciou seu plano maléfico com uma voz de ratazana:
A nau será sequestrada e ficará sob o comando de Ratonildo, seu capitão-
Seu olhar botava tanto medo, que instintivamente fui indo para trás até me mor. E ai de quem se colocar na minha frente. Não vamos mais atrás de
ver encurralado. especiarias na Índia, mas sim em busca de gigantescas, das lendárias, das
– Calma, calma. – disse eu, sobre duas patas e encostando no tonel de extraordinárias pirâmides de queijo no Egito, e vamos dominá-las para todo o
vinho. – Não sou nenhum cão dos mares, apenas me vi nessa nau, e agora não sei sempre, criando o maior reino de roedores que esta Terra já viu: a Ratonilândia.
mais como voltar para a terra firme. Enquanto o rato esfregava as patinhas e soltava uma risada malvada, eu
O rato estreitou os olhos e, dando uma mordida feroz em seu biscoito, aproveitei para escapar correndo de volta para o convés.
anunciou seu plano maléfico com uma voz de ratazana:
A nau será sequestrada e ficará sob o comando de Ratonildo, seu capitão-
mor. E ai de quem se colocar na minha frente. Não vamos mais atrás de
Parte 2: Descobrimento do Brasil Índia.
A ordem do capitão-mor foi prontamente atendida: passaram aquela noite
Ali, consegui me camuflar, sem ser descoberto, em meio a um ninho de e todo o dia seguinte procurando em cada canto do navio, mas não havia nenhum
corda enrolada. Tive assim um boa noite de sono. Já não pensava no rato e sinal do rato.
sonhava, feliz, com um mundo cheio de sardinhas de Lisboa, gordas, enormes. Após aquele susto, qualquer singelo balanço ou pequeno barulho fazia
Sonhava também com um barranco de grama por onde eu rolava para cair direto temer o pior. E não era para menos: embora os ventos fossem favoráveis e
no lago, e depois nadar no meu melhor estilo cachorrinho até a outra beira. De soprassem forte nas velas, era como se algo de fatal rondasse o navio enquanto
repente, porém, esse mundo de sonhos virou uma escuridão e senti um aquele rato estivesse a solta. E tinham razão.
chacoalhão de meter medo. Acordei assustado no meio da noite, olhei para os À medida que o sol se punha e a noite tomava o horizonte, um denso
lados e vi homens correndo, tonéis rolando, baldes revirados, o vento uivando por nevoeiro foi envolvendo, pouco a pouco, toda a armada, e a cada minuto se
entre as cordas e uma das velas solta, debatendo-se de seu rumo. tornava mais difícil a visão. Agora as embarcações eram apenas um pontinho de
Os homens subiam em disparada do porão, já recebendo ordens para soltar luz amarela no meio da cerrada massa arroxeada e as vozes guardavam algo de
umas cordas, amarrar outras. misteriosamente sombrio, de modo que a nau parecia povoada por fantasmas que
– Recolher velas! – Gritou Pedro Álvares Cabral, na tentativa de reduzir a assobiavam com o vento. De repente, todos aqueles pontinhos luminosos se
debandada. apagaram ao mesmo tempo, como que por um toque de mágica. Foi a noite mais
Ao comando corresponderam prontamente os marinheiros. Quando a longa de toda a viagem: os minutos pareciam horas e as horas pareciam anos.
situação parecia se acalmar, veio um movimento mais brusco, uma última corda Dava a impressão de aquela noite tenebrosa nunca chegaria ao fim. Contudo, não
se rompeu, e um grito lancinante cortou a escuridão: há mal que sempre dure, nem dor que não acabe.
– Homem ao mar! Homem ao mar! Homem ao O dia seguinte amanheceu milagrosamente límpido, mas os marinheiros
mar! comentavam que a noite tinha feito uma vítima: mesmo sem tempo forte ou
Antes de pronunciarem pela terceira vez “mar”, contrário, um navio tinha se perdido da frota e fora engolido pelo mar.
um dos tripulantes mergulhou oceano adentro em um Enquanto no convés Mestre João mexia desconsolado, em seus
salto frontal de espantosa beleza e coragem para salvar o instrumentos, o Capitão Pedro Álvares Cabral se aproximou e perguntou:
companheiro. – Mestre João, o senhor é um cosmógrafo experiente, responsável para
Rapidamente, conseguiram prender de novo as guiar a embarcação através das estrelas, e com certeza pode me responder: nos
velas e recolocar a nau em seu rumo, quando ouviu-se desviamos muito da nossa
um “urra-urra” geral que tomou toda a tripulação. A rota?
salvo, o homem que caíra no mar estava agora sendo Sem responder,
recolhido a bordo outra vez. mas com ares de sabedoria
– Capitão Cabral – interrompeu um dos tripulantes –, tenho más notícias: profunda, limitou-se a
o cabo da proa está comprometido. E pior: foi roído, provavelmente por um rato, olhar de volta e,
até se romper de todo. balançando a cabeça,
– Raios e trovões! – exclamou Pedro Álvares Cabral. – Não sucumbimos a voltou a mirar no céu.
mares tenebroso e tormentas avassaladoras, e agora um mero roedor quer nos O silêncio se
fazer naufragar! Vamos, peguem esse maldito rato! É questão de vida ou morte! prolongava e a nau
Temos de cumprir com nossa missão e levar as naus de nosso venturoso rei até a balançava no ritmo das
ondas. Por fim, o mestre respirou fundo e, virando-se para o capitão, disse em seu capitão.
tom ameno e grave: Eu, Caramelo, não podia deixar Ratonildo acabar com a maior armada de
– Em todos esses anos, capitão – começou ele –, nunca vi algo assim. sempre! Eu tinha, por assim dizer, a faca e o queijo na mão: eu era o único a saber
Astrolábios, quadrantes, ampulhetas, nunca vi todo os instrumentos danificarem de seus planos maléficos e também o único a poder farejar um rato tão pequenino.
juntos, como que amaldiçoados, ou melhor: roídos por dentes portentosos, dentes Assim, imaginando-me soldado do rei, eu já não podia mais passar o dia
capazes de quebrar os grilhões mais duros doe nosso reino. em brincadeiras, correndo atrás de meu rabo e a procura de biscoitos, pois tinha
Cabral fez gesto de querer dizer algo, porém foi interrompido. agora uma missão: encontrar o rato e tomar de volta as instruções de Vasco da
– Mas nem tudo está perdido, capitão – retomou o Mestre João e concluiu Gama, salvando o que restava de nossa armada.
com voz confiante. – Posso ver que estamos na direção certa. E ainda nos restam Agora, a cada passo, eu estava alerta, pronto para atacar o rato. Porém,
um astrolábio de madeira e as instruções de Vasco da Gama. passaram-se dias e mais dias, e nenhum sinal dele. Vasculhei de cima a baixo os
Mais esperançosos, os próximos dias correram de vento em popa: a compartimentos, todos os camarotes, o porão e até mesmo a gávea, e nada do
armada deslizava pelo oceano sem encontrar tempestade e com vento favorável. ratinho. Ele era pequeno, astuto e sabia se esconder.
Tudo dava a entender que, daí a uma quinzena de dias a embarcação chegaria em O luar iluminava todo o convés, quando então, já cansado de procurar, e
solo indiano. triste por não poder ajudar meus companheiros, eu me deitei para um cochilo
A tranquilidade daqueles dias foi interrompida por um grito estridente, noturno naquele mesmo ninho de corda enrolada do primeiro dia de viagem.
que pareceu quebrar a nau em duas: Desta vez, porém, tive um sonho diferente: sonhei com uma terra cheia de
–Raios! palmeiras, praias enormes, iluminadas por um cruzeiro de estrelas, e onde cantava
Era o Capitão Pedro Álvares Cabral eu, afoito, saiu correndo de seu um sabiá.
camarote. As palavras pareciam tropeçar em sua língua, e demorou alguns Quando acordei, a noite já tomava toda a nau. Olhei para frente ainda
segundos para que ele, diante da tripulação no convés, conseguisse formular a tonto de sono e, estreitando bem os olhos, não acreditei no que vi: o rato bem na
frase decisiva: ponta do timão segurando com suas minúsculas patinhas as instruções de Vasco
– Roubaram as instruções de Vasco da Gama! – Suspirou fundo e, da Gama. Sem saber ao certo se estava dormindo ou acordado, aproximei-me
cabisbaixo, arrematou: – Estamos perdidos! abaixado, com o rabinho ciscando levemente o chão. Dava cada passo, um atrás
Todos se entreolharam, sem saber o que dizer. do outro, como um gato entrando na casa do vizinho, atento para não ser ouvido.
– As preciosas instruções de Vasco da Gama, o Foi então que tive a certeza de pertencer a uma família de caçadores. Sem hesitar
grande descobridor, para contornar o ou sequer rosnar, saltei para cima do rato e o abocanhei de um só golpe.
continente africano...sumiram! estavam em um Ratonildo não se deu por vencido: rolamos pelo convés em batalha, derrubando
baú, guardadas a sete chaves, mas sumiram! baldes e batendo em tudo o que encontrávamos pela frente.
Estamos perdidos, estamos no mar sem O barulho de meu feroz ataque acordou os
cachorro! marinheiros que dormiam no convés.
Embora soubessem que era muito difícil e – O cachorro cor de caramelo pegou o rato! –
muito arriscado singrar o Atlântico sem as gritaram todos juntos.
instruções do descobridor do caminho E, latindo para eles, indiquei onde estavam os
marítimo para a Índia, os marinheiros não se artefatos roubados. Ao verem que as instruções de
desesperaram e continuavam confiantes na Vasco da Gama estavam a salvo, todos voltaram a
experiência dos mais velhos e nas decisões de gritar:
– Caramelo salvou a expedição! Caramelo salvou a expedição! 2. Encontre no texto o trecho abaixo e grife de laranja:
O capitão foi imediatamente acordado e, com as instruções em mãos,
“Rapidamente, conseguiram prender de novo as velas e recolocar a nau
proclamou dia de festa em minha honra. Foi uma grande celebração com muitos em seu rumo, quando ouviu-se um “urra-urra” geral que tomou toda a
gritos de “urra”. tripulação.”
Foi assim que eu, um pequeno filhote de cor caramelo, me vi levado e
jogado para o alto pelos marinheiros, aos gritos de “Viva o Caramelo!”. Quando Qual das expressões abaixo melhor define o significado de “urra-urra”?
me puseram de novo no chão do convés, o capitão se aproximou de mim e disse a) “Ai que dor!” b) “Viva! Viva!”
em tom solene:
c) “Socorro! Me ajude!” d) “Au au au” – latiu Caramelo.
– Cãopanheiro Caramelo, eu, Pedro Álvares Cabral, capitão-mor desta
embarcação e Cavaleiro da Ordem de Cristo, declaro oficialmente tripulante da 3. Na frase:
nau Capitânia e servidor de Dom Manuel I, o Venturoso, rei de Portugal, que com
“Mais esperançosos, os próximos dias correram de vento em popa: a
enorme coragem enviou seus homens em missão por mares nunca dantes armada deslizava pelo oceano sem encontrar tempestade...”
navegados e concluiu a solenidade apoiando sua espada sobre meus ombros.
Foi uma grande honra, e minha cauda denunciava o quanto eu estava A expressão “... deslizava pelo oceano...” quer dizer que:
orgulhoso por ter ajudado a tripulação. Contudo, por conta dos festejos, ninguém a) As Caravelas corriam perigo pois escorregavam sem rumo.
percebeu que, ao dar o bote no rato, eu também havia batido no timão, desviando
b) As embarcações estavam navegando com tranquilidade.
completamente a rota da nau...
Os dias que se seguiram foram de alegria, pois agora devíamos estar na c) Todos os tonéis de alimentos foram perdidos na tempestade.
rota certa e sem mais aquele rato terrível por perto para atrapalhar nossa viagem.
d) As pessoas escorregavam sem saber como se segurarem.
Os ventos continuaram favoráveis e, pouco depois, no entardecer do dia 22 de
abril de 1500, a uns 60 quilômetros da costa, aconteceu o que não era previsto: 4. Quem pegou as instruções de Vasco da Gama?
– TERRA À VISTA! TERRA À VISTA! TERRA À VISTA! – gritou a) Mestre João b) O cozinheiro.
um tripulante bem alto da gávea grande.
Não podíamos acreditar em nossos c) Caramelo. d) Ratonildo.
olhos: terra firme, terra mesmo, cheia de 5. Qual a intenção de Caramelo ao escrever a carta ao Rei Dom Manuel I?
árvores, mas.... não era a Índia!
a) Contar que foi ele que pegou o rato com as instruções de Vasco da
Enquanto servidor fiel do venturoso rei
Gama.
de Portugal, coube a mim, seu servo Caramelo,
escrever com minhas próprias patinhas uma b) Relatar as tempestades sofridas em alto mar.
carta sobre o grande descobrimento que c) Mostrar que ele foi muito importante nessa viagem, apesar de entra na
havíamos feito. Assim lati ao Rei Dom Manuel embarcação sem ter sido convidado.
I:
d) Contar sobre a chegada em terra firme, um lugar ainda desconhecido
por Cabral e seus homens e mais tarde se chamaria Brasil.
Vamos analisar o Texto:
1. Enumere os parágrafos do texto.
6. Leia o texto abaixo: 6- Leia o texto abaixo:

Que relação ele faz com o texto “O descobrimento do Brasil” Que relação ele faz com o texto “O descobrimento do Brasil”
narrado por Caramelo? narrado por Caramelo?

a) Ambos contam histórias de Cabral. A) Ambos contam histórias de Cabral.

b) O texto narrado por Caramelo conta a história do B) O texto narrado por Caramelo conta a história do
descobrimento do Brasil e o texto acima é somente um versinho descobrimento do Brasil e o texto acima é somente um versinho
rimado. rimado.

c) Os textos são escritos de maneira diferente, mas ambos falam C) Os textos são escritos de maneira diferente, mas ambos falam
sobre o Descobrimento do Brasil. sobre o Descobrimento do Brasil.

d) O segundo texto é apenas um desenho de crianças felizes em D) O segundo texto é apenas um desenho de crianças felizes em
uma embarcação. uma embarcação.

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