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Os descobrimentos marítimos portugueses eram, nos finais do século XV, uma das

prioridades estratégicas de D. João II, que ascendeu ao trono em 1481 e que mudou a
sua residência do Castelo de São Jorge para o Terreiro do Paço (Paço da Ribeira) que,
por esse motivo, assim ficou conhecido: o grande “terreiro” onde e em redor do qual
se concentravam os grandes estaleiros de construção naval de Lisboa e onde ficou
instalado o paço real, no lado ocidental da “praça do comércio”. Seria esse o melhor
local para o jovem soberano vigiar o Tejo, lá do alto de uma fina torre, ali mesmo a
dois passos das ruelas de fama duvidosa por ele preferidas em escapadelas nocturnas.
Portugal fica na vanguarda dos países seus contemporâneos ao ser o primeiro a
transformar a pesquisa tecnológica e científica em política de Estado e ao abrir as
portas a especialistas aragoneses, catalães, italianos e alemães com o objectivo de
aumentar e enriquecer os conhecimentos náuticos de oficiais e simples marinheiros.
Esta política seria incrementada com o saber de pilotos orientais.[62][63][64][65]
Várias expedições se fazem com tripulações portuguesas integrando expatriados de
outros reinos que levarão à descoberta dos arquipélagos
dos Açores, Madeira e Canárias. Com sérios argumentos, afirmam alguns
historiadores que caravelas portuguesas terão entretanto alcançado o Brasil.
Relacionam-se tais argumentos com projectos secretos de João II que, antes
do Tratado de Tordesilhas contratou navegantes e cartógrafos. De Lisboa partem
inúmeras expedições nessa época dos descobrimentos (séculos XV a XVII), como a
de Vasco da Gama, em 1497–1498, fazendo melhorar o porto de Lisboa, centro
mercantil da Europa, ávida por ouro e especiarias.[66]
Na alta da expansão colonial portuguesa, as casas ribeirinhas de Lisboa tinham entre
três a cinco andares: uma loja e, acima dela, instalações comerciais. Duas gravuras da
Rua Nova dos Mercadores no século XVI descobertas em Londres ilustram essa
realidade e o importante papel da presença negra na cidade.[67] Lisboa passou a
ocupar o lugar de Génova no comércio de escravos[68] provenientes de África, da
Península Ibérica[69] e resto da Europa[70] Tornou-se um porto em que circulavam
cativos que depois eram vendidos para diversos pontos da Europa.[71][72]
A maior riqueza de Lisboa desde o fim do século XVI era o ouro e o monopólio dos
produtos do Brasil. Findos os conflitos e guerras entre conservadores e liberais, foi
perdido o monopólio e do ouro só uma pequena parte chegava aos cofres reais devido
ao contrabando e à pirataria.[73][74]
Terreiro do Paço em 1662, junto à arcaria vê-se soldados portugueses a praticar tiro
em plena Guerra da RestauraçãoRepresentação da cidade no século XVIII
Encontrava-se o país numa situação económica difícil quando as nações da Europa,
iniciando a industrialização, enriqueciam com o comércio das Américas (a Inglaterra
viria a dominar o comércio brasileiro) e da Ásia. Os problemas do comércio
aumentam quando, em 1636, os catalães se revoltam, povo mercador como o de
Lisboa também oprimido pelas taxas castelhanas. É a Portugal que Madrid vem
reclamar homens e fundos para submeter a Catalunha. É então que os mercadores da
cidade se aliam à pequena e média nobreza. Tentam convencer o Duque de Bragança,
Dom João, a aceitar o trono, mas este, como o resto alta nobreza, é favorecido por
Madrid e só a intenção de o tornar rei o convence. Os conspiradores assaltam o
Palácio do Governador e aclamam o novo rei (D. João IV), primeiramente com o
apoio do Cardeal Richelieu, francês, e depois recorrendo à velha aliança com
a Inglaterra, processo este designado como Restauração da Independência (1640).[75]
Lisboa seria então o grande palco de autos-de-fé movidos
pela Igreja contra apóstatas, heréticos, cristãos-novos, judeus em particular, acusados
de desvios do cristianismo.[76] Além destes, qualquer cidadão podia ser sacrificado
por “pecados” irrisórios denunciados por vinganças mesquinhas. A delação era
elevada a virtude. Na maior parte dos casos por falsas razões ou por motivos fúteis, as
vítimas eram queimadas vivas em aparatosas fogueiras acendidas em locais como o
Rossio e a Praça do Comércio, perante multidões excitadas que à vezes apaziguavam
a vergonha com churrascadas e vinho.[77][78] Tais espectáculos, animados por
hábeis carrascos da Coroa, em que participavam representantes das autoridades
eclesiástica e secular, duraram até 1821. Eram regularmente honrados com a presença
do rei D. João V, que se empenhava em não ficar aquém da vizinha Espanha e de
outros países europeus em obras grandiosas, notáveis feitos e grandes medidas como
as do Santo Ofício. Tais práticas repressivas, cultivando o medo, suscitando
um estigma na alma de um povo, serviriam de modelo a governantes vindouros, que
delas souberam tirar bom partido.[79][80] Foi ele quem ordenou em 1731 a
construção do Aqueduto das Águas Livres.[81]

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