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As Muralhas do Sacrifício

É a Aurora do centésimo dia do outono, o céu já não


tem mais o tom sombrio da noite. O amanhecer traz seu
canto no céu, talvez um fio de esperança.
Na mata que nasce nos limites do vilarejo de Ondnun,
a um dia de viagem da cidade de Beyg, passos apressados e
fortes marcam a terra e espatifam folhas secas. Ele corre e
salta em meio a mata, tropeça, cai, se levanta rapidamente e
continua correndo, ele para atrás de uma árvore apoiando as
costas em seu tronco. Em seu rosto, suor, lágrimas e poeira se
mesclam. Sujo, confuso e desesperado ele tenta tomar fôlego
para continuar. Ele ouve o silêncio da mata e sabe que Ela
está em seu encalço. Sua mente tenta processar o fato e uma
torrente de lembranças passa como uma cachoeira que joga
água com força sobre as pedras. Ele percebe um leve remexer
das folhas secas no chão. Ela está próxima. Seus olhos
derramam lágrimas pesadas, a criatura sedenta que o
persegue parece ter saído de um pesadelo, um ser retirado de
um dos nove infernos e jogado na terra. Ele apoia as mãos no
tronco da árvore para tomar impulso, nesse instante, ele
sabe. Em meio aos galhos finos ele vê os dedos compridos,
esqueléticos, ossos pontiagudos rasgando a pele dos dedos,
no corpo a ferida aberta pela faca que ele cravou em seu
peito, a boca rasgada se alonga dando um sorriso macabro de
orelha a orelha, a pele suja de sangue e terra, olhos que
transmitem raiva, dor, angústia. Ele não possui mais forças
para continuar, afastando-se lentamente do tronco ele encara
a horrenda criatura que irá devorá-lo, tentando encontrar
resquícios da mulher que há apenas um dia ele chamara de
esposa. Seus lábios se abrem e com a voz trêmula sussurra
sua ultima palavra, Alina.

Há alguns dias, um profeta de Palyar o deus da


profecia, um clérigo respeitado chamado Gilrien, chegou à
capital para ver o rei Antuar com máxima urgência. Em seu
encontro com o rei, Gilrien disse que recebeu uma visão que
não gostaria de ter visto.

- Eu não quis acreditar, vossa alteza! Preferiria


arrancar meus olhos e que Palyar entregasse minha vida nas
garras da morte do que ter que portar e lhe entregar tal
notícia. – disse Gilrien com o peso da aflição em sua voz.
- O dom me dado muitas vezes é uma maldição. Vosso
reino passará por uma terrível batalha. Sua terra será
marcada com o sangue de seu povo. Os pássaros entoarão
lamentos e não mais cantos. Em minha visão, um caixão está
em uma sala ornada com lindos mármores e metais, algumas
pessoas se juntam para a despedida. Um homem com um
chapéu nobre comanda a cerimônia. Do caixão sai um homem
violento que não mais está morto, mas também não está para
a vida.

As palavras do clérigo encheram de temor e tensão a


mente de todos na sala do trono, e sem hesitar ele continuou.
- O homem violento tem sangue nas mãos, ele ataca
as pessoas em volta, algumas caem e logo se levantam como
homens violentos atacando outras pessoas. Uma taça de
vinho cai misturando a bebida ao sangue no chão. O mestre
da cerimônia então empurra uma mulher para fora da bela
sala, ela fecha a porta e sela pelo lado de fora.

Fitando o rei como se olhasse dentro de sua alma,


Gilrien lhe explica.

- O senhor, meu rei, é o mestre da cerimônia, as


pessoas atacadas em volta do caixão são teu povo. A linda
sala é teu lindo reino. Se a visão me foi dada acredito que
ainda possamos salvar o povo de Zenabi. Ainda a tempo.

O rei foi encarado por seus conselheiros. A fama de


Gilrien o precedia, um clérigo agraciado com o dom da
vidência desde muito novo. O próprio rei Antuar já lhe
consultara em uma ocasião passada. A primeira decisão do rei
foi mandar um grupo para averiguar a situação, saber se a
visão já havia começado. De acordo com os detalhes da visão
de Gilrien, o acontecimento seria em Ondnun, então levariam
quase três dias para chegarem, mais aproximadamente um
dia até um pássaro trazer notícias. Um pedido de ajuda
também foi enviado aos reinos amigos de Zenabi.
Um dia havia se passado desde que o grupo foi
enviado nessa missão e enquanto traçavam o plano, sentados
na mesa de debates na sala do trono, um jovem que servia o
rei, o clérigo e os conselheiros derruba uma taça de vinho.
Como se o tempo diminuísse sua velocidade, Gilrien observou
o vinho sendo espalhado na mesa. Ele se lembrou de sua
visão e soube. Já havia começado. Os guerreiros foram
enviados para as portas da morte.

Com uma forte cavalgada os guerreiros enviados pelo


rei Antuar contemplam fumaça vinda de chaminés. O vilarejo
está próximo. Deixando a noite para trás a comitiva segue
com urgência. Dois dias e meio desde sua partida da Capital.
Comandados por Elduin Indal, uma meio-elfa de cabelos
curtos e castanhos, olhos turquesa, uma exímia espadachim,
merecedora do título de terceira capitã do exército de Zenabi,
o grupo margeia uma pequena e fechada mata. Com sete
bravos soldados sob sua liderança, Elduin aperta forte a rédea
de seu cavalo. Seu coração pulsa trazendo lembranças de seu
lar, seu marido, sua irmã, logo ela pensa em todo o povo,
tendo em mente o quão importante é sua demanda. Ela olha
para seus irmãos de batalha, os irmãos arqueiros Antnor e
Falibor que são humanos, o anões Glodrin e Bermadri, um
paladino da Paz, os humanos Balviar, Firnand e Siana, e pensa
nas palavras de Gilrien:

-Essa será uma batalha que vocês nunca pensaram em


enfrentar. A vida não só do vosso reino, mas também de toda
Alarium poderá findar se não tomarmos as decisões corretas.
Que a Sabedoria de Palyar e a bondade de AZ estejam
convosco nessa missão.

Enquanto seguem em disparada para o vilarejo seus


olhos élficos notam uma movimentação a alguns metros
dentro da mata. A luz ainda é fraca. O farol de Ahtla, que é
como alguns povos élficos chamam o sol, ainda não despertou
totalmente. Com um gesto de Elduin os cavaleiros param
atentos a seus comandos. A destemida líder desmonta e faz
um sinal para três dos cavaleiros seguirem com ela até o foco
de sua observação. Logo nos primeiros passos adentrando a
mata, Elduin, seguida por Siana e Balviar, vê o homem
tomando fôlego encostado em uma árvore. Não muito atrás
desse pobre mortal, os poderosos olhos de Elduin veem um
ser serpenteando no tronco das árvores, passando pela copa
e pelos galhos secos até parar sobre a árvore usada pelo
homem para descansar. Ela vê o homem se virando e caindo
perplexo, tentando se afastar já sem forças. Antes que a
Capitã possa perceber o que é tal criatura, com ferocidade ela
salta sobre o homem no chão. Elduin empunha sua espada.

As areias do tempo contam um dia e meio desde a


partida dos guerreiros. Um pedido de ajuda foi mandado aos
reinos vizinhos de Molten, Emilor, Rajeun e Kainar assim que a
marcha rumo a Ondnun teve inicio. Utilizando um artefato
mágico, similar a um espelho, Gilrien recorreu a reinos mais
distantes, porém amigos de Zenabi: Mizar e Fynhrar. A
resposta deles foi imediata.
Conhecido desde tempos antigos por ser um reino de
poderosos magos, Fynhrar enviou dois dos maiores
arquimagos da época. Mizar enviou clérigos de AZ, o Senhor
do Poder e Bondade, o sumo sacerdote de AZ, Daggan, um
clérigo de grande poder veio em auxílio a Zenabi.
Daggan e mais três clérigos chegaram por meio da
magia. Uma esfera de luz envolta a correntes de energia
cintilante tomou forma na sala do trono e, quando se
dissipou, revelou o líder dos clérigos de Mizar. Poucos
minutos depois os arquimagos do reino de Fynhrar, Belder e
Carmila, chegaram da mesma forma.

- Sois bem vindos, caros amigos. Sua disposição alegra


nossos corações e fortalece nossos espíritos! – anuncia Gilrien
ao recepcionar aqueles que responderam ao chamado do rei.
- Sabes que tenho grande estima por ti, velho amigo. –
Respondeu Daggan.

Daggan e Gilrien se conhecem há tempos. Enquanto


ainda estudava na ordem do Templo Celeste, Gilrien havia
sido pupilo de Daggan.

- Belder, o Dourado, e Carmila, Senhora da Neve, não


existem palavras para lhes agradecer. Os bons deuses
abençoem vossos nomes.
O clérigo de Palyar colocou todos a par das decisões
tomadas e o que planejavam a partir dali. Carmila trouxe
consigo pergaminhos encantados com teleporte, que lhes
seriam muito úteis em tal situação.

Fitando a criatura violenta, Elduin ruma em direção


ao embate sinalizando para Siana.
Siana é o que os soldados chamam de Guerreira
Arcana, ela foi treinada nas artes da guerra e também em um
conhecimento superficial das energias que permitem os
mortais utilizarem a magia. Pela expressão de Elduin, Siana
sabe o que precisa fazer, ela flanqueia para a direita com sua
arma em punho. Algumas palavras saem dos lábios de Siana,
símbolos circulam suas mãos passando para sua espada
fazendo sua lâmina trovejar, Arcadanium. A guerreira arcana
arremessa sua espada em direção à criatura atingindo-a na
lateral esquerda de seu corpo esquelético. O ser monstruoso
faz ecoar um grito horrendo. Siana acredita que sua lâmina
imbuída com a energia arcana do relâmpago provocou dor e
feriu a criatura. Elduin, seguida por Balviar, notou que o urro
daquele ser veio não pela dor, mas sim por ter sido tirada de
sua presa com o impacto da arma de Siana, com a espada
cravada em suas costelas, a besta é lançada alguns passos
longe do corpo do pobre homem. Os fortes e esguios dedos
da mortal criatura que antes fora chamada Alina, seguram a
espada de Siana e ao retirá-la de seu corpo os ossos de suas
costelas podiam ser vistos se movendo sob a pele rasgada.
Aquele sorriso macabro em seu rosto se volta para Elduin.
Como em uma cena cruel, violenta, regida por algum deus
sádico no teatro da vida, Elduin segue contra a criatura que
nunca antes ouvira falar, nem mesmo em canções entoadas
por bardos. A pele na face da besta começa a ser empurrada
rasgando-a ainda mais. Seus ossos se deformam, em poucos
segundos um focinho ósseo como que de lobo era a nova cara
desse ser mortal.
Na beira da mata Antnor, Falibor, Glodrin, Bermadri e
Firnand mantêm guarda atentos a um possível chamado de
sua líder. Com o arco preparado Falibor volta sua atenção a
um movimento na estrada. Ao longe parece que alguém está
vindo, possivelmente do pequeno vilarejo que é o destino dos
guerreiros do rei.
Antes que pudesse definir quem vinha ao longe, o
grupo à beira da mata é atacado. Dos arbustos do lado
contrário à mata surge um ser rápido e violento. Firnand não
teve a chance de ver o que rasgou sua garganta. De sobre
salto Bermadri levanta seu machado contra a fera que tem
jeito de humano com braços e pernas alongados, corpo
esguio, ossos da coluna saltando para fora. O Assassino de
Firnand olha para Bermadri e grita, sua boca rasgada até
próximo as orelhas possui fileiras de presas. Falibor dispara
uma flecha atingindo o ombro esquerdo da criatura, que
ignora o ferimento. Glodrin se posiciona flanqueando a besta.
Assim como a flecha de Falibor, o machado Sagrado de
Bermadri é ignorado pelo monstro. O forte machado forjado
pelos anões da montanha de fogo acerta as costas da criatura,
mas não antes das suas garras atravessarem a armadura de
Bermadri fazendo seu sangue jorrar no solo.

- Que tipo de besta é essa? – Questiona Antnor


pasmo.

- Seus olhos... – Falibor não consegue terminar a frase


encarando a criatura que parece ser feita de Fúria, Angústia e
Sofrimento.

Ao ver Bermadri ser golpeado, Glodrin desfere um


golpe com seu martelo empurrando a besta para longe do
corpo já sem vida do companheiro.

- CRIATURA NEFASTA! – Grita Glodrin.


- Enviarei sua carcaça de volta para a terra podre de
onde saiu, cria de Eifon. – Ao ver a criatura ceifando a vida de
seus companheiros fazia sentido para Glodrin que tal ser fosse
cria do deus obscuro da Morte e Inveja, Eifon.

Enquanto atacavam na tentativa vã de eliminar aquele


ser horrendo, entre uma flecha e outra Antnor olhava para a
estrada para distinguir se quem estava a vir era amigo ou
inimigo. Os passos do andarilho tornaram-se largos e
apressados.

- Outra besta vem ai. – Grita aos seus companheiros.


Glodrin tenta segurar como pode seu adversário
enquanto os irmãos arqueiros tomam aquele que estava
chegando como alvo. Flechas voaram no ar, o martelo de
Glodrin atinge várias vezes o monstro. Atentos ao combate,
os olhos dos bravos soldados não notaram o corpo de Firnand
tremendo no chão. Como se os ossos bailassem por debaixo
da pele, pontas ósseas saltam pelo ferimento que lhe tirou a
vida. Seus braços e pernas se alongam. Com um urro que faz
cessar o combate, a boca de Firnand se rasga mostrando
presas como emaranhado de grandes espinhos. Aqueles que
foram seus companheiros em vida presenciam Firnand se
erguer como um dos monstros com os quais digladiam.

- Isso... Algum necromante está aqui! Isso só pode ser


obra de um Necromante! – Brada Falibor.

Forçando sua mente com aquilo que fora treinado,


Falibor não chegara nem perto da verdade. Um necromante
estaria próximo ao corpo animado e nenhuma magia
conhecida, por mais vil, modificaria um corpo daquela forma
criando um ser tão resistente, rápido e mortal. Ali na estrada
que leva a Ondnun, a terra bebia o sangue dos guerreiros que
tombavam um a um.
Dentro da mata, Elduin tentava golpear a criatura
quando Balviar ouve a voz de Glodrin, voltando sua atenção
aos companheiros, ele notifica Elduin.
- Minha senhora, Outra criatura, junto de Firnand e os
outros!

- Eles podem resolver isso, mantenha sua posição! –


Ordena Eldiun.

Infelizmente Elduin estava errada, seus irmãos de


batalha não conseguiriam resolver. Siana se junta a Eldiun na
luta. Balviar vai até o corpo do homem no chão: Ele está
morto. Elduin e Siana movimentam-se atacando a criatura e
quando conseguem uma brecha, Elduin com um golpe
poderoso decapita o monstro.
Elas recuam enquanto o corpo da besta ainda se
move. Uma expressão de incredulidade, o medo mais puro
enche os corações das duas guerreiras. O corpo sem cabeça
ainda se posiciona para atacar. Na ferida aberta no pescoço
um enorme olho aparece, o tórax se rasga formando uma
bocarra. O combate continua. Um urro ecoa na mata.
Enquanto o corpo de Firnand sofria a transformação, o
cadáver do homem atrás de Balviar também se erguia.
Lutando com honra e bravura, Elduin tomba assim
como seus companheiros. Nenhum ataque surtiu efeito
algum. Sua mente traz lembranças de seu marido. O amor que
agora ela aguadaria no Alenvéu. Com suas últimas forças,
Balviar chama sua ave mansageira, com um rasante ela agarra
a gema mística na mão de seu mestre e voa rumo a capital.
A tal gema é um artefato raro que transmite as
lembranças de seu portador, um Livro de Memórias.
No palácio real, caminhando pelo passadiço que leva a
sala do trono, Gilrien e Daggan veem um pássaro entrar pela
janela. Eles reconhecem a ave de Balviar. Eles correm e
adentram o salão real. A magia contida na gema mostra o que
aconteceu.

- Por isso a porta foi selada em minha visão. –


Pronunciou Gilrien, que continuou:

- As criaturas não pararam contra forças arcanas, nem


contra a arma sagrada, mesmo decapitada ela... ela... Temos
que selar essas criaturas de alguma forma, rápido!

Dias se passaram, soldados foram enviados para


fortalecer as milícias das cidades e vilarejos. Relatos de
ataques das tais criaturas chegavam de todas as cidades. As
amazonas do reino de Rajeun, entraram em guerra contra as
bestas da morte para impedir que avançassem ao leste e
sudeste. A custa de inúmeras mortes elas detiveram as
criaturas. Grandes magos de Emilor se uniram a causa que
não era mais só de Zenabi, os reis vizinhos sabiam que seus
reinos seriam os próximos. Um caos rubro foi instaurado.
Desde a partida dos cavaleiros o tempo marcou oito dias. E
em oito dias quase todas as cidades estavam em guerra
contra aqueles seres sanguinários. Aqueles que não podiam
lutar foram levados o mais distante possível.
A capital agora era uma cidade de soldados e
monstros.
O conselho formado por Gilrien, Daggan, Carmila e
Belder agora contava com mais três arquimagos: Afilon, o
Mago das Cinzas, Karinia, a Voz do Vento, ambos de Emilor e
Maldear, Filho do Vulcão, do reino de Molten.

- Precisamos trancar esse mau onde ele está. – disse


Daggan.
- Ele está em todo o reino! Como faremos isso!? –
Indagou Afilon.
- O reino perdeu quase todo seu território, se existe
uma maneira de trancarmos esse mal, por favor, o façam!
Salvem meu povo! – Palavras ditas pelo rei Antuar.
- Existe uma forma. – afirmou o Filho do Vulcão
Maldear. – Podemos erguer uma muralha, um circulo de
montanhas, com a magia certa elas prenderiam essa praga.
- Precisaríamos de muitos magos de grande poder. De
uma quantidade de energia que nunca imaginei. Não
conseguiremos. – Explicou Karinia.
- Se tentarmos isolar cidade por cidade, vila por vila,
poderíamos conseguir, mas tempo agora é um luxo que não
temos! – Disse Belder.
- Sim. – Concorda Maldear - Não consigo parar de
pensar em minha casa. Minhas filhas. Há uma maneira de
conseguir a energia necessária para tal magia. – Continuou
Maldear que após um breve silêncio pronunciou com tensa
expressão. - Conseguiremos entregando nossas vidas, a
energia desprendida seria o que precisamos. – Insistiu
Maldear.
Após um breve silêncio enquanto se entreolhavam,
Gilrien viu que todos assentiam em seus corações sabiam que
só assim selariam aquele mal.

- Posso lhes conseguir mais um dia para prepararem


tudo... – Disse Daggan.
- Como conseguirá tal feito? – Questionou Carmila.
- ...sou servo do deus do Poder, da Bondade e
também do Tempo. Conseguirei o tempo que precisam a
qualquer custo.

O que estava para ser feito ali ficaria marcado para


sempre. Bardos cantariam a tragédia de Zenabi e
reconheceriam aqueles que preservaram a vida em Alarium.

- Não era isso que achei que aconteceria, mas tenho


orgulho de ter todos vocês ao meu lado. Ao final de tudo, nos
encontraremos novamente no Palácio do Tempo e da Vida. –
Disse Gilrien.

Com um pergaminho mágico que Carmila lhe


entregou, Daggan, junto com seus Clérigos, ativou a magia
escrita que gerou uma esfera de luz com correntes de energia
cintilante e os envolveu transportando-os ao seu destino: a
clareira no centro exato do reino.
O Farol de Ahtla está se deitando. O céu tem um tom
avermelhado e triste.
Daggan estende as mãos para os dois clérigos
formando um círculo. Perto dali, algumas criaturas rondam. É
somente uma questão de tempo até que encontrem os servos
do deus do Poder.
O conselho formado por Gilrien e os outros utiliza o
último pergaminho de Carmila. O Rei Antuar se recusara a
abandonar suas tropas que tentam a todo custo segurar as
criaturas. A Rainha e o filho de Antuar são levados pra um
local seguro. Eles deveriam reunir seu povo, reerguer o reino.
Daggan com uma fervorosa oração abre os olhos
cheios de convicção. Fitando o Céu enegrecido, ele diz:

-Juiz de tudo, senhor do Tempo, Aquele que senta no


trono de fogo à cabeça dos céus. Aceite nosso pedido. Escute
nosso Lamento. Receba nossas vidas.

O poder puro dos deuses só toca o mundo mortal


através de uma passagem no Alenvéu, feita pela força da vida
mortal se desprendendo. Para guardar a vida de toda Alarium,
a oração de Daggan foi ouvida.
As bestas vinham em direção aos clérigos. Uma forte
luz emana dos três servos de AisurvaukaZ. Quando a ultima
palavra é dita, uma forte explosão lança feixes de energia, luz
e fogo. Uma onda poderosa que envolveu grande parte das
cidades tocadas pelo mal. Onda que foi vista por Maldear,
Gilrien e os outros. Tudo e todos dentro do alcance daquele
poder no momento de sua execução estavam agora presos
naquele dia em um loop infindável. O tempo naquela área
voltou um dia inteiro. As criaturas que avançavam na direção
dos fugitivos desapareceram e foram lançadas onde estavam
um dia atrás. A partir daquele momento, sempre no
crepúsculo, criaturas e soldados, todos que receberam o
toque da praga seriam lançados para onde estavam no dia
anterior, detidos nesse círculo sem fim. Maldear assim teve o
tempo que precisava para levantar a Muralha e impedir que
qualquer um que ali entrasse se contaminasse com o mal que
transforma mortais em bestas sedentas.
À medida que Maldear continua sua conjuração, a
terra treme, um longo circulo de energia arcana e divina
demarca o solo ao redor de toda a área afetada. Gilrien,
Carmila, Belder, Afilon e Karinia entoando as palavras,
direcionando energias, em paz vão esvaindo um a um
juntamente com alguns soldados e moradores que se
voluntariaram para está grande causa, se unindo a força que
ergue a Muralha Colossal. Quando Maldear pronuncia a
última palavra, ele abre os olhos cheios de poder e mirando as
estrelas, sorri. Alguns soldados que estavam próximos,
juntamente com a Rainha e o herdeiro de Antuar, com os
olhos cheios de lágrimas contemplam a Muralha que deteve a
praga ao custo do sacrifício de homens e mulheres que para
sempre seriam lembrados.

Bardos cantam a tragédia de Zenabi a 300 anos.


Temendo que a história se repita em outros reinos, ainda nos
dias da Era atual, estudiosos tentam descobrir a origem da
praga de Zenabi.

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