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ISSN: 2236-4366
Reitor
Marcelo Augusto Santos Turine
Vice-Reitora
Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Nalvo Franco de Almeida Junior
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Esporte
Marcelo Fernandes Pereira
Diretora da Faculdade de Artes,
Letras e Comunicação
Vera Lúcia Penzo Fernandes
Coordenador do Curso de Música
Licenciatura
Gustavo Rodrigues Penha
Coordenação Geral
Luis Felipe Oliveira (UFMS)
Coordenação Artística
William Teixeira (UFMS)
Coordenação Executiva
Gustavo Rodrigues Penha (UFMS)
Mariana de Araújo Stocchero (UFMS)
Monitores
Adriana Souza da Silva Leticia Maria Nunes Lechuga
André Luiz Terêncio Ramão Natália Santos Almeida
Evelyn Nayara Verga de Lima Vanessa Araújo da Silva
Gabriela Simões Lima Vinícius Alves Maciel
Gilberto Pereira Rodrigues Victoria Talamini Rojas
Giulia Leal Reis Pinho (auxílio diagramação)
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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Anais
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It is with immense gladness that we present to the academic community the Abstract
Book of 14th International Symposium on Cognition and Musical Arts, our SIMCAM
14. In this year of 2019, the symposium accomplishment is overlaid with a special
character due to the additional challenges that have stood in front of all which were
involved with its production. Notwithstanding difficulties, the sentient action of
people — in the end, institutions are nothing more than the people that constitute them
— from the Brazilian Association of Cognition and Musical Arts (ABCM) and Federal
University of Mato Grosso do Sul (UFMS) was what make possible to overcome them,
especially in times of great uncertainty. Beyond the actions, a scientific event is not
possible without funds and in this sense we own to praiseworthily acknowledge the
National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) and the
UFMS Office for Extension, Culture and Sports (PROECE), by means of the 2019
PROFE Public Call, and the Social Service of the Commerce (SESC). We shall express
our deep gratitude for the Brazilian and foreigner researchers that have accepted the
invitation to partake in the numerous academic activities which constitute SIMCAM
14 programme, especially because in the time the invitations were made we did not
know whether we could afford even for the air fares. Last, but not least, we manifest
out acknowledgment to all associated researchers that, with their work and
contributions, keep ABCM alive — SIMCAM 14 was conceived for you all, and it is
an honor to have you in Campo Grande, MS, Brazil.
12 (ABCM)
Sejam bem-vindo(a)s ao SIMCAM 14!
Em nome da diretoria da Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais (ABCM) quero
dar as boas vindas a todos os conferencistas brasileiros e estrangeiros, pesquisadores, professores,
alunos e colaboradores de tantas instituições do Brasil e do exterior, que vieram participar desta
edição do Simpósio, contribuindo significativamente para a ampliação do conhecimento na
área da cognição musical. O SIMCAM retorna à região Centro-Oeste, onde já esteve em três
edições, sinalizando um claro avanço da área, particularmente no Brasil, tendo recebido a
submissão de mais de 110 trabalhos. Isto ocorre num momento em que a Associação vem se
preparando para colaborar ainda mais efetivamente no agenciamento da interação entre os
pesquisadores dedicados à cognição musical, a partir da consolidação de variados serviços via
website. A aproximação das ações entre os pesquisadores é nossa prioridade e para isto
procuramos desenhar um simpósio mais produtivo em termos de debates e trocas, visando
modelos cada vez mais semivirtuais e multicentros para as próximas edições do evento.
Gostaríamos de agradecer o empenho de toda a comissão organizadora do SIMCAM 14, em
especial do coordenador geral do evento, Dr. Luis Felipe Oliveira, que conduziu da melhor
forma a parceria da ABCM com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), assim
como a relação com as instituições de apoio como o CNPq e o SESC/MS. E da mesma forma
agradecemos à diretora científica do Simpósio, Dra. Regina Antunes Teixeira dos Santos, e aos
diretores de avaliação e pareceristas pelo trabalho enriquecedor que ofereceram, assim como a
todos os pesquisadores convidados e autores de trabalhos, performers, alunos monitores, enfim,
a todos que possibilitaram a realização exitosa de mais um SIMCAM.
Saudações e um ótimo simpósio a todos!
Marcos Nogueira
Diretor Presidente
ABCM President
Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais
Anais
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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PROGRAMAÇÃO
GENERAL SCHEDULE
Anais
MAIO 28 | May 28
CONFERÊNCIA
LECTURE 1
1 15
Todos lo saben: desde la edad más joven, los niños se complacen en producir sonidos,
primero con la boca, luego con los objetos que les caen en las manos. Para prolongar su
hallazgo, repiten el gesto: es lo que se llama una « reacción circular». Alrededor de ocho
meses, modifican el gesto para modificar el sonido, es decir producen variaciones.
Lo que se sabe menos, es que estas exploraciones senso-motoras son a la vez el germen del
gesto musical y el punto de partida de la invención. De hecho, tal conducta de exploración
empírica de fuentes sonoras e instrumentos se ha desarrollado en favor de las músicas
concretas, electroacústicas e instrumentales recientes que enfocan la investigación sobre el
sonido. Las "ideas musicales" que desarrollan no son tanto melodías y fórmulas rítmicas como
"singularidades sonoras".
Si disfrute de un entorno favorable, estimulado por "dispositivos" elegidos, el niño mismo
enriquecerá sus búsquedas sonoras hasta llegar a las preocupaciones del compositor o del
intérprete contemporáneo, hasta la composición, eventualmente con la computadora. A menos
que sean los músicos contemporáneos — compositores, instrumentistas, improvisadores — quienes
hubieran recobrado esta curiosidad para el sonoro que se manifiesta desde el primer año de la vida.
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Anais
MAIO 29 | May 29
MESA REDONDA 1 19
MAIO 29 | May 29
SESSÃO L1
Comunicações Orais | Oral Presentations
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SALA 1, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair:: Regina Antunes T. dos Santos
14:00
Estudos quantitativos na área da cognição musical:
Uma abordagem psicométrica
Nayana Di Giuseppe Germano, Hugo Cogo-Moreira, Graziela Bortz
14:30
Leitura à primeira vista no piano em grupo:
Avaliação cognitiva por meio de uma escala psicométrica
Sérgio Inácio Torres, Graziela Bortz
15:00
Um panorama dos estudos de significação musical
nos anais do SIMCAM
Tailine Rocha Reginato, Rael Bertarelli Gimenes Toffolo
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
Trabalhos dedicados ao estudo de fenômenos musicais cognitivos vêm crescendo nas últimas
décadas e, juntamente com esse aumento, pesquisas que se utilizam de métodos experimentais para
extrair resultados de um certo grupo de sujeitos foram igualmente expandidas. Os métodos
utilizados para a avaliação de trabalhos experimentais quantitativos são diversos, sendo muitas
vezes escolhidos sem o devido cuidado em atender o objetivo central da questão preconizada.
Neste sentido, a escolha de um método errôneo para avaliar determinado experimento pode gerar
resultados espúrios, o que pode invalidar a pesquisa por completo. O objetivo central desse
trabalho é delinear apontamentos sobre como a Psicometria pode ser utilizada em trabalhos
musicais que buscam estudar aspectos cognitivos e, principalmente, introduzir essa área do saber,
que é utilizada vastamente nas áreas biológicas, para a pesquisa em música, fornecendo uma visão
geral de suas aplicabilidades. Abordaremos brevemente o Modelo de Equação Estrutural (MEE) e
a Teoria de Resposta ao Item (TRI) como ponto de partida para explicações fundamentais. Será
também enfatizada a importância da validação de constructo nesse tipo de abordagem,
especialmente em trabalhos quantitativos. Acreditamos que uma visão interdisciplinar dessa rica
possibilidade possa auxiliar diversos pesquisadores da área da Cognição Musical a realizar trabalhos
quantitativos de uma maneira mais sólida, além de dispor de diversos recursos que, normalmente,
fogem do conhecimento geral do músico.
Palavras-chave: Psicometria, Teoria de Resposta ao Item, Modelo de Equação Estrutural,
Validade de Constructo, Cognição Musical.
Abstract
There has been an increase in the number of academic papers dedicated to the study of musical
cognitive phenomena over the last decades, many of which adopted an experimental
methodology in order to extract results from a certain subject group. The methods used for the
evaluation of results in quantitative experimental researches are multiple, and in many cases this
method is chosen without proper care regarding the central objective of the research. The choice
of an inadequate method to evaluate a research experiment may generate spurious results,
invalidating all conducted research. The main objective in this paper is to present information on
how Psychometrics can be used in musical research projects that aim do study cognitive aspects,
and also introduce this area, which is largely adopted in biological areas, to the musical research
in general, providing a perspective of its applicability. We will discuss briefly Structural Equation
Modeling (SEM) and Item Response Theory (IRT) as a starting point for basic explanations. We
will also emphasize the importance of construct validity in this type of approach, especially on
quantitative research. We believe that an interdisciplinary perspective of these tools may help
researchers dedicated to the study of Musical Cognition to conduct quantitative research projects
on scientifically solid grounds, providing them resources normally unknown to musicians in
general.
Keywords: Psychometrics, Item Response Theory, Structural Equation Modeling, Construct
Validity, Musical Cognition
INTRODUÇÃO
Trabalhos dedicados ao estudo de fenômenos musicais cognitivos, tais
como características da memória musical, o ensino da percepção musical,
o desenvolvimento do Ouvido Relativo (OR) e o estudo do Ouvido
Anais
e 2013). No entanto, a maior parte das pesquisas que têm como objetivo
avaliar, por meio de testes, habilidades musicais cognitivas, ainda utilizam
24 outros tipos de ferramentas estatísticas, o que pode ser um problema se
pensarmos nas seguintes questões:
1) Como saber se o teste proposto está, de fato, medindo a habilidade
latente de forma satisfatória?
2) Como dividir populações de indivíduos como portadores ou não
de determinada habilidade sem um teste estabelecido, validado e com
valores de referência consensuais entre os autores?
Tomemos como exemplo ilustrativo trabalhos que avaliam Ouvido
Absoluto (OA) na população de músicos por meio de testes de reconhe-
cimento de alturas isoladas sem referência. Em geral, tais testes atribuem
certa pontuação para acertos totais ou parciais e fazem soma simples de
escores, gerando potenciais problemas na avaliação da habilidade: Como
saber onde se encontra a linha tênue (ou nota de corte) que divide, de
maneira adequada, sujeitos portadores de OA de sujeitos não portadores?
Como saber se esse teste está, com certeza, medindo a habilidade do OA
e não qualquer outra habilidade perceptiva musical?
Se pensarmos de maneira pragmática, a soma simples de escores em
testes (comumente utilizado pela comunidade científica) pode ser
totalmente arbitrária quando se trata de habilidades não observáveis, uma
vez que existem diversos parâmetros que devem ser considerados, como
a dificuldade de cada item, por exemplo.
Com tudo isso em mente, o objetivo desse trabalho é delinear aponta-
mentos de como a Psicometria pode ser utilizada em trabalhos musicais que
buscam estudar aspectos cognitivos utilizando o procedimento de coleta e
avaliação de dados, seja por testes ou questionários. Abordaremos breve-
mente o Modelo de Equação Estrutural (MEE) e a Teoria de Resposta ao
Item (TRI) como ponto de partida para explicações fundamentais e,
principalmente, descreveremos a importância da validação de constructo
nesse tipo de abordagem, em especial, em trabalhos quantitativos.
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Fica claro que a TRI está focada em produzir tarefas (itens), enquanto a
28 TCT está focada em produzir testes. Com os itens produzidos pela TRI,
pode-se construir quantos testes válidos quiser e, tais itens, avaliam traços
latentes.
Os psicólogos acreditam que qualquer comportamento humano é sempre
multideterminado, ou seja, mais do que um único traço latente entraria em
execução em qualquer tarefa. Utilizar-se da TRI unidimensional, ou seja, com
um único traço latente a ser testado, é assumir que existe uma aptidão
dominante referente ao conjunto de itens, fator esse que é o alvo de medição
do teste. É importante que o pesquisador esteja consciente do problema da
multideterminação do comportamento humano e que soluções multidimensionais
parecem ser mais condizentes com a realidade. Mesmo assim, a solução
unidimensional que a TRI traz é considerada bastante robusta, isto é, os desvios de
traços latentes secundários, além do traço dominante, produzidos na interpretação
dos escores de um teste são suficientemente pequenos para poderem ser
negligenciados (Junker & Stout, 1994; McDonald, 1994; Gessaroli, 1994, Apud
Pasquali, 2013).
Na TRI, os modelos se baseiam na premissa de que o desempenho de
uma pessoa em qualquer item de teste é uma função de um ou mais
traços ou habilidades e pode ser predito por eles. Os modelos buscam
especificar as relações esperadas entre as respostas (observáveis) dos
examinandos aos itens e aos traços (não-observáveis) que as
governam. Como acarretam predições, os modelos da TRI podem
ser avaliados (isto é, confirmados ou rejeitados) dependendo de como
se ajustam aos dados derivados das respostas aos itens do teste
(Urbina, 2007, p. 241).
APONTAMENTOS FINAIS 29
Este trabalho teve como objetivo central discorrer sobre a possibilidade
da utilização da Psicometria para a avaliação de trabalhos quantitativos
que buscam medir determinada habilidade cognitiva musical.
Acreditamos que uma visão interdisciplinar dessa rica possibilidade possa
auxiliar diversos pesquisadores da área da Cognição Musical a realizar
trabalhos quantitativos de uma maneira mais sólida, além de dispor de
diversos recursos que, normalmente, fogem do conhecimento geral do
músico.
É muito importante observarmos que a discussão geral gira em torno
de avaliar o teste e não o sujeito, pois, se não temos confiança no teste, não
podemos tirar conclusões confiáveis das características da habilidade
proposta. Por essa razão, acreditamos que é essencial termos testes
passíveis de validação para, só então, avaliarmos o sujeito no que tange à
habilidade em questão. Para exemplificar o quanto isso é importante,
basta pensarmos em uma pesquisa que avaliará o resultado de certa dieta
em uma população de obesos. Para isso, é necessário que a balança seja
confiável, pois, só assim, pode-se avaliar minimamente os resultados.
Imaginemos que cada pesquisador construa sua própria balança, utili-
zando seus próprios parâmetros e não realize um teste para averiguar se a
balança está, de fato, medindo o peso da população de forma satisfatória.
Tal cenário geraria resultados falsos e muito diferentes entre os
pesquisadores. Em trabalhos de cognição musical que se utilizam de testes,
é necessário possuir o mesmo raciocínio, caso contrário, é relativamente
fácil confiar em resultados que podem ser, a priori, espúrios.
As ferramentas psicométricas descritas neste artigo são apenas uma
exemplificação das inúmeras possibilidades de medição que a Psicometria
possui, e é necessário um estudo aprofundado para decidir qual ferramenta
melhor se enquadra para medir o que a pesquisa se propõe. Dessa forma,
esperamos que o artigo tenha sido útil para um primeiro contato com a
ferramenta e para a exposição desse viés de pesquisa.
Referências
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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Urbina, S. (2007). Fundamentos da testagem psicológica. Artmed Editora.
Anais
Resumo
O piano em grupo no Brasil teve um crescimento expressivo nos cursos de licenciatura em música
na última década, porém, sua consolidação não se deu como nos Estados Unidos, pela falta de
formação dos professores e infraestrutura (Machado, 2016; Santos, 2013). Justifica-se a
investigação devido a esse aumento de demanda nas universidades, acrescido da falta de
profissionais qualificados. Nesta pesquisa empregaremos referenciais da Cognição Musical (Ilari,
2009) e de Estilos Intelectuais (Sternberg, Wagner & Zhang, 2007) para refletir, explicar e
contribuir com o desenvolvimento dessa práxis. Para tanto, será empregado o Inventário de Estilos
de Pensamento-Revisado e a partir dessa escala será desenvolvido um novo instrumento, com o
qual, caso validado, pretende responder à seguinte pergunta: - É possível mensurar objetivamente,
pelo viés cognitivo, a leitura à primeira vista de estudantes de piano em grupo? O objetivo é
compreender cognitivamente a avaliação da leitura à primeira vista no piano em grupo. Esta é uma
pesquisa quantitativa com licenciandos em música de universidades paranaenses. Por meio do teste
“Inventário de Estilos de Pensamento-Revisado II/TSI-R2” serão elencado os padrões cognitivos
de processamento dos discentes e suas preferências intelectuais. Após a análise e tratamento dos
elementos, teremos um panorama de como os estudantes se comportam cognitivamente. Isso
fornecerá suporte para elaboração e posterior validação de uma escala psicométrica para avalição
da Leitura à primeira Vista no Piano em Grupo.
Palavras-chave: cognição musical, piano em grupo, avaliação musical, leitura à primeira vista,
psicometria.
Abstract
The Brazillian group piano practices has a significant growth in undergraduate music courses in
the last decade, but its consolidation did not happens as in the United States, due to the lack of
teacher training and infrastructure (Machado, 2016 and Santos, 2013). This research is justified
because of this increased demand at universities, coupled with the lack of skilled professionals. On
this paper, we will use references by Musical Cognition (Ilari, 2009) to reflect, explain and
contribute to the development of this praxis. In order to do so, the Thinking-Revised Styles
Inventory (Sternberg, Wagner & Zhang, 2007) will use this scale to create new instrument,
which, if validated, intends to answer the following question: - Is it possible to measure
objectively, by the cognitive bias, the sight Reading of group piano students? The general
objective is to understand cognitively the reading assessment at sight-reading in the group piano,
with specific objectives: a) To raise the strategies used pre-reading at sight-reading; b) Identify
the "Intellectual Styles" of the students; c) Investigate through the Intellectual Styles subsidies for
the creation of a specific psychometric evaluation scale. This is a quantitative research with at least
approximately 400 students, graduating in music education from universities in Paraná. Through
the "Inventory of Thought-Revised Styles II / TSI-R2" test, the students' cognitive processing
patterns and their intellectual preferences will be listed. After the analysis and treatment of the
elements, we will have an overview of how students behave cognitively. This will provide support
for the elaboration and subsequent validation of a psychometric scale for evaluation of Reading at
first sight in Group Piano.
Keywords: musical cognition, group piano, musical evaluation, sight-reading, psicometric.
INTRODUÇÃO
A prática do ensino de piano em grupo no Brasil tem apresentado um
crescimento expressivo nos últimos anos, principalmente no ensino
superior (Reinoso, 2012), nos cursos de licenciatura em música. De
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Estilos Intelectuais
O termo estilo intelectual foi proposto por Zhang e Sternberg em
2005, para se referir às particularidades cognitivas e habituais com que os
estudantes processam as informações (Oliveira, Trassi & Santos, 2017).
Para compreender melhor as estratégias de aprendizagem usadas pelos
discentes, é importante observar o estilo intelectual dos estudantes.
Assimilar as diferenças entre as habilidades e os estilos intelectuais,
tornado possível encontrar explicações para situações de fracasso e a
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Instrumento pré-existente
Para a análise são necessários, no mínimo, dois juízes peritos para a versão
preliminar dos instrumentos. Após a versão preliminar será elaborada uma
escala que passará pelo processo de validação. Na esfera da pesquisa científica,
é essencial, após a elaboração de critérios, que estes possam ser testados com
Anais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa, em fase inicial, em andamento, por meio de um viés
cognitivo, visa classificar os modelos individuais de estilos intelectuais, nas suas
dimensões, e, também, em tipos que contemplam características específicas.
Ambos os aspectos, provavelmente comuns aos estudantes de piano em grupo,
nas Licenciaturas em Música. A partir disso, um novo instrumento será criado,
a fim de avaliar a leitura à primeira vista dos discentes. Até o presente
momento, não foi possível aferir resultados expressivos.
Referências
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Singing Assessment of Undergraduate Musicians. Frontiers in Psychology, 9, 1-9.
Cronbach, L. (1996). Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas.
Corvisier, F. G. M. (2008, Setembro). Uma nova perspectiva para a disciplina piano
complementar. Anais do Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós
Graduação, Salvador.
Costa, C. H, & Aguiar, A. (2008, Outubro). Piano em grupo: metodologia
contextualizada ao Brasil. Relato de Experiência. Anais do Congresso Regional da
ABEM, Brasília.
Costa, M. C., & Barbosa, J. F. (2015). Avaliação da performance instrumental pelos
professores de trompete: questões e desafios. Per Musi, 31,134-148.
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uma abordagem qualitativa. Tese de doutorado, Instituto de Artes, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas.
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Hentschke, L., & Souza, J. (2003). Apresentação. In L. Hentschke & J. Souza (Orgs.).
Avaliação em música: reflexões e práticas. São Paulo: Moderna.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
Este texto apresenta a análise dos artigos que abordam a Significação Musical e seus desdobramentos
nos anais do SIMCAM, considerando seus possíveis enquadramentos nas vertentes da Cognição e por
consequência na Cognição Musical. Inicialmente, apresentamos uma breve descrição das vertentes
da cognição, a saber o Cognitivismo Clássico, o Conexionismo e a Cognição Dinâmica, tal qual
apresentada por Varela et al (2003) bem como seus desdobramentos para a Cognição Musical.
Posteriormente apresentamos o processo de análise e classificação realizado nos artigos do SIMCAM.
Dos 522 artigos dos anais (excluindo os artigos em formato pôster e resumos de conferências) foram
selecionados 69 artigos que abordam a Significação Musical ou se relacionam a ela de alguma forma.
Considerando o conteúdo dos textos e bibliografias utilizadas, os artigos foram classificados a partir
das vertentes da Cognição, tendo sido encontrados: 1 artigo relacionado ao Conexionismo, 15 artigos
ao Cognitivismo Clássico, 46 artigos à Cognição Dinâmica e 7 artigos que utilizam referenciais de
mais de uma vertente. Concluímos, considerando que os pesquisadores do SIMCAM têm se dedicado
mais à vertente da Cognição Dinâmica, a mais recente na área de Cognição demonstrando o
pioneirismo e qualidade da área e que análises futuras devem ser realizadas visando consolidar os
dados apresentados em outras áreas da Cognição Musical para além do conceito de Significação
Musical.
Palavras-chave: Significação Musical, SIMCAM, Cognição Musical
Abstract
This text presents the analysis of papers that discuss the concept of Musical Meaning, and it's
ramifications in SIMCAM's proceedings, regarding their classification in Cognition area, and
consequently in Musical Cognition. First, we present a brief overview of cognition's divisions,
such as Cognitivism, Connectionism and Dynamic Cognition as presented by Varela et al (2003)
and their developments in Musical Cognition. Subsequently, we present the analysis process and
classification realized in SIMCAM's papers. From 522 papers (excluding posters and conferences
abstracts) were selected 69 papers that aims the Musical Meaning or were somehow related to
Musical Meaning. Considering the contents and references, these papers were classified,
considering Cognitions ramifications, as 1 paper in the Connectionism area, 15 papers in
Cognitivism area, 46 papers in Dynamic Cognition area and 7 papers in which references points
to more that one area. We Concluded considering that the SIMCAM's researchers have been
dedicated to Dynamic Cognitions, the most recent division, proving the pioneer spirit and quality
of this research area, and the need for future research aiming to consolidate these data expanding
to other areas in Musical Cognition besides the concept of Musical Meaning.
Keywords: Musical Meaning, SIMCAM, Musical Cognition
INTRODUÇÃO
No decorrer de toda a história da música ocidental, é possível perceber
que diversas questões estão relacionadas ao estudo do Significado Musical,
como a relação da música com o ouvinte e as funções que tem para o
indivíduo e para a sociedade, a relação entre música e linguagem, as
motivações para a criação e para o fazer musical, entre outras. Portanto,
devido a essa grande quantidade de questões relacionadas ao estudo do
Significado Musical, a discussão sobre como acontece o processo de
significação foi, como era de se esperar, retomado no campo da Ciência
Cognitiva e da Cognição Musical.
Anais
Cognitivismo Clássico
As primeiras investigações sobre a inteligência humana (em meados do
século XX) são originadas no que se chamou, no campo da Psicologia, por
Behaviorismo. Como não era possível ter acesso direto à mente, os
behavioristas a comparavam com uma caixa-preta, estudando a manifestação
da mesma (o comportamento), por meio de estímulo/resposta.
O Cognitivismo Clássico surgiu no final da década de 1940 em oposição
ao behaviorismo, envolvendo pesquisadores de diversas áreas incluindo a
Lógica, Matemática, Engenharia, Fisiologia e Neurofisiologia, entre outras
(Oliveira, 2003). O Cognitivismo buscava estudar o que se encontrava
dentro da caixa-preta behaviorista. Pesquisadores do Cognitivismo busca-
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Conexionismo
A abordagem Conexionista também surgiu na década de 1940 em
oposição ao Cognitivismo Clássico, baseando-se nas lacunas daquela
abordagem. A primeira modelagem Conexionista da mente foi criada
pelo neuropsiquiatra Warren McCulloch e pelo matemático Walter Pitts
(Gardner, 1995), ainda considerando o funcionamento da mente como
algo semelhante à Máquina de Turing, porém, nessa abordagem levou-se
em consideração a estrutura biológica do cérebro. McCulloch e Pitts
criaram um modelo de neurônio e de seu comportamento fazendo uma
analogia entre o processo eletrônico e as células nervosas.
Anais
Cognição Dinâmica
Ao analisar a abordagem Cognitivista e a Conexionista, é possível
perceber que ambas desconsideram as propriedades dinâmicas do mundo e
o corpo humano como realmente são. A diferença de tais vertentes com
relação ao mundo é que na primeira abordagem, este é visto como algo
predefinido, com regras operacionais bem definidas sintaticamente e na
segunda, além de um mundo com propriedades sensoriais particulares e
predefinidas, há um sistema artificial que aprende pela exposição ao mundo
e que é capaz de gerar resposta à estímulos desconhecidos (Oliveira, 2003).
Em ambas as abordagens a mente e o corpo eram vistos como coisas
diferentes e separadas, visão a qual se dava o nome de dualismo cartesiano.
Gardner (1995), em sua revisão sobre os conceitos das Ciências Cognitivas
aponta que Descartes considerava a mente algo mais abstrato, sem
extensão, com um funcionamento independente do corpo humano e o
corpo como algo material e mecânico. Portanto, devido a essas diferenças,
um não poderia interferir no outro.
Tais vertentes tornaram-se ineficientes em vários aspectos explicativos,
uma vez que há uma grande redução de dimensionalidade nos padrões dos
fenômenos utilizados nessas abordagens quando comparados com um
evento do mundo real. Sendo assim, é possível perceber uma grande
diferença entre o mundo desses modelos e o mundo real, dos seres humanos.
Foi com base nessas limitações explicativas que surgiu a vertente
denominada Ciência Cognitiva Dinâmica. Passa a incluir o corpo e o meio
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MÚSICA E COGNIÇÃO
Devido à grande quantidade de questões relacionadas à prática musical,
o estudo sobre a forma com que compreendemos a música foi bastante
pertinente para a área da Cognição. Nas três abordagens da Ciência
Cognitiva foram feitos estudos para essa compreensão através de modelos
da mente e programas composicionais (Oliveira, 2003). Considerando a
música como um pensamento, formou-se toda uma área de estudos que
tentou modelar comportamentos musicais da mesma forma que as
diversas áreas da Cognição tentam modelar a mente. A Cognição Musical
estabelece-se enquanto uma subárea dos estudos de Cognição visando
investigar como se dá esse pensamento musical, como a mente compre-
ende os fenômenos sonoros e como o ser humano atribui significados a
esses fenômenos.
Na abordagem do Cognitivismo Clássico foram criados programas
computacionais aos quais foram atribuídos a tarefa de gerar músicas.
Primeiramente, escolhia-se o material musical que logo passaria por um
processo de organização para se transformar em estruturas formais. Esse
processo de organização acontecia devido a uma quantidade de regras
predeterminadas que atuavam dentro de um espaço com uma grande
quantidade de possibilidades musicais, ou seja, as regras eram aplicadas aos
elementos mais básicos e diziam o que poderia ou não ser validado.
O grande problema desses modelos da IA clássica é que não se levava
em consideração os aspectos estéticos, a percepção humana, e sim, apenas
os aspectos técnico-teóricos, ou seja, a atividade musical era reduzida à
sintaxe, assim como na gramática. Acreditava-se que ao organizar os
elementos musicais com base em regras estruturais predefinidas a obra
seria bem sucedida. Porém, esse pensamento tornou esses programas
bastante limitados com relação aos aspectos envolvidos na prática da
criação musical. As obras geradas com base nessas regras nem sempre
eram interessantes artisticamente.
Por sua vez, a partir do relacionamento da música com a vertente
Conexionista, são realizados além de estudos sobre o processo compo-
sicional, estudos sobre a percepção auditiva, através da criação de modelos
com redes neurais para a percepção rítmica, percepção de alturas, melodia e
tonalidade, que respondem pelo reconhecimento de padrões ou pela
aprendizagem causada pela exposição a esses fenômenos. Para o processo
Anais
METODOLOGIA
Para a realização da pesquisa, foi feito um levantamento
46
bibliográfico de todos os artigos do SIMCAM que abordam de
alguma forma a Significação Musical e, logo após, analisamos esses
artigos a partir da descrição das vertentes da cognição (Cognitivismo
Clássico, Conexionismo e Cognição dinâmica) tal qual Varela et al
(2003). Para a análise dos artigos do SIMCAM, em um total de 552
artigos, excluindo resumos de conferências e artigos em formato
pôster, selecionamos 69 artigos que entendemos que, de alguma
forma, se dedicam ao estudo sobre a Significação Musical. Essa sele-
ção partiu de alguns termos utilizados no título dos artigos e em seus
resumos que nos levaram a considerar que o artigo trata de
Significação Musical ou seus desdobramentos. Portanto, consideramos
os seguintes termos:
Tabela 1. Principais termos indicativos utilizados para selecionar os artigos que de alguma forma
abordam o conceito ou subárea de Significação Musical nos Anais do Simpósio Brasileiro de
Cognição e Artes Musicais.
Significação Musical
Percepção na música
Emoção em música
Significação simbólica
Metáfora conceitual
Conhecimento musical
Compreensão musical
Gesto e música
Música e signos
Processo criativo
Representação sonora
Cognição Musical
Experiência musical incorporada
Expectativa em música
Antecipação em música
Sinestesia
Imaginação musical
Processo perceptive
Sentidos e música
Semântica musical
Imagética musical
RESULTADOS
O enquadramento dos artigos foi organizado na tabela comparativa
47
abaixo (vide Tabela 2). Consideramos que fazem parte do Cognitivismo
Clássico (CC) os artigos que, em geral, utilizam cálculos estatísticos através
de testes da psicologia experimental ou que apresentam algum tipo de
modelagem algorítmica para a compreensão de um determinado processo
cognitivo. Na abordagem do Conexionismo (CX), consideramos aqueles
que falam sobre experiências utilizando redes neurais artificiais (RNAs). Os
artigos que consideraram o corpo, a cultura e as experiências do indivíduo
para a compreensão do processo de Significado Musical foram encaixados
na abordagem da Cognição Dinâmica (CD). Artigos que apresentavam
pressupostos teóricos provenientes de mais de uma vertente foram
considerados como Referencial teórico Misto (MIX)³.
Tabela 2. Distribuição dos artigos de Significação Musical por área da Cognição
em cada um dos anais do Simpósio Brasileiro de Cognição e Artes Musicais⁴.
Figura 1. Gráfico comparativo da Evolução das vertentes da cognição no recorte dos artigos de
Significação Musical nos anais do SIMCAM.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
CONCLUSÕES
A guisa de uma conclusão parcial sobre os dados levantados podemos
perceber que há uma ótima coerência geral e compreensão da comunidade
acadêmica no que se refere aos referenciais teóricos de cada subárea da
Cognição ao longo da história de existência da ABCM. Vemos que há uma
boa proeminência de artigos relacionados à Cognição Dinâmica, o que é
curioso considerando que dentre as vertentes da Cognição essa é a área mais
recente e ainda em desenvolvimento. Esse pode ser um indício da forte
atualização e qualidade dos pesquisadores que forma a comunidade do
SIMCAM, a despeito de na maior parte do mundo a comunidade acadêmica
de Cognição e Cognição Musical ter uma maior predileção pelo
Cognitivismo Clássico, subárea esta muito mais antiga e bem estabelecida na
academia. No SIMCAM, o Cognitivismo Clássico ficou em segundo lugar
com 15 artigos, distanciando-se fortemente do conexionismo (1 artigo) o
que demonstra ainda a força que tal vertente tem no campo geral da
Cognição, mas que ao mesmo tempo manteve-se praticamente estática –
pelo menos no campo da Significação musical – ao longo dos anos do
simpósio. Tal estabilidade, pode indicar, novamente, para a atualidade do
referencial teórico dos pesquisadores do SIMCAM, podendo também
indicar que o Cognitivismo Clássico parece estar a caminho da superação
dentro da área de Cognição Musical.
Detectamos 7 artigos que realizam pesquisas utilizando referenciais
teóricos de vertentes diferentes da cognição. A mistura de referenciais pode
ser resultado de uma busca por respostas que as vezes uma única vertente
não é capaz de oferecer, ou ainda pelo fato de que as vertentes ainda não
Anais
sejam tão claras para alguns pesquisadores. Mesmo dentro dos artigos
classificados como Cognição Dinâmica, vemos casos em que as vertentes
não necessariamente se misturam, mas alguns conceitos das vertentes 49
Conexionista e do Cognitivismo são reutilizados, como: representação,
processamento mental, entre outros. Nesse sentido, considerando as
recentes discussões sobre demarcação das vertentes da cognição, em
especial da Cognição Dinâmica, trabalhos futuros podem indicar um
refinamento dessa classificação. Além disso, abordagens similares a realizada
nesta pesquisa poderiam ser feitas em todas as outras subáreas do SIMCAM
para podermos verificar se as tendências apontadas se direcionam para o
mesmo caminho.
Notas
1 Para mais informações, visite o site da Associação em: http://www.abcogmus.org
2 Os nomes das vertentes foram padronizados neste artigo como Cognitivismo Clássico,
Conexionismo e Cognição Dinâmica apenas por questões metodológicas a despeito das
inúmeros variações que eles apresentam ao longo da literatura das Ciências Cognitivas e da
Ciência Cognitiva.
3 Para uma visão detalhada de como os artigos foram separados entre as vertentes consultar o
nosso trabalho: Um panorama sobre os estudos de Significação Musical nos anais do SIMCAM,
que analisou criticamente cada um dos 69 artigos selecionados. Por questão de espaço e escopo a
discussão de cada um dos artigos foi suprimida deste texto.
4 Ressaltamos que na época da realização da pesquisa não estavam disponíveis no site da ABCM
os anais do SIMCAM e do SIMCAM 3, por isso não foram considerados.
Referências
Gardner, H. A (1995). Nova Ciência da Mente: Uma História da Revolução Cognitiva. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
Oliveira, L. F. (2003). As Contribuições da Ciência Cognitiva à Composição Musical. 207 f.
Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual Paulista.
Oliveira, L. F. (2010). A Emergência do Significado em Música. Tese (Doutorado) –
Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes.
Reginato, T. R. (2018). Um Panorama sobre os estudos de Significação Musical nos anais
do SIMCAM. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Univesidade Estadual de
Maringá, Departamento de Música, Curso de Graduação em Música.
Varela, F. J. (2003). A Mente Incorporada: Ciências Cognitivas e Experiência Humana.
Porto Alegre, RS: Editora ARTMED.
MAIO 29 | May 29
54
SESSÃO L2
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 2, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair: Marcos Nogueira
14:00
Memória gestual e pantomimas do cotidiano no ensino do
contrabaixo para iniciantes
Sonia Ray
14:30
Construindo a performance musical
Carlos André Weidt Mendes
15:00
Metáforas e recursos imaginativos em estratégias
pedagógicas musicais
Isadora Scheer Casari
Anais
Resumo
O grupo dos violinistas de orquestra é o mais numeroso e requisitado do conjunto (Flesch, 1930).
Apesar disso, muito pouco é pesquisado sobre as peculiaridades e idiossincrasias destes músicos.
Abordo neste estudo fundamentos da teoria da Autopoiesis (Varela, 1979) que darão suporte para
ajudar estes instrumentistas nos processos expressivos da performance musical e otimizar sua
performance em prol do melhor resultado artístico do conjunto. O paradigma enacionista (Varela,
Thompson & Rosch, 1991) esclarecera como uma ação material pode se refletir em estado mental
através de ações perceptivamente guiadas para o reconhecimento de padrões sensório-motores
recorrentes. Essa abordagem é capaz de explicar a relação entre um sujeito e um objeto musical de
maneira pré-conceitual e pré-linguística (Matyja & Schiavio, 2013). Assim sendo, a teoria de
Varela propôs que uma ação material se torne “incorporada” — para usar o termo enacionista —
em um organismo vivo, devido a uma sequência de procedimentos organizados para a
manutenção de determinada atividade que permanece apenas em certas condições, externas a ela.
O violinista de orquestra deve se sentir engajado com a concepção artística do maestro, orientar-se
através de diversos cues e usar seu “radar” para ficar atento ao que acontece ao redor para reagir de
acordo. Além disso, deve possui espírito colaborativo e cultivar boas relações com os colegas para
ajudar o conjunto a obter uma performance de sucesso. Isso inclui adotar uma postura que
favoreça a integração musical com o seu naipe e contribuir para a realização da Autopoiesis do
grupo orquestral.
Palavras-chave: Violinista de orquestra, Preparação da Performance Musical, Autopoiesis,
Enacionismo
Abstract
The group of violinists is the largest and most requested of the orchestra (Flesch, 1930).
Nevertheless, very little is researched about the peculiarities and idiosyncrasies of those musicians.
In this study, I approach the foundations of the theory of Autopoiesis (Varela, 1979) that will
support to help those instrumentalists in the expressive processes of musical performance and
optimize their performance for the best artistic result of the set. The enactivist paradigm (Varela,
Thompson & Rosch, 1991) clarified how a real action could be reflected in the mental state
through perceptually guided actions for the recognition of recurrent sensorimotor patterns. This
approach can explain the relationship between a subject and a musical object in a pre-conceptual
and pre-linguistic manner (Matyja & Schiavio, 2013). Thus, Varela's theory proposed that a real
action becomes "embodied" — to use the term enactivist — in a living organism, due to a sequence
of systematic procedures for the maintenance of a given activity that remains only under certain
conditions external to it. The orchestra violinist must be engaged with the conductor's artistic
conception, orient himself through various cues, and use his or her radar to be aware of what
happens around her or him to react accordingly. Besides, that performer must have a collaborative
spirit and cultivate good relationships with colleagues to help the team achieve successful
performance. That condition includes taking a stance that favors musical integration with her or
his choir and contributing to the achievement of the orchestral group's Autopoiesis.
Keywords: Orchestra Violinist, Musical Performance Preparation, Autopoiesis, Enactivism
INTRODUÇÃO
O grupo dos violinistas de orquestra é o mais numeroso e requisitado
do instrumento, apesar de sua aparente humildade ao se integrar às fileiras
das cordas (Flesch, 1930). Apesar disso, muito pouco é pesquisado sobre as
peculiaridades e idiossincrasias destes músicos. Eles próprios, submetidos a
uma rotina intensa de ensaios e concertos, às vezes em mais de um grupo
orquestral, não conseguem refletir apropriadamente sobre o que estão
Anais
e nem sempre as escolas de música são capazes de prover todos eles (Hager
& Johnsson, 2009).
60 Palmer (1997) afirma que um dos objetivos da interpretação musical,
definida por ela como a “modelagem individual” de uma peça de acordo
com as próprias idéias ou intenções musicais do executante é transmitir o
sentido da música. Palmer ressalta que existem muitas definições possíveis
de sentido musical, mas concorda com vários teóricos que o definem como
tendo componentes principais que se relacionam com a estrutura formal da
obra, estados emocionais e movimentos físicos que contribuem para as
realizações do intérprete. Palmer também menciona o processo que ela
denominou como planejamento como parte da preparação para a performance.
Trata-se da interpretação conceitual da obra musical feita pelo artista, que
segmenta as unidades e estruturas musicais para serem integradas durante sua
execução. Porém, o trabalho de mera repetição dos trechos musicais, sem
atentar para esse trabalho de segmentação e integração, poderá acarretar um
resultado aquém do esforço realizado. Outro aspecto a ser considerado são as
limitações causadas pelas propriedades sintáticas específicas do estilo da obra,
que podem se sobrepor às interpretações individuais. A interrelação entre os
aspectos estruturais formais e expressivos deve ser observada também, pois é
o momento em que o intérprete deve escolher aqueles de maior relevância
e colocar a sua visão artística em eventuais ambiguidades existentes. No
âmbito de uma orquestra, essas responsabilidades costumam ser atribuídas
ao maestro, com auxílio dos chefes de naipe para que sua proposta funcione
na prática. Segundo Palmer, esse trabalho de interpretação conceitual deve
se refletir no emprego correto dos movimentos físicos para a sua realização.
Palmer acrescenta que ainda há uma lacuna de informações sobre o assunto
dos gestos musicais e afirma que há mais informação sobre as qualidades
intrínsecas do resultado sonoro do que sobre como ele foi obtido. Mesmo
assim, os gestos se tornam “engrenagens” visíveis, alimentadas pelas infor-
mações sensoriais da regência do maestro e as do próprio conjunto, que
exteriorizam o resultado sonoro de uma Autopoiesis de sentido musical.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito do que Dobson e Gaunt afirmaram em sua pesquisa são elementos
corriqueiros e até óbvios para um violinista de orquestra experiente. Outra
informação importante demonstrada por Dobson e Gaunt é a enorme
lacuna que ainda existe entre o que o estudante aprende individualmente
com um professor, resultado de uma prática também individual e o que ele
encontra em seu local de trabalho. Parece se tratar de uma situação comum
a muitas carreiras, não apenas na musical, o que exige uma reflexão
profunda das instituições de ensino em geral. Mas o valor dessa pesquisa
reside em trazer à luz várias demandas de cunho artístico, social e
interpessoal que um profissional de orquestra deve ser capaz de cumprir
todos os dias. Há um benefício adicional nesse tipo de pesquisa que consiste
em ajudar na adaptação daqueles que acabaram de chegar ou aspiram a uma
vaga em um grupo sinfônico.
Penso que os trabalhos de Palmer e Chaffin e Lisboa oferecem visões
complementares sobre a performance musical e oferecem recursos para a
solução de problemas que possam vir a ocorrer. O primeiro apresenta uma
Anais
Referências
Boerner, S. & Von Streit, C. (2007). Promoting Orchestral Performance: The Interplay
Between Musicians' Mood and a Conductor's Leadership Style [Promovendo a
Performance Orquestral: Interação entre o Humor dos Músicos e o Estilo de
Liderança de um Maestro]. Psychology of Music, 35 (1), 132-143
Chaffin, R., & Lisboa, T. (2008). Practicing Perfection: How Concert Soloists Prepare
for Performance [Praticando a Perfeição: Como Solistas se Preparam para a
Performance]. Ictus, 9, 115-142.
Dobson, M., & Gaunt, H. (2015). Musical and Social Communication in Expert
Orchestral Performance [Comunicação Musical e Social em Performance Orquestral
“Expert”]. Psychology of Music, 43(1), 24-42.
Flesch, C. (1930). The Art of Violin Playing – Book Two [A Arte de Tocar Violino –
Livro 2]. New York, NY: Carl Fischer.
Gardner, H. (1994). Estruturas da Mente - A Teoria das Inteligências Múltiplas [trad. S.
Costa]. Porto Alegre, RS: Artmed
Hager,P. & Johnsson, M. (2009). Learning to Become a Professional Orchestral
Musician: Going Beyond Skill and Technique [Aprender a se Tornar um Músico de
Orquestra Profissional: Indo Além da Habilidade e Técnica]. Journal of Vocational
Education and Training, 61(2), 103-118.
Larson, S. (2012). Musical Forces [Forças Musicais]. Bloomington, IN: Indiana
University Press.
Matyja, J. & Schiavio, A. (2013). Enactive Music Cognition: Background and Research
Themes [Cognição Musical Enacionista: Panorama e Temas de Pesquisa].
Constructivist Foundations, 8(3), 351-355.
http://www.univie.ac.at/constructivism/journal/8/3/351.matyja
Palmer, C. (1997). Music Performance [Performance Musical]. Annual Review of
Psychology, 48, 155-138.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
1
Departamento de Música, UNIRIO, Brasil
1
isadorascheer@hotmail.com
Resumo
Os sentidos experimentados com o corpo são relevantes em toda a área de investigação que tenha o
gesto como elemento crucial. O processo de objetivação do gesto pressupõe sentidos incorporados
como trajetória e apoio. As ações corporais que permitem a produção sonora — particularmente na
experiência da música — são construídas a partir de entendimentos que emergem da própria
experiência corporal com o movimento, com o deslocamento de peso, com a perda e a manutenção
do equilíbrio, com a realização de trajetórias e com a percepção das forças que atuam no movimento.
Na performance musical, entendimentos que são produzidos pelo corpo em ação são comunicados
em processos de ensino-aprendizagem. As imagens (visuais, cinestésicas) que construímos
mentalmente a fim de objetivar conhecimentos incorporados não estão disponíveis a terceiros.
Entendemos que a “metáfora conceitual” (Lakoff & Johnson, 1999; 2002) e os recursos imaginativos
e imagéticos são potentes comunicadores da experiência subjetiva e incorporada e desempenham um
papel importante nos processos de ensino-aprendizagem da performance musical. Nosso objetivo no
presente texto é propor uma categorização das estratégias de objetivação do conhecimento
incorporado empregados por dois professores experts de violino e de viola. Os dados em questão
foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas que visaram enfocar as expressões
linguísticas que possibilitam aos sujeitos objetivar suas reflexões subjetivas sobre seu conhecimento
prático. Os dados foram compilados, decompostos e recompostos para análise (Yin, 2016). Apoiamo-
nos em procedimentos de codificação propostos por Strauss e Corbin (2008) e de tais procedimentos
emergiram nossas principais categorias analíticas.
Palavras-chave: Metáfora, Imaginação, Pedagogia da Performance, Cognição Incorporada
Abstract
The meanings experienced within the body are relevant in all the research area that has the gesture
as a crucial element. The process of objectifying the gesture presupposes embodied meanings as
trajectory and support. Bodily actions that allow the sound production - particularly in the music
experience - are built from understandings that emerge from movement, the shifting of weight, the
loss and the maintenance of equilibrium, the completion of trajectories and with the perception of
the forces that act in the movement. In musical performance, understandings that are produced by
the body in action are communicated in teaching-learning processes. The images (visual,
kinaesthetic) that we construct mentally in order to objectify embodied knowledge are not available
to third parties. We understand that the "conceptual metaphor" (Lakoff &Johnson, 1999; 2002) and
the imaginative and imaginative resources are powerful communicators of subjective and embodied
experience and play an important role in the teaching-learning processes of musical performance.
Our objective in this text is to propose a categorization of the embodied knowledge objectivation
strategies employed by two expert violin and viola teachers. The data in question were collected
through semi-structured interviews that aimed to focus on the linguistic expressions that enable
subjects to objectify their subjective reflections on their practical knowledge. The data were
compiled, decomposed and recomposed for analysis (Yin, 2016). We rely on coding procedures
proposed by Strauss and Corbin (2008) and from these procedures emerged our main analytical
categories.
Keywords: Metaphor, Imagination, Performance Pedagogy, Embodied Cognition
INTRODUÇÃO
O professor ao querer comunicar a experiência de como um gesto é
sentido ou o entendimento de como o gesto deveria ser realizado e
percebido busca expressar sua experiência em palavras e, ao fazer isso, expõe
sua própria criação de uma organização gestual e seu próprio entendimento
sobre uma ação, o que se mostra, sobretudo, em suas construções metafó-
ricas e imaginativas. Conforme revisão feita por Turtelli, (2003) há uma
estreita relação entre a evocação de imagens e a realização de movimentos.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Imaginação de trajetórias
A imaginação de trajetórias é uma estratégia na busca de um deslocamento
espacial ideal, que significa mover-se com liberdade e com economia de
movimentos. Entender que o movimento que produz certo resultado
sonoro é construído, é entender que esse processo é intencional e que
depende da qualidade de ação do sujeito e em como essa ação é objetivada,
o que é diretamente relacionado a imaginação, fator relevante para a
deliberação sobre as qualidades presentes em uma ação como podemos
notar no seguinte trecho de entrevista:
Então se você precisa ter o arco reto, precisa passar reto sobre
as cordas, num ângulo de 90 graus. Essa reta, mesmo os
físicos e matemáticos hoje dizem, é a fração de um imenso
círculo. Então toda essa questão de círculos no toque é
importante. O Gallamian, quando fala em membro superior
direito, ele sempre fala num complexo de molejos. Ele
sempre está falando em mola, em molejo que, claro, é uma
espiral, que é uma curva com essa direção deslocada. Então o
retilíneo para nós é, sim, algo reto em 90 graus, mas não é
algo que não esteja acoplado a um movimento arredondado.
(…) Então você tem uma arcada que começa no talão, que
vai até a ponta, você pode mostrar ao aluno, isso aqui seria
parte de um imenso círculo que prosseguindo furaria o teto
e entraria pelo apartamento do vizinho, senão até dois
apartamentos acima e sairia do outro lado. É um pequeno
segmento desse imenso queijo redondo que você tem aí
(professor 1).
Anais
Imaginação de distâncias
Então o Giuranna, conversando comigo, disse isso: a mão
esquerda em relação às duplas [cordas duplas] é geometria, é pura
geometria, é matemática. Quadratura, retângulo, triângulo, isso
tudo também é metafórico. Uma construção imaginativa. Ou
você tem uma escala maior sobre uma corda que você pode
digitar 1, 2, 3, 1,2 3, 4, 4 na subida, você também pode treinar
assim, naquela posição, 1, 2, 3, 1, 2 3, 4, 4 tudo dentro de uma
posição, você projeta ali, então é geométrica (professor 1).
Imaginação do apoio.
Eu sempre procuro mostrar cantando algo com uma voz que
pretende ser impostada e com outra que não pretende ser
impostada então … ou quando eu me apoio no diafragma.
Então sente que há um apoio constante do diafragma que eu
gostaria que passasse para o arco (…). Isso mexe muito na
produção sonora do aluno. E sabe que tem uma constância e
manutenção do arco que é indispensável para que o som seja
generoso (professor 1).
Recursos metafóricos
Quando o professor usa, por exemplo, a imagem de uma bola que sofre
a resistência da água para se referir ao gesto do arco, ele está sugerindo
certa vitalidade a essa ação e está, por meio do emprego de uma imagem,
objetivando as sensações que emergem da gestualidade do arco na
performance do violino e da viola. Quando essa imagem ajuda o aluno a
compreender o gesto do arco que é no caso o domínio alvo da inferência
metafórica, essa imagem cumpre o papel de domínio fonte. Esse tipo de
recurso metafórico é capaz de condensar em um esquema, no caso o
esquema dinâmico de resistência e contrapressão, as relações de força
envolvidas na condução do arco.
Metáfora e interpretação
Por exemplo no início da sonata de Debussy você vai começar
com um ré na corda ré harmônico as próximas nota são si, sol,
si … tudo sem vibrato, sem muita pressão, pouca pressão,
pouca velocidade, ponto de contato o mesmo porque naquele
momento eu quero que soe como algo impressionista, uma
pintura impressionista, onde eu vejo um borrão e mal
identifico o que está por trás dele. Em seguida, vem uma nota
súbito forte na corda sol …. mi…. Com muito vibrato. Então
você está sempre tendo que recorrer a um exemplo sonoro e
estabelecer relações, no caso com a pintura impressionista, por
exemplo. As coisas que devem soar de forma angelical e as
coisas que devem soar de forma carnal são exemplos que você
tem que dar e falar um pouco a respeito (professor 1).
Uma vez eu vi uma pessoa tocando a sonata de Debussy no
violino lá em Colônia e aquele negócio de você, depois da
interpretação, ver o que o professor falou … estava lá o
Rostal etc. e tal. Um falava que estava muito bem, bonito
tecnicamente, mas que ela precisaria ir a um Bafon lá em
Paris, no submundo para ver aquela atmosfera de Debussy,
de conhecer um pouco (professor 2).
Referências
Alessandroni, N. (2015). Desarollo conceptual, metáfora y metonímia: Un modelo para
compreender la trayectoria cognitiva del concepto “appoggio”. Epistemus: revista de
estudios em Música, Cognición y Cultura, 3, 69-87.
Damásio, A. (2015). O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das letras.
Franklin, E. N. (1996). Dynamic alignment through imagery. Illinois: Human Kinetics.
Lakoff, G. & Johnson, M. (1999). Philosophy in the Flesh: The embodied mind and its
challenge to western thought. New York: Basic Books.
Lakoff, G. & Johnson, M. (2002). Metáforas da vida cotidiana. São Paulo: Mercado das
letras.
Johnson, M. (1987). The body in the mind: The bodily basis of meaning, imagination and
reason. Chicago: University of Chicago Press.
Turtelli, L. S. (2003). Relações entre imagem corporal e movimento: uma reflexão a
partir de uma pesquisa bibliográfica. (Dissertação mestrado). Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, Brasil.
Yin, R. (2016). Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso.
Strauss. A & Cordin, J. (2008). Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o
desenvolvimento de teoria fundamentada. Porto Alegre: Artmed.
Anais
MAIO 29 | May 29
SESSÃO L3
Comunicações Orais | Oral Presentations
71
SALA 3, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair:: Ricardo Dourado Freire
14:00
Contribuições da neurociência para o estudo da plasticidade
cerebral induzida pelo treinamento musical
Maria Clotilde Henriques Tavares, Ricardo Dourado Freire
14:30
Análise musical por descritores de áudio baseados em
modelos psicoacústicos
Micael Antunes Silva, Tales Eduardo Pelison Botechia, Danilo
Augusto de Albuquerque Rossetti, Jônatas Manzolli
15:00
Improvisação ao piano com o uso do software
MIROR-Impro: Um estudo exploratório com
alunos de bacharelado em piano no Brasil
Luciana Fernandes Hamond, Anna Rita Addessi, Viviane Beineke
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
A música enquanto estímulo sensorial é altamente complexa e estruturada em várias dimensões. O
seu processamento pelo cérebro requer a participação de áreas relacionadas à cognição, à emoção
e articula redes multissensoriais e motoras que se sobrepõem. A neurociência cognitiva tem
contribuído significativamente para a compreensão sobre como o cérebro interage com a música
na medida em que suas conexões neurais se entrelaçam de forma multifacetada com diversos
aspectos da cognição humana. Ouvir e, especialmente, produzir música promovem alterações
plásticas que ocorrem em níveis estruturais e funcionais do sistema nervoso, em escalas de tempo
variáveis, resultando em mudanças comportamentais associadas ao treinamento musical de longo
prazo. Baseado nas evidências da literatura sobre o potencial da música para alterar a organização
cerebral e aumentar a sua conectividade de modo incomparável a qualquer outra atividade
conhecida, apresentamos as principais contribuições da neurociência para o estudo da plasticidade
induzida pelo treinamento musical com foco naquelas obtidas por meio do uso de técnicas de
neuroimagem, que permitem visualizar áreas do cérebro em funcionamento enquanto ocorre um
estímulo sensorial.
Palavras-chave: Cérebro, cognição, prática musical, neuroimagem, treinamento musical
Abstract
Music, as a sensory stimulus, is highly complex and structured in several dimensions. The brain
processing of music requires the participation of areas related to cognition, emotion and joints
overlapping multisensory and motor networks. Cognitive neuroscience has played an important
role in understanding the brain’s ability to deal with music as its neural connections intertwine in
a multifaceted way with various aspects of human cognition. To listen and especially to produce
music promote structural and functional changes at the nervous system functions at varying time
scales and result in behavioral changes associated with long-term musical training. Considering
the potential of music to produce changes at the brain organization and improve its connectivity
in a uncomparable way to any other known activity, we present the main contributions of
neuroscience to the study of the plasticity induced by musical training with focus on those
obtained through neuroimaging techniques that allow visualizing working areas of the brain
while a sensory stimulus occurs.
Keywords: Brain, cognition, music practice, neuroimage, music training
INTRODUÇÃO
A atração humana pela música transcende barreiras culturais, razão pela
qual ela é encontrada em inúmeras culturas distintas (Sloboda, 2008). Não
necessitamos ter um conhecimento formal de música ou sermos
particularmente musicais para apreciá-la ou respondermos profundamente
à música, ela faz parte da nossa natureza e não existe cultura humana em que
ela não seja altamente desenvolvida ou apreciada (Sacks, 2007). De forma
importante, a música influenciou o nosso desenvolvimento ontogenético e
evolução e desempenha funções significativas na nossa vida diária (Pearce &
Rohmeier, 2012).
No entanto, se considerada do ponto de vista físico, a música é uma
mera coleção de sons com várias alturas, durações e outras características
fundamentais às quais a nossa mente atribui um significado, desenvolve
Anais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O treinamento musical de longo prazo tem contribuído de forma
relavante para a compreensão da plasticidade do cérebro humano na
medida em que a música parece ser um importante fator modulador desse
fenômeno. Resultados advindos dessa área de investigação podem
contribuir para o entendimento acerca da música e sua interrelação com
os processos de aprendizagem e memória assim como suas implicações
para o desenvolvimento cognitivo humano. Adicionalmente, a promoção
da plasticidade cerebral abre perspectivas para uma maior compreensão
das implicações advindas da utilização do treinamento musical enquanto
recurso educacional, assim como para o uso da música enquanto recurso
clínico e terapêutico como um gatilho para melhorar a funcionalidade do
cérebro tanto em indivíduos normais como aqueles com patologias.
Notas
1 No sistema nervoso, os corpos celulares dos neurônios compõem o que chamamos de substância
(matéria ou massa) cinzenta e as células da glia e os prolongamentos dos neurônios formam a substância
(matéria ou massa) branca, sendo parte desses neurônios revestidos pela mielina espécie de condutor que
amplifica a velocidade de transmissão das informações no sistema nervos e que confere a esse tecido o
seu aspecto esbranquiçado. A massa branca está associada principalmente à velocidade de processamento
do sistema nervoso ou conectividade enquanto a massa cinzenta é responsável por interpretar e processar
os sinais neurais ou impulsos nervosos e gerar a cognição.
2 No cérebro, essa área que ocorre bilateralmente nos hemisférios, contém uma representação
topográfica ordenada de nosso corpo na qual há uma magnificação em termos de tamanho para aquelas
áreas de maior sensibilidade corporal. Essa área foi descrita pelos pesquisadores W. Penfield e T. Ramusen
na década de 1950 e é conhecida como o “homúnculo de Penfield”, uma representação caricata da figura
humana em que dedos, mãos, faces, boca, língua e pés são retratados em tamanho desproporcional em
relação às outras partes do corpo, que possuem menor grau de sensibilidade e quantidade de células
receptoras para as sensações corpóreas. Representação topográfica similar é encontrada no córtex motor
primário (M1) e para as modalidades auditivas e visuais com os seus mapas tonotópicos e retinotópicos
respectivamente encontrados em nível periférico e central do sistema nervoso.
3 O ouvido absoluto é defini do como a habilidade de identificar corretamente ou entoar alturas
(pitches) sem uma referência externa.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
e Jônatas Manzolli4
1,2,3,4
Instituto de Artes/ Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora,
Universidade de Campinas, Brasil
1
micael.silva@nics.unicamp.br, 2tales.botechia@nics.unicamp.br, 3
danilo.rossetti@nics.unicamp.br, 4jonatas@nics.unicamp.br
Resumo
O presente artigo descreve a análise de duas peças acusmáticas ancoradas em descritores
psicoacústicos. As expansões tecnológicas do último século, levaram a composição musical ao
encontro dos fenômenos perceptivos e esses tornaram-se uma de suas interfaces para criação e
análise. Estudos atuais abrem espaço para a aplicação de suporte computacional no contexto da
musicologia sistêmica. Nosso artigo contextualiza e atualiza essa discussão, descreve a metodologia
de análise e discute os resultados.
Palavras-chave: análise musical, descritores de áudio, música acusmática, sharpness, escala bark.
Abstract
This paper describes the analysis of two electroacoustic pieces anchored in psychoacoustic
descriptors. The technological expansions of the last century have brought the musical
composition to the perceptual phenomena and these have become one of its interfaces for creation
and analysis. Current studies open the way for the application of computer support in the context
of systematic musicology. Our article contextualizes and updates this discussion, describes the
analysis methodology and discusses the results.
Keywords: musical analysis, audio descriptors, acousmatic music, sharpness, bark scale.
INTRODUÇÃO
No contexto da percepção musical, o limiar entre a distinção das
diferentes vozes dentro de uma polifonia e o intervalo de tempo no qual a
escuta funde essas vozes numa massa sonora é conhecido e bem definido.
Esse fenômeno foi recorrente em diferentes momentos da história da
música como, por exemplo, na expansão da polifonia no período da
Renascença. Essa técnica composicional levou a construção de obras com
diversas vozes independentes e, muitas vezes, as vozes imbricadas nessas
texturas polifônicas não podiam ser discriminadas pelo ouvinte. No século
XX, a chamada música de massas sonoras surgiu com destaque. Compositores
como Gÿorgy Ligeti, Krzysztof Penderecki e Iannis Xenakis, desenvolveram
essa estética, cada qual à sua maneira, em obras instrumentais e eletroacústicas.
Esse enfoque do século XX se apoia de maneira importante no estudo
da psicoacústica. Sethares (1998) realizou um exaustivo trabalho sobre
sistemas de afinação, relacionou o timbre com a dissonância sensorial e
aplicou essa abordagem para analisar a música clássica tailandesa. Parncutt
(2012) desenvolveu uma metodologia de análise da harmonia tonal a
partir de modelos psicoacústicos. Vassilakis (2001) implementou um
descritor de rugosidade para analisar arquivos de áudio. Além disso, há
ferramentas tecnológicas disponíveis de acesso livre como o software
Sonic Visualizer. Nele, já há um conjunto de rotinas que implementam
modelos psicoacústicos. Foram essas as ferramentas que utilizamos na
nossa análise, como veremos a seguir.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Asperezas
Na Fig. 1 apresentamos os gráficos dos descritores irregularidade
espectral, sharpness e escala Bark da peça Asperezas. A seguir discutimos
e analisamos as informações obtidas a partir dos gráficos.
Anais
87
Figura 1: Descritores da peça Asperezas (2018). De cima para baixo: Irregularidade Espectral,
Bark Coefficients e Sharpness.
Sendo assim, verificamos que existem pontos mais estáveis e mais instáveis
na descrição das bandas críticas.
88 Há uma grande correspondência com o descritor de irregularidade
espectral, pois os fenômenos de irregularidade estão intimamente ligados à
quantidade e distribuição de energia entre a escala bark. A partir da mesma
segmentação realizada com o descritor de irregularidade, observamos que
na primeira parte, há grande energia entre os barks 2 e 4, sendo que ao
mesmo tempo toda a extensão das bandas críticas está recebendo energia
espectral. A maior energia em todas as bandas críticas, e especialmente no
grave, é encontrada em conjunto com o pico de irregularidade espectral do
primeiro segmento. A partir deste ponto, inicia-se um processo de rare-
fação da energia nas bandas críticas, em paralelo com a queda de irregu-
laridade apontada na seção anterior. Essa rarefação terá como consequência
a concentração das energias em bandas críticas específicas ao longo do
espectro, que perdurará até a seção 3, onde a irregularidade espectral
demonstra maior estabilidade. Na terceira segmentação, uma concentração
de energia em bark muito próximos (entre 4 e 8), além de um aumento de
energia em todas as outras bandas em uma intensidade inédita na peça,
causando os já citados pontos mais altos de movimentação do espectro. Por
fim, temos uma queda de energia nas bandas, que marca o final da peça.
Sharpness. Esse descritor possui perfil em que é possível destacar a
variação contínua que se observa nas características espectrais e de inten-
sidade da microforma da peça. Em um perfil geral, também é possível
traçar comparações com as análises realizadas com os dados extraídos
pelos descritores de irregularidade e escala bark, pois exibem uma curva
que se inicia crescente e após um pico, caminha até um vale, de onde
parte um perfil crescente durante o resto de toda a peça.
Utopia
89
Figura 2: Descritores da peça Utopia (2018). De cima para baixo: Irregularidade Espectral,
Bark Coefficients e Sharpness.
DISCUSSÕES
Podemos notar em ambas as peças que, apesar das diferenças de
estruturação dos materiais sonoros, seus desenvolvimentos ocorrem através
de evoluções timbrísticas, especialmente em relação à percepção de
adensamento e rarefação textural. Além disso, é possível perceber que a
estruturação no nível microtemporal de seus sons reflete a macroforma de
cada peça. Em Asperezas, a percepção de rugosidade e intensidade planejadas
para construir a síntese FM podem ser vistas também na forma da peça.
Desse mesmo modo, as evoluções de fade in/fade out presentes na textura
base de Utopia se relacionam com a forma em arco da peça e na sua
distribuição de oitavas, além da aparição de outros sons mais pontuais
próximos do ápice.
Notamos ainda que a noção de textura percebida nas peças está associada
à de timbre em movimento mencionada por Ligeti, ou seja, de um som cujo
timbre emerge das relações de fusão de diferentes timbres concomitantes.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Agradecimentos
Mencionamos aqui os auxílios que suportam esta pesquisa, que é
desenvolvida no Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora
(NICS-Unicamp). Danilo Rossetti tem sua pesquisa de pós-doutorado
financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), processo nº 2016/23433-8. Jônatas Manzolli recebe
auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), processos 304431/2018-4 e 429620/2018-7.
Notas
1 Para o entendimento do processo de síntese FM, Cf. Chowning, 1974.
2 Para uma descrição detalhada da técnica de síntese utilizada e de seus parâmetros, ver Silva,
2018, p. 72-78.
3 Puckette (2006) define a síntese subtrativa como “a técnica de usar filtros para modelar o
envelope espectral de um som, formando outro som, geralmente preservando qualidades do
som original tais quais altura, roughness (rugosidade), noisiness (nível de ruído), ou graniness
(granularidade).”
Anais
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
Estudos de pesquisa recentes (Hamond, 2017; Welch et al., 2005) forneceram evidências sobre os
benefícios do uso de tecnologia, quando utilizada, para aprimorar os aspectos específicos na
aprendizagem de instrumento e canto, no contexto de aulas individuais. A aplicação de tecnologia
pode gerar tipos de feedback adicionais ao provido pelo professor, comumente encontrado em aulas
individuais. Tipos de feedback adicionais seja visual em tempo real ou visual combinado com auditivo
em tempo posteriori aumentam a consciência do aluno sobre seu processo de aprendizagem. A
improvisação é uma prática comum entre os licenciandos, pois é uma das habilidades funcionais
essenciais para a atuação com professores na escola básica. No entanto, a improvisação pode ser um
desafio para os bacharelandos, que têm o piano como instrumento principal em aulas individuais em
que o foco está na interpretação pianística de repertório solo de diferentes períodos. O objetivo desta
pesquisa é investigar o desenvolvimento da improvisação com alunos regulares do curso de
Bacharelado em Piano de uma instituição de ensino superior brasileira, com o uso do software
MIROR-Impro mediado pela pesquisadora. Dois alunos de bacharelado tiveram duas sessões com
tecnologia registradas em vídeo; duas entrevistas semiestruturadas foram conduzidas a fim de
compreender as perspectivas dos alunos quanto ao uso dessa tecnologia. Os relatos dos bacharelandos
auxiliam na compreensão sobre a possível aplicação desta tecnologia, destacando os benefícios e
limitações quanto ao uso do software MIROR-Impro com alunos de Bacharelado em Piano, no
desenvolvimento de improvisação em instrumentos de teclado.
Palavras-chave: Feedback. Educação Musical e Tecnologias Digitais. Improvisação. Pedagogia do
Piano.
Abstract
Studies of recent research (Hamond, 2017; Welch et al., 2005) provided evidence on the benefits of
using technology when used to enhance specific aspects of instrument and singing learning in the
context of individual classes. The application of technology can generate additional types of feedback
than that provided by the teacher, commonly found in individual classes. Additional types of feedback,
whether real-time visual or visual combined with posterior-time auditory, increase student awareness
of their learning process. Improvisation is a common practice among undergraduates, as it is one of
the functional skills essential for acting with teachers in elementary school. However, improvisation
can be a challenge for bachelor's degree students, who have the piano as their primary instrument in
individuals classes where the focus is on pianistic solo repertoire interpretation from different periods.
The aim of this research is to investigate the development of improvisation with regular students of
the Piano Bachelor course of a Brazilian higher education institution, using the researcher-mediated
MIROR-Impro software. Two bachelor students had two video-recorded technology sessions; two
semi-structured interviews were conducted to understand students' perspectives on the use of this
technology. Bachelor students' reports help to understand the possible application of this technology,
highlighting the benefits and limitations of using MIROR-Impro software with Piano Bachelor
students in the development of improvisation on keyboard instruments.
Keywords: Feedback. Music Education and Digital Technologies. Improvisation. Piano
Pedagogy.
INTRODUÇÃO
Este artigo é um recorte da pesquisa de pós-doutorado e apresenta
revisão bibliográfica, metodologia, resultados parciais e discussões sobre o
Anais
OBJETIVO
As investigações recentes mostram evidências do impacto que as
aplicações de diversos tipos de tecnologia têm na educação musical
(Hamond, 2017; Himonides, 2012; Welch et al., 2005), especificamente
no ensino e aprendizagem e desenvolvimento de improvisação em
instrumentos de teclado (Addessi, 2014; Addessi et al., 2017; Pachet,
2006). Apesar de reconhecer o impacto desses resultados de estudos sobre
a prática no contexto de educação musical do Brasil, onde algumas
pesquisas experimentais estão em andamento (por exemplo Pscheidt et al.,
2019), é necessário realizar mais estudos. A divulgação e aplicação de
resultados de investigações sobre a prática de uma instituição de ensino
superior pode impulsionar a adoção de práticas pedagógicas na área de
educação musical que são essenciais para continuar o diálogo entre
pesquisa e prática pedagógica.
O objetivo geral dessa pesquisa é investigar os usos pedagógicos do
software MIROR-Impro, por meio de feedback adicional gerado por
tecnologia no desenvolvimento de improvisação em instrumentos de
teclado (piano digital), no contexto de uma instituição de ensino superior
brasileira, com alunos e seus professores para compreender as suas
perspectivas sobre o uso dessa tecnologia no curso de Bacharelado em
Piano. Os objetivos específicos dessa pesquisa são: (a) investigar o uso
Anais
METODOLOGIA E MÉTODOS
A metodologia adotada nessa pesquisa foi um estudo exploratório de
caso-ação (Braa & Vidgen, 1995) de natureza qualitativa. A coleta de
dados envolveu registro em vídeo e observação de duas sessões com o uso
do software MIROR-Impro com os dois alunos de Bacharelado em Piano;
duas entrevistas semiestruturadas com os alunos; e um grupo focal com
alunos e respectivo professor de piano com utilização de excertos de
vídeos de sessões, registradas para discussão e debate das perspectivas dos
participantes sobre o uso do MIROR-Impro. Uma análise de dados
qualitativa de métodos múltiplos foi realizada.
Participantes
Dois alunos de Bacharelado em Piano da última fase e seu respectivo
professor de uma instituição de ensino superior brasileira participaram
nesta pesquisa, juntamente com a pesquisadora (primeira autora). Os
participantes voluntários foram informados sobre os objetivos desse
estudo e consentiram a participação na pesquisa permitindo a coleta de
dados em vídeo e áudio e divulgação de resultados da pesquisa, seguindo
os procedimentos éticos.
Materiais/ Equipamentos
A pesquisa utilizou os seguintes recursos tecnológicos: piano digital,
cabos MIDI (Musical Instrument Digital Interface), um computador laptop,
rodando o software MIROR-Impro versão 3.15, uma tela de computador
adicional e um cabo VGA para as sessões para explorar o uso do software
MIROR-Impro com os alunos participantes. Os equipamentos para
coleta de dados foram duas câmeras digitais, dois tripés para as câmeras
digitais para as sessões e um gravador de voz, tanto para as sessões quanto
para as entrevistas e grupo focal.
Análise de dados
Este trabalho apresenta resultados parciais das entrevistas semiestruturadas
realizadas com os dois alunos de piano participantes. As entrevistas foram
transcritas voluntariamente por um aluno do curso de Licenciatura em
Música e conferidas pela primeira autora do artigo. A análise qualitativa de
dados está em andamento. O software NVivo11 (QSR International) para
análise qualitativa de dados está sendo utilizado para organizar os dados da
observação em vídeo, e dados de áudio das entrevistas com os alunos
participantes e dados de áudio e vídeo do grupo focal com alunos e professor.
A análise temática (Braun & Clarke, 2008) das transcrições está em andamento.
A sistematização final da análise será realizada com auxílio do QSR
International NVivo11. As próximas etapas de análise de dados serão a
triangulação dos dados coletados – registros em vídeo das observações, das
entrevistas e do grupo focal - para assegurar confiabilidade ou trustworthiness
(Guba, 1981) desta pesquisa.
Procedimentos metodológicos
A pesquisa explorou o uso do software MIROR-Impro, implementado no
projeto MIROR com uma tecnologia digital baseado em sistemas musicais
reflexivos interativos (IRMSs - Interactive Reflexive Musical Systems) que
foram projetados para melhorar a ‘criatividade individual na improvisação
musical’ (Pachet, 2006, p.360). O software MIROR-Impro pode gravar e
reproduzir dados correspondentes à improvisação do participante, quer
imitando a improvisação do participante ou reproduzindo uma resposta em
três categorias (eco, similar, diferente ou muito diferente) num jogo
contínuo entre a improvisação realizada e audição de respostas geradas por
computador. A visualização da improvisação foi mostrada para o aluno
participante em piano roll em tempo real, e em tempo posteriori na tela
adicional de computador, quando o software MIROR-Impro respondia a
improvisação gravada nas modalidades (eco, similar, diferente ou muito
diferente). O software MIROR-Impro oferece tipos de feedback adicionais: o
visual na forma de piano roll em tempo real e o visual combinado com o
auditivo em tempo posteriori.
RESULTADOS
Os resultados parciais dessa pesquisa são apresentados neste artigo
sobre a análise temática das transcrições das entrevistas semiestruturadas
com dois alunos da última fase do curso de Bacharelado em Piano uma
instituição de ensino superior brasileira. Os dois alunos receberam nomes
fictícios (Luciano e Carlos) para preservar as suas identidades. Os alunos
foram entrevistados em diferentes momentos por questões de logística de
Anais
motivos, [você] vê visualmente o tipo de textura que [você] usou aqui, [você]
usou ali e [você] usou ali, né... (Luciano, entrevista 2)
98 Ter o visual também faz diferença assim.. é…[...] Acho interessante ver tanto o
aspecto rítmico como a organização de alturas, ver o som visualmente, no piano
roll tem a ver com as alturas e a gente vê ao longo do tempo como algo corrente,
é interessante ver o trecho sonoro materializado de alguma forma (Carlos,
entrevista 2).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de tecnologia pode ser uma ferramenta para conscientizar os alunos
nos seus processos de aprendizagem de suas performances (Hamond, 2017)
e de suas improvisações (Addessi et al, 2017). Os resultados preliminares da
pesquisa apresentada mostram que o feedback visual combinado com
auditivo usado em tempo posteriori (Hamond, 2017) parece aumentar a
percepção dos alunos de suas improvisações, e dos elementos, variações
rítmicas e melódicas e das texturas escolhidas durante o desenvolvimento
das improvisações com software MIROR-Impro. Investigações sistemáticas
sobre o uso efetivo da tecnologia em aula de instrumento, seja para
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Notas
1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
2 Esta pesquisa é uma pesquisa de pós-doutorado da primeira autora intitulada “Improvisação em
instrumentos de teclado por meio do uso de feedback gerado por tecnologia: um estudo
exploratório” desenvolvida na linha de pesquisa de educação musical no Programa de Pós-
Graduação em Música (PPGMUS) da UDESC, com colaboração internacional por meio do
projeto MIROR-Musical Interaction Relying on Reflexion (European Commission, ICT- FP7:
www.mirorproject.eu), coordenado pela Prof.ª Dr.ª Anna Rita Addessi.
Agradecimentos
As autoras agradecem a todos os participantes desta pesquisa. Esta pesquisa de
pós-doutorado da primeira autora teve financiamento da CAPES. Esta
apresentação foi possível graças ao auxílio financeiro do Programa de Pós-
graduação em Música (PPGMUS), Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC) para apresentação de trabalho em eventos científicos.
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MAIO 29 | May 29
102
SESSÃO L4
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 4, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair: Danilo Ramos
14:00
Forças musicais: composição, cognição e cultura
compondo entendimentos
Guilherme Bertissolo
14:30
Respostas emocionais ao ritmo musical
Eunice Dias da Rocha Rodrigues, José Eugênio de Matos Feitosa,
Maria Clotilde Henriques Tavares
15:00
Criação musical e solfejo: entre lógica e percepção
Gustavo Rodrigues Penha
Anais
Resumo
A música é conhecida por seu poderoso impacto emocional, sendo o arrastamento ou pareamento
rítmico -“rhythm entrainment”-, um fenômeno universal observado em sistemas físicos e biológicos,
que possibilita a adaptação de ritmos corporais internos (por exemplo, frequência cardíaca,
respiração) ao ritmo externo da música, e que recruta diferentes respostas fisiológicas do
organismo em níveis sensório-motor, perceptuais e comportamentais. Considerando tais
pressupostos, o presente artigo tem como objetivo compreender a participação do ritmo na
produção de emoções. Especificamente, buscou-se identificar os tipos de emoções geradas a partir
da exposição a ritmos determinados e detectar as áreas cerebrais responsáveis por seu
processamento. Constatou-se a capacidade do ritmo na indução de emoções como: alegria, medo,
tristeza, indiferença e nojo. Ritmos rápidos parecem estar relacionados à excitação, medo e
irreverência. Ritmos lentos apontam para estados de calma, serenidade e paz. Além da participação
do sistema límbico, destaca-se a participação dos núcleos da base, do cerebelo e do córtex pré-
frontal na expressão de emoções a partir do ritmo musical. Embora os mecanismos precisos de
interação no processamento de emoções e ritmo ainda permaneçam obscuros e o pareamento
rítmico seja um conceito relativamente recente, as pesquisas mostram que o envolvimento rítmico
musical parece estar relacionado ao surgimento de estados emocionais específicos, onde estruturas
rítmicas e atividade fisiológica desempenham papéis relevantes.
Palavras-chave: emoção, arrastamento rítmico, pareamento rítmico, “rhythm entrainment”,
processamento.
Abstract
The music is known for its powerful emotional impact, being the rhythmic entrainment, a
universal phenomenon observed in physical and biological systems, that allows the adaptation of
internal rhythms of the body (for example, heart rate, respiration) to the external rhythm of the
music, recruiting different physiological responses of the organism at sensory-motor, perceptual
and behavioral levels. Considering these assumptions, the present work aims to understand the
participation of rhythm in the production of emotions. Specifically, we sought to identify the
types of emotions generated from exposure to certain rhythms and to detect the brain areas
responsible for their processing. The capacity of the rhythm to induce emotions like: joy, fear,
sadness, indifference and disgust was verified. Rapid rhythms seem to be related to excitement,
fear, and irreverence. Slow rhythms point to states of calm, serenity, and peace. The participation
of the nuclei of the base, the cerebellum and the prefrontal cortex in the expression of emotions
from the musical rhythm is emphasized. Although the precise mechanisms of interaction in the
processing of emotions and rhythm still remain obscure and rhythm entrainment is a relatively
recent concept, research shows that musical rhythmic involvement seems to be related to the
emergence of specific emotional states, where rhythmic structures and activity play relevant roles.
Keywords: emotion, rhythmic entrainment, rhythmic pairing, processing.
INTRODUÇÃO
A música, por meio de seus elementos constitutivos possui uma
característica aparentemente universal: a capacidade de desencadear uma
diversidade de emoções nos ouvintes (Juslin et. al., 2016). Autores na área
da Psicologia da Música têm afirmado que a música é a linguagem de
emoções.Assim, de acordo com Langer (1957) as formas de sentimento
humano são mais congruentes com formas musicais do que com as formas
de linguagem e o poder da música é capaz de revelar a natureza dos
Anais
sentimentos com detalhes e verdades que não podem ser transmitidos por
meio da linguagem (Langer, 1957 & Gabrielsson, 2016).
No presente artigo entendemos emoção como estados psicofisiológicos 105
complexos que atribuem valor a determinados episódios, eventos e estímulos
(Dolan, 2002) ou experiências subjetivas acompanhadas de manifestações
orgânicas e comportamentais, reconhecíveis e estereotipadas (Damásio, 2000).
As emoções podem ser definidas em termos de uma ampla gama de
componentes que fazem parte de um episódio emocional, momento em que
alguns componentes tendem a agir em sincronia, ou seja, as emoções envol-
vem: a) avaliações cognitivas, que permitem, por exemplo, avaliar uma
situação como “perigosa”; b) sentimentos subjetivos como o medo; c) respostas
fisiológicas como o coração batendo acelerado; d) expressões emocionais,
como o choro; e) tendências de ação, como fugir em determinada situação.
Tais elementos agem de maneira sincronizada, com possibilidades de mudan-
ças na intensidade, qualidade e complexidade durante um episódio emocional
(Juslin, 2016). De acordo com Gazzaniga (2014), a emoção consiste em três
componentes: 1) uma reação fisiológica a um estímulo ou evento; 2) uma
resposta comportamental e 3) um sentimento.
Estudos que buscam estabelecer uma teoria da música e das emoções
geralmente procuram descrever as emoções induzidas pela música. Os
resultados de tais pesquisas retratam conclusões relativamente claras e
convincentes, tais como: a música pode despertar estados emocionais
básicos, como tristeza, felicidade, interesse e também estados emocionais
complexos como orgulho e nostalgia. Segundo Juslin (2016), os tipos de
emoção que ocorrem com mais frequência são: tristeza e melancolia,
felicidade e alegria, interesse e expectativa, amor e ternura, excitação e
energia, interesse e expectativa, orgulho e confiança, nostalgia e saudade,
energia e amor.
O ritmo musical tem sido apontado como elemento indutor de emoções.
Nesse sentido, o presente artigo abordará, por meio de revisão bibliográfica,
a resposta emocional ao ritmo da música, tendo como apoio o conceito de
“rhythm entrainment” ou pareamento rítmico. No aspecto rítmico, esse
conceito tem sido apontado como um mecanismo indutor de emoções.
Trata-se se de um processo em que os ritmos corporais internos, tais como
respiração, se adaptam ao ritmo externo da música, contribuindo para a
indução de uma resposta emocional (Miendlarzewska & Trost, 2014).
Whitek (2015), descreve esse fenômeno como o processo em que há a união
da atenção a determinado estímulo rítmico, geralmente expresso por meio
da sincronização sensório-motora. Considerando a interface entre a música
e as emoções, o presente trabalho tem como objetivo responder às seguintes
perguntas, por meio de revisão bibliográfica: 1) Que tipos de emoções são
geradas a partir da exposição a determinados ritmos musicais? 2) Que áreas
cerebrais/corticais estão envolvidas/ativadas no processamento do ritmo
musical?
MÚSICA E EMOÇÃO
De acordo com Witeck et. al. (2015) os estudos no campo do afeto musical
têm sido proeminentes na pesquisa sobre estruturas melódicas e harmônicas
em detrimento do ritmo, porém estudos recentes têm mostrado que as 109
melodias que violam as expectativas rítmicas, tais como os ritmos sincopados,
foram classificadas como mais agradáveis e mais felizes quando comparadas
com melodias cujos ritmos eram previsíveis. Os resultados da pesquisa de
Keller & Shubert (2011), por exemplo, sugerem que padrões rítmicos que
variam em complexidade podem influenciar o conteúdo emocional da
música. Dessa forma, ritmos musicais modulados simetricamente com
aumentos e diminuições na síncope entre pequenas frases musicais resultam
em estados de prazer e felicidade. Se a síncope aumenta, a complexidade
percebida também é aumentada, enquanto permanece constante em face da
síncope decrescente. Os autores afirmam que os efeitos da síncope nas
dimensões afetivas se apresentaram relativamente claros e foram classificados
como mais felizes do que outros padrões rítmicos. Essas emoções puderam
ser percebidas para os graus moderados de complexidade rítmica típicos da
música popular clássica ocidental. Por outro lado, o aumento dos níveis de
síncope e da ambigüidade métrica, característico de alguns gêneros musicais
como o jazz, pode favorecer um impacto mais pronunciado sobre a excitação
e a tensão (Keller & Shubert, 2011).
et al., 2004; Braun, Rebouças & Ranvaud, 2009; Cameron & Grahan,
2014; Trost et. al., 2014; Miendlarzewska & Trost, 2014; Thaut, Trimarchi,
110 & Parsons, 2014; Witek et. al, 2014; Juslin, 2013, Bailey, Zatorre, &
Penhune, 2014).
Tais pesquisas têm revelado consenso quanto às regiões cerebrais
envolvidas em seu processamento e uma variedade de estudos tem mostrado
que as áreas do cérebro relacionadas à atividade rítmica estão diretamente
associadas à percepção e ação motora e que as atividades nessas regiões são
moduladas por complexidades rítmicas. (Witek et. al, 2014). Na visão de
Keller & Shubert (2011), por exemplo, é possível que o grau em que um
padrão rítmico envolve áreas relacionadas ao sistema motor do cérebro seja
aumentado de acordo com o crescimento da complexidade do ritmo. No
envolvimento da coordenação de ações motoras destacam-se os núcleos da
base, provavelmente responsáveis pela métrica e pela percepção de estruturas
rítmicas. Dentro dos núcleos da base, o núcleo caudado é apresentado como
a porção mais “cognitiva” dos núcleos da base, uma estrutura chave na
codificação da métrica musical. Relaciona-se ao planejamento motor, à
predição do erro e à recompensa, além de estar envolvido no processamento
do ritmo e na sincronização sensório-motora de batidas fáceis. Essa região
também é sensível à excitação emocional e correlaciona-se à antecipação de
calafrios. Sua ativação pode ser explicada pelo fato de os núcleos da base
estarem implicados nas alças motoras e límbicas, recebendo informação
rítmica em combinação com conteúdo afetivo musical (Trost et. al., 2014,
Thaut, Trimarchi & Parsons, 2014). Considera-se, ainda, que os núcleos da
base estão mais ativos durante a percepção de ritmos que induzem batidas
do que ritmos que não as induzem, além de estar mais fortemente
envolvidos em associações estímulo-resposta, enquanto o cerebelo
compromete-se com a correção “on-line de erros”, além de otimizar as
sequências motoras adquiridas (Herholz & Zatorre, 2012; Cameron &
Grahan, 2016).
Estudos sugerem que o ritmo, particularmente a métrica, recruta áreas
de processamento cognitiva e executiva, envolvendo as funções cognitivas
superiores que são mediadas pelo córtex-pré-frontal e circuitos subcorticais
envolvidos nas funções executivas. Esse fato parece favorecer a hipótese de
que apenas os humanos tenham condições de processar a métrica, enquanto
outras espécies podem processar padrões (Thaut, Trimarchi & Parsons,
2014). Além disso, são relatadas diferenças de ativação entre músicos e não
músicos: os músicos tendem a recrutar representações de nível superior nas
áreas temporal, occipital e frontal, enquanto os não-músicos parecem usar
mecanismos sensório-motores, núcleos da base (putâmen e caudado) e o
cerebelo (Thaut, Trimarchi & Parsons, 2014).
CONCLUSÃO
O presente trabalho teve como objetivo compreender, à luz de uma
revisão bibliográfica, a participação do ritmo na produção de emoções.
Em particular, buscou-se descrever os tipos de emoções geradas a partir da
exposição a determinados ritmos e identificar as áreas cerebrais responsáveis
pelo processamento do ritmo. Diversos estudos apontam para uma clara
correspondência entre elementos das dimensões rítmica e o surgimento ou
Anais
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MAIO 29 | May 29
SESSÃO C1
Comunicações Orais | Oral Presentations
115
SALA 5, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair:: William Teixeira
14:00
Sistematização do processo heurístico do oboísta para a
caracterização do timbre e da articulação através de parâmetros
acústicos e psicoacústicos
Ravi Shankar Magno Viana Domingues, Mauricio Freire Garcia,
Davi Mota,
14:10
Análise fenomenológico interpretativa: possibilidades de utilização
no campo de estudos da aprendizagem da composição musical
Igor Mendes Krüger, Veridiana de Lima Gomes Krüger, Lourdes Maria
Bragagnolo Frison
14:20
O Efeito Kiki-Bouba como referência para investigações
multissensoriais em música
Cristiane Nogueira, Helena Rodrigues
14:30
Análise de métodos biomecânicos para controle e dinâmica do
instrumento bateria
Sandro Moreno, William Teixeira
14:40
Treinamento musical, ouvido absoluto e memória verbal:
um estudo sobre possíveis correlações
Priscila Satomi Acamine, Patricia Vanzella
14:50
Música interfere na apreciação estética em museu de arte
contemporânea
Bruna de Oliveira, Giulia Ventorim, Claudia Feitosa-Santana, Patricia
Vanzella
15:00
As manipulações do trato vocal na emissão das notas do registro
agudo e superagudo do clarinete baixo
Elaine Cristina Rodrigues Oliveira, Ricardo Dourado Freire
15:10
Arnold Jacobs e proposta musicopedagógica CDG:
sobre formação de professores de instrumento de metal
Michele Girardi, Helena Müller de Souza Nunes
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
Durante seu processo de formação, o instrumentista desenvolve uma série de habilidades cognitivas e
metacognitivas que contribuem para o aperfeiçoamento da manipulação de parâmetros musicais
necessários para a construção de uma performance. Considerando-se que oboístas realizam grande
parte desta manipulação através da palheta, é fundamental aprender a perceber, refletir e desenvolver
estratégias para a produção de palhetas que permitam alcançar de maneira eficiente seus objetivos
musicais. Esse desenvolvimento técnico e artístico é moldado segundo seu contexto cultural, social e
econômico onde um diversificado vocabulário de palavras e imagens como heurísticas são
apresentados e desenvolvidos. Se por um lado esse vocabulário heurístico facilita o agrupamento de
muitos hábitos técnicos e interativos em conceitos, o uso descontextualizado de tais expressões, pouco
contribui para o desenvolvimento de uma boa palheta e das habilidades técnicas dos oboístas. Desse
modo, o presente artigo explorou o processo heurístico do oboísta relacionado às metáforas utilizadas
para a caracterização do timbre e da articulação através de um estudo descritivo do tipo transversal, cuja
coleta de dados foi dividida em duas etapas: aplicação de um questionário, semi-estruturado, a 21
oboístas profissionais, brasileiros e estrangeiros, que gravaram dois excertos musicais contrastantes e a
realização de um teste subjetivo de percepção em 73 músicos, docentes e discentes de três universidades
brasileiras. Observou-se a relação entre alguns descritores acústicos e a classificação subjetiva realizada
pelos músicos o que contribuiu para a sistematização do processo heurístico dos oboístas para
caracterizar o timbre e a articulação.
Palavras-chave: oboé, cognição musical, timbre, articulação, descritores acústicos.
Abstract
During his training process, the instrumentalist develops a series of cognitive and metacognitive skills
that contribute to the improvement of the manipulation of musical parameters necessary for the
construction of a performance. Considering that oboists perform much of this manipulation through
the reed, it is essential to learn to understand, reflect and develop strategies for the production of reeds
that enable them to efficiently achieve their musical goals. This technical and artistic development is
shaped according to its cultural, social and economic context where a diverse vocabulary of words
and images as heuristics are presented and developed. While this heuristic vocabulary facilitates the
grouping of many technical and interactive habits into concepts, the decontextualized use of such
expressions contributes little to the development of a good reed and the technical skills of oboists.
Thus, the present article explored the heuristic process of the oboist related to the metaphors used for
the characterization of the timbre and the articulation through a descriptive cross-sectional study,
whose data collection was performed in two stages: recording two contrasting excerpts performed
by 21 Brazilian and foreign professional oboists, whose data were collected through a semi-
structured questionnaire, and the application of a subjective aural test to 73 musicians, faculties and
students of three universities. The recordings were analyzed according to acoustic descriptors and
subsequent statistical treatment. The acoustic data, extracted through the descriptors, were contrasted
with the data collected in the questionnaire and in the subjective aural test. It can be observed the
relationship between some acoustic descriptors and the subjective classification performed by the
musicians, which contributed to the systematization of the heuristic process of the oboists to
characterize the timbre and the articulation.
Keywords: oboe, musical cognition, timbre, articulation, acoustic descriptors.
Anais
INTRODUÇÃO
O oboé, assim como todo instrumento de palheta dupla, tem a produção
117
sonora realizada pela “vibração de duas lâminas flexíveis que se contrapõem e
formam um canal de passagem para o ar, possibilitando o ingresso de uma corrente
de ar modulada pela sua própria vibração” (Fuks, 2017, p.35).
A aprendizagem do processo de produção da palheta é fundamental na
formação do oboísta, pois seu estilo de tocar, sua técnica, relaciona-se direta-
mente com o material utilizado e o tipo de raspado da sua palheta, na mesma
medida em que suas habilidades técnicas e sua cultura sonora, compreendida
como a tendência sonora associada a tradições estéticas e interpretativas de
diferentes contextos geográficos, cronológicos e culturais (Fabian, 2014;
Milsom & Costa, 2014), irão influenciar a produção das suas palhetas.
Assim como os fagotistas, grande parte dos oboístas costumam fazer suas
próprias palhetas, sendo responsáveis em alguns casos por quase todas as
etapas da produção - seleção da cana por diâmetro, retitude e cor passando
pela goivagem, mensuração da espessura e densidade através do micrômetro
e do testador de dureza, moldagem, amarração e concluindo com a raspagem
e ajustes finais. Todo esse processo afeta muitos parâmetros musicais, tais
como a sonoridade, a afinação, a articulação, a flexibilidade e também a
resistência muscular do instrumentista.
Dentre os procedimentos relacionados à produção da palheta, o
raspado é considerado pelos oboístas, um dos aspectos que mais influencia
a produção sonora do oboé. Raspar a palheta, consiste em retirar o verniz,
ou parte exterior, da cana em diferentes pontos e níveis para que a palheta
vibre com o ar expirado pelo instrumentista.
Além de aspectos técnicos, aspectos expressivos são desenvolvidos ao longo
da trajetória musical do instrumentista. Esse desenvolvimento artístico será
moldado pelo seu contexto cultural, social e econômico onde um diversificado
vocabulário de palavras e imagens como heurísticas são apresentados e desen-
volvidos. Se por um lado esse vocabulário heurístico facilita o agrupamento e a
comunicação de muitos aspectos técnicos e interativos em conceitos, essas
reduções podem levar a conclusões tendenciosas a respeito, por exemplo, de
um determinado estilo interpretativo, levando o oboísta a justificar suas esco-
lhas nos preconceitos estabelecidos que influenciarão consequentemente a
construção da sua palheta, tendo em vista sua estreita relação com todos os
aspectos que envolvem sua performance.
A princípio, podemos agrupar os estilos de raspagem das palhetas de
oboé em dois grandes grupos: o raspado curto e o longo. O agrupamento
foi feito a partir da medição do tamanho total da palheta, da espessura da
cana, das dimensões dos moldes utilizados e de semelhanças visuais nos
desenhos das palhetas.
Conforme a sugestão de Ledet (1981), esses dois grupos podem ser
subdivididos por suas características, em seis diferentes estilos: francês,
inglês, holandês, vienense, americano e o alemão, que à época, havia sido
categorizado como um estilo de “fronteira”. Esses estilos não se encontram
limitados às suas fronteiras geográficas e, atualmente, a profusão de estilos
existentes dentro de cada uma dessas maneiras de construir e raspar a
palheta de oboé sobrepujam essas nomenclaturas de origem nacional.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
METODOLOGIA
Um estudo observacional descritivo do tipo transversal (Triola, 2014)
foi realizado entre setembro e dezembro de 2017 nos estados brasileiros
da Paraíba e do Rio Grande do Norte. O experimento foi divido em cinco
etapas:
1a) gravação de 21 oboístas profissionais do Brasil (14), Uruguai (1), EUA
(2), Canadá (1) e Europa (3) interpretando dois excertos musicais contrastantes
que proporcionaram condições de performance onde pode-se observar o
comportamento das variáveis dependentes (parâmetros acústicos) em relação
à manipulação das variáveis independentes (parâmetros físicos das palhetas de
raspado curto e longo: medidas e materiais utilizados na produção).
RESULTADOS
Após a analise dos dados os oboístas que utilizaram palhetas de raspado
curto apresentaram médias de centroide espectral superiores aos que
utilizaram palhetas de raspado longo. Isto indica maior brilho no timbre
desses instrumentistas, contrariando o consenso existente entre os oboístas,
que relaciona a sonoridade escura com à palheta alemã (palheta de raspado
curto); e a sonoridade clara, à palheta americana (palheta de raspado longo)
(Mota, 2017b). Os dados do teste subjetivo de percepção corroboraram
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
CONCLUSÃO
Nota-se que apesar das diferenças entre os parâmetros físicos das
palhetas, a cultura sonora é a principal influência no processo heurístico
do oboísta conduzindo sua compreensão dos conceitos subjetivos e sua
percepção dos parâmetros acústicos e psicoacústicos.
Em geral, o oboísta deseja uma “boa” sonoridade, ou seja, uma sonoridade
aceitável ao seus ouvidos, do público e de outros indivíduos que compõem seu
ambiente musical e que estão condicionados, em grande parte, por sua cultura
sonora. O meio musical nos Estados Unidos desenvolveu-se consentindo um
tipo de sonoridade de oboé, produzida com palhetas de raspado longo, no
qual, provavelmente, um oboísta de sonoridade marcadamente francesa,
inglesa ou vienense, encontraria sucesso limitado, por soar de maneira distinta
(LEDET, 1981). Desse modo, para que o oboísta alcance uma sonoridade
individualmente e socialmente aceitável, o estilo de palheta é ajustado à
maneira de se produzir o som, às características acústicas do oboé e à concep-
ção sonora do contexto musical no qual o instrumentista está inserido.
Cada instrumentista acaba por desenvolver seu modo de construir e
raspar a palheta, que vai se transformando ao longo da sua trajetória.
Desenvolvendo um sistema próprio de construção de palhetas, que passa
pela escolha dos materiais e sua enorme variedade (seleção da cana, tubo,
diferentes tipos de moldes), passando pelas formas de amarração, tempo
de espera e de raspagem da palheta, chegando aos diferentes tipos de
raspado. Esse sistema ajuda o instrumentista a ter referências mas, ao
mesmo tempo, cria barreiras de pré-conceitos que o impedem de observar
o que de positivo existe em outros modos de construção da palheta, o que
acaba muitas vezes limitando e/ou estagnando seu desenvolvimento.
Observou-se que influência do contexto musical parece ser significativa
e norteia as referências de sonoridade dos instrumentistas ou cultura
sonora. O timbre de um determinado oboísta pode ser percebido como
claro, brilhante e estridente em um determinado cenário musical e ser
percebido de maneira oposta em outro. Aí reside um desafio ao oboísta de
encontrar uma palheta, ou um determinado estilo de produção da palheta,
que lhe permita adaptar-se aos diferentes contextos musicais, inclusive às
demandas expressivas de cada repertório. Dificilmente, uma mesma palheta
será adequada para interpretar, por exemplo, uma sonata barroca, as
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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Anais
Resumo
O objetivo principal do presente trabalho é apresentar um ensaio acerca de procedimentos metodológicos
que visem à compreensão da autorregulação para a aprendizagem de processos criativo/musicais que
ocorrem em aulas de composição musical. Por tratar-se da aprendizagem para uma atividade humana,
artística, subjetiva e eminentemente criativa, julgamos que, antes de buscarmos compreender os
procedimentos desenvolvidos pelos estudantes durante suas empreitadas criativas, precisamos
compreender os sentidos por eles atribuídos para os diferentes elementos que escolhem utilizar durante
seus processos criativos. Chegamos a essas conclusões tendo como base os escritos de Bandura (1986), ao
afirmar que, ao serem expostas às circunstâncias proporcionadas por um mesmo ambiente, pessoas
diferentes percebem, selecionam, retêm e, consequentemente, representam características e aspectos
distintos do que vivenciaram. Isso permite que duas pessoas, que tenham experienciado juntas um mesmo
acontecimento apresentem versões completamente diferentes a respeito do mesmo. Diante disso,
acreditamos que, para abordar os sentidos atribuídos pelos estudantes, os quais incidem sobre seus
procedimentos autorregulatórios para a aprendizagem da composição, faz-se necessário o uso de uma
abordagem metodológica qualitativa, em caráter exploratório, que permita a realização de estudos
idiográficos. Assim sendo, apresentamos, como possibilidade metodológica para a realização de pesquisas
sobre a aprendizagem da composição, a Análise Fenomenológica Interpretativa (AFI) (EATOUGH &
SMITH, 2008), por oferecer contribuições à compreensão dos processos autorregulatórios para a
aprendizagem da composição musical e possibilitar o compartilhamento de idiossincrasias, afetos,
sentimentos e sistemas de crenças entre entrevistador e entrevistado.
Palavras-chave: autorregulação, criatividade, composição musical, metodologia, análise
fenomenológico interpretativa.
Abstract
The main objective of this work is to present an essay about methodological procedures that aim at the
understanding of self-regulation for the learning of creative/musical processes that occur in music
composition classes. Since we are dealing with learning for human, artistic, subjective, and eminently
creative activity, we believe that before we attempt to understand the procedures developed by students
during their creative endeavors, we need to understand the meanings they assign to the different
elements they choose to use during their creative processes. We arrive at these conclusions based on the
writings of Bandura (1986), when affirming that, when exposed to the circumstances provided by the
same environment, different people perceive, select, retain and, consequently, represent distinct
characteristics and aspects of what they catch experienced. This allows two people, who have experienced
together the same event, to present completely different versions of it. Therefore, we believe that in order
to approach the senses attributed by the students, which focus on their self-regulatory procedures for
learning composition, it is necessary to use a qualitative methodological approach, in an exploratory
character, that allows the realization of idiographic studies. Thus, we present, as a methodological
possibility to perform research on the learning of composition, the Interpretative Phenomenological
Analysis (IPA) (Eatough & Smith, 2008), for offering contributions to the understanding of self-
regulatory processes for learning musical composition and enabling the sharing of idiosyncrasies,
affections, feelings and belief systems between interviewer and interviewee.
Keywords: self-regulation, creativity, musical composition, methodology, interpretative
phenomenological analysis.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
INTRODUÇÃO
Ao longo dos últimos anos, temos nos ocupado em investigar a aprendi-
124
zagem da composição musical em âmbito universitário. Em função disso,
temos buscado, por meio de revisões da literatura da área, trabalhos que possam
subsidiar reflexões a respeito de processos formativo/composicionais. Nos
escassos¹ trabalhos acadêmicos dedicados à temática, vê-se a preocupação com
procedimentos pedagógicos para o ensino da composição musical, balizados
pela exploração de uma série de procedimentos e técnicas que abrangem a
utilização dos diferentes parâmetros compositivos, a exemplo dos escritos de
Pitombeira (2011)², Wilkins (2006), Kostka (2006), Cope (1997), Wuorinen
(1994), Austin (1989), Dalin (1974). A partir da análise de tais escritos, perce-
bemos que a aprendizagem da composição musical tem sido pautada de forma
unidirecional. Temos, em tais produções, contribuições para pensarmos os o
quês e comos referentes ao ensino da composição. Contudo, entendemos ser
válida a exploração dos por quês e comos da/para aprendizagem composicional.
Nesse sentido, defendemos um olhar atento ao indivíduo aprendente en-
quanto escopo possível de complementariedade aos trabalhos já produzidos
em prol de uma melhor compreensão de o tornar-se compositor.
Visando aproximarmo-nos desses indivíduos aprendentes e criadores
servimo-nos da concepção ontológica de humano como apresentada por
Bandura (1986) em sua Teoria Social Cognitiva (doravante TSC). Ao partir-
mos da perspectiva de Bandura para pensarmos o indivíduo que aprende e
cria, entendemos ser necessária uma assunção do papel da interpretação nas
transações agênticas³ do indivíduo com/no universo. As diferentes formas de
interpretação, representação e simbolização do vivido implicam nos modos
como as pessoas conectam o pensamento à ação (autorregulação). Desde a
TSC, buscamos a compreensão das representações de mundo composicio-
nal⁴ dos aprendentes e suas implicações sobre a autorregulação para a
aprendizagem desses.
Dito isso, trazemos, neste ensaio, reflexões a respeito de procedimentos
metodológicos de pesquisa que permitem a compreensão dos sentidos atri-
buídos, pelos estudantes de composição musical, a respeito dos processos
autorregulatórios empreendidos para a aprendizagem composicional, mais
especificamente, discutimos as contribuições oferecidas pela Análise Feno-
menológica Interpretativa (AFI).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o presente trabalho, dedicamo-nos a tecer reflexões acerca de
procedimentos metodológicos de pesquisa que permitem a compreensão
dos sentidos atribuídos pelos estudantes de composição musical a respeito
dos processos autorregulatórios empreendidos para a aprendizagem
composicional.
Tal proposta originou-se da necessidade que identificamos de trazer o
indivíduo que aprende e cria para o centro das discussões que se ocupam
em compreender o tornar-se compositor. Assim, trouxemos da TSC os
preceitos teóricos que fundamentam a concepção ontológica de humano
e, consequentemente, de seus modos de aprender e criar mediante mani-
pulações simbólicas. Com isso, reconhecemos a importância da compre-
ensão das implicações referentes a interpretações, representações e sistemas
de crenças dos indivíduos sobre o agir com/no universo, o que nos conduz ao
entendimento de que a discussão em torno da aprendizagem composicional
requer a utilização de metodologias sensíveis aos elementos subjetivos que
envolvem as empreitadas composicionais.
Dito isso, argumentamos que a AFI oferece subsídios metodológicos
pertinentes à compreensão dos processos criativos e autorregulatórios de
estudantes de composição musical por valorizar a interpretação do
indivíduo a respeito dos sentidos atribuídos à experiência.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Notas
1 Cabe ressaltar que existe uma série de trabalhos que abordam a pedagogia da composição musical
130 em ambientes escolares e de musicalização infantil. Nesses contextos, a composição é utilizada
como meio para o desenvolvimento da sensibilidade e/ou de habilidades específicas necessárias aos
processos de musicalização. Nos cursos de Bacharelado em Composição, a obra artística resultante
dos processos de composição musical é tratada como objetivo final dos processos de ensino e
aprendizagem. Portanto, para a realização do presente trabalho, não analisaremos os referenciais
voltados à musicalização infantil, direcionaremos nossa atenção para os trabalhos pedagógicos que
visem à formação profissional de compositores.
2 O trabalho de Pitombera (2011) dedica-se a apresentar os paradigmas para o ensino da composição
musical, citando, como tais, os trabalhos de Wilkins (2006), Kostka (2006), Cope (1997), Wuorinen
(1994), Austin (1989), Dalin (1974). Nesse artigo, Pitombeira (2011) anuncia ter elaborado, com
base em tais paradigmas, em 2008, um Manual de Práticas Composicionais Contemporâneas para o curso
de Bacharelado em Composição da UECE, manual esse que foi tomado como referência pedagógica
em diferentes espaços educativos, espaços esses, dos quais destacamos: a disciplina Composição
Avançada do COMPOMUS (Laboratório de Composição Musical da Universidade Federal da
Paraíba); os módulos de Composição do Laboratório Kaplan de Pesquisa e Extensão em Música, da
Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, e, também, as disciplinas Práticas
Composicionais Contemporâneas, do Curso de Bacharelado em Composição, dessa mesma
universidade.
3 Transações agênticas podem ser compreendidas enquanto trocas e influências recíprocas de um
humano para outro humano e, também, do humano para com o ambiente.
4 Na falta de um termo melhor, optamos pela utilização de “mundo composicional” para fazer
referência ao conjunto de interpretações de cada estudante/compositor sobre os diferentes aspectos
que perpassam as interações que vivenciam enquanto autorregulam a aprendizagem de processos
criativos em contexto universitário.
5vO termo determinismo é usado aqui para significar a produção de efeitos por certos fatores, ao
invés de, no significado doutrinário de ações, serem completamente determinadas por uma
sequência prévia de causas que operam independentemente do indivíduo. Muitos fatores são
frequentemente necessários para criar um determinado efeito. Devido à multiplicidade de
influências interagentes, o mesmo fator pode fazer parte de diferentes combinações de condições
que têm efeitos diferentes. Fatores particulares estão, portanto, associados a efeitos probabilísticos,
e não inevitavelmente. (Bandura, 1986, p.23-24, tradução nossa).
6 Sob a perspectiva da TSC, pode-se entender êxito como condicionado aos interesses e
interpretações de cada indivíduo. Com isso, o que significa êxito para uma pessoa não
necessariamente o significará para outra.
7 Importa dizer que a maior parte das aprendizagens humanas são resultantes da combinação de
ambas as formas de aprendizagem: observacional e enativa.
8 Tal elemento emerge da proposição de tese de doutoramento, em curso, do primeiro autor
deste trabalho.
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
O Efeito Kiki-Bouba refere-se a um dos primeiros testes envolvendo a correspondência entre
sentidos perceptivos, desenvolvido no contexto da psicologia Gestalt. A relação encontrada entre as
palavras kiki e bouba e duas imagens de formas distintas, tem fornecido evidências de uma conexão
entre estímulos linguísticos/sonoros e visuais, demonstrando a capacidade humana de perceber as
formas sonoramente, através de uma relação não-arbitrária entre sentidos auditivo e visual. O Efeito
Kiki-Bouba tem suscitado questões relativas ao modo como diferentes modalidades sensoriais se
inter-relacionam em termos de percepção e conhecimento, dando origem ao estudo das
correspondências intermodais. Dado que a experiência musical é, na sua essência, de natureza
multissensorial, questiona-se se o Efeito Kiki-Bouba se verifica em situações de caráter musical e se
poderá constituir um paradigma relevante para o estudo do fenômeno musical. O presente trabalho
apresenta um panorama desse paradigma a partir de revisão bibliográfica de referência realizada em
4 bases de dados online, a saber, PsycNET/ APA, da Associação Americana de Psicologia, as
plataformas Eric e Sage Journal, e o Google Scholar. Os resultados mostram que o Efeito Kiki-
Bouba é transversal a várias áreas do conhecimento, sendo abordado em estudos sobre
correspondências intermodais quer entre aspectos sensoriais como cognitivos, no âmbito da
linguagem, do simbolismo sonoro, da percepção e da sinestesia. Não obstante, há problemas que
estão ainda por identificar como, por exemplo, no que concerne à relação do Efeito Kiki-Bouba
com o movimento corporal e com dimensões específicas da escuta musical.
Palavras-chave: efeito kiki-bouba, música, correspondência intermodal, sinestesia
Abstract
The Kiki-Bouba Effect refers to one of the first tests involving the correspondence between
perceptual senses developed in the context of Gestalt psychology. The link between the words kiki
and bouba and two images in different forms has provided evidence of a connection between
linguist/sonorous and visual stimuli, demonstrating the human capacity to perceive forms sonically
through a non-arbitrary correlation between auditory and visual senses. O Kiki-Bouba Effect has
raised questions about how different sensory modalities interrelate in terms of perception and
knowledge, giving rise to the study of intermodal correspondences. Considering the musical
experience as essentially multisensory nature, it is questioned whether the Kiki-Bouba Effect occurs
in situations of musical character and may constitute a relevant paradigm for the study of the musical
phenomenon. The current work provides an overview of this paradigm based on a bibliographic
reference review in four databases online, namely PsycNET/ APA, of the American Psychological
Association, the ERIC and SAGE JOURNAL platforms, and GOOGLE SCHOLAR. The results
show that the Kiki-Bouba Effect is transversal to several areas of knowledge, being approached in
studies on intermodal correspondences between sensory and cognitive aspects, in terms of language,
sound symbolism, perception and synesthesia. Nevertheless, there are problems that are yet to be
identified, for example, the relation of the Kiki-Bouba Effect with body movement and with specific
dimensions of musical listening.
Keywords: kiki-bouba effect, music, crossmodal correspondence, synesthesia
INTRODUÇÃO
Desenvolvido em 1929 pelo psicólogo gestaltista Wolfgang Köhler
(1887-1967), o Efeito Kiki-Bouba (EKB) refere-se, originalmente, à ten-
dência de relacionar determinadas palavras sem sentido e sons com formas e
imagens, evidenciando uma conexão não-arbitrária entre estímulos
linguísticos/sonoros e visuais. O estudo original, realizado na ilha de
Tenerife, apresentou aos participantes duas imagens – uma de contornos
Anais
MÉTODO
A pesquisa bibliográfica inicial foi realizada entre os meses de abril e
junho de 2018, em 04 bases de dados online, a saber, o PsycNET/ APA,
da Associação Americana de Psicologia e as plataformas Eric, Sage Journal
e Google Scholar. Os termos de pesquisa que orientaram as buscas foram
“kiki-bouba effect”, “kiki-bouba” e “kiki-bouba and music”. Além dos 04
sites indicados acima, outros repositórios científicos foram pesquisados,
como o Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP),
o Repositório da Universidade Nova de Lisboa (RUN), a Revista da
Associação Portuguesa de Psicologia e o Scientific Eletronic Library
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Figura 1. Takete e Maluma, Köhler (1929; 1947) Figura 2. Bouba e Kiki nos estudos atuais
CONCLUSÃO
O EKB compreende um interessante mapeamento não arbitrário que
evidencia a capacidade humana de perceber os fenómenos de modo
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Nota
1 “Research on nonarbitrary correspondences revealed that individuals with autism or those with
damage to the brain sites involved in emotional processing demonstrated violations of the robust
‘‘kiki-bouba effect’’ (Blazhenkova & Kumar, 2018, p. 70).
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Anais
Problema
O estudo da bateria envolve muitas variáveis, entre elas a precisão técnica visando uma dinâmica com
eficaz controle do volume pelo instrumentista, algo de extrema complexidade. Ao serem percutidos,
os tambores produzem naturalmente grande amplitude sonora e, por essa razão, a investigação
proposta aqui busca as melhores opções de manejo técnico e gestual para obtenção de dinâmicas
baixas, não somente em caráter artístico-musical mas também com abordagem científica ao buscar
na Física conceitos de Mecânica e Ondulatória que embasem técnicas de moderação do som. O
conhecimento em Acústica será basilar para este processo, antecedendo a abordagem técnica para que
seja possível a apuração sobre a escolha das baquetas, analisando a qualidade sonora produzida
levando-se em conta a massa, dureza e a forma. Na pesquisa das habilidades, averiguamos a
sistemática proposta por três relevantes educadores e performers, George Lawrence Stone (1886-
1967), Gladstone (1892-1961) e Sanford A. Moeller (1869-1961). Destaca-se também a importância
da escolha correta do fulcro (o ponto de apoio de uma alavanca). Por ser a bateria um instrumento
ainda recente na história da música, tendo seu surgimento na virada do século XIX para o século XX,
tem-se um amplo caminho para diferentes abordagens de execução. A pesquisa aqui deteve-se a
encontrar a melhor trajetória para performance em baixa amplitude sonora.
Objetivos
Este trabalho tem como intento a exposição das técnicas de manejo e os gestos corporais
envolvidos na produção de uma sonoridade de baixa amplitude durante a prática da bateria.
Método
Uma análise multidisciplinar que explane conceitos musicais e da performance tendo como base a
Biomecânica, Ergonomia, princípios da Mecânica, Ondulatória e Acústica.
Resultados
Produção de um texto com registro das técnicas apresentadas no trabalho, posterior publicação em
formato de artigo científico.
Conclusões
O controle dinâmico sem a perda do fluxo musical é de extrema dificuldade para o performer deste
instrumento, a pesquisa efetuada ajuda o músico a encontrar este autodomínio, sobretudo a partir
da ênfase no fulcro.
Palavras-chave
Bateria, técnica, dinâmica, performance
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doutorado). Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP,
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Anais
1
Centro de Matemática, Computação e Cognição, Universidade Federal do ABC, Brasil
2
Núcleo Interdisciplinar de Neurociência Aplicada, Universidade Federal do ABC, Brasil
1
priscilaacamine@gmail.com, 2p.vanzella@ufabc.edu.br
Resumo
O ouvido absoluto (OA) é um traço cognitivo caracterizado pela capacidade de identificar e/ou
entoar uma altura específica sem o auxílio de referência externa. Estudos sugerem que portadores de
OA, quando comparados a músicos não portadores e não-músicos, tendem a apresentar uma
acentuada assimetria hemisférica (em favor do lado esquerdo) no Planum Temporale, área principal
em que a memória verbal é mediada, podendo sugerir um melhor desenvolvimento desta função
cognitiva. O objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho de portadores de OA em um teste de
memória verbal e comparar aos de não-músicos e músicos sem OA para verificar a existência de
relações entre treinamento musical, ouvido absoluto e memória auditiva verbal. Os participantes
realizaram um teste de identificação de tons, para classificação de portadores e não portadores de OA,
e o Rey Auditory-Verbal Learning Test (RAVLT). Foi encontrada uma associação entre treinamento
musical e performance no teste de memória. Músicos aprenderam e reconheceram posteriormente
significativamente mais palavras que os não-músicos. Entretanto, quando os músicos foram
analisados separadamente em subgrupos de portadores e não portadores de OA e comparados com
os não-músicos, a diferença na performance deixou de existir. Verificou-se que o treinamento
musical está relacionado a uma melhor performance no teste de memória verbal. Não foi encontrada
diferença de performances no teste de memória entre os subgrupos de músicos portadores e não
portadores de OA e não-músicos.
Palavras-chave: ouvido absoluto, memória verbal, treinamento musical
Abstract
Absolute pitch (AP) is the ability to identify or produce a musical tone without reference to an
external standard. Research suggests that people with AP, as compared to both musicians without AP
and non-musicians, tend to show an exaggeration of the typical leftward asymmetry of the Planum
Temporale, the main area in which verbal memory is mediated, suggesting a better development of
this cognitive function. In this study, we evaluate the performance of AP possessors in a verbal
memory test and we compare it to those of non-musicians and musicians without AP to investigate
whether there are correlations between musical training, AP and auditory verbal memory.
Participants performed a tone identification task for classification of AP possessors and non-
possessors, and the Rey Auditory-Verbal Learning Test (RAVLT). We found an association between
music training and performance in the memory test. Musicians learned and remembered significantly
more words than non-musicians. However, when groups of musicians with AP and without AP
were analyzed separately and compared to non-musicians, the difference in performance ceased to
exist. We verified that musical training is related to a better performance in the verbal memory test.
There was no difference between subgroups of musicians with AP, musicians without AP and non-
musicians in the memory test performance.
Keywords: absolute pitch, verbal memory, musical training
INTRODUÇÃO
O ouvido absoluto (OA) é definido na literatura como sendo um traço
cognitivo caracterizado pela capacidade de identificar, usando rótulos, a
altura de qualquer tom isolado e/ou entoar uma altura específica sem o
auxílio de referência externa (Baggaley, 1974; Takeuchi & Hulse, 1993;
Ward, 1999; Parncutt & Levitin, 2001). A prevalência dessa habilidade
pode variar consideravelmente em função da população estudada. Alguns
estudos estimam que, na população geral, menos de uma em cada dez mil
pessoas a possuam (Bachem, 1955; Profita, Bidder, Optiz, & Reynolds,
1988). No entanto, as metodologias desses estudos incluem medidas
subjetivas e são difíceis de serem replicadas. Entre estudantes de música, a
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
RESULTADOS
A pontuação do teste de OA utilizada foi o resultado apresentado na
tela final do teste de identificação de tons, após todas as etapas terem sido
realizadas, que considera 1 ponto para cada acerto da nota apresentada e
0,75 para cada resposta desviada de um semitom, sendo de 24 acertos a
pontuação máxima em cada etapa.
Foram classificados como portadores de ouvido absoluto os participantes
que obtiveram pontuação igual ou superior a 16 em um ou mais timbres do
teste de OA utilizado (n = 11, média = 19,23 (dp = 3,87)). Os participantes
sem ouvido absoluto deveriam ter obtido menos de 11 acertos em todos os
timbres, compondo o grupo de músicos sem OA (n = 10, média = 4,97 (dp
= 1,98)) e grupo de não-músicos (n = 15, média = 4,58 (dp = 1,04)).
Individualmente, os músicos com OA tiveram performances melhores
que o acaso na identificação dos tons, enquanto músicos sem OA e não-
músicos encontravam-se em nível de performance ao acaso (com exceção
de um não músico que verificou-se possuir ouvido absoluto e foi
desconsiderado das análises).
Tabela 1. Médias dos índices do teste de memória para os grupos de músicos (geral) e não-músicos.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Tabela 2. Médias dos índices do teste de memória para os grupos de músicos com OA, músicos sem
OA e não-músicos.
148
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Foi possível verificar, neste trabalho, que músicos possuem memória de
curto prazo e memória de reconhecimento melhor que a de não músicos.
Esses resultados são consistentes com inúmeros estudos anteriores feitos
com músicos e não músicos que já mostraram evidências de que o
treinamento musical tem influência na memória verbal (Chan et al.,
1998).
Comparando-se músicos com OA a músicos sem OA e não músicos,
não foram encontradas diferenças significativas em relação aos índices de
memória avaliado pelo RAVLT. Entretanto, vale notar que para os índices
de aprendizagem e reconhecimento, apesar de não significativo, o valor de
p < 0,1 sugere haver uma diferença marginal entre as performances. Isto
pode ser atribuído a uma falta de poder ao analisar uma amostra de apenas
Anais
Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC/CNPq).
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Anais
Resumo
Este artigo apresenta uma comunicação de pesquisa em andamento que têm como objetivo investigar
as manipulações que ocorrem no trato vocal de claronistas profissionais, quando executam o registro
agudo e superagudo de maneira satisfatória, e descrever as estratégias utilizadas por estes para a
aquisição de um controle eficaz sobre o funcionamento do trato vocal em suas performances.
Segundo Alves (2013), instrumentistas de sopro experts possuem um grande controle sobre o
funcionamento do trato vocal, o que resulta em uma boa qualidade sonora e um domínio relevante
na emissão sonora do instrumento como um todo. Esta é uma pesquisa qualitativa de caráter
exploratório e o instrumento utilizado para a coleta de dados será a entrevista semiestruturada. Os
participantes serão estimulados a comentar sobre seus processos de estudo e verbalizar sobre suas ações
musicais. Os sujeitos serão claronistas profissionais que possuam experiência como solistas. Com a
revisão de literatura realizada, pode-se inferir que inúmeros procedimentos físico-musculares
ocorridos no interior do trato vocal de claronistas são desconhecidos e permanecem apoiados em
bases tácitas.
Palavras-chave: trato vocal, clarinete baixo, claronistas, performance musical
Abstract
This article presents a research communication in progress that aims to investigate the manipulations
that occur in the vocal tract of professional bass clarinet players, when performing the acute and super
- acute recording in a satisfactory manner, and to describe the strategies used by them to acquire an
effective control on the functioning of the vocal tract in their performances. According to Alves
(2013), expert wind instrument players have a great control over the functioning of the vocal tract,
which results in a good sound quality and a relevant domain in the sound emission of the instrument
as a whole. This is a qualitative exploratory research and the instrument used for data collection will
be the semi structured interview. Participants will be encouraged to comment on their study processes
and verbalize about their musical actions. The subjects will be professional bass clarinet players who
have experience as soloists. With the review of the literature, it can be inferred that innumerable
physical-muscular procedures occurring within the vocal tract of the bass clarinet players are
unknown and remain supported on unspoken bases.
Keywords: vocal tract, bass clarinet, bass clarinet players, musical performance
INTRODUÇÃO
O clarinete baixo é um instrumento versátil e de grandes possibilidades
técnicas. Ao longo do século XX, músicos como Eric Dolphy, Josef
Horák, Henri Bok e Harry Sparnaay construíram carreiras sólidas como
solistas e virtuoses do clarinete baixo, inspirando as novas gerações de
artistas a seguirem caminhos semelhantes (Iles, 2015). Uma das principais
distinções quanto a técnica do clarinete baixo em relação ao clarinete
soprano são as peculiaridades na emissão do registro agudo e superagudo.
Devido a riqueza de harmônicos do clarinete baixo, o limite do registro
superagudo é sempre estabelecido pelo intérprete (Queirós, 2012). Além
das digitações serem específicas para o instrumento, no registro
superagudo a emissão é feita praticamente por notas de “overblowing”, ou
seja, de embocadura (Sparnaay, 2011). Muitas peças para clarinete baixo
exploram técnicas estendidas, que exigem uma manipulação correta de
procedimentos físico-musculares que ocorrem no trato vocal.
Anais
Figura 2. Modelo de tubo do trato vocal para a vogal (a), Russo (1999).
METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório e o instrumento
utilizado para a coleta será a entrevista semiestruturada. Os participantes
serão estimulados a comentar sobre seus processos de estudo e verbalizar
sobre suas ações musicais. Foram escolhidos seis claronistas profissional-
mente ativos, que atuam em grandes orquestras ou possuem uma carreira
musical como solistas. A análise dos dados contará com entrevista semi-
estruturada que será registrada, transcrita e suas respostas categorizadas para
uma melhor análise dos dados sob as lentes da literatura específica sobre o
trato vocal, memória muscular, conhecimento tácito e explícito e
performance musical em geral.
CONCLUSÃO
A relação do controle da emissão do som com a capacidade de expressão
musical para músicos de sopro é uma questão determinante. O contexto que
envolve a embocadura e o manuseio do trato vocal impactam a perfor-
mance musical como um todo (Alves, 2013). Com a revisão de literatura
realizada foi possível compreender a influência do trato vocal na perfor-
mance da clarineta e consequentemente no clarinete baixo. Ainda que em
alguns casos a influência do trato vocal seja sutil na execução da clarineta,
não deve ser menosprezada, pois pode ser considerada importante na pers-
pectiva musical como um todo (Benade, 1985). Pode-se inferir que
inúmeros procedimentos físico-musculares ocorridos no interior do trato
vocal de claronistas são desconhecidos e permanecem apoiados em bases
tácitas. Espera-se que a pesquisa possa explicitar fenômenos ressonantais do
trato vocal e conceitos importantes sobre o tema.
Anais
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
A performance musical é atividade psicomotora que envolve habilidades físicas controladas pelo
cérebro, implicando movimentos da essência interior de cada um. Reconhecer esses aspectos, racional
e espiritual, de modo equilibrado, favorece: qualidade e afinação do som, autocontrole e controle do
instrumento em si, e interpretação acessível e comunicativa da partitura. Sobretudo, possibilita
estratégias de estudo com e sem instrumento. Conforme pesquisas em Neurociência inerentes a
Representações Mentais e Imagética Musical, a prática musical não se reduz apenas a questões técnico-
mecânicas, nem precisa provocar sofrimento; importam, então, estratégias de performance simples e
naturais, cujo desafio é ensinar instrumento, obtendo o maior rendimento, com o mínimo de esforço.
O trabalho aqui apresentado integra fundamentos didático-pedagógicos de Arnold Jacobs (1915-
1998) com fundamentos teóricos da Proposta Musicopedagógica Cante e Dance com a Gente (CDG),
ambos em linha com pesquisas em Cognição Musical e Neurociência, cujo foco é formação de
professores para o desenvolvimento integral do aluno, por meio da prática musical.
Palavras-chave: Arnold Jacobs, Proposta Musicopedagógica CDG, Imagética Musical, Formação
de Professores
Abstract
Musical performance is a psychomotor activity that involves brain-controlled physical skills,
including movements of individual inner essence. The identification of these rational and emotional
aspects in a balanced way, improves: the sound quality and intonation, the personal self-control and
the management of the instrument itself, as well as an accessible and communicative interpretation
of the score. Above all, it enables study strategies with or without instrument. Acording to
Neuroscience research about Mental Representations and Musical Imagery, music practice is neither
limited to technical-mechanical matters, nor it needs to cause pain. Therefore, the focus is on simple
and natural performance strategies, whose challenge is to teach the instrument obtaining the highest
performance with the least effort possible. The work that I am presenting here integrates Arnold
Jacobs’ (1915-1998) didactic-pedagogical principles with the theoretical foundations of the Sing and
Dance with Us (CDG) Music Pedagogical Proposal. They are both in conformity with the research
on Musical Cognition and Neuroscience, which focuses on the teacher’s training aiming to the
student’s integral development through musical practice.
Keywords: Arnold Jacobs, CDG’s Music Pedagogical Proposal, Musical Imagery, Teacher’s
Training
INTRODUÇÃO
O instrumento musical é apenas um acessório que o músico utiliza para
contar histórias, compartilhando com o outro aquilo que ele é: seu Ser. Esta
visão, ligada à função do músico performer em qualquer nível, iniciante ou
avançado, amador ou profissional, representa a base dos fundamentos
didáticos de uma das maiores referências na área de ensino de instrumento
de metal: Arnold Jacobs (1915-1998). Tubista do lendário naipe de metais
da Chicago Symphony Orquestra, liderado pelo trompetista Adolph
Herseth, e professor visionário e inovador de instrumento de metal e
sopros em geral, ao longo de cerca de sessenta anos de ensino, ele renovou
o jeito de orientar o fazer musical por meio desses instrumentos. O
ensinamento de Jacobs se baseava tanto na sua excelente musicalidade,
Anais
metodologias mais adequadas a essas; assume o zelo por estar a serviço dos
outros, sem desejar o estrelismo, pois seu interesse é o desenvolvimento
musical e humano de seus alunos” (Leite, 2017). 165
Conforme Verhaalen, “o método está no professor e é o professor” e a
ele “cabe conhecer, refletir e fazer a escolha do encaminhamento adequado
em cada situação surgida. Em uma abordagem multi-modal não existem
respostas prontas; existem sim referenciais seguros e situações de desafio”
(Menezes, 2014). Cabe ao professor saber observar o aluno, identificando
suas habilidades e dificuldades, e ser capaz de orientá-lo para controlar as
funções complexas do corpo com a ajuda de simples indicações. Portanto,
é preciso que o professor de instrumento de metal seja uma obra aberta, um
eterno aprendiz, propenso a aprimorar seu conhecimento para ter
confiança necessária a encorajar seus alunos na direção certa: de afirmar-se
em um si mesmo, por meio da prática musical.
CONCLUSÃO
Com base nas pesquisas cientificas em Cognição Musical e Neurociência
referentes à Representação e Imagética Mental aplicada à Música, é possível
assumir que o músico, enquanto Artista, utiliza-se de seu instrumento para
promover essências de si mesmo, à medida que adquire habilidades de contá-
las aos demais. Com base nas próprias experiências, elabora em sua mente
musical uma Canção (Song), um som concebido, ato da Criação em si,
estímulo psíquico para efetivar uma ação física que, alimentada pelo Vento
(Wind), força motora e sopro do seu espírito, torna-o um contador de
histórias, compartilhando com outros aquilo que ele é: seu Ser. Assim, ao
compreender que a intersecção do Song, ou Cante, com o Wind, ou Dance
resulta em qualidade do som produzido, o som que o instrumentista toca é
um Produto de seu Ser, conforme preconiza a Proposta Musicopedagógica
CDG. E este Produto pode ser mais bem aproveitado, se sustentado por
conhecimentos neurocientíficos. De acordo com Schön (2018), Shagalimova
(2015), Trusheim (1991), acredita-se na relevância dos assuntos aqui apre-
sentados para a formação de professores, a quem se dedica este texto. A
continuidade deste trabalho poderá resultar no desenvolvimento de materiais
didáticos, formulação de princípios pedagógicos e sugestões de procedimentos
práticos, que envolvam efetivo proveito de capacidades cognitivas envolvidas
na performance de um instrumento de metal, possibilitando, também, um
válido modelo de fuga da experiência educativa como puro e penoso
treinamento técnico.
Notas
1 Tradução do Autor: “Aplicando simples indicações [estratégias] mentais, o músico encontra a
maneira mais eficaz de controlar seu corpo”.
2 T.A.: “Todo bom ensinamento é um processo simplificador, que elimina o que é desnecessário
ou distraidor”.
3 T.A.: “Todos os aspectos físicos envolvidos no fornecimento de uma força motora [um sopro
específico] necessária ao músico de metal, para impulsionar os lábios em vibração constante”.
4 T.A.: “Qualquer indivíduo possui ideias musicais. […] Tocamos instrumentos de metal, mas
somos artistas, músicos. Fruímos da música como meio para nos expressar por meio de
instrumentos, que não deixam de ser estúpidos pedaços de metal que não tem cérebro”.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
5 T.A.: “O cérebro envia comandos [para os nervos motores], baseando-se sobre o produto
desejado, ao invés de controlar diretamente os músculos para alcançar um resultado particular”.
6 T.A.: “Não importa qual oitava você está cantando na mente. O que sai do instrumento deveria
166 ser uma imagem espelhada dos pensamentos conceptuais da mente. É um som concebido”.
7 T.A.: “O corpo humano compreende as instruções em forma de imagens mentais do som”.
8 T.A.: “O que é preciso desenvolver é a concentração desse músico. Não é a embocadura ou os
músculos, que eles já estão desenvolvidos, mas sim é o como se pensa, quando se está tocando o
instrumento, que vai ajudar em teu desenvolvimento”.
9 T.A.: “Tocar com simplicidade é a forma mais eficiente de tocar”.
10 T.A.: “Fazer música pensando artisticamente, não fisicamente ou mecanicamente”.
11 T.A.: “Tais alternativas incluem o desenvolvimento de um processo eficiente e eficaz para
corrigir limitações artísticas e técnicas do músico, a importância de tocar com liberdade, evitando
contrações isométricas, e uma ênfase no aspecto artístico do músico de instrumento de metal como
uma base para o ensino”.
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do Sul.
Anais
MAIO 29 | May 29
168
MESA REDONDA 2
SALA MULTIUSO, 16h
MAIO 29 | May 29
170
CONFERÊNCIA
LECTURE 2
2
SALA MULTIUSO, 19h
171
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
172
Anais
MAIO 30 | May 30
SESSÃO L5
Comunicações Orais | Oral Presentations
173
SALA 1, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Sonia Ray
14:00
Performance musical e o corpo: entendendo o repertório gestual
que suporta a prática instrumental
João Gabriel Caldeira Pires Ferrari
14:30
Espacialidade e sentido musical incorporado:
a mediação da linguagem
Marcos Nogueira
15:00
Converse: criação colaborativa
Guilherme Bertissolo, Lia Gunther Sfoggia, Luciane Cardassi
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
O trabalho enfoca os diferentes conceitos de “gesto” que suporta a prática interpretativa,
relacionando-os com os conceitos de “movimento”e “gesto corporal” (Madeira & Scarduelli, 2014) e
as affordances de Gibson (1979), para então discutir a tipologia do “gesto” como embasamento para
um modelo de análise musical cognitiva (Ben-Tal, 2012; Zbikowski, 2011, Madeira & Scarduelli,
2015).O artigo pretende discutir a ideia de que os gestos físicos que constituem a performance musical
contém informações a respeito da expressão musical (Leman et al., 2012; Davidson, 2012),
relacionando esses conceitos para explicar de que modo a interação instrumento-performer determina
o entendimento do músico e o resultado da produção artística. O gestual será abordado pela teoria da
cognição incorporada (Johnson, 1987) e o instrumento pela abordagem ecológica como discutida
por Windsor e de Bézenac (2012). A revisão referida pretendeu relacionar conceitos a fim de clarificar
o conceito de “gesto” em performance musical. A presente pesquisa reconhece o gesto como ação de
caráter expressivo do performer, ao mesmo tempo codificador e resultado de processos cognitivos. O
trabalho considera que, na pesquisa atual, há uma valorização do gestual diretamente envolvido na
produção sonora e uma negligência no estudo do gesto “acompanhante”. A hipótese central do
trabalho é a importância desse gesto acompanhante/expressivo na prática instrumental, que revela
informações únicas a respeito do discurso musical.
Palavras-chave: cognição incorporada, performance musical, gesto expressivo, violão
Abstract
The paper focuses on different concepts about “gesture” that support the musical performance, relating
them with the concepts of “movement” and “bodily gesture” (Madeira & Scarduelli, 2014) and
“affordances” (Gibson, 1979), to then discuss the gesture typology as a basis for a model of cognitive
musical analysis (Ben-Tal, 2012; Zbikowski, 2011, Madeira & Scarduelli, 2015). The paper pretends to
discuss the idea that physical gestures that constitute the musical performance contain information
pertaining to the musical expression (Leman et al., 2012; Davidson, 2012), associating these concepts to
explain how the interaction instrument-performer determines the understanding of the musician and
the result of the artistic production. The gestural will be approached through the embodied cognition
theory (Johnson, 1987) and the instrument through the ecological approach as discussed by Windsor and
de Bézenac (2012). The review previously mentioned intended to relate concepts in order to clarify the
concept of “gesture” in musical performance. The research in question recognizes the gesture as an
action of expressive character of the performer, at the same time codifying and result of cognitive
processes. The paper considers that, in today’s research, there is an overrating of the gestural directly
involved in the sound production and a negligence on the study of the “accompanying” gesture. The
central hypothesis of the paper is the importance of this accompanying/expressive gesture on the
performance, that reveals unique information about the musical discourse.
Keywords: embodied cognition, musical performance, expressive gesture, guitar
INTRODUÇÃO
Música é movimento, mas o que significa essa afirmação? Podemos
pensar que a música é composta por ondas sonoras que vibram e
realmente se movem no espaço físico. A música pode nos motivar a se
mover, dançando ao som de uma melodia ou se levantando para aumentar
ou abaixar o volume de um rádio. De maneira mais óbvia e direta, “a
música é uma das artes que se concretizam e se realizam através do
movimento” (Zavala, 2012, p.1). Mesmo quando a ação não é presente
(ou visível) música quase sempre implica em ação humana (Cadoz;
Anais
CAMPOS DE PESQUISA
A área de pesquisa do corpo em performance musical é variada,
possuindo divergências de pressupostos filosóficos, metodológicos (ou
estratégias de pesquisa) e teorias empregadas. A fim de entender melhor o
repertório gestual da performance, nos debruçaremos brevemente sobre
alguns principais campos de estudo acerca da prática instrumental. A
pesquisadora Jane Davidson (2012), com carreira de quase duas décadas
de pesquisa, identifica quatro grandes campos de pesquisa: estudos sobre
programações motoras, sobre afetos/efeitos musicais, sobre treinamento
musical e sobre a criação musical colaborativa (Davidson, 2012, p.596-7).
Consideremos principalmente os dois primeiros campos.
TIPOLOGIA DO GESTO
O gesto corporal
Entendendo a importância do estudo do corpo em performance, o modo
como o corpo influencia em nosso entendimento de mundo e
especificamente nosso entendimento musical, e os diferentes gêneros de
pesquisa acerca do corpo, revisaremos agora brevemente diferentes
conceituações do “gesto” em música. Zavala (2012) destaca definições que
circulam o termo, como expressão, intencionalidade, postura e atitude
(p.17), todos permeados pela ideia de movimento. Bertissolo (2013)
também oferece grande discussão acerca do termo (p.26-35) fortemente
embasado na teoria da cognição incorporada.
Madeira e Scarduelli (2014) realizam uma longa revisão bibliográfica em
seu artigo “O gesto corporal na performance musical”, e elaboram um novo
conceito de gesto corporal mais genérico, que é citado pelos pesquisadores
em um trabalho posterior: “movimento corporal realizado consciente ou
inconscientemente, marcado pela significância, seja pelo transmissor ou o
receptor” (Madeira & Scarduelli, 2015, p.7). Concordamos com os autores
previamente citados nesse parágrafo no sentido de que o gesto é
principalmente expressivo, no sentido literal de expressar algo. No estudo da
prática instrumental violonística os autores Madeira e Scarduelli revisam
conceitos de gesto e definem três tipos de gesto:
Gesto de excitação. Mão direita do violonista na tradição destra, “cuja
função principal é transmitir energia do instrumentista para o
instrumento” (Madeira & Scarduelli, 2015, p.7).
Gesto de seleção. Mão esquerda do violonista na tradição destra, “nos
quais é transmitida pouca ou nenhuma energia do instrumentista ao
instrumento, cuja função principal é selecionar a frequência a ser posta
em vibração” (p.7).
Gesto acompanhador. Movimentos ou conjunto que não se relacionam
diretamente com os gestos previamente definidos (excitação ou seleção),
mas sim com o conteúdo musical. Esse último gesto é brevemente
definido e pouco exemplificado, o que denota possivelmente uma menor
preocupação com esse tipo de gesto.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
O GESTO “DES”NECESSÁRIO
Parte da contribuição desse artigo é demonstrar a importância do gesto
178
que não está diretamente relacionado à produção musical, o gesto corporal
da prática interpretativa que não executa a nota, que visa (conscientemente
ou inconscientemente) a expressão. Em Delalande é o gesto acompanhante:
“gestos de peito, ombro, mímicas e respiração” (Delalande, 1998 apud
Madeira & Scarduelli, 2015, p.2). Em Jensenius e colegas são comunicativos e
em Cadoz e Wanderley semióticos; visam principalmente à comunicação
performer-performer ou performer-receptor (Jensenius et al, 2010 apud Madeira
& Scarduelli, 2015, p.3). Como visto previamente é o gesto acompanhador de
Madeira e Scarduelli.
Entende-se que todos os gestos expressam, portanto são expressivos,
mas propomos uma definição específica de um gesto expressivo que teria
como principal função ou impacto a expressão musical do intérprete.
Observemos a seguir a presença desse tipo de gesto na literatura existente
e sua consequente importância para o entendimento musical.
CONCLUSÃO
A pesquisa sobre “gesto” e, de modo geral, a influência do corpo na
expressão musical é recente, porém apresenta grandes contribuições para
nosso entendimento de música e performance. Entretanto há uma maior
preocupação em mapear e identificar gestos da prática instrumental que
elaborar experimentos e teorias sobre os gestos que não estão diretamente
envolvidos no tocar, como o gesto expressivo. Esperamos ter demonstrado
com a literatura apresentada o estado atual do campo e a importância do
estudo desse gesto, que também é considerado, em diversas práticas
instrumentais, o gesto mais perceptível da prática daquele instrumento.
Cada prática instrumental pode elaborar uma própria tipologia de gesto
e um estudo de gestos possivelmente expressivos. Pretendemos em futuras
pesquisas estudar especificamente o violão que já possui um rastro de
tradição instrumental e tipologia gestual, embora pouco desenvolvida no
sentido do gesto expressivo.
Anais
Esse gesto, como explorado por Davidson, pode ser considerado uma
forma de comunicação não verbal (como visto em Zbikowski e Leman)
da expressão musical. Ainda falta pesquisa que confirme essa hipótese, mas 183
como na fala, é possível que a dificuldade de entendimento do discurso
musical possa se dar pelo conflito entre os materiais musicais e a expressão
corporal do intérprete. Ao identificar esse tipo de gesto e sua relação com
o discurso musical, futuras pesquisas podem oferecer novos recursos para
a pedagogia da performance musical.
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
1
Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
1
marcosnogueira@musica.ufrj.br
Resumo
A partir do advento das pesquisas experimentais em cognição incorporada, foi possível verificar empirica-
mente que os processos sensório-motores, quais sejam a orientação e a prontidão do corpo para agir no
espaço, condicionam e regulam os modos de conexão dos conteúdos cognitivos, permitindo assim que a
mente transcenda o espaço. É desse modo que o pensamento abstrato é inelutavelmente conectado às
funções sensório-motoras e, assim, à estrutura espacial das interações do corpo no mundo. Cumpre
advertir para a anterioridade das experiências de “ocupação” do espaço — sensório-motoras — em relação
às experiências de “conceituação” do espaço — simbólicas. O presente trabalho está ancorado à hipótese
de que a hegemonia espacial em nosso sistema perceptivo e cognitivo está fundamentada no fato de que
o indivíduo retém e prioriza os sentidos espaciais — descartando a formação de outros possíveis tipos de
sentido —, porque a objetividade espacial oferece à memória um desempenho mais rápido e preciso.
Parece que nossas estratégias cognitivas ao usarmos esquemas espaciais de memória para entender o
mundo são processos sistemáticos de redução da complexidade descritiva do ambiente. Assim sendo,
entendo que para atribuirmos “materialidade” aos objetos musicais e assim construirmos os sentidos
incorporados da música, é preciso, antes, reduzirmos a densidade do meio sonoro, possibilitando a
apreensão do fluxo musical em modalidades coexistentes e interagentes de coerência configurativa.
Reconheço tais processos como: 1) a categorização de eventos sonoros distintivos na forma de
“movimentos”; 2) a atribuição de relações “formais” estilı́sticas, a partir do reconhecimento de
invariâncias, recorrências e contrastes de padrões; e 3) a percepção de dinâmicas de “tensão”, relacionadas
a aspectos inconscientes ou conscientes de diversas funções mentais.
Palavras-chave: Cognição incorporada, espacialidade, sentido musical
Abstract
From the advent of experimental research on embodied cognition, it was empirically verified that
sensorimotor processes, which are the body's orientation and readiness to act in space, condition and
regulate the connection modes of cognitive contents, thus allowing the mind transcends space.
Therefore, abstract thinking is inextricably connected to sensorimotor functions and thus to the spatial
structure of body interactions in the world. It should be noted that the experiences of "occupying" space
— sensorimotor — are before the experiences of "conceptualization" of space — symbolic. The present
work is anchored to the hypothesis that spatial hegemony in our perceptual and cognitive system is based
on the fact that the individual retains and prioritizes spatial meanings — discarding the formation of other
possible types of meanings — because spatial objectivity offers to memory faster and more accurate
performance. It seems that our cognitive strategies using spatial memory schemes to understand the
world are systematic processes of reducing the descriptive complexity of the environment. Therefore, I
understand that in order to attribute "materiality" to musical objects and thus to construct the embodied
meanings of music, we must first reduce the density of the sonic environment, enabling the
understanding of the musical flow in coexistent and interacting modalities of configurative coherence. I
recognize such processes as 1) the categorization of distinctive sound events in the form of "movements",
2) the attribution of stylistic "formal" relations, based on the recognition of invariance, recurrence, and
contrast of patterns, and 3) the perception of “tension” dynamics related to unconscious or conscious
aspects of various mental functions.
Keywords: Embodied cognition, spatiality, musical meaning
INTRODUÇÃO
Este é um estudo em semântica cognitiva da música, fundamentado no
papel central do sentido baseado no corpo para o entendimento e a comunicação
humanos. Se admitirmos que agimos e pensamos essencialmente no âmbito de
uma dimensão estética da experiência — aqui entendida como conjunto de
processos mentais que possibilita a produção de sentidos dos diversos aspectos
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
DESCREVENDO A MÚSICA
Retomando o esforço teórico de Ricoeur, Lakoff (1987) e Johnson (1987)
revelaram que praticamente todos os nossos conceitos abstratos são definidos 191
por múltiplas metáforas que não podem ser simplesmente reduzidas a
declarações de semelhança literal. A fundamentação desta evidência tornou
plausível, como método para o desenvolvimento de uma semântica incor-
porada da música, a investigação dos processos cognitivos revelados nas pistas
deixadas pelas expressões linguísticas do entendimento musical em sua
dimensão estética. Além disso, os resultados das pesquisas seminais em
cognição incorporada não deixaram dúvidas acerca da validade da metáfora
conceitual como modelo teórico para suportar tal investigação. A maneira
como nossos sistemas motor e perceptivo caracterizam-se enquanto sistemas
neuronais estabelece certo número de padrões de memória recorrentes e
intrinsecamente significativos — que eles denominaram esquemas de imagem. A
relevância particular dessa teoria para a investigação do sentido musical é que
tais padrões são significativos para nós antes e abaixo do sentido linguístico.
Ao vislumbrarem que os esquemas de imagem desempenhariam um papel
importante na estruturação dos domínios de origem das metáforas primárias,
Lakoff e Johnson investigaram a estrutura esquemática na tentativa de
descobrir como o corpo poderia dar origem ao sentido, pois se um indivíduo
tem um conceito de um objeto é porque este indivíduo é capaz de simular os
tipos de interação perceptiva, motora e afetiva que naturalmente tem com este
tipo de objeto. E essa simulação não é circunscrita a algum domínio conceitual
abstrato, mas executada através das ações corporais que envolvem os mesmos
aglomerados neurais funcionais envolvidos nas variadas modalidades de
interação com o objeto em questão.
Opondo-se aos pressupostos gerativistas (vinculados ao cognitivismo
clássico), a ciência cognitiva incorporada propõe que em vez de “nascermos
com todo o conhecimento sintático” de que precisamos para a expressão,
aprendemos uma sintaxe linguística pela exposição a construções linguís-
ticas que capturam aspectos significativos de nossas experiências perceptivas
e ações motoras diárias. Exercitamos, portanto, certos padrões gramaticais,
porque são resultantes de mecanismos cognitivos de percepção, movimento
corporal e ação com objetos, que moldam nosso raciocínio e nossa concei-
tuação. Tudo isto tem por cenário o espaço circundante, e a razão para a
hegemonia espacial em nosso sistema perceptivo e cognitivo não poderia
deixar de estar profundamente associada à objetividade que as experiências
espaciais oferecem à memória. Por isso, se a alocação de recursos atencionais
a relações espaciais proporciona às tarefas práticas mais recorrentes um melhor
desempenho, este procedimento terá a primazia no tratamento de todas as
modalidades de entendimento e representação “da experiência”, sejam enten-
dimento e representação mais ou menos determinados pelo espaço.
A experiência musical e o sentido da música constituem um campo ideal
para a pesquisa semântica desses padrões, tendo em vista que a expressão
musical é essencialmente intencional e envolve profunda radicalização do
esforço de abstração (por mapeamentos) e conceituação (Brower, 1997-8,
2000; Spitzer, 2004; Zbikowski, 1998, 2002). Mas qual a relação entre corpo,
espaço e escuta musical? Habitualmente, vinculamos os sons, estes objetos
imateriais, a coisas no espaço, do mesmo modo que a estas também
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
CONCLUSÃO
Tendo em vista as descrições linguísticas de nosso entendimento musical,
proponho aqui investigar padrões de abstração: 1) de categorização de
eventos sonoros distintivos na forma de “movimentos”, que nas expressões
linguísticas dão origem à proposição de verbos; 2) de relações “formais”
estilísticas, a partir do reconhecimento de invariâncias, recorrências e
contrastes de padrões, representadas nas expressões linguísticas por objetos
e complementos; e 3) de dinâmicas de “tensão”, relacionadas a aspectos
inconscientes ou conscientes de “intencionalidade” (enquanto funções
mentais), cuja origem é identificada na sintaxe linguística pela atribuição
do sujeito. Quero, portanto, admitir que os movimentos, as formas e as
intenções que aprendemos a experimentar na interação com o fluxo
musical são a base experiencial da constituição dos sentidos da música.
Anais
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Anais
MAIO 30 | May 30
196
SESSÃO L6
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 2, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Patricia Vanzella
14:00
A esquizofrenia e o ensino do canto e do teclado: uma pesquisa
sobre possíveis estratégias didáticas
Helena Karavassilakis Uzun
14:30
A música e o cérebro executivo no processo de desenvolvimento
infantil
Maria Clotilde Henriques Tavares, Sandra Ferraz de Castillo Dourado Freire
15:00
Mapeamento de amusia em grupo de adultos por meio de testes de
cognição e de processamento auditivo
Luciane da Costa Cuervo, Laura Uberti Mallmann, Gabriela Peretti Wagner,
Márcia Salgado Machado, Graham Frederick Welch, Marcelo de Oliveira
Dias
Anais
Problema/questão
A inclusão social das pessoas que possuem algum distúrbio mental tem provocado discussões e dado
origem a uma serie de abordagens e teorias nas áreas da Psicologia e da Pedagogia, mas na área de
Música, este tema ainda parece ser pouco explorado. Neste artigo, discorremos sobre o processo de
aprendizagem musical em aulas de canto e teclado de uma aluna esquizofrênica e apresentamos
alguns resultados obtidos. Procuramos mostrar como a música contribui de forma significativa para
o bem-estar da pessoa diagnosticada como esquizofrênica, podendo mesmo oportunizar aquisições
e aprendizagens artísticas, que geralmente são tidas como inatingíveis.
Objetivos
Este estudo consistiu em apurar se, ao ter acesso a uma educação musical, poderiam ser verificados
benefícios para a pessoa portadora de distúrbio mental. Pretendeu –se aferir resultados que
pudessem ser comparáveis no que concerne à prática de diferentes metodologias e estratégias
pedagógicas no ensino da música para com uma aluna com esquizofrenia e sua relação com o
aprendizado musical no canto e no teclado.
Método
A abordagem da pesquisa é qualitativa, onde se revelam aspectos da prática pedagógico-musical.
Como metodologia, realizamos pesquisa bibliográfica buscando a intersecção entre os campos da
educação musical e da musicoterapia, no que diz respeito à esquizofrenia – e encontramos poucos
referenciais nesses termos. Já nas aulas práticas de teclado e canto, foi utilizado um roteiro de
observação sistemática (diário de campo) durante 3 meses (setembro a novembro de 2017), com o
apoio de gravações de áudio e vídeos, analisados posteriormente. Durante este processo, a pesquisa
teve o acompanhamento do Grupo de Pesquisa em Educação e Prática Musical (GPEP) da UFMS,
que orientou a coleta de dados de forma estruturada e contribuiu para a fundamentação da análise
desses dados.
Resultados
Pela análise das aulas realizadas, pôde-se perceber a importância da aprendizagem pelo viés da
afetividade. Segundo Morin, “o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da
afetividade, isto é, da curiosidade, da paixão, que, por sua vez, são a mola da pesquisa filosófica ou
científica (2002, p.20).
Segundo Oliveira Pinto (2007, p.163), “a música pode produzir sujeitos, ampliar intensidades,
provocar fluxos de sensibilidade”, considerando a amplitude do fazer musical: cantar, tocar, escutar,
dançar, chorar, dar gargalhada, compor. Nesse sentido, o objetivo das aulas não foi somente o
aprendizado técnico-interpretativo do canto e do teclado, mas a possibilidade de oportunizar uma
experiência prazerosa e significativa para o bem-estar do aluno.
Conclusões
A partir da análise das aulas de canto e teclado realizadas, pudemos verificar que o diferencial no
processo de ensino-aprendizagem, no caso do aluno com distúrbios mentais, parece ser
realmente a atitude do professor: foi imprescindível a atitude afetiva, indicando calma, tolerância,
paciência e compreensão. Esperamos que este artigo venha contribuir para futuros estudos sobre
o estudante de música com esquizofrenia e venha ainda somar para um melhor desempenho
dessa parcela da população, despertando o seu lado artístico e musical.
Palavras chave
Esquizofrenia, Educação Musical especial, musicoterapia.
Referências
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
Estudos sugerem que o aprendizado musical beneficia o desenvolvimento de competências
cognitivas em crianças, sendo este mediado pelas funções executivas (FEs) que são consideradas
um indicador da regulação emocional na infância. Limitações metodológicas de tais estudos levam
a resultados inconclusivos e impedem o estabelecimento de relações causais. Contudo, resultados
de estudos com mapeamento da atividade cerebral têm fornecido suporte adicional para os
benefícios sugeridos ao apontarem alterações plásticas do sistema nervoso associadas à experiência
musical precoce. Neste artigo, apresentamos uma compilação de estudos sobre o tema, discutimos
sua importância e implicações para o desenvolvimento infantil e reforçamos a premissa de que o
aprendizado musical durante a infância é uma ferramenta promissora para fundamentar habilidades
necessárias ao desenvolvimento cognitivo, promover o funcionamento executivo, e proporcionar
uma experiência multissensorial e mediada pela emoção.
Palavras-chave: Cognição, funções executivas, desenvolvimento, infância, aprendizado musical
Abstract
Studies suggest that musical learning benefits the development of cognitive skills in children,
which is mediated by executive functions (FEs) that are considered an indicator of emotional
regulation in childhood. Methodological limitations of such studies lead to inconclusive results
and prevent the establishment of causal relationships. However, results from studies with mapping
of brain activity have provided additional support for the suggested benefits in pointing to plastic
changes of the nervous system associated with early musical experience. In this article, we present a
compilation of studies on the theme, discuss its importance and implications for child development,
and reinforce the premise that music learning during childhood is a promising tool to substantiate
necessary skills for cognitive development, improve the executive functioning, and provide an
integrated multisensory and emotion-mediated experience.
Keywords: Cognition, executive functions, development, childhood, musical learning
INTRODUÇÃO
A experiência musical em idade precoce tem sido apontada na literatura
especializada como capaz de auxiliar de forma significativa o processo de
desenvolvimento em crianças, atuar como um importante adjuvante na
promoção dos processos educacionais, além de fornecer-lhes desafios e
experiências multissensoriais, sociais e afetivas que promovem melhorias
em habilidades de aprendizagem e estimulam o desenvolvimento cognitivo
de modo geral (Dumont, Syruria, Feron & Van Hooren, 2017).
O desenvolvimento infantil, como subárea de estudo da Psicologia
moderna, é investigado em termos das mudanças físicas (ou sensório-motoras),
cognitivas e socioafetivas que ocorrem no período compreendido desde a
concepção e nascimento do ser humano até a adolescência e no qual verificam-
se processos interdependentes de mudanças que são múltiplos, multidirecionais
e plásticos (Cole & Cole, 2004; Oliveira & Teixeira, 2011; Palacios, 2004).
Desta forma, mudanças físicas relativas ao crescimento do corpo e do sistema
nervoso, por exemplo, afetam não só as capacidades sensório-motoras, mas
podem impactar, de forma recíproca, aspectos cognitivos, como memória,
atenção, linguagem e pensamento e a potencialidade da criança para aprendi-
zagens, e/ou os aspectos socioafetivos referente às capacidades dela relacionar-
se e vincular-se ao outro, bem como desenvolver o senso de si.
Anais
FLEXIBILIDADE COGNITIVA
A atividade musical requer o uso de pensamento flexível por diversas
razões. Se considerarmos a atividade musical feita de forma conjunta como
em grupos ou orquestras, ela exige do indivíduo a habilidade de tocar de
forma coordenada com outros músicos no sentido de atender às orientações
do regente, o que pode incluir dentre outros aspectos, modificações da
performance em termos de andamento, dinâmica, ritmo, expressividade e
interpretação e que por sua vez, requerem o ajuste contínuo da performance
musical.
Nesse contexto, a ação coordenada requer a necessidade para adaptar-se
de forma flexível entre múltiplos fluxos e demandas auditivas (Loehr et al.,
2013) e se ajustar como membro do grupo (Loehr & Plamer, 2011; Moore
& Chen, 2010), o que pode resultar em vantagens em termos de flexibilidade
cognitiva. Os músicos individuais que atuam em conjuntos devem atender
simultaneamente a suas próprias partes e às partes desempenhadas pelos
demais membros do grupo. Para isto, é necessária a alocação de recursos
atencionais com habilidade e flexibilidade entre diferentes fontes sonoras
para o monitoramento de suas próprias partes em relação às outras partes,
assim como o agrupamento dos elementos dessas partes para a obtençao de
toda a textura do conjunto (Keller, 2001).
Evidências a favor da flexibilidade cognitiva associada ao contexto
musical têm sido sido produzidas por estudos que apontam que crianças
submetidas à experiência musical apresentaram maiores taxas de oxigenação
cerebral (BOLD) em regiões do cérebro associadas ao funcionamento
executivo (e.g. córtex pré-frontal ventrolateral; área motora suplementar)
(Nachev, Kennard & Husain, 2008; Nee et al., 2013; Zuk et al., 2014) em
respostas a testes de alternância, comumente utilizados para verificação da
flexibilidade cognitiva, quando comparadas a crianças que não possuem
treinamento musical.
MEMÓRIA OPERACIONAL
Tocar um instrumento exige recordar diversos elementos ao mesmo
tempo, o que requer requer dentre outros aspectos, a memorização da
sequência motora relativa à execução da peça musical, o armazenamento de
informações visuais a partir da leitura de uma partitura por exemplo, a
capacidade do indivíduo prever o que vai ser tocado adiante no sentido de
preparar a sua performance musical (tanto do ponto de vista técnico como
expressivo), a habilidade de realizar a leitura visual com a antecedência de
quatro notas para permitir a boa execução da peça, a habilidade de recordar-
se em termos sonoros das notas musicais e o arranjo que compõem a peça e
a intenção de imprimir à mesma uma vinculação da expressão emocional à
Anais
CONTROLE INIBITÓRIO
Ao tocar música, é necessário o controle dos próprios impulsos.
Músicos precisam saber quando tocar com os seus instrumentos ou vozes
e quando é necessário manter-se em silêncio, esperando o seu momento
para tocar. Desta forma, naturalmente, espera-se que o treinamento musi-
cal promova vantagens do ponto de vista do controle inibitório (Okada
& Slevc, 2018) que em geral é avaliado por meio de tarefas que envolvem
conflitos cognitivos. Além dos aspectos relativos à atenção sustentada e a
alternância da atenção no sentido de ajustar aquilo que se está tocando em
relação ao que está sendo tocado por outros indivíduos em uma atividade
coletiva (Jentzsch, Mkrtchian & Kansal, 2014), o contexto musical
demanda atenção e exercício do controle inibitório para monitorar
conflitos e controlar a própria performance (Palmer, 2013). Foi demons-
trado por exemplo (por Vuust et al., 2006; 2011), que o controle inibitório
é induzido ao se escutar e acompanhar ritmos complexos com uma mão
enquanto marca-se o tempo com a outra mão, o que resultou na ativação
de áreas cerebrais (área 47 de Broodman e córtex cingulado anterior) que
são associadas a este tipo de controle e ao monitoramento de conflitos.
Nessa linha, há evidências de menores efeitos de interferência em testes
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
clássicos de conflito que envolvem controle inibitório para músicos (e.g. teste
de Stroop e teste de setas de Simon) quando comparados ao desempenho de
204 indivíduos sem treinamento musical (Bialystok & DePape, 2009), além de
melhor desempenho em teste de controle inibitório (e.g. stop-signal teste)
também realizados por músicos comparados a não-músicos (Strait et al.,
2010; Moreno & Bidelman, 2013). Assim, em adultos, o treinamento
musical mostrou-se como preditivo de altos níveis de controle inibitório em
músicos (Jäncke, 2009).
Crianças que participaram de treinamento musical, ou de um programa de
artes ou simplesmente não participaram de nenhum tipo de programa,
diferiram quanto ao desempenho apresentado em testes de controle inibi-
tório. Desempenho superior foi verificado para as primeiras em detrimento
das demais em tarefas de conflito utilizadas para mensuração da habilidade de
planejamento, coeficiente de inteligência verbal e tarefas de inibição (Jaschke
et al., 2018). Resultado similar foi encontrado anteriormente por Moreno e
cols. (2011), em crianças de 5 anos, em testes de inteligência verbal e em
tarefas de conflito habilidade verbal após 20 dias de treinamento musical,
quando comparadas a outro grupo de crianças que participaram de um
programa de artes. Sachs et al. (2017), não encontraram diferenças comporta-
mentais em tarefas de FEs, porém, utilizando ressonância magnética
funcional (fMRI) observaram que crianças com 2 anos de treinamento
musical ou prática de esporte apresentaram maiores taxas de ativação em
regiões cerebrais associadas ao processamento de conflitos. Esses resultados
sugerem que atividades extracurriculares e em especial, o treinamento
musical, é potencialmente associado com modificações nas redes neurais de
controle cognitivo no cérebro. Foi demonstrado ainda que habilidades como
planejamento, inibição e memória operacional, que estão relacionadas às FEs,
são igualmente recrutadas em nível cerebral tanto quando se toca música
quanto se busca resolver problemas aritméticos (Zuk et al., 2015). Outro
estudo, um dos raros do tipo longitudinal, demonstrou que crianças que
participaram durante dois ou três anos de treinamentos musicais individuais
e em grandes grupos de orquestra apresentaram um desempenho superior em
testes padronizados de FEs quando comparadas às crianças do grupo controle.
Diferenças no desempenho foram verificadas também para crianças que
participaram do programa de treinamento musical durante apenas 1 ano
(Holochwost, et al., 2017).
De modo geral, em que pesem as limitações metodológicas dos estudos
acerca dos efeitos positivos do treinamento musical sobre as FEs, que têm
produzido resultados de difícil comparação face à disparidade de medidas
das FEs utilizadas, extensão e tipo de treinamento musical administrado
(Okada & Slevc, 2018), mais recentemente, esses estudos tem recebido
suporte adicional de resultados baseados em técnicas de neuroimagem
funcional. Estes documentam alterações plásticas em estruturas do sistema
nervoso relacionadas ao funcionamento executivo em crianças e adultos
submetidos ao aprendizado de um instrumento musical, tais como o
aumento da espessura cortical observada em áreas motoras e no córtex pré-
frontal dorsolateral e no córtex orbitofrontal – (Hudziak et al., 2014), e em
regiões do giro frontal relacionadas às habilidades aprendidas durante o
treinamento instrumental (e.g. como movimentos finos independentes em
Anais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tocar ou praticar música permite a construção de várias habilidades e na
infância, essas são habilidades-chave para fundamentar outros processos
cognitivos e competências sócio-emocionais. Essa experiência envolve o
controle consciente do pensamento, da ação e da emoção (Zelazo, 2004,
2012), aspecto extremamente importante para situações de aprendizagem, já
que o caráter emocional ou da gratificação inerente a uma tarefa é capaz de
modelar situações de aprendizagem e esta é melhor estabelecida em contextos
motivacionais agradáveis, ou seja, em um contexto permeado pela emoção e
motivação (Diamond e Ling , 2013). Nesse contexto, o treinamento musical
constitui uma ferramenta promissora para incrementar as FEs enquanto um
programa agradável de treinamento ecologicamente validado. A experiência
musical na infância pode funcionar como um elo de integração entre aspectos
cognitivos e emocionais das crianças e favorecer a sua socialização face à
emocionalidade associada à música.
Finalmente, o aprendizado musical reflete uma experiência multis-sensorial
promissora para dar suporte às das funções executivas que são reconhe-
cidamente importantes para o processo de desenvolvimento infantil e para o
ajuste na vida adulta. A continuidade dessa experiência multissensorial exerce
efeitos significativos na plasticidade cerebral a curto e longo prazo (Herholz &
Zatorre, 2012) e pode representar uma importante fonte de prazer e de
realização humana ao longo da vida.
Notas
1 Têm sido demonstrados impactos positivos do treinamento musical para “domínios proximais”,
aqueles relacionados aos aspectos musicais e mediados principalmente pelo sistema auditivo. Porém,
há um corpo crescente de evidências documentando esses impactos também para domínios distais,
relacionados a habilidades cognitivas gerais, não associadas aos aspectos musicais (Schellenberg &
Winner, 2011; Burgos & De Marie, 2017. Para revisão, ver Nunes-Silva, Tavares & Vanzella, no prelo).
2 Para revisão ver Okada & Slevc, 2018; Okada & Slevc 2019; e Dumont, Syurina, Feron & van
Hooren, 2017.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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10, 137–145.
Anais
Resumo
Este trabalho apresenta um recorte de um projeto de pesquisa maior, relativo ao contexto de
práticas musicais de pessoas com amusia, cuja implementação envolve pesquisadores das áreas de
Música, Psicologia e Fonoaudiologia. O projeto é coordenado pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul em parceria com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e
University College London, de Londres. O foco desta exposição concentra-se no detalhamento
de pré-testes de cognição que antecederam uma oficina de música para indivíduos adultos no
formato de intervenção de curta duração, com periodicidade semanal durante 4 meses, direcionada
a adultos de 18 a 65 anos não músicos. O objetivo geral do projeto é verificar os usos e funções das
novas tecnologias digitais nas práticas musicais de pessoas com amusia, e dentre os específicos,
mapear a ocorrência da amusia entre os participantes, bem como realizar uma investigação num
prisma interdisciplinar.
Palavras-chave: cognição musical; educação musical; MBEA.
Abstract
This paper presents a part of a larger research project, concerning the context of musical practices
of people with amusia, whose implementation involves researchers from the fields of Music,
Neuropsychology and Speech Therapy. The project is coordinated by the Universidade Federal
do Rio Grande do Sul in partnership with the Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto
Alegre and University College London of London. The focus of this study is on the detailing of
cognition pre-tests that preceded a music workshop for adult individuals in the weekly short-term
for 4 months intervention format directed at non-musician adults 18 to 65 years of age. The
overall objective of the project is to verify the uses and functions of new digital technologies in
the musical practices of people with electronic music, and among those that are used, to map an
occurrence of music among participants, as well as to conduct an investigation in an
interdisciplinary perspective.
Keywords: music cognition; music education; MBEA.
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta um recorte de um projeto de pesquisa maior,
relativo ao contexto de práticas musicais de pessoas com amusia, cuja
implementação envolve pesquisadores das áreas de música, neuropsicologia
e fonoaudiologia de duas universidades brasileiras e uma britânica. O foco
desta exposição concentra-se no detalhamento do planejamento de pré-
testes de cognição que antecedem uma oficina de música para indivíduos
adultos no formato de intervenção de curta duração. Embora o projeto se
interesse em mapear pessoas com amusia, não foi considerado um fator de
exclusão a não identificação do distúrbio nos participantes.
A amusia consiste em uma disfunção ligada ao processamento musical
no cérebro, aos aspectos da percepção do ritmo ou da melodia ou
execução musical e, com menos frequência, somados a dificuldades de
leitura ou grafia musical. Pode ser adquirida por lesão ou de ser natureza
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
CONCLUSÃO
O presente trabalho, um recorte de um projeto de pesquisa interdis-
ciplinar com previsão de ocorrência de 2015 a 2021, foca e problematiza o
planejamento e a efetivação de procedimentos metodológicos referentes à
etapa pré-intervenção. Discute os necessários ajustes que devem ser realizados
à luz dos estudos teóricos, visto a adaptação e viabilização que deve ser
priorizada diante do contexto real de uma pesquisa de natureza interdis-
ciplinar.
A grande quantidade de dados e a complexidade de sua natureza foram
consideradas como um elemento tão enriquecedor quanto desafiador na
referida etapa. Também se faz necessário não somente o aperfeiçoamento
Anais
Agradecimentos
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
Grande do Sul (FAPERGS), a qual, através da premiação à tese de
doutorado de Luciane Cuervo, financiou a aquisição de recursos materiais
para esta pesquisa. Agradecemos às Pró-Reitoria de Extensão e de
Pesquisa da UFRGS e à Secretaria de Educação à Distância (SEAD/
UFRGS).
Referências
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data collection and analysis while studying patient-centered medical home models.
Rockville, MD: Agency for Healthcare Research and Quality.
Anais
MAIO 30 | May 30
SESSÃO L7
Comunicações Orais | Oral Presentations
219
SALA 3, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Regina Antunes T. dos Santos
14:00
Leitura musical e sua relação com pensamento simbólico e
metacognição
Deyse Dayane Schultz, Guilherme Ballande Romanelli
14:30
A iniciação musical da criança pelo ensino coletivo de piano:
considerações psicopedagógicas
Ana Lucia Iara Gaborim-Moreira, Vanessa Araújo da Silva, Luciana
Cavalcanti Borges Mendes, Patrícia Kettenhuber de Lima
15:00
Ensino coletivo de flauta doce:
Registros de uma experiência no Projeto Muca
Amarandes Rodrigues Junior
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
O objetivo deste artigo é lançar novas perspectivas para a área da educação musical ao investigar
a relação entre leitura musical, pensamento simbólico e metacognição. A notação musical é
compreendida neste estudo como um sistema de símbolos que sub-rogam objetos e ideias sonoras,
e a leitura musical, portanto, é o procedimento que decodifica em um nível cognitivo essas
relações simbólicas. Contudo, a experiência da leitura não se limita a eventos cognitivos, mas
engloba processos metacognitivos como planejamento, monitoramento e avaliação. Por meio de
revisão de literatura espera-se com esta pesquisa que reflexões sejam estimuladas ampliando o
repertório de práticas pedagógicas efetivas no campo da leitura musical. Apresentam-se duas
tabelas desenvolvidas por Schraw (1998), denominadas de Matriz de Avaliação Estratégica e
Checklist Regulatório, com adaptações para a área musical, pois, apesar da leitura ser um tema de
ordem primária em música e tendo em vista sua presença abundante em termos de prática no meio
musical, no que tange às pesquisas que a envolvem, ela passa para uma dimensão de quase
invisibilidade. Portanto, a proposta deste estudo implica em um novo olhar para com o ensino da
leitura musical uma vez que ela é compreendida como uma forma emancipatória de se relacionar
com a música.
Palavras-chave: leitura musical, pensamento simbólico, metacognição, práticas pedagógicas.
Abstract
The purpose of this article is to launch new perspectives for the area of music education by
investigating the relationship between musical reading, symbolic thinking and metacognition.
Musical notation is a system of symbols that replace objects and sound ideas for signs, thus, the
musical reading decodes on a cognitive level such symbolic relationships. However, the reading
experience is not limited to cognitive processes but encompass tasks such as planning, monitoring
and evaluation, assuming, therefore, a metacognitive character. Through a literature review, it is
possible that the reflexes are amplified as possibilities of effective pedagogical practices in the field
of musical reading. Although it is a theme of primary order in music is still underestimated in
relation to the researches that involve the theme. Perhaps by its abundant presence in terms of
practice in the musical environment, the didatic issues that involve your teaching pass into a
dimension of invisibility. Thus, the present study presents two tables developed by Schraw with
suggestions for applying to musical educational practices: strategy evaluation matrix and
regulatory check-list, these proposals imply a new way of looking at the teaching of musical
reading, since reading is understood as an emancipatory way of relating to music.
Keywords: musical reading, symbolic thinking, metacognition, educational practices.
INTRODUÇÃO
A música habita uma área que permite conexões com diversos campos do
conhecimento possibilitando relacionar, como nesta pesquisa, leitura
musical à ideia de pensamento simbólico e metacognição. A priori, faz-se
necessário pensar sobre a notação musical e como ela aparece na história da
música como uma ferramenta indispensável de auxílio à cognição, tendo em
vista o caráter limitado do aparato cognitivo humano, isso significa que sem
ela algumas tarefas musicais como a composição de obras complexas, seriam
hercúleas ou sobre-humanas. A notação viabilizou a materialização de algo
muito efêmero e abstrato que são os objetos musicais, escrever os sons
permitiu que a música de muitos séculos não se perdesse e graças a ela
atualmente tem-se registros de notação de cerca de 500 a. C. Refletir sobre
Anais
METACOGNIÇÃO
A metacognição pode ser compreendida como a consciência acerca dos
próprios pensamentos e cognições, a competência em saber como e quando
utilizar estratégias durante a resolução de um problema, além de ser o
sistema responsável por planejar e monitorar processos cognitivos. O termo
cunhado por John Flavell surgiu na área da psicologia por volta da década de
1970 e dada a complexidade do termo inexiste um conceito unívoco entre os
pesquisadores da área até hoje. Atualmente os estudos em metacognição
centram-se em sua relação com motivação, resolução de problemas, teoria da
mente, tomada de decisões, leitura, memória, e em como ela atua em
processos de aprendizagem (Jou e Sperb, 2006; Ribeiro, 2003; Lai, 2011).
Distinguir o que é cognitivo daquilo que é metacognitivo é necessário a fim
de compreender como se dá o relacionamento entre os dois sistemas que na
prática estão intrinsecamente interligados. Grosso modo, pode-se imaginar
que o ator de ler é um processo cognitivo que envolve memória e atenção,
dentre outras habilidades cognitivas, e que o monitoramento e a reflexão sobre
o que se aprendeu da leitura é um processo metacognitivo. Schraw (2016)
explica que a maior parte dos estudiosos da área diferem metacognição da
cognição no sentido de que “habilidades cognitivas são necessárias para
executar uma tarefa, enquanto metacognição é necessária para compreender
como a tarefa foi executada” (2016, p. 113, tradução nossa²).
Muitos autores elaboraram modelos metacognitivos, dentre eles Flavell
(1979) que buscou explicar os componentes do sistema. Para esse autor a
metacognição é uma habilidade de alta complexidade e, portanto, crianças
são pouco versadas no que diz respeito a tarefas metacognitivas. Por se
desenvolver de forma lenta, as primeiras experiências regulatórias das
crianças são introjetadas pelo meio social e por fatores externos de controle
oriundos do convívio familiar e escolar. Bem como, muitas habilidades
metacognitivas dependem do desenvolvimento e amadurecimento de
regiões cerebrais como aquelas relacionadas às funções executivas e
linguagem (Lai, 2011; Ribeiro, 2003).
Flavell (1979) criou um modelo de monitoramente metacognitivo que
trata da relação entre quatro fenômenos: conhecimento metacognitivo,
experiências metacognitivas, objetivos (tarefas) e ações (estratégias).
Anais
225
Tabela 1. SEM traduzida com sugestões para o uso em tarefas de leitura musical
228
Notas
1 considerado um dos últimos eruditos da história, Leibniz(1646-1716) foi filósofo, matemático,
teólogo e advogado.
2 cognitive skills are necessary to perform a task, while metacognition is necessary to understand
how the task was performed
3 Explicit prompts in the form of checklists help students to be more strategic and systematic
when solving problems (texto original em inglês).
Referências
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expressão musical na educação infantil. Música na educação básica, 2, 22-33.
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
Neste artigo, trazemos uma experiência de iniciação musical ao piano para crianças por meio de aulas
coletivas, realizadas no programa de extensão “Escola de Música da UFMS” entre julho e dezembro
de 2018. Ao mesmo tempo em que ministramos as aulas, também analisamos sua estrutura, dinâmica
e resultados, constituindo assim uma pesquisa-ação direcionada pelo Grupo de Pesquisa em
Educação e Prática Musical (GPEP) da UFMS. Apresentamos a metodologia proposta com base nos
fundamentos pedagógicos de Maria de Lourdes Junqueira Gonçalves (1986), uma das pioneiras do
ensino de piano em grupo no Brasil. No que concerne à compreensão dos processos de
aprendizagem e desenvolvimento da criança (para uma atuação mais consciente do professor de
piano), buscamos suporte teórico na área de Psicologia, e assim trouxemos para este artigo
importantes conceitos da obra de Lev Vygotsky (1896-1934) que se relacionam ao nosso objeto de
pesquisa. Tendo obtido resultados positivos a partir das aulas coletivas de piano, buscamos contribuir
para a difusão dessa modalidade de ensino – que ainda é pouco praticada no Brasil - visando a uma
ação psicopedagógica mais eficaz do professor de piano e consequentemente, um aprendizado mais
significativo e motivador para os alunos.
Palavras-chave: ensino coletivo de piano, psicopedagogia pianística, iniciação musical da criança
Abstract
In this article, we bring an experience of musical initiation to the piano for children through
group classes, performed in the extension program “UFMS School of Music” between July and
December 2018. At the same time we teach, we also analyze the classes structure, dynamics and
results, thus constituting an action research directed by the Research Group on Musical Education
and Practice (GPEP) of UFMS. We present the proposed methodology based on the pedagogical
foundations of Maria de Lourdes Junqueira Gonçalves (1986), one of the pioneers of group piano
teaching in Brazil. Regarding the understanding of the child's learning and development
processes (for a more conscious performance of the piano teacher), we sought theoretical support
in the area of Psychology, and thus brought to this article important concepts from Lev
Vygotsky's work (1896-1934) that relate to our research object. Having obtained positive results
from the collective piano lessons, we seek to contribute to the diffusion of this modality of
teaching - which is still little practiced in Brazil - aiming at a more effective psychopedagogical
action of the piano teacher and, consequently, a more meaningful and motivating learning for the
students.
Keywords: collective piano teaching, pianistic psychopedagogy, musical initiation of the child
INTRODUÇÃO
O ensino de piano no Brasil atualmente tem sido um campo de
ressigni-ficações, reencaminhamentos e inovações. Pesquisas acadêmicas
têm sido desenvolvidas nessa área nas últimas décadas (a exemplo de
Moreira, 2005, e Almeida, 2014), buscando estratégias que atendam aos
anseios das crianças cada vez mais curiosas, questionadoras, desafiadoras,
enérgicas e super estimuladas por sons e imagens. E dentro dos desafios
que envolvem as aulas de piano, percebemos que é cada vez mais difícil
manter as crianças motivadas nos estudos e incentivá-las a dedicar parte do
seu tempo à prática constante, com a devida atenção e concentração.
Anais
termos práticos, podemos afirmar que ensinar notas musicais para uma
criança que já possui esse conhecimento, ou que já sabe onde elas se
232 localizam na pauta musical e nas teclas do piano, não possibilitará uma
transformação em seu processo psicológico. Da mesma forma, tentar
ensinar para essa mesma criança conceitos musicais complexos ou
habilidades práticas que vão muito além de sua capacidade de aprender
naquele momento, será algo demasiado ineficaz.
Vygotsky denomina nível de desenvolvimento real como as “conquistas
que já estão consolidadas na criança, aquelas funções ou capacidades que ela
já aprendeu e domina, pois já consegue utilizar sozinha (...), os processos
mentais da criança que já se estabeleceram, ciclos de desenvolvimento que
já se completaram.” (Rego, 2014, p.72). Por outro lado, o nível de desen-
volvimento potencial, segundo Zanella (1994, p.98), é o “conjunto de
atividades que a criança não consegue realizar sozinha, mas que, com a
ajuda de alguém que lhe dê algumas orientações adequadas (um adulto ou
outra criança mais experiente), ela consegue resolver”.
Já a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) vai representar a distância
entre o nível real e potencial, definindo aquelas funções mentais que ainda
não amadureceram, mas que estão em processo de maturação — o que
precisa ser compreendido pelo professor. Assim, a ZDP “é definida como
a diferença (expressa em unidades de tempo) entre os desempenhos da
criança por si própria e os desempenhos da mesma criança trabalhando
em colaboração e com a assistência de um adulto” (Ivic, 2010, p. 32). Nas
palavras de Vygotsky, a ZDP
é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se
costuma determinar através da solução independente de proble-
mas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob a orientação de um adulto
ou em colaboração com companheiros mais capazes. (Vygotsky,
2007, p. 97).
RESULTADOS OBTIDOS
Não houve desistências das aulas de piano por desmotivação ou
desinteresse. As poucas crianças que pararam de frequentar as aulas,
involuntariamente, tiveram problemas pessoais. Alunos e seus pais
preocupam-se em acompanhar os estudos e raramente faltam nas aulas,
pois sabem que isso prejudica o andamento do grupo como um todo. Um
fato interessante e inesperado é que as crianças buscaram, por conta
própria, recursos midiáticos e novas tecnologias (canais como o Piano X,
no site Youtube, e aplicativos para tablets e celulares) para expandir o
conteúdo apreendido nas aulas. Esses recursos foram compartilhados
entre as crianças e vieram a complementar o repertório desenvolvido,
contemplando músicas mais atuais e ouvidas nas mídias.
As crianças fizeram novas amizades nas aulas e sem dúvida, e o encontro
com novos amigos nas aulas já é um elemento motivador no processo de
aprendizagem do piano. Propusemos um recital para ser apresentado aos
pais ao final do primeiro semestre de aulas e, embora tímidas, todas as
crianças se apresentaram com êxito. Assim, consideramos que atingimos
nosso objetivo de proporcionar um aprendizado pianístico prazeroso e
significativo para as crianças.
Consideremos que, ao agrupar crianças com diferentes experiências e
advindas de distintos contextos culturais, proporcionamos uma troca de
conhecimentos gerais e estabelecemos um ambiente favorável, tanto ao
Anais
Referências
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110). Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Psicologia.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
A presente investigação tem por objetivo apresentar o trabalho desenvolvido no Projeto MUCA
(Música para Crianças e Adolescentes), e os resultados obtidos durante o processo de musicalização
nesse mesmo Projeto, de como contextualizar, de forma sucinta, a literatura sobre a história da flauta
doce. Este projeto teve sua primeira edição entre junho e dezembro de 2017, que por vez esteve
presente e vinculado em algumas congregações da ADM (Assembléia de Deus Missões) em Campo
Grande/MS. Será abordado aqui principalmente as aulas ministradas no setor vinte e um, setor no qual
estive ministrando as aulas de flauta doce como professor. A metodologia utilizada é a pesquisa
bibliográfica onde encontra-se autores que abordam o ensino coletivo de flauta doce como Paoliello
(2007), Silva (2011), Blazina (2013), e Cruvinel (2003) pesquisadora do ensino coletivo de instrumentos
musicais entre outros autores. Os resultados obtidos garantem uma aprendizagem musical significativa
no contexto religioso, perfazendo assim, um ambiente propício em apreciar, refletir e produzir
musicalmente mediante as diversas manifestações contidas no campo contemplativo. Assim, conclui-se
observando a importância da igreja no educar musical, bem como os interesses de seus agentes que
variam entre louvar mediante suas crenças, fazer parte de grupos musicais existentes nesse meio e etc.,
facilitando assim o acesso a música enquanto um campo informal de ensino.
Palavras-chave: Muca, Ensino coletivo de Flauta doce, Relato de experiência, Assembleia de
Deus Missões.
Abstract
The current investigation has the purpose of presenting the work developed in MUCA Project
(Music for children and teenagers), and the results obtained during the process of musicalization in
the same project, of how to contextualize, in a succinct manner, the literature about the history of
sweet flute. This project had its first edition between June and December 2017, which was associated
with some congregations of ADM (Assembleia de Deus Missões) in Campo Grande/MS. It will be
addressed here mainly the classes taught in sector twenty one, in which I have taught sweet flute
lessons. The methodology used is bibliographic research where we find authors addressing the
collective teaching of sweet flute, like Paoliello (2007), Silva (2011), Blazina (2013), and Cruvinel
(2003) researcher of collective teaching of musical instruments among other authors. The results
obtained guarantee a significant musical learning in the religious context, making an environment
conducive to appreciate, reflect and musically produce through the many manifestations in the
contemplative field. As it is, we conclude by observing the importance of the church in musical
education, as the interests of its agents that vary between praising by their beliefs, making part of
existing musical groups in this field, etc., making it easier to have access to music as an informal field
of teaching.
Key-words: Muca, Collective teaching of sweet flute, Experience report, Assembleia de Deus
Missões
INTRODUÇÃO
Relato neste artigo o trabalho de musicalização desenvolvido no Projeto
MUCA (Música para Crianças e Adolescentes) entre os meses de Junho a
dezembro de 2017, projeto criado como uma forma de evangelização de
crianças e adolescentes das periferias de Campo Grande/MS, tendo como
um de seus idealizadores um vereador da referida cidade. O projeto atende
o público juvenil ao redor de cada congregação, bem como os membros de
cada igreja selecionada para o curso de flauta doce, tendo como exigência
a idade de 8 anos a 15 anos, não ultrapassando o número de quinze alunos
por setor, pois cada setor possuía uma quantidade exata de material.
Nesta primeira edição, o projeto teve como foco trabalhar a musicalização
infantil através da flauta doce, onde para isto, os coordenadores do mesmo
em parceria com a Escola de Música MUSISONS (escola situada na ADM
Anais
Hoje em dia, a flauta doce ou a família das flautas estão nos mais
diversos espaços musicais sejam eles especializados no ensino de música
ou não, facilitando assim o acesso dos mais variados públicos a esse tipo 241
de instrumento.
musicais. Desta forma, os alunos obtiveram uma noção básica das notas da
flauta doce. E assim, aula após aula, estas posições foram retomadas em
242 grupo. Apenas em alguns casos raros, tive de dispensar ou iniciar a aula
mais cedo para atender as dificuldades de alguns alunos, sendo estas
dificuldades principalmente na prática musical.
244
Figura 3. Ensaio geral dos alunos de flauta doce. Fonte: acervo pessoal.
CONCLUSÃO
Assim, diante da literatura encontrada percebe-se a importância e o papel
da música na igreja, onde é vista como uma ferramenta para adoração
durante todo o processo do culto, e como uma forma de evangelização
fazendo com que crianças, jovens e adultos busquem muitas vezes dentro
da igreja meios que atendam suas expectativas musicais diante do louvor.
O método disponibilizado pelo projeto supriu em partes às necessidades
dos educando do setor 21 (vinte um). Visto que, diante das observações
realizados pelo autor desta pesquisa, durante o processo de ensino
aprendizagem, as aulas foram adaptadas seguindo as prioridades e a
realidade dos alunos.
O aproveitamento dos alunos do setor 21 (vinte e um) foi de grande valia,
pois mesmo com um número considerável de jovens que se evadiram das
aulas, o curso chegou em seu resultado final com qualidade na apresentação
realizada pelo setor 21 (vinte e um), bem como nos setores três, cinco, nove,
quinze e vinte e três, podendo afirmar que o curso procurou agir de forma
transformadora segundo Cruvinel (2003) para com os alunos.
Anais
Referências
Bellochio, C. R., & Souza, Z. A. (2017). A flauta doce na vida de professores de música:
pensamento e trajetórias narradas/ouvidas. 37ª Reunião Nacional da ANPED – 04 a
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http://www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt24-4284.pdf
Bennett, R. (1988). Uma breve história da música. Trad. Maria Teresa Resende Costa.
Rio De Janeiro: Zahar.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MAIO 30 | May 30
SESSÃO L8
Comunicações Orais | Oral Presentations
247
SALA 4, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Rosane Cardoso de Araujo
14:00
O papel de cantar na vida quotidiana dos adolescentes
Graça Boal-Palheiros, Ana Bertão
14:30
Estudio exploratório Brasil-Colombia. Auto-percepciones de
eficacia en pruebas orales de lectura musical: material estudiado vs.
primera vista
Pedro Omar Baracaldo
15:00
Coro infanto juvenil: contribuições para o desenvolvimento
cognitivo e psicossocial
Ana Lucia Iara Gaborim-Moreira, Keyla Lima Brito e Silva, Vanessa
Araújo da Silva
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumen
Los estudiantes de primer año a nivel superior necesitan el desarrollo de herramientas de aprendizaje
eficientes ante los nuevos retos de formación. La auto-percepción de la eficacia resulta de particular
importancia en estos procesos de enseñanza-aprendizaje donde es importante que el estudiante esté
en condiciones de generar estas herramientas (Sáiz y Alonso, 2008; Pérez et. al., 2010). Uno de los
objetivos en los cursos de entrenamiento auditivo es el desarrollo de la lectura musical a primera
vista. Aquí se les propone alcanzar unas metas que requieren la construcción de sistemas de estudio
eficientes para monitorear el estado de este aprendizaje. Sin embargo, muchos encuentran
obstáculos en estos procesos, sobretodo si traen escasa formación teórica (Sobreira, 2013), lo cual les
dificulta establecer relaciones directas entre lo auditivo, su voz (como instrumento musical
mediador), lo teórico y el uso adecuado del sistema de notación. Es aquí donde deben comenzar a
construir, en forma eficiente, herramientas que les permitan establecer dichas relaciones. Se propone
usar sus auto-percepciones para evaluar y comprender mejor el estado de este aprendizaje.
Palavras-chave: Auto-percepciones de eficacia, aprendizaje musical, primera vista.
Abstract
Students in first year of superior education level need to develope eficcient learning tools to face the
new education goals. The self-perceptions of efficacy are of special value in this learning trek,
because in the process of building these new tools, they need to monitor the success and utility of
this work (Sáiz y Alonso, 2008; Pérez et. al., 2010). The development of sight-singing is one of the
principal targets in musical training courses. However, some students find difficulties, especially if
they have a scarce theoretic formation (Sobreira, 2013). This issue hinders the process of
establishing relations between hearing, voice, theory and the notation system. From this point the
students have to build efficient learning tools that allow them the aforesaid relations. This work
proposes to use student self-perceptions of efficacy in order to better assess and understand his or
her learning state.
Keywords: Self-perceptions of efficacy, musical learning, sight-singing.
INTRODUCCIÓN
En primera medida debo agradecer a Dios, nuestro creador, por la gran
oportunidad que me fue dada para trabajar con el maestro Francisco
Gonçalves de la UFPR quien abrió las puertas de sus cursos de entrenamiento
auditivo para que pudiese realizar este proyecto. También debo agradecer a
la profesora Rosane Cardoso quien fue mi anfitriona durante el período de
intercambio con el grupo de investigación PROFCEM de la UFPR, del cual
fui beneficiario durante la primera parte del año 2017. Fue en este período de
intercambio donde se cristalizó la idea que presentaré a continuación.
Este es un trabajo que surgió dentro del aula y se espera que los
principales beneficiarios sean los mismos estudiantes de estos cursos. Nace
de observar las pruebas orales de lectura musical de los estudiantes de los
cursos de entrenamiento auditivo. En estas pruebas se dan dos condiciones
principalmente: una parte de la prueba evalúa materiales estudiados previa-
mente, es decir, revisa el estado de preparación de ejercicios de solfeo en
términos de interpretación del ritmo, de las alturas y de los aspectos básicos
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
que influyen para hacer una lectura comprensible de un texto musical. Por
otro lado, observa la aplicación de esas habilidades demostradas en la primera
250 parte, en ejercicios no estudiados previamente y de nivel similar.
Es necesario resaltar que los estudiantes utilizan su voz para demostrar
estas habilidades de lectura y en la mayoría de los casos, la voz no es su
instrumento principal lo cual limita, en una amplia gama, la demostración
de sus habilidades y la calidad de su ejecución musical.
Los profesores de estos cursos esperamos que haya un efecto positivo
entre los ejercicios estudiados previamente y los materiales a primera
vista. Pero esto también depende de las decisiones que los estudiantes
tomen al respecto, es decir, de la calidad de las prácticas que realicen para
resolver estos trabajos. También esperamos que las orientaciones sobre
estas experiencias los habiliten para desarrollar una metodología de trabajo
que les permita obtener unas experiencias exitosas al leer a primera vista,
esperamos que puedan construir herramientas de aprendizaje eficientes.
Hay similitudes en las condiciones de los estudiantes que ingresan al primer
curso de entrenamiento auditivo tanto en la UFPR como en Uniandes. En
ambas instituciones se reciben estudiantes sin formación teórica musical
anterior y con poca o ninguna experiencia en la lectura musical con partitura.
Vale la pena subrayar que esta es una tendencia que se viene dando en
muchas instituciones aún en países del primer mundo, donde los estudiantes,
cada vez en mayor número, llegan con una menor preparación teórica para
iniciar estudios a nivel superior (Moreno y Brauer, 2007). Esta condición
permitió hacer la misma observación en las dos instituciones. Esta condición
también supone que en este primer curso los estudiantes deben construir las
herramientas de aprendizaje necesarias para integrar, por primera vez, los
conocimientos teóricos y las prácticas de lectura necesarias para habilitar y
desarrollar su lectura a primera vista.
En consecuencia, el objetivo definido para este proyecto es el uso de
auto-percepciones de eficacia para una valoración y mejor comprensión
del estado de preparación del estudiante en la presentación de pruebas
orales de lectura musical con materiales conocidos y materiales nuevos
(primera vista), en estudiantes de primer año de un programa de música
a nivel superior.
FUNDAMENTACIÓN TEÓRICA
Los estudiantes que ingresan a la universidad se enfrentan a nuevos retos
de aprendizaje, deben ajustar o modificar sus estrategias para resolver los
nuevos problemas en los nuevos contextos que se les presentan. De acuerdo
con Bolívar y Rojas (2014) ahora es diferente la forma en que adquieren sus
conocimientos debido a que las exigencias son mayores, asimismo la forma
como ellos se perciben influye en su rendimiento académico. En particular,
los contenidos para el desarrollo de la lectura musical a primera vista les
presentan, a estos nuevos estudiantes, unos retos que para la mayoría son
nuevos. Para muchos es la primera vez que tienen que resolver unos
materiales con un instrumento (su propia voz) que no es su instrumento
principal o por lo menos no es el instrumento en el que se siente más
cómodo, muchas veces es un instrumento difícil de controlar y que no le
suena muy musical. Se suma a esta inexperiencia la poca o nula formación
Anais
METODOLOGÍA
En este estudio participaron 65 estudiantes de cursos entrenamiento
auditivo de primer año de estudios a nivel superior, de dos instituciones
diferentes, distribuídos de la siguiente forma: 41 estudiantes de un primer
curso de entrenamiento auditivo de la Universidad Federal de Paraná,
UFPR, en Curitiba, Brasil. 24 estudiantes de un primer curso de entrena-
miento auditivo de la universidad de los Andes, UNIANDES, en Bogotá,
Colombia. Antes de que estos estudiantes entraran a presentar una prueba
oral de lectura musical, se les aplicó una encuesta de 15 items con una escala
Likert de 5 niveles. La prueba consistió en la evaluación de ejercicios de
lectura musical preparados en casa y en ejercicios de lectura a primera vista,
es decir, no estudiados con anterioridad.
Se diseñó un cuestionario con quince afirmaciones, distribuídas en tres
secciones, así:
- Afirmaciones generales sobre su estado de preparación para la prueba.
- Afirmaciones sobre su estado para la presentación de los materiales
estudiados.
- Afirmaciones sobre su estado para la presentación de ejercicios a
primera vista.
Cada item o afirmación se califica con una escala Likert de 5 niveles.
El cuestionario fue diseñado originalmente en español y se tradujo al
portugués con la ayuda del maestro Francisco Gonçalves de la UFPR.
Se aplicó el coeficiente de Crombach (Wessa, 2017) para medir la
confiabilidad del cuestionario y se obtuvo el siguiente resultado:
Estudiantes UFPR 0.94
Anais
RESULTADOS
Es el primer estudio que utiliza las autopercepciones como complemento
de la evaluación tradicional de pruebas orales de lectura musical.
Se diseñaron dos cuestionarios, uno en español y otro en português que
sirvieron para levantar los datos principales de este estúdio.
El Alpha de Crombach respalda el diseño y la eficiencia del instrumento
para evaluar autopercepciones de estudiantes (Miranda y Santos, 2017) de un
primer curso de entrenamiento auditivo sobre su estado de preparación
tanto para presentar ejercicios estudiados como a primera vista. Los datos
obtenidos permiten afirmar que los estudiantes en este momento ya han
254 construído unas buenas autopercepciones de lo que los maestros esperan
como resultado, ya que los valores de los datos, en general, no se encuentran
dispersos.
En la figura 1 se observan valores inferiores de las auto-percepciones
(barras azules) en relación con la nota del professor (barras naranjas). Los
valores de los grupos de la UFPR son mas dispersos y mas homogéneos en
UNIANDES, posiblemente por la ausencia de una prueba musical de ingreso
para algunos estudiantes en la UFPR. También se observa que los valores son
mas bajos en primera vista que en el material estudiado. Un posible reto es
encontrar formas de acortar esta diferencia de desempeño.
CONCLUSIONES
El cuestionario da cuenta del objetivo del estúdio, es decir, hace evidente
el estado de preparación de los aspectos consultados, desde el punto de
vista del estudiante.
Las autopercepciones permiten hacer un seguimento individual y
pueden ser especialmente útiles en aquellos casos donde son mucho mas
altas que la valoración dada por el maestro y cuando corresponden a
desempeños por debajo del mínimo esperado.
Solo se realizó solo una medición y algunos autores sugieren hacer varias
con el propósito de establecer cambios positivos o negativos en las auto-
percepciones y poder analizar como se correlacionan con el aprendizaje. No
se sabe como se comporta esta herramienta en estudiantes de otros niveles del
mismo curso donde ya tienen mas definidas sus estrategias de aprendizaje.
Referencias
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europeo de educación superior. Revista Mexicana de Investigación Educativa. 21,
437-470.
Anais
Resumo
Neste artigo, discutimos sobre benefícios do canto coral para crianças e adolescentes, partindo da
observação contínua das regentes do PCIU! (Projeto Coral Infantojuvenil da UFMS - Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul) e do Coral infantojuvenil do SESC (Serviço Social do Comércio) —
unidade Lageado/MS. Procedemos a uma pesquisa sobre os impactos da atividade coral no
desenvolvimento global dos coralistas, considerando a autopercepção das crianças e adolescentes e os
relatos e depoimentos informais dos pais, ressaltando como a vivência no coro — enquanto propiciador
de conhecimento e de práticas artístico-culturais — pôde causar mudanças e influenciar positivamente
seus filhos. Elaboramos, então, dois questionários estruturados, que foram respondidos voluntariamente
pelos pais e coralistas (de seis a dezesseis anos) que participaram dos dois projetos corais em 2018.
Analisamos as respostas obtidas, identificando e relacionando fatores de crescimento com ênfase nas
áreas cognitiva e psicossocial — como o estabelecimento das relações interpessoais, o favorecimento da
expressão e da comunicação, o fortalecimento da autoestima, a aquisição de conhecimentos e
habilidades, entre outros aspectos que influenciaram no aprimoramento de seu fazer musical. A pesquisa
tem, como principais referenciais teóricos, o estudo de pesquisadores da área coral, que defendem que
“cantar em grupo é uma atividade alegre que promove o bem-estar e melhora a vida dos envolvidos”
(Judd; Pooley, 2014, p.269). Baseamo-nos, também, na teoria psicogenética de Wallon e de seus
estudiosos, considerando que o ser humano é simultaneamente biológico e social, isto é, “sua estrutura
orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar” (Dantas, 1992, p.36).
Palavras-chave: coro infantojuvenil, aprendizagem musical, desenvolvimento cognitivo,
desenvolvimento psicossocial
Abstract
In this article, we discuss the benefits of choral singing for children and adolescents, based on
continuous observation of the PCIU conductors! (UFMS Children's and Youth Choir Project -
Federal University of Mato Grosso do Sul) and SESC's (Children's Social Service for Trade)
Children's Choir — Lageado / MS unit. We proceeded to a research about the impacts of the choral
activity in the global development of the choralists, considering the self-perception of the children
and adolescents and the informal reports and testimonies of the parents, emphasizing how the
experience in the choir - as propitiator of knowledge and artistic-cultural practices — could bring
about change and positively influence your children. We then elaborated two structured
questionnaires, which were voluntarily answered by parents and choralists (aged six to sixteen) who
participated in the two choral projects in 2018. We analyzed the responses obtained, identifying and
relating growth factors with emphasis on cognitive areas. and psychosocial — such as the
establishment of interpersonal relationships, the favoring of expression and communication, the
strengthening of self-esteem, the acquisition of knowledge and skills, among other aspects that
influenced the improvement of their musical performance. The research has, as its main theoretical
references, the study of researchers from the choir area, who argue that “singing in a group is a joyful
activity that promotes well-being and improves the lives of those involved” (Judd; Pooley, 2014, p.
269). We are also based on the psychogenetic theory of Henry Wallon and his scholars, considering
that the human being is simultaneously biological and social, that is, “his organic structure supposes
the intervention of culture to update itself” (Dantas, 1992, p. .36).
Keywords: children and youth choir, music learning, cognitive development, psychosocial
development
INTRODUÇÃO
Participar de um coro durante o período da infância e/ou adolescência
pode ser, em potencial, um meio de se desenvolver habilidades e compe-
Anais
Contextos
Desde 2015, na unidade Sesc Lageado na cidade de Campo Grande-
MS, funciona um Centro de Iniciação Cultural que atende cerca de 350
alunos, oferecendo cursos de ballet e música, destinados à crianças e
adolescentes com faixa etária entre 04 e 16 anos de idade. Nos cursos de
música, as crianças recebem semanalmente uma aula de teoria musical,
uma aula de prática em conjunto e também uma aula em seu instrumento
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Referenciais teóricos
Para uma melhor compreensão dos aspectos cognitivos e psicossociais do
desenvolvimento infantojuvenil, nos baseamos nos escritos do médico,
filósofo e psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962) e nos estudos de
pesquisadores de sua teoria. De acordo com a concepção walloniana, a
motricidade, a inteligência e a afetividade se constroem mutuamente, como
um todo complexo, e permeiam as interações sociais – que funcionam
“como forma de expressão das mudanças evolutivas da criança” (Carmo;
Gualberto, 2017, p.107).
Wallon destaca a importância da participação da criança em um grupo
não somente para a aprendizagem social, mas para o desenvolvimento de
sua personalidade. “é indispensável à criança, não somente para a aquisição
de certas normas, mas também para tomar consciência de suas próprias
capacidades e de seus próprios sentimentos” (Wallon, 1954, p.176).
Assim, nas diversas atividades que fazem parte da rotina de um ensaio
coral infantojuvenil, procuramos explorar o movimento de variadas
maneiras: em brincadeiras que envolvem pulsação, precisão rítmica e
andamento (andando lentamente ou rapidamente na ponta dos pés,
saltitando, abaixando, levantando, deslizando); enfatizando o som e o
Anais
aquilo que você ensinar bem. Confie em si mesmo — você encontrará meios
efetivos e criativos para desenvolver esses jovens artistas” (Wis, 2007, p.68).
260
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E PSICOSSOCIAL, NA
PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Encontramos respostas muito interessantes — e até mesmo emocionantes
— às entrevistas realizadas com as crianças. Infelizmente, no âmbito deste
artigo, não nos será possível apresentar, na íntegra, a análise dessas respostas.
Sendo assim, dentro de um levantamento parcial de dados, demos ênfase à
questão 7: “Você acha importante cantar neste coral? Por quê?”. Todas as
crianças responderam positivamente, tentando justificar sua resposta.
Agrupamos essas respostas por similaridade em cada coro, chegando aos
resultados apresentados nos gráficos.
Gráfico 1. Respostas dos coralistas do SESC Lageado.
CONCLUSÃO
Os resultados parciais de pesquisa aqui apresentados revelaram a
autopercepção das crianças e a observação atenta de seus pais, compro-
vando o que as regentes têm percebido na rotina do trabalho coral. As
respostas até superaram as expectativas das regentes, no que diz respeito
ao grau de satisfação dos pais e crianças/adolescentes com relação ao
coro. Isso é importante para a autoavaliação das práticas pedagógicas e
artísticas das regentes, e para que se possa sentir a confiança de seguir
com o trabalho na direção que tem sido tomada.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Referências
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to%3A&targetText=Singing%20is%20aerobic%2C%20in%20that,which%20also
%20improves%20overall%20alertness.
Wis, R. M. (2007).The conductor as leader: principles of leadership applied to life on the
podium. Chicago (USA): Gia Publications.
Anais
MAIO 30 | May 30
SESSÃO C2
Comunicações Orais | Oral Presentations
265
SALA 5, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair:: Gustavo Rodrigues Penha
14:00
Uma música imersa no instante: as contingências na criação
improvisada segundo percepções e concepções de tempo
Manuel Falleiros
14:10
Metáforas do entendimento de harmonia
Mauro Orsini Windholz
14:20
Musicografia Braille: um recurso para compreensão musical da
pessoa cega
Vinicius Alves Maciel
14:30
A prática mental como estratégia de estudos para a construção da
performance musical
Sthevan dos Santos Nunes, Luciane da Costa Cuervo
14:40
Perspectivas de deliberação na prática de um pianista expert
Michele Rosita Mantovani, André da Silveira Loss, Regina Antunes Teixeira
dos Santos
14:50
Possibilidades de categorização para o real e o imaginário na
prática pianística
Renan Moreira Madeira, Regina Antunes Teixeira dos Santos
15:00
Percepção de cadências por graduandos e extensionistas de curso
de Música à luz da teoria ITPRA
Marcelo Ratzkowski, Rafael Puchalski, Regina Antunes Teixeira dos Santos
15:10
A manipulação do andamento na comunicação de emoção no
Ponteio nº 6 de Camargo Guarnieri
Andrei Liquer de Abreu, Regina Antunes Teixeira dos Santos
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
No geral, improvisação musical tende a ser entendida como sinônimo imediato de “composição
instantânea” ou “música espontânea” (Lathan, 2008; Nettl, 1974). Esta noção tem sido comumente
como chave de compreensão tanto para uma prática quanto para a pesquisa sobre ela. Assim, o tempo
é comumente enunciado pelo ritmo (Tan, Pfordresher, & Harré, 2010) e suas adjacências imediatas,
que inclinam a observação para a identificação dos gêneros musicais. Pretendo fomentar uma noção
do instante e observar como as concepções envolvidas estão mais de acordo com práticas criativas
contemporâneas em improvisação (Canonne, 2016). Para o improvisador é criativamente
determinante o embate que o instante proporciona entre o tempo de khrónos: inexorável, impassível,
devorador da existência; e o tempo de kairós: ação, decisão e ímpeto (Puentes, 2012). Entendendo o
instante a partir dos estudos sobre a consciência de tempo (Specious Present), é possível circunscrever
com maior rigor a área de atuação criativa do improvisador, que reside em suas micro-decisões
(momento-a-momento) (Iyer, 2014). Para Varela (1999), a partir da concepção fenomenológica de
Husserl, vem esclarecer sobre as bases biológicas da retenção, identificação e articulação entre os
momentos que o experienciamos um fenômeno considerado baseado no instante.
Palavras-chave: Improvisação, Temporalismo, Processo Criativo, Percepção, Fenomenologia.
Abstract
In general, musical improvisation tends to be understood as an immediate synonym for "instant
compo-sition" or "spontaneous music" (Lathan, 2008; Nettl, 1974). This notion has commonly been
the key to understanding both practice and research on it. Thus, time is commonly enunciated by
rhythm (Tan, Pfordresher, & Harré, 2010) and its immediate adjacencies, which incline observation
to identify musical genres. I want to foster a sense of the moment and observe how the conceptions
involved are more in line with contemporary creative practices in improvisation (Canonne, 2016). For
the improviser is creatively determinant the clash that the moment provides between the time of
khrónos — inexorable, impassive, devourer of existence — and the time of kairos — action, decision,
and momentum (Puentes, 2012). Understanding the moment from the studies on time-consciousness
(Specious Present), it is possible to circumscribe more accurately the improviser's creative action area,
which resides in his micro-decisions (moment-by-moment) (Iyer, 2014). For Varela (1999), from
Husserl's phenomenological conception, it sheds light on the biological basis of retention,
identification, and articulation between the moments that we experience a phenomenon considered
based on the instant.
Keywords: Improvisation, Temporalism, Creative Process, Perception, Phenomenology.
A EXPERIÊNCIA DO INSTANTE
Para o improvisador é central o embate entre o tempo inexorável
(khrónos), impassível, devorador da existência, e a ação no tempo adequado
(káiros). Uma vez que este embate está localizado no momento presente,
entendendo o instante por via das observações propostas a partir dos estudo
sobre a consciência de tempo (Specious Present²), é possível circunscrever com
maior rigor a área de atuação do improvisador quando estamos decididos à
Anais
DISCUSSÃO
Levo em consideração que o ato criativo para a improvisação é um processo
específico, que conforme discutido em trabalho posterior (Falleiros, 2018)
depende de contingências próprias da matéria. Ou seja, a capacidade do artista
em intervir na matéria a favor da realização física de seu projeto imaginário é
o que define o grau de sua criatividade. A matéria última das improvisações
mais radicais é o instante, ou seja, o tempo experimentado em sua qualidade de
imersão no presente. De modo a intensificar este instante a ponto de alterar a
percepção da passagem do tempo para uma experiência de lentidão e até
supressão — que atesta a imersão — a improvisação propõe contingências
criativas que levam o improvisador à um estado de risco. A título de exemplo:
para o Jazz, no final da era do bebop, as contingências se deram pela
complexidade das progressões harmônicas juntamente com a velocidade de
pulsação empregada. O jazz modal assim como o Free Jazz posterior, vai
abolir as progressões tonais, (contudo mantendo ainda elemento rítmicos
característico) de forma a desorientar todo o exaustivo treinamento e conse-
quente condicionamento sobre as harmonias. A Improvisação Livre deixa o
músico ainda mais “desnudado” de suas referências e condicionamentos, com a
negação de sua própria história. Uma improvisação mais contemporânea,
conforme chamo de hiperimprovisação (Falleiros, 2018) ou, mais alinhada com
os valores da pós-modernidade, tem o desafio de conjuminar a multiplicidade
de modos de passado em um presente especulativo. Ainda se somam aos
exemplos anteriores, a diversidade de soluções individuais e coletivas de
diversos improvisadores ao longo da história. É, portanto, notável que a
improvisação esteve continuamente lidando com esta temporalidade criativa
e buscando soluções para que o risco estivesse continuamente renovado e
atuando como um contingente temporal, no sentido de minguar os
planejamentos.
O improvisador, em especial quando lida com a Improvisação Livre irá
realizar um processo generativo, ou seja a partir de um instante inicial em que
um primeiro som é formulado, deve lançar de suas ferramentas criativas e
experiência para elaborar algo musical com base no que foi imediatamente
tocado, e assim sucessivamente. Deste primeiro instante descrito já propusemos
duas relações qualitativas com o instante: a primeira se refere à uma elaboração
Anais
inicial que conta com a suspensão do tempo anterior ao primeiro som lançado,
nela janela temporal, o improvisador estará em um momento de mudança
de escuta e atenção e de interiorização reflexiva, um tempo tomado pela 273
qualidade de káiros. Já o segundo instante se refere ao imediato início do
fluxo sonoro dado pelo início da improvisação: nele o planejamento já está
sendo consumido pelo tempo de khrónos e o que se espera do improvisador
é uma ação na qualidade de tempo káiros, ou seja, que suas micro-decisões
refreiem a inexorabilidade do tempo cronológico, enquanto imerso no
instante.
Notas
1 Retomando a mitologia, Cronos (khrónos) personificado é caracterizado como um titã tomado
pelo pânico dada a profecia que diz que ele será destronado por um filho seu, o que o leva a devorar
todos seus filhos, menos um, Zeus, que por sua vez é pai de Kairós (Morford & Lenardon, 2013).
2 Specious Presente (Tempo Especioso, ou Enganoso): termo inaugurado pelo psicologista E. Robert
Kelly (assinava sob o pseudônimo de E.R. Clay) e retomado e desenvolvido posteriormente pelo
filósofo William James em seu livro Principles of Psychology de 1890.
3 Aqui quero me referir à experiência do efeito de “câmera lenta” que graus extremos de atenção
costumam proporcionar à nossa percepção de tempo, dessa forma, quando nos encontramos em
uma situação de alto risco, a percepção adquire uma outra qualidade e existe uma imersão profunda
no tempo da ação, como muitos músicos e esportistas de elite comumente relatam.
4 Aqui evitaremos incluir a improvisação como uma modalidade de composição musical, justamente
por este segundo termo suscitar comumente seu viés mais restrito e historicamente sedimentado, mas
que, no entanto, caberia adequadamente se tomado em uma acepção mais ampla e contemporânea.
Referências
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improvised music. Black Music Research Journal, 22, 165–188
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Problema/questão
Uma das principais abordagens dos estudos recentes da expressão/evocação de afeto/sentido em
música, no campo da cognição musical, considera a investigação de expectativa e tensão musicais. A
ideia de que “o aumentar e decair de tensão é fundamental para a experiência da música e pode
contribuir para a resposta emocional”— the rising and falling of tension is fundamental to the experience of
music and may contribute to the emotional response (Krumhansl & Cuddy, 2012, p. 76)— é muito comum
em pesquisas da área e motivou diversas investigações sobre como materiais musicais, especificamente
materiais harmônicos, provocam tensão (tais como Bigand, Parncutt & Lerdahl, 1996 e Farbood,
2016, entre outros). Entretanto, apesar de suas contribuições significativas, não está inteiramente claro,
a partir desta literatura, como expectativas e tensões contribuem exatamente para o que podem ser
chamados de “sentidos expressivos”— expressive meanings (Larson, 2012)— dos objetos musicais.
Objetivos
Neste trabalho pretendo apontar algumas limitações desta explicação tradicional dos sentidos
expressivos dos recursos harmônicos (tais como acordes, progressões de acordes, tonalidades, etc.), e
sugerir outras abordagens para investigações futuras. Tomando por base conceitos derivados das
ciências cognitivas incorporadas, destaco que a abordagem tradicional se baseia na metáfora
conceitual HARMONIA É TENSÃO E RELAXAMENTO. Procuro mostrar que esta metáfora se presta
principalmente à estruturação dos aspectos mais sintáticos da experiência harmônica, em detrimento
de outros aspectos mais semânticos. Sugiro então outras metáforas para o entendimento da harmonia
(a saber: harmonia como cores, forças e gestos) que podem ser úteis para esclarecer outros aspectos da
experiência harmônica. Ilustro sua operação no entendimento da harmonia de uma pequena peça
coral de minha autoria. Dessa forma, pretendo sugerir vias de investigação promissoras para pesquisas
futuras a respeito da expressividade de materiais harmônico-musicais.
Implicações
Esta sugestão implica em uma mudança de foco da pesquisa do fenômeno harmônico sob a ótica
da cognição musical, a partir de outras metáforas que permitam uma maior compreensão do
processo pelo qual materiais harmônicos são associados a sentidos e afetos.
Palavras-chave
Metáfora conceitual, harmonia, sentido musical, afeto.
Referências
Bigand, E., Parncutt, R., Lerdahl, F. (1996). Perception of musical tension in short chord
sequences: The influence of harmonic function, sensory dissonance, horizontal motion,
and musical training. Perception & Psychophysics, 58 (1), 125-141.
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Interdisciplinary Journal, 34 (5), 71-93.
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Problema/questão
A figura do “músico cego” faz parte do imaginário social desde a Antiguidade, atravessando tempos
e espaços. Segundo Oliveira e Reily (2014), no seu estudo de representações de cegueira na história
da arte, o argumento que sustenta o mito da habilidade musical do cego é o de que a ausência do
sentido da visão incrementaria a sensibilidade auditiva, facilitando assim a aprendizagem da música
para a pessoa cega. No entanto, tal afirmativa, para ser considerada assertiva, precisa de
embasamento cognitivo. Não há muitas publicações no sobre o ensino musical para alunos cegos e
a respeito da representação mental para a compreensão musical. Contudo começam a surgir
literatura e dissertações e teses sobre educação musical no contexto da educação inclusiva,
contemplando alunos com deficiência fı́sica (Louro, 2003), surdez (Finck, 2009), deficiência visual
(Melo, 2011), entre outros. Bonilha (2010), discute em sua tese o ensino da musicografia braile para
alunos cegos, discutindo o aprendizado da notação musical e avaliando ferramentas que auxiliam no
ensino da música.
Objetivos
Desta forma, a pesquisa em andamento tem por objetivo investigar a respeito da aprendizagem
musical através da musicografia Braille e suas correlações com a noção de significação musical e
das questões relacionadas à representação mental musical.
Principais contribuições
O trabalho pretende oferecer uma revisão bibliográfica da literatura existente, de forma a
possibilitar a construção de uma base sólida para futuras investigações.
Implicações
A pesquisa em tela tem implicações na área de cognição musical, ao tratar das questões sobre
significação musical e sobre representações mentais que se supõem necessárias nos processos de
escuta e de performance musicais. Ainda, a área da educação musical e da educação especial
encontram-se igualmente implicadas pois tal investigação fornece bases teóricas e empı́ricas para
o desenvolvimento e avaliação de métodos de ensino e de práticas educacionais para músicos
cegos.
Palavras-chave
Cognição musical, musicografia Braille, representação mental, significação musical
Referências
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Anais
Perspectivas de deliberação
278 na prática de um pianista expert
Michele Rosita Mantovani1, André da Silveira Loss2 e
Regina Antunes Teixeira dos Santos3
1,3
Instituto de Artes- PPGMUS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
2
Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
1
mantovani.michele@gmail.com, 2andreloss.ufrgs@gmail.com,
3
regina.teixeira@ufrgs.br
Resumo
Na literatura, a prática do músico expert é tida como deliberada, isso é, uma atividade altamente
estruturada, com metas, resolução de erros, energia/concentração e tarefas para superar limites e melhorar
o desempenho. Contudo, discussões sobre perspectivas de deliberação têm se limitado às descrições
generalizadas que negligenciam a natureza dos procedimentos e limites da atenção. A presente
comunicação tem por objetivo investigar perspectivas de deliberação na prática de um pianista expert.
Trata-se de um recorte de tese de doutorado, cuja metodologia abrangeu gravações (áudio-vídeo) da
prática de duas obras do repertório de quatro casos em níveis distintos de expertise (iniciante avançado,
competente, proficiente e expert). Os dados analisados qualitativamente (perspectiva fenomenológica) e
quantitativamente (estatística inferencial-descritiva) resultaram em nove Categorias Psicossensoriais que
englobaram aspectos de natureza psicológica e sensorial da prática, a saber: testar, repetir, isolar, alternar,
explorar, ajustar, parar, dispersão e lapso. Os resultados aqui discutidos correspondem à prática do
profissional (P17) e esses apontaram que deliberação é uma perspectiva dinâmica que ocorre a cada
unidade de prática por procedimentos estruturados e interveniência das variações da atenção.
Palavras-chave: prática pianística, deliberação, expert, procedimentos, atenção
Abstract
In the literature, the expert musician’s practice is considered deliberate, that is, a highly structured
activity with goals, error resolution, energy/concentration and tasks developed to overcome limits
and improve performance. However, discussions about deliberation perspectives have been
limited to generalized descriptions that neglect the nature of procedures and limits of attention.
This paper aims at investigating perspectives of deliberation in the practice of an expert pianist. It
presents partial results from a doctoral dissertation, whose methodology embraced recordings
(audio-video) of the practice of two musical works from the repertoire of four cases at different
levels of expertise (advanced beginner, competent, proficient and expert). The data analyzed
qualitatively (phenomenological perspective) and quantitatively (inferential-descriptive statistics)
resulted in nine Psychosensorial Categories that encompassed aspects of psychological and sensory
nature of practice, namely: testing, repeating, isolating, alternating, exploring, adjusting, pausing,
straggling and slipping. The results here discussed concern to the professional pianist’s practice
(P17), which have shown that deliberation is a dynamic perspective that occurs at each unit of
practice by structured procedures and intervention of the variation of attention.
Keyword: piano practice, deliberation, expert, procedures, attention
INTRODUÇÃO
A literatura descreve a prática instrumental como uma série de
comporta-mentos multifacetados em forma de ensaio ou treino sistemático
para aprender e/ou adquirir proficiência no instrumento e/ou obter
quaisquer outras habilidades e competências em longo prazo que possibili-
tam o desenvolvimento da expertise (Barry & Hallam, 2002, pp. 151-152;
Lehmann, Sloboda, & Woody, 2007, p. 61). Expertise, por sua vez,
corresponde ao nível de especialização atingido em termos de conheci-
mentos e habilidades consolidados de maneira a contemplar níveis excep-
cionais de performance (Bourne Jr, Kole, & Healy, 2014, p. 1; Gobet, 2016,
pp. 2-6). Na literatura que relaciona prática instrumental e expertise, nota-se
contínuos esforços em explicar o expert (aquele que dispõe de habilidades
excepcionais e originalidade artística em sua performance), apontando-o
Anais
METODOLOGIA
Com vistas a investigar a prática tal como esta ocorre, isto é, sem impor
aos participantes o estudo de uma nova obra e/ou repertório e sem exigir-
lhes que abordassem a prática de forma divergente de suas práticas habituais,
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Ainda nessa etapa, a análise dos dados foi aprofundada com base em
métodos mistos de Gerling e Santos (2010, pp. 96-138): para as autoras, os
métodos mistos na pesquisa em práticas interpretativas consideram a 281
interpretação construtivista dos processos e suas relações de sentidos e
significados, demonstrando tensões, contradições e complementariedade
em torno da investigação, bem como os desvios diferenciados e idiossin-
cráticos do desempenho do participante. Assim, nove categorias foram
estabelecidas, cujas incidências foram contabilizadas e tratadas em termos
de estatística descritiva e inferencial com o auxílio do software OriginLab®
8.5, resultando nos gráficos apresentados na discussão dos resultados; (4)
Descrição do fenômeno e suas essências, materializada na discussão dos
resultados dessa pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
As essências do fenômeno da prática pianística aqui constatadas apresen-
taram-se em forma de nove Categorias Psicossensoriais, assim chamadas
por englobarem aspectos de natureza psicológica e sensorial. Considerando
que as mentes e disposições musicais de cada instrumentista podem restringir
e/ou potencializar ações e procedimentos em função de conhecimentos,
habilidades sustentadas por representações aurais, visuais e motoras assimi-
ladas e construídas ao longo de suas práticas (Proverbio & Bellini, 2018, pp.
15-25), tais categorias caracterizaram-se como comportamentos, ações e
desvios constatados nas sessões de práticas observadas, independentemente da
obra estudada, do nível de expertise dos participantes, ou do tempo de prática
despendido previamente ou durante a coleta de dados, a saber: (1)Testar:
simulação da performance (trecho ou peça na íntegra); (2)Repetir: repetição
literal ou diversificada de um fragmento (micro ou macro); (3)Isolar: subtrair
qualquer elemento musical para focar a atenção em aspectos isolados (ex.
estudar de mãos separadas); (4)Alternar: variação deliberada de qualquer
elemento musical (ex. variação rítmica e de articulação); (5)Explorar: aborda-
gem criativa de um aspecto para refinar a sonoridade (ex. experimentar um
movimento gestual diferenciado para sanar uma dificuldade técnica-interpre-
tativa); (6)Ajustar: modificação/correção percebida no produto sonoro (ex.
correção de notas, delinear dinâmicas); (7)Parar: pausa para fazer qualquer coisa
relacionada ou não à prática; (8)Dispersão: distração com fatores externos ou
perda de atenção que afeta do resultado sonoro (ex. mexer no celular, tocar
elementos desconexos da música estudada); (9)Lapso: falta de atenção durante
a prática que permite o retorno à ação consciente (ex. erro de notas). A Figura
1 apresenta as incidências dessas categorias na prática de P17.
Uma das perspectivas de deliberação corresponde aos procedimentos
empregados por P17. De acordo com Santos e Hentschke (2009, pp. 72-73),
procedimentos na prática instrumental podem ser definidos como maneiras
aprendidas de “proceder e agir balizados por normas e convenções, funda-
mentadas por uma determinada tradição cultural como aquela da denomi-
nada música clássica ocidental”, que dizem respeito aos modos de realização
da prática em prol da meta estabelecida, ao modo como se pratica, aqui
vislumbrados nas categorias repetir, isolar, alternar e explorar. Nesse âmbito,
cada categoria corresponde a uma forma procedimental aprendida e assimi-
lada através da prática instrumental, de maneira que tal procedimento pode
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
(Figura 1), que apresenta apenas uma unidade (A), algo semelhante também
ocorre: P17 despende 18’01’’ de prática e utiliza-se do procedimento isolar
(mais) + repetir (menos) + alternar (ainda menos) + explorar (bem menos que 283
alternar), similar àquele constatado em B e C da Peça 1 nas quais o participante
investe maior tempo de prática. Isso sugere deliberação não apenas na
combinação e distribuição dessas quatro categorias, como também na escolha
de quais procedimentos empregar em função dos esforços/tempo de prática
que se pretende investir num dado trecho. Coincidência ou não, essa
constatação ainda dá indícios de que P17 está num nível distinto de expertise,
visto que tal evento se identificou apenas em sua prática.
Outro fator diz respeito à variedade de exemplos que essas quatro
categorias apresentaram na prática de P17 (Figura 1); repetir e isolar apre-
sentaram as mesmas finalidades constatadas nos demais casos investigados:
repetir pequenos fragmentos motívicos, trechos curtos e longos que atende-
ram às delimitações estruturais das obras e abrangeram vários aspectos
trabalhados concomitantemente, repetir com a intenção de fixar e/ou auto-
matizar um dado ajuste, ou para evidenciar fluência num dado aspecto; isolar
ocorreu no estudo de mãos e vozes separadas, e/ou sem pedal. Já a variedade
de exemplos de alternar e explorar, sendo alguns deles constatados apenas na
prática de P17, sugere que tais categorias se expandem com o aumento da
expertise: P17 alternou o andamento (devagar/rápido/ apressando), o ritmo
(fazendo cinco de variações rítmica distintas para cada peça), a articulação
entre as vozes ou nos fins de cada compasso e/ou desenhos rítmicos (tal como
respirações/cortes entre os grupos de 6, 8, e 10 semicolcheias dos c.19-21, em
B da Peça 1), e a dinâmica; explorar consistiu em frequentes experimentações
de movimentos/gestos físicos necessários para realizar suas intenções e/ou
evitar/aliviar tensões físicas em ambas as peças, tais como: rotação e rotação
combinada com apoio de braço (acentuando cada nota), movimentos amplos
de braço, punho, polegares e cotovelos deixando-os mais flexíveis, exagerar a
articulação dos dedos e movimentá-los tipo “garras” raspando a tecla, tocar
com o punho mais alto, estudar o reflexo da mão esquerda para saltos nessa
mão, movimentos como se “empurasse” os intervalos de oitavas, movimento
de impulso agrupando oito notas num mesmo gesto físico. Tais exemplos de
explorar também sugerem que a atenção e/ou consciência cinestésica do
pianista é um aspecto que passa a acontecer com certa frequência (e/ou passa
a ser visado) na prática pianística de forma tardia e/ou que se desenvolve com
o aumento da expertise, conforme aqui observado. Numa outra perspectiva,
pode-se ainda compreender o explorar como a elaboração de meios criativos
de vencer desafios e alcançar os objetivos propostos, o que dialoga tanto com
as proposições de Santos (2007, pp. 261-272) sobre a prática instrumental
constituir ações aprendidas e atividades criativas que gerenciam a mobilização
de conhecimentos (em termos de autorregulação e investigação nas situações
de prática), como com as proposições de Ericsson, Krampe e Tesch-Römer
(1993, pp. 363-406) acerca da Prática Deliberada, na qual explorar se
enquadraria no “desenvolvimento de tarefas específicas para superar os limites
atingidos”.
Acerca da eficácia dos procedimentos empregados por P17 (Figura 1), a
relação ajustes x lapsos pode sugerir que esses não são de todos eficientes: os
ajustes foram mais incidentes e que os lapsos apenas na metade das unidades
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O profissional aqui investigado demostrou meta implícita muito
clara, além de testar seus próprios limites para resolver problemas pontuais
e lidar com ações imaginativas/criativas (explorar) constantemente. Nas
unidades de prática detectadas houve grupos de categorias recorrentes
(repetir, isolar, alternar e explorar) com padrões altamente estruturados que
pareceram surgir em função do tempo de prática estipulado. Para todos os
casos, nem sempre essa estruturação em termos procedimentais assegurou
sucesso na relação ajustar x lapsos, a atenção mostrou-se distinta entre os
participantes (mais ou menos instável a cada sessão praticada, podendo
resultar em uma maior instabilidade de atenção (MIA), assim como a
simulação da performance pouco ocorreu.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Agradecimentos
M. R. Mantovani agradece à CAPES pela bolsa concedida (PNPD/Processo
286 n.º 88882.316268/2019-01). R.A.T.S. agradece ao CNPq (Projeto Universal
409012/2016-5).
Nota
1 O lapso não se caracteriza especificamente como um desvio da atenção, pois quando
este ocorre não há uma mudança de foco, mas sim uma ruptura do mesmo que é
imediatamente reestabelecida (ou tenta-se imediatamente restabelecer). No entanto,
uma alta incidência de lapsos acompanhada de desvios (parar e/ou dispersar) pode sugerir
que a atenção encontra-se fragilizada; por essa razão, lapsos complementarão a discussão
dos resultados acerca dos desvios e limites da atenção.
Referências
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Anais
Resumo
A presente comunicação discute possibilidades de categorização da prática pianística, em dimensões
reais e imaginárias, tomando como base as categorias psicossensoriais propostas por Mantovani (2018).
As categoriais psicossensoriais foram confrontadas com uma proposta de categorização de prática
pianística em situações de privação sensorial, construídas no âmbito de uma Tese de Doutorado em
andamento, que forçaram os estudantes a imaginar resultados de ações de prática que se encontravam,
em sua maioria, no nível da simulação. Como resultados aponta-se a impossibilidade de se transplantar
integralmente as categoriais psicossensoriais quando da avaliação de ações da prática com privações
sensoriais, bem como a constatação de que duas categoriais - Preparação e Decodificação - poderiam
se integrar ao escopo das categoriais psicossensoriais. Constata-se também a propriedade de as categorias
da Tese em andamento de apontar para a riqueza dos processos intelectuais dos participantes, já que
indicam a complexidade dos processos que estes podem atingir com a manipulação das representações
mentais dos materiais musicais trabalhados.
Palavras-chave: prática pianística; categorias psicossensoriais, privações sensoriais
Abstract: The present paper discusses the categorization of piano practice, in its real and imaginary
dimensions, taking Mantovani’s Psychosensorial Categories (2018) as a starting point. The Psycho-
sensorial Categories were confronted with a proposal for the categorization of piano practice in
situations of sensory feedback deprivation, built in the scope of a Doctorate Thesis in progress.
These situations forced the students to imagine the results of their actions, which happened mainly
in the domain of the simulation. As results we point out the impossibility of transplanting, in their
integrality, the Psychosensorial Categories to the evaluation of the practice with feedback
deprivations. Two of the categories of the Thesis – Preparation and Decoding – could also
integrate the scope of the Psychosensorial Categories, in a suggestion for future research.
Keywords: piano practice; Psychosensorial Categories; sensory deprivations
INTRODUÇÃO
O presente manuscrito visa estabelecer um diálogo entre uma pesquisa de
Doutorado em andamento e o trabalho de Mantovani (2018). Mantovani,
ao observar a prática de quatro pianistas em diferentes níveis de expertise,
que praticaram obras integrantes de seus repertórios (à época da coleta dos
dados) em condições de estudo habituais, propõe, partindo dos princípios
fenomenológicos de E. Husserl (1900-1970), a sistematização da prática
pianística em nove categorias as quais recebem o nome de categorias
psicossensoriais. Essas categorias, que se constituem como essências do fenô-
meno da prática pianística já que se caracterizam como “unidades portadoras
dos significados essenciais e dos traços universais que constituem a objeti-
vidade do fenômeno, permitindo sua compreensão nas suas mais diversas
manifestações independentemente da subjetividade dos sujeitos que
experienciam o objeto” (Mantovani, 2018, p.199), recebem nove dife-
rentes denominações, a saber: testar, repetir, isolar, ajustar, alternar, parar,
explorar, dispersão e lapso; denominações que são dadas que acordo com
comportamentos observados na prática dos participantes, seus focos de
atenção, seus objetivos para com a prática das obras estudadas, bem como
potenciais refinamentos ou desvios na execução das peças, no transcurso da
sessão de prática. O interesse em estabelecer uma relação dialógica entre a
Anais
MÉTODO
Buscou-se empreender uma comparação bibliográfica entre as categorias
psicossensoriais, já consolidadas (Mantovani, 2018) e as categorias de análise
para a prática com privações sensoriais, ainda em construção. Foram
avaliadas não apenas as denominações – os títulos – das categorias, mas
também as proposições acerca de seus conteúdos, de modo a investigar as
possibilidades de adequação das categorias psicossensoriais à prática com
privações sensoriais.
DISCUSSÃO
Mantovani (2018) caracteriza as categorias psicossensoriais como “compor-
tamentos, ações e desvios constatados nas sessões de prática observadas,
independentemente do nível de expertise dos participantes, da obra estudada
ou do tempo de prática despendido” (p. 197). Já na tese em construção
objetivou-se a delimitação de categorias de análise que pudessem permitir
uma sistematização objetiva de sessões de práticas de peças que não eram do
prévio conhecimento dos participantes, ainda com a especificidade de serem
praticadas em situação de privação sensorial. Essas situações de privação (ver
Moreira, 2017) forçavam os participantes a imaginar elementos das obras
praticadas como alturas, ritmos, movimentos e gestuais físicos de modo a
possibilitar o aprendizado das peças. Os estudantes mobilizaram seus conhe-
cimentos declarativo e procedimental de modo a, mesmo sendo privados,
por exemplo, da resposta sonora do piano, da partitura, ou do próprio
instrumento, serem capazes de construir algum produto de performance
durante as sessões de prática da pesquisa.
Em um primeiro momento objetivou-se identificar paralelismos entre as
categoriais psicossensoriais e as categorias em construção, comparando a
descrição das categorias presente no texto de Mantovani (2018, pp. 197-199),
bem como suas aplicações em seu trabalho, com a formulação das categorias
propostas para a Tese em construção. Observaram-se paralelismos entre os
seguintes pares de categorias (categorias psicossensoriais-tese em construção):
Testar-Ensaio final; Repetir-Insistência; Isolar-Subtração; Alternar-Variação;
Parar-Repouso e Explorar-Planejamento expressivo. Dispersão aparece como
título de categoria em ambas as propostas. Já as categorias Preparação,
Decodificação e Manutenção, pertencentes à proposta da Tese em andamento
não apresentam paralelismo com as categorias de Mantovani (2018). As
categorias psicossensoriais Ajustar e Lapso foram, por sua vez, consideradas
inadequadas à proposta de categorização da presente Tese.
Anais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente comunicação objetivou apresentar possibilidades de categori-
293
zação da prática pianística em dimensões reais e imaginárias a partir de duas
propostas distintas de categorização. A comparação apresentada aponta para
uma impossibilidade de se empregarem, na prática com privações sensoriais,
as categorias psicossensoriais na integridade de seu conjunto. Os paralelismos
apontados indicam categorias de conteúdo similar e categorias que não
encontram correspondência com categorias do outro modelo. As especifi-
cidades das diferentes modalidades de prática que se busca categorizar –
prática habitual e prática com privações sensoriais – justificam as diferentes
nuanças de conteúdo carregadas pelas categorias das duas propostas. A Tese
em construção apresentou situações de prática nas quais os estudantes se
encontram deslocados das condições nas quais normalmente praticam, os
forçando a trabalhar as peças nas formas de suas representações mentais, e a
proposta de categorização desta Tese em andamento busca destacar as próprias
transformações e ajustes às quais essas representações podem ser submetidas,
apontando para a riqueza e complexidade dos processos intelectuais dos
participantes quando praticando os materiais propostos.
Referências
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Anais
Resumo
Estudos prévios demonstraram que a percepção de cadências foi distinta para ouvintes músicos e não
músicos. Tendo em vista esses resultados, usou-se a teoria ITPRA – Imaginação, Tensão, Previsão,
Reação e Avaliação - de Huron (2006) como ferramenta de análise e discussão da metodologia e dos
resultados. A teoria ITPRA fornece fundamentação para se analisar estruturalmente os estímulos e
correlacioná-los com os resultados empíricos. Estudantes de graduação (N = 38) e de extensão
universitária (N = 40) foram submetidos a estímulos (10) de cadência perfeita, plagal, à dominante e
deceptiva, respondendo um questionário no qual atribuíam o grau de conclusão ou de suspensão (escala
de Lickert) para cada estímulo. Enquanto estudantes de graduação tiveram respostas que vão de acordo
com a teoria de aprendizado estatístico moldando hierarquias tonais, existiram desvios nas respostas dos
estudantes de extensão. Efetuou-se uma análise dos estímulos para procurar possíveis fatores de distração,
e, entre os possíveis fatores, encontram-se expectativas sobre melodia, duração dos estímulos, forma e
ritmo harmônico. Essas implicações rítmico-melódicas parecem estar afetando a percepção da amostra
frente à sensação das implicações puramente harmônicas.
Palavras-chave: Percepção de cadências, Psicologia Cognitiva, ITPRA.
Abstract
Previous studies have shown that the perception of cadences was different for musician and non-
musician listeners. In view of these results, we used Huron's (2006) ITPRA - Imagination, Tension,
Prediction, Reaction and Evaluation theory as a tool for analysis and discussion of methodology and
results. The ITPRA theory provides the rationale for structurally analyzing stimuli and correlating
them with empirical results. The ITPRA theory laid the foundations for structurally analyzing stimuli
and correlating them with empirical results. Undergraduate (N = 38) and university extension (N =
40) students underwent perfect, plagal, half and deceptive cadence stimuli (10) by answering an
unqualified questionnaire or assigned to a degree of completion or suspesin (Lickert scale) for each
stimulus. While undergraduate students receive answers that come to terms with a statistical learning
theory that shapes tonal hierarchies, there are biases in extension student responses. Perform stimulus
analysis to look for possible distracting factors and possible factors, considering melody expectations,
stimulus duration, shape, and harmonic rhythm. These rhythmic-melodic implications seem to be
affecting the perception of the sample in the face of purely harmful implications.
Keywords: Cadence perception, Cognitive Psychology, ITPRA
INTRODUÇÃO
A percepção é uma das atividades investigadas pelas ciências cognitivas.
A capacidade de percepção implica outros processos mentais prévios de
aquisição, representação, armazenamento e utilização dos conhecimentos
(Castañon, 2018). De fato, a percepção musical varia entre populações com
diferentes contextos de aprendizado. Todavia, no processo de percepção
de distintos níveis de fechamento em cadências musicais, não existe, por
absoluto, consenso sobre a influência do treinamento musical formal (Sears
et al., 2014)
Em estudos previamente realizados, procurou-se avaliar a influência do
aprendizado musical formal na percepção de fechamento — sensação de
finalização — em terminações de frase (Pulchaski & Santos, 2015, 2016).
Com estímulos de melodia acompanhada, classificados pelos conteúdos
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MÉTODO
Os dados analisados foram coletados através de um delineamento
semiexperimental, com uma amostra de conveniência (população de
voluntários das Oficinas de Teoria e Percepção musical da UFRGS e
alunos de graduação dessa mesma universidade). Cinco estímulos reais
adaptados através da compilação de frases musicais (4 a 8 compassos,
extraídas de composições para violão e de arranjos de canções populares
para violão-solo: Estudo nº 17 Op. 35 - F. Sor; Azul da Cor do Mar - Tim
Maia; Atirei o Pau no Gato — canção de roda; Autumm Leaves — Joseph
Kosma. Esses fragmentos, originalmente finalizados em uma cadência
autêntica foram arranjados de forma a contemplar finalizações distintas,
reunindo estímulos referentes a quatro tipos de cadências (autêntica,
plagal, à dominante e deceptiva).
Anais
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nos estímulos empregados, a tonalidade foi o elemento do vocabulário
musical sobre o qual ouvintes criaram determinadas expectativas. A teoria
de expectativas em música prevê que acontecimentos tonais previsíveis
despertem reações de satisfação. Aarden (2003) mostra que existe relação
entre a hierarquia de estabilidade tonal tal qual aquela medida empiri-
camente por Krumhansl e Kessler (1982) e a probabilidade de ocorrência de
graus da escala em finalizações musicais. As evidências estatísticas trazidas
por Aarden (2003) a partir dos dados empíricos de Krumhansl e Kessler
(1982) apontam para uma hierarquia tonal em que finalizações de frase nos
graus) 2, 4, 6 e 7 são estatisticamente menos prováveis que finalizações com
^ ^ ^ ^
familiares não foi precisa. Efetuou-se, então, uma análise mais aprofundada dos
estímulos para procurar possíveis fatores de distração.
299
Cadências ao quinto grau, expectativas de continuação melódica
As mudanças melódicas para adequar melodias à cadência à dominante
foram imprecisas entre si. Possivelmente, movimentos melódicos mais bruscos
tiveram influência na percepção por ferirem mais fortemente a expectativa
melódica de Step Inertia (Huron, 2002, p.77).
Von Hippel (2002), usando conceitos da teoria de organização melódica (I-R)
de Narmour, sugere que expectativas melódicas são diferentes em músicos e não
músicos, e são pensamentos heurísticos, ou seja, simplificações inconscientes
sobre determinados padrões de funcionamento da música que guiam a percep-
ção, mas, por serem simplificações, preveem os acontecimentos de maneira que
não reflete perfeitamente a realidade das probabilidades estatísticas. No caso de
Step Inertia – também referida como Step Momentum, Process e Good Continuation
- Von Hippel mostra que a expectativa de que sucessões intervalares pequenas em
uma determinada direção sejam seguidas por mais sucessões pequenas e na
mesma direção (denominada de Step Inertia) é presente em músicos em melodias
ascendentes e descendentes, embora só seja estatisticamente previsível em
melodias descendentes. Ainda, Aarden (2003) aponta que tempos de reações de
músicos são mais curtos em respostas sobre o estímulo quando a expectativa de
Step Inertia é satisfeita.
Entre as cadências à dominante, o estímulo que mais fere o princípio de
expectativa melódica por Step Inertia é aquele que foi mais fortemente percebido
como não finalizado pela população de extensionistas — Estímulo 2. Esse estímulo
termina com uma escala descendente, que é então interrompida em favor de um
salto de quarta em sentido oposto. É um movimento melódico muito mais abrupto
do que, por exemplo, o estímulo 3, que termina com troca de direcionamento
melódico, porém por grau conjunto. O estimulo 2 foi suficientemente percebido
como incompleto por ambas as populações, possivel-mente por causa dessa
violação das expectativas de continuação melódica (Figura 1 – Dom2).
Figura 2. Simplificações melódicas dos três estímulos empregados de cadência ao quinto grau.
300
Figura 4. Comparação entre a duração do acorde final de três cadências. O áudio de cima é um
estímulo empregado de cadência deceptiva, estímulo que teve a maior nota geral de fechamento
pelos ouvintes extensionistas. Os dois áudios de baixo são os estímulos usados de cadência
autêntica.
Anais
Figura 5. Estímulo “Atirei o pau no gato” como cadência plagal, em comparação com o
estímulo de cadência autêntica. No momento metricamente forte, de resolução melódica na
tônica, o estímulo de cadência plagal usou a harmonia IV.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados diferiram bastante entre as duas populações investigadas.
Ainda assim, entende-se que mesmo as respostas dos estudantes de
extensão nas quais houve confusão foram motivadas por pensamento
estrutural tonal, e, por isso, foram relativamente coincidentes entre os
ouvintes dessa população, cuja experiência formal de música é ainda de
iniciantes em termos da sistematização e aprendizado dos preceitos
cadências da música tonal. Apesar disso, não é possível, no momento,
definir concretamente quais foram às implicações não harmônicas que
resultaram em desvios nas respostas, mas apenas sugerir quais podem ter
sido. Mantem-se, então, a ideia de que uma mudança na metodologia
seria capaz de expressar com mais acurácia os pensamentos musicais de
ouvintes iniciantes no processo de aprendizado da teoria musical, mais
especificamente relativo ao processo de percepção de segmentação de
frases musicais. Em estudo subsequente se buscará entender meios de
estabelecer elos entre estruturas musicais e suas potenciais funções.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Agradecimentos
302
M. R. agradece ao CNPQ pela bolsa de iniciação científica concedida
(PIBIC-UFRGS). R.A.T.S. agradece ao CNPq (Projeto Universal
409012/2016-5).
Referências
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Sydney: Western Sidney University.
Anais
Problema/questão
A comunicação da emoção por intérpretes é objeto de investigação na literatura. Dentro do universo
de emoções, pesquisas envolvendo emoções denominadas básicas são descritas na literatura. Camargo
Guarnieri (1907-1993) em seus Ponteios explicita a indicação de expressão (caráter) na partitura. A
comunicação de emoção de seus Ponteios vem sendo estudada na literatura brasileira. Em
continuidade a estudos anteriores, no presente manuscrito descrevemos o efeito da manipulação do
andamento na percepção de uma plateia de ouvintes músicos e diletantes.
Objetivos
Investigar o grau de comunicabilidade emocional no Ponteio nº 6 de Guarnieri a partir dos da
comparação de duas versões de uma mesma interpretação, com manipulação do andamento.
Método
O delineamento envolveu questionário de escolha-forçada, e cada participante [N=100, Músicos (M) e
Dilentantes (D)] escolheu dois entre nove termos emocionais expostos, a partir da escuta dos estímulos.
Esses termos contemplaram, dentre outros, a indicação expressiva indicada por Guarnieri e o termo
escolhido pelo intérprete a partir da tipologia das emoções básicas proposta pela Teoria dos Protótipos
de Shaver e colaboradores (1987). As estratégias metodológicas envolveram a apresentação de duas
versões em áudio de uma mesma performance, sendo a primeira denominada versão genuína, e a
segunda manipulada, onde o intérprete manipulou o parâmetro andamento da obra, ainda que visando
não fugir demasiadamente do texto musical. A hipótese levantada foi que a disponibilização de duas
versões aos ouvintes serviria como opções a serem comparadas e escolhidas, possibilitando assim maior
possibilidade de apresentar uma melhor comunicabilidade da(s) emoção(ões) previamente pretendidas
a serem comunicadas. Para esta comunicação, serão apresentados os resultados obtidos sobre o Ponteio
n° 6. O caráter descrito pelo compositor neste ponteio indicava o termo apaixonado; o intérprete, por
sua vez, entendia e pretendia comunicar a emoção desesperado, além de apaixonado.
Resultados
Os resultados indicaram que houve comunicação dos termos pretendidos, para os participantes
músicos (M = 50), uma vez que escolheram as emoções apaixonado (48%) e desesperado (32%);
Diletantes (D; N= 50) perceberam 38% e 30% dessas indicações respectivamente. No que se refere
à preferência pelas versões, para o grupo M, 54% dos ouvintes indicou a versão genuína para a
emoção apaixonado e 75% para desesperado. Já para o grupo D, 64% dos ouvintes indicou a versão
manipulada para a emoção desesperado, enquanto apaixonado apresentou o mesmo número de
incidências (50% dos ouvintes para ambas as versões).
Conclusões
A partir dos resultados, pode-se observar que houve comunicação de emoção por parte dos ouvintes
participantes desta pesquisa sobre a interpretação do autor do Ponteio nº 6 de Guarnieri. No que se
refere à comparação das versões genuína e manipulada, os dois grupos de ouvintes apresentaram-se
diferenças de percentual na escolha de desesperado, mas semelhantes quanto à emoção apaixonado. O
fato de ter atribuído dois termos expressivos para a comunicação de emoção de um dado Ponteio,
acabou sugerindo que a escolha do termo pelo interprete acabou sendo melhor comunicada que
aquela indicada pelo compositor. Esse resultado aponta que indícios de que o interprete tende a fazer
escolhas mais direcionadas quando concebe sua própria indicação expressiva a ser comunicada.
Palavras-chave:
Comunicação de emoção, percepção, performance, amor, Guarnieri
Referências
De Abreu, A. L. S. (2017). Perspectivas do amor em três Ponteios de Camargo Guarnieri: um estudo
sobre comunicação de emoção. Dissertação (Mestrado em Música). Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Shaver, P. R., Schwartz, J., Kirson, D., & O'Connor, C. (1987). Emotional Knowledge: Further
Exploration of a Prototype Approach. In G. Parrott (Eds.) Emotions in Social Psychology:
Essential Readings (pp. 26–56). Psychology Press: Philadelphia.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MAIO 30 | May 30
304
MESA REDONDA 3
SALA MULTIUSO, 16h
“que agem como guias para o raciocínio e inferência. Em sua forma mais simples, modelos
conceituais consistem de conceitos em relações específicas que pertencem a um domínio específico
do conhecimento” (Zbikowski, 2002, p. 14-15).
305
O conceito de atributo é útil, sem dúvida, para se estabelecer uma categoria concreta ou abstrata
para se chegar àquilo que Zbikowski chama de “modelo conceitual”. Mas o termo atributo está
muito mais próximo de característica ou qualidade e, em princípio, não se presta ao
estabelecimento de uma escala de classificação com diferentes variáveis. O conceito de parâmetro,
entretanto, definido como “elemento variável” constitutivo de um conjunto, pode estabelecer
coerentemente uma escala de variabilidade aplicável, de maneira efetiva, à análise de obras
musicais de vários séculos, se levarmos em consideração o que definiremos como variabilidade
dentro de cada estilo ou de cada tendência criativa individual. Se o termo atributo tem um quê de
estático, o termo parâmetro, por designar algo variável, estabelece uma escala de possibilidades
que, quando devidamente identificada pela análise musical, pode estabelecer relações entre
eventos sonoros que se encontram dentro de uma faixa de variabilidade perceptivamente coerente.
Em textos anteriores (Mesquita, 2010 e 2017), eu enfatizei o fato de a música ser uma arte
multiparamétrica e é inserido nesse contexto que o termo parâmetro deve ser compreendido aqui.
Neste contexto, relembro o que Arnold Schoenberg disse sobre variação: “Eu defino variação como
alterar um número de características de uma unidade, enquanto que preservando outras”
(Schoenberg, 1948/1975, p. 287). Em minha opinião o conceito multiparamétrico está implícito
nesta definição: dizer que a “unidade” musical é constituída por diferentes “características” é uma
nuance linguística de dizer que a unidade musical é constituída por diferentes parâmetros e que
alguns podem ser transformados, enquanto outros permanecem idênticos ou estáveis.
Tais ideias são discutidas à luz de dois exemplos musicais:
1) O trecho inicial (c. 1-12) do 1º movimento, Allegro di molto, do Quarteto de Cordas op. 20,
nº 4, de Joseph Haydn;
2) O trecho um trecho entre os compassos 180 e 184 do 2º movimento do Trio de cordas op. 20
de Anton Webern.
A temporalidade musical é discutida a partir de dois conceitos. Um que estabelece que “o tempo do
som não se manifesta no tempo (como se o tempo já existisse antes e independente do som), mas sim
como tempo (quando o som em si o instaura). O som não precisa do, ou requer, tempo, como se
necessitasse ou preenchesse este como algo dado de antemão, mas sim institui tempo, quando ele é
tempo em si como ressoar” (Eggebrecht, 2001, p. 21, itálicos no texto original). E outro que institui
uma perspectiva psicológica para o tempo musical: “Enquanto a música é estruturada no tempo,
temporalidade também é o tempo que a música significa” (Monelle, 2000, p. 84). Porque o contexto
da reflexão de Monelle é semiótico-social, uma paráfrase da frase deste autor é proposta. Tal
paráfrase se situa mais em um contexto cognitivo-musical, mas que não exclui o complexo processo
de enculturação: enquanto a música estrutura o seu tempo, a temporalidade é o significado do tempo
que a música instaurou para o ouvinte atento. Ou seja, ela leva em consideração que o som “institui
tempo”, que é o som que molda durações de inumeráveis maneiras (Mesquita, 2013). E, além disto,
ela considera a temporalidade como um aspecto da vivência, por parte de uma consciência, dos
eventos sonoros que instituíram um tempo musical. Como existem inúmeras consciências, com suas
respectivas histórias culturais, psicológicas, familiares etc., existem tantas temporalidades quanto
consciências – obviamente, existem interseções conceituais mais ou menos amplas, conforme o grau
de compartilhamento cultural entre consciências.
Após as discussões conceituais em torno dos termos parâmetro e temporalidade musicais, chega-
se à discussão sobre a validade cognitiva dos conceitos apresentados e aplicados aos trechos
musicais mencionados acima. Os focos da discussão agora são dois aspectos da memória:
1) A memória auditivo-sensorial que “desempenha ambas as importantes funções de integrar
temporalmente informação acústica que chega e mantê-la disponível por alguns segundos. [...]
a integração temporal é necessária, para se reconhecer elementos relacionados na informação
contínua do fluxo acústico” (Koelsch; Schröger, 2008, p. 395);
2) A memória de longo prazo cuja bipartição estabelece “uma distinção entre memórias de
situações e eventos específicos (memória episódica ou autobiográfica), e conhecimento geral
conceitual (memória semântica), sendo a última mais abstrata e se desenvolvendo frequen-
temente por episódios similares repetidos [...]” (Snyder, 2016, p. 169).
Os estudos interdisciplinares entre cognição e análise musical apresentam claramente uma herança
dos estudos de teorias musicais praticados desde pelo menos o início do século XIX. Ainda ocorre,
hoje em dia, uma reavaliação desta herança com o auxílio dos testes disponíveis, especialmente
aqueles que se valem de psicometria ou do assim chamado imageamento cerebral.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
O conceito de parâmetro aplicado à análise musical pode ser uma ferramenta útil para um claro
delineamento dos elementos constitutivos de um evento sonoro, seja de características temáticas,
como na música tonal de tradição europeia, seja de características tímbricas ou texturais, como
306 em diversas correntes das músicas dos séculos XX e XXI. Além disto, a constatação do aspecto
multiparamétrico do evento sonoro revela diferentes perspectivas analíticas aplicáveis a este
último e auxilia na compreensão da vivência temporal por parte do ouvinte – que foi designado
aqui como temporalidade.
MAIO 30 | May 30
CONFERÊNCIA
LECTURE 3
3 307
310
Anais
MAIO 31 | May 31
SESSÃO L9
Comunicações Orais | Oral Presentations
311
SALA 1, 10h
Coordenador da sessão | Session Chair: Marcos Mesquita
10:00
Treinamento auditivo: relações entre métodos de rítmica e
processos cognitivos da percepção musical
Leticia Dias de Lima
10:30
Las habilidades auditivas musicales: prácticas, concepciones y
valoraciones en estudiantes de interpretación instrumental
Genoveva Salazar Hakim
11:00
O conceito de estrutura fundamental na análise schenkeriana e
suas bases cognitivas
Luis Felipe Oliveira
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Treinamento auditivo:
312 relações entre métodos de rítmica e processos
cognitivos da percepção musical
Letícia Dias de Lima
Instituto de Artes, Unesp, Brasil
leticiadiaspiano@gmail.com
Resumo
A principal questão discutida neste trabalho é: como as pesquisas em cognição musical sobre a
percepção rítmica se relacionam com os métodos utilizados no treinamento auditivo? Investigamos
relações entre a percepção do ritmo musical e alguns dos métodos de treinamento auditivo utilizados
na graduação em música das universidades estaduais de São Paulo, sendo eles: Starer (1969),
Hindemith (1988), Hall (2005) e Gramani (2013). À luz de teorias e experimentos na área da
cognição musical, avaliamos de que forma os autores dos métodos trabalham elementos musicais –
como pulsação, acento, metro, e o agrupamento de padrões rítmicos – e discutimos tais abordagens
dentro do contexto da disciplina de Percepção Musical. As avaliações realizadas demonstram que os
métodos selecionados não trabalham a percepção rítmica diretamente, pois não levam o aluno a
desenvolver os processos perceptivos da forma como eles ocorrem na escuta e prática interpretativa
real da música. Em seu dia-a-dia, o músico tem sua percepção desafiada no âmbito de questões
teóricas, conceituais, expressivas, estilísticas e também organológicas. Questões, estas, virtualmente
ignoradas pelos métodos. Estes se encaixam em um modelo mecanicista de ensino, em que o
aprendizado consiste em treino e prática repetida de exercícios. Sua função é fornecer materiais para
um treinamento auditivo, baseado especialmente no solfejo de padrões rítmicos.
Palavras-chave: Percepção musical, cognição, ritmo, treinamento auditivo.
Abstract
The main issue discussed in this paper is: How do music cognition research on rhythmic
perception relate to the methods used in ear training? We look for relationships between the
perception of musical rhythm and some of the ear training methods used at the state universities
of São Paulo: Starer (1969), Hindemith (1988), Hall (2005) and Gramani (2013). In the light of
theories and tests in the field of music cognition, we evaluate how the authors of the methods deal
with musical elements – such as beat, accent, meter, and grouping – and then we discuss these
approaches within the context of Ear Training (subject). The evaluations show that the selected
methods do not deal with rhythm perception directly, because they do not lead the student to
develop the perceptive processes as they occur in listening and real performance of music. In their
daily life, musicians have their perception challenged in the context of theoretical, conceptual,
expressive, stylistic and also organological issues. These issues are virtually ignored by the
methods. These fit into a mechanistic teaching model, where learning consists of training and
repeated practice of exercises. Its function is to provide vocabulary for ear training, especially
based on rhythmic patterns.
Keywords: Music perception, cognition, rhythm, ear training.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, sintetizamos as relações entre 1) teorias e experimentos na
área da cognição musical e 2) as abordagens de métodos utilizados na
graduação em música das universidades estaduais de São Paulo. No primeiro
momento da análise, utilizamos as formulações de cada autor – realizadas no
prefácio, em enunciados ou outras observações no corpo do método – para
investigar suas convicções a respeito do desenvolvimento de habilidades e da
utilidade dos exercícios para a prática musical; ou seja, buscamos as concepções
que fundamentam suas propostas. A organização e estruturação dos métodos,
bem como o conteúdo dos exercícios, também foram detalhados¹, demons-
trando de que forma os métodos trabalham elementos musicais como pulsa-
ção, acento, metro, e o agrupamento de padrões rítmicos.
Anais
De fato, muitos autores reforçam esta ideia. Para Karpinski, "de todas
as habilidades envolvidas em aspectos temporais da escuta musical, a
314 percepção do pulso é talvez a mais fundamental" (Karpinski, 2000, p. 20).
Nossa resposta motora à percepção de pulsações é uma evidência da
"sensibilidade do ouvinte a regularidades do tempo musical" (Jones, 2009,
p. 81) e pode ser avaliada – tanto em laboratório quanto em uma aula de
música – através de ações simples, como bater o dedo ou a mão em uma
superfície, bater palmas ou os pés e até mesmo dançar (Eck, 2001; Jones,
2009; Karpinski, 2000; Noorden & Moelants, 1999; Nozaradan et al.,
2011; Patel & Iversen, 2014). Pesquisas recentes mostram que o cérebro
sincroniza com os ritmos do ambiente, respondendo a padrões de
regularidade (Tan, Pfordresher, & Harré, 2010).
Mas é preciso considerar que a performance musical – ainda que seja
apenas a execução de um exercício – não se limita à sincronização de
nossos movimentos com estímulos regulares. Devemos manter a pulsação
estável enquanto executamos padrões rítmicos. Basicamente, os autores
orientam o aluno a produzir pulsações com regularidade, mas não se
aprofundam em como isso pode ser feito ou melhorado, especialmente ao
executar padrões rítmicos simultaneamente. Não é raro que o aluno seja
capaz de produzir pulsações relativamente regulares até o surgimento de
um padrão rítmico complexo, irregular ou mesmo inesperado, quando
sua execução como um todo é desestabilizada.
Em relação ao acento, Starer faz apenas comentários superficiais sobre
acentos métricos, recomendando que o aluno sempre diferencie as pulsações,
da forma como estão notadas nos exercícios⁶. É importante lembrar que
inferimos os acentos métricos com base nos padrões de acentuação da música,
levando em conta todos os seus parâmetros. Os eventos musicais nos dão
informações sobre quais pontos temporais são significativos (acentuados);
portanto, não ouvimos – literalmente – o grau de acentuação métrica destes
pontos, mas o inferimos: "a própria música determina o padrão de acentos
que nós interpretamos como metro. [...] A música não apenas estabelece, mas
também reforça e às vezes redefine o metro" (Kramer, 1988, p. 82). O que
ouvimos, literalmente, são os acentos da superfície musical⁷, que exigem um
evento particular para criá-los, como alterações de duração, dinâmica,
articulação, textura, timbre etc.
A leitura de padrões exclusivamente rítmicos impõe uma certa tendência
de acentuar os tempos fortes indiscriminadamente, já que a própria "música"
ali presente carece de elementos sonoros que possam sugerir uma estrutura
métrica de forma mais evidente. Nos exercícios dos métodos, esta estrutura
é pré-determinada pela notação musical, através das fórmulas de compasso.
Uma vez que os autores não sugerem uma contextualização auditiva, seria
interessante que o professor assumisse esta função, promovendo uma escuta
real do repertório, e também incluindo mais parâmetros aos exercícios
propostos (diferentes melodias e suas harmonias subjacentes, articulações e
dinâmicas, por exemplo). Assim, os alunos teriam a oportunidade de, em
primeiro lugar, compreender a hierarquia métrica auditivamente – isso
poderia tornar a acentuação métrica um procedimento menos artificial.
Este problema é apontado por Hall, que alerta para que os acentos
dinâmicos sejam inseridos com cautela, evitando a tendência de acrescentá-
Anais
CONCLUSÕES
A disciplina de Percepção Musical, no ensino superior, costuma seguir a
chamada "abordagem tradicional", que enfatiza o uso de repertório tonal
ocidental, o ensino fragmentado da música, ditado e solfejo como
ferramentas principais, avaliação por gabarito e o treinamento como suporte
do ensino (Otutumi, 2013). O treinamento está mais ligado "à atividade
repetida de exercícios que, na maioria das vezes, requer do estudante alto
domínio da escrita e da audição discriminada [...]" (Otutumi, 2008: 19). É
dentro deste contexto que os métodos aqui avaliados se encaixam.
Segundo Covington e Lord (1994), esta abordagem acarreta em
algumas frustrações. Do ponto de vista do aluno: a) o treino parece não
corresponder ao dia-a-dia profissional (ênfase em elementos isolados de
seus contextos naturais; respostas em notação musical); b) é dada mais
importância a aspectos de altura e ritmo, sendo pouco considerados outros
fatores, como dinâmica, articulação, timbre e textura; c) é difícil transferir
os conhecimentos da disciplina para outros contextos do curso – e da vida
profissional – como performance solo e em grupo.
Não encontramos, nos métodos, aprofundamentos teóricos, discussão de
conceitos ou de questões expressivas, estilísticas e organológicas; tampouco
contextualização musical com qualquer consistência. Os métodos sinte-
tizam materiais para o solfejo e, eventualmente, para o ditado. Sendo esta sua
verdadeira função, eles cumprem o objetivo a que se propõem. No entanto,
podemos concluir que os métodos avaliados não trabalham a percepção
rítmica diretamente, pois não levam o aluno a desenvolver os processos
perceptivos da forma como eles ocorrem na escuta e prática interpretativa
real da música. Entendemos que um desenvolvimento mais amplo da
percepção musical fica limitado se estiver restrito à execução dos exercícios
da forma como estes são apresentados.
Anais
Notas
1 Neste artigo, não apresentamos a descrição detalhada dos exercícios de cada método e não nos
aprofundamos nas formulações dos autores. Estes conteúdos podem ser consultados em Lima 319
(2018).
2 As informações sobre as disciplinas foram acessadas pela Internet nos seguintes endereços
eletrônicos: http://www3.eca.usp.br/cmu/disciplinas (todas as disciplinas – USP),
http://www.ia.unesp.br/ Home/Graduacao/percepcao-e-ritmica-i.pdf (Percepção e Rítmica I –
Unesp), http://www.ia.unesp.br/Home/Graduacao/percepcao-e-ritmica-ii.pdf (Percepção e
Rítmica II – Unesp). Os programas da Unicamp não estavam disponíveis na Internet; foram
obtidos através de comunicação pessoal direta (e-mail) com a coordenadoria de graduação do
Instituto de Artes da Unicamp.
3 Apesar de não tratar exclusivamente de ritmo, Hindemith (1988) determina uma seção exclusiva
para este parâmetro.
4 Título original: Elementary Training for Musicians.
5 Com exceção dos breves exercícios preliminares de Starer e das sugestões de Hall para que a
regência seja praticada separadamente, caso o aluno sinta dificuldades em realizá-la simultaneamente
aos exercícios.
6 A partir do capítulo I, todos os exercícios possuem fórmula de compasso, e a notação da linha
inferior faz uma distinção entre as pulsações a partir de suas localizações no pentagrama. A forma
como o aluno deve diferenciá-las não é clara, uma vez que o autor determina que a linha inferior
pode ser batida com as mãos ou pés, ou pode ser regida.
7 Acentos fenomenais, para Lerdahl e Jackendoff (1983), ou acentos enfáticos, para Kramer (1988).
8 Neste tipo de sequência, o único parâmetro que varia é o intervalo de tempo entre os sons (Povel
& Okkerman, 1981).
9 Observamos apenas uma certa preocupação com a concepção e execução de acentos métricos.
10 Enculturação é uma forma de absorção de informações encontradas no ambiente (em oposição
a predisposições inatas). Caracteriza-se pela ausência de esforço autoconsciente e de instruções
explícitas (Sloboda, 2008). Hannon e Trehub (2005) afirmam, a partir de seus experimentos, que
anos de exposição às categorias métricas que dominam em uma cultura musical específica devem
provocar reorganizações perceptivas e o estreitamento de estruturas métricas que podem ser
manipuladas com facilidade. Essas descobertas refletem a influência de processos de enculturação
sobre as preferências métricas de ouvintes adultos. Huron corrobora esta ideia: "a percepção e a
reprodução de figuras rítmicas por ouvintes ocidentais enculturados combinam muito bem com a
distribuição real de ritmos na música ocidental" (Huron, 2006, p. 201).
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Anais
Resumo
La audición musical, como modo de aprendizaje perceptual y de conocimiento, se va afinando en
prácticas de aprendizaje musical informales y formales. Además del recorrido en asignaturas que
propenden por el desarrollo de la audición estructural en la carrera de música, es de suponer que los
estudiantes desarrollan habilidades auditivas relacionadas con las prácticas musicales en las que
participan previa y simultáneamente a la carrera. Este estudio indaga sobre prácticas, concepciones
y valoraciones de desarrollo auditivo musical de estudiantes de Interpretación Instrumental, en
aprendizajes previos a la carrera y durante esta. Se realiza un estudio exploratorio, con metodología
cualitativa, mediante entrevistas semiestructuradas. Previo a la carrera, el aprendizaje instrumental se
focaliza por un tiempo extendido en el montaje de repertorios, en solitario y en agrupaciones, con o
sin la orientación de un profesor. La audición estructural es sinónimo de desarrollo auditivo, en
aprendizajes previos a la carrera y en esta. Su aprendizaje se apoya, en varios casos, en la imaginación
sonora vinculada a la mímica de la ejecución instrumental, facilitándose la identificación de
estructuraciones en correspondencia con los instrumentos que tocan. Las prácticas instrumentales de
los estudiantes aportan significados relevantes en el desarrollo de la audición de aspectos
estructurales, expresivos y estilísticos musicales. Los conocimientos no proposicionales que se gestan
durante la práctica instrumental sirven de base a los proposicionales contemplados en la audición
estructural, incluyendo las imitaciones inter y transmodales, manifiestas con gestos, que contribuyen
a la comprensión de eventos sonoros en téminos estructurales.
Palavras-chave: habilidades auditivas, percepción auditiva, significado musical.
Abstract
Music listening, as a way of perceptual learning and knowledge, is further refined through informal and
formal musical learning practices. In addition to taking part in subjets that work for the development of
structural listening, it is expected that the students develop listening skills related to the musical practices
in which they participate prior to, and simultaneously to their careers. This study researches on practices,
conceptions, and evaluations of development music listening in students of instrumental performance,
in learnings that take place prior to their professional studies and during them. We performed an
exploratory study, with qualitative methodology, using semi-structured interviews. Prior to the career,
the instrumental learning is focused, for an extended period of time, on the assembly of repertoires, solo
and in groups, with or without the guidance of a teacher. Structural listening is a synonym of music
listening development, in learnings that take place prior to and in their professional studies. Its learning
is supported, in several cases, in the sonic imagination linked to the gesture of the instrumental
performances, by facilitating the identification of structures in correspondence with the instruments they
play. The instrumental practices of students bring relevant meanings for the development of structural,
expressive and stylistic musical aspects. Non propositional knowledges, which are formed during
instrumental practice, are based on propositional ones, referred to tasks during structural listening,
including intermodal and intra modal imitations, manifested in gestures, which contribute to the
understanding of events sound in terms of structure.
Keywords: Listening skills, listening perception, musical meaning.
INTRODUCCIÓN
Asignaturas como Formación Auditiva, Solfeo, Entrenamiento Audi-
tivo, Gramática Musical, entre otras, propenden por el desarrollo de
destrezas auditivas, asociadas al dominio de la lectoescritura musical y de
conceptos teóricos musicales. Desde la experiencia de enseñar en Forma-
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
ción Auditiva, han surgido preguntas relacionadas con el por qué de tal
denominación, dado que es de esperarse que diversas asignaturas de música
322 en el currículo contribuyan al desarrollo de la audición musical, al igual
que las prácticas musicales en las que han participado los estudiantes antes
de la carrera.
No obstante, las denominaciones de estas asignaturas y sus prácticas
pedagógicas han contribuido a creer que tener buen oído, es sinónimo de
ser competente en tareas, especialmente, de audición estructural. De allí
que haya surgido el interés de adelantar estudios que indagan por las
concepciones propuestas y prácticas de desarrollo auditivo en diferentes
espacios de formación del Proyecto Curricular de Artes Musicales,
empezando por observar la propuesta institucional (Salazar, Castillo,
Agudelo & Bernal, 2015; Salazar et al, 2015a).
Posteriormente se adelantó un estudio con cuatro casos de estudiantes
del Énfasis de Composición y Arreglos (Salazar, 2017), teniendo en
mente las siguientes preguntas: ¿Qué tipo de prácticas de aprendizaje
musical han tenido los estudiantes antes a la carrera, en las que consideran
que han desarrollado habilidades auditivas? y ¿de qué tipo son dichas
habilidades? ¿Cómo valoran los estudiantes sus desarrollos auditivos y
cómo observan la articulación de sus habilidades auditivas entre los
diferentes escenarios de aprendizaje y práctica previos a la carrera y
dentro de ésta?
Tales preguntas se retoman en el presente estudio con cuatro casos de
estudiantes de Interpretación Instrumental. Con sus respuestas se busca
ampliar nuestra comprensión de la audición musical como modo de
conocimiento y los supuestos que hay frente a esta habilidad, en el contexto
de diversas prácticas de aprendizaje. De igual forma, se busca aproximarse a
aspectos que facilitan y dificultan la transferencia de conocimientos entre
los diferentes escenarios de aprendizaje y práctica musical, y con esto tener
insumos que permitan llevar a cabo acciones pedagógicas favorables para
los estudiantes.
En este propósito se han tenido en cuenta categorías relacionadas con la
cognición que contribuyen a caracterizar, en relación con prácticas
musicales y pedagógicas, qué es lo que se conoce, cómo se conoce, qué
acciones aportan afinar la percepción auditiva, qué fuentes participan en la
creación de significados y de qué manera se interrelacionan las habilidades
auditivas a través de diversas prácticas musicales.
Fundamentación
La audición es una modalidad perceptual básica en aprendizajes musicales
diversos y constituye un modo de conocimiento musical que involucra
conocimientos de tipo proposicional y no proposicional (Johnson, 1987;
Stubley, 1992; Cox, 2011). La experiencia auditiva y los significados que
surgen en esta son de naturaleza transmodal (sincronía entre modalidades
perceptuales) y transdominio (confluencia de dominios de la experiencia)
(Johnson, 1987; Martínez, 2009; Shifres, 2006, 2012). De acuerdo con Cox
(2011), la comprensión musical que involucra la audición se basa en mímesis
motoras y en la imaginación, bien sea de naturaleza intramodal, intermodal
Anais
Objetivo
Este estudio se propone indagar por las prácticas, concepciones y
valoraciones de desarrollo auditivo en estudiantes del énfasis de Interpre-
tación Instrumental del Proyecto Curricular de Artes Musicales (PCAM)
en aprendizajes previos a la carrera y durante esta, a partir de sus
testimonios.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MÉTODO
324 Participantes
Se presentan avances en relación con cuatro casos de estudiantes del
Énfasis de Interpretación Instrumental, quienes cursaban los últimos
semestres de carrera en el 2013. Todos eran hombres y su rango de edad
era de 23 a 26 años. Para referirse a cada uno de ellos se usan seudónimos.
Abel estudiaba el tiple, un instrumento de cuerdas tradicional de
Colombia; Blas, la batería; Carlos, la flauta traversa y Daniel, la guitarra
eléctrica.
La metodología comprendió: (1) la realización de entrevistas semi-
estructuradas realizadas por pares bajo la orientación de la investigadora; (2)
el análisis y la sistematización de las entrevistas, y (3) la interpretación de
datos para lo cual se consideró: (a) las descripciones puntuales de los
estudiantes sobre sus propias habilidades auditivas y (b) la inferencia de
desarrollos auditivos que hizo la investigadora a partir de los testimonios
sobre prácticas de aprendizaje musical relatadas por los estudiantes. Se
tuvieron en cuenta categorías como: procesos transmodales y transdominio,
modos de conocimiento proposicionales y no proposicionales, prácticas de
aprendizaje (informales, formales) y audición estructural.
Resultados
Escenarios y prácticas de aprendizaje musical previas a la carrera, desarrollos
auditivos, articulaciones y valoraciones. Entre los escenarios a los cuales los
estudiantes han dado importancia para su aprendizaje musical previo a la
carrera, se encuentran: el entorno familiar, la práctica “en solitario”, las
agrupaciones musicales, las escuelas de música, el colegio, la iglesia, las
clases particulares de instrumento y el Ciclo Preparatorio de Artes
Musicales, el cual es un programa de extensión que ofrece la Universidad
Distrital Francisco José de Caldas.
Las prácticas musicales que surgieron en familia posibilitaron aprendizajes
informales en relación con repertorios, géneros, formatos instrumentales y
participación musical en agrupación. Desde muy temprana edad, Abel
escuchó en casa músicas de la región andina colombiana que ponían sus
padres. Los géneros de estas músicas los practicó instrumentalmente en
agrupaciones durante la etapa escolar y la universitaria, con instrumentos
afines a los formatos tradicionales de estas músicas (guitarra y tiple).
Blas presenció desde temprana edad en su casa las sesiones de estudio y
ensayo de la agrupación musical a la cual pertenecía su padre, y también
asistió a sus presentaciones en público. La agrupación sirvió ocasionalmente
de escenario para su práctica con instrumentos de percusión a temprana
edad, a cuyo aprendizaje contribuyó un miembro de la orquesta de su padre.
Esta experiencia lo inició en modos de hacer musical en grupo, práctica que
luego ejercería plenamente a partir de sus 15 años tocando el bajo y la
batería. En este entorno, y durante los cuatro meses que estudió batería,
tuvo una aproximación a la lectura musical cuyo contenido eran los
patrones rítmicos que estudiaba en este instrumento. De su participación
musical en el entorno familiar valora su agilidad para imitar aspectos
musicales; y a su práctica inicial en la lectura, relaciona su habilidad para
imaginar en notación la música. (Tabla 1, relato 1)
Anais
326 Relatos
1 Blas: [Sobre sus habilidades auditivas] Una de ellas es la capacidad para reconocer auditivamente o
para imitar algo que uno escucha. (...) yo le agradezco mucho al proceso que tuve de haber podido
ver a mi papá en la música, de ver la orquesta ensayando en la casa, que genera esa habilidad o esa
aptitud (...) Las personas se desarrollan diferente. En mi caso, haber tenido ese proceso y ser hijo de
músico me ayudó mucho a tener esa habilidad y esa retroalimentación musical.
2 Daniel: Yo simplemente escuchaba. Si el riff era, digamos, tan ta tan ta ta ta tan tan tan, no era que
yo lo interpretara nota por nota, figura musical por figura musical, sino que para mí ya representaba
un grupo, una idea estructurada. El fragmento se me quedaba y después la tablatura me daba unas
coordenadas, unas notas, unos números, (…) y uno complementaba entre ese fragmento rítmico
(…) más las notas que daba la tablatura y lograba tener un resultado que me guiara.
3 Blas: [habilidades auditivas que requería para su práctica] Por un lado, una habilidad muy buena para
memorizar las canciones, a lo que hoy llamamos forma: cuántas veces se repetía un verso, cuántos
coros había, cuáles iban después del primer verso, del primer coro, todas esas cosas. Entonces, era una
habilidad para recordar muy bien y hacer una imagen mental de las canciones. También, la habilidad
para escuchar, en muy poco tiempo, y repetir y montar eso en dos o tres horas.
4 Daniel: Me acuerdo que yo lo podía escuchar [un fragmento] y ya estaba imaginando cómo sería el
movimiento en la mano izquierda de la guitarra y efectivamente era. Me dio la capacidad de retener
pequeños fragmentos e interpretarlos de una y ya después armar todo el bloque de una canción (…)
poder tener esa retentiva para captar una melodía y pasarla al instrumento, o a veces viéndola, la guía
visual es una buena compañera, me acuerdo que me ayudaba mucho. Creo que el estar tocando todo
el tiempo en los grupos y el responder rápidamente a una situación me daba herramientas. En eso yo
sobresalía. [En la escuela de música] había compañeros que se les dificultaba más entender frases o
poder desarrollar una segunda voz en la melodía y eso a mí me fluía mucho más.
5 Carlos: (…) hay que mencionar que nosotros también teníamos que ver música de cámara,
entonces eso era algo que contribuía mucho con el poder escuchar a los demás. No solamente tocar
lo que estaba escrito para lo que uno interpretaba, sino también conocer lo que los demás hacían.
(…) [en esta práctica] uno aprendió a darle importancia a escuchar a los demás y a escuchar lo que
uno hacía, para ya pensar a un nivel macro y no solamente individual.
6 E: Me imagino que a usted desde el principio le enseñaron los intervalos ¿verdad? /Daniel: Sí/ E:
Cuando le hacían dictados melódicos ¿usted pensaba los intervalos y así sacaba toda la melodía? ¿O lo
pensaba como si lo estuviera tocando en el piano o en la guitarra? /Daniel: Claro, en la guitarra. Yo
creo que todo el mundo tiene referencias ¿no? ¿Usted no tiene referencias de su instrumento? /E:
Claro./Daniel: Exacto, ya uno sabe cómo mueve sus dedos. Yo creo que hay una relación del cerebro
y los dedos para saber cómo es que va a sonar la cosa. Yo siempre me remito a la guitarra, siempre
que escucho algo, me lo imagino tocado en la guitarra. Al teclado muy poco. Raro ¿no? (…) la
guitarra siempre ha sido guía de imaginación de melodías. También de secuencias armónicas.
7 Daniel: Había enlaces armónicos que me costaban, se me hacía más sencillo la parte melódica. Me
acuerdo que yo los reconocía y los entendía en [la asignatura] Auditiva , pero al momento de
empezar a aplicarlos, a entenderlos bien, a desarrollarlos en mi diario vivir, fue al estar tocando. (…)
Al pasar por ese proceso de aprendizaje en la cabeza, con entrenamiento auditivo y armonía, los
acordes disminuidos que son puentes entre acordes me costaba trabajo entenderlos, pero después
empecé a practicarlos y ya fluían.
8 E: ¿Y en la parte de auditiva? /Abel: Me gustaría que fuera mucho más práctica. En algún
momento pensé que sería muy bueno dividir los grupos por instrumentos y que las clases [de
Formación Auditiva] no solamente fueran desde el teclado sino de muchos instrumentos, trabajar
lo que llamamos la guataca sobre acompañar un pasillo, un bambuco etc. /E: ¿A qué llamas guataca?
/Abel: A acompañar enseguida una melodía que no sabes o que la has escuchado pero nunca la has
acompañado, no tienes un referente físico como la partitura sino que es por grados y demás, y la
tienes que acompañar a oído.
CONCLUSIÓN
Las prácticas de aprendizaje musical instrumental, en actividades
individuales y en agrupaciones previo al ingreso a la carrera y durante esta,
aportaron significados relevantes para desarrollo de la audición estructural,
el conocimiento de aspectos expresivos, y estilísticos de las músicas y el
desarrollo de competencias comunicativas en la interpretación musical.
Los repertorios, escuchados en grabaciones, propuestos por agrupaciones
entre pares o enseñados en las escuelas, constituyeron oportunidades propicias
para el aprendizaje musical y la afinación de la percepción auditiva en
entornos familiares, académicos y entre pares. La posibilidad de participación
periférica en comunidades de práctica musical -observando, escuchando y
procurando aprender modelos sonoros de agrupaciones e intérpretes, sirvie-
ron de escenario a la afinación auditiva, a su vez vinculada al aprendizaje de
roles de ejecución instrumental. De igual forma lo fue el hecho de una pronta
inmersión en los retos de hacer música como miembros activos en agrupa-
ciones y de presentarse en público.
Los conocimientos no proposicionales (Johnson 1987) gestados durante la
práctica de aprendizaje instrumental — imitar una fuente sonora, sacar música
de oído en el instrumento, tocar de manera sincrónica con una grabación y
con agrupaciones en vivo, entre otros — sirvieron de base a conocimientos
proposicionales contemplados en la audición estructural. Las imitaciones inter
y transmodales (Cox, 2011), manifiestas con gestos, cuyas fuentes proceden de
la imaginación sonora y motriz vinculada a la ejecución instrumental, contri-
buyeron a sacar música de ‘oído’, al aprendizaje de instrumentos, y a asignar
significados a eventos sonoros en prácticas de audición estructural.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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Anais
Resumo
O que se entende por análise schenkeriana é um método analítico desenvolvido por Heinrich
Schenker em diversos textos, sintetizado na obra Der freie Satz, publicada postumamente em 1935
(em inglês foi publicada em 1979 com tradução de Ernest Oster). Essa metodologia, bastante
difundida desde então, apoia-se sobre a compreensão de Schenker sobre a estrutura tonal e as suas
formas de organização em múltiplos níveis, dentro de uma teoria que procura estabelecer os
princípios da coerência tonal. É importante ressaltar que apesar de muitos conceitos schenkerianos
se correlacionarem a aspectos psicológicos e filosóficos da música, o próprio autor não fez grandes
incursões a esses domínios. Entretanto, teorias surgidas posteriormente dentro do domínio da
cognição musical parecem oferecer justificativas interessantes para diversos conceitos analíticos
schenkerianos que são relacionados a processos de escuta estrutural. Destacamos o trabalho de
Leonard Meyer e, posteriormente, de David Huron, que investigam ambos a noção de expectativa
musical. Neste artigo, verificamos se existe confluência entre as formulações lacônicas de Schenker
e as teorias psicológicas de Meyer e Huron, especialmente com relação ao conceito schenkeriano
de estrutura fundamental (Ursatz).
Palavras-chave: análise schenkeriana, cognição musical, expectativa musical, significação musical
Abstract
What one understands by the term Schenkerian analysis is an analytical method developed by
Heinrich Schenker in several texts, synthetized in the work Der freie Satz, posthumously published
in 1935 (in English it was published in 1979 in a translation by Ernest Oster). This methodology,
very well know thus far, bears over Schenker’s comprehension on tonal structure and its forms of
organization in several levels, within a theory that seek to stablish the principles of tonal coherence.
It is of importance to stress that although several Schenkerian concepts correlate to psychological
and philosophical aspects of music, he himself did not make any incursion into these domains.
However, theories which have posteriorly arisen within the domain of music cognition seems to
furnish interesting justifications to several Schenkerian analytical concepts which are related to
processes of structural hearing. We emphasize the work of Leonard Meyer and, after, of David
Huron, that investigate both the notion of musical expectation. In this paper we verify whether
there is confluence between the laconic formulations of Schenker and the psychological theories of
Meyer and Huron or not, especially with relation to the Schenkerian concept of fundamental
structure (Ursatz).
Keywords: Schenkerian analysis, music cognition, musical expectation, musical meaning
INTRODUÇÃO
O que se entende por análise schenkeriana é um método analítico
desenvolvido por Heinrich Schenker em diversos textos, sintetizado na
obra Der freie Satz, publicada postumamente em 1935, meses após a morte
do autor (em inglês foi publicada em 1979 com tradução de Ernest Oster).
Essa publicação pode ser considerada a síntese do pensamento musical
desenvolvido pelo musicólogo ao longo de seus escritos, que de maneira
sucinta pode ser entendido como a busca por uma lógica gerativa do
sistema tonal. A maneira gráfica que Schenker encontra em Fünf Urlinie-
Tafeln (publicado originalmente em edição bilíngue em 1932) e em Der
Freie Satz¹ para representar as relações estruturais existentes em uma obra
musical tonal é, acreditamos, o que tornou seu nome tão difundido na área
da análise e da teoria musical, especialmente na musicologia em língua
inglesa. A síntese final da teoria schenkeriana da coerência tonal decorre
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Figura 1. Três modelos de estrutura fundamental postulados por Schenker (In: Forte & Gilbert,
1982, p. 133).
rigorosa do que uma cadência comum deve ser, com relação à condução de
voz. Destarte, toda a coerência tonal, do nível da frase ao nível da forma
musical como um todo, decorre da estrutura cadencial em sua forma mais 333
restrita, a estrutura mais básica e primordial na música tonal. A união da
linha fundamental sobre um baixo arpejado (sobre as fundamentais) é a
unidade indissociável (Schenker, 1979, p. 11) que confere coerência às obras
musicais. Nas palavras de Schenker (1979, p. 6, grifos do autor): “Coerência
musical pode ser alcançada apenas através da estrutura fundamental no nível
profundo e suas transformações nos níveis intermediário e superficial.”³
Semper idem sed non eodem modo⁴ (1979, p. 6) é a máxima que Schenker
emprega para elucidar que a generalidade do modelo de estrutura funda-
mental é a forma mais abstrata e imutável, portanto perene nas mais variadas
obras que formam o repertório tonal, assumindo um papel gerativo na
descrição schenkeriana da forma musical.
A estrutura fundamental está sempre criando, sempre presente
e ativa; este “presente contínuo” na visão do compositor
certamente não é mais admirável do que aquele que emana da
verdadeira experiência de um momento no tempo: nesse
espaço muito diminuto sentimos algo muito parecido com a
percepção do compositor, isto é, o encontro do passado, do
presente e do futuro. (Schenker, 1979, p. 18, aspas do autor)⁵
Isso que é sempre igual, que está sempre presente, que é a origem de todo
e qualquer desdobramento contrapontístico individual sintetiza, para o
autor, o fluxo temporal entre o passado, o presente e o futuro na escuta, algo
que o compositor vivencia no processo criativo. Se há algo permanente em
todas as obras, há individualidades que as diferenciam. Os três níveis de
descrição propostos pelo musicólogo – profundo, intermediário e superficial
– possibilitam se compreender e visualizar graficamente suas inter-relações.
A Figura 2 apresenta a análise do coral Ich bin’s, ich sollte büssen de J.B. Bach
publicada por Schenker (Schenker & Salzer, 1969, pp. 32-33). Nesta análise
podemos perceber que o autor descreve a peça musical em cinco níveis: o
nível profundo (Ursatz, acima no gráfico); três níveis intermediários (Schicht 1,
2 e 3); e o nível superficial (abaixo). Estruturalmente, a obra configura-se como
a variável mais simples do modelo de estrutura fundamental: 3–2–1, respec-
^ ^ ^
Figura 2. Análise gráfica do coral Ich bin's, ich sollte büssen de J.S. Bach publicada em Schenker &
Salzer (1969, pp. 32-33, reproduzida aqui a partir de Dunsby & Whittall, 2011, pp. 38-39)
válida, seria o mesmo que dizer que a escuta não é vetorial, mas matricial.
Schenker chega a falar em escuta de curto-alcance e de longo-alcance, sendo
a última aquela que confere coerência ao que ouvimos através da apreensão dos 335
prolongamentos de nível intermediário. Se a capacidade cognitiva se limitasse
meramente a um processo de curto alcance a escuta do que chamamos de
superfície musical “degenerar-se-ia ao caos” (1979, p. 18).
deixa pistas que nos induzem a considerar que tanto aspectos objetivos do
repertório que lhe interessava quanto subjetivos da experiência musical
dialogam com a sua concepção um tanto mística da natureza do fenômeno 337
musical. Ele nos diz que a estrutura fundamental é um fenômeno de
contraponto derivado da própria constituição da série harmônica, que é
vertical em sua constituição, mas horizontalizada em nossa elaboração
artística da natureza (1979, pp. 10-11). Como Schenker cria que a estrutura
fundamental fosse a unidade gerativa da música, apreendê-la é fundamental
para a composição, para o ensino e para a performance da música. A história
do desenvolvimento da polifonia é, para ele, a história da gradual capacidade
de ouvir a estrutura fundamental por aqueles capazes de fazê-lo. Ao longo
dessa história, se temos a capacidade de ouvir cada obra como uma sequência
que segue seu próprio destino¹³ – ou uma escuta teleológica nos termos de
Meyer – é porque a força atuante do Ursatz se manifesta em nosso domínio
psicológico. Percebe-se na concepção schenkeriana de unidade (ou indiví-
duo) musical que música é essencialmente ideia, e como tal possui ao
mesmo tempo poder gerativo e descritivo – análise e composição são duas
maneiras (complementares) de se relacionar à ideia musical.¹⁴
Outro ponto que nos parece digno de nota é a crítica de Meyer (1956,
p. 52) com relação à concepção schenkeriana de Ursatz, que se estabelece
em dois sentidos: (i) a consideração da estrutura fundamental como uma
estrutura estática; e (ii) sobre o apego ao passado na visão schenkeriana de
estrutura fundamental. Com relação ao primeiro sentido de sua crítica,
Meyer afirma:
A discussão precedente aponta os perigos de concentrar-se muita
atenção sobre a estrutura da obra musical como um único termo
sonoro interpretado como um todo estático. Os discípulos de
Schenker também não se atentaram suficientemente deste perigo.
Muita ênfase sobre o nível arquitetônico mais alto não apenas
tende a minimizar a importância de significados conforme surjam
em outros níveis estruturais como também levam a uma
interpretação estática do processo musical.¹⁵ (1956, p. 52)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho, considerando seus limites editoriais, certamente não esgota
o assunto, mas acreditamos que estabelece uma correlação entre a teoria
schenkeriana da coerência tonal com as formulações psico e musicológicas
de Leonard Meyer sobre as bases dos processos de significação e emoção
musicais: a noção de expectativa musical. David Huron, por sua vez, mais
recentemente, conseguiu descrever algumas regularidades estatísticas que
corroboram os modelos schenkerianos de estrutura fundamental, assim
como a noção de expectativa musical, inclusive oferendo bases neurológicas
a esta noção.¹⁹
A título de fechamento gostaríamos apenas de retomar a sugestão de
Schenker de que a natureza individual de uma obra é uma ideia, cujo todo é
irredutível a um ou outro nível estrutural de maneira isolada (1979, p. 3; cf.
nota 12). Em outros termos, pode-se dizer que a obra musical é um signo. De
forma que o estudo geral dos signos, isto é, a semiótica, pode oferecer grande
auxílio tanto à teoria schenkeriana da coerência tonal quanto aos modelos de
significação baseados na noção de expectativa musical. Inclusive, reforçamos,
o próprio entendimento dos processos inferenciais, com especial destaque
dado à inferência abdutiva, certamente colabora na descrição das relações
entre passado, presente e futuro na experiência musical significativa e afetiva.
Contudo, trazer as contribuições de C.S. Peirce a essa atualização cognitiva
da teoria schenkeriana será objeto de futuros trabalhos, decorrentes dos
desenvolvi-mentos do projeto de pesquisa em andamento.
Anais
Notas
1 Empregaremos como fonte bibliográfica as edições em língua inglesa. Com relação a essas
obras em particular, Five Graphic Music Analysis (SCHENKER & SALZER, 1969) e Free 339
Composition (SCHENKER, 1979).
2 Harmonielehre e Kontrapunkt também foram traduzidas para o inglês (SCHENKER, 1954;
SCHENKER, 1987).
3 Lê-se no original: “Musical coherence can be achieved only through the fundamental structure in the
background and its transformations in the middleground and foreground.” Todas as traduções são nossas.
4 Traduz-se do latim como: Sempre o mesmo, mas não do mesmo modo.
5 No original lê-se: “The fundamental structure is always creating, always present and active; this
“continual present” in the vision of the composer is certainly not a great wonder than that which issues
from the true experiencing of a moment of time: in this most brief space we feel something very like the
composer’s perception, that is, the meeting of past, present and future.”
6 A análise schenkeriana utiliza-se de uma simbologia que confere aos caracteres musicas significados
próprios, porém explicar tal simbologia está além dos alcances deste trabalho. Não obstante,
compreendê-la não é imprescindível para acompanhar o argumento que apresentamos aqui.
7 No original consta: “every linear progression is comparable to a point of the finger – it’s direction and
goal are clearly indicated to the ear.”
8 No original lê-se: “the sparseness of diatony in the background and the fullness of tonality in the
foreground are the one and the same.”
9 É interessante pensar-se na correlação não somente da escuta, mas também do solfejo através
de um entendimento analítico de uma obra, especificamente com relação a direções do
movimento melódico (cf. nesse sentido Bortz, 2013).
10 O termo teleológico, aplicado no sentido de uma escuta dirigida, é empregado por Meyer
(1967, p. 82 et seq.).
11 Lê-se no original: “the manner in which an abstract, non-referential succession of tones becomes
meaningful.”
12 Meyer (1956, p. 52) critica a concepção schenkeriana de estrutura fundamental por
considerá-la estática, em primeiro lugar, e por ser uma escuta que se apoia sobre o passado, em
segundo lugar. Consideraremos estas questões mais a frente.
13 Schenker (Cf. op. cit., p. 3) assume a visão hegeliana de que a origem carrega em si o destino
de cada indivíduo, o que se aplica ao domínio do social, do indivíduo ou das ideias. Para ele o
indivíduo musical se constitui pela união dos níveis estrutural, intermediário(s), superficial, que
correspondem à origem, ao desenvolvimento e ao presente.
14 Portanto, o objetivo da análise schenkeriana não é – e nunca foi – chegar-se à estrutura
fundamental de uma obra, mas compreender como a ideia musical se configura naquela obra,
como um todo, como um indivíduo (algo por um lado indivisível, por outro único, que
estabelece distinção perante os outros).
15 No original consta: “The preceding discussion points up the dangers of concentrating too much
attention upon the structure of the musical work as a single sound term interpreted as a stable whole. The
disciples of Schenker have not been sufficiently aware of this danger. Too much emphasis upon the highest
architectonic level not only tends to minimize the importance of meanings as they arise and evolve on other
architectonic levels but it also leads to a static interpretation of the musical process.”
16 No original lê-se: “The very conception of “chord prolongation,” so important to their view of musical
growth, is a semantic confession that the musical process is, in spite of their explicit statements to the contrary,
basically seen as static. If what occurs after a given structural harmony “prolongs” it, the implication is that
the music is heard more in relation to the past than in relation to what is still to come.
17 No original: “while the past of any sound term is of great importance, it is of importance mainly because
our expectations as to impeding events are based upon our experience and remembrance of the past.”
18 Não estamos afirmando que processos de significação ou emoção musicais sejam exclusiva e
unicamente ligados à escuta estrutural, mas sem dúvida consideramos que esse tipo de escuta é
importante em tais processos.
19 Cf. Oliveira et a. (2010) e Oliveira (2010) para uma breve descrição das bases neurológicas
dos processos de antecipação.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Referências
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Publications.
Schenker, H. (1954). Harmony. Chicago e Londres: The University of Chicago Press.
Anais
MAIO 31 | May 31
SESSÃO L10
Comunicações Orais | Oral Presentations
341
SALA 2, 10h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Claudia Zanini
10:00
Tomada de consciência e conhecimento social:
noções de compositor, intérprete e professor de música
Leandro Augusto dos Reis, Francismara Neves de Oliveira
10:30
A manifestação artística dos Slams de poesia: impactos na
constituição da identidade
Camila de Oliveira Pinto
11:00
Musicoterapia e inteligências múltiplas:
um olhar para o desenvolvimento da criança com
Síndrome de Down participante do Coro Terapêutico
Tonia Gonzaga Belotti, Claudia Zanini
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Problema/questão
O momento atual na educação brasileira, somado aos estudos sobre desenvolvimento e cognição
musical, sugerem, dentre outras, a discussão acerca dos processos de conhecimento social e da tomada
de consciência revelados no fazer e compreender música. Uma vez que estas condutas, sejam no
contexto pedagógico ou artístico, não estão relacionadas apenas com a música e seus conteúdos, mas,
também, com os processos e mecanismos cognitivos dos sujeitos nela envolvidos e com suas
compreensões do mundo social de forma mais ampla. Assim, problematizamos neste estudo as
seguintes questões: 1) como os licenciandos de Música significam os papéis de compositor, intéprete
e professor?; 2) quais os mecanismos cognitivos envolvidos nos processos de construção dessas noções
sociais?; 3) como se relacionam nas produções musicais o fazer e o compreender? Participam da
pesquisa 4 licenciandos em Música de uma universidade pública do estado do Paraná. Pautamos
nosso estudo na perspectiva piagetiana como suporte à compreensão da construção do conhecimento
social em seus diferentes níveis de desenvolvimento (Delval, 1989) e do processo da Tomada de
Consciência (Piaget, 1977).
Objetivos
Investigar os processos da construção do conhecimento social em licenciandos de Música, no que
concerne às noções de compositor, intérprete e professor, visando estabelecer relações entre o
processo de tomada de consciência e os níveis de explicação das noções sociais.
Método
De abordagem qualitativa, embasa-se no método clínico-crítico piagetiano (Delval, 2002). As
intervenções ocorrerão por meio de um protocolo procedimental que criamos com intuito de
provocar elementos desencadeadores de conflitos cognitivos no contexto das intervenções: prova
operatória, produções musicais e significações das noções sociais.
Resultados
Esta pesquisa encontra-se na fase de coleta de dados e esperamos que seus resultados apontem para
a importância da compreensão dos mecanismos cognitivos da tomada de consciência e do
conhecimento social em música, para dela declinarmos reflexões acerca do papel e formação do
professor de música.
Conclusões
Ampliar a compreensão e tomar consciência do mundo social exige, por parte dos sujeitos,
inúmeros questionamentos que o capacitam a passar de um nível de conhecimento elementar para
um patamar mais elaborado de compreensão. Sendo a universidade um espaço privilegiado para a
criação e a difusão do saber, a mesma exerce um papel fundamental na formação sociopolítica dos
sujeitos. O que exige, em contrapartida, dos músicos e professores de música em formação,
constante autocrítica e honesta reflexão, não somente para uma melhor compreensão da música e
suas pedagogias, mas para formar cidadãos conscientes e críticos, capazes de interagirem em um
mundo cada dia mais complexo.
Palavras-chave
Conhecimento social, tomada de consciência, epistemologia genética, ensino superior
Referências
Delval, J. (2002). Introdução à prática do método clínico: descobrindo o pensamento das crianças. Porto
Alegre: Artmed.
Delval, J. (1989). La representación infantil del mundo social. In: Turiel, E. & Enesco, I. &
Linaza, J. El mundo social em la mente del niño. Madrid: Alianza, p. 245-328.
Piaget, J. (1977). A tomada de consciência. Trad. Edson Braga de Souza. São Paulo:
Melhoramentos.
Anais
Resumo
O presente trabalho se constitui como uma pesquisa bibliográfica que embasa a pesquisa empírica
em andamento no Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia. A referida
pesquisa tem como tema os slams poéticos e a sua hipótese é a possibilidade de estes terem funções
sociais e psíquicas que promovam o desenvolvimento das consciências dos seus participantes. Seu
fundamento teórico é a teoria psicológica Sócio Histórica, que nos oferece suporte para o estudo da
psicologia da arte. Publicações científicas sobre o tema apresentaram discussões quanto aos efeitos
psicossociais relativos à identidade e autorepresentação possibilitadas poesia falada. Pretende-se neste
trabalho discutir os processos identitários nas manifestações artísticas dos slams poéticos e possibilitar
contrapontos entre as abordagens cognitiva e sócio-histórica no que se refere aos impactos da arte
musical na constituição da identidade. Os procedimentos metodológicos utilizados baseiam-se na
revisão bibliográfica crítica. Os estudos localizados resultaram na discussão quanto às práticas sociais
que embasam a construção do conhecimento nos campos de estudo indicados, que em uma das
abordagens privilegia o “estudo da mente” para explicações quanto aos efeitos estéticos e sua relação
com a produção da identidade. E na outra abordagem propõe a constituição dos processos
identitários a partir da relação do sujeito com a cultura, por meio das mediações que se apresentam
no contexto social e histórico e possibilitam a interiorização das relações sociais para constituição da
consciência e subjetividade.
Palavras-chave: slam poético, identidade, teoria psicológica sócio-histórica, arte musical.
Abstract
This work is constituted as bibliographical research that underlies the empirical research in progress
in the Master Course of the Graduate Program in Psychology. This research has as its subject poetic
slams and its hypothesis is the possibility that they have social and psychic functions that promote the
development of the consciences of their participants. Its theoretical foundation is the socio-historical
psychological theory, which supports us for the study of the psychology of art. Scientific publications
on the subject have discussed the psychosocial effects related to identity and self-representation made
possible by spoken poetry. This paper aims to discuss the identity processes in the artistic
manifestations of poetic slams and to provide counterpoints between cognitive and socio-historical
approaches regarding the impacts of musical art on the constitution of identity. The methodological
procedures used are based on the critical bibliographic review. Localized studies resulted in a
discussion about the social practices that underlie the construction of knowledge in the indicated
fields of study, whose approach favors the "study of the mind" for explanations as to the aesthetic
effects and their relation to the production of identity. In the other approach, it proposes the
constitution of identity processes based on the subject's relationship with culture, through the
mediations that are presented in the social and historical context and enable the internalization of social
relations to constitute consciousness and subjectivity.
Keywords: poetic slam, identity, sociohistorical psychological theory, musical art.
INTRODUÇÃO
O movimento slam poetry surge na década de 80 por meio de um
poeta e trabalhador da construção civil, Marc Kelly Smith, e um grupo de
amigos, que realizavam eventos de leitura de poesia em um clube de jazz
situado nas adjacências de um bairro operário da cidade de Chicago,
Estados Unidos (Somers-Willett, 2009).
Smith, em colaboração com outros artistas, organizava noites
de performances poéticas, numa tentativa de popularização
da poesia falada em contraponto aos fechados e assépticos
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MÉTODO
A pesquisa se constitui a partir de metodologia qualitativa, utilizando-
346
se de revisão bibliográfica crítica para discussão dos dados coletados.
A pesquisa bibliográfica se deu entre os meses de setembro e outubro do
ano de dois mil e dezoito e não se utilizou marco temporal para delimitação.
Foram localizados trabalhos produzidos entre 1994 e 2017, utilizando como
indexadores os termos catarse, psicologia, psicologia da arte, arte, slam
poetry, slam e poesia, realizando-se cruzamento dos descritores para buscas
nas seguintes bases de dados: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações – BDTD; Periódicos CAPES; Index Psi Periódicos; Pepsic
Periódicos Eletrônicos em Psicologia e Scielo.
RESULTADOS
No processo de pesquisa constatou-se irrisória produção científica
atinentes à ciência psicológica no que diz respeito à manifestação artística
dos slams de poesia, constatando-se maior expressão de trabalhos que
abordam a relação entre arte e psicologia voltadas ao teatro, música, dança,
cultura hip-hop, literatura e cinema. Conforme os indexadores apontados,
foi possível a localização de trinta e nove trabalhos relacionados à arte e seus
impactos na constituição da subjetividade por meio de distintas abordagens
teórico-metodológicas.
Diante das produções analisadas, duas apresentaram resultados de
pesquisas quanto a processos de produção de subjetividade e constituição da
identidade possibilitados pela expressão poética, por meio das explicações
teóricas da psicologia cognitiva e da teoria psicológica sócio-histórica.
Kastrup (2005) discute o conceito de devir-consciente, proposto por
Depraz, Varela & Vermersch (2003), por meio de uma experiência de rodas
de poesia no contexto de um trabalho comunitário com mulheres. Para os
autores o devir-consciente é um movimento que transforma uma experiência
pré-subjetiva, opaca e irrefletida numa experiência clara e intuitiva, portanto
mais definida, evidenciando certa dinâmica da consciência, diante das
variações de experiência do indivíduo, produzindo clareza e distinção de fatos
anteriormente não conscientes. (Depraz et al., 2003).
Os pressupostos teóricos se dão a partir das contribuições de Maturana &
Varela (1995), que propõe estudar a consciência rompendo com o modelo
da representação, buscando as explicações de sua constituição a partir do
estudo da dinâmica da atividade cerebral sob determinadas vivências.
Na experiência em tela a autora propõe que a roda de poesia revela
uma dimensão coletiva da cognição, por meio do acesso ao plano pré-
subjetivo da cognição, potencializando a situação grupal através de uma
dinâmica de ressonâncias, na qual as subjetividades que vibram num
mesmo tom entram em sintonia e o grupo exerce função de “segunda
pessoa” no discurso. O alcance do estado de devir-consciente por meio
das rodas de poesia é tratado como uma prática de si, uma prática de
transformação de si e de produção de subjetividade. (Kastrup, 2005)
Observa-se na pesquisa a perspectiva cognitivista na compreensão de
produção de subjetividade a partir da investigação das formas de proces-
samento cerebral e manifestações do aparato biológico na execução de
Anais
348 DISCUSSÃO
Sob a compreensão de que o campo de estudos da cognição musical
contempla análises quanto à percepção e produção do ritmo e do metro
musical, bem como os elementos psíquicos atinetes à criação e recepção
musical, propõe-se uma aproximação entre os elementos estéticos presentes
na performance poética e na música para que se possa articular as proposições
da cognição musical e as implicações desta para a construção da identidade.
Na obra “Musical Identities” os autores Hargreaves, Miell & Macdonald
(2002) concebem que “a música tem sido usada como um meio pelo qual nós
formulamos e expressamos nossas identidades individuais.” (Hargreaves et al.,
2002, p. 01)
Partindo de estudos sobre aprendizagem musical na infância apresentam
perspectivas teóricas dos estudos em sociologia de Mead (1934) e da
psicologia social norte-americana em Bruner (1990) e Gergen’s (1994) para
a constatação de que o desenvolvimento da identidade e a elaboração de
auto-conceitos nas crianças se dão na passagem da idade infantil para a
adolescência a partir da comparação entre si próprio e o outro, comporta-
mento que permanece no desenvolvimento da identidade durante a vida
adulta. (Hargreaves et al., 2002)
Discorrem sobre o conceito de “música na identidade”, que está rela-
cionado aos processos com que a música é utilizada como meio ou recurso
para desenvolvimento da identidade pessoal, considerando que a música
preenche funções cognitivas, emocionais e sociais ao influenciar compor-
tamentos. (Hargreaves et al., 2002)
A música pode servir como referencial para o indivíduo
posicionar-se dentro da cultura tornando explícita sua origem
étnica, o seu gênero sexual e a sua classe. É utilizada para regular
humores e comportamentos cotidianos e para se apresentar às
pessoas da maneira como preferida (Hargreaves et al., 2002, p.1)
CONCLUSÃO
No campo de estudos da psicologia cognitiva constatam-se pesquisas
que têm como problema de investigação as formas de operação executadas
pelo cérebro durante a criação, performance ou apreciação musical,
localizando no “estudo da mente” as explicações dos efeitos estéticos na
relação com a produção de subjetividade. Tais estudos potencializam as
determinações biológicas em detrimento das mediações propiciadas pela
cultura no processo de constituição da identidade.
Os referenciais da teoria psicológica Sócio-Histórica propõe a consti-
tuição dos processos identitários a partir da relação do sujeito com a cultura,
a partir das mediações que se apresentam no contexto social e histórico e
possibilitam a interiorização das relações sociais para constituição da cons-
ciência e subjetividade. Neste processo, a práxis artística também se encontra
mediada por determinados contextos. Para Vigotski a arte é mediada pela
realidade histórica e social circundante, exprime a sociedade que lhe dá
origem e se coloca como mediadora entre indivíduo e gênero humano.
(Vigotski, 1999)
Isto significa dizer que, por meio da arte o sujeito vivencia experiências
alheias, que não seriam possíveis em sua vida particular e se apropria de
elementos culturais para além de sua própria experiência. Tais apropriações
por meio da arte são possíveis pela vivência de emoções antagônicas que
culminam na catarse. Neste processo as emoções são transformadas em
sentimento e reorganizadas, tornando-se socialmente úteis, externalizadas
pelo sujeito como avaliações morais ou afetivas. A transformação do
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Referências
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Vigotski, L. S. (1999) Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes.
Anais
Problema
A Sı́ndrome de Down é uma anomalia genética que incide em uma parcela significativa da
população. A criança com Sı́ndrome de Down (CSD) apresenta várias limitações e dificuldades,
sendo que estas se manifestam no desenvolvimento motor, no cognitivo e na comunicação, em
diferentes nı́veis, principalmente no tocante à fala. Ajudar a CSD a conquistar o seu espaço na
sociedade, pode estimulá-la na satisfação de, por alguma forma, estar sendo útil, ampliando ainda
mais a sua coexistência. As crianças com essa sı́ndrome podem apresentar melhor desempenho
quando aqueles que as cercam reconhecem que elas têm as suas limitações, mas também seus
potenciais e habilidades. O musicoterapeuta, utilizando a música de diversas formas, pode
estimular as funções cognitivas do ser humano, observando suas caracterı́sticas, necessidades e
potencialidades. A partir desse contexto, foram feitos os seguintes questionamentos: o Coro
Terapêutico, conduzido por um musicoterapeuta, poderia auxiliar no desenvolvimento das
inteligências múltiplas? Quais seriam as inteligências mais trabalhadas no decorrer de um processo
musicoterapêutico?
Objetivos
Compreender se a Musicoterapia, por meio do Coro Terapêutico (Zanini, 2002), poderia
contribuir para o desenvolvimento de crianças com Sı́ndrome de Down, ao valorizar toda e
qualquer habilidade apresentada por cada criança e ao tomar como direcionamento a Teoria das
Inteligências Múltiplas de Gardner (2001).
Método
A pesquisa, realizada em um Programa de Pós-Graduação em Música (Mestrado), teve caráter
qualitativo e a atuação da pesquisadora musicoterapeuta foi pautada na Fenomenologia
Existencial. A coleta de dados foi realizada através da atuação da pesquisadora principal na
instituição designada como Associação Down de Goiás (ASDOWN), sendo que os atendimentos
foram realizados, inicialmente, com um grupo de seis participantes, finalizando com quatro
crianças, em um perı́odo de quatro meses, com frequência semanal e duração de cinquenta
minutos. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados: fichas musicoterapêuticas,
gravações audiovisuais dos atendimentos, relatórios descritivos, observações sobre
comportamentos dos participantes, entrevista com os responsáveis pelas CSD e com profissionais
que trabalhavam diretamente com algumas crianças, seja no meio terapêutico ou no educacional.
As análises de todos os dados qualitativos foram realizadas com o respaldo da revisão teórica, que
englobou a Musicoterapia, o Coro Terapêutico e as Inteligências Múltiplas.
Resultados
Constatou-se que, ao final do processo musicoterapêutico, houve a ampliação das habilidades
especı́ficas inseridas nas Inteligências Múltiplas, principalmente nas seguintes inteligências:
cinestésico-corporal, linguı́stica, musical, inter e intrapessoal.
Conclusões
O Coro Terapêutico, por meio das experiências re-criativas, das experiências receptivas e de
atividades complementares, pode estimular o desenvolvimento da Criança com Sı́ndrome de
Down, proporcionando evoluções no processo de aquisições cognitivas.
Palavras-chave
Musicoterapia, Coro Terapêutico, Sı́ndrome de Down, Inteligências Múltiplas.
Referências
Gardner, H. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.
Zanini, C.R.O. Coro Terapêutico: um olhar do musicoterapeuta para o idoso no novo milênio.
(Dissertação de Mestrado em Música). Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2002.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MAIO 31 | May 31
352
SESSÃO L11
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 3, 10h
Coordenadora da sessão | Session Chair: William Teixeira
10:00
A música e a consciência na perspectiva da neurociência
cognitiva
Rejane Pacheco Carvalho
10:30
Avaliação em diferentes contextos da performance musical
Sonia Ray
11:00
Preparação para a performance do cantor: movimento e
gestualidade
Daniele Briguente, Sonia Ray
Anais
Resumo
A tomada da consciência em situações de vivências musicais envolve o mecanismo de plasticidade
cerebral a partir das reações neurais produzidas pela música. A música é derivada de sinais emocionais
e nesse contexto, a emoção atua como um grande indutor dos processamentos de discriminação
inconscientes dos estados afetivos utilizando imagens cerebrais mentais dos selfs que contribuem
subjetivamente para a formação de uma consciência social e individual. A formação da consciência por
sua vez, otimiza as respostas às condições do ambiente e aos tipos de processamento neurais dos selfs de
imagens cognitivas que induzem o raciocínio em nível não-consciente e são representadas no cérebro
em forma de mapas e de estruturas mapeadoras neurais. Nessa perspectiva, são apresentados os pontos
de vista de diferentes autores sobre o impacto da música na cognição humana e, em particular, na
formação da consciência em situações de vivências musicais que envolvem o mecanismo de
plasticidade cerebral a partir dos fatores de reação neurais à música. De caráter bibliográfico, a revisão
apresenta contribuições publicadas em artigos de periódicos e livros. Essas contribuições científicas
demonstraram que a música está intimamente interligada aos aspectos que transmitem informações
emocionais, contribuem para a modificação estrutural e relacional das cognições neurais e amplificam
um incosciente/consciente global e subjetivo. Após a análise dos autores, pode-se observar que a
emoção na música apresenta características que são comuns na cognição humana, sendo um traço
universal que desempenha papel crucial no desenvolvimento ontogenético humano, tanto na vida
cotidiana como em diferentes fases da vida da pessoa.
Palavras-chave: Neurociência cognitiva, consciência, processamento do self, subjetividade,
música.
Abstract
The taking of consciousness in situations of musical experiences involves the mechanism of cerebral
plasticity from the neural reactions produced by music. Music is derived from emotional signals and
in this context, emotion acts as a great inducer of the unconscious discrimination processes of
affective states using mental brain images of the selfs that contribute subjectively to the formation of
a social and individual consciousness. The formation of consciousness in turn optimizes the
responses to the conditions of the environment and the types of neural processing of the selfs of
cognitive images that induce reasoning at the nonconscious level and are represented in the brain in
the form of maps and neural mapping structures. In this perspective, the views of different authors
are presented on the impact of music on human cognition and, in particular, on the formation of
consciousness in situations of musical experiences that involve the mechanism of brain plasticity
from the neural reaction factors to music. Of bibliographical character, the review presents
contributions published in articles of periodicals and books. These scientific contributions have
demonstrated that music is closely intertwined with aspects that convey emotional information,
contribute to the structural and relational modification of neural cognitions, and amplify an
inconscious / global and subjective awareness. After the analysis of the authors, it can be observed
that the emotion in music presents characteristics that are common in human cognition, being a
universal trait that plays a crucial role in the human ontogenetic development, both in daily life and
in different phases of a person's life.
Keywords: Cognitive neuroscience, consciousness; self processing, subjectivity, music.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é fruto do levantamento bibliográfico realizado no
grupo de estudo em neurociência da música, chamado Acorde Ciência para
Música, da Universidade de Brasília “UnB”. O trabalho aqui apresentado é de
caráter bibliográfico e realizou uma apresentação crítica das produções
científicas sobre os tipos de processamento neural de imagens cognitivas do
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
al. (2008), esse refere-se a um processo pelo qual uma emoção é evocada por
uma música porque um poderoso ritmo externo na música influencia algum
358 ritmo corporal interno do ouvinte. A exemplo da frequência cardíaca na qual
observaram que o reforço do pulso marcado gerava nos ouvintes uma
sincronia da sua frequência cardíaca ou da sua respiração. Outro exemplo de
acordo com Levitin (2010), é a música de marcha e certos tipos de música de
filmes que podem aumentar a excitação, evocar sentimentos e criar uma
sensação de “ligação social”.
Além dos aspectos emocionais induzidos ou modificados pela música, outra
característica importante é a subjetividade. Gonzalez Rey (2014), constata que
a subjetividade é uma característica específica do ser humano dentro de
instâncias individuais e sociais para a percepção da realidade. Na música a
subjetividade é multimodal e desperta no ser humano a consciência de capaci-
dades antes inimagináveis. No lugar em que a música atua de forma a comple-
mentar à linguagem como uma expressão semântica, essa torna-se uma
expressão comunicativa profusa que pode precipitar conflitos em atitudes ou
ações, abranger a intenção (propósitos pessoais) e a interação (propósitos
coletivos) e contribuir assim para maior eficácia na construção de uma cons-
ciência social. Por isso, não pode ser reduzida à discursos e à linguagem, visto
que envolve amplamente uma série de conexões neurais.
A música colabora com a introspecção humana como acelerador de
memórias num caminho que nos dá visão direta daquilo que desejamos
explicar e que vem a ser uma tradução na mente de um processo que os
cérebros complexos vêm praticando há muito tempo na evolução, tal como
o ouvir internamente ou cantar uma música aleatoriamente, assim como o
falar consigo mesmo é também, uma linguagem na atividade neural.
CONCLUSÃO
Esse trabalho apresentou uma revisão bibliográfica crítica sobre os processos
de tomada de consciência em situações de vivências musicais. Nessa perspectiva,
foram apresentadas a perspectiva de diferentes autores sobre o impacto da
música na cognição humana e, em particular, na formação da consciência. A
abordagem de modelamento computacional de Pearce e Rohrmeier (2012),
sugeriu que a música é uma característica humana fundamental, dado os seus
papéis na evolução e no desenvolvimento humanos. Damasio (2011), propôs
que a música, assim como outras artes (e.g. pintura, poesia), é influenciada pelo
inconsciente genético que também influenciou a estruturação inicial do espaço
social, incluindo as convenções e regras sociais. Doidge (2012), indicou que
música possibilita o uso mais eficiente dos neurônios, o que ocorre sempre que
nos tornamos proficientes em uma habilidade decorrente do treino musical.
Snowdon e colegas (2015), compreendeu que a música ativa a discriminação
inconsciente do estado afetivo usando imagens cerebrais. Damasio (2011), que
esse processamento está intimamente interligado aos aspectos em que a música
transmite informações emocionais, contribuem para a modificação estrutural e
relacional das cognições neurais e amplificam um inconsciente/consciente
global e subjetivo.
As contribuições dos autores demonstraram que a música está intimamente
interligada aos aspectos que transmitem informações emocionais, contribuem
para a modificação estrutural e relacional das cognições neurais e amplificam
Anais
Referências
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
1,2
Instituto de Artes, UNESP, Brasil
2
Escola de Música e Artes Cênicas, UFG, Brasil
1
cantando.voz@gmail.com, 2soniaraybrasil@gmail.com
Resumo
Este trabalho traça uma reflexão sobre o processo de preparação da performance do cantor lírico,
particularmente no que se refere as escolhas sobre gestualidade e movimentos executados na
performance. Partimos da premissa de que os elementos que compõem a expressão corporal devem ser
resultado de escolhas conscientes durante a preparação da performance, muitas vezes mediado pelo
professor de canto. O objetivo é defender a importância do corpo do cantor como potencial expressivo a
ser explorado no processo de preparação para a performance. A metodologia foi constituída em revisão
bibliográfica na qual foram discutidos trabalhos que destacam o potencial expressivo do corpo do cantor,
como Ostwald (2005) e Zeller (2013), bem como ideias presentes no escrito sobre psicologia da
performance de Clarke (2002). Para fundamentar a discussão foram considerados estudos de Davidson
(1999 e 2002) que trazem evidências advindas de estudos empíricos, destacando a contribuição da
expressão corporal na comunicação da mensagem musical, durante a performance. O artigo discute,
inicialmente o corpo e a movimentação do intérprete, destacando as habilidades cognitivas envolvidas na
preparação e no momento da performance musical. Em seguida, concentra-se na performance do cantor,
particularmente no corpo como fonte de recursos expressivos. Como conclusão temos que a escolha
consciente dos gestos e a movimentação utilizada pelo cantor, melhora a comunicação da mensagem
contida nas estruturas musical e verbal das obras apresentadas. Além disso, oferece fundamentação teórica
para o ensino do canto.
Palavras-chave: psicologia da performance musical, preparação para performance musical,
performance vocal, expressão corporal
Abstract
This study reflects on classical singer performance elaboration, particularly about the choices related
to gesture and movements executed during the performance. We have a premise that elements of
the bodily expression should result from aware choices during performance elaboration; this process
is frequently led by a singing teacher. The objective is to defend the importance of the singer body
as expressive potential to be explored in the performance elaboration process. The methodology was
established by literature search related to works that emphasize the expressive potential of the singer
body, such as Ostwald (2005) e Zeller (2013), as well as ideas from study about performance
psychology (Clarke, 2002). For base the discussion were taken studies of Davidson (1999 e 2002)
that bring evidences from empirical researches, emphasizing the contribution by bodily expression
to musical message communication, during the performance. The article discusses firstly the
interpreter body and movement, emphasizing the cognitive skills presents in the elaboration and
during the musical performance. Subsequently focus on the singer performance, particularly on the
body as expressiveness source. We concluded that a aware choice of singer gesture and movement
improve the communication of the musical and verbal message from performed pieces. Additionally,
this approach gives theoretical basis for the singing classes.
Keywords: musical performance psychology, musical performance elaboration, vocal
performance, bodily expression.
INTRODUÇÃO
Os movimentos executados durante a performance musical, têm sido
objeto de estudo nos últimos anos. Sabe-se que a realização da performance
integra diferentes habilidades geradas por complexos processos cognitivos.
Na primeira parte deste escrito, apresentamos uma breve discussão que
envolve temas como: movimentação na performance musical, cognição
musical, expressividade, intenções interpretativas e preparação para a
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
quando você tem absolutamente que focar na sua técnica de canto. Com
prática você pode preparar hábitos mimetizados para tais passagens”
366 (p.14). O autor também considera que as abordagens técnica e intuitiva
apresentadas, podem ser mescladas. De modo que o cantor pode penetrar
no contexto da personagem e ao mesmo tempo, fazer uso de gestos
miméticos de modo técnico (Ostwald, 2005. p.14).
Existe um processo mental que ocorre quando nos movimentamos na
vida real. As ações que ocorrem a nossa volta, são percebidas por nossos
sentidos e essa informação é transmitida ao cérebro que responde pelo
sistema nervoso; isso nos leva a ações físicas voluntárias. Para convencer a
plateia, esse processo deve ser reproduzido durante a performance e
antecipado no processo de sua preparação (Ostwald, 2005. p.15). Nos
ensaios, são elaborados planos físicos e mentais que orientam a peça a ser
apresentada. No entanto, esse plano deve ter alguma flexibilidade, uma
vez que novas decisões podem ocorrer durante a performance (Davidson,
2001, p. 236).
Apresentamos neste tópico, alguns recursos para a preparação da
performance do cantor, considerando como uma de suas características, a
inter-relação das estruturas musical e verbal. Cada uma dessas estruturas
geram demandas físicas e mentais à realização da performance e devem
estar integradas para que as ideias registradas na partitura, forneçam ao
público, elementos visíveis e audíveis, capazes de transmitir a mensagem
da obra.
CONCLUSÃO
Pela discussão apresentada no primeiro tópico deste artigo, ficaram
evidentes os processos cognitivos complexos que devem ocorrem para que
a performance musical se realize. Os pensamentos e intenções que antece-
dem os movimentos, devem ser antecipados no processo de preparação para
a performance. Com base nos autores apresentados, vimos que o momento
da performance apresenta uma dose de imprevisibilidade devido à presença
da plateia e demais variáveis existentes, fator que exige do intérprete a
tomada decisões também durante a performance musical.
Concluímos que a performance do cantor pode ser elaborada por meio
de recursos cognitivos e físicos de modo consciente, durante sua prepa-
0ração. Tal abordagem pode ser aliada à imaginação e intuição para se
alcançar uma performance convincente na qual canto e atuação estão
integrados.
As referências aqui apresentadas, oferecem approach para o processo de
formação do cantor, conduzido pelo professor de canto. Assim, tais
subsídios podem ser utilizados como estratégias pedagógicas para obter
resultados satisfatórios com cantores em formação, inclusive iniciantes.
Por fim, ficou evidente que o trabalho desenvolvido por cantores e
professores de canto deve objetivar a percepção do público, uma vez que este
atribuirá sentido e significado aos elementos aurais e visuais apresentados
durante a performance do cantor lírico.
Anais
Referências 367
Clarke, E. (2002). Understanding the psychology of performance. In J. Rink (Ed.),
Musical performance: a guide to understanding (pp. 59-72). New York, Cambridge
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226). San Diego, CA: Plural Publishing.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MAIO 31 | May 31
368
SESSÃO C3
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 5, 10h
Coordenador da sessão | Session Chair: Rael Toffolo
10:00
Estudo da literatura metacognitiva musical na demência
semântica
Cybelle Veiga Loureiro
10:10
Tecnologias digitais e suas conexões com o aprendizado e a
cognição musical de adultos no canto coral
Sandra Regina Cielavin, Adriana do Nascimento Araújo Mendes
10:20
Educação musical inclusiva: relato de experiência em uma turma
de ensino coletivo de violino em Belém-Pará
Aline da Silva Pedrosa, Jessica Caroline Pantoja Peniche, Dione Colares de
Souza
10:30
Categorização e esquemas de imagem em música:
críticas às formas de se realizar a pesquisa experimental
Nilo Rafael Baptista de Mello
10:40
Musicoterapia no tratamento de bebês prematuros:
revisão bibliográfica
Rhainara Lima Celestino Ferreira
10:50
Tecnologias na educação musical: aplicativos e softwares como
ferramenta de auxílio na aprendizagem musical
Leonardo Gomes Martins
11:00
Tecnologia musical e Transtorno do Espectro Autista:
possibilidades e potencialidades na aula de música
Camila Fernandes Figueiredo, Valéria Lüders, Marlon Vidal da Silva
11:10
Desenvolvimento da criatividade musical: propostas didáticas e
concepções de alunos de licenciatura em música
Aline Paula dos Santos, Rosane Cardoso de Araújo
Anais
Resumo
Estudos na demência semântica (DS) tem demostrando diferentes aspectos dos processos que
refletem os déficits e também as habilidades cognitivas dessa população. Pesquisas nessa área tem nos
motivado a buscar por um aprofundamento no estudo da literatura e investigar também os vários
aspectos cognitivos musicais preservados em pessoas com DS (Loureiro, 2018). O conceito de
metacognição compreende uma diversidade de processos envolvendo autoconhecimento,
automonitoramento e autorregulação que contribuem para o nosso comportamento adaptativo em
ambientes complexos e mutáveis (Eslinger, Dennis, Moore, Antani, Hauck, & Grossman, 2005).
Esses processos são armazenados na memória de longo prazo e podem ser recuperados quando
alguém executa uma tarefa (Flavell, 1976; Lai, 2011). A DS é uma doença neurodegenerativa,
caracterizada por perda progressiva de memória semântica, tanto nos aspectos verbais como nos não
verbais prejudicando vários aspectos de seu julgamento interior da realidade. Objetivamos realizar
uma revisão narrativa buscando identificar nos principais portais eletrônicos o "estado da arte" da
literatura em metacognição musical e metagognição na demência semântica e buscar por pesquisas
especificas em metacognição musical na demência semântica. Acessamos as principais bases de
dados eletrônicas Medline, Cochrane, Lilacs, SciElo e Google Acadêmico) e identificamos um
numero escasso de estudos em metacognição na DS e metacognição musical. Nenhum estudo em
metacognição musical na DS foi identificado.
Palavras-chave: metacognição, demência semântica, semântica musical
Abstract
Studies on semantic dementia (DS) have demonstrated different aspects of the processes that
reflect the deficits and also the cognitive abilities of this population. Research in this area has
motivated us to seek a more in-depth study of the literature and also to investigate the various
musical cognitive aspects preserved in people with DS (Loureiro, 2018). The concept of
metacognition comprises a variety of processes involving self-awareness, self-monitoring, and
self-regulation that contribute to our adaptive behavior in complex and changing environments
(Eslinger, Dennis, Moore, Antani, Hauck, & Grossman, 2005). These processes are stored in long-
term memory and can be retrieved when someone performs a task (Flavell, 1976; Lai, 2011). DS
is a neurodegenerative disease characterized by progressive loss of semantic memory, both in
verbal and nonverbal aspects, impairing various aspects of sick’s inner judgment of reality. We
aim to perform a narrative review seeking to identify in the main electronic portals the "state of
the art" of the literature on musical metacognition and metacognition in semantic dementia and
to search for specific research on musical metacognition in semantic dementia. We accessed the
primary electronic databases Medline, Cochrane, Lilacs, SciElo, and Google Scholar) and
identified a limited number of studies on DS metacognition and musical metacognition. No
studies on musical metacognition in DS have been identified.
Keywords: metacognition, semantic dementia, musical semantics
INTRODUÇÃO
Conceitos
O termo demência semântica (DS) foi empregado pela primeira vez, em 1989,
por Snowden e colegas no estudo Semantic dementia: A form of circumscribed
cerebral atrophy. Categorizaram a DS como atrofia cerebral primária, onde há
quebra progressiva da linguagem e da perceção visual, atribuída à perda de
informação semântica. A DS é uma das três síndromes clínicas dentro do
espectro das degenerações lobares frontotemporais e representa a terceira
causa mais comum de demência cortical (Caixeta & Mansur, 2005). Na DS
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
OBJETIVOS
Objetivamos realizar uma revisão narrativa buscando identificar nos
principais portais eletrônicos o "estado da arte" da literatura em meta-
cognição musical e metagognição na demência semântica.
Buscar por pesquisas especificas em metacognição musical na demên-
cia semântica.
METODOLOGIA
Através do uso das principais bases de dados eletrônicas (Medline,
Cochrane, Lilacs, SciElo e Google Acadêmico) identificamos estudos especí-
ficos relacionados com modelos metacognitivos e demências semântica,
estudos em metacognição musical e estudos específicos em metacogniçao
musical na demência semântica.
METACOGNIÇÃO MUSICAL
372
Estudos específicos em metacognição musical estão dirigidos para a
performance e para tarefas educacionais no ensino musical.
Colombo e Antonietti (2017) no estudo The Role of Metacognitive
Strategies in Learning Music: A Multiple Case Study especifica que o papel
positivo da metacognição na aprendizagem e na prática musical vem sendo
bem estudada e avaliada, mas o papel das “habilidades metacognitivas dos
músicos em tal contexto ainda não está claro”.
O livro de Benton (2014) Thinking about Thinking -Metacognition for Music
Learning é um livro relativamente novo na sua perpectiva de ensino voltado
para professores de música. O livro estabelece tambem diretrizes para promo-
ver o uso de habilidades metacognitivas entre estudantes de música. Além
disso apresenta uma visão abrangente da pesquisa sobre o tema.
A pesquisa de Bathgate e colegas (2012), Thoughts on Thinking: Engaging
Novice Music Students in Metacognition, focaliza aspectos relevantes sobre a
capacidade de armazenamento de conhecimento na execução em uma única
peça musical por um musico instrumentista. Enfatiza a quantidade de
complexas habilidades que surpreendem não somente à ouvintes mas também
aos cientistas quando se deparam com um musico expertise tocando. Especi-
ficam que na música, a “natureza reflexiva da prática metacognitiva permite
que cada intérprete compreenda explicitamente as demandas de tarefa de uma
peça musical, identifique passagens potencialmente difíceis, selecione estraté-
gias cognitivas e físicas apropriadas que funcionem melhor para elas e decida
como estruturar efetivamente seu tempo de prática em relação a esses fatores”.
Porem sinalizam que esse grau de reflexão em um músico iniciante é inexistente
na prática e realizaram um estudo randomizado com trinta e cinco adoles-
centes estudantes e seis professores foram aleatoriamente designados para
roferecerem um enfoque metacognitivo nas condições existentes de ensino
prático. Os alunos que receberam ensino metacognitivo alcançaram classifi-
cações de desempenho mais altas quando comparados com os alunos que
receberam instrução de controle. Embora o tempo de prática não variasse
entre os grupos os resultados sugerem que ter os alunos “explicitamente verba-
lizando e refletindo sobre seu processo de aprendizagem produziu uma prática
mais eficiente e maior desempenho final”.
O estudo de Halan (2001) The Development of Metacognition in Musicians:
Implication for Education, é um dos primeiros estudos de revisão da literatura
direcionado para à prática necessária para uma boa performance instrumental
ou vocal. Especifica que desde o início da introdução de novos modelos de
ensino metacognitivos voltados para o aprender como aprender (learn to learn) a
metodologia da maneira como o indivíduo estuda e também ensina o aluno
como estudar mudou completamente. Seu estudo de inclui diversos outros
voltados para aspectos da aprendizagem musical no auto conhecimento, dire-
cionado para “o que se sabe do que se sabe” (metacognitive knowledge and
experience) e ainda vários outros autores que sugerem que utilizando-se desse
modelo de ensino, vários outros aspectos podem ser melhorados como
habilidades de memória de curto e longo prazo e habilidades de auto-
monitoramento.
Anais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
373
Foram identificados um numero escasso de estudos em metacognição
na DS e metacognição musical, mas se observamos que se trata de uma
área de estudo em grande desenvolvimento e especificidade esses traba-
lhos são os pioneiros de muitos.
Nenhum estudo específico correlacionando metacognição musical à
DS foi identificado, porém pesquisas em DS e música vem sendo
realizadas desde 2011 (Weinstein, 2011). Weinstein evidencia aparente
preservação do conhecimento musical na DS em músicos, apesar de uma
pane modal (panmodal) e desagregação do conhecimento sensorial e con-
ceitual. Afirma que é provável que através da música possamos ter pistas
sobre a natureza dos déficits que acompanham a DS.
Grossman e colegas (2011), relatam a existência de um único estudo de
caso de DS demonstrando habilidade musical preservada em um indivíduo
musicalmente sem treinamento musical. Para esses estudiosos a música
ajuda a reconhecer a distribuição neuroanatomica da doença. Para Gross-
man, no domínio da música, além da memória musical preservada, há um
debate sobre a essência do significado musical que derivam de informações
baseadas no mundo da pessoa com DS.
É constatável através desses pesquisas a possibilidades de se estabelecer
estudos futuros correlacionado metacognição, música e demência
semântica, uma vez que é sabido que habilidades musicais são preservadas
na DS (Loureiro, 2018).
Referências
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Novice Music Students in Metacognition. Applied Cognitive Psychology, Appl.
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa concluída que teve por objetivo investigar
tecnologias digitais aplicadas à prática coral de adultos. Na sociedade atual emerge o conceito de
hipertexto, que é um conjunto de informações apresentadas em forma de textos, sons e imagens.
Pessoas nascidas na era digital tendem a desenvolver mentes hipertexto, onde as estruturas cognitivas
são paralelas, e não sequenciais (Prensky, 2001). Por outro lado, o fenômeno da neuroplasticidade é a
reorganização e a adaptação do cérebro e pode ocorrer em crianças e adultos. Na realidade brasileira
existe uma lacuna de trabalhos que discutam o tema tecnologias digitais relacionando-as à prática coral.
A metodologia consistiu em revisão de literatura, descrição de atividades e de um estudo qualitativo,
que também utilizou dados quantitativos através de uma pesquisa-ação com a duração de 3 meses que
foi desenvolvida com 18 indivíduos de um coro adulto. Os resultados apontaram que após o uso das
tecnologias digitas, os integrantes ampliaram a compreensão de que o coral, além de ser um ambiente
de interação, pode ser um espaço de aprendizagem musical. Concluiu-se que o uso de softwares
musicais pode melhorar a percepção musical, facilitar a aprendizagem de novas canções, bem como
promover a reflexão dos integrantes na prática coral. No processo de aprendizagem musical do canto
coral, jovens com mente hipertexto podem contribuir com participantes adultos mais velhos que não
possuam familiaridade com tecnologias digitais. Por outro lado, a cognição musical em adultos pode
ser estimulada e desenvolvida devido ao fenômeno da neuroplasticidade.
Palavras-chave: cognição musical, canto coral, tecnologia da informação e comunicação,
conhecimento e aprendizagem
Abstract
This paper presents the results of a completed research that aimed to investigate digital
technologies applied to adult choir practice. In today's society emerges the concept of hypertext,
which is a set of information presented in the form of texts, sounds and images. People born in
the digital age tend to develop hypertext minds, where cognitive structures are parallel rather than
sequential (Prensky, 2001). On the other hand, the phenomenon of neuroplasticity is brain
reorganization and adaptation and can occur in children and adults. In the Brazilian reality there
is a gap of works that discuss the theme digital technologies relating them to the choral practice.
The methodology consisted of literature review, description of activities and a qualitative study,
which also used quantitative data through a 3-month action research that was developed with 18
individuals from an adult choir. The results showed that after the use of digital technologies, the
members broadened the understanding that the choir, besides being an interaction environment,
can be a space for musical learning. It was concluded that the use of music software can improve
the musical perception, facilitate the learning of new songs, as well as promote the reflection of
the members in the choir practice. In the learning process of choral singing, young people with
hypertext minds can contribute to older adult participants who are unfamiliar with digital
technologies. On the other hand, musical cognition in adults can be stimulated and developed due
to the phenomenon of neuroplasticity.
Keywords: musical cognition, choral singing, information and communication technology,
knowledge and learning
INTRODUÇÃO
A prática coral permite a aprendizagem de diferentes conceitos musicais.
No entanto, indivíduos adultos sem vivências musicais prévias podem
apresentar diferentes dificuldades que abrangem desde os aspectos rítmicos
até a habilidade de manutenção de sua linha vocal. Os tipos de problemas
trazidos pelos participantes são variáveis, no entanto, as dificuldades são
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
hoje estão tão imersas em bits, que acham que tudo isso faz parte de um
cenário natural”. Por outro lado, os adultos mais velhos podem apresentar um
pouco mais de dificuldade para adaptarem-se ao uso de novas tecnologias. No 377
entanto, indivíduos adultos podem ser estimulados a construírem novos
conhecimentos musicais a partir da utilização de tecnologias digitais.
Segundo Prensky (2012, p. 67) “o cérebro está em constante reorganização
durante toda a nossa vida, da infância a idade adulta, um fenômeno tecni-
camente conhecido como neuroplasticidade”.
Outro ponto a ser considerado em relação ao ensino aprendizagem é
o fato de que os estudantes se tornaram mais participativos e não apenas
receptores de informações no processo de aprendizagem (Keri & Selwyn,
2010). Para Abreu e colegas (2011, p. 1248) a “aprendizagem colaborativa
destaca-se pela participação ativa e a interação dos membros, tanto alunos
como professores”. O coro tem o potencial de ser uma rede colaborativa
e de compartilhamento de conhecimentos que poderia ser ampliada pelo
uso das tecnologias digitais.
MÉTODOS
CONCLUSÕES
Concluímos que o uso de softwares musicais pode melhorar a percepção
musical, facilitar a aprendizagem de novas canções e promover a reflexão dos
integrantes na prática coral. Quanto à utilização do modelo TPACK com
indicam Mishra et al. (2011) foi possível fazer o uso de tecnologias musicais,
que embora não tenham sido projetadas para fins pedagógicos, puderam ser
reaproveitadas com esta finalidade. Do ponto de vista da regente, todo o
material disponibilizado no ambiente virtual contribuiu muito com a
organização de eventos, administração dos dados dos integrantes, estudo do
repertório, agilidade na comunicação, entre outros. As tecnologias digitais
contribuíram com o trabalho da regente melhorando a percepção musical dos
integrantes, facilitando a aprendizagem de novas canções, ampliando o
universo musical e cultural do coro e promovendo a reflexão dos integrantes
na prática coral.
Em relação à aprendizagem na fase adulta, percebemos que o uso das
tecnologias digitais aplicadas à prática coral contribuiu para estimular os canais
de comunicação auditivos, visuais e cinestésicos dos participantes, bem como
funcionou como um agente facilitador das atividades que envolveram a
interação com o grupo. Entendemos que as tecnologias digitais podem ser
melhor aproveitadas se o conteúdo musical a ser aprendido for imbuído de
significado e se, a partir da construção do significado, houver a apropriação do
conhecimento. No processo de aprendizagem de coros adultos com dife-
rentes faixas etárias, os jovens com mente hipertexto podem contribuir com
participantes adultos mais velhos que não possuam familiaridade com tecno-
logias digitais. Por outro lado, os adultos têm a seu favor o fenômeno da
neuroplasticidade que possibilita a reorganização do cérebro no sentido de
assimilar novos conceitos musicais e tecnológicos.
Anais
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Problema/questão
Este resumo relata a vivência em um projeto de extensão de uma escola pública de ensino
especializado em música na cidade de Belém/Pará, durante o período de Estágio Curricular. A turma
escolhida para esta comunicação possui dez alunos, sendo uma aluna com deficiência visual.
Constatou-se que a referida aluna, por se tratar de pessoa que adquiriu a cegueira ao longo da vida
e ainda se encontra em processo de alfabetização no código Braile, não pôde ser introduzida na
musicografia Braile durante o período observado. A linguagem musical aplicada ao processo de
ensino-aprendizagem do violino, pautou-se nos sentidos da audição e do tato, bem como na
movimentação corporal elaborada a partir da apreciação sonora. “A paisagem sonora é uma composição
indeterminada, sobre a qual não temos controle, ou seremos nós, os seu compositores e executantes
encarregados de dar-lhe forma e beleza?” (Schafer, 2001, p.18).
Objetivos
Investigou-se o processo de ensino musical inclusivo e os métodos utilizados para o
desenvolvimento do aprendizado de uma aluna com deficiência visual, integrada a uma classe de
alunos sem deficiência, destacando as dificuldades enfrentadas neste processo e o desenvolvimento
da aluna no instrumento.
Método
O presente relato baseou-se na coleta de dados em diário de bordo e elaboração de relatórios
contendo anotações descritivas do processo ativo de ensino-aprendizagem do violino durante o
período observado em estágio.
Resultados
Nas atividades desenvolvidas em classe, de ensino coletivo do violino, observaram-se
possibilidades de desenvolver repertórios relacionados à motivação dos alunos para tornar
dinâmico o processo educacional. Destarte, as ações de ensino-aprendizagem pautaram-se na
ludicidade, com ênfase também nos estímulos sensoriais da audição e do tato, o que permitiu a
integração e a aprendizagem de todos em sala.
Conclusões
Pôde-se intuir que o processo criativo é fundamental no processo de inclusão, com adaptações
pedagógicas voltadas ao ensino que envolve pessoas com deficiência visual, além de uma
disponibilidade de romper fronteiras em sala de aula (Tudissaki, 2015, p. 59). A partir deste relato
percebeu-se que existem construções e reconstruções de um mesmo ambiente sonoro, a partir da
dinâmica e do olhar do educador frente às experiências com alunos que possuem ou não algum
tipo de deficiência.
Palavras-chave
Educação Musical; Inclusão; Deficiência Visual; Violino.
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Tudissaki, S. (2015). Ensino de música para pessoas com deficiência visual. São Paulo: Editora
Cultura Acadêmica.
Anais
Resumo
O caráter abstrato da música enseja questionamentos acerca do modo de apreensão do fluxo musical
pelos ouvintes, por meio da utilização de sentidos desenvolvidos pelos seres humanos através da atuação
corporal reiterada destes na percepção e entendimento de mundo. Não é senão através da pesquisa que
busca entender os mecanismos e ferramentas utilizados pela mente, para apreender o fluxo musical,
conferindo-lhe sentido, que se pode compreender com maior exatidão a forma por meio da qual
entendemos música. O presente artigo visa discutir a forma de aplicação do protocolo de experimento
que objetivou investigar os modos de entendimento do fluxo musical, tendo por base a produção de
músicas inéditas, com sua audição e análise por ouvintes. Partindo-se da ideia de que na base de toda
categorização encontram-se os esquemas de imagem, entendidos como arquétipos do entendimento
humano que congregam sensações reiteradamente experimentadas pelo indivíduo, o protocolo de
pesquisa buscou acessar o entendimento imediato dos ouvintes acerca das músicas ouvidas, tentando,
tanto quanto possível, atingir seu entendimento inconsciente. Nesse sentido, as descrições dos
participantes acerca do fluxo musical escutado determinava a aproximação ou afastamento dos
esquemas de imagem mais comumente utilizados na construção de entendimento do fluxo musical.
Analisados os dados obtidos, surgiram questões acerca do modus operandi do experimento, como: a)
até que ponto o conhecimento prévio das perguntas do questionário pode influir a resposta?; b) em que
medida a ordem de apresentação das músicas pode determinar maior ou menor predisposição do
ouvinte a realizar o experimento.
Palavras-chave: cognição musical incorporada, pesquisa experimental, esquema de imagem,
enacionismo.
Abstract
The abstract character of music gives rise to questions about the way the listeners perceive the musical
flow through the use of senses developed by human beings through their repeated body performance
in the perception and understanding of the world. It is only through research that seeks to understand
the mechanisms and tools used by the mind to grasp the musical flow, giving it meaning, that one
can more accurately understand how we understand music. This paper aims to discuss the application
of the experiment protocol that aimed to investigate the ways of understanding the musical flow,
based on the production of unpublished songs, with their hearing and analysis by listeners. Starting
from the idea that at the base of all categorization are the image schemes, understood as archetypes of
human understanding that bring together feelings repeatedly experienced by the individual, the
research protocol sought to access the immediate understanding of listeners about the songs heard,
trying as much as possible to reach their unconscious understanding. In this sense, the participants'
descriptions of the listened musical flow determined the approach or departure of the image schemes
most commonly used in the construction of understanding of the musical flow. Questions arose
about the modus operandi of the experiment, such as a) to what extent can previous knowledge of
the questionnaire questions influence the answer ?; b) the extent to which the order of presentation
of the songs may determine greater or less predisposition of the listener to experiment.
Keywords: music embodied cognition; experimental research; image scheme, enactivism.
INTRODUÇÃO
Pesquisar o sentido da música pode parecer, em um primeiro momento
menos pensado, tarefa trivial. Afinal, o sentido da música está inexoravelmente,
ao que parece, atrelado a sentimentos que experienciamos quando somos
expostos a determinado fluxo musical. Assim sendo, a pesquisa sobre o
entendimento de música perpassaria tão simplesmente uma análise daquilo
que está sendo sentido, ou percebido, por quem está exposto a esse fluxo.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
O PROBLEMA DA INVESTIGAÇÃO
Investigar esse procedimento, no entanto, é tarefa árdua. Seja por
conta do alto grau de abstração do material em análise, ou seja, do fluxo
musical, seja por conta de que todo esse procedimental acontece de forma
inconsciente na mente do ouvinte. Nesse sentido, realizar pesquisa cogni-
tiva sobre construção de entendimento musical é, em essência, buscar
entender o inconsciente do ouvinte.
Em primeiro lugar, isso implica em um problema inicial que decorre do
fato de que a categorização do fluxo musical diferencia-se de sua enun-
ciação. Ao categorizar o fluxo de música, o ouvinte realiza a adequação do
escutado aos esquema de imagem, previamente configurados por meio de
suas experiências corporais reiteradas, conferindo sentido a este fluxo. A
enunciação do que foi previamente entendido, no entanto, representa um
problema adicional, uma vez que, ainda que a construção do sentido do
fluxo musical se configure com a categorização, a enunciação do entendido
modifica o entendimento inicial, que pode ser considerado imediato.
A discussão do entendimento experienciado pelo ouvinte implica na
retomada mental do que foi ouvido e entendido e num esforço por parte
deste ouvinte de tradução metafórica daquele entendimento. As sensações,
ainda que categorizadas em estados mentais, em geral, não possuem
contrapartida linguística precisa, necessitando do recurso a metáforas que
se utilizam de conceitos alheios e externos ao campo da música. O grande
problema, para a pesquisa em música, no entanto, é que, para acessar a
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
O PROTOCOLO DE PESQUISA
O primeiro problema a ser atacado no protocolo tratava de como conse-
guir obter a informação primeira, imediata, que passa no inconsciente do
ouvinte no momento exato em que este se depara com um fluxo musical
novo. Inicialmente, parecia claro que as músicas tinham de ser compostas para
o experimento, uma vez que somente através do ineditismo destas poder-se-ia
ter certeza sobre a novidade daquele fluxo musical para os ouvintes.
Dentro desse mesmo problema, era preciso também assegurar que se
conseguisse recolher a primeira impressão, mais imediata, do ouvinte. E aqui
estabeleceu-se um segundo questionamento que consistia na decisão sobre
o questionário: deveria o ouvinte caracterizar o fluxo como bem entendesse,
por meio de perguntas discurssivas, ou deveria haver questões objetivas, com
as características antecipadamente estudadas dos esquema apresentadas?
Optou-se pelo último procedimento, por algumas razões, que enumero:
1) o estudo prévio dos esquemas de imagem, com a determinação de certos
atributos destes e consequente construção das peças sobre esses adjetivos, já
havia, em alguma medida, determinado o que se reputava importante como
indício de seleção dos esquemas de imagem pelos ouvintes. Dito de outra
forma, tendo em vista que os referidos esquemas podem ser identificados por
meio dos adjetivos escolhidos, não se justificava uma ampliação dos descri-
tores com perguntas discurssivas; 2) a coleta de informações de respostas
discurssivas mais abertas seria significativamente mais demorada. Com
efeito, o tratamento desses dados iria requerer uma análise discurssiva muito
mais pormenorizada, uma vez que seria necessário que se entendesse o que
exatamente o ouvinte iria querer dizer com sua descrição. Haveria, portanto,
diversos descritores ou adjetivos que pudessem ser atribuídos a uma mesma
passagem, talvez indicando um mesmo esquema predominante, mas que
seria descritos de formas diferentes, e isso demandaria um tempo de estudo
muito maior do que o disponível para a realização da pesquisa;
O questionário aplicado, portanto, iniciava-se com o pedido para que os
participantes, após escutarem a música, marcassem as qualidades ou adjetivos
que melhor descrevessem o fluxo musical escutado. Importante observar que,
antes de iniciado o experimento, houve orientação aos participantes no sentido
de que marcassem a primeira característica que lhes viessem à cabeça, sem se
Anais
Figura 1. “Contenção”
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
388
Figura 2. “Equilíbrio”
Figura 3. “Caminho”
Nesse sentido, há que se observar que a peça composta sob os auspícios dos
atributos de “equilíbrio” também apresentava características de “caminho”.
Em verdade, os esquemas influenciam-se uns aos outros, sendo certo que
dificilmente pode-se falar na existência de um único esquema, mas talvez na
predominância de um deles, como quer Johnson (1987). Os resultados do
experimento apontam justamente para corroborar tal teoria, uma vez que os
trechos, ainda que descritos sob influência de um esquema de forma majo-
ritária, apresentaram, sempre, concomitância de esquemas.
Para a última música, os resultados foram interessantes, no sentido de
que quase não há como se dizer que predomina um ou outro esquema de
imagem (figura 6).
Nota
1 Tradução livre para: Your recognition of these things reflects the categories through which we
structure our thought: to recognize a book is to identify it as a member of the category book; to
recognize a tree is to identify it as a member of the category tree. Categorization occurs in all
sensory modalities and throughout the range of mental activities: we categorize smells and sounds,
thoughts and emotions, skin sensations and physical movement.
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Anais
2
Departamento de pós-graduação em Música, UFMG, Brasil
1
mt.rhainara@gmail.com, 2cybelleveigaloureiro@gmail.com
Resumo
O presente trabalho pretende apresentar uma revisão bibliográfica relacionando a utilização da
Musicoterapia no tratamento e desenvolvimento de bebês nascidos antes do tempo. Esta revisão foi
realizada a fim de embasar uma pesquisa de mestrado em andamento na Universidade Federal de
Minas Gerais que, pretende validar um protocolo de avaliação de bebês prematuros frente a estímulos
sonoros. Os artigos foram rastreados em portais de busca e em uma revista específica de Musicoterapia.
Foram elegidos 20 artigos que se enquadram nos critérios de inclusão estabelecidos para a busca. Estes
artigos apresentam como resultados do uso da Musicoterapia a diminuição do tempo de internação,
melhora da sucção, diminuição do estresse, da ansiedade e melhorias em aspectos atencionais. Além
disso, os estudos apontam que a Musicoterapia pode estimular o desenvolvimento da atenção, do
aprendizado da linguagem, das funções executivas e influenciar estados fisiológicos como o sono-
vigília.
Palavras-chave: Musicoterapia, bebês prematuros, revisão bibliográfica
Abstract
The present paper intends to present a bibliographic review relating the use of Music Therapy in
the treatment and development of premature babies. This review was conducted to support an
ongoing master's research at the Federal University of Minas Gerais that aims to validate a protocol
for the evaluation of premature babies against sound stimuli. The articles were tracked in search
portals and specific Music Therapy journals. Twenty articles were selected that fit the inclusion
criteria established for the search. These articles present, as a result of the use of music therapy,
reduced length of clinical admission, improved suction, decreased stress, anxiety, and improvements
in attentional aspects. Moreover, studies indicate that music therapy can stimulate the development
of attention, language learning, executive functions, and influence physiological states such as sleep-
watch.
Keywords: Music therapy, premature babies, literature review
INTRODUÇÃO
Em todo o mundo, segundo a ONU (2018), 30 milhões de bebês
nascem prematuramente ou com baixo peso ou adoecem nos primeiros dias
de vida. Os dados também mostram que em 2017, dos 2,5 milhões de bebês
que morreram nos primeiros vinte e oito dias de vida, 65% nasceram antes
do tempo. Estes dados demonstram que a prematuridade afeta diretamente
no desenvolvimento sadio do ser humano.
É considerado um nascimento prematuro aquele que antecede o nasci-
mento normal que é da 37ª a 42ª semana de gestação (Gibson, 2015). Durante
o último trimestre de gestação, o processo de maturação interna necessário para
conseguir sobreviver ao novo ambiente está quase completo (Governo
Brasileiro, 2011; Manual MSD). Quando uma criança nasce antes do tempo,
algumas funções podem não estar completamente maduras apresentando
assim, maior vulnerabilidade para infecções, problemas respiratórios, déficits
cognitivos, atrasos na fala/linguagem e atrasos do sistema sensório-motor
(McCormick, 2017).
Depois de nascido, o neonato pré-termo ainda tem o desafio de se
adaptar ao novo ambiente que o cerca e todos os estímulos em alta intensi-
dade que UTI neonatal proporciona (Cardoso, Kozlowski, Lacerda, Mar-
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
ques, & Ribas, 2015; Marcuatú & Malveira, 2017; Rodart, 2007). Além
disso, a internação desencadeia uma quebra no contato direto da mãe com
394 o bebê, o que pode prejudicar seu desenvolvimento saudável (Saigal, 2006).
Dentre as diferentes maneiras de se intervir e amenizar o impacto da
internação e do nascimento precoce, há a Musicoterapia. Esta intervenção
une música e saúde com o objetivo de reabilitar, desenvolver e manter diver-
sos potenciais do ser humano de acordo com suas necessidades (UBAM,
2018). Dentro deste campo, pesquisas longitudinais têm sido realizadas no
Brasil para estudo dos efeitos da Musicoterapia nesta população (Loureiro &
Freitas, 2018; Pereira, Silveira, Cerqueira, & Loureiro, 2014).
O presente trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado em andamento
na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que pretende validar um
Protocolo de Avaliação Comportamental de Bebês Prematuros Frente a
Estímulos Sonoros desenvolvido por integrantes do curso de Musicoterapia
da UFMG. O protocolo utiliza estímulos sonoros associados a estímulos
multimodais (Pereira et al., 2014). Tem-se como objetivo neste trabalho
rastrear na literatura e nos portais de busca artigos que contemplem a
utilização da Musicoterapia na neonatologia, com bebês nascidos antes da 37ª
semana de gestação. Esta revisão será parte do embasamento teórico da
pesquisa que está sendo realizada.
MÉTODO
Para levantamento de artigos que contemplassem o tema proposto,
foram utilizados como critérios de inclusão: artigos escritos em português,
inglês e/ou espanhol; que relacionassem especificamente o uso da Musico-
terapia com bebês nascidos antes da 37ª semana de gestação. Foram
excluídos estudos que: não tivessem como participantes bebês prematuros;
não apresentassem resultados; que no texto não houvesse indícios da
aplicação da Musicoterapia não ter sido feita por meio de musicoterapeuta
qualificado(a).
Para a busca dos artigos foram utilizados os portais: Portal CAPES;
MEDLINE; Scopus; SciELO; PubMed e Cochrane e Revista Brasileira de
Musicoterapia. Os descritores utilizados foram: “Musicoterapia”; “bebê
prematuro”; “music therapy”; “preterm baby”; “premature baby”.
Os estudos foram selecionados primeiramente por leitura de título,
resumo e palavras-chave. Posteriormente foi realizada leitura completa de
todos os estudos filtrados e selecionados os que realmente comtemplavam
todos os pré-requisitos estabelecidos para a revisão.
Considerou-se para esta revisão incluir artigos e reportagens em
jornais sobre o uso da Musicoterapia com bebês prematuros em unidades
neo-natais uma vez que contribuem para a base teórica desta pesquisa.
Eles estão relacionados com o uso da Musicoterapia no cuidado intensivo
de neonatos prematuros internados.
RESULTADOS
Foram identificados 560 artigos, sendo 52 selecionados de acordo com
critérios de inclusão e exclusão estabelecidos previamente. 14 artigos
duplicados foram eliminados e 19 excluídos por não se encaixarem no
Anais
396
Anais
397
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
CONCLUSÃO
Através desta revisão pode-se perceber a notória contribuição que a
Musicoterapia pode oferecer no processo de desenvolvimento do neonato
prematuro hospitalizado. Segundo os artigos avaliados, a Musicoterapia
apresenta efeitos positivos tanto em aspectos fisiológicos, emocionais,
cognitivos e neurológicos. Além disso, os estudos ressaltam a importância da
Musicoterapia para diminuição do estresse e da ansiedade dos pais e/ou
responsáveis, fortalecendo também o vínculo parental e desenvolvendo
ambiente facilitador para bom desenvolvimento do bebê dentro do hospital.
Pode-se também observar que o número de pesquisas que relacionam a
Musicoterapia com os cuidados na unidade neonatal vem aumentando
gradativamente principalmente entre 2014-2018. Este fato demonstra que
nos últimos anos a Musicoterapia vem construindo forte embasamento
científico para propagação da prática musicoterapêutica em ambientes
hospitalares.
Apesar do número de pesquisas ter crescido nos últimos anos, o número de
estudos brasileiros encontrados é muito pequeno quando comparado aos
trabalhos com a população referida divulgados entre a classe musicotera-
pêutica. Este dado indica a necessidade de mais publicação e divulgação de
Anais
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
A literatura aponta que os computadores podem auxiliar a pessoa com transtorno do espectro autista
(TEA) em suas dificuldades de interação social, habilitando novas formas de comunicação e
aprendizagem. Este estudo em andamento, tem como fundamentação de sua prática a teoria histórico-
cultural de Vigotski e a pedagogia da interação reflexiva de Addessi (2015). O objetivo do presente artigo
é compreender de que forma a tecnologia musical, neste caso a plataforma miror-impro, pode auxiliar o
estudante com TEA na aula de música na perspectiva de Vigotski e Addessi. Optou-se pela metodologia
qualitativa, com abordagem em estudo de caso, que segundo Creswel (2014) é uma abordagem na qual
o investigador explora um caso ou múltiplos casos ao longo do tempo, por meio da coleta de dados
detalhada em profundidade, envolvendo múltiplas fontes de informação e relata uma descrição do caso e
temas do caso. Considerando a perspectiva pedagógica, espera-se que este artigo possa auxiliar os
professores de música que atuam na área da inclusão.
Palavras-chave: tecnologia musical, autismo, aula de música
Abstract
The literature points out that computers can help people with autism spectrum disorder (ASD) in their
difficulties in social interaction, enabling new forms of communication and learning. This ongoing
study is based on Vigotski's historical-cultural theory and Addessi's pedagogy of reflexive interaction
(2015). The aim of this paper is to understand how musical technology, in this case the miror-impro
plataform, can assist the student with ASD in music class from the perspective of Vigostki and Addessi.
A qualitative methodology and a case study approach was chosen, which according to Creswel (2014),
in this approach the investigator explores one case or multiple cases over time, through detailed in-
depth data collection involving multiple sources of information and report a description of the case and
themes of the case. Considering the pedagogical perspective, it is hoped that this article can help music
teachers who work in the area of inclusion.
Keywords: musical technology, autism, music class
INTRODUÇÃO
Segundo Schwartzman (2011), o autismo é considerado um “transtorno
do desenvolvimento de causas neurobiológicas definido de acordo com
critérios eminentemente clínicos” (p. 37). São três as principais áreas compro-
metidas, formando a tríade autística: prejuízo na interação social, prejuízo na
comunicação verbal e não–verbal e a presença de padrões de comportamento,
interesses ou atividades restritas, repetitivos e estereotipados. De acordo com
Araújo (2011), “indivíduos com TEA seguem trajetos de desenvolvimento
com aspectos comuns em sua atipia, mas também com aspectos bastante
singulares, próprios de cada experiência de vida (p.173)”. Portanto, é possível
traçar alguns aspectos gerais de como podem se comportar estes alunos dentro
da sala de aula, embora deva-se ter a clareza de que cada aluno terá as suas
especificidades, próprias de cada experiência de vida. Neste sentido, o
professor mediador, deve estar atento a cada singularidade de cada aluno, mas
ao mesmo tempo, preparar sua aula para o coletivo, ou seja, promover a
inclusão.
Anais
Figura 1. Sala de aula organizada a fim de utilizar a plataforma miror-impro. Fonte: dados da
pesquisadora (2019)
Anais
408
Referências
Addessi, A. R., & Bonfiglioli, L. (2017). Interação reflexiva como paradigma transversal
para a criatividade, educação musical e musicoterapia. (Araújo, R.C. tradução).
Orfeu, 2 (2), 175-199.
Addessi, A. R., Anelli, F., Benghi, D., & Friberg, A. (2017). Child-computer
interaction at the beginner sage of music learning effects of reflexive interaction
on children's musical improvisation. Frontiers in Psychology, 8 (65), 1-21.
Anais
Resumo
Nesta pesquisa foi abordado o desenvolvimento da criatividade musical, considerando, conforme aponta
Barret (2000), que a criatividade musical não é território apenas dos prodigiosamente dotados e não é
evidenciada unicamente nos processos generativos de composição e improvisação, mas sim numa
variedade de processos musicais. O objetivo deste estudo foi investigar as possibilidades de desenvol-
vimento da criatividade musical, sob a perspectiva dos licenciandos em música. Para a realização desta
pesquisa foi utilizado como método o estudo de levantamento (ou survey). O instrumento de coleta de
dados foi um questionário com questões fechadas, de múltipla escolha, dependentes e abertas, aplicado
para 20 alunos de licenciatura em música que frequentavam diferentes períodos. Os resultados indicaram
que 95% dos estudantes acreditavam ser possível desenvolver a criatividade do aluno de música; no geral,
a improvisação e a composição foram bastante citadas, no entanto, muitas das respostas partiram de uma
perspectiva mais ampla, explorando questões sobre o uso da criatividade como forma de proporcionar
maior envolvimento do aluno com a música, gerando emoção e motivação. Ao serem questionados
sobre atividades que poderiam desenvolver a criatividade os participantes trouxeram atividades rítmicas,
desenhos melódicos, jogos da memória, mapas sonoros, entre outros. Pôde-se observar, dos partici-
pantes, uma concepção clara à respeito da criatividade musical, indo ao encontro de outros estudos de
diversos estudiosos como Sternberg (2008), Barret (2000), Burnard (2013), entre outros. Os licenciandos
se mostraram atentos ao uso da criatividade nas aulas de música e ao potencial do professor para motivar
e propiciar atividades criativas.
Palavras-chave: Criatividade, Criatividade Musical, Educação Musical.
Abstract
This research addressed the development of musical creativity, considering, as Barret (2000) points out,
that musical creativity is not only a territory of prodigiously gifted people and is not only evidenced in
the generative processes of composition and improvisation but a variety of musical processes. This study
aimed to investigate the possibilities of developing musical creativity from the perspective of
undergraduates in music, for this research was used as a method the survey study. The data collection
instrument was a questionnaire with closed, multiple-choice, dependent, and open questions, applied to
20 undergraduate music students who attended different periods. The results indicated that 95% of the
students believed it was possible to develop the student creativity of music. In general, improvisation and
composition were widely cited, however, many of the responses came from a broader perspective,
exploring questions about the use of creativity as a way of providing greater student engagement with
music, generating emotion and motivation. When asked about activities that could develop creativity,
participants brought rhythmic activities, melodic drawings, memory games, sound maps, among
others. The participants could observe a clear conception of musical creativity, meeting other studies by
various scholars such as Sternberg (2008), Barret (2000), Burnard (2013), among others. Graduates were
attentive to the use of creativity in music lessons and the teacher's potential to motivate and provide
creative activities.
Keywords: Creativity, Musical Creativity, Music Education.
INTRODUÇÃO
Na literatura há inúmeras definições para a criatividade, mas, segundo
Sternberg (2008) muitos investigadores a definem como o processo de
produzir algo original e de valor. Há muitos investigadores que consideram
os diversos níveis da criatividade como, por exemplo, Gardner (apud
Barrett, 2000) que define a Criatividade (com ‘C’ maiúsculo) e a criati-
vidade (com ‘c’ minúsculo), a primeira caracterizada nos trabalhos dos
grandes nomes da história e a segunda que pode ser evidenciada na forma
inovadora que o indivíduo trata a atividade do dia a dia. A partir desta
perspectiva, Barret (2000) afirma que a criatividade musical não é território
Anais
CRIATIVIDADE E MÚSICA
Segundo Barret (2000) os escritores não entraram em um consenso
quanto à definição da criatividade, pois tudo depende da perspectiva do
investigador que pode abordar o tema com um enfoque Psicométrico,
Cognitivo, de Personalidade e Motivação, Histórico/Social, entre outros
(Sternberg, 2008). Em contrapartida, segundo Feist (apud Sternberg, 2008),
há características recorrentes entre indivíduos considerados criativos, por
exemplo, eles tendem a ser mais abertos à novas experiências, são auto-
confiantes, impulsivos, ambiciosos, motivados, dominantes, menos conven-
cionais, entre outros. De acordo com Weisberg (apud Sternberg, 2008) o que
torna a pessoa criativa é sua especialização e seu compromisso com o
empreendimento criativo, desta forma, a partir de sua especialização o
indivíduo criativo explora e cria abordagens e produtos inovadores. Segundo
esta visão, a criatividade em si não é especial pois os processos da mesma são
usados por todas as pessoas, todos os dias, na resolução de problemas, o que
difere é o conteúdo excepcional em que os processos operam. Este conteúdo
excepcional é de grande importância para a sociedade como um todo, pois,
de acordo com Bahia e Nogueira (2005), a produção de novas ideias é de
suma importância para que ocorra o desenvolvimento da sociedade, pois
restringir-se apenas à reprodução do que já foi criado resultaria em inércia,
“novas soluções para grandes problemas como a pobreza ou o aumento
demográfico não aparecem por magia” (Bahia & Nogueira, 2005, p. 334).
Neste sentido, a criatividade é indissociável do contexto onde surge. Assim,
Csikszentmihalyi (1996), desenvolveu a teoria do fluxo da criatividade, na
qual o autor chegou à conclusão de que as pessoas mais criativas sentem prazer
ao enfrentar certas dificuldades na atividade, o que as motiva e conduz à novas
ideias. Para o autor, a procura da novidade e do desafio é fundamental para a
evolução e progresso da cultura. Nesta teoria, Csikszentmihalyi (1996)
determina os vários passos do fluxo da criatividade, os quais incluem o sentido
distorcido do tempo (perda da noção do tempo) e a realização da atividade em
algo prazeroso em si mesmo, com um fim em si mesmo e não por alguma
recompensa, ou obrigação.
Já na área da música a criatividade geralmente é associada à composição e
à improvisação, no entanto, segundo Barret (2000) há muitas outras
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MÉTODO E RESULTADOS
Para a realização desta pesquisa foi utilizado como método o estudo de
levantamento (ou survey). Foi elaborado um questionário com questões
fechadas, de múltipla escolha, dependentes e abertas. O questionário foi
testado em um estudo piloto para análise da confiabilidade e coerência
interna das questões. Após o estudo piloto o questionário foi aplicado para
os alunos de licenciatura em música que frequentam diferentes períodos.
Por fim, os dados foram quantificados por meio do programa Excel e
também por meio de uma análise léxica para organização de categorias de
respostas sobre criatividade musical.
Participaram deste estudo 20 estudantes com faixa etária entre 18 e 25
anos de idade, que cursavam diferentes períodos do curso de Música
(licenciatura). Apenas 15% dos participantes não tinham experiência com
docência, já os outros 85% já tinham trabalhado nas diversas modalidades
de ensino: 9 deles responderam ter atuado no ensino de música na rede
Anais
CONCLUSÃO
A partir dos dados analisados foi possível observar que 95% dos estudantes
acreditavam ser possível desenvolver a criatividade do aluno de música,
seguindo em direção às indicações de Barret (2000) e Bahia e Nogueira
(2005). No geral, a improvisação e a composição foram bastante citadas,
como forma de desenvolver a criatividade, no entanto, muitas das respostas
partiram de uma perspectiva mais ampla, explorando questões sobre o uso da
criatividade como forma de proporcionar maior envolvimento do aluno
com a música, gerando emoção e motivação. Ao serem questionados sobre
atividades que poderiam desenvolver a criatividade os participantes relataram
inúmeras atividades aplicadas por eles que possivelmente desenvolveu a
criatividade de seus alunos e ainda mostraram interesse e capacidade em criar
atividades com foco no processo criativo, para diferentes idades e contextos.
Isso demonstra que estão atentos ao processo criativo das crianças e às suas
responsabilidades enquanto docentes, acerca do desenvolvimento do processo
criativo em aulas de música.
Referências
Bahia, S. & Nogueira, S. I. (2005). Entre a teoria e a prática da criatividade. In G.
Miranda & S. Bahia (Eds.), Psicologia da Educação: Temas de Desenvolvimento,
Aprendizagem e Ensino. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 333-362.
Barrett, M. (2000). O Conto de um Elefante: Explorando o Quê, o Quando, o Onde, o
Como, e o Porquê da criatividade. Música, psicologia e educação, N°2, 31-46. Porto:
CIPEM.
Csikszentmihalyi, M. (1996). Creativity: Flow and the Psychology of Discovery and
Invention. New York: Harper Collins.
Sternberg, R. (2008). Psicologia Cognitiva (4a ed.). Porto Alegre: Artmed.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MAIO 31 | May 31
416
SESSÃO L12
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 1, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair: Marcos Nogueira
14:00
O ensino instrumental e a performance:
aspectos para a aquisição de habilidades musicais
Maria Isabel Veiga
14:30
Indeterminação musical e gesto:
Processos criativos na construção da performance
Tatiana Dumas Macedo
15:00
Estudo n. 1 para violão de Camargo Guarnieri: soluções de um
compositor não violonista para os limites polifônicos impostos
pelo instrumento
Marcelo Fernandes Pereira
Anais
Problema/questão
A pesquisa tem como base as etapas de performance de acordo com os Elementos da Performance
Musical – EPM apresentados por Sonia Ray (2005), onde divide o estudo da performance em seis
etapas: 1) Conhecimento do conteúdo; 2) Aspectos técnicos; 3) Aspectos Anato-Fisiológicos; 4)
Aspectos Psicológicos; 5) Aspectos Neurológicos; 6) Musicalidade e Expressividade.
A pesquisa é norteada pela seguinte pergunta: De que forma podemos preparar o estudante de
música para uma boa performance no palco?
Objetivos
Este trabalho propõe como objetivo geral investigar, segundo Swanwick (2014), Sloboda (2008)
e Sonia Ray (2005), como os estudantes de instrumento podem ser preparados para alcançarem um
nı́vel satisfatório na performance.
A partir deste objetivo geral, pretende-se descrever, baseados em registros bibliográficos, o
trabalho realizado para o desenvolvimento de um instrumentista para a performance e identificar
meios que adotem habilidades que trabalhem o controle corpo e mente.
Método
Foi utilizada a técnica de levantamento de dados aplicados em questionários com estudantes e
professores do Conservatório Carlos Gomes em Belém do Pará nos cursos técnico/bacharelado.
Nos dados dos alunos 16 responderam o questionário com 16 perguntas, sendo 9 com
justificativas. Nos dados dos professores, 14 responderam o questionário com 9 perguntas sendo 7
perguntas justificadas.
Resultados
A pesquisa pôde contemplar os objetivos propostos e se estendeu com outras considerações, como
instigar a reflexão da importância do planejamento no estudo como o auto ensino e de forma
consciente. Em relação aos alunos, foi possı́vel observar dois momentos importantes, antes e depois
da aplicação. Refletindo em mudanças de qualidade de estudo, é possı́vel observar na oitava
questão sobre as formas de preparação antes da apresentação 22% responderam que importa o
estudo, a concentração e o relaxamento dialogando com os aspectos neurológicos de Ray trazendo
o equilı́brio emocional para a construção. Com os professores pôde constatar o uso da metodologia
tradicional a técnicas avançadas, conscientes ou não, que objetivam a qualidade de estudo e
controle emocional no palco. Na sexta questão, perguntados se faziam algum exercı́cio especı́fico
para a pré-apresentação 43% acreditam que o ensaio é o recurso mais utilizado, porém há uma
crescente com 29% dando prioridade nos exercı́cios de alongamento e respiração, elementos dos
aspectos músculos-esqueléticos.
Conclusões
A pesquisa trouxe a reflexão das práticas instrumentais visando o fazer artı́stico e o bem estar.
Permitiu refletir sobre a formação do professor, influência e transmissão e a qualidade de estudo
consciente dos alunos visando a performance.
Palavras-chave
Performance, Habilidades musicais, Ensino Instrumental
Referências
Ray, S. (2005). Os conceitos de EPM, potencial e interferência inseridos numa proposta de
mapeamento de estudos sobre performance musical. In: Ray (org.). Performance musical e
suas interfaces. Goiânia: Editora Vieira, p.39-64.
Sloboda, John. (2008). A mente musical: a psicologia cognitiva da música. (Tradução Beatriz Ilari e
Rodolfo Ilari). Londrina: EDUEL.
Swanwick, Keith. (2014). Música, mente e educação. (Tradução Marcell Silva Steuernagel). 1a
edição. Belo Horizonte. Autentica Editora.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
A maneira como o intérprete estrutura sua performance e as estratégias para a realização sonora de
seus projetos refletem o modo como escuta a música e determina sua performance. A questão de
fundo da interpretação do performer de música está, pois, na constituição das imagens sonoras que
produz, no reconhecimento de um ‘gesto’ metafórico com o qual idealiza a música e na
determinação do gesto musical com o qual a tornará perceptível ao público, dentro de uma rede
de interações que conferem algum tipo de estrutura à correlação desses gestos. A tensão entre essas
duas dimensões gestuais é exacerbada em obras musicais de caráter ‘aberto’, pois, em obras com
elevado índice de ‘indeterminação’, não há uma relação direta entre notação e realização sonora.
Esta situação suscita uma atuação mais ‘livre’ do intérprete, dada sua interação com os objetos
indeterminados e com o acaso. Este quadro enfatiza a relevância do intérprete contemporâneo na
elaboração de performances comprometidas com um resultado sonoro condizente com as
representações de eventos musicais e com as instruções do compositor. Este artigo tem como
objetivo pontuar situações contemporâneas de performance que ainda vêm desafiando a pesquisa
acadêmica em performance musical, sobretudo relacionadas aos processos cognitivos e às
condições gestuais que determinam a realização do repertório acadêmico contemporâneo para
piano.
Palavras-chave: música contemporânea brasileira, interpretação musical, construção
interpretativa, indeterminação musical, gesto
Abstract
The way the performer structures his performance and the strategies for the sound realization of
his projects reflect the way he listens to music and determines his performance. The fundamental
question of the performer's interpretation of music is therefore the constitution of the sound
images he produces, the recognition of a metaphorical 'gesture' with which he idealizes music and
the determination of the musical gesture which he will make it perceptible to the public, within
a network of interactions that give some structure to the correlation of these gestures. The tension
between these two gestural dimensions is exacerbated in open-ended musical pieces, because in
works with a high index of indetermination, there is no direct relationship between notation and
sound achievement. This situation gives rise to a freer performance of the performer, given his
interaction with indeterminate objects and by chance. This condition emphasizes the relevance of
the contemporary performer in the elaboration of performances committed to a sound result
consistent with the representations of musical events and the composer's instructions. This article
aims to point out contemporary performance situations that are still challenging academic
research on musical performance, especially related to the cognitive processes and gestural
conditions that determine the realization of the contemporary academic repertoire for piano.
Keywords: brazilian contemporary music, musical interpretation, interpretative construction,
musical indeterminacy, gesture
INTRODUÇÃO
Interpretar é entendido, de maneira geral, como o modo de exprimir
uma visão particular a respeito de algum ‘texto’, alguma alocução ou
situação. O conceito de ‘texto’ é polissêmico e varia de acordo com o autor
e/ou a orientação teórica adotados. Conforme José Luiz Fiorin (1995), o
termo ‘texto’ deriva etimologicamente do latim – texo, is, textui, textum,
texere – e significa tecer, tecido ou algo entremeado. O mesmo autor
ressalta que assim como um tecido não é um aglomerado de fios, um texto
também não constitui um amontoado de frases, pois possui uma estrutura
Anais
CONCLUSÃO
O repertório acadêmico contemporâneo compreende vasta e diver-
sificada produção musical elaborada a partir do século XX, visando, em boa
parcela de suas tendências estilísticas, à obtenção de sonoridades, de timbres,
de efeitos e de relações sonoras não contempladas em períodos anteriores.
Com esta intenção, adveio o emprego de técnicas composicionais não usuais
até então, assim como a utilização não convencional de instrumentos
musicais, sua modificação física e/ou seu aproveitamento não ortodoxo.
Embora os compositores contemporâneos sejam atuantes no cenário
musical e o repertório cresça cada vez mais, hodiernamente, poucas são as
pesquisas que se dedicam a essa prática interpretativa. Em consequência,
no momento presente, ainda há muitos equívocos, restrições e mal-
entendidos com relação à sua conceituação e interpretação.
A música indeterminada não apresenta relação direta entre notação e
realização sonora, oferecendo como proposta uma atuação mais ‘livre’ do
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Referências
Abdo, S. N. (2000). Execução/Interpretação musical: uma abordagem filsófica. Per
Musi, 1, 16-25.
Alkhalifa, E. M. (2006). Cognitively Informed Systems: Justifications and Foundations.
In: E. M. Alkhalifa, Cognitively informed systems: utilizing practical approaches to
enrich information presentation (pp. 1-25). London: Idea Group Publishing.
Cook, N. (jul-dez de 2007). Fazendo música juntos ou improvisação e seus outros. Per
Musi, 16, pp. 07-20.
Cook, N. (2018). Music as creative practice. New York: Oxford University Press.
Cope, D. H. (1984). Improvisation. In: D. H. Cope, New Diretions in Music (4ª ed., pp.
241-262). Dubuque: Wm. C. Brown Publishers.
Cope, D. H. (1984). Indeterminacy. In: D. Cope, New Directions in Music (4ª ed., pp.
263-299). Dubuque: Wm. C. Brown Publishers.
Costa, V. F. (2016). Morfologia da obra aberta: esboço de uma teoria geral da forma musical
(1ª ed.). Curitiba: Prismas.
Dart, T. (2000). Improvisação. In A interpretação da música (pp. 67-77). São Paulo:
Martins Fontes.
Anais
MAIO 31 | May 31
SESSÃO L13
Comunicações Orais | Oral Presentations
429
SALA 2, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair: Rael Toffolo
14:00
Expectativas musicais relacionadas à harmonia como gatilho para
emoções
José Eugênio Matos, Eunice Dias da Rocha Rodrigues, Maria Clotilde
Henriques Tavares
14:30
Cognição musical infantil: uma revisão bibliográfica
José Benedito Pimenta, William Teixeira
15:00
Um estudo exploratório sobre a psicologia da música
Marçal Pereira Machado
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
2,3
Departamento de Ciências Fisiológicas, Universidade de Brasília, Brasil
1
ematos33@gmail.com, 2eunicerr70@gmail.com, 3mchtavares@gmail.com
Resumo
Várias pesquisas têm sido realizadas para investigar os mecanismos que dão origem às respostas
emocionais em humanos. No âmbito da música, em seu aspecto harmônico, boa parte de tais
estudos leva em consideração a teoria das expectativas musicais. Ela propõe um entendimento
sobre a ocorrência de emoções após a audição musical com base nos mecanismos neurais
relacionados à expectativa. Motivados por esta concepção teórica, diversos pesquisadores
desenvolveram estudos empíricos para melhor investigar os mecanismos da expectativa musical.
Por outro lado, pesquisas posteriores sugerem que a harmonia, em seu aspecto vertical isolado
também é capaz de provocar emoções positivas ou negativas, dependendo da relação entre as notas
presentes dos acordes. Mais recentemente, outros trabalhos vêm buscando preencher lacunas ainda
existentes nesse campo de estudo, sugerindo abordagens que contemplam variados aspectos da
escuta musical, tanto ambientais quanto a nível de indivíduo. Entre estes, a estrutura BRECVEMA
– que desponta como ambiciosa proposta de reunir oito mecanismos de respostas emocionais
relativos à audição de música – e a estrutura ITPRA – que propõe uma visão inovadora do
fenômeno emocional, entre outros. Nesta revisão bibliográfica, abordamos as respostas emocionais
relacionadas à dimensão harmônica da música, tendo como ponto de partida a teoria das
expectativas musicais, passando pelos níveis de consonância e dissonância de acordes isolados e
novas linhas de pesquisa prováveis.
Palavras-chave: emoção, harmonia, expectativa musical, neurociência
Abstract
Several studies have been conducted to investigate the mechanisms that give rise to emotional
responses in humans. In the context of music, in its harmonic dimension, much of such studies
takes into account the theory of musical expectations. It proposes an understanding of the
occurrence of emotions after musical hearing based on neural mechanisms related to expectation.
Motivated by this theoretical vision, several researchers have developed empirical studies to better
investigate the mechanisms of musical expectation. On the other hand, further research suggests
that harmony, in its isolated vertical aspect, is also capable of provoking positive or negative
emotions, depending on the relationship between the present notes of the chords. More recently,
other studies have sought to fill gaps still existing in this field of research, suggesting approaches
that contemplate various aspects of musical listening, both environmental and at individual level.
Among them, the BRECVEMA framework - which emerges as an ambitious proposal to bring
together eight mechanisms of emotional responses related to music listening - and the ITPRA
framework - which proposes an innovative vision of the emotional phenomenon, among others.
This work of bibliographic review will addresses the emotional responses related to the harmonic
dimension of music, from the theory of musical expectations, passing through the levels of
consonance and dissonance of isolated chords and likely new lines of investigation.
Keywords: emotion, harmony, musical expectation, neuroscience
INTRODUÇÃO
Para melhor compreender a relação entre música – e mais especifica-
mente, entre a harmonia – e as emoções, é preciso entender, ainda que de
forma abrangente, o que vem a ser emoção, termo para o qual existem
várias definições. Entre estas, Juslin (2016) define emoções como reações
breves, porém intensas, a eventos potencialmente importantes no ambiente
interno e externo. Este autor classifica as emoções em três grupos
principais: simples (como excitação, calafrios, sentimentos de felicidade ou
Anais
Abordagens horizontais
Neste caso leva-se em consideração o caráter temporal da arte musical, isto
é, sua existência requer o encadeamento de estruturas musicais – divisões
rítmicas, sequências melódicas e harmônicas. Especificamente na harmonia,
diferentes acordes, dispostos em sucessão, podem dar origem a incontáveis
encadeamentos, estabelecendo “paisagens harmônicas” que estão sujeitas a
transformações em variadas dimensões (distribuição das notas em cada acorde,
incluindo a sua oitava, intensidade e timbre de cada nota componente do
acorde, duração relativa do acorde no contexto do trecho, etc.) de forma
cumulativa ou não (fig.1). A musicologia oferece vasta literatura que se ocupa
apenas da construção harmônica na música (Med, 1996; Almada, 2012;
Schöenberg, 2012). De maneira sucinta, a harmonia enseja um tratamento da
experiência musical como um ordenamento de antecedentes e consequentes,
o que está na base da teoria das expectativas musicais apresentada por Meyer
(1956), que inspirou inúmeras pesquisas sobre emoções derivadas da expe-
riência musical.
Abordagens verticais
Aqui a textura harmônica é segmentada em acordes isolados, ou seja,
entidades independentes de um contexto temporal, portanto sem ante-
cedentes ou consequentes. Soando isoladamente, os acordes possuem diferen-
tes caracteres de consonância e dissonância, em virtude das relações particu-
lares que guardam entre si as notas presentes em cada caso (fig.2). Embora a
experiência musical se dê, necessariamente, na dimensão temporal – e, na
música ocidental, mediante a alternância entre acordes de naturezas distintas,
do ponto de vista da tonalidade – efeitos psicoacústicos relativos ao caráter de
consonância ou dissonância entre tons musicais – presentes em acordes isolados
– têm sido tema de investigação em alguns estudos, conforme veremos neste
trabalho.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
432
Figura 2. Abordagem vertical. Neste exemplo, há seis relações intervalares,
cada uma com um índice de consonância ou dissonância particular:
dó-sol, dó-si bemol, dó-mi bemol, sol-si bemol, sol-mi bemol e si bemol-mi bemol.
PANORAMA HISTÓRICO
A teoria das expectativas musicais de Meyer (1956) constitui uma base de
investigação sobre a estrutura musical como gatilho de respostas emocionais
em seres humanos. Sua importância se deve ao fato de ser a primeira teoria
a apresentar, de forma abrangente, de uma perspectiva psicológica, a relação
entre estrutura musical e respostas emocionais.
Na música tonal ocidental, as expectativas estão relacionadas, entre outros
fatores, às estruturas rítmicas ou métricas, tonais e harmônicas (Stevens &
Byron, 2016). Assim, afetos ou emoções são despertados quando uma
expectativa, entendida como tendência de resposta, que é ativada pelo estímulo
musical, é atendida ou violada. Estudos apontam que nossas expectativas são
baseadas nas regras da teoria musical independentemente da consciência
explícita dessas regras, que ocorre, por exemplo, devido ao treinamento musical
formal (Tillmann & Lebrun-Guillaud, 2006). Assim, a expectativa é uma
habilidade que evoca estados emocionais, propicia a antecipação de eventos
futuros e representa vantagem evolutiva óbvia, uma vez que pode significar a
diferença entre vida e morte (Huron, 2006). Do ponto de vista biológico,
respostas fisiológicas à avaliação de eventos musicais e à formação de expec-
tativas no córtex auditivo e em regiões sub-corticais fornecem um ponto de
partida para a compreensão da base neurológica das expectativas e previsão no
processamento musical (Trainor & Zatorre, 2016).
Influenciado pela Gestalt, o trabalho de Meyer motivou diversas
pesquisas nas décadas seguintes, as quais buscaram avaliar as respostas
emocionais provocadas pela audição de trechos musicais em diversos
formatos.
Sloboda (1991) investigou as respostas emocionais em músicos e não-
músicos, a partir de dez modalidades de estruturas musicais – extraídas de
exemplos de compositores dos períodos Barroco, Clássico e Romântico –, das
quais cinco têm relação com harmonia. Em seu trabalho, Sloboda observou a
prevalência de quatro respostas emocionais robustas relacionadas à audição de
música: arrepios na espinha dorsal, riso, nó na garganta e lágrimas. Entre as
causas detectadas para tais respostas, a pesquisa identificou a ocorrência de
novas e inesperadas harmonias e appoggiaturas (atraso no surgimento de notas
esperadas). A pesquisa, nas palavras de Sloboda, “provê confirmação parcial
para as conclusões analíticas de Meyer” (Sloboda, 1991, p.120).
Buscando expandir a abordagem de Meyer com o suporte das ciências
psicológicas, Huron (2006) propõe um conjunto de cinco sistemas de resposta
emocional evocados pela expectativa: imaginação, tensão, previsão, reação e
avaliação (imagination, tension, prediction, reaction, appraisal). Essa estrutura,
conhecida como ITPRA, coloca a emoção evocada pela expectativa como
um processo que envolve cinco etapas dispostas sequencialmente no tempo,
cada uma correspondendo a uma função biológica diferente (Fig.3):
Anais
PERSPECTIVAS
A extraordinária complexidade que envolve as pesquisas contemplando
harmonia musical e emoções se deve, em parte, ao grande número de
fatores que intervêm, de forma simultânea, nesse ambiente de estudo,
tornando-se muito difícil controlar todas as variáveis. Por um lado, há a
realidade da física acústica, onde o fenômeno sonoro musical, em sua
dimensão harmônica, pode assumir uma infinidade de configurações, cada
qual com sua respectiva provocação afetiva. Nesse âmbito, os acordes são
estruturas individuais, manifestando seus caracteres implícitos de maior ou
menor consonância e suas respectivas forças (mais ou menos excitatórias).
Já na dimensão temporal, que envolve encadeamentos de acordes, as
possibilidades são muito mais numerosas e, em boa parte, intermediadas
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Referências
Almada, C. (2012). Harmonia Funcional. Campinas, São Paulo: Editora Unicamp.
Baumgartner, H. (1992). Remembrance of things past: music, autobiographical
memory, and emotion. Advances in Consumer Research, 19, 613-620.
Anais
Problema/questão
Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica de cunho teórico que faz uma análise sobre a
cognição musical infantil com ênfase no aprendizado nos primeiros anos de vida. Em um
primeiro momento, faz-se uma exposição linear das abordagens desses estudos, enfatizando os
aspectos mais importantes concernentes ao tema aqui escolhido. A seguir, ao confrontar essas
pesquisas, expõe-se considerações de pontos comuns e distintos entre elas, propondo uma reflexão
sobre os rumos das atuais posições da pesquisa na área de cognição musical infantil. Este trabalho,
portanto, procura oferecer uma visão de síntese sobre o pensamento de cada autor acerca do
processo cognitivo da música. Desse modo, empreende um esforço para responder a pergunta: o
que diferencia uma abordagem cognitiva da infância daquela conduzida com sujeitos adultos? Por
meio desta revisão, portanto, se pretende propor uma sistematização de discussões atuais a partir
dos seguintes tópicos: percepção da melodia, percepção da harmonia, percepção rítmica,
percepção do timbre, percepção das estruturas formais, concluindo com uma exposição das
habilidades musicais infantis. O trabalho também elege enquanto referencial dois eixos principais;
um primeiro baseado nos resultados compilados no Oxford Handbook of Music Psychology (OUP,
2016) e um segundo a partir dos postulados de François Delalande em Las conductas musicales
(2013).
Objetivo
Sistematizar criticamente as pesquisas mais atuais em cognição musical com foco na infância.
Principais contribuições
-Levantamento bibliográfico da literatura atual em cognição musical infantil
-Revisão crítica com análise comparada entre os trabalhos estudados
-Aprofundamento a partir da consulta às fontes empíricas
Implicações
Além da própria revisão sistemática, fértil em sua possibilidade de prover subsídios teóricos para
pesquisas de outrem, este trabalho oferece referencial adequado para pesquisas que empreendem a
busca por possibilidades pedagógicas de se aplicar os conceitos em contextos educacionais.
Palavras-chave
Cognição musical; Infância; Primeira infância; Revisão bibliográfica
Referências
Dalla Bella, Simone. (2016). Music and Brain Plasticity In: Hallam, S. et al (ed.), Oxford
Handbook of Music Psychology (pp. 325-431). Oxford, UK: Oxford University Press.
Delalande, François. (2013). Las conductas musicales. Santander: Editorial de la Universidad de
Cantabria.
Juslin, Patrik N. (2016). Emotional Reactions to Music In: Hallam, S. et al (ed.), Oxford
Handbook of Music Psychology (pp. 197-214). Oxford, UK: Oxford University Press.
Lamont, Alexandra. (2016). Musical development from the early years onwards In: Hallam, S. et
al (ed.), Oxford Handbook of Music Psychology (pp. 399-414). Oxford, UK: Oxford
University Press.
Schmuckler, Mark A. (2016). Tonality and Contour in Melodic Processing In: Hallam, S. et al
(ed.), Oxford Handbook of Music Psychology (pp. 143-166). Oxford, UK: Oxford University
Press.
Anais
Problema/questão
Esta Comunicação Oral visa apresentar os resultados parciais da minha pesquisa bibliográfica de
dissertação de mestrado em andamento para o Programa de Mestrado em Psicologia da UFMS.
Nosso objetivo é discutirmos com a concepção epistemológica de ser humano e de música que
embasam as pesquisas em Psicologia da Música e as implicações destas na análise das consequências
psicológicas da reação estética suscitada pela música. Isto porque tais interpretações teóricas podem
ter resultados completamente distintos e opostos, a depender da base epistemológica das teorias que
são utilizadas. Ou seja, buscamos através dessa pesquisa, discutir sobre o papel social da música,
investigando não apenas as diferenças teóricas dadas por diferentes perspectivas epistemológicas, mas
além disso, buscar compreender um pouco mais a importância dessa atividade para humanidade e sua
relação especial com o psiquismo, ou seja, sua capacidade de elaborar as emoções e ampliar a
consciência dos indivíduos, possibilitando assim formas criativas e transformadoras de modificarmos
nossa realidade social e histórica. Dentre os vários materiais encontrados, encontramos como uma
importante referência para a Psicologia da Música a Teoria Gerativa da Música Tonal de Lerdahl e
Jackendoff (1983), na qual a música é tratada como uma forma específica de linguagem inata e
universal, de acordo com a Teoria Gerativa de Noan Chomsky (2009). E, dentro de outra perspectiva
teórica-epistemológica, na Teoria Psicológica Sócio Histórica abordamos a teoria de Vigotski (2001)
e Luria (1987) sobre arte e linguagem como fundamento para nossa análise crítica. Constatamos,
então, que no Cognitivismo os Processos Psicológicos Superiores, que nos caracterizam
propriamente como seres humanos, são essencialmente concebidos como naturais, inatos e
universais. No entanto, consideramos a música como um conteúdo cultural inserido em um
contexto social, histórico, econômico e político, capaz de suscitar emoções que, por sua vez, são
mediadoras de outros Processos Psicológicos Superiores.
Objetivos
A partir desta pesquisa, temos o objetivo de apresentar diversas pesquisas em Psicologia da Música
e analisar os fundamentos teóricos-epistemológicos que as embasam, em especial as concepções de
ser humano e de música, e quais as implicações destas para o estudo da Psicologia da Música.
Principais contribuições
Analisar criticamente as teorias psicológicas do campo de pesquisa da Psicologia da Música.
Implicações
Discutir criticamente os Processos Psicológicos Superiores que estão implicados na experiência
estética suscitada pela música – seja na composição, na execução ou na escuta – a partir do estudo
da linguagem musical, considerando a música como um conteúdo cultural inserido em um
contexto social, histórico, econômico e político, capaz de suscitar emoções que, por sua vez, são
mediadoras de outros Processos Psicológicos Superiores.
Palavras-chave
Psicologia da Música, Linguagem Musical, Papel Social da Música
Referências
Chomsky, N. (2009). Linguagem e Mente. São Paulo: ed. UNESP.
Lerdahl, F. & Jackendoff, R. (1983). A generative theory of tonal music. Estados Unidos:
Cambridge, MA: MIT Press.
Luria, A. R. (1987). Pensamento e Linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Ed.
Artes Médicas.
Vigotski, L.S. (2001). Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MAIO 31 | May 31
440
SESSÃO C4
Comunicações Orais | Oral Presentations
SALA 5, 14h
Coordenadora da sessão | Session Chair: Regina Antunes T. dos Santos
14:00
Autorregulação e aprendizagem musical:
uma revisão sistemática da produção do último triênio
Veridiana de Lima Gomes Kruger, Igor Mendes Kruger, Lourdes Maria
Bragagnolo Frison
14:10
Musical phrasing: shaping analysis by general timing of melodic
lines based on Meyer’s theory of syntax
Samuel Henrique Cianbroni, Gilles Comeau, Regina Antunes Teixeira dos Santos
14:20
Tradições de ensino pianístico: um estudo com professores
eminentes
Rebecca Silva Rodrigues, Regina Antunes Teixeira dos Santos
14:30
A criatividade e a imaginação na infância:
perspectiva vigotskiana e a educação musical
Teresa Cristina Trizzolini Piekarski, Valéria Lüders
14:40
A aprendizagem da gaita-ponto sob a ótica da teoria da
autodeterminação
Paulo Cardoso, Liane Hentschke, Regina Antunes Teixeira dos Santos
14:50
Tradução e validação das Escalas Nordoff Robbins:
“Relação criança terapeuta na experiência musical coativa” e
“Musicabilidade, formas de atividade, estágios e qualidades de
engajamento”
Aline Moreira Brandão André, Cristiano Mauro Assis Gomes, Cybelle
Maria Veiga Loureiro
15:00
A música instrumental brasileira no ensino básico a partir do
repertório do choro
Camile Tatiane de Oliveira Pinto, Ana Paula Peters
Anais
Resumo
Dado o crescente número de investigações que se têm produzido no domínio musical sob a perspectiva
da autorregulação da aprendizagem, entendemos oportuno o mapeamento dos escritos mais recentes
ancorados na acepção do estudante enquanto agente de seu percurso formativo. Com isso, neste estudo,
apresentamos uma revisão dos trabalhos produzidos no espaço temporal do último triênio (2016-2018)
com o objetivo principal de identificar o foco investigativo empreendido em tais produções. Como
objetivo último, o presente trabalho destaca as implicações dos achados para o campo de estudos da
aprendizagem musical. A partir do cruzamento dos descritores music, musicians, musical, self-regulation,
self-regulatory, self-regulated, realizamos a busca por trabalhos em doze bases de dados – Scopus, Web of
Science, RILM, Wiley Online Library, PsycINFO, Academic Search Ultimate, ERIC, Emerald, ScienceDirect,
Taylor & Francis, SAGE, Scielo e Word Scientific. Emergiram, da análise das 38 produções selecionadas,
cinco eixos tipológicos como foco investigativo, cada qual com suas subcategorias, a saber: 1)
mensuração; 2) constituição da agência autorregulatória; 3) estratégias; 4) desdobramentos teóricos; 5)
implicações da autorregulação para a educação musical.
Palavras-chave: aprendizagem musical, autorregulação, revisão sistemática, último triênio.
Abstract
Given the increasing number of researches that have taken place in the musical domain from the perspective
of self-regulation of learning, we consider it opportune to map the most recent writings anchored in the
understanding about the student as an agent of his formative course. Thus, in this study, we present a review
of the works produced in the temporal space of the last triennium (2016-2018) with the main objective of
identifying the investigative focus undertaken in such productions. As a final objective, the present work
highlights the implications of the findings for the field of musical learning studies. From the intersection of
the descriptors music, musicians, musical, self-regulation, self-regulatory, self-regulated, we search for
works in twelve databases - Scopus, Web of Science, RILM, Wiley Online Library, PsycINFO, Academic
Search Ultimate, ERIC, Emerald, ScienceDirect, Taylor & Francis, SAGE, Scielo and Word Scientific.
From the analysis of the 38 selected productions, five typological axes emerged as an investigative focus,
each with its subcategories, namely: 1) measurement; 2) constitution of the self-regulatory agency; 3)
strategies; 4) theoretical developments; 5) implications of self-regulation for music education.
Keywords: musical learning, self-regulation, systematic review, last triennium.
INTRODUÇÃO
O campo da educação musical tem investido em discussões a respeito da
autorregulação da aprendizagem voltadas ao domínio musical. É crescente o
número de pesquisas que têm sido produzidas sob essa perspectiva. Tais
estudos, ancorados em autores como Zimmerman (2000; 2011), McPherson,
Renwick (2011), dentre outros, buscam ampliar os horizontes compreensivos
da aprendizagem musical tomando como referência a acepção do indivíduo
aprendente enquanto agente de seu percurso formativo.
Olhar o indivíduo aprendente pelas lentes da autorregulação da aprendi-
zagem é dizer que esse é um ser que mobiliza pensamentos, sentimentos e
ações voltados à construção de aprendizagens que estabeleceu para si. Ao
argumentar que o aprendiz autorregulado é metacognitivamente, motivacional-
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
MÉTODO
A revisão aqui apresentada foi operacionalizada mediante a consulta de
produções disponíveis em doze bases de dados, quais sejam Scopus, Web of
Science, Répertoire International de Littérature Musicale, Wiley Online Library,
PsycINFO, Academic Search Ultimate, Educational Resources Information
Center, Emerald, ScienceDirect, Taylor & Francis, SAGE, Scielo e Word
Scientific, tendo como base para a busca o cruzamento dos descritores music,
musicians, musical, self-regulation, self-regulatory, self-regulated.
A amostra compreendeu produções do espaço temporal do último
triênio (2016-2018) e teve como critério de seleção o fato de serem
trabalhos que elucidassem aprendizagem e performance musical. Não fo-
ram estipulados critérios quanto ao idioma da publicação. Contudo, as
produções do período investigado encontram-se em inglês, espanhol e
português.
RESULTADOS
O corpus analisado é constituído por 38 escritos que discutem questões
relacionadas à aprendizagem e performance musical em formato de artigos,
dissertações, teses e capítulos de livros. Tendo em vista que a revisão, aqui
apresentada, foi norteada pela questão: Qual o foco investigativo empreen-
0dido nas produções do campo musical ancoradas no arcabouço teórico da
autorregulação da aprendizagem, emergiram, da análise, cinco eixos tipoló-
gicos, a saber – mensuração, constituição da agência autorregulatória, estratégias,
desdobramentos teóricos e implicações educacionais, cada qual com suas
subcategorias.
Cumpre notar que, por tratar-se de um fenômeno multidimensional e,
também, ao considerarmos os desdobramentos trazidos pelas produções
selecionadas, não raras vezes um mesmo estudo poderia ser analisado em
Anais
Eixo 1: mensuração
Diz-se que as habilidades que compõem os processos autorregulatórios
incluem o estabelecimento de objetivos proximais; a utilização de varia-
dos tipos de estratégias autorregulatórias visando cumprir com o objetivo
estabelecido; o monitoramento do desempenho; a reestruturação do
contexto físico e social, adequando-os aos objetivos estipulados; o geren-
ciamento e o uso eficiente do tempo; a autoavaliação dos métodos
adotados para cumprir com os objetivos; a atribuição de causalidade aos
resultados obtidos e a adaptação do planejamento estratégico a fim de ser
retomado um novo ciclo autorregulatório (Zimmerman, 2009). Em fun-
ção disso, elencaremos, neste eixo, os trabalhos comprometidos com a
aferição de tais componentes dos processos autorregulatórios.
Desde esse eixo, encontramos estudos que se dedicam à identificação de
comportamentos autorregulados, como os trabalhos de Montgomery, Mousavi,
Carbonaro, Hayward, Dunn (2017); Pike (2016); Pike (2017b); Veloso,
Araújo (2017); estudos dedicados à identificação de estratégias de ensino,
como em Gracia (2018) e, também, investigações que oferecem subsídios
metodológicos para a aferição de estratégias e a incidência de comporta-
mentos autorregulatórios. Temos em Miksza, Blackwell, Roseth (2018);
Mornell, Osborne, McPherson (2018) um corpo de estudos comprometidos
com a produção de instrumentos para a identificação de processos autorregu-
latórios, com destaque a McPherson, Osborne, Evans, Miksza (2017), que
apresentam a técnica de microanálise enquanto recurso sensível para
capturar processos autorregulatórios que comportam ações, pensamentos e
sentimentos e, também, informar práticas educativas. Já em Madeira, Araújo,
Hein, Marinho (2018), vê-se a preocupação com a tradução e validação de
instrumentos para aferir comportamentos autorregulados, nesse caso, o Self-
Regulated Practice Behaviour Scale (SRPB), desenvolvido por Miksza (2012),
e traduzido para a língua portuguesa.
Eixo 3: estratégias
As estratégias autorregulatórias figuram dentre os elementos de maior
destaque quando se fala em aprendizagem autorregulada. Definidas por
Zimmerman (2000, p.17) como “processos pessoais intencionais e ações dire-
cionadas à aquisição ou exibição de habilidades”, as estratégias são classificadas de
acordo com a dimensão – cognitiva/metacognitiva, comporta-mental, contex-
tual e motivacional – que se pretende controlar. A ênfase dada às estratégias
relaciona-se ao entendimento de que “estratégias apropriadamente selecio-
nadas melhoram o desempenho, auxiliando na cognição, controlando o afeto e
direcionando a execução”. Com isso, temos, desde o eixo 3, trabalhos que se
ocupam do mapeamento de estratégias (Fournier, Sala, Dué, O'Neill ; 2017) e
estudos que investigam as implicações das estratégias para a autorregulação, como
em Feely (2017); Volioti, Williamon (2016); Zachariou, Whitebread (2017);
Casas-Mas; López-Íñignez; Pozo (2018) e Gracia (2018a). Dessa última
subcategoria, destacamos o estudo de Gracia (2018a), que nos apresenta uma
revisão teórica a respeito de quatro estratégias de autoavaliação, propondo a
utilização do portfólio eletrônico como meio de monitorização e avaliação da
aprendizagem por parte do estudante e, também, enquanto instrumento de
auxílio ao docente para o acompanhamento do desempenho do estudante.
Anais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Debruçamo-nos nos estudos do campo musical que assumem a
agentividade enquanto gênese da construção formativo/musical com
o intuito de fazer emergir o foco investigativo empreendido em tais
investigações. Como apontamentos finais deste trabalho, destacamos
os diferentes escopos que têm pautado as pesquisas vinculadas a esse
arcabouço teórico. Entendemos mensuração, constituição da agência
autorregulatória, estratégias, desdobramentos teóricos e implicações educa-
cionais enquanto eixos complementares a uma melhor compreensão
dos elementos que compõem a autorregulação da aprendizagem quando
pensada em âmbito musical.
Entendemos que a autorregulação da aprendizagem tem se mostrado
profícua para pensarmos a construção de habilidades musicais e que o
mapeamento das produções, aqui apresentado, oferece-nos diferentes
contribuições para pensarmos a aprendizagem, a performance musical e o
agir pedagógico em diferentes contextos educativos.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Referências
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446 processes through experiential influence. Music Education Research, 19(4), 1-15.
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Feely, P. K. (2017). The Effects of Video Recording on the Level of Expertise and Self-
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Anais
Abstract
The present study reports ways for phrasing the melodic line of pieces from different periods and styles,
performed by graduate students in a preliminary reading. The study is grounded on Meyer`s Theory
(1989) who considers music as language that has syntactic structures for conveying meaning. In a quasi-
experimental approach, three advanced students separately learned three different pieces (dances) by three
distinct composers (Haydn, Chopin, and Bartók) over the course of two practice sessions. In the first
session, the students practiced each piece for thirty minutes using the score and then recorded one
performance. In the second session the procedure was the same, except that some commercial recordings
were made available for consultation by the students. This study showed that phrase shaping is
manipulated through the timing, and direction of the melodic line, and both are based on stylistic features
known by participants. In addition, recordings seem to have an important role in a preliminary reading
and may influence interpretive choices.
Keywords: musical phrasing; performance traditions; musical knowledge; musical styles.
Resumo
O presente estudo relata formas de frasear a linha melódica de peças de diferentes períodos e estilos,
tocadas por estudantes de pós-graduação em uma leitura preliminar. O estudo está fundamentado na
teoria de Meyer (1989) que considera música como linguagem a qual tem estruturas sintáticas para
transmitir significado. Em uma abordagem quase-experimental, três estudantes avançados aprenderam
separadamente três diferentes peças (danças) de três compositores diferentes (Haydn, Chopin e Bartók)
ao longo de duas sessões de estudo. Na primeira sessão, os estudantes praticaram cada peça por trinta
minutos usando a partitura, e então gravaram uma performance. Na segunda sessão o procedimento foi
o mesmo, exceto que algumas gravações comerciais estavam disponíveis para a consulta dos estudantes.
Este estudo mostrou que a forma de frasear é manipulada através do tempo e direção da linha melódica,
que ambos estão baseados nas características estilísticas conhecidas dos participantes. Além de que as
gravações parecem ter um papel importante numa leitura preliminar e podem influenciar escolhas
interpretativas.
Palavras-chave: fraseado musical; tradições de performance; conhecimento musical, estilos musicais.
INTRODUCTION
Musical phrasing can be performed in several ways depending on the
musician’s knowledge of composers, styles, and performance traditions. Meyer
(1989, p. 3) defines style as “a replication of patterning, whether in human
behavior or in the artifacts produced by human behavior that results from a
series of choices made within some set of constraints”. These constraints may
pertain to conventions found in compositions of certain time period. In the
case of performance, this definition of style can be related to the customs of
playing compositions from different periods and different composers.
In his theory of style, Meyer (1989) understands music as language that has
syntactic structures for conveying meaning. This means that groups of musical
elements, like melodic cells or cadences for instance, are used for communi-
cating some “message”. This message is understandable because it is context-
ually relevant to the composer of the piece, and the time period in which it was
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
written. Following this idea, Agawu (2009) says that like in a verbal
composition, music organizes itself in phrases and segments.
450 From Hewitt’s perspective (2009), styles are related to musical and extra
musical influences according to practice communities. This argument infers
that different ways of playing are based not only on creativity, but also on rules
and conventions. Clarke (2006) considers that the creativity can be questioned,
because some interpretative conceptions are expected by the public.
Furthermore, one could consider that these conceptions may also result from
several sources of knowledge, among them, commercial recordings (Fabian,
2017).
Taking into account performance traditions, the patterns within a
composition may be played in different ways while still observing the
conventions (constraints) dictated by the style. In this sense, ways of
phrasing a melodic line may be influenced by performance traditions
(nowadays registered through recordings), but, it involves also knowledge
and creativity of the performer. The present study reports ways of phrasing
the melodic line in pieces from different periods and styles, performed by
graduate students in a preliminary reading.
METHODOLOGY
This study used a quasi-experimental approach: three advanced students
separately learned three different pieces (dances) by three distinct composers
(Haydn, Chopin and Bartók) over the course of three practice sessions, each
one divided into two parts. In the first part, they practiced each piece for thirty
minutes using just the score and then recorded one performance. In the
second part the procedure was the same, except that some commercial
recordings were made available for consultation by the students. Data were
analyzed based on Meyer’s style theory, conceptualizing the manipulation of
timing to shape a phrase as a language (syntax of music). This phrase
language was based on the students’ artistic choices, and shows to what extent
they situate their performance within stylistic performance traditions.
Semi phrases structures were considered for analyses. The following pieces
were employed as stimuli: (i) Haydn’s minuet and trio (2nd movement) of
Sonata in C major Hob XVI n. 10; (ii) Chopin´s Mazurka Op. 33 n. 3; and
(iii) Bartók´s Old Dance Tunes from Fifteen Peasant Songs. For the analysis,
only the melodic line was considered, and the duration of melody was
counted according to the onset of the first note from the melody. Haydn’s piece
was divided into twenty six semi phrases (four and six bar segments,
approximately), with repetitions) in this way: 4 + 4 :|: 4 + 4 + 4 + 6 :| 4 + 4 :|:
4 + 6 :|| (menuet da capo). Chopin´s Mazurka was divided into twelve semi
phrases of four bars approximately (no repetitions), while Bartók´s piece was
divided into seventeen semi phrases of three bars. All performances played by
participants were recorded in MIDI format.
The commercial recordings provided to the participants were by the
following pianists: Andrew Remilliard, Arthur Bsalm and Gabriel Romero for
Haydn. Arthur Rubinstein, Guiomar Novaes and Seong Jin Cho for Chopin.
Finally, Annie Fischer, Sviatoslav Richter and Zontán Fejévári for Bartok. All
of these recordings were available on the website youtube.com and downloads
were made in wave format.
Anais
For counting purpose, the time of the ensuing segment (starting on the
second segment) was subtracted from the previous one, and so on. For the last
segment, in MIDI file, the last note of melody plus its duration was used, and 451
in wave files, the onset of the last note was used.
Each participant was given a pseudonym (Abigail, Iara and Jerônimo) in
order to maintain anonymity.
Figure 1: General phrasing of Haydn’s minuet and trio: (a) Practice session 1; (b) Practice session 2
compared among participants (blue – Abigail; red – Iara; yellow – Jerônimo).; (c) Phrasing from commercial
recordings (orange – Remilliard; dark blue – Balsam; purple – Romero) X axis: number of semi phrases.¹ Y
axis: time duration (ms). Note: There is a lack in the continuity of Abigail’s line in a,
is because she forgot the repetitionn her first performance.
As shown in Figure 1, in the case of Haydn’s Minuet and Trio, one can denote
a phrasing performance pattern. The phrase shaping is very similar among the
participants and professional recordings. The Figure 1 shows a pattern of
accelerating (down) and de-accelerating (up), suggesting a compensating
balance in the organization of phrasing. As shown in the last four points (points
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
22-25, Figure 1), the Menuet da Capo interpretation displays a reverse profile,
i.e.: de-accelerating (points 22-23), followed by accelerating (24-25). A de-
452 accelerating is observed in points 5-8, while in points 9-12 (repetition), the
tempo is compensated (accelerating). In the Trio section (points 13-16),
regularity is provided by eighth note motive which changes the musical
character of the piece. Until this point, the Minuet was marked by a figuration
which demanded a broader gestuality. This aspect is an implicit component of
the procedural knowledge within stylistic conventions in eighteenth-century
rhythmic language, that takes into account hierarchical organization of
rhythmic classes in terms of syntactic categories (Yust, 2018; Mirka, 2009).
The participants played faster in the second practice session (Figure 1b),
but the line shaping remains almost the same, except for the general tempo
(slightly faster).
Chopin
Figure 2 shows the phrasing of Chopin´s mazurka as played by each
participant in session (a) session 1 and (b) session 2. For comparative
reasons, the phrasing extracted from the commercial recording available
for consultation are also included (c). Each point represents a structural
Figure 2: General phrasing of Chopin’s mazurka.: (a) Practice session 1; (b) Practice session 2
(participants: blue – Abigail; red – Iara; yellow – Jerônimo). (c) Phrasing from commercial recordings
(orange – Guiomar; dark blue – Rubinstein; purple – Seong Jin Cho); X axis:
number of semi phrases.² Y axis: time duration (ms).
Anais
Bartók
Figure 3 shows the phrasing of the Bartok’s piece as played by each
participant in (a) session 1 and (b) session 2. For comparative reasons, the
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Figure 3: General phrasing of Bartók’s dance. (a) Practice session 1 (b) Practice session 2 compared
among participants (blue – Abigail; red – Iara; yellow – Jerônimo). (c) Phrasing from commercial
recordings (orange – Fischer; dark blue – Richter; purple – Féjervári) X axis:
number of semi phrases.³ Y axis: Time duration (ms).
CONCLUSION
This study shows that some set of constraints seems to be more rigorous
in Haydn’s performances, relatively flexible in Chopin’s, and quite flex-
ible in Bartók’s.
The results also demonstrated a considerable increase in the general tempo
of the performances in the second practice sessions, with more fluency in the
melodic line. Somehow, it was expected because in this session the participants
were more familiar with the pieces. These performances also seemed to show
an imitation of the phrasing in the commercial recordings mainly for Chopin
and Bartók’s performances, reflecting some influence beyond the students’
creativity.
From the perspective of Meyer’s style theory, the results show how
different ways of phrasing a melodic line seem related to the composer’s
language, and the performers’ understanding of the composers’ styles and
performance traditions. Results also suggest that the participants had a
tendency to maintain familiar performance traditions, primarily in relation
to composers with whom they had prior knowledge.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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Anais
1,2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
1
rebes_rodrigues@yahoo.com.br, 2regina.teixeira@ufrgs.br
Resumo
O intuito deste artigo é apresentar os dados preliminares de uma pesquisa de doutorado em andamento.
O objetivo é investigar, através da observação, análise de vídeos e entrevistas, as diferentes maneiras e
abordagens de ensino usadas por professores de piano cujo ensino tem se destacado no cenário nacional
e acadêmico e onde os mesmos estariam conduzindo seus alunos a construir e a aperfeiçoar a
performance de uma dada obra. Na presente comunicação apresenta-se dados preliminares de 6 profes-
sores e 10 alunos de piano. No decorrer da análise de dados surgiram potenciais conceitos de ações
realizadas por professores durante as aulas de piano e como essas ações evidenciaram a complexidade do
ensino durante uma aula individual de piano.
Palavras-chave: Aula de piano, ensino e aprendizagem, ensino instrumental individual, professor
de piano
Abstract
The purpose of this paper is to present preliminary data from ongoing doctoral research. The goal
is to investigate, through observation, video analysis, and interviews, different ways and approaches
of teaching used by piano teachers whose teaching has excelled in the national and academic context
and where they would be leading their students to build and perfect. This paper presents preliminary
data from six teachers and ten piano students. During the data analysis, potential concepts of actions
taken by teachers during piano lessons emerged and how these actions highlighted the complexity
of teaching during an individual piano lesson.
Keywords: Piano class, teaching and learning, individual instrumental teaching, piano teacher
INTRODUÇÃO
A relação de ensino e aprendizado instrumental individual da música
de concerto ocidental tem sido discutida e apresentada na literatura
internacional como ensino um para um¹ (Nerland 2007; Carey & Grant,
2014; Gaunt, 2017) ou aula/ensino em estúdio² (Kennell 2002; Burwell,
2012). As aulas no modelo um para um são consideradas como uma parte
indispensável da aprendizagem instrumental (Gaunt, 2007; 2017; Carey
et tal., 2013). Em vista disso, grande parte da literatura transmite uma
sensação de que o ensino individual desempenha um papel valioso na
formação de músicos profissionais. Em sua maioria, a performance de um
músico no contexto da música de concerto, é o resultado de eventos que
acontecem entre aluno e professor na privacidade da aula de estúdio,
sendo os professores agentes musicais, os modelos e as forças motivadoras
para os seus alunos (Campbell, 1991).
Por se tratar de um contexto em que é característico por seu isolamento
(Young, Burwell & Pickup 2003; Gaunt, 2007; Mcphail, 2010) muitas possibi-
lidades de pesquisas e investigações podem ser oferecidas (Triantafyllaki, 2005).
A variedade entre as abordagens dos professores às aulas instrumentais parece
ser vasta, dependendo não apenas das diferenças entre os participantes
individuais, mas também das tradições históricas e práticas associadas aos seus
instrumentos especializados. Entretanto, embora muitos dos estudos que
enfoquem o ensino e a aprendizagem instrumental busquem as visões dos
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
METODOLOGIA
Um estudo de levantamento foi realizado com dezesseis participantes,
dos quais seis são professores de piano (P1, P2, P3, P4, P5 e P6) cujo
ensino tem se destacado no cenário brasileiro, que atuam ou já atuaram
em universidades brasileiras, e também possuem carreira artística ativa.
Foi pedido aos professores que indicassem alguns de seus alunos para
participarem, voluntariamente, da pesquisa. Dez alunos (A1 a A10)
aceitaram o convite para participar da investigação, sendo eles, oito
estudantes de graduação e dois de pós-graduação. As técnicas de pesquisa
utilizadas foram a de observação de vídeo e entrevista semiestruturada.
A coleta de dados foi dividida em duas partes: i) gravação da aula e
entrevista com os alunos, ii) entrevista com o professor sobre suas concepções
de ensino que será realizada após análise final dos casos. A primeira parte da
coleta compreendeu a gravação durante as aulas de piano dos professores e
seus respectivos alunos com o objetivo de registrar as orientações passadas
aos estudantes, isto é, meios consistentes de elencar o foco do professor
durante as situações da construção da performance de peças do repertório.
Com o intuito de acompanhar a construção de uma dada obra, as gravações
das aulas ocorreram, em sua maioria, em duas a três etapas: i) primeira ou
segunda aula da peça³; ii) aula próxima a uma performance pública. A
intenção de acompanhar as aulas em momentos distantes foi de perceber as
diferenças das aulas durante o trabalho inicial da obra e em estágio avançado.
As aulas foram gravadas em áudio e vídeo. A seleção das obras foi definida
em função do repertório dos participantes, sendo escolhida aquela/s que,
se possível, o professor ainda não havia escutado/trabalhado em aula, ou
aquela/s em que o professor teria escutado/trabalhado apenas uma vez.
Assim, o acompanhamento do tralhado do professor com o aluno pudesse
ser investigado. Para a presente comunicação serão apresentados dados
sobre o levantamento com total de dezesseis participantes coletados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Aos alunos foi perguntado sobre seus principais objetivos e aspectos mais
estudados na obra, antes da primeira aula. De maneira geral para os alunos
investigados (N=10), a preocupação mais premente frente à primeira aula
Anais
Nove dos dez alunos investigados comentaram ser essa sua preocupação
para a primeira aula de piano. Essas preocupações iniciais demonstradas pelos
alunos frente às aulas de piano que iriam participar podem ser muito
semelhantes àquelas de muitos alunos de piano (e instrumento) nesta tradição
de concerto ocidental, pois se percebe a intencionalidade de se deixar a obra
lida de uma maneira apresentável para uma primeira performance em aula,
conforme já abordado por Hyry-Beihammer (2010, 2011).
Quanto aos aspectos mais trabalhados pelos alunos, estes variaram em
função das especificidades da obra estudada assim como do nível de
familiaridade com a peça estudada. Como ilustração podemos trazer o exem-
plo do aluno A1 que, para o estudo do 3º movimento da Sonata Op. 31 nº 3
de Beethoven, afirmou ter se voltado para as harmonias a fim de ajudar na
memorização pelo fato de se guiar “muito pela harmonia na hora de
memorizar”. O aluno A1 também declarou ter trabalhado aspectos como
articulação, fraseado e também a polifonia. Outro participante (A9), declarou
que para primeira aula se concentrou em realizar “uma boa leitura” e
também “resolver a maioria dos problemas técnicos e musicais que eu
conseguia”. Já A2 mencionou ter seu foco na resolução de dedilhados com o
objetivo de “pegar mais velocidade para entrar no andamento” pretendido.
Na literatura, ao investigar aulas do pianista e professor Matti Raekallio
na Finlândia, Hyry-Beihammer (2010, 2011) observou que as aulas
começavam tipicamente com o aluno tocando a peça inteira, em prefe-
rência, de memória. Este tipo de comportamento foi uma recorrência
intencional em todas as 10 aulas observadas nesta pesquisa, e fez surgir um
primeiro conceito característico da aula de instrumento na tradição de
concerto ocidental, aqui denominada de simulação de performance. Entende-
se por simulação de performance a (primeira) realização instrumental da peça
em estudo que é trazida para ser trabalhada na situação de aula de piano.
Outro aspecto apontado por Hyry-Beihammer (2011) foi que a aula de
piano no modelo do estúdio parece consistir em um número de seqüências
que inclui a execução do aluno, feedback do professor, seguido por uma
nova tarefa para o aluno e, finalmente, pela reação do aluno como base para
o próximo ciclo. Todas as aulas aqui coletadas contiveram esse modelo,
embora possa ser possivel perceber especifidades de professor a professor em
termos dos processos de instrução, a seguir detalhados.
Na presente pesquisa, na primeira vez que o aluno A1 tocou em aula o
3º movimento da Sonata Op. 31 nº 3 de Beethoven o principal foco de P1
foi incentivar a compreensão e reflexão do caráter indicado na partitura
como um guia nas escolhas interpretativas. Algumas das falas do professor
P1 que ilustraram esse aspecto foram: “Agora para mim o minueto sempre
vai jogar com esse elemento de graciosidade e de movimento que tem a
ver com a articulação” ou ainda, “não pense em moderato como uma coisa
lenta, mas como algo não lento e nem rápido... Mas, fluido, gracioso... o
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
nados visando uma dada meta a ser atingida, conforme já havia apontado
por Hyry-Beihammer (2010, 2011), porém, não conceituado.
462 P2 concentrou-se em resolver alguns problemas de execução tais como
técnica, gesto e dinâmica implícitos na partitura. Porém, sua maior preocupação
durante a aula estava em auxiliar A3 na realização do primeiro movimento da
Sonata Op. 90 de Beethoven em termos de contorno fraseológico através do
gesto (o procedimento de técnica que o professor fundamenta-se tem maneiras
de como realizar os movimentos, que vão ao encontro com aspectos da técnica
Taubman). Seus modos de instrução consistiram, de forma geral, em instrução
guiada, correções, feedback, demonstração e monitoramento cíclico da prática de
A3. Porém, a construção do pensamento musical embasado na escolha/
intencionalidade da gestualidade nem sempre foi totalmente compreendido
por A3. No fim da aula, A3 confessou ao professor estar confuso na compre-
ensão da realização dos gestos. Mesmo com a contínua insistência da parte do
professor em fazer o aluno compreender as ideias sugeridas por ele as
informações só foram retidas e compreendidas por A3 aos poucos. Nerland
e Hanken (2002) argumentam que o aprendizado em estúdio, como no caso
apresentado, envolve processos de desenvolvimento de longo prazo que
podem não ser facilmente compreendidos pelo aluno, e ao professor
frequentemente é confiada a tarefa de fornecer uma orientação apropriada,
independente (se) sua orientação é entendida no momento ou não.
CONCLUSÃO
É importante ressaltar o caráter preliminar dos resultados deste trabalho. As
análises preliminares apresentadas ilustram contextos de aulas individuais de
piano, bem como apontam as peculiaridades e semelhanças nas abordagens aí
empregadas. Além disso, a pesquisa em andamento oferece contribuições
potenciais em um campo de pesquisa sobre o ensino instrumental individual.
Notas
1 O termo original: one-to-one
2 Studio
3 Para a presente pesquisa, a intenção em registrar as primeiras aulas de uma dada obra foi observar
e acompanhar as diferenças ou semelhanças no ensino do professor diante bem como a atuação do
aluno em diferentes momentos na construção da obra a ser trabalhada.
Anais
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
O problema proposto para esta pesquisa refere-se à abordagem da criatividade e imaginação na proposta
da psicologia histórico-cultural de Lev S. Vigotski, estabelecendo relações com criação musical no
contexto escolar. Vigotski (1899-1934) se refere a atividade criativa como própria do ser humano, que
pode ser a representação de um objeto do mundo exterior (Vigotski, 2014). As ações reprodutiva e
combinatória, que são criadas, estão presentes no comportamento humano. Nesse sentido, o professor
de música pode oportunizar vivências em que a criança combine elementos da música, estimulando
comportamento reprodutivo, considerando as variações possíveis, e também incentivando a atividade
combinatória desses elementos, por meio de atividades que envolvam imaginação e ludicidade. O
mecanismo psicológico da imaginação e da sua relação com a atividade criativa deve ser compreendido
considerando a clareza da conexão entre a fantasia e a realidade, presentes no comportamento humano.
Elementos elaborados e modificados da realidade, acrescidos de experiências acumuladas resultam em
formas mais complexas da imaginação. Vigotski (2014) afirma que a criatividade é característica de todo
ser humano, presente em diferentes intensidades nas diferentes pessoas, “[...] e que ela é companheira
habitual e permanente do desenvolvimento infantil” (Vigotski, 2014, p .43). Ele refuta a ideia de que a
criatividade seja um atributo de poucas pessoas, devendo, portanto, ser incentivada e desenvolvida na
educação musical infantil.
Palavras-chave: Educação musical, imaginação, criatividade, psicologia histórico-cultural, Vigotski
Abstract
The problem proposed for this research refers to the approach of creativity and imagination in Lev S.
Vigotski's proposal of historical-cultural psychology, establishing relationships with musical creation in
the school context. Vigotski (1899-1934) refers to the creative activity as proper to the human being,
which may be the representation of an object from the outside world (Vigotski, 2014). The reproductive
and combinatorial actions that are created are present in human behavior. In this sense, the music teacher
can provide opportunities for the child to combine elements of music, stimulating reproductive
behavior, considering possible variations, and also encouraging the combinatorial activity of these
elements through activities involving imagination and playfulness. The psychological mechanism of
imagination and its relation to creative activity must be understood, considering the clarity of the
connection between fantasy and reality, present in human behavior. Elaborated and modified elements
of reality, plus accumulated experiences, result in more complex forms of imagination. Vigotski (2014)
states that creativity is characteristic of every human being, present in different intensities in different
people, "[...] and that she is the habitual and permanent companion of child development" (Vigotski,
2014, p .43). He refutes the idea that creativity is an attribute of a few people and should, therefore, be
encouraged and developed in early childhood music education.
Keywords: Music education, imagination, creativity, historical-cultural psychology, Vigotski
INTRODUÇÃO
O problema proposto para este artigo é parte integrante de doutorado
em andamento. Refere-se à abordagem da criatividade e imaginação na
proposta da psicologia histórico-cultural de Lev S. Vigotski, estabelecendo
relações com criação musical no contexto escolar. Vigotski (1899-1934)
não estudou especificamente a criação musical, porém interessou-se pela
psicologia da arte e pela educação estética, que são relevantes para este
estudo.
Piekarski e Lüders (2013) citam alguns estudos sobre educação musical
ligados à teoria histórico-cultural, que são expostos na sequência desta
introdução. Hargreaves, Marshall, e North (2003) expuseram a relevância
da perspectiva sociocultural e que o desenvolvimento da criança depende
Anais
Imaginação e realidade
Vigotski (2014) aponta que a atividade criativa combinatória surge pouco
a pouco, progride a partir de formas simples e rudimentares evoluindo para as
mais complexas, e com características próprias. Isso significa, que durante a
infância, há diversas formas de criatividade conforme a etapa do desenvol-
vimento que a criança se encontra. No que se refere a atividade criativa
combinatória na educação musical deve-se considerar a fase de desenvolvi-
mento em que se encontra o estudante para planejar gradualmente as ativi-
dades condutivas para o fazer musical criativo, respeitando suas capacidades
cognitivas relacionadas as funções psicológicas superiores², como também as
suas possibilidades motoras, vocais, enfim, o que envolve seu corpo no fazer
musical.
A primeira forma básica da ligação da fantasia com a realidade
fundamenta-se “[...] no fato de que qualquer ato imaginativo se compõe
sempre de elementos tomados da realidade e extraídos da experiência
humana pregressa” (Vigotski, 2014, p. 10). O estudioso aponta que é
impossível criar algo do nada, sem a base do conhecimento anterior, de
experiências anteriores. Ainda esclarece, que mesmo a análise científica de
situações fantásticas sem ligação com a realidade, como mitos, lendas,
sonhos, provam que até mesmo a imaginação mais elaborada é uma nova
combinação de elementos extraídos do real, que a nossa imaginação altera
ou refaz.
É com base nisso, que Vigotski (2014, p.12) aponta a lei mais significativa
a qual a atividade imaginativa está vinculada: “a atividade criadora da
imaginação está relacionada diretamente com a riqueza e a variedade da
experiência acumulada do homem, uma vez que essa experiência é a
matéria-prima a partir da qual se elaboram as construções da fantasia”.
Associado a esta ideia, Ribot, citado por Vigotski (2014), escreve que é
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
A imaginação criativa
Vigotski (2014) reafirma, que no início do processo criativo consta-
tam-se as percepções externas e internas com base nas experiências viven-
ciadas. De posse dessa bagagem, adiante irá edificar as suas fantasias. Na
próxima etapa “[...] segue-se um processo complexo de elaboração desses
materiais, cujas partes constituintes importantes são as dissociações e
associações das impressões adquiridas através da percepção. Cada impres-
são representa um todo complexo composto por um conjunto de
múltiplas partes independentes” (Vigotski, 2014, pp. 25-26).
Segundo o teórico referido acima, a dissociação acarreta o desmembra-
mento de todo o complexo em fragmentos singulares. A memória reserva
alguns desses fragmentos e outros são esquecidos. Dessa forma, a dissociação
é essencial para a atividade da fantasia.
Para que os diversos elementos se relacionem, o homem deve inicial-
mente desmembrar as suas associações naturais do jeito que foram perce-
bidos. Há um impacto marcante desse processo no desenvolvimento
mental humano, que alicerça o pensamento abstrato para a formação de
conceitos. E a competência de extrair certos elementos do conjunto de
um complexo é relevante para o trabalho criativo (Vigotski, 2014).
Nesse sentido, ao considerar essas afirmações de Vigotski na educação
musical, vamos exemplificar a atividade de apreciação musical com a melodia
de Frère Jacques⁵ (canção tradicional francesa), e a sua referência em modo
menor na Sinfonia N.º 1⁶ de Gustav Mahler, que segundo Almeida (2010),
ressoa melancolicamente. No contexto escolar abordado nesta pesquisa, o
trabalho pedagógico com a obra não será a análise⁷, mas reconhecer que o
compositor explorou uma melodia já existente, dando-lhe outro tratamento
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Notas
1 As pessoas consideradas gênios, talentosas são identificadas na atualidade como pessoas com altas
474 habilidades/superdotação, que possuem “[...] notável desempenho e elevada potencialidade em
qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral; aptidão
acadêmica especifica; pensamento criativo ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial
para artes e capacidade psicomotora” (MEC, 2006).
2 Funções psicológicas superiores diz respeito as funções cognitivas específicas dos seres humanos,
que são as ações voluntárias (Piekarski, 2014).
3 O sistema considera as formas de expressão verbal, musical e corporal como princípio pedagógico da
totalidade, muito importante em educação musical, além da atividade, criatividade e a comunidade. A
vivência musical nessa perspectiva objetiva realização musical da melhor maneira possível e desenvolver
o sentido estético. O sistema destaca a importância de desenvolver os aspectos técnicos, o conhecimento
dos elementos da música e as emoções que a música proporciona. (Wuytack, 2007).
4 YouTube (2013, Janeiro, 13). Tom & Jerry - The Cat Concerto [Arquivo de vídeo].
Recuperado em 01 de maio de 2019 de https://www.youtube.com/watch?v=uKZgi06fVsk
5 Essa melodia é muito conhecida no ambiente escolar devido às paródias de Meu Lanchinho e Meus
Dedinhos, utilizadas como ferramentas de ensino nas escolas.
6 YouTube (2009, Junho, 22). Sinfonia Nº 1 em Ré Maior 3.º Movimento. Recuperado em 01 de
maio de 2019 de https://www.youtube.com/watch?v=kEPERXpOqiU
7 Análise é “parte do estudo da arte musical que tem como referência a própria música, e não os parâmetros
externos. Envolve em geral o desmembramento de uma estrutura musical em elementos constituintes
relativamente mais simples, além do papel desses elementos na estrutura” (Grove, 1994, p. 28).
8 Para conhecer a obra de Gerardo Feldstein sugere-se acessar https://www.ignant.com/2013/05/07/
gerardo-feldstein . Recuperado em 01 de maio de 2019.
9 Para conhecer essa obra acesse https://www.youtube.com/watch?v=5fms_rSB99c . Recuperado
em 01 de maio de 2019.
10 Audacity é um software livre, de fácil manuseio, que possibilita gravar os sons e editá-los, modificando
o andamento, os timbres, realizando recortes e enxertos de trechos, inserindo efeitos, entre outras
possibilidades.
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Resumo
O presente trabalho é um relato da pesquisa que teve como objetivo abordar os elementos
motivacionais envolvidos no processo de aprendizagem dos alunos para estudar gaita-ponto no
contexto do projeto Fábrica de Gaiteiros. A fundamentação teórica baseia-se na Teoria da
Autodeterminação (Deci & Ryan, 1985) onde o referencial teórico é apresentado com base na
pesquisa desenvolvida em 2018 na cidade de Barra do Ribeiro. A teoria fornece suporte a
proposição de que as pessoas têm necessidades psicológicas básicas fundamentais e, necessitam
sentir-se autônomas ao determinar suas próprias ações, competentes ao interagir eficientemente
com o ambiente e relacionarem-se a um contexto social para se sentirem autodeterminadas.
Palavras-chave: Motivação; Teoria da Autodeterminação; Aprendizado de Instrumento Musical.
Abstract
This paper is a report of the research that aimed to address the motivational elements involved in
the learning process of students to study harmonica in the context of the project Pipers Factory.
The theoretical foundation is based on the Theory of Self-Determination (Deci & Ryan, 1985)
where the theoretical framework is presented based on research developed in 2018 in the city of
Barra do Ribeiro. The theory supports the proposition that people have fundamental basic
psychological needs and need to feel autonomous in determining their own actions, competent
in effectively interacting with the environment, and relating to a social context in order to feel
self-determined.
Keywords: Motivation; Self-Determination Theory; Musical Instrument Learning.
INTRODUÇÃO
A temática presente nessa investigação refere-se à motivação para a
aprender gaita-ponto, construída a partir da minha trajetória pessoal de
formação e de atuação como músico licenciado, tendo o acordeon como
opção de instrumento musical. O acordeon é um instrumento musical
que produz som através da vibração de palhetas impulsionadas por uma
coluna de ar movimentada através de um fole. O instrumento chegou ao
Brasil em meados do século XIX, trazido pelos europeus, sobretudo os
italianos e os alemães, tendo grande aceitação popular, impulsionando o
surgimento da indústria nacional de acordeons, principalmente na região
sul do país. No Brasil ele pode ser encontrado em quase todas as regiões,
porém no Sul, no Sudeste e no Nordeste é praticamente impossível
dissociá-lo da música e da cultura fomentada nessas localidades (Bangel,
1989).
No Rio Grande do Sul o acordeon é popularmente chamado de gaita
e a denominação gaita-ponto corresponde à característica de se ter na
mão direita botões ao invés de teclas, sendo também bitonal, em que a
mesma nota emite um som ao abrir o fole e outro som ao fechar (Peres,
2009).
Para os agentes envolvidos na formação da criança, dos educadores, da
família e dos amigos faz-se importante compreender os motivos que impul-
sionam a criança a começar a tocar um instrumento musical, sendo de
Anais
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa foi
elaborada a partir do objetivo proposto, que é investigar a motivação dos
alunos para aprender gaita-ponto no projeto Fábrica de Gaiteiros. Como
estratégia de pesquisa, utilizou-se o estudo de entrevista de natureza
qualitativa. Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a entrevista
semiestruturada.
Anais
Contexto
A pesquisa foi realizada no projeto Fábrica de Gaiteiros, vinculado ao
Instituto Renato Borghetti de Cultura e Música, na cidade de Barra do
Ribeiro/RS, distante 60 km de Porto Alegre/RS. Uma característica do
projeto é que os instrumentos utilizados nas aulas são fabricados no local,
onde todo o processo de desenvolvimento e fabricação é conduzido por
dois artesãos. É importante ressaltar que todo o processo de fabricação pode
ser observado e acompanhado pelos alunos. Os instrumentos fabricados são
disponibilizados aos alunos que não possuem instrumento através do que é
chamado no projeto de rodízio de gaitas.
As aulas são individuais e, na medida em que os alunos vão evoluindo no
repertório, são eles incorporados aos estudos e às práticas em grupo, que
acontece uma vez por semana. A prática em grupo, via de regra, é o
momento em que os alunos que já executam o repertório podem aproveitar
para praticar
Para esta pesquisa foram entrevistados os alunos com o mínimo de dois
anos de permanência no projeto. Essa delimitação dos participantes deu-se
por entender-se, dessa forma, ser possível uma melhor compreensão e uma
análise dos aspectos investigados na presente pesquisa, como autonomia,
competência e relacionamento, todos propostos pela TAD.
Dessa forma, de um total de 34 alunos, através dos critérios previamente
estabelecidos, resultaram 13. Dos 13 alunos foram selecionados oito, esco-
lhidos por meio de sorteio, dos quais resultaram seis meninos e duas
meninas, com idades entre 10 e 15 anos.
Resultados e discussões
Os resultados da investigação serão apresentados e discutidos em termos
de cinco temáticas, a saber: i) descrição das características do contexto e da
população investigada, ii) impressões sobre a motivação inicial e continuada;
iii) percepções sobre autonomia; iv) apresentações em grupo e percepções
sobre as competências; e v) relações com os colegas e percepções sobre o
relacionamento com o contexto.
CONCLUSÃO
No que se refere à autonomia para administrar o tempo de estudo, os
participantes demonstraram conduzi-lo sem influência externa. Também
indicaram vontade e disposição pessoal para tirarem músicas, bem como
para a escolha de partituras mais adequadas às próprias habilidades. Esse
comportamento indica o fortalecimento da necessidade psicológica básica
de autonomia.
A partir dos relatos dos participantes foi possível evidenciar que, ao
pretenderem tocar uma música nova, deparam-se, muitas vezes, com
dificuldades que são inerentes à fase inicial do aprendizado; ter consciência
da complexidade da tarefa é uma demonstração de senso de competência e
algo importante na aprendizagem de um instrumento.
De acordo com os dados, os alunos investigados, em sua maioria,
apresentam um forte senso de pertencimento e de relacionamento acerca
do projeto. No contexto dessa pesquisa, a necessidade de relacionamento
mostrou-se fortalecida no que se refere ao envolvimento e ao suporte ao
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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Anais
Resumo
As Escalas Nordoff Robbins de Relação Criança Terapeuta na Experiência Musical Coativa e de
Musicabilidade, Formas de Atividade, Estágios e Qualidades de Engajamentos são utilizadas como
meio de avaliação musicoterapêutico desde a década de 1960 nos EUA. Nesta pesquisa, pretende-se
verificar os indícios de validade dessas escalas no contexto brasileiro. A metodologia deste estudo
obedece ao Modelo Universalista de equivalência cultural, adaptação e validação de testes da área da
saúde desenvolvido por Herdman, Fox-Rushby e Badia (1998). Consiste em um estudo amostral, de
pessoas com Transtornos do Neurodesenvolvimento através de análise de vídeos de atendimentos
pré filmados de Musicoterapia.
Palavras-chave: Musicoterapia, Escalas Nordoff Robbins, Transtornos do Neurodesenvolvimento.
Abstract
The Nordoff Robbins Scales Child-Therapist Relationship in Coactive Musical Experience and
Musicing: Forms of Activity, Stages and Qualities of Engagement have been used as a means of music
therapy evaluation since the 1960s in the USA. In this research, we intend to verify the signs of validity
of these scales in the Brazilian context. The methodology of this study follows the Universalist Model
of cultural equivalence, adaptation and validation of health tests developed by Herdman, Fox-Rushby
and Badia (1998). It consists of a sample study of people with Neurodevelopmental Disorders through
video analysis of pre-filmed Music Therapy sessions.
Keywords: Music Therapy, Nordoff Robbins Scales, Neurodevelopmental Disorders.
INTRODUÇÃO
Durante anos, a Musicoterapia tem auxiliado na reabilitação e trata-
mento de diversas pessoas em variados contextos. Contudo, no Brasil,
ainda existem poucos instrumentos validados que possam auxiliar na
avaliação desses pacientes. Gattino (2012) relata que no Brasil, a maior
parte dos estudos publicados sobre Musicoterapia se refere a estudos de
caso e relatos de experiência e poucos em protocolos de avaliação.
Através de uma revisão realizada nos portais Periódicos da CAPES e
Google Acadêmico em busca de testes de Musicoterapia validados no
Brasil, foi possível encontrar apenas 6 estudos: Gattino (2012), Silva
(2012), Sampaio (2015), Rosário (2015), Gattino e colegas (2016) e André
(2017).
Gattino (2012) em sua pesquisa de doutorado intitulada “Musicoterapia
aplicada à avaliação da comunicação não verbal de crianças com Transtorno
do Espectro Autista: revisão sistemática e estudo de validação”, realizou
estudos para verificar indícios de validade da escala Category System for Music
Therapy - KAMUTHE para avaliação da comunicação de pessoas com
Transtorno do Espectro Autista (TEA) no contexto musicoterapêutico
brasileiro. Segundo o autor, a análise psicométrica da Escala KAMUTHE
Anais
JUSTIFICATIVA
Traduzir e validar as demais Escalas Nordoff Robbins para o Brasil
489
representa um ganho para a Musicoterapia e para futuros estudos relacio-
nados a comportamentos musicais, uma vez que esses comportamentos são
resultantes de fatores neurológicos, psicológicos e culturais. Além disso, as
Escalas Nordoff Robbins podem contribuir para uma avaliação musical
relacionada a como o indivíduo produz, percebe, analisa e reage à música ou
a qualquer expressão sonora em seus diversos aspectos.
Freire (2014) relata que a primeira versão dessas escalas foi publicada
em 1987 e apresentava pontuações que variavam de 01 a 10. Essas
pontuações representariam o nível de participação do paciente. Nordoff,
Robbins e Marcus (2007) publicaram, em 2007, uma versão atualizada das
mesmas com pontuações que variavam entre 01 e 07. Mahoney (2010)
realizou um estudo verificando a utilização destas no decorrer dos anos e
demonstrando sua eficácia.
A Escala de Relação Criança Terapeuta na Experiência Musical Coativa
avalia em 7 graus o quanto uma pessoa pode apresentar resistividade e o
quanto ela participa no contexto musical. A Escala de Musicabilidade,
Formas de Atividade, Estágios e Qualidades de Engajamento avalia o que
uma pessoa é capaz de expressar musicalmente e o quanto ela se engaja para
realizar cada atividade. Essa Escala leva em consideração a quantidade de
batidas que um indivíduo pode fazer em instrumento de percussão por
minuto e qual o ritmo e a expressividade em instrumentos musicais. Em
relação as formas melódicas, como por exemplo o canto, essa Escala leva em
consideração desde melodias simples e complexas até a tonalidade, os frase-
ados e a improvisação. Nesses construtos, são considerados aspectos impor-
tantes e representativos de comportamento musicais e não musicais, como
por exemplo a intensidade, o ritmo e diferentes planos de altura. Cada
aspecto pode representar algo que reflete a condição de saúde, bem como
possíveis características individuais como aspectos psicológicos, de persona-
lidade, cultural ou de interação social.
Segundo Nordoff, Robbins e Marcus (2007), as Escalas Nordoff
Robbins podem ser utilizadas para avaliação de pessoas com diversas
condições médicas. Em sua origem, elas foram utilizadas para avaliar
crianças com transtorno do espectro do autismo, esquizofrenia infantil,
transtorno emocional grave, lesão cerebral, deficiência visual, paralisia
cerebral, deficiência mental grave e deficiência de aprendizado com com-
plicações de afasia. Recentemente, estas escalas foram utilizadas para avaliar
diversas condições, dentre elas, pessoas com os vários tipos de transtornos
do neurodesenvolvimento, como demonstra Mahoney (2010).
Nesta pesquisa, pretende-se estudar a população com diagnóstico de
Transtornos do Neurodesenvolvimento, por ser uma condição que
abrange várias patologias. De acordo com American Psychiatric Association
(2014), na descrição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais - DSM 5, os Transtornos do Neurodesenvolvimento são definidos
como um grupo de condições com início no período do desenvolvimento.
Em geral, antes da criança ingressar na escola, sendo caracterizados por
déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento
pessoal, social, acadêmico ou profissional.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
OBJETIVOS
Os objetivos dessa pesquisa consistem em traduzir e validar para o
português brasileiro as Escalas Nordoff Robbins de Relação Criança
Terapeuta na Experiência Musical Coativa e Escala de Musicabilidade,
Formas de Atividade, Estágios e Qualidades de Engajamento e utilizar
essas escalas, para analisar, através de videogravações, o comportamento
de pessoas com Transtornos do Neurodesenvolvimento.
Participantes
Profissionais serão convidados para analisar vídeos de atendimentos de
Musicoterapia. Os vídeos utilizados serão de instituições que aceitaram
colaborar com nossa pesquisa cedendo vídeos de banco de dados de
atendimentos musicoterapêuticos realizados a pessoas com Transtornos do
Neurodesenvolvimento. Os responsáveis pelos pacientes que foram filma-
dos já assinaram previamente Termo de Consentimento específicos que
permitiam a filmagem e o usos desse material para pesquisas acadêmicas. A
pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e registrado sob o número
04167218.2.0000.5149.
Instrumentos
Serão utilizados vídeos de atendimentos de Musicoterapia realizados
no atendimento a pessoas com Transtornos do Neurodesenvolvimento e
também serão utilizadas as Escalas Nordoff Robbins de Relação Criança
Terapeuta na Experiência Musical Coativa e Escala de Musicabilidade,
Formas de Atividade, Estágios e Qualidades de Engajamento juntamente
com seus respectivos manuais explicativos disponíveis no livro Creative
Music Therapy: Guide to Fostering Clinical Musicianship escrito pelos
autores Nordoff, Robbins e Marcus (2007).
RESULTADOS ESPERADOS
De acordo com os resultados apresentados por André (2017), André,
Gomes, e Loureiro (2017) e André, Gomes, e Loureiro (2018) é possível
observar que a Escala Nordoff Robbins de Comunicabilidade Musical
obedeceu aos critérios de validação para avaliação de pessoas com Transtornos
do Neurodesenvolvimento em atendimentos musicoterapêuticos no contexto
brasileiro com boa confiabilidade interexaminadores em todos os domínios da
escala (vocal ρ = 0.87, instrumental ρ = 0.79 e movimento corporal ρ = 0.73 )
com p<0,01 e equivalência comprovada em todos as etapas. Além disso,
podemos observar no estudo de André et al. (2018) que a Escala de Relação
Criança Terapeuta na Experiência Musical Coativa apresentou boa correlação
de Spearman na avaliação interexaminadores de atendimentos realizados a
crianças com TEA, com correlações fortes em ambos domínios: Níveis de
Participação (ρ=0,791) e Qualidade de Resistividade (ρ=0,756); e no total
(ρ=0,858) com p<0,01.
Acredita-se que as Escalas Nordoff Robbins de Relação Criança Tera-
peuta na Experiência Musical Coativa e de Musicabilidade, Formas de
Atividade, Estágios e Qualidades de Engajamento poderão contribuir para
a avaliação de comportamentos derivados de estímulos musicais de pessoas
com Transtornos do Neurodesenvolvimento no contexto brasileiro e pos-
sivelmente apresentarão resultados positivos, assim como a Escala de
Comunicabilidade Musical.
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XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Problema/questão
Entre os desafios do ensino de música no contexto brasileiro está o de explorar o potencial da
música popular brasileira na educação básica. Assim, esta pesquisa de mestrado em andamento
analisa e propõe o repertório do choro como protagonista na construção do conhecimento musical
na educação básica. Entre os primeiros gêneros da música popular brasileira que apareceram no
final do século XIX, o choro surgiu a partir de influências da música europeia e africana na prática
dos instrumentistas que atuavam no espaço urbano daquela época. Nos dias atuais, o choro avança
por outros espaços além das ruas e ambientes acadêmicos. Entretanto, o choro carece de maior
oportunidade na sala de aula, e a falta de hábito de escuta da música instrumental torna-se uma
realidade para a maioria das crianças, que deixam de vivenciar este tipo de discurso sonoro
(Almeida; Levy, 2010, p. 26). Fucci-Amato (2012, p. 117) concorda que “A própria música
popular brasileira, em sentido amplo, ainda não é explorada em toda a sua potencialidade
pedagógica.”.
Objetivos
Deste modo, o objetivo desta pesquisa é promover o aprendizado musical a partir da apreciação
do repertório do choro, evidenciando as possibilidades pedagógico-musicais deste repertório.
Entendida como uma das principais atividades musicais, a apreciação musical (Silva e Cunha,
2003, p. 64) permite que todos os envolvidos participem ativamente desta “rede complexa de
pessoas, processos, produtos e contextos” que constitui o fazer musical (Elliot, 1995, p. 51).
Método
Para isso, será realizada uma pesquisa-ação durante um trimestre em uma escola da rede municipal
da cidade de Curitiba, Paraná, tendo o choro como o repertório principal das aulas, e a apreciação
como a modalidade central – mas não exclusiva – das aulas de música. Os dados serão coletados
por meio de entrevistas, instrumento de avaliação e gravações em vı́deo das aulas. O instrumento
de avaliação, fundamentado nas concepções de Swanwick, adaptado por Silva e Grossi (2001), será
composto pelas seguintes categorias de análise de apreciação: a) caráter expressivo, b) relações
estruturais e c) materiais do som.
Resultados
Entre os resultados esperados, estão a possibilidade da construção do conhecimento musical a
partir da aproximação do aluno com o repertório brasileiro e o desenvolvimento de um discurso
simbólico por meio do repertório do choro.
Conclusões
A música instrumental brasileira pode contribuir na experiência estética e no aprendizado musical
dos alunos do ensino básico, e a sua presença na sala de aula pode ser ampliada e explorada.
Palavras-chave
Choro, educação básica, apreciação musical, música instrumental brasileira
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MAIO 31 | May 31
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