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IX

Plenarinha

Musicalidade
das infâncias:
de cá, de lá,
de todo lugar
IX
Plenarinha
Governo do Distrito Federal
Secretaria de Estado de Educação

Musicalidade
das infâncias:
de cá, de lá,
de todo lugarBrasília, abril de 2020/2021
Ficha técnica

Valdério Costa
Governador de Brasília Michelle de Oliveira Pinto
Ibaneis Rocha Regina Lúcia Pereira Delgado
Teresinha Rodrigues Pereira
Secretário de Estado de Educação
do Distrito Federal Revisão de Conteúdo
Leandro Cruz Fróes da Silva Andreia Pereira de Araújo Martinez

Subsecretário de Educação Básica Revisão de Português


Tiago Cortinaz da Silva Débora Cristina Sales da Cruz Vieira
Renata Pacini Valls Carvalho
Diretora de Educação Infantil
Andréia Pereira de Araújo Martinez Ilustrações
Valdério Costa
Diretora do Ensino Fundamental Crianças da SEEDF
Ana Carolina Albernaz Tavares Mundinho
Capa
Diretora de Serviços e Projetos Valdério Costa
Especiais de Ensino
Ana Karina Braga Isac Diagramação
Laiana Dias (ASCOM)
Diretora de Educação do Campo,
Direitos Humanos e Diversidade Fotografia
Ruth Meyre Mota Rodrigues Mary Leal

Subsecretária de Formação Continuada


dos Profissionais da Educação – EAPE
Hélvia Miridan Paranaguá Fraga

Equipe Técnica
Ana Neila Torquato de Arimatéa Ferreira
Andrea Cardoso Batista
Andreia dos Santos Gomes Vieira
Andréia Pereira de Araújo Martinez
Fernanda Godoy Angelini
Graziela Jacynto Lara
Ione da Costa Melo Silva
Jaqueline de Souza Cândido Moreira
Juliana Pereira de Melo Marcondes
Leda Carneiro Aguiar
CAPÍTULO AUTORES
Compondo juntos a trilha sonora de um encontro Andréia Pereira de Araújo Martinez
Andrea Cardoso Batista
Graziela Jacynto Lara
Na ciranda da IX Plenarinha Leda Carneiro Aguiar
Regina Lúcia Pereira Delgado
Teresinha Rodrigues Pereira
Entrevista com Patrícia Amorim
Agilson Carlos de Andrade Arruda
Currículo em Movimento do Distrito Federal: e a Maria Luiza Dias Ramalho
musicalidade nas infâncias Maria Auristela Barbosa Alves de
Miranda
Ancestralidade: a musicalidade de outros tempos Andréia Pereira de Araújo Martinez
Universo sonoro-musical: músicas daqui e acolá Andréia dos Santos Gomes Vieira
Augusto Charan Alves Barbosa
Música é arte
Gonçalves
Desenvolvimento da musicalidade infantil Andréia Pereira de Araújo Martinez
Corpo sonoro-musical Roberto Ricardo Santos de Amorim
Paisagem sonora: sons em todos os cantos Daiane Aparecida Araújo de Oliveira
Sonoridades: Refletindo sobre os tempos,
Ione da Costa Melo Silva
espaços e materiais
Música para e com todos: é possível com a
Tatiane Ribeiro Morais de Paula
criança surda?
Seres de possibilidades Murilo Silva Rezende
Meios e modos de vivenciar a música Sara Paraguassú Santos do Vale
Entre músicas e sons, o “Era uma vez” fica pra lá Ana Neila Torquato de Arimatéa
de bom Ferreira
Brincadeiras cantadas: Um universo de
Paula da Silva Moreira Carvalho
possibilidades brincantes e musicais
Agilson Carlos de Andrade Arruda
A importância da atividade sonoro-musical na
Maria Luiza Dias Ramalho
Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental: Pensando a transição Maria Auristela Barbosa Alves de
Miranda
Sumário
Compondo juntos a trilha sonora de um encontro............................................................… 7

Na ciranda da IX Plenarinha...........................................................................................…13

Entrevista com Patrícia Amorim........................................................................................16

Currículo em Movimento do Distrito Federal - e a musicalidade nas infâncias................. 25

Ancestralidade: a musicalidade de outros tempos............................................................ 29

Universo sonoro-musical: músicas daqui e acolá.............................................................. 32

Música é arte.................................................................................................................... 38

Desenvolvimento da musicalidade infantil....................................................................... 41

Corpo sonoro-musical...................................................................................................... 45

Paisagem sonora: sons em todos os cantos....................................................................... 48

Sonoridades:Refletindo sobre os tempos, espaços e materiais......................................... 52

Música para e com todos: é possível com a criança surda?............................................... 56

Seres de possibilidades.................................................................................................... 60

Meios e modos de vivenciar a música............................................................................... 64

Entre músicas e sons, o “Era uma vez” fica pra lá de bom................................................. 69

Brincadeiras cantadas: Um universo de possibilidades brincantes e musicais................. 73

A importância da atividade sonoro-musical na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do


Ensino Fundamental: Pensando a transição....................................................................... 77

A EAPE promove formação continuada em Educação Musical.......................................... 81

Escola de Música de Brasília............................................................................................. 82

Cronograma..................................................................................................................... 85

Para registrar................................................................................................................… 86

Referências...................................................................................................................... 85
Valdério Costa
Passarinho
Passarinho saiu do ovo
e se encantou com o que ouviu
de onde viriam tantos sons,
quem os criou, quem os sentiu?

Passarinho saiu do ninho


e procurando os encontrou
nas folhas secas, no silêncio, na ventania.
Na ciranda e na poesia.

No riacho, no violino, na dança.


No batuque e no corpo da criança.
Num feliz espanto o passarinho
encontrou música em seu próprio canto

Passarinho saiu cantando


e até hoje não parou.
Quem sabe ele nos ensine
a cantar o amor!

Meu pedido, passarinho.


É que me leve contigo e me ensine a escutar
Eu também quero saber da musicalidade que vem
de cá, de lá e de todo lugar.

Ana Neila Torquato

6 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Compondo juntos a trilha
sonora de um encontro

e
eo Bandeirant
Pietro | C EI 01 do Núcl ríodo da Educação Infantil
Autoria | 2º Pe
árcia Cristina
Professora M

O ano de 2020 começou cheio de ex- rus, distanciamento social e educação remota,
pectativas, ainda mais, ao saber que a temática entre outros aspectos que estão imbricadas nes-
da VIII Plenarinha seria “Musicalidade das in- sa realidade. Mesmo diante desse contexto, a IX
fâncias: de cá, de lá, de todo lugar”. Nem pre- Plenarinha precisa acontecer, assim como acon-
cisa continuar essa conversa para externar tudo teceu no ano anterior, dando continuidade aos
o que aconteceu ao longo do ano. Você sabe o trabalhos e entonando sonoridades, cânticos e
que aconteceu! Mas, no final do ano, ao realizar a músicas, contribuindo assim, para o desenvolvi-
avaliação do projeto da Plenarinha da Educação mento musical e integral das crianças.
Infantil, ficou evidente que as e os profissionais Portando, “Musicalidade das infâncias:
da educação, e sobretudo, as crianças, queriam de cá, de lá, de todo lugar”, é a temática da Ple-
continuar com a mesma temática no ano seguin- narinha da Educação Infantil em dois anos se-
te, e assim, com a esperança de que seria um guidos – 2020 e 2021.
ano diferente... Se no ano passado foi escrito um cader-
O ano de 2021 começou, mas a história no que abordava vários pontos acerca dessa te-
ainda continua a mesma – pandemia, coronaví- mática, sem imaginar a existência da educação

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 7


remota, ao revisá-lo para o presente ano, surgiu educação que se deseja oportunizar às crian-
algumas necessidades, como por exemplo, tra- ças, mesmo que seja por meio do teletrabalho.
tar do papel da escola das infâncias, das e dos Lembrando que é importante incluir nesses
profissionais da educação e das famílias, na momentos de coordenação pedagógica remo-
realização de um trabalho conjunto para a pro- ta, estudos e planejamentos voltados para a
moção de ações que possam viabilizar e possi- musicalidade das infâncias, bem como, incluir
bilitar o desenvolvimento da musicalidade das a temática da IX Plenarinha da Educação In-
crianças, mesmo que remotamente. fantil na Proposta Pedagógica da Unidade Es-
Então, vamos começar a compor a colar, pública ou parceira.
música? • Papel das e dos profissionais da
• Papel da escola das infâncias: educação:
É importante que a instituição de edu- Essas e esses profissionais constituem
cação coletiva das infâncias se constitua em a escola das infâncias. Juntamente com as fa-
um local aberto para perceber a realidade e mílias e as crianças, tornam esse contexto vivo,
se reinventar, tornando-se capaz de receber cheio de experiências e de possibilidades,
e se envolver com as crianças, mesmo que em vários sentidos. Portanto, faz-se necessá-
remotamente, respeitando sua singularidade rio reforçar, que mesmo diante de uma nova
e considerando seus interesses e necessi- realidade com novos horizontes e desafios,
dades, percebendo que cada criança possui essa vivacidade pode se fazer presente, sem
uma história, com experiências próprias. Isso perder de vista o reconhecimento das espe-
também, diz respeito as experiências sonoro- cificidades do fazer pedagógico na Educação
-musicais e a possibilidade de ampliação de Infantil, buscando uma aproximação, diálogo e
seu repertório musical. parceria com as famílias.
É preciso acolher as crianças, e não só Ao implementar a temática da Plena-
elas. É preciso acolher e envolver as famílias, rinha desse ano, promovendo a musicalidade
oportunizando uma educação remota colaborati- das infâncias, o encontro se torna necessário.
va, relembrando a realidade que estamos viven-
do e explicando a necessidade dessa organiza-
ção pedagógica. Dessa forma, se faz necessário
apresentar e elucidar sobre os documentos que
normatizam a primeira etapa da Educação Bási-
ca, esclarecendo como as crianças, suas infân-
cias e a Educação Infantil é percebida e quais
são seus objetivos no sentido de oportunizar
as aprendizagens e o desenvolvimento integral
das crianças, mesmo que à distância.
A escola das infâncias precisa ser um
lugar que se organiza em prol do coletivo, pre-
ocupada com as e os profissionais da educa-
ção, promovendo momentos de acolhimento,
nte
cleo Bandeira ntil
de reflexão, de estudo e de debate sobre a | CEI 01 do Nú Período da Educação Infa
Autoria Théo a Cristina | 2º
M árci
Professora

8 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


O encontro com as e os colegas de trabalho. O sem, cantem, brinquem. Esses encontros síncro-
encontro com as famílias. E o encontro com as nos podem acontecer todos os dias, desde que
crianças. Um encontro sonoro-musical regado não ultrapasse o tempo de uma hora.
com a musicalidade da voz humana que pode • Papel das famílias:
ser transmitida por um áudio ou por um vídeo É importante que as famílias estejam
ou por meio de um encontro virtual síncrono. abertas ao diálogo, ouvindo as explicações e
Destaca-se, que se faz necessário tentando compreender como se percebe as
criar laços com as famílias, e sobretudo, com crianças, suas infâncias e a Educação Infantil,
as crianças, sendo assim, é importante reali- quais são os seus objetos, a importância das
zar encontros virtuais síncronos, em que as brincadeiras e da musicalidade para o desen-
conversas se tornam fluidas e vivas, em que volvimento integral das crianças.
as sonoridades podem ser observadas, des- Se faz necessário criar vínculos com a
pertando a curiosidade e o levantamento de escola das infâncias e com as suas e seus profis-
hipóteses por parte das crianças, promovendo sionais, estabelecendo uma relação de parceria,
a escuta atenta, o vínculo com a voz da profes- buscando contribuir com alternativas, dentro da
sora ou do professor, captando as diferentes realidade de cada um, para contornar as dificul-
vozes das outras crianças, e como essas vozes dades que se evidenciam na educação remota.
podem ser organizadas para cantar ou realizar Para isso, é fundamental atualizar os
brincadeiras sonoro-musicais. dados cadastrais na secretaria da escola que a
Segundo a Sociedade Brasileira de criança está matriculada, sendo que nem preci-
Pediatria, recomenda-se que crianças de até sa ir presencialmente, basta fazer uma ligação
2 anos de idade não sejam expostas a nenhum ou enviar uma mensagem. É preciso estar atento
tipo de tela. Então, com esse grupo de crian- aos informativos sobre como será o atendimen-
ças se intensifica a necessidade de diálogo e to educativo das crianças de forma remota – ou
de parceria com as famílias para que seja ex- pela plataforma ou por meio da entrega de ma-
plicado as atividades, os seus objetivos, e que teriais e atividades.
elas possam realizá-las em casa com seus be- É preciso estabelecer uma rotina para
bês e crianças bem pequenas, dentro da rea- realização das atividades educativas com as
lidade de cada um. Portanto, mesmo com esse crianças, dentro das possibilidades de cada fa-
grupo, se faz necessário o encontro virtual mília e considerando, também, a organização da
síncrono com as famílias, para promover esse escola das infâncias.
diálogo direto, para a troca de ideias, de ex- • Sugestões de atividades sonoro-mu-
periências, de dificuldades e de alternativas. sicais que podem ser realizadas com as fa-
Talvez um encontro semanal seja o suficiente mílias voltadas para os bebês:
para promover esses momentos. o Durante o banho, brincar com a sono-
Voltando a recomendação da Socieda- ridade da água.
de Brasileira de Pediatria, as crianças de 2 a 5 o Ouvir os balbucios ou vocalizações
anos de idade, podem ser expostas às telas, por emitidas pelos bebês e imitá-los. A tendência é
no máximo, uma hora por dia. Sendo assim, re- que os bebês percebam a brincadeira e come-
alize encontros virtuais síncronos diretamente cem a repetir os sons, estabelecendo uma espé-
com as crianças, criem laços com elas, conver- cie de diálogo sonoro.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 9


o Chamar atenção dos bebês para as som do vento, do carro, da moto, do cachorro, do
sonoridades existentes no ambiente e imitar os gato, entre outros.
sons com a boca. Com o tempo, os bebês co- o Realizar sons de boca, como estalo,
meçam a imitar essas sonoridades, tais como, beijo, tremor de língua, entre outros, com a
som do vento, do carro, da moto, do cachorro, do intenção de provocar as crianças a imitarem
gato, entre outros. esses sons.
o Realizar sons de boca, como estalo, o Realizar sons com o corpo, como ba-
beijo, tremor de língua, entre outros, com a in- ter os pés, bater palmas, estralar os dedos, en-
tenção de provocar os bebês a imitar esses sons. tre outros, com a intenção de provocar a escuta
o Realizar sons com o corpo, como ba- atenta das crianças e delas imitarem esses sons.
ter os pés, bater palmas, entre outros, com a in- o Falar o nome da criança de diferentes
tenção de provocar a escuta atenta dos bebês e maneiras, trabalhando as propriedades do som:
deles imitarem esses sons, posteriormente. agudo e grave, curto e longo, forte e fraco. E com
o Falar o nome do bebê de diferentes diferentes melodias e ritmos.
maneiras, trabalhando as propriedades do som: o Falar as partes do corpo com as crian-
agudo e grave, curto e longo, forte e fraco. E com ças de diferentes maneiras, trabalhando as pro-
diferentes melodias e ritmos. priedades do som: agudo e grave, curto e longo,
o Falar as partes do corpo com os bebês forte e fraco. E com diferentes melodias e ritmos.
de diferentes maneiras, trabalhando as proprie- o Entregar diferentes objetos (de
dades do som: agudo e grave, curto e longo, for- madeira, de plástico, de metal, folhas secas,
te e fraco. E com diferentes melodias e ritmos. entre outros) para as crianças explorarem as
o Entregar diferentes objetos (de sonoridades.
madeira, de plástico, de metal, folhas secas, o Enviar uma lista de músicas gravadas
entre outros) para os bebês explorarem as que as famílias podem ouvir com as crianças, e
sonoridades. também, podem cantar com elas.
o Enviar uma lista de músicas gravadas o Cantar junto com as crianças músicas
que as famílias podem ouvir com os bebês, e explorando as propriedades do som: agudo e
também, podem cantar para eles. grave, curto e longo, forte e fraco.
o Cantar músicas explorando as pro- o Cantar músicas com acompanha-
priedades do som: agudo e grave, curto e longo,
forte e fraco.
o Contar histórias explorando as sono-
ridades dos lugares, objetos, situações e perso-
nagens descritos na história.
• Sugestões de atividades sonoro-mu-
sicais que podem ser realizadas com as famí-
lias voltadas para as crianças bem pequenas:
o Chamar atenção das crianças para
as sonoridades existentes no ambiente e imitar
á)
os sons com a boca. A tendência é que elas co- do Parano
o Interla gos (CRE til
Alt fan
ola Classe ucação In
mecem a imitar essas sonoridades, tais como, yan | Esc | 1º Período da Ed
Autoria R n e
Cristia
Professora

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mento de percussão corporal realizada pelas tir da escuta atenta (pode enviar a gravação de
crianças. sons que lembram determinados ambientes
o Cantar músicas com acompanhamen- para as crianças adivinharem).
to de percussão com diversos objetos realizado o Criar paisagem sonora com o corpo.
pelas crianças. o Criar paisagem sonora com diver-
o Contar histórias e explorar junto com sos objetos.
as crianças as sonoridades dos lugares, objetos, o Gravar com o celular as sonoridades
situações e personagens descritos na história. existentes na própria casa.
• Sugestões de atividades sonoro-mu- o Criar histórias a partir das gravações
sicais que podem ser realizadas com as fa- realizadas com o celular.
mílias voltadas para as crianças pequenas: o Tocar escondido, diferentes objetos,
o Chamar atenção das crianças para para as crianças adivinharem do que se trata.
as sonoridades existentes no ambiente e pe- o Trocar lista de músicas entre as
dir para as crianças imitarem esses sons com a crianças, do que cada uma ouve com sua fa-
boca, tais como, som do vento, do carro, da moto, mília em sua casa.
do cachorro, do gato, entre outros. É importante mencionar que essas
o Realizar sons com o corpo, como ba- atividades, também podem ser realizadas
ter os pés, bater palmas, estralar os dedos, en- no contexto da escola das infâncias, quando
tre outros, com a intenção de provocar a escuta a realidade de educação remota não se fizer
atenta das crianças e delas imitarem esses sons. mais necessária.
o Entregar diferentes objetos (de • Espaços, tempos e materiais:
madeira, de plástico, de metal, folhas secas, Diante da realidade do distanciamen-
entre outros) para as crianças explorarem as to social e da educação remota, é preciso olhar
sonoridades. para a moradia das crianças como um contexto
o Enviar uma lista de músicas gravadas propício para as suas aprendizagens e o seu de-
que as famílias podem ouvir com as crianças, e senvolvimento, considerando os espaços que a
também, podem cantar com elas. compõe, dentro e fora, desde a sala, os quartos,
o Cantar junto com as crianças músicas a cozinha e o próprio banheiro pode se consti-
explorando as propriedades do som: agudo e tuir em um espaço para a vivência de atividades
grave, curto e longo, forte e fraco. sonoro-musicais, como a varanda, a garagem ou
o Cantar músicas com acompanhamento o quintal, e também, espaços que as crianças
de percussão corporal realizada pelas crianças. podem frequentar, caso esteja liberado o aces-
o Cantar músicas com acompanhamen- so, como os parques ecológicos, parques infan-
to de percussão com diversos objetos, realizado tis, pracinhas, entre outros.
pelas crianças. O espaço pode ser vivenciado, também,
o Contar histórias e explorar junto com a partir da escuta da janela do que acontece na
as crianças as sonoridades dos lugares, objetos, rua ou na cidade, provocando a escuta atenta,
situações e personagens descritos na história. a percepção sonoro-musical, reconhecendo as
o Solicitar que as crianças criem a so- sonoridades, imitando-as, entre outras ativida-
noplastia das histórias contadas. des e experiências.
o Reconhecer paisagem sonora a par- O tempo precisa ser considerado res-

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 11


peitando a realidade de vida das crianças com nas, provocando a escuta atenta, a percepção
suas famílias e a organização da escola das in- sonoro-musical, a exploração sonoro-musical,
fâncias, de forma dialogada, considerando so- a imaginação e criação sonoro-musical, mesmo
bretudo, o tempo das crianças na realização de diante da realidade do distanciamento social
cada atividade sonoro-musical. e da educação remota. Vale fazer um destaque
E os materiais podem ser os que exis- em relação à escuta, que é um dos aprendiza-
tem no contexto da moradia das crianças, dos musicais. É preciso despertar nas crianças
como os utensílios domésticos, caixas de pa- o interesse pela escuta, desenvolvendo a escu-
pelão, embalagens de plástico ou de isopor, ta atenta, mas também, que ela perceba e sinta,
móveis, entre outros. Se a casa tiver um quin- que a sua fala ou expressão musical é ouvida
tal ou se as crianças puderem visitar espaços pelas pessoas de seu convívio social, seja na fa-
em que a natureza se faz presente, elas podem mília ou na escola das infâncias.
realizar a exploração sonoro-musical das ár- Ressalta-se que os demais textos des-
vores, demais plantas, folhas, terra, areia, pe- se caderno são os mesmos do ano anterior,
dras, gravetos, entre outros. porém, continuam sendo material essencial
E assim, as famílias em parceria com a para leitura, estudo, pesquisa, discussão, pla-
escola das infâncias, podem se organizar para nejamento e avaliação das ações promovidas
promover o desenvolvimento musical de bebês, às crianças de forma a contribuir para o seu
crianças bem pequenas e de crianças peque- desenvolvimento musical.

12 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Na ciranda da
IX Plenarinha…
Valdério Costa

Ciranda Cirandinha
Vamos todos cirandar

Vamos dar a meia volta


Volta e meia vamos dar...

Vamos dar meia volta e encontrar a das crianças na Primeira Infância e torná-las
criança que existe em cada um de nós? E de- partícipes na elaboração da primeira versão do
pois, vamos dar uma volta e meia e cantar? E ba- Currículo em Movimento da Educação Básica
tucar, e tocar, e dançar e cirandar?!?!?! – Educação Infantil (2014, 1ª ed.). Essa experi-
A VIII Plenarinha – Musicalidade das In- ência prosperou e no decorrer dos anos seguin-
fâncias: de cá, de lá, de todo lugar – nos convida tes, os temas foram escolhidos em consonância
a desenvolver nossa consciência musical, a ima- com o Currículo e com a participação efetiva
ginar e criar possibilidades para propiciar às das crianças, suscitando o desenvolvimento de
crianças momentos que tenham significado para novas políticas e organização do trabalho peda-
elas e que estejam repletos de musicalidade. gógico para a Educação Infantil, considerando
Mas antes disso, vamos retomar, breve- as crianças e suas relações sociais no centro do
mente, a história da Plenarinha na Secretaria de processo educativo.
Estado de Educação do Distrito Federal. “Eu cidadão, da Plenarinha à Participa-
A Plenarinha é um projeto da Subse- ção”, foi o tema da II Plenarinha, em 2014, e teve
cretaria de Educação Básica-SUBEB, organiza- como principal objetivo possibilitar às crianças
do pela Diretoria de Educação Infantil-DIINF e da Educação Infantil o exercício de cidadão ati-
realizado por toda comunidade escolar, voltado vo, conhecedor de seus direitos e deveres.
prioritariamente, à Educação Infantil e ao pri- Em 2015, a III Plenarinha teve como
meiro ano do Ensino Fundamental, da rede pú- tema “Escuta sensível às crianças: uma possibi-
blica de ensino do Distrito Federal. lidade para a (re)construção do Projeto Político
Esse projeto teve início no ano de 2013, Pedagógico”, que subsidiou e instrumentalizou
com o objetivo de fortalecer o protagonismo o debate em torno da (re)elaboração do Projeto

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 13


Político Pedagógico de cada Unidade Escolar, a com Histórias”, com foco no universo do brin-
partir da escuta sensível às crianças. car e da literatura.
“A cidade (e o campo) que as crianças A escolha do tema da VIII Plenarinha,
querem”, tema da IV Plenarinha, em 2016, teve de 2020, “Musicalidade das Infâncias: de cá,
como proposta promover e favorecer o diálogo de lá, de todo lugar”, ocorreu por meio de uma
com as crianças sobre os espaços e os lugares consulta participativa às crianças. Essa temática
por elas ocupados. contempla o determinado no Currículo em Mo-
Em 2017, a temática da V Plenarinha foi vimento do Distrito Federal – Educação Infantil
“A criança na natureza: por um crescimento sus- – que considera a intencionalidade educativa
tentável”. Seu objetivo foi aproximar as crianças do desenvolvimento integral das potencialida-
da natureza e construir uma relação de recipro- des das crianças, em relação à capacidade de
cidade e compreensão do quanto ela é neces- ouvir atentamente os sons; de explorar os sons
sária para a existência humana e para a preser- do próprio corpo e dos mais diversos materiais
vação do nosso Planeta. A partir desse ano, as existentes, sejam eles instrumentos musicais

convencionais ou não; ampliar o


repertório; desenvolver o respei-
to a cultura musical de diferentes
grupos sociais, entre outras pos-
sibilidades, integrantes dos cinco
Campos de Experiências, no caso
da Educação Infantil, mas tam-
bém se faz presente no Currículo
em Movimento do Distrito Fede-
ral - Ensino Fundamental.
Em 2021 a 9ª edição do
Projeto terá a mesma temática de
2020 - Musicalidade das Infâncias:
de cá, de lá, de todo lugar. A con-
Autoria Lara | Escola Classe Sonhém de Cima (CRE de Sobradinho)
Professora Eveline | 2º Período da Educação Infantil tinuidade a justifica-se pela pesquisa de opinião
realizada no final do ano de 2020 e levou em con-
crianças do 1º ano do Ensino Fundamental fo-
sideração a especificidade do trabalho realizado
ram incluídas no Projeto Plenarinha.
naquele ano em virtude da Pandemia do Covid-19.
“O Universo do Brincar” foi o tema da
Essa temática é evidenciada nos docu-
VI Plenarinha, no ano de 2018, que destacou a
mentos orientadores da Educação Básica, como
importância do brincar no processo de desen-
por exemplo, as Diretrizes Curriculares Nacio-
volvimento das crianças. Teve como objetivo vi-
nais (BRASIL, 2009) e a Base Nacional Comum
venciar o brincar, a brincadeira e o brinquedo
Curricular (BRASIL, 2017).
como ferramenta de aprendizagem e desenvol-
O presente Caderno Guia é uma ferra-
vimento, de forma integral.
menta importante para todas as professoras, pro-
O tema escolhido para a VII Plena-
fessores e demais integrantes da comunidade
rinha, em 2019, foi “Brincando e Encantando
escolar, atuantes na Educação Infantil e 1º ano do

14 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Ensino Fundamental. Recomenda-se que seja uti- nadora ou coordenador pedagógico, professoras
lizado no cotidiano das Coordenações Pedagógi- e professores, monitoras e monitores, e demais
cas para garantir que todo o planejamento pe- profissionais da educação), as Coordenações Re-
dagógico contemple o tema escolhido, posto que gionais de Ensino (CI – Coordenadora ou Coorde-
na educação musical, também é preciso imprimir nador Intermediário que acompanha a Educação
intencionalidade educativa às práticas pedagó- Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental
gicas, e pensar simultaneamente, nos Direitos de e Comissões Gestoras das Instituições Educacio-
Aprendizagem e Desenvolvimento, nos Campos nais Parceiras) e toda a comunidade escolar, a
de Experiências e na música como área de co- desenvolver a VIII Plenarinha – Musicalidade das
nhecimento do componente curricular Arte. Por- Infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.
tanto, é importante que o projeto da VIII Plena-
rinha seja desenvolvido ao longo do ano letivo, (...) toda e qualquer música é (...) se dá por meio da
com atividades realizadas no âmbito da Unidade musicalidade e das possibilidades sonoras de cada cul-
tura. A musicalidade é toda a possibilidade que os seres
Escolar e registrado na Proposta Pedagógica. humanos possuem para expressar, explorar e organizar
O Caderno Guia traz o cronograma com sons produzidos através do próprio corpo ou pela ma-
nipulação sonora de objetos (GONÇALVES, 2017, p.50).
as datas das culminâncias Locais, Regionais e Dis-
trital, na perspectiva de que as Unidades Escolares
– públicas e parceiras – planejem suas ações com-
patibilizando as intencionalidades pedagógicas
no decorrer do ano letivo, com a temática da VIII
Plenarinha. Assim, as culminâncias são momentos
de celebração, de compartilhar o que as crianças
vivenciaram no contexto de educação coletiva ao
longo do processo educativo, que não se limitam a
uma semana ou um mês específico.
Autoria Luís Gustavo | CEI 310 do Recanto das Emas
Professora Bel | 2º Período da Educação Infantil
Fica a dica:
A ação pedagógica não se limita a um
momento estanque da Plenarinha Local,
Regional ou Distrital. Esses momentos
são importantes para compartilhar tudo o
que foi vivenciado pelas crianças, ao lon-
go do ano letivo. Portanto, as crianças têm
o direito de vivenciar as sonoridades, as
músicas e sua musicalidade, no dia a dia,
de forma a se fazer realidade sua autono-
mia em seu processo de constituição de
aprendizagem e desenvolvimento.

Convidamos as equipes pedagógicas de Autoria Theo | CEI 01 do Núcleo Bandeirante


cada Unidade Escolar (equipe gestora, coorde- Professora Camille | 2º Período da Educação Infantil

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 15


Entrevista com
Patrícia Amorim
Patrícia Amorim é Pedagoga e Mestra em Educação pela Univer-
sidade de Brasília. Fundadora do Projeto Batucadeiros juntamente
com Ricardo Amorim, atua com música corporal no Instituto Batu-
car, no Recanto das Emas-DF. Como criadora da abordagem educa-
tivo musical Batuca Bebê, pesquisa o desenvolvimento da musica-
lidade dos bebês, tendo como foco a educação do gesto musical, a
partir da música corporal. Ministrou workshops de música corporal
no Brasil e Argentina (América do Sul), Cabo Verde e Guiné-Bissau
(África) e na Suécia (Europa).

1- Na sua opinião, o que é fundamental para o práticas educativo musicais a partir do corpo
desenvolvimento da musicalidade dos bebês? dos bebês, precisamos primeiro falar do corpo
Em primeiro lugar, é fundamental entender que da mãe, do pai, da cuidadora ou cuidador, da
bebê é esse. Considerá-lo como um ser em sua professora ou professor, enfim, do organizador
totalidade afeto-intelecto. E, também, enxergá- do espaço social educativo musical.
-lo como um ser de possibilidades! Todo adulto em seu percurso histórico-cultu-
Em segundo lugar, precisamos ter a consciên- ral, vive inúmeras experiências musicais. Es-
cia de que os bebês vivem no estado do sem- sas experiências, vão se constituir em vivên-
pre-presente, no agora! E não como seres que cias que serão a base para o desenvolvimento
precisam se desenvolver corporalmente para de suas musicalidades. Infelizmente, vivemos
poder aprender. numa sociedade em que impera o mito da
E, finalmente, é necessário que os bebês este- amusicalidade, ou seja, o senso comum de
jam num ambiente encharcado de experiências que somos seres desprovidos de musicalida-
musicais e, sobretudo, cercado de afetos positi- de (PEDERIVA e TUNES, 2013). Esse fenômeno
vos com carinhos, massagens e aconchego. Isso afeta as pessoas, que dizem não ter ritmo, que
exige, também, que os adultos responsáveis por não sabem cantar ou tocar um instrumento, en-
esses bebês estejam vivendo esse tempo pre- fim, que não sabem nada de música!
sente do agora com os bebês. Outro agravante é que no processo de escolari-
zação os nossos corpos são aprisionados e per-
2- Como é possível pensar em práticas edu-
demos muito a noção da nossa corporeidade.
cativo musicais a partir do corpo dos bebês?
Então, o primeiro passo para pensar em práticas
Na constituição humana, o outro precede o eu.
educativo musicais a partir do corpo dos bebês,
Chamamos isso de alteridade, parte essencial
é trabalhar o despertar da própria consciência
na teoria de Vigotski. Então, quando falamos em

16 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


da corporeidade e da musicalidade do adulto O toque com intencionalidade musical com-
que vai conduzir esse processo. preende a descoberta de um caminho para a
O segundo passo é este adulto compreender o expressão musical a partir das possibilidades
que é a música corporal e imergir nessa prática, sonoras do próprio corpo. Nessa perspectiva
que é muito simples, e que, na minha pesquisa, buscamos compreender esse processo partindo
se revelou como um dos princípios organizado- da concepção ao nascimento e, do nascimento
res do desenvolvimento infantil, que é a organi- até os três anos de idade.
zação dos movimentos corporais. Na minha pesquisa, o gesto musical consiste no
E, por fim, organizar o espaço educativo musi- gesto que faz vibrar o corpo musicalmente.
cal utilizando a prática da música corporal de E o que isso quer dizer?
forma que as atividades façam parte do dia a Que utilizamos o corpo como fonte sonora
dia dos bebês. que possibilita a experimentação, criação,
organização, imaginação, escuta atenta e ex-
3- Como a música pode ser utilizada para es-
pressão da musicalidade.
treitar os vínculos afetivos com os bebês?
E esses gestos consistem em palmas, estalos de
É necessário criar um ambiente musical que
dedos, efeitos vocais variados, batidas dos pés
possibilite aos adultos e aos bebês vivenciarem
no chão e percussões em diferentes partes do
juntos a música de forma ativa, ou seja, que pos-
corpo. Enfim, gestos que utilizam os sons corpo-
sibilite a experimentação, a criação, a expres-
rais no fazer musical.
são musical visando o desenvolvimento de uma
Outro ponto importante, é que também usamos
escuta atenta. Tudo isso pode acontecer numa
sílabas que representam os sons percutidos em
roda com cirandas, batuques, danças, cantos e,
diferentes partes do corpo que chamamos de
acima de tudo, muita diversão!!!
solfejo corporal. Por exemplo, se eu canto: PA PA
4- Em sua pesquisa de mestrado, você inves- PA TI TI TI, estou indicando uma sequência de três
tigou sobre o gesto musical, poderia nos ex- palmas e três estalos de dedos. Ou DOM DOM
plicar no que consiste? DOM TXA TXA TXA, três percussões na barriga e
A educação do gesto musical é uma proposta in- três percussões nas coxas, sempre alternando as
vestigativa em que temos a música como atividade mãos na realização dos toques.
humana, tendo os bebês e suas manifestações mu- Essa abordagem educativo musical, da utili-
sicais vivenciadas por seus próprios corpos, que zação do solfejo corporal em nossa prática no
foi o foco principal da pesquisa. Assim, mergulhei Batuca Bebê envolveu a palavra ligada ao gesto.
nos estudos das expressões, percepções, manipu- Então, durante o processo educativo musical, o
lações, criações, nas relações sociais, entendendo gesto emerge nas expressões dos bebês como
o corpo dos bebês como uma totalidade. primeiro signo visual.
Nesse mergulho em busca das expressões dos No momento que este gesto se cola à palavra, se
bebês com foco em sua musicalidade envol- torna uma função sinalizadora do tipo de som,
ve duas ideias, o toque na pele e o toque com assumindo um caráter significativo acerca do
intencionalidade musical. O toque no próprio desenvolvimento da musicalidade. Isso porque,
corpo compreende o descortinar-se a si mes- uma vez que a palavra liberta da necessidade
mo pela relação com o outro, especialmente, a do gesto, dialeticamente o potencializa, possi-
mãe desde o ventre. bilitando uma organização psíquica superior da

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 17


Leandro Vaz

imaginação, criação e da organização da pró- respeito ao processo de desenvolvimento dos


pria musicalidade. bebês em seu meio social.
Uma vez que o gesto é a escrita no ar e constitui Os bebês com dois meses de idade começam
o primeiro signo visual (VIGOTSKI, 1999) que a desenvolver seus movimentos intencionais.
está na base do desenvolvimento da linguagem Entendemos esse como um momento oportuno
escrita, da linguagem falada, e também, da pró- para iniciarmos nossas ações educativas. Com
pria musicalidade, pude acessar a ontogênese essa idade eles ainda não são capazes de reali-
da musicalidade tendo a música corporal como zar os gestos como palmas, percussões no corpo
atividade-guia. e estalos de dedos, por exemplo.
Fazendo uma metáfora com o jogo de bilhar, Começamos o trabalho com a mãe e/ou demais
a partir do momento em que o gesto musical familiares, primeiramente, buscando despertar
começa a se desenvolver, este surge como um a consciência de sua musicalidade, introduzindo
taco que impulsiona o desenvolvimento não só de imediato a música corporal.
da musicalidade, mas o desenvolvimento global A mãe/familiares e o bebê participam de rodas
dos bebês, em toda sua unidade mente e corpo, de música corporal em que, juntos experimen-
afeto intelectiva. tam a atividade musical educativa com outras
mamães/familiares e bebês. Esses encontros
5- Sua base teórica é a perspectiva Histórico-
são marcados por cirandas, danças e muitos ba-
-Cultural, que tem Vigotski como seu prin-
tuques no corpo que compõem a organização
cipal teórico, nesse sentindo, como ocorre
do espaço social educativo musical. A prática é
o desenvolvimento do gesto musical dos be-
divertida e de fácil assimilação para os adultos
bês, a partir da organização do espaço social
que, por sua vez, são orientados a cantar e a ba-
educativo musical, tendo a música corporal
tucar com seus bebês no dia a dia em seus lares.
como atividade-guia?
Dessa forma, criamos condições de possibi-
Para entender como ocorre o desenvolvimento
lidades para que os bebês tenham um am-
do gesto musical a partir da música corporal,
biente social em que as pessoas usem seus
trabalhei com os conceitos de Vigotski, pereji-
corpos como forma de expressão de suas mu-
vanie, obutchenie e Zona de Desenvolvimento
sicalidades.
Iminente - ZDI, entendendo-os como uma uni-
Cumprimos assim, um primeiro quesito que é
dade dialética. Que de maneira sintética, diz
um lar encharcado de música corporal, ou seja,

18 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


a organização do espaço social educativo musi- calidade dos bebês. Como estratégia metodoló-
cal dentro de casa. gica, as mães se tornaram mães pesquisadoras e
A intencionalidade musical educativa é que os registraram em áudios, vídeos e relatos as manifes-
bebês, em sua unidade pessoa-meio (perejiva- tações corporais, expressões musicais de seus be-
nie) possam vivenciar cotidianamente essa for- bês em suas rotinas em casa, ou seja, em sua vida
ma de fazer musical por meio do corpo. real. Criamos um grupo no WhatsApp que possibi-
Nesse cotidiano em que é tecida a trama de suas litou a troca de informações, enriquecendo muito o
primeiras relações sociais em um ambiente re- acervo de dados coletados para a pesquisa.
gado por música corporal, os bebês com o de- Durante esse processo, os olhares das mães já
correr do tempo começam a esboçar seus pri- sensibilizados, se tornaram mais acurados. Esse
meiros gestos, ainda com movimentos imaturos, fato revelou-se decisivo, pois na medida em que
ao juntar as mãos indicando o desenvolvimento as garatujas dos gestos musicais expressas pe-
da palma ou sacudindo as pernas e balançando los bebês surgiam, as mães interpretavam esses
o tronco durante a atividade musical educativa. gestos indicativos como gestos musicais. Então,
Essas primeiras expressões chamamos de gara- nos momentos mais íntimos, como a hora da rede,
tujas do gesto musical. da mamada ou do banho, pude captar as primei-
Dessa forma, as vivências com a música corporal ras expressões da musicalidade por meio dos
configuram-se como atividade-guia (obutchenie) movimentos dos bebês, ou seja, o nascimento do
do desenvolvimento do gesto musical, pois vão gesto musical. Assim, a partir dos olhares mater-
guiando os processos de organização desses mo- nos, foi possível acessar lampejos do infinito par-
vimentos que ainda estão imaturos. ticular de cada bebê e chegarmos à gênese do
Entramos aqui no campo das possibilidades, gesto musical e seu desenvolvimento.
nesse contexto a Zona de Desenvolvimento Imi-
7- O que é importante saber sobre educação
nente – ZDI na qual as manifestações da musi-
musical por meio da percussão corporal?
calidade por meio do gesto musical, ainda não
Na hora de utilizar a percussão corporal no am-
amadurecido, já se encontra à caminho e come-
biente educativo o mais importante é pensar o
ça a brotar.
tipo de abordagem pedagógico musical a ser
Nesse momento, os bebês não conseguem fazer
adotada. Pois, o que aprendemos ao longo dos
sozinhos, mas já começam a desenhar no ar seus
últimos 20 anos, em incontáveis rodas de per-
primeiros gestos musicais, garatujas da expres-
cussão corporal em diferentes lugares do mun-
são de sua musicalidade. O trabalho em colabo-
do, sobretudo, com nossas meninas e meninos
ração e orientação com a mãe e familiares sus-
batucadeiros do Recanto das Emas/DF é: o amor
tenta o processo de desenvolvimento do gesto
como fundamento de toda intencionalidade
musical, até que as crianças sejam capazes de
educativo musical.
realizá-lo de forma independente.
Esse pilar sustenta toda nossa abordagem educa-
6- Com base em sua pesquisa de mestrado, tivo musical por meio da percussão corporal, des-
que tratou do gesto musical, como foi a par- tacando aqui, a importância dos afetos no proces-
ticipação das famílias no processo do desen- so educativo. Assim, o espaço educativo musical
volvimento musical dos bebês? deve ser organizado com a intencionalidade de
A participação das famílias, em especial das mães, permitir que as relações afetivas possam fluir do
foi fundamental para o desenvolvimento da musi- encontro amoroso/afetuoso entre os participantes.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 19


Esse encontro amoroso/afetuoso tem a roda tica que se enraíza a vida real. Consequentemente,
como forma principal para o trabalho coletivo. A os bebês, as crianças, os jovens ou adultos podem
roda permite o encontro dos olhares, permite a acessá-la sempre que sentirem desejo ou necessi-
percepção dos movimentos, o toque no próprio dade. Enfim, tocar na pele musicalmente significa
corpo e no corpo do outro, o entrelaçar das mãos descortinar a própria musicalidade.
e das emoções. A roda permite a ciranda, o jogo, Além disso, a percussão corporal dispensa o uso
a brincadeira, o riso e a alegria. A roda permi- de instrumentos musicais e outros equipamentos.
te a troca, o compartilhamento e as expressões Isso ajuda muito sua implementação em diferen-
da musicalidade. A roda ativa o olhar e a escuta tes instâncias da sociedade como projetos sociais,
atenta, sobretudo, favorece a conexão humana. escolas púbicas, creches e, também, em áreas de
Quando pensamos educação musical, precisa- vulnerabilidade social. Em outras palavras, demo-
mos considerar que a música consiste em sons cratiza o acesso à prática musical.
organizados culturalmente e que a musicalida- Isso envolve o despertar de um olhar que su-
de, por sua vez, é toda a possibilidade que as pera a visão funcionalista de que educação
pessoas desenvolvem na cultura para explorar, musical resume-se a formação de talentos, lei-
organizar e expressar sons corporais ou de ob- tura de partituras e aprendizagem de instru-
jetos (GONÇALVES, 2017). Dessa forma, a ação mentos musicais.
musical educativa deve voltar-se para o desen-
8- Você é pedagoga, tem experiência com
volvimento da musicalidade.
educação musical e já trabalhou com a Edu-
Nesse sentido, expressar-se musicalmente en-
cação Infantil, nesse sentido, qual sua opi-
volve, antes de tudo, organizar os movimentos
nião para se propiciar um “ambiente sonoro
corporais, ou seja, aqueles que fazem vibrar o
musical” nessa etapa da Educação Básica,
corpo humano ou os objetos musicalmente. Na
contemplando os bebês, as crianças bem pe-
percussão corporal, organizar esses movimen-
quenas e crianças pequenas?
tos, significa educar o gesto musical, ou seja,
A organização do espaço educativo enchar-
educar o gesto que faz vibrar o corpo musical-
cado de música é fundamental, pois a experi-
mente (AMORIM, 2017).
ência musical é base para o desenvolvimen-
Assim, a prática da percussão corporal pode
to da consciência da musicalidade. Então, os
cumprir um papel fundamental quando pen-
bebês, as crianças bem pequenas e crianças
samos educação musical. Isso porque, uma vez
pequenas necessitam de vivências musicais
que toda expressão musical é essencialmente
todos os dias. E não só como ouvintes, mas,
corporal e que tudo o que a arte realiza, ela o
sobretudo, de experiências que envolvam a
faz no nosso corpo e por meio dele (VIGOTSKI,
experimentação, a criação, a escuta atenta,
1999), uma boa abordagem educativo musical
enfim, atividades que possibilitem a expres-
com percussão corporal abre caminhos para a
são de sua musicalidade.
consciência da musicalidade.
Principalmente, porque a centralidade da ex- 9- Suas experiências com a educação musical
periência sonoro musical está no corpo. Corpo perpassam o campo da percussão corporal,
que, em nossa prática é entendido como unidade mas é possível promover outras atividades so-
mente e corpo, unidade afeto intelectiva. noro musicais com as crianças? É possível pro-
Assim, a percussão corporal consiste em uma prá- mover a educação musical no dia a dia da es-

20 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


cola da infância/creche, com objetos
comuns desse contexto educativo?
De que maneira?
Organizar os sons de maneira musical
envolve organizar os gestos que vão
produzir esses sons. O som é o obje-
to sonoro e a matéria prima da músi-
ca. Ele pode ser produzido no corpo,
em um instrumento convencional ou
ainda, em um objeto do dia a dia. A

Leandro Vaz
relação das crianças com diferentes
possibilidades de produções sonoras,
constitui a base para a experimenta-
ção com intencionalidade musical. As- crianças maneiras de emissões sonoras desses ob-
sim, é fundamental promover a educação musical jetos ligadas à atividade musical. Além disso, criar
utilizando objetos comuns do contexto educativo histórias sonorizadas com objetos, com o corpo e
na rotina da escola da infância/creche. com a voz, pode ser muito divertido e proporcio-
No desenvolvimento da musicalidade das crian- na o envolvimento ativo das crianças, ampliando as
ças temos essa tríade que é a criança, o adulto e possibilidades para a expressão e desenvolvimen-
o objeto sonoro (do corpo ou objetos), além dos to de suas musicalidades.
seus pares, que são as demais crianças. Então, 10- Voltando à sua base teórica, para Vigot-
o acesso a objetos é fundamental, pois a mani- ski a brincadeira é uma atividade guia de
pulação desses permite às crianças experimen- primordial importância para o desenvolvi-
tarem diferentes timbres e diferentes sonori- mento infantil, nesse sentido, como você
dades. Sobretudo, atividade musical educativa, percebe a relação da brincadeira com a ati-
deve permitir uma experiência musical carre- vidade musical?
gada de afetos, alegria e brincadeiras. A utilização do corpo como fonte de experimen-
Então, podemos realizar atividades musicais tação, criação, escuta atenta e organização do
educativas com objetos comuns que não tragam gesto musical, permite que a prática se enraíze
risco à integridade física das crianças, como a vida real. No Batuca Bebê a percussão corporal
baldinhos de plástico, copinhos de metal, colhe- é desenvolvida com atividades que consistem
res de pau, panelas, latas de leite, lenços colo- em jogos e brincadeiras, buscando a alegria, a
ridos, enfim, uma grande variedade de objetos diversão e a felicidade.
do dia a dia. Podemos, também, preparar choca- Na medida em que os bebês começam a orga-
lhos em garrafas plásticas utilizando diferentes nizar seus gestos musicais, esses sons e movi-
tipos de sementes, por exemplo. mentos começam a fazer parte do seu repertório
A professora ou professor pedagogo pode incenti- sonoro musical. Então, em momentos mais soli-
var a livre manipulação enquanto canta uma canção tários ou partilhados, ele vai brincar com esses
de roda, por exemplo. Pode ainda usar gravações elementos sonoros musicais, explorando, organi-
de diferentes estilos musicais e realizar marcações zando e criando novas combinações.
rítmicas por meio dos objetos, indicando para as Percebo a brincadeira totalmente imbricada

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 21


nação e a criação na infância.
Disso podemos compreender
a importância da intencionali-
dade educativa dos familiares
e professoras ou professores
com relação à presença da ex-
periência sonora musical na
Leandro Vaz

rotina do dia a dia. O melhor é


que isso, na realidade, é muito
simples! Pois, consiste em en-
com a atividade musical. Antes mesmo de falar, volver as crianças numa rela-
as crianças já se expressam musicalmente por ção afetiva banhada por canções, histórias sonori-
meio de balbucios, balanços de tronco, movi- zadas, cirandas, batuques no corpo e brincadeiras
mentos corporais, sempre numa relação direta cantadas. Sobretudo, é necessário que esses fami-
com o mundo afetivo sonoro e musical de seu liares e professoras ou professores estejam cons-
contexto social. Essas expressões dos bebês são cientes de sua musicalidade.
evidentes em suas relações com sua mãe e/ou
11- Como trabalhar com as crianças a música
demais familiares desde a mais tenra idade.
associada à diferentes expressões artísticas?
Por meio das experiências musicais vividas
A música é um convite para a ação. Nos convi-
em suas relações sociais os bebês passam por
da a mexer o corpo, nos convida para dançar e
processos de internalização desse ambiente
afeta as nossas emoções. Quando conectamos a
afetivo sonoro e musical. Por exemplo, come-
outras expressões artísticas, potencializamos a
çam a imitar variados sons usando a voz, o lati-
experiência estética.
do do cachorro de casa, o som do carro na rua,
Então, na organização do espaço educativo po-
do passarinho, o som do avião ou do caminhão
demos trabalhar a contação de histórias inse-
de lixo. Começam também, a experimentar di-
rindo canções conhecidas ou inventadas pelas
ferentes possibilidades sonoras e criar novos
próprias crianças.
sons e novas combinações. Lembrando sempre
No teatro, podemos trabalhar peças em que a mú-
que essas expressões se materializam em mo-
sica faça parte do enredo e que as crianças sejam
vimentos corporais que podem ser bem dis-
protagonistas participando ativamente, cantando,
cretos ou muito expansivos.
batucando no corpo, percutindo objetos, enfim,
As músicas e as experiências sonoras do dia a dia
criando a trilha sonora musical do tema.
vão povoar seus processos de criação e imagina-
Nas artes visuais, sonorizar imagens de paisa-
ção durante seus momentos de brincadeira. Dessa
gens do campo, da cidade, da feira, da escola,
forma, esses elementos sonoros e musicais estarão
da casa. Ouvir uma música e representá-la por
presentes, também, em suas expressões criativas.
meio de desenhos ou pinturas no papel.
A partir das reelaborações de suas experiências
Na dança, ouvir e desenhar a música com o mo-
que vão para além da imitação, as crianças come-
vimento do corpo no ar. É interessante, nesse
çam a sonorizar suas histórias, dando vida e cor
contexto, trabalhar trechos musicais curtos, com
aos seus enredos, cenas e ações que são fruto da
diferentes texturas, ritmos, melodias, intensida-
atividade psíquica superior, que envolve a imagi-
des e andamentos.

22 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


12- Música é arte e nesse sentido, qual é a cultura e também de outros lugares do mundo.
principal função da música para a vida hu- Dessa forma, criamos condições de possibili-
mana? É possível desenvolver essa função dades para que os bebês, as crianças bem pe-
com as crianças no contexto da escola da in- quenas e as crianças pequenas, no contexto da
fância/creche? De que maneira? escola da infância/creche, nessa relação com
A arte da música é uma ferramenta cultural que a atividade musical educativa, organizem seus
exerce a função de equilibrar o ser humano com movimentos, seus gestos e comportamentos
o mundo e sua cultura. Para Vigotski (1999) a arte musicais. Favorecendo não só o desenvolvimen-
é um equilibrador do ser humano, pois lida com to da musicalidade, mas, sobretudo, a consciên-
as emoções humanas possibilitando a consciên- cia de sua musicalidade.
cia dessas emoções e sentimentos. Assim, a arte
13- Você acredita que a professora ou profes-
provoca uma consciência sobre as emoções e, por
sor pedagogo, que não tem formação especí-
sua vez, essa consciência possibilita uma com-
fica em música, é capaz de desenvolver um
preensão do mundo e das relações que se esta-
trabalho educativo com a música? Quais se-
belecem nele. Isso implica na consciência da par-
riam os primeiros passos para desenvolver
ticularidade humana (PEDERIVA e TUNES, 2013),
sua consciência musical?
criando condições de possibilidade, para regular
Sim. Eu entendo que todos as professoras e pro-
o comportamento. Enfim, a música tem esse poder
fessores pedagogos são capazes de desenvol-
de trazer as emoções para o primeiro plano, a mú-
ver um trabalho musical educativo. Pois, todos
sica é emoção pura (PEDERIVA e TUNES, 2013), é
nós, seres humanos, somos seres musicais, mes-
a arte e a ferramenta das emoções.
mo que muitos pensem o contrário.
Por sua vez, os bebês, as crianças bem pequenas
Acredito que o primeiro passo já foi dado no
e as crianças pequenas são pura emoção, são puro
momento da escolha do tema da VIII Plenarinha
afeto! E seus gestos, traduzem a emoção dos esta-
que é Educação Musical.
dos afetivos! Sendo a música, a arte é ferramenta
Reforçando essa iniciativa, acredito que para
das emoções, então, o gesto que carrega os esta-
o contexto da escola da Infância/creche, é
dos expressivos pode ser organizado em gesto
importante que a professora ou professor pe-
musical traduzindo esses estados afetivos. Assim,
dagogo participe de formações continuadas
cada estado biológico e afetivo, está ligado a uma
voltadas para o despertar da consciência da
movimentação corporal, que pode ser organizada,
sua musicalidade. Isso envolve participar de
uma vez que, educar é organizar o comportamen-
workshops, oficinas, em que possam experi-
to (AMORIM, 2017).
mentar, criar, desenvolver a escuta atenta e se
A maneira mais concreta de desenvolver essa
expressar musicalmente.
função da música, enquanto equilibradora das
É fundamental, nessas formações, organizar o
emoções é organizar o espaço educativo musi-
espaço educativo musical para a professora ou
cal com atividades que possibilitem experiên-
professor pedagogo, com a finalidade de pro-
cias musicais no dia a dia da escola da infância/
mover o encontro entre seus pares. Uma vez que,
creche. Podemos então, realizar rodas com ci-
a experiência determina a consciência, esses
randas, batuques, brincadeiras cantadas, dan-
encontros precisam ser permeados de música,
ças, jogos musicais, sempre experimentando
e também, de reflexões.
uma diversidade de estilos musicais de nossa

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 23


Sobre o projeto:
Leandro Vaz

Nome do projeto: BATUCA BEBÊ


Nome da Instituição: Instituto Batucar
Responsável: Patrícia Amorim e Ricardo Amorim
Público Alvo: mamães e bebês de 0 a 3 anos de idade.
Local de realização: Quadra 307 conj 15 lote 17 - Recanto das Emas
Carga Horária: Todas as segundas-feiras das 10h às 11h
Formas de Ingresso: inscrição de acordo com o número de vagas disponibilizadas
Período de inscrição: sempre aberto

Objetivo geral: Promover o desenvolvimento do gesto musical dos bebês, a partir


da organização do espaço educativo musical, tendo a música corporal como ativi-
dade-guia.

Justificativa: A prática educativo musical com bebês, tendo sua corporeidade


como elemento principal, constitui uma abordagem que fortalece os vínculos afe-
tivos entre o bebê, seus familiares, professoras e professores, cuidadoras e cuida-
dores, enfim, pessoas que permeiam o seu ambiente social. Educar o gesto musical
do bebê revela a potência dessa abordagem educativa, e descortina o bebê em sua
grandeza de possibilidades para o seu desenvolvimento.

E-mail p/contato: patriciaamorim722@gmail.com


Telefone p/contato: (61) 99672-9674

24 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Currículo em Movimento
do Distrito Federal
e a musicalidade nas infâncias
Sugestão de atividade
Para iniciarmos a leitura desse texto,
que tal fazermos uma experiência?

Ouça a peça “Corisco”, de Antônio de


Nóbrega. Disponível em:

<https://www.youtube.com/wa-
t c h v = O 2 1 k YO q z m 2 o & l i s t = P L _
e7B6XaSCcZvf8lJuG36Cij9drsttCX- O Currículo em Movimento do Distrito
Z&index=5>. Federal – Educação Infantil (2018), assim como a
Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017),
Apenas ouça a peça percebendo as vi-
fundamentam-se nos Direitos de Aprendizagem e
brações da caixa de som, se assim lhe
Desenvolvimento dos bebês, crianças bem peque-
agradar. Deixe-se levar por cada de-
nas e crianças pequenas: conhecer-se, conviver,
talhe: ritmo, melodia, andamento, sons
brincar, participar, explorar e expressar-se.
agudos, médios e graves. Observe suas
Esses direitos precisam ser assegurados
reações emocionais ou pensamentos
na escola da infância e vivenciados pelas crianças
que emergem a partir do que você es-
por meio de atividades organizadas em Campos
cuta. Deixe seu corpo ser levado pela
de Experiências, partindo do entendimento de que
música. Permita se movimentar. Sinta
são pelas experiências que as crianças aprendem,
seus movimentos corporais. Perceba
desenvolvem-se e se apropriam do patrimônio cul-
seu corpo e sua musicalidade... Se de-
tural da humanidade, bem como processa seu de-
sejar, depois dessa experiência, ainda
senvolvimento integral.
ao som da peça, desenhe livremente
Para que os Direitos de Aprendizagem e
as sensações que vivenciou.
Desenvolvimento dos bebês, das crianças bem pe-
E antes de iniciar a leitura, a partir des- quenas e das crianças pequenas sejam efetivados,
sa atividade, pense que Campos de Ex- por meio dos cinco Campos de Experiências, nas
periências podem ser contemplados? mais variadas situações que respondam às suas
Que Objetivos de Aprendizagem e De- necessidades e interesses, é fundamental que os
senvolvimento podem ser acessados? profissionais das instituições educativas para a pri-
meira infância reflitam sobre a Proposta Pedagó-
gica como um importante instrumento de partici-

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 25


pação democrática de toda a comunidade escolar
(profissionais que atuam na instituição, as crianças e
as famílias). Isso, no caso da Educação Infantil, mas
que também pode se fazer presente nos anos ini-
ciais do Ensino Fundamental – direitos das crianças
e organização curricular que privilegia uma educa-
ção integral. Assim, compreendendo a Plenarinha
como a tradução dos desejos das crianças e uma
possibilidade de promover o desenvolvimento e
a autonomia das crianças, é imprescindível que as
reflexões, ações e a organização do trabalho peda-
gógico, discutidas pelo coletivo, estejam contem- São cinco os Campos de Experiências: O
pladas na Proposta Pedagógica de cada instituição eu, o outro e o nós; Traços, sons, cores e formas; Cor-
educativa. po, gestos e movimentos; Escuta, fala, pensamen-
to e imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e
transformações.
A ideia é que as experiências sejam vividas na
escola da infância contemplando o movimento intercam-
pos, ou seja, uma mesma experiência é vivida, ainda que
prioritariamente sob um determinado campo, mas os de-
mais, também se fazem presentes. Por exemplo, uma ex-
periência que colabore para a educação musical, em que
a princípio indicamos o campo “Traços, sons, cores e for-
mas”, pode apresentar aspectos dos demais Campos de
Experiências, também.
O Currículo em Movimento do Distrito Federal segue
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infan-
A escola e a educação
estética til (BRASIL, 2009), que fundamentam a prática nas escolas da
infância nos princípios éticos, políticos e estéticos. Isto é, as
práticas educativas devem colaborar para o desenvolvimento
da autonomia, responsabilidade, solidariedade e respeito ao
bem comum e os cuidados com o planeta; assim como para o
exercício da criticidade e da cidadania, nas experiências do
cotidiano e não tendo em vista apenas o futuro; e o desenvol-
vimento da sensibilidade, da imaginação e da criação, expres-
sando-se nas diversas manifestações artísticas e culturais.
No caso dos anos iniciais do Ensino Fundamental,
que possui uma organização curricular diferente da Educa-
ção Infantil, nada impede de olhar para o currículo da primei-
Livro Ouvido Pensante ra etapa da Educação Básica para conhecê-lo e para dialogar
com ele, oportunizando uma transição mais acolhedora, até

26 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


por- que, a mudança de etapa auxiliam as crianças em suas atividades, como
não indica que as crian- o exercício da imaginação, e considera a impor-
ças deixaram de ser tância do trabalho pedagógico como propicia-
crianças, sendo as- dor de possibilidades para o desenvolvimento
sim, o direito de vi- da ação criadora por parte de cada criança.
venciar sua infância A música enquanto arte deve ser com-
precisa ser consi- preendida sob o mesmo prisma da educação
derado no contexto das emoções, levando em consideração a parti-
educativo coletivo. cularidade de cada criança ao sentir, expressar,
Em relação imaginar e criar. É preciso propor às crianças o
Valdério Costa

à Educação Infantil e exercício de seus Direitos de Aprendizagem e


aos anos iniciais do En- Desenvolvimento, também, em relação as expe-
sino Fundamental, não há a riências sonoro-musicais.
presença da professora ou pro- Brinquedos e objetos como tampas, cha-
fessor especialista em arte, todavia, a professora ves, gravetos, folhas e tantos outros, despertam a
ou professor pedagogo é o responsável por or- imaginação infantil ao serem combinados às es-
ganizar situações que favoreçam a ampliação das truturas musicais já vivenciadas pelas crianças
experiências musicais das crianças, pois é o pro- e, ao serem organizados intencionalmente pela
fissional especialista da infância. Portanto, torna- professora ou professor pedagogo, promovem
-se oportuno refletir sobre o contexto da arte na experiência estética musical e possibilitam a ex-
educação e seu desenvolvimento no ser humano, pressão criadora das crianças na atividade.
desde a mais tenra idade. Gonçalves e Ramalho Combinar ritmos e movimentos corpo-
(2015) afirmam que discutir o sentido da arte na rais, melodias cantadas, sonoridades percutidas
educação é indispensável, a fim de desenvolver a com diversos timbres e alturas, fazem da escola
emoção e o caráter estético, considerando arte e da infância um abundante espaço de expressão
emoção em unidade. estética das crianças e de seus pares, possibili-
tando que, coletiva ou individualmente, exerçam
seus Direitos de Aprendizagem e Desenvolvi-
Você sabia?
mento por meio de atividades intencionalmen-
A Lei nº 11.769/2008, que instituiu a
te elaboradas, contendo objetivos de aprendi-
música como conteúdo obrigatório na
zagem e desenvolvimento claros e que possam
Educação Básica, mas não exclusivo do
desdobrar-se por meio dos diversos Campos
componente curricular Arte, foi altera-
de Experiências tratados no Currículo em Mo-
da pela Lei nº 13.278/2016, que prevê a
vimento do Distrito Federal - Educação Infantil
obrigatoriedade da música, dança, teatro
e, também, na organização curricular dos anos
e artes visuais, do componente curri-
iniciais do Ensino Fundamental.
cular Arte na Educação Básica.
O mundo sonoro que nos cerca propi-
cia uma gama de possibilidades criadoras e ex-
Sob o olhar da Teoria Histórico-Cultu- pressivas na infância, sobretudo nas atividades
ral, observa-se que a reflexão acerca das artes que permeiam os eixos norteadores da brinca-
na infância abarca aspectos e elementos que deira e interações, tais eixos desdobram-se em

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 27


Sugestão de atividade
Algumas atividades, como criar histórias a
partir de obras instrumentais dos mais va-
riados estilos musicais, previamente apre-
ciadas, podem abrir espaço de vivência
estética das crianças e, mesmo que elas não
exprimam oralmente suas emoções, podem
compor uma cena que remeta à interpreta-
ção da obra, tendo a oportunidade de recri-
Autoria Manuela | Jardim de Infância 04 do Gama á-la à maneira de sua vivência particular.
Professora Janaina | 2º Período da Educação Infantil

Outra brincadeira parte da escuta de vários


eixos transversais quando abrimos para suas estilos de sonoridades como uivo de bichos,
possibilidades nas atividades musicais propos- barulho de porta batendo, de vento e tem-
tas e realizadas com as crianças. pestade, de papel de bala ao ser desem-
A respeito dos objetivos de aprendiza- brulhada, enfim uma série de materiais so-
gem e desenvolvimento elencados no Currículo noros que ao serem percebidos ativamente
em Movimento do DF, a professora ou professor por meio da escuta atenta, ofertam o contato
pedagogo, mesmo não sendo especialista em com a observação de sons cotidianos que
música, é capaz de organizar sua intenção de remetam à experiências e vivências estéti-
trabalho musical para oportunizar o desenvol- co-emocionais das crianças.
vimento musical das crianças, nas instituições
Jogos de escuta e jogos de memória sonora
de educação da primeira infância e nos anos
que permitam às crianças ouvirem determi-
iniciais do Ensino Fundamental. Partindo do seu
nado som apontando suas características e a
planejamento, essa ou esse profissional, pode e
qual contexto remetem, como por exemplo,
deve contar com a participação das famílias das
sons que possam ser categorizados e classi-
crianças ou outros participantes que desenvol-
ficados segundo sua origem (sons da nature-
vem alguma atividade como, por exemplo, tocar
za, meios de transporte urbano ou do campo,
algum instrumento musical, que pode ser com-
sons corporais, instrumentos musicais, sons
partilhado no contexto da escola da infância
do cotidiano, de objetos aleatórios) enfim, há
para pesquisa ou acompanhamento de ativida-
no cotidiano educativo uma diversidade de
des com as crianças.
atividades, que muitas vezes, são realizadas
Partindo de variadas atividades sono-
com outros Objetivos de Aprendizagem e
ro-musicais, as crianças poderão ampliar sua
Desenvolvimento e que podem ser direcio-
vivência em outros Campos de Experiências
nadas, também, a esta intencionalidade.
utilizando o corpo para sua imaginação, criação
e expressão. Cabe à professora ou ao professor Pense novamente: que Campos de Experi-
pedagogo aguçar sua escuta para auxiliar na ências e Objetivos de Aprendizagem e De-
extensão das atividades e organizar a forma in- senvolvimento podem ser oportunizados às
tencional de trabalho com a música, propician- crianças por meio dessas atividades?
do vivência artística no espaço educativo.

28 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Ancestralidade: a
musicalidade de outros tempos
formações. Portanto, perceber as sonoridades
existentes, pensar sobre elas, tomar consciência
do contexto sonoro, contribuiu para a criação da
música. Mas isso, levou muito tempo...

Você sabia?
Na pré-história, há cerca de 50.000
anos, no continente africano, os homens
primitivos começaram a desenvolver rea-
ções sonoras vocais baseadas na escuta e
percepção dos fenômenos da natureza. A
música das tribos primitivas não era escrita,
mas transmitida oralmente a cada geração.
Autoria Davi | CEI 02 de Planaltina
Professora Suellen | 2º Período da Educação Infantil Além do canto, há indícios de instrumentos
musicais antigos que foram encontrados
Em tudo e em todos há som, diversos sons... em sítios arqueológicos, como apitos e
A sonoridade sempre esteve presente... flautas de ossos de animais, que datam de
O ser humano, ao longo do curso da 40.000 a.C. (PUBLIFOLHINHA, 2013).
história, percebeu seu corpo e que ele produ-
zia som; percebeu a natureza e que nela existia
Pederiva e Tunes (2013) tratam desse
som. Percebeu, pensou, imaginou, experimen-
processo inicial do surgimento da música, que
tou e criou... Criou novos sons com seu corpo,
tem relação com o início da fala humana.
criou instrumentos que produziam sons e, criou
As autoras esclarecem que o homem
o seu ambiente sonoro-musical.
primitivo emitia sons expressivos, vocalizações,
O ser humano percebeu a si, o outro, o
um tipo de comunicação mais elementar, acom-
grupo e os materiais que existiam. Pensou sobre
panhados de gestos, sinais, expressões faciais
a realidade sonora. Percebeu o seu meio natural
e postura corporal, para demarcação de ter-
e social e produziu cultura, pensando, organizan-
ritório, aviso de perigo, entre outras situações.
do, imaginando e criando sons... Criando música.
Nesse início, o som comunicativo estava ligado à
A percepção e o pensamento, aos pou-
atividade prática, em meio a uma situação real.
cos, permitiram ao ser humano, tomar consci-
Tratava-se de uma comunicação ativa. O desli-
ência da realidade, orientando seu compor-
gamento dos sons e gestos da atividade prática
tamento. Para Vigotski (2012), consciência é a
surgiu muito tempo depois. A sonoridade ex-
propriedade estruturante do comportamento
pressa pelos hominídeos, estava mais próxima
humano. Perante a ação do comportamento, a
da estrutura musical do que da fala semântica,
realidade concreta passou por inúmeras trans-

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 29


considerando-se as propriedades acústicas des-
se período. Para Vigotski (2012), esses sons se-
riam o princípio do surgimento da fala humana.
As autoras, explicam também, que pro-
vavelmente, um dos instrumentos musicais mais
remotos, seja a própria voz humana. O ato de
cantar, “permitiria, igualmente, o compartilha-
mento de uma atividade simultânea entre seres
humanos e que, como canto grupal, pode ter de-
sempenhado importante papel na natureza pré-
-linguística da comunicação humana” (PEDERI-
Valdério Costa

VA e TUNES, 2013, p. 41). Lembrando que nesse


período, ainda não havia se constituído a fala hu-
mana, o canto melódico se dava com sons entoa-
dos em meio as atividades realizadas em grupo.
O som musical e a fala elementar eram
uma coisa só – uma musilinguagem (BROWN apud PEDERI-
VA e TUNES, 2013), que constituiu uma estreita relação na
história evolutiva do ser humano.
Com o passar dos tempos, a fala elementar se desen-
volve, de modo a significar e generalizar o mundo por meio
das palavras. Nesse momento, ocorre a separação do som mu-
sical, que por sua vez, particulariza e dá sentido às emoções
vivenciadas pelo ser humano, de modo singular, contribuindo
para o desenvolvimento da musicalidade humana.
A fala humana se estrutura em um sistema semân-
tico de signos e significados. E a música se utiliza de sons,
Música para crianças
combinando melodias, ritmos, timbres, alturas (grave e agu-
do), durações (curto e longo), intensidades (forte e fraco),
expressando estados afetivos. Essa organização dos sons não
se dá somente por meio de vocalizações e canções vocais,
mas também, por meio de sons extraídos de todo o corpo e
de materiais colhidos do meio circundante, que foram trans-
formados em instrumentos musicais pelas mãos humanas.
Esse processo histórico, nos permite afirmar, que so-
mente os seres humanos são capazes de ter consciência de sua
musicalidade, possibilitando a consciência de suas próprias
emoções. A musicalidade é um comportamento humano que
surge da/na atividade, em meio aos grupos sociais, sendo ex-
Da atividade musical e sua
expressão psicológica pressão da coletividade, possibilitando a união, a colaboração, o
conhecimento de si e do outro, do território, da história coletiva,
da identidade cultural e, sobretudo, da vivência das emoções.

30 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Valdério Costa
Já tinha parado para pensar
em como surgiu a música?
Então, trata-se de um assunto que processo, convidando as crianças a con-
pode ser abordado com as crianças, tam- versarem entre si, sem usar as palavras.
bém, convidando-as a pensar sobre tal E, também, pode convidá-las a procurar
assunto, provocando seu imaginário, le- materiais em diferentes contextos, a par-
vando-as a levantar hipóteses, a realizar tir do material coletado, criar instrumen-
conversas e pesquisas. Essa investigação tos musicais, possibilitando às crianças
pode se dar por meio de filmes, vídeos, experimentarem suas criações e, solici-
livros e, também, envolvendo as famílias. tando que elas criem palavras (nomes)
Lembre-se que é importante en- para os instrumentos que criaram. Poste-
volver as famílias para além do momento riormente, pode fazer uma exposição com
de pesquisa, convidando-as a participar os instrumentos musicais criados pelas
da Unidade Escolar, em diferentes mo- crianças, bem como, com apresentações
mentos. Essa relação não precisa se limitar em que esses mesmos instrumentos serão
as reuniões ou eventos associados a datas tocados pelas próprias crianças.
comemorativas. Para consolidar essa rela- Agora, fica o convite para você
ção, deixe as portas sempre abertas à pre- pensar quais Campos de Experiências e
sença e participação das famílias. quais Objetivos de Aprendizagem e De-
Depois do momento de investiga- senvolvimento podem ser trabalhados
ção histórica sobre a música, pode criar por meio dessas atividades realizadas
uma encenação sobre como se deu esse com as crianças.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 31


Universo sonoro-musical:
músicas daqui e acolá
to humano presente em diferentes sociedades,
que se realiza de modos diferenciados de acor-
do com cada cultura. Como ato criativo e mani-
festação artística, pode subsidiar e contribuir
para o desenvolvimento do trabalho pedagó-
gico significativo, favorecedor e acolhedor das
distintas e múltiplas expressões infantis.

Você sabia?
Música é a organização de sons e
Autoria Hiago | CEI 304 do Recanto das Emas
Professora Jéssica | 2º Período da Educação Infantil silêncio, podendo ser composta por
melodia, harmonia e ritmo (SCHAFER,
Falar sobre o universo sonoro-musical e 2009). Vale destacar que mesmo que
as experiências das crianças, permeadas pelo a música não tenha letra, ela é música.
trabalho pedagógico intencional, requer trazer Nesse sentido, não é recomendado
para o epicentro da conversa a pluralidade cul- proibir um determinado gênero ou
tural do nosso território e da diversidade das estilo musical por conta da letra. É
infâncias. Afinal, um dos grandes desafios da importante que a diversidade musical
educação, seja em qualquer de suas etapas, é faça parte do contexto de educação
materializar-se em uma educação efetivamente coletiva, evidenciando assim, o respeito
democrática, que reconhece, acolhe, considera a identidade musical de cada criança. Os
e inclui a pluralidade cultural das crianças no mais diversos estilos e gêneros musicais
processo pedagógico. podem fazer parte do contexto educativo,
Como expressa o Currículo em Movi- destacando as sonoridades existentes
mento (2018), o Distrito Federal é um território em sua composição musical.
com características próprias forjadas na consti-
tuição social, cultural e histórica de diferentes
pessoas de todos os Estados do país, estrangei- Sousa e Nascimento (2015), com base nos
ros, povos indígenas, comunidades remanes- estudos de Vigotski, indicam que a compreensão
centes quilombolas, a geração que aqui nasceu, da música, de qualquer tipo, como ato criativo, ge-
entre outros, e essa multiplicidade, que constitui ralmente associada a um ideal mistificado, restrito
sua singularidade, precisa ser contemplada nas a alguns grandes artistas, pode romper com essa
práticas educativas da Educação Infantil e dos ideia e, também, com a hierarquização ou juízo de
anos iniciais do Ensino Fundamental. valor entre os variados gêneros musicais. Assim,
A música é uma área do conhecimen- compreender a música nessa perspectiva, é pen-

32 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


sar em uma concepção ampla, que inclui o entendi- nio cultural humano é dar vida ao currículo.
mento da singularidade das experiências humanas. Martinez e Pederiva (2014) destacam
A música está presente na vida das que a música é uma atividade cultural que se
crianças desde muito cedo, ainda no ventre torna significativa na medida em que, pela vi-
os bebês são capazes de captar a sonoridade vência cotidiana, os seres humanos se familia-
do mundo circundante (MARTINEZ e PEDERI- rizam com sua organização sonora e com sua
VA, 2020). É no mundo carregado da imensa poética. Penna (2005) esclarece que quando
variedade de sons, melodias, canções, ritmos, determinada atividade não faz parte da experi-
barulhos, silêncios, que as experiências so- ência é vista com estranhamento. É justamente
noro-musicais vão se constituindo, hauridas a experimentação, a ação do indivíduo, sua pro-
na cultura e de forma subjetiva, nas vivências dução subjetiva acerca do vivido, que vai dar
cotidianas, no corpo, na natureza, na família, sentido a experiência.
na comunidade, nas brincadeiras, nas rela- É preciso oportunizar! Não se trata de
ções. Não se pode desconsiderar ou negar bom gosto ou de gostar de tudo.O gostar não é algo
que quando chegam ao contexto de educação natural, é constituído nas relações, na cultura, no
coletiva, as crianças já possuem experiências social. E a cultura não é estática. Trata-se de criar
sonoro-musicais constituídas, produzidas de condições para que as crianças conheçam, des-
maneira particular e autônoma. cubram, ressignifiquem e ampliem seus repertó-
Neste sentido, as crianças não podem rios por meio de práticas pedagógicas musicais
ser vistas como meros consumidores do que está com intencionalidade pedagógica, consideran-
pronto. É preciso construir relações, diálogos e d o
afetos, que possam ampliar repertórios com vis-
ta a expansão de seu universo cultural.
Um enfoque exclusivo em
práticas musicais do próprio gru-
po ou apenas no repertório das
professoras ou professores, pode
contribuir para o monopólio de
uma música hegemônica, um pa-
drão único de beleza e harmonia
em relação às demais expressões
musicais. A polarização entre o
erudito e o popular, pode ser res-
tritivo e reducionista se conside-
rado o enfoque histórico-cultural da
educação musical, em que as crianças
são vistas como sujeitos de possibilidades.
É papel do contexto educativo cole-
tivo proporcionar o experimentar e articular
Valdério Costa

as experiências e os saberes das crianças com


os conhecimentos que fazem parte do patrimô-

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 33


o cuidar e o educar peculiares da Educação In- estabelece com a diversidade musical e com a
fantil, mas que pode se estender para os anos abertura estabelecida para ampliação de suas
iniciais do Ensino Fundamental, problematizan- próprias experiências musicais.
do e refletindo acerca dos repertórios que as
crianças têm acesso dentro ou fora do contexto
educativo coletivo, de forma a expandi-los e não Saiba que
negá-los. Para a professora ou professor instigar
No processo pedagógico voltado para as crianças para o exercício do respeito e
a inteireza do ser criança, é importante que a empatia pela história e identidade musical
professora ou professor conheça suas prefe- de diferentes culturas, faz-se necessário
rencias, os gêneros musicais que constitui suas que ela/ele próprio se liberte de todo e
experiências, quais ritmos ouvem, quais instru- qualquer tipo de preconceito, vivencian-
mentos conhecem, que músicas se identificam do essa experiência, cotidianamente.
e, a partir daí, proporcione novas experiências,
para que as crianças possam fazer associações,
reelaborar, emocionar-se, imaginar e criar.
A professora ou professor da Educação
Martinez e Pederiva (2014) indicam que
Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamen-
quando as crianças não participam do processo,
tal precisa ponderar que não existem culturas
apenas executam uma pauta pré-determinada,
superiores ou inferiores, e consequentemen-
seus desejos, interesses e necessidades são ig-
te, não existem músicas boas ou ruins. Existem
norados, e corre-se o risco das atividades serem
músicas, em diferentes gêneros, fruto de um
desprovidas de sentido. Em muitos contextos
desenvolvimento histórico e cultural e a amplia-
educativos, as músicas são ouvidas e cantadas
ção das experiências sonoro-musicais, tanto das
exaustivamente para apresentações, tornando-
crianças quanto da professora ou do professor,
-se algo sem sentido para as crianças.
é uma possibilidade na constituição de uma pe-
Assim, a organização do trabalho pe-
dagogia no âmbito da Educação Musical.
dagógico, as intenções e ações educativas, por
Samba, Forró, Choro, Bossa Nova, Frevo,
meio dos Direitos de Aprendizagem e Desenvol-
Rock, Maxixe, Lundu, música Caipira, Sertanejo,
vimento e dos Campos de Experiências, devem
Funk, Hip-hop, Rap, Catira, música Indígena e
configurar-se para atender às crianças. Os Di-
Africana, música Erudita, Jazz, Baião, Maracatu,
reitos de Aprendizagem e Desenvolvimento e as
Boi Bumbá, Marchinha e tantos outros ritmos e
experiências não são do ou para o adulto, são
gêneros musicais são fontes de conhecimento
das e para as crianças, cabendo a professora ou
sobre nossa história. São parte de nossas raízes
professor o importante papel de organizar o es-
culturais e cada um revela formas distintas de
paço social de aprendizagem.
como a música é constituída nos diferentes con-
Diante desse importante papel e pen-
textos, tempos e espaços de nossa cultura.
sando a educação como relacional, é fundante,
Pensando em nossas raízes culturais, as
refletir sobre o repertório do adulto. Um am-
Diretrizes Curriculares Nacionais (2012) desta-
biente de trocas, com movimento, música, dan-
cam que as Propostas Pedagógicas das Unidades
ça, um espaço de experimentação comunica-se
Escolares de Educação Infantil e anos iniciais do
com as relações que a professora ou professor
Ensino Fundamental deverão prever condições

34 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


para o trabalho coletivo que assegurem a apropriação pelas
crianças das contribuições histórico-culturais dos povos in-
dígenas, africanos e afro-brasileiros (Lei nº 10639/2003 e a
Lei nº 11.645/2008). Pelo viés da música é possível evocar
costumes e tradições, compartilhar a diversidade cultural
dos povos. Afinal, nestas culturas, a música está vinculada ao
cotidiano, ao trabalho, às celebrações, ao modo de vida.
A forma cíclica, a presença do pulso marcado com Brincadeiras cantadas de
cá e de lá
pés e maracas, o timbre anasalado são características musi-
cais frequentes nas comunidades indígenas, assim como o
uso de instrumentos de percussão e de sopro. Ao proporcio-
nar o contato das crianças com a música indígena, é impor-
tante que a professora ou professor tenha a clareza de que
a cultura musical indígena está relacionada à diversidade
cultural dos povos existentes no Brasil, com traços estilísticos
e estéticos diferenciados ligados aos diferentes grupos étni- Desafios Musicais
cos e aos modos como vivenciam sua musicalidade.
Na tradição africana, em grande parte, a música
tem relação direta com a dança. As contribuições da cul-
tura africana para nossa música se deram, principalmente,
em relação os aspectos rítmicos, como destacam Almeida e
Pucci (2015). Entre as manifestações populares, a Capoeira,
as Congadas, o Maracatu, são exemplos da fusão da música
com a dança, presentes na cultura brasileira. Parte significa- Festas e Danças Brasileiras
tiva dos instrumentos brasileiros, principalmente os de per-
cussão, são de origem africana.
O trabalho pedagógico com os repertórios indíge-
na, africano, afro-brasileiro, exige da professora ou professor
especial cuidado com estereótipos. Comumente, vemos no
trabalho pedagógico associado à cultura africana, a ideação
de uma África ligada à pobreza, à miséria, à escravidão, pou-
co é explorada a diversidade social e cultural do continente,
Outras terras, outros sons
assim como também, acontece com a diversidade de povos
indígenas, que são, por vezes, generalizadas com a represen-
tação do índio, no dia 19 de abril.
Assim, criar um espaço de reflexão a partir das in-
formações e do conhecimento das músicas tradicionais é
uma forma de contribuir para que as crianças se aproximem
desses referenciais sem preconceitos.
Da tradição portuguesa fazem parte de nossa cul- Para os Pequenos
tura musical o perfil melódico-harmônico, a quadratura es-

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 35


Valdério Costa
trófica das canções, a utilização de vários ins- constitui pano de fundo para a atuação das crian-
trumentos musicais de corda, a forte influência ças, um favorecedor de suas expressões em um
dos folguedos populares nas festas e danças e contexto de experimentação sonoro-musical.
em alguns dos gêneros musicais (ALMEIDA e Nosso principal foco de atuação peda-
PUCCI, 2015). A profusão de cantigas de roda, gógica são as crianças, suas vozes, expressões,
cantos natalinos, cantigas de ninar, jogos de modos de brincar, imaginações, criações, é o
brincar, são peças da cultura brasileira que pos- que almejamos valorizar e priorizar na ação
suem origem portuguesa. Inúmeros folguedos educativa. Caso as ações pedagógicas não tra-
brasileiros foram originados das danças portu- gam para seu cerne as crianças e seu protago-
guesas, desde as mais populares e profanas até nismo, algo precisa ser repensado e reconside-
aquelas que compõem os autos religiosos, como rado no trabalho pedagógico. A nossa proposta
o Fandango, o Reisado, o Bumba meu boi, a Ma- é que as crianças possam conhecer, experimen-
rujada, os Pastoris. Sendo, também, que essas se tar, imaginar e criar.
fundiram com tradições culturais de origem in-
dígena e africana, demonstrando a diversidade
própria que emergiu na cultura brasileira. Res-
salta-se que destacamos essas três raízes, toda-
via, a musicalidade brasileira emergiu, também,
da vivência com outras culturas.
Por fim, enfatiza-se nessa reflexão, que
ao pensar as atividades propostas para as crian-
ças refletindo no vasto universo sonoro-musical,
não se pode perder de vista, um fundamento ba-
lizador da Plenarinha, o protagonismo infantil.
Autoria Carol | Escola Classe 803 do Recanto das Emas
A música, temática da VIII edição do projeto, se Professora Mariana | 1º ano do Ensino Fundamental

36 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Valdério Costa
Sugestão de atividade
Em duplas, trios, grupos ou roda, relacionar com o mundo, de comunicar-se
uma criança inicia a brincadeira, criando (MARTINEZ e PEDERIVA, 2020).
movimentos ou gestos (estalo de dedos, Uma outra proposta é que os bebês
palmas, batidas de pé etc) para acom- e crianças conheçam, ouçam e toquem os
panhar os versos “Tic, tac, tac/Tic, tac/ instrumentos musicais de origem indígena,
Pom, pom” (TATIT e LOUREIRO, 2014), os africano, portuguesa, afro-brasileira, entre
demais são desafiados, também, a acom- outras. Experimentar, brincar, criar e tocar
panhar os versos, criar novos gestos ou em conjunto, explorando diversas possi-
movimentos, como em um duelo presente bilidades sonoro-musicais. Sugestões de
em alguns estilos musicais, como o Re- instrumentos: pau-de-chuva, caxixi, agogô,
pente e o Rap e suas criações de rimas, reco-reco, marimba, chocalhos, maracas,
versos e improvisações. tambores, flauta indígena, bongô, padeiros,
A atividade pode ser recriada de violão, matracas, entre outros.
diferentes formas, substituindo os versos A professora ou professor pode
“Tic, tac, tac/Tic, tac/Pom, pom”, por ba- gravar essas produções e compartilhar
tuques com a percussão corporal, ritmos com as crianças. É importante que as
com a percussão vocal (beatbox), utili- crianças tenham sempre espaço para fa-
zando instrumentos musicais convencio- lar sobre como foi o processo de criação,
nais ou recursos não convencionais para comentar a produção dos colegas, dar su-
a criação sonoro-musical. gestões, avaliar a atividade. É necessário
Os bebês e as crianças bem pe- que a professora ou professor, também
quenas, também podem brincar com suas brinque e participe das conversas sobre
professoras e/ou professores acompa- as atividades propostas, e é claro, registre
nhando os versos “Tic, tac, tac/Tic, tac/ a participação das crianças.
Pom, pom”, imitando e criando gestos e Agora, fica o convite para você
movimentos. As crianças brincam com os pensar quais Campos de Experiências e
sons desde pequenas, em seus balbucios quais Objetivos de Aprendizagem e De-
canta músicas que ouve e as reelaboram. A senvolvimento podem ser trabalhados
brincadeira com os sons é uma das formas por meio dessas atividades realizadas
dos bebês e as crianças bem pequenas se com as crianças.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 37


Valdério Costa
Música é arte
Você sabia?
Encontramos nos componentes curricu- A música ocidental, comumente,
lares das escolas de praticamente todo o mun- é escrita num conjunto de 5 linhas parale-
do ocidental, a música como um conhecimento las que chamamos de Pauta ou Pentagrama.
passível das crianças, adolescentes e adultos Pauta é o nome do conjunto de linhas utiliza-
desenvolverem por meio de certas “habilidades do para escrever as notas musicais de uma
e competências”, que muitas vezes, se reduzem partitura, no sistema de notação da música
mais em um “falar sobre música” e menos em ocidental. Atualmente, a pauta contém 5 li-
vivenciá-la na prática. nhas e 4 espaços entre elas. No início do
Ao longo dos séculos, a música foi iden- uso da pauta usava-se apenas uma linha co-
tificada a alguns signos musicais específicos lorida, datada do século IX. “Em dc. 1030, o
como, por exemplo, a famosa Clave de Sol ou as monge italiano Guido d’Arezzo [...] dava as
figuras musicais como as seguintes:♪ ♫♩♬ etc. notas uma altura definida, pois projetou um
E, portanto, a música passou a ser restringida à sistema de quatro linhas e colocou as notas
leitura da partitura. nas linhas e nos espaços” (PUBLIFOLHINHA,
2013, p. 38). As linhas e espaços são conta-
das de baixo para cima.

38 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


causas e razões. Porém, fazem-na, vivenciam-na!
E isto é o fundamental: vivenciar a musicalidade
por todo o nosso corpo, com todo o nosso ser.
O corpo é considerado o primeiro instrumento
musical (AMORIM, 2016). Por isso mesmo, po-
demos fazer e experienciar música mesmo que
não saibamos tocar algum instrumento musical
convencional (violão, piano, violino etc.). Com a
nossa imaginação e criação, podemos construir
e aproveitar materiais sonoros disponíveis em
nosso próprio contexto histórico-cultural.
Autoria Sophia | Jardim de Infância Lúcio Costa (CRE do Guará) A música é uma arte! A música, enquan-
Professora Chris Bueno | 2º Período da Educação Infantil to arte, é uma “ferramenta social das emoções
Em suma, passou-se a compreender ou técnica social dos sentimentos” (VIGOTSKI,
que a música seria sinônimo de partitura a par- 1999). A música particulariza as emoções e pro-
tir do momento em que a atividade musical foi porciona a consciência da particularidade hu-
escolarizada ao longo do tempo (PEDERIVA e mana (PEDERIVA e TUNES, 2013). O que isso
TUNES, 2013; GONÇALVES, 2017). Diversos es- quer dizer? É que jamais uma música irá produ-
tudiosos demonstraram em suas pesquisas que zir a mesma emoção para todas as pessoas. A
a música e a atividade musical vão além dos vivência da arte é singular.
signos musicais e que todos os seres humanos Vimos que a música é arte e enquanto
são musicais, inviabilizando a ideia de que ha- tal, auxilia na resolução, no controle e na exte-
veria, por exemplo, analfabetos musicais – mes- riorização de nossas emoções mais profundas
mo que ainda persevere no imaginário social, por meio da vivência, da imaginação, da cria-
a noção de que para alguém ser um músico ou ção, da reação e da catarse estética (VIGOTSKI,
para aprender música, seja necessariamente 1999; PEDERIVA e TUNES, 2013; GONÇALVES,
preciso decodificar signos musicais inscritos na 2017). Sabendo-se disso, uma educação estética
pauta (PEDERIVA e TUNES, 2013; GONÇALVES, comprometida com o desenvolvimento e edu-
2017). Contudo, fazer música não prescinde de cação da musicalidade das crianças e dos seres
compreender os signos musicais no pentagra- humanos deve possibilitar atividades que pro-
ma (outro termo para partitura). Até porque, a porcionem o vivenciamento pleno da musicali-
música surgiu antes de sua escrita (BLACKING, dade. A atividade musical de cunho educativo
2000). A atividade musical precedeu a inven- tem como objetivo primordial criar condições
ção e utilização dos signos musicais. Do mesmo de possibilidades para educar-se e desenvol-
modo que não existem analfabetos orais (FREI- ver-se musicalmente: imaginando e criando mú-
RE, 2003), não existem analfabetos musicais sicas e sonoridades oriundas do próprio corpo
(GONÇALVES, 2017). Pois, nem todos sabem, ou extraídas de objetos disponíveis em cada
precisam ou desejam aprender a partitura, mas contexto natural e social, trocando experiências
podem vivenciar sua musicalidade. e vivências musicais com as pessoas, indepen-
Aliás, existem excelentes músicos mun- dentemente da faixa etária, etnia, religião, gêne-
do afora que jamais leram partitura, por diversas ro, estado mental e físico.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 39


Sugestão de atividade
Diante do exposto, é chegado o escuta atenta e reconheçam auditivamente
momento de sugerirmos algumas ativida- um determinado som dentre vários outros.
des musicais educativas que a professora Tal atividade musical educativa en-
ou professor pode realizar com as crianças. foca o que alguns chamam de “escuta aten-
Uma delas, consiste na escuta atenta e re- ta” e é fundamental para desenvolver a sen-
conhecimento auditivo de sonoridades pro- sibilidade musical das crianças perante um
duzidas por objetos do dia a dia, como por mundo recheado de sonoridades. A vida no
exemplo, um molho de chaves. planeta pulsa, vibra, ressoa, “musica” (do
A criança senta-se em uma cadeira verbo musicar)! “Eu musico”, “você musi-
no centro da sala com os olhos vendados. Após ca”, “nós musicamos”, “as crianças musi-
a professora ou professor balançar o seu pró- cam”. Então, “MUSIQUE-SE”!
prio molho de chave (ou de algum outro parti- Outra sugestão de atividade, é ouvir
cipante), ao lado da criança, esta indicará com a música “A sagração da primavera”, de Igor
o dedo indicador, em qual posição o molho de Stravinsky. Convidar as crianças para ouvirem
chaves se encontra no momento em que o som a música. É importante deixa-las a vontade, ou
é produzido (se atrás da cabeça ou em cima sentadas, ou deitadas, em diferentes espaços
dela, etc.). Depois desse momento, a professo- da sala de referência ou de outro ambiente
ra ou professor pode dificultar a atividade, es- do contexto de educação coletiva. Deixar as
colhendo mais três crianças para balançarem crianças ouvirem a música, a seu modo. De-
seus molhos de chaves, simultaneamente, e a pois da escuta, convidar as crianças a expres-
criança com os olhos vendados irá indicar com sarem o que sentiram, quais foram as emoções
o gesto indicador a localização dos molhos de que emergiram durante a escuta da música.
chaves que ela percebeu auditivamente. É importante que as crianças tenham tempo
Uma outra possibilidade, para que para se expressarem e que suas falas sejam
a criança reconheça um som em meio a ou- consideradas. Ainda na roda de conversa, ex-
tros, a professora ou professor pode con- plicar para as crianças que as músicas provo-
tar até três, utilizando apenas os gestos de cam emoções nas pessoas e que cada pessoa
uma mão, em silêncio, e quando “chegar” pode vivenciar uma emoção diferente ouvin-
ao numeral três, todos as demais crianças do a mesma música. Pode-se questionar com
“baterão” o pé no chão, simultaneamen- as crianças porque isso acontece. É importan-
te, ao som do molho de chaves. Feito isso, te deixa-las levantar suas próprias hipóteses.
a criança com os olhos vendados terá que Agora, fica o convite para você pen-
apontar com o dedo indicador para a loca- sar quais Campos de Experiências e quais
lização do molho de chaves ou o objeto que Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvi-
ela reconheceu auditiva e previamente. Isso mento podem ser trabalhados por meio des-
possibilita que as crianças desenvolvam a sas atividades realizadas com as crianças.

40 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Valdério Costa
Desenvolvimento da
musicalidade infantil
Você já se perguntou, em algum mo- para poucos. Pensar dessa forma é algo perigoso,
mento da sua vida, como ocorre o desenvolvi- pois pode afastar bebês, crianças, adolescentes,
mento da musicalidade humana? Ou será que jovens e, até adultos, da vivência com a musicali-
nem parou para pensar sobre isso porque acre- dade. Fortalecendo assim, a propagação de pre-
dita que a musicalidade humana é o destino de conceitos acerca do que o outro é capaz e o modo
alguns seres iluminados escolhidos ao acaso que expressa sua musicalidade.
pela natureza? Você acredita em dom ou talento O final do século XX e início do século
inato? Ou acredita que todas as pessoas são se- XXI, foi e é marcado por movimentos sociais e
res possíveis de desenvolver sua musicalidade? por pesquisas que declaram a emergência de se
Então, para Vigotski (2018b), os seres pensar e consolidar uma educação mais huma-
humanos são seres de possibilidades, são seres na com perspectivas ao desenvolvimento inte-
capazes de se desenvolver em qualquer área gral do ser. Sendo assim, pensar uma educação
ou campo de conhecimento, mas para que isso humana e integral e, ao mesmo tempo, acreditar
ocorra, algo precisa acontecer... Sabe o que é? que algumas pessoas possuem talentos que as
O autor discute sobre três pontos essen- demais não tem, é um tanto contraditório.
ciais: experiência, imaginação e criação, e esclare- Portanto, o primeiro passo a ser dado
ce que um está ligado ao outro (VIGOTSKI, 2018b). para se discutir o desenvolvimento da musica-
Dialogando com Vigotski, Martinez lidade infantil, é acreditar que os bebês, crian-
(2017) esclarece que o desenvolvimento da mu- ças bem pequenas, crianças pequenas e demais
sicalidade infantil se dá na cultura, abordando crianças, são seres de possibilidades, são seres
algo que pode parecer óbvio, mas que por vezes, capazes, são seres de direito a uma educação
encontra-se obscurecido diante do senso-comum que acredita no potencial de cada um, e que
de que a musicalidade é um dom ou um talento oportuniza um ambiente favorável para esse

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 41


Livro Imaginação e criação
na infância

Autoria Wany Gabrielly | CEI 01 da Estrutural (CRE do Guará)


Professor Claudimar | 2º Período da Educação Infantil

a reagir com movimentos corporais aos estímu-


los sonoros mais conhecidos. É o início da expe-
riência sonoro-musical.
Ao nascer, essas experiências se inten-
Valdério Costa

Livro A Musicalidade
dos bebes. Educação e sificam – as vozes, as conversas, os acalantos, os
desenvolvimento
sons que a natureza produz ou que são produzidos
pelo contexto cultural – compreendem as sonori-
dades captadas pelos bebês. E, aos poucos, eles
desenvolvimento. Entendendo, também, que começam a reagir a essas sonoridades, com olha-
a Educação Infantil ou anos iniciais do Ensino res, movimentos corporais, balbucios, entre outras
Fundamental, não são os únicos lugares propí- possibilidades (MARTINEZ e PEDERIVA, 2020).
cios para o desenvolvimento da musicalidade
infantil, pois pode acontecer nos mais diversos
contextos aos quais as crianças têm acesso. Por- Você sabia?
tanto, é importante considerar os conhecimen- Acalanto; nana-nenê, dorme-nenê;
tos e saberes que as crianças já trazem consigo, canção ou cantiga de berço, canção ou
exercitando o respeito e empatia à identidade cantiga de ninar, de embalar, de acalentar;
musical de cada uma. e canção para adormecer menino: todas são
As experiências sonoro-musicais das designações brasileiras para as canções
crianças ocorrem muito antes delas nascerem, entoadas, comumente, para conduzir ao
pois quando ainda estão no ventre materno, são sono as crianças pequenas (MACHADO,
capazes de captar as sonoridades internas e 2012, p. 12). O acalanto é uma experiência
externas do corpo de sua genitora. Na 12ª se- sonoro-musical carregada de estados
mana de gestação, já existe um funcionamento afetivos e de processos educativos, que
primitivo do sistema auditivo fetal. Na 16ª, o feto dizem respeito aos traços históricos
é capaz de ouvir sons abafados. Por volta da 21ª e culturais de um determinado povo
semana, acredita-se que ele seja capaz de ouvir (MARTINEZ e PEDERIVA, 2020). Era uma
e distinguir a voz materna claramente, ou outras prática muito comum, mas será que está
vozes que fazem parte de sua experiência sono- se perdendo nos novos tempos?
ra constante. E por volta da 24ª semana, começa

42 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


sentir, explorar, produzir e organizar os sons.
Experimentar, imaginar e criar novos sons,
sonoridades e músicas.
Vivenciar experiências sonoro-musicais
por meio de própria voz, do próprio corpo, dos
objetos existentes nos contextos dos quais fazem
parte, instrumentos musicais convencionais ou
não. Explorar as sonoridades do um mesmo ob-
jeto de diferentes maneiras, individualmente ou
coletivamente. Escutar o outro, cantar junto, tocar
junto, sentir as sonoridades, dançar, sentir o cor-
po vibrar, e viver sua musicalidade.
Lembra que no início da nossa conver-
sa elucidamos alguns pontos destacados por Vi-
gotski? Experiência, imaginação e criação são
aspectos que precisam se fazer presentes nas
práticas educativas que consideram o ser hu-
mano como ser de possibilidades e capaz de se
desenvolver, nas mais diversas áreas de conhe-
cimento que se constituíram na trajetória histó-
rica da humanidade.
Autoria Arthur | Escola Classe 40 de Ceilândia A imaginação é a base de toda ativida-
Professora Deilane | 2º Período da Educação Infantil
de criadora. Para se criar algo, é preciso ima-
A cada dia é uma nova experiência, um ginar, deixar a imaginação fluir com liberdade.
novo aprendizado. Novas relações são estabele- Mas, para poder imaginar, é preciso ter experi-
cidas com as pessoas, com os objetos culturais, ência. Quanto mais experiências e mais diver-
com a natureza, em meio às práticas sociais. Um sificadas elas forem, mais material disponível
simples aprendizado aos olhos do adulto, é uma as crianças terão acesso para desenvolver seus
grande descoberta para os bebês. É um turbi- processos imaginativos e criativos, isso também,
lhão de novas experiências e aprendizados. em relação a sua musicalidade.
Os bebês, as crianças bem pequenas, A conclusão pedagógica a que se pode chegar com
crianças pequenas e demais crianças, a cada base nisso consiste na afirmação da necessidade de
dia, podem vivenciar sua musicalidade em ampliar a experiência da criança, caso se queira criar
bases suficientemente sólidas para a sua atividade de
contextos educativos que proporcionem no- criação. Quanto mais a criança viu, ouviu e vivenciou,
vas experiências sonoro-musicais. É impor- mais ela sabe e assimilou; quanto maior a quantidade
de elementos da realidade de que ela dispõe em sua
tante ouvir músicas, diferentes gêneros mu-
experiência – sendo as demais circunstâncias as mes-
sicais, ampliar o repertório, ouvir as músicas mas –, mais significativa e produtiva será a atividade
que fazem parte das experiências de outras de sua imaginação (VIGOTSKI, 2018b, p. 25).

crianças, comunidades, povos, nações, exer- Ou seja, é imerso na cultura, nas práti-
citando o respeito e empatia. Ouvir e perce- cas sociais de colaboração e união entre os in-
ber as sonoridades, as fontes sonoras, como divíduos-sociais, em meio às experiências, nas
os sons são organizados. Ouvir, perceber,

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 43


relações humana e com o meio existente, que cas educativas que se dão na vida, nos mais va-
os bebês e as crianças desenvolvem sua musi- riados contextos” (MARTINEZ, 2017, p. 22). E um
calidade, vivenciando o universo sonoro mu- desses contextos, pode ser a Educação Infantil
sical, percebendo, explorando, expressando, e os anos iniciais do Ensino Fundamental. Nesse
imaginando e criando sonoridades, a partir do sentido, é preciso pensar o que precisa ser feito,
próprio corpo, da natureza, do meio social e cul- para que os bebês, as crianças bem pequenas,
tural. “A musicalidade, portanto, é uma possibi- as crianças pequenas e demais crianças, tenham
lidade para todos os seres humanos, e que pode assegurado o seu direito de vivenciar e desen-
ser desenvolvida na cultura por meio de práti- volver a sua musicalidade.

Sugestão de atividade

Autoria Rafael | CEI 04 de São Sebastião


Professora Marilene | 1º Período da Educação Infantil

Uma sugestão de atividade, é fazer por meio dos acalantos. Muitos acalantos
uma pesquisa entre as crianças e, também, abordam temáticas que podem suscitar o
com os familiares sobre acalantos. Pergun- medo nas crianças. Conversar com elas so-
tar para as crianças se seus familiares can- bre esses sentimentos.
tam acalantos para elas ou se já cantou e Pode-se também, propor uma
quais eram. Fazer as mesmas perguntas para brincadeira de casinha, para as crianças
os familiares, se eles cantam acalantos para entoarem para as outras crianças ou bo-
suas crianças, em quais momentos, quais necas os acalantos que aprenderam, ima-
são as canções. Com o intuito de perceber ginando e brincando que estão embalan-
se a atividade do acalanto é uma prática que do suas filhas e filhos para dormir.
está se perdendo nos tempos atuais. Depois, Agora, fica o convite para você pen-
pode-se compartilhar com as crianças aca- sar quais Campos de Experiências e quais
lantos de vários povos, para elas ouvirem e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvi-
cantarem, percebendo a melodia, o ritmo, as mento podem ser trabalhados por meio des-
sonoridades, as histórias que são contadas sas atividades realizadas com as crianças.

44 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Corpo
sonoro-
musical

Valdério Costa
Já ouviu o coração de um bebê pulsan- vimento da musicalidade. Ou seja, todos nós, hu-
do por meio de um ultrassom? Certamente, uma manos, possuímos musicalidade possível de ser
experiência indescritível para muitas mães e desenvolvida e educada na cultura (MARTINEZ
pais. O som do coração é o indicador de que a e PEDERIVA, 2020). Todos possuímos um corpo
vida pulsa e que um bebê está a caminho. sonoro-musical (AMORIM, 2016).
Ainda no ventre da mãe, a pele do bebê Sendo assim, uma vez que a música é,
é formada ao mesmo tempo que o Sistema Ner- basicamente, a organização dos sons dentro da
voso Central. A pele está na base da formação do cultura, o ambiente social, geralmente, o ambien-
corpo do bebê, e envolve, dentre outras coisas, te familiar, será o campo em que os bebês terão
toda a estrutura cerebral e todos os órgãos senso- suas primeiras experiências musicais depois do
riais que constituem a audição, a visão, o olfato, o nascimento. Então, o contato com as músicas da
paladar e o tato. É também, o maior órgão do Cor- sua casa, da creche, da escola da infância, en-
po Humano. Por isso, a pele é considerada como fim, as músicas da vida real, serão fundamentais
a matriz de todos os sentidos (MONTAGU, 1998). para o desenvolvimento de sua musicalidade.
Vale a pena lembrar que quando éra- E o que é musicalidade? Basicamente
mos um pontinho minúsculo, flutuando na barri- é a capacidade que as pessoas tem de organi-
ga da nossa mãe, nossa pele já vibrava. E é bem zar os sons dentro de sua cultura (GONÇALVES,
intrigante saber que o crescimento do embrião, 2017). Por exemplo, quando cantarolamos uma
até se tornar um feto, começa na fecundação canção debaixo do chuveiro, ou batucamos um
que forma uma célula única, tão pequena quanto ritmo na mesa acompanhando uma música do
o ponto final dessa frase. Spotify, estamos organizando os sons de forma
Isso é assustador e ao mesmo tempo divi- musical e, por mais que isso possa parecer algo
no, não acha? O mais interessante é que as primei- distante das grandes estrelas do show businnes,
ras experiências sonoras acontecem no corpo do é sim, uma forma de expressão da musicalidade.
bebê desde a barriga da mãe. Esse fato se torna Como vivemos em uma cultura em que
muito importante quando pensamos no desenvol- a música está presente no cotidiano de todas as
vimento da musicalidade humana. Significa dizer, pessoas, é fácil discernir que o essencial para o
que quando o bebezinho nasce, já traz marcado desenvolvimento da musicalidade acontece no
na pele uma trajetória de vivências sonoras que dia-a-dia da vida real. Além disso, é possível con-
aconteceram durante o período de sua gestação. cluir, que a música é uma necessidade humana.
O que isso quer dizer? Que todo ser hu- Por ser assim, no percurso da nossa his-
mano é dotado, desde o ventre, de experiências tória somos e nos tornamos seres musicais, do-
sonoras que são fundamentais para o desenvol- tados de um corpo sonoro musical. Isso porque

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 45


é no corpo e pelo corpo que vivemos, nos move- diferentes toques percussivos no corpo. Depois
mos e existimos. que esses sons silábicos são internalizados pelas
crianças, por meio das rodas de música corporal,
eles libertam o próprio gesto musical.
Você sabia?
E o que isso quer dizer? Depois que a
Além do canto, os gestos, palmas
palavra se cola ao gesto, aos poucos, as crianças
e a dança eram muito importantes
desenvolvem a possibilidade de imaginar uma
na música das tribos primitivas. Para
sequência rítmico-musical, sem precisar usar os
criar suas músicas, esses povos se
membros do corpo. Podendo expressá-la no cor-
inspiravam no que ouviam, como os sons
po ou na voz, ou ainda, guardá-la viva na memória.
da natureza produzidos pelos animais ou
As crianças podem também, ouvir uma
pela água, entre outras possibilidades.
sequência rítmica e decifrá-la somente no pen-
A música se tornou uma forma de se
samento para, quem sabe, depois expressá-la
comunicar, se divertir, celebrar e até
no corpo ou na voz. Estamos falando aqui, de
uma atividade utilizada no trabalho
uma base estrutural que favorece a criação e
(PUBLIFOLHINHA, 2013).
imaginação musical na infância!
Quando pensamos em fazer música
Na música corporal é a pele que vibra e usando os sons do corpo, precisamos lembrar que
que se torna caminho para a experiência estética a música é a arte e a ferramenta das emoções! Ela
musical. E pode se tornar, também, uma maravi- tem o poder de mexer com nossas memórias afe-
lhosa brincadeira! Uma brincadeira que guia o tivas. Nos faz bater os pés e balançar o corpo, mes-
desenvolvimento da musicalidade! Em síntese a mo sem percebermos, acende nossas conexões
música corporal é a utilização das possibilidades cerebrais, e afeta nossos batimentos cardíacos!
sonoras do corpo para experimentação, criação, No cinema, por exemplo, a música é
apreciação e expressão da musicalidade (AMO- usada para criar ambientes e climas de tensão,
RIM, 2016). Nela, o corpo se torna bem mais que medo, pavor, estresse, alegria, confusão, felici-
dade, romance, diferentes matizes que envol-
um instrumento musical, pois qualquer instrumen-
vem a paleta imensa das nossas emoções. Quem
to por si só, carece de alma. A música não está no
nunca se pegou cantarolando uma canção sem
instrumento, mas sim, nas mãos de quem o toca!
ao menos saber o porquê? A música nos faz
Então, na música corporal o corpo pode
lembrar do passado, de amores antigos, lugares
ser melhor entendido como uma unidade afe-
distantes e desconhecidos. A música acalma a
to-intelectiva. Pois, é um corpo que ao experi-
alma, nos alegra e nos faz chorar.
mentar as suas próprias sonoridades buscando
Então, quando vivenciamos a música,
a arte da música, também, descobre e desvela
que é a arte e a ferramenta das emoções, uti-
emoções, sentidos, gestos e movimentos.
lizando nosso corpo sonoro-musical por meio
É um corpo que, ao mesmo tempo que
da música corporal, que se revela como uma
toca, também é tocado, em uma dança que se ouve
atividade que guia o desenvolvimento da mu-
e uma música que se vê. Dança que nasce de ges- sicalidade pela educação do gesto musical
tos que fazem vibrar musicalmente o corpo: gestos por meio do solfejo corporal, temos em nos-
musicais (AMORIM, 2017). E para educação desses sas mãos uma excelente abordagem educati-
gestos musicais, criamos sílabas que representam va para a Educação Musical.

46 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Sugestão de atividade
A prática da Música Corporal é tão do os pés. Provavelmente, nesse momento, as
simples que dispensa instrumentos musi- crianças estarão bem envolvidas na atividade.
cais, objetos sonoros, equipamentos eletrô- Mantendo o fluxo sonoro dos pés ba-
nicos, microfones ou caixas de som. tendo no chão, você pode fazer agora, o mo-
O que não pode faltar são as pesso- vimento de subida: os pés param, e imedia-
as! No nosso caso, precisamos tão somente tamente, começa-se as batidas nas canelas,
das crianças e um espaço livre de mesas, joelhos, coxas, nádegas, barriga, costelas,
carteiras e cadeiras. Legal, né? peito e termina a batucada nas bochechas.
No primeiro momento, é impor- A partir desse momento, as crianças
tante começar com a preparação do corpo, podem dar-se as mãos e você pode cantar a
que pode ser dando as mãos e fazendo uma ciranda “Indiozinhos”. É importante manter
roda. Lembrando que o corpo da professora o fluxo da brincadeira!
ou professor é a principal referência para as Então, esse é o momento de ciran-
crianças durante a atividade. dar! Depois de cantar e cirandar uma ou
Então, você pode respirar profundo, duas vezes, você para a roda e faz a core-
esticar o corpo e espreguiçar-se convidando a ografia da música, também, uma ou duas
turma para te acompanhar. Na sequência, é le- vezes. E por fim, você vai usar o solfejo
gal experimentar os sons do corpo dando tapi- corporal da música conforme o link e o QR-
nhas, sempre alternando as mãos, começando code a seguir, com a profes-
no peito e seguindo para as costelas, barriga, sora Patty Amorim:
nádegas, coxas, joelhos e canelas. Sem perder https://www.youtube.com/
o fluxo sonoro, você vai pisar o chão alternan- watch?v=ssGnpSp7A2o

PARTES DO CORPO
LETRA DA CANÇÃO SOLFEJO CORPORAL
PERCUTIDAS
UM, DOIS, TRÊS TUM, TUM, TUM
PEITO
INDIOZINHOS TUM, TUM, TUM, TUM
QUATRO, CINCO, SEIS DOM, DOM, DOM
BARRIGA
INDIOZINHOS DOM, DOM, DOM, DOM
SETE, OITO, NOVE TXA, TXA, TXA
COXAS
INDIOZINHOS TXA, TXA, TXA, TXA
DEZ TXUM
NUM PEQUENO TXUM, TXUM, TXUM, TXUM PÉS
BOTE TXUM, TXUM
Agora, fica o convite para você pensar quais Campos de Experiências e quais Objetivos
de Aprendizagem e Desenvolvimento podem ser trabalhados por meio dessas atividades
realizadas com as crianças.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 47


Paisagem sonora:
sons em todos os cantos
Convite: Quais sons estavam mais próximos de
Antes de iniciar nossa conversa so- você? Quais estavam mais distantes? Como
bre paisagens sonoras, faço um convite a estes sons te afetam? Há algum que te agrada
você, leitora e leitor: pare, feche os olhos, mais? Ou que te desagrada? Antes de silen-
faça um minuto de silêncio e ouça. Apenas ciar-se e escutar atentamente o seu ambien-
ouça atentamente e tente perceber quais te, já havia percebido tais sonoridades?
sons compõem o ambiente que você está – Vamos realizar outra atividade de
60 segundos são suficientes... escuta atenta? Feche novamente seus olhos,
Pronto? Agora convido a pensar... imagine sons de trânsito... Pronto? Imagi-
O que você sentiu? Quais sons você ouviu? nou? Quais sons compuseram a paisagem
Quais fontes sonoras emitem esses sons? sonora imaginada por você? Qual o seu
São sons da natureza ou do meio cultural? sentimento ao ouvi-los?

Todos os sons que foram percebidos, cional e consciente, voltando-se para os sons,
compõem a paisagem sonora em que você está para vivenciá-lo (PEDERIVA e GONÇALVES,
neste momento. Paisagem sonora é um conceito 2018). A consciência sobre os sons é essencial
criado pelo autor e compositor Murray Schafer, para o desenvolvimento da musicalidade huma-
em 1970, e é “[...] qualquer campo de estudo na, que pode ser guiado por meio de atividades
acústico. Podemos referir-nos a uma composição que tenham como centralidade as vivências das
musical, a um programa de rádio ou mesmo a pessoas com as paisagens sonoras, a exemplo
um ambiente acústico como paisagens sonoras” do convite realizado no início desse texto.
(SCHAFER, 2011, p. 23). Ou seja, cada ambien- Em relação a atividade de imaginar as
te que os seres humanos vivenciam é, também, sonoridades do trânsito, pode-se solicitar que
uma paisagem sonora. A casa, rua, campo, esco- os sons imaginados sejam compartilhados e,
la, cachoeira, clube, praia, parquinho, shopping, em seguida, conversar sobre o que nos agrada
trilha, entre outros, cada local possui suas sono- e desagrada acerca dessa paisagem sonora.
ridades, que podem ser da natureza ou criadas Perceberemos que alguns podem narrar an-
pelos seres humanos, em seu meio cultural. gústia, queixando-se da demora e monotonia
Alguns sons são tão comuns e recorren- dentro de um carro. Outros podem relatar sa-
tes em nosso cotidiano, que muitas vezes, dei- tisfação com a paisagem sonora, pois é nela
xamos de notá-los, outros, mesmo sendo mais que encontram a oportunidade de vender aos
raros, passam despercebidos. Para que consiga- motoristas alguns produtos, como água, pipo-
mos perceber a paisagem sonora em que esta- ca etc. Cada pessoa se relaciona com distin-
mos, é necessário desenvolver a escuta atenta, tas paisagens sonoras e possui suas próprias
esta diferencia-se da escuta casual, pois é inten- vivências, portanto, um som emitido por uma

48 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


mesma fonte sonora pode ter diferentes signi- humano de maneira integral, considerando que
ficados, a depender da vivência pessoa-som, as vivências da infância acontecem em unidade:
que é algo particular. corpo (todo ele, incluindo seus sentidos – visão,
olfato, tato, audição, paladar) e mente, intelecto
e afeto (VIGOTSKI, 2018a).
Você sabia? Consideramos que estudar as sonori-
O cinema nunca foi “totalmente” mudo, dades é tão importante quanto os outros aspec-
apenas não existia, na época, um modo tos que compõe uma paisagem, mas diferen-
eficiente de sincronizar o som à imagem. cia-se pelo fato de que “O sentido da audição
Então, cada cinema tinha seus músicos não pode ser desligado à vontade. Não existem
que faziam a sonoplastia enquanto o filme pálpebras auditivas. Quando dormimos, nossa
era projetado. Nos cinemas com maiores percepção de sons é a última porta a se fechar,
recursos, chegavam a ter orquestras. Desde e é também a primeira a se abrir quando acor-
a criação do cinema pelos irmãos Lumière damos” (SCHAFER, 2011, p. 29), sendo assim, é
em 1895, o som era muito importante, necessária a organização de ambientes educa-
pois criava e dava ênfase aos climas tivos que, também, privilegiem as sonoridades.
narrativos da imagem. “Desde o início do Se você chegou até aqui e aceitou os
cinema e da televisão, a música tem papel convites anteriores, provavelmente notou duas
essencial na abertura e no desfecho de possíveis atividades a serem organizadas em
programas e filmes. Mais que isso: ela é ambientes educativos com a intencionalidade
usada no decorrer da trama, criando climas de desenvolver a percepção, escuta atenta e
calmos ou tensos” (PUBLIFOLHINHA, consciência sonora. Estas têm como ponto de
2013, p. 122, negrito do autor).. partida as vivências sonoras com as diversas
paisagens, e se realizadas em ambientes edu-
cativos de forma coletiva e colaborativa, ficam
Ainda é comum pensar em paisagem ainda mais potentes, tendo em vista que o com-
como algo que alcança somente o sentido da vi- partilhamento das vivências amplia as possibili-
são, com aspectos físicos e materiais, porém, o dades de imaginação, criação e expressão, tam-
conceito de paisagem é mais amplo, não somen- bém, essenciais à educação.
te o visual é importante, mas também, aquilo
que nos toca por meio de outros sentidos, como
o olfato e a audição. A partir de Milton Santos, as
paisagens são compreendidas de uma maneira
mais integral, pois o autor afirma que:
Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança,
é paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do
visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada ape-
nas por volumes, mas também de cores, movimentos,
odores, sons etc. (SANTOS, 1997, p. 61).

A partir da compreensão de que a pai-


sagem possui aspectos para além do visual, te-
Autoria Yasmin | CEI 210 de Samambaia
mos a possibilidade de guiar o desenvolvimento Professora Leila | 2º Período da Educação Infantil

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 49


Valdério Costa
Sugestão de atividade
Além de convidar às crianças a fe- rua, praça, shopping, piscina, cachoeira, qua-
charem os olhos e ouvirem as sonoridades dra, jardim, entre outros espaços, podem ser
do ambiente em que estão no momento da compartilhados e, assim, os envolvidos nos
atividade, como fizemos aqui, outra possibi- processos educativos podem acessar singu-
lidade é realizar uma caminhada sonora em larmente suas vivências sonoras, desenvol-
espaços de vivência das crianças, convidá-las vendo mais consciência sobre si e os outros,
a andar por outros ambientes, percebendo as relacionando-se de novas maneiras com os
sonoridades que os compõem. É importante ambientes, as pessoas e os sons.
que durante o trajeto as crianças silenciem-se Outra possibilidade de atividade
para ouvir os sons, compreendendo que isso musical, é um túnel sonoro que pode ser or-
será alcançado com o tempo, pois elas podem ganizado com as crianças, que juntas, criarão
sentir a necessidade de conversarem entre si e expressarão sons de uma determinada pai-
para compartilhar algo durante a caminhada. sagem sonora escolhida por elas. Usaremos
Deixe-as conversar e depois, aos poucos, con- como exemplo a criação da paisagem de um
vide-as a tentar se silenciar para que possam parquinho. As crianças se organizam em du-
captar as sonoridades. pla, em forma de túnel, de olhos fechados.
Na Educação Infantil ou nos anos Cada uma expressará um som que ouviu/se
iniciais do Ensino Fundamental, é possível recorda/imagina existir em um parquinho.
caminhar no pátio, parque, corredores, ba- Uma dupla e por vez, vai passando por dentro
nheiros, sala de leitura/biblioteca, escutando do túnel, também de olhos fechados, somente
atentamente as diversas paisagens sonoras. ouvindo a paisagem sonora criada pelas de-
Outras paisagens sonoras podem mais crianças, vivenciando aquele momento.
adentrar o contexto de educação coletiva, Essas atividades proporcionam às
por meio de gravações de áudio ou vídeo crianças novas experiências com os sons do
realizados pela professora ou professor e, ambiente em questão, bem como promovem
também, pelas próprias crianças. Os sons da a expressão e criação sonora, por meio do

50 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


próprio corpo, que é o nosso primeiro instru- A notação musical, bem como os as-
mento musical, além de ser o mais acessível. pectos já citados, também precisa ganhar es-
É importante ressaltar que após as paço nos contextos educativos com as crianças.
atividades sugeridas, é essencial organizar Aqui, defendemos a ideia do uso de notações
uma roda de conversa e expressão sonora, musicais não convencionais, pois as notações
para que as crianças possam compartilhar majoritariamente utilizadas em pautas, não
suas experiências sonoras, bem como dia- privilegiam os interesses e necessidades da
logar umas com as outras sobre seus afetos infância. Esta defesa se dá por acreditarmos
e desafetos com os sons. A professora ou que o registro sonoro deve acontecer de ou-
professor, ao organizar este momento, pode tras maneiras, em que as crianças tenham a
convidar as crianças a expressarem-se ain- oportunidade de relacionar-se com o que está
da mais, solicitando, quando elas nomea- ouvindo, ampliando suas potencialidades de
rem uma fonte sonora, para que expressem atenção, escuta, percepção e relação com os
o referido som. Exemplo: uma criança relata sons. Então, no lugar de apresentar pautas e
que ouviu, durante alguma atividade, o som partituras musicais, ensinando-lhes seus no-
de um carro. A professora ou professor pode mes, conceitos etc, convide as crianças a re-
convidá-la: - Como é este som que você ou- gistrarem os sons, a sua maneira. Em todas as
viu? Você pode expressá-lo para que pos- atividades sugeridas anteriormente, podemos,
samos ouvir também? Com este convite, com uma intencionalidade pedagógica, pedir
colocamos em cena as experiências ante- para que as crianças registrem as sonoridades
riores (individuais, sociais e históricas) das que ouviram ou as paisagens sonoras.
crianças, e o compartilhamento dos sons, Diante dessas atividades, fica o
além de contribuir para o desenvolvimento convite para você pensar quais Campos
de sua própria musicalidade, o que instiga de Experiências e quais Objetivos de
as outras crianças, ampliando suas experi- Aprendizagem e Desenvolvimento podem
ências (VIGOTSKI, 2018b). ser oportunizados às crianças.

Ainda em relação às atividades musi- sicais individuais, em meio ao coletivo. Para


cais propostas, o nosso intento era demonstrar tanto, isso acontecerá se a escuta atenta, per-
que é possível contribuir para o desenvolvi- cepção, consciência, expressão, imaginação
mento da musicalidade das crianças, desde e criação sonora com o corpo e objetos que
que a professora ou professor consiga organi- podem ser manipulados, forem protagoniza-
zar um espaço educativo musical que respeite dos em atividades educativas, permeadas por
o que é essencialmente humano – as relações, musicalidade, com crianças ativas, libertas e
em meio a cultura e historicidade. É preciso autoras de seu próprio desenvolvimento.
que um ambiente colaborativo seja oportuni- E agora, fechando seus olhos novamen-
zado a todo momento, e que a partir disso, se- te, você consegue ouvir e sentir a paisagem so-
jam potencializados os comportamentos mu- nora a sua volta de uma maneira diferente?

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 51


Sonoridades:
Refletindo sobre os tempos,
espaços e materiais
sensibilidade de possibilitar que elas exerçam
seu direito à fala, afinal, as crianças têm voz. E
não somente falar, mas que suas opiniões, sejam
de fato, consideradas. Cabe a nós, professoras
e professores, como organizadores do espa-
ço social educativo, escutá-las de forma atenta,
sensível e acolhedora, possibilitando assim, que
elas exerçam seu papel de cidadão de direitos,
sujeito de sua própria aprendizagem.
Convidamos a todas e todos a enfrentar o
Autoria Alissa | Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Humano –
desafio de pensar em uma organização dos espa-
Éden (CRE do Núcleo Bandeirante) ços, tempos e materiais que possibilite a garantia
Professora Gleice Luana | 1º Período da Educação Infantil
dos Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimen-
Convidamos a todos vocês, professo- to, bem como dos Campos de Experiências, pro-
ras e professores a refletir sobre a organização porcionando as crianças o desenvolvimento de
dos tempos, espaços e materiais na Educação sua expressão imaginativa e criativa, levando em
Infantil, e também, nos anos iniciais do Ensino conta seus processos de aprendizagem.
Fundamental. Refletir sobre como essa orga- Então, que tal voltarmos nosso olhar
nização é pensada, considerando as práticas e escuta sensível ao que as crianças expres-
sociais e os interesses das crianças, como ele- sam? Que tal se, ao organizarmos os espaços,
mentos fundamentais para sua formação inte- tempos e materiais, pensarmos de que forma
gral. Pois, a forma como se dá essa organização, elas se inserem e se relacionam com o que
pode contribuir ou não para o desenvolvimen- é oferecido a elas? Portanto, criar possibili-
to de suas aprendizagens. dades para que as crianças possam vivenciar
O que se percebe hoje, é que em gran- seus desejos, curiosidades, demonstrar suas
de parte, as práticas educativas, principalmente preferências e expor suas hipóteses. Com-
em se tratando da educação da primeira infân- preender que elas são capazes de expor seus
cia, na rotina, em sua organização dos tempos, pontos de vista acerca de questões que fa-
espaços e materiais, são definidas, a priori pelos zem parte de seu mundo e vivência pessoal,
adultos, não havendo, de fato, diálogos que con- concebendo-as como sujeitos ativos, com as
sidere as falas das crianças (BARBOSA, 2006). particularidades da idade, gênero, história
Partindo do princípio que temos como objetivo de vida e inserção social e cultural.
possibilitar às crianças o pleno desenvolvimen- Desta forma, Horn (2008) afirma que
to de sua autonomia, é preciso que tenhamos a o espaço e os materiais por si só não dão

52 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


conta do desenvolvimento das aprendiza- Martinez e Pederiva (2017), com base
gens, devendo-se levar em consideração as em Vigotski, elucidam “que a professora ou pro-
diferentes possibilidades de as crianças agi- fessor é o organizador do espaço social educati-
rem sobre esses espaços e materiais, explo- vo, sua função educativa não é direcionar todas as
rando e se relacionando com seus pares nos atividades das crianças, mas possibilitar um am-
ambientes que lhes são oferecidos. Então, biente em que elas possam ser autônomas, explo-
pensar acerca da atividade musical, exige de rando e experimentando o espaço e os objetos
nós, adultos, uma postura descentralizada das do contexto educativo”. Desta forma, a professora
decisões, exige olhar a criança e ver um su- ou professor, não direciona todas as atividades,
jeito capaz de contribuir com suas próprias mas deve estar atento ao que as crianças fazem
escolhas. Exige ir além da simples aquisição e proporcionar um ambiente que possibilite as
de materiais, como instrumentos musicais aprendizagens e o desenvolvimento. No caso da
de brinquedos ou não, que se não estiverem atividade musical, é preciso organizar os espa-
acessíveis para que as crianças possam ex- ços, tempos e materiais, com a intencionalidade
plorar, experimentar, de diferentes formas, educativa de possibilitar experiências sonoro-
em diferentes momentos, em nada contribui- -musicais, o que pressupõe um cuidado especial
rá para sua vivência musical. por parte do adulto, pois é preciso:

Organização dos espaços,


tempos e materiais
• Pensar em espaços abertos e fechados para ampliar a possibilidade de exploração pe-
las crianças da acústica, atentando-se para as sonoridades que podem ser exploradas;
• Possibilitar experiências sonoro-musicais no contato com a natureza;
• Disponibilizar espaço e tempo suficiente para as crianças realizarem pesquisas sono-
ras no próprio corpo, explorando as possibilidades;
• Ampliar a exploração de diferentes objetos, não se restringindo apenas ao uso de ins-
trumentos musicais convencionais, afinal qualquer objeto pode e deve ser explorado
sonoramente pelas crianças, proporcionando a vivência musical;
• As explorações e experimentações devem ser cuidadosamente acompanhadas pela
professora ou professor, procurando convidar os bebês, as crianças bem pequenas,
crianças pequenas e demais crianças, a perceberem os sons produzidos, expressá-los,
explorando novas possibilidades sonoras e organizando os sons musicalmente – ima-
ginando e criando novos ritmos e melodias;
• Repensar os famosos “cantinhos” já existentes para que se tornem capazes de ampliar
as possibilidades de desenvolvimento musical das crianças.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 53


Organização dos espaços,
tempos e materiais

Autoria Miguel | CEI 07 de Taguatinga


Professora Elisangela | 2º Período da Educação Infantil

Numa perspectiva trazida por Martinez e Pederiva (2017), com o objetivo de or-
ganizar um espaço social educativo que de fato possibilite às crianças enriquecer suas
experiências musicais, vamos pensar em espaços, tempos e materiais que:
• Sejam povoados por variedade de objetos dispostos ao alcance das mãos das
próprias crianças (bebês, crianças bem pequenas, crianças pequenas e demais
crianças) para que elas brinquem, toquem, ouçam, sintam e experimentem as
possibilidades sonoro-musicais;
• Tenham diferentes objetos que possibilite a exploração sonora pelas crianças,
que não precisam ser, necessariamente, instrumentos musicais convencionais ou
a tradicional bandinha, pode ser instrumentos produzidas pelas próprias crian-
ças ou qualquer objeto que produza som, a exemplo: os utensílios de cozinha
servem como “instrumento musical” e para pesquisa sonora;
• Ofereçam materiais em sua forma original e objetos adaptados, construídos ou
reconstruídos, materiais reciclados, recursos sonoros da própria natureza, afinal
a música está em toda parte;
• Ofertem uma diversidade de espaços – sala de referência, outros espaços do contex-
to de educação coletiva ou em sua redondeza, como grupos musicais da comunida-
de, ou até mesmo, passeios para contextos em que as crianças possam ampliar sua
experiência musical, como concertos, orquestras e demais apresentações musicais.

54 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


As crianças têm grande fascínio pelos
Você sabia? espaços externos, porque para elas, esses espa-
A Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional ços se configuram em possibilidades de liber-
Cláudio Santoro foi fundada em março de dade. As vivências ali se configuram em pleno
1979 pelo Maestro e compositor Cláudio exercício de atividades que não estão totalmente
Santoro, por isso, recebe o seu nome como sujeitas ao controle dos adultos, e assim, podem
uma forma de homenageá-lo. Ressalta-se que agir sem estarem completamente expostas aos
essa Orquestra Sinfônica é uma das prin- regimes disciplinares impostos pelos adultos.
cipais instituições do gênero no Brasil. Faz-se necessário que os espaços,
tempos e materiais sejam pensados de modo
a dar o devido valor e seriedade às ativida-
A utilização desses espaços, tempos e
des infantis, oferecendo mais oportunidades
materiais não deve seguir uma lógica temporal
para que os inúmeros Campos de Experiên-
(cronometrada), é preciso que seja disponibili-
cias sejam acessados.
zado às crianças tempo suficiente para que elas
Então, a organização do cotidiano das
manipulem e experimentem as possibilidades
crianças na Educação Infantil e nos anos iniciais
sonoras dos objetos dispostos, ficando o adulto,
do Ensino Fundamental, passa fundamentalmen-
atento ao que acontece nesses momentos.
te, pela necessidade de conhecer as crianças,
Nesse sentido, ao se pensar em or-
suas histórias de vida, seus desejos, suas opini-
ganização de diferentes espaços e materiais
ões, o que gostam e não gostam, e isso somente
na educação infantil e nos anos iniciais do
será possível, se as mesmas forem de fato, ouvi-
Ensino Fundamental, se faz necessário refle-
das e que essa escuta se materialize em ações
tir sobre o que os compõem, estar atento às
voltadas para a efetiva participação das crian-
infinitas possibilidades para que as crianças
ças na organização pedagógica das instituições
possam relacionar-se com seus pares, viven-
educativas que as atendem.
ciando e compartilhando experiências. As
crianças precisam se sentir
parte integrante e integrada,
para assim, constituir suas
aprendizagens.
A forma como dispo-
mos os materiais, sejam eles
quais forem, pode definir se
é oportunizado experiências
desafiadoras ou não às crian-
ças. Se organizamos esses es-
paços de maneira limitada ao
alcance das crianças, elas não
se sentirão autônomas, per-
dendo assim, a oportunidade
de brincarem e de viverem si-
tuações de aprendizagens. Autoria Maria Fernanda | Jardim de Infância VI Comar (CRE Plano Piloto)
Professora Eliete | 2º Período da Educação Infantil

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 55


Música para e com todos:
é possível com a criança surda?
Quais sons você já ouviu hoje? Sabe- bilidades para as crianças. Fazer música a partir
ria relatar ao menos uma lista com cinco sons e com o próprio corpo.
diferentes? Vamos pensar a partir do nosso cor- Pensar assim abre um leque da educa-
po? Temos o som da batida do nosso coração, do ção musical para e com todos.
roncar no nosso estômago, da saliva descendo A música que ouvimos, que cantamos,
a garganta, um estalar de dedos. E por que não, que tocamos, está acessível para todos? Todos
também, do nosso xixi!? são convidados a participar das atividades musi-
cais? Muitos podem responder que sim, mas tra-
Você sabia? zemos aqui, o questionamento de como acontece
John Cage, ao entrar em uma câmara a educação musical frente às crianças surdas.
anecoica – isto é, uma sala completamente Quando falamos de educação musical,
à prova de som –, ele ouviu dois sons, pensamos com prioridade, o desenvolvimento
um agudo e um grave e, ao indagar, o da musicalidade dos pequenos. E a musicalida-
engenheiro responsável ficou surpreso de nada mais é, que o comportamento humano
com a resposta, de que o “agudo era relacionado ao mundo sonoro.
meu próprio sistema nervoso em
funcionamento, e o grave era meu sangue
circulando” (SHAFER, 2009, p. 118).

Em um mundo rodeado e recheado de


sons, não há silêncio, tanto que Shafer (2009), co-
nhecido por desenvolver trabalhos voltados para a
aprendizagem de uma escuta atenta aos sons que
nos cercam, relatou a experiência de John Cage,
que comprovou a inexistência do silêncio absoluto.
Chegamos então, a conclusão que os sons
começam em nós, estão dentro de nós e se propa-
gam em nós e por nós. Essa conclusão nos permite
começar a pensar sobre o mundo da música.
Como assim? O que tem a ver esse som
que começa em mim com a música que eu canto
ou que eu toco? Primeiro, precisamos saber que
podemos fazer música com nosso corpo e a par-
tir dele. Segundo, sentimos a música no nosso
corpo. Se funcionamos assim, precisamos reco-
nhecer, apresentar e proporcionar essas possi- Autoria Iasmin | CEI 01 do Gama
Professora Karine Wolf | 1º Período da Educação Infantil

56 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Agora, voltemos para a questão da criança surda e a
maneira como a educação musical é disponibilizada. Gosta-
ria de relatar um pequeno exemplo para que sirva de refle-
xão das nossas atitudes frente ao outro. Existe um documen-
tário de nome “Sou surda e não sabia”, que mostra a cena
da mãe cantando parabéns para sua filha. Até então, a mãe
não tinha conhecimento de que sua filha era surda. Passado
algum tempo, e após a ciência da mãe a respeito da surdez da
filha, ela passa a não cantar mais os parabéns.
Livro O ato estético
Às vezes, pode parecer óbvio a atitude da mãe, e
aqui não estamos no lugar de julgamento do que é certo ou
errado, mas buscando um olhar que nos permita oferecer to-
das as possibilidades, inclusive, do desenvolvimento musical
para qualquer ser humano. E por que este exemplo e esta
fala? Porque “Diante desse contexto, nos vemos engessados
em padrões sociais, sobretudo, ao pensarmos e falarmos a
palavra música” (DE PAULA, 2017b, p. 47). E, também, porque
no exercício da profissão docente, em nossas atividades edu- Livro Sou surdo e gosto de
cativas, somos nós quem, muitas vezes, limitamos as crianças. música

Somos nós quem paramos de cantar os parabéns para elas.

Então, como fazer com as crianças sur- nora, Haguiara–Cervellini (2003) nos lembra
das? Podemos responder: faça igual com as que nossa pele é o maior órgão e que nos per-
crianças não surdas. A gente, de antemão, vai mite sentir e ter inúmeras sensações, Martinez
conhecendo, no cotidiano escolar, como cada (2017) nos convidada a perceber que o desen-
uma se desenvolve, o que gosta, o que não gos- volvimento dessa musicalidade acontece desde
ta, o que aceita de forma leve, e o que tem re- os primeiros dias de vida.
sistência. O que a deixa alegre e triste. Neste No trabalho com a música para e com to-
ínterim, as possibilidades de atividades musi- das as crianças, registramos que, se nosso olhar
cais são apresentadas de maneira a proporcio- estiver voltado para centralidade do corpo da
nar uma participação de todas, mas sabemos criança, muitas das atividades se tornam aces-
que nem sempre todas assim a desejam. Pre- síveis para as crianças surdas, também. Lem-
cisamos também, aprender a respeitar essas brando que a oferta das atividades deve ser, em
situações e procurar caminhos que irrompam todo tempo, voltada para todas elas, respeitando
a rigidez nas atividades, concedendo o máxi- e considerando a especificidade do desenvolvi-
mo de liberdade, com a responsabilidade de mento de cada uma.
educadores que somos, para que as crianças Já foi mencionada a importância de
surdas se sintam à vontade para tal (DE PAULA as atividades propostas fazerem sentido para
e PEDERIVA, 2018). as crianças, logo, quando o objetivo da ativi-
E quais atividades oferto para elas? dade é ligado diretamente ao uso de alguma
Lembram da questão do corpo? Pois bem, Amo- música, faz-se necessário que a criança sur-
rim (2016) nos fala que nosso corpo é fonte so- da tenha acesso, minimamente, ao conteúdo

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 57


daquela canção, para que faça sentido o que Portanto, iremos mencionar a brincadei-
está sendo trabalhado. Como isso é possível? ra “dança das cadeiras”, realizada com crianças
Implementar nesses momentos o uso de gra- de oito anos, que se constitui em uma brincadei-
vuras/desenhos/imagens/brinquedos para ra que perpassa nossa cultura. Sendo a Educa-
auxiliar esta compreensão. A presença de um ção Infantil permeada de momentos de brinca-
intérprete, também é importante. deiras, temos aqui, uma possibilidade realizada
Vigostki (2013), ao tratar do proces- com crianças maiores, mas totalmente viável em
so de imitação, esclarece que não se trata de turmas da primeira etapa da Educação Básica.
uma mera repetição, como se fosse uma re- No relato dessa experiência, percebe-se que as
produção mecânica, pois antes, quando co- crianças surdas podem participar, inicialmente,
meçamos a imitar o outro, todo o processo por meio da imitação, até a atividade ser inter-
psíquico dessa atividade, toda sua complexi- nalizada por ela e, assim, ela pode empregar no-
dade, já faz parte do entendimento da pessoa, vos sentidos e comportamentos, partindo de sua
logo, há uma compreensão do movimento. imaginação e criação.

Valdério Costa
Sugestão de atividade
Como mencionado, a brincadeira é sugerido, por parte da intérprete, e combina-
a dança das cadeiras. Na primeira rodada, a do com toda a turma, que ao realizar deter-
professora passou a música e a criança surda, minado sinal, o ritmo dos passos ao redor da
ao perceber o movimento dos demais crian- cadeira seriam mais rápidos ou lentos, e por
ças, sabia que a música havia parado e que fim, ao sinal de parar, todos sentariam.
era o momento de procurar uma cadeira para As músicas cantadas pelas crianças
sentar. A segunda rodada, ao percebermos eram cantigas de roda, as quais foram, pre-
que daquela maneira não fazia muito sentido, viamente, explicadas para a criança surda.
visto que ela não ouvia a música e nem sa- Neste momento, não houve a preocupação da
bia a hora exata de sentar, independente de interpretação da música, até porque, o foco
sua capacidade em perceber os movimentos, da brincadeira não estava diretamente liga-
resolvermos combinar que ao levantar de do a letra, mas aos movimentos ao redor da
mãos da professora, era o momento de todos cadeira, aos gestos e sinais combinados para
sentarem. Ainda incomodadas, professora e que a brincadeira fosse acessível a todos.
intérprete, resolveram fazer diferente. Como Diante dessa atividade, fica o con-
as crianças estavam cantando as músicas ao vite para você pensar quais Campos de
redor das cadeiras, e isso possibilitava a rea- Experiências e quais Objetivos de Apren-
lização de movimentos mais rápidos ou len- dizagem e Desenvolvimento podem ser
tos, conforme a música que tocava, então foi oportunizados às crianças.

58 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Autoria Alice | Jardim de Infância 116 de Santa Maria
Professora Daiane | 2º Período da Educação Infantil

Autoria Maria Eduarda | CEI 210 de Samambaia


Professora Patrícia | 2º Período da Educação Infantil

Desta forma, compreendemos que se-


gundo Vigotski (2001), enquanto educadores e
organizadores do espaço educativo social que
somos, precisamos estar sensíveis as demandas
das nossas crianças. Assim, cada professora ou
professor, vai descobrindo as necessidades das
crianças no contato diário. A atividade que an-
tes usava como única fonte, a sonora, passou a
ter um novo significado quando tomada de outra
forma trazendo sentido para todos e com todos.
Portanto, lembremos de, em nossas ati-
vidades musicais, explorar todo o movimento
que o nosso corpo permite, e focar nas muitas
possibilidades de desenvolvimento da musica-
lidade das crianças, sejam elas com ou sem de-
ficiência, porque “[...] a criança cujo desenvol-
vimento esteja complicado pelo defeito não é
simplesmente uma criança menos desenvolvida
que seus pares, mas desenvolvida de outra ma-
Autoria Vinicius | CEI 04 de Sobradinho
neira” (VIGOTSKI, 2012, p. 12 – tradução livre). Professora Ceiça | 2º Período da Educação Infantil

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 59


Seres de possibilidades
A música faz parte da vida. Independente do com que
nos relacionamos com ela, seja cantando, tocando algum
instrumento, criando, ouvindo, ela existe em nossas vi-
das, quase que de modo onipresente. Estilos diversos
convivem em uma sociedade multifacetada, em meio à
pluralidade de gostos, de maneiras de organizar o ma-
terial sonoro e em meio às peculiaridades culturais exis-
tentes em cada lugar do planeta (PEDERIVA, 2011, p. 69).

Concordamos que o “desenvolvimento


de cada indivíduo é repleto de reações recíprocas
com outros indivíduos e experiências diversas”
(REZENDE, 2018, p.49). Ele se dá nos momentos
em que nós nos relacionamos uns com os outros
em lugares destinados ou não, para este fim.
Outra situação clara é a de que as rela-
ções educativas que desenvolvemos uns com os
outros, ao longo da vida, são impossíveis de se-
rem compreendidas em sua totalidade. E é por
isso que não devemos considerar válidas ape-
nas as experiências que tivemos em espaços
escolarizados delimitados por uma sala de aula
ou por alguma disciplina. Mais que isso, como
professoras ou professores, organizadores de
Autoria Ana Cecília | CEI 01 do Gama um espaço/tempo que se torna educativo, deve-
Professora Karine Wolf | 1º Período da Educação Infantil
mos considerar que todo desenvolvimento, toda
ação que se torna educativa, é válida e, além dis-
O desenvolvimento da musicalidade
so, que não existem situações educativas iguais.
é para todos, sem distinção. A percepção do
Cada experiência é única.
que é música depende de uma construção
Com estes pressupostos podemos di-
social, isso porque, de acordo com Vigotski
zer, também, que nenhuma professora ou pro-
(2010, p. 63), “toda educação é de natureza
fessor ou criança é igual ao outro, e é aqui, que
social”, e a educação musical que temos du-
o olhar pedagógico de cada um de nós deve
rante a nossa vida, não ocorre somente em
se atentar. A professora ou professor que dese-
escolas especializadas, muito menos, somen-
ja realizar atividades musicais, precisa ter em
te em espaços designados para o ensino da
mente, que “o saber que não passa pela experi-
música. Devemos pensar que toda experiên-
ência pessoal não é saber” (VIGOTSKI, 2001, p.
cia com música, sons (combinados ou não),
76), então, encontrar formas de correlacionar as
são validas e não dependem de espaços ou
experiências musicais das crianças com as ati-
tempos para acontecer. Esse desenvolvimen-
vidades musicais trabalhadas, é a melhor forma
to depende das nossas experiências (REZEN-
de desenvolver o trabalho educativo.
DE, 2019). Isso porque,

60 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Para isso, a sala de referência preci- À professora ou professor que atua na
sa ser um espaço de diálogo e compreensão Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
das experiências musicais das crianças. Essas Fundamental, cabe lembrar que as experiên-
experiências serão a base para o desenvolvi- cias que uma criança tem, não são limitadas ao
mento coletivo, para a troca dialética de expe- pequeno espaço da sala de referência. O com-
riências musicais que se dará em um processo portamento musical das crianças pode e deve
de apreciação, experimentação e criação que ser explorado, suas experiências precisam
consolidará o desenvolvimento dos envolvi- fazer parte do cotidiano educativo, da mesma
dos, firmando a ideia de que “toda educação forma que fazem parte do cotidiano da vida.
é de natureza social” (VIGOTSKI, 2010, p. 63). Cabe a nós, docentes, proporcionar oportu-
nidades para que a imersão, já existente em
saberes sociais, culturais, históricos, ultrapas-
Você sabia? sem o portão da Educação Básica, e se tornem,
Na Educação Infantil, em respeito às assim, a parte de um todo.
crianças, optamos em usar alguns termos, A professora ou professor precisa
como por exemplo, no lugar de “sala de perceber que não cabe a ela/ele findar qual-
aula” usamos “sala de referência”, pois se quer processo criativo, mas sim, proporcionar
trata de um espaço de referência para as espaços, tempos, materiais e experiências
crianças para que elas possam se localizar para que o processo de apreciação, experi-
no contexto de educação coletiva e se mentação, imaginação e criação não sejam
perceber pertencente a um grupo (sua ceifados, isso porque,
turma de referência), compreendendo é na atividade do homem no mundo, nas formas pelas
também, que elas podem se relacionar quais ele se relaciona, compartilha, aprende, ensina e
desenvolve, que no transcender histórico social dessas
com as crianças das outras turmas e que
atividades, o ser humano fornece materiais e engendra
as atividades educativas não se limitam ao o desenvolvimento de seus semelhantes (REZENDE,
contexto da sala de referência, mas que 2018, p. 50).

podem ocorrer em qualquer espaço do A própria experiência pela qual a pro-


contexto educativo (BRASIL, 2010).. fessora ou professor passou em sua vida pode
servir como base ou ponto de partida, para com-
preender e desenvolver atividades musicais com
Dessa maneira, o processo educativo as crianças. Todos nós somos seres musicais e,
musical está na experiência, no observar, no portanto, só podemos nos educar e nos desen-
livre experimentar e na consciência de que volver musicalmente, uns com os outros. Isso se
todos podem se expressar musicalmente (RE- dá pelo fato de que quando nos relacionamos em
ZENDE, 2019). Pelo simples fato de que, algum ambiente, nossa própria atividade social
Ninguém nasce sabendo, mas nas relações com o regula o ambiente que é social, histórico e cul-
outro, nas experiências com o grupo, é comum que
todos nós possamos nos desenvolver na própria
tural. Na oportunidade de compartilhar saberes
convivência e experiência com o fazer dos outros. musicais, o desenvolvimento musical, também
Não é necessária uma formação musical estrita,
acontece. A música e o seu fazer tornam-se parte
pois, nesse ponto de vista, a musicalidade é uma
possibilidade para todos na cultura (REZENDE, da nossa atividade humana, como já são no conví-
2018, p. 104). vio cotidiano e em sociedade. Em outras palavras,

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 61


A própria atividade humana regula o ambiente e os
diversos fazeres sociais e culturais fazem da própria
vida a base do processo educativo. Nas oportunidades
e saberes compartilhados, a música e seu fazer se en-
gendram como parte da atividade humana. Ou seja,
uma das características da música e fazer parte da
vida humana nas infinitas formas de nos relacionarmos
com ela (REZENDE, 2018, p. 115).

Por isso, é fundamental pôr em pauta a


discussão de que o processo que se estabelece
entre cultura, sociedade, história, tempo e espa-
ço são indissociáveis e, ao mesmo tempo, o cer-
Autoria Isabelle | CEI 07 de Taguatinga
ne do processo educativo musical. Professora Leda Eliane | 2º Período da Educação Infantil

Em trabalhos de diversos autores, como


os de Amorim (2016), Amorim (2017), Martinez sica, não seria diferente” (REZENDE, 2018, p. 45).
(2013, 2017), Gonçalves (2017), Rezende (2018) e É nesse sentido que nós, professoras
De Paula (2017a), existe a discussão sobre as pos- e professores devemos agir, proporcionando
sibilidades de desenvolvimento da musicalidade. experiências, organizando espaços para que
O ponto de convergência de todos estes autores eles se tornem educativos, amplos e reple-
é na afirmativa de que, “quanto mais oportunida- tos de oportunidades para que as crianças, e
des temos de experienciar algo, maior serão as nós, possamos vivenciar novas práticas que
possibilidades de nos desenvolvermos e, em mú- só são possíveis na cultura, em meio às expe-
riências com os outros.
Nós precisamos ter em mente que as
crianças ouvem, veem, percebem, sentem, to-
mam posse, desenvolvem, reelaboram todo o
material que nós apresentamos a elas, e a partir
disso, soma-se ao material que elas já trazem de

Livro Educação Musical

Livro Música na Educação


Infantil
Autoria Henrique | Jardim de Infância 304 Norte (CRE Plano Piloto)
Professora Regina | 2º Período da Educação Infantil

62 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Autoria Sarah | CEI 210 de Samambaia
Professora Mailla | 2º Período da Educação Infantil

Sugestão de atividade
suas experiências prévias. Por essa razão, não é
Como sugestão de atividade com as crian-
possível dizer que nós não temos experiências
ças, pode-se realizar uma roda de conversa
musicais, muito menos, que as crianças não as
sobre as músicas que elas ouvem em casa.
têm.
É importante deixar as crianças desenvol-
Seja por meio da escuta, da experimen-
ver sua oralidade por meio da fala e é im-
tação de instrumentos convencionais ou não, de
portante deixá-las cantar as músicas que
uma brincadeira, de uma paródia, de uma ativi-
costumam ouvir, compartilhando suas expe-
dade rítmica ou da descrição de uma experiên-
riências, oportunizando a ampliação do re-
cia musical (BRITO, 2003), o importante é deixar
pertório e o respeito pela identidade musi-
a imaginação fluir, não só das/nas crianças, mas
de todos que organizam o espaço social educa- cal do outro. A partir desse momento, outras
tivo. É preciso promover, provocar, ofertar mate- atividades podem ser realizadas, como por
riais diversificados, proporcionar experiências, exemplo, cantar as músicas acompanhadas
e isso só é possível se quebrarmos o paradigma por percussão corporal ou por instrumen-
de que a música não é para todos. tos musicais convencionais ou não, cantar
Assim, reafirmamos a ideia de que a as músicas em diferentes ritmos, fazer pa-
vida, também, é uma escola e, cabe a nós, pro- ródias a partir das músicas compartilhadas,
fessoras ou professores, de música ou não, inte- entre outras possibilidades.
grar o cotidiano, bem como as experiências das Diante dessa atividade, fica o convite para
crianças, mostrar que o fazer musical é de todos, você pensar quais Campos de Experiên-
para todos e deve ser feito com todos, sem me- cias e quais Objetivos de Aprendizagem e
dos, preconceitos ou barreiras, basta ter vontade. Desenvolvimento podem ser oportuniza-
dos às crianças.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 63


Meios e modos de
vivenciar a música

Valdério Costa
Basta caminhar próximo às salas de Ensino Fundamental, do que poderia acontecer,
Educação Infantil para ouvir o que há de mais oportunizando conhecimentos musicais pró-
musical na maioria das escolas da Educação prios e essenciais para o desenvolvimento mu-
Básica. Essa talvez, seja a etapa que mais opor- sical das crianças.
tunize o contato das crianças com a música. Há, Mas antes de falar da importância de
no entanto, que voltarmos nossa atenção para compreendermos a música como uma área de
as atividades musicais que são desenvolvidas, conhecimento, é importante salientar que ela é
levantando algumas questões. Existem conhe- utilizada, muitas vezes, com funções lúdicas, em
cimentos e vivências musicais específicas em momentos de introdução, fixação e rememora-
meio a essas atividades? Ou a música se resume ção de conteúdos, em que a música se configura
apenas à organização de tempos e espaços? Ou em práticas inovadoras.
ainda, a música é apenas utilizada como um re- O próprio fato de utilizarmos a música
curso pedagógico? Ou ainda, como uma forma para o desenvolvimento das linguagens oral e
mecanizada para treinar as crianças para algu- escrita, da capacidade de expressão, da socia-
ma apresentação específica? lização e da ambientalização, entre outros, en-
Os questionamentos podem parecer fatiza as perspectivas que se pode ter acerca
análogos, mas reúnem em si as circunstâncias do uso da música. O importante aqui, é refletir-
que diferenciam a música que acontece na Edu- mos sobre a música como área de conhecimen-
cação Infantil e, até mesmo nos anos iniciais do to, ou seja, uma área que possui conhecimentos

64 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


comunidade escolar em datas específicas, que
não fazem sentido para as crianças. Além dis-
so, existem ainda, as músicas que são utilizadas
para auxiliar nas aprendizagens, seja para a
introdução ou para o reforço de determinados
conhecimentos alheios à música (MARTINEZ e
PEDERIVA, 2014).
No Currículo em Movimento do Distrito
Federal, vemos conhecimentos musicais espe-
cíficos indispensáveis que, organizados como
Autoria Davi | CEI 04 de Sobradinho
Professora Ceiça | 2º Período da Educação Infantil Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimen-
to, apresentam orientações de atividades musi-
musicais específicos que demandam objeti- cais para turmas compostas por bebês, crianças
vos próprios, desde a organização do trabalho bem pequenas, crianças pequenas e crianças
pedagógico até a prática docente, em outras que transitaram da Educação Infantil para o En-
palavras, não inferir que a música praticada sino Fundamental. Agora que contamos com tais
como recurso pedagógico ou para organização orientações, por que reduzir a música ao posto
do espaço/tempo ou como produto para uma de recurso pedagógico ou de organização do es-
apresentação específica, livre das especifici- paço/tempo ou como de forma mecanizada, rele-
dades da área, já se configura como suficiente gando o desenvolvimento musical das crianças?
(MARTINEZ e PEDERIVA, 2014). Como já dito, a problemática não re-
A música tem presença constante nas side no fato de utilizar a música como recurso
experiências das crianças, nos mais diversos pedagógico e afins. O problema é permitir que
contextos. Na Educação Infantil ou nos anos ini- essa visão reducionista, acerca da atividade mu-
ciais do Ensino Fundamental, de modo geral, o sical, impeça as crianças de vivenciarem conhe-
repertório advém de canções de domínio públi- cimentos musicais próprios da área. Para tal, é
co, com funcionalidades distintas. Aposto que imprescindível que a música, enquanto área de
você, certamente, já ouviu canções como, “Co- conhecimento, seja reconhecida e considerada.
mer, comer... é o melhor para poder crescer”, No que se refere à atividade musical,
ou alguma turma seguindo para o parquinho en- perceber que a intencionalidade da atividade
toando, “Piuí, piuí, piuí abacaxi”, ou até mesmo, proposta exige uma atenção particularizada da
aquela maneira “original” de pedir silêncio, en- professora ou do professor. É importante definir
toando que “Para ouvir o som do mosquitinho...” os objetivos durante o planejamento. Mas per-
é preciso fechar a boquinha. ceber o caminho que a atividade está tomando
São muitas as músicas reproduzidas no durante sua realização, é tão importante quanto
contexto da Educação Infantil e nos anos iniciais a definição desses objetivos. Exemplificando:
do Ensino Fundamental. Existem aquelas que Em uma atividade de exploração de sons fortes
são utilizadas para auxiliar na rotina, apontando e fracos em canções conhecidas, é preciso que
normas de conduta e horários, reivindicando o seja oportunizado às crianças o reconhecimento
silenciamento das crianças ou ainda, realizando e a execução desses sons, não somente pelo re-
ensaios exaustivos para apresentações para a flexo da turma — aquele impulso de gritar junto

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 65


com os colegas no forte —, mas principalmente, vimento do DF. Vamos pensar no fazer musical
pela consciência musical individual, de ser ca- em três modalidades:
paz de controlar suas intervenções com o canto Execução Apreciação Criação
ou com outros movimentos.
Estão na modalidade de execução as ati-
O desenvolvimento da consciência mu-
vidades em que a música é posta para ser ape-
sical possibilitará às crianças a compreensão do
nas aprendida e reproduzida, o que geralmente,
outro e do trabalho em grupo, tão importante
envolve a reprodução de canções em apresenta-
para a prática musical, seja em conjunto ou de
ções, músicas como recurso pedagógico, normas
forma individualizada.
de conduta, entre outros, ou seja, quase tudo que,
Em relação às tradicionais apresenta-
usualmente, fazemos com e pela música, nos con-
ções para a comunidade escolar em datas es-
textos educativos com as crianças.
pecíficas, quando a música é utilizada, é preciso
A partir de então, pensemos em ativi-
refletir sobre algumas questões: essas ativida-
dades musicais que conduzam as crianças para
des fazem sentido para as crianças? Elas que-
além da simples reprodução. Atividades de
rem participar dos ensaios? Elas opinam e fa-
apreciação livre ou direcionada, as quais favore-
zem escolhas? As crianças são autônomas na
cem a escuta atenta e, assim, o reconhecimento
realização dessas atividades? Essas atividades
dos sons, bem como a importância do silêncio,
se constituem em processos educativos que se
os momentos de pausa.
relacionam com os Campos de Experiências
Da mesma forma, atividades que sejam
propostos no Currículo em Movimento do DF ou
um convite para a criação de novas melodias,
é apenas um produto a ser apresentado para a
ritmos, instrumentos musicais alternativos, regis-
comunidade escolar, que é realizado de forma
tros espontâneos, exploração de fontes sonoras,
mecânica e rotineira?
os sons do próprio corpo, incluindo a voz. São
incontáveis as formas como podemos trabalhar!
Fique alerta! Muitas vezes, falar de criação em música
Em relação a realização da Plenarinha, pode nos remeter as virtuosas composições que
este projeto não se resume a um momento conhecemos. O primeiro passo é nos livrar dessas
estanque de apresentações sem sentido ideias antecipadas. As crianças compõem o tem-
para as crianças, mas é preciso que po todo. Reproduzem, imaginam, criam, combi-
elas possam vivenciar e desenvolver nam, modificam, reinventam e no que diz respeito
sua musicalidade no espaço educativo à música, com crianças em contextos educativos
coletivo ao longo do ano letivo, por coletivos, para que essas experiências sejam in-
meio de diferentes experiências. tencionais ao desenvolvimento, basta que sejam
oportunizadas à elas, vivências musicais. Vigotski
(2018b) afirma que a reelaboração criativa nessa
Não existe uma fórmula pronta que nos fase parte de impressões vivenciadas, e ainda,
faça desfrutar de tudo que a música pode nos que os processos de criação representam um dos
proporcionar, mas gosto de um caminho que pontos mais importantes para o desenvolvimento
pode nos ajudar a construir e organizar, de for- geral e o amadurecimento das crianças.
ma prática, as atividades musicais, em especial Imagino que no decorrer da leitura te-
pelos objetivos propostos no Currículo em Mo- nha surgido alguns questionamentos do tipo:

66 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


– lento e rápido, diferenciar agudos e graves,
perceber os diferentes timbres. Musicalidade
envolve perceber e ter consciência dos sons,
com possibilidade de reproduzi-los e organizá-
-los, imaginando e criando novas sonoridades e
novas músicas (GONÇALVES, 2017).
Em relação ao Currículo em Movimento
do Distrito Federal, sua proposta de conhecimen-
tos musicais apresenta uma linguagem descom-
Autoria Carlos Gabriel | CAIC JKO (CRE Núcleo Bandeirante) plicada que facilita a compreensão e a organiza-
Professora Raila | 2º Período da Educação Infantil
ção do trabalho pedagógico, pois está expresso
“Que conhecimentos musicais seriam esses?”, em forma de Objetivos de Aprendizagem e De-
ou, “Mas eu não sou músico, não sei cantar ou senvolvimento a serem alcançados pelas crianças.
tocar nada...”. É necessário, também, compreender
Vamos entender algumas questões... que a música proposta nos documentos orien-
É primordial compreendermos que mú- tadores da Educação Infantil e anos iniciais do
sica e teoria musical não são a mesma coisa, tal Ensino Fundamental (DCN, BNCC, Currículo em
como ser um músico e ter uma musicalidade de- Movimento do DF) considera os conhecimentos
senvolvida. Vejamos: tanto as professoras ou pro- musicais propostos em prol do desenvolvimen-
fessores como as crianças têm contato com uma to da musicalidade das crianças. A intenção não
grande quantidade de sons e canções. Hoje é pos- é formar músicos e nem ensinar as técnicas para
sível ter contato com todo tipo de música. Então, a execução de instrumentos musicais conven-
em nível da apreciação musical, essas atividades cionais, mas oportunizar esses conhecimentos,
já contam com inúmeras possibilidades e incontá- e por consequência, favorecer uma educação
veis gêneros musicais que podem ser explorados que pensa na integralidade do ser humano.
de diferentes maneiras por meio daquilo que se Quantas vezes ouvimos as/os docentes
chama musicalidade, permitindo também, a am- dizerem que não sabiam nada de música por não
pliação do repertório musical e o respeito à iden- saber cantar ou tocar algum instrumento musi-
tidade musical de cada pessoa ou grupo social. cal? É normal que alguns se sintam assim, sobre-
A teoria musical trata das regras, sistemas tudo em relação a um conhecimento, que por sé-
e códigos que culminam nos registros musicais culos, foi considerado exclusividade dos nobres
por meio da partitura convencional, cifras, entre e “talentosos”. Mas não podemos deixar que isso
outros. Para ser considerado um músico, é preciso prossiga como uma barreira entre a música e a
compreender esses sistemas, mas também, exis- prática pedagógica. Por isso, gostaríamos de fa-
tem os músicos que tocam instrumentos, cantam e zer um convite: vamos olhar com um carinho a
compõem, sem fazer uso desses sistemas. mais para a parte da música no Currículo em Mo-
E a musicalidade? O que significa? Ter vimento do DF. A linguagem, além de acessível,
uma musicalidade desenvolvida significa mui- foi escolhida com muito cuidado para democrati-
tas coisas, basicamente, é ser capaz de acompa- zar, ao máximo, os conhecimentos, ou seja, não é
nhar o ritmo de uma composição com palmas ou preciso ser musicista ou músico para compreen-
outras partes do corpo, reconhecer sons fortes e der e efetivar os objetivos lá dispostos.
fracos, entoar canções com diferentes durações Por que estamos falando todas essas coi-

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 67


sas? Porque a criança que hoje não é oportunizada tro ponto, é refletir acerca da intencionalidade
a desenvolver sua musicalidade, muito provavel- das atividades musicais que estamos praticando.
mente, será um adulto que se mantém distanciado Agora você entende que não é preciso ser mú-
da música, por acreditar não ter “talento” suficiente. sico para ter uma musicalidade que lhe permita
Mesmo que na licenciatura em Peda- trabalhar conhecimentos musicais? Todavia, re-
gogia não tenha estudos específicos voltados conhecemos a importância da formação continu-
para a educação musical, isso não pode impe- ada como caminho para atualizações necessárias
dir as professoras e professores de trabalha- e para o aprendizado de novos conhecimentos.
rem os conhecimentos musicais com as crian- Em resumo, a música tem lugar asse-
ças, sobretudo, considerando a maneira como gurado na Educação Infantil e, provavelmente,
eles estão dispostos no Currículo em Movi- nos anos iniciais do Ensino Fundamental. São
mento do DF, pois acima de tudo, os pedago- muitos os lugares que ela ocupa, seja como um
gos são especialistas da infância. recurso pedagógico, como uma possibilidade
Um passo importante é reconhecer a para a constituição de conhecimentos musicais
música como conteúdo essencial para o desen- ou como uma experiência estética. Em relação
volvimento dos bebês, crianças bem pequenas, aos conhecimentos musicais específicos, isso só
crianças pequenas e crianças que se encontram será consolidado por meio da qualificação do
nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Um ou- trabalho com música para e com as crianças.

Sugestão de atividade

Jogo da Memória Sonoro


• Você vai precisar de latas com tampa
removível e itens diversos como arroz, Observações:
botões, pedras, tampinhas de garrafa, É importante que as latas sejam
papel picado e o que mais a imaginação exatamente iguais para que não haja
mandar. marcações visuais.
• Coloque dentro de cada dupla de latas o Também é essencial que as latas
mesmo item, na mesma quantidade para tenham tampas removíveis para possíveis
que o som da dupla seja exatamente verificações.
igual, quando as latas forem sacudidas. Diante dessa atividade, fica o
• Depois intercale as latas, como em um convite para você pensar quais Campos
jogo de memória comum. A diferença de Experiências e quais Objetivos de
é que as duplas só poderão ser Aprendizagem e Desenvolvimento podem
encontradas por meio do som. ser oportunizados às crianças.
• Divirtam-se!

68 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Entre músicas e sons,
o “Era uma vez” fica pra lá de bom
As histórias são territórios férteis para e fechar as narrativas, caracterizar personagens,
quem se aventura enveredar por seus surpreen- situações, distinguindo-os e ambientando as his-
dentes caminhos e se no trajeto pudermos usu- tórias. A todo esse conjunto chamamos de trilha
fruir de uma trilha sonora é quase impossível sonora, que pode ser composta, especialmente,
não aproveitar o enredo, articulando, ainda que para determinada história ou aproveitada de
sem perceber, diversas expressões artísticas. músicas já conhecidas.
Ao combinar músicas, sons e histórias é possí- Ao falar de histórias sonorizadas é fácil
vel proporcionar experiências de composição, lembrar das canções que, por si só, já conduzem
apreciação e performance, potencializando o a uma narrativa. Quem não se lembra da “Linda
desenvolvimento da expressão, percepção, in- Rosa Juvenil”? Essas histórias cantadas fazem,
terpretação, caráter expressivo, uso da voz, ma- em sua maioria, parte do cancioneiro popular
nuseio de instrumentos, imaginação e criação, e são conhecidas pelas crianças, professoras
motivando as crianças para as possibilidades e professores e, há gerações continuam sendo
sonoras. cantadas e representadas.
Sonorizar histórias é uma atividade que, Certamente, às histórias sonorizadas ca-
pela sua praticidade, envolve as crianças e con- bem o encanto de levar os envolvidos, sejam pro-
siste em tornar sonoro uma trama por meio de fessoras ou professores e crianças, ouvintes e con-
instrumentos musicais convencionais ou não, do tadores, às experiências ligadas a arte: música,
corpo, da voz e de melodias que passam a in- artes visuais, teatro, dança, criação de cenários e
tegrar a narrativa tornando-a dinâmica e provo- figurinos, sonorização e composição. É justamen-
cando diversas sensações e emoções. É a cha- te esta característica que faz dela uma atividade
mada técnica da sonoplastia! que tende a respeitar as diferenças, pois permite
Segundo Reys (2011) a sonoplastia pode diversos tipos de participação: aquele que não
ser usada com o objetivo de simplesmente, am- é de representar pode tocar, aquele que não é
bientar a narrativa, atribuir expressão às cenas de tocar pode pintar, aquele que não é de pintar
e estimular a imaginação dos ouvintes. Neste pode inventar e todos podem tudo, organizados
caso, a percussão: chocalhos, folhas de raios X,
Valdério Costa

tampinhas, molho de chaves, tambores, sacos


plásticos, folhas secas, paus de chuva, cocos, bi-
locas, instrumentos musicais convencionais ou
não, e tantos outros objetos podem ser utilizados
na busca por timbres e sonoridades que se adé-
quem a cenas (personagens, sentimentos, sons
da natureza, entre outros).
As canções também, podem fazer parte
da sonoplastia. Elas têm a capacidade de abrir

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 69


as histórias sono-
rizadas podem ser
usadas como um
excelente recurso.
Não se pode dizer,
no entanto, que haja
uma receita a ser se-
guida. O certo é que
elas podem surgir
pelo grupo de crian-
ças, principalmente
se já estão habitu-
de Taguatinga adas a este tipo de
Autoria Kimbelly | CEI 07
ela | 2º Período da Educação Infantil
Professora Elisang produção, ou organi-
zadas pela professo-
na coletividade e na cooperação.
ra ou professor, ou ainda, pela/pelo docente em
Para Vigotski (2010) a relação social em
conjunto com as crianças. Das três maneiras, é
meio as experiências, torna-se o momento de
possível pensar que as crianças envolvidas pela
constituição e desenvolvimento da consciência do
narrativa e todos os sons, ritmo e melodia, que
ser humano desde que nasce. No que diz respeito
elas viverão experiências musicais/artísticas
às relações sociais, ressalta-se que a diversidade
marcantes.
de parceiros e experiências potencializa o desen-
E para os iniciantes, como começar
volvimento infantil. Antes mesmo de se expressa-
a realizar um trabalho com histórias sonori-
rem por meio da linguagem verbal, bebês, crian-
zadas? Esta atividade pode ser desenvolvida
ças bem pequenas, crianças pequenas e demais
de forma improvisada, mas também, pode ser
crianças, são capazes de se relacionar a partir
programada para um período maior de tempo,
de várias expressões (corporal, gestual, musical,
de modo que a cada dia, a história seja reto-
plástica, faz de conta, entre outras), desde que
mada, até que ganhe forma.
acompanhadas por parceiros mais experientes.
Para realizar essas atividades de ma-
Nessa perspectiva, é interessante pon-
neira planejada é importante selecionar a
tuar que a composição das histórias sonorizadas
história pensando em suas possibilidades so-
é, essencialmente, realizada a partir da respon-
noras, traçar objetivos para cada etapa do tra-
sabilidade de determinado grupo, criado com
balho e coletar materiais úteis à sonoplastia,
esse intuito. Assim, é da sociabilidade, da livre
lembrando que é preciso dar tempo para que
expressão de ideias, das experimentações que
as crianças conheçam o material e seus sons,
nascem as criações do próprio grupo. Uma vez
se habituem a manuseá-los e percebam as po-
mais os Campos de Experiências se embrincam
tencialidades de cada um (COSTTA, 2008). O
e o que era uma simples história ganha vida, en-
melhor é experimentar, brincar, escutar, se
tre música, movimento e relações.
apropriar de tudo o que há disponível, inclu-
No contexto da sala de referência ou
sive os sons do próprio corpo, para depois in-
em qualquer situação pedagógica em diferen-
ventar e reinventar o “Era uma vez”.
tes espaços do contexto de educação coletiva,

70 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


apreciados, como um todo, pelos envolvidos.
Para pensar antecipadamente: Algo, não menos importante, que a visualiza-
- Quais objetivos tenho ao desenvolver ção do resultado é a avaliação das crianças a
esse tipo de trabalho? respeito do que fizeram, individual e coleti-
- Qual a melhor história para trabalhar vamente. Outra ideia, é apresentar a história
com minhas crianças neste momento? para outras crianças do contexto educativo
Por quê? coletivo e para a comunidade escolar.
- Que recursos tenho disponíveis? As histórias potencializam apren-
Para pensar junto com as crian- dizagens e o processo de sonorização das
histórias, além de exercitar a imaginação e
ças:
criação, amplia o conhecimento musical dos
- Quais são os personagens?
pequenos, os tornam pesquisadores, autores,
- Haverá um narrador?
criadores, capazes de exercer e materializar,
- Em que momentos haverá música?
em certo sentido, sua imaginação.
Cientes da brincadeira como Direito de
O resultado do trabalho com histórias
Aprendizagem e Desenvolvimento e Eixo Inte-
sonorizadas e crianças pode ser registrado
grador do Currículo em Movimento do DF – Edu-
em áudios e vídeos na intenção de que sejam
cação Infantil –, que tal um convite para brincar?

Autoria Gabriele | Jardim de Infância 304 Norte (CRE Plano Piloto)


Professora Regina | 2º Período da Educação Infantil

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 71


Sugestão de atividade
Prepare figuras razoavelmente gran- serem sonorizadas de acordo com as gra-
des, que possam ser visualizadas por todos vuras e sons apresentados, anteriormente.
os participantes em uma roda de conversa As histórias sonorizadas fazem com que as
convencional, na sala de referência ou em crianças deixem de ser ouvintes e tornem-
outro espaço do contexto de educação cole- -se autoras efetivas em sua própria obra.
tiva. (Busque um local sem muita interferên- Além dessa atividade, sugere-se que
cia sonora, tendo em vista o cuidado para não acessem vídeos de contação de histórias de Bia
comprometer a sonorização da atividade). Bedran, entre outras, para que possam perceber
Apresente em gravuras variadas: as possibilidades de sonorização de histórias.
meios de transporte, bichos, fenômenos da Além disso, do ladinho da página, há sugestões
natureza (chuva, vento, trovão), objetos baru- de livros que acompanham CD, em que se evi-
lhentos (campainha, buzina, telefone) e convi- dencia a presença da sonorização das histórias.
de as crianças a imitarem os seus respectivos Diante dessa atividade, fica o convite
sons. Além dos sons produzidos pelo próprio para você pensar quais Campos de Experi-
corpo, você pode convidar os pequenos a ex- ências e quais Objetivos de Aprendizagem e
perimentarem, também, objetos que possam Desenvolvimento podem ser oportunizados
ser úteis à sonoplastia daquelas gravuras: às crianças.
• Chuva – pau de chuva/arroz caindo
em uma bacia
• Boi - apito grave
• Cavalo - coquinhos sonoros
• Passarinhos - apitos agudos
• Carneiro e cachorro - voz
• Riacho - pau de chuva
• Porquinho - reco-reco
• Galos e Galinhas – chocalhos Livro Turma do Livro Como contar
Caracol histórias usando sons
• Campainha – sineta
• buzina de carro – buzina de plástico
É justamente nessa brincadeira que
as crianças se familiarizam com a percep-
ção e utilização de sons, construindo um re-
pertório de sonorização. Isso já é fabuloso,
mas outros passos podem ser dados a partir
Livro História Livro Musicantes
deste momento, quando as crianças podem para Boi Casar e o Boi Brasileiro
criar histórias que apresentam situações a

72 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Brincadeiras cantadas:
Um universo de possibilidades
brincantes e musicais
“É inestimável o valor do exercício espontâneo da mú- Enfim, é uma atividade que promove
sica na infância, uma música onde a palavra, a canti-
ga, o movimento e o outro se interligam na alegria do
uma rica experiência cultural e possibilita às
brincar”. Lydia Hortélio crianças a recriação de canções de seu coti-
diano, oportunizando, também, a exploração de
Quem se lembra das cantigas e brinca-
sonoridades e a vivência da musicalidade. É a
deiras de roda que brincava e cantava quando era
música em movimento, na brincadeira, na coleti-
criança? Pois então, essas músicas e brincadeiras
vidade, no corpo e na voz, de adultos e crianças.
são brincadeiras cantadas e se constituem como
possibilidades de proposta educativa a ser reali-
zada para e com as crianças (OSTETTO, 2014). Você sabia?
Enquanto organizadores do espaço so- A origem das brincadeiras cantadas
cial educativo na Educação Infantil e nos anos é milenar, pois é uma das formas mais
iniciais do Ensino Fundamental, devemos estar primitivas de cantar, dançar e brincar, que
atentos ao cuidado, à educação, às interações muitos povos desenvolveram ao longo dos
e às brincadeiras de maneira integrada entre tempos em meio as suas relações sociais.
tempos, espaços, materiais e relações sociais Acerca do surgimento das rodas cantadas no
como proposto no Currículo em Movimento do Brasil, coincidem com a chegada dos jogos
Distrito Federal – Educação Infantil: e brincadeiras tradicionais que sofreram
A primeira etapa da Educação Básica tem finalidades influência da cultura europeia trazida pelos
próprias que devem ser alcançadas na perspectiva do
desenvolvimento infantil, ao se respeitar as brincadeiras
portugueses, sem esquecer a contribuição
e interações e o cuidar e o educar, no tempo singular da da cultura africana e indígena, e em menor
primeira infância (DISTRITO FEDERAL, 2018, p.52).
proporção de outros povos (BUENO, 2011)..
As brincadeiras cantadas ou brinque-
dos cantados são canções infantis ritmadas
Ampliar o repertório brincante com
compostas por letras simples, acompanhadas
base na música tradicional da infância é uma pro-
por gestos e movimentos e que se relacionam
posta da pesquisadora e etnomusicóloga, Lydia
diretamente com a música tradicional da infân-
Hortélio (2014), que representa uma possibilida-
cia brasileira, como explica Silva:
de de promover às crianças e às professoras e
Feita pela e para a criança, a música tradicional da in-
aos professores uma prática educativa com quali-
fância a embala desde o nascimento e percorre todos
os seus passos até que chegue à idade adulta. Carrega dade, com maior diversidade cultural e com mais
os ritmos e molejos da música brasileira; a beleza da experiências significativas para todos os envolvi-
nossa poesia popular; os gestos, movimentos e desa-
fios imprescindíveis ao desenvolvimento da criança; e
dos no processo educativo musical.
a nossa diversidade cultural” (SILVA, 2016, p.31). O primeiro passo para colocarmos em
prática uma proposta educativa na perspectiva

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 73


do Paranoá
Escola Classe 03
Autoria Marina | sino Fundamental a cultura, entre adultos e crianças.
a | 1º ano do En
Professora Indiar
A participação de adultos nas situa-
ções de brincadeira pode impulsio-
nar o desenvolvimento das possibi-
lidades expressivas das crianças,
bem como o acesso aos bens cul-
turais, pois é por meio das relações
sociais que as crianças acessam os
bens culturais historicamente consti-
tuídos pela humanidade (MARTINEZ
e PEDERIVA, 2020).
Nesse sentido, é importante
acrescentar que as crianças são afe-
tadas pela cultura e, dialeticamente,
tornam-se produtoras de cultura, e
das brincadeiras cantadas é nos reconectarmos suas produções se tornam possíveis
com a criança que fomos um dia, ao relembrar- a partir das experiências que vivenciam, trans-
mos de nossa infância por meio da música, da formando-se ao mesmo tempo que transformam
dança, do canto e da brincadeira. Outro passo a realidade na qual estão inseridas.
importante, é nos colocarmos em uma postu- É preciso esclarecer que ao contemplar-
ra de acolhimento, disponibilidade e interes- mos as brincadeiras cantadas no planejamento
se para conhecer e aprender sobre os saberes e na prática educativa na Educação Infantil e nos
e experiências infantis, considerando que as anos iniciais do Ensino Fundamental, trata-se na
crianças e docentes possuem experiências cul- verdade, de uma oportunidade para pensarmos
turais diferenciadas (CARVALHO, 2015). na qualidade das experiências brincantes e mu-
Cabe ressaltar, que ao resgatarmos as sicais que estamos propondo no dia a dia para
músicas e brincadeiras de nossa infância e ao e com as crianças. Quanto mais brincadeiras,
apresentarmos às crianças de hoje, intencional- maiores são as possibilidades para o desenvol-
mente, valorizamos as culturas infantis estabe- vimento das crianças, pois os processos imagi-
lecendo uma parceria brincante e musical com nativos e criativos podem ser impulsionados por

Livro Livro Danças Livro De todos os Livro Jogos e Livro Lenga La Livro Música em
Barangandão Circulares cantos do mundo Brincadeiras Lenga Diálogo
Barulhinho musicais

74 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


ve a percepção da sonoridade e o desen-
volvimento da musicalidade quando se
parte do princípio de que é uma ativida-
de cultural:
Partimos do princípio, de que a música como
já esclarecido, é uma atividade cultural e nes-
se sentido, é importante que sejam criadas
condições de possibilidades para o contato
com a música, não de forma superficial, mas
que a criança desenvolva a escuta atenta e in-
tencional, perceba a sonoridade a sua volta,
pense acerca dos sons existentes, imagine e
crie novas possibilidades, explore os sons do
corpo e de diferentes instrumentos musicais
ou de instrumentos alternativos, brinque com
Autoria Sophia | Escola Classe 01 Incra 08 (CRE Brazlândia) os sons, componha músicas, cante, toque e
Professora Márcia | 2º Período da Educação Infantil
seja tocada pelas inúmeras possibilidades de
desenvolvimento de sua musicalidade (MAR-
meio dessas experiências (VIGOTSKI, 2018b). TINEZ e PEDERIVA, 2014, p.131).
Sendo assim, é relevante lembrar que a
brincadeira cantada no trabalho cotidiano com as
crianças tem um fim em si mesma, não tem como
finalidade alcançar objetivos de outras áreas do
conhecimento ou eventos comemorativos do con-
texto educativo coletivo, pois a ênfase da ativida-
de deve estar na intencionalidade educativa e nas
possibilidades de exploração sonoras e musicais
que a brincadeira cantada favorece.
À medida que compreendemos a cen-
tralidade da cultura para o desenvolvimento in-
fantil, passamos a valorizar consequentemente,
as infinitas possibilidades de desenvolvimento
musical por meio das brincadeiras cantadas e
das relações sociais nos mais diversos contextos
educativos (MARTINEZ e PEDERIVA, 2020).
A brincadeira, como já sabemos é uma
necessidade das crianças. É uma atividade im-
portante para o desenvolvimento de processos
imaginativos e criativos na infância, por isso, va-
lorizar a atividade brincante no cotidiano das
crianças no contexto de educação coletiva, sig-
nifica potencializar suas possibilidades criado-
ras e suas produções culturais.
A vivência musical na infância por sua
Autoria Sophia | Escola Classe 01 Incra 08 (CRE Brazlândia)
vez, segundo Martinez e Pederiva (2014) promo- Professora Márcia | 2º Período da Educação Infantil

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 75


Sugestão de atividade
Diante do exposto, acerca da rele- lo, cada uma com uma tampinha de garrafa e,
vância das brincadeiras e da música para o posteriormente, em pé.
desenvolvimento infantil, sugerimos uma ati- 3ª possibilidade: As crianças em pé
vidade de vivência musical a partir da brinca- e em círculo farão os movimentos sugeridos
deira: Escravos de Jó. pela música, fazendo apenas vocalizações da
Escravos de Jó é uma brincadeira melodia. Combine com as crianças quais os
muito difundida no Brasil, conhecida por mui- sons (vogais ou sílabas) que serão emitidos
tos adultos e por muitas crianças, também. coletivamente. A regra é não cantar a letra,
Que tal, propor essa brincadeira para a sua pois o foco será a melodia.
turma considerando as diversas possibilida- 4ª possibilidade: As crianças senta-
des de vivência musical? das e em círculo serão convidadas a sussur-
No primeiro momento, é interes- rarem a melodia numa intensidade mais su-
sante que as crianças estejam sentadas em ave ou mais forte de maneira alternada para
círculo. A professora ou o professor pode que as crianças possam perceber a intensi-
cantar a música para que as crianças cantem dade do som (forte e fraco).
junto. É importante cantar quantas vezes fo- • Essa sugestão de atividade pode
rem necessárias até que o ritmo, a letra e a ser adaptada para outras canções,
melodia estejam harmonizadas. Lembre-se de acordo com o interesse e neces-
de que a sua voz e seu corpo são seus instru- sidades das crianças.
mentos musicais e ferramentas de trabalho • Ao planejar essa proposta de ativi-
educativo com as crianças. dade para a sua turma é importante
1ª possibilidade: Cantar a música observar a idade das crianças. Evi-
com voz grave e depois com a voz aguda te, também, propor todas as possi-
para que as crianças possam desenvolver a bilidades da vivência em um único
percepção da altura (grave e agudo) ao som dia, você pode dividi-la em etapas.
da voz cantada. Ao longo deste texto, esperamos
2ª possibilidade: As crianças em pé que você tenha se conectado ao universo en-
formam um círculo, para cantar e pular de cantado das brincadeiras cantadas e à músi-
acordo com os movimentos sugeridos pela ca tradicional da infância.
música, cujo objetivo é a marcação do ritmo Diante dessa atividade, fica o convi-
da música. Combine com as crianças quais te para você pensar quais Campos de Expe-
serão os movimentos para cada parte da riências e quais Objetivos de Aprendizagem
música. A marcação do ritmo pode ser feita, e Desenvolvimento podem ser oportuniza-
também, com as crianças sentadas em círcu- dos às crianças.

76 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


A importância da
atividade sonoro-
musical na Educação
Infantil e nos Anos
Iniciais do Ensino
Fundamental:
Valdério Costa

Pensando a transição
A música é indispensável para a formação integral e
estética dos indivíduos (DISTRITO FEDERAL, 2018). Você sabia?
A música é um dos campos de conhe- Na Educação Infantil, em respeito
cimento do componente curricular Arte e no às crianças, optamos em usar alguns
Currículo em Movimento do Distrito Federal, termos, como por exemplo, no lugar de
é compreendida como um conhecimento hu- “escola” usamos “escola da infância” ou
mano e como “técnica social dos sentimen- “contexto de educação coletiva”, pois
tos”, assim denominada por Vigotski (1999). se trata de um espaço em que a infância
Nessa perspectiva, não é um dom, algo que o precisa ser privilegiada considerando as
sujeito traz consigo desde o nascimento. An- especificidades das crianças e, também, em
tes, é necessário “educar o desenvolvimento relação ao segundo termo, trata-se de um
da musicalidade das pessoas em quaisquer contexto de educação, como tantos outros,
condições sociais” (DISTRITO FEDERAL, mas que envolve muitas crianças que
2018, p. 97). convivem juntas diariamente, destacando
Uma vez que aqui nos ocupamos da o caráter coletivo desse espaço
Plenarinha, política pública da Secretaria de (CARVALHO e FOCHI, 2017).
Estado de Educação do Distrito Federal, que
atende às crianças da Educação Infantil e pri-
Pensando a transição, devemos levar
meiro ano do Ensino Fundamental, faz-se ne-
em conta as experiências vividas pelas crianças
cessário discutir as transições que passam as
em sua trajetória de vida, respeitando sua indivi-
crianças nos contextos de educação coletiva.

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 77


aprendizagem e desenvolvimento, autônomas,
capazes de aprender a regular seu comporta-
mento e suas emoções.
Dessa maneira, deve-se trabalhar ativida-
des musicais com o entendimento de que as crian-
ças são seres ativos, capazes, inteligentes e com
vistas a promover a experimentação, a pesquisa
sonora, “considerando aspectos de possibilida-
des vocais, corporais e instrumentais de estudan-
tes, proporcionando a oportunidade de explorar
Autoria Leandro | CEI 02 de Sobradinho
o mundo sonoro com liberdade e expressar suas
Professora Mônica | 2º Período da Educação Infantil próprias ideias musicais” (DISTRITO FEDERAL,
2018, p. 97), de criar e recriar musicalmente. A
dualidade e seus aprendizados constituídos com
troca colaborativa entre crianças, professoras ou
suas famílias e demais grupos sociais. Essas tran-
professores, bem como entre os participantes da
sições, modos diversos de se colocar no mundo e
comunidade escolar, favorece a ampliação do
se reorganizar a partir dos novos espaços e novas
repertório e aprofundamento musical enquanto
relações que emergem, sobretudo, no cotidiano
ação promotora de oportunidade nas atividades
da escola da infância, implica também, conside-
musicais intencionalmente elaboradas.
rar, debater e refletir sobre as experiências musi-
De acordo com a Teoria Histórico-
cais que são oportunizadas às crianças, tendo em
-Cultural, que tem como principal teórico Vi-
vista as especificidades da infância.
gotski, e que embasa o Currículo do Distrito
Os bebês ao entrarem na creche, ou as
Federal, a arte é equilibradora das emoções
crianças pequenas ao entrarem na pré-escola,
(VIGOTSKI, 1999), portanto, indispensável no
ou ainda, as crianças ao entrarem no primeiro
processo de constituição dos seres humanos.
ano do Ensino Fundamental, trazem consigo ex-
A arte é constantemente mencionada nos do-
periências diversas, entre as quais a descoberta
cumentos que norteiam o trabalho na educa-
e vivência de sua musicalidade. Nesse sentido,
ção da primeira infância e, também, nos anos
espera-se da professora ou professor, a sensibi-
iniciais do Ensino Fundamental. As Diretrizes
lidade de reconhecer e valorizar essas experi-
Curriculares Nacionais para a Educação In-
ências, bem como a intencionalidade de propor
vivências que articulem esses saberes e práti-
cas com o patrimônio cultural musical da huma-
nidade, ampliando as experiências musicais e
o repertório musical das crianças, mas sempre
desenvolvendo práticas de respeito à identida-
de musical entre elas.
Ao docente cabe levar em conta as
crianças e suas infâncias, que emergem nos con-
textos educativos, entendendo-as como sujeitos
de direitos que a partir das relações sociais e
Autoria Davi Gustavo | Escola Classe 40 de Ceilândia
culturais, são protagonistas no seu processo de Professora Adela | 2º Período da Educação Infantil

78 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


niões, questionamentos, por meio de diferen-
tes linguagens” (BRASIL, 2017, p. 36), uma das
quais a artística.
Essas vivências são evidenciadas, tam-
bém, pela Lei Federal 13.278/2016, que amplia a
obrigatoriedade do ensino da Arte, incluindo as
artes visuais, dança, música e teatro. Para além
da obrigatoriedade, convém olhar para o imen-
so benefício que traz a vivência artística no de-
senvolvimento infantil.
Voltando a pensar sobre os direitos das
crianças, lembrando que são sujeitos históricos
e de direitos e que sofrem influências da cul-
tura e dialeticamente, produzem cultura, cabe
Autoria Cauã | Escola Classe 40 de Ceilândia perguntar-nos se nossas práticas educativas no
Professora Adela | 2º Período da Educação Infantil
cotidiano da escola da infância têm caminhado
fantil (DCNEI) tratam do patrimônio cultural de acordo com os documentos norteadores e
e artístico, assim como do princípio estético. respeitado os direitos das crianças e proporcio-
A Base Nacional Comum Curricular ((BNCC) nado as experiências musicais tão fundamentais
versa sobre o direito que a criança tem de se para suas aprendizagens e desenvolvimento,
expressar “como sujeito dialógico, criativo e considerando seu direito a desenvolver-se inte-
sensível, suas necessidades, emoções, senti- gralmente, ou seja, por meio dos variados Cam-
mentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opi- pos de Experiências.

Valdério Costa

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 79


Sugestão de atividade
O trabalho pedagógico proposto e seios guiados à Escola de Música de Brasí-
desenvolvido na rede pública do Distrito Fe- lia, ao Clube do Choro, a Casa do Cantador,
deral prima pela autonomia e protagonismo a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional
dos estudantes em qualquer etapa ou moda- Claudio Santoro, entre outros lugares que a
lidade da educação. música é vivenciada. Proporcionar momen-
Dessa maneira, realizar as propostas tos de investigação musical como fomento
da IX Plenarinha requer cumprir o propósito para imaginação, criação e expressão da vi-
de oportunizar a expressão e o protagonis- vência ativa das crianças. Promover exposi-
mo das crianças por meio de diversificadas ções de objetos sonoros e materiais confec-
atividades sonoro-musicais, contemplando cionados, com troca de experiências entre
os Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvi- as turmas do contexto de educação coletiva
mento evidenciados pelo currículo. Objetivos e, também, entre as Unidades Escolares das
esses, voltados a possibilitar a musicalidade duas etapas da Educação Básica. Realizar
em ação e para tal, deve-se lançar mão de ati- Festivais musicais; saraus musicais com a
vidades que envolvam as crianças, seus pares participação de convidados e familiares.
e toda a comunidade escolar, proporcionan- Realizar entrevistas à músicos e/ou compo-
do uma atmosfera de pesquisa e descobertas. sitores do Distrito Federal.
Ações como rodas de conversa com Variadas ações poderão ser organi-
as crianças em que sejam abordados assuntos zadas tendo como cenário as atividades mu-
referentes aos sons, às músicas que preferem, sicais propostas e desenvolvidas, segundo
perguntas que as provoquem a investigar e os Objetivos de Aprendizagem e Desenvol-
a refletir porque gostam ou não de tal estilo vimento da Educação Infantil e objetivos/
musical e assim, aprofundar sobre o que é conteúdo dos Anos Iniciais, elencados no
música; do que ela é feita; quem pode fazer Currículo em Movimento da Distrito Federal
música; que tipo de instrumento musical as – Ensino Fundamental – mas sempre tendo
crianças conhecem, e assim por diante. São em mente, que as crianças que transitaram
sugestões para aquecer o ambiente investi- para a etapa seguinte da Educação Básica,
gativo e romper com conceitos hegemônicos ainda é uma criança, que precisa brincar, se
que impedem o desenvolvimento musical de relacionar com seus pares, movimentar seu
qualquer pessoa. Cabe o registro das conver- corpo e descobri-lo de variadas maneiras,
sas para melhor conhecimento das vivências explorar diferentes espaços e matérias. E
e experiências das crianças. essas vivências, também podem ocorrer em
Outras possibilidades para colocar meio às sonoridades e músicas que consti-
a IX Plenarinha em prática, podem ser pas- tuem a vida humana.

80 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


A EAPE promove formação
continuada em Educação Musical

Autoria Sophia | CEPI Sagui (CRE Brazlândia) Autoria Sophia | CEPI Sagui (CRE Brazlândia)
Professora Michelle | 2º Período da Educação Infantil Professora Michelle | 2º Período da Educação Infantil

CARGA
CURSO MODALIDADE PÚBLICO
HORÁRIA

Vivências com Musicalização 80h


Espiral das Artes -Ensino Fundamental 120h
Profissionais da
Práticas Pedagógicas Lúdicas- cantar,
30h Carreira Magistério
brincar e contar histórias na Ed. Infantil EAD
Cirandeira das Artes 60h
Bem estar e qualidade de vida o despertar Profissionais da
100h
musical por meio da flauta doce Carreira Assistência

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 81


Escola de Música
de Brasília
A música, por ser um
conhecimento que requer ho-
ras de treinamento para o de-
senvolvimento motor-cognitivo,
distribuídas em vários anos de
estudo, necessita de um itinerá-
rio formativo que promova, des-
de a infância, a possibilidade
da aprendizagem de um instru-
mento musical.
Ao oferecer educação
musical à crianças e adolescentes,
com vistas a formar instrumentis-
tas, de diferentes faixas etárias e
segmentos sociais, contribui-se
Autoria Débora | Escola Classe Alto Interlagos (CRE do Paranoá)
Professora Cristiane | 1º Período da Educação Infantil para uma possível formação pro-
fissional na área de Música, possibilitando a apro-
A Musicalização Infanto-juvenil é priação pela comunidade do conhecimento musi-
ofertada pelo Centro de Educação Profissio- cal, abrindo caminho para a inserção na Educação
nal – Escola de Música de Brasília-CEP/EMB Profissional Técnica de Nível Médio e, em conse-
como requisito fundamental para a formação quência, no mundo do trabalho.
de futuros músicos profissionais desde a dé- Destacam-se dentre as ações do projeto
cada de 1970. musicalização infanto-juvenil, as seguintes práticas
O Núcleo de Musicalização Infanto-ju- de conjunto: Coro Primo Canto, Banda de Música
venil atende às etapas do itinerário formativo das Crianças e Orquestra de Cordas das Crianças.
dos cursos Técnicos de Instrumento Musical do A clientela Infanto-juvenil atendida
CEP/EMB: Iniciação ao Instrumento voltada para pelo presente projeto servirá como material
crianças, com idade de 08 até 14 anos, por meio humano a ingressar no curso técnico oferecido
da oferta de componentes curriculares prático- pelo CEP/EMB. Nesse sentido, a presença de es-
-teóricos das matrizes curriculares dos respecti- tudantes a partir de 08 anos de idade no referi-
vos cursos, com o objetivo de formar estudantes do curso é imprescindível para que a escola re-
instrumentistas direcionados aos cursos de For- ceba, no curso técnico, estudantes devidamente
mação Inicial Continuada-FIC – básico instru- preparados para alcançar um de seus principais
mental (15 anos em diante) e curso técnico em objetivos: formar profissionais altamente quali-
instrumento musical. ficados para atuar no mercado de trabalho.

82 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Vale a pena
conhecer quem
anda barulhando
e incentivando a
cultura musical

Valdério Costa
no Distrito Federal
Nome do projeto: mo, melodia, timbre, harmonia, cores sonoras,
MUSICALIZAÇÃO INCLUSIVA ambientes sonoros, sonoridade, etc...).
Nome da Instituição:
Polícia Militar do Distrito Federal Justificativa: A educação musical é um pro-
cesso de construção do conhecimento, que tem
Responsável: Ten. Roberto Cardoso
como objetivo despertar e desenvolver o gosto
Público alvo: Crianças com ou sem
musical, favorecendo o desenvolvimento da sen-
diagnósticos de 9 meses a 4 anos e 6 meses
sibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer
Local de realização: Academia de de ouvir música, da imaginação, memória, con-
Polícia Militar de Brasília, Área Especial centração, atenção, autodisciplina, do respeito ao
1, Setor Policial Sul, Sala 1 – Brasília-DF próximo, da socialização e afetividade, também
Carga horária: 45 minutos por semana contribuindo para uma efetiva consciência cor-
Formas de ingresso: Inscrição gratuita poral e de movimentação. Significa desenvolver
conforme o número de vagas o senso musical das crianças, sua sensibilidade,
Período de inscrição: das 14h as expressão, ritmo, “ouvido musical”, isso é, inse-
18h, na sede da Banda de Música da ri-la no mundo musical, sonoro. As atividades
PMDF (Academia de Polícia Militar de educação musical permitem que a criança
de Brasília, Setor Policial Sul). conheça melhor a si mesma, desenvolvendo sua
noção de esquema corporal, e também, permi-
Objetivo geral: O objetivo primário do pro- tem a comunicação com o outro.
jeto é oferecer às crianças inscritas uma me-
lhora na qualidade de vida por meio da músi- E-mail p/contato:
ca, proporcionando contribuições para o seu pmdfmusicalizacaoinclusiva@gmail.com
desenvolvimento integral, por meio de apren- Telefone p/contato:
dizado dos elementos básicos da música (rit- (61) 3190-6482 / (61) 999617832

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 83


Batucadeiros
Nome da Instituição: Instituto Batucar Justificativa: O acesso à arte e cultura, sobre-
Responsável: Ricardo Amorim tudo nas regiões em situação de vulnerabili-
e Patrícia Amorim dade social é precário no contexto brasileiro.
Diante dessa realidade, o Projeto Batucadeiros
Público alvo: Crianças, adolescentes
desenvolveu uma tecnologia de inclusão socio-
e jovens, de 06 a 17 anos de idade
cultural que promove o acesso à música, a par-
Local de realização: Quadra 307
tir da utilização do corpo humano criando as-
conj 15 lote 17 - Recanto das Emas
sim uma nova perspectiva, que é a ausência de
Carga horária: Quinta-feira meios. Dessa forma, oferece uma solução para
Manhã: 09h às 11h30m resolver a dificuldade de se adquirir instrumen-
Tarde: 15h30 às 18h tos musicais e possibilita uma prática educativo
Formas de ingresso: Disponibilização musical que tem o corpo como fonte de expres-
de vagas e estar matriculado em são da musicalidade.
alguma instituição de ensino
E-mail p/contato:
Período de inscrição: sempre aberto
batucadeiros@gmail.com
patriciaamorim722@gmail.com
Objetivo geral: Garantir o acesso à cultura e
Telefone p/contato:
promover a inclusão sociocultural de crianças,
61) 99672-9674
adolescentes e jovens do Recanto das Emas/DF.

Parque Diversom
Nome da Instituição: Udigrudi Produções Justificativa: O foco principal do Parque Diver-
Responsável: Luciano Porto som é despertar a percepção auditiva por meio
da associação de sons e movimentos, proporcio-
Público alvo: Crianças de
nando um ambiente lúdico de experimentação
todas as idades / famílias
sonora. É formado por brinquedos tradicionais e
Local de realização: Por projeto
originais, acoplados a aparatos sonoros que são
– o parque é itinerante
acionados pelo movimento do brincante.
Carga horária: Livre
Formas de ingresso: Livre E-mail p/contato: lucport@gmail.com
Período de inscrição: Não é necessário Telefone p/contato: (61) 981 430 093
Objetivo geral: Proporcionar uma experiên-
cia lúdica com brinquedos sonoros.

84 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Valdério Costa
Cronograma
Janeiro Fevereiro Março Abril
Divulgação do tema: Divulgação do tema: Estudo do tema Roda de Conversa
“Musicalidade “Musicalidade das e início do IX Plenarinha - 1º
das infâncias: de infâncias: de cá, de desenvolvimento do Dia de Formação da
cá, de lá, de todo lá, de todo lugar”. projeto nas Unidades Educação Infantil
lugar”para as UNIEB. Escolares (Públicas
e Parceiras)

Maio Junho Julho Agosto


Desenvolvimento Realização das Desenvolvimento do Desenvolvimento do
do projeto nas Plenarinhas Locais projeto nas Unidades projeto nas Unidades
Unidades Escolares Escolares (Públicas Escolares (Públicas
( Públicas e e Parcerias). e Parceiras)
Parceiras)

Setembro Outubro Novembro


Desenvolvimento do Desenvolvimento do Avaliação da VIII
projeto nas Unidades projeto nas Unidades Plenarinha da
Escolares (Públicas Escolares (Públicas Educação Infantil.
e Parceiras) e Parceiras)

Observação
Devido a pandemia do COVID-19, e seguindo as recomendações
da OMS, este ano não indicamos no cronograma as
etapas, Regionais e Distrital, para evitar aglomerações.
Ressaltamos que podem ocorrer alterações posteriores,
caso acorram novas orientações acerca do coronavírus.
Valdério Costa

IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar. 85


Para registrar…
Como pensar no registro de algo que significativa e produtiva será a atividade de sua
não pode visto ou tocado? A música, como arte imaginação. As crianças reproduzem muito do
do som, acontece no momento em que é ouvida, que viram e ouviram, mas essa reprodução nun-
criada, executada... ca é exatamente a repetição do vivenciado. Há
Durante o desenvolvimento do Proje- sempre uma reelaboração criativa baseada nas
to Plenarinha é preciso pensar na necessidade impressões vivenciadas, que responde às suas
de ampliar as experiências das crianças. Quan- aspirações e anseios (VIGOTSKI, 2018b).
to mais a criança vê, ouve e vivencia, mais ela Ao pensar nisso a proposta da Direto-
sabe e internaliza; maior é a quantidade de ele- ria de Educação Infantil é que, ao finalizarmos
mentos que ela dispõe em sua experiência, mais este ano, os momentos vividos durante a VIII
Plenarinha estejam registrados nas
memórias e no coração das crianças,
na certeza de que o processo de des-
cobertas e vivências com os sons pode
ser mais envolvente e inspirador que
um produto final feito especialmente
para apresentações.
É fundamental, no entanto, não
perdermos de vista a continuidade do
processo, por isso a importância da per-
manente escuta, observação e registro
da professora e do professor acerca de
sua prática com as crianças como parte
da documentação pedagógica, que mar-
ca seu trabalho e a constituição coletiva,
dialógica e colaborativa.
Para o seu registro invista em
imagens, fotografias, gravações, filma-
gens envolvendo produções das crian-
ças: ideias, histórias, danças, cirandas,
brincadeiras, desenhos, textos coletivos,
poesias, parlendas, saraus, paisagens
sonoras, músicas de diversos gêneros,
instrumentos musicais não convencio-
nais e tudo mais da musicalidade de cá,
de lá e de todo lugar.

86 IX Plenarinha - Musicalidade das infâncias: de cá, de lá, de todo lugar.


Referências
ALMEIDA, Berenice; PUCCI, Magda Dourado. Outras BUENO, Roberto. Pequena história da música brasi-
terras, outros sons. Ilustrações Thiago Lopes. 3ª ed. São leira. Jundiaí: Keyboard Editora Musical Ltda., 2011.
Paulo: Callis Editora, 2015.
CARVALHO, Paula da Silva Moreira. Brincadeiras can-
AMORIM, Roberto R. S. Batucadeiros: educação mu- tadas e o desenvolvimento da criança no contexto de
sical por meio da percussão corporal. Dissertação Educação Infantil. Trabalho de Conclusão do Curso
(Mestrado Acadêmico em Educação). Programa de de Especialização em docência na Educação Infan-
Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educa- til. Faculdade de Educação. Universidade de Brasília.
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