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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

MARCELO TONIN DORNELLES

PROJETO DE DIPLOMAÇÃO

Porto Alegre
(2007)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

MARCELO TONIN DORNELLES

APLICAÇÃO DO RELÉ DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA NA

PROTEÇÃO DE SUBESTAÇÕES

Projeto de Diplomação apresentado ao Departamento


de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, como parte dos requisitos para
Graduação em Engenharia Elétrica.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Arturo Suman Bretas

Porto Alegre
(2007)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

MARCELO TONIN DORNELLES

APLICAÇÃO DO RELÉ DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA NA

PROTEÇÃO DE SUBESTAÇÕES

Este projeto foi julgado adequado para fazer jus aos


créditos da Disciplina de “Projeto de Diplomação”, do
Departamento de Engenharia Elétrica e aprovado em
sua forma final pelo Orientador e pela Banca
Examinadora.

Orientador: Prof. Dr. Arturo Suman Bretas, UFRGS


Phd. Pelo Institut National Polytechnique de Grenoble, INPG, França

Banca Examinadora:

Prof. Dr Alexandre Sanfelice Bazanella, UFRGS


Dr. Pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil

Eng. Éder Jefferson Ferrarezi Garcia, UNISINOS


Curso de Extensão em Sistemas de Energia, UNISINOS

Coordenador: Prof. Alberto Bastos do Canto Filho

Chefe do Departamento: Prof. Dr. Walter Fetter Lages

Porto Alegre, (12/2007).


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais e irmão, em especial pela dedicação e apoio em

todos os momentos difíceis.


AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais por toda a atenção e apoio.

Ao Brasil.

Aos colegas pelo seu auxílio nas tarefas desenvolvidas durante o curso e apoio na

revisão deste trabalho.

À Universidade, professores e funcionários.

Ao irmão, por tudo.


RESUMO

O projeto de diplomação do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul ora proposto consiste no estudo de sistemas desequilibrados e de faltas

de alta impedância, mostrando como a coordenação do relé de seqüência negativa no sistema

de proteção pode aumentar a segurança e eficácia do sistema em que está inserido.

Palavras-chaves: Proteção de sistemas elétricos, faltas, relé de seqüência negativa,

51Q
ABSTRACT

The project described herein consists on a study of unbalanced systems and high

impedance faults, focusing in coordination on negative sequence overcurrent protection relays

and how it could improve safety and efficiency in a protection system. This is the

undergraduate final project of the Electrical Engineering course at Federal University of Rio

Grande do Sul (UFRGS).

Keywords: Protection systems, negative sequence protection relays, faults, 51Q.


SUMÁRIO

DEDICATÓRIA .................................................................................................................. 4

AGRADECIMENTOS......................................................................................................... 5

RESUMO ........................................................................................................................... 6

ABSTRACT ......................................................................................................................... 7

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13

2 PROPOSTA DE PROJETO........................................................................... 15

3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS...................................................................... 16

3.1 FALTAS.......................................................................................................... 16

3.1.1 Faltas Simétricas................................................................................................. 17

3.1.2 Componentes Simétricas .................................................................................... 23

3.1.3 Faltas Assimétricas ............................................................................................. 28

3.1.4 Falta Fase-Fase-Terra ........................................................................................ 34

3.2 O RELÉ DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA....................................................... 37

3.2.1 Entrada no relé ................................................................................................... 39

3.2.2 O uso do relé de seqüência negativa................................................................... 40

3.2.3 O Relé de seqüência negativa em subestações ................................................... 44

3.2.4 Análise de faltas .................................................................................................. 44

3.2.5 Coordenação dos elementos de sobrecorrente de seqüência negativa .............. 47

3.2.6 Exemplo da coordenação de um elemento de seqüência negativa com um de

sobrecorrente de fase ......................................................................................................... 49

3.2.7 Outras aplicações para o relé de seqüência negativa ........................................ 54

4 ESTUDO DE CASO ....................................................................................... 63

4.1 A CELTINS .................................................................................................... 63

4.2 O CASO .......................................................................................................... 65


4.2.1 Coordenação do relé de seqüência negativa ...................................................... 67

4.2.2 Código implementado......................................................................................... 69

4.2.3 Simulação............................................................................................................ 74

4.2.4 Falta fase-terra ................................................................................................... 75

4.2.5 Falta fase-fase ..................................................................................................... 76

4.2.6 Ajuste dos relés ................................................................................................... 77

4.2.7 Resultados ........................................................................................................... 82

5 CRÍTICAS & ALTERNATIVAS................................................................... 83

6 CONCLUSÕES............................................................................................... 84

7 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 85
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Representação monofásica do gerador alimentando o motor e condição faltosa

simulada pelo fechamento da chave S. ................................................................................. 17

Figura 2 – Equivalente thévenin para o circuito estudado. .................................................... 19

Figura 3 – Falta trifásica na barra 2 ...................................................................................... 20

Figura 4 – Componentes seqüência positiva, negativa e zero................................................ 23

Figura 5 – Impedâncias em termos de componentes simétricas............................................. 26

Figura 6 – Conexão de uma linha simulando uma falta Fase-Terra. ...................................... 28

Figura 7 – Diagrama de uma falta Fase-Terra e suas componentes. ...................................... 30

Figura 8 – Conexão de uma linha simulando uma falta Fase-Fase. ....................................... 31

Figura 9 – Diagrama de uma falta Fase-Fase e suas componentes......................................... 33

Figura 10 – Conexão de uma linha simulando uma falta Fase-Terra. .................................... 34

Figura 11 – Diagrama de uma falta Fase-Fase-Terra. ........................................................... 36

Figura 12 – Exemplo de um filtro de seqüência zero em Relé Eletromecânico...................... 37

Figura 13 – Exemplo de um filtro de seqüência negativa em Relé Eletromecânico. .............. 37

Figura 14 – Modelo utilizado pelo Relé Digital. ................................................................... 38

Figura 15 – Falhas no circuito secundário. ........................................................................... 39

Figura 16 – Inserção do elemento de seqüência negativa na linha......................................... 45

Figura 17 – Faltas no Secundário de um Transformador Delta-Estrela.................................. 46

Figura 18 – Aplicação do relé de seqüência negativa na proteção do alimentador................. 49

Figura 19 – Coordenação de Fases Tradicional. ................................................................... 50

Figura 20 – Coordenação de Faltas entre Fases. ................................................................... 51

Figura 21 – Elemento de Sobrecorrente de Seqüência negativa. ........................................... 52

Figura 22 – Diagrama de Seqüência negativa para Faltas Desequilibradas no Alimentador da

Distribuição. ........................................................................................................................ 55
Figura 23 – Condutor de Fase Aberta em um Sistema da Distribuição a Quatro Fios. ........... 57

Figura 24 – Diagrama de Seqüência para um Condutor de Fase Aberta em um Sistema da

Distribuição a Quatro Fios. .................................................................................................. 58

Figura 25 – Condutor de Fase Aberta em um Sistema da Distribuição a Três Fios................ 60

Figura 26 – Diagrama de Seqüência para um Condutor de Fase Aberta em um Sistema da

Distribuição a Três Fios. ...................................................................................................... 61

Figura 27 – Mapa do Tocantins - Miranorte ......................................................................... 65

Figura 28 – Unifilar da Subestação de Miranorte.................................................................. 66

Figura 29 – Unifilar de proteção do Bay TF-2 ...................................................................... 68

Figura 30 – Unifilar de proteção do Bay TF-2 ...................................................................... 69

Figura 31 – Curvas inversas disponíveis para ajuste do relé BE1-851................................... 78

Figura 32 – Curva inversa do relé BE1-851 (similar à ABB CO-9) ...................................... 78

Figura 33 – Coordenação 51Qx51P...................................................................................... 80

Figura 34 – Coordenação 51N.............................................................................................. 81

Figura 35 – Corrente de pickup x distância........................................................................... 82


LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas

UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DELET: Departamento de Engenharia Elétrica

PPGEE: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica


13

1 INTRODUÇÃO

A preocupação com a diversificação da matriz energética brasileira tem sido uma


constante. Com as ameaças do “apagão” e o racionamento de energia ocorrido em 2001, o
assunto ficou em evidência. Em um país tão rico em matrizes energéticas, a mídia começou a
expor em suas matérias as deficiências em planejamento estratégico (Carvalho, 2001). Após
vários anos sem investimentos significativos, nosso governo está se mostrando mais atento às
necessidades do País neste âmbito. Os investimentos em planejamento e demanda já apontam
à necessidade de um sistema mais robusto para os próximos anos. A demanda por energia está
crescendo mais que a oferta, rumando para um novo “apagão” num futuro breve (Jornal do
Brasil, 2007).

Diante deste quadro, o foco das discussões tem sido a geração de energia, pois é
onde a cadeia de Sistemas Elétricos de Potência (SEP) tem seu início. Pode-se acompanhar os
grandes investimentos para o aproveitamento do gás natural como matriz alternativa, antes
viabilizando a importação do gás boliviano e agora com o objetivo de, cada vez mais,
diminuir a dependência deste gás, explorando os campos brasileiros e viabilizando o
escoamento do gás extraído (oportal.org, 2006). A retomada das obras da usina nuclear de
Angra III, no Rio de Janeiro, parada desde 1986, e o aumento da capacidade instalada das
usinas hidrelétricas. Este em menor escala, devido aos entraves ambientais (Meurer, 2004).

O problema atual do Sistema Elétrico Brasileiro (SEB), no entanto, vai muito


além. Será necessária, por exemplo, uma série de investimentos em infra-estrutura. Uma vez a
energia disponível, é preciso planejar toda uma malha de transmissão e distribuição para
atender aos potenciais consumidores. É preciso investir na proteção destas linhas, para
garantir a durabilidade dos equipamentos envolvidos, sejam eles na geração, transporte ou os
próprios consumidores desta energia. Mais que proteger os equipamentos, um sistema de
proteção bem configurado diminui a periodicidade da manutenção e o tempo das paradas,
diminuindo os custos e aumentando a disponibilidade da energia gerada para o consumidor.
14

Apesar do forte desenvolvimento dos relés de proteção microprocessados, hoje,


algumas funções por eles disponibilizadas não são bem aproveitadas pelo usuário (Calero,
2001). Por desconhecimento ou desinteresse, perde-se a oportunidade de deixar o sistema de
proteção mais robusto e eficaz, recaindo sobre funções de proteção principais - como as
funções de sobrecorrente de fase instantânea e temporizada (50/51) - a responsabilidade de
detectar os mais variados tipos de faltas que podem ocorrer no sistema. É importante salientar
que grande parte das faltas em sistemas elétricos são assimétricas (faltas que ocasionam
desequilíbrio nas correntes do sistema) e de alta impedância, o que dificulta muito a detecção
por parte dos relés de sobrecorrente de fase, que não pode ter sua corrente de disparo ajustada
abaixo dos níveis de carga (Schweitzer, E. O.; Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W., 1997). Este tipo
de falta é caracterizado por uma leve alteração da corrente de fase, mas como a falta
assimétrica causa o desequilíbrio entre as fases, é possível a detecção através da observação
deste desequilíbrio, o que motiva a utilização do relé de sobrecorrente seqüência negativa na
proteção de um sistema (Schweitzer, E. O.; Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W.,1997).

O relé de sobrecorrente de seqüência negativa (51Q) possui capacidade de


detectar faltas assimétricas, devido à possibilidade de ajuste dos níveis de corrente abaixo do
nível de carga e sua maior sensibilidade às faltas de alta impedância. Estas qualidades tornam
o sistema de proteção mais completo e eficaz em suas atuações.
15

2 PROPOSTA DE PROJETO

Neste projeto de diplomação, apresenta-se o um estudo dos tipos de faltas,

identificando os casos onde o relé de seqüência negativa, corretamente configurado e

coordenado com as demais proteções, pode ser utilizado com benefícios ao sistema de

proteção onde o mesmo está inserido. Será apresentado um estudo realizado na Subestação de

Miranorte/TO da Celtins, onde hoje não há a utilização do relé de seqüência negativa. A

proposta é instalar o relé de seqüência negativa no lado de alta tensão do transformador como

backup dos alimentadores na de saída da barra. Sendo sensível ao desequilíbrio ocasionado

por faltas nestes alimentadores e ainda auxiliando na proteção de terra, no caso de falha desta.
16

3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

3.1 FALTAS

Falta em um circuito elétrico é caracterizada por qualquer falha que interfira no

fluxo de corrente deste circuito (Stevenson, 1994).

As faltas podem ser classificadas como:

• Faltas Simétricas

• Faltas Assimétricas

Nas próximas seções, os tipos de faltas que podem ocorrer em um SEP serão

descritos.
17

3.1.1 FALTAS SIMÉTRICAS

Compreendem faltas do tipo trifásicas, na qual a análise é realizada em apenas

uma das fases, os sinais de tensão e corrente gerados são equilibrados (Stevenson, 2004).

Na análise deste tipo de falta, podem ser aplicados dois métodos distintos:

Componentes Simétricas usando equivalente de Thèvenin ou Matriz Admitância Nodal.

Na figura abaixo, ilustra-se um gerador alimentando uma carga trifásica

balanceada em condição de falta trifásica simulada pela chave S.

Figura 1 – Representação monofásica do gerador alimentando o motor e condição faltosa simulada pelo

fechamento da chave S.

Fonte: o autor

Vf é a tensão pré-falta;

Vt é a tensão terminal do gerador;

Zext é a impedância da linha;

Eg” é a tensão subtransiente do gerador;


18

Xdg” é a reatância síncrona subtransiente do gerador;

P é o ponto de ocorrência da falta;

Em” é a tensão subtransiente do motor;

Xdm” é a reatância subtransiente do motor;

Em regime permanente (pré-falta) tem-se:

Eg” = Vf + (Zext + jXdg”)IL

Em” = Vf – jXdm”IL

Logo após a falta, é possível calcular a corrente drenada para terra:

If” = Ig” + Im” (1)

Vf Vf
If” = + IL + − IL (2)
Zext + jXdg" jXdm"

Vf Vf
If” = + (3)
Zext + jXdg " jXdm"

Alternativamente, pode-se chegar à corrente de falta através do equivalente de

Thévenin para o mesmo circuito. Observando a corrente de falta If”, é possível notar que ela

depende da tensão no momento anterior à ocorrência da falta, e não diretamente das forças

eletromotrizes das máquinas. O circuito equivalente de Thévenin mostrado abaixo chega aos

mesmos resultados, partindo do princípio de que a tensão Vf” é conhecida:


19

Figura 2 – Equivalente thévenin para o circuito estudado.

Fonte: o autor

jXdm" ( Zext + jXdg " )


Zth = (4)
Zext + j ( Xdg "+ Xdm" )

Vf Vf [ Zext + j ( Xdg"+ Xdm" )]


If”= = (5)
Zth jXdm" ( Zext + jXdg " )

Este método, de análise direta de circuitos, chega aos resultados esperados, mas à

medida que as redes ficam maiores, fica impraticável considerar todos os elementos

individualmente. Nestes casos utilizar a matriz impedância de barras simplifica bastante a

abordagem ao problema.

O circuito abaixo representa uma falta na barra 2 da rede:


20

Figura 3 – Falta trifásica na barra 2

Fonte: o autor

A tensão pré-falta está representada pela fonte Vf” entre a barra 2 e os terminais

das máquinas. Para calcular a corrente de falta If” neste caso, é necessário considerar a

diferença de tensão entre o momento pré falta e pós falta, por isso foi acrescida na barra

faltosa a fonte –Vf que simula o curto circuito entre a barra 2 e os terminais das máquinas. A

equação (6) representa a variação de tensão causada pela corrente If”.

A equação na forma matricial é representada a seguir.

 ∆V 1  ∆V 1  Z11 Z 12 Z13 Z14   0 


∆V 2  − Vf   Z 21 Z 22 Z 23 Z 24 − If "
  =   =    (6)
 ∆V 3  ∆V 3  Z 31 Z 32 Z 33 Z 34   0 
       
∆V 4 ∆V 4  Z 41 Z 42 Z 43 Z 44  0 
21

 ∆V 1  − Z12 If "
∆V 2 − Z 22 If "
  =   (7)
 ∆V 3  − Z 32 If "
   
∆V 4 − Z 42 If "

Como Z22 representa a impedância equivalente de Thévenin para a barra 2, pode-

se afirmar que:

Vf
If” = (8)
Z 22

Agora em função da tensão Vf:

 Z12 
− Vf
 ∆V 1  Z 22 
∆V 2  − Vf 
  =  Z 32 

(9)
 ∆V 3 − Vf
   Z 22 
∆V 4 − Z 42 
Vf
 Z 22 

Usualmente, não são consideradas as cargas conectadas às linhas o que facilita a

obtenção das tensões nas barras.

 Z12 
V 1  Vf   ∆V 1 1 − Z 22 
V 2 Vf  ∆V 2  0 
  =   +   = Vf  Z 32  (10)
V 3 Vf   ∆V 3 1 − 
       Z 22 
V 4 Vf  ∆V 4 1 − Z 42 
 Z 22 

De forma genérica, a corrente de falta e as tensões nas barras (desconsiderando as

correntes das cargas no momento anterior a falta) são dadas por:

Vf
If” = (11) onde k é o barramento faltoso.
Zkk
22

Zjk
Vj = Vf – ZjkIf” = Vf - Vf (12) onde j é o número da barra de
Zkk

interesse.

Para calcular a parcela da corrente de falta que flui entre dois barramentos ij, basta

considerar a diferença de tensão entre as duas barras e a impedância Zb conectada entre elas.

Vi − Vj  Zik − Zjk  Vf  Zik − Zjk 


Iij” = = -If”   =-   (13)
Zb  Zb  Zb  Zkk 
23

3.1.2 COMPONENTES SIMÉTRICAS

Esta é uma poderosa ferramenta para solucionar problemas envolvendo sistemas

desbalanceados, como, por exemplo, sistemas sob a condição de uma falta assimétrica. O

método das Componentes Simétricas decompõe um sistema de fasores desbalanceados em

vários sistemas de fasores balanceados, ou seja, as componentes simétricas destes fasores

(Stevenson, 2004).

Componentes seqüência positiva (+): três fasores de mesmo módulo, distantes

120º em fase e com mesma seqüência de fases dos fasores originais. A fem dos geradores é

unicamente de seqüência positiva.

Componentes seqüência negativa (-): três fasores de mesmo módulo, distantes

120º em fase e com seqüência oposta de fases dos fasores originais.

Componentes seqüência zero (0): três fasores de mesmo módulo, e em fase.

Figura 4 – Componentes seqüência positiva, negativa e zero.

Fonte: www.sel.eesc.sc.usp.br/protecao/surtosparte2.doc

A soma das componentes de seqüência obtém o fasor de tensão desequilibrado.

Va = Va+ + Va- + Va0 (14)

Vb = Vb+ + Vb- + Vb0 (15)


24

Vc = Vc+ + Vc- + Vc0 (16)

Para reduzir o número de componentes desconhecidas, é possível fazer uso do

operador a = 1∟120º e tornar as componentes de seqüência b e c função das componentes de

seqüência a.

Vb+ = a2Va+ (17) Vc+ = aVa+ (18)

Vb- = aVa- (19) Vc- = a2Va- (20)

Vb0 = Va0 Vc0 = Va0 (21)

Matricialmente:

Va  1 1 1  Va 0 
Vb = 1 a 2 a  Va  (22)
    +
Vc  1 a a 2  Va − 

Para obter as componentes de seqüência como função das tensões das fases, é

preciso inverter a matriz dos operadores a.

 Va 0  1 1 1 Va 
Va  = 1 1 a a 2  Vb  (23)
 + 3   
Va −  1 a 2 a  Vc 

1
Va0 = (Va + Vb + Vc) (24)
3

1
Va+ = (Va + aVb +a2Vc) (25)
3

1
Va- = (Va + a2Vb + aVc) (26)
3

A componente de seqüência zero não está presente em circuitos trifásicos

equilibrados (Em linhas com condutor de neutro, se a corrente In=0, então Ia0=0).

1
Ia0 = (Ia + Ib + Ic) (27)
3
25

In = Ia + Ib + Ic (28)

Logo:

1
Ia0 = In (29)
3

Também é possível verificar a potência em termos de componentes simétricas

S3φ = P + jQ = VaIa* + VbIb* + VcIc* (30)

(potência em termos de tensão e corrente de fase)

Matricialmente:

*
 Ia 
S3φ = [Va Vb Vc]  Ib  = VLTI* (31)
 Ic 

Assim utiliza-se a matriz A de operadores para obter a matriz em termos das

componentes:

T *
 Va 0   Ia 0 
S3φ = A Va +  A Ia + 
  (32)
Va −  Ia − 

Da álgebra matricial:

[ A .V ] t = V t.At (33)

(34)
[ A . I ]* = A*.I *

Logo:

S3φ = VTATA*I* (35)


26

1 1 1 1 1 1 1 0 0
A A = 1 a 2
T *
a  1 a
 a  = 3 0 1 0
2
(36)
1 a a 2  1 a 2 a  0 0 1

*
 Ia 0 
S3φ = 3[Va0 Va+ Va-] Ia +  (37)
Ia − 

S3φ = 3Va0Ia0* + 3Va+Ia+* + 3Va-Ia-* (38)

Abordando também as linhas de transmissão, é preciso obter as impedâncias das


linhas em termos das componentes simétricas:

Va
a Zaa
Vb Mab= Mba
b Zbb
Mca= Mac
Vc Mbc= Mcb
c Zcc

Figura 5 – Impedâncias em termos de componentes simétricas.

Fonte: www.sel.eesc.sc.usp.br/protecao/surtosparte2.doc

Onde “Z” representa a impedância própria da fase e “M” a impedância mútua


entre as fases. Matricialmente:

Va   Zaa Mab Mac   Ia 


Vb =  Mab Zbb Mbc   Ib  (39)
    
Vc   Mca Mcb Zcc   Ic 
27

Para obter a impedância Zcc em termos de componentes seqüencial, é preciso

desenvolver a matriz acima:

1 1 1   Z M ab M ac  1 1 1 
   aa  
2   (40)
[Z cc ] = 3 1 a a   M ba Z bb M bc  1 a a 
1  2

 2   2
1 a a   M ca M cb Z cc  1 a a 
 

No caso do sistema equilibrado, é possível simplificar a expressão, pois:

Zaa = Zbb = Zcc = Z Mab = Mba = Mcb = Mbc = Mac = M

1 1 1   Z M M  1 1 1 
   
[Z cc ] = 3 1 a a   M Z M  1 a a 
1  2    2 (41)
 2   2
1 a a   M M Z  1 a a 

Z + 2M 0 0 
(42)
[Zcc] =  0 Z −M 0 
 0 0 Z − M 

Onde é possível perceber que a impedância de seqüência zero depende da

impedância de neutro:

Z+2M = Zcc + 2Mab +3Znn – 6Mcn (43)

Z-M = Zcc – Mab

Z 0 0 0
[Zcc] =  0 Z+ 0  onde Z0 = Z + 2M, Z+ = Z- = Z - M (44)
 0 0 Z − 

Estabelecendo uma relação entre as impedâncias de seqüência:

Z0 > Z+ = Z- (45)
28

3.1.3 FALTAS ASSIMÉTRICAS

As faltas assimétricas são aquelas que acontecem mais comumente nos sistemas

elétricos (Stevenson, 1994). Estas faltas podem ser do tipo Fase-Terra, Fase-Fase ou Fase-

Fase-Terra e causam desequilíbrio nas correntes do sistema. O método das componentes

simétricas é de grande valia na modelagem destes tipos de faltas.

3.1.3.1 FALTA FASE-TERRA

Com o maior grau de incidência, é o tipo de falta que ocorre em 70% dos casos

(www.sel.eesc.sc.usp.br).

G a
Sistema b
~ Zo, Z1, Z2 c

Zf Impedância
falta-terra

Figura 6 – Conexão de uma linha simulando uma falta Fase-Terra.

Fonte: www.sel.eesc.sc.usp.br/protecao/surtosparte2.doc

Z0, Z+=Z1, Z-=Z2: impedâncias do sistema, vistas a partir do ponto de defeito;

Ea, Eb, Ec: tensões equivalentes – f.e.m. de seqüência positiva.

Condições no ponto de falta:

Va = ZfIa Ib = 0 Ic = 0 (46)
29

Desprezam-se as correntes de carga.

1 1 1 
I a0    I a 
 I  = 1 1 a a 2  0 
 a1  3   (47)
 Ia2   2  0 
1 a a
 

a1) Correntes:

1
Ia0 = Ia1 = Ia2 = Ia (48)
3

a2) Tensões:

 
Z0 0 0
Va 0  0   I a 
      (49)
Va1  =  E1  − 0 Z1 0  1  I a 
3
Va 2  0     I a 
0 0 Z2 
 
Va 0 = − Z 0 . 1 3 I a (50)

Va1 = E1 − Z 1 .1 3 I a (51)

Va 2 = − Z 2 .1 3 I a (52)

Retomando Va = Zf Ia

− Z0Ia ZI − Z2Ia
+ E1 − 1 a +
V
Ia = a = 3 3 3 (53)
Zf Zf

Tirando Ia:

3E1 (54)
Ia =
Z 0 + Z1 + Z 2 + 3Z f
30

As componentes de corrente serão:

Ia E1 (55)
= I a 0 = I a1 = I a 2 =
3 Z 0 + Z1 + Z 2 + 3Z f

seq. + seq. - seq. 0


Va2 Va0
Z0’
Z1  Ia1 Z2  Ia2 Z0
Va1
3Zn

E1 ~  Ia0

N1 3Zf
Ia1 Ia2
componentes
da
corrente C.C.

Ia0 Ib0 Ic0


Ic1 Ib1 Ib2 Ic2

Figura 7 – Diagrama de uma falta Fase-Terra e suas componentes.

Fonte: www.sel.eesc.sc.usp.br/protecao/surtosparte2.doc
31

3.1.3.2 FALTA FASE-FASE

Um pouco mais incomum, corresponde a 15% dos casos

(www.sel.eesc.sc.usp.br).

G a
Sistema b
~ Zo, Z1, Z2 c

Zf

Figura 8 – Conexão de uma linha simulando uma falta Fase-Fase.

Fonte: www.sel.eesc.sc.usp.br/protecao/surtosparte2.doc

a) Condições no ponto de falta:

Vb - Vc = ZfIb (56) Ia = 0 (57) Ib = -Ic (58)

a1) Componentes simétricos da corrente:

1 1 1 
 a0 
I   0 
 I  = 1 1 a a 2  − I  (59)
 a1  3  c 
 Ia2   2   I c 
1 a a
 

Ia0 = 0 (∴ Ib0 = Ic0 = 0) Ia2 = -Ia1 (60)


32

a2) Componentes simétricos das tensões:

 
Va 0  0   Z 0 0 0  I 
ao
V  =  E  − 0 Z1
 
0  I a1 (61)
 a1   a1    
Va 2  0  0 0 Z 2   I a 2 

 

Analogamente:

Va 0 = − Z 0 I a 0 = 0 (62) Va1 = Ea1 − Z1I a1 (65) Va 2 = Z 2 I a1 (68)

Vb 0 = − Z 0 I b 0 = 0 (63) V b 1 = E b1 − Z 1 I b 1(66) Vb 2 = Z 2 I b1 (69)


Vc 0 = − Z 0 I c 0 = 0 (64) Vc1 = E c1 − Z 1 I c1(67) Vc 2 = Z 2 I c1 (70)

Usando expressões análogas para Vb e Vc e partindo de Vb - Vc = IbZf,


chegamos a:

(71)
Vb = Vb 0 + Vb1 + Vb 2
Vc = Vc 0 + Vc1 + Vc 2 (72)

(73)
I b = I b 0 + I b1 + I b 2 = 0
Ea1
I a1 = I a 2 = − I a1 I a0 = 0 (74)
Z f + Z1 + Z 2

A corrente de falta será:

(75)
33

I f = a 2 I a 1 − aI a 1 = ( a 2 − a ) I a 1 (76)

(77)
(a 2 − a) = − j 3

3Ea1 (78)
If = − j
Z1 + Z 2 + Z f

Circuito equivalente: o circuito de seqüência 0 (zero) não é utilizado (não

haverá circulação de corrente de neutro no gerador).

Ia1
Ic2 Ib2
Ia2 Ia1
Z1
Va1 Z2 Va2

Ea Ia2
Ic1 Ib1

Componentes corrente C.C.


Zf

Ia0 = Ib0 = Ic0 = 0

Figura 9 – Diagrama de uma falta Fase-Fase e suas componentes.

Fonte: www.sel.eesc.sc.usp.br/protecao/surtosparte2.doc
34

3.1.4 FALTA FASE-FASE-TERRA

Este tipo de falta tem grau de incidência de aproximadamente 10%

(www.sel.eesc.sc.usp.br).

G a
Sistema b
~ Z o, Z 1 , Z 2 c

Zf

Figura 10 – Conexão de uma linha simulando uma falta Fase-Terra.

Fonte: www.sel.eesc.sc.usp.br/protecao/surtosparte2.doc

a)Condições no ponto de falta:

Ia = 0 Vb = Vc = ZfIf Ib + Ic = If (79)

a1) Componentes simétricos da tensão

Va1 = Ea1 − I a1Z1 1 1 1 


Va 0    Va 
V  = 1 1 a a 2  V 
Va 2 = 0 − I a 2 Z 2  a1  3  b 
(80)

Va2   2  Vb 
1 a a 
35

Va1 = Va 2 = Va 0
Va 0 = 0 − I a 0 Z 0
para Zf = 0
36

a2) Componentes simétricos das correntes

Partindo de Vb = Vc = IfZf e fazendo algumas substituições, chegamos a:

I a1 =
(Z 0 + Z 2 + 3Z f ) Ea1
(81)
Z1Z 2 + (Z 0 + 3Z f )(Z1 + Z 2 )

I a2 = −
(Z 0 + 3Z f ) Ea1 (82)
Z1Z 2 + (Z 0 + 3Z f )(Z1 + Z 2 )
− Z2
I a0 = Ea1
Z1Z 2 + (Z 0 + 3Z f )(Z1 + Z 2 ) (83)

A corrente de falta será: In = Ib + Ic = 3Ia0

(84)
I f = 3I a 0

Interligação dos circuitos:

Ia1

Ia0
Ia2
Z1 Z’0
Va1 Va2 Va0
Z2 Z0
3Zn
EG

3Zf

Figura 11 – Diagrama de uma falta Fase-Fase-Terra.

Fonte: www.sel.eesc.sc.usp.br/protecao/surtosparte2.doc
37

3.2 O RELÉ DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA

Utilizar as tecnologias eletromecânicas para construir um filtro sensível às

grandezas de seqüência negativa era uma tarefa não trivial, além de implicar em custos muito

mais altos em relação, por exemplo, aos filtros de seqüência zero (I0).

Figura 12 – Exemplo de um filtro de seqüência zero em Relé Eletromecânico.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/6155.pdf

Figura 13 – Exemplo de um filtro de seqüência negativa em Relé Eletromecânico.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/6155.pdf
38

Neste filtro, a tensão Vf é proporcional à componente de corrente de seqüência

negativa. Xm é a reatância mútua entre as bobinas que deve ser igual `R/ 3 .

Vf = IaR + (Ib-Ic)jXm (85)

Quando são verificadas correntes de seqüência negativa, tem-se:

Vf = 2RI2 (86)

Já nos relés digitais, é possível obter uma precisão mais apurada. As grandezas de

fase são digitalizadas por um conversor A/D e passam por um filtro anti-aliasing. A partir das

amostras destes sinais é possível aplicar a transformada de Fourier e identificar as

harmônicas, bem como aplicar o algoritmo de obtenção das componentes de seqüência deste

para todas as fases. Esta facilidade permite ao engenheiro de proteção uma maior liberdade

para escolher sua estratégia para a proteção do sistema, uma vez que os problemas

relacionados ao custo e dificuldade de implementação foram eliminados.

Figura 14 – Modelo utilizado pelo Relé Digital.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/6155.pdf
39

3.2.1 ENTRADA NO RELÉ

Geralmente, os níveis de tensão e corrente de interesse são altos demais para

conectar-se diretamente ao relé, então é preciso rebaixar estes níveis de forma a torná-los

compatíveis com as entradas do relé de proteção. Isto é feito por Transformadores de Corrente

(TCs) e Transformadores de Potência (TPs), que tem a função de refletir precisamente os

valores do primário.

Figura 15 – Falhas no circuito secundário.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/6155.pdf

Estes dispositivos podem sofrer falhas no circuito secundário, como por exemplo,

o rompimento do cabo de neutro. Neste caso, o sistema fica impossibilitado de identificar as

correntes de seqüência zero em uma falta fase-terra. Mas isto não impede que sejam lidas as

correntes de seqüência negativa, que circulam pelo mesmo caminho das cargas.
40

Outra falha pode ocorrer no secundário dos TPs, com o surgimento de um

segundo aterramento involuntário junto à entrada do relé, aterramento este que não é

necessariamente de mesmo potencial que o primeiro. Esta diferença de potencial (Vd)

verificada no cabo de neutro é adicionada às medições do relé.

Para a seqüência zero tem-se:

3V0 = 3V0 + 3Vd (87)

Para a seqüência negativa tem-se:

3V2 = 3V2 + (1 + a + a2)Vd = 3V2 (88)

Fica evidenciado na equação que as medições de seqüência negativa não são

afetadas pelo segundo aterramento involuntário no retorno, pois seguem os mesmos caminhos

das grandezas de seqüência positiva.

3.2.2 O USO DO RELÉ DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA

O uso de componentes de seqüência negativa é vasto e possui algumas vantagens:

• As componentes de seqüência negativa estão presentes em todos os tipos

de falta, exceto nas trifásicas;

• Indicam desequilíbrio no sistema e faltas, sendo bastante sensível àquelas

de alta impedância;

• As impedâncias de seqüência negativa são iguais às de seqüência positiva

(exceção em geradores) e são mais homogêneas que as impedâncias de

seqüência zero;
41

• Os diagramas de seqüência negativa são idênticos aos de seqüência

positiva exceto pela ausência de fontes e defasamentos em alguns tipos de

ligação dos transformadores de potência.

Como exemplo de aplicações típicas onde os relés de seqüência negativa podem

ser utilizados, tem-se:

• Proteção dos alimentadores: nos casos em que a linha é longa e em faltas

de alta impedância, é preciso observar a corrente máxima de seqüência

negativa gerada regularmente pelas cargas alimentadas. O ajuste da

corrente de pickup deve considerar a abertura de um fusível em uma das

fases (quando não deve ocorrer sua atuação).

• Proteção de backup para alimentadores na barra: neste caso a corrente de

pickup deve ser maior, pois é necessário considerar todos os

alimentadores. A maior aplicação desta configuração é na detecção de

fusíveis abertos no lado de alta tensão dos transformadores, quando estes

forem protegidos por fusíveis.

• Proteção de backup para alimentadores no lado de alta tensão do

transformador: Além de fazer o backup para faltas nos alimentadores,

também é retaguarda para o 51G, já que a corrente de seqüência negativa é

transformada para o lado de alta tensão do transformador, enquanto a de

seqüência zero não é percebida devido à ligação delta.

• Proteção de máquinas rotativas: na indução de correntes de seqüência

negativa no rotor, que geram sobreaquecimento.


42

• Proteção de backup para relés de sobrecorrente de terra no lado estrela de

transformadores: onde não há a circulação de correntes de seqüência zero.

• Proteção direcional de linhas de transmissão com condutores em paralelo:

devido à indução de correntes de seqüência zero nos outros condutores,

situação que pode levar a uma detecção errônea da direção da falta.

• Proteção diferencial de corrente de linhas: melhorando a sensibilidade à

faltas fase-terra e fase-fase de alta impedância. Além de ser mais tolerante

à saturações nos TCs de fase, já que os fasores das componentes de

seqüência negativa são defasados de 120º, enquanto os das componentes

de seqüência zero são em fase.

• Seleção de fase: onde se compara a corrente de seqüência negativa de cada

uma das fases com a de seqüência zero. Quando ambas as correntes de

seqüência estiverem em fase, significa que foi encontrada a fase faltosa.

Este método é utilizado nos casos de faltas monofásicas.

• Localização de faltas: onde a utilização das componentes de seqüência

negativa propicia uma atenuação dos efeitos de indutância mútua causada

pelas correntes de seqüência zero.

Apesar de todas as vantagens e de uma vasta área em que este relé é aplicável, é

preciso entender os motivos que levam a sua pouca utilização até então.

O alto custo e a dificuldade de implementação dos filtros de seqüência em relés

eletromecânicos prejudicavam o uso do relé de seqüência negativa (Calero, 2001).


43

Nos casos envolvendo faltas fase-terra, dependendo do aterramento do sistema, é

preciso uma maior sensibilidade do que os TCs de fase podem proporcionar. Então utiliza-se

um TC de neutro com relação de transformação menor, fato este que determina uma maior

sensibilidade no cálculo da corrente de seqüência zero em relação ao cálculo da corrente de

seqüência negativa. Quando os TCs de fase são utilizados para calcular ambas as correntes

(seqüência negativa e zero), a sensibilidade da proteção é equivalente. Um exemplo deste tipo

de caso é quando o neutro é solidamente aterrado. Já nos casos em que o sistema não é

aterrado ou é aterrado através da Bobina de Petersen (onde é calculada uma impedância de

compensação baseada na capacitância de seqüência zero, de forma a minimizar as correntes

provenientes de faltas à terra), é preciso alta sensibilidade na detecção de faltas à terra, uma

vez que as correntes são de baixa magnitude e de difícil medição, o que termina por justificar

a utilização do TC de neutro e da proteção baseada no relé de seqüência zero (Calero, 2001).


44

3.2.3 O RELÉ DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA EM SUBESTAÇÕES

Devido ao fato de os elementos de sobrecorrente de seqüência negativa não

responderem à carga equilibrada, eles podem ser ajustados para operar mais rápido e com

maior sensibilidade do que os elementos de sobrecorrente de fase para faltas fase-fase nos

sistemas da distribuição. Assim como ocorre com os elementos de sobrecorrente de terra, os

elementos de sobrecorrente de seqüência negativa podem ser ajustados abaixo dos níveis de

carga (Schweitzer, E. O.; Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W.,1997). Por outro lado, os elementos

de sobrecorrente de fase têm de ser ajustados acima dos níveis máximos de carga. Os

elementos de sobrecorrente de seqüência negativa com características de tempo inverso

padrão são, atualmente, disponibilizados nos relés microprocessados de proteção da

distribuição como parte do complemento de elementos e funções fornecidas. Esses elementos,

fornecidos virtualmente sem nenhum custo adicional, podem melhorar a proteção contra faltas

entre fases, exigindo, para isso, um mínimo de esforço para coordenação.

3.2.4 ANÁLISE DE FALTAS

I2 = corrente de seqüência negativa da falta

IP = corrente de fase da falta

As análises das faltas mostradas a seguir são baseadas nos elementos de

sobrecorrente de seqüência negativa que operam com base na magnitude da corrente de

seqüência negativa 3I2. Os princípios de coordenação discutidos também se aplicam aos

elementos que respondem à I2, efetuando o ajuste apropriado do fator de coordenação. As

análises mostram que os elementos de sobrecorrente de seqüência negativa somente precisam


45

ser coordenados com os dispositivos de sobrecorrente de fase primários localizados à frente

para faltas entre fases. A coordenação para outros tipos de falta é, conseqüentemente, obtida.

Todas as análises estão restritas somente aos sistemas radiais da distribuição.

3.2.4.1 FALTAS NUM SISTEMA RADIAL DA DISTRIBUIÇÃO

Figura 16 – Inserção do elemento de seqüência negativa na linha.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

Tabela I: Faltas em um Sistema Radial da Distribuição (Schweitzer, E. O.;

Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W.,1997).

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

Falta |3I2/IP|

AG 1

BC √3

BCG ≤√3
46

3.2.4.2 FALTAS NO SECUNDÁRIO DE UM TRANSFORMADOR DELTA-ESTRELA

Faltas fase-terra e fase-fase no secundário conectado em estrela de um

transformador delta-estrela geram correntes de seqüência negativa no sistema primário. Os

resultados estão relacionados na Tabela II.

Figura 17 – Faltas no Secundário de um Transformador Delta-Estrela.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

Tabela II: Faltas no Secundário de um Transformador Delta-Estrela (Schweitzer,

E. O.; Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W.,1997)

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

Falta |3I2/IP|

Ag √3

Bc 1,5
47

Das Tabelas I e II, a relação |3I2/IP| mais alta é:

|3I2/IP| = √3 (89)

Portanto, um elemento de sobrecorrente de seqüência negativa operando com base

na corrente 3I2, com o valor de pickup ajustado em √3 vezes o valor de pickup de um

dispositivo de sobrecorrente de fase, tem a mesma sensibilidade para faltas primárias fase-

fase, e menos ou igual sensibilidade para outros tipos de falta, quando comparado ao mesmo

dispositivo de sobrecorrente de fase. Os procedimentos mostrados a seguir devem ser

aplicados para ajustar o elemento de sobrecorrente de seqüência negativa.

3.2.5 COORDENAÇÃO DOS ELEMENTOS DE SOBRECORRENTE DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA

Passos para coordenação dos elementos de sobrecorrente de seqüência negativa

(Schweitzer, E. O.; Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W.,1997):

1. Iniciar com o elemento de sobrecorrente de seqüência negativa do dispositivo

primário localizado à frente (“downstream”) que está mais distante (ex., relé de um

alimentador da distribuição em uma subestação).

2. Identificar o dispositivo de sobrecorrente de fase (ex., religador de linha,

fusível) localizado à frente do elemento de sobrecorrente de seqüência negativa que constitui

a principal preocupação para a coordenação. Em geral, este é o caso do dispositivo de

sobrecorrente de fase que tem o maior tempo de eliminação da falta.

3. Considerar o elemento de sobrecorrente de seqüência negativa como um

elemento de sobrecorrente de fase “equivalente”. Este elemento de sobrecorrente é calculado


48

baseado na sensibilidade desejada para o relé de seqüência negativa. No caso de coordenação

para faltas do tipo fase-fase, é tradicional considerar 50% da mínima corrente de falta entre

fases e a mesma curva do relé de sobrecorrente de fase (Basler Eletric, 1998). Obter o valor

de pickup, dial de tempo (alavanca), tipo da curva ou ajustes das temporizações para que esse

elemento “equivalente” seja coordenado com o dispositivo de sobrecorrente de fase

localizado à frente da mesma forma que qualquer coordenação de fase seria efetuada. As

considerações referentes à carga podem não ser levadas em conta quando da derivação dos

ajustes do elemento de sobrecorrente de fase “equivalente”.

4. Multiplicar o ajuste do valor de pickup do elemento de sobrecorrente de fase

“equivalente” por √3 para converter o mesmo no ajuste do valor de pickup do elemento de

sobrecorrente de seqüência negativa em termos da corrente 3I2.

Qualquer dial de tempo (alavanca), tipo da curva ou ajustes de temporização

calculados para o elemento de sobrecorrente de fase “equivalente” é também usado para o

elemento de sobrecorrente de seqüência negativa sem nenhum fator de conversão aplicado.

5. Ajustar o elemento de sobrecorrente de seqüência negativa localizado atrás

(“upstream”) mais próximo para coordenar com o primeiro elemento de sobrecorrente de

seqüência negativa primário localizado à frente (“downstream”), e assim por diante.

Novamente, a coordenação não é influenciada pelas considerações das cargas.


49

3.2.6 EXEMPLO DA COORDENAÇÃO DE UM ELEMENTO DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA COM UM

DE SOBRECORRENTE DE FASE

Na Figura 18, os elementos de sobrecorrente de fase e de seqüência negativa do

relé do alimentador (51F e 51QF, respectivamente) devem ser coordenados com o elemento

de sobrecorrente de fase do religador da linha (51R).

Figura 18 – Aplicação do relé de seqüência negativa na proteção do alimentador.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

IF = Corrente de carga máxima através do relé do alimentador = 450 A

IR = Corrente de carga máxima através do religador da linha = 150 A

51F = Elemento de sobrecorrente temporizado de fase do relé do alimentador

51QF = Elemento de sobrecorrente temporizado de seqüência negativa do relé do

alimentador

51R = Elemento de sobrecorrente temporizado de fase do religador da linha

(“curva lenta” de fase).


50

Figura 19 – Coordenação de Fases Tradicional.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

51F: pickup = 600 A (acima da carga máxima do alimentador, IF)

51R: pickup = 200 A (acima da carga máxima do religador da linha, IR)

A Figura 19 mostra a coordenação tradicional dos elementos de sobrecorrente de

fase entre os elementos de sobrecorrente de fase do relé do alimentador e do religador da

linha. Os elementos de sobrecorrente de fase têm de acomodar a corrente de carga e a corrente

de partida de cargas a frio (“cold load pickup”) (Schweitzer, E. O.; Eineweihi, A.F.; Feltis, M.

W.,1997). A corrente de carga máxima do alimentador de 450 A limita a sensibilidade do

elemento de sobrecorrente de fase do alimentador, 51F, a um valor de pickup de 600 A. O relé


51

do alimentador não pode efetuar o backup do religador de linha para faltas entre fases

menores do que 600 A. A aplicação dos procedimentos 1 a 3 para coordenação do elemento

de sobrecorrente de seqüência negativa resulta no elemento de sobrecorrente de fase

“equivalente” (51EP) do relé do alimentador da Figura 18, correspondendo a 50% do pickup

do relé de sobrecorrente de fase. A curva para 51F está mostrada somente para comparação.

Figura 20 – Coordenação de Faltas entre Fases.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

51EP: pickup = 300 A (abaixo da carga máxima do alimentador, IF)

Uma melhoria considerável na sensibilidade e na velocidade de operação para

faltas entre fases é obtida com o elemento 51EP. O valor de pickup de 300 A do elemento

51EP tem duas vezes a sensibilidade do valor de pickup de 600 A do elemento 51F. A
52

velocidade de operação do elemento 51EP para faltas entre fases com valores abaixo de 2.000

A é mais rápida do que a do elemento 51F.

A partir do elemento de sobrecorrente de fase “equivalente” (51EP na Figura 20)

é possível chegar aos ajustes do elemento de sobrecorrente de seqüência negativa (51QF na

Figura 21) através da aplicação da equação (89) (Procedimento 4). O dial de tempo (alavanca)

e o tipo da curva do elemento permanecem os mesmos.

Figura 21 – Elemento de Sobrecorrente de Seqüência negativa.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

Derivado do Elemento de Sobrecorrente de Fase “Equivalente”, 51EP

51QF: pickup = √3 (300 A) = 520 A


53

Após ter efetuado a coordenação entre o elemento de sobrecorrente de seqüência

negativa do relé do alimentador (51QF) e o elemento de sobrecorrente de fase do religador da

linha localizado à frente (51R) para faltas entre fases, a coordenação entre os dois dispositivos

para outros tipos de falta é também obtida.

O exemplo anterior foi para um alimentador da distribuição. Um elemento de

sobrecorrente de seqüência negativa protegendo uma barra da distribuição propicia uma

melhoria na sensibilidade para faltas entre fases. O valor de pickup do elemento de

sobrecorrente de fase da barra da distribuição tem de ser ajustado acima da carga combinada

de todos os alimentadores da barra, somado quaisquer condições de carregamento de

emergência. O valor de pickup do elemento de sobrecorrente de fase da barra é

freqüentemente ajustado pelo menos quatro vezes maior do que o pickup do elemento de

sobrecorrente de fase do alimentador cuja proteção de backup é efetuada por ele. Dessa

forma, a sensibilidade para faltas entre fases tanto na barra quanto no alimentador é

enormemente reduzida. A proteção de backup do relé do alimentador pelo relé da barra é

limitada. Os elementos de sobrecorrente de seqüência negativa da barra da distribuição podem

ser ajustados com valores significativamente abaixo dos níveis de carga da barra de

distribuição e proporcionar uma sensibilidade bem maior para faltas entre fases. Eles são

coordenados com os elementos de sobrecorrente de seqüência negativa ou de fase dos

alimentadores da distribuição, e propiciam uma proteção de backup mais sensível e mais

rápida para faltas entre fases.


54

3.2.7 OUTRAS APLICAÇÕES PARA O RELÉ DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA

3.2.7.1 COORDENAÇÃO DE TERRA

Se o dispositivo de proteção primário (“downstream”) incluir elementos de

sobrecorrente de terra, além dos elementos de sobrecorrente de fase, não haverá necessidade

de se verificar a coordenação entre os elementos de sobrecorrente de terra e os elementos de

sobrecorrente de seqüência negativa localizados atrás (“upstream”) (Schweitzer, E. O.;

Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W.,1997). O elemento de sobrecorrente de fase localizado à frente,

quer ele opere mais rápido ou mais lento do que seu elemento de sobrecorrente de terra

complementar, vai operar mais rápido do que o elemento de sobrecorrente de seqüência

negativa localizado atrás para todas as faltas, inclusive aquelas que envolvem a terra.

3.2.7.2 CORRENTE DE CARGA DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA

Uma falta desequilibrada no alimentador gera tensão de seqüência negativa na

barra da distribuição, a qual, por sua vez, gera corrente de carga de seqüência negativa nos

alimentadores conectados à barra que não estão sob defeito. O efeito da corrente de carga de

seqüência negativa dos alimentadores sem defeito é o de reduzir a corrente de seqüência

negativa para o relé da barra (Schweitzer, E. O.; Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W.,1997). Isso

diminui a sensibilidade dos elementos de sobrecorrente de seqüência negativa do relé da barra

e ajuda na coordenação desses elementos com os elementos de sobrecorrente do relé do

alimentador localizado à frente.


55

A Figura 22 e a Tabela III mostram como ocorre essa diminuição da sensibilidade

dos elementos de sobrecorrente de seqüência negativa do relé da barra. A Tabela III mostra a

relação |I2B/I2| para diversas relações da impedância da carga/fonte (|Z2L/Z2S|) referentes a

uma subestação da distribuição usada como exemplo. À medida que Z2S diminui (fonte mais

forte) ou Z2L aumenta (carga mais baixa), o efeito da diminuição da sensibilidade nos

elementos de sobrecorrente de seqüência negativa do relé da barra é reduzido (|I2B/I2|se

aproxima de um).

Figura 22 – Diagrama de Seqüência negativa para Faltas Desequilibradas no

Alimentador da Distribuição.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

Z2S = impedância de seqüência negativa da fonte

Z2F = impedância de seqüência negativa do alimentador para a falta

Z2L = impedância de seqüência negativa efetiva da carga combinada dos

alimentadores sem defeito

I2B = magnitude da corrente de seqüência negativa para o relé da barra

I2 = magnitude da corrente de seqüência negativa para o relé do alimentador


56

I2L = magnitude da corrente de carga de seqüência negativa dos alimentadores

sem defeito.

I2B/I2 = Z2L/( Z2L + Z2S)

Tabela III: Diminuição da sensibilidade do Elemento de Seqüência Negativa do

Relé da Barra para Diversas Relações das Impedâncias Carga/Fonte

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

|Z2L/Z2S| 3 4 5 6 8 12

|I2B/I2| para:

∟Z2S = 80º 0,83 0,87 0,90 0,91 0,94 0,96

∟Z2S = 85º 0,85 0,89 0,91 0,93 0,94 0,96

∟Z2L (= 20º) é constante para todos os casos.

Normalmente, os valores menores das relações |Z2L/Z2S| da Tabela III são

válidos somente para condições de pico de carga (Z2L pequeno). Na maioria das vezes, os

níveis de carga são muitos menores e os valores maiores das relações da Tabela III são os

aplicados.

3.2.7.3 CONDUTOR DE FASE ABERTA

As análises seguintes para condições de condutor de fase aberta assumem um

condutor de fase aberta próximo à localização do elemento de sobrecorrente de seqüência

negativa (ex., fase aberta no ponto de saída do alimentador da distribuição da subestação, logo

à frente do relé do alimentador). As condições de fase aberta em pontos mais remotos do


57

sistema de distribuição (ex., operação do fusível da derivação) geralmente causam menos

desequilíbrio. A análise do condutor de fase aberta considera que nenhum condutor da fase

está em contato com a terra ou outros condutores de fase. O objetivo da análise é mostrar os

níveis da corrente de seqüência negativa gerada pelas condições descritas do condutor de fase

aberta e como os ajustes do elemento de sobrecorrente de seqüência negativa se relacionam a

esses níveis de corrente.

Sistema da Distribuição a Quatro Fios:

Figura 23 – Condutor de Fase Aberta em um Sistema da Distribuição a Quatro

Fios.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

ZL = impedância de carga do alimentador


58

Figura 24 – Diagrama de Seqüência para um Condutor de Fase Aberta em um

Sistema da Distribuição a Quatro Fios.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf
59

Z1L = impedância de carga de seqüência-positiva do alimentador

Z2L = impedância de carga de seqüência negativa do alimentador

Z0L = impedância de carga de seqüência-zero do alimentador

Z1S = impedância de seqüência-positiva da fonte

Z2S = impedância de seqüência negativa da fonte

Z0S = impedância de seqüência-zero da fonte

I1 = corrente de seqüência-positiva

I2 = corrente de seqüência negativa

I0 = corrente de seqüência-zero

A partir do diagrama reduzido da Figura 9:

I1 = EA1/{Z1L + [Z2LZ0L/(Z2L + Z0L)]} (90)

I1 = EA1(Z2L + Z0L)/[Z1L(Z2L + Z0L) + Z2LZ0L] (91)

-I2 = I1Z0L/(Z2L + Z0L) (92)

-I2 = EA1Z0L/[Z1L(Z2L + Z0L) + Z2LZ0L] (93)

Antes da abertura do condutor da fase “A”, a equação seguinte permanecia

verdadeira para o sistema equilibrado a quatro fios:

IL = EA1/Z1L = corrente de carga (94)

Combinando a equação (94) com a equação (93), temos:

-I2 = ILZ1LZ0L/[Z1L(Z2L + Z0L) + Z2LZ0L] (95)


60

|3I2| = |3ILZ1LZ0L/[Z1L(Z2L + Z0L) + Z2LZ0L]| (96)

Para os propósitos do exemplo, considera-se Z1L = Z2L = Z0L então,

|3I2| = |IL| (97)

A equação (97) indica que o elemento de sobrecorrente de seqüência negativa

(operando com base em 3I2) detecta a corrente de seqüência negativa gerada pela condição do

condutor de fase aberta se a magnitude do seu valor de pickup estiver ajustada igual a IL (IL

varia continuamente entre os níveis mínimo e máximo da corrente de carga). Expressando

novamente essa relação em termos do valor de pickup do elemento de sobrecorrente de fase

“equivalente” [ver equação (89)]:

Pickup do elemento de fase “equivalente” = |IL/√3| = 0,577IL (98)

Sistema da Distribuição a Três Fios:

Figura 25 – Condutor de Fase Aberta em um Sistema da Distribuição a Três Fios.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

ZL = impedância de carga do alimentador


61

Figura 26 – Diagrama de Seqüência para um Condutor de Fase Aberta em um

Sistema da Distribuição a Três Fios.

Fonte: http://www.selinc.com.br/art_tecnicos/sequencia_negativa.pdf

Z1L = impedância de carga de seqüência-positiva do alimentador

Z2L = impedância de carga de seqüência negativa do alimentador

Z1S = impedância de seqüência-positiva da fonte

Z2S = impedância de seqüência negativa da fonte

I1 = corrente de seqüência-positiva
62

I2 = corrente de seqüência negativa

A partir do diagrama de seqüência reduzido da Figura 11:

I1 = -I2 = EA1/(Z1L + Z2L) (99)

Antes da abertura do condutor da fase “A”, a equação seguinte permanecia

verdadeira para o sistema equilibrado a três fios:

IL = EA1/Z1L = corrente de carga (100)

Combinando a equação (100) com a equação (101), temos:

-I2 = ILZ1L/(Z1L + Z2L) (101)

|3I2| = |3ILZ1L/(Z1L + Z2L)| (103)

Para os propósitos do exemplo, vamos considerar Z1L = Z2L então,

|3I2| = |3IL/2| = |1,5IL| (104)

A equação (104) indica que o elemento de sobrecorrente de seqüência negativa

(operando com base em 3I2) detecta a corrente de seqüência negativa gerada pela condição do

condutor de fase aberta se a magnitude do seu valor de pickup estiver ajustada igual a 1,5IL (IL

varia continuamente entre os níveis mínimo e máximo da corrente de carga). Expressando

novamente essa relação em termos do valor de pickup do elemento de sobrecorrente de fase

“equivalente” [ver equação (89)]:

pickup do elemento de fase “equivalente” =|1,5IL/√3| = 0,866IL (105)


63

4 ESTUDO DE CASO

Dentre todas as aplicações apresentadas neste trabalho para o relé de seqüência

negativa, selecionou-se a proteção de sobrecorrente de seqüência negativa, atuando como

backup para faltas fase-fase em um alimentador da linha. Esta aplicação foi escolhida porque

foi vislumbrada a possibilidade de implementar esta melhoria em uma das subestações da

Celtins (Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins). Serão simuladas em

Matlab, baseado nos dados da linha em questão, as correntes de falta para as diferentes

impedâncias de falta, verificando a atuação do relé de seqüência negativa para cada caso.

4.1 A CELTINS

O Estado do Tocantins, criado em 05 de outubro de 1988 - com a promulgação da

Nova Constituição Brasileira - situa-se no centro geográfico do país, limitando-se com os

Estados do Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, Goiás e Mato Grosso.

Antes da criação do Tocantins, o fornecimento de energia elétrica à região era

feito pela Centrais Elétricas de Goiás S.A. - CELG. Em agosto de 1989 os ativos da CELG

foram transferidos para o governo do novo Estado e uma nova companhia a CELTINS -

Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins, foi criada.

Em setembro de 1989, a Celtins foi adquirida pelo Grupo REDE através de

concorrência pública. Esta foi a primeira concessionária de energia elétrica a ser privatizada

no país - numa parceria inédita com o governo do Tocantins. Assim, o Grupo Rede assumiu o

desafio de reestruturar o sistema elétrico da região, que necessitava de urgentes investimentos.

À iniciativa privada coube assumir a responsabilidade pela execução de um ambicioso plano


64

de obras que proporcionou ao Estado do Tocantins a infra-estrutura de energia elétrica

necessária ao seu desenvolvimento

A Celtins atua na totalidade do Estado do Tocantins, em uma área de 277.621

km², abrangendo 139 municípios e beneficiando mais de 344 mil consumidores.


65

4.2 O CASO

A subestação de Miranorte, localizada a 122km da capital Palmas, é responsável

pelo fornecimento de energia para a cidade, além de interligar outras cidades ao sistema. Por

ela passa a linha de transmissão que alimenta a metade norte do estado do Tocantins. A

subestação de Miranorte deriva desta linha cinco outras linhas no nível da subtransmissão

(34,5kV). Uma para alimentar a cidade de Miranorte, onde há um rebaixamento para 13,8kV

e mais dois alimentadores (um em fase de construção), e quatro para outras localidades

(Guaraí, Araguacema, Miracema e Paraíso).

Figura 27 – Mapa do Tocantins - Miranorte

Fonte: Dnit
66

O objetivo do estudo é inserir a proteção de seqüência negativa do relé junto ao

disjuntor 52.1, respeitando a coordenação com os dispositivos de sobrecorrente de fase, de

modo que o relé atue como backup dos alimentadores 1 e 2 no caso de faltas fase-fase.

Figura 28 – Unifilar da Subestação de Miranorte

Fonte: COS – Centro de Operação do Sistema - Celtins


67

4.2.1 COORDENAÇÃO DO RELÉ DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA

Foram passados pela concessionária alguns dados primordiais para que seja

efetuada uma análise precisa.

Dados dos alimentadores:

• Transformador TF2:

o Potência: 2,5MVA

o Relação de transformação TF-2: 34,5/13,8kV ∆/Yn

o Impedância característica Zt: 7,5%

• Modelo do relé: BE1-851

• Fator de sobrecarga da linha: 20%

• Impedância de seqüência da linha considerada:

o Zl1 = 0,5 + 0,8j Ω/km

o Zl2 = Zl1

o Zl0 = 1,5Zl1
68

Deve ser considerada a configuração atual do sistema de proteção:

Figura 29 – Unifilar de proteção do Bay TF-2

Fonte: COS – Centro de Operação do Sistema – Celtins

Como os efeitos do desequilíbrio contínuo nas fases causado pelas cargas não

puderam ser quantificados (não foi realizado um estudo para embasar a corrente de seqüência

negativa que irá trafegar no sistema em condição normal de carga), o ajuste será baseado

apenas na mínima corrente de falta fase-fase à frente do transformador. Desta forma, acaba

não sendo importante a quantidade de alimentadores conectados à barra de 13,8kV. Segue o

sistema de proteção proposto para este caso, com a inserção do relé de sobrecorrente:
69

Figura 30 – Unifilar de proteção do Bay TF-2

Fonte: COS – Centro de Operação do Sistema – Celtins

4.2.2 CÓDIGO IMPLEMENTADO

Para a obtenção das correntes e tensões para a coordenação, foi utilizado o Matlab

e desenvolvido o código abaixo, com seus respectivos comentários:

clc
clear all

tipo = input('Escolha o tipo de falta (0=Exemplo, 1=caso): ');


l = input('\nDigite a distância da falta em relação à barra (km): ');
Zfo = input('\nDigite a impedância de falta (ohms): ');

switch tipo
case 0
Sb=20000000; %Potência base
VHb=34500; %Tensão base na alta
VLb=12470; %Tensão base na baixa
St=Sb; %Base trafo
k1=1.33; %fator de sobrecarga
HCT=60; %400/5 relação de transformação na alta
70

LCT=240; %1200/5 relação transformação na baixa


Zs1=0.16*j; %Impedância de seqüência da fonte
Zs2=Zs1;
S1=100000000; %Impedância base da fonte no exemplo
%l=3; %Comprimento da linha até a falta
Zt=0.07*j; %Impedância trafo

k1MPU=1.25; %percentagem acima da sobrecarga onde o relé de


baixa deve ser ajustado

A=5.467; %Parâmetros da curva inversa


B=.108;
C=1;
N=2.0469;
K=.028;

D1=2 ; %Time Dial 1 (51L na baixa)


D2=10; %Time Dial 2 (51Q na alta)
D3=5; %Time Dial 3 (51N na baixa)

case 1
Sb=2500000; %Potência base
VHb=34500; %Tensão base na alta
VLb=13800; %Tensão base na baixa
St=Sb; %Base trafo
k1=1.20; %fator de sobrecarga
HCT=20; %100/5 relação de transformação na alta
LCT=40; %200/5 relação transformação na baixa
Zs1=0.16*j; %Impedância de seqüência da fonte
Zs2=Zs1; %Parâmetro auxiliar para ajuste do relé
S1=100000000; %Impedância base da fonte no exemplo
%l=20; %Comprimento da linha ate a falta
Zt=0.075*j; %Impedância trafo

k1MPU=1.25; %percentagem acima da sobrecarga onde o relé de


baixa deve ser ajustado

A=5.467; %Parâmetros da curva inversa


B=.108;
C=1;
N=2.0469;
K=.028;

D1=1 ; %1 %Time Dial 1 (51L na baixa)


D2=2; %2 %Time Dial 2 (51Q na alta)
D3=2; %3 %Time Dial 3 (51N na baixa)
end

%operador a 1<120
a=exp(2*pi/3*j);

%Corrente base
IHb=Sb/(sqrt(3)*VHb);
71

ILb=Sb/(sqrt(3)*VLb);

%Impedância base
ZHb=VHb^2/Sb;
ZLb=VLb^2/Sb;

%Corrente no relé (Itap)


ihb=IHb/HCT;
ilb=ILb/LCT;

%Impedância de seqüência na linha


Zl1=(0.5+0.8*j)*l/ZLb;
Zl2=Zl1;
Zl0=1.5*Zl1;

%Impedância de seqüência
Z1=(Zs1*Sb/S1+Zt*Sb/St+Zl1);
Z2=Z1;
Z0=(Zt+Zl0);
Zf=Zfo/ZLb;

%Falta fase-fase
I1p=1/(Z1+Z2+Zf); %Corrente seqüência positiva na baixa (pu)
I2p=-I1p; %Corrente seqüência negativa na baixa (pu)

Iafp=I1p+I2p; %Corrente de falta fase A na baixa (0)


Ibfp=a^2.*I1p+a.*I2p; %Corrente de falta fase B na baixa (pu)
Icfp=a^2*I2p+a*I1p; %Corrente de falta fase C na baixa (pu)
Ifp=Ibfp*ILb; %Corrente de falta na fase B na baixa (base)
Ifp_abs=abs(Ifp); %Módulo corrente de falta na fase B na baixa (base)
I2lp=I2p*ILb; %Corrente seqüência negativa de falta na baixa
(base)
I2lp_abs=abs(I2lp);

I_1p=I1p*exp(j*pi/6); %Corrente seqüência positiva na alta (adiantada de


30 graus) (pu)
I_2p=I2p*exp(-j*pi/6); %Corrente seqüência negativa na alta (defasada de
30 graus) (pu)
I2lp_abs=abs(I2lp); %Módulo corrente seqüência negativa de falta na
baixa (base)
IAp=I_1p+I_2p; %Corrente da fase A de falta na alta (pu), ocorre
devido à defasagem no trafo
IBp=a^2*I_1p+a*I_2p; %Corrente da fase B de falta na alta (pu)
ICp=a^2*I_2p+a*I_1p; %Corrente da fase C de falta na alta (pu), igual a
fase A devido a defasagem no trafo

IAFp=IAp*IHb; %Corrente da fase A de falta na alta (base), ocorre


devido a defasagem no trafo
IBFp=IBp*IHb; %Corrente da fase B de falta na alta (base)
ICFp=IAFp; %Corrente da fase C de falta na alta (base), igual
à fase A devido a defasagem no trafo
72

I_2Fp=I_2p*IHb; %Corrente seqüência negativa de falta na alta


(base)

IAFp_abs=abs(IAFp); %Módulo corrente de falta da fase A (base), ocorre


devido à defasagem no trafo
IBFp_abs=abs(IBFp); %Módulo corrente de falta da fase B (base)
ICFp_abs=IAFp_abs; %Módulo corrente de falta da fase C (base), igual a
fase A devido à defasagem no trafo
I_2Fp_abs=abs(I_2Fp); %Módulo corrente de seqüência negativa de falta na
alta (base)

K1ll=abs(IBp/Ibfp); %Relação da corrente de fase na baixa com a de


seqüência negativa na alta
K2ll=abs(I_2p/Ibfp); %Relação da corrente de fase na baixa com a de fase
na alta
I_2F_IF_p=3*I_2Fp_abs/IBFp_abs; %|3I2/IBFp|

%Falta fase-terra
I1=1/(Z1+Z2+Z0+3*Zf); %Corrente seqüência positiva na baixa (pu)
I2=I1; %Corrente seqüência negativa na baixa (pu)
I0=I1; %Corrente seqüência zero na baixa (pu)
If=I1+I2+I0; %Corrente falta na baixa (pu)
I_1=I1*exp(j*pi/6); %Corrente seqüência positiva na alta (adiantada de 30
graus)(pu)
I_2=I2*exp(-j*pi/6); %Corrente seqüência negativa na alta (defasada de 30
graus)(pu)
IA=I_1+I_2; %Corrente fase A (pu) na alta
IB=a^2*I_1+a*I_2; %Corrente fase B (pu) na alta
IC=a*I_1+a^2*I_2; %Corrente fase C (pu) na alta
IF=If*ILb; %Corrente de fase de falta na baixa (base)
IF_abs=abs(IF); %Módulo corrente de fase de falta na baixa (base)
IFa=IA*IHb; %Corrente de fase de falta na alta (base)
IFa_abs=abs(IFa); %Módulo corrente de fase de falta na alta (base)
I_2F=I_2*IHb; %Corrente de seqüência negativa de falta na alta
(base)
I_2F_abs=abs(I_2F); %Módulo corrente de seqüência negativa de falta na
alta (base)
K1lg=abs(IA/If); %Relação da corrente de falta na baixa com a de
seqüência negativa na alta
K2lg=abs(I_2/If); %Relação da corrente de falta na baixa com a de fase
na alta
I_2F_IF=3*I_2F_abs/IFa_abs; %|3I2/IFa|

%Ajuste do relé 51L 204(baixa)


MPU_1=k1*k1MPU*1; %Corrente = 1pu
MPU_1A=MPU_1*ilb; %Corrente de disparo 51L na baixa
T1=A*D1/(MPU_1A^N-C)+B*D1+K;

%Ajuste do relé 51Q 52.1(alta) para faltas fase-fase


Illmin=abs(Icfp); %Módulo da menor corrente de falta na
falta fase-fase
73

MPU_2=Illmin*K2ll*.5; %50% da minima corrente seqüência


negativa na alta, correspondente a minima falta fase-fase
MPU_2A=MPU_2*ihb; %Corrente de disparo 51Q na alta
T2=A*D2/(MPU_2A^N-C)+B*D2+K;
Im=Illmin/MPU_1; %Corrente mínima de falta fase-fase em
multimplos de MPU_1

%Ajuste do relé 51N TF2(baixa) para faltas fase-terra


MPU_3 = .5*1; %50% de 1pu
MPU_3A=MPU_3*ilb; %Corrente de disparo 51N na baixa
T3=A*D3/(MPU_3A^N-C)+B*D3+K;
Igm=abs(If)/MPU_3; %Corrente de falta à terra em múltiplos de MPU_3
74

4.2.3 SIMULAÇÃO

Com base no programa desenvolvido em Matlab, é possível obter os dados da

linha.

Correntes de base nos lados de alta e de baixa tensão do TF-2:

IHb = 41,873 A ILb = 104,5924 A

Impedância de base nos lados de alta e de baixa tensão do TF-2:

ZHb = 476,1 Ω ZLb = 76,176 Ω

Com base nestes valores, optou-se pelas seguintes relações de transformação para

os CTs nos lados de alta e de baixa tensão, respectivamente:

HCT = 20 LCT = 40

E as respectivas correntes no secundário dos TCs:

Ihb = 2,0918 A ilb = 2,6148 A

Considerando a falta a 20km na baixa do transformador e a impedância de falta

Zfo igual a zero, encontra-se a impedância de seqüência da linha:

Zl1 = 0.1313 + 0.2100i (pu) = Zl2

Zl0 = 0.1969 + 0.3151i (pu)

Para o cálculo das impedâncias de seqüência, são consideradas a impedância do

transformador e os efeitos da impedância da fonte:

Z1 = 0.1313 + 0.2890i (pu) = Z2

Z0 = 0.1969 + 0.3901i (pu)

Com base nestes dados do sistema, é possível simular as faltas de interesse.


75

4.2.4 FALTA FASE-TERRA

Inicia-se pelos cálculos das correntes para as faltas fase-terra. A falta simulada

ocorre na fase A:

I1 = 0.4001 - 0.8430i (pu) = I2 = I0

If = 1.2003 - 2.5291i (pu) = I1 + I2 + I0

Do ponto de vista do primário do transformador, a corrente de seqüência positiva

é adiantada de 30º, enquanto a de seqüência negativa sofre um atraso de 30º.

I_1 = 0.7680 - 0.5300i

I_2 = -0.0750 - 0.9301i

As correntes de fase na alta tensão são:

IA = 0.6930 - 1.4602i

IB = 0

IC = -0.6930 + 1.4602i

Devido às defasagens ocorridas no transformador, é preciso verificar que uma

parcela da corrente de falta no lado de baixa tensão é refletida na fase C.

O módulo da corrente de falta na baixa e na alta tensão é dada, para comparação

com o módulo da corrente de seqüência negativa verificada:

IF_abs = 292.8026 A IFa_abs = 67.6199 A I_2F_abs = 39.0403 A

Com base nesses valores, é possível chegar a duas relações importantes:

K1lg = |IA/If| = 0,5774 K2lg = |I_2/If| = 0,3333

Elas representam a percentagem da corrente de falta na baixa refletida na corrente

da fase A e na corrente de seqüência negativa da fase A, respectivamente.


76

Se considerada a corrente 3I2, chega-se ao valor relacionado aos relés da SEL,

que medem esta grandeza para diminuir a sensibilidade da proteção:

|3I2/IBFp| = √3 (confere com o valor encontrado na tabela II para faltas fase-terra)

4.2.5 FALTA FASE-FASE

Para este tipo de falta a sensibilidade da proteção de sobrecorrente de seqüência

negativa é maior. A falta simulada ocorre entre as fases B e C, não sendo gerada a

componente seqüência zero, como é característica deste tipo de falta:

I1p = 0.6513 - 1.4341i (pu) = -I2p

I0p = 0

A corrente de falta verificada é:

Ibfp = -2.4839 - 1.1281i (pu) = -Icfp

Em módulo:

Ifp_abs = 285.3316 A

Cuja componente de seqüência negativa é de:

I2lp_abs = 164.7363 A

Da mesma forma que na falta fase-terra, a corrente de seqüência positiva é

adiantada de 30º, enquanto a de seqüência negativa sofre um atraso de 30º quando refletida

para o primário do transformador.

I_1p = 1.2811 - 0.9163i (pu)

I_2p = 0.1530 + 1.5676i (pu)

Deve-se reparar o efeito desta defasagem ocasionada no transformador: na alta

tensão as correntes de falta aparecem nas três fases e as correntes de mesmo módulo não

ocorrem nas mesmas fases que na baixa do transformador.


77

IAp = 1.4341 + 0.6513i (pu) = ICp IBp = -2.8681 - 1.3026i (pu)

Em módulo tem-se:

IAFp_abs = 65.8945 A = ICFp_abs IBFp_abs = 131.7890 A

I_2Fp_abs = 65.8945 A

Então chega-se a mais duas relações importantes, agora para faltas fase-fase:

K1ll = |IBp/Ibf| = 1,1547 K2ll = |I_2p/Ibf| = 0,5774

Elas representam a percentagem da corrente de falta na baixa refletida na corrente

da fase B e na corrente de seqüência negativa da fase B, respectivamente.

Se considerada a corrente 3I2, chega-se ao valor relacionado aos relés da SEL,

que medem esta grandeza:

|3I2/Ip| = 1,5 (confere com o valor encontrado na tabela II para faltas fase-fase).

4.2.6 AJUSTE DOS RELÉS

4.2.6.1 AJUSTE DO RELE 51P

Este é o ajuste do relé de sobrecorrente de fase localizado na baixa do

transformador, antes da barra de 13,8kV, para servir de backup para os alimentadores.

O fator de sobrecarga admitido é de 20% e ainda é configurada uma percentagem

de 25% acima da corrente de sobrecarga para o trip do relé:

MPU_1 = 1,5 pu (Minimum Pick Up)

MPU_1A = 3,9222 A

Das curvas utilizadas pelo relé BE1-851, optou-se pela V1 (Very Inverse Curve),

a mesma utilizada no ajuste do relé 51P, 51N e 51Q em outros casos pesquisados e cujos

parâmetros foram colocados no programa implementado no Matlab.


78

Figura 31 – Curvas inversas disponíveis para ajuste do relé BE1-851

Fonte: http://www.basler.com/downloads/2899_990/Appendix_A.pdf

Figura 32 – Curva inversa do relé BE1-851 (similar à ABB CO-9)

Fonte: http://www.basler.com/downloads/2899_990/Appendix_A.pdf
79

Utilizando a equação da curva inversa do relé e time dial igual à 1, chegou-se ao

tempo de disparo:

T1 = 0,4910s

4.2.6.2 AJUSTE DO RELE 51Q

Então parte-se para o ajuste do relé de backup na alta do transformador TF-2

(disjuntor 52.1), focando em manter uma alta sensibilidade e a coordenação para faltas fase-

fase ocorridas nos alimentadores. Por este motivo, o ajuste do MPU corresponderá a 50% da

corrente de seqüência negativa refletida para o lado da alta quando é atingida a mínima

corrente de falta fase-fase no alimentador.

Illmin = 2.7280 pu

MPU_2 = Illmin*K2ll*0,5 = 0.7875 pu

MPU_2A = 1.6474 A

Utilizando a equação da curva inversa do relé e time dial igual a 2, chegou-se ao

tempo de disparo:

T2 = 6.3933s

Este tempo é bem maior que o da proteção de sobrecorrente de fase porque é

necessário considerar que os desequilíbrios no sistema podem ser gerados por chaveamentos

assimétricos nas linhas e demais manobras que podem gerar um transitório de corrente

negativa. Uma vez que o ajuste prioriza a sensibilidade, tendo seu MPU abaixo inclusive da

corrente nominal de fase, e a magnitude destas correntes de chaveamento podem ser maiores

que o ajuste. O relé de seqüência negativa não pode ser sensível a estas situações, normais na

operação do sistema. O gráfico abaixo mostra o melhor ajuste obtido na coordenação do relé
80

de seqüência negativa na alta com o rele de sobrecorrente de fase na baixa do transformador.

É possível observar que a curva inversa do relé 51Q somente irá atuar mais rapidamente

quando a corrente de fase na baixa não estiver 22% acima da corrente de pickup do elemento

de fase.

Figura 33 – Coordenação 51Qx51P

Fonte: o autor

4.2.6.3 AJUSTE DO RELE 51N

O relé de sobrecorrente de neutro deve ser ajustado de forma a atuar se a corrente

for acima de 50% da corrente nominal de carga:

MPU_3 = 0,5 pu

MPU_3A = 1,3074 A
81

Utilizando a equação da curva inversa do relé e time dial igual à 2, chegou-se ao

tempo de disparo:

T3 = 15,2030s

Comparando esta curva com a curva do relé de seqüência negativa localizada

junto ao disjuntor 52.1, é possível verificar que o mesmo só atuará no caso de falha do relé

51N localizado na baixa do transformador.

Figura 34 – Coordenação 51N

Fonte: o autor
82

4.2.7 RESULTADOS

Com este ajuste, verificou-se a viabilidade de utilizar o relé de seqüência negativa

(51Q) para detectar faltas fase-fase nos alimentadores. Se posicionado na alta tensão do

transformador, o relé ainda proporciona proteção de backup do relé de sobrecorrente de

neutro, já que as correntes de seqüência zero não são refletidas no lado delta do transformador

TF-2. O gráfico abaixo varia a mínima corrente de pickup necessária para o trip em função da

distância da falta, para diversas impedâncias de falta. O valor de pickup do dispositivo de

sobrecorrente de fase é de 1,5 pu, enquanto o de sobrecorrente de seqüência negativa é de

0,7875 pu, ajustado abaixo da corrente nominal de carga e apto a detectar faltas à 20km de

distância e de impedância nula.

Figura 35 – Corrente de pickup x distância

Fonte: o autor
83

5 CRÍTICAS & ALTERNATIVAS

Seria interessante incluir no estudo realizado dados referentes às correntes de

seqüência negativa geradas pelas cargas. Além de considerar este efeito de forma precisa na

análise e ajuste da corrente de pickup, poderia ser feito um segundo estudo junto aos

consumidores para reduzir significativamente estes desequilíbrios propondo ajustes e formas

de ligação destas cargas de modo a diminuir a componente de corrente de seqüência negativa

de forma regular na rede. Desta forma seria possível deixar o pickup do elemento de

sobrecorrente de seqüência negativa ainda mais sensível e eficaz na proteção do sistema. Foi

verificado um estudo onde foi possível reduzir de 50% para 10% a percentagem da corrente

de seqüência negativa na corrente da linha apenas realizando melhorias nas contatoras e nos

bancos de capacitores utilizados para correção de fator de potência (Beach, 2005).


84

6 CONCLUSÕES

Os elementos de sobrecorrente de seqüência negativa são, atualmente,

disponibilizados nos relés microprocessados da distribuição. Esses elementos podem ser

ajustados abaixo dos níveis de carga para operar mais rápido e com maior sensibilidade do

que os elementos de sobrecorrente de fase para faltas entre fases no sistema da distribuição.

Esta vantagem é acentuada se a falta for de alta impedância, caso em que os relés de

sobrecorrente de fase podem não reconhecer a falta, uma vez que o módulo da corrente de

fase não está significativamente maior que o módulo da corrente nominal do sistema. Um

possível impedimento para esta aplicação é a falta de diretrizes sobre como coordenar os

elementos de sobrecorrente de seqüência negativa com outros dispositivos de proteção do

sistema da distribuição que operam com base em grandezas elétricas diferentes, como as

correntes de fase e de seqüência zero. Uma vez ajustada para faltas fase-fase, a coordenação

para outras faltas e com elementos de sobrecorrente de terra é, conseqüentemente, obtida, sem

necessidade de se efetuar outras análises. A corrente de carga de seqüência negativa diminui a

sensibilidade dos elementos de sobrecorrente de seqüência negativa, além de elevar a corrente

de pickup, para evitar os “trips” indesejados. A componente de seqüência negativa gerada no

alimentador em falta é distribuída na barra para os demais alimentadores, diminuindo a

parcela que chega ao transformador ou ao backup da barra.


85

7 REFERÊNCIAS

[1] Anderson, Paul; Analysis of Faulted Power Systems; The Iowa State University Press;

1973.

[2] Grainger, John J.;Stevenson, WilliM d. Jr.; Power System Analysis; McGraw Hill Book

Co. Singapore; 1994.

[3] Horowitz, S. H.; Phadke, A. G.; Power System Relaying; Baldock, Hertfordshire,

England: Research Studies Press Ltd; 1995.

[4] Schweitzer, E. O.; Eineweihi, A.F.; Feltis, M. W.; Coordenação e Aplicação do Elemento

de Sobrecorrente de Seqüência Negativa na Proteção da Distribuição; Schweitzer Engineering

Laboratories, Inc.; 1997.

[5] Woodward SEG; MRS 1 – Negative Sequence Relay; Disponível em http://doc.seg-

pp.com/doku.pdf/htl/mrs1/mrs1_e.pdf; Acessado em Novembro/2007.

[6] Jornal do Brasil; Aneel já prevê nova crise do gás; Disponibilizado em

http://www.intelog.net/site/default.asp?TroncoID=907492&SecaoID=508074&SubsecaoID=

715548&Template=../artigosnoticias/user_exibir.asp&ID=837038&Titulo=Aneel%20j%E1%

20prev%EA%20nova%20crise%20do%20g%E1s; 2007; Acessado em Novembro/2007.


86

[7] Beach, David; Negative Sequence Relaying Applications in Ungrounded and High

Impedance Grounded Industrial Systems; Basler Electric Company; Disponibilizado em

www.baslerelectric.com/downloads/NegSeq.pdf; Acessado em Novembro/2007.

[8] Hannah, Alan; Negative-Sequence Relay Protection for Blown High-Side Transformer

Fuse Detection; IEEE Transactions on Industry Applications, Vol 35, No. 1, 1999.

[9] Calero, Fernando; Renascimento das Grandezas de Seqüência Negativa em Sistemas de

Proteção com Relés Microprocessados; Schweitzer Engineering Laboratories, Inc., La Paz,

Bolívia; Disponibilizado em http://www.selinc.com.br/art_tecnicos.htm; Acessado em

Novembro/2007.

[10] www.gruporede.com.br/celtins; Acessado em Novembro/2007.

[11 o Portal.org; ] Gasoduto Urucu-Manuas; Disponibilizado em

http://www.portalitaguai.com.br/article956.html; 2006; Acessado em Novembro/2007.

[12] Carvalho, Eduardo Pereira; Crise de Planejamento; União da Agroindústria Canavieira

de São Paulo – ÚNICA; Disponibilizado em

http://www.unica.com.br/pages/publicacoes_3.asp; 2001; Acessado em Novembro/2007.

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