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CONCEITOS GERAIS DE SUBESTAÇÕES1

(Manuel Bolotinha, MSc, Engenheiro Eletriciata – IST/Universidade de Lisboa)

1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
As Subestações (SE) destinam-se a elevar os valores da tensão, ou tensão,
designação que será adotada neste artigo, quer nas centrais de produção de energia,
quer nas redes de transmissão de energia (habitualmente designadas por redes
primárias) – recebendo o nome de subestações elevadoras – e a baixar os valores da
tensão, quer igualmente na rede primária, quer nas redes de distribuição – recebendo
neste caso o nome de “subestações abaixadoras”.
A variação dos valores da tensão é realizada pelos transformadores.
Designando os níveis de tensão por EAT [(Extremamente Alta Tensão) ou MAT (Muito
Alta Tensão)], AT (Alta Tensão) e MT (Média Tensão), ter-se-á:
 Subestações elevadoras: MT/AT; MT/EAT; AT/EAT; EAT/EAT.
 Subestações abaixadoras: EAT/EAT; EAT/AT; AT/MT.

Nas Subestações EAT/EAT e EAT/AT existem igualmente instalações MT, destinadas


à alimentação do(s) Transformador(es) dos Serviços Auxiliares de Corrente
Alternada (SACA).
No Brasil, o projeto e a construção de subestações, bem como os respetivos
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equipamentos, devem obedecer ao estipulado nas Normas NBR 5460, NBR`s e IEC
indicadas no item 2 desta norma e NBR 14039 (BT e MT, sendo U4 ≤ 36,2 kV).

2 TENSÕES DE SERVIÇO
A classificação dos níveis de tensão difere de país para país, razão pela qual se
referem os valores das tensões normalizadas, de acordo com a Norma IEC 60038,
que correspondem aos valores máximos de tensão suportados pelos
equipamentos e que se indicam na Tabela 1.

1 Este artigo foi escrito segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, e está baseado nas Normas IEC
por serem normas internacionais e usadas na maior parte dos países.
2 NBR: Normas Brasileiras.
3 IEC: International Electrotechnical Commission.
4 U: Tensão de serviço (tensão da rede).

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Tabela 1 – Tensões normalizadas

TENSÕES SUPORTÁVEIS
MÍNIMAS5

TENSÃO MAIS
NÍVEL DE
ELEVADA AO CHOQUE
TENSÃO 60HZ, 1M
(kV ef) ATMOSFÉRICO
(kV ef6)
(kV pico)

≤ 1 [CA (ou AC)]


BT ≤2 ≤ 12
≤ 1,5 [CC (ou DC)]

3.6 10 40

7.2 20 60

12 28 75

MT 17.5 38 95

24 50 125

36 70 170

52 95 250

AT 72.5 140 325

123 230 550


EAT ou EAT
170 325 750

245 395 950

300 460 1050


EAT
420 630 1425

550 740 1675

5 Valores da tensão aplicada aos equipamentos para os ensaios à frequência industrial e ao choque.
6 ef: eficaz.

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3 EQUIPAMENTOS DE ALTA TENSÃO
Os equipamentos EAT e AT das subestações são os seguintes:

 Disjuntores.
 Seccionadoras.
 Transformadores de Potência.
 Transformadores de Corrente (TC) ou de Intensidade (TI).
 Transformadores de Potencial (TP) ou de Tensão (TT).
 Descarregadores de sobretensões (DST).
 Reatâncias de Neutro e de Limitadoras de Curto-Circuito.
 Capacitor de Acoplamento e Bobina Tampão.
 Isoladores de Apoio e Cadeias.
 Barramentos e ligadores.

4 OUTRAS INSTALAÇÕES DAS SUBESTAÇÕES


Para além dos equipamentos EAT e AT existem também nas subestações os
seguintes equipamentos e sistemas:

 Equipamento de MT.
 Caminhos de Cabos.
 Cabos de Potência, Comando e Controle.
 Rede de terras ou aterramento (subterrânea e aérea).
 Serviços Auxiliares de Corrente Alternada (transformador; grupo de
emergência; quadros elétricos).
 Serviços Auxiliares de Corrente Contínua (bateria e carregadores; quadros
elétricos).
 Sistema de Comando, Controle e Protecção (SCCP).
 Instalações Complementares dos Edifícios (iluminação, tomadas de usos
gerais, climatização, etc.).
 Instalações Elétricas Exteriores.

5 CONFIGURAÇÕES DE SUBESTAÇÕES
As configurações habituais das subestações são as seguintes:
 Barramento simples.
 Duplo barramento, com ou sem interbarras.
 Duplo barramento com interbarras e seccionadoras de “bypass”.
 Disjuntor e meio.
 Triplo barramento

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As figuras 1 a 4 mostram as diversas configurações.

BATERIA DE
CAPACITORES

Figura 1 – Barramento simples

4
Bypass

BATERIA DE
CAPACITORES

Figura 2 – Duplo barramento

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Figura 3 – Disjuntor e meio

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Figura 4 – Triplo barramento
A simbologia dos equipamentos representados nas figuras está de acordo com a
Norma IEC 60617.
A escolha da configuração de qualquer subestação é, normalmente feita pela respetiva
entidade exploradora, tendo em atenção o modo de exploração da rede em que a
subestação se integra e os critérios adotados para a continuidade e qualidade do
serviço.
Numa mesma subestação podem existir várias configurações diferentes, uma por cada
nível de tensão.
Normalmente a configuração barramento simples é utilizada em subestações de
“pequena” importância”, onde a continuidade de serviço não é predominante.
A configuração duplo barramento utiliza-se em subestações onde a garantia da
continuidade de serviço é importante, e no arranjo com “interbarras” e seccionadora
de bypass é possível manter a continuidade de serviço nas situações em que
haja avaria do disjuntor, ou necessidade de se proceder à sua manutenção.

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Com esta configuração a mudança de barramento é feita sem perder a continuidade
do serviço, e é possível distribuir os painéis por ambos os barramentos, com o
objetivo de minimizar o número de painéis que possam ficar fora de serviço em caso
de atuação da proteção de barras.
Obter uma maior fiabilidade na rede e uma redução de custos, principalmente de
manutenção, é utilizada a configuração de disjuntor e meio.
Quando se pretende realizar a manutenção da totalidade de um painel sem
interrupção de serviço, utiliza-se a configuração de triplo barramento, em que o
painel é totalmente colocado em bypass.
Nesta configuração, que se utiliza nas instalações EAT, só é possível colocar um
painel de cada vez em bypass.

6 TIPOS CONSTRUTIVOS
As SE EAT e AT são, na generalidade, instaladas no exterior (parque exterior), sendo.
o equipamento, com exceção dos transformadores, montado em estruturas metálicas.
A ligação das linhas é aérea, terminando no pórtico de amarração de linha. Este tipo
de subestações é vulgarmente designado por AIS (Air Insulated Substation).
Nas subestações existem, fundamentalmente, os seguintes tipos de painéis,
compostos principalmente pelos equipamentos de proteção (disjuntores), isolamento
(seccionadores), medida (transformadores de tensão e de intensidade) e
descarregadores de sobretensões.
 Painel(eis) Linha.
 Painel(eis) Transformador(es).
 Painel de Interbarras e/ou Tensão de Barras e /ou Seccionador de terra de barras
e /ou seccionador de bypass.
 Painel bateria de capacitores
 Painel reatâncias de neutro e/ou limitadoras de curto-circuito

Nas Figuras 5 e 6 representam-se a planta e o corte de um painel de uma


subestação do tipo AIS e na Figura 7 a disposição do equipamento.

Figura 5 – Planta de uma Subestação AIS

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Figura 6 – Corte de uma Subestação AIS

Figura 8 – Disposição de equipamento numa Subestação AIS


Os equipamentos MT são instalados normalmente no interior.
Contudo, em situações em que o espaço disponível é escasso, ou o ambiente no
qual as subestações são construídas é muito agressivo, os equipamentos são
instalados no interior de um invólucro metálico, tendo como elemento isolante o
gás SF6, obedecendo ao estipulado na Norma IEC 62271.
Estas subestações designam-se por GIS (Gas Insulated Substations), cujo esquema
se representa na Figura 8.

1 – Barramento combinado com


seccionador
e seccionador de terra
2 – Disjuntor
3 – Transformador de intensidade
4 – Transformador de tensão
5 – Seccionador com facas de terra
6 – Seccionador de terra de segurança
7 – Caixa terminal de cabo
8 – Armário de comando

Figura 8 – Esquema de um GIS


Este tipo de subestações utiliza-se habitualmente em AT e EAT; normalmente
instaladas no interior (ver Figura 9), embora existam também versões para montagem
exterior (ver Figura 10).

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Figura 9 – GIS para montagem interior

Figura 10 – GIS para montagem exterior


As principais vantagens deste tipo de equipamento são:
 Maior facilidade e menor custo de manutenção preventiva e de rotina.
 Menor tempo e custo de montagem.
 Dimensões reduzidas (cerca de 10% a 25% do espaço requerido para uma
subestação clássica).
 Não inflamável e não explosivo.
 Menor poluição (ausência de óleo).

Particular atenção deve ser dada às caixas terminais de cabo (que devem obedecer
ao prescrito na Norma IEC 62271-209), quando utilizam óleo ou gás como material de
isolação, que devem dispor de um sistema de selagem para evitar fugas de óleo ou
de gás para o GIS.
Uma outra solução habitualmente utilizada, quando o espaço exterior disponível
para implantação da subestação é reduzido, são as designadas SE híbridas, em
que o equipamento EAT e AT (seccionadores, seccionadores de terra, disjuntores e
transformadores de medida são instalados num invólucro pré-montado em fábrica,
com isolação a gás (usualmente o SF6)), como se exemplifica na Figura 11.

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Figura 11 – Exemplo de uma subestação híbrida
A ligação entre os equipamentos enclausurados e os outros equipamentos realiza-se
por meio de barramentos isolados no ar, à semelhança do que acontece nas AIS.
As principais vantagens desta solução são:
 Redução do espaço necessário (ver Figura 12).
 Redução dos trabalhos de construção civil.
 Redução do tempo de montagem.

AIS

Subestação híbrida

Figura 12 – Comparação de espaço entre uma subestação AIS e


uma subestação híbrida.
Manuel Bolotinha
Experiência desde 1974 na construção, fiscalização, projeto e análise de projeto em
instalações eléctricas BT, MT, AT e MAT - instalações prediais, infraestruturas, instalações
industriais, postos de transformação, subestações e centrais hidroelétricas e termoelétricas.
Atividade desenvolvida em Portugal, Angola, S. Tomé, Brasil e Macau.
Trabalhos realizados para USAF e US Navy, na Base das Lajes.
Formador profissional certificado pelo IEFP, de cujos manuais é autor e responsável pela
estrutura e conteúdo, em Portugal, Angola e Médio Oriente (UAE; Qatar). Além disso,
colunista e de diversos livros, incluindo de poesias.
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