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DINÂMICA DA PAISAGEM DO PARQUE


ESTADUAL MATA DOS GODOY, A PARTIR DA
UTILIZAÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE

Andrei Olak Alves1


Osvaldo Coelho Pereira Neto2

Introdução

O Estado do Paraná possui 63 Unidades de Conservação estaduais


que perfazem uma área total de 977.813,20 ha, distribuídos em Áreas
de Proteção Ambiental, Parques Estaduais, Florestas Estaduais, Áreas de
Relevante Interesse Ecológico, Reservas Biológicas, Hortos Florestais,
Reservas Florestais e Estações Ecológicas (IAP, 2002).
O Parque Estadual Mata dos Godoy, criado oficialmente pelo
Decreto nº 5.150 de 05 de junho de 1989, faz parte destas 63 Unidades de
Conservação e está classificado na categoria de manejo de Proteção Integral,
que tem como objetivo básico preservar a natureza, sendo admitido o uso
indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na lei
(IAP, 2002).
Os mais diversos estudos ambientais já realizados no parque, bem
como de todo o remanescente situado à leste do mesmo, ainda não haviam
abordado a questão da regeneração da paisagem no decorrer do processo
histórico. Esse tema é importante, uma vez que não somente as florestas
primárias em processo de desmatamento carecem de leis de proteção
ambiental, mas também aquelas áreas que se encontram naturalmente em
processo de regeneração.
Muitos estudos de evolução temporal foram realizados a partir de
novas geotecnologias, o que representou um grande avanço na melhoria da
aquisição e manipulação de dados em menor quantidade de tempo. O uso
dos Sistemas de Informação Geográfica e do Sensoriamento Remoto tem
sido elementos fundamentais nas pesquisas ambientais por apresentarem

1
Especialista em Análise Ambiental em Ciências da Terra do Departamento de Geociências da UEL.
2
Orientador, Professor Doutor do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de
Londrina.e-mail: coelho@uel.br.
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características únicas de manipulação de dados orbitais. As inúmeras


imagens de satélites e as diferentes formações científicas ampliam a riqueza
dos estudos relativos ao tema, gerando grande quantidade de resultados e
opiniões importantes não apenas para a academia como para melhoria da
qualidade de vida da população e da preservação ambiental.
Desta forma, o objetivo do presente trabalho é realizar um estudo
da dinâmica da paisagem, a partir de imagens de satélite, do remanescente
florestal do Parque Estadual Mata dos Godoy e do remanescente situado
à leste do parque, ambos localizados no município de Londrina-PR,
buscando observar a evolução temporal da paisagem adquirida dos anos
de 1973 a 2004.

Fundamentos teóricos

O uso de dados de Sensoriamento Remoto com o objetivo de


estudos de análise multitemporal tem sido largamente utilizados. Estes
estudos diversos, não utilizados apenas para pesquisas de contexto
ambiental, servem como base de apoio para a melhoria de novas pesquisas,
desencadeando um avanço científico.
Souto e Amaro (2003, p. 1649), realizaram um trabalho na busca
de identificar as diferenças quanto ao uso e ocupação do solo da região
Ponta do Tubarão, município de Macau/RN. O monitoramento da
área, por meio da análise de imagens multitemporais de sensores orbitais
georreferenciados, permitiu a comparação de três datas distintas (anos 1989,
2000 e 2001) utilizando técnicas de geoprocessamento, determinando
quais áreas apresentavam-se mais susceptíveis e/ou danificadas quanto à
agressão provocada pelas atividades antrópicas atuantes na região, além
das mudanças impulsionadas pelos processos naturais. Observou-se
a substituição progressiva dos tanques de salina pela carcinicultura não
apenas na região estudada, mas em todo o Estado do Rio Grande do
Norte, além da indústria petrolífera como uma das principais atividades
sócio-econômicas do município.
Alencar et al. (1996), buscaram compreender a dinâmica do uso do
solo e cobertura vegetal em uma paisagem antiga, identificar a taxa de uso
da vegetação secundária e avaliar suas tendências atuais, através de imagens
Landsat/TM de 1994 e 1991 de três municípios da região Bragantina,
nordeste da Amazônia. O mapeamento de uso do solo identificou 13
Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 143

tipos de classes diferentes, das quais três estágios de sucessão da floresta


secundária foi responsável por 51% da ocupação de uso em 1984 e 52%
em 1991, indicando que a tendência de cobertura vegetal da região é de
regeneração do ecossistema florestal, sendo que as áreas de pastagem e
agricultura tendem a ocupar a mesma área dos últimos dez anos.
Mesquita Jr. e Bittencourt (2003), procuraram elaborar, através de
estudos de algumas áreas de cerrado no estado de São Paulo, um modelo de
tomada de decisões utilizando os critérios gerados pelos modelos da variação
da resposta espectral da cobertura vegetal. Para isso, utilizaram imagens
MODIS de 500 e 250 metros em coordenadas geodésicas. As conclusões
mostraram que o método de análise da variação sazonal multitemporal
por modelagem do IVDN mostrou ser bastante eficiente para análise
multitemporal da vegetação e principalmente em conjunto com dados
com resolução espacial mais fina como as do Landsat-TM e ETM+.
De fato, a maior parte das pesquisas e estudos realizados em
análises multitemporais, utilizam-se da técnica do geoprocessamento para
armazenamento, processamento e interpretação dos dados obtidos através
das imagens orbitais.
O geoprocessamento apresenta-se como o conjunto de tecnologias
para a coleta, processamento, análise e disponibilização de informação com
referência geográfica, e compõe-se por soluções em hardware, software
e peopleware. Em meio ao geoprocessamento encontram-se os Sistemas
de Informação Geográfica (SIG), a Cartografia Digital, o Sensoriamento
Remoto por Satélites, Sistema de Posicionamento Global, dentro outros.
(INPE, 2005)
De acordo com Moreira (2004, p. 250), o geoprocessamento
pode ser entendido como sendo “a utilização de técnicas matemáticas
e computacionais para tratar dados obtidos de objetos ou fenômenos
geograficamente identificados ou extrair informações desses objetos ou
fenômenos, quando eles são observados por um sistema sensor”.
Incorporado ao uso do geoprocessamento, uma das principais
ferramentas utilizadas são os chamados Sistemas de Informação Geográfica
(SIG), que permitem realizar análises complexas, ao integrar dados de
diversas fontes e ao criar bancos de dados georreferenciados (CÂMARA e
DAVIS, 2005).
O SIG apresenta duas características principais, que são: a) inserir
e integrar em uma única base de dados, informações espaciais das mais
diversas fontes; b) oferece subsídio para combinar várias informações por
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meio de algoritmos de manipulação e análise. Em geral, pode-se dizer


que um SIG é composto de cinco componentes independentes, mas
interligados, que são a interface, entrada e integração dos dados, funções
de consulta e análise espacial, visualização e plotagem e Banco de Dados
Geográficos (MOREIRA, 2004).
É importante que os conceitos referentes ao geoprocessamento e ao
sistema de informação geográfica não sejam confundidos. Segundo o INPE
- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CARACTERÍSTICAS...,
2006, p.1), “o geoprocessamento é o conceito mais abrangente e representa
qualquer tipo de processamento de dados georreferenciados, enquanto
um SIG processa dados gráficos e não gráficos (alfanuméricos) com
ênfase a análises espaciais e modelagens de superfícies”. Desta forma, o
termo sistemas de informação geográfica (SIG) é aplicado para sistemas que
realizam o tratamento computacional de dados geográficos. Devido a sua
ampla gama de aplicações, que inclui temas como agricultura, floresta,
cartografia, cadastro urbano e redes de concessionárias (água, energia e
telefonia), o SIG pode ser utilizado como ferramento para a produção de
mapas, como suporte para análise espacial de fenômenos e como um banco
de dados geográficos.
As mais diversas utilizações da técnica do geoprocessamento e dos
SIGs, utilizam-se inicialmente de atividades de aquisição e manipulação
de dados. Para a realização de uma análise multitemporal, é necessário a
aquisição de imagens de satélites para a obtenção das informações através
do Sensoriamento Remoto. O Sensoriamento Remoto “é a utilização
conjunta de modernos sensores, equipamentos para processamentos de
dados, equipamentos de transmissão de dados, aeronaves, espaçonaves,
etc, com o objetivo de estudar o ambiente terrestre através do registro e
da análise das interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias
componentes do planeta Terra em suas mais diversas manifestações (Novo,
1998, p.3).
De fato, os dados obtidos através do Sensoriamento Remoto geram
as imagens de satélites, que são disponibilizadas através de vários satélites
de observação da Terra, como o Landsat e o Spot.
A série de satélites Landsat (Land Remote Sensing Satellite) foi
iniciada em 1972 com o lançamento do satélite LANDSAT-1. Entre seus
sucessores estão o Landsat 2 com o sensor MSS (com 4 bandas e 80 metros
de resolução) e o Landsat 5 com o sensor TM (com 7 bandas e 30 metros
de resolução) (OBT..., 2005). A órbita do Landsat é repetitiva, circular,
Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 145

quase polar, heliossíncrona, ou seja, sincronizadas com o sol, passando na


mesma hora solar em qualquer ponto observado, permitindo assim uma
cobertura completa da terra entre 81°N e 81°S (LANDSAT..., 2005).
O satélite Spot foi planejado e projetado desde o início como um
sistema operacional e comercial de observação da Terra. Estabelecido por
iniciativa do governo francês em 1978, com a participação da Suécia e
Bélgica, o programa é gerenciado pelo Centro Nacional de Estudos
Espaciais - CNES, que é o responsável pelo desenvolvimento do programa
e operação dos satélites. Já foram lançados com sucesso os SPOT 1, 2 e 3 e
4. Dois sensores idênticos (HRV - High Resolution Visible) estão a bordo
do satélite e podem ser utilizados independentemente, tanto na geometria
de visada como no modo espectral. Cada instrumento tem uma faixa de
varredura de 60 km. Quando os dois instrumentos operam em modo
“geminado” imageando áreas contíguas, a área total coberta é de 117 km,
ou seja, duas faixas de 60 Km de largura cada com 3 km de sobreposição
(SPOT..., 2005).
As imagens orbitais, por sua vez, são manipuladas através do
Processamento Digital de Imagens, que pode ser entendido como a
“manipulação de uma imagem por computador de modo que a entrada e a
saída do processo sejam imagens. Por comparação, no reconhecimento de
padrões, a entrada do processo é uma imagem e a saída constitui-se numa
classificação ou descrição da mesma” (INPE, 2005).
O objetivo de se usar processamento digital de imagens, é
melhorar o aspecto visual de certas feições estruturais para o analista
humano e fornecer outros subsídios para a sua interpretação, inclusive
gerando produtos que possam ser posteriormente submetidos a outros
processamentos (INPE, 2005).
Com o processamento digital, é possível realizar a segmentação
e classificação da imagem, gerando a carta de uso e ocupação do solo.
A carta de uso, por sua fez, é necessária para realizar os mais diversos
tipos de estudos, mas é imprescindível para a elaboração de uma análise
multitemporal.
Dos classificadores de imagens segmentadas, um dos que apresentam
excelentes resultados é o Battacharya, onde a separabilidade estatística
entre um par de classes espectrais. Ou seja, mede a distância média
entre as distribuições de probabilidades de classes espectrais é medida
pela distância dessas classes (BATTACHARYA..., 2006).
Para a elaboração do mapa de desmatamento do Estado de São
Paulo, alguns pesquisadores do Atlas Ambiental de São Paulo utilizaram
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o método Battacharya. De acordo com a publicação, o classificador foi


utilizado para elaboração de um mapa temático, em formato “raster”.
Este mapa apresentou como resultado final duas classes temáticas: áreas
desmatadas, (onde ocorreu mudança de cobertura do terreno na década de
90) e áreas inalteradas. (COBERTURA..., 2006).
Agarez et al. (2001), utilizaram o classificador Battacharya para a
elaboração de um mapa de uso da terra. Segundo os autores, nas imagens-
fração foi aplicado o algoritmo de segmentação por crescimento de regiões
e, a seguir, foi executada uma classificação supervisionada por regiões,
pelo algoritmo de distância de “Battacharya”, gerando o Mapa de Uso da
Terra. A partir da elaboração do mapa de uso da terra, foi realizado um
procedimento de isolamento da classe correspondente à floresta, gerando
um mapa de fragmentos florestais, contendo áreas de reservas e fragmentos
remanescentes do entorno, o que foi importante para o resultado final da
pesquisa.
Outro trabalho de relativa importância foi o de Vieira, Alves e
Bertoldo (2005). Os pesquisadores também se utilizaram do Battacharya
para elaborar o mapa de uso da terra das regiões cafeeiras do estado de
Minas gerais, através da segmentação e classificação das imagens de satélite.
Como resultado final obtiveram o mapeamento das seguintes classes: café
em produção, café em formação, café recém-plantado, mata, solo exposto,
área urbana, culturas, represas, reflorestamento e outros usos.
A floresta existente no Parque Estadual Mata dos Godoy é um
dos últimos remanescentes de Floresta Subtropical (Floresta Estacional
Semidecidual), que anteriormente cobria grande parte do Estado do
Paraná. Atualmente este remanescente está circundado por áreas ocupadas
pela agricultura e pecuária, sujeito a pressões antrópicas. Este cenário é
resultante de um processo que se iniciou na metade do século XIX, quando
a agricultura passou a ter um peso maior na economia do Estado do Paraná
(IAP, 2002).
A área do Parque Estadual pertencia, até junho de 1989, à Fazenda
Santa Helena, de propriedade da Família Godoy, tendo sido, então,
adquirido pelo Governo do Estado do Paraná. Dessa forma, a área do
Parque Estadual foi incorporada ao patrimônio do Estado do Paraná,
através do Decreto Estadual no 5.150 sob a denominação de “Parque
Estadual Mata dos Godoy”. O Parque abrange hoje uma área de 690,175
ha dos quais, aproximadamente 675 ha são cobertos por vegetação florestal,
considerando-se a Floresta Semidecidual Montana, a Floresta Secundária e
as áreas de reflorestamento (IAP, 2002).
Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 147

Materiais e métodos

A área de estudo foi um remanescente florestal situado no município


de Londrina-PR, incluindo o Parque Estadual Mata dos Godoy e outro
remanescente pertencente a duas fazendas particulares situadas à leste do
parque; tem como centro as coordenadas 23º 27’ de latitude S e 51º 13’
de longitude W (figura 1). Este outro remanescente, que também faz parte
da área de estudo, apresenta um mesmo contexto histórico do parque;
entretanto, este não foi adquirido pelo Governo do Estado do Paraná.
A região está inserida no Terceiro Planalto Paranaense, subzona
do Bloco do Planalto de Guarapuava, com ocorrência de rochas
predominantemente basálticas. Os solos derivados da região pesquisada são,
em sua maioria, profundos, bem intemperizados, com elevada fertilidade
natural, devido aos altos teores de bases trocáveis (solos eutróficos), com
baixos níveis de acidez e reduzidos teores de alumínio trocável (IAP, 2002).
O clima da região está sob influência de dois tipos climáticos: Cfa
- é um clima mesotérmico, sem estação seca, com verões quentes e com
média do mês mais quente superior a 22ºC, sendo as geadas freqüentes; e
o Cfb - é igualmente um clima mesotérmico, úmido e superúmido, sem
estação seca com verões frescos e com média do mês mais quente inferior
a 22ºC. Com relação à hidrografia, a área está inserida na sub-bacia do
Ribeirão dos Apertados, que percorre a direção leste-oeste, até desaguar no
rio Tibagi (IAP, 2002).
Para o estudo multitemporal foram utilizados o software SPRING
4.1 (Sistema para Processamento de Informação Georreferenciadas), para
a elaboração do Banco de Dados, e as imagens de satélite desde 1973 até
2004. As imagens foram selecionadas de acordo com a disponibilidade do
acervo digital encontrado no site do INPE (www.inpe.br) (Quadro 1).

Imagem Satélite Composição


08/1973 – 238/76 Landsat 1 MSS RGB/574
11/1981 – 238/76 Landsat 2 MSS RGB/574
07/1997 – 222/76 Landsat 5 TM RGB/345
12/1999 – 222/76 Landsat 5 TM RGB/543
08/2002 – 222/76 Landsat 5 TM RGB/543
01/2004 Spot 4 HRV RGB/123
Quadro 1 – Lista de Imagens Selecionadas para a Análise Multitemporal
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Figura 1 – Localização da área de estudo da pesquisa.


Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 149

Com o Módulo IMPIMA (do software Spring) as imagens foram


recortadas e, após o georreferenciamento, foram importadas para o Spring,
onde realizou-se o ajustes de contraste.
Para a classificação da imagem e a elaboração da carta de uso do solo
foi confeccionada uma máscara com o limite da área estudada, resultando
em um recorte específico da região, possibilitando a adequada segmentação
das imagens de satélite.
O método utilizado para a confecção das cartas foi o de segmentação
por regiões com o uso do classificador BATTACHARYA, onde ficou
estabelecido o limiar de aceitação de 100%. As amostragens colhidas para
a classificação abrangeram os temas Mata Primária, Mata Secundária, Sem
Mata e Nuvem.
Os mapas de uso do solo obtidos de cada ano/imagem foram
quantificados em porcentagem e analisados, visualizando a dinâmica do
crescimento e ou desmatamento.
Resultados e discussões

A aquisição das amostras das imagens, para a elaboração das cartas


de uso pelo método Battacharya, obtiveram um desempenho médio de
acordo com a tabela 1.
Apesar de uma boa qualidade na aquisição das amostras, a diferença
entre as resoluções de pixel encontrada nas imagens, resultou em algumas
variações com o resultado final das cartas de uso. Isto ocorreu pelo fato de
o formato raster não permitir um recorte de precisão, como no formato
vetorial, mas sim de acordo com a resolução do pixel.

Tabela 1 – Desempenho e Confusão Média das Amostras Adquiridas

Ano Desempenho Médio


1973 100%
1981 100%
1997 98,23%
1999 97,84%
2002 98,39%
2004 98,89%
150 Análise Ambiental em Ciências da Terra - v. III

As imagens Landsat de 1973 e 1981, por exemplo, que possuem


um pixel com resolução de 80 metros, resultaram em uma carta de uso com
um valor de área maior do que o encontrado na carta de 2004, elaborada
a partir de imagem Spot, com resolução de pixel de 10 metros. A mesma
diferença ocorre em comparação com as imagens de 1997, 1999 e 2000,
que possuem resolução de 20 metros. A explicação deve-se ao fato de que
o recorte com pixels de maior resolução aproxima-se da suavização dos
arcos gerados pelo formato vetorial. A figura 2, que representa o norte do
recorte realizado com imagens de 1973 e 2004, exemplifica a diferença de
resolução de pixels.

Figura 2 – Diferença entre a resolução de pixel. (ALVES, 2004).



Este erro encontrado é inerente ao sistema, que realiza a operação
independente das aplicações do usuário. Desta forma, houve uma
diferença de tamanho de área entre as cartas de uso, que também interferiu
no resultado final das análises quantificadas em porcentagem, mas sem
prejudicá-la. A diferença de área total existente entre a imagem Landsat de
1973 (19,31 km²), de menor resolução, e a imagem Spot de 2004 (18,10
km²), de maior resolução, foi de 1,21 km² para a Landsat. Assim, para fins
de análise, estabeleceu-se a área total de 18,10 km² para todas as cartas de
uso, com suas respectivas porcentagens.
Outro fator que pode ser considerado de relativa importância,
refere-se ao fato de que a resolução dos pixels interferiram no processo
de segmentação. Como os pixels de menor resolução representam uma
área espacial maior, alguns detalhes existentes no real não puderam ser
computados pelo sistema, gerando diferenças nos resultados das cartas.
Assim, a simples diferença de resolução de pixel foi um dos fatores
determinantes para a presença ou não de mata primária ou secundária, ou
ausência de mata.
Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 151

O figura 3 representa as alterações obtidas. Os dados quantificados


e analisados representam apenas as mudanças percentuais, mas não as
mudanças espaciais. As alterações espaciais serão analisadas posteriormente
com as cartas de uso do solo. Observa-se que as principais alterações
obtidas foram do período de 1973 a 1981, onde ocorreu uma mudança de
ausência de mata para a formação de uma mata secundária.

Figura 3 – Representação do Percentual de Mata Primária, Secundária e Ausência de Mata,


de 1973 a 2004, da Área em Estudo. (ALVES, 2004).

Para fins de análise, durante o transcorrer da pesquisa, foi necessário


tomar por base que a mata existente em 1973 fosse totalmente primária,
uma vez que havia uma grande quantidade de ausência de mata, além de
não ser possível identificar a baixa quantidade de mata secundária, devido
a baixa resolução do pixel da imagem de 1973 (80m). Em 1981, apesar
de a resolução de pixel ser a mesma de 1973, a presença de uma mata
secundária é bem mais significativa, o que tornou possível o mapeamento
pelo sistema. A partir de 1981 as alterações não foram tão discrepantes
como a anterior, mas também são importantes para a pesquisa.
O percentual de mata primária aponta para um fato não singular,
que é o aumento desta mata no período desde o período de 1973 até
1997, obtendo uma estabilidade média a partir de 1997. Isso significa que
a regeneração existente entre os anos de 1973 a 1997 foi significativa ao
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ponto de adquirir as características da mata primária. Assim, a presença de


texturas aparentemente idênticas encontradas nas imagens, não permitiram
ao sistema diferenciar a mata primária da secundária.
Do período de 1997 a 2004, a mata primária apresenta uma média
de 72,89% de toda área, ou seja, 13,19 km².
A imagem Landsat de 1973, bem como sua carta de uso, vão
apresentar uma ausência de mata secundária pela impossibilidade de
mapeamento devido a baixa quantidade de mata secundária e a baixa
resolução de pixel. Desta forma, o aumento de mata secundária de 1973 a
1981 foi de 20,24%, o que representa 3,66 km² de mata secundária.
De 1997 a 1999, nota-se, também, um aumento significativo de
4,57% de mata secundária; já de 1999 a 2004 pode-se se estabelecer uma
média de 24,59%, totalizando um montante de 4,45 km² do total.
Com relação à ausência de mata, entre 1973 e 1981 o montante que
era de 5,42 km², passou a ser de 1,61 km². De 1981 a 1997 a diferença
percentual foi de 3,23%; no entanto, esse percentual não significa a
singularidade de áreas desmatadas, mas pode representar o surgimento
de novas áreas de desmatamento e a regeneração de áreas anteriormente
desmatadas.
Entre 1999 e 2004 pode-se estabelecer uma média de 2,5% de áreas
desmatadas, o que representa 0,45 km². A pouca diferença percentual
existente entre 2002 e 2004 não significa, necessariamente, a diminuição
das áreas desmatadas, mas o aumento da resolução do pixel de 20m da
imagem Landsat para 10m da imagem Spot, resultou em uma precisão
maior quanto as áreas desmatadas, ocasionando um resultado mais
próximo do real.
Como síntese dos dados quantificados, visualizados na figura 3,
percebe-se a baixa alteração com relação a mata primária, o surgimento
da mata secundária entre 1973 e 1981 e sua média relativa dos demais
períodos, e a redução da ausência de mata.
A classe de nuvem foi descartada da análise por se apresentar
apenas na imagem Spot, de 2004, e não fazer parte da área em estudo. As
quantificações de 2004 foram realizadas independente desta classe.
As figuras 4 a 9 mostram as imagens recortadas e suas respectivas
cartas de uso do solo, que apresentam as alterações ocorridas no decorrer
dos anos.
Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 153

A carta de uso do solo de 1973 (figura 4) apresenta as diferenças


de mata primária e ausência de mata. Dois blocos de floresta primária são
encontrados a oeste (Mata dos Godoy) e a leste (propriedade particular);
a região central é caracterizada pela ausência de mata. A ausência de mata
pode ser visualizada também no extremo norte da Mata dos Godoy e no
extremo sudeste da carta de uso, além de dois polígonos localizados a
sudoeste.
Quando comparada com a carta de 1981 (figura 5), percebe-se uma
regeneração da mata na parte central, mas não total, além da regeneração
do extremo sudeste de toda área de estudo e do extremo norte da Mata
dos Godoy. Entretanto, verifica-se a ocorrência de um desmatamento a
nordeste da Mata dos Godoy.
Em 1997 (figura 6), vê-se uma regeneração ainda maior da parte
central, além dos polígonos caracterizados com ausência de mata do extremo
sudoeste e extremo sudeste. Em contrapartida, ocorre o surgimento de áreas
de ausência de mata ao sul da área central e ao sudoeste. A permanência
da área desmatada de parte do nordeste da Mata dos Godoy, pode ser
explicada, em parte, pela utilização de parte da área para usos especiais,
como a sede do parque.
Em 1999 (figura 7) a presença de mata secundária é significativa, já
recobrindo 25,78% da área e ocasionando a redução das áreas de ausência
de mata. O nordeste da Mata dos Godoy encontra-se em parte regenerado;
os polígonos representando a ausência de mata encontradas na parte central
de toda área, também se mostram preenchidos pela mata secundária.
A carta de uso de 2002 (figura 8) se assemelha com a de 1999,
ocorrendo apenas uma mudança caracterizada pelo surgimento de um
polígono de ausência de mata a sudeste.
A carta de uso de 2004 (figura 9) merece destaque na análise, pois
foi elaborada a partir da imagem Spot, com resolução de pixel de 10m,
ocasionando uma maior precisão de classificação. A região nordeste da
Mata dos Godoy, com mata secundária e ausência de mata, não demonstra
muitas alterações comparada com a carta de 1999. O destaque é a redução
da área de ausência de mata encontrada a sudeste da carta, mas ocorrendo
o surgimento de novas áreas ao sul da parte central e ao norte da região
leste. A presença de nuvens foi ignorada quanto à análise, uma vez que não
faz parte da área do objeto de estudo.
154 Análise Ambiental em Ciências da Terra - v. III

Figura 4 – Imagem Landsat e Carta de Uso do Solo de 1973


Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 155

Figura 5 - Imagem Landsat e Carta de Uso do Solo de 1981


156 Análise Ambiental em Ciências da Terra - v. III

Figura 6 - Imagem Landsat e Carta de Uso do Solo de 1997


Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 157

Figura 7 - Imagem Landsat e Carta de Uso do Solo de 1999


158 Análise Ambiental em Ciências da Terra - v. III

Figura 8 - Imagem Landsat e Carta de Uso do Solo de 2002


Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 159

Figura 9 - Imagem Spot e Carta de Uso do Solo de 2004


160 Análise Ambiental em Ciências da Terra - v. III

É importante ressaltar que as mudanças ocorridas na região nordeste


da Mata dos Godoy foi resultado de um plano de manejo do parque. A
figura 10 mostra algumas zonas de uso estabelecidas pelo Plano de Manejo,
em 2002.

Figura 10 - Mapa de Zonas de uso do Parque Estadual Mata do Godoy.


Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 161

As áreas de zona de recuperação do parque puderam ser observados


no transcorrer da análise, sendo que a partir de 1997 a regeneração destas
áreas foi mais intenso, alterando a paisagem do parque.
Como resultado final da pesquisa, foi possível elaborar um mapa
síntese da dinâmica da paisagem do objeto de estudo, demonstrando as
áreas que sofreram ou não alterações no decorrer dos anos de 1973 a 2004.
Este mapa síntese foi gerado a partir do cruzamento das cartas de uso de
1973 e 2004, e está demonstrado na figura 11. As áreas que permaneceram
inalteradas, ou seja, de mata primária, totalizam um montante de 63,67%,
ou 11,52 km². As áreas que sofreram algum tipo de alteração, dando uma
nova configuração da paisagem, seja de desmatamento ou regeneração,
representou 36,33% do total.

Figura 11 – Mapa da Dinâmica da Paisagem de 1973 a 2004


162 Análise Ambiental em Ciências da Terra - v. III

Considerações finais

As diferentes imagens de satélite e as mudanças de resolução de pixel


interferiram na precisão da elaboração das cartas de uso, o que gerou erros
aceitáveis para a análise, uma vez que são inerentes ao sistema e, mesmo
assim, possibilitou a elaboração das cartas de uso.
O objeto de estudo do presente trabalho, que inclui a floresta
do Parque Estadual Mata dos Godoy e as florestas pertencentes à duas
propriedades particulares, sofreu grandes alterações de paisagem desde
1973 até 2004. Essas alterações foram geradas através de áreas que passaram
por algum tipo de regeneração ou desmatamento, seja natural ou pela ação
antrópica.
As áreas que sofreram alterações totalizam um montante de 6,57
km²; já as áreas que não sofreram nenhum tipo de alteração foram 11,52
km². Estas alterações se deram principalmente na parte central, onde a
ausência de mata foi substituída pela presença de mata secundária. Além
disso, ela também foi bastante significativa na região sudeste.
A presença de um plano de manejo do Parque Estadual Mata dos
Godoy explica a regeneração da floresta nos limites do parque; contudo,
grande parte das áreas de mata secundária está fora dos limites do parque,
sendo caracterizadas, portanto, por uma regeneração natural.
A dinâmica da paisagem foi retratada principalmente através dos
anos de 1973 e 1981, com a substituição das áreas sem mata por uma mata
secundária. Em 2004, da área total representada (18,10 km²), 73,33% são
de mata primária, 23,66% de mata secundária e 2,99% de área sem mata.

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Dinâmica da paisagem do Parque Estadual Mata dos Godoy, a partir de imagens de satélite 163

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