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Padre Paulo Ricardo há 6 dias (editado)

És tentado a pecar? Pensa na tua morte. Em breve, esse prazer efêmero não
significará nada. Logo vais te arrepender de ter buscado um prazer momentâneo e
abandonado a vida eterna. __________ Timothy Flanders

Talvez não exista hoje verdade mais evitada, reprimida e veementemente ignorada
do que a realidade da morte. O homem moderno é consumido satisfazendo como
um escravo às próprias paixões, autoproclamando-se livre e banindo
absolutamente o pensamento de que um dia morrerá. Para evitar até a menção ao
termo “morte”, ele recorre constantemente a palavras como “macabro” e “mórbido”.

Apesar disso, ele está disposto a “matar” qualquer um que atrapalhe sua
escravidão às paixões. A devassidão na qual ele se encontra mantém sua visão
alheia a tudo, exceto à própria escravidão. Ele não consegue enxergar a única
coisa no futuro que ele jamais poderá evitar ou negar. Poder-se-ia argumentar
razoavelmente que o declínio histórico da piedade religiosa está correlacionado
com o declínio da morte por doenças e com os avanços modernos em tecnologia e
conforto que obscurecem a realidade da morte. Quando um homem pode ignorar a
morte, ele pode ignorar Deus. A morte é a única coisa no futuro que o homem
jamais poderá evitar ou negar. Contudo, pela graça de Deus, nenhum homem
consegue ignorar a morte para sempre. Eventualmente um ente querido morre, ou
alguém contrai câncer ou outra doença grave, de modo que o ser humano fica face
a face com a morte, aquela de quem ele se esquivou, de forma astuta, por toda a
vida. Então ele será confrontado com essa dura realidade. Quem sabe, nesse
momento, ele enfrente as perguntas difíceis da existência, volte-se para Deus e
olhe para a própria vida.

São Francisco de Sales apresenta uma relevante meditação sobre a morte: Grava
bem em teu espírito que então para ti já não haverá mundo, vê-lo-ás perecer ante
teus olhos; porque então os prazeres, as vaidades, as honras, as riquezas, as
amizades vãs, tudo isso se te afigurará como um fantasma, que se dissipará ante
tuas vistas. Ah! Então haverás de dizer: por umas bagatelas, umas quimeras, ofendi
a Deus, isto é, perdi o meu tudo por um nada. Ao contrário, grandes e doces
parecer-te-ão então as boas obras, a devoção e as penitências, e haverás de
exclamar: Oh! Por que não segui eu esta senda feliz? Então, os teus pecados, que
agora tens por uns átomos, parecer-te-ão montanhas e tudo o que crês possuir de
grande em devoção será reduzido a um quase nada. Já Santo Afonso Maria de
Ligório lamenta a situação daqueles que morrem em pecado: Os pecadores, diz o
Senhor, Me viraram as costas por amor às criaturas: “Voltaram-me as costas em
lugar de voltarem para mim a face; porém no tempo da sua aflição dizem: Levanta-
te [Senhor] e livra-nos. Onde estão os teus deuses [direi eu então] que fabricaste
para ti? Levantem-se, se te podem livrar” (Jr 2, 27). Dirá deste modo o Senhor,
porque a Ele recorrerão, mas sem o verdadeiro espírito de conversão. Quanto a ti,
leitor, não permitas que a morte te surpreenda em situação de pecado. A lembrança
da morte é a recordação da realidade última. Prepara-te agora para o destino de
toda a carne. Ouve as palavras dos mortos: Fui o que és, sou o que te tornarás.
Recordar a própria morte por quê?

O Frei Bergamo destaca que: A morte é a melhor mestra da verdade, e o orgulho —


nada mais que uma ilusão de nosso coração — apega-se à vanglória disfarçada;
por isso, a morte é o melhor meio para aprendermos o que é a vanglória e como
separar nossos corações dela. Estás com raiva de teu irmão por ele ter te
insultado? Considera a tua morte. O que acontecerá com esse insulto quando teu
corpo estiver apodrecendo na sepultura e tua alma aparecer diante do Tribunal?
Ainda te apegarás à tua raiva? Antes, o Senhor dirá: “Se perdoardes aos homens
as suas ofensas, vosso Pai Celeste também vos perdoará” (Mt 6, 14). A morte corta
de ponta a ponta tua vaidade, mostrando quão vazia é a glória humana. A morte
corta de ponta a ponta a vaidade humana, mostrando quão vazia é a glória deste
mundo. Estás aflito com a situação atual da Igreja? Considera a tua morte. O
Senhor diz que “aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24, 13). Em breve
vais morrer e enfrentar o juízo. O que Nosso Senhor te dirá nesse momento?
Pegaste o talento e, por medo, o enterraste (cf. Mt 25, 25)? Ou investiste as graças
que te foram concedidas para produzir mérito e salvar as almas? Quando todas
essas coisas forem arrancadas de ti, saiba que tua morte está próxima.

A peça do século XV intitulada Everyman mostra, de forma belíssima, que, na hora


da morte, o ser humano não pode receber parentes, amigos, bens ou força.
Somente as boas obras podem ser apresentadas ao tribunal de Cristo. A morte
possibilita a visão clara da realidade. Ela permite que se veja quão efêmero é o
bem-estar proporcionado pelas coisas criadas, a ponto de sugerir que toda a
esperança humana seja depositada no Incriado. A morte nos mantém a salvo de
mentiras, vaidades e, acima de tudo, do próprio pecado. És tentado a pecar?
Considera a tua morte. Em breve, esse prazer efêmero não significará nada. Logo
vais te arrepender de ter buscado um prazer momentâneo e abandonado a vida
eterna. Tal deleite durará apenas um instante, enquanto a eternidade é para
sempre, nem sequer está sujeita ao tempo. Não ouças o diabo, que lhe diz: “Pouco
importa. Amanhã tu te confessas”. Em vez disso, ouve Nosso Senhor, que te diz:
“Insensato! Nesta noite ainda, exigirão de ti a tua alma” (Lc 12, 20). E, novamente:
“Vigiai, porque não sabeis nem o dia nem a hora” (Mt 25, 13). A lembrança da
morte leva à vitória sobre todo pecado. Como meditar sobre a morte? Como a
sociedade moderna está inclinada a que todos neguem a própria morte, é
extremamente difícil lembrar que tu morrerás. No entanto, essa prática é tão salutar
a ponto de causar um rápido crescimento na vida espiritual.

Um modo de levá-la a cabo é a lembrança diária, que consiste em te levantares e


fazeres tua oferta matutina, considerando que morrerás naquela mesma noite. Diz
diante de Deus, no último dia de tua vida:
Lembra-te, ó alma cristã, de que tens este dia para:

A Deus glorificar
A Jesus imitar
Os anjos e santos invocar
Uma alma salvar
Um corpo mortificar
Pecados expiar
Virtudes adquirir
O Inferno evitar
O Céu ganhar
À Eternidade te preparar
O tempo aproveitar
O próximo edificar
O mundo desprezar
Os demônios combater
As paixões subjugar
A morte padecer
E a um juízo te submeter.

No final do dia, faz teu exame de consciência, considerando que morrerás naquela
noite. Isso te trará verdadeira contrição por teus pecados e mostrar-te-á a vaidade
de teres ofendido a Deus por algo insignificante. Reza também o Miserere (Salmo
50). Quando fores dormir, deita-te de costas e olha para o céu. Imagina teu corpo
no leito de morte ou deitado na sepultura. Põe tua esperança, então, na
misericórdia de Deus e repete a oração: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende
piedade de mim, que sou pecador.

Outro método de meditação é a lembrança mensal. Considera que este será teu
último mês de vida, e que o último dia deste mês será o teu último neste mundo.
Naquela noite, tu vais morrer. Então, olha para tua vida e considera o que tu deves
fazer antes da tua morte. Esforça-te em busca da virtude e vence o teu pecado.
Pouco antes do último dia do mês, faz um exame de consciência completo. Em
seguida, faz tua confissão como se fosse a última antes de morrer. Olha então para
a tua cama, considera-a como tua sepultura e invoca a misericórdia de Nosso
Senhor:
“Ó meu Deus, soberano Senhor da vida e da morte, que, por um decreto imutável
para a punição do pecado, determinastes que todos os homens devem morrer,
contemplai-me humildemente ajoelhado diante de vossa tremenda Majestade,
resignado e submisso a essa lei da vossa Justiça. Com todo o meu coração,
detesto meus pecados passados, pelos quais mereci a morte mil vezes; e por esse
motivo aceito a morte em reparação pelos meus pecados e em obediência à vossa
santa Vontade. Sim, meu Deus, enviai sobre mim a morte onde quiserdes, quando
quiserdes e da maneira que quiserdes. Enquanto isso, aproveitarei os dias que me
concederdes, para me desapegar deste mundo e romper todos os laços que me
mantêm cativo neste exílio, e preparar-me para me apresentar com certa confiança
diante do vosso tribunal. Por isso me entrego sem reservas nas mãos da vossa
Providência paterna. Que a vossa Divina Vontade seja feita agora e para sempre!
Amém.”

Essas práticas diárias e mensais vão preparar tua alma para a morte pela qual
passarás. Preparar-te dessa maneira, tornará tua morte inevitável uma ocasião não
de luto, mas de mérito. Assim, pela graça de Deus, farás o que ensaiaste a vida
toda: terás uma boa morte.

Os santos, estes já não se atormentam com aquele profiscere (Parte!) que tanto
amedronta aos mundanos. Os santos não se agoniam em ter de deixar os bens
desta terra, porque os mantiveram destacados de seus corações. “Deus do meu
coração”, repetiram sempre, “Deus meu por toda a eternidade” (Sl 72, 26)

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