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CONTEXTUALIZANDO

Quando Jesus disse: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice”?


quando estava orando no monte das Oliveiras, num jardim chamado de
Getsêmani. Como foi dito, isto ocorreu na noite em que Ele foi traído. Antes,
Ele havia acabado de celebrar a última Páscoa com seus discípulos, dado as
instruções finais a eles, e instituído a Ceia do Senhor como uma ordenança a
ser observada por seus seguidores.

Depois dessas coisas, Ele partiu para o Monte das Oliveiras como de costume.
Ali Ele pediu que seus discípulos vigiassem em oração. Ele se afastou um
pouco deles com o objetivo de orar. A Bíblia diz que ali Jesus orou ao Pai
intensamente.

Naquele momento ele estava experimentando um estado de agonia tão


extremo que até o seu suor se transformou em gotas sangue. O escritor de
Hebreus também descreve que naquele momento Jesus apresentou um
grande clamor com lágrimas ao Pai (Hebreus 5:7). Ali ele estava vivendo os
momentos finais antes da prisão que resultaria em sua morte. Foi justamente
nesse contexto que Ele clamou: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice!”.

Devemos nos perguntar, o que estava no cálice para que o levasse a orar com
tanto fervor? Que coisa terrível continha o cálice, para Ihe causar angústia
capaz de fazê-lo suar sangue?

Costuma-se dizer que o cálice representava a cruel cruz romana e as torturas


físicas que lhe esperavam - que Cristo previu as chibatadas em suas costas, a
coroa de espinhos perfurando sua fronte e os cravos que perfurariam suas
mãos e seus pés. Contudo, aqueles que creem que essas coisas eram a fonte
de angústia dele não entendem a cruz e o que lá aconteceu. Embora a tortura
que Ihe sucedeu por meio de mãos humanas fosse parte do plano redentor de
Deus, havia algo mais sinistro que evocou seu clamou por libertação.

Por que Jesus pediu: “Afasta de mim este cálice”?


O significado que mais se harmoniza ao contexto do pedido de Jesus Cristo
ao Pai, é o de que o cálice nesse versículo indica a ira divina.

Ao dizer: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice!”, Jesus demonstrou estar
apavorado com a terrível experiência iminente a qual se submeteria.
Diferentemente do que alguns pensam, Ele não estava temendo os
sofrimentos físicos da cruz, apesar de que a crucificação era a forma mais
dolorosa e cruel de execução da época. Definitivamente Ele não estava com
medo de ser açoitado, humilhado, torturado e finalmente morto.

O que deixava Jesus horrorizado a ponto de pedir: “Pai, se possível, passe de


mim este cálice!”, era a expectativa de ter de suportar todo o peso da ira
de Deus. Ao carregar o pecado de seu povo sobre si, Aquele que nunca pecou
se fez pecado por nós (2 Coríntios 5:21).

Consequentemente, o caráter santo e justo de Deus exige o castigo pela


iniquidade. A Bíblia diz que Deus é tão santo e puro que seus olhos não
suportam contemplar o mal (Habacuque 1:13).

Dessa forma, Jesus teria de enfrentar a morte sabendo que estaria


completamente abandonado da presença misericordiosa e amorosa do Pai.
Todo o cálice da maldição divina por causa do pecado estava prestes a ser
derramado sobre Ele na cruz do Calvário. Ali Ele haveria de experimentar
todo o horror do inferno para redimir o seu povo.

Na cruz, Ele não gritou: “Meu Deus, está doendo!”; nem mesmo disse: “Meu
Deus, eu não quero morrer, me tira daqui!”; mas seu grito foi: “Meu Deus, meu
Deus! Por que me abandonastes?“ (Mateus 27:46). Esse grito de angustia
revela o extremo amargor do cálice que lhe foi dado a tomar.

Para entender o sinistro conteúdo do cálice, devemos fazer referência às


Escrituras. Há duas passagens em particular que devemos considerar - uma
dos Salmos e a outra dos Profetas: Jeremias 25:15-18, Salmos 75:8 e lsaías
51:17. Através deles, podemos entender que o verdadeiro Filho de Deus
tomaria o cálice da ira das próprias mãos de Deus e o beberia até o fim. Ele o
beberia até que estivesse consumado e a justiça de Deus estivesse plenamente
satisfeitas. A ira divina, que deveria ter sido nossa, seria esgotada sobre o Filho
e, por Ele, seria extinta.
¹⁷ Desperta, desperta, levanta-te, ó Jerusalém, que bebeste da mão do Senhor o
cálice do seu furor; bebeste e sorveste os sedimentos do cálice do atordoamento.
Isaías 51:17

¹⁵ Porque assim me disse o Senhor Deus de Israel: Toma da minha mão este copo
do vinho do furor, e darás a beber dele a todas as nações, às quais eu te enviarei.
¹⁶ Para que bebam e tremam, e enlouqueçam, por causa da espada, que eu enviarei
entre eles.
¹⁷ E tomei o copo da mão do Senhor, e dei a beber a todas as nações, às quais o
Senhor me enviou;
¹⁸ A Jerusalém, e às cidades de Judá, e aos seus reis, e aos seus príncipes, para fazer
deles uma desolação, um espanto, um assobio, e uma maldição, como hoje se vê;
Jeremias 25:15-18

⁸ Porque na mão do Senhor há um cálice cujo vinho é tinto; está cheio de mistura; e
dá a beber dele; mas as escórias dele todos os ímpios da terra as sorverão e beberão.
Salmos 75:8

Que não seja feita a minha vontade


Jesus não apenas orou pedindo: “Pai, se possível, afaste de mim este cálice!”,
mas Ele também acrescentou: “Que não seja feita a minha vontade, mas a
tua”. Essa foi uma declaração de completa submissão ao Pai.

Aqui é preciso entender que não houve qualquer conflito entre a vontade
divina e os desejos de Cristo em sua humanidade. Isto fica claro quando Ele
próprio diz: “Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, me salva
desta hora? Não; eu vim precisamente com este propósito, para esta hora” (João
12:27).

Sua morte não foi como qualquer outra morte. Não foi um mero exemplo a
ser seguido. Não foi simplesmente um ato heroico como foram as mortes de
muitos mártires da História. Sua morte foi expiatória! Ele ocupou o lugar de
pecadores, e por eles tomou o cálice da ira de Deus até o fim.

1. O Que é a Morte?
Paulo escreveu: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). A morte é o
castigo para a rebelião contra Deus: quando as Escrituras falam sobre isso,
não é meramente uma categoria biológica. Deus advertiu Adão sobre comer
o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal: “no dia em que dela
comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). Adão não caiu morto no dia em
que comeu a fruta, mas foi expulso do Éden.

Portanto, a morte é fundamentalmente separação de Deus. E em seu caráter


definitivo, a morte é a eternidade no inferno. Deus não estará completamente
ausente; aos condenados Ele estará presente como juiz e algoz.

2. Por Que o Inferno é Eterno?


A punição eterna é adequada por pelo menos duas razões. Primeiro, Deus nos
criou para existirmos para sempre, portanto, a escolha de permanecer em
rebelião e incredulidade tem consequências eternas. Segundo, os pecados
cometidos contra um Criador infinito são infinitamente graves. Imagine um
professor que pune um aluno fazendo-o escrever “Eu não vou usar palavrões”
100 vezes. Independentemente de levar 30 minutos ou três horas, a punição
não está completa até que ele escreva a sentença pela centésima vez. Algo
semelhante está acontecendo com a expiação. Se fizermos uma distinção
entre a duração do castigo e o derramamento completo da ira de Deus sobre
o pecado, podemos entender como Cristo, um ser infinito, tomou nosso
castigo sem passar a eternidade sob a ira de Deus.
3. O Que é Propiciação?
Refere-se a um sacrifício que apazígua ou desvia a ira justa de Deus. Este
sacrifício muda a relação dele conosco de uma relação de ira para uma de
favor. Como sacrifício perfeito, sua morte é capaz de conciliar Deus com
pecadores. A Bíblia nos diz que foi um evento único. Jesus tomou nosso
castigo em sua plenitude; o sacrifício não acontecerá novamente, nem é uma
realidade contínua (Hb 9.24-28).

4. Por Que Pecadores Estão no Inferno?


As pessoas estão no inferno não só por causa do que fizeram, mas por causa
de quem são. Jesus ensinou que tudo o que fazemos flui de nossos corações.
E todo pecado flui de um coração em rebelião contra Deus. Se as pessoas
persistirem nessa rebelião sem arrependimento até a morte, seu destino será
selado. Elas são entregues ao que desejaram em vida, uma existência em
desacordo com Deus, em vez de submissão a Ele. Elas são entregues a uma
eternidade de ódio a Deus em vez de adoração — que é exatamente o que
elas preferiam em vida. Ninguém iria querer sofrer os tormentos do inferno,
mas é verdade dizer que Deus só envia pessoas para o inferno que queriam
ficar separadas dele.

A glória da cruz a exige:


Cristo sofreu a ira de Deus por todos aqueles que haveriam de invocá-lo. Se
não há nenhuma ira divina, não há nenhuma necessidade da cruz, muito
menos da salvação das almas perdidas. De que os pecadores precisariam ser
salvos? Apenas quando reconhecemos a realidade da ira de Deus contra
aqueles que merecem o juízo é que nós descobrimos que gloriosa notícia é a
cruz.
Para obter a salvação de seu povo, Cristo sofreu o aterrorizante abandono de
Deus, bebeu o amargo copo da ira de Deus e morreu uma morte sangrenta
em lugar do seu povo. Somente assim a justiça divina poderia ser satisfeita, a
ira de Deus, apaziguada e a reconciliação, possibilitada.

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