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Texto Publicado Nos Anais CD-ROM Da 30 Anpocs - 2006
Texto Publicado Nos Anais CD-ROM Da 30 Anpocs - 2006
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Resumo
Introdução
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Para uma primeira aproximação com o tema proposto - os significados atribuídos
pelos jovens à experiência da velocidade - dei início a uma pesquisa preliminar nas
comunidades sobre velocidade da rede de relacionamento orkut, que apresentou, em
uma primeira busca efetuada, 580 comunidades. Vários estudos apontam as redes
eletrônicas de comunicação como importante instrumento e fonte de pesquisa, pois se
constituem em vias de circulação digitalizada do conhecimento e em novas formas de
interação social em um espaço virtual (ARANHA FILHO, [-]; GUIMARÃES JR.,
2000).
No campo da antropologia, as pesquisas realizadas com usuários da internet ou
com comunidades ditas “virtuais” mostram os limites e as possibilidades de se realizar
um trabalho de campo no ciberespaço, bem como permitem discutir criticamente
algumas das especificidades do trabalho antropológico – o campo, o diário de campo, a
observação participante, e a própria entrevista (AMARAL [-]; RIFIOTIS, 2002). A
importância da etnografia como marca do trabalho antropológico ganha uma nova
dimensão quando o “campo” é a internet, o que leva a atualizar e aprofundar o debate
sobre as características e as etapas deste processo. No caso da pesquisa com grupos na
internet, questiona-se como reduzir os arquivos de log ao diário de campo uma vez que
se perde o ritmo e a simultaneidade das interações; como incorporar as comunicações
intermediadas; ou como lidar com as experiências on-line e off-line. É bem verdade que
o áudio e o vídeo fazem, cada vez mais, com que a pesquisa no ciberespaço não se
reduza ao textual, aproximando as experiências neste campo à situação de co-presença.
Se a pesquisa aqui apresentada se caracteriza como uma antropologia no
ciberespaço, ou seja, uma pesquisa etnográfica em ambiente de sociabilidade virtual,
devo ressaltar, entretanto, que neste momento preliminar encontro-me ainda na situação
de lurker (espreitador), termo “nativo” utilizado para definir alguém que se posiciona
apenas como leitor das listas de discussão da internet e não como alguém que troca
idéias e interage com os participantes das listas. Sei que a “participação” antropológica
não deve se restringir à “observação”, mas estou, como um(a) iniciante, apreendendo
ainda a linguagem da socialização no ciberespaço: desde a relação com a interface, o
domínio dos comandos, ou seja, as condições mínimas para interagir como todos os
usuários, até a apreensão da netiqueta e dos ícones (emoticons ou uso de maiúsculas,
por exemplo) que permitem uma oralidade escrita. Sem esquecer do aprendizado da
linguagem técnica relacionada a carros, motos e velocidade, linguagem de domínio
masculino que não faz parte do processo de socialização das mulheres em nossa
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sociedade. Pretendo, tão logo me familiarize com este universo, inserir-me, como
participante das listas de discussão para poder desenvolver uma observação participante
no ciberespaço. Só a apreensão desta linguagem permitirá uma interação com os
participantes destas comunidades e listas de discussão. Por ora, o que encontro no
“campo” são textos sobre a experiência de jovens com a velocidade, cujos significados
busquei interpretar através das técnicas da análise de conteúdo.
Das 580 comunidades sobre velocidade localizadas na primeira busca, selecionei,
aleatoriamente, três delas para a análise – “Eu adoro velocidade”; “Amo velocidade”;
“Eu amo a velocidade e o perigo” – a partir da observação dos seguintes tópicos de
discussão:
1) Tópicos sobre a velocidade atingida e o tipo de carro utilizado – “Qual o seu
carro e máxima”, “Qual a velocidade mais alta que já pegou?”, “Qual seu record?
Quantos KM/HR”;
2) Tópicos sobre a relação da velocidade com a morte – “Roleta Russa”, “Mais
um que morre da comunidade que se achava o Sena”, “Rachas e Pegas”.
Do material analisado até agora, pude depreender dois núcleos de significados a
serem apresentados para a discussão: a busca da vertigem; e o reforço de um estilo de
masculinidade. De um lado, a busca de sensações corpóreas que possibilitam a alteração
do estado de consciência dos registros da percepção do tempo (realidade suspensa), do
peso e da gravidade do corpo e produzem vertigem e intensificação dos sentidos
amortecidos pela modernidade que habituou os corpos à rapidez e ao individualismo.
De outro, a presença de valores associados à competitividade, à potência e desempenho
do motor, ao conhecimento e domínio da técnica para alcançar velocidades altas,
atuando como símbolos de prestígio na construção de um estilo de masculinidade.
Apesar de ainda preliminar, a pesquisa permite trabalhar com o pressuposto de que
os grupos que se relacionam na internet, em torno da experiência e do significado da
velocidade, constroem nessas práticas, processos identitários, através de linguagens de
pertencimento, de significados e de sensibilidades compartilhadas. A conduta de correr
risco, estando sob a pressão de ser apanhado pela polícia, uma vez que é prática ilegal,
impõe a sensação do “instinto do instante” e a do reconhecimento (PAIS, 2004), tão
valorizados na sociedade contemporânea, permitindo a expressão da individualidade e a
possibilidade de ganhar um nome próprio entre os usuários e amigos. Linguagem de
pertencimento reforçado pelas diferenças de gênero objetivamente construídas e fontes
profundas de auto-identificação, tornando-se um dos elementos maiores de auto-
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definição identitária (ARBOGAST, 2004). O afrontamento físico, a formação para o
combate, o estímulo para a competição e o domínio da técnica são alguns dos elementos
presentes na socialização dos homens e na representação da masculinidade em nossa
cultura, havendo uma pregnância dos valores associados à violência e ao risco.
Além da idade, portanto, outra categoria importante na análise das práticas de
risco, como se pode observar, é a de gênero. Embora nos esportes radicais não seja rara
a presença de mulheres e homens, de jovens e adultos, há uma predominância de
homens jovens nos “rachas”, corridas, acidentes de trânsito e outras práticas
relacionadas à velocidade (mas não só). Segundo Ribeiro (2003) no estudo de
motociclistas portugueses, por exemplo, o fato de tal prática envolver a utilização de
instrumentos complexos faz com que a “conjugação do risco físico e da sofisticação
técnica produz [a], por meio da socialização, uma barreira sexual que torna improvável
a presença de mulheres” (idem, p.60). A linguagem do mundo das motos e dos carros
sempre expressa pelas idéias de potência, cilindragem, aceleração, rapidez e
performance, é uma linguagem que prevalece no mundo masculino. Essa associação de
práticas de risco e construção de estilos de masculinidades deve ser aprofundada, pois
alguns autores já vêem apontando sua importância analítica (Zaluar, 2004; Cecchetto,
2004).
Quanto à categoria de geração, não pretendo defender a idéia de uma juventude
genérica inerentemente mais vulnerável a riscos de diferentes ordens. Apesar de
existirem algumas especificidades compartilhadas pelos jovens nessa fase da vida,
potencializadoras de experiências perigosas, os riscos são vivenciados de forma
diferenciada, dependendo do contexto social do qual fazem parte os jovens, ou seja, de
suas posições de classe social, raça/etnia e gênero.
Há, entretanto, uma especificidade das juventudes nas sociedades modernas que
dá novos contornos à forma como os riscos e perigos são pensados e vivenciados. O
fato da passagem de uma fase da vida à outra ter se tornado mais complexa e menos
demarcada, faz com que os riscos tenham que ser dimensionados e enfrentados de forma
mais individualizada. Se até meados do século XX os jovens tinham diferentes formas
de ritos que lhes marcavam a passagem da infância para a idade adulta, o que lhes
propiciava um certo controle dos medos e das incertezas, o mesmo não ocorre
atualmente. As inúmeras influências culturais, as múltiplas tradições pulverizadas, a
intensificação do processo de industrialização e de urbanização, a revolução sexual e a
ampla extensão e desenvolvimento dos meios de comunicação tornaram a transição
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menos acentuada, ou seja, sua demarcação se efetua de forma não unívoca, tampouco se
realiza a partir de critérios ou rituais bem definidos. O que produz, por conseguinte,
incertezas e inseguranças nos jovens, de modo geral, ao enfrentarem um momento de
tão profundas mudanças. Pode-se pensar que os ritos de passagem ou de iniciação
permitem que sejam controlados o medo e a ansiedade, próprios dos períodos de
mudança, porque os ritualizam e os simbolizam, oferecendo maior segurança aos
membros da sociedade para o desempenho de novo papel social (LE BRETON, 1991).
Nas sociedades tradicionais, eles demarcam, com clareza, a aquisição de um novo status
social, pressupondo a conjugação de responsabilidades econômicas, civis, conjugais e
familiares. Atualmente, os jovens se confrontam com uma multiplicidade de papéis
sociais, de valores e de referências, ao mesmo tempo em que se sentem limitados pelas
pressões sociais e econômicas. Por isso, e talvez não só, essa passagem de um status a
outro vem se transformando num período de tentativas mais individualizadas e
marcadas pela indecisão, através de ritos pulverizados e múltiplos, em consonância com
origens sociais e culturais, mutantes ao sabor das modas, por isso, provisórios, pouco
enraizados e ligados ao ciclo do consumo (LE BRETON, 1991).
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tecnologias modernas, sobretudo, e os seus efeitos danosos à vida em sociedade. Tais
riscos são definidos como eventos negativos, ameaças indesejáveis. Riscos objetivos
que devem, pois, ser evitados, embora sejam percebidos de maneiras diferentes pelos
sujeitos sociais. Douglas (1976, 1994) elaborou uma teoria cultural dos riscos, a partir
da análise de como os sujeitos constroem e atribuem coletivamente significados aos
riscos por eles vivenciados. Sua abordagem parte da relação existente entre poluição
moral e ordem social nas sociedades tradicionais e nas modernas.
Le Breton (1991, 2004) é outro autor que também vem desenvolvendo estudos
sobre os significados atribuídos pelos sujeitos aos riscos por eles vivenciados nas
sociedades contemporâneas. A ênfase de suas análises recai no gosto pelo risco por
parte daqueles que não o evitam, mas buscam a sua experiência e o valorizam:
empreendedores, desportistas, guerreiros. Para ele, há domínios da existência - de lazer
ou ligados a profissões - em que o risco pode ser valorizado, expondo os sujeitos a seus
efeitos e à possibilidade (maior ou menor) de perder a vida. É nesta linha de pesquisa
que se filia este estudo, focalizando o plano das percepções de risco nas sociedades
contemporâneas e a busca da compreensão dos significados atribuídos pelos jovens às
condutas de risco associadas à velocidade (risco buscado) no contexto de suas práticas.
A polissemia que o termo risco adquiriu nas sociedades modernas acompanha
uma multiplicidade de práticas e de significados associados à idéia de risco: riscos
buscados e controlados, riscos aceitáveis, riscos temidos e evitáveis. Entre os primeiros
podem ser citados os esportes radicais envoltos por medidas, instrumentos e tecnologias
de segurança; os “rachas” de carro ou de motos; o skate, o surf de trem; e os riscos
infringidos ao próprio corpo como conduta de transgressão, caso dos piercings,
tatuagens, suspensão (jovens que se fazem suspender através de ganchos cirúrgicos),
deformações progressivas e mutilações. Entre os riscos aceitáveis e com anuência
social, estão as competições esportivas, as corridas de carro, de fórmula 1, de motos ou
caminhões; ou aqueles ligados a determinadas profissões, tais como a de bombeiros, de
motoristas de ambulâncias, de policiais, de motoboys. Entre os riscos não aceitos e
temidos (real ou imaginariamente) estão aqueles englobados pelo termo da violência
urbana (homicídios, seqüestros); os riscos de saúde pública, objetivamente definidos e
considerados evitáveis, mas nem sempre percebidos e vivenciados dessa forma pelos
jovens, caso da aids, da gravidez na adolescência, do uso de drogas e dos acidentes de
trânsito.
A forma como os jovens pensam e vivem tais riscos norteiam minhas
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preocupações. Durante pesquisa desenvolvida para doutorado sobre o imaginário do
risco do HIV/Aids entre jovens de escolas da rede estadual de ensino e de um serviço
público de saúde (JEOLÁS, 1999), pude perceber o quanto a percepção de risco
elaborada por eles se distanciava daquela apresentada por nós
pesquisadores/educadores. O risco representado pela aids praticamente não aparecia em
suas falas e eram outros os riscos aos quais se sentiam expostos: assaltos, homicídios,
acidentes, invalidez, drogas, brigas, dentre outros, expressões da realidade vivenciada
em seus cotidianos. No domínio da sexualidade, era a gravidez, e não o HIV, que
surgia, e apenas no contexto das discussões em grupo, justamente porque o pesquisador
focalizava temas relacionados à sexualidade. Apoiada na discussão realizada por
Douglas (1994) sobre a construção sociocultural do risco, pude analisar o quanto o risco
ou o perigo do HIV/Aids não é representado pelos jovens de forma racional, mas é
moralizado e politizado à semelhança de outros perigos, infortúnios ou males
experimentados pela humanidade. Como bem concluiu a autora o risco não se reduz à
probabilidade de um evento negativo acontecer, mas diz respeito, muito mais, à
magnitude provável dos resultados do evento e ao valor social atribuído a esse resultado
num determinado contexto cultural.
Apesar de vivermos em uma sociedade obcecada por segurança, preservação e
prolongamento da vida (ou justamente por esta razão), observamos um crescente
número de práticas de risco as mais variadas e, paradoxalmente, muitas delas, cercadas
por uma tecnologia de segurança cada vez mais sofisticada. Talvez, como afirma
Ribeiro (2003, p.53), presenciemos, nas sociedades modernas, uma transformação do
princípio socrático de que “uma vida inquestionada não é digna de ser vivida”, para a
ênfase no sentido de que “uma vida sem risco e sem transgressão não é digna de ser
vivida”. Há uma permanente ambivalência e, por vezes, ambigüidade entre a libertação
da paixão e a gestão do risco; entre a busca de liberdade, ligada à transgressão das
normas sociais, e a busca de segurança e proteção oferecida pela tecnologia.
Nesse contexto, a velocidade apresenta-se, nas palavras de Kundera (1995, p. 6),
como uma “forma de êxtase que a revolução técnica deu de presente ao homem”. Prazer
e medo caminham muito ligados, pois ambos, intensificados, provocam descarga de
adrenalina, fazendo com que as sensações experimentadas se tornem próximas.
Renúncia não somente da vontade, mas também da consciência, quando a pessoa se
deixa ir à deriva e se embriaga, sentindo-se dirigida e dominada por forças estranhas. O
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sentimento é de abandonar-se às sensações de explosão, de transe, de pânico desejado,
de realidade suspensa, de descontrole atingido (CAILLOIS, 1986).
Para a compreensão do significado que a velocidade tem para os jovens
atualmente, tomo como referência a abordagem teórica e metodológica de Le Breton
(1991), que parte de Balandier e Simmel, autores que buscam compreender o
significado das ações dos sujeitos sempre orientadas por lógicas institucionais do
passado, ou melhor, submetidas às pressões dos dispositivos sociais. Le Breton (1991,
2004) propõe analisar as condutas de risco como um rito ordálico moderno ou um rito
individual de passagem no qual o sujeito joga, inconscientemente, com a morte,
buscando sentido e valor para a existência. Efetiva-se, segundo ele, “uma experiência
que assegura ao sujeito esse suplemento de sentido que dota a existência, mesmo que
por um momento apenas, de unidade e de plenitude. Proporciona ao indivíduo um
sentimento de identidade pessoal que o campo simbólico não permite mais estabelecer
duravelmente” (LE BRETON, 1991, p.70). Nas sociedades modernas, continua o autor,
o indivíduo vem sendo solicitado, cada vez mais, a contar consigo próprio na elaboração
de sentido para a sua existência em um mundo onde há um eclipse do simbolismo
coletivo. É como se o indivíduo tivesse que perguntar, a todo momento, ao vasto
repertório de conhecimentos, de representações e de significados acumulados ao longo
da própria vida, e influenciado por seu pertencimento social, qual valor atribuir às
experiências sociais, emprestando, para tanto, a lógica do bricoleur (LE BRETON,
1991; BALANDIER, 1994).
Elias (1992), outro importante autor de referência, estuda os processos de controle
social e de autodomínio que levam, nas sociedades ocidentais modernas, a restrição das
possibilidades de excitação. Ele possibilita interpretar as práticas de risco relacionadas à
velocidade, bem como outras que envolvem a relação que o indivíduo tem com o seu
próprio corpo (piercings, tatuagens, suspensão), como um dos últimos domínios para o
homem poder experimentar a busca e a satisfação da excitação e poder compensar a sua
ausência na esfera do cotidiano. Neste ponto, em concordância com a análise de Elias,
Toledo (1997) mostra como as manifestações transgressoras e a violência, constitutivas
do campo esportivo, emergem nas torcidas organizadas de futebol. Se o processo de
constituição das configurações esportivas sempre esteve imbricado ao processo de
civilização, isso significa dizer que as práticas de esporte são tanto instâncias de
mediações institucionais reguladoras quanto de autocontrole individual, justamente
porque são espaços em que se elaboram identidades e emergem conflitos.
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Grande parte das atuais práticas de risco em expansão são tributárias das
modernas formas de lazer e implicam comportamentos que envolvem algum tipo de
transgressão. Os esportes radicais são uma das expressões deste gosto (ou paixão)
desenvolvido pelo risco: alpinismo, mergulho, vôo livre, vela em alto mar, escaladas em
montanha, rafting em rios, esqui e snowboard fora de pista... São riscos procurados e
envoltos por mecanismos e técnicas de segurança, por isso riscos praticados em
condições “controladas” (RIBEIRO, 2003; LE BRETON, 1991).
Os skatistas que cortam as ruas dos grandes centros urbanos, deslizando por entre
os carros, quase como uma dança, também apresentam uma forma de marcar presença
no espaço urbano e ganhar visibilidade neste território. O deslizamento por entre os
carros, o controle sutil do equilíbrio e a velocidade atingida proporcionam sensações de
prazer, em função da instabilidade e conseqüente risco existente em semelhante prática.
É um tipo de jogo que delimita, nas palavras de Pociello (1995, p. 118), “um universo
lúdico que curiosamente faz das sensações de instabilidade uma fonte de prazer, e das
desordens que elas procuram uma espécie de busca paradoxal”.
Outro exemplo são os jovens que viajavam nos tetos dos vagões de trem da
Central do Brasil no Rio de Janeiro nos anos 80. Foram chamados de surfistas de trem,
desafiadores, apesar da proibição, das campanhas contrárias e da repressão policial. Não
raro alguns surfistas encontraram a morte causada pelos fios de alta tensão. Segundo
artigo de jornal, o que se pratica é uma espécie de surf de pobres no qual os jovens das
favelas imitam os surfistas das praias da região sul da cidade. Os jovens divertem-se
desviando de fios de alta tensão, pontes e viadutos, malgrado a velocidade do trem e do
vento, enquanto os passageiros vão para o trabalho ou voltam para casa no final do dia.
O vento, a velocidade, o perigo traduzem o jogo simbólico e inconsciente com a morte.
As palavras de um surfista de trem, citadas por Le Breton (1991, p.104), revelam de
forma exemplar: “com o vento na cara, é aí que o jogo começa realmente. Depois você
não consegue ficar sem, é pior do que tabaco”.
O drifting, corrida de rua em alta velocidade, com carros preparados e ajustados,
prática criada no Japão, já conta com campeonatos neste país e nos EUA com milhares
de espectadores, fãs, juízes, quesitos de avaliação e pontuação. De uma prática
espontânea de rua tornou-se um esporte e a modalidade de crescimento mais rápido na
história do automobilismo (Documentário transmitido pelo Discovery Channel, em
08/05/2006).
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Outras práticas de risco envolvendo a velocidade estão ligadas não ao lazer ou ao
esporte, mas a determinadas profissões, a exemplo dos bombeiros, motoristas de
ambulâncias, motobys com seus códigos próprios de trânsito, pressionando os carros em
busca de um lugar a ser ocupado nas intensas vias de circulação dos grandes centros
urbanos (SCARPELIINI, 2004).
O intenso processo de urbanização, no final do século XIX, fez surgir cidades
industriais e profundas transformações econômicas que permitem compreender o papel
que a velocidade adquiriu e as mudanças produzidas na vida social. Sennet (1997 fala
do “individualismo exemplar” dessas cidades industriais, nas quais os habitantes vivem
isolados e indiferentes uns aos outros, dificultando a possibilidade de fortalecerem as
relações pessoais, pois a arquitetura das cidades e dos espaços é planejada para facilitar
a circulação das multidões. Em suas palavras: “corpos individuais que transitam pela
cidade tornam-se gradualmente desligados dos lugares em que se movem e das pessoas
com quem convivem nestes espaços, desvalorizando-os através da locomoção e
perdendo a noção de destino compartilhado” (p.264). O trânsito, diz o autor, espalhou
os pontos de encontro e impossibilitou as aglomerações, dando privilégio à locomoção
ou ao corpo em movimento (p.268).
Vários autores ressaltaram a velocidade como um dos traços importantes da
revolução urbana e da vida moderna e o automóvel como uma das sínteses possíveis das
mudanças ocorridas. Sennet (1997, p.265) acredita que há uma apatia dos sentidos na
conduta urbana cotidiana, na qual “Juntos, individualismo e velocidade, amortecem o
copo moderno; não permitem que ele se vincule”. A associação da velocidade e da
rapidez na vida moderna adquire características que são frutos das inovações técnicas no
domínio dos transportes com o objetivo de dar mais conforto aos usuários. Ainda nas
palavras do autor: “foi só aos poucos que a tecnologia transformou o movimento numa
experiência passiva. O corpo em movimento, desfrutando de cada vez mais comodidade
(...)” (p.273). As novas tecnologias acarretaram mudanças em nossos corpos e
sensibilidades traduzidos em movimentos passivos do corpo que perde o contato físico
com o exterior (arranha-céus, elevadores, garagens subterrâneas, metros).
Nas cidades brasileiras dos anos 30, a mobilidade e o impacto do automóvel são
descritos por observadores sensíveis da época: o bonde, tão seguro, aparece como
aquele que transita entre dois mundos, o público e o privado, sem se submeter à
velocidade e à embriaguez e ao entorpecimento que ela produz (SALIBA, 1998, p. 328-
330, 336).
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O fascínio pela potência dos motores e pela velocidade, alimentada pela industria,
é denominada por Ribeiro (2003) de “vertigem tecnológica” em busca de mais potência
e velocidade. Em um mesmo movimento cresce, proporcionalmente, a preocupação com
uma gestão do risco através de equipamentos de segurança e de normatizações sobre o
assunto em diferentes domínios, fazendo crescer e se especializar a indústria da
segurança.
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faltado à existência. Efetiva-se, afirma o autor, “uma experiência que assegura ao
sujeito esse suplemento de sentido que dota a existência, mesmo que por um momento
apenas, de unidade e de plenitude. Proporciona ao indivíduo um sentimento de
identidade pessoal que o campo simbólico não permite mais estabelecer duravelmente”
(LE BRETON, 1991, p.70).
Segundo o autor, é como se as descontinuidades de sentido experimentadas
permanentemente em nossas sociedades se resolvessem na busca última do limite físico,
possibilitando ao indivíduo assegurar-se de sua existência, desafiando os limites da
própria força ou da própria coragem. “Queremos sentir a existência bater no peito”,
afirmam os partidários dos esportes radicais estudados por Le Breton, à semelhança dos
que buscam fortes emoções e adrenalina em suas vidas, usufruindo de uma sensação
oscilante entre a excitação e o medo.
A busca da vertigem
Na análise das falas dos jovens há uma recorrência da palavra “loucura” para
expressar a sensação experimentada com a velocidade: depois das descrições sobre a
marca do carro (ou da moto), se é “turbinado” ou “preparado”, sobre a potência do
motor e a velocidade atingida, as falas referem-se às sensações vivenciadas: “melhor
sensação que existe!!”; “180 km/h e naum tive coragem d andar mais, o cara começa a
tremer todo mas a sensação é boa pra caralho”; “foi uma loucura, parecia que o carro
ia voar ou então explodir!”; “sensação muito loca, vc sente tudo leve e muito loco,
sensação ótima... melhor sensação que existe!!”; “loucura pura!”. Muitas das
sensações descritas falam do contato com o vento (principalmente no caso das motos),
do ruído do motor (ou da ausência de ruído) e do tremor experimentado: “A sensação
do vento batendo é muito loca...”; “ele tremeu todo parecia que ia desmontar”;
“parecia que o carro ia se destruir”. Alguns poucos fazem referência ao uso do álcool
antes ou enquanto estão guiando. E outros falam de companheiros da experiência e de
suas sensações: “cheguei a 180 Km/h na descida com 5 pessoas... kkk foi emocionante...
todo mundo fickou mudo na hora! Kkk”
Apesar de suas falas denotarem referência a certa autonomia do carro, dada a
potência do motor que parece adquirir vida própria, os jovens expressam também o
domínio do homem sobre a máquina quando afirmam que “quase akabei com o motor
dele!”; “ Quase acabei com o carro”. O domínio sobre a máquina, diretamente ligado à
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construção da masculinidade, pode aparecer na fala dos jovens com duplo sentido: o
primeiro refere-se ao conhecimento e domínio técnico do motor, “preparado” e
“turbinado”; e o segundo refere-se ao domínio sobre a condução do carro em alta
velocidade, apesar da busca da sensação de vertigem.
O contraponto da busca da vertigem é a relação com a morte. Presente nos tópicos
de discussão “Roleta Russa” e “Mais um que morre da comunidade que se achava o
Sena”, a morte aparece nas falas dos jovens em toda sua ambivalência e ambigüidade. A
maioria considera uma prática perigosa e afirma ser preciso “manerar”, ter “cautela”,
controle da técnica e “não dar vacilo”. A mesma oscilação entre razão e emoção (ou
des-razão) presente na fala dos jovens sobre o risco do HIV/Aids, observada em minha
pesquisa de doutorado, constituinte do amor e da paixão, apresenta-se aqui no caso da
velocidade. A fala de um jovem é significativa:
“Infelizmente... somos apaixonados por uma brincadeira ou esporte (não sei como
chamar) muito perigosa e violenta... brincadeira essa que naum admite erros nem
falhas... em um estande, adrenalina a mil, empolgação, sorrisos e euforia, sensações
essas quem naum tem como se explicar.... mas em um momento um vacilo um único vacilo
é o suficiente... tudo se acaba... a vida daquele que sorria, da família, daqueles de
estavam em volta... tudo... como se por um momento o mundo parasse e a única coisa a
sentir é um aperto forte no coração e um pensamento de naum acredito. Só ai paramos
para pensar como nossa vida e frágil e a merda que uma pisada mais forte no acelerador
pode fazer...”
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ao descontrole. Um rapaz afirma: “Racha eh ilegal tudo bem... mas mesmo o racha
sendo ilegal eh preciso responsabilidade... vc precisa saber os seus limites e ter em sua
cabeça q vc não eh o super homem”.
Sobre a história contada em um desses tópicos de discussão de uns rapazes que
morreram em uma estrada, um jovem anônimo faz um comentário de que eles estariam
“tirando um racha” e uma garota chamada T. defende-os, dizendo que eram seus
amigos e que “naum estavam tirandu racha. E naum admito q chamem eles de burro!
(...) gostaria q o anonimo se fosse homem de verdade se identificasse! burro eh vc q
naum sabe o q aconteceu e quer palmitar ,seu idiota!” Ela continua: “sei q o [L.] o q
tava dirigindo gostava de velocidades, mais jamais seria capaz de se arisca tanto!
naum sei direito oq aconteceu, mais qria muito q naum brincassem com a memoria dos
"meus queridos amigos!”
O vacilar nestes domínios em que a morte é tocada de perto é sempre uma
possibilidade, mesmo com todos os cuidados técnicos, desempenho e destreza do
motorista. Um jovem responde ao desabafo de T.:
“Vc tem razão [T.], eu no seu lugar diria o mesmo!!! è foda aloprar a moral de quem não
pode se defender, e mesmo se os caras do acidente tivessem dado alguma mancada,
ninguém aki poderia embaçar com isso, pois na verdade, quem aki nunca deu um vacilo?
è fácil enrolar o rabo e sentar em cima né "Anônimo"? Espero que os rapazes estejam em
paz, e para os palpiteiros: não se confunda na vida, o que agora já é parte da morte”.
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Estilos de masculinidade
Tais demonstrações de agressividade estão presentes em grande parte das fala dos
jovens. Embora nos esportes radicais não seja rara a presença de mulheres e homens, de
jovens e adultos, há uma predominância de homens jovens nos “rachas”, corridas,
acidentes de trânsito e outras práticas relacionadas à velocidade. Segundo Ribeiro
(2003), no estudo de motociclistas portugueses, por exemplo, o fato dessa prática
envolver a utilização de instrumentos complexos faz com que a “conjugação do risco
físico e da sofisticação técnica produz[a], por meio da socialização, uma barreira sexual
que torna improvável a presença de mulheres” (idem, p.60).
Tal predominância do sexo masculino nas práticas relacionadas à velocidade é
fruto dos processos de aprendizagem vividos pelos dois gêneros, o masculino e o
feminino, desde a infância, nos quais se reforçam habilidades masculinas para
atividades que envolvem força física e domínio técnico. Na paixão pela velocidade e no
gosto pelo risco há uma hegemonia da presença masculina e de valores como virilidade,
agilidade, audácia e coragem, como se pode observar nas corridas de fórmula 1, de
carros, motos ou caminhões, nos “rachas” e entre os motoboys. Ribeiro (2003) chama a
atenção para a linguagem do mundo das motos e dos carros sempre expressa pelas
idéias de potência, cilindragem, aceleração, rapidez, performance.
Essa é uma linha de investigação explorada, por exemplo, por Zaluar (2004) no
contexto dos estudos sobre jovens envolvidos com o tráfico de drogas. A autora tem
enfatizado a formação de um ethos guerreiro, nas palavras de Norbert Elias, para
explicar as atitudes de agressividade e de violência, garantidas pelo porte da arma de
fogo, símbolo de potência e de poder, além do status adquirido com o acesso a bens de
consumo que o dinheiro ganho no tráfico possibilita. O estudo de Cecchetto (2004), na
mesma linha teórica, analisa a formação subjetiva de estilos de masculinidades entre
diferentes formas de lazer, como os bailes funk e charme, ou entre esportes como o jiu-
jítsu.
No material analisado, há uma constante dúvida sobre a veracidade da velocidade
alcançada mencionada por cada um dos participantes da comunidade. Alguns
questionam se as informações apresentadas quanto à potência do motor (“montado”,
“preparado”; “turbinado”) são corretas, mas principalmente se a velocidade atingida é
verdadeira. Apesar de existir uma diferença entre velocidade real atingida pelo carro (ou
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moto) e aquela marcada pelo velocímetro, os jovens parecem não acreditar no que diz a
maioria, sobretudo quando a afirmação lhes parece exagerada. Alguns se irritam
dizendo que aquela deveria ser uma comunidade séria e não de “mentirosos”,
“pescadores” ou “contadores de vantagens”. Parecem alegar que o exagero leva à
descrença, à ridicularização e põe em dúvida a legitimidade da comunidade. A
impressão que se tem é que eles próprios têm consciência da possibilidade de
potencializarem seu prestígio e status - na construção de um estilo de masculinidade -
frente a outros jovens, colegas, amigos ou membros da comunidade, desde que as
características apresentadas não pareçam exageradas ou inverossímeis. Há uma
negociação e controle das informações repassadas na comunidade para que não se
exagere demasiadamente e se possa garantir a sustentabilidade da comunicação. Vejam
como se expressam nestes casos: “é uma ilha da fantasia... Peter Pan”; ”carro com
turbina de concorde da Air France”; “com motor de helicóptero”; “bicicleta com
motor de geladeira”....; “mentem tanto que daqui a pouco chegam a velocidade da
luz”; “pensei que fosse uma comunidade de apaixonados por carro e não de
pescadores”; “pegar 300 km/h num marea só se jogar ele de um barranco, colocar
num avião e jogar em queda livre....”
Outros deixam transparecer que nem todos os participantes realizaram de fato o
que ali estão relatando. Parece que nos encontramos entre o real e o desejado. Há
sempre exigências de fotos ou filmes para comprovação do que está sendo dito. Um
jovem assim se expressa:
“E para alguem q queria ai eu tenho um video que o camarada coloca mais de 400km/h
numa Hayabusa, ele comeca de 1ª marcha antes de colocar 2º ele comeca a empinar,
joga segunda, joga terceira ai ele desce a moto e continua, e no fim vc so ve o
velocimetro encostar 220 MILHAS/h (220 * 1,6 = 352km/h) ai vc so ve o contagiro
subindo e o velocimetro socado no maximo deve ser muito fod* fazer isso ao vivo....”
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A fala de um jovem é significativa a esse respeito: “ai galera tem gente ai que
mente decaradamente falam em altíssimas velocidades só motão e carrões que mais
parece ser sonho destes malditos mentirosos acham que ninguém percebe”.
O tom de cinismo presente na resposta de alguns incitados a contarem a verdade
sobre a velocidade atingida, demonstra o quanto a coragem de desafiar o perigo é um
valor importante nesta comunidade: “Não me importo com o que gente como você diz,
mas acho que você nunca nem deve ter andado no carro acima do 80km/h, é perigoso
você pode se machucar, mas sei la se tem coragem marca um dia que você ve, so que
você vai senta no banco do meu carro, ai depois você me fala blz, É SO MARCA”.
São poucas as manifestações de garotas nestes tópicos de discussão aqui
apresentados, entretanto, suas falas são significativas ao reforçarem este valor da
coragem masculina. Uma delas pediu prova: “se vc é homem vem mostrar que atingiu
esta velocidade”; e a outra disse: “filme e coloque no site p/ gente ver se é verdade”.
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desempenho, ou de um ethos guerreiro, no processo de transformação do menino em
homem. Aqui não se deve desconsiderar a importância do sentimento de pertencimento
a um grupo social, no sentido de criar sociabilidades e vínculos identitários. Investigar,
igualmente, a relação existente entre este estilo de masculinidade e as formas de
violência presentes em suas relações sociais, o que só será possível com o posterior
desenvolvimento de uma pesquisa de campo. Neste sentido, buscarei também averiguar
a hipótese da existência de outras variáveis relacionadas às condutas de risco: o
sentimento de insegurança e a prática de atos ilegais e de “rebeldia” juvenil. A hipótese
é a de que os comportamentos não constituem aspectos isolados da existência
individual, mas podem integrar configurações de práticas e de representações – estilos
de vida – marcados pelo risco. E finalmente, investigar se os jovens que adotam práticas
de risco, relacionadas à velocidade, tendem a considerá-las pouco perigosas, uma vez
que alguns estudos apontam que a percepção do perigo está co-relacionada ao grau de
envolvimento dos jovens com esses comportamentos de risco. Dito em outras palavras,
os jovens mais expostos aos riscos tendem a considerá-los menos perigosos.
Como se pode perceber, vivemos imersos em várias e complexas formas de risco
atuantes nas sociedades contemporâneas, além da ambivalência de nossas práticas e
representações com relação a elas. Defrontamo-nos com múltiplos significados
acumulados em torno da mesma idéia. Vale a pena, portanto, um maior aprofundamento
sobre os significados elaborados pelos próprios sujeitos sociais referentes às suas
práticas consideradas de risco. Além de se constituir em um conceito para várias áreas
do conhecimento, o uso do termo risco se estendeu e ultrapassou os limites da ciência,
interagindo com diversos significados que lhe são atribuídos pelo senso comum, em
múltiplas situações do cotidiano. O que só reforça a complexidade e a fluidez de
sentidos que o termo carrega e a atualidade dos estudos sobre o tema.
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