35.

MENTORIA AVANÇADA: FOCALIZE

Na hora da mudança, enfrentando uma encruzilhada aonde não poderemos

voltar atrás, o valor do mentor aumenta. Larry Crabb, faz um excelente trabalho
de indicar a trilha pela qual um mentor sábio andará quando alguém o procurar
com um problema sério ou nas horas de decisões difíceis. Ele elabora cinco
estágios no cuidado da alma.

1. Pense sob a superfície. Observe a verdadeira batalha que está sendo

travada na alma de alguém, aquela que a maioria das pessoas nunca vê. Isso
exige discernimento sobrenatural.
Olhe além dos problemas que a pessoa compartilha. Enxergue a diferença
entre religião e cristianismo no coração da pessoa. A religião se expressa no
exterior e em respostas empacotadas e corretas. O cristianismo se expressa na
relação íntima, dinâmica e imprevisível com Deus. A pessoa é mais consciente
de seu desejo por bênçãos em detrimento de seu desejo por Deus?

2. Pense na visão. Enquanto o primeiro passo focaliza o presente, este olha

para o futuro, procura captar o plano verdadeiro do Espírito - o que ele quer
fazer e por quê. Isso exige imaginação sobrenatural para captar a visão daquilo
que o Espírito anseia fazer na vida de alguém. Você saberá que está tendo
uma visão mais clara quando se sentir completamente incapacitado para fazer
o plano do Espírito acontecer e quando puder sentir o entusiasmo de Deus à
medida que ele antevê a realização do plano. Reflita sobre como essa pessoa
falaria a respeito de sua vida se desejasse Deus mais do que às suas bênçãos.

3. Pense na paixão. O foco deste passo é olhar para dentro de si mesmo

como mentor. Encare a verdadeira desordem que há em sua própria alma
quando conversa com a outra pessoa.
Isso exigirá coragem sobrenatural para admitir quão sutilmente a preocupação
com seu próprio ego se disfarça em verdadeiro amor. Como você está agora
mesmo auto obcecado? Sinta, confesse a Deus, e deixe que o quebrantamento
coloque você em contato com seu verdadeiro desejo de amar essa pessoa.
Você precisa observar sua própria desordem claramente antes que seja capaz
de observar qualquer desordem na alma de outra pessoa com clareza e sem
julgamento.

4. Pense na história. Tendo olhado o presente, o futuro e dentro de si mesmo,

agora olhe para o passado. Encontre-se com a pessoa real com quem você
está conversando. Seja curioso acerca da história que ela reluta em contar e
acerca dos eventos que moldaram a vida dela, os quais ela aprendeu a
valorizar mais do que Deus. Fique atento ao medo, à vergonha ou à ira
que influenciaram a pessoa em eventos determinantes a se distanciar ou se
aproximar de Deus. Isso exige uma escuta sobrenatural para transmitir um
ambiente seguro de amor e aceitação, para que a pessoa queira ser conhecida
por você. Faça muitas perguntas. Poupe conselhos.

5. Pense no movimento. Ajude o mentoreado a perceber a bênção no

desequilíbrio e abraçar esse momento ou essa situação como divina, vinda da
mão de Deus. Sempre procuramos o equilíbrio na vida. Quando Deus quer que
cresçamos além do nível no qual nos encontramos, ele nos leva para o
desequilíbrio. O Espírito penetra nas defesas, na acomodação e
autossuficiência. Muitas vezes, o crescimento verdadeiro requer um
quebrantamento de um velho paradigma ou de nosso ego, para que possamos
ser liberados para amar Deus como o tesouro supremo da nossa alma e aos
outros, em nome de Cristo, a qualquer preço. Isso exige um ritmo sobrenatural
para manter-se ao lado do Espírito de Deus à medida que ele dança dentro da
alma de alguém. A dança pode ter seu cerne no arrependimento, como
também no fato de a pessoa ganhar confiança para entrar numa nova fase de
liberdade, alegria e realização nos propósitos de Deus.

A habilidade de ter uma "conversa da alma" que abrange esses passos se

desenvolve através do tempo. Não é qualquer pessoa que consegue. Alguns
mentores nos ajudarão apenas no básico - crescer em nossas habilidades e
competência. Outros, mais dotados ou maduros, terão condições de nos ajudar
a crescer em nosso caráter. E apenas alguém especial conseguirá andar
conosco neste terceiro modelo ou nível.

Qualidades de um mentor

No Capítulo 32, falamos de algumas qualidades que um mentor poderia buscar

num mentoreado. Falemos agora de algumas qualidades que um mentoreado
pode buscar num mentor. Essas são áreas em que todo mentor deve manter
um crescimento contínuo.

1. Discernimento: perceber o que Deus está fazendo. Em todos os cinco

passos da conversa da alma, houve uma chave sobrenatural, indicada em
itálico. Precisamos nos afinar a ele em todos os sentidos. É difícil ensinar essa
qualidade para outra pessoa. Requer sede, fome e experiência de ir atrás de
Deus. Requer maturidade de discernir quando não se está ouvindo nada,
quando se está sentindo alguma coisa importante sem saber se vem de Deus,
e quando sentimos que Deus, de fato, está mostrando alguma coisa.

2. Ser mentoreado. A maioria de pessoas não continua crescendo e não fica à

frente de outras que estão crescendo se não tiver apoio, estímulo e até
prestação de contas. Depois da relação com Deus, o ser mentoreado pode ser
o que mais catalisa crescimento num mentor. Ser bons mentoreados, com as
características indicadas no Capítulo 32, nos ajudará muito a sermos bons
mentores. Quando encontrarmos dificuldades na mentoria de alguém, teremos
para onde levar essas dificuldades.

3. Ser vulnerável, disposto a compartilhar nossas dificuldades e fraquezas.

Quem não fizer isso não conseguirá expressar empatia ou desenvolver o
sentido de identificação no mentoreado. Quem consegue compartilhar
fraquezas abre portas no relacionamento e abre o potencial para crescimento,
tanto nele como no mentoreado. Quando o mentor não é vulnerável e
transparente, o mentoreado tende a se fechar. O mentor também pode
machucar o mentoreado. Suas inseguranças, seus medos, suas dores e suas
fraquezas afetarão o mentoreado, possivelmente até sendo transmitidos para
ele.
4. Valorização do mentoreado. Em geral, o mentor enxerga além do
mentoreado. Especialmente se também tiver habilidade analítica, ele precisa se
esforçar para não focalizar apenas áreas em que o mentoreado precisa
crescer. Ele precisa dedicar tempo e energia aos lados fortes, aos dons e
talentos do mentoreado, afirmando-o e transmitindo a alegria que ele tem no
mentoreado.

5. Visão do potencial do mentoreado. O mentor investirá seriamente apenas

em alguém que ele de fato enxerga como uma pessoa que fará diferença. Além
disso, deve entender que ele, como mentor, tem algo a oferecer para que essa
pessoa cresça em direção a seu potencial. Uma indicação de que é preciso
mudar um relacionamento de mentoria para simples amizade é quando um ou
outro sente que o mentor já deu o que tinha para dar ao mentoreado.

6. Propósitos compartilhados. Passar de uma relação superficial ou leve

para uma profunda depende de perceber, de ambos os lados, o valor
acrescentado. O relacionamento funcionará bastante bem enquanto ambos se
sentem beneficiados. Se houver o mesmo chamado, a mesma corrida, ou se
enxergam que a corrida de um complementa a do outro, haverá motivação para
investir fundo por um tempo maior.
Além de o mentor e o mentoreado terem certas qualidades, a eficácia de seus
encontros depende de terem expectativas claras. As expectativas podem ser
trabalhadas no primeiro encontro e revistas periodicamente. Além disso, o
valor dos encontros tende a ser proporcional a estes três elementos: o preparo,
haver um encontro divino e a seriedade do seguimento.

o preparo se baseia, em primeiro lugar, em fazer as tarefas combinadas no

último encontro. Se o Espírito tocar qualquer dos dois, mas especialmente no
mentoreado, quanto a focalizar o próximo encontro em torno de um assunto
específico, devem comunicar isso um ao outro. Se o mentoreado pode preparar
alguma coisa que resuma sua perspectiva sobre o assunto e entregar isso de
antemão, o mentor já pode aprofundar e adiantar seu preparo também. Uma
pauta objetiva ajuda bastante. Se não houver uma pauta, ela pode ser criada
na hora, após a oração introdutória.Mentoria é intencional; é muito mais que
um bom bate-papo.

A possibilidade de um encontro divino é fruto das orações prévias, do que os

dois ouviram de Deus antes de se encontrarem e do tempo entregue a uma
mini ministração ou a ouvir Deus juntos no encontro. Os dois devem ficar
ligados ativamente ao que Deus está fazendo ou falando em sua conversa.
Várias vezes, um ou outro pode anotar algo para levantar como possível tarefa
no final, já que o Espírito o apertou em relação a isso.
Na saída, o mentoreado deve confirmar a data do próximo encontro. Deve
organizar-se para olhar para as tarefas combinadas pelo menos uma vez por
semana, para não esquecer e, de repente, entrar em pânico na noite anterior
ao próximo encontro.

Perguntas para reflexão (individual e em grupo pequeno)

1. Identifique uma área difícil de sua vida e anote alguns pensamentos sobre os
cinco passos através de uma conversa consigo mesmo.

2. Com qual ou com quais dos cinco passos você tem mais dificuldade? Por
quê?

3. Proponha a encontrar-se com alguém, possivelmente do seu grupo pequeno,

para mentoreá-lo numa área difícil que enfrenta, usando os passos da
conversa da alma.

Para aprofundar-se

• Estabeleça uma cultura ou um ambiente no seu grupo pequeno em que a

conversa da alma possa fluir naturalmente.
Se houver barreiras para isso, identifique-as e pense em como superá-las.

• Leia Conversa da alma, de Larry Crabb (São Paulo: Mundo Cristão, 2005), de
preferência com outras pessoas com as quais possa conversar sobre o que
está aprendendo.

* 0 resumo a seguir é adaptado da obra Conversa da alma, p. 44-5, 299

**"Dois sites oferecem recursos excelentes quanto à mentoria: 1) MAPI, <www.

mapi-sepal.org.br/>, seção "Pastoreio de Pastores e líderes"; e 2) Mentorlink
International, com informações em inglês ou espanhol e futuramente em
portugués, <http://mentorlink.gospelcom.net/>. Este último trabalha em três
áreas: capacitandos mentores, redes ou associações de mentores, e dicas e
recursos para ajudar na mentoria.