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ARQUITETURA

EM MADEIRA
Reitora Nádina Aparecida Moreno

Vice-Reitor Berenice Quinzani Jordão

Editora da Universidade Estadual de Londrina

Diretora Maria Helena de Moura Arias

Conselho Editorial Abdallah Achour Junior


Edison Archela
Efraim Rodrigues
José Fernando Mangili Júnior
Marcia Regina Gabardo Camara
Marcos Hirata Soares
Maria Helena de Moura Arias (Presidente)
Otávio Goes de Andrade
Renata Grossi
Rosane Fonseca de Freitas Martins
ANTONIO CARLOS ZANI

ARQUITETURA
EM MADEIRA
Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Z31a Zani, Antonio Carlos.


Arquitetura em madeira [livro eletrônico]/Antonio
Carlos Zani. – Londrina : Eduel,
2013.
1 Livro digital.

Inclui bibliografia.
Disponível em: ttp://www.uel.br/editora/portal/
pages/ livros-digitais-gratuítos.php
ISBN 978-85-7216-677-5

1. Casas de madeira. 2. Arquitetura –Habitações.


3. Habitações em madeira – Construção. I. Título.

CDU 728.3

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Impresso no Brasil / Printed in Brazil


Depósito Legal na Biblioteca Nacional

2013
Sumário

INTRODUÇÃO ................................................................................ 7

1 A ARQUITETURA EM MADEIRA NO PARANÁ .................. 11


As construções de araucária no sul e centro sul do
Paraná no final do século XIX e início do século XX .......... 16
A predominância da arquitetura em madeira do norte
do Paraná nas décadas de 1930 a 1950 ................................. 24

2 CULTURA ARQUITETÔNICA NORTE-PARANAENSE ...... 31

Repertório Arquitetônico ....................................................... 34


Técnica e Sistema Construtivo ............................................... 60

3 A ARQUITETURA DOS EDIFÍCIOS EM MADEIRA .............. 91

Casas Urbanas de Londrina ................................................... 91


Capelas .................................................................................... 145
A marca dos imigrantes japoneses ...................................... 221
A marca dos imigrantes alemães em Rolândia ................. 268
Tulhas de café ......................................................................... 357
Serraria Curotto ..................................................................... 379

BIBLIOGRAFIA ........................................................................... 393


Introdução

Esta obra trata da arquitetura em madeira produzida


por carpinteiros migrantes e imigrantes1 no norte do Paraná
de 1930 a 1970. Visa demonstrar, através de seu repertório
arquitetônico, técnica e sistema construtivo, uma cultura
arquitetônica2 regional de se construir e habitar em edifí-
cios em madeira.
O rápido processo de colonização do norte do Paraná
teve início com um projeto de cidades planejadas no final
da década de 1920, por ingleses. Eram pequenas e médias
propriedades rurais, sendo a distância máxima entre os
núcleos urbanos de 20Km. Com a chegada dos imigran-
tes, na sua maioria italianos, alemães e japoneses e
migrantes paulistas, mineiros e nordestinos, inicia-se o
processo de colonização com grandes derrubadas de matas e
formação de núcleos urbanos, sítios e fazendas de café.
Neste contexto, surge tanto na zona urbana como na
rural uma produção de edifícios em madeira, perfeitamente
adaptados às condições locais, que conseguiram resolver,
apesar das limitações, as necessidades de moradia e os mais
diversos tipos de programas, que sob o imperativo da ne-
cessidade buscava soluções mais simples e objetivas, às
vezes, subordinadas a algumas regras construtivas que
cada migrante ou imigrante trazia do seu antigo território.

1
Os carpinteiros migrantes eram de origem nacional e estrangeira, mi-
gravam para o norte do Paraná vindo dos estados de São Paulo, Mi-
nas Gerais e alguns estados da região nordeste. Os carpinteiros imi-
grantes eram na sua maioria japoneses e alemães que imigraram de
seu país de origem para norte do Paraná.
2
Por cultura arquitetônica entendemos o processo construtivo, o voca-
bulário arquitetônico e o uso das construções por um determinado
grupo social, numa determinada época em uma determinada região.

ARQUITETURA EM MADEIRA 7
Aproveitando os recursos materiais locais, de modo a
obter rapidez e facilidade construtiva, conseguiram criar,
com a produção desta arquitetura uma linguagem própria
capaz de expressar uma cultura arquitetônica local, domi-
nando a técnica de trabalhar a madeira e criando um re-
pertório arquitetônico rico e singular.
No plano da história regional esta arquitetura esteve
vinculada a duas representações difundidas pela Compa-
nhia de terras do Norte do Paraná como: “Terra da Pro-
missão” e “Eldorado”, o primeiro momento inicia-se em
1930 com ação colonizadora da Companhia de Terras e se
prolonga até meados da década de 1940 estendendo-se até
o final da década de 1970. Caracteriza-se como “Eldorado”,
a partir de 1970 o fim do “Eldorado”3 e seu repertório
arquitetônico, técnica e sistema construtivo refletiram es-
tes dois momentos e se apresentaram de maneira distinta.
O primeiro período representado como “Terra da Pro-
missão”, marca o início da cultura arquitetônica de se cons-
truir em madeira. Nesta época quase todos os edifícios da
zona urbana e rural eram em madeira, apresentavam um
vocabulário arquitetônico reduzido e de caráter provisó-
rio, só fugindo a esta regra as construções produzidas pe-
los imigrantes japoneses e alemães, que davam um trata-
mento plástico com elementos arquitetônicos que lembra-
vam simbolicamente o seu antigo território.
O segundo momento “Eldorado”, da metade da déca-
da de 1940 até final de 1960, marca o ápice da arquitetura
de madeira na região. Tanto pela qualidade plástica como
construtiva, apresentou um repertório arquitetônico am-
plo, rico e singular, marcado pelo seu caráter sincrético.
Este período registra a fusão “saber fazer” dos carpintei-
ros migrantes e imigrantes tanto no vocabulário

3
Arias Neto, José Miguel. O Eldorado: Londrina e o Norte do Paraná – 1930/
75.

8 ARQUITETURA EM MADEIRA
arquitetônico como na técnica e sistema construtivo. A
fusão do “saber fazer” dos carpinteiros aconteceu nas gran-
des empreitadas ou nas obras comunitárias como capelas,
clubes, escolas etc. Com o tempo, a partir das trocas de
informações dos carpinteiros, a técnica e o sistema cons-
trutivo vão se uniformizando e se tornando únicos na re-
gião, só variando em alguns casos na técnica de sambladuras.
A cultura arquitetônica de construir e habitar edifíci-
os em madeira durou aproximadamente 40 anos e susten-
tou boa parte da demanda construtiva do norte do Paraná
de 1930 a 1970 e esteve condicionada ao potencial madei-
reiro e à mão-de-obra disponível na região neste período.
Embora a técnica e o sistema construtivo fossem únicos e
não tivessem evoluído nem no desenvolvimento da explo-
ração racional das madeiras da região e nem no desenvol-
vimento tecnológico dos componentes dos edifícios, ca-
racterizaram-se pelo alto grau de comprometimento com
as necessidades sociais e recursos materiais locais, aten-
dendo aos requisitos de baixo custo e alta produtividade,
além de produzirem uma arquitetura singular. Esta arqui-
tetura foi representativa do período cafeeiro e fruto dos
sonhos de milhões de trabalhadores que se deslocaram
para o norte do Paraná e marcou com sua simplicidade e
beleza os cenários urbano e rurais.
O desaparecimento desta arquitetura em madeira vem
ocorrendo com a mesma velocidade com que foi
construída, reconhecer, preservar e recuperar esta cultura
arquitetônica norte-paranaense de construir e habitar em
edifícios em madeira, até como material repositório para
futuras propostas no plano da arquitetura regional, prin-
cipalmente o habitar popular, tendo comprometimento
com bases tecnológicas e culturais contemporâneas, são
sem dúvidas os objetivos desta obra.

ARQUITETURA EM MADEIRA 9
1 A Arquitetura em Madeira no Paraná

A arquitetura em madeira foi marcante e predominou


nas paisagens paranaenses até metade do século XX, tanto
pelas construções em madeira de pinho araucária
angustifolia no sul, centro sul e oeste, como pelas de peroba
rosa aspidosperma polyneuron no norte, noroeste e parte do
oeste e sudoeste.
Na ocupação do sul e centro sul marcou com suas cons-
truções em pinho araucária angustifolia, a partir do fim do
séc. XIX, desde a casa de troncos sobrepostos de origem
polonesa até a casa de telhado empinado, marcada, quase
sempre, pela presença do sótão e o uso do lambrequim
nos beirais, conhecida popularmente como “casa de polaco”.1
Na ocupação do norte marcou com suas construções
em peroba rosa aspidosperma polyneuron, principalmente nas
décadas de 1940 e 1950 desde as tulhas de café, até as ca-
sas com seus telhados movimentados, ricas em volumetria
e ornamentos.
Ao mesmo tempo em que o território paranaense vai
sendo ocupado, a arquitetura vai sendo difundida, de acor-
do com a cultura arquitetônica do pioneiro e a madeira
disponível na floresta.
No norte novo e noroeste paranaense, ocupados nas
décadas de 1960 e 1970, a predominância foi das constru-
ções de peroba rosa, seguindo a mesma tipologia das cons-
truções do norte. Isto se justifica, pois tanto o norte novo
como o noroeste representavam uma expansão da coloni-
zação do Norte do Paraná.

1
“casa de polaco” em linguagem popular significa a casa de madeira
construída no sul e centro sul de telhado empinado com sótão e ge-
ralmente habitada por poloneses ou ucranianos.

ARQUITETURA EM MADEIRA 11
No oeste e sudoeste, a difusão da arquitetura em madei-
ra teve dois momentos. O primeiro representado pelo ciclo
madeireiro com a expansão das serrarias do centro sul, nas
décadas de 1930 a 1950, para exploração das matas de pinho,
o que provocou a difusão das casas de telhados empinados
do sul. O segundo, representado pela exploração das terras
para agricultura nas décadas de 1960 e 1970, ocorrendo uma
mistura de tipos provocados por pioneiros vindos de toda a
parte do estado paranaense, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. A madeira utilizada foi o pinho araucária angustifolia e a
peroba rosa aspidosperma polyneuron.
A ocorrência de construções em madeira em todo o
território paranaense, desde o final do século XIX até a dé-
cada de 1970, nos revela uma cultura arquitetônica, que
não foi provisória e nem transitória, pois serviu de abrigo
à população por várias décadas e continua servindo em
alguns casos, mas aos poucos vai desaparecendo das pai-
sagens pelas constantes demolições. Esta cultura
arquitetônica de se construir em madeira serrada, não teve
uma evolução, chegando ao seu ápice arquite-tônico no
sul com as casas de pinho na década de 1930, e no norte
com as casas de peroba rosa na década de 1950.
As construções de madeira sofreram, ao longo de sua
história, preconceitos e restrições por parte do poder pú-
blico, pois desde 1905 temos leis restritivas e estas perdu-
ram até nossos dias. As duas maiores cidades do estado,
Curitiba e Londrina, seguidas por quase todas as cidades
de porte médio, têm, nos seus Códigos de Posturas e Obras,
leis restritivas às construções em madeira. Paisagem pelos arredores de Curitiba 1953 – Casas e Igreja de madeira.
Em 1905, proíbe-se a construção de casas em madeira Foto: Peter Scheier. Álbum do1º Centenário do Estado do Paraná 1953.

nas principais ruas de Curitiba: XV de Novembro, Barão


do Rio Branco e Praça Tiradentes. No ano seguinte, a proi-
bição é estendida a toda região central.2

2
Imaguire Junior, Key. A Casa de Araucária. p.33.

12 ARQUITETURA EM MADEIRA
Ilustração de Percy Lau para “Casas de Madeira do
Paraná”, de Delnilda M. Cataldo, na revista Brasileira de
Geografia, década de 1940. Fonte: Key Imaguire. A Casa
de Araucária, p. 42.

ARQUITETURA EM MADEIRA 13
Paisagem de Londrina em 1934. Todas as edificações construídas em madeira.
Foto: Acervo Museu Histórico Padre Carlos Weiss – UEL.

Londrina 1936 – Rua Heimtal (atual Duque de Caxias) cenas de construções em madeira.
Foto: Acervo Museu Histórico Padre Carlos Weiss – UEL.

14 ARQUITETURA EM MADEIRA
O Código de Posturas e Obras de 1953 mantém a proi-
bição de construir casas de madeira na “primeira zona
fiscal”e estabelece restrições para construi-las nas demais
zonas da cidade.3
O Código de Obras de Londrina de outubro de 1951, na
lei nº 281, art. 116, traz restrições às edificações de madeira
em quase todo perímetro urbano,

“Não são permitidas edificações de madeira nos lotes si-


tuados na área contida pela linha perimetral que parte do
cruzamento dos eixos da Av. Paraná com Rua Brasil, pros-
segue pelo eixo desta última até a faixa da Rede Viação
Santa Catarina; prossegue pelo eixo da Rua Rio Grande
do Sul até o cruzamento com o eixo da Rua Rio Grande
do Norte; deste ponto, pelo eixo da Rua Rio Grande do
Norte até a faixa da linha férrea, continuando pelo eixo
da Rua Mossoró até o cruzamento com o eixo da Rua
Quintino Bocaiúva; deste ponto até o cruzamento da Rua
Belo Horizonte e pelo eixo até o cruzamento da Rua Espí-
Londrina em 1936 – traçado das primeiras ruas e construções em madeira.
Foto: Acervo Museu Histórico Padre Carlos Weiss – UEL. rito Santo; prossegue pelo eixo da Rua Espírito Santo até
o cruzamento com o eixo da Rua Brasil deste ponto, pelo
eixo da Rua Brasil até o ponto inicial.”4

É claro que, desde a implantação do Código de Obras


de Londrina em 1951, todo o quadrilátero discriminado já
estava repleto de edificações de madeira, e a medida visa-
va tanto a não expansão como a proibição de obras de re-
formas na área. O artigo nº 117 traz restrições às reformas:

“nas edificações existentes nos lotes gravados com restri-


ção constante no artigo 120 e seus parágrafos, só serão
permitidos serviços de limpeza, consertos ou alterações
que visem satisfazer condições mínimas de segurança e
higiene.” 5

Em seu artigo 118, o Código de Obras de Londrina traz


restrições à novas construções em madeira em toda a área

3
Prefeitura Municipal de Curitiba. Código de Obras, 1953. Apud
Imaguire Junior, Key. A Casa de Araucária. p. 33
Conjunto de Edificações em Madeira – Rua Comercial Cidade de Alto Paraná no início da déca- 4
Prefeitura Municipal de Londrina. Código de Obras, 1955. p. 33-34
da de 1960.
Foto: Acervo Família Held, autor desconhecido 5
Ibid.

ARQUITETURA EM MADEIRA 15
urbana, limitando a área até 120 m2, número de pavimen-
tos, bem como recuos, diferentes da de alvenaria.6
Tais restrições proibindo edifícios em madeira foi re-
petida em quase todos os municípios do Paraná. Tais me-
didas visavam inibir as referidas construções, pois acredi-
tava-se, na época, que conjuntos de edificados em madei-
ra na zona central representavam o atraso da cidade e que
os edifícios em alvenaria representavam a modernidade.
O arquiteto Key Imaguire Junior, em sua tese “A casa
de araucária”, aponta a discriminação que sofre esse tipo
de edificação e afirma:

“em que pese a autêntica preocupação com incêndio em áre-


as densamente ocupadas, existe também um caráter
discriminatório nessas posturas: pela sua abundância, a
madeira é barata e acessível a todos.”7 Casa de origem polonesa feita com sistema de troncos de pinho horizontais encaixados. Colô-
nia Thomas Coelho.
Foto: Key Imaguire Junior. Breve Introdução à Arquitetura de Madeira

AS CONSTRUÇÕES DE ARAUCÁRIA NO SUL E


CENTRO SUL DO PARANÁ NO FINAL DO
SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

já são afamadas as pitorescas casas de madeira nos campos, nos


vilarejos, nos arredores de Curitiba. Muito preferida pela fácil,
econômica e rápida terminação...8

Com a chegada dos imigrantes europeus não portu-


gueses no Paraná entre 1870 e 1879, são estabelecidas no
Estado 26 colônias, 19 delas no município de Curitiba e
nos municípios vizinhos de Araucária e São José dos Pinhais.

6
Ibid
7
Imaguire Junior, op. cit. p. 33.
8
Álbum do Estado do Paraná, 1953. Edição comemorativa do 1º cente- Troncos de pinho encaixados. Casa Colônia Thomas Coelho.
nário do Estado do Paraná. Foto: Key Imaguire Junior. Breve Introdução à Arquitetura de Madeira.

16 ARQUITETURA EM MADEIRA
Nas décadas seguintes são estabelecidas 15 e 19 colônias
respectivamente, e de 1900 a 1911 dez. 9
A diversidade cultural dessa nova população trouxe
modificações nas soluções arquitetônicas, evidenciadas
pelo uso de diferentes técnicas e materiais de construção.10
Os imigrantes alemães construíam suas casas com
enxaiméis, ou seja, estrutura de madeira com peças
diagonais de travamento cujos intervalos são preenchidos
com tijolos. Os poloneses e italianos, de origem campone-
sa, estabeleciam-se em colônias próximas das cidades. As
casas dos imigrantes italianos eram construídas em alve-
naria. Os poloneses empregavam troncos de árvores so-
brepostos horizontalmente, com encaixes nos cantos das
paredes, seguindo o mesmo sistema de sobreposição e en-
caixe de troncos horizontais da região da Polônia.11
Com a intensificação e mecanização de exploração
madeireira e a instalação de serrarias no final do século
XIX, principalmente no sul do país, onde a matéria-prima
era abundante, permitiu-se a padronização de elementos
construtivos e a difusão da arquitetura em madeira.12
Originalmente, as casas eram inteiras de madeira. Toda
estrutura elevava-se de um metro, ou pouco mais, sobre o
solo, composta de barrotes e vigas sobre os quais se
pregavam as vedações – sistema de tábua e ripa – os
assoalhos e forros. As próprias telhas eram de madeira –
as chamadas tabuinhas – assim como os fechamentos dos
vãos e todos os acabamentos. Em planta, continham um
espaço social – a sala – e mais dois ou três quartos. O sótão
era sempre habitável ou utilizado como depósito, em

9
Valentini, Jussara. A Arquitetura do Imigrante Polonês na Região de
Curitiba. p. 24
10
Sanches, Fernanda et allii. A Arquitetura em Madeira: uma Tradição
Paranaense. p. 8
11
Ibid.
Casa Pereira – São Mateus do Sul Pr. Lambrequim e ornamentos.
Foto: acervo C.P.H.A. – SEEC. Pr. 12
Sanches et al, op. cit 9.

ARQUITETURA EM MADEIRA 17
Casa avarandada com porão e sotão – Curitiba, Pr.
Foto: Key Imaguire Junior. Introdução à Arquitetura de Madeira.

18 ARQUITETURA EM MADEIRA
Sobrado em Madeira – Curitiba, Pr.
Foto: Key Imaguire Junior. Introdução à Arquitetura de Madeira.

ARQUITETURA EM MADEIRA 19
Avenida Anita Garibaldi 1853- Curitiba, Pr.
Foto: Fernanda Sanches, 1987. Arquitetura em Madeira: uma tradição paranaense.

20 ARQUITETURA EM MADEIRA
função dos telhados fortemente inclinados. Um alpendre
nos fundos era a cozinha e, bem no fundo do quintal, a
chamada “casinha” – o sanitário. Era comum também o
prolongamento da água dianteira, formando um
avarandado. A colocação das tábuas de vedação era sempre
com a fibra da madeira na vertical, perpendicular ao solo,
para evitar o acúmulo de umidade.13
Gradativamente, a simplicidade inicial foi sendo modifi-
cada pelo acréscimo de novos espaços e soluções criativas de
acabamento. Entretanto, a utilização de peças padronizadas
definia uma quase permanente dimensão da fachada, as
ampliações ocorriam no sentido longitudinal. As varandas
que apareciam no prolongamento da água dianteira, posteri-
ormente, passaram a apresentar localização variável, contor-
nando duas das elevações principais ou destacando-se do
restante da edificação, compondo uma volumetria distinta.
O arremate do telhado era feito com lambrequins, que além
de servirem como pingadeiras e proteção do beiral, cons-
tituem-se em ricos elementos decorativos, dado o requinte
Lambrequim, frontão e varanda. de desenho que geralmente apresentavam.
Foto: Key Imaguire Junior. Introdução à Arquitetura de Madeira. A durabilidade da construção poderia ser aumentada
à medida em que o proprietário pudesse substituir a co-
bertura de tabuinhas por uma de telhas, escamadas ou fran-
cesas; colocar vidraças nas janelas ou mesmo pintar as pa-
redes que, via de regra, não recebiam qualquer tratamen-
to impermeabilizante.14
Claro que nem só casas foram feitas em madeira, mas
também estruturas mais complexas como clubes, igrejas,
depósitos e outros programas.15

13
Imaguire Junior, Key. Breve Introdução à Arquitetura de Madeira. p.
121-122
14
Imaguire Junior, op cit. p. 122
Detalhe do lambrequim.
Foto: Key Imaguire Junior. Introdução à Arquitetura de Madeira. 15
Ibid.

ARQUITETURA EM MADEIRA 21
Igreja do Arcanjo Miguel – Dorizon – Município de Mallet, Pr. Construção em madeira
“araucária” sistema de tábua e mata-junta.
Foto: acervo C.P.H.A. – SEEC. Pr.

22 ARQUITETURA EM MADEIRA
Escola Alemã de Cambé, Pr. Década de 1940.
Foto: Acervo Museu Histórico de Cambé

ARQUITETURA EM MADEIRA 23
A PREDOMINÂNCIA DA ARQUITETURA EM
MADEIRA DO NORTE DO PARANÁ NAS
DÉCADAS DE 1930 A 1950

Com suas mãos hábeis e artesanais estes carpinteiros conseguiram


trabalhar a madeira, criando assim um repertório arquitetônico
capaz de traduzir uma linguagem própria da região.16

No início da ocupação do norte do Paraná, na déca-


da de 1930, foram erguidas edificações precárias procu-
rando atender às necessidades imediatas de abrigo.
Usando materiais ao alcance da mão, os pioneiros não
estavam preocupados, de início, com a durabilidade do
seu abrigo que consideravam provisório, pois no pri-
Colônia Fazenda Gilgalla –Rolândia, Pr. Início década de 1940. Casas construídas com troncos
meiro ano, na zona rural, cada um tinha que formar o de palmito rachado e telhas de tabuinhas de pinho.
cafezal e plantar roça e na zona urbana, aquele que cons- Foto: Acervo IPAC – UEL

truísse de imediato, tinha um desconto de 50% no valor


do lote. Dessa maneira, erguia-se a casa provisória, so-
nhando em substitui-la por outra cômoda e compatível
com a nova condição a ser conquistada.17
As primeiras construções foram erguidas com estru-
tura de madeira roliça, vedação de palmito rachado,
assoalho de tábuas cruas e telhas tipo “tabuinhas” tiradas
do cedro ou do pinho, em alguns casos lançava-se mão da
madeira falquejada a machado ou serrada manualmente
com a “serra portuguesa”.18
Pierre Monbeig assim descreve estas edificações:

“na outra extremidade da franja pioneira, no norte do Paraná,


e embora em menor escala, na Alta Sorocabana, domina
outro tipo: a cabana de tábuas ligeiramente acima do solo,
com a cobertura de ripas finas de madeira, as tabuinhas.
O telhado de duas águas muitas vezes apresentava uma

16
ZANI, op. cit. p. 27-287.
17
Ibid. Rancho de palmito coberto com tabuinhas de cedro. Fazenda Janeta. Rolândia, Pr. Início da
década de 1940.
18
Ibid. Foto: Acervo IPAC – UEL

24 ARQUITETURA EM MADEIRA
Colônia Fazenda Janeta Rolândia, Pr.
Foto: do autor, 1994

Ranchos de palmito cobertos por tabuinhas.


Foto: Acervo IPAC – UEL

ARQUITETURA EM MADEIRA 25
fratura para cobrir a cozinha, situada atrás da casa. Nessas
duas regiões, as serrarias forneceram aos pioneiros a maté-
ria prima para suas habitações, ao passo que na Alta
Sorocabana foi aberta ao povoamento antes que funcionas-
sem as grandes indústrias da madeira. Nesses chalés, mais
de um pormenor traduz influências étnicas: alpendres que
cercam a casa, em dois ou três lados, um celeiro com um
balcão, certos cuidados de ornamentação no trabalho de
madeira, são aspectos das habitações de imigrantes da Eu-
ropa Central e de brasileiros de procedência germânica, pro-
vindo de outras partes do Estado do Paraná e de Santa
Catarina. De transição é a zona de Londrina, relativamente
à casa como à vegetação: cada loteamento habitado por co-
lono alemão, cada sítio construído na proximidade das
araucárias apresentam silhuetas de casas que desconsertam
o brasileiro habituado a sua cabana de pau-a-pique ou de
troncos de árvores.”19

A paisagem norte-paranaense caracterizava-se, nas dé-


cadas de 1940 e 1950, pelas construções em madeira com
seus telhados sempre muito movimentados e com uma
Vila de Aluguel, rua Brasil, 1276. Londrina, Pr.
tipologia singular. A igreja, o clube, o hospital, o hotel, o Foto: do autor, 1988

comércio e as casas, na sua maioria, eram edificadas em


madeira de peroba rosa.
A predominância das construções de madeira pode ser
explicada pelos seguintes fatores:
a – A pressa dos pioneiros em se instalar, tanto na área
rural como na urbana, aliada à falta de moradias e
estruturas de serviços.
b – A abundância de madeira na região, aliada a um gran-
de número de serrarias, tornando o preço da madeira
acessível a qualquer faixa de renda da população.
c – Grande quantidade de carpinteiros associados à faci-
lidade e rapidez construtiva, tornando o preço da mão
de obra ao alcance da maioria da população. 20

19
Monbeig, Pierre. Pioneiros e Fazendeiros de São Paulo. p. 384.
Desdobramento de madeira com “serra portuguesa”. Londrina, Pr.
20
Zani, op. cit. p.38 Foto: Acervo Museu Histórico Padre Carlos Weiss – UEL

26 ARQUITETURA EM MADEIRA
Rancho de palmito em construção para receber os imigrantes alemães.
Foto: Acervo Museu Histórico de Cambé, Pr.

ARQUITETURA EM MADEIRA 27
Todos estes fatores contribuíram para formação dessa Construções de casas aprovadas pela
Prefeitura Municipal de Londrina décadas de 1940 e 1950
paisagem em madeira repetida em todo o território norte-
paranaense, onde tudo se construía em madeira. Havia,
Ano Madeira Alvenaria Mista
na região, verdadeiras corporações de carpinteiros, que 1940 189 56 ---
erguiam, desde pequenas casas, até colônias de fazendas 1941 210 80 ---
com mais de cem casas de madeira. Existiam equipes de 1942 135 48 ---
até dez carpinteiros e cinco ajudantes. Tais equipes conse- 1943 28 35 ---
1944 95 91 ---
guiam construir uma casa 7x7m por dia.21
1945 258 135 5
Nesta obra foi organizado uma tabela, através de da- 1946 304 101 10
dos coletados junto à secretaria de obras do município de 1947 318 82 5
Londrina, nos quais constatamos uma forte predominân- 1948 400 130 14
cia de construção de casas em madeira nas décadas de 1940 1949 305 141 30
Total 2242 899 64
e 1950, tanto no centro como nos bairros da cidade. Eram
casas de programa simples, e de no máximo três quartos,
sala, cozinha, área de serviço,varanda e banheiro que, às
vezes, era um pequeno cubículo no fundo do quintal, com Ano Madeira Alvenaria Mista
área que variava de 46 a 100 m 2. Essas casas foram 1950 402 131 35
1951 648 246 49
construídas por carpinteiros anônimos e por iniciativa dos
1952 723 232 38
proprietários, foram perfeitamente adaptadas às condições 1953 734 278 41
locais e conseguiram, apesar das limitações, resolver os 1954 667 218 12
problemas de moradia tanto da população de média como 1955 481 286 14
de baixa renda.22 1956 431 247 7
1957 467 312 13
1958 561 302 19
1959 425 214 70
Total 5539 2466 298

Fonte: Prefeitura Municipal de Londrina. Secretaria de Obras e Urbanismo.


Organização: Zani, A. C., 1988

21
Ibid.
22
Ibid.

28 ARQUITETURA EM MADEIRA
A produção de casas autoconstruídas, sob o imperati-
vo da necessidade, buscava as soluções mais simples e
objetivas, às vezes, subordinadas às regras construtivas dos
carpinteiros migrantes e imigrantes.23
Até a década de 1960, foi a casa de madeira a grande
solução para o problema da moradia na região. Este qua-
dro só se alterou com a escassez de madeira na região. Tal
fato levou o custo da casa de madeira a se aproximasse da
de alvenaria.24
Foi dentro desse contexto que surgiu uma produção
de edifícios de madeira, construídos por carpinteiros que
souberam aproveitar os recursos materiais locais, de modo
a obter economia e facilidade construtiva. Com suas mãos
hábeis e artesanais, os carpinteiros conseguiram trabalhar
a madeira, criando assim um repertório arquitetônico ca-
paz de traduzir uma linguagem própria da região.25

23
Zani, op. cit. p. 39.
24
Ibid.
Primeira Igreja Matriz de Cianorte, Pr. Final da década de 1950.
Foto: Acervo do autor 25
Ibid.

ARQUITETURA EM MADEIRA 29
2 Cultura Arquitetônica Norteparanaense
2 Cultura Arquitetônica Norte-paranaense

Trataremos da cultura arquitetônica norte-paranaense


de construir em madeira, prática adotada pela maioria da
população migrante e imigrante, que ocorreu de 1930 a
1970, período da ocupação, formação da lavoura cafeeira
e abundância madeireira no norte do Paraná.
Tal cultura arquitetônica predominou por quatro dé-
cadas na região norte-paranaense, atendeu aos mais vari-
ados tipos de programas, tais como edifícios para habita-
ção, religião, trabalho e lazer, esteve intimamente ligado
aos aspectos culturais dos migrantes e imigrantes que a
produziram, condicionada ao meio físico onde foi implan-
tada e determinada por uma única regra construtiva alia-
da ao material madeira que o meio ambiente oferecia.
Pelo rigor construtivo, riqueza volumétrica e a gramá-
tica de seus ornamentos, essas construções nos revelam
que não tiveram um caráter provisório, mas sim definiti-
vo, e transformou os sonhos de conquista do território norte-
paranaense dos migrantes e imigrantes em arquitetura.
Construir em madeira, nesse período, não foi uma prá-
tica só norte-paranaense, como também de cidades vizi-
nhas do estado de São Paulo como Assis, Marília e Bauru
que adotaram essa prática em menor escala e com um re-
pertório reduzido. Isto talvez se explica pela proximidade
geográfica das fontes fornecedoras de madeira na época.
Poucos arquitetos trataram especificamente da arqui-
tetura popular. Entre eles destacamos o arquiteto e urba-
nista Lúcio Costa que dentro da sua modernidade foi um
dos primeiros a se preocupar com o fazer popular; já em
1937 reivindicava tratamento criterioso, apontando a con-
veniência de se dedicar àquela produção, considerada de

ARQUITETURA EM MADEIRA 31
interesse secundário, tais como as obras corriqueiras do
fazer popular.1
Constitui intenção principal do referido autor, demons-
trar e reconhecer no conjunto das construções, julgadas
sem importância, méritos e qualidades que as equiparam
como arquitetura às demais obras consagradas. O mesmo
autor numa das pioneiras análises sistemáticas acerca dos
problemas da historiografia da arquitetura brasileira, acon-
selha os estudos de modo a se

“ter primeiro em vista, além das imposições dos meios físi-


cos e sociais, considerados no seu sentido mais amplo, o pro-
grama, isto é, quais as finalidades dele e as necessidades de
ordem funcional; em seguida, a técnica, quer dizer, os mate-
riais e o sistema de construção adotados; depois o partido,
Marília, SP. 1940 – rua com casas em madeira.
ou seja, de que maneira, com a utilização desta técnica, fo- Foto: Monbeig Pierre 1940 – Ref. Planche XII – Pionniers et planteurs de São Paulo.
ram traduzidas em termos de arquitetura as determinações
daquele programa; finalmente, a comodulação e a
modenatura, entendendo-se por isso as qualidades plásti-
cas do monumento.”2

Seguindo os conselhos do mestre Lúcio Costa, interes-


sa-nos mostrar nessa arquitetura os programas, os parti-
dos, a técnica e o sistema de construção adotados, bem
como as qualidades plásticas dos edifícios em madeira. O
repertório arquitetônico é variável e diverso, mas a técni-
ca e o sistema de construção adotado é único em todos os
edifícios inventariados.
Demonstramos através de desenhos e fotos a arquite-
tura dos edifícios em madeira, observando o seu progra-
ma de necessidades, sua técnica, seu sistema construtivo e
suas qualidades plásticas.

Londrina, 1937 – paisagem em madeira.


Foto: Ref.:Monbeig Pierre – Pionniers et planteurs de São Paulo, planche XI. Photo communiquée
por Mlle Fava.

1
Costa, Lúcio. Documentação necessária. In: Arquitetura Civil II, São
Paulo, FAUUSP e MEC-IPHAN, 1975, p. 95 a 98.
2
______. A Arquitetura Jesuíta no Brasil. In: Arquitetura Religiosa, São
Paulo, FAUUSP e MEC-IPHAN, 1978, p.17.

32 ARQUITETURA EM MADEIRA
Bairro de Londrina, 1975 – Predominância de casas em madeira.
Foto: Acervo do autor

ARQUITETURA EM MADEIRA 33
23
REPERTÓRIO ARQUITETÔNICO
Características do Repertório

O repertório arquitetônico dos edifícios em madeira


Arquitetônico
Cultura Arquitetônica

do norte do Paraná, construído por carpinteiros de 1930 a


1970, apresenta uma série de elementos arquitetônicos que
lhe conferem caráter próprio de um vocabulário regional.
Dentre eles destacamos: a volumetria dos telhados; a tex-
tura do material madeira aplicado na vertical conjunto tá-
bua mata-junta; os ornamentos; varandas; cor e o apoio
dos edifícios sobre porão.
A ocorrência deste tipo de arquitetura coincide com as
representações históricas da região, ou seja, inicia-se em 1930
com a “Terra da promissão”, passa pelo “Eldorado” de mea-
dos da década de 1940 até final da década de 1960 e termina
com o fim do “Eldorado” a partir da década de 1970.3
Utilizando o inventário das casas urbanas de Londri-
na, comparamos o seu repertório arquitetônico com os três
períodos históricos da região, analisando-o do ponto de
vista das qualidades plásticas, através da cronologia da
ocorrência desta arquitetura no período acima citado, ve-
rificamos que, à medida que mudou o período histórico
mudou também o vocabulário arquitetônico, ou seja, en-
contramos três momentos distintos no repertório da ar-
quitetura das casas em madeira: o primeiro correspondente
a da “Terra da promissão” inicia-se no final de 1929 e vai Detalhe de rendilhado na empena e frontão – casa rua Cabo Verde esquina com rua Tocantins –
Londrina, PR.
até meados da década de 1940. É caracterizado por uma
Foto: do autor, 1987
volumetria pura, composta por telhados de quatro de duas
águas, sem ornamentos nem cor, deixando claro seu cará-
ter provisório pela despreocupação estética. O segundo,
que corresponde ao “Eldorado”, marca o ápice da arquite-
tura em madeira na região tanto pela quantidade como

3
Arias Neto, José Miguel. O Eldorado: Londrina e o Norte do Paraná – 1930/75.

34 ARQUITETURA EM MADEIRA
pela qualidade, é caracterizado pela complexidade
volumétrica, riqueza de ornamentos, textura e cores, dei-
xando claro seu caráter permanente e preocupação no pla-
no da estética e da qualidade construtiva.
O terceiro momento correspondente ao “Fim do
Eldorado” e inicia-se a partir de 1970. É caracterizado pela
simplificação volumétrica, ausência dos porões, varan-
das e ornamentos, incorporação de novos elementos
como telhado de fibrocimento com pouca declividade e
esquadrias metálicas.
A partir destas comparações do repertório
arquitetônico com as representações históricas da região,
apresentadas no trabalho de Arias Neto4, O Eldorado: Lon-
drina e o Norte do Paraná – 1930/1975, podemos afirmar que
a ocorrência da arquitetura em madeira na região refletiu
através do seu vocabulário arquitetônico as duas repre-
sentações histórica da região o da “Terra da Promisssão” e
do “Eldorado”. Com o fim do “Eldorado” diminui a ocor-
rência dessa arquitetura e seu repertório é marcado pela
decadência estética e construtiva, sinalizando o fim de uma
cultura arquitetônica de se construir em madeira com qua-
lidade plástica e rigor construtivo.

Detalhe de acabamento em rendilhado no frontão – casa rua Jorge Casoni, 583 – Londrina.
Foto: do autor, 1987

4
Arias Neto, José Miguel. O Eldorado: Londrina e o Norte do Paraná – 1930/75.

ARQUITETURA EM MADEIRA 35
COMPARAÇÃO: REPERTÓRIO ARQUITETÔNICO X REPRESENTAÇÕES HISTÓRICAS

1930 a 1940 – Terra da promissão – (início da arquitetura em madeira na região).


Volumetria pura acentuada pela geometria dos telhados, quatro e duas águas. Ausência de ornamentos e cor.

1940 a 1970 – O Eldorado – (ápice da arquitetura de madeira na região)


Complexidade volumétrica acentuada pela geometria dos telhados. Riqueza de ornamentos e cores.

36 ARQUITETURA EM MADEIRA
A partir de 1970 – O Fim do Eldorado – Simplificação volumétrica, telhados de duas águas com pouca inclinação com telhas de fibrocimento, aos poucos a varanda vai
desaparecendo e cedendo lugar as garagens e puxados com ausência total de ornamentos e incorporação de novos elementos como esquadrias grades metálicas.

ARQUITETURA EM MADEIRA 37
Concepção Volumétrica

A volumetria é sempre formada pelo conjunto planta


e geometria do telhado, que partem das formas mais pu-
ras como duas ou quatro águas e vão até as formas mais
complexas compostas por adição, aglutinação ou conecção
dos telhados. Nas casas, a varanda é uma constante e é
uma das responsáveis pelas variações volumétricas.

38 ARQUITETURA EM MADEIRA
Concepção Estrutural

A concepção estrutural é única em todas as constru-


ções e permite em todas elas a planta livre pelas suas ca-
racterísticas estruturais, pois é composta por um conjunto
estrutural portante formado por dois quadros horizontais
(superior e inferior) interligados por esteios e emolduramento
dos vãos de portas e janelas. São reforçados pela vedação
vertical, formada pelo conjunto tábua mata-junta e pela
vedação horizontal, formada por assoalhos e forros. A es-
trutura do telhado é formada, quase sempre, por tesouras
romanas, exceto algumas sedes de fazendas em Rolândia,
que adotaram a tesoura atirantada ou algumas capelas
rurais que adotaram os pórticos atirantados.

Parte portante quadros horizontais inferior e superior, esteios, emolduramento dos vãos e
vedações verticais e horizontais.

ARQUITETURA EM MADEIRA 39
Templo Nambei Honganji Vila Brasil – Londrina, conjunto estrutural
horizontal/vertical. Construído por carpinteiro japonês.
Arcabouço – Capela Campinho Arapongas com utilização de pórticos atirantados.

Templo Nambei Honganji com utilização da tesoura romana. Estrutura de telhado construída
Estrutura de telhado de casa com utilização da tesoura romana. por carpinteiro japonês.

40 ARQUITETURA EM MADEIRA
Arcabouço de uma casa de madeira parte portante e estrutura do telhado.

ARQUITETURA EM MADEIRA 41
Superfície: Material, Modulação e Cor

A maior marca do repertório está, sem dúvida, na su-


perfície dos volumes das construções, pois possuem uma
textura proporcionada pelo material em madeira aplicado
na vertical tábua e mata-junta com uma modulação cons-
tante, ou seja, a tábua mais a mata-junta formam um módulo
de aproximadamente 23 cm, compõem a vedação externa e
interna e são responsáveis pela textura das superfícies.

Material

O material utilizado nas superfícies é a madeira. Na


sua maioria a peroba rosa, usada na vertical; conjunto tá-
bua mata-junta. Quando nova, tem uma cor que vai do
amarelado até o rosa avermelhado. Dependendo da quali-
dade da peroba, às vezes, essas superfícies são reforçadas
pela estrutura aparente como no caso das tulhas de café.

Modulação

As superfícies são marcadas pelo ritmo constante da


modulação tábua e mata-junta que se repetem a cada 23 cm,
formando uma textura própria das superfícies das cons-
truções em madeira.

Material: peroba rosa sem nenhum tratamento, após alguns anos exposto as intempéries adquire
tons de cinza. Casa Rua Turaco, 70 – Arapongas-PR.
Foto: do autor, 1993.

42 ARQUITETURA EM MADEIRA
Exterior

Interior

Modulação: superfícies interna e externa com ritmo constante provoca-


do pelo conjunto de vedação tábua e mata junta a cada 23 cm em média.
Exterior Foto: do autor, 1987.

ARQUITETURA EM MADEIRA 43
Cor

As cores das superfícies são marcadas ou pela textura


natural da madeira, ou pelos tratamentos pigmentados
com cores fortes e primárias.As superfícies das fachadas
das construções de madeira apresentam-se de três manei-
ras: a natural, sem nenhum tratamento, que com o passar
dos anos vai ficando cinza; a com tratamento à base de
vernizes, mantendo seu tom original ou, com pinturas em
látex ou a óleo, quase sempre com tons fortes.

Superfície natural sem proteção nem pintura, tons cinza adquirido com envelhecimento natu-
ral. Tulha de café no Heimtal, Londrina, Pr.
Foto: do autor, 1995

44 ARQUITETURA EM MADEIRA
Interior das casas, cada cômodo ou setor de uma cor, com preferência pelos tons de azul, verde
e rosa.
Foto: do autor, 1992

Varandas, frontão, beirais e esquadrias em contraste com a cor principal


da casa.
Foto: do autor, 1993

ARQUITETURA EM MADEIRA 45
Material: painel de tábua e mata-junta de peroba rosa na vertical, recém-construído na cor natural sem proteção ou pintura.
Foto: do autor, 1985

46 ARQUITETURA EM MADEIRA
Casa amarela com janelas, portas e beirais verde.

Casa laranja com varanda verde e porta creme. Superfície natural com proteção de verniz.

ARQUITETURA EM MADEIRA 47
Casa azul, laranja e creme. Rua Natimbó, 40 – Vila Yara, Londrina, Pr.
Foto: do autor, 1982

48 ARQUITETURA EM MADEIRA
Interior de capela rural, o amarelo é a cor dominante. Capela do Km 12 – Arapongas-PR.
Foto: do autor, 1992

ARQUITETURA EM MADEIRA 49
Gramática dos Ornamentos

A gramática dos ornamentos foi difundida pelos car-


pinteiros principalmente na arquitetura urbana, nas déca-
das de 1940 e 1950, período em que mais se desenvolveu a
arquitetura em madeira na região, tanto em quantidade
como em qualidade. Existia uma verdadeira disputa entre
os carpinteiros para ver quem criava os mais bonitos orna-
mentos em madeira. Às vezes, o carpinteiro era escolhido
pelo proprietário para fazer a sua casa pela qualidade dos
ornamentos que ele produzia.Os principais ornamentos
criados pelos carpinteiros foram: os rendilhados dos fron-
tões e empenas e os rendilhados do emolduramento das
varandas. A individualidade das casas é marcada pela
variação ornamental.

Rendilhado no frontão e empena.


Foto: do autor, 1986

Varanda – rendilhado no emolduramento superior e grade parapeito.


Foto: do autor, 1986

50 ARQUITETURA EM MADEIRA
Frontão (Irimoya) construído por carpinteiro japonês. Rua Anita Garibaldi, 83, Londrina, Pr.
Foto: do autor, 1996

ARQUITETURA EM MADEIRA 51
Escadas e Rampas

As escadas, na maioria das vezes, soltas dos solos, são


elementos quase constantes nas construções de madeira.
Nas casas, vamos encontrá-las em madeira ou em tijolos.
A presença delas reforça a linguagem do apoio das cons-
truções sobre pilaretes. Em algumas casas urbanas, a esca-
da é tratada como um dos principais elementos de compo-
sição. Um exemplo é a escada da casa construída pelos
carpinteiros japoneses. As rampas são encontradas princi-
palmente nas tulhas de café, construídas em madeira. Era
o elemento de ligação entre o terreirão e a tulha.

Escadas em madeira

As escadas em madeira foram muito utilizadas princi-


palmente na zona rural, sempre com um único lance,
construídas de tábuas cruas de peroba rosa, composta por
pisos de tábuas sem espelho, pregados em duas crema-
lheiras laterais.

Rampas em madeira

As rampas em madeira, muito utilizadas nas tulhas de


café para facilitar a armazenagem, foram construídas em
madeira de peroba rosa e tinham uma declividade média
de 15%. Como estavam sempre expostas a intempéries, re-
cebiam tratamento com óleo diesel queimado.

Escada de madeira da casa de colono da Fazenda Bimini – Rolândia, Pr.


Foto: do autor, 1995

52 ARQUITETURA EM MADEIRA
Rampa tulha de café, sítio bairro rural Limoeiro – Londrina, Pr.
Foto: do autor, 1995

Rampa tulha de café em sítio de Londrina, Pr. Rampa tulha de café Fazenda Bimini – Rolândia, Pr.
Foto: Jeferson Calegari, 1996 Foto: Acervo Fazenda Bimini década de 1950

ARQUITETURA EM MADEIRA 53
Escada de tijolos

As escadas em tijolos formam um volume único sem-


pre composto por um único lance. Nas casas, localizam-se
em frente as varandas e é um elemento marcante na com-
posição da fachada, servindo de ligação entre a varanda e
o quintal. A maioria das escadas em tijolos são revestidas
com argamassa de cimento e areia e alisada com pó xa-
drez vermelho (óxido de ferro vermelho), popularmente
conhecido como “vermelhão”.

Escada de tijolos com um único lance e poucos degraus


Foto: do autor, 1996

Escada de tijolos localizada no centro da varanda “Guenkan” em casa construída por carpintei-
ro japonês.
Foto: do autor 1996

54 ARQUITETURA EM MADEIRA
Espaço Interno

O espaço interno é formado por paredes, pisos e for-


ros apresentando a textura, o tamanho e a cor do material
madeira aplicado de várias maneiras. Tudo isso lhe confe-
re uma identidade singular. Em um só compartimento
encontramos três tipos de textura: a primeira na vertical
provocada pelo conjunto tábua mata-junta, formando fri-
sos salientes na vertical de 23 em 23 cm; a segunda na ho-
rizontal pelos frisos do assoalho de 10 em 10 cm e a tercei-
ra provocada pelos frisos e sulcos do forro de 5 em 5 cm.

Ambiente interno – circulação no Hotel Rolândia.


Foto: do autor, 1991

ARQUITETURA EM MADEIRA 55
Ambiente interno. Casa urbana em Londrina.
Foto: do autor, 1993

Ambiente interno na sede da Fazenda Veseroda em Rolândia, Pr.


Foto: do autor, 1991

56 ARQUITETURA EM MADEIRA
Porão como Linguagem de Apoio

O arcabouço das construções elevado do solo tocan-


do-o somente através de pilaretes de madeira ou alvena-
ria forma o “porão” e dá ao edifício um caráter de escultu-
ra sobre um pedestal.

Casa Rua Paraíba esquina com Maragogipe, Londrina, Pr, elevada do solo formando um porão.
Foto: do autor, 1995

ARQUITETURA EM MADEIRA 57
Casa sobre pedestal de troncos de peroba – Londrina-Pr, década de 1930.
Porão casa urbana – Vila Siam, Londrina-Pr (demolida em 1985) Foto: Acervo Museu Histórico Padre Carlos Weiss
Foto: do autor, 1984

Casa sede da Fazenda Janeta elevada do solo por pilaretes de tijolos.


Foto: do autor, 1993

58 ARQUITETURA EM MADEIRA
Vãos

Os vãos das superfícies são marcados pela timidez nos


tamanhos das portas e janelas. Como as vedações não têm
um caráter estrutural, os cheios predominam sobre os va-
zios. Janelas e portas são sempre emolduradas por um
quadro de vigas ou caibros, ligando os quadros inferiores
aos superiores.

Janela – Rua Ouro Preto, 453 – Londrina, Pr


Foto: do autor, 1996

ARQUITETURA EM MADEIRA 59
TÉCNICA E SISTEMA CONSTRUTIVO

A maioria dos arquitetos que trataram da historiografia


da arquitetura brasileira colocam a técnica e o sistema cons-
trutivo como fatores preponderantes para o entendimen-
to da obra de arquitetura, isto é facilmente notado nas re-
comendações de Lúcio Costa5 e é reforçado pelo arquiteto
Carlos Lemos6 em seu livro “O que é arquitetura”, no qual
aponta a técnica construtiva como determinante do parti-
do arquitetônico.
Concordando com Lúcio Costa e Carlos Lemos, pode-
ríamos afirmar que a técnica e o sistema construtivo das
edificações em madeira do norte do Paraná, que tiveram a
preferência dos pioneiros pelo baixo custo, rapidez e alta
produtividade foi determinante para o surgimento da ar-
quitetura em madeira na região.
Técnica construtiva e sistema construtivo são termos
muito usados por estudantes, professores e profissionais
da área de engenharia e arquitetura, não raras vezes
confundindo questões específicas diferenciadas entre si.
Para o arquiteto Antonio Dias Andrade 7 , sistema
construtivo é o resultado da compatibilização, ou da
conjugação entre determinada solução estrutural e uma
dada e definida técnica construtiva, entendendo por
solução estrutural as formas encontradas para suportar e
receber esforços conseqüentes às cargas implícitas ao
conjunto de elementos que compõem a edificação. As
técnicas construtivas constituem universo à parte. Tratam,

5
Costa, Lúcio. A arquitetura jesuíta no Brasil. In: Arquitetura Religiosa,
São Paulo, FAUUSP e Mec-Iphan, 1978, p. 17.
6
Lemos, Carlos A. C. O que é arquitetura. São Paulo, Brasiliense, 1980, p. 41.
7
Andrade, Luiz Dias. Vale do Paraíba, sistemas construtivos. São Paulo,
Dissertação de Mestrado FAUUSP, 1984, p.15

60 ARQUITETURA EM MADEIRA
sobretudo, dos procedimentos, do saber fazer e para sua
caracterização, de modo algum é dispensado o material
com o qual se trabalha, assim como as ferramentas,
utensílios e instrumentos.8
A pedra, por exemplo, é utilizada de inúmeras manei-
ras, igualmente a terra, também a madeira e seus empre-
gos, como são trabalhadas, conhecidas, lidadas e aprovei-
tadas, identificam distintas técnicas.9

Técnica Construtiva

Material

As construções em madeira maciça, de tabuado verti-


cal, possuem um reduzido número de componentes mate-
riais, sendo elemento básico a madeira. Todas as constru-
ções estudadas, com raras exceções, possuem a estrutura
e vedação de peroba rosa e utilizaram-se do prego como
elemento de fixação; as telhas são de argila tipo “france-
sa’’; as janelas e portas de cedro; as instalações hidráulicas
e elétricas, quando existem, são aparentes. Há de ressal-
tar-se que as primeiras casas eram construídas totalmente
em madeira, seu arcabouço era apoiado em troncos de
peroba e seu telhado era de tabuinha de cedro ou pinho.
Aos poucos os troncos de peroba eram substituídos por
pilaretes de tijolo e os telhados de “tabuinha” por telhas
de argila tipo “francesa”.
A regra construtiva que imperava era das construções
de madeira maciça com o sistema de vedação tábua mata-
junta na vertical, tendo como sistema de fixação, tanto da

8
ANDRADE, op. cit. p. 15
9
Ibid.

ARQUITETURA DE MADEIRA 61
estrutura como da vedação, o prego. Mas tivemos, tam- Tabela 1 – Componentes complementares das construções.
bém, algumas construções que utilizaram as tábuas na ho-
rizontal, assim como algumas construções rurais feitas
pelos primeiros carpinteiros japoneses que não se utiliza-
vam do prego para fixação, utilizando-se apenas dos re-
cursos das sambladuras.
As construções de madeira, via de regra, eram
edificadas seguindo uma modulação quase sempre dita-
da pelo sistema de vedação tábua e mata-junta. A tábua
tem, em média, 22 cm de largura, esta modulação torna-se
flexível em função do espaço deixado entre as tábuas, que
posteriormente são recobertos pelas mata-juntas que têm
em média 5 cm de largura.
As construções de araucária do sul e centro sul do
Paraná, além da madeira e do sistema estrutural serem
diferentes das do norte, possuem ainda modulação de
vedação composta por tábuas de araucária com largura
de 30 cm.
Para melhor explicitarmos os componentes materiais
das construções nos utilizamos de tabelas explicativas em
que veremos:

Tabela 2 – Pregos e sua utilização.

62 ARQUITETURA EM MADEIRA
Tabela 3 – Componentes de madeira beneficiadas utilizadas nas construções.

ARQUITETURA EM MADEIRA 63
Procedimento e Fase Seqüencial de Montagem

A seqüência de montagem descrita por vários carpin-


teiros que participaram do processo de produção destas
construções era:

1. Esquadrejar e nivelar, de acordo com a topografia do


terreno, os pilaretes de toco de tora ou pilaretes de
tijolo maciço comum;
2. Cortar as vigas para o quadro inferior;
3. Montar o quadro inferior, vigas guias “mestras” ou
frechais “de baixo”;
4. Cortar as vigas para o quadro superior tomando como
medida o quadro inferior;
5. Montar quadro superior sobre o inferior;
6. Cortar as vigas para as estrutura do telhado: rochante,
loró, pontalete, terças e espigões;
7. Montar a estrutura do telhado formada por tesouras,
terças e espigões sobre o quadro inferior e superior,
ao rés do chão;
8. Retira-se e desmonta-se o quadro superior e a estru-
tura do telhado;
9. Alinhamento e colocação dos esteios (pé direito), e
enquadramento dos vãos;
10. Armação do quadro superior, frechais e vigas mestras;
11. Colocação das tábuas de vedação;
12. Armação da estrutura do telhado, tesouras, espigão,
cumeeiras e terças;
Fases de montagem. Carpinteiro montando o quadro superior e o rochante da tesoura, sobre o
13. Encaibramento e ripamento do telhado; quadro inferior.
Foto: Peter Sheier. Álbum do 1º Centenário do Estado do Paraná, 1953
14. Colocação da telhas;
15. Colocação dos barrotes para o assoalho;
16. Colocação dos assoalhos;
17. Colocação da vedação interna;
18. Colocação de janelas e portas;
19. Tarugamento para colocação do forro;

64 ARQUITETURA EM MADEIRA
Demolição – estrutura de telhado Demolição – quadro superior e inferior ligado
pelos esteios

Vista frontal e lateral – encaixe espigão na cumeeira

Demolição – quadro inferior – barroteamento

ARQUITETURA EM MADEIRA 65
20. Fiação;
21. Encanamento;
22. Colocação de forro;
23. Colocação das mata-juntas internas;
24. Colocação de mata-juntas externas;
25. Colocação de elementos de arremates:
– forro nos beirais
– grade nas varandas
– emolduramento das varandas
– rendilhado nos frontões
– bisoteamento nos pilares das varandas.

Ferramentas e utensílios manuais

Para produção das construções em madeira, os carpin-


teiros utilizavam-se de diversas ferramentas e utensílios
manuais, de acordo com as etapas e as peças a serem tra- Graminho – para traçar encaixes e espigas
Foto: Rui Cabral, 1988
balhadas. Cada carpinteiro tinha seu próprio conjunto de
ferramentas e utensílios, que eram adquiridos nas casas
comerciais especializadas da região, ou já traziam na ba-
gagem de seu estado ou país de origem como era o caso
dos carpinteiros japoneses e os carpinteiros paulistas e
mineiros, ou ainda adaptavam e produziam, artesanalmente,
algumas ferramentas e utensílios de acordo com as suas
necessidades. As ferramentas e utensílios eram compos-
tos de três conjuntos básicos conforme descrevemos a se-
guir seu nome próprio e finalidade de uso.

Utensílios para medição


– Metro de dobrar – para medição em centímetros e po-
legadas;
– Lápis tipo carpinteiro – para riscadura dos cortes e
sambladuras das peças;
– Linha – para alinhamento da estrutura ou parte da Serrote 28 polegadas – para vigamento e tábuas
Foto: Rui Cabral, 1988
mesma;

66 ARQUITETURA EM MADEIRA
– Prumo – para prumagem e nivelamento da estrutura
ou parte da mesma;
– Fio de prumo – para verificação da perpendicularidade
da estrutura ou parte da mesma;
– Esquadro 45° e 90° – para traçar cortes nas peças ou
para esquadramento das mesmas;
– Esquadro suta – Esquadro móvel para traçar cortes em
ângulos nas peças;
– Graminho – para traçar espigas e encaixes.
Serrote de ponta
Foto: Rui Cabral, 1988
Ferramentas e utensílios para serrar, perfurar e pregar
– Serrote manual de 28 polegadas – para serrar vigamento
tábuas e assoalhos.
– Serrote manual de 28 polegadas – para serrar forros,
ripas e mata-juntas.
– Serrote manual de 28 polegadas – Costas – para fazer
molduras .
– Serrote manual de sutar – para acabamentos.
– Serrote manual de sutar ponta – para serrar em linhas
curvas.
– Arco de pua – para furar as peças de madeira.
Serrote de costas – Pontas para arco de pua – pontas para furos de prego
Foto: Rui Cabral, 1988
nº 2 até nº 7.
– Trado – para furos maior que a ponta nº 7.
– Máquina de furar manual – para furar peças em geral.
– Martelo de unha grande – para vigamento e tábuas.
– Martelo de unha média – para forro, assoalho e forro.
– Martelo de unha pequena – para acabamento.
– Punção – para afundar a cabeça do prego na madeira.

Ferramentas e utensílios para entalhar, plainar e dar


acabamento.
– Conjunto de formões.
– Formão de soquete – para entalhe de vigamento e tá-
Serrote suta – acabamentos buas.
Foto: Rui Cabral, 1988

ARQUITETURA EM MADEIRA 67
Suta – esquadro móvel
Foto: Rui Cabral, 1988

Escratilho (testa de carneiro) – para acabamento de portas


Foto: Rui Cabral, 1988

Galorpa – para nivelar grandes superfícies Plaina comum – para aplainar superfícies
Foto: Rui Cabral, 1988 Foto: Rui Cabral, 1988

68 ARQUITETURA EM MADEIRA
Conjunto de martelos de unha
Foto: Rui Cabral, 1988

Goivete – para fazer encaixe macho e fêmea


Foto: Rui Cabral, 1988

Conjunto de formões
Foto: Rui Cabral, 1988

ARQUITETURA EM MADEIRA 69
– Formão de espiga – para entalhes em forros, ripas e
mata-juntas
– Formão curto – para entalhar em peças de difícil acesso.
– Formão goiva – usado como alavanca para forçar os
cavacos da madeira.
– Formão para entalhar – para entalhar em círculo.

Conjunto de plainas
– Plaina comum 15 polegadas – para aplainar qualquer
tipo de superfície.
– Meia galorpa – diferencia-se da plaina comum no ta-
manho possui 18 polegadas.
– Galorpa ou junteira – para nivelar grandes superfícies.
– Plaina de acabamento – para acabamento de pequenas
peças. Máquina de furar manual

Conjunto arcos de pua

70 ARQUITETURA EM MADEIRA
Sistema Construtivo

Arcabouço

Chamamos de arcabouço o conjunto estrutural forma-


do pela parte portante e a estrutura do telhado. A estrutu-
ra portante é formada pelos quadros horizontais inferio-
res e superiores interligados por esteios. A estrutura do
telhado é formada por tesouras ou pórticos interligados
por terças, caibros e ripas.

Corte perspectivado. Casa de madeira – conjunto estrutural, parte portante, estrutura do telha-
do e vedações apoiado sobre pilarete de alvenaria.

ARQUITETURA EM MADEIRA 71
Peças componentes do conjunto

1 – Telha cerâmica tipo francesa


2 – Ripa
3 – Caibro
4 – Frechal
5 – Terça
6 – Cumeeira
7 – Loró
8 – Rochante
9 – Pendural
10 – Escora
11 – Tarugamento
12 – Forro
13 – Testeira 1/2 tábua
14 – Forro beiral
15 – Tábua e mata-junta
16 – Pé direito (esteio)
17 – Linha do quadro inferior
18 – Viga mestra do quadro superior
19 – Viga mestra do quadro inferior
20 – Barrote assoalho
21 – Assoalho
22 – Arremate do forro
23 – Arremate do assoalho
24 – Pilarete de tijolo maciço

Corte casa de madeira

72 ARQUITETURA EM MADEIRA
Parte portante

A parte portante é formada pelo conjunto estrutural,


painéis horizontais e verticais, composto pelos quadros
horizontais inferior e superior interligados pelos esteios e
quadros dos vãos.

Quadro Horizontal Superior


O quadro superior, também denominado pelos carpin-
teiros como quadro “de cima”, apresenta a mesma confi-
guração formal do quadro inferior. A diferença apresenta-
se na configuração estrutural, que se altera de acordo com
a solução estrutural adotada para a cobertura. Em alguns
casos, quando se utiliza a tesoura romana para vencer os
vãos da cobertura, as vigas das extremidades, denomina-
das de frechal, encarregam-se de transferir os esforços das
tesouras para os esteios, também chamados de pé direito,
ou uniformemente pelo painel vertical formado pelo
frechal, viga mestra interligados pelos esteios e vedação
Quadro superior. No detalhe, sambladura de encaixe de tábuas e mata-junta.

Quadro Horizontal Inferior


O quadro inferior, também denominado pelos
carpinteiros de quadro “de baixo”, é formado por um
sistema bidimensional, composto por vigas prismáticas e
constantes, sendo que as vigas mestras do centro e das
extremidades se encarregam de transferir esses esforços
para os pilaretes de troncos de peroba ou de tijolo comum
ou uniformemente nos baldrames de alvenaria. As
emendas ou encaixes das vigas são efetuadas através de
sambladuras de diversos tipos, conforme a origem do
carpinteiro. As vigas mestras recebem o barroteamento que
dão sustentação à vedação horizontal, denominada de
assoalho. É a partir do quadro inferior que se risca e corta
as madeiras para montagem do quadro superior e estrutura
Quadro inferior, apoiado sobre pilaretes de tijolos maciços de cobertura.

ARQUITETURA EM MADEIRA 73
Parte portante – estrutura

74 ARQUITETURA EM MADEIRA
Esteios
Os esteios, também chamados pelos carpinteiros de pé
direito, são peças de secção quadrada ou retangular encai-
xados no quadro inferior e superior, e apoiados nos
pilaretes de alvenaria da fundação.

Esteio – detalhe encaixe do barrote com a linha do quadro

Esteio – detalhe encaixe superior e inferior

ARQUITETURA EM MADEIRA 75
Estrutura dos Telhados

As construções em madeira estudadas, utilizaram-se


da mesma técnica e sistema construtivos, ou seja, o mes-
mo material e os mesmos procedimentos. A única diferen-
ça está na composição estrutural dos telhados que variam
de acordo com o uso ou a origem do carpinteiro e do pro-
prietário. Tanto as casas urbanas como as rurais, utiliza-
ram-se das tesouras romanas, com exceção das casas pro-
duzidas pelos carpinteiros alemães em Rolândia, que se
utilizaram das tesouras atirantadas para usarem o espaço
da cobertura para o sótão, as capelas na sua maioria, utili-
Tesoura romana ou portuguesa
zaram-se de pórticos atirantados.

Estrutura dos telhados das casas urbanas


Uma das características marcantes, nas casas em ma-
deira, é a diversidade de soluções formais dos telhados
adotados pelos carpinteiros. Estes surgem com as mais
diversas soluções volumétricas que se originaram do qua-
dro inferior da casa.
Pelos levantamentos efetuados durante demolições de
várias composições de telhados, constatamos que apesar
de apresentarem uma diversidade de soluções formais,
eles obedecem a uma única regra construtiva, isto é, ado-
tam a mesma solução estrutural e o mesmo processo de
montagem.
A solução estrutural adotada pelos carpinteiros é for-
mada a partir de tesouras romanas e sobre estas, a trama
Elementos componentes da tesoura
de terças, caibros e ripas.
A tesoura adotada tem as mesmas características das
tesouras de Paládio ou romanas, que chegaram até o Bra- Terminologia
sil através dos portugueses. Por este motivo, também são
Carpinteiros Estrutural
chamadas de “portuguesas”. 1 – Rochante ou linha 1 – Banzo superior
2 – Loró ou perna 2 – Banzo inferior
3 – Pontalete ou pendural 3 – Barra vertical
4 – Escora ou mão francesa 4 – Barra diagonal

76 ARQUITETURA EM MADEIRA
Os cinco tipos mais utilizados foram:
l – Telhado de quatro águas;
2 – Telhado de duas águas;
3 – Telhado de duas águas desencontradas;
4 – Telhado de seis águas;
5 – Telhado de oito águas.

Telhado composto de quatro águas

ARQUITETURA EM MADEIRA 77
Telhado composto de seis águas

78 ARQUITETURA EM MADEIRA
Telhado composto de duas águas

ARQUITETURA EM MADEIRA 79
Telhado de duas águas desencontradas

80 ARQUITETURA EM MADEIRA
Telhado composto de seis águas

ARQUITETURA EM MADEIRA 81
Estrutura dos telhados das sedes de fazendas dos
imigrantes alemães em Rolândia
A composição volumétrica e estrutural dos telhados das
sedes de fazendas, formadas por alemães na década de 1940
em Rolândia, assemelha-se às formas usadas na Alemanha,
ou seja, “Krüppelwamdach” e “Kehlbalkensparrendach”
– telhado atirantado10, muito utilizado pelos imigrantes ale-
mães na região, pois além de lembrar formalmente os te-
lhados da terra natal, proporcionavam a utilização do te-
lhado como sótão.
Esses telhados, na sua maioria, foram construídos por
equipes de carpinteiros da região sob a responsabilidade
de um mestre carpinteiro alemão. O Sr. Shchubert coman-
dou as construções das fazendas Veseroda e Janeta, en-
quanto na Bimini, Gilgala e Marta, foram comandadas pelo
Sr. Frederico Tolkmit.
Tesoura atirantada – Sede Fazenda Janeta

10
Weimer, Güinter. Arquitetura da imigração alemã, p. 61-65. Tesoura atirantada – Sede Fazenda Veseroda

82 ARQUITETURA EM MADEIRA
Estrutura dos telhados das capelas rurais
As estruturas dos telhados das capelas adotadas pelos
carpinteiros foram duas: as tesouras romanas e os pórti-
cos atirantados. Em algumas capelas a estrutura do cam-
panário faz parte da estrutura da cobertura. Os vãos dos
pórticos e tesouras variam de 6 a 12 m.

Outros Telhados
A maioria dos telhados utilizaram-se da tesoura ro-
mana para vencer os vãos, exceto algumas capelas que se
utilizaram dos pórticos atirantados e as casas dos alemães
com a tesoura atirantada. Estes vãos variavam de 5 a 16
metros, dependendo do programa funcional da constru-
Tesoura Romana – Capela Bratislava – Cambé, Pr.
ção. Como exemplo, podemos citar as tulhas de café que
têm vãos de 5 a 9 m, as capelas e templos de 6 a 12 m e as
serrarias de 10 a 16 m de vão livre.

Pórtico atirantado – Capela do Campinho – Arapongas, Pr.

ARQUITETURA EM MADEIRA 83
Estrutura de telhado tulha de café – Sítio Ueda, Londrina, Pr.

84 ARQUITETURA EM MADEIRA
Tesoura – Serraria Curotto – Londrina, Pr.

Pórtico atirantado – Capela Selva – Londrina, Pr.

ARQUITETURA EM MADEIRA 85
Isométrica estrutura do telhado Serraria Curotto – Londrina, Pr.

Tesoura Templo Nambei Honganji. Vão: 12m

86 ARQUITETURA EM MADEIRA
SAMBLADURAS – ENCONTROS
Sambladuras

À técnica de união de duas ou mais peças em madeira,


sem a interferência de outros elementos de união, dá-se o
nome de sambladuras. Podem, ainda, ser tratadas por
samblagens, emendas, engradamentos ou simplesmente
encaixes.
Na maioria das construções, as sambladuras elabora-
das pelos carpinteiros são bastante simples e muito pare-
cidas com as utilizadas na carpintaria tradicional paulista,
exceto as elaboradas pelos carpinteiros japoneses. Nas pri-
meiras construções, na zona rural, estas apresentam um
nível mais complexo, sem a utilização do prego.
Embora saibamos que uma verdadeira sambladura não
deva ter a utilização de cavilhas ou pregos, as utilizadas
na maioria das construções em madeira da região servi-
ram-se principalmente do prego como um elemento de re-
Encontro espigão com frechais forço e rigidez ao conjunto estrutural das construções.
As sambladuras foram utilizadas, principalmente, nos
principais encontros, no conjunto estrutural portante e es-
trutura dos telhados.
Os principais encontros no conjunto estrutural são:

Na parte portante:
– Encontro nos cantos dos quadros inferior e superior;
– Encontro das molduras dos vãos com os quadros infe-
rior e superior;
– Encontro do esteio com os quadros inferior e superior.

Na estrutura dos telhados:


– Encontro dos rochantes com os frechais do quadro superior;
– Encontro do espigão com os frechais do quadro superior;
– Encontro do espigão com a cumeeira;
– Encontro da terça com o espigão;
– Pendural com o rochante e cumeeira.
Encontro do rochante ou vigas guias com vigas do quadro

ARQUITETURA EM MADEIRA 87
SAMBLADURAS – EMENDAS

Encontro do espigão com cumeeira

Caxola mão de amigo

Caxola abraçadinho com rebaixo


Encontro da terça com espigão

88 ARQUITETURA EM MADEIRA
Rabo de andorinha

Abraçadinho

Meia madeira

ARQUITETURA EM MADEIRA 89
3 A Arquitetura dos Edifícios em Madeira

CASAS URBANAS DE LONDRINA

O Programa

As casas urbanas, na sua maioria, possuem um pro-


grama para atender às necessidades de ordem funcional
bastante simples, composto no máximo de três quartos,
sala, cozinha, área de serviço, varanda e banheiro, com área
variando de 40 a 100 m2 . Sua planta constitui-se de quatro
zonas básicas: estar, repouso, serviços e higiene do corpo.
A zona de estar é composta pelo conjunto sala/varan-
da. O conjunto recebe um tratamento especial em relação
aos demais aposentos. Neles estão embutidos um certo
valor simbólico. Na varanda, verifica-se a utilização de ele-
mentos de arremate com ornatos nos peitoris (balcões) e
madeiras rendilhadas emoldurando toda sua volta, carac-
terizando-a não só como um ambiente de descanso mas
como hall de entrada da casa.
A sala é o ambiente nobre da casa, ali recebe-se as visi-
tas e é sempre destacado dos demais aposentos. É marcada
pelos desenhos geométricos dos forros; além de ser um
ambiente nobre e de receber visitas, a sala é utilizada como
hall de distribuição, ou seja, como acesso aos demais apo-
sentos na ausência de corredores.
A presença de detalhes figurativos nos arremates com-
provam o tratamento especial dado à varanda, configu-
rando-a como o hall de entrada.

ARQUITETURA DE MADEIRA 91
20 6

7
CAMBÉ

2
16 14 12 11 LONDRINA
ROLÂNDIA 1
15 13 8
10
3
9 4
18

5
ARAPONGAS

19

APUCARANA
1 – Casas de madeira – Londrina
2 – Kaikan – Igreja – Londrina
3 – Serraria Curotto
4 – Tulha Sr. Ueda – Londrina
4 – Capela Limoeiro – Londrina
5 – Capela Selva – Londrina
6 – Capela Couro do Boi – Sertanópolis
17 7 – Capela KM 9 – Cambé
8 – Capela Bratislava – Cambé
9 – Kaikan e Tulha Colônia Lorena – Cambé
10 – Hotéis Rolândia – Rolândia
11 – Fazenda Janeta – Rolândia
12 – Fazenda Veseroda – Rolândia
13 – Fazenda Santa Cruz – Rolândia
14 – Fazenda Gilgalla – Rolândia
15 – Fazenda Bimini – Rolândia
16 – Fazenda Marta – Rolândia
17 – Capela Pinhalzinho – Califórnia
18 – Capela Campinho – Arapongas
19 – Capela KM 12 – Arapongas
20 – Capela Paraíso – Bela Vista do Paraíso

Localização dos edifícios de madeira inventariados

92 ARQUITETURA EM MADEIRA
O repouso é composto pelo conjunto de dois ou três
quartos. Nas plantas analisadas, verificou-se que não há
uma preocupação em separar, através de corredor ou hall,
estes aposentos dos demais. Os quartos têm sua ligação
direta ou para a sala ou para a cozinha, existem situações
em que são conjugados, um circulado pelo outro.
A zona de serviço é composta pelo conjunto cozinha/
área de serviço e, às vezes, pela despensa.
Estes ambientes, juntamente com o banheiro, foram os
que mais sofreram alterações. Originalmente, a cozinha ti-
nha uma mobília composta pelo fogão à lenha feito de tijo-
los ou de chapa de ferro, chamado “econômico”, o guar-
da-comida e a mesa. A área de serviço era composta pelo
tanque ou por uma prancha de madeira para lavar roupa,
o poço d’água, às vezes, fazia parte, quando não havia água
encanada.
Por tratar-se de uma área úmida, com a evolução dos
equipamentos, estes compartimentos sofreram algumas al-
terações, tanto em nível de organização do espaço como
na substituição do material: madeira para alvenaria.
A zona denominada como higiene do corpo tem a fun-
ção de suprir as necessidades fisiológicas. Este ambiente
foi o que recebeu a menor importância na hierarquização
dos espaços e aparece em três situações diferentes:
1 – No fundo do quintal com construção simples de uma
água com vaso e chuveiro ou uma casinha sobre a fos-
sa negra;
2 – Na área de serviço nos fundos;
3 – No interior da casa.

A primeira situação do banheiro no fundo do quintal,


composto por uma “casinha” sobre fossa negra, foi uma
Planta padrão tipo 2 solução adotada até o início da década de 1950, ou pela
falta d’água encanada ou pela restrição do poder aquisiti-
vo do morador, constituía-se de um abrigo apenas para

ARQUITETURA EM MADEIRA 93
suprir as necessidades fisiológicas ou de um conjunto in-
cluindo também o chuveiro com característica primitiva.
Com o tempo, ou era construído no mesmo local um ba-
nheiro definitivo com vaso e chuveiro em alvenaria, ou se
construía junto à área de serviço, ou no interior da casa
junto aos quartos.
Planta da latrina Planta do conjunto chuveiro
Na segunda situação do banheiro junto com a área de
serviço, vamos encontrar somente o vaso e o chuveiro, sen-
do utilizado o tanque como lavatório. Em algumas casas,
o chuveiro encontra-se em um compartimento separado
do vaso sanitário.
Na terceira situação do banheiro no interior da casa,
vamos encontrar a bacia sanitária, lavatório e chuveiro, e
em alguns casos existem até banheiras metálicas
esmaltadas, ou o furô nas casas dos imigrantes japoneses.

Interior do chuveiro
Interior da latrina

Vista da “casinha” Vista do conjunto chuveiro- latrina

Conjunto latrina – chuveiro

94 ARQUITETURA EM MADEIRA
A Técnica e Sistema Construtivo

Arcabouço estrutural apoiado em pilaretes de alvena-


ria ou troncos de madeira, formado por quadros horizon-
tais inferior e superior, interligados por esteios e
emolduramento das janelas e portas, com sistema de
vedação tábua e mata-junta na vertical.

O Partido

Entende-se por partido, a organização e o uso do espaço


arquitetônico construído com a utilização de uma
determinada técnica para atender às necessidades de um
programa.
Para atender a um programa bastante simples, o espa-
ço da maioria das casas urbanas organizaram-se em qua-
tro plantas básicas que chamamos, para efeito de classifi-
cação, de plantas padrões. Através do inventário, detecta-
mos que esses quatro tipos básicos de plantas sofrem mui-
tas variações, que com os mais variados tipos de telhados,
geraram os mais variados tipos volumétricos.
As plantas podem ser classificadas e caracterizadas sob
os aspectos geométrico/funcional, os fatores que distin-
guem um tipo de outro são:
a – geometria da planta – formato e dimensão;
b – número de aposentos e seu posicionamento;
c – posicionamento do banheiro;
d – posicionamento da varanda.

As variações que ocorrem dentro de um mesmo tipo


de planta são:
a – articulação dos aposentos;
b – posicionamento do banheiro;
c – posicionamento da varanda.
Arcabouço – conjunto estrutural. Parte portante e estrutura do telhado

ARQUITETURA EM MADEIRA 95
As Qualidades Plásticas ÁREA
SERV. WC

As qualidades plásticas das casas urbanas traduzem-se COZINHA QUARTO QUARTO


COZINHA
na riqueza de soluções adotadas pela maioria dos carpintei-
ros, ou seja, utilizando uma mesma técnica eles conseguiram
criar um repertório arquitetônico diverso e variado, mesmo QUARTO

utilizando-se basicamente de quatro tipos de plantas. SALA

A simplicidade na composição volumétrica, aliada à SALA QUARTO

gramática dos seus ornamentos conferem a essas casas qua-


lidades plásticas singulares e dão a essa arquitetura um VARANDA
QUARTO

caráter regional.
O formato geométrico da planta, o posicionamento das Tipo 1 Tipo 2
varandas, a volumetria do telhado e a composição da fa-
chada são elementos estruturadores e que formam os di-
ferentes tipos volumétricos das casas, ou seja, tipo
volumétrico = formato da planta + geometria do telhado +
composição da fachada.
Os ornamentos são sempre incorporados ao volume e
dão lhes individualidade além de reforçar a sua intenção ÁREA DE
TERRAÇO
SERVIÇO WC
plástica. QUARTO

Denominamos de ornamentos, nas casas de madeira, COZINHA


COZINHA
os elementos de arrremates (rendilhados) nos frontões, no QUARTO SALA
emolduramento das varandas, ou os elementos construti- QUARTO

vos elaborados artesanalmente.


Os ornamentos podem ser classificados como sim- QUARTO
SALA QUARTO
bólicos-funcionais ou simplesmente simbólicos. O pri- VARANDA
QUARTO
meiro é atribuído aos ornamentos que, além do seu va-
lor simbólico, prestam-se como elemento construtivo, VARANDA
por exemplo, pingadeiras, testeiras, pilares e parapei-
tos das varandas. O segundo é atribuído aos ornamen- Tipo 4
Tipo 3
tos que são dispensáveis como elemento construtivo,
mas que dão individualidade às casas, por exemplo,
rendilhado nos frontões e varandas.

Quatro tipos de planta “padrão”

96 ARQUITETURA EM MADEIRA
Rendilhado na empena (testeira) e frontão – Av. Rio de Janeiro, 1215 – Londrina, Pr
Foto: do autor, 1988

Rendilhado na testeira e no emolduramento superior da varanda – Rua da Lapa, 498 – Londrina, Pr Rendilhado parapeito varanda – Rua Tupinambás, 158 – Londrina, Pr
Foto: do autor, 1988 Foto: do autor, 1988

ARQUITETURA EM MADEIRA 97
ÁREA DE
SERVIÇO WC

COZINHA COZINHA QUARTO

QUARTO QUARTO
COZINHA

VARANDA
SALA

VARANDA
SALA QUARTO
QUARTO
SALA QUARTO

DESP. WC WC COZINHA
WC
COZINHA

COZINHA QUARTO COPA DESP.

QUARTO

QUARTO

QUARTO SALA
SALA SALA

QUARTO
QUARTO

QUARTO

VARANDA VARANDA

Variáveis Tipo 1

PLANIMETRIA

98 ARQUITETURA EM MADEIRA
Variáveis Tipo 1

FACHADAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 99
Variáveis Tipo 1

VOLUMETRIA

100 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Rio Grande do Sul, 259 Rua Tangará, 52 Rua Paraguai, 604

Rua Uruguai, 247 Rua Goiás, 339 Rua Rio Grande do Norte, 181

Rua Goiás, 573 Rua Brasil, Rua Alagoas, 618

Variáveis Tipo 1

VOLUMETRIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 101


ÁREA DE ÁREA DE
DESPENSA DESPENSA WC A.S. CHUV.
SERVIÇO SERVIÇO

QUARTO
COPA QUARTO
COZINHA
QUARTO COZINHA

QUARTO

WC COPA
SALA

QUARTO QUARTO

QUARTO SALA SALA


VARANDA

QUARTO
QUARTO
VARANDA VARANDA

ÁREA DE ÁREA DE ÁREA DE


SERVIÇO SERVIÇO SERVIÇO
COZINHA
COZINHA
QUARTO

COZINHA QUARTO
QUARTO

COPA

WC

QUARTO
SALA SALA

QUARTO
QUARTO SALA

VARANDA
VARANDA QUARTO

VARANDA

Variáveis Tipo 2

PLANIMETRIA

102 ARQUITETURA EM MADEIRA


A.S. DESP. WC A.S.

DESPENSA
COZINHA
QUARTO
WC COZINHA
COZINHA

QUARTO QUARTO
SALA

SALA SALA

QUARTO

QUARTO
VARANDA QUARTO
VARANDA
VARANDA

ÁREA DE
SERVIÇO

WC
ÁREA DE DESP. COZINHA ÁREA DE
SERVIÇO WC
SERVIÇO

QUARTO
QUARTO QUARTO
COZINHA
COZINHA
COPA

WC QUARTO
QUARTO

SALA TV SALA
SALA

SALA

QUARTO QUARTO
QUARTO
VARANDA VARANDA VARANDA

Variáveis Tipo 2

PLANIMETRIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 103


Variáveis Tipo 2

FACHADAS

104 ARQUITETURA EM MADEIRA


Variáveis Tipo 2

FACHADAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 105


Variáveis Tipo 2

VOLUMETRIA

106 ARQUITETURA EM MADEIRA


Av. JK, 3343 Rua Paraíba esquina com Maragogipe Rua Goiás, 1931

Rua Tupinambá, 158 Travessa JK, casa 2 Rua Pio XII

Rua Mato Grosso, 1004 Rua Rio Grande do Norte, 197 Rua Goiás, 607

Variáveis Tipo 2

VOLUMETRIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 107


Variáveis Tipo 2

VOLUMETRIA

108 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Natal, 234 Rua da Lapa, 498 Rua Natimbó, 40

Rua Guararapes, 501 Rua Amapá, 843 Rua Humaitá, 370

Av. JK, 3617 Rua Amapá, 872 Rua Mato Grosso, 1100

Variáveis Tipo 2

VOLUMETRIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 109


Variáveis Tipo 2

VOLUMETRIA

110 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Brasil, 1126 Rua Espírito Santo, 891 Rua Alagoas, 878

Rua Goiás, 64 Rua Bahia, 1207 Rua Paranaguá, 658

Rua Santos, 1177 Rua Espírito Santo, 859 Rua Paes Leme, 808

Variáveis Tipo 2

VOLUMETRIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 111


ÁREA DE SERVIÇO ÁREA DE
WC ÁREA DE
SERVIÇO
SERVIÇO
QUARTO

COZINHA COPA COZINHA


COZINHA QUARTO

QUARTO

DESPENSA
QUARTO WC

SALA
QUARTO SALA
SALA
QUARTO
QUARTO

VARANDA

VARANDA
VARANDA

DESP. ÁREA DE ÁREA DE


DESPENSA
SERVIÇO SERVIÇO
DESP.

QUARTO
QUARTO
COZINHA
QUARTO
COZINHA

WC COZINHA

WC QUARTO WC

SALA

SALA
QUARTO
SALA
QUARTO QUARTO

VARANDA

VARANDA
VARANDA

Variáveis Tipo 3

PLANIMETRIA

112 ARQUITETURA EM MADEIRA


Variáveis Tipo 3

FACHADAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 113


Variáveis Tipo 3

VOLUMETRIA

114 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Bahia, 651 Rua Bahia, 213 – Fundos Rua Piauí, 1384

Rua Amapá, 641 Av. Rio de Janeiro, 974 Rua Senador Souza Naves, 990

Rua Espírito Santo, 1542 Rua Jorge Velho, 411 Rua Fortaleza, 266

Variáveis Tipo 3

VOLUMETRIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 115


DESPENSA DESPENSA TERRAÇO
WC TERRAÇO

COSTURA COZINHA
COZINHA
COZINHA QUARTO

QUARTO SALA WC
SALA SALA

QUARTO QUARTO QUARTO


QUARTO
VARANDA
QUARTO QUARTO
VARANDA

VARANDA

DESP.

COZINHA WC TERRAÇO
QUARTO
ÁREA DE
SERVIÇO COZINHA
SALA WC QUARTO
COZINHA QUARTO
SALA

ÁREA
QUARTO QUARTO

QUARTO SALA QUARTO SALA DE


QUARTO QUARTO
VARANDA ESTUDO
VARANDA
VARANDA

Variáveis Tipo 4

PLANIMETRIA

116 ARQUITETURA EM MADEIRA


Variáveis Tipo 4

FACHADAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 117


Variáveis Tipo 4

VOLUMETRIA

118 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Uruguai, 1658 Rua Belém, 675 Rua Humaitá, 124

Rua Alagoas, 134 Rua Sergipe, 1617 Rua Jorge Velho, 476

Rua Bahia, 521 Rua Bahia, 504 Rua Pirapó, 164

Variáveis Tipo 4

VOLUMETRIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 119


Variáveis

IMPLANTAÇÕES

120 ARQUITETURA EM MADEIRA


Variáveis

IMPLANTAÇÕES

ARQUITETURA EM MADEIRA 121


Esquina – Implantação no alinhamento Esquina – Implantação no alinhamento Esquina – Implantação com recuo

Esquina – Implantação com recuo Meio de quadra – Implantação com recuo Meio de quadra – conjunto de casas

Esquina – conjunto de casas Meio de quadra – implantação com recuo Meio de quadra – Implantação conjunto de casas

Variáveis

IMPLANTAÇÕES

122 ARQUITETURA EM MADEIRA


Frontões

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 123


Frontões

ORNAMENTOS

124 ARQUITETURA EM MADEIRA


Frontões

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 125


Rua Capiberibe, 180 Rua Cabo Verde esquina com Tocantins Av. Rio de Janeiro, 1215

Rua Louis Francescon, 428 Rua Recife, 113 Rua Venezuela, 409

RuaAndirá, 111 Rua Dulcidio Pereira, 76 Rua Guararapes, 76

Frontões

ORNAMENTOS

126 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Rio Grande do Norte, 832 Avenida J. K., 3105 Avenida J. K., 255

Rua Teresina, 251 Rua Piauí, 1318 Rua Natal, 234

Rua Tocantins, 353 Rua Teresina, 181 Rua Tapajós, 274

Frontões

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 127


Rua Bahia, 658 Rua Tibagi, 582 Rua Colômbia, 688

Rua Cuiabá, 413 Rua Tibagi, 689 Rua Colômbia, 164

Rua Jorge Casoni, 583 Rua Senador Souza Naves, 1252 Rua João Pessoa, 204

Frontões

ORNAMENTOS

128 ARQUITETURA EM MADEIRA


Varandas

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 129


Varandas

ORNAMENTOS

130 ARQUITETURA EM MADEIRA


Varandas

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 131


Varandas

ORNAMENTOS

132 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Belém, 675 Rua Rio Grande do Norte, 1051 Rua Paraíba, 509

Rua Uruguai, 1656 RuaParanaguá esquina com Tupi Rua Tupinambás, 158

Rua São Vicente esquina com Amapá Rua Alagoas, 671 Rua Espírito Santo, 357

Varandas

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 133


Rua Amapá, 481 Rua Cuiabá, 399 Rua da Lapa, 498

Rua Duarte da Costa, 41 Rua Fortaleza, 266 Rua Cuiabá, 266

Rua Cuiabá, 545 Rua Amazonas, 378 Rua Duarte da Costa, 68

Varandas

ORNAMENTOS

134 ARQUITETURA EM MADEIRA


FORROS

ARQUITETURA EM MADEIRA 135


FORROS

136 ARQUITETURA EM MADEIRA


Janelas

VÃOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 137


Janelas

VÃOS

138 ARQUITETURA EM MADEIRA


Portas

VÃOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 139


Portas

VÃOS

140 ARQUITETURA EM MADEIRA


Porta com bandeira de vidro

Folha única de tábuas macho e fêmea Janela com folha dupla de tábua de assoalho com sargentos de madeira

ARQUITETURA EM MADEIRA 141


Folha única almofadada

Folha dupla almofadada

142 ARQUITETURA EM MADEIRA


Janela com folha única de tábua de topo na vertical com tramela vertical

Janela de tábua macho e fêmea com quadro externo de abrir

ARQUITETURA EM MADEIRA 143


Janela veneziana com guilhotina sargento de ferro fundido

Folha almofadada dupla com vidro

144 ARQUITETURA EM MADEIRA


CAPELAS

Observamos que o norte do Paraná teve sua ocupa-


ção induzida sobretudo, pela ação da Companhia de
Terras Norte do Paraná, e que o município de Londrina
foi fundado objetivando um desempenho específico, o
de constituir a primeira metrópole da região; isso num
contexto geral de desenvolvimento planejado pela Com-
panhia de Terras.
Por outro lado, em obediência às diretrizes dos planos
da Companhia, estabelecia-se que entre as cidades pólos
seriam fundados os patrimônios distanciados de 10 a 15
quilômetros um do outro, os quais serviriam de apoio às
propriedades rurais. Dessa maneira, foram planejados e
criados muitos patrimônios entre as cidades.
Apesar dos patrimônios serem planejados para suprir
as necessidades dos sitiantes e colonos, eles não foram su-
ficientes, pois no início tudo era muito difícil. Eles tinham
que derrubar a mata, construir casas, formar lavoura de
café, que levava de três a quatro anos para produzir. Para
se abastecer ou praticar a sua sociabilidade, os colonos e
sitiantes tinham que cortar quilômetros em estradas bar-
rentas e avermelhadas. O percurso para chegar à cidade
ou patrimônio mais próximo era quase sempre feito à ca-
valo ou de carroça.
Surgiram, nesse contexto, por iniciativa particular dos
sitiantes e colonos,os bairros rurais1 localizados, na maioria
das vezes, nas cabeceiras dos lotes. De início, eram
construídas a venda (casa de comércio), a capela e a escola.
Compunha ainda esse conjunto de edificados, a casa do

1
Conforme definição de Cândido, Antônio em sua obra Os parceiros do
rio bonito, um bairro rural pressupõe o “...agrupamento de algumas
famílias, mais ou menos vinculadas pelo sentimento de localidade,
pela convivência pelas práticas de auxílio mútuo e pelas atividades
lúdico-religiosas”.

ARQUITETURA EM MADEIRA 145


vendeiro, o salão de festas da capela, campos de futebol,
malha e bocha. Alguns bairros rurais apresentavam, no seu
conjunto de edificados, a máquina de beneficiar café e
cereais, como era o caso do bairro Bratislava em Cambé.
Esses bairros rurais sobreviveram enquanto a lavoura
cafeeira durou. Com a erradicação, na década de1970, a
maioria desses bairros desapareceram. Hoje só restam frag-
mentos de alguns deles, como é o caso do Bratislava em
Cambé, Km12 em Arapongas, Couro do Boi, em
Sertanópolis, que ainda mantêm intactas as suas singelas
capelas de madeira.
A sociabilidade dos sitiantes e colonos era impulsio-
nada pela presença da capela, onde se realizava os casa-
mentos, batizados, funerais, festas de padroeiras, quermes-
ses e bingos.
A construção das capelas em madeira se dava quase
sempre por mutirões de colonos e sitiantes sob o comando
de um mestre carpinteiro. O material era doado ou com-
prado com as arrecadações das festas.
Apesar do desaparecimento da maioria das capelas
rurais juntamente com os patrimônios e bairros, restam-
nos ainda, na região, alguns exemplares da arquitetura re-
ligiosa em madeira da época da lavoura cafeeira,
construídas nas décadas de 1940 e 1950, elas apresentam
uma singeleza no seu repertório arquitetônico e ao mesmo
tempo um rigor construtivo, deixando transparecer a preo-
cupação estética que os colonos e sitiantes tinham na época.
No início da ocupação do norte do Paraná, nas déca-
das de 1930, 1940 e 1950, as primeiras capelas eram
construídas em madeira tanto na zona urbana como na
rural. Com o enriquecimento das cidades pela economia
cafeeira, pouco a pouco elas foram sendo substituídas por
igrejas de alvenaria. A iconografia contudo, mostra nos
como foi a arquitetura das primeiras igrejas e capelas em
madeira da região na época. Arcabouço da primeira Igreja Matriz em construção – junho de 1934
Foto: Acervo Museu Histórico Padre Carlos Weiss

146 ARQUITETURA EM MADEIRA


As capelas construídas em mutirão por carpinteiros,
sitiantes e colonos possuem um programa muito sim-
ples: nave, altar e sacristia. Algumas possuem, na en-
trada, um mezanino que serve como coro. Ao lado da
capela sempre se coloca o salão de festas, campo de fu-
tebol, malha e bocha.
A técnica construtiva é a mesma de todos os edifícios
em madeira citados, ou seja, a madeira utilizada foi a
peroba rosa e os procedimentos e ferramentas utilizadas
são as mesmas. Já o sistema construtivo diferencia-se dos
demais edifícios, no que tange ao conjunto estrutural, par-
te portante e estrutura da cobertura, na maioria das cape-
las em função do vão, os carpinteiros adotaram pórticos
de madeira atirantados por cabo de aço (agulhas). A parte
portante composta pelo quadro inferior e superior, pórti-
cos e emolduramento dos vãos dispõe, ainda, de uma viga
horizontal chamada “estronca” colocada à meia altura do
pé-direito para fixação das tábuas de vedação.
O partido arquitetônico das capelas é muito parecido:
a nave sempre coberta por um telhado de duas águas com
forte inclinação e o altar e sacristia sempre com telhados
mais baixos anexos. Algumas capelas dispõem de coro
(mezanino) e alpendre frente ao seu adro, os campanários,
em quase todas, fazem parte do conjunto do edifício, em
uma ou duas torres sobre o telhado.
A simplicidade do programa e o partido das capelas,
aliados à composição de suas fachadas, marcada pela tex-
tura das tábuas e mata-juntas e do uso das cores tanto in-
terno como externo, conferem-lhes uma qualidade plásti-
ca ímpar na arquitetura popular religiosa e marcam a pai-
sagem dos patrimônios e bairros rurais da região norte-
paranaense.

ARQUITETURA EM MADEIRA 147


148 ARQUITETURA EM MADEIRA
Primeira Igreja Matriz de Londrina – Construção 1934 – demolida em 1943.
Foto: Acervo Museu Histórico Padre Carlos Weiss

ARQUITETURA EM MADEIRA 149


150 ARQUITETURA EM MADEIRA
Primeira Capela do Patrimônio do Heimtal – Londrina 1936.
Foto: Acervo IPAC – UEL

ARQUITETURA EM MADEIRA 151


152 ARQUITETURA EM MADEIRA
Primeira Igreja de Rolândia, 1935
Foto: Acervo IPAC – UEL

ARQUITETURA EM MADEIRA 153


154 ARQUITETURA EM MADEIRA
Primeira Igreja de Cambé (Nona Dantzing), 1934
Foto: Acervo Museu Histórico de Cambé

ARQUITETURA EM MADEIRA 155


156 ARQUITETURA EM MADEIRA
Primeira Igreja de Arapongas, 1947
Foto: Acervo IPAC – UEL

ARQUITETURA EM MADEIRA 157


Fonte: Barizon, Maria Bernadete. Primeiras praças e capelas do norte do Paraná. Universidade Estadual de Londrina, Trabalho de Graduação em Arquitetura, 1986.

Repertório compositivo das fachadas das primeiras igrejas e capelas

158 ARQUITETURA EM MADEIRA


Fonte: Barizon, Maria Bernadete. Primeiras praças e capelas do norte do Paraná. Universidade Estadual de Londrina, Trabalho de Graduação em Arquitetura, 1986.

Repertório compositivo das fachadas das primeiras igrejas e capelas

ARQUITETURA EM MADEIRA 159


Localização das capelas inventariadas

160 ARQUITETURA EM MADEIRA


Bairro Rural Bratislava – Cambé
Data da construção: 1941
Carpinteiros: João Zifchak; Irineu Gaffo

Implantação

CAPELA BRATISLAVA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 161


SACRISTIA

ALTAR MOR
NAVE

SACRISTIA

Planta Baixa

CAPELA BRATISLAVA – CAMBÉ

162 ARQUITETURA EM MADEIRA


Planta Coro Planta Cobertura

CAPELA BRATISLAVA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 163


Corte estrutural

CAPELA BRATISLAVA – CAMBÉ

164 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica Estrutural

CAPELA BRATISLAVA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 165


Isométrica

CAPELA BRATISLAVA – CAMBÉ

166 ARQUITETURA EM MADEIRA


Adro – capela e salão de festas
Foto: do autor, 1992

CAPELA BRATISLAVA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 167


Vista posterior da capela e salão de festas
Foto: do autor

Vista do altar
Foto: César Cortez, 1992

Vista interna
Foto: César Cortez, 1992

CAPELA BRATISLAVA – CAMBÉ

168 ARQUITETURA EM MADEIRA


Construção: 1947

Implantação

CAPELA KM 9 – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 169


Planta Baixa

CAPELA KM 9 – CAMBÉ

170 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte AA

CAPELA KM 9 – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 171


Corte BB Fachada frontal

CAPELA KM 9 – CAMBÉ

172 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

CAPELA KM 9 – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 173


Capela – Salão de festas
Foto: Cesar Cortez, 1993

Interior da Nave
Foto: Cesar Cortez, 1993

CAPELA KM 9 – CAMBÉ

174 ARQUITETURA EM MADEIRA


Capela Patrimônio Campinho
Data da construção: 1948
Carpinteiros: de origem polonesa

Implantação

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 175


Planta Baixa

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

176 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte AA

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 177


Corte BB

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

178 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica Estrutural

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 179


Isométrica

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

180 ARQUITETURA EM MADEIRA


Conjunto Capela e Cruzeiro
Foto: do autor, 1997

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 181


Interior – Vista do altar
Foto: Gilberto Abelha, 1997

Detalhe da porta
Foto: Gilberto Abelha, 1997

Vista dos fundos


Foto: Gilberto Abelha, 1997

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

182 ARQUITETURA EM MADEIRA


Interior – Vista do Coro
Foto: Gilberto Abelha, 1997

CAPELA PATRIMÔNIO CAMPINHO – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 183


Local : Km 12, rodovia Arapongas-Maringá
Construção : 1951
Carpinteiros: João Ziober e Antônio Obis
Levantamento Arquitetônico: Outubro de 1992

CAPELA SANTO ANTÔNIO KM 12 – ARAPONGAS

184 ARQUITETURA EM MADEIRA


Cobertura

Planta Coro

CAPELA DO
ALTÍSSIMO

CONF.

NAVE CAPELA
ALPENDRE MOR

QUARTO
MISSIONÁRIO

SACRISTIA

Planta Baixa

CAPELA SANTO ANTÔNIO KM 12 – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 185


Corte AA

CAPELA SANTO ANTÔNIO KM 12 – ARAPONGAS

186 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte BB

CAPELA SANTO ANTÔNIO KM 12 – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 187


Isométrica Estrutural

CAPELA SANTO ANTÔNIO KM 12 – ARAPONGAS

188 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

CAPELA SANTO ANTÔNIO KM 12 – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 189


Interior – Vista do Altar
Foto: do autor, 1992

Interior – Vista do Coro


Foto: do autor, 1992

CAPELA SANTO ANTÔNIO KM 12 – ARAPONGAS

190 ARQUITETURA EM MADEIRA


Exterior – Vista dos fundos
Foto: do autor, 1992

Exterior – Vista do Adro – Capela, auto-falante e hasteamento da bandeira de Santo Antônio padroeiro
da capela
Foto: do autor, 1992

CAPELA SANTO ANTÔNIO KM 12 – ARAPONGAS

ARQUITETURA EM MADEIRA 191


Local:Patrimônio Selva – Londrina
Ano de Construção: 1938
Carpinteiros: Basilio Fechio, Homero Fechio, Tomaz Pimenta
Levantamento: Julho, 1992

Implantação

CAPELA PATRIMÔNIO SELVA – LONDRINA

192 ARQUITETURA EM MADEIRA


CORO

Cobertura

Planta coro

SACRISTIA

CAPELA MOR
NAVE

SACRISTIA

Planta Baixa

CAPELA PATRIMÔNIO SELVA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 193


Corte AA

CAPELA PATRIMÔNIO SELVA – LONDRINA

194 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte estrutural

CAPELA PATRIMÔNIO SELVA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 195


Isométrica estrutural

CAPELA PATRIMÔNIO SELVA – LONDRINA

196 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

CAPELA PATRIMÔNIO SELVA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 197


Interior – Vista do altar
Foto: do autor, 1992

Vista lateral
Foto: do autor, 1992

Interior – Vista do coro Vista frontal


Foto: do autor, 1992 Foto: do autor, 1992

CAPELA PATRIMÔNIO SELVA – LONDRINA

198 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista dos fundos
Foto: do autor, 1992

CAPELA PATRIMÔNIO SELVA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 199


Construção de 1953

Implantação

CAPELA NOSSA SENHORA APARECIDA PINHALZINHO – CALIFÓRNIA

200 ARQUITETURA EM MADEIRA


Planta

CAPELA NOSSA SENHORA APARECIDA PINHALZINHO – CALIFÓRNIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 201


Corte estrutural

CAPELA NOSSA SENHORA APARECIDA PINHALZINHO – CALIFÓRNIA

202 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica estrutural

CAPELA NOSSA SENHORA APARECIDA PINHALZINHO – CALIFÓRNIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 203


Isométrica

CAPELA NOSSA SENHORA APARECIDA PINHALZINHO – CALIFÓRNIA

204 ARQUITETURA EM MADEIRA


Exterior – Vista dos fundos
Foto: Fernanda Picanço, 1995

Exterior – Vista frontal Interior – Vista do altar


Foto: Fernanda Picanço, 1995 Foto: Fernanda Picanço, 1995

CAPELA NOSSA SENHORA APARECIDA PINHALZINHO – CALIFÓRNIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 205


1 – Igreja
2 – Salão de festa
3 – Escola
4 – Casa
5 – Adro
6 – Cruzeiro
7 – Forro churrasqueira
8 – WC

Implantação

CAPELA COURO DO BOI – SERTANÓPOLIS

206 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte Planta

CAPELA COURO DO BOI – SERTANÓPOLIS

ARQUITETURA EM MADEIRA 207


Isométrica

CAPELA COURO DO BOI – SERTANÓPOLIS

208 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista da capela e do salão de festas
Foto: do autor, 1982

Vista da capela, do salão de festas e da escola. Torre campanário demolida em 1986.


Foto: do autor, 1991

CAPELA COURO DO BOI – SERTANÓPOLIS

ARQUITETURA EM MADEIRA 209


Construção: 1959

Implantação

CAPELA LIMOEIRO – LONDRINA

210 ARQUITETURA EM MADEIRA


Planta

CAPELA LIMOEIRO – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 211


Isométrica

CAPELA LIMOEIRO – LONDRINA

212 ARQUITETURA EM MADEIRA


Interior – Vista do altar
Foto: Ricardo Codinhoto, 1994

Detalhe do teto do altar


Foto: Ricardo Codinhoto, 1994

CAPELA LIMOEIRO – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 213


Vista frontal da Capela Limoeiro – Londrina PR
Foto: do autor, 1994

214 ARQUITETURA EM MADEIRA


Construção: 1936

SEDE

TERREIRO

COLONOS

CAPELA

Implantação

CAPELA FAZENDA PARAÍSO – BELA VISTA DO PARAÍSO

ARQUITETURA EM MADEIRA 215


ALTAR SACRISTIA
MOR ALTAR

NAVE

CORO

Planta Baixa

CAPELA FAZENDA PARAÍSO – BELA VISTA DO PARAÍSO

216 ARQUITETURA EM MADEIRA


Fachada
Corte AA

CAPELA FAZENDA PARAÍSO – BELA VISTA DO PARAÍSO

ARQUITETURA EM MADEIRA 217


Corte BB

CAPELA FAZENDA PARAÍSO – BELA VISTA DO PARAÍSO

218 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista interna do altar
Foto: do autor

Vista do coro
Foto: do autor

CAPELA FAZENDA PARAÍSO – BELA VISTA DO PARAÍSO

ARQUITETURA EM MADEIRA 219


Fachada frontal
Foto: do autor

CAPELA FAZENDA PARAÍSO – BELA VISTA DO PARAÍSO

220 ARQUITETURA EM MADEIRA


A MARCA DOS IMIGRANTES JAPONESES

A arquitetura em madeira produzida por mestres


carpinteiros japoneses “Daiku” no norte do Paraná, dei-
xaram sinais que marcam a influência nipônica, princi-
palmente nas décadas de 1930, 1940, 1950 e 1960. Adap-
tadas à realidade e à cultura arquitetônica regional de
construir em madeira, alguns elementos arquitetônicos
utilizados pelos Daiku identificam a presença nipônica
como: o telhado irimoya, com forte inclinação; o guenkan
(varanda) e os ornamentos como onigawara (telha de
ponta) e ranma (rendilhado) muito utilizado no
emolduramento das varandas.2
Grande parte dos imigrantes ocupavam-se de ativida-
des agrícolas, foi na zona rural que surgiram as primeiras
construções. O desenvolvimento da carpintaria japonesa,
no início não se utilizavam pregos, só sambladuras. Com
o tempo ocorrem influências de outros carpinteiros da re-
gião e a adaptação à realidade local.
Os imigrantes japoneses construíram suas casas, esco-
las e templos em madeira tanto na paisagem rural como
na urbana. Deixaram as suas marcas na arquitetura. São
casas marcadas pelo simbolismo na utilização do espaço e
no uso de elementos ornamentais nas fachadas.
As casas produzidas na zona urbana foram adaptan-
do-se à planta padrão e à volumetria praticada pela maio-
ria dos carpinteiros de outras origens, mas preservavam
algumas particularidades no uso do seu espaço interno e
algumas características ornamentais que lhe conferiam
identidade própria.
As principais particularidades do seu espaço interno
eram:

2
Yamaki, Humberto. Pré manual de regulamentação, Lei nº 454/93. Assaí,
1994.

ARQUITETURA EM MADEIRA 221


• presença de um compartimento às vezes acoplado ao
banheiro para os banhos de imersão (ofurô);
• presença de um simbolismo no conjunto sala de estar
guenkan, a sala é marcada quase sempre por ornamen-
tos em madeira sobrepostos sobre as paredes e forro,
marcando-a como ambiente mais importante da casa,
o guenkan (varanda) é marcado de um simbolismo que
o dignifica como hall de entrada da casa privativo às
visitas. Sempre elevada do solo, a varanda tem presen-
ça marcante na volumetria da casa. Seu tratamento co-
meça pela composição da escada de acesso e vai até os
tratamentos ornamentais com ranma (rendilhado) no
seu emolduramento superior e parapeito.

As principais características da volumetria são:


– cobertura irimoya (com quatro águas e janelas triangu-
lares composta com peças de madeira treliçada, origi-
nalmente com a função de retirar a fumaça provocada
pelos fogões à lenha e ventilar o telhado);
– presença de ranma (rendilhado no emolduramento e
parapeito das varandas);
– presença de onigawara (elemento de cimento) locali-
zado no alto do frontão ou espigão das casas.

Na zona rural, principalmente em Assaí e Uraí,


municípios que foram planejados por companhias
japonesas, além das casas, os imigrantes marcaram a
paisagem rural com os centros de convivência, implantados
no centro geográfico das secções com área aproximada de
15 ha, e é composto por edifícios que abriga uma escola,
casa do professor e o kaikan (sede da associação) para

222 ARQUITETURA EM MADEIRA


realização das festas comemorativas3. O kaikan é o edifício
WC OFURÔ que se destaca do conjunto de edificados tanto na
COZINHA
estruturação que dá à praça, como pelo tratamento
ornamental recebido.
DESPENSA
Inventariamos alguns edifícios realizados por car-
pinteiros japoneses tanto na zona urbana como na ru-
COPA
QUARTO ral, são casas, kaikan, escola, que serão apresentados na
seguinte ordem:
– Casas Urbanas;
– Kaikan;
SALA QUARTO
– Escola;
– Templo Budista.
GUENKAN QUARTO

As casas edificadas pelos carpinteiros japoneses pos-


suem soluções programáticas que lhe conferem identida-

Planta padrão adaptada pelos imigrantes japoneses


de nipônica. Tal identidade está presente tanto nas casas
produzidas na zona rural como na zona urbana, embora
nas da zona rural o programa de necessidades seja mais
complexo. Foi na zona urbana que os carpinteiros mais
ÁREA DE WC
lançaram mão de recursos plásticos para elaboração de suas
SERVIÇO
casas. Os carpinteiros japoneses foram se adaptando às
plantas padrões produzidas por outros carpinteiros, mas
QUARTO
COZINHA mantiveram algumas particularidades tanto na organiza-
ção do espaço interno como no externo, que lhe conferem
identidade própria.
QUARTO
O programa da maioria das casas urbanas produzidas
SALA por mestres carpinteiros japoneses, como as demais casas
em madeira da região, compõem-se de quatro zonas bási-

QUARTO

VARANDA

3
O planejamento da área rural pelas companhias colonizadoras japone-
sas havia subdivisões em secções (KU) com área de 3000ha, sendo
Planta padrão da região de Londrina, Pr que cada secção possuía um centro de convivência que localizado no
centro geográfico das secções. Ver Ajimura, Cássia. Centro de vivência
rural. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
Observar nas plantas padrões adaptadas pelos carpinteiros japoneses a presença do ofurô (ba- CESULON, 1988. Apud Yamaki, Humberto. Spatial Structure of cida-
nho de imersão) sempre nos fundos junto com a área de serviço e a cozinha, e no guenkan des Novas: new setllement towns. Tese de doutoramento, Universi-
(varanda) a presença de uma escada central que se abre para o exterior. dade de Osaka, Japão, 1984.

ARQUITETURA EM MADEIRA 223


cas: estar, repouso, serviços e higiene do corpo. A zona de
estar é composta pela sala e pelo “guenkan” – área desig-
nada como varanda; o repouso é composto pelos quartos,
quase sempre com ligação direta para sala ou copa; no se-
tor de serviços encontra-se a cozinha, área de serviço e
despensa; a área que trata da higiene do corpo geralmente se
localiza nos fundos, próximo à área de serviço e é com-
posta de um compartimento com vaso sanitário, pia e um 1 – Dormitório
compartimento onde se localiza “ofurô”. 2 – Sala
3 – Copa/cozinha
A técnica e sistema construtivo utilizado pelos carpin- 4 – Depósito
5 – Varanda
teiros japoneses nestas casas não foi a mesma utilizada nas 6 – WC
7 – Despensa
primeiras casas rurais que utilizavam-se de sambladuras 8 – Ofurô
9 – Área de serviço
sem a utilização do prego e de ideogramas (sistema de
codificação para montagem da casa). A técnica e o sistema
construtivo da casa urbana japonesa, construída nas déca-
das de 1950 e 1960 em Londrina, aproxima-se muito das
utilizadas pelos demais carpinteiros da região, diferenci-
ando-se apenas na utilização das ferramentas e nos acaba- Planimetria

mentos tanto nos rendilhados como nas sambladuras, po-


rém o material utilizado é o mesmo a peroba rosa e segue
a mesma seqüência de montagem: arcabouço estrutural
apoiado em pilaretes de alvenaria ou troncos de madeira
formado por quadros horizontais inferior e superior inter-
ligados por esteios e emolduramentos dos vãos das jane-
las e portas, com sistema de vedação tábua e mata-junta
na vertical.
Embora o programa de necessidade, a técnica e o sis-
tema construtivo sejam parecidos com as outras casas de
madeira da região, o uso das casas pelos japoneses e o tra-
tamento simbólico dos ornamentos apresentam algumas
particularidades que lhe conferem um caráter próprio e as
identificam como casas de imigrantes japoneses. Analisan-
do a maioria das plantas e volumes produzidos na zona
urbana de Londrina, observamos semelhanças
planimétricas e volumétricas com as casas da região, ou Geometria do telhado (presença do irimoya)

224 ARQUITETURA EM MADEIRA


seja, a utilização do mesmo padrão de planta e volume
das demais casas urbanas, mas com a presença de um tra-
tamento simbólico na construção dos ambientes internos
e nas fachadas e ornamentos.
As qualidades plásticas das casas urbanas japonesas
estão centradas nas riqueza de seus elementos, enrique-
cendo a volumetria com a colocação do telhado irimoya
(treliça de madeira no frontão) guenkan e ornamentos
como oniguawara e ranma. Todos estes elementos lhe con-
ferem uma identificação nipônica diferenciando das de-
mais casas em madeira da região.

Composição da fachada (presença do irimoya, ranma e guenkan com escada central)

Volumetria

ARQUITETURA EM MADEIRA 225


O FURÔ

Planta

RESIDÊNCIA TRAVESSA J. K. – LONDRINA

226 ARQUITETURA EM MADEIRA


Fachada

RESIDÊNCIA TRAVESSA J. K. – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 227


Isométrica

RESIDÊNCIA TRAVESSA J. K. – LONDRINA

228 ARQUITETURA EM MADEIRA


Casa de imigrante japonês – construção 1956 – Travessa JK, 2 – Londrina, Pr
Foto: do autor, 1982

ARQUITETURA EM MADEIRA 229


Rua Borba Gato – construção de 1950
Foto: do autor, 1982

Rua Venezuela, 532 – construção de 1955 Rua Maragogipe, 234 – construçãode 1953
Foto: do autor, 1982 Foto: do autor, 1997

230 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Guaranis, 272 – construção de 1951
Foto: do autor, 1997

Rua Rio Grande do Norte, 197 – construção de 1952


Foto: do autor, 1997

ARQUITETURA EM MADEIRA 231


Fachada

Planta

RESIDÊNCIA RUA BAHIA, 425 – LONDRINA

232 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

RESIDÊNCIA RUA BAHIA, 425 – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 233


Rua Bahia, 425 – Presença de elementos característicos da arquitetura tradicional japonesa:
irimoya, oniguawara(telha de ponta), ranma, parapeito e escada central na varanda (guenkan).
Foto: do autor, 1997

Guenkan, irimoya, ranma e escada central, marcam a presença do


imigrante japonês.
Foto: do autor, 1997

Irimoya (janela treliçada no frontão) e oniguawara (telha de ponta)

234 ARQUITETURA EM MADEIRA


Planta

RESIDÊNCIA ROLÂNDIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 235


Isométrica

RESIDÊNCIA ROLÂNDIA

236 ARQUITETURA EM MADEIRA


Detalhe irimoya e oniguawara
Foto: Faraz Behroozi, 1994

Rua Presidente Bernardes – Rolândia. Construída por carpinteiros japoneses em 1965.


Foto: do autor, 1991

ARQUITETURA EM MADEIRA 237


Interior – janela de canto
Foto: Faraz Behroozi, 1994

Balcão com janela de canto, irimoya nos frontões e oniguawara.Os ranma do emolduramento
superior das varandas já foram destruídos.
Foto: Faraz Behroozi, 1994

238 ARQUITETURA EM MADEIRA


Irimoya – Rua Rio Grande do Norte – Londrina PR
Foto: do autor, 1997

Irimoya – Av. Presidente Bernardes – Rolândia PR


Foto: Faraz Behroozi, 1994

Irimoya – Rua Maragogipe, 234 – Londrina PR


Foto: do autor, 1997 ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 239


Irimoya – Rua Anita Garibaldi, 83 – Londrina PR
Foto: do autor, 1996

Oniguawara kaikan – Colônia Lorena – Cambé


Foto: Cesar Cortez, 1993

Irimoya – Travessa JK, 2 – Londrina PR


Foto: do autor, 1982

ORNAMENTOS

240 ARQUITETURA EM MADEIRA


Irimoya / Oniguawara

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 241


Irimoya / Oniguawara

ORNAMENTOS

242 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vila Casoni e Vila Nova Vila Brasil

Vila Brasil Vila Casoni

Vila Nova e Vila Brasil

Oniguawara

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 243


Irimoya e ranma – Rua Guaranis, 272 – Londrina PR
Foto: do autor, 1997

Ranma – Rua Alagoas, 734 – Londrina PR Ranma – Rua Paes Leme, 271 – Londrina PR
Foto: do autor, 1997 Foto: do autor, 1997

ORNAMENTOS

244 ARQUITETURA EM MADEIRA


Ranma – Rua Bahia, 213 fundos – Londrina PR
Foto: do autor, 1997

Guenkan e ranma – Rua Bahia, 425 – Londrina PR


Foto: do autor, 1996

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 245


Rua Borba Gato, 728 Residência / Rolândia

Rua Bahia Rua Paes Leme, 271

Fonte: Nakabayashi, Mônica. Habitação urbana dos imigrantes japoneses em Londrina. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo UEL, 1988.

Ranma

ORNAMENTOS

246 ARQUITETURA EM MADEIRA


Rua Paes Leme, 795 Rua Bahia, 425

Rua Bahia, 213 fundos Rua Brasil, 1085

Fonte: Nakabayashi, Mônica. Habitação urbana dos imigrantes japoneses em Londrina. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo UEL, 1988.

Ranma

ORNAMENTOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 247


Sumidome Hoso Sashi Koshikake Ari Tsugui Kabutoari Shiguti

Kanawa Tsugui Koshikake Ari Tsugui Kanawa Tsugui

Fonte: Nakabayashi, Mônica. Habitação urbana dos imigrantes japoneses em Londrina. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo UEL, 1988. Apud. Yamaki, Humberto. Ambiente vivencial
dos nikkeis no Brasil. Relatório de Pesquisa Toyota Foundation, 1986.

SAMBLADURAS

248 ARQUITETURA EM MADEIRA


Sumitsubo (feito de nó de cabreúva, serve para
traçar retas)
Tyona (enxada para descascar madeira)

Kanna (plaina)

Ryoba Noko (serra dos dois lados)

Kebiki Nomi (formão)

Doubiki Noko

Embiki Noko (fazer círuculos)


tatebiki Nokoguiri

Fonte: Nakabayashi, Mônica. Habitação urbana dos imigrantes japoneses em Londrina. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo UEL, 1988. Apud. Yamaki, Humberto. Ambiente vivencial
dos nikkeis no Brasil. Relatório de Pesquisa Toyota Foundation, 1986.

ARQUITETURA EM MADEIRA 249


Kainkan (Clube Agrícola)

Além das casas, os carpinteiros japoneses construíram


os Kaikans, centro de convivência rural ou clube agrícola,
templos e escolas. Esses edifícios, assim como as casas, são
marcados por elementos que os identificam como perten-
centes à cultura japonesa. Estão presentes o telhado
irimoya, o guenkan, ranma e oniguawara.
Os centros de convivência rural (KAIKAN) surgiram
a partir da necessidade de organização da vida social dos
imigrantes japoneses que chegaram em grande número no
norte do Paraná nas décadas de 1940 e 1950. Se organiza-
Organização do assentamento no município de Assaí
ram em associação comumente chamada de “NIHONJINKAI”, Fonte: Ajimura, Cássia. Centro de vivência rural. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
CESULON, 1988. Apud Yamaki, Humberto. Spatial Structure of Cidades Novas: new settlement towns, Tese
literalmente “Associação de Japoneses”, no qual os imi- de Doutoramento, Universidade de Osaka, Japão, 1984.

grantes reservavam o lote central da gleba loteada para


assentamento da colônia, destinado à construção do
Kaikan. Esses espaços não eram utilizados só para cons-
trução do Kaikan, mas também para o plantio do café que
seria revertido para manutenção do clube agrícola.4
Os objetivos do “NIHONJINKAI” eram: desenvolver
entre os associados o sentimento de união; intensificar as
atividades educacionais e instrutivas; celebração de festi-
vais; assistência e outros.5
A organização dos assentamentos no município de
Assaí é composta da seguinte maneira: núcleo urbano e
secção, que são interligados por estradas, sendo que o pri-
meiro localiza-se no centro do assentamento, cada secção
é dividida em “Kumi” e tem um chefe (Kucho), indicado
pelos membros associados e responsável pelo seu setor que

4
Ajimura, Cássia. Centro de vivência rural. Trabalho de Graduação em
Arquitetura e Urbanismo, CESULON, 1988. Apud Yamaki, Humberto.
Spatial Structure of Cidades Novas: new settlement towns, Tese de Modelo de organização da secção
Doutoramento, Universidade de Osaka, Japão, 1984. Fonte: Ajimura, Cássia. Centro de vivência rural. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
CESULON, 1988. Apud Yamaki, Humberto. Spatial Structure of Cidades Novas: new settlement towns, Tese
5
Ibid. de Doutoramento, Universidade de Osaka, Japão, 1984.

250 ARQUITETURA EM MADEIRA


Kaikan – Uso do espaço interno segundo atividade
se constitui de grupos de quatro a cinco famílias, em que o
kaikan se localiza no centro geográfico desta.6
Além de Assaí e Uraí, que foram planejadas e loteadas
por uma companhia de origem japonesa, a BRATAC, ou-
tros municípios do norte do Paraná tiveram seus kaikans,
embora em uma organização espacial diferente em função
de estarem ocupando terras loteadas por companhias de
origem não-japonesa. Como exemplo podemos citar a co-
lônia Lorena, no município de Cambé, onde os japoneses
compraram da Companhia Melhoramentos uma área de
Uso para casamentos e festas
1 – Lugares para noivos, pais e padrinhos terras na década de 1940 e organizaram-se através do clu-
2 – Lugares para parentes
3 – Lugares para convidados be agrícola, construindo um salão de festas, uma escola e
residência. Mais tarde, já na década de 1960, nessa mesma
área foi construída uma igreja católica.
O clube agrícola geralmente era composto por salão
de festas, uma escola, uma casa no qual morava o profes-
sor, e um campo de esportes, localizado sempre no centro
geográfico da colônia agrícola em um lote de terras que
variava de 5 a 15 alqueires, sempre na cabeceira do
loteamento e frente para estrada principal.
O salão de festas do clube agrícola (Kaikan) era utili-
zado para festivais artísticos, esportivos, casamentos e con-
Uso para concursos
1 – Lugares destinado aos juízes cursos. Mais do que um simples evento, esses festivais ti-
2 – Lugares destinados para convidados especiais
3 – Lugares destinados ao público em geral nham a função de fazer o colono sentir-se um membro da
comunidade.
Além dos clubes agrícolas na zona rural, os japoneses
Fonte: Ajimura, Cássia. Centro convivência rural. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
CESULON, 1988. se organizavam através de templos religiosos na zona ur-
bana como os templos budistas. É o caso do templo Nambei
Honganji, construído por carpinteiros japoneses em 1956
na vila Brasil em Londrina, que tem a dupla função tem-
plo e clube social.

6
Ibid.

ARQUITETURA EM MADEIRA 251


Apresentaremos, a título de exemplo, dois clubes agrí-
colas (Kaikan) representativos da zona rural: um na secção
Figueira em Assaí e outro na colônia Lorena em Cambé.
Como exemplo da zona urbana, apresentaremos a Igreja/
Kaikan da vila Brasil em Londrina.
Todos os edifícios para atividades sociais, esportivas e
religiosas foram construídos nas décadas de 1940 e 1950
por mestres carpinteiros japoneses e deixaram a sua mar-
ca na arquitetura em madeira da região.

Detalhe do portal na entrada principal. Kaikan – Vila Brasil, Londrina PR


Foto: Kátia Giglio, 1995

252 ARQUITETURA EM MADEIRA


8

Vista geral – salão, residência e escola


3 Foto: Mario Fragoso, 1987

4 CAMPO

Salão de festas
Foto: Mario Fragoso, 1987

1 – Kaikan
2 – Escola
8 3 – Residência
4 – Sanitário
5 – Churraqueira
6 – Quadra Gate Ball
7 – Quadra de esportes
8 – Área de plantio

Fonte: Ajimura, Cássia. Trabalho de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, CESULON, 1988. Apud Yamaki,
Humberto. Spatial Structure of Cidades Novas: new settlement towns, Tese de Doutoramento, Universidade
de Osaka, Japão, 1984.
Escola
Foto: Mario Fragoso, 1987

KAIKAN SECÇÃO FIGUEIRA – ASSAÍ

ARQUITETURA EM MADEIRA 253


COZINHA

PALCO

SALÃO Vista frontal do guenkan e irimoya


Foto: Mario Fragoso, 1987

GUENKAN

Vista lateral
Foto: Mario Fragoso, 1987

KAIKAN SECÇÃO FIGUEIRA – ASSAÍ

254 ARQUITETURA EM MADEIRA


Implantação

KAIKAN COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 255


Planta Salão de Festas

KAIKAN COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

256 ARQUITETURA EM MADEIRA


Fachada Frontal

KAIKAN COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 257


Isométrica

KAIKAN COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

258 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista frontal – escadaria e frontão com oniguawara
Foto: Cesar Cortez, 1993

Detalhe oniguawara
Foto: Cesar Cortez, 1993

Detalhe escora
Foto: Cesar Cortez, 1993

KAIKAN COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 259


Templo Budista Nambei Honganji
Local: Rua Venezuela, 180 Vila Brasil – Londrina PR
Construção: início da década de 1940

Implantação

KAIKAN / IGREJA – LONDRINA

260 ARQUITETURA EM MADEIRA


Planta Templo Nambei Honganji

KAIKAN / IGREJA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 261


Corte estrutura do telhado

KAIKAN / IGREJA – LONDRINA

262 ARQUITETURA EM MADEIRA


Estrutura horizontal / vertical

KAIKAN / IGREJA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 263


Estrutura do telhado

KAIKAN / IGREJA – LONDRINA

264 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

KAIKAN / IGREJA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 265


Irimoya (fundos)
Interior detalhe madeiramento Foto: Kátia Giglio, 1995
Foto: Kátia Giglio, 1995

Hall de entrada guenkan (detalhes teto)


Foto: Kátia Giglio, 1995

KAIKAN / IGREJA – LONDRINA

266 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista geral – Rua Venezuela, 180 – Londrina PR (Irimoya frontal e lateral)
Foto: do autor, 1992

KAIKAN / IGREJA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 267


A MARCA DOS IMIGRANTES ALEMÃES
EM ROLÂNDIA

Os Alemães em Rolândia

A vinda dos alemães à Rolândia está ligada à Socieda-


de para Estudos Econômicos de Além Mar. Criada em 1927,
auxiliava aqueles interessados na emigração, principal-
mente os que estavam desempregados. Presidida pelo
ex-Ministro do interior Erick Koch Weser e tendo como
sócios bancos, companhias de navegação, representantes
de partidos políticos e de indústrias, essa sociedade faz 1ª Escola Alemã de Rolândia, construída em 1935, por carpinteiros alemães, dirigidos pelo mes-
tre Adolf Schell.
contato com a Companhia de Terras Norte do Paraná atra- Foto: Acervo IPAC – UEL
vés da Paraná Plantations, na Inglaterra, procurando
viabilizar um projeto de colonização no Brasil.
Confirmado os entendimentos, a Companhia de Ter-
ras reservou uma área a ser ocupada pelos alemães a pre-
ços mais acessíveis. A partir de 1932, chegaram os primei-
ros alemães, ocupando os lotes rurais da área que, mais
tarde, faria parte do município de Rolândia.
A ascensão do nacional-socialismo ao poder na Ale-
manha fez surgir novos interessados nesse processo de
emigração, pois não aceitavam as novas orientações do go-
verno alemão. Tal fato mudou a realidade norte-
paranaense, trazendo para Rolândia imigrantes que ocu-
pavam, no seu país de origem, cargos como políticos, ju-
ristas, médicos, economistas, engenheiros, comerciantes,
funcionários de bancos, além de professores universitári-
os e de ensino fundamental e médio, vieram também mem-
bros de associações juvenis religiosas, católicos do partido
do “Zentrum”e de associações operárias.
A presença dos imigrantes no município de Rolândia
deixou sinais, quer no aspecto cultural, quer no aspecto
econômico. Na arquitetura os imigrantes alemães conce-
beram e construíram os seus espaços adaptando-se ao novo

268 ARQUITETURA EM MADEIRA


meio físico e material local, mas sempre com característi-
cas alemãs. Construíram escolas, clubes, hotéis e casas de
comércio na zona urbana e grandes sedes de fazendas de
café na zona rural. Muitas destas edificações já foram de-
molidas, mas ainda restam, edifícios em madeira que são
testemunhos da época e marcam a presença da cultura ale-
mã na cidade de Rolândia.
A arquitetura em madeira dos edifícios produzidos pe-
los imigrantes alemães em Rolândia marca o ápice da ar-
quitetura em madeira no norte do Paraná, que se impõe
tanto pelo tamanho quanto pelas suas qualidades plásti-
cas e construtivas.
O cuidado e o esmero dos carpinteiros alemães auxili-
ados por carpinteiros da região é facilmente notado atra-
vés de fotos de construções já demolidas, como a primeira
escola alemã e o primeiro clube alemão. Nas construções
remanescentes da época como o conjunto de edificados na
zona urbana, os Hotéis Estrela e Rolândia e, na zona rural,
as sedes de fazendas.
A arquitetura produzida por imigrantes alemães não
se constitui em uma arquitetura alemã ou de origem ale-
mã. As casas construídas na Alemanha obedecem a valo-
res específicos, enquanto as que foram implantadas em
Rolândia passam por uma adaptação ao modo de vida lo-
cal. Adaptação subordinada à cultura construtiva, ao ma-
terial e ao clima da região.
Os imigrantes alemães de Rolândia são,
majoritalmente, de origem urbana e com um tipo de cul-
tura particular. Eles definiram o projeto de moradia, le-
vando em consideração as finalidades e as necessidades
de ordem funcional. Para tanto recorreram a tratamentos
formais que lembram as construções de sua terra natal: o
telhado (Kruppelwalwamdach), tesouras atirantadas, pre-
sença de sótão, localização das portas, janelas de canto,
1ª Clube Alemão “Concordia” construído por carpinteiros alemães no início da década de 1940.
Foto: Acervo IPAC – UEL peitoril com aparador, revestimento interno formando

ARQUITETURA EM MADEIRA 269


parede dupla, mobiliário produzido artesanalmente com
madeira retirada da própria propriedade.

Sedes de Fazendas

Entre as fazendas do período cafeeiro, as construídas


por alemães são as mais representativas, tanto pelo seu
conjunto arquitetônico como pela manutenção e conser-
vação até hoje de toda sua estrutura original; ou seja, a
sede, as tulhas os terreirões e a colônia, tudo em madeira
(peroba rosa) extraída da própria fazenda.
No início das formações de fazendas e sítios no norte
do Paraná, todas as edificações eram executadas em ma-
deira, principalmente em peroba rosa. A peroba rosa era
abundante da região tanto que era quase sempre retirada
da propriedade e beneficiada nas serrarias mais próximas.
Havia, ainda, o hábito de se trocar uma quantidade de
madeira beneficiada por madeira em pé na mata virgem.
Na época existiam verdadeiras corporações de carpin-
teiros que se ocupavam basicamente de empreitadas de
construções em madeira. Fazendas como a Lunardelli em
São Sebastião da Amoreira chegaram a ter mil casas de
colonos, todas construídas em madeira. Com a decadên-
cia da lavoura de café, a maior parte das construções envol-
vidas com esta monocultura foram demolidas e hoje restam
pouquíssimos exemplares representativos desse período.
Entre as mais representativas expressões manifestadas
na arquitetura em madeira rural da região, podemos citar
as casas sedes de algumas fazendas no município de
Rolândia, que, pelo seu caráter monumentalístico, desta-
cam-se na paisagem rural. Algumas dessas casas chegaram
ao ápice da arquitetura em madeira da região, tanto por suas
qualidades plásticas como por seu esmero construtivo.

270 ARQUITETURA EM MADEIRA


O cuidado e o esmero com a construção do conjunto
arquitetônico, composto quase sempre da casa sede, casa
do professor, tulhas, terreirões e casa dos colonos, deixa-
ram marcas na paisagem rural de Rolândia.
A arquitetura produzida nas sedes de fazendas for-
madas por imigrantes alemães não se constitui numa ar-
quitetura alemã ou de origem alemã. As casas construídas
na Alemanha obedecem a valores específicos, enquanto as
que foram implantadas em Rolândia passam por uma
adaptação ao modo de vida local. A adaptação, além dos
condicionantes climáticos e físicos, está subordinada à cul-
tura construtiva da região.
Os imigrantes que vieram para o Brasil nunca tinham
trabalhado na lavoura com um tipo de cultura particular,
definiram o projeto de sua moradia levando em conside-
ração as finalidades e as necessidades de ordem funcio-
nal. Para tanto recorreram a tratamentos formais usando
elementos que lembram as construções da sua terra natal:
localização das portas, janelas de canto, peitoris com apa-
rador, revestimento interno formando parede dupla e mo-
biliário produzido artesanalmente com madeira retirada
da propriedade.
Outro aspecto a ser considerado, diz respeito à implan-
tação do conjunto arquitetônico. A casa sede localiza-se
no espigão, que possibilita o domínio da paisagem da pro-
Conjunto estrutural sede Fazenda Veseroda – Rolândia, Pr priedade, possibilitando, por sua vez, além do controle do
trabalho, a contemplação da natureza.
A colônia quase sempre foi implantada no fundo do
vale, sempre próxima aos córregos, facilitando o abasteci-
mento de água. As tulhas e terreirões de café estão entre a
sede e a colônia.
Algumas fazendas tinham em seu conjunto
arquitetônico a casa do professor alemão que alfabetizava
seus filhos e a escola rural para os filhos dos colonos.

ARQUITETURA EM MADEIRA 271


O programa das sedes de fazendas é organizado em
plantas que variam de 300 a 600 m2, obedece às regras do
modo de viver característico desse grupo social como: se-
tor social composto por amplas salas e varandas; setor pri-
vado distribuído em duas alas – a casa dos pais e a dos
filhos – às vezes, acopla-se bibliotecas ou sala de refeições
íntimas; setor de serviços composto por cozinha e lavan-
deria. Às vezes, completa o programa da sede, a casa de
hóspedes e a casa do professor alemão.
A técnica e o sistema construtivo utilizado é o mesmo
das casas urbanas: arcabouço estrutural apoiado em
pilaretes de tijolos formado por dois quadros horizontais;
inferior e superior interligados por esteios e quadros de
janela e portas; com sistema de vedação, tábua e mata-
junta na vertical. O que diferencia o sistema construtivo
adotado nessas sedes das demais casas de madeira da re-
gião é a estrutura dos telhados que são compostos por te-
souras atirantadas (“kehlbalkensparrendach”), para pos-
sibilitar a utilização do sótão; paredes internas duplas. As
sedes eram construídas por equipes de carpinteiros da re-
gião sob responsabilidade de um mestre carpinteiro ale-
Fazenda Santa Cruz
mão. Assim o Sr. Schubert comandou as construções das
fazendas Janeta e Veseroda e o Sr. Frederico Tolkimit as
das fazendas Bimini e Gilgalla.
A madeira utilizada na estrutura e vedações foi a peroba
rosa, alguns revestimentos internos foram feitos em caviúna,
madeira de aparência clara e também abundante na região
de Rolândia nas décadas de 1930 e 1940.
O partido das casas, sedes de fazendas, são marcados
pela compartimentação das atividades funcionais em
blocos distintos conectadas por varandas ou circulações.
A fazenda Santa Cruz tem sua sede composta por quatro
blocos que dão para um pátio ajardinado. Cada bloco
abriga uma atividade: casa dos pais, casa dos filhos, casa

272 ARQUITETURA EM MADEIRA


dos hóspedes; a Fazenda Veseroda tem dois blocos
horizontais e um sótão, em um dos blocos abriga a área de
estar e serviço, em outro, os quartos dos filhos e no sótão
sobre a área de estar abriga o quarto dos pais.
As sedes das fazendas são marcadas pela
monumentalidade, sempre formando um conjunto
arquitetônico imponente pelo seu tamanho e implantação
no sítio, localizada, quase sempre, no espigão e com trata-
mento paisagístico no seu entorno destacando-se das fa-
zendas vizinhas.
O repertório básico é formado por blocos soltos do solo
como se fossem uma escultura em um pedestal, quase sem-
pre conectados por varandas, a cobertura dos blocos sem-
pre muito inclinadas em duas ou quatro águas com varia-
ção de inclinação em seus planos de telhados e com a pre-
sença de sótão, janela de cantos e bay window lhe conferem

Fazenda Gilgalla
uma tipologia típica da arquitetura centro européia adap-
tada à técnica e condições locais.
As superfícies das fachadas são marcadas pela textura
vertical da modulação tábua mata-junta e modulação das
janelas, superfícies, às vezes, pintadas ou envernizadas ou
ainda, em alguns casos, na madeira crua tratada com uma
mistura de óleo lubrificante queimado e óxido de ferro.
Há de se destacar nesse conjunto arquitetônico as tulhas
para secagem e armazenagem de café, tanto pela sua
modulação estrutural como pela ordenação dos seus
respiradores.

Fazenda Veseroda

ARQUITETURA EM MADEIRA 273


Varanda / Circulação Fazenda Bimini
Foto: do autor, 1993

Varanda Fazenda Veseroda


Foto: do autor, 1992

274 ARQUITETURA EM MADEIRA


1ª Sede da Fazenda Janeta construída no final da década de 1930 demolida no final da década de 1950.
Foto: Acervo IPAC – UEL

Sede da Fazenda Santa Cruz construída no início da década de 1940


Foto: Acervo IPAC – UEL

ARQUITETURA EM MADEIRA 275


Localização

FAZENDAS FORMADAS POR IMIGRANTES ALEMÃES – ROLÂNDIA-PR

276 ARQUITETURA EM MADEIRA


Área : 120 alqueires
Formada para café em 1936
Proprietário: Dr.Geert Koch Weser
Data do levantamento arquitetônico: 2º semestre de 1990

1 – Casa dos pais


2 – Casa dos filhos
3 – Casa dos hóspedes
4 – Casa do professor
5 – Escritório
6 – Tulhas / depósitos
7 – Terreirão
8 – Casa do administrador / fiscal
9 – Casa do colono
10– Campo de futebol
11– Escola

Implantação

FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 277


Planta da Sede

FAZENDA VESERODA

278 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte da estrutura do telhado da casa dos filhos

FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 279


Corte da estrutura de madeira da sede / casa dos pais

FAZENDA VESERODA

280 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica estrutural

FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 281


Estrutura horizontal / vertical

FAZENDA VESERODA

282 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 283


Varanda de ligação casa dos pais com a casa dos filhos
Foto: do autor, 1992

FAZENDA VESERODA

284 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista dos fundos vagão casa dos filhos
Foto: do autor, 1992

Interior estar
Foto: do autor, 1992 FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 285


Limpa pé e piso de tijolo – Pátio
Foto: do autor, 1992

Lateral da casa dos filhos e dos pais


Foto: do autor, 1992

Estrutura do telhado
FAZENDA VESERODA Foto: do autor, 1992

286 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista bay window e sótão
Foto: do autor, 1992

FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 287


Planta casa do colono

FAZENDA VESERODA

288 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista Casa do Colono
Foto: do autor, 1992

Porta da sala com portão para proteção de animais


Foto: do autor, 1992

Porta da cozinha – tipo saia e blusa


Foto: do autor, 1992
FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 289


Área : 125 Alqueires
Formada para Café em 1940
1º Prop. : Dr. Johannes Schauff
150 Mil Pés de Café até 1975
Levantamento Arquitetônico: 1º Sem. 1990

7
3 8
1
4 2

10

1 – Casa do professor
2 – Casa dos pais
3 – Casa dos filhos
4 – Casa dos hóspedes
5 – Escritório
6 – Estúdio – Casa da floresta
7 – Terreirão
8 – Tulhas
9 – Casas parceiros
10– Casas dos colonos

Implantação Geral

FAZENDA SANTA CRUZ

290 ARQUITETURA EM MADEIRA


CASA DOS PAIS
CASA DOS HÓSPEDES

4
2 1 1 1 8 6 7 1 1 1 1 1 11

2 1
3 2

1 – Quarto
2 – Varanda coberta
3 – Circulação coberta
4 – Banheiro
5 – Sala de refeições
5 6 – Cozinha
7 – Área de serviço
8 – Hall de entrada
1 9 – Varanda refeições
10– Varanda coberta brinquedos
11– Escritório
CASA DOS FILHOS 10 1

1 1

Sede – Casa dos pais, filhos e hóspedes

FAZENDA SANTA CRUZ

ARQUITETURA EM MADEIRA 291


Conjunto: casa dos pais, filhos e hóspedes (telhado de tabuinha de cedro) substituído na década de 1950 por telhas cerâmicas
Foto: Acervo IPAC – UEL, 1945

FAZENDA SANTA CRUZ

292 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista casa dos pais
Foto: Acervo IPAC, 1945
Vista varanda da casa dos filhos
Foto: Acervo IPAC, 1945

Vista lateral casa dos filhos


Foto: Acervo IPAC, 1945 FAZENDA SANTA CRUZ

ARQUITETURA EM MADEIRA 293


1 – Sala
2 – Quarto
3 – Cozinha
4 – Banheiro
5 – Varanda
6 – Copa
7 – Lavabo
8 – Sala de leitura
9 – Vestiário

Planta

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DOS PAIS

294 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DOS PAIS

ARQUITETURA EM MADEIRA 295


2
1
2

2 2

3
4

1 – Sala
2 – Quarto
3 – Cozinha
4 – Banheiro
5 – Varanda

Planta

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DOS FILHOS

296 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DOS FILHOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 297


1 – Sala
2 – Quarto
3 – Cozinha
4 – Banho
5 – Varanda
Planta

Isométrica

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DE HÓSPEDES

298 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte da estrutura do telhado

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DE HÓSPEDES

ARQUITETURA EM MADEIRA 299


Isometria da estrutura do telhado

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DE HÓSPEDES

300 ARQUITETURA EM MADEIRA


Esquema estrutural horizontal / vertical

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DE HÓSPEDES

ARQUITETURA EM MADEIRA 301


Isométrica

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DE HÓSPEDES

302 ARQUITETURA EM MADEIRA


Casa dos Pais
Foto: do autor, 1990 – Acervo IPAC – UEL

Vista lateral – Casa dos Filhos


Foto: do autor, 1990 – Acervo IPAC – UEL

Interior – Quarto Casa dos Pais


Foto: do autor, 1990 – Acervo IPAC – UEL FAZENDA SANTA CRUZ

ARQUITETURA EM MADEIRA 303


Vista lateral – Casa de Hóspedes
Foto: do autor, 1990 – Acervo IPAC – UEL

FAZENDA SANTA CRUZ

304 ARQUITETURA EM MADEIRA


1 – Sala
2 – Quarto
3 – Cozinha
4 – Banheiro
5 – Varanda
6 – Área de serviço
7 – Despensa
8 – Sala de leitura

Planta

Isométrica

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DO PROFESSOR ALEMÃO

ARQUITETURA EM MADEIRA 305


Vista dos fundos
Foto: do autor, 1991 – Acervo IPAC – UEL

Detalhe da janela
Varanda frontal
Foto: Rui Cabral, 1991 – Acervo IPAC – UEL
Foto: do autor, 1991 – Acervo IPAC – UEL

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DO PROFESSOR ALEMÃO

306 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista frontal e lateral
Foto: do autor, 1991 – Acervo IPAC – UEL

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DO PROFESSOR ALEMÃO

ARQUITETURA EM MADEIRA 307


1 – Sala
2 – Quarto
3 – Cozinha
4 – Área de serviço
5 – Chuveiro

Planta

Isométrica

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DO COLONO

308 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista lateral
Foto: Rui Cabral, 1991 – Acervo IPAC – UEL

FAZENDA SANTA CRUZ – CASA DO COLONO

ARQUITETURA EM MADEIRA 309


Área : 133 Alqueires
Formada para café 1935
1º Prop.: Dr. Erich Kock Weser
Levantamento arquitetônico: 2º sem. 1993

1 – Casa sede
2 – Casa de hóspedes
3 – Terreirão
4 – Tulhas
5 – Casa do administrador
6 – Casa do fiscal
1 7 – Escritório
8 – Casa dos colonos
9 – Escola

4
6
3

5
8
7

7 9

FAZENDA JANETA

310 ARQUITETURA EM MADEIRA


1 – Escritório
2 – Varanda
3 – Quarto
4 – Armário / Depósito
5 – Banheiro
6 – Lavabo
7 – Hall
8 – Sala de estar
9 – Copa
10– Cozinha
11– Lavanderia
12– Circulação]
13– Lareira

Planta

FAZENDA JANETA – CASA SEDE

ARQUITETURA EM MADEIRA 311


Corte da estrutura do telhado

FAZENDA JANETA – CASA SEDE

312 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

FAZENDA JANETA – CASA SEDE

ARQUITETURA EM MADEIRA 313


Sotão – Estrutura do telhado
Foto: do autor, 1993

FAZENDA JANETA – CASA SEDE

314 ARQUITETURA EM MADEIRA


Interior – Hall de entrada
Foto: do autor, 1993

Vista frontal
Foto: do autor, 1993

Detalhe escada
Foto: do autor, 1993

Vista varanda
Foto: do autor, 1993

FAZENDA JANETA – CASA SEDE

ARQUITETURA EM MADEIRA 315


Corte AA

Planta

Isométrica

FAZENDA JANETA – CASA DO COLONO TIPO A

316 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte AA

Planta

Isométrica

FAZENDA JANETA – CASA DO COLONO TIPO B

ARQUITETURA EM MADEIRA 317


Corte

Planta

Isométrica

FAZENDA JANETA – CASA DO COLONO TIPO C

318 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte AA

Planta

Isométrica

FAZENDA JANETA – CASA DO COLONO TIPO D

ARQUITETURA EM MADEIRA 319


Corte AA

Isométrica

Planta

FAZENDA JANETA – ESCOLA

320 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica estrutural

FAZENDA JANETA – CASA DO COLONO

ARQUITETURA EM MADEIRA 321


Vista Casa do Colono Tipo A
Foto: do autor, 1993

Vista Casa do Colono Tipo B


Foto: do autor, 1993
FAZENDA JANETA – CASA DO COLONOS

322 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista geral da colônia no fundo do vale
Foto: do autor, 1993

Seqüência de três casas de colonos Tipo A


Foto: do autor, 1993
FAZENDA JANETA – CASA DO COLONOS

ARQUITETURA EM MADEIRA 323


Área: 56 Alqueires
Formada para café em 1936
1º Proprietário: Friedrich Ernst Trauman
Levantamento Arquitetônico: 2º sem. 1992

1 – Antiga casa sede


2 – Casa dos filhos
3 – Terreirão – tulhas / depósito
4 – Abrigo de máquinas
5 – Depósito
6 – Paiol
3
7 – Casa do administrador
8 – Casa sede atual
9 9 – Colônia
2
4
5

7
1

Implantação

FAZENDA GILGALLA

324 ARQUITETURA EM MADEIRA


Planta

FAZENDA GILGALLA – CASA SEDE

ARQUITETURA EM MADEIRA 325


Isométrica

FAZENDA GILGALLA – CASA SEDE

326 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista geral da sede em construção na década de 1940
Foto: Acervo IPAC – UEL

Vista varanda frontal Detalhe chaminé


Foto: Acervo IPAC – UEL, 1992 Foto: do autor, 1992

Interior da sala (janela de canto)


Foto: Acervo IPAC – UEL, 1992

Vista dos fundos


Foto: do autor, 1992 FAZENDA GILGALLA

ARQUITETURA EM MADEIRA 327


Área: 86 Alqueires
Formada para Café em 1936
1º Proprietário: Hans Hildegard Kirchhein
Levantamento Arquitetônico: 1º Sem 1994
8

8
4
1 – Canil
2 – Piscina
3 – Acesso principal
4 – Vegetação
1 5 – Passeio / pedras

4
5

Implantação – Cobertura sede

FAZENDA BIMINI

328 ARQUITETURA EM MADEIRA


1 – Varanda
2 – Quarto
3 – Abrigo
4 – Despensa
5 – Área de serviço
6 – Cozinha
7 – Sala de refeições
8 – Circulação
9 – Banheiro
10 – Lavabo
11 – Entrada principal
12 – Hall de entrada
13 – Escada
14 – Hall íntimo
15 – Escritório
16 – Biblioteca
17 – Sala de estar
18 – Torre / caixa d’água

Planta Casa Sede


FAZENDA BIMINI

ARQUITETURA EM MADEIRA 329


Corte da estrutura do telhado com sótão

FAZENDA BIMINI

330 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica – Casa Sede

FAZENDA BIMINI

ARQUITETURA EM MADEIRA 331


Vista varanda fundos
Foto: do autor, 1994 – Acervo IPAC – UEL
Interior Sala
Foto: do autor, 1994 – Acervo IPAC – UEL

Varanda
Foto: do autor 1994 – Acervo IPAC – UEL

Vista geral
FAZENDA BIMINI – CASA SEDE Foto: do autor 1994 – Acervo IPAC – UEL

332 ARQUITETURA EM MADEIRA


Entrada principal
Foto: do autor, 1994 – Acervo IPAC – UEL

FAZENDA BIMINI – CASA SEDE

ARQUITETURA EM MADEIRA 333


Planta

FAZENDA BIMINI – CASA DO PROFESSOR

334 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista geral
Foto: do autor, 1994

Porta da cozinha “saia e blusa” e escada de madeira


Foto: do autor, 1994

Varanda
Foto: do autor, 1994 FAZENDA BIMINI – CASA DO PROFESSOR

ARQUITETURA EM MADEIRA 335


Área : 50 alqueires
Formada para café em 1939
Proprietário: Eugênio Ranke
Levantamento arquitetônico: 1º sem. 1994

Implantação

FAZENDA MARTA

336 ARQUITETURA EM MADEIRA


DESPENSA QUARTO SERVIÇO
QUARTO COZINHA

WC

VARANDA

QUARTO

VARANDA ESTAR

PISCINA
SALA

VARANDA

Planta Casa Sede

FAZENDA MARTA

ARQUITETURA EM MADEIRA 337


Isométrica

FAZENDA MARTA

338 ARQUITETURA EM MADEIRA


Interior – Sala de refeições
Foto: Acervo IPAC – UEL

Vista da Casa Sede na década de 1930


Foto: Acervo IPAC – UEL

FAZENDA MARTA – CASA SEDE

ARQUITETURA EM MADEIRA 339


Vista frontal
Foto: do autor, 1994 – Acervo IPAC – UEL

FAZENDA MARTA

340 ARQUITETURA EM MADEIRA


Hotéis Rolândia e Estrela

Além das fazendas formadas pelos alemães, um con-


junto de edifícios construído em madeira na década de 1930
marca a paisagem urbana de Rolândia. Esses dois edifíci-
os são destinados à função de hotel, apesar das adapta-
ções sofridas durante a sua história, preservam os traços
originais na sua volumetria do telhado utilizado o
“Krüppelwandach”.

Hotel Rolândia
Construção: l935
Carpinteiro: Frederico Tolkimit
Área : 400,00 m2
Ano Levantamento arquitetônico: 2º sem. 1992

Hotel Pinheiros (antigo Estrela)


Construção 1937
Carpinteiro: Frederico Tolkmit
Área: 270,00 m2
Ano Levantamento arquitetônico: 2º sem. 1992

Programa
Originalmente tanto o hotel Rolândia como o Hotel
Pinheiros (Hotel Estrela) eram compostos de três setores
básicos: ala de repouso, composta pelos quartos e um blo-
co de banheiro; ala de serviços, composta pela cozinha e
lavanderia; ala de estar, recepção e café, composto por uma
ampla sala e a varanda que além de área de estar servia
como hall de entrada.

Técnica e Sistema Construtivo


A técnica e o sistema construtivo utilizado é o mesmo
empregado em todo norte do Paraná: arcabouço estrutural
apoiado em pilaretes de tijolos (originalmente era
Hotéis Rolândia e Estrela construídos em 1935 e 1937 pelo carpinteiro alemão Frederico Tolkmit apoiado em troncos de madeira), formado por dois
Foto: Acervo IPAC – UEL

ARQUITETURA EM MADEIRA 341


quadros horizontais; inferior e superior interligados por
esteios e quadros de janela e portas; com sistema de
vedação tábua e mata-junta na vertical, na estrutura do
telhado a presença de tesouras romanas nota-se a
adaptação, a maneira de construir tradicional da região.
O partido arquitetônico é determinado pela geometria
do telhado e a soltura do arcabouço da edificação do solo.
O telhado, com uma forte declividade, cobre o edifício em
forma de L com uma saliência marcando a varanda que
faz a função de hall de entrada. Na ala mais alongada abri-
ga os quartos e na frontal o estar e serviços.

Qualidades Plásticas
As qualidades plásticas dos hotéis, assim como as se-
des de fazendas, estão centradas na monumentalidade e
imponência, que o conjunto impõe na paisagem, pelo seu
tamanho, textura e cor. O volume solto do solo, a
volumetria do telhado e a soltura da varanda conferem
aos hotéis Rolândia e Pinheiros uma identidade própria
que mostra aos viajantes o que foi e o que representou a
arquitetura em madeira para o desenvolvimento do norte
do Paraná.

Hotel Rolândia 1935, recém inaugurado (telhado da varanda com a mesma geometria dos telha-
dos da Alemanha “Kruppelwamdach”
Foto: Acervo IPAC – UEL

342 ARQUITETURA EM MADEIRA


1 – Quarto
2 – Circulação
3 – Sanitário
4 – Varanda
5 – Estar
6 – Cozinha
7 – Serviço

Planta

HOTEL PINHEIROS – ROLÂNDIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 343


HOTEL PINHEIROS – ROLÂNDIA

344 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

HOTEL PINHEIROS – ROLÂNDIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 345


Interior – Recepção
Foto: do autor, 1992

Presença do “Krüppelwandach” no frontão do telhado lateral e frontal


Foto: do autor, 1992

HOTEL PINHEIROS – ROLÂNDIA

346 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista do conjunto – Hotel Pinheiros e Rolândia
Foto: do autor, 1992

HOTEL PINHEIROS – ROLÂNDIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 347


Interior sala de café Vista do telhado
Foto: do autor, 1992 Foto: do autor, 1992

Interior do quarto
Foto: do autor, 1992

HOTEL PINHEIROS – ROLÂNDIA

348 ARQUITETURA EM MADEIRA


1 – Quarto
2 – Apartamento
3 – Circulação
4 – Banheiro
5 – Cozinha
6 – Sala
7 – Depósito
8 – Varanda
9 – Serviço

Planta

HOTEL ROLÂNDIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 349


HOTEL ROLÂNDIA

350 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica estrutural

HOTEL ROLÂNDIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 351


Parte portante: conjunto estrutural horizontal / vertical

HOTEL ROLÂNDIA

352 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

HOTEL ROLÂNDIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 353


Vista frontal
Foto: do autor, 1992

Interior do quarto
Foto: do autor, 1992

HOTEL ROLÂNDIA

354 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista lateral
Foto: do autor, 1992

HOTEL ROLÂNDIA

ARQUITETURA EM MADEIRA 355


Tulha Fazenda Bimini – década de 50
Foto: Acervo IPAC – UEL

356 ARQUITETURA EM MADEIRA


TULHAS DE CAFÉ

A paisagem rural norte-paranaense na época da cultu-


ra cafeeira foi marcada por construções de madeira. De-
pois das casas, um dos edifícios que mais se construíram
foram, sem dúvida, as tulhas de café, sempre localizadas
nos terreirões. Elas apareciam com destaque e faziam par-
te do conjunto de edificados das pequenas e grandes pro-
priedades rurais.
O programa das tulhas dependia do tamanho e pro-
dução de café da propriedade, basicamente dividiam-se
em três tipos: tulhas para estocagem do café, em coco ou
ensacado; tulhas para secagem do café, com sistema de
aeração natural e tulhas com sistema de secagem artificial.
Como a maior parte das propriedades era de 5 a 10
alqueires, a tulha para estocagem foi uma das mais
construídas nas pequenas propriedades, sendo toda seca-
gem efetuada no próprio terreirão.
O sistema construtivo segue o tradicional da região. O
material utilizado foi a peroba rosa. Este sistema era es-
trutural reforçado formado por uma trama de peças
prismática, travadas externamente, através de sambladuras,
às vezes, atirantadas com agulhas metálicas e com vedação
composta por tábuas e mata-junta na vertical, ou tábuas
macho e fêmea na horizontal. Nas tulhas destinadas à se-
cagem natural do café, sua vedação frontal e posterior com-
põem-se de uma trama de aeradores. As tulhas são sem-
pre elevadas do solo e possuem rampas para acesso à
estocagem.
O partido arquitetônico é sempre determinado pelo
programa a ser atendido e o sistema construtivo adotado.
Nas tulhas das pequenas propriedades destinadas à
estocagem, esse partido arquitetônico é determinado pela
geometria do telhado sempre em duas águas com
Terreirão Fazenda Bimini – década de 50 ao fundo tulha de secagem a direita tulha de estocagem declividade bastante acentuada e presença de lanternim
Foto: Acervo IPAC – UEL

ARQUITETURA EM MADEIRA 357


para ventilação, onde se faz também o acesso para
estocagem através de uma rampa que liga o terreirão a
tulha.
As qualidades plásticas das tulhas de café estão
centradas na simplicidade volumétrica. Sempre soltas do
solo e localizadas ao lado do terreirão de café, impõem,
apesar de sua simplicidade construtiva, um caráter monu-
mental, expressa através de seus telhados inclinados, es-
trutura externa aparente e a textura de suas superfícies
compostas por madeiras na horizontal e vertical, com tons
acinzentados pelo envelhecimento natural, ou tratadas com
óleo lubrificante queimado.

Tulha de secagem Fazenda Marta – Rolândia-PR


Foto: do autor, 1993

Tulha de estocagem Fazenda Marta – Rolândia-PR


Foto: do autor, 1993

358 ARQUITETURA EM MADEIRA


TULHA FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 359


Isométrica estrutural

TULHA FAZENDA VESERODA

360 ARQUITETURA EM MADEIRA


Terreirão com café na década de 1950
Foto: Acervo IPAC – UEL

Terreirão com conjunto de tulhas na década de 1950


Foto: Acervo IPAC – UEL

Detalhe aeração para secagem do café


Foto: do autor, 1992 TULHA FAZENDA VESERODA

ARQUITETURA EM MADEIRA 361


Vista da tulha secadora (equilíbrio entre a modulação estrutural e a ordenação dos respiradores)
Foto: do autor, 1992

TULHA FAZENDA VESERODA

362 ARQUITETURA EM MADEIRA


TULHA E SECADOR COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 363


Corte A-A

TULHA E SECADOR COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

364 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte B-B

TULHA E SECADOR COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 365


Corte C-C

TULHA E SECADOR COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

366 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica

TULHA E SECADOR COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 367


Vista do conjunto secador e tulha
Foto: Cesar Cortez, 1993

TULHA E SECADOR COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

368 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista dos fundos
Foto: Cesar Cortez, 1993

Vista frontal secador de café


Foto: Cesar Cortez, 1993

Vista tulha de café


Foto: Cesar Cortez, 1993

TULHA E SECADOR COLÔNIA LORENA – CAMBÉ

ARQUITETURA EM MADEIRA 369


Planta

TULHA SÍTIO UEDA – LONDRINA

370 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte AA

TULHA SÍTIO UEDA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 371


Corte BB

TULHA SÍTIO UEDA – LONDRINA

372 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica estrutural

TULHA SÍTIO UEDA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 373


Isométrica

TULHA SÍTIO UEDA – LONDRINA

374 ARQUITETURA EM MADEIRA


Vista frontal – rampa de acesso ao terreirão
Foto: Jefferson Calegari, 1996

TULHA SÍTIO UEDA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 375


Apoio sob troncos e travamento da estrutura
Foto: Jefferson Calegari, 1996

Detalhe travamento lateral


TULHA SÍTIO UEDA – LONDRINA Foto: Jefferson Calegari, 1996

376 ARQUITETURA EM MADEIRA


Travamento nos cantos e apoio sob tronco de peroba
Foto: Jefferson Calegari, 1996

Vista lateral – paredes estruturadas externamente


Foto: Jefferson Calegari, 1996

TULHA SÍTIO UEDA – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 377


Vista Galpão-Serraria
Foto: do autor 1993

378 ARQUITETURA EM MADEIRA


SERRARIA CUROTTO

A serraria era a unidade de produção da indústria


da madeira. O Paraná chegou a ter aproximadamente
mil serrarias em todo estado nas décadas de 1950 e 1960.
As maiores cercavam-se de vilas residenciais com deze-
nas, e mesmo centenas de casas para operários. Foi o
caso da serraria Eldorado, em Marilândia do Sul, que
chegou a ter 700 casas.
Pela abundância madeireira da região e o
desmatamento rápido e desordenado, surgiram, em to-
das as cidades norte-paranaense, serrarias que desdo-
bravam madeira dia e noite, tanto para exportação como
para o mercado interno, principalmente nas décadas de
1940 e 1950.
Em Londrina, tivemos serrarias de grande porte como
a Siam, Mortari, Curotto, entre outras. No entanto, atual-
mente só restam as instalações da serraria Curotto,
desativada no início da década de 1980, composta pelo
barracão de produção de 770 m2, escritórios e três mo-
radias onde residiam o pai, Sr. Adolfo Curotto e os fi-
lhos Nelson e Oscar Curotto. Este conjunto de
edificações, construído na década de 1940 pelo mestre
carpinteiro João Caldana, tornou-se um dos exemplares
mais representativos da indústria madeireira e da ar-
quitetura do trabalho na região, tanto pelo conjunto
como pelas qualidades plásticas e construtivas.

ARQUITETURA EM MADEIRA 379


Construção: 1945
Prop. Adolfo Curotto
Funcionamento: de 1945 até 1985
Levantamento Arquitetônico: 1987
Desenho: Roberto Ikeda

Implantação

SERRARIA CUROTTO – LONDRINA

380 ARQUITETURA EM MADEIRA


Planta porão

SERRARIA CUROTTO – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 381


Planta térreo

SERRARIA CUROTTO – LONDRINA

382 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte AA

SERRARIA CUROTTO – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 383


Corte CC Corte DD

SERRARIA CUROTTO – LONDRINA

384 ARQUITETURA EM MADEIRA


Isométrica estrutura do telhado

SERRARIA CUROTTO – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 385


D-4

Elevação torre Secção torre

D-1
D-2
D-3

SERRARIA CUROTTO – LONDRINA

386 ARQUITETURA EM MADEIRA


Elevação 1
Planta

Elevação 2

SERRARIA CUROTTO – CASA DO SR. ADOLFO CUROTTO – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 387


Elevação 4

Planta

Detalhe E – fogão a lenha

Elevação 3

SERRARIA CUROTTO – CASA DOS FILHOS – LONDRINA

388 ARQUITETURA EM MADEIRA


Corte AA
Planta 2

Detalhe 2

Detalhe 1

Planta cobertura

SERRARIA CUROTTO – ESCRITÓRIO – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 389


Casa do Sr. Adolfo Curotto
Foto: do autor, 1993

Porão da serraria
SERRARIA CUROTTO – LONDRINA Foto: do autor 1993

390 ARQUITETURA EM MADEIRA


Detalhe da estrutura
Foto: do autor, 1993

Frontão e sirene
Foto: do autor, 1993

SERRARIA CUROTTO – LONDRINA

ARQUITETURA EM MADEIRA 391


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ARQUITETURA EM MADEIRA DO NORTE DO PARANÁ 395


Título Arquitetura em Madeira
Autor Antonio Carlos Zani
Produção Patrícia de Castro Santos
Design MediaNox
Tratamento de imagem Anderson Guapo Barroso; Carlos Augusto Pereira; Caroline Oesterle; Claudia
Cirineo Ferreira Monteiro; Juliana Brandão Dornelles; Maíra Ribeiro de Carvalho
Canino; Tiago Colombo Bermudez
Produção Gráfica Maria de Lourdes Monteiro
Preparação de Originais Gisele A. de Lima
Marina Stuchi
Revisão de Provas Camila Moreno Bianco
Lélia Machado Rocha Pereira
Paula Gerez Robles Campos Vaz
Formato 28 x 26 cm
Tipologia Frankfurt / Palatino Linotype
Papel Supremo Alta Alvura 350 g/m2
Pólen rustic 115 g/m2
Número de páginas 396

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