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Florianópolis, SC
2022
TATIANE MEDIANEIRA BACCIN AMBRÓS
Florianópolis, SC
2022
Ambrós, Tatiane Medianeira Baccin
Coparentalidade e o Comportamento da Criança: Comparação
entre Famílias Casadas e Famílias Divorciadas / Tatiane
Medianeira Baccin Ambrós ; orientador, Mauro Luís Vieira,
coorientador, Fernanda Machado Lopes, 2022.
205 p.
Inclui referências.
Tatiane Medianeira Baccin Ambrós
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão de curso que foi
Florianópolis, SC
2022
Dedico este estudo a minha família, meus pais Vitório e Anires,
minha irmã Valéria e a todas as famílias participantes da
pesquisa.
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AGRADECIMENTOS
O meu agradecimento especial a DEUS pelo dom da minha vida e pela minha saúde,
sem ELE nada existe e nada é possível. Agradeço pela Fé, amor, persistência e resiliência que
sempre me concedeu. Chegar a este momento e escrever os agradecimentos é sem dúvida um
momento muito esperado, com os olhos cheios de lágrimas e com o coração repleto de amor e
gratidão que escrevo estes agradecimentos a pessoas tão especiais em minha vida. Com toda
certeza a travessia Caixa D´Àgua, Jaguari, Santa Maria, Florianópolis e Joinville foi linda e
repleta de muitos desafios e alegrias.
Agradeço minha família, meu maior tesouro. Agradeço meus pais Anires e Vitório pelo
dom da vida, por todo cuidado, amor, carinho por acreditarem em mim e terem me incentivado
a estudar e pelo apoio em todas as minhas decisões. Agradeço por abrirem mão de muitas coisas
para que sempre pudéssemos estudar e comprar os materiais escolares. Agradeço pela
“autorização” em estudar e pelas palavras: “Você nasceu para ser Doutora, vai estudar minha
filha”. Essas palavras fizeram toda diferença em minha vida. Gratidão a Deus pela família que
me concedeu. Amo vocês e não tenho palavras que demonstrem tamanho amor e gratidão por
todos vocês.
Agradeço a minha irmã Valéria pelo apoio, carinho, presença e por compartilhar tantos
momentos juntas perto ou longe fisicamente. Agradeço pelo cuidado aos nossos pais enquanto
eu estudava em Florianópolis, gratidão pelo apoio quando decidi mudar de cidade e de estado
para continuar os estudos. Gratidão por tudo e por tanto. Agradeço às minhas tias Rosa e Mailde
(In Memorian) pelo apoio, carinho e amor. Agradeço a todos os demais tios, tias, primos,
primas, amigos e vizinhos pela amizade, carinho e apoio a mim e a minha família. Gratidão a
toda minha base familiar.
Agradeço ao incentivo do governo, por meio da bolsa Prouni, sem ela eu não teria a
possibilidade de fazer uma graduação, aos amigos, colegas de Santa Maria pelo apoio, carinho
e amor. São tantas pessoas especiais que é impossível citar a todos. Gratidão a Universidade
Luterana do Brasil (ULBRA) foi minha primeira casa e onde o grande sonho de ser Psicóloga
se iniciou. O meu agradecimento muito especial ao professor e amigo Luís Henrique Ramalho
Pereira com toda certeza esse grande Mestre fez toda diferença em minha vida, obrigada pela
parceria nas publicações e pelo apoio em continuar os estudos em uma pós- graduação. As
colegas amigas de graduação e pós, Amanda Diehl, Mariane Fraga, Carine Pereira, Elaine,
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Nara, Breno, Carolina Schumacker, Caroline Prola, Raquel, Maria Fernanda e tantos outros que
carrego no coração.
O meu agradecimento à UFSM pela possibilidade de fazer meu mestrado, ao curso da
pós de Psicologia pela acolhida e minhas colegas e professoras (Ana Paula Ramos de Souza,
Aruna Noal Correa, Mônica Arpini, Caroline Pereira e demais professores). Gratidão por tanto
e por tudo.
O meu agradecimento à Amiga e professora (Eve) Everley Rosane Goetz, obrigada pelo
carinho, confiança, apoio e incentivo, muito obrigada pela acolhida na tua vida, na tua casa e
na tua família. Gratidão pela confiança, apoio e por toda ajuda em Floripa, você fez toda
diferença na minha vida. Gratidão pela escuta, ensinamentos, incentivo, risadas e parceria para
estudos. Gratidão e não tenho palavras para agradecer e descrever o tamanho do meu carinho e
alegria em ter você em minha vida. Pessoa em forma de anjo. Meu muito obrigada a minha
amiga e Coach Elaine Figueira pela preparação na seleção para o doutorado, gratidão pela
alegria, humildade e sabedoria em compartilhar comigo teu conhecimento e amor. Levo tuas
palavras em meu coração, gratidão pela delicadeza, generosidade em cada gesto e palavra. Meu
muito obrigada, sempre. Deus coloca as pessoas certas no momento certo e na hora certa.
Gratidão aos amigos de Floripa, o meu muito obrigada a minha amiga e “irmã” Estela
pelo carinho, amor, apoio, acolhida na tua vida e na tua casa. São pessoas como você que Deus
coloca em nossa vida em forma de anjos, eu não consigo mensurar em palavras tanto amor e
carinho por ti. Deus faz os encontros da vida para que ela se torne leve, feliz e cheia de amor e
assim foi o nosso. Conte sempre comigo estarei sempre torcendo por você e gratidão por
espalhar tanta bondade e generosidade para as pessoas, e eu tive a sorte de ser uma delas.
Gratidão.
Gratidão a Camila Perrotta, obrigada pelo apoio e carinho. Gratidão pela companhia no
trabalho e nas sopas. Obrigada pela esculta, caminhadas, desabafos e claro passeios na praia.
Um beijo a Vitória, obrigada pelas palavras, sorrisos e apoio. Gratidão ao Keko pelas pizzas,
feijão e bata assada. Obrigada a Mônique pelas Barras de Access, reiki. Meu beijo ao Braian e
ao Francisco, crianças que aliviam os dias tensos e cansativos de estudos. Impossível mensurar
todos, por isso agradeço a cada um que fez parte da minha vida. Muito obrigada.
O meu agradecimento à Universidade Federal de Santa Catarina pela oportunidade de
fazer o doutorado. O meu muito obrigada ao meu amigo e orientador professor Mauro Luís
Vieira. Obrigada por acreditar e confiar em mim. Obrigada pelas palavras, pelas conversas,
conhecimento e questionamentos. Obrigada por confiar na minha pesquisa, coleta de dados
trabalhosa e demorada e ter tanta paciência, carinho e amor com seus alunos, foi uma
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experiência leve, sem cobranças. Seu carinho e amor com os alunos faz muita diferença.
Obrigada pelo coração humilde, generoso e acolhedor.
O meu agradecimento a minha coorientadora Prof. Fernanda Machado Lopes, obrigada
pela acolhida, generosidade e confiança, obrigada por enfrentar conosco esse desafio, obrigada
pela parceria, pelo apoio, carinho, sorrisos, chimarrão na rede durante as reuniões na pandemia,
gratidão pelo apoio no artigo de revisão sistemática inesquecível e publicada com muito
sucesso. Gratidão por tua humildade, generosidade e alegria em compartilhar todo o teu
conhecimento de forma leve e feliz.
O meu agradecimento ao nosso grupo de pesquisa NEPeDI, um grupo maravilhoso
repleto de carinho e companheirismo. O meu agradecimento muito especial a colega Larissa
Paraventi pelo amor e carinho desde o primeiro dia dentro da UFSC. Você é um ser humano
incrível! Gratidão às demais colegas Beatriz Coutro, Carol, Isadora, Isabela, Tamires, Jaíne,
Quele. Demais colegas do doutorado para a vida Maísa, Adria, Cláudia, Cremildo, Carol, Kátia,
e todas as alunas de iniciação científica, estágios, alunos de docência. Carol muito obrigada
pela ajuda na estatística, apoio e acolhida. Gratidão a todos.
O meu agradecimento especial às famílias, os pais que gentilmente participaram da
nossa pesquisa respondendo aos questionários. Gratidão imensa pela confiança, disponibilidade
e pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a realidade bela e desafiadora do ser mãe
e ser pai na atualidade. Obrigada pela divulgação da pesquisa, as escolas, professores, Fórum
de São José, secretarias de educação de todo Brasil, secretaria de saúde de Florianópolis,
amigos, familiares, colegas enfim a todos que ajudaram na divulgação da nossa pesquisa que
foi uma missão difícil, mas nunca impossível, a todos o meu muito obrigada.
Aos membros da banca, professoras Dra. Marina Menezes, Prof. Dra. Clarisse Pereira
Mosmann, Prof. Dra. Dorian Monica Arpini, Prof. Dra Daniela Schneider, Prof. Dra. Carina
Bossardi examinadoras agradeço pela disponibilidade e pelas contribuições preciosas para
aprimorar esse trabalho.
À Universidade Federal de Santa Catarina, ao Programa de Pós-Graduação em
Psicologia pela oportunidade de realizar o curso de doutorado, o agradecimento especial à bolsa
concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES- DS)
e ao financiamento da pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq)
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RESUMO
A coparentalidade é um elemento central na vida familiar, o cuidado dos pais para com os filhos
e sua importância para o desenvolvimento infantil. O objetivo deste estudo foi investigar o papel
preditor da coparentalidade no comportamento da criança em famílias casadas e em famílias
divorciadas. O referencial teórico-epistemológico utilizado incluiu a Teoria Bioecológica do
Desenvolvimento Humano defendida por Bronfenbrenner, e o Modelo da Estrutura Interna e
Contexto Ecológico da Coparentalidade de Feinberg. Participaram do estudo 344 famílias pais
e mães, sendo 260 famílias casadas e 84 famílias divorciadas com filhos entre 3 e 11 anos, 11
meses e 29 dias residentes em diferentes regiões do Brasil, mas principalmente nas regiões Sul
e Sudeste. Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram o questionário
sociodemográfico, a escala de relacionamento coparental – ERC e o questionário das
capacidades e dificuldades da criança (SDQ). A coleta de dados se deu no formato on-line,
utilizando recursos e plataformas de conexão virtual disponíveis. Por meio das análises
inferenciais, o teste Student (t) e análises de regressões múltiplas, constatou-se que a
coparentalidade e a dimensão de acordo parental tiveram valor preditivo para os
comportamentos adaptativos da criança. Além disso, houve associação entre o conflito
coparental com problemas de comportamento da criança. Por outro lado, o tipo de configuração
familiar (casada ou divorciada) não foi preditivo para o comportamento da criança, porém, a
contribuição quanto à configuração familiar foi preditiva para os problemas de relacionamento
da criança com seus pares, sendo maiores nas famílias divorciadas. Com relação à
coparentalidade e o comportamento da criança, conclui-se que a variável acordo coparental foi
a única variável preditora atenuante nos comportamentos da criança na amostra total das
famílias e também separadas por configurações (casada e divorciada), quanto aos
comportamentos de hiperatividade, dificuldades totais da criança problemas externalizantes. O
reconhecimento da parentalidade do parceiro foi uma variável atenuante nos sintomas
emocionais; problemas de relacionamento com pares; e problemas internalizantes apenas nas
famílias casadas. O conflito coparental apareceu como fator preponderante nas famílias da
amostra geral para os problemas de conduta e nas famílias divorciadas para os sintomas
internalizantes e sintomas emocionais. Os resultados apontam para a complexidade envolvida
nas interações familiares, a importância da coparentalidade e sua relação com o comportamento
da criança. O presente estudo contribui com a literatura da área ao investigar os efeitos da
coparentalidade no comportamento das crianças em famílias casadas e em famílias divorciadas,
destacando o acordo coparental como dimensão da coparentalidade importante e promotora do
desenvolvimento de comportamento pró-social.
ABSTRACT
Coparenting is seen as a central element in family life, the care parents give to their children
and its importance to child development. The aim of this study was to investigate the effects of
coparenting in the child’s behavior in married families and in divorced families. The theoretical-
epistemological referential used included the Bioecological Theory of Human Development
defended by Bronfenbrenner, and Feinberg’s Model of the Internal Structure and Ecological
Context of Coparenting. In total, 344 father and mother families participated in the research,
260 of which were married and 84 were divorced with children aged between 3 and 11 years,
11 months and 29 days living in different regions of Brazil, but mainly in the South and
Southeast regions. The instruments used in data collection were the sociodemographic
questionnaire, the coparenting relationship scale - CRS and the child’s strengths and difficulties
questionnaire (SDQ). Data collection happened in an online format, using available resources
and virtual connection platforms. Through inferential analyses, the Student (t) test and multiple
regression analyses, it was found that a) coparenting had predictive value for the child’s
behavior; b) the coparental agreement dimension stood out as a factor promoter of the child’s
adequate behavior; c) the coparental conflict seems to be promoter of problems in the child’s
behavior. Furthermore, the type of family configuration married or divorced wasn’t predictive
in itself for the child’s behavior, but the contribution regarding the family configuration was
predictive to problems of relationship with pairs, which is larger in divorced families.
Regarding coparenting and the child’s behavior, it was concluded that the variable coparental
agreement was the only mitigating predictor variable in the child’s behavior in the samples in
the families of the general sample, married and divorced, regarding the behaviors of
hyperactivity, total difficulties of the child externalizing problems. The recognition of the
partner’s parenthood was a mitigating variable in the emotional symptoms; problems of
relationship with pairs; internalizing problems only in the married families. The coparental
conflict appeared as a highlight in the families of the general sample for the problems of conduct
and in the divorced families for the internalizing symptoms and emotional symptoms. The
results point to the complexity involved in the family interactions, the importance of
coparenting and its relationship with the child’s behavior. The present study contributed to the
literature of the field by evaluating the relationship between coparenting and the children’s
behavior in the married families and in divorced families, highlighting the coparental agreement
as a coparenting dimension that is important and promoter of the development of prosocial
behavior.
RESUMEN
A coparentalidade é vista como um elemento central na vida familiar, o cuidado dos pais para
com os filhos e sua importância para o desenvolvimento infantil. O objetivo deste estudo foi
investigar o papel preditor da coparentalidade no comportamento da criança em famílias
casadas e em famílias divorciadas. O referencial teórico-epistemológico utilizado incluiu a
Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano defendida por Bronfenbrenner, e o Modelo
da Estrutura Interna e Contexto Ecológico da Coparentalidade de Feinberg. Participaram da
pesquisa 344 famílias pais e mães, sendo 260 famílias casadas e 84 famílias divorciadas. Para
tanto, foi realizado um estudo de abordagem de análise com famílias casadas e divorciadas das
mais diversas regiões do Brasil, sendo a região Sul e Sudeste com maior número de
participantes, com critério de inclusão e exclusão previamente elaborados, incluindo pais e
mães casados ou separados /divorciados com filhos entre 3 e 11 anos, 11 meses e 29 dias. Os
instrumentos utilizados na coleta de dados foram o relacionamento socioparental, a escala de
relacionamento parental – ERC e o significado das capacidades e dificuldades da criança (SD).
A coleta de dados se deu no formato on-line, usando recursos e plataformas de conexão virtual
disponíveis. Por meio das atribuições inferenciais, o teste Student (avaliação de regressões) para
os filhos e filhos; b) a dimensão acordo coparental se destaca como fator promotor do
comportamento mais adaptativo da criança; c) o conflito coparental parece ser promotor de
problemas de comportamento da criança. Além disso, o tipo de configuração familiar casada
ou divorciada não foi preditivo em si para o comportamento da criança, porém a contribuição
quanto à configuração familiar foi preditiva para os problemas de relacionamento com pares,
sendo maior nas famílias divorciadas. Com relação à coparentalidade e o comportamento da
criança, conclui-se a variável acordo coparental foi uma variável única preditora atenuante nos
comportamentos da criança nas amostras das famílias da amostra geral, casada e divorciada,
problemas quanto ao comportamento de hiperatividade, dificuldades totais da criança
externalizantes. O reconhecimento da parentalidade do parceiro foi uma variável atenuada nos
sintomas; problemas de relacionamento com pares; e problemas internalizantes apenas nas
famílias casadas. O conflito coparental apareceu como fator nas famílias da amostra geral de
conduta e nas famílias divorciadas dos sintomas internalizantes e sintomas comuns para os
problemas. Os parentes identificados para a relação da criança resultantes. O presente estudo
contribui com a literatura da área ao investigar os efeitos da coparentalidade no comportamento
das crianças em famílias casadas e em famílias divorciadas, destacando o acordo coparental
como dimensão da coparentalidade importante e promotora do desenvolvimento de pró-social.
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE FIGURAS
Figueiras (2004)....................................................................................................................... 40
(2003) ...................................................................................................................................... 55
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Caracterização das Variáveis Sociodemográficas dos pais das Famílias Participantes
................................................................................................................................................. 71
Tabela 2. Caracterização do Nível de Escolaridade e Renda dos pais das Famílias Participantes
................................................................................................................................................. 72
Tabela 3. Caracterização das Variáveis Sociodemográficas das Crianças das Famílias
Participantes ............................................................................................................................ 73
Tabela 4. Médias, Desvios Padrões e Comparações da Percepção das Dimensões de
Comportamento da Criança e da Relação Coparental de Famílias Casadas e Divorciadas..... 75
Tabela 5. Variáveis Preditoras dos Sintomas Emocionais da Criança nas Diferentes Amostras:
Tipo de Família e Dimensões Coparentais .............................................................................. 79
Tabela 6. Variáveis Preditoras dos Problemas de Conduta da Criança nas Diferentes Amostras:
Tipo de Família e Dimensões Coparentais .............................................................................. 81
Tabela 7. Variáveis Preditoras da Hiperatividade da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de
Família e Dimensões Coparentais ........................................................................................... 84
Tabela 8. Variáveis preditoras dos Problemas de Relacionamento com Pares da Criança nas
Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais ........................................... 86
Tabela 9. Variáveis preditoras do Comportamento Pró-social da Criança nas Diferentes
Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais ............................................................. 89
Tabela 10. Variáveis preditoras das Dificuldades Totais da Criança nas Diferentes Amostras:
Tipo de Família e Dimensões Coparentais .............................................................................. 91
Tabela 11. Variáveis Preditoras das Problemas Externalizantes da Criança nas Diferentes
Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais ............................................................. 93
Tabela 12. Variáveis Preditoras dos Problemas Internalizantes da Criança nas Diferentes
Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais ............................................................. 95
Tabela 13. Variáveis Preditoras dos Comportamentos da Criança Estatisticamente
Significativas na Amostra Geral: Tipo de Família e Dimensões Coparentais ......................... 97
Tabela 14. Variáveis Preditoras dos Comportamentos da Criança Estatisticamente
Significativas na Amostra de Famílias Casadas: Dimensões Coparentais .............................. 98
Tabela 15. Variáveis Preditoras dos Comportamentos da Criança Estatisticamente
Significativas na Amostra de Famílias Divorciadas: Dimensões Coparentais ........................ 99
15
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 18
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 21
2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 30
3 HIPÓTESES ........................................................................................................................31
4 DESENVOLVIMENTO..................................................................................................... 33
5.1.4 Tempo......................................................................................................................... 39
16
6 MÉTODO ............................................................................................................................ 64
7 RESULTADOS ................................................................................................................... 70
do comportamento nas diferentes amostras, tipo de famílias e dimensões coparentais .... 110
Apêndice A – Carta convite aos pais para participação na pesquisa ................................. 154
APRESENTAÇÃO
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especificamente na área três (A3), intitulada
considera o desenvolvimento psicológico e suas relações com a saúde das pessoas nos contextos
ambiental, familiar, institucional e comunitário. Assim, este estudo se relaciona com a referida
comparação entre em famílias casadas e famílias divorciadas”, tem como objetivo investigar
famílias divorciadas. Ela faz parte de um projeto de investigação mais amplo, intitulado
ampliação das pesquisas realizadas através dos projetos “Envolvimento paterno no contexto
pesquisa. Minha inquietação em pesquisar esse tema foi em função de ter poucos estudos com
as famílias divorciadas e também as questões de consultório, onde famílias que passam por um
processo de separação buscam ajuda e orientação na educação dos filhos sobre como lidar com
propósito inovar e complementar estudos anteriores que sugeriram novas investigações com
dessas múltiplas possibilidades no que tange a relação de coparentalidade, como, por exemplo:
famílias casadas, de modo que a questão de dois núcleos familiares ainda não tinha sido
estudada. No ano de 2018, uma dissertação teve como foco estudar a relação entre
generalização dos resultados. A pesquisa de Souza (2018), sugeriu o estudo e o olhar sobre as
em diversas configurações familiares (pais divorciados sem a custódia dos/as filhos/as, famílias
longitudinais com a população brasileira e amostras que incluam famílias com diferentes níveis
Por outro lado, com o isolamento social provocado pela pandemia de COVID-19, foi
necessário rever as estratégias utilizadas para coleta de dados que haviam sido submetidas para
apreciação na qualificação do projeto, pois nessa proposta seria realizada de modo presencial.
Em função disso, muitas pessoas passaram por novas adaptações, sendo necessário repensar a
rotina, a forma de viver, de organizar os afazeres. Portanto, novas estratégias para a coleta de
1 INTRODUÇÃO
crenças, ideais e significados que estão presentes nas sociedades (Kreppner, 2000). Portanto,
significativamente, nas crianças, que aprendem diferentes formas de existir, de ver o mundo,
O sistema familiar pode ser compreendido como um grupo de pessoas que interagem a
partir dos vínculos afetivos, consanguíneos ou políticos, que estabelecem uma rede infinita de
Desenvolvimento Humano, elaborada por Urie Bronfenbrenner (2011), pode ser considerada
sistêmica à medida que compreende a pessoa por meio das interações e relações estabelecidas
com outras pessoas e com o ambiente onde ela vive (Barreto, 2018; Souza, 2018).
nas pessoas e no ciclo vital delas. O indivíduo vai se desenvolvendo e adquirindo uma
concepção mais ampliada, diferenciada do meio ambiente ecológico, e se torna mais motivada
teóricos utilizados para o entendimento dos processos de interação que ocorrem entre o
indivíduo e a família ao longo do tempo. Considera que o desenvolvimento humano ocorre num
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onde se encontram quando iniciam uma atividade nova, ou quando começam a estabelecer
algum tipo de vínculo com outras pessoas e são influenciadas, ao mesmo tempo, pelos que estão
ao seu redor.
processos proximais, que são definidos como a força motriz para o desenvolvimento
criança com a família em suas atividades diárias, principalmente no que se refere às brincadeiras
são os espaços nos quais as crianças estão inseridas - família, escola. Aqui, destacamos a
importância de um ambiente seguro, com boas relações entre pais e filhos, e a coparentalidade
indivíduo, a depender da maneira como as relações são estabelecidas na família, da sua duração
e da qualidade dessas.
nas últimas décadas, com relação a instituição família, nos remetem a pensar nas mudanças que
ocorrem as interações face a face entre os pais e os filhos, e que, posteriormente, sofrerá
influência de outros grupos, representados por pessoas da vizinhança e da escola (Dessen &
Braz, 2005). Uma concepção atual que se tem de família, hoje, é compreendê-la como um
da criança, sendo um espaço de transmissão de cultura e conhecimento (Dessen & Braz, 2005).
mãe e filhos. De acordo com Fraenkel e Capstick (2016), as famílias biparentais, no século
XXI, enfrentam vários desafios, ao mesmo tempo em que negociam questões transicionais e
desenvolvimentais na criação dos filhos. Muitas famílias enfrentam tensões, como doenças,
decorrente de mudanças importantes que aconteceram nos anos 1950 e 1960, especialmente a
com projetos próprios, independentes da família. Com isso, tivemos uma reviravolta nas
famílias, transformando a relação dos pais com os filhos. Com a maior singularização das
importantes no que concerne a uma “economia dos cuidados” dedicados aos filhos,
parecem ter influenciado no estabelecimento da Lei do Divórcio, no ano de 1977 (Brasil, 1977).
causando impacto, tanto para os pais, quanto para os filhos, os quais devem lidar com a
os pedidos de divórcio têm aumentado a cada ano. Houve um acréscimo, também, na taxa geral
de divórcios, que passou de 2,5‰ (2017) para 2,6‰ (2018). Na avaliação dos divórcios
judiciais concedidos em 1ª instância, por tipo de arranjo familiar, a maior proporção das
dissoluções ocorreu entre as famílias constituídas somente com filhos menores de idade,
transformações que exigem uma nova reorganização familiar, necessitando que todos os
membros familiares passem por ajustes em seus papéis e funções até que nova reorganização
seja alcançada. Para a superação do divórcio, será necessária a elaboração do luto pela perda da
A criação dos filhos é, por si só, uma das tarefas mais difíceis com a qual as famílias
precisam lidar (Carter & McGoldrick, 1995). Portanto, entende-se que os pais precisam discutir
e planejar a educação e a criação dos filhos. Após a separação ou o divórcio, essa discussão e
esse planejamento intensificam-se muito mais, uma vez que os pais precisam conversar sobre
como e com quem ficará a guarda do(s) filhos, como vão dividir as tarefas, os cuidados e as
realidade nestas famílias que estão passando por este processo de transição e conhecermos se
existe ou não alguma diferença entre as famílias casadas e as famílias divorciadas. Depois da
separação dos pais, a coparentalidade é fundamental para que o casal se organize sobre a criação
dos filhos.
referência apareceu há menos de três décadas, segundo Frizzo et al. (2005). O conceito surgiu
separação, a relação coparental é uma estratégia que possibilita, aos genitores, continuarem se
relacionando de forma positiva (McHale, 1995; Margolin et al. 2001; Schoppe at al., 2001).
Em um segundo momento, autores, como Belsky et al. (1995) e McHale (1997), passaram a
utilizar este conceito também para famílias nucleares. Estudar a coparentalidade nas famílias
iniciou enquanto o casal ainda estava casado (Coiro & Emery, 1998).
familiar. De acordo com Feinberg (2003), essa implica num interjogo de papéis, ou seja, o
cuidado dos pais para com os filhos. A coparentalidade é vista como um elemento central da
vida familiar, a qual influencia o ajuste dos pais na criação dos filhos.
discordância entre a dupla parental: interação entre os pais, componente associado ao grau de
sobre educação dos filhos; (b) divisão de tarefas, que corresponde à partilha entre a díade
coparental das tarefas e responsabilidades da rotina da criança, dos cuidados com ela, a assuntos
gerenciamento conjunto das interações familiares, ou seja, interação entre os pais, que são
dissolução conjugal, sobre a saúde mental das crianças constatou que a maioria dos estudos que
das crianças, dos níveis de saúde mental dos pais e de características processuais dentro da
pessoa e do tempo), as quais influenciam e são influenciadas pelas interações com outras
pessoas, como pais e educadores, por exemplo. Aqui, destaca-se a importância de um ambiente
satisfatório com uma coparentalidade positiva, com bom relacionamento entre os pais, boa
relação coparental, diálogo e conflitos gerenciáveis entre as partes. A partir disso, pode-se
das crianças e das interações com outras pessoas (principalmente, pais e educadores) nos
contextos específicos.
dos filhos influenciam-se mutuamente e determinam, ao longo do tempo, que tipo de interação
induzem respostas também negativas, por parte dos filhos, e o surgimento de sintomas
externalizantes e internalizantes que, por sua vez, causam estresse e frustração aos pais.
al. (2019) investigaram as associações entre o apoio do casal na primeira infância das crianças
parentalidade individual das mães e dos pais. O apoio do casal na infância foi associado a
problemas de externalização, reduzidos de 8 a 10 anos depois, e muito desse efeito foi atribuído
à coparentalidade dos pais quando as crianças tinham 3 a 5 anos. O estudo descobriu que
casadas, sobre suas práticas educativas e problemas comportamentais de seus filhos, em idade
os problemas de comportamento.
a expansão para estudos com famílias casadas e um certo esquecimento das famílias
divorciadas. Estudos comparando as famílias são necessários, uma vez que contribuirá para
apoio e intervenção nas famílias. Em termos de relevância social, neste estudo, pretendeu-se
positiva.
vista que uma série de pesquisas, que trazem estudos com famílias casadas, sugerem a
familiares. É relevante entender para poder pensar e elaborar novas políticas públicas, bem
como promover intervenções e orientações aos pais, procurando compreender qual o impacto
para embasar o presente estudo defendem a existência de focos principais, que atuam mútua e
aspectos ambientais e relacionais que influenciam e são influenciadas pelas interações com
outras pessoas.
29
Este estudo está alinhado com a área de concentração a qual este estudo está inserido,
uma vez que se fazem necessárias pesquisas que contribuam para a Saúde e Desenvolvimento
Psicológico nos mais diversos contextos. Sendo assim, este estudo vem aprofundar pesquisas e
estudos, colaborar junto à comunidade científica e inovar, trazendo o olhar sobre as novas
configurações familiares, bem como busca compreender qual a relação entre coparentalidade e
o comportamento das crianças, seja para fins teóricos, como também para intervenções práticas.
Dessa forma, pretende-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: “Qual é o papel preditor
divorciadas”?
30
2 OBJETIVOS
1- Comparar a percepção dos pais de famílias casadas e famílias divorciadas sobre a sua
coparentalidade.
3. Hipóteses
investem com menor frequência na educação dos filhos e na manifestação de afeto quando
comparadas às mães de famílias nucleares. O conflito interparental é citado, nos estudos com
famílias divorciadas, como elemento que exerce influência na coparentalidade (Lamela et al.
2013; Lamela & Figueiredo, 2016). Mediar a coparentalidade nesses casos é, muitas vezes, um
Estudos posteriores demonstraram que filhos de pais divorciados têm pior desempenho
além de terem baixa autoestima e relações sociais mais problemáticas do que crianças de
famílias intactas (Amato, 2001; Spruijt 2007; Martins, 2010). Também já foi demonstrado que
crianças que passaram por um divórcio têm tendência a ter níveis de saúde física e psicológica
Contudo, entre os pais que tinham uma relação hostil, aqueles que eram separados tinham
4 DESENVOLVIMENTO
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
pessoas, enfatizando o seu desenvolvimento como processo composto por mudanças que
ocorrem no decorrer da vida do indivíduo, desde o nascimento, até a morte. Dentre as várias
modelo para a compreensão do objeto de estudo da presente pesquisa de doutorado, sendo essa
transformação que atinge a pessoa, reorganização que procede de maneira continuada dentro
da unidade tempo-espaço. Esta modificação realiza-se em diferentes níveis: das ações, das
percepções da pessoa, das atividades e das interações com o seu mundo. O desenvolvimento
humano é estimulado ou inibido pelo grau de interação com as pessoas e por uma variedade de
familiar e entrando em contato com diferentes papéis, como o de mãe, pai, irmãos, tios, avós e,
por ele em 1979, denominado “ecológico”, destaca o ambiente como elemento fundamental
de 1970, Bronfenbrenner publicou seu estudo, inicialmente chamado de Teoria Ecológica, que
naturais, visando apreender a realidade de forma mais abrangente, tal como é vivida e percebida
relacionados, que constituem o modelo PPCT: Processo, Pessoa, Contexto e Tempo - elementos
diversos contextos nos quais essa pessoa se expressa. São a força motriz do desenvolvimento e
Para Bronfenbrenner (1996), o poder desenvolvimental das díades está atrelado a três
refere-se à capacidade de os membros coordenarem suas atividades entre si, o que favorece a
díades, pois quanto mais positivos e mútuos forem os sentimentos, maior será a possibilidade
interações positivas entre o organismo e o ambiente (as pessoas, os objetos e os símbolos) que
por parte deste. Portanto, o desenvolvimento é caracterizado pela interação entre as dinâmicas
da mudança e da continuidade ao longo da vida. Por meio dos afetos, o indivíduo interage para
além de sua individualidade. Assim, mesmo que o processo de desenvolvimento seja particular,
o outro é essencial para que esse procedimento ocorra, através da reciprocidade nas
produto da relação de seus componentes, relação entre os pais, incluindo a criança. Essas
presente estudo, considera-se a presença desse mecanismo, como, por exemplo, na interação
direta, ou seja, face a face, que acontece no microcontexto família e em atividades realizadas
entre pais e filhos. Tal mecanismo tem possibilidades diferentes de configuração com um
núcleo familiar ou dois núcleos familiares, como no caso da família divorciada - família casada,
composta por um microcontexto, e a família divorciada, onde a criança tem dois microcontextos
5.1.2 Pessoa
comportamentais, que podem ser generativas ou inibidoras. São generativas quando envolvem
orientações ativas, tais como curiosidade, tendência m iniciar e engajar-se em atividades. E são
(Boing, 2014).
competência social, por exemplo, influenciam e são influenciados pelos demais núcleos de
PPCT, uma vez que uma coparentalidade positiva com motivação e estímulos e boa relação dos
pais com seus filhos favorecem um bom comportamento, enquanto uma coparentalidade
negativa com conflito entre os pais, uma relação conflituosa favorece para os mais diversos
5.1.3 Contexto
caracterizado por qualquer evento ou condição fora do organismo que pode influenciar ou ser
desenvolvimento.
O contexto são os espaços nos quais as crianças estão inseridas, como família e escola,
por exemplo. Aqui, destacamos a importância de um ambiente seguro, com boas relações entre
pessoa que se encontra em desenvolvimento vive e interage face a face. É o ambiente mais
experiencia posições, relacionamentos e atividades em relações face a face com outras pessoas
Para promover mudanças no seu curso de vida, as pessoas presentes devem ter
microssistema tem como base as relações diádicas, como os genitores interagem, como se
relacionam e como é seu estilo de vida. No microssistema das famílias, destaca-se a relevância
da coparentalidade em dois contextos: o tradicional, com pai, mãe e filho, e aquele em que
uma vez que provoca desequilíbrios e reorganizações nos papéis e funções dos membros da
família, especialmente quando o casal tem filhos. Nesse contexto, pode-se afirmar que a
experiência do divórcio dos pais, durante a infância, configura-se como um fator de risco para
o desenvolvimento dos filhos, cujo impacto será definido de acordo com os fatores de proteção
da criança e das condições e habilidades dos pais para lidar com essa transição (Greene et al.,
cada família. Nesta perspectiva, a relação coparental existe desde que haja crianças na família,
independente da sua estrutura familiar. A relação parental diz respeito à forma como a ligação
criança, seja ela positiva ou negativa, trazendo as respectivas consequências, bem sucedidas ou
não, de acordo com a posição assumida pelos pais. Quando falamos de relação parental,
pensamos em dois adultos, geralmente os pais, responsáveis por cuidar e educar uma criança,
Bronfenbrenner (2011), o exossistema consiste nas interações entre dois ou mais contextos,
sendo que a pessoa em desenvolvimento não participa diretamente de um deles, como, por
exemplo, o ambiente de trabalho dos pais. As inter-relações entre dois ou mais ambientes, nos
39
quais uma pessoa participa ativamente, pode ser formado ou ampliado sempre que ela passe a
família. O contexto da criança é expandido, como, por exemplo, no que se diz respeito ao
divórcio, no qual as relações têm dois microssistemas que precisam se relacionar bem, ter uma
coparentalidade positiva com dois microssistemas familiares com comunicação clara e direta
entre os pais. Nas famílias divorciadas, o conflito coparental, a coparentalidade negativa, a falta
valores e crenças de uma cultura, tendo costumes e estilo de vida como promotores de
que engloba qualquer sociedade ou grupo social, sua cultura, subcultura ou outra estrutura
social maior (Bronfenbrenner, 2011). Este nível influencia a natureza das interações de todos
eventos que influenciam a família, tendo como exemplo o caso de uma criança que cresce em
5.1.4 Tempo
Figura 1
Representação dos sistemas contextuais que compõem a Perspectiva Bioecológica do
Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner (Halpern e Figueira, 2004).
divórcio, que, conforme Zordan (2010), abrange as inter-relações entre a pessoa e os diversos
em relação ao divórcio.
família nuclear é a que possui um núcleo familiar, sendo, neste estudo, as famílias casadas.
Com as mudanças que ocorreram ao longo do tempo, atualmente temos as famílias divorciadas
de ciclo de vida familiar, provocando uma crise para a família como um todo e também para
cada indivíduo que a compõe, aumentando a complexidade das tarefas desenvolvimentais que
Tempo), as quais influenciam e são influenciadas pelas interações com outras pessoas
características individuais das crianças e interações com outras pessoas (principalmente os pais
e educadores).
contextos, então é importante que a criança cresça em um ambiente saudável, com diálogo entre
os pais. De acordo com Tudge et al. (2000), os processos proximais são como a essência das
desenvolvimento que partem do ambiente físico, podendo ser positiva e negativa. De um lado,
o processo de desenvolvimento. Essa visão nos faz considerar aspectos importantes dos
ambientes imediatos da criança pequena (família, creche, escola) como promotores de seu
desenvolvimento. Neste ponto, ressaltamos uma importante reflexão acerca dos ambientes que
são disponibilizados para as crianças, como a família, a qual estrutura tais ambientes para que
ambiente pelos pais e adultos, bem como a interação e disponibilidade entre pais e filhos. É
relevante que os pais respeitem as diferenças conjugais, sabendo administrá-las, bem como os
As interações que a criança faz com os mesmos e com demais adultos terão influências
no seu desenvolvimento. Bronfenbrenner (2005) destaca a importância das relações entre pais
Bioecológica do Desenvolvimento Humano reside no fato desta abordagem ter como foco as
estão inseridas, os quais podem afetar, diretamente, seu desenvolvimento biopsicossocial. Além
disso, abarca as continuidades e mudanças que operam nos ambientes, nos processos proximais
escolha por Bronfenbrenner enquanto perspectiva teórica desta pesquisa se deu pela coerência
entre os pressupostos básicos de sua teoria, por entender que o ser humano é ativo no processo
43
de desenvolvimento, por afetar e ser afetado pelo meio e pelo contexto. Também, por
(Walsh, 2016). As famílias foram, e continuam sendo, estudadas por vários segmentos da
até os dias atuais. As transformações sociais, econômicas e políticas ocorridas nas sociedades
entendimento da família como sistema complexo, incluindo relações estabelecidas entre todo o
familiar, acentuadas com o aumento das taxas de divórcio, vários questionamentos aparecem
sobre as questões familiares e para novos modelos de família, além de que mudanças nas
relações entre pais e filhos têm levado a muitos questionamentos sobre o papel parental na
influenciado por múltiplos fatores e eventos internos e externos, que sofre variações em função
desenvolvimento infantil evoluíram de forma consistente nas duas últimas décadas. A família
é uma unidade grupal na qual se desenvolvem três tipos de relações pessoais: aliança (casal);
filiação (pais/filhos) e consanguinidade (irmãos). Com o passar do tempo, várias funções foram
sendo transmitidas, dentre elas: valores éticos, religiosos e culturais (Osório, 2011). A família
dos eventos próprios de seu desenvolvimento, portanto, tanto a criança, quanto os seus membros
familiares são participantes ativos nessas relações, sendo as influências exercidas entre eles
específicas que engendram os mecanismos de interação entre esses subsistemas (Morril et al.,
2010). As relações conjugais com maiores níveis de qualidade atuarão como fonte de apoio
inclusão de um filho no sistema familiar, e, de acordo com Cruz (2005), é concebida como um
Dentre tantas mudanças que a família passou e passa ao longo de sua história, temos o
divórcio é considerada um marco histórico do Direito de Família no Brasil, uma vez que
decisão dos adultos em encerrar esse vínculo, ao passo que a parentalidade é indissolúvel, tendo
em vista que os laços entre pais, filhos e irmãos devem continuar, independentemente da
Após a dissolução dos vínculos conjugais, os pais precisam decidir sobre a participação
infantil. Os efeitos das relações conjugais e parentais, das influências não-familiares e do papel
os pais gerenciarão os problemas com as crianças, pois a habilidade para resolver os conflitos
longo das diferentes etapas do ciclo vital da família e nas mais diversas configurações
familiares.
alteradas ao longo do tempo. Em famílias com alto nível de conflito e abusivas, os filhos cujos
pais se divorciam ficam em melhores condições do que aqueles cujas famílias permanecem
intactas. A adapatação saudável dos filhos, de acordo com Ahrons (1994), depende do
funcionamento sólido dos pais residentes e da qualidade das relações com e entre os pais, antes
e depois do divórcio.
infantil das crianças. A coparentalidade começou a ser estudada para investigar as interações
As transformações sociais ocorridas nas famílias nos levam a pensar que as famílias
tradicionais sem problemas já não existem mais. Uma família original intacta conflituosa e tensa
pode ter menos possibilidades de oferecer e propiciar saúde a seus filhos do que um outro seio
1992). Mudanças estressantes fazem parte da vida diária, já que problemas e estresse familiares
Muitos estudos trazem que não é a configuração familiar que influencia no desenvolvimento,
mas a forma como o casal se relaciona após a separação divórcio. Pode-se observar que,
tempos quanto a sua configuração, esta não é uma variável associada ao bem-estar psicológico
No estudo de Leme et al. (2014), compararam-se grupos com mães de famílias casadas
educacionais de crianças oriundas de ambas as famílias. De acordo com a percepção das mães
estudo explicativo, quantitativo e transversal, com 200 indivíduos (100 homens e 100
mulheres), que coabitassem com seus filhos de quatro a 18 anos. A análise apontou, como
apresenta comportamentos destrutivos e que põem riscos ao desenvolvimento sadio dos filhos,
o divórcio passa a ser a melhor opção. Assim, todas as variáveis envolvidas devem ser
ideais de autonomia de cada um, e, por outro, a necessidade de vivenciar a realidade comum do
muitos conflitos, cria tensões internas entre o casal, que, quando não resolvidas, levam à
separação conjugal. Muitos casais têm se divorciado, não por considerarem o casamento menos
importante, mas, justamente, porque sua importância ser tão grande que eles não aceitam que a
vida conjugal não corresponda às suas expectativas. Com o aumento das separações, crescem,
2016). Dessa maneira, mudanças históricas afetam a estrutura e as funções da família, sendo o
divórcio um dos eventos familiares em maior crescimento no século XXI na sociedade ocidental
Carneiro, 2003), sendo, cada vez mais, alvo de estudos científicos, tendo em vista o crescente
Estatística (IBGE, 2019), os pedidos de divórcio têm aumentado a cada ano. Em 2018, por
exemplo, foi registrado um divórcio para cada três registros de casamento civil no país. Houve
um acréscimo, também, na taxa geral de divórcios, que passou de 2,5% (2017) para 2,6%
(2018).
familiar, a maior proporção das dissoluções ocorreu entre as famílias constituídas somente com
filhos menores de idade, atingindo 46,6% em 2018. Entre 2008 e 2018, houve um aumento de
5,6% nos divórcios judiciais concedidos em 1ª instância em que os casais possuíam somente
filhos menores, cuja sentença consta a guarda compartilhada dos filhos. O divórcio pode ser
49
fonte potencial de estresse e conflitos familiares, e essa situação pode provocar dificuldades na
para construir aliança parental (Ahrons, 1994). Um dos maiores desafios de uma família
longo do tempo, que tipo de interação predominará entre a criança e os cuidadores. Segundo os
autores, as práticas parentais coercitivas induzem respostas também negativas por parte dos
A pesquisa de Gorin (2015), com quatro pais e quatro mães separadas, sobre a
parentalidade após o divórcio e suas repercussões na vida dos filhos, evidenciou que a forma
Por meio da análise de dados da literatura de estudos realizados, autores têm verificado
baixos índices de coparentalidade em casais divorciados (Beckmeyer et al., 2014; Lamela &
Figueiredo, 2016). Nesse sentido, pesquisas com famílias em situação de divórcio têm indicado
que o conflito interparental tem sido considerado um aspecto importante que dificulta o
contexto do divórcio (Lamela et al., 2013). Pesquisas internacionais têm comprovado que o
desenvolvimento das crianças poderia ser mais bem explicado se agregarmos à análise, também,
familiares, mais do que na qualidade conjugal e parental sozinhas (Kwon et al., 2013; Mendez
et al., 2015; Silva & Mosmann, 2014), e que a coparentalidade é um fator relevante no
resiliência deve ser pensada, uma vez que, efetivamente, a maioria das crianças que vivenciam
o divórcio dos pais apresentam um bom ajustamento e não demonstram vários ou permanentes
5.3 Coparentalidade
os conflitos relacionados à criação dos/as filhos/as (Feinberg, 2003; Margolin et al., 2001;
McHale, 1997; Van Egeren & Hawkins, 2004). Os primeiros estudos sobre coparentalidade
tiveram origem de dois conceitos provenientes: da teoria Estrutural de Minuchin (1982), o qual
diz respeito ao gerenciamento dos pais de suas responsabilidades parentais, e da Teoria das
o par ou dupla coparental Van Egeren (2004), e outros como tri ou polidiádico, dependendo do
número de filhos da família, por considerar que as interações com a criança interferem nessa
Uma das conceituações mais citadas é a de McHale (1997), que identificou quatro
ausência do outro cônjuge. A integração familiar diz respeito a ações, de um dos pais, quando
está com a criança, que almejam a inserção da dupla coparental, ou a difamação dos
recriminar a criança, não disputar a atenção da criança enquanto o/a companheiro/a repreende
relativos à criança. O fator triangulação contempla as tentativas de um dos pais em minar o/a
companheira/o para comprometer a relação da dupla com o filho(a), excluindo o outro cuidador.
implica num interjogo de papéis, ou seja, o cuidado dos pais para com os filhos. A
contribuição relevante para a clínica e para a pesquisa, pois o foco passa a ser nas relações
triádicas (pai, mãe e filhos). A influência do tipo de relação entre o casal, portanto, vai
ambientes familiares influenciam e são influenciados entre si, logo uma coparentalidade
52
desenvolvimento das crianças. O papel dos pais na aprendizagem interpessoal das crianças
depende da forma como eles planejam a educação dos filhos. Quando o relacionamento dos
pais com os mesmos é sustentado por regras claras, há maior probabilidade do desenvolvimento
de relações saudáveis, tanto no âmbito familiar, como em outros contextos (Del Prette & Del
Prette, 2009). Bolsoni-Silva e Marturano (2008) realizaram um estudo e concluíram que pais e
contudo, quando essa relação é baseada em conflitos, problemas podem aparecer. Teubert e
identificaram uma relação positiva entre conflito coparental e problemas externalizantes dos
internalizantes. Os estudos de Lamela e Figueiredo (2016) e Raposo et al. (2011) indicaram que
o conflito pós-divórcio entre os pais é o mais prejudicial para os filhos, mesmo que o conflito
As relações estabelecidas entre o casal podem ser entendidas como o papel materno e
paterno, e a coparentalidade atenta para como esses dois ou mais adultos compartilham essas
funções parentais, envolvendo responsabilidade conjunta dos pais pelo bem-estar da criança.
53
Existem muitos autores que trabalham sobre a coparentalidade, como: McHale (1997); Kotila
e Schoppe-Sullivan, 2015; Margolin et al. (2001); Van Egeren e Hawkins (2004); Feinberg
(2003).
por meio de uma visão ecológica e multicomponente, uma compreensão sobre como cada
filhos e para o apego das crianças (Fagan, 2008). Nesse sentido, a coparentalidade se torna um
Para Feinberg (2003), a coparentalidade ocorre pela inter-relação entre quatro fatores:
criança, tais como: disciplina, formas de prestação de cuidados, decisões sobre a educação ou
necessidades emocionais das crianças. Feinberg (2003) considera que esta dimensão é dual, já
que o grau de desacordo nas práticas parentais está relacionado com os problemas de
obrigações, das rotinas diárias de cuidados à criança, bem como à divisão das responsabilidades
níveis de estresse parental, em que, quanto maior for a divisão de tarefas, menor o estresse no
desempenho das funções parentais e maior satisfação com a relação com o outro.
54
do suporte recíproco entre a díade, é a forma como os adultos se valorizam e/ou se apoiam (ou
suporte esperado entre os pais. Aspectos negativos surgem por meio de crítica, padrão de
hostilidade, culpabilização, afeto negativo perante o outro. O suporte parental está associado ao
sentimento de competência parental, assim como ao ajustamento dos filhos (Feinberg, 2003).
componente da coparentalidade. Esse pode ser entendido como englobando três amplos
aspectos: (a) gestão por parte de pais e mães sobre os próprios comportamentos e sobre a
comunicação com os outros dentro do sistema familiar, pois, quando a comunicação acontece
de forma hostil, com conflito entre os pais, afeta os pais e os filhos; (b) gestão das fronteiras
que são estabelecidas pelos comportamentos e atitudes parentais, que contribuem para o
engajamento ou exclusão de outros membros da família nessa relação, entretanto, os pais podem
expor os filhos aos conflitos interparentais quando não conseguem manejá-los sozinhos, os pais
podem tanto usar o filho para colocá-lo contra o outro membro coparental, quanto colocá-lo
como regulador das tensões entre os pais; e (c) relações familiares equilibradas, que diz respeito
ao modo com que um dos membros da díade parental assume a liderança enquanto o outro, em
familiar tem como objetivo o equilíbrio entre os pais na interação com a criança, e em partes,
desse modelo interagindo com os demais fatores, como demonstrado na Figura 2. Fatores
que a coparentalidade pode atuar como processo de mediação ou moderação, que interfere nos
desfechos familiares.
Figura 2
Contexto Ecológico da Coparentalidade traduzido por Böing (2014) de Feinberg (2003)
56
Humano de Bronfenbrenner.
da dupla coparental traz para a relação sua capacidade em demonstrar respeito e suporte ao
outro e capacidade de negociação das divergências entre ambos. A relação coparental assume
um papel central na vida diária da família dos parceiros coparentais, influenciando a relação
A coparentalidade também recebe influência do nível extrafamiliar, que diz respeito aos
fatores de estresse e apoio social. Os pais precisam de diálogo, boa relação coparental e esforço
na criação dos filhos. O estresse tende a surgir na dupla coparental, ou na família, enquanto o
apoio social tende a fortalecer a harmonia entre os pais, fortalecendo as relações (Feinberg,
2003).
personalidade dos pais, ou mais propensas a variações, como no caso de estresse econômico. A
57
falta de recursos financeiros é um dos fatores externos que mais influenciam negativamente a
relação coparental, assim como o estresse no trabalho e a divisão do tempo entre o trabalho e
Desse modo, Feinberg (2003) coloca sob o título de “risco” os fatores individuais,
moderador sobre eles que influenciam os resultados familiares. Considerando que o modelo
casal, a parentalidade e os resultados nos filhos, ela também exerce papel mediador e
moderador. Essa mediação ocorre nas influências dos resultados familiares relevantes, uma vez
resultados familiares, como uma coparentalidade positiva, é vista como um fator de proteção.
Feinberg (2003) relata estudos que indicam que a coparentalidade positiva protegeria a
adaptação da criança e a qualidade parental dos efeitos negativos de uma depressão em um dos
pais, assim como também seria capaz de atenuar os resultados nos filhos dos conflitos que
diversas propostas teórico-metodológicas, como é o caso das apresentadas por Margolin et al.
(2001), bem como Teubert e Pinquart (2010). O modelo de Feinberg (2003) contempla
educação da criança e o conflito e triangulação, como no estudo de (Teubert & Pinquart, 2010).
sustenta que suas dimensões tendem a se localizar em dois grupos distintos: aqueles
58
outros), com análises fatoriais, indicando soluções de uma a quatro dimensões para o fenômeno
dois momentos: o primeiro e o sexto ano de vida da criança. Os resultados mostraram que
infantil, como características individuais dos pais. Outros, como divisão de tarefas, podem
Além disso, em estudo realizado por Souza et al, (2020) com famílias em situação de
divórcio e com crianças de três a seis anos, constatou-se baixos valores na coparentalidade e,
afetada pela coparentalidade (Feinberg, 2003). Sendo assim, é pertinente avaliar como a
pessoas (em especial pais e educadores), que ocorrem em contextos com características
Bronfenbrenner (2011).
estabilidade da exposição etc.), podem levar a dois tipos (positivo e negativo) de resultados no
potenciais. Durante muito tempo, foram utilizados vários questionários para a avaliação dos
(1967) e de Achenbach (Achenbach, 1991). Apesar de muito úteis, esses apresentam, como
principal limitação, a sua grande extensão. Inspirado por essas questões, Robert Goodman
útil e com boa aceitação pelos respondentes (Fleitlich et al., 2000; Goodman, 1997). Trata-se
avaliar o comportamento de crianças e adolescentes dos 4 aos 16 anos. Desta maneira, o SDQ
configura-se como uma promissora alternativa dentro do cenário brasileiro, onde instrumentos
escassos.
estudo, que inclui 25 itens divididos em cinco subescalas, com cinco itens cada. São elas: a)
atenção; d) problema de relacionamento com pares, como o isolamento, ter poucos amigos ou
A infância é um momento muito importante da vida, pois é durante esse período que a
comportamento infantil fazem parte desse processo e precisam de atenção para que sejam
por excessivo controle dos impulsos e se manifestam através dos mais variados sintomas de
associados à agressividade e à delinquência, e que tem como base o baixo controle dos
Por meio da análise dos resultados da referida pesquisa, os autores verificaram diferenças
da criança, por mães e professoras, em todas as escalas, e o escore total do SDQ. As mães
identificaram mais problemas do que as professoras em relação aos meninos. Por outro lado, as
comportamento pró-social, nas crianças, aumenta com a complexidade dos novos contextos
mas com mais interações -, faz-se novas amizades com crianças da mesma idade e tem-se a
Bolsoni-Silva e Del Prette (2003), podem ser definidos como déficits ou excessos
comportamentais que prejudicam a interação da criança nos ambientes em que interage, sendo
internalizantes (Del Prette & Del Prette, 2009). Segundo esses autores, os problemas de
sociais. A pró-sociabilidade indica um padrão mais adaptativo para a criança, já que contribui
para uma convivência positiva e estabelecimento de relações saudáveis (Costello & Maughan,
coparental positiva foi relacionada à menor presença de problemas comportamentais (Kolak &
externalizantes.
nos filhos, principalmente quando esses são expostos a conflitos. No estudo conduzido por
Jiménez-Garcia et al. (2019), pelo qual investigaram 317 processos judiciais, observou-se maior
desempenho acadêmico, entre os filhos de pais que não estavam realizando a coparentalidade
após o divórcio. Por sua vez, Mosmann et al., (2018) identificaram as variáveis competição
conjugal como discriminante dos filhos com sintomas clínicos. Os resultados também
Sendo assim, entende-se que a coparentalidade atua como um importante fator interveniente
entre a conjugalidade e a parentalidade, pois reflete tanto na relação dos pais com a criança,
No estudo realizado por Lau (2017), o pesquisador identificou o efeito indireto do apoio
coparental sobre o aumento da hiperatividade da criança por meio do conflito coparental. Além
sintomas emocionais negativos da criança por meio do apoio coparental, além de identificar
estudos publicados entre 2010 e 2020. O artigo foi publicado na Revista Psicologia: Teoria e
6 MÉTODO
estudo transversal, pois foi analisado num momento determinado, no espaço e no tempo atual
investigações de caráter indireto (Fachin, 2001). Também se caracteriza como descritiva, pois
segundo Gil (2002), as pesquisas descritivas têm como finalidade principal a descrição das
variáveis. Explicativa quando feita análise de regressão para verificar o papel preditor da
6.2 Participantes
84 respondentes de famílias divorciadas com filhos entre 3 e 11 anos 11 meses e 29 dias. Para
atender os objetivos deste estudo, os participantes foram divididos em dois grupos por tipo de
divorciadas relataram não coabitar com o outro responsável legal da criança por divórcio ou
sobre o relacionamento coparental com o outro responsável legal que não coabitava por
situação de divórcio ou separação. As famílias recasadas não foram incluídas neste estudo.
Foram incluídos os participantes que atendiam aos seguintes critérios: (a) ser pai ou
mãe, casado ou divorciado, com pelo menos um filho ou filha com idade entre 3 e 11 anos, 11
meses e 29 dias e com desenvolvimento típico; (b) ter tido a criança focal após seus 18 anos de
idade; (c) residir em território brasileiro; (d) cohabitar há pelo menos seis meses no caso dos
respondentes casados; (e) estar divorciado há pelo menos 6 meses e exercer a coparentalidade
no caso dos respondentes divorciados. Foram excluídos os pais que não estavam na idade, que
6.3 Instrumentos
coletar variáveis de contexto de cada participante. Ele possui perguntas abertas e de múltipla
escolha a respeito de dados pessoais do participante (idade, sexo, raça, escolaridade), dados
familiares (caracterização, composição, renda) e dados da criança focal (sexo, idade, filiação,
Acordo coparental (itens 6, 9, 11, 15); b) divisão do trabalho (itens 5, 20); c) Suporte coparental
(itens 3, 10, 19, 25, 26, 27); d) Reconhecimento da parentalidade do parceiro (itens 1, 4, 7, 14,
18, 23, 29); e) Sabotagem coparental (itens 8, 12, 13, 16, 21, 22); f) Exposição a conflitos (itens
Os participantes respondem cada item em uma escala de sete pontos que varia de não
verdadeiro (0) a completamente verdadeiro (6), exceto para a subescala Exposição ao conflito,
na qual as categorias de resposta variam de nunca (0) a muito frequentemente (6). A Teoria da
66
das quatro dimensões propostas pelo modelo teórico de Feinberg (2003). De fato, sua inclusão
ocorreu como sugestão de entrevistas qualitativas que indicaram a existência dessa dimensão
extra, relativa à alegria em compartilhar com o/a parceiro/a o desenvolvimento dos/as filhos/as
(Feinberg et al., 2012). Entretanto, Lamela et al. (2016) não utilizaram essa subescala em
amostra com pais divorciados, afirmando no apêndice do estudo que ela não faz parte de
coparentalidade e apresenta-se nessa relação apenas entre casais que compartilham também um
relacionamento conjugal. Por esse motivo, na presente pesquisa também não se utilizou essa
dimensão.
A pontuação da escala é feita pela média dos itens de cada dimensão. Os dois
instrumentos (ERC e SDQ) são contabilizados por meio da média aritmética dos itens da
dimensão. Dessa forma, no ERC nas dimensões positivas quanto mais próximo de 6 maior é a
relação coparental. Nas dimensões negativas quanto mais próximo de 6 pior é o relacionamento
fidedignidade nesse estudo foram: (a) Acordo coparental (α=0,80); (b) divisão do trabalho
livre acesso avalia o comportamento de crianças e adolescentes com idades entre quatro e 16
anos Anexo C. É constituído por 25 itens divididos em cinco subescalas com cinco itens cada:
sintomas emocionais (itens 3, 8, 13, 16, 24); problemas de conduta (itens 5, 7, 12, 18, 22);
hiperatividade (itens 2, 10, 15, 21, 25); problemas no relacionamento com pares (itens 6, 11,
14, 19, 23); e comportamento pró-social (itens 1, 4, 9, 17, 20). O questionário é respondido por
pais, professores ou pelas próprias crianças/adolescentes (a partir de 11 anos) por meio de uma
escala Likert de três pontos variando entre falso (1), mais ou menos verdadeiro (2) e verdadeiro
(3) para os comportamentos da criança nos últimos seis meses conforme Anexo C. A pontuação
da escala é feita pela média dos itens de cada dimensão variando entre (1) ausência do
submetido ao Comitê de Ética para Pesquisas com Seres Humanos da UFSC (CEPSH-UFSC)
e obteve aprovação para realização sob o protocolo nº 2.766.021 em 11 de julho de 2018. Diante
68
da pandemia da COVID-19, a coleta de dados foi adaptada para o ambiente virtual e o projeto
emenda solicitando a ampliação da faixa etária da criança focais da pesquisa (de 4 a 11 anos
para 3 a 11 anos), que também foi aprovada mediante parecer nº 4.452.803 em 10 de dezembro
de 2020.
Saúde (CNS). Além disso, tratando-se de pesquisa em Psicologia, foram considerados com
de Ética da categoria e, em especial, o que determina o Artigo 16, que diz respeito à realização
Livre e Esclarecido (TCLE). O TCLE e todos os instrumentos desta pesquisa foram inseridos
final do TCLE e uma cópia do termo assinado pelo coordenador do projeto de pesquisa é
fornecimento de um e-mail de contato para posterior para envio dos resultados da pesquisa
preenchimento de dados sobre a criança focal e, posteriormente, declararam sua relação com a
69
disponibilizados links de acesso aos sites dos núcleos de pesquisa (NEPeDI e LABSFAC) e
das páginas de rede social com informações sobre as temáticas estudadas. Os participantes
foram estimulados a convidar outros pais e mães que conhecessem para participar da pesquisa.
Os dados coletados via formulário foram exportados e analisados por meio do programa
estatístico SPSS versão 20.0. Para a caracterização dos fenômenos foram realizadas análises
escalas e subescalas foi mensurada por meio do Alfa de Cronbach. Para o alcance do objetivo
entre as percepções dos dois grupos das dimensões de coparentalidade (Apoio coparental,
criados modelos para cada configuração familiar com o objetivo de determinar se as variáveis
modelos foram avaliados por meio do teste ANOVA e a contribuição de cada variável do
7 RESULTADOS
Para melhor visualização dos resultados, estes foram divididos quanto ao procedimento
das famílias participantes, discriminada conforme amostra total, famílias casadas e famílias
divorciadas.
71
Tabela 1
Caracterização das Variáveis Sociodemográficas dos pais das Famílias Participantes
Amostra Idade Relação de Parentesco Etnia Religião
M (DP) Mãe Pai Branca Parda Preta Amarela Católica Outra Evangélica Adventista Espírita Ateia
% (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n)
Total 37,75 (5,887) 82,8 (285) 17,2 (59) 80,2 (276) 13,7(47) 5,2 (18) 0,9 (3) 50,0 (172) 15,4 (53) 13,1 (45) 1,7 (6) 13,1 (45) 6,7 (23)
(N = 344)
Famílias 37,88 (5,720) 81,9, (213) 18,1 (47) 77,8 (203) 15,3 (40) 5,7 (15) 1,1 (1,1) 52,1 (136) 13,4 (35) 13,8 (36) 1,5 (4) 13,0 (34) 6,1 (16)
Casadas
(N = 260)
Famílias 37,36 (6,404) 85,7 (72) 14,3 (12) 88,0 (73) 8,4 (7) 3,6 (3) - 43,4 (36) 21,7 (18) 10,8 (9) 2,4 (2) 13,3 (11) 8,4 (7)
Divorciadas
(N = 84)
Nota. M = média; DP = desvio padrão.
72
Tabela 2
Caracterização do Nível de Escolaridade e Renda dos pais das Famílias Participantes
Amostra Nível de escolaridade
Famílias Casadas 1,1 (3) 14,2 (37) 2,7 (7) 23,0 (60) 36,8 (96) 13,4 (35) 5,4 (14) 3,4 (9)
(N = 261)
Famílias Divorciadas 4,8 (4) 21,7 (18) 2,4 (2) 28,9 (24) 26,5 (22) 13,3 (11) - 2,4 (2)
(N = 83)
Amostra Renda
Tabela 3
Caracterização das Variáveis Sociodemográficas das Crianças das Famílias Participantes
Amostra Idade Sexo Etnia
M (DP) Feminino Masculino Branca Parda Preta Não
% (n) % (n) % (n) % (n) % (n) Informado
% (n)
Total 6,2849 (2,49552) 53,5 (184) 46,5 (160) 61,6 (212) 10,5 (36) 2 (07) 25,9 (89)
Famílias 6,1686 (2,47338) 52,5 (137) 47,5 (124) 59,8 (156) 11,1 (29) 1,5 (4) 27,6 (72)
Casadas
Famílias 6,6506 (2,54440) 56,6 (47) 43,4 (36) 59,8 (156) 11,1 (29) 1,5 (4) 20,5 (17)
Divorciadas
Nota. M = média; DP = desvio padrão.
Com relação à composição familiar, a amostra total foi composta por 344 famílias,
residentes em todo o território brasileiro, dentre as quais 261 eram famílias casadas e 83 eram
(5,887). Em relação ao grau de escolaridade dos pais, a maioria dos participantes (34,3% da
amostra total) declarou ter pós-graduação profissional (especialização). Quanto a renda das
famílias divorciadas tem menor renda do que as famílias casadas. Quanto à religião, a maioria
(50%) dos participantes declarou ser da religião católica; e, em relação à etnia, a maioria se
relação ao grau de parentesco com a crianças a maioria declarou ser a mãe da criança,
dimensão comportamental da criança foi avaliada como desfecho das variáveis coparentais nos
significativa entre ambos em relação à percepção dos pais da percepção das dimensões de
comportamento dos filhos, não houve diferença estatística significativa em quase todas as
(M=1,29; DP=0,35), de modo que essa diferença foi estatisticamente significativa entre os
grupos [t(342)= -2,052; p = 0,041]. Dessa forma, excetuando essa dimensão, essa pesquisa não
dos filhos entre os grupos de participantes, o que sugere influência pouco significativa do tipo
médias maiores para as famílias casadas em relação aos participantes de famílias divorciadas
M=2,55; DP=1,57; t(113,441)= 8,107; p≤0,000], Divisão de tarefas [Casadas M=2,78 (1,53);
DP=1,19; Divorciadas M=2,24 (1,55); DP=1,57; t(342)= 2,808; p =0,005], Suporte coparental
relataram percepção de maior média das dimensão positivas das coparentalidade positiva.
Tabela 4
Médias, Desvios Padrões e Comparações da Percepção das Dimensões de Comportamento da
Criança e da Relação Coparental de Famílias Casadas e Divorciadas
Casadas 1,63(0,42)
Problemas Externalizantes t(342)= -1,495 0,136
Divorciadas 1,71(0,45)
Casadas 1,42(0,31)
Problemas Internalizantes t(342)= -0,867 0,387
Divorciadas 1,45(0,30)
maiores médias que os participantes de famílias divorciadas (M=1,61; DP=1,00), sendo essa
Sabotagem coparental as famílias divorciadas (M=2,43; DP=1,36) relatam médias maiores que
as famílias casadas (M= 1,57; DP=0,86) em suas percepções com diferença estatisticamente
significativa [t(103,468)= -5,442; p≤0,000]. Dessa maneira, com exceção da dimensão conflito
qualidade do relacionamento coparental com sua dupla que o grupo de participantes de famílias
divorciadas.
Os modelos de regressão múltipla criados e testados neste estudo serão descritos por
famílias divorciadas.
significativa da percepção parental que atenua os sintomas emocionais das criança, fornecendo
preditoras em seu conjunto explicam 5,9% dos sintomas emocionais. De modo que quanto
amostra geral, menor era a média de sintomas emocionais da criança. As demais variáveis
coparentais e a configuração familiar na amostra desse estudo não se mostraram preditoras dos
explicada (R² ajustado) de 0,068, determinando que as variáveis preditoras em seu conjunto
explicam 6,8% dos sintomas emocionais da criança. Portanto, quanto maior a média de
Tabela 5
Variáveis Preditoras dos Sintomas Emocionais da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais
Sintomas Emocionais
Divisão de Tarefas -0,007 (0,028) -0,027 -0,238 0,813 0,379 0,143 0,088
Conflito Coparental 0,109 (0,049) 0,285 2,242 0,028*
0,033 (0,033) 0,141 0,998 0,321
RPP
Divorciadas F(5;77)=2,576 p=0,033*
Sabotagem Coparental -0,011 (0,048) -0,040 -0,238 0,813
Acordo -0,069 (0,038) -0,283 -1,831 0,071
Coparental
Nota: RPP= Reconhecimento da Parentalidade do Parceiro; B= Coeficiente não padronizado de regressão; EP= Erro padrão do coeficiente não padronizado de regressão; Beta=
Coeficiente de regressão padronizado; t= teste t de Student; p: Significância estatística; R: Coeficiente de Regressão; R²: Soma do coeficiente de Regressão ajustado; R²ajustado:
Coeficiente de regressão ajustado; F= ANOVA; gl=graus de liberdade.
* p ≤0,050; ** p ≤0,001 ***p<0,000.
80
Já para as famílias divorciadas a variável Conflito coparental foi a única com poder de
determinando que as variáveis preditoras em seu conjunto explicam 8,8% dos sintomas
emocionais da criança. Dessa maneira, quanto maior a média de percepção parental de Conflito
coparental relatada pelos participantes da amostra de famílias divorciadas, maior era a média
conduta dos filhos, fornecendo um coeficiente de variância explicada (R² ajustado) de 0,113,
determinando que as variáveis preditoras em seu conjunto explicam 11,3% dos problemas de
conduta, conforme Tabela 4. A predição foi de diminuição dos problemas de conduta no caso
do acordo coparental, de modo que quanto maior a média de percepção parental de Acordo
coparental relatada pelos participantes da amostra geral, menor era a média de problemas de
conduta da criança. Já a variável Conflito coparental se mostrou uma preditora que acentua os
Conflito coparental relatada pelos participantes da amostra geral, maior era a média de
amostra desse estudo não se mostraram preditoras dos problemas de conduta da criança.
81
Tabela 6
Variáveis Preditoras dos Problemas de Conduta da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais
Problemas de Conduta
Variáveis p
Amostra B (EP) Beta T P R R2 R2 ajustado F(gl;gl)
preditoras do modelo
Tipo de família -0,095 (0,066) -0,093 -1,450 0,148 0,358 0,128 0,113
Divisão de Tarefas 0,011 (0,016) 0,039 0,710 0,478
Conflito Coparental 0,063 (0,030) 0,126 2,080 0,038*
Total RPP -0,016 (0,025) -0,046 -0,615 0,539 F(6;337)=8,253 p=0,000***
Sabotagem Coparental -0,009 (0,032) -0,021 -0,278 0,781
Acordo Coparental -0,098 (0,024) -0,321 -4,099 0,000***
Divisão de Tarefas -0,001 (0,018) -0,005 -0,083 0,934 0,401 0,161 0,144
Conflito Coparental 0,058 (0,037) 0,110 1,575 0,116
RPP -0,005 (0,034) -0,010 -0,143 0,886
Casadas
Sabotagem Coparental 0,024 (0,039) 0,047 0,604 0,546 F(5;255)=9,755 p=0,000***
Acordo Coparental -0,109 (0,028) -0,298 -3,847 0,000***
Divisão de Tarefas 0,056 (0,034) 0,190 1,616 0,110 0,322 0,104 0,046
Conflito Coparental 0,062 (0,059) 0,137 1,053 0,296
Divorciadas RPP -0,043 (0,041) -0,154 -1,065 0,290
F(5;77)=1,784 p=0,126
Sabotagem Coparental -0,040 (0,058) -0,118 -0,682 0,497
Acordo Coparental -0,071 (0,046) -0,244 -1,548 0,126
Nota: RPP= Reconhecimento da Parentalidade do Parceiro; B= Coeficiente não padronizado de regressão; EP= Erro padrão do coeficiente não padronizado de regressão; Beta=
Coeficiente de regressão padronizado; t= teste t de Student; p: Significância estatística; R: Coeficiente de Regressão; R²: Soma do coeficiente de Regressão ajustado; R²ajustado:
Coeficiente de regressão ajustado; F= ANOVA; gl=graus de liberdade.
* p ≤0,050; ** p ≤0,001 ***p<0,000.
82
Acordo coparental foi preditora atenuante dos problemas de conduta da criança (β = -0,298;
determinando que as variáveis preditoras em seu conjunto explicam 14,4% dos problemas de
conduta da criança. Portanto, quanto maior a média de percepção parental de Acordo coparental
relatada pelos participantes da amostra de famílias casadas, menor era a média de problemas
de conduta da criança.
Já para as famílias divorciadas além do modelo não ter apresentado um bom ajuste,
nenhumas das relações foi estatisticamente significativa. Esse resultado aponta para pouca
conduta da criança.
7.3.3 Hiperatividade
Entretanto, a análise de regressão linear múltipla apontou um bom ajuste do modelo de predição
apenas nas amostras geral [F(6;337)= 8,072; p≤0,000] - fornecendo um coeficiente de variância
explicada (R² ajustado) de 0,109, determinando que as variáveis preditoras em seu conjunto
Portanto, nas amostras geral, casada e divorciada, quanto maior a média de percepção
parental de Acordo coparental relatada pelos participantes, menor era a média de hiperatividade
83
conjunto das variáveis coparentais só foi significativo na amostra geral e de famílias casadas.
Tabela 7
Variáveis Preditoras da Hiperatividade da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais
Hiperatividade
R2
Variáveis R R2 F(gl;gl) p
Amostra B (EP) Beta t P
preditoras do modelo ajustado
Tipo de família -0,088 (0,079) -0,071 -1,115 0,266 0,353 0,125 0,109
Divisão de Tarefas -0,005 (0,019) -0,015 -0,267 0,790
Conflito Coparental 0,019 (0,036) 0,032 0,527 0,598
F(6;337)=8,072 p=0,000***
Total RPP -0,018 (0,030) -0,043 -0,578 0,564
Sabotagem Coparental -0,006 (0,038) -0,012 -0,161 0,872
Acordo Coparental -0,125 (0,029) -0,342 -4,365 0,000***
Divisão de Tarefas -0,010 (0,022) -0,028 -0,447 0,655 0,352 0,124 0,107
Conflito Coparental 0,015 (0,045) 0,024 0,330 0,742
RPP -0,030 (0,042) -0,053 -0,719 0,473
F(5;255)=7,232 p=0,000***
Casadas Sabotagem Coparental 0,010 (0,049) 0,016 0,206 0,837
Acordo Coparental -0,128 (0,035) -0,289 -3,655 0,000***
Divisão de Tarefas 0,017 (0,039) 0,049 0,419 0,676 0,334 0,111 0,054
Conflito Coparental 0,008 (0,068) 0,015 0,114 0,909
RPP -0,012 (0,047) -0,036 -0,253 0,801 F(5;77)=1,931 p=0,099
Divorciadas Sabotagem Coparental -0,011 (0,066) -0,029 -0,170 0,865
Acordo Coparental -0,113 (0,052) -0,339 -2,158 0,034*
Nota: RPP= Reconhecimento da Parentalidade do Parceiro; B= Coeficiente não padronizado de regressão; EP= Erro padrão do coeficiente não padronizado de regressão; Beta=
Coeficiente de regressão padronizado; t= teste t de Student; p: Significância estatística; R: Coeficiente de Regressão; R²: Soma do coeficiente de Regressão ajustado; R²ajustado:
Coeficiente de regressão ajustado; F= ANOVA; gl=graus de liberdade.
* p ≤0,050; ** p ≤0,001 ***p<0,000.
85
determinando que as variáveis preditoras em seu conjunto explicam 11% dos problemas
relacionamento com os pares da criança. Portanto, quanto maior a média de percepção parental
de Acordo coparental relatada pelos participantes da amostra geral, menor era a média de
configuração familiar na amostra deste estudo não se mostraram preditoras dos problemas de
linear múltipla apontou um bom ajuste do modelo de predição dos problemas relacionamento
com os pares da criança [F(6;337)= 9,274; p≤0,000] com as variáveis de Acordo coparental (β
explicada (R² ajustado) de 0,137, determinando que as variáveis preditoras em seu conjunto
explicam 13,7% dos problemas de relacionamento com pares. De modo que quanto maior a
parceiro relatada pelos participantes de famílias casadas, menor era a média de problemas de
relacionamento com os pares da criança. Todas essas análises são demostradas a seguir.
86
Tabela 8
Variáveis preditoras dos Problemas de Relacionamento com Pares da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões
Coparentais
Problemas de Relacionamentos com Pares
Variáveis R2
Amostra B (EP) Beta t p R R2 F(gl;gl) p
preditoras do modelo ajustado
Tipo de família -0,033 (0,051) -0,042 -0,651 0,515 0,354 0,126 0,110
Divisão de Tarefas -0,004 (0,012) -0,017 -0,301 0,764
Conflito Coparental 0,032 (0,023) 0,083 1,374 0,170
Total RPP -0,023 (0,020) -0,086 -1,163 0,246 F(6;337)=7,994 p=0,000***
Sabotagem Coparental 0,014 (0,025) 0,043 0,562 0,575
Acordo Coparental -0,055 (0,018) -0,233 -2,980 0,003*
*
Divisão de Tarefas -0,010 (0,014) -0,045 -0,721 0,471 0,392 0,154 0,137
Conflito Coparental -0,007 (0,030) -0,016 -0,223 0,824
RPP -0,056 (0,027) -0,148 -2,048 0,042*
Casadas Sabotagem Coparental 0,031 (0,032) 0,076 0,979 0,328 F(5;255)=9,274 p=0,000***
Acordo Coparental -0,067 (0,023) -0,228 -2,928 0,004*
*
Divisão de Tarefas 0,033 (0,023) 0,170 1,463 0,148 0,352 0,124 0,067
Conflito Coparental 0,076 (0,039) 0,251 1,951 0,055
RPP -0,005 (0,027) -0,025 -0,177 0,860
Divorciadas F(5;77)=2,179 p=0,065
Sabotagem Coparental 0,005 (0,038) 0,021 0,124 0,902
Nota: RPP= Reconhecimento da Parentalidade do Parceiro; B= Coeficiente não padronizado de regressão; EP= Erro padrão do coeficiente não padronizado de regressão; Beta=
Coeficiente de regressão padronizado; t= teste t de Student; p: Significância estatística; R: Coeficiente de Regressão; R²: Soma do coeficiente de Regressão ajustado; R²ajustado:
Coeficiente de regressão ajustado; F= ANOVA; gl=graus de liberdade.
* p ≤0,050; ** p ≤0,001 ***p<0,000.
87
Já para as famílias divorciadas, além do modelo não ter apresentado um bom ajuste,
nenhuma das relações foi estatisticamente significativa. Esse resultado aponta para pouca
pró-social, conforme Tabela 7. De modo que quanto maior a média de percepção parental de
Acordo coparental relatada pelos participantes da amostra geral, maior era a média de
[F(5;255)= 5,091; p≤0,000] foi estatisticamente significativo. Nesse grupo apenas a variável
da criança. Portanto, quanto maior a média de percepção parental de Acordo coparental relatada
pelos participantes da amostra de famílias casadas maior era a média de comportamento pró-
social da criança.
88
Já para as famílias divorciadas além do modelo não ter apresentado um bom ajuste,
nenhumas das relações foi estatisticamente significativa. Esse resultado aponta para pouca
Tabela 9
Variáveis preditoras do Comportamento Pró-social da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais
Comportamento Pró-social
Variáveis R2
Amostra preditoras do B (EP) Beta t p R R2 F(gl;gl)
ajustado p
modelo
Tipo de família 0,039 (0,050) 0,051 0,768 0,443 0,240 0,057 0,041
Divisão de Tarefas -0,022 (0,012) -0,104 -1,822 0,069
Conflito Coparental -0,026 (0,023) -0,070 -1,104 0,270
p=0,0003**
RPP -0,001 (0,019) -0,005 -0,061 0,951 F(6;337)= 3,423
Total Sabotagem -0,011 (0,024) -0,037 -0,464 0,643
Coparental
Acordo Coparental 0,048 (0,018) 0,212 2,609 0,009**
Divisão de Tarefas -0,023 (0,014) -0,105 -1,639 0,102 0,301 0,091 0,073
Conflito Coparental -0,005 (0,029) -0,012 -0,170 0,865
RPP 0,034 (0,027) 0,096 1,281 0,201
Sabotagem -0,030 (0,031) -0,077 -0,964 0,336 F(5;255)=5,091 p=0,000***
Casadas
Coparental
Acordo Coparental 0,054 (0,022) 0,194 2,401 0,017*
Divisão de Tarefas -0,033 (0,024) -0,164 -1,350 0,181 0,211 0,045 -0,017
Conflito Coparental -0,028 (0,042) -0,089 -0,662 0,510
Divorciadas RPP -0,027 (0,029) -0,139 -0,929 0,356 F(5;77)=0,721 p=0,610
Sabotagem -0,009 (0,041) -0,037 -0,208 0,836
Coparental
Acordo Coparental 0,030 (0,032) 0,149 0,917 0,362
Nota: RPP= Reconhecimento da Parentalidade do Parceiro; B= Coeficiente não padronizado de regressão; EP= Erro padrão do coeficiente não padronizado de regressão; Beta=
Coeficiente de regressão padronizado; t= teste t de Student; p: Significância estatística; R: Coeficiente de Regressão; R²: Soma do coeficiente de Regressão ajustado; R²ajustado:
Coeficiente de regressão ajustado; F= ANOVA; gl=graus de liberdade.
* p ≤0,050; ** p ≤0,001 ***p<0,000.
90
apresentaram um bom ajuste [Geral: F(6;337)= 14,747; p≤0,000; Casadas: F(5;255)= 16,471;
famílias casadas e 0,108 dos participantes de famílias divorciadas. De modo que as variáveis
preditoras em seu conjunto explicam 19,4% das dificuldades totais da criança na amostra geral,
22,9% na amostra de famílias casadas e 10,8% na mostra de famílias divorciadas. Portanto, nas
amostras geral casada e divorciada, quanto maior a média de percepção parental de Acordo
coparental relatada pelos participantes, menor era a média de dificuldades totais da criança.
91
Tabela 10
Variáveis preditoras das Dificuldades Totais da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais
Dificuldades Totais
Variáveis R2
Amostra B (EP) Beta t p R R2 F(gl;gl) p
preditoras do modelo ajustado
Tipo de família -0,083 (0,044) -0,115 -1,896 0,059 0,456 0,208 0,194
Divisão de Tarefas 2,153 (0,010) 0,000 0,002 0,998
Conflito Coparental 0,041 (0,020) 0,116 2,014 0,045*
Total RPP -0,019 (0,017) -0,078 -1,106 0,269 F(6;337)= 14,747 p=0,000***
Sabotagem Coparental 0,002 (0,021) 0,005 0,075 0,940
Acordo Coparental -0,082 (0,016) -0,385 -5,159 0,000***
Divisão de Tarefas -0,004 (0,012) -0,020 -0,350 0,727 0,494 0,244 0,229
Conflito Coparental 0,017 (0,024) 0,046 0,699 0,485
RPP -0,042 (0,023) -0,127 -1,856 0,065
Casadas Sabotagem Coparental 0,022 (0,026) 0,061 0,828 0,408 F(5;255)=16,471 p=0,000***
Acordo Coparental -0,087 (0,019) -0,340 -4,621 0,000***
Divisão de Tarefas 0,025 (0,023) 0,122 1,076 0,285 0,404 0,163 0,108
Conflito Coparental 0,064 (0,039) 0,203 1,618 0,110
RPP -0,007 (0,027) -0,034 -0,244 0,808
Divorciadas Sabotagem Coparental F(5;77)=2,996 p=0,016*
-0,014 (0,039) -0,062 -0,372 0,711
Acordo Coparental -0,072 (0,030) -0,361 -2,364 0,021*
Nota: RPP= Reconhecimento da Parentalidade do Parceiro; B= Coeficiente não padronizado de regressão; EP= Erro padrão do coeficiente não padronizado de regressão; Beta=
Coeficiente de regressão padronizado; t= teste t de Student; p: Significância estatística; R: Coeficiente de Regressão; R²: Soma do coeficiente de Regressão ajustado; R²ajustado:
Coeficiente de regressão ajustado; F= ANOVA; gl=graus de liberdade.
* p ≤0,050; ** p ≤0,001 ***p<0,000.
92
parental nas amostras geral (β = -0,374; p≤0,000), de famílias casadas (β = -0,333; p≤0,000) e
apresentaram um bom ajuste [Geral: F(6;337)= 10,361; p≤0,000; Casadas: F(5;255)= 11,053;
famílias casadas e 0,060 nos participantes de famílias divorciadas. De modo que as variáveis
preditoras em seu conjunto explicam 14,1% das dificuldades totais da criança na amostra geral,
amostras geral, casada e divorciada, quanto maior a média de percepção parental de Acordo
coparental relatada pelos participantes, menor era a média dos problemas externalizantes da
criança.
93
Tabela 11
Variáveis Preditoras das Problemas Externalizantes da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais
Problemas Externalizantes
Variáveis R2
Amostra B (EP) Beta T p R R2 F(gl;gl) p
preditoras do modelo ajustado
Tipo de família -0,092(0,63) -0,091 -1,449 0,148 0,395 0,156 0,141
Divisão de Tarefas 0,003(0,015) 0,011 0,203 0,839
Conflito Coparental 0,041(0,029) 0,084 1,410 0,159
Total RPP -0,017(0,024) -0,050 -0,681 0,497 F(6;337)= 10,361 p=0,000***
Sabotagem Coparental -0,007(0,031) -0,018 -0,245 0,807
Acordo Coparental -0,111(0,023) -0,374 -4,855 0,000***
Divisão de Tarefas -0,006 (0,017) -0,020 -0,330 0,742 0,422 0,178 0,162
Conflito Coparental 0,036 (0,035) 0,071 1,029 0,304
RPP -0,018 (0,033) -0,038 -0,535 0,593
Casadas Sabotagem Coparental 0,017 (0,038) 0,034 0,446 0,656 F(5;255)=11,053 p=0,000***
Acordo Coparental -0,119 (0,027) -0,333 -4,341 0,000***
Divisão de Tarefas 0,036 (0,034) 0,126 1,077 0,285 0,343 0,118 0,060
Conflito Coparental 0,035 (0,058) 0,078 0,608 0,545
Divorciadas RPP -0,028 (0,040) -0,100 -0,696 0,489 F(5;77)=2,051 p=0,081
Sabotagem Coparental -0,025 (0,056) -0,077 -0,450 0,654
Acordo Coparental -0,092 (0,044) -0,323 -2,063 0,043*
Nota: RPP= Reconhecimento da Parentalidade do Parceiro; B= Coeficiente não padronizado de regressão; EP= Erro padrão do coeficiente não padronizado de regressão; Beta=
Coeficiente de regressão padronizado; t= teste t de Student; p: Significância estatística; R: Coeficiente de Regressão; R²: Soma do coeficiente de Regressão ajustado; R²ajustado:
Coeficiente de regressão ajustado; F= ANOVA; gl=graus de liberdade.
* p ≤0,050; ** p ≤0,001 ***p<0,000.
94
linear múltipla apontaram um bom ajuste dos três modelos de predição [Geral: F(6;337)=
8,533; p≤0,000; Casadas: F(5;255)= 10,040; p≤0,000; Divorciadas: F(5;255)= 2,913; p=0,018]
internalizantes da criança nos modelos com a amostra geral (β = -0,244; p=0,002), fornecendo
coeficiente de variância explicada (R² ajustado) de 0,116, de modo que as variáveis preditoras
em seu conjunto explicam 11,6% dos problemas internalizantes da criança na amostra geral.
Portanto, quanto maior a média de percepção parental de Acordo coparental relatada pelos
explicada (R² ajustado) de 0,148, determinando que as variáveis preditoras em seu conjunto
explicam 14,8% dos problemas de conduta. De modo que, quanto maior a média de percepção
Tabela 12
Variáveis Preditoras dos Problemas Internalizantes da Criança nas Diferentes Amostras: Tipo de Família e Dimensões Coparentais
Problemas Internalizantes
Variáveis R2
Amostra B (EP) Beta T p R R2 F(gl;gl)
preditoras do modelo ajustado p
Nota: RPP= Reconhecimento da Parentalidade do Parceiro; B= Coeficiente não padronizado de regressão; EP= Erro padrão do coeficiente não padronizado de regressão; Beta=
Coeficiente de regressão padronizado; t= teste t de Student; p: Significância estatística; R: Coeficiente de Regressão; R²: Soma do coeficiente de Regressão ajustado; R²ajustado:
Coeficiente de regressão ajustado; F= ANOVA; gl=graus de liberdade.
* p ≤0,050; ** p ≤0,001 ***p<0,000.
96
Nas famílias divorciadas apenas a variável Conflito coparental foi a única preditora
variância explicada (R² ajustado) 0,104, de maneira que, as variáveis preditoras em seu
conjunto explicam 10,4% na amostra de famílias divorciadas. Portanto, quanto maior a média
criança, na amostra geral. Ainda que pese o poder preditor promotor da variável Conflito
predição do Acordo coparental foi maior. Desse modo, tipo de configuração familiar (casada
ou divorciada) não foi fator preditivo em si para o comportamento da criança, assim como as
adaptativo da criança, enquanto o Conflito coparental parece ser fator promotor de problemas
Tabela 13
Variáveis Preditoras dos Comportamentos da Criança Estatisticamente Significativas na
Amostra Geral: Tipo de Família e Dimensões Coparentais
Variáveis preditoras
Variável dependente Beta p R2 ajustado F(gl;gl)p
do modelo
Problemas de
Relacionamento com Acordo Coparental -0,233 0,003** 0,110 F(6;337)=7,994***
Pares
Comportamento Pró-
Acordo Coparental 0,212 0,009** 0,041 F(6;337)= 3,423**
social
Problemas
0,116 F(6;337)= 8,533***
internalizantes Acordo Coparental -0,244 0,002**
Apenas na dimensão de Sintomas emocionais que essa relação não apareceu como
Tabela 14
Variáveis Preditoras dos Comportamentos da Criança Estatisticamente Significativas na
Amostra de Famílias Casadas: Dimensões Coparentais
Variáveis preditoras R2
Variável dependente Beta P F(gl;gl)p
do modelo ajustado
análise com bom ajuste, mesmo em face à reduzida amostra. O Acordo coparental foi preditivo
mas em modelos que não apresentaram bons ajustes, exceto no de dificuldades totais do filho.
divorciadas.
99
Tabela 15
Variáveis Preditoras dos Comportamentos da Criança Estatisticamente Significativas na
Amostra de Famílias Divorciadas: Dimensões Coparentais
Variáveis preditoras
Variável dependente Beta p R2 ajustado F(gl;gl)
do modelo
Reconhecimento da
Sintomas emocionais Parentalidade do -0,176 0,020* 0,068 F(5;255)=4,788***
parceiro
Problemas de
Acordo Coparental -0,298 0,000*** 0,144 F(5;255)=9,755***
Conduta
Problemas de
Reconhecimento da
Relacionamento com 0,137 F(5;255)=9,274***
Pares Parentalidade do -0,148 0,042*
parceiro
Dificuldades da
Acordo Coparental -0,340 0,000*** 0,229 F(5;255)=16,471***
Criança
Comportamento Pró-
Acordo Coparental 0,194 0,017* 0,073 F(5;255)=5,091***
social
Problemas
Acordo Coparental -0,374 0,000*** 0,162 F(5;255)=11,053***
externalizantes
parceiro
Uma análise conjunta dos resultados aponta para o poder preditivo da coparentalidade
Suporte e Divisão de tarefas) não apresentaram poder preditivo para a amostra destes estudo.
maior que as famílias casadas. Entretanto, no modelo de predição na amostra geral dessa
dimensão o tipo de família não foi preditora para a presença de problemas de relacionamento
com os pares, apenas o Acordo coparental. No grupo de famílias casadas além do Acordo
melhor por parte de famílias casadas. Embora as famílias divorciadas tenham apontado menor
percepção que as famílias casadas de Conflito coparental, ainda assim as médias das duas
8 DISCUSSÃO GERAL
resultados de cada objetivo – geral ou específico – foram retomados e respondidos, bem como
as hipóteses pré-formuladas. Este estudo teve como objetivo geral investigar os efeitos da
como objetivos específicos, comparar a percepção dos pais de famílias casadas e famílias
divorciadas sobre a sua coparentalidade; comparar a percepção dos pais de famílias casadas e
divorciadas.
respondentes da pesquisa, que foram as mães das crianças, a maioria branca com média de
idade de 37 anos. Com relação às crianças cujas mães responderam aos questionários, as
crianças, na maioria, eram do sexo feminino e tinham, em média, 6 anos de idade. Na revisão
de Ambrós et al. (2022), a maioria dos estudos (n=7) também contou majoritariamente com
mães como participantes (61% a 100%). A predominância de mães nas amostras também tem
sido identificada em outras revisões de literatura, como nos estudos de Coltro et al., (2020) e
social. As mães com maior escolaridade reconhecem a importância da pesquisa, pois muitas
vivem no meio acadêmico com fácil acesso à internet e meios digitais. Com a pandemia e o
isolamento, tivemos a impossibilidade de acessar bairros, escolas e creches, casas para fazer
102
convite aos pais para participação, e o modo on-line passou a ser a única forma para
participação.
configuração familiar não é fator tão importante para o comportamento das crianças. Este
destas últimas problemas de comportamento), pois a única dimensão que teve diferença
como isolamento, ter poucos amigos ou dificuldade para relacionamento. Talvez, as crianças
das famílias divorciadas terem apresentado mais comportamentos deste tipo na amostra do
presente estudo se deve ao fato de que, após o divórcio, muitas crianças possam se sentir
isoladas, com medo, ansiosas, tristes, com poucos amigos e contatos pela necessidade da nova
adaptação. Após o divórcio, pode ocorrer uma readaptação da criança à nova configuração
familiar. Sendo assim, a família pode contribuir de diversas formas para que as crianças não
sofram com o divórcio. O diálogo e a demonstrações de afeto e atenção durante tal processo
Para Dantas et al. (2004), é de suma importância que se fortaleçam os vínculos com os
filhos após a separação. Com esse maior fortalecimento, diálogo e demonstração de carinho
dos pais para com os filhos, a interação positiva facilita para que a criança passe por este
período de uma maneira mais harmônica e feliz. É fundamental que os pais tenham diálogo e
et al. (2004) relatam a importância da figura paterna que, na maioria das separações, é quem
sai de casa e acaba se ausentando da vida da criança. O pai precisa separar o que é da
conjugalidade e o que é da parentalidade, pois segue sendo pai e deverá continuar investindo
positivas da coparentalidade. Essas famílias relataram maior média que as famílias divorciadas
para as crianças. Dos estudos incluídos na revisão sistemática da literatura de Ambrós et al.
(2022), foram similares aos resultados do presente estudo, em que o apoio coparental foi a
variável mais significativa quando os sintomas emocionais são considerados como preditores
compreensão dos comportamentos das crianças. A variável “acordo coparental” teve o maior
poder discriminatório. Este resultado aponta para os reflexos da negociação entre os pais acerca
104
alta (4,6) se comparado às famílias divorciadas (3,35). Essa foi a maior média de
coparentalidade positiva nas famílias divorciadas, e nas famílias casadas foi a segunda média
positiva. Bueno et al. (2015) destacam a importância de ser pai e ser mãe, independente da
configuração familiar. O casamento pode não dar certo, mas a paternidade e a maternidade são
Esse papel de pai/mãe deve ser valorizado e, embora questões do contexto, como
desafio buscar ser um pai/mãe presente com participação ativa na vida dos filhos. Sabe-se que,
na maioria dos divórcios, os filhos ficam sob a guarda da mãe, no entanto a participação do pai
é essencial para o desenvolvimento dos filhos. Segundo Benczik (2011), o papel de pai no
desenvolvimento cognitivo e social do (a) filho(a) é essencial, sendo que a interação entre
No estudo de Alves et al. (2015), os autores concluíram que, apesar das mudanças
ocorridas nos últimos anos, a ausência paterna ainda é um aspecto recorrente nas famílias
parentalidade do parceiro, indicando que a participação do pai na vida dos filhos vem se
105
modificando ao longo do tempo. Nesse sentido, entende-se que existe uma tendência para que
pais sejam mais dispostos em participar e colaborar na criação de seus filhos. No estudo de
divórcio) tiveram o menor número de problemas de comportamento e laços mais próximo com
seus pais.
Quanto à dimensão de suporte coparental, a média mais alta foi nas famílias casadas,
relatando que o auxílio, enquanto casal, ajuda dos pais com relação aos filhos. Esta foi a
segunda média mais alta dentre todas as dimensões para as famílias divorciadas, mostrando
que o suporte coparental é uma dimensão importante nas famílias. Esse resultado vai ao
encontro de afirmação destacada por Böing e Crepaldi (2016) de que o suporte coparental e a
homoafetivas).
familiares tiveram médias baixas - casadas e divorciadas -, sendo que, no contexto das
divorciadas, foi mais baixo ainda. Böing e Crepaldi (2016) destacam que a satisfação em
relação à divisão de tarefas está relacionado com a divisão do trabalho e, também, com a
106
afinidade de expectativas e concepções do casal sobre como deve ser o cuidado com a criança.
De acordo com Feinberg (2003), a satisfação na divisão das tarefas tem associação com a
satisfação da relação coparental e quanto maior a divisão de tarefas menor estresses nas funções
parentais e maior satisfação na relação coparental. Talvez, pelo instrumento ter dois itens na
dimensão divisão de tarefas, ela pode não ter sido mensurada adequadamente para abarcar essa
A forma como a família se organiza para dar conta de suas tarefas é fundamental, sendo
assim, busca-se uma maior igualdade na divisão de tarefas, repercutindo, de diversas formas,
no funcionamento familiar. Para Bossardi et al. (2015), é fundamental que a família defina o
que compete a cada um de seus membros para melhor organização da mesma, e o que pode ser
funcional para uma família, pode não ser para outra. As combinações e o diálogo entre os pais
materna, e que o pai parece estar dividindo e compartilhando algumas tarefas de cuidado com
a mãe. De acordo com os resultados deste estudo, também foram identificados avanços quanto
extremamente baixas nas duas configurações familiares, houve mais conflito coparental nas
107
famílias casadas do que nas famílias divorciadas. Nas famílias divorciadas, a diferença foi
significativa, pois a dimensão negativa da coparentalidade que teve maior média foi a
sabotagem coparental (M=2,43; DP=1,36), se comparada com as famílias casadas (M= 1,57;
crianças, seja como recurso ou fator de risco. Embora mais visível em famílias separadas, o
conflito interparental também afeta o bem-estar das crianças em famílias nucleares (Harold &
Sellers, 2018).
a entrar em acordo após as discussões e conflito. Outras famílias, mesmo tendo conflitos, não
se separam, optando por permanecerem casadas por questões familiares, como, por exemplo,
em função dos filhos, de questões financeiras, do comodismo, trabalho, entre outras. Driver et
al. (2016) mencionam sobre o mito de casais com casamentos satisfatórios. Nesse caso, parece
prevalecer a crença de que eles conseguem resolver todas as suas discordâncias. No entanto, é
importante destacar que os casamentos, provavelmente, terão problemas, tanto solúveis, quanto
insolúveis.
dimensão negativa da coparentalidade (conflito coparental) nas famílias casadas foi maior que
nas divorciadas. Uma hipótese para as famílias casadas terem apresentando mais conflitos, se
comparadas as famílias divorciadas, pode ser pelo fato de as famílias casadas terem ficado um
período integral em convivência, ou seja, o casal estava vinte e quatro horas dentro da mesma
casa com os filhos, precisando administrar muitas tarefas exigidas pelo distanciamento até
domicílio, trabalho on-line, educação dos filhos, aulas virtuais, desafio de praticar atividades
das tarefas da casa, negociar o período de usos de telas - um tema bem polêmico e que gera
Diante de tantos desafios, é possível que os casais possam ter apresentado mais
conflitos e dificuldades em remanejar a vida enquanto casal, situação nunca vivenciada antes
pelos pais durante o casamento e, possivelmente, nunca imagináveis entre o casal, uma vez que
não é sempre que nos deparamos com uma situação que exige tantos desafios e risco de morte
quanto uma pandemia. Segundo dados publicados no portal de notícias G1, mais de 80 mil
casais se divorciaram nos cartórios do Basil em 20021. Um número recorde, segundo dados do
Colégio Notarial do Brasil, que reúne os tabelionatos de notas do país. De janeiro a dezembro,
foram 80.573 divórcios, uma alta de 4% em relação aos 77.531 registrados em 2020.
conjugalidade que os colocam em uma situação de maior vulnerabilidade (Silva et al., 2020).
Segundo a pesquisa da Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ, 2020), 29,2% dos participantes
46,6% disseram ter sentido piora em seu quadro. Além disso, 40,4% dos participantes sentiram-
com idade entre 18 e 39 anos. Todos esses impactos sociais, econômicos e emocionais foram
com a saúde mental de cada um dos cônjuges representam um importante processo a ser
o que acontece em cada uma das partes afeta o todo, ao mesmo tempo em que o que acontece
em termos de mobilidade e de mudanças na rotina. Silva et al. (2020) realizaram uma revisão
para a prática da terapia de casal e família nesse contexto. Os autores destacam que a pandemia
sobre a divisão de cuidados dos filhos e de tarefas domésticas (Prime et al., 2020). Os casais
também enfrentaram temas e situações que, anteriormente à pandemia, não existiam ou não
comparadas as famílias casadas, pode ser pela pesquisa ter sido realizada em um período de
pandemia, no qual os pais divorciados estavam morando em casas diferentes e com menos
visitas e acessos aos filhos. Dependendo de quem tinha a guarda da criança, o outro genitor
provavelmente ficou sem ver a criança, ou com o número de visitas limitadas, uma vez que
como a relação do antigo casal terminou, um dos pais tente sabotar o outro, interferindo, assim,
na relação do genitor com a criança, muitas vezes “minando” a criança com questões
desnecessárias em relação ao outro cônjuge. Estudos com famílias binucleares têm mostrado
que o conflito entre o casal é um dos determinantes que exerce maior impacto de forma negativa
na coparentalidade (Lamela, Castro, & Figueiredo, 2010; Lamela et al., 2013). Os resultados
110
do presente estudo vão ao encontro do estudo de Farias (2015), que testou, em famílias
revelaram que os pais divorciados, quando comparados com os pais casados, apresentaram
companheiro em seu papel de pai/mãe. A forma como cada família vivencia o exercício da
coparentalidade, após uma dissolução conjugal, ocorre de forma singular, tanto para os pais,
quanto para os filhos. Dyer et al. (2018) realizaram uma análise de regressão com dados de 542
pais (homens) de baixa renda. Como resultado, dentre os três fatores coparentais analisados
sintomas emocionais. De acordo com Farias (2015), a coparentalidade foi apontada, em seu
nas crianças, quer em famílias com pais divorciados, quer em famílias com pais casados
Além disso, Herrero et al. (2020) têm identificado que a coparentalidade é um fator
protetivo para o comportamento infantil, desde que os pais não enfrentem conflito de altos
níveis. Os autores afirmam que o conflito poda gerar maiores desfechos negativos para
crianças, cujos pais se encontram em um divórcio em que os conflitos estejam presentes, uma
vez que pode promover a exposição da criança a um sistema familiar adverso e hostil.
Outro resultado deste estudo foi que a coparentalidade negativa, em sua dimensão de
sintomas emocionais nas famílias da amostra geral e sintomas internalizantes nas famílias
divorciadas. Esse resultado corrobora com o estudo de Raposo et al. (2011), pelo qual
problemas transitórios nas crianças, até dois anos após o divórcio, têm sido associados à
dissolução conjugal, no entanto a configuração familiar não pode ser considerada responsável
problemas financeiros, a sintomatologia dos pais, a qualidade das práticas parentais e o conflito
conjugal.
de risco para o bem-estar das crianças. No estudo de Lux et al. (2021), os autores abordaram
pequenas e alemãs. A amostra compreendeu 828 participantes, 59,9% do sexo feminino, e seus
Dos estudos analisados por Ambrós et al. (2022), a existência de conflito coparental
Koprowski et al. (2020), que realizaram uma revisão integrativa entre os anos de 2008 e 2020,
de acordo com os resultados dos estudos analisados, sinalizaram que o impacto negativo do
conflito conjugal não reflete somente na interação do casal, mas também no desenvolvimento
verbal entre o casal. Nesse sentido, a saúde mental dos filhos pode ser favorecida ou
Nos estudos de Lamela e Figueiredo (2016) e Raposo et al. (2011), os autores relataram
que o conflito pós-divórcio entre os pais é o mais prejudicial para os filhos, mesmo que o
conflitos entre os ex-cônjuges após o divórcio, há evidências empíricas de que crianças, cujo
pai e a mãe têm níveis mais elevados de conflito, apresentam maiores dificuldades quando
comparadas a crianças com pai e mãe com melhor nível de cooperação e comunicação (Verças,
2012). Depois do divórcio, as brigas tendem a diminuir e nem sempre o mesmo (divórcio) é
um evento negativo, sendo, em muitos casos, a melhor solução quando os conflitos entre o
Sendo assim, a forma como cada família vai vivenciar o exercício da coparentalidade, após
uma dissolução conjugal, ocorre de forma singular, tanto para os pais, quanto para os filhos.
Kostulsk et al. (2017), por meio da análise de um relato de experiência com pais e mães após
113
o estabelecimento da guarda de filhos, evidenciaram, dentre outros resultados, que alguns pais
e mães têm certa dificuldade em vivenciar os acordos realizados, um fator que pode ocorrer
Lamela e Figueiredo (2016) realizaram uma revisão sistemática com estudos que
sistema familiar para a previsão da saúde mental infantil após a dissolução conjugal, e
mediadoras das relações entre pais e filhos e associadas à eficácia das práticas educativas,
quando utilizadas pelos pais de forma homogênea. O estudo de Mosmann et al. (2018)
Mosmann et al. (2017) identificaram que a variável aprovação coparental foi preditora
dos sintomas nas crianças no sentido de que, quanto menos aprovação coparental, mais
aprovação entre os cônjuges quando estão exercendo a função de pais (Feinberg et al., 2012).
relataram mais sintomas de problemas emocionais nos filhos do que os pais casados. Balagões
(2020) fez um estudo com famílias portuguesas e explorou se os efeitos das variáveis de
consideráveis em filhos pequenos que enfrentam a separação de seus pais. Na mesma direção,
o estudo de Nunes-Costa et al. (2009) constatou que crianças que passaram pelo processo de
divórcio dos pais têm tendência a ter níveis de saúde física e psicológica mais baixos, adaptação
psicológico.
variáveis acordo coparental e conflito coparental foram preditoras da percepção parental dos
problemas de conduta nos filhos. Quanto mais acordo coparental, menos problemas de conduta
nas crianças das famílias da amostra geral e famílias casadas ocorreram; além disso, quanto
mais conflito, mais problemas de conduta nas crianças das famílias da amostra geral se
constatou. Nas famílias divorciadas, as variáveis coparentais apontaram pouca relação com os
problemas de conduta das crianças. Além disso, também foi encontrado que houve relação
inversa entre acordo parental e problemas de conduta das crianças. Nesse sentido, Mosmann et
al. (2017) encontraram que a disputa coparental prejudica o desempenho dos genitores,
talvez impactados por um contexto hostil e competitivo, podem devolver, ao ambiente, o que
ambiente favorável, com coparentalidade positiva e acordo entre os pais, favorece para um
Como resultado do estudo de Theodoro et al. (2010), quanto mais conflito nas famílias,
mais problemas de conduta. Afirma-se que o conflito familiar pode ser uma fonte geradora de
caracteriza-se como fator de risco para a saúde física e mental dos membros da família.
Com relação à hiperatividade, a variável acordo coparental foi a única preditora nas
famílias da amostra geral, casada e divorciada. Portanto, quanto mais acordo coparental
relatado pelos pais, menor era a média de hiperatividade na criança. Quanto mais
crianças. Balagões (2020) identificou, em seu estudo, que, quanto mais cooperação os pais em
filhos.
dois grupos de pais na subescala de hiperatividade, em que os pais divorciados indicaram mais
sintomas de hiperatividade do que os pais casados. O resultado desse estudo divergiu dos
achados do presente estudo, uma vez que a hiperatividade nas crianças não foi maior entre as
fator protetivo. Talvez, não ter aparecido tanto nas famílias divorciadas pode ser pelo fato de o
tamanho da amostra ser reduzido neste estudo, mas, mesmo assim, ele já se mostra como
Quanto aos problemas de relacionamento com pares, a variável acordo coparental foi
preditora dos problemas de relacionamento com pares. Foi identificado, no presente estudo,
que houve relação inversa entre acordo parental e problema de relacionamento com pares nas
crianças das famílias da amostra geral e nas casadas. Nesse último caso (famílias casadas),
116
dos problemas de relacionamento com pares. Nas famílias divorciadas, houve pouca relação
dos problemas de relacionamento com pares. Segundo Balagões (2020), quanto mais conflito
preditora para a promoção do comportamento pró-social nas crianças das famílias da amostra
variáveis coparentais apresentaram pouca relação com a prossociabilidade dos filhos. Esse
resultado está diretamente ligado à hipótese três deste estudo (a coparentalidade exercerá
hipótese foi parcialmente confirmada, pois não foi em todas as configurações que o acordo
social nas crianças. O acordo coparental foi a única variável preditora para a promoção do
com os filho e atua na promoção saudável do desenvolvimento das crianças e das famílias. A
Sendo assim, no presente estudo, o acordo coparental nas famílias casadas foi um fator
contribui, de modo importante, para o bem-estar e desenvolvimento dos filhos, e essa condição
O estudo longitudinal de Scrimgeour et al. (2013), com cinquenta e oito famílias, com
pais e mães, teve como objetivo examinar como os aspectos das relações parentais e coparentais
acordo coparental foram as únicas variáveis preditoras das dificuldades totais da criança na
amostra geral, nas famílias casadas e divorciadas. Por meio da análise dos dados, foi
identificado que houve relação inversa entre acordo coparental e dificuldades totais da criança.
a infância até a adolescência (Teubert & Pinquart, 2010). Evidências empíricas longitudinais
dos filhos em diferentes faixas etárias (McHale et al., 2004; Teubert & Pinquart, 2010).
Existem indicativos de que o comportamento dos filhos é afetado pelas relações pais-filhos e
também pela forma como conduzem a coparentalidade; é interessante que haja diálogo entre
O acordo coparental, a maneira como esses pais conversam e discutem sobre a educação
de seus filhos, parece indicar que esses aspectos são promotores para a diminuição das
dificuldades da criança. Choi e Becker (2019) verificaram que a coparentalidade mais solidária
Com relação aos problemas externalizantes, a variável acordo coparental foi preditora
atenuante de problemas externalizantes nas crianças das famílias nas amostras geral, casada e
divorciada. Ou seja, parece que o acordo coparental nas famílias funciona como mecanismo
dos filhos. Quanto aos sintomas externalizantes, as variáveis preditoras foram competição
corrobora com a literatura internacional (Feinberg, 2003; Teubert & Pinquart, 2010). No estudo
conduzido por Jiménez-Garcia et al. (2019), com 317 processos judiciais, foi encontrada maior
desempenho acadêmico entre os filhos de pais que não estavam exercendo a coparentalidade
após o divórcio.
medida em que os pais apoiam ou prejudicam os esforços parentais um do outro, também foi
esforço de controle das crianças e os relatos de mães e professores sobre seu comportamento
modo que, quando os pais apresentavam altos níveis de comportamento coparental de apoio, a
ligação entre baixo controle de esforço e aumento no comportamento externalizante não foi
observada.
119
Com relação aos problemas internalizantes, o acordo coparental foi a variável preditora
nas crianças da amostra geral. Nas famílias casadas, o acordo coparental e o reconhecimento
Quanto mais acordo, menos problemas internalizantes nas crianças das famílias da amostra
geral e nas famílias casadas. Nas famílias divorciadas, a variável conflito coparental foi a única
preditora para promover os problemas internalizantes. Quanto mais conflito, mais problemas
comportamento dos filhos. Quando acontece o divórcio, os pais precisam estar atentos sobre
como está a sua relação com o outro cônjuge, sobre os cuidados e atenção que os filhos estão
recebendo. Crianças que assistem agressões ou conflito entre os pais recebem um impacto
direto em sua saúde mental. As mudanças geram conflitos emocionais, cabendo, aos ex-
beneficiando o filho, que continua existindo para ambos (Grzybowski, 2010). Os impactos dos
conflitos conjugais nas relações parentais podem comprometer a qualidade de vida e a trajetória
2019). Segundo Souza (2000), os filhos têm sua saúde mental preservada através do bom
com a figura parental e de como as mudanças no núcleo familiar serão elaboradas pela criança.
dos pais, as crianças podem ter vivenciado situações de brigas e discussões entre os pais, assim
tornando-se mais tristes, ansiosos e retraídos por, muitas vezes, não entenderem o que estava
pais. Pais e mães divorciados encontram muitas dificuldades para manter um relacionamento
identificar os efeitos vivenciados pelos filhos durante o divórcio. Por meio da análise dos
dados, os autores destacam que, durante as mudanças ambientais, a criança poderá apresentar
ansiedade de separação. A criança, ainda, pode vir a demonstrar dificuldades nas atividades
percepção de pais e mães acerca da presença de sintomas nos filhos. Adaptabilidade conjugal
e aprovação coparental foram preditoras dos sintomas internalizantes. Esse resultado também
forma como emergem no contexto familiar. Estima-se que a rigidez no subsistema conjugal se
uma família na qual o casal está em constante conflito, quer os pais vivam juntos ou separados.
Souza (2000) acrescenta que os filhos de pais divorciados podem ser competentes e bem
ajustados quando o divórcio puder conter a demanda de conflitos entre os cônjuges, e quando
a mãe ou o pai que tiver a guarda da criança for capaz de proporcionar um ambiente de cuidado
dentre eles, físicos, cognitivos, emocionais e afetivos, pelos quais ambos os pais são
modelo que explicou 28% da variação na agressividade infantil, destacando uma relação entre
instabilidade conjugal e agressividade dos filhos, por meio de menor coparentalidade, que era
ainda maior para mães divorciadas do que para mães separadas (que nunca se casaram com
suas duplas coparentais) e estavam coabitando com outro parceiro. Galperim (2014) investigou
possíveis relações entre clima familiar e comportamentos agressivos entre pares na infância, e
um dos resultados foi que as reações internalizadas apresentaram associação positiva com a
Responderam a uma entrevista semiestruturada 12 casais com filhos, cujo tempo de união
conjugal foi de seis a 24 anos e oito díades tinham mais de 10 anos de casamento. A análise
relataram dificuldade de sair da “solteirice” e adaptar-se à vida de casado, bem como depressão
de um dos cônjuges e abuso de bebida alcoólica. Além disso, aspectos contextuais se referiram
situação financeira. Por sua vez, motivos relacionais envolviam situações de ciúme, suspeita
de traição por parte do cônjuge, brigas e/ou separação temporária, além da utilização de
desenvolvimento e tem relação com as interações recíprocas face a face, da família e criança
acontece no microcontexto família, como atividades realizadas entre pais e filhos - neste
estudo, essa se apresentou como fator promotor de comportamento mais adaptativo da criança
em ambas as configurações familiares, com foco nas famílias casadas, principalmente nas
modelos que não apresentaram bons ajustes, exceto no de dificuldades totais do filho. A
literatura aponta que a criança, ao testemunhar conflitos conjugais entre seus pais, pode
podem ser positivas, como tendência em envolver nas atividades grupais, ou negativas, como
influenciados pelos demais aspectos da vida da pessoa. Além disso, uma coparentalidade
positiva, com motivação, estímulos e boa relação dos pais com seus filhos, parece favorecer o
coparental foi a única variável preditora para a promoção do comportamento pró-social nas
crianças das famílias da amostra geral, e nas famílias casadas. Famílias com acordo coparental,
seguro para a criança. Um ambiente não seguro e saudável poderá influenciar o surgimento de
problemas de comportamento.
O contexto são os espaços nos quais as crianças estão inseridas, como família e escola.
Aqui, destaca-se a importância de um ambiente seguro com boas relações entre pais e filhos e
Os microssistemas são: a escola, a família, o local de trabalho etc., em que o indivíduo interatua
diretamente com seu interlocutor, e a influência bidirecional flui em via de mão dupla. Neste
estudo, temos dois contextos, o das famílias casadas e os da famílias divorciadas, e aqui temos
desenvolvimento não está diretamente ligada, mas que também influenciam a coparentalidade,
como, por exemplo, o estresse no ambiente de trabalho dos pais, no qual a criança não está
fatores externos que poderão contribuir para os conflitos e discussões entre o casal, sendo
importante que o esse separe o estresse do trabalho, cansaço, correria diária com a convivência
em família, evitando brigas e conflitos desnecessários, tirando um momento para si, para a
exemplo, o caso de uma criança que cresce em uma família nuclear ou extensa e é fortemente
família casada, com pai, mãe e filho, e aquele em que houve uma separação/divórcio e a criança
125
divorciadas. Nas famílias, as crenças dos pais e das mães podem ser diferentes, influenciando
macro, sendo o contexto mais amplo no qual a criança convive diariamente, compartilhando
comportamento da criança neste estudo, no entanto sabe-se que, nas famílias divorciadas, as
crianças compartilham, geralmente, de duas casas, a casa da mãe e a do pai. É importante que
os pais tenham regras claras e bem definidas e, dentro do possível, seria interessante
para que os filhos, ao irem para a casa do outro genitor, não tenham regras tão diferentes
daquelas vivenciadas diariamente. É possível que algumas crenças venham perpetuar nas
126
famílias e que os pais pensem de forma diferente, e, neste caso, o diálogo deve ser prioridade
Cowan e Cowan (2016) afirmam que a maioria dos modelos teóricos da família e os
relação entre pais e filhos como chave para afetar os resultados desses. Também consideram
relação entre pais e filhos é uma relação central de risco ou de proteção que afeta como as
do comportamento da criança nas famílias da amostra geral, confirmando que esse é de suma
mais harmônicas entre pais e filhos e promove o desenvolvimento saudável das crianças. É
importante que os pais tenham os filhos como prioridade na vida dos mesmos,
independentemente se a família está casada, divorciada ou recasada. Sabe-se que, após uma
separação ou divórcio, os pais precisam ter mais consciência ainda sobre colocar o(s) filho(s)
do antigo casamento como prioridade - acabou o casamento, porém a função parental, ou seja,
pai e mãe, precisa ser mantida. O benefício é em prol dos filhos, fruto da relação entre ambos.
127
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
dos resultados apresentados e analisados, que os objetivos propostos foram atingidos, bem
Ao analisar os dados da amostra total, conclui-se que a variável acordo coparental foi
negativas da coparentalidade, o conflito coparental teve maiores médias nas famílias casadas e
Com relação à amostra geral, a variável acordo coparental foi preditora atenuante em
conclui-se que a variável acordo coparental foi a única variável preditora atenuante nos
128
nos problemas de relacionamento com pares e nos problemas internalizantes da criança, mas
apenas nas famílias casadas. O conflito coparental apareceu como fator de destaque nas
famílias, de modo geral, para os problemas de conduta, e nas famílias divorciadas como fator
parceiro foi relacionado aos emocionais, problemas de relacionamento com pares e problemas
internalizantes da criança.
comportamento da criança foram explicados pela dimensão conflito coparental, que parece ser
O tipo de configuração familiar (casada ou divorciada) não foi preditiva, em si, para o
para os problemas de relacionamento com pares, apontando maior percepção dessa dificuldade
interações entre a criança e seus familiares, nas quais destaca-se a coparentalidade positiva com
boa relação coparental, apoio entre os pais, independentemente de estarem casados ou não. O
considerados os eventos que influenciam o contexto familiar, como, por exemplo, o caso de
uma criança que cresce em uma família nuclear, ou extensa criança que convive em dois lares,
na casa do pai e na casa da mãe, sendo fortemente influenciada pelo macrossistema da cultura
proposta por este estudo foi parcialmente confirmada, uma vez que constatou-se diferença
embasamento teórico para intervenções psicológicas familiares e infantis nos contextos clínico,
Com relação à importância da pesquisa para os pais, pode-se afirmar que a própria
que atuam na Psicologia Jurídica e direito de família, como psicólogos, advogados e juízes, a
sentido, reforça-se a estratégia de procurar buscar acordos, indicando aos genitores envolvidos
Identifica-se, como limitação deste estudo, o fato de a pesquisa ter sido realizada de
forma on-line e num momento de pandemia, em que os pais estavam em isolamento, com
muitas demandas em vários setores de suas vidas profissional, financeira e familiar. Houve
número se comparadas às famílias casadas, e talvez o próprio fato de terem passado por um
divórcio, ou estarem imbricadas neste processo de separação, que, em muitos casos, sabemos
que gera estresse e sofrimento, tenha colaborado para a participação em menor número destas
vida dos filhos, ressaltando a relevância de sua opinião na educação e criação de seus filhos.
Quanto à classe social e escolaridade dos participantes, a maioria foram mães brancas e com
pós-graduação. Esses dados podem ter contribuído para esses resultados quanto à
coparentalidade.
Uma limitação que foi encontrada no percurso de coleta de dados foram os imprevistos,
dentre eles a situação atípica da pandemia, em que tínhamos planejado um projeto e número
pais homens. Durante a coleta de dados, houve dificuldade em acessar os participantes, o que
exigiu alterações e reorganizações. Entende-se que é necessário avaliar essas limitações para
buscar estratégias para adaptar-se aos imprevistos que surgem durante a coleta de dados. Um
fator importante a considerar foi a pesquisa ter sido feita de forma on-line, sem a orientação,
Sugere-se que estudos futuros possam abranger diferentes classes sociais, famílias com
diferentes níveis de renda, escolaridade e de cultura, bem como a aplicação dos questionários
estudos com famílias recasadas, incluindo o pai e o padrasto da criança, para termos a
informações sobre o tempo de divórcio, pois esse pode ser mais um fator importante para
A família avança ao longo do tempo, com muitas mudanças e adaptações. Logo, estudar
estudantes, psicólogos e estudiosos de família. O objetivo não é chegar a uma conclusão, nem
destacar um ou outro tipo de família como sendo melhor ou pior, mas questionamentos
aparecem ao longo dos estudos e nos levam a pensar e repensar sobre muitas questões. Com
percepção para os problemas de relacionamento com pares. Sendo assim, é importante nos
atentarmos para este dado com o intuito de promover diálogo, levar conhecimento e
sensibilização dos pais, que passaram, ou passam, por uma situação de divórcio, sobre a
presença dos filhos. Passar por um processo de divórcio não é uma situação fácil, porém os
pais podem tornar a situação mais tranquila na medida em que consigam conviver e dialogar
exemplo em casa e a convivência entre ambos, provavelmente, deixará reflexos na vida de seus
filhos.
família, pois o que funciona bem em uma família, pode não funcionar em outra. Além disso,
entender o comportamento da criança também é um desafio. Sendo assim, este estudo traz
seus diferentes protagonistas. Contudo, também é necessário ampliar o estudo desse fenômeno,
envolvendo o estudo com famílias recasadas e, principalmente, com maior participação dos
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http://hdl.handle.net/10923/4828
154
11 APÊNDICES
Prezados pais,
Vimos por meio deste convidar a criança sob sua responsabilidade legal (seu representado) a
participar da pesquisa “Parentalidade e desenvolvimento socioemocional infantil”, cujo
objetivo é investigar o desenvolvimento socioemocional da criança com desenvolvimento
típico e atípico e sua relação com fatores relativos à parentalidade.
Eu (nome do responsável), (grau de
parentesco) consinto que (nome da criança)
neste ato representado(a) por mim, participe da pesquisa “Parentalidade e desenvolvimento
socioemocional infantil” desenvolvida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em
Desenvolvimento Infantil (NEPeDI), sob coordenação do Prof. Dr. Mauro Luís Vieira, após
ser informado(a) que esta pesquisa tem por objetivo contribuir para a qualidade de vida e bem-
estar psicológico da criança e sua família. Na presente pesquisa, serão realizadas duas
entrevistas com a criança sobre comportamentos que ela costuma apresentar em situações do
cotidiano familiar e escolar e ela será convidada para participar de um grupo de habilidades
sociais na infância conduzido por dois psicólogos devidamente registrados no Conselho
Federal de Psicologia, com oito encontros e duração de uma hora e meia cada. A participação
da criança no grupo visa ajudá-la a melhorar seus relacionamentos com familiares, amigos e
outras pessoas com as quais tenha convivência. Assim sendo, autorizo ainda que
..................................................................................................................... participe do grupo
de habilidades sociais na infância.
Fui informado(a) que o projeto passou pela aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos que é um órgão colegiado interdisciplinar, deliberativo, consultivo e educativo,
156
Tipo de representação:
Florianópolis, de 2018.
prática
sistemática
Ambros, Universidade Federal de Santa Catarina, Rua Engenheiro Agrônomo Andrei Cristian
tatianeambros@yahoo.com.br.
Resumo
A qualidade da relação coparental após o divórcio dos pais afeta significativamente a relação
(PRISMA). As buscas foram realizadas em seis bases de dados, nacionais e internacionais, com
português, inglês e espanhol. Foram incluídos 11 artigos publicados entre 2010 e junho de
2020. Por meio da análise dos resultados desses artigos, constatou-se que o apoio coparental
SYSTEMATIC REVIEW
Abstract
The quality of the coparental relationship after parental divorce significantly affects the
parents-children relationship and the child development. The objective of the study was to
161
conduct a systematic review on the relationship between coparenting and child behavior in
divorced families. The systematic review was conducted according to the methodological
recommendations of the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses
(PRISMA). The searches were carried out in six national and international databases, using the
words coparenting, divorce and child behavior, and similar terms, in Portuguese, English and
Spanish. Eleven articles published between 2010 and June 2020 were included. The main
results of the studies showed that coparental support after divorce favors more positive
outcomes in child behavior. On the other hand, the existence of coparental conflict represents
risk factor for child behavioral problems, including in families whit coparental support and
communication exist.
Resumen
significativamente la relación entre padres e hijos y el desarrollo infantil. El objetivo del estudio
fue realizar una revisión sistemática sobre la relación entre coparentalidad y comportamiento
recomendaciones metodológicas del Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and
portugués, inglés y español. Se incluyeron 11 artículos publicados entre 2010 y junio de 2020.
Los principales resultados de los estudios mostraron que el apoyo coparental después del
162
A família é uma instituição social dinâmica e multifacetada, integrada por aqueles que
integrantes que são influenciadas por fatores macrossociais – como cultura, história e aspectos
pedidos de divórcio têm aumentado a cada ano; em 2018 foi registrado um divórcio para cada
familiar responsável por inúmeras mudanças potencialmente estressantes, uma vez que
especialmente quando o casal tem filhos. Nesse contexto, pode-se afirmar que a experiência do
divórcio dos pais durante a infância se configura como um fator de risco para o
desenvolvimento dos filhos, cujo impacto será definido de acordo com os fatores de proteção
da criança e as condições e habilidades dos pais para lidar com essa transição (Greene et al.,
A separação dos pais não dissolve o sistema familiar como um todo, mas tão somente
sua relação conjugal, sendo necessário reorganizar a dinâmica e a comunicação para que as
define pela relação da criança com cada um de seus pais, individualmente, e pelas atividades e
pelos comportamentos de cuidado dos pais com seus filhos, a coparentalidade se refere ao
modo como dois ou mais adultos compartilham essas atribuições no interjogo de papéis que se
relacionam com o cuidado global da criança, envolvendo responsabilidade conjunta pelo bem-
estar dela (Feinberg, 2003; McHale et al., 2004). Dada essa definição, a coparentalidade existe
por meio de uma visão ecológica e multicomponente, oferecendo uma compreensão sobre
parceiro.
criança, tais como princípios morais, disciplina, formas de prestação de cuidados, decisões
corresponde à partilha entre a díade coparental das obrigações das rotinas diárias de cuidados
à criança, bem como à divisão das responsabilidades dos assuntos financeiros, médicos e legais
na satisfação com a relação coparental e com os níveis de estresse parental, em que quanto
maior for a divisão de tarefas, menor será o estresse no desempenho das funções parentais e
componente da coparentalidade. Este pode ser entendido englobando três aspectos: 1. gestão
por parte de pais e mães sobre os próprios comportamentos e sobre a comunicação com os
outros dentro do sistema familiar; 2. a gestão das fronteiras que são estabelecidas pelos
dos membros da díade parental assume a liderança, enquanto o outro em determinada situação
entre a díade. Expressões de afeto positivo, reforço, apoio emocional e respeito perante a
Esses autores elaboraram um questionário que medeia três dimensões coparentais, cooperação
da coparentalidade sustenta que suas dimensões tendem a se localizar em dois grupos distintos:
equipe, aliança, confiança, entre outros) e outros relacionados ao conflito coparental (como
outros), com análises fatoriais indicando soluções de uma a quatro dimensões para o fenômeno
proteção aos filhos (Cusí et al., 2020; Teubert & Pinquart, 2010). Nesse sentido, a
relações mantido pelo casal (Margolin et al., 2001). Há evidências de que a manutenção de
uma relação amigável e com comunicação suficiente entre os pais após o divórcio está
relacionada a melhores desfechos tanto para a criança quanto para os pais (Herrero et al., 2020).
Contudo, uma recente revisão de literatura identificou resultados inconsistentes a respeito dos
efeitos das mudanças na estrutura familiar (como o divórcio) sobre o desenvolvimento dos
A revisão sistemática realizada por Lamela e Figueiredo (2016), que contou com
estudos publicados entre os anos de 2000 e 2014 sobre os efeitos da coparentalidade no pós-
Para tanto, esta revisão sistemática de literatura foi realizada com o objetivo de analisar as
fornecer uma análise detalhada sobre possíveis vieses metodológicos encontrados nos artigos
retidos.
Método
para revisão do guia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses –
167
PRISMA (Moher et al., 2009), porém sem registro prévio do protocolo (o protocolo utilizado
publicados entre 2010 e 2020 (até o mês de junho), sem restrições de idiomas, nas bases de
dados PubMed, Web of Science, PsycInfo, Scopus e SciELO, e na fonte de pesquisa Biblioteca
dissolution OR separation) AND (child behavior OR child mental health OR child adjustment)
estudos cuja variável da criança foi utilizada como preditora e não como desfecho ou em
congresso.
Após a etapa de busca, duas juízas independentes (para minimizar o viés de seleção)
fizeram a seleção dos estudos a partir da leitura dos resumos, com base nos critérios de
elegibilidade, por meio do software de uso livre Rayyan® (Ouzzani et al., 2016). Houve a
168
participação de uma terceira juíza para discutir as dúvidas e deliberar, em conjunto, sobre a
concordância do processo. Em alguns casos, foi necessária leitura do texto completo para
definir se o estudo seria incluído ou excluído. O fluxograma das etapas de busca e seleção dos
Figura 1
A extração dos dados ocorreu com o auxílio do software Excel e foi realizada, de forma
independente, pelas duas juízas que selecionaram os estudos. A terceira juíza fez a revisão da
extração dos dados conferindo com a tabela padronizada a partir das características de
A análise da qualidade metodológica dos artigos foi realizada por meio da aplicação de
dois checklists do Joanna Briggs Institute – JBI (2020). O JBI Checklist for Analytical Cross
Sectional Studies (contém oito itens) foi utilizado para avaliar os dez artigos correlacionais,
após adaptação dos itens 5 e 6 para melhor identificação de vieses nos estudos, considerando
seu delineamento. Dessa forma, utilizaram-se esses itens para avaliar a identificação ou não de
descritas e aplicadas para lidar com tais variáveis (item 6). O JBI Checklist for Quasi-
experimental Studies (contém nove itens) foi aplicado ao único artigo quase experimental
Resultados
Esta revisão encontrou estudos oriundos apenas de seis países: Estados Unidos (n = 5),
Espanha (n = 2), Portugal (n = 1), Índia (n = 1), China (n = 1) e Austrália (n = 1). Em relação
às amostras, os estudos foram conduzidos com famílias, incluindo crianças e/ou seus
majoritariamente com mães como participantes (de 61% a 100%). Por sua vez, Amato et al.
(2011) não indicaram o gênero do respondente. Nesse aspecto, houve duas exceções: Dyer et
al. (2018) investigaram somente a percepção paterna, e o estudo de Jiménez-García et al. (2019)
derivou seus dados de documentos judiciais. No estudo de Baxter et al. (2011), os professores
também forneceram informações sobre a criança, e, em dois artigos (Baxter et al., 2011;
Karberg & Cabrera, 2020), pais casados também foram incluídos, além dos separados. A
investigação conduzida por Jiménez-García et al. (2019) utilizou como fonte de dados arquivos
coparentalidade a priori, defendendo o fenômeno como uma relação ou interação conjunta entre
os pais com o objetivo de coordenar os cuidados com os filhos. Houve consenso de que a
de coparentalidade para pais (homens) não residentes com os filhos, e seis artigos não
utilizaram medidas validadas para avaliar a coparentalidade dos participantes, referindo o uso
coparentalidade por meio de pelo menos duas dimensões. Três estudos utilizaram apenas
ou mais subescalas do Child Behavior Checklist for Ages 6-18 (CBCL/6-18), versão para
(Choi & Becher, 2019; Herrero et al., 2020; Karberg & Cabrera, 2020). O Strengths and
Difficulties Questionnaire (SDQ), versão para crianças e adolescentes entre 4 e 16 anos, foi
utilizado no estudo de Lau (2017) em conjunto com uma escala de autoestima. No estudo de
Além disso, a subescala de problemas emocionais do SDQ foi respondida por mães e
172
professores no estudo de Baxter et al. (2011), com uma série de perguntas sobre o estado
emocional das crianças, conforme seu próprio relato. Outros instrumentos apareceram somente
uma única vez nos demais estudos, como o Behavior Problem Index (Dyer et al., 2018), uma
versão reduzida do Social Skills Rating System – SSRS (Beckmeyer et al., 2014) e escalas sobre
avaliado por meio de questionário desenvolvido especificamente para eles (Amato et al., 2011;
Em relação à qualidade, seis dos dez estudos correlacionais apresentaram alta qualidade
metodológica, contemplando sete ou oito itens do checklist (cinco receberam “sim” em todos
descrição dos critérios de inclusão da amostra, sujeitos e contexto do estudo. O item menos
item, cinco estudos não pontuaram. Desses, dois também não pontuaram no item 7, sobre a
validade do instrumento para aferição do comportamento infantil (Amato et al., 2011; Jiménez-
No estudo de Amato et al. (2011), também não foram identificados todos os dados
resultantes de suas análises estatísticas. Por sua vez, o único estudo que não contemplou o item
4, sobre a medida de condição (divórcio/separação), foi o de Baxter et al. (2011), que incluiu
automaticamente no grupo de mães separadas aquelas que não residiam com a dupla
coparental. O único estudo quase experimental (Pandya, 2017) revelou como pontos fracos em
similar, além da intervenção de interesse (os protocolos utilizados para avaliação da qualidade
associando esses perfis a desfechos de comportamento dos filhos (Tabela 1). Amato et al.
os três perfis identificados, sendo menores entre as famílias com coparentalidade cooperativa.
parentalidade solo.
habilidades sociais das crianças foram semelhantes em todos os grupos, sem diferenças
significativas, o que pode ser explicado pelo fato de todos os participantes da amostra terem
percepção das mães quanto dos filhos. Contudo, entre os pais que tinham uma relação hostil,
174
aqueles que eram separados tinham filhos com piores escores de bem-estar emocional, de
acordo com o relato das professoras e das crianças, mas não das mães.
estudo de Lau (2017), que investigou relações entre as dimensões de apoio, conflito,
exerceu nenhum impacto significativo no bem-estar dos filhos de acordo com o relato dos pais,
mas, de acordo com as respostas fornecidas pelas crianças, sofrer triangulação no conflito
coparental representou um importante fator de risco para sua autoestima. Além disso, mais
comunicação entre os pais foi associada a mais sintomas emocionais da criança, tanto na
percepção dos pais quanto das crianças. Nas análises de regressão, o apoio coparental foi
Lau (2017) realizou uma análise de caminho na qual identificou o efeito indireto do
apoio coparental sobre o aumento da hiperatividade da criança por meio do conflito coparental.
Além disso, também verificou um efeito indireto da comunicação e do conflito coparental sobre
os sintomas emocionais negativos da criança por meio do apoio coparental, além de identificar
que havia mais apoio coparental quando a criança era menina. Para explicar esses dados
inesperados, verificou que, em relação ao apoio, quem mais o fornecia eram os pais residentes
com a criança e hipotetizou que é possível que o conflito decorra de maior sobrecarga de um
dos lados, que, além de assumir mais cuidados diretos com a criança por residir com ela, ainda
Choi e Becher (2019) identificaram que a idade mais alta da mãe é fator de proteção à
que explicou 28% da variação na agressividade infantil, enfatizando uma relação significativa
entre instabilidade conjugal e agressividade dos filhos por meio de menor coparentalidade, que
era ainda maior para mães divorciadas do que para mães separadas (que nunca chegaram a se
casar com suas duplas coparentais) que estavam coabitando com outro parceiro.
No único estudo em que a coparentalidade positiva foi utilizada como moderadora, uma
fator protetivo para o comportamento infantil desde que os pais não enfrentem altos níveis de
conflito. Assim, demonstraram que o apoio coparental leva a maiores desfechos negativos para
crianças cujos pais se encontram em um divórcio de alto conflito, uma vez que pode promover
que maior comunicação familiar não se associou a menor conflito coparental, o que sugere que
outros fatores fazem com que o conflito se sustente apesar de uma boa comunicação. Tais dados
devem ser interpretados com cautela, pois a maioria dos participantes enfrentou um divórcio
No estudo ex post facto conduzido por Jiménez-García et al. (2019) com 317 processos
sintomas emocionais e problemas de desempenho acadêmico entre os filhos de pais que não
pelas autoras identificou que a alta intensidade de conflitos sobre a custódia e questões
financeiras entre os pais elevou em oito vezes os desfechos negativos na criança, sendo o maior
preditor. Mosmann et al. (2018) investigaram crianças e adolescentes com e sem sintomas
discriminantes dos filhos com sintomas clínicos. Os resultados também mostram as variáveis
176
da coparentalidade com maior poder de discriminação entre os grupos, seguidas das variáveis
Já na análise de regressão realizada por Dyer et al. (2018) com dados de 542 pais
(homens) de baixa renda, entre os três fatores coparentais analisados (aliança, sabotagem e
comportamento da criança. Por fim, o único estudo experimental retido nesta revisão
investigou o efeito dos arranjos coparentais sobre os efeitos de uma intervenção para promoção
da espiritualidade entre crianças de famílias divorciadas com alta renda. Desfechos mais
positivos foram encontrados em crianças que viviam com pais solteiros ou em arranjos de
Tabela 1
Beckmeyer et al. Participaram do estudo 270 pessoas. A maioria dos Identificação de três perfis de coparentalidade pós-divórcio, nomeadamente: coparentalidade
(2014) participantes era composta de mães e brancas e com cooperativa e envolvida; coparentalidade moderada; e coparentalidade infrequente e
algum grau de ensino superior. Todos os participantes já conflitosa.
haviam passado por um programa educativo pós-
divórcio.
Lamela et al. (2015). Participaram 314 pais: 71,3% de mulheres, média de Identificação de três perfis de coparentalidade: coparentalidade de alto conflito (pouca
5,19 anos de divórcio e alto nível de escolaridade. concordância, menor escore de todos em divisão das tarefas, alta sabotagem e conflito);
coparentalidade sabotadora (escores altos em sabotagem e baixo/médio em concordância,
divisão de tarefas e conflito); coparentalidade cooperativa (escores altos em concordância,
divisão de tarefas, escores baixos em sabotagem e conflitos). O grupo da coparentalidade
cooperativa reportou significativamente menos problemas de comportamentos internalizantes
nos filhos do que no grupo de coparentalidade sabotadora. O grupo de coparentalidade
178
Dyer et al. (2018) Participaram 542 pais (somente homens) que não residiam O estudo de desenvolvimento e validação da escala de coparentalidade identificou três fatores:
com a criança-focal e tinham baixa renda. aliança, sabotagem e maternal gatekeeping (mediação materna). Nas análises de correlação,
sabotagem se relacionou moderada e significativamente com problemas de comportamento
da criança. Na análise de validação preditiva (regressão múltipla), somente sabotagem se
relacionou positiva e significativamente com problemas de comportamento da criança
Jiménez-García et al. Estudo ex post facto com 317 processos judiciais de Houve maior proporção de tristeza, agressividade, desobediência, baixa autoestima,
(2019) separação/divórcio correspondentes aos anos de 2009 a comportamentos autolesivos, ansiedade e irritação, e decréscimo do desempenho acadêmico
2016. das crianças entre aqueles pais que não exercitavam a coparentalidade. Nas análises de
regressão logística, o exercício da coparentalidade não foi incluído. O preditor mais forte foi
a alta intensidade de conflito, indicando que, quando os pais apresentavam alta intensidade de
conflito, aumentavam em oito vezes os desfechos negativos na criança.
Choi e Becher (2019) Participaram 1.773 mães separadas. Dados coletados entre A coparentalidade de apoio foi utilizada como mediadora entre dados sociodemográficos e
1998 e 2000 – estudo longitudinal. A maioria das sintomas depressivos maternos e parentalidade severa e problemas de comportamento infantil,
participantes era relativamente jovem (média de 26 anos em uma análise de modelagem de equações estruturais. Mães mais novas apresentaram menor
de idade quando a criança tinha aproximadamente 3 anos) coparentalidade positiva e maior parentalidade severa. Mais sintomas depressivos da mãe
e negras (64,2%) – 44,7% não tinham nenhum contato predisseram menor coparentalidade positiva, e maior nível de escolaridade dos pais foi capaz
com o pai da criança. de predizer maior coparentalidade positiva. A coparentalidade positiva foi capaz de predizer
menos problemas de comportamento da criança e menor parentalidade severa.
179
Karberg e Cabrera Participaram 3.387 crianças que residiam com as mães Uma análise de caminhos foi conduzida, sendo a variável independente a instabilidade
(2020) biológicas. A coparentalidade foi medida quando a conjugal, e a variável dependente, o comportamento agressivo da criança. Coparentalidade
criança tinha 5 anos. A agressividade foi medida quando positiva, envolvimento paterno, envolvimento materno e responsividade materna foram
a criança tinha 9 anos. Dados coletados entre 1998 e 2000. incluídos como variáveis mediadoras. O estado civil (casada ou não) foi utilizado como
Amostra representativa para população de grandes moderador entre a variável independente e as mediadoras. A associação entre instabilidade
cidades dos Estados Unidos. conjugal e agressividade infantil por meio do apoio coparental foi mais forte para mães
divorciadas do que para mães separadas do pai da criança que estavam com outro parceiro.
Herrero et al. (2020) Participaram 309 pais (39%) e mães (61%) divorciados – A coparentalidade positiva foi utilizada como moderadora em uma análise de caminhos,
71% tinham a custódia da criança. A maioria (79%) estava moderando a relação entre fenômenos familiares (comunicação familiar, dificuldades
em divórcio litigioso com 62% em disputa psicológicas dos pais, conflito com a dupla coparental e consequências socioeconômicas para
administrativa/judicial – 45% referiram ter uma relação as crianças) e sintomas ansiosos/depressivos e agressividade da criança. Maior comunicação
“não existente” com a dupla coparental. familiar se relacionou a níveis mais baixos de sintomas ansiosos/depressivos e agressividade.
180
Discussão
conduzidos nos últimos dez anos. Partiu-se do pressuposto de que a coparentalidade é um fator
divórcio, evento estressor que implica modificações na estrutura e dinâmica familiar, conforme
diferente para cada integrante da dupla coparental e, ainda, percebida de maneira específica
por cada criança (McHale & Sirotkin, 2019), sendo importante destacar as características
literatura sobre fenômenos do contexto familiar (Coltro et al., 2020; Samda et al., 2020), apesar
contexto doméstico e nos cuidados com os filhos (Gomes & Alvarenga, 2016). Além disso,
parciais. No que diz respeito a famílias divorciadas, pode ser ainda mais importante incluir
ambos os pais na amostra, o que contribui para a identificação de percepções diferentes sobre
criança.
Entre os 11 estudos aqui analisados, oito incluíram alguma medida sobre conflito,
negativos de uma relação coparental conflituosa para o comportamento das crianças. Teubert
e Pinquart (2010) conduziram uma metanálise em que também identificaram uma relação
181
internalizantes. Essa diferença não foi identificada no estudo de Lamela et al. (2015), que
encontraram, em sua pesquisa com amostra brasileira, um poder preditivo das variáveis da
outros países (Feinberg, 2003; Teubert & Pinquart, 2010). De forma semelhante, Lau (2017)
emocionais, mas não sobre problemas de conduta. Contudo, identificou que a triangulação
o autorrelato delas, não na percepção das mães (Lau, 2017), convergindo com a análise de
(2011), sustentando o conflito pós-divórcio entre os pais como o mais prejudicial para os filhos,
mesmo que o conflito não esteja necessariamente relacionado à dimensão coparental. Ainda
que Baxter et al. (2011) tenham referido a medida de conflito como referente a conflito
coparental, uma análise detalhada dos itens utilizados para construir esse indicador revelou que
o conflito medido não se referia apenas às decisões sobre a criança. Da mesma forma, os
sobre a custódia dos filhos foram as maiores preditoras de desfechos negativos na criança.
parece ser relevante identificar como e por quem o apoio coparental é fornecido. As análises
apresentadas por Lau (2017), por exemplo, evidenciam que o apoio coparental fornecido pelo
cuidador que reside com a criança em comparação ao cuidador que não reside com ela pode
indicar a presença de sobrecarga unilateral dos cuidados com a criança, o que tende a gerar
filhos, é preciso incluir nas análises fatores de caracterização dos pais e dos filhos, bem como
e escolaridade, por exemplo, é esperado que os pais sejam capazes de oferecer maior apoio
esperado (Herrero et al., 2020; Lau, 2017). Assim, o simples fato de ter mais comunicação
entre os pais não é necessariamente positivo para as crianças nem ajuda a promover seu
conflito coparental. Feinberg (2003) afirma que é papel dos pais controlar o próprio
comportamento, cuidando da forma com que se comunicam, um com o outro, evitando discutir
temas conjugais, brigar e/ou alterar a voz na frente da criança. Segundo ele, os pais devem
esperar um momento no qual a criança não esteja presente, para que possam resolver esse tipo
de questão.
183
Além disso, o autor destaca que nem todos os conflitos são prejudiciais à criança. Nos
casos em que os pais conseguem manejar os conflitos de forma positiva, os impactos para os
filhos podem ser benéficos (ou, pelo menos, não prejudiciais), na medida em que a criança
observa modelos de como resolver conflitos de maneira desejável, podendo aprender com o
exemplo dos pais. Segrin (2006) demonstrou que famílias que recorrem a estratégias positivas
de comunicação e que procuram gerar interações harmoniosas entre os seus membros tendem
separação/divórcio. Souza (2000) investigou como os filhos vivenciam a separação dos pais e
concluiu que as crianças têm sua saúde mental associada ao bem-estar dos pais e à qualidade
crescem em uma família em que o casal está em constante conflito, quer os pais vivam juntos
ou separados. A autora acrescenta que os filhos de pais divorciados poderão ser competentes e
bem ajustados quando o divórcio puder conter a demanda de conflitos entre os cônjuges e
quando a mãe ou o pai que tiver a guarda da criança for capaz de proporcionar um ambiente de
instrutivos pelos quais ambos os pais são responsáveis, independentemente de estarem casados
comunicação, o apoio coparental e o baixo conflito são alguns dos elementos importantes
Considerações finais
relações entre pais e filhos e dos impactos do exercício compartilhado de cuidado com a criança
acordos e compromissos dos pais para/com seus filhos e ex-cônjuges. A maioria dos estudos
retidos nesta revisão sistemática apresentaram qualidade metodológica suficiente para que seus
dados contribuam para o acumulado de evidências empíricas a respeito das relações entre
padrões de composição a partir de suas dimensões tendem a gerar resultados distintos sobre o
contemplada quando ao menos duas ou mais dimensões são consideradas, bem como suas
interações.
coparental seja benéfico para desfechos positivos no comportamento da criança, é preciso levar
relações. Da mesma maneira, o conflito parental permanece sendo indicado como fator de risco
internalizantes. Contudo, esse resultado não é unânime, variando de acordo com o contexto do
diversos, como defende o Modelo Ecológico da Coparentalidade proposto por Feinberg (2003).
185
Portanto, esta revisão se soma aos demais estudos científicos sobre coparentalidade ao
fornecer uma análise rigorosa dos aspectos metodológicos e dos resultados dos artigos retidos.
dimensões da coparentalidade não somente com elementos contextuais, mas também entre si
familiar.
fragilidade das medidas utilizadas para aferir as dimensões da coparentalidade, além de cinco
trabalhos não terem indicado a validade psicométrica deles (Amato et al., 2011; Baxter et al.,
2011; Choi & Becker, 2019; Jiménez-García et al., 2018; Karberg et al., 2020). Tal fato
pesquisa utilizados. Além disso, a predominância de mães como participantes indica um viés
ambos os integrantes da dupla coparental, o que fornecerá um quadro mais fidedigno das
relações familiares. Além disso, recomenda-se o uso de instrumentos e medidas validados para
contexto do divórcio, sobretudo, parece importante inserir como variáveis de controle nas
materiais de literatura cinzenta e a não realização da etapa de consulta com especialistas para
reduzir possíveis perdas de materiais relevantes. Apesar disso, cabe destaque à etapa de
consulta na lista de referências dos estudos incluídos e o uso do Guia PRISMA e de protocolos
padronizados para avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos. Outra limitação
186
foi o fato de não termos registrado o protocolo de investigação, mas ele fica disponível
Em suma, esta revisão sistemática fornece dados consistentes que podem fundamentar
divórcio, especificamente nos contextos clínico, jurídico e de assistência social, esta revisão
fornece subsídios para o atendimento das famílias com vistas à proteção da infância e para as
social do investimento em pesquisas que contribuam para a análise do complexo interjogo entre
Referências
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Structure Affect Child and Family Outcomes? A Systematic Review of the Instability
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193
12 ANEXOS
8. Quantas vezes você frequenta atividades religiosas (Por ex: missa, culto, encontro, palestra)?
( ) Nunca ( ) Uma vez por ano ( ) Uma vez por mês ( ) Duas ou três vezes por mês ( ) Uma vez
por semana ( ) Mais de uma vez por semana
9. Somando a sua renda com a renda das pessoas que moram com você, quanto é,
aproximadamente, a renda familiar mensal? (responda em reais):
10. Qual sua escolaridade? (assinale a mais alta que você já completou)
( ) Ensino Fundamental
( ) Ensino Médio
( ) Ensino Técnico
( ) Ensino Superior (Graduação)
( ) Pós-graduação profissional (Especialização)
( ) Mestrado
( ) Doutorado
( ) Pós-doutorado
11. Você vive com alguma doença crônica e/ou deficiência? ( ) Sim ( ) Não
11.1. Se você respondeu SIM na pergunta acima, por favor, indique qual a doença crônica e/ou
deficiência você vive com:
5
12. Considerando a recente experiência brasileira com a Covid-19 (Novo Coronavírus), você e
sua família estão ou estiveram em isolamento social (quarentena)?
( ) Sim, por um período prolongado
( ) Sim, apenas por alguns dias
( ) Não
13. Você realiza ou já realizou acompanhamento psicoterápico (com psicólogo/a)? ( ) Sim ( )
Não
13.1 Se você respondeu SIM na pergunta acima, por favor, indique por quanto tempo realiza
ou realizou acompanhamento (especifique se são anos ou
meses): Se você respondeu NÃO, escreva o número 0
14. Você realiza ou já realizou acompanhamento psiquiátrico? ( ) Sim ( ) Não
15. Você utiliza algum medicamento receitado para questões psicológicas (ansiedade,
depressão, dependência química, esquizofrenia e/ou outros)? ( ) Sim ( ) Não
197
16. Incluindo você, quantas pessoas (adultos e crianças) moram em sua casa?
17. Quem vive na sua casa? (Se necessário, assinale mais de uma opção)
( ) Moro sozinho
( ) Meu companheiro ou companheira
( ) Filho(s) biológico(s)
( ) Filho(s) adotivo(s)
( ) Enteado(s)
( ) Outras crianças e jovens menores de 18 anos (ex. de criação, filhos de parentes e amigos) (
) Outros parentes adultos
( ) Amigos adultos
18. Com quem você pode contar para cuidar de seu(sua) filho(a) em sua ausência? Obs: Se
tiver mais de uma pessoa, indique a que mais te ajuda cuidar da criança. Indique a relação
dessa pessoa com a criança: mãe, avó, irmão,
etc.:
19. Em uma semana típica, quais são os dias que você é responsável por cuidar da criança? (Se
você e sua família estão em distanciamento social, responda pensando sobre a rotina ANTES
desse período).
( ) Segunda-feira ( ) Terça-feira ( ) Quarta-feira ( ) Quinta-feira ( ) Sexta-feira ( ) Sábado ( )
Domingo
20. Nesses dias, quantas horas por dia (aproximadamente) você é responsável pelos cuidados
com a criança? Considere apenas as horas em que você está presente com ela, descontando
horário escolar e de sono.
( ) Entre 2 e 4 horas
( ) Entre 4 e 8 horas
( ) Mais de 12 horas por dia
21. Nessas horas, tem mais alguém que se responsabiliza pela criança junto com você? ( ) Sim,
sempre
( ) Sim, às vezes
( ) Não
22. Quantas horas diárias você utiliza para:
∙ Sono (média de horas por noite):
∙ Atividade física:
∙ Trabalho remunerado:
198
6
∙ Trabalho doméstico:
∙ Lazer:
23. Sua família de origem (pais, irmãos, avós, etc.) reside na mesma região (mesma cidade ou
cidades vizinhas) que você?
( ) Sim ( ) Não
24. Qual o estado civil de seus pais biológicos (Caso um ou ambos os pais sejam falecidos,
assinalar a opção que melhor corresponde quando estavam vivos)?
( ) Casados ( ) Divorciados ou separados
ADOÇÃO
Vamos fazer algumas perguntas a respeito da adoção de seu(sua) filho(a).
1. Quantos anos a criança tinha quando você a adotou?
2. A criança já passou por devoluções antes de ser adotada por você? ( ) Sim ( ) Não
FAMÍLIA SOLO
1. Qual a opção melhor representa o fato de você ser o principal responsável pela criança? ( )
Sou divorciado ou separado do outro responsável pelo meu(minha) filho(a)
( ) Sou viúvo
( ) Sou pai adotivo
( ) Produção independente (por meio de barriga solidária)
( ) Outro (especifique):
FAMÍLIA DIVORCIADA
Você assinalou que está divorciado ou separado do outro responsável legal da criança. Pedimos
que responda mais algumas questões sobre isso.
1. Há quanto tempo você está divorciado/separado? (especifique se são meses ou
anos):
2. Qual o tipo de guarda estipulada?
( ) Não estipulamos guarda
( ) Unilateral para o pai
( ) Unilateral para a mãe
( ) Guarda compartilhada (divisão igualitária de responsabilidades entre pai e mãe)
3. Qual o regime de visitação do genitor não-guardião?
( ) A visitação é livre, combinada conforme disponibilidade dos dois
( ) Todo fim de semana
( ) A cada 15 dias, nos fins de semana
199
( ) Outro (especifique):
4. Quantos anos tinha a criança quando vocês se separaram/divorciaram?
Para cada item, selecione a resposta que melhor descreve a maneira como você e sua companheira (e/ou a mãe
da criança) trabalham juntos quando estão exercendo a função de pais. Se sua companheira é a mãe da criança,
responda somente às linhas Companheira. Se sua companheira e a mãe da criança são pessoas diferentes,
responda às duas linhas. Caso não tenha uma companheira, responda à linha Mãe da criança.
0 1 2 3 4 5 6
N A M
1 PV 3 5
V V V
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
1. Eu acredito que a minha companheira / mãe
do(a) meu(a) filho(a) é uma boa mãe. Mãe da
0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
2. O meu relacionamento com minha
companheira / a mãe do(a) meu(a) filho(a) é mais
Mãe da
forte agora do que antes de termos um(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
3. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) pergunta a minha opinião sobre assuntos
Mãe da
relacionados a seu papel de mãe. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
4. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) dá muita atenção ao(à) nosso(a) filho(a). Mãe da
0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
5. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) gosta de brincar com nosso(a) filho(a) e
Mãe da
deixa para mim o trabalho pesado. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
201
N A M
1 PV 3 5
V V V
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
7. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) ainda quer fazer suas próprias coisas ao
Mãe da
invés de ser uma mãe responsável. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
9. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) e eu temos ideias diferentes sobre como
Mãe da
criar nosso(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
12. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) faz piadas ou comentários sarcásticos
(maldosos, “de gozação”) sobre a maneira como Mãe da
0 1 2 3 4 5 6
eu sou como pai. criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
13. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) demonstra que não confia nas minhas
Mãe da
habilidades como pai. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
14. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) demonstra que percebe os sentimentos e
Mãe da
necessidades do(a) nosso(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
202
N A M
1 PV 3 5
V V V
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
15. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) e eu temos diferentes expectativas em
Mãe da
relação ao comportamento de nosso(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
16. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) tenta mostrar que ela cuida do(a) nosso(a)
Mãe da
filho(a) melhor do que eu. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
17. Eu me sinto satisfeito e mais próximo da
minha companheira / mãe do(a) meu(a) filho(a)
Mãe da
quando eu a vejo brincar com nosso(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
18. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) tem muita paciência quando interage com
Mãe da
nosso(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
19. Nós conversamos sobre a melhor maneira de
atender às necessidades do(a) nosso(a) filho(a). Mãe da
0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
20. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) não se preocupa em dividir de forma justa
Mãe da
o cuidado do(a) nosso(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
0 1 2 3 4 5 6
Companheira
22. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) sabota (prejudica) meu papel de pai. Mãe da
0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
203
N A M
1 PV 3 5
V V V
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
24. Nós estamos crescendo e amadurecendo
juntos por meio de nossas experiências como
Mãe da
pais. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
25. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) demonstra que aprecia o quanto eu me
Mãe da
esforço para ser um bom pai. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
26. Quando eu estou no meu limite no papel de
pai, minha companheira / a mãe do(a) meu(a)
Mãe da
filho(a) me dá o suporte extra que preciso. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
27. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) me faz sentir como se eu fosse o melhor
Mãe da
pai possível para nosso(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
28. O estresse de ter filhos faz com que eu e
minha companheira / a mãe do(a) meu(a) filho(a)
Mãe da
nos distanciemos. 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
29. Minha companheira / A mãe do(a) meu(a)
filho(a) demonstra que não gosta de ser
Mãe da
incomodada pelo(a) nosso(a) filho(a). 0 1 2 3 4 5 6
criança
Companheira 0 1 2 3 4 5 6
Agora, descreva as coisas que você faz quando você e sua atual companheira (e/ou Mãe da criança) estão
presentes fisicamente com o seu(sua) filho(a) (ex: no mesmo cômodo, no carro, em passeios). Considere apenas
as vezes em que vocês três estão juntos (mesmo que sejam só algumas horas por semana).
204
0 1 2 3 4 5 6
Com que frequência em uma semana típica, quando vocês três estão juntos, você:
N 1 AV 3 F 5 MF
Mãe da criança 0 1 2 3 4 5 6
Mãe da criança 0 1 2 3 4 5 6
e/ou
Mãe da criança 0 1 2 3 4 5 6
Discutem sobre a separação/divórcio na presença de seu(a)
filho(a)?
Mãe da criança 0 1 2 3 4 5 6
35. Gritam um com o outro quando o(a) seu(a) filho(a) pode ouvir? 0 1 2 3 4 5 6
Companheira
Mãe da criança 0 1 2 3 4 5 6
205