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Indaial – 2020
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Carla Cristiane Mello
M527l
ISBN 978-65-5663-004-5
ISBN Digital 978-65-5663-005-2
CDD 869.09
Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico do Curso de Letras! Apresentamos a você o livro
didático da disciplina de Literatura Portuguesa e com isso queremos estudar
o vasto conhecimento e acervo disponível a respeito desses campos literários,
formados ao longo de séculos de histórias e memórias do povo português e
suas colonizações.
III
país. É nessa unidade, também, que você poderá apreciar um pouco das
literaturas africanas de língua portuguesa, embora já na primeira unidade
tenhamos inserido uma Leitura Complementar para que você possa se
familiarizar com esse rico campo literário.
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Bons estudos!
IV
UNI
V
VI
LEMBRETE
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
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VIII
Sumário
UNIDADE 1 – A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO...... 1
IX
3 A GERAÇÃO DE 1870...........................................................................................................................93
4 EÇA DE QUEIRÓS................................................................................................................................97
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................106
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................107
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................191
X
UNIDADE 1
A LITERATURA PORTUGUESA DO
PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará algumas autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Iremos agora fazer uma regressão até meados do século XII e conhecer
o Período Medieval na Europa, mais especificamente em Portugal, onde iremos
conhecer algumas cantigas do momento que oficializa o início da história da
literatura portuguesa, ou seja, o Trovadorismo. Assim, caro acadêmico, permita-
se adentrar num universo com cavaleiros e damas em castelos medievais para dar
um cenário estético condizente ao período em questão. Aproveite esta viagem ao
tempo passado!
3
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
NOTA
Vale salientar que, num primeiro momento, a escrita era restrita aos
cléricos e à Igreja, haja vista que a reprodução de manuscritos antes da invenção
da imprensa era trabalhosa e tornava-se demasiado expansiva, além do que não
havia muito interesse em sua difusão para além dos religiosos e da burguesia,
como fica evidente posteriormente. Assim, a oralidade cumpre um papel de
propagadora das memórias e histórias dessa época, principalmente através do
suporte musical, conforme nos apontam Lopes e Saraiva (1969, p. 36):
4
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
Todavia, cabe a você, futuro docente dessa área, explorar tais diferenciações
para que seu público-alvo possa ter maiores probabilidades de compreensão
acerca das oralidades e escritas de nossa(s) língua(s), buscando direcionar para
novas concepções que ultrapassem as noções de “certo” e “errado” sem deixar
de considerar, também, as diferenças entre oralidade e escrita e os contextos das
interações sociolinguísticas.
CANTIGA DA RIBEIRINHA
Tradução
5
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
FONTE: <http://belalinguaportuguesa.blogspot.com/2011/11/cantiga-da-ribeirinha.html>.
Acesso em: 14 ago. 2019.
6
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
TUROS
ESTUDOS FU
Leia a seguir uma Cantiga de Amigo escrita pelo rei D. Dinis, que ficou
conhecido como Rei-Trovador, já que tem um vasto número de cantigas por ele
elaboradas, além de que durante seu reinado esse gênero se propagou fortemente:
7
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Dom Dinis
FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_
action=&co_obra=86555&co_midia=2>. Acesso em: 14 ago. 2019.
8
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
NOTA
Afonso Sanches
9
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
10
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
Esse tipo de amor era conhecido como o “fino amor” ou “um extremo
refinamento da cortesia”, diz ainda a autora. Baseado no platonismo, ou seja, um
ideal de amor que ama mais o sentimento do que a sua concretização, ou seja,
através do sofrimento o cavalheiro cultua a mulher amada, que tem poder de
decidir se esse vive ou morre.
11
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
NOTA
12
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
CANTIGA DE MALDIZER
13
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
DICAS
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TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
No Amazonas, no Araguaia-ia-ia
Na baixada fluminense
Mato Grosso, Minas Gerais
E no nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Trouxemos essas músicas para que possam lhe instigar a procurar mais!
Certamente entre os gêneros poéticos-musicais contemporâneos que você ouve é
possível encontrar outras semelhanças com as cantigas de amor e de amigo, ou
ainda as cantigas de escárnio e maldizer. Esse tipo de exercício é muito profícuo
em sala de aula com estudantes de todas as idades, pois a música é uma grande
catalisadora de gerações, podendo facilitar a compreensão dos interlocutores
para as tipologias “de antigamente”, como as aqui apresentadas.
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
16
AUTOATIVIDADE
(Martim Codax)
(In: NUNES, José Joaquim. Cantigas […]. Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, 1973. v. 2, p. 441).
17
3 (Ufam - adaptada) Leia o poema a seguir, de autoria de D. Dinis, rei de
Portugal, antes de responder à questão:
Estão CORRETAS:
FONTE: <http://idaam.com.br/downloads/nave/provas_ufam/prova_psc2004_etapa1.pdf>.
Acesso em: 27 jan. 2020.
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UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos conhecer um pouco da prosa medieval, que também
circulava oralmente originada das “canções de gesta” (poemas cantados
que apresentavam as aventuras de guerreiros) até que, assim como a poesia
trovadoresca, tardiamente foram coletadas e escritas. Importa observarmos que
tanto a poesia quanto a prosa, e nesse sentido não somente de períodos remotos
mas as de nossos dias, trazem importantes registros de suas épocas que podem
nos auxiliar na compreensão daquelas.
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
3 AS NOVELAS DE CAVALARIA
As novelas de cavalaria são os registros em prosa do Período Medieval,
isso quer dizer que, diferentemente da poesia lírica estudada no Tópico 1, o
enredo é maior e há mais personagens envolvidos na história. As mais conhecidas
histórias de cavalaria, e que você já deve ter ouvido falar, são as lendas do Rei
Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda.
21
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
NOTA
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
CAPÍTULO XX
Como Arcalaus levou novas à corte do rei Lisuarte como Amadis era morto e os grandes
prantos que em toda a corte por ele se fizeram, em especial Oriana.
Tanto andou Arcalaus, depois que se partiu de Amadis, onde o deixou
encantado, em seu cavalo e armado com suas armas, que aos dez dias chegou a
casa do rei Lisuarte, uma manhã quando o sol saía; e nesta sazão o rei Lisuarte
cavalgava com mui grande companhia; e andava entre o seu palácio e a
floresta, e viu como vinha Arcalaus contra ele; e quando conheceram o cavalo
e as armas, todos cuidaram que Amadis era. E o rei foi-se a ele mui alegre, mas
sendo mais perto, viram que não era o que pensavam, que ele trazia o rosto e
as mãos desarmadas, e foram maravilhados. Arcalaus foi ante el rei e disse-lhe:
– Senhor, eu venho a vós porque fiz tal preito de aparecer aqui a contar como
matei numa batalha um cavaleiro; e por certo, eu venho com vergonha, porque
antes dos outros que de mim queria ser louvado; mas não posso al fazer, que
tal foi o acordo entre ele e mim: que o vencedor cortasse a cabeça ao outro e se
apresentasse ante vós hoje neste dia; e muito me pesou, que me disse que era
cavaleiro da Rainha. E eu lhe disse que, se me matasse, que matava Arcalaus,
que assim é o meu nome. E ele disse que se chamava Amadis de Gaula; assim
ele desta guisa recebeu a morte, e eu fiquei com a honra e prez da batalha.
– Ai Santa Maria val! – disse o Rei – morto é o melhor cavaleiro e mais esforçado
do mundo. Ai Deus, senhor! E por que vos prougue de fazer tão bom começo
e em tal cavaleiro?
E começou a chorar mui esquivo [horrível] pranto, e todos os outros que ali
estavam. Arcalaus voltou por donde viera, e maldiziam-no os que o viam,
rogando e fazendo petição a Deus que lhe desse cedo má morte; e eles
mesmos lha dariam, se não fosse porque, segundo a sua razão [segundo as
suas palavras], não havia causa nenhuma para isso. O Rei foi-se para o seu
palácio mui pensativo e triste à maravilha. E as novas soaram por todas as
partes, até chegarem a casa da Rainha; e as donas que ouviram ser Amadis
morto, começaram a chorar, que de todas era mui amado e querido. Oriana,
que na sua câmara estava, pediu à Donzela de Dinamarca que fosse saber que
cousa era aquele pranto que se fazia. A donzela saiu e, quando o soube, voltou,
ferindo com as suas mãos o rosto e, chorando mui feramente, olhava para
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Oriana; e disse-lhe:
– Ai, senhora, que coita e que grande dor!
Oriana estremeceu toda e disse:
– Ai, Santa Maria, é morto Amadis?
A donzela disse:
– Ai, cativa, que morto é!
E fraquejando a Oriana o coração, caiu em terra como morta. A donzela, que
assim a viu, deixou de chorar e foi-se a Mabília, que fazia grande dó, arrancando
os seus cabelos, e disse-lhe:
– Senhora Mabília, acorrei a minha senhora, que morre.
Ela voltou a cabeça e viu Oriana jazer no estrado como se morta fosse; e ainda
que a sua coita fosse mui grande, que mais não podia ser, quis remediar o que
convinha e mandou a donzela fechar a porta da câmara, para que ninguém
assim a visse, e foi tomar Oriana nos braços e fez-lhe deitar água fria pelo
rosto, com que logo acordou um pouco; e como falar não pôde, disse chorando:
– Ai, amigas! Por Deus, não estorveis a minha morte, se o meu Descanso
desejais, e não me façais tão desleal que só uma hora viva sem aquele que,
não com a minha morte, mas com a minha má vontade, não poderia viver
sequer uma hora.
Outrossim disse:
– Ai, flor e espelho de toda a cavalaria, que tão grave e estranha é para mim
a vossa morte! Que por ela não somente eu padecerei, mas todo o mundo,
ao perder aquele grande chefe e capitão, assim nas armas como em todas as
outras virtudes, e em quem os que vivem exemplo podiam tomar! Mas se
algum consolo ao meu triste coração consolo dá, não é senão que, não podendo
ele sofrer tão cruel ferida, despedindo-se de mim vá para o vosso; que, ainda
que na terra fria seja a sua morada, onde desfeitos e consumidos serão aquele
grande acendimento de amor que, sendo nesta vida separados, com tanto
alento sustinham, muito maior na outra, sendo juntos, se possível fosse ser-
lhes outorgado, sustentarão.
Então esmoreceu de tal guisa que de todo em todo cuidaram que morta
fosse; e aqueles seus mui formosos cabelos tinha revoltos e estendidos por
terra, e as mãos tinha sobre o coração, onde a raivosa morte lhe sobrevinha,
padecendo em maior grau aquela cruel tristeza do que os prazeres e deleites
até ali em seus amores havido haviam, assim como em semelhantes cousas
desta qualidade continuamente acontece. Mabília, que verdadeiramente
cuidou que morta era, disse:
– Ai, Deus Senhor! Não te praza de eu mais viver, pois as duas cousas que
neste mundo mais amava estão mortas.
A donzela disse-lhe:
– Por Deus, senhora, não falte em tal hora vossa discrição, e acorrei ao que
remédio tem.
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Brandoívas pela porta do palácio, levando Grindalaia pela mão, como aquela a
quem afeição tinha, que muito prazer aos que o conheciam deu, porque grande
espaço de tempo havia passado que dele nenhumas novas soubessem; e ambos
ajoelharam ante el Rei. El Rei, que o muito prezava, disse assim:
– Brandoívas, sede mui bem vindo; como tardastes tanto, que muito vos temos
desejado?
A esta razão que el Rei lhe dizia, respondeu e disse:
– Senhor, fui metido em tão grande prisão que dela não poderia sair de
nenhuma guisa, senão pelo mui bom cavaleiro Amadis de Gaula, que, pela
sua cortesia, me tirou a mim e a esta dona e a outros muitos, fazendo tanto em
armas qual nenhum outro fazer pudera; e tê-lo-ia morto pelo maior engano
que se nunca viu o traidor Arcalaus; mas foi socorrido por duas donzelas que
não o deveriam amar pouco.
El Rei, quando isto ouviu, levantou-se logo da mesa e disse:
– Amigo, pela fé que a Deus deveis e a mim, dizei-me se é vivo Amadis.
– Por essa fé, senhor, que dizeis, digo que é verdade, que o deixei vivo e são
ainda não há dez dias; mas porque o perguntais?
– Porque nos veio dizer ontem à noite Arcalaus que o matara – disse el Rei.
E contou-lho em qual guisa ele lho havia contado.
– Ai, Santa Maria! – disse Brandoívas –, que traidor malvado! Pois pior se lhe
fez o preito do que ele cuidava.
Então contou a el Rei quanto lhes acontecera com Arcalaus, que nada faltou,
como já o ouvistes antes disto. El Rei e todos os de sua casa quando o ouviram,
ficaram tão alegres que mais não podiam ficar. E mandou que levassem
Grindalaia à Rainha e que lhe contasse as novas do seu cavaleiro, a qual,
tanto por ela como por todas as outras, foi com muito amor e grande alegria
recebida, pelas boas novas que lhes disse.
A Donzela de Dinamarca, que as ouviu, foi o mais asinha que pôde dizê-las
à sua senhora, que de morta a viva a tornaram; e mandou-lhe que fosse à
Rainha e que lhes enviasse a dona, porque Mabília lhe queria falar; e logo o
fez, que Grindalaia foi à câmara de Oriana e disse-lhes todas as boas novas
que trazia. Elas lhe fizeram muita honra, e não quiseram que em outra parte
comesse senão à sua mesa, para poder saber mais por extenso aquilo que tão
grande alegria aos seus corações, que tão tristes haviam estado, lhes dava; mas
quando Grindalaia lhes contava por onde Amadis havia entrado na prisão, e
como matara os carcereiros e a tirara a ela donde tão coitada estava, e a batalha
que com Arcalaus tivera, e tudo o resto que se tinha passado, grande piedade
fazia ter as suas amigos. Assim como ouvis estavam no seu comer, tornada a
sua grande tristeza em muita alegria. Grindalaia despediu-se delas e voltou
para onde a Rainha estava, e encontrou ali o rei Arbão de Norgales, que a
muito amava, e que a andava buscando, sabendo que ali era vinda. O prazer
que ambos tiveram não se vos poderia contar. Ali foi acordado entre eles que
ela ficasse com a Rainha, pois que não encontraria em nenhuma parte outra
casa que tão honrada fosse. E Arbão de Norgales disse à Rainha como aquela
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
dona era filha do rei Adroid de Serelois, e que, como todo o mal que recebera
havia sido ele a causa dele, que lhe pedia por mercê que a tomasse consigo,
pois ela queria ser sua.
Quando a Rainha isto ouviu, muito lhe prougue de em sua companhia a
receber, assim pelas boas novas que de Amadis de Gaula trouxera, como por
ser pessoa de tão alto lugar. E tomando-a pela mão, como a filha de quem era,
fê-la sentar ante si, pedindo-lhe perdão se a não tinha honrado devidamente,
que a causa disso fora não a conhecer. Também soube a Rainha como esta
Grindalaia tinha uma irmã mui formosa donzela, que Aldeva se chamava, que
em casa do duque de Bristoia se havia criado, e mandou a Rainha que logo lha
trouxessem, para que em sua casa vivesse, porque a desejava muito ver. Esta
Aldeva foi a amiga de D. Galaor, aquela por quem ele recebeu muitos nojos do
anão de quem já ouvistes falar.
Assim como ouvis estava el Rei Lisuarte e toda a sua corte muito alegres e com
desejo de ver Amadis, que tão grande sobressalto lhes tinham dado aquelas
más novas que lhes dele haviam dito; dos quais deixará a história de falar, e
contará de D. Galaor, que há muito que dele não se contou nem se fez memória.
(continua)
FONTE: <https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:yBbjw-z63F4J:https://
rl.art.br/arquivos/6615680.pdf+&cd=6&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 10 ago. 2019.
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
DICAS
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
costumes da corte, o cronista também tinha contato com o povo fazendo questão
de registrar a história deste, pois “O seu interesse vai antes para a gente que se
move e faz mover as coisas” (LOPES; SARAIVA, 1969, p. 126).
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
DICAS
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Luís de Camões
FONTE: <https://www.escritas.org/pt/t/2051/transforma-se-o-amador-na-cousa-amada>.
Acesso em: 10 ago. 2019.
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
Camões
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Camões
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
Melinde: como previsto, o rei desse lugar acolhe bem o povo lusitano e pede
a Vasco da Gama que lhe conte toda a história de Portugal, que é narrada
em diferentes Cantos dando destaques à Batalha de Ouriques, à dinastia de
Borgonha, à história trágica de Inês de Castro e D. Pedro culminando na morte
da amada deste, além de outros momentos.
A tempestade: Baco entra em acordo com Netuno para invocar uma grande
tempestade que ataca a frota portuguesa quase fazendo-a naufragar.
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
A Ilha dos Amores: uma ilha mítica onde toda a frota pode viver os prazeres
carnais.
Canto IX
Camões
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TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
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UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
DICAS
DICAS
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Sua vasta obra lírica traz reflexões do poeta sobre o amor cortês, mas também
as contradições vividas pelo homem, culminando no pessimismo em diversos
momentos.
41
• A epopeia clássica de Portugal foi publicada por Camões em 1572 e se chama
Os Lusíadas.
• A obra é estruturada com dez Cantos que narram os feitos de Vasco da Gama
e sua ida às Índias.
42
AUTOATIVIDADE
Cantiga, partindo-se
Soneto
43
Ela só viu as lágrimas em fio,
que duns e doutros olhos derivadas,
se acrescentaram em grande e largo rio;
44
UNIDADE 1
TÓPICO 3
NUANCES DO BARROCO E DO
ARCADISMO PORTUGUÊS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vemos que ocorrem mudanças sociais e históricas em
Portugal, inclusive, o Brasil já passou a fazer parte do então território português.
Desse modo, muitas transformações ocorreram e se refletiram nas artes da época.
45
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
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TÓPICO 3 | NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO PORTUGUÊS
SERMÃO DA SEXAGÉSIMA
PARTE I
E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão
desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o
Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe de tão
longe.
Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evangélico a
semear» a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus. Não só
faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia da
messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo,
aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o que dispendeis, nem vos paga o
que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é semear,
porque também das passadas colhe fruto. Entre os semeadores do Evangelho
há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a
semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem
sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas
tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura;
aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-
lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-
eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare.
Mas daqui mesmo vejo que notais (e me notais) que diz Cristo que o semeador do
Evangelho saiu, porém não diz que tornou porque os pregadores evangélicos,
os homens que professam pregar e: propagar a Fé, é bem que saiam, mas
não é bem que tornem. Aqueles animais de Ezequiel que tiravam pelo carro
triunfal da glória de Deus e significavam os pregadores do Evangelho que
propriedades tinham? Nec revertebantur, cum ambularent: «Uma vez que iam,
47
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
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TÓPICO 3 | NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO PORTUGUÊS
49
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Será bem que o Mundo morra à fome? Será bem que os últimos dias se passem
em flores? -- Não será bem, nem Deus quer que seja, nem há-de ser. Eis aqui
porque eu dizia ao princípio, que vindes enganados com o pregador. Mas
para que possais ir desenganados com o sermão, tratarei nele uma matéria de
grande peso e importância. Servirá como de prólogo aos sermões que vos hei-
de pregar, e aos mais que ouvirdes esta Quaresma.
FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_
action&co_obra=1745>. Acesso em: 10 ago. 2019.
Ainda neste sermão, Padre Vieira traz um pouco da sua experiência como
pregador no Maranhão, Brasil, e menciona as dificuldades relacionadas ao ofício,
principalmente fala daqueles que se utilizam da palavra sagrada para benefício
próprio. Desse modo, sua autocrítica não deixa de fazer jus ao próprio papel da
Igreja em manipular a fé do povo cristão, logo, é por essas e outras posturas que
foi considerado, muitas vezes, um grande subversivo para a época.
NOTA
Uma pesquisa interessante a respeito dos sermões do Padre Vieira foi realizada
pela pesquisadora Maria Salete, na dissertação chamada “Escravidão nos sermões do Padre
Vieira: uma análise argumentativa”, disponível em http://www.bu.ufsc.br/teses/PLLG0227-D.
pdf. A autora trata do tema da escravidão de negros e ameríndios e a defesa que o padre fazia
a respeito destes, apontando as limitações e mesmo contradições dos posicionamentos
religiosos e políticos nos quais o padre se inseria entre Brasil e Portugal. Esse é um material
que pode nos proporcionar olhares mais aprofundados a respeito desse grande escritor
português e sua história.
50
TÓPICO 3 | NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO PORTUGUÊS
DICAS
O poeta Bocage era um grande mestre na arte do soneto, tão bem difundida
pelo clássico Camões, aliás do qual era admirador, como podemos ver em um de
seus poemas, a seguir.
51
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
DICAS
Além disso, vale a pena conferir o artigo de Silva, Landin e Dias (2011), A poesia
lírica de Bocage, disponível em https://periodicos.unifap.br/index.php/letras/article/view/212,
que trata sobre os poemas líricos do poeta, já que este geralmente só é mencionado como
“o satírico” ou “o erótico”. Sua vasta poesia reverbera os temas de amor e morte, tão ricos à
literatura universal de todas as épocas.
Bocage
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TÓPICO 3 | NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO PORTUGUÊS
(7) "As horas do prazer voam ligeiras." foi motte dado, a que este soneto serviu de glosa, bem
como o que adeante se transcreve sob número XXX. [nota da fonte]
53
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Quanto aos seus poemas eróticos, devemos perceber que esse gênero
sempre causou polêmicas ao longo dos tempos, a depender do nível de
conservadorismo do momento, todavia, mesmo o livro de Salomão, no Velho
Testamento, denominado Cântico dos cânticos, traz nuances desse tipo de poesia.
DICAS
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TÓPICO 3 | NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO PORTUGUÊS
Quem nunca procurou um poema para tentar através dele expressar seus
sentimentos de amor e paixão? Ou ainda, quem nunca se imaginou em cenários
medievais vivendo aventuras tais quais a dos heróis das épocas aqui descritas?
Nós estamos sempre em busca de emoções e a linguagem é uma das mais potentes
possibilidades de tentar reconciliar nosso corpo e nossa alma. Talvez por isso
mesmo jamais percamos o desejo de lermos, quem sabe até escrevermos, textos
em prosa ou poesia para transcender a realidade vigente.
55
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
LEITURA COMPLEMENTAR
56
TÓPICO 3 | NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO PORTUGUÊS
as línguas locais. Esse embate que se realizou no campo da linguagem literária foi
o impulso gerador de projetos literários característicos dos cinco países africanos
que assumiram o português como língua oficial.
57
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Cabo Verde
58
TÓPICO 3 | NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO PORTUGUÊS
Angola
Moçambique
59
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
Guiné-Bissau
Com três romances, Eterna paixão (1994), A última tragédia (1995) e Mistida
(1997), Abdulai Sila é considerado o fundador da ficção guineense. Sua escrita
não se restringe à simples constatação do desastre em que resultou a libertação
do jugo colonialista nem se detém apenas na retratação das mazelas do povo
guineense, mas procura e denuncia, direta ou indiretamente, os responsáveis
pelos problemas. […]
FONTE: <https://www4.pucminas.br/imagedb/mestrado_doutorado/publicacoes/PUA_ARQ_
ARQUI20121019162329.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2019.
60
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Padre Vieira viveu entre Portugal e Brasil, sendo conhecido pelos famosos
sermões que pregava e por defender questões polêmicas, como os judeus e a
liberdade dos indígenas no Brasil.
• O poeta é famoso por seus poemas eróticos e satíricos, donde faz ácidas críticas
à nobreza portuguesa.
CHAMADA
61
AUTOATIVIDADE
FONTE: <https://vestibular1.com.br/simulados/simulados-por-exercicios/exercicio-de-
literatura/literatura-portuguesa-arcadismo-pre-romantismo/>. Acesso em: 1 fev. 2020.
62
UNIDADE 2
A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO
ROMANCE PORTUGUÊS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará algumas autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
63
64
UNIDADE 2
TÓPICO 1
O ROMANTISMO EM PORTUGAL
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Iniciamos agora um novo período de estudos sobre a
literatura em Portugal, bem como seu reflexo em outros países como o Brasil,
pois como já dito, fomos uma colônia portuguesa até 1822 e, por consequência,
trazemos diversas influências desse país europeu que nos une pela língua,
também, a outros países africanos, de igual modo colonizados por aquele.
65
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
FONTE: <https://www.emartinsfontes.com.br/sofrimentos-do-jovem-werther-os-p20510/>.
Acesso em: 5 out. 2019.
66
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
CANTO PRIMEIRO
67
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
Nestes versos, vemos que o poeta traz a saudade como pano de fundo
para entrelaçar sua relação com o país, já que se encontra em exílio. Aliás, o tema
de saudosismo e nostalgia são constantes nas literaturas portuguesas, além de
sempre trazer Camões como o principal norteador dessa saga lusitana inacabada,
ou seja, a saudade de um tempo em que sua nação era feliz, podemos pressupor.
Não em vão, a prosa do romance traz fortes ligações, ainda, àquele típico
amor cortês, onde “morre-se” literalmente de amor pelo ser amado. Todavia,
geralmente a relação entre amante e amado pode ser consumada, embora resulte
sempre em um desfecho trágico, como veremos. A imagem da mulher continua
sendo platonicamente endeusada e por isso mesmo inatingível. O subjetivismo e
o lirismo ganham ares idealistas que podem ser refletidos tanto no amor quanto
numa imagem patriótica. A estética pelo noturno ao invés do diurno valorizado
no classicismo toma ares lúgubres, principalmente na segunda geração romântica.
68
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
FONTE: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1977/a-chegada-da-familia-real-portuguesa-
a-bahia-painel>. Acesso em: 5 out. 2019.
69
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
Há, certamente, muito a ser dito a respeito das relações entre história e
literatura, união que é o cerne do romance histórico. Conforme o levantamento
feito pela autora, já Aristóteles definia tal concepção, e além dele diversos outros
teóricos das mais diferentes áreas. Inclusive, no trabalho supracitado, os próprios
escritores trazem suas opiniões a respeito do tema, haja vista que quando optam
por escrever um romance histórico, eles dialogam com seu público afirmando
que “encontrou um manuscrito verídico a respeito de determinado fato histórico”
ou que teve acesso a um “relato de uma testemunha que esteve presente em tal
situação” e, a partir dali, ou ao redor dessa trama, faz o entrelaçamento entre o
passado e o presente de um país (MARQUES, 2012).
70
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
71
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
3 ALMEIDA GARRET
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu na cidade do
Porto em 4 de fevereiro de 1799 e faleceu em Lisboa em 9 de dezembro de 1854.
Foi um dos mais importantes romancistas de sua época em Portugal. Tinha uma
vida política muito ativa, o que lhe rendia alguns contratempos, como prisões e
exílios, dado seu caráter contestador e liberal. Participou, inclusive, da Revolução
Liberal do Porto mencionada anteriormente. Também foi deputado duas vezes,
além de atuar como jornalista e, como ministro, fundou o Teatro Nacional e o
Conservatório.
Almeida Garret lança seu primeiro livro Camões quando estava exilado na
França. A respeito dessa obra, Lopes e Saraiva pontuam:
72
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
Frei Luís de Sousa é uma peça de teatro elaborada em três atos retratando
a vida de Manuel de Sousa Coutinho e sua esposa D. Madalena de Vilhena,
que imaginava ter perdido seu primeiro esposo na Batalha de Álcacer Quibir,
a mesma famosa batalha histórica em que o rei português D. Sebastião viria
a “desaparecer”, o que gerou toda uma lendária ideologia conhecida como
“sebastianismo”. Manuel e Madalena se casam, no entanto, o marido D. João de
Portugal retorna à cidade, invalidando esse casamento conforme os preceitos
sociais da época, que já tinha D. Maria de Noronha como fruto, o que viria
confirmá-la como uma filha ilegítima e fruto de vergonha social. A peça traz em si
uma característica cara ao romantismo que é a liberdade de amar, pois mesmo que
fosse vista coma ilegítima a união entre Manuel e Madalena, ambos optam por
entrar na vida religiosa a fim de preservarem seu amor. Há também sinais claros
de nacionalismo e patriotismo à terra lusitana, mais uma característica inerente
ao romantismo. A filha do casal é retratada como a personificação da beleza e
pureza vistas nas mulheres dos romances da época. Além disso, o desfecho é
trágico tal qual se reivindica no romance, pois tanto se caracteriza uma “morte
social” do casal através do término da relação conjugal, pois ambos resolvem se
dedicar à vida religiosa e a morte física da filha de ambos, de tuberculose.
E
IMPORTANT
Para saber mais sobre o “mito sebastianista” nessa obra de Garret, acesse o
endereço: http://www.citi.pt/cultura/historia/personalidades/d_sebastiao/garrett.html.
73
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
Todavia, segundo Marques, Almeida Garret viria a ser aquele autor que
escancara ao público os anacronismos inerentes ao gênero de romance histórico,
74
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
DICAS
4 ALEXANDRE HERCULANO
Alexandre Herculano de Carvalho de Araújo nasceu em Lisboa em 28
de março de 1810 e faleceu em Santarém em 18 de setembro de 1877. Além de
escritor era historiador, jornalista e, assim como Almeida Garret, participou da
Revolução Liberal e atuou eventualmente em carreira política. Foi considerado o
introdutor do romance histórico em Portugal.
75
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
76
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
DICAS
5 O ULTRARROMANTISMO PORTUGUÊS
O segundo período do romantismo em Portugal é conhecido como
ultrarromantismo e traz a figura do escritor Camilo Castelo Branco como um de
seus principais expoentes, ao lado de Antônio Feliciano de Castilho, de quem se
falará no próximo tópico. A respeito da vida do escritor, Lopes e Saraiva (1969,
p. 816) afirmam: “A acidentada vida passional de Camilo Castelo Branco foi a
mais importante fonte da própria novela camiliana, a tal ponto que um dos seus
biógrafos, Alberto Pimentel, pôde escrever “O romance do romancista” por uma
simples montagem de textos da sua autoria”.
77
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
E
IMPORTANT
Para saber mais sobre a biografia do escritor Camilo Castelo Branco, acesse o
endereço: https://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Castelo_Branco.
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TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
O noivado do sepulcro
79
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
80
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
81
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
DICAS
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TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
LEITURA COMPLEMENTAR
ROMANTISMO E CLASSICISMO
Anatol Rosenfeld
J. Guinsburg
Por fim, temos o nexo que nos incumbe definir mais de perto, ou seja, o
conceito estilístico do que vem a ser “clássico" ou “classicismo”. Sob este ângulo,
a referência é a princípios e obras que correspondem a certos preceitos modelares,
os quais, por seu turno, derivam de certa fase da arte grega e a tornam como
83
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
84
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
85
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
A atração, entretanto, pelo que se coloca fora do “justo meio” não é apenas
um traço estilístico na literatura e nas artes. Vai muito além, invadindo todos
os terrenos. Dá-se realmente uma revolução no sentimento de vida e na própria
cosmovisão. [...] Os românticos têm um senso de história apurado. E parece
bastante evidente que devam tê-lo num grau bem maior do que a Ilustração,
porque os racionalistas buscam em geral na história o que há de comum em todos
os seus eventos. […]
86
TÓPICO 1 | O ROMANTISMO EM PORTUGAL
87
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
88
AUTOATIVIDADE
FONTE: <http://ppv.usp.br/question/preview2.
php?id=91&showembed=false&randomqid=729>. Acesso em: 5 out. 2019.
89
3 O romance histórico foi considerado de suma importância para uma
constituição identitária de Portugal em fins do século dezoito e durante o
século XIX. A esse respeito, as seguintes afirmativas estão corretas:
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2
O REALISMO EM PORTUGAL
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos conhecer o movimento artístico surgido em finais
do século XIX a partir da França e que rapidamente se expandiu para o resto do
mundo, a saber, o Realismo. Importa-nos compreender o realismo na literatura
e para tal trazemos um recorte sobre o cenário em Portugal, além da figura mais
célebre do período, Eça de Queiroz.
91
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
92
TÓPICO 2 | O REALISMO EM PORTUGAL
3 A GERAÇÃO DE 1870
FIGURA 5 – A GERAÇÃO DE 70 DE PORTUGAL
FONTE: <http://webfoliopedrom.blogspot.com/2011/05/geracao-de-70-e-questao-coimbra_29.html>.
Acesso em: 5 out. 2019.
93
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
Diante disso, houve uma batalha que começou com farpas literárias entre
Antero de Quental e Antônio Feliciano de Castilho trocadas via jornais através de
críticas diretas onde o último defendia o tradicional e as ideias monárquicas e o
primeiro defendia ideias progressistas e a modernização do país. Isso tudo resultou
naquela que ficou conhecida como a “Questão Coimbrã”, detalhada a seguir:
94
TÓPICO 2 | O REALISMO EM PORTUGAL
NTE
INTERESSA
95
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
Abrir uma tribuna, onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam
este momento do século, preocupando-se sobretudo com a transformação social, moral e
política dos povos.
Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos
elementos vitais de que vive a humanidade civilizada.
Procurar adquirir consciência dos factos que nos rodeiam, na Europa.
Agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência moderna.
Estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da
sociedade portuguesa;
Tal é o fim das Conferências Democráticas.
Têm elas uma imensa vantagem, que nos cumpre especialmente notar: preocupar
a opinião com o estudo das ideias que devem presidir a uma revolução, de modo que para
ela a consciência pública se prepare e ilumine, é dar não só uma segura base à constituição
futura, mas também, em todas as ocasiões, uma sólida garantia à ordem.
Posto isto, pedimos o concurso de todos os partidos, de todas as escolas, de todas
aquelas pessoas que, ainda que não partilhem as nossas opiniões, não recusam a sua atenção
aos que pretendem ter uma acção – embora mínima – nos destinos do seu país, expondo
pública mas serenamente as suas convicções e o resultado dos seus estudos e trabalhos.
96
TÓPICO 2 | O REALISMO EM PORTUGAL
AD AMICOS
Antero de Quental
4 EÇA DE QUEIRÓS
A essa altura, embora saibamos que o leitor atento já tenha se apercebido,
torna-se importante ressaltar que os artistas e intelectuais aqui retratados
faziam parte da burguesia, ou quando não, eram muito próximos a ela e tinham
acesso aos estudos e ao universo artístico e literário de sua época. Isso se torna
importante de ser dito porque, embora diversas vezes esses artistas tragam em
suas obras um viés mais vanguardista consoante aos ideais de sua época, o dito
“lugar de privilégio” que ocupam não se afeta. O que fazem, e isso é sim de suma
importância, é trazer os temas dito marginais para a luz dos espaços elitistas e
seletivos que o são, ainda hoje, as artes em geral, embora já ocorram atualmente
mudanças significativas nesse sentido.
Por isso, e também pelo fato de serem os artistas pessoas que vivem
no mundo “real”, que as contradições quase sempre são a regra, a exemplo do
renomado Eça de Queiroz. O autor, após ausentar-se do cenário político busca
pela via da escrita irônica emitir suas opiniões e demarcar seu discurso que,
inicialmente, condizia com as utopias em voga a respeito de uma revolução
social, a fim de reparar as injustiças sociais.
97
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
O TESOURO
Eça de Queiroz
Nos Paços de Medranhos, a que o vento da serra levara vidraça e telha, passavam
eles as tardes desse Inverno, engelhados nos seus pelotes de camelão, batendo
as solas rotas sobre as lajes da cozinha, diante da vasta lareira negra, onde
desde muito não estalava lume, nem fervia a panela de ferro. Ao escurecer
devoravam uma côdea de pão negro, esfregada com alho. Depois, sem candeia,
através do pátio, fendendo a neve, iam dormir á estrebaria, para aproveitar o
calor das três éguas lazarentas que, esfaimadas como eles, roíam as traves da
manjedoura. E a miséria tornara estes senhores mais bravios que lobos.
Ora, na Primavera, por uma silenciosa manhã de domingo, andando todos três
na mata de Roquelanes a espiar pegadas de caça e a apanhar tortulhos entre
os robles, enquanto as três éguas pastavam a relva nova de Abril – os irmãos
de Medranhos encontraram, por trás de uma moita de espinheiros, numa cova
de rocha, um velho cofre de ferio. Como se o resguardasse uma torre segura,
conservava as suas três chaves nas suas três fechaduras. Sobre a tampa, mal
decifrável através da ferrugem, corria um dístico em letras árabes. E dentro,
até às bordas, estava cheio de dobrões de ouro!
98
TÓPICO 2 | O REALISMO EM PORTUGAL
Rui sorriu. Decerto, decerto! A cada dono do ouro cabia uma das chaves que
o guardavam. E cada um em silêncio, agachado ante o cofre, cerrou a sua
fechadura com força. Imediatamente Guanes, desanuviado, saltou na égua,
meteu pela vereda de olmos, a caminho de Retortilho, atirando aos ramos a
sua cantiga costumada e dolente:
II
Na clareira, em frente à moita que encobria o tesouro (e que os três tinham
desbastado a cutiladas) um fio de água brotando entre rochas: caía sobre uma
vasta laje escavada, onde fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se
escoar para as relvas altas. E ao lado, na sombra de uma faia, jazia um velho
pilar de granito, tombado e musgoso. Ali vieram sentar-se Rui e Rostabal, com
99
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
Então Rui, que tirara o sombrero e lhe cofiava as velhas plumas roxas, começou
a considerar, na sua fala avisada e mansa, que Guanes, nessa manhã, não
quisera descer com eles à mata de Roquelanes. E assim era a sorte ruim! Pois
que se Guanes tivesse quedado em Medranhos, só eles dois teriam descoberto
o cofre, e só entre eles dois se dividiria o ouro! Grande pena! Tanto mais que
a parte de Guanes seria em breve dissipada, com rufiões, aos dados, pelas
tavernas.
— E para quê — prosseguia Rui. — Para que lhe serve todo o ouro que nos
leva? Tu não o ouves, de noite, como tosse? Ao redor da palha em que dorme,
todo o chão está negro do sangue que escarra! Não dura até as outras neves,
Rostabal! Mas até lá terá dissipado os bons dobrões que deviam ser nossos,
para levantarmos a nossa casa, e para tu teres ginetes, e armas, e trajes nobres,
e o teu terço de solarengos, como compete a quem é, como tu, o mais velho dos
de Medranhos…
— Queres?
100
TÓPICO 2 | O REALISMO EM PORTUGAL
— Logo adiante, ao fim do trilho, há um sítio bom, nos silvados. E hás-de ser
tu, Rostabal, que és o mais forte e o mais destro. Um golpe de ponta pelas
costas. E é justiça de Deus que sejas tu, que muitas vezes, nas tavernas, sem
pudor, Guanes te tratava de «cerdo» e de «torpe», por não saberes a letra nem
os números.
— Malvado!
— Vem!
Enfim! Alerta! Era, na vereda, a cantiga dolente e rouca, atirada aos ramos:
Rostabal rompeu de entre a sarça por uma brecha, atirou o braço, a longa
espada — e toda a lâmina se embebeu molemente na ilharga de Guanes,
quando ao rumor, bruscamente ele se virara na sela. Com um surdo arranco,
tombou de lado, sobre as pedras. Já Rui se arremessava aos freios da égua
— Rostabal caindo sobre Guanes, que arquejava, de novo lhe mergulhou a
espada, agarrada pela folha como um punhal, no peito e na garganta.
101
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
Teve de lhe espicaçar as ancas lazarentas com a ponta da espada — e foi correndo
sobre ela, de lâmina alta, como se perseguisse um mouro, que desembocou
na clareira onde o sol já não dourava as folhas. Rostabal arremessara para a
relva o sombrero e a espada; e debruçado sobre a laje escavada em tanque, de
mangas arregaçadas, lavava, ruidosamente, a face e as barbas.
Rostabal caiu sobre o tanque, sem um gemido, com a face na água, os longos
cabelos flutuando na água. A sua velha escarcela de couro ficara entalada sob
a coxa. Para tirar de dentro a terceira chave do cofre, Rui solevou o corpo — e
um sangue mais grosso forrou, escorreu pela borda do tanque, fumegando.
III
Agora eram dele, só dele, as três chaves do cofre! E Rui, alargando os braços,
respirou deliciosamente. Mal a noite descesse, com o ouro metido nos
alforges, guiando a fila das éguas pelos trilhos da serra, subiria a Medranhos
e enterraria na adega o seu tesouro! E quando ali na fonte, e além rente aos
silvados, só restassem, sob as neves de dezembro alguns ossos sem nome, ele
seria u magnífico senhor de Medranhos, e na capela nova do solar renascido
mandaria dizer missas ricas pelos seus dois irmãos mortos… Mortos como?
Como devem morrer os de Medranhos — a pelejar contra o Turco!
Com que delícia se sentou na relva, com as pernas abertas, e entre elas a ave
loura, que rescendia, e o vinho cor de âmbar! Ah! Guanes fora bom mordomo
— nem esquecera azeitonas. Mas porque trouxera ele, para três convivas, só
duas garrafas? Rasgou uma asa do capão: devorava a grandes dentadas. A
tarde descia, pensativa e doce, com nuvenzinhas cor-de-rosa. Para além, na
vereda, um bando de corvos grasnava. As éguas fartas dormitavam, com o
focinho pendido. E a fonte cantava, lavando o morto.
Rui ergueu à luz a garrafa de vinho. Com aquela cor velha e quente, não teria
custado menos de três maravedis. E pondo o gargalo à boca, bebeu em sorvos
lentos, que lhe faziam ondular o pescoço peludo. Oh vinho bendito, que tão
prontamente aquecia o sangue! Atirou a garrafa vazia — destapou outra. Mas,
102
TÓPICO 2 | O REALISMO EM PORTUGAL
como era avisado, não bebeu, porque a jornada para a serra, com o tesouro,
requeria firmeza e acerto. Estendido sobre o cotovelo, descansando, pensava
em Medranhos coberto de telha nova, nas altas chamas da lareira por noites de
neve, e o seu leito com brocados, onde teria sempre mulheres.
Cambaleou até à fonte para apagar aquela labareda, tropeçou sobre Rostabal;
e foi com o joelho fincado no morto, arranhando a rocha, que ele, entre uivos,
procurava o fio de água que recebia sobre os olhos, pelos cabelos. Mas a água
mais o queimava, como se fosse um metal derretido. Recuou, caiu para cima
da relva que arrancava aos punhados, e que mordia, mordendo os dedos, para
lhe sugar a frescura. Ainda se ergueu com uma baba densa a escorrer-lhe nas
barbas: e de repente; esbugalhando pavorosamente os olhos, berrou, como se
compreendesse enfim a traição, todo o horror:
— É veneno!
Oh! D. Rui, o avisado, era veneno! Porque Guanes, apenas chegara a Retortilho,
mesmo antes de comprar os alforges, correra cantando a uma viela, por detrás
da catedral, a comprar ao velho droguista judeu o veneno que, misturado ao
vinho, o tornaria a ele, a ele somente, dono de todo o tesouro.
Anoiteceu. Dois corvos, de entre o bando que grasnava além nos silvados, já
tinham pousado sobre o corpo de Guanes. A fonte, cantando, lavava o outro
morto. Meio enterrado na erva negra, toda a face de Rui se tornara negra. Uma
estrelinha tremeluzia no céu.
FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_
action=&co_obra=2198&co_midia=2>. Acesso em: 5 out. 2019.
103
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
104
TÓPICO 2 | O REALISMO EM PORTUGAL
DICAS
Boa leitura!
DICAS
105
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• O Realismo foi o terceiro momento do Romantismo que surge face aos exageros
sentimentalistas e mórbidos do Ultrarromantismo.
106
AUTOATIVIDADE
a) ( ) I, II e III.
b) ( ) II, III e IV.
c) ( ) III, IV e V.
d) ( ) I, III, IV e V.
e) ( ) I, III e V.
“Bom Deus, Luiza começava a estar menos comovida ao pé do seu amante, do que
ao pé do seu marido! Um beijo de Jorge perturbava-a mais, e viviam juntos havia
três anos! Nunca se secara ao pé de Jorge, nunca! E secava-se positivamente ao pé
de Basílio! Basílio, no fim, o que se tornara para ela? Era como um marido pouco
amado, que ia amar fora de casa! Mas então valia a pena?
Onde estava o defeito? No amor mesmo talvez! Porque enfim, ela e Basílio
estavam nas condições melhores para obterem uma felicidade excepcional:
eram novos, cercava-os o mistério, excitava-os a dificuldade... Por que era então
107
que quase bocejavam? É que o amor é essencialmente perecível, e na hora em
que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um
entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois! ... Seria, pois, necessário estar
sempre a começar, para poder sempre sentir? E, pela lógica tortuosa dos amores
ilegítimos, o seu primeiro amante fazia-a vagamente pensar no segundo!”
a) ( ) Eterno, pois Luiza não deixa de amar seu marido, Jorge, apesar da
distância que os separa.
b) ( ) Passageiro e frágil, pois, para Luzia, só os começos são bons.
c) ( ) Intenso, pois Luiza se mostra profundamente dividida entre o amor de
Basílio e Jorge.
d) ( ) Terno e carinhoso, como se pode notar na boa lembrança que Luiza tem
do beijo de Jorge.
e) ( ) Sofrido, pois Luiza e Jorge sofrem por se amar demais e por não poderem
ficar juntos.
FONTE: <https://www.passeiweb.com/preparacao/banco_de_questoes/portugues/o_
primo_basilio>. Acesso em: 5 out. 2019.
108
UNIDADE 2 TÓPICO 3
O SIMBOLISMO EM PORTUGAL
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, descobriremos como o movimento simbolista ocorreu em
terras lusitanas, além de conhecer alguns poetas desse período. A partir disso,
você estudante poderá fazer comparações desse movimento ocorrido aqui no
Brasil. Procure saber mais sobre o tema, além de buscar ler o poeta Cruz e Sousa.
109
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
DICAS
FONTE: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/painel-em-florianopolis-homenageia-poeta-
cruz-e-sousa-e-chama-atencao-para-seu-legado>. Acesso em: 5 out. 2019.
110
TÓPICO 3 | O SIMBOLISMO EM PORTUGAL
111
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
Desse modo, não será de admirar que alguns teóricos pontuem uma
separação entre os dois momentos, todavia, aqui assumimos a interrelação entre
movimento literário simbolista e a estética filosófica decadentista, conforme
destaca também Elzenga (2009, p. 15) que “O Simbolismo queria transformar a
visão do Decadentismo em estética e assim, decifrando o mistério da existência,
descobrir com intuição, associação e analogia o esotérico e o inefável”. Assim
sendo, simbolismo e decadentismo já anunciam o Modernismo donde, inclusive,
o poeta Camilo Pessanha participa através da Geração Orpheu, iniciada em 1915,
e que você conhecerá um pouco melhor na próxima unidade.
DICAS
112
TÓPICO 3 | O SIMBOLISMO EM PORTUGAL
BALADA DO CAIXÃO
Paris, I89I
FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_
action=&co_obra=38090&co_midia=2>. Acesso em: 1 fev. 2020.
DICAS
Para saber mais sobre a vida e obra do poeta António Nobre, acesse o endereço
a seguir: https://www.ebiografia.com/antonio_nobre/.
113
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL
A Guerra Junqueiro
I
AVE-MARIAS
114
TÓPICO 3 | O SIMBOLISMO EM PORTUGAL
II
NOITE FECHADA
115
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
III
AO GÁS
116
TÓPICO 3 | O SIMBOLISMO EM PORTUGAL
IV
HORAS MORTAS
117
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_
action=&co_obra=40113&co_midia=2>. Acesso em: 5 out. 2019.
Podemos dizer, talvez, que é nesse poema que Cesário Verde expressa as
desilusões e decadências pressentidas e presenciadas por seus contemporâneos
lusitanos. Com o intuito de homenagear Camões, vê-se que o poeta traz as crises
existenciais entrelaçando passado e presente ao apresentar uma cidade e um sujeito
“ocidental” que se encontra no limiar da dor e do sofrimento humano. O poema é
dividido em quatro partes, em que podemos ver as dicotomias, como o rico x pobre;
a felicidade x infelicidade; o campo x cidade; o tempo prodigioso de Camões x o
tempo de seu presente decadente, entre outras dualidades. Sua obra é de grande
valia para compreender as celeumas e aflições de espírito dos poetas decadentistas.
118
TÓPICO 3 | O SIMBOLISMO EM PORTUGAL
ROTEIRO DA VIDA
Camilo Pessanha
I
Enfim, levantou ferro.
Com os lenços adeus, vai partir o navio.
Longe das pedras más do meu desterro,
Ondas do azul oceano, submergi-o.
Que eu, desde a partida,
Não sei onde vou.
Roteiro da vida,
Quem é que o traçou?
Nalguma rocha ignota
Se vai despedaçar, com violento fragor...
Mareante, deixa as cartas da derrota.
Maquinista, dá mais força no vapor.
II
Nesgas agudas do areal
E gaivotas que voais em redor do navio,
Tornais o meu cérebro mole,
Esmeralda viva do Canal
E desertos inundados de sol!
Meu pobre cérebro inconsequente e doentio!
No qual uma rede se desenha,
Complicada, de sofrimentos irregulares...
Águas que filtrais na areia!
Antes que o crepúsculo venha,
O crepúsculo e as larvas tumulares,
A impureza inútil dissolvei-a.
Que o sol, sem mancha, o cristal sereno
Volatilize, ao seu doce calor,
A fria e exangue liquescência...
119
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS
III
Cristalizações salinas,
Mirrai na areia o plasma vivaz.
Não se desenvolvam as ptomaínas...
Que adocicado! Que obsessão de cheiro!
Putrescina: Flor de lilás.
Cadaverina: Branca flor do espinheiro!
Só o meu crânio, fique,
Rolando, insepulto, no areal,
Ao abandono e ao acaso do simum...
Que o sol e o sal o purifique.
DICAS
Para conhecer melhor o autor, veja sua biografia disponível em: https://www.
ebiografia.com/camilo_pessanha/.
120
TÓPICO 3 | O SIMBOLISMO EM PORTUGAL
DICAS
121
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
122
AUTOATIVIDADE
123
IV- O poeta trabalha o poema em busca da beleza em si, por isso se observa no
texto a obsessão pela forma característicos do período ultrarromântico.
V- A ideia central – descrever um bairro rico – está revestida de uma
linguagem que tende para o lirismo exacerbado.
FONTE: <https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ikRox1O9mTQJ:https:
//enem.estuda.com/questoes/%3Fid%3D387440+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso
em: 2 fev. 2020.
124
UNIDADE 3
A LITERATURA PORTUGUESA A
PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS
TRANSFORMAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
125
126
UNIDADE 3
TÓPICO 1
MODERNISMO EM PORTUGAL
1 INTRODUÇÃO
Estimado acadêmico! Adentramos agora à última unidade da disciplina
de Literatura Portuguesa, na qual trataremos de temas mais contemporâneos,
o que pode facilitar nossa compreensão. Ressaltamos, todavia, que cabe a você
entrelaçar os recortes aqui expostos com os seus conhecimentos de mundo e
leituras dos escritores citados, bem como de outros que, por conta da limitação
de espaço, não tratamos neste livro didático.
127
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
DICAS
ATENCAO
128
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
129
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
NOTA
MANIFESTO FUTURISTA
(Publicado em 20 de fevereiro de 1909, no “Le Figaro”)
130
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
NOTA
131
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
Dito isso, vale observarmos que um importante meio de difusão das estéticas
modernistas nesse período em Portugal foram as revistas. Desse modo, as duas
gerações modernistas ficaram conhecidas como “Geração de Orpheu” e “Geração
Presença”, nomes das revistas publicadas entre os períodos de 1915 até 1940.
DICAS
132
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
133
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
da arte, pois parecia que a arte deveria ter uma “utilidade”, uma “função a
cumprir” sendo sempre submissa a outros campos. Por essas e outras questões,
José Régio tentava defender com afinco o distanciamento entre arte e política,
como se vê em seu famoso poema Cântico Negro.
CÂNTICO NEGRO
134
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
135
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
MAR PORTUGUÊS
FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_
action=&co_obra=15726>. Acesso em: 10 nov. 2019.
136
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
FONTE: <https://www.comunidadeculturaearte.com/fernando-pessoa-o-rosto-do-modernismo-
portugues/>. Acesso em: 10 nov. 2019.
137
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
GUARDADOR DE REBANHOS
FONTE: <http://www.fpessoa.com.ar/poesias.asp?Poesia=181&Voltar=livros.asp%3FLivro=o_
guardador_de_rebanhos%26Voltar=heteronimos.asp?Heteronimo=alberto_caeiro>. Acesso
em: 10 nov. 2019.
NOTA
138
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
139
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
ESTÉTICA DA INDIFERENÇA
140
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
Para não descermos aos nossos próprios olhos, basta que nos habituemos
a não ter nem ambições, nem paixões, nem desejos, nem esperanças, nem
impulsos, nem desassossego. Para conseguir isto lembremo-nos sempre
que estamos sempre em presença nossa, que nunca estamos sós, para que
possamos estar à vontade. E assim dominaremos o ter paixões e ambições,
porque paixões e ambições são desescuidarmo-nos; não teremos desejos nem
esperanças, porque desejos e esperanças são gestos baixos e deselegantes; nem
teremos impulsos e desassossegos porque a precipitação é uma indelicadeza
para com os olhos dos outros, e a impaciência é sempre uma grosseria.
O aristocrata é aquele que nunca esquece que nunca está só; por isso
as praxes e os protocolos são apanágio das aristocracias. Interiorizemos o
aristocrata. Arranquemo-lo aos salões e aos jardins passando-o para a nossa
alma e para a nossa consciência de existirmos. Estejamos sempre diante de nós
em protocolos e praxes, em gestos estudados e para-(os)-outros.
Fernando Pessoa foi único em sua multiplicidade. Além de toda sua obra,
que ficou inédita por um tempo, também foi ensaísta e tradutor. Tal qual a sua
audácia de ser muitos e tornar-se uno ao mesmo tempo, fechemos esse tópico com
as próprias palavras poéticas dessa “Pessoa” singular, plural e simbolicamente
“fingida” que foi e continua sendo uma incógnita literária:
141
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
Que tal agora você, acadêmico, fazer um levantamento dos vários textos
de Fernando Pessoa e seus heterônimos e escolher qual é o seu favorito? Comente
com seus colegas e leia poesia!
DICAS
O célebre Fernando Pessoa possui diversos estudos a seu respeito, pois como
você percebeu, a complexidade de sua obra é fruto de inúmeros questionamentos, seja
sobre o poeta ou seja sobre seus outros “eus”. Além das bibliografias virtuais citadas neste
tópico, que trazem poemas e biografias, indicamos a pesquisa de mestrado de Hélio Valdeci
Rodrigues (2009), O desejo de inconsciência em poemas de Fernando Pessoa – ortônimo
e heterônimos Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, disponível em: https://www.teses.usp.
br/teses/disponiveis/8/8150/tde-23112009-115536/pt-br.php. Além disso, sua obra completa
já se encontra em domínio público para deleite de todos nós. Visite também os endereços
virtuais “Casa Fernando Pessoa”: https://www.casafernandopessoa.pt/ e “MultiPessoa”:
http://multipessoa.net/labirinto, no qual se pode fazer um tour virtual sobre sua vida e obra.
142
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
3 FLORBELA ESPANCA
Embora a visibilidade feminina tenha sido pequena dentro da literatura,
mesmo na modernidade, não podemos deixar de trazer aqui uma das maiores
expoentes da poesia portuguesa, a saber, Florbela Espanca. Nascida em 8 de
dezembro de 1894 no Alentejo, faleceu aos 36 anos de idade, sob circunstâncias
suspeitas de suicídio. Em sua obra constam seis livros de poemas, sendo que
quatro foram publicados postumamente, um diário e dois livros de contos
também póstumos (OLIVEIRA; GOMES, 2013, p. 85).
Seus temas revelam a subjetividade lírica que, por vezes, trazem o amor
da mulher e tudo o que isso expunha a respeito da sociedade, embora a autora
não fosse uma ativista política pela causa feminina. Vejamos seu poema Mulher:
A MULHER
(I)
(II)
143
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
EU (Livro de mágoas)
FONTE: <http://www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/leit_online/florbela3.pdf>.
Acesso em: 10 nov. 2019.
144
TÓPICO 1 | MODERNISMO EM PORTUGAL
Já no segundo livro, o eu lírico não é mais uma irmã e sim uma mulher que
traz nas palavras o erotismo e o fogo da paixão para se revelar e se questionar.
Perceba a diferença entre o poema Eu deste livro com o publicado em seu primeiro
trabalho.
EU (Charneca em flor)
FONTE: <http://www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/leit_online/florbela2.pdf>.
Acesso em: 20 nov. 2019.
DICAS
Visite também o endereço virtual que contém detalhes sobre a vida e obra de Florbela
Espanca: http://purl.pt/272/2/index.html.
145
RESUMO DO TÓPICO 1
• Florbela Espanca foi uma poeta do Modernismo que, mesmo sendo mulher,
desafiou os paradigmas da época pela magnitude de sua obra poética e o papel
relegado à mulher em seu tempo.
146
AUTOATIVIDADE
147
3 (UEL, 2009, adaptada) Leia o poema a seguir, de Florbela Espanca:
AMAR!
148
UNIDADE 3
TÓPICO 2
LITERATURA CONTEMPORÂNEA
1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Desde a primeira unidade deste Livro Didático
alguns séculos já se passaram. Iniciamos esta jornada para desvendar uma das
possíveis nuances da história literária de língua portuguesa focando a partir de
Portugal, contudo, trazendo alguns aspectos que reverberaram tanto no Brasil
quanto em países africanos de língua portuguesa.
149
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
2 LITERATURA PRÉ-1974
A literatura contemporânea pode ser dividida em pré-1974 e pós-1974,
sendo que 1974 foi o ano em que ocorreu a “Revolução dos Cravos”, em 25 de
abril, e que demarcou o fim da ditadura salazarista em Portugal.
150
TÓPICO 2 | LITERATURA CONTEMPORÂNEA
151
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
152
TÓPICO 2 | LITERATURA CONTEMPORÂNEA
Portanto, vemos que há ainda muito a ser feito numa época em que (quase)
tudo já foi dito referente a saberes, ciências, artes, política e tecnologias, todavia,
ainda falta o ser humano descobrir o potencial dos afetos de sua humanidade
focada numa vertente descolonizadora e permeada de afetividade real em busca do
Outro como um diferente que o complemente, e não visando exterminá-lo, como
ocorreu na Era dos Extremos, esta descrita por Eric Hobsbawn em seu livro que
trata desde a Primeira Guerra Mundial até a queda da União Soviética, em 1991.
DICAS
3 LITERATURA PÓS-1974
Em seu acerto de contas com a história, Portugal viu nascerem obras
poéticas de profunda autorreflexão identitária, pois os escritores que estiveram
nas guerras, por exemplo, retornavam ao país sendo vistos como “derrotados”,
já que o resultado das guerras foram as independências das colônias africanas.
Todavia, esses mesmos escritores não compreendiam o porquê daquelas guerras,
já que a emancipação dos países africanos poderia ter ocorrido de forma menos
sanguinária, não fosse a insistência lusitana em se fazer colonizador até o último
suspiro. Desse modo,
153
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
DICAS
154
TÓPICO 2 | LITERATURA CONTEMPORÂNEA
O que a literatura pós-1974 revela é um povo luso que, por haver silenciado
durante muitos anos, desaprendeu de falar pela voz e ousou reencontrar essa
voz nos discursos que diversos autores trouxeram à tona após aquele período
de horror que antecedeu o processo histórico e fez com que a única história
contada fosse tida como verídica e feliz, como nas propagandas feitas pela equipe
salazarista tal qual aquelas que vemos na TV de produtos como “margarina”
vendendo uma família feliz e unida numa bela manhã, na qual se esquece que a
guerra ocorre ao lado e mesmo dentro de cada um de nós.
155
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
DICAS
4 JOSÉ SARAMAGO
José Saramago é um dos escritores portugueses mais conhecidos da
contemporaneidade, pois ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1998, o que o
fez transpor os espaços relegados à literatura de língua portuguesa (justamente
por conta da língua). Seu currículo é vasto, e sua militância de esquerda é lembrada
em alguns romances do autor e pela crítica, tanto para o bem quanto para o mal.
156
TÓPICO 2 | LITERATURA CONTEMPORÂNEA
DICAS
Tal como previra, não era fácil passar de um degrau para outro,
sobretudo por causa da perna, que não o ajudava, e a prova teve-a logo,
quando, a meio da escada, por ter uma das mãos resvalado num degrau, o
corpo descaiu todo para um lado e foi arrastado pelo peso morto da maldita
perna. As dores voltaram instantaneamente, com as serras, com as brocas,
157
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
com os martelos, nem ele soube como conseguiu não gritar. Durante longos
minutos ficou estendido de bruços, com a cara assente no chão. Um vento
rápido, rasteiro, fê-lo tiritar. Não trazia no corpo mais que a camisa e as cuecas.
A ferida estava, toda ela, em contacto com a terra, e ele pensou, Pode
infectar-se, era um pensamento estúpido, não se lembrou de que a vinha
arrastando assim desde e camarata, Bom, não tem importância, eles vão tratar-
me antes que ela se infecte, pensou depois, para tranquilizar-se, e pôs-se de
lado para melhor alcançar a corda. Não a encontrou logo. Tinha-se esquecido
de que ficara em posição perpendicular a ela quando rebolou pela escada, mas
o instinto fê-lo permanecer onde estava.
Quanto à corda, não havia perigo de a perder, quase que lhe tocava com
a cabeça. Perguntava-se se ainda lhe faltaria muito para chegar ao portão, não
era o mesmo ir por seu pé, melhor ainda se pelos dois, e avançar às arrecuas,
em deslocações de meio palmo ou menos. Esquecido, por um instante, de que
estava cego, virou a cabeça como para certificar-se do que Ihe faltava percorrer
e encontrou na sua frente a mesma brancura sem fundo. Será noite, será dia,
perguntou-se, bom, se fosse dia já me teriam visto, além disso só houve um
pequeno-almoço e foi há muitas horas.
Outro ruído lhe chegou de súbito aos ouvidos, mas este foi diferente,
uma pancada, um choque, para ser mais preciso, não podia ser obra de vento.
Nervoso, o soldado saiu da guarita engatilhando a espingarda automática e
olhou na direcção do portão. Não viu nada.
158
TÓPICO 2 | LITERATURA CONTEMPORÂNEA
O ruído, porém, voltara, mais forte, agora era como o de unhas raspando
numa superfície rugosa. A chapa do portão, pensou. Deu um passo para a
tenda de campanha onde o sargento dormia. mas reteve-o o pensamento de
que se desse falso alarme teria de ouvir das boas, os sargentos não gostam que
os acordem, mesmo quando haja motivo.
Depois, lembrando-se das rigorosas ordens que lhe haviam sido dadas,
gritou, Cheguem-se para trás, isto pega-se. Os soldados recuaram, medrosos,
mas continuaram a olhar a poça de sangue que lentamente se espalhava pelos
intervalos entre as pedras miúdas do passeio. Achas que o gajo está morto,
perguntou o sargento, Tem de estar, apanhou com a rajada em cheio na
cara, respondeu o soldado, agora contente pela óbvia demonstração da sua
boa pontaria. Neste momento, outro soldado gritou nervosamente, Nosso
sargento, nosso sargento, olhe para ali.
FONTE: <https://rparquitectos.weebly.com/uploads/2/6/6/9/266950/jose_saramago_-_
ensaio_sobre_a_cegueira.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2019.
159
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
DICAS
160
RESUMO DO TÓPICO 2
161
AUTOATIVIDADE
162
A(s) afirmativa(s) CORRETA(S) é/são:
a) ( ) I.
b) ( ) II.
c) ( ) III.
d) ( ) I e III.
e) ( ) II e III.
163
164
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Este tópico está reservado para traçarmos um breve recorte a respeito das
literaturas africanas de expressão portuguesa, a saber, dos países: Moçambique,
Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe, que tiveram que travar
guerras sangrentas para se libertarem do jugo do colonialismo português, além
de terem que enfrentar, após a independência, guerras civis como é o caso dos
dois primeiros países citados, além de golpes de estado e casos intensivos de
corrupção nos últimos.
FONTE: <http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.
php?conteudo=326>. Acesso em: 10 dez. 2019.
165
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
E
IMPORTANT
166
TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
2 O CONTEXTO HISTÓRICO
É importante destacarmos o papel que teve, para a história da libertação
dos povos africanos aqui tratados, a Casa dos Estudantes do Império – CEI, criada
em 1944 com o objetivo de trazer os “melhores” estudantes das colônias africanas
para cursarem o ensino superior em Lisboa. Não por acaso, é nesse lugar que
ocorriam saraus literários e as discussões sobre as revoluções de independência
foram tomando corpo, literalmente. Passaram por ali inúmeros escritores que
militaram e, inclusive, participaram ativamente da guerra, como o guineense
Amílcar Cabral, os angolanos Agostinho Neto e Pepetela, entre outros. Mesmo
vivendo na ditadura salazarista, esses estudantes conseguiram se organizar e
guerrear com seu colonizador, inicialmente por outras vias, resistindo através da
arte e, posteriormente, alguns foram para o campo de batalha.
Não em vão, por essa época, emergiam importantes autores como Aimé
Césaire e o movimento da Negritude, que buscava valorizar as raízes africanas
e toda sua história. Outro movimento importante também ocorreu na sequência,
o Pan-africanismo, cujo objetivo era, resumidamente, a união de todos os povos
negros espalhados em diáspora pelo mundo. A Negritude começou a estar em
voga a partir da década de 1950, e o Pan-africanismo, a partir de 1960.
167
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
DICAS
Para saber mais sobre esses dois importantes movimentos, sugerimos a leitura
do artigo de Kabengele Munanga (2016), intitulado Pan-Africanismo, Negritude e Teatro
Experimental do Negro, disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/
view/2175-8034.2016v18n1p109.
Outro detalhe importante que também deve ser considerado nas culturas
africanas é o papel da oralidade. Conforme pontuam Oliveira e Gomes (2013, p.
156-157):
168
TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
FONTE: <https://www.dw.com/pt-002/casa-dos-estudantes-do-imp%C3%A9rio-ber%C3%A7o-
de-l%C3%ADderes-africanos-em-lisboa/a-16233230>. Acesso em: 10 dez. 2019.
169
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
MOMENTO
E do ventre de além-mundo,
Sete crianças gritando
Na boca dos fuzilados...
Sete crianças gritando
Ecos de dor e renúncia
Pela vida que não veio...
170
TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
DICAS
DICAS
Para saber mais sobre a literatura angolana, leia o artigo do escritor Pepetela,
disponível em: https://www.ueangola.com/criticas-e-ensaios/item/122-algumas-quest%C3
%B5es-sobre-a-literatura-angolana, pois há ali um panorama desde o século XIX. Além
disso, este é o endereço virtual da União dos Escritores Angolanos, onde se pode encontrar
outros autores e suas vidas e obras ali descritos.
171
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
NEGRA
E ainda bem.
Ainda bem que nos deixaram a nós,
do mesmo sangue, mesmos nervos, carne, alma,
sofrimento,
a glória única e sentida de te cantar
com emoção verdadeira e radical,
a glória comovida de te cantar, toda amassada,
moldada, vazada nesta sílaba imensa e luminosa: MÃE
172
TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
REZA, MARIA
Ah! Maria
põe as mãos e reza.
Pelos homens todos
e negros de toda a parte
põe as mãos
e reza, Maria!
173
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
DICAS
UNI
174
TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
POEMA DO MAR
O drama do Mar,
o desassossego do Mar,
sempre
sempre
dentro de nós!
O Mar!
cercando
prendendo as nossas Ilhas,
desgastando as rochas das nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias,
batendo a sua voz de encontro aos montes,
baloiçando os barquinhos de pau que vão por estas costas...
O Mar!
pondo rezas nos lábios,
deixando nos olhos dos que ficaram
a nostalgia resignada de países distantes
que chegam até nós nas estampas das ilustrações
nas fitas de cinema e nesse ar de outros climas que trazem os passageiros
quando desembarcam para ver a pobreza da terra!
175
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
O Mar!
a esperança na carta de longe
que talvez não chegue mais!...
O Mar!
saudades dos velhos marinheiros contando histórias de tempos passados,
histórias da baleia que uma vez virou a canoa...
de bebedeiras, de rixas, de mulheres, nos portos estrangeiros...
CHIQUINHO – CAPÍTULO 30
Pela cara que levava, o ano seria de fome. Eu devia andar pelos meus
catorze anos, e não me lembrava de ver tanta miséria estampada na cara de
todo o mundo. Sempre havia falta. Passado o mês de Fevereiro, era niclitar
conforme fosse possível. Os leios de milho e os balaios de feijão quási nunca
176
TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
177
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
GUINÉ-BISSAU
…NÃO, POESIA
…não poesia:
Não te escondas nas grutas do meu ser,
Não fujas à vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
Abre de par em par as portas do meu ser
- e sai…
Sai para a luta (a vida é luta),
Os homens lá fora chamam por ti,
E tu, poesia, és também um homem.
Ama a poesia de todo o mundo,
-Ama os homens
Solta os teus poemas para todas as raças,
Para todas as coisas.
Confunde o teu corpo com todos os corpos do mundo,
Confunde-te comigo…
Vai, poesia:
dá-me os teus braços para que abrace a vida.
A minha poesia sou eu.
178
TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrente
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num voo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições:
HUMANIDADE.
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UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
DICAS
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TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
LEITURA COMPLEMENTAR
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UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
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TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
Nesse sentido, o texto literário não pode ser compreendido como objeto
isolado, sem as interferências do leitor, sem o conhecimento das condições de
produção/recepção em que o texto foi produzido, sem as contribuições das diversas
disciplinas que perpassam o ato da leitura literária, inter/multi/transdisciplinar
pela própria natureza plural do texto literário.
[...]
[...]
[...]
183
UNIDADE 3 | A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS TRANSFORMAÇÕES
[...]
Rosenblatt (In: JACOBUS, 1996: 141) afirma que a obra literária oferece
uma oportunidade de o leitor se envolver numa experiência de reconstrução dos
acontecimentos vividos pelas personagens. Enquanto alguns críticos acreditam
que é perigoso deixar o texto à mercê simplesmente da concentração exclusiva
das opiniões pessoais dos alunos, Rosenblatt argumenta que precisamos ajudar
o aluno a desenvolver uma leitura estética da obra. Os professores precisam
encorajar os alunos para que estes desenvolvam autonomia no ato da leitura. O
papel do professor é crítico ao selecionar obras que permitam uma interação mais
produtiva, além de utilizar questões que possam deixar clara a relação entre a
experiência do aluno e o texto.
184
TÓPICO 3 | LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
FONTE: SILVA, I. M. M. Literatura em sala de aula: da teoria literária à prática escolar. Anais do
Evento PG Letras 30 Anos, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 514-527, 2006. Disponível em: http://miniweb.
com.br/literatura/artigos/Rom_Class.pdf. Acesso em: 10 nov. 2019.
185
RESUMO DO TÓPICO 3
CHAMADA
186
AUTOATIVIDADE
“Portugal colonial”
Nada te devo
nem o sítio
onde nasci
nem a morte
que depois comi
nem a vida
repartida
p'los cães
nem a notícia
curta
a dizer-te
que morri
nada te devo
Portugal
colonial
cicatriz
doutra pele
apertada
FONTE: David Mestre, poeta angolano. In: DÁSKALOS, M. A.; APA, L.; BARBEITOS, A. Poesia
africana de língua portuguesa: antologia. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2003, p. 104.
“Revolta”
187
“Poema”
Pés descalços
pisam caminhos de areia
Pés descalços
pisam sujos caminhos de areia
Pés cansados negros e descalços
pisam tristes sujos caminhos de areia
Pés negros
pisam tristes caminhos da vida
FONTE: <http://www1.pucminas.br/documentos/vestibular_2013_02_interior_3.pdf>.
Acesso em: 10 dez. 2019).
a) ( ) Revolta.
b) ( ) Impotência.
c) ( ) Gratidão.
d) ( ) Amizade.
188
d) ( ) Mia Couto é um escritor moçambicano de grande destaque internacional,
pois suas obras são traduzidas em mais de 20 países.
e) ( ) Pepetela escreveu uma trilogia sobre a colonização, a guerra de
independência e a desilusão pós-independência intitulados Mayombe,
Yaka e Geração da Utopia.
189
190
REFERÊNCIAS
A CHEGADA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA À BAHIA (painel). In:
Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú
Cultural, 2019. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1977/
a-chegada-da-familia-real-portuguesa-a-bahia-painel. Acesso em: 16 out. 2019.
191
GOMES, A. C. O simbolismo. In: MASSAUD, M. (Org.). A literatura portuguesa
em perspectiva. V. IV. São Paulo: Atlas,1994.
192
OLIVEIRA, R. T. Formas de contar: “Os gafanhotos” e A costa dos murmúrios.
Nau Literária, Porto Alegre, v. 2, n. 1, 11p., jan./jun. 2006. Disponível em: https://
seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/viewFile/4862/2777. Acesso em: 10 mar. 2020.
PESSOA, F. Carta a Adolfo Casais Monteiro. Obra Aberta, São Paulo, 6 ago.
2015. Disponível em: http://multipessoa.net/typographia/labirinto/multipessoa-
alvaro-de-campos-1.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.
193