Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de Vida
Indaial – 2021
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Prof. Jacqueline Leire Roepke
a
R716n
ISBN 978-65-5663-917-8
ISBN Digital 978-65-5663-918-5
CDD 010
Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico, primeiramente, queremos deixar registrada a
alegria que estamos sentido por estarmos fazendo parte da sua formação
acadêmica.
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 57
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 137
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 217
UNIDADE 1 —
NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1
SOBRE NARRATIVAS
1 INTRODUÇÃO
Ao escrevermos as primeiras linhas deste livro, estivemos imaginando
algumas das expectativas e das impressões que os leitores formarão a partir da
leitura do título do livro, “Narrativas e Histórias de Vida”. Assim, planejamos este
primeiro tópico para que você se sinta melhor situado em relação aos objetivos e
aos conteúdos desta disciplina.
Em outros momentos, é possível que você sinta que está lendo um livro
de História, pois se deparará com enfoques da historiografia. Ainda, a leitura
deste livro lhe passará a impressão de que está diante de um livro de Sociologia,
sobretudo, quando forem levantadas questões de narrativas e da sociedade. Isso
não é tudo: por vezes, você se imaginará diante de um livro de Psicologia (ao
estudarmos a memória, a ressignificação), ou de Arte, talvez, até de Literatura.
Isso ocorrerá porque a temática do livro será perpassada por olhares de diferentes
áreas do saber.
O livro, ainda, terá, por intuito, providenciar um material para que você se
imagine elaborando as próprias narrativas, organizando a escrita da sua própria
história de vida.
Vamos lá?!
3
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
NOTA
As duas palavras indicam uma pessoa que, por meio do improviso, expressa um
poema que vai nascendo espontaneamente, diante do público. Por exemplo, o repentista
ou trovador está em uma praça pública, e vê uma menina de olhos claros e cabelos
cacheados. Ele pode criar um poema e declamar ao vivo, sem, previamente, escrever.
Assim, ainda que possa ser classificado como “poema”, ao mesmo tempo, está apto a ser
caracterizado como uma narrativa, já que descreve uma menina, especificamente.
4
TÓPICO 1 — SOBRE NARRATIVAS
Essas duas figuras consistem em dois dos autorretratos feitos pelo artista
Vincent Van Gogh. Já ouviu algo a respeito de um certo corte na orelha dele? Vale a
pena dar uma sondada nisso nos motores de busca da internet.
NOTA
FONTE: Van Gogh: entre a genialidade e a doença. J. Bras. Patol. Med. Lab., Rio de Janeiro, v.
46, n. 1, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-
24442010000100001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 11 maio 2021.
5
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
Quanto aos leitores deste livro que já tinham tido contato com a história
contada a partir do suposto evento com a orelha dele, o fato de olharem para
as duas figuras os conduziu para uma espécie de leitura de narrativa, sem que
precisassem do suporte das palavras. A leitura das figuras se relacionava a uma
narrativa por si só.
NOTA
6
TÓPICO 1 — SOBRE NARRATIVAS
Pronto, agora você já sabe quais são os elementos de uma narrativa. Vamos
recapitular cada um deles?!
7
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
FONTE: A autora
8
TÓPICO 1 — SOBRE NARRATIVAS
Por outro lado, a escrita pode ficar mais limpa, mais organizada, mais
elegante se o autor a faz de maneira planejada, escolhendo um gênero discursivo
específico, e buscando, inclusive, aprender mais a respeito de tal gênero.
9
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
10
TÓPICO 1 — SOBRE NARRATIVAS
Segundo Ebenhoch (2020), é um longo poema narrativo que apresenta tom solene
e elevado, já que realça atos de grandeza, impactantes ações bélicas, atitudes
heroicas. Esse gênero discursivo foi inventado há muito tempo, tanto que passa a
impressão de ser antiquado, talvez, até mesmo, obsoleto. Certamente, é o primeiro
tipo de narrativa que foi criado. As epopeias, geralmente, mencionavam intervenções
Epopeia
divinas ao longo da narração; apresentavam alegorias, paródias, e alguns escritos
formulados em verso, como poema. Temas épicos eram abordados. O leitor de uma
epopeia tende a sentir admiração e deleite. Vale lembrar que alguns autores desse
gênero buscavam contribuir para o desenvolvimento de certas virtudes nos leitores.
Exemplos de epopeias: Ilíada e Odisseia, de Homero.
FONTE: A autora
ATENCAO
Perceba que Machado de Assis foi citado como exemplo de escritor no conto
e na crônica. Ele é considerado, por muitos, como o escritor brasileiro de maior
destaque. Produziu textos de teatro, de romance, de conto, de crítica, de poesia, de
crônica. Parecia mais habilidoso com romances e com contos. Um dos textos dele
que costuma ser abordado nos cursos superiores da área da saúde é O Alienista,
que trata da dicotomia entre normal e anormal no que tange à loucura. Você já
conhece o texto? Procure lê-lo. É divertido e, ao mesmo tempo, formado com frases
penetrantes, as quais nos fazem questionar alguns paradigmas da sociedade.
DICAS
Para quem já conhecia O Alienista, fica, como sugestão de leitura, o artigo de Maria
Vanesse Andrade, Aluísio Ferreira de Lima e Maria Elisalene Alves dos Santos, intitulado de A
Razão e a Loucura na Literatura: Um Estudo Sobre O Alienista, de Machado de Assis. Você
pode encontrá-lo ao procurar, com esse título, nos motores de busca da internet. Quando
o presente livro foi produzido, o texto estava disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2014000100006&lng=pt&nrm=iso.
11
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
Que tal vislumbrar alguns outros tipos de narrativas que existem? Para
tanto, recorremos a Brockmeier e Harre (2003, p. 527, grifo nosso):
Por que, até aqui, não foi dada ênfase a essas subcategorias? Porque não
há espaço para aprofundar todas. Parte delas será vista mais adiante, nos tópicos
subsequentes. Ainda, pois um dos enfoques deste livro é a escrita autobiográfica,
como já foi dito na introdução deste tópico, e autobiografia não combina,
facilmente, com textos jurídicos, por exemplo.
Outra coisa que precisa ser esclarecida, desde já, é que podem ser
encontrados alguns textos narrativos nos quais há misturas de tipos de narrativa,
o que, também, é chamado de hibridismo. Vejamos o que Brockmeier e Harre
(2003, p. 527, grifo nosso) falam a respeito dessa mescla:
12
TÓPICO 1 — SOBRE NARRATIVAS
DICAS
13
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Muitas vezes, os textos narrativos são escritos em prosa, mas alguns podem
ser encontrados como poemas.
• A crônica é, geralmente, um texto híbrido, que pode ter distintas funções para
além da narração, como: descrever, desvelar, contar, provocar, comentar e analisar.
14
AUTOATIVIDADE
15
XVI- O herói e o agressor se confrontam em um combate.
XVII- O herói recebe uma marca.
XVIII- O agressor é vencido.
XIX- A malfeitoria inicial ou a falta é reparada.
XX- O herói volta.
XXI- O herói é perseguido.
XXII- O herói é socorrido.
XXIII- O herói chega incógnito à casa dele ou a outro país.
XXIV- Um falso herói faz valerem pretensões falsas.
XXV- Propõe-se, ao herói, uma tarefa difícil.
XXVI- A tarefa é cumprida.
XXVII- O herói é reconhecido.
XXVIII- O falso herói, ou o agressor, o mau é desmascarado.
XXIX- O herói recebe uma nova aparência.
XXX- O falso herói, ou o agressor, é punido.
XXXI- O herói se casa e sobe ao trono (VIEIRA, 2001, p. 600).
16
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Até aqui, você já deve ter memorizado que as narrativas estão ligadas ao
ato de contar histórias. No primeiro tópico, estiveram em realce os conteúdos
da Língua Portuguesa, ao passo que, no tópico presente, deparar-nos-emos
com os conteúdos das Ciências Sociais. Precisávamos de uma breve revisão que
englobasse o que são narrativas, para que, a partir daqui, possamos entender
alguns dos motivos pelos quais, comumente, são produzidas, lidas e analisadas.
Com base no tópico anterior, já podemos inferir que uma das funções
das narrativas é promover determinado ordenamento de experiências humanas,
ajudando, assim, as pessoas a lembrarem de momentos importantes, ou de eventos
marcantes. Ainda, propiciam o registro de memórias individuais e coletivas, o
que faz com que elas sejam repassadas para as subsequentes gerações.
Vamos lá?!
17
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
FIGURA 4 – ME BASTO
Quantas vezes você já viu postagens, nas redes sociais, dando a entender
que a única opinião que conta é a da própria pessoa? Ainda, que devemos ignorar,
totalmente, o que os outros pensam ou dizem a nosso respeito? No entanto, não
é bem assim que as coisas acontecem... Primeiramente, nenhum ser humano
sobrevive se alguém não cuidar dele nos primeiros dias, semanas, e, talvez, até
possamos dizer, nos primeiros anos de vida.
Não somos como muitos dos animais, os quais, logo após o nascimento,
levantam-se e andam, e, a partir dali, alimentam-se sozinhos e sobrevivem sem
cuidados dos genitores, ou de outros da espécie. Enquanto isso, entre os humanos,
cada pessoa vai se constituindo a partir das interações que estabelece com outras.
Até mesmo aqueles que afirmam que não ligam para o que os outros dizem
recebem cargas de influência (no mínimo) das pessoas com as quais convivem.
18
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA
19
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
NOTA
20
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA
Quem folhear a minha dissertação se deparará com fotos dos livros que marcaram
a minha infância – versões diferentes do Pequeno Polegar. Poderá chegar em parágrafos nos
quais conto sobre a minha infância e as minhas vivências que me deixaram tão pertinho
de livros de literatura.
DICAS
3 MEMÓRIA E AUTOBIOGRAFIA
Essas palavras do escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós,
certamente, inspiram-nos para darmos sequência à leitura que abarca a memória e
a autobiografia. Voltaremos a falar dele daqui a pouco, e em outras partes deste livro.
21
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
FONTE: <http://grandesobrasdaliteratura.blogspot.com/2013/02/bartolomeu-campos-
de-queiros.html>. Acesso em: 25 fev. 2021.
completude. Desejam algo que não pode ser encontrado em sua totalidade, pois
é impraticável encontrar uma determinação clara que tenha motivado todos os
pensamentos, atitudes, decisões, ações e desejos.
Alguns textos narrativos vêm sendo escritos com base nos vestígios que
surgem durante a evocação de uma memória. As memórias não são compostas,
apenas, de fatos, de cenas reais. Elas tendem a se apresentar misturadas com
imagens, palavras, discursos, histórias, aromas, sons e cores.
As lembranças não costumam ser evocadas por inteiro, mas por pedaço
a pedaço, são pecinhas que vão se encaixando, fragmentos de coisas vividas,
sonhadas, pensadas, imaginadas. Ao escrever sobre si mesmo, é possível que a
pessoa fique confusa e reflita se aquela situação, realmente, ocorreu, ou não. Se
aconteceu do jeito que ela está se lembrando ou se o tempo alterou as lembranças,
desvanecendo algumas partes, ou dando maior ênfase a outras.
23
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
NOTA
Você sabia que a memória não é a única função psicológica superior utilizada
na produção de uma escrita autobiográfica? Linguagem, pensamento, percepção, atenção,
concentração e abstração, também, são.
24
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA
25
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
DICAS
Você quer saber mais a respeito desse tema que envolve infância e escrita
autobiográfica? Então, recomenda-se a leitura de um texto na íntegra: O Lugar dos
Pertencimentos do Escritor-Adulto na Reconstrução das Memórias de Infância. Elaborado
em 2018. Encontre-o em https://www.scielo.br/pdf/pp/v29n1/0103-7307-pp-29-1-0192.pdf.
26
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA
não foram válidos. Significa que aqueles que contaram a história selecionaram
que partes apresentariam e que pessoas seriam mencionadas. Nessa situação, os
que contaram a história deixaram as mulheres negras do lado de fora, ao passo
que Silva e Ferreira (2017) fizeram o caminho inverso, tornando as narrativas de
mulheres negras, envolvidas na política, conhecidas.
DICAS
4 REALIDADE OU IMAGINAÇÃO
É esperada, de alguns tipos de narrativas, mais veracidade em comparação
a outros. Por outro lado, as pesquisas em Neurociência e em Psicologia nos
mostram o quanto é difícil extrair, apenas, “a verdade” das memórias de
alguém. Algumas vezes, a pessoa não consegue se manter, inteiramente, fiel ao
que presenciou, não por maldade, pela intenção de mentir, ou pelo intuito de
proteger alguém. A respeito de narrativas autobiográficas, pode-se dizer que “[...]
as memórias de si se confundem com a história que querem contar e construir”
(MORAES, 2018, p. 142).
27
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
DICAS
Narrar o Trauma: A Questão dos Testemunhos de Catástrofes Históricas, escrito por Márcio
Seligmann-Silva, em 2008.
28
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA
FONTE: <https://www.annefrank.org/en/anne-frank/who-was-anne-frank/quem-foi-anne-frank/>.
Acesso em: 24 fev. 2021.
29
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
FONTE: <https://horadopovo.com.br/graciliano-ramos-e-o-romance-do-nordeste/>.
Acesso em: 24 fev. 2021.
30
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA
NOTA
31
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
Por falar de cartas, podemos citar as cartas que foram trocadas por
Sigmund Freud e o pastor Oskar Pfister:
32
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA
Essa citação é o desfecho ideal para este tópico. Poderíamos dizer que os
gêneros discursivos ligados às narrativas são as memórias, o ensaio autobiográfico,
as lembranças pessoais, o romance autobiográfico. Também, poderiam ser
citados, como narrativas mais reflexivas, o diário, a série, a carta. Além de citar
o testemunho, a ficção, a fotografia enquanto multiplicidade de registros, essa
citação resgata o que fomos vendo ao longo do tópico, lembra? O rompimento
com questões de tempo e de espaço, experiências sendo apresentadas de modo
descentrado, coletivas e individuais, se é que, ainda, podemos dizer que existem
experiências que são, exclusivamente, individuais.
TUROS
ESTUDOS FU
Voltaremos a muitos dos assuntos vistos neste tópico nas próximas unidades.
33
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• É diferente ler uma autobiografia que fale da infância se ela for escrita por uma
criança ou por um adulto que rememora aquele próprio período. Afinal, trará
o seu olhar de adulto para os fatos narrados.
34
AUTOATIVIDADE
2 Neste tópico, tivemos um breve contato com a escritora Mary Shelley. Para
Conceição, Porto e Couto (2020, p. 8), o mais famoso personagem criado por
Mary Shelley pode representar diferentes pessoas, ou, até mesmo, situações:
35
Frente ao apresentado, analise as sentenças que seguem:
I- Mary Shelley publicou o livro aos dezoito anos de idade, e omitiu ser a
autora na primeira edição da obra.
II- William Godwin, pai de Mary, foi apresentado como o autor da primeira
versão do livro, já que um livro escrito por uma mulher não seria aceito
na época.
III- Mary Shelley teve o manuscrito recusado em, 1817, em uma editora.
Percy Shelley, marido de Mary, assinou o prefácio da primeira edição.
3 “Escritores, como Primo Levi, Robert Antelme, Elie Wiesel, Jorge Semprún,
Imre Kertész procuram o caminho da literatura onde o recurso da fabulação
tenta superar as falhas da linguagem” (BASEVI, 2013, p. 152). Élie Wiesel é
o autor do livro Uma Vontade Louca de Dançar, do qual será extraído o
trecho que segue. Articule-o com o que tem aprendido nesta disciplina.
36
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1
AUTOBIOGRAFIA: LITERATURA
1 INTRODUÇÃO
Com a leitura dos tópicos antecedentes, podemos entender que a
autobiografia tem uma longa tradição (SCHWARTZ, 2013), e que o gênero
autobiográfico vem se transformando. Ainda, é possível inferir que as narrativas
autobiográficas têm sido utilizadas por escritores que buscam elaborar uma
reinvenção do próprio passado, ou uma construção/reconstrução do futuro
(LIMA; CIAMPA, 2017).
2 LITERATURA E SUBJETIVIDADE
A leitura de obras literárias exerce uma influência significativa na
formação do sujeito, isto é, na constituição enquanto ser humano, para a
construção da subjetividade. Além de auxiliar na humanização, a literatura pode
ajudar uma pessoa a se compreender melhor, a se construir e a se reconstruir, a
elaborar os próprios traumas e a ressignificar a história pessoal (PORCACCHIA;
BARONE, 2011). Esses efeitos advêm da leitura de literatura, para Porcacchia e
Barone (2011), e podem ocorrer, até mesmo, com as crianças que têm acesso à
leitura da literatura infantil. Muitas vezes, o enfoque sobre a literatura parece
estar na educação escolar, contudo, ela, também, é impactante na formação da
personalidade, na composição da subjetividade de uma pessoa.
37
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
Note que esses são os benefícios da leitura de textos literários, e que eles
impactam na história de vida do leitor. Na sequência, abarcaremos a escrita
autobiográfica no que se refere ao âmbito da literatura.
FONTE: <https://exame.com/casual/livro-de-machado-de-assis-em-ingles-esgota-
em-um-dia-nos-eua/>. Acesso em: 28 fev. 2021.
38
TÓPICO 3 — AUTOBIOGRAFIA: LITERATURA
Essas duas narrativas contaram com atitudes criativas por parte dos
respectivos escritores, e apresentam algo que se assemelha a um jogo de espelhos,
no qual o leitor se sente diante da possibilidade de refletir sobre si próprio
enquanto conduz a leitura (SARAIVA, 2017).
FONTE: <https://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,em-essa-gente-chico-buarque-
oferece-retrato-tragicomico-do-brasil-atual,70003080468>. Acesso em: 28 fev. 2021.
39
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
40
TÓPICO 3 — AUTOBIOGRAFIA: LITERATURA
NOTA
Muitas pessoas conhecem Chico Buarque através das músicas dele, mas é
válido lembrar que, além da carreira na música, ele, também, é escritor e dramaturgo.
41
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
FONTE: <https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/certas-palavras/leia-trecho-do-livro-de-
herta-muller-vencedora-do-nobel/>. Acesso em: 28 fev. 2021.
42
TÓPICO 3 — AUTOBIOGRAFIA: LITERATURA
• Primo Levi.
• Thomas Bernhard.
• Winfried Georg Maximilian Sebald (W.G. Sebald).
• Georges Perec.
43
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
• Giuseppe Berto.
• Saul Bellow.
• Imre Kertész.
• Claudio Magris.
• Ernesto Vila-Matas.
• António Lobo Antunes.
• Julian Barnes.
• ArtSpiegelman.
• Paul Auster.
• Bernardo Carvalho.
• Michel Laub.
• Ricardo Lísias.
Com todos esses exemplos, pode-se deduzir que não são raros os autores
que associam realidade e ficção em escritas autobiográficas.
DICAS
44
TÓPICO 3 — AUTOBIOGRAFIA: LITERATURA
Tal demarcação de lugar, se tem valor por sua ênfase, peca pela
incapacidade de fazer o luto da sua própria perda identificatória, pois
se se trata, ainda, de ficção, é já uma outra que não se limita às leis
de origem, visto que, em seu próprio escopo, rasura a ficcionalidade
com diversas provas que depõem contra esta. Uma crise se instala,
inevitavelmente, no que é, tão facilmente, nomeado de "ficção". Poder-
se-ia perscrutar, se existissem meios, por que se lê, agora, Divórcio?
É provável que seja lido menos como um livro de ficção do que
como uma autobiografia. É, sempre, possível reiterar o equívoco das
leituras, apontando as diferenças com o autobiográfico propriamente
dito. No entanto, diagnosticar uma crise no gênero autobiográfico
como tal, e isso é feito desde que se constituíram as bases da sua
definição, não é suficiente para que os traços que dizem respeito à
vida, como "dados concretos e verificáveis" [...] (MAGALHÃES, 2015,
p. 148-149, grifos da autora).
Conhecimento Poiesis
Criação
Filosofia
Arte
Saber científico
Imitação
Saber técnico
Representação
47
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
DICAS
48
TÓPICO 3 — AUTOBIOGRAFIA: LITERATURA
Com essa citação, vemos que, além dos atravessamentos entre ficção e
realidade, “as regras” dos próprios gêneros vêm sendo quebradas, talvez, em
busca da originalidade, da autenticidade, talvez, como resposta às mudanças
que vêm ocorrendo na sociedade com o transcorrer do tempo.
DICAS
A ARTE DA FICÇÃO
49
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
50
TÓPICO 3 — AUTOBIOGRAFIA: LITERATURA
DICAS
Note como essa última citação trata de assuntos que vimos ao longo de
todo este tópico. A literatura, a escrita autobiográfica (expressão de um “eu”)
mescla gêneros e a polêmica verdade versus ficção.
51
UNIDADE 1 — NARRATIVAS E AUTOBIOGRAFIA
LEITURA COMPLEMENTAR
CHAMADA
52
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
53
AUTOATIVIDADE
54
Tendo em vista a relação entre literatura e autobiografia, analise as sentenças
a seguir:
FONTE: <https://livralivro.com.br/livro/a-terra-das-ameixas-verdes/588613.html>.
Acesso em: 11 maio 2021.
55
56
REFERÊNCIAS
57
GALVAO, A. M. de O.; NEIVA, L. M. de R; JINZENJI, M Y. O lugar dos
pertencimentos do escritor-adulto na reconstrução das memórias de
infância. Pro-Posições, Campinas, v. 29, n. 1, p. 192-213, 2018. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
73072018000100192&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 2 fev. 2021.
JUZWIAK, C. R. Era uma vez... um olhar sobre o uso dos contos de fada como
ferramenta de educação alimentar e nutricional. Interface (Botucatu), Botucatu, v.
17, n. 45, p. 473-484, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832013000200019&lng=en&nrm=iso. Acesso
em: 11 maio 2021.
58
LIMA, N. L. de; SANTIAGO, A. L. B. Hystorização e romance: a construção
do personagem no diário íntimo de adolescentes. Ágora (Rio J.), Rio de
Janeiro, v. 15, n. 1, p. 95-115, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982012000100007&lng=en&nrm=iso. Acesso
em: 24 fev. 2021.
MORAES, J. G. V. de. Lúcio Rangel comendo “ovos quentes com Noel Rosa”:
a invenção de uma historiografia da música popular. Revista Brasileira de
História [online], v. 38, n. 77, p. 125-145, 2018. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/1806-93472018v38n77-06.
59
PIMENTA, S. B. B.; CALDAS, R. S. Estudo introdutório sobre desenvolvimento
da percepção infantil em Vygotsky. Gerais, Rev. Interinst. Psicol., Juiz de
Fora, v. 7, n. 2, p. 179-187, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1983-82202014000200006&lng=pt&nrm=iso. Acesso
em: 23 fev. 2021.
60
SILVA, T. O. G.; FERREIRA, G. de S. E as mulheres negras? Narrativas históricas
de um feminismo à margem das ondas. Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 25, n.
3, p. 1017-1033, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0104-026X2017000301017&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 2 fev. 2021.
61
62
UNIDADE 2 —
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
63
64
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2
NARRATIVAS E INFÂNCIA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, você estudará as relações entre as narrativas e a fase do ciclo
vital denominada de infância.
Viana, Imbrizi e Jurdi (2017) nos lembram de que o genuíno contato com
crianças, ou com a infância, demanda, do adulto, a renúncia a si. Isso é essencial
para que o adulto se encontre com a sua própria criança, que permanece viva nas
memórias, nas lembranças e nas vivências dele.
65
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
ATENCAO
FONTE: <https://vejasp.abril.com.br/atracao/portinari-e-a-poetica-da-modernidade-brasileira/>.
Acesso em: 15 maio 2021.
66
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
DICAS
LEMBRANÇA RURAL
Que tal reler o poema, prestando atenção no modo através do qual a escritora
apresenta situações que, tantas vezes, passam despercebidas pelos “geralmente, são
ocupados adultos”?!
CECÍLIA MEIRELES
FONTE: <https://www.infoescola.com/literatura/cecilia-meireles/>.
Acesso em: 15 maio 2021.
67
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Agora que já tivemos contato com os primeiros itens que pretendiam ativar
as nossas sensibilidade e memória, vejamos como este tópico está subdividido.
Inicialmente, estudaremos as narrativas de crianças institucionalizadas. Logo
após, refletiremos a respeito das relações entre o brincar e as narrativas. Por
fim, concentrar-nos-emos nas narrativas baseadas em memórias da infância,
produzidas, por pessoas, a partir da adolescência.
68
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
Para Viana, Imbrizi e Jurdi (2017), as crianças têm algo a dizer, mas, nem
sempre, encontram oportunidade de se expressar, até porque o protagonismo lhes
foi recusado ao longo do tempo. Por exemplo, nos dias atuais, ainda, encontramos,
sobretudo, idosos se queixando da liberdade que as crianças vêm usufruindo de
participar das conversas dos adultos quando chega uma visita. Muitos idosos
falam que, antigamente, isso não poderia acontecer, pois as crianças não podiam
interagir com as visitas, e, até mesmo, quando, apenas, os moradores de uma
casa estavam no jantar, as crianças tinham que pedir permissão para falar, e nem
sempre a obtinham. Isso não ocorre, apenas, com a fala, mas, até, com o choro.
Você já ouviu algum adulto dizer a seguinte frase para uma criança: “Pode parar
de chorar! Engole o choro!”? Geralmente, essas palavras são esbravejadas quando
são empregadas. Assim, hoje, já percebemos que as crianças têm mais liberdade
para fazer uso da palavra, no entanto, ainda, encontramos pessoas que defendem
que o correto seria a sociedade voltar ao silenciamento delas, ou seja, existem
pessoas que são contrárias à exteriorização das crianças. Por isso, especialmente,
no contexto institucional, ou terapêutico, é ideal que o adulto, com o qual a criança
se relaciona, proporcione condições para que ela possa se manifestar livremente.
Disponibilize tempo para que a criança fale, ofereça um ambiente limpo e
aconchegante, demonstre estar escutando atentamente, demonstrando que está
disposto a acolhê-la e a oferecer a escuta sensível (VIANA; IMBRIZI; JURDI, 2017).
69
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
“A escola não tem dado espaço suficiente para a invenção, ela vem
abrindo mão da produção de ferramentas de criatividade e de imaginação, e
sendo capturada pelas lógicas mecanicistas e produtivistas” (VIANA; IMBRIZI;
JURDI, 2017, p. 11). Desse modo, Viana, Imbrizi e Jurdi (2017) destacam que as
escolas poderiam explorar o universo dos jogos e das brincadeiras com mais
frequência, não somente entre as crianças, mas incluindo os adultos que as
integram. Ainda, fazer mais uso de metodologias lúdicas nas situações de ensino
e de aprendizagem.
Viana, Imbrizi e Jurdi (2017) ressaltam que, ainda, são raros os locais que
favorecem a livre expressão das crianças, que garantam, a elas, uma “experiência
não asséptica”, isto é, lugares nos quais as crianças encontrem uma ocasião
calorosa, e não a indiferença, a frieza, o desdém. Além de tudo, os adultos podem
sugerir, conduzir atividades lúdicas enquanto estiverem com as crianças, como
forma de instigar a comunicação e favorecer a aproximação com elas.
70
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
FONTE: <https://www.revistaprosaversoearte.com/a-crianca-e-eterna-nas-pinturas-
de-ricardo-ferrari/>. Acesso em: 15 maio 2021.
71
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
72
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
73
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
DICAS
74
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
Agora, voltando aos animais referidos pelo menino Carlos, vale dilucidar
que, já nos mitos e nas fábulas antigas, encontramos a presença de personagens
que são animais. Isso pode ser levado em conta ao analisar as narrativas.
Para Viana, Imbrizi e Jurdi (2017), o conteúdo das narrativas não surge do
nada, nem o jeito de contá-las é adotado aleatoriamente. Tudo o que envolve as
narrativas tem porquês, e está emaranhado com a subjetividade, a identidade, os
sentimentos, os pensamentos daquele que narra. É possível que o narrador nem
perceba que revela tanto de si ao narrar.
75
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
76
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
Sanches e Silva (2018), ainda, dão ênfase aos aspectos éticos, estéticos,
sensíveis que fazem parte das narrativas das crianças.
77
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Que tal articularmos alguns dos resultados obtidos com essa pesquisa, de
Viana, Imbrizi e Jurdi (2017), com as Figuras 1 e 2? Antes de dar continuidade à
leitura, observe, novamente, essas duas figuras. Elas condizem com o que temos
visto no dia a dia atual?
Para Viana, Imbrizi e Jurdi (2017), a infância não pode ficar restrita às
paredes, muito menos, à solidão. A infância urge por espaço para transbordar.
As escolas podem ajudar nesse sentido, já que permitem a interação das crianças
com outras e com pessoas adultas.
78
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
FONTE: <https://www.guiadasartes.com.br/ricardo-ferrari/obras-e-biografia>.
Acesso em: 15 maio 2021
Quando essas telas foram pintadas por Ricardo Ferrari, ele já era adulto.
Assim, retomou lembranças do passado para retratar. Observe o discurso dele
que menciona isso no Uni a seguir.
NOTA
FONTE: <https://www.revistaprosaversoearte.com/a-crianca-e-eterna-nas-pinturas-de-ricardo-
ferrari/>. Acesso em: 15 maio 2021.
79
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
• Quantidade.
• Intensidade.
• Centralidade.
80
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
Analistas de textos.
Historiadores.
Críticos literários.
Cientistas sociais.
Teóricos literários.
Extrair informações dos cursos de vida. Vê-las como narrativas, para
Examinar o que marcou a vida de quem obter insights sobre os aspectos
Objetivo
está narrando, e/ou como significou particulares e únicos dos autores
isso, como compreende isso. das próprias vidas.
Enfoque A vida. Os fatos objetivos. A história. A criatividade. O estilo.
Os produtores de narrativas são,
frequentemente, chamados de
Autores/ Os autores, geralmente, são
sujeitos de pesquisa. Pessoas dos mais
Produtores grandes escritores.
diversificados grupos da sociedade
podem fazer parte das pesquisas.
As narrativas de vida não são
experiências, nem acontecimentos
propriamente ditos. Elas são relatos de Situam as autobiografias entre a
experiências e de acontecimentos. história e as literaturas imaginativa
Especificidades Em geral, consideram a riqueza dos e criativa, embora mais perto da
relatos de vida escritos e orais como criatividade do que da história.
impureza, pois, para eles, a reflexão
posterior "distorce" as informações dos
acontecimentos antecedentes.
81
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Viana, Imbrizi e Jurdi (2017) acrescentam que, no que diz respeito aos
pesquisadores das ciências sociais, é necessário que se sensibilizem diante da
infância, e que busquem contribuir com a ciência, por meio da produção de
conhecimento acerca da infância, que vá além do que é esperado, das expectativas
dos próprios pesquisadores e do que já foi instituído. Afinal, pesquisar sobre a
infância é assumir responsabilidade e comprometimento com ela.
ATENCAO
Não deixe passar despercebido o que o quadro anterior mostra disso! Conforme
Gullestad (2005), essa dicotomia entre fato e ficção inquieta as ciências sociais e a análise
literária, ainda que de maneiras distintas:
82
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
NOTA
Darei um exemplo pessoal que ocorreu hoje mesmo, comigo, para ilustrar
essa provisoriedade das lembranças.
Hoje, fui até a costureira buscar uma boneca com a qual brinquei durante muitos
dos anos da minha infância. Ainda que eu tenha cuidado muito dela, e guardado, até hoje,
com carinho (estou com 38 anos), o tronco da boneca, que era de plástico, ressecou-se
e se espatifou. Tornou-se impossível colar as partes do tronco, pois, mesmo com toda a
cautela, o simples ato de pegar cada pedaço com os dedos os despedaçava ainda mais. Por
outro lado, a cabeça, os braços e as pernas da boneca estavam em perfeito estado, pois são
de outro material.
Levei a boneca até a costureira dias atrás, e, hoje, ela estava pronta. Logo depois
que a busquei, visitei o meu pai, e eu estava com essa boneca na mão quando ele me
viu. Jamais imaginei que ele fosse se lembrar dela. Sempre fomos próximos, apegados,
entretanto, lembro-me de que meu pai trabalhava o dia todo, então, não fazia ideia de que
ele reconheceria a boneca.
– A Chuquinha! Você ainda tem essa boneca, filha? O que aconteceu com ela? Ela não era
assim no formato original.
– Lembro-me, exatamente, do dia em que comprei essa boneca. Era uma véspera de
feriado. Era a véspera do dia das crianças. Naquele dia, passei o dia todo pensando no que
compraria para você quando o meu expediente, no trabalho, acabasse.
Uau! Até hoje, eu achava que as compras dos meus brinquedos eram de
responsabilidade da minha mãe. Nunca pensei que ele tinha comprado algum brinquedo
para mim! Isso porque, nas minhas reminiscências, ele era muito ocupado.
83
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Note o quanto esse diálogo, tão curto, entre mim e meu pai, ressignificou parte das
minhas lembranças sobre a minha história de vida. Minhas memórias se mostraram instáveis,
e os sentidos que eu tinha construído sobre elas, até então, foram reinterpretados, revistos,
retrabalhados, reconstruídos, com base nessa experiência que vivi hoje. Posso dizer que minhas
memórias, ou que, pelo menos, os meus sentidos sobre as minhas memórias, mudaram.
NOTA
BONECA CHUQUINHA
FONTE: <https://www.voceselembra.com/2020/04/boneca-chuquinha.htm>.
Acesso em: 15 maio 2021.
NOTA
Conheço uma mulher que sempre se queixava de que a mãe dela era muito
ausente, e que a mãe nunca se importou com ela, desde que nasceu. Esse discurso emergia
com frequência, e as duas tinham sérios problemas de relacionamento.
84
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
Também, notei que ela tinha uma grande quantidade de álbuns de foto de infância,
muito acima do que eu estava habituada a ver nas casas de outras pessoas da nossa faixa
etária. Os custos com a revelação eram um tanto quanto caros na época. Se os pais dela
gastaram tanto dinheiro com essas fotografias, certamente, valorizavam a menina, afinal,
ela estava na maioria das fotos.
Em grande parte das fotos, a menina aparecia com cabelos bem arrumados, com
penteados variados. Percebi que as fotos pareciam bem centralizadas, feitas com atenção,
em cenários diferentes. Curiosa, perguntei de quem eram os créditos das imagens. Ela fez
uma expressão facial de quem estava cavando fundo nas memórias, e, em seguida, em
silêncio, ela ficou com uma expressão estarrecida. Foi, então, que ela balbuciou, em meio
às lágrimas, que quem clicou o botão da câmera, na maioria das vezes, tinha sido a mãe
dela, e que os penteados, também, eram obras da mãe.
Repare que esses dois exemplos ocorreram em situações cotidianas, nas quais as
narrativas, ou as rememorações, não foram provocadas por algum profissional das ciências
sociais, nem do âmbito literário. Foram circunstâncias corriqueiras que se deram entre
familiares e conhecidos.
85
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Você percebeu o quanto é difícil constatar quando uma pessoa está falando
a verdade ou a mentira nas narrativas dela?
DICAS
Reforçamos a indicação
desta leitura, já citada na introdução
deste tópico:
86
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
• Procure fotos da sua infância com os seus pais, familiares, parentes, amigos de
infância, e, até mesmo, em escolas, nas quais tenha estudado.
• Visite os seus familiares, conhecidos/vizinhos do tempo da infância, ou amigos
de infância, e tente puxar conversas sobre situações que vivenciaram, juntos,
durante aquela fase. Pergunte o que você costumava responder à pergunta “o
que gostaria de ser quando crescer?”. Investigue se era mais agitado, calmo, e
coisas que eles lembram que você tenha feito.
• Entre na rua na qual você morava, na escola na qual estudou, na igreja que
frequentava, ou em outros lugares que tenham marcado a sua infância. Olhe,
atentamente, para esses ambientes, e fique atento às lembranças que eles
engatilharão.
• Faça uma busca dos seus diários, cadernos ou testes escolares, livros, álbuns de
figurinha. Se você não guardou nada disso, pergunte, aos seus familiares mais
próximos, se, por acaso, isso ficou na casa deles. Acredite! Alguns pais/mães
guardam mais coisas do que podemos suspeitar.
• Pesquise, nos motores de busca da internet, quais eram as brincadeiras, os jogos,
os brinquedos, a moda, as músicas, os programas televisivos mais famosos da(s)
década(s) equivalente(s) a sua infância.
• Assista a algum episódio/trecho de série, desenho animado, novela, ou filme
que tenha marcado a sua infância.
• Faça um passeio em um museu de brinquedos e de brincadeiras.
DICAS
FONTE: <https://www.gazetadopovo.com.br/turismo/cidade-mais-alema-do-brasil-
ganha-museu-com-brinquedos-antigos/>. Acesso em: 17 maio 2021.
87
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
DICAS
Olhe, atentamente, para a figura que segue, e veja se alguma cena retratada
nela te evoca memórias. Observe que boa parte das brincadeiras, ali, retratadas, ainda, é
preservada em algumas regiões do Brasil. O ideal é que você procure essa figura na internet,
e aproxime o máximo que puder (zoom):
FONTE: <https://www.mackenzie.br/fileadmin/OLD/47/Editora/REMEF/Remef_6.3/Artigo_03.pdf>.
Acesso em: 15 maio 2021.
DICAS
Antes do desfecho deste tópico, que tal uma pausa para nos permitirmos um
momento de fruição? Trata-se da leitura do poema Infância, de Carlos Drummond de Andrade:
INFÂNCIA
88
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E INFÂNCIA
89
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Escolas são ambientes que podem favorecer a interação entre as crianças e com
os profissionais que, ali atuam.
90
AUTOATIVIDADE
1 Com base na sua leitura desta unidade, emergiram algumas das suas
memórias de infância? Registre algumas delas. Esse registro poderá ser
útil, em algum momento, para você.
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é
dito, é preciso, também, que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade:
a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem, logo, dar um palpite melhor,
sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…
Para mim, Deus é isso: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância
de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a
beleza do outro e a beleza da gente se juntam em um contraponto. Ouçamos
91
os clamores dos famintos e dos despossuídos de humanidade que teimamos
a não ver, nem ouvir. É tempo de renovar, se mais não fosse, a nós mesmos, e,
assim, tornarmo-nos seres humanos melhores, para o bem de cada um de nós.
FONTE: <https://amominhaidade.com.br/saude/texto-de-rubens-alves-a-escutatoria-que-
traz-uma-visao-sabia-e-muito-pertinente-para-os-dias-de-hoje-sobre-a-arte-de-escutar/>.
Acesso em: 15 maio 2021.
Agora, responda: De que maneira esse texto pode ser articulado ao que
aprendemos neste tópico?
92
Frente ao exposto, classifique V para as asserções verdadeiras e F para as
falsas:
7 No estudo que fez das relações entre narrativas feitas na infância, para a
evocação de memórias, Medeiros (2010, p. 325) constatou que, “por meio da
análise das elaborações das crianças, na comunicação das lembranças delas
93
através de narrativas, observa-se como se configura a habilidade das crianças
para estabelecer relações entre tempos”. No tocante às narrativas elaboradas
por elas, classifique V para as assertivas verdadeiras e F para as falsas:
94
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2
NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS:
APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a utilização de narrativas autobiográficas, com
a finalidade de promover a aprendizagem e a formação acadêmica.
95
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
2 PROJETOS
Josso (1999) esclarece que trabalhos biográficos podem ser conduzidos
com base em experiências de vida, ou tendo algo como elemento norteador,
como na abordagem temática. Até mesmo itinerários podem ser usados nesses
trabalhos. Nesse sentido, Josso (1999) prefere adotar a expressão “histórias de
vida”, precisamente, entre aspas. Afinal, quando elas são postas a serviço de
projetos, são, imprescindivelmente, ajustadas e circunscritas ao foco imposto
pelo projeto do qual fazem parte. “Ao passo que as histórias de vida, no sentido
pleno do termo, para os membros da nossa rede, abarcam a totalidade da vida em
todos os seus registros, nas dimensões passadas, presentes e futuras, e, portanto,
na sua dinâmica global” (JOSSO, 1999, p. 18). Assim, Josso (1999) distingue
dois procedimentos de histórias de vida, que são guiados por dessemelhantes
objetivos teóricos, como mostrará o quadro a seguir:
TUROS
ESTUDOS FU
96
TÓPICO 2 — NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS: APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
FONTE: <https://www.amazon.co.uk/Histoires-vie-pedagogie-du-projet/dp/2850081523>.
Acesso em: 29 maio 2021.
97
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
DICAS
FONTE: <https://saosebastiao.se.df.gov.br/escolaartografica/?p=766>.
Acesso em: 29 maio 2021.
98
TÓPICO 2 — NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS: APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
Vamos aprender, um pouco mais, sobre isso, por meio do estudo realizado
por Delory-Momberger (2006), com ênfase na história de vida, nas escrituras
de si, vinculadas à biografização e à socialização?! Essa autora realçou o uso da
história de vida com o intuito de promover mudanças qualitativas nas pessoas,
nos âmbitos pessoal e profissional. Melhor dizendo, Delory-Momberger (2006)
defende que as escrituras de si viabilizam uma mudança global na pessoa, além
de melhorar a relação dela com o saber e com a própria formação. Nesse ponto de
vista, a vida é considerada uma experiência formadora.
Para que possamos ter uma compreensão melhor desse estudo, vejamos
o resumo desse artigo:
99
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
100
TÓPICO 2 — NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS: APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
101
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Enquanto comiam, a mãe perguntou, à filha, por que não tinha deixado
o peru inteiro, o que daria uma apresentação mais bonita ao prato. A filha riu
desconcertada, e disse que nunca lhe passou pela cabeça deixá-lo inteiro, já que,
em todas as memórias dela, o frango sempre foi servido em pedaços. Era uma
tradição familiar que ela tinha naturalizado.
Note que a filha jamais pensou nisso, nunca teve a curiosidade de entender
o motivo pelo qual a família preparava o frango de um jeito diferente do que se
via na televisão. Desnaturalizar é isso. É olhar para os fenômenos sociais, levando
em conta a historicidade, os interesses, os motivos que estão por trás de certos
hábitos, comportamentos, pensamentos, decisões etc.
102
TÓPICO 2 — NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS: APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
4 ENSINO SUPERIOR
Antes de adentrarmos nesse conteúdo, que tal um exercício de imaginação?
Com base no que leu nas páginas anteriores, até aqui, tente imaginar em quais
cursos universitários pode ser útil a aplicação de atividades que envolvem as
“histórias de vida”. Faça uma rápida pausa para pensar nisso, antes de dar
continuidade à leitura.
103
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
104
TÓPICO 2 — NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS: APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
105
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
FONTE: <https://www.ukdataservice.ac.uk/teaching-resources/pioneers/
pioneer-detail?id=pioneer_people_bertaux>. Acesso em: 29 maio 2021.
106
TÓPICO 2 — NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS: APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
107
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
108
TÓPICO 2 — NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS: APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
De acordo com Imbrizi et al. (2018), quando o professor opta pelo uso
de narrativas de história de vida, como estratégia de ensino-aprendizagem na
formação de profissionais de saúde, está fazendo uma opção política. Afinal, é
um ato de resistência no que tange a certos modos de transmitir conhecimentos
e, posteriormente, realizar a avaliação. As narrativas são, ainda, atreladas aos
aspectos culturais, artísticos e da vida (IMBRIZI et al., 2018). Trata-se de uma
proposta que interliga a produção de saberes com a experiência de diferentes
atores sociais (professor, estudante, dentre outros). Ela, também, viabiliza a
articulação de inspirações teóricas, afetivas, artísticas (IMBRIZI et al., 2018).
ATENCAO
Você percebeu que esse estudo de Imbrizi et al. (2018) parece em consonância
com o que aprendemos, em alguns parágrafos atrás, sobre a desnaturalização, ao
observarmos alguns pontos do estudo de Cunha (2016)?
109
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
110
TÓPICO 2 — NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS: APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO ACADÊMICA
5 OBSERVAÇÕES DE REMATES
Ainda que o uso de narrativas e de histórias de vida esteja crescendo
na esfera da formação acadêmica, quando um professor resolve adotá-las pela
primeira vez, pode se deparar com dúvidas, e, até mesmo, com reclamações dos
estudantes, os quais, nem sempre, estão habituados com o uso dessas estratégias
em sala de aula. Dessa maneira, Imbrizi et al. (2018) nos tranquilizam, já que essas
possíveis dificuldades são atadas à novidade dessas estratégias para uma parte
representativa de estudantes e de docentes. Então, essas dificuldades aparecem
mais como estranhamentos iniciais do que como problemas árduos. Essas
resistências apresentadas pelos estudantes podem ser geradas por conta dos
pensamentos novos que são produzidos pela escrita (IMBRIZI et al., 2018). Além
do mais, com a leitura deste livro, até aqui, você já deve estar entendendo que
os usos da narrativa de história de vida, por mais diversificados e heterogêneos
que sejam, não têm, por intuito, manifestar o que é “comum” para “todos” os
indivíduos. O foco consiste em compreender os elementos da singularidade que
materializam o universal (LIMA; CIAMPA, 2017).
111
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Ainda que a maioria dos artigos ligados à esfera universitária tenha sido da
área da saúde, certamente, os alunos de cursos de outras áreas, também, podem
ser beneficiados com a utilização de narrativas e de histórias de vida.
112
AUTOATIVIDADE
1 Vimos alguns artigos sobre ateliês biográficos ao longo deste tópico, como
o estudo que mencionou o poder socializador da atividade biográfica, feito
por Delory-Momberger (2006). Esse artigo é primoroso, em contrapartida,
emprega expressões que não fazem parte do dia a dia da maioria das
pessoas. É o caso da expressão “atividade biográfica”, que, inclusive, foi
citada neste tópico. Você sabe do que se trata? Recomenda-se a leitura
do artigo na íntegra, para que você possa fazer um resumo, com as suas
próprias palavras, acerca dessa expressão.
113
( ) A construção da noção de si próprio, a partir da produção de uma
narrativa, é estabelecida em um sentido de continuidade no tempo e
de coerência de trajetórias. Portanto, engloba percepções do passado e
perspectivas de futuro.
( ) Narrativas dispostas em redes sociais, na internet, abarcam um jogo
estratégico de sociabilidade. Assim, é possível ocupar esses espaços de
interação comunicativa como campos de inclusão, ao mesmo tempo em
que favorecem certa “economia” das relações interpessoais.
( ) As construções de si, nas narrativas expostas nos meios digitais, são
idênticas àquelas que são divulgadas em material impresso. Não há
diferenciação para o estabelecimento de vínculos – independentemente
de qual é o suporte no qual as narrativas são apresentadas.
114
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – F – F.
c) ( ) V – F – V.
d) ( ) F – V – F.
FONTE: COSTA, L. R.; SANTOS, Y. G. dos. O “relato de vida” como método das ciências sociais:
entrevista com Daniel Bertaux. Tempo Social [online], v. 32, n. 1, p. 319-346, 2020. Disponível
em: https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2020.159702. Acesso em: 24 abr. 2021.
115
116
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, concentrar-nos-emos em conhecer pesquisas sobre as
narrativas e as histórias de vida de profissionais da educação, com vistas a
contribuir com a formação docente, com a educação rural no que diz respeito
ao trabalho docente. Para tanto, acessaremos alguns artigos científicos que vêm
abordando as histórias de vida desses profissionais da educação, baseando-se
em diferentes objetivos e perspectivas. Por exemplo, veremos que alguns deles
partem de depoimentos orais, memórias, identidades, significados, práticas
educativas, currículo etc. Além do mais, encontraremos artigos sobre diferentes
áreas de atuação docente, como da história, matemática, teatro, ciências e
medicina. Vamos lá?!
2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Para iniciar a reflexão sobre o uso de histórias de vida na formação de
professores, começaremos com o estudo feito por Pacievitch e Cerri (2010), que
foi articulado à consciência histórica, à memória e aos depoimentos orais, como
poderemos observar no resumo que segue:
117
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
militantes, nem orientados por um ideal transcendental que exige sacrifícios. Por
conseguinte, as identidades se apresentaram complexas, oras repulsando oras
admitindo estereótipos, de qualquer forma, sempre procurando a reconstrução e
a ressignificação (PACIEVITCH; CERRI, 2010).
118
TÓPICO 3 — NARRATIVAS DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Com esse estudo, ficou evidente que a formação inicial exerce impactos
representativos na constituição de posturas teóricas, nas práticas pedagógicas, na
construção da identidade profissional. O estudo, ainda, apontou o distanciamento
entre teoria e prática, e entre a escola e a universidade (CUNHA; CARDOZO, 2011).
119
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
que toca às trajetórias delas como profissionais da educação. Estas são perpassadas
pelas impressões das professoras, e por suas preferências, crenças, compreensões
e concepções acerca de talento e de dom. Em outras palavras, a pesquisadora
estava atenta ao que as professoras pensavam sobre a aprendizagem ligada ao
teatro, no sentido de habilidades que podem ser adquiridas por meio do ensino
e/ou da prática, e das habilidades inatas – aquelas com as quais a pessoa já nasce
(LOBO, 2011).
DICAS
Passeggi, Souza e Vicentini (2011) fizeram menção aos seguintes dois autores
que são considerados referências em termos de formação de professores. Recomendamos
a leitura de alguns textos escritos por eles aos que desejam aprofundar os conhecimentos
sobre os respectivos temas:
120
TÓPICO 3 — NARRATIVAS DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
• Antonio Nóvoa
• Marli E. D. A. André
ANDRÉ, M. E. D. A. Ensinar a pesquisar... Como e para quê? Recife: Edições Bagaço, 2006.
121
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
O artigo que focaliza a educação médica foi escrito por Vieira, Pinto e
Melo (2018), e a articula com narrativa, currículo, ensino baseado na comunidade
e Programa Mais Médicos:
122
TÓPICO 3 — NARRATIVAS DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
De mais a mais, esse estudo fortaleceu a noção de que o docente precisa ter
constante disposição para aprender, e abertura para rever, repensar nas práticas
dele (VIEIRA; PINTO; MELO, 2018).
3 ENSINO RURAL
Para darmos início ao assunto relativo ao ensino rural, recorreremos
ao artigo escrito por Souza e Grazziotin (2015), o qual dá ênfase às práticas
como poderemos observar no resumo do artigo:
123
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Por meio das memórias do tempo no qual ela viveu como aluna, pôde-se
gerar material para auxiliar nas pesquisas acerca da história da educação. Assim,
pôde-se averiguar a respeito do processo de escolarização naquela localidade do Rio
Grande do Sul, nas primeiras décadas do século XX (SOUZA; GRAZZIOTIN, 2015).
124
TÓPICO 3 — NARRATIVAS DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
125
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
4 PONDERAÇÕES FINAIS
Para concluirmos este tópico sobre narrativas de profissionais da educação,
reportar-nos-emos, mais uma vez, ao artigo de Passeggi, Souza e Vicentini (2011),
posto que menciona alguns dos desafios atinentes à consolidação da pesquisa
(auto) biográfica no campo educacional, no Brasil.
• diversificação de abordagens;
• amplitude de temáticas;
• possibilidades de entradas, oferecidas pelo trabalho, com as escritas de si na
contemporaneidade.
DICAS
126
TÓPICO 3 — NARRATIVAS DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
LEITURA COMPLEMENTAR
Marie-Christine Josso
Resumo
[...]
127
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
[...]
128
TÓPICO 3 — NARRATIVAS DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Nesta segunda parte, o termo história de vida vai aparecer entre aspas.
Por que isso? Se é verdade que, em certos procedimentos de desenvolvimento
de projetos, o relato oral ou escrito tenta abranger a totalidade da vida em
seus diferentes registros e em sua duração, na maior parte das vezes, a história
produzida pelo relato é limitada a uma entrada que visa fornecer o material útil
ao projeto específico. Nessa última perspectiva, parece-me mais adequado falar
de abordagem biográfica ou de abordagem de experiência. Para melhor esclarecer
o meu propósito, eu gostaria de apresentar quatro exemplos de desenvolvimento
de projetos, dentre os vários, a que fui solicitada a colaborar nos últimos dez anos.
129
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
130
TÓPICO 3 — NARRATIVAS DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
131
UNIDADE 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Abertura
FONTE: <https://www.scielo.br/j/ep/a/FPRNJxFHvDf8jX5Yx55ThhH/?format=pdf&lang=pt>.
Acesso em: 20 jun.2021.
132
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
133
AUTOATIVIDADE
134
Agora, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As asserções corretas são I e IV.
b) ( ) As asserções corretas são II e III.
c) ( ) As asserções corretas são I, III e IV.
d) ( ) As asserções corretas são I, II e IV.
FONTE: SILVA, P. P.; OLIVEIRA, A. M. P. de; SOUZA, E. C. de. E agora, quem sou eu? Vou me
lembrar, se puder! Estou decidida!: (Des) Construções identitárias de uma professora que
ensina sobre ciências. Educ. Rev., Belo Horizonte, v. 34, e183635, 2018. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982018000100145&lng=e
n&nrm=iso. Acesso em: 19 maio 2021.
135
a formação de professores é com a formação dos médicos ou dos
engenheiros. Mas dizer isso, que parece simples, é colocar em
causa muito do que se faz nas licenciaturas (NÓVOA, 2019, p. 6).
136
REFERÊNCIAS
ARAUJO JR, A.; AVANZI, M. R.; GASTAL, M. L. Uma experiência de encontro
entre narrativas autobiográficas e narrativas científicas no ensino de biologia
para jovens e adultos. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc. (Belo Horizonte), Belo
Horizonte, v. 19, e2705, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1983-21172017000100207&lng=en&nrm=iso. Acesso
em: 6 mar. 2021.
MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Agujlar S.A., 1983.
138
PACIEVITCH, C.; CERRI, L. F. Guerrilheiros ou sacerdotes? Professores de
História, consciência histórica e construção de identidades. Pro-Posições,
Campinas, v. 21, n. 2, p. 163-183, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73072010000200011&lng=en&nrm=iso.
Acesso em: 19 maio 2021.
SILVA, P. P.; OLIVEIRA, A. M. P. de; SOUZA, E. C. de. E agora, quem sou eu?
Vou me lembrar, se puder! Estou decidida!: (Des) Construções identitárias
de uma professora que ensina sobre ciências. Educ. Rev., Belo Horizonte, v.
34, e183635, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-46982018000100145&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 19 maio
2021.
VENANCIO, G.; WEGNER, R. Uma vez mais, Sérgio e Gilberto Debates sobre o
ensaísmo no suplemento literário do Diário de Notícias (1948-1953). Varia Hist.,
Belo Horizonte, v. 34, n. 66, p. 729-762, 2018. Disponível em: http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752018000300729&lng=pt&nrm=i
so. Acesso em: 19 fev. 2021.
139
VIANA, C. V. A.; IMBRIZI, J. M.; JURDI, A. P. S. Narrativas sobre o brincar:
aproximação da experiência infantil. Psicol. Soc., Belo Horizonte, v.
29, e160002, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-71822017000100242&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 6
mar. 2021.
140
UNIDADE 3 —
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
141
142
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Ao concluirmos a unidade anterior, tivemos noções do uso de narrativas
e de histórias de vida vinculadas à formação docente, e, consequentemente, ao
trabalho dos professores. Neste tópico, continuaremos refletindo a respeito do
emprego de narrativas articulado ao trabalho, dessa vez, envolvendo outras
profissões, ocupações, e atividades que se relacionam ao ato de trabalhar – sejam
elas com “carteira assinada” ou não.
Bons estudos!
143
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
É válido notar que esse artigo vem fornecendo subsídios para que
pesquisadores, psicólogos, e outros estudiosos e profissionais compreendam
algumas das facetas da orientação profissional. Contudo, na medida em que os
jovens que fizeram parte da pesquisa (que foram os sujeitos de pesquisa) foram
se expressando ao longo dela, também, foram acionados processos reflexivos, e,
talvez, mudanças nos próprios processos decisórios sobre o projeto de vida deles.
Afinal, a pesquisa de Maia e Mancebo (2010) abrange a subjetividade enquanto
produção histórica na relação dialética com a realidade objetiva, isto é, cada
pessoa possui uma história individual, características singulares, potencialidades
próprias, e esses itens são entrelaçados com a sociedade e com o ambiente no
qual cada pessoa se insere.
144
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E TRABALHO
145
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
Por intermédio dos relatos das histórias e das vivências diárias, vão
emergindo os gostos dos jovens, as crenças, os aspectos afetivos, cognitivos
etc. Envolvem-se, ainda, preferências por determinadas práticas de esportes,
programas de televisão, hobbies, estudos, o que sinaliza a identidade de
pertencimento. Também, vão despontando aspectos relativos à autonomia, à
felicidade, à vergonha e ao orgulho (DIAS; SOARES, 2014).
146
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E TRABALHO
3 NARRATIVAS E TRABALHO
Quanto às pesquisas que associam as narrativas de histórias de vida
às questões profissionais ou do mundo do trabalho, optamos por apresentar
quatro delas. Vale elucidar que a ordem de exposição dessas pesquisas se deu
aleatoriamente. Iniciaremos as nossas reflexões pautados na pesquisa feita por
Itelvino et al. (2018), que relaciona a história de vida às educações formal e não
formal, mais especificamente, no tocante ao empreendedor social. Vejamos
o resumo do artigo, para que possamos ter uma melhor compreensão das
ponderações que estarão na sequência:
147
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
DICAS
148
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E TRABALHO
149
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
150
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E TRABALHO
Closs e Antonello (2014) ressaltam que essas situações não devem ficar
circunscritas à fase de educação gerencial em seu desenvolvimento, mas, sim,
que passem a ser incorporadas em suas práticas sociais e na atuação profissional.
Vale mencionar que, assim como a expressão “atores sociais” se fez presente
no artigo de Silva (2018), expressões, como “protagonista”, e “aprendizagem
emancipatória”, foram citadas no estudo de Closs e Antonello (2014).
151
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
NOTA
Por fim, Closs e Antonello (2014) fazem menção à tensão entre o que é
planejado no currículo educacional do curso e o que é demandado dos gestores
no cotidiano profissional, para lidar com os desafios e as incertezas da prática nas
organizações e na sociedade.
É válido lembrar que a grande maioria do que vimos até aqui, sobre
narrativas e histórias de vida, diz respeito às escritas de pessoas sobre as próprias
trajetórias de vida, ou às expressões escritas/orais que emitiram mediante
entrevistas guiadas por pesquisadores.
152
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E TRABALHO
DICAS
Segue uma sugestão de filme que apresenta reflexões sobre a morte resultante
de acidentes de trabalho:
153
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
DICAS
Um filme que mostra algumas das dificuldades que um pai vivencia no trabalho,
durante o processo de luto pela morte da filha, é Beleza Oculta.
FONTE: <https://cozinhaemcena.com.br/2020/01/beleza-oculta.html>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
154
TÓPICO 1 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E TRABALHO
DICAS
155
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
DICAS
Que tal ler esse artigo na íntegra? O título dele é Entre a Vida e a Morte de
Trabalhadores: Imagens de Desigualdade e Diferenciação Autoprocessuais e Narrativas
da Experiência Social no Oeste do Paraná (Aspectos de Relações Mantidas em Serrarias,
Olarias e Frigoríficos em Meados do Século XX). Foi escrito por Sheille Soares de Freitas e
Carlos Meneses de Sousa Santos. Está disponível em https://www.scielo.br/j/his/a/MQjd44
kzz3SX9w4LMW6Fgks/?lang=pt&format=pdf.
DICAS
156
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
157
AUTOATIVIDADE
1 Leia o excerto do artigo que foi visto neste tópico, acerca dos assentados:
158
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) F – V – F – F.
159
5 Bispo, Dourado e Amorim (2013, p. 712) fizeram um estudo sobre narrativas
vinculadas ao trabalho, mais especificamente, ao sentido do trabalho,
nos contextos de identidade e de hip hop. Com ele, chegaram à seguinte
conclusão:
160
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Levar em conta a história de vida do paciente é essencial em vários
contextos ligados à saúde. Independentemente da idade dele, e de qual seja a
situação delicada com a saúde, com a qual esteja tentando lidar, são primordiais o
acolhimento, o acesso às devidas informações e as orientações acerca dos direitos
sociais, das ações de educação em saúde.
161
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
2 HANSENÍASE
Você já ouviu falar da hanseníase? Ela é, frequentemente, associada
ao isolamento social. Verdadeiramente, trata-se de uma situação que requer a
adoção de muitos cuidados. Para Cavaliere e Costa (2011), é pertinente analisar as
histórias de vida das pessoas que convivem com a hanseníase, prestando atenção
nas circunstâncias atreladas.
162
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E SAÚDE
NOTA
Firmina, 43 anos, é filha de uma mulher desfigurada pela "lepra" que, diante
do adultério do marido, cometeu suicídio. A desfiguração de corpos marca conhecidas
dificuldades de relacionamento com os outros e de formação de redes. O trágico relato
de Firmina, sobre a mãe dela, morta depois de atear fogo no próprio corpo tantos anos
atrás, encoraja-nos a avaliar a extensão das dificuldades femininas de viver e de conviver
com a desfiguração trazida pela doença e das complicações colocadas de contato social.
Durante a entrevista, Firmina, ao destacar detalhes dos curativos que fizera no corpo,
extensamente, queimado da própria mãe, descreve o cumprimento da função/obrigação
dela de cuidadora, como filha, mas, também, de um ato de amor. Logo depois de um longo
intervalo de silêncio, registra informes, aparentemente, negligenciáveis, sobre a ausência
do cuidado médico nesse episódio. A memória dela parece preservar um ressentimento
(BRESCIANI; NAXARA, 2004), associado a uma possível rejeição pelo nojo experimentado
pelo profissional durante o trato desse corpo ferido. Conta, então: "Ela ficou jogada, sem
tratamento, nem médico queria botar a mão" (muxoxo).
Com esse gesto, faz expressar a censura à falta do necessário cuidado médico a
esse corpo desfigurado, nessa história vinda do passado, mas, de imediato, nesse tempo
presente dela, desloca-se para outras experiências de destrato, por ela, sofrido, no mundo
de "dentro" e no de "fora". Logo após a narrativa sobre a mãe, registra: "Quando meu
companheiro morreu, para esquecê-lo, fui morar fora da Colônia, mas não deu certo.
Voltei, e, morando de favor em casa de uma “amiga”, fui humilhada. Ninguém me ajudou".
Na colônia, narra, internos/as continuam a perseguindo, por onde passa, com a pecha de
"louca como a mãe".
163
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
Sem marcas da hanseníase, esse olhar do outro não deixa de propagar, na colônia,
entre internos/as e aos quatro ventos, um estado de loucura visto como transmitido de
mãe para filha, razão para mais uma discriminação entre assemelhados com a doença,
agora, acrescida de mais um atributo que a segrega: "louca como a mãe". A medicação
para combater as dores dessa doença provoca reações físicas e desequilíbrio emocional, o
que a caracteriza como "doente dos nervos", ou louca. O olhar dos outros, hoje, classifica,
como loucas, a mãe e ela. Como "mulher nervosa", vive a situação que, regularmente,
discrimina e penaliza as mulheres irritadiças, predestinadas a ser calmas, joviais, ternas...
164
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E SAÚDE
A leitura dos excertos da história de vida analisada por Xavier et al. (2018)
propicia reflexões acerca dos cuidados prestados em enfermagem, destacando,
assim, a importância do relacionamento humano, da sensibilidade do profissional
de saúde, que disponibiliza a escuta atenta e acolhedora. Inclusive, pode-se
notar que esses quesitos são fundamentais para o estabelecimento de vínculos
favoráveis ao tratamento do paciente em hemodiálise.
Ainda que os relatos indicassem que a vida dela tenha sido marcada
por dificuldades – sobretudo, no que tange ao enfrentamento da doença e
aos respectivos tratamentos –, demonstrava otimismo, parecendo nutrir uma
esperança ilimitada estendida, inclusive, aos outros pacientes que atravessam
condições similares (XAVIER et al., 2018).
165
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
4 ANOREXIA
A anorexia, comumente, abarca a articulação entre o desejo de emagrecer
cada vez mais e as expectativas das demais pessoas acerca do próprio corpo.
Giordani (2009, p. 809, grifos nossos) nos proporcionou relevantes reflexões
acerca de transtornos alimentares – mais especificamente, da anorexia nervosa,
tomando, por base, as narrativas de pessoas diagnosticadas como anoréxicas,
como se pode verificar no resumo do artigo:
166
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E SAÚDE
DICAS
FONTE: <https://www.papodecinema.com.br/filmes/o-minimo-para-viver/>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
167
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
ATENCAO
DICAS
FONTE: <encurtador.com.br/yBIVZ>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
168
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E SAÚDE
169
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
170
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E SAÚDE
Existem várias situações nas quais a própria pessoa pode ter dificuldade
para saber o que, realmente, ela presenciou. Não são raros os momentos em que
nos vemos nos perguntando sobre lembranças do passado, as quais já não temos
precisão sobre o que, realmente, ocorreu. Parte dessas lembranças pode ter sido
misturada ao que sonhamos, imaginamos, vimos em livros, ou na TV.
DICAS
Você já assistiu ao filme Ilha do Medo? Caso tenha assistido, pode deduzir o
quanto seria difícil, para o protagonista Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), narrar sobre
determinados momentos da vida dele, com base nas próprias memórias e percepções, não
é mesmo?!
171
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
DICAS
FONTE: <encurtador.com.br/esxI3>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
172
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E SAÚDE
Muitos adolescentes que sofrem abuso sexual não têm coragem de relatar
o ocorrido com medo das ameaças feitas pelo agressor. Desse modo, deparar-se
com a chance de “inventar” coisas relacionadas ao que se viveu/vive no dia a dia
permite, ao adolescente, externalizar as angústias dele sem medo de represálias,
sem o receio de que o agressor seja identificado e venha a se vingar. Além disso,
o adolescente pode, dessa forma, abrir-se para o processo terapêutico, e aceitar
a ajuda do terapeuta/analista no lidar com as questões pessoais. Por outro lado,
os profissionais que estão diante do adolescente precisam valorizar o que ele
está dizendo. “Contar algo a alguém não é uma mera sequência de fatos, mas
uma narrativa para a qual se credita um autor que é protagonista da sua história
ao ter a quem, com quem, em nome do que e para que contar” (CONTE et al.,
2014, p. 776).
173
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
DICAS
FONTE: <encurtador.com.br/xzJ13>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
DICAS
FONTE: <encurtador.com.br/fiDN8>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
174
TÓPICO 2 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA E SAÚDE
• clínica;
• assistência social;
• justiça;
• educação;
• saúde.
175
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Narrativas são produzidas com fins simbólicos, para dar sentido à experiência
humana.
• Por meio das narrativas, a pessoa pode criar significações pessoais para os
episódios experienciados.
176
AUTOATIVIDADE
Frente ao exposto, quais são as vantagens de se dar espaço para que sejam
elaboradas narrativas de pessoas em situação de vulnerabilidade social?
3 Leia o resumo do artigo escrito por Martinhago (2018, p. 3327, grifo nosso),
e, depois, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
177
O sofrimento dos pais, mediante as dificuldades para lidarem com
os filhos, induz à ideia de que há necessidade de uma solução
médica, pois vivemos em uma era na qual os percalços da vida se
tornaram patologias.
178
( ) Narrativas de pessoas adultas revelam memórias da existência que,
geralmente, são organizadas cronologicamente. O mesmo acontece com
pessoas que apresentaram hanseníase. Por isso, elas elaboram narrativas
tão organizadas sobre as vidas delas antes da doença e após o diagnóstico.
( ) Nem sempre as narrativas de pessoas com hanseníase dão ênfase à
patologia e às agruras. Em alguns casos, os autores das narrativas dão
prioridade aos acontecimentos felizes da vida delas, como ao casamento,
ou a antigas interações com pessoas amigas, por exemplo.
( ) Em alguns casos, o narrador prefere falar mais dos cuidados que recebeu
(ou que, ainda, recebe) dentro e fora do hospital do que abordar as dores
acarretadas pela hanseníase. Isso pode acontecer porque, ao falar do
estigma, a pessoa se depara com lembranças, extremamente, dolorosas,
as quais prefere evitar.
179
Agora, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Estão certas as afirmativas I e II.
b) ( ) Estão certas as afirmativas I e III.
c) ( ) Estão certas as afirmativas II e III.
d) ( ) Apenas a afirmativa II está certa.
180
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Chegamos ao penúltimo tópico deste livro. Nele, concentrar-nos-emos
em acessar alguns materiais de relatos, narrativas, e histórias de vida feitos por
imigrantes. Para tanto, procuramos contemplar situações de imigração realizadas
nos séculos XIX, XX, e outras mais recentes. Portanto, você encontrará, ao longo
do tópico, contextos de imigração acarretados por guerra, catástrofe natural e
situações de cunho familiar, pessoal.
Bons estudos!
DICAS
FONTE: <encurtador.com.br/sKRT2>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
181
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
Essa pesquisa contou com cartas escritas por doze diferentes autores. Nelas,
eles registraram expectativas, percepções e construções acerca da emigração. Seis
deles associaram a intenção de emigrar ao que ouviram e leram sobre Blumenau,
seja na escola ou com conhecidos (FROTSCHER, 2018).
• Preâmbulo.
• Dados de identificação (nome completo, idade ou data/local de nascimento).
• Estado civil.
• Número de filhos.
• Formação escolar e/ou profissional.
• Ocupações profissionais.
• Habilidades e aptidões proveitosas para um futuro emprego.
• Características da personalidade.
182
TÓPICO 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IMIGRANTES
DICAS
183
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
184
TÓPICO 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IMIGRANTES
DICAS
CAPA DO DOCUMENTÁRIO
LEGADO ITALIANO
FONTE: <encurtador.com.br/OSW58>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
185
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
DICAS
FONTE: <eencurtador.com.br/dgpES>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
186
TÓPICO 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IMIGRANTES
187
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
ATENCAO
Estudos, como esse realizado por Barros e Martins-Borges (2018), são valiosos
para pensar nas políticas públicas, nas práticas de atenção à saúde e de assistência social
para com imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil. Será que podemos fazer algo para
melhorar o acolhimento a eles?
188
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Em uma fase da Era Vargas, no Brasil, os alemães foram proibidos de fazer uso
do idioma alemão. Muitos deles nem sabiam falar português. Alguns foram
presos por serem flagrados falando alemão, ou ouvindo rádio da Alemanha.
189
AUTOATIVIDADE
Se não foi uma decisão tomada por iniciativa própria de cada imigrante
haitiano, ela reflete que tipo de conjectura?
190
c) ( ) O olhar da Psicanálise sobre os textos autobiográficos parte do
pressuposto de que aquele que os escreve não é movido pela razão,
mas, sim, pelo inconsciente. Por isso, o enfoque não está em identificar
o que aconteceu na realidade, e o que é fantasia.
d) ( ) Freud é o fundador da Psicanálise, e ele já se mostrava contrário à
ligação entre Psicanálise e Literatura, opondo-se, principalmente, aos
textos de histórias de vida, justamente, porque eles são incompatíveis
com a escrita científica.
191
atendeu a objetivos particulares e distintos dos que incentivaram a vinda
dos portugueses das ilhas dos Açores”. Frente ao exposto, analise as
assertivas que seguem:
FONTE: BECHLER, R. R.; SILVA, C. B. da. Livros didáticos como textos de memória: notas
sobre narrativas da imigração alemã em livros didáticos de história regionais. História
da Educação [online], v. 23, e81563, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2236-
3459/81563. Acesso em: 24 abr. 2021.
192
TÓPICO 4 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Neste, que é o último tópico do livro, refletiremos sobre as narrativas
produzidas por idosos – sejam elas escritas ou verbalizadas. Veremos quais são
os temas que, mais regularmente, surgem nos relatos deles.
Por fim, serão listados alguns dos benefícios do ato de contar narrativas e
histórias de vida.
Boa leitura!
2 NARRATIVAS DE IDOSOS
Iniciaremos as nossas reflexões sobre narrativas e histórias de vida de
idosos amparados pelo artigo de Massi et al. (2015, p. 2065, grifos nossos). Eles
articulam a linguagem e o envelhecimento, com entonação às práticas de escrita
autobiográfica feitas por idosos. Trata-se de uma pesquisa vinculada à saúde do
idoso, sob a ótica da fonoaudiologia.
193
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
ATENCAO
194
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
Para Guedes (2014), dois itens que marcaram a maior parte das
verbalizações dos idosos foram depressão e autoestima.
DICAS
Um filme que pode ajudar a refletir sobre a velhice, sob a perspectiva dos
idosos, chama-se A Fuga dos Avós. Nele, o anúncio da aposentadoria faz com que a
sociedade, e, até mesmo, os familiares, passem a olhar para o casal como se estivessem
finalizando a vida, adentrando nas fases de inutilidade e de inatividade. Já para o casal, não
faltam planos futuros, incluindo o sonho de se mudar para outro país.
195
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
Algumas cenas do filme ilustram a vida nos acionamos, ou asilos. Por ser uma
comédia, tudo isso é repassado com certa leveza. Ainda assim, oferece subsídio para várias
reflexões. Bom divertimento!
As histórias dos oitos idosos que fizeram parte do estudo de Marin et al.
(2012) possuem diferenças e semelhanças. Dentre elas, podem ser citadas:
196
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
NOTA
Marin et al. (2012) realçam que, nem sempre, idosos que estejam vivendo com
os familiares podem desfrutar de condições mais dignas e respeitosas.
197
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
NOTA
Willig, Lenardt e Caldas (2015) esperam que o trabalho deles colabore com
a adequação de ações de promoção e de cuidado gerontológicas aos idosos. É preciso
repensar e alterar as maneiras de se trabalhar com a saúde e as participações social e
cultural dos idosos.
Ainda, foram apontados, nas falas dos idosos, o trabalho que realizaram,
a foram de agir, a participação em grupos, e a convivência (WILLIG; LENARDT;
CALDAS, 2015).
Mesmo que muitas pessoas imaginem que idosos com oitenta anos de
vida só estejam pensando na finitude da vida, os relatos desses exprimiram
projetos de vida, isto é, planos futuros. Isso contesta a perspectiva da inatividade
(WILLIG; LENARDT; CALDAS, 2015).
NOTA
Willig, Lenardt e Caldas (2015) nos lembram de que os idosos devem ser
respeitados, além da cultura deles. Cada vez mais, eles têm mostrado que não podem
ser considerados inativos ou improdutivos, mas, sim, protagonistas das próprias histórias
e planejamentos para o amanhã. A autonomia e a independência dos idosos devem ser
preservadas e estimuladas.
198
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
Talvez, você esteja se perguntando: por que esse artigo está sendo
mencionado em um livro de histórias de vida? Qual é a relação entre anedotas,
causos ou contos tradicionais e trajetórias de vida?
199
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
É, justamente, por isso, que deixamos para fazer referência aos contadores
da fronteira aqui, neste tópico, porque a maioria deles apresenta idade avançada.
Inclusive, essa característica colabora para a legitimação dos discursos deles
perante a sociedade local. As experiências de vida são valorizadas pela audiência
(HARTMANN, 2014).
DICAS
200
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
ATENCAO
ATENCAO
202
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
Vale lembrar que, além da angústia de conviver com pessoas que estão
cientes de que possuem um diagnóstico apontando a impossibilidade de cura,
esses cuidadores, também, lidam, correntemente, com a morte de pacientes.
Durante o horário de trabalho, esses cuidadores estão em contato com pessoas
em situação-limite de dor e sofrimento (COELHO; FERREIRA, 2015).
Pessoas que encaram a dor com tanta frequência tendem a sentir algum
alívio quando encontram alguém que as ouça com atenção. A escuta respeitosa
e sensível favorece a verbalização de fluxos narrativos, possibilitando, assim,
o acesso à expressão do sofrimento humano perante doenças consideradas
incuráveis, e, consequentemente, perante a morte. As narrativas que costumam
surgir nesses contextos, rotineiramente, indicam medo, angústia e memórias
(COELHO; FERREIRA, 2015).
DICAS
203
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
Outro livro de Philip Yancey, que vem sendo indicado, a fim de consolar enlutados
ou pessoas em outras situações de tristeza profunda, chama-se Quando a Vida nos Machuca
– trata-se de um livro menos denso do que Decepcionado com Deus, cuja leitura é mais
rápida (também, porque possui bem menos páginas do que Decepcionado com Deus).
204
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
• proporciona alívio;
• transmite a sensação de acolhimento;
• apresenta características terapêuticas;
• gera o prazer que é encadeado pelo ato de conversar;
• produz bem-estar;
• disponibiliza falas por parte dos sujeitos envolvidos, nas quais declaram se
sentir melhores após a conversa.
DICAS
205
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
FONTE: <https://www.amazon.com.br/Problema-do-Sofrimento-C-Lewis/dp/8573678518>.
Acesso em: 6 jul. 2021.
4 REMATES REFLEXIVOS
As narrativas de idosos vêm demonstrando que eles anseiam por
oportunidades a partir das quais possam escrever, ou verbalizar sobre as próprias
trajetórias de vida. Eles apreciam quando são, realmente, ouvidos.
Para Massi et al. (2015), a apreciação por ocasiões nas quais podem
compartilhar as histórias antigas (e nem tão antigas) deles não significa, tão
somente, uma maneira de atualizar a memória. Contar as próprias histórias
propicia oportunidades de elaborar (e reelaborar, ressignificar) processos de
envelhecimento vivenciados por eles.
• sensação de bem-estar;
• melhoras na autoestima;
• sentimento de realização pessoal;
• resgate de lembranças;
• recursos sociais de/para integração;
• superação de estereótipos.
206
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
DICAS
Um filme que vale a pena assistir, e, até mesmo, rever, agora que você concluiu
a leitura deste livro, é intitulado de Tomates Verdes Fritos, lançado em 1991. Ele mostra
algumas limitações decorrentes do envelhecimento e o quanto uma senhora se sente
aprazida pela chance de contar histórias.
207
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
LEITURA COMPLEMENTAR
António Calha
Resumo
208
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
209
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
210
TÓPICO 4 — NARRATIVAS E HISTÓRIAS DE VIDA DE IDOSOS E DE PESSOAS QUE ESTÃO DIANTE DA IMINENTE
TERMINALIDADE DA VIDA
211
UNIDADE 3 — NARRATIVAS E HISTÓRIA DE VIDA: DA ADOLESCÊNCIA À VELHICE
212
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• Idosos e pessoas sob cuidados paliativos são dignos de ser ouvidos com
atenção, e tendem a lidar bem com as possibilidades de falar com alguém que
demonstre real interesse no que estão dizendo.
• Na maioria das vezes, as pessoas que se encontram diante de óbito premente têm
expectativas de que os familiares e os profissionais que as atendem percebam as
singularidades e as complexidades delas, concedendo o cuidado integral.
CHAMADA
213
AUTOATIVIDADE
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas, e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
--- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
CECILIA MEIRELES
FONTE: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1516-08582015000100003>. Acesso em: 24 abr. 2021.
214
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – F – F.
c) ( ) V – F – V.
d) ( ) F – V – F.
215
5 “A narrativa em primeira pessoa justifica a necessidade de escrever sobre
a ausência/presença de uma pessoa que, ainda, mantém algum sopro de
vida, que se relaciona com o mundo a partir de gestos, esquecimentos e
silêncios” (SOUZA, 2017, p. 109). Frente ao exposto, analise as asserções
que seguem:
216
REFERÊNCIAS
217
DE CONTI, L.; SPERB, T. M. A composição de narrativas pela dupla terapeuta-
paciente: uma análise da sua organização e da sua sequência de ações.
Psicologia: Reflexão e Crítica [online], v. 22, n. 1, p. 119-127, 2009. Disponível
em: https://doi.org/10.1590/S0102-79722009000100016. Acesso em: 24 abr. 2021.
218
ITELVINO, L. da S. et al. Formação do empreendedor social e a educação formal
e não formal: um estudo a partir de narrativas de história de vida. Ensaio:
Avaliação e Políticas Públicas em Educação [online], v. 26, n. 99, p. 471-504,
2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-40362018002600960. Acesso
em: 24 abr. 2021.
219
NASCIMENTO, J. L. do; NUNES, E. D. Quase uma auto/biografia: um estudo
sobre os cientistas sociais na saúde a partir do Currículo Lattes. Ciência &
Saúde Coletiva [online], v. 19, n. 4, p. 1077-1084,2014. Disponível em: https://
doi.org/10.1590/1413-81232014194.12482013. Acesso em: 24 abr. 2021.
220