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agosto de 2022

escrita
autobiográfica
Bianca Santana
Qual o seu projeto de
escrita?
Escreva por favor,
em 7 minutos.
memória mortalha
“Os sobreviventes, aqueles que ficaram e não se afogaram definitivamente,
não conseguiram esquecer-se nem que o desejassem. É próprio da experiência
traumática essa impossibilidade de esquecimento, essa insistência na
repetição. Assim, seu primeiro esforço consistia em tentar dizer o

indizível, numa tentativa de elaboração simbólica do

trauma que lhes permitisse continuar a viver e,


simultaneamente, numa atitude de testemunha de algo que não podia nem
devia ser apagado da memória e da consciência da humanidade.”
Jeanne Marie Gagnebin sobre o holocausto (Shoah)
“Um trabalho de elaboração e de luto em relação ao
passado, realizado por meio de um esforço de
compreensão e de esclarecimento — do passado e,
também, do presente. Um trabalho que, certamente,
lembra dos mortos, por piedade e fidelidade, mas
também por amor e atenção aos vivos.”
Jeanne Marie Gagnebin
“Quem pretende se aproximar do passado soterrado deve
agir como um homem que escava. Antes de tudo, não deve
temer voltar sempre ao mesmo fato, espalhá-lo como se
espalha a terra, revolvê-lo como se revolve o solo. Pois ‘fatos’
nada são além de camadas que apenas à exploração mais
cuidadosa entregam aquilo que recompensa a escavação.”

Walter Benjamin
“A elaboração da memória se dá no presente
e para responder a solicitações do
presente. É do presente, sim, que a
rememoração recebe incentivo, tanto quanto
as condições para se efetivar.”

Ulpiano Menezes
“Cabeça não fala minha filha, ela foi feita pra pensar, vê a direção com
tempo, no tempo, para Tempo. Velocidade, ação determinação. Nós,
bantus, falamos com o coração, que nos guia, dirigindo o caminho
para a estrada. Só assim podemos voltar da estrada para o caminho e
vise versa. Cabeça foi feita pra trazer as memórias que se registra
através do coração.”

Taata Mutá Imê


“O instrumento
decisivamente socializador
da memória é a
linguagem.” Eclea Bosi
“(...) qual a forma predominante da memória de um
dado indivíduo? O único modo correto de sabê-lo é
levar o sujeito a fazer sua autobiografia. A
narração
da própria vida é o testemunho mais
eloquente dos modos que a pessoa
tem de lembrar. É a sua memória.”
Eclea Bosi
do Grego:
αὐτός-autos eu
βίος-bios vida
γράφειν-graphein escrita
“A narração de uma vida, longe
de vir representar algo já
existente, impõe sua forma (e
seu sentido) à própria vida. ”
Leonor Arfuch, citada por Margareth Rago
relatos autobiográficos:
reconstroem o passado;
avaliam a experiência vivida;
dão sentido ao presente.

Margareth Rago
“Redigir suas memórias, deixar para a posteridade sua autobiografia
é, sem dúvida, uma tentativa de levar os futuros leitores a
ver o autor através de uma imagem que ele mesmo
delineou. É nesse sentido que apresento a autobiografia como um
discurso de poder, o poder de moldar sua própria
vida, de deixar para as futuras gerações um autoretrato em forma
de texto.”
VILLAR, Marilia Santanna. A autobiografia como discurso de
poder, 1971
“Sabendo que os gêneros literários não são estáticos e sim dinâmicos e
que seu modo de recepção muda no tempo, é claro que o que a crítica
entende por autobiografia hoje não corresponde a um gênero nascido
em um momento único. Trata-se de uma escrita que se desenvolveu
em um processo que lhe é próprio, um
processo de escrita
e um processo de descoberta de si mesmo, pois a
autobiografia só pode nascer em uma sociedade em que o homem se
veja como indivíduo.”
Marilia Santanna Villar
Narre uma situação vivida
com outra pessoa, cuja
narrativa poderia gerar
conflito com a pessoa em
questão.
mas….
é tudo verdade?
“Então, as histórias não são inventadas? Mesmo as reais, quando são contadas. Desafio alguém a
relatar fielmente algo que aconteceu. Entre
o acontecimento e a narração do
fato, alguma coisa se perde e por isso se acrescenta. O real vivido fica
comprometido. E, quando se escreve, o comprometimento (ou o não comprometimento) entre o
vivido e o escrito aprofunda mais o fosso. Entretanto, afirmo que, ao registrar estas histórias,
continuo no premeditado ato de traçar uma

escrevivência .”

EVARISTO, Conceição. Insubmissas lágrimas de mulheres. Belo Horizonte: Nandyala, 2011


Margareth Rago utiliza Foucault e o que ele
denomina modos de subjetivação: “os
processos pelos quais se obtém a construção de
uma subjetividade, ao contrário dos ‘modos de
sujeição’, que supõem obediência e submissão
aos códigos normativos, como ocorre desde a
ascenção do cristianismo e com a emergência
da sociedade disciplinar, na Modernidade”.
quais seriam “as possibilidades de invenção
de novos modos de existência,
construídos a partir de outras relações de si
para consigo e para com o outro,
capazes de escapar às tecnologias do dispositivo
biopolítico de controle individual e coletivo”?
estéticas da existência. técnicas de si. artes
do viver.
. meditação
. escrita de si
. jejum
. exercícios físicos e espirituais
. cuidado de si e do outro
“A ‘ escrita de si’ é entendida como um cuidado de
si e também como abertura para o outro, como
trabalho sobre o próprio eu em um contexto
relacional (...) opõe-se à confissão, modo
discursivo-coercitivo de relação com a verdade
que se difunde desde o cristianismo e se acentua
na Modernidade (...)
Margareth Rago
“trata-se de assumir o controle da própria vida, tornar-se
sujeito de si mesmo pelo trabalho de reinvenção da
subjetividade possibilitado pela ‘escrita de si’. Trata-se de
tornar-se autor do próprio script a partir de uma relação
específica do indivíduo consigo mesmo, o que supõe
ainda a prática política da

parrésia .”

Margareth Rago
“para que haja parrésia é preciso que,
dizendo a verdade, se abra, se instaure e se enfrente o
risco de ferir o outro, de irritá-lo, de deixá-lo com raiva
e de suscitar de sua parte algumas condutas que
podem ir até a mais extrema violência. É portanto a
verdade, no risco da violência”

Foucault, citado por Rago


1770
proposta de programa

ENCONTRO 1: memória, autobiografia, escrevivência, escrita


de si

ENCONTRO 2: ponto de vista, ponto de partida

ENCONTRO 3: tempo do vivido e do narrado

ENCONTRO 4: simplicidade no texto


alguma
outra sugestão?
Que livro será sua
companhia no
percurso?

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