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ESTUDO, PESQUISA E FORMAÇÃO DOCENTE PARA AS INFÂNCIAS NA

PERSPECTIVA DAS NARRATIVAS DE EXPERIÊNCIAS

Coordenador(a): Profª Drª Maria Luisa Furlin Bampi


Universidade do Estado do Rio de Janeiro- PPGEdu

O Grupo de Estudos e Pesquisa de formação docente para as infâncias na perspectiva das


narrativas de experiências, constituído desde 2019 tem como objetivo investigar o cotidiano
na educação das infâncias na perspectiva da pesquisa com narrativas (auto)biográfica como
pesquisa, formação e autoformação, em interface com o papel determinante da cultura e o
permanente estado de movimento e mudança dos processos psicológicos de aprendizagem
e desenvolvimento humanos. Dedica-se às redes educacionais públicas e/ou comunitárias,
localizadas no Leste Metropolitano Fluminense/RJ. Compõe uma das linhas de pesquisa no
Diretório Vozes da Educação: Memória, História e Formação de Professores. O presente
grupo é constituído por uma professora doutora do Departamento de Educação da
FFP/UERJ e do Programa de Pós-Graduação em Educação: Processos Formativos e
Desigualdades Sociais (PPGedu). A perspectiva e referencial teórico\metodológico:
delimitando um campo de pesquisa elegendo interlocutores para linguagem, narrativa de
experiências e pesquisaformação. O encontro com a perspectiva da pesquisa
(auto)biográfica, com narrativas de histórias de vida e de formação teve início durante a
docência na UFF e com a participação nos grupos de estudos na referida universidade, em
2014 e a associação ao Biograph e participação nos CIPA - Congressos Internacionais de
Pesquisa (Auto)biográfica, realizados pela BIOgraph (Associação Brasileira de Pesquisa
(Auto)biográfica) e com o ingresso na FFP-UERJ em 2019, tendo sido convidada a ser
membro do Grupo Vozes da Educação em São Gonçalo, na FFP/UERJ. Questões
perseguidas de forma coletiva no PPGedu – Programa de Pós-Graduação em Educação:
Processos Formativos e Desigualdades Sociais.- Refletir coletivamente sobre as
experiências com as infâncias visando tornar as experiências de vida mais sensíveis e
formativas, no e do cotidiano das culturas infantis seus modos de expressão na linguagem,
no jogo, no desenho, na fantasia, no diálogo com o outro, analisando o que as crianças
fazem, dizem e expressam através das múltiplas linguagens na escola. Esses dispositivos
fazem emergir escolhas e inscrevem os docentes a mudanças especialmente, nas
desconexões sobre as concepções de infâncias como seres incompletos, de menoridade
para concepções sobre as infâncias como seres de linguagem, cidadãs e produtoras de
cultura. Dentre as distintas temáticas desenvolvidas em nossas investigações destacamos
para este trabalho as seguintes discussões: O primeiro resumo intitulado: O desenho como
modo de registrar o tempo do agora: experiência formativa entre professoras e crianças
reflete a importância dos desenhos infantis, como um campo de estudo e formação docente
a partir da escuta sensível de um tempo criança, aqui e agora dando a ver as infâncias e
suas expressividades, suas produções e expressões de cultura e do desenhar como
processo alteritário e de produção de subjetividades infantis. O segundo resumo Narrativas
de professorasalfabetizadoras do livro Kafka e a boneca viajante, narra as experiências
acadêmicas de uma leitura para reflexões sobre infâncias e a práxis na escola que traz um
convite dialógico da professora provocando construções imaginárias por meio de narrativas
orais, de desenhos estimulando a imaginação, dando a ver a importância das leituras de
histórias e dos diferentes gêneros de escrita e expressões da construção de leituras de
mundo das infâncias, somado a construção de cultura das crianças com a boneca negra.
xxxx
TÍTULO DO TRABALHO 1 - O DESENHO COMO MODO DE REGISTRAR O TEMPO DO
AGORA: EXPERIÊNCIA FORMATIVA ENTRE PROFESSORAS E CRIANÇAS

Alessandra Abreu: Autor


Jane Marchon Cordeiro Celestino: coautor
Maria Luisa Furlin Bampi: coator

TÍTULO DO TRABALHO 2- NARRATIVAS DE PROFESSORASALFABETIZADORAS


SOBRE O LIVRO KAFKA E A BONECA VIAJANTE

Cristiane Barroso Dias: coautora


Débora Santos Molinário Vieira: coautora
Maria Luisa Furlin Bampi: autora

TÍTULO DO TRABALHO 3
,
O DESENHO COMO MODO DE REGISTRAR O TEMPO DO AGORA:
EXPERIÊNCIA FORMATIVA ENTRE PROFESSORAS E CRIANÇAS

Alessandra Abreu1: Autor


Jane Marchon Cordeiro Celestino2: coautor
Maria Luisa Furlin Bampi3 coautor

Estudo, pesquisa e formação docente para as infâncias na perspectiva das narrativas


de experiências. UERJ/FFP:

Palavras-chave: infâncias; formação docente; pesquisaformação

1 Iniciando a conversa
“Sou hoje posso SER. Só o PRESENTE me compromete com o meu tempo, com minha gente, com minha
crença, comigo mesmo”. (Daniel Munduruku)

Fomos buscar na sabedoria dos povos da etnia Munduruku, a perspectiva de tempo


para a aproximação do nosso olhar para as infâncias na escrita desse artigo. Na epígrafe do
texto o professor e escritor Daniel, da etnia dos Munduruku, reafirma em sua narrativa os
ensinamentos que aprendeu sobre o tempo com seu avô, de que apenas o passado – o
tempo da memória – e o PRESENTE, o tempo do agora (MUNDURUKU, 2017) existem.
“Sou hoje posso SER. Só o presente me compromete com meu tempo” (2017). Nessa
compreensão ancestral do presente como tempo do agora, em que nem mesmo a palavra
FUTURO não faz parte do repertório linguístico do povo Munduruku, trazemos o desenho
como registro do PRESENTE, anunciando os modos de elaboração do conhecimento
construído pela criança. Para tecer a conversa, trazemos duas experiências formativas entre
professoras e crianças de escolas de Educação Infantil de municípios da região
metropolitana do estado do Rio de Janeiro.
Elencamos nesse artigo algumas produções das crianças, contextualizando a
importância de a Educação Infantil ser o espaço da construção do conhecimento, autoria e

1
Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro- PROPed/UERJ. Professora da
Educação Básica - SME da Rede Pública Municipal de Niterói. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas -
ALMEFRE- UERJ/FFP. Contato: alessandra.uerj2005@gmail.com
2
Mestre em Educação pela UERJ/FFP e Professora/ Coordenadora Pedagógica na Rede Pública Municipal.
Contato: janemarchoncc@gmail.com
3
Doutora em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano pela USP - Professora Adjunta da
UERJ/FFP/PPGedu e Vice coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas - ALMEFRE. Contato:
luisa.bampi@uol.com.br
brincadeiras, valorizamos os desenhos das crianças porque acreditamos que o desenho
infantil permite agregar todas essas características de uma forma espontânea e envolvente
para todos os envolvidos no processo. 
Para as nossas produções escritas, buscamos através de uma “escuta sensível”
(BARBIER, 1999) realizarmos o registro do vivido, utilizando como perspectiva
epistemológica metodologia de pesquisa a pesquisaformação - narrativa (auto)biográfica
(BRAGANÇA, 2018), no entendimento de que somos sujeitos praticantes no/com nosso
fazer com as crianças e de que nossas reflexões contribuem para construir pensares
formativos não apenas para os nossos campos de atuação, como também para outros
docentes que estudam, pesquisam e debruçam-se em aprofundar seus estudos no campo
da Educação Infantil. Na perspectiva de Barbier (1999), a Escuta Sensível diz respeito à arte
de ouvir, escutar-ver, escuta-ação, tendo como princípio a empatia na relação entre o
pesquisador e o “outro”, uma escuta que vai além de captar a linguagem verbal, porque,
pressupõe a abertura e sensibilidade para ouvir não somente com o aparelho auditivo como
também com os demais sentidos: olhar, tato, olfato, não deixando de lado a intuição, outro
elemento forte nos processos de empatia. Estudos de BAKHTIN (2014; 2010) e BARBIER
(1999), contribuíram como referencial teórico-metodológico para aprofundar os nossos
estudos, porque acreditamos que o debate sobre o pensarfazernarrar4 na educação das
infâncias contribui para construção de práticas mais libertárias com as crianças.

Imagem 15: “Aqui é o ión, ión”


Luiza tem quatro anos e ama desenhar. A expressividade dos seus desenhos além
de representarem o seu pensamento e imaginação traduzem como produção da linguagem,
os efeitos de luz e som e nos dão a ver a mensagem que ela deseja transmitir de forma
lúdica. Ao terminar o desenho, Luiza nos explica apontando: “um caminhão de bombeiro e
“aqui” é o ion, ion da sirene e da luz” indicando os risquinhos no topo da sua ambulância.
Pelo ato de desenhar ela nos conta que o som e a luz da ambulância, muito mais que pura
mimese, têm uma significação própria do que ela consegue incorporar da realidade e/ou o
lugar social ocupado na sociedade e do que ela transforma também em material/contexto
4
A opção por juntar palavras, como espaçotempo, teoriaprática, aprendizagemensino, ressaltando-as, em itálico,
toma como base as justificativas teóricas dos/das pesquisadores/as do campo dos estudos com os cotidianos e
suas buscas por encontrar outras formas de dizer e pensar a ação docente. Aglutinando palavras comumente
escritas de forma separada, com sentidos polarizados pela lógica moderna, buscamos problematizar a própria
dicotomização em busca de construir outros olhares para compreender os cotidianos como espaço de produção
de conhecimento (GARCIA; ALVES, 1999).

5
Outras imagens serã o apresentadas no trabalho completo.
para brincar ou para o exercício da imaginação e o quanto isso é representativo e
importante.
Desenhar é o exercício de uma função simbólica e como nos ensina Vigotski (1991)
é a possibilidade de representação do mundo por registros, os primórdios da escrita e de
crianças comunicarem-se. Desde os desenhos rupestres tem-se que o desenho já
representava uma mediação do homem com o mundo.
Buscando uma aproximação responsiva e alteritária com a forma que a Luiza
desenha, narra e encena é possível concordar com Cagliari (2009) de que:
Em vez do período preparatório e dos tradicionais exercícios de prontidão, o
professor pode fazer inúmeras outras atividades mais inteligentes, que
contribuam de fato para o processo de alfabetização. Uma delas, de valor
inestimável, é propor muitos desenhos livres. A sofisticação e a riqueza
dessa atividade são tantas que por si só valem tudo o que se pensava
alcançar com o tradicional período preparatório (CAGLIARI, 2009 p. 32).

Da mesma forma que toda produção infantil nos apresenta uma forma única e
singular de ver o mundo. As coisas não estão estanques na cidade, vivemos em um mundo
em movimento, onde os elementos têm som, cor e movimento.
No mesmo campo dos estudos de Cagliari (2009), alargando a nossa compreensão
sobre a potência dos saberes infantis, Smolka (2012) defende que as crianças têm,
basicamente, noções das funções da escrita para nomear, identificar, mostrar, indicar,
informar, comunicar. Mas, esta noção é muitas vezes truncada pela maneira como a escrita
é apresentada na escola, porque distancia-se a produção escrita da representação do
pensamento.

Imagem 2

Em uma das tardes na escola, a professora propôs ao grupo de crianças que tendo a
metade de sua foto impressa como referência, complementassem a mesma com seus
desenhos. Nos potes, inseridos novos tons e cores de hidrocor e lápis de cor oferecidos a
elas já como movimento provocativo da professora, na intencionalidade de promover ações
afirmativas entre as crianças da turma.
O grupo de crianças que tem a ação de desenhar como prática cotidiana, ao
perceberem os novos lápis e hidrocores, iniciaram uma discussão nas escolhas de qual
seria usado para realizar o registro. Nas escolhas feitas durante a elaboração dos desenhos,
a professora buscou o olhar atento de quem, no encontro com as crianças, não buscou fazer
julgamentos, mas neles a possibilidade de se formar entre elas.
No tempo presente de ser hoje, na elaboração de seu desenho, cada criança buscou
dizer de si em cada traço registrado. Um olhar EXOTÓPICO de si, que leva a perceber- se a
partir da produção de seu desenho, reafirmado ao verem suas produções expostas no mural
do hall de entrada, em que faziam questão de ser observarem enquanto teciam conversas
entre si. – Olha as minhas tranças! Disse Alana apontando as linhas sobre sua cabeça como
seu penteado. Assim como Lucas explicando que fez um topete no cabelo bem grande
porque estava com gel. Vitor ao desenhar seus braços para o alto a partir da foto referência,
complementa dizendo que no dia daquela foto ele levantou os braços por estar feliz.
Por isso reconhecemos a importância do ato de desenhar como função simbólica do
pensamento e da linguagem nas experiências formativas entre professoras e crianças. Além
de compreendê-lo como linguagem expressiva significativa que se ancora na sabedoria dos
Munduruku sobre o tempo, contrapondo-se às práticas de treino e repetição que cerceiam a
criação e a autonomia de crianças na lógica preparatória para “garantia” de um “pseudo”
futuro, negando uma infância no tempo do agora.
Nas práticas que percebem a criança como aquela que é sempre vista de cima para baixo,
como apresentou Francesco Tonucci (2003), em uma de suas reflexões em modo charge. A
criança futura, encharcada de práticas escolarizantes ocidentais não é concebida como
sujeito histórico de direito, produtora de cultura (BRASIL, 2010). Reconhecemos a
importância das reflexões de Tonucci para o nosso debate sobre a educação com as
infâncias porque as charges de Tonucci sinalizam a fragilidade das metodologias utilizadas
na Educação Infantil que, ao não consultar as crianças sobre seus pontos de vista,
negligenciam as suas produções culturais, autorias e subjetividades, reforçando a separação
e os conflitos entre professores e crianças em suas interações na escola.
Na reprodução de tais práticas antecipatórias, furta-se também da professora a
possibilidade de ser produtora de conhecimento a partir da reflexão de seu saberfazer
docente como movimento ético, estético e político de formação.
Sem a intenção de fechar conceitos, mas de ampliarmos o debate do quanto as
experiências com as crianças, principalmente com os seus desenhos, contribuem para
alargamos a nossa compreensão sobre a linguagem e sobre a vida é que nos debruçamos
pesquisando em nossos cotidianos novas maneiras de com as crianças construir formas
outras de pensar e ver o mundo e assim nos imbuir de novos saberes e culturas de modo a
contribuir para que a Educação Infantil seja um lugar de muitas experiências significativas e
da produção da cultura para adultos e crianças.
Referências
BRAGANÇA, I. F. de S. Pesquisaformação narrativa (auto)biográfica: trajetórias e tessituras
teórico-metodológicas. In: ABRAHÃO, M. H. M. B; CUNHA, J. Lu; BOAS, L. V. (Orgs.).
Pesquisa (auto)biográfica: diálogos epistêmico-metodológicos. Curitiba: CRV, 2018, v.1, p.
65-81
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2014.
____________. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
BARBIER, R. A escuta sensível na abordagem transversal. In BARBOSA, Joaquim
(Coord). In: Multirreferencialidade nas ciências e na educação. São Carlos: EdUFSCar,
1999. p.168-199.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares
nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC, SEB,
2010.
CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o BA-BE-BI-B0-BU. São Paulo: Editora Scipione. 2009.
SMOLKA, A. L. B. A criança na fase inicial da escrita: alfabetização como processo
discursivo. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
MUNDURUKU, Daniel. Memórias de índio: uma quase autobiografia. Porto Alegre:
EDELBRA, 2017.
ALVES, Nilda; GARCIA, Regina Leite (orgs.). O Sentido da Escola. Rio de Janeiro: DP&A,
1999.
TONUCCI, F. Com olhos de criança. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 2003.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem. 3ª. ed. Trad. Jeferson Luiz
Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
NARRATIVAS DE PROFESSORASALFABETIZADORAS SOBRE O LIVRO KAFKA E A
BONECA VIAJANTE
Cristiane Barroso Dias6coautora
Débora Santos Molinário Vieira7coautora
Maria Luisa Furlin Bampi8 autora

Estudo, pesquisa e formação docente para as infâncias na perspectiva das narrativas


de experiências. UERJ/FFP:

Palavras-chave: infâncias; formação docente; desenho.

1 – Introdução

Este trabalho utiliza a perspectiva metodológica da narrativaformação como


estratégia “que focaliza a experiência no processo educativo e os professores e professoras
como narradores de suas histórias, por meio de cartas, jornais e biografias” (BRAGANÇA,
2018, p. 67). Nós, autoras dessa narrativa, estivemos unidas em parceria por meio da leitura
e reflexão do livro “Kafka e a Boneca Viajante” do autor Jordi Sierra i Fabra (2009). Somos
estudantespesquisadoras do processo de alfabetização das crianças das classes populares.
Mergulhamos em nossas curiosidades epistemológicas no ato de codificar e decodificar
cada página desse encantador livro e, ao mesmo tempo, refletimos sobre o fazer
pedagógico a partir do que o livro estava nos ensinando. A leitura do livro foi realizada na
disciplina eletiva Estudo das Infâncias, como parte integrante do curso de Mestrado em
Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Inspiradas certamente pela
capacidade de aprender com, conjugamos nossas práxis impregnadas pela capacidade
ímpar de ouvir a criança que aprende a ler e a escrever através de sua palavra, de seu
gesto, do seu desenho e do seu mundo. Nessa proposta de criar a história narrada no livro,
que foi contada nas turmas de 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal

6
Mestranda em Educação “Processos Formativos e Desigualdades Sociais- UERJ/FFP Pedagoga formada pela
UFF, com especialização em “Profissionais da escola e as Práticas Curriculares” (UFF) e em Psicopedagogia
(UNIPLI). Orientadora Educacional, município de Maricá. Professora Inspetora Escolar pela Secretaria de
Educação do Estado do Rio de Janeiro. Contato: cbd.pedagoga@gmail.com

7
Mestranda em Educação “Processos Formativos e Desigualdades Sociais- UERJ/FFP Pedagoga pela
Universidade Federal Fluminense – UFF com especialização “Educação Básica Gestão Escolar” - UERJ/FFP e
em Alfabetização das Crianças das Classes Populares– UFF. Professora do 1º Ciclo do Ensino Fundamental das
Redes Municipais de Educação de São Gonçalo e Niterói. Contato: deboramolinario@hotmail.com

8
Doutora em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano pela USP -Professora Adjunta da
UERJ/FFP/PPGedu e Vice coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas - ALMEFRE. Contato:
luisa.bampi@uol.com.br
Tiradentes, situada no bairro Tenente Jardim em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, uma
escola pertencente à rede pública municipal de ensino. A outra, na observação do relato
narrado ao final do livro na vida atual de duas meninas, estudantes da escola localizada no
município de São Gonçalo, localizada no mesmo estado. Tais experiências aqui serão
narradas destacando os cotidianos formativos escolares e não escolares que dão vozes aos
sujeitos e suas histórias na produção do conhecimento.

2 - E foi assim que...


Propusemos a contação de histórias no Grupo de Referência GR1A – 1º ano do
Ensino Fundamental da Escola Municipal Tiradentes situada em Niterói/RJ, uma escola
pública do município de Niterói. Contar a história do livro a partir da realidade de vida social
das crianças do 1º ano do Ensino Fundamental caracterizou um olhar infantil para o seu
enredo: uma menina que perde sua boneca numa praça pública e magicamente encontra
um alguém sensível a este momento cheio de sentimentos no seu coração infantil.
Esse alguém, homem adulto, propõe leituras de cartas de sua então boneca perdida,
agora viajante: “...prova de que com as crianças ninguém podia, e às vezes elas estavam
muito à frente dos adultos” (SIERRA I FABRA, 2009, p. 53). Como as crianças
compreenderam essa realidade? Isso expresso em linguagem artística através do
preenchimento da folha em branco, pelo desenho e pelas cores, nos faz destacar a relação
tão necessária com o corpo, a arte, o movimento e a criação. Pensar sobre o vivido isso
engloba também o que é imaginado.

Ouvir, interpretar e desenhar


Os estudantes com seus olhos brilhantes e ouvidos atentos à história recontada pela
professora regente e com contribuições da professora de apoio, viajaram juntamente com a
Brígida, boneca perdida que, segundo Franz Kafka, havia se tornado uma boneca viajante
pelo mundo; registraram em desenho suas impressões sobre a história e despertaram a
curiosidade sobre o que “haveria acontecido com a Brígida?” “Para qual lugar do mundo ela
teria ido em sua próxima viagem?” “Como é conhecer outros países do mundo?” A
imaginação rolou solta durante a contação da história do livro e também nos desenhos.
Cabe ainda destacar a importância de apresentar às crianças o gênero textual carta
como meio de comunicação, tão pouco utilizado no mundo atual digital e de variados
recursos tecnológicos. É importante também enfatizar a riqueza de se trabalhar a
imaginação infantil mediada pela história da boneca viajante que ganhara vida e a menina
cheia de esperança, nascendo dessa relação de uma amizade íntima e amorosa.
Apresentamos alguns desenhos das crianças a partir de suas interpretações que
contam e encantam quem os admiram. Revelam as riquezas de detalhes das culturas
infantis e das suas leituras de mundo a partir da história:
Figura 1- Ganhar uma boneca nova

Fonte: Arquivo da professora


Ganhar uma nova boneca

Em contrapartida, temos a continuidade dessa história através da observação das


condutas de duas meninas da cidade de São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro que
ganharam de sua mãe uma boneca de cor negra com o nome Dora, seus nomes Mariah e
Vitória. Mas quem era Dora? Como essas meninas reagiram ao ganhar uma nova boneca?
E por que de cor de pele negra? Concretização na vida o que o livro nos propõe. No final
dessa história de afeto entre uma pessoa sensível às questões vividas por uma menina em
praça pública este lhe presenteia com uma nova boneca de nome Dora, para a ausência da
boneca viajante Brígida ser um pouco menor. Propomos, através da pesquisa, trazer para os
dias atuais, presentear duas meninas inesperadamente, sem dia para tal (como das
crianças, natal...) para assim conhecermos um pouco mais dos sentimentos da menina da
história, atrelada as meninas da atualidade, após o término do livro.
Assim uma mãe leitora desta obra, estudante e pesquisadora levou suas duas
menininhas, Mariah e Vitória, até o comércio popular da cidade de São Gonçalo e lá, entre
os corredores lotados, propôs a compra de uma boneca de cor de pele negra. A alegria das
meninas vibrou em olhares e sorrisos. Após a escolha de uma grande boneca fizeram uma
nova viagem agora de retorno à casa, duas meninas vivendo a primeira infância felizes com
a sua Dora. Caminharam pelas ruas da cidade carregando a caixa contendo Dora com força
e cuidado. Ao chegar no condomínio encontraram as muitas amizades, gritos de saudação e
falas de exclamação: “Nós ganhamos uma boneca nova!”; “Ela tem nome e é Dora!”; “Mãe,
vou abrir aqui mesmo a caixa”. E o que aconteceu logo após a chegada de Dora?
Muitas ações infantis que nos permitem aprender com.

3 – Conclusão
A narrativa de dois movimentos vividos concomitantemente por duas mulheres,
estudantes, pesquisadoras, professoras e alfabetizadoras em universos de educação e de
alfabetização: uma enquanto professora de crianças no 1º ano do ensino fundamental e a
outra também estudante professora e mãe de duas meninas em processo de construção
desse mundo alfabetizado.
Tais movimentos revelam relação simples, relação complexa. Será que a escuta de
palavras pode possibilitar o entendimento de si a partir do entendimento do outro? Kohan
nos instiga a:

[...] pensar de verdade, pensar-se a si mesmo, fazer da filosofia um


exercício de se colocar a si mesmo em questão exige, a cada momento, ir
até a mais recôndita infância do pensamento, começar a pensar tudo de
novo como se nunca estivesse pensado. Como se a cada vez,
estivéssemos pensado pela primeira vez. Assim a infância é quase uma
condição da filosofia. (KOHAN, 2015, p.217).

As experiências aqui narradas, que tratam de estudos na universidade reiteram a


importância da formação em partilha entre as professoras da escola e a universidade que
segundo Bragança (2018), “revelam a potência das narrativas e memórias, a circularidade
entre palavra e escuta, os saberes acadêmicos e os saberes docentes na tessitura de uma
epistemologia outra (...) na reconstrução dos mais diversos modos de viver a
pesquisaformação da narrativa (auto) biográfica” (BRAGANÇA, 2018 p. 66).

REFERÊNCIAS
BRAGANÇA, Inês Ferreira de Souza. Pesquisaformação narrativa (auto) biográfica:
trajetórias e tessituras teórico-metodológicas. In: ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto.
CUNHA, Jorge Luiz. BÔAS, Lúcia Villas. (Orgs.) Pesquisa (auto) biográfica: diálogos
epistêmico-metodológicos. Curitiba: Editora CRV, 2018.

CERTEAU, Michel de. A cultura no plural, tradução Enid Abreu Dobranszky. São Paulo:
Papirus, 2005.

KOHAN, Walter O. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 15, e2016212, p. 1-9,


2020.Disponível em: <https://www.revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa>.Acesso em
02 de set. 2023.

SIERRA I FABRA, Jordi. Kafka e a Boneca Viajante. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes,
2009.
LITERATURA ANTIRRACISTA: CAMINHOS DE DECOLONIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO A
PARTIR DA PERSPECTIVA (AUTO)BIOGRÁFICA
Heloisa Josiele Santos Carreiro9
Cintia Larangeira10
Maria Luisa Furlin Bampi11

Estudo, pesquisa e formação docente para as infâncias na perspectiva das narrativas


de experiências. UERJ/FFP:

Palavras-chave: literatura antirracista; narrativas (auto)biográficas; formação de


professores.

O presente texto narra o encontro de três professoras-pesquisadoras (Garcia, 2001)


trançando caminhos formativos, que versam sobre a preocupação na qualificação do
trabalho pedagógico na Educação Básica: duas atuam no Ensino Superior na formação
inicial e continuada de professores e uma na Educação Básica, com crianças dos anos
iniciais, em processo de alfabetização. O ponto que une nossas ações de ensino, pesquisa e
extensão neste texto são as atividades formativas que desenvolvemos tomando a literatura
e a poesia como dimensões potentes das linguagens, oral e escrita, na formação humana
em contextos formais de educação.
Recortamos para o presente evento experiências formativas de aproximação de
crianças, professores da Educação Básica e graduandos de pedagogia com textos
antirracistas e de mitologia africana, para pensar potencialidades críticas e decolonizantes
desses textos literários e poéticos sobre questões relacionadas às identidades e
subjetividades das pessoas envolvidas em nossas propostas formativas, buscando
aproximações das narrativas (auto)biográficas, com o contar das oralidades de culturas
africanas e as literaturas e autore(a)s que contemplem a diversidade cultural, para desafiar o
caminho único ocidentalizado da educação, fazendo gingar a invenção de novas
possibilidades de aparecimento, valorização e reconhecimento de múltiplas possibilidades
de vivências e epistemes no/do mundo (RUFINO, 2019; BENJAMIN, 1987).

9
Doutora em Educação pela UFF e Professora Adjunta da UERJ/FFP. Contato:

10
Mestre em Educação pelo Programa Processos Formativos e Desigualdades Sociais, da FFP/UERJ e
professora do Ensino Fundamental, na rede municipal de Maricá/RJ. Contato: cilarangeira@gmail.com.

11
Doutora em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano pela USP -Professora Adjunta da
UERJ/FFP/PPGedu e Vice coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas - ALMEFRE. Contato:
luisa.bampi@uol.com.br.
Nosso trabalho investigativo assume a perspectiva metodológica da
pesquisaformação (Motta & Bragança, 2019), elaborada a partir dos estudos narrativos.
Assim, entendemos que o nosso movimento se assemelha a concepção compartilhada por
Motta e Bragança em que a “pesquisaformação articula-se à abordagem (auto)biográfica, na
perspectiva das histórias de vida, por meio das narrativas docentes dos processos de
formação pessoal e profissional e, nessa relação, à sua identidade docente” (Motta &
Bragança, 2019, p. 1039). Dentre os caminhos tecidos pela pesquisaformação há a
proposição de experiências intencionais e, em nosso caso, também institucionais, por meio
das quais assumimos o compromisso de tentar dialogar e quando indagados responder,
ainda que de forma provisória às questões levantadas pelos sujeitos. Sempre com o desejo
de qualificar os saberes e fazeres pedagógicos, as experiências culturais e epistêmicas dos
envolvidos.
Para essas reflexões teórico metodológicas, destacamos: a escuta sensível com
BARBIER (2007); as infâncias, com SARMENTO (2010); e a literatura como direito humano,
com CANDIDO (2011). A partir destes e outros autores, discutiremos nossa vidaexperiência,
pesquisaformação, os saberes da experiência articulados com as teorias enquanto campo
de pesquisa e de formação com os quais dialogamos nos nossos encontros nos grupos de
pesquisas.
A primeira experiência foi produzida a partir de uma “Oficina de Griot” para ser
dinamizada no “I Seminário de Educação Infantil: enriquecendo práticas, tecendo
aprendizagens, da rede municipal de São Gonçalo – RJ”, ocorrido em 30 de junho de 2023.
O encontro foi articulado pelas professoras do campo das infâncias na FFP/ UERJ,
envolvendo docentes com atividades de ensino, pesquisa e extensão com ações na
Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental e a Equipe Pedagógica da
Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo. A Universidade tinha como objetivo
reafirmar o desejo de continuar realizando o Seminário de Educação Infantil do município
em parceria com a FFP/ UERJ, considerando diálogos possíveis com o desenho do último
que ocorrera em junho de 2019 em articulação com os atuais grupos de pesquisa: Vozes da
Educação, Almefre, Gifordic, Colei e Grupo de Estudos e Pesquisa de formação docente
para as infâncias na perspectiva das narrativas de experiências.
A partir da perspectiva epistemológica da pesquisa com as narrativas
(auto)biográficas os atores - professore(a)s, estudantes, crianças - pensam, refletem, narram
e ao formar-se, transformam-se. O objetivo foi uma proposta literária e lúdica abordando as
construções subjetivas de/e/em uma população majoritariamente negra para articular
concepções constitutivas e produtoras de pedagogias de subalternização e voltadas para a
ideia de raças que foram negadas e apagadas (QUIJANO, 2005). Nesse tocante,
consideramos as narrativas (auto)biográficas, presentes nos contos orais das histórias de
vida, especialmente dos nossos ancestrais como fontes para um processo formativo de
pedagogias outras, como refere Thompson (1992), pois elas podem nos mostrar verdades
outras:
Fontes da história humana derivam da percepção da subjetividade, mas
apenas a fonte oral permite-nos desafiar essa subjetividade: descolar as
camadas de memória, cavar fundo em suas sombras, na expectativa de
atingir a verdade oculta (THOMPSON, 1992, p. 197).

A seleção dos textos que circularam na oficina foi feita pelas professoras autoras
deste texto e estudantes de graduação. A literatura antirracista circula entre as ações dos
bolsistas em suas atividades de ensino e pesquisa, mas nem todos estavam familiarizados
com o termo “griot” e fizemos a introdução conceitual deles sobre a palavra. Tivemos a
preocupação em trazer textos literários e poéticos, falando sobre questões da mitologia dos
orixás, contos, lendas, mas também temáticas da vida cotidiana, para pensar a
representatividade negra na literatura, destacando a importância do olhar ancestral.
Ademais, entendemos que tem igual importância as questões cotidianas, os temas duros e
leves, os universos reais e os fantásticos, com os quais autores negros e personagens
negros protagonizando a vida e dando rumos aos enredos, possam adensar os sentidos e
significados a partir de suas experiências vitais e ancestrais.
Um dos desafios que vivemos junto aos estudantes foi o fato de uma graduanda não
conseguir se sentir à vontade de realizar a atividade de contação de história, para o público
adulto (professores), da lenda: “Yemanja e suas ondas” do Projeto Esse Orixá é uma Lenda.
Inspiradas em Khoan (2022) o que uma pedagogia menina interrogaria sobre esse fato?
Qual a construção imaginária, coletiva, construída sobre essa história? Contar para crianças
e adultos?
Conversamos muito sobre o motivo pelo qual ela conseguia fazer a mediação da
contação com as crianças, mas não com os adultos. Tornando isso um momento de
formação para ela, enquanto professora e todo o coletivo do qual ela faz parte, que foi
respeitosamente acompanhando seu processo. Dessa maneira, diferentes culturas foram
colocadas na roda e num processo de desterritorialização/reterritorialização dos saberes
constituídos, no e pelo qual o campo do simbólico foi tencionado, tornando todos os sujeitos
envolvidos agentes em “um novo conjunto de relações frente à exterioridade e à alteridade”
(HAESBAERT, 2003).
Essa relação de alteridade e reterritorialização foi possível de ser observada em
outra experiência formativa com a literatura antirracista, dessa vez com um grupo em
processo inicial de alfabetização numa escola municipal da região metropolitana do Rio de
Janeiro, na qual às crianças foram provocadas a desenhar sobre si mesmas e suas famílias,
conforme suas preferências. A linguagem escolhida por elas foi o desenho, que na
conclusão revelou-se uma surpresa para ela: todas as crianças coloriram seus tons de pele
com uma cor rosa claro, que comumente ouvimos chamar por “cor de pele”.
A turma tinha majoritariamente crianças com tons de pele mais escuros, portanto,
pessoas negras, conforme estipula o senso demográfico (IBGE): pretas e pardas. Assim, ao
receber os desenhos das crianças a professora, na tentativa de entender a resposta gráfica
recebida, fez outra provocação e perguntou: - quem aqui na nossa turma é uma criança
negra? Apenas uma delas levantou a mão.
Dessa maneira, houve necessidade de seguir o ano estudando – sozinha e com as
crianças – sobre uma educação decolonizadora (RUFINO, 2019), pela qual as
desigualdades sociais fossem evidenciadas – raça, gênero, classe - e o mote aglutinador
dessas experiências identitárias vividas foi, especialmente, a literatura. Pensando em
particular a educação antirracista, no recorte desse trabalho, muitas de nossas conversas
envolveram o tema sobre as principais culturas que constituem nossa sociedade, nas quais
foram apresentadas a importância e influência dos povos indígenas e africanos em nossa
formação social. Em acordo, muitos livros com histórias nas quais havia personagens
indígenas, negras; além da escolha de autoras e autores indígenas e negros, começaram a
fazer parte do cotidiano desse grupo.
Ao final do ano, produzimos outra proposta com o objetivo de retomar a provocação
do início do ano. Às crianças foi apresentada a proposta literária do dia foi o livro “Cor de
pele” (CRUZ, 2018), que trata da história de Zaila, uma menina que tem na escola muitos
amigos e amigas. Também em sua turma, as crianças ao começar o ano escolar são
provocadas pela professora a discutir sobre suas identidades e desenhar suas famílias. Ao
tratar do lápis de cor tom de pele a discussão sobre identificação e representatividade se
desenrola com sua turma.
Partindo dessa história, a professora recorreu aos lápis cor de pele, que agora são
oferecidos em vários tons, deixando-os à disposição das crianças, enquanto elas buscavam e
comparavam as cores que mais se aproximavam de seus tons e que elas sentiam que as
representavam, para colorir o molde de suas mãos, que mais tarde a professora as
convidaria a produzir uma representação gráfica de seus axés, compreendido como força
vital, uma representação gráfica do que eles sentiam-se mais identificadas como pessoas.
Foi convidada para conversa com a turma uma professora da escola, que é negra.
Com ela algumas crianças demonstraram dúvidas sobre suas identidades e encontraram
espaço para essa discussão tão cara! Ao contar de sua história familiar, das “cores de pele”
que produziram a mulher linda que ela é, as crianças foram envolvendo-se! Ela ainda contou
que há pessoas brancas também em sua família, ao mesmo tempo que eu as lembrei das
minhas histórias, contando de pessoas negras em gerações próximas de minha família
também. Nesse encontro com a literatura; as professoras de diferentes raças e suas histórias
diferentes, mas aproximadas; e um material que contemplava a diversidade de nossa turma,
em particular e de nossa sociedade, de maneira mais ampla; as crianças animaram-se na
proposta de descobrirem-se em suas identidades.
A primeira construção positiva foi perceber que muitas crianças acharam a
personagem do livro, Zaila, uma bela menina, com lindos cabelos. Para descrever, a
personagem tem o tom de pele mais escuro e cabelos crespos com penteado afro, solto. Em
seguida, sentiram-se mais seguras em produzir seus axés nas molduras de suas próprias
mãos que haviam desenhado em contorno e pintado com os “seus tons de pele”. Toda essa
produção foi concluída em um lindo e amoroso cartaz com o título de Ubuntu, filosofia
africana que aprenderam em outro livro homônimo que também fez parte das propostas
literárias do grupo nesse ano.

BENJAMIN, W. Obras escolhidas II: rua de mão única. São Paulo: Editora brasiliense, 1987.

CANDIDO, Antônio. O direito à literatura. In: Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro Sobre
Azul, 2011. p. 169-191.

KHOAN, Walter. Uma viagem de sonhos impossíveis. Belo Horizonte: Autêntica, 2022.
GARCIA, R. L. (org.). Para quem pesquisamos, para quem escrevemos: o impasse dos
intelectuais. São Paulo: Cortez, 2001.

HAESBAERT, Rogério. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de


exclusão. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.) Geografia:
conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p.167-205.

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Disponível em: http://dx.doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.v4.n12, v. 4, p. 1034, 2019.
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QUIJANO. Aníbal. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas


latino-americanas. Colección Sur Sur. Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 107-130. Disponível
em: Acesso em: 10/07/2020.

RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.

THOMPSON, Paul, A voz do passado: história oral, São Paulo: Editora Paz e terra, 1998.

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