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MIKE SHEA

1ª edição no Brasil ­ 2015


L&A Produções
Título Original em Português:
Cordeiro e Sua Ordem Sacerdotal

© 2015 de Mike Shea

Todos os direitos desta edição


reservados ao autor.
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO

Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida,


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meios eletrônicos ou gravações, assim como
traduzida, sem a permissão, por escrito, do
autor. Os infratores serão punidos pela Lei nº
9.610/98

Revisão: ​
Isaque G. Correa Maysa da Costa Batista
Editoração eletrônica: ​
Reinaldo de Souza
Ilustrações: ​
Guilherme Match | www.be.net/yohke
Capa: ​
Gabê Almeida | ​almeida.gabe@gmail.com

Para publicações, pedidos e encomendas


E­mail: ​
sac@casadedavi.com.br
Tel: (43) 3334­1412
DEDICATÓRIA

Q​
uero dedicar e​
ste livro ao povo b​
rasileiro,
nação do meu coração.

Espero que a leitura deste livro nos


mobilize a​orar, como Jesus nos e​
nsinou!

Deus quer operar em nós, contudo


aguarda o nosso clamor!

Seja ele a oração que Jesus nos ensinou.

À geração de Timóteos que orarão como


Ele nos ensinou.
AGRADECIMENTOS

A​
gradecido ​
a todos que me encorajaram
a escrever, principalmente a pessoa do
Espírito Santo que operou em minha vida
redimida pelo sangue de Jesus ​
para cumprir
a vontade de Deus Pai.

À minha querida esposa, Connie Marlene,


muito usada pelo Espírito de Deus, sou
devedor.
PREFÁCIO

O que ​
fizemos da oração que Jesus nos
ensinou? Por que deixamos de orar como ele
nos ensinou? Por que não obedecemos a sua
ordem: "orareis assim"? E, ​
quando oramos, por
que somente no contexto litúrgico?

Com qual finalidade o Sumo Sacerdote da


nova ordem orientou seus discípulos a orarem
segundo ele orava? Por que o nosso Mestre
ensinou multidões a fazerem essa oração
diariamente? Para que o Rei dos reis iniciou o
maior movimento de oração de todos os tempos
de cidade em cidade, de nação em nação, de
povo em povo e de geração em geração?

Será que deixamos de praticar a disciplina


de oração? Ou cremos que ele ensinaria uma
oração que o Pai não pretende atender? Ou
pensamos que podemos compor uma oração
melhor que a dele?

Meu primeiro contato com a oração que


chamamos "Pai­Nosso", foi no contexto da
missa na Igreja Católica Apostólica Romana
que minha família frequentava. Católico
devoto e ​
temente a Deus, eu queria estar bem
com ele e por isso desenvolvia cada etapa da
minha fé com vista à minha aproximação a
Deus: primeira comunhão, catecismo, crisma e
serviço de coroinha. Eu já tinha decorado a
oração quando chegou a hora do sacramento da
minha primeira comunhão. Até hoje o “canto”
dela na liturgia da missa ressoa em minha
memória. Contudo, eu fazia essa oração
somente no contexto litúrgico, sem
conhecimento e sem fé.

Aos 16 anos tive minha experiência de


conversão e iniciei uma caminhada íntima com
Deus que continua até os dias de hoje.
Impactado com as palavras de Jesus, que se
tornava Meu Herói a cada dia, adquiri uma
Bíblia para iniciar a minha leitura pessoal das
Escrituras.

Durante os meses do meu “primeiro


amor,” ainda imaturo, tive uma experiência que
desnorteou a minha vida de oração e que durou
até poucos anos atrás. Eu fazia uma leitura
contínua e metódica do evangelho de Mateus
que contém o Sermão do Monte, onde Jesus
orientava discípulos e multidões sobre ofertas,
oração e jejum. Eu compreendia bem seu
ensinamento a respeito da oração:
E, quando orares, não sejas como os
hipócritas; pois se comprazem em orar em pé
nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para
serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo
que já receberam o seu galardão. Mas tu,
quando orares, entra no teu aposento e,
fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em
secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará publicamente. E, orando, não
useis de vãs repetições, como os gentios, que
pensam que por muito falarem serão ouvidos.
Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso
Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós
lho pedirdes.

Portanto, vós orareis assim: Pai nosso,


que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
venha o teu reino, seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu; o pão nosso de
cada dia nos dá hoje; e perdoa­nos as nossas
dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos
devedores; e não nos induzas à tentação; mas
livra­nos do mal; porque teu é o reino, e o
poder, e a glória, para sempre. Amém.

Porque, se perdoardes aos homens as


suas ofensas, também vosso Pai celestial vos
perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai vos
não perdoará as vossas ofensas. (Mateus
6:5­15)

Fiquei impressionado com as observações


sérias que Jesus fez sobre oração. Era fácil me
identificar nas palavras de Jesus. Minha
experiência de reza se resumia às orações que
eu fazia após a confissão e às que fazia nas
missas, ou seja, nos momentos litúrgicos.
Minhas próprias orações repetidas e outras que
eu tinha ouvido, que pareciam ser feitas para
impressionar os ouvintes, eram palavras
decoradas com pouca ligação ao coração,
denunciadas na fala de Jesus.

E na minha imaturidade espiritual,


cheguei a uma conclusão e a uma
determinação: queria observar e guardar o que
Jesus ensinou. Então resolvi que deixaria de
orar para impressionar os ouvintes. Também
decidi que não iria repetir orações, tudo teria
que ser original, ou seja, com minhas palavras
sinceras e espontâneas. Consequentemente,
exclui a oração que Jesus ensinou da minha
vida espiritual, por tê­la repetido sem
conhecimento e sem fé em muitos momentos
litúrgicos e em outros momentos.

Ainda no início da minha caminhada com


Jesus eu frequentava cultos evangélicos com
amigos, numa busca de conhecer mais sobre
Jesus. Passei a frequentar também a Igreja
Metodista próxima à minha casa, onde meus
amigos eram membros. Nos cultos dessa igreja,
como era nas missas da igreja católica, a oração
que Jesus ensinou fazia parte da liturgia. Essa
prática foi observada nos cultos das muitas
denominações que conheci durante os anos de
faculdade. Nessa época, tanto a igreja católica
como a evangélica incluíam a oração do Mestre
nas suas preces litúrgicas.

Com o passar dos anos, observei que a


oração de Jesus ocupava um lugar cada vez
mais insignificante na vida da Igreja.
Primeiramente, notei que não se fazia mais essa
oração em cultos evangélicos. Praticamente
todas as denominações adotaram cultos
“pós­modernos” com a exclusão da única
oração que Jesus ensinou. Algumas
incluíram­na em momentos litúrgicos, contudo,
sem a orientação que leva o fiel a fazê­la com
entendimento e fé. As denominações mais
antigas continuam a fazê­la em certos
momentos, porém, como no meu caso, a
maioria não sabe porquê nem para que fazem
essa oração. Ademais, não me lembro de ter
ouvido um ensinamento sobre esta oração
nessas alturas da minha vida cristã.
Muitos anos se passaram antes de eu
“acordar”. Durante um tempo em que eu
estudava sobre o reino de Deus e redescobria a
mensagem do evangelho do reino, eu lia
novamente um comentário que o Sermão do
Monte é uma coleção dos ensinamentos de
Jesus sobre princípios e valores do reino de
Deus, um ponto de vista muito comum entre
teólogos de referência. Embora eu já tivesse
lido isso muitas vezes, foi nessa hora que “caiu
a ficha”.

A oração de Jesus, aquela que ele ensinou


aos discípulos, é essencial para trazer o reino de
Deus à Terra. Se não fosse assim, não constaria
nesse material tão importante para Mateus. E,
se entendermos que Jesus ensinava esse
material de cidade em cidade, então veremos
que ele ensinava a fazer essa oração em todos
os lugares aonde foi.

Eu precisava descobrir a essência dessa


oração...

Contudo, Mateus não foi o único


evangelista a relatar essa oração. Lucas, o
médico e historiador, pesquisou e soube de
outro contexto em que Jesus ensinou a fazê­la:
“ensina­nos a orar, como João ensinou”. (Lucas
11:1b)
Tenho certeza que você, leitor, irá gostar
de saber as implicações da única oração que
nosso Sumo Sacerdote ensinou a fazer neste
outro contexto.
O décimo primeiro capítulo do Evangelho
de Lucas relata o momento em que os
discípulos pedem para Jesus lhes ensinar a orar,
tal como João tinha ensinado aos seus
discípulos. Esta passagem me inspirou a
escrever este livro a partir do ponto de vista de
Jesus.

Os discípulos acompanhavam seu Mestre


de cidade em cidade e ouviam seu ensinamento
sobre o reino de Deus. Junto com as multidões
recebiam suas palavras sobre oração por
dezenas, senão centenas de vezes. Contudo,
creio que sentiram o peso da oração quando
pediram para aquele que “orava em certo lugar”
ensiná­los, como se ele não tivesse feito isso de
cidade em cidade, como se tivesse algum
mistério sobre oração que ele não havia
revelado aos íntimos.

Será que os solicitantes se surpreenderam


ao ouvir a sua réplica? Será que eles esperavam
ouvir a mesma oração que Jesus havia ensinado
às multidões e, consequentemente, tantas vezes
para eles?
E se os que seguiam e ouviam Jesus em
carne e osso não sabiam valorizar a sua oração,
será que eu e você a valorizamos como
devíamos? Confesso que eu, não! Resolvi
buscar entendimento sobre a única oração que
o Mestre ensinou.

Este livro é uma narrativa didática que


relata os encontros de Jesus com um jovem nos
dias de hoje, quase 2.000 anos depois que Jesus
ensinou pela primeira vez em Israel. As
experiências são fictícias, mas a verdade delas é
totalmente bíblica. Creio que o Espírito Santo
falará muito com você, querido leitor.

...Mas, quem é este jovem?


Timóteo.

Lucas, historiador e médico, pesquisou e


escreveu um evangelho e os Atos dos
Apóstolos para uma pessoa chamada Teófilo.
Não há informações suficientes nessas obras
para saber quem era essa pessoa.

Numa tentativa de entender para quem e


para que ele escreveu, teólogos observaram o
significado do nome “Teófilo”: “aquele que
ama a Deus”.
Então, levantaram­se duas possíveis
explicações:

• Que Lucas pode ter escrito para


um conhecido chamado Teófilo pelo
significado do seu nome, a fim de chamar todo
“aquele que ama a Deus” para ler seu
evangelho e crer em Jesus;

• Ou que Lucas não conhecia


nenhum Teófilo, mas escolheu este nome para
chamar os leitores cujas vidas se descrevem
com o significado do nome; ou seja, para quem
ama a Deus.

Hoje, não podemos conversar com Dr.


Lucas para saber o que ele intentou ao escrever
para este alguém chamado Teófilo. Mas eu
estou vivo e posso falar. Evidentemente, essa
história do evangelista Lucas sempre me
impactou.

“Pai Nosso: Como Ele Nos Ensinou”, foi


escrito do ponto de vista do jovem Timóteo dos
dias de hoje, cujo nome significa “aquele que
honra a Deus”. Através da história de “quem
honra a Deus”, espero integrar muitos
conceitos, princípios e valores do reino de Deus
para que você seja edificado e capacitado a orar
como discípulo de Jesus. Quem sabe? Se você
deseja honrar a Jesus, Timóteo pode ser você!

Este livro está em processo há mais de 10


anos. Tenho ministrado o que recebi do Senhor,
e eu soube de muitos testemunhos de como
Deus agiu através dessa oração feita em
escolas, lares, bairros, empresas, e outros
lugares onde o Pai introduziu os seus filhos
para que se manifestasse o reino de Deus. Neste
tempo, tenho pesquisado onde ministramos e
averiguei que, de forma geral, a igreja deixou
de fazer essa oração. Há uma geração que nem
conhece o que Jesus ensinou. Escrevi porque
tenho convicção de que é chegada a hora de
mobilizar a igreja cristã a fazer essa oração com
fé em todos os lugares para os quais o Espírito
Santo indicar. Não basta ler o livro. Meu desejo
é que o leitor entenda porquê e para que o
Mestre nos ensinou a orar assim.

Assim, oraremos como Ele ensinou…


CORDEIRO

E​
u me chamo Timóteo. ​
Sou seu
conterrâneo, nascido no tempo medido pelo
relógio para encontros agendados ​ como este.
Filho de pai e mãe, criado junto aos meus
irmãos em Hemeterópolis, na Allolândia, gosto
disso e não gosto daquilo. Sou normal, mas
nem tanto. Difícil definir "normal" nesta época
da história. Busco paz. Sou maior de idade.

Sonho com muitas coisas e tenho muitas


ideias, mas não sei se vou conseguir todas,
embora me esforce para chegar lá. Contudo,
tenho muita esperança, e até expectativa.

Como muitos da minha geração, eu tenho


experimentado mais nos meus poucos anos do
que os meus antepassados numa vida. Até hoje,
a experiência que mais me marcou foi meu
encontro com o Cordeiro.

Hemeterópolis se situa ao sopé do Morro


do Rei. Diz a lenda que, nos tempos coloniais,
o enviado do rei escalou este morro para avistar
as terras a fim de achar um sítio onde pudesse
estabelecer um povoado. Este seria uma
extensão do reinado, um lugar de convivência
que refletisse o caráter, os valores e os
princípios de vida do próprio rei. O enviado
avistou o riacho cascateando pelos campos que
se abriam até ao horizonte e tinha certeza que
havia ali tudo que um povo necessitasse para
desenvolver uma bela comunidade. Ele queria
que todos soubessem disso e deu nome ao
morro: Morro do Rei. Hoje o morro é um ponto
turístico da região com uma infraestrutura de
mirantes e clareiras onde muitas famílias
fazem piqueniques nos finais de semana. A
altura te eleva para respirar os ares refrescantes
onde se enxerga a quilômetros, avistando os
mesmos campos do enviado do Rei.

Era um dia de sábado. No morro, eu


conseguia esquecer dos meus problemas. Eu
subia pela calçada procurando me alienar dos
meus problemas e grandes falhas. Naquela
semana eu havia "bombado" em todas as
provas, atrasei­me por várias vezes no serviço,
briguei feio com a minha namorada e
acabamos terminando. Já fazia muito tempo
que eu estava mal com os meus pais e até com
os meus colegas.

Eu caminhava, banhando­me do sol


caloroso nesta tarde fria. Meu destino era o
Mirante do Príncipe, o suposto lugar de onde o
enviado tinha avistado a planície inferior. Para
chegar ao mirante, do estacionamento superior,
toma­se uma trilha pelo bosque. As árvores do
bosque fazem uma sombra refrescante, criando
a sensação de passear num lindo mundo
paralelo debaixo dessa sombra.

Ao sair do bosque, eu sentia o calor do sol


novamente. Eu ia na direção do Banco da
Águia­ Real. Dizem que a águia real é capaz de
avistar um coelho a distância de mais de 3
quilômetros. O enviado do rei foi uma
“águia­real” nos seus dias, avistando
quilômetros à frente no espaço e pelo tempo.
Mas hoje, já estava sentado outro enviado do
rei.

O varão empoleirou­se no banco como a


águia­real para observar nosso pacato povoado.
Do mirante, ele contemplava todo
movimento do pacato povoado. Olhava de um
lado para o outro, e de cima para baixo.

Lembrava­me um arquiteto que examina a


construção que desenhou, desejando encontrar
os mínimos detalhes do seu projeto. Dava a
impressão que sabia tudo sobre a vida da nossa
metrópole, como se fosse o urbanista que tinha
minuciado cada sistema e órgão desse corpo
metropolitano com a perfeição que Deus criou
o universo.

Concentrado, ele esquadrinhava cada


metro da cidade como se conhecesse tudo e
como tudo devia funcionar. Não parecia estar
ciente da minha presença ainda a uma distância
de aproximadamente 25 metros.

Simples de aparência, não demonstrava


ser rico nem pobre. Não era nem bonito nem
feio. Nem velho nem jovem. Vestia roupas
simples e sem adornos. Nenhum detalhe deste
indivíduo chamava minha atenção. Contudo,
não conseguia parar de examiná­lo com certa
fascinação.

Uma “luz” o envolvia. Eu não via a “luz”,


mas a enxergava. Era misterioso, místico
até, como se enxergasse dimensões da minha
cidade que eu não via.

A vontade de me aproximar dele crescia a


cada minuto que passava. Por um momento, um
temor tomou conta de mim. Digo medo mesmo.
Neste instante eu sabia que tudo estava para
mudar em minha vida. Até então vinha levando
minha vida do meu jeito. Mas agora este
encontro podia mudar todo o rumo dela. Pensei
em voltar atrás.

Uma sensação de mortalidade me


envolveu diante da conscientização da sua
imortalidade. Eu tinha uma certeza de que este
Ilustre tinha o poder e autoridade para me
julgar e condenar à morte.

No mesmo instante, como uma miragem,


eu via nele vestes de realeza e majestade.
Desacreditando, fechei os olhos com força e
abri para ver suas vestes simples novamente.
Como que alguém tão simples podia ser Rei? E
imortal?

Eu fiquei muito curioso para descobrir


quem seria este nobre. Ao mesmo tempo, sentia
temor, sim, muito temor. Mas maior foi a
minha curiosidade do que o medo, então me
aproximei. Nunca vou esquecer a sensação
deste momento. Até então, era como se eu visse
o oceano pela primeira vez. Como se estivesse
na praia admirando a imensidão das águas.
Podia ouvir o barulho constante das ondas
solapando a areia. Sentia a brisa do mar e o
cheiro inconfundível das águas salgadas. Eu
tinha sentido a grandeza dessa figura sem
movimento, como se tivesse olhado uma
pintura de um grande artista ficando
impressionado. Contudo, eu não esperava o que
me ocorreu em seguida. Era como se eu
estivesse adentrado na pintura mais valiosa da
Terra.

Dando este primeiro passo, à espera de


sentir mais medo, acabei sentindo um amor.
Não era qualquer amor. Era o sentimento como
de um pai que faz tudo pelos filhos, sem se
importar com o custo. Amor imensurável,
incontestável, irrecusável.

Há poucos metros dele, me surpreendi e


me deleitei com a sensação de estar me
movendo em águas; as mais puras do mundo,
as mais refrescantes, as mais transluzentes.
Águas, cujas ondas solapavam até a minha
alma. Cada onda trazendo uma sensação nova:
santidade, amor, paciência, misericórdia, graça,
e muito mais.
Sua pureza me constrangia. E na esfera
onde seu Espírito alcançava, eu sabia de coisas
que eu não tinha como saber. Digo: “eu sabia
que sabia” que ele jamais pensava em maldade
de qualquer espécie. Que não havia nele
falsidade alguma e nada que fosse oriundo de
falsidade. Nenhuma mentira, nenhum artifício,
nem desonestidade. Nenhuma fraude, nenhum
logro, tampouco engano. Nele não havia
sombra. Sua luz garantia que ele não escondia
nem ocultava nada para aquele que desejava se
aproximar.

Eu percebia que era a sabedoria em


pessoa, que ele sabia de coisas que eu
desconhecia. Como se a sabedoria de todos os
tempos estivesse acumulada em sua pessoa.

Ele via as coisas invisíveis que eu sentia,


mas não enxergava. Sua percepção ia muito
além da minha, unindo o natural e espiritual e
desfazendo os mistérios ocultos a grande
maioria.

Ele tinha respostas às perguntas que eu


não saberia fazer, bem como perguntas às quais
eu jamais saberia responder.

Ele nem tinha falado comigo, mas eu


tinha “ouvido” tudo isso sobre ele
simplesmente me aproximando. Sei lá, parecia
que ele tinha muito para falar comigo, como se
eu pudesse sentar do seu lado e ouvi­lo durante
dias e dias sem cansar. Parecia que poderia me
revelar os segredos do universo, pois nada a ele
era mistério.

• Eu Sou o Verbo — disse este visitante


misterioso.

Eu “ouvi”, mas ele não tinha falado nada.


Curioso. Na sua presença parece que se fala o
tempo todo. Palavras que importam, que
impactam. Palavras que norteiam. Palavras que
criam. Palavras que revelam os mistérios
ocultos que pessoas como eu desconhecem.

O ar à sua volta pesava, mas eu respirava


normalmente. Perto dele parecia que meus
sentidos eram ativados, que a essência de tudo
resplandecia.

A sua simplicidade contrastava com a


realeza que irradiava deste nobre. Meigo sem
ostentação, ele tinha pleno governo de tudo.

Em me aproximar mais e falar com ele, a


minha vida nunca mais seria a mesma. Frente à
sua magnitude, eu teria que pesar cada
expressão, dele e minha. Haveria de pensar
antes de perguntar. Refletir antes de responder.
Eu sabia que eu não poderia ouvir suas
palavras como se ouvisse a qualquer um. Ele
não era qualquer um. Eu entendia que seria
cobrado, provado, comissionado, envolvido,
consumido em algo que eu ainda não
compreendia por causa deste nosso encontro.
Mas eu não queria fugir.

Quando cheguei, ele estava falando em


voz baixa. Eu não via mais ninguém em sua
presença. Se tivesse, eu jamais o teria
interrompido. Fiquei constrangido ao ouvi­lo,
mas algo me levava a ele, como um ímã que
puxa o ferro para si. Ele reconheceu a minha
presença com um olhar. Olhou para mim, para
o lugar vago do seu lado e para mim de novo.
Seu convite foi discernido e atendido com
temor e tremor.

Eu sentei ao seu lado em silêncio.

Fiquei sem consciência de tempo. Ao seu


lado parecia que não havia tempo. Como se
ontem, hoje e amanhã fosse tudo a mesma
coisa. Há poucos segundos eu estava ansioso
para falar com ele. De repente não sentia mais
nenhuma ansiedade, nenhum motivo de
apressar nosso encontro. Parecia que não
existia mais ninguém, só eu e ele. E nenhuma
outra agenda ou tarefa mais importante. O
mundo parou. Esperar para ouvir o que este
Sábio tinha para falar valia mais que todas as
riquezas do mundo.

E ficamos ali durante um tempo.

Eu sentia medo. Medo de olhar para ele.


Medo do que ele diria para mim. Medo do que
ele poderia fazer comigo. Poder. Justiça.
Retidão. Autoridade. Eu sentia tudo isso ao seu
lado sem que ele falasse uma só palavra.

Eu estava cabisbaixo, mas sentia que ele


estava olhando para mim. Levei um tempo
longo para criar coragem e olhar para ele.

Olhei. Ele não estava olhando para mim, e


sim para frente. Não como se olhasse para o
que estava na frente dele. Mas como se olhasse
e visse todos os tempos: passado, presente e
futuro. Como se visse outras dimensões e
esferas que, para mim, eram invisíveis.

Nele havia plena paz. Eu sentia que ele


não se incomodava com nada. Minha presença
não o incomodava. A realidade da minha
cidade não o incomodava. Eu sabia que o
Inspetor analisava tudo que enxergava a fim de
identificar o que estava de acordo, ou não, com
o seu plano diretor. Eu sei que ele observou
muitas coisas ruins da minha amada cidade,
mas não esbouçou nenhuma reação negativa.
Irradiava

soberania. Embora tudo parecesse perdido


na minha avaliação, ele tinha tudo sob controle.

Não sei quanto tempo fiquei olhando para


ele. Ele não se mexia. Parecia gostar. Nunca
contemplei alguma coisa ou alguém assim em
minha vida. Eu não conseguia tirar os olhos
dele. Era como se eu visse algo além do que os
olhos podem ver. Bondoso. Amoroso. Justo.
Fiel. Leal. Sábio. Absoluto. Brilho maior que o
sol. Poder maior que os oceanos. Apóstolo.
Profeta. Evangelista. Pastor. Mestre.

Tirei meus olhos dele só um minutinho e


fiquei chocado: eu estava “nu”!

Que vergonha. Que vexame. Eu queria me


cobrir. Mas estava vestido! De repente, toda a
minha podridão voltava à memória. Tudo que
eu tinha falado e feito que me envergonhava. E
outras coisas que eu não havia sentido
vergonha, agora eu sentia ao lado dele. Entendi
que ele sabia tudo a meu respeito, como se
estivesse presente em cada momento que
cometi as minhas vergonhas. A “luz” que o
envolvia penetrava os lugares mais profundos
da minha alma. A sua pureza descobria o que
era mais oculto e escondido do meu passado. O
seu amor afagava toda a minha ansiedade e
meu medo.

Ele tinha visto tudo. Ele tinha ouvido


tudo. Até os meus pensamentos e sentimentos.
E ele não se incomodava.

Eu queria me esconder. E tentava cobrir


minha vergonha com as minhas mãos.

Ele não falava nada! Contudo, eu sabia


que ele estava ouvindo cada um dos meus
pensamentos como se fossem palavras ditas em
voz alta. Estávamos conversando sem
verbalizar.

Como que ele sabia de tudo assim? Eu


não me lembro de tê­lo visto antes. Mas, de
repente, ao lembrar as cenas em que eu tinha
cometido as minhas vergonhas, enxergava­o no
cenário olhando para mim com tristeza.

Quem é esse homem? Quem é essa pessoa


que fala sem falar? ! Quem é esse senhor?
Senhor? “Senhor”, não. Uma voz dentro de
mim dizia: muito mais do que “senhor.” Eu
chamava o meu pai de “senhor.” Chamo os
mais velhos de “senhor.” Mas ele é muito mais
que “senhor”. Então, quem é?

Eu não sei como aconteceu, mas de forma


involuntária, sem olhar para ele, saiu da minha
boca uma pergunta:

• Senhor, quem és?

Olhei para ele conseguindo ver que Ele


esboçara um sorriso miudinho. Eu sabia que ele
tinha gostado da minha pergunta e que não se
irritara com a minha presença, embora eu
estivesse “nu”!

• Eu sou o Patriarca de uma família


sacerdotal, a atual que medeia entre Deus e a
humanidade. Alguns me conhecem como
Melquisedeque, outros como “a luz do mundo”,
outros como “ancião de dias”, ainda outros
como “Pai da Eternidade”. Tu podes me
chamar de “Cordeiro” ou “Senhor” se quiseres.

Eu sou de uma linhagem de realeza. Eu


Sou o Rei Imortal e Soberano. Vou governar
sobre todas as nações e sobre todos os povos. O
meu governo é de paz, alegria e justiça movido
pelo Espírito de Deus. O meu governo está em
crescimento há muitos anos. Durante um
tempo, movido pelo engodo do adversário, o
ser amado rejeitou o meu governo. Eu e meu
Pai estamos indignados de tanta maldade e
vamos pôr um fim nela, pois estamos
preparados para suplantar esse império de
maldade e trevas e destruir toda a influência do
mal. Eu tenho o exército mais poderoso.
Ninguém! Ninguém poderá nos resistir! Dia
após dia, o ser amado e iluminado, está
pedindo: “Venha”!
Interessante, mas relatando isso a mim, eu
ouvia tudo o que ele dizia com a maior clareza,
como se fosse uma única enunciação. Sua voz
era volumosa como o rugir de cataratas que
silenciava qualquer som concorrente. Todavia,
não me lembro de ter visto mexer os seus
lábios. Ele continuou:

• Tu, Timóteo, estás me vendo aqui,


mas essa não é a primeira vez que venho para o
mundo.

Por alguma razão eu olhava­o agora como


se estivesse examinando­o. Ele vestia um
manto que, quando eu vi, caiu sobre o assento.
Ele usava uma toga por baixo que reluzia. Na
verdade, não sei se era feita de tecido ou se era
de luz mesmo! Só sei que reluzia. Mas, ao
mesmo tempo, era transparente.
Eu observava marcas por baixo da toga.
Suas costas eram retalhadas de cicatrizes. Olhei
e vi outras marcas em suas mãos e nos seus pés.
E, olhando para ele, e querendo perguntar como
ele tinha se machucado, percebi mais marcas na
sua testa. Não vou saber explicar a sensação
que me passava por dentro. Eu me sentia
culpado..., culpado por ter causado essas
marcas. Eu não lembrava de tê­lo
encontrado antes, muito menos lembrava de
estar presente para executar a sentença que
deixou essas marcas...

• A humanidade para mim é como uma


esposa. Como foi feita uma mulher para Adão,
meu Pai fez também para mim. Se ela não
caísse no engano dos séculos, ela seria minha
rainha, reinando sobre a Terra comigo. Mas ela
cedeu ao enganador. Ela se tornou como o
enganador: soberba, corrupta, mentirosa e
egoísta.

Comecei a chorar. Não de pena e tristeza,


mas arrependido de toda a vergonha e maldade
que eu cometera. Sentia um remorso incomum,
com cada pranto e gemido arrancado do fundo
da minha alma. Suas palavras flagraram a
maldade do meu interior que eu mesmo jamais
poderia negar. E iluminado, captei neste
momento, que nem eu mesmo conhecia os
limites da maldade em mim.

Ele prosseguia:

• Dia a dia o ser amado se afastava de


nós. O ser amado tinha aceitado o engano em
vez da verdade, admirando a criatura, em vez
do Criador, a ilusão no lugar da realidade. O
engano teria que ser exposto. O poder do
encantamento teria que ser quebrado. Eu me
ofereci. Meu Pai olhou para mim e pediu que
eu me tornasse humano para executar o plano
de resgate, pois o novo exemplo teria que ser
dado. O preço do resgate seria muito caro, pois
o ser amado se entregou ao engano de livre
escolha e de graça. Ofertei a minha vida como
sacrifício e tomei sobre mim o castigo que
podia restaurar a paz entre a humanidade e
Deus. Nós criamos a humanidade à nossa
imagem e semelhança. Revelei todo o engano e
trouxe a verdade à luz. Eu não hesitei, pois se
tratava da minha noiva. Entreguei­me em amor
à minha noiva para que ela venha ao meu
encontro sem mácula e sem ruga. Nosso amor
por ela é constante, perseverante, eterno e real.

Aos prantos, eu pensava: “Foi por mim,


foi por mim!”
• Essas são as marcas do meu amor. Foi
isso que fizeram comigo quando souberam que
eu vim resgatar a minha noiva. Eu fui
crucificado injustamente para que o injusto
fosse justificado. Eu fui abandonado
injustamente para que o abandonado fosse
adotado. Eu fui moído por transgressões e
enfermidades para que os transgressores fossem
perdoados e os enfermos curados. Essas marcas
são a prova da minha devoção. Prova do amor
do meu Pai. Prova da nossa vitória sobre o
império do mal.

Enquanto ele falava, eu pranteava. E eu


via! Como se uma grande tela se abrisse à
minha frente; eu me vi na hora da sua
crucificação. Eu tinha retalhado suas costas
com chicote! Eu tinha enfiado uma coroa de
espinhos na sua cabeça! Eu o tinha forçado a
carregar a cruz até o local da sua morte! Eu
segurava o martelo que pregava os cravos nas
suas mãos e nos seus pés! Eu furei o seu lado
com uma lança!

Eu queria agarrá­lo e dizer: “Perdão!


Perdoe­me! Eu não sabia o que eu estava
fazendo!” Eu chorava e chorava. Nem percebi
quando ajoelhei diante dele, chorando com a
minha cabeça em seu colo. Na recordação de
cada uma das minhas vergonhas eu gemia e
clamava por misericórdia e perdão.

• Eu te perdoo. Te perdoo.

E ele passava a mão em minha cabeça e


eu sentia um consolo antes inimaginável, e
sabia que eu estava perdoado!

Não sei quanto tempo passamos assim. Eu


sei que recordei a minha vida, como se eu
estivesse vendo os filmes amadores da minha
infância que meu pai filmava. E, com cada
lembrança, eu chorava de novo e pedia:
“perdoa­ me”! E ele me consolava com
palavras de amor e perdão. No decorrer desse
momento, eu sentia um calor sobre mim
misturado com uma sensação de vida. Não sei
explicar... É como se a minha pessoa
despertasse de um sono, como se um morto
ressuscitasse, como se um confuso ficasse
totalmente são em todos os seus sentidos.

De repente eu senti um vento sobre mim e


tive uma reação involuntária. Ao sentir a brisa,
eu respirava com força como uma pessoa
depois de se afogar, esforçando­me para encher
os pulmões com o fôlego vital que a brisa
continha. A cada respiro, sentia força e vida
penetrando o meu ser. Todos os meus sentidos
se avivaram. Senti o cheiro da brisa – jasmim.
E o gosto – mel puríssimo. As cores ficaram
mais vivas e os sons mais claros enquanto uma
força vital tomava conta de meu corpo.

Foi neste momento que a estranheza me


tomou. Ainda chorando e respirando forte,
olhei para o Cordeiro, Eu não conseguia falar,
mas sentia que ele teria uma explicação se eu
olhasse para ele.

Ele que estava soprando em mim! O seu


fôlego estava gerando algo tão forte em mim
que parecia que cada sopro me acrescentava 10
anos de vida, como que trazendo para mim o
que estava nele. E eu chorava.

Chorei muito. E, como a maioria das


pessoas, eu choro de olhos fechados. Ao abrir
meus olhos, vi que a minha pele estava
vermelha, como se alguém tivesse me banhado
em sangue! Por alguma razão, não estranhei.
Às vezes eu conseguia olhar enquanto chorava
e com o passar do tempo, vi que minha pele
tinha ficado limpa e linda.

Parei de chorar de tristeza e remorso e


passei a chorar de amor; um amor que nunca
havia experimentado até então. Mais do que a
paixão de um homem pela sua amada. Mais do
que o amor de uma mãe pelo neném que
amamenta ao seu peito. Mais do que o pai que
se enche de orgulho do filho.

Esse amor... Que amor era este? Eu sentia


um calor como o calor do sol, como o calor da
luz quando penetra as mais densas trevas.
Como as ondas do mar solapam as praias do
mundo inteiro, o mais puro amor, o meu
coração. Total amor. Perdão verdadeiro. Mais
do que aceitação, eu me sentia bem quisto, até
mesmo desejado.

Apreciado e valorizado por existir. Se o


amor vinha deste peregrino ao meu lado, então
eu não quero deixar este amor, esta presença!

Eu queria mergulhar neste oceano, curtir o


calor dessa luz e voar nos termais que me
elevam mais alto, mais perto da fonte.

Meu Rei. Meu Amo. Meu Amado. Meu


Herói. Meu Campeão.

Perdi­me nesta nuvem densa de amor,


aceitação e realização, pois agora sabia que eu
existia para viver nesta nuvem. Antes, não
percebia que estava perdido, mas agora sabia
que ele tinha me achado. Antes, não percebia
que era culpado, mas agora sabia que ele tinha
me perdoado. Antes não sabia que estava
morto, mas agora eu me sentia vivo. Vivo
como nunca!

Eu sentia as suas mãos nos meus ombros


e sabia que ele queria que eu sentasse do seu
lado novamente. Levantando­me com muita
leveza, recordava­me da minha “nudez”.
Quando fui cobrir novamente a minha
vergonha, percebi que eu vestia uma outra
veste, igual a que o Cordeiro usava de baixo do
seu manto. A minha veste também reluzia.
Também notei a minha pele sem mácula e sem
ruga. Eu fiquei ao lado dele durante um tempo.
Como eu disse, ao seu lado eu não tinha noção
de tempo. Comecei a refletir no encontro, no
perdão, e no amor que eu sentia dele e por ele.

Então, olhei e vi um monturo no chão à


nossa frente: jugo, correntes, escamas, algo
como um coração petrificado, alguma coisa
putrificada, parecida com um ser morto há
muito tempo. A cena me dava repulsa e ânsia
mas, de repente, pensei: “Tudo isso fazia parte
de mim!”

Olhei para ele novamente e


contemplava­o como antes, só que agora eu o
via com nitidez. Ele me redimiu de tudo isso. E
eu nem dava conta de tudo isso em mim.
Fechei os olhos e respirei fundo... Essa
presença! Era como se eu sentisse o cheiro, um
perfume que me envolvia e que penetrava em
meus poros, um aroma tão delicioso! Era como
um abraço materno, um toque na minha pele
tão cheio de ternura e amor! Era como se fosse
um som majestoso nos meus ouvidos...

Eu queria declarar: “Estar Contigo é bom


demais”! Mas quando olhei, não o vi mais.
Então, ouvi uma “voz” dentro de mim: “Tu não
estás me vendo, mas estou aqui. Nunca te
deixarei. Estarei contigo para sempre.”

...Eu caminhava nessa “nuvem.” Eu não


via a nuvem, mas minha alma sentia­a como se
fosse uma garoa paulista. Nos próximos
dias andei cambaleando – às vezes para a
direita, às vezes para a esquerda. E, quando
cambaleava, eu parava e sentia a necessidade
de gritar de novo: “Perdoe­me”! Eu não o via,
mas sentia sua mão passando sobre minha
cabeça e ouvia sua voz volumosa: “Te perdoo,
te perdoo”.
Um Sonho

O​
s dias passaram e eu ​
me esforçava
para ​
processar tudo que havia passado junto ao
Cordeiro. Entre os meus amigos, sou bem
quieto. Eles acham que sou desligado e ​ até,
aéreo, mas sou observador. Eu capto muito
mais do que eles pensam.

Os poucos momentos com o Cordeiro


eram marcantes. Inesquecíveis.

Depois de me encontrar com ele, eu


estava diferente. Era como se eu tivesse
acordado de um sono profundo com
sentimentos e ​ pensamentos nítidos, ciente da
presença de Deus em todo lugar, o tempo
todo... E o amor! Eu sentia amor de novo: pelos
meus pais, meus amigos, meus vizinhos. E
todos os dias eu pensava no meu novo amigo:
Cordeiro.
Um dia, estava caminhando num
parquinho perto de casa. Eu gostava de
perambular perto do riacho entre as pedras. O
barulho das águas sempre me relaxava, e a
temperatura era sempre mais amena do que no
centro. O riacho serpenteava pelo bosque e
passava numa clareira.

Cordeiro me esperava sentado num tronco


caído. Ele olhou para mim e sorriu. Seu olhar é
repleto de amor e alegria. Qualquer um se atrai!

Neste instante tomei conta de algo novo


em mim. Era como um pensamento, tinha uma
dimensão maior. Como se fosse um
pensamento meu, mas desconexo de
qualquer diálogo interior antecedente.

Sei que isso começou durante a


experiência que tive com o Cordeiro. Era como
se a sua voz falasse ainda dentro de mim.

Um pensamento me ocorreu
imediatamente: “eu já vi ele em muitos lugares
antes, apenas nunca reparei nele” ...

Impressionante! Eu sentia de novo todas


as sensações como na primeira vez: “sabia que
sabia”, palavras sem falar... Mas dessa vez
havia uma sensação a mais, como se esse
encontro tivesse sido marcado de antemão, e
cheguei na hora certa como se eu tivesse me
programado. Vou ver se consigo explicar.

Tive a sensação de não estar neste


encontro por acaso. É como se esta ocasião
tivesse sido marcada há muito tempo na agenda
do Cordeiro. Assim, eu sabia que ele estava há
anos “na minha cola”. Eu tinha visto ele pela
primeira vez no último encontro, mas ele me
conhecia antes que eu existisse. Eu sabia que
neste exato momento eu estava com ele no
lugar certo e na hora certa sem eu ter marcado
este encontro. Aquela voz dizia: “Nada é
casual. Tu nasceste com um propósito”.

Ao perceber quão grande privilégio era


estar com ele de novo, fiquei tomado por
sentimentos de alegria, amor, e gratidão que
cresceram no meu coração. Sucumbido pela
emoção, ajoelhei­me e o abracei. Ele curtiu e
sorriu. Sentei ao seu lado sem percepção do
tempo corrido e sentindo muita leveza.

Dei­me conta de uma nova sensação: a


inocência e ingenuidade de uma criança. Acho
que as vergonhas da minha vida me tiraram a
inocência e ingenuidade da criança que ama aos
seus pais e neles confia. Eu recordava­me do
primeiro encontro totalmente convicto do amor,
da aceitação, do senso de ser bem­quisto, da
apreciação e valorização. E essa “infância”
estava me transformando. Era como se eu
estivesse nascido outra vez e meus pais se
deleitavam com a minha pessoa mais que
qualquer outra coisa na vida deles. Felicidade.

Logo me acomodei como filho no colo


do pai. E agora, ainda sem conversar, ele estava
falando em voz baixa tal como no primeiro
encontro.

Eu queria saber qual era o motivo deste


reencontro. O que ele queria falar comigo hoje?
Nossos últimos momentos juntos foram como
um ano de aprendizado em tão pouco
tempo. E como eu disse, eu podia ouvi­lo
durante horas sem cansar, pois com ele a
percepção de tempo não existe.

Olhamos um para o outro novamente.


Esta vez passei a contemplá­lo. Eu estudava
cada aspecto do seu ser e recordava de tudo que
eu sabia dele do primeiro encontro. Seus olhos
destilavam amor e alegria. De fato dei uma
risada enquanto fitava os olhos dele,
sentindo uma alegria fora do comum. Não
falávamos nada, mas ríamos juntos como duas
crianças sem nenhuma preocupação no mundo.
Apenas um olhar era suficiente para iniciar uma
nova sessão de pura felicidade.

Quando também voltei o meu olhar para


frente, levei um susto. Eu estava enxergando
meu mundo de forma muito diferente. Nesta
nova paternidade, o Cordeiro me mostrava uma
perspectiva diferente de tudo que havia pensado
antes. Revelação. Iluminação.

Era como o melhor sonho do mundo,


porém real e tangível, e eu estava envolvido
nele com todos os meus sentidos. Assim,
vivificado por Cordeiro, prestei toda a atenção
no que ele me revelava.

Então, ele sorriu e explanou:

• Eu e o Pai somos um. Eu sou a


imagem do Deus invisível. Eu sou o Verbo. Eu
sou antes de todas as coisas. Eu estava com
Deus no princípio. Tudo o que se fez foi feito
por meu intermédio e para mim. Em mim, tudo
subsiste. Tudo que o Pai tem é meu e tudo que
é meu é do Pai.

Ao longo da sua história, o ser amado se


revelou ter a maior inteligência de todas as
criaturas. Ele tem a capacidade de realizar
projetos em escalas grandiosas e benéficas.
Essa inteligência, somada à sua criatividade,
deu ensejo às mais belas artes e expressões
culturais, às mais majestosas e funcionais
construções para todos os propósitos, às mais
geniosas invenções para facilitar o dia a dia da
raça.

Timóteo, afirmo que ninguém nunca


imaginou ou sonhou com o mundo que nós
preparamos para o ser amado: nem artista, nem
músico ou maestro, nem produtor
cinematográfico, nem arquiteto, nem
governante algum, ninguém. Hoje o mundo
seria assim, se o ser amado não tivesse pecado.

Eu estava vendo cenas paradisíacas, o


“sonho” de todo mundo. Vida. E luz... Cores. E
solidez... Águas vivas, puras e límpidas. A
melhor imaginação hollywoodiana com todos
os efeitos especiais não podia reproduzir o que
eu estava vendo e sentindo. E paz. Uma paz
indescritível. Uma ausência total de contenda,
rivalidade e competição.

• Nós criamos todas as coisas. Tudo o


que existe (visível e invisível), e em todas as
dimensões de existência.

E quando criamos todas as coisas, tudo


era bom. Havia harmonia, sincronia e simbiose.
Todas as coisas que criamos contribuíam para o
bem­estar de todas as outras coisas que
criamos. Não havia nenhum conflito em todo o
universo, muito menos aqui na Terra.

A beleza de todas as coisas era singular e


tudo gerava em nós uma exclamação: “É bom”!
Todas as coisas criadas refletem a nossa
essência de alguma maneira. A força dos
oceanos reflete o nosso poder. O brilho do sol
figura a luz que somos. O rugido do leão e o
retumbar das cataratas imitam o volume da
nossa voz. Mas, de tudo o que criamos, nossa
obra­prima era o ser amado, criado à nossa
imagem e semelhança.

Como se abrisse outra dimensão de


existência e de luzes, vi um lugar com seres
cuja beleza vai além da imaginação.

E o som do lugar era algo extraordinário,


com harmonias, melodias, vozes. Os sons da
própria natureza ressoavam numa sinfonia de
engrandecimento ao seu Criador, ao Todo­
Poderoso, ao amor eterno.

As luzes falavam. O som era palpável. O


cheiro alimentava. As palavras eram visíveis...
Era um espetáculo que nenhum pintor ou
cineasta, nenhuma orquestra ou sonoplasta,
nenhum ser humano jamais imaginou ou
sonhou.

• O universo que criamos foi projetado


para ser a extensão da nossa habitação: uma
harmonia perfeita em total sincronia, simples
de tudo, cujos detalhes confundem os mais
sábios e inteligentes.
O ser amado pode observar a imensidão
da grandeza insondável para fora na criação e
da vastidão do universo, bem como a
perfeição, harmonia e complexidade
sistémica, orgânica, celular e atômica do seu
próprio corpo. Tudo isso fizemos pelo som da
nossa voz.

Uma ressonância de vida vibrava em


todas as coisas, e a criação irradiava um som
que enchia o nosso coração de alegria e
satisfação!

Ouvindo o Verbo Vivo, eu percebia a


vibração dentro de mim. E eu sentia no meu ser
o que ele estava falando!

Foi quando senti algo que até então nunca


tinha imaginado. Quando voltou a falar sobre o
ser amado, eu sabia que ele falava de mim, de
nós, de cada ser humano, independentemente
do seu estado. Ele falava de um jeito que me
comovia, emanando um amor por todos que eu
desconhecia. Suas palavras vivas penetravam
minha "casca dura" e cada frase me
contagiava, então comecei a sentir este amor
por toda a humanidade.

Assim, percebi que até então eu amava


pessoas que me faziam bem e que me
beneficiavam de alguma maneira. Eu escolhia
pessoas do meu jeito e que concordavam com
as minhas ideias, escolhia quem eu queria
amar. Senti, então, que o meu amor era egoísta,
voltado para receber algo em troca do amor que
dei com muito esforço.

Mas, o amor do Cordeiro não era assim.


Quanto mais ele falava, mais se revelava a
essência do amor verdadeiro. Ele parecia ser o
Amor em pessoa!

Ele fixou seu olhar em mim e afirmou:

• Tudo o que tu estás vendo é o que


fizemos por amor ao ser amado. Nosso amor
por essa criatura não conhece limites, nem
circunstâncias que o mudam. Todos os
exemplos de amor humano são apenas uma
sombra do amor que sentimos pelo ser amado,
porque o nosso amor é mais forte que a morte,
pois o ser amado é todo especial, feito à nossa
imagem e semelhança.

Demos atributos e qualidades a ele que outros


seres não receberam: comunicação avançada,
criatividade, livre arbítrio, corpo, alma e
espírito...

• Espírito? — perguntei­lhe.

• Sim. Sopramos nas narinas de Adão,


tornando o ser humano habitação do Espírito de
Deus, que é o Ajudador, o Conselheiro, o Guia.
Porque quando o formamos, queríamos que
esse ser fosse um conosco, com características
semelhantes às nossas, que pudesse comungar
conosco e nos conhecer; o criamos para
participar de algo que nenhum outro ser iria
participar: demos a ele o poder e autoridade
para cuidar e governar sobre a Terra.

A Terra foi dada para habitação do ser


amado. No princípio, ele era morador e
mordomo da maior e melhor habitação.

Criamos tudo com muita perfeição,


harmonia e sintonia para nosso ser mui amado
poder desfrutar dessas maravilhas. E, com a
ajuda do Espírito Ajudador, a sua vida nesse
abrigo maravilhoso seria inesquecível. Nenhum
ser limitado é capaz de governar sobre toda a
criação sem essa ajuda. Ele, criado e limitado,
poderia contar com o conselho e a condução do
Espírito de Deus para dominar e governar sobre
a Terra, pois só Deus pode dar ao ser amado o
que precisa para reinar sobre ela.

Porque a Terra, e tudo o que nela está, foi


criada para proporcionar ao ser amado tudo o
que ele precisava para existir: alimento, abrigo
e segurança. Tudo que ele necessitava para sua
vida estava no Jardim do Éden, a semente do
nosso reino: frutas, grãos, comida de todos os
tipos, tudo que era bom para se alimentar e
fortalecer fisicamente essa família que não iria
conhecer a morte; todo o jardim era climatizado
e habitável; e paz, alegria e justiça
estabelecidas pelo Espírito de Deus. O
ser amado seria conhecedor de tudo o que é
tôv (bom). E o ser amado para nós? Tôv­meod
(bom demais)! Nossa obra­prima.

Então, queríamos que o primeiro casal


gerasse uma família que enchesse a Terra e a
governasse na direção do Espírito de Deus que
habitava neles. Assim, a Terra estaria cheia de
nossa essência pela família que participa de
nossa natureza santa e de nosso governo. A
Terra caminharia em paz, na harmonia e
sincronia que planejamos, onde todas as coisas
que criamos iriam contribuir para o bem­estar
de todas as outras coisas criadas. Haveria uma
fusão entre as coisas naturais e espirituais sem
conflito entre elas, com o espiritual tão real
e visível quanto às coisas naturais. Haveria
uma fluidez entre as dimensões de existência.

Formavam­se imagens das coisas em


minha imaginação enquanto ele falava. Eu via o
que ele falava, e tudo fazia muito sentido.
Pensei comigo: “se ele tivesse falado tudo isso
antes do nosso primeiro encontro, eu teria
dispensado como uma tremenda fábula toda
essa conversa, aliás, nem sei se eu teria parado
para ouvir tudo isso. Mas, agora, era como se
eu estivesse sentado junto à pessoa mais vivida
de todos os tempos, que já conheceu tudo que
se possa imaginar. E ele, magnânimo, parava
para falar comigo. Eu sabia que tudo que ele
falava era verdade, não havia achismos, mas
somente “digo­te a verdade.”

Eu creio! Até por causa da diferença que


eu sentia dentro de mim depois do nosso
primeiro encontro. Eu deduzia que, se Cordeiro
podia provocar em mim a mudança que eu
vivia, então esse reino que ele descrevia era
real também. Fiquei impactado com tanta
autoridade na sua fala que, quando ele fala, não
há o que refutar!
Como se tivesse ouvido os meus
pensamentos, Cordeiro continuou:

• Timóteo, tu crês porque


experimentaste o meu reino, o meu governo.
Lembras o momento que soprei sobre ti?

• Sim! — exclamei.

• Neste momento um filho nasceu, um


morto ressuscitou, e tu foste transportado para o
meu reino. Vivias trancado e preso numa
dimensão de existência que não te fazia bem;
uma dimensão para qual não foste criado para
viver.

No fôlego, passei para ti o meu Espírito.


O mesmo que entrou em Adão quando o seu
Criador soprou nas suas narinas, fazendo­lhe
alma vivente; e que se retirou quando ele
escolheu assimilar o engano em vez de
permanecer com a verdade. O mesmo que
soprei sobre os meus discípulos para eu
estabelecer o meu governo sobre a minha
família.

Agora, tu és habitação do meu Espírito.


Ele está em ti para gerar o que está em mim
dentro de ti: sou Cristo em ti, a esperança da
glória. Os meus conhecem e ouvem a minha
voz pelo Espírito que habita neles, conhecem a
mente de Cristo pelo meu Espírito. O Fôlego de
Deus está em ti para estabelecer o meu reino
em ti; assim, ele estende o meu reino sobre a
Terra através de toda a minha família da qual tu
fazes parte! [Ele sorriu para mim].

O reino de Deus não consiste em comida


e em bebida. O reino de Deus é justiça, paz e
alegria no Espírito Santo.

Os que permitem este Espírito governar


sobre eles experimentam o meu reino e
conhecem a minha justiça, bem diferente
daquela que o mundo promove. Também
conhecem a paz que dou, que é bem diferente
daquela que o mundo oferece. E ainda
conhecem a minha alegria, que não tem nada a
ver com aquela alegria do mundo.

Pensei alto, e comecei a imaginar o


mundo sem os efeitos e as consequências do
pecado: sem maldade, sem mentira, sem morte.
Um mundo de paz, alegria e justiça no Espírito
Santo. Imagine um mundo onde todas as coisas
são visíveis, tanto as naturais como as
espirituais, com todos os seres humanos
desenvolvendo 100% de seus potenciais, e não
só os 5% que afirmam os cientistas. Imagine
ainda: toda a Terra seria climatizada, frutífera e
habitável; ninguém teria morrido desde Adão e
Eva, com todo o reino animal vivo e habitando
em harmonia: sem seca, fome, calor, frio;
sem doença ou enfermidade; sem manipulação,
sem disputa ou competição, sem contenda ou
rivalidade, sem guerra...

Como seria a raça humana e o


desenvolvimento das raças? Como seriam
nossos abrigos, nossas cidades? E os
transportes e as tecnologias? Seria tudo tão
diferente!

Eu sonhava acordado, vendo tudo na


“tela” à minha frente! “Nem olhos viram, nem
ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em
coração humano, o que Deus tem preparado
para aqueles que o amam. Mas Deus no­lo
revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas
as coisas perscruta, até mesmo as profundezas
de Deus.” Enquanto ele falava, eu via cenas de
indescritível beleza que, se eu pudesse
descrever, ninguém iria acreditar.
Contemplando tudo isso, eu queria expressar a
minha admiração e perguntar como era que eu
via tudo isso. Quando olhei para ele, Cordeiro
havia se retirado. Contudo, eu ouvia o ecoar da
sua voz dentro de mim:
• Nunca te deixarei. Nunca te
abandonarei. Estou contigo até a consumação
dos séculos.

Voltei a caminhar. Cada lugar que


passava, eu imaginava como seria no sonho de
Cordeiro: a favela, a zona, o centro, a minha
escola, o meu bairro, a minha casa.

Comprei as Escrituras e vi que o que eu


“ouvia” dele estava escrito
nelas.
A Tirania das Trevas

T​
odos os dias, na minha caminhada para
o meu trabalho, passo por um lugar "barra
pesada" que parece ter uma atmosfera de
conspiração, totalmente ​ diferente da região.
É como se ele tivesse seu próprio governo, o de
submundo.

Antes não me incomodava, mas hoje,


depois de me encontrar com o Cordeiro, vejo as
coisas de forma diferente. É como se alguém
tivesse mudado o chip de meu computador. E
agora, no “buracão”, eu me sentia responsável
por esse lugar. Eu era comparsa da situação
social desse local. É como se eu tivesse
contribuído para a edificação dessa “extensão
do inferno”: aqui eu comprava drogas, me
encontrava com as meninas com quem eu
ficava e frequentava os bares, dos quais eu
voltava cambaleando para casa.
Agora, de passagem, não sinto mais
nenhuma atração pelo que se faz nesse lugar.
Eu via as pessoas e, transformado pelo encontro
com o Cordeiro, sentia compaixão por meus ex­
comparsas. Eu me perguntava: será que um
encontro com o Cordeiro poderia tirá­los dali
também? À medida que eu me concentrava
para ver se havia ali algum amigo, eu vi o
Cordeiro! Ele estava no meio deles! Ele
também me viu e sorriu para mim. Eu não sabia
se deveria correr até ele, ou se esperava, ou se
continuava caminhando. “Vem cá.” Era a voz
dele. Eu ouvi, mas ele não abriu a boca para
mim. Fui em direção a ele.

Os que ali estavam me olhavam e


cumprimentavam, alguns amigos e outros
conhecidos. Cacá (Carlos) estava lá. Eu não o
via há meses. Ele sorriu e olhou para mim:—
Tim, que aconteceu contigo, brother? Tu tá
mudado! Olhe só!

Como que ele sabia? Que “radar” era


esse? Quem foi o vidente que falou para ele?

—É, tô passando um momento maneiro ­


e o Cordeiro olhou para mim ­ Tô conversando
com um...
Parei e pensei: “como vou falar com Cacá
que estou conversando com um ‘patriarca de
uma família sacerdotal’? Ele não vai entender,
nem eu entendo!”

• ... com um cara muito sábio que tá me


ajudando a entender a vida.

• Puxa! Parece que tá te fazendo bem,


meu velho.

—Tá mesmo, Cacá. Mas depois a gente


fala sobre isso, amigão. É que, agora, preciso
me encontrar com ele.

E abracei o Cacá de verdade, como irmão,


olhando nos olhos e dizendo:

—Depois a gente conversa, OK?

Mas aonde é que o Cordeiro foi?


Seguindo caminho entre os conhecidos ali, saí
para a calçada que fica no alto, avistando
todo o “buracão”. Queriame encontrar
com o Cordeiro, mas não o encontrei no
local.

Segui em frente, pois eu ia para o trabalho


e não queria chegar atrasado.
Estava pensativo, refletindo sobre o
“buracão”. Queria mesmo saber como
apresentar o Cordeiro às pessoas dessa
subcultura da minha amada Hemeterópolis.

Virei a esquina e avistei­o, sentado


sozinho na praça frente ao meu trabalho.
Faltavam 25 minutos para eu entrar no serviço.
25 minutos não era tempo suficiente para
passar com o Cordeiro. Mas eu queria tanto
saber como apresentá­lo às outras pessoas.

Fui até ele e, como antes, senti todas as


coisas. Só posso dizer que, ao chegar, toda a
minha ansiedade foi embora. Ele tinha todo o
controle dos nossos encontros. A minha
“pauta” tinha que ficar submissa à dele. E
fiquei por alguns instantes contemplando­o.
Minha admiração crescia à medida que eu o
contemplava e meditava no que ele me dizia.
Depois de um tempo, lembrei­me do assunto
que eu queria saber dele.

Ele tinha dito que era o “patriarca de uma


família sacerdotal”. Não sei porquê motivo,
mas eu queria entender mais sobre isso. E eu
não ia ficar quieto até entender. Engraçado que,
em sua presença, era como se eu não tivesse
controle de mim mesmo. Como se houvesse
outra força conduzindo­me em pensamento e
fala. Lancei minha pergunta:—Cordeiro, o que
quer dizer “patriarca de uma família
sacerdotal”?

Agora, não sei se fui eu que senti, ou se


mudou o clima mesmo, mas fui tomado por
uma sensação de conflito, soberba, rebelião,
ódio, guerra, destruição, morte, perigo,
decepção, falsidade e desconfiança. Essa
sensação me fazia mal. Era como uma fumaça
com um fedor terrível que não permite respirar.
Como se eu tivesse caído numa fossa e eu
estivesse me afogando na pior imundícia. Eu
sentia ânsia de vômito. Eu me sentia cercado,
sendo vigiado pelos mais maus esperando para
acabar comigo.

Eu me arrependi de ter feito a minha


indagação mas, era tarde demais. Se eu
soubesse... Agora só me restava prestar atenção
à resposta do Cordeiro. Ele falou com muita
seriedade.

• O meu sacerdócio faz parte da


essência do meu Pai. Ele é amor e o ser amado
é o objeto desse amor. Há muito tempo,
houve uma rebelião que resultou na perdição
de seres lindíssimos que assistiam a glória, a
formosura e a majestade do Único Deus. Eles O
rejeitaram como Deus e se rebelaram contra o
governo dEle.

• Tudo foi feito por Deus e nEle todas


as coisas subsistem.

• Eles se separaram de Deus e


começaram a viver uma dimensão para qual
não foram criados: uma existência sem Deus.
Com o tempo viram que uma vida sem Deus é
conhecer tudo que Deus não é. Deus é amor.
Ao se rebelar contra Deus esses seres
conheceram o ódio. Deus é a verdade. Ao se
rebelar contra Deus esses seres conheceram a
falsidade e consequentemente, a desconfiança,
insegurança e a decepção. É como frio e trevas
no natural.

• Timóteo, frio e trevas, na verdade,


nem existem. Frio é o resultado da retirada de
calor. Trevas é o resultado da retirada da luz.
Cada estado é um resultado da ausência de
calor e luz.

• A sensação que passas é o resultado da


“ausência” de Deus. Estes seres, antes
angelicais, passaram a viver numa dimensão
separados de Deus. E, com o passar do tempo,
conheceram uma existência totalmente
corrupta, inóspita para qualquer um deles.
• O maioral de todos esses seres iniciou
a rebelião. Uma vez que ele e o terço que se
rebelou com ele se encontraram na dimensão
“sem Deus”, ele usurpou da autoridade para
governar nesta dimensão “sem Deus”. O seu
governo se revelou ser absolutamente corrupto
e cruel. Incapaz de governar como Deus, ele se
revelou tirano, ditatorial e insuportável.

Imediatamente, eu compreendia os meus


sentimentos de inocência e ingenuidade do
último encontro. Com a assimilação das
vergonhas, eu as tinha perdido. Ao mesmo
tempo, fiquei anestesiado com o horror da
separação de Deus que eu vivia. Agora
vivificado, a inocência e a ingenuidade foram
restauradas e eu era sensível ao horror que é
existir “sem Deus”. Sem o Cordeiro, eu creio
que eu suportava todos estes sentimentos ruins.
Agora vivificado, isso é insuportável.

E o Cordeiro continuou.

• O ser amado foi criado “em Deus”


também. Conhecia o que era perfeito, lindo,
absoluto e inabalável. Infelizmente, assim
como alguns seres celestiais, o ser amado
rejeitou Deus como Deus e se rebelou contra o
seu governo absoluto e inabalável.
• O ser amado se assemelhou aos seres
que já existiam nessa dimensão “sem Deus”. Se
tornou tão corrupto, tão cruel e tão
insuportável.

• Assim, iniciou o império das trevas;


uma dimensão de existência “sem Deus”. E
agora os que existem nessa dimensão agem
contra Deus. Este é o resultado da ausência de
paz: conflito e oposição.

• O meu sacerdócio existe por causa do


amor do Pai pelo ser amado. Em decorrência de
um conflito gerado pela rebelião, o ser amado
foi separado de nós. Para desfazer a separação e
reconciliar as duas partes, foi necessário
alguém que agisse como mediador. Um
mediador representa as duas partes para
resolver o conflito, retificando a ofensa,
estabelecendo a paz e restaurando a união entre
as partes. Quando as duas partes são humanas,
o processo de reconciliação pode se iniciar a
partir de qualquer uma das partes, mas o
conflito que eu vim mediar é o conflito entre a
humanidade e Deus, seu Criador. A vergonha
do ser amado é a rebelião que cometeu contra
seu Criador, conforme o que o seu Criador o
havia prevenido. A rebelião deixou o ser amado
com sequelas, não porque o Criador se ofendeu,
e sim, porque o ser amado escolheu viver uma
existência “sem Deus”.

Até então, o ser amado tinha sua


existência em Deus, como o peixe na água: a
água dá vida para o peixe, ele foi criado para
viver nela; ela dá mobilidade para ele, gerando
todas as condições para o motivo existencial
dele; tudo o que ele precisa para sua existência
e sobrevivência está nela; ele não sabe disso,
não tem “consciência” disso; ela é o habitat
natural dele pois ele nasceu nela, ele não tem
experiência em outro habitat, ele não sabe o
que é respirar ar, nem o que é trepar árvores,
nem o que é rastejar; peixe se move na água
como a ave voa no céu; tirar o peixe da água é
dar uma sentença de morte, ele morre fora dela;
ele “descobre” que é peixe, ele conscientiza­se
de sua “peixice” nesse momento, pois percebe
que, fora dela, ele morre!

Com o ser amado também é assim. Criado


à imagem e semelhança do seu Criador, não
conhecia uma existência sem Deus ou sendo
contrário a ele. Ele foi criado para viver em
Deus, como o peixe na água e a águia no céu.

A decisão de ser contrário a Deus levou o


ser amado a um ambiente para o qual ele não
foi criado, semelhante a um peixe tirado da
água.

O ser amado passou a conhecer coisas que


não eram naturais a Deus: infidelidade e
traição, preocupação, tristeza, ódio, angústia,
doença e enfermidade, morte, mentira,
opressão, tirania... Escuridão é o resultado de
retirada de luz; frio é o resultado de retirada de
calor; inferno é o resultado da retirada de Deus.

Assim, a família humana fora corrompida


no seu entendimento, de geração em geração,
afastando­se de todo o conhecimento das suas
origens. Cegada pela própria soberba, ela
cometia abominações cada vez piores,
esquecendo­se que haveria um dia de
“prestação de contas”.

Eu vim da parte de Deus, sou a imagem


do Deus invisível e, em mim, está a glória do
unigênito do Pai. Eu vim para reconciliar a
criação ao seu Criador.

Eu vim para resolver este conflito, para


resgatar o ser amado do cativeiro de morte que
escolheu e redimi­lo ao seu Criador,
restaurando o ser amado à vida que ele tinha
em Deus. Eu vim para estabelecer o sacerdócio
que traz paz entre o ser amado e seu Criador. O
meu sacerdócio foi estabelecido para isso, ele é
o meio pelo qual o Criador reconcilia todas as
coisas consigo mesmo, pois tudo foi criado
para glorificar a Deus: todo ser que respira foi
criado para adorar ao Criador. A adoração é a
reação natural e espontânea de todo ser que vê
e interage com Deus, o Criador, ele é uma
pessoa que ama se revelar, aliás, é impossível
não reconhecê­lo, pois ele é Deus.

O sacerdócio é a função oficial do céu.


Sou o Sumo Sacerdote, o patriarca e o cabeça
de todos os sacerdotes, porque eu consagrei
este sacerdócio com meu próprio sangue. Eu
esvaziei­me de ser Deus para tornar­me
humano igual ao ser amado, e revelei
novamente a essência do meu Pai para o ser
amado, que pela rebelião tinha perdido o
conhecimento de Deus. Demonstrei a
autoridade absoluta que temos sobre o carrasco
que oprimiu o ser amado (com autoridade
roubada que o próprio ser amado lhe deu).
Entreguei­me em sacrifício para a redenção do
ser amado, reconciliando­o com seu Criador:
Eu Sou o Cordeiro antes da fundação do
mundo, o Cordeiro imolado que tira o pecado
do mundo.

De fato, sou Deus­Filho, e vivo à direita


do Pai intercedendo até a restauração de todas
as coisas e a consumação desta época, o tempo
que Deus determinou para o ser amado
experimentar o amor, a graça, a misericórdia e
a disciplina dEle. É o tempo que o ser amado
tem para se arrepender e voltar à VIDA
ETERNA para qual foi criado. Conhecer a
Deus e a mim é a VIDA ETERNA.

E, quando ele falou isso, o Cordeiro virou


“cordeiro”. Manso. Meigo. Forte. Marcado.
Lindo.

• Eu vim fazer as pazes entre o Criador


e a sua obra­prima, o ser amado.

Eu Sou o Verbo, Sou o Criador, o Pai da


eternidade, o Filho de Deus, o Primogênito, o
Príncipe, o Rei, o Filho do Homem, o Bom
Pastor, o Sumo Sacerdote, o sacrifício, as
primícias da ressurreição, o Leão, o Intercessor,
o Começo, o Fim...

Eu não entendia muito bem ainda o que


ele queria dizer, e acho que ele percebeu isso.
Em seu olhar, parecia saber de todos os meus
pensamentos. Ele continuou:

—...Timóteo, você sabe que o nosso


desejo não se realizou, como no “sonho” que te
contei e mostrei...
Não sei se ele parou de falar ou se fiquei
distraído enquanto ele falava. Sabe como é na
hora que a professora fala algo na aula que nos
faz lembrar de um assunto totalmente
diferente?

Lembrei­me dos documentários que


tratavam sobre a forma como o ser humano está
destruindo o meio ambiente, sendo tolo em
todas as suas decisões por causa da sua
ganância. Comecei a lembrar de muitas cenas
vistas em filmes e documentários, em revistas,
livros, jornais, e até coisas que eu tinha visto
pessoalmente: anormalidades, enfermidades,
crueldade de todo o tipo, escravidão, estupros,
guerras, mortes, toda sorte de maldade,
calúnias, mentiras, decepções, impurezas... que
os seres amados fazem, conflitando­se entre si e
com seu Criador.

• Em vez de escolherem a justiça,


escolheram aquilo que rouba a essência de
tudo; em vez de escolherem a paz, escolheram
aquilo que destrói; em vez de escolherem a
alegria, escolheram aquilo que gera morte.

E, como anteriormente, eu via o que ele


falava: vergonhas, vergonhas e mais vergonhas.
Gerações e gerações de vergonha.
E pensei comigo: “parece que o mundo
que conheço vive debaixo de outro governo ou
influência”. De repente, percebi que ele estava
falando:

• Criamos o ser amado como criatura


que mais se assemelha a nós mesmos, e era
muito bom! Mas, um dia, Adão e Eva
cometeram a ofensa que mudou seus caminhos
para sempre: encheram­se de orgulho e
rejeitaram o caminho da vida, trocando o
Criador por uma criação, a verdade por uma
mentira, o bem pelo mal.

Deram ouvidos ao enganador e


acreditaram mais nele do que no Verbo Vivo.
Rebelaram­se contra nós, e essa atitude gerou
uma série de consequências que atinge a
existência humana até os dias de hoje ­ a maior
delas é que o ser humano entrou em conflito
conosco, achando­ se maior que seu Criador,
até capaz de ser o seu próprio deus, igual o
enganador. Por isso, o Espírito de Deus se
retirou e não habitou mais no ser mais honrado
por Deus da Terra. E o ser amado se tornou
“um peixe fora da água.”

Senti uma tristeza tão grande ao ouvir


isso. Percebendo o quanto pensei que não
precisava de Deus, ou não pensava nele, o
quanto cometi as vergonhas sem pensar que eu
estava gerando uma barreira com aquele que
me criou. Sentia vergonha, pois me vi
semelhante ao enganador: eu estava desonrando
a pessoa que mais merecia honra da minha
parte. Eu tinha seguido essa influência maligna
que vem de geração em geração. Eu tinha
contribuído na edificação de tudo que o mundo
vive de ruim hoje. Lembrei­ me de todas as
coisas pelas quais pedi perdão desde o encontro
passado.

E o Cordeiro continuou:

• O ser humano trouxe uma influência


devastadora sobre a Terra quando acreditou no
enganador, uma influência que contaminaria a
raça humana e tudo o que foi criado para ela
desfrutar como ser amado. Adão entregou o
domínio da Terra ao enganador e iniciou um
processo de decepção após decepção ao trocar a
verdade pela mentira. Logo as gerações
vindouras começaram a adorar o que não era
Deus, iludidas e contaminadas por vergonha
atrás de vergonha. O ser amado ficou tão cego
pelo engano que edificou uma habitação para o
pai da mentira e aqueles de sua laia.
Aliás, uma vez que escolheram uma vida
“sem Deus”, a habitação de Deus entre eles
ficou desocupada e deram lugar para o príncipe
das trevas habitar e governar sobre eles. O ser
humano se tornou cada vez mais corrupto no
seu proceder ao escolher se espelhar na pessoa
do adversário do Criador, em vez de
contemplar o Criador na sua perfeição.

Tornou­se cada vez mais adepto às


práticas da falsidade, escolhendo os valores e
princípios do enganador. Tornou­se cada vez
mais perverso e rejeitando os estatutos do
Criador. De pai para filho, de geração a
geração, todas as famílias e suas civilizações
desciam num caminho de mentira, distorcendo
todos os valores de Deus que fundamentam e
trazem equilíbrio à existência do ser amado. E,
assim, elas submeteram­se a um governo cuja
pauta é o roubo, a morte e a destruição,
oprimidas por um tirano que não se satisfaz até
acabar com a raça que tanto amamos.

Eu ouvia cada palavra com grande


atenção e, a certa altura, percebi que as
vergonhas que eu tinha cometido tinham gerado
mais do que ofensas e conflitos entre mim e
Deus, que me criou: cooperei para confeccionar
uma edificação espiritual para o enganador,
como todo ser humano, uma mega fortaleza da
mentira, um palácio para o imperador da
falsidade. Eu tinha convidado esse ladrão,
assassino, destruidor e cafetão a coabitar
conosco, e eu tinha dado a ele as chaves da
porta da casa! A humanidade tinha escolhido
fazer uma casa para o enganador em vez de
uma casa para Deus, tínhamos feito um trono
para o tirano em lugar de nos submeter diante
do trono do Criador de todas as coisas.

E a convivência com esse tirano me


deixou tão insensível e sem noção que eu nem
percebia a maldade, muito menos fazia ideia de
como as coisas eram para ser.

Para piorar eu colocava responsabilidade


de tudo em todos – meus pais, os líderes
de governo, a estrutura, “eles” – em qualquer
um, menos em mim; eu me via como vítima e
não como responsável.

Mas, em cada palavra que o Cordeiro


falava, eu sentia o peso de responsabilidade
vindo sobre mim. Conclui que eu era tão
responsável quanto os demais pelas desgraças
insanas que existem, pois ajudei o enganador a
estabelecer o seu império sobre a humanidade.
O enganador conseguiu tal poder de influência
sobre o ser humano, que o ser humano faz a si
mesmo o que é irracional, impensável e ilógico,
gerando consequências inimagináveis na sua
crueldade, incalculáveis na sua extensão, e
irreparáveis em suas próprias consequências.
O Profeta

A​
cordando ​
dos meus próprios
pensamentos, ainda na presença do Cordeiro,
percebi que outra pessoa tinha se assentado
ao meu lado. Era um senhor ​ de certa idade que
parecia ser sério, vivido e sábio: sua face era
um pouco enrugada mas sua boca parecia ser a
de um jovem, ele tinha cabelo branco, contudo
sua barba não tinha um fio dessa cor! Ele olhou
para mim e parecia enxergar até a minha alma.
Com coragem, olhei bem para ele e percebi que
seu olhar lembrava muito, mas muito mesmo, o
olhar do Cordeiro.

• Chamo­me Isaías e vivi num tempo


muito semelhante ao que você vive hoje, meu
jovem Timóteo. Presenciei muita maldade e
vergonha nos meus dias: perversão, crueldade,
tremendo descaso do sofrimento alheio e morte.

O sacerdócio cessou durante minha


vigília, quando o rei substituiu o altar de Deus
por outro ­ altar de fogo estranho dos que se
diziam deuses mas não eram; então, os
sacerdotes fugiram e se dispersaram, deixando
o templo em ruínas.

Lembro­me como tremi ao ouvir o Verbo


Vivo comparar o povo escolhido ao povo das
cidades destruídas com fogo de Deus ­
Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim. Pensei que
eu era “melhor que os outros” porque eu não
estava fazendo igual a eles; eu pensava que o
mal existente, a disciplina da aliança e o juízo
futuro eram culpa de outros, não minha.

Então aconteceu que, um dia, eu vi a


glória do Senhor. Foi a melhor (e a pior)
experiência da minha vida, pois senti temor de
Deus... A glória, ai, a glória! Santidade,
esplendor, beleza, formosura, majestade. ­
nenhuma dessas palavras consegue expressar a
essência do ser que me consumiu,
simplesmente ao contemplá­lo.

...Eu me lembrava do meu primeiro


encontro com o Cordeiro...

• De repente, a minha euforia


transformou­se em temor e medo (sim, medo).
Eu tinha ouvido o Verbo vivo chamar o povo
da minha convivência de “príncipes de
Sodoma” e “povo de Gomorra”, contudo, eu
não me via como esses.

Inconscientemente, eu tinha me
desassociado do meu povo, como se eu não
tivesse cometido alguma vergonha. Mas,
quando vi a glória do Senhor, desmanchei­me
em lágrimas e exclamei: “Ai de mim! Pois
estou perdido; porque sou homem de lábios
impuros, e habito no meio dum povo de
impuros lábios...”

Diante de homens, eu achava que podia


me comparar e justificar as minhas vergonhas
como menores que as deles; mas, diante da
glória do Senhor, ninguém se esconde,
ninguém se justifica, ninguém se aguenta.

Então, o incrível aconteceu: enquanto


sentia­me o pior de todos, o Senhor mandou um
anjo tocar os meus lábios com uma brasa do
altar, perdoando­me e purificando­me da minha
iniquidade!

Meu jovem Timóteo, nós vivíamos num


tempo em que o Fôlego de Deus não habitava
em nós como habita em vocês hoje. O Cordeiro
ainda não tinha encarnado, mas conheci a
misericórdia, a graça, o amor...
...Eu conheço Cordeiro como O Servo do
Senhor. Naquele momento o Fôlego de Deus
me fez enxergar a grandeza de Deus, como se
eu tivesse vivido hoje. Deus me revelou
Cordeiro por parte de palavras vivas dos
oráculos que recebi dele: “vi” Cordeiro como O
Servo do Senhor e O Cordeiro, antes do tempo
dele.

Hoje, vocês têm muito mais: têm o


caminho, a verdade, e o Fôlego da vida que
habita em vocês e que os guia neste caminho;
têm as Escrituras para ler, meditar e assimilar
todos os dias; e têm a revelação de Deus que se
espalha pela rede mundial de informações.

Quero presentear­lhe com uma palavra de


sabedoria, amado Timóteo. Muitos procuram
minimizar ou se livrar da responsabilidade do
pecado e de suas consequências, esquecidos da
aliança eterna que o Criador fez com os
moradores da Terra. O Criador fez do ser
amado um sacerdote e administrador dessa
aliança sobre a Terra: autoridade e poder foram
conferidos ao ser amado em
dimensões singulares, mas responsabilidade
também ­ as bênçãos do Criador são em
consequência do ser amado observar e manter a
aliança com ele, e as maldições são em
consequência dele desviar­se dessa aliança com
o Criador; os eventos de disciplina do Criador
são manifestações do amor, da misericórdia e
da graça dele em alertar e chamar o ser amado
de volta para a aliança.

• E Sodoma e Gomorra? — questionei,


olhando para o Cordeiro. Vi uma tristeza cair
sobre seu rosto, seus olhos encheram­se de
lágrimas e ele explicou:

• Sodoma e Gomorra eram duas


cidades. Muitos não se lembram, mas foram
destruídas por Deus por causa da intensa
maldade que os seus habitantes viviam. A
existência delas se tornou quase igual ao
império das trevas sem esperança de retorno.

A esta altura, tive uma sensação muito


estranha que só posso explicar assim: duas
ondas de sentimentos vieram sobre mim, como
se emanadas do Cordeiro. Senti­me como um
banhista na praia no meio de duas correntezas
contrárias. Isso gerou um temor em mim.
Cordeiro expressou o que eu sentia com estas
palavras:

• Há em mim o sentimento de profunda


tristeza e dor pela destruição dessas pessoas; ao
mesmo tempo, sinto repúdio pela intensa
maldade cometida pelos habitantes de Sodoma,
Gomorra, Admá e Zeboim. Não há felicidade
alguma em relembrar a disciplina dessas
cidades malfeitoras, mas tampouco havia a
possibilidade de maior tolerância dos seus atos
maldosos; suas vergonhas provocaram Deus a
uma reação de finalização do ciclo pecaminoso.

E o Cordeiro continuou:

• Na aliança eterna, determinamos que o


nosso governo será estabelecido na Terra. Isso
é inevitável, pois o nosso amor pelo ser amado
é o motivo disso. A Terra foi criada para a
habitação do nosso ser amado e querido, o seu
mordomo em aliança conosco. Conferimos a
ele o domínio sobre ela, nosso desejo era que
ele fosse o “primeiro ministro” e cooperador no
nosso governo de justiça, paz e alegria, visto
que criamos todas as coisas para existirem sob
a influência desse governo; o equilíbrio, a
harmonia, a sincronia e o shalom da criação
existem quando nutridos pela justiça, paz e
alegria do nosso governo.

A Terra e tudo o que nela há foi criada


para florescer e frutificar no governo do
Espírito Santo.

Quando o cogovernante abraçou o


engano, ele edificou um lugar para o governo
do adversário, o pai da mentira; o ser amado
começou a esquecer­se de nós e a amar outros
que se fingiam de deuses ou seres superiores.
Assim, a descida pelos caminhos da maldade
iniciou uma decadência que tomou conta da
Terra e ela passou a experimentar uma
influência sinistra: o governo de tirania das
trevas ­ sua influência é morte, roubo e
destruição, seu apetite pelo mal é insaciável,
pois seu príncipe é cruel e odeia o ser amado,
de fato ele tem muitos ciúmes do nosso amor
pelo ser amado.

Ele é o verdadeiro adversário do ser


amado, tecendo sua rede de engano e decepção
entre todos os povos e tramando armadilhas
para levar o ser amado cativo; sua meta e seu
objetivo sempre foi deturpar tudo o que
criamos (tudo que era bom). Desde os tempos
esquecidos, ele vai “comendo pelas beiradas”
sorrateiramente e paulatinamente.

Tornando­se o adversário adúltero, desleal


e infiel, ele quebrou a aliança que ele tinha com
seu Criador. Mas ele sabe o valor das alianças:
desde a antiguidade, ele faz propostas
indecentes para os governantes humanos
oferecendo poder, prosperidade e prazeres,
procurando copiar a nossa aliança.
Contudo, ele esconde os seus propósitos
de roubo, morte e destruição dos povos iludidos
pelo seu engano; ele é traiçoeiro, dando bote só
depois de “fechar contrato”; uma vez que ele
consegue lograr com essa aliança, o adversário
luta com “unhas e dentes”, propondo até o
irracional para perpetuá­la de geração em
geração (em vão, porque ele sabe que seu
governo acabará, pois eu o venci). Um dia esse
rebelde conheceu nosso governo de justiça, paz
e alegria.

Ele sabe que a nossa tolerância da


maldade e da oposição tem limites e que a
extensão do seu governo na Terra é temporária,
porquanto caminha para extinção, pois é um
governo que trilha por vales de sofrimento que
o Pai nunca desejou para seus filhos.

Sodoma e Gomorra ficam como sinal para


todas as gerações saberem que nossa tolerância
com a edificação do governo da maldade tem
limites. Quando a manifestação da maldade do
ser amado caminha para o ponto sem retorno de
transformação, deixamos “implodir” o governo
a que o ser amado se submeteu. Como se sabe,
outras cidades, povos e civilizações chegaram
ao seu fim semelhantemente pelos mesmos
motivos.
Passavam em minha memória
documentários que eu tinha assistido ­ sobre
povos antigos da Grécia, de Roma, da África do
Sul, do Egito, da Etiópia, da Nigéria, da Índia,
da China, da Mongólia, do Japão ­ de
civilizações que findaram sem explicação:
povos extremamente inteligentes, fortes e
avançados em termos tecnológicos, que
terminaram a sua ascensão em vergonha,
vergonha e mais vergonha. Percebi que essas
civilizações – asteca, inca, maia, babilônica,
persa ­ tinham em comum estas vergonhas:
adoração ao que foi criado (simbolizado pela
natureza e suas manifestações), depravação e
perversão sexual, e total desprezo do valor do
ser humano.

O ser amado despreza a misericórdia e a


graça de Deus a tal ponto que corre o risco de
não poder retornar a Deus. Mas, enquanto o Pai
das luzes e de todos os povos agir com
misericórdia, há tempo do ser amado poder se
arrepender. A misericórdia é a retenção da
condenação que o ser amado merece por atos
vergonhosos e a graça é a expressão da
bondade de Deus pela humanidade em meio
à sua condição vergonhosa. Ambas, tanto a
misericórdia como a graça, são estendidas pelo
Pai aos filhos na esperança que seja gerada uma
tristeza profunda nos filhos que os conduzirá a
retornar ao Pai, ou seja, do ser amado voltar ao
seu Criador.

Quando fomos deixados de lado ao longo


da história, enviamos mensageiros com
mensagens de exortação e repreensão que
avisavam o ser amado do engano e do seu
desvio. Às vezes, o instrumento de disciplina
do Pai é a própria criação – quando esta sofre a
manipulação do governo da maldade ­ porque o
Pai não deseja que os filhos continuem nos
caminhos do engano; noutras vezes,
simplesmente deixamos as consequências da
sua escolha cair “em cheio” sobre eles.

Com o passar de gerações por séculos e


milênios, nações e povos ergueram impérios
em aliança com o tirano enganador. Esses
impérios findaram de modo assustadoramente
semelhante uns com outros: anarquia,
perversão, desprezo pela vida alheia, adoração
profana a ponto de haver sacrifício humano, e
muitas outras vergonhas. Tu, Timóteo, estás
vivendo o momento em que o governo de
“Sodoma e Gomorra” se prepara para tomar a
Terra de vez.

Meus amigos João, Pedro e Paulo viram


esse dia e avisaram à família a respeito disso. O
tirano se escora nos séculos de engano,
tentando solidificar sua posição perante a
humanidade. A casa dele está destinada a cair,
pois está dividida contra si e não poderá resistir
à revelação da essência de Deus que encherá
toda a Terra como as águas cobrem o mar. As
trevas se dissipam com vinda da luz, a mentira
cai em desgraça com o conhecimento da
verdade e quem abraça a verdade será liberto, o
ódio é revelado. Com a permanência do amor ­
Eu sou a luz. Eu sou a verdade. Eu sou o amor.
Vim fazer a Nova Aliança e restaurar o
propósito do ser amado na Terra. Vim destruir
as obras do tirano, aproxima­se o seu fim.

Eu ainda estava me concentrando nele


quando, de repente, o Cordeiro se parecia com
um leão! Era o Cordeiro, mas o Cordeiro era o
Leão. Enquanto ele falava, sua aparência
mudava de cordeiro para leão e de leão para
cordeiro.

● Não criamos o ser amado para viver


numa existência de tirania da mentira onde
domina morte, roubo e destruição. Eu amo o
ser amado. O amor motivou­me a agir em
relação a tudo, a todas as coisas em que o ser
amado se envolveu. Abri mão de tudo e
vim para me tornar um com todos os que
creem em mim e levá­los ao Pai, a fim de
restaurar a nossa união. Este é o propósito do
meu sacerdócio.

Ao ouvir o Cordeiro, senti algo além de


suas palavras. Eu estava para ouvir o quanto ele
mesmo estava convencido de que ele era a
única solução do dilema em que o ser amado se
meteu; ele não veio para oferecer outras
opções, dar dicas ou sugestões.

• Eu sou Deus desde a eternidade, sou o


amor que se revela infinito ao ser amado. Eu
sou o Cordeiro sacrificado desde a fundação do
mundo e, já antes dela, eu sabia que o ser
amado iria tomar as decisões que tomou.

Uau! De repente me vi como que


transportado para uma caverna, tentei localizar­
me: era noite e havia lâmpadas acesas
(daquelas antigas com pavio e óleo), as paredes
eram de pedras brutas e pretejadas pela fumaça
de muitas tochas que uma multidão de fiéis
acendiam ­ todo mundo vestido com roupas
antigas, alguns de forma simples e outros
elegantemente; eles cantavam numa língua que
eu não entendia, então, prestei mais atenção e
foi como se um interruptor tivesse sido ligado à
minha cabeça, daí comecei a entender o que
cantavam:
“Ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus;
antes, a si mesmo esvaziou­ se, assumindo a
forma de servo, tornando­se em semelhança
de homens; e, reconhecido em figura
humana, a si mesmo humilhou­ se, tornando­
se obediente até a morte e morte de cruz.
Pelo que também Deus o exaltou
sobremaneira e lhe deu o nome que está
acima de todo nome, para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra
e debaixo da terra, e toda língua confesse que
Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus
Pai.”

Eu estava no meio de irmãos da igreja


primitiva! Não posso afirmar, mas creio que era
perto de Roma. Estávamos num círculo e havia
um vão no meio. Logo me veio o peso daquela
presença que sinto quando me encontro com o
Cordeiro; comecei a adorar com eles, ergui
minhas mãos como muitos outros e lágrimas
desceram pelo meu rosto. Meu amor pelo
Cordeiro crescia no meu peito até parecer que
eu ia explodir; comecei a sentir um aroma doce,
uma fragrância tão deliciosa que pensei que
alguém tinha tirado a tampa de um frasco de
perfume. Olhei e lá estava ele, Cordeiro estava
no vão em nosso meio! Ele estava vestido igual
a eles e parecia que também estava chorando. O
seu olhar me enchia com alegria, amor, paz...!

De repente, surgiu um tumulto atrás de


mim ­ gritos, empurrões, lanternas, homens de
armaduras...soldados romanos?! Eu via
homens, mulheres e crianças sendo mortos à
espada! Logo, fiquei aterrorizado ao me
deparar com um soldado desfigurado de ódio e
respingado de sangue rosnando com sua espada
em minha direção!

...Mas voltei tão rápido quanto fui.


Trêmulo, percebi que eu estava a salvo ao lado
do Cordeiro e seguro novamente, mas ele
chorava.

• A maioria daquele grupo morreu


naquela noite. Eles morreram felizes, prontos
para darem suas vidas em testemunho.

Depois ele sorriu de alegria. E eu? Fiquei


constrangido. Senti com o Cordeiro o impacto
da morte dos que o amavam pela causa que ele
iniciou. Não sei se eu morreria por uma causa,
conheço muito pouco sobre isso; meu
constrangimento tornou­se em pranto quando
lembrei­me que ele tinha morrido por mim
naquele dia na colina da Caveira. Tudo para
perdoar­ me e envolver­ me no seu reino!
Entretanto, a música que eles cantaram
ficou em minha cabeça. Olhei para o Cordeiro e
pensei: “o Senhor é Deus! E tornou­se homem
para morrer por nós! Que amor é esse? Quem
faria o que ele fez?” Eu cantarolava a música
enquanto chorava olhando e adorando o
Cordeiro.

• Timóteo, o fato de você estar comigo


aqui hoje decorre dessa reunião. Eles foram das
primeiras gerações da família sacerdotal da
qual sou o Patriarca, e se reuniam como
membros destemidos dessa família ­ se reuniam
para me adorar e interceder em meio a
perseguições ferrenhas, e esse sacrifício vivo
tem um valor inestimável. Era diferente
naquele tempo, não havia templos ou santuários
para eles, eles mesmos eram “pedras vivas” que
edificavam uma casa para nossa habitação e
quando dois ou três se reuniam, eu estava no
meio deles. Ser discípulo era arriscar a vida, ser
ministro era ser arauto do nosso governo e
anunciar o fim da tirania das trevas, ser crente
era demonstrar ­ com a própria vida ­ a
diferença da cultura do nosso reino em
contraste com a corrupção do império da
maldade. Alguns eram pobres, outros ricos,
alguns eram simples, outros instruídos, a
maioria era do povão, a minoria da alta
sociedade. Eles se reuniam para adorar e
interceder conforme ensinei aos primeiros
discípulos; não tinham que ter feito “escola
bíblica” para me buscarem, nem mestrado ou
doutorado; não tinham que ter instrumentos,
palco e luzes para me adorarem; a sala de aula
era a vida, todos os momentos onde o reino de
Deus precisava ser integrado à vida dos que
nasciam de novo pelo Espírito; era “mestre”
quem pregava e ensinava os primórdios do
reino de Deus e “doutor” quem conhecia a
mim, tinha uma vida comigo e pagava o preço
de andar nos meus caminhos. Pobres e ricos,
simples e instruídos, fracos e fortes, todos
entendiam que, para se ganhar a vida, deve­se
perdê­la; eles me honravam com as suas vidas e
estavam prontos a morrerem por mim e pela
causa do reino do meu Pai.

Comecei a chorar enquanto o Cordeiro


falava, porque hoje desfruto de uma liberdade
por viver num país influenciado pelo evangelho
do reino... Mas como mudou a essência do
evangelho que o Cordeiro pregou! Quase 1.500
anos depois da vinda de Jesus, o evangelho do
reino chegou à minha terra, trilhado por um
caminho marcado pelo sangue derramado de
discípulos e missionários, irmãos iguais aos que
vi naquela caverna ­ que deram suas vidas em
prol do Cordeiro e de seu reino; essas marcas
do cristianismo estão por todo lugar ­ igrejas e
monumentos, alianças e momentos na história
em que houve a intervenção de Deus.

Inesperadamente, assustei­me quando


levantei meus olhos para contemplar o
Cordeiro.

O céu tinha se tornado como um estádio,


o maior que eu já poderia ter visto no mundo, e
eu enxergava a plateia nitidamente. Todos
tinham seus olhos voltados ao Cordeiro, e eu
estava constrangido ao seu lado. Eles
começaram a declamar suas próprias histórias
de como conheceram o Cordeiro e como
chegaram a entender a cruz onde ele foi morto,
de como conheceram o Espírito Santo e como
conheceram o Pai, de como tornaram­se filhos
de Deus e como souberam seus destinos, de
como se deram pela causa e pela glória de
Deus, do que viram Deus fazer em suas vidas,
em seus tempos e de como morreram. Alguns
gritaram seus nomes para mim, uns eu conhecia
e outros não; pessoas mencionadas na Bíblia ­
Abraão, Moisés, Davi, Pedro, e até meu xará
Timóteo! Vi também os rostos de pessoas não
mencionadas na Bíblia, e sim nos livros da
história da igreja; pessoas das mais variadas
raças, línguas e nações, que tinham dado suas
vidas pela causa e influenciado suas gerações.
Eu nunca ouvira falar de alguns, mas tinha
certeza que eu iria conhecer seus testemunhos
um dia.

Então, iniciou­se um cântico das


testemunhas enquanto o Cordeiro continuava:

• Todos deram suas vidas pela família


de Deus, pela pátria celestial, pelo reino de
justiça, paz e alegria. Eles deixaram de fazer
outras coisas para servirem, e contribuíram com
uma parte de um grande plano: estabelecer o
reino de Deus na Terra. Apesar de não terem
visto suas promessas se cumprirem, mesmo
assim tiveram fé e levaram suas partes até a
última hora, morrendo pela causa. Cada enterro
foi como plantar a semente da palavra das
promessas que carregaram e cultivaram. De
povo em povo, cidade em cidade, país em país,
a Terra está cheia de “pessoas­sementes” como
eles. E suas promessas irão se realizar!

Milhares e milhares de pessoas como tu,


Timóteo, entregaram­se para cumprirem as suas
partes. Elas deixaram suas marcas na história;
para a maioria, uma história desconhecida, pois
se sacrificaram fora do alcance de holofotes e
microfones. Mas as suas histórias estão escritas
nas páginas do livro da edificação da casa de
Deus.
Ouvi o Cordeiro com grande interesse, ele
disse que aquelas pessoas eram como eu e que
eu também poderia fazer parte desse número
crescente! Eu poderia edificar a “casa de Deus”
na Terra influenciando a minha geração!
Dentro de mim crescia o desejo de fazer a
minha parte...!

• Timóteo, naquele dia que me


conheceu, você nasceu de novo para a minha
família sacerdotal; mas o que eu fiz na sua vida
não foi dirigido somente pra você: trata­se de
envolver­te numa causa antiga, que vigora
desde a fundação do mundo.

A essa altura, minha admiração pelo


Cordeiro era tal que eu faria qualquer coisa
para ele. Eu estava lendo sua história todos os
dias, gerando um conhecimento e uma paixão
por ele que crescia mais e mais.

E só de estar ali do lado dele... Olhei.


Cadê? Eu sabia que ele estava comigo, apenas
eu não o via. E, sem pressa nem agenda, eu
fiquei curtindo­o sem vê­lo, e refletia: “ele quer
me envolver numa causa que existe desde a
fundação do mundo?! Justamente eu?” Eu não
me sentia qualificado, sequer sabia qual era
essa causa, mas eu sabia de algo: custasse o que
custasse, queria me envolver por completo! E,
sorrindo, pensei: “na próxima vez, ele vai me
falar da causa...”

...E o coro das testemunhas cantava:

ALELUIA!

BENDITO AQUELE QUE


VEIO EM NOME DO
SENHOR!
Más Notícias

O ​
mundo sofreu um choque terrível
naquela noite: um grupo terrorista detonou
uma bomba em Babitena​ Londroma, em
Distantelândia. E o pior? Foi ​ uma bomba
química. Babitena­Londroma tem vinte
milhões de habitantes> as reportagens
mostravam que já tinham morrido mais de duas
mil (crianças, mulheres, jovens> velhos,
pobres> ricos ­ nenhuma classe ficou ilesa),
além dos feridos em condições lastimáveis e
chocantes; as ​
cenas são tão chocantes que nem
dá para serem descritas aqui ­ cegueira, poças
de sangue, queimaduras, rostos desfigurados de
dor na maioria dos falecidos ­ um verdadeiro
cenário de guerra.

E, enquanto eu assistia às notícias, eu lia


as legendas:

Os danos do terremoto que atingiu


Terralheia somam R$ 150 bilhões.
George Klangmann, galã de “Ao
Amanhecer”, voltou hoje de Sofreudemais
depois de visitar o acampamento de refugiados
da fome. Klangmann anunciou a fundação de
uma organização não governamental para
ajudar os três milhões que estão acampados há
quatro anos. E o número dos acampados cresce
a cada dia: duzentos mil desde o início do ano.

O presidente Vero Justino de Pseudolícia


confessou seu envolvimento no maior roubo da
história de Pantrícia.

No México, uma placa tectônica foi


deslocada em 15 centímetros com o terremoto
de ontem, que teve seu epicentro em
Guadalajara e atingiu 8,4 graus na escala
Richter.

O vulcão Colima entrou em erupção nesta


madrugada forçando a evacuação de três mil
moradores; ventos nada convencionais levaram
as cinzas para o canal do Panamá. Vinte e cinco
milhões de pessoas encontram­se na penumbra,
e mais de 1800 vôos foram cancelados devido
às cinzas.
O número de mortos na guerra civil na
Síria já passou de 75 mil. Damasco está
implodindo com a agressão de grupos rivais
que guerreiam pela cidade, e nenhum dos lados
propôs um tratado de paz.

Brasil vence Argentina num clássico por


pênaltis.

Comecei a ficar incomodado ouvindo e


lendo as notícias do dia ­ desgraça, só desgraça,
e uma notícia “boa” no final (como se fosse
compensar a dor ou preocupação gerada por
tanta notícia má) – e dei por conta que eu nunca
tinha me incomodado com más notícias; eu não
me incomodava com o que não me tocava, e
vivia uma vida de extremo egoísmo; eu era
“calejado” diante da desgraça alheia. E agora,
prestando atenção, parecia que eu estava sendo
bombardeado com as piores notícias: corrupção
de todos os níveis e em todos os lugares
envolvendo empresários, governantes, e
até sacerdotes; crise financeira, guerras, secas,
terremotos, terrorismo. Parecia que tudo tinha
“ido para o inferno”, e pensei: “tudo isso é “a
extensão do inferno’ na Terra”.

Então refleti, até cair num sono profundo...


...Voltei a assistir o jornal, que passava
mais notícias:

Em Jerusalém, Herodes ordena chacina de


meninos judeus de até 2 anos.

Pilatos executa galileus no norte de Israel


sem piedade, coleta o sangue deles, e oferece a
deuses em sacrifício.

Descobre­se “mensalão” dos fariseus:


corruptos da família de Levi que trabalham
para governantes de Roma são denunciados por
usarem o nome de Deus para coletarem
impostos e extorquirem a população de
Cafarnaum.

Torre de Siloé cai e mata dezoito em


Jerusalém.

Herodes manda decapitar João Batista.


Milhares passam fome e migram
para cidades maiores devido a seca em
todo o país.

Trabalhadores perdem os seus empregos


enquanto impostos aumentam.
Herodes constrói outro monumento no
litoral. Mas o que ele fará com relação à fome
do povo?

Judeu carrega armadura romana por duas


milhas.

Soldados romanos buscam prisão do


revolucionário Jesus de Nazaré pela quarta vez.

Cansado de ouvir tanta notícia ruim;


levantei­me da poltrona em frente à TV e
resolvi dar uma saída. Ao sair de casa, percebi
que eu não estava mais em Hemeterópolis, eu
tinha entrado num mundo de um tempo antigo:
encontrava­me numa colina diante de uma
multidão e estávamos a poucos quilômetros da
cidade; tinha muita gente de todos os tipos,
trajadas com roupas antigas, e crianças
brincando e correndo sob o sol do dia. De
repente, a multidão se aquietou para ouvir um
homem que estava sentado numa rocha mais
para o alto da colina. Sorri quando o avistei: era
o Cordeiro! Que alegria! (Eu não sabia que ele
já era tão notável em sua época.) Ele estava
falando à multidão sobre o reino de Deus. Que
legal!

Observei que havia um pequeno grupo ao


lado dele que ficou um pouco sem jeito quando
um homem chegou e conversou rapidamente
com ele; o homem tinha levado seu filho e o
trouxe até o Cordeiro. O menino caiu em terra
quando viu o Cordeiro; então ele pôs sua mão
sobre o menino e ouvi o Cordeiro falar “sai
dele” com uma autoridade que me fez tremer; o
menino deu um grito e parecia que tinha
morrido, logo ele levantou e abraçou o pai e o
Cordeiro. Todo mundo ficou admirado por
causa da autoridade do Cordeiro, acho que
muita gente sabia da história do menino e ficou
impressionada com o fato de que ele tinha
ficado bom!

Olhando a multidão depois disso, chamou


minha atenção um homem que estava no grupo
ao lado do Cordeiro; pensei em quem seria e o
porquê de ele estar ao lado dele, aliás, por que
ele e aquele grupo ficaram sem jeito naquela
hora? Acho que fiquei fitando este homem
enquanto pensava porque, quando “acordei”
dos meus pensamentos, ele estava vindo em
direção a mim; daí pensei: “Vixe! Ele vai brigar
comigo...”

• Oh, meu rapaz! — ele gritou.

Olhando para ele, apontei para meu peito


como se perguntasse “eu?”
• Sim, é você.

Enquanto eu esperava o homem chegar,


Cordeiro continuava a falar à multidão e
ninguém se mexia; mas, de vez em quando,
pessoas iam falar com ele. E eu estava
preocupado se o homem tinha ficado bravo
comigo por eu ter olhado fixo para ele, será que
ele tinha “adivinhado” os meus pensamentos?
Então, ele chegou até mim, estendeu a mão e me
cumprimentou com um abraço e um beijo.

Shalom! — ele disse, olhando e sorrindo


para mim. Senti uma paz descer sobre mim,
como se tudo ficasse calmo, em harmonia e
sincronia, sem preocupações ou
problemas...Tudo certo mesmo.

• Você chegou hoje, não é? — perguntou­


me.

● Sim — disse­lhe.

“Mas espera um pouco: como é que vou


explicar para ele que estou aqui, mas vim de uma
outra terra num outro tempo?” Pensei, mas nem
precisava...
• É. Este é o nosso terceiro dia aqui e
não lembro de tê­lo visto nos outros dias. Qual
é seu nome? — indagou o estranho.

• Eu sou Timóteo.

● Timóteo...interessante este seu nome.

Cordeiro começou a falar


novamente; então, o homem parou de falar
comigo mas ficou ao meu lado, voltando­se
para o Cordeiro num gesto que me fez entender
que ele queria que eu escutasse o Cordeiro
também.

• Você conhece o Mestre? —


perguntou, com seu olhar fixo no Cordeiro.

• Cordeiro? Sim, conheço! — respondi


e abri um sorriso.

Ele olhou perplexo como se dissesse “mas


como você o conhece?” Porém, não perguntou
coisa alguma.

Fixamos nossa atenção em Cordeiro, que


falava sobre o reino de Deus:

• Bem­aventurados os pobres de espírito


• Cordeiro exclamou.

• ... porque deles é o reino dos céus — o


homem completou o dizer junto com o
Cordeiro.

Olhei de lado para ele e sorri.

• Bem­aventurados os que choram —


Cordeiro disse.

• ...porque eles serão consolados — o


homem completou junto.

Olhei e sorri de novo.

• Bem­aventurados os mansos...

• ...porque eles herdarão a terra — o


homem completou novamente.

Agora eu fiquei olhando para ele e


sorrindo.

Durante os próximos minutos, ele


completava tudo o que o Cordeiro falava depois
de “bem­aventurados” junto com ele, e não
errava uma! Ele sabia até uma oração de cor,
que o Mestre ensinara à multidão.
Como? Será que ele era um desses
escritores de discursos para governantes e
dignitários?

• Espera aí: você escreveu tudo para


Cordeiro?

Ele deu risada.

• Não, não, não: se você conhece o


Mestre, você sabe que ninguém tem
conhecimento maior ou sabedoria mais
profunda que ele, que ninguém tem autoridade
igual, ninguém! — E ele riu com vontade
novamente.

• É que estou com ele há dois anos e,


nesse tempo, eu e os outros ali — ele apontou
para o grupinho — acompanhamos o Mestre
em tudo; ele nos chamou para estarmos com
ele.

Dois anos com Cordeiro? Que privilégio!


Eu queria que Cordeiro me chamasse assim, o
homem falou de um jeito que me fez sentir
ciúmes.

• O Mestre fala com a mesma


autoridade e convicção toda vez; não sei
quantas vezes já ouvi essas palavras durante
esse tempo, porque temos atravessado quase
toda a nação de Israel e tem sido a mesma coisa
em cada lugar, ele não se cansa; acho que é por
isso que gravei tudo. Eu estava em casa falando
com meu vizinho num dia desses e, quando me
dei conta, eu estava falando a mesma coisa
que o Mestre. Meu vizinho olhou para mim e
perguntou: “onde você ouviu isso, e de onde
vem essa autoridade e convicção? ” Fiquei feliz
porque parece que estou tornando­me como o
Mestre.

O homem olhou para o chão e começou a


chorar.

• Que tristeza é essa? — perguntei.

• Tristeza não, constrangimento...você


não me conhece...Meu nome é Mateus. Eu era
um contador...não, a verdade é que eu era um
coletor de impostos corrupto, exigente e
importuno. Eu ajudava os romanos ­ que
escolheram alguns da tribo de Levi como eu
(porque trabalhamos com o povo na sinagoga) ­
a roubarem o nosso povo através da coleta de
impostos. Eles estão roubando toda a riqueza da
nossa nação, gastando aqui com obras
faraônicas e festas extravagantes ou levando
tudo para Roma!
Eu olhava constrangido e distante,
enquanto ele chorava de vergonha e de tristeza
como eu tinha chorado quando encontrei o
Cordeiro pela primeira vez.

• Sou levita, da tribo a quem Deus se


revelou, chamou à santidade e separou para
tê­lo como porção e herança; sou da tribo a
qual ele ensinou a verdade para servi­lo, para
andar em integridade e dar exemplo, a fim de
tornar Israel num sacerdócio santo e numa
nação santa. Troquei tudo isso para roubar, eu
poderia ter dito que foi em nome de Roma e
que fui forçado, mas a verdade é que roubei o
meu próprio povo (que é pobre e simples mas
rico e nobre de coração) para mim mesmo.
Contudo, um dia…

• A essa altura da conversa, Mateus


chorou compulsivamente.

… Um dia eu estava coletando impostos


(e fazendo parte de toda a estrutura de
corrupção presente aqui) e o Mestre passou do
meu lado. Ele não entrou na fila para pagar,
mas se pôs ao meu lado e me olhou...O seu
olhar! Senti temor do Senhor, amor e ternura,
alegria! Tudo isso e muito mais.
Ele só falou uma palavra: “Vem comigo!”
E então, eu fui!

E não me arrependo. Eu era tão mal


quanto os romanos para o meu próprio povo e,
mesmo sabendo disso, ele me perdoou e amou,
e tive uma experiência com ele que mudou
minha vida completamente. Ele me quer perto
dele e acredita em mim, me envolveu na causa
mais antiga na face da Terra e estou
cooperando com o próprio Criador! Não me
entenda mal, sei que não somos perfeitos,
apenas discípulos aprendendo a ser e fazer
como o Mestre. Veja bem, eu lhe vi olhando
quando o Mestre nos deu a bronca. Aquele
homem trouxe seu filho para nós (discípulos)
no primeiro dia, oramos e oramos, e ficamos
desesperados porque não pudemos curar o
menino. O Mestre estava certo de dar a bronca
porque somos seus discípulos e queremos fazer
o que ele faz: Jesus cura todo mundo, expulsa
demônios com uma palavra e ressuscita mortos!
Mas a gente só está engatinhando; tem alguma
coisa que ele tem que não temos por não
entendermos ainda, mas chegaremos lá. Ele já
nos deu sua autoridade para isso.

Não conheço ninguém como ele e nunca


imaginei conhecer alguém assim; minha
admiração pelo Mestre só cresce e ele me
surpreende a cada dia em dois anos que o
acompanho. Nunca presenciei tanta sabedoria:
já o vi ser posto à prova pelos fariseus diante da
multidão e ele nunca retrucou, mas sempre deu
uma resposta sábia que dissipava qualquer
contenda ­ e onde ficavam expostas a
autoridade do Mestre e a vaidade da
religiosidade dos fariseus; eu teria falado
“poucas e boas”, mas ele não, e ninguém fazia
“torcida” quando ele falava, porque servia para
todos os ouvintes e não somente aos fariseus;
nele não há pretensão, dolo ou falsidade. Ele
não é santarrão nem “se faz de Santo”, ele é
santo e puro de coração; é meigo e, ao mesmo
tempo, revestido de uma autoridade sem igual;
é carinhoso, mas jamais leviano; sorri de
alegria como ninguém, mas todos o levam a
sério. Ele é o Messias que mudou a minha vida
e vai mudar o mundo todo!

Não entendemos no início, mas ele tem


uma causa que defende, uma única proposta
que apresenta para todas as multidões em todas
as cidades: o reino de Deus.

Vivemos debaixo da tirania de Roma já há


muitos anos, ela está fazendo “um inferno” da
nossa vida: um soldado romano pode chamar
qualquer homem de Israel para carregar seu
fardo por uma milha a qualquer momento;
sofremos muito com corrupção, injustiça, roubo
e até morte! Há grupos pequenos que se
rebelam e são castigados pelos romanos.
Timóteo, é tão ruim que recebi a notícia de que
alguns conterrâneos do Mestre foram mortos
por Pilatos um dia desses, e este misturou o
sangue deles com sacrifícios! Já tivemos
problemas com gregos e sírios; agora é Roma
que vem com as suas imundícias para a nossa
nação, trazendo imagens e altares, corrupção e
opressão, bem como prostituição e imoralidade.
E sofremos de outras maneiras também:
sacerdotes e líderes do templo ficam cada vez
mais ricos enquanto o povo fica cada vez mais
pobre; a seca aumenta a cada ano que passa, e
comida e água são escassas para todos.

Olhando para os nossos problemas, acho


que todo mundo queria um messias que
expulsasse Roma daqui, que desse uma coça
nos sacerdotes corruptos; que fizesse chover de
novo, que trouxesse prosperidade para todo
mundo... Temos todos o sonho do Éden dentro
de nós, observamos a natureza e seus ciclos, de
como devem operar, e torcemos para
funcionarem certo para sermos fartos e
prósperos. Era isso que esperávamos do Mestre
quando ele assumiu que era o Messias;
especialmente Judas que é zelote ­ fiz uma cara
de “não entendi” e ele explicou:
• Judas e os zelotes ainda pensam que o
Mestre vai levantar um exército para subjugar e
expulsar os romanos daqui.

No início, éramos ignorantes em relação


ao reino de Deus e perguntávamos sobre arte da
guerra, reclamávamos da seca, e outras coisas
nada a ver. Mas o Mestre teve paciência
conosco e começou a nos mostrar quem ele é
curando enfermos, libertando cativos,
ressuscitando mortos e pregando sobre o
governo de Deus de cidade em cidade. Hoje,
embora tendo muito para aprender e crescer,
cremos e sabemos que ele é o Rei que irá
estabelecer o seu reino aqui na Terra. Ele é o
Cordeiro que tira o pecado do mundo, e nos
chamou para nos envolver nessa causa mais
antiga; esse é o destino de nós todos.

Hoje, temos a honra de conhecer o Mestre


no início de tudo, mas, um dia, todas as nações
vão conhecê­lo e ele vai estabelecer o seu
reinado de paz sobre toda a Terra. Durante
estes anos em que estou com o Mestre, ele só
fala sobre o reino de cidade em cidade, como se
esse reino estivesse logo ali. Ficamos
preocupados porque tudo que ele fala confronta
tantos líderes do templo e das sinagogas como
os romanos, falar a verdade no meio dessa
corrupção religiosa e política é arriscado. Eu
tinha ouvido seu primo João falar antes sobre o
reino; ele pregava que, se quiséssemos o reino
de Deus, tínhamos que nos arrepender dos
nossos pecados; João foi decapitado por ter
confrontado o pecado do governador, isso
meteu medo num monte de gente.

Essa pregação irrita muito mais do que


um sermão sobre política. Os doutores da lei
enviaram soldados romanos para prender o
Mestre por várias vezes, mas todas as vezes ele
saiu pelo meio deles e ninguém colocou a mão
nele; vinham para prendê­lo, mas parecia que
não podiam, não conseguiam literalmente.
Demorou, mas começamos a entender que nele
havia o poder do reino de Deus ­ ele fala que o
reino de Deus está dentro de nós. Até acho que,
um dia, vou escrever um livro sobre as coisas
que ele fala sobre o reino.

Timóteo, você conhece a desgraça que


acontece hoje em dia, aguentar as afrontas dos
romanos é terrível. Nós todos odiamos a
presença deles aqui; nossos pais espirituais
estão “deitados” com o inimigo, Roma: eles
manipulam Roma para manter suas riquezas, e
Roma os usa para extorquir tudo que temos. E
quem sofre? Nós! Se não fosse o Mestre, eu ia
entender que a melhor coisa seria uma revolta
armada contra tudo isso. E a seca? Falta de
água e de comida; até que parece que o Deus de
Abraão é contra nós!

O Mestre nos ensinou que tudo isso é


fruto do nosso próprio pecado porque, ao pecar,
damos lugar para o príncipe das trevas,
concordamos com a mentira e assim, com o pai
da mentira, traímos a verdade. A adoração
profana do nosso povo dá direitos para o
príncipe das trevas estabelecer seu governo
tirano e habitar em nós.

Contribuímos, cada um com sua parte,


para estabelecer esse império não somente de
Roma, como também das trevas; pois o império
de Roma é somente um reflexo do império das
trevas; e se Roma não foi construída num dia
só, tampouco o império das trevas: é a
edificação cumulativa do mal na Terra desde os
dias de Adão e Eva, é o inferno invadindo a
Terra!

Esse mundo que conhecemos é resultado


de nossas escolhas, pois nos tornamos
semelhantes àquele a quem adoramos. Em vez
de sermos semelhantes a Deus que nos criou,
nos tornamos semelhantes àquele que se
rebelou: nos rebelamos contra Deus como o
adversário, e como ser humano fazemos o
inimaginável ao nosso próximo; mentimos,
roubamos, adulteramos e até mesmo matamos,
mesmo sabendo que causamos dor no outro e a
nós mesmos.

O mal coletivo é resultado do mal


individual; por isso é necessário gerar uma
mudança individual e interior para haver
transformação no coletivo. O Mestre veio da
parte do Pai para resolver nosso dilema,
demonstrando o quanto Deus nos ama e
nos chama ao arrependimento para mudar o
interior do ser humano; ele, Jesus, o Messias, é
o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo
para o transformar totalmente, nos salvando dos
nossos pecados e de tudo o que eles causam.
Nós todos nascemos com o sonho do Éden: a
Terra seria como o jardim, se não fosse o
pecado; o primeiro Adão abriu as portas para o
inferno invadir, mas o segundo Adão ­ Jesus
Cristo, o Leão de Judá ­ abriu as portas para o
céu invadir a Terra, como o Pai sempre queria;
e ele nos dará essas chaves do reino dos céus!

O Mestre ensina as mesmas coisas sobre o


reino de Deus em cada cidade que vamos,
relembrando que as coisas não têm que
continuar na pior assim; como que despertando
o povo de um sono.
E, então, ele fala em parábolas que
retratam para todos um reino de justiça, paz e
alegria no Espírito Santo ­ e que tocam no
sonho dentro de todos nós; é como se ele
perguntasse: “vocês querem o império das
trevas com toda sua opressão e desgraça?”

Nós cremos nessa proposta e o seguimos


por isso. Por que cremos? Simples: através dele
ouvimos, vemos e tocamos o reino; o reino se
manifesta por meio dele, e é através dele que
recebemos o reino. Ele nos convenceu de que
as coisas podem ser diferentes se crescermos
nele, sei porque ele não se cansa de falar sobre
esse assunto ­ nem sei mais o número de
cidades aonde passamos, tampouco com
quantas multidões ele falou, e muito menos o
número de vezes que ele falou do reino. Eu
consigo imaginar o dia em que muitos, do
mundo inteiro, saberão de Jesus e virão para
conhecê­lo, sei que isso vai acontecer.

Éramos doze no início mas, semana


passada, foram acrescentados setenta ao nosso
grupo; muitos desses eram discípulos de João
Batista, morto por Herodes. Esse João era
primo do Mestre e eles eram muito afinados e
próximos, o Mestre nos disse que João tinha
preparado o caminho para o Mestre porque
João pregava arrependimento, e que a palavra
de arrependimento é a ferramenta pela qual o
reino de Deus é edificado. Antes do Mestre
pregar, só João era tão conhecido em Israel; ele
e os seus discípulos iam umas semanas antes de
nós para as cidades onde o Mestre nos levava,
até parecia que o Mestre seguia atrás dele.

Com a morte dele, muitos dos seus


discípulos vieram estar conosco e o Mestre os
recebeu com alegria. Agora o Mestre nos envia
de dois em dois para as cidades que ele quer
visitar, acho que nós é que estamos preparando
o caminho para ele!

E vai ser assim até chegar aos confins da


Terra!

Hoje, somos um grupo pequeno com 82; e


não nos enganamos com as multidões porque
sabemos que muitos vêm para serem curados e
libertos, mas não se tornam seguidores ou
discípulos.

Mas eu sigo o Mestre, custe o que custar,


eu o sigo; já deixei o meu cargo de coletor de
impostos e restituí um monte de gente de quem
roubei. Hoje minha vida é simples mas tenho
paz. E que paz!
Um dia, vou ter a alegria de saber que
participei da maior causa já existente (que nem
mereço); por isso, admiro e amo tanto ao
Mestre, ele enxerga algo em nós que não
percebemos.

Enquanto Mateus falava, eu sentia o ar


carregado de uma força, algo que cutucava
minhas entranhas; suas palavras lembravam as
conversas que tive com o Mestre, eu estava
sentindo na presença de Mateus o que eu sentia
com o Mestre (quero dizer, com Cordeiro) ­ era
como se Mateus fosse revestido de algo que
vinha do Cordeiro e que sua palavra fosse
respaldada por uma autoridade que ele mesmo
não tinha ­ como se ele fosse comissionado e
tivesse encarnado a missão do Cordeiro (como
se estivesse pronto para carregar o bastão de
uma corrida de revezamento ou levantar a
bandeira de um novo Rei)! E o mais intrigante
é que eu me via na pessoa de Mateus!

E como não pensar que faço parte dessa


geração que ele sonhou? O evangelho do reino
tem chegado aos confins da Terra, faço parte de
uma geração privilegiada de viver o que os
discípulos da primeira geração sonharam. Sinto
que meus encontros com o Cordeiro estão me
preparando, para eu preparar um povo
preparado para o dia que ele voltará como Leão
e estabelecerá de vez o seu reino.

• Timóteo, digo­lhe que ninguém, que


conheci até hoje, é como o Mestre. Ele é o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e
que vai transformá­lo. E, com ele, vamos (de
cidade em cidade) convocar as pessoas ao
arrependimento e anunciar a realidade desse
reino, a fim de que elas entrem nele e se alistem
como sacerdotes.

Você também pode fazer parte da causa,


se quiser.

O Mestre nos ensinou a orar para que o


reino viesse. Ele ensina às multidões, em todas
as cidades, como se quisesse que todos orassem
assim; parece até que ele está iniciando um
grande movimento de oração. Ele não ensina a
orar como no contexto da liturgia da sinagoga;
acho que ele ora todos os dias, pois o ouvimos
orando de longe, e ele até já orou conosco; é
como se ele perguntasse: “vocês querem o
reino de Deus ou querem essa opressão? É
claro que queremos o reino de Deus que o
Messias prega.

O Mestre diz: “Então, orareis assim...


Pai nosso que estás nos céus,
santificado seja o teu nome;
venha o teu reino,
seja feita a tua vontade,
assim na terra como no
céu;
o pão nosso de cada dia nos dá hoje;
perdoa as nossas dívidas, assim como
perdoamos aos nossos devedores;
e não nos deixes cair em tentação,
mas livra­nos do mal.
Pois teu é o reino, o poder e a glória para
sempre.
Amém.”

De repente, ouvi um estrondo atrás de


mim.
A Maior Causa

A​
o ouvir o estrondo, dei um pulo da
poltrona ​ em que eu tinha caído no ​ sono
assistindo ​às notícias. Ué... dormi e era ​
tudo
um sonho? Não fiquei muito tempo pensando
sobre isso porque logo percebi que o estrondo
veio do noticiário: enquanto o repórter estava
comentando, terroristas detonaram uma
segunda bomba bem no lugar da reportagem, e
htdo foi filmado ao vivo. ​ As ​
cenas eram
horripilantes: pessoas caíam a cada segundo e,
em 30 minutos, quase todos tinham morrido,
inclusive o repórter e o cinegrafista; parecia
que o inferno tinha estabelecido suas bases
aqui. Cansado de ouvir tanta desgraça e não
aguentar mais, quis saber como mudar tudo
isso. Resolvi dar uma volta para sair da
pressão, fui até a porta lembrando­me do sonho
e pensando “será?”.

Abri a porta e desci as escadas de minha


casa. Chegando na rua, fui para o parque ali
perto... Que chato! Acho que eu tinha me
acostumado com este trajeto porque passei por
três bocas de fumo de gangues rivais, e por uma
escola onde vi jovens de onze a vinte anos
usando drogas, experimentando perversão
sexual e se posicionando contra as autoridades
que a escola tinha; observei que a escola estava
assolada pelo vandalismo ­ depredada e pichada
por toda parte ­ e pensei “esse é um ‘canteiro’
onde o príncipe das trevas cultiva o seu
império”.

Eu queria tanto que cessasse toda essa


maldade, mas sabia que não tinha poder para
isso. Entrei no parque e espiei o banco que
costumo ir nessas voltas; então, lá estava o
Cordeiro olhando para mim como se dissesse
“eu estava à espera”, e ele olhava para mim
com tanta compaixão. Por alguma razão, eu
sabia que o Cordeiro me entendia, e eu não
tinha que falar alguma coisa; tudo que vinha
para eu falar, eu pensava “ele já sabe disso”; eu
esperava, pois sabia que, por mais que eu
quisesse desabafar, importava mais o que ele
tinha a dizer para mim. Lágrimas encheram
meus olhos e chorei durante alguns minutos,
ficando em silêncio ao seu lado. Quando ele
começou a falar parecia que tinha passado uma
eternidade:
• Chamei Mateus e muitos outros para
estarem comigo e serem meus discípulos na
primeira vez que vim; o avanço da causa
deve­se muito a eles, e a outros discípulos que
creram em suas palavras e se alistaram para a
causa também. — Eu me surpreendi quando ele
falou sobre Mateus, será que ele sabe do meu
sonho? — Você me conhece por causa das
palavras que eles carregaram e pelas quais
foram mortos.

A causa é o avanço de um reino espiritual


e soberano, pois o seu rei é o próprio Deus e
Criador de todas as coisas. Como em todo
reino, princípios, valores, leis e normas
procedem de atributos, caráter, autoridade e
poder do rei ­ ele determina as influências do
seu reinado: todas as coisas são dele, por meio
dele e para ele.

Há dois governos que exercem influência


na Terra: o reino eterno e absoluto de Deus e o
poder temporário e usurpador das trevas; a
influência sobre o ser amado é tanto individual
quanto coletiva e nenhum governo humano está
isento dessas influências, ou seja, todos os
reinados ou governos humanos recebem a
influência desses governos espirituais. Os
reinos não são iguais em força; simplesmente,
um é o resultado da rejeição do outro, como as
trevas é o resultado da ausência de luz; mas os
dois geram frutos da sua influência: o reino de
Deus gera justiça, paz e alegria no Espírito
Santo, e o império das trevas gera roubo, morte
e destruição. O reino de Deus é eterno, existem
e sempre existirão evidências desse reino, pois
Deus é apaixonado pelo ser amado! O império
das trevas é temporal, infiel, opressor e
traiçoeiro, e colherá o fruto quem seguir esta
influência; todavia, que fique bem entendido:
seu tempo está contado.

O ser amado foi criado para ser


cogovernante com o Criador. Soberanamente,
Deus decidiu dar livre­arbítrio e poder de
escolha à sua obra­prima: o ser amado, o único
ser criado à sua imagem e semelhança; esse
poder de escolha é relevante a todos os valores
do reino e o ser amado tem esse poder desde o
momento em que foi criado, pois a natureza do
amor de Deus é que o amor pode ser recebido
ou rejeitado. Dessa forma, o domínio do
ser amado na Terra seria de justiça, paz e
alegria no Espírito Santo. Mas o adversário do
ser amado desejou subjugá­lo a seu império e
induziu o ser amado a rejeitar o Criador e seu
governo ­ princípios, valores, leis e normas
pelos quais e para os quais o ser amado foi
criado. Essa decisão do ser amado mudou o seu
curso de vida para sempre, ele sabia que teria
consequências, pois liberou o adversário a agir
em sua vida e agir na Terra de uma forma que o
Criador não queria. Ao rejeitar o reino de Deus,
o cogovernante submeteu toda a criação ao
poder tirano do adversário usurpador (que é
destituído de amor, justiça, paz e alegria que
procedem do Criador) e este iniciou um
processo de roubo, morte e destruição na Terra.

O adversário rejeitou o governo de paz


muito antes do ser amado. Ele se corrompeu,
perdeu o amor que sustentava seu ser, e perdeu
toda a noção de beleza, glória e paz com que
foi criado e que ele conhecia na presença do
seu Criador. Sua inimizade com Deus o afastou
e ele passou a conhecer tudo o que existe na
ausência de Deus.

O adversário foi a criatura mais bela, ele


carregava a luz e tinha o lugar mais próximo a
Deus no cenário celestial. Ele rejeitou o
governo de Deus e eu o vi cair como um
relâmpago; desde então, ele se corrompe de mal
a pior, pois se afastou do amor e do perdão, da
alegria, da justiça, da luz, da misericórdia, da
paz, da vida e de muito mais, quando se afastou
de Deus; destituído da presença renovadora de
Deus, ele se corrompia a cada instante que
passava, e sua existência foi tomada por
desespero, destruição, morte, roubo e tristeza.
Ele é o maioral de todos que rejeitaram o
governo de paz e, por isso, se tornou o príncipe
das trevas, exercendo autoridade temporária
sobre todos que se afastam de Deus. Ele
usurpou o poder e iniciou sua tirania, sua
influência induziu o ser enganado a cometer
vergonha que contaminou a vida do ser amado
por completo.

Contudo, seu domínio é temporário e seu


tempo está contado!

Eu sou o Cordeiro que tira o pecado do


mundo, crucificado desde a fundação do
mundo; porém, também sou o Rei dos reis que
veio nos tempos de Mateus para executar o
passo crucial da causa, esse passo deu início ao
fim do império das trevas. Desde então, meu
reino avança e influencia todos os reinos e
governos do mundo, através do caminho feito
de “pedras vivas” que creram na palavra dos
reunidos na hora em que o rio de Deus foi
derramado do trono sobre a Terra; estes, os
batizados na cruz, deram suas vidas pela
palavra em que creram. Comecei com 12
seguidores e hoje, tu, Timóteo, estás dentro dos
seguidores que somam mais que um bilhão
entre os vivos e os que já estão na presença
eterna de glória, majestade e poder; tua vida
está guardada diante do trono, e cresce a
família de Deus que acredita em mim, de
geração em geração, de povo em povo e de
nação em nação. Fiz o sacrifício primacial
quando morri na cruz da caveira; e, por dois
milênios, meus seguidores fazem a oferta de
holocausto de heranças, oferecem o sacrifício
de separação e derramam seu sangue em terra
alheia; como eu, abrem mão da glória de
homens para seguirem a vocação sublime da
causa; eles vencem exércitos, suportam
ignomínia, sobrevivem à adversidade do
gemido de toda a criação e fazem o impossível
com quase nada, frutificando em atos de justiça
e estabelecendo a verdade, vencendo o mal,
testemunhando­me perante os enganados e
levando a vitória da cruz até os confins da
Terra.

Cordeiro parou de falar e fechou os olhos


neste momento. Ele tinha um ar de admiração e
de apreciação tão grande por esses de quem
falava. Acho que ele sabe o nome de cada um.

Eu não ousava falar, e ficamos assim


durante alguns instantes.

Repentinamente, lembrei­me do meu avô,


Giovanni Rios; ele foi a primeira pessoa que vi
ler o livro, e eu o conhecia como um homem
justo e muito, muito amoroso. Morávamos a
três casas da dele e dois tios moravam entre
nós. Num dia de visita à casa dele, uma das
minhas primas, Teresa (dez anos mais velha
que eu), apelidou nosso avô quando ainda
estava aprendendo a falar; ela ouviu nossa avó
chamar bem alto “Giovanni Rios” e, como
muitas crianças, ela não conseguiu falar o nome
todo, mas ficou repetindo “Vô Vani”. Então,
acabou apelidando o nosso avô Giovanni para
todos os netos, e acabei conhecendo­o como
“Vô Vani”.

Eu ia para casa dele no final do dia, pois


gostava de tomar café da tarde ouvindo suas
histórias. Ele mesmo preparava a mesa para
nós, eu sabia a hora que ele estava aprontando
tudo porque ele passava na frente do campo de
futebol da rua para buscar nosso pão, e eu o
esperava passar de volta. Eu costumava estar
jogando quando ele passava e, nesse momento,
eu jogava melhor porque eu sabia que ele
parava para me ver jogar na volta; eu queria
marcar gols naquela hora em que ele estava
assistindo. Daí, as mães começavam a chamar
e, um por um, os grandes jogadores saíam do
campo para atender à rotina familiar; e eu? Ia
tomar o meu café da tarde com Vô Vani.
Quando eu chegava, ele sempre estava na
poltrona da sala lendo o livro; ele me
cumprimentava e pedia para eu sentar na
cadeira do lado, enquanto ele terminava de ler;
comigo ao lado, ele lia o restante da leitura em
voz alta. Ele tinha um grande respeito por esse
livro... Amo meu vô.

Cordeiro, sorrindo e secando as lágrimas


do rosto, falou:

• Timóteo, quero abrir meu coração


contigo.

Ele olhou no fundo dos meus olhos com


um amor tão grande que comecei a chorar
comovido.

• Tudo que fiz, fiz pela causa, ela é a


mais nobre de todas: amar a Deus acima de
todas as coisas. Tudo procede disso, pois Deus
é amor; ama­se a Deus porque, ele mesmo, é o
amor e amou primeiro; ama­se ao próximo
porque o ser amado foi criado à imagem e
semelhança de Deus. Quem descobre o amor de
Deus sabe que não merece segunda chance;
contudo Deus ­ que é o promotor da causa ­
ama como ninguém; eu vim fazer a
reconciliação por causa do seu amor pelo ser
amado; por amor a Deus, eu vim restaurar todas
as coisas que a rebelião estragou. ...Tu vieste a
mim pelo caminho do coração quebrantado, tu
vives os “últimos dos últimos” dias... Procuro
por aqueles que querem se alistar na causa
desde os primeiros dias; pessoas em quem o
amor a Deus foi restaurado, e onde foi gerado
um senso de abandono dessa vida pelo reino
que vim estabelecer para o ser amado; pessoas
que sentem que o amor lhes devolveu a razão
de viver, e que querem levar a causa adiante na
sua geração aonde forem, custe o que custar;
pessoas que amam a Deus mais do que ao
mundo contaminado pela rebelião, e que estão
dispostas a viverem em prol da causa; pessoas
inclinadas a cumprirem a vontade do Pai como
eu fiz, prontas a fazerem sacrifícios como fiz
pela causa. Meus seguidores compartilham a
ciência revelada para abençoar gerações,
retificam injustiças da sociedade e levam a
causa aos confins da Terra até hoje; eles
demonstram o amor do Pai aos mais cruéis e
aos abandonados do mundo, aos esmagados
pelo sistema da maldade. Milhões e milhões de
pessoas já fizeram isso desde o dia em que o
“rio de Deus” foi derramado sobre os meus
discípulos; suas histórias estão registradas no
meu coração.

Eles são membros da minha família: a


família sacerdotal de Melquisedeque. O
sacerdócio é o meio pelo qual a reconciliação e
a redenção de todas as coisas serão feitas, para
que haja transformação.

Cordeiro acabou de descrever meus


sentimentos e aspirações, e eu não parava de
chorar: eu não merecia a bondade nem o perdão
e, muito menos, o amor que ele me estendeu e
que ainda me dá! Meu amor por Deus cresce a
cada dia e, por causa disso, meu crescente
sentimento e desejo é de servi­lo; eu queria
saber se havia algo que eu pudesse fazer para
contribuir para a causa, eu queria me alistar já
há muitos dias.

• Cordeiro, não conheço essas pessoas


que foram teus discípulos, não sei se tiveram
que passar por um teste ou se qualificar de
alguma forma; não sei se foi uma coisa vitalícia
ou se o serviram por um tempo. Só sei que,
quando ouço tua palavra, cresce o desejo de
estar mais, muito mais ao teu lado; e cresce
uma curiosidade de aprendiz em mim: quero
aprender a ser como o Senhor e fazer o que
ensinaste aos discípulos. Sei que minha vida
não vale nada se eu não puder servir a ti assim,
parece que meu coração já não deseja mais as
coisas deste mundo. O Senhor redimiu a minha
vida com a tua, e quero te servir; no meu
coração, sei que devo tudo isso a ti ­ não para
compensar, porque sei que não há recompensa
pelo o que o Senhor fez (e o Senhor nem me
pediu isso). Mas nesse momento, a única coisa
racional que sei é que tenho que te servir por
causa do que o Senhor fez por mim... E agora, o
Senhor fala da causa para mim: eu quero fazer
parte dela e te honrar com a minha vida!

Cordeiro me fitava com aquele olhar


penetrante. Eu sabia que ele estava levando
muito a sério esse momento pois, de alguma
forma, o que ele fez como Cordeiro de Deus,
fez para isso. Ele sorriu e falou:

• Timóteo, fico emocionado com tua


entrega. Vejo que o meu penoso trabalho não
foi em vão. O trabalho dessa geração em prol
da causa é grande, pois há muito o que se pode
fazer; assim como o Pai tinha uma vocação
sublime para mim, ele tem para todos os seus
filhos, e todos podem seguir o meu exemplo,
pois sou o primogênito entre muitos irmãos. Eu
Sou o Caminho: neguei a mim mesmo pela
causa; eu sabia que teria que morrer crucificado
quando o Pai pediu para que eu fosse fazer a
reconciliação; mas me prontifiquei por amor a
ele; tomei a cruz que redime a todos que creem
em mim, que os reconcilia com o Pai, e que
restaura a causa na vida de todo ser amado.
Para Mateus e seus colegas falei que, para ser
meu discípulo, tem que negar a si mesmo,
tomar a cruz e me seguir. Timóteo, tu és
precioso e o Pai te ama muito; ele tem uma
vocação sublime para ti pela qual vais servir na
causa. Segue­me.

Fechei meus olhos e pensei que a minha


vida nunca mais seria a mesma a partir desse
dia. Eu queria conhecê­lo melhor; queria
descobrir a minha vocação sublime e me
preparar para cumpri­la com todas as minhas
forças: quero que seu reino venha...

E abri os olhos para saber que eu estava


“só”.
O Presente

P​
assei no Vô ​
Vani no caminho de casa.
Ele ​estava sentado, como se esperasse na
varanda, quando cheguei lá; ele estava muito
­​
alegre, e se levantou para cumprimentar​me:

­ Que bom que você passou aqui hoje,


Timóteo. Eu estava com saudades de você e
lembrando da época em que você tomava café
da tarde comigo. Entra, que preparei uma
coisinha para nós. Ele pegou o livro da
mesinha, ao lado da cadeira de balanço.
Entramos e vi a mesa preparada, como se ele
me esperasse ​mesmo, com tudo o que
comíamos quando eu era menor: café com leite,
bolinho de chocolate, doce de leite e goiabada,
pão, queijo branco, tudo.

Agradecemos a Deus como era de


costume, mas algo estava diferente dessa vez e,
de repente, tudo fez sentido para mim: a vida
do meu vô, todo o amor dele, a mesa posta...
• Tá com fome, meu filho? Come, come
tudo o que você quiser ...Timóteo, ando
observando você quando passa na frente de
casa: acabou aquele ar de frustração. Seu olhar
mudou, vejo algo diferente nos seus olhos. O
que está acontecendo, meu neto?

Como ele sabia o que se passava comigo?

• Bom, Vô... Está acontecendo algo


comigo realmente. Conheci um homem
chamado Cordeiro — Vô Vani tomou um
fôlego bem grande e sorriu para mim. — já tive
alguns encontros com ele, e é por causa dele
que estou mudando...

Vô, quero lhe pedir perdão pela vez que


quebrei o vaso da Vó, menti dizendo que foi
meu irmão naquela época, mas fui eu e não ele;
já menti muito para o senhor: na maioria das
vezes que passei aqui e o senhor me perguntou
onde eu estava, menti dizendo que tinha ido
jogar bola em outro campo, mas a verdade é
que eu estava fumando droga ou fazendo o que
eu não devia com meninas; tive vergonha de
falar a verdade e resolvi mentir. O senhor me
perdoa?
Eu não sabia que isso podia acontecer,
mas meu vô parecia com Cordeiro! Ele olhou
para mim com o mesmo olhar e disse:

• Eu lhe perdoo, filho, lhe perdoo.

Ele estendeu a mão e afagou minha


cabeça. Eu estava chorando um pouco, então
ele esperou e disse “fala mais, meu filho”.

• Vô, esse homem é diferente de todos


que já conheci: ele me perdoou de todos os
meus pecados e está me mudando por dentro;
não quero mais cometer as vergonhas que
cometi. E mais: tem uma voz dentro de mim,
como se fosse o Cordeiro mesmo, falando
comigo o tempo todo; também ando sonhando
umas coisas que não entendo ainda, mas sei que
é por causa dele. Acabei de ter uma conversa
com ele, e me alistei na sua causa.

Vô Vani começou a chorar e eu fiquei


preocupado, pois ele poderia ter um ataque ou
algo desse tipo; mas ele gesticulava para eu
continuar.

• Vô, sei que eu não sou perfeito mas o


Cordeiro me quer; ele falou para eu segui­lo
que ele vai me ajudar, e é tudo o que eu quero!
Mas... Vô, por que o senhor está chorando?
Então, Vô Vani falou:

• Timóteo, essa é a melhor notícia que


ouvi este ano! Oro por todos os meus netos
todos os dias, para que vocês venham a
conhecer o Cordeiro e se alistem na causa.
Conheci o Cordeiro quando eu tinha 19 anos;
eu era terrível e, no dia em que o conheci, foi
como se alguém tivesse tirado uma venda dos
meus olhos: num dia eu não sentia vergonha do
que eu fazia, e no outro eu soluçava e gemia de
vergonha na presença do Cordeiro, por tudo de
ruim que eu tinha feito; ele também me
perdoou e tirou o peso que eu carregava por
causa das vergonhas que cometia. Daí, me
alistei na causa, e foi quando conheci a sua
saudosa Vó Linda; ela já conhecia Cordeiro, e a
nossa caminhada com ele foi bela e ainda é
para mim. Hoje estou vendo algo que a sua avó
ansiava ver!

Meu coração explodia de amor por meus


avós! Eu tinha acabado de descobrir como são
importantes em minha vida, mas minha avó
tinha falecido havia uns três meses. Meu avô
olhou para a mesa onde estava o livro e disse:

• Timóteo, por favor, pegue o livro na


mesa pra mim. — peguei pensando que ele ia
ler, todos nós conhecíamos o amor que Vô
Vani tinha pelo livro. Antes da vó falecer, ele
sempre lia algo quando a família se reunia aos
domingos para almoçar.

• Timóteo, agora o livro é seu; tenho


outros, mas separei esse para você. Timóteo,
todas as vezes que você o ler, vai ser como se
você ouvisse Cordeiro lendo para você; ele é a
palavra viva, lembra? Ele já falou muito
comigo pelo livro e agora vai falar com você.

Eu chorava de alegria ao receber o livro


do meu vô! Abri, e havia algo escrito para mim
na contracapa:

“Vale a pena seguir o caminho apontado


pelos testemunhos de homens e mulheres que
experimentaram Deus, foram mudados e se
alistaram na causa. Pois suas vidas foram
deixadas como sinais que indicam esse
caminho para as futuras gerações.

A sua vida também será assim, Timóteo.

Prepare o caminho do Senhor com a sua


vida. Amo você,”

Giovanni Rios – Vô Vani


Levantei­me e o abracei com todo o meu
amor e carinho. Ficamos ali, calados e quietos,
desfrutando do amor que Cordeiro nos
proporcionou.

Timóteo, quero orar com você:

“Pai nosso que estás nos céus, santificado seja


o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu; o pão
nosso de cada dia nos dá hoje; perdoa as
nossas dívidas, assim como perdoamos aos
nossos devedores; e não nos deixes cair em
tentação, mas livra­nos do mal. Pois teu é o
reino, o poder e a glória para sempre. Amém”.

E eu disse “amém”.

...Nem tínhamos tocado na comida. Meu


vô gesticulou para eu me servir, mas ele mesmo
acabou pegando tudo e dando para mim.
Passamos as próximas duas horas comendo e
conversando, ele me contou muito da sua
história com o Cordeiro e eu não cansava de
ouvir.
A Primeira Vez

F​
ui para ​
casa com uma única coisa em
minha cabeça: eu queria ler o livro, e queria
entender o amor que meu avô tinha por ele.
Quando cheguei em casa, meus ​ pais estavam
ansiosos me esperando....Ai, ai, ai, esqueci de
ligar para avisar onde eu estava.

● Pai, mãe, esqueci de ligar; me


perdoem, por favor. Passei na casa do Vô Vani,
foi super legal: ele meu deu o livro dele!

Eles olharam surpresos para mim, fazia


um tempo que eu não tinha passado na casa do
meu avô. Eu era casca grossa e muitas vezes
tínhamos discutido devido às minhas falhas.

• Tudo bem — disse minha mãe.


Neste momento, me veio uma vontade
enorme de abraçar meus pais como nunca
antes, e o fiz.

• Amo vocês. Vou para meu quarto ler


um pouco, ok?

Deixei meus pais atônitos; pensando bem,


agora entendo o quanto eles me amavam e
toleravam minhas atitudes infantis enquanto eu
fazia tudo de errado com a minha vida.

Sentei na minha escrivaninha para ler.


Abrindo o livro, comecei a folheá­lo pela
primeira vez: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números, Deuteronômio, (“nomes esquisitos”,
pensei), Salmos, Isaías, Jeremias, Miquéias,
Mateus...

“Mateus!” Eu disse em voz alta; abri,


comecei a ler, e li tudo até o sexto capítulo.
Fiquei sem palavras: meu sonho contou algo
real, pois li as palavras que o Cordeiro falou e
Mateus acompanhou, até a oração que ele
ensinou à multidão, que era a mesma que Vô
Vani fez comigo! Fechei o livro e me preparei
para dormir.
Uma vez deitado, comecei a refletir sobre
meu dia. “Que dia! E quanta coisa para um dia
só: Cordeiro, vô e o livro, meus pais”.

E assim, adormeci...

...Eles estavam esperando por mim.


Mateus estava entre eles, mas eu não conhecia
os outros. Então, ele me chamou para mais
perto:

• Timóteo, quero apresentar­lhe alguns


colegas: João e Pedro; o Mestre os chamou para
estarem com ele também.

Cumprimentamo­nos e senti como se eu


estivesse junto a Cordeiro, pois o ar era
carregado daquela presença e eu sentia um
cheiro doce. Esse negócio de ser discípulo de
Jesus fez com que algo dele estivesse sobre
estes três homens.

João começou a conversa:

• Shalom, Timóteo. Gostei do seu


nome... Você faz parte da família?

• Que família? — perguntei.

• A família da ordem.
• Que ordem?

Eles olharam entre si e sorriram. Confesso


que me senti um tanto perdido naquela hora: “a
família da ordem”?

• Nós somos da família que o Mestre


está gerando da ordem sacerdotal de
Melquisedeque, todos os discípulos são. Você
já esteve com o Mestre pessoalmente? — João
disse.

• Sim, tive um encontro com ele que


mudou minha vida. Não sou mais a mesma
pessoa depois de conhecê­lo.

Os três olharem entre si e sorriram. João


continuou:

• Você tem convicção que é um filho de


Deus?

• Como nunca na minha vida —


respondi.

• Você se lembra dessa experiência? O


Mestre nos ensinou que, naquele momento,
nascemos de novo e algo sobrenatural acontece:
o Espírito de vida e de verdade que está nele
faz nosso espírito ressuscitar; estávamos mortos
por causa das nossas vergonhas, mas o
Fôlego de vida nos fez nascer de novo. E ele
habita em nós.

O Mestre nos escolheu para estarmos com


ele e aprendermos a natureza e a cultura da
família com ele. Já multiplicamos nosso
número na semana passada, quando se
acrescentaram mais setenta aos doze discípulos.
Agora ele está nos enviando para prepararmos
o caminho para ele nas cidades aonde irá. Ele já
nos falou que só precisamos falar e fazer a
mesma coisa que vimos ele fazer.

...Escuta, Mateus já fez com você aquela


brincadeira que ele gosta de fazer com os
outros, repetindo tudo o que o Mestre fala?

Olhei para Mateus e dei risada.

• Sim, por quê?

• Porque todos nós podemos fazer


aquilo, Mateus é que gosta de se exibir!
[risadas] É como ele lhe falou: o Mestre diz as
mesmas coisas, de multidão em multidão, de
cidade em cidade, ensinando sobre o reino de
Deus e demonstrando seu poder; depois de
ouvirmos tantas vezes, suas palavras penetram
e ficam para sempre em nós — disse João.

E Pedro acrescentou:

• Somos pedras vivas e edificamos uma


casa espiritual para a habitação de Deus na
Terra; os levitas e o povo de Israel eram os
únicos sacerdotes até então, mas o Mestre está
começando agora um novo sacerdócio com
quem crê nele ­ gente simples como nós: o
novo sacerdócio da ordem de Melquisedeque.
Ele está nos ensinando a oferecer sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus, e também nos
deu autoridade e poder para fazermos as
mesmas coisas que ele faz: adoramos, oramos,
curamos enfermos e expulsamos demônios
como ele faz, pregamos a mesma mensagem
que ele prega; e ele cobra de nós! Temos o
privilégio de proclamar as virtudes de Deus.

Ao que João completou:

• É por essas e outras que o Mestre está


sempre em atrito com os líderes dos levitas, ele
nos ensina de uma forma diferente e com
autoridade; o impacto dele em cada lugar é
tremendo e eles têm ciúmes disso. Os líderes
dos levitas trazem tudo para si e para Israel; ele
não, ele abraça a todos; ele nos explicou que
esse evangelho é para chegar a toda a
humanidade até os confins da Terra, a todas as
pessoas que chamamos de gentios; por
enquanto, temos que evangelizar somente as
ovelhas de Israel, mas já vimos como ele ama
aos gentios ­ ele curou a filha do centurião. Ele
nos disse que Deus amou o mundo de tal
maneira que enviou seu Filho, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna; ele ama a todos, não apenas Israel.
Ele tem nos ensinado isso e leva isso a sério.
Ele ensinou algo muito forte dias atrás, alguns
discípulos discutiram e acabaram deixando­o, e
ele nem foi atrás; fiquei com muito temor.

E então, Pedro disse:

• Ele perguntou se nós queríamos nos


retirar também; então eu disse “Mestre, a quem
poderíamos seguir? Só o Senhor tem as
palavras da vida eterna”. Timóteo, sabemos que
Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo. Daremos
as nossas vidas para ele e o seu reino se
estabelecer na Terra. Ele vai reinar sobre todas
as nações e toda a Terra, e eu quero estar com
ele.

• Já falamos muito, e você parece ser


um rapaz muito inteligente; o que você pensa
de tudo isso? — João referiu­se a mim.
Me surpreendi com a pergunta e, por um
momento, fiquei calado refletindo. No
momento em que eu ia falar, chegaram dois
homens conhecidos de João e Pedro. Eles se
abraçaram, mas João segurou um deles para
provocá­lo, e instalou­se uma competição entre
eles. Pedro, maior e mais forte, os apartou e
disse:

• Timóteo, este é André, meu irmão, e


este é Tiago, irmão de João. Não se assuste,
eles sempre lutam um com o outro, e com todo
mundo assim.

• Shalom, Timóteo. Você é da família?


— André perguntou.

Sorri para ele como se dissesse sim.

• É, eu percebi que você está


começando a ter os olhos do Mestre. Legal!

Então, se dirigiu ao seu irmão:

• Pedro, como você está depois da


bronca?

E então, Pedro falou:


• Maninho, minha cabeça está “girando”
até agora... Chamou a gente de “geração
incrédula e perversa”... Doeu, mas ele tem
razão: a gente não estava jejuando e o Espírito
da verdade tinha falado comigo sobre isso
antes.

• Comigo também. Deve ter alguma


coisa que não estamos entendendo e que o
Mestre vai nos ensinar — André concordou.

Enquanto Pedro e André falavam comigo,


João e Tiago voltaram a lutar. Quando olhei
para eles, só vi o golpe de Tiago prestes a me
atingir...

... Acordei em minha cama num pulo e


assustado com o alarme que disparou. Estava
na hora de levantar.
A Sabedoria do Vô

A​
o acordar, ​
fiquei com muita vontade de
saber se o que eu tinha sonhado correspondia
com o livro. Procurei os ​
nomes e as histórias de
Pedro, João, André e Tiago, e bateram (até dos
irmãos que competiam!). A essa altura da
pesquisa, lembrei do meu compromisso com
meu avô: hora do almoço. Fui correndo para a
casa dele e, dessa vez, eu tinha um monte de
perguntas para fazer.

Ele estava na varanda lendo o livro quando


subi os degraus da rua para sua casa.

Essa casa me trazia muitas lembranças


boas: Vó Linda – nome que ele deu para a
nossa avó, que ele dizia não haver outra mais
linda que ela – sempre fazia bolos de chocolate,
de fubá, de goiaba e de milho (dá água na boca
só de lembrar!); lembro que ficávamos
brincando enquanto os adultos conversavam, às
vezes, meu pai e seus irmãos se exaltavam
quando conversavam sobre infância (parecia
até que estavam brigando), mas era só a
animação deles; brincávamos numa gangorra
que meu vô fez para nós na frente da casa e
jogávamos bola nas pequenas traves que ele
confeccionou; lembro o amor que eu e meus
primos sentíamos ao entrar nessa casa todas as
vezes que nos reuníamos para feriados como o
de Páscoa e réveillon ...Com todas as
lembranças boas, nunca entendi porque
paramos de frequentar a casa do Vô Vani há
uns dez anos.

• Oi, Vô! Tudo bem?

Dei­lhe um abraço bem forte e beijei seu


rosto (amo meu Vô!).

• Tudo bem, Tintim. E você?

• Está tudo bem comigo, Vô. Tenho lido


o livro e estou gostando. Vô, acredita que andei
sonhando com coisas que estão escritas nele
antes de eu lê­las?

• Acredito. [risadas] Porque este livro é


a parte escrita da palavra viva e o Espírito da
verdade ensina todas as coisas que Cordeiro
ensinou, ele deve ter lhe ministrado em sonho.
• O Espírito de Deus ministrando a
mim! Uau! Demais! ...O que o senhor está
lendo hoje?

• Estou lendo Lucas 11:

“E aconteceu que, estando ele a orar num


certo lugar, quando acabou, disse­lhe um dos
seus discípulos: 'Senhor, ensina­nos a orar,
como também João ensinou aos seus
discípulos.' E ele lhes disse: 'Quando orardes,
dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o
teu reino; dá­nos cada dia o nosso pão
cotidiano; e perdoa­ nos os nossos pecados,
pois também nós perdoamos a qualquer que nos
deve, e não nos conduzas em tentação, mas
livra­nos do mal'.”

Como gosto desta passagem e desta


oração! Vamos almoçar.

Entramos em casa e a mesa já estava


preparada, pois minha tia veio fazer o
nosso almoço: feijoada (como gosto da
feijoada da minha tia)!

Vô Vani então falou:


• Vamos orar, pois estou faminto!
Senhor, somos gratos pela tua bondade dia após
dia em nossas vidas e gratos por tua
providência, gratos pela família que o Senhor
nos deu. Abençoe esta comida e a nossa
comunhão, em nome de Jesus. “Pai nosso que
estás nos céus, santificado seja o teu nome;
venha o teu reino; seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu; o pão nosso de
cada dia nos dá hoje; perdoa as nossas dívidas,
assim como nós perdoamos aos nossos
devedores; e não nos deixes cair em tentação,
mas livra­nos do mal. Pois teu é o reino, o
poder e a glória. Amém”.

Eu disse em voz alta:

• Amém!

Nós três sorrimos com um ar de


satisfação. E senti sua presença: eu não o via,
mas o Cordeiro estava conosco na quarta
cadeira. Depois de todos terem se servido,
comemos e conversamos.

• Vô, hoje é a segunda vez que o senhor


faz aquela oração que Jesus ensinou. Por quê?
E por que o senhor fez aqui em casa?
Vô Vani olhou para minha tia e eles
trocaram sorrisos. Então, pôs o garfo no prato e
começou a explicar:

• Esta é a oração que o Mestre ensinou.


Ele a ensinou muitas vezes para as multidões,
quando ele falava sobre o reino de Deus, como
se dissesse “se quiserem o meu reino, têm que
orar, e ao orar, orem assim”; o fato dele ensinar
essa oração em todos os lugares a que ele ia,
nos mostra a importância que ela possui; e tem
mais, quero mesmo o reino de Deus.

Tenho 75 anos e, durante esses anos,


tenho acompanhado muitos avanços
tecnológicos em pouco tempo e também essa
tal de globalização: vi os carros clássicos,
assisti os primeiros televisores, vi nascer o
computador e estou aqui para ver os
smartphones. Talvez a maldade não seja maior
hoje, mas é descarada! O império das trevas
espalhou­se por toda a Terra e está promovendo
sua agenda de roubo, morte e destruição com a
maior falta de vergonha. O Mestre ensinou no
livro que seria assim nos últimos dias.

Timóteo, podemos estar vivendo os


últimos dias e, por isso, quero expressar o
quanto quero que “venha o reino”.
Há 56 anos que ando com o Mestre e
conheço a vida da “família”. Lembro que,
quando eu tinha a sua idade, não passava
nenhuma celebração sem que fizéssemos essa
oração com muito temor; você pode perguntar,
poucas pessoas fazem essa oração hoje; é raro e
poucos ensinam sobre isso. Timóteo, se o
Mestre ­ que é o Sumo Sacerdote da ordem que
ora ­ nos ensina a fazer essa oração e nenhuma
outra, é porque ela é estratégica e importante. E
creio que é chegada a hora da família
redescobrir essa oração.

Acredito que faço parte da família de


sacerdotes que o Mestre levantou, que sou
como Pedro, Tiago e João, e que o Mestre
confiou o avanço do seu reino a mim nessa
geração; creio nele por causa da palavra dos
discípulos que ele enviou, antes de ele ascender
e se sentar à direita do Pai; e creio que ele
espera que eu dê continuação a tudo o que ele
ensinou a seus primeiros discípulos. Simples.

Mateus citou o Mestre: ​ “E, chegando­se


Jesus, falou­lhes, dizendo: É me dado todo o
poder no céu e na terra. Portanto ide,
fazei discípulos de todas as nações,
batizando­os em nome do Pai, e do Filho e do
Espírito Santo; ensinando­os a guardar todas
as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que
eu estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos.” Amém. (Mateus
28:18­20)

Timóteo, este seu nome significa “aquele


que honra a Deus”; sou um “Timóteo” também
e quero honrar ao Mestre com a minha vida em
cada palavra e atitude (mesmo sem precisar ser
um pregador famoso). Tenho feito essa oração
todos os dias pois, no temor e tremor que tenho
do meu resgate, o mínimo que posso fazer é
seguir ordens tão simples como “orareis
assim”.

Creio que o Mestre a ensinou como sendo


a oração estratégica, pois foi a única que
ensinou em todos os lugares em que esteve, e
ensinou a fazê­la com toda fé e sinceridade.

Se dependesse de mim, tenho certeza de


uma coisa: eu não poderia fazer uma oração
melhor do que a do Mestre!

E mais: não acredito que ele ensinaria a


fazer uma oração que Deus Pai não pretendesse
atender. O Mestre ensinou a orar sobre o que é
mais importante quando nos ensinou essa. E
tem mais: qual é o sacerdote que não adora a
seu Deus e que não intercede?
Em poucas vezes ouvi o meu avô falar
com tanta autoridade, e eu sabia que o Cordeiro
estava conosco, ouvindo tudo. Acabei não
comendo nada por ficar ouvindo meu avô falar,
tampouco ele comeu pois estava ocupado a me
explicar as coisas; ouvi tudo o que era
necessário, minha cabeça estava cheia, e os
nossos pratos também.

• Vô Vani, gosto demais de ouvir o


senhor falar e estou aprendendo muito. Mas sua
feijoada está esfriando, vamos comer? Sei o
quanto o senhor gosta de feijoada, depois posso
fazer outras perguntas.

Vô Vani olhou para mim com aprovação


e, virando­se para minha tia, disse:

• Essa minha filha sabe fazer uma


feijoada deliciosa! Acho que até melhorou a
receita da mãe.

Então, ela falou:

• Aprendi a fazer todas as receitas


da mamãe com amor.

Nossa tarde foi muito agradável, demos


muita risada nos lembrando de todos da família,
e comemos bem. Tendo outro compromisso,
despedi­me e fui para casa já pensando em
voltar para passar mais tempo com meu avô.
Preparai o Caminho

V​
i um homem ​
na frente de minha casa ​
e,
ao chegar perto... André, o do meu sonho?!
Será que é o próprio irmão de Pedro na frente
de minha casa? Como seria isso?

Então, cheguei com muito medo.

O homem olhou para mim e falou:

­ É você, Timóteo?

Respondi que sim com timidez. Então ele


falou:

• Ufa! Eu estava lá com o Mestre e ele


pediu que eu lhe explicasse algo; eu disse “ok”,
mas eu não sabia que você vivia no futuro!
Estou mais perdido que cego em tiroteio,
apareci aqui e fui perguntando onde você
morava. Estou feliz em lhe ver.
Ao que falei:

• Que estranho... mas que bom lhe ver


também! Há pouco eu estava na casa do meu
avô e contei de você para ele. Vamos entrar em
casa e conversar, meus pais foram jantar fora.

Eu e André sentamos na varanda de casa;


busquei água para ele e, quando lhe alcancei,
ele olhou estranho para o copo de vidro, mas
gostou quando tomou ­ bem que eu entendi sua
estranheza.

• Obrigado, Timóteo. Escuta, o Mestre


me falou que você estava na lição do
discipulado sobre oração.

Parecia que o Cordeiro sabia o que eu


tinha conversado com meu avô? Então lembrei­
me que o Cordeiro estava lá também! E falei:

• Estou mesmo. Aprendi a oração com


meu avô, ele acabou de me ensinar algumas
coisas que me levaram a uma conclusão: sei
que vou fazer essa oração todos os dias porque
quero que o reino de Deus venha.

André sorriu e disse:


• É isso aí! E o Mestre me enviou para
falar um pouco mais sobre uma autoridade que
não é desse mundo — neste momento
gesticulei para que ele continuasse.

• Antes de eu estar com o Mestre, fui


discípulo do primo dele, João – que “andava no
manto de Elias”; João sabia de si mesmo e do
que foi enviado a fazer, foi a primeira pessoa
que falou do Mestre para mim dizendo que
nossa tarefa era “preparar o caminho” do
Mestre. João era muito ousado e muito
humilde, ele sempre exaltava seu primo
dizendo que convinha que o Mestre crescesse e
que ele diminuísse; por várias vezes também
nos disse que ele batizava para o
arrependimento dos pecados mas que, depois
dele, viria outro que seria maior – que nem as
sandálias dele João seria digno de amarrar – e
que batizaria com o Espírito Santo e com fogo.

Eu admirava João: era um homem muito


temente a Deus, íntegro e sério, educado pelo
Espírito Santo no deserto e filho do sacerdote
Zacarias, e que nos amava; essa é a formação
máxima para nós. Ele me ensinou sobre o
reino: sobre arrependimento de pecados e seus
frutos de arrependimento e confissão,
chamando todos a se arrependerem dos seus
pecados para que viesse o reino de Deus sobre
a Terra. Ele tinha uma ousadia espiritual, não
era nada fácil aguentar o que ele aguentou dos
líderes dos levitas: lembro­me bem do dia em
que alguns dos líderes dos levitas chegaram
para um batismo e ele os chamou de “raça de
víboras”, porque eles tinham uma aparência de
espiritualidade mas não haviam produzido
frutos dignos de arrependimento. Ele tinha a
autoridade dos profetas de antigamente.

No dia em que o Mestre se aproximou


para ser batizado, João apontou e disse “Eis o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Eu ainda não conhecia o Mestre, mas João sim,
pois eram primos; há um testemunho das mães
que, quando se viram grávidas, João pulou no
ventre da mãe porque chegou perto do Messias,
que é o Mestre. João tinha falado muito sobre o
Mestre, que ele é o Messias e o Rei que Deus
enviou para mudar todas as coisas. E quando vi
o Mestre nesse dia, senti que o meu sonho
podia se realizar e eu quis segui­lo; então, eu e
outro discípulo fomos falar com João sobre o
que sentíamos e queríamos, e ele ­ homem
humilde que é ­ nos abençoou para seguir a
Jesus; e fomos seguir ao Mestre.

Nós temos seguido o Mestre diariamente


já por um bom tempo, e vemos ele pregando a
mesma mensagem que João pregava, até parece
que combinaram os mesmos conceitos e as
mesmas frases. Mas tem uma diferença: João
pregava e batizava pelo arrependimento das
vergonhas e, quando as pessoas o ouviam,
confessavam seus pecados (até publicamente) e
eram batizados por ele e por nós, seus
discípulos; o Mestre faz o mesmo, mas ele fala
com uma autoridade ainda maior, fazendo
coisas que João não fazia ­ com uma única
palavra, o Mestre cura enfermos de toda sorte
de enfermidade (cegueira, lepra, surdez...),
expulsa demônios e também ressuscita mortos!

É claro que o discípulo tem que aprender


a ser e fazer como o seu mestre, este é o
princípio básico de todo discipulado. À medida
que andávamos com João, eu e os outros
discípulos aprendíamos a executar o ministério
que ele recebeu do Restaurador. Até que, num
dia, o Mestre me chamou, junto com meu irmão
Pedro (que você conheceu) para estarmos com
ele e aprendermos o ministério que
o Restaurador tinha lhe confiado; tremi “nas
bases”, mas meu sonho estava se realizando: fui
chamado para andar com o Messias como
discípulo! E sei muito bem que ele nos ensina
para poder confiar esse ministério a nós.

E André continuou explicando­me:


• Nossa convivência é muito saudável e
interessante. Ele nos ensina a respeito das
Escrituras, porém aplica­as de uma forma que
os líderes dos levitas não sabem fazer; nos
ensina fazendo uso de parábolas, entendemos
muitas vezes, mas outras não, e temos que pedir
para ele explicar. Ele é o nosso conselheiro,
nosso parákletos. Ele está em missão, temos
caminhado muito e ele não se cansa.

No início, ele ia para os lugares onde João


tinha preparado o caminho. Mas, há pouco
tempo, João foi preso porque chamou um
governador a se arrepender ­ por ter se casado
indignamente com mulher do irmão do próprio
governador ­ e foi decapitado; foi um baque
terrível para todos nós. O Mestre ficou triste
mas, ao mesmo tempo, mostrou­se cada vez
mais convicto em sua missão.

Meus ex­companheiros ficaram abalados


e abatidos, alguns foram para suas casas e
fiquei preocupado com eles; mas outros, para
minha felicidade, vieram seguir ao Mestre:
depois de um tempo que nós, os doze, temos
aprendido e ministrado juntos, ele chamou mais
setenta ­ e muitos destes foram discípulos de
João; hoje somos 82 discípulos firmes e outros
que seguem interessados em se tornarem
discípulos.
Falei tudo isso como introdução, porque
ajuda a entender o que fui enviado para lhe
falar.

Eu o ouvia com toda a atenção possível e,


por algum motivo, tudo fazia sentido para mim.
Interessava­me saber como eram as coisas nos
tempos dos primeiros discípulos, pois eu já
tinha decidido: queria ser um deles também.

• Timóteo, chegamos a entender do


Mestre a seriedade do que ele quer de nós como
discípulos, e já faz um tempo que estamos
ministrando conforme a agenda dele. Digo­lhe
isso porque a agenda de João era de pregar a
mensagem do reino e batizar pelo
arrependimento de pecados; lembro que havia
um tremendo espírito de quebrantamento sobre
toda a nação.

O Mestre nos ensinou a fazer a mesma


coisa e acrescentou o que ele faz além disso, ele
nos ordenou: “curai os enfermos, ressuscitai os
mortos, purificai os leprosos, expulsai os
demônios (...)” A sua agenda é além da agenda
de João, nós todos vemos a diferença.

Num dia desses, chegou um homem


acompanhado do seu filho ao local que
estávamos ministrando, ele estava à procura de
cura para seu filho; assim que chegaram a nós,
o filho caiu convulsionando e o pai informou
que isso acontecia com certa frequência (às
vezes caindo no fogo, outras na água); oramos
e oramos, mas não deu em nada, tentamos
expulsar demônios também e nada! Ficamos
tristes com essa situação, empatizados e
compadecidos pelo filho e seus pais, e também
envergonhados por termos a ordem de cura,
contudo faltava algo para realizá­la; e, como se
não bastasse...

...Mais tarde estávamos pertinho do


Mestre enquanto ele ensinava a multidão que
tinha se aproximado; enquanto o Mestre
pregava, o mesmo homem veio se aproximando
com seu filho; ele estava desesperado e
gritando “Senhor, tenhas misericórdia de mim e
do meu filho”, e o Mestre gesticulou para que
se aproximassem; nós gelamos, porque
sabíamos que ele estava lá porque tínhamos
falhado na nossa parte; então, o homem contou
o caso para o Mestre, explicando que,
primeiramente, ele tinha trazido o menino para
nós, no que o Mestre nos olhou e disse “Ó
geração incrédula e perversa! Até quando terei
que aguentar vocês?” O Mestre tocou e curou o
menino, e o pai ficou muito feliz.
Todo mundo ficou olhando para nós,
quisemos “cavar um buraco” e sumir. O Mestre
não costuma dar bronca mas, quando dá, o que
ele diz penetra até a alma. Conversamos um
pouco e tivemos que admitir que alguma coisa
não estava certa conosco; chamamos o Mestre e
perguntamos: “Mestre, por que nós não
conseguimos expulsá­lo? ” Ele nos disse: “Esta
casta só sai pela oração e pelo jejum”.

Curvamos nossas cabeças de tanta


vergonha, a decepção de não atender ao Mestre
foi maior que a vergonha de falhar, eu não
desejo passar por mais vergonha. Nós todos
comentamos que o Espírito de Vida tinha
falado para nós jejuarmos nesse dia e não
obedecemos. Daí em diante, ficamos
determinados a aprender mais sobre as coisas
que o Mestre quer de nós; queremos cumprir
suas ordens, pois sabemos que, com a morte de
João, somos nós que vamos preparar o caminho
do Senhor.

Gesticulei para ele continuar:

• Depois desse dia, aconteceu que, num


dia de ministrações, o Mestre separou­se para
orar como de costume. Dessa vez, começamos
a conversar entre nós sobre a bronca que
levamos no outro dia e a nossa incapacidade de
fazer as mesmas coisas que o Mestre faz.
Vendo­o orando, a conversa rumou para a
questão da oração.

Eu e os demais que foram discípulos de


João, sabemos que orar ­ como João nos
ensinou
• foi o segredo do seu ministério; pregávamos
uma mensagem confrontadora para nosso povo,
que só nós sabemos como somos coração duro,
petrificado mesmo; temos certeza que, se não
tivéssemos orado como João ensinou, as
pessoas não teriam correspondido à mensagem.
As multidões que vêm estar com o Mestre
vieram antes para as nossas ministrações com
João.

Começamos a nos perguntar “Será que


tem algo que precisamos aprender em relação à
oração que ainda não aprendemos? Será que o
Mestre está orando de uma forma que ele ainda
não nos ensinou? Será que, se orássemos como
ele está orando, poderíamos ministrar como ele
ministra? ” Alguns começaram a falar
“Perguntem para ele!” E chegamos à conclusão
de que precisávamos pedir para ele nos ensinar
a orar tal como João nos ensinou.
Quando terminou de orar, o Mestre se
aproximou e um dos discípulos mais novos
expressou nossa ansiedade apresentando a
dúvida geral: “Senhor, ensina­nos a orar como
João ensinou aos seus discípulos!” Nós todos
olhamos para o Mestre com atenção e
expectativa de ouvir algo novo, o segredo da
oração.

O Mestre nos olhou com ar de satisfação,


como se tivéssemos feito uma pergunta que ele
mesmo já queria responder há tempo, como se
ele soubesse que a resposta dessa pergunta só
podia se dar diante de uma vontade profunda, e
como se essa resposta fosse algo muito, muito
especial.

Então ele disse:


“Orareis assim:

Pai! Santificado seja o teu


nome. Venha o teu Reino.
Dá­nos cada dia o nosso pão cotidiano.
Perdoa­nos os nossos pecados, pois também
perdoamos a todos os que nos devem.
E não nos deixes cair em tentação,
mas livra­nos do mal.”
Impressionante, já vínhamos ouvindo ele
ensinar essa oração de cidade em cidade, e até
já vínhamos ensinando essa oração como parte
do nosso discurso sobre o reino quando temos
precedido ele nas cidades aonde está para ir; eu
até já vinha orando assim vez por outra; mas
nós todos reconhecemos que não tínhamos
valorizado essa oração até então. Quando ele
nos ensinou num outro contexto, daí então nos
“demos conta”.

Temos visto os líderes dos levitas


praticarem a oração para impressionar ouvintes,
até cansamos de ouvir suas orações; e temos
visto os romanos, como eles rogam repetindo
as mesmas coisas inúmeras vezes; parece que
eles pensam que, pelo muito falar, serão
atendidos. Confesso que, antes, eu não estava
dando valor à oração que o Mestre tinha nos
ensinado, o valor dela passou desapercebido até
o momento em que o Mestre nos ensinou nesse
dia; porém, acho que isso foi porque, sem
praticar essa oração, eu não estava dando valor
à fé :de que Deus Pai aguardava a gente orar,
desejando atender a oração que o Mestre nos
ensinou.

As reflexões de André estavam


penetrando meu coração e baixei minha cabeça:
eu também não sabia valorizar a oração.
Conheci orações de graças e litúrgicas, e
também eu já tinha visto equipes de futebol
fazerem essa oração antes e depois de ganhar
campeonatos. Eu havia aprendido a prática
da oração em contextos semelhantes aos de
André, e eu queria dizer isso para ele; então,
levantei a cabeça e... ele tinha sumido.

Fiquei refletindo sobre as suas palavras


durante um tempo. Quero me considerar um
discípulo do Cordeiro em minha geração;
portanto, preciso entender melhor sobre a
prática da oração – mais especificamente a
oração como ele nos ensinou.
Héroi & Campeão

E​
u me interessava mais pelo livro ​
a
cada ​ dia: todos os dias, levantava uns vinte
minutos antes do normal ​ para poder ler um
pouco e, à noite, ia para casa um pouco mais
cedo para poder ler antes de dormir; eu
devorava o livro e, muitas vezes, perdia a hora
lendo. Sou apaixonado pelo Cordeiro, e essa
paixão se reflete na busca por conhecer a
história, a palavra e a obra que ele revelou no
livro.

Certo dia, saí para andar de bicicleta ­


esse dia estava lindo demais para ficar em casa.
Aqui na periferia de Hemeterópolis, há um
bosque com muita sombra e uma vista linda da
nossa amada metrópole.

Chegando ao bosque, fui para o meu


cantinho ­ atrás do chafariz que tem quatro
bustos: um de águia, outro de homem, um outro
de leão e mais um de novilho ­ onde, a poucos
metros adiante, há um pequeno anfiteatro
cavado no chão para fazer fogueira, que é
cercado por uma grade.

Havia pessoas no “Buraquinho”, como o


chamamos; entre elas, o meu amigo Cacá.
Trocamos sorrisos e fui até ele; nos
cumprimentamos e perguntei:

• Cacá, quando podemos nos ver? Estou


lhe devendo uma conversa.

• Ah, você não me deve coisa alguma,


meu amigo; podemos nos ver quando você
quiser, tô com você.

• Cacá, me diga: o que lhe traz por esses


lados, e quem é essa galera?

• Vim aqui com meu irmão, ele se


converteu a Jesus e mudou muito... Tim, ele diz
que Jesus mudou a vida dele, e vejo a mudança
em pouco tempo. Estou aqui porque cansei da
vida louca e quero saber desse negócio.

E então, segurando­me de emoção, falei:

• Você lembra do dia em que você me


perguntou o que tinha de diferente em mim?
Pois eu tinha acabado de conhecer Cordeiro, e
ele mudou a minha vida. Ele me perdoou os
pecados e me fez ciente; hoje sou um de seus
discípulos, e ele está me ensinando a viver
como ele vivia; meu interior e meus
relacionamentos mudaram, posso dizer que não
conheci nada igual. Você se lembra do meu
avô? Ele é membro dessa congregação, e tem
me ensinado algumas coisas importantes.

• Você, Timóteo? Quem diria? Agora,


estou mais curioso ainda.

O pessoal da congregação começou a


cantar uma música que me chamou muita
atenção, paramos para ouvir e celebramos
juntos; eu não sentia vergonha de adorar ao
Cordeiro junto com Cacá. Comecei a sentir
aquela presença... e seu cheiro doce!

Terminou a adoração e as pessoas


começaram a se retirar para voltarem às
suas casas. Despedi­me de Cacá prometendo
ligar para ele em breve.

Não fui embora com ele porque eu queria


olhar para a cidade do “meu mirante” ­ um
banco que tem uma vista linda de
Hemeterópolis. Quando virei para seguir
caminho, vi que o banco estava ocupado, e era
ele! Apressei­me.

• Cordeiro!

Ele estava de olho fechado e falando.


Ficou uns minutos assim quando virou para
mim e falou:

• Timóteo.

Ele sorriu para mim... E sim, senti tudo de


novo, como na primeira vez. Nos
cumprimentamos e olhamos a cidade durante
um tempo. Não me contive:

• Cordeiro, ando lendo o livro e


pensando que quero ser seu discípulo, e
participar do seu plano para mudar o mundo.
Entendo que o Senhor me comprou, redimiu a
minha vida e, agora, não posso fazer coisa
alguma senão servir­ lhe.

Cordeiro voltou­se para mim com aquele


olhar penetrante. Eu sabia que jamais
conseguiria enganá­lo, e que só se fala a
verdade em sua presença; eu sentia que ele lia
meus pensamentos e pesava minhas
motivações. Em seguida, falou­me:
• Timóteo, edifico minha igreja através
de meus discípulos, ela cresceu de geração em
geração, de povo em povo, de cidade em
cidade, de nação em nação através de
discípulos como tu. Estou muito feliz que
queres se alistar para levar a palavra adiante,
em tua geração; estarei contigo. Eu te dei o meu
Espírito, estarei contigo sempre.

• Essa voz que ouço é dele?

• Sim, te batizei com meu Espírito, com


aquele sopro na primeira vez que nos
conhecemos, e ele está te ensinando as coisas
que ensinei para os meus discípulos. Ele fala
contigo, revelando as coisas de Deus para ti,
fazendo­te entender os mistérios divinos, e
opera em ti.

Então falei:

• Cordeiro, há algo que não entendo


ainda. Nas outras vezes em que me encontrei
contigo, tu estavas falando, e hoje também.
Com quem estás falando? O que estás fazendo?

Ele respondeu sorrindo:

• Durante a minha vida na Terra, meus


discípulos observaram o meu costume de
oração e eu os ensinei a orar comigo. Demorou
para eles entenderem mas, depois que meu
Espírito foi derramado sobre eles, dedicaram­se
à oração para que a igreja fosse guiada pelo
Espírito.

Hoje, estou à direita do Pai intercedendo


pela igreja e pelo mundo. Entendo muito bem
as provações, tentações e tribulações pelas
quais o ser amado passa, e não cesso de orar
enquanto o reino de meu Pai não estiver
estabelecido na Terra.

• Então, quero aprender sobre isso.


Ensina­me a orar como o Senhor ensinou aos
teus discípulos.

Cordeiro falou:

• Este pedido me alegra tremendamente,


como no dia em que meus discípulos pediram o
mesmo. Vou ensinar­te, sim, mas quero que
saibas como é importante essa oração.

Esta é a oração que ensinei para todos os


meus discípulos, para os que querem fazer as
minhas obras e preparar o caminho para que eu
reine.
É a oração baseada no que eu mesmo oro,
e eu sei como orar. Ensinei a orar assim porque
sei que o Pai vai atender essa oração; é para que
todos orem todos os dias. Ensinei a orar assim,
e não de outro modo, porque é a oração
estratégica para minha noiva ­ meus irmãos ­
meus discípulos.

É a oração que ensinei para começar o


maior movimento de oração de todos os
tempos: ela ecoa pelas gerações, transmitida de
todas as cidades onde ministrei em Israel até os
confins da Terra, com o crescimento da família
de sacerdotes da ordem de Melquisedeque. Já
foi mais traduzida que o livro; rezada por fiéis,
piedosos e santos; declarada por crianças,
jovens e velhos; discursada por presidentes,
primeiros ministros e reis; repetida em vão por
hipócritas, incrédulos, mentirosos, religiosos e
tolos, mais que qualquer oração na história do
ser amado.

Não ensinei essa oração para uma


denominação ou outra, nem para um contexto
litúrgico ou para ser repetida em vão,
muito menos para ser declamada para os outros
só para mostrar que se sabe “orar”.

Timóteo, houve um momento em que


essa oração era tão importante no coração da
igreja que acrescentaram­na à liturgia usada
para cultuar a Deus. Ao passar do tempo, essa
prática aumentava e diminuía:
desconhecimento do livro e corrupção dos
valores do meu reino, altivez, cobiça, descaso,
religiosidade, soberba e outras mazelas,
contribuíram para que a minha família
sacerdotal deixasse de discernir o significado
dessa oração, valorizar sua importância e
praticar sua essência.

Neste momento, parei e disse:

• Cordeiro, falei com meu avô e ele


disse que, no tempo da sua juventude, ninguém
cultuava a Deus sem que fizesse essa oração;
ele sabe o que o Senhor está dizendo.

• Sim, Timóteo, teu avô faz parte dos


fiéis e remanescentes que oram como ensinei;
ele entendeu que eu não iria ensinar a orar algo
que o Pai não estivesse inclinado a atender.
Podes confiar em mim, podes orar como eu vou
te ensinar, e o Pai vai te atender como me
atendeu.

Timóteo, desejo que meus irmãos e


discípulos orem assim nesta geração, e que
ensinem a orar assim aos seus filhos, para que
essa oração suba da Terra para encher a sala do
trono de Deus. Ensinei todos a orarem dessa
forma como parte da missão de levantar um
novo sacerdócio ­ um povo que clame e chore
pela vinda do meu reino.
Como Ele Ensinou

A​
chei­me numa sala desconhecida,
como se transportado para uma outra
dimensão; as paredes eram abauladas, dando a
entender que estava dentro de uma ​esfera, e o
mapa­múndi a cercava. O Cordeiro estava
sentado numa mesa rústica de madeira maciça
com mais três homens, tive a impressão que
esravam reunidos para planejarem algo, pois
havia papéis sobre a mesa. Eu podia ouvir
claramente a conversa em andamento
entre ​
Cordeiro e Pedro, que reconheci, e mais
dois senhores que eu não conhecia.

Um era meio calvo com cabelos


compridos e brancos, que desciam sobre seus
ombros; ele usava uma barba até a cintura, e
parecia que nunca a havia tirado; talvez um
mago? Ele vestia uma roupa sacerdotal bonita
com estola e segurava um turbante, de pedras e
com cores lindas. Fiquei curioso quanto a sua
identidade e resolvi prestar atenção à conversa
para saber quem era este e por que os quatro
estavam dialogando. Pensei: “Como que esses
homens de épocas diferentes estão conversando
juntos?”

Pedro disse:

• Eles não estão entendendo


ainda. Um outro falou:
• Pois parece que aconteceu o mesmo
que aconteceu com a gente.

E o Cordeiro declarou:

• Arão, o que tu queres dizer?

Arão olhou para mim como se dissesse:


“Quem é este e quem o chamou? ” Todos
olharam.

Cordeiro sorriu e gesticulou para eu me


aproximar.

Pedro também me chamou, dizendo:

• Timóteo, não fique escondido aí, vem


sentar aqui comigo. Você precisa ouvir isso
para repassar para a sua geração.
Sentei ao seu lado num banco de madeira
bruta; a tampa brilhava, gasta de tanto uso.
Sentado à mesa, percebi que era uma madeira
bonita, forte, e um tanto velha também; havia
símbolos nela que eu desconhecia: alguém
tinha entalhado um peixe em traçados muito
simples, outro símbolo parecia um X com um P
estendido para cima; também vi frases escritas
em muitas línguas, tinha letras que eu não
entendia, mas eu sabia que formavam palavras
e frases; vi datas, algumas bem antigas
(estranhei quando percebi que a contagem era
diferente da que eu conhecia) ­ tinha uma data
de 3073 e outra de 4335. Olhei para Cordeiro e
ele estava sorrindo para mim; apontou para um
broche que usava em sua toga: “5774”. Olhei
para ele com uma pergunta na cabeça: “O que
significa?” Eu sabia que ele sabia o que eu
pensava.

• Este é o ano 5774.

Pedro apresentou os demais ali presentes:


Arão e o primo de Jesus, João ­ bem cabeludo e
barbudo, ele vestia peles bem grossas que eu
desconhecia. João era diferente, eu sentia uma
grandeza escondida e secreta perto dele.
Olhando para os reunidos nessa mesa,
percebi que eu estava sentado junto a pessoas
de grandeza que o mundo não conhecia.
Refleti: “Quem sou eu para estar aqui entre
pessoas de tanta grandeza?”

Neste momento, Cordeiro mexeu nos


papéis velhos que estavam no meio da mesa.
Embaixo das folhas havia entalhado em letras
grandes: “A causa pelo Rei e pelo seu reino”.

Arão limpou sua garganta como se


quisesse falar algo.

• Bem­vindo, Timóteo, Melquisedeque


nos falou de você. Desde os tempos do jardim,
o Pai Misericordioso tem nos envolvido na
restauração; e a causa dele continua com você.
Ele acredita em você, Timóteo, e na sua
geração. Ele é longânimo.

Cordeiro tomou a palavra:

• Quero que todos abram o coração com


Timóteo. A sua geração é especial para mim e
quero que ele entenda isso.

Arão retomou a palavra, dizendo:


• Timóteo, tudo depende do sacerdócio.
Fui o sumo sacerdote da primeira tribo de
sacerdotes ­ a ordem de Levi, meu bisavô. Deus
consagrou todos os primogênitos para si
quando o sangue do cordeiro foi passado nos
umbrais das portas das nossas casas no Egito;
fui salvo pelo sangue do cordeiro quando o anjo
da morte passou sobre nossa casa, mas ouvimos
os gritos das famílias egípcias que perderam
seus primogênitos.

Quando saímos do Egito nos dias que se


seguiram, encontramo­nos com Deus no monte
santo; ele falou sobre nós com meu irmão
Moisés, e o que falou era muitíssimo
importante. Havia séculos que estávamos no
Egito como escravos, e os últimos anos da
minha vida ali foram horríveis.

Timóteo, você não sabe... a escravatura


rouba todos os sonhos normais da vida; nossa
vida era terrível no Egito, e perdemos a alegria
de viver nos últimos anos. Mas Deus ouviu o
nosso clamor e fez maravilhas que nos
mostraram que ele não tinha se esquecido da
promessa que fez a Abraão, Isaque e Jacó, e
nem de nós como o povo. Pelas mesmas
maravilhas provou que só ele é Deus, e não há
outro!
Moisés falou que ele tinha dito algo que
iria nortear as nossas vidas: ele disse que
éramos um reino de sacerdotes, uma nação
santa!

Arão ficou emocionado e jorraram


lágrimas de seus olhos. Ficou em silêncio por
uns instantes, se recompôs, e voltou a falar:

• Um povo, milhões de pessoas perdidas


sem terra e sem esperança; tínhamos perdido a
nossa identidade. Deus nos levou com sua mão
forte para o deserto, e provou sua grandeza e
seu poder para nós todos os dias; quando ele
disse que éramos um povo sacerdotal, que ele
nos queria para sermos seu povo e que ele
queria ser o nosso Deus, quase não acreditei: de
nação escrava para nação escolhida,
propriedade peculiar de Deus!

Nos dias seguintes, quando ele substituiu


os primogênitos por levitas para serem
sacerdotes, eu ­ como primogênito dos levitas ­
me tornei o primeiro sumo sacerdote da ordem
que tinha a incumbência de ensinar a nação a
ser sacerdotal; Deus agiria para fazer alianças
com outros povos e nações através de nós.

Timóteo, o sacerdócio é estabelecido por


Deus para a restauração de todas as coisas.
Deus separou a tribo de Levi para o sacerdócio
no intuito de ensinar à nação a ser sacerdote
entre as nações; quando abandonávamos o
sacerdócio, a nação caía em ruínas, tanto como
tribo quanto como nação. Cumprir o nosso
sacerdócio é tudo na realização do nosso papel
na causa.

Houve silêncio total na sala durante certo


tempo. Eu olhava a mesa e reparei, talhado
nela, perto de Arão: “sacerdócio real”.

Agora todos olharam para João, como se


houvesse uma sequência que eles seguiam e
eles sabiam que este era o próximo a falar.
Fiquei animado para ouvir o que ele tinha a
dizer.

• Timóteo, meu pai foi o último dos


sacerdotes levitas; ele estava cumprindo o
dever de sacerdote quando um anjo do Senhor
apareceu e falou com ele. Ali, em vez de seguir
os passos do meu pai, Deus me separou no
“manto” do profeta Elias. Como o profeta
Moisés consagrou Arão para o sacerdócio
levítico, eu consagrei o Cordeiro de Deus como
sumo sacerdote da nova ordem. Com a minha
morte, findou o sacerdócio levítico ­ não digo a
linhagem, e sim o sacerdócio.
O “manto sacerdotal” do povo de Deus foi
transferido dos levitas para o povo de uma nova
ordem, a ordem de Melquisedeque.

O novo sacerdócio é superior ao anterior;


o anterior foi guiado pela lei, o novo, pelo
Espírito do Reino. Convém que ele cresça.

Assim como eu e meus discípulos


preparamos o caminho do Senhor quando ele
veio nos dias de Herodes e Pilatos, os novos
sacerdotes estão incumbidos de preparar o
caminho do Senhor para sua segunda vinda; eu
e meus discípulos preparamos o caminho do
Cordeiro, você e sua geração preparam o
caminho do Leão; eu preparei o caminho do
Messias que sofreu, você prepara o caminho do
Messias que reinará!

Ensinei os meus discípulos a orarem, e


nossa oração preparou o caminho do Senhor. A
oração que o Cordeiro ensinou aos seus
discípulos prepara o caminho da volta dele.

Todos olharam para mim. Fiquei


constrangido, mas sentia o peso da palavra de
João. Olhei para Pedro como se dissesse: “sua
vez!” E ele correspondeu:
• Tenso? Não se preocupe! Hoje, o
Espírito do Cordeiro habita em nós para nos
ajudar. Ele lhe dará tudo de que você precisa
para cumprir sua parte na causa.

Num dia, o Mestre me disse que eu era


uma pedra e que sobre essa pedra ele edificaria
a igreja dele, sei que ele é a pedra angular. Nós
somos pedras vivas, construindo não mais o
templo físico mas, sim, uma casa espiritual,
uma família, um povo comprado com seu
sangue. Ele nos constituiu reino e sacerdotes;
reino porque somos o povo sobre o qual ele
governa, sacerdotes porque este reino é
mantido pelo sacerdócio que exercemos diante
dele.

Timóteo, todas as vezes que os levitas e o


povo de Israel abandonaram o sacerdócio, a
nação foi à ruína. Agora o reino de Deus tem se
estendido pelo sacerdócio de todos os santos,
por todos os que creem em Jesus.

Ao longo dos anos, o povo de Deus se


desviava desse papel primordial; com as
mudanças que o reino de Deus trazia a cada
um, a maioria passava a desfrutar da vida
transformada, acomodando­se em seu mundo
pessoal transformado. A família deixou de ser
sacerdotal tal qual Israel. Sempre há um
remanescente, mas a maioria deixa de viver em
prol do sacerdócio constituído pela redenção
feita no sangue do Cordeiro.

Junto desta disfunção da família,


separou­se um grupo de elite que efetua o
sacerdócio de todos, e agora os santos não
exercem o sacerdócio; há sacerdotes
acomodados, desqualificados, de coma e
imobilizados espalhados pelo mundo inteiro.

Com essa inércia e falta de ação, o mundo


enfrenta coisas que não precisaria enfrentar.

Timóteo, o Mestre nos ensinou a orar


como incumbência principal do nosso
sacerdócio. Ele conta com você e com todos da
sua geração para assumir o papel para qual ele
os constituiu:

O Sacerdócio de Todos os Santos.

Neste momento, retratos numa parede


ficaram vivos e, neles, pessoas estavam
olhando para mim; lembrei daquele estádio em
que vi a “nuvem” de gente com Cordeiro.
Enquanto eu olhava, todas essas pessoas
começaram a girar e formar um redemoinho
no meio da sala em cima da mesa.
O redemoinho ficou girando durante
alguns minutos e, neste momento, ouvi um
clamor saindo do vento que via girando diante
dos meus olhos; este clamor aumentava e
diminuía em volume.

Um aroma pintou a sala de incenso. Eu


sei, você está se perguntando: “Como que um
aroma pinta uma sala?” Eu estava vivendo
aquilo que vi com o Cordeiro: cheiros, cores e
sons tinham vida.

O redemoinho se abriu até serem visíveis


os rostos de todos os povos. Todos eles
estavam vestidos de branco e todos olhavam
diretamente para o Cordeiro como se não
tivesse mais alguém na sala. Fui levado por
uma onda de glória e pura honra, paixão e puro
amor, a adorar ao Cordeiro junto com a
multidão; meu peito explodia de amor pelo
Cordeiro, e eu chorava.

Eu ouvia palavras que eu entendia e que


eu não entendia, eu escutava vozes humanas e
angelicais; as angelicais eram maravilhosas ­
todos cantavam com vozes cristalinas, mais
puras que as melhores cantoras de ópera de
todos os tempos, e cantavam sem respirar;
eu ouvia canções conhecidas e outras não. Eu
estava envolvido em algo que transcendia toda
a concepção natural de alegria, amor e paz; sei
que eu jamais queria sair dessa experiência.
Perdi a noção de tempo.

Como a criança tirada do colo da mãe ou


como a noiva tirada do abraço apaixonado do
noivo, senti um vento sobre mim, o ambiente
da sala mudou de novo, e o redemoinho se
formou novamente acima da mesa.

...Cheiro de incenso: o clamor aumentava,


começando com sussurros até se tornar
ensurdecedor.

Neste momento, duas coisas aconteceram


simultaneamente.

Eu olhava o redemoinho. O vento se


dissipou e, em seu lugar, havia uma noiva
linda, sem mácula e sem ruga.

Ao mesmo tempo, o som do clamor


começou a diminuir e as vozes se uniram;
primeiramente, ouvi o som de muitas pessoas
clamando em sua própria língua. E, como foi
em Pentecostes, comecei a ouvir a noiva orando
em minha língua.
“Pai nosso que estás nos céus,
santificado seja o teu nome;
venha o teu reino,
seja feita a tua vontade,
assim na terra como no
céu;
o pão nosso de cada dia dá­nos hoje;
perdoa­nos as nossas dívidas, assim
como nós temos perdoado aos nossos
devedores;
e não nos deixes cair em tentação;
mas livra­nos do mal.
Pois teu é o reino, o poder, e a glória, para
sempre,
Amém”.

Fiquei atônito e estático diante da visão.


Perdi a noção de tempo mas, quando recobrei a
minha consciência de onde eu estava, nós todos
estávamos olhando para o Cordeiro em
admiração total, envoltos numa paz que
ultrapassa todo o entendimento.

Houve um momento em que o ambiente


mudou (como a praia na hora que a onda volta
ao mar). Como jovem curioso, quis saber dos
outros o que pensavam; olhei para os
companheiros de mesa e reparei que Arão e
Pedro tinham se retirado, e havia outros dois na
sala conosco.
O primeiro estava atrás do Cordeiro, com
a mão em seu ombro: João.

• Timóteo, meu filho, tenho apenas uma


coisa a deixar com você.

Se tivesse que resumir tudo que aprendi


com o Mestre numa palavra, essa seria “filhos”.

O Mestre exemplificou para nós a vida do


Filho de Deus, unigênito e primogênito: o filho
de Deus que tem plena intimidade com o Pai e
em quem o Pai revela a sua glória, o filho de
Deus que libertará a criação do cativeiro; o
filho de Deus que nós todos fomos criados para
ser.

No final de tudo, quis ser filho de Deus


igual a ele.

Você aprendeu a oração? — Abanei a


cabeça indicando que sim.

• Então, você já viu que ela é a oração


dos filhos de Deus. A oração começa com “Pai
nosso”.
Cordeiro olhou para João e sorriu, como
estando satisfeito com essa grande verdade. E
João não disse mais nada.

Todos olharam para o outro lado da mesa,


onde um outro estava no banquinho de Arão.

Com cabelos brancos e esvoaçantes, seu


aspecto era sincero e simples; vestido com uma
roupa antiga que se usava no deserto e que
lembrava o oriente: uma toga por baixo, que o
cobria por completo, com um roupão por cima,
muito bonito, contudo simples. Ele carregava
um bordão ornamentado, muito, muito maneiro
­ a madeira em si era diferente, com nós e
fibras que expressavam realeza.

• Chamo­me Moisés, o irmão de Arão.


Tive um encontro com Deus que me mudou
para sempre. E me recordo sempre de uma
coisa que ele disse: “Moisés, o clamor do meu
povo chegou a mim”.

Timóteo, você e sua geração precisam


saber que Deus ouve o clamor do povo dele; o
coração dele inclina­se para o povo dele.
Melquisedeque ensinou um clamor para o seu
povo, nos termos da oração sacerdotal da sua
ordem. Deus irá ouvir e atender.
Ele falava com tanta certeza, mais do que
com convicção.

Todos olharam para o Cordeiro e também


olhei. Estávamos a sós.

• Timóteo, ensinei a orar baseado em


quem sou e o que faço: sou o Sumo Sacerdote
da ordem de Melquisedeque, e o intercessor
pela humanidade até hoje. No jardim, derramei
sangue em intercessão por todos, e na Caveira,
entreguei­me como sacrifício de intercessão.
Estou à direita do Pai intercedendo pelo mundo,
pela igreja, e mesmo por ti! Todos os avanços
verdadeiros do meu reino são fruto da minha
intercessão diante do Pai. Dei a minha vida
para respaldar a intercessão que ensinei.

Ensinei a orar assim estrategicamente,


sabendo que, se a minha igreja orar assim com
revelação do meu Espírito e com fé, ela vai
tocar o coração do Pai, que deseja resgatar a
humanidade das mãos do adversário e
transportá­ la para o reino de justiça, paz e
alegria no Espírito Santo.

Essa oração é poderosa na boca de quem


crê em mim, sei porque se baseia no que eu
orava e oro. Por isso, quando meus irmãos e
discípulos oram assim, entram em concordância
comigo em oração, seguros que não estão
orando em vão. E, quando oram com
conhecimento e fé (mesmo repetindo), não é
em vão.

Ensinei aos meus discípulos a


orarem assim:

Pai nosso que estás nos céus,


santificado seja o teu nome;
venha o teu reino,
seja feita a tua vontade,
assim na terra como no
céu;
o pão nosso de cada dia dá­nos hoje;
perdoa­nos as nossas dívidas,
assim como nós temos perdoado aos nossos
devedores;
e não nos deixes cair em tentação;
mas livra­nos do mal.
Pois teu é o reino, o poder, e a glória, para
sempre. Amém.

Foi necessário eu ouvir a mesma coisa por


repetidas vezes para entender o que dizia...
Fiquei encantado com cada palavra que eu
ouvia da boca de Cordeiro, e ele falava com
uma autoridade sem igual. Quando ensinou a
orar, o fez com muita determinação, e foi como
um plano divino de ação para a redenção da
humanidade que ele ama de todo o coração.
Quando ele falava, eu sentia a seriedade de
cada palavra, mas, quando ele me ensinou a
própria oração, percebi o poder e a autoridade
que há em cada palavra e em cada frase, como
se ele tivesse avaliado todas as orações
possíveis da humanidade, filtrado tudo o que
era supérfluo e vão, e escolhido cada palavra
meticulosamente. Pois é, ele é a palavra viva e
eterna!

Tive um momento de grande iluminação:


fui salvo por ele, nasci de novo para a sua
família sacerdotal, e sou intercessor com ele
para mudar o mundo que conheço. Se ele
ensinou a orar, e eu não o fizer, deixo de
contribuir como ele me pede; como não me
render em serviço a ele, diante de tão grande
luz e verdade, santidade e majestade,
misericórdia e bondade, graça e amor?

Ele é o Mestre, o Senhor e o Rei. Ele é o


Sumo Sacerdote e o sacrifício sacerdotal, o
Cordeiro que foi crucificado para redimir a
minha vida. Ele é o primogênito, o meu irmão
mais velho da família sacerdotal. Ele é o meu
noivo, o meu amo, o meu campeão, o meu
herói. Ele é o que é e não há outro igual!
O servo da orelha furada é aquele que se
entrega à servidão por escolha, diante da
bondade do amo: entre o povo hebreu, pessoas
se tornavam servas para pagar dívidas;
terminando de pagá­las, se o servo quisesse
permanecer e o amo quisesse que ele ficasse,
eles iam para a porta da casa do amo; lá, o
servo encostava a orelha no batente da porta e o
amo furava sua orelha, seu sangue ficava como
sinal no batente e o servo usava o brinco no
furo como sinal do acordo entre servo e amo.
Este é um paralelo de nossa vida com a de
Jesus: ele deu sua vida por nós, e eu dou minha
vida em serviço a ele perante seu grande amor e
bondade.

...E é verdade: ele não iria ensinar a orar


assim para centenas de milhares de pessoas se
isso não fosse a oração dos séculos! Ele jamais
ensinaria seus discípulos a orarem assim, como
André falou para mim, se isso não fosse a
oração dos filhos discípulos. Ele não é
enganador; ele nunca respalda a falsidade, e
jamais profere a mentira. Ele fala e defende a
verdade, ele é a verdade.

Cordeiro jamais me ensinaria a orar assim


se isso não fosse importante para a minha vida,
estratégico para a sua causa, harmonioso com a
vontade do Eterno, e poderoso para efetuar a
transformação de indivíduos, cidades e nações.

Posso orar assim com conhecimento.

Posso orar assim com fé.

Posso orar assim com temor e tremor.


Posso orar assim com ousadia.

Como não orar assim se foi ele que me


ensinou?

Será que tem outros “Timóteos” na minha


geração? Será que posso encontrar outros que
querem honrar nosso amado Cordeiro com uma
vida sacerdotal, servindo como Ele nos serviu?
Será que tem outros “Timóteos” que possam
orar assim pelas suas cidades como eu, pela
minha amada Hemeterópolis? E por outras
nações? Será?

Vou procurar.

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