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CULTURA DE

ORAÇÃO
Fortalecendo a Igreja que Ora

Michael Duque Estrada


CULTURA DE ORAÇÃO
Fortalecendo a Igreja que Ora

1ª Edição: 2016
Impacto Publicações
Revisão: Eliana Walker de Oliveira, Renata Balarini Coelho
Capa: Júnior Oliveira (Draft Omega)
Diagramação: Eduardo C. de Oliveira

2ª Edição: 2017
Revisão e Edição: Luiz Roberto Cascaldi
Sumário
Agradecimentos
Prefácio
Introdução
1. O Modelo da Casa de Deus: Uma Casa de Oração!
2. O Estilo de Vida Dia e Noite
3. Batalha Espiritual Centrada em Deus
4. Movimento de Oração dos Últimos Dias
5. Dicas Práticas para Uma Vida de Oração
Sobre o Autor
Agradecimentos

Em primeiro lugar, minha gratidão vai ao Aba Pai e seu Filho Jesus Cristo, o
amado da minha alma, aquele que me alcançou em sua graça e colocou em
meu coração fogo e anseio por sua presença.
À minha amada esposa, que teve coragem para me seguir e abraçou a
aventura de caminhar em direção ao chamado de Deus para a nossa família.
Obrigado por toda a entrega e dedicação à causa do reino de Deus. Você é a
melhor esposa e mãe, e eu sou abençoado por tê-la ao meu lado. Benjamin e
Maria, vocês são flechas em nossas aljavas; papai ama vocês.
Aos meus pais, Alcy e Rosa, vocês foram os intercessores que me
alcançaram no lugar de oração. Papai e mamãe, nunca poderei pagar pelo que
fizeram por mim. Eu honro a vida de vocês.
Aos mentores Harold Walker e Robert Walker, homens responsáveis
pelo meu primeiro despertar para o valor do altar e da oração coletiva. Vocês
terão uma recompensa por tocar e despertar uma geração.
A todos da comunidade do Rei e sala de oração Betânia. Foi nesse
lugar que a mensagem que carrego foi gerada. Sou grato pelos momentos que
vivemos juntos em busca e oração. Obrigado, Fábio e Danielly Bravo, Junior
e Camila Oliveira, começamos isso juntos na piscina quebrada!
Aos meus filhos espirituais da casa de oração Liberdade Rio, vocês são
um solo fértil e produtivo. Obrigado por abraçar o sonho do salmo 132.
Vamos juntos construir um lugar de descanso para o nosso Deus.
A Eduardo e Eliana Oliveira e a todos da editora Impacto, obrigado por
acreditar e investir tempo e esforço para que esse livro se tornasse realidade.
Vocês terão uma herança e participação nos frutos desta obra.
A todos os guerreiros de oração espalhados por toda nação brasileira. A
todos os líderes de casas de oração que estão cooperando para fortalecer uma
Igreja que ora e levantar uma cultura de oração. Eu dedico esse pequeno livro
a vocês! Não desprezem os pequenos começos!
Michael Duque Estrada
Prefácio

Deus está agindo no mundo hoje para preparar o cenário para a segunda
vinda do seu Filho. As coisas estão mudando numa velocidade alucinante.
Precisamos de muita disposição para abandonar conceitos antigos a fim de
acompanhar as novas coisas que ele está fazendo.
Uma das mudanças é que o foco de Deus não está mais no indivíduo e
sim no coletivo. Antigamente, intercessores individuais se levantavam como
gigantes espirituais e mudavam a história de nações e regiões. Hoje Deus está
enfatizando a oração coletiva, a oração de concordância, o clamor
harmonioso e uníssono da igreja.
É óbvio que a oração pessoal, devocional, é indispensável. Se não
fecharmos a porta do nosso quarto e falarmos diariamente com o nosso Pai
que nos vê em secreto, não temos condições de orar junto com outros. Mas a
prioridade de Deus hoje não é encontrar pessoas que oram longas horas
sozinhas. Aliás, isso pode até ser perigoso, pois foi através de retiros
espirituais solitários que grandes "revelações" falsas foram recebidas e
milhões de pessoas têm sido enganadas. O processo de revelação tão
necessário para a igreja hoje funciona por meio de dois ou três (ou mais)
"reunidos em meu nome" e concordando no Espírito. Não precisamos apenas
de pessoas que oram, mas de uma Cultura de Oração.
Desde o primeiro dia que conheci Michael, num encontro de jovens em
Campinas em 2004, era evidente que ele exalava o zelo e o amor por Deus e
pelos perdidos por todos os seus poros. Muitos jovens ministros começam
assim, mas no meio das lutas do caminho, perdem o ânimo ou se desviam
atrás de outros alvos. Não tem sido assim com Michael. A perseverança tem
purificado e aprimorado os dons que Deus lhe deu, mas o fogo interior não
diminuiu.
Apesar da disponibilidade de muitos bons livros sobre oração, o livro
que você tem em suas mãos não é apenas mais um, cheio de conselhos e
dicas. Esse livro é um clamor apaixonado para que a igreja do século 21 se
levante para cumprir sua missão crucial nesse momento da história. Ao ler
esse texto, permita que o Espírito Santo aqueça seu coração para deixar de ser
apenas um observador e se tornar um participante dessa nova onda do
Espírito que está começando a varrer o globo.
Harold Walker
Jundiaí, SP, outubro de 2016
Introdução

É sempre um grande desafio falar sobre esse assunto. Não conheço ninguém
que esteja plenamente satisfeito com a própria vida de oração. Parece que a
vida eterna, que consiste em conhecer ao Senhor, está sempre exigindo mais
de cada um de nós nessa área que, apesar de muito simples, também é muito
profunda.
Gostaria de dar um panorama geral do que está acontecendo
exatamente agora no mundo inteiro. Apesar de acontecimentos similares já
terem surgido em outras épocas na história da Igreja, estamos vivendo um
tempo em que o Senhor tem-se movido de uma forma peculiar nas nações.
Deus levantou muitas pessoas na história da Igreja que se posicionaram
como atalaias, como sentinelas do Senhor. Às vezes, começava com um
indivíduo, e o Espírito Santo ia movimentando cidades inteiras,
impulsionando pessoas a reunir-se em torno da oração. E, se observarmos
nossos antepassados, veremos que todo grande avivamento e todo grande
avanço na Igreja sempre foram precedidos por um movimento de oração
alinhado e focado.
Um exemplo disso é o avivamento em Azusa. Havia uma torre de
oração na mansão de Charles Parham onde oravam dia e noite. No dia 1º de
janeiro de 1901, uma menina chamada Agnes Ozman foi batizada com o
Espírito Santo e falou por dias e dias em mandarim. Muito se fala sobre a
Rua Azusa ressaltando os sinais e poder que aconteciam naquele lugar, mas
pouco se comenta sobre esse avivamento ter sido gerado em intercessão e
durante estudos das Escrituras.
Outro testemunho disso é o movimento dos morávios, que surgiu de
um movimento de oração numa época em que o racionalismo havia tomado
proporções muito grandes. Após decidirem não mais causar divisões no
Corpo por causa de pensamentos divergentes, 24 irmãos e 24 irmãs iniciaram
uma reunião de oração que duraria 24 horas por dia. Essa reunião de oração
começou no dia 26 de agosto de 1727 e terminou somente depois de 26 de
agosto de 1827. Foram mais de cem anos de oração ininterrupta. Aquelas
pessoas se revezavam em turnos e oraram por mais de cem anos! Durante
esse tempo, o zelo evangelístico cresceu de tal maneira que, em 25 anos, eles
enviaram mais missionários do que todas as igrejas protestantes reunidas.
Mas esses movimentos de oração eram movimentos isolados que
aconteciam em um país ou outro. O que o Espírito Santo está fazendo agora,
neste exato momento, é muito diferente. Estou muito empolgado e
entusiasmado e penso que esta é a melhor época para se viver. O Espírito
Santo está mobilizando nações inteiras na Terra. Eu poderia citar lugares
muito remotos, onde ele está convidando o seu povo a orar.
Já estive em Kansas City, na Casa de Oração. Passei alguns dias lá,
com minha esposa Maíra e mais alguns brasileiros, num treinamento sobre
intercessão. Os irmãos desse ministério já estão orando há 15 anos, dia e
noite, sem parar. Às vezes, eu ia tarde da noite ao local, às vezes, bem cedo
pela manhã, e sempre tinha alguém orando naquela sala. Mas o que me
deixou impressionado foi o fato de eles terem um lugar, que é a sala de
oração das nações. Essa sala de oração funciona, em média, por 16 horas
diárias, e cada turno é ministrado num idioma por uma nação. Há turnos em
chinês, coreano, russo, português e espanhol.
Dentre todos os idiomas, o que me chamou a atenção, porém, foi o
turno em farsi. Você faz ideia de onde vem essa língua? Do Irã! Existem
missionários em tempo integral que vieram do Irã; aliás, do mundo inteiro.
Se você quer descobrir o que o Senhor está fazendo hoje, posso lhe
dizer: ele está convidando o seu povo ao altar de uma forma totalmente nova.
A Igreja está orando como nunca orou. É um movimento ainda imaturo? Sim.
É pequeno? Sim. É fraco? Sim. Mas é inédito. Estou muito empolgado com
isso! As nações estão unindo-se ao intercessor, o Espírito Santo, e estão
começando a rogar pelo casamento, aproximando-o dos nossos dias.
Na China, existem duas mil igrejas caseiras orando dia e noite. Na
Indonésia, são mais de 40 torres de oração funcionando 24 horas sem cessar.
No norte da África, talvez a parte mais muçulmana, existem centenas de
jovens que foram enviados para plantar fornalhas de oração, unidos ao
movimento de implantação de igrejas. No Egito, existem salas de oração dia e
noite.
A igreja está despertando do seu sono e clamando pelo casamento, com
as súplicas: “Vem, Senhor! Vem se casar conosco”. E é nisso que eu quero
estar envolvido. É nisso que eu quero investir a minha vida. É para isso que o
Espírito Santo está convocando jovens e mais jovens.
No IHOP (International House of Prayer, Kansas City - Casa
Internacional de Oração), existem 1.500 jovens que poderiam estar
envolvidos em qualquer outra atividade, mas decidiram abrir mão da própria
vida visando ao Propósito Eterno. Conheci uma jovem de 29 anos, advogada,
formada, que lidera um dos ministérios mais poderosos do IHOP, o
ExodusCry. Eles trabalham com a libertação do tráfico de humanos, uma
realidade escondida para a igreja. Eu a ouvi falando.
Na verdade, o Espírito Santo criou uma amizade entre mim, minha
esposa e ela. Essa jovem ficou alguns dias na minha casa, e sua presença
exerceu um impacto muito grande sobre os jovens. Nossa igreja inteira estava
envolvida nisso. Pessoas que nunca pregaram o Evangelho foram pregar, da
maneira mais radical, para prostitutas e travestis.
Por que estou falando isso? Essa menina está investindo sua vida nesse
propósito. Ela poderia ser qualquer outra coisa, e isso não seria ruim ou
errado. Mas existe um chamado do Espírito Santo nesses dias convocando
jovens, crianças, adolescentes, adultos e velhos. Frequentei turnos liderados
por crianças de 13 anos. São 12 horas ministradas só com crianças. Lá, os
pais ensinam os filhos a profetizar, curar os doentes e a orar.
Gostaria de encorajá-lo e dizer: você está vivendo na época mais
incrível de todos os tempos. Mas é preciso abrir seu coração para o convite
que o Espírito está fazendo. Ele está orquestrando um movimento de retorno
à principal identidade da Igreja.
1
O Modelo da Casa de Deus: Uma Casa
de Oração!

Nestes dias de mudanças que estamos vivendo, já entramos numa fase de


transição. Muito se tem refletido sobre as estruturas da Igreja e sobre um
novo odre, capaz de suportar o novo que Deus irá derramar. Livros e mais
livros enchem o mercado, indicando soluções, modelos viáveis e bíblicos de
como fazer e ser Igreja. Alguns termos como igreja caseira ou orgânica,
grupos pequenos ou células de convívio tornaram-se comuns em nossa
geração. Acredito que muitos desses autores são bem-intencionados e têm
mensagens relevantes. No entanto, penso que temos deixado de dar atenção
ao verdadeiro padrão da casa de Deus. Não temos autorização para construir
a Igreja como bem entendemos.
Moisés encontrou um modelo da casa de Deus que, segundo o escritor
de Hebreus, é uma sombra das coisas celestiais. A palavra modelo é
significativa nesse texto, pois aponta para uma realidade que existe no céu,
ou seja, há um projeto na eternidade que precisa ser reproduzido ou imitado
na Terra. Davi foi outro homem que viu essa planta, ou esse protótipo, da
Casa de Deus. Em 1 Crônicas 28.19, lemos que tudo (isto é, todas as obras do
templo celestial) foi mostrado a Davi e escrito pela mão do Senhor. A planta
da casa de Deus, construída por Salomão, teve um modelo que foi desenhado
pelas mãos do próprio Deus.
Ao descrever a Nova Jerusalém, é interessante notar que o texto de
Apocalipse, que é a revelação de Jesus Cristo, diz que nela não existe
santuário (ou templo), pois o seu santuário é o Senhor Todo-poderoso e o
Cordeiro (Ap 21.22). Jesus é o verdadeiro modelo do santuário. Ele é a planta
da casa de Deus. O que Moisés e Davi viram? Eles viram o próprio Cordeiro,
o Templo vivo!
Jesus é a pedra angular, ou o fundamento da casa. Por isso, precisamos
entender o modelo existente nos céus, para só então construirmos um aqui na
Terra. Todas as vezes que Deus revelou o modelo da sua casa a alguém, ele
também revelou o propósito da construção dessa casa. Êxodo 29.43,45 diz:
“virei aos israelitas ali, e a tenda será santificada pela minha glória.
Santificarei a tenda da revelação e o altar... Habitarei no meio dos israelitas
e serei o seu Deus”. Ele quer uma casa na Terra onde possa habitar, ter
comunhão com o seu povo e estabelecer a sua vontade em todas as nações.
A Igreja precisa entender que ela tem uma identidade e essa identidade
está em Jesus. Portanto, vale a pena observar o que ele falou a respeito da
casa de Deus. Vamos olhar o evangelho de Marcos:
E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto tudo em redor,
como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze. E, no dia seguinte,
quando saíram de Betânia, teve fome. E, vendo de longe uma figueira
que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a
ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. E Jesus,
falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os
seus discípulos ouviram isto. E vieram a Jerusalém; e Jesus, entrando
no templo, começou a expulsar os que vendiam e compravam no
templo; e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que
vendiam pombas. E não consentia que alguém levasse algum vaso pelo
templo. E os ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será
chamada, por todas as nações, casa de oração? Mas vós a tendes feito
covil de ladrões (Marcos 11.11-17).
O primeiro ponto que me chama a atenção é a figueira que não produz
frutos – ela representa Israel. Na Palestina, as folhas aparecem nas figueiras
em março e são acompanhadas de uma colheita de pequenos botões
comestíveis, chamados taksh, que caem antes da formação dos verdadeiros
figos. Porém, já era o mês de abril e essa figueira só tinha folhas, sem os
taksh. Isso significa que ela não daria frutos. Só tinha folhas, mas não frutos.
Logo em seguida, Jesus condena as atividades na casa de Deus. Eles
estavam realizando todo tipo de práticas (como as folhas da figueira):
sacrifícios, religiosidade, comércio. Mas nada disso produzia frutos.
A promessa feita a Abraão é que todas as famílias da Terra seriam
benditas; todavia, os judeus se fecharam em suas atividades e deixaram de
tocar as outras nações. A comissão dada à igreja é a mesma: fazer discípulos
de todas as nações. Mas será que nossas atividades têm gerado discípulos?
Estou falando de discípulos, não de evangélicos ou membros de igreja!
A igreja é uma Casa de Oração para todas as nações. Produzir o
verdadeiro fruto de discipular as nações, só será possível se deixarmos as
muitas atividades e nos tornarmos uma Casa de Oração para todos os povos.
O propósito principal da casa de Deus é ser um lugar aonde Deus possa vir e
comunicar-se com seu povo; é ser uma porta para os céus (Gn 28.17). Que
essa mensagem ecoe por toda a Terra: “A minha casa será chamada Casa de
Oração para todos os povos!” (Mt 21.13)

A Identidade da Igreja como Casa de Oração

Há uma forte aceleração no que diz respeito ao fim dos tempos. De


forma geral, parece que as contrações das dores de parto estão ficando cada
vez mais fortes e agudas. As nações estão sendo abaladas. Tudo o que é
abalável está sendo removido. O mundo vai começar a procurar respostas.
Indagações e questionamentos vão surgir. A Igreja, o povo de Deus, precisa
estar pronta para apresentar às pessoas a razão de sua fé e para trazer
revelação e direcionamento em meio ao caos e à escuridão.
Quando penso em como discernir esse tempo, em como servir à nossa
geração e tocar o mundo, sempre me vem à mente a expressão “identidade
primária”. A clareza quanto à nossa identidade, ou à falta dela, pode muito
bem nos colocar numa posição de cooperação, ou alienação, no que se refere
aos planos de Deus para este tempo. Como podemos dar respostas de fé se
não sabemos quem somos em Deus?
A revelação prática da nossa identidade nos levará a realizações
pontuais e relevantes no cumprimento da missão como filhos de Deus.
Segundo a profecia de Isaías, citada por Cristo no evangelho de Mateus,
nossa identidade está entrelaçada à comunhão com o nosso Pai. Ser uma casa
de oração significa ser um lugar de diálogo com os céus, pois a oração está
totalmente ligada a ouvir e falar, ouvir e comunicar uma realidade celestial.
O Senhor está edificando sua Igreja, que é identificada como uma Casa
de Oração para todas as nações. Precisamos parar e refletir sobre a
importância da declaração de Jesus a nosso respeito. Somos sua casa e ele
nos nomeia “casa de oração”.
Temos de refletir se nossas ações como Igreja têm sido afetadas pela
identidade que nos foi conferida. Basta respondermos a essas perguntas:
Qual é a nossa relação com a oração?
Qual é a qualidade da nossa oração?
Quanto realmente acreditamos na oração como algo
fundamental para a nossa vida?
Será que a igreja atual está gastando tempo no que é preciso
para se dedicar à oração?
Quantos programas e eventos são realizados sem oração?
É necessário começarmos a nos mover de acordo com o que somos. O
“ser” precede o “fazer”. O entendimento da nossa identidade primária irá
conectar-nos a um senso de propósito e realização a partir do que somos em
Deus.
O Espírito Santo está movimentando o Corpo de Cristo em toda a
Terra, para se posicionar em cooperação com ele por meio da parceria em
adoração e intercessão. Esse movimento global de oração não é uma moda ou
algo passageiro; está relacionado ao cumprimento das profecias bíblicas, de
como a igreja vai entrar em maturidade de parceria para o pleno
estabelecimento do Reino de Deus na Terra.
A nossa identidade coletiva como Casa de Oração é construída a partir
da nossa identidade como indivíduos. Nosso primeiro comissionamento e
chamado está vinculado a nos posicionarmos como sacerdotes, como homens
e mulheres de oração, como pedras vivas conectadas umas às outras,
construindo um lugar de movimentação espiritual, onde incenso de
intercessão, adoração e súplicas são oferecidos ao Pai por meio do Filho.
A igreja é uma casa de oração não apenas porque tem orações
ocasionais, mas porque é edificada, fundamentada e mantida pelo ministério
da oração. E quando falamos o nome “casa de oração”, a compreensão ainda
é pequena, pois sempre pensamos em estruturas paralelas à Igreja cuja única
atividade é orar. Mas acredito ser a vontade de Deus que, no tempo do fim,
um pouco antes da volta de Jesus, a igreja venha a alcançar maturidade em
oração. Chamo isso de identidade de parceria.

A tríplice identidade
Todo cristão possui uma tríplice identidade, e essas três esferas estão
relacionadas ao fim dos tempos e à parceria: somos filhos, somos um povo
sacerdotal e somos a Noiva. O Senhor não fará uma obra na Terra de forma
desencarnada. Ele precisa que o seu povo se levante e entre em concordância
com o seu coração para atrair o céu para a terra. Mas isso acontece a partir da
nossa identidade, de quem nós somos.
A principal identidade da igreja é ministrar ao Senhor. O seu trabalho,
o que você faz, seja ministerial, seja secular, é a sua identidade secundária.
Você é médico? Não. Você é um sacerdote e está médico. Você é dentista?
Não. Você é um sacerdote e está dentista. Imagine se tivéssemos centenas de
médicos com esse entendimento dentro dos hospitais, orando em outras
línguas, clamando em espírito e dizendo: “Venha o seu reino aqui nesta
cirurgia”. Imagine essa consciência.
Nós estamos pregando isso há dezenas de anos e ainda temos uma
mentalidade dicotomizada. Separamos as diversas áreas da nossa vida como
nunca antes, afirmando que uma parte é do Senhor e outra, não. Mas ele está
trazendo um entendimento sobre sacerdócio. É uma parceria.
O sacerdócio está totalmente vinculado a homens e mulheres que
vivem diante do altar, entregando-se para realizar o plano de Deus na Terra
independentemente da vocação que tenham escolhido. Afinal de contas, sua
identidade primária é ministrar ao Senhor, é estar próximo ao seu coração. A
maioria das pessoas tem apresentado todo tipo de desculpas para não fazer
isso. Estão sem tempo, cansadas, ocupadas e muito envolvidas com as
atividades do Senhor na igreja. Mas não há mais desculpas e não há mais
tempo a perder para ministrarmos a ele, ministrarmos ao seu coração.
Portanto, penso que as três esferas da nossa identidade espiritual, a saber,
filho, sacerdote e Noiva, estejam conectadas com essa Casa de Oração, com
esse movimento de parceria. Agora, como vamos mergulhar de cabeça nisso?
Não basta simplesmente saber que somos filhos de Deus, sacerdotes e a
Noiva.

1- Somos filhos
O conhecimento de quem Deus é revela quem nós somos e como
devemos nos mobilizar e funcionar como cristãos. Logo, o primeiro ponto é:
você é filho. Parece algo simples, mas Satanás é muito astuto. Note que as
figuras que mais estão ferindo as pessoas hoje na sociedade são as duas mais
ligadas à nossa identidade no tempo do fim: o pai e o marido. Isso é uma
estratégia de Satanás para gerar uma distorção de quem é Deus.
Os pais são muito duros e violentos ou extremamente liberais.
Nenhuma das duas posturas comunica o caráter paterno de Deus, pois ele não
é libertino, muito menos legalista. Ele é um Pai de amor. Deus não é um
marido grosso, mas também não é um “banana”. Percebe? As gerações estão
nascendo debaixo desse conceito do que é ser pai e do que é ser marido. E
quando encontram nas Escrituras que Deus é pai e noivo, o que pensam?
Qual o parâmetro que esta geração de jovens, adolescentes e até mesmo
adultos tem de quem é Deus, pela perspectiva de quem foi o seu pai ou de
quem é o seu marido?
Por isso, há essa sensação de orfandade tão comum em nossos dias. As
pessoas estão sempre correndo atrás de algo para sentir-se aceitas —
inclusive de cargos na igreja, ministérios e posição; querem aparecer, gravar
um CD, tornar-se pregadores famosos, ou seja lá o que for, porque sentem a
necessidade de autoafirmação e de ser bem-vistas pela sociedade. Sendo
assim, gastam todo o seu tempo para alcançar esse objetivo de aprovação e
aceitação.
Quantos anos da minha vida gastei tentando achar um pai num pastor
de igreja! E por quantos anos procurei me moldar de acordo com o que
aquele pastor queria para que pudesse ser aceito por ele! Será que estou
sozinho? Não. Essa é uma ferida aberta na nossa geração. Não é um assunto
resolvido. É por esse motivo que existe falta de comunhão com Deus. Você
deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com intercessão. Tem
tudo a ver. Porque o sacerdócio é precedido pela paternidade de Deus. Sem o
entendimento de que Deus é pai, não há sacerdócio.
Em Romanos 8.15, lemos: “Porque não recebestes o espírito de
escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito
de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai.” Ele nos deu um espírito
de adoção que nos confere o poder de clamar por Aba.
A maior parte do ministério de Jesus se constituiu em revelar quem
Deus era. Principalmente no evangelho de João, vemos claramente que ele
revelou o Pai. Em todos os sinais, em cada cura, em cada intervenção
miraculosa de Jesus, havia um propósito: mostrar o Pai. Seu alvo não era
promover o ministério pessoal, nem os sinais e maravilhas por si só, mas
expressar o amor do Pai. Quando um enfermo era curado, o que estava sendo
comunicado era: o Pai o ama. Quando os pobres eram alimentados, uma
única mensagem estava sendo transmitida: Aba Pai. Quando uma viúva era
acolhida, o que ele estava querendo dizer era: Aba se importa com você.
As Escrituras dizem que Jesus é a expressão exata de quem Deus é
(Hebreus 1.3). Ele é a exegese de Deus. Jesus explicou Deus. Ele deixou o
seu ambiente de santidade, encarnou numa cultura de impiedade, comeu com
pecadores e comunicou com perfeição quem era aquele Deus do Velho
Testamento que fumegava no monte. Esse Deus terrível, esse Deus de
santidade, ira e zelo também é Aba.
O termo “Aba” foi extraído do aramaico. Jesus fez questão de não usar
a linguagem litúrgica, em hebraico; em vez disso, usou uma palavra em
aramaico que, na verdade, era o balbucio de uma criança desmamada. Essa
expressão era usada na cultura da época. Quando deixava de mamar, a
primeira palavra que uma criança pronunciava era Aba. Trazendo para a
nossa linguagem, é como se ela dissesse “papai”. Por isso que os fariseus
ficaram possessos de raiva quando Jesus começou a dizer que era o Filho de
Deus e que viera revelar o Pai. O que ele estava dizendo é que agora a forma
de se relacionar com Deus era por meio do balbucio de uma criança — uma
intimidade próxima, de filhos que não deixam de clamar por seu Pai.
Eu fico pensando no meu filho, Benjamin, e em quantas vezes ele
repetia a palavra “papai” num dia e quantas vezes ele ainda fala “papai”
quando quer alguma coisa. O Benny não está preocupado se vai me
incomodar com seu clamor, pois tem confiança no meu caráter paterno. E ele
sabe que sou o único que pode lhe dar o que quer; então, fica insistindo.
É isso que Jesus está introduzindo na nossa vida e no nosso
relacionamento. Ele está dizendo que aquele Deus terrível é Aba também. Ele
é terrível sim, e é santo, é fogo, mas também é Aba. Isso escandalizou a
religião da época, porque a religião dos fariseus estava vinculada ao
desempenho. Era como se Deus estivesse com uma prancheta na mão
anotando tudo o que faziam de certo e errado. E quando falhavam, ele logo
dizia: “Não disse que iriam errar?”. Essa era a perspectiva que tinham do
relacionamento entre os homens e Deus.
Na verdade, essa nem era a Lei, mas apenas uma interpretação oral de
como a viam, pois o propósito da Lei sempre foi aproximar o homem de
Deus. Os fariseus estavam usando algo que não era a Lei, mas o legalismo.
Estavam comunicando um Deus rabugento, sem qualquer traço de
paternidade. Essa característica, contudo, seria trazida por Jesus, pois os
textos das Escrituras que falam de Deus como Pai no Velho Testamento são
apenas três, e são afirmações que não apontam para um relacionamento. É
por meio de Jesus que essa relação com Deus como Pai acontece.
Quando Cristo ensina sobre oração, qual é a primeira palavra que ele
usa? Pai nosso (Mateus 6.9). Tenho uma boa notícia: o Pai de Jesus é o seu
Pai também!
A maioria de nós vive como se Deus estivesse com essa prancheta na
mão, achando que ele olha para a Terra e diz: “Veja só que hipócrita!”.
Deixe-me dizer algo que vai libertá-lo: hipocrisia não tem a ver com pregar
algo que não se vive. Hipocrisia tem a ver com pregar algo que não se deseja
viver. Cinismo e teatro são hipocrisia. Quanto do que prego ainda não vivo
plenamente, mas estou buscando viver! Deus não o enxerga como um
rebelde, mas como uma criança imatura. Muitas vezes, pensamos que Deus
vai quebrar nossas pernas, porque não sabemos andar. Não; ele vai nos
levantar novamente.
É claro que é preciso ser sincero e andar na luz. Não estou abrindo
precedente para uma graça barata, mas comunicando como Deus pensa, quem
ele é. Ele é Aba. O que ele sente? Prazer em você.
Em Lucas 15, Jesus conta três parábolas que indicam como Deus age.
Elas são dirigidas diretamente aos fariseus como uma forma de provocá-los.
A primeira parábola mostra Deus encontrando o pecador em seu
pecado e celebrando a vida dele. Isso é escandaloso! O versículo 4 diz: “Qual
de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa
e nove no campo e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la?”.
Até quando ele nos busca? Até nos encontrar. O que essa ovelha estava
fazendo? Jejuando e orando? Não, ela estava desviada. E o que é estar
desviado? É ir para a balada? Não. Todas as vezes em que erramos o alvo,
nós nos desviamos dele. Por exemplo, quando você deixou de orar aquilo que
prometeu orar, o que fez? Desviou-se dele. Claro que há níveis de desvios,
mas o texto está falando que, quando Deus encontra o que está em seu
pecado, vai atrás dele para buscá-lo.
O texto prossegue: “Quando o encontra, coloca-o sobre os ombros
cheio de alegria” (Lucas 15.5). Esse é o nosso Deus: capaz de nos encontrar
em nosso pecado e nos colocar sobre o ombro, cheio de alegria. Compreender
essa verdade mudou a minha vida. Já preguei essa mensagem centenas de
vezes, mas, um dia, na sala de oração em Kansas City, às 7 da manhã, eu
estava sentado com a Bíblia aberta e ouvi a voz de Deus audível, dizendo:
“Venha. Pare de tentar me agradar com sua disciplina. Eu já estou feliz”. Isso
pode não parecer nada demais, mas faz muito sentido para mim. Ele disse:
“Você precisa entender o que estou sentindo por você, e não tem a ver com o
seu desempenho”. Sabe o que isso gerou em mim? Mais vontade de estar
com ele.
As pessoas estão orando como nunca, porque entenderam ou
começaram a entender o que isso significa. Romanos 8 diz que ele não nos
deu um espírito de medo. Essa sensação de que Deus está buscando
desempenho gera em nós medo. Quantos de vocês já prometeram que,
diariamente, iriam orar e jejuar, e falharam? E quantas pessoas abandonaram
durante muito tempo o lugar da oração por causa de condenação? Mas a
condenação não é de Deus, é da sua mente, pela falta de perspectiva correta
de quem ele é. Lucas 15 revela isso de uma forma muito poderosa.
A segunda parábola está em Lucas 15.8,9:
...ou, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma
delas, não acende uma candeia, varre a casa e procura com cuidado,
até encontrá-la? E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas,
dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha
perdido. Deus está procurando com cuidado aquele que se perde.
Jesus continua contando a terceira parábola:
E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu
pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o
filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno
de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei
depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e
sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e
regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava
perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. (Lucas 15.20-24)
Ele fala que o filho voltou para casa não porque se arrependeu, mas
porque estava com fome. Diariamente, o pai se levantava e colocava-se à
espera do filho. Naqueles tempos, todas as vezes em que alguém requeria sua
herança com o pai ainda vivo, era como se dissesse que, para ele, o pai já
estava morto. Ele só deveria tomar aquela herança perto da morte do pai, mas
o fez enquanto ele ainda vivia. Mesmo assim, todos os dias, o pai se
levantava e ficava esperando a volta daquele filho que o amaldiçoara.
Todas as vezes que você peca e se desvia, ele se levanta e sorri para
você. Deus sorri para você — não apenas quando você está certinho, não
apenas quando você está em pura santidade. Deus sorri todos os dias. A
maioria das pessoas vai se escandalizar quando chegar diante do trono, pois
vai encontrar um homem judeu de 33 anos, sorrindo. A minha Bíblia afirma
que ele foi ungido com o óleo de alegria mais do que os seus companheiros
(Salmo 45.7). Também declara que, na presença de Deus, há plenitude de
alegria e, na sua destra, delícias para sempre (Salmo 16.11). Diz que a ira
dele dura um pouco e sua alegria para todo o sempre (Salmo 30.5). A ira e o
juízo estão reservados para remover tudo o que impede o amor.
Quando passar por um aperto financeiro, por exemplo, não construa
sistemas para se proteger, pois é ação de Deus. Pare de querer amarrar o
Senhor. As pressões financeiras servem para nos aproximar dele. As pressões
políticas, ou quaisquer que sejam elas, acontecem porque ele permite que
aconteçam. Ele só está lhe ensinando: “Ei, filho, gostaria tanto que você
confiasse em mim e não em Mamon”. Deus está apenas removendo aquilo
que impede o filho de entregar-se plenamente. Mas o que fazemos quando
vêm as dificuldades? Construímos estruturas. Quando Gideão passou aperto
econômico, o que ele fez? Foi pisar uvas onde não deveria pisá-las. Ele
estava tentando dar um jeito para se proteger. As pressões da vida, os juízos,
julgamentos e disciplinas de Deus existem para nos levar até ele.
Cada palmada que ele nos dá tem a finalidade de nos tornar
participantes da sua santidade, pois quem não passa pela disciplina é
bastardo. Ele é um Pai que disciplina, pois ama muito. O Aba tem um amor
compenetrado e furioso por sua vida. Sendo assim, ele está removendo tudo o
que impede o amor e continuará a fazê-lo até obter a sua atenção total.
Nessas três parábolas, o que você vê? Um Deus que se alegra em nós,
mesmo quando pecamos, que nos busca quando desviamos, que nos procura
quando nos perdemos e dá amor e alegria quando voltamos.
Existe alegria diante da face dos anjos quando um pecador se arrepende
(Lucas 15.10). Quem está diante da face dos anjos? Deus. O que os anjos
estão vendo? Um Deus que sorri, porque achou alguém que estava pecando e
não está mais. O que nós pensamos quando nos desviamos? Que ele vai nos
castigar e lançar na nossa face tudo o que fizemos de errado; afinal, foi isso
que os nossos pais fizeram conosco. Quem nunca ouviu a frase: “Eu não lhe
disse?”. Esse não é o seu Deus. Ele vai colocá-lo no ombro e se alegrar em
você.
Deus está levantando intercessores felizes, porque ele mesmo é alegre e
tem tudo sob seu controle. No final, nós vamos vencer; estamos do lado do
time que ganha.

2 – Somos um povo sacerdotal


Há uma grande fome de Deus surgindo no mundo hoje. Uma geração
inteira está sendo desperta para buscar a face de Deus, para dedicar tempo e
esforço a aprender a desenvolver um relacionamento de amor e comunhão
com o Senhor. Contudo, é notória a falta de revelação e de domínio bíblico
que trazem uma orientação objetiva, clara e correta sobre como desenvolver
essa vida de devoção a partir da vida devocional individual. Por isso, gostaria
de deixar alguns princípios das Escrituras que ressaltam a importância dessa
prática.
O primeiro ponto está ligado ao nosso sacerdócio pessoal. A Bíblia fala
de dois tipos de chamado: o sacerdotal, que se refere à nossa vocação
primária, e o ministerial, ligado ao nosso serviço à igreja e ao mundo. Sem o
desenvolvimento do nosso sacerdócio por meio da prática da comunhão, da
adoração e da intercessão, nosso serviço ministerial ao Corpo e ao próximo
fica debilitado. O sacerdócio está ligado a ministrar a Deus em primeiro
lugar:
Chegando-vos a ele, a pedra viva... Vós também, como pedras vivas
(indivíduos), sois edificados como casa espiritual (coletiva) para
sermos sacerdócio santo, a fim de oferecer sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo (1 Pedro 2.4,5).
Além disso, precisamos entender que, sem o sacerdócio individual, ou
seja, sem a prática da comunhão pessoal com o Senhor, a casa de Deus
(coletiva) fica prejudicada. Devemos ser pedras vivas – cada indivíduo se
comportando como um sacerdote. Dessa maneira, a casa espiritual será
edificada. Cada cristão é chamado como sacerdote para oferecer, individual e
coletivamente, sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus. Se, como indivíduos,
falhamos em nossa função sacerdotal, comprometemos o funcionamento
coletivo de toda a casa. O coletivo depende do individual.
O fato de as Escrituras afirmarem que você é um sacerdote não o torna
um. O que define um sacerdote é o exercício da função sacerdotal de
ministrar ao Senhor. Porque é isso que as Escrituras dizem: que esses
sacerdotes oferecem “sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por meio de
Jesus” (1 Pedro 2.15). Se você não tem oferecido sacrifícios espirituais,
então está fazendo qualquer coisa, menos exercendo a sua identidade
primária. Logo, esse não é um conceito para entendermos apenas
mentalmente; precisamos assimilá-lo internamente.
Toda identidade cristã está misteriosamente escondida em quem Deus
é, no que ele fez e no que ele sente por você. Isso é teologia. Os místicos
diziam que a teologia se dedicava a estudar os atributos de Deus. Hoje, a
teologia inclui até administração eclesiástica, o que é um absurdo.
Administração eclesiástica se refere à gestão da igreja como instituição ou
empresa, aprofunda-se em temas como, por exemplo, gerenciar a parte
financeira, conhecer técnicas de reunião, saber administrar os sacramentos,
celebrar casamento religioso com efeito civil, entre outros. Isso não é
teologia. Os místicos meditavam em quem Deus era. Ele é amor, juízo, e
também é Pai e é santo. Mas ele come com pecadores? Então, gastavam horas
e horas pensando sobre isso, pois era o que formava a sua identidade e a
maneira que deveriam agir como cristãos. Quem é Deus para você? Quem é
Deus para a igreja dos nossos dias? Parece uma pergunta fácil.
A falta do conhecimento de Deus, citada em Oseias 4.1,6, faz com que
ele contenda contra as nações. Ele diz ali que a Terra inteira está sendo
destruída. Quando lemos essa passagem, parece que estamos diante de um
jornal dos dias de hoje. Há homicídio, destruição, adultério, violência, e Deus
afirma que o motivo de tudo isso é a falta de conhecimento de quem ele é.
Mas, de repente, o alvo da contenda de Deus muda das nações para os
sacerdotes, uma vez que as pessoas não o conhecem devido à ausência do
sacerdócio. As nações estão sendo destruídas pela iniquidade, porque o seu
povo abandonou o altar.
Não existe reino sem sacerdote. Reino significa justiça e equidade na
Terra. Isto é, as nações estavam sendo chacoalhadas pela injustiça como
consequência de o sacerdócio ter-se corrompido. Não existia revelação de
quem Deus era. Se nem aqueles que se dedicavam integralmente a ministrar
ao altar conheciam a Deus, quanto mais as nações.

Sumo Sacerdote
A nossa segunda identidade também está vinculada à revelação de
quem Deus é. Ele é Pai, mas também é Sumo Sacerdote. O que ele fez por
você e quem ele é como Sumo Sacerdote? O que fará e o que sente como
Sumo Sacerdote?
Em Hebreus 6.19,20 lemos: “a qual temos por âncora da alma, segura
e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por
nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de
Melquisedeque”.
O texto está dizendo que existe um caminho para o Santo dos Santos
(ou seja, a comunhão com Deus), e que Jesus foi o precursor em abri-lo para
nós. Preste atenção ao cenário: Jesus está tomando o próprio sangue e
apresentando-o no propiciatório, diante do Pai; afinal a única forma de chegar
a Deus é pelo derramamento de sangue. E foi o que ele fez: abriu um
caminho com o próprio sangue derramado em favor daqueles que creem. A
justiça de Deus foi feita.
Deus está satisfeito com o sangue de seu Filho. Quando ele olha para a
sua vida, vê o sangue de seu Filho e diz: “Justo!” — não porque você de fato
seja justo, mas por causa da obra realizada pelo sangue perfeito de Jesus.
Logo, é uma declaração factual: você é justo.
Quantas pessoas acham que, para orar, precisam fazer tudo correto?
Sim, você também precisa. Mas se sua confiança está nas suas boas obras, eu
lhe afirmo: você não confia no sangue. As obras não nos aproximam de
Deus; pelo contrário, é o sangue que nos conduz a ele e, quando isso
acontece, recebemos poder para viver o Sermão do Monte e praticar boas
obras. A Lei será cumprida dentro de mim, pois estou perto daquele que a
colocou em meu coração e, como consequência disso, ele me dará poder para
andar em santidade — uma santidade alegre.
A Palavra diz que bem-aventurados são os puros de coração. Ser bem-
aventurado significa ser mais do que feliz. As pessoas associam santidade
com sofrimento, com pagar o preço. Santidade significa ter prazer em Deus.
Quando tenho prazer em Deus, não tenho prazer no mundo. Quando sou
fascinado por ele, o mundo não me atrai.
O escritor C. S. Lewis fala que somos como crianças num parquinho
enchendo a boca de lama enquanto os pais querem oferecer-nos sorvete. Nós
nos contentamos com prazeres inferiores. Quando entendermos que é o
sangue que nos habilita a estar diante dele, provaremos do “sorvete”, do
prazer de sua presença. Isso é santidade, isso é andar em pureza. Não é
possível ser santo longe dele. Não tente se esforçar para conseguir isso
sozinho. Deus está satisfeito com o sangue derramado.
Precisamos entender o que é a graça de Deus, pois ela não é um cheque
em branco para pecar, ela é poder para não pecar. Graça não é só favor
imerecido. Há um entendimento muito limitado sobre o assunto. Existem
expressões que pegamos e guardamos como uma verdade infalível.
Deixe-me explicar, por meio de um exemplo, o que significa graça:
você chega à sua casa e encontra alguém que acabou de assassinar o seu
filho. Tente imaginar-se na situação. Ele está com o sangue do seu filho nas
mãos e, ao deparar-se com essa cena, você pega uma escritura e uma chave,
dá a ele e diz: “Assassino, eis aqui uma casa própria em seu nome”.
Resumindo, graça é receber o melhor presente quando se merece o pior
castigo.
Era assim que a igreja do primeiro século entendia a graça. Por isso, os
cristãos primitivos queriam correr o mundo inteiro anunciando a cruz.
Ninguém precisava exortá-los a evangelizar. A graça é escandalosa, e o
desejo deles era proclamá-la a todos que encontrassem. Esse entendimento os
aproximava mais de Deus.
Permita-me usar outro exemplo sobre a graça: imagine-se chegando a
um banco. Logo na entrada, o gerente o avista e dispara: “Olá, como vai?
Rapaz, vejo que você está no vermelho aqui, não é? Está no cheque especial.
Mas vamos fazer o seguinte: vou perdoar sua dívida e, além disso, estou
depositando hoje mesmo, um milhão de dólares na sua conta”. Tentou
imaginar a cena? Sabe o nome disso? Graça. É o que Romanos 4 chama de
justiça imputada. Você tinha uma dívida e ela foi perdoada. Isso, por si só, já
é incrível. Mas, além de ter a dívida perdoada, Romanos 4 afirma que ele nos
atribui justiça; a vida do próprio Cristo é depositada dentro de nós.
O Sumo Sacerdote proporcionou um caminho por meio da justificação
para que você nunca mais saísse de perto dele e andasse em santificação.
Como vamos ser sacerdotes e ministrar no altar se não temos entendimento
da obra do sangue?
O sacerdócio de Melquisedeque não tem a ver com regras e leis, mas
com pão e vinho. É outra aliança que nos leva à comunhão. Não se baseia em
esforçar-se para cumprir princípios, mas em relacionar-se com aquele que é
maior do que o princípio. Ele é a Palavra, a Vida, a Santidade. Está tudo nele.
O Salmo 110 foi um dos salmos mais misteriosos para mim até pouco
tempo atrás. O primeiro versículo diz: “Disse o Senhor ao meu senhor:
Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos
teus pés”.
Convido-o a viajar um pouco comigo nesse versículo. O que está
acontecendo é que Davi recebe uma revelação muito profunda. Creio que
algumas coisas que ele escrevia eram uma espécie de “êxtase profético”; ele
tinha visões abertas. Acredito inclusive que, nesse momento, o rei Davi
estava tendo uma visão do trono e, nele, havia duas pessoas. “Disse YHWH a
Adonai.” No português: “Disse Jeová a Adonai: assenta-te comigo até que eu
ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés”.
Certa vez, o profeta Natã afirmou que Davi teria um filho, o qual, por
sua vez, teria um reino eterno (2 Samuel 7.11-13). Davi vê Jeová dizendo
para Adonai sentar-se no trono e logo pensa: “Como assim? Adonai é meu
filho? Ele é o filho do homem? O meu filho vai reinar para sempre?”.
Imagino quanto o rei deve ter ficado confuso; afinal viu Adonai como o filho
do homem e como o Cristo. Ele está dizendo que Cristo realiza o sacerdócio
segundo Melquisedeque sentado, pois já foi consumado, o sangue já foi
derramado e a cruz derrotou todos os principados e potestades. Nenhum
sacerdote no Velho Testamento ministrava sentado, mas o sacerdócio de
Cristo é assim, esperando que seus inimigos sejam colocados debaixo de seus
pés, que é a Igreja.
Em Efésios 1.20-22, Paulo ora para que a igreja tenha uma revelação
profética. Ele clama para que os olhos do coração da igreja de Éfeso sejam
abertos, a fim de que vejam a posição de Cristo à destra do Pai, tenham uma
visão do trono e daquele que está reinando, Adonai, e também percebam que
ele está acima de todo tipo de influência maligna que se possa nomear. O
Sumo Sacerdote entrou no Santo dos Santos, derramou seu sangue, cumpriu
toda a sua obra, minou o poder de principados e potestades e agora está
descansando e esperando que a Igreja na Terra seja seus pés por meio do
sacerdócio. Quando os inimigos de Deus serão esmagados? Quando a Igreja
assumir sua posição sacerdotal. Porque os sacerdotes da Terra, na verdade,
não estão na Terra.
Lemos em Efésios 2.6 que não é só Cristo que está à destra de Deus. O
Senhor nos ressuscitou e nos assentou com Cristo nas regiões celestiais. Isso
significa que você não ora a partir da Terra, você ora do céu para a Terra.
O sacerdócio de Melquisedeque está relacionado às regiões celestiais, a
assentar-se e governar com ele. Essa é a sua posição e a sua identidade como
sacerdote. Sua vida está acima de toda potestade e influência. Pense no seu
bairro, na sua escola, no seu trabalho e em todos os poderes malignos que
estão atuando nesses lugares. As Escrituras dizem que Cristo o ressuscitou e
o colocou acima disso. De lá, puxamos o Céu para a Terra clamando: “Venha
o teu reino”. No entanto, não existe reino sem sacerdotes.
É preciso gastar tempo nas Escrituras estudando esse assunto. Medite,
leia, decore passagens relacionadas. Demanda tempo, mas é necessário ter
um contato objetivo com as Escrituras e refletir sobre esse tema até que o
conteúdo seja metabolizado e traga vida, mudando até a sua maneira de
interceder. E suas orações começam a operar a partir da perspectiva de que
você também está assentado com ele, acima de toda influência, seja na
política, na sociedade ou onde for. É um chamado de parceria para se unir ao
coração dele e trazer essa realidade para cidades, nações e onde você estiver.
Temos experimentado frutos incríveis por meio de pessoas que estão
compreendendo sua posição em Cristo e colocando-se como intercessores. Já
estamos vendo resultados físicos que começaram a acontecer no ano de 2014,
e gostaria de compartilhar um pouco sobre isso a seguir.
Há um tempo, a nossa equipe do Liberdade Rio (o Projeto Liberdade é
uma casa de oração e adoração que atua com intervenções evangelísticas em
zonas de prostituição) se posicionou para contender contra o tráfico de
humanos e passou a orar firmemente contra a exploração sexual infantil, o
tráfico de prostitutas e todo esse tipo de injustiça que tem acontecido na
Terra. No dia 1º de junho de 2014, 80 apartamentos, que eram usados como
casa de prostituição, foram interditados num bairro de Niterói em plena
Amaral Peixoto, no centro da cidade. Isso aconteceu depois que começamos a
orar.
No dia 3 de junho, suspeitos de exploração sexual na Vila Mimosa, Rio
de Janeiro (no mesmo lugar onde existe uma casa de oração), foram presos.
No local, foram acolhidas duas meninas de 17 anos que estavam se
prostituindo. Uma delas era analfabeta. De acordo com o delegado, elas
disseram aos policiais que trabalhavam ali para sustentar-se.
No dia 5 de junho, em Fortaleza, Ceará, o Ministério Público fechou
oito prostíbulos e prendeu dez pessoas, inclusive a ex-secretária de justiça,
que beneficiava os cafetões da região.
No dia 12 de junho, a polícia fechou um bar e um hotel por prostituição
infantil. Uma adolescente de 13 anos foi encontrada no local.
No dia 18 de junho, 17 pessoas foram detidas e fecharam a casa de
prostituição conhecida como Casa das Primas.
Orar funciona. Essa é a sua posição de parceria: trazer o Céu para a
Terra. O tráfico de humanos, as leis a favor do aborto e todas as outras
desgraças e impiedades que estão acontecendo nesta nação podem ser
impedidas. Cidades inteiras podem ser salvas, familiares podem ser
resgatados do mundo das trevas. Mas é preciso saber quem é Deus e quem é
você.
O que nos fará permanecer nesse lugar de intercessão é a revelação dos
sentimentos de Deus e de quem ele é. Deus mudou a minha vida assim.
A Bíblia diz que ele levantará pastores segundo o seu coração. Essa
expressão “segundo o coração” é mal traduzida em português. O certo seria
“segundo as emoções de Deus”. O Pai levantará líderes que sentem o que ele
sente. Eu pastoreava as pessoas segundo o que sentia por elas: raiva. Talvez
você seja bem santo e nunca tenha sentido raiva de alguma ovelha. No meu
caso, ficava desapontado com o seu comportamento, por chegarem atrasadas
e se sentarem no fundo da igreja. Além disso, ficava irritado com a falta de
comprometimento e criava um sentimento pessoal contra elas.
Um dia, o Senhor me disse: “Michael, celebre as pessoas”. Foi a partir
daí que comecei a, inclusive, autorizá-las a ficar em casa assistindo à novela.
Mas nunca ficaram. Todos começaram a ir para o templo orar. Tirei o peso
que carregava e comecei a ensinar-lhes a Bíblia, o amor de Deus e o que ele
sente por nós. Parei de cuidar delas de acordo com o que sentia. Entendi que
não devo tentar consertar ninguém. Graças a Deus por isso!
O que herdei do discipulado me levava a tentar consertar as pessoas,
mas elas não são consertáveis, elas são transformadas por Deus. Agora, eu as
coloco diante do Aba e saio da frente. Se fizermos isso como liderança,
evitaremos muitos anos de aconselhamento. Se as pessoas encontrarem as
Escrituras, passarem tempo com o Senhor e entenderem quem são, não mais
aconselharemos, apenas confirmaremos aquilo que Deus já está falando com
elas. Essa é a Nova Aliança. Ninguém ensina mais ao próximo: “Conheça ao
Senhor”.
Hoje, estou leve. Antes, falava dos problemas das pessoas o dia inteiro;
agora, quero celebrá-las, ensinar o que Deus sente por elas. O movimento de
oração contínuo não é sustentável sem isso.
As pessoas não vão orar porque estão sendo obrigadas. Quando faltam
à reunião, não fico mais chateado, continuo amando-as do mesmo jeito e
sendo amigo delas. Isso as constrange. Deus levantará uma geração inteira de
líderes conscientes do que ele sente pelo mundo, pela dor do fraco. O que
acontecia com a maioria das pessoas que eu tratava mal é que elas estavam
com tantos problemas que não conseguiam ter uma vida de oração. Então,
coloquei o meu coração nas suas misérias. Isso se chama misericórdia. Mas
nem sempre foi assim.

3 – Somos Noiva
Mesmo que a Igreja esteja na situação em que se encontra hoje, o
Senhor a vê como uma Noiva perfeita; sente compaixão, tem o coração
repleto de misericórdia por ela e a enxerga como uma princesa. Deus não está
olhando para a igreja com condenação, mesmo no estado em que ela está.
Isso é fundamental para que entendamos e conheçamos esse Deus-marido. Na
verdade, a revelação disso é que posicionará o coração da Igreja no lugar
correto para expulsar os amantes e os amores rivais.
Em Isaías 62.4,5, existe uma expressão chamada Hefzibá, que significa
“meu deleite” ou “minha delícia”. Essa declaração do Senhor sobre Israel é
muito poderosa, pois aconteceu num período em que a nação estava
completamente desviada. Eram dias em que o povo honrava a Deus com os
lábios, com tradições humanas, mas o seu coração estava completamente
longe dele. E é exatamente nesse momento de desvio que o Deus Noivo faz a
declaração: “Você é minha delícia, eu me deleito em você”.
Pense no que você mais gosta de comer. Eu amo churrasco. Gosto de
fazer, de comer e até estudo qual o melhor jeito de cortar a carne. Quando
alguém encontra o seu prato predileto, qual a sensação que isso lhe causa?
Fica cheio de prazer. Se me permite, ouso afirmar que o Senhor nos vê como
pessoas cheias de gostosura. A impressão que tenho é que o Aba vem e
levanta o rosto dessa Igreja que está sob condenação. Muitas vezes, ela se
comporta como uma prostituta que não se acha boa o suficiente para o
marido. Esse tipo de sentimento não produz a Noiva que ele quer.
Em Jeremias 3.14, ele diz: “Voltem, ó filhos rebeldes, diz o Senhor;
porque eu sou o vosso esposo e vos tomarei, um de cada cidade e dois de
cada família, e vos levarei a Sião”. É o clamor de um marido que está indo
atrás de uma esposa cheia de amantes. Em Oseias 2.14, lemos que Deus está
atraindo essa Noiva para o deserto. A expressão em hebraico é que, além de
atraí-la ao deserto, ele está cantando uma serenata de amor. Pense num Deus
romântico. Você gosta de filmes de romance? Eu amo. De uma forma
incompleta, filmes românticos traduzem o coração de Deus. Note que ele está
seduzindo a Igreja, reconquistando-a, e sabe que a melhor forma é levá-la
para o deserto. E o que tem lá? Nada; “apenas” ele, se é que essa expressão
“apenas” existe quando se trata de Deus.
John Piper diz que Deus é mais glorificado quando temos prazer nele, e
é nisso que encontramos felicidade. Muitos pensam que Deus é egocêntrico
porque quer receber glória. Mas entenda que é dando-lhe glória que nos
sentimos felizes e completos. É o que ele está tentando fazer com a Igreja:
conquistar o seu coração. Deus está numa batalha de épocas pelo amor dessa
mulher e ele terá êxito.
Vamos considerar alguns fatores. É impossível que a Igreja se apaixone
por uma determinação própria. Na verdade, ninguém pode simplesmente se
apaixonar por querer. Em algum momento da sua vida, você já deve ter se
apaixonado. Acaso lembra como foi? Você não olha para uma pessoa e
decide que vai pagar um preço e fazer brotar amor de dentro do seu coração.
Quem gera paixão em nós é o outro.
Quando eu vi minha esposa Maíra pela primeira vez, o meu coração foi
estranhamente aquecido, e pensei: “Essa é a mulher com quem quero me
casar. Preciso conquistar sua atenção”. Ela passou duas semanas me
ignorando, mas algo mudou dentro de mim. Não paguei preço algum para me
apaixonar; eu apenas a vi. O que a Igreja precisa para cumprir o primeiro
mandamento não é pagar o preço, mas ver o homem judeu de 33 anos que
está assentado no trono.
O problema é que não o vimos. Foi-nos apresentado um pacote de
sistemas e regras que compõem lei evangélica. Muitas vezes, a Igreja se
comporta como uma mulher que precisa se embriagar com álcool para
suportar o marido chato chamado religião. Mas ele não é um tédio; pelo
contrário, é fascinante e intrigante. Ao mesmo tempo em que exige tudo de
nós, ele também come com pecadores. Enquanto diz para tomarmos nossa
cruz, ele coloca o coração nas nossas fraquezas. Isso é emocionante e
cativante. O que precisamos é de revelação de quem ele é, pois isso irá gerar
em nós um amor de todo o coração, com toda a alma e com toda a força. O
primeiro mandamento será cumprido antes do retorno de Jesus. A Igreja terá
um único amor. Esse poder de amar não está em nós mesmos, está nele.
É por esse motivo que precisamos ser expostos às Escrituras, estudar
seus atributos, ler biografias e constantemente buscar encontrar esse homem
judeu de 33 anos chamado Jesus. Eu estou me apaixonando novamente por
ele, e meu coração está voltando a queimar. Passei sete anos da minha vida
criticando tudo e todos até que comecei a vê-lo. Foi então que parei de
criticar as pessoas e voltei-me para ele. Desde então, o Senhor tem colocado
amor pela Igreja no meu coração, porque a Igreja é a sua Noiva. Esta é a hora
de os amigos do Noivo se levantarem, aqueles que vão cooperar com ele,
sentir o seu coração pela Noiva e lavá-la com uma mensagem profética que
atrai dizendo que ela é a delícia do Senhor.
Em João 17.24, pode-se ouvir o clamor de um Deus Noivo. Jesus está
orando ao Pai. E a oração do Deus Noivo é esta: “Pai, o meu desejo é que
aqueles que me deste estejam comigo onde eu estiver, para que orem e
desfrutem a minha glória”. Jesus tem um desejo afetuoso que está
expressando ao seu Pai. No texto original, a palavra “glória” significa beleza
moral. Ele está clamando ao Pai que a sua Igreja esteja com ele. Todos os
dias, achamos que o desejo de fazer devocional é nosso, mas é ele que deseja
fazer devocional conosco. Jesus está focado em encontrar o nosso coração a
todo custo, e ele vai vencer.
Jesus explicou como ninguém o Deus Noivo do Velho Testamento. Ele
trouxe a definição exata e declarou que entregara a vida na cruz para ter uma
Noiva gloriosa e sem manchas. Isso lhe custou tudo. A grande questão é que
não existe motivação capaz de nos levar a permanecer diante de Deus se não
estudarmos os seus sentimentos por nós.
2
O Estilo de Vida Dia e Noite

Existe um livro chamado “A Arte Perdida da Intercessão”, de autoria do


irmão James Goll. É um dos livros que mais me impactaram. Ele conta sobre
uma palavra profética que recebeu quando visitou o cemitério dos morávios,
na Tchecoslováquia. Ele subiu no mesmo lugar onde ficava a torre de oração
dos irmãos moravianos. Ao lá chegar com uma equipe de intercessores, o
Espírito Santo começou a soprar palavras em seu coração e a fazer uma
pergunta: “James, podem esses ossos reviver? O Senhor pode levantar um
movimento de oração tão focado, sóbrio e poderoso como fiz com os irmãos
moravianos?”. James W. Goll recebeu essa palavra em 1993. Logo em
seguida, em diversos lugares do mundo, irrompeu um movimento de pessoas
dedicando-se à oração dia e noite.
Exatamente no ano de 1999, o irmão Mike Bickle, da cidade de
Kansas, iniciou uma sala de oração que não parou de funcionar até hoje. Há
mais de 15 anos, estão orando dia e noite. Existem cerca de 1.500 jovens,
incluindo músicos e intercessores, ministrando em tempo integral.
Independentemente do momento em que você chegue ao lugar, seja às 3 da
madrugada ou às 15 horas, encontrará uma equipe orando.
O Espírito Santo está fazendo isso em toda a Terra. Já citamos o
exemplo da Indonésia, que talvez seja um dos países mais muçulmanos do
mundo. Lá, existem cerca de 40 casas de oração com pessoas que oram 24
horas por dia.
Quando falo em oração, não me refiro apenas a reuniões de oração
feitas ocasionalmente como mais um elemento que compõe a programação da
igreja. O que quero dizer é que, antes do retorno do Senhor, a igreja vai orar
muito, tanto em termos de quantidade (tempo), quanto em termos de
qualidade. Essa é a nossa identidade, e tudo o que fizermos fluirá a partir de
quem nós somos.
O Pai tem falado sobre sermos sacerdotes. E o que percebo é que nossa
geração está muito preocupada com a vocação secundária, deixando de lado
sua identidade principal. Todos nós somos chamados para o aposento da
oração, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por meio de
Cristo Jesus. Precisamos posicionar-nos de acordo com o nome que o Senhor
nos deu.
Isaías 56.6,7 contém uma profecia sobre a restauração da glória de
Israel no reino milenar. Eu interpreto a Bíblia e as profecias para Israel como
literais, mas precisamos analisar alguns pontos nessa palavra. O texto
descreve um tempo em que Jesus, ao voltar, estabelecerá o seu reino a partir
de Sião. Para o monte de Sião, ele levará judeus e gentios, e o centro
governamental do Messias será uma casa de oração. Você já parou para
pensar nisso? A nossa identidade no reino futuro está ligada a ser uma casa
de oração no Monte Sião. Outra passagem, em Amós 9.11-14, aponta para a
restauração do tabernáculo de Davi, que representa o governo do Messias a
partir de Sião, no contexto da segunda vinda de Jesus.
Isaías 16.5 diz que um rei se assentará no tabernáculo de Davi e
governará as nações da Terra com justiça. O tabernáculo de Davi e a casa de
oração são a sede de governo do Messias. Em outras palavras, são a resposta
da oração que o nosso Senhor nos ensinou: “Venha o teu reino; seja feita a
tua vontade, assim na terra como no céu”.
Os céus são governados por adoração e intercessão dia e noite. Existem
uma sala e um trono onde quatro seres viventes estão oferecendo culto ao
Senhor sem parar. Essa será a nossa identidade no Milênio. Portanto,
devemos assumi-la agora, enquanto estamos do lado de cá da eternidade. Se
realmente seremos uma Casa de Oração no Milênio, significa que precisamos
praticar muito daquilo que faremos no reino vindouro.
Há muito tempo, tem-se falado sobre oração 24/7, que significa orar 24
horas por dia, sete dias por semana. Mas isso é apenas programação humana,
não está na Bíblia. Embora Davi tenha adotado esse sistema, não é um
mandamento, mas simplesmente uma forma de organizar a oração na prática.
Mais importante do que o termo 24/7 é a expressão "dia e noite". Ela aparece
na Bíblia de Gênesis a Apocalipse e, quase todas as vezes, está relacionada ao
sacerdócio.
Deus está levantando homens e mulheres que são “dia e noite”. O que
isso significa? Pessoas que são intensas, que não apenas oram, mas que são
elas mesmas a oração. Isso é um chamado e está na Bíblia. Lucas fala sobre
uma mulher chamada Ana (Lc 2.36-38), que não saía do templo, com oração
e jejum dia e noite. Essa mulher perdeu o marido quando era ainda muito
jovem e passou a vida em oração.
O chamado de Ana não é para pessoas que oram de 15 minutos a uma
hora. É um chamado para aqueles que são consumidos pela oração. Deus está
levantando muitos com esse dom.
O movimento de oração precisa ser sustentado por pessoas intensas.
Existem alguns textos que falam sobre isso: Levítico 6.12; 8.33-35; Isaías
62.6-7; Lucas 2.36-37; Apocalipse 4.8.
A oração pode mudar tudo, pode sacudir cidades inteiras, mudar
situações familiares e casamentos. Por isso, ele está convocando jovens,
crianças, adolescentes, adultos e aposentados dia e noite, pessoas que vão
dedicar a vida à oração.
Alguns rejeitam essa ideia alegando que não faz parte do Novo
Testamento. Paulo aborda esse assunto em várias cartas, principalmente em 1
Tessalonicenses 3.10,11, na qual afirma estar em oração dia e noite para
conseguir suprir as necessidades daquela comunidade. Em outra passagem,
na mesma carta, ele convida a igreja a participar dessa prática, dizendo: “orai
sem cessar” (1 Ts 5.17).
Sempre que eu lia esse versículo, pensava que Deus queria que eu
ficasse orando sozinho sem parar. Contudo, observe que essa carta foi
endereçada à igreja da cidade de Tessalônica. Assim sendo, se chegasse uma
carta à sua comunidade cristã de um apóstolo pedindo que vocês orassem
sem cessar, não importa como fariam isso acontecer: se por uma torre de
oração, um relógio de oração ou qualquer outra estratégia. O importante seria
que um grupo de pessoas estivesse em oração o tempo todo. O que Paulo
estava dizendo àquela comunidade é que se engajassem no ministério da
intercessão.
Gostaria de contar um sonho que uma irmã de Toronto teve e que me
tocou profundamente. Acredito que o Senhor quer conduzir-nos a um
processo de intensidade precedido pela intimidade. À medida que nos
envolvemos com a simples devoção a Cristo, nosso coração vai sendo
inflamado. A intensidade gerada pela intimidade produz também sofrimento,
pois vamos participar das dores do coração de Cristo.
O sonho foi assim:
"Um dia, enquanto orava, o Senhor começou a abrir meus olhos para
um encontro espiritual. Eu me vi sendo levada para o Céu e, diante de
mim, pude ver uma enorme casa com muitos quartos. Percebi,
rapidamente, que aquela era a Casa do Pai. Senti seu amor por mim
me atraindo. Foi então que comecei a correr para entrar na casa.
Quando entrei, o Senhor foi-me mostrando vários quartos, todos cheios
de significado espiritual.
Silenciosamente, convidou-me para entrar com ele no cômodo mais
lindo de toda a casa. Era o quarto da intimidade. O ambiente era belo,
extravagante. Quando entrei, fiquei maravilhada com tanto amor e
quis ficar ali para sempre. Em espírito, podia ouvir outras pessoas,
outros cristãos que estavam em diferentes cômodos da casa.
Alguns estavam estudando na biblioteca, buscando conhecimento,
outros estavam bebendo vinho novo na adega espiritual. Fiquei um
pouco surpresa por todos não estarem no quarto da intimidade, já que
era o lugar mais interessante e mais formoso de toda a casa. Enquanto
admirava a câmara da intimidade, notei uma portinha no chão bem ao
lado da cama. Pareceu-me algo muito estranho, pois não era
sofisticada e não combinava com o resto do quarto.
Perguntei ao Senhor por que a porta estava ali, e ele me disse que era
uma passagem para outro cômodo da casa. Quis saber por que a porta
estava tão próxima da parte mais encantadora do quarto, que é a
cama. Ele explicou: ‘Ela fica aí, porque passo a maior parte do tempo
lá em baixo’. Fiquei muito curiosa e perguntei: ‘O que tem lá em
baixo, Senhor?’. Ele me informou então que o cômodo se chamava "o
quarto do choro".
Apesar de parecer o tipo de lugar onde eu não gostaria de ficar, havia
um clamor no meu coração, dizendo: Se é lá que ele passa a maior
parte do tempo, é lá que eu quero estar. Pedi para descer com ele, ao
que respondeu: ‘Poucos escolhem ir para o quarto do choro. Esse
cômodo não é bonito, é solitário; não é muito confortável e você
precisa se abaixar muito para passar pela porta’.
Eu disse que não me importava com as condições para chegar até lá;
só queria estar onde ele estivesse. Em seguida, abrimos a portinha e
começamos a descer, lentamente, até chegar àquele pequeno quarto.
Precisei me ajoelhar, pois a porta era muito pequena. Quando
entramos, a decoração era muito simples, só tinha uma pequena
cadeira de madeira, e uma das janelas dava para fora. O Senhor
sentou-se na cadeira e começou a olhar. Logo, pude perceber por que
o cômodo se chamava quarto do choro.
Olhando pela janela, era possível ver e ouvir o clamor da Terra. Dava
para ver todos os atos de injustiça ao mesmo tempo, cada criança com
fome, cada pedido por alimento, mulheres sendo estupradas e o gemido
dos rejeitados. Eu podia ouvir as orações, os clamores ao mesmo
tempo. O Senhor sentava-se em sua cadeira e via e ouvia a dor que
subia da Terra.
De uma vez, fui tomada pela dor da intercessão e comecei a chorar.
Chorei durante horas pelos que estavam feridos. Mas mais que isso, eu
estava desconsertada com esse Deus que escolhia prestar atenção ao
que estava quebrado. Ele estava cheio de compaixão pelo ferido.
Durante o tempo em que fiquei sentada com o Senhor chorando,
comecei a compreender o seu coração, e a minha ambição egoísta
começou a desaparecer.
Enquanto estava ali, notei que havia outra porta ao lado do quarto do
choro. Perguntei: ‘O que fica naquele quarto, Senhor?’. Ele me contou
que era o quarto da estratégia. Ao falar essas palavras, logo senti em
meu espírito que lá era o cômodo onde estava disponível a estratégia
divina para o derramamento do Espírito dos últimos dias. Apesar de a
porta estar fechada, pude reconhecer que a sabedoria e a revelação
estavam dentro daquele quarto. Portas celestiais foram abertas para
vermos o cumprimento do seu reino vindo à Terra. Era como se aquele
fosse o quarto escondido que todo homem procura.
Todos querem ter estratégias divinas. Imediatamente, indaguei se
poderia ir àquele cômodo, e o Senhor respondeu, de forma muito
sóbria, que eu não conseguiria passar pela porta. Entendi, então, que
precisava gastar mais tempo no quarto do choro, pois à medida que
compreendesse o coração de Deus pelos pobres e quebrados, minha
natureza almática seria despida, permitindo que eu me tornasse
pequena o suficiente para passar por aquela porta. O quarto da
estratégia só poderia ser acessado por pessoas quebrantadas e
humildes.
Naquele momento, tudo ficou claro: a única maneira de acessar a
estratégia divina seria a partir de um local de intimidade. Deus nos
convida a um nível mais profundo, nos convoca ao quarto do choro, um
local onde escolhemos ver o que ele vê, sentir o que ele sente e,
conforme passamos tempo conhecendo o seu coração, vamos despindo-
nos das coisas da nossa carne e nos tornamos pequenos o bastante
para passar pela porta que nos leva à estratégia.
Creio que, entrando pelo quarto da estratégia, seremos constrangidos
e movidos pelo que vimos e sentimos no quarto do choro. Tenho a
impressão de que alguns entraram no quarto da estratégia antes de
nós, mas, infelizmente, a maioria rapidamente se esqueceu do
propósito da estratégia e a usou para construir seu próprio reino.”
A intimidade nos leva ao lugar do choro. Porém, nunca podemos
abandonar a intimidade e o choro, pois essa é a única forma de
permanecermos de pé quando recebermos a estratégia de Deus para os
últimos dias.

Por que adorar dia e noite?

1 – O zelo pela dignidade de Cristo.


O nome de Jesus é blasfemado em toda a Terra todos os dias. O zelo
pela dignidade de Cristo será o nosso zelo.

2 – Para advogar pela causa do Reino.


Existem duas atividades que acontecem o tempo todo diante do trono
de Deus. A primeira é a adoração. A segunda é a acusação. Satanás nos acusa
diante de Deus e acusa Deus diante de nós. Os intercessores funcionam como
defensores, por meio do Grande Advogado, Jesus.

Três premissas que vão incentivar a nossa posição diante de Deus em


oração:

1 – Revelação da beleza de Deus. Apocalipse 4.3-8 diz:


E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra de
jaspe e de sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono e era
semelhante à esmeralda. E ao redor do trono havia vinte e quatro
tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos
de vestes brancas; e tinham sobre a cabeça coroas de ouro. E do trono
saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam sete
lâmpadas de fogo, as quais são os sete Espíritos de Deus. E havia
diante do trono um como mar de vidro, semelhante ao cristal, quatro
animais cheios de olhos por diante e por detrás. E o primeiro animal
era semelhante a um leão; e o segundo animal, semelhante a um
bezerro; e tinha o terceiro animal o rosto como de homem; e o quarto
animal era semelhante a uma águia voando. E os quatro animais
tinham, cada um, respectivamente, seis asas e, ao redor e por dentro,
estavam cheios de olhos; e não descansavam nem de dia nem de noite,
dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
aquele que era, e que é, e que há de vir.
Esses versículos descrevem o maior show da beleza de Deus de todo o
universo. Existe um ser sentado no trono, que tem a aparência de uma pedra
preciosa. Sobre a sua cabeça, existe um arco como uma esmeralda, e, desse
lugar, saem relâmpagos, vozes e trovões. Há um grande mar de cristal e
anciãos colocando suas coroas diante dele. Ali, estão também quatro criaturas
viventes, que são cheias de olhos e dizem apenas uma coisa: “Santo”.
“Santo” não é só o contrário de impuro. Quando algum objeto era
santificado no templo, ele se tornava fora do comum, era um item separado,
não de algo, mas para algo. O nosso Deus não é como outros deuses. Os
judeus traduzem a palavra “santo” como beleza transcendente.
As criaturas viventes descritas no texto acima são cheias de olhos. É
sobre isso que Davi fala em Salmo 27.4: “Uma coisa pedi ao Senhor e a
buscarei: que eu possa morar na tua casa para olhar a tua formosura”. Não
sei como Davi descobriu esse cenário de Apocalipse, mas é muito parecido.
Em outras palavras, o que os quatro seres estão fazendo por toda a eternidade
é proclamar: “Admirável Deus, que beleza transcendente! Não nos cansamos
de dizer”.
Isaías foi tomado pelo mesmo sentimento. É um senso de fascínio que
faz com que permaneçamos diante daquele que nos encanta. A revelação da
beleza de Deus nos liberta do tédio espiritual. Pense na emoção que você
sente quando vai a um grande monte, ou quando vê um quadro bem pintado e
não se cansa de contemplá-lo, ou até mesmo quando assiste a um filme.
As empresas de entretenimento sabem desse desejo que está dentro do
nosso coração: o anseio pelo que é belo. Elas gastam milhões em produções
cinematográficas porque, de alguma forma, descobriram nossa vontade de
ficarmos deslumbrados. Essa beleza divina será plenamente revelada no
Milênio, mas é possível ter acesso a ela hoje. Contemple o Deus belo e seja
tomado pela santa fascinação por ele.

2 – Fome de justiça
Justiça significa transformar situações erradas em certas. Em 2013, a
fome de justiça tomou conta do nosso país. Milhares de pessoas foram às ruas
protestar, não apenas pelo aumento de 20 centavos na taxa de transporte
público, mas porque estavam saturadas de ver tanta corrupção e depravação
tomando conta do Brasil.
A fome de justiça vai alcançar o povo de Deus, e pequenas atitudes de
oração produzirão grandes mudanças por causa dessa angústia interior. A
Terra está marcada pela dor. As nações estão sendo sacudidas por causa do
pecado e da injustiça do homem. As estatísticas são de apavorar: uma dentre
sete pessoas sofre sob o peso da escassez e desnutrição. Hoje, a fome mata
mais do que a Aids, a tuberculose e a malária juntas. Fome não é ficar doze
horas sem comer; é passar uma semana comendo terra e arroz. Essa é uma
realidade que acontece logo ali, no Piauí. Catorze por cento da população vai
dormir hoje sem fazer nem sequer uma refeição básica de arroz e feijão. Sabe
qual o nome disso? Injustiça. Cinco milhões de crianças morrem de fome por
ano.
Na África, 50 milhões de crianças ficam órfãs todo ano. Isso é
equivalente a juntar a Alemanha e a Inglaterra e remover todos os pais e
mães.
A fome de que ele venha e faça justiça na Terra irá nos motivar a
permanecer diante de sua presença. Toda a justiça de Deus será feita na volta
do Senhor, mas é um erro não começar a implantá-la hoje. Precisamos viver o
máximo do “ainda não” agora. Muitas vezes, somos fatalistas afirmando que
tudo será feito quando o Messias vier reinar. Porém, o Reino já está aqui. É
claro que, no Milênio, sob o reinado de Jesus, haverá plenitude, mas
precisamos ferir a Terra com a justiça do Reino nos nossos dias. Nossas
orações devem ser nesse sentido.
3 – Segunda vinda de Cristo
Pouco antes da volta do Senhor, a igreja estará cheia dessa expectativa
de oração pela segunda vinda. Apocalipse 5.1 diz: “E vi na destra do que
estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado
com sete selos”.
Acredito que esse livro selado com sete selos seja o livro de escritura
da Terra que o Pai quer dar por herança ao Cordeiro. No decorrer da
passagem, percebemos que João começa a chorar dizendo que não há
ninguém digno de governar a Terra, de fazer uma reforma social, de
estabelecer uma nova ordem; ninguém que tenha direito a essa Terra. De
repente, ele é consolado: “Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a
Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos” (Ap. 5.5).
O movimento de oração vai desatar os sete selos e liberar as sete
trombetas e as sete taças. Em Apocalipse 5.8, lemos: “e, quando tomou o
livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se
diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias
de incenso, que são as orações dos santos”. Aqui, podemos concluir que há
harpa no Céu e taças que estão sendo cheias de incenso e, que quando essas
taças começarem a ser cheias, o Senhor liberará seus juízos sobre a Terra e
iniciará o processo da segunda vinda de Jesus. O trecho de 2 Pedro 3.12 diz
que nós podemos apressar a vinda do Senhor. Não sabemos o dia nem a hora,
mas podemos fazer com que seja mais breve. Isso está conectado ao
movimento de adoração dos últimos dias.
Existe um livro chamado “Nove Divisões da Bíblia”, de John Walker,
que fala sobre sete cenas de adoração no livro de Apocalipse. Ele diz que,
para cada cena de adoração, existe uma manifestação da justiça e do juízo de
Deus na Terra. Creio que os selos sejam juízos contra o sistema do mundo,
que as trombetas sejam juízos contra o sistema do anticristo e as taças, juízos
contra o próprio anticristo e a Babilônia. E quem vai liberar esse movimento
é a Igreja. A Igreja vai desatar os juízos de Deus e apressar a segunda vinda
do nosso Senhor por meio da adoração e da intercessão.
Precisamos entender que nossa atuação é diante do trono de Deus; não
há mais barreiras. Davi conseguiu reproduzir isso na Terra de certa forma.
Ele constituiu um sistema de adoração muito ousado. Existia um modelo pré-
estabelecido de átrio, santo lugar e o santo dos santos separado por um véu.
De repente, ele colocou uma tenda sem véu e vários sacerdotes ao redor do
trono, oferecendo incenso 24 horas por dia.
A arca não representava apenas a presença de Deus, mas todo o seu
trono, pois ele está assentado entre os querubins. Apocalipse 8.3 diz que
diante do trono também existe um altar de ouro, que é a adoração, mas não há
mais véu. Muitos afirmam que não enxergam a Igreja em Apocalipse.
Contudo, é muito claro ver o movimento sacerdotal da Igreja no livro das
Revelações, provocando uma reação da Terra para o Céu.
Posso imaginar Jesus ao lado do Pai intercedendo assim: “Pai, envia-
me à Terra, eu quero casar. Vamos, está na hora!”. E a Igreja o provoca
dizendo: “Vem, vem. Maranata, vem!”. Os Céus e a Terra vão se tornar um
só, pois essa é a vontade de Deus. Mas é necessário que sejamos consumidos
por esse desejo até que ele volte.

Uma coisa é necessária


Existem muitos recursos motivacionais para encorajar as pessoas a
permanecer diante do Senhor. Eu mesmo já usei vários deles. O primeiro, e
mais comum, é o medo do juízo e do inferno. Diversas vezes, preguei sobre
isso visando a incentivá-las a aproximar-se de Deus. É um método que tem
alguma base bíblica; porém, pela minha experiência e por onde tenho
passado, não tem sido o mais eficaz.
Outro recurso que adotei muitas vezes foi o medo de ficar de fora do
avivamento. Em minhas pregações, dizia que, se as pessoas não pagassem um
preço, não fizessem um voto de aliança e não jejuassem, o avivamento viria e
elas não participariam dessa unção, perderiam o poder de Deus e a sua
visitação. O fato, porém, é que as pessoas vão ao altar para fazer votos e
alianças, mas, no dia seguinte, é como se aquela promessa se tornasse uma
força contrária.
Você vai à igreja, compromete-se a gastar mais tempo em oração, faz
voto de santidade, e parece que, quanto mais faz isso no domingo à noite,
com mais peso as tentações do mundo o esmagam na segunda-feira. E então,
ao deparar-se com suas fraquezas e pecados, você não consegue continuar
acreditando que o Pai o ama. Sabe por que Davi era um homem segundo o
coração de Deus? Certamente não foi por cumprir a Lei com perfeição. Na
verdade, quando construiu o tabernáculo e estabeleceu a ordem de adoração
contínua, ele quebrou quase todos os mandamentos. Mas Davi era um erudito
nas emoções de Deus e alcançou aquilo que era superior às regras: a
comunhão. Saul cometeu erros bem menores e foi rejeitado, mas Davi achou
o coração de Deus.
A maior motivação para permanecermos diante do trono e da presença
de Deus é estudar seus sentimentos. Isso não vem rápido nem acontece da
noite para o dia, mas existe um princípio para que isso ocorra: a meditação.
Vamos promover um avivamento da contemplação. Salmo 27.4 era a chave
de Davi: “UMA COISA peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na
Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do
Senhor e meditar no seu templo”.
Davi declarou que estava buscando UMA COISA. Ele era um rei e,
como tal, tinha muitas atividades e problemas para resolver. Mas ele tinha um
foco, uma coisa, que era contemplar a formosura de Deus e meditar no seu
templo.
Convido você a empenhar-se e gastar horas e horas estudando as
Escrituras. Uma sugestão é selecionar todos os versículos que retratam o que
Deus sente por você: seu amor, sua alegria, a misericórdia e a graça. Então,
dedique tempo, de forma objetiva, tentando encontrar esse judeu de 33 anos
na sua Bíblia. Busque descobrir o Homem por trás da letra. Era isso que Davi
fazia: ficava com os olhos espirituais atentos em quem Deus é, estudava sua
beleza e seus sentimentos. Isso é contemplação. Isso é escolher a melhor
parte.
Na Bíblia, existem três pessoas que buscaram essa “uma coisa”. A
primeira, como vimos, foi Davi. A segunda foi Maria. Em Lucas 10.42, Jesus
afirma que ela escolheu a boa parte. Quando honramos quem ele é,
meditamos no Logos, sua Palavra escrita, com profundo anseio por vê-lo, e
alcançamos essa “uma coisa”. Isso leva tempo. Ao longo de dois anos
seguidos, tenho orado os versículos de João 17.24-27. Eu os leio e peço a
revelação do Pai sobre esse Homem. Dois anos orando e, um dia, isso se
tornou real dentro de mim.
O seu papel é escolher a boa parte. Estamos sob muita pressão e
sujeitos a um espírito tirano que dita o ritmo das nossas atividades com base
na urgência. A consequência é que temos abandonado esse lugar de
intimidade, pois não há abertura em nossa agenda para algo que demande
tempo e seja processual.
Em 1 Timóteo 4.7, Paulo diz: “Exercita-te na piedade”. A expressão
“exercita-te”, no grego, significa “treine pequenos espaços para correr uma
grande corrida”. O que Paulo está ensinando é que não adianta tentar correr a
maratona de São Silvestre se mal conseguimos caminhar. Ele está
encorajando a igreja a praticar pequenos percursos. Comece devagar, mas
comece. Mesmo que seja durante 30 minutos estudando as Escrituras. Como
podemos correr a carreira se não estamos sequer nos exercitando?
A palavra “piedade” é eusebeia, que significa “fidelidade, andar de
acordo com o que se crê”. Se você crê que a oração tem o poder de mudar,
treine um pouco por dia. Falo isso por experiência própria, pois ela mudou e
continua mudando a minha vida.
Eu não tinha condição alguma de ser o que sou hoje ou de ter a família
que tenho, muito menos de contar com os amigos que estão ao meu lado e
com tudo o que o Senhor tem me dado. Eu não tinha nada. Toda a minha
história é de dependência química e envolvimento com criminalidade. Não
havia nada a que pudesse me apegar. Alguém me ensinou que orar em
línguas uma hora por dia funcionava, e foi o que eu fiz. Além disso, devorei
todos os livros sobre oração. Decidi orar, porque entendi que Deus era o
único em quem eu poderia me agarrar. Não precisei ir para um centro de
recuperação, nem fazer libertação ou cura interior. A oração nos transforma.
Deus está levantando intercessores, mas não é um movimento de intercessão
de qualquer jeito. É algo constante, regular, contínuo e sustentável.
A terceira pessoa que buscava essa “uma coisa” foi Paulo. Ele escreveu
uma carta aos filipenses no final da sua carreira e disse ainda não ter
alcançado aquilo para o qual havia sido chamado. Se Paulo, no fim de sua
vida, depois de ter feito tudo o que fez, falou isso, será que não estamos
desistindo rápido demais da corrida? Ele anuncia: “Uma coisa faço:
esquecendo-me das coisas que ficaram para trás, avanço para as que estão
diante de mim” (Fp 3.13).
O apóstolo se desfez, não apenas das coisas ruins, mas também das
boas. Ele possuía um vasto currículo de conquistas e realizações: toda a sua
intelectualidade, o seu ensino, a sua bagagem teológica, a sua oratória, com
quem estudou e o que produziu, até mesmo antes da sua conversão. Ele se
dispôs a deixar tudo isso para trás, pois o que estava adiante dele era bem
maior. Paulo almejava alcançar essa “uma coisa”, encontrar aquele que o
achara e participar da comunhão dos sofrimentos do seu Amado. Ele queria
sofrer o que Jesus sofreu.
Estava obstinado a ganhar uma coroa. Seu intuito era chegar ao final e
conquistar uma melhor ressurreição. Em outras palavras, ele queria reinar
com Cristo no Milênio e ser premiado, galardoado por isso. Essa é uma
ambição linda.
Há muito sobre a ressurreição que desconhecemos. Essa falta de
conhecimento nos leva a viver sem perspectiva de um futuro com Cristo.
Quando Paulo afirma que prossegue em busca de um prêmio, ele está se
referindo a uma melhor ressurreição, algo pelo qual os cristãos vão passar.
Essa ressurreição está ligada à posição que ocuparemos no Milênio. Isso
mesmo: o reino do Messias é um reino físico, e assumiremos lugares neste
reino. Se não compreendermos essa realidade, perderemos a noção de
hierarquia. O nosso nível de santificação determina quem seremos no
Milênio.
O Senhor disse aos sacerdotes em Deuteronômio 10.9: “Eu sou a sua
herança”. Ele é nosso prêmio, e era isso que Paulo estava querendo.
Enquanto tivermos fôlego de vida, deveremos ter fome dessa “uma
coisa”. Quero terminar a vida com a minha Bíblia bem velhinha e ainda assim
amando o Senhor e meditando todos os dias em sua Palavra.
3
Batalha Espiritual Centrada em Deus

Normalmente, quando ouvimos o termo "intercessão", logo o associamos a


brigar com o diabo. Neste capítulo, falaremos sobre batalha espiritual
segundo a perspectiva de Paulo.
Não acredito ser possível haver um movimento de oração sustentável e
contínuo sem uma assimilação abrangente do carinho e da paternidade de
Deus por nós. É imprescindível que a igreja disponha seu coração a
compreender esse atributo de Deus e, assim, torne-se uma igreja que caminha
em parceria com ele.
Frequentemente, oramos para Deus nos usar. Entramos no lugar secreto
e depois queremos sair e produzir algo a fim de impressionar a ele e às
pessoas. Deus, ao contrário, quer encontrar-se conosco para nos apreciar. Ele
não quer trabalhadores, mas amantes. Não conseguiremos permanecer no
lugar de oração se a nossa visão for a de um Deus que está sempre nos
criticando e nos rejeitando de "cara feia". Por isso, foram enfatizados até aqui
o amor do Pai e a maneira como sua paternidade está relacionada ao
sacerdócio, a fim de criar um fundamento para uma intercessão alegre,
duradoura e leve que vai mudar o mundo.
No capítulo 6 de Efésios, Paulo começa a descrever a batalha que é
travada entre a Igreja e os principados e potestades. O verso 12 diz: “porque
a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes”.
Em Efésios 1.18, Paulo faz uma oração. Vale ressaltar que a maior
parte de suas orações é pela Igreja. Ele era um conhecedor extraordinário do
plano eterno de Deus. Sendo assim, sabia que, para que seu plano fosse
cumprido na Terra, a Igreja precisaria ter uma profunda revelação sobre isso:
Iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a
esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua
herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com
os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual
exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o
sent.ar à sua direita nos lugares celestiais (Efésios 1.18-20)
No trecho acima, Paulo ora para que a Igreja tenha os olhos espirituais
abertos e consiga discernir o que aconteceu com Cristo e qual a posição que
conquistou, que é acima de todo principado, potestade e autoridade. Satanás
não é rival de Deus, mas da Igreja. Ele é nosso conservo e só pode atuar se o
Senhor o autorizar. Não existe luta entre Deus e o diabo. Ele poderia
aniquilá-lo neste momento, mas não o faz, porque quer esmagar a cabeça da
serpente por intermédio da sua Noiva. É por isso que Paulo gastou seu vasto
vocabulário para explicar qual é a posição da Igreja.
Primeiro, ele se dedica a esclarecer a posição de Cristo. Há algum
tempo, no Rio de Janeiro, saiu uma matéria no jornal sobre uma denominação
evangélica que estava entrando na justiça para decidir quem seria o padroeiro
da Pavuna: se determinada entidade ou Cristo. Isso demonstra a falta de
entendimento da Igreja quanto ao lugar de autoridade que o nosso Senhor
assumiu quando foi ressuscitado. Paulo, então, ora com fervor para que seja
derramado o espírito de sabedoria, um espírito profético que abra os olhos da
Igreja para ver que Cristo está acima de toda maldade. Ele está acima da
pedofilia, da pobreza, da dependência química, de toda escravidão moral, da
destruição da família e de toda atuação e influência maligna. Mas quem
consegue acreditar nisso?
Penso que a nossa mente funciona da seguinte forma: cremos que Deus
pode fazer tudo, mas não cremos que ele fará tudo de fato. Acreditamos que
tem poder para curar o doente, mas não sabemos se o curará. Deus pode
transformar regiões inteiras, mas não estamos certos de que agirá assim.
Paulo ora para que vejamos justamente essa parte que nos falta.
No capítulo 2 de Efésios, o apóstolo afirma que essa posição não é
apenas de Cristo: “e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar
nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6).
Nós estamos assentados com ele no trono, e nossas orações partem do
Céu para a Terra. Paulo está testificando que Cristo está acima de toda
influência maligna que atua nas nossas cidades e que a Igreja está com ele.
Na prática, cremos na mente, mas não no coração, o que nos leva a duvidar
de que ele vá fazer algo.
Sabe por que não há avivamento? Porque você consegue viver os
próximos anos sem ele. O problema é que, para nós, não faz mais tanta
diferença se Deus está nos visitando ou não. É por esse motivo que o apóstolo
Paulo se desespera, para que a Igreja veja que está numa posição de
autoridade, na qual pode fazer com que as coisas mudem. Ele não está
ignorando a oposição que existe nas regiões celestiais, mas orando para que a
Igreja entenda que essa resistência maligna não significa absolutamente nada
comparada à nossa posição em Cristo.
Se a Igreja dos últimos dias deseja cumprir a Grande Comissão e
implantar a justiça de Deus na Terra, precisa ser liberta dessa mentalidade
passiva e pessimista de que tudo vai acabar mal e de que só conseguiremos
solucionar os problemas da Terra quando Cristo voltar. Além de passiva e
pessimista, essa visão é também antibíblica. É óbvio que existem aspectos
que só serão resolvidos na segunda vinda, no reino milenar. Porém, não
existe base na Palavra para sermos fatalistas e convivermos perfeitamente
bem com a desordem e a confusão atual do mundo. E, normalmente,
colocamos a culpa do fatalismo na própria teologia.
Muitas vezes, fui tomado por um pensamento de engano sobre o que
Deus queria fazer em determinada região, e a desculpa que eu usava era o
fato de que o reino de Deus já veio e ainda não. Essa é uma teologia saudável
e bíblica, mas que, quando interpretada de forma errada, pode ser desastrosa.
O reino já veio, porque Jesus morreu na cruz, ressuscitou dentre os mortos,
está reinando e derrotou os principados e potestades. Logo, toda a influência
do reino está liberada. Contudo, este reino também não veio ainda, porque só
virá plenamente quando o Messias estiver reinando na Terra fisicamente.
Baseando-me nisso, sempre que me deparava com a destruição, o pecado e o
cativeiro na minha cidade, eu os colocava na conta do "ainda não", alegando
que seriam resolvidos apenas quando Cristo voltasse. Isso não é bíblico.
Precisamos viver o máximo do "ainda não" hoje e puxar o poder do mundo
vindouro para os nossos dias.
Antes do retorno de Jesus, algumas cidades inteiras serão
transformadas pelo poder do Evangelho e outras serão julgadas pela ira de
Deus. Todas essas coisas acontecerão pelo poder da Igreja que ora. Teremos
condições de ligar e desligar, de autorizar e desautorizar o poder de Deus,
concordando com ele, em parceria com o seu coração.
Gostaria muito que você despertasse para a realidade de que uma
pessoa dentro do quarto com os joelhos dobrados é mais influente do que o
presidente dos Estados Unidos. Uma senhora de 80 anos ajoelhada aos pés da
cama tem mais recursos que o líder do G-20, pois está em contato com o Rei
de todas as nações, o Governador do Universo, aquele que comprou a Terra
com seu sangue. Ele tem o direito legal a essa terra, pois a reconquistou e está
nos chamando para entrar em parceria com essa autoridade e mudar
situações. Eu creio nisso com todo o coração. Mais de 15 prostíbulos foram
fechados no Rio de Janeiro quando começamos a orar contra o tráfico
humano sem nunca termos visitado esses lugares.
Sinto que estamos prestes a viver uma visitação rompimento muito
grande do Espírito Santo na Igreja, no mundo e nas nações. Meu coração está
cheio de esperança. Esperança é diferente de expectativa, que é um
sentimento humano e pode ser frustrado.
Conforme manifestamos o poder do reino que já veio, discipulando as
nações, preparamos o caminho para o reino que ainda não veio e para a
segunda vinda de Jesus. Existe uma medida de poder de Deus liberada e
disponível agora que pode ser acessada por meio da oração.
Em Lucas 11.1,2, os discípulos pedem que Jesus os ensine a orar,
assim como João ensinou a seus discípulos. Qual é o contexto desse
momento? Eles haviam observado qual era o efeito produzido pelo ministério
de João e de seus seguidores, e perceberam que cerca de dez cidades inteiras
estavam arrependendo-se, e que o reino de Deus estava se manifestando.
Se existe uma oração que precisa ser feita hoje, essa oração é: “Ensina-
nos a orar, Senhor, para que o teu reino se manifeste”. Esse reino não é teoria,
mas demonstração de poder. Era isso o que Paulo dizia em suma: “Minha
pregação não é apenas blá-blá-blá, mas é poder de Deus”.
Não sei por que tememos o poder de Deus. Talvez, esse medo seja
consequência de traumas do século passado. Nestes dias, porém, o Espírito
Santo não vai derramar poder apenas sobre um homem, como vimos
anteriormente. Hoje, o poder de Deus quer irromper sobre todo o Corpo de
Cristo. Joel fala sobre o profético de todos os santos; servos, servas, crianças,
filhos, filhas, pais, velhos, todos entrando embaixo de um espírito profético.
Isso significa que, quando um adolescente for ao shopping comer
hambúrguer e encontrar um paralítico por ali, irá puxá-lo da cadeira de rodas,
curá-lo em nome de Jesus e sair quietinho, sem avisar a ninguém. Ele não irá
receber glória por aquilo. Cenas como essa já estão acontecendo em muitos
lugares.
Em nossa congregação, temos uma sala de oração liderada somente por
crianças. É espantoso o que o Senhor está fazendo por intermédio delas.
Meninos e meninas de 8, 9 anos têm recebido espírito de profecia, palavra de
conhecimento assertiva e feito oração pelos enfermos. É muito mais simples
para as crianças. Nós as ensinamos: “Orem pelos enfermos assim e assim”.
Elas seguem às instruções, oram e a pessoa é curada, sem complicação
alguma.
O Espírito Santo está sendo derramado sim neste exato momento. Há
avanços no reino de Deus sendo conquistados e, se você se conectar, irá
perceber que nem tudo vai mal. É tremendo fazer parte disso.
Os discípulos pediram: “Ensina-nos a orar”. Jesus começou a ensiná-
los, orando. A primeira palavra que saiu de sua boca foi “Pai”. Pois a
paternidade de Deus diz respeito à nossa identidade, a quem somos, e está
ligada à intimidade.
Logo em seguida, ele disse: “Santificado seja o teu nome”. À medida
que entendemos quem Deus é, mudamos o nosso formalismo religioso e
entramos em admiração. A palavra “santificado” significa “não há outro
como ele”. Somos tomados por um senso de assombro, pois como pode um
Deus que não precisa de nada ser o meu pai? Ele é santo. A paternidade gera
o serviço de adoração, mas de forma íntima. O formalismo é quebrado.
Você já reparou como algumas pessoas oram? Elas confundem
formalismo com reverência: “Senhor Deus de Abraão, Isaque e Jacó,
adentrar-me-ei em vossa presença”. Acham que usar o português culto as
torna espirituais. Quando você vai pedir algo para o seu pai terreno, é dessa
maneira que se dirige a ele? Jesus veio revelar o Aba, e isso nos deixa
estarrecidos. Afinal, o Pai de Jesus é o nosso Pai! Prosseguimos, então, à
próxima frase da oração de Jesus, a intercessão: “Venha o teu reino”.
Na nossa base missionária, estamos ganhando espaço, combatendo o
tráfico humano de joelhos. Trazer o reino significa que o governo do Senhor
começa a manifestar-se produzindo justiça e fazendo com que o que está
errado fique certo. Você não gostaria de viver isso na sua região?
Por que abandonamos a oração? Por que soa estranho quando falamos
em ter pessoas orando em tempo integral? Meu lema ministerial é: “Para tudo
é ora”. Deus fará algo que ainda não vimos, algo inédito, e eu abençoo seu
coração para ter esperança nisso.
Deus está levantando uma Casa de Oração que enfrenta o mundo, que
não fica apenas adorando e contemplando, mas combate o tráfico humano, as
falsas ideologias nas universidades e tantos outros tipos de pecados. Existem,
hoje, mais de 30 universidades com sala de oração em várias regiões do país.
Lugares que foram colocados nas mãos de Satanás e de suas mentiras estão
sendo retomados pela Igreja.
Em nossa comunidade cristã, temos uma menina de 13 anos que
implantou uma sala de oração na sua escola de ensino fundamental. Na
primeira semana, apareceram duas pessoas. Duas semanas depois, havia 20
adolescentes orando ali. A professora chorava ouvindo o testemunho. Eram
jovens que estavam à toa e começaram a ser convocados pelo Espírito Santo
para contender e atacar filosofias humanistas, a corrupção e tudo que se
levanta contra o conhecimento de Deus.
Em Mateus 16, existe um segredo poderoso. Jesus estava em Cesareia
de Felipe e, naquele lugar, Pedro teve a revelação de que ele era o Cristo, o
Filho do Deus vivo. O Messias respondeu:
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-
te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido
ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos
céus (Mateus 16.19).
O Senhor estava dando uma chave para a Igreja ligar e desligar
mediante a revelação da beleza de quem ele é. Jesus estava usando uma
linguagem militar, uma linguagem de agressividade, não de passividade. É
comum lermos esse versículo e interpretarmos que as portas do inferno vão
correr atrás de nós. Mas são as portas do inferno que não prevalecerão contra
a Igreja. Portas não andam; elas não virão correndo atrás de nós. Ou seja, nós
é que as derrubaremos, e, juntamente com elas, cairão as influências do
inferno. Portas remetem não somente a acesso, mas também a governo. Os
juízes se assentavam às portas para decidir o destino das cidades.
A cidade em que Jesus se encontrava nesse momento, Cesareia de
Felipe, nos tempos bíblicos, era um dos principais locais de adoração a Baal,
onde, além de prestarem culto a ele, tinham relações sexuais com os
sacerdotes. Por isso, Jesus escolheu aquele lugar para dizer que a revelação
de quem ele é derrubaria as portas do inferno.
Na entrada dessa cidade, havia uma gruta cheia de ídolos. Nos dias de
Herodes, as pessoas adoravam um deus chamado Pan, que era metade homem
e metade bode. Dizia-se que ali Pan reinava com suas ninfas, e era cultuado
pela imoralidade sexual. Caso não saiba, a prostituição é um culto ao diabo, e
aquele local era conhecido como o “Portão do inferno”. Os judeus não o
frequentavam, pois acreditavam que aquela era uma porta de influência de
Satanás. E foi precisamente lá que Jesus anunciou que sua Igreja triunfaria
quando descobrisse quem ele é. Por isso, enfatizo que a intimidade precede a
intercessão. Quem é Jesus para você? O povo que conhecer esse Deus irá
derrubar as influências dos lugares mais terríveis de toda a Terra.
No centro da Vila Mimosa, existem cinco mil prostitutas nuas nas
portas dos bares. Porém, a Luz está brilhando ali e isso é inédito. Deus está
acordando o seu povo, e é por essa razão que você está lendo este livro.
Jesus usa a linguagem de um exército invadindo e derrubando
potestades, libertando cidades inteiras que estão sofrendo, dominadas pela
imoralidade. Esse é o nosso chamado. Não podemos nos acomodar sob um
"espírito de férias", defendendo a ideia de que está tudo bem, de que o pecado
é assim mesmo, que Satanás é um chato e que as pessoas é que preferem ficar
sem Jesus, jogando, assim, a culpa nelas, que não querem nada com Deus. E
nós, o que queremos? Ser um crente bonitinho de domingo à noite ou alguém
que vai mudar a História?
O apóstolo Paulo não se conformava com as situações que presenciava.
Em Romanos 15.30, ele começa a descrever o quanto valorizava a oração
corporativa na Igreja: “E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e
pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a
Deus”. Você consegue ouvir o seu clamor? Paulo estava implorando para que
a igreja de Roma se juntasse a ele num coliseu, num octógono. O apóstolo
usa até um termo que remete ao ambiente de luta de gladiadores. Ele se
apoiava na autoridade e na importância que Jesus dá à oração. É por causa
dessa importância e também do amor ágape, que essa expressão é usada nesse
contexto. O amor ágape do Espírito é a motivação principal para nos unirmos
em oração.
Conforme o Senhor tem explicado e ensinado esses princípios, tenho
sido cheio de amor pela igreja. Há cinco anos, eu era o maior crítico da igreja
como se estivesse fora dela. Mas tudo isso tem mudado por causa da
perspectiva que Paulo trouxe à tona sobre a oração corporativa. O apóstolo
tinha uma visão sobre o avanço da Igreja e do reino de Deus mediante a
oração coletiva. Ele dependia da oração dos irmãos de verdade. Sua
linguagem era de extrema urgência, apelando à autoridade e ao amor de
Jesus. Existia uma luta sendo travada naquele exato momento, e seu clamor
era para que a igreja romana não ficasse passiva com uma mentalidade de
derrota e fracasso.
No versículo 31, ele começa a falar sobre a causa dessa luta: “Para que
eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judeia, e que este meu serviço em
Jerusalém seja bem aceito pelos santos”.
Paulo acreditava que 90% do seu sucesso ministerial dependia de uma
igreja inteira orando. Não sei se era uma perseguição política ou religiosa,
mas, basicamente, o fato é que existia um impedimento para que ele
ministrasse com qualidade diante da igreja de Jerusalém.
Lemos em 1 Tessalonicenses 2.17,18: “Nós, no entanto, amados
irmãos, privados momentaneamente da vossa companhia pessoal, mas não
distante do vosso coração, trabalhamos incessantemente com o objetivo de ir
ver a vossa face. Eu, Paulo, quis vos saudar face a face, não somente uma
vez, mas duas; porém, Satanás nos provocou impedimentos”.
A história aqui é interessante. Paulo havia visitado essa cidade havia
cinco anos. Juntamente com sua equipe, fundou uma igreja em Tessalônica,
mas, por causa da perseguição, ele e Silas não puderam permanecer ali o
tempo devido; apenas três semanas. O costume era que ficassem um período
bem maior nas igrejas que implantavam, gerando discípulos. Mas a oposição
e a opressão de Satanás os impeliram a partir rapidamente.
Era como se aquela igreja tivesse ficado órfã, sem o subsídio
necessário. Paulo orou e pediu aos tessalonicenses que se unissem a ele no
clamor para que os impedimentos do inimigo fossem removidos, e que ele
pudesse visitá-los a fim de ministrar o que precisava ser derramado. O
apóstolo segue exortando os irmãos: “Suplicando continuamente, dia e noite,
com máximo empenho, para vos ver pessoalmente e reparar as deficiências
da vossa fé” (1 Ts 3. 10).
Aquela igreja ainda era imatura. Existiam empecilhos para que Paulo e
sua equipe chegassem ali. Por isso, ele os convocou a orar dia e noite. Paulo
acreditava com todo o coração que a oração corporativa, incessante e regular
derrubaria as influências satânicas.
Outro ponto forte em sua teologia é que ele cria que regiões inteiras
poderiam ser transformadas pela oração da Igreja. O apóstolo tinha o
entendimento de que a liberação do poder de Deus dependia da prioridade
que a Igreja dava à oração. Vejamos:
Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações,
intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens, em favor
dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que
vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é
bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que
todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da
verdade (1 Timóteo 2.1-4).
Paulo usa a expressão “antes de tudo”. Isso significa antes de
aconselhamento, de evangelismo, de missões, colocando a oração em
primeiro lugar.
Ele utiliza uma linguagem chamada intercessão governamental. Por
exemplo, quando um amigo o encontra para conversar, o resultado é uma
conversa informal. Mas se você se reunir com o governador do Estado, a
conversa será governamental. É isso o que acontece quando entramos na
presença do Rei do Universo, pois estamos falando com o Governador das
Nações. Paulo apela para que isso se torne prioritário. Ele suplica para que
sejam feitas orações pelos reis e autoridades a fim de que tenham uma vida
tranquila e pacífica. Sua instrução é que a Igreja ore para que os governantes
produzam leis que não impeçam a pregação do Evangelho e o avanço do
reino de Deus.
É interessante a visão que os apóstolos tinham sobre intercessão. Eles
consideravam que os governos físicos eram regidos por governos espirituais,
ou seja, um governante era influenciado por anjos ou por demônios. As
expressões usadas em Efésios 6 para se referir às autoridades espirituais são
as mesmas empregadas para reis e governadores físicos. Eles acreditavam
que, nas regiões celestiais, os principados influenciavam a mentalidade da
política, e essa mentalidade gerava uma cultura que afetava a sociedade.
Trazendo esse conceito para os dias de hoje, analise se não é assim
mesmo. As políticas públicas estão formando a opinião geral no que diz
respeito, por exemplo, ao aborto e ao casamento com pessoas do mesmo
sexo, e estão manipulando a sociedade inteira por meio da mídia. Essa
mudança de valores e padrões não ocorre por acaso, de maneira neutra e
natural, nem é simplesmente porque um prefeito decidiu pensar daquele jeito.
Existem principados e potestades, governos espirituais atuando e controlando
a nossa política e as autoridades da nossa nação.
Os apóstolos criam que o mundo espiritual regia o mundo físico,
gerando leis justas ou injustas, dependendo de quem estivesse influenciando
aquela região. Vamos estudar alguns exemplos bíblicos. Em Daniel 9.3,
lemos: “Então voltei o meu rosto ao Eterno Elohim, a fim de buscá-lo
mediante orações e súplicas, em jejum, vestido de luto, em panos de saco, e
coberto de cinza”.
Daniel está orando uma profecia. Muito melhor do que recebê-la é
poder orar uma profecia. Daniel toma o que foi profetizado por Jeremias, de
que o cativeiro duraria determinado período de tempo, e se posiciona no lugar
de intercessão. Nos versos 23 e 25, chega a revelação, e uma movimentação
angelical acontece. O anjo Gabriel lhe dá uma visão e diz que, desde o
primeiro momento em que Daniel entrou em oração, uma batalha começou a
ser travada nas regiões celestiais, pois o principado da Pérsia estava
impedindo que ele recebesse aquela revelação. Note que ele estava orando
para que Israel saísse do cativeiro. Quem dominava Israel nesse período? O
rei da Pérsia. E o nome do principado que estava retendo a resposta da oração
de Daniel era príncipe da Pérsia.
No trecho de Daniel 10.12,13, podemos acompanhar o conflito causado
por esse principado:
Então, me disse: Não temas, Daniel, porque, desde o primeiro dia em
que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu
Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e, por causa das tuas palavras,
é que eu vim. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e
um dias; porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-
me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia.
Já em Esdras 1.1-3, a oração de Daniel faz com que Deus libere os
anjos, que, por sua vez, começam a ministrar ao rei da Pérsia, que autoriza o
povo a sair do cativeiro:
No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a
palavra do Senhor, por boca de Jeremias, despertou o Senhor o
espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu
reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da
Pérsia: O Senhor, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra e me
encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém de Judá (Esdras
1.1-3).
Existe hoje, nos Estados Unidos, um ministério que combate o aborto.
São mais de cem jovens que vão à Suprema Corte com uma fita vermelha na
boca escrito “Vida”. É um protesto e, ao mesmo tempo, uma intercessão
contra o aborto. O resultado é que centenas de clínicas estão fechando, e
juízes que eram favoráveis a essa prática estão mudando sua concepção sobre
essa lei. A oração movimenta o reino espiritual, que começa a tocar os reis da
Terra, levando-os para produzir leis justas. Esse é o motivo pelo qual Paulo
pede que se façam súplicas por reis e autoridades (1 Tm 2.1-4). É claro que
haverá o tempo da perseguição, mas devemos aproveitar a nossa liberdade
para avançar.
Sempre pensei que, se tudo fosse resolvido na volta de Jesus, para que
orar então? Talvez não mudemos tudo. Mas devemos nos incomodar com o
fato de não mudarmos nada.
Há outro exemplo em Atos 12. No decorrer do capítulo, lemos a
respeito do assassinato de Tiago e que Pedro estava na prisão. As Escrituras
dizem que a Igreja orava continuamente por Pedro até que um anjo foi
enviado, soltou o apóstolo da cadeia e matou o rei Herodes. Ou seja, o anjo
removeu quem estava impedindo o avanço do Evangelho. A Igreja não orou
para que o rei fosse morto, mas para que Pedro fosse libertado. Nós podemos
mudar as leis da nossa nação!
Temos liberdade de nos reunir em qualquer lugar e devemos orar para
que os governadores proporcionem leis justas a fim de que tenhamos uma
vida tranquila e pacífica, mas também a fim de que tenhamos piedade e
dignidade. Nossa sociedade está impregnada de uma imoralidade
hiperssexualizada, autenticada pelo governo.
Um exemplo que ilustra esse quadro é que, no período que antecedeu a
Copa de 2014, o governo financiou curso de idiomas para prostitutas.
Iniciativas como essas não vão promover a piedade, mas a promiscuidade.
Uma vida de dignidade, no original, significa uma vida respeitável.
Existem leis que denigrem a humanidade como é o caso da lei do aborto, que
fere a dignidade de um ser humano indefeso. Outro exemplo é que existem
hoje nas universidades vários professores favoráveis à legalização da
pedofilia. Na Alemanha, o assunto já é bem discutido. Existem cartilhas de
sexualidade para crianças e há rumores a respeito de se reduzir a idade
mínima para a relação sexual consensual. Isto é, se isso acontecer, um adulto
poderá tocar uma criança de 12 anos sem que isso seja considerado crime. É
abominável e existem pedagogos que defendem esse pensamento.
Lutar contra principados e potestades é muito mais complexo, pois não
é um demônio que se manifesta no corpo de alguém, mas se trata de algo que
gera uma cultura maligna na sociedade. Há alguns anos, as pessoas não
falavam sobre assuntos que, hoje em dia, são discutidos de forma natural. As
novelas cooperaram muito para gerar uma mentalidade de tolerância e
aceitação.
Quando conversamos com as adolescentes, elas contam que, nas
escolas, as meninas estão “ficando” com outras meninas para “experimentar”
a sensação — e isso acontece, muitas vezes, com o apoio dos professores.
Nós estamos entrando no tempo mais escuro da história da humanidade. Na
Alemanha, estão tentando legalizar relações sexuais com animais. São leis
assinadas por governantes, e não podemos nos conformar com isso. Não, essa
situação não vai ficar assim, pois a Igreja vai se levantar para contender.

Ponto importante na intercessão

Nenhuma oração do Novo Testamento, principalmente as dos


apóstolos, é dirigida aos demônios. Paulo orava ao Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo. Suas orações são batalhas espirituais centradas em Deus. O foco é
sempre o Pai: para que ele faça justiça, derrame avivamento, restaure a Igreja
e mude a condição da sociedade. O apóstolo não direcionava suas orações aos
principados, mesmo sabendo que havia uma luta; o seu assunto era com o
Pai.
É claro que, no caso de possessão física, expulsa-se o demônio em
nome de Jesus. Todavia, no que diz respeito à batalha espiritual, a oração de
Paulo não cita demônios. Ele orava ao Pai para que vencesse a luta.
Um conceito que talvez seja novo para muitas pessoas é que
intercessão significa concordar com as promessas de Deus. Ele prometeu
derramar avivamento; então oramos concordando. Prometeu derramar justiça;
logo, oramos por isso. Ele prometeu que traria leis justas se orássemos pelos
governadores; então devemos seguir nessa direção. O nome disso é batalha
espiritual: oramos ao Pai, e ele põe o "bicho" para correr. Esse era o conceito
de Paulo sobre intercessão.
O apóstolo passava a maior parte do seu tempo orando pela igreja, pelo
fortalecimento do povo, para que as portas fossem abertas para a pregação do
Evangelho (Ef 3.16).
Essa é uma linguagem saudável de oração. Não é simplesmente focar
nos demônios. De certo, o Espírito Santo pode nos direcionar, em
determinado momento, a repreender algum espírito maligno. Mas o que
quero enfatizar é que, teologicamente, isso não acontecia com tanta
frequência.
Romanos 16 diz que devemos ser inocentes para o mal. O sentido dessa
expressão é que não podemos ficar fascinados por aquilo que o diabo faz.
Você já viu alguém deslumbrado com o poder do diabo, que vive falando do
que ele é capaz? Conheço alguns amigos que tomavam soco do vento após ler
o livro de certa autora, cujas literaturas são voltadas para assuntos de batalha
espiritual. Eles ficaram encantados com as trevas.
Fascine-se com o seu Pai, fique maravilhado com o tamanho de sua
grandeza, ore para que ele expulse a escuridão. Não precisamos nos
deslumbrar com a obra de Satanás. Não significa que vamos subestimá-lo,
mas não devemos supervalorizá-lo nem nos concentrar nele, pois seria um
desperdício de tempo.

DICAS PRÁTICAS PARA UMA INTERCESSÃO COLETIVA

- Ensine as pessoas a orar orações, não a pregar orações ou mandar


recados.
Costumamos pregar orações o tempo todo. Algo como: “Senhor, a tua
Palavra diz...”. Queremos pregar para Deus o que ele mesmo disse como se
tivesse esquecido. Mas, pior ainda, é quando queremos mandar um recado
para outro irmão por meio da oração. O irmão não o visitou, e então você ora
na igreja: “Senhor, enche o coração dos nossos irmãos de amor, para que
façam visitas aos outros”.
O que é orar uma oração? Pedir a Deus. Uma das frases mais usadas
nesse caso é: “Pai, eu te peço”. Você não está pregando, está pedindo.
Intercessão é fazer petição por outros, e o mais recomendado é que vá direto
ao assunto.

- Evite orações muito longas na congregação.


Normalmente, quando ouvimos orações muito longas, nossa mente tem
a tendência de divagar. Certamente, existem exceções. Evan Roberts, por
exemplo, orava cerca de uma hora e o ambiente era transformado. Mas são
casos isolados. Uma oração mais curta costuma manter melhor o foco e o
grupo mais unido.
Não estou querendo dizer que Deus não use orações longas. Pode haver
um momento e um ambiente adequados para que ocorram. Estou apenas
constatando que é algo que o Senhor vai mudar.
- Não faça devocional na oração coletiva.
Nos momentos de oração em grupo, coloque suas frases no plural,
envolva seus irmãos. A oração coletiva é uma arte a ser desenvolvida, e o seu
sucesso depende de prestarmos atenção ao que o outro está orando, a fim de
que haja concordância, e ao que está sendo direcionado pelos irmãos.

- Ore por aquilo que o Espírito colocou no seu coração. Não precisa
abranger todos os assuntos; seja específico.
Orar por algo que esteja queimando em seu espírito traz peso e
profundidade às suas palavras, ainda que numa oração rápida e sucinta.
Tentar abranger muitos tópicos torna a oração tediosa e superficial, parecida
com uma lista de exigências e demandas. Objetividade é muito importante
numa reunião de oração intercessória. Quanto mais específicos formos, mais
resultados alcançaremos em nossas orações.

- Quando alguém levantar a voz para orar, não faça orações paralelas.
Concorde com a oração de seus irmãos. Entenda o que está sendo
pedido e manifeste, de tempos em tempos e em voz alta, o seu apoio. A
concordância é vital para o sucesso da oração coletiva e, para concordar, é
preciso ouvir o que os outros estão orando.

- É muito importante incrementar a oração com música, pois torna o


ambiente agradável e sustentável.
Criou-se um paradigma de que intercessão é uma coisa e adoração é
outra, sendo que, na verdade, elas se completam. Adoração é concordar com
quem Deus é: ele é santo, ele é digno. Quando concordo com quem ele é,
estou adorando. Quando concordo com o que ele prometeu, estou
intercedendo. Das duas formas, ele é adorado. Quando oro por suas
promessas, seja cantando, seja falando, estou afirmando o seu caráter
fidedigno; isso é louvor.
Batalha espiritual centrada em Deus é a forma bíblica de
permanecermos inabaláveis contendendo por justiça e combatendo as obras
das trevas. As orações bíblicas nos dão o apoio para nos focar em Deus
enquanto nos dedicamos a liberar o seu poder sobre as investidas do inimigo.
4
Movimento de Oração dos Últimos
Dias

E aos filhos dos estrangeiros que se chegarem ao Senhor, para o


servirem e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos
seus, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que
abraçarem o meu concerto, também os levarei ao meu santo monte e os
festejarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus
sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será
chamada Casa de Oração para todos os povos. (Isaías 56.6,7)
Mais adiante, no Novo Testamento, Jesus repete essa profecia de
Isaías. É muito importante darmos atenção quando o Senhor Jesus repete uma
profecia do Velho Testamento, pois significa que está querendo comunicar
algo de extrema urgência. Ele não chama a casa de Deus de casa de
evangelismo, ou de justiça social, nem mesmo de missões, mas de Casa de
Oração. Todas essas atividades fazem parte da vida da igreja. Porém, a
identidade que Jesus quer reafirmar para nós como o seu povo nestes últimos
dias é que somos uma casa de oração — não apenas porque temos oração,
mas porque somos formados a partir da oração.
Essa palavra tem soprado no mundo inteiro. O Espírito Santo está
orquestrando, em todas as nações da Terra, um grande movimento de oração
que enfatiza a oração dia e noite para a volta de Jesus.

Características ligadas ao movimento de oração

1 - A glória de Deus
Existe um culto de adoração na sala do trono. Em Apocalipse 4, João
descreve uma visão de como a adoração está acontecendo naquele ambiente
do trono. Lá, existem quatro criaturas que são chamadas de seres viventes.
Eles estão ao redor do trono, são cheios de olhos e declaram uma única coisa
durante toda a eternidade: “Santo, Santo, Santo!” (Ap 4.8). O que chama a
atenção é que esses quatro seres não estão adorando porque foram curados de
uma enfermidade, porque foram salvos, porque tiveram seus pecados
perdoados ou mesmo porque Deus irá derramar um avivamento. Estão
adorando por causa da dignidade da glória divina. A. W. Tozer diz que a
adoração é uma resposta que o homem dá à revelação de quem Deus é. Os
quatro seres estão contemplando a beleza de Deus.
A palavra “santo” seria traduzida melhor como “beleza transcendente
de Deus”, pois santo não é apenas o contrário de impuro, mas também
“aquilo que é fora do comum”. Não há outro como ele. De alguma forma,
Davi teve a mesma visão, pois colocou os sacerdotes ao redor do trono
contemplando o resplendor de Deus 24 horas por dia. Davi viu o trono e
enxergou os seres cheios de olhos que não paravam contemplar aquela
formosura — um Deus que parece uma pedra preciosa!
O Senhor o comprou para vê-lo funcionando como um sacerdote que
honra a sua dignidade. Não é uma adoração produzida a partir de emoções e
arrepios, mas simplesmente porque ele merece e quer ser adorado na Terra
como é no céu.

2 - Justiça
A justiça está totalmente interligada à intercessão. Lucas 18.7 afirma
que Deus fará justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite. Esse
versículo é direcionado aos sacerdotes, aos escolhidos, ao povo eleito. A
palavra justiça, nesse contexto, quer dizer retidão ou posição correta. Justiça
não é igualdade; justiça é fazer o que é correto. Deus vem com seu trono e
conserta o que está errado: a pobreza, a miséria, a dor e a enfermidade.
Justiça não é apenas juízo. Existe o lado positivo também quando, por
exemplo, oramos, e ele julga a pedofilia. Ele diz que vai fazer justiça rápida.
Em Lucas 18.8, está escrito: “Quando vier o Filho do Homem, achará,
porventura, fé na terra?”. Não penso que essa seja uma pergunta negativa,
pois ele encontrará fé na Terra, achará um povo orando dia e noite antes da
sua volta. A Terra está sendo sacudida pela injustiça.
No Camboja, existem pais que almejam que as esposas deem à luz
filhas meninas, para que possam vendê-las. O nome disso é injustiça! O papel
da Igreja é reunir-se ao redor do Senhor clamando pela justiça rápida que ele
prometeu. Injustiça social não pode ser combatida com cesta básica, pois é
uma consequência direta do pecado e um ataque do diabo. É claro que
precisamos nos mobilizar, fazer coisas práticas que revelem o caráter justo de
Deus. Mas devemos combater a injustiça nas regiões celestiais com
intercessão.
Justiça também está ligada a avivamento e derramamento do Espírito.
Existem milhares de pessoas, neste momento, envolvendo-se com o
movimento de justiça social desassociado do poder de Deus. Isso é um
equívoco que beira ao humanismo. Não vamos melhorar as pessoas; elas
precisam ter o coração transformado. Temos de ir e tocar os pobres, as
prostitutas sim. Porém, precisamos ganhá-los de joelhos.

3 – Preparação dos precursores


A sala de oração é como uma fornalha onde os precursores são forjados
e treinados para ser os mensageiros dos últimos dias. A palavra profética de
Malaquias se encerra com 400 anos de silêncio. Em Lucas 1, o cenário é o
seguinte: Zacarias estava cumprindo um turno de oração no templo. Havia
uma grande fome e expectativa pela palavra do Senhor. Quatrocentos anos
haviam-se passado, e Deus não falava mais na Terra. Esse homem estava
dedicando-se ao seu turno de forma disciplinada quando, de repente, a
Palavra de Deus veio falando sobre João Batista. Os precursores serão
formados num ambiente de oração regular, focada e sóbria. É dali que virá a
palavra que restaurará a Igreja.

4 – A batalha espiritual será centrada em Deus


Nós não ficaremos brigando com o diabo, mas nos voltaremos ao Pai,
para que ele resolva o problema com o diabo. Se olhar nas Escrituras as
orações de Paulo, verá que ele nunca se dirige a Satanás. Paulo ora ao Pai e
ao Filho Jesus, pedindo que o Pai faça aquilo que deve ser feito.
Outro paradigma é a passagem de Daniel 10. Deus revelou ao profeta
que estava acontecendo uma grande batalha espiritual descrita nos versos 12
e 13, em que um anjo estava indo levar-lhe uma revelação e, no meio do
caminho, foi impedido por uma espécie de principado.
O que Daniel fez? Começou a repreender o diabo e a fazer
mapeamento espiritual? O verso 2 afirma que, naqueles dias, Daniel chorou
por três semanas inteiras. O verso 12 diz que ele se dedicou e aplicou o
coração a compreender e a humilhar-se diante de Deus.
Ele não gastou um minuto de sua oração amarrando o diabo, pois
estava focado em conhecer a Deus e, ao concentrar toda a sua atenção nele, a
Bíblia diz que os céus liberaram um anjo forte, Miguel, que prendeu aquele
estava obstruindo o caminho da revelação. Se continuar lendo o capítulo,
você perceberá que, quando o principado foi derrotado, Daniel começou a
receber revelações profundas a respeito de como seriam os últimos dias.

5 – Cumprimento da Grande Comissão


Precisamos mudar, urgentemente, o conceito errôneo de que orar não é
algo prático. Orar é trabalhar em parceria com Deus. A Igreja é chamada para
assumir sua identidade de Casa de Oração para todas as raças (Is 56.6,7). O
testemunho das Escrituras e da história da igreja mostra que todo avanço
missionário e de evangelização foi fruto da entrega em oração fervorosa e
apaixonada.
Podemos citar aqui o exemplo da igreja primitiva: “Todos estes
perseveravam unânimes em oração” (At 1.14). O início da tão admirada
igreja de Atos foi pela oração unida e perseverante. A palavra “unânime”, em
grego, é homothumadon, que significa unidos no mesmo zelo. Jesus saiu de
cena fisicamente sem deixar nenhuma instrução de como deveria ser a igreja.
Aos discípulos, só restava orar, pois não sabiam o que fazer. Jesus havia dito
que ficassem em Jerusalém aguardando a descida do Espírito Santo (Lc
24.49). Eles obedeceram e se reuniram num único zelo. Isso significou orar
“até que” acontecesse algo.
Se eu tivesse o poder de mobilizar todas as igrejas do Brasil, e se
pudesse estabelecer uma ordem para elas, seria: “Parem tudo e orem!”;
apenas isso.
A atitude que eles tiveram em Atos 1.14 promoveu a conversão de três
mil almas. Qual foi a última vez que você viu uma comunidade nascer com
três mil pessoas? A oração coletiva direcionada, contínua e desesperada
tornou isso possível.
Tanto o derramar do Espírito como a conversão de três mil almas
foram frutos práticos da reunião de intercessão no aposento superior. Atos
2.42 diz que eles perseveravam nas orações. A devoção dedicada e constante
é parte da vida normal da igreja que deseja avançar de forma poderosa no
cumprimento da Grande Comissão.
Em Atos 4, os discípulos começam a ser perseguidos. Logo em
seguida, mais uma vez, unem-se em oração fervorosa, pedindo ousadia e
coragem para continuar pregando o Evangelho com poder e feitos
extraordinários (At 4.24-31). O movimento de oração de Atos 4 gera o
avanço missionário de Atos 8, quando os samaritanos recebem o Evangelho
com demonstração de poder por intermédio do evangelista Felipe.
Em Atos 10, temos o exemplo do irmão Cornélio. Sabia que você só
está aqui por causa dele? Eu nomeei esse acontecimento de “a primeira casa
de oração italiana da Bíblia”. Cornélio estava colocando em prática o Sermão
do Monte: doando, orando e jejuando. O versículo 4 diz que essa sua atitude
sobe como um memorial. Uma coisa é Deus marcar sua memória; outra é
você marcar a memória de Deus. As orações de Cornélio afetaram gerações
inteiras e abriram a porta da salvação para os gentios. Nós estamos aqui hoje
porque alguém orou. Orações tocam a eternidade, tocam gerações futuras.
Você e eu somos frutos da oração dos santos do passado que nem sequer
conhecemos.
Avançando mais um pouco, chegamos a Atos 13.1: “Havia na igreja
de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, simeão, por sobrenome Níger,
Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo”. Esses
profetas e mestres estavam oferecendo a Deus oração e jejum. Isso
impulsionou as viagens de Paulo e Barnabé. Desde então, começou um
avanço missionário sem precedentes: cidades inteiras foram sacudidas pelo
poder do Espírito, igrejas foram plantadas e pessoas, discipuladas. Tudo teve
início nesse lugar de ministrar ao Senhor.
Já em Atos 15, Tiago tomou a palavra e explicou o que estava
acontecendo. Os gentios estavam convertendo-se em massa sendo que, até
então, acreditava-se que essa fé era apenas para os judeus ou para aqueles que
cumprissem a Lei de Moisés e fossem circuncidados. Era um fenômeno
totalmente novo.
Lendo a Bíblia, a conversão dos gentios parece algo comum e
corriqueiro, mas imagine na cabeça dos primeiros apóstolos judeus, dos
sacerdotes fariseus que se tinham convertido. Os gregos estavam unindo-se à
mesma fé e servindo ao mesmo Deus. Tudo parecia uma bagunça. Foi nesse
contexto que Tiago se pronunciou:
Depois que eles terminaram, falou Tiago, dizendo: Irmãos, atentai nas
minhas palavras: expôs Simão como Deus, primeiramente visitou os
gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu nome.
Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito:
Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de
Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os
demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os
quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas
conhecidas desde séculos (Atos 15.13-18).
Ele usou a profecia de Amós, dizendo que as missões e o alcance das
almas eram fruto do ministério sacerdotal de Melquisedeque. Davi era rei e
sacerdote, e o tabernáculo de Davi era a melhor figura para descrever o papel
de Melquisedeque no Velho Testamento. Naquele momento, esse era o
cenário, pois a igreja era sacerdotal e estava ministrando ao Senhor em
oração e intercessão, abalando o mundo e discipulando as nações.
O movimento de oração dos últimos dias é missionário, a Casa de Deus
é uma casa de oração para as nações. Atualmente, pessoas estão convertendo-
se no Irã graças às orações dos santos. Os iranianos estão recebendo
visitações de Jesus e sonhando com Cristo sem ter contato com nenhum
evangelista. A oração move os anjos, e eles são enviados a lugares remotos.
Depois de ter essas experiências com Cristo, os muçulmanos procuram as
igrejas e os cristãos para pedir explicações.
Eu gosto da frase do Lou Engle que diz que “a história pertence aos
intercessores”. As nações estão sendo tocadas pelas orações dos santos.
Jesus nos orienta a rogarmos ao Senhor da seara para que ele envie
trabalhadores. A palavra “enviar” vem do grego ekbalo, que significa “ser
chutado”, lançado como uma bala de canhão. Se vamos cumprir a Grande
Comissão como missionários, precisamos ser empoderados da unção e da
graça do Espírito, pois discipular as nações não é apenas ensinar a Bíblia ou
um dialeto evangélico. É levar cada indivíduo a viver como Jesus viveu. É
por isso que ele está nos convocando a dedicar-nos à nossa identidade de ser
uma Casa de Oração para todos os povos.

COMO SERÁ ESSE MOVIMENTO DE ORAÇÃO


1 – Será um movimento global
Durante toda a História, Deus levantou focos de oração. Os morávios
são um exemplo disso. Na época, não existia praticamente ninguém orando
como eles.
Em outros períodos, também aconteceu isso. Na França, um monge
chamado Bernardo de Claraval estabeleceu 300 anos de oração dia e noite
baseado em entoar o canto antifonal do livro de Cantares. Mais tarde, ele
fundou mosteiros em toda a Europa, onde se dedicaram à oração ininterrupta.
Mas isso era apenas num lugar isolado.
Creio que o que acontecerá nos últimos dias está conectado a um
movimento global. Ao mesmo tempo, em todas as nações, pessoas se
dedicarão de forma consistente e sóbria à oração.
Uma passagem que fala sobre isso é o Salmo 96.1:
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, todas as terras.
Também Isaías 42.10 e 13 diz:
Cantai ao Senhor um cântico novo e o seu louvor até as extremidades
da terra, vós, os que navegais pelo mar e tudo quanto há nele, vós,
terras do mar e seus moradores [...] O Senhor sairá como valente,
despertará o seu zelo como homem de guerra; clamará, lançará forte
grito de guerra e mostrará sua força contra os seus inimigos.
Em lugares de difícil acesso, as pessoas vão cantar um novo cântico ao
Senhor. No Tibete, onde vivem os monges budistas, o povo do Senhor estará
ministrando uma nova canção a ele. Isso já está acontecendo hoje e ficará
cada vez mais intenso no decorrer do tempo à medida que entendemos a
nossa identidade como Casa de Oração.

2 – Será um movimento musical


Ainda citando Isaías 42.10 e 13, vemos que ele está chamando as
nações da Terra a emitir um cântico novo. A expressão “cântico novo”
aparece nove vezes na Bíblia e, em todas elas, está relacionada à segunda
vinda de Jesus. Ou seja, todas as nações da Terra se unirão numa única
música que fala sobre o retorno do nosso Senhor. O versículo 13 revela qual é
o conteúdo do cântico: “O Senhor sairá como valente, despertará o seu zelo
como homem de guerra e mostrará sua força contra seus inimigos.” Ele está
voltando como um guerreiro para despertar o zelo do seu povo e julgar as
nações.
Quando leio esse versículo, fico imaginando as cenas do filme Coração
Valente, e William Wallace passando em frente aos guerreiros escoceses que
nem sequer tinham um armamento apropriado. Usavam enxadas e material de
agricultura, mas, mesmo assim, aquele homem incentivava o exército
pequeno e fraco de camponeses contra uma multidão de ingleses. Essa é a
imagem que me vem à mente. O Senhor está voltando, não mais como um
cordeiro. Ele está vindo como um leão para julgar as nações da Terra. Essa
canção encherá os céus de cada cidade, de cada bairro e de cada pedacinho
deste mundo. Vamos puxar os céus para a terra, dizendo: “Vem, zeloso
guerreiro!”.
Esse movimento será musical porque a música torna a oração
agradável. Não estou falando de um “Louvorzão”, mas sim de músicos que
irão profetizar com a música. Precisamos restaurar a posição correta da
música na casa de Deus, pois, durante muito tempo, ela foi apenas um
entretenimento precedendo “a parte mais importante do culto”: a palavra.
Os músicos precisam ser teólogos, e creio que Deus está levantando
teólogos músicos que cantarão a Bíblia. Você ouve mil pregações e as
esquece. Porém, quando ouve uma música, ela marca sua mente. Imagine
músicos cheios das Escrituras e da meditação na Palavra cantando canções
que falem a respeito da segunda vinda, da beleza, do amor e da graça de
Deus, enchendo a Igreja da sã doutrina, como fazia Carlos Wesley e tantos
outros irmãos que escreveram hinos bíblicos.
Há uma carência, em nossos dias, de músicas que estejam pautadas nas
Escrituras. Quem é músico e cantor precisa exercer o ministério da palavra de
forma cantada. Foi isso o que o rei Davi fez quando, em 1 Crônicas 16.1,
levantou aquela tenda. Ele pagou do seu próprio bolso quatro mil músicos e
288 cantores do próprio tesouro do reino e ordenou que profetizassem com
harpa e lira. Os músicos eram videntes do Senhor. Hemã era vidente; Asafe
era profeta.
Eu sempre me perguntava o que significava profetizar com música.
Descobri que nada mais é do que perceber uma realidade eterna e traduzi-la
em melodia e harmonia. Existem melodias cantadas em reuniões que
incentivam a oração de guerra; outras que incentivam o pranto. Precisamos de
músicos que acessem a eternidade. Davi conseguiu ouvir a música que era
tocada diante do trono e, no tabernáculo de Davi, ordenou que os músicos
profetizassem aquilo que estavam vendo, que cantassem algo novo ao
Senhor.
Existe uma história no Talmude (livro de histórias judaicas) que conta
que Davi ficava na porta do palácio e, quando os músicos começavam a
cantar uma canção antiga, ele descia e dizia: “Cantem um cântico novo ao seu
Deus, pois essa música já está velha”. Profecia não é somente predizer o
futuro, mas também entrar nas regiões celestiais e ver a realidade sob a
perspectiva de Deus.
Em Apocalipse 4.1, o Senhor diz: “Sobe para aqui, e te mostrarei o
que deve acontecer depois destas coisas”. Deus estava convidando João a
enxergar com seus olhos. João viu o Dia do Senhor como se fosse acontecer
na manhã seguinte. Ele entrou na realidade de Deus e começou a escrever
todas as profecias do livro de Apocalipse. Eu acredito, com toda a minha
força, que Deus está levantando tangedores que vão subir pela porta, ver
aquilo que o Senhor está comunicando, traduzir a mensagem divina em
melodia e canções e profetizar.
O convite do Senhor é que a oração se torne agradável; por isso ele diz:
“Os levarei ao meu Monte e os alegrarei na Minha Casa de Oração”.
Quantas pessoas você conhece que, ao ser chamadas para uma reunião de
oração, ficam felizes e contentes? Somos tomados por uma depressão na
certeza de que ficaremos entediados. Existem, de fato, muitas reuniões de
oração chatas. Mas há a promessa de que, conforme a volta de Jesus se
aproxima, ele tornará a oração agradável. Precisamos aprender a cantar a
Palavra nas nossas reuniões.
Em São Gonçalo, temos reunião toda quinta-feira com músicos
intercessores. Adotamos um modelo chamado “harpa e taça”, que consiste
em cantar a Bíblia de forma antifonal. Todas as nossas orações são baseadas
nas orações apostólicas e nos decretos proféticos. Se vamos orar pelo Rio de
Janeiro, por exemplo, usamos Efésios 1.17: “Pai, abre os olhos do coração e
derrama espírito de sabedoria e revelação no pleno conhecimento sobre a
Igreja no Rio de Janeiro”. Em algum momento, eu isolo uma palavra dessa
oração e os músicos começam a cantar de forma espontânea aquilo que
acabei de orar, até que o líder de intercessão levante outro tópico de oração e
continue no mesmo formato. Essa dinâmica culmina em aproximadamente
duas horas de oração toda quinta-feira. Meu sonho e meu alvo é ter esse tipo
de reunião todos os dias. Estamos praticando isso.

3 – Será um movimento regular e perseverante


Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas, que todo o dia e toda a
noite jamais se calarão; vós, os que fareis lembrado o Senhor, não
descanseis, nem deis a ele descanso até que restabeleça Jerusalém e a
ponha por objeto de louvor na terra. (Isaías 62.6,7)
Hoje, Jerusalém tem sido objeto de louvor? O primeiro versículo do
mesmo capítulo de Isaías diz que Jerusalém brilhará como uma tocha de
justiça. A palavra “justiça”, nesse contexto, é tsdek, que significa posição
correta. Ele colocará Jerusalém na posição correta, e as nações da Terra verão
o seu brilho. E isso tem a ver com saber desenvolver o nosso chamado para a
oração, pois nos dedicaremos a ela até que Jerusalém seja um objeto de
louvor.
Existem muitos lugares que oram dia e noite literalmente falando.
Porém, o que entendo por “dia e noite” está mais relacionado a uma prática
regular e consistente. Alguns lugares não oram 24 horas por dia, mas têm
oração todos os dias.
Isso pode parecer muito bonito e legal, mas não é romântico. Às
quintas-feiras, quando vou dirigir o turno de intercessão, acontece algo muito
ruim na maioria das vezes. Apesar disso, preciso ser fiel em estar ali toda
semana, mesmo quando não quero. Pense que, num movimento regular de
oração, seja ele 24 horas ou não, vão existir dias em que você poderá discutir
com seu cônjuge ou acordar com dor de cabeça e não conseguir ligar para a
igreja para avisar que não comparecerá, porque não está se sentindo feliz
naquele dia. Esse é um chamado de Ana, para ficar todos os dias no templo,
dia e noite, em jejum e oração esperando pelo Messias.
Um movimento de oração contínuo e perseverante exige de nós
esforço, dedicação e disciplina. Nossos olhos precisam estar focados no alvo:
que Jerusalém seja um objeto de louvor. Lemos em Lucas 18.7,8:
Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a Ele clamam dia e
noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que,
depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem,
achará, porventura, fé na terra?
A palavra intercessão, no hebraico, significa “provocar Deus”.
Intercessores são pessoas que provocam a Deus com as promessas que ele
fez: “Pai, eu te provoco, porque o Senhor prometeu. É a tua Palavra, e o
Senhor não mente. E eu te provoco dia e noite por causa de toda a injustiça
que está acontecendo na Terra”. Interceder é lembrar Deus de suas
promessas. Certamente, ele não se esquece do que prometeu, mas espera uma
ação vinda da Terra.
As Escrituras dizem que o Espírito e a Noiva dizem: “Vem!”. O
Espírito Santo é naturalmente um intercessor, mas a Igreja não é. Ela deveria
ser, pois faz parte do seu trabalho de parceria com o Espírito. Ele sopra em
nós a vontade de Deus, já que não sabemos orar como convém. Mas é preciso
que haja uma resposta da Igreja, unindo-se ao mesmo clamor do Espírito e
dizendo: “Vem, Jesus!”.
Esse movimento de oração tem a ver com saudade. Você sente falta de
um lugar onde nunca esteve? Quando ele diz que colocou a eternidade dentro
de nós, podemos deduzir que a fome e o vazio que sentimos não têm início
nem fim. Ora, vem, Senhor Jesus!
Precisamos ser libertos da ideia de que, se Jesus voltar, atrapalhará
nossa carreira e os nossos planos de casar e ter filhos. Pelo contrário, seremos
tomados por um clamor intenso, que envolverá toda a nossa rotina e
consumirá totalmente os nossos pensamentos. Então, nos uniremos ao
Espírito Santo para estabelecer em toda a Terra essa oração focada, precisa e
contínua.
5
Dicas Práticas para Uma Vida de
Oração

Deus está levantando uma companhia de precursores. Precisamos agir de


forma responsável com a mensagem que o Senhor está comunicando e
submeter-nos à palavra que ele tem liberado para a nossa vida.
Há dez anos, o irmão Mike Shea foi usado para proclamar a todo o
Brasil que Deus estava preparando uma geração de João Batista, uma geração
de nazireus. Mas me parece que, de alguma forma, essa palavra não foi
tratada com muita seriedade. Nós pulamos, cantamos as canções, compramos
os CDs, vestimos as camisetas de conferência, mas poucos se dispuseram a ir
para o deserto.
Alguns historiadores dizem que, quando João Batista recebeu a palavra
profética sobre sua vida, passou entre 18 e 20 anos no deserto sendo forjado
por Deus até que se manifestasse a Israel como a voz profética. Portanto,
ouvir mensagens sobre sermos a geração precursora não nos transformará
nisso automaticamente. O exemplo de João Batista estabelece um princípio
que podemos seguir: ele recebeu a palavra profética e foi ao deserto.
O que é ir para o deserto hoje? É achar um espaço na sua vida no qual
não existe mais nada além de Deus. O que tem no deserto além de terra,
pedra, calor e Deus? Em Oseias 2.14, o Senhor atrai a sua Noiva para o
deserto e, ali, fala ao seu coração. E ele está fazendo isso de propósito, pois
sabe bem que ela tem uma inclinação muito grande a procurar outros amores.
Deus está conduzindo a Igreja para um lugar onde só exista ele. Lá, ele
reconquistará o nosso coração.
Em Lucas 1.80, lemos que João Batista crescia em espírito no deserto.
É para esse estilo de vida que o Senhor está nos convidando: desenvolver a
nossa vida no espírito.
Por que é importante ter uma vida de oração pessoal e diária?

- Porque a sua devoção vai cooperar com a formação da casa de Deus.


Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens,
mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como
pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes
sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1 Pedro 2.4,5)
A primeira lição que podemos extrair desse texto é que, para ser
sacerdote, é necessário achegar-se a ele. O pré-requisito para um ministério
sacerdotal é ter intimidade e devoção com o Senhor.
Essa passagem aponta para dois tipos de funcionamentos: o coletivo e
o individual. Ela também fala a respeito de uma casa espiritual
(representando o coletivo) que é edificada à medida que cada pedra se achega
à pedra viva principal que é Jesus. Isso significa que a nossa vida individual
de oração compromete o coletivo. Na igreja, a maioria das pessoas passa a
semana inteira como se Deus não existisse e, no domingo à noite, transfere ao
ministro de louvor o encargo de conduzi-las ao santo dos santos. Se não
desenvolvermos esse hábito de aproximar-nos dele individualmente,
comprometeremos o grupo todo.
Temos um costume muito estranho de fazer avaliações sob uma
perspectiva geral e dizer: “A igreja não é gloriosa, não é santa, não é isso ou
aquilo”. E a culpa sempre cai na conta do coletivo. Mas se o coletivo está
ruim é porque o individual também está. Precisamos começar a assumir
nossas responsabilidades.
A importância de uma vida de oração individual e diária é que ela
contribui para a formação da casa de Deus. O termo que Pedro usa para casa
espiritual é “casa pneumática”, que quer dizer uma casa guiada pelo Espírito
Santo por meio do funcionamento sacerdotal de cada pedra conectada uma à
outra. A sua devoção particular coopera com o avanço do plano de Deus
coletivo na Terra.
Efésios 2.21,22 diz: “no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce
para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais
sendo edificados para habitação de Deus no Espírito”. A sua edificação
espiritual vai colaborar para a construção de uma casa, para que o Senhor
possa habitar em nosso meio.

- É um mandamento que nos leva à maturidade.


Em Mateus 6.6, está escrito: “Tu, porém, quando orares, entra no teu
quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai,
que vê em secreto, te recompensará”.
Jesus usa a expressão “quando orar”, o que passa a ideia de que todo
discípulo teria uma vida de oração. A passagem está inserida no Sermão do
Monte e, no capítulo 7, ele diz que quem edificasse sua vida na obediência
àquele mandamento estaria construindo uma vida espiritual robusta, sobre
uma rocha. Assim, mesmo diante de provações e tempestades, o indivíduo
não seria abalado.
Nesse texto, Jesus ensina como orar, e sua ênfase é maior na
recompensa do que na resposta da oração em si. A palavra “recompensa”
pode ser traduzida por “galardão”. A vida de oração está associada à
maturidade, pois galardão também está.
Em Filipenses 3.14, Paulo diz: “prossigo para o alvo, para o prêmio
da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Ele afirma que não chegou
ao fim e que ainda está correndo a carreira porque já vê um galardão, um
prêmio.
A carta aos Filipenses talvez seja a última carta de Paulo. Ele estava na
prisão por causa do Evangelho. Logo, podemos concluir que, no final da
carreira, o apóstolo não tinha obtido o que buscava. Quando li esse texto,
senti-me muito condenado; afinal, ele não estava saciado mesmo depois de
tudo o que havia feito. Na mente dos apóstolos, herança era algo relacionado
à maturidade. É muito diferente da nossa cultura, em que as pessoas recebem
heranças materiais dos pais mesmo sem saber usá-las.
Jesus está dizendo que a vida de oração no lugar secreto é o que fará
com que você receba a recompensa. Ele não está se referindo apenas a um
quarto físico. É muito comum estarmos num aposento sozinhos e lá não ser
um lugar secreto. Ele está falando de um lugar para duas pessoas.
Algumas vezes, estou no quarto com minha esposa, mas toda a
congregação “está na cama” conosco, pois estamos pensando nos problemas
da igreja num ambiente onde deveríamos nos dedicar um ao outro com aquilo
que só podemos fazer ali e que ninguém mais vai saber. Conversas que só
teremos em intimidade. Nem sempre um quarto vazio é um lugar secreto.
Jesus está fazendo uma comparação com o santo dos santos. Ele usa a
palavra “lugar secreto”, usada também no Salmo 91.1: “Aquele que habita no
lugar secreto, à sombra do Onipotente descansará”. Cristo está discorrendo
sobre um estilo de vida de oração no espírito, a parte mais íntima do homem,
sobre uma vida de oração que não depende das suas emoções, nem do seu
corpo. Depende da fé que você tem no espírito. Trata-se de um
desenvolvimento espiritual, não simplesmente de encontrar uma vida
devocional. Muitas pessoas adotam a prática do devocional, separam um
tempo para ficar sozinhas, mas não encontram Deus. Esse não é o lugar
secreto.
Pode ser que encontremos tudo, inclusive o falso eu, que, em boas
palavras, é a pessoa que quer mostrar espiritualidade para Deus. Sabe aquele
homem que está doido para bater na esposa e, então, com muita raiva no
coração, vai orar e até muda a voz para dizer: “Senhor, eis-me aqui, envia-me
às nações”? Esse é o falso ‘eu’ sendo apresentado a Deus. Aprendi com o
irmão Brennan Manning que Deus não ouve a oração do falso ‘eu’.
Se olharmos para a vida de oração de Davi, perceberemos que ele
apresenta a Deus seu verdadeiro ‘eu’. Ele expõe sua alma, muitas vezes,
angustiada pelos problemas e pelas perseguições. Por isso que Davi foi
considerado um homem segundo o coração de Deus. Se queremos encontrar
o Pai no lugar secreto, temos de entender que ele deseja ouvir o nosso espírito
do jeito como se encontra: em sinceridade. Ali, o Pai verá a realidade e nos
conduzirá à maturidade.
Podemos, inclusive, chegar ao lugar secreto numa reunião coletiva,
criando um ambiente sem distrações e com foco, onde os corações estejam
unidos como o de um só homem na expectativa de que o Senhor nos toque.
Ali Deus vai encontrar-se com seu povo.

- Porque Deus não faz nada na Terra a não ser por meio da comunhão
com o seu povo.
Tem uma questão que sempre me deixava em crise: se Deus tem uma
vontade, por que ele não a realiza logo? Você acha que é a vontade de Deus
restaurar a igreja? Se o Senhor é soberano e esse é o seu desejo, por que ele
não a restaura? Porque existe um princípio de que Deus é pessoal. Nós somos
impessoais; Deus não é. Suponhamos que Deus aparecesse para mim durante
a noite e fizesse uma proposta: “Michael, vou dar-lhe a oportunidade de
acabar com todo pecado da humanidade, e você tem o direito de escolher o
método para que isso aconteça”. Sabe qual eu usaria? Um botão que, ao ser
apertado, desse fim a todo pecado. Percebe a impessoalidade? Queremos
solucionar os problemas sem nos envolver com eles.
Quando Deus quis resolver o pecado, ele veio pessoalmente. Deixou a
sua esfera de santidade perfeita, sem pecado, sem dor, sem miséria e habitou
no meio de uma cultura ímpia.
Temos uma capacidade incrível de nos relacionar com o que é
“espiritual” de forma impessoal. Conseguimos ler a Bíblia e não encontrar
Deus. Ele mesmo disse: “vocês vão às Escrituras tentando achar poder e
vida eterna, mas não vêm a mim?” (Jo 5.39). Jesus, a palavra encarnada,
estava ali em forma de homem e, embora lessem a Lei, não conseguiam tocar
o verbo vivo de Deus, que era Jesus. Lemos a Bíblia como um livro de
receita, de forma impessoal.
Somos ensinados a instruir nossos filhos no caminho em que devem
andar (Pv 22.6). Então, um de nossos filhos cresce, torna-se um traficante e
ficamos ofendidos com Deus. Afinal, lemos a Bíblia! O que ela disse deve
acontecer. Só tem um problema: não encontramos o Deus que escreveu o
versículo. Para obedecer, precisamos ouvir a voz de Deus, ter contato com
quem escreveu e inspirou cada parte da Bíblia. É por isso que o Pai precisa
comunicar os seus planos, pois ele nada fará na Terra sem que isso aconteça.
Em Amós 3.7, lemos que “o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem
primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas”. Vocês, por
acaso, contam seus segredos ao padeiro a menos que ele seja um amigo
íntimo? Da mesma forma, Deus conta seus segredos a quem é seu amigo.
Funciona mais ou menos assim: Deus tem uma vontade, e você precisa
descobri-la. Em seguida, você ora a vontade dele e, só então, ele a realiza.
Por quê? Porque Deus decidiu assim. Isso é um escândalo para o homem.
Deus faz tudo em parceria com você, um mero mortal, cheio de pecado.

Como desenvolver uma vida sólida de oração?


É Deus que acende o fogo do altar.
Depois, Arão levantou as mãos para o povo e o abençoou; e desceu,
havendo feito a oferta pelo pecado, e o holocausto, e a oferta pacífica.
Então, entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; e, saindo,
abençoaram o povo; e a glória do Senhor apareceu a todo o povo. E
eis que, saindo fogo de diante do Senhor, consumiu o holocausto e a
gordura sobre o altar; o que vendo o povo, jubilou e prostrou-se sobre
o rosto. (Levítico 9.22-24)
Um ponto essencial é que nós não temos poder de produzir fogo. Essa
função pertence a Deus. Cabe aos sacerdotes apenas a responsabilidade de
seguir as ordens dadas por Deus a fim de que a chama permaneça acesa sobre
o altar. Quando Nadabe e Abiú ofereceram fogo estranho, foram consumidos,
porque estavam oferecendo um fogo que não tinha sido produzido por Deus.
Em Levítico 6.9, 12, está escrito:
Dá ordem a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei do holocausto: o
holocausto ficará na lareira do altar toda a noite até pela manhã, e
nela se manterá aceso o fogo do altar [...] O fogo, pois, sempre arderá
sobre o altar; não se apagará; mas o sacerdote acenderá lenha nele
cada manhã, e sobre ele porá em ordem o holocausto, e sobre ele
queimará a gordura das ofertas pacíficas.
Deus nos dá o fogo do Espírito e a graça da salvação. Ao nascer de
novo, você recebe uma fome que é plantada em seu coração. Eclesiastes 3.11,
chama isso de eternidade. Em João 17.3, Jesus diz que a vida eterna consiste
em conhecer Deus. Então, a fome de conhecer a Deus é plantada no interior
de todo homem, cristão ou não, mas é ativada quando ele nasce de novo. O
nosso trabalho para desenvolver a vida de oração é responder a essa fome. É
nossa responsabilidade nutrir a vida de Deus em nós.
A graça não é algo estático. Declara 2 Pedro 3.18: “Antes, crescei na
graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.
Significa que podemos crescer na graça. Geralmente, associamos graça a
perdão. Essa associação também está correta. Mas o que significa graça?
Receber poder de Deus para fazer aquilo que não conseguimos. À medida
que posicionamos o coração diante do Senhor, ele é expandido em graça, e
vamos sendo capacitados pelo próprio Deus a realizar o que, humanamente,
não teríamos condições de fazer — como, por exemplo, ser santo.
O nosso Mestre cresceu, e nós também podemos crescer. Algumas
pessoas acham que, quando criança, Jesus ficava quebrando a cabeça dos
passarinhos e curando-os. Isso não é verdade. A passagem de Lucas 2.52 diz
que Jesus cresceu em graça diante de Deus e dos homens. Podemos traduzir a
palavra “graça” como favor. Só podemos encontrar favor, segundo a Bíblia,
diante da face de Deus.
Eu gosto da palavra “crescer”, que, no original, é procopto e pode ser
ilustrada por um ferreiro que bate com um martelo no ferro quente, para que
seja esticado. Quantos querem ser martelados pelo Senhor? Há fogo diante da
face de Deus, e o fogo tem o poder de nos deixar maleáveis. Mas, para
crescer na graça, você precisa dedicar-se a ela.
A resposta que damos à graça de Deus é chamada pelos mestres da
vida de devocional de disciplina. Precisamos entender que o esforço não se
opõe à graça. Para desenvolver uma vida de oração, é preciso esforçar-se. E
Deus não é contra o esforço; ele é contra o merecimento. Se achamos que
somos dignos porque oramos, estamos errados; o motivo de orarmos é que
alguém morreu na cruz por nós e abriu o caminho.
O merecimento é errado, mas o esforço é necessário. Não vamos
acordar radiantes amanhã de manhã com um desejo intenso de orar. Vamos
precisar esforçar-nos até mesmo para acordar, e Deus ama isso.
A palavra “disciplina” vem de “discípulo”. “Basta ao seu discípulo ser
como o seu mestre e seu servo como o seu senhor” (Mt 10.24). Não existe
discípulo que não seja disciplinado. Há um custo, um empenho, uma entrega,
uma dedicação, e somos nós que escolhemos isso, não Deus.
Jesus foi o maior exemplo de disciplina. A Bíblia o chama de filho do
homem, que também pode ser filho de Adão. Ele veio como humano para
mostrar como praticar uma vida de oração.
Em Mateus 14.13, vemos que Jesus tinha a disciplina de ficar sozinho:
“Assim que Jesus ouviu essas coisas, retirou-se de barco, em particular,
para um lugar deserto”.
Em Lucas 6.12,13, antes de escolher os doze apóstolos, Jesus passou a
noite inteira orando. Qual foi a última vez que você passou a noite em oração
porque precisava tomar uma decisão importante?
Em Marcos 1.32, Jesus passou o dia todo curando enfermos e
expulsando demônios e libertou uma cidade inteira. O texto diz que, depois
de ter feito tudo isso, levantou-se de manhã cedo, ainda escuro, e procurou
um lugar para orar.
Muitas pessoas pensam que Jesus vivia à toa e não trabalhava. Eu já
passei por experiências de expulsar demônio das pessoas e sei o quanto cansa
fisicamente. Na sua cidade, existem endemoninhados? Imagine libertar todos
eles e, no dia seguinte bem cedo, acordar para orar e perguntar: “Pai, qual é a
sua programação para hoje?”.
Você pode dizer que não tem tempo, mas posso afirmar sem receio:
ninguém tem falta de tempo, o que existe é falta de prioridade. Quando achar
algo que valorize, você encontrará tempo. Os nossos valores estão naquilo em
que investimos mais dinheiro, tempo e esforço. Quer que eu fale quem você
é? Diga-me a que você dedica o seu tempo, em que gasta seu dinheiro e onde
está empreendendo esforço físico. Jesus disse que, onde estivesse nosso
tesouro, ali também estaria nosso coração (Lc 12.31).
Lembro que minha época mais frutífera em oração foi quando eu
trabalhava num escritório de contabilidade. Meu único tempo era ao levantar-
me, às 5 horas da manhã. Somos muito mais disciplinados na correria do que
quando estamos de férias. Parece que, quanto mais tempo sobra, menor é a
disciplina. Enchemos nossa vida de muitas coisas, menos do que é mais
importante.
O que é uma disciplina espiritual? É esforçar-se para fazer o que você
pode a fim de receber poder para realizar o que não pode. Quantos de nós têm
facilidade de amar os inimigos? Não temos capacidade para isso. Contudo,
podemos separar 30 minutos do nosso dia para orar e posicionar o nosso
coração diante daquele que pode dar-nos graça para amar os inimigos.
Disciplina não é apenas restrição, é caminhar para a liberdade. Pense
num ginasta que dedica anos de sua vida disciplinadamente a realizar um
treinamento. Quando assistimos à sua apresentação nas Olimpíadas, temos a
impressão de que seus movimentos são fáceis de executar, como se nós
mesmos pudéssemos realizá-los, de tão graciosos que são.
João Batista gastou 20 anos no deserto para ministrar publicamente por
apenas seis meses. Nós queremos ministrar 20 anos e ficar seis meses no
deserto. Somos precoces, “banda larga”, micro-ondas e queremos tudo muito
rápido.

Existem três fatores que nos impedem de começar uma disciplina. Vou
listá-los a seguir.
1 – Condenação
Muitos de nós já nos comprometemos a orar e oramos um dia, dois,
três, mas logo abandonamos o lugar da oração e nunca mais voltamos por
vergonha de Deus. Ou até mesmo uma discussão com alguém nos afasta da
intimidade com o Pai, porque não fomos tão “bonzinhos”. A questão é que o
que nos qualifica a entrar na presença de Deus não é se fazemos tudo certo. O
que nos qualifica é o sangue de Jesus. Hebreus 10.19 diz que devemos entrar
com coragem e ousadia no santo dos santos.
Quando Deus olha para a sua vida, ele vê o sangue do seu Filho. Sendo
assim, quando você cair, levante-se e ande. Se falhou um dia, comece
novamente no outro. Deus não olha para nós como pessoas rebeldes, mas
como filhos imaturos. Quando meu filho Benjamin cai, não arranco as suas
pernas; muito pelo contrário, eu o ajudo a levantar-se, pois está aprendendo a
andar. Com o Aba também é assim. Ele não nos enxerga como hipócritas que
não oram, mas como filhos amados. Mesmo que você nunca mais leia a sua
Bíblia nem ore, Deus continuará o amando.
A oração não é para fazer com seja aceito, pois você já o foi. E Deus o
ama tanto que deseja dar mais do seu coração.

2 – Emocionalismo
Preciso compartilhar que, 90% das vezes em que vou orar, não sinto
nada. Tem pessoas que leem a Bíblia e pensam que ela é como novela: os
eventos do capítulo seguinte se passam no mesmo dia do anterior.
Daniel foi para a Babilônia com aproximadamente 12 anos de idade,
mas só recebeu visitações angelicais aos 84 anos. A prática de Daniel era
estar três vezes ao dia de frente para Jerusalém, orando.
A Bíblia diz para termos fé, pois Deus é galardoador daqueles que o
buscam. Sem fé, é impossível lhe agradar. As emoções não são erradas na
nossa devoção, elas são muito importantes, mas depender delas para
desenvolver uma vida espiritual é estar fadado ao fracasso.

3 – Comparação espiritual
Quantos já leram o livro “Bom dia, Espírito Santo” e, ao acordar na
manhã seguinte, disseram “Bom dia, Espírito Santo” e não sentiram passar
nem uma pena de anjo ao seu lado? Tentamos reproduzir em um dia
experiências de pessoas que levaram anos da vida buscando o Senhor.
Quando li a biografia de John Wesley, fiquei deprimido. Ele tinha o
hábito de dormir às 20 horas. Há uma história em que, certo dia, ele chegou à
sua casa às 20h05. Estando ainda na escada, dormiu ali mesmo tamanha era
sua disciplina. Não podemos olhar para o que John Wesley viveu em 30 anos
de estrada e tentar vivê-lo amanhã de manhã, pois será depressivo e
frustrante. E quem sabe Deus nem queira que você tenha a mesma
experiência. Talvez, ele tenha algo novo, diferente e pessoal para você.
O resultado de observar a vida espiritual de alguém mais maduro e
tentar imitá-la no dia seguinte, muitas vezes, é a frustração por fracassar.
Conheci um irmão que orava durante doze horas, todos os dias. Na segunda-
feira, após ouvir seu testemunho, fui tentar pôr em prática sua disciplina. Orei
durante 15 minutos, mas parecia que já estava há seis dias no quarto. Pensei:
“Deus, como será que ele consegue?”. Talvez, porque esteja fazendo isso
desde 1967. Não procure executar num único dia o que alguém conquistou ao
longo de muitos anos de dedicação, empenho e disciplina. Comece pequeno,
mas seja fiel.
A vida devocional é um exercício. Em 1 Timóteo 4.7, Paulo disse para
nos exercitarmos na piedade. Ele usa uma palavra no grego, gumnasia, que
significa “treine pequenos percursos para correr uma maratona”. Em outras
palavras, Paulo está querendo dizer que, se você deseja ser como Jesus, é
melhor que faça todos os dias pelo menos 15 minutos de devoção, até que
ganhe condicionamento espiritual para fazer mais tempo.
Comece pequeno e humilde. Separe alguns minutos todos os dias e seja
fiel a esse tempo. Desligue-se de tudo e fique apenas com o Senhor. Antes de
correr com Deus, caminhe com ele. A Bíblia usa a palavra “correr” e a
relaciona a vocação. As pessoas desejam saber se são missionários, profetas
ou apóstolos para correr a carreira vocacional sem mal conseguir andar ainda
e praticar o básico. Antes de correr a maratona, comece a treinar na
caminhada.
Um exemplo bíblico relacionado a esse assunto é o de Maria de
Betânia. Em João 12, lemos que ela derramou um perfume sobre Jesus.
Aquele ato foi tão extravagante que Mateus 26.13 declara que ela seria
lembrada em todos os lugares onde o testemunho fosse contado. Maria
marcou a memória de Deus, e ele testemunha sobre ela. Uma coisa é você
testemunhar sobre o Senhor; outra bem diferente é ele testemunhar sobre
você. Essa mulher rompeu com muitos paradigmas, como, por exemplo, a
cultura machista, pois uma mulher não poderia estar na sala quando os
homens estivessem reunidos.
Precisamos ler a Bíblia de forma literal. Ela juntou um ano de salário;
em torno de sete mil reais se fosse um salário mínimo. Pense num perfume de
sete mil reais derramado. Maria usou o cabelo, a parte do corpo com a qual a
mulher mais gasta dinheiro hoje. Só tem um detalhe: não havia asfalto nem
tênis em Jerusalém. Os pés de Jesus deviam estar bem sujos e malcheirosos.
Mesmo assim, ela usou o cabelo para honrá-lo.
Esse movimento de adoração é extravagante e marca o Senhor. Mas
você sabe onde começa essa extravagância? A resposta está em Lucas 10.48:
Maria estava sentada aos pés de Jesus e ouvia a sua palavra. No original,
“palavra” significa “uma palavra que produz instrução”. O texto diz que ela
escolheu fazer uma coisa. O convite do Senhor hoje é: sente-se aos pés dele,
mesmo que seja por pouco tempo.

Passos práticos para uma vida de devoção

1 – A quem oramos?
Quando Jesus foi ensinar sobre oração em Lucas 11, os discípulos já
estavam exercendo o ministério, mas ainda não sabiam orar. E pediram:
“Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos”
(Lc 11.1). Provavelmente, eles olharam o resultado do ministério de João e
ficaram admirados. As primeiras palavras de Jesus, ao ensinar sobre oração, é
“Pai nosso”. O Pai de Jesus é o seu Pai. As duas figuras que mais ferem a
sociedade, hoje, são pai e marido. As duas figuras que mais transmitem afeto
na Bíblia são Deus Pai e Deus Noivo.
Existem inúmeras pessoas que sofreram abuso da parte dos pais ou de
alguma figura paterna. Quando vão orar, começam a relacionar-se com Deus
sob a perspectiva da revelação terrena do pai que tiveram. Se o seu pai
sempre chegou atrasado, é normal pensar que Deus vai deixá-lo na mão. Se
ele sempre foi duro, grosso e agressivo, naturalmente enxergará Deus como
alguém disposto a puni-lo por ter falhado.
A nossa geração precisa entender que Deus nos ama como um pai.
Quem Deus Pai ama mais: Jesus ou você? Vamos conferir nas Escrituras.
Lemos em João 17.23,26:
...eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade,
para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como
também amaste a mim [...] Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o
farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e
eu neles esteja.
O Senhor nos ama na mesma proporção que ama Jesus. É um amor
furioso, violento, apaixonado. Cantares 8.6, fala que esse amor é como
chamas de fogo. É mais forte que a morte e inflexível à sepultura. Esse amor
é tão violento que, quando nos atinge, resiste à morte e ao sofrimento.
Por que os cristãos conseguiam ver seus filhos assassinados e não
negavam a fé? Porque o amor era mais forte do que a morte. O Pai de Jesus é
o seu Pai e ele o ama violentamente. Quando descobrimos isso, deixamos a
formalidade de lado. Oramos em nome de todos os profetas, menos daquele
que nos dá o Espírito que clama Aba Pai. A Bíblia diz que ele colocou um
Espírito que está gritando dentro de nós por paternidade.
A linguagem que usamos em nossas orações é estranha demais.
Tratamos nosso Pai por Vossa Excelência, como alguém distante. Idolatria
significa adorar ao longe, cultuar um deus impessoal que não se envolve com
suas dores. É muito importante saber a quem oramos.
Eu oro para que você receba revelação da paternidade de Deus, e para
que todo espírito de orfandade seja quebrado; para que você pare de procurar
em homens aquilo que somente seu Pai pode lhe dar. Oro para que o espírito
de adoção clame em seu interior pela paternidade do Aba. Eu o abençoo para
que, de agora em diante, você se comporte como um filho e não mais como
um bastardo.
Durante muito tempo, procurei Deus nos homens. Sempre quis ter um
pai. Um dia, ele me falou: “Pare com isso, Michael, eu sou seu Pai. Seja você
um pai para os outros. Muitos estão por aí esperando que você os adote”.
Ainda estou descobrindo essa faceta de Deus; não sei tudo sobre ele como
Pai. De vez em quando, sinto-me abandonado como um órfão, e ele vem,
dizendo que está comigo.

2 – Quando e onde orar


Se você não tiver uma agenda, dificilmente conseguirá orar. A oração
se tornou tão importante em minha vida que organizo toda a minha agenda
em torno dela. Por exemplo, eu deixo a roupa que vou usar no dia seguinte
separada e já tenho uma cadeira e um lugar arrumado para me encontrar com
Deus. Assim, não perco tempo decidindo ou ajeitando nada. Também tenho
um horário específico para orar todos os dias.
Muitos podem pensar que isso é religiosidade. Vamos a uma analogia
para explicar melhor: você quer se casar, conhece uma pessoa interessante e
diz a ela: “Gostaria tanto de conhecê-la mais... Mas a gente se esbarra por aí”.
É assim que acontece? Se fizer isso, provavelmente nunca vai se casar.
Semelhantemente, com Deus precisa ter hora e lugar, pois ele é uma pessoa.
Enfim, você precisa ter uma agenda e escolher o melhor horário. Para
mim, é pela manhã, para outros, durante a madrugada. Não importa, desde
que seja quando você estiver acordado. E não faça como um amigo que
estava com tanto sono que evangelizou a Deus. Muito sonolento, ele disse:
“Senhor, Jesus o ama, Deus!”.

3- Escolha uma posição confortável


Uma dica simples é escolher uma posição que não o deixe sonolento.
Eu, por exemplo, prefiro ficar sentado, pois se ajoelhar, acabarei dormindo.
Algumas pessoas andam enquanto oram. Quando estou com sono, também
faço isso. Já cheguei, inclusive, a orar com a cabeça embaixo da torneira de
água gelada para não dormir.

4- Separe um horário B
É bom pensar numa segunda opção de horário para quando a primeira
falhar. Pessoas com crianças pequenas, por exemplo, costumam não ter um
horário fixo para dormir ou passam por mudanças repentinas de rotina por
causa das necessidades do filho. Daí a importância de ter um horário B caso
não consiga acordar.

5- Forme um grupo de pessoas para prestação de contas devocional


Forme um grupo de, pelo menos, cinco pessoas. Combine com elas o
horário em que estarão orando para que, durante a semana, vocês se
monitorem e saibam se estão cumprindo o planejamento e como está sendo.
Costumamos colocar isso em prática com os irmãos de São Gonçalo, e tem
funcionado bastante.
Precisamos gerar uma cultura de oração. A palavra cultura vem de
cultivo da terra. Para você cultivar algo, precisa depositar atenção e cuidado.
Precisamos de outros irmãos para nos ajudar a gerar uma cultura de oração
em nosso meio.

6 - Faça uma lista de oração


Um ponto muito importante: muitas vezes, você já sabe que Deus é seu
Pai e que ele o ama. Você já separou um local para orar, mas, no momento da
oração, não sabe o que dizer, nem por onde começar, já que ele é uma pessoa
com quem raramente se encontra. Nesse momento, entra o que aprendi com o
irmão Mike Bickle; é que chamo de “lista de oração”.
Ter uma lista de oração é fundamental para nos direcionar na hora da
devoção. Vou ilustrar como seria essa lista.
As listas de oração são feitas a partir de tópicos a ser desenvolvidos
numa vida de devoção. Por exemplo, no tópico intimidade, escolho versículos
que falem sobre a questão.
Suponhamos que eu tenha escolhido a passagem de Êxodo 33.3. Então,
oro: “Pai, se eu achei graça aos teus olhos, peço que me mostres teus
caminhos para que eu continue te conhecendo”.
O que eu fiz aqui foi parafrasear o versículo. Simples, não é? Existem
pessoas que nunca tinham orado por meia-hora e, após se organizarem
fazendo suas próprias listas, passaram a gastar mais tempo em oração.
Não se sinta obrigado a ficar preso à lista. Se, em determinados dias, o
Espírito direcioná-lo a fazer algo diferente, obedeça. O que acontece é que
nem sempre estamos inspirados; por isso oramos a Palavra.

Meditação
Acredito que podemos ler a Bíblia de três maneiras. Pode haver outras,
mas vou citar apenas essas três.

A primeira é ler a Bíblia toda, de capa a capa, para ter um


conhecimento geral.
A segunda maneira é lê-la estudando-a. Talvez, você não tenha
disponibilidade de estudar a Bíblia todos os dias. Então, uma
boa dica é estudar todo o conselho de Deus ao invés de estudar
livros ou temas isolados.
A terceira forma é ler a Bíblia meditando nela. Você não estuda
nem decora nada. Nesse modelo de leitura, podemos dizer que é
a Bíblia que lê você. É quando a Palavra de Deus começa a
esquadrinhá-lo.

Dicas para meditar

1 – Leia a Bíblia
Quando for meditar, não use textos muito longos. Não dá para meditar
lendo todo o Salmo 119, por exemplo. No começo, você pode escolher
passagens mais fáceis como os evangelhos, Salmos ou mesmo um versículo
de que goste muito. Às vezes, na leitura geral, algum versículo vai sobressair.
Separe-o para que possa meditar nele depois. Vamos supor que você tenha
lido o Salmo 27.4: “Uma coisa pedi ao Senhor, é o que procuro: que eu
possa viver na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar
a bondade do Senhor e buscar sua orientação no seu templo”.
Leia-o devagar, duas, três, quatro vezes ou quantas achar necessário.
De repente, algo dentro do texto lhe saltará aos olhos — uma frase ou uma
palavra. Quando li esse versículo, o que me chamou a atenção foram as
palavras “uma coisa”. Em silêncio, comecei a fazer perguntas a Deus:
“Senhor, o que significa ‘uma coisa’ para a minha vida em São Gonçalo? O
que é ter um coração de uma coisa?”. Faça perguntas a ele sobre aquilo que
acabou de ler. Essas perguntas naturalmente se transformam em orações.

2 – Tenha um diário
Atualmente, meu princípio é: ler, escrever, orar e cantar. Eu leio o texto
na Bíblia, depois o escrevo no meu diário, pois, se continuar lendo na Bíblia,
vou me distrair com outros trechos. Em seguida, destaco o que me salta aos
olhos e escrevo novamente embaixo. Só então, começo a fazer perguntas.
Logo, vêm impressões ao meu espírito que podem parecer imaginação. Anoto
tudo o que estou pensando e depois oro com base nisso. Finalmente, passo
para o versículo seguinte.
Esse método de meditação ajuda também a memorizar as Escrituras.
Os mestres devocionais chamam isso de Lectio Divina, que significa
interiorizar as Escrituras.
Muitas vezes, levo esses versículos para o meu dia, colo lembretes na
geladeira e coloco frases no meu celular dentre tantas outras coisas. Um dos
termos para a palavra meditação é “ruminar”. Você precisa interiorizar aquilo
que está sendo lido.
Deixe que a Palavra entre em seu coração, preencha o seu espírito e o
conduza à presença do nosso amado Noivo e querido Pai. Permita que as
verdades das Escrituras o ensinem a orar e a entender quem você é e o que
Deus sente por você. Que a sua vida de oração aumente em intensidade,
qualidade e quantidade à medida que você se encontrar, numa prática regular,
disciplinada e constante, com o Homem mais belo e encantador de todo o
universo.
Sobre o Autor

Michael Duque Estrada é casado com Maíra e pai de Benjamin e Maria.


Michael atua no ministério há quinze anos, plantou uma comunidade e uma
sala de oração na cidade de São Gonçalo, RJ, como também tem
desenvolvido um forte ministério de ensino da Palavra por todo o Brasil.
Atualmente, ele é o diretor da Casa de Oração Liberdade Rio, que funciona
dentro da maior zona de prostituição do Rio de Janeiro.

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