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Contribuidores da obra
Introdução
I. O Que Cantaremos na Adoração a Deus?
II. O Cântico de Salmos na Adoração a Deus
III. Cristo em Todos os Salmos
IV. O Louvor do Santuário
V. Cante o Cântico do Senhor
VI. Louvor Terapêutico
VII. O Saltério é Suficiente?
VIII. A Presença Permanente de Cristo nos Salmos
IX. O Que Deve Acompanhar nossa Adoração a Deus?
Apêndice
Livros deste autor
As Canções do Espírito
A DOUTRINA DA SALMODIA EXCLUSIVA EXPLICADA
ORGANIZADO POR
KENNETH STEWART
As Canções do Espírito
"Senhor, morro na fé de que Tu não deixarás a Escócia, mas que farás que o sangue das Tuas
testemunhas seja a sementeira da Tua Igreja; que retornes novamente e sejas glorioso em nossa
terra."
James Renwick (1662-1688), no cadafalso.
Copyright © 2014 pela Fé da Reforma Escocesa, exceto quando indicado de outra forma.
Os direitos autorais de cada artigo pertencem ao respectivo autor.
Todos os direitos reservados.
Primeira edição em brochura impressa em 2014 no Reino Unido.
ISBN 978-1-910013-00-7
Nenhuma parte deste livro deve ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico
ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou por qualquer sistema de recuperação de informação, sem autorização
por escrito do editor.
Publicado pela Fé da Reforma Escocesa .
Church Office, Muirpark Street, Glasgow G11 5NP.
Agradecimento:
A Editora Caridade Puritana agradece aos irmãos do grupo "Publicações O Pacto" por terem nos
concedido esse material tão rico. Que Deus abençoe vocês nessa peregrinação. Agradecemos por
essa parceria!
PREFÁCIO
“E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.”
Salmos 50:15
uestões relacionadas à teologia e à prática da adoração têm se tornado cada vez mais
Q problemáticas. Este tem sido o caso há algum tempo, mas tem sido assim especialmente
depois do crescimento de formas mais distintamente carismáticas de culto, de meados do
século XX em diante.
Esta ênfase carismática levou a um crescente impulso para fazerem-se mudanças nas igrejas mais
tradicionais e as igrejas presbiterianas da Escócia não são exceção - tanto é assim que agora está
se tornando cada vez mais raro encontrar igrejas que praticam o cântico de hinos com o
acompanhamento de um único instrumento musical, tal como um piano ou um órgão.
Em meio a tal transformação, é facilmente esquecido que na forma de adoração dos
presbiterianos originais não havia lugar para hinos ou instrumentos de maneira alguma! Para os
presbiterianos originais, o cântico dos louvores de Deus significava o cântico de Salmos sem
acompanhamento musical. Notavelmente, com exceção dos luteranos, esta era a prática das
igrejas da Reforma magisterial nas Ilhas Britânicas e no continente. Além do mais, ainda que
pareça surpreendente, eles adotaram esta prática com base em convicções bíblicas ao invés de
conveniência, alegando que era um retorno à adoração apostólica e histórica.
O declínio do presbiterianismo na Escócia é um assunto geralmente discutido, mas o papel
desempenhado neste declínio pelas alterações na adoração da igreja raramente é mencionado, se
é que de fato é. Porém, Deus é um Deus zeloso e se o cântico de Salmos sem acompanhamento
musical é, na verdade, o modo correto para a igreja se aproximar de Deus em adoração, e se essa
nação foi privilegiada o suficiente para conhecer e desfrutar de seus benefícios, então, não
deveria ser uma surpresa se o abandono desta prática tem sido a causa do desprazer de Deus com
a igreja e a nação.
O único caminho a seguir é voltar atrás. A resposta à confusão generalizada e apostasia reside na
recuperação de verdades que uma vez foram de todo o coração abraçadas – e, na verdade, juradas
– mas que agora estão, em grande parte, abandonadas e esquecidas. É a convicção de todos os
que contribuem com este livro que a recuperação do zeloso, inteligente e espiritual cântico dos
Salmos sem acompanhamento de instrumentos musicais no louvor da igreja é uma parte
importante do arrependimento e renovação tão necessários à igreja de hoje.
É claro que é preciso mais do que isso para o arrependimento. E mais do que isso precisa ser dito
sobre o culto em si. No entanto, essa questão tem de ser tratada antes do cântico de Salmos (sem
acompanhamento de instrumentos musicais) desaparecer – o que seria outro dentre os muitos
julgamentos de Deus sobre nossa terra.
I. O QUE CANTAREMOS NA
ADORAÇÃO A DEUS?
INTRODUÇÃO
uitas pessoas que frequentam igrejas estão cientes das significativas mudanças no
M conteúdo e no estilo da adoração nos anos recentes – particularmente em relação aos
cânticos oferecidos a Deus como parte do culto.
É claro que é natural para a humanidade compor e cantar, e isto não é menos verdade no que diz
respeito à humanidade redimida ao compor e cantar louvores a Deus. O que é surpreendente, no
entanto, é o extraordinário aumento do número de músicas cristãs sendo escritas e cantadas
desde a metade do século XX. Não menos surpreendente é a facilidade com que estas músicas
entraram na adoração da igreja.
Numa área que muitos são, por muitas razões, instintivamente conservadores, este crescimento
tem provocado uma considerável reação – com base tanto em princípios quanto em gosto.
Porém, aqueles que estão a favor do desenvolvimento, geralmente repudiam esta reação como
“tradicionalismo” – e, para ser justo, eles têm um argumento: afinal de contas, não é
simplesmente verdade dizer – como muitos fazem – que os cânticos antigos são melhores. Às
vezes eles são, mas às vezes não. De qualquer maneira, é difícil aceitar que o mero fato de estar
presente por um longo tempo faz com que uma música de adoração tenha o seu lugar eterno,
competindo com outras de superior qualidade.
No entanto, a maioria das pessoas não consegue resolver as questões mais profundas – e é isto
que demonstra se elas são a favor da mudança ou não. Estas questões dizem respeito aos critérios
que devem ser aplicáveis quando se trata da escolha de quais músicas devemos usar na adoração
a Deus, primeiramente. Por exemplo, considere as seguintes perguntas:
"Quem deve escrever as canções de adoração da igreja? Quem deve decidir se são adequadas
para o uso? Quem deve decidir quais músicas devem ser cantadas em qualquer ocasião? É
aceitável que um incrédulo componha uma canção de adoração se a música expressa a
verdade? Uma canção tem de mencionar Deus ou Jesus explicitamente antes que possa ser
aceita para a utilização na adoração? Seria aceitável para um cântico conter somente a verdade
em geral ou teria que conter verdades expressamente teológicas a fim de ser considerado para
uso no culto? Uma canção de adoração precisa se dirigir a Deus diretamente?”
Você já pensou nestas questões? O quão confiante você estaria ao responder esse tipo de
perguntas? Você saberia até mesmo por onde começar ao tentar respondê-las? As chances são de
que a maioria das pessoas nunca considerou essas questões seriamente o suficiente, se é que já o
fizeram.
O propósito deste capítulo é apresentar uma defesa para o uso exclusivo dos Salmos da Bíblia
quando oferecemos nosso cântico a Deus em adoração, e que devemos cantar estes Salmos sem o
uso de acompanhamento de instrumentos musicais.
Se a sua resposta instintiva a esse argumento é vê-lo como algo novo ou bizarro, poderá ser um
choque para você descobrir que essa forma de cantar a Deus em adoração já foi aceita como a
norma das igrejas reformadas da Europa! De fato, o poderoso operar de Deus no século XVI –
conhecido como Reforma – viu o estabelecimento da adoração regular congregacional, em quase
todas as igrejas reformadas, precisamente de acordo com essas linhas.
E isso não foi acidente: a Reforma não foi apenas uma reforma na doutrina e governo de igreja,
mas uma reforma na adoração também. No movimento da Reforma, a autoridade da Escritura
foi de suprema importância e esse princípio orientador determinou o conteúdo e forma de culto
tanto quanto a doutrina da igreja e seu governo. E para João Calvino – e, na verdade, para a
maioria dos líderes reformadores do século XVI – a Bíblia autoriza apenas o cântico dos Salmos,
sem acompanhamento instrumental.
Não é de se surpreender então, que a grande família de igrejas reformadas que foram distinguidas
de outras pelo uso do nome de Calvino (calvinistas) – e de onde veio a esmagadora maioria das
igrejas reformadas na Europa – adotou a prática do cântico dos Salmos sem acompanhamento
instrumental no culto.
Significativamente, embora eles tenham enfatizado que esta era a prática da igreja nos dias
imediatamente seguintes aos dos apóstolos (ver mais abaixo), o principal motivo para adotar essa
posição foi o de que eles entenderam que essa é a posição bíblica sobre a adoração. E essa é a
convicção por trás deste capítulo também – a convicção de que Deus nos deu um Livro de
cânticos para cantarmos, que somos ordenados a cantar estes cânticos e cantá-los exclusivamente
na adoração de seu nome.
Infelizmente, porém, nos últimos 150 anos, essa forma de adoração tem se tornado cada vez mais
rara. Nos últimos anos em particular, como notado acima, a adoração reformada mudou até
quase ficar irreconhecível e é agora geralmente dominada por cânticos de mera composição
humana e pela performance de instrumentos musicais.
Para examinar como, quando e porque tudo isso mudou levaria muito tempo e está além do
nosso escopo. Minha principal preocupação aqui é defender essa posição histórica e promovê-la
como a forma de adoração que Deus requer e que, portanto, mais glorifica a Ele e beneficia mais
a nossa saúde espiritual e edificação.
Para ajudá-lo a entender de onde venho, é importante afirmar desde o início que eu estou
escrevendo do ponto de vista de alguém que acredita que cada parte do culto (como o cântico, a
oração, a pregação e a leitura bíblica) precisa de um mandamento claro de Deus para que seja
autorizado. Em outras palavras, quando se trata de culto, nunca é o bastante dizer: "Deus não
condena tal coisa, portanto, deve ser correto fazê-la". Em vez disso, devemos ser capazes de
dizer: "Deus ordena que isso seja feito e, portanto, devo fazê-lo ". Vou dizer algo mais sobre isso
à medida que avançarmos.
Então, por onde começamos?
Talvez faça sentido começar com a seguinte questão: se o cântico de Salmos sem
acompanhamento instrumental era a norma nas igrejas calvinistas da Europa, de acordo com a
Reforma, quais foram os argumentos usados para mover estas igrejas para outra direção?
Quando abordamos esta questão, descobrimos que os argumentos usados naquela época para
estimular essa mudança eram os mesmos argumentos que estão sendo usados agora para
promovê-la. Também descobrimos que, ainda que estes argumentos pareçam tomar diferentes
formas, eles podem ser reduzidos, em essência, a dois: primeiro, a Bíblia ordena essa mudança e,
segundo, os eventos do Novo Testamento necessitam dessa mudança.
Interessantemente, estes dois argumentos apareceram recentemente (2010) num artigo
especialmente escrito para defender o uso de novos cânticos com acompanhamento instrumental
na adoração do Novo Testamento. Enquanto prossigo, farei referência a um artigo – apenas para
clarificar os argumentos. O artigo é intitulado Biblical Interpretation: Music and Song in
Worship [Interpretação Bíblica: Música e Cântico na Adoração], por rev. A. I. Macleod, e o texto completo
pode ser consultado neste link .
No que se segue, então, examinaremos esses dois argumentos a favor da mudança em alguns
detalhes. A questão dos instrumentos musicais será tratada num capítulo à parte.
O primeiro argumento para o uso de cânticos além dos Salmos é que a Bíblia nos diz para
fazermos assim – portanto, devemos cantá-los!
É verdade que a Bíblia nos ensina a cantarmos “novos” cânticos. Vemos tal mandamento, por
exemplo, nos Salmos 33:3; 96:1 e 98:1. Além disso, algumas pessoas argumentam que temos
exemplos de tais novos cânticos no Livro de Apocalipse no Novo Testamento.
Da mesma forma, argumenta-se que a presença de outros “cânticos escriturísticos” na Bíblia é a
evidência de que havia um contínuo compor de cânticos e se cantavam estes novos cânticos na
adoração da igreja sempre que novos cânticos fossem necessários. Estes cânticos, obviamente,
são adicionados àqueles que mais tarde foram registrados para nosso uso no Livro dos Salmos.
Aqueles que defendem essa posição, então, não estão apenas afirmando que devemos cantar
esses cânticos escriturísticos, mas que devemos ver a própria presença deles com um indicador
de que devemos nos engajar num constante processo de compor e cantar cânticos para o uso na
adoração da igreja.
Então, o primeiro argumento afirma que a Bíblia ordena uma contínua composição de novos
cânticos de adoração.
O segundo argumento para adicionar cânticos ao Livro dos Salmos é um mais familiar: é o
argumento de que o Livro de Salmos – como um Livro escrito durante o tempo da Antiga
Aliança – é simplesmente insuficiente para o louvor da igreja sob a Nova Aliança.
Penso que é importante notar que esse é o mais antigo, o mais emotivo (“Por que não podemos
cantar o nome de Jesus?”) e o mais poderoso argumento para o desenvolvimento da composição
de hinos. De fato, na verdade tem sido o mais efetivo argumento no processo de primeiro
complementar e, gradualmente, substituir os Salmos como o livro de cânticos das igrejas
reformadas durante os últimos 150 anos.
É claro que esses argumentos já foram bem refutados antes. Mas é importante continuar a
respondê-los, sempre que aparecem, e o que vem a seguir tem exatamente esse propósito.
Primeiramente, então, precisamos examinar o que a Bíblia ensina sobre novos cânticos.
Os cânticos de Apocalipse
Quando estudamos estes cânticos, uma coisa é imediatamente aparente: todos eles são cantados
no céu! Isto deve levantar uma questão: esses cânticos “celestiais” foram registrados na Bíblia
para nosso uso ao cantarmos os cânticos do Senhor aqui na terra ou eles foram registrados para
algum outro propósito? É provavelmente melhor examiná-los um por vez.
Apocalipse 5:9-14
O cântico a que mais geralmente se faz referência neste debate é encontrado em Apocalipse 5:9-
14. Esta passagem contém um “novo cântico” declarando o quão digno é o Cordeiro, louvando-o
como o redentor de seu povo, atribuindo a Ele honra, glória e poder.
O escritor do artigo que mencionei anteriormente pensa em por que alguém deveria ser proibido
de cantar essas palavras em cultos de adoração e, num apaixonado apelo pelo cântico dos céus
para serem copiados pela igreja na terra, ele encerra seu artigo fazendo uma pergunta que, para
ele, e provavelmente para outros, resume toda a questão:
“Também somos chamados para cantar: ‘Digno é o Cordeiro!’ Ao fim deste artigo, se alguém
está procurando por alguma questão que pode centralizar a discussão, eu ofereço esta pergunta:
Podemos cantar ‘Digno é o Cordeiro!’ numa adoração pública? Se não, por favor diga- me o
motivo”.
Ao ler isto pela primeira vez, tudo isso pode parecer convincente o suficiente. Porém, o
argumento não suporta um exame minucioso. É realmente tão óbvio, como ele diz, que a
adoração do céu deve ser copiada por nós aqui na terra? Vamos considerar esta ideia
completamente por um momento.
Se olhar essa passagem mais de perto, você verá que o cântico em particular que ele destaca está
sendo cantado no céu pelos “animais viventes” e os “vinte e quatro anciãos” ao redor do trono.
Você vai perceber também que enquanto eles cantam, todos levam uma harpa e salvas com
incenso que contém as orações dos santos. Outro novo cântico (se é que é isto mesmo), em
Apocalipse 7:10-12, é cantado com palmas nas mãos e com vestes brancas.
Agora, se o cantar destes novos cânticos na adoração dos céus é nossa autorização para cantá-los
agora mesmo em nossa adoração na terra, então, seria bastante óbvio que isto também é uma
autorização para cantá-los com a harpa, a salva de incenso, as palmas nas mãos e as vestes
brancas! Se, como o escritor insiste, este cantar deve ser feito como é feito no céu, então todas
essas coisas fazem parte da adoração tanto quanto as palavras que estão sendo cantadas.
Na verdade, de acordo com o princípio de interpretação da Bíblia que está sendo aplicado pelo
escritor, todos os atos litúrgicos que acompanham o oferecimento de louvor celestial em
Apocalipse devem ser completamente oferecidos na terra também! Já vi este tipo de pensamento
sendo energicamente defendido anteriormente – mais recentemente no luteranismo
reconstrucionista – mas fico surpreso ao vê-lo disfarçado de presbiterianismo clássico.
Porém, se a adoração celestial deve ser copiada na terra, então deve ser copiada como um todo.
Aplicações seletivas não funcionarão.
Apocalipse 14:3
O “novo cântico” de Apocalipse 14:3 é ainda mais problemático. Examine mais de perto e você
verá que é uma canção que ninguém pode cantar de maneira alguma – exceto os 144.000 que
foram redimidos da terra. Que sentido há em afirmar que deveríamos estar cantando um cântico
que ninguém pode cantar de maneira alguma – exceto os 144.000 que foram redimidos da terra?
Na verdade, esse exemplo em particular nos leva claramente a todo o ponto em questão: todos
estes cânticos são claramente cantados por anjos e santos glorificados, e eles nos mostram um
relance do que acontece no céu. Por qual razão então, devemos concluir que essas performances
realizadas pela igreja triunfante no céu são um mandato para a adoração da igreja militante aqui
na terra? Não é muito mais natural concluir que o que temos nesses novos cânticos são cenas
celestiais que simplesmente não devem ser copiadas na terra?
Isto é ainda mais enfatizado quando fazemos uma pergunta ainda mais fundamental: de que
maneira esses cânticos são “novos”? E aqui, é realmente fácil ficar perdido por causa de uma
falsa suposição relacionada a esses “novos” cânticos. A falsa suposição é de que o “novo” destes
cânticos deve ser consistente com eles serem cânticos da “Nova Aliança” e que eles foram
escritos para serem cantados por nós em nossa nova adoração da Nova Aliança.
Mas é esse realmente o caso? Não, não é. De fato, o “novo” desses cânticos não é uma referência
a esses cânticos serem cânticos da “Nova Aliança”, mas como sendo cânticos que pertencem a
uma nova ordem de coisas no estado final!
Para ver isto mais claramente, apenas pare para pensar nas outras “novas coisas” que aparecem
no Livro de Apocalipse: há uma “nova Jerusalém” (3:12; 21:2), há um “novo céu e uma nova
terra” (21:2), há um “novo nome” dado ao povo de Deus (2:17; 3:12) e, finalmente, temos
“todas as coisas feitas novas” (21:5). O que todas estas coisas têm em comum? Elas
explicitamente pertencem ao céu ou ao “estado final”! O “novo” de todas essas coisas pertence
ao futuro – para aqueles que vencerem (2:17). Isto não é verdade no que diz respeito a nós aqui
na terra!
Novamente, vale a pena notar que todas essas “novas” coisas são de imediata origem divina.
Nenhuma delas é feita pelo homem: é Deus quem faz uma “nova criatura”, é Deus quem faz
“um novo cosmos”, é Deus quem dá “um novo nome” e é Deus quem inspira “um novo cântico”
– e todas elas pertencem ao céu. Em outras palavras, não temos mais autorização para fazer
novos cânticos do que temos para nos dar um nome novo! Ambas são prerrogativas de Deus.
Falarei mais sobre isso abaixo.
Claramente, então, esses novos cânticos em Apocalipse não foram designados para formar parte
do conteúdo de nosso hinário aqui embaixo. Essas palavras nos foram dadas simplesmente como
confortantes percepções acerca do louvor da Igreja como vencedora e como uma antecipação de
como será uma nova ordem de coisas – mas a realização desta adoração espera para quando o
povo peregrino estiver no céu.
Por agora, é a vontade de Deus que usemos o hinário da igreja militante, não o da Igreja
triunfante.
Então, a presença de novos cânticos no Livro de Apocalipse não tem nada a nos dizer em
conexão com quais cânticos de adoração devem ser usados na terra.
Conectado a isto, pode ser surpreendente para a maioria dos leitores a descoberta de que o único
cântico religioso que sobreviveu a esse período é o Hino ao Divino Logos de Clemente de
Alexandria – que não é de boa qualidade e que não foi provavelmente projetado para ser usado
na adoração pública. De fato, não há evidência de que alguma vez foi utilizado.
De fato, a introdução original de cânticos extrabíblicos na adoração da igreja parece ter sido a
obra de hereges e não dos ortodoxos. Ário usou a composição de hinos como um veículo para
espalhar o seu falso ensino enquanto, de acordo com Eusébio, o historiador, Paulo de Samosata
substituiu novos cânticos no lugar dos: “Salmos (que são) em honra de nosso Senhor Jesus
Cristo”. Também, por volta de 430 d.C., Agostinho – que, a despeito de afirmações contrárias
nunca advogou o uso de hinos – pôde dizer que os donatistas reprovaram a igreja por usar
cânticos divinos enquanto eles: “foram inflamados em suas mentes ao cantar hinos de
composição humana”.
Sem fazer muita digressão na história dos cânticos de louvor, é digno de nota que mesmo quando
tais cânticos começaram a ser usados nas igrejas, a oposição a eles foi forte: por volta de 343
d.C., o Concílio de Laodicéia proibiu o: “cântico de hinos não inspirados”, tanto quanto a:
“leitura de livros não canônicos da Escritura” – uma descoberta que foi ratificada pelo famoso
Concílio de Calcedônia. Incidentalmente, é importante notar a lógica aplicada pelo Concílio: a de
que ler um livro de composição humana, ainda que possa ser bom, no lugar da Escritura, na
adoração, é o mesmo tipo de erro equivalente ao cantar um cântico de composição humana no
lugar da Escritura no mesmo ato de adoração!
Porém, o propósito de tudo isso é apenas mostrar que a tentativa de encontrar fragmentos de
hinos na literatura do Novo Testamento é fútil. A tentativa de identificá-los se tornou, há muito
tempo, um exercício de especulação escolástica – o tipo de especulação favorecida pelos
acadêmicos que desistiram do estudo daquilo que é revelado na troca pela busca de novidades e
originalidades espúrias – para não mencionar os graus acadêmicos!
Diante da completa falta de evidências para sua existência, a busca para encontrá-los deveria
simplesmente ser abandonada – eles estão para serem encontrados tanto quanto Atlântida ou o
Abominável Homem das Neves. De fato, neste tipo de debate, não deveria haver mais apelo a
estes tão chamados fragmentos e o aparecimento de qualquer apelo nesse sentido deve ser
interpretado como uma admissão de fraqueza no argumento da parte daqueles que o fazem.
Além da ordem específica para cantar novos cânticos, o mais comum argumento para seu uso é
encontrado no mandamento dado por Paulo para as igrejas em Éfeso e Colossos para cantar
“salmos, hinos e cânticos espirituais” (Efésios 5:19 e Colossenses 3:16).
Admitidamente, estas são as únicas passagens da Escritura que podem ser recorridas para dar
alguma autorização expressa para cantar alguma coisa além dos Salmos. E é claro, tal
autorização expressa é importante quando se trata de uma teologia de culto verdadeiramente
reformada. Porém, é importante nos aproximarmos de um mandamento como esse de um modo
claro e, particularmente, vê-lo através dos olhos do primeiro século ao invés dos olhos do século
XXI. Em outras palavras, não devemos começar perguntando o que essas palavras significam
para nós, mas o que elas significaram, primeiramente, para aqueles que as escreveram e para
aqueles que as ouviram.
Quando fazemos isso, descobrimos algo interessante: muitos dos Salmos no Livro dos Salmos
contêm um ou mais dos termos “salmos”, “hinos” e “cânticos” em seus títulos! Em 67 destes
Salmos a palavra “salmo” aparece no título. Em seis deles a palavra “hino” aparece, enquanto em
outros 35 a palavra “cântico” aparece. Significativamente, alguns destes Salmos levam dois
destes títulos juntos (por exemplo, Salmo 65 é: “um salmo e cântico de David”) enquanto um
Salmo leva todos os três títulos: Salmo 76, na tradução grega – que os apóstolos usaram e com a
qual estavam familiarizados – é um “salmo”, um “hino” e um “cântico”! Estes títulos, em si
mesmos, seriam simplesmente a tradução grega para os três nomes em hebraico usados nos
títulos destes Salmos: “Mizmorim” (Salmos), “Tehillim” (Hinos) e “Shirim” (Cânticos).
Num contexto histórico então, a pressuposição seria a de que Paulo estava se referindo a esses
títulos do Livro dos Salmos, de fato, de que ele estava se referindo ao próprio Livro dos Salmos.
Isso se torna mais claro quando consideramos alguns aspectos da tradução e interpretação da
referida passagem.
É significativo que uma tradução legítima da passagem grega que está sendo discutida poderia
ser lida assim: “salmos, hinos e cânticos – espirituais”. Em outras palavras, o adjetivo
“espiritual” poderia muito bem qualificar todos os três substantivos. A significância disto reside
no fato de que a palavra “espiritual” aparece apenas 25 vezes no Novo Testamento: em 24 destas
ocasiões refere-se a algo que é produzido pelo Espírito Santo de Deus – a única exceção a esta
regra é a referência às: “hostes espirituais da maldade” em Efésios 6 – que é uma referência
àquilo que é produzido pelos espíritos do mundo demoníaco. Sendo este o caso, o termo seria
visto como referindo-se aqui a salmos, hinos e cânticos espirituais que foram de autoria do
próprio Espírito Santo por meio do processo de inspiração. Se esta é, de fato, a melhor tradução,
seria apenas para deixar a referência que Paulo faz aqui ao Livro dos Salmos ainda mais
explícita.
Para ser justo, no entanto, poderia ser o caso de que o adjetivo “espiritual” está meramente
descrevendo o último desses substantivos, que o sentido seria: “salmos, hinos e cânticos
espirituais”. Porém, isto não afeta o argumento tanto quanto alguém pode pensar. Afinal, se estes
“cânticos” são “espirituais” – isto é, inspirados pelo Espírito de Deus – por que deveria ser o
caso de que apenas eles fossem inspirados, enquanto os “salmos” e os “hinos” poderiam ser não
inspirados? Se, pelo contrário, o argumento que está sendo usado, de que o louvor da igreja deve
ser inspirado pelo Espírito Santo, então, o anexar do adjetivo à palavra “cântico” apenas seria na
suposição de que os salmos e hinos fossem compreendidos como inspirados de qualquer forma, e
isto serviria para chamar atenção à natureza do cântico do cristão – quando cheio do Espírito –
como sendo oposto ao daqueles que cantam quando estão: “cheios de vinho”.
Em outras palavras, o sentido da referida passagem seria como segue: “Não deixe o seu discurso
ser as efusões daqueles que estão cheios de vinho, pelo contrário, que seja as efusões daqueles
que são cheios do Espírito Santo de Deus – e que o teu alegre cantar não seja também produzido
pelo vinho, mas, ao invés disso, seja o alegre cantar daqueles que cantam os cânticos que o
próprio Espírito Santo deu.”
No contexto então, não faz um sentido real interpretar esses termos da forma pela qual a maioria
das pessoas descuidadamente os interpretam. A tendência contemporânea de usar o termo
"salmos" para as canções do Velho Testamento e os termos “hinos” e “cânticos” para nossas
próprias composições não tem nenhum apoio nas Escrituras. Do ponto de vista da própria Bíblia,
as evidências apontam para os três termos como se referindo ao mesmo corpo de cânticos – o
Livro dos Salmos! E novamente, dentro do contexto, é apenas de se esperar tal referência a tão
conhecidos cânticos, afinal, todos esses Salmos eram os cânticos conhecidos e ensinados pelos
apóstolos – e, na verdade, pelo próprio Cristo – pelos quais eles provaram a divindade de Cristo
(ver especialmente os primeiros capítulos do Livro de Atos e Hebreus) e nos quais eles viram a
Sua Pessoa e Obra mais claramente demonstrada. Todos os exemplos do cântico apostólico,
como veremos, são melhor compreendidos como cântico dos salmos, hinos e cânticos espirituais
que eram familiares a eles, mas que agora se tornaram “novos” à luz da ressureição de Cristo.
Infelizmente, essa compreensão do texto tem sido repudiada, por vezes de uma forma bastante
arrogante, por intérpretes mais recentes como um caso de "defesa especial”. Porém, era uma
opinião comumente sustentada em textos exegéticos do passado e ainda é sustentada por muitos,
e permanece – dentro do contexto – o sentido mais natural do texto. Essa interpretação é também
fortalecida pelo modo como os três termos são usados alternadamente com referência ao Livro
dos Salmos por antigos escritores, como Clemente de Alexandria, Filo, Josefo e Atanásio. De
fato, Atanásio, em sua célebre carta a Marcelino a respeito do cântico de Salmos, refere-se aos
Salmos da Bíblia pelos três termos gregos que estamos discutindo dentro do espaço de poucos
parágrafos!
Ainda que haja várias pequenas diferenças de sentido que se pretende transmitir por esses três
termos, penso que uma resposta conclusiva é imprecisa – mas isso não é surpreendente. Afinal, a
Bíblia contém muitos exemplos de um simples conjunto de obras, ou uma unidade de algum tipo,
sendo referida por três termos distintos, que não são facilmente distinguidos. Por exemplo, no
que é uma referência clara ao conjunto de “leis” dadas por Deus, quais são as distinções exatas
entre: “mandamentos, estatutos e juízos” (Deuteronômio 30:16)? Ou, no que é uma clara
referência à entidade do “pecado”, quais são as exatas distinções entre: “iniquidade, transgressão
e pecado” (Êxodo 34:7)? Finalmente, no que é uma clara referência a milagres, o que são as
exatas distinções entre: “sinais, prodígios e maravilhas” (2 Coríntios 12:12)?
Encontrar estas pequenas diferenças de sentido tem a sua própria importância – mas não é crucial
para o argumento, afinal, é um fato simples que os três termos são usados com relação aos títulos
– apenas por si mesmos ou combinados – no Livro dos Salmos e, neste nível, isto é tudo que
precisamos saber.
Quando tudo isso é feito e dito, pode ser útil destacar que nada disso é para desencorajar a
composição e o cantar de cânticos que são para o louvor de Deus. Muitos desses cânticos – por
exemplo: “When I Survey the Wondrous Cross” [Quando Considero a Maravilhosa Cruz] – têm
atingido as afeições de muitos dentre o povo de Deus, provendo um conteúdo que honra a Deus.
A composição de tais cânticos, e a sua execução, pode ser vista como exercício de um dom
válido. Porém, a questão em pauta se refere a quando, onde e como tais cânticos devem ser
usados.
Afinal, é o entendimento reformado acerca da adoração que esta acontece quando nos
aproximamos de Deus ao invocar o Seu nome. Esta adoração consiste num ato ou numa série de
atos através dos quais Deus fala conosco (na leitura da Bíblia, pregação e sacramentos) e através
dos quais nos oferecemos a Deus (em cânticos e orações – às vezes acompanhando com votos e
jejuns). É também o entendimento reformado de que nada deve ser oferecido a Deus “como
culto” sem seu explícito mandamento – e que os cânticos que Ele ordenou para serem oferecidos
neste contexto de culto são os Salmos!
Isto deveria nos alertar para o problema envolvido em colocar esses cânticos, meramente
humanos, juntamente com os Salmos, num hinário de adoração. E o problema é mais profundo
do que imaginamos. Não é simplesmente uma questão de quantos cânticos de Deus nós cantamos
e quantos dos nossos cânticos nós cantamos. Certamente há um problema nisso, afinal, o que isso
diz quanto ao valor relativo e autoridade dos cânticos de Deus e os nossos, se escolhemos cantar
um dos cânticos de Deus no culto e três dos nossos? Mas o problema é maior do que este:
quando uma congregação se reúne para oferecer o seu tributo de louvor a Deus, que autoridade
tem para colocar juntos os cânticos divinos e os humanos, naquele louvor que é oferecido, como
se eles fossem iguais em valor e autoridade na adoração a Deus? Consideraríamos seriamente
colocarmos juntos os sermões de John Piper, ou mesmo os apócrifos, com os livros canônicos da
Bíblia para a leitura pública? Eu acredito que não. Do mesmo modo então, não deveríamos juntar
cânticos humanos com os cânticos divinos para o louvor público.
Note, por favor, que essa não é uma questão de que devemos juntar as coisas como tais - afinal,
o Breve Catecismo de Westminster foi muitas vezes usado como tabuada! É mais uma questão
sobre o que é de autoridade divina e seu uso adequado. Parece-me óbvio que, em tudo o que está
sendo feito em relação ao culto, as questões não estão sendo simplesmente pensadas.
Suponho que tudo toca numa questão que está relacionada: o que Deus parece abençoar? Por
exemplo, se Deus usa um hino para comover uma alma em sua adoração, isto também não
sanciona o uso de hinos no louvor a Deus? Bem, se sim, também sancionaria a leitura de
apócrifos, se a leitura deles foi usada para comover uma alma da mesma forma! Porém, como
cristãos reformados, devemos decidir de uma vez por todas se princípios e práticas devem ser
governados pela Palavra de Deus ou pela experiência humana.
O fato é que, na adoração a Deus, um bom cântico que nós mesmos compusemos não pode
substituir o cântico de um Salmo, mais do que um bom livro de composição humana pode
substituir a Bíblia quanto à leitura!
Mantendo em mente que a introdução de qualquer forma de adoração precisa de explícita
autorização da Palavra de Deus. Em outras palavras, não é suficiente argumentar que algo que
não é proibido, deve ser demonstrado que foi ordenado – mesmo os mais apaixonados
defensores dos hinos teriam que admitir que a sua defesa para o cântico de hinos não inspirados
não é provada com base no mandamento de louvar a Deus com: “salmos, hinos e cânticos
espirituais”.
E quanto então aos outros cânticos que aparecem no Velho Testamento?
“O Salmo que nos diz que temos que cantar um novo cântico é, ele mesmo, o
novo cântico!”
Salmos como este e outros, são na verdade para serem cantados para as nações e pelas nações,
em evangelismo e louvor: “Cantai ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a
terra. Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome; anunciai a sua salvação de dia em dia. Anunciai
entre as nações a sua glória; entre todos os povos as suas maravilhas.” (Salmos 96:1-3).
Finalmente, em passagens escatológicas como Isaías 42:10, o chamado para cantar um novo
cântico é praticamente reduzido a uma figura de linguagem ao invés de um mandamento direto
para que esse seja cantado: note que esse cântico deve ser cantado pelas criaturas marinhas e
pelas ilhas! Note também o tão conhecido exemplo de árvores e rios batendo palmas enquanto
eles participam do “novo cântico” dos Salmos 98 e 96! Estes cânticos se tornaram ainda mais
novos com o advento de Cristo e, como veremos, não necessitam de suplementação.
Tudo isto acima demonstra que o mandamento para: “cantar um novo cântico ao Senhor”, por si
mesmo, não significa que há um mandato para compor hinos para a adoração da igreja.
Antes de deixarmos esse argumento, porém, precisamos examinar a presença de outros cânticos
escriturísticos fora do Livro dos Salmos. Novamente, precisamos ver o que estes cânticos são e
se eles devem ser cantados nos cultos das igrejas. Isto nos permitirá lidar com assuntos vitais do
cânon e da inspiração e a sua importância quanto ao que devemos cantar na adoração a Deus.
Cânticos Escriturísticos
O termo “cânticos escriturísticos” é, estritamente, uma referência aos cânticos encontrados
dentro da Bíblia, mas que não estão contidos no do Livro dos Salmos.
Tais cânticos foram considerados para o uso na igreja pela Assembleia Geral da Igreja da
Escócia em 1707. Porém, o apetite da igreja escocesa por tais cânticos no século XVIII pareceu
se dissipar – indicando, talvez, que não era tão forte assim desde o começo. Porém, com o
surgimento dos moderados (ministros ortodoxos, mas não evangélicos), o clamor por uma
mudança cresceu e o resultado foi o surgimento de paráfrases para o cântico, mais tarde, no
mesmo século. (Apenas para explicar, paráfrases são passagens das Escrituras que não são
cânticos, mas foram metrificados com o propósito de serem cantadas – em distinção de “cânticos
escriturísticos”, que foram projetados para o cântico desde o início).
No caso dos cânticos do Velho Testamento – como aqueles escritos por Moisés, Ana e
Habacuque – é interessante que os defensores do cantar de novos cânticos demonstram um
notável pequeno entusiasmo para o seu uso no manual de louvor! Talvez, a principal razão para
isto seja que eles adicionam pouco aos cânticos do Saltério, a substância de grande parte destes
cânticos é encontrada no Livro dos Salmos.
Para os cânticos encontrados no Novo Testamento, duas coisas em particular precisam ser ditas.
Primeiro, se você ler esses cânticos cuidadosamente, você notará que nenhum desses assim
chamados cânticos são referidos como cânticos na Bíblia. Não nos é dito que Maria, Isabel ou
Zacarias “cantaram” alguma coisa. Na verdade, parece absurdo pensar em Maria chegar na casa
de sua prima e, logo em seguida, cantar o Magnificat! Então, a despeito da tendência comum de
se referirem a eles como cânticos, eles provavelmente não são para serem considerados como
cânticos de maneira alguma.
Segundo, é importante notar que, como os cânticos escriturísticos do Velho Testamento, eles não
adicionam nada, no que diz respeito a informações, ao Livro dos Salmos! De um certo modo,
isto não é surpreendente: embora eles apareçam no Evangelho de Lucas, eles são, no entanto,
cânticos da Velha Aliança e poderiam verdadeiramente, tanto em forma quanto conteúdo, serem
elevados ao mesmo nível do Saltério!
Agora, isto deveria nos fazer parar e pensar naqueles que exigem novos cânticos para celebrarem
novos eventos: o “novo evento” do nascimento de Cristo produz supostos “novos cânticos” tanto
de Maria quanto de Zacarias, que são virtualmente indistinguíveis, em forma e cântico, daquele
de Ana sob a Velha Aliança.
Pergunto-me: quantos daqueles que professam um sentimento de grande privação sendo
impedidos de usar o Benedictus ou o Magnificat realmente pararam para lê-los e examiná-los o
quão além dos Salmos estes “cânticos” realmente vão? Vá em frente – leia o Magnificat e, então,
o Cântico de Ana e você vai descobrir o que quero dizer!
No entanto, se fosse para ser considerado que essas composições poderiam passar a ser cânticos,
então é justo dizer que o único motivo pelo qual elas poderiam ser excluídas do acervo de
cânticos em nossa adoração hoje é que elas aparecem como rejeitadas na compilação final dos
Salmos, como encontra-se no canônico Livro dos Salmos – um Livro que foi fechado
provavelmente por Esdras, e nunca foi reaberto pelos apóstolos. Isto levanta questões
importantes que estão interrelacionadas com o cânon e a inspiração.
Cânon
“Cânon” é o termo usado para descrever os livros que são Escrituras inspiradas e que são, como
tais, nossa regra (cânon) de fé. Eles são livros que, coletivamente, formam a Bíblia: Gênesis à
Apocalipse.
Crucialmente, o fechamento do canônico Livro dos Salmos está ligado à cessação da profecia e
salmodia inspirada até o advento do Salvador. No tempo de Cristo, nenhuma canção inspirada,
fora do Saltério canônico, aparece sendo usada no serviço do Templo. Presumivelmente, eles não
teriam sido usados também em outras situações – por exemplo, nos cultos de adoração no
Shabat.
Significativamente, o cânon dos Salmos, compilados por um período de mais de 1.500 anos, não
foi reaberto pelos apóstolos para que eles pudessem incluir o Magnificat ou o Benedictus. Isto
pode ser porque o conteúdo desses “cânticos” já estava contido no cântico da igreja ou, como é
mais provável, porque, na verdade, eles não eram cânticos mesmo – como mencionei
anteriormente, alguém realmente acredita que Maria chega para visitar Isabel e começa a cantar?
Ou que Simeão cantou com a criança em seus braços?
Claramente, então, enquanto a inspiração foi essencial para a inclusão de um cântico no canônico
Livro dos Salmos, a mera presença da inspiração não era o único critério para incluir um cântico
no Saltério. Um cântico poderia ser inspirado, mas ainda ser deixado de fora do Saltério
canônico!
Por exemplo, Salomão escreveu 1.005 cânticos – porém, apenas um ou dois destes aparecem
incluídos no Livro dos Salmos. É claro que seu “Cântico dos Cânticos” está incluído em outro
lugar, tendo seu próprio lugar distinto no cânon como o cântico por excelência. O pai de
Salomão, Davi – presumivelmente, como o “doce salmista de Israel”, um autor mais prolífico do
que seu próprio filho – escreveu a maior parte do Saltério, como é próprio de um típico Servo-
Rei.
Porém, assim como ele escreveu outros Salmos referidos na narrativa de Samuel – que não foram
incorporados no canônico Livro dos Salmos – ele deve ter escrito milhares de cânticos que
também não aparecem no Saltério. Admitidamente, não temos como saber se estes eram
espirituais em sua natureza, mas o fato de que eles não foram registrados na Escritura não é uma
razão para que eles não fossem.
Novamente, como indicado acima, embora a inspiração fosse exigida para a inclusão no Livro de
Salmos, o mero fato de que um cântico era inspirado não significava que, portanto,
automaticamente, ele deveria entrar no Saltério! Por exemplo, embora Moisés tenha pelo menos
três cânticos inspirados incluídos na Escritura (Salmo 90, o cântico de Êxodo 15 e o cântico de
Deuteronômio 32), apenas o primeiro destes foi incluído no Livro dos Salmos. Similarmente,
muitos cânticos de Davi são, obviamente, incluídos no Saltério, mas o seu lamento acerca de
Jonatas, como também um ou outro cântico registrado na narrativa de Samuel, não são. O
mesmo, é claro, é verdade quanto ao cântico de Débora, Ana, Habacuque e outros.
Como afirmei em outro lugar, não tenho certeza do motivo pelo qual esses cânticos não foram
incluídos – especialmente quando, no caso de Habacuque, fico contente em reconhecer que a
oração foi projetada para ser cantada no próprio Templo. É possível que tenha sido originalmente
cantada no Templo, mas ela cessou de ser cantada quando a igreja foi levada à formação do seu
canônico Livro dos Salmos.
Isto não deveria soar estranho – afinal, é muito mais do que provável que uma considerável
quantidade de discursos apostólicos e escritos inspirados não conseguiram encontrar um lugar
permanente no cânon do Novo Testamento também. Muito foi provavelmente escrito e dito pelos
apóstolos, que era inspirado, mas que não entrou na Escritura canônica. Isto não nos dá, contudo,
uma autorização para preencher lacunas!
Isto nos deixa com aquilo que deveria ser bastante óbvio de qualquer forma: o Livro dos Salmos
foi compilado pela igreja, sob a direção e inspiração de Deus, para ser o Saltério da igreja. É o
livro de louvores da igreja. É o Livro de Salmos para o cântico, projetado para ser cantado na
igreja. Isto não pode ser dito de qualquer outra passagem da Escritura, que alguns podem desejar
converter num material de cântico.
Inspiração
A conexão entre inspiração, cânon e cântico levanta uma questão a mais também. Talvez
possamos destacar a questão ao fazermos uma pergunta: Como o mandamento para: “cantar um
novo cântico” (um cântico que é inspirado pelo Espírito e composto por um profeta), se torna um
mandamento para compor e cantar nossos próprios cânticos numa igreja da Nova Aliança?
Alguns argumentam que é simplesmente lógico que devemos compor nossos próprios cânticos
após os eventos da crucificação, ressureição, ascensão e pentecostes. Alega-se que estes eventos
simplesmente exigem novos cânticos! Desde a disputa na Orthodox Presbyterian Church of
America (OPC) [Igreja Presbiteriana Ortodoxa da América] sobre a questão dos louvores nas
igrejas, tem se dado muito valor a esse argumento em particular: novos atos redentivos na Bíblia
sempre devem ser seguidos por novos cânticos redentivos – por exemplo, o evento de Êxodo é
seguido pelo cântico de Moisés.
Aqueles que argumentam desse modo afirmam que a consumada obra de Cristo, como o grande
ato redentivo, deve ter seu próprio surgimento de hinos em seguida. O argumento é
aparentemente fortalecido por um apelo à explosão de cânticos que acompanham a encarnação.
O argumento é como se segue: se o nascimento de Cristo foi acompanhado pelo Nunc Dimittis e
o Magnificat, certamente o Calvário deveria ser seguido por novos cânticos ainda mais
maravilhosos.
O fato de que eles não são seguidos por tais cânticos – tais cânticos não aparecem no registro
bíblico, pelo menos – seria explicado pelos defensores de novos cânticos como um chamado para
nós mesmos, com cristãos cheios do Espírito, para usarmos nossos dons ao escrever esses
cânticos e cantá-los. Não penso que eu seria injusto com aqueles que defendem essa posição ao
dizer que eles argumentariam que a igreja é livre, sob a liderança do Espírito Santo, para compor
quantos cânticos quiser para sua adoração.
Porém, novamente, o que parece ser convincente e sincero é falho! A verdadeira situação é mais
complexa do que isto. A sequência por trás da composição de novos cânticos, sob a Velha
Aliança, não é simplesmente que um ato redentivo é seguido por um cântico redentivo. É, ao
invés disso, que o ato redentivo é seguido por um cântico inspirado!
Agora, alguns podem afirmar que isso não é justo, afinal, eles diriam que a única razão pela qual
esses cânticos são “cânticos inspirados” é porque eles são encontrados na Bíblia! Se eles não
estivessem na Bíblia, eles não seriam inspirados! Então, eles diriam, se outros podem compor
cânticos, isso significa que podemos compor também – se eles aparecem na Bíblia ou não, isto
não é discutível.
Porém, isto é perder de vista o ponto: os cânticos compostos numa celebração de eventos
redentivos não são inspirados porque eles estão incluídos nas Escrituras, mas, eles estão
incluídos nas Escrituras porque eles são inspirados! Há uma grande diferença! Para ser preciso,
o Espírito Santo não apenas registrou esses cânticos para nós na Bíblia: Ele, na verdade, é o
Autor deles para a ocasião em particular e para o uso da igreja.
É importante compreender esta distinção: algumas palavras são inspiradas simplesmente porque
elas aparecem na Bíblia – e essas incluem as mentiras do diabo. Outras palavras estão na Bíblia
porque elas são inspiradas, porque primeiramente foram ditas por Deus – tais como as palavras
de Cristo. Não sabemos se outros cânticos foram compostos no tempo dos grandes atos
redentivos do Velho Testamento, mas sabemos que o que nós temos – como o Salmo 126 após a
libertação do cativeiro – foi autorizado e inspirado pelo Espírito para o uso da igreja!
Para enfatizar mais esta questão, note cuidadosamente o seguinte: aqueles que escrevem os
cânticos da igreja são invariavelmente profetas! Por exemplo, Moisés, o autor do cântico de
Êxodo, é um profeta; Miriam, uma possível autora, também é uma profetiza (Êxodo 15:20-21).
Débora, que compôs seu cântico, é outra profetiza (Juízes 4:4 e 5); Davi é um profeta;
crucialmente, os oficiais que supervisionam a música e compõem os cânticos da adoração do
Templo, tais como Hemã, Asafe e Jedutum, são todos profetas também (veja 1 Crônicas 25:5 e 2
Crônicas 29:30, 35:15).
Para estender isto à narrativa de Lucas (ainda, é claro, sob a Velha Aliança), as elocuções de
Maria, Zacarias e Simeão são imediatamente inspiradas pelo Espírito Santo. Indo para a Nova
Aliança, os Salmos carismáticos de 1 Coríntios 14 – supondo que eles eram novas composições
ao invés de escolhas dos Salmos já existentes – são inspirados por profetas também.
Estamos compreendendo a figura? O que poderia ser mais claro? Os cânticos da igreja são
sempre produzidos por profetas com o propósito de serem cantados na igreja! As igrejas
reformadas parecem não ter compreendido que compor novos cânticos para o uso na adoração
pública é, na verdade, uma atividade carismática – e têm falhado em pontuar a ligação entre o
surgimento do fenômeno pentecostal/carismático com a proliferação de cânticos de adoração.
É importante notar, nesta particular discussão, como Ezequias se comporta quando ele se
compromete com uma reforma nacional durante o seu reinado. Ele começa a obra com uma
reforma no culto do Templo e quando se trata da questão do louvor, o critério que ele aplica é
simplesmente: “o que a Palavra de Deus nos autoriza a fazer?”. Como veremos posteriormente,
ele restabelece os instrumentos de adoração ordenados por Davi. Porém, ele também ordena os
cânticos que devem ser cantados: “Então o rei Ezequias e os príncipes disseram aos levitas que
louvassem ao Senhor com as palavras de Davi, e de Asafe, o vidente” (2 Crônicas 29:30).
A importância disto não pode ser exagerada: o reino de Ezequias teria muitos poetas e músicos
competentes. Porém, porque não havia cânticos que foram compostos pela inspiração do Espírito
Santo, desde os dias da reconstrução do Templo, Ezequias sentiu-se compelido a usar apenas
cânticos que haviam sido inspirados pelo Espírito Santo há uns 300 anos atrás! Isto é uma prova
da preocupação de se usar apenas os cânticos que o Espírito Santo inspirou na adoração a Deus.
Não nos é dito por Deus, em lugar algum, que essa posição mudou! Se precisamos de outros
cânticos sob a Nova Aliança, à parte destes que temos, que um profeta inspirado pelo infalível
Espírito de Deus os escreva! A afirmação de que isso pode ser feito pertence à teologia
carismática, não à teologia reformada.
“Se precisamos de outros cânticos sob a Nova Aliança, à parte destes que
temos, que um profeta inspirado pelo infalível Espírito de Deus os escreva!”
De tudo que foi exposto, vimos que o mandamento para “cantar um novo cântico” não nos
permite criar novos cânticos para a adoração da igreja. Isso nos leva ao segundo argumento para
o uso de hinos, que é o de que os Salmos não são suficientes.
“Parece estranho que, finalmente, quando a igreja pode cantar seus cânticos
da Aliança em plena luz do advento de seu Servo-Rei, de quem eles
constantemente falam, ela deseje complementá-los ou abandoná-los!”
CONCLUSÃO
A última coisa que pode ser dita é, então, que o argumento para se cantar hinos está longe de ser
provado. E, para alguém verdadeiramente reformado em sua abordagem e, portanto, zeloso em
não incluir na adoração qualquer coisa que não tem autorização expressa de Deus, isto deve ser
suficiente. Porém, isto é apenas o mínimo daquilo que deveria ser dito e, na realidade, está longe
de ser suficiente.
É mais necessário e correto dizer que o argumento para cantar apenas os Salmos da Bíblia é bem
provado! Segue-se que a igreja precisa urgentemente se arrepender nessa área e redescobrir essa
verdade que uma vez ela segurou e professou, mas que agora, em grande parte, abandonou - para
sua grande perda.
uando há diferenças de opiniões entre os cristãos acerca de qualquer assunto, é sempre útil
Q inquirir até onde eles concordam, e, deste modo, verificar em qual ponto exato eles
começam a divergir. Em relação aos cânticos que devem ser empregados no louvor a Deus,
há muitos pontos de geral acordo.
Pontos de Concordância
- Concorda-se que os Salmos foram dados por divina inspiração e eles são a própria Palavra de
Deus. “Diz Davi, filho de Jessé, e diz o homem que foi levantado em altura, o ungido do Deus de
Jacó, e o suave em salmos de Israel. O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra está
na minha boca” (2 Samuel 23:1-2).
“Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca
de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus” (Atos 1:16. Veja
também Atos 4:25; Hebreus 3:7 e outros). Homens devem tomar cuidado com aquilo que falam
contra o Livro dos Salmos. O Espírito Santo é o seu autor. Este é o primeiro ponto de
concordância.
- Concorda-se que esses Salmos inspirados foram apontados por Deus para serem usados em sua
adoração. “Cantai-lhe, salmodiai-lhe” (1 Crônicas 16:9). “Então o rei Ezequias e os príncipes
disseram aos levitas que louvassem ao Senhor com as palavras de Davi, e de Asafe, o vidente. E
o louvaram com alegria e se inclinaram e adoraram” (2 Crônicas 29:30). “Apresentemo-nos ante
a sua face com louvores, e celebremo-lo com salmos” (Salmos 95:2). Expositores bíblicos e
historiadores da igreja igualmente concordam que os Salmos inspirados eram usados
exclusivamente na adoração do Velho Testamento. Deus os apontou para serem usados e
ninguém, exceto Deus, poderia mudar este decreto. Este é o segundo ponto de concordância.
- Concorda-se que até onde vão os registros, nosso Senhor Jesus Cristo usou exclusivamente os
Salmos na adoração. Apenas numa ocasião há uma referência ao nosso Senhor cantando. Isto foi
em conexão com a observância da Páscoa. É dito: “E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte
das Oliveiras” (Mateus 26:30, Marcos 14:26). Estudiosos da Bíblia não são enganados pelo uso
da palavra “hino” em nossa tradução neste verso. O original simplesmente afirma o fato de que
eles cantaram louvores a Deus. Na margem, lê-se: “Quando eles cantaram um Salmo”. É um fato
bem conhecido que os judeus estavam acostumados a cantar, durante a Páscoa, o grande Halel,
que consistia dos Salmos 113 ao 118, inclusive. Certamente, nosso Senhor e Seus apóstolos não
se apartaram desta prática. Na verdade, seria estranho se o Senhor Jesus, que sempre exaltou e
honrou o Espírito Santo, tivesse colocado de lado os cânticos que Ele apontou para este exato
propósito. Mas Ele não o fez. Aqueles que seguiriam de perto os passos de Jesus deveriam cantar
os Salmos. Este é o terceiro ponto de concordância.
- Concorda-se que temos uma expressa autoridade para o uso dos Salmos do Velho Testamento
na igreja do Novo Testamento. “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a
sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos
espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Colossenses 3:16). Ainda que
possa haver diferenças de interpretação quanto ao sentido de: “hinos e cânticos espirituais”,
todos concordam que salmos, mencionados aqui, são os Salmos inspirados das Escrituras. A
passagem, portanto, contém uma expressa autorização para o contínuo uso do Saltério na igreja
do Novo Testamento. Ninguém nega isso. Este é o quarto ponto de concordância.
Não está sendo afirmado que não há opiniões contrárias ou diferentes nestes quatro pontos, que
alguns indivíduos sustentam, mas há uma concordância geral em todas as classes de cristãos
evangélicos nestes pontos.
O Dr. Albert Barnes em seu comentário em 1 Coríntios 10:3: “E todos comeram de uma mesma
comida espiritual”, diz: “A palavra ‘espiritual’ é evidentemente usada para denotar aquilo que é
dado pelo Espírito, por Deus; aquilo que é o resultado de seu dom miraculoso; aquilo que não foi
produzido por modo ordinário”. Novamente: “A palavra ‘espiritual’ deve ser usada no sentido
sobrenatural, ou aquilo que é imediatamente dado por Deus”. Portanto, “cânticos espirituais” são
cânticos produzidos de uma maneira sobrenatural, aqueles dados imediatamente pelo Espírito
Santo. É como se lêssemos: “Ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos,
hinos e cânticos dados pelo Espírito Santo”. Que cânticos são estes? O doce salmista de Israel
responde: “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra está na minha boca”. Esses
mesmos nomes, portanto, que têm sido usados para fornecerem uma autorização para o uso de
cânticos não inspirados, descobrimos que são títulos bem conhecidos para os Salmos da Bíblia, e
que, qualificados pela palavra “espiritual” não podem ser usados para designar músicas sem
inspiração, mas fornecem uma autorização para o uso exclusivo dos cânticos do Espírito.
“Os Salmos são objetivos. Eles são centrados em Deus. A alma olha para fora e
para cima. Eles conduzem a alma à adoração de Deus: ‘na beleza da
santidade’, como objeto de louvor, para devotamente se prostrar diante dEle no
Seu trono, como Aquele que ouve orações”
CONCLUSÃO
Não podemos encerrar sem um fervoroso apelo ao coração dos cristãos com relação a duas
coisas:
1. A restauração do próprio Saltério de Deus como hinário de todas as igrejas. O presente
movimento nessa direção deve ter a sincera cooperação de todo cristão. Essa rejeição tem sido
em desprezo ao mandamento divino, ao exemplo de nosso bem-aventurado Senhor e à autoridade
apostólica contida nessa passagem. Deve ser restaurado ao seu lugar pela unida voz de toda a
cristandade e pela alegre aclamação de todos. Seria como trazer de volta a Arca de Deus;
2. Quando o Saltério for restaurado ao seu lugar nos hinários da igreja, ele deve ser usado
EXCLUSIVAMENTE na adoração a Deus. Pode ser encontrado um lugar para cânticos não
inspirados, mas não no culto público. Deus deve ser servido com aquilo que é seu. “Pois seja
maldito o enganador que, tendo macho no seu rebanho, promete e oferece ao Senhor o que tem
mácula; porque eu sou grande Rei, diz o Senhor dos Exércitos, o meu nome é temível entre os
gentios” (Malaquias 1:14).
Rev. William Maclean foi ministro das congregações da Free Presbyterian Church of Scotland
[Igreja Presbiteriana Livre da Escócia] em Gisborne (Nova Zelândia), Grafton (Austrália), e
Ness, Ilha de Lewis. Ele faleceu em 1985.
CITAÇÕES ÚTEIS
Rev. W.D. Ralston em “Talks on Psalmody” [Palestras sobre Salmodia] relata a seguinte
história: “Enquanto eu caminhava para casa, parei nos meus tios e passei a noite lá. À noite, eu
peguei meu hinário e cantei com meus primos. Depois que o coloquei de lado, meu tio pegou-o,
pôs os seus óculos e passou um tempo lendo-o. Ele era um crente firme no uso exclusivo dos
Salmos, e meu livro era um hinário de outra denominação. Dava os nomes dos hinos e das
músicas, com os nomes dos compositores de cada um deles, até onde eram conhecidos. Meu tio
leu um hino e, mencionando o nome do autor, disse: ‘Não conheço coisa alguma acerca dele’.
Ele leu outro e disse: ‘Eu li sobre o autor deste aqui. Ele era um padre da Igreja Católica
Romana’. Ele leu outro e disse: ‘Eu li sobre este autor algumas vezes. Ele era um bom homem e
um ministro fervoroso’. Ele, então, disse: ‘Agora, John, se eu fosse usar um destes hinos no culto
a Deus essa noite, qual você acha que teria escolhido como o melhor: aquele de cujo autor eu não
sei coisa alguma, aquele do padre da Igreja Católica Romana ou aquele do ministro cristão
fervoroso?’ Eu respondi: ‘Aquele do ministro’. ‘Verdade’, ele disse, ‘devemos escolher aquele
que foi escrito pelo melhor homem; e, ao ler este livro, eu posso ver que contém muitos hinos
escritos por bons homens; mas se eu encontrasse algum que foi composto pelo próprio Deus, não
seria melhor cantá-lo mais do que aqueles produzidos por bons homens?’ Eu respondi: ‘Seria,
com certeza’. Pouco depois ele disse: ‘Eu, agora, li cuidadosamente o seu livro e não encontro
um hino em que esteja marcado: ‘Composto por Deus’; mas eu tenho um pequeno hinário, e
Deus, pelo Seu Espírito, compôs cada hino dele; Pedro diz: ‘Homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo’ ’. Enquanto ele falava, deu-me um dos nossos Saltérios, e o modo
como ele apresentou seu argumento causou uma impressão na minha mente que jamais
esquecerei”.
O quão conclusivo é este argumento. Devemos servir a Deus com o melhor. O Livro de Deus é o
melhor. Quando Ingersol [um famoso agnóstico e crítico do cristianismo] disse que poderia
escrever um livro melhor do que a Bíblia, os cristãos ficaram chocados e o denunciaram como
um: “infiel e blasfemo”. Como, então, podemos dizer que podemos escrever um livro melhor de
louvores do que o Saltério de Deus? Se é verdade que os hinários são melhores do que o Saltério,
isto marca a maior realização de todas, pois o homem conseguiu superar a Deus em seu próprio
meio de adoração! Se não é verdade, então a substituição do Saltério feito por Deus pelos hinos
feitos pelos homens, na adoração a Deus, é um ato muito ousado de presunção.
Numa reunião de ministros de várias denominações numa cidade oriental, um artigo sobre
hinologia da igreja havia sido lido. Uma discussão geral seguiu-se após a leitura. Um defensor do
uso exclusivo dos Salmos inspirados empregou uma ilustração com grande efeito! “Se tenho uma
importante mensagem para enviar a um morador dos distritos mais altos da cidade, eu posso
chamar um jovem mensageiro e dizer a ele: ‘Você pode levar esta mensagem para mim para ser
entregue a tal pessoa que mora em tal parte da cidade?’. O jovem responderia com dúvidas: ‘Eu
acho que posso. É verdade que eu nunca estive nessa parte da cidade. Eu nasci aqui perto. Eu
ouvi falar da pessoa para quem você deseja enviar a mensagem, mas não estou familiarizado com
ele, mas acho que posso encontrá-lo. Estou disposto a tentar’. Minha mensagem é muito
importante e, ainda que eu esteja satisfeito com as boas intenções desse jovem, eu não estou
seguro acerca de sua habilidade para cumprir a responsabilidade. Então, eu chamo outro jovem e
lhe pergunto a mesma coisa. Prontamente ele responde: ‘Oh sim, eu posso levar a mensagem
diretamente à sua casa. Eu conheço toda aquela parte da cidade. Eu nasci lá. E eu vim de lá. Na
verdade, seu amigo me enviou aqui para te encontrar e para carregar qualquer mensagem que
você deseje entregar-lhe’. Não seria difícil decidir quais desses mensageiros eu deveria
empregar. Isto é uma alegoria. Se tenho uma mensagem de louvor para enviar a Deus, e eu
emprego um hino para levá-la, eu estaria inseguro sobre isso; pode chegar até Ele, e pode não
chegar. Mas se eu empregar um Salmo para levá-la, eu sei que ela subirá aos céus. Os Salmos
nasceram lá. Vieram de Deus para mim; e, na verdade, Deus os enviou a mim para carregar
qualquer mensagem de louvor que eu possa desejar enviar a Ele”.
- William Romaine
PERGUNTA 2. Qual regra Deus deu para nos dirigir sobre como devemos glorificá-Lo e
desfrutá-Lo?
RESPOSTA: A Palavra de Deus, que se acha nas Escrituras do Velho e do Novo Testamentos, é
a única regra para nos dirigir na maneira de o glorificá-Lo e desfrutá-Lo (Texto Prova: 2 Timóteo
3:16).
odo crente cristão conhece a bênção de Cristo sendo revelado à sua alma em certos versos
T do Livro dos Salmos. Temos exemplos no verso 1 do Salmo 22: “Deus meu, Deus meu, por
que me desamparaste?” e os versos 7 e 8 do Salmo 40: “Então disse: Eis aqui venho; no
rolo do livro de mim está escrito. Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei
está dentro do meu coração”; ou o verso 1 do Salmo 110: “Disse o SENHOR ao meu Senhor:
Assenta-te à minha mão direita”.
Mas é uma questão de maior admiração discernir Cristo em cada um dos 150 Salmos! Não
somos levados a pensar no cenáculo após a ressureição de Cristo quando Ele declara aos seus
discípulos que: “convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e
nos profetas e nos Salmos” (Lucas 24:44)? A próxima afirmação das Sagradas Escrituras
imediatamente a isto é vital: “Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as
Escrituras” (Lucas 24:45). Oremos para que tenhamos esta compreensão. Então, seremos levados
para mais perto de Cristo do Salmo 1 ao 150.
Podemos considerar juntos alguns menos conhecidos exemplos da vida de Cristo Jesus nos
Salmos.
A pureza de Cristo
Em sua vida inteira, Jesus foi completamente sem pecado (Hebreus 2:15). Sua vida foi uma vida
de santa perfeição (Hebreus 7:26). Isso nos ajuda a abrir um Salmo como o Salmo 139, e nos
permite ver as palavras deste Salmo como as palavras de Cristo a seu Pai. É Cristo (mais do que
Davi) que pronuncia as palavras: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e
conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho
eterno” (Salmos 139:23-24). Maravilhoso! Há outros Salmos nos quais a pureza do homem reto
nos é apresentada de tal maneira que podemos concluir que deve se referir a Cristo. Por exemplo,
no Salmo 1:3 não podemos evitar a conclusão de que somos levados a Cristo, não há outra
pessoa além de Cristo de quem pode ser apropriadamente dito: “as suas folhas não cairão, e tudo
quanto fizer prosperará”.
O Cristo obediente
Esses exemplos lançam luz em outros Salmos e outras situações nas quais nosso Salvador
encontrou a Si mesmo. Vamos considerar Sua obediência. Se meditarmos na verdade que Jesus:
“Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hebreus 5:8), podemos,
então, reconhecer o cântico de Cristo no Salmo 119 enquanto Ele clama a Deus para ser ensinado
e conservado: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Salmos
119:11) e: “Ensina-me, ó Senhor, o caminho dos teus estatutos, e guardá-lo-ei até o fim” (Salmos
119:33). Não há ninguém que possa dizer com tanta verdade como Cristo pode: “Oh! quanto
amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia” (Salmos 119:97).
A adoração de Cristo
Ao longo de seu ministério terreno, o Filho de Deus levou uma vida de oração e adoração. A
Bíblia registra que era seu deleite fiel tomar parte na adoração na sinagoga nos Shabats (Mateus
12:9; 13:54; Marcos 1:21; Lucas 4:16 e João 6:59). Enquanto engajava-se na adoração, Jesus
teria cantado Salmos – cada um deles – e, ao fazê-lo, ele tomaria o “Eu” do salmista para si
mesmo. Por exemplo: “Com a minha voz clamei ao Senhor” (Salmos 3:4). E “Amo ao
SENHOR, porque ele ouviu a minha voz e a minha súplica” (Salmos 116:1). Há uma grande
profundidade quanto ao humilhante sofrimento de Cristo como o Redentor dos eleitos de Deus
brilhando no Salmo 116. Não esqueçamos que Jesus de Nazaré, o Filho de Deus que também é o
Filho do Homem, tomou cada palavra de cada Salmo nos seus lábios. Consequentemente,
quando louvamos a Deus com os Salmos, estamos usando exatamente as mesmas palavras que
Cristo usou.
Quanto à oração, os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João revelam que Jesus foi muito
dado à oração (Mateus 14:23, 26:36; Marcos 1:35, 6:46, 14:32; Lucas 5:16, 6:12, 9:28-29 e João
17). Ainda assim, à parte de João 17 e Mateus 26, muito pouco das orações de Cristo são
registradas nos Evangelhos. Porém, Davi, o doce salmista de Israel e outros, foram usados pelo
Espírito Santo como profetas para escreverem as orações de Cristo! As súplicas dos Salmos são,
realmente, as súplicas de Cristo a seu Pai. Estes Salmos dão uma profunda compreensão e nos
levam a: “compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a
profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais
cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3:18-19).
Conclusão de advertência
Finalmente, precisamos reconhecer que o diabo sabe que os Salmos nos direcionam a Cristo. O
diabo odeia isso e ele vai fazer o que puder para mudar e diminuir a declaração de Cristo como o
Filho de Deus, Salvador de pecadores. Isto é trazido à nossa atenção quando o diabo cita
incorretamente o Salmo 91, versos 11 e 12 – que é uma profecia de Cristo – durante a tentação
no deserto (Mateus 4:6). Em referência ao Salmo, o diabo remove toda a afirmação importante:
“para te guardarem em todos os teus caminhos”.
Este tipo de coisa é um perigo real em nossos dias quando homens estão tentando depreciar os
Salmos ou removê-los da adoração a Deus. Faríamos bem em nos lembrar que o Livro dos
Salmos é uma parte integral das Escrituras: “Toda a palavra de Deus é pura”
(Provérbios 30:5) e “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para
redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Timóteo 3:16).
Com respeito a isso, Cristo, ao ensinar seus discípulos, os encoraja ao dizer-lhes: “Escutarei o
que Deus, o Senhor, falar; porque falará de paz ao seu povo, e aos santos, para que não voltem à
loucura” (Salmos 85:8). Que bênção e que advertência!
Creio que esses poucos comentários de uma alma conflitante possa ser de alguma ajuda. É
apenas o Espírito Santo que pode confirmar a verdade.
I. SALMOS
Cânticos do Velho Testamento
Podemos, de forma útil, começar examinando o desenvolvimento do cântico no Velho
Testamento. O primeiro cântico é, provavelmente, o de Lameque em Gênesis 4:23-24, e é um
cântico de guerra. Muitos dos oráculos do Velho Testamento são expressos de forma poética,
como a bênção de Jacó, mas o primeiro verdadeiro cântico de louvor é o cântico de Moisés após
cruzarem o Mar Vermelho. Então, há, no capítulo 32 de Deuteronômio, em que Deus instruiu
Moisés a ensinar a Israel, um cântico de testemunho contra eles quanto à infidelidade. Segue-se a
bênção de Moisés e o Salmo 90 é dele. Então temos os cânticos de Débora e Ana, e isto nos leva
ao tempo de Davi. A maioria dos Salmos são dele, mas seu lamento por Jônatas e as últimas
palavras de Davi aparecem apenas em 2 Samuel. Um dos cânticos de Davi aparece duas vezes,
em 2 Samuel 22 e no Salmo 18.
Agora temos uma questão que transcende completamente aquilo que foi referido anteriormente
quanto ao cântico inspirado e não inspirado. Aqui temos cânticos, alguns dos quais são
genuinamente inspirados, e, não obstante, quando o Livro de Salmos foi compilado, eles não
foram incluídos. Certamente poderíamos ter esperado que o cântico de libertação do Egito, o
cântico de nascimento da nação de Israel, tivesse um lugar proeminente no hinário deles. Mas ele
está ausente juntamente com aquele que Deus disse que não deveria ser esquecido dos lábios da
semente deles. Se olharmos um hinário moderno, veremos que cada cântico, que por qualquer
motivo possa ser chamado de espiritual, não importando quais são as credenciais do autor, foi
pressionado para o culto. Se esses métodos tivessem sido operados no caso dos Salmos, então,
todos os cânticos de Moisés e Davi, com os de Débora e Ana, teriam certamente sido incluídos.
Como é, então, que eles foram omitidos?
2. Em segundo lugar, há um princípio seguido de que apenas cânticos que são adequados para
uso no louvor por todas as pessoas estão incluídos entre os Salmos. Isso não significa que não
haverá referências a assuntos judaicos, pois a economia judaica era algo típico, e sua história
revela o propósito e governo de Deus de uma forma que é fundamental para a dispensação cristã.
Mas isso significa que os Salmos não foram compilados apenas ou principalmente como um
manual de louvor para a nação judaica. Se tivessem assim sido, os dois cânticos de Moisés não
poderiam ter sido omitidos. Embora o cântico de Êxodo 15 não esteja incluído como um todo,
sete Salmos referem-se à divisão do mar, e 18 contêm passagens paralelas a Deuteronômio 32. O
cântico de Débora é de importância principalmente para Israel, e é excluído, mas uma frase dele:
“Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro”, aparece no Salmo 68. O cântico de Ana é
excluído, mas uma parte dele é reproduzida no Salmo 113:7-8 e cada verso é citado em outros
lugares. O lamento de Davi por Jônatas não está incluído - não é louvor de Deus, e parece ser
uma das expressões meramente humanas e sem inspiração, de Davi. As últimas palavras de Davi
não estão incluídas, embora inspirado, sendo pessoal para si mesmo.
Concluímos, então, que cânticos que eram verdadeiramente cânticos nacionais de Israel não
foram incluídos, mas apenas cânticos que estavam numa forma adequada para ser a substância
do louvor de Deus de uma maneira mais ampla e por outras nações.
3. Em cerca de metade dos Salmos a expressão é de uma única pessoa, e o terceiro princípio que
podemos traçar é que esta é uma pessoa representativa. Em cerca de 12 destes Salmos pessoais,
fala um pecador representante, David ou Asafe, um pecador salvo. Em mais de 60 Salmos temos
um orador que em muito transcende David ou Asafe em sua pessoa, caráter e obra. Ele oferece a
Deus o louvor de um coração justo, mas, ao mesmo tempo, ele carrega uma carga de culpa. Ele é
o redentor, e os principais Salmos desta natureza foram compilados por nosso Senhor para si
mesmo, e Ele disse: “Na sua lei está escrito acerca de mim”. Os apóstolos seguiram Cristo nesse
ensino, e têm apontado para passagens que não são verdades acerca de Davi, e não se aplicam a
ele.
II. HINOS
Os primeiros competidores a ganharem terreno contra os Salmos foram aqueles hinos que
apareceram no segundo século para promoverem o gnosticismo e heresias similares. Os: “hinos e
cânticos espirituais”, por outro lado, mencionados em Efésios e Colossenses, são termos usados
na Septuaginta para descreverem os Salmos, e o hino mencionado em Mateus é também um
Salmo. Alguns dos hinos gnósticos louvavam virtudes práticas. O partido ortodoxo escreveu
hinos para contrapor, mas eles não foram bem recebidos porque eram na sua maior parte
baseados em credos e lhes faltava calor. Depois disso seguiram-se os hinos latinos e gregos,
contemplativos, narrativos, subjetivos, que estabeleceram a moda para os hinos modernos.
Muitos hinos são uma expressão da experiência cristã, sentimentos, ambições, orações do autor,
e têm muitas das valiosas características de um diário cristão. Diários, tais como os de Boston,
Fraser, Halyburton e Bonar, podem ser leituras edificantes para outros cristãos. Do mesmo
modo, hinos como o de Murray McCheyne, “I once was a strange” [Eu era um estranho], ou o de
Charlote Elliot “Just as I am” [Apenas como eu sou], descrevem a conversão do autor de um
modo simples e comovente, calculado para ajudar outros a tomarem o mesmo caminho. Mas eles
são, por necessidade, composições subjetivas, não possuindo as altas características do louvor
exemplificado nos Salmos e não foram, de fato, escritos tendo em vista este fim. Não é algo
ofensivo ser subjetivo - o Livro de Jó, por exemplo, é quase completamente assim. Temos muito
respeito por esses hinos. Mas nós temos um problema com aqueles que compilaram tais hinos e
os puseram como substitutos para o manual divino. Uma coleção, com os mais irrepreensíveis
hinos reunidos, choca imediatamente por esta característica de ser centrada no homem e ter Deus
como secundário.
Murray McCheyne, que citamos, veria com aversão a ideia de usar qualquer uma de suas
composições como uma substituta para os Salmos no louvor público. Mas houve muitos
compositores de hinos que pensaram que Deus deixou a si mesmo sem uma testemunha quanto à
questão do louvor na época do Novo Testamento e que cabia a eles suprir esta deficiência. Isaac
Watts rescreveu os hinos para fazer Davi falar como um cristão e outros compositores de hinos
adotaram papéis igualmente presunçosos. Os resultados podem apenas ser descritos como
desastrosos. Eu proponho fazer um breve resumo acerca disso.
“Para pessoas que não são diligentes no estudo das Escrituras, o hino,
impresso na memória pelo ritmo e melodia, é a mais efetiva agência de ensino,
e seus padrões errôneos agem como um antídoto contra a verdade”
Há uma seletiva absorção do elemento errôneo. Para pessoas que não são diligentes no estudo
das Escrituras, o hino, impresso na memória pelo ritmo e melodia, é a mais efetiva agência de
ensino, e seus padrões errôneos agem como um antídoto contra a verdade. Tudo o que foi dito
num recente Monthly Record [um periódico] sobre a mudança de ênfase do conhecimento para o
sentimento no modernismo se aplica igualmente à coleção de hinos, sem o qual o modernismo
seria privado de um dos seus mais efetivos pilares.
Não conheço igreja alguma que, ao fazer uso de hinos, não tenha uma grande rachadura interna
no que diz respeito a questões de fé ou prática. Isto não é um acidente. Uma pessoa convertida,
fundamentada na Escritura, tem um antídoto contra a influência dos hinos que geralmente a
capacita a suportar uma pequena influência adversa. Uma pessoa não convertida não possui esse
antídoto e os hinos, pelas suas expressões duvidosas e omissões da verdade vital, tanto quanto
seus erros, confirmam-na em sua disposição natural.
Hinos também são grandes divisores entre as igrejas porque desde o tempo dos gnósticos e até o
tempo presente, cada diferente tipo de crença prefere ser fortificada pelo uso de seus próprios
hinos particulares.
Os Salmos, divinamente aprovados como o veículo de louvor, são designados para ser uma
influência unificadora com respeito à soberania de Deus e à autoridade das Escrituras. Esta é
outra razão pela qual devemos ser militantes em nossa defesa do seu uso.
III. PARÁFRASES
Agora uma palavra sobre paráfrases. O que é uma paráfrase? Antigamente, os Salmos
metrificados foram chamados de paráfrases métricas dos Salmos. A prosa do Salmo diz: “O
Senhor é meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em pastos verdes”. E paráfrase métrica diz:
“O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Ele me faz deitar”. Isto é, a paráfrase métrica diz a
mesma coisa que a prosa, mas as palavras são reorganizadas para se encaixarem na métrica, com
poucas mudanças, conforme a possibilidade. A primeira coisa que podemos notar, portanto, é
que um terço das chamadas paráfrases não são paráfrases de modo algum e outro terço delas são
transcritos frouxos. Alguns versos são boas traduções das Escrituras; por exemplo, a paráfrase de
Romanos 3:19-20: “Nenhuma esperança pode ser edificada sobre a lei”, etc.. Mas: “Vós que sois
indolentes e preguiçosos! Levantem-se, vejam o trabalho das formigas e sejam sábios”, não tem
a mesma concisa simplicidade do original. Nenhum destes, porém, é um louvor, mas na verdade
é pregação ou exortação, dito da parte de Deus para o homem, e não do homem para Deus.
Em Gênesis 28:18 temos: “Então levantou-se Jacó (...)” etc., e na segunda paráfrase: “Oh Deus
de Betel”. Isto não é, com certeza, uma paráfrase, mas apenas um hino baseado num pensamento
sugerido pela prosa da passagem. Não devemos ser enganados por um nome.
A maioria das chamadas paráfrases faz uso de uma liberdade bem indevida em seu material,
acrescentando à divina Palavra conceitos humanos. Não há virtude em desviar-se daquilo que
Deus apontou para o cântico e substituí-lo por aquilo que Deus apontou para ser pregado e
narrado. Pode haver uma boa razão para pessoas iletradas usarem a forma métrica de uma
narrativa para ajudar a memória. As Gude and Godly Ballads [As músicas boas e piedosas] na
Escócia e os hinos de Lutero na Alemanha ajudaram grandemente a divulgar a Reforma. Mas
não podemos cair na ilusão de que porque algo está num verso, se torna, por isso,
automaticamente um louvor como aqueles que fazem coleções de hinos são tão propensos a
imaginar.
Se eu fosse informado que deveria tirar uma igreja ortodoxa que canta os Salmos para fora das
Escrituras, primeiro eu sugeriria que eles deveriam ser induzidos a usarem paráfrases, como se
fossem a Palavra de Deus em versos. Após uma geração ou mais, eu lhes diria que há hinos mais
escriturísticos (como “Rock of Ages” [Rocha das Eras]) do que algumas paráfrases (tais como
“O God of Betel” [Oh Deus de Betel]), e os faria adotar alguns hinos melhores. Após isso,
alguém pode, de acordo com a ocasião, fazer com que os hinos cheguem a uns 500 e substituam
tanto as paráfrases quanto os Salmos. Isto não é realmente muito original – aconteceu assim em
nossa própria igreja. Em 1870, a Assembleia Geral da Free Chuch of Scotland [Igreja Livre da
Escócia] concordou em admitir: “vinte e cinco hinos do melhor tipo”. Numa questão de dez
anos, havia centenas e eles desempenharam um importante papel no movimento de declínio
espiritual em direção ao término do século XIX.
CONCLUSÃO
A diferença entre a mais orgulhosa composição de um homem não inspirado, tentando revelar a
Deus, e o mais humilde Salmo é toda a diferença entre a terra e o céu. Nos Salmos, temos a
Escritura em miniatura – história, biografia, teologia, profecia, devoção – tudo revestido de um
traje de louvor e expresso, como em muitos deles, pela boca de um mediador cujos pensamentos
são amplamente escritos. Hinários, por comparação, naquilo que eles incluem e ainda mais
naquilo que são incapazes de expressar, são como a palha para o trigo.
A lei de Deus é perfeita e converte a
alma que no pecado está
O testemunho de Deus é verdadeiro,
e torna o simples sábio.
É tanto nosso privilégio quanto nossa sabedoria testemunhar a nós mesmos e a outros que esta
mensagem evangelística, missionária e revitalizante não é menos que os Salmos, os Evangelhos
ou qualquer outro livro bíblico. Esta é uma verdade que muitos têm esquecido.
Este capítulo IV foi originalmente uma palestra realizada na Reunião Anual da Associação de
Estudantes da Free Church e foi impresso na Monthly Record [um periódico] da Free Church of
Scotland [Igreja Livre da Escócia], em abril de 1956, 67 - 71.
Major William Morton Mackay, M.C, lutou como oficial do exército nas duas guerras mundiais,
ensinou engenharia elétrica na Universidade de Saint Andrews, e serviu por muitos anos como
presbítero regente em Dundee, na congregação da Free Church of Scotland [Igreja Livre da
Escócia]. Ele faleceu em 1971.
V. CANTE O CÂNTICO DO
SENHOR
Salmos Bíblicos na Adoração
John Keddie
I. PREPARANDO A CENA
cântico de louvor ao Senhor tem sido um aspecto da vida da igreja desde o tempo do Velho
O Testamento. Mesmo antes das especificações do Tabernáculo serem reveladas, havia um
derramar de cântico inspirado ao Senhor. O êxodo do Egito produziu o cântico de Moisés
(Êxodo 15:1-18) e o cântico de Miriã:
“Cantai ao Senhor,
porque gloriosamente triunfou;
e lançou no mar o cavalo
com o seu cavaleiro”
(Êxodo 15:21).
Até no último livro do Novo Testamento, os remidos do Senhor têm uma canção para cantar em
seu louvor. Na verdade, o cântico dos remidos em glória é o cântico de Moisés e o cântico do
Cordeiro (Apocalipse 15:3-4). Desta forma, uma ligação é feita entre o primeiro cântico
inspirado da Escritura e o último! Pode ser facilmente reconhecido que a música sempre
desempenhou um papel importante na vida da igreja do Deus Vivo.
"A prática do canto congregacional dos Salmos foi, em si, uma vez difundida,
pelo menos nas igrejas reformadas. Uma revisão dos hinários modernos revela
como os materiais de louvor da igreja moderna largamente datam do século
XVIII"
“É muito fácil dizer que a questão acerca dos específicos materiais de louvor
não é central ou primordial nas preocupações da igreja. No entanto, as
Sagradas Escrituras contêm um Livro de 150 Salmos claramente destinados
para o louvor entre o povo de Deus”
Evidência textual
Por evidência textual queremos dizer aqueles textos ou versos da Escritura que tem uma
incidência sobre a questão do louvor bíblico. Ao examinar esse material, precisamos determinar
quais palavras e passagens são consideradas relevantes e por qual motivo.
Deve-se, certamente, concordar que o Senhor proveu no Livro dos Salmos um Livro de cânticos
pelo menos para a igreja do Velho Testamento. Também, certamente concorda-se que os Salmos,
dentro do lugar que lhes é dado no Novo Testamento, continuam sendo materiais apropriados
para a adoração da igreja da Nova Aliança. Mas surge a questão: há um mandamento para se
cantar cânticos de mera composição humana? Há uma divina autoridade para se cantar hinos de
Isaac Watts (1674-1748), John Newton (1725-1807), Charles Wesley (1757-1834), Horatius
Bonar (1808-1889) ou de qualquer outro compositor?
Os defensores dos cânticos não canônicos irão buscar autorização para seus cânticos em algum
lugar nas Escrituras. Apela-se para um número de passagens para dar-se apoio ao uso, no cântico
congregacional, de materiais além daqueles encontrados nas próprias Escrituras. Passagens que
afirmam serem fragmentos de hinos, no Novo Testamento, também são citadas a título de
suporte adicional. Examinaremos essas passagens da Escritura e nossa principal preocupação
será perguntar se elas realmente dão autorização para a expansão do louvor para além dos limites
do próprio Livro de louvor da Bíblia. Deve ser dito, talvez, que nessa conexão há muitas palavras
no grego do Novo Testamento, cuja tradução pode causar equívocos. Por exemplo, a palavra
traduzida por “hino” não significa, necessariamente, dentro do contexto do Novo Testamento, o
que a palavra passou a significar no uso comum. As palavras gregas relevantes encontradas no
Novo Testamento, em relação ao cântico, são os substantivos psalmos, hymnos e ōdē, e os verbos
hymneō e psallō. Examinaremos as referências do Novo Testamento nas quais estas palavras ou
seus derivados aparecem.
“O que era este ‘hino’? Comentaristas concordam que isto teria sido um dos
Salmos de Halel, do grupo dos Salmos 113 ao 118, comumente usados na
Páscoa”
1 Coríntios 14:26
A palavra psalmos é encontrada em 1 Coríntios 14: “Que fareis pois, irmãos? Quando vos
ajuntais, cada um de vós tem salmo (psalmon) (...)” (verso 26). C.K. Barret sugere que isto pode
ser: “uma nova, talvez espontânea composição e não um Salmo do Velho Testamento”. Porém,
seria mais provável que fosse “carismático” – a questão do “charismata” está em questão neste
capítulo. Além disso, Paulo está falando de elocuções individuais. Não é provável que esses
sejam cânticos congregacionais e, de qualquer maneira, eles seriam diretamente inspirados pelo
Espírito. Em adição, como Ralph Martin observou: “nada (...) se sabe do conteúdo ou forma de
tal criação espontânea” supondo, isto é, que eles não eram Salmos bíblicos, e que, de fato, eles
podem ter sido. Em outras palavras, seria incerto fazer uma afirmação baseando-se muito nesta
referência.
“Se o Espírito quisesse que a igreja os usasse, é inconcebível que Ele iria
simplesmente ter deixado fragmentos aqui e ali e não teria assegurado que as
composições (se é que eram) fossem preservadas inteiramente”
2. O procedimento não é conclusivo. Ainda que pudesse ser provado conclusivamente que
fragmentos de hinos foram encontrados no Novo Testamento, isto ainda não provaria que estes
itens eram parte de uma tradição litúrgica que estava em desenvolvimento. Por um lado, a
providência de Deus é contra ele. Do seguinte modo: nenhum dos itens, dos quais vários versos
no Novo Testamento são considerados como fragmentos, chegou até nós. Os escritores
poderiam, de fato, ter coletado esses “fragmentos” de cânticos contemporâneos, mas por que
então esses cânticos não nos chegaram em sua inteireza, se eles eram para serem usados pela
igreja, ou se eram para ser parte de uma tradição litúrgica? Que tipo de tradição é esta que falha
em manter tais itens? Se o Espírito quisesse que a igreja os usasse, é inconcebível que Ele iria
simplesmente ter deixado fragmentos aqui e ali e não teria assegurado que as composições (se é
que eram) fossem preservadas inteiramente.
Não há evidência de que essas passagens eram cânticos ou parte de uma tradição litúrgica em
desenvolvimento. Mas mesmo supondo que essas passagens fossem descobertas como sendo
cânticos ou partes de cânticos, não se segue que isto provê algum tipo de autorização para o uso
de cânticos não inspirados na adoração ou que seja uma prova demonstrável de que foram usados
em cultos. Toda essa área de estudo do Novo Testamento é incrivelmente imaginativa, mas
inteiramente inconclusiva no que se refere à questão do louvor no Novo Testamento.
IV. O PRINCÍPIO REGULADOR
Todos os cristãos são regulados de um modo ou de outro. Se poderia esperar que todas as igrejas
fossem ao menos afirmar que elas são reguladas pela Escritura. Em muitos exemplos, porém,
igrejas se desviaram das Escrituras como sua regra de doutrina e prática. Na história da igreja
isto se tornou um foco particular de discussão e diferenças. O que precisa ser examinado é como
as igrejas desenvolveram e aplicaram um “princípio regulador”, particularmente na questão da
adoração.
A lei, particularmente em foco, expressa a Palavra e vontade de Deus, era o Decálogo – os Dez
Mandamentos. O fator em comum era a violação da vontade de Deus em conexão com sua
adoração. Era a violação, essencialmente, do Segundo Mandamento (Êxodo 20:4-6). A adoração
não é para ser estabelecida de acordo com a vontade do homem, mas de acordo com o expresso
mandamento de Deus. Que este não é um princípio estranho no contexto do Novo Testamento, é
suficientemente demonstrado numa passagem tal como Mateus capítulo 15 verso 9, na qual Jesus
baseia-se no profeta Isaías ao reprovar os hipócritas que subverteram os mandamentos de Deus,
expressos no Decálogo, por meio de suas adições. Paulo, de maneira similar, em sua carta aos
Colossenses, contrasta os mandamentos de Deus e os mandamentos dos homens em relação à
vida devocional (ver Colossenses 2:20-23). A Palavra e a vontade de Deus, então, devem ser
supremas! Esta é a consistente mensagem do Velho e do Novo Testamento. No Velho
Testamento o princípio era: “guarda meus mandamentos” (Êxodo 20:4-6). “Tudo o que eu te
ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (Deuteronômio 12:32).
Havia bênçãos relacionadas à obediência: como Moisés descobriu (Deuteronômio 4:1-2, 39-40);
como Noé descobriu (Gênesis 6:22; 7:5-7; ver Hebreus 11:7); como os filhos de Israel
descobriram (Jeremias 7:23-24). O último capítulo do Livro de Êxodo é um modelo do princípio
regulador do Velho Testamento.
Também no Novo Testamento encontramos uma atitude similar. Em seu ensino sobre oração, o
Senhor Jesus Cristo inclui a petição: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”
(Mateus 6:10; Lucas 11:2). Além disso, Jesus comissiona seus discípulos a irem ao mundo com a
mensagem do Evangelho. Ele explicita a tarefa deles: “ensinando-os a guardar todas as coisas
que eu vos tenho mandado” (Mateus 28:20). Ele diz: “se me amais, guardai os meus
mandamentos” (João 14:15; ver João 15:14; 1 João 5:3).
Em outras palavras, o princípio regulador do Novo Testamento é consistente com o do Velho
Testamento. A igreja do Novo Testamento deve obedecer os desejos expressos do Salvador. Para
ajudar nisso, obviamente, o Espírito Santo foi enviado à igreja, para representar a Cristo, para
estender o Reino (João 3:3,5), para assegurar que as Escrituras fossem completadas, e para
capacitar as subsequentes gerações a entenderem-na e a obedecerem-na (ver João 14:26; 16:7-8;
Atos 2:33). É significativo que no fechamento do cânon das Sagradas Escrituras há um alerta,
um princípio regulador (Apocalipse 22:18-19; ver Deuteronômio 4:2). O Novo Testamento
contém princípios e regulamentos claros que governam a vida da igreja cristã. Há princípios e
regulamentos, por exemplo, em conexão com os oficiais (Atos 6:1-7; 1 Timóteo 3:1-13 [ver 4:11
e 5:21]; Tito 1:5-9, e etc.); em conexão com a Ceia do Senhor (Mateus 26:26-30; 1 Coríntios
11:23); em conexão com o ensino de Paulo (ver 1 Coríntios 2:12-16; Gálatas 1:12). A principal
preocupação é saber fazer a vontade do Senhor.
“O fato é que Deus deu um manual ou Livro de louvores nos Salmos. Não é
presunçoso impor algum outro ‘cânon’ de louvores cantados o qual, em última
análise, não é a Palavra de Deus?”
V. O TESTEMUNHO HISTÓRICO
“Philip Schaff nos lembra: ‘Nós não temos nenhum cântico religioso completo
remanescente do período de perseguição (isto é, dos primeiros três séculos),
exceto a música de Clemente de Alexandria para o Logos divino - que, no
entanto, não pode ser chamado de um hino’”
Igreja primitiva
A evidência para o cântico exclusivo dos Salmos na igreja imediatamente pós-apostólica é forte.
Um historiador concluiu que: “aqueles que contendem pelo uso exclusivo do Saltério da
Escritura, no louvor de Deus formal e dirigido, encontra na história da igreja primitiva um sinal
de confirmação de sua posição”. Um mais recente hinologista concorda: “Na igreja ocidental, o
hino foi mais lento em ganhar seu espaço, em grande parte por causa do preconceito contra o
louvor não escriturístico, e não quase até o fim do século IV, o cântico de hinos começou ser
praticado nas igrejas”. Isto é confirmado pelo fato de que a cláusula 59 do Concílio de Laodicéia
(314-372) decretou o seguinte: “Proíbe-se cantar hinos não inspirados na igreja, e ler os livros
não canônicos”.
Até certo ponto, esta atitude na igreja primitiva surgiu de uma preocupação em estabelecer o
cânon do Novo Testamento. As igrejas estavam conscientes do carácter distintivo da literatura
canônica. Cecil Northcott, na citação que acabou de ser mencionada, é injusto ao usar o termo
“preconceito” como ele faz. Afinal, ele poderia facilmente ter elogiado a igreja primitiva pela
evidente preocupação para com o louvor exclusivamente bíblico. O verdadeiro preconceito
parece ser da parte de Northcott.
Há confirmação dessa prática da igreja primitiva pelo lado negativo. É claro que o cântico de
Salmos era generalizado. Mas, como Philip Schaff nos lembra: “Nós não temos nenhum cântico
religioso completo remanescente do período de perseguição (isto é, dos primeiros três séculos),
exceto a música de Clemente de Alexandria para o logos divino - que, no entanto, não pode ser
chamado de um hino”.
Enquanto há abundante evidência do uso dos Salmos da Bíblia na adoração da igreja pós-
apostólica, há uma ausência de evidência para o uso de qualquer outra coisa a não ser os Salmos
no louvor formal e dirigido das igrejas.
Igreja da Reforma
O movimento da reforma não foi um movimento unificado. Havia diferentes vertentes dentro do
que é amplamente chamado de reforma do século XVI. Martinho Lutero (1483-1546) e João
Calvino (1509-1564) estavam ambos preocupados com a reforma na igreja, mas eles diferiram
em suas convicções sobre o princípio regulador, como indicado acima. No entanto, os apoiadores
do movimento da reforma calvinista enfatizaram que uma autorização específica ou
“mandamento expresso”, como o reformador escocês John Knox afirmava, era necessário para
todos os aspectos do culto divino. João Calvino expressou da seguinte forma: “todas as partes do
culto divino (...) o Senhor fielmente abrangeu, e claramente revelou em seus sagrados oráculos”.
O Catecismo de Heidelberg, de 1563, faz a seguinte pergunta: “O que Deus exige, no segundo
mandamento?” E responde, dizendo: “Que nós, de modo algum representemos a Deus por
imagens, nem o adoremos de qualquer outra forma além do que Ele ordenou em sua Palavra”.
O período da reforma viu um renascimento do canto congregacional e, especificamente, do canto
dos Salmos bíblicos. Os Salmos eram, em geral, o “hinário” das igrejas da reforma. Como Millar
Patrick observou: “com um só golpe, a igreja reformada cortou suas amarras com toda a missa de
hinos em latim e com o uso dos hinos em geral, e adotou os Salmos do Velho Testamento como
o único meio de louvor da igreja”.
É verdade que alguns dos reformadores, como João Calvino, anexaram os cânticos, os Dez
Mandamentos em métrica, a oração do Senhor e o Credo dos Apóstolos aos seus Saltérios. Isso,
no entanto, dificilmente é uma defesa dos hinos não inspirados. O próprio Calvino sustentou que:
“não podemos encontrar cânticos melhores do que os Salmos de Davi que o Espírito Santo
proferiu e criou”.
Deve ser entendido que, para os reformadores, o uso dos Salmos da Bíblia era uma coisa muito
positiva. Isto é melhor afirmado por Calvino na “Introdução” do seu comentário sobre os
Salmos: “Não existe outro livro onde mais se expressem e magnifiquem os louvores divinos, a
liberalidade de Deus sem paralelo em favor de sua igreja e todas as suas obras. Não há nenhum
outro livro em que haja registrados tantos livramentos, nenhum outro em que as evidências e as
experiências da providência paternal e a solicitude que Deus exerce para conosco sejam
celebradas com tanto esplendor de expressão e ao mesmo tempo com a mais estrita aderência à
verdade. Em suma, não há outro livro em que somos mais perfeitamente instruídos na correta
maneira de louvar a Deus, ou em que somos mais poderosamente estimulados à realização desse
religioso exercício”.
É claro que a adoção dos Salmos pelos reformadores surgiu tanto de um profundo respeito pela
sua natureza, como composições imediatamente inspiradas pelo Espírito Santo, como de uma
consciência positiva de sua beleza inerente e verdade em termos espirituais. Não parece haver
qualquer desvantagem no desenvolvimento de sua piedade cristã por terem utilizado apenas esses
materiais de louvor, retirados exclusivamente do Livro inspirado por Deus.
Puritanos
A atitude e abordagem dos puritanos ingleses do século XVII é bem expressa na Confissão de Fé
de Westminster (1647), sem dúvida a mais bem sucedida das confissões das igrejas reformadas
no mundo de fala inglesa. A Confissão, além de ser clara sobre o princípio regulador que rege a
adoração e a prática dentro da igreja, também ordena especificamente: “o canto dos Salmos com
graça no coração”. Se for necessária alguma prova do zelo da Assembleia de Westminster para
com o cântico dos Salmos, então certamente é bem estabelecida pelo fato de que ela patrocinou
uma tradução métrica dos 150 Salmos da Bíblia. Esta foi a base do Saltério Escocês de 1650.
Não há dúvida de que as igrejas puritanas eram igrejas que cantavam os Salmos. Num prefácio
puritano à edição de 1673 do Saltério Escocês de 1650, referido acima, foi notado que, na
opinião deles: “a tradução que agora é colocada em vossas mãos é mais fiel ao original do que
qualquer outra que já temos visto, e possui uma tal fluente doçura que pensamos ser
recomendada para a vossa aceitação cristã (...)”. Em outras palavras, o Saltério foi visto como
uma mera paráfrase dos Salmos. D.H. Hislop estava certamente correto ao observar que: “o uso
exclusivo do Saltério é derivado de sua [isto é, dos reformados ou calvinistas] concepção da
revelação”.
Os puritanos, basicamente, operaram a partir dos mesmos princípios que as igrejas da Reforma.
Aquele príncipe dos teólogos puritanos, John Owen (1616-1683), por exemplo, falou claramente:
“A parte principal do dever da igreja neste assunto [isto é, de adoração] está em tomar cuidado
para que nada seja admitido ou praticado na adoração de Deus, ou como se à ela pertencesse, que
não seja instituído e apontado pelo Senhor Cristo. Em seu zelo, fidelidade e vigilância quanto à
isso, se consiste a parte principal da sua lealdade ao Senhor Jesus, como o Cabeça, Rei, e
Legislador de Sua igreja; e para estimular-nos à tal, Ele tem deixado tantas interdições e
proibições graves em sua Palavra, contra todas as adições às suas ordens, sob qualquer pretexto”.
Owen estava descontente com a convicção de alguns de que o Senhor não tinha prescrito cada
elemento de sua adoração e descreve isto como um caso de: “negligência em inquirir sobre o que
Ele prescreveu”. O século seguinte viu o início da introdução de materiais não inspirados para
louvor no culto das igrejas. Isto foi promovido principalmente pelo independente Isaac Watts
(1674-1748), talvez o pai fundador inglês do cântico de hinos, e mais tarde pelos hinos de Olney
(1779), de John Newton (1725-1807) e William Cowper (1731-1800). Watts produziu o que ele
considerou versões “cristianizadas” dos Salmos. Ele provavelmente sentiu que o Senhor tinha
esquecido de fazer isso na era do Novo Testamento. Mas estes eram homens de seu tempo. Era o
tempo, supostamente, do "Iluminismo". Como resultado dos movimentos intelectuais e
filosóficos deste tempo, as igrejas ficaram sob pressão para modificar posições anteriormente
mantidas sobre a natureza e suficiência da revelação divina. A razão humana foi vista ser
perfeitamente adequada em conexão com as coisas desse mundo. As pessoas, aparentemente, não
precisavam mais ser constrangidas pelas ideias anteriores acerca da autoridade bíblica.
Em matéria de conteúdo de louvor na igreja, pode-se ver como poderia haver pressão para
estender os itens de louvor utilizados, pela adição de materiais de composição meramente
humana, por mais que isto implicasse que houve omissões da parte do Senhor naquilo que se
tornou o cânon do Novo Testamento. Entre aqueles que levantaram suas vozes contra esta
tendência estava William Romaine (1714-1795), um pastor anglicano que escreveu em 1775 que:
“nossos fabricantes de hinos (...) tiraram os Salmos, introduziram seus próprios versos na igreja,
cantam seus versos com grande prazer e, como imaginam, com grande proveito; embora a prática
esteja em oposição direta ao mandamento de Deus, e, portanto, não possa, eventualmente, ser
acompanhada da bênção divina”.
A situação tem avançado rapidamente desde então. Hoje parece que há, como Owen disse acerca
dos seus dias: “negligência em inquirir” aquilo que Deus prescreveu (ou, quanto a este assunto,
proibiu) em matéria de culto. Existe hoje um fluxo contínuo de hinos e versos produzidos para o
culto cristão, em grande parte para satisfazer as demandas de tendências passageiras, e em muitas
igrejas parecem ser cada vez mais separadas do louvor as práticas fundamentadas nas Escrituras.
Será que devemos olhar para trás com pena daqueles puritanos que “apenas” louvaram o Senhor
com os Salmos e não tiveram o benefício dos hinos dos últimos anos, ou será que nós não
preferiríamos lamentar o fato de que a igreja hoje, em geral, não tem uma compreensão tão firme
das gloriosas verdades e realidades experimentais da Palavra de Deus, que as gerações anteriores
desfrutaram?
Presbiterianos
As igrejas presbiterianas na Escócia, a partir do momento da Reforma, durante o período do
Pacto Nacional no século XVII e até a última parte do século XIX, eram, basicamente, igrejas
que cantavam os Salmos. O Saltério Escocês, produzido em 1650, tomou um lugar significativo
e exercia uma influência importante na vida e na cultura da nação ao longo desse período. O
Saltério era o único manual autorizado de louvor, em sua forma métrica, até o final do século
XIX. No século anterior, houve um movimento para introduzir algumas Paráfrases das
Escrituras, e muitos Saltérios foram produzidos com essas Paráfrases e cinco outros “hinos”,
juntamente com os Salmos. Isso deu a impressão de que houve uma sanção eclesiástica que na
realidade não existiu. É verdade que em 1781 as Paráfrases Escocesas receberam uma
aprovação provisória para o uso experimental pela Igreja da Escócia. A legislação, no entanto,
nunca foi aprovada, dando posterior autorização explícita para esses cânticos.
Não foi até 1861 que a Igreja da Escócia formalmente autorizou hinos de composição meramente
humana. A Igreja Livre da Escócia seguiu o exemplo em 1872, mas não sem controvérsia. James
Macgregor (1830-1894), o professor de Teologia Sistemática no New College Edinburgh, por
exemplo, estava descontente com esse movimento. Ele expressou suas reservas em termos
inequívocos em um “Memorial” à Assembleia da Igreja Livre de 1869. Dentre outras coisas, ele
disse que: “a nossa Igreja, por muitas gerações, não tem, em seu louvor congregacional, feito uso
de quaisquer materiais de inspiração meramente humana, e com referência até mesmo a materiais
de inspiração divina, a ambígua ‘quase sanção’ alcançada pelas ‘paráfrases’ data apenas de um
período muito recente da sua história, e deriva a sua origem da mais profunda escuridão de sua
‘idade escura’ da moderação”.
Quanto aos cinco “hinos”, muitas vezes impressos na parte de trás dos Saltérios, o julgamento de
Macgregor era o de que estes eram: “parcialmente socinianos, principalmente deísticos,
totalmente não evangélicos em seu coração”, e tinham sido: “introduzidos na contracapa com o
propósito de dar a impressão de que havia algum fundamento para eles”, a saber, que eles tinham
alguma sanção eclesiástica, que na verdade eles não possuíam. Mas esta era uma abordagem
comum daqueles que desejavam introduzir materiais não inspirados para o louvor, ocultando
assim uma mudança de atitude quanto à natureza da revelação e à suficiência das Escrituras em
matéria de fé e prática. Por volta de 1884, o notável estudioso do Novo Testamento, professor
George Smeaton (1814-1889), renunciou à posição de presbítero na Igreja Livre de Grange,
Edimburgo, por causa da introdução do hinário da Igreja Livre naquela congregação.
Previsivelmente, houve um deslocamento gradual dos Salmos da adoração presbiteriana e junto
com isso um crescente descontentamento com o conteúdo dos louvores com o fundamento de
que, aparentemente, há sempre a necessidade de ser contemporâneo. Se refletirmos, pode-se
observar que Jesus não cantou os hinos da era moderna; os apóstolos nos tempos do Novo
Testamento não cantaram os cânticos da era moderna; e nem os reformadores e puritanos. Eles
eram cristãos inferiores? Será que isso não demonstra que não é necessário cantar hinos ou
músicas de composição meramente humana para termos uma adoração cristã autêntica, real e
espiritual? Diz-se frequentemente que as igrejas que cantam os Salmos são “tradicionais”. Na
realidade são as igrejas que cantam hinos que são tradicionais, já que elas derivam sua música
congregacional, na medida em que eles usam cânticos não canônicos, inteiramente de tradição
humana!
Isso não quer dizer que a igreja precisa estar presa a uma tradução métrica de uma época
anterior, por mais que esta possa ser venerada. Costuma-se argumentar contra os Salmos
métricos que eles próprios são paráfrases, adaptados a certo estilo. A consideração primordial
deve ser a de ter Salmos para serem cantados, que reflitam com precisão o fundamento hebraico,
com a ajuda das citações da Septuaginta e do Novo Testamento em grego. Nas “Direções” pré-
fixadas ao seu Calendário de Leituras Diárias produzidas pela primeira vez em 1842, Robert
Murray McCheyne (1813-1843) disse o seguinte sobre os Salmos Escoceses: “É verdadeiramente
uma tradução admirável do hebraico, e frequentemente é mais correto do que a versão em prosa”.
Melhorar traduções é, sem dúvida, sempre desejável, mas ao mesmo tempo é importante que a
tradução seja adequada para o canto congregacional e fácil de compreender. Esta foi certamente
a preocupação dos reformadores e das pessoas envolvidas no desenvolvimento do cântico dos
Salmos que surgiram a partir da Assembleia de Westminster.
Avivamentos
Provavelmente seria considerado inimaginável hoje que poderia haver um genuíno reavivamento
espiritual em uma igreja que utiliza apenas os Salmos da Bíblia. A influência dos Salmos no
desenvolvimento e na difusão do cristianismo no mundo pode ser bem apreciada a partir de tudo
o que já foi descrito neste capítulo. O fato é que os Salmos têm sido significativos em tempos de
avivamento na história da igreja. Isso não deve ser uma surpresa, pois os Salmos, nas palavras de
João Calvino, são: “uma anatomia de todas as partes da alma”.
Em um livro intitulado The True Psalmody [A Verdadeira Salmodia], produzido pela primeira
vez nos Estados Unidos em 1861, a observação que é feita é a de que: “os valdenses cantaram os
Salmos e nada mais em seus vales alpinos; (...) A igreja francesa, e as igrejas da Suíça, não
utilizaram nada mais no cântico durante os mais prósperos dias de sua vida religiosa, enquanto
esses cânticos sagrados não contribuíram pouco para a propagação do Evangelho. Estes Salmos
constituíram a única salmodia da igreja escocesa na primeira e na segunda reforma (...) Estes
Salmos eram os cânticos sagrados da igreja reavivada na Irlanda”.
Acerca do efeito do Saltério em métrica em conexão com os avivamentos do século XVIII na
Escócia, Arthur Fawcett sugeriu que: “não é possível avaliar a enorme importância do Livro de
Salmos em métrica; quase todos os sujeitos do avivamento - pelo menos aqueles cujas histórias
temos - citaram ele. Repetidamente, era a partir das linhas lembradas de suas páginas que a luz
brilhava na sombria escuridão”.
Quando se pensa que a piedade de um povo é, em grande medida, moldada pelos louvores que
ele canta, a importância e o significado dos Salmos tornam-se evidentes.
VI. CONCLUSÕES
Nenhum cristão pode, possivelmente, negar que a adoração a Deus é uma questão extremamente
importante. Como devemos adorar o Senhor? Cante Davi, o: “suave em salmos de Israel” (2
Samuel 23:1):
Dai ao SENHOR,
ó filhos dos poderosos,
dai ao SENHOR
glória e força.
Dai ao Senhor
a glória devida ao seu nome,
adorai o Senhor
na beleza da santidade.
(Salmos 29:1-2)
A igreja do Velho Testamento fez a seguinte pergunta: “Com que me apresentarei ao Senhor, e
me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com
bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de
azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da
minha alma?” Qual foi a resposta?: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom (...)” (Miquéias 6:6-
8). O Senhor nos mostrou! Estamos contentes com aquilo que o Senhor proveu em sua Palavra,
ou precisaremos adicionar algo para terminar o que Ele deixou incompleto?
Tem sido a responsabilidade deste livro sugerir que, em matéria de adoração, o Senhor nos
mostrou o que é bom. Ele providenciou materiais nos Salmos suficientes para o culto, e a
introdução de composições meramente humanas, não importando quão agradáveis aos seus
sentimentos ou quão espiritual os seus conteúdos sejam e por mais bem intencionados que sejam
os seus defensores, é basicamente um ato de presunção humana. Nós acreditamos que os
argumentos a este respeito são tanto sólidos quanto bíblicos. Eles estão aqui resumidos.
Os Salmos são frutos da inspiração divina
Os Salmos são tanto designados quanto providos para serem cantados na igreja. O fato é que
apenas o Livro dos Salmos pode ser usado com a certeza de que essas músicas foram
divinamente designadas para esse propósito. Mesmo com o melhor dos hinários não há essa
garantia. A adoção de outros materiais não inspirados de louvor traz consigo a implicação de
que, de alguma forma, algo está faltando na provisão bíblica em matéria de louvor
neotestamentário. As palavras de William Romaine são tanto desafiadoras quanto diretas: “Eu
gostaria de saber qual é o homem que pretende compor hinos melhores do que os do Espírito
Santo (...) Por que (...) qualquer homem deste mundo iria pôr em sua cabeça que ele se sentaria e
comporia hinos para serem usados na igreja? Seria o mesmo caso de alguém que resolvesse
escrever uma nova Bíblia”.
“Hugh Martin disse o seguinte em 1872: ‘Os Salmos são o grande hinário
católico e o canto deles prevê a união cristã para a catolicidade perfeita’”
LEITURA ADICIONAL
Beeke, Joel R. e Selvaggio, Anthony T. (Editores), Sing a New Song, Grand Rapids, 2010.
Um dos melhores dentre um número crescente de livros que pretendem recuperar, reafirmar ou
redescobrir o cântico de Salmos na igreja moderna. Excelente!
Binnie, William, The Psalms: Their History, Teachings and Use, Londres, 1886.
Um livro único. Não só cheio de excelentes comentários e conhecimento a partir de um ponto de
vista conservador, mas este livro também oferece um belo panorama do Saltério e seu uso
cristão.
Blaikie, Alexander, A Catechism on Praise, James Begg Society, 1997.
Blaikie foi um pastor na Associate Reformed Presbyterian Church [Igreja Presbiteriana
Reformada Associada],
Boston. Uma obra breve e
útil publicada pela primeira vez em 1854.
Bonar, A. A., Christ and His Church in the Book of Psalms, Stoke on Trent, 2001.
Publicado pela primeira vez em 1859, este é um livro excelente, que traz de forma eficaz, de
breve abrangência e não de uma forma exaustiva, a cristologia do Saltério. Diz Bonar: “Os
Salmos são para todas as idades – não mais para Davi que para nós”.
Bushell, Michael, Songs of Zion. The Biblical Basis for Exclusive Psalmody, Norfolk Press,
2011.
Originalmente uma tese de mestrado, este é o tratamento mais abrangente e acadêmico de
"salmodia exclusiva” na era moderna.
Gibson, James, Public Worship of God: Its Authority and Modes, Glasgow, 1869.
A obra de um professor da Free Church [Igreja Livre] dentro do contexto da discussão da
questão do presbiterianismo escocês.
Kerr, James, McDonald, John, The Voice of His Praise, James Begg Society,
1999. Reimpressão de quatro folhetos, lançados pela primeira vez pela Reformed
Presbyterian Church of Scotland [Igreja Presbiteriana Reformada da Escócia], cerca de 1880.
McNaugher, John (Ed.), The Psalms in Worship, Still Waters Revival Books, 1992.
Este compreende uma reedição de um volume de Convenção de Artigos sobre o lugar dos
Salmos na adoração, produzido pela United Presbyterian Church of North America [Igreja
Presbiteriana Unida da América do Norte] em 1907. Excelente.
Smith, Frank J. e Lachman, David C. (Eds.), Worship in the Presence of God, Greenville, South
Carolina, 1992.
Uma instigante e abrangente coleção contemporânea de ensaios sobre a natureza, elementos e
visões históricas e práticas de culto.
Williamson, G. I., The Singing of Psalms in the Worship of God, Belfast, 1972.
Um esplêndido pequeno livreto que sucintamente cobre os princípios envolvidos.
O capítulo V foi publicado num formato anterior pela Knox Press em 1994, e pela Crown and
Covenant Publications em 2003. É republicado aqui numa forma atualizada e por gentil
permissão.
Rev. John W. Keddie foi recentemente aposentado como ministro de Bracadale, congregação da
Free Church of Scotland (Continuing) [Igreja Livre da Escócia (Continuada)], e serve como
professor de História da Igreja e Princípios da Igreja no Seminário da Free Church [Igreja
Livre], Inverness.
VI. LOUVOR TERAPÊUTICO
David Murray
pesar das centenas de novos cânticos cristãos, de todos os gêneros possíveis, sendo
A compostos a cada ano, os antigos Salmos estão experimentando um avivamento. Por que?
Eu acredito que a principal razão é o seu valor terapêutico; em uma época de tantas emoções
desordenadas, adoradores estão descobrindo como os Salmos ministram tão poderosamente às
suas vidas emocionais.
Os Salmos abrem uma saída bem vinda para nossas dolorosas emoções
Você já cantou sobre a certeza da salvação enquanto estava cheio de dúvidas? Você já cantou
sobre a alegria quando se sentia deprimido? Eu também. E é horrível, não é? Por que não posso
cantar o que eu realmente sinto? Com os Salmos você pode! Alguns nos permitem expressar
dúvidas e até mesmo o desespero (por exemplo, o Salmo 88); outros podem nos ajudar a
descrever nossas lutas com a providência (por exemplo, o Salmo 73); outros ainda podem nos
guiar explicando nossas batalhas com a depressão (por exemplo, os Salmos 42 e 78).
Os Salmos abrem a válvula de pressão de nossos corações e nos dirigem em como articular
nossas emoções mais dolorosas. Nós não precisamos engarrafá-las ou negá-las. Em vez disso,
Deus inspirou cânticos para admiti-las e pô-las para fora. Como alguém disse: “Que alívio! Eu
posso cantar o que está realmente na minha mente e coração, e Deus me dá palavras para
expressar justamente essas emoções. Os Salmos alcançam essas emoções e depois as leva para
cima, em direção a Deus”.
Rev. Dr. David P. Murray é o ministro da congregação da Free Reformed Church [Igreja Livre
Reformada], em Grand Rapids, Michigam e também serve como professor de Velho Testamento
e Teologia Prática no Puritan Reformed Theological Seminary [Seminário Teológico Reformado
Puritano], em Grand Rapids, Michigan.
VII. O SALTÉRIO É SUFICIENTE?
A Suficiência do Livro dos Salmos para o Louvor de Deus Hoje
David Silversides
ma das objeções mais frequentes hoje, para o uso exclusivo dos Salmos na adoração, é a
U questão da adequação. O Saltério pode ser considerado suficiente para o uso da igreja do
Novo Testamento, tendo em vista o fato de que ele foi escrito no período do Velho
Testamento e de que agora temos o benefício do registro da redenção realizada por Cristo e a
exposição deste evento nas Escrituras do Novo Testamento? Argumenta-se sobre como pode ser
correto ficar confinado ao uso de um Saltério bíblico que foi escrito, ainda que por inspiração de
Deus, no Velho Testamento, quando vivemos agora na era do Novo Testamento.
O argumento continua: os Salmos precisam ser parafraseados ou alterados para que possam
adequar-se à adoração do Novo Testamento, como Isaac Watts afirmava,
ou que, alternativamente, podemos cantá-los como eles estão, mas sendo em si mesmos
insuficientes, e logo precisam ser suplementados por hinos não inspirados compostos por
homens piedosos que viveram desde que a era do Novo Testamento começou. Em outras
palavras, é afirmado que os Salmos bíblicos devem ser alterados ou suplementados para termos
uma completa coleção de materiais de louvor para a igreja no Novo Testamento. É esta visão que
é desafiada aqui.
Primeiro: os Salmos são infalivelmente inspirados por Deus. Isto deve ser óbvio, mas precisa
ser dito. Temos que temer criticar qualquer parte da Palavra de Deus, incluindo o Livro dos
Salmos. Às vezes, em seu zelo de se oporem ao canto exclusivo dos Salmos, homens têm dito
coisas sobre os Salmos que, numa reflexão mais calma, eles deveriam certamente perceber que
nunca deveriam ter criticado alguma parte da Palavra de Deus. Os Salmos são inspirados por
Deus. Eles são infalíveis e sem erro.
Quando o Salmo 95:7-11 é citado em Hebreus 3:7-8, as palavras do Salmo são atribuídas ao
Espírito de Deus: “Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não
endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto”. Isto
significa que os cânticos contidos no Saltério são espirituais no sentido mais elevado possível.
Quando nos voltamos para Efésios 5:19, lemos: “falando entre vós em salmos, e hinos, e
cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração”. Aqueles que estão
familiarizados com a posição do canto exclusivo dos Salmos saberão que os termos: “salmos,
hinos e cânticos”, são termos os quais, todos os três (no equivalente hebraico e exatamente as
mesmas palavras na tradução grega do Velho Testamento), são usados nos títulos dos Salmos, no
conteúdo dos Salmos, e no conteúdo do Velho Testamento fora do Livro dos Salmos, para
descrever o Livro dos Salmos. Um argumento mais detalhado pode ser encontrado em outro
lugar, mas é suficiente dizer que, para o propósito deste artigo, consideramos: “salmos, hinos e
cânticos” como três termos que se referem ao Livro dos Salmos.
“Um dos sentidos de ser cheios do Espírito Santo é cantar estes cânticos que
são inspirados pelo Espírito Santo. Os conteúdos do Saltério são do Espírito de
Deus no sentido mais elevado possível, de serem dados e ditados, palavra por
palavra, pelo Espírito Santo”
A ordem original das palavras é: “salmos e hinos e cânticos espirituais” (psalmois kai humnois
kai odais pneumatikais), então a palavra “espirituais” poderia se referir simplesmente ao cântico,
ou poderia qualificar todos os três termos: salmos espirituais, hinos e cânticos. O que a palavra
espiritual significa se está apenas se referindo aos cânticos? A resposta está no verso 18: “E não
vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; falando entre vós
com salmos, e hinos, e cânticos espirituais”. A palavra “espírito” é pneumati (v.18) e a palavra
“espiritual” (v.19) é pneumatikais. Assim como é no nosso idioma, assim também é no grego, as
palavras “espírito” e “espiritual” são, essencialmente, uma palavra, uma sendo a forma adjetiva
da outra, que é o substantivo. No verso 18, fica bem claro que o “Espírito” em questão não é
outro senão o Espírito Santo e, portanto, um dos sentidos de ser cheios do Espírito Santo é cantar
estes cânticos que são inspirados pelo Espírito Santo. Cânticos espirituais são cânticos do
Espírito Santo, não num sentido vago tendo algo a ver com o espírito humano ou “coisas
espirituais”, que tendemos a usar num sentido mais aberto. Os conteúdos do Saltério são do
Espírito de Deus no sentido mais elevado possível, de serem dados e ditados, palavra por
palavra, pelo Espírito Santo.
Além disso, isto significa que o Livro dos Salmos é a Palavra de Cristo. Note a passagem
paralela em Colossenses 3:16: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a
sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos
espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração”. Aqui a prática do canto destes
salmos, hinos e cânticos espirituais é um aspecto de fazer com que: “a palavra de Cristo habite
em vós abundantemente, em toda a sabedoria”. Os Salmos foram dados pelo Espírito de Cristo,
eles falam de Cristo (Lucas 24:44) e eles também são cantados pelo Senhor Jesus Cristo nos dias
de sua carne. O Senhor Jesus não cantou cânticos que são composições meramente humanas. Ele
cantou os Salmos dados por Deus.
A distinção entre a infalível revelação e aquilo que é bom, mas falível, os homens devem manter
rigorosamente. Nenhuma quantidade de sentimento ou tradição deve obscurecer isso. Os Salmos
foram inspirados por Deus. Às vezes, as pessoas dizem: “Bem, estes bons homens não foram, em
certo sentido, inspirados por Deus?”. Não, eles não foram: Isaac Watts, Toplady ou Doddridge
não foram inspirados, ou qualquer outro desde o fechamento do cânon da Sagrada Escritura. Não
afirmamos que eles não eram homens piedosos e que o Espírito de Deus não deu a eles
entendimento acerca da verdade, mas o que eles produziram não foi inspirado como a Palavra de
Deus, de outro modo, tais escritos deveriam ser incluídos na Bíblia. Não cremos em inspiração
fora das Escrituras, quer seja com relação ao papa de Roma, algum pseudoapóstolo carismático
ou até mesmo homens piedosos que escreveram poemas que eles pensaram que deveriam ser
usados na adoração a Deus. A diferença entre a Palavra de Deus e a palavra de homens, ainda
que piedosos, deve ser mantida.
Segundo: os nomes de Cristo aparecem nos Salmos. O nome hebraico “Jeová”, do Velho
Testamento, é normalmente traduzido como SENHOR em nossas versões. Na tradução grega do
Velho Testamento, conhecida como Septuaginta e algumas vezes citada pelos apóstolos, a
palavra kurios é usada para traduzir Jeová quando o Velho Testamento está sendo citado no
Novo. É também a palavra que é constantemente usada quando o Novo Testamento fala do
Senhor (kurios) Jesus Cristo. O hebraico Jeová aparece constantemente no Livro dos Salmos e,
às vezes, muito claramente referindo-se ao Senhor Jesus Cristo. Por exemplo, o Salmo 102:21-24
refere-se ao SENHOR (Jeová) e os versos 25-27 são citados em Hebreus 1:10-12 sendo
aplicados ao Senhor Jesus Cristo. Quando o Livro dos Salmos fala de Jeová, estaríamos
enganados ao supor que não há referência ao Senhor Jesus Cristo.
Do mesmo modo, o nome de Jesus significa Salvador e este termo, e especialmente Salvação,
aparece muitas vezes nos Salmos (Salmos 3:8; 9:14; 13:5, etc.).
O nome Cristo também aparece no Livro dos Salmos. Salmo 2:2 é citado na tradução grega
sendo traduzido em Atos 4:25-26: “Que disseste pela boca de Davi, teu servo: Por que bramaram
os gentios, e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, e os príncipes se
ajuntaram a uma, contra o Senhor e contra o seu Cristo [Ungido]”. Cristo é simplesmente a
forma portuguesa da forma grega Christos, que é equivalente a Messias em Hebraico, que
significa “Ungido”. Os nomes de Cristo aparecem nos Salmos.
Terceiro: os Salmos são muito citados no Novo Testamento. Em Hebreus 1 e 2, onde nos é
mostrado que Deus falou nos últimos dias pelo Seu Filho, temos citações dos Salmos 45, 110,
102, 104, 22, 8 e 22. Do mesmo modo, os apóstolos no Livro de Atos, pregando, fazem grande
uso do Livro dos Salmos. De fato, se formos contar tanto as citações diretas dos Salmos, quanto
a linguagem dos Salmos no Novo Testamento, encontraremos que há cerca de 300 lugares onde
os Salmos são citados ou sua linguagem é utilizada no Novo Testamento. Eu recomendaria o
livro Make His Praise Glorious [Torne Glorioso o Seu Louvor] por Roy Mohon, 25 p., para um
completo tratamento desse ponto, e de fato esta obra oferece uma completa exposição de um
número de assuntos abordados neste presente artigo.
Sexto: não há um dom de composição de hinos prometido no Novo Testamento. Ainda que
pudéssemos considerar a possiblidade do Saltério inspirado ter a necessidade de suplemento pela
composição de homens não inspirados no Novo Testamento, esperaríamos algum dom sendo
prometido para este propósito, não esperaríamos? Mas pode-se dizer que é óbvio, pelo fato de
que bons homens escreveram bons hinos, que o Senhor fez tal provisão para suplementar o
Saltério do Velho Testamento. Mas isto não é tão óbvio. A presença de uma habilidade em fazer
algo, por si mesmo, nunca justifica a inclusão disto na adoração a Deus.
Se há alguém bom em arte, nós permitimos que arte entre para a adoração na igreja? Se alguém é
bom em fazer escultura, deve isso também ser incluído? Permitimos que a existência de uma
habilidade em fazer algo e a afirmação de que a intenção é glorificar a Deus em seu uso, seja um
fundamento adequado para se trazer esta atividade para a adoração a Deus? O catolicismo
romano não tem dificuldade com isso, é claro, já que todas as atividades podem e devem ser
trazidas sob a jurisdição da “igreja” (isto é, papado), quer seja arte, escultura ou música – tudo
deve estar sob o controle da igreja, juntamente com o governo das nações, educação, saúde, etc..
E estas habilidades que podem ser expressas em adoração, a igreja tem o direito de incorporá-la
em seus cultos.
Mas este não é o ensino protestante e nem é o ensino bíblico. Toda a vida é para ser vivida sob a
Palavra de Deus e para a honra de Cristo, mas não toda a vida é para ser governada pela igreja
como organização. A igreja organizada tem funções limitadas apontadas pelo seu cabeça (Cristo)
e levadas até os limites prescritos por Ele. O fato de que tem havido homens com habilidades
poéticas e ortodoxia teológica, que podem produzir versos poéticos, não significa que isto deva
ser trazido para a adoração de Deus, a não ser que possamos mostrar, a partir das Escrituras, que
o Cristo que ascendeu aos céus prometeu tal dom para esse propósito. Encontraremos isto se
examinarmos as Escrituras? Não há menção de compositores preparando porções para o povo de
Deus usar em sua adoração.
O argumento para o cântico exclusivo dos Salmos não se fundamenta na ideia de que cada parte
da adoração do Novo Testamento deve ser confinada a palavras inspiradas. Porém, o que
dizemos é que há uma provisão prometida para cada parte da adoração. Quando lemos acerca do
que deve ser lido na adoração, temos a infalível Escritura. Quando se fala em pregação da
Palavra, pregadores não são infalíveis, mas temos a promessa do dom de mestre da parte do
Cristo que ascendeu aos céus (1 Coríntios 12:29; Efésios 4:11). Quando falamos acerca da
oração, temos a promessa de que seremos ajudados pelo Espírito Santo (Romanos 8:26). Quando
falamos acerca do cântico de louvores, não há uma promessa de um dom ordinário de
composição de hinos, mas há um infalível e inspirado Livro de 150 composições providas e
designadas para o louvor de Deus.
Sétimo: muitos que lutaram pela verdade sob severa perseguição consideraram o Saltério
adequado. Nem todo herói da fé estava comprometido com o cântico exclusivo dos Salmos, mas
muitos eram e muitos cantaram os Salmos, mesmo diante do sofrimento e da morte, e os
consideraram completamente adequados. Os reformadores cantaram os Salmos, alguns na época
da reforma que enfrentaram serem queimados na estaca, cantaram os Salmos, mesmo com o
aumentar das chamas. Quando os covenanters [pactuantes] subiram no cadafalso esperando para
serem enforcados, cantaram os Salmos. Margaret Wilson cantou o Salmo 25 quando ela estava
para ser afogada nas águas de Solway pela causa de Cristo na Escócia em 1685. Nenhum destes
mártires se sentiu desanimado porque eles tinham apenas os Salmos para cantar. Toda a
Assembleia de Westminster, durante seus dias especiais de oração e jejum, cantou os Salmos.
Ninguém reclamou dizendo que eles eram inadequados para os crentes do Novo Testamento.
Será que alguma inadequação, de fato, não está em nós? O Livro dos Salmos é perfeito; veio da
parte de Deus. O problema deve estar em nós.
b) Sobre Deus
O Saltério nos fala que Deus é um Espírito diferente dos deuses dos gentios (Salmos 115:1-11).
Ele é onipresente (Salmos 139:1-18); Ele é infinito (Salmos 147:5), eterno (Salmos 90:2) e
imutável (Salmos 102:26-27). O Saltério nos fala da sua sabedoria e do seu poder (Salmos
147:5), sua santidade (Salmos 99:9), justiça (Salmos 11:6-7), bondade (Salmos 145:9 e 36:7) e
verdade (Salmos 31:5).
“Pelo Espírito de Deus, abençoando o cântico dessa parte de sua Palavra, que
Ele deu para o cântico, podemos esperar ser dirigidos a termos pensamentos
corretos acerca de Deus”
A igreja e seu zelo pela sua adoração é incluída nos Salmos 84, 87 e 122, e sua unidade no Salmo
133. O reavivamento da oração da igreja é encorajado nos Salmos 67, 126 e 85:5-7, e as
promessas de grande avanço do Evangelho estão nos Salmos 22:27-31; 86:9; 102:13-22; 67:5-7 e
68:31-32.
Salmo 72 leva o governo medial de Cristo e o avanço do Evangelho até mesmo ao topo das
montanhas (isto é, o lugar mais improvável para os olhos humanos).
Enfim, temos a vinda de Cristo em juízo nos Salmos 50, 96 e 98. Os novos céus e nova terra são
profetizados no Salmo 102:24-28. A glorificação do povo de Deus é belamente descrita nos
Salmos 73:24; 16:9-11 e 17:15.
Temos aqui apenas o conteúdo dos Salmos resumidamente analisado, e acreditamos ser isto
suficiente para demonstrar que todas as doutrinas mais importantes da Palavra de Deus
encontram alguma expressão no Livro dos Salmos. A ordem na qual temos concluído nosso
breve esboço aproxima-se do panorama doutrinário apresentado no Breve Catecismo. Se
considerarmos o Livro dos Salmos inadequado, uma das duas coisas é verdadeira:
1. Nós não o conhecemos ou não o compreendemos.
2. Ficamos tão ligados aos hinos não inspirados, por tanto usá-los, que ficamos incapazes de
analisar a questão sem sermos tendenciosos.
CONCLUSÃO
Quando a igreja foi mais unida, o cântico exclusivo dos Salmos era a norma. O cântico dos hinos
é uma causa de divisão e um fruto do individualismo semeado pela divisão. Quando a igreja foi
mais unida nas Ilhas Britânicas? Na época dos puritanos, a igreja não era tão perfeitamente unida
de forma alguma, mas muito mais do que é hoje. Eles não tiveram problema algum com o que
eles cantavam. Todos eles poderiam cantar os Salmos. A Assembleia de Westminster não
concordou em tudo, mas todos eles poderiam cantar os Salmos. Aqui, no Saltério, está um
hinário que todos podem cantar com uma consciência limpa, sabendo que é sem erro, que nos diz
apenas a verdade sobre Deus e que é completamente adequado para a igreja de hoje. O cântico
dos Salmos é uma ordenança unificadora apontada por Deus e com a promessa de sua bênção.
Vamos nos unir fazendo aquilo que o salmista nos diz para fazermos: “Cantai-lhe, cantai-lhe
salmos” (Salmos 105:2).
lguns afirmam que os Salmos da Escritura não são suficientes para o louvor de Deus na
A adoração pública. Eles dizem que o Senhor Jesus Cristo deve ser mencionado o mais
explicitamente possível em nosso louvor. Com esta fraca objeção, eles abrem as portas
para os hinos não inspirados. Uma mais profunda apreciação dos Salmos deve, porém, nos
convencer de que o Senhor Jesus Cristo dificilmente poderia estar mais nos Salmos do que Ele já
está. “Convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos
profetas e nos Salmos” (Lucas 24:44). Os Salmos são, de fato, cheios de Cristo, mas, como nos
esforçaremos para descobrir, isto vai além até mesmo de apontar para Cristo.
Em seu valioso livro, Christ’s Presence in the Gospel History [A Presença de Cristo na História
do Evangelho] (mais recentemente publicado como The Abiding Presence [A Presença
Permanente]), Hugh Martin demonstra que os Evangelhos não são meramente um registro
histórico, mas um meio de comunhão com o Cristo vivo. Ele observa que nenhuma biografia
comum, ou até mesmo autobiografia, conclui com a promessa: “e eis que eu estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus 28:20).
Os Evangelhos devem ser abordados com essa promessa de sua presença. “Tome o Evangelho
em suas mãos”, diz Martin, “e você tem os meios de fazer com que você perceba a presença de
Cristo. A biografia, então, não está morta, Aquele que vive está nela. A presença não é algo
misterioso e vago; pois Ele está presente como em um espelho biográfico, e de acordo com a
bem definida e refletida glória que lá está. A biografia agora é mais do que uma biografia, é a
vida de Jesus”. Através da obra do Espírito Santo, na inspiração da Escritura e na habitação e
iluminação do crente, há um certo conhecimento e verdadeira experiência de Cristo por meio da
infalível Palavra e viva presença.
Nos Salmos, temos precisamente a mesma coisa. E.S. McKitrick afirma que: “a Pessoa de Cristo
é completamente apresentada no Saltério, tanto quanto a sua obra. De fato, tem sido afirmado, e
não sem motivo, que a partir dos Salmos pode-se compilar uma biografia de Jesus”. McKitrick
vai adiante e demonstra que a completa extensão das coisas e eventos associados com a pessoa e
obra de Cristo deve ser encontrada dentro dos Salmos. Os Salmos não apenas revelam a vida de
Cristo; eles nos dão, em muitos exemplos, as próprias palavras e pensamentos do Salvador. E.S.
McKitrick escreve: “Nestas revelações de Jesus no Saltério, há esta vantagem acima de todas as
outras: Ele fala especialmente na primeira pessoa, e nos conta seus próprios sentimentos
enquanto estava trabalhando, sofrendo e morrendo por nossa redenção. E estas revelações estão,
principalmente, no tempo passado, como para indicar que elas foram pensadas mais para a época
do Evangelho do que para a época em que foram escritas”. (‘Christ in the Psalms’ [Cristo nos
Salmos], in The Psalms in Worship [em Os Salmos na Adoração], John McNaugher, ed,
Pittsburgh, 1907).
Portanto, estamos lendo e cantando acerca de coisas que foram cumpridas, e não meras
predições. É notável que os Salmos tenham uma ênfase proeminente e frequente sobre a atual
posição do Salvador, o seu reinado como mediador e seu assentar à mão direita de Deus, nos
céus. Estas características da obra de Cristo são, de fato, muito escassas nas coleções de hinos
não inspirados.
R.J. George também expressou, utilmente, a plenitude de Cristo nos Salmos: “Cristo é Aquele
que fala em muitos deles (...) Apenas Cristo é o sujeito de muitos deles (...) A verdade é que
nenhum livro da Bíblia revela Cristo com tal plenitude como o Livro dos Salmos, sem mencionar
o Evangelho de João e a Epístola aos Hebreus” (The Free Presbyterian Magazine [A Revista
Presbiteriana Livre - um periódico], vol. 30, p. 288). Henry Cooke escreve: “Verdadeiramente,
eu creio, há uma visão de Cristo – e não é a menos importante para o crente que está sendo
provado e está perturbado – que pode ser descoberta apenas no Livro dos Salmos; me refiro à
Sua vida interior (...) O Espírito que: ‘penetra as profundezas de Deus’ abriu, nos Salmos, os
pensamentos mais profundos, as tristezas e os conflitos de nosso Senhor. Os evangelistas, fiel e
diligentemente, descrevem o Homem sem pecado; apenas os Salmos abrem o coração do
‘Homem de dores’” (The True Psalmody [A Verdadeira Salmodia], 1861, p. 17). Quando
consideramos esta perspectiva, podemos facilmente ser constrangidos a dizer que os Evangelhos
são a biografia de Cristo, mas os Salmos sua autobiografia.
Podemos ir além, já que no canto dos Salmos estamos tomando, juntos, as mesmas palavras em
nossos lábios. A Escritura nos diz que Cristo está presente e diretamente participando quando a
igreja está cantando louvores: “Cantar-te-ei louvores no meio da congregação” (Hebreus 2:12,
citando o Salmo 22). Temos a viva presença de Cristo enquanto cantamos as suas próprias
palavras concernentes a Ele mesmo nos Salmos. Cristo habita em seu povo e entra numa
comunhão especial com eles por meio de sua Palavra. Devemos oferecer nosso louvor nele e por
meio dele (Hebreus 13:15). Calvino comenta sobre o verso citado anteriormente: “Assim, nosso
Senhor aparece como Aquele que lidera nossos cânticos e é o principal compositor de nossos
hinos”.
No The Abiding Presence [Presença Permanente], Martin destaca exemplos dos dias do tempo de
Cristo na terra que podem ser considerados à luz da prometida realidade da presença contínua de
Cristo com seu povo. Ele escreve acerca da “The Temptation, and its perpetual Triumph”
[Tentação e seu perpétuo Triunfo] e “The Synagogue and its perpetual Sermon” [A Sinagoga e
seu perpétuo Sermão]. Podemos adicionar outro exemplo: “A Última Ceia, e seu perpétuo
Louvor” (Marcos 14:26). Cristo cantou um Salmo em meio aos seus irmãos, como parte da Ceia
que estava sendo instituída no mundo para ser observada até que Ele venha. Ele prometeu estar
com seu povo sempre: “até a consumação dos séculos” (Mateus 28:20) e Ele estará
especialmente presente no cântico dos Salmos do seu povo.
Hugh Martin fez um discurso diante da Assembleia Geral da Free Church of Scotland [Igreja
Livre da Escócia] defendendo o uso exclusivo dos Salmos no louvor. Neste discurso, ele enfatiza
que Cristo: “está espiritualmente presente com seu povo na adoração deles, no santuário. Mas
Ele estava presente na sinagoga de Nazaré, quando lhe foi dado o Livro do profeta Isaías. Lhe
daríamos algum outro livro de cânticos além do Livro de Salmos de Davi? (...) Daríamos a Ele
outro além dos seus próprios Salmos para nos guiar no cântico – seus próprios Salmos, que são
compostos por Ele mesmo; e seus próprios Salmos, que sua alma cantou, com graça em seu
coração ao Senhor, nos dias de sua carne? Mantemos comunhão com Ele, e Ele conosco, quando,
nos louvores do santuário, cantamos seus Salmos”. Não é de se admirar que o cântico de
louvores é frequentemente mencionado como um dever que se assemelha aos exercícios dos
santos no céu em seu imediato desfrutar da comunhão com Cristo.
Quando Martin escreveu sobre a presença permanente de Cristo nos Evangelhos, isto pode ser
claramente discernido nos Salmos também. “A própria voz bendita de Cristo fala comigo em
oráculos vivos. Sua própria face bendita resplandece sobre mim a partir de uma imagem viva de
sua biografia. Por meio de um arranjo que não deixa espaço para a imaginação, e, portanto,
nenhum espaço para a má compreensão. Nada é dado para alimentar o sentimentalismo, e,
portanto, não há nenhum espaço para o sentimentalismo perverter; por um arranjo que não deixa
para mim nenhum critério qualquer que seja, mas me chama simplesmente a receber a revelação
celestial que me é dada: o próprio Senhor Jesus comigo – não em minha imaginação, não em
meu sentimento piedoso, mas comigo verdadeiramente”. Deve ser a própria verdade perfeita e
inspirada para que Ele: “deva vir, identificar-se a si mesmo com esta verdade, investir a si
mesmo com ela, torná-la vital com seu poder vivo e cantá-la com sua voz pessoal, e fazer dela a
permanente habitação de sua presença”. Deve haver: “uma absoluta infalibilidade, para que o
Senhor não seja em nada deturpado para mim (...) um espelho pelo qual nenhum sopro manchado
pela imperfeição humana foi permitido passar” (The Abiding Presence [A Presença Permanente],
Knox Press reprint, pp 25-6,57,60).
Precisamos da autorrevelação perfeita de Cristo em suas próprias palavras para realmente termos
comunhão com Ele. Não precisamos da imaginação e do sentimentalismo extravagantes de
escritores de hinos sem inspiração, quando temos comunhão com a pessoa de Cristo diretamente
através de sua própria Palavra nos Salmos. Podemos então cantar os Salmos: “na fé sem mácula,
na plena certeza da fé, desembaraçados do espírito de crítica que a palavra do homem provoca
continuamente e certamente exige” (Hugh Martin, em The Free Presbyterian Magazine [A
Revista Presbiteriana Livre], vol. 2, p. 27). Como Henry Cooke expressou: “As mais piedosas
produções de homens não inspirados são riachos rasos, enquanto os Salmos são um oceano
insondável e sem limites”. O canto espiritual dos Salmos, desta maneira, nos permite ir além de:
“concepções, noções, ideias sobre Ele, por mais verdadeiras que sejam”. “Você lida com Ele, e
Ele com você. O verdadeiro e vivo Cristo, presente com você - secreta e subjetivamente presente
em você pelo seu Espírito - lida com você. E você, no Espírito, lida com o Cristo vivo e
verdadeiro, presente contigo – ostensiva e objetivamente presente contigo - em sua própria Santa
Palavra” (The True Psalmody, 1861, pp 17,37).
Isto é ter: “A Palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda sabedoria” (Colossenses
3:16). Martin diz: “Eu posso entender como a Palavra de Deus deveria habitar em nós
abundantemente, cantando a Palavra de Deus - permanecendo nela em solene, meditativa, grave
e doce cantar até que - para usar uma frase escocesa – ela penetre na alma e lá encontre a sua
morada, enquanto na fervorosa emoção da fé, o espírito do adorador habita deliberadamente no
cântico piedoso. Assim, ela pode vir a habitar abundantemente em nós” (The Free Presbyterian
Magazine [A Revista Presbiteriana Livre], vol. 2, p. 25). “De acordo com a nossa espiritualidade,
proporção do vigor e a atividade de nossa fé”, os Salmos: “são para nós as galerias do Rei,
repletas e iluminadas com as revelações vivas e atuais de nosso Senhor” (The Abiding Presence ,
p. 61).
Estão grandemente enganados aqueles que acreditam que os Salmos devem ser postos de lado
com base na visão de que o Senhor Jesus Cristo deve ser mencionado o mais explicitamente
possível dentro de nosso louvor. Quando os Salmos são cantados, Cristo não poderia estar mais
presente tanto no conteúdo quanto na realidade espiritual do louvor. Um punhado de adoradores
cantando Salmos sem acompanhamento instrumental num velho prédio pode parecer desprezível
para as suposições carnais deste mundo e de uma igreja mundana, mas há profundidades de
maiores realidades espirituais ao cantá-los do que eles são capazes de discernir. Há: “os
caminhos do Rei”, no santuário (Salmos 68:24). O próprio Salvador está presente, engajado e
próximo ao seu povo, dizendo: “faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce” (Cantares de
Salomão 2:14).
A fé vai repetidas vezes aos Salmos e lá encontra novas verdades e meios de graça por meio de
novas visões de Cristo. O próprio Martin descreve essa vitalidade na religião dos Salmos de
Davi: “A religião de intensa personalidade e adoração, amando a comunhão com Deus, por meio
de um pessoal e fraternal mediador, é a religião de recursos inexauríveis; de experiências sempre
variadas; instintivo aos encantos daquilo que é novo, de incansáveis novidades e de variações
incessantes; ecoando alegremente, em sua contínua marcha e história, o harmonioso movimento
e contínua mudança de combinações de todas as honráveis afeições. Apenas porque assim é a sua
personalidade” (The Abiding Presence [A Presença Permanente], p. 177).
Como crentes que sobem ao deserto encostados em seu amado, os Salmos são perfeitamente
adequados para serem os cânticos de suas peregrinações (Cantares de Salomão 8:5). “E os
resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo” (Isaías 35:10).
O capítulo VIII foi originalmente impresso na Free Presbyterian Magazine, em Agosto de 2013,
e foi reimpresso por gentil permissão.
INTRODUÇÃO
O argumento para o uso de acompanhamento musical na adoração é relativamente direto.
Geralmente, argumenta-se que o uso de altares e incenso na adoração da Antiga Aliança é
suficiente para autorizar seu uso na adoração da Nova Aliança. O silêncio do Novo Testamento
não deveria apresentar-se como um problema de forma alguma. A suposição é de que estes
instrumentos eram usados na igreja apostólica também – é que apenas eles não são
mencionados, somente isso.
Porém, simples, como de fato é, o argumento não faz completa justiça a uma importante questão:
a precisa natureza da mudança que aconteceu com a passagem da Antiga Aliança – com seu
sacerdócio e adoração – para o advento da Nova Aliança.
Para deixar mais claro, vamos apenas ver o que acontece quando usamos incenso e altares para
substituir instrumentos musicais no parágrafo acima. Se você foi convencido pelo parágrafo
quando você o leu, vejamos como você se sente quando fazemos a mudança. Aqui está:
O argumento para o uso de altares e incenso na adoração é relativamente direto. Geralmente,
argumenta-se que o uso de instrumentos musicais na adoração da Antiga Aliança é suficiente
para justificar seu uso na adoração da Nova Aliança. O silêncio do Novo Testamento não
deveria apresentar-se como um problema de forma alguma. A suposição é de que eles eram
usados na igreja apostólica também – é que apenas eles não são mencionados, somente isso.
O argumento parece igualmente plausível – e seria, se fossemos usar também vestimentas e óleo
para unção! Isto demonstra que o caso não é tão simples quanto parece.
Por um lado, embora haja um uso considerável de acompanhamento de instrumentos na adoração
sob a Antiga Aliança, não há evidência de que as reuniões de adoração organizadas, regulares e
corporativas de Israel incluíram o uso de instrumentos musicais. Se as reuniões ordinárias de
adoração semanal do povo no Shabbat nas sinagogas os incluíam, a sua posterior ausência na
sinagoga, e de fato, na igreja primitiva, se torna inexplicável.
Por outro lado, o silêncio do Novo Testamento é ensurdecedor! Em face disso, tal silêncio se
constitui um completo e poderoso argumento para evitar completamente o seu uso na adoração
da Nova Aliança. Porém, pode ser facilmente objetado que isto equivale a um argumento a partir
do silêncio – o que é, admissivelmente, uma forma precária de argumento. Em outras palavras, o
objetor argumenta que o fato de que eles não são mencionados em conexão com o louvor do
Novo Testamento, em si mesmo, não significa que eles não eram usados. Se a adoração, em si
mesma, foi raramente mencionada no Novo Testamento, seria, de fato, perigoso argumentar
sobre a anulação dos instrumentos musicais a partir do silêncio. Porém, o Novo Testamento
raramente deixa de mencionar a questão da adoração.
Bem como as referências à adoração em todos os Evangelhos e no Livro de Atos, a Primeira
Epístola de Paulo aos Coríntios tem uma extensiva discussão sobre adoração nos capítulos de 11
a 14. Mais diretamente ao ponto, Primeira Timóteo é escrita, primariamente, para dar orientações
adicionais quanto a questões relacionadas ao culto. Muito deste material está conectado com a
correção dos abusos que entraram na adoração da igreja. Sabendo que com facilidade os
instrumentos musicais podem ser abusados em tal adoração, parece-nos notável que nenhuma
palavra é mencionada acerca de seu uso em todo esse material bíblico.
Afinal, é importante manter em mente que a única razão para o uso de acompanhamento
instrumental não ter causado contendas, sob a Antiga Aliança, reside no fato de que seu uso
estava fortemente regulado pela autoridade profética: o número de instrumentos, seu tipo, o seu
uso preciso – tudo isso estava explicitamente estipulado por Davi em resposta à expressa ordem
de Deus, como veremos daqui a pouco.
Tudo isso por si mesmo torna o silêncio ainda mais significativo. Porém, há mais do que apenas
o silêncio. Em todas as referências à adoração no Novo Testamento, fica claro que o padrão de
adoração ordinária e não cerimonial na sinagoga – com a qual os apóstolos estavam tão
familiarizados – se tornou o padrão de adoração na igreja cristã. A evidência para isso é
surpreendente – não apenas no fato de que a assembleia de cristãos é, na verdade, mencionada
como “sinagoga” no Novo Testamento (Tiago 2:2).
Que isto é fato, não deveria ser algo surpreendente: a sinagoga, como o local regular de
adoração, foi estabelecida como um local de adoração semanal em todo o mundo de fala grega –
devido à influência e necessidades da ampla diáspora judaica – enquanto o templo era um local
central de adoração ocasional. É um fato claro que nenhum instrumento musical foi usado na
adoração da sinagoga – de fato, isto permaneceu até 1810, na Alemanha, e assim permanece o
mesmo nas mais ortodoxas sinagogas até hoje.
Sem dúvida, os instrumentos estavam presentes no corporativo e formal ritual de sacrifícios e
festivais – mas a sua presença e uso lá, como veremos, é explicitamente regulado por Deus e é
inextricavelmente ligado aos levitas e o seu uso de ofertas de sacrifício.
Moisés
Podemos começar com Moisés, a pública adoração do povo de Deus e o tabernáculo. É
relativamente bem conhecido o fato de que Moisés seguiu o padrão revelado a ele por Deus,
quando ele ordenou a adoração no tabernáculo (Êxodo 25:40). A despeito de ser: “instruído em
toda a ciência dos egípcios” (Atos 7:22) – e, sem dúvida, familiarizado com a ampla ostentação
de instrumentos musicais usados no Egito, tanto no campo secular quanto no sagrado – Moisés
ordenou que o instrumento musical para ser usado na adoração pública do tabernáculo seria
apenas a trombeta. O seu uso é ordenado em Números 10 e vem claramente da parte de Deus.
Note que seu uso estava confinado ao sacerdócio e às festas ordenadas. Esta adoração prevaleceu
por muitas centenas de anos.
Davi
No tempo de Davi, um maior desenvolvimento aconteceu quando a adoração de Deus estava
centralizada em Jerusalém. Neste ponto, Davi aponta alguns dos levitas, sob a supervisão de
Asafe, como cantores profissionais e músicos ministrando diante da arca do Senhor a fim de
adorá-lo – o seu papel de carregar o tabernáculo e os seus utensílios chega ao fim, com o novo e
central lugar de adoração (1 Crônicas 23:25-26). O próprio Asafe deveria soar os címbalos;
Zacarias, Jeiel, Semiramote, Jeiel, Matitias, Eliabe, Benaia, Obede-Edom e Jeiel deveriam tocar
alaúdes e harpas e Benaia e Jaaziel eram os sacerdotes que tocavam as trombetas (1 Crônicas
16:4-6).
Significativamente, Davi fez esses apontamentos em obediência a uma ordem específica de Deus
e isto fica claro em suas palavras a Salomão, em 1 Crônicas 28:19, Davi diz que as mudanças
que ele introduziu foram porque: “fez-me entender o Senhor, por escrito da sua mão, a saber,
todas as obras desta planta”.
“Em uma nota sobre a prática, não é necessário sustentar a posição de que o
uso da música instrumental na adoração pública invalida necessariamente
todo o culto a Deus”
Mais uma vez, e em uma nota sobre a prática, não é necessário sustentar a posição de que o uso
da música instrumental na adoração pública invalida necessariamente todo o culto a Deus.
Quando tudo estiver dito e feito, não cabe a nós dizermos exatamente o que Deus aceita ou
rejeita, mas apenas o que ele exige e espera. Tais questões surgem para todos: por exemplo,
alguém que não é presbiteriano pensa que o ministério de um presbítero regente é completamente
inválido porque ele considera seu “ofício” sem fundamento bíblico? Será que um presbiteriano
acredita que um bispo tem um ministério inválido apenas porque seu ofício é sem autorização
bíblica - bispo [J.C.] Ryle, por exemplo? Será que um batista aceita o batismo por aspersão de
um presbiteriano adulto? Em outras palavras, é pouco razoável sugerir que somente aqueles que
creem no cântico exclusivo dos Salmos precisam enfrentar problemas deste tipo. Desta forma é
possível, em algumas ocasiões, conceber que Deus aceita o culto oferecido, mesmo que ainda
desaprovando o uso dos instrumentos musicais, ao mesmo tempo que em outras ocasiões, rejeita-
o.
No entanto, como indicado acima, se Deus aceita ou rejeita atos particulares de culto - ou até
mesmo o adorador - não cabe à igreja definir. Também não é uma questão com a qual se deva
brincar ou arriscar. Quem teria pensado que a ira de Deus viria sobre Uzá para castigá-lo,
simplesmente por tentar segurar a arca de Deus? Sem dúvida, tem muito a ver com o grau de
conhecimento envolvido por parte do adorador e, de fato, sobre se o adorador está se desviando
para longe da verdade ou se movendo em direção a ela. Deus não trata de maneira graciosa com
um povo que se aparta de uma posição bíblica como Ele trata um povo que está tateando na
busca de uma. Embora seja, sem dúvida, o caso de que muitas igrejas têm sido abençoadas ao
usar hinos e instrumentos – não é tão evidente que qualquer igreja tenha sido abençoada por
tomar a decisão de abandonar o cântico de Salmos sem acompanhamento. Tudo isso é um
lembrete solene de que ainda que tudo importe para Deus, só Ele discerne o coração. Para nós, na
Escócia, nos faria muito bem lembrar de que todas as nossas ações são as ações de igrejas
geradas a partir da segunda reforma e em uma terra que entrou num pacto com Deus.
Portanto, é nosso dever seguir a verdade onde ela nos levar – não seguir cegamente os outros ou
especular sobre o que Deus fará. O julgamento cabe somente a Deus – não a nós. É dever
daqueles que acreditam que essa forma de adoração é correta, e o dever da igreja que a professa,
articular essa verdade, segui-la, defendê-la e promovê-la.
CONCLUSÃO
É nossa conclusão, então, que o Livro dos Salmos foi compilado para o uso da igreja, para o
cântico de louvor a Deus, e que a igreja não tem a liberdade de acrescentar nada a este Livro,
para completá-lo ou substituí-lo.
É também nossa conclusão que os fatos que cercam o silêncio do Novo Testamento sobre a
questão dos instrumentos musicais, bem compreendidos, constituem um argumento convincente
para a interpretação do silêncio como prova de que nenhuma música instrumental foi usada no
culto da igreja do Novo Testamento.
É também nosso desejo que o Senhor nos fortaleça para restaurar a prática do cântico dos Salmos
sem acompanhamento musical como parte da verdadeira reforma e verdadeiro avivamento
espiritual ao qual ansiamos, e pelo qual necessitamos, mais intensamente, orar.
INTRODUÇÃO
A EVIDÊNCIA ESCRITURÍSTICA
I. Mateus 26:30; Marcos 14:26
Aqui somos informados de que, por ocasião da Páscoa, Jesus e seus discípulos cantaram um hino
antes de sair para o Monte das Oliveiras. O grego é humnesantes, que significa literalmente:
“tendo cantado o hino”. A evidência disponível para nós, de outras fontes, é no sentido de indicar
que o hino cantado nesta ocasião era o que é conhecido como o Halel, que consiste nos Salmos
113-118. Este exemplo evidencia os seguintes fatos.
(1) Nenhuma sanção pode ser afirmada aqui para o cântico de hinos não inspirados. Não há
evidência de que um hino sem inspiração foi cantado nesta ocasião.
(2) A evidência que possuímos demonstra que Jesus e seus discípulos cantaram uma porção do
Saltério.
(3) O canto ocorreu em conexão com a celebração do sacramento do Velho Testamento, a
Páscoa, e do sacramento do Novo Testamento, a Ceia do Senhor.
II. 1 Coríntios 14:15,26.
Paulo está aqui lidando com a assembleia dos santos em relação ao culto. Ele diz: “Cantarei com
o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (vs. 15), “Cada um de vós tem salmo” (vs.
26). A partir do verbo que Paulo usa, o versículo 15 pode muito bem ser traduzido como segue:
“Vou cantar um salmo com o espírito e também cantar um salmo com entendimento”, da mesma
maneira que no verso 26 ele diz: “Cada um de vós tem salmo”. Devemos concluir, portanto, que
salmos eram cantados na igreja em Corinto e tais cânticos têm, por implicação óbvia, a sanção do
apóstolo e é confirmada pelo seu exemplo.
A questão que surge: quais foram esses salmos? É possível que eles fossem salmos carismáticos.
Se assim for, uma coisa é certa, eles não eram composições sem inspiração. Se carismáticos, eles
foram inspirados ou dados pelo Espírito Santo. Se hoje possuíssemos tais salmos carismáticos,
cantados pelo próprio apóstolo nos cultos, ou sancionados por ele na adoração da igreja, então
teríamos a autoridade adequada para o uso deles nos cânticos do santuário. Acontece, porém, que
não temos provas conclusivas para mostrar que nós temos qualquer desses Salmos carismáticos
que se alega aqui. Mas, mesmo na hipótese de que eles eram salmos carismáticos e mesmo na
hipótese de que temos tais exemplos em Atos 4:23-30 e 1 Timóteo 3:16, não estamos assim,
providos com qualquer autorização para o uso de cânticos não inspirados na adoração de Deus.
Na hipótese de que eles não eram salmos carismáticos, temos que perguntar: o que eles eram?
Para responder a esta pergunta, temos simplesmente que fazer outra: quais músicas no uso das
Escrituras, enquadram-se na categoria de salmos? Há uma resposta. O Livro de Salmos é
composto de salmos, e portanto, pelo princípio simples de hermenêutica, podemos dizer que, em
termos de linguagem escriturística, os cânticos que são repetidamente chamados de Salmos
perfeitamente satisfazem a denotação e conotação da palavra “salmo”, tal como é utilizada aqui.
Se a Escritura inspirada diz: “Cada um tem salmo”, e a Escritura também chama “Salmos” de
salmos, então certamente também podemos cantar um Salmo para o louvor de Deus em sua
adoração.
Até aqui, referente a estes dois textos, podemos dizer que eles não nos fornecem autorização
alguma para o uso de hinos não inspirados. Nós também podemos dizer que, uma vez que os
salmos que possuímos no Saltério são certamente Salmos, na terminologia da própria Escritura,
somos aqui supridos com sanção divina para o cântico dos tais na adoração a Deus.
CONCLUSÕES GERAIS
Este levantamento das evidências derivadas da Escritura demonstra, na opinião do Minority
Report, que não há nenhuma evidência da Escritura que pode ser invocada para justificar o
cântico de composições humanas não inspiradas na adoração pública de Deus. O relatório do
comitê sustenta que nós temos autorização para o uso de tais cânticos. O Minority Report está
bem ciente da plausibilidade dos argumentos do comitê, a saber, o argumento retirado da
analogia da oração e o argumento retirado da necessidade de expandir o conteúdo dos cânticos
para acompanhar o ritmo da expansão da revelação dada no Novo Testamento. O primeiro desses
argumentos tem sido tratado na primeira parte do presente relatório. O último é muito mais
convincente. Há, no entanto, duas considerações que necessitam ser mencionadas a título de
resposta.
(i) Não temos nenhuma evidência no Velho Testamento ou no Novo, que a expansão da
revelação recebeu expressão nos exercícios devocionais da igreja através dos cânticos de louvor
sem inspiração. Este é um fato que não pode ser desconsiderado. Se possuíssemos evidências de
que no período do Velho Testamento a igreja deu expressão à revelação, à medida que progredia,
pelo canto de hinos não inspirados na adoração de Deus, então, o argumento da analogia seria
bastante conclusivo, especialmente tendo em vista o relativo silêncio do Novo Testamento. Mas
nenhuma evidência foi produzida para provar o uso de cânticos não inspirados na adoração do
Velho Testamento. Ou, se as instâncias do uso de hinos não inspirados no culto do Novo
Testamento pudessem ser apresentadas, em seguida o argumento do comitê seria estabelecido.
Mas até mesmo os próprios casos mencionados pelo comitê para mostrar que houve uma
expansão dos cânticos no Novo Testamento não demostram que cânticos não inspirados foram
empregados. Por isso somos obrigados a concluir que, uma vez que não há nenhuma evidência
para mostrar o uso de cânticos não inspirados na prática da igreja no Novo Testamento, o
argumento do comitê não pode pleitear essa autorização das Escrituras. A igreja de Deus deve,
nesta matéria, como em todas as outras questões relacionadas com o conteúdo real de culto,
limitar-se aos limites da autorização da Escritura, e é a alegação do Minority Report de que não
se possuem evidências sobre as quais se possa pleitear o uso de cânticos não inspirados no culto
público de Deus.
O argumento do comitê de que: “o Novo Testamento lida com condições na igreja primitiva que
não permaneceram e que não podem ser a nossa norma presente”, falha em tomar em conta o
devido caráter normativo da Escritura. É verdade que hoje não temos mais o dom da inspiração
e, portanto, não se pode compor músicas inspiradas. Mas a Escritura prescreve para nós o modo
em que devemos adorar a Deus nas condições que são permanentes na igreja. E já que a Escritura
autoriza e prescreve o uso de cânticos inspirados, mas não garante o uso de cânticos não
inspirados, devemos limitar-nos a esses materiais inspirados que nos foram disponibilizados pela
própria Escritura. Em outras palavras, a Escritura não nos fornece qualquer autorização para o
exercício dos dons, que a igreja agora possui, para a composição de verdadeiro [inspirado]
conteúdo de cântico.
(ii) Se o argumento elaborado a partir da expansão da revelação é aplicado dentro dos limites da
autorização da Escritura, então o máximo que pode ser estabelecido é o uso de cânticos do Novo
Testamento ou de matérias do Novo Testamento adaptadas ao cântico. Principalmente, o
Minority Report não é zeloso em insistir que os cânticos do Novo Testamento não podem ser
usados na adoração de Deus. Somos mais zelosos em manter que a Escritura autoriza a utilização
de cânticos inspirados, ou seja, os cânticos da Escritura, e que o canto de outra coisa a não ser
estes cânticos na adoração de Deus não encontra autorização na Palavra de Deus e, portanto, é
proibido.
Com base nestes estudos, o Minority Report apresenta respeitosamente à Décima Quarta
Assembleia Geral as seguintes conclusões:
1. Não há autorização nas Escrituras para o uso de composições humanas não inspiradas no
cântico de louvor a Deus na adoração pública.
2. Há autoridade explícita para o uso de cânticos inspirados.
3. Os cânticos de adoração divina devem, portanto, ser limitados às músicas da Escritura, pois só
elas são inspiradas.
4. O Livro dos Salmos nos fornece o tipo de composições para as quais temos a autoridade das
Escrituras.
5. Estamos, portanto, certos da divina sanção e aprovação para o cântico dos Salmos.
6. Nós não estamos certos de que outros cânticos inspirados foram destinados para serem
cantados na adoração de Deus, embora o uso de outros cânticos inspirados não viole o princípio
fundamental no qual a autorização da Escritura é explícita, ou seja, o uso de cânticos inspirados.
7. Tendo em conta a incerteza no que diz respeito ao uso de outros cânticos inspirados, devemos
limitar-nos ao Livro dos Salmos.
Respeitosamente,
John Murray
William Young
Rev. John Murray foi um ministro escocês da Orthodox Presbyterian Church [Igreja
Presbiteriana Ortodoxa], e professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico de
Westminster, Glenside, Pensilvânia, de 1937 a 1966. Ele faleceu em 1975.
Rev. Dr. William Young (nascido em 1918), é ministro aposentado da East Greenwich, Rhode
Island, congregação da Presbyterian Reformed Church [Igreja Reformada Presbiteriana], e
também atuou como professor de Filosofia na Universidade de Rhode Island. Ele foi ministro da
Igreja Presbiteriana Ortodoxa até 1976.
[1] Um relatório separado, feito por membros de um comitê ou grupo, que não concorda com a
maioria.
LIVROS DESTE AUTOR
A Verdadeira Salmodia
A discussão sobre a Salmodia Exclusiva vem aparecendo com mais frequência no Brasil inteiro,
mas infelizmente poucas obras antigas são traduzidas quando esse tema é tratado. Para a
edificação da Igreja e principalmente para a glória de Deus, a Editora Caridade Puritana lança
sua primeira obra que aborda justamente este assunto tão importante. Neste livro você verá que
no século XIX a Salmodia começou a ser questionada, e que muitos dos argumentos que
ouvimos hoje em dia já foram abordados e refutados por tantos autores que participam deste
livro (que foram compilados pelo Dr. James M. Willson) e pela própria história da Igreja. O livro
não trata apenas sobre o assunto de forma apologética, mas também de forma prática e pastoral,
e, nos leva ao conhecimento Bíblico sobre os Salmos de forma profundíssima.