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MIKE 

SHEA

1ª edição no Brasil ­ 2015 
L&A Produções 
Título Original em Português:  
Cordeiro e Sua Ordem Sacerdotal 
 
© 2015 de Mike Shea 
 
Todos os direitos desta edição  
reservados ao autor.   
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Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, 
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traduzida, sem a permissão, por escrito, do 
autor. Os infratores serão punidos pela Lei nº 
9.610/98 
 
Revisão: ​ Isaque G. Correa  Maysa da Costa Batista  
Editoração eletrônica: ​ Reinaldo de Souza  
Ilustrações: ​ Guilherme Match | www.be.net/yohke  
Capa: ​Gabê Almeida | ​ almeida.gabe@gmail.com 
 
 
Para publicações, pedidos e encomendas 
E­mail: ​
sac@casadedavi.com.br 
Tel: (43) 3334­1412 
 
 

   
DEDICATÓRIA

Q​
uero dedicar ​
este livro ao povo ​
brasileiro,
nação do meu coração. 

Espero  que  a  leitura  deste  livro  nos 


mobilize ​
a orar, como Jesus nos ​
ensinou! 

Deus quer operar em nós, contudo 
aguarda o nosso clamor! 

Seja ele a oração que Jesus nos ensinou. 

À geração de Timóteos que orarão como 
Ele nos ensinou. 
AGRADECIMENTOS 

A​
gradecido ​
a todos que me encorajaram 
a  escrever,  principalmente  a  pessoa  do 
Espírito  Santo  que  operou  em  minha  vida 
redimida  pelo  sangue de Jesus ​
para cumprir 
a vontade de Deus Pai. 
 
À minha querida esposa, Connie Marlene, 
muito usada pelo Espírito de Deus, sou 
devedor. 
 

   
PREFÁCIO 

O que ​
fizemos  da  oração  que  Jesus  nos
ensinou?  Por  que  deixamos  de  orar  como  ele 
nos  ensinou?  Por  que  não obedecemos a sua 
ordem:  "orareis  assim"? E,  ​
quando oramos, por 
que somente no contexto litúrgico? 

Com qual finalidade o Sumo Sacerdote da 
nova  ordem  orientou  seus  discípulos  a  orarem 
segundo  ele  orava?  Por  que  o  nosso  Mestre 
ensinou  multidões  a  fazerem  essa  oração 
diariamente?  Para  que  o  Rei  dos  reis  iniciou  o 
maior  movimento  de oração de todos os tempos 
de  cidade  em  cidade,  de  nação  em  nação,  de 
povo em povo e de geração em geração? 

Será que deixamos de praticar a disciplina 
de  oração?  Ou  cremos  que  ele  ensinaria  uma 
oração  que  o  Pai  não  pretende  atender?  Ou 
pensamos  que  podemos  compor  uma  oração 
melhor que a dele? 

Meu  primeiro  contato  com  a  oração  que 


chamamos  "Pai­Nosso",  foi  no  contexto  da 
missa  na  Igreja  Católica  Apostólica  Romana 
que  minha  família  frequentava.  Católico 
devoto  e  ​
temente  a  Deus,  eu  queria  estar  bem 
com  ele  e  por  isso  desenvolvia  cada  etapa  da 
minha  fé  com  vista  à  minha  aproximação  a 
Deus:  primeira  comunhão,  catecismo,  crisma  e 
serviço  de  coroinha.  Eu  já  tinha  decorado  a 
oração  quando  chegou  a  hora do sacramento da 
minha  primeira  comunhão.  Até  hoje  o  “canto” 
dela  na  liturgia  da  missa  ressoa  em  minha 
memória.  Contudo,  eu  fazia  essa  oração 
somente  no  contexto  litúrgico,  sem 
conhecimento e sem fé. 
 
Aos  16  anos  tive  minha  experiência  de 
conversão  e  iniciei  uma  caminhada  íntima  com 
Deus  que  continua  até  os  dias  de  hoje. 
Impactado  com  as  palavras  de  Jesus,  que  se 
tornava  Meu  Herói  a  cada  dia,  adquiri  uma 
Bíblia  para  iniciar  a  minha  leitura  pessoal  das 
Escrituras. 
 
Durante  os  meses  do  meu  “primeiro 
amor,” ainda  imaturo, tive uma experiência que 
desnorteou  a minha  vida  de  oração e que durou 
até  poucos  anos  atrás.  Eu  fazia  uma  leitura 
contínua  e  metódica  do  evangelho  de  Mateus 
que  contém  o  Sermão  do  Monte,  onde  Jesus 
orientava  discípulos  e  multidões  sobre  ofertas, 
oração  e  jejum.  Eu  compreendia  bem  seu 
ensinamento a respeito da oração: 
 
E,  quando  orares,  não  sejas  como  os 
hipócritas;  pois  se  comprazem  em  orar  em  pé 
nas  sinagogas,  e  às  esquinas  das  ruas,  para 
serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo 
que  já  receberam  o  seu  galardão.  Mas  tu, 
quando  orares,  entra  no  teu  aposento  e, 
fechando a  tua  porta,  ora  a  teu  Pai que está em 
secreto;  e  teu  Pai,  que  vê  em  secreto,  te 
recompensará  publicamente.  E,  orando,  não 
useis  de  vãs  repetições,  como  os  gentios,  que 
pensam  que  por  muito  falarem  serão  ouvidos. 
Não  vos  assemelheis,  pois,  a  eles; porque vosso 
Pai  sabe  o  que  vos  é  necessário,  antes  de  vós 
lho pedirdes. 
 
Portanto,  vós  orareis  assim:  Pai  nosso, 
que  estás nos céus, santificado seja o teu nome; 
venha  o  teu  reino,  seja  feita  a  tua  vontade, 
assim  na  terra  como  no  céu;  o  pão  nosso  de 
cada  dia  nos  dá  hoje;  e  perdoa­nos  as  nossas 
dívidas,  assim  como  nós  perdoamos aos nossos 
devedores;  e  não  nos  induzas  à  tentação; mas 
livra­nos  do  mal;  porque  teu  é  o  reino,  e  o 
poder, e a glória, para sempre. Amém. 
 
Porque,  se  perdoardes  aos  homens  as 
suas  ofensas,  também  vosso  Pai  celestial  vos 
perdoará  a  vós;  se, porém, não perdoardes aos 
homens  as  suas  ofensas,  também  vosso Pai vos 
não  perdoará  as  vossas  ofensas.  (Mateus 
6:5­15) 
 
Fiquei  impressionado  com  as observações 
sérias  que  Jesus  fez  sobre oração.  Era  fácil  me 
identificar  nas  palavras  de  Jesus.  Minha 
experiência  de  reza  se  resumia  às  orações  que 
eu  fazia  após  a  confissão  e  às  que  fazia  nas 
missas,  ou  seja,  nos  momentos  litúrgicos. 
Minhas  próprias orações repetidas  e  outras  que 
eu  tinha  ouvido,  que  pareciam  ser  feitas  para 
impressionar  os  ouvintes,  eram  palavras 
decoradas  com  pouca  ligação  ao  coração, 
denunciadas na fala de Jesus. 
 
E  na  minha  imaturidade  espiritual, 
cheguei  a  uma  conclusão  e  a  uma 
determinação:  queria  observar  e  guardar  o  que 
Jesus  ensinou.  Então  resolvi  que  deixaria  de 
orar  para  impressionar  os  ouvintes.  Também 
decidi  que  não  iria  repetir  orações,  tudo  teria 
que  ser  original,  ou  seja,  com  minhas  palavras 
sinceras  e  espontâneas.  Consequentemente, 
exclui  a  oração  que  Jesus  ensinou  da  minha 
vida  espiritual,  por  tê­la  repetido  sem 
conhecimento  e  sem  fé  em  muitos  momentos 
litúrgicos e em outros momentos. 
 
Ainda  no início  da  minha caminhada com 
Jesus  eu  frequentava  cultos  evangélicos  com 
amigos,  numa  busca  de  conhecer  mais  sobre 
Jesus.  Passei  a  frequentar  também  a  Igreja 
Metodista  próxima  à  minha  casa,  onde  meus 
amigos  eram membros. Nos cultos dessa igreja, 
como  era nas missas da igreja católica, a oração 
que  Jesus  ensinou  fazia  parte  da  liturgia.  Essa 
prática  foi  observada  nos  cultos  das  muitas 
denominações  que  conheci  durante  os  anos  de 
faculdade.  Nessa  época,  tanto  a  igreja  católica 
como  a  evangélica incluíam a oração do Mestre 
nas suas preces litúrgicas. 
 
Com  o  passar  dos  anos,  observei  que  a 
oração  de  Jesus  ocupava  um  lugar  cada  vez 
mais  insignificante  na  vida  da  Igreja. 
Primeiramente,  notei que não se fazia mais essa 
oração  em  cultos  evangélicos.  Praticamente 
todas  as  denominações  adotaram  cultos 
“pós­modernos”  com  a  exclusão  da  única 
oração  que  Jesus  ensinou.  Algumas 
incluíram­na em momentos  litúrgicos, contudo, 
sem  a  orientação  que  leva  o  fiel  a  fazê­la  com 
entendimento  e  fé.  As  denominações  mais 
antigas  continuam  a  fazê­la  em  certos 
momentos,  porém,  como  no  meu  caso,  a 
maioria  não  sabe  porquê  nem  para  que  fazem 
essa  oração.  Ademais,  não  me  lembro  de  ter 
ouvido  um  ensinamento  sobre  esta  oração 
nessas alturas da minha vida cristã. 
 
Muitos  anos  se  passaram  antes  de  eu 
“acordar”.  Durante  um  tempo  em  que  eu 
estudava sobre  o reino  de Deus  e  redescobria  a 
mensagem  do  evangelho  do  reino,  eu  lia 
novamente  um  comentário  que  o  Sermão  do 
Monte  é  uma  coleção  dos  ensinamentos  de 
Jesus  sobre  princípios  e  valores  do  reino  de 
Deus,  um  ponto  de  vista  muito  comum  entre 
teólogos  de  referência.  Embora  eu  já  tivesse 
lido  isso  muitas  vezes,  foi  nessa hora que “caiu 
a ficha”. 
 
A oração de  Jesus,  aquela que ele ensinou 
aos discípulos, é essencial para trazer o reino de 
Deus à  Terra.  Se não fosse assim, não constaria 
nesse  material  tão  importante  para  Mateus.  E, 
se  entendermos  que  Jesus  ensinava  esse 
material  de  cidade  em  cidade,  então  veremos 
que  ele  ensinava  a  fazer  essa  oração  em  todos 
os lugares aonde foi. 
 
Eu  precisava  descobrir  a  essência  dessa 
oração... 
 
Contudo,  Mateus  não  foi  o  único 
evangelista  a  relatar  essa  oração.  Lucas,  o 
médico  e  historiador,  pesquisou  e  soube  de 
outro  contexto  em  que  Jesus  ensinou  a fazê­la: 
“ensina­nos a orar, como João ensinou”. (Lucas 
11:1b) 
 
Tenho  certeza  que  você,  leitor,  irá  gostar 
de  saber  as  implicações  da  única  oração  que 
nosso  Sumo  Sacerdote  ensinou  a  fazer  neste 
outro contexto. 
O décimo primeiro capítulo do Evangelho 
de  Lucas  relata  o  momento  em  que  os 
discípulos  pedem para Jesus lhes ensinar a orar, 
tal  como  João  tinha  ensinado  aos  seus 
discípulos.  Esta  passagem  me  inspirou  a 
escrever este livro  a  partir do  ponto  de vista  de 
Jesus. 
 
Os  discípulos  acompanhavam  seu  Mestre 
de  cidade em cidade  e ouviam seu ensinamento 
sobre  o  reino de  Deus.  Junto com  as  multidões 
recebiam  suas  palavras  sobre  oração  por 
dezenas,  senão  centenas  de  vezes.  Contudo, 
creio  que  sentiram  o  peso  da  oração  quando 
pediram para aquele que “orava em certo lugar” 
ensiná­los, como  se ele não tivesse feito isso de 
cidade  em  cidade,  como  se  tivesse  algum 
mistério  sobre  oração  que  ele  não  havia 
revelado aos íntimos. 
 
Será  que os  solicitantes  se surpreenderam 
ao  ouvir  a sua réplica? Será que eles esperavam 
ouvir a  mesma oração que Jesus havia ensinado 
às  multidões e, consequentemente,  tantas vezes 
para eles? 
 
E  se  os  que  seguiam  e  ouviam  Jesus  em 
carne e  osso  não  sabiam  valorizar a sua oração, 
será  que  eu  e  você  a  valorizamos  como 
devíamos?  Confesso  que  eu,  não!  Resolvi 
buscar  entendimento  sobre  a  única  oração  que 
o Mestre ensinou. 
 
Este  livro  é  uma  narrativa  didática  que 
relata  os  encontros  de Jesus com um jovem nos 
dias  de  hoje, quase 2.000 anos depois que Jesus 
ensinou  pela  primeira  vez  em  Israel.  As 
experiências são fictícias, mas a verdade delas é 
totalmente  bíblica.  Creio  que  o  Espírito  Santo 
falará muito com você, querido leitor. 
 
...Mas, quem é este jovem? 
Timóteo. 

Lucas,  historiador  e  médico,  pesquisou  e 


escreveu  um  evangelho  e  os  Atos  dos 
Apóstolos  para  uma  pessoa  chamada  Teófilo. 
Não  há  informações  suficientes  nessas  obras 
para saber quem era essa pessoa. 
 
Numa  tentativa  de  entender  para  quem  e 
para  que  ele  escreveu,  teólogos  observaram  o 
significado  do  nome  “Teófilo”:  “aquele  que 
ama a Deus”. 
 
Então,  levantaram­se  duas  possíveis 
explicações: 
 
• Que  Lucas  pode  ter  escrito  para 
um conhecido chamado Teófilo pelo 
significado do seu nome, a fim de chamar todo 
“aquele que ama a Deus” para ler seu 
evangelho e crer em Jesus; 
 
• Ou  que  Lucas  não  conhecia 
nenhum Teófilo, mas escolheu este nome para 
chamar os leitores cujas vidas se descrevem 
com o significado do nome; ou seja, para quem 
ama a Deus. 
 
Hoje,  não  podemos  conversar  com  Dr. 
Lucas  para  saber o  que  ele intentou ao escrever 
para  este  alguém  chamado  Teófilo.  Mas  eu 
estou  vivo  e  posso  falar.  Evidentemente,  essa 
história  do  evangelista  Lucas  sempre  me 
impactou. 
 
“Pai  Nosso:  Como  Ele  Nos  Ensinou”,  foi 
escrito  do ponto de vista do jovem Timóteo dos 
dias  de  hoje,  cujo  nome  significa  “aquele  que 
honra  a  Deus”.  Através  da  história  de  “quem 
honra  a  Deus”,  espero  integrar  muitos 
conceitos, princípios e valores do reino de Deus 
para que você seja edificado e capacitado a orar 
como  discípulo  de  Jesus.  Quem  sabe?  Se  você 
deseja honrar a Jesus, Timóteo pode ser você! 
 
Este livro está em processo  há mais de 10 
anos.  Tenho ministrado o que recebi do Senhor, 
e  eu  soube  de  muitos  testemunhos  de  como 
Deus  agiu  através  dessa  oração  feita  em 
escolas,  lares,  bairros,  empresas,  e  outros 
lugares  onde  o  Pai  introduziu  os  seus  filhos 
para que se manifestasse o reino de Deus. Neste 
tempo,  tenho  pesquisado  onde  ministramos  e 
averiguei  que,  de  forma  geral,  a  igreja  deixou 
de  fazer  essa oração.  Há uma  geração  que  nem 
conhece  o  que  Jesus  ensinou.  Escrevi  porque 
tenho  convicção  de  que  é  chegada  a  hora  de 
mobilizar a igreja cristã a fazer essa oração com 
fé  em todos  os lugares para os quais o Espírito 
Santo  indicar. Não basta ler o livro. Meu desejo 
é  que  o  leitor  entenda  porquê  e  para  que  o 
Mestre nos ensinou a orar assim. 
 
Assim, oraremos como Ele ensinou…   
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 

CORDEIRO 

E​
u  me  chamo  Timóteo.  ​
Sou  seu 
conterrâneo,  nascido  no  tempo  medido  pelo 
relógio  para  encontros  agendados  ​ como  este. 
Filho  de  pai  e  mãe,  criado  junto  aos  meus 
irmãos  em  Hemeterópolis, na Allolândia, gosto 
disso  e  não  gosto  daquilo.  Sou  normal,  mas 
nem tanto. Difícil  definir  "normal" nesta época 
da história. Busco paz. Sou maior de idade. 
 
Sonho  com  muitas  coisas  e  tenho  muitas 
ideias,  mas  não  sei  se  vou  conseguir  todas, 
embora  me  esforce  para  chegar  lá.  Contudo, 
tenho muita esperança, e até expectativa. 
 
Como  muitos da  minha  geração,  eu tenho 
experimentado  mais  nos  meus  poucos  anos  do 
que  os  meus  antepassados numa vida. Até hoje, 
a  experiência  que  mais  me  marcou  foi  meu 
encontro com o Cordeiro. 
 
Hemeterópolis  se  situa  ao  sopé  do Morro 
do  Rei.  Diz  a  lenda  que,  nos  tempos  coloniais, 
o enviado do rei escalou este morro para avistar 
as  terras  a  fim  de  achar um sítio onde  pudesse 
estabelecer  um  povoado.  Este  seria  uma 
extensão  do  reinado,  um  lugar  de  convivência 
que  refletisse  o  caráter,  os  valores  e  os 
princípios  de  vida  do  próprio  rei.  O  enviado 
avistou  o riacho  cascateando pelos  campos  que 
se  abriam  até  ao  horizonte  e  tinha  certeza  que 
havia  ali  tudo  que  um  povo  necessitasse  para 
desenvolver  uma  bela  comunidade.  Ele  queria 
que  todos  soubessem  disso  e  deu  nome  ao 
morro:  Morro  do Rei. Hoje o morro é um ponto 
turístico  da  região  com  uma  infraestrutura  de 
mirantes  e  clareiras  onde  muitas  famílias 
fazem  piqueniques  nos  finais  de  semana.  A 
altura  te  eleva para  respirar  os ares refrescantes 
onde  se  enxerga  a  quilômetros,  avistando  os 
mesmos campos do enviado do Rei. 
 
Era  um  dia  de  sábado.  No  morro,  eu 
conseguia  esquecer  dos  meus  problemas.  Eu 
subia  pela  calçada  procurando  me  alienar  dos 
meus  problemas  e  grandes  falhas.  Naquela 
semana  eu  havia  "bombado"  em  todas  as 
provas,  atrasei­me  por  várias  vezes no  serviço, 
briguei  feio  com  a  minha  namorada  e 
acabamos  terminando.  Já  fazia  muito  tempo 
que  eu  estava mal com  os  meus  pais  e  até  com 
os  meus  colegas. 
 
Eu  caminhava,  banhando­me  do  sol 
caloroso  nesta  tarde  fria.  Meu  destino  era  o 
Mirante do  Príncipe,  o  suposto  lugar  de onde o 
enviado  tinha  avistado  a  planície inferior.  Para 
chegar  ao mirante, do  estacionamento  superior, 
toma­se  uma  trilha  pelo  bosque. As árvores do 
bosque  fazem  uma  sombra  refrescante, criando 
a  sensação  de  passear  num  lindo  mundo 
paralelo debaixo dessa sombra. 
 
Ao  sair do bosque, eu sentia o calor do sol 
novamente.  Eu  ia  na  direção  do  Banco  da 
Águia­  Real.  Dizem  que a águia real é capaz de 
avistar  um  coelho  a  distância  de  mais  de  3 
quilômetros.  O  enviado  do  rei  foi  uma 
“águia­real”  nos  seus  dias,  avistando 
quilômetros  à  frente  no  espaço  e  pelo  tempo. 
Mas  hoje,  já  estava  sentado  outro  enviado  do 
rei. 
 
O  varão  empoleirou­se  no  banco  como  a 
águia­real para observar nosso pacato povoado. 
 
Do  mirante,  ele  contemplava  todo 
movimento  do  pacato  povoado.  Olhava  de  um 
lado para o outro, e de cima para baixo. 
 
Lembrava­me  um arquiteto que examina a 
construção  que  desenhou,  desejando  encontrar 
os  mínimos  detalhes  do  seu  projeto.  Dava  a 
impressão  que  sabia  tudo sobre  a  vida da nossa 
metrópole, como  se fosse  o urbanista  que  tinha 
minuciado  cada  sistema  e  órgão  desse  corpo 
metropolitano  com  a  perfeição  que  Deus criou 
o universo. 
 
Concentrado,  ele  esquadrinhava  cada 
metro  da  cidade  como  se  conhecesse  tudo  e 
como  tudo  devia  funcionar.  Não  parecia  estar 
ciente  da minha  presença ainda a uma distância 
de aproximadamente 25 metros. 
 
Simples  de  aparência,  não  demonstrava 
ser  rico  nem  pobre.  Não  era  nem  bonito  nem 
feio.  Nem  velho  nem  jovem.  Vestia  roupas 
simples  e  sem  adornos.  Nenhum  detalhe  deste 
indivíduo  chamava  minha  atenção.  Contudo, 
não  conseguia  parar  de  examiná­lo  com  certa 
fascinação. 
 
Uma “luz”  o envolvia. Eu não via a “luz”, 
mas  a  enxergava.  Era  misterioso,  místico 
até,  como  se  enxergasse  dimensões  da  minha 
cidade que eu não via. 
 
A vontade  de me aproximar dele crescia a 
cada minuto que passava. Por um momento, um 
temor tomou conta de mim. Digo medo mesmo. 
Neste  instante  eu  sabia  que  tudo  estava  para 
mudar  em  minha vida. Até então vinha levando 
minha  vida  do  meu  jeito.  Mas  agora  este 
encontro podia  mudar  todo  o rumo dela. Pensei 
em voltar atrás. 
 
Uma  sensação  de  mortalidade  me 
envolveu  diante  da  conscientização  da  sua 
imortalidade.  Eu  tinha uma certeza de  que  este 
Ilustre  tinha  o  poder  e  autoridade  para  me 
julgar e condenar à morte. 
 
No  mesmo  instante,  como  uma miragem, 
eu  via  nele  vestes  de  realeza  e  majestade. 
Desacreditando,  fechei  os  olhos  com  força  e 
abri  para  ver  suas  vestes  simples  novamente. 
Como  que  alguém  tão simples podia ser Rei? E 
imortal? 
 
Eu  fiquei  muito  curioso  para  descobrir 
quem  seria este nobre. Ao mesmo tempo, sentia 
temor,  sim,  muito  temor.  Mas  maior  foi  a 
minha  curiosidade  do  que  o  medo,  então  me 
aproximei.  Nunca  vou  esquecer  a  sensação 
deste momento. Até então, era como se eu visse 
o  oceano  pela  primeira  vez. Como  se  estivesse 
na  praia  admirando  a  imensidão  das  águas. 
Podia  ouvir  o  barulho  constante  das  ondas 
solapando  a  areia.  Sentia  a  brisa  do  mar  e  o 
cheiro  inconfundível  das  águas  salgadas.  Eu 
tinha  sentido  a  grandeza  dessa  figura  sem 
movimento,  como  se  tivesse  olhado  uma 
pintura  de  um  grande  artista  ficando 
impressionado.  Contudo, eu não esperava o que 
me  ocorreu  em  seguida.  Era  como  se  eu 
estivesse  adentrado  na  pintura  mais  valiosa  da 
Terra. 
 
Dando  este  primeiro  passo,  à  espera  de 
sentir  mais  medo,  acabei  sentindo  um  amor. 
Não  era  qualquer amor. Era o sentimento como 
de  um  pai  que  faz  tudo  pelos  filhos,  sem  se 
importar  com  o  custo.  Amor  imensurável, 
incontestável, irrecusável. 
 
Há  poucos  metros  dele,  me  surpreendi  e 
me  deleitei  com  a  sensação  de  estar  me 
movendo  em  águas;  as  mais  puras  do  mundo, 
as  mais  refrescantes,  as  mais  transluzentes. 
Águas,  cujas  ondas  solapavam  até  a  minha 
alma.  Cada  onda  trazendo  uma sensação  nova: 
santidade, amor, paciência,  misericórdia, graça, 
e muito mais. 
 
Sua  pureza  me  constrangia.  E  na  esfera 
onde seu Espírito alcançava,  eu sabia  de coisas 
que  eu  não  tinha  como  saber.  Digo:  “eu  sabia 
que  sabia”  que  ele jamais pensava em maldade 
de  qualquer  espécie.  Que  não  havia  nele 
falsidade  alguma  e  nada  que  fosse  oriundo  de 
falsidade.  Nenhuma  mentira,  nenhum  artifício, 
nem  desonestidade.  Nenhuma  fraude,  nenhum 
logro,  tampouco  engano.  Nele  não  havia 
sombra.  Sua  luz  garantia  que  ele  não escondia 
nem ocultava nada  para  aquele  que  desejava  se 
aproximar. 
 
Eu  percebia  que  era  a  sabedoria  em 
pessoa,  que  ele  sabia  de  coisas  que  eu 
desconhecia.  Como  se  a  sabedoria  de  todos os 
tempos estivesse acumulada em sua pessoa. 
 
Ele  via  as  coisas  invisíveis  que  eu sentia, 
mas  não  enxergava.  Sua  percepção  ia  muito 
além  da  minha,  unindo  o  natural  e  espiritual e 
desfazendo  os  mistérios  ocultos  a  grande 
maioria. 
 
Ele  tinha  respostas  às  perguntas  que  eu 
não  saberia  fazer, bem como perguntas às quais 
eu jamais saberia responder. 
 
Ele  nem  tinha  falado  comigo,  mas  eu 
tinha  “ouvido”  tudo  isso  sobre  ele 
simplesmente  me  aproximando.  Sei  lá,  parecia 
que  ele  tinha  muito  para  falar comigo,  como se 
eu  pudesse  sentar do  seu  lado e ouvi­lo durante 
dias  e dias sem  cansar.  Parecia  que  poderia  me 
revelar  os  segredos  do universo, pois nada a ele 
era mistério. 
 
• Eu  Sou  o  Verbo — disse este visitante 
misterioso. 
 
Eu  “ouvi”, mas ele  não  tinha falado nada. 
Curioso.  Na  sua  presença  parece  que  se  fala o 
tempo  todo.  Palavras  que  importam,  que 
impactam. Palavras  que  norteiam.  Palavras  que 
criam.  Palavras  que  revelam  os  mistérios 
ocultos que pessoas como eu desconhecem. 
 
O  ar  à sua volta  pesava,  mas eu  respirava 
normalmente.  Perto  dele  parecia  que  meus 
sentidos  eram  ativados,  que  a  essência  de  tudo 
resplandecia. 
 
A  sua  simplicidade  contrastava  com  a 
realeza  que  irradiava  deste  nobre.  Meigo  sem 
ostentação, ele tinha pleno governo de tudo. 
 
Em  me  aproximar  mais  e  falar com  ele,  a 
minha  vida  nunca mais  seria  a mesma. Frente à 
sua  magnitude,  eu  teria  que  pesar  cada 
expressão,  dele  e  minha.  Haveria  de  pensar 
antes de  perguntar. Refletir antes  de responder. 
Eu  sabia  que  eu  não  poderia  ouvir  suas 
palavras  como  se  ouvisse  a  qualquer  um.  Ele 
não  era  qualquer  um.  Eu  entendia  que  seria 
cobrado,  provado,  comissionado,  envolvido, 
consumido  em  algo  que  eu  ainda  não 
compreendia  por  causa  deste  nosso  encontro. 
Mas eu não queria fugir. 
 
Quando  cheguei,  ele  estava  falando  em 
voz  baixa.  Eu  não  via  mais  ninguém  em  sua 
presença.  Se  tivesse,  eu  jamais  o  teria 
interrompido.  Fiquei  constrangido  ao  ouvi­lo, 
mas  algo  me  levava  a  ele,  como  um  ímã  que 
puxa  o  ferro  para  si.  Ele  reconheceu  a  minha 
presença  com  um  olhar.  Olhou para mim, para 
o  lugar  vago  do  seu  lado  e  para mim  de novo. 
Seu  convite  foi  discernido  e  atendido  com 
temor e tremor. 
 
Eu sentei ao seu lado em silêncio. 
 
Fiquei  sem  consciência  de  tempo.  Ao  seu 
lado  parecia  que  não  havia  tempo.  Como  se 
ontem,  hoje  e  amanhã  fosse  tudo  a  mesma 
coisa.  Há  poucos  segundos  eu  estava  ansioso 
para  falar  com  ele.  De  repente  não  sentia mais 
nenhuma  ansiedade,  nenhum  motivo  de 
apressar  nosso  encontro.  Parecia  que  não 
existia  mais  ninguém,  só  eu  e  ele.  E  nenhuma 
outra  agenda  ou  tarefa  mais  importante.  O 
mundo  parou.  Esperar  para  ouvir  o  que  este 
Sábio  tinha  para  falar  valia  mais  que  todas  as 
riquezas do mundo. 
 
E ficamos ali durante um tempo. 
 
Eu  sentia  medo.  Medo  de  olhar  para  ele. 
Medo  do que ele  diria para mim. Medo  do  que 
ele  poderia  fazer  comigo.  Poder.  Justiça. 
Retidão.  Autoridade. Eu sentia  tudo  isso ao seu 
lado sem que ele falasse uma só palavra. 
 
Eu  estava  cabisbaixo,  mas  sentia  que  ele 
estava  olhando  para  mim.  Levei  um  tempo 
longo para criar coragem e olhar para ele. 
 
Olhei. Ele não estava olhando para mim, e 
sim  para  frente.  Não  como  se  olhasse  para  o 
que  estava  na frente  dele.  Mas  como se olhasse 
e  visse  todos  os  tempos:  passado,  presente  e 
futuro.  Como  se  visse  outras  dimensões  e 
esferas que, para mim, eram invisíveis. 
 
Nele  havia  plena  paz.  Eu  sentia  que  ele 
não  se  incomodava  com  nada.  Minha  presença 
não  o  incomodava.  A  realidade  da  minha 
cidade  não  o  incomodava.  Eu  sabia  que  o 
Inspetor analisava  tudo  que  enxergava  a  fim de 
identificar  o  que  estava  de acordo, ou não, com 
o  seu  plano  diretor.  Eu  sei  que  ele  observou 
muitas  coisas  ruins  da  minha  amada  cidade, 
mas  não  esbouçou  nenhuma  reação  negativa. 
Irradiava 
 
soberania.  Embora  tudo  parecesse  perdido 
na minha avaliação, ele tinha tudo sob controle. 
 
Não  sei  quanto  tempo fiquei olhando para 
ele.  Ele  não  se  mexia.  Parecia  gostar.  Nunca 
contemplei  alguma  coisa  ou  alguém  assim  em 
minha  vida.  Eu  não  conseguia  tirar  os  olhos 
dele.  Era  como se  eu visse  algo  além do que os 
olhos  podem  ver.  Bondoso.  Amoroso.  Justo. 
Fiel.  Leal.  Sábio.  Absoluto.  Brilho  maior que o 
sol.  Poder  maior  que  os  oceanos.  Apóstolo. 
Profeta. Evangelista. Pastor. Mestre. 
 
Tirei  meus  olhos  dele  só  um  minutinho  e 
fiquei chocado: eu estava “nu”! 
 
Que vergonha. Que vexame. Eu queria me 
cobrir.  Mas  estava  vestido!  De  repente,  toda  a 
minha  podridão  voltava  à  memória.  Tudo  que 
eu  tinha  falado  e  feito que me envergonhava. E 
outras  coisas  que  eu  não  havia  sentido 
vergonha, agora  eu sentia  ao  lado dele. Entendi 
que  ele  sabia  tudo  a  meu  respeito,  como  se 
estivesse  presente  em  cada  momento  que 
cometi  as  minhas  vergonhas.  A  “luz”  que  o 
envolvia  penetrava  os  lugares  mais  profundos 
da  minha  alma.  A  sua  pureza  descobria  o  que 
era  mais  oculto  e  escondido do meu passado. O 
seu  amor  afagava  toda  a  minha  ansiedade  e 
meu medo. 
 
Ele  tinha  visto  tudo.  Ele  tinha  ouvido 
tudo.  Até  os  meus  pensamentos e  sentimentos. 
E ele não se incomodava. 
 
Eu  queria  me  esconder.  E  tentava  cobrir 
minha vergonha com as minhas mãos. 
 
Ele  não  falava  nada!  Contudo,  eu  sabia 
que  ele  estava  ouvindo  cada  um  dos  meus 
pensamentos como  se  fossem palavras ditas em 
voz  alta.  Estávamos  conversando  sem 
verbalizar. 
 
Como  que  ele  sabia  de  tudo  assim?  Eu 
não  me  lembro  de  tê­lo  visto  antes.  Mas,  de 
repente,  ao  lembrar  as  cenas  em  que  eu  tinha 
cometido  as  minhas  vergonhas, enxergava­o no 
cenário olhando para mim com tristeza. 
 
Quem é esse homem? Quem é essa pessoa 
que  fala  sem  falar?  !  Quem  é  esse  senhor? 
Senhor?  “Senhor”,  não.  Uma  voz  dentro  de 
mim  dizia:  muito  mais  do  que  “senhor.”  Eu 
chamava  o  meu  pai  de  “senhor.”  Chamo  os 
mais velhos  de  “senhor.”  Mas  ele  é  muito mais 
que “senhor”. Então, quem é? 
 
Eu  não  sei como aconteceu, mas de forma 
involuntária,  sem  olhar para  ele,  saiu da  minha 
boca uma pergunta: 
 
• Senhor, quem és? 
 
Olhei  para  ele  conseguindo  ver  que  Ele 
esboçara um sorriso miudinho. Eu sabia que ele 
tinha  gostado  da  minha  pergunta  e  que  não  se 
irritara  com  a  minha  presença,  embora  eu 
estivesse “nu”! 
 
• Eu  sou  o  Patriarca  de  uma  família 
sacerdotal,  a  atual  que  medeia  entre  Deus  e  a 
humanidade.  Alguns  me  conhecem  como 
Melquisedeque, outros como “a luz do mundo”, 
outros  como  “ancião  de  dias”,  ainda  outros 
como  “Pai  da  Eternidade”.  Tu  podes  me 
chamar de “Cordeiro” ou “Senhor” se quiseres. 
 
Eu  sou  de  uma  linhagem  de  realeza.  Eu 
Sou  o  Rei  Imortal  e  Soberano.  Vou  governar 
sobre todas as nações e sobre todos os povos. O 
meu governo é  de paz,  alegria  e justiça movido 
pelo  Espírito  de  Deus.  O meu  governo  está  em 
crescimento  há  muitos  anos.  Durante  um 
tempo,  movido  pelo  engodo  do  adversário,  o 
ser  amado  rejeitou  o  meu  governo.  Eu  e  meu 
Pai  estamos  indignados  de  tanta  maldade  e 
vamos  pôr  um  fim  nela,  pois  estamos 
preparados  para  suplantar  esse  império  de 
maldade e  trevas e  destruir  toda a influência do 
mal.  Eu  tenho  o  exército  mais  poderoso. 
Ninguém!  Ninguém  poderá  nos  resistir!  Dia 
após  dia,  o  ser  amado  e  iluminado,  está 
pedindo: “Venha”! 
Interessante,  mas  relatando isso a mim, eu 
ouvia  tudo  o  que  ele  dizia com a maior clareza, 
como  se  fosse  uma  única  enunciação.  Sua  voz 
era  volumosa  como  o  rugir  de  cataratas  que 
silenciava  qualquer  som  concorrente.  Todavia, 
não  me  lembro  de  ter  visto  mexer  os  seus 
lábios. Ele continuou: 
 
• Tu,  Timóteo,  estás  me  vendo  aqui, 
mas  essa não é a primeira vez que venho para o 
mundo. 
 
Por  alguma  razão eu olhava­o agora como 
se  estivesse  examinando­o.  Ele  vestia  um 
manto  que,  quando eu  vi, caiu sobre  o  assento. 
Ele  usava  uma  toga  por  baixo  que  reluzia.  Na 
verdade,  não  sei  se  era  feita de  tecido  ou se era 
de  luz  mesmo!  Só  sei  que  reluzia.  Mas,  ao 
mesmo tempo, era transparente. 
 
Eu  observava  marcas  por  baixo  da  toga. 
Suas costas  eram retalhadas de cicatrizes. Olhei 
e vi outras marcas em suas mãos e nos seus pés. 
E, olhando para ele, e querendo perguntar como 
ele  tinha se machucado, percebi mais marcas na 
sua  testa.  Não  vou  saber  explicar  a  sensação 
que  me  passava  por  dentro.  Eu  me  sentia 
culpado...,  culpado  por  ter  causado  essas 
marcas.  Eu  não  lembrava  de  tê­lo 
encontrado  antes,  muito  menos lembrava  de 
estar  presente  para  executar  a  sentença  que 
deixou essas marcas... 
 
• A  humanidade  para  mim é  como  uma 
esposa.  Como  foi  feita  uma mulher para Adão, 
meu  Pai  fez  também  para  mim.  Se  ela  não 
caísse  no  engano  dos  séculos,  ela  seria  minha 
rainha, reinando  sobre a  Terra  comigo. Mas ela 
cedeu  ao  enganador.  Ela  se  tornou  como  o 
enganador:  soberba,  corrupta,  mentirosa  e 
egoísta. 
 
Comecei a  chorar.  Não de  pena e tristeza, 
mas  arrependido de  toda a vergonha  e maldade 
que  eu  cometera.  Sentia um remorso incomum, 
com  cada  pranto  e  gemido arrancado do  fundo 
da  minha  alma.  Suas  palavras  flagraram  a 
maldade  do  meu  interior  que  eu  mesmo  jamais 
poderia  negar.  E  iluminado,  captei  neste 
momento,  que  nem  eu  mesmo  conhecia  os 
limites da maldade em mim. 
 
Ele prosseguia: 
 
• Dia  a  dia  o  ser  amado  se  afastava  de 
nós.  O  ser  amado  tinha  aceitado  o  engano  em 
vez  da  verdade,  admirando  a  criatura,  em  vez 
do  Criador,  a  ilusão  no  lugar  da  realidade.  O 
engano  teria  que  ser  exposto.  O  poder  do 
encantamento  teria  que  ser  quebrado.  Eu  me 
ofereci.  Meu  Pai  olhou  para  mim  e  pediu  que 
eu  me  tornasse  humano  para  executar  o  plano 
de  resgate,  pois  o  novo  exemplo  teria  que  ser 
dado.  O preço  do  resgate  seria  muito caro, pois 
o  ser  amado  se  entregou  ao  engano  de  livre 
escolha  e  de  graça.  Ofertei  a minha  vida como 
sacrifício  e  tomei  sobre  mim  o  castigo  que 
podia  restaurar  a  paz  entre  a  humanidade  e 
Deus.  Nós  criamos  a  humanidade  à  nossa 
imagem e semelhança. Revelei todo o engano e 
trouxe  a  verdade  à  luz.  Eu  não  hesitei, pois se 
tratava  da  minha noiva. Entreguei­me  em  amor 
à  minha  noiva  para  que  ela  venha  ao  meu 
encontro  sem  mácula  e  sem  ruga.  Nosso  amor 
por ela é constante, perseverante, eterno e real. 
 
Aos  prantos,  eu  pensava:  “Foi  por  mim, 
foi por mim!” 
 
• Essas são as  marcas  do meu amor. Foi 
isso  que  fizeram  comigo  quando  souberam  que 
eu  vim  resgatar  a  minha  noiva.  Eu  fui 
crucificado  injustamente  para  que  o  injusto 
fosse  justificado.  Eu  fui  abandonado 
injustamente  para  que  o  abandonado  fosse 
adotado.  Eu  fui  moído  por  transgressões  e 
enfermidades para que os transgressores fossem 
perdoados  e  os enfermos curados. Essas marcas 
são  a  prova  da  minha  devoção.  Prova  do amor 
do  meu  Pai.  Prova  da  nossa  vitória  sobre  o 
império do mal. 
 
Enquanto  ele  falava,  eu  pranteava.  E  eu 
via!  Como  se  uma  grande  tela  se  abrisse  à 
minha  frente;  eu  me  vi  na  hora  da  sua 
crucificação.  Eu  tinha  retalhado  suas  costas 
com  chicote!  Eu  tinha  enfiado  uma  coroa  de 
espinhos  na  sua  cabeça!  Eu  o  tinha  forçado  a 
carregar  a  cruz  até  o  local  da  sua  morte!  Eu 
segurava  o  martelo  que  pregava  os  cravos  nas 
suas  mãos  e  nos  seus  pés!  Eu  furei  o  seu lado 
com uma lança! 
 
Eu  queria  agarrá­lo  e  dizer:  “Perdão! 
Perdoe­me!  Eu  não  sabia  o  que  eu  estava 
fazendo!”  Eu  chorava  e  chorava.  Nem  percebi 
quando  ajoelhei  diante  dele,  chorando  com  a 
minha  cabeça  em  seu  colo.  Na  recordação  de 
cada  uma  das  minhas  vergonhas  eu  gemia  e 
clamava por misericórdia e perdão. 
 
• Eu te perdoo. Te perdoo. 
 
E  ele  passava  a  mão  em  minha  cabeça  e 
eu  sentia  um  consolo  antes  inimaginável,  e 
sabia que eu estava perdoado! 
 
Não sei quanto tempo passamos assim. Eu 
sei  que  recordei  a  minha  vida,  como  se  eu 
estivesse  vendo  os  filmes  amadores  da  minha 
infância  que  meu  pai  filmava.  E,  com  cada 
lembrança,  eu  chorava  de  novo  e  pedia: 
“perdoa­  me”!  E  ele  me  consolava  com 
palavras  de  amor  e  perdão.  No  decorrer  desse 
momento,  eu  sentia  um  calor  sobre  mim 
misturado  com  uma  sensação  de  vida.  Não  sei 
explicar...  É  como  se  a  minha  pessoa 
despertasse  de  um  sono,  como  se  um  morto 
ressuscitasse,  como  se  um  confuso  ficasse 
totalmente são em todos os seus sentidos. 
 
De  repente  eu senti um vento sobre mim e 
tive  uma reação  involuntária.  Ao  sentir a  brisa, 
eu  respirava  com  força  como  uma  pessoa 
depois  de se  afogar, esforçando­me para encher 
os  pulmões  com  o  fôlego  vital  que  a  brisa 
continha.  A  cada  respiro,  sentia  força  e  vida 
penetrando  o  meu  ser.  Todos  os meus  sentidos 
se  avivaram.  Senti  o  cheiro  da  brisa – jasmim. 
E  o  gosto  –  mel  puríssimo.  As  cores  ficaram 
mais vivas  e  os  sons  mais  claros  enquanto uma 
força vital tomava conta de meu corpo. 
 
Foi  neste  momento  que  a  estranheza  me 
tomou.  Ainda  chorando  e  respirando  forte, 
olhei  para  o  Cordeiro,  Eu  não  conseguia falar, 
mas  sentia  que  ele  teria  uma  explicação  se  eu 
olhasse para ele. 
 
Ele  que  estava  soprando  em  mim!  O  seu 
fôlego  estava  gerando  algo  tão  forte  em  mim 
que  parecia  que  cada sopro  me acrescentava 10 
anos  de  vida,  como  que  trazendo  para  mim  o 
que estava nele. E eu chorava. 
 
Chorei  muito.  E,  como  a  maioria  das 
pessoas,  eu  choro  de  olhos  fechados.  Ao  abrir 
meus  olhos,  vi  que  a  minha  pele  estava 
vermelha,  como  se alguém tivesse  me  banhado 
em  sangue!  Por  alguma  razão,  não  estranhei. 
Às  vezes  eu  conseguia  olhar  enquanto chorava 
e  com  o  passar  do  tempo,  vi  que  minha  pele 
tinha ficado limpa e linda. 
 
Parei  de  chorar  de  tristeza  e  remorso  e 
passei  a  chorar  de  amor;  um  amor  que  nunca 
havia  experimentado  até  então.  Mais  do  que  a 
paixão  de um homem pela sua amada.  Mais do 
que  o  amor  de  uma  mãe  pelo  neném  que 
amamenta  ao  seu  peito. Mais  do que o  pai  que 
se enche de orgulho do filho. 
 
Esse amor...  Que  amor era este? Eu sentia 
um  calor como  o  calor do  sol,  como  o calor  da 
luz  quando  penetra  as  mais  densas  trevas. 
Como  as  ondas  do  mar  solapam  as  praias  do 
mundo  inteiro,  o  mais  puro  amor,  o  meu 
coração.  Total  amor.  Perdão  verdadeiro.  Mais 
do  que  aceitação,  eu  me sentia  bem  quisto, até 
mesmo desejado. 
 
Apreciado  e  valorizado  por  existir.  Se  o 
amor  vinha  deste peregrino  ao  meu  lado,  então 
eu não quero deixar este amor, esta presença! 
 
Eu queria mergulhar neste oceano, curtir o 
calor  dessa  luz  e  voar  nos  termais  que  me 
elevam mais alto, mais perto da fonte. 
 
Meu  Rei.  Meu  Amo.  Meu  Amado.  Meu 
Herói. Meu Campeão. 
 
Perdi­me  nesta  nuvem  densa  de  amor, 
aceitação  e  realização,  pois  agora  sabia que eu 
existia  para  viver  nesta  nuvem.  Antes,  não 
percebia  que  estava  perdido,  mas  agora  sabia 
que  ele  tinha  me  achado.  Antes,  não  percebia 
que  era  culpado,  mas  agora sabia  que  ele tinha 
me  perdoado.  Antes  não  sabia  que  estava 
morto,  mas  agora  eu  me  sentia  vivo.  Vivo 
como nunca! 
 
Eu  sentia  as  suas  mãos nos meus  ombros 
e  sabia  que  ele  queria  que  eu  sentasse  do  seu 
lado  novamente.  Levantando­me  com  muita 
leveza,  recordava­me  da  minha  “nudez”. 
Quando  fui  cobrir  novamente  a  minha 
vergonha,  percebi  que  eu  vestia  uma  outra 
veste,  igual a  que  o Cordeiro usava de baixo do 
seu  manto.  A  minha  veste  também  reluzia. 
Também notei  a  minha  pele  sem  mácula  e sem 
ruga.  Eu  fiquei ao  lado  dele durante um tempo. 
Como  eu disse, ao  seu  lado  eu  não  tinha  noção 
de  tempo.  Comecei  a  refletir  no  encontro,  no 
perdão, e no amor que eu sentia dele e por ele. 
 
Então,  olhei  e  vi  um  monturo  no  chão  à 
nossa  frente:  jugo,  correntes,  escamas,  algo 
como  um  coração  petrificado,  alguma  coisa 
putrificada,  parecida  com  um  ser  morto  há 
muito  tempo.  A  cena  me  dava  repulsa  e  ânsia 
mas,  de  repente,  pensei:  “Tudo  isso  fazia  parte 
de mim!” 
 
Olhei  para  ele  novamente  e 
contemplava­o  como  antes,  só  que  agora  eu  o 
via  com  nitidez.  Ele me redimiu de tudo isso. E 
eu nem dava conta de tudo isso em mim. 
 
Fechei  os  olhos  e  respirei  fundo...  Essa 
presença!  Era  como  se  eu sentisse o cheiro, um 
perfume  que  me  envolvia  e  que  penetrava  em 
meus poros,  um aroma tão  delicioso! Era como 
um  abraço  materno,  um  toque  na  minha  pele 
tão  cheio de  ternura  e amor!  Era  como se fosse 
um som majestoso nos meus ouvidos... 
 
Eu  queria  declarar:  “Estar  Contigo  é  bom 
demais”!  Mas  quando  olhei,  não  o  vi  mais. 
Então, ouvi uma  “voz” dentro de mim: “Tu não 
estás  me  vendo,  mas  estou  aqui.  Nunca  te 
deixarei. Estarei contigo para sempre.” 
 
...Eu  caminhava  nessa “nuvem.”  Eu  não 
via  a  nuvem,  mas  minha alma  sentia­a como se 
fosse  uma  garoa  paulista.  Nos  próximos 
dias  andei  cambaleando  –  às  vezes  para  a 
direita,  às  vezes  para  a  esquerda.  E,  quando 
cambaleava,  eu  parava  e  sentia  a  necessidade 
de  gritar  de  novo: “Perdoe­me”!  Eu  não  o via, 
mas  sentia  sua  mão  passando  sobre  minha 
cabeça  e  ouvia  sua  voz  volumosa: “Te perdoo, 
te perdoo”. 
 
 
 
 
 
 
Um Sonho 

O​
s  dias  passaram  e  eu  ​
me  esforçava 
para ​
processar  tudo  que  havia passado junto ao 
Cordeiro.  Entre  os  meus  amigos,  sou  bem 
quieto.  Eles  acham  que  sou  desligado  e  ​
até, 
aéreo,  mas  sou  observador.  Eu  capto  muito 
mais do que eles pensam. 
 
Os  poucos  momentos  com  o  Cordeiro 
eram marcantes. Inesquecíveis. 
 
Depois  de  me  encontrar  com  ele,  eu 
estava  diferente.  Era  como  se  eu  tivesse 
acordado  de  um  sono  profundo  com 
sentimentos  e  ​ pensamentos  nítidos,  ciente  da 
presença  de  Deus  em  todo  lugar,  o  tempo 
todo... E o amor! Eu sentia amor de novo: pelos 
meus  pais,  meus  amigos,  meus  vizinhos.  E 
todos  os  dias  eu  pensava  no  meu  novo amigo: 
Cordeiro. 
 
Um  dia,  estava  caminhando  num 
parquinho  perto  de  casa.  Eu  gostava  de 
perambular  perto  do  riacho  entre  as  pedras.  O 
barulho  das  águas  sempre  me  relaxava,  e  a 
temperatura  era  sempre  mais  amena  do  que  no 
centro.  O  riacho  serpenteava  pelo  bosque  e 
passava numa clareira. 
 
Cordeiro me esperava sentado num tronco 
caído.  Ele  olhou  para  mim  e sorriu. Seu olhar é 
repleto de amor e alegria. Qualquer um se atrai! 
 
Neste  instante  tomei  conta  de  algo  novo 
em  mim.  Era  como um  pensamento,  tinha uma 
dimensão  maior.  Como  se  fosse  um 
pensamento  meu,  mas  desconexo  de 
qualquer  diálogo  interior  antecedente. 
 
Sei  que  isso  começou  durante  a 
experiência que  tive com o Cordeiro. Era como 
se a sua voz falasse ainda dentro de mim. 
 
Um  pensamento  me  ocorreu 
imediatamente: “eu  já  vi ele  em  muitos  lugares 
antes, apenas nunca reparei nele” ... 
 
Impressionante!  Eu  sentia  de  novo  todas 
as  sensações  como  na primeira  vez:  “sabia  que 
sabia”,  palavras  sem  falar...  Mas  dessa  vez 
havia  uma  sensação  a  mais,  como  se  esse 
encontro  tivesse  sido  marcado  de  antemão,  e 
cheguei  na  hora  certa  como  se  eu  tivesse  me 
programado. Vou ver se consigo explicar. 
 
Tive  a  sensação  de  não  estar  neste 
encontro  por  acaso.  É  como  se  esta  ocasião 
tivesse  sido  marcada há muito tempo na agenda 
do  Cordeiro.  Assim,  eu  sabia que  ele  estava  há 
anos  “na  minha  cola”.  Eu  tinha  visto  ele  pela 
primeira  vez  no  último  encontro,  mas  ele  me 
conhecia  antes  que  eu  existisse.  Eu  sabia  que 
neste  exato  momento  eu  estava  com  ele  no 
lugar  certo  e  na  hora  certa sem eu  ter  marcado 
este  encontro.  Aquela  voz  dizia:  “Nada  é 
casual. Tu nasceste com um propósito”. 
 
Ao  perceber  quão  grande  privilégio  era 
estar  com  ele  de  novo,  fiquei  tomado  por 
sentimentos  de  alegria,  amor,  e  gratidão  que 
cresceram  no  meu  coração.  Sucumbido  pela 
emoção,  ajoelhei­me  e  o  abracei.  Ele  curtiu  e 
sorriu.  Sentei  ao  seu  lado  sem  percepção  do 
tempo corrido e sentindo muita leveza. 
 
Dei­me  conta  de  uma  nova  sensação:  a 
inocência  e  ingenuidade  de  uma  criança.  Acho 
que  as  vergonhas  da  minha  vida  me  tiraram  a 
inocência e ingenuidade da criança que ama aos 
seus  pais  e  neles  confia.  Eu  recordava­me  do 
primeiro encontro totalmente convicto do amor, 
da  aceitação,  do  senso  de  ser  bem­quisto,  da 
apreciação  e  valorização.  E  essa  “infância” 
estava  me  transformando.  Era  como  se  eu 
estivesse  nascido  outra  vez  e  meus  pais  se 
deleitavam  com  a  minha  pessoa  mais  que 
qualquer outra coisa na vida deles. Felicidade. 
 
Logo  me  acomodei  como  filho  no  colo 
do  pai. E agora, ainda sem conversar, ele estava 
falando  em  voz  baixa  tal  como  no  primeiro 
encontro. 
 
Eu  queria  saber  qual  era  o  motivo  deste 
reencontro.  O  que ele queria falar comigo hoje? 
Nossos  últimos  momentos  juntos  foram  como 
um  ano  de  aprendizado  em  tão  pouco 
tempo.  E  como  eu  disse,  eu  podia  ouvi­lo 
durante  horas  sem  cansar,  pois  com  ele  a 
percepção de tempo não existe. 
 
Olhamos  um  para  o  outro  novamente. 
Esta  vez  passei  a  contemplá­lo.  Eu  estudava 
cada aspecto do seu ser e recordava de tudo que 
eu  sabia  dele do  primeiro encontro. Seus olhos 
destilavam  amor  e  alegria.  De  fato  dei  uma 
risada  enquanto  fitava  os  olhos  dele, 
sentindo  uma  alegria  fora  do  comum.  Não 
falávamos  nada,  mas  ríamos  juntos  como  duas 
crianças sem nenhuma  preocupação no  mundo. 
Apenas um olhar era suficiente para iniciar uma 
nova sessão de pura felicidade. 
 
Quando  também  voltei  o  meu  olhar  para 
frente,  levei  um  susto.  Eu  estava  enxergando 
meu  mundo  de  forma  muito  diferente.  Nesta 
nova paternidade, o  Cordeiro me mostrava uma 
perspectiva diferente de tudo que havia pensado 
antes. Revelação. Iluminação. 
 
Era  como  o  melhor  sonho  do  mundo, 
porém  real  e  tangível,  e  eu  estava  envolvido 
nele  com  todos  os  meus  sentidos.  Assim, 
vivificado  por  Cordeiro,  prestei  toda  a  atenção 
no que ele me revelava. 
 
Então, ele sorriu e explanou: 
 
• Eu  e  o  Pai  somos  um.  Eu  sou  a 
imagem do  Deus invisível. Eu  sou  o Verbo. Eu 
sou  antes  de  todas  as  coisas.  Eu  estava  com 
Deus  no  princípio.  Tudo  o  que  se  fez  foi  feito 
por  meu  intermédio  e para mim. Em mim, tudo 
subsiste.  Tudo que o  Pai tem é  meu  e tudo que 
é meu é do Pai. 
 
Ao  longo  da  sua  história,  o  ser  amado  se 
revelou  ter  a  maior  inteligência  de  todas  as 
criaturas.  Ele  tem  a  capacidade  de  realizar 
projetos  em  escalas  grandiosas  e  benéficas. 
Essa  inteligência,  somada  à  sua  criatividade, 
deu  ensejo  às  mais  belas  artes  e  expressões 
culturais,  às  mais  majestosas  e  funcionais 
construções  para  todos  os  propósitos,  às  mais 
geniosas  invenções  para facilitar o  dia  a  dia  da 
raça. 
 
Timóteo,  afirmo  que  ninguém  nunca 
imaginou  ou  sonhou  com  o  mundo  que  nós 
preparamos para o  ser amado: nem artista, nem 
músico  ou  maestro,  nem  produtor 
cinematográfico,  nem  arquiteto,  nem 
governante  algum,  ninguém.  Hoje  o  mundo 
seria assim, se o ser amado não tivesse pecado. 
 
Eu  estava  vendo  cenas  paradisíacas,  o 
“sonho” de  todo  mundo. Vida. E luz... Cores. E 
solidez...  Águas  vivas,  puras  e  límpidas.  A 
melhor  imaginação  hollywoodiana  com  todos 
os  efeitos  especiais  não  podia reproduzir o  que 
eu  estava  vendo  e  sentindo.  E  paz.  Uma  paz 
indescritível.  Uma  ausência  total  de  contenda, 
rivalidade e competição. 
 
• Nós  criamos  todas  as  coisas.  Tudo  o 
que  existe  (visível  e  invisível),  e  em  todas  as 
dimensões de existência. 
 
E  quando  criamos  todas  as  coisas,  tudo 
era  bom.  Havia harmonia, sincronia e simbiose. 
Todas  as coisas que criamos contribuíam para o 
bem­estar  de  todas  as  outras  coisas  que 
criamos.  Não  havia nenhum  conflito  em  todo o 
universo, muito menos aqui na Terra. 
 
A  beleza de  todas as  coisas  era singular  e 
tudo gerava em nós uma exclamação: “É bom”! 
Todas  as  coisas  criadas  refletem  a  nossa 
essência  de  alguma  maneira.  A  força  dos 
oceanos  reflete  o  nosso  poder.  O  brilho  do  sol 
figura  a  luz  que  somos.  O  rugido  do  leão  e  o 
retumbar  das  cataratas  imitam  o  volume  da 
nossa  voz.  Mas,  de  tudo  o  que  criamos,  nossa 
obra­prima  era  o  ser  amado,  criado  à  nossa 
imagem e semelhança. 
 
Como  se  abrisse  outra  dimensão  de 
existência  e  de  luzes,  vi  um  lugar  com  seres 
cuja beleza vai além da imaginação. 
 
E  o  som  do  lugar  era  algo  extraordinário, 
com  harmonias,  melodias,  vozes.  Os  sons  da 
própria  natureza  ressoavam  numa  sinfonia  de 
engrandecimento  ao  seu  Criador,  ao  Todo­ 
Poderoso, ao amor eterno. 
 
As  luzes  falavam.  O  som  era palpável. O 
cheiro  alimentava.  As  palavras  eram  visíveis... 
Era  um  espetáculo  que  nenhum  pintor  ou 
cineasta,  nenhuma  orquestra  ou  sonoplasta, 
nenhum  ser  humano  jamais  imaginou  ou 
sonhou. 
 
• O  universo  que  criamos  foi  projetado 
para  ser  a  extensão  da  nossa  habitação:  uma 
harmonia  perfeita  em  total  sincronia,  simples 
de  tudo,  cujos  detalhes  confundem  os  mais 
sábios e inteligentes. 
O ser amado  pode  observar  a  imensidão 
da  grandeza  insondável  para  fora  na  criação  e 
da  vastidão  do  universo,  bem  como  a 
perfeição,  harmonia  e  complexidade 
sistémica,  orgânica,  celular  e  atômica  do  seu 
próprio  corpo.  Tudo  isso  fizemos  pelo  som  da 
nossa voz. 
 
Uma  ressonância  de  vida  vibrava  em 
todas  as  coisas,  e  a  criação  irradiava  um  som 
que  enchia  o  nosso  coração  de  alegria  e 
satisfação! 
 
Ouvindo  o  Verbo  Vivo,  eu  percebia  a 
vibração dentro de mim. E eu sentia no meu ser 
o que ele estava falando! 
 
Foi  quando  senti  algo que até então nunca 
tinha imaginado.  Quando  voltou  a  falar sobre o 
ser  amado,  eu  sabia  que  ele  falava  de mim, de 
nós,  de  cada  ser  humano,  independentemente 
do  seu  estado.  Ele  falava  de  um  jeito  que  me 
comovia,  emanando  um  amor  por  todos que eu 
desconhecia.  Suas  palavras  vivas  penetravam 
minha  "casca  dura"  e  cada  frase  me 
contagiava,  então  comecei  a  sentir  este  amor 
por  toda  a  humanidade. 
 
Assim,  percebi  que  até  então  eu  amava 
pessoas  que  me  faziam  bem  e  que  me 
beneficiavam  de  alguma  maneira.  Eu  escolhia 
pessoas  do  meu  jeito  e  que  concordavam  com 
as  minhas  ideias,  escolhia  quem  eu  queria 
amar.  Senti,  então, que o meu amor era egoísta, 
voltado  para receber algo em troca do amor que 
dei com muito esforço. 
 
Mas,  o amor  do  Cordeiro  não  era assim. 
Quanto  mais  ele  falava,  mais  se revelava  a 
essência  do  amor  verdadeiro.  Ele  parecia  ser  o 
Amor em pessoa! 
 
Ele fixou seu olhar em mim e afirmou: 
 
• Tudo  o  que  tu  estás  vendo  é  o  que 
fizemos  por  amor  ao  ser  amado.  Nosso  amor 
por  essa  criatura  não  conhece  limites,  nem 
circunstâncias  que  o  mudam.  Todos  os 
exemplos  de  amor  humano  são  apenas  uma 
sombra  do  amor  que  sentimos pelo  ser amado, 
porque  o  nosso  amor  é mais  forte  que  a morte, 
pois  o  ser  amado  é todo  especial, feito  à  nossa 
imagem e semelhança.  
 
Demos  atributos  e  qualidades  a  ele  que  outros 
seres  não  receberam:  comunicação  avançada, 
criatividade,  livre  arbítrio,  corpo,  alma  e 
espírito... 
 
• Espírito? — perguntei­lhe. 
 
• Sim.  Sopramos  nas  narinas  de  Adão, 
tornando o ser humano habitação do Espírito de 
Deus,  que  é o Ajudador, o Conselheiro, o Guia. 
Porque  quando  o  formamos,  queríamos  que 
esse  ser  fosse  um  conosco,  com características 
semelhantes  às  nossas,  que  pudesse  comungar 
conosco  e  nos  conhecer;  o  criamos  para 
participar  de  algo  que  nenhum  outro  ser  iria 
participar:  demos  a  ele  o  poder  e  autoridade 
para cuidar e governar sobre a Terra. 
 
A  Terra  foi  dada  para  habitação  do  ser 
amado.  No  princípio,  ele  era  morador  e 
mordomo da maior e melhor habitação. 
 
Criamos  tudo  com  muita  perfeição, 
harmonia  e  sintonia  para  nosso  ser  mui  amado 
poder  desfrutar  dessas  maravilhas.  E,  com  a 
ajuda  do  Espírito  Ajudador,  a  sua  vida  nesse 
abrigo  maravilhoso  seria inesquecível. Nenhum 
ser  limitado  é  capaz  de  governar  sobre  toda  a 
criação  sem  essa  ajuda.  Ele,  criado  e  limitado, 
poderia  contar  com  o conselho e a condução do 
Espírito  de Deus para dominar e governar sobre 
a  Terra,  pois  só Deus  pode  dar  ao ser amado  o 
que precisa para reinar sobre ela. 
 
Porque  a Terra, e  tudo  o que nela está, foi 
criada  para  proporcionar  ao  ser  amado  tudo  o 
que  ele  precisava  para  existir: alimento, abrigo 
e segurança.  Tudo  que  ele  necessitava  para sua 
vida  estava  no  Jardim  do  Éden,  a  semente  do 
nosso  reino:  frutas,  grãos,  comida  de  todos  os 
tipos,  tudo  que  era  bom  para  se  alimentar  e 
fortalecer  fisicamente  essa  família  que  não  iria 
conhecer a morte; todo o jardim era climatizado 
e  habitável;  e  paz,  alegria  e  justiça 
estabelecidas  pelo  Espírito  de  Deus.  O 
ser  amado  seria  conhecedor  de  tudo  o  que  é 
tôv  (bom).  E  o  ser  amado  para  nós?  Tôv­meod 
(bom demais)!   Nossa obra­prima. 
 
Então,  queríamos  que  o  primeiro  casal 
gerasse  uma  família  que  enchesse  a  Terra  e  a 
governasse  na  direção  do Espírito de  Deus  que 
habitava  neles.  Assim,  a  Terra  estaria cheia  de 
nossa  essência  pela  família  que  participa  de 
nossa  natureza  santa  e  de  nosso  governo.  A 
Terra  caminharia  em  paz,  na  harmonia  e 
sincronia  que  planejamos, onde  todas  as  coisas 
que  criamos  iriam  contribuir  para  o  bem­estar 
de  todas  as  outras  coisas  criadas.  Haveria  uma 
fusão  entre  as  coisas  naturais  e  espirituais sem 
conflito  entre  elas,  com  o  espiritual  tão  real 
e  visível  quanto  às  coisas  naturais.  Haveria 
uma fluidez entre as dimensões de existência. 
 
Formavam­se  imagens  das  coisas  em 
minha imaginação enquanto ele falava. Eu via o 
que  ele  falava,  e  tudo  fazia  muito  sentido. 
Pensei  comigo:  “se  ele  tivesse falado tudo isso 
antes  do  nosso  primeiro  encontro,  eu  teria 
dispensado  como  uma  tremenda  fábula  toda 
essa  conversa, aliás,  nem sei  se  eu teria parado 
para  ouvir  tudo  isso.  Mas,  agora,  era  como  se 
eu  estivesse  sentado  junto à  pessoa  mais vivida 
de  todos  os  tempos,  que  já  conheceu  tudo  que 
se  possa  imaginar.  E  ele,  magnânimo,  parava 
para  falar  comigo.  Eu  sabia  que  tudo  que  ele 
falava  era  verdade,  não  havia  achismos,  mas 
somente “digo­te a verdade.” 
 
Eu  creio!  Até  por  causa  da diferença  que 
eu  sentia  dentro  de  mim  depois  do  nosso 
primeiro encontro. Eu  deduzia que, se Cordeiro 
podia  provocar  em  mim  a  mudança  que  eu 
vivia,  então  esse  reino  que  ele  descrevia  era 
real  também.  Fiquei  impactado  com  tanta 
autoridade  na  sua fala que, quando ele fala, não 
há o que refutar! 
 
Como  se  tivesse  ouvido  os  meus 
pensamentos, Cordeiro continuou: 
 
• Timóteo,  tu  crês  porque 
experimentaste  o  meu  reino,  o  meu  governo. 
Lembras o momento que soprei sobre ti? 
 
• Sim! — exclamei. 
 
• Neste  momento  um  filho  nasceu,  um 
morto ressuscitou, e tu foste transportado para o 
meu  reino.  Vivias  trancado  e  preso  numa 
dimensão  de  existência  que  não  te  fazia  bem; 
uma  dimensão  para  qual  não  foste  criado  para 
viver. 
 
No  fôlego,  passei  para  ti  o  meu  Espírito. 
O  mesmo  que  entrou  em  Adão  quando  o  seu 
Criador  soprou  nas  suas  narinas,  fazendo­lhe 
alma  vivente;  e  que  se  retirou  quando  ele 
escolheu  assimilar  o  engano  em  vez  de 
permanecer  com  a  verdade.  O  mesmo  que 
soprei  sobre  os  meus  discípulos  para  eu 
estabelecer  o  meu  governo  sobre  a  minha 
família. 
 
Agora,  tu  és  habitação  do  meu  Espírito. 
Ele  está  em  ti  para  gerar  o  que  está  em  mim 
dentro  de  ti:  sou  Cristo  em  ti,  a  esperança  da 
glória.  Os  meus  conhecem  e  ouvem  a  minha 
voz  pelo Espírito que habita  neles,  conhecem  a 
mente  de Cristo pelo meu Espírito. O Fôlego de 
Deus  está  em  ti  para  estabelecer  o  meu  reino 
em  ti;  assim,  ele  estende  o  meu  reino  sobre  a 
Terra através de toda a minha família da qual tu 
fazes parte! [Ele sorriu para mim]. 
 
O  reino  de  Deus  não  consiste  em  comida 
e  em  bebida.  O  reino  de  Deus  é  justiça,  paz  e 
alegria no Espírito Santo. 
 
Os  que  permitem  este  Espírito  governar 
sobre  eles  experimentam  o  meu  reino  e 
conhecem  a  minha  justiça,  bem  diferente 
daquela  que  o  mundo  promove.  Também 
conhecem  a  paz  que  dou,  que  é  bem  diferente 
daquela  que  o  mundo  oferece.  E  ainda 
conhecem  a  minha  alegria, que não tem nada  a 
ver com aquela alegria do mundo. 
 
Pensei  alto,  e  comecei  a  imaginar  o 
mundo  sem  os  efeitos  e  as  consequências  do 
pecado:  sem maldade, sem mentira, sem morte. 
Um  mundo  de  paz,  alegria  e justiça  no Espírito 
Santo. Imagine um mundo onde todas as coisas 
são  visíveis,  tanto  as  naturais  como  as 
espirituais,  com  todos  os  seres  humanos 
desenvolvendo  100%  de  seus potenciais,  e não 
só  os  5%  que  afirmam  os  cientistas.  Imagine 
ainda:  toda  a  Terra seria climatizada, frutífera e 
habitável;  ninguém  teria morrido desde  Adão e 
Eva,  com  todo  o reino  animal  vivo  e habitando 
em  harmonia:  sem  seca,  fome,  calor,  frio; 
sem  doença  ou  enfermidade; sem manipulação, 
sem  disputa  ou  competição,  sem  contenda  ou 
rivalidade, sem guerra... 
 
Como  seria  a  raça  humana  e  o 
desenvolvimento  das  raças?  Como  seriam 
nossos  abrigos,  nossas  cidades?  E  os 
transportes  e  as  tecnologias?  Seria  tudo  tão 
diferente! 
 
Eu  sonhava  acordado,  vendo  tudo  na 
“tela”  à  minha  frente!  “Nem  olhos  viram,  nem 
ouvidos  ouviram,  nem  jamais  penetrou  em 
coração  humano,  o  que  Deus  tem  preparado 
para  aqueles  que  o  amam.  Mas  Deus  no­lo 
revelou  pelo Espírito;  porque o  Espírito a todas 
as  coisas  perscruta,  até  mesmo  as  profundezas 
de  Deus.”  Enquanto  ele falava,  eu via cenas  de 
indescritível  beleza  que,  se  eu  pudesse 
descrever,  ninguém  iria  acreditar. 
Contemplando  tudo  isso,  eu  queria expressar  a 
minha  admiração  e  perguntar  como  era  que  eu 
via  tudo  isso.  Quando  olhei  para  ele,  Cordeiro 
havia se  retirado.  Contudo,  eu ouvia  o ecoar da 
sua voz dentro de mim: 
 
• Nunca  te  deixarei.  Nunca  te 
abandonarei.  Estou  contigo  até  a  consumação 
dos séculos. 
 
Voltei  a  caminhar.  Cada  lugar  que 
passava,  eu  imaginava como  seria  no  sonho de 
Cordeiro:  a  favela,  a  zona,  o  centro,  a  minha 
escola, o meu bairro, a minha casa. 
 
Comprei  as  Escrituras  e  vi  que  o  que  eu 
“ouvia”  dele  estava  escrito 
nelas. 
 
 
 
 
 

 
 
 
A Tirania das Trevas 

T​
odos  os  dias, na minha caminhada para 
o  meu  trabalho,  passo  por  um  lugar  "barra 
pesada"  que  parece  ter  uma  atmosfera  de 
conspiração,  totalmente  ​diferente  da  região. 
É como se ele tivesse seu próprio governo, o de 
submundo. 
 
Antes  não  me  incomodava,  mas  hoje, 
depois  de me encontrar com o Cordeiro, vejo as 
coisas  de  forma  diferente.  É  como  se  alguém 
tivesse  mudado  o  chip  de  meu  computador.  E 
agora,  no  “buracão”,  eu  me  sentia  responsável 
por  esse  lugar.  Eu  era  comparsa  da  situação 
social  desse  local.  É  como  se  eu  tivesse 
contribuído  para  a  edificação  dessa  “extensão 
do  inferno”:  aqui  eu  comprava  drogas,  me 
encontrava  com  as  meninas  com  quem  eu 
ficava  e  frequentava  os  bares,  dos  quais  eu 
voltava cambaleando para casa. 
 
Agora,  de  passagem,  não  sinto  mais 
nenhuma  atração  pelo  que  se  faz  nesse  lugar. 
Eu via as pessoas e, transformado pelo encontro 
com o Cordeiro, sentia compaixão por meus ex­ 
comparsas.  Eu  me  perguntava:  será  que  um 
encontro  com  o  Cordeiro  poderia  tirá­los  dali 
também?  À  medida  que  eu  me  concentrava 
para  ver  se  havia  ali  algum  amigo,  eu  vi  o 
Cordeiro!  Ele  estava  no  meio  deles!  Ele 
também me viu e sorriu para mim. Eu não sabia 
se  deveria  correr  até  ele,  ou se  esperava,  ou se 
continuava  caminhando.  “Vem  cá.”  Era  a  voz 
dele.  Eu  ouvi,  mas  ele  não  abriu  a  boca  para 
mim. Fui em direção a ele. 
 
Os  que  ali  estavam  me  olhavam  e 
cumprimentavam,  alguns  amigos  e  outros 
conhecidos.  Cacá  (Carlos)  estava  lá.  Eu  não  o 
via  há  meses.  Ele  sorriu  e  olhou  para  mim:— 
Tim,  que  aconteceu  contigo,  brother?  Tu  tá 
mudado! Olhe só! 
 
Como  que  ele  sabia?  Que  “radar”  era 
esse? Quem foi o vidente que falou para ele? 
 
—É,  tô  passando  um  momento maneiro ­ 
e o  Cordeiro  olhou  para  mim ­ Tô conversando 
com um... 
 
Parei e  pensei:  “como vou falar com Cacá 
que  estou  conversando  com  um  ‘patriarca  de 
uma  família  sacerdotal’?  Ele  não  vai  entender, 
nem eu entendo!” 
 
• ...  com um  cara muito sábio que tá me 
ajudando a entender a vida. 
 
 
• Puxa!  Parece  que  tá  te  fazendo  bem, 
meu velho. 
 
—Tá  mesmo,  Cacá.  Mas  depois  a  gente 
fala  sobre  isso,  amigão.  É  que,  agora,  preciso 
me encontrar com ele. 
 
E abracei o Cacá de verdade, como irmão, 
olhando nos olhos e dizendo: 
 
—Depois a gente conversa, OK? 
 
Mas  aonde  é  que  o  Cordeiro  foi? 
Seguindo  caminho  entre  os  conhecidos  ali, saí 
para  a  calçada  que  fica  no  alto,  avistando 
todo  o “buracão”. Queriame encontrar
com o  Cordeiro,  mas  não  o  encontrei  no 
local. 
 
Segui  em frente, pois eu ia para o trabalho 
e não queria chegar atrasado. 
 
Estava  pensativo,  refletindo  sobre  o 
“buracão”.  Queria  mesmo  saber  como 
apresentar  o  Cordeiro  às  pessoas  dessa 
subcultura da minha amada Hemeterópolis. 
 
Virei  a  esquina  e  avistei­o,  sentado 
sozinho  na  praça  frente  ao  meu  trabalho. 
Faltavam  25 minutos para  eu entrar no serviço. 
25  minutos  não  era  tempo  suficiente  para 
passar  com  o  Cordeiro.  Mas  eu  queria  tanto 
saber como apresentá­lo às outras pessoas. 
 
Fui  até  ele  e,  como  antes,  senti  todas  as 
coisas.  Só  posso  dizer  que,  ao  chegar,  toda  a 
minha  ansiedade  foi  embora.  Ele  tinha  todo  o 
controle  dos  nossos  encontros.  A  minha 
“pauta”  tinha  que  ficar  submissa  à  dele.  E 
fiquei  por  alguns  instantes  contemplando­o. 
Minha  admiração  crescia  à  medida  que  eu  o 
contemplava  e  meditava  no  que  ele  me  dizia. 
Depois  de  um  tempo,  lembrei­me  do  assunto 
que eu queria saber dele. 
 
Ele  tinha dito que era  o “patriarca de uma 
família  sacerdotal”.  Não  sei  porquê  motivo, 
mas  eu  queria  entender  mais  sobre  isso.  E  eu 
não  ia ficar quieto até entender. Engraçado que, 
em  sua  presença,  era  como  se  eu  não  tivesse 
controle  de  mim  mesmo.  Como  se  houvesse 
outra  força  conduzindo­me  em  pensamento  e 
fala.  Lancei  minha  pergunta:—Cordeiro,  o  que 
quer  dizer  “patriarca  de  uma  família 
sacerdotal”? 
 
Agora,  não  sei  se  fui  eu  que  senti,  ou  se 
mudou  o  clima  mesmo,  mas  fui  tomado  por 
uma  sensação  de  conflito,  soberba,  rebelião, 
ódio,  guerra,  destruição,  morte,  perigo, 
decepção,  falsidade  e  desconfiança.  Essa 
sensação  me  fazia  mal.  Era  como  uma  fumaça 
com um  fedor terrível que não permite respirar. 
Como  se  eu  tivesse  caído  numa  fossa  e  eu 
estivesse  me  afogando  na  pior  imundícia.  Eu 
sentia  ânsia  de  vômito.  Eu  me  sentia  cercado, 
sendo  vigiado  pelos  mais maus  esperando para 
acabar comigo. 
 
Eu  me  arrependi  de  ter  feito  a  minha 
indagação  mas,  era  tarde  demais.  Se  eu 
soubesse... Agora  só  me restava prestar atenção 
à  resposta  do  Cordeiro.  Ele  falou  com  muita 
seriedade. 
 
• O  meu  sacerdócio  faz  parte  da 
essência do  meu  Pai.  Ele  é  amor e  o  ser amado 
é  o  objeto  desse  amor.  Há  muito  tempo, 
houve  uma  rebelião  que  resultou na  perdição 
de  seres  lindíssimos  que  assistiam  a  glória,  a 
formosura e a majestade do Único Deus. Eles O 
rejeitaram  como  Deus  e  se  rebelaram  contra  o 
governo dEle. 
 
• Tudo  foi  feito  por  Deus  e  nEle  todas 
as coisas subsistem. 
 
• Eles  se  separaram  de  Deus  e 
começaram  a  viver  uma  dimensão  para  qual 
não  foram  criados:  uma  existência  sem  Deus. 
Com  o  tempo  viram  que  uma  vida sem Deus  é 
conhecer  tudo  que  Deus  não  é.  Deus  é  amor. 
Ao  se  rebelar  contra  Deus  esses  seres 
conheceram  o  ódio.  Deus  é  a  verdade.  Ao  se 
rebelar  contra  Deus  esses  seres  conheceram  a 
falsidade  e  consequentemente,  a  desconfiança, 
insegurança e  a  decepção.  É  como  frio  e trevas 
no natural. 
 
• Timóteo,  frio  e  trevas,  na  verdade, 
nem  existem.  Frio  é  o  resultado  da  retirada  de 
calor.  Trevas  é  o  resultado  da  retirada  da  luz. 
Cada  estado  é  um  resultado  da  ausência  de 
calor e luz. 
 
• A sensação que passas é o resultado da 
“ausência”  de  Deus.  Estes  seres,  antes 
angelicais,  passaram  a  viver  numa  dimensão 
separados  de  Deus.  E,  com  o  passar  do tempo, 
conheceram  uma  existência  totalmente 
corrupta,  inóspita para qualquer um deles. 
 
• O maioral  de todos  esses  seres iniciou 
a  rebelião.  Uma  vez  que  ele  e  o  terço  que  se 
rebelou  com  ele  se  encontraram  na  dimensão 
“sem  Deus”,  ele  usurpou  da  autoridade  para 
governar  nesta  dimensão  “sem  Deus”.  O  seu 
governo  se  revelou  ser  absolutamente  corrupto 
e cruel. Incapaz de  governar  como  Deus, ele se 
revelou tirano, ditatorial e insuportável. 
 
Imediatamente,  eu  compreendia  os  meus 
sentimentos  de  inocência  e  ingenuidade  do 
último  encontro.  Com  a  assimilação  das 
vergonhas,  eu  as  tinha  perdido.  Ao  mesmo 
tempo,  fiquei  anestesiado  com  o  horror  da 
separação  de  Deus  que  eu  vivia.  Agora 
vivificado,  a  inocência  e  a  ingenuidade  foram 
restauradas  e  eu  era  sensível  ao  horror  que  é 
existir  “sem  Deus”.  Sem  o  Cordeiro,  eu  creio 
que  eu  suportava todos  estes  sentimentos ruins. 
Agora vivificado, isso é insuportável. 
 
E o Cordeiro continuou. 
 
• O  ser  amado  foi  criado  “em  Deus” 
também.  Conhecia  o  que  era  perfeito,  lindo, 
absoluto  e  inabalável.  Infelizmente,  assim 
como  alguns  seres  celestiais,  o  ser  amado 
rejeitou  Deus como  Deus e  se rebelou contra  o 
seu governo absoluto e inabalável. 
 
• O  ser  amado  se  assemelhou  aos  seres 
que já existiam nessa dimensão “sem Deus”. Se 
tornou  tão  corrupto,  tão  cruel  e  tão 
insuportável. 
 
• Assim,  iniciou  o  império  das  trevas; 
uma  dimensão  de  existência  “sem  Deus”.  E 
agora  os  que  existem  nessa  dimensão  agem 
contra  Deus.  Este  é  o  resultado  da  ausência  de 
paz: conflito e oposição. 
 
• O  meu  sacerdócio  existe por  causa  do 
amor do Pai pelo ser amado. Em decorrência de 
um  conflito  gerado  pela  rebelião,  o  ser  amado 
foi separado de nós. Para desfazer a separação e 
reconciliar  as  duas  partes,  foi  necessário 
alguém  que  agisse  como  mediador.  Um 
mediador  representa  as  duas  partes  para 
resolver  o  conflito,  retificando  a  ofensa, 
estabelecendo  a  paz  e restaurando a união entre 
as  partes.  Quando  as  duas  partes são humanas, 
o  processo  de  reconciliação  pode  se  iniciar  a 
partir  de  qualquer  uma  das  partes,  mas  o 
conflito  que  eu  vim  mediar  é  o conflito entre  a 
humanidade  e  Deus,  seu  Criador.  A  vergonha 
do  ser  amado  é  a  rebelião  que  cometeu  contra 
seu  Criador,  conforme  o  que  o  seu  Criador  o 
havia prevenido. A rebelião deixou o ser amado 
com sequelas, não porque o Criador se ofendeu, 
e  sim,  porque  o  ser  amado  escolheu  viver  uma 
existência “sem Deus”. 
 
Até  então,  o  ser  amado  tinha  sua 
existência  em  Deus,  como  o  peixe  na  água:  a 
água  dá  vida  para  o  peixe,  ele  foi  criado  para 
viver  nela;  ela  dá mobilidade para ele,  gerando 
todas  as  condições  para  o  motivo  existencial 
dele; tudo  o  que  ele  precisa  para  sua  existência 
e  sobrevivência  está  nela;  ele  não  sabe  disso, 
não  tem  “consciência”  disso;  ela  é  o  habitat 
natural  dele  pois  ele  nasceu  nela,  ele  não  tem 
experiência  em  outro  habitat,  ele  não  sabe  o 
que  é  respirar  ar,  nem  o  que  é  trepar  árvores, 
nem  o  que  é  rastejar;  peixe  se  move  na  água 
como  a  ave  voa  no céu;  tirar  o  peixe  da água é 
dar  uma  sentença de morte, ele morre fora dela; 
ele  “descobre”  que  é  peixe, ele  conscientiza­se 
de  sua  “peixice”  nesse  momento,  pois  percebe 
que, fora dela, ele morre! 
 
Com o ser amado também é assim. Criado 
à  imagem  e  semelhança  do  seu  Criador,  não 
conhecia  uma  existência  sem  Deus  ou  sendo 
contrário  a  ele.  Ele  foi  criado  para  viver  em 
Deus, como o peixe na água e a águia no céu. 
 
A decisão  de ser  contrário a Deus levou o 
ser  amado  a  um  ambiente  para  o  qual  ele  não 
foi  criado,  semelhante  a  um  peixe  tirado  da 
água. 
 
O ser amado passou a conhecer coisas que 
não  eram  naturais  a  Deus:  infidelidade  e 
traição,  preocupação,  tristeza,  ódio,  angústia, 
doença  e  enfermidade,  morte,  mentira, 
opressão,  tirania...  Escuridão  é  o  resultado  de 
retirada  de  luz;  frio  é  o resultado  de  retirada de 
calor; inferno é o resultado da retirada de Deus. 
 
Assim, a  família  humana  fora  corrompida 
no  seu  entendimento,  de  geração  em  geração, 
afastando­se  de  todo  o  conhecimento  das  suas 
origens.  Cegada  pela  própria  soberba,  ela 
cometia  abominações  cada  vez  piores, 
esquecendo­se  que  haveria  um  dia  de 
“prestação de contas”. 
 
Eu  vim  da  parte  de  Deus,  sou  a  imagem 
do  Deus  invisível  e,  em  mim,  está  a  glória  do 
unigênito  do  Pai.  Eu  vim  para  reconciliar  a 
criação ao seu Criador. 
 
Eu  vim  para  resolver  este  conflito,  para 
resgatar o  ser amado  do  cativeiro de  morte que 
escolheu  e  redimi­lo  ao  seu  Criador, 
restaurando  o  ser  amado  à  vida  que  ele  tinha 
em  Deus.  Eu  vim  para  estabelecer o sacerdócio 
que  traz  paz  entre o ser amado e seu Criador. O 
meu sacerdócio  foi  estabelecido para isso, ele é 
o  meio  pelo  qual  o  Criador  reconcilia  todas  as 
coisas  consigo  mesmo,  pois  tudo  foi  criado 
para  glorificar  a  Deus:  todo  ser  que  respira foi 
criado  para  adorar  ao  Criador.  A  adoração  é  a 
reação  natural  e  espontânea  de  todo  ser  que  vê 
e  interage  com  Deus,  o  Criador,  ele  é  uma 
pessoa  que  ama  se  revelar,  aliás,  é  impossível 
não reconhecê­lo, pois ele é Deus. 
 
O  sacerdócio  é  a  função  oficial  do  céu. 
Sou  o  Sumo  Sacerdote,  o  patriarca  e  o  cabeça 
de  todos  os  sacerdotes,  porque  eu  consagrei 
este  sacerdócio  com  meu  próprio  sangue.  Eu 
esvaziei­me  de  ser  Deus  para  tornar­me 
humano  igual  ao  ser  amado,  e  revelei 
novamente  a  essência  do  meu  Pai  para  o  ser 
amado,  que  pela  rebelião  tinha  perdido  o 
conhecimento  de  Deus.  Demonstrei  a 
autoridade  absoluta  que  temos  sobre o carrasco 
que  oprimiu  o  ser  amado  (com  autoridade 
roubada  que  o  próprio  ser  amado  lhe  deu). 
Entreguei­me  em  sacrifício  para  a redenção do 
ser  amado,  reconciliando­o  com  seu  Criador: 
Eu  Sou  o  Cordeiro  antes  da  fundação  do 
mundo,  o  Cordeiro  imolado  que  tira  o  pecado 
do mundo. 
 
De  fato,  sou  Deus­Filho,  e  vivo  à  direita 
do  Pai  intercedendo  até  a  restauração  de  todas 
as  coisas e  a  consumação desta  época,  o tempo 
que  Deus  determinou  para  o  ser  amado 
experimentar  o  amor,  a  graça, a  misericórdia e 
a  disciplina  dEle.  É  o  tempo  que  o  ser  amado 
tem  para  se  arrepender  e  voltar  à  VIDA 
ETERNA  para  qual  foi  criado.  Conhecer  a 
Deus e a mim é a VIDA ETERNA. 
 
E,  quando  ele  falou isso, o Cordeiro virou 
“cordeiro”.  Manso.  Meigo.  Forte.  Marcado. 
Lindo. 
 
• Eu  vim  fazer as  pazes entre  o  Criador 
e a sua obra­prima, o ser amado. 
 
Eu  Sou  o  Verbo,  Sou  o  Criador,  o  Pai  da 
eternidade,  o  Filho  de  Deus,  o  Primogênito,  o 
Príncipe,  o  Rei,  o  Filho  do  Homem,  o  Bom 
Pastor,  o  Sumo  Sacerdote,  o  sacrifício,  as 
primícias  da ressurreição, o Leão, o Intercessor, 
o Começo, o Fim... 
 
Eu  não  entendia  muito  bem  ainda  o  que 
ele  queria  dizer,  e  acho  que  ele  percebeu  isso. 
Em  seu  olhar,  parecia  saber  de  todos  os  meus 
pensamentos. Ele continuou: 
 
—...Timóteo,  você  sabe  que  o  nosso 
desejo  não  se realizou, como no “sonho” que te 
contei e mostrei... 
 
Não  sei  se  ele  parou  de falar  ou se  fiquei 
distraído  enquanto  ele  falava.  Sabe  como  é  na 
hora que a  professora fala algo  na aula que nos 
faz  lembrar  de  um  assunto  totalmente 
diferente? 
 
  Lembrei­me  dos  documentários  que 
tratavam sobre a forma como o ser humano está 
destruindo  o  meio  ambiente,  sendo  tolo  em 
todas  as  suas  decisões  por  causa  da  sua 
ganância.  Comecei  a  lembrar  de  muitas  cenas 
vistas  em  filmes  e  documentários,  em  revistas, 
livros,  jornais,  e  até  coisas  que  eu  tinha  visto 
pessoalmente:  anormalidades,  enfermidades, 
crueldade  de  todo  o  tipo,  escravidão,  estupros, 
guerras,  mortes,  toda  sorte  de  maldade, 
calúnias,  mentiras,  decepções, impurezas... que 
os seres amados fazem, conflitando­se entre si e 
com seu Criador. 
 
• Em  vez  de  escolherem  a  justiça, 
escolheram  aquilo  que  rouba  a  essência  de 
tudo;  em  vez  de  escolherem  a paz,  escolheram 
aquilo  que  destrói;  em  vez  de  escolherem  a 
alegria, escolheram aquilo que gera morte. 
 
E,  como  anteriormente,  eu  via  o  que  ele 
falava: vergonhas, vergonhas e mais vergonhas. 
Gerações e gerações de vergonha. 
 
E  pensei  comigo:  “parece  que  o  mundo 
que  conheço vive debaixo  de outro  governo  ou 
influência”.  De  repente,  percebi  que ele  estava 
falando: 
 
• Criamos  o  ser  amado  como  criatura 
que  mais  se  assemelha  a  nós  mesmos,  e  era 
muito  bom!  Mas,  um  dia,  Adão  e  Eva 
cometeram  a ofensa  que  mudou  seus  caminhos 
para  sempre:  encheram­se  de  orgulho  e 
rejeitaram  o  caminho  da  vida,  trocando  o 
Criador  por  uma  criação,  a  verdade  por  uma 
mentira, o bem pelo mal. 
 
Deram  ouvidos  ao  enganador  e 
acreditaram  mais  nele  do  que  no  Verbo  Vivo. 
Rebelaram­se  contra  nós,  e  essa  atitude  gerou 
uma  série  de  consequências  que  atinge  a 
existência  humana  até  os dias de  hoje ­ a maior 
delas  é  que  o  ser  humano  entrou  em  conflito 
conosco,  achando­  se  maior  que  seu  Criador, 
até  capaz  de  ser  o  seu  próprio  deus,  igual  o 
enganador.  Por  isso,  o  Espírito  de  Deus  se 
retirou  e  não  habitou  mais no  ser  mais honrado 
por  Deus  da  Terra.  E  o  ser  amado  se  tornou 
“um peixe fora da água.” 
 
Senti  uma  tristeza  tão  grande  ao  ouvir 
isso.  Percebendo  o  quanto  pensei  que  não 
precisava  de  Deus,  ou  não  pensava  nele,  o 
quanto  cometi  as vergonhas  sem  pensar  que  eu 
estava  gerando  uma  barreira  com  aquele  que 
me  criou.  Sentia  vergonha,  pois  me  vi 
semelhante ao enganador: eu estava desonrando 
a  pessoa  que  mais  merecia  honra  da  minha 
parte.  Eu  tinha  seguido essa influência  maligna 
que  vem  de  geração  em  geração.  Eu  tinha 
contribuído  na  edificação  de tudo que o mundo 
vive  de  ruim  hoje.  Lembrei­  me  de  todas  as 
coisas  pelas  quais pedi perdão desde o encontro 
passado. 
 
E o Cordeiro continuou: 
 
• O  ser  humano  trouxe  uma  influência 
devastadora  sobre  a  Terra  quando  acreditou  no 
enganador,  uma  influência  que  contaminaria  a 
raça  humana  e  tudo  o  que  foi  criado  para  ela 
desfrutar  como  ser  amado.  Adão  entregou  o 
domínio  da  Terra  ao  enganador  e  iniciou  um 
processo de decepção após decepção ao trocar a 
verdade  pela  mentira.  Logo  as  gerações 
vindouras  começaram  a  adorar  o  que  não  era 
Deus,  iludidas  e  contaminadas  por  vergonha 
atrás  de  vergonha.  O  ser amado ficou  tão cego 
pelo engano  que  edificou uma  habitação  para o 
pai da mentira e aqueles de sua laia. 
 
Aliás,  uma  vez  que  escolheram uma vida 
“sem  Deus”,  a  habitação  de  Deus  entre  eles 
ficou desocupada  e  deram  lugar para o príncipe 
das  trevas  habitar  e  governar  sobre  eles. O  ser 
humano  se  tornou  cada  vez  mais  corrupto  no 
seu  proceder  ao  escolher se  espelhar  na  pessoa 
do  adversário  do  Criador,  em  vez  de 
contemplar o Criador na sua perfeição. 
 
Tornou­se  cada  vez  mais  adepto  às 
práticas  da  falsidade,  escolhendo  os  valores  e 
princípios  do  enganador.  Tornou­se  cada  vez 
mais  perverso  e  rejeitando  os  estatutos  do 
Criador.  De  pai  para  filho,  de  geração  a 
geração,  todas  as  famílias  e  suas  civilizações 
desciam  num  caminho  de  mentira,  distorcendo 
todos  os  valores  de  Deus  que  fundamentam  e 
trazem  equilíbrio à  existência  do ser  amado. E, 
assim,  elas  submeteram­se  a  um  governo  cuja 
pauta  é  o  roubo,  a  morte  e  a  destruição, 
oprimidas  por  um tirano  que  não  se satisfaz até 
acabar com a raça que tanto amamos. 
 
Eu  ouvia  cada  palavra  com  grande 
atenção  e,  a  certa  altura,  percebi  que  as 
vergonhas que eu tinha cometido tinham gerado 
mais  do  que  ofensas  e  conflitos  entre  mim  e 
Deus,  que me criou: cooperei para confeccionar 
uma  edificação  espiritual  para  o  enganador, 
como  todo  ser humano, uma mega  fortaleza da 
mentira,  um  palácio  para  o  imperador  da 
falsidade.  Eu  tinha  convidado  esse  ladrão, 
assassino,  destruidor  e  cafetão  a  coabitar 
conosco,  e  eu  tinha  dado  a  ele  as  chaves  da 
porta  da  casa!  A  humanidade  tinha  escolhido 
fazer  uma  casa  para  o  enganador  em  vez  de 
uma  casa  para  Deus,  tínhamos  feito  um  trono 
para  o  tirano  em  lugar  de  nos  submeter  diante 
do trono do Criador de todas as coisas. 
 
E  a  convivência  com  esse  tirano  me 
deixou  tão  insensível  e  sem  noção que eu  nem 
percebia a  maldade, muito menos fazia ideia de 
como as coisas eram para ser. 
 
Para  piorar  eu colocava  responsabilidade 
de  tudo  em  todos  –  meus  pais,  os  líderes 
de  governo,  a  estrutura,  “eles”  –  em  qualquer 
um,  menos  em  mim;  eu  me  via  como vítima  e 
não como responsável. 
 
Mas,  em  cada  palavra  que  o  Cordeiro 
falava,  eu  sentia  o  peso  de  responsabilidade 
vindo  sobre  mim.  Conclui  que  eu  era  tão 
responsável  quanto  os  demais  pelas  desgraças 
insanas  que  existem,  pois  ajudei  o  enganador  a 
estabelecer  o  seu  império  sobre  a humanidade. 
O  enganador  conseguiu  tal  poder de  influência 
sobre  o  ser  humano, que o  ser  humano  faz  a  si 
mesmo  o que é irracional, impensável e ilógico, 
gerando  consequências  inimagináveis  na  sua 
crueldade,  incalculáveis  na  sua  extensão,  e 
irreparáveis em suas próprias consequências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Profeta 

A​
cordando  ​
dos  meus  próprios 
pensamentos,  ainda  na  presença  do  Cordeiro, 
percebi  que  outra  pessoa  tinha  se  assentado 
ao  meu  lado.  Era  um senhor ​ de  certa idade que 
parecia  ser  sério,  vivido  e  sábio:  sua  face  era 
um  pouco  enrugada  mas  sua  boca parecia ser a 
de  um  jovem,  ele  tinha  cabelo  branco, contudo 
sua  barba não tinha um fio dessa cor! Ele olhou 
para mim  e parecia enxergar até a minha alma. 
Com coragem, olhei bem para ele e percebi que 
seu  olhar lembrava muito, mas muito mesmo, o 
olhar do Cordeiro. 
 
• Chamo­me  Isaías  e  vivi  num  tempo 
muito  semelhante  ao  que  você  vive  hoje,  meu 
jovem  Timóteo.  Presenciei  muita  maldade  e 
vergonha  nos  meus  dias:  perversão,  crueldade, 
tremendo descaso do sofrimento alheio e morte. 
 
O  sacerdócio  cessou  durante  minha 
vigília,  quando  o  rei  substituiu  o altar  de Deus 
por  outro  ­  altar  de  fogo  estranho  dos  que  se 
diziam  deuses  mas  não  eram;  então,  os 
sacerdotes  fugiram  e  se  dispersaram,  deixando 
o templo em ruínas. 
 
Lembro­me  como  tremi  ao  ouvir o  Verbo 
Vivo  comparar  o  povo  escolhido  ao  povo  das 
cidades  destruídas  com  fogo  de  Deus  ­ 
Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim. Pensei que 
eu  era  “melhor  que  os  outros”  porque  eu  não 
estava  fazendo  igual  a  eles;  eu  pensava  que  o 
mal  existente,  a  disciplina  da  aliança  e  o juízo 
futuro eram culpa de outros, não minha. 
 
Então  aconteceu  que,  um  dia,  eu  vi  a 
glória  do  Senhor.  Foi  a  melhor  (e  a  pior) 
experiência  da  minha  vida, pois senti  temor de 
Deus...  A  glória,  ai,  a  glória!  Santidade, 
esplendor,  beleza,  formosura,  majestade.  ­ 
nenhuma  dessas  palavras  consegue  expressar  a 
essência  do  ser  que  me  consumiu, 
simplesmente ao contemplá­lo. 
 
...Eu  me  lembrava  do  meu  primeiro 
encontro com o Cordeiro... 
 
• De  repente,  a  minha  euforia 
transformou­se  em  temor  e  medo (sim, medo). 
Eu  tinha  ouvido  o  Verbo  vivo  chamar  o  povo 
da  minha  convivência  de  “príncipes  de 
Sodoma”  e  “povo  de  Gomorra”,  contudo,  eu 
não me via como esses. 
 
Inconscientemente,  eu  tinha  me 
desassociado  do  meu  povo,  como  se  eu  não 
tivesse  cometido  alguma  vergonha.  Mas, 
quando  vi  a  glória  do  Senhor,  desmanchei­me 
em  lágrimas  e  exclamei:  “Ai  de  mim!  Pois 
estou  perdido;  porque  sou  homem  de  lábios 
impuros,  e  habito  no  meio  dum  povo  de 
impuros lábios...” 
 
Diante  de  homens,  eu  achava  que  podia 
me  comparar  e  justificar  as  minhas  vergonhas 
como  menores  que  as  deles;  mas,  diante  da 
glória  do  Senhor,  ninguém  se  esconde, 
ninguém se justifica, ninguém se aguenta. 
 
Então,  o  incrível  aconteceu:  enquanto 
sentia­me o pior de todos, o Senhor mandou um 
anjo  tocar  os  meus  lábios  com  uma  brasa  do 
altar,  perdoando­me e purificando­me da minha 
iniquidade! 
 
Meu  jovem  Timóteo,  nós  vivíamos  num 
tempo  em  que  o  Fôlego  de  Deus  não  habitava 
em  nós  como habita em vocês hoje. O Cordeiro 
ainda  não  tinha  encarnado,  mas  conheci  a 
misericórdia, a graça, o amor... 
 
...Eu  conheço  Cordeiro como  O Servo  do 
Senhor.  Naquele  momento  o  Fôlego  de  Deus 
me  fez  enxergar  a  grandeza  de  Deus,  como  se 
eu  tivesse  vivido  hoje.  Deus  me  revelou 
Cordeiro  por  parte  de  palavras  vivas  dos 
oráculos que recebi dele: “vi” Cordeiro como O 
Servo  do Senhor e O  Cordeiro,  antes do  tempo 
dele. 
 
Hoje,  vocês  têm  muito  mais:  têm  o 
caminho,  a  verdade,  e  o  Fôlego  da  vida  que 
habita  em  vocês  e  que  os  guia  neste  caminho; 
têm  as  Escrituras  para  ler,  meditar  e  assimilar 
todos os  dias; e  têm a revelação de Deus que se 
espalha pela rede mundial de informações. 
 
Quero  presentear­lhe  com  uma  palavra de 
sabedoria,  amado  Timóteo.  Muitos  procuram 
minimizar  ou  se  livrar  da  responsabilidade  do 
pecado  e de  suas  consequências,  esquecidos  da 
aliança  eterna  que  o  Criador  fez  com  os 
moradores  da  Terra.  O  Criador  fez  do  ser 
amado  um  sacerdote  e  administrador  dessa 
aliança  sobre a  Terra: autoridade e poder foram 
conferidos  ao  ser  amado  em 
dimensões  singulares,  mas  responsabilidade 
também  ­  as  bênçãos  do  Criador  são  em 
consequência  do ser amado observar e manter a 
aliança  com  ele,  e  as  maldições  são  em 
consequência  dele  desviar­se dessa aliança com 
o  Criador;  os  eventos  de  disciplina  do Criador 
são  manifestações  do amor, da  misericórdia  e 
da  graça  dele  em  alertar  e chamar o  ser amado 
de volta para a aliança. 
 
• E  Sodoma  e  Gomorra?  —  questionei, 
olhando  para  o  Cordeiro.  Vi  uma  tristeza  cair 
sobre  seu  rosto,  seus  olhos  encheram­se  de 
lágrimas e ele explicou: 
 
• Sodoma  e  Gomorra  eram  duas 
cidades.  Muitos  não  se  lembram,  mas  foram 
destruídas  por  Deus  por  causa  da  intensa 
maldade  que  os  seus  habitantes  viviam.  A 
existência  delas  se  tornou  quase  igual  ao 
império das trevas sem esperança de retorno. 
 
A  esta  altura,  tive  uma  sensação  muito 
estranha  que  só  posso  explicar  assim:  duas 
ondas  de sentimentos vieram sobre  mim,  como 
se  emanadas  do  Cordeiro.  Senti­me  como  um 
banhista  na  praia  no  meio  de  duas  correntezas 
contrárias.  Isso  gerou  um  temor  em  mim. 
Cordeiro  expressou  o  que  eu  sentia  com  estas 
palavras: 
 
• Há  em  mim  o sentimento de  profunda 
tristeza  e dor pela destruição dessas pessoas; ao 
mesmo  tempo,  sinto  repúdio  pela  intensa 
maldade cometida  pelos habitantes  de Sodoma, 
Gomorra,  Admá  e  Zeboim.  Não  há  felicidade 
alguma  em  relembrar  a  disciplina  dessas 
cidades  malfeitoras,  mas  tampouco  havia  a 
possibilidade  de  maior  tolerância dos seus  atos 
maldosos;  suas  vergonhas  provocaram  Deus  a 
uma reação de finalização do ciclo pecaminoso. 
 
E o Cordeiro continuou: 
 
• Na aliança eterna, determinamos que o 
nosso  governo  será  estabelecido  na  Terra.  Isso 
é  inevitável,  pois  o  nosso  amor  pelo ser  amado 
é  o  motivo  disso.  A  Terra  foi  criada  para  a 
habitação  do  nosso  ser  amado e  querido, o  seu 
mordomo  em  aliança  conosco.  Conferimos  a 
ele  o  domínio  sobre  ela,  nosso  desejo  era  que 
ele  fosse o “primeiro ministro” e cooperador no 
nosso  governo  de  justiça,  paz  e  alegria,  visto 
que  criamos  todas  as  coisas  para  existirem sob 
a  influência  desse  governo;  o  equilíbrio,  a 
harmonia,  a  sincronia  e  o  shalom  da  criação 
existem  quando  nutridos  pela  justiça,  paz  e 
alegria do nosso governo. 
 
A  Terra  e  tudo  o  que  nela  há  foi  criada 
para  florescer  e  frutificar  no  governo  do 
Espírito Santo. 
 
Quando  o  cogovernante  abraçou  o 
engano,  ele  edificou  um  lugar  para  o  governo 
do  adversário,  o  pai  da  mentira;  o  ser  amado 
começou  a  esquecer­se  de  nós  e  a  amar  outros 
que  se  fingiam  de  deuses  ou  seres  superiores. 
Assim,  a  descida  pelos  caminhos  da  maldade 
iniciou  uma  decadência  que  tomou  conta  da 
Terra  e  ela  passou  a  experimentar  uma 
influência  sinistra:  o  governo  de  tirania  das 
trevas  ­  sua  influência  é  morte,  roubo  e 
destruição,  seu  apetite  pelo  mal  é  insaciável, 
pois  seu  príncipe  é  cruel  e  odeia  o  ser  amado, 
de  fato  ele  tem  muitos  ciúmes  do  nosso  amor 
pelo ser amado. 
 
Ele  é  o  verdadeiro  adversário  do  ser 
amado, tecendo  sua  rede  de engano e decepção 
entre  todos  os  povos  e  tramando  armadilhas 
para  levar  o  ser  amado  cativo;  sua  meta  e  seu 
objetivo  sempre  foi  deturpar  tudo  o  que 
criamos  (tudo  que  era  bom).  Desde  os  tempos 
esquecidos,  ele  vai  “comendo  pelas  beiradas” 
sorrateiramente e paulatinamente. 
 
Tornando­se o adversário adúltero, desleal 
e infiel, ele quebrou a aliança que ele tinha com 
seu  Criador.  Mas  ele  sabe  o  valor  das alianças: 
desde  a  antiguidade,  ele  faz  propostas 
indecentes  para  os  governantes  humanos 
oferecendo  poder,  prosperidade  e  prazeres, 
procurando copiar a nossa aliança. 
 
Contudo,  ele  esconde  os  seus  propósitos 
de roubo, morte e destruição dos povos iludidos 
pelo seu  engano; ele  é traiçoeiro, dando bote só 
depois  de  “fechar  contrato”;  uma  vez  que  ele 
consegue  lograr  com essa aliança,  o adversário 
luta  com  “unhas  e  dentes”,  propondo  até  o 
irracional  para  perpetuá­la  de  geração  em 
geração  (em  vão,  porque  ele  sabe  que  seu 
governo acabará,  pois  eu  o  venci). Um dia esse 
rebelde  conheceu  nosso  governo de justiça, paz 
e alegria. 
 
Ele  sabe  que  a  nossa  tolerância  da 
maldade  e  da  oposição  tem  limites  e  que  a 
extensão do  seu  governo na Terra é temporária, 
porquanto  caminha  para  extinção,  pois  é  um 
governo  que  trilha  por  vales  de  sofrimento que 
o Pai nunca desejou para seus filhos. 
 
Sodoma e Gomorra ficam como sinal para 
todas as  gerações saberem  que  nossa tolerância 
com  a  edificação  do  governo  da  maldade  tem 
limites.  Quando  a  manifestação  da maldade do 
ser amado caminha para o ponto sem retorno de 
transformação,  deixamos “implodir”  o governo 
a que o  ser amado se  submeteu.  Como  se sabe, 
outras  cidades,  povos  e  civilizações  chegaram 
ao  seu  fim  semelhantemente  pelos  mesmos 
motivos. 
 
Passavam  em  minha  memória 
documentários  que  eu  tinha  assistido  ­  sobre 
povos antigos da Grécia, de Roma, da África do 
Sul,  do  Egito,  da  Etiópia,  da Nigéria,  da  Índia, 
da  China,  da  Mongólia,  do  Japão  ­  de 
civilizações  que  findaram  sem  explicação: 
povos  extremamente  inteligentes,  fortes  e 
avançados  em  termos  tecnológicos,  que 
terminaram  a  sua  ascensão  em  vergonha, 
vergonha  e  mais  vergonha.  Percebi  que  essas 
civilizações  –  asteca,  inca,  maia,  babilônica, 
persa  ­  tinham  em  comum  estas  vergonhas: 
adoração  ao  que  foi  criado  (simbolizado  pela 
natureza  e  suas  manifestações),  depravação  e 
perversão  sexual,  e  total  desprezo  do  valor  do 
ser humano. 
 
O  ser  amado  despreza  a  misericórdia  e  a 
graça  de  Deus  a  tal  ponto  que  corre o  risco  de 
não  poder  retornar a Deus. Mas, enquanto o Pai 
das  luzes  e  de  todos  os  povos  agir  com 
misericórdia,  há  tempo  do  ser  amado  poder  se 
arrepender.  A  misericórdia  é  a  retenção  da 
condenação  que  o  ser  amado  merece  por  atos 
vergonhosos  e  a  graça  é  a  expressão  da 
bondade de  Deus  pela  humanidade  em  meio 
à  sua  condição  vergonhosa.  Ambas,  tanto  a 
misericórdia  como  a graça, são estendidas  pelo 
Pai  aos filhos na esperança que seja gerada uma 
tristeza  profunda  nos  filhos  que  os conduzirá  a 
retornar ao  Pai, ou  seja,  do ser amado voltar ao 
seu Criador. 
 
Quando  fomos  deixados de  lado  ao  longo 
da  história,  enviamos  mensageiros  com 
mensagens  de  exortação  e  repreensão  que 
avisavam  o  ser  amado  do  engano  e  do  seu 
desvio.  Às  vezes,  o  instrumento  de  disciplina 
do  Pai  é  a própria  criação – quando esta sofre a 
manipulação do  governo da maldade ­ porque o 
Pai  não  deseja  que  os  filhos  continuem  nos 
caminhos  do  engano;  noutras  vezes, 
simplesmente  deixamos  as  consequências  da 
sua escolha cair “em cheio” sobre eles. 
 
Com  o  passar  de  gerações  por  séculos  e 
milênios,  nações  e  povos  ergueram  impérios 
em  aliança  com  o  tirano  enganador.  Esses 
impérios  findaram  de  modo  assustadoramente 
semelhante  uns  com  outros:  anarquia, 
perversão,  desprezo  pela  vida  alheia,  adoração 
profana  a  ponto  de  haver  sacrifício  humano,  e 
muitas  outras  vergonhas.  Tu,  Timóteo,  estás 
vivendo  o  momento  em  que  o  governo  de 
“Sodoma  e  Gomorra”  se  prepara  para  tomar  a 
Terra de vez. 
 
Meus  amigos  João,  Pedro  e  Paulo  viram 
esse  dia e avisaram à família a respeito disso. O 
tirano  se  escora  nos  séculos  de  engano, 
tentando  solidificar  sua  posição  perante  a 
humanidade.  A  casa  dele  está  destinada a  cair, 
pois  está dividida contra si e não poderá resistir 
à  revelação  da  essência  de  Deus  que  encherá 
toda  a  Terra  como  as  águas  cobrem  o  mar.  As 
trevas  se  dissipam  com  vinda da  luz, a  mentira 
cai  em  desgraça  com  o  conhecimento  da 
verdade e quem  abraça a verdade será liberto, o 
ódio é  revelado.  Com  a  permanência  do amor ­ 
Eu  sou  a  luz. Eu sou a verdade. Eu sou o amor. 
Vim  fazer  a  Nova  Aliança  e  restaurar  o 
propósito  do  ser  amado  na Terra.  Vim  destruir 
as obras do tirano, aproxima­se o seu fim. 
 
Eu  ainda  estava  me  concentrando  nele 
quando,  de  repente,  o  Cordeiro  se parecia com 
um  leão! Era o  Cordeiro,  mas  o  Cordeiro era o 
Leão.  Enquanto  ele  falava,  sua  aparência 
mudava  de  cordeiro  para  leão  e  de  leão  para 
cordeiro. 
 
● Não  criamos  o  ser  amado  para  viver 
numa  existência  de  tirania  da  mentira  onde 
domina  morte,  roubo  e  destruição.  Eu  amo  o 
ser  amado.  O  amor  motivou­me  a  agir  em 
relação  a  tudo,  a  todas  as  coisas  em  que  o ser 
amado  se  envolveu.  Abri  mão  de  tudo  e 
vim  para  me  tornar  um  com  todos  os  que 
creem  em  mim  e  levá­los  ao  Pai,  a  fim  de 
restaurar  a  nossa  união.  Este  é  o  propósito  do 
meu sacerdócio. 
 
Ao  ouvir  o  Cordeiro,  senti  algo  além de 
suas palavras. Eu estava para ouvir o quanto ele 
mesmo  estava  convencido  de  que  ele  era  a 
única solução  do dilema em que o ser amado se 
meteu;  ele  não  veio  para  oferecer  outras 
opções, dar dicas ou sugestões. 
 
• Eu  sou  Deus  desde  a eternidade, sou o 
amor  que  se  revela  infinito  ao  ser  amado.  Eu 
sou  o Cordeiro  sacrificado  desde a fundação do 
mundo  e,  já  antes  dela,  eu  sabia  que  o  ser 
amado iria tomar as decisões que tomou. 
 
Uau!  De  repente  me  vi  como  que 
transportado para  uma caverna, tentei localizar­ 
me:  era  noite  e  havia  lâmpadas  acesas 
(daquelas  antigas  com  pavio e óleo), as paredes 
eram de  pedras  brutas e  pretejadas  pela fumaça 
de  muitas  tochas  que  uma  multidão  de  fiéis 
acendiam  ­  todo  mundo  vestido  com  roupas 
antigas,  alguns  de  forma  simples  e  outros 
elegantemente;  eles cantavam  numa língua  que 
eu  não  entendia,  então,  prestei  mais  atenção  e 
foi  como se um interruptor tivesse sido ligado à 
minha  cabeça,  daí  comecei  a  entender  o  que 
cantavam: 
 
“Ele,  subsistindo  em  forma  de  Deus,  não 
julgou  como  usurpação  o  ser  igual  a  Deus; 
antes,  a  si  mesmo  esvaziou­  se,  assumindo  a 
forma  de servo,  tornando­se  em  semelhança 
de  homens;  e,  reconhecido  em  figura 
humana,  a si  mesmo  humilhou­  se,  tornando­ 
se  obediente  até  a  morte  e  morte  de  cruz. 
Pelo que  também  Deus  o  exaltou 
sobremaneira  e  lhe  deu  o  nome  que  está 
acima  de  todo  nome,  para  que  ao  nome  de 
Jesus  se  dobre  todo  joelho, nos céus,  na  terra 
e debaixo da terra, e toda  língua confesse que 
Jesus  Cristo  é  Senhor,  para  glória  de  Deus 
Pai.” 
 
Eu  estava  no  meio  de  irmãos  da  igreja 
primitiva! Não posso afirmar, mas creio que era 
perto de  Roma. Estávamos num círculo e havia 
um  vão  no  meio.  Logo  me  veio  o peso daquela 
presença  que  sinto  quando  me  encontro  com  o 
Cordeiro;  comecei  a  adorar  com  eles,  ergui 
minhas  mãos  como  muitos  outros  e  lágrimas 
desceram  pelo  meu  rosto.  Meu  amor  pelo 
Cordeiro  crescia  no  meu  peito  até  parecer  que 
eu ia explodir; comecei a sentir um aroma doce, 
uma  fragrância  tão  deliciosa  que  pensei  que 
alguém  tinha  tirado  a  tampa  de  um  frasco  de 
perfume.  Olhei  e  lá estava  ele, Cordeiro  estava 
no  vão  em nosso meio! Ele estava vestido igual 
a eles e parecia que também estava chorando. O 
seu olhar me enchia com alegria, amor, paz...! 
 
De  repente,  surgiu  um  tumulto  atrás  de 
mim  ­  gritos,  empurrões,  lanternas,  homens de 
armaduras...soldados  romanos?!  Eu  via 
homens,  mulheres  e  crianças  sendo  mortos  à 
espada!  Logo,  fiquei  aterrorizado  ao  me 
deparar  com um  soldado desfigurado de  ódio e 
respingado  de  sangue rosnando com sua espada 
em minha direção! 
 
...Mas  voltei  tão  rápido  quanto  fui. 
Trêmulo,  percebi  que  eu  estava a  salvo  ao  lado 
do  Cordeiro  e  seguro  novamente,  mas  ele 
chorava. 
 
• A  maioria  daquele  grupo  morreu 
naquela  noite.  Eles  morreram  felizes,  prontos 
para darem suas vidas em testemunho. 
 
Depois  ele  sorriu de  alegria. E  eu?  Fiquei 
constrangido.  Senti  com  o  Cordeiro  o  impacto 
da  morte dos que  o amavam  pela  causa que ele 
iniciou.  Não  sei  se  eu  morreria  por  uma  causa, 
conheço  muito  pouco  sobre  isso;  meu 
constrangimento  tornou­se  em  pranto  quando 
lembrei­me  que  ele  tinha  morrido  por  mim 
naquele  dia  na  colina  da  Caveira.  Tudo  para 
perdoar­ me e envolver­ me no seu reino! 
 
Entretanto,  a  música  que  eles  cantaram 
ficou em minha cabeça. Olhei para o Cordeiro e 
pensei:  “o  Senhor  é  Deus! E  tornou­se homem 
para  morrer  por  nós!  Que  amor  é  esse?  Quem 
faria  o  que  ele  fez?”  Eu  cantarolava  a  música 
enquanto  chorava  olhando  e  adorando  o 
Cordeiro. 
 
• Timóteo,  o  fato  de  você  estar  comigo 
aqui hoje decorre dessa reunião. Eles foram das 
primeiras  gerações  da  família  sacerdotal  da 
qual  sou  o  Patriarca,  e  se  reuniam  como 
membros destemidos dessa família ­ se reuniam 
para  me  adorar  e  interceder  em  meio  a 
perseguições  ferrenhas,  e  esse  sacrifício  vivo 
tem  um  valor  inestimável.  Era  diferente 
naquele tempo, não havia templos ou santuários 
para eles, eles mesmos eram “pedras vivas” que 
edificavam  uma  casa  para  nossa  habitação  e 
quando  dois  ou  três  se  reuniam,  eu  estava  no 
meio deles. Ser discípulo era arriscar a vida, ser 
ministro  era  ser  arauto  do  nosso  governo  e 
anunciar  o  fim  da  tirania  das  trevas, ser  crente 
era  demonstrar  ­  com  a  própria  vida  ­  a 
diferença  da  cultura  do  nosso  reino  em 
contraste  com  a  corrupção  do  império  da 
maldade.  Alguns  eram  pobres,  outros  ricos, 
alguns  eram  simples,  outros  instruídos,  a 
maioria  era  do  povão,  a  minoria  da  alta 
sociedade.  Eles  se  reuniam  para  adorar  e 
interceder  conforme  ensinei  aos  primeiros 
discípulos;  não  tinham  que  ter  feito  “escola 
bíblica”  para  me  buscarem,  nem  mestrado  ou 
doutorado;  não  tinham  que  ter  instrumentos, 
palco  e  luzes  para me adorarem;  a sala de  aula 
era  a  vida,  todos os  momentos  onde o reino  de 
Deus  precisava  ser  integrado  à  vida  dos  que 
nasciam  de  novo  pelo  Espírito;  era  “mestre” 
quem  pregava  e  ensinava  os  primórdios  do 
reino  de  Deus  e  “doutor”  quem  conhecia  a 
mim,  tinha  uma  vida  comigo  e  pagava  o preço 
de  andar  nos  meus  caminhos.  Pobres  e  ricos, 
simples  e  instruídos,  fracos  e  fortes,  todos 
entendiam  que,  para  se  ganhar  a  vida,  deve­se 
perdê­la; eles me honravam com as suas vidas e 
estavam  prontos  a  morrerem  por  mim  e  pela 
causa do reino do meu Pai. 
 
Comecei  a  chorar  enquanto  o  Cordeiro 
falava,  porque  hoje  desfruto  de  uma  liberdade 
por  viver num país influenciado pelo evangelho 
do  reino...  Mas  como  mudou  a  essência  do 
evangelho  que  o  Cordeiro  pregou! Quase 1.500 
anos  depois  da  vinda  de  Jesus,  o evangelho  do 
reino  chegou  à  minha  terra,  trilhado  por  um 
caminho  marcado  pelo  sangue  derramado  de 
discípulos e missionários, irmãos iguais aos que 
vi  naquela  caverna  ­  que  deram  suas  vidas em 
prol  do  Cordeiro  e  de  seu  reino;  essas  marcas 
do  cristianismo  estão  por todo lugar  ­  igrejas  e 
monumentos,  alianças  e  momentos  na  história 
em que houve a intervenção de Deus. 
 
Inesperadamente,  assustei­me  quando 
levantei  meus  olhos  para  contemplar  o 
Cordeiro. 
 
O  céu  tinha  se  tornado  como  um  estádio, 
o maior  que  eu  já  poderia ter visto no mundo, e 
eu  enxergava  a  plateia  nitidamente.  Todos 
tinham  seus  olhos  voltados  ao  Cordeiro,  e  eu 
estava  constrangido  ao  seu  lado.  Eles 
começaram  a  declamar  suas  próprias  histórias 
de  como  conheceram  o  Cordeiro  e  como 
chegaram  a  entender a  cruz  onde  ele  foi morto, 
de  como  conheceram  o  Espírito  Santo  e  como 
conheceram  o  Pai,  de  como  tornaram­se  filhos 
de  Deus  e  como  souberam  seus  destinos,  de 
como  se  deram  pela  causa  e  pela  glória  de 
Deus,  do  que  viram  Deus  fazer  em  suas  vidas, 
em  seus  tempos  e  de  como  morreram.  Alguns 
gritaram seus nomes para mim, uns eu conhecia 
e  outros  não;  pessoas  mencionadas  na  Bíblia  ­ 
Abraão,  Moisés,  Davi,  Pedro,  e  até  meu  xará 
Timóteo!  Vi  também  os  rostos  de  pessoas não 
mencionadas  na  Bíblia,  e  sim  nos  livros  da 
história  da  igreja;  pessoas  das  mais  variadas 
raças,  línguas  e  nações,  que  tinham  dado  suas 
vidas pela  causa  e influenciado  suas  gerações. 
Eu  nunca  ouvira  falar  de  alguns,  mas  tinha 
certeza  que  eu  iria  conhecer  seus  testemunhos 
um dia. 
 
Então,  iniciou­se  um  cântico  das 
testemunhas enquanto o Cordeiro continuava: 
 
• Todos  deram  suas  vidas  pela  família 
de  Deus,  pela  pátria  celestial,  pelo  reino  de 
justiça,  paz  e  alegria.  Eles  deixaram  de  fazer 
outras coisas para servirem, e contribuíram com 
uma  parte  de  um  grande  plano:  estabelecer  o 
reino  de  Deus  na  Terra.  Apesar  de  não  terem 
visto  suas  promessas  se  cumprirem,  mesmo 
assim  tiveram  fé  e  levaram  suas  partes  até  a 
última  hora,  morrendo pela causa. Cada enterro 
foi  como  plantar  a  semente  da  palavra  das 
promessas  que  carregaram  e  cultivaram.  De 
povo em povo, cidade  em  cidade, país em país, 
a Terra  está  cheia de  “pessoas­sementes” como 
eles. E suas promessas irão se realizar! 
 
Milhares  e  milhares  de  pessoas  como  tu, 
Timóteo, entregaram­se para cumprirem as suas 
partes.  Elas  deixaram  suas  marcas  na  história; 
para a maioria, uma história desconhecida, pois 
se  sacrificaram  fora  do  alcance  de  holofotes  e 
microfones.  Mas  as suas  histórias estão escritas 
nas  páginas  do  livro  da  edificação  da  casa  de 
Deus. 
 
Ouvi o Cordeiro com grande interesse, ele 
disse  que  aquelas  pessoas eram  como eu  e que 
eu  também  poderia  fazer  parte  desse  número 
crescente!  Eu  poderia  edificar a “casa de Deus” 
na  Terra  influenciando  a  minha  geração! 
Dentro  de  mim  crescia  o  desejo  de  fazer  a 
minha parte...! 
 
• Timóteo,  naquele  dia  que  me 
conheceu,  você  nasceu  de  novo  para  a  minha 
família  sacerdotal;  mas  o que eu fiz na sua vida 
não  foi  dirigido  somente  pra  você:  trata­se  de 
envolver­te  numa  causa  antiga,  que  vigora 
desde a fundação do mundo. 
 
A  essa  altura,  minha  admiração  pelo 
Cordeiro  era  tal  que  eu  faria  qualquer  coisa 
para  ele.  Eu  estava  lendo  sua  história  todos  os 
dias,  gerando  um  conhecimento  e  uma  paixão 
por ele que crescia mais e mais. 
 
E  só  de  estar  ali  do  lado  dele...  Olhei. 
Cadê?  Eu  sabia  que  ele  estava comigo,  apenas 
eu  não  o  via.  E,  sem  pressa  nem  agenda,  eu 
fiquei  curtindo­o sem vê­lo, e refletia: “ele quer 
me  envolver  numa  causa  que  existe  desde  a 
fundação  do  mundo?!  Justamente  eu?”  Eu  não 
me  sentia  qualificado,  sequer  sabia  qual  era 
essa causa, mas eu sabia de algo: custasse o que 
custasse,  queria  me  envolver  por  completo!  E, 
sorrindo,  pensei:  “na  próxima  vez,  ele  vai  me 
falar da causa...” 
 
...E o coro das testemunhas cantava: 
 
ALELUIA! 
 
BENDITO AQUELE QUE 
VEIO EM NOME DO 
SENHOR! 
 
 
 
 
Más Notícias 

O  ​
mundo  sofreu  um  choque  terrível 
naquela  noite:  um  grupo  terrorista  detonou 
uma  bomba  em  Babitena​   Londroma,  em 
Distantelândia.  E  o  pior?  Foi  ​ uma  bomba 
química.  Babitena­Londroma  tem  vinte 
milhões  de  habitantes>  as  reportagens 
mostravam  que  já tinham morrido mais de duas 
mil  (crianças,  mulheres,  jovens>  velhos, 
pobres>  ricos  ­  nenhuma  classe  ficou  ilesa), 
além  dos  feridos  em  condições  lastimáveis  e 
chocantes;  as ​
cenas  são  tão  chocantes que nem 
dá  para  serem  descritas  aqui  ­  cegueira,  poças 
de  sangue, queimaduras, rostos desfigurados de 
dor  na  maioria  dos  falecidos  ­  um  verdadeiro 
cenário de guerra. 
 
E,  enquanto  eu  assistia  às  notícias,  eu  lia 
as legendas: 
 
Os  danos  do  terremoto  que  atingiu 
Terralheia somam R$ 150 bilhões. 
 
George  Klangmann,  galã  de  “Ao 
Amanhecer”,  voltou  hoje  de  Sofreudemais 
depois  de visitar  o acampamento de  refugiados 
da  fome.  Klangmann  anunciou  a  fundação  de 
uma  organização  não  governamental  para 
ajudar  os  três  milhões que estão  acampados  há 
quatro  anos.  E  o número dos acampados cresce 
a cada dia: duzentos mil desde o início do ano. 
 
O  presidente  Vero  Justino  de Pseudolícia 
confessou  seu  envolvimento no  maior roubo da 
história de Pantrícia. 
 
No  México,  uma  placa  tectônica  foi 
deslocada  em  15  centímetros  com  o  terremoto 
de  ontem,  que  teve  seu  epicentro  em 
Guadalajara  e  atingiu  8,4  graus  na  escala 
Richter. 
 
O vulcão Colima entrou em erupção nesta 
madrugada  forçando  a  evacuação  de  três  mil 
moradores;  ventos  nada  convencionais  levaram 
as  cinzas para o canal do Panamá. Vinte e cinco 
milhões  de  pessoas  encontram­se na penumbra, 
e  mais  de  1800  vôos  foram  cancelados devido 
às cinzas. 
 
O  número  de  mortos  na  guerra  civil  na 
Síria  já  passou  de  75  mil.  Damasco  está 
implodindo  com  a  agressão  de  grupos  rivais 
que  guerreiam  pela  cidade, e nenhum dos lados 
propôs um tratado de paz. 
 
Brasil  vence  Argentina  num  clássico  por 
pênaltis. 
 
Comecei  a  ficar  incomodado  ouvindo  e 
lendo  as notícias do dia ­ desgraça, só desgraça, 
e  uma  notícia  “boa”  no  final  (como  se  fosse 
compensar  a  dor  ou  preocupação  gerada  por 
tanta notícia má) – e dei por conta que eu nunca 
tinha me incomodado  com más notícias; eu não 
me  incomodava  com  o  que  não  me  tocava,  e 
vivia  uma  vida  de  extremo  egoísmo;  eu  era 
“calejado”  diante  da  desgraça  alheia.  E  agora, 
prestando  atenção, parecia que eu  estava  sendo 
bombardeado  com  as piores notícias: corrupção 
de  todos  os  níveis  e  em  todos  os  lugares 
envolvendo  empresários,  governantes,  e 
até  sacerdotes;  crise  financeira,  guerras,  secas, 
terremotos,  terrorismo.  Parecia  que  tudo  tinha 
“ido  para  o  inferno”,  e  pensei:  “tudo  isso  é  “a 
extensão do inferno’ na Terra”. 
 
Então refleti, até cair num sono profundo... 
 
...Voltei  a  assistir  o  jornal,  que  passava 
mais notícias: 
 
Em  Jerusalém, Herodes ordena chacina de 
meninos judeus de até 2 anos. 
 
Pilatos  executa  galileus  no  norte  de  Israel 
sem  piedade,  coleta  o  sangue  deles,  e  oferece a 
deuses em sacrifício. 
 
Descobre­se  “mensalão”  dos  fariseus: 
corruptos  da  família  de  Levi  que  trabalham 
para governantes de Roma são denunciados por 
usarem  o  nome  de  Deus  para  coletarem 
impostos  e  extorquirem  a  população  de 
Cafarnaum. 
 
Torre  de  Siloé  cai  e  mata  dezoito  em 
Jerusalém. 
 
Herodes manda decapitar João Batista.  
Milhares passam fome e migram
para cidades maiores devido a seca em 
todo o país. 
 
Trabalhadores  perdem  os  seus  empregos 
enquanto impostos aumentam. 
 
Herodes  constrói  outro  monumento  no 
litoral.  Mas  o  que  ele  fará  com  relação  à  fome 
do povo? 
 
Judeu  carrega  armadura  romana  por  duas 
milhas. 
 
Soldados  romanos  buscam  prisão  do 
revolucionário Jesus de Nazaré pela quarta vez. 
 
Cansado  de  ouvir  tanta  notícia  ruim; 
levantei­me  da  poltrona  em  frente  à  TV  e 
resolvi  dar  uma  saída.  Ao  sair  de casa, percebi 
que  eu  não  estava  mais  em  Hemeterópolis,  eu 
tinha entrado num  mundo de  um  tempo  antigo: 
encontrava­me  numa  colina  diante  de  uma 
multidão  e  estávamos  a  poucos  quilômetros  da 
cidade;  tinha  muita  gente  de  todos  os  tipos, 
trajadas  com  roupas  antigas,  e  crianças 
brincando  e  correndo  sob  o  sol  do  dia.  De 
repente,  a  multidão  se  aquietou  para  ouvir  um 
homem  que  estava  sentado  numa  rocha  mais 
para o alto da colina. Sorri quando o avistei: era 
o  Cordeiro!  Que  alegria! (Eu não sabia  que  ele 
já  era  tão  notável  em  sua  época.)  Ele  estava 
falando  à  multidão  sobre o  reino  de  Deus.  Que 
legal! 
 
Observei que havia  um  pequeno  grupo  ao 
lado dele que ficou  um pouco sem jeito quando 
um  homem  chegou  e  conversou  rapidamente 
com  ele;  o  homem  tinha  levado  seu  filho  e  o 
trouxe  até  o  Cordeiro.  O  menino caiu  em terra 
quando  viu  o  Cordeiro;  então  ele  pôs  sua  mão 
sobre  o  menino  e  ouvi  o  Cordeiro  falar  “sai 
dele” com  uma autoridade que me fez tremer; o 
menino  deu  um  grito  e  parecia  que  tinha 
morrido,  logo  ele  levantou  e  abraçou  o  pai  e  o 
Cordeiro.  Todo  mundo  ficou  admirado  por 
causa  da  autoridade  do  Cordeiro,  acho  que 
muita  gente  sabia da  história do menino e ficou 
impressionada  com  o  fato  de  que  ele  tinha 
ficado bom! 
 
Olhando a  multidão  depois  disso, chamou 
minha  atenção  um  homem  que  estava no grupo 
ao  lado  do Cordeiro;  pensei  em  quem  seria e  o 
porquê  de  ele  estar  ao lado dele, aliás, por  que 
ele  e  aquele  grupo  ficaram  sem  jeito  naquela 
hora?  Acho  que  fiquei  fitando  este  homem 
enquanto  pensava  porque,  quando  “acordei” 
dos  meus  pensamentos,  ele  estava  vindo  em 
direção a mim; daí pensei: “Vixe! Ele vai brigar 
comigo...” 
 
• Oh, meu rapaz! — ele gritou. 
 
Olhando  para  ele,  apontei  para meu peito 
como se perguntasse “eu?” 
 
• Sim, é você. 
 
Enquanto  eu  esperava  o  homem  chegar, 
Cordeiro  continuava  a  falar  à  multidão  e 
ninguém  se  mexia;  mas,  de  vez  em  quando, 
pessoas  iam  falar  com  ele.  E  eu  estava 
preocupado  se  o  homem  tinha  ficado  bravo 
comigo  por  eu  ter olhado  fixo para ele, será que 
ele  tinha  “adivinhado”  os  meus  pensamentos? 
Então, ele chegou até mim, estendeu a mão e me 
cumprimentou com um abraço e um beijo. 
 
Shalom!  —  ele  disse,  olhando  e  sorrindo 
para  mim.  Senti  uma  paz  descer  sobre  mim, 
como  se  tudo  ficasse  calmo,  em  harmonia  e 
sincronia,  sem  preocupações  ou 
problemas...Tudo certo mesmo. 
 
• Você chegou hoje, não é? — perguntou­ 
me. 
 
●     Sim — disse­lhe. 
 
“Mas espera um pouco: como é que vou 
explicar para ele que estou aqui, mas vim de uma 
outra terra num outro tempo?” Pensei, mas nem 
precisava... 
 
• É.  Este  é  o  nosso  terceiro  dia  aqui  e 
não  lembro  de  tê­lo  visto  nos  outros  dias. Qual 
é seu nome? — indagou o estranho. 
 
• Eu sou Timóteo. 
 
● Timóteo...interessante este seu nome.  
 
Cordeiro começou a falar 
novamente;  então,  o  homem  parou  de  falar 
comigo  mas  ficou  ao  meu  lado,  voltando­se 
para o Cordeiro num gesto que me fez entender 
que  ele  queria  que  eu  escutasse  o  Cordeiro 
também. 
 
• Você  conhece  o  Mestre?  — 
perguntou, com seu olhar fixo no Cordeiro. 
 
• Cordeiro?  Sim,  conheço!  —  respondi 
e abri um sorriso. 
 
Ele  olhou perplexo como se dissesse “mas 
como  você  o  conhece?”  Porém, não perguntou 
coisa alguma. 
 
Fixamos  nossa  atenção  em  Cordeiro,  que 
falava sobre o reino de Deus: 
 
• Bem­aventurados os pobres de  espírito 
 
• Cordeiro exclamou. 
 
• ...  porque deles é o reino dos céus — o 
homem  completou  o  dizer  junto  com  o 
Cordeiro. 
 
Olhei de lado para ele e sorri. 
 
• Bem­aventurados  os  que  choram  — 
Cordeiro disse. 
 
• ...porque  eles  serão  consolados  —  o 
homem completou junto. 
 
Olhei e sorri de novo. 
 
• Bem­aventurados os mansos... 
 
• ...porque  eles  herdarão  a  terra  —  o 
homem completou novamente. 
 
Agora  eu  fiquei  olhando  para  ele  e 
sorrindo. 
 
Durante  os  próximos  minutos,  ele 
completava tudo o que o Cordeiro falava depois 
de  “bem­aventurados”  junto  com  ele,  e  não 
errava  uma!  Ele  sabia  até  uma  oração  de  cor, 
que o Mestre ensinara à multidão. 
 
Como?  Será  que  ele  era  um  desses 
escritores  de  discursos  para  governantes  e 
dignitários? 
 
• Espera  aí:  você  escreveu  tudo  para 
Cordeiro? 
 
Ele deu risada. 
 
• Não,  não,  não:  se  você  conhece  o 
Mestre,  você  sabe  que  ninguém  tem 
conhecimento  maior  ou  sabedoria  mais 
profunda  que  ele,  que  ninguém tem autoridade 
igual,  ninguém!  —  E  ele  riu  com  vontade 
novamente. 
 
• É  que  estou  com  ele  há  dois  anos  e, 
nesse  tempo,  eu  e  os  outros  ali  — ele apontou 
para  o  grupinho  —  acompanhamos  o  Mestre 
em  tudo;  ele  nos  chamou  para  estarmos  com 
ele. 
 
Dois  anos  com  Cordeiro? Que  privilégio! 
Eu  queria  que  Cordeiro  me  chamasse  assim, o 
homem  falou  de  um  jeito  que  me  fez  sentir 
ciúmes. 
 
• O  Mestre  fala  com  a  mesma 
autoridade  e  convicção  toda  vez;  não  sei 
quantas  vezes  já  ouvi  essas  palavras  durante 
esse  tempo,  porque  temos  atravessado  quase 
toda a nação de Israel e tem sido a mesma coisa 
em  cada  lugar, ele  não  se cansa; acho que é por 
isso  que  gravei tudo. Eu estava em casa falando 
com meu vizinho num  dia desses  e, quando me 
dei  conta,  eu  estava  falando  a  mesma  coisa 
que  o  Mestre.  Meu vizinho olhou para mim e 
perguntou:  “onde  você  ouviu  isso,  e  de  onde 
vem essa autoridade e convicção? ” Fiquei feliz 
porque  parece  que  estou  tornando­me  como  o 
Mestre. 
 
O homem  olhou  para o  chão  e começou a 
chorar. 
 
• Que tristeza é essa? — perguntei. 
 
• Tristeza  não,  constrangimento...você 
não  me  conhece...Meu  nome  é  Mateus.  Eu  era 
um  contador...não,  a  verdade  é  que  eu  era  um 
coletor  de  impostos  corrupto,  exigente  e 
importuno.  Eu  ajudava  os  romanos  ­  que 
escolheram  alguns  da  tribo  de  Levi  como  eu 
(porque  trabalhamos com o povo na sinagoga) ­ 
a  roubarem  o  nosso  povo  através  da  coleta  de 
impostos. Eles estão roubando toda a riqueza da 
nossa  nação,  gastando  aqui  com  obras 
faraônicas  e  festas  extravagantes  ou  levando 
tudo para Roma! 
 
Eu  olhava  constrangido  e  distante, 
enquanto  ele  chorava de  vergonha  e  de  tristeza 
como  eu  tinha  chorado  quando  encontrei  o 
Cordeiro pela primeira vez. 
 
• Sou  levita,  da  tribo  a  quem  Deus  se 
revelou,  chamou  à  santidade  e  separou  para 
tê­lo  como  porção  e  herança;  sou  da  tribo  a 
qual  ele  ensinou  a  verdade  para  servi­lo,  para 
andar  em  integridade  e  dar  exemplo,  a  fim  de 
tornar  Israel  num  sacerdócio  santo  e  numa 
nação  santa.  Troquei  tudo  isso  para  roubar,  eu 
poderia  ter  dito  que  foi  em  nome  de  Roma  e 
que  fui  forçado,  mas  a  verdade  é  que roubei  o 
meu  próprio  povo  (que  é  pobre  e  simples  mas 
rico  e  nobre  de  coração)  para  mim  mesmo. 
Contudo, um dia… 
 
• A  essa  altura  da  conversa,  Mateus 
chorou compulsivamente. 
 
…  Um  dia  eu  estava  coletando  impostos 
(e  fazendo  parte  de  toda  a  estrutura  de 
corrupção  presente  aqui)  e  o  Mestre  passou  do 
meu  lado.  Ele  não  entrou  na  fila  para  pagar, 
mas  se  pôs  ao  meu  lado  e  me  olhou...O  seu 
olhar!  Senti  temor  do  Senhor,  amor  e  ternura, 
alegria! Tudo isso e muito mais. 
 
Ele  só  falou uma palavra: “Vem comigo!” 
E então, eu fui! 
 
E  não  me  arrependo.  Eu  era  tão  mal 
quanto  os  romanos  para  o meu próprio povo  e, 
mesmo  sabendo disso, ele  me  perdoou  e amou, 
e  tive  uma  experiência  com  ele  que  mudou 
minha  vida  completamente.  Ele  me  quer  perto 
dele  e  acredita  em mim, me envolveu  na causa 
mais  antiga  na  face  da  Terra  e  estou 
cooperando  com  o  próprio  Criador!  Não  me 
entenda  mal,  sei  que  não  somos  perfeitos, 
apenas  discípulos  aprendendo  a  ser  e  fazer 
como  o  Mestre.  Veja  bem,  eu  lhe  vi  olhando 
quando  o  Mestre  nos  deu  a  bronca.  Aquele 
homem  trouxe  seu  filho  para  nós  (discípulos) 
no  primeiro  dia,  oramos  e  oramos,  e  ficamos 
desesperados  porque  não  pudemos  curar  o 
menino.  O  Mestre  estava  certo  de  dar  a  bronca 
porque  somos  seus  discípulos e queremos fazer 
o  que  ele  faz:  Jesus  cura  todo  mundo, expulsa 
demônios com uma palavra e ressuscita mortos! 
Mas  a  gente  só  está  engatinhando; tem alguma 
coisa  que  ele  tem  que  não  temos  por  não 
entendermos  ainda,  mas  chegaremos  lá.  Ele  já 
nos deu sua autoridade para isso. 
 
Não  conheço  ninguém  como  ele  e  nunca 
imaginei  conhecer  alguém  assim;  minha 
admiração  pelo  Mestre  só  cresce  e  ele  me 
surpreende  a  cada  dia  em  dois  anos  que  o 
acompanho.  Nunca  presenciei  tanta  sabedoria: 
já o vi ser posto à prova pelos fariseus diante da 
multidão e  ele  nunca  retrucou,  mas sempre deu 
uma  resposta  sábia  que  dissipava  qualquer 
contenda  ­  e  onde  ficavam  expostas  a 
autoridade  do  Mestre  e  a  vaidade  da 
religiosidade  dos  fariseus;  eu  teria  falado 
“poucas  e  boas”,  mas  ele  não, e  ninguém  fazia 
“torcida”  quando ele falava,  porque  servia para 
todos  os  ouvintes  e  não  somente  aos  fariseus; 
nele  não  há  pretensão,  dolo  ou  falsidade.  Ele 
não  é  santarrão  nem  “se  faz  de  Santo”,  ele  é 
santo  e  puro  de  coração;  é meigo  e,  ao  mesmo 
tempo,  revestido  de  uma  autoridade  sem  igual; 
é  carinhoso,  mas  jamais  leviano;  sorri  de 
alegria  como  ninguém,  mas  todos  o  levam  a 
sério.  Ele  é o  Messias  que  mudou a minha vida 
e vai mudar o mundo todo! 
 
Não  entendemos  no  início,  mas  ele  tem 
uma  causa  que  defende,  uma  única  proposta 
que  apresenta  para  todas as  multidões em todas 
as cidades: o reino de Deus. 
 
Vivemos debaixo da tirania de Roma já há 
muitos  anos,  ela  está  fazendo  “um  inferno” da 
nossa  vida:  um  soldado  romano  pode  chamar 
qualquer  homem  de  Israel  para  carregar  seu 
fardo  por  uma  milha  a  qualquer  momento; 
sofremos muito com corrupção, injustiça, roubo 
e  até  morte!  Há  grupos  pequenos  que  se 
rebelam  e  são  castigados  pelos  romanos. 
Timóteo,  é tão  ruim que recebi a notícia de que 
alguns  conterrâneos  do  Mestre  foram  mortos 
por  Pilatos  um  dia  desses,  e  este  misturou  o 
sangue  deles  com  sacrifícios!  Já  tivemos 
problemas  com  gregos  e  sírios;  agora é  Roma 
que vem com as suas  imundícias  para  a  nossa 
nação,  trazendo  imagens  e altares,  corrupção e 
opressão,  bem como prostituição e imoralidade. 
E  sofremos  de  outras  maneiras  também: 
sacerdotes  e  líderes  do  templo  ficam  cada  vez 
mais  ricos  enquanto  o povo  fica  cada  vez  mais 
pobre;  a  seca  aumenta  a  cada  ano  que  passa, e 
comida e água são escassas para todos. 
 
Olhando  para  os  nossos  problemas,  acho 
que  todo  mundo  queria  um  messias  que 
expulsasse  Roma  daqui,  que  desse  uma  coça 
nos  sacerdotes  corruptos;  que fizesse chover de 
novo,  que  trouxesse  prosperidade  para  todo 
mundo...  Temos  todos o sonho  do  Éden dentro 
de  nós, observamos a  natureza  e seus ciclos, de 
como  devem  operar,  e  torcemos  para 
funcionarem  certo  para  sermos  fartos  e 
prósperos. Era isso que esperávamos do Mestre 
quando  ele  assumiu  que  era  o  Messias; 
especialmente  Judas que é  zelote ­ fiz uma cara 
de “não entendi” e ele explicou: 
 
• Judas e  os zelotes ainda pensam que o 
Mestre  vai levantar um exército para subjugar e 
expulsar os romanos daqui. 
 
No  início,  éramos  ignorantes  em  relação 
ao  reino de Deus e perguntávamos sobre arte da 
guerra,  reclamávamos  da  seca,  e  outras  coisas 
nada  a  ver.  Mas  o  Mestre  teve  paciência 
conosco  e  começou  a  nos  mostrar  quem  ele  é 
curando  enfermos,  libertando  cativos, 
ressuscitando  mortos  e  pregando  sobre  o 
governo  de  Deus  de  cidade  em  cidade.  Hoje, 
embora  tendo  muito  para  aprender  e  crescer, 
cremos  e  sabemos  que  ele  é  o  Rei  que  irá 
estabelecer  o  seu  reino  aqui  na  Terra.  Ele  é  o 
Cordeiro  que  tira  o  pecado  do  mundo,  e  nos 
chamou  para  nos  envolver  nessa  causa  mais 
antiga; esse é o destino de nós todos. 
 
Hoje,  temos  a honra de conhecer o Mestre 
no  início de  tudo,  mas, um dia,  todas as nações 
vão  conhecê­lo  e  ele  vai  estabelecer  o  seu 
reinado  de  paz  sobre  toda  a  Terra.  Durante 
estes  anos  em  que  estou  com  o  Mestre,  ele  só 
fala  sobre o reino de cidade em cidade, como se 
esse  reino  estivesse  logo  ali.  Ficamos 
preocupados porque tudo que ele fala confronta 
tantos  líderes  do  templo  e  das sinagogas  como 
os  romanos,  falar  a  verdade  no  meio  dessa 
corrupção  religiosa  e  política  é  arriscado.  Eu 
tinha ouvido seu  primo  João  falar antes sobre o 
reino;  ele  pregava  que,  se  quiséssemos  o reino 
de  Deus,  tínhamos  que  nos  arrepender  dos 
nossos  pecados;  João  foi  decapitado  por  ter 
confrontado  o  pecado  do  governador,  isso 
meteu medo num monte de gente. 
 
Essa  pregação  irrita  muito  mais  do  que 
um  sermão  sobre  política.  Os  doutores  da  lei 
enviaram  soldados  romanos  para  prender  o 
Mestre  por  várias vezes,  mas  todas as vezes ele 
saiu  pelo meio  deles  e ninguém  colocou  a  mão 
nele;  vinham  para  prendê­lo,  mas  parecia  que 
não  podiam,  não  conseguiam  literalmente. 
Demorou, mas começamos  a  entender que nele 
havia o  poder do  reino de  Deus ­  ele fala que o 
reino de  Deus está dentro de nós. Até acho que, 
um  dia,  vou  escrever  um  livro  sobre  as  coisas 
que ele fala sobre o reino. 
 
Timóteo,  você  conhece  a  desgraça  que 
acontece  hoje  em  dia,  aguentar as  afrontas  dos 
romanos  é  terrível.  Nós  todos  odiamos  a 
presença  deles  aqui;  nossos  pais  espirituais 
estão  “deitados”  com  o  inimigo,  Roma:  eles 
manipulam  Roma  para  manter  suas  riquezas,  e 
Roma  os  usa  para  extorquir  tudo  que  temos. E 
quem  sofre?  Nós! Se não  fosse  o  Mestre, eu  ia 
entender  que  a  melhor  coisa  seria  uma  revolta 
armada  contra  tudo  isso.  E  a  seca?  Falta  de 
água e de comida; até que parece que o Deus de 
Abraão é contra nós! 
 
O  Mestre  nos  ensinou  que  tudo  isso  é 
fruto do nosso próprio pecado porque, ao pecar, 
damos  lugar  para  o  príncipe  das  trevas, 
concordamos  com  a  mentira e assim, com o pai 
da  mentira,  traímos  a  verdade.  A  adoração 
profana  do  nosso  povo  dá  direitos  para  o 
príncipe  das  trevas  estabelecer  seu  governo 
tirano  e habitar em nós. 
 
Contribuímos,  cada  um  com  sua  parte, 
para  estabelecer  esse  império  não  somente  de 
Roma, como também das trevas; pois o império 
de  Roma é  somente  um  reflexo  do império das 
trevas;  e  se  Roma  não  foi  construída  num  dia 
só,  tampouco  o  império  das  trevas:  é  a 
edificação  cumulativa  do mal na Terra desde os 
dias  de  Adão  e  Eva,  é  o  inferno  invadindo  a 
Terra! 
 
Esse  mundo  que  conhecemos  é  resultado 
de  nossas  escolhas,  pois  nos  tornamos 
semelhantes  àquele  a  quem  adoramos.  Em vez 
de  sermos  semelhantes  a  Deus  que  nos  criou, 
nos  tornamos  semelhantes  àquele  que  se 
rebelou:  nos  rebelamos  contra  Deus  como  o 
adversário,  e  como  ser  humano  fazemos  o 
inimaginável  ao  nosso  próximo;  mentimos, 
roubamos,  adulteramos  e  até  mesmo  matamos, 
mesmo  sabendo que  causamos  dor  no outro e a 
nós mesmos. 
 
O  mal  coletivo  é  resultado  do  mal 
individual;  por  isso  é  necessário  gerar  uma 
mudança  individual  e  interior  para  haver 
transformação  no  coletivo.  O  Mestre  veio  da 
parte  do  Pai  para  resolver  nosso  dilema, 
demonstrando  o  quanto  Deus  nos  ama  e 
nos  chama  ao  arrependimento  para  mudar  o 
interior  do  ser humano;  ele, Jesus, o  Messias, é 
o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo 
para o transformar totalmente, nos salvando dos 
nossos  pecados  e  de  tudo  o  que  eles  causam. 
Nós  todos  nascemos  com  o  sonho  do  Éden:  a 
Terra  seria  como  o  jardim,  se  não  fosse  o 
pecado;  o primeiro  Adão abriu  as portas  para o 
inferno  invadir,  mas  o  segundo  Adão  ­  Jesus 
Cristo,  o  Leão  de  Judá  ­  abriu  as  portas  para  o 
céu  invadir  a Terra, como  o Pai  sempre  queria; 
e ele nos dará essas chaves do reino dos céus! 
 
O Mestre ensina as mesmas coisas sobre o 
reino  de  Deus  em  cada  cidade  que  vamos, 
relembrando  que  as  coisas  não  têm  que 
continuar  na pior assim;  como  que despertando 
o povo de um sono. 
 
E,  então,  ele  fala  em  parábolas  que 
retratam  para  todos  um  reino  de  justiça,  paz  e 
alegria  no  Espírito  Santo  ­  e  que  tocam  no 
sonho  dentro  de  todos  nós;  é  como  se  ele 
perguntasse:  “vocês  querem  o  império  das 
trevas com toda sua opressão e desgraça?” 
 
Nós  cremos  nessa  proposta  e  o  seguimos 
por  isso.  Por que cremos? Simples: através dele 
ouvimos,  vemos  e  tocamos  o  reino;  o  reino  se 
manifesta  por  meio  dele,  e  é  através  dele  que 
recebemos  o  reino.  Ele  nos  convenceu  de  que 
as  coisas  podem  ser  diferentes  se  crescermos 
nele,  sei  porque ele não se  cansa de  falar sobre 
esse  assunto  ­  nem  sei  mais  o  número  de 
cidades  aonde  passamos,  tampouco  com 
quantas  multidões  ele  falou,  e  muito  menos  o 
número  de  vezes  que  ele  falou  do  reino.  Eu 
consigo  imaginar  o  dia  em  que  muitos,  do 
mundo  inteiro,  saberão  de  Jesus  e  virão  para 
conhecê­lo, sei que isso vai acontecer. 
 
Éramos  doze  no  início  mas,  semana 
passada,  foram  acrescentados  setenta  ao  nosso 
grupo;  muitos  desses  eram  discípulos  de  João 
Batista,  morto  por  Herodes.  Esse  João  era 
primo  do  Mestre  e  eles  eram  muito  afinados  e 
próximos,  o  Mestre  nos  disse  que  João  tinha 
preparado  o  caminho  para  o  Mestre  porque 
João  pregava  arrependimento,  e  que  a  palavra 
de  arrependimento  é  a  ferramenta  pela  qual  o 
reino  de  Deus  é  edificado.  Antes  do  Mestre 
pregar, só  João era  tão conhecido em Israel; ele 
e os seus discípulos iam umas semanas antes de 
nós  para  as  cidades  onde  o Mestre nos levava, 
até parecia que o Mestre seguia atrás dele. 
 
Com  a  morte  dele,  muitos  dos  seus 
discípulos  vieram  estar  conosco  e  o  Mestre  os 
recebeu  com alegria.  Agora  o  Mestre nos envia 
de  dois  em  dois  para  as  cidades  que  ele  quer 
visitar, acho  que  nós  é  que  estamos preparando 
o caminho para ele! 
 
E  vai  ser  assim  até chegar aos  confins  da 
Terra! 
 
Hoje,  somos um grupo pequeno com 82; e 
não  nos  enganamos  com  as  multidões  porque 
sabemos  que muitos  vêm para serem  curados e 
libertos,  mas  não  se  tornam  seguidores  ou 
discípulos. 
 
Mas  eu  sigo  o Mestre,  custe o  que  custar, 
eu  o  sigo;  já  deixei  o  meu  cargo  de  coletor  de 
impostos e  restituí  um monte  de gente de quem 
roubei.  Hoje  minha  vida  é  simples  mas  tenho 
paz. E que paz! 
 
Um  dia,  vou  ter  a  alegria  de  saber  que 
participei  da maior  causa já  existente (que nem 
mereço);  por  isso,  admiro  e  amo  tanto  ao 
Mestre,  ele  enxerga  algo  em  nós  que  não 
percebemos. 
 
Enquanto  Mateus  falava,  eu  sentia  o  ar 
carregado  de  uma  força,  algo  que  cutucava 
minhas  entranhas;  suas  palavras  lembravam  as 
conversas  que  tive  com  o  Mestre,  eu  estava 
sentindo na  presença de  Mateus o que eu sentia 
com o  Mestre (quero dizer, com Cordeiro) ­ era 
como  se  Mateus  fosse  revestido  de  algo  que 
vinha  do  Cordeiro  e  que  sua  palavra  fosse 
respaldada  por  uma  autoridade  que  ele  mesmo 
não  tinha  ­  como  se  ele  fosse  comissionado  e 
tivesse  encarnado  a  missão  do Cordeiro  (como 
se  estivesse  pronto  para  carregar  o  bastão  de 
uma  corrida  de  revezamento  ou  levantar  a 
bandeira  de  um  novo Rei)!  E  o mais  intrigante 
é que eu me via na pessoa de Mateus! 
 
E  como  não  pensar  que  faço  parte  dessa 
geração  que  ele  sonhou? O  evangelho do  reino 
tem  chegado aos confins da Terra, faço parte de 
uma  geração  privilegiada  de  viver  o  que  os 
discípulos  da primeira  geração sonharam. Sinto 
que  meus  encontros  com  o  Cordeiro  estão  me 
preparando,  para  eu  preparar  um  povo 
preparado  para  o dia que ele voltará como Leão 
e estabelecerá de vez o seu reino. 
 
• Timóteo,  digo­lhe  que  ninguém,  que 
conheci  até  hoje,  é  como  o  Mestre.  Ele  é  o 
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e 
que  vai  transformá­lo.  E,  com  ele,  vamos  (de 
cidade  em  cidade)  convocar  as  pessoas  ao 
arrependimento  e  anunciar  a  realidade  desse 
reino, a fim de que elas entrem nele e se alistem 
como sacerdotes. 
 
Você  também  pode  fazer  parte  da  causa, 
se quiser. 
 
O  Mestre  nos  ensinou  a  orar  para  que  o 
reino  viesse.  Ele  ensina às  multidões, em  todas 
as  cidades, como se quisesse que todos orassem 
assim;  parece  até  que  ele  está  iniciando  um 
grande  movimento  de  oração.  Ele  não  ensina  a 
orar  como  no  contexto  da liturgia da  sinagoga; 
acho  que  ele  ora  todos os  dias,  pois  o ouvimos 
orando  de  longe,  e  ele  até  já  orou  conosco;  é 
como  se  ele  perguntasse:  “vocês  querem  o 
reino  de  Deus  ou  querem  essa  opressão?  É 
claro  que  queremos  o  reino  de  Deus  que  o 
Messias prega. 
 
O Mestre diz: “Então, orareis assim... 
 
Pai nosso que estás nos céus, 
santificado seja o teu nome; 
venha o teu reino, 
seja feita a tua vontade, 
assim na terra como no 
céu; 
o pão nosso de cada dia nos dá hoje; 
perdoa as nossas dívidas, assim como 
perdoamos aos nossos devedores; 
e não nos deixes cair em tentação, 
mas livra­nos do mal. 
Pois teu é o reino, o poder e a glória para 
sempre. 
Amém.” 
 
De  repente,  ouvi  um  estrondo  atrás  de 
mim. 

 
   
 
 
A Maior Causa 

A​
o  ouvir  o  estrondo,  dei  um  pulo  da 
poltrona  ​em  que  eu  tinha  caído  no  ​ sono 
assistindo  ​às  notícias.  Ué...  dormi  e  era  ​
tudo 
um  sonho?  Não  fiquei  muito  tempo  pensando 
sobre  isso  porque  logo  percebi  que  o  estrondo 
veio  do  noticiário:  enquanto  o  repórter  estava 
comentando,  terroristas  detonaram  uma 
segunda bomba  bem no  lugar da  reportagem,  e 
htdo  foi  filmado  ao  vivo.  ​ As  ​
cenas  eram 
horripilantes:  pessoas  caíam  a  cada  segundo  e, 
em  30  minutos,  quase  todos  tinham  morrido, 
inclusive  o  repórter  e  o  cinegrafista;  parecia 
que  o  inferno  tinha  estabelecido  suas  bases 
aqui.  Cansado  de  ouvir  tanta  desgraça  e  não 
aguentar  mais,  quis  saber  como  mudar  tudo 
isso.  Resolvi  dar  uma  volta  para  sair  da 
pressão,  fui até a porta lembrando­me do sonho 
e pensando “será?”. 
 
Abri  a  porta  e  desci  as  escadas de  minha 
casa.  Chegando  na  rua,  fui  para  o  parque  ali 
perto...  Que  chato!  Acho  que  eu  tinha  me 
acostumado  com  este  trajeto porque  passei  por 
três bocas de fumo de gangues rivais, e por uma 
escola  onde  vi  jovens  de  onze  a  vinte  anos 
usando  drogas,  experimentando  perversão 
sexual  e  se  posicionando  contra  as autoridades 
que  a escola  tinha;  observei que a escola estava 
assolada pelo vandalismo ­ depredada e pichada 
por  toda  parte  ­  e  pensei  “esse é um ‘canteiro’ 
onde  o  príncipe  das  trevas  cultiva  o  seu 
império”. 
 
Eu  queria  tanto  que  cessasse  toda  essa 
maldade,  mas  sabia  que  não  tinha  poder  para 
isso.  Entrei  no  parque  e  espiei  o  banco  que 
costumo  ir  nessas  voltas;  então,  lá  estava  o 
Cordeiro  olhando  para  mim  como  se  dissesse 
“eu  estava  à  espera”,  e  ele  olhava  para  mim 
com  tanta  compaixão.  Por  alguma  razão,  eu 
sabia  que  o  Cordeiro  me  entendia,  e  eu  não 
tinha  que  falar  alguma  coisa;  tudo  que  vinha 
para eu  falar,  eu pensava “ele já sabe disso”; eu 
esperava,  pois  sabia  que,  por  mais  que  eu 
quisesse  desabafar,  importava  mais  o  que  ele 
tinha  a  dizer  para  mim.  Lágrimas  encheram 
meus  olhos  e  chorei  durante  alguns  minutos, 
ficando  em  silêncio  ao  seu  lado.  Quando  ele 
começou a  falar  parecia  que  tinha passado uma 
eternidade: 
 
• Chamei  Mateus  e  muitos  outros  para 
estarem  comigo  e  serem  meus  discípulos  na 
primeira  vez  que  vim;  o  avanço  da  causa 
deve­se  muito  a  eles,  e  a outros  discípulos  que 
creram  em  suas  palavras  e  se  alistaram  para  a 
causa  também. — Eu me surpreendi quando ele 
falou  sobre  Mateus,  será  que  ele  sabe  do  meu 
sonho?  —  Você  me  conhece  por  causa  das 
palavras  que  eles  carregaram  e  pelas  quais 
foram mortos. 
 
A causa  é o  avanço  de um reino espiritual 
e  soberano,  pois  o  seu  rei  é  o  próprio  Deus  e 
Criador  de  todas  as  coisas.  Como  em  todo 
reino,  princípios,  valores,  leis  e  normas 
procedem  de  atributos,  caráter,  autoridade  e 
poder  do  rei  ­  ele  determina  as  influências  do 
seu  reinado:  todas  as  coisas  são  dele, por meio 
dele e para ele. 
 
Há  dois  governos que exercem  influência 
na  Terra: o  reino  eterno  e  absoluto de  Deus e o 
poder  temporário  e  usurpador  das  trevas;  a 
influência  sobre o  ser amado  é tanto  individual 
quanto  coletiva e nenhum governo humano está 
isento  dessas  influências,  ou  seja,  todos  os 
reinados  ou  governos  humanos  recebem  a 
influência  desses  governos  espirituais.  Os 
reinos  não  são  iguais  em  força;  simplesmente, 
um  é o  resultado  da  rejeição  do outro,  como  as 
trevas  é  o resultado  da ausência  de luz; mas os 
dois  geram  frutos  da  sua  influência:  o reino  de 
Deus  gera  justiça,  paz  e  alegria  no  Espírito 
Santo, e  o  império  das trevas gera roubo, morte 
e destruição.  O reino  de Deus é eterno, existem 
e  sempre  existirão  evidências  desse  reino,  pois 
Deus  é  apaixonado  pelo  ser  amado!  O império 
das  trevas  é  temporal,  infiel,  opressor  e 
traiçoeiro,  e  colherá  o  fruto  quem  seguir  esta 
influência;  todavia,  que  fique  bem  entendido: 
seu tempo está contado. 
 
O  ser  amado  foi  criado  para  ser 
cogovernante  com  o  Criador.  Soberanamente, 
Deus  decidiu  dar  livre­arbítrio  e  poder  de 
escolha  à sua obra­prima: o  ser  amado,  o único 
ser  criado  à  sua  imagem  e  semelhança;  esse 
poder  de escolha é  relevante  a todos  os valores 
do  reino  e o  ser  amado tem esse poder  desde  o 
momento  em que foi  criado, pois  a  natureza do 
amor  de  Deus  é  que  o  amor pode  ser  recebido 
ou  rejeitado.  Dessa  forma,  o  domínio  do 
ser  amado  na  Terra  seria  de  justiça,  paz  e 
alegria  no  Espírito  Santo.  Mas  o adversário do 
ser  amado  desejou  subjugá­lo  a  seu  império  e 
induziu  o  ser  amado  a  rejeitar  o  Criador  e  seu 
governo  ­  princípios,  valores,  leis  e  normas 
pelos  quais  e  para  os  quais  o  ser  amado  foi 
criado. Essa  decisão  do ser amado mudou o seu 
curso  de  vida  para  sempre,  ele  sabia  que  teria 
consequências,  pois  liberou  o  adversário  a  agir 
em  sua vida e agir na Terra de uma forma que o 
Criador  não queria. Ao rejeitar o reino de Deus, 
o  cogovernante  submeteu  toda  a  criação  ao 
poder  tirano  do  adversário  usurpador  (que  é 
destituído  de  amor,  justiça,  paz  e  alegria  que 
procedem  do  Criador)  e  este  iniciou  um 
processo de roubo, morte e destruição na Terra. 
 
O  adversário  rejeitou  o  governo  de  paz 
muito  antes  do  ser  amado.  Ele  se  corrompeu, 
perdeu  o amor  que  sustentava seu ser,  e perdeu 
toda  a  noção  de  beleza,  glória  e  paz  com  que 
foi  criado  e  que  ele  conhecia  na  presença  do 
seu  Criador.  Sua  inimizade com Deus o afastou 
e  ele  passou  a  conhecer  tudo  o  que  existe  na 
ausência de Deus. 
 
O  adversário  foi  a  criatura  mais  bela,  ele 
carregava  a  luz  e  tinha o  lugar mais próximo  a 
Deus  no  cenário  celestial.  Ele  rejeitou  o 
governo  de  Deus  e  eu  o  vi  cair  como  um 
relâmpago; desde então, ele se corrompe de mal 
a pior,  pois se  afastou  do amor  e  do  perdão, da 
alegria,  da  justiça,  da  luz,  da  misericórdia,  da 
paz,  da vida e de muito mais, quando se afastou 
de  Deus;  destituído  da  presença  renovadora  de 
Deus,  ele  se  corrompia  a  cada  instante  que 
passava,  e  sua  existência  foi  tomada  por 
desespero, destruição, morte, roubo e tristeza. 
 
Ele  é  o  maioral  de todos  que  rejeitaram o 
governo de  paz  e,  por  isso, se tornou o príncipe 
das  trevas,  exercendo  autoridade  temporária 
sobre  todos  que  se  afastam  de  Deus.  Ele 
usurpou  o  poder  e  iniciou  sua  tirania,  sua 
influência  induziu  o  ser  enganado  a  cometer 
vergonha  que  contaminou  a  vida do  ser  amado 
por completo. 
 
Contudo,  seu  domínio  é temporário e  seu 
tempo está contado! 
 
Eu  sou  o  Cordeiro  que  tira  o  pecado  do 
mundo,  crucificado  desde  a  fundação  do 
mundo;  porém,  também  sou  o  Rei  dos  reis  que 
veio  nos  tempos  de  Mateus  para  executar  o 
passo crucial da  causa, esse passo deu início ao 
fim  do  império  das  trevas.  Desde  então,  meu 
reino  avança  e  influencia  todos  os  reinos  e 
governos  do  mundo,  através  do  caminho  feito 
de  “pedras  vivas”  que  creram  na  palavra  dos 
reunidos  na  hora  em  que  o  rio  de  Deus  foi 
derramado  do  trono  sobre  a  Terra;  estes,  os 
batizados  na  cruz,  deram  suas  vidas  pela 
palavra  em  que  creram.  Comecei  com  12 
seguidores  e hoje,  tu, Timóteo, estás dentro dos 
seguidores  que  somam  mais  que  um  bilhão 
entre  os  vivos  e  os  que  já  estão  na  presença 
eterna  de  glória,  majestade  e  poder;  tua  vida 
está  guardada  diante  do  trono,  e  cresce  a 
família  de  Deus  que  acredita  em  mim,  de 
geração  em  geração,  de  povo  em  povo  e  de 
nação  em  nação.  Fiz  o  sacrifício  primacial 
quando  morri  na  cruz  da  caveira;  e,  por  dois 
milênios,  meus  seguidores  fazem  a  oferta  de 
holocausto  de  heranças,  oferecem  o  sacrifício 
de  separação  e  derramam  seu  sangue  em  terra 
alheia;  como  eu,  abrem  mão  da  glória  de 
homens  para  seguirem  a  vocação  sublime  da 
causa;  eles  vencem  exércitos,  suportam 
ignomínia,  sobrevivem  à  adversidade  do 
gemido  de  toda  a  criação  e fazem  o impossível 
com quase  nada,  frutificando em atos de justiça 
e  estabelecendo  a  verdade,  vencendo  o  mal, 
testemunhando­me  perante  os  enganados  e 
levando  a  vitória  da  cruz  até  os  confins  da 
Terra. 
 
Cordeiro parou  de  falar  e fechou  os  olhos 
neste momento.  Ele  tinha um ar de admiração e 
de  apreciação  tão  grande  por  esses  de  quem 
falava. Acho que ele sabe o nome de cada um. 
 
Eu não ousava falar, e ficamos  assim 
durante alguns instantes. 
 
Repentinamente,  lembrei­me do  meu  avô, 
Giovanni  Rios;  ele  foi a  primeira  pessoa que vi 
ler  o  livro,  e  eu  o  conhecia  como  um  homem 
justo  e  muito,  muito  amoroso.  Morávamos  a 
três  casas  da  dele  e  dois  tios  moravam  entre 
nós.  Num  dia  de  visita  à  casa  dele,  uma  das 
minhas  primas,  Teresa  (dez  anos  mais  velha 
que  eu),  apelidou  nosso  avô  quando  ainda 
estava  aprendendo  a  falar;  ela ouviu  nossa avó 
chamar  bem  alto  “Giovanni  Rios”  e,  como 
muitas  crianças, ela não conseguiu falar o nome 
todo,  mas  ficou  repetindo  “Vô  Vani”.  Então, 
acabou  apelidando  o  nosso  avô  Giovanni  para 
todos  os  netos,  e  acabei  conhecendo­o  como 
“Vô Vani”. 
 
Eu  ia  para  casa  dele  no final  do dia,  pois 
gostava  de  tomar  café  da  tarde  ouvindo  suas 
histórias.  Ele  mesmo  preparava  a  mesa  para 
nós,  eu  sabia  a  hora  que  ele  estava  aprontando 
tudo porque  ele  passava  na  frente do  campo  de 
futebol  da  rua  para  buscar  nosso  pão,  e  eu  o 
esperava  passar  de  volta.  Eu  costumava  estar 
jogando quando ele  passava  e,  nesse  momento, 
eu  jogava  melhor  porque  eu  sabia  que  ele 
parava  para  me  ver  jogar  na  volta;  eu  queria 
marcar  gols  naquela  hora  em  que  ele  estava 
assistindo.  Daí,  as  mães  começavam  a  chamar 
e,  um  por  um,  os  grandes  jogadores  saíam  do 
campo  para  atender  à  rotina  familiar;  e  eu?  Ia 
tomar  o  meu  café  da  tarde  com  Vô  Vani. 
Quando  eu  chegava,  ele  sempre  estava  na 
poltrona  da  sala  lendo  o  livro;  ele  me 
cumprimentava  e  pedia  para  eu  sentar  na 
cadeira  do  lado, enquanto  ele  terminava  de  ler; 
comigo  ao  lado,  ele lia  o restante da  leitura  em 
voz  alta.  Ele  tinha  um  grande  respeito  por  esse 
livro... Amo meu vô. 
 
Cordeiro,  sorrindo  e  secando  as  lágrimas 
do rosto, falou: 
 
• Timóteo,  quero  abrir  meu  coração 
contigo. 
 
Ele  olhou  no  fundo  dos  meus  olhos  com 
um  amor  tão  grande  que  comecei  a  chorar 
comovido. 
 
• Tudo  que  fiz,  fiz  pela  causa,  ela  é  a 
mais  nobre  de  todas:  amar  a  Deus  acima  de 
todas  as  coisas. Tudo  procede  disso,  pois  Deus 
é  amor;  ama­se  a  Deus  porque,  ele  mesmo, é  o 
amor  e  amou  primeiro;  ama­se  ao  próximo 
porque  o  ser  amado  foi  criado  à  imagem  e 
semelhança de Deus. Quem descobre o amor de 
Deus  sabe  que  não  merece  segunda  chance; 
contudo  Deus  ­  que  é  o  promotor  da  causa  ­ 
ama  como  ninguém;  eu  vim  fazer  a 
reconciliação  por  causa  do  seu  amor  pelo  ser 
amado; por amor a Deus, eu vim restaurar todas 
as  coisas que a  rebelião  estragou.  ...Tu vieste  a 
mim  pelo  caminho  do  coração  quebrantado,  tu 
vives  os  “últimos  dos  últimos”  dias...  Procuro 
por  aqueles  que  querem  se  alistar  na  causa 
desde  os  primeiros  dias;  pessoas  em  quem  o 
amor  a  Deus  foi  restaurado,  e  onde  foi  gerado 
um  senso  de  abandono  dessa  vida  pelo  reino 
que  vim  estabelecer  para  o  ser amado; pessoas 
que  sentem  que  o  amor  lhes  devolveu  a  razão 
de  viver,  e  que  querem  levar a causa adiante na 
sua  geração  aonde  forem,  custe  o  que  custar; 
pessoas  que  amam  a  Deus  mais  do  que  ao 
mundo  contaminado  pela  rebelião,  e  que  estão 
dispostas  a  viverem  em  prol  da  causa; pessoas 
inclinadas  a  cumprirem  a vontade do Pai  como 
eu  fiz,  prontas  a  fazerem  sacrifícios  como  fiz 
pela  causa.  Meus  seguidores  compartilham  a 
ciência  revelada  para  abençoar  gerações, 
retificam  injustiças  da  sociedade  e  levam  a 
causa  aos  confins  da  Terra  até  hoje;  eles 
demonstram  o  amor  do  Pai  aos  mais  cruéis  e 
aos  abandonados  do  mundo,  aos  esmagados 
pelo sistema da  maldade.  Milhões  e milhões de 
pessoas  já  fizeram  isso  desde  o  dia  em  que  o 
“rio  de  Deus”  foi  derramado  sobre  os  meus 
discípulos;  suas  histórias  estão  registradas  no 
meu coração. 
 
Eles  são  membros  da  minha  família:  a 
família  sacerdotal  de  Melquisedeque.  O 
sacerdócio  é o  meio  pelo  qual a reconciliação e 
a  redenção  de todas  as coisas  serão  feitas,  para 
que haja transformação. 
 
Cordeiro  acabou  de  descrever  meus 
sentimentos  e  aspirações,  e  eu  não  parava  de 
chorar:  eu não merecia a bondade nem o perdão 
e,  muito  menos,  o  amor  que  ele me estendeu  e 
que  ainda  me dá! Meu amor  por  Deus  cresce  a 
cada  dia  e,  por  causa  disso,  meu  crescente 
sentimento  e  desejo  é  de  servi­lo;  eu  queria 
saber  se  havia  algo  que  eu  pudesse  fazer  para 
contribuir  para  a  causa,  eu  queria  me  alistar já 
há muitos dias. 
 
• Cordeiro,  não  conheço  essas  pessoas 
que  foram  teus  discípulos,  não  sei  se  tiveram 
que  passar  por  um  teste  ou  se  qualificar  de 
alguma  forma; não sei se foi uma coisa vitalícia 
ou  se  o  serviram  por  um  tempo.  Só  sei  que, 
quando  ouço  tua  palavra,  cresce  o  desejo  de 
estar  mais,  muito  mais  ao  teu  lado;  e  cresce 
uma  curiosidade  de  aprendiz  em  mim:  quero 
aprender  a  ser  como  o  Senhor  e  fazer  o  que 
ensinaste  aos  discípulos.  Sei  que  minha  vida 
não  vale  nada se  eu  não  puder servir a ti assim, 
parece  que  meu  coração  já  não  deseja  mais  as 
coisas  deste  mundo.  O  Senhor  redimiu a minha 
vida  com  a  tua,  e  quero  te  servir;  no  meu 
coração,  sei  que  devo  tudo  isso  a  ti  ­  não  para 
compensar,  porque  sei  que  não  há  recompensa 
pelo  o  que  o  Senhor  fez  (e  o  Senhor  nem  me 
pediu  isso).  Mas  nesse  momento, a  única  coisa 
racional  que  sei  é  que  tenho  que  te  servir  por 
causa do que o Senhor fez por mim... E agora, o 
Senhor  fala  da  causa  para mim:  eu quero  fazer 
parte dela e te honrar com a minha vida! 
 
Cordeiro  me  fitava  com  aquele  olhar 
penetrante.  Eu  sabia  que  ele  estava  levando 
muito  a  sério  esse  momento  pois,  de  alguma 
forma,  o  que  ele  fez  como  Cordeiro  de  Deus, 
fez para isso. Ele sorriu e falou: 
 
• Timóteo,  fico  emocionado  com  tua 
entrega.  Vejo  que  o  meu  penoso  trabalho  não 
foi  em  vão.  O  trabalho  dessa  geração  em  prol 
da  causa é grande,  pois  há  muito o  que se pode 
fazer;  assim  como  o  Pai  tinha  uma  vocação 
sublime  para  mim,  ele  tem  para  todos  os  seus 
filhos,  e  todos  podem  seguir  o  meu  exemplo, 
pois  sou  o primogênito entre muitos irmãos. Eu 
Sou  o  Caminho:  neguei  a  mim  mesmo  pela 
causa;  eu sabia que teria que morrer crucificado 
quando  o  Pai  pediu  para  que  eu  fosse  fazer  a 
reconciliação;  mas  me  prontifiquei  por  amor  a 
ele;  tomei  a  cruz  que  redime  a todos que creem 
em  mim,  que  os  reconcilia  com  o  Pai,  e  que 
restaura  a  causa  na  vida  de  todo  ser  amado. 
Para  Mateus  e  seus  colegas  falei  que,  para  ser 
meu  discípulo,  tem  que  negar  a  si  mesmo, 
tomar  a  cruz  e  me  seguir.  Timóteo,  tu  és 
precioso  e  o  Pai  te  ama  muito;  ele  tem  uma 
vocação  sublime para ti pela qual vais servir na 
causa. Segue­me. 
 
Fechei  meus  olhos  e  pensei  que  a  minha 
vida  nunca  mais  seria  a  mesma  a  partir  desse 
dia.  Eu  queria  conhecê­lo  melhor;  queria 
descobrir  a  minha  vocação  sublime  e  me 
preparar  para  cumpri­la  com  todas  as  minhas 
forças: quero que seu reino venha... 
 
E abri os olhos para saber que eu estava 
“só”. 
 
 
O Presente 

P​
assei  no  Vô  ​
Vani  no caminho  de casa. 
Ele  ​
estava  sentado,  como  se  esperasse  na 
varanda,  quando  cheguei  lá; ele  estava muito 
alegre, e se levantou para cumprimentar​ ­​
me: 
 
­  Que  bom  que  você  passou  aqui  hoje, 
Timóteo.  Eu  estava  com  saudades  de  você  e 
lembrando  da  época  em  que  você  tomava  café 
da  tarde  comigo.  Entra,  que  preparei  uma 
coisinha  para  nós.  Ele  pegou  o  livro  da 
mesinha,  ao  lado  da  cadeira  de  balanço. 
Entramos  e  vi a  mesa  preparada,  como  se  ele 
me  esperasse  ​ mesmo,  com  tudo  o  que 
comíamos  quando  eu era menor: café com leite, 
bolinho  de  chocolate,  doce de  leite  e goiabada, 
pão, queijo branco, tudo. 
 
Agradecemos  a  Deus  como  era  de 
costume,  mas  algo estava  diferente dessa vez e, 
de  repente,  tudo  fez  sentido  para  mim:  a  vida 
do meu vô, todo o amor dele, a mesa posta... 
 
• Tá  com  fome, meu filho? Come, come 
tudo  o  que  você  quiser  ...Timóteo,  ando 
observando  você  quando  passa  na  frente  de 
casa:  acabou aquele  ar  de frustração.  Seu  olhar 
mudou,  vejo  algo  diferente  nos  seus  olhos.  O 
que está acontecendo, meu neto? 
 
Como ele sabia o que se passava comigo? 
 
• Bom,  Vô...  Está  acontecendo  algo 
comigo  realmente.  Conheci  um  homem 
chamado  Cordeiro  —  Vô  Vani  tomou  um 
fôlego  bem  grande e sorriu para mim. — já tive 
alguns  encontros  com  ele,  e  é  por  causa  dele 
que estou mudando... 
 
Vô,  quero  lhe  pedir  perdão  pela  vez  que 
quebrei  o  vaso  da  Vó,  menti  dizendo  que  foi 
meu irmão  naquela  época, mas fui eu e não ele; 
já  menti  muito  para  o  senhor:  na  maioria  das 
vezes  que  passei aqui e  o  senhor  me  perguntou 
onde  eu  estava,  menti  dizendo  que  tinha  ido 
jogar  bola  em  outro  campo,  mas  a  verdade  é 
que  eu  estava fumando  droga ou  fazendo o que 
eu  não  devia  com  meninas;  tive  vergonha  de 
falar  a  verdade  e  resolvi  mentir.  O  senhor  me 
perdoa? 
 
Eu  não  sabia  que  isso  podia  acontecer, 
mas  meu  vô  parecia  com  Cordeiro!  Ele  olhou 
para mim com o mesmo olhar e disse: 
 
• Eu lhe perdoo, filho, lhe perdoo. 
 
Ele  estendeu  a  mão  e  afagou  minha 
cabeça.  Eu  estava  chorando  um  pouco,  então 
ele esperou e disse “fala mais, meu filho”. 
 
• Vô,  esse  homem  é  diferente  de  todos 
que  já  conheci:  ele  me  perdoou  de  todos  os 
meus  pecados  e  está  me  mudando  por  dentro; 
não  quero  mais  cometer  as  vergonhas  que 
cometi.  E  mais:  tem  uma  voz  dentro  de  mim, 
como  se  fosse  o  Cordeiro  mesmo,  falando 
comigo  o  tempo  todo;  também  ando  sonhando 
umas coisas que não entendo ainda, mas sei que 
é  por  causa  dele.  Acabei  de  ter  uma  conversa 
com ele, e me alistei na sua causa. 
 
Vô  Vani  começou  a  chorar  e  eu  fiquei 
preocupado,  pois  ele  poderia  ter  um  ataque ou 
algo  desse  tipo;  mas  ele  gesticulava  para  eu 
continuar. 
 
• Vô,  sei que eu  não  sou  perfeito  mas  o 
Cordeiro  me  quer;  ele  falou  para  eu  segui­lo 
que  ele  vai  me ajudar,  e  é tudo  o que eu quero! 
Mas... Vô, por que o senhor está chorando? 
 
Então, Vô Vani falou: 
 
• Timóteo,  essa  é  a  melhor  notícia  que 
ouvi  este  ano!  Oro  por  todos  os  meus  netos 
todos  os  dias,  para  que  vocês  venham  a 
conhecer  o  Cordeiro  e  se  alistem  na  causa. 
Conheci  o  Cordeiro  quando  eu  tinha  19  anos; 
eu  era  terrível  e,  no  dia  em  que  o  conheci,  foi 
como  se  alguém  tivesse  tirado  uma  venda  dos 
meus olhos:  num dia eu não sentia vergonha do 
que  eu  fazia,  e  no  outro eu soluçava e gemia de 
vergonha  na presença  do Cordeiro, por tudo de 
ruim  que  eu  tinha  feito;  ele  também  me 
perdoou  e  tirou  o  peso  que  eu  carregava  por 
causa  das  vergonhas  que  cometia.  Daí,  me 
alistei  na  causa,  e  foi  quando  conheci  a  sua 
saudosa  Vó Linda; ela já conhecia Cordeiro, e a 
nossa  caminhada  com  ele  foi  bela  e  ainda  é 
para mim.  Hoje estou  vendo algo que a sua avó 
ansiava ver! 
 
Meu  coração  explodia  de  amor  por  meus 
avós!  Eu  tinha  acabado  de  descobrir  como são 
importantes  em  minha  vida,  mas  minha  avó 
tinha  falecido  havia  uns  três  meses.  Meu  avô 
olhou para a mesa onde estava o livro e disse: 
 
• Timóteo,  por  favor,  pegue  o  livro  na 
mesa  pra  mim.  —  peguei  pensando  que  ele  ia 
ler,  todos  nós  conhecíamos  o  amor  que  Vô 
Vani  tinha  pelo  livro.  Antes  da  vó  falecer,  ele 
sempre  lia  algo  quando  a  família  se  reunia aos 
domingos para almoçar. 
 
• Timóteo,  agora  o  livro  é  seu;  tenho 
outros,  mas  separei  esse  para  você.  Timóteo, 
todas  as  vezes  que  você  o  ler,  vai ser  como  se 
você  ouvisse  Cordeiro  lendo para você;  ele  é  a 
palavra  viva,  lembra?  Ele  já  falou  muito 
comigo pelo livro e agora vai falar com você. 
 
Eu  chorava  de  alegria  ao  receber  o  livro 
do  meu  vô!  Abri,  e havia algo escrito para mim 
na contracapa: 
 
“Vale  a  pena  seguir  o  caminho  apontado 
pelos  testemunhos  de  homens  e  mulheres  que 
experimentaram  Deus,  foram  mudados  e  se 
alistaram  na  causa.  Pois  suas  vidas  foram 
deixadas  como  sinais  que  indicam  esse 
caminho para as futuras gerações. 
 
A sua vida também será assim, Timóteo.  
 
Prepare o caminho do Senhor com a sua 
vida. Amo você,” 
 
Giovanni Rios – Vô Vani 
Levantei­me  e  o  abracei  com todo o  meu 
amor  e  carinho. Ficamos  ali,  calados  e quietos, 
desfrutando  do  amor  que  Cordeiro  nos 
proporcionou. 
 
Timóteo, quero orar com você: 
 
“Pai nosso  que  estás  nos  céus, santificado seja 
o  teu  nome;  venha  o  teu  reino,  seja  feita  a tua 
vontade,  assim  na  terra  como  no  céu;  o  pão 
nosso  de  cada  dia  nos  dá  hoje;  perdoa  as 
nossas  dívidas,  assim  como  perdoamos  aos 
nossos  devedores;  e  não  nos  deixes  cair  em 
tentação,  mas  livra­nos  do  mal.  Pois  teu  é  o 
reino, o poder e a glória para sempre. Amém”. 
 
E eu disse “amém”. 
 
...Nem  tínhamos  tocado  na  comida.  Meu 
vô gesticulou para eu me servir, mas ele mesmo 
acabou  pegando  tudo  e  dando  para  mim. 
Passamos  as  próximas  duas  horas  comendo  e 
conversando,  ele  me  contou  muito  da  sua 
história  com  o  Cordeiro  e  eu  não  cansava  de 
ouvir. 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
A Primeira Vez 

F​
ui  para  ​
casa  com  uma  única  coisa  em 
minha  cabeça:  eu  queria  ler  o  livro,  e  queria 
entender  o  amor  que  meu  avô tinha  por ele. 
Quando  cheguei  em  casa,  meus  ​ pais  estavam 
ansiosos  me  esperando....Ai,  ai,  ai,  esqueci  de 
ligar para avisar onde eu estava. 
 
● Pai,  mãe,  esqueci  de  ligar;  me 
perdoem,  por  favor. Passei na casa do Vô Vani, 
foi super legal: ele meu deu o livro dele! 
 
Eles  olharam  surpresos  para  mim,  fazia 
um  tempo  que  eu não tinha  passado  na casa do 
meu  avô.  Eu  era  casca  grossa  e  muitas  vezes 
tínhamos discutido devido às minhas falhas. 
 
• Tudo bem — disse minha mãe. 
 
Neste  momento,  me  veio  uma  vontade 
enorme  de  abraçar  meus  pais  como  nunca 
antes, e o fiz. 
 
• Amo  vocês.  Vou  para  meu  quarto  ler 
um pouco, ok? 
 
Deixei  meus pais atônitos; pensando bem, 
agora  entendo  o  quanto  eles  me  amavam  e 
toleravam  minhas  atitudes  infantis  enquanto eu 
fazia tudo de errado com a minha vida. 
 
Sentei  na  minha  escrivaninha  para  ler. 
Abrindo  o  livro,  comecei  a  folheá­lo  pela 
primeira  vez:  Gênesis,  Êxodo,  Levítico, 
Números,  Deuteronômio,  (“nomes  esquisitos”, 
pensei),  Salmos,  Isaías,  Jeremias,  Miquéias, 
Mateus... 
 
“Mateus!”  Eu  disse  em  voz  alta;  abri, 
comecei  a  ler,  e  li  tudo  até  o  sexto  capítulo. 
Fiquei  sem  palavras:  meu  sonho  contou  algo 
real,  pois  li  as  palavras  que  o Cordeiro  falou  e 
Mateus  acompanhou,  até  a  oração  que  ele 
ensinou  à  multidão,  que  era  a  mesma  que  Vô 
Vani  fez  comigo!  Fechei o  livro  e me  preparei 
para dormir. 
 
Uma vez deitado,  comecei a  refletir sobre 
meu dia.  “Que  dia! E  quanta coisa  para  um  dia 
só: Cordeiro, vô e o livro, meus pais”. 
 
E assim, adormeci... 
 
...Eles  estavam  esperando  por  mim. 
Mateus  estava  entre  eles,  mas  eu  não  conhecia 
os  outros.  Então,  ele  me  chamou  para  mais 
perto: 
 
• Timóteo,  quero  apresentar­lhe  alguns 
colegas: João e Pedro; o Mestre os chamou para 
estarem com ele também. 
 
Cumprimentamo­nos  e  senti  como  se  eu 
estivesse  junto  a  Cordeiro,  pois  o  ar  era 
carregado  daquela  presença  e  eu  sentia  um 
cheiro  doce.  Esse  negócio  de  ser  discípulo  de 
Jesus  fez  com  que  algo  dele  estivesse  sobre 
estes três homens. 
 
João começou a conversa: 
 
• Shalom,  Timóteo.  Gostei  do  seu 
nome... Você faz parte da família? 
 
• Que família? — perguntei. 
 
• A família da ordem. 
 
• Que ordem? 
 
Eles olharam entre si e sorriram. Confesso 
que  me  senti  um  tanto perdido naquela hora: “a 
família da ordem”? 
 
• Nós  somos  da  família  que  o  Mestre 
está  gerando  da  ordem  sacerdotal  de 
Melquisedeque,  todos  os  discípulos  são.  Você 
já  esteve  com  o  Mestre  pessoalmente?  — João 
disse. 
 
• Sim,  tive  um  encontro  com  ele  que 
mudou  minha  vida.  Não  sou  mais  a  mesma 
pessoa depois de conhecê­lo. 
 
Os  três  olharem  entre  si  e  sorriram.  João 
continuou: 
 
• Você tem convicção que é um filho de 
Deus? 
 
• Como  nunca  na  minha  vida  — 
respondi. 
 
• Você  se  lembra  dessa  experiência?  O 
Mestre  nos  ensinou  que,  naquele  momento, 
nascemos de novo e algo sobrenatural acontece: 
o  Espírito  de  vida  e  de  verdade  que  está  nele 
faz nosso espírito ressuscitar; estávamos mortos 
por  causa  das  nossas  vergonhas,  mas  o 
Fôlego  de  vida  nos  fez  nascer  de  novo.  E ele 
habita em nós. 
 
O Mestre nos escolheu para estarmos com 
ele  e  aprendermos  a  natureza  e  a  cultura  da 
família  com  ele.  Já  multiplicamos  nosso 
número  na  semana  passada,  quando  se 
acrescentaram  mais setenta aos doze discípulos. 
Agora  ele  está  nos  enviando  para  prepararmos 
o caminho para ele nas cidades aonde irá. Ele já 
nos  falou  que  só  precisamos  falar  e  fazer  a 
mesma coisa que vimos ele fazer. 
 
...Escuta,  Mateus  já  fez  com  você  aquela 
brincadeira  que  ele  gosta  de  fazer  com  os 
outros, repetindo tudo o que o Mestre fala? 
 
Olhei para Mateus e dei risada. 
 
• Sim, por quê? 
 
• Porque  todos  nós  podemos  fazer 
aquilo,  Mateus  é  que  gosta  de  se  exibir! 
[risadas]  É  como ele  lhe  falou: o  Mestre  diz  as 
mesmas  coisas,  de  multidão  em  multidão,  de 
cidade  em  cidade,  ensinando  sobre  o  reino  de 
Deus  e  demonstrando  seu  poder;  depois  de 
ouvirmos  tantas  vezes,  suas  palavras  penetram 
e ficam para sempre em nós — disse João. 
 
E Pedro acrescentou: 
 
• Somos  pedras  vivas  e edificamos uma 
casa  espiritual  para  a  habitação  de  Deus  na 
Terra;  os  levitas  e  o  povo  de  Israel  eram  os 
únicos  sacerdotes  até  então,  mas  o  Mestre  está 
começando  agora  um  novo  sacerdócio  com 
quem  crê  nele  ­  gente  simples  como  nós:  o 
novo  sacerdócio  da  ordem  de  Melquisedeque. 
Ele  está  nos  ensinando  a  oferecer  sacrifícios 
espirituais  agradáveis  a  Deus,  e  também  nos 
deu  autoridade  e  poder  para  fazermos  as 
mesmas  coisas  que  ele  faz:  adoramos,  oramos, 
curamos  enfermos  e  expulsamos  demônios 
como  ele  faz,  pregamos  a  mesma  mensagem 
que  ele  prega;  e  ele  cobra  de  nós!  Temos  o 
privilégio de proclamar as virtudes de Deus. 
 
Ao que João completou: 
 
• É por essas  e  outras  que  o  Mestre está 
sempre  em  atrito com os  líderes dos levitas, ele 
nos  ensina  de  uma  forma  diferente  e  com 
autoridade;  o  impacto  dele  em  cada  lugar  é 
tremendo  e  eles  têm  ciúmes  disso.  Os  líderes 
dos  levitas  trazem  tudo  para si e para Israel; ele 
não,  ele  abraça  a  todos;  ele  nos  explicou  que 
esse  evangelho  é  para  chegar  a  toda  a 
humanidade  até  os  confins  da Terra,  a  todas as 
pessoas  que  chamamos  de  gentios;  por 
enquanto,  temos  que  evangelizar  somente  as 
ovelhas  de  Israel,  mas  já  vimos  como  ele ama 
aos  gentios  ­  ele  curou a  filha do centurião. Ele 
nos  disse  que  Deus  amou  o  mundo  de  tal 
maneira  que  enviou  seu  Filho,  para  que  todo 
aquele  que  nele  crê  não  pereça,  mas  tenha  a 
vida eterna;  ele  ama  a todos, não apenas Israel. 
Ele  tem  nos  ensinado  isso  e  leva  isso  a  sério. 
Ele  ensinou  algo  muito  forte  dias  atrás,  alguns 
discípulos  discutiram  e  acabaram deixando­o, e 
ele nem foi atrás; fiquei com muito temor. 
 
E então, Pedro disse: 
 
• Ele  perguntou  se  nós  queríamos  nos 
retirar  também;  então  eu disse “Mestre, a quem 
poderíamos  seguir?  Só  o  Senhor  tem  as 
palavras da vida eterna”. Timóteo, sabemos que 
Jesus é  o Cristo, o filho do Deus vivo. Daremos 
as  nossas  vidas  para  ele  e  o  seu  reino  se 
estabelecer  na  Terra.  Ele  vai  reinar sobre  todas 
as  nações  e  toda  a  Terra, e  eu quero  estar com 
ele. 
 
• Já  falamos  muito,  e  você  parece  ser 
um  rapaz  muito  inteligente;  o  que  você  pensa 
de tudo isso? — João referiu­se a mim. 
 
Me  surpreendi  com  a  pergunta  e,  por um 
momento,  fiquei  calado  refletindo.  No 
momento  em  que  eu  ia  falar,  chegaram  dois 
homens  conhecidos  de  João  e  Pedro.  Eles  se 
abraçaram,  mas  João  segurou  um  deles  para 
provocá­lo,  e  instalou­se  uma  competição entre 
eles.  Pedro,  maior  e  mais  forte,  os  apartou  e 
disse: 
 
• Timóteo,  este  é  André,  meu  irmão,  e 
este  é  Tiago,  irmão  de  João.  Não  se  assuste, 
eles  sempre  lutam  um com  o  outro,  e com todo 
mundo assim. 
 
• Shalom,  Timóteo.  Você  é  da  família? 
— André perguntou. 
 
Sorri para ele como se dissesse sim. 
 
• É,  eu  percebi  que  você  está 
começando a ter os olhos do Mestre. Legal! 
 
Então, se dirigiu ao seu irmão: 
 
• Pedro,  como  você  está  depois  da 
bronca? 
 
E então, Pedro falou: 
 
• Maninho, minha cabeça está “girando” 
até  agora...  Chamou  a  gente  de  “geração 
incrédula  e  perversa”...  Doeu,  mas  ele  tem 
razão:  a  gente  não estava jejuando e  o  Espírito 
da  verdade  tinha  falado  comigo  sobre  isso 
antes. 
 
• Comigo  também.  Deve  ter  alguma 
coisa  que  não  estamos  entendendo  e  que  o 
Mestre vai nos ensinar — André concordou. 
 
Enquanto  Pedro e André falavam comigo, 
João  e  Tiago  voltaram  a  lutar.  Quando  olhei 
para  eles,  só  vi  o  golpe  de  Tiago  prestes  a me 
atingir... 
 
...  Acordei  em  minha  cama  num  pulo  e 
assustado  com  o  alarme  que  disparou.  Estava 
na hora de levantar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
A Sabedoria do Vô 

A​
o acordar, ​
fiquei com muita vontade de 
saber  se  o  que  eu  tinha  sonhado  correspondia 
com o livro. Procurei os ​ nomes e as histórias de 
Pedro, João, André  e Tiago, e  bateram  (até dos 
irmãos  que  competiam!).  A  essa  altura  da 
pesquisa,  lembrei  do  meu  compromisso  com 
meu  avô:  hora  do  almoço.  Fui  correndo para a 
casa  dele  e,  dessa  vez,  eu  tinha  um  monte  de 
perguntas para fazer. 
 
Ele estava na varanda lendo o livro quando 
subi os degraus da rua para sua casa. 
 
Essa  casa  me  trazia  muitas  lembranças 
boas:  Vó  Linda  –  nome  que  ele  deu  para  a 
nossa  avó,  que  ele  dizia  não  haver  outra  mais 
linda que ela – sempre fazia bolos de chocolate, 
de  fubá,  de goiaba  e de  milho (dá água na boca 
só  de  lembrar!);  lembro  que  ficávamos 
brincando  enquanto os adultos conversavam, às 
vezes,  meu  pai  e  seus  irmãos  se  exaltavam 
quando  conversavam  sobre  infância  (parecia 
até  que  estavam  brigando),  mas  era  só  a 
animação  deles;  brincávamos  numa  gangorra 
que  meu  vô  fez  para  nós  na  frente  da  casa  e 
jogávamos  bola  nas  pequenas  traves  que  ele 
confeccionou;  lembro  o  amor  que  eu  e  meus 
primos  sentíamos  ao  entrar  nessa casa todas  as 
vezes  que  nos  reuníamos para feriados  como  o 
de  Páscoa  e  réveillon  ...Com  todas  as 
lembranças  boas,  nunca  entendi  porque 
paramos  de  frequentar  a  casa  do  Vô  Vani  há 
uns dez anos. 
 
• Oi, Vô! Tudo bem? 
 
Dei­lhe  um  abraço  bem  forte e beijei  seu 
rosto (amo meu Vô!). 
 
• Tudo bem, Tintim. E você? 
 
• Está tudo bem comigo, Vô. Tenho lido 
o livro  e estou gostando. Vô, acredita que andei 
sonhando  com  coisas  que  estão  escritas  nele 
antes de eu lê­las? 
 
• Acredito.  [risadas]  Porque este livro  é 
a  parte  escrita  da  palavra  viva  e  o  Espírito  da 
verdade  ensina  todas  as  coisas  que  Cordeiro 
ensinou, ele deve ter lhe ministrado em sonho. 
 
• O  Espírito  de  Deus  ministrando  a 
mim!  Uau!  Demais!  ...O  que  o  senhor  está 
lendo hoje? 
 
• Estou lendo Lucas 11: 
 
“E  aconteceu que,  estando ele  a orar num 
certo  lugar,  quando  acabou,  disse­lhe  um  dos 
seus  discípulos:  'Senhor,  ensina­nos  a  orar, 
como  também  João  ensinou  aos  seus 
discípulos.'  E  ele  lhes  disse:  'Quando  orardes, 
dizei:  Pai,  santificado  seja  o teu nome;  venha o 
teu  reino;  dá­nos  cada  dia  o  nosso  pão 
cotidiano;  e  perdoa­  nos  os  nossos  pecados, 
pois também nós perdoamos a qualquer que nos 
deve,  e  não  nos  conduzas  em  tentação,  mas 
livra­nos do mal'.” 
 
Como  gosto  desta  passagem  e  desta 
oração! Vamos almoçar. 
 
Entramos  em  casa  e  a  mesa  já  estava 
preparada,  pois  minha  tia  veio  fazer  o 
nosso  almoço:  feijoada  (como  gosto  da 
feijoada  da minha tia)! 
 
Vô Vani então falou: 
 
• Vamos  orar,  pois  estou  faminto! 
Senhor, somos gratos pela tua bondade dia após 
dia  em  nossas  vidas  e  gratos  por  tua 
providência,  gratos  pela  família  que  o  Senhor 
nos  deu.  Abençoe  esta  comida  e  a  nossa 
comunhão,  em  nome  de  Jesus.  “Pai  nosso  que 
estás  nos  céus,  santificado  seja  o  teu  nome; 
venha  o  teu  reino;  seja  feita  a  tua  vontade, 
assim  na  terra  como  no  céu;  o  pão  nosso  de 
cada  dia  nos  dá  hoje;  perdoa  as nossas dívidas, 
assim  como  nós  perdoamos  aos  nossos 
devedores;  e  não  nos  deixes  cair  em  tentação, 
mas  livra­nos  do  mal.  Pois  teu  é  o  reino,  o 
poder e a glória. Amém”. 
 
Eu disse em voz alta: 
 
• Amém! 
 
Nós  três  sorrimos  com  um  ar  de 
satisfação.  E  senti  sua  presença:  eu  não  o  via, 
mas  o  Cordeiro  estava  conosco  na  quarta 
cadeira.  Depois  de  todos  terem  se  servido, 
comemos e conversamos. 
 
• Vô, hoje  é  a segunda vez que o senhor 
faz  aquela  oração  que  Jesus  ensinou.  Por  quê? 
E por que o senhor fez aqui em casa? 
 
Vô  Vani  olhou  para  minha  tia  e  eles 
trocaram sorrisos. Então, pôs o garfo no prato e 
começou a explicar: 
 
• Esta  é a  oração  que  o  Mestre  ensinou. 
Ele  a  ensinou  muitas  vezes  para  as  multidões, 
quando  ele  falava sobre  o reino  de Deus, como 
se  dissesse  “se  quiserem  o meu  reino,  têm  que 
orar,  e  ao  orar, orem assim”; o fato dele ensinar 
essa  oração  em  todos  os  lugares  a  que  ele  ia, 
nos  mostra  a  importância que ela  possui;  e tem 
mais, quero mesmo o reino de Deus. 
 
Tenho  75  anos  e,  durante  esses  anos, 
tenho  acompanhado  muitos  avanços 
tecnológicos  em  pouco  tempo  e  também  essa 
tal  de  globalização:  vi  os  carros  clássicos, 
assisti  os  primeiros  televisores,  vi  nascer  o 
computador  e  estou  aqui  para  ver  os 
smartphones.  Talvez  a  maldade  não  seja  maior 
hoje,  mas  é  descarada!  O  império  das  trevas 
espalhou­se por toda a Terra e está promovendo 
sua  agenda  de roubo,  morte e  destruição com  a 
maior  falta  de  vergonha.  O  Mestre  ensinou  no 
livro que seria assim nos últimos dias. 
 
Timóteo,  podemos  estar  vivendo  os 
últimos  dias  e,  por  isso,  quero  expressar  o 
quanto quero que “venha o reino”. 
 
Há  56  anos  que  ando  com  o  Mestre  e 
conheço  a  vida  da  “família”.  Lembro  que, 
quando  eu  tinha  a  sua  idade,  não  passava 
nenhuma  celebração  sem  que  fizéssemos  essa 
oração  com  muito  temor; você  pode  perguntar, 
poucas  pessoas fazem essa oração hoje; é raro e 
poucos  ensinam  sobre  isso.  Timóteo,  se  o 
Mestre  ­  que  é o Sumo Sacerdote da ordem que 
ora  ­  nos  ensina  a  fazer essa  oração e  nenhuma 
outra,  é porque ela é estratégica e importante. E 
creio  que  é  chegada  a  hora  da  família 
redescobrir essa oração. 
 
Acredito  que  faço  parte  da  família  de 
sacerdotes  que  o  Mestre  levantou,  que  sou 
como  Pedro,  Tiago  e  João,  e  que  o  Mestre 
confiou  o  avanço  do  seu  reino  a  mim  nessa 
geração;  creio  nele  por  causa  da  palavra  dos 
discípulos  que  ele enviou, antes de ele ascender 
e  se  sentar  à  direita  do  Pai;  e  creio  que  ele 
espera  que  eu  dê  continuação  a  tudo  o  que  ele 
ensinou a seus primeiros discípulos. Simples. 
 
Mateus  citou  o  Mestre:  ​
“E,  chegando­se 
Jesus,  falou­lhes,  dizendo:  É  me  dado  todo  o 
poder  no  céu  e  na  terra.  Portanto  ide, 
fazei  discípulos  de  todas  as  nações, 
batizando­os  em  nome  do  Pai,  e do  Filho e  do 
Espírito  Santo;  ensinando­os  a  guardar  todas 
as  coisas que eu  vos  tenho mandado;  e eis  que 
eu  estou  convosco  todos  os  dias,  até  a 
consumação  dos  séculos.”  Amém.  (Mateus 
28:18­20) 
 
Timóteo,  este  seu  nome  significa  “aquele 
que  honra  a  Deus”;  sou  um  “Timóteo” também 
e quero  honrar  ao Mestre com a minha vida em 
cada palavra e  atitude (mesmo  sem  precisar ser 
um  pregador  famoso).  Tenho  feito  essa oração 
todos os  dias  pois,  no temor e tremor que tenho 
do  meu  resgate,  o  mínimo  que  posso  fazer  é 
seguir  ordens  tão  simples  como  “orareis 
assim”. 
 
Creio  que o  Mestre a ensinou como sendo 
a  oração  estratégica,  pois  foi  a  única  que 
ensinou  em  todos  os  lugares  em  que  esteve,  e 
ensinou a fazê­la com toda fé e sinceridade. 
 
Se  dependesse  de  mim,  tenho  certeza  de 
uma  coisa:  eu  não  poderia  fazer  uma  oração 
melhor do que a do Mestre! 
 
E  mais:  não  acredito  que  ele  ensinaria  a 
fazer uma  oração que Deus Pai não pretendesse 
atender.  O Mestre  ensinou  a orar  sobre  o que é 
mais  importante  quando  nos  ensinou  essa.  E 
tem  mais:  qual  é  o  sacerdote  que  não  adora  a 
seu Deus e que não intercede? 
 
Em  poucas  vezes  ouvi  o  meu  avô  falar 
com tanta autoridade, e eu sabia que o Cordeiro 
estava  conosco,  ouvindo  tudo.  Acabei  não 
comendo nada  por  ficar ouvindo meu avô falar, 
tampouco  ele comeu pois estava  ocupado a  me 
explicar  as  coisas;  ouvi  tudo  o  que  era 
necessário,  minha  cabeça  estava  cheia,  e  os 
nossos pratos também. 
 
• Vô  Vani,  gosto  demais  de  ouvir  o 
senhor  falar e estou aprendendo muito. Mas sua 
feijoada  está  esfriando,  vamos  comer?  Sei  o 
quanto  o senhor gosta de feijoada, depois posso 
fazer outras perguntas. 
 
Vô  Vani  olhou  para  mim  com  aprovação 
e, virando­se para minha tia, disse: 
 
• Essa  minha  filha  sabe  fazer  uma 
feijoada  deliciosa!  Acho  que  até  melhorou  a 
receita da mãe. 
 
Então, ela falou: 
 
• Aprendi  a  fazer  todas  as  receitas 
da mamãe com amor. 
 
Nossa  tarde  foi  muito  agradável,  demos 
muita risada nos lembrando de todos da família, 
e  comemos  bem.  Tendo  outro  compromisso, 
despedi­me  e  fui  para  casa  já  pensando  em 
voltar para passar mais tempo com meu avô. 
 
 
   
 
 
 

 
 
Preparai o Caminho 

V​
i  um  homem  ​
na  frente de  minha casa ​
e, 
ao  chegar  perto...  André,  o  do  meu  sonho?! 
Será  que  é  o  próprio  irmão  de  Pedro  na frente 
de minha casa? Como seria isso? 
 
Então, cheguei com muito medo. 
 
O homem olhou para mim e falou: 
 
­ É você, Timóteo? 
 
Respondi  que  sim com  timidez. Então  ele 
falou: 
 
• Ufa!  Eu  estava  lá  com  o  Mestre  e  ele 
pediu  que eu lhe explicasse algo; eu disse “ok”, 
mas  eu  não  sabia  que  você  vivia  no  futuro! 
Estou  mais  perdido  que  cego  em  tiroteio, 
apareci  aqui  e  fui  perguntando  onde  você 
morava. Estou feliz em lhe ver. 
 
Ao que falei: 
 
• Que  estranho...  mas  que  bom  lhe  ver 
também!  Há  pouco  eu  estava  na  casa  do  meu 
avô  e contei  de  você para ele. Vamos entrar em 
casa e conversar, meus pais foram jantar fora. 
 
Eu  e  André  sentamos na  varanda  de  casa; 
busquei  água  para  ele  e,  quando  lhe  alcancei, 
ele  olhou  estranho  para  o  copo  de  vidro,  mas 
gostou  quando  tomou ­  bem  que eu entendi sua 
estranheza. 
 
• Obrigado,  Timóteo.  Escuta,  o  Mestre 
me  falou  que  você  estava  na  lição  do 
discipulado sobre oração. 
 
Parecia  que  o  Cordeiro  sabia  o  que  eu 
tinha conversado com meu avô? Então lembrei­ 
me que o Cordeiro estava lá também! E falei: 
 
• Estou  mesmo.  Aprendi  a  oração  com 
meu  avô,  ele  acabou  de  me  ensinar  algumas 
coisas  que  me  levaram  a  uma  conclusão:  sei 
que  vou  fazer essa  oração todos  os dias porque 
quero que o reino de Deus venha. 
 
André sorriu e disse: 
 
• É  isso  aí!  E  o  Mestre  me  enviou para 
falar  um  pouco  mais  sobre  uma  autoridade  que 
não  é  desse  mundo  —  neste  momento 
gesticulei para que ele continuasse. 
 
• Antes  de  eu  estar  com  o  Mestre,  fui 
discípulo do  primo  dele, João – que “andava no 
manto  de  Elias”;  João  sabia  de  si  mesmo  e do 
que  foi  enviado  a  fazer,  foi  a  primeira  pessoa 
que  falou  do  Mestre  para  mim  dizendo  que 
nossa  tarefa  era  “preparar  o  caminho”  do 
Mestre.  João  era  muito  ousado  e  muito 
humilde,  ele  sempre  exaltava  seu  primo 
dizendo que  convinha  que  o  Mestre crescesse e 
que  ele  diminuísse;  por  várias  vezes  também 
nos  disse  que  ele  batizava  para  o 
arrependimento  dos  pecados  mas  que,  depois 
dele,  viria  outro  que  seria  maior  –  que  nem  as 
sandálias  dele  João  seria  digno  de  amarrar  –  e 
que batizaria com o Espírito Santo e com fogo. 
 
Eu  admirava  João:  era  um  homem  muito 
temente  a  Deus,  íntegro  e  sério,  educado  pelo 
Espírito  Santo  no  deserto  e  filho  do  sacerdote 
Zacarias,  e  que  nos  amava;  essa  é  a  formação 
máxima  para  nós.  Ele  me  ensinou  sobre  o 
reino:  sobre  arrependimento  de  pecados e seus 
frutos  de  arrependimento  e  confissão, 
chamando  todos  a  se  arrependerem  dos  seus 
pecados  para  que  viesse  o reino  de Deus  sobre 
a  Terra.  Ele  tinha  uma  ousadia  espiritual,  não 
era  nada  fácil  aguentar  o  que  ele  aguentou dos 
líderes  dos  levitas:  lembro­me  bem  do  dia  em 
que  alguns  dos  líderes  dos  levitas  chegaram 
para  um  batismo  e  ele  os  chamou  de  “raça  de 
víboras”,  porque  eles  tinham  uma  aparência  de 
espiritualidade  mas  não  haviam  produzido 
frutos  dignos  de  arrependimento.  Ele  tinha  a 
autoridade dos profetas de antigamente. 
 
No  dia  em  que  o  Mestre  se  aproximou 
para  ser  batizado,  João  apontou  e  disse  “Eis  o 
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. 
Eu  ainda não conhecia  o Mestre, mas João sim, 
pois  eram  primos;  há um  testemunho das  mães 
que,  quando  se  viram  grávidas,  João  pulou  no 
ventre  da mãe porque chegou perto do Messias, 
que  é o  Mestre. João tinha falado muito sobre o 
Mestre,  que  ele  é  o  Messias  e  o  Rei  que  Deus 
enviou  para  mudar  todas as coisas. E quando vi 
o  Mestre  nesse  dia,  senti  que  o  meu  sonho 
podia  se  realizar  e eu  quis segui­lo;  então,  eu e 
outro  discípulo  fomos  falar  com  João  sobre  o 
que  sentíamos  e  queríamos,  e  ele  ­  homem 
humilde  que  é  ­  nos  abençoou  para  seguir  a 
Jesus; e fomos seguir ao Mestre. 
 
Nós  temos  seguido  o  Mestre  diariamente 
já  por  um  bom tempo,  e  vemos  ele  pregando a 
mesma  mensagem  que João pregava, até parece 
que  combinaram  os  mesmos  conceitos  e  as 
mesmas  frases.  Mas  tem  uma  diferença:  João 
pregava  e  batizava  pelo  arrependimento  das 
vergonhas  e,  quando  as  pessoas  o  ouviam, 
confessavam  seus  pecados  (até publicamente) e 
eram  batizados  por  ele  e  por  nós,  seus 
discípulos;  o Mestre  faz  o mesmo,  mas  ele  fala 
com  uma  autoridade  ainda  maior,  fazendo 
coisas  que  João  não  fazia  ­  com  uma  única 
palavra,  o  Mestre  cura  enfermos  de  toda  sorte 
de  enfermidade  (cegueira,  lepra,  surdez...), 
expulsa demônios e também ressuscita mortos! 
 
É  claro  que  o  discípulo  tem  que  aprender 
a  ser  e  fazer  como  o  seu  mestre,  este  é  o 
princípio básico de  todo  discipulado.  À medida 
que  andávamos  com  João,  eu  e  os  outros 
discípulos  aprendíamos  a executar  o ministério 
que  ele  recebeu  do  Restaurador.  Até  que, num 
dia, o Mestre me chamou, junto com meu irmão 
Pedro  (que  você  conheceu)  para  estarmos com 
ele  e  aprendermos  o  ministério  que 
o  Restaurador  tinha  lhe  confiado;  tremi  “nas 
bases”, mas meu sonho estava se realizando: fui 
chamado  para  andar  com  o  Messias  como 
discípulo!  E  sei  muito  bem  que  ele  nos ensina 
para poder confiar esse ministério a nós. 
 
E André continuou explicando­me: 
 
• Nossa  convivência  é muito  saudável e 
interessante.  Ele  nos  ensina  a  respeito  das 
Escrituras,  porém  aplica­as  de  uma  forma  que 
os  líderes  dos  levitas  não  sabem  fazer;  nos 
ensina  fazendo  uso  de  parábolas,  entendemos 
muitas vezes, mas outras não, e temos que pedir 
para  ele  explicar.  Ele  é  o  nosso  conselheiro, 
nosso  parákletos.  Ele  está  em  missão,  temos 
caminhado muito e ele não se cansa. 
 
No  início, ele ia para os lugares onde João 
tinha  preparado  o  caminho.  Mas,  há  pouco 
tempo,  João  foi  preso  porque  chamou  um 
governador  a  se  arrepender  ­  por  ter  se casado 
indignamente  com  mulher  do irmão  do  próprio 
governador  ­  e  foi  decapitado;  foi  um  baque 
terrível  para  todos  nós.  O  Mestre  ficou  triste 
mas,  ao  mesmo  tempo,  mostrou­se  cada  vez 
mais convicto em sua missão. 
 
Meus  ex­companheiros  ficaram  abalados 
e  abatidos,  alguns  foram  para  suas  casas  e 
fiquei  preocupado  com  eles;  mas  outros,  para 
minha  felicidade,  vieram  seguir  ao  Mestre: 
depois  de  um  tempo  que  nós,  os  doze,  temos 
aprendido  e ministrado juntos, ele chamou mais 
setenta  ­  e  muitos  destes  foram  discípulos  de 
João;  hoje  somos 82  discípulos  firmes e  outros 
que  seguem  interessados  em  se  tornarem 
discípulos. 
 
Falei  tudo  isso  como  introdução,  porque 
ajuda  a  entender  o  que  fui  enviado  para  lhe 
falar. 
 
Eu  o  ouvia  com  toda a atenção possível e, 
por  algum  motivo, tudo fazia sentido para mim. 
Interessava­me  saber  como  eram  as  coisas  nos 
tempos  dos  primeiros  discípulos,  pois  eu  já 
tinha decidido: queria ser um deles também. 
 
• Timóteo,  chegamos  a  entender  do 
Mestre a seriedade do que ele quer de nós como 
discípulos,  e  já  faz  um  tempo  que  estamos 
ministrando  conforme  a  agenda  dele.  Digo­lhe 
isso  porque  a  agenda  de  João  era  de  pregar  a 
mensagem  do  reino  e  batizar  pelo 
arrependimento  de  pecados;  lembro  que  havia 
um  tremendo espírito de  quebrantamento sobre 
toda a nação. 
 
O  Mestre  nos  ensinou  a  fazer  a  mesma 
coisa e acrescentou o que ele faz além disso, ele 
nos  ordenou: “curai  os  enfermos,  ressuscitai  os 
mortos,  purificai  os  leprosos,  expulsai  os 
demônios  (...)” A  sua  agenda  é  além da agenda 
de João, nós todos vemos a diferença. 
 
Num  dia  desses,  chegou  um  homem 
acompanhado  do  seu  filho  ao  local  que 
estávamos  ministrando,  ele  estava à  procura  de 
cura  para  seu filho;  assim que chegaram  a nós, 
o  filho  caiu  convulsionando  e  o  pai  informou 
que  isso  acontecia  com  certa  frequência  (às 
vezes  caindo  no  fogo,  outras  na água);  oramos 
e  oramos,  mas  não  deu  em  nada,  tentamos 
expulsar  demônios  também  e  nada!  Ficamos 
tristes  com  essa  situação,  empatizados  e 
compadecidos  pelo  filho e  seus  pais,  e  também 
envergonhados  por  termos  a  ordem  de  cura, 
contudo faltava  algo para realizá­la;  e, como se 
não bastasse... 
 
...Mais  tarde  estávamos  pertinho  do 
Mestre  enquanto  ele  ensinava  a  multidão  que 
tinha  se  aproximado;  enquanto  o  Mestre 
pregava,  o mesmo homem veio se aproximando 
com  seu  filho;  ele  estava  desesperado  e 
gritando “Senhor, tenhas misericórdia de mim e 
do  meu  filho”,  e  o  Mestre  gesticulou  para  que 
se  aproximassem;  nós  gelamos,  porque 
sabíamos  que  ele  estava  lá  porque  tínhamos 
falhado  na  nossa parte;  então,  o homem contou 
o  caso  para  o  Mestre,  explicando  que, 
primeiramente,  ele  tinha  trazido  o  menino  para 
nós,  no  que  o  Mestre  nos  olhou  e  disse  “Ó 
geração  incrédula  e  perversa!  Até  quando terei 
que  aguentar vocês?” O Mestre tocou e curou o 
menino, e o pai ficou muito feliz. 
 
Todo  mundo  ficou  olhando  para  nós, 
quisemos  “cavar um buraco” e sumir. O Mestre 
não  costuma dar  bronca  mas,  quando  dá,  o que 
ele  diz  penetra  até  a  alma.  Conversamos  um 
pouco  e  tivemos  que  admitir  que  alguma  coisa 
não estava certa conosco; chamamos o Mestre e 
perguntamos:  “Mestre,  por  que  nós  não 
conseguimos  expulsá­lo?  ”  Ele  nos disse: “Esta 
casta só sai pela oração e pelo jejum”. 
 
Curvamos  nossas  cabeças  de  tanta 
vergonha, a  decepção  de  não atender ao Mestre 
foi  maior  que  a  vergonha  de  falhar,  eu  não 
desejo  passar  por  mais  vergonha.  Nós  todos 
comentamos  que  o  Espírito  de  Vida  tinha 
falado  para  nós  jejuarmos  nesse  dia  e  não 
obedecemos.  Daí  em  diante,  ficamos 
determinados  a  aprender  mais  sobre  as  coisas 
que  o  Mestre  quer  de  nós;  queremos  cumprir 
suas ordens,  pois  sabemos  que,  com a morte de 
João,  somos nós que vamos preparar o caminho 
do Senhor. 
 
Gesticulei para ele continuar: 
 
• Depois  desse dia,  aconteceu  que, num 
dia  de  ministrações,  o  Mestre  separou­se  para 
orar  como  de  costume.  Dessa  vez, começamos 
a  conversar  entre  nós  sobre  a  bronca  que 
levamos no  outro dia e a nossa incapacidade de 
fazer  as  mesmas  coisas  que  o  Mestre  faz. 
Vendo­o  orando,  a  conversa  rumou  para  a 
questão da oração. 
 
Eu  e  os  demais  que  foram  discípulos  de 
João,  sabemos  que  orar  ­  como  João  nos 
ensinou 
• foi  o segredo do seu ministério;  pregávamos 
uma mensagem confrontadora para nosso povo, 
que  só  nós  sabemos  como somos coração duro, 
petrificado  mesmo;  temos  certeza  que,  se  não 
tivéssemos  orado  como  João  ensinou,  as 
pessoas  não  teriam  correspondido à mensagem. 
As  multidões  que  vêm  estar  com  o  Mestre 
vieram  antes  para  as  nossas  ministrações  com 
João. 
 
Começamos  a  nos  perguntar  “Será  que 
tem  algo que precisamos aprender em relação à 
oração  que  ainda  não  aprendemos?  Será  que  o 
Mestre  está  orando  de uma forma que ele ainda 
não  nos  ensinou? Será  que, se  orássemos como 
ele  está  orando, poderíamos  ministrar  como ele 
ministra?  ”  Alguns  começaram  a  falar 
“Perguntem para ele!”  E chegamos à conclusão 
de  que  precisávamos pedir  para  ele  nos  ensinar 
a orar tal como João nos ensinou. 
 
Quando  terminou  de  orar,  o  Mestre  se 
aproximou  e  um  dos  discípulos  mais  novos 
expressou  nossa  ansiedade  apresentando  a 
dúvida  geral:  “Senhor,  ensina­nos  a  orar  como 
João  ensinou  aos  seus  discípulos!”  Nós  todos 
olhamos  para  o  Mestre  com  atenção  e 
expectativa  de  ouvir  algo  novo,  o  segredo  da 
oração. 
 
O  Mestre nos olhou  com  ar  de satisfação, 
como  se  tivéssemos  feito uma pergunta  que ele 
mesmo  já  queria  responder  há tempo,  como se 
ele  soubesse  que  a  resposta  dessa  pergunta  só 
podia  se  dar  diante  de uma vontade profunda, e 
como  se  essa  resposta  fosse  algo  muito, muito 
especial. 
 
Então ele disse: 
“Orareis assim: 

Pai! Santificado seja o teu 
nome. Venha o teu Reino. 
Dá­nos cada dia o nosso pão cotidiano. 
Perdoa­nos os nossos pecados, pois também 
perdoamos a todos os que nos devem. 
E  não  nos  deixes  cair  em  tentação, 
mas livra­nos do mal.” 
 
Impressionante,  já  vínhamos  ouvindo  ele 
ensinar  essa  oração  de  cidade  em cidade,  e  até 
já  vínhamos  ensinando  essa  oração  como parte 
do  nosso  discurso  sobre  o  reino  quando  temos 
precedido  ele nas cidades aonde está para ir; eu 
até  já  vinha  orando  assim  vez  por  outra;  mas 
nós  todos  reconhecemos  que  não  tínhamos 
valorizado  essa  oração  até  então.  Quando  ele 
nos  ensinou  num  outro  contexto,  daí então  nos 
“demos conta”. 
 
Temos  visto  os  líderes  dos  levitas 
praticarem  a oração para impressionar ouvintes, 
até  cansamos  de  ouvir  suas  orações;  e  temos 
visto  os  romanos,  como  eles  rogam  repetindo 
as  mesmas  coisas  inúmeras  vezes;  parece  que 
eles  pensam  que,  pelo  muito  falar,  serão 
atendidos.  Confesso  que,  antes,  eu  não  estava 
dando  valor  à  oração  que  o  Mestre  tinha  nos 
ensinado,  o valor dela passou desapercebido até 
o momento  em  que  o  Mestre nos ensinou nesse 
dia;  porém,  acho  que  isso  foi  porque,  sem 
praticar  essa oração,  eu não estava  dando  valor 
à  fé  :de  que  Deus  Pai  aguardava  a  gente  orar, 
desejando  atender  a  oração  que  o  Mestre  nos 
ensinou. 
 
As  reflexões  de  André  estavam 
penetrando  meu coração e baixei minha cabeça: 
eu  também  não  sabia  valorizar  a  oração. 
Conheci  orações  de  graças  e  litúrgicas,  e 
também  eu  já  tinha  visto  equipes  de  futebol 
fazerem essa oração antes e depois  de  ganhar 
campeonatos.  Eu  havia  aprendido  a  prática 
da  oração  em  contextos  semelhantes  aos  de 
André,  e  eu  queria  dizer  isso  para  ele;  então, 
levantei a cabeça e... ele tinha sumido. 
 
Fiquei  refletindo  sobre  as  suas  palavras 
durante  um  tempo.  Quero  me  considerar  um 
discípulo  do  Cordeiro  em  minha  geração; 
portanto,  preciso  entender  melhor  sobre  a 
prática  da  oração  –  mais  especificamente  a 
oração como ele nos ensinou. 
 
 
 
 
   
 
 
 

 
 
Héroi & Campeão 

E​
u  me  interessava  mais  pelo  livro  ​

cada  ​dia:  todos  os  dias,  levantava  uns  vinte 
minutos  antes  do  normal  ​ para  poder  ler  um 
pouco  e,  à  noite,  ia  para  casa  um  pouco  mais 
cedo  para  poder  ler  antes  de  dormir;  eu 
devorava  o  livro  e,  muitas  vezes,  perdia  a  hora 
lendo.  Sou  apaixonado  pelo  Cordeiro,  e  essa 
paixão  se  reflete  na  busca  por  conhecer  a 
história,  a  palavra  e  a  obra  que  ele  revelou  no 
livro. 
 
Certo  dia,  saí  para  andar  de  bicicleta  ­ 
esse  dia  estava  lindo demais para ficar em casa. 
Aqui  na  periferia  de  Hemeterópolis,  há  um 
bosque  com  muita  sombra  e  uma  vista linda da 
nossa amada metrópole. 
 
Chegando  ao  bosque,  fui  para  o  meu 
cantinho  ­  atrás  do  chafariz  que  tem  quatro 
bustos: um de águia, outro de homem, um outro 
de  leão  e  mais um de  novilho  ­ onde,  a poucos 
metros  adiante,  há  um  pequeno  anfiteatro 
cavado  no  chão  para  fazer  fogueira,  que  é 
cercado por uma grade. 
 
Havia  pessoas  no  “Buraquinho”,  como  o 
chamamos;  entre  elas,  o  meu  amigo  Cacá. 
Trocamos  sorrisos  e  fui  até  ele;  nos 
cumprimentamos e perguntei: 
 
• Cacá,  quando podemos nos ver? Estou 
lhe devendo uma conversa. 
 
• Ah,  você  não  me  deve  coisa  alguma, 
meu  amigo;  podemos  nos  ver  quando  você 
quiser, tô com você. 
 
• Cacá, me diga: o que lhe traz por esses 
lados, e quem é essa galera? 
 
• Vim  aqui  com  meu  irmão,  ele  se 
converteu a Jesus e mudou muito... Tim, ele diz 
que  Jesus mudou a  vida dele, e vejo a mudança 
em  pouco  tempo.  Estou  aqui  porque  cansei  da 
vida louca e quero saber desse negócio. 
 
E então, segurando­me de emoção, falei: 
 
• Você  lembra  do  dia  em  que  você  me 
perguntou  o  que  tinha  de  diferente  em  mim? 
Pois  eu  tinha  acabado  de  conhecer  Cordeiro,  e 
ele  mudou  a  minha  vida.  Ele  me  perdoou  os 
pecados  e  me  fez  ciente;  hoje  sou  um  de  seus 
discípulos,  e  ele  está  me  ensinando  a  viver 
como  ele  vivia;  meu  interior  e  meus 
relacionamentos  mudaram,  posso dizer  que  não 
conheci  nada  igual.  Você  se  lembra  do  meu 
avô?  Ele  é  membro  dessa  congregação,  e  tem 
me ensinado algumas coisas importantes. 
 
• Você,  Timóteo?  Quem  diria?  Agora, 
estou mais curioso ainda. 
 
O  pessoal  da  congregação  começou  a 
cantar  uma  música  que  me  chamou  muita 
atenção,  paramos  para  ouvir  e  celebramos 
juntos;  eu  não  sentia  vergonha  de  adorar  ao 
Cordeiro  junto  com  Cacá.  Comecei  a  sentir 
aquela presença... e seu cheiro doce! 
 
Terminou  a  adoração  e  as  pessoas 
começaram  a  se  retirar  para  voltarem  às 
suas casas.  Despedi­me  de  Cacá  prometendo 
ligar para ele em breve. 
 
Não  fui  embora  com  ele  porque  eu queria 
olhar  para  a  cidade  do  “meu  mirante”  ­  um 
banco  que  tem  uma  vista  linda  de 
Hemeterópolis.  Quando  virei  para  seguir 
caminho,  vi  que  o  banco estava ocupado,  e era 
ele! Apressei­me. 
 
• Cordeiro! 
 
Ele  estava  de  olho  fechado  e  falando. 
Ficou  uns  minutos  assim  quando  virou  para 
mim e falou: 
 
• Timóteo. 
 
Ele  sorriu para mim... E sim, senti tudo de 
novo,  como  na  primeira  vez.  Nos 
cumprimentamos  e  olhamos  a  cidade  durante 
um tempo. Não me contive: 
 
• Cordeiro,  ando  lendo  o  livro  e 
pensando  que  quero  ser  seu  discípulo,  e 
participar  do  seu  plano  para  mudar  o  mundo. 
Entendo  que  o  Senhor  me  comprou, redimiu a 
minha  vida  e,  agora,  não  posso  fazer  coisa 
alguma senão servir­ lhe. 
 
Cordeiro  voltou­se  para  mim  com aquele 
olhar  penetrante.  Eu  sabia  que  jamais 
conseguiria  enganá­lo,  e  que  só  se  fala  a 
verdade  em  sua  presença;  eu  sentia  que  ele lia 
meus  pensamentos  e  pesava  minhas 
motivações. Em seguida, falou­me: 
 
• Timóteo,  edifico  minha  igreja  através 
de  meus  discípulos,  ela  cresceu de  geração  em 
geração,  de  povo  em  povo,  de  cidade  em 
cidade,  de  nação  em  nação  através  de 
discípulos  como  tu.  Estou  muito  feliz  que 
queres  se  alistar  para  levar  a  palavra  adiante, 
em tua geração; estarei contigo. Eu te dei o meu 
Espírito, estarei contigo sempre. 
 
• Essa voz que ouço é dele? 
 
• Sim,  te batizei  com meu Espírito, com 
aquele  sopro  na  primeira  vez  que  nos 
conhecemos,  e  ele  está  te  ensinando  as  coisas 
que  ensinei  para  os  meus  discípulos.  Ele  fala 
contigo,  revelando  as  coisas  de  Deus  para  ti, 
fazendo­te  entender  os  mistérios  divinos,  e 
opera em ti. 
 
Então falei: 
 
• Cordeiro,  há  algo  que  não  entendo 
ainda.  Nas  outras  vezes  em  que  me  encontrei 
contigo,  tu  estavas  falando,  e  hoje  também. 
Com quem estás falando? O que estás fazendo? 
 
Ele respondeu sorrindo: 
 
• Durante  a  minha  vida  na  Terra, meus 
discípulos  observaram  o  meu  costume  de 
oração  e  eu  os ensinei a orar comigo. Demorou 
para  eles  entenderem  mas,  depois  que  meu 
Espírito foi derramado sobre eles, dedicaram­se 
à  oração  para  que  a  igreja  fosse  guiada  pelo 
Espírito. 
 
Hoje,  estou  à  direita  do  Pai  intercedendo 
pela  igreja  e  pelo  mundo.  Entendo  muito  bem 
as  provações,  tentações  e  tribulações  pelas 
quais  o  ser  amado  passa,  e  não  cesso  de  orar 
enquanto  o  reino  de  meu  Pai  não  estiver 
estabelecido na Terra. 
 
• Então,  quero  aprender  sobre  isso. 
Ensina­me  a  orar  como  o  Senhor  ensinou  aos 
teus discípulos. 
 
Cordeiro falou: 
 
• Este pedido me alegra tremendamente, 
como  no dia em que meus discípulos pediram o 
mesmo.  Vou  ensinar­te,  sim,  mas  quero  que 
saibas como é importante essa oração. 
 
Esta  é  a  oração  que  ensinei  para  todos  os 
meus  discípulos,  para  os  que  querem  fazer  as 
minhas  obras e  preparar  o caminho para que eu 
reine. 
 
É a  oração  baseada  no que eu mesmo oro, 
e eu  sei  como orar. Ensinei a orar assim porque 
sei que o Pai vai atender essa oração; é para que 
todos orem  todos os  dias.  Ensinei  a  orar  assim, 
e  não  de  outro  modo,  porque  é  a  oração 
estratégica  para  minha  noiva  ­  meus  irmãos  ­ 
meus discípulos. 
 
É  a  oração  que  ensinei  para  começar  o 
maior  movimento  de  oração  de  todos  os 
tempos:  ela  ecoa pelas  gerações,  transmitida de 
todas as  cidades  onde ministrei em Israel até os 
confins  da  Terra,  com  o crescimento da família 
de  sacerdotes  da  ordem  de  Melquisedeque.  Já 
foi  mais  traduzida  que  o  livro; rezada  por  fiéis, 
piedosos  e  santos;  declarada  por  crianças, 
jovens  e  velhos;  discursada  por  presidentes, 
primeiros  ministros  e reis;  repetida  em  vão  por 
hipócritas,  incrédulos,  mentirosos,  religiosos  e 
tolos,  mais  que  qualquer  oração  na  história  do 
ser amado. 
 
Não  ensinei  essa  oração  para  uma 
denominação  ou  outra,  nem  para  um  contexto 
litúrgico  ou  para  ser  repetida  em  vão, 
muito  menos para  ser declamada para os outros 
só para mostrar que se sabe “orar”. 
 
Timóteo,  houve  um  momento  em  que 
essa  oração  era  tão  importante  no  coração  da 
igreja  que  acrescentaram­na  à  liturgia  usada 
para  cultuar  a  Deus.  Ao  passar  do  tempo,  essa 
prática  aumentava  e  diminuía: 
desconhecimento  do  livro  e  corrupção  dos 
valores  do  meu  reino,  altivez, cobiça,  descaso, 
religiosidade,  soberba  e  outras  mazelas, 
contribuíram  para  que  a  minha  família 
sacerdotal  deixasse  de  discernir  o  significado 
dessa  oração,  valorizar  sua  importância  e 
praticar sua essência. 
 
Neste momento, parei e disse: 
 
• Cordeiro,  falei  com  meu  avô  e  ele 
disse que,  no  tempo da  sua juventude, ninguém 
cultuava  a  Deus  sem  que  fizesse  essa  oração; 
ele sabe o que o Senhor está dizendo. 
 
• Sim,  Timóteo,  teu  avô  faz  parte  dos 
fiéis  e  remanescentes  que  oram  como  ensinei; 
ele  entendeu que eu  não  iria  ensinar a orar algo 
que  o  Pai  não  estivesse  inclinado  a  atender. 
Podes  confiar em mim, podes orar como eu vou 
te  ensinar,  e  o  Pai  vai  te  atender  como  me 
atendeu. 
 
Timóteo,  desejo  que  meus  irmãos  e 
discípulos  orem  assim  nesta  geração,  e  que 
ensinem  a  orar  assim  aos  seus filhos, para  que 
essa  oração  suba da  Terra para encher a sala do 
trono  de  Deus.  Ensinei  todos  a  orarem  dessa 
forma  como  parte  da  missão  de  levantar  um 
novo  sacerdócio  ­  um  povo  que  clame e  chore 
pela vinda do meu reino. 
 
 
   
 
 
 

 
 
Como Ele Ensinou 

A​
chei­me  numa  sala  desconhecida, 
como  se  transportado  para  uma  outra 
dimensão;  as paredes  eram abauladas, dando a 
entender  que  estava  dentro  de  uma  ​
esfera,  e o 
mapa­múndi  a  cercava.  O  Cordeiro  estava 
sentado  numa  mesa  rústica  de madeira  maciça 
com  mais  três  homens,  tive  a  impressão  que 
esravam  reunidos  para  planejarem  algo,  pois 
havia  papéis  sobre  a  mesa.  Eu  podia  ouvir 
claramente  a  conversa  em  andamento 
entre  ​
Cordeiro  e  Pedro,  que  reconheci,  e  mais 
dois senhores que eu não conhecia. 
 
Um  era  meio  calvo  com  cabelos 
compridos  e  brancos,  que  desciam  sobre  seus 
ombros;  ele  usava  uma  barba  até  a  cintura,  e 
parecia  que  nunca  a  havia  tirado;  talvez  um 
mago?  Ele  vestia  uma  roupa  sacerdotal  bonita 
com estola  e  segurava um turbante, de pedras e 
com  cores  lindas.  Fiquei  curioso  quanto  a  sua 
identidade  e  resolvi  prestar  atenção  à conversa 
para  saber  quem  era  este  e  por  que  os  quatro 
estavam  dialogando.  Pensei:  “Como  que  esses 
homens  de  épocas diferentes estão conversando 
juntos?” 
 
Pedro disse: 
 
• Eles não estão entendendo 
ainda. Um outro falou: 
• Pois  parece  que  aconteceu  o  mesmo 
que aconteceu com a gente. 
 
E o Cordeiro declarou: 
 
• Arão, o que tu queres dizer? 
 
Arão  olhou  para  mim  como  se  dissesse: 
“Quem  é  este  e  quem  o  chamou?  ”  Todos 
olharam. 
 
Cordeiro  sorriu  e  gesticulou  para  eu  me 
aproximar. 
 
Pedro também me chamou, dizendo: 
 
• Timóteo,  não  fique escondido  aí, vem 
sentar  aqui  comigo.  Você  precisa  ouvir  isso 
para repassar para a sua geração. 
 
Sentei  ao seu lado num  banco de  madeira 
bruta;  a  tampa  brilhava,  gasta  de  tanto  uso. 
Sentado  à  mesa,  percebi  que  era  uma  madeira 
bonita,  forte,  e  um  tanto  velha  também;  havia 
símbolos  nela  que  eu  desconhecia:  alguém 
tinha  entalhado  um  peixe  em  traçados  muito 
simples,  outro  símbolo parecia um X com um P 
estendido  para  cima;  também  vi  frases  escritas 
em  muitas  línguas,  tinha  letras  que  eu  não 
entendia,  mas  eu  sabia  que  formavam  palavras 
e  frases;  vi  datas,  algumas  bem  antigas 
(estranhei  quando  percebi  que  a  contagem  era 
diferente  da  que  eu  conhecia) ­  tinha  uma  data 
de  3073  e outra  de 4335. Olhei para Cordeiro e 
ele  estava  sorrindo  para  mim; apontou  para  um 
broche  que  usava  em  sua  toga:  “5774”.  Olhei 
para  ele  com  uma  pergunta  na  cabeça: “O que 
significa?”  Eu  sabia  que  ele  sabia  o  que  eu 
pensava. 
 
• Este é o ano 5774. 
 
Pedro  apresentou  os  demais  ali  presentes: 
Arão e  o primo de Jesus, João ­ bem cabeludo e 
barbudo,  ele  vestia  peles  bem  grossas  que  eu 
desconhecia.  João  era  diferente,  eu  sentia  uma 
grandeza escondida e secreta perto dele. 
 
Olhando  para  os  reunidos  nessa  mesa, 
percebi  que  eu  estava  sentado  junto  a  pessoas 
de  grandeza  que  o  mundo  não  conhecia. 
Refleti:  “Quem  sou  eu  para  estar  aqui  entre 
pessoas de tanta grandeza?” 
 
Neste  momento,  Cordeiro  mexeu  nos 
papéis  velhos  que  estavam  no  meio  da  mesa. 
Embaixo  das  folhas  havia  entalhado  em  letras 
grandes: “A causa pelo Rei e pelo seu reino”. 
 
Arão  limpou  sua  garganta  como  se 
quisesse falar algo. 
 
• Bem­vindo,  Timóteo,  Melquisedeque 
nos  falou de  você.  Desde  os tempos do  jardim, 
o  Pai  Misericordioso  tem  nos  envolvido  na 
restauração;  e  a  causa dele  continua  com  você. 
Ele  acredita  em  você,  Timóteo,  e  na  sua 
geração. Ele é longânimo. 
 
Cordeiro tomou a palavra: 
 
• Quero  que  todos abram o coração com 
Timóteo.  A  sua  geração  é  especial  para mim e 
quero que ele entenda isso. 
 
Arão retomou a palavra, dizendo: 
 
• Timóteo,  tudo depende do  sacerdócio. 
Fui  o  sumo  sacerdote  da  primeira  tribo  de 
sacerdotes ­ a ordem de Levi, meu bisavô. Deus 
consagrou  todos  os  primogênitos  para  si 
quando  o  sangue  do  cordeiro  foi  passado  nos 
umbrais  das  portas  das  nossas  casas  no  Egito; 
fui salvo pelo sangue do cordeiro quando o anjo 
da morte passou sobre nossa casa, mas ouvimos 
os  gritos  das  famílias  egípcias  que  perderam 
seus primogênitos. 
 
Quando  saímos  do  Egito  nos  dias  que  se 
seguiram, encontramo­nos  com  Deus  no  monte 
santo;  ele  falou  sobre  nós  com  meu  irmão 
Moisés,  e  o  que  falou  era  muitíssimo 
importante.  Havia  séculos  que  estávamos  no 
Egito  como  escravos,  e  os  últimos  anos  da 
minha vida ali foram horríveis. 
 
Timóteo,  você  não  sabe...  a  escravatura 
rouba  todos  os  sonhos  normais  da  vida;  nossa 
vida era  terrível  no  Egito,  e  perdemos  a  alegria 
de  viver  nos  últimos  anos.  Mas  Deus  ouviu  o 
nosso  clamor  e  fez  maravilhas  que  nos 
mostraram  que  ele  não  tinha  se  esquecido  da 
promessa  que  fez  a  Abraão,  Isaque  e  Jacó,  e 
nem  de  nós  como  o  povo.  Pelas  mesmas 
maravilhas  provou  que  só ele é  Deus,  e  não  há 
outro! 
 
Moisés  falou  que  ele  tinha  dito  algo  que 
iria  nortear  as  nossas  vidas:  ele  disse  que 
éramos  um  reino  de  sacerdotes,  uma  nação 
santa! 
 
Arão  ficou  emocionado  e  jorraram 
lágrimas  de  seus  olhos.  Ficou  em  silêncio  por 
uns instantes, se recompôs, e voltou a falar: 
 
• Um povo, milhões de pessoas perdidas 
sem  terra  e  sem  esperança;  tínhamos  perdido a 
nossa identidade.  Deus nos levou  com  sua mão 
forte  para  o  deserto,  e  provou  sua  grandeza  e 
seu  poder  para  nós  todos  os  dias;  quando  ele 
disse  que  éramos  um  povo  sacerdotal,  que  ele 
nos  queria  para  sermos  seu  povo  e  que  ele 
queria  ser o nosso Deus, quase não acreditei: de 
nação  escrava  para  nação  escolhida, 
propriedade peculiar de Deus! 
 
Nos  dias  seguintes,  quando  ele  substituiu 
os  primogênitos  por  levitas  para  serem 
sacerdotes,  eu ­ como  primogênito dos levitas ­ 
me  tornei  o  primeiro  sumo  sacerdote  da  ordem 
que  tinha  a  incumbência  de  ensinar  a  nação  a 
ser  sacerdotal;  Deus  agiria  para  fazer  alianças 
com outros povos e nações através de nós. 
 
Timóteo,  o  sacerdócio  é  estabelecido  por 
Deus  para  a  restauração  de  todas  as  coisas. 
Deus separou a  tribo  de  Levi  para o sacerdócio 
no  intuito  de  ensinar  à  nação  a  ser  sacerdote 
entre  as  nações;  quando  abandonávamos  o 
sacerdócio,  a  nação caía  em ruínas,  tanto  como 
tribo  quanto  como  nação.  Cumprir  o  nosso 
sacerdócio  é  tudo na  realização  do  nosso  papel 
na causa. 
 
Houve  silêncio  total  na  sala  durante  certo 
tempo.  Eu  olhava  a  mesa  e  reparei,  talhado 
nela, perto de Arão: “sacerdócio real”. 
 
Agora  todos  olharam  para  João,  como  se 
houvesse  uma  sequência  que  eles  seguiam  e 
eles  sabiam  que  este  era  o  próximo  a  falar. 
Fiquei  animado  para  ouvir  o  que  ele  tinha  a 
dizer. 
 
• Timóteo,  meu  pai  foi  o  último  dos 
sacerdotes  levitas;  ele  estava  cumprindo  o 
dever  de  sacerdote  quando  um  anjo  do Senhor 
apareceu e  falou com ele. Ali, em vez de seguir 
os  passos  do  meu  pai,  Deus  me  separou  no 
“manto”  do  profeta  Elias.  Como  o  profeta 
Moisés  consagrou  Arão  para  o  sacerdócio 
levítico,  eu consagrei o Cordeiro de Deus como 
sumo  sacerdote  da  nova  ordem.  Com  a  minha 
morte, findou  o sacerdócio levítico ­ não digo a 
linhagem, e sim o sacerdócio. 
 
O “manto sacerdotal” do povo de Deus foi 
transferido dos levitas para o povo de uma nova 
ordem, a ordem de Melquisedeque. 
 
O  novo  sacerdócio  é  superior ao  anterior; 
o  anterior  foi  guiado  pela  lei,  o  novo,  pelo 
Espírito do Reino. Convém que ele cresça. 
 
Assim  como  eu  e  meus  discípulos 
preparamos  o  caminho  do  Senhor  quando  ele 
veio  nos  dias  de  Herodes  e  Pilatos,  os  novos 
sacerdotes  estão  incumbidos  de  preparar  o 
caminho do  Senhor  para  sua  segunda vinda;  eu 
e  meus  discípulos  preparamos  o  caminho  do 
Cordeiro,  você  e  sua  geração  preparam  o 
caminho  do  Leão;  eu  preparei  o  caminho  do 
Messias que  sofreu,  você prepara o caminho do 
Messias que reinará! 
 
Ensinei  os  meus  discípulos  a  orarem,  e 
nossa oração preparou  o  caminho do Senhor. A 
oração  que  o  Cordeiro  ensinou  aos  seus 
discípulos prepara o caminho da volta dele. 
 
Todos  olharam  para  mim.  Fiquei 
constrangido,  mas  sentia  o  peso  da  palavra  de 
João.  Olhei  para  Pedro  como  se  dissesse:  “sua 
vez!” E ele correspondeu: 
 
• Tenso?  Não  se  preocupe!  Hoje,  o 
Espírito  do  Cordeiro  habita  em  nós  para  nos 
ajudar.  Ele  lhe  dará  tudo  de  que  você  precisa 
para cumprir sua parte na causa. 
 
Num  dia,  o  Mestre  me  disse  que  eu  era 
uma pedra  e  que  sobre essa  pedra ele edificaria 
a igreja  dele,  sei que ele é a pedra angular. Nós 
somos  pedras  vivas,  construindo  não  mais  o 
templo  físico  mas,  sim,  uma  casa  espiritual, 
uma  família,  um  povo  comprado  com  seu 
sangue.  Ele  nos  constituiu  reino  e  sacerdotes; 
reino  porque  somos  o  povo  sobre  o  qual  ele 
governa,  sacerdotes  porque  este  reino  é 
mantido  pelo  sacerdócio  que  exercemos diante 
dele. 
 
Timóteo,  todas as  vezes que os levitas e o 
povo  de  Israel  abandonaram  o  sacerdócio,  a 
nação  foi à ruína. Agora o reino de Deus tem se 
estendido  pelo  sacerdócio  de  todos  os  santos, 
por todos os que creem em Jesus. 
 
Ao  longo  dos  anos,  o  povo  de  Deus  se 
desviava  desse  papel  primordial;  com  as 
mudanças  que  o  reino  de  Deus  trazia  a  cada 
um,  a  maioria  passava  a  desfrutar  da  vida 
transformada,  acomodando­se  em  seu  mundo 
pessoal  transformado.  A  família  deixou  de  ser 
sacerdotal  tal  qual  Israel.  Sempre  há  um 
remanescente, mas a  maioria  deixa de viver em 
prol  do  sacerdócio  constituído  pela  redenção 
feita no sangue do Cordeiro. 
 
Junto  desta  disfunção  da  família, 
separou­se  um  grupo  de  elite  que  efetua  o 
sacerdócio  de  todos,  e  agora  os  santos  não 
exercem  o  sacerdócio;  há  sacerdotes 
acomodados,  desqualificados,  de  coma  e 
imobilizados espalhados pelo mundo inteiro. 
 
Com essa inércia e falta de ação, o mundo 
enfrenta coisas que não precisaria enfrentar. 
 
Timóteo,  o  Mestre  nos  ensinou  a  orar 
como  incumbência  principal  do  nosso 
sacerdócio.  Ele conta  com  você e com todos da 
sua  geração  para  assumir o  papel  para qual ele 
os constituiu: 
 
O Sacerdócio de Todos os Santos. 
 
Neste  momento,  retratos  numa  parede 
ficaram  vivos  e,  neles,  pessoas  estavam 
olhando  para mim;  lembrei  daquele  estádio  em 
que  vi  a  “nuvem”  de  gente  com  Cordeiro. 
Enquanto  eu  olhava,  todas  essas  pessoas 
começaram  a  girar  e  formar  um  redemoinho 
no  meio  da  sala  em cima da mesa. 
 
O  redemoinho  ficou  girando  durante 
alguns  minutos  e,  neste  momento,  ouvi  um 
clamor  saindo  do  vento  que  via  girando  diante 
dos  meus  olhos;  este  clamor  aumentava  e 
diminuía em volume. 
 
Um  aroma  pintou  a  sala  de  incenso.  Eu 
sei,  você  está  se  perguntando:  “Como  que  um 
aroma  pinta  uma  sala?”  Eu  estava  vivendo 
aquilo  que  vi  com  o  Cordeiro: cheiros,  cores e 
sons tinham vida. 
 
O  redemoinho  se  abriu  até serem  visíveis 
os  rostos  de  todos  os  povos.  Todos  eles 
estavam  vestidos  de  branco  e  todos  olhavam 
diretamente  para  o  Cordeiro  como  se  não 
tivesse  mais  alguém  na  sala.  Fui  levado  por 
uma onda de  glória  e  pura honra, paixão e puro 
amor,  a  adorar  ao  Cordeiro  junto  com  a 
multidão;  meu  peito  explodia  de  amor  pelo 
Cordeiro, e eu chorava. 
 
Eu  ouvia  palavras  que  eu  entendia  e  que 
eu  não  entendia,  eu  escutava  vozes  humanas  e 
angelicais;  as  angelicais  eram  maravilhosas  ­ 
todos  cantavam  com  vozes  cristalinas,  mais 
puras  que  as  melhores  cantoras  de  ópera  de 
todos  os  tempos,  e  cantavam  sem  respirar; 
eu  ouvia  canções  conhecidas  e  outras não.  Eu 
estava  envolvido  em  algo que transcendia toda 
a  concepção  natural  de  alegria, amor  e  paz;  sei 
que  eu  jamais  queria  sair  dessa  experiência. 
Perdi a noção de tempo. 
 
Como  a  criança  tirada do colo da  mãe  ou 
como  a  noiva  tirada  do  abraço  apaixonado  do 
noivo,  senti  um  vento  sobre  mim,  o  ambiente 
da  sala  mudou  de  novo,  e  o  redemoinho  se 
formou novamente acima da mesa. 
 
...Cheiro  de incenso: o clamor aumentava, 
começando  com  sussurros  até  se  tornar 
ensurdecedor. 
 
Neste  momento,  duas  coisas  aconteceram 
simultaneamente. 
 
Eu  olhava  o  redemoinho.  O  vento  se 
dissipou  e,  em  seu  lugar,  havia  uma  noiva 
linda, sem mácula e sem ruga. 
 
Ao  mesmo  tempo,  o  som  do  clamor 
começou  a  diminuir  e  as  vozes  se  uniram; 
primeiramente,  ouvi  o  som  de  muitas  pessoas 
clamando  em  sua  própria  língua.  E,  como  foi 
em Pentecostes, comecei a ouvir a noiva orando 
em minha língua. 
 
 
 
“Pai nosso que estás nos céus, 
santificado seja o teu nome; 
venha o teu reino, 
seja feita a tua vontade, 
assim na terra como no 
céu; 
o pão nosso de cada dia dá­nos hoje; 
perdoa­nos  as  nossas  dívidas,  assim 
como nós temos perdoado aos nossos 
devedores; 
e não nos deixes cair em tentação; 
mas livra­nos do mal. 
Pois teu é o reino, o poder, e a glória, para 
sempre, 
Amém”. 
 
Fiquei  atônito  e  estático  diante  da  visão. 
Perdi a  noção de  tempo  mas, quando recobrei a 
minha  consciência  de onde eu estava, nós todos 
estávamos  olhando  para  o  Cordeiro  em 
admiração  total,  envoltos  numa  paz  que 
ultrapassa todo o entendimento. 
 
Houve  um  momento  em  que  o  ambiente 
mudou  (como  a  praia na  hora  que  a onda  volta 
ao  mar).  Como  jovem  curioso,  quis  saber  dos 
outros  o  que  pensavam;  olhei  para  os 
companheiros  de  mesa  e  reparei  que  Arão  e 
Pedro  tinham se  retirado, e havia outros dois na 
sala conosco. 
 
O  primeiro  estava  atrás  do Cordeiro,  com 
a mão em seu ombro: João. 
 
• Timóteo,  meu  filho, tenho apenas uma 
coisa a deixar com você. 
 
Se  tivesse  que  resumir  tudo  que  aprendi 
com o Mestre numa palavra, essa seria “filhos”. 
 
O Mestre exemplificou  para nós a vida do 
Filho de  Deus,  unigênito  e  primogênito: o filho 
de  Deus  que  tem  plena  intimidade com  o  Pai  e 
em  quem  o  Pai  revela  a  sua  glória,  o  filho  de 
Deus  que  libertará  a  criação  do  cativeiro;  o 
filho de  Deus que nós todos fomos criados para 
ser. 
 
No  final  de  tudo,  quis  ser  filho  de  Deus 
igual a ele. 
 
Você  aprendeu  a  oração?  —  Abanei  a 
cabeça indicando que sim. 
 
• Então,  você  já  viu  que  ela  é  a  oração 
dos  filhos de  Deus. A  oração começa  com “Pai 
nosso”. 
 
Cordeiro  olhou  para  João  e  sorriu,  como 
estando  satisfeito  com  essa  grande  verdade.  E 
João não disse mais nada. 
 
Todos  olharam  para o outro lado da mesa, 
onde um outro estava no banquinho de Arão. 
 
Com  cabelos  brancos  e  esvoaçantes,  seu 
aspecto  era  sincero  e simples; vestido com uma 
roupa  antiga  que  se  usava  no  deserto  e  que 
lembrava  o  oriente:  uma  toga  por baixo, que o 
cobria  por  completo,  com  um  roupão  por cima, 
muito  bonito,  contudo  simples.  Ele  carregava 
um  bordão  ornamentado,  muito, muito maneiro 
­  a  madeira  em  si  era  diferente,  com  nós  e 
fibras que expressavam realeza. 
 
• Chamo­me  Moisés,  o  irmão  de  Arão. 
Tive  um  encontro  com  Deus  que  me  mudou 
para  sempre.  E  me  recordo  sempre  de  uma 
coisa  que  ele  disse:  “Moisés,  o  clamor  do  meu 
povo chegou a mim”. 
 
Timóteo,  você  e  sua  geração  precisam 
saber  que  Deus  ouve  o clamor do  povo dele;  o 
coração  dele  inclina­se  para  o  povo  dele. 
Melquisedeque  ensinou  um  clamor  para  o  seu 
povo,  nos  termos  da  oração  sacerdotal  da  sua 
ordem. Deus irá ouvir e atender. 
 
Ele  falava  com  tanta  certeza,  mais  do  que 
com convicção. 
 
Todos  olharam  para  o Cordeiro  e também 
olhei. Estávamos a sós. 
 
• Timóteo,  ensinei  a  orar  baseado  em 
quem  sou  e  o  que  faço: sou o  Sumo Sacerdote 
da  ordem  de  Melquisedeque,  e  o  intercessor 
pela  humanidade até hoje.  No  jardim, derramei 
sangue  em  intercessão  por  todos,  e  na  Caveira, 
entreguei­me  como  sacrifício  de  intercessão. 
Estou à direita do Pai intercedendo pelo mundo, 
pela  igreja,  e  mesmo  por  ti!  Todos  os avanços 
verdadeiros  do  meu  reino  são  fruto  da  minha 
intercessão  diante  do  Pai.  Dei  a  minha  vida 
para respaldar a intercessão que ensinei. 
 
Ensinei  a  orar  assim  estrategicamente, 
sabendo  que,  se a  minha igreja  orar  assim  com 
revelação  do  meu  Espírito  e  com  fé,  ela  vai 
tocar  o  coração  do  Pai,  que  deseja  resgatar  a 
humanidade  das  mãos  do  adversário  e 
transportá­  la  para  o  reino  de  justiça,  paz  e 
alegria no Espírito Santo. 
 
Essa  oração  é  poderosa  na  boca  de quem 
crê  em  mim,  sei  porque  se  baseia  no  que  eu 
orava  e  oro.  Por  isso,  quando  meus  irmãos  e 
discípulos oram assim, entram em concordância 
comigo  em  oração,  seguros  que  não  estão 
orando  em  vão.  E,  quando  oram  com 
conhecimento  e  fé  (mesmo  repetindo),  não  é 
em vão. 
 
Ensinei aos meus discípulos a
orarem assim: 
 
Pai nosso que estás nos céus, 
santificado seja o teu nome; 
venha o teu reino, 
seja feita a tua vontade, 
assim na terra como no 
céu; 
o pão nosso de cada dia dá­nos hoje; 
perdoa­nos as nossas dívidas, 
assim como nós temos perdoado aos nossos 
devedores; 
e não nos deixes cair em tentação; 
mas livra­nos do mal. 
Pois teu é o reino, o poder, e a glória, para 
sempre. Amém. 
 
Foi necessário eu ouvir a mesma coisa por 
repetidas  vezes  para  entender  o  que  dizia... 
Fiquei  encantado  com  cada  palavra  que  eu 
ouvia  da  boca  de  Cordeiro,  e  ele  falava  com 
uma  autoridade  sem  igual.  Quando  ensinou  a 
orar,  o  fez  com muita determinação, e foi como 
um  plano  divino  de  ação  para  a  redenção  da 
humanidade  que  ele  ama  de  todo  o  coração. 
Quando  ele  falava,  eu  sentia  a  seriedade  de 
cada  palavra,  mas,  quando  ele  me  ensinou  a 
própria  oração,  percebi  o  poder  e  a  autoridade 
que  há  em cada  palavra  e  em  cada  frase,  como 
se  ele  tivesse  avaliado  todas  as  orações 
possíveis  da  humanidade,  filtrado  tudo  o  que 
era  supérfluo  e  vão,  e  escolhido  cada  palavra 
meticulosamente.  Pois  é, ele é a  palavra  viva  e 
eterna! 
 
Tive  um  momento  de grande iluminação: 
fui  salvo  por  ele,  nasci  de  novo  para  a  sua 
família  sacerdotal,  e  sou  intercessor  com  ele 
para  mudar  o  mundo  que  conheço.  Se  ele 
ensinou  a  orar,  e  eu  não  o  fizer,  deixo  de 
contribuir  como  ele  me  pede;  como  não  me 
render  em  serviço  a  ele,  diante  de  tão  grande 
luz  e  verdade,  santidade  e  majestade, 
misericórdia e bondade, graça e amor? 
 
Ele  é  o  Mestre,  o Senhor e  o  Rei.  Ele  é  o 
Sumo  Sacerdote  e  o  sacrifício  sacerdotal,  o 
Cordeiro  que  foi  crucificado  para  redimir  a 
minha  vida.  Ele  é  o  primogênito,  o meu  irmão 
mais  velho  da  família  sacerdotal.  Ele  é  o  meu 
noivo,  o  meu  amo,  o  meu  campeão,  o  meu 
herói. Ele é o que é e não há outro igual! 
 
O  servo  da  orelha  furada  é  aquele  que  se 
entrega  à  servidão  por  escolha,  diante  da 
bondade  do  amo: entre  o  povo hebreu,  pessoas 
se  tornavam  servas  para  pagar  dívidas; 
terminando  de  pagá­las,  se  o  servo  quisesse 
permanecer  e  o  amo  quisesse  que  ele  ficasse, 
eles  iam  para  a  porta  da  casa  do  amo;  lá,  o 
servo encostava a orelha no batente da porta e o 
amo furava  sua  orelha, seu  sangue ficava como 
sinal  no  batente  e  o  servo  usava  o  brinco  no 
furo  como  sinal  do  acordo  entre  servo  e  amo. 
Este  é  um  paralelo  de  nossa  vida  com  a  de 
Jesus:  ele deu sua vida por nós, e eu dou minha 
vida em serviço a ele perante seu grande amor e 
bondade. 
 
...E  é  verdade:  ele  não  iria  ensinar  a  orar 
assim  para  centenas  de  milhares  de  pessoas  se 
isso  não  fosse a  oração  dos séculos!  Ele jamais 
ensinaria seus  discípulos a  orarem  assim, como 
André  falou  para  mim,  se  isso  não  fosse  a 
oração  dos  filhos  discípulos.  Ele  não  é 
enganador;  ele  nunca  respalda  a  falsidade,  e 
jamais  profere  a  mentira.  Ele  fala  e  defende  a 
verdade, ele é a verdade. 
 
Cordeiro jamais me  ensinaria a orar assim 
se  isso  não  fosse  importante  para  a minha vida, 
estratégico  para  a sua causa, harmonioso com a 
vontade  do  Eterno,  e  poderoso  para  efetuar  a 
transformação de indivíduos, cidades e nações. 
 
Posso orar assim com conhecimento. 

Posso orar assim com fé. 

Posso orar assim com temor e tremor. 
Posso orar assim com ousadia. 

Como não orar assim se foi ele que me 
ensinou? 
 
Será que tem outros  “Timóteos”  na  minha 
geração?  Será  que  posso  encontrar  outros  que 
querem  honrar  nosso amado Cordeiro  com uma 
vida  sacerdotal,  servindo  como  Ele nos serviu? 
Será  que  tem  outros  “Timóteos”  que  possam 
orar  assim  pelas  suas  cidades  como  eu,  pela 
minha  amada  Hemeterópolis?  E  por  outras 
nações? Será? 
 
Vou procurar. 
 
   
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 

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