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Mulheres contra a gestão Bolsonaro: análise das pautas dos


protestos EleNão (2018), do Dia Internacional das Mulheres
(2019) e da Marcha das Margaridas (2019)1

Olivia Cristina Perez (UFPI)


RESUMO: Este trabalho analisa protestos brasileiros recentes em defesa dos direitos das
mulheres. A partir de notícias e de documentos produzidos principalmente por movimentos
sociais feministas, são analisadas as pautas de três protestos: aquele conhecido como #EleNão,
os ocorridos no último Dia Internacional das Mulheres em 8 de março e a Marcha das
Margaridas de 2019, assim como algumas decisões do governo Bolsonaro em relação aos
direitos das mulheres. O trabalho demonstra que o confronto é manifestado dois dos lados: pelo
governo Bolsonaro no combate aos ideais feministas e direitos das mulheres e como reação dos
movimentos sociais. Nesse sentido, os protestos acompanham a estratégias de confronto
utilizado pelo governo e a incentivam.
Palavras-chave: Protestos. Movimentos sociais. Feminismos. Governo Bolsonaro. Confronto
político.

INTRODUÇÃO

O Brasil foi comandado por presidentes filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT) por
quase quatorze anos (de 2003 a 2010 com Luiz Inácio Lula da Silva e de 2011 a meados de
2016 com Dilma Rousseff). Em 2016, antes de concluir seu segundo mandato, Dilma Rousseff
foi destituída do cargo após controverso processo de impeachment. Em seu lugar assumiu
Michel Temer (do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, depois nomeado
Movimento Democrático Brasileiro, MDB, partido à direita no espectro político). Temer era
vice de Dilma e ocupou a presidência do Brasil de 2016 a 2018. Antes das eleições de 2018, o
candidato com maior intenção de votos, o ex-presidente Lula, foi preso sob a acusação
de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em 2018 Jair Bolsonaro elegeu-se presidente pelo
Partido Social Liberal, PSL (mas agora sem partido), marcando a ascensão de um governo
refratário à participação e às pautas dos movimentos em prol do avanço social, como os
feministas.
A ascensão do projeto político liderado por Bolsonaro não acontece sem resistências,
inclusive em grandes protestos. Alguns deles foram liderados por ativistas e movimentos sociais

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44º Encontro Anual da ANPOCS. GT26 - Movimentos Sociais: Protesto e Participação.
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feministas, tais como: o chamado “#EleNão”, realizado em setembro de 2018 como oposição à
eleição de Bolsonaro; aqueles que ocuparam as ruas em 8 de março de 2019, Dia Internacional
da Mulher; e a Marcha das Margaridas, que reuniu na capital federal milhares de mulheres
trabalhadoras em agosto de 2019. São esses os objetos de reflexão do presente trabalho. Em
que pese o tamanho e a importância desses protestos, por serem recentes, ainda não há literatura
sobre os mesmos.
Mas o conhecimento sobre os ciclos de confrontos brasileiros da última década já conta
com certa acumulação. Embora haja variações nos ciclos brasileiros, o que impossibilita a
associação de cada um deles a um único protesto, pauta ou ator, os mais emblemáticos ficaram
conhecidos como Jornadas de Junho de 2013. Em meados de junho de 2013, milhares de
brasileiros foram às ruas com pautas diversas (Alonso e Mische, 2016; Purdy, 2017; Tatagiba
e Galvão, 2019).
Vários desses protestos foram marcados por episódios de violência de gênero e por
“tentativas de tematização dessas práticas violentas no próprio cerne das manifestações”
(Sarmento, Reis e Mendonça, 2017: 93). Embora o gênero não fosse central nesse ciclo de
protestos, a defesa dos direitos das mulheres era uma bandeira recorrente que se somava a
outras, tais como queixas dirigidas ao governo e ao sistema político, seguidos por temas como
salário, trabalho e condições de vida (Tatagiba e Galvão, 2019). A forte defesa de pautas
feministas nos grandes protestos de rua ou nas redes sociais digitais foi chamada por parte da
mídia brasileira de “primavera feminista no Brasil” (Piscitelli, 2017).
Conforme destacam Tatagiba e Galvão (2019), esses protestos produziram alterações na
conjuntura política, gerando novas oportunidades políticas que incluíram um conjunto
diversificados de atores, consolidando um ambiente de instabilidade, o qual contribuiu para o
impeachment de Rousseff. Fomentado por esse ciclo, protestos posteriores às Jornadas
passaram a apoiar o projeto político liderado pelo atual presidente Bolsonaro (Almeida, 2019).
Os protestos não aconteceram somente no Brasil. Em meados de 2010 grandes protestos
ocorreram em outros lugares do mundo, como as jornadas da Praça Tahir no Egito, o Occupy
Wall Street nos Estados Unidos e os Indignados na Espanha (Glasius e Pleyers, 2013). Protestos
feministas também se articularam em outros lugares do mundo. Na internet diversas mulheres
denunciaram episódios de assédio, inclusive cometidos por celebridades, em um movimento
chamado #Yotambién na Argentina em referência ao #MeToo norte-americano. Em 2016 no
México foi lançada a campanha #Miprimeroacoso, inspirada na hashtag brasileira contra o
assédio (Agência Patrícia Galvão, 2018). Em 2015, ocorreu o protesto chamado Ni una a menos,
na Argentina pelo fim da violência contra a mulher, inclusive: “A ação teve repercussão em
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mais de 200 localidades no país e congregou mais de 200 mil pessoas” além de ter impacto
também em outros países da América Latina, como Chile e Brasil (Lima-Lopes; Gabardo, 2019:
803).
Para entender os protestos de mulheres recentes no Brasil, adotamos a teoria do
confronto (ou processo) político. Segundo McAdam, Tarrow e Tilly (2009: 11), expoentes
dessa teoria, “o confronto político tem início quando, de forma coletiva, as pessoas fazem
reivindicações a outras pessoas cujos interesses seriam afetados se elas fossem atendidas”. Para
essa teoria o Estado e seus governantes devem ser considerados nas análises, pois eles são alvos
dos confrontos e abrem oportunidades para que eles ocorram, ainda que essa oportunidade seja
a ameaça de direitos, como no caso dos movimentos de mulheres aqui analisados.
Ainda conforme tais ensinamentos, os movimentos sociais utilizam repertórios
compartilhados e que “são uma expressão da interação histórica e atual entre eles e seus
opositores” (McAdam, Tarrow e Tilly, 2009: 24). Além de atuarem conforme os repertórios
disponíveis, os movimentos sociais também o alteram: “a ação do movimento social também
altera as estruturas de oportunidade, principalmente ao contribuir para mudanças nos modos
conhecidos de reivindicar, nas formas de repressão e facilitação por parte das autoridades e nas
identidades políticas estabelecidas.” (McAdam, Tarrow e Tilly, 2009: 27). Logo, a análise dos
protestos não revela somente estratégias rotineiras: a ação dos movimentos sociais altera o
governo e os modos de se protestar.
Com base no referencial sobre confronto político, este trabalho responde à seguinte
pergunta: como os movimentos feministas e suas pautas vêm se alterando em consonância com
o contexto político? Para respondê-la retomamos, por um lado, posicionamentos do governo
Bolsonaro em relação aos direitos das mulheres, por outro, as pautas dos protestos favoráveis a
esses direitos. Temos como hipótese que os movimentos feministas aqui analisados têm
utilizado o confronto contra a gestão Bolsonaro.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva. Primeiramente foram retomados
estudos sobre as relações entre movimentos sociais e governo nas gestões petistas. Em seguida
foram reunidas algumas diretrizes e posições do governo Bolsonaro a respeito dos direitos das
mulheres, que revelam posicionamentos em relação a alguns ideais dos movimentos feministas.
Os dados pertinentes à questão foram coletados na grande imprensa brasileira, em especial no
jornal Folha de S. Paulo entre os meses de agosto e outubro de 2019. Os resultados se encontram
na primeira seção deste trabalho, intitulada “Mudanças nas diretrizes do governo federal em
relação aos direitos das mulheres”.
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Para que fosse possível verificar a pauta dos protestos que ofereceram resposta às
provocações de Bolsonaro, foram escolhidos protestos a favor dos direitos das mulheres
organizados em um contexto político de ascensão do atual presidente. Com base nesses
critérios, os primeiros protestos analisados foram os que são conhecidos pelo símbolo que se
disseminou pelas redes sociais: #EleNão. Eles ocorreram no dia 29 de setembro de 2018, entre
o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. A segunda série de protestos
aconteceu no dia 8 do março de 2019, Dia Internacional das Mulheres. O mais recente protesto
abordado pela pesquisa é a “Marcha das Margaridas”, ocorrida em agosto de 2019 em Brasília,
capital federal do Brasil. As pautas desses protestos foram coletadas entre agosto e outubro de
2019 em documentos e entrevistas produzidos por suas organizadoras1. A exposição das pautas
desses três conjuntos de protestos ocorre na segunda seção do trabalho com o título “Os
protestos de mulheres contra o governo Bolsonaro”.
A análise de eventos de protesto (AEP), tem sido uma técnica de investigação utilizada
no campo de estudos sobre movimentos sociais. Esses estudos geralmente produzem um
catálogo de eventos de protestos comumente extraídos de jornais, embora mais recentemente
outras fontes estejam sendo utilizadas (Tatagiba e Galvão, 2019).
Tal análise permite captar sentidos e significados de fenômenos recentes de modo
comparativo. Por outro lato, o método tem suas limitações. Uma delas diz respeito à
seletividade das fontes consultadas. Neste trabalho, por exemplo, optou-se por investigar as
pautas dos protestos a partir das informações disponibilizadas pelos próprios movimentos
sociais e ativistas feministas. No entanto, sabe-se que os discursos das ativistas são produzidos
justamente para reproduzir e provocar ainda mais revolta contra os governos, em especial o do
atual presidente, assim como o discurso de Bolsonaro e de seus apoiadores são construídos para
viabilizar um determinado projeto político próprio. Mesmo assim o trabalho parte da premissa
de que é importante analisar os discursos que pautam os protestos, ainda que não sejam fontes
de verdades, pois eles refletem e conduzem práticas sociais.
O trabalho contribui para a compreensão sobre a relação entre movimentos sociais e
Estado ao demonstrar como as pautas dos protestos e as próprias estratégias dos movimentos
sociais têm se norteado pelo confronto com o governo.
Além de dialogar com a literatura sobre movimentos sociais e protestos, o trabalho
contribui com os estudos feministas. Autoras do chamado blacks feminists, como Angela Davis
e Kimberlé Crenshaw, demonstram a necessidade de as mulheres negras terem voz, tanto na
exposição das suas dificuldades, quanto na proposição de ações que as combatam. Angela Davis
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(2016), por exemplo, ensina sobre os legados da colonização e a possibilidade da


autodeterminação dos pensamentos e comportamentos, começando por ser uma mulher negra.
Feministas latino-americanas (Bidaseca, 2011; Segato 2013) também têm chamado a
atenção para a necessidades de pensamentos e ações que superem o legado colonial e coloquem
as latinas-americanas como protagonistas das reflexões e ações. Nessa perspectiva as
desigualdades de gênero também têm relação com o passado colonial e com a imposição de um
feminismo apartado das realidades das latino-americanas e indígenas. Este trabalho tem como
uma das pretensões publicizar as lutas feministas brasileiras, em seus próprios termos.

1. Mudanças nas diretrizes do governo federal em relação aos direitos das mulheres

O Brasil sob o governo Bolsonaro passa por um ciclo político diferente do anterior. Em
2002, Luís Inácio Lula da Silva, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), foi eleito presidente
do país e reeleito em 2006. O PT permaneceu no poder com a eleição de Dilma Rousseff em
2010, também reeleita em 2104. A gestão petista aproximou movimentos sociais do Estado em
pelo menos dois sentidos: primeiro com a ampliação das Instituições de Participação (IPs),
órgãos em que membros da sociedade civil elaboram junto ao governo diretrizes para as
políticas públicas. Na área das políticas para as mulheres, as Conferências tiveram a
importância de legitimar as demandas por equidade de gênero, especialmente ao transformarem
em “questão de governo” temáticas que eram vistas tradicionalmente como assuntos de cunho
intimista e privado (Santos, Perez e Szwako, 2017).
Em segundo lugar, a aproximação entre movimentos sociais e gestão pública ocorreu
nos governos petistas por meio da escolha de lideranças de movimentos sociais para cargos
centrais da burocracia federal, fenômeno chamado de ativismo estatal (Cayres, 2017; Pires e
Vaz, 2014). Essa aproximação também se deu no campo dos direitos das mulheres, com a ida
de feministas para cargos da burocracia federal, o que ficou conhecido como feminismo estatal
(Bohn, 2010; Matos e Paradis, 2014). O aumento do ativismo estatal tem relação com o fato de
que o Partido dos Trabalhadores (PT) contava com ativistas de movimentos sociais em seus
quadros, além de prever a participação como uma de suas diretrizes de gestão.
As interações entre movimentos sociais e Estado nas gestões petistas resultou em
importantes avanços legislativos para os direitos das mulheres, como a aprovação da Lei Maria
da Penha de combate à violência doméstica de gênero e a Lei do Feminicídio que converteu em
crime hediondo o assassinato de mulheres em virtude de seu “sexo”. Outro resultado foi a
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formulação de políticas públicas mais afinadas às demandas de movimentos sociais (Santos,


Perez e Szwako, 2017).
A direção do governo brasileiro se alterou substancialmente nos últimos anos. Desde o
governo de Michel Temer tem se destacado no Brasil uma nova direita cuja gestão resulta na
prática em uma “democracia blindada”, cujas características segundo a definição de Goldstein
(2019: 245) seriam:

a construção de um inimigo “esquerdista” para justificar a repressão de


ativistas e movimentos sociais, preservando uma base leal e manipulando a
raiva se nenhuma conquista econômica for feita; um papel partidário político
para os poderes judiciais com forte interferência de lobby e consultores
militares; uma democracia fraca sem participação política; o estabelecimento
de uma ordem favorável ao mercado contra a plataforma votada pela maioria
dos brasileiros nas eleições de 2014; os avanços de direita no discurso público
que reestruturaram a cultura e a discussão política; e a adesão de um candidato
de extrema-direita à presidência pela primeira vez desde a redemocratização
começou em 1985.

Esse candidato, Jair Bolsonaro, foi eleito em 2018 e assumiu “as pautas dos costumes
[...] agradando às forças cristãs do Congresso Nacional” (Almeida, 2019: 200). Ainda conforme
Goldstein (2019: 257), não é possível se referir a essa nova ordem de direita como ditadura, e
ainda assim não se pode caracterizá-la como totalmente democrática, já que se trata de uma
democracia cujas potencialidades têm sido mutiladas.
A gestão de Bolsonaro deixa bem evidente a diferença que em relação ao período
governado pelo PT, especialmente na área dos direitos das mulheres. Em sua gestão a Secretaria
Nacional dos Direitos das Mulheres, que na maior parte dos governos petistas tinha estatuto de
Ministério, com burocracia e orçamento próprio, foi transferida para o recém criado Ministério
da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). O próprio nome atribuído ao novo
ministério (Mulher, Família e Direitos Humanos) indica a direção do projeto bolsonariano: a
mulher aparece ao lado da família.
Para comandar o Ministério foi escolhida a pedagoga, advogada, evangélica e pastora,
Damares Alves. A ministra causou polêmica após divulgar um vídeo na internet logo após a
vitória de Jair Bolsonaro alegando que “a nova era começou”, e que a partir de então “menino
veste azul e menina veste rosa” (Pains, 2019). A declaração da ministra segue na contramão
das pautas básicas dos movimentos feministas: a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Mesmo antes da eleição, Bolsonaro chegou a defender que as mulheres não devem
receber o mesmo salário que os homens, ainda que exerçam a mesma função (Bragon, 2018).
O presidente também demonstrou menosprezo às mulheres ao dizer em 2017 que tem cinco
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filhos: “Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher” (Veja São
Paulo, 2017). Em 2018, o vice de Bolsonaro, general Mourão, afirmou à Folha de S. Paulo que
famílias sem “pai e avô” e com “mãe e avó” são “fábricas de desajustados” que ingressam no
narcotráfico, reafirmando uma suposta supremacia da presença de um homem nos lares
brasileiros (Gielow, 2018). Esses posicionamentos revelam que os governantes do Brasil
consideram mulheres inferiores em relação aos homens, justamente o que os feminismos
combatem.
A agenda anti-gênero foi central na candidatura de Bolsonaro. Justamente a Ministra
Damares Alves agiu como pioneira quando, destoando da verdade, denunciou em pregações na
Primeira Igreja Batista, ainda em 2013, a suposta existência de cartilhas escolares “ensinando
homossexualidade”. Jair Bolsonaro levou a história ao Jornal Nacional em 2018 acusando o PT
de “promover a homossexualidade” por meio de cartilhas distribuídas nas escolas (Mesquita,
2019).
O combate à chamada “ideologia de gênero” se tornou uma das principais bandeiras do
presidente e de seus apoiadores. Para eles haveria um movimento orquestrado por professores,
universidades e escolas dedicado especialmente a “ensinar” e “incentivar” meninos e meninas
a serem homossexuais, faltando com o exercício de seus supostos papéis naturais de gênero.
Por isso a discussão sobre gênero deveria ser proibida nas escolas e em outros espaços
educacionais. Nesse sentido a base governista de Jair Bolsonaro defende em âmbito federal
projetos de lei que seguem as diretrizes do Movimento “Escola sem Partido”. O Movimento
surgiu como uma reação a um suposto fenômeno de instrumentalização do ensino para fins
político ideológicos, partidários e eleitorais. Na prática, para acabar com a expressão da opinião
de professores em sala de aula, apoiadores de Bolsonaro defendem a suposta imparcialidade e
neutralidade do docente. Conforme essa defesa, se o professor não pode expressar opinião sobre
política, não poderia também discutir gênero e feminismo.
O combate à discussão sobre gênero é uma das bandeiras centrais do próprio
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Nesse sentido o Ministério extinguiu
em 2019 seis comitês incluindo os de Gênero e Diversidade e Inclusão (MMFDH, Portaria nº
2.046, de 15 de agosto de 2019). Tais comitês atuavam na coibição da violência de gênero, na
promoção da igualdade e diversidade sexual dentro do Ministério.
A discussão sobre gênero foi suprimida em mais alguns episódios. Por exemplo, o
Decreto nº 10.112, de 12 de novembro de 2019, sobre o “Programa Mulher Segura e Protegida”
(Brasil, 2019b) excluiu a palavra “gênero”, que constava na norma anterior. Especificamente,
o trecho “transversalidade de gênero nas políticas públicas” da norma de 2013 foi alterado para
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“transversalidade dos direitos das mulheres nas políticas públicas”. Ao deixar de fazer menção
às violências de gênero, o decreto acaba por restringir os direitos para as mulheres cis (que se
identificam com o seu gênero biológico) excluindo, por exemplo, as mulheres trans. O decreto
também não legisla sobre políticas de prevenção, fundamentais no combate às diversas formas
de violências contra as mulheres.
Mesmo em outras áreas do governo vem ocorrendo censuras em relação ao gênero: por
exemplo, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), sob o comando do chanceler Ernesto
Araújo, passou a orientar diplomatas brasileiros a enfatizar apenas a “definição tradicional” de
sexo biológico nos organismos internacionais multilaterais, segundo o Jornal Folha de São
Paulo (Juny 26, 2019).
Houve legislações no sentido de proteção às mulheres no período, como a Lei nº. 13.931,
de 10 de dezembro de 2019 (Brasil, 2019c), que dispõe sobre a notificação compulsória dos
casos de suspeita de violência contra a mulher pelos serviços de saúde às autoridades policiais.
A norma obriga profissionais de saúde a registrar no prontuário médico das pacientes e
comunicar à polícia, em até 24 horas, indícios de violência contra a mulher, o que antes era
comunicado apenas ao Sistema Único de Saúde. No entanto, a lei foi vetada pelo Presidente
sob o argumento de que contraria o interesse público. O veto não foi aceito pelo Congresso
Nacional. É importante notar que inciativas como essa demonstram o foco no combate à
violência física contra as mulheres. No entanto, como ensina Segato (2013), a violência tem
papel fundamental na reprodução da ordem do gênero. A violência não é uma consequência a
ser combatida em sociedades que se pretendem permanecer machistas: ela está atrelada ao
machismo. Nesse sentido, o enfoque do governo Bolsonaro em alguns projetos relacionados ao
combate à violência de gênero se torna inócuo enquanto os próprios governos combatem a
discussão sobre as desigualdades relacionadas ao gênero. Enquanto houver tais desigualdades,
a violência em suas diversas formas estará presente.
Outras decisões do governo Bolsonaro não tocam diretamente nas questões de gênero,
mas implicitamente significam perda de direitos para as mulheres. Uma das decisões mais
importantes foi a reforma previdenciária de 2019 que passou a exigir das mulheres ao menos
62 anos de idade para se aposentar (antes eram 60 anos).
O governo Bolsonaro também tem combatido o diálogo com movimentos sociais que
lutam pela concretização de direitos. Prova disso é a publicação do Decreto 9.759 em abril de
2019 (Brasil, 2019a) que estabelece diretrizes, regras e limitações para colegiados da
administração pública federal, extinguindo todos os colegiados que não tenham sido
regulamentados em lei. No conceito de colegiado estão incluídos conselhos, comitês,
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comissões, grupos, juntas, equipes, mesas, fóruns, salas e qualquer outra denominação atribuída
ao colegiado. O decreto presidencial pode extinguir ao menos 34 Conselhos, incluindo o
Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBT (CNCD).
As tentativas do governo Bolsonaro de diminuir direitos das mulheres e discussões caras
aos movimentos feministas revelam a reação conservadora contrária aos avanços dos direitos
para as mulheres. Conforme Jacira Melo, diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão, a
supressão do debate sobre gênero representa: “[...] um perigo de retrocesso imenso. Para
enfrentar a violência contra as mulheres é preciso trabalhar a relação de respeito mútuo e
mostrar que é injusta a desigualdade de gênero” (Agência Patrícia Galvão2015).
O combate à discussão sobre gênero ocorre em um contexto de aumento de casos da
violência contra a mulher e diante de índices que colocam o Brasil como um dos piores países
para as mulheres viverem, dada as diversas formas de violência a que estão submetidas. De
acordo com dados do Mapa da Violência de 2015 (Waiselfisz, 2015: 11), “entre 1980 e 2013,
num ritmo crescente ao longo do tempo, tanto em número quanto em taxas, morreu um total de
106.093 mulheres, vítimas de homicídio”. O Brasil figura entre os cinco primeiros países com
altas taxas de homicídio de mulheres. Segundo o Mapa “efetivamente só El Salvador,
Colômbia, Guatemala (três países latino-americanos) e a Federação Russa evidenciam taxas
superiores às do Brasil” (Waiselfisz, 2015: 27).
Um dos casos recentes emblemáticos da violência contra a mulher no Brasil foi o
assassinato da vereadora carioca Marielle Franco em 2018. Marielle era socióloga, filiada ao
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e defendia o feminismo e os direitos humanos. Ela
também criticava a intervenção federal no Rio de Janeiro e a Polícia Militar, tendo denunciado
vários casos de abuso de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades
carentes. Em 2019 a Polícia Civil prendeu dois policiais sob acusação de terem matado a
vereadora. Ainda não se sabe quem mandou matá-la. A morte de Marielle é mais do que um
assassinato: trata-se de uma tentativa de aniquilar os ideais que ela defendia.

2. Os protestos de mulheres contra o governo Bolsonaro

A reação ao projeto liderado por Bolsonaro especialmente em sua relação contrária aos
direitos das mulheres tem sido articulada pela sociedade civil de diversas formas. Uma delas
são os protestos. Este trabalho concentra-se nos protestos organizados por movimentos sociais
e ativistas feministas que se contrapõem declaradamente ao projeto liderado por Bolsonaro.
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O primeiro protesto famoso por se opor às posições de Bolsonaro em relação aos direitos
das mulheres ficou conhecido pelo símbolo que se disseminou nas redes sociais: #EleNão. O
protesto ocorreu no dia 29 de setembro de 2018, entre o primeiro e o segundo turno das eleições
presidenciais no Brasil, e seu principal objetivo era derrotar a candidatura de Bolsonaro para a
presidência. Dezenas de cidades brasileiras tiveram manifestações contrárias a Bolsonaro,
reunindo ao todo mais de 100 mil mulheres nas ruas. Também houve atos em diferentes cidades
do mundo, como Nova York, Lisboa, Paris e Londres.
Os protestos impressionaram pela capilaridade e a grande quantidade de participantes.
Céli Regina Jardim Pinto, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirmou
em reportagem à BBC (Rossi, Carneiro e Gragnani, 2018) que o #EleNão de 29 de setembro
foi a maior manifestação de mulheres da história do país.
O grupo de mulheres que convocou os protestos publicou em 2018 um documento
chamado “Democracia Sim – Manifesto”. O documento traz uma lista detalhada dos motivos
que levaram as mulheres brasileiras a criarem essa resistência contra Bolsonaro. Entre as
principais razões, está o fato de Bolsonaro apoiar a reforma trabalhista, sua defesa de um
modelo de segurança que incentivaria o extermínio das juventudes negras, o preconceito contra
LGBTs, suas declarações misóginas e o receio quanto ao retorno da ditadura militar.
A diferença desses protestos em relação aos outros abordados neste trabalho tem a ver
sobretudo com a forma de organização e convocação: sua articulação não aconteceu a partir de
movimentos sociais, mas sim por iniciativa de ativistas digitais. A hashtag #EleNão foi criada
por uma publicitária, após conversas com suas amigas sobre o que seria possível fazer diante
do crescimento das intenções de voto para o então candidato Jair Bolsonaro. Em entrevista ao
jornal El País (Oliveira, 2018) a publicitária Ludimilla Teixeira declarou que: “percebia nas
minhas próprias redes muitas amigas comentando e criticando essas posturas [do Bolsonaro],
então decidimos unir todas essas mulheres e criar um fato político para mostrar que grande parte
da população não é favorável a essa candidatura".
Com o crescente uso da hashtag #EleNão como forma de protesto virtual, as ativistas
criaram um grupo na rede social Facebook chamado “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”. O
grupo conseguiu reunir 3,8 milhões de mulheres (Cafardo, 2018). A preparação dos protestos
contra a candidatura de Jair Bolsonaro aconteceu dentro dessa página.
Outra diferença desse protesto em relação aos outros abordados neste trabalho deve-se
à recusa de vinculação partidária por parte das organizadoras do grupo. A própria criadora do
grupo declarou que nunca participou ativamente do movimento feminista, nem se filiou a
partido algum (Cafardo, 2018). O Manifesto do grupo “Democracia Sim” (2018) ressalta a
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diversidade e o fato de suas participantes não estarem vinculadas a nenhum partido: “votamos
em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos.” Essa é uma
resposta e uma maneira de aglutinar mais ativistas em um contexto de descrença nos partidos
políticos. Descrença que já estava expressa nas Jornadas de Junho de 2013 (Tatagiba, 2014;
Tatagiba e Galvão, 2019) e remonta ao repertório autonomista das Jornadas, descrito por
Alonso e Mische (2016).
O segundo conjunto de protestos aqui analisados em defesa das mulheres e com críticas
ao presidente ocorreu no dia 8 do março de 2019, Dia Internacional das Mulheres. Pelo fato de
terem sido organizadas localmente, as manifestações foram variadas: além dos protestos em
especial nas grandes capitais, aconteceram aulas públicas, cerimônias e outras formas diversas
de manifestação.
Segundo informações de um importante movimento social feminista, a Marcha Mundial
das Mulheres (2019), na capital do estado de São Paulo o lema “Mulheres contra Bolsonaro!
Vivas por Marielle, em Defesa da Previdência, por Democracia e Direitos” reuniu mais de 80
mil pessoas na Avenida Paulista. No Rio de Janeiro (RJ), o ato reuniu mais de 30 mil mulheres.
As mulheres também organizaram manifestações em outras partes do Brasil.
Embora com variações, as pautas dos protestos se opunham de modo geral à “proposta
de reforma da Previdência, ao aumento da militarização, à criminalização dos movimentos
sociais, à política de ‘entreguismo’ dos recursos naturais que afeta a soberania nacional [...] ao
machismo, à violência de gênero, à desigualdade, ao racismo e ao preconceito contra pessoas
LGBTs” (CUT, 2019). A morte da vereadora carioca Marielle Franco foi lembrada em diversos
atos. As manifestações denunciaram ainda o avanço da onda conservadora, os ataques à
democracia e a escalada da violência contra as mulheres (Marcha Mundial das Mulheres, 2019).
As pautas desses protestos revelam o combate à violência física contra a mulher, além
da percepção de que as violências e opressões também estão atreladas à classe social,
raça/cor/etnia e orientação sexual, o que vem sendo chamado de interseccionalidade. A
interseccionalidade é um conceito acadêmico e presente na prática dos movimentos sociais para
denunciar que as desigualdades têm relação com gênero, mas também com classe social,
raça/cor/etnia e orientação sexual (Rios, Perez e Ricoldi, 2018).
Considerado pela Marcha Mundial das Mulheres como responsável por abrir “o
calendário de manifestações de massa contra as reformas e a retirada de direitos propostas pelo
governo de Jair Bolsonaro” (Marcha Mundial das Mulheres, 2019), os protestos em volta do
dia 08 de março continham, além da tradicional defesa dos direitos das mulheres, críticas ao
atual governo.
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A crítica ao avanço de um novo projeto no Brasil já apareceu em protestos anteriores


realizados no Dia Internacional das Mulheres. Em 2017 os protestos pediam a saída do
presidente interino Michel Temer sob o slogan “Fora Temer”, mas a pauta central era a oposição
à Reforma da Previdência (Marcha Mundial das Mulheres, 2017). Em 2018, os protestos do 8
de março foram marcados por manifestações por democracia e aposentadoria (Marcha Mundial
das Mulheres, 2018). Já nos protestos de 2019 a crítica a Bolsonaro se destacou. Sônia Coelho,
da coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres, declarou que: “o sentido desse 8
de março [de 2019] foi mostrar que as mulheres continuam em resistência contra Bolsonaro,
contra o conservadorismo e fundamentalmente contra a reforma da previdência que vai
penalizar mais as mulheres pobres, as mulheres negras. Nesse sentido, as manifestações
cumpriram seu objetivo, trazendo inclusive de volta as pessoas que estiveram presentes no
#EleNão”. (Marcha Mundial das Mulheres, 2019).
Ou seja, os protestos de 2017 e 2018 eram principalmente contra projetos considerados
negativos para a classe trabalhadora, em especial para as mulheres, como a reforma da
previdência. Havia críticas ao governo; mas em 2019 o alvo passa a ser Bolsonaro e todo o
projeto político que ele representa.
Em relação à organização dos protestos de 8 de março, todo ano os movimentos sociais
participam da organização em várias cidades do Brasil e do mundo. Além de contar com
movimentos sociais, alguns foram convocados também por ativistas feministas via redes sociais
digitais. Essa forma de convocação ocorreu como em São Paulo, com um evento criado no
Facebook chamado Movimento 8 de março. Conforme estudo de Morgans (2018), movimentos
sociais radicais enfrentam dificuldade de se envolver com o ciberespaço, dominado por atores
hegemônicos. Ainda assim o protesto contou com canais digitais. Tal informação demonstra
como as redes sociais, a despeito das suas limitações, podem potencializar os protestos
organizados por movimentos sociais, em uma sinergia entre o espaço virtual e a militância dos
movimentos. Estratégias particulares ao ativismo digital utilizadas pelo #EleNão foram mais
uma vez mobilizadas, como por exemplo a convocação pelas redes sociais, de modo que aqui
elas contribuíram para o repertório dos movimentos sociais.
O último e mais recente protesto abordado neste trabalho é a “Marcha das Margaridas”,
ocorrido em agosto de 2019 em Brasília, capital federal do Brasil. Ele contou com a participação
de 100 mil mulheres de todo o Brasil (Marcha Mundial das Mulheres, 2019).
Sua organização foi realizada pela Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais
Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), em parceria com movimentos feministas e
de mulheres trabalhadoras, centrais sindicais e organizações internacionais, tais como a Marcha
13

Mundial das Mulheres (MMM), a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), a União


Brasileira de Mulheres (UBM) e muitos outros. Em 2019 se uniram à Marcha das Margaridas
a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas, que reuniu 3 mil mulheres acampadas em Brasília
desde 9 de agosto. O protesto ocorre a cada quatro anos desde o ano de 2000 e é considerado
pelos organizadores a maior ação de mulheres da América Latina.
Por conta do tempo de existência da Marcha das Margaridas e a coesão de suas propostas
(diferente dos protestos anteriores), é possível acompanhar as mudanças das pautas ao longo
dos anos.
A primeira Marcha aconteceu em agosto do ano de 2000 e tinha como lema: “2000
razões para marchar: contra a fome, a pobreza e a violência sexista”. Com Fernando Henrique
Cardoso no Governo Federal, a marcha teve um forte caráter de denúncia do modelo de
desenvolvimento rural do país e de como a política de Estado neoliberal impactava a vida das/os
trabalhadoras/es rurais. Mesmo assim, conforme documento da Marcha, pela primeira vez na
história, o governo brasileiro teria se dedicado a negociar uma pauta específica das
trabalhadoras rurais (Observatório Marcha das Margaridas, 2019).
Em agosto de 2003, no início do primeiro mandato do governo Lula, as mulheres
trabalhadoras rurais realizaram a segunda Marcha das Margaridas com pautas semelhantes às
da marcha anterior (“2003 Razões para Marchar contra a fome, a pobreza e a violência sexista”).
A Marcha posterior, em 2007, manteve o sentido do lema do protesto anterior. Pela intensa
relação entre movimentos sociais e gestões petistas, explorada na seção anterior deste trabalho,
naquele momento a pauta dos protestos se concentrava nos direitos e na diminuição das
desigualdades sociais.
Em 2011 a bandeira foi em prol das “2011 Razões para Marchar por: desenvolvimento
sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade”. O mesmo sentido das pautas se
repetiu na Marcha de 2015. Mas em 2015 o lema “Margaridas seguem em marcha por
desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igualdade e liberdade” traz
a defesa da democracia, em uma clara resposta à ameaça de afastamento de Dilma Rousseff do
cargo de presidente da República.
Já em 2019, sob o governo Bolsonaro, a sexta Marcha das Margaridas passou a se
chamar “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça,
igualdade e livre de violência”. A soberania do povo diante de um governo refratário à
interlocução com movimentos sociais que defendem a ampliação de direitos, passou a ser um
dos motes dos protestos, assim como a oposição à violência contra a mulher.
14

Entre 2000 e 2015, a Marcha elaborou duas pautas dirigidas ao Estado com vistas à sua
negociação. Tais pautas incluíam demandas por políticas de acesso à terra para mulheres,
políticas de crédito, políticas sociais para o campo, como saúde, educação e moradia de
qualidade. Já em 2019, a Marcha optou por não elaborar uma pauta política para o Estado, por
entender que o atual governo não negociaria com as demandas das Margaridas. Como
alternativa, lançaram um documento intitulado “Plataforma Política - Marcha das Margaridas
2019”, no qual se apresentava o projeto político de sociedade defendido pela
Marcha. Conforme Mazé Morais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag), “não dá para negociar com governo que retira direitos. Por isso, neste ano
apresentamos uma plataforma que anuncia qual o modelo de sociedade que as mulheres
defendem” (Peres, 2019).
Em 2019 a Marcha “assumiu um caráter de denúncia, de demarcação de posições e,
sobretudo, de resistência” (Morais, August 19, 2019). Ou seja, nos governos petistas anteriores
a Bolsonaro, “[...] a Marcha apresentava uma pauta de negociações que foi capaz de impulsionar
conquistas de direitos e políticas públicas” (Marcha Mundial das Mulheres, 2019). Já em 2019,
conforme se pode verificar no documento “Plataforma Política” (2019, s/p.) a Marcha serviu
para denunciar:

[...] a violência que estamos sofrendo, o aumento das desigualdades


sociais, pautadas nas relações de classe, gênero e raça, as
desconstruções e violações de direitos, o corte no orçamento de
políticas de assistência social, de saúde, de educação, de moradia, de
incentivo à produção de alimentos. Enfim, denunciamos o desmonte do
Estado democrático de direito.

A pauta do protesto era também contra Bolsonaro e alguns de seus projetos, tais como:
a reforma da previdência (considerada um ataque aos direitos dos trabalhadores, em especial
das mulheres), as políticas de flexibilização de agrotóxicos e a abertura de possibilidades para
que terras indígenas e zonas protegidas fossem abertas para a exploração. Mais do que a defesa
das mulheres, a marcha das Margaridas pedia a volta dos direitos para todos os trabalhadores,
considerados sob ameaça no contexto político atual.
No encerramento do ato, Sonia Coelho, da coordenação da MMM, declarou: “é para
isso que estamos lutando. Vamos voltar para cada canto desse país, para cada comunidade, cada
sindicato, cada grupo de mulheres e dizer ‘Fora Bolsonaro!’, ‘Fora Bolsonaro!’” (Marcha
Mundial das Mulheres, 2019). Logo, o protesto se transformou em uma crítica ao governo
Bolsonaro.
15

Depreende-se da exposição das pautas dos protestos que os diversos movimentos sociais
e ativistas em prol dos direitos das mulheres têm escolhido seus repertórios dentro das
possibilidades de reconstituição das políticas públicas de cunho social. O confronto tem sido
um desses repertórios.
Conforme a explicação de Tarrow (2012) os repertórios são escolhidos de acordo com
as expectativas do grupo a partir de uma análise sistematizada dos caminhos possíveis e das
experiências compartilhadas. Nesse sentido são parte de um sistema mais amplo de conflito e
cooperação: ao mesmo tempo em que podem cooperar com o Estado, podem também participar
de processos conflitivos a fim de pautar suas demandas na arena política.
No caso dos protestos analisados é possível verificar críticas à diminuição de direitos
para as mulheres por parte do governo Bolsonaro e a contraposição ao próprio governo
Bolsonaro e ao que ele representa no campo do direito das mulheres e no campo dos direitos
sociais. Essas pautas diferem daqueles presentes em protestos anteriores que aconteceram nos
governos petistas. Tais diferenças mostram mudanças nos ciclos brasileiros: tanto no político,
quanto no confronto engendrado por movimentos sociais. Em um governo agora refratário aos
ideais democráticos, os protestos passaram a defender o próprio campo do direito, inclusive o
direito de se manifestar.
Em suma, o ciclo político brasileiro se alterou e junto dele o repertório e estratégias dos
movimentos sociais e de suas manifestações tais como os protestos. Agora a estratégia de lutas
das mulheres é a do confronto, assim como o confronto é a estratégia do governo Bolsonaro.
Para Tarrow (2009), o confronto político emerge dentro de um contexto sócio-histórico
relacionado à sua estrutura de oportunidades. Assim, os repertórios são escolhidos conforme os
processos vão se apresentando nos campos político, econômico, cultural e social. No caso dos
movimentos e protestos aqui analisados é possível perceber que no momento em que governos
se tornam mais permeáveis à participação social (durante a gestão petista), torna-se possível a
articulação de demandas no aparato burocrático, seja pela inserção de militantes na composição
do governo, seja via canais institucionais de participação social. Nos governos petistas os
“movimentos sociais e atores estatais experimentaram criativamente [...] padrões históricos de
interação Estado-sociedade e reinterpretaram rotinas de comunicação e negociação de formas
inovadoras” (Abers, Serafim e Tatagiba, 2014: 326).
Entretanto, a partir de 2016, os movimentos feministas passaram a não contar mais com
a proximidade com o Estado, diminuindo consideravelmente as chances de influenciar as
políticas públicas e tiveram que recriar repertórios para publicizar suas ações diante “do
16

desrespeito com viés de gênero desencadeado” (Sarmento, Reis e Mendonca, 2017: 109) no
interior da arena institucional.
O trabalho demonstra então como os movimentos sociais respondem e acompanham as
mudanças no ciclo político. Não se trata bem de uma novidade pois a teoria do confronto
político já tem demonstrado as interações entre movimentos sociais e Estado. Mas a teoria do
confronto político foi utilizada no Brasil principalmente para explicar as interações entre
movimentos sociais e Estado durante os governos petistas. Já o presente trabalho demonstra
essas relações no caso do governo atual. No Brasil de Bolsonaro, a estratégia do confronto está
tanto entre os movimentos sociais, quanto dentro do governo.
O trabalho também mostra a força das mulheres unidas e dos movimentos feministas
em grandes protestos que se contrapõem à agenda conservadora do governo Bolsonaro. Essa
demonstração é significativa para a compreensão do papel das mulheres nas sociedades
contemporâneas. Mesmo sob diversos sistemas de dominação (colonialismo, machismo,
racismo etc.) são as mulheres brasileiras quem têm se colocado a favor de uma agenda
interseccional e democrática, assumindo assim o que já se sabia: que a elas não cabe um papel
subalterno; elas são protagonistas das mudanças históricas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após um certo avanço da agenda feminista no governo petista (ainda que com
restrições) assiste-se agora uma reação conservadora. Como resposta, uma das estratégias dos
movimentos sociais feministas tem sido a ocupação das ruas em franca crítica ao presidente
Bolsonaro e ao retrocesso no campo liderado por ele.
Para refletir sobre esse contexto, o trabalho analisou pautas de protestos em favor dos
direitos das mulheres e contra a gestão Bolsonaro. A hipótese era de que os movimentos
feministas presentes nos protestos têm utilizado o confronto contra a gestão Bolsonaro. O
trabalho demonstrou a tônica do confronto nos protestos e nas falas e diretrizes do governo
Bolsonaro em relação aos ideais feministas. Nesse sentido, os protestos acompanham a
estratégias de confronto utilizado pelo governo e a incentivam. Logo, para compreender
movimentos sociais e protestos é necessário analisar os contexto e estratégias do Estado, pois
elas estão inter-relacionadas, como ensina a teoria do confronto político.
O trabalho também mostra como as pautas dos protestos têm se alterado conforme o
contexto político, assumindo além de um caráter de confronto ao governo Bolsonaro, a própria
17

defesa da democracia. Esse é um indicativo importante para a compreensão da situação atual


do Brasil: o que esta é em jogo não é mais a ampliação dos direitos, mas a própria preservação
de um regime em que haja a possibilidade de discuti-los.
No entanto, seria preciso fazer algumas ressalvas. Os protestos existiram mesmo antes
de Bolsonaro. Por outro lado, a aposta no conflito observada nas pautas dos protestos não
significa o abandono das vias institucionais. As Instituições de Participação (tais como
Conselhos Gestores e Conferências de Direitos) cresceram na gestão petista. Em que pese uma
tentativa de desmonte por parte do governo Bolsonaro, muitas experiências estão resistindo.
Ademais, a defesa da pauta das mulheres e de outros grupos com mais dificuldade de acesso a
direitos tem sido feita também no Parlamento.
As estratégias dos movimentos sociais são múltiplas, em consonância com sua própria
constituição. Por isso sugere-se que os pesquisadores priorizem a atenção às formas que mais
têm ganhado maior destaque – os protestos justamente – sem que isso implique desconsiderar
as outras estratégias de atuação, como aquelas exercidas nas instituições de participação e de
representação. Consideramos que é por meio de um olhar ampliado que poderemos entender e
fomentar as diversas modalidades de resistência da sociedade civil.

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