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Locutor Aprendiz
Segredos que nunca lhe contaram!
- Um único exercício
- Locução em porta de loja
- Fale no som de rua
- Locutor de rádio web
- Improvise um estúdio em casa
- Cabine em caixa de ovos
- Prepare-se para rádio comercial

Destaques de alguns capítulos


“Você não precisa ter vastos conhecimentos universais, conhecer
de todos os assuntos e nem ter a voz e um Cid Moreira para ser
locutor. Você pode fazer muito com o potencial que tem, não
importa o tamanho, porque o importante é ser diferente. E é disso
que estamos tratando”

“E como ser diferente? Simples: explorando o seu talento e o


lapidando para usar todo seu potencial da melhor maneira possível.
Você é um indivíduo único, o que já lhe faz ser diferente. Começa
assim o seu lugar na comunicação”

“A maior parte do que li para melhorar a voz e falar bem não passa
de mito inventado ainda nos anos de 1940, quando havia uma
exigência muito grande para ser locutor de rádio, onde o locutor
precisava ter uma voz privilegiada de nascença e as técnicas
vocais ensinadas eram as mesmas para as aulas de canto”

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“Assim sendo, vou direto ao assunto: para preparar a voz eu só
usei um exercício em toda a minha vida profissional”

“As afirmações de que o ouvinte está em “primeiro lugar” é balela,


hipocrisia, conversa de mau vendedor. Estamos cansados de ouvir
em algumas rádios essa frase que é um antigo chavão: “aqui o
ouvinte está sempre em primeiro lugar!”. Só que quando você pede
para ouvir uma música, dizem que não podem tocar naquele
horário, pois na verdade ela não consta das músicas que “rendem”
para os “jabazeiros”

“Mas agora você pode perguntar: então, eu tenho que ter boa voz,
dicção perfeita e ter um vasto conhecimento universal para ser
locutor?

A resposta é não! Nada disso!”

“Você não precisa ter vastos conhecimentos universais, conhecer


de todos os assuntos e nem ter a voz e um Cid Moreira para ser
locutor. Você pode fazer muito com o potencial que tem, não
importa o tamanho, porque o importante é ser diferente”

“Não podemos perder o medo de falar em público ou mesmo


sozinho, num microfone em um solitário estúdio de rádio. Como
assim? Então, o que eu vou aprender neste livro?”

“A verdade é que a maioria das pessoas não sabe falar nessa


ferramenta importante. Já vi locutores experientes de discurso que
não sabiam explorar os recursos dessa peça magnífica. Não
conhecem a distância que precisam manter a boca da tela de
proteção, muito menos do microfone. Não mantém a direção
correta, cospem o tempo todo e se enrolam quando há um fio. É
um tal de “puf puf” nos alto falantes que irrita a qualquer um. Por
isso é preciso conhecer essa enxada”

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“Muita gente já tentou saber se o microfone, ou algum outro
equipamento pode mudar a voz da gente. Pode sim, mas na
maioria das vezes só para piorar. Calma! Vou explicar...”

“Só não há solução para a morte. Não existe voz feia, existe voz
mal cuidada ou mal usada. É possível treinar uma voz para falar e
até para cantar. A mesma voz que afinamos para o canto, afinamos
para a fala”

“Só existe um caminho para aprender a falar corretamente,


colocando a voz de maneira certa e, até impostando de forma a
ficar pomposa, para impressionar quem ouve. Vou ensinar como se
faz isso com apenas um exercício”

“Conheço dezenas de radialistas e oradores que possuem vozes


lindas, mas nunca aprenderam a usá-las corretamente. Mas
também conheço outros tantos que não foram agraciados com
vozes bonitas, mas que sabem usar as que têm, de forma a darem
verdadeiros shows nos microfones ou palcos onde ganham suas
vidas”

“Muitos acham que todo locutor precisa impostar a voz”

“Há muitos locutores e oradores que forçam tanto a voz para tentar
ser imponente que o máximo que conseguem é serem ridículos”

“E o né? Esse é um dos piores vícios que rondam a maioria dos


locutores. Já me vi infectado por essa peste. A cada frase que
pronunciava, lá vinha o tal do né”

“Um efeito desnecessário ao final das palavras provém de um


entendimento errado da interpretação de textos. O locutor precisa
saber o que está lendo para seu público”

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“Como estamos falando de como iniciar uma carreira de locutor,
vou ensinar como é que se faz um estúdio caseiro que não fica
devendo muito a um estúdio profissional”

“Saiba como produzir um anúncio ou texto comercial. Depois


aprenda como gravar de maneira correta, interpretando para ser
entendido”

“Saiba o que é e como fazer um Podcast”

“Está preparado para uma rádio web?”

“Um dos trabalhos de locução que mais emprega locutores é o de


propaganda em porta de loja. Há muitas formas de se fazer esse
tipo de propaganda na porta do comércio”

“Tanto os sons na porta de loja quanto nos serviços volantes, o


chamado som de carro, não tem a menor necessidade de serem
potentes, com grandes caixas reproduzindo graves estonteantes”

“Não poderia encerrar o livro sem fazer uma abordagem sincera


sobre a atual situação do campo profissional em que atua os
comunicadores que utilizam a voz como locutores. Neste capítulo,
busquei informações sobre o mercado de trabalho neste período
em que fecho a edição, dezembro de 2020”

Boa leitura!

Clóvis de Almeida Godoy

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Apresentação

Este trabalho é o resultado de mais de 40 anos de experiência


que obtive trabalhando em diversas emissoras de rádio e em dois
canais de televisão, além do conhecimento adquirido em 20 anos
fazendo locução de rádio, 10 anos como assessor de imprensa de
prefeituras e câmaras municipais, apresentação de shows em palcos,
protocolos e cerimoniais oficiais, palestras sobre comunicação,
professor de rádio e oratória pelo Instituto Federal do
Paraná/Pronatec, além do acumulado da vida acadêmica na
formação de jornalista pela Faculdade Sul Brasil.
Para ministrar o ‘Curso de Locutor Apresentador’ pelo
IFPR/PRONATEC, em 2013, preparei o curso todo nos moldes
acadêmicos com o lastro da experiência como profissional. Percebi
que a vontade dos alunos era tão grande de aprender, quanto a
facilidade que tive de ensinar, graças à forma como elaborei o roteiro
de temas para as 360 horas do curso. Isso me levou a sentir que
poderia ampliar os temas com abordagens ainda maiores e
disponibilizar a mais pessoas através de um livro, indo direto ao que
os iniciantes de locução mais querem: falar.
Aqui está o resultado que, com muito prazer, coloco à
disposição de todos aqueles que querem apenas conhecer, ou mesmo
aprender e colocar em prática o universo da locução frente a um
microfone, seja por hobby, gravação de comerciais para anúncios de
carro de som, feiras, centros comerciais ou até o mais almejado
trabalho em rádio e televisão.
O objetivo principal é transferir ao leitor um conhecimento
teórico e prático, com o objetivo de ajudar a desenvolver aptidões
para o uso dos recursos vocais na locução radiofônica, e buscar,
inclusive, a profissionalização do leitor interessado em atuar como
locutor profissional.
Com a propriedade de quem já fez e deu certo, indico caminhos
que não passam por infinitos exercícios que mais parecem uma
academia que, no meu modo de ver, são apenas alegorias para
impressionar o aluno sem muitos resultados práticos, uma vez que

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falar não necessita de tanto esforço como é para cantar. Falar é um
ato comum e para educar a fala basta apenas exercitar a articulação
de pronúncia, que se faz simplesmente com a leitura feita com um
lápis na boca, como vou descrever adiante. Ao contrário do que
pregam alguns autores e professores de locução, não há grandes
segredos nem mistérios para falar em locução profissional. Isso é um
mito que vou abordar já no primeiro capítulo.
Não deixei de dedicar atenção especial ao uso de
equipamentos, a partir do microfone, até a finalização de uma
gravação. Embora esta obra não tenha a pretensão de abordar em
detalhes as técnicas de edição, procurei entrar no assunto de forma a
passar minha experiência, desmistificando alguns pontos que muitos
se acham no direito de tornar mistérios para vender cursos. Não que
não necessite de formação para ser editor, porém, é possível dominar
alguns programas de edição e seus softwares apenas com as
informações contidas neles, que aparecem na tela, passo a passo
conforme se aperta botões, sem a necessidade de cursos
aprofundados.
Além da experiência prática vivida a cada segundo pela vida a
fora e os embasamentos teóricos e práticos da academia de
Comunicação Social onde me graduei, pude contar com a experiência
de outros grandes professores e profissionais do rádio e oratória,
além de publicações de diversos veículos de comunicação e órgãos
oficiais ou de campanhas de poderes públicos, seja em vias impressas
ou eletrônica da internet, através de vários trabalhos que muito
ajudam a enriquecer esse nosso trabalho.
Fiz questão de dar crédito à todas as citações inseridas, não só
em respeito aos seus autores, mas para fazer jus ao trabalho de cada
um, na missão de ensinar, transferindo conhecimentos, colocando
em prática o que Deus disse no Gênesis: crescei e multiplicai-vos, ou
seja, aprenda e ensina.
Quero ainda lembrar que escrevi todo o livro na forma genérica,
que é o tratamento de sujeito no masculino para me dirigir ao leitor.
Portanto, quando escrevo locutor, ou outra definição no gênero
masculino, estou me dirigindo a todos os gêneros, homens, mulheres
e todos as demais definições de seres humanos.

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SUMÁRIO

Destaques de alguns capítulos ........................................................................................2


Apresentação ..................................................................................................................6
SUMÁRIO .........................................................................................................................8

Capítulo I ...................................................................................................................... 12
Um dedo de prosa .........................................................................................................12
O mito ............................................................................................................................13
A voz que convence .......................................................................................................14
O dono da voz do rádio .................................................................................................14
Locutor já foi “artista” ...................................................................................................16
Importante é ser diferente ............................................................................................19
E como ser diferente? ....................................................................................................20
Onde você é diferente?..................................................................................................21

Capítulo II ..................................................................................................................... 25
Sabendo o que se quer ..................................................................................................25
O locutor como centro de atenções...............................................................................26
Preparando o profissional da fala .................................................................................27
É possível perder o medo de falar? ...............................................................................27
Estar muito à vontade pode ser problema ....................................................................28
Assessórios para falar ...................................................................................................29
O detalhe técnico ..........................................................................................................31
Ha? ................................................................................................................................31
Qual a distância do microfone?.....................................................................................32
Em pé ou sentado? ........................................................................................................33
A postura no falar..........................................................................................................33

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Capítulo III .................................................................................................................... 34
Dá pra mudar a voz? .....................................................................................................34
Tem jeito pra minha voz? ..............................................................................................36
Tem jeito pra tudo .........................................................................................................36
A impostação da voz .....................................................................................................37
Desde as cavernas .........................................................................................................38
Praticar e praticar .........................................................................................................39
Desenferrujando ............................................................................................................40
Exercitando a voz ..........................................................................................................40
Mordendo o lápis ..........................................................................................................41
Então, lápis na boca! .....................................................................................................42
Cuidados com a sua voz ................................................................................................45

Capítulo IV.................................................................................................................... 46
O “macetes” da locução ................................................................................................46
O rádio é um parceiro ....................................................................................................47
Os vícios da latinha .......................................................................................................47
E o maldito NÉ? .............................................................................................................48
Como largar dessas bobagens? .....................................................................................48
Ênfase em lugar errado .................................................................................................50
“E” não existe ................................................................................................................50
Ah, que nojo do gerúndio! .............................................................................................51
Fala direta .....................................................................................................................52
A hora certa ...................................................................................................................53
Você sabe o que é cacófato? .........................................................................................53
A fome que come letras.................................................................................................55
Ouvir só quem sabe mais ..............................................................................................55
O “ingrêis” é meu “pobrema” .......................................................................................55

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Errou está errado ..........................................................................................................56
Vida na fala ...................................................................................................................57
O futuro bate à porta ....................................................................................................57
O rádio vai morrer? .......................................................................................................57
Chegou a WEB Rádio .....................................................................................................58
Resumindo a Rádio WEB ...............................................................................................59
Rádio, o maior veículo de comunicação de massa do mundo .......................................60
O rádio por dentro .........................................................................................................61
Essa maravilha de computador .....................................................................................61
Misturando sons ............................................................................................................62
Modificadores de sons...................................................................................................63
Atenção, no ar! ..............................................................................................................64
Dinheiro e política mandam ..........................................................................................66
Finalmente a antena .....................................................................................................67

Capítulo V..................................................................................................................... 69
Ler para saber ler ..........................................................................................................69
Pronto pra falar? Então vamos falar! ............................................................................70
Falando passo a passo ..................................................................................................70
A voz da alma ................................................................................................................71
Vamos fazer um anúncio ...............................................................................................72
GRAVANDO! ..................................................................................................................75
Softwares de gravação ..................................................................................................76
O mito do estúdio ..........................................................................................................77
Improvisando uma cabine com cobertor .......................................................................81
Mito da cabine ..............................................................................................................82
O uso dos softwares para “turbinar” a voz ...................................................................83
Os ruídos mais comuns ..................................................................................................84

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Capítulo VI.................................................................................................................... 85
O que o locutor não deve ser .........................................................................................85
Registrando a profissão de LOCUTOR ...........................................................................85
Setores e Funções do Radialista ....................................................................................86
Salvo pelo gongo! ..........................................................................................................87
Preciso mesmo ser registrado para ser locutor? ...........................................................88
Errar é humano .............................................................................................................88

Capítulo VII................................................................................................................... 89
O Rádio com outro nome: PODCAST .............................................................................89
Posso montar uma rádio comercial? .............................................................................90
Posso montar uma rádio comunitária? .........................................................................91

Capítulo VIII.................................................................................................................. 93
O locutor na porta da loja .............................................................................................93
Som na rua não precisa explodir ouvidos ......................................................................95

Capítulo IX .................................................................................................................... 96
BREVE HISTÓRIA DO RÁDIO NO MUNDO ......................................................................96
GLOSSÁRIO ..................................................................................................................103

Capítulo X ................................................................................................................... 110


.....................................................................................................................................110
BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................................113

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Capítulo I

Clóvis de Almeida Godoy


Mestre de Cerimônias na inauguração do prédio do IFPR em Assis Chateaubriand, Paraná

“Se podes sonhar, podes fazer”


Walt Disney

Um dedo de prosa
Antes de mais nada, é bom avisar que, embora trato muito de
praticidade direta aqui, você vai se deparar neste trabalho com
muitos detalhes que fazem parte do mundo da teoria. Embora a
construção teórica seja um universo que faz parte do alicerce da
prática, o objetivo aqui é ir direto ao que chamamos de mãos à obra.
Contar a história do rádio, da oratória, da locução, dos grandes
locutores e oradores não contempla essa obra. Fica por conta de o
leitor buscar esses detalhes em outras fontes. O que aqui se apresenta
são as ferramentas básicas para ir direto ao assunto, ou seja: falar já!

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O mito
Antes de colocar no papel esse trabalho, li inúmeros artigos, blogs e
alguns livros sobre o assunto para ver como alguns autores tratavam
os detalhes de exercícios para melhorar a dicção, falar corretamente,
impostar a voz e outras técnicas usadas profissionalmente. Fiquei
impressionado com o número de esforços físicos de garganta, boca,
língua, braços e até de pernas em algumas indicações, muitas vezes
chamadas de “macetes” para aprender as “técnicas de locução”.
Algumas chegam às raias do absurdo diante das peripécias prescritas
como se fossem remédios, mas parecendo fisioterapias.
A maior parte do que li para melhorar a voz e falar bem não passa de
mito inventado ainda nos anos de 1940, quando havia uma exigência
muito grande para ser locutor de rádio, onde o locutor precisava ter
uma voz privilegiada de nascença e as técnicas vocais ensinadas eram
as mesmas para as aulas de canto. Além disso, os locutores não
falavam com a fluência normal de uma conversa ao microfone.
Pronunciavam de forma pausada, com uma impostação que partia do
fundo das cordas vocais, fazendo a voz ser projetada pela boca de
maneira impostada com todo o grave que se dispunha em tom
melodioso e quase romântico. Essa forma de falar no rádio e depois
na televisão era muito apreciada pelo público da época. Mas hoje
chega a ser ridículo, embora ainda haja muitos locutores que insistem
em forçar a voz para destacar o tom grave.
Assim sendo, vou direto ao assunto: para preparar a voz eu só usei
um exercício em toda a minha vida profissional. É o do lápis
atravessado na boca e preso nos dentes, que posiciona a língua
corretamente ao falar, fazendo com que os lábios sigam uma forma
correta a fim de impedir a sibilação dos dentes (assovio na fala), além
de exigir um esforço milimétrico na medida certa das cordas vocais.
O que se faz é nada mais, nada menos, do que fazer leituras em voz
alta com o lápis na forma descrita. Mas não é fazendo duas ou três
vezes que se vai conseguir perceber alguma diferença. É necessário
pelo menos três meses de exercícios, todos dias, pelo menos duas
vezes ao dia. Leia por cinco minutos seguidos, descanse por outros
cinco minutos e recomece, até totalizar 10 vezes. É comum dar

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câimbras no maxilar devido à pressão dos dentes no lápis. Quando
isso ocorrer, pare e retorne uma hora depois. Não se esqueça de beber
água o tempo todo nos intervalos dos exercícios, quanto mais,
melhor.
Fazendo isso, aprendi a fazer qualquer tipo de locução, quando
realizei inúmeros trabalhos de gravações de comerciais para todos os
tipos de mídias, além de apresentar centenas de programas em
diversos estilos, no rádio e na televisão, assim como também
trabalhos de palco, cerimoniais e dezenas de comícios políticos.
É esse o grande segredo. O resto é conversa para encher páginas.

A voz que convence


Nosso projeto aqui é levar até você as técnicas de locução e
apresentação em rádio e televisão. Se você ainda não conhece essa
fatia de um imenso universo da comunicação, prepare-se para entrar
em um mundo que eu chamo de mágico, principalmente quando o
assunto é rádio, pois só ouvimos a voz do locutor, sem conseguir
deixar de imaginar como seria sua imagem. É o chamado dono, ou
dona, da voz.
Embora possam ser milhares de ouvintes ao pé do rádio, aquela voz
no rádio está solitária com seu dono, lá no estúdio, muitas vezes
muito distante e que não se importa com quem afirma que quem fala
sozinho é maluco. Talvez seja um maluco beleza, como dizia Raul
Seixas. Estou falando do radialista, o locutor.

O dono da voz do rádio


O dono da voz é o profissional da comunicação que reúne em si um
pouco de tudo: muitas vezes conselheiro, formador de opinião,
anunciador de boas novas ou arranjador de encrencas. Tem para
todos os gostos.

Na verdade, o locutor do rádio é um operário da comunidade. Alguém


que dedica seu trabalho para o congraçamento de um povo, não
importando para quantas pessoas possa falar. Ele é o elo entre os
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sentimentos de sua mensagem com o pensamento ou com os
interesses daqueles que fazem sua audiência, ou pagam para que ela
exista.

Da borda de um tanque de lavar roupas, à mesa de um escritório; do


balcão sujo de graxa de uma oficina, ao consultório médico; de uma
cozinha, à boleia do caminhão; do alto do apartamento, à varanda da
casa no sítio. Não importa o lugar e nem a distância, lá estará a voz
simulando a presença de seu dono.

Temos bons e maus locutores em todos os lugares. Tem gente que


entra pela porta da cozinha e outros pela janela, ou seja, há quem
aprenda a fazer certo e os que sabem apenas imitar profissionais,
numa comparação barata com o comunicar de verdade.

O rádio é ainda o maior veículo de comunicação de massa do mundo.


Certo? Mentira, não é mais! Hoje, o maior veículo de comunicação de
massa do mundo é a internet, onde só o Facebook consegue reunir
públicos de milhões de pessoas, coisas que o rádio nunca conseguiu
em mais de 100 anos de existência.
Mas, o rádio continua imponente. É informação e estímulo social. Ele
leva conscientização às comunidades, sobre todos os assuntos de
interesses comuns, debate de ideias e pensamentos de todos,
permitindo a participação do ouvinte, que é um cidadão da
comunidade.

Esse é o objetivo do rádio, mas é bom destacar que a maioria das


emissoras trata as pessoas que ouvem a programação como um
simples consumidor das mercadorias que vende, através de seus
anunciantes. As afirmações de que o ouvinte está em “primeiro lugar”
é balela, hipocrisia, conversa de mau vendedor. Estamos cansados de
ouvir em algumas rádios essa frase que é um antigo chavão: “aqui o
ouvinte está sempre em primeiro lugar!”.
Só que quando você liga para ouvir uma música, dizem que não
podem tocar naquele horário, pois na verdade ela não consta das
músicas que “rendem” para os “jabazeiros”. Se você perdeu seus

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documentos, tem que pagar para anunciar no horário dos achados e
perdidos, quando o rádio é concessão do governo e bem poderia fazer
gratuidade em utilidade pública. Na maioria das cidades, as notícias
das mazelas do seu bairro nunca são dadas porque a rádio tem um
contrato com a prefeitura. Muitas emissoras ficam uma manhã ou
tarde inteira sem informar as horas, outras tocam uma música atrás
da outra sem dizer ao menos que rádio é, sem o menor respeito por
quem está ouvindo. Então, que diabo é esse de que o ouvinte está em
primeiro lugar?
No fundo, o que realmente interessa para esses “comerciantes” do
rádio é impor seus serviços. Isso se faz mais realidade ainda quando
não permitem que as pessoas manifestem suas opiniões, quando
trazem notícias apenas de um ângulo, quando mostram somente um
lado da política e quando tocam apenas as músicas que querem, por
causa do maldito “jabá”, que é a cobrança para rodar músicas.
Algumas boas, outras não passam de lixo que nos enfiam goela
abaixo.
Alguém pode dizer que o rádio precisa cobrar pelos serviços para
sobreviver. Claro que sim, mas serviços para a comunidade não
precisam ser cobrados, pois não dão lucros para quem anuncia. Uma
pessoa que perdeu uma carteira de documentos ou que teve o gato de
estimação sumido não terá lucro anunciando o sumiço, e o valor de
anúncios como esses não fazem a rádio ficar nem mais rica, nem mais
pobre. Cada caso é um caso, mas o bom senso cabe em todo lugar.

Locutor já foi “artista”


Cada geração conhece a sua porção de vozes dos meios de
comunicação. Muitos jovens que hoje são os donos das vozes
desconhecem um tempo em que o radialista era ídolo, tal qual os
cantores que faziam sucesso. Já não se tem o mesmo afeto pelo dono
da voz como antigamente. Nos bons tempos do rádio, o dono da voz
era um artista, assim como os cantores e os atores. Pedia-se
autógrafos aos locutores. Hoje, o dono da voz é só mais um, em meio
a tantos assalariados do microfone. Não há mais glamour no dono da
voz. Há muitas vozes e muitos donos, quase todos iguais. Um copia o

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outro e a criatividade anda muito em baixa. Claro que existem
exceções, mas, com raridade. E que raridade!

O salário do radialista é uma piada. Em 1980, o locutor que fazia


quatro horas de programa musical era o que ganhava menos. Seus
vencimentos eram de quatro salários mínimos. Hoje, paga-se (salvo
exceções) um salário mensal para as seis horas de trabalho diárias. Se
quiser ganhar mais, o radialista precisa saber vender publicidade.
Mas, a contar pela qualidade do que se ouve Brasil afora, a maioria
está muito bem paga. Alguns que se intitulam “locutor” deveriam
pagar para falar as tantas besteiras que falam para o ouvinte.

As programações das rádios do interior, na grande maioria, andam


estagnadas. Não há nada de novo e parece que eliminaram as velhas
receitas de sucesso, que tanto deram certo. O mundo se modernizou,
mas as pessoas continuam humanas. Em nome do moderno, da
moda, do atual, do hoje e, outros adjetivos jovens, pratica-se tanta
besteira que o ouvinte não faz mais vínculos com suas emissoras
preferidas, como antigamente. Quase não se atende mais cartas (ou
nunca), não se escrevem mais bilhetes. Só que a carta não virou e-
mail e muitos locutores novos nem sabem o que é receber o carinho
escrito do ouvinte. Já vão longe os anos em que um só programa de
rádio no interior recebia mais de mil cartas por semana.

É bom deixar claro que muitas emissoras de rádios e profissionais da


locução mantêm a mesma tradição de programação com grandes
audiências e faturamentos. É que o mundo mudou, gostos mudaram,
mas o ser humano ainda continua carente de ouvir alguém que fala
diretamente a ele, como se estivesse ao seu lado.

Porém, é lastimável ver que as cópias ruins estão se fazendo por todo
lado. É como o cruzamento de espécies na mesma família. Além de
não dar coisa boa, vai se acabando. Os clones acontecem nos
programas, nos sotaques e até nas vozes. Coisa feia! Minha vó diria:
os bichinhos já nascem mirradinhos e pesteados!

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Alguns ‘locutores’ pensam que o ouvinte é obrigado a engolir tudo o
que eles imaginam que está certo. É um tal de “muito bom dia pra
você”, a cada minuto, que é preciso ter um saco de paciência para
aguentar. O coitado imagina que está agradando. Devia se dar conta
de que a comunicação locutor com ouvinte é uma simulação de
diálogo, onde só um fala por questões meramente técnicas. Imagine,
em uma conversa normal, um dos interlocutores ficar o tempo todo
fazendo cumprimentos. Não dá para aguentar.

Enquanto muitas ideias que se mostraram boas foram jogadas no


lixo, outras sobrevivem, graças à teimosia de alguns comunicadores.
A tal da “receita de bolo” em plena três horas da tarde ainda continua
em alguns programas. Tem gente que ainda não descobriu que
receitas são coisas de livrinhos, revistas, jornais e programas de
televisão, onde o ato de cozinhar é atrativo. Ninguém mais perde
tempo para anotar ingredientes ditados pelo rádio, a não ser a mãe, a
esposa e aquela tia velha do locutor que se baba toda por qualquer
bobagem que ele diga, até por aquela risadinha sem graça ridícula
fabricada.

Num mundo em que a música está acessível através de inúmeros


aparelhinhos novos, como o MP3, celular e outras tecnologias play, a
música no rádio deixou de ser prioridade. Mesmo sabendo disso,
alguns diretores permitem que a música seja o carro chefe de suas
programações, deixando de investir no potencial humano, que dá
qualidade na informação da aldeia global.

O noticiário não é mais levado a sério como antes. Faz-se para


cumprir tabela, na maioria das emissoras. O ato de “colar” da internet
e gaguejar no rádio não é jornalismo. Viver só de fontes oficiais é
arcaico e cômodo. Além disso, muitos dos que se intitulam
“departamento de jornalismo” não têm o mínimo cuidado em
transformar a linguagem escrita para uma redação falada. Alguns
nem sabem a diferença.

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Os chamados “programas policiais” nada têm de policial, mesmo
porque não poderiam. Polícia é assunto do Estado. Nada mais são do
que relatos e comentários de ocorrências registradas pelas polícias de
sua região. E na maioria das vezes, com um sensacionalismo barato,
embalado numa hipocrisia simplista. Claro que há exceções, é óbvio.
Tenho muitos amigos que fazem programas de grandes audiências e
aceitação pública em cima de ocorrências registradas pelas polícias e
merecem todo meu respeito e admiração.
Na verdade, a maioria das pessoas não quer jornalismo. Boa parte
busca informações que diminuam suas mazelas. Temos a impressão
que saber do assalto que o vizinho sofreu dá um certo conforto por
não ter tido sorte igual.
Na falta de cultura, a desgraça tem mais importância que o anúncio
de uma nova vacina. A morte tem mais lugar que uma vida salva. A
notícia do bandido morto dá uma satisfação tão grande, que um parto
feito pelo policial dentro da viatura é só uma bobagem.

Rádio que “pega” longe, também é outro mito, uma bobagem. Claro
que dá status, mas, retorno comercial só para empresas ou produtos
que estão em todas as cidades atingidas pelo sinal da emissora. O
bairrismo fala mais alto, as pessoas ouvem as rádios de suas cidades.
Então, não adianta pegar na Cochinchina, porque na Cochinchina
também tem rádio local. É claro que sempre haverá uma meia-dúzia
de ouvintes que gosta da rádio lá de longe. Que seja uma dúzia, mas
não derruba a “radinha” local, que fala a língua da tribo e mostra os
feitos e as mazelas de sua gente.

Importante é ser diferente


Mas agora você pode perguntar: então eu tenho que ter boa voz,
dicção perfeita e ter um vasto conhecimento universal para ser
locutor?
A resposta é não! Nada disso! Tentei descrever como o mundo
profissional do rádio mudou em 50 anos. Hoje está mais fácil fazer
rádio. As exigências são quase nenhuma.

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Porém, não é por isso que vamos oferecer qualquer coisa a quem nos
ouve. É preciso alguns critérios e respeito para com o ouvinte. Por
isso criei esse livro, para falar de como fazer, mas também
demonstrar o que não se deve praticar. Você não precisa ter vastos
conhecimentos universais, conhecer de todos os assuntos e nem ter a
voz e um Cid Moreira para ser locutor. Você pode fazer muito com o
potencial que tem, não importa o tamanho, porque o importante é ser
diferente. E é disso que estamos tratando.

E como ser diferente?


Simples: explorando o seu talento e o lapidando para usar todo seu
potencial da melhor maneira possível. Você é um indivíduo único, o
que já lhe faz ser diferente. Começa assim o seu lugar na
comunicação.

Você já deve estar cansado de ouvir aquela historinha de que sua


unicidade, ou singularidade teve início no momento em que o
espermatozoide de onde partiu venceu uma corrida no momento de
sua fecundação, derrotando outros 300 milhões de concorrentes.
Uma frase de efeito bastante conhecida nos cursos motivacionais é
que “você é um espermatozoide vencedor e veio ao mundo para
aprender cada vez mais”.

Essa ilustração é até bonita, porém, segundo um artigo assinado por


Dr. Robert D. Martin, curador emérito de biologia no Museu Field de
Chicago, na revista AEON, “a ideia de que milhões de espermas estão
em uma corrida olímpica para alcançar o óvulo é mais uma fantasia
masculina sobre a reprodução humana”. Conforme a revista, Martin
classifica a ideia de ‘corrida dos espermas’ como paternalista e
equivocada. Ainda em 1990, a antropóloga norte-americana Emily
Martin, da Universidade de Nova York, disse que essa “corrida” nada
mais é do que um ‘conto de fadas científico’. Segundo ela, esta
imagem sugere que “os processos biológicos femininos são menos
dignos do que suas partes masculinas”.

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Estou falando desse assunto para dizer que, na minha maneira de ver,
o mundo não é uma corrida que começa na fecundação. Nós somos
frutos do meio em que vivemos e estamos o tempo todo nos
moldando, fazendo adaptações. Muitos querem nos impor a ideia de
que vivemos em constantes disputas por posições, quando na verdade
não é bem assim. Vivemos sim em constante necessidade de
aprendizado para galgar degraus e atingir posições através da
capacitação pessoal com aprendizados que nos possibilitam saber
cada dia mais sobre tudo o que nos rodeia. A vida não é uma batalha,
nem disputa como se faz em campo de guerras ou nos ringues de luta.
Qualquer comparação é equivocada, porque as conquistas
conseguidas na vida profissional são feitas por medições de
capacidade, o que fica muito longe de qualquer disputa que envolva
força muscular, como sugere a corrida dos espermatozoides.

Assim sendo, a moldagem do seu talento começa quando você


acredita que pode aprender, independente de seus dotes físicos. Basta
que tenha um mínimo de requisitos para se comunicar.

Se até os anos 80 era preciso ter vozeirão para ser locutor, hoje basta
saber se fazer entender para ser um comunicador. A voz é o menos
importante.

Respondendo a pergunta do subtítulo acima, de como ser diferente,


a resposta é muito simples: sendo você mesmo. Esse é o diferencial.
É aqui que realmente se faz valer a afirmação de que você é um ser
único. Não porque venceu uma corrida para nascer, mas
simplesmente porque não existe outra pessoa igual.

Onde você é diferente?


Agora é que vem o pulo do gato na questão! É preciso explorar tudo o
que pode ser usado na formação do seu estilo de comunicar. Faça uma
análise de tudo o que pode ser interessante. Pelo menos um detalhe
em você vai fazer um diferencial muito grande. Basta observar.

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1) A voz. Grossa, fina, grave, aguda ou média, ela não é a sua
primeira identidade de fala. Ao saber usar, será um diferencial
que vai lhe identificar sempre. A maneira como vai utilizá-la é
que vai completar o diferencial.

2) Como você fala. O sotaque, a velocidade ou algum trejeito


pode chamar a atenção para sua maneira de comunicar.

3) Regionalismo. Explorar a forma de falar de uma região pode


ser de grande valia nas gravações de comerciais ou
apresentação de programas de estilos regionais. Cada região
tem um estilo próprio, como os sotaques gaúcho, nordestino,
goiano, mineiro, do interior paulista e paranaense ou mato-
grossense.

4) Conhecimento. O seu potencial de conhecimento é o maior


universo que pode ter para formar um estilo. É com ele que
você formará um norte para se comunicar, criando programas
que tenham a ver com milhões de assuntos, a começar pelo que
você sabe sobre sua região e qualquer outro assunto.

5) Humor. Uma das grandes apostas para se comunicar bem é


utilizar o seu lado engraçado ou mau humorado para a
comunicação. A facilidade de fazer tudo engraçado tem o
mesmo valor que o mau humor pode ser usado para se fazer
críticas a tudo à nossa volta. Basta que se use com parcimônia,
tanto as piadinhas quanto as críticas.

Há muitos outros detalhes que fazem de você alguém exclusivo no


mundo. Basta procurar dentro de si mesmo.

Na criação do seu estilo, nada impede que você procure alguém para
se inspirar. Um profissional famoso que você admira, o professor que
lhe ensina ou um personagem de ficção. Mas não pode confundir
exemplo com cópia. O mundo está cheio de comunicadores que são
meras cópias de outros. Muitas vezes cópias de exemplos ruins, o que

22
piora ainda mais a situação, tornando o copiador uma grande mentira
de si próprio.
Segundo Nathaniel Branden, Ph.D. em Psicologia, as mentiras mais
devastadoras para a nossa autoestima não são as que contamos, mas
as que vivemos.

Portanto, não importa como você é, seja você mesmo, com


autenticidade. É a melhor forma de se destacar num mundo tão
competitivo como o da comunicação, onde o ego fala mais alto do que
a ética e a própria verdade de cada um.

Um dos adjetivos mais apreciados em um comunicador é a


autenticidade, que é quando ele, por mais simples que seja, é
autêntico, único, verdadeiro. Pode até nem ser muito letrado ou
inteligente, mas chama a atenção pelas verdades que carrega e
repassa às pessoas com quem se relaciona, pessoalmente ou à
distância, através de um microfone ou por uma câmera de vídeo.

Dessa forma, o comunicador não é autêntico quando tenta passar


uma imagem falsa de si mesmo, pensando que pode ser quem não é
nem nunca foi.

Ainda conforme Nathaniel Branden, a autenticidade é a característica


de quem é autêntico, íntegro, legítimo, verdadeiro, sincero. Assim,
ninguém pode ser autêntico usando as qualidades a seguir.

1) Demonstra superioridade ou inferioridade perante os demais;


2) Finge ter problemas para levar vantagem sobre alguém;
3) Ostenta uma situação incompatível com a sua realidade
profissional e financeira;
4) Muda com frequência de credo e opinião;
5) Age diferente do que sua consciência manda;
6) Deixa-se influenciar pelo comportamento alheio;
7) Levanta a voz para fazer valer o seu ponto de vista;
8) Abre mão de suas convicções para ser aceito em determinado
grupo;

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9) Vive uma vida que não é sua;
10) Acredita mais nos outros do que em si mesmo;
11) Preocupa-se mais com o que outros pensam a seu respeito do que
com ele mesmo;
12) Fala uma coisa e faz outra.

Enfim, ser diferente não necessita esforço algum, basta fazer com que
sua maneira de ser seja o diferencial.

No entanto, é preciso tomar cuidado para não deixar o ego tomar


conta quando descobrir que pode ser diferente, a ponto de fazer
sucesso.

“Sócrates, o grande filósofo grego, decidiu encontrar em


Atenas alguém que fosse mais sábio que ele próprio, mas,
dialogando com as pessoas da cidade famosas pela inteligência
e sabedoria, logo se convenceu de que elas, na verdade, nada
sabiam de concreto. A cada sábio que interpelava, em algum
momento da conversa, Sócrates logo percebia falseamentos e
contradições. O modo como nosso filósofo procedia era inédito
até então e ficou conhecido como dialética. Inicialmente, pedia
a seu interlocutor que discorresse sobre um assunto qualquer
como a justiça, a coragem, a escolha de uma profissão, etc. Em
seguida, a partir dos pensamentos mal formulados e
expressos, Sócrates ia demolindo os argumentos um a um, de
modo que seu oponente ficava frequentemente sem respostas.
Na verdade, esse método provocador de Sócrates obedecia a
um princípio filosófico justificável. Para ele, a grande confusão
reinante no mundo humano — e que levava os sofistas a
concluir que ‘não há certezas, apenas convenções’ — baseava-
se no fato de que as pessoas, mesmo os tidos sábios, não
raciocinavam com o devido cuidado sobre si mesmos, suas
opiniões, valores e ações, tomando como óbvias coisas que
deveriam sempre ser questionadas até o entendimento
completo” (Brasil Escola UOL).

24
Capítulo II
“A voz não é tudo. O tudo é como a voz fala”
Clóvis de Almeida Godoy

Sabendo o que se quer

O conhecimento da verdadeira missão do rádio é de grande


importância para que a ética esteja acima de tudo. Ética é união de
leis e valores morais que não podem se distanciar do radialista, do
locutor de rodeios, comunicador de porta de loja ou de som de rua.
Ele deve ser exemplo de cidadão, sempre.
Para que uma rádio tenha boa audiência, é preciso ter credibilidade.
Ou seja, é necessário que sua programação seja feita com verdade,
com honestidade. O ouvinte não quer informação enganosa, não quer
ouvir mentiras. Para isso é preciso então que seus locutores sejam
verdadeiros, gente de confiança, de palavra. É aqui que entra a ética
profissional.
Um locutor não pode inventar fatos nem distorcer a realidade dos
acontecimentos. Para que ele seja verdadeiro é necessário que saiba
informar, que tenha o domínio da comunicação com o ouvinte. O
rádio é muito rápido, por isso, o comunicador precisa ter
conhecimento de como lidar com essa rapidez na mensagem. Não
pode enrolar, mas também não pode ir direto ao assunto como
alguém que grita socorro. É preciso explicar direito, pausadamente
sem ser sonolento, para não gerar boatos, nem verdades que nunca
existiram. O comunicador tem que estar atento à verdade dos fatos.
Um profissional mal preparado é um grande perigo em uma
comunidade. Trabalhei com um sujeito metido a apresentar
programas de notícias criminais que fazia de tudo para dar audiência.
Certa vez ele colocou em pânico um bairro inteiro ao inventar a
notícia de que um estuprador estava agindo na região. Quase
terminou na polícia a brincadeira dele, não fosse os panos quentes.

25
O locutor é um comunicador que não precisa fazer da comunicação
um trabalho profissional, mas que não pode ser amador na hora de
comunicar. Falar às pessoas é uma grande responsabilidade, por isso,
temos que estar prontos para qualquer chamado de última hora, onde
falar se faz necessário e um improviso pode nos levar a receber
efusivos aplausos, ou nos colocar numa saia justa com a possibilidade
de terminar em diarreia.
Exageros de lado, saber falar no rádio ou em público não deveria ser
privilégio de uma minoria, mas infelizmente é. Trata-se mesmo de
um privilégio daqueles que se preparam.
Há os que já nascem com facilidade de comunicação entre pessoas,
mas até para esses a prática correta não é dispensável. Por isso, ao
projetar esse trabalho, o pensamento foi em, não só nos que tremem
só de pensar num microfone ou em falar na frente de pessoas
assistindo, mas nos que aprenderam de forma incorreta, fazendo
coisas horríveis na hora de se comunicar, achando que são o máximo.
Esses problemas vão do uso incorreto do microfone a
comportamentos ridículos diante das pessoas, passando por
cerimoniais risíveis e protocolos que mais parecem um circo
improvisado.

O locutor como centro de atenções


Temos bons e maus locutores em todos os lugares. Noção de como se
faz é uma coisa e saber fazer de fato é outra. Quando o locutor está
falando, ele é o centro de todas as atenções, por isso precisa ter o
controle da situação e, mais ainda, conhecimento do que fala e do tipo
de público a quem fala. É preciso viver cada palavra dita, mas, para
isso é preciso, antes, ter em mente o objetivo da fala, tanto num
estúdio quanto diante de uma plateia. Não importa onde se fala às
pessoas, temos que ter o discurso na ponta da língua, mesmo que o
tenha escrito e leia para o público. Quando estiver falando, as
palavras têm de sair “da alma”, e não como de um robô. Por isso,
qualquer discurso precisa ter também “alma”, vida. No estúdio, o
locutor tem a tranquilidade de estar só, ou com pessoas de sua

26
convivência diária, o que facilita a interpretação, mas mesmo assim é
preciso saber falar de improviso ou ler como se assim fosse.

Preparando o profissional da fala


Para muitas pessoas, o microfone é um bicho papão de sete cabeças.
Só de pensar em falar diante dele dá calafrios, suor e até dor de
barriga.
Isso é natural, pois mexe com nosso “eu”, faz com que estejamos
diante de uma das mais importantes responsabilidades sociais: falar
às pessoas. Isso dá mesmo medo.

É possível perder o medo de falar?


Não! Não podemos perder o medo de falar em público ou mesmo
sozinho, num microfone em um solitário estúdio de rádio. O que
podemos fazer é controlar a adrenalina que produz o medo. Um fluido
necessário para que sintamos emoções, para que sejamos humanos.
Segundo o médico psiquiatra Márcio Bernik, o medo de falar em
público é chamado de Fobia Social. “É normal sentir certo grau de
preocupação com a imagem e ao falar com uma autoridade ou com
uma pessoa que não conhecemos, mas a maioria consegue lidar com
essa sensação de desconforto. Algumas pessoas, porém, chegam a
evitá-la de modo tão intenso que comprometem a qualidade de vida.
Esse tipo de esquiva fóbica é o que chamamos de fobia social”, garante
o médico coordenador do Ambulatório de Transtornos de Ansiedade
do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
O médico conhecido nacionalmente como Doutor Dráuzio Varella
também explica o medo de falar em público. “Todos nós somos um
pouco tímidos, ansiosos e inseguros em certos ambientes e diante de
estranhos. Esse grau de timidez varia de pessoa para pessoa, de
acordo com a situação. Embora seja normal ficarmos pouco à vontade
nessas ocasiões, vencida a inibição inicial, a tendência é nos
familiarizarmos com o ambiente e entrosar com as pessoas.
Entretanto, existem indivíduos que fogem dessas experiências como
o diabo da cruz. Ficam apavorados só em pensar na possibilidade de
27
viver tais momentos, e chegam ao extremo de evitar qualquer contato
social. Esse comportamento fóbico se reflete no campo afetivo e
profissional e compromete a qualidade de vida. O transtorno pode
começar na infância, arrastar-se pela adolescência e atingir a vida
adulta. Quanto mais cedo for enfrentado, melhores serão os
resultados e menos sofrimento trará para seus portadores”.

O microfone causa medo por diversas razões. Veja as mais comuns:

- Ideia de que tem gente ouvindo


- O som da própria voz incomoda
- Achar que não tem boa voz
- Falta de experiência
- Não dominar o assunto que irá falar
- Pensar que não saberia responder alguma pergunta
- Pensar que pode falar o que não devia
- Contar com um possível erro e ser alvo de chacota
- Imaginar que pode esquecer o que falar (“branco”)
- Pensar que vão compará-lo a outros oradores
- Imaginar-se sendo julgado pelo que disse
- Dificuldade de absorver críticas
- Baixa autoestima
- Nervosismo comum

Estar muito à vontade pode ser problema

Quando se é extrovertido e se sente muito à vontade no ambiente que


vai falar, o locutor pode ter problemas se não tiver bom senso e saber
dosar sua fala. Há muitos profissionais que, quando vão fazer um
programa, entrevistar um convidado ou apresentar um cerimonial
em lugar que dominam, ficam tão à vontade que extrapolam o
trabalho e passam a aparecer mais do que o próprio assunto de que
estão falando.
Alguns impostam tanto a voz que ao invés de falarem, emitem quase
rugidos, como um animal querendo mostrar superioridade numa

28
dança de acasalamento. Outros falam demais, a ponto de constranger
convidados, fazendo discursos e adiantando a fala de quem realmente
deveria discursar, tentando mostrar que tem conhecimento do
assunto.
Ora, o locutor é sempre, em qualquer lugar, um mestre de cerimônias
e, como tal, deve proceder, servindo apenas de ponte para os assuntos
e pessoas em pauta. Jamais deve o destaque dos eventos que
apresenta.
Conheço um apresentador de cerimoniais numa entidade pública,
que, toda vez que apresenta as autoridades num evento, ao chamar
um convidado a falar, adianta tudo o que o sujeito poderia anunciar,
deixando apenas a opção de a pessoa agradecer e dizer: é isso aí!
Assim, jamais busque ser o centro das atenções quando você não é a
bola da vez.
Acessórios para falar
Estamos agora diante de um microfone. Nesse momento, entra um
“bichinho” chamado microfone, algo que faz tremer até mesmo
locutores e oradores experientes em muitas ocasiões, por mais que já
tenham falado em grandes rádios e em público. Não há quem não
trema. O truque é controlar a tremedeira nas pernas e fazer com que
ela acabe após o primeiro minuto de fala. Se estiver em pé, aperte um
joelho contra o outro. Isso ajuda a diminuir os tremores. Nessas
horas, a boca seca muito e atrapalha a fala. Para evitar isso, leve
consigo um pouquinho de sal em um recipiente que não ocupe muito
volume no bolso. Uma pitada de sal na língua antes de falar evita a
secura e ajuda na limpeza da garganta. Caso seja hipertenso, não faça
isso. Em lugar do sal, chupe uma bala doce antes, ou masque um
chiclete. Mas livre se deles na hora de falar.

Há pessoas que falam muito bem quando não há um microfone por


perto. Mas quando se faz necessário esse recurso amplificador da fala,
aparece o tal do “branco” que põe por terra toda a vontade de falar.
O microfone deve ser para o locutor como uma enxada para o colono
que capina o mato, simplesmente uma ferramenta. Assim como o
colono afia o corte da enxada, coloca o cabo de madeira e sabe usá-la

29
na terra, o locutor precisa conhecer o básico de um microfone, antes
de fazer bobagens diante dele. A verdade é que a maioria das pessoas
não sabe falar nessa ferramenta importante. Já vi locutores
experientes de discurso que não sabiam explorar os recursos dessa
peça magnífica. Não conhecem a distância que precisam manter a
boca da tela de proteção, não mantém a direção correta, cospem o
tempo todo e se enrolam quando há um fio. É um tal de “puf puf” nos
alto falantes que irrita a qualquer um. Por isso é preciso conhecer essa
“enxada”.

Com vocês, o Senhor Microfone!


A pergunta básica a ser respondida é: “o que é um microfone?” Em
um breve resumo podemos dizer que é um equipamento que capta e
transforma “sons” em “sinais elétricos”. Podemos falar de forma
ilustrativa que o microfone é um “ouvido eletrônico”. Temos dois
grandes grupos de captadores: o microfone Dinâmico e o microfone
Condenser ou Condensador.

Os Microfones Dinâmicos são


construídos com cápsulas e diafragmas que
suportam alta pressão sonora, como
bateria, instrumentos de sopro,
amplificadores e também vocais para uso
no palco. São muito utilizados em shows
ao vivo, pois uma de suas vantagens é o fato de reduzir o nível de
captação de ruídos (o modelo acima é o mais comum do tipo
dinâmico).

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Os Microfones Condensadores são projetados para captar muito
mais nuances e detalhes dos sons de instrumentos e de vozes. Por esse
motivo é um dos tipos de microfone mais utilizados em gravações em
estúdio. Ao vivo também é usado. Esses precisam de pilhas (bateria)
ou fonte externa para funcionar (os modelos condensadores acima,
da esquerda para a direita: microfone de estúdio de rádio ou
gravadora; lapela para apresentador, entrevistador e entrevistado.

O detalhe técnico
Meu objetivo não é a formação técnica do leitor, mas é preciso dar
pelo menos uma breve noção de como o som é captado e reproduzido.
Em palavras bem simples é isso: o microfone, como um “ouvido
eletrônico”, capta o som da voz, ou qualquer outro, e os transforma
em sinais elétricos (pulsos), enviando-os através de fios para um
aparelho amplificador. Este, por sua vez, transforma os sinais
elétricos em sinais sonoros novamente, através de autofalantes das
caixas de som, ou fones de ouvido.

Ha?
Mas aí você vai perguntar: E aqueles microfones que não têm fios?
Sim. Esses são mesmo chamados de “microfones sem fios”. Mas,
apesar do nome, eles também possuem fios, sim senhor! São
pequenas fiações dentro do corpo que abriga o microfone, onde
também há um transmissor de rádio que transmite a fala para um
receptor nas proximidades. Desse último saem então os fios que irão
para as mesas de som e posteriormente para os amplificadores e alto-
falantes.
31
No caso dos microfones auriculares, como aqueles que o Ratinho e a
Ana Maria Braga usam, há um fio escondido dentro das roupas que
levam até o transmissor (“radinho”) preso na cintura ou na alça de
blusas.

Qual a distância do microfone?


Saber usar um microfone não é só saber falar, mas como falar nele,
ou com ele. A distância necessária entre os lábios e a face desse
equipamento precisa ser respeitada, caso contrário teremos
problemas com a reprodução do som. Seja baixo demais quando
muito distante ou em excesso, quando o som se manifesta como uma
explosão (puf) nada agradável ao ouvido de quem ouve.
Normalmente, o espaço entre a boca do locutor e o microfone é de 10
centímetros nos microfones de estúdio e três centímetros em campo
aberto. Saber sentir qual a distância necessária é importante para o
ato de falar e só a experiência que o tempo trás nos dá a segurança de
usar com perfeição. Enquanto isso não acontece, devemos perguntar
ao técnico responsável como proceder.

Há muitas pessoas que possuem o péssimo hábito de encostar o globo


do microfone na boca. Isso é absolutamente anti-higiênico e perigoso
para a saúde, ainda mais nesses tempos de pandemia. Quando
falamos, uma quantidade muito grande de saliva sai da boca e gruda
no que estiver na frente. Imagine quantas bactérias e até vírus se
alojam em um microfone durante as falas. Assim, as distâncias
precisam ser mantidas e os cuidados precisam ocorrer o tempo todo,
até mesmo quando pega ele na mão, principalmente em locais onde
muita gente os usa, como nas solenidades. A parte do globo é onde
mais se aglomera todo tipo de cuspe. Sei que é nojento falar disso,
mas é algo que algumas pessoas nem se dão conta de quão perigoso
é.
Alguns cantores e locutores cantam ou falam com os microfones
colados na boca porque acham que as vozes saem melhor, mais claras.
Tudo bobagem. Se o microfone é bom, a qualidade é mantida falando
nas distâncias aceitáveis, 10 centímetros em estúdio e 3 centímetros

32
em local aberto. Parece que não, mas não existe ferramenta que junta
mais sujeira que um microfone. Em menos de 10 segundos pode
juntar uma carga viral suficiente para matar uma pessoa. Exagero?
Depois da Covid-19 não é não!

Em pé ou sentado?
Nos estúdios de rádio os locutores trabalham sentados, pois o número
de horas em que permanecem no serviço é muito grande para falarem
em pé. Já nos estúdios de gravação de comerciais, a maioria dos bons
profissionais falam em pé, o que facilita a emanação da voz,
proporcionando uma emissão de sons mais tranquila e uma
interpretação mais segura e brilhante. Mas tudo é uma questão que
varia de profissional para profissional. Há quem não sinta nenhuma
diferença em gravar sentado ou em pé.

A postura no falar
Os fisioterapeutas ensinam que é preciso sentar-se de maneira
correta quando falamos. A posição deve ser ereta, ou seja, reta, sem
ficar caindo para frente, para os lados, nem para trás. A retidão na
coluna mantém os pulmões expandidos totalmente, facilitando a
respiração corretamente.
O que eu posso dizer depois de tantos anos de experiência é que, com
o tempo, a gente se acostuma a falar até deitado, embora o certo é
manter as indicações do correto.
Falar em pé é realmente muito melhor. Principalmente se a pessoa
que fala está acima do peso. A voz sai com mais fluidez. É a posição
indicada quando se grava comerciais. A maioria dos estúdios de
dublagem de filmes adota essa postura nos estúdios. Os microfones
são posicionados junto aos púlpitos, onde o dublador coloca seus
textos e pode se apoiar para não cansar muito.

33
Capítulo III

"Aquele que fala sem pensar assemelha-se ao caçador


que dispara sem apontar"
Montesquieu.

Dá para mudar a voz?


Muita gente já tentou saber se o microfone, ou algum outro
equipamento pode mudar a voz da gente. Pode sim, mas na maioria
das vezes só para piorar. Calma! Vou explicar:
Um microfone de boa qualidade mantém o timbre original da voz de
uma pessoa, mas não pode fazer dela mais do que já é, a não ser
destacar alguns detalhes dos sons graves, médios e agudos. Já um
microfone ruim irá distorcer os sons, deixando a voz muito “fina”,
muito “grossa” sem “vida”, ou seja, “apagada”, sem um volume que
daria corpo aos timbres.
É essa diferença que faz os tipos e qualidades de microfones, o que os
deixam mais caros ou mais baratos no quesito “preço”. Por exemplo,
um microfone para ser usado num computador, hoje muito fácil de
ser encontrado nas lojas de informática, pode ser adquirido a partir
de 50 reais (2020), enquanto um microfone profissional para estúdio
de rádio ou para discursos em público
pode chegar a valores que
ultrapassam facilmente a casa de 20
mil reais.

Um exemplo é Neumann alemão,


modelo U 87 Ai Studio Set, que em
dezembro de 2020 pode ser
comprado no Mercado Livre por R$
Kit do microfone Telefunken u47 que 23.000, ou um Telefunken, também
custa R$ 72.000,00 em 2020 alemão, modelo Telefunken u47,
microfone condensador de diafragma
grande, pela bagatela de 72 mil reais.
34
No geral, as emissoras possuem microfones que custam entre 300 e
1.500 reais, caso das emissoras de rádios webs, comunitárias e
aparelhagens utilizadas em cerimoniais para discursos, igrejas, salas
de apresentações, teatros e ambientes semelhantes.

O que pode ser usado para melhorar o som de vozes gravadas são os
recursos técnicos, como os equalizadores, processadores e
compressores de áudio. Antigamente, esses recursos só podiam ser
encontrados em aparelhos físicos, muito caros. Hoje, é possível uma
boa equalização ou inserção de efeitos sonoros com softwares em
computadores comuns. São os programas de edição, usados nos
estúdios de gravação ou ao vivo. Os mais comuns são o Sound Forge,
e o Samplitude, mas há muitos outros, inclusive um bem sofisticado,
usado em gravação de músicas, o Pro Tools.

Processador e
Mesa de som de Equalizador compressor de Processador e
rádio de som som compressor de
som

Com esses softwares é possível mudar a velocidade, a equalização e o


timbre das vozes, assim como também introduzir reverberação (eco)
e outros efeitos que dão um “ar” mais profissional na hora de
reproduzir, seja no rádio ou em autofalante público.
É importante ressaltar que, por melhores que sejam os microfones,
processadores e outros acessórios, eles não fazem milagres. Uma voz
fina sempre será uma voz fina. Os recursos técnicos servem para
melhorar ou piorar os sons. Depende da maneira como se usa, assim
como uma pintura pode deixar uma parede bonita ou horrível, o que
depende do conhecimento do pintor.

35
Tem jeito para minha voz?
Em primeiro lugar, para se ter uma “boa voz” é necessário ter um
“bom ouvido”. Ele é quem vai nos dar o poder de avaliar quando
realmente a voz está bem colocada. É preciso ter a noção do que é
uma boa colocação de voz. E o que é uma voz bem colocada? Nada
mais do que uma voz clara que transmite as palavras com a nitidez de
se fazer entender fácil, numa interpretação precisa sem soar falso.
O processo de educação do ouvido se inicia na infância, ouvindo os
pais. Quando essas primeiras vozes com quem aprendemos são sons
“educados”, teremos “bons ouvidos” desde crianças. Caso contrário,
temos que educá-los.

Como já afirmei, o propósito nesse livro é mostrar o caminho mais


curto para fazer comunicação rápida e objetiva. Os problemas sérios
de dicção, como a gagueira e outras disfunções da fala precisam ser
tratados com exercícios específicos que são assunto para a
fonoaudiologia. Só um médico é que pode indicar tratamentos para
cada tipo de problema.

Mas é possível corrigir a fala, quando não há sérios problemas,


através dos sons que ouvimos, como guias, aprendendo a respiração
correta e colocação da voz em cada palavra, em cada frase. Isso se faz
apenas com um lápis na boca, como já expliquei de início e vou falar
novamente a seguir.

Tem jeito para tudo


Só não há solução para a morte. Não existe voz feia, existe voz mal
cuidada ou mal usada. É possível treinar uma voz para falar e até para
cantar. A mesma voz que afinamos para o canto, afinamos para a fala.
Só existe um caminho para aprender a falar corretamente, colocando
a voz de maneira certa e, até impostando de forma a ficar “pomposa”,
para impressionar quem ouve. Esse jeito chama-se TREINAMENTO.
É treinar, treinar e treinar, assim como um pássaro canta de cedo ao
entardecer.
36
Conheço dezenas de radialistas e oradores que possuem vozes lindas,
mas nunca aprenderam a usá-las corretamente. Mas também
conheço outros tantos que não foram agraciados com vozes bonitas,
mas que sabem usar as que têm, de forma a darem verdadeiros shows
nos microfones ou palcos onde ganham suas vidas.
Antes de falar bem, é preciso saber o que falar. Não se esqueça disso.

A impostação da voz
Já perdi a conta das milhares de vezes em que fui perguntado sobre
como impostar a voz, fazer voz de locutor. Eis aqui uma grande
confusão, muitos acham que todo locutor precisa impostar a voz.
Primeiro, é preciso separar o verdadeiro sentido da palavra impostar,
que segundo o Dicionário Aurélio, vem do latim, impostare, que
significa emitir corretamente, nesse caso, a voz.
O “impostar” que tratamos aqui é a forma que se costuma empregar
para definir uma voz “pomposa”, ou como se dizia antigamente,
“empombada”, uma voz que a pessoa parece formar apenas na
garganta, como se não fosse necessário respirar com os pulmões.
Trata-se de um vício que se aprende sem necessidade alguma, por
muitos acharem que fica mais bonito, charmoso e mais profissional.
O comunicador não precisa desse artifício para “falar bonito”. Para
falar no rádio ou para uma plateia ao vivo não há a necessidade de
impostação nenhuma, basta ser claro, com a voz que tem. A boa
dicção é o suficiente.
A impostação é um cacoete que se adquire ao longo do tempo ou com
muito treinamento seguido. Se bem feita, ajuda a melhorar a
performance da interpretação.

Há muitos locutores e oradores que forçam tanto a voz para tentar ser
imponente que o máximo que conseguem é serem ridículos. Parecem
robôs ditando regras. Impostação de voz não é isso, é a colocação da
fala de forma a ser claro, convincente. Isso se consegue com a prática
do dia a dia. Há muita gente com dezenas de receitas e exercícios para
impostação de voz. Não se preocupe com isso, o tempo vai lhe dar a

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facilidade de impostar quando necessário. É como aprender a andar
de bicicleta, no início só tombos, depois pode até andar com as mãos
soltas do guidão.

Não vou discutir nem entrar no mérito, mas depois de 40 anos


atuando em frente a microfones de rádio, televisão e palcos, por
várias emissoras e eventos pelo mundo a fora, posso garantir:
impostação de voz para se impor é bobagem. Basta respirar
corretamente, colocar a língua de forma correta durante a fala. Os
detalhes virão com o tempo e você vai decidir o que é melhor.

Vou explicar novamente: o exercício para se falar bem é um só: lápis


entre os dentes enquanto se lê em voz alta um texto de jornal,
revista, livro ou no celular. Faça isso várias vezes ao dia, como já
descrevi anteriormente. Será o suficiente para aprender a respirar
corretamente e utilizar a língua no lugar certo ao céu da boca ou no
limiar dos dentes. O processo é automático, mas só acontece com a
prática. Mais à frente eu detalho o processo do lápis nos dentes.

Desde as cavernas
Desde sempre o homem busca do fundo das entranhas uma voz
grossa para se comunicar, com outro homem, mas, especialmente
com mulheres. O ser macho, desde pequeno, manifesta a ideia de que
a voz forte impõe autoridade. É normal na criança, que muitas vezes
nem fala ainda direito, simular uma fala “grossa” quando quer
parecer bravo e dar bronca nos próprios pais. O faz porque se espelha
na voz que dita ordens, do pai, da mãe ou dos dois, que se sempre é
dita de forma impostada de forma ditatorial, a que dá ordens.

Na adolescência e juventude é muito comum o rapazola impostar a


voz ao telefone para falar com a namorada, ou até mesmo para
atender a um chamado. — Alô! Pois não! - Diz o garoto tentando dar
eco na própria garganta. É como se quisesse dizer: aqui é um macho
falando! E esse costume, a maioria dos homens carrega para o resto
da vida.

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Você já viu um homem recitar uma poesia ou declamar um poema
fazendo falsete de voz fina? Nem vai ver, pois voz aguda e singela
lembra uma mulher, o feminino, o contrário da impressão que
qualquer macho gostaria de passar.
Assim como o urso se impõe ao adversário que disputa a mesma
fêmea, se erguendo nas patas traseiras e rosnando alto, o homem
engrossa a voz para impor sua autoridade, como se isso impusesse
barreiras para o opositor. Muitas vezes dá certo. Mas se numa dessas
o “valente” desafinar, vai ser um garnisé desafinado e perder o
respeito do adversário. No figurativo: está “morto”!

Conheço um rapaz, que já não é mais tão moço, que imposta tanto a
voz para conversar com as pessoas nas ruas que chega a perder o
fôlego. Coitado! Tenha a certeza de que impostar a voz como muitos
fazem, estufando o peito e as veias do pescoço, é coisa que ficou no
passado, no tempo em que quem não tinha voz grave, não tinha
espaço na comunicação falada. Vivemos outros tempos.
Note que o interesse de impostar a voz é uma particularidade dos
homens. As mulheres procuram falar bem, sem essa preocupação
desnecessária.
Resumindo: o grande segredo é ler em voz alta, e ler muito. Mas não
pense que depois de ler todas as páginas de um jornal você já passou
por toda a maratona de exercícios para ser um bom locutor. Se pensar
que isso é o suficiente, desista. Mas uma coisa é certa: após a primeira
semana de prática, de pelo menos uma hora por dia, você verá que
melhorou absurdamente.

Praticar e praticar
Antes de mais nada, vou lembrar: de início, todos os meus alunos no
IFPR não esconderam a falta de vontade em fazer os exercícios de
vozes. É que parecem chatos. Mas com o decorrer do curso, foram
aprendendo que é preciso praticar, pois o vovô já dizia que o que
entorta a boca é uso do cachimbo. Uma coisa completa a outra,
prática e teoria precisam andar juntas. Um velho ditado afirma que

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teoria sem a prática é estéril, mas a prática sem a teoria é cega, então,
só existe um jeito: aprender como se faz, fazendo.

Desenferrujando
Nossas cordas vocais precisam ser treinadas para falar. Desde muito
cedo aprendemos a usá-las para nos comunicar. Primeiro, chorando,
depois, dizendo papai e mamãe e, por último, pedindo: dá um
dinheiro aí...
Brincadeiras à parte, é preciso saber falar corretamente para nos
comunicar da melhor forma possível. Um comunicador não pode
gaguejar e nem ser fanhoso. Os dois problemas e muitos outros
podem ser corrigidos com a fonoaudiologia. Mas a firmeza no falar é
questão de prática, de tirar a “ferrugem”.
É preciso “desenferrujar” nosso instrumento de fala. Você pode, você
tem um grande orador ou locutora dentro de você, só não descobriu
ainda. É como uma escultura de um herói feita em pedra. Aquele
herói petrificado para a eternidade esteve sempre ali, dentro da
pedra, há milhões de anos. O que o escultor fez foi esculpir para
retirar os excessos que não faziam parte do herói, mas que estavam
coladas nele. Retirado o desnecessário, surge o herói. O escultor
apenas descobriu uma preciosidade escondida numa pedra bruta.
É claro que exagerei um pouco, mas é isso o que acontece com o seu
talento escondido. Precisamos retirar os excessos e dar um
acabamento.

O retoque final e tchan tchan tchan! Lá estará você, falando aos


quatro ventos, um anunciador de novos tempos, o arauto do futuro.
Que tal? É claro que milagres não fazem parte do nosso projeto, mas
tenha a certeza que você pode dar uma guinada de 180 graus na sua
forma de se comunicar.

Exercitando a voz
Alguns professores de fala ensinam exercícios físicos com a cabeça,
pescoço, ombros, braços, troncos e até com as pernas. Não quero aqui
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desmerecer essas atividades, mas as considero absolutamente
desnecessárias para o ato de falar a um microfone, usando a voz
profissionalmente. Um dos maiores comunicadores que conheci
havia sofrido um acidente que o deixou tetraplégico e seus
movimentos se resumiam no aparelho fonador, ou seja, na boca,
garganta e pulmões. Ele era um show. Por isso não vejo nenhuma
vantagem em se exercitar como se fosse jogar tênis de mesa ou subir
numa árvore como um macaco. Além do mais, não posso indicar
exercícios físicos a ninguém, por mais simples que sejam, pois não
sou fisioterapeuta nem professor de Educação Física. Uma amiga teve
que ser levada ao médico depois de fazer exercícios de pulinhos que
um palestrante de oratória mandou que a plateia fizesse. Teve uma
lesão no joelho, pagou sozinha a conta do tratamento e sofre com isso
até hoje.

O que considero de suma importância é o exercício do lápis. Já falei


dele e vou repetir até o final, pois esse é o pulo do gato dessa obra,
algo que fiz para entrar no rádio e continuo a fazer de vez em quando,
mesmo quase aposentado do rádio. É um exercício do aparelho vocal
mais simples e mais conhecido que existe. Não há contra indicação,
muito pelo contrário. Só é engraçado e pode até parecer ridículo.

Mordendo o lápis
Vamos então ao exercício mais famoso na prática de dicção, usado
para locutores, pastores, padres, professores, oradores e todos
aqueles que se utilizam de microfones e falas em público. O lápis na
boca! Alguns colegas acham esse exercício muito antiquado e sem
propósito, além de anti-higiênico. Pode ser antigo, antiquado, nunca!
A questão da higiene é problema de cada um. Tem gente que tem
mania de levar tudo que pega à boca. Isso é anti-higiênico. O lápis, ou
uma caneta, podem ser higienizados com álcool. Quem ainda achar
essa medida pouco higiênica deve ter nojo de chimarrão, onde a
bomba passa de boca em boca sem que ninguém a limpe.

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Eu sou testemunha de que esse exercício funciona formidavelmente,
pois é o exercício que me levou a ser apresentador de notícias no rádio
e até a ganhar concursos de interpretação.

Então, lápis na boca!

Isso mesmo, um lápis entre os dentes enquanto fazemos a leitura de


um jornal, livro ou qualquer texto longo. A pronúncia fica prejudicada
pelo lápis, uma vez que o maxilar não abre e a língua fica travada no
momento em que pronunciamos as palavras do texto em voz alta.
Essa “forçada” faz com que os músculos da face se exercitem, assim
como a língua se adapte melhor na pronúncia correta das palavras.

Nesse exercício, além da leitura de textos, que não pode ser menos
que cinco minutos por vez, os chamados quebra-línguas são
fantásticas frases que permitem o desenvolvimento da pronúncia.
Use os, até falar o mais rápido que conseguir, sem errar.

1) O rato roeu a roupa do rei de Roma.

2) O rato roeu a rolha da garrafa de rum do rei da Rússia.

3) Três pratos de trigo para três tigres tristes.

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4) Um tigre, dois tigres, três tigres.

5) O sabiá não sabia que o sábio sabia que o sabiá não sabia assobiar.

6) Um ninho de mafagafos tinha sete mafagafinhos. Quem


desmafagar esses mafagafinhos bom desmagafigador será.

7) O peito do pé de Pedro é preto. Quem disser que o peito do pé de


Pedro é preto, tem o peito do pé mais preto do que o peito do pé de
Pedro.

8) O Tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o


Tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto
tempo, tempo tem.

9) Uma aranha dentro da jarra. Nem a jarra arranha a aranha nem a


aranha arranha a jarra.

10) A Iara agarra e amarra a rara arara de Araraquara.

(Trava líguas do Folclore Brasileiro)

A seguir outros trava-línguas do Curso de Locutor do IFPR –


Ponatec/Governo Federal

01) À boca do beco, na bica do belo, um bravo cadelo, berrava bau-


bau.
02) O rato roeu a rolha da garrafa do Rei e da Rainha da Rússia.
03) Um Tigre, dois Tigres, três Tigres.
04) Se o Arcebispo de Constantinopla quisesse
desconstantinopolizar, só se desconstantinopolizaria se
Constantinopla se desconstantinopolizasse.
05) Em cima da sebe densa, papa a Pêga a fava seca. Porque papa a
Pêga a fava e não papa a
fava a Pêga?

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06) Debaixo da Pipa está uma Pita. APipa pinga e a Pita pia. Pia a Pita
pinga a pipa. Pinga a Pipa
pia a Pita.
07) Achei um ninho de Mafalagrifa com cinco Mafalagrifofinhos.
Quando a Mafalagrifa veio já os
cinco Mafalagrifofinhos tinham feito uma Mafalagrifofada.
08) Uma goiaba verdolenga quem desverdolengá-la um bom
desverdolengador será.
09) Sofia você sabia que o sábio não sabia que a sabiá não sabia que
o saibá sabia a assobiar?
10) Sou um original que não se deseroginalisará, nem quando todos
os originais estiverem
desoriginalizados.
11) Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que
não sabemos ambos,
saberemos se somos sábios ou simplesmente sabedores.
12) Debaixo daquela pipa tem um pinto, pia o pinto, pinga a pipa, a
pipa pinga, o pinto pia.
13) Um tigre, dois tigres, três tigres, tire o trigo dos três tigres.
14) O menino deu trigo ao tigre, e tigre comeu todo o trigo. Trazei
três pratos de trigo para três
tigres.
15) Um ninho de mafagafo com cinco mafagafinhos quem
desmafagar o ninho do mafagafo, bom desmafagafador será.
16) O desinquivincavacador das caravelarias desinquinvacavaria as
cavidades que deveriam
ser desinquincavacadas.
17) Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Trava-línguas para exercitar a fala:
18) Não confunda ornitorrinco com otorrinolaringologista,
ornitorrinco com ornitologista, ornitologista com
otorrinolaringologista, porque ornitorrinco é ornitorrinco,
ornitologista é ornitologista e otorrinoralingologista é
otorrinolaringologista.

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Em seguida, retire a caneta e pronuncie todas as sílabas, abrindo a
boca ao máximo que puder. Você verá que vai conseguir pronunciar
as palavras com mais prazer.

É um tanto cansativo e chato enquanto não nos acostumamos com


ele. Depois, torna-se agradável e divertido, na medida em que
sentimos seus efeitos benéficos na fala e na interpretação dos textos
que lemos em voz alta.

Cuidados com a sua voz


1. Evite gritar ou falar alto em ambientes ruidosos.
2. Não é recomendável ingerir líquidos ou alimentos muito gelados,
principalmente em dias quentes.
3. Fumar é altamente nocivo à saúde do sistema respiratório,
principalmente às pregas vocais.
4. Pigarrear e sussurrar são hábitos aparentemente inofensivos que
podem trazer grandes prejuízos à voz.
5. Falar durante exercícios físicos de impacto, como vôlei e tênis,
podem prejudicar as cordas vocais.
6. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas também é nocivo,
porque propicia um efeito analgésico na laringe, causando abusos do
aparelho vocal.
7. É importante beber bastante água e manter uma alimentação leve,
sem exagerar no consumo de alimentos gordurosos ou muito
condimentados.
8. Chupar balas ou pastilhas para aliviar dores na garganta traz efeito
anestésico, levando também a abusos vocais.
9. O uso excessivo de ar condicionado pode traz problemas ao resfriar
e reduzir a umidade do ar, provocando o ressecamento das cordas
vocais.
10. Um otorrinolaringologista deve ser procurado a qualquer sinal de
problemas como dores na garganta, rouquidão, cansaço ao falar,
tosse, pigarro ou dificuldade para engolir, que irá orientar sobre os
cuidados que devem ser tomados.
(Fonte: Academia Brasileira de Laringologia)

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Capítulo IV

É do poder de se ouvir que nasce


a faculdade de se escutar.
É do poder de se escutar que nasce
a faculdade de falar.
Alfred Tomatis & Lóreille et le langage

Os “macetes” da locução

O tempo de trabalho é o maior campo de prática que podemos ter. Ao


longo dele, vamos aprimorando tudo o que é possível para um
desempenho cada vez melhor da profissão. Mas se a prática for
errada, o locutor vai falar errado pelo resto da vida profissional.

O Brasil continua muito atrasado em relação a outros países, com


uma história criada nos anos 80, onde o locutor de FM fala diferente
do locutor de AM, como se o primeiro tivesse um carimbo de mais
jovem com uma fala mais rápida e um sotaque que não existe numa
fala normal entre duas ou mais pessoas.
Pensei que esse conceito fosse acabar com o fim das emissoras em AM
migrando para o FM. Só que não. Com a extinção da faixa de
Amplitude Modulada, as rádios se tornam Frequência Modulada e
assumem uma nova programação ao estilo da nova faixa, demitindo
antigos locutores e substituindo por uma moçada mais nova, falando
uma língua mais atual. Porém, se esquecem que essa nova geração
que está se formando não tem tradição de ouvir rádio. Isso é um risco
muito grande.

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O rádio é um parceiro

Falar em rádio é como falar a uma pessoa, frente a frente, e fim de


história. Por isso, devemos aprender a falar corretamente, sem
intempestivas ou invenções que não existem no mundo real, onde as
pessoas se entreolham nos olhos enquanto conversam. Um comercial
para rádio pode ser feito de muitos estilos diferentes: mais rápido,
mais lento e até gritado. Mas um comentário, um cumprimento, um
relato de fatos não podem ser interpretados como se o estúdio fosse
um picadeiro de circo. O natural é o normal.

Os vícios da latinha
Latinha é o apelido do microfone, desde os anos 40, pois naquela
época os microfones mais pareciam latas de óleo de comida. Eram os
velhos e ótimos microfones Telefunken ou RCA.

Microfone dos anos 40, chamado de tijolão – locutores


apresentavam programas de rádio em auditórios lotados

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Existem alguns vícios de falas pelo Brasil a fora, que as vezes é difícil
entender como é que alguém os mantém e, pior, mais inacreditável
ainda é ver que existem discípulos de muitas barbaridades
radiofônicas. Tive um aluno de rádio que em vez de seguir meu modo
de falar, ou o de outro companheiro mais antigo que eu, criou um
estilo próprio, onde prolongava a última sílaba da palavra final de
cada frase. Segundo ele, era um “eco natural” da voz, como se isso
fosse possível. Ele pronunciava as palavras terminadas nas
consoantes “m” e “n” de uma maneira tão engraçada que parecia
gozação. Palavras terminadas em “am” soavam no final como
“amgaaaaaaaaaaaaa”. Acabou apelidado de “Anga”. O mais incrível é
que ele fez seguidores que o imitam até hoje, numa fala normal, como
se fosse bonito.

E o maldito NÉ?
Esse é um dos piores vícios que rondam a maioria dos locutores. Já
me vi infectado por essa peste. A cada frase que pronunciava, lá vinha
o tal do “né?”. Trata-se do que chamamos de muletas de linguagem,
um subterfúgio quando “foge” a palavra que precisamos para dar
sequência ao assunto, e que depois de “viciadas”, as pessoas
continuam a falar um “né” a cada duas ou três palavras. Ninguém
sabe de onde vem esse costume, que deve vir do mesmo lugar de onde
surge o vício de resmungar “aaaaaaaaaa”, ou “éééééééééé´”, no meio
das frases.
Hoje, temos um vício moderno, que muitos acham “bonitinho”, mas
é horrível quando falado no rádio ou na televisão por um profissional
do microfone: “tipo assim”. Fuja disso, não pegue esse vício, nem
outros, pois largar é difícil.

Como largar dessas bobagens?

Fácil, faça como eu: escreva vários cartazes (quanto maior, melhor),
e espalhe pela casa toda, no estúdio de rádio, no carro, na porta da
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garagem, no portão de saída e até ao lado do tapete, com as palavras
que teimam em ficar na boca sem necessidade nenhuma.

Uma para cada cartaz, de leitura rápida, se é que você tem mania de
usar várias “muletas” que o incomodam.

Minha mania acabou com uma cartolina grande, no vidro do estúdio


na rádio em que eu trabalhava, com um “NÉ” vermelho gigante.

Não tinha como deixar de fazer um policiamento ostensivo a todo


segundo em que eu estava no ar. Depois de três dias, o meu
sonoplasta disse ao fim do programa que eu não havia falado sequer
um né. Dias antes, ele parou de contar na primeira meia-hora. Foram
105 “né?”, o que me levou a descobrir um jeito de deletar o vício
“neziano” para sempre: o cartaz.

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Ênfase em lugar errado
Um efeito desnecessário ao final das palavras provém de um
entendimento errado da interpretação de textos. O locutor precisa
saber o que está lendo para seu público. Muitos prolongam a última
palavra de cada frase ou linha de texto, além de dar ênfase nela, como
uma “muleta”, segundos que usam para pensar na próxima coisa a
dizer. Isso se torna um hábito presente em tudo que se fala, ao vivo
ou gravado. Um exemplo:
“Vai baixar o preço da gasolina. Ouça daqui a pouco na melhor rádio
da sua CIDADEEEEEEE...”. Observe que a ênfase e o prolongamento
da sílaba foram para uma palavra absolutamente secundária, quando
o destaque estava na baixa da gasolina, um milagre que merecia o
destaque.

Outro exemplo clássico do destaque errado acontece muito em


endereços de anúncios: “Não perca a grande Feira de Usados nesta
sexta-feira, em Santa Mariaaaaaaa!!!”. Veja que, aqui, o locutor faz
aparecer mais Maria, em lugar de fazer destaque na Feira.

Pra completar, o montador do comercial coloca um eco no final da


frase, colaborando com o enfoque errado “Maria ria ria ria ria”.
No primeiro caso, a frase final deveria ser: “Não perca, nesta sexta-
feira, no Centro de Convenções, a grande FEIRA DE
USADOSSSSSSSS!!!”.
A informação principal precisa fazer a última imagem na cabeça de
quem ouve o anúncio.
Cada palavra, cada frase, precisa ser interpretada como deve ser. Para
isso é necessário saber interpretação de texto. Isso só se aprende
lendo em voz alta, procurando viver o que está escrito, como se
estivesse falando para uma pessoa, frente a frente.

“E” não existe


Outro vício bastante usual, que se transmite de um colega para outro,
é o uso do “e”, a cada informação. Exemplo:
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“E” vende-se uma casa na Vila Isabel. “E” desapareceu um cãozinho
da Rua Silva. “E” procura-se casa para alugar.
Não se sabe de onde vem esse “e”, mas pode ter certeza de que ele é
absolutamente desnecessário e “irritante”.

Ah, que nojo do gerúndio!


Todo mundo já ouviu a telefonista de uma empresa ou a operadora
de um telemarketing. “Vou estar ligando mais tarde, quando vamos
estar enviando os textos para o senhor estar respondendo quando vai
estar lendo”, e blá, blá, bla... Outra coisa que chateia é a espera para
se ter uma ligação transferida. “Um momento que ‘vou estar
transferindo’ a ligação”.
É o chamado “gerúndio”, forma verbal que indica uma ação que está
em andamento, algo que não está completo. Não é errado, mas é
muito chato de se ouvir com tanta frequência, como gosta o pessoal
de telemarketing e a maioria das telefonistas. Aliás, acusado de ser o
grande responsável pelo uso abusivo do gerúndio, o setor de
telemarketing pensou em mudar essa imagem. Para isso, a
Associação Brasileira de Telesserviços decidiu agir e não apenas
“estar pensando no assunto”. Produziu e distribuiu gratuitamente em
2007 um livro que trata do assunto e ensina a usar frases de
atendimento sem o abuso de gerúndios, mas, pelo jeito, os
exemplares foram poucos ou nada adiantaram, pois a cada dia
aumenta mais o número de operadores de telefones, vendedores
lojistas e até professores que usam essa forma cansativa de se
expressar. Um gerúndio ou outro é inevitável e não faz mal, mas o
exagero é muito ruim de ouvir.
Jamais use o gerúndio da forma como a descrita acima no rádio ou
em qualquer outro lugar. Dá a impressão que você está falando outra
língua. Seja direto nas afirmações, sem os rodeios que muitos usam
achando ser bonito. Fale claro.
Em vez de: “Vou estar com você a partir de agora...”
Diga: “Estarei com vocês a partir de agora...”
Em lugar de:
“Vocês podem estar ligando para o telefone...”

51
Fale: “Vocês podem ligar para o telefone...”
Em vez de: “Vou estar sorteando um brinde”
Diga: “Vou sortear um brinde”.

Uma dica para não esquecer: evite usar qualquer verbo de ação no
gerúndio, ou seja, terminados em “ando” “endo” “indo” “ondo” e
“undo”. Mas preste atenção que isso não é nem nunca será uma regra,
trata-se de um macete para perder o vício do gerúndio em hora
errada.
Eu evito os excessos, mas uso o ando, endo, indo, ondo e undo,
desgraçadamente.
Para saber mais, consulte um livro de gramática ou então vá direto ao
Google e pesquise sobre gerúndios. Em menos de 15 minutos você
saberá o necessário sobre o tema para nunca dizer assim: “vou estar
entrando na internet para ir aprendendo como se pode estar
escrevendo melhor”. Como você diria essa última frase sem o
gerúndio horrível? Tente.

Fala direta
Falar no rádio é como se estivéssemos conversando cara a cara com o
ouvinte, por isso não temos que inventar ser diferentes nessa hora, é
só falar como a gente fala normalmente. As pessoas entendem melhor
o que queremos transmitir. Nada dos famosos “floreados”, que nada
mais são do que “enrolações” na cabeça do ouvinte. Um exemplo: há
muitos locutores que ao apresentarem um entrevistado ficam tecendo
comentários que enchem a paciência de qualquer um, falando coisa
mais ou menos assim: “Estamos aqui agora como o José da Silva,
nosso grande presidente da Associação Comercial da cidade, que
muito gentil e amavelmente atendeu ao pedido da nossa emissora que
sempre apoia as iniciativas do nosso comércio local. O José da Silva,
sempre solícito vem então para os seus cumprimentos e seu bom dia
para falar também da promoção de Natal desse ano. Bom dia Silva!”.

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Ora, falou muito e não disse nada. Não há a menor necessidade de
“encher a bola” do convidado. A cidade toda já sabe quem é o
entrevistado, portanto, vá direto ao assunto, assim:
“O nosso comércio se prepara para a promoção de vendas do Natal
desse ano. Para falar melhor sobre essa tradicional campanha nós
convidamos o presidente da Associação comercial, José da Silva. Bom
dia, presidente!
Pronto, é só isso.

A hora certa
Horas devem ser pronunciadas assim:
Após o meio dia, não diga 13, 14, 15 horas, e assim sucessivamente até
24 horas. Fale na forma comum do relógio analógico, conforme a
continuação das 11 horas da manhã. Não diga 12 horas, mas sim meio
dia, uma hora, duas horas, e assim por diante, até meia noite.
Não existe meio dia e meio. Não se trata da hora mais a metade de
um dia, mas sim de doze horas mais a metade da próxima hora.
Portanto, 12h30 é o mesmo que meio dia e “meia” (de meia hora).
Já meia noite e meia está certo. O “meia” fica entendido se tratar da
primeira meia hora do novo dia, porém é preferível dizer “passam
trinta minutos da meia noite”, ou “zero hora, trinta minutos”.
Cuidado para não dizer zero “horas”, pois a palavra hora só vai ao
plural (com “s”) quando são mais de duas horas. Até “01 hora e 59
minutos” continua no singular: hora, sem o “s”.

Você sabe o que é cacófato?


Você pode não saber o que é um cacófato, mas com certeza já ouviu
muitos e até mesmo já disse alguns. O cacófato se forma quando o
final de uma palavra dita se junta ao início da outra e forma uma
terceira palavra ou sentido completamente diferente da intenção da
frase.
No rádio, na televisão, nos palcos, em reuniões, enfim, em qualquer
lugar que falamos às pessoas, precisamos cuidar para não praticar o
53
cacófato, pois muitas vezes, o resultado de uma frase formada com
palavras que se emendam dando outra conotação, pode ser um
desastre, formando verdadeiros palavrões. Veja alguns dos mais
comuns ditos por locutores:

- Gosto da vida, amo ela (moela é de galinha – o certo seria: eu a amo)


- Ana é prima minha (maminha é esquisito - o certo seria: minha
prima)
- Acabou-se tudo (surgiu aí um palavrão – o certo: tudo se acabou)
- A cerca dela é de arame (cadela não! – o certo: sua cerca é de arame
- Um coração por ti gela (tigela é da cozinha) – o certo: meu coração
fica gelado por ti.
- Um real por cada limão (porcada é no chiqueiro) – o certo: Cada
limão custa um real.
- O programa acabou, vou-me já (com o sotaque “mi”, vai soar “mijar”
– O certo: Eu já vou.
- O cara marca gol de bicicleta (o cara fez nas calças?) o certo: o cara
faz gol de bicicleta.
- Nenhum segurança havia dado (uma ofensa ao segurança) – o certo:
havia concedido.
- Governo confisca gado de fazendas (alguém está borrado) – o certo:
faz o confisco do gado
- Use um pilão de socar alho (mais um palavrão) – o certo: pilão de
socar dentes de alho
- Olha essa fada - (quem é safada?).

Há muitos casos engraçados de cacófatos na boca do povo a toda a


hora. Um bastante conhecido é o do vendedor de loterias:
- Olha o bilhete! Hoje é dia bão. Olha o bilhete! Vaca, galo, porco,
veado. Olha o bilhete!
Essa aqui é atribuída a uma conhecida apresentadora de televisão:
— Ainda bem que a minha mãe me teve no Rio. Eu seria paulista se
ela não tivesse me tido lá.

54
A fome que come letras
Muito cuidado para não comer letras e sílabas, principalmente no
início das palavras. Da mesma forma, preste atenção para não
misturá-las em abreviaturas. Muitos locutores não desenvolvem a
dicção e juntam palavras como se fossem uma só. Veja alguns
exemplos de como ficam frases com sílabas “engolidas” pelo locutor
com “fome”:
Casas Garcia: casgarcia - Casa dos Retalhos: casretalhos
A porta tá aberta: apóraberta - A carta já chegou: acarchegou

Ouvir só quem sabe mais


O aprendiz do rádio precisa ouvir o que os profissionais fazem. Eles
são e fazem escola. É muito comum os aprendizes se espelharem nos
colegas da própria emissora em que estão aprendendo. Muitas vezes
o “espelho” é alguém que aprendeu tudo errado e vai acabar fazendo
um discípulo das bobagens que faz. Por isso, é preciso cuidado na
hora de encontrar um bom exemplo para seguir. Na dúvida, ouça os
profissionais mais velhos e mais respeitados, embora a idade nesse
caso não seja necessariamente sinônimo de bom profissional. Isso
serve também para os exemplos de como gravar um comercial bem
feito.

O “ingrêis” é meu “pobrema”


Numa emissora de rádio que gerenciei recebi certo dia um rapaz que
queria ser locutor, mas não sabia como resolver um impasse. “O
‘ingrêis’ é meu ‘pobrema’ maior”, disse ele. Eu respondi que ele tinha
na verdade dois problemas: não saber o Inglês e nem o Português.
As palavras estrangeiras constantemente aparecem nos textos,
principalmente os de notícias. O locutor brasileiro não tem a
obrigação de falar fluentemente o Inglês, mas precisa se informar
como se pronunciam as palavras que estão num texto que ele deverá
ler, muitas vezes são nomes próprios. Faça isso com antecipação,
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perguntando a quem fez o texto ou a outra pessoa que possa informar
corretamente. De posse da informação, escreva no texto exatamente
como se lê, como nos exemplos abaixo:

Marketing em outdoor: MÁRQUETIM EM ALDÓR


Johann Weissmuller: IÔRRAM VACIMÍLER
Mohamed Hafez al-Assad: MORRÂME RAFÊZ AL ASSÁ
Green Peace: GRIM PISS
Willian, Kate, Geoge: UÍLIAN, QUEITI, DIORJ
William Shakespeare: UÍLIAN TCHÊIQUI-ISPIR

Errou está errado


Como ninguém é perfeito, todo mundo erra e, uma vez falado ao vivo
no rádio ou na televisão, algo que não devia, não há como voltar e
passar uma borracha, ou deletar como se faz no computador. Assim
sendo, o que se tem a fazer é pedir desculpas e tocar em frente. Mas
há certos erros que é melhor deixar como se nada tivesse acontecido
para não chamar mais atenção sobre ele ainda. É tudo uma questão
de bom senso e cada momento precisa de uma atenção diferente.
Há momentos em que podemos pedir desculpas e corrigir, há
situações em que a frase “ou melhor” seguida da palavra certa
também resolve. Mas há situações em que não vale a pena referir-se
ao erro. Um exemplo:

O locutor se empolga e num certo momento dos entusiasmos


exclama: carálho! Se fosse em Portugal seria como dizer “nossa!”, e
só isso. Mas no Brasil é um palavrão. Num caso como esse não se deve
nem pedir desculpas, pois para muita gente, a expressão de espanto
nessa palavra é normal, assim sendo, pedir desculpas não vai resolver
nada, pois não há como desdizer.
Os tempos mudam e as pessoas se adaptam aos palavrões, os
tornando comuns. Uma vez, lá pelos fins dos anos 70, fui advertido
de que poderia ser preso porque deixei escapar a famosa palavrinha
“porra” num programa de rádio. O Faustão da Globo começou
56
falando “orra”, gravado, e hoje fala “porra” ao vivo. E ninguém fala
nada.

Vida na fala
A entonação está para a locução no rádio, ou em público, como o
enquadramento está para uma foto. Quanto mais impactante, melhor
é o resultado obtido quando apresentamos a alguém. Essa entonação
é fruto das técnicas que apresentamos ao longo desse trabalho. Os
assuntos mais importantes devem ser tratados em falas pausadas,
para serem melhor entendidas. O volume da voz precisa ser
controlado conforme a entonação necessária e precisam exprimir a
alma, ou seja, demonstrar os sentimentos.
A locução pode deixar transparecer ao ouvinte toda a sorte de
emoções, como a raiva, ironia, amor, solidariedade, tristeza e alegria.
Os sentimentos fazem parte da vida de qualquer pessoa e não seria
diferente na hora de falarmos às pessoas em grande número.

O futuro bate à porta


O locutor de hoje precisa se preparar para novos tempos, que não
devem ser dos melhores para os lados do rádio. As emissoras que
investem mais em música do que em informação podem se preparar
para dias mais difíceis. Já perceberam que as crianças e adolescentes
de hoje não ouvem rádio? Eles têm os próprios tocadores e as
próprias músicas. Assim sendo, quem vai ouvir música em rádio
daqui a 20 anos? A saída para o mundo radiofônico é investir em
notícia e todo e qualquer seguimento de informação ao ouvinte.
Música é cada dia mais coisa de player particular.

O rádio vai morrer?


Não! O rádio não vai morrer tão cedo. Pelo contrário, vai continuar
sendo o maior veículo de comunicação de massa do mundo, mas só
terá lugar para os melhores. O rádio do futuro não vai abrigar gente
57
que só sabe anunciar música. Será um rádio de profissionais, só para
os preparados, gente como você, leitor, que se preocupa em aprender
da maneira certa: estudando.

Chegou a WEB Rádio

As rádios comunitárias tomaram muitos espaços de rádios


comerciais. Como o governo parou com o programa de expansão
desse tipo de rádio, o advento da rádio WEB se espalhou e ganhou a
simpatia dos internautas. Hoje, existem milhares e, a cada minuto,
surge uma nova emissora, ao mesmo tempo em que fecha outro tanto
por não atingir o objetivo. É que existe uma distância muito grande
entre criar uma rádio e fazer com que ela sobreviva. As dificuldades
são muitas e vamos tratar delas agora.

Todos os dias podemos nos deparar com anúncios de gente


oferecendo rádio web pelas redes sociais, com a afirmação de que
qualquer um pode agora ter a “sua rádio”.
É verdade. É muito fácil montar a tal rádio com investimento mínimo.
Com menos de dois mil reais é possível comprar microfone, mesa de
som, contratar internet e um sistema de transmissão (streaming) de
rádio WEB.
Depois de montado é que o bicho pega. Rádio no ar vem a pergunta:
o que eu faço agora? As dúvidas são muitas e os problemas aparecem.
Começa pelo conteúdo que pergunta a todo momento: sobre o que
falar, o que tocar e quando.
Nessa hora surge a segunda parte das ofertas de montagem de rádio
WEB. É aí que lhe apresentam o que lhe esconderam: existem
conteúdos prontos, mas você precisa pagar por eles. Terá que tirar
dinheiro do bolso, já que ainda não possui faturamento de
comerciais, outro grande pepino.
Na hora de oferecer a rádio para os possíveis clientes surge o maior
dilema: como vão anunciar numa rádio que ainda não tem ouvintes?

58
Mas o pior ainda está por vir: os direitos autorais das músicas que
você toca, até das trilhas sonoras de comerciais. É preciso pagar o
ECAD, o que não fica por menos de 500 reais mensais. Sem
faturamento fica inviável manter.
Há muitas dicas no Youtube de como manter uma rádio WEB, mas
nenhuma apresenta o milagre de como não pagar o ECAD sem correr
o risco de levar uma multa. Falam em músicas livres, mas são obras
que poucos conhecem e o seu ouvinte vai lhe cobrar os sucessos que
as rádios comerciais e televisão tocam.
Assim, rádio WEB é uma ilusão. As que dão certo possuem uma
estrutura que precisa de investimento. Se você tiver condições para
isso, vá em frente, caso contrário, não sonhe com algo que parece tão
perto, mas é de uma distância muito grande, pois os grandes
empresários e políticos que detém as concessões das rádios
comerciais não iriam facilitar as coisas para você em prejuízo dos
interesses deles.

Resumindo a Rádio WEB


Não vou tomar seu tempo explicando em detalhes o que é uma WEB
Rádio tecnicamente, porque o assunto extrapola o foco desse
trabalho. Isso eu trato em outro livro. Porém, vamos a um pequeno
resumo:
Rádio Web é uma transmissão de áudio com os mesmos ou
semelhantes padrões do rádio comum, onde se transmite músicas,
comentários de todos os tipos, comerciais, contação de história,
opiniões e todo tipo de comunicação em áudio que possa interessar
às pessoas que ouvem a programação pela internet, no celular,
computador fixo, notebook ou qualquer outro meio que tenha acesso
à rede mundial de computadores. Nisso, estão transmissões de
eventos, como cultos religiosos, políticos, esportivos e toda sorte de
atrativos, de todos os seguimentos sociais.

Muitas pessoas querem fazer crer que a WEB rádio é uma coisa
totalmente diferente do rádio comercial em AM ou FM. Mas não é.
Trata-se apenas de um outro sistema de transmissão que difere do

59
sinal elétrico convencional. A comunicação empreendida é a mesma,
não há novidade nenhuma. Pelo contrário, segue o mesmo padrão
que o apresentador Chacrinha um dia descreveu: nada se cria, tudo
se copia.

O que diferencia são as normas, obrigações e direitos, porém, não


muito. Enquanto é necessária uma concessão do governo federal para
se montar uma emissora convencional, mesmo que seja rádio ou tv
comunitária, uma rádio web se faz sem burocracia nenhuma. Basta
contratar uma empresa especializada e seguir as instruções. Os
preços variam. Como já descrevi, pode custar de zero a pouco mais de
500 reais para se colocar no ar uma emissora web. Os custos se farão
conforme os equipamentos a serem utilizados.
São poucos os passos para se montar uma rádio web. Você precisa
contar com:

1) Internet com pelo menos 2 megas de velocidade


2) Computador PC ou notebook
3) Contratar uma empresa que forneça o serviço (streaming)
4) Instalar o serviço conforme as instruções da empresa
5) Microfone ligado no computador

Pronto, sua rádio está no ar!

Rádio, o maior veículo de comunicação de


massa do mundo
Já dissemos no primeiro capítulo que o rádio pode estar em qualquer
lugar. Seu poder de penetração é imensurável. Ele é responsável pela
formação de opiniões, podendo ser usado para o bem e para o mal,
quando manipulado por gente inescrupulosa, geralmente
politiqueiros que se utilizam desse meio de comunicação para
alcançar objetivos eleitoreiros.
O rádio numa comunidade pode ser de grande valia para congregar
pessoas, famílias, comércio, religiões, entidades e sociedade de
60
maneira geral, no princípio dos interesses comuns. Ele pode ser um
veículo de participação ativa para o bem de todos, quando bem usado,
ou seja, quando trabalhado nos trilhos de seu verdadeiro objetivo:
servir a comunidade no interesse de todos.
O rádio como emissor de ideias e serviços transforma a comunicação
em um canal de distribuição de cultura, opinião, informações,
serviços e mercadorias. O rádio pode ser considerado a alma de uma
comunidade e até de uma cidade quando feito corretamente, por
profissionais que sabem o valor desse meio de comunicação.

Detalhe: será que o rádio ainda é mesmo o maior veículo de


comunicação de massa do mundo? Vou responder a essa pergunta
mais à frente.

O rádio por dentro


Já que falamos de equipamentos utilizados no rádio, vamos conhecer
os principais. O microfone já foi apresentado, vejamos agora o
caminho seguinte.
No estúdio de rádio não se usa microfone sem fio, portanto, por um
cabo temos a ligação de um microfone dinâmico ou de condensador
até a mesa de som. Essa é também chamada de console de áudio ou
mixer. Um aparelho que recebe e mistura sinais de microfones e
tocadores de material gravado para distribuir e enviar ao transmissor
ou a outros aparelhos, como gravadores que guardam a programação
para interesses da rádio ou fins de fiscalização, chamados de
“censura”.

Essa maravilha de computador


A melhor ferramenta que surgiu desde a invenção do rádio, há mais
de 100 anos, foi o computador. Essa beleza é um faz tudo, pode ser
até um piloto automático que dispensa a presença de alguém para que
uma rádio permaneça 24 horas no ar.

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Há inúmeros programas de computador (software) que gerenciam
uma programação de rádio, soltando no ar, na hora programada,
locução, comerciais e músicas, sendo notícias, entrevistas e qualquer
outro tipo de produção previamente gravada.

Nos programas ao vivo, o locutor faz tudo sozinho, dispensando o


trabalho do auxiliar, chamado de sonoplasta. Embora esse coitado já
venha sendo descartado bem antes do advento da computação,
quando se criou a figura do disk jóquei, locutor que faz tudo sozinho.

Pelo computador, o locutor controla tudo o que vai ao ar,


programando cada bloco, cada música, a cada intervalo. O sinal
sonoro do computador vai para a mesa de som.

Misturando sons
A mesa de som pode ser um simples
misturador de poucos sinais que pode ser
encontrada a baixo custo, ou sofisticados
mixers, nacionais ou importados.
Entre as características dessas mesas de
som estão o número de canais (para cada
sinal) e processamento desses, com
efeitos variados e número de canais
distribuidores. Podem ser no processo de
divisão de sinais chamado “estéreo” ou
“mono”.
A diferença está em que o estéreo utiliza dois canais de reprodução
das gravações, enquanto no formato mono, o sinal é processado em
apenas um canal.
É preciso deixar claro que não existe voz estéreo (a voz é mono). Esse
é um efeito que só existe para músicas e efeitos sonoros, onde
podemos separar uma quantidade diferente de instrumentos para
cada ouvido. É possível fazer a separação de instrumentos em muitos

62
canais. Caso do chamado “home theater”, usado para amplificar sons
de aparelhos DVDs na reprodução de filmes. Esses podem ter até
cinco ou mais canais que reproduzem diferentes sons em caixas
separadas, dando uma sensação de espaço, como se estivéssemos no
meio da cena em que acontece no filme.

Essas mesas de som podem


ser adquiridas no Brasil ou no
exterior. Muitas rádios
comunitários usam mesas de
seis ou oito canais fabricadas
na China. A maioria
comercializada via Paraguai.

Muitos microfones também são comprados através do vizinho país,


mas é preciso ter cuidado com falsificações. Muitas são grosseiras,
que enganam o comprador que não entende muito bem da
mercadoria.
Um dos microfones mais famosos do mundo é fabricado nos Estados
Unidos, com o nome Shure. Em lojas paraguaias é possível encontrar
uma cópia vagabunda, que chamamos de “chiruzinho”, com o nome
e a mesma pronúncia do original, mas escrito com a primeira letra
diferente: Chure.
Por outro lado, há muitos modelos vendidos com o nome Shure
escrito corretamente e definições de características idênticas. Ou seja,
são vendidos como originais, mas são falsos. O melhor é comprar em
lojas ou fornecedores reconhecidamente representantes de produtos
verdadeiros. Porém, para uma rádio WEB, qualquer microfone vale,
até mesmo gravações no celular ficam ótimas.

Modificadores de sons
A maioria das emissoras pequenas não possuem processadores de
áudio, que modificam a qualidade do som, voz, comerciais ou
músicas, dando um “colorido” melhor, uma encorparão mais
agradável para o ouvinte. Da mesa misturada, o som vai direto para o
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transmissor, muitas vezes com uma qualidade que lembra quando
falamos com a cabeça dentro de uma lata.

As emissoras que se preocupam em dar um tratamento ao som que


emite, investe em equipamentos cada vez mais sofisticados. Podemos
encontrar aparelhos que equalizam o som manualmente e
verdadeiras máquinas processadoras de áudio importadas que
custam milhares de dólares.

Caso de um aparelho chamado Orban Optimod, como o da foto, que


alguns modelos custam até 90 mil reais. São sofisticados hardweres
(aparelhos físicos) que processam os sinais computadorizados. Uma
maravilha tecnológica que vale a pena ter na emissora, não só no sinal
que vai para o transmissor, mas também no estúdio de gravação. Ele
ajuda demais naquela famosa “voz de veludo” do locutor de fala
grossa.

Atenção, no ar!
O transmissor é o equipamento responsável por transformar o som
em sinais que viajam no espaço, até chegar ao rádio do ouvinte. Ele
64
faz um processo chamado codificador, que é decodificado pelo
receptor, o aparelho de rádio propriamente dito.
São equipamentos que consomem muita energia, conforme suas
potências.

Já as emissoras de rádios comunitárias são limitadas a transmissores


de até 25 watts (0,025 kw), o que significa teoricamente uma
transmissão de sinais à aproximadamente 1 quilômetro. Mas
ultrapassa, em muito, essa marca, dependendo da qualidade dos
equipamentos e da montagem. A antena tem papel fundamental na
transmissão, determinando a distância a que chegará o sinal
transmitido.

Já as rádios comerciais utilizam transmissores que trabalham com


potências muito maiores, variando de 250 watts, até 100 mil watts.
Algumas emissoras trabalham com transmissores conjugados, que
juntos, produzem 300 mil ou mais watts.

Transmissores de rádio FM conjugados. Cada um é maior que uma geladeira comum e


transmite de 1.000 a 50 mil watts.

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Transmissor de FM para rádio comunitária. Pouco maior que um aparelho de DVD,
pesa menos que três quilos e, por Lei, não pode irradiar mais que 25 watts

Dinheiro e política mandam


O que define a potência de uma emissora de rádio é geralmente o
poder financeiro do proprietário e a força política de que ele dispõe.
A maioria das emissoras de rádio no Brasil pertence a políticos ou
gente ligada a eles. Deputados, senadores, governadores, prefeitos e
vereadores estão por trás das transmissões, de pequenas a grandes
emissoras. Muitas vezes, esse poder impede que cidades tenham
emissoras comunitárias em seus bairros para atender as pequenas
comunidades. Enquanto isso, as rádios dos poderosos tocam as
músicas que lhes convém e só permitem que falem em seus
microfones apenas os amigos e apaniguados. Os adversários políticos,
jamais.
Esse tipo de política também impede que novos talentos da
comunicação possam mostrar o que podem fazer. Por outro lado, nem
sempre a programação é feita por profissionais, uma vez que não há
muito interesse em investir em qualidade, já que o ouvinte de rádio
não é exigente. Basta que o locutor diga a hora certa e o nome da
música que ele quer ouvir. São raros os que percebem que a maioria
dos locutores que estão no ar falam mal a nossa língua e nada ajudam
na formação de uma opinião pública de cultura. Parece que promover
uma música pobre e anunciar pedidos musicais são o máximo que
sabem fazer. O rádio brasileiro está carente de verdadeiros
profissionais.

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As rádios comunitárias nasceram para dar vez e voz às comunidades,
porém, acabam caindo em mãos de uma meia dúzia, geralmente
políticos que fazem a mesma coisa que as rádios comerciais, fazendo
comunicação de lobby, onde só falam os pertencentes às panelas dos
dirigentes. São raras as rádios que abrem espaço para a população
falar de seus problemas, de suas lutas e conquistas. O jovem quase
nunca tem espaço para falar de cultura. Perdem um tempo enorme
tocando música, objetivo fútil em se tratando de um veículo criado
para dar oportunidade de fala à população.
Algumas emissoras de rádios comunitárias que acabam caindo nas
mãos dos donos de rádios comerciais, que as compram para evitar
concorrentes de audiência. Quem perde é sempre o povo que fica a
mercê de uma opinião só, sem opção até de distração.
Conforme o Ministério das Comunicações, as rádios comunitárias são
pequenas estações de rádio com o objetivo de funcionar como um
canal de comunicação dedicado exclusivamente à comunidade. Por
meio delas, podem ser divulgadas ideias, manifestações culturais,
hábitos sociais e tradições.
Rádios comunitárias não podem fazer propagandas como as outras
rádios. Mas pode ter apoio cultural. Entende-se por apoio cultural o
pagamento dos custos relativos à transmissão da programação ou de
um programa específico, sendo permitida, por parte da emissora que
recebe o apoio, apenas veicular mensagens institucionais da entidade
apoiadora, sem qualquer menção aos seus produtos ou serviços (MC).
Quanto custa? Esse investimento gira em torno de 3 a 4 mil reais,
tudo vai depender da qualidade dos equipamentos e do estúdio. O
verdadeiro segredo está no transmissor, ele é o fator principal da
rádio, e custa por volta de R$2.000 com cabo, antena, gerador estéreo
e potência de 25Watts (Agert).

Finalmente a antena
Para que o sinal do transmissor com a programação da rádio chegue
até o radinho do ouvinte é preciso uma peça muito importante que
faz parte, junto com transmissor, do sistema irradiante da emissora.

67
É a antena. Um equipamento feito com metal, geralmente alumínio
ou cobre, constituído tecnicamente de forma a transmitir o sinal
gerado pelo transmissor. Um cabo elétrico ligando os dois é o
responsável pelo contato entre as duas partes finais de transmissão.
Uma boa antena pode promover ganhos excelentes, produzindo
rendimentos extras na transmissão, levando mais longe que o normal
a programação da rádio, de forma legal, conforme as exigências do
órgão que controla esse tipo de atividade, a ANATEL, do Ministério
da Comunicações.
Durante muitos anos trabalhei com transmissores e antenas, dando
manutenção nesses equipamentos. Cheguei a construir antenas para
substituir equipamentos principais, enquanto passavam por reforma
ou revisão. Certa vez reconstruí totalmente uma antena de rádio FM
destruída por um vendaval. Ela se espatifou em pedaços no chão.
Consegui recuperá-la como se reconstitui um carro velho.
O mesmo fiz com vários transmissores de válvulas ou já
transistorizados.

Em AM a própria torre é a antena – No Fm, os anéis transmitem os


sinais. O último transmissor que montei, um TX de rádio AM, 2.500 watts
– observe embaixo o tamanho do transformador de alta tensão

68
Capítulo V

O livro traz a vantagem de a gente poder estar


só e ao mesmo tempo acompanhado
Mário Quintana

Ler para saber ler


O mestre de cerimônias, o padre, pastor, político, locutor de rádio, ou
qualquer pessoa que lê alguma coisa para outras pessoas, precisa ter
em mente que ele tem que entender o que está lendo, caso contrário
não conseguirá transmitir o texto como necessário. É preciso o
domínio da leitura para uma boa interpretação, temos que ler dando
a impressão que falamos de improviso, decorado. Isso só se aprende
fazendo, ou seja, ler só se aprende lendo.
Não adianta pegar um jornal ou uma revista e ler apenas os títulos, é
preciso ler também a matéria. Muitas pessoas odeiam textos longos,
livros ou reportagens que não possuem diversas fotos. Esse “defeito”
é que leva as pessoas a uma leitura deficiente, gaguejante, pois não
possuem a prática de conciliar os olhos, cérebro e boca na mesma
velocidade. Quem não pratica leitura não tem os olhos e cérebro em
consonância, por isso a dificuldade em entender a maioria das
palavras.
O grande segredo é um só: ler muito. De preferência em voz alta, no
início, até obtermos uma velocidade de leitura boa.

O hábito de ler nos deixa cada vez mais rápido na leitura. Portanto,
livros, revistas, jornais e até mesmo bula de remédios podem nos
deixar craques na leitura. Quanto mais praticamos, mais bons leitores
ficamos.

69
Pronto para falar? Então vamos falar!
Nunca se esqueça de que comunicação não é o que você diz, mas sim
o que os outros entendem. Por isso é preciso ser claro, sem enrolação.
Temos que nos fazer entender com o menor número de palavras
possível, quando isso é possível. Alguém já disse: pense como um
sábio, mas fale como o povo. Simples assim.
Quando você escreve “vende-se essa casa” e coloca no muro, só passa
a ser comunicação após alguém ler, pois a comunicação só se
estabelece quando o receptor recebe o comunicado do emissor.
Portanto, comunicação no nosso caso, é realizada por um emissor que
fala e um receptor que ouve.

Locutor é um EMISSOR

Quem ouve é o RECEPTOR

Falando passo a passo


Não se vai à frente de um microfone para falar sem uma preparação.
Temos que ter um texto para ser lido ou, se for de improviso, um
mínimo de conhecimento sobre o assunto, de preferência domínio
suficiente para não dizer bobagens e passar vergonha, caindo no
ridículo de ser vaiado ou coisa pior. Só bêbados, tolos e malucos
fazem isso.
Há várias formas de preparar um programa ao vivo, sem importar os
temas e objetivos. Podemos projetar o que vamos falar com muita
antecedência, escrevendo num papel toda a fala na íntegra ou apenas
os tópicos mais importantes. Podemos ainda anotar palavras que vão
nos ajudar a lembrar o assunto e improvisar toda a fala.
Quando temos experiência suficiente para falar ao vivo e domínio do
assunto, podemos falar de improviso, sem que tenhamos pensado nos
detalhes do que vamos discorrer.

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Seja qual for o caso, é preciso ter noção de que temos que saber o que
falar e quando falar. Mais à frente vamos falar de gravações e
produção de textos de anúncios e propagandas.

A voz da alma
A nossa alma também fala. Ela expressa os nossos mais puros
sentimentos e deixam à mostra tudo aquilo que pensamos de
determinado assunto, das pessoas, do mundo. Quando o
comunicador, seja ele locutor ou orador, consegue dar fluência aos
pensamentos emanados pela alma, ele atinge o coração do ouvinte,
no sentido de alcançar também a alma de quem lhe dá atenção. São
nesses momentos que demonstramos não só nossas verdades, mas
também muito do nosso conhecimento em torno de um universo
inteiro que nos rodeia e nos faz viver em comunidade.

Estou tentando passar nessa obra o máximo da minha experiência de


mais de 40 anos de estrada no mundo da comunicação para que o
leitor interessado em se enveredar pelos mesmos caminhos tenham
noções claras a seguir, ao contrário do que minha geração teve
quando se enveredou pelo mundo do rádio, do microfone, pois havia
poucos para ensinar. Essa realidade ficou pior nos dias de hoje, pois
diminuiu os instrutores de qualidade e aumentou o egoísmo em razão
da grande concorrência, apesar de um número maior de rádio. O que
deveria ser mais vagas na profissão de locutor é o contrário, pois o
computador vai aos poucos tomando acento no piloto automático e
assumindo boa parte dos horários que geram empregos.
Há muita gente querendo ensinar o que não sabe, vendendo fórmulas
mágicas para engrossar a voz com o nome pomposo de “voz de
impacto”. Muita gente compra livros, cursos, vídeo-cursos, softwares
e outros milagres achando que vai conseguir uma voz de Cid Moreira.
Esses milagres não existem e tentar mudar a voz é bobagem, além de
impossível. É mais fácil estragar as cordas vocais do que falar mais
grave. O correto não é mudar, mas aprender a usar o que se tem. Não
adianta querer alongar as pernas para correr mais rápido. O segredo

71
é treinar mais rapidez nas pernas curtas. Um caminhão tem enormes
pneus, mas não corre mais que um automóvel de rodas pequenas.

De nada adianta ter um vozeirão se o conteúdo é pobre. Conheço


muita gente dona de vozes graves e bonitas, mas que, além de não
saberem usar corretamente, não sabem o que falar, desperdiçando
com comentários ingênuos.
É mais importante saber usar e ter argumentos que chamam a
atenção do ouvinte.

É por isso que sempre digo que o mais importante não é como a
voz fala, mas o que diz o dono da voz.

Vamos fazer um anúncio


Não sou professor de redação, mas sou redator profissional, jornalista
e especialista em textos de jornalismo e produções e comerciais.
Quatro décadas produzindo textos de todos os tipos.
Então, vamos lá!

Embora o objetivo desse livro não é propriamente a produção, vamos


aos passos principais na criação de textos simples:

1) Anote isto: tudo o que você for produzir precisa obedecer a uma
regra importante, que pode ser simplificada numa fórmula para não
esquecer jamais. Ela é usada em qualquer tipo de anúncio,
propaganda e até na produção de reportagens e notícias. Memorize:
3Q + COP – Onde os 3 “Q” significam:

QUEM
QUÊ
QUANDO

O COP é de:

72
COMO
ONDE
PORQUÊ

Explicando, temos que, ao montar qualquer texto, se respondermos a


cada uma das seis perguntas acima, teremos uma produção
praticamente pronta. Basta finalizá-la, ou dependendo de como você
responder, não precisará fazer mais nada, seu texto estará pronto.

Vamos a um exemplo:
Suponhamos que alguém contratou você para fazer um anúncio de
baile na sua rádio ou falante de rua. Você fará ao anunciante as seis
perguntinhas básicas.

1) QUEM?
Quem é que está anunciando?

2) QUE?
O que será anunciado?

3) QUANDO?
Quando ocorreu ou vai ocorrer o fato?

4) COMO?
Como ocorreu ou vai ocorrer o fato?

5) ONDE?
Onde ocorreu ou vai ocorrer o fato?

6) PORQUÊ?
Por que aconteceu ou por que vai acontecer?

Desenvolvendo o texto, conforme as respostas, temos:

1) Associação da Vila Maria


2) Baile dos namorados

73
3) Dia 12 de junho
4) No salão de baile com a Banda Brasil
5) Clube Militar
6) Comemorar o Dia dos Namorados

Agora precisamos incluir perguntas para ligar essas informações.


Detalhes que os seis tópicos vão lhe dizer indiretamente quais são.
No nosso caso, uma delas seria para quem é endereçado o anúncio?
Para todos os casais, solteiros ou casados.

Assim, o texto pode ser encaminhado com argumentos de ligação:

A ASSOCIAÇÃO DA VILA MARIA CONVIDA A TODOS OS CASAIS


PARA O GRANDE BAILE DO NAMORADOS NO SALÃO DE BAILE
DO CLUBE MILITAR, NESSE DIA 12 DE JUNHO.
CONVIDE SEU AMOR E DIVIRTA-SE COMEMORANDO O DIA
DOS NAMORADOS.
ANIMAÇÃO DA BANDA BRASIL. NÃO PERCA! INGRESSOS NA
PORTARIA.

Observe que as perguntas não foram respondidas na ordem da


fórmula. Isso não tem a menor importância. O que importa é que você
responda às seis questões, juntando com as dúvidas que vão aparecer
na hora de ligar tudo.
Dessa forma, é possível fazer qualquer outra produção textual.

Agora vamos colocar a mão na massa, ou melhor, a boca no comercial.


Vamos à prática da gravação de propaganda, os famosos comerciais!
Não vamos perder tempo com detalhes técnicos burocráticos de
pauta ou ficha de gravação, pois o papel onde se escreve o texto para
gravação é o que menos importa nesse nosso trabalho. O mais
importante aqui é que você aprenda a prática daquilo que o ouvinte
ouve, o resto é detalhe acadêmico para outra obra, pois a maioria das
emissoras de rádio no Brasil não seguem uma burocracia de papéis

74
na hora de gravar, principalmente quando o vendedor chega com um
novo texto para colocar no ar “ontem”, como dizem eles.

Muitos comerciais são gravados a partir de textos feitos em papéis de


blocos de anotação, ou até mesmo papel de embrulhar pão. Já gravei
muito texto escrito em margem branca de jornais e nunca nenhum
ouvinte precisou saber disso, nem o cliente.

Veja também que o texto está escrito com letras maiúsculas. É um


padrão acadêmico de leitura de locução que também não é seguido à
risca. O importante é que o escrito seja fácil de ler e interpretar.

GRAVANDO!
No Capítulo V, em “Ênfase em lugar errado”, abordei a forma de dar
destaque nas frases. Seguindo aquela ideia, temos que é preciso
prestar atenção no lugar correto de chamar atenção para uma frase
falada.
Por isso, repito: é muito comum ouvir textos onde o locutor dá ênfase
na frase ou palavra errada. Se anunciamos “Olha a banana nanica
direto da roça pra sua mesa aqui no caminhão em frente à sua casa”,
o destaque deve ser para “banana nanica direto da roça” e não “frente
à sua casa”. O que importa no anúncio é o produto anunciado e não o
detalhe de onde está o caminhão, embora ele faça parte do anúncio.
A entonação mais forte é sempre em cima do objetivo principal, o
produto que está sendo anunciado e não no alvo a que se destina.

Assim sendo, o anúncio que produzimos acima deve ser lido com
destaques moderados, assinalados em negrito:

A ASSOCIAÇÃO DA VILA MARIA CONVIDA A TODOS OS CASAIS


PARA O GRANDE BAILE DO NAMORADOS NO SALÃO DE
BAILE DO CLUBE MILITAR, NESSE DIA 12 DE JUNHO.
CONVIDE SEU AMOR E DIVIRTA-SE COMEMORANDO O DIA
DOS NAMORADOS.
ANIMAÇÃO DA BANDA BRASIL. NÃO PERCA!

75
INGRESSOS NA PORTARIA.
GRANDE BAILE DO NAMORADOS, NESSE DIA 12 DE JUNHO,
NO SALÃO DE BAILE DO CLUBE MILITAR.

Observe que repeti algumas informações para que o anúncio tenha


mais destaque e cumpra o tempo comum de 30 segundos de
publicidade. Note também que, neste caso, dei destaque ao local de
destino, porque ele faz parte do produto, ou seja, local onde será
realizado o evento, informação importante para o ouvinte interessado
no anúncio que acaba de ouvir.

Atenção! Todo destaque de texto de propaganda precisa ser realizado


com parcimônia, bom senso. Não se deve fazer estardalhaço para não
cair no ridículo. Até mesmo os anúncios de espetáculos de circo
obedecem aos critérios do bom senso. É preciso respeitar o ouvinte.

Cada tipo de anúncio deve seguir uma velocidade e forma de


interpretação. Os anúncios de supermercados e outras lojas que
oferecem ofertas e preços devem ter uma velocidade mais rápida,
devido a uma quantidade maior de texto e também porque o tipo de
propaganda permite.
Já uma nota sobre falecimento não se deve anunciar como se
estivesse falando das ofertas de carne num açougue. Faz-se então
uma leitura mais calma, pausada, sem necessariamente parecer a
leitura da Bíblia na igreja.

Softwares de gravação
Uma das primeiras providências que os novos interessados em
locução tomam é o aprendizado de como gravar no computador. O
Youtube está lotado de videoaulas ensinando como gravar, editar e
fazer diversas peripécias com montagens de áudios. É só procurar por
“edição de áudio”, “gravação de voz”, “como editar comerciais” e
outras perguntas pertinentes à locução para aparecerem centenas de
vídeos e cursos ensinando como se faz.

76
Os cursos mais completos são pagos, porém, há excelentes videoaulas
totalmente gratuitas com aprendizado garantido.

Os melhores softwares
de gravação são pagos,
como por exemplo o
Sound Forge, que eu
uso há 20 anos.

Porém, há versões
parecidas, de graça,
como o Audacity, que
faz excelente gravação
profissional, com
efeitos variados, como
eco e voz robô, para ser
usado em montagens de comerciais ou apresentações especiais.
Ele pode ser baixado gratuitamente na página do desenvolvedor,
www.audacityteam.org.
Pela praticidade, muitas gravações de última hora eu gravo no
Audacity. Para isso, ele não fica devendo nada ao Sound Forge. Os
trabalhos mais demorados faço no Sound Forge por simples questão
de prática, devido ao tempo maior de uso dele, em relação ao
Audacity.

O mito do estúdio
Muito se fala na montagem de estúdios para gravações de áudio ou
emissora de rádio. Durante boa parte de minha vida, paralelo ao
jornalismo e o trabalho de radialista, por força de necessidade fui
técnico de eletrônica especializado em manutenção de equipamentos
de radiodifusão. Montava estúdios e transmissores, e dava
manutenção depois de montados. Montei umas cinco emissoras de
rádio e um canal de televisão.
Foi nessa época que me especializei na montagem de estúdios e
aprendi os grandes segredos da acústica. Descobri vários mitos sobre

77
paredes de estúdios, as verdades, as enganações e muitas bobagens
que até hoje ouço por aí sobre como deve ser um estúdio de gravação
ou de programação ao vivo.

Um estúdio de rádio precisa de um projeto adequado, tanto no ao vivo


quanto no de gravações, porque os equipamentos podem sofrer
interferências externas, principalmente quando há um transmissor
junto por perto. As paredes precisam receber um tratamento de filtro,
feito através de uma grade ou malha aterrada, que recebe o nome de
“Gaiola de Faraday”. Com isso, a mesa de som e demais equipamentos
não vão receber aquele famoso tummmm de radiofrequência.
Trata-se de um processo caro, que, embora pode ser feito com tela de
galinheiro, é necessário um projeto técnico de um profissional da
área. Não basta ir enchendo as paredes de tela. Se não estiver de
acordo com certas normas, a armadilha se vira contra o feiticeiro e
vai atrair raios, deixando mais caro a emenda que o soneto.
Por falar nisso, é preciso pensar em um para-raios, que se não for bem
instalado também vai atrair o inimigo que vem do céu.

Feito isso, vem a fase de acústica. A gaiola terá que ser escondida na
fase de construção de sala, com material de alvenaria ou em madeira.
É nesta cobertura que será colado o material acústico.
Aqui temos várias opções, desde a placa Sonex profissional, que custa
caro, até materiais mais em conta, a maioria em espuma.
Porém, há aquele famoso recursinho caseiro, o das bandejas de ovos.
Tanto as bandejas quando as placas de espumas são colocadas nas
paredes em pontos estratégicos para impedir a reverberação do som
produzido pela voz, quando se faz a gravação. Esses materiais
também podem impedir que o som de fora penetre no estúdio,
dependendo de como são instalados.

Não vou entrar em detalhes de acústica por se tratar de um assunto


técnico que exige uma abordagem mais específica para não confundir
mais do explicar.

78
Como estamos falando de como iniciar uma carreira de locutor, vou
ensinar como é que se faz um estúdio caseiro que não fica devendo
muito a um estúdio profissional.
Primeiro é preciso avisar que um estúdio caseiro não pode ser
montado em uma região de muito barulho de rua, cães latindo,
crianças gritando em brincadeiras animadas ou som muito alto no
vizinho. O projeto a seguir tem o objetivo de criar um ambiente que
retira a maior parte das reverberações da sala (eco). Se for montado
seguindo as instruções, é possível impedir barulhos externos que não
sejam muito alto, como os sons de carros, vozes em fala normais e
cantos de pássaros.
O custo é o mais barato possível. Já vou lhe adiantando que montei
recentemente um estúdio assim para a gravação de candidatos nas
eleições de novembro de 2020. Tudo foi absolutamente improvisado
em dos quartos de um apartamento alugado para ser o QG da
campanha. Embora o local era de grande movimento por ser centro
da cidade, funcionou perfeitamente. Muitas vezes foi necessário parar
a gravação para esperar passar um ronco muito alto de motocicleta,
mas nada que impedisse um bom trabalho.
Criar barreiras para impedir totalmente, ou quase, os sons de fora,
implicaria em mexer no prédio, construindo paredes e fechando
janelas com tijolos, o que necessitaria de investimentos
desnecessários para um estúdio que iria durar 35 dias e não precisava
de tanta exigência.

Assim, optei por resolver o problema mais grave da sala, a


reverberação, um eco que incomodava demais, devido as paredes
nuas e a ausência de móveis. Montei então uma estrutura em madeira
de pinus, muito leve e fácil de trabalhar. Foram sete ripões e três
caibros. Para não ter que usar parafusos de sustentação na parede,
amarrei a estrutura em uma torre metálica, dessas usadas em
iluminação de palco, que por acaso foi levada por engando no local.
Quem levou achou que podíamos usar para alguma coisa durante a
campanha. E acertou em cheio!

79
Montada a estrutura em madeira,
colei de cima embaixo cerca de 100
caixas de ovos, formando uma
estrutura de papelão. infelizmente
não foi feita uma foto com a parede
pronta. Observe na foto abaixo que
até a mesa para equipamentos foi
improvisada com cavaletes e uma
porta deitada.

Também colei umas 20 caixas de ovos na parede da sala, a partir da


altura da mesa (após a foto ter sido feita), que evitaram o retorno da
voz refletida.

Estrutura de madeira que recebeu cerca de 100 caixas de ovos, formando uma parede de
papelão – infelizmente não foi feita uma foto com a parede pronta. Observe que até a
mesa para equipamentos foi improvisada com cavaletes e uma porta deitada. O candidato
ficava na ponta da mesa, onde ficava o microfone, para as gravações dos programas da
Justiça Eleitoral

Essa parede de papelão e madeira e a colagem de caixas de ovos na


parede próxima a mesa eliminaram cerca de 80% do eco da sala, o

80
suficiente para dar condições de gravar toda a demanda dos
candidatos.
O correto seria fazer estruturas como esta nas quatro paredes, mas
não teríamos tempo hábil.
Com esse exemplo, você pode construir o seu estúdio, na sua casa, em
uma pequena sala ou no seu quarto.

Você pode se perguntar: por que eliminar o eco?


É que a reverberação é gravada junto com a voz principal. Juntas,
deixam o som como se o locutor tivesse gravado dentro de uma lata
de 20 litros. Fica horrível. O som precisa ser claro. O eco que se coloca
como efeito em gravações é totalmente diferente, ele aparece como se
estivesse ao lado da voz e não dentro dela, como quando se grava em
uma sala cheia reverberações.

Improvisando uma cabine com cobertor


Pode parecer engraçado, mas funciona: uma cabine de locução com
um cobertor para impedir a reverberação.
Neste fim de 2020 estou morando em uma casa onde vai funcionar
meu escritório e estúdios, depois que terminar uma nova que se
encontra em construção. Estou sem um estúdio montado, e como
continuo a fazer gravações de comerciais e chamadas para emissoras
evangélicas em rádio web, volta e meia preciso improvisar uma
cabine de locução.
Tenho, num quarto, uma mesa onde fica o computador, um pré-
amplificador de microfone valvulado e um microfone, os três itens
necessários para produzir comerciais, programas e qualquer outro
trabalho de áudio baseado na voz.
Quem é que nunca brincou de cabaninha com cobertas na infância?
É isso! Improvise uma cabana por sobre sua cabeça, cobrindo
também o microfone, de maneira que sua voz não saia
completamente dessa redoma e não permita que o som que sair não
volte refletido no microfone.
Pronto! Temos uma cabine que funciona de maneira satisfatória para
pequenas produções, que não exijam muitos minutos de locução. Não

81
há necessidade nenhuma de estrutura de madeira ou metálica,
arranjos com móveis, nada. Basta segurar o cobertor ou uma coberta
grossa com as mãos enquanto fala.
Basta gravar em horários que não haja movimentação excessiva e
você poderá realizar trabalhos incríveis.
Quem disser que esse improviso não serve para uma gravação
profissional é porque nunca tentou fazer dessa forma. Pode fazer que
dá certo. Já gravei muitos comerciais assim e ainda vou gravar outros
tantos, até que meu estúdio seja construído. Quem ouve as gravações
não sabe se gravei a voz debaixo de um cobertor um num estúdio de
câmara projetado matematicamente em álgebras e revestido com o
mais caro Sonex.
Com esse conceito, você consegue entender melhor o que deve
oferecer um estúdio de gravação e projetar uma estrutura fixa, bem
acabada e funcional num espaço da sua casa ou sala comercial. Agora,
você tem ideia do que é básico sem ter que investir um dinheiro
desnecessário, se seu bolso é curto.
Porém, se tiver uma boa grana, contrate um engenheiro acústico para
um projeto em linhas baseadas em cálculos para cada tipo de
ambiente e objetivos. Um estúdio desses moldes deve custar em torno
de uns 20 mil reais, o mais em conta.
Já uma estrutura como a que montei para a campanha política não
passou de 200 reais. O mais caro foram os ripões e caibros. Se você
mesmo construir vai economizar na mão de obra.

Mito da cabine
Monto estúdios de rádio desde 1978. Trabalhei com grandes
profissionais da engenharia acústica de São Paulo, Rio de Janeiro,
Chile e Argentina. Com eles aprendi grandes segredos na
estruturação de uma cabine de locução. Realmente há muito que se
observar nos detalhes de engenharia. Muitos detalhes fazem uma
diferença enorme no produto final de uma gravação de voz ou
instrumentos musicais. Porém, o nível de sofisticação não precisa ser
atingido quando se necessita apenas de gravações simples, de uma
única voz por vez. Isso eu aprendi na prática, comparando trabalhos

82
feitos em estúdios de qualidade técnica com ambientes improvisados,
como a “cabaninha” com cobertor.
Claro que há diferenças gritantes quando analisadas por quem
entende de gravação de áudio, os profissionais da área. Mas para a
grande massa de ouvintes não faz a menor diferença no produto final,
porque para o ouvinte o mais importante é o conteúdo e não como ele
foi feito. Observe o som de uma novela de televisão, onde o áudio é
gravado direto, no ambiente, que embora seja um estúdio, não é uma
cabine de locução com todos os moldes de engenharia de áudio.
Se analisarmos o áudio dos diálogos, vamos perceber uma série de
ruídos e o som de ambiente de sala. Já viu algum telespectador
reclamar disso? Acontece o mesmo com os programas de rádio ou
comerciais.
Sem dúvida alguma a produção em um estúdio adequado é a melhor
opção para um trabalho profissional. Porém, se não temos as
condições para tal, a solução é partir para o velho ditado que afirma:
se não tem tu, vai tu mesmo. Não é porque você não tem grana para
construir um estúdio certinho que você não vai gravar nada ou deixar
de montar a sua rádio web.

O uso dos softwares para “turbinar” a voz


No Capítulo III, afirmei que, por melhores que sejam os microfones,
processadores e outros acessórios, eles não fazem milagres. Uma voz
fina sempre será uma voz fina. Os recursos técnicos servem para
melhorar ou piorar os sons. Depende da maneira como se usa, assim
como uma pintura pode deixar uma parede bonita ou horrível, o que
depende do conhecimento do pintor.
Pois bem, vamos voltar a esse assunto.
No Youtube encontramos milhares de videoaulas que ensinam a
baixar e usar os diversos plugins, softwares, com os quais é possível
fazer mudanças na gravação da voz. Muitos deles ajudam muito,
destacando os graves, amenizando agudos que incomodam e dando
um “peso” melhor na gravação, fazendo a voz ficar mais aveludada,
imponente, etc.

83
Tudo isso precisa de técnica e só o treinamento pode ensinar a
manipulação correta desses acessórios. O uso incorreto só piora ainda
mais o que for ruim ou vai estragar o que é aceitável ou talvez ótimo.
Volto a afirmar, não tente fazer de uma voz fraca um vozeirão do tipo
Cid Moreira. Isso é impossível. O melhor é aprender a usar o que tem
de melhor.

Os ruídos mais comuns


Num estúdio improvisado precisamos cuidar com os ruídos mais
comuns, como ventilador, ar condicionado e até as ventoinhas do
computador. Na hora de gravar, desligue tudo o que faz barulho e que
não necessite ficar ligado enquanto grava. O computador, se produz
algum ruído, precisa ficar longe do microfone, pelo menos um metro.

Evite segurar o microfone com a


mão enquanto grava, por mais que
tente não se mexer, vai produzir
barulho. Use um pedestal, de
preferência de mesa com espuma na
base, para diminuir vibrações.
Se puder, tenha à frente do
microfone uma tela de proteção
(chamados de Pop Filter) para
evitar os excessos de respiração que
produzem os famosos “pufss”. Esse conjunto de pedestal, microfone
e pop filter é o que eu utilizo em minhas gravações. O microfone é um
Behriger B1, muito comum e de preço médio.
Antes de gravar ou entrar ao vivo, costumo me concentrar sozinho
por pelo menos 30 segundos, quando baixo a cabeça, fecho os olhos e
penso: o Senhor é meu Pastor e não me faltará. Abençoe, Senhor, a
minha mente para que eu possa ser o mais claro possível, sem
esquecer nada que seja importante. Amém!
Faça isso. O Senhor nunca me abandou e não vai abandonar você,
acredite! Se você não acredita Nele, paciência. Tudo o que posso lhe
dizer é boa sorte!

84
Capítulo VI

Os tolos nunca aceitarão serem repreendidos


Salomão, filho do rei Davi

O que o locutor não deve ser


1. O sabe-tudo, arrogante: aquele que acha que sempre está certo e
tenta impor sua verdade a qualquer custo.
2. Estrela: aquele que se acha o melhor.
3. Militar: aquele que determina o que o ouvinte deve fazer e tem que
ser do jeito que ele manda.
4. Relator: aquele que fala como se estivesse lendo um jornal, sem
qualquer emoção.
5. Inconveniente: o que gosta de fazer piada de mau gosto e se acha o
máximo.

Registrando a profissão de LOCUTOR


Na verdade, locutor é uma função da profissão do RADIALISTA.
Para que o profissional seja reconhecido como tal, ele precisa ser
registrado junto ao DRT - Delegacia Regional do Trabalho, o órgão
regional do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE.
Esse registro é a habilitação necessária para o exercício de algumas
profissões regulamentadas. A finalidade é garantir que os
profissionais atendam aos requisitos legais, e é uma exigência
estabelecida pelas legislações profissionais.
A profissão de RADIALISTA é reconhecida nacionalmente pela Lei
6.615/78; Dec. 84.134/79, do Ministério do Trabalho.

85
Setores e Funções do Radialista
Radialista não é só o profissional que atua no rádio, mas também na
televisão e em diversos outros setores da comunicação, não só nas
funções ou setores artísticos, mas também nos departamentos
burocráticos e de manutenção. A Lei determina que a profissão de
radialista compreende as seguintes atividades: Administração,
Produção e Técnica. Veja as funções mais importantes:
Locutor (animador, anunciador, apresentador, noticiarista de rádio,
noticiarista de televisão, repórter, comentarista esportivo,
entrevistador), sonoplasta, operador de áudio, produtor, diretor
(artístico, esportivo, musical, câmeras, imagem, áudio e outros),
administração, discotecário, programador, assistente, contrarregra,
coordenador de áreas, e muitos outros. Ao todo, entre funções e
setores são mais de 100 classificações.

O Artigo 6° da mesma Lei exige que “o exercício da profissão de


Radialista requer prévio registro na Delegada Regional do Trabalho
do Ministério do Trabalho o qual terá validade em todo o território
nacional”.

Para que o profissional tenha o seu DRT, basta procurar um posto do


Ministério do Trabalho mais perto de sua casa, informe-se na
Prefeitura ou na agência da Caixa Econômica. Qualquer escritório de
contabilidade pode também fornecer todas as informações.

Meu Registro no DRT é de 1981. Observe o carimbo do DRT e assinatura do delegado do


trabalho. Veja que o registro em carteira do início na profissão foi dois anos antes, 197

86
Documentos necessários para o DRT
- 02 (duas) vias de requerimento devidamente preenchidas
- Cópia autenticada da Cédula de Identidade (RG)
- Cópia autenticada do Cadastro de Pessoa Física (CPF)
- Cópia autenticada do número, série e qualificação civil da Carteira
de Trabalho e Previdência Social (CTPS)
- Cópia autenticada da Certidão de Casamento (se houver alteração
de nome)
- Comprovante de Residência (conta de água, luz ou telefone)
- Cópia autenticada do diploma (para registro DEFINITIVO) ou de
certidão de conclusão, mais o termo de compromisso (para registro
PROVISÓRIO) de curso Superior de radialismo reconhecido na
forma da Lei ou cópia autenticada do diploma de curso técnico de
nível médio (2º grau) de formação específica ou certificado de aptidão
profissional fornecido pelo sindicato representativo da categoria.
- Carteira de Trabalho para a anotação do registro.

Salvo pelo gongo!


Caso não tenha nenhum dos certificados ou diplomas listados
acima, é preciso estar trabalhando em uma empresa de radiodifusão
(rádio ou TV) com carteira assinada comprovando uma das funções
de radialista. O artigo 8º da Lei garante essa prerrogativa, através do
sindicato representativo da categoria profissional, ou do sindicato
representativo de empresas de radiodifusão e ainda pela própria
empresa de radiodifusão em que o radialista está trabalhando,
através de uma declaração de “aptidão profissional”.
O Artigo 2° da Lei do Radialista afirma que “considera-se Radialista
o empregado de empresa de radiodifusão que exerça função
estabelecida no Quadro anexo ao Regulamento” (veja a lista dos
principais acima).

87
Preciso mesmo ser registrado para ser
locutor?
Não! Você não precisa de nenhum registro para ser locutor. Você
pode fazer locução na sua casa e negociar as gravações como qualquer
outro produto. Porém, muitas empresas exigem o registro para lhe
contratar como empregado, o que não é o caso de trabalhar por conta
própria, ou fazer gravações para qualquer empresa.
Você pode ter uma agência de propaganda ou trabalhar como
freelance (autônomo). Também poderá ser contratado por uma
emissora de rádio para fazer programas semanais, ou mesmo diário,
sem vínculo com a empresa, do tipo horário comprado. Para isso você
não precisa de nenhum registro.
Porém, para suas garantias presentes e futuras, todo registro é bem-
vindo, principalmente se você se preocupa com a aposentadoria.

Errar é humano
Todo mundo erra. O que não se pode é valorizar um erro, perdendo
tempo com explicações desnecessárias. Errou, está errado! Peça
desculpas, diga que foi um engano e continue em frente. Na maioria
das vezes os erros acontecem por falta de concentração. Portanto,
fique sempre focado no ato de falar. Se você sabe o que está falando,
jamais irá cometer um erro grave que não possa ser entendido como
um fato comum e sem consequências nenhuma. Esteja preparado. Os
erros pequenos nem são lembrados quando somos humildes para
reconhecê-los.
Porém, é preciso estar atento para não ofender pessoas e cair nas
garras da Justiça. Uma piadinha que, em princípio, pode parecer uma
bobagem qualquer, às vezes vira uma imensa dor de cabeça.
Reproduzo um texto do site do extra.globo.com: “Para quem não
lembra, em 2011, Wanessa e o marido, Marcus Buaiz, entraram na
justiça contra o ex-apresentador do ‘CQC’ após ele dizer, durante o
programa ao vivo, que ‘comeria’ Wanessa e o bebê que ela esperava.
Rafinha perdeu no primeiro julgamento e sua defesa entrou com
recursos. O humorista foi condenado a pagar R$ 150 mil à cantora”.
88
Capítulo VII
“O mais importante na comunicação é ouvir o que não
foi dito”
Peter Drucker

O Rádio com outro nome: PODCAST

Nos últimos anos temos ouvido falar muito em PODCAST, que, para
mim, nada mais é do que um programa de rádio gravado e
disponibilizado na internet em forma de arquivo que qualquer pessoa
pode ouvir na hora em que quiser, ou seja, o rádio moderno.
A Globo televisão, jornais e na internet, tem investido muito nessa
forma de oferecer informação. Um dos sites que também trabalha
muito nisso é o UOL. É dele que tomamos a liberdade de copiar a
seguinte definição:

“Podcast é como se fosse um programa de rádio, mas não é: em vez


de ter uma hora certa para ir ao ar, pode ser ouvido quando e onde a
gente quiser. E em vez de sintonizar numa estação de rádio, a gente
acha na internet. De graça. Dá para escutar num site, numa
plataforma de música ou num aplicativo só de podcast no celular,
para ir ouvindo quando a gente preferir: no trânsito, lavando louça,
na praia, na academia... Os podcasts podem ser temáticos, contar
uma história única, trazer debates ou simplesmente conversas sobre
os mais diversos assuntos. É possível ouvir episódios avulsos ou
assinar um podcast – de graça - e, assim, ser avisado sempre que um
novo episódio for publicado”.

Está aqui uma excelente oportunidade para profissionais que já estão


na estrada fazendo locução há muito tempo ou para quem está apenas
começando. Nada impede de usar seus argumentos para produzir
podcasts e postar em um site que você também pode criar

89
gratuitamente em plataformas que oferecem isso gratuitamente. Eu
uso o Blogger, que é totalmente de graça.

Como sugestão de pauta, você pode falar de problemas do seu bairro


ou fazer comentários sobre a situação política do país, falar de um
assunto específico que gosta ou comentar as principais notícias que
estão em evidência no momento, local, nacional ou internacional.
Moda, culinária, pesca, pintura, mecânica, marcenaria, fofocas ou
programas que você ouve no rádio e na televisão. Tudo pode ser
assunto para um podcast de 10, 20, 30 minutos ou de mais de uma
hora de duração.

Basta ter cuidado para não ofender pessoas e correr o risco de um


processo judicial. Evite entrar em temas complicados que possam
gerar polêmicas se ainda não estiver preparado para aguentar a
repercussão que possa acontecer. O resto é mole!

Na hora de gravar, você pode fazer tudo de improviso e fazer cortes


na edição final, ou escrever antes tudo o que vai falar para errar
menos e ter quase nada para editar.

Com o tempo, se tornará cada vez mais fácil e você verá que estará
falando cada vez melhor, sem a preocupação de impostar a voz, sendo
você mesmo.

Posso montar uma rádio comercial?

Não! Não é possível sair montando uma rádio que “pegue” em rádios
comuns sem ter uma conceção do governo federal. É até possível
comprar ou montar um transmissor de AM ou FM e fazer
transmissões de falas e músicas. Mas isso se constitui crime e você
pode sofrer sanções da Justiça por isso, inclusive até ser preso.

No Brasil, uma rádio é considerada clandestina, portanto, ilegal,


quando não possui autorização (concessão) de serviço expedida pelo

90
Ministério das Comunicações e licença para operar a radiofrequência
atribuída pela Anatel. A atividade clandestina de telecomunicação é
crime previsto na Lei 9.472/97, artigo 183, com pena de detenção de
dois a quatro anos, aumentada pela metade se houver danos a
terceiros, além de multa de R$ 10 mil. O Código Penal também prevê
o delito em seu artigo 336.

Posso montar uma rádio comunitária?

Pode! Inicialmente, você precisa fundar uma associação de bairro ou


usar a que já existe, se todos da direção concordarem. Terá que criar,
de cara, a empresa com CNPJ, com nome da rádio e comissão que irá
dirigir a emissora. Em seguida deverá fazer um pedido ao Ministério
das Comunicações e aguardar a concessão.
Parece fácil. Mas não é. Trata-se de uma burocracia muito grande.
Mas, antes de falar nisso, veja como o site Maxcast explica o que é
Rádio Comunitária:

É um tipo de emissora de frequência modulada (FM) que não


tem fins lucrativos, de baixa potência (25 watts) e com apenas
1km de cobertura a partir da antena transmissora. Segundo
a Portaria 4334/2015 (Norma 1/2015), se mantidas as
características técnicas e o ambiente for favorável à
propagação, a rádio pode alcançar ouvintes que estejam a
uma distância ainda maior.
Sua função é divulgar cultura, informação, entretenimento e
manifestações artísticas de uma comunidade. Deve também
prestar serviços de utilidade pública, anunciando notas de
falecimento e outros comunicados de interesse dos
moradores.
Qualquer cidadão da comunidade terá o direito de
manifestar sua opinião, crítica ou sugestão sobre a rádio ou
assuntos abordados em sua programação. A divulgação do
trabalho local deve ser livre de discriminações a etnia,

91
gênero, orientação sexual, religião e convicções políticas ― o
proselitismo político ou religioso é proibido.

Qual a diferença entre a rádio comunitária e a comercial?


Como dissemos, a rádio comunitária deve prestar um serviço
social à comunidade. O fato de não ser explorada
comercialmente é a sua principal diferença em relação às
rádios tradicionais.

Em contrapartida, a rádio comercial é autorizada a veicular


propagandas sem restrições de promoções ou preços — desde
que respeite a legislação. Além disso, o seu alcance é dezenas
de vezes maior que o de uma rádio comunitária.

https://maxcast.com.br/blog/radio-comunitaria-como-criar-uma-web-radio-
voltada-para-a-comunidade/

A filosofia é muito bonita, mas conseguir a conceção de uma rádio


comunitária é quase impossível. O problema é que as rádios
comunitárias são uma ameaça às rádios comerciais, quando se fala de
audiência e, nas pequenas cidades, podem ameaçar até o faturamento
das rádios comerciais, mesmo só podendo anunciar em forma de
apoios culturais e impedidas de veicularem textos com promoções de
vendas com preços de mercadorias e não poderem fechar contratos
com órgãos governamentais.
Assim, os donos de emissoras comuns fazem de tudo para impedir a
concessão de rádios comunitárias para suas cidades. Como a maioria
delas pertencem a políticos, não precisa mais explicações.
Uma das formas de impedir que uma associação consiga uma
concessão é formar um outro time para concorrer. Como concessões
são públicas, dificilmente um pedido corre em segredo até o final.
Havendo mais de um interessado, a concessão vai a leilão e vence
quem tem mais dinheiro. Quando a concessão é vencida por quem já
detém uma concessão comercial, a comunitária vai para a geladeira e
não é montada nunca, pois só serviria para dar prejuízo. Geralmente
há a desistência do grupo mais pobre, antes do leilão e tudo morre na
casca. Precisa explicar mais?
92
Capítulo VIII

“A propaganda mais inteligente é aquela


que o consumidor entende”
Jhonathan Cardoso

O locutor na porta da loja


Um dos trabalhos de locução que mais emprega locutores é o de
propaganda em porta de loja. Um microfone, uma caixa de som e uma
voz chamativa de um locutor dinâmico faz um barulho enorme,
atraindo clientes para compra ou pelo menos para ver que aquele
comércio existe.
Há muitas formas de se fazer esse tipo de propaganda na porta do
comércio. Desde uma caixa de som com a publicidade gravada, feita
por um locutor em estúdio ou ao vivo, onde o profissional usa do
improviso e criatividade para fazer simples anúncios de ofertas de
preços ou aproveitar a oportunidade e dar show.
Conheci em Cáceres, no interior de Mato Grosso, um homem que é
um verdadeiro showman da propaganda de porta de loja. Ele não fica
propriamente na porta, mas no meio da rua, entre os carros no
trânsito, correndo de uma calçada à outra, parecendo um maluco
para quem o vê na primeira vez. Ele dança com uma música animada
de sua caixa de som, enquanto fala da loja que anuncia em um
microfone auricular. Entre passos ensaiados e pulos de palhaço de
circo, ele chama a atenção para a propaganda que faz. É raro quem
não fica parado alguns minutos vendo o show daquele senhor que já
beira os 60 anos de idade.
Por causa de sua dinâmica, é muito requisitado e disputado para esse
serviço de publicidade. Sua performance é excelente quanto ao visual
que apresenta, mas sua comunicação verbal deixa a desejar, talvez
por buscar atrair mais através de sua apresentação cênica.
93
Porém, o melhor exemplo de locutor de porta de loja no quesito
publicidade direta eu cito como exemplo um locutor do interior do
Paraná. Não é porque é foi meu aluno, quando aprendeu os primeiros
passos de locução no rádio há 30 anos, mas porque ele realmente se
destaca pelo trabalho diferenciado que realiza nas portas de lojas,
motivo que o levou a ser convidado a trabalhar em lojas de várias
outras cidades do estado.
Seu nome é Valcir dos Santos, que hoje está afastado desse trabalho
em razão da falta de tempo, pois dedica seu trabalho profissional
como locutor de umas das rádios de maior audiência do Paraná.
Convidei Valcir para que desse um depoimento especial para esta
obra, falando exclusivamente da locução em porta de loja.
Gentilmente ele me atendeu com uma fala que resume muito bem a
forma que ele usava para atrair clientes, através de sua comunicação
ao microfone.

“Eu observei que todos os locutores da época


ficavam nas portas dos comércios falando oferta
por oferta, citando os produtos que a loja
oferecia e anunciando preços, condições de
pagamento e qualidade. Eram todos iguais. Ora,
se o locutor estava ali, ele já era a oferta, uma
isca, um chamariz. Eu percebi que se eu quisesse
me destacar precisaria ter diferencial e uma
ideia me fez ser locutor de porta de loja. Ofereci
meu trabalho para um lojista e apresentei minha
forma de trabalhar. Ele gostou e deu certo, tanto que fui sendo
convidado um trabalho após outro”, contou Valcir do Santos.
Apesar da grave e voz pausada que possui, o que realmente fez dele
um locutor diferente foi a forma de abordar as pessoas que passavam
em frente das lojas. Geralmente escondido em uma banca de estoque,
ele chamava a atenção de um e outro, de formas engraçadas.
— Ei, psiu! Você! É você mesmo! Você aí de vestido azul, passa aqui
na loja, vamos tomar um cafezinho, vem conhecer as ofertas do dia!

94
— dizia ele, conforme as características de cada e com argumentos
diferentes.
Com essa lábia, conseguia atrair a atenção de pessoas, fazendo com
que seu trabalho fosse diferenciado entre os demais locutores que
prestavam o mesmo tipo de serviço.
Importante observar que ele chamava a atenção das pessoas de
maneira respeitosa, sem ridicularizá-las.

Som na rua não precisa explodir ouvidos

Tanto os sons na porta de loja quanto nos serviços volantes, o


chamado som de carro, não tem a menor necessidade de serem
potentes, com grandes caixas reproduzindo graves estrondeantes.
Muitos que trabalham com esse serviço pelas ruas adoram gravações
de locutores de voz grossa explodindo em sons de grandes potências,
em volumes que estremecem as casas por onde passam.
Nada disso é preciso para anunciar produtos ou serviços, porque o
que interessa é que o ouvinte ouça a mensagem. Há quem pense que
a credibilidade se faz pelo tamanho do som, mas o que vale é a
credibilidade de quem anuncia, seja a empresa anunciadora ou os
serviços de anúncios, no caso a ‘mídia’ que leva a mensagem.
Para um som de porta de loja, basta uma caixinha de som pequena, o
suficiente para se fazer ouvir em uma calçada, sem incomodar a loja
vizinha.
Para um som de rua convincente, nada mais do que um alto falante
de média potência, alimentado por um amplificador do tipo toca-CD
de carro. Não precisa ser ouvido no quarteirão da frente, o importante
é fazer se ouvir nas casas por onde vai passando.
Outra coisa é a velocidade com que se anda na rua levando o anúncio.
Se passar correndo, quem está em casa não tem tempo de ouvir uma
primeira oferta. Outra coisa é o tamanho do texto. Para propaganda
de rua, o texto precisa se limitar a no máximo duas ofertas, o nome
da loja e um endereço. Caso contrário não atende aos objetivos de
levar pessoas no local anunciado.

95
Capítulo IX

O homem é um animal que adora tanto as novidades,


que se o rádio fosse inventado depois da televisão
haveria uma correria a esse maravilhoso aparelho
completamente sem imagem.
Millôr Fernandes

BREVE HISTÓRIA DO RÁDIO NO MUNDO

1844 - Samuel Morse envia a primeira mensagem à distância através


do telégrafo.

1863 - O físico escocês James Clerk Maxwell elabora a teoria de que


as ondas eletromagnéticas se propagam no espaço
independentemente de um condutor sólido.

1865 - Institui-se a União Telegráfica Internacional no dia 17 de maio,


data que ficou conhecida como Dia Mundial das Telecomunicações.

1875 - Grahan Bell inventa o transdutor magnético, o microfone.

1877 - Thomas Edison registra sons em cilindros.

1887 - O físico alemão Heinrich Rudolf Hertz constrói um circuito


elétrico que comprova a existência das ondas eletromagnéticas,
batizadas de ondas hertzianas.

1890 - O padre-cientista brasileiro Roberto Landell de Moura,


nascido no Rio Grande do Sul, obtém do governo brasileiro a carta-
patente nº 3279, que lhe reconhece os méritos de pioneirismo
científico universal na área das telecomunicações
96
1893 - Padre Landell faz a primeira transmissão de palavra falada,
sem fios, através de ondas eletromagnéticas e expõe, em São Paulo, o
Teleauxiofono (telefonia com fio), o Caleofono (telefonia com fio), o
Anematófono (telefonia sem fio), o Teletiton (telegrafia fonética, sem
fio, com o qual duas pessoas podem comunicar-se sem serem ouvidas
por outras) e o Edífono (destinado a depurar as vibrações da voz
fonografada, reproduzindo-a ao natural).

1894 - Nos EUA, Padre Landell é reconhecido como precursor das


transmissões de vozes e ruídos e recebe três cartas-patentes do The
Patent Office at Washington: para o telégrafo sem fio, para o telefone
sem fio e para o transmissor de ondas sonoras.

1896 - O cientista italiano Guglielmo Marconi realiza uma


transmissão de rádio entre dois navios de guerra italianos distantes
13 km um do outro e obtém, em Londres, a patente do invento.

1897 - Oliver Lodge inventa o circuito elétrico sintonizado, que veio


possibilitar a mudança de sintonia, com a escolha da frequência
desejada.

1900 - Surge a primeira estação de transmissão comercial da


Alemanha.

1905 - Começam a surgir as grandes empresas de material


radioelétrico: Companhia Marconi, no Reino Unido, Telefunken, na
Alemanha, e a Sociedade Francesa de Radioeletricidade, na França.

1906 - O norte-americano Lee de Forest cria a válvula de três pólos


(tríodo), que permite a utilização das ondas eletromagnéticas para
propagar informações sonoras. No Natal, Forest e o canadense
Reginald Audrey Fesseden realizam a primeira transmissão
radiofônica do mundo. Usando um microfone construído por eles
mesmos, conseguem transmitir suas vozes e o som de um disco de
fonógrafo.

97
1916 – Forest coloca no ar em Nova York o primeiro programa de
rádio de que sem tem notícia, com conferências, música de câmara,
gravações e o primeiro registro de radiojornalismo em forma de
boletins da eleição presidencial vencida por Woodrow Wilson.

1919 - No final da Primeira Guerra Mundial, a empresa Westinghouse


faz nascer, meio por acaso, o modelo de radiodifusão como nós
conhecemos hoje em dia. Ela fabricava rádios para as tropas
americanas e, com o fim do conflito, ficou com uma grande
quantidade de aparelhos. Para evitar prejuízo, a solução foi instalar
uma grande antena no pátio da fábrica e transmitir música para os
habitantes do bairro. Os aparelhos de rádio que sobraram da guerra
foram todos vendidos.

1920 - O microfone surge através da ampliação dos recursos do bocal


do telefone, conseguida pelos técnicos da Westinghouse, e tem início
a “Era do Rádio”, com a popularização das transmissões. A rádio
KDKA, instalada numa garagem em Pitsburg, nos EUA, é a primeira
estação de que se tem registro.

1920 - Surgem, na França, os primeiros rádios a pilha e os fones de


ouvido.

1921 - Surge o emissor da Torre Eiffel, em Paris, e acontece a primeira


transmissão ao vivo de um evento esportivo: uma luta de boxe
acompanhada por 330 mil ouvintes.

1922 - A primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil foi o


discurso do Presidente da República Epitácio Pessoa, no Rio de
Janeiro, durante as comemorações do Centenário da Independência.
O discurso aconteceu numa exposição na Praia Vermelha e o
transmissor foi instalado no alto do Corcovado pela companhia
americana Westinghouse. Foram importados para o evento 80
receptores de rádio.

98
1924 - A Rádio Clube Paranaense faz a sua primeira transmissão em
27 de junho de 1924, em Curitiba. Internacionalmente reconhecida
como PRB-2, é a terceira emissora de rádio do país e a primeira do
Paraná .

1923 - Edgard Roquete Pinto e Henry Morize fundam em 20 de abril


a primeira estação de rádio do Brasil: a Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro, que contava com clubes de ouvintes, que se associavam e
contribuíam com mensalidades para a manutenção da emissora.
Roquete Pinto ficou conhecido como o “pai do rádio brasileiro”.

1923 - A emissora americana KDKA transmite para Londres o


primeiro programa em ondas curtas a atravessar o oceano.

1932 - O governo de Getúlio Vargas autoriza a publicidade no rádio e


Ademar Case, avô da atriz Regina Case, cria o primeiro jingle da rádio
brasileiro: “Oh padeiro desta rua / tenha sempre na lembrança / não
me traga outro pão / que não seja o pão Bragança.”

1933 - O americano Edwin Armstrong patenteia a frequência


modulada (FM), que permite a recepção em alta fidelidade, sem ruído
de estática mas de pequeno alcance.

1935 - A Sociedade Alemã AEG faz uma demonstração do


magnetofone, um aparelho que registra o som em fita magnética.

1936 - Fundada a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que foi a


primeira em audiência por mais de 20 anos.

1938 - A transmissão da novela A Guerra dos Mundos, de H. G.


Welles, levada ao ar nos pela Rádio CBS, na voz de Orson Welles,
causa pânico na costa leste dos EUA ao anunciar a invasão da Terra
por seres extraterrestres. Essa é considerada a mais famosa de todas
as transmissões radiofônicas e foi ouvida por 9 milhões de pessoas. A
confusão foi tanta que obrigou a emissora a interromper a
transmissão.

99
1938 - Acontece a primeira transmissão esportiva em rede nacional,
da Copa da França, por Leonardo Gagliano Neto, da Rádio Clube do
Brasil, do Rio de Janeiro.

1941 - Em 12 de julho tem início a primeira radionovela brasileira,


pela Nacional do Rio de Janeiro: “Em Busca da Felicidade” ficou no
ar por três anos. Na mesma época, vão ao ar “O Grande Jornal Falado
Tupi”, em São Paulo, e “O Repórter Esso”, pela Rádio Record, e o
programa Cassino do Chacrinha, pela Difusora Fluminense.

1942 - A General Eletric começa a produzir nos EUA os primeiros


aparelhos de frequência modulada (FM).

1946 - Surgem os gravadores de fita magnética que vão dar maior


agilidade ao rádio.

1947 - Os engenheiros eletrônicos norte-americanos John Bardeen,


Waler Houser Brattain e Willian Schockley registram a patente do
transistor, que substitui as válvulas e possibilita a fabricação dos
aparelhos portáteis de rádio e televisão. Os três inventores ganham o
prêmio Nobel de Física em 1956.

1949 - Em 1°. de abril, o locutor esportivo Geraldo José de Almeida,


da Rádio Record, irradia um jogo inteiro do time do São Paulo, que
excursionava pela Europa. Resultado: derrota do time paulista por
sete a zero. No dia seguinte, a rádio anunciava que tudo não tinha
passado de uma brincadeira do dia da mentira.

1953 - A cantora Emilinha Borba, que começou a carreira na Rádio


Cruzeiro do Sul, é consagrada a “Rainha do Rádio”, na Rádio
Nacional.

1954 - Chega o Regency TR1, primeiro rádio transistorizado do


mundo, lançado nos EUA.

100
1958 - A transmissão via satélite é inaugurada com o Score I, primeiro
satélite artificial de telecomunicações; as transmissões comerciais
iniciam-se sete anos depois, com o lançamento do Intelsat I. No
mesmo ano, é levada ao ar a emissora Merkur, a primeira rádio pirata
do mundo.

1962 - Criada a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (ABERT).

1965 - O Brasil passa a integrar o sistema Intelsat.

1967 - Criado em 25 de fevereiro o Ministério das Comunicações.

1985 - A empresa japonesa Sony desenvolve um rádio do tamanho de


um cartão de crédito.

1987 - Nasce o sistema DAB (Digital Áudio Broadcasting) para a


transmissão via satélite de áudio e dados para receptores domésticos,
portáteis e móveis. A técnica DAB permite introduzir muitos canais
num mesmo espectro de onda. Muito utilizado na Europa, Estados
Unidos e Japão. A qualidade do som na tecnologia DAB fica próxima
à de um CD.

1990 - Nesta década, a internet se populariza em todo o mundo e as


emissões radiofônicas via rede mundial de computadores se
multiplicam.

2000 - A União Internacional de Telecomunicações fixa os padrões


mundiais para a radiodifusão digital. Um consórcio de emissoras
radiofônicas e de empresas eletrônicas – Digital Radio Mondiale -
realiza testes de transmissão digital em AM, ondas curtas e longas.

2002 - Aprovada, no Congresso, a emenda constitucional que permite


que empresas de comunicação sejam de propriedade de pessoas
jurídicas e permite também a entrada de capital estrangeira no setor

101
2003 - Emissoras internacionais de onda curta começam a transmitir
em tecnologia digital. Tudo leva a crer que os padrões digitais se
tornem populares nos próximos anos e sejam adotados em todo o
mundo. Além dos ouvintes, que terão um som com qualidade digital
– igual à FM e ao CD – também em ondas médias, longas e curtas, a
indústria eletrônica é a grande beneficiária dessa revolução
tecnológica. Estima-se que 2,5 bilhões de receptores serão
substituídos progressivamente, além de antenas no mundo inteiro.

2003 - Começa a transmitir via internet a Rádio UFPR, da


Universidade Federal do Paraná.

(Dados UFPR – Universidade Federal do paraná)

Conforme a Wikipedia, Web rádio (também conhecida como


Rádio via Internet ou Rádio Online) é uma rádio digital que
realiza sua transmissão via Internet utilizando a tecnologia
(streaming) serviço de transmissão de áudio/som em tempo
real. Através de um servidor, é possível emitir uma
programação ao vivo ou gravada. Muitas estações tradicionais
de rádio transmitem a mesma programação da FM ou AM
(transmissão analógica por ondas de rádio, mas com alcance
limitado de sinal) também pela Internet, conseguindo desta
forma a possibilidade de alcance global na audiência. Outras
estações transmitem somente via Internet (web rádios). O
Brasil ainda não emplacou totalmente neste formato de rádio,
mas é questão de tempo devido ao crescimento de usuários da
internet atualmente.

A WEB Rádio nasceu a partir de 1998, com a inserção dos sinais de


áudio na internet. Inicialmente das rádios comerciais e depois por
iniciativa de pessoas comuns.

102
GLOSSÁRIO

ABERT: Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão.


Entidade que congrega as emissoras de rádio e televisão.
AM: Sigla de Amplitude Modulada. Sistema de transmissão de sinais
eletromagnéticos realizado através da modulação da amplitude ou
comprimento das ondas, em frequências que variam de 550 a 1600
Khz.
AMBIENTE: Sons que dão ideia do local da transmissão. Podem ser
ouvidos ao fundo das narrações, ou entrevistas, ou isolados em
pequenos trechos no meio das matérias. Som ambiente.
ÂNCORA: O principal apresentador de um programa. Além de ler o
noticiário, ele “chama” os repórteres que estão “na rua”, os
comentaristas e os entrevistados no estúdio.
AO VIVO: Transmissão feita no exato momento do acontecimento.
APAGADOR: Dispositivo ou equipamento que “apaga” ou elimina a
informação de fitas já gravadas.
APURAÇÃO: Levantamento de dados e acontecimentos que serão
transformados em notícia ou matéria. Investigação dos fatos.
AQUÁRIO: Estúdio de locução envidraçado.
ARQUIVO: Pasta ou arquivo de computador com notícias antigas que
servem como referência para a cobertura de novos acontecimentos.
Podem ser arquivadas em forma de texto ou de gravações.
ÁUDIO: Som. A expressão é usada em algumas emissoras para
designar uma gravação de um acontecimento que deve ser colocado
no ar.
ASSINATURA MUSICAL: música de identificação musical tocada no
começo e no fim de um programa ou inserção regular.

BACKGROUND (BG): Música, vozes ou ruído em fundo que servem


de suporte para a fala. Não pode de forma alguma prejudicar o som
da fala, se sobrepor a ela.
BARRIGA: notícia inverídica transmitida antes de ser checada.

103
BLOCO: segmento da programação, composto de notícias, matérias,
música etc.
BOLETIM: Breve informativo transmitido pelo próprio repórter
sobre assunto abordado em entrevista, ou baseado em informações
que não foram gravadas.
BREAK: expressão inglesa que significa parar, significa o intervalo
comercial.

CABEÇA DA MATÉRIA: o Lide da matéria, informações mais


importantes que abrem o assunto.
CABEÇALHO: dados que devem constar no alto da lauda – redator,
retranca, data, tempo de duração da matéria.
CAMPANHA: série de reportagens e notícias transmitidas com
finalidade social.
CHAMADA: flash gravado sobre matéria ou programa, transmitida
várias vezes durante a programação, para despertar o interesse do
ouvinte.
CHECAR: verificar se a informação é verdadeira.
CHEFE DE REPORTAGEM: profissional encarregado de
supervisionar e coordenar o trabalho de reportagem.
CHECK-LIST (cheque-liste): trabalho de verificação dos pontos
básicos de uma cobertura.
CITAÇÃO: transcrição de frase de alguma personalidade durante
notícia ou boletim.
CLAREZA: qualidade essencial do texto radiofônico. Nitidez.
CLICHÊ: expressão que deve ser evitada no rádio por ser usada com
exagerada frequência.
CLÍMAX: ponto culminante de um texto ou reportagem.
COBERTURA: reportagem completa sobre um acontecimento
importante, no local de sua ocorrência.
COERÊNCIA: qualidade exigida em texto jornalístico.
COLABORADOR: especialista em determinada área que presta
serviços à emissora ser pertencer ao quadro profissional.
COMENTÁRIO: texto opinativo que não deve aparecer nas notícias e
sim após as informações, sempre desenvolvido por um comentarista.

104
COMPACTO: edição sucinta de um programa já transmitido pela
emissora.
CONCISÃO: qualidade do texto de rádio. Síntese.
CORRESPONDENTE: jornalista encarregado de fazer a cobertura de
determinada cidade ou região, dentro ou fora do país e de enviar
regularmente matérias e boletins para a emissora.
COZINHA: trabalho de reescrever textos – adaptar, atualizar,
condensar.
CRÉDITO: identificação dos profissionais responsáveis por trabalho
jornalístico de real importância: repórter, produtor, agência
noticiosa, etc.
CRÍTICA: entrevista opinativa sobre fato jornalístico emitida por
especialista ou ouvinte.
CRÔNICA: texto radio jornalístico desenvolvido de forma livre e
pessoal a partir de fatos da atualidade. A crônica de rádio tem
preocupação com aspectos sonoros do texto e é assinada pelo redator.

DAT: Digital Audio Tape, Gravador Digital de Sons. Aparelho que


permite gravações de alta qualidade em fitas digitais.
DEIXA: palavras finais da matéria que indicam ao operador e ao
locutor o momento em que outro segmento deverá entrar. Trechos de
gravação que constam da matéria editada.
DECUPAGEM: processo de registro da ordem e da duração das
diversas sequências de uma reportagem gravada, anotando-se frases
que identifiquem essas sequências para editá-las.
DESTAQUE: a notícia mais importante de um noticiário.
DJ: Disc-jockey, apresentador de programas musicais.
ECO: efeito desagradável ao ouvido, provocado pela dicção próxima
e sucessiva de palavras com mesma terminação.

EDIÇÃO: preparo das gravações originais antes de serem


transmitidas; montagem de uma matéria, após selecionar, cortar e
emendar trechos da gravação.
EDIÇÃO ESPECIAL: produção de um programa em edição diferente
das edições habituais.

105
EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA: trabalho radio jornalístico que não
estava programado, diante de fato importante e atual. Precedida de
sinais sonoros bem marcantes.
EDITOR: profissional encarregado da edição. Editor de matéria:
executa a edição de matérias. Editor de programa: produção total de
determinado programa. Editor de área: responsável por determinada
área ou setor.
EDITOR RESPONSÁVEL: pessoa que assume para efeitos jurídicos a
responsabilidade total sobre o conteúdo de uma matéria.
EDITORIAL: texto opinativo, escrito de maneira impessoal, sem
identificação do redator, sobre assunto nacional ou internacional,
que define ou expressa a opinião da emissora.
EFEITO ESPECIAL: artifício sonoro produzido pelo sonoplasta –
chuva, vento, passos, etc.
EMENDAR: unir um trecho de gravação a outro.
ENCERRAMENTO: trecho final de um programa ou de uma matéria.
ENQUETE: levantamento de testemunhos públicos. O mesmo que
fala povo.
ENVIADO ESPECIAL: repórter que viaja para apurar determinado
acontecimento e produzir matérias especiais.
ENXUGAR: redigir um texto, eliminando todos os elementos
supérfluos.
ESTOURAR: ultrapassar o tempo programado para a transmissão.
EQUALIZAÇÃO: correção eletrônica de sinais de gravação e de
reprodução, corrigindo as deformações na intensidade das
frequências, para diminuir a distorção e fazer com que o som
reproduzido seja semelhante ao original.

FADE: efeito que consiste no aparecimento ou desaparecimento


gradual do som.
FADE IN: elevação gradual do volume de um som (música, fala ou
ruídos)
FADE OUT: diminuição gradual do volume de um som.
FLASH: rápida informação sobre um fato, dado pelo repórter.
FM: Frequência Modulada. Sistema de transmissão em que a onda
portadora, na faixa de 88 a 108 Mhz, é modulada em frequência. As

106
transmissões em FM sofrem menos incidência de ruídos e
apresentam melhor fidelidade de resposta.
FONTE: fonte de informação. Pessoa, órgão, entidade ou mesmo uma
documentação que gerou o fato noticiado.
FUNDO: o mesmo que background ou BG.
FURO: notícia divulgada em primeira mão.
FUSÃO: mistura de dois temas musicais diferentes, ou vozes, ruídos
que indicam mudança de ambiente, tempo ou situação. Mistura de
sons.
GANCHO: elemento que justifica a matéria e a torna oportuna. É a
relação da matéria com o ouvinte.

HIATO: união de várias vogais, o que provoca um efeito desagradável.

IDENTIFICAÇÃO: texto gravado que deve ser irradiado pela


emissora com a indicação do nome da empresa, localidade,
frequência e tipo de emissão, além do prefixo.
INFORMALIDADE: característica da linguagem de rádio, importante
para estabelecer aproximação com o ouvinte.

JANELA: intervalo que se deixa em programas de rádio para a


inserção de um ou mais comerciais.

LAUDA: folha padronizada na qual é redigido o texto do programa e


que será lida pelo locutor.
LIDE: forma aportuguesada de lead. Abertura de uma notícia ou
reportagem.

MANCHETE: notícias em destaque no início dos radiojornais ou de


cada uma de suas seções, ressaltando, em não mais que uma linha de
texto, os aspectos mais importantes ou mais recentes das informações
contidas no noticiário que vem a seguir.
MATÉRIA: assunto desenvolvido pela reportagem.
MIXAGEM: processo de misturar e combinar várias entradas de som.

NOTA: pequena notícia, destinada à informação rápida.

107
NOTÍCIA: relato de um fato jornalístico de interesse e importância
para a população.

OFF: informação confidencial prestada ao jornalista, com a condição


de não ser divulgada.
OFF TUBE: tipo de transmissão em que o acontecimento é visto pelo
locutor através do vídeo da televisão.

PASSAGEM: breve trecho musical que separa duas notícias.


PAUTA: roteiro dos assuntos a serem focalizados pela reportagem.
PINGUE-PONGUE: perguntas feitas pelo apresentador a um
repórter, dentro ou fora do estúdio. Também pode ser uma entrevista
baseada em perguntas curtas e diretas, com respostas rápidas.
PONTUAÇÃO: série de sinais que indicam as pausas e a entonação
que o locutor deve seguir.
PRODUTOR: profissional responsável pela coordenação das tarefas
necessárias à realização de um programa.
PÚBLICO: conjunto de pessoas ao qual se destina a mensagem.
PÚBLICO-ALVO: parcela da população à qual é dirigida a mensagem.
Segmento do público que se pretende atingir e sensibilizar.
PUFF: ruído provocado pelo excesso de pressão acústica sobre o
diafragma do microfone. Ocorre geralmente na articulação de
consoantes explosivos como o p e o b.

REDE: termo usado para identificar uma transmissão conjunta e


simultânea de uma mesma programação feita por duas ou mais
emissoras.
REDAÇÃO: ato de redigir um texto informativo. A redação no
radiojornalismo é peculiar porque se destina a ser falada.
RETRANCA: expressão retirada do meio impresso - palavras-chave
que identificam a matéria.
RITMO: variação de intensidade, emoção e pausas na fala, conforme
o assunto que está sendo tratado.
RODAR A INFORMAÇÃO: introduzir a mesma informação no
decorrer da programação, variando a forma de transmiti-la. Pelos
relatórios, a chefia verifica como a matéria deve ser reaproveitada.

108
ROTEIRO: texto que apresenta o desenrolar total do programa de
rádio; também significa a relação de comerciais que devem ser
veiculados em ordem de horário, no jargão radiofônico é o mesmo
que “tripa”.

SEGMENTO: o mesmo que bloco.


SEGUNDO PLANO: voz transmitida a certa distância, em volume
menor, na mixagem, para dar a sensação de distância ao ouvinte.
SÉRIE DE REPORTAGENS: matérias independentes relacionadas
entre si pelo mesmo tema.
SETOR: área de ação de um repórter.
SETORISTA: repórter encarregado de cobrir determinado setor:
aeroporto, câmara municipal, bolsa de valores, etc.
SILÊNCIO: ausência temporária de falas e ruídos em primeiro plano.
SIMPLICIDADE: característica da linguagem radiofônica.
SOM AMBIENTE: música, vozes e ruídos que aparecem de fundo em
uma reportagem.
SONOPLASTA: técnico responsável pela sonoplastia.
SUÍTE: continuidade de um fato jornalístico com o acréscimo de
novos elementos que o atualizem.

TEXTO MANCHETADO: notícia escrita em takes ou manchetes.


Cada manchete deve conter uma informação, eliminando-se os
supérfluos. Cada take ou manchete possui no máximo duas linhas e
meia.

VINHETA: mensagem transmitida no intervalo de programas,


composta de um texto curto, música e efeitos sonoros. Pode haver
vinheta para chamar uma matéria ou programa, campanha
institucional e outras.
(CHANTLER, 1998; PORCHAT, 1985; MACLEISH, 2001)

109
Capítulo X

“A maior motivação que alguém pode receber é o


salário depositado na conta no fim do mês”
Muricy Ramalho

Não poderia encerrar o livro sem fazer uma


abordagem sincera sobre a atual situação do
campo profissional em que atua os
comunicadores que utilizam a voz como
locutores. Neste capítulo, busquei informações
sobre o mercado de trabalho neste período em
que fecho a edição, dezembro de 2020.

Antes, lembro que, quando iniciei minha vida


no rádio, em 1978, o salário de um locutor era
o equivalente a cinco salários mínimos e
poucos recebiam o mínimo. A média do
assalariado não atingia o teto, principalmente Intervalo durante
apresentação de um
no interior do Brasil, apesar da altíssima cerimonial de formatura da
inflação da época. Faculdade Estadual de
Hoje, a média salarial de um locutor é de 01 Mato Grosso - 2016
salário mínimo mensal. Para ganhar um pouco
mais ele se submete a vender propaganda, ganhando porcentagem ou
rachando o lucro com a emissora que o contrata. Assim, ele precisa
ser, além de locutor, um vendedor, ou como alguns chamam, corretor
de publicidade ou representante comercial, nomes bonitos para
vendedores.

Isso não seria problema se o mercado não tivesse em situação difícil.


O mercado já estava em decadência quando teve início a pandemia,
agravando ainda mais a situação, chegando a provocar o fechamento
até de emissoras grande em capitais. Em maio deste ano (2020), a
Rádio Globo de São Paulo saiu do ar, depois de 68 anos de existência.
110
Antes, a Rádio Globo de Belo Horizonte já tinha fechado as portas. A
exemplo disso, muitas emissoras no interior estão deixando de existir
e o motivo é o mesmo: falta de faturamento.

A televisão vem levando boa parte das propagandas das rádios há


muitos anos. Soma-se a isso a internet, que abocanha um filão
bastante grande de patrocinadores, através das redes sociais,
principalmente Facebook e Youtube. Os sites de notícias pegam outro
tanto e, para arrematar, as rádios web ficam com mais um tantinho.
Ainda é pouco, mas vai crescer nesse último seguimento.

Temos ainda o fim das rádios AMs que migraram para FM


acreditando que seria melhor, porém, na maioria das cidades foi ao
contrário. O que era um mercado que se dividia em dois seguimentos,
fazendo o anunciante fazer dois tipos de anúncios, se tornou uma
disputa só, pois, quem fazia propaganda em duas rádios, sem se
importar com horários, passou a fazer em uma só, a partir da escolha
de programas de melhor aceitação. O que já era ruim ficou pior.
Antes, eram dois picolés de sabores diferentes em horas
diferenciadas, agora é um sorvete só, do mesmo tamanho para ser
lambido por só uma língua, na mesma hora. Aí o anunciante divide a
verba com menos investimento e só vai sobreviver a rádio de mais
audiência.

É preciso juntar também o fator tempo, que passa mudando tudo. Já


não se ouve mais rádio como antigamente. Essa geração que aí está
não é muito ligada à programação de rádio. Esses meninos e meninas
que já estão nascendo com celulares mãos não sabem e nem irão
saber o que é rádio na forma como o fazemos hoje. Assim, nossa
geração vai passar e o rádio irá com ela.

Por isso é preciso se reinventar. Dizem que a grande esperança é a


WEB Rádio, porém, se continuar uma cópia das rádios comerciais
como são hoje também não vai decolar e tende a morrer na casca.

111
Rádio que pensa sobreviver tocando músicas não irá longe. Mesmo
as que só tocam o gospel. É que música é música, independente de
gêneros, gostos, idades ou qualidade. Cada um ouve aquilo que gosta
e as opções podem ser atendidas por milhões de arquivos que
qualquer um pode obter pela internet, plataformas que tocam música
e outros meios que possibilitem ouvir o que quiser, na hora que
quiserem. Assim, o rádio que pensa escolher o que o cidadão deve
ouvir está acabando, está no fim.

Assim, como a corda arrebenta sempre no ponto mais fraco, quem


paga o pato é o trabalhador que fica sem emprego, onde se encontra
o locutor, que de uma hora para outra acaba ficando sem chão, sem
teto e sem muitas esperanças.

Sem emprego fixo, o locutor vai para o mercado informal, para o


mercado de publicidade volante, também chamado de som de rua, ou
som de carro, mercados muito poluídos. Para todo lado há um carro,
moto e até bicicleta com som percorrendo ruas, divulgando
publicidades. Nas portas de lojas a mesma coisa. Por trás das
mensagens, um locutor, gravado ou ao vivo.

Com a facilidade que existe hoje para se montar um sistema de


gravação de áudio em casa, milhares de locutores se tornam
produtores de publicidade em salas, quartos, fundo de quintal e até
em banheiros ou antigos galinheiros.
Com um número tão grande de gente produzindo, o mercado tem
mais oferta que procura e aí os preços vão lá embaixo. Há quem
reclame da concorrência que faz muito barato, dizendo que o
mercado está prostituído. Mas não é bem assim. O problema é que
não está havendo mais espaço para tanta produção e tem muita gente
boa disputando o mercado com qualidade. Assim, vai vender quem
oferecer a melhor mercadoria pelo melhor preço. Isso não é se
prostituir, é sobreviver.
Muitos estudaram sobre a crise do Café em 1929, quando a cotação
da saca no mercado internacional caiu quase 90% em um ano. Todo
mundo plantou café, veio a crise mundial e o Brasil também se ferrou,

112
não havia para quem vender. Milhões de sacas de café foram
queimadas, muita gente faliu, perdeu fazendas.
Esperamos não chegar a esse patamar, mas a coisa não está bonita.

O que devemos fazer? Oferecer qualidade, porque, qualquer um pode


baixar o preço de sua mercadoria, mas entre duas com o mesmo
preço, a preferência nunca deixará de ser pela melhor.
É a situação! É preciso sobreviver e, assim, vamos vivendo.

Voltando ao rádio, não importa se comercial ou web, ele precisa ser


interativo, estar o tempo todo chamando a atenção do ouvinte para
ter a atenção dele. É nesse ponto que entra o papel fundamental do
locutor, que precisa ser dinâmico, comunicativo, inteligente e
simpático, mesmo na locução de rua. O rádio pode morrer, mas o
locutor só morrerá quando não existir mais a raça humana.

“No rádio, a tela é muito mais


ampla que na televisão”
Orson Welles

BIBLIOGRAFIA

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https://www.ablv.com.br – Academia Brasileira de Laringologia


26/12/2020 – 17h56

https://extra.globo.com/famosos/processado-por-wanessa-rafinha-
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(acessado em 26/12/2020, 15h49)

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09/03/1974 - Lei n° 5.700 de 01/09/1971 - Lei n° 12.157 de 2009 -

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Protocolo

Lima, Luiz André Correia. Rádio e Radiojornalismo / características,


programação e técnicas gerais de produção e apresentação / 2001 Ed.
UEL.

Minha querida vida –Tahan, Malba - Editora Record, 1963

Moreira, Sônia Virginia. O rádio no Brasil / 2000 Mil Palavras

Novo Dicionário Aurélio - Aurélio Buarque de Holanda

Os Mandamentos da Comunicação - Direcção de Marketing de


Relações Corporativas ICE público - www.grupo ice.com

Locutor Aprendiz
Clóvis de Almeida Godoy

Clóvis de Almeida Godoy iniciou no mundo da arte impressa aos 12 anos de idade,
como montador de carimbos, para pouco tempo depois dar sequência na profissão
de gráfico em um jornal de sua cidade.
Ainda na década de 1970, apenas pelo gosto de falar ao microfone, iniciou uma
programação, como se fosse de rádio, num serviço de alto falantes que havia na
cidade. Era a “voz do poste”.
115
Em Curitiba, em 1978 conheceu o rádio, aprendendo a fazer locução na Rádio
Marumby.
Tendo uma primeira formação em eletrônica, foi técnico montador e de
manutenção em várias emissoras de rádio e televisão no Paraná.
Com a profissão paralela de radialista, se dedicou a programas ao vivo e na gravação
de textos comerciais, se especializando na produção de textos publicitários,
literários, jornalísticos e comerciais, o que o levou a voltar a estudar, tendo se
formado em Jornalismo, pela Faculdade Sul Brasil, de Toledo.
Nos últimos 42 anos tem atuado em jornais, rádios e televisão, no Paraná e Mato
Grosso, como apresentador, produtor, redator, gerente e diretor de emissoras.
Nos últimos anos tem se destacado no jornalismo, na função de assessor de
imprensa, como assessor de câmara e prefeituras municipais.
Em 2013 foi professor de um curso sobre rádio e oratória no IFPR, Campus de Assis
Chateaubriand-PR.
A partir de 2014 assumiu os departamentos de jornalismo das rádios Difusora e da
TV Descalvados SBT de Cáceres, em Mato Grosso. Logo em seguida, foi assessor de
imprensa da Câmara Municipal e da Prefeitura Municipal na mesma cidade. Antes,
de 2005 a 2012 havia sido assessor de imprensa da Câmara Municipal e da
Prefeitura Municipal de Assis Chateaubriand, no Paraná.
Atualmente, Clóvis de Almeida Godoy se dedica ao trabalho de escritor.

Locutor Aprendiz

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