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Português-Língua PACC2013
Português-Língua PACC2013
PORTUGUÊS (LÍNGUA)
TEXTO
Uma língua, num instante dado, ainda não existe, noutro instante depois já poderemos
identificá-la, reconhecê-la, dar-lhe nome. Entre esses dois instantes, por assim dizer unívocos, é
grande a dificuldade de apurar até que ponto o que há-de ser já está sendo, ou se o que foi já se
transformou o bastante para que seja possível anticipá-lo [sic] como forma do que será. É a mil
vezes repetida metáfora da crisálida, vida entre duas vidas, simultaneamente criadora e criatura.
Assim se terá feito a passagem do latim ao português, com aquela crisálida linguística pelo meio
a tentar chegar aos mesmos significados através doutros significantes.
Abusando dos privilégios generalizadores do ficcionista, em quem sempre habita alguma
animadversão contra a inamobilidade dos factos, tenho afirmado que bem mais importante do que
o facto em si é o momento em que ele se produz, e que, sem uma compreensão geral de quanto
no tempo os envolve, os factos tornam-se, não raro, ininteligíveis, apenas os salvando de se
tornarem em enigmas o seu próprio peso bruto, que acaba por instituí-los como evidências mais
ou menos incontornáveis. É por isto que alusões à hora, ao instante, ao momento, à época
regressam com insistência a uma reflexão que deveria orientar-se unicamente para a situação
actual, uma vez que é do estado actual da língua portuguesa que me propus ocupar aqui. Ainda
que, confesso-o, me fosse de grande gosto, além do proveito que me traria, saber que causas se
congregaram para que o português escrito, e presumo que também o falado, atingisse um tão alto
grau de beleza e precisão no século XVII, por exemplo, e que enfermidades o atacaram depois e
o trouxeram, com algumas intermitências fulgurantes (Almeida Garrett em primeiro lugar), a esta
outra crisálida em que se está preparando não sei que se insecto, por todos os indícios,
provavelmente, um mutante.
Porém, muito mais do que saber que maleitas terão surgido nesse e noutros passados,
importaria averiguar as causas, e propor os remédios, se ainda os há, para a acelerada degradação
que está corroendo a língua portuguesa, essa que tanto nos envaidece chamar a língua de Camões,
sem nos perguntarmos se o mesmo Camões não a cuspiria da sua boca. Eu sei, ai de mim, que os
optimista [sic] são doutro parecer: dizem eles que a língua não precisou de quem a cuidasse
durante todos estes séculos e nem por isso se finou, que uma língua é um ser vivo, como ele
eminentemente adaptável, que essa capacidade de adaptação é a própria condição da vida, e que,
outra vez metaforicamente falando, depois de bem baralhados os naipes, sempre estarão na mesa
as mesmas cartas, isto é, ainda haverá língua portuguesa bastante para que os portugueses saibam
do que estão a falar. Oxalá. Mas, se é preciso dizê-lo, por deformação original do espírito ou
cepticismo que veio com a idade, não sou optimista. A convivência pacífica nunca foi a
característica principal das coexistências linguísticas (…).
Ora, as línguas, hoje, batem-se. Não há declaração de guerra, mas a luta é sem quartel. (…)
Claro que desta guerra de falantes e escreventes não se esperam, apesar de tudo, resultados
definitivos em pouco tempo. A inércia das línguas é um factor de retardamento, mas as
consequências derradeiras, verificáveis não sei quando, mas previsíveis, mostrarão, então
demasiado tarde, que o emurchecimento prematuro daquela árvore anunciava já a extinção de
toda a floresta.
Línguas que hoje se apresentam como apenas hegemónicas em superfície tendem a penetrar
nos tecidos profundos das línguas subalternizadas, sobretudo se estas não souberem, a tempo,
encontrar em si próprias uma força vital que lhes permitisse resistir ao desbarato a que, de forma
quase sistemática, se vêem sujeitas, agora que as comunicações no nosso planeta são o que são.
Num livro que escrevi há alguns anos, chamado Viagem a Portugal, dei a um breve capítulo da
parte consagrada ao Algarve o título «O português tal qual se cala». Não é preciso explicar porquê.
Hoje, uma língua que não se defende, [sic] morre. Não de morte súbita, já o sabemos, mas irá
caindo aos poucos num estado de agonia desesperada que poderá levar séculos a consumar-se,
dando em cada momento a ilusão de que continua viva, e por esta maneira afagando a indolência
ou mascarando a cumplicidade, consciente ou não, dos seus suicidários falantes.
O quadro é, evidentemente, sombrio. Não faltará entre nós quem alegue, para contrariá-lo,
a nova possibilidade de renovação e florescimento da língua portuguesa que nos é oferecida pelos
países de África que, miraculosamente, no acto da sua independência, decidiram adoptar o
português para a sua língua oficial. Foi um acontecimento de grande importância, sem dúvida,
mas que não seria prudente sobrestimar: mais do que uma decisão motivadamente sociocultural,
foi um gesto de política pragmática que o futuro virá a confirmar ou não, quer por força das razões
próprias quer pela pressão envolvente das línguas periféricas. Acresce ainda que seria um acto de
inadmissível abdicação entregar a outrem responsabilidades que são conjuntamente nossas, de
nós, portugueses, que, sendo certo não merecemos mais do que outros a língua por termos sido
os seus criadores, também seguramente a não merecemos menos, quer nos direitos quer nos
deveres. Aliás, a frente principal (perdoai o arrebatamento bélico…) da luta pela sobrevivência
da língua portuguesa está no próprio país de origem: se nele se perder, há muitas probabilidades
de que venha a perder-se também noutros lugares do mundo que a falam. Não esqueçamos que as
línguas se cercam umas às outras, não esqueçamos que a língua inglesa as cerca a todas e a todos
nos cerca.
Uma reflexão mais, esta sobre o ensino da língua nas nossas escolas. Não quero duvidar da
competência de quem ensina nem da vontade de saber que morará no espírito de quem aprende,
mas interrogo-me com apreensão sobre os motivos do baixíssimo nível de conhecimentos e da
confrangedora inépcia com que gerações de estudantes de todos os graus lidam com a nossa língua
quando a escrevem e quando a falam. Dizem-me que se trata de um fenómeno mundial, dizem-
me que também no estrangeiro o erro de ortografia é rei e pouco lhe vai faltando para ser lei. Será
assim, mas evidentemente não é dos males alheios que poderemos esperar a cura das nossas
próprias doenças. A escola, que tão mal ensina a escrever, não ensina, de todo, a falar. A
aprendizagem elementar da fala e o desenvolvimento do falar estão entregues às famílias, ao meio
técnico e cultural em que a criança vai crescer, o que em si mesmo não é um mal, uma vez que
assim costuma decorrer todo o processo de aprendizagem, pelo exemplo e pela exemplificação,
sucessivos e constituidores. Mas a escola, não intervindo, como efectivamente não intervém, no
processo edificador da fala, demite-se de uma responsabilidade em que deveria ser parte
privilegiada, e, pelo contrário, vai receber o influxo negativo de surtos degenerativos externos,
assim «oficializando», indirectamente, o errado e o vicioso contra o harmonioso e o exacto. E é
facilmente verificável que a escola, não só não ensina a falar, como fala mal ela própria.
in JL (15-11-2000, p. 9)
Grupo I (50 PONTOS)
Resuma o texto que acabou de ler em cerca de 400 palavras.
3- Das quatro frases seguintes, apenas uma está correta. Qual? (5 PONTOS)
a) Obrigado pela mensagem que me mandas-te!
b) Obrigados pela mensagem que me mandasteis!
c) Obrigado pela mensagem que mandas-te-me!
d) Obrigado pela mensagem que me mandaste!
10- No texto que se segue, substitua o verbo ver por verbos mais expressivos, não
repetindo nenhum deles. (10 PONTOS)
Quando te vi (1), na semana passada, na piscina, falámos longamente, mas vi (2) que não
estavas a ver (3) onde eu queria chegar. Vi (4), por isso, que era melhor desistir.
Ontem, só te vi (5) ao longe, mas vi (6) logo que estavas apressado, pois vi (7) que levavas
pastas debaixo do braço e vi (8) que terias imensos testes para ver (9) quando chegasses
a casa, por isso, vi (10) que era melhor não te chamar.
Prova especialmente adequada destinada a avaliar a capacidade para a frequência do
ensino superior para maiores de 23 anos
PORTUGUÊS (LÍNGUA)
RESUMO
Da língua portuguesa e seu ensino
3- Das quatro frases seguintes, apenas uma está correta. Qual? (5 PONTOS)
d) Obrigado pela mensagem que me mandaste!
10- No texto que se segue, substitua o verbo ver por verbos mais expressivos, não
repetindo nenhum deles. (10 PONTOS)