Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 69

Outlander 8 Escrito com o sangue do

meu coração Diana Gabaldon


Visit to download the full and correct content document:
https://ebookstep.com/product/outlander-8-escrito-com-o-sangue-do-meu-coracao-di
ana-gabaldon/
More products digital (pdf, epub, mobi) instant
download maybe you interests ...

Outlander 7 Ecos do futuro Diana Gabaldon

https://ebookstep.com/product/outlander-7-ecos-do-futuro-diana-
gabaldon/

Outlander 3 O resgate no mar Diana Gabaldon

https://ebookstep.com/product/outlander-3-o-resgate-no-mar-diana-
gabaldon/

Outlander 4 Os tambores do outono Diana Gabaldon

https://ebookstep.com/product/outlander-4-os-tambores-do-outono-
diana-gabaldon/

Outlander 5 A cruz de fogo Diana Gabaldon

https://ebookstep.com/product/outlander-5-a-cruz-de-fogo-diana-
gabaldon/
Outlander Ecos do Futuro Livro 7 Em Portugues do Brasil
1st Edition Diana Gabaldon

https://ebookstep.com/product/outlander-ecos-do-futuro-
livro-7-em-portugues-do-brasil-1st-edition-diana-gabaldon/

O círculo das sete pedras Uma coletânea de histórias de


Outlander Diana Gabaldon

https://ebookstep.com/product/o-circulo-das-sete-pedras-uma-
coletanea-de-historias-de-outlander-diana-gabaldon/

Outlander 6 Um Sopro de neve e cinzas Diana Gabaldon

https://ebookstep.com/product/outlander-6-um-sopro-de-neve-e-
cinzas-diana-gabaldon/

Escrito com letras de sangue mártires do século XX


Anderson Wagner Araújo

https://ebookstep.com/product/escrito-com-letras-de-sangue-
martires-do-seculo-xx-anderson-wagner-araujo/

Escrito com letras de sangue Anderson Wagner Araújo

https://ebookstep.com/product/escrito-com-letras-de-sangue-
anderson-wagner-araujo/
O Arqueiro
GERALDO JORDÃO PEREIRA (1938-2008) começou sua carreira aos 17 anos,
quando foi trabalhar com seu pai, o célebre editor José Olympio,
publicando obras marcantes como O menino do dedo verde, de Maurice
Druon, e Minha vida, de Charles Chaplin.

Em 1976, fundou a Editora Salamandra com o propósito de formar uma


nova geração de leitores e acabou criando um dos catálogos infantis mais
premiados do Brasil. Em 1992, fugindo de sua linha editorial, lançou
Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss, livro que deu origem à
Editora Sextante.

Fã de histórias de suspense, Geraldo descobriu O Código Da Vinci antes


mesmo de ele ser lançado nos Estados Unidos. A aposta em ficção, que não
era o foco da Sextante, foi certeira: o título se transformou em um dos
maiores fenômenos editoriais de todos os tempos.

Mas não foi só aos livros que se dedicou. Com seu desejo de ajudar o
próximo, Geraldo desenvolveu diversos projetos sociais que se tornaram
sua grande paixão.

Com a missão de publicar histórias empolgantes, tornar os livros cada vez


mais acessíveis e despertar o amor pela leitura, a Editora Arqueiro é uma
homenagem a esta figura extraordinária, capaz de enxergar mais além,
mirar nas coisas verdadeiramente importantes e não perder o idealismo e a
esperança diante dos desafios e contratempos da vida.
Título original: Written in My Own Heart’s Blood

Copyright © 2014 por Diana Gabaldon


Copyright da tradução © 2020 por Editora Arqueiro Ltda.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser


utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização
por escrito dos editores.

Trechos de “Eu canto o corpo elétrico”, de Walt Whitman: tradução de Ivo


Barroso para os Cadernos de Espetáculos v. 2, da Revista do Teatro Carlos
Gomes (Rio de Janeiro, set. 1996).

“Borbulhe a papa [...] e lagartixa” (p. 811): trecho de Macbeth, de William


Shakespeare, trad. de Manuel Bandeira (Rio de Janeiro: José Olympio,
1961).

tradução: Mariana Serpa

preparo de originais: Victor Almeida

revisão: Flávia Midori e Hermínia Totti


diagramação: Valéria Teixeira

capa: Duat Design

imagens de capa: Shutterstock – Ted Odeh (cabana ao pôr do sol) e Eleni


Alina (paisagens de outono com corvos)
e-book: Marcelo Morais

à Ã
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G111o
Gabaldon, Diana, 1952-
Outlander [recurso eletrônico]: escrito com o sangue do meu coração / Diana
Gabaldon; [tradução de Mariana Serpa]. - 1. ed. - São Paulo: Arqueiro, 2020.
recurso digital (Outlander; 8)

Tradução de : Written in my own heart's blood


Sequência de: Outlander: ecos dos futuro
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-65-5565-052-5 (recurso eletrônico)

1. Ficção americana. 2. Livros eletrônicos. I. Serpa, Mariana. II. Título. III.


Série.
20-66680 CDD: 813
CDU: 82-3(73)

Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472

Todos os direitos reservados, no Brasil, por


Editora Arqueiro Ltda.
Rua Funchal, 538 – conjuntos 52 e 54 – Vila Olímpia
04551-060 – São Paulo – SP
Tel.: (11) 3868-4492 – Fax: (11) 3862-5818
E-mail: atendimento@editoraarqueiro.com.br
www.editoraarqueiro.com.br
SUMÁRIO

Prólogo

PARTE I – Vínculos
1. Cinquenta quilos de pedras
2. Desgraçado nojento
3. No qual as mulheres, como de costume, recolhem os cacos
4. Não faça perguntas cuja resposta não deseja ouvir
5. As paixões dos rapazes
6. Sob minha proteção
7. As consequências inesperadas de ações irrefletidas
8. Homo est obligamus aerobe (“o homem é um aeróbio sufocado”) –
Hipócrates
9. Uma torrente nos assuntos dos homens
10. A descida do espírito santo sobre um discípulo relutante
11. Paoli vive!
12. Eine Kleine Nachtmusik
13. Ar da manhã inundado de anjos
14. Trovão incipiente
15. Um exército itinerante
16. Lugar para segredos
17. Liberdade!
18. Sem nome, sem casa, destituído e muitíssimo bêbado
19. Medidas desesperadas
20. De repolhos e reis
21. Malditos homens
22. A tempestade se avulta
23. No qual a Sra. Figg dá uma mão
24. Acolher o frio no calor, o conforto em meio à dor
25. Dê-me liberdade…

PARTE II – Enquanto isso, de volta ao rancho…


26. Um passo na escuridão
27. Nada é tão difícil, mas a busca revelará
28. Quente, frio
29. Retorno a Lallybroch
30. Luz, sirenes, ação
31. O olhar brilhante de um cavalinho de balanço
32. “Quando os homens tropeçam na soleira, é sinal de que o perigo
espreita do lado de dentro”
33. É melhor dormir com boa saúde
34. Abrigo
35. An gearasdan
36. O aroma de um estranho
37. Cognosco te
38. O número da besta
39. O fantasma de um homem enforcado
40. Anjos, sem saber
41. No qual as coisas convergem
42. Todo o meu amor
43. Aparição
44. Anfisbena
45. A cura das almas
46. Senhor, por favor…

PARTE III – Uma espada recém-feita das cinzas


da forja
47. Algo adequado para vestir na guerra
48. Só pela diversão
49. Princípio de incerteza
50. O bom pastor
51. Mendigando
52. Sonhos morfínicos
53. Pego em desvantagem
54. No qual eu encontro um nabo
55. Virgens vestais
56. Maldito papista
57. Não seja gentil naquela boa noite
58. Castrametação
59. Uma descoberta nas fileiras
60. Quacres e oficiais
61. Uma tríade viscosa
62. O burro não gosta do senhor
63. Um uso alternativo à seringa de pênis
64. Trezentos e uma
65. Mosquitos
66. Pintura de guerra
67. Procurando coisas que não existem

PARTE IV – O dia da batalha


68. Saída na escuridão
69. Com as galinhas
70. Um único piolho
71. Folie à trois
72. Pântanos e imbróglios
73. O comportamento peculiar de uma tenda
74. O tipo de coisa que faz um homem suar e tremer
75. O pomar de cidreiras
76. Os perigos da rendição
77. O preço do bronze queimado
78. No lugar errado, na hora errada
79. Meio-dia
80. Pater noster
81. Por entre as lápides

PARTE V – Contando cabeças


82. Nem todos os que querem ir para o céu desejam morrer para chegar

83. Sol poente
84. Anoitecer
85. A longa estrada para casa
86. No qual a aurora rosada irrompe com sua gangue
87. O nascer da lua
88. Um sopro de roquefort
89. Um dia, por cima; no outro, por baixo
90. Sábio é o filho que conhece o próprio pai
91. Marcando a pontuação
92. Eu não vou deixar você sozinho
93. A casa da Chestnut Street
94. O sentido da reunião

PARTE VI – Os laços que unem


95. O corpo elétrico
96. Na escócia as cabeleiras abundam
97. Um homem para fazer o serviço de um homem
98. A muralha
99. Radar
100. São essas as bestas que procuravam?
101. Uma única chance
102. Pós-parto
103. Solstício
104. O súcubo de Cranesmuir
105. Não sou uma pessoa muito boa
106. Um irmão da loja
107. O cemitério
108. A realidade é o que não desaparece quando se deixa de acreditar
109. Frottage
110. Os sons que formam o silêncio

PARTE VII – Antes que eu me vá


111. Um distante massacre
112. Assombração diurna
113. Obrigada por todo o peixe
114. É sábio apostar na crença
115. A emaranhada teia dos cuidados
116. Vamos à caça
117. Pela mata espinhosa
118. A segunda lei da termodinâmica
119. “Ah, pobre Yorick!”
120. Um estalar de espinhos
121. Caminhando em brasas
122. Solo consagrado

PARTE VIII – Busca e resgate


123. Quod Scripsi, Scripsi
124. Trazido a você pelas letras q, e, d
125. Lula da noite, que bela lula
126. O plano de Oglethorpe
127. Bombeiros hidráulicos
128. Arpoando rãs
129. Invasão
130. Um santo remédio
131. Um jogador nato
132. Fogo-fátuo
133. Último recurso
134. Últimos ritos
135. Amaranthus
136. Assuntos inacabados

PARTE IX – “Thig crioch air an t-saoghal ach


mairidh ceol agus gaol.” | “O mundo pode
acabar, mas o amor e a música resistirão.”
137. No deserto uma estalagem de caminhantes
138. O frênulo de fanny
139. Uma visita ao entreposto comercial
140. Mulher, quer se deitar comigo?
141. O sentimento mais profundo sempre se revela no silêncio
142. Coisas surgindo à vista
143. Interruptus
144. Visita a um jardim assombrado
145. E você sabe disso

Notas da autora

Agradecimentos
PRÓLOGO

À luz da eternidade, o tempo não lança sombras.


Seus anciãos sonharão, os jovens terão visões. Mas e as anciãs, o que
veem?
Vemos a necessidade e fazemos o que deve ser feito.
As jovens mulheres não têm apenas visões. Elas são, e por elas corre a
fonte da vida.
A nós pertence a vigília da fonte. A nós cabe a defesa da luz que
acendemos, da chama que somos.
O que foi que eu vi? Você é a visão de minha juventude, o sonho
incessante de todas as minhas eras.
Aqui permaneço, novamente à beira da guerra, cidadã de lugar nenhum,
de tempo nenhum, de país nenhum além do meu… e de um lugar rodeado
não por mar, mas por sangue, cuja única fronteira são os contornos de um
rosto há muito amado.
PARTE I

Vínculos
1

CINQUENTA QUILOS DE PEDRAS


16 de junho de 1778
Floresta entre a Filadélfia e Valley Forge

Com uma pedra na mão, Ian Murray encarava o terreno que havia
escolhido. Ficava em uma pequena clareira afastada, entre imensos
pedregulhos cobertos de líquen, sob a sombra de abetos e ao pé de um
imenso cedro-branco. O lugar não era inacessível, mas dificilmente seria
cruzado por um transeunte fortuito. Ele pretendia levar todos até ali – toda a
sua família.
Fergus, para começar. Talvez só Fergus. A mãe tinha criado Fergus desde
os 10 anos. Antes disso, ele sobrevivia por conta própria. Fergus conhecia a
mãe havia mais tempo que Ian, e a amava com a mesma intensidade. Talvez
mais, pensou Ian, o pesar agravado pela culpa. Fergus ficara em Lallybroch,
ajudando a cuidar dela e da casa. Ian não. Ele engoliu em seco, caminhou
pela pequena clareira, depositou sua pedra no meio e olhou para trás.
No mesmo instante, balançou a cabeça. Não, teriam que ser dois
moledros, dois montes de pedras. Sua mãe e tio Jamie eram irmãos, e a
família poderia chorar pelos dois juntos… mas talvez ele trouxesse outros
para prestar condolências. Pessoas que haviam conhecido e amado muito
Jamie Fraser, mas que não saberiam que Jenny Murray estava a 7 palmos
do…
A imagem de sua mãe dentro de um buraco na terra o atingiu como um
punhal, mas foi repelida pela lembrança de que ela não estava, de fato, em
uma cova, e ele sentiu ainda mais dor. Ele não suportava a visão dos dois se
afogando, talvez abraçados, lutando para…
– A Dhia! – exclamou ele, com violência. Largou a pedra e se virou para
procurar outras. Já tinha visto pessoas se afogando.
Lágrimas correram por seu rosto, junto com o suor do dia de verão. Ian
não se incomodou, parando apenas para enxugar o nariz na manga da
camisa de vez em quando. Ele tinha amarrado um lenço torcido em volta da
cabeça, para prender os cabelos e evitar que o suor escorresse para os olhos,
porém já estava encharcado quando terminou de acrescentar mais de vinte
pedras a cada monte.
Ele e os irmãos haviam construído um belo moledro para o pai, antes de
sua morte, no topo da pedra entalhada que continha o nome dele – todos os
seus nomes, na verdade – no cemitério de Lallybroch. Mais tarde, no
funeral, os familiares tinham ido, um a um, seguidos por inquilinos e
serviçais, acrescentar suas pedras ao peso daquela recordação.
Fergus, então. Ou… não. Em que ele estava pensando? Tia Claire deveria
ser trazida primeiro. Ela não era escocesa, mas sabia muito bem o que era
um moledro e talvez se consolasse um pouco ao ver o de tio Jamie. É isso.
Tia Claire, depois Fergus. Tio Jamie era pai adotivo de Fergus; tinha o
direito. Depois Marsali e as crianças, talvez. Será que Germain já tinha idade
para vir com Fergus? Ele contava 10 anos e não era inocente – quase um
homem, e podia ser tratado como tal. E tio Jamie era seu avô, portanto seria
apropriado.
Ele deu outro passo para trás e limpou o rosto, respirando com força.
Insetos passavam zumbindo por seus ouvidos, querendo seu sangue. Mas
Ian havia se despido até a tanga e besuntado o corpo com gordura de urso e
menta, costume dos mohawks para afastar os insetos.
– Olhe por eles, ó, espírito do cedro-vermelho! – rogou baixinho, na
língua mohawk, erguendo os olhos e sentindo o aroma dos galhos da árvore.
– Guarde a alma deles e os mantenha presentes e frescos como seus ramos.
Ele fez o sinal da cruz, agachou-se e cavoucou o montinho de folhas.
Mais pedras, pensou. Para o caso de algum animal derrubar tudo. Seus
pensamentos iam e vinham, perpassando os rostos de sua família, do povo
da Cordilheira.
Deus, será que um dia ele voltaria? Brianna. Ah, Deus, Brianna…
Ele mordeu o lábio e sentiu um gosto salgado; lambeu e seguiu em
frente, vasculhando o local. Ela estava em segurança, com Roger Mac e os
pequenos. Mas ele devia ter ouvido os conselhos dela… sobretudo os de
Roger Mac.
A quem mais ele poderia pedir ajuda para cuidar de todos eles?
A figura de Rachel lhe veio à mente, e o aperto no peito se abrandou um
pouco. É, se ele tivesse Rachel… Ela era mais nova do que ele, não passava
dos 19, e tinha conceitos muito estranhos sobre as coisas, por ser quacre.
Mesmo assim, se Ian a tivesse, seria uma sólida rocha onde se apoiar. Ele
esperava tê-la, mas ainda precisava lhe dizer umas coisas. Só de pensar nessa
conversa o aperto no peito retornava.
A imagem de sua prima Brianna também lhe veio à mente e não se
dissipou: alta, nariz longo e ossos fortes como o pai… Com ela, veio a
imagem de seu outro primo, meio-irmão de Bri. Santo Deus, William! O que
fazer com William? Ian duvidava de que o homem soubesse a verdade, que
soubesse que era filho de Jamie Fraser. Seria responsabilidade de Ian fazer
essa revelação? Trazê-lo até ali e explicar o que havia perdido?
Ele soltou um leve gemido ao pensar nisso. Rollo, seu cachorro, ergueu a
cabeçorra e o encarou, meio preocupado.
– Não, eu também não sei a resposta – disse Ian a ele. – Mas deixe que
eu me preocupo com isso.
Rollo tornou a acomodar a cabeça sobre as patas, se sacudiu para
espantar as moscas e relaxou.
Ian trabalhou mais um pouco, deixando que os pensamentos se
distanciassem com o suor e as lágrimas. Por fim, quando o sol poente
alcançou o topo dos moledros, ele parou. Estava cansado, mas em paz. Os
montes estavam na altura dos joelhos, lado a lado. Pequenos, porém sólidos.
Ele ficou um tempo ali parado, sem pensar em mais nada, apenas
ouvindo o som dos pássaros na grama e o vento entre as árvores. Então
suspirou fundo, agachou-se e tocou um dos moledros.
– Tha gaol agam oirbh, a Mhàthair – disse ele, baixinho.
Meu amor está contigo, mãe.
Ian fechou os olhos e deslizou a mão até o outro monte de pedras. O
toque da terra em sua pele era estranho, como se ele pudesse enfiar os dedos
lá no fundo e tocar o que precisava.
Ele permaneceu ali, parado, apenas respirando, até que abriu os olhos.
– Preciso da sua ajuda, tio Jamie. Acho que não vou conseguir sozinho.
2

DESGRAÇADO NOJENTO

William Ransom, nono conde de Ellesmere, visconde Ashness, barão


Derwent, abria caminho por entre a multidão na Market Street, alheio aos
resmungos dos alvos de seus empurrões.
Não sabia para onde ia nem o que faria ao chegar. Só sabia que, se ficasse
parado, explodiria.
Sua cabeça latejava feito uma panela fervente. Tudo latejava, na verdade,
principalmente sua mão… Sem dúvida ele havia quebrado algum osso, mas
não se importava. O coração batia dolorido no peito. Os pés, pelo amor de
Deus! Será que tinha topado em alguma coisa? Ele chutou com violência
uma pedra do pavimento, fazendo-a voar na direção de um grupo de
gansos, que começaram a grasnar e dispararam para cima dele, gritando e
batendo asas.
Penas e merda de ganso voaram para longe. A multidão saiu correndo
por todo lado.
– Desgraçado! – gritou a menina dos gansos, acertando-o na orelha com
o antebraço. – Que o diabo o carregue, desgraçado nojento!
Inúmeras vozes raivosas o xingaram. William dobrou a esquina e
adentrou uma viela, acompanhado de buzinaço e gritaria.
Esfregou a orelha latejante, apoiando-se nos prédios da rua, alheio a
tudo além da única palavra que latejava com ainda mais força em sua mente.
Desgraçado.
– Desgraçado! Desgraçado, desgraçado, desgraçado! – berrou, a plenos
pulmões, esmurrando a parede de tijolos a seu lado.
– Quem é desgraçado? – perguntou uma voz curiosa logo atrás.
Ao se virar, ele viu que uma moça o encarava com certo interesse. Ela o
avaliou de cima a baixo, devagar, notando o peito arquejante, as manchas de
sangue no casaco do uniforme, a merda de ganso esverdeada a lhe sujar as
calças. Levou o olhar aos sapatos de fivelas de prata, então retornou ao rosto,
ainda mais interessada.
– Eu – respondeu ele, amargo.
– Ah, é?
Ela se afastou do batente da porta, cruzou a viela e parou bem diante
dele. Era alta, magra e jovem, com seios firmes – claramente visíveis sob a
fina musselina do vestido. Usava uma combinação de seda e não estava de
espartilho. Nem de chapéu, aliás. Seus cabelos caíam soltos por sobre os
ombros. Uma puta.
– Eu gosto bastante dos desgraçados – disse a mulher, tocando-o de leve
no braço. – Que tipo de desgraçado você é? Cruel? Malvado?
– Arrependido – respondeu ele, fechando a cara quando ela riu.
A moça viu a carranca, mas não retrocedeu.
– Entre – disse ela, pegando-o pela mão. – Acho que você precisa de
uma bebida.
Ela reparou nas juntas de seus dedos, inchadas e sangrentas, e mordeu o
lábio de baixo com os dentinhos brancos. No entanto, não parecia assustada.
E ele se viu cruzar o batente da porta sem protestar.
O que importa?, pensou, com um cansaço súbito e cruel. O que importa
qualquer coisa?
3

NO QUAL AS MULHERES, COMO DE


COSTUME, RECOLHEM OS CACOS
Chestnut Street, 17, Filadélfia
Residência de lorde e lady John Grey

William havia saído da casa como um furacão; o lugar parecia ter sido
atingido por um raio. Eu certamente me sentia a sobrevivente de uma
gigantesca tempestade elétrica, com os cabelos eriçados, os nervos à flor da
pele.
Jenny Murray entrou na casa pouco tempo depois da partida de William.
Por mais que vê-la tivesse sido menos chocante que qualquer outra visão até
então, eu fiquei sem palavras. Arregalei os olhos para minha ex-cunhada –
embora, pensando bem, ela ainda fosse minha cunhada, pois Jamie estava
vivo. Vivo.
Fazia menos de dez minutos que eu o tivera nos braços e a lembrança de
seu toque faiscava em meu corpo, como um raio aprisionado. Percebi
vagamente que estava sorrindo feito boba, apesar de toda aquela destruição,
das cenas terríveis, da agonia de William – se era possível chamar uma
explosão daquelas de “agonia” – e do perigo que Jamie corria, além da vaga
curiosidade quanto ao que Jenny ou a sra. Figg, cozinheira e arrumadeira de
lorde John, poderiam estar prestes a dizer.
A sra. Figg era uma perfeita bolota, preta retinta, e tinha o costume de se
aproximar sorrateira.
– O que aconteceu? – vociferou ela, manifestando-se de súbito atrás de
Jenny.
– Santa Mãe de Deus! – Jenny se virou, os olhos arregalados e a mão
sobre o peito. – Quem é você, em nome de Deus?
– Essa é a sra. Figg – respondi, com um desejo surreal de soltar uma
gargalhada, apesar dos eventos recentes… ou talvez justamente por causa
deles. – Cozinheira de lorde John Grey. Sra. Figg, essa é a sra. Murray.
Minha… minha…
– Sua boa irmã – concluiu Jenny, com firmeza, erguendo a sobrancelha
escura. – Não sou?
Seu semblante era franco e direto, e meu ímpeto de rir se transformou
no mesmo instante em um desejo igualmente forte de irromper em
lágrimas. De todas as improváveis fontes de ajuda que eu podia imaginar…
Respirei fundo e estendi a mão.
– Sim.
Não tínhamos nos separado de forma amigável na Escócia, mas eu a
amara muito, e não deixaria passar nenhuma oportunidade de ajeitar as
coisas.
Jenny entrelaçou os dedinhos pequenos e firmes nos meus, e pronto.
Simples assim. Sem pedidos de desculpa ou perdão. Ela nunca precisou usar
a máscara que Jamie usava. O que pensava e sentia estava em seus olhos,
aqueles olhos de gato, oblíquos e azuis, iguaizinhos aos do irmão. Ela agora
sabia a verdade sobre o que eu era, e sabia que, apesar do pequeno
empecilho de um casamento com outra pessoa, nunca deixei de amar seu
irmão, com todo o meu coração.
Ela soltou um suspiro. Fechou os olhos um instante, tornou a abri-los e
sorriu para mim, com os lábios meio trêmulos.
– Bom, excelente – disse a sra. Figg.
Ela semicerrou os olhos e avaliou o cenário caótico. O balaústre no alto
da escada havia sido arrancado, e o rastro da descida de William estava
marcado por corrimões destruídos, paredes amassadas e manchas de
sangue. O chão estava tomado pelos estilhaços de cristal do candelabro,
cintilando alegres sob a luz que inundava a porta da frente, arrombada e
ebriamente suspensa por uma única dobradiça.
– Que bela merde – murmurou a sra. Figg, virando-se para mim, com o
cenho franzido. – Onde está milorde?
– Ah – murmurei em resposta.
Aquilo seria bastante desagradável. A sra. Figg desaprovava
profundamente a maioria das pessoas, mas era muitíssimo dedicada a lorde
Grey. Não gostaria nada de saber que ele havia sido levado por…
– Falando nisso, onde está o meu irmão? – perguntou Jenny, olhando em
volta, como se esperasse que Jamie despontasse a qualquer momento por
debaixo do sofá.
– Ah – murmurei de novo. – Humm. Bom…
Talvez pior que desagradável. Porque…
– E onde está o meu doce William? – perguntou a sra. Figg, farejando o
ar. – Ele esteve aqui. Sinto o cheiro daquela colônia fedida que ele põe na
roupa.
Com o semblante desaprovador, ela cutucou com a ponta do sapato um
pedaço de cal no chão.
Respirei fundo outra vez e tomei as rédeas da sanidade que ainda me
restava.
– Sra. Figg, faria a gentileza de nos preparar um bule de chá?

Nós nos sentamos no salão, enquanto a sra. Figg ia e vinha da cozinha, de


olho em seu cozido de tartaruga.
– Queimar tartaruga é um drama, um horror – comentou ela, num tom
duro, trazendo o bule de chá revestido de uma capa de crochê. – Ainda mais
quando leva tanto xerez, como milorde gosta. Quase uma garrafa inteira… É
um desperdício de boa bebida, isso sim.
No mesmo instante, minhas entranhas se remexeram. Sopa de tartaruga
– com muito xerez – me trazia umas lembranças pessoais e muito intensas
associadas a Jamie. Delírios febris e a forma como um navio sacolejante
pode facilitar um ato sexual. Uma recordação que não ajudaria, de maneira
alguma, o iminente debate. Esfreguei um dedo entre as sobrancelhas, na
esperança de dissipar a névoa de confusão que se formava em minha mente.
O ar da casa ainda estava eletrizante.
– Falando em xerez – comentei – ou qualquer outra bebida forte que a
senhora considere conveniente, sra. Figg…
Ela me encarou, pensativa, assentiu e apanhou o decânter sobre o
aparador.
– Conhaque é mais forte – interveio ela, estendendo a mim.
Jenny me encarou, igualmente pensativa, esticou o braço e serviu uma
boa quantidade de conhaque em minha xícara, depois uma para si.
– Só por garantia – disse, erguendo a sobrancelha. Então bebemos.
Eu achava que precisaria de algo mais forte do que chá e conhaque para
enfrentar os efeitos dos eventos recentes – láudano, digamos, ou uma boa
golada de uísque escocês –, mas o chá sem dúvida ajudou, quente e
perfumado, descendo suave rumo ao meu estômago.
– Pois muito bem. Agora estamos mais calmas, não? – indagou Jenny,
segurando a xícara, com um olhar de expectativa.
– Já é um começo – respondi.
Respirei fundo, então forneci a ela um précis dos eventos da manhã.
Os olhos de Jenny eram perturbadoramente parecidos com os de Jamie.
Ela piscou para mim uma vez, depois outra, e assentiu, como se para clarear
as ideias, aceitando as minhas palavras.
– Então Jamie partiu com seu lorde John. O Exército Britânico está atrás
deles, o sujeito alto que vi soltando fogo pelas ventas na varanda é filho de
Jamie… Bom, claro que é; até um cego enxergaria isso. E a cidade está
fervilhando de soldados britânicos. É isso, então?
– Ele não é exatamente meu lorde John – respondi. – Mas, sim, essa é a
situação. Presumo que Jamie tenha lhe contado sobre William.
– É, contou – confirmou ela, abrindo um sorriso largo por sobre a borda
da xícara. – Estou muito feliz por ele. Então o que está preocupando o
rapaz? Ele parece que passou feito um furacão.
– O que foi que a senhora disse? – interrompeu a sra. Figg,
abruptamente. Ela apoiou a bandeja que acabava de trazer, a jarra de leite e o
açucareiro de prata tilintando como castanholas. – William é filho de quem?
Dei um gole revigorante no chá. A sra. Figg sabia que eu tinha sido
esposa – e, teoricamente, viúva – de um tal James Fraser. Mas isso era tudo o
que ela sabia.
– Bom – comecei, com uma pausa para pigarrear. – O… ahn…
cavalheiro alto de cabelos ruivos que acabou de sair daqui… Você o viu?
– Vi – respondeu a sra. Figg, com os olhos semicerrados.
– Deu uma boa olhada nele?
– Não prestei muita atenção no rosto quando ele veio até a porta e
perguntou pela senhora, mas vi muito bem as costas quando me empurrou e
subiu correndo as escadas.
– Acho que por esse ângulo a semelhança é menos notada. – Dei outro
gole no chá. – Aquele cavalheiro é James Fraser, meu… ahn… meu… –
“Primeiro marido” não era muito preciso. “Ex-marido” também não. Optei
pela alternativa mais simples. – Meu marido. E… é pai de William.
A sra. Figg ficou boquiaberta, calada por um instante. Deu uns passos
para trás, lentamente, e se sentou com um leve baque em uma otomana
bordada.
– William sabe disso? – perguntou ela, depois de refletir por um
instante.
– Agora sabe – respondi, apontando brevemente para a destruição na
escada, visível pela porta do salão onde estávamos sentadas.
– Que merde… quer dizer, que o Santo Cordeiro de Deus nos defenda.
O segundo marido da sra. Figg era pastor metodista, e ela se esforçava
para ser motivo de orgulho para ele, mas o primeiro havia sido um jogador
francês. Ela cravou os olhos em mim feito duas miras de espingarda.
– A senhora é a mãe?
Eu me engasguei com o chá.
– Não – falei, limpando o queixo com um guardanapo de linho. – Não é
assim tão complicado.
Era muito mais, a bem da verdade, mas eu não pretendia explicar o
nascimento de Willie nem para a sra. Figg nem para Jenny. Jamie precisara
contar para a irmã quem era a mãe de William, mas eu duvidava de que ele
tivesse confessado que Geneva Dunsany o forçara a se deitar com ela
mediante ameaças à família de Jenny. Nenhum homem de coração gostaria
de admitir ter sido chantageado por uma garota de 18 anos.
– Lorde John assumiu a guarda legal de William quando o avô do
menino morreu. Na época, lorde John acabou se casando com lady Isobel
Dunsany, irmã da mãe de William. Ela cuidou de Willie quando a mãe dele
morreu, durante o parto. Lorde John e ela foram os pais dele desde que era
menininho. Isobel faleceu quando ele tinha 11 anos.
A sra. Figg aceitou a explicação de bom grado, mas não estava disposta a
se desviar do assunto principal.
– James Fraser… – disse, batendo dois dedos largos no joelho e lançando
um olhar acusativo para Jenny. – Como é que ele não está morto? Recebi a
notícia de que ele tinha se afogado. – Ela me encarou. – Achei que a senhora
também se jogaria na baía quando ficou sabendo.
Com um súbito arrepio, fechei os olhos, sentindo o gélido horror da
notícia me invadir, em uma onda de recordações. Mesmo com o toque de
Jamie ainda fresco em minha pele e a lembrança dele ainda quente em meu
coração, revivi a dor esmagadora de ouvir que ele estava morto.
– Bom, pelo menos esse ponto eu posso esclarecer – explicou Jenny.
Ao abrir os olhos, eu a vi largar um torrão de açúcar no chá fresco e
assentir para a sra. Figg.
– Íamos embarcar em um navio chamado Euterpe, meu irmão e eu, para
sair de Brest. Mas o desalmado do capitão zarpou sem nós. E isso nos fez
muito bem – concluiu, com uma carranca.
Era verdade. O Euterpe havia naufragado em uma tempestade no
Atlântico, sem deixar sobreviventes. Ou pelo menos fora como John Grey e
eu havíamos sido informados.
– Jamie encontrou outro navio para nós, mas atracamos na Virgínia,
então precisamos subir a costa, parte por terra, parte por mar, para escapar
da rota dos soldados. As pequenas agulhadas que você deu em Jamie para
evitar o enjoo em alto-mar foram uma maravilha – acrescentou ela, virando-
se para mim com o semblante aprovador. – Ele me ensinou a aplicar.
Chegamos à Filadélfia ontem – prosseguiu, retornando à história. – Nós nos
infiltramos na cidade à noite, feito uma dupla de gatunos, e rumamos para a
gráfica de Fergus. Meu Deus, achei que meu coração fosse parar de bater
dezenas de vezes!
Ela sorriu com a lembrança, e eu fui atingida pela mudança em suas
feições. A sombra do sofrimento ainda pairava em seu rosto, Jenny estava
magra e abatida por conta da viagem, mas a terrível tensão da morte de seu
saudoso marido Ian havia se dissipado. Suas bochechas estavam coradas e
havia um brilho em seus olhos que eu não via desde que a conhecera, trinta
anos antes. Ela tinha encontrado um pouco de paz. E senti uma gratidão que
aliviou minha alma.
– Então Jamie bateu à porta, nos fundos, e ninguém atendeu. Mas vimos
através das cortinas que havia uma lareira acesa. Ele bateu outra vez, tirando
uma melodia.
Ela batucou os nós dos dedos bem de leve sobre a mesa, pã-pã-rarã-pã-
rarã-pã-pã, e meu coração disparou ao reconhecer a música-tema de
Cavaleiro solitário, que Brianna havia ensinado a ele.
– Dali a um instante – prosseguiu Jenny –, uma mulher gritou: “Quem
é?” E Jamie respondeu, em gàidhlig: “É seu pai, minha filha. Estou molhado,
gelado e faminto.” Estava chovendo bastante e nós dois parecíamos pintos
molhados.
Ela se balançou um pouquinho para trás, deleitando-se com a história.
– A porta se abriu, só uma frestinha, e lá estava Marsali, com uma pistola
de caça na mão e as duas pequenas atrás dela, ferozes como arcanjos, cada
uma com um pedaço de pau, prontas para acertar as canelas do ladrão.
Então, ao verem a luz da lanterna brilhando sobre o rosto de Jamie, as três
soltaram um berro de acordar os mortos, voaram para cima dele e o
puxaram para dentro, todas falando ao mesmo tempo, cumprimentando,
perguntando se ele era um fantasma, por que não tinha se afogado, e foi
assim que soubemos que o Euterpe havia naufragado. – Ela fez o sinal da
cruz. – Que Deus proteja as pobres almas – concluiu, balançando a cabeça.
Eu fiz o sinal da cruz também, e vi a sra. Figg me olhar de soslaio. Ela
não tinha percebido que eu era papista.
– Eu entrei também, claro – retomou Jenny –, mas todo mundo estava
falando ao mesmo tempo e correndo atrás de roupas secas e bebidas
quentes. Então fiquei ali, olhando o lugar, pois nunca estivera em uma
gráfica. Fiquei maravilhada com o cheiro de tinta, papel e chumbo, até que
de repente alguém puxou a minha saia. “Quem é a senhora, madame?
Gostaria de uma sidra?”, perguntou um rapazinho pequenino de rosto doce.
– Henri-Christian – murmurei, sorrindo ao pensar no filho mais novo
de Marsali, e Jenny assentiu.
– “Ora, eu sou sua vovó Janet, meu filho” – continuou ela. – Ele
arregalou os olhinhos, soltou um gritinho e abraçou as minhas pernas com
tanta força que eu perdi o equilíbrio e caí no sofá. Estou com um hematoma
na bunda do tamanho da sua mão – acrescentou ela, baixinho.
Percebi que a tensão no ar relaxara. Jenny sabia, claro, que Henri-
Christian havia nascido anão. Mas saber e testemunhar são coisas diferentes.
Claramente não foi um problema para ela.
A sra. Figg acompanhava o relato com interesse, porém mantendo as
reservas. Ao ouvir sobre a gráfica, no entanto, ela se enrijeceu um pouco.
– Essas pessoas… Marsali é sua filha, então, madame?
Entendi o que ela estava pensando. Toda a Filadélfia sabia que Jamie era
rebelde. Por extensão, eu também. Quando estava ameaçada de ser presa é
que John insistiu para que nos casássemos, logo depois da confusão que se
seguiu à suposta morte de Jamie. A menção à gráfica na Filadélfia, ocupada
pelos britânicos, suscitava perguntas em relação ao que estava sendo
impresso, e por quem.
– Não, o marido dela é filho adotivo do meu irmão – explicou Jen. – Mas
eu criei Fergus desde menino, então ele é meu filho do coração, ao modo de
ver das Terras Altas.
A sra. Figg pestanejou. Tentava organizar todos os personagens da
narrativa, mas desistiu, balançando a cabeça e sacolejando as fitinhas cor-
de-rosa da touca, feito anteninhas.
– Ora, aonde neste mundo o seu irmão pode ter levado milorde? –
indagou ela. – A essa gráfica?
Jenny e eu trocamos olhares.
– Duvido – respondi. – Mais provável que tenha saído da cidade, usando
John, quer dizer, milorde, como refém para cruzar as barricadas, caso
necessário. Provavelmente vai soltá-lo tão logo estejam mais afastados, em
segurança.
A sra. Figg emitiu um profundo murmúrio de desaprovação.
– Ou talvez acabe em Valley Forge e entregue milorde para os rebeldes.
– Ah, acho que não – retrucou Jenny, em um tom apaziguador. – O que
iam querer com ele?
A sra. Figg piscou duas vezes, chocada com a ideia de que alguém
pudesse não valorizar seu patrão da mesma forma que ela, mas depois de
fazer um bico, inferiu que de fato isso podia acontecer.
– Ele não estava de uniforme, estava, madame? – perguntou ela para
mim, de cenho franzido.
Balancei a cabeça. John não era oficial da ativa. Era diplomata, embora
ainda fosse tenente-coronel do regimento de seu irmão e usasse o uniforme
para fins cerimoniais ou intimidativos, mas oficialmente era reformado do
Exército, não combatente. À paisana não chamaria a atenção das tropas do
general Washington em Valley Forge.
De todo modo, eu não achava que Jamie havia rumado para Valley
Forge. Tinha a mais absoluta certeza de que ele voltaria para cá. Para mim.
O pensamento brotou em minhas entranhas, então se espalhou em uma
onda de calor. Enfiei o nariz na xícara de chá para disfarçar o rubor. Vivo.
Acariciei a palavra, aninhando-a no fundo de meu coração. Jamie estava
vivo. Por mais feliz que eu estivesse em ver Jenny – e ainda mais feliz por vê-
la estender a mão em minha direção –, o que eu queria mesmo era subir até
meu quarto, fechar a porta, recostar o corpo na parede, fechar bem os olhos
e reviver os segundos depois que ele adentrou o quarto, quando me tomou
nos braços e me pressionou contra a parede, enchendo-me de beijos, com
uma prova tão concreta e cálida de sua presença que eu poderia desabar no
chão de tão arrebatada, se não fosse a parede a me sustentar.
Vivo, repeti, em silêncio, para mim mesma. Ele está vivo.
Nada mais importava. Por mais que eu ainda imaginasse, por um breve
instante, o que ele faria a John.
4

NÃO FAÇA PERGUNTAS CUJA RESPOSTA


NÃO DESEJA OUVIR
Na mata, a uma hora de distância da Filadélfia

John Grey já tinha se resignado com a morte. Já esperava por isso, desde o
instante em que disse: “Eu tive conhecimento carnal de sua mulher.” A única
dúvida que restava em sua mente era se Fraser o mataria com um tiro, uma
facada ou se o estriparia com as próprias mãos.
Ver o marido traído apenas responder “Por quê?” não fora somente
inesperado, mas… infame. Completamente infame.
– Por quê? – repetiu John Grey, incrédulo. – Você perguntou por quê?
– Perguntei. E gostaria de saber a resposta.
Agora, com os dois olhos abertos, Grey percebia que a aparente calma de
Fraser não era tão impenetrável quanto supunha a princípio. Uma veia
pulsava em sua têmpora e ele remexia um pouquinho os pés, como um
homem que testemunhava uma briga de bar: não prestes a partir para a
violência, mas exaltado.
Perversamente, Grey considerou a visão reconfortante.
– Como assim, “por quê”? – indagou ele, com repentina irritação. – E
por que você não está morto?
– Eu mesmo me pergunto isso com frequência – respondeu Fraser,
educado. – Imagino que você tenha pensado que eu estava.
– Sim, e a sua mulher também pensou! Você faz ideia do que a notícia da
sua morte causou a ela?
Jamie semicerrou os olhos azul-escuros.
– Está insinuando que a notícia da minha morte deixou a minha mulher
tão alucinada que ela perdeu o bom senso e o arrastou para a cama à força?
Porque – prosseguiu ele, interrompendo a fala fervorosa de Grey –, a não ser
que eu esteja seriamente enganado a respeito da sua natureza, seria
necessária uma força extraordinária para obrigar você a cometer tal ato.
Estou mesmo enganado?
Grey o encarou. Então fechou os olhos por um breve instante e os
esfregou com as duas mãos, feito um homem acordando de um pesadelo.
Baixou-as e tornou a abrir os olhos.
– Não está – respondeu ele, entre dentes. – E está.
Fraser arregalou os olhos vermelhos. Genuinamente estupefato, pensou
Grey.
– Você se deitou com ela por… desejo? – Ele também ergueu a voz. – E
ela deixou? Não acredito.
A vermelhidão subia pelo pescoço bronzeado de Fraser, vívida como
uma rosa-trepadeira. Grey já tinha visto isso acontecer, e concluiu que a
melhor defesa era perder a cabeça antes. Foi um alívio.
– Pensamos que você estava morto, seu infeliz dos infernos! – exclamou
ele, furioso. – Nós dois! Morto! Certa noite, bebemos demais… demais
mesmo… falamos de você… e… que diabo, não estávamos fazendo amor
um com o outro… estávamos transando com você!
No mesmo instante, o rosto de Fraser empalideceu e seu queixo caiu.
Grey apreciou uma fração de segundo de satisfação antes que um punho
pesado lhe acertasse as costelas. Cambaleou uns passos, depois mais alguns,
e desabou. Ficou ali, sobre as folhas, completamente sem fôlego.
Muito bem, então, pensou ele, meio embotado. Vai ser no soco mesmo.
As mãos de Jamie o agarraram pela camisa para que se levantasse. Com
isso, Grey conseguiu ficar de pé, e um filete de ar lhe adentrou os pulmões.
O rosto de Fraser estava a centímetros de distância do dele. A bem da
verdade, Fraser estava tão perto que Grey não conseguia ver sua expressão.
Via apenas um par de olhos injetados e frenéticos. Era o bastante. Ele agora
estava calmo. Não levaria muito tempo.
– Você vai me contar exatamente o que aconteceu, seu pervertido
imundo – sussurrou Fraser, soprando um bafo quente com hálito de cerveja
no rosto de Grey. – Cada palavra. Cada movimento. Absolutamente tudo.
– Não – retorquiu Grey, desafiador, com ar nos pulmões apenas para
responder: – Vá em frente, pode me matar.

Fraser o sacudiu com tanta violência que seus dentes se chocaram com força
e ele mordeu a língua. Ele soltou um gemido sufocado, e um soco imprevisto
o acertou no olho esquerdo. Grey caiu outra vez, a cabeça explodindo em
estilhaços de cores e pontinhos brancos, o cheiro do bolor das folhas lhe
invadindo o nariz. Fraser o ergueu mais uma vez, então parou. Estaria o
homem refletindo sobre a melhor maneira de continuar o processo de
vivissecção?
Grey não compreendia a hesitação. Sangue pulsava em seus ouvidos e
Fraser tinha a respiração áspera. Quando abriu o olho bom, como quem não
quer nada, para ver de onde viria o golpe seguinte, notou o homem. Um
brutamontes imundo, com camisa de caça franjada, espiando debaixo de
uma árvore, boquiaberto.
– Jethro! – gritou o homem, firmando o punho na arma que segurava.
Um bando despontou, saindo dos arbustos. Alguns homens usavam um
arremedo de uniforme, mas a maioria vestia roupas caseiras, somadas aos
bizarros gorros “libertários” feitos de tricô de lã bem justa, cobrindo a
cabeça e as orelhas, o que, pela vista lacrimejante de John, conferia aos
homens o aspecto pavoroso de balas de canhão animadas.
As esposas que supostamente teceram aquele acessório haviam bordado
nas faixas lemas como LIBERDADE e INDEPENDÊNCIA, embora uma
mais sanguinária tivesse bordado MORTE! no gorro do marido. O sujeito
em questão, percebeu Grey, era um homem pequenino e magricelo, cujos
óculos tinham uma lente rachada.
Fraser, que havia parado ao ouvir a aproximação dos homens, agora
encarava o grupo como um urso encurralado por sabujos. De súbito, os
sabujos pararam, a uma distância segura.
Grey pressionou a região do fígado, que achava que tinha se rompido, e
soltou um arquejo. Precisaria do máximo de ar possível.
– Quem é você? – inquiriu um dos homens, cutucando Jamie com força
com a ponta de uma vara comprida.
– Coronel James Fraser, Rifles de Morgan – respondeu ele, ignorando a
vara. – E você?
O homem parecia meio desconcertado, mas retrucou com petulância:
– Cabo Jethro Woodbine, Guardas de Dunning – disse, muito grosseiro.
Virou a cabeça para os companheiros, que no mesmo instante se espalharam
de forma sistemática, rodeando a clareira. – E quem é o seu prisioneiro?
Grey sentiu um aperto no estômago; dada a condição de seu fígado, isso
lhe provocou dor.
– Eu sou lorde John Grey – respondeu ele, entre dentes, sem esperar por
Jamie. – Por mais que não seja da sua conta.
Sua mente saltitava como uma pulga, tentando calcular se ele tinha mais
chances de sobrevivência com Jamie Fraser ou com esse bando de
grosseirões. Momentos antes, estivera conformado com a ideia de morrer
nas mãos de Jamie, mas esse pensamento, como tantos outros, era mais
atraente na teoria do que na prática.
A revelação de sua identidade pareceu confundir os homens, que
começaram a cochichar entre si, encarando-o com desconfiança.
– Ele não está de uniforme – sussurrou um deles para o outro. – Será
que é soldado mesmo? Não temos assunto com ele se não for, temos?
– Temos, sim – retorquiu Woodbine, recobrando um pouco da
autoconfiança.
– Se o sujeito é prisioneiro do coronel Fraser, imagino que o coronel
tenha motivo para isso – falou, relutante, erguendo a voz.
Jamie não respondeu; tinha os olhos fixos em Grey.
– Ele é um soldado – disse alguém.
Todas as cabeças se viraram. Era o homenzinho de óculos rachados, que
havia ajeitado a armação para poder espiar melhor com a outra lente. Um
olho azul-claro avaliou Grey.
– Ele é um soldado – repetiu o homem, mais confiante. – Eu o vi na
Filadélfia, sentado na varanda de uma casa na Chestnut Street, de uniforme.
Por incrível que pareça, ele é um oficial – acrescentou, desnecessariamente.
– Ele não é um soldado – disse Fraser, virando a cabeça para encarar
com firmeza o sujeito de óculos.
– Eu vi – murmurou o homem. – Claro feito a luz do dia. Tinha
alamares dourados – completou, num murmúrio quase inaudível, e baixou
os olhos.
– Hum. – Jethro Woodbine se aproximou de Grey e o perscrutou com
atenção. – Bom, o senhor tem algo a dizer, lorde Grey?
– Lorde John – corrigiu Grey, carrancudo, cuspindo um pedaço de folha
triturada. – Eu não sou nobre; meu irmão mais velho que é. Eu carrego o
sobrenome Grey. Quanto a ser soldado, eu era. Ainda ostento a patente em
meu regimento, mas não estou na ativa. Está de bom tamanho ou querem
saber o que eu comi hoje no café da manhã?
Ele estava contrariando os homens de propósito, tendo em parte
decidido que preferia ir com Woodbine e aguentar a inspeção dos
continentais a ficar ali e enfrentar o interrogatório de Jamie Fraser.
Fraser o observava, com o cenho franzido. Ele enfrentou o ímpeto de
desviar o olhar.
É a verdade, pensou, desafiador. O que eu disse é verdade. E agora você
sabe.
Sim, disseram os olhos negros de Fraser. Você acha que eu vou viver em
paz com isso?
– Ele não é soldado – repetiu Fraser, dando as costas para Grey e
voltando a atenção para Woodbine. – Ele é meu prisioneiro porque eu quis
interrogá-lo.
– A respeito de quê?
– Isso não é da sua conta, sr. Woodbine – respondeu Jamie, com a voz
calma, porém firme como aço.
Jethro Woodbine, porém, não era nenhum idiota e resolveu deixar isso
bem claro.
– Eu é que julgo o que é ou não da minha conta… senhor – acrescentou.
– Como vamos saber se o senhor é quem diz ser, hein? Não está de
uniforme. Algum de vocês conhece esse homem?
Os sujeitos pareceram surpresos com a pergunta. Entreolharam-se, meio
desconfiados. Alguns balançaram a cabeça.
– Pois muito bem – disse Woodbine, encorajado. – Se o senhor não pode
provar quem é, acho que vamos levar esse homem de volta ao acampamento
para ser interrogado. – Ele abriu um sorriso desconfortável, sinal evidente
de que outro pensamento lhe havia ocorrido. – Acha que devemos levar o
senhor também?
Fraser ficou parado por um instante, a respiração lenta. Observava
Woodbine como um tigre olharia para um ouriço: sim, poderia comê-lo,
mas será que a inconveniência de engolir os espinhos valeria a pena?
– Podem levar – respondeu de repente, afastando-se de Grey. – Tenho
assuntos a tratar em outro lugar.
Woodbine ficou desconcertado. Esperava uma discussão. Ergueu um
pouco o pedaço de pau, mas permaneceu em silêncio enquanto Fraser se
afastava a passos firmes, rumo à borda da clareira. Bem debaixo das árvores,
Fraser se virou e encarou Grey com um olhar soturno e impassível.
– Não encerramos nosso assunto – afirmou ele.
Grey se empertigou, indiferente tanto à dor no fígado quanto às lágrimas
que brotavam do olho machucado.
– A seu dispor, senhor – retrucou.
Fraser cravou os olhos nele, então avançou pela obscura mata verde,
ignorando completamente Woodbine e seu bando. Um ou dois homens
encararam o cabo, que exibia uma indecisão da qual Grey não
compartilhava. No instante antes de a comprida silhueta de Fraser
desaparecer por completo, ele levou as mãos em concha à boca.
– Não estou arrependido! – gritou.
5

AS PAIXÕES DOS RAPAZES

Por mais fascinada que estivesse com as histórias sobre William e as


dramáticas circunstâncias da descoberta de sua paternidade, Jenny estava
mais preocupada com outro rapaz.
– Sabe onde está o Jovem Ian? – perguntou ela, ansiosa. – Ele encontrou
a tal moça, a quacre de quem comentou com o pai?
Ao ouvir isso, relaxei um pouco. O Jovem Ian e Rachel Hunter não
estavam, graças a Deus, na lista das situações preocupantes. Pelo menos não
no momento.
– Encontrou – respondi, com um sorriso. – Quanto ao lugar onde está…
Há muitos dias que não o vejo, mas ele já se ausentou por mais tempo. De
vez em quando trabalha de sentinela para o Exército Continental, só que o
grupo está há tanto tempo no quartel-general de inverno de Valley Forge
que não precisa muito de sentinelas. Mas ele costuma ficar lá, para fazer
companhia a Rachel.
Ao ouvir isso, Jenny ergueu as sobrancelhas.
– Ah, é? E o que ela faz lá? Os quacres não desprezam a guerra e tudo o
mais?
– Bom, mais ou menos. O irmão dela, Denzell, é cirurgião do Exército. É
médico de verdade, não esses charlatões sanguessugas que o Exército
costuma contratar. E está em Valley Forge desde novembro. Rachel fica indo
e vindo da Filadélfia. Consegue transitar pelas barricadas, por isso
transporta comida e suprimentos, mas trabalha com Denny. Então fica por
lá, ajudando com os pacientes, muito mais do que aqui.
– Fale mais sobre ela – pediu Jenny, aproximando-se, muito atenta. – É
uma boa moça? Você acha que ela ama o Jovem Ian? Pelo que Ian me
contou, está perdidamente apaixonado por ela, mas ainda não se declarou.
Ele tem medo da reação dela. Não tem certeza de como ela lidaria com…
com o que ele é. – Ela fez um gesto que abarcava a história e a natureza do
Jovem Ian, de rapaz das Terras Altas a guerreiro mohawk. – Deus sabe bem
que ele nunca será um quacre decente, e imagino que o Jovem Ian também
saiba.
Ao pensar nisso, eu ri. No entanto, a questão era séria. Eu não sabia o
que uma assembleia de quacres pensaria a respeito dessa união, mas
imaginava que considerariam a possibilidade alarmante. Bem, eu não tinha
muito conhecimento sobre casamentos quacres.
– Ela é uma moça muito boa – garanti a Jenny. – Extremamente sensível,
competente… e muitíssimo apaixonada por Ian, embora eu não creia que ela
tenha lhe revelado isso também.
– Ah. Você conhece os pais dela?
– Não, os dois morreram quando Rachel era criança. Ela foi criada por
uma viúva quacre. Depois, quando tinha 16 anos, veio cuidar do irmão.
– Estão falando da mocinha quacre?
A sra. Figg havia entrado com um vaso cheio de rosas, cheirando a mirra
e açúcar. Jenny inspirou o ar com força e se empertigou na cadeira.
– Mercy Woodcock pensa maravilhas dela. Ela vai à casa de Mercy toda
vez que está na cidade para visitar aquele rapaz.
– Rapaz? – perguntou Jenny, franzindo as sobrancelhas escuras.
– Henry, primo de William – apressei-me em explicar. – Denzell e eu
realizamos uma operação muito séria nele durante o inverno. Rachel
conhece tanto William quanto Henry e é muito gentil ao fazer visitas a
Henry para ver como ele está. A sra. Woodcock é senhoria dele.
Ocorreu-me que eu pretendia visitar Henry naquele dia. Havia rumores
de uma retirada britânica da cidade, e eu precisava ter certeza de que ele
estava em condições de viajar. Parecia estar melhor há uma semana, mas
àquela altura só conseguia caminhar alguns passos, apoiado no braço de
Mercy Woodcock.
Mas e Mercy Woodcock?, pensei, com uma leve pontada no estômago.
Estava bem claro para mim, assim como para John, que havia uma séria e
cada vez mais profunda afeição entre a negra liberta e seu jovem inquilino
aristocrata. Eu conhecera o marido de Mercy no ano anterior, muitíssimo
ferido durante o êxodo de Fort Ticonderoga – e, na falta de comunicação da
parte dele ou a seu respeito, considerava bastante provável que ele tivesse
morrido depois de ter sido capturado pelos britânicos.
Ainda assim, a possibilidade de um retorno milagroso de Walter
Woodcock do mundo dos mortos – afinal de contas, isso acontecia, e meu
coração foi invadido por uma onda de alegria ao recordar – era o menor dos
problemas. O irmão de John, o muitíssimo cabeça-dura duque de Pardloe,
não gostaria de saber que seu filho mais novo pretendia se casar com a viúva
de um carpinteiro, qualquer que fosse sua cor.
E ainda havia a filha, Dottie, que estava noiva de Denzell Hunter. Só
podia imaginar o que o duque diria a respeito disso. Até John, que gostava
de apostar, não conseguia se decidir sobre quem venceria essa disputa:
Dottie ou o pai.
Balancei a cabeça, afastando da mente as dúzias de problemas sem
solução. Durante esse breve devaneio, Jenny e a sra. Figg começaram a
especular sobre William e sua abrupta saída de cena.
– Eu fico pensando… Aonde ele iria? – indagou a sra. Figg, olhando com
preocupação para a parede da escadaria, repleta de mossas sujas de sangue
feitas pelo punho de William.
– Foi procurar bebida, briga ou mulher – respondeu Jenny, com
autoridade de esposa, irmã e mãe de homens. – Talvez os três.

Beco de Elfreth

Já passava de meio-dia, e o único som na casa era um distante balbucio


feminino. Não havia ninguém à vista no salão quando os dois passaram, e
ninguém apareceu quando a moça subiu com William a escadaria suja que
levava a seu quarto. Ele teve a estranha sensação de que era invisível. Achou
a ideia reconfortante; não suportava a si mesmo.
Ela entrou antes dele e abriu as persianas. William quis mandá-la fechar.
Sentia-se miseravelmente exposto sob a luz inundante do sol. Mas era verão.
O quarto estava quente e abafado, e ele já suava em bicas. O ar entrava
pesado, trazendo um odor de seiva de árvores e chuva recente, e o sol
brilhava de leve sobre os cabelos da moça, feito uma cintilante castanha-da-
índia. Ela abriu um sorriso.
– Vamos por partes – anunciou, depressa. – Tire o casaco e a calça antes
que morra sufocado.
Sem esperar para ver se William acataria a sugestão, ela se virou para
pegar uma bacia e uma jarra. Encheu a bacia e deu um passo para trás,
indicando que ele fosse até a pia, onde havia uma toalha e uma barra de
sabão já muito usada sobre a madeira gasta.
– Vou pegar uma bebida, sim?
Com isso, ela desapareceu, os pés descalços ecoando na escadaria.
Mecanicamente, ele começou a se despir. Olhou com estranheza para a
bacia, então recordou que nas casas de padrão mais alto às vezes se pedia ao
homem que lavasse as partes antes. Ele já havia deparado com esse costume,
mas na ocasião a própria puta fizera a lavagem nele – esfregando o sabão
com tanta força que o primeiro encontro havia terminado ali mesmo, na
bacia.
A lembrança o fez enrubescer outra vez. Ele soltou um botão da
braguilha da calça. Seu corpo inteiro ainda pulsava, mas a sensação ia
ficando mais centralizada.
Suas mãos estavam débeis, e ele soltou um xingamento entre dentes. A
pele rachada dos nós dos dedos era a lembrança de sua saída nada
cerimoniosa da casa de seu… Não, não era a casa de seu maldito pai. Era de
lorde John.
– Seu desgraçado maldito! – esbravejou. – Você sabia o tempo todo!
Isso o enfureceu tanto quanto a terrível revelação de sua paternidade.
Seu padrasto, que William tanto amava, em quem confiava mais do que
qualquer pessoa no mundo – o maldito lorde John Grey –, havia passado a
vida inteira mentindo para ele!
Todo mundo havia mentido para ele.
Todo mundo.
Subitamente, teve a sensação de romper uma crosta de neve congelada e
desabar em um rio que nem imaginava existir. Sem ar, arrebatado pela
escuridão sob o gelo, impotente, sem voz, um frio congelante lhe assolando
o coração.
Ele ouviu um barulhinho atrás dele. Por instinto, William se virou. Ao
ver o rosto apavorado da jovem puta, percebeu que chorava copiosamente,
com o pênis meio duro para fora da calça, as lágrimas correndo pelo rosto.
– Saia daqui – disse ele, a voz rouca, com imenso esforço para tornar a se
vestir.
Ela não foi embora. Em vez disso, caminhou na direção dele, um
decânter em uma das mãos e um par de canecas de peltre na outra.
– Tudo bem com você? – perguntou, encarando-o de soslaio. – Aqui,
beba um pouco. Me conte tudo.
– Não!
Ela foi se aproximando dele, porém mais devagar. Pelos olhos
lacrimejantes, William a viu contorcer a boca ao perceber seu pênis.
– Eu trouxe a água para suas pobres mãos – comentou ela, claramente
tentando não rir. – Mas dá para ver que você é um verdadeiro cavalheiro.
– Não sou!
Ela piscou.
– É um insulto chamá-lo de cavalheiro?
Dominado por uma fúria ao ouvir a palavra, ele disparou um golpe, às
cegas, derrubando o decânter da mão da jovem. Com uma explosão de
vidro, o vinho barato se espalhou. Ela berrou ao levar um banho vermelho
na anágua.
– Seu miserável! – exclamou a mulher, dando impulso no braço e
atirando as canecas na cabeça dele.
Não o acertaram, mas rolaram pelo chão com um clangor. Ela se virou,
gritando “Ned! Ned!” e disparou em direção à porta, mas ele deu um bote e
a agarrou.
William só queria que ela parasse de gritar, que parasse de convocar os
reforços masculinos empregados pela casa. Tapou a boca da jovem e a puxou
de volta, lutando com a mão livre para controlá-la.
– Desculpe, desculpe! – disse ele. – Eu não pretendia… não pretendo…
Ai, que inferno!
A moça acertou uma súbita cotovelada no nariz de William, que a soltou
e se afastou, com a mão no rosto, os dedos ensanguentados.
A jovem tinha os olhos arregalados, e em seu rosto apareceram marcas
vermelhas onde ele havia segurado. Ela se afastou, esfregando a boca com o
dorso da mão.
– Saia… daqui! – arquejou ela.
Não foi preciso dizer duas vezes. Ele passou por ela correndo, cruzou
com um homem corpulento que subia a escada e disparou de volta pela
viela, percebendo apenas ao chegar à rua que havia deixado o paletó e o
casaco para trás; estava só de camisa e calça aberta.
– Ellesmere! – exclamou uma voz alarmada por perto.
Ele olhou para cima, horrorizado, e se viu sob a mira de vários oficiais
ingleses, entre os quais Alexander Lindsay.
– Santo Cristo, Ellesmere, o que houve? – indagou Sandy, que já era
quase um amigo.
Ele puxou um volumoso lenço muito branco da manga e o levou ao
nariz de William, pinçando as narinas e insistindo para que ele inclinasse a
cabeça para trás.
– Você foi agredido, roubado? – inquiriu um dos outros. – Deus! Neste
lugar imundo!
Na companhia daqueles homens ele se sentia ao mesmo tempo
consolado e terrivelmente constrangido. Não era um deles, não mais.
– Foi roubo? – perguntou outro, olhando ao redor com ansiedade. –
Vamos encontrar os desgraçados que fizeram isso. Pela minha honra, nós
vamos! Vamos recuperar os seus pertences e ensinar uma lição a quem fez
isso!
Por sua garganta descia sangue, deixando o gosto forte e pungente de
ferro. William tossiu, mas fez o possível para assentir e dar de ombros ao
mesmo tempo. Ele havia sido roubado. Mas jamais teria como recuperar o
que lhe fora tirado naquele dia.
Another random document with
no related content on Scribd:
“Where will I find the Governor?” she asked.
“Gawd knows,” said this official, and made a generous and accurate
contribution to the receptacle.
“Who does know?” Carmel asked, impatiently.
“I hain’t here to locate governors. I show folks through the buildin’,
and mostly they give me a quarter a head.”
“Well, show me to the Governor’s office and I’ll give you fifty cents a
head,” Carmel said.
He peered at her, took a last, regretful look at the cuspidor and
sighed. “’Tain’t wuth it,” he said, sententiously. “’Tain’t wuth fifty cents
to see no Governor I ever knowed, and I’ve come through the terms
of six.... Foller me.”
Grasping at straws, she questioned him. “What sort of man is the
Governor.”
“The kind that can git himself elected to office,” said her guide. “Allus
worked at it. Had his snoot in the trough since his fust vote.”
“Is it difficult to see him?”
“Depends on who you are.”
“Supposing you’re just nobody.”
“If ye hain’t got nothin’ to give, ye hain’t got nothin’ to git nothin’ with.”
“You don’t seem to approve of him.”
“Him! Don’t think nothin’ about him. He’s jest the Governor. Be
another next year, and then another and another. He’s all right as
Governors go.”
“Can’t you tell me anything about him?” she asked, desperately.
“He’s dark complected and takes a spoonful of bakin’ sody after
each meal,” said the guide. “There’s his office.... Said fifty cents,
didn’t ye?”
Thus fortified for her encounter, Carmel opened the door and found
herself in a large reception room where were two or three
unoccupied desks, and one at which a young man was seated. He
looked up as she entered, scowled, but as he comprehended her
trim loveliness he manipulated his face into a smirk and got to his
feet.
“I wish to see the Governor,” she said.
“Have you an appointment?”
“No.”
He advanced with an ingratiating air. “Well, I might be able to fix it for
you....”
“Suppose you try at once,” she said, for his kind was well known to
her, as to any pretty girl. His chin dropped. “Take in my card, please,”
she said. The young man revised his estimate. She was pretty, but
she was class. Class, in his dictionary, meant anyone who could not
be approached by the likes of himself. She might even be important.
Sometimes women were important. They had rich or influential
fathers or husbands. At any rate, here was one it would be unsafe to
approach with blandishments. She was able to peg him neatly in the
board as an understrapper. He took her card and disappeared
through an adjoining door.
Presently he reappeared.
“His secretary will see you,” he said, and as she walked past him he
scowled again, and hated her for showing him his lack of importance
in the world.
The Governor’s secretary arose courteously as she entered. She
appraised him at once; recognized him for what he was, for the mark
was strong upon him—a newspaper man, rewarded for services by
his position. He was young, intelligent, sure of himself. She knew he
would have no awe of personages.
“Miss Lee?” he said, glancing at her card.
“I wish to see the Governor.”
“You have no appointment?”
“None. I drove from Gibeon on a matter of grave importance—almost
of life and death to our town. I must see him.”
“A pardon case?” he asked.
“No.”
“If you will state your business, I will see what can be done. The
Governor is very busy, of course, and cannot see everyone.”
“My business is private. I can tell it only to the Governor himself—
and I must see him.... I must see him.”
His face was not unfriendly as he regarded her for an instant. “The
Governor is not here. He has gone. However, if you will come back
at—say—ten o’clock to-morrow, I will see that you get a minute with
him.”
“I must see him now—to-night. To-morrow will not do.”
“I’m very sorry, but you can’t possibly see him. He is giving a dinner
in the Executive Mansion, and a ball this evening. You can see for
yourself.... He could not be disturbed. There are important guests.
Our Senator is here.”
She could see. The Governor’s day’s work was ended. His social
day—an important social day—was beginning, and in such
circumstances it would be impossible to penetrate to him.... She
twisted her hands together and bit her lip.... By this time Abner
Fownes’s train would be arriving in the city. He, doubtless, would
have access to the Governor at any time. Possibly he was to be a
guest at the function.... If he were, if he found the Governor’s ear,
her mission would come to nothing.
“Is there no way—no way?” she asked.
“None, I am afraid.... But at ten to-morrow....”
“Thank you,” she said, heavily. Then, “Is it a large party?”
“Not a public function. Not small, but very exclusive. Our senior
Senator, you know, is very important socially.”
“I see,” said Carmel. “Thank you again.” She found herself again in
the outer office, and then in the corridor, making her way toward the
stairs. Near the door she saw again her guide, close to the copper
receptacle which seemed to have won his affection.
“See him?” he asked.
“No.”
“Didn’t calc’late ye would,” he said. “Seen him go home an hour
ago.”
“Why didn’t you tell me?”
“Been poorer by half a dollar if I had,” he said, succinctly.
She was driven to the hotel, where she registered and was shown to
her room by a bell boy. No sooner had he closed the door and
departed with her gratuity in his hand than she threw herself down
on the bed in very girlish despair.... She had failed. Singularly
enough, it was not the failure itself which stung her; it was the fact
that Evan Bartholomew Pell would know of her failure.... She had
failed him. This was an incomprehensible state of affairs, and when
she discovered it she was shocked. What difference did it make what
Evan Pell thought, or how he regarded her failure. It was none of his
business, anyhow. The paper was hers, and he nothing but a poorly
paid employee.... It was all very well to tell this to herself, but the fact
remained. She could not go back to Gibeon and confess failure to
Evan.
She sat erect, hands clenched. Her teeth pressed her lips. “A man
would see the Governor. He would manage it. I’ve a right to see him.
His business is with affairs like mine, and not with dances.... I will
see him. I’ll make him see me!”
There was a way, because there is always a way to accomplish
everything.... Her thoughts came in fragmentary form, chaotic. Abner
Fownes was in the city, perhaps in this very hotel. She tried to
reason about him. What if he were a guest at the dinner.... That was
a possibility to consider, and she scrutinized it. No, she concluded,
he was not to be a dinner guest. Being a dinner guest of the
Governor’s was not a fact he could have kept secret. It would elevate
him in Gibeon’s eyes. He would never keep to himself a fact like that.
Gibeon would have been informed. It would have been informed
days ago so that Abner could have basked in this new glory!... But
would he be at the ball? That was not to be determined. In politics he
was important, and, ball or no ball, if he demanded an interview, the
Governor would grant it. And he would demand an interview. He had
journeyed to the capital in haste. This meant he had immediate need
for Jenney’s appointment as sheriff.... He would see the Governor to-
night!
Carmel opened her bag and thanked God for the impulse which had
included her evening gown in her equipment. She laid it out on the
bed and smoothed it.... Presently she was taking a bath, refreshing
herself, and feeling very adventurous and almost happy. With
characteristic neglect of impediments and consequences, she had
taken a resolution—to be an uninvited guest at the Governor’s ball.
She telephoned for something to eat—to be sent to her room, for she
feared to go to the public dining room, lest she encounter Fownes. At
all costs Abner must be kept unaware of her presence. She was as
relieved as if full success were hers, and she dressed with animation
and pleasure. When she looked in the glass she could not help
reflecting that, if she were not an invited guest at the ball she would
not be a discredit to it.
It was difficult to wait. She paced up and down the room, planning,
discarding plans. She endeavored to foresee obstacles and to
remove them. She imagined, and enjoyed the imagining, dramatizing
the whole evening in advance. She endowed the Governor with the
qualities history gave to Abraham Lincoln—more especially in those
episodes where he is reported to have arisen from important affairs
of state to listen to the story of some wife or daughter whose loved
one was to be executed for sleeping on his post. Yet she did not
even know what the Governor looked like. His photographs—yes.
She had seen his face, but it was not familiar to her, nor whether he
was tall or short, brawny or slender.... The picture she painted made
him big, broad of shoulder, with a fine, high forehead, noble eyes,
and a fatherly manner. Perhaps he would address her as child, and,
with courtesy, lead her to some private spot where she would pour
her story into his sympathetic ear. He would be amazed, startled,
confounded at the news of such a state of affairs in the
commonwealth he governed.... And he would act. He would send her
away from him with the precious appointment in her hand ... and with
lofty words of praise....
She watched the time. It seemed as if days passed instead of hours
before she telephoned down for her car. But when she issued from
her room to descend, her dreams melted into damp fog and she was
terrified. She feared to encounter Fownes at every step. Her heart
almost stopped beating as she imagined terrible incidents. Suppose
she were stopped at the door! Suppose, once inside, credentials
should be demanded of her! Suppose the Governor’s wife should
approach with a horrible society air and eye her scornfully and
demand by what right she was there! She might be the center of a
scene, might be expelled from the place! Almost she repented.
Almost she returned to her room. But something compelled her to go
on.... The only courage is that which compels one in spite of his
terror.
The car was waiting. “The Executive Mansion,” she said, and sank
back in her place, quivering.
Presently, too soon, they drew up before the awning which stretched
from the Governor’s door to the street. A servant opened the car
door and she alighted. He bowed elaborately. Carmel took it for a
good omen. There was no questioning her of her right to be
present.... A certain security came of the knowledge that she looked
as if she belonged in this world.
She mounted the steps and was bowed into the hall. No question
was asked. Servants took charge of her and directed her. She
mounted the stairs, found herself in a room with a number of women,
who glanced at her indifferently. A maid took her wrap. In this
security she lingered as long as she could find excuse—putting off
the moment when she must descend.... An elderly woman was
leaving the room, and Carmel, quick to grasp opportunity, left in her
wake, keeping close to her on the stairs. Side by side they entered
the ballroom—as if they were together. Carmel regarded the elderly
dame as her ticket of admission.
The orchestra was playing a fox trot; the room was vivid with color....
She paused, searching for the man she had come to see, but could
not discover him.... Summoning what assurance she could, she
entered the room and skirted it, her eyes on the dancers. She
paused, looking for a seat.
At the end, beyond the orchestra, was an alcove, and she moved
toward it, entered it. Here was an observation post. She turned to
find a chair from which she could watch the ballroom, and as she did
so a man entered from a door at the left. Her hands flew to her
breast and she choked back a scream.
She was face to face with Abner Fownes!
CHAPTER XIX
CARMEL was astonished at herself; she discovered herself to be
cool and self-possessed; determined rather than frightened. Here
was an emergency; her one thought was to prove adequate to it.... It
was a thing to have been expected. Abner Fownes’s face reassured
her—it informed her intuition rather than her intelligence. It wore an
expression such as would have been more suitable to one in
Carmel’s position—an interloper in danger of being detected and
ejected from the house. His eyes were something more than startled
or surprised. They were unbelieving. She saw it was hard for him to
comprehend her presence; that, for some reason, it was
inconceivable she could be there. She knew, through some psychic
channel, that it was not the fact of her being at the Governor’s
function which nonplused him, but rather the fact of her not being
somewhere else—in some spot where he had expected confidently
she would be.
His face mirrored the sensations of a man whose plans have gone
wrong unbelievably. He was angry, almost frightened, at a loss. She
took command of the situation before his moment of weakness
passed.
“Good evening, Mr. Fownes!” she said.
“G-good evening!” he answered. “What—how——” Then he smirked
and drew himself up to the full realization of his stature. He resumed
character. “I did not know,” he said, pompously, “that you were an
acquaintance of the Governor’s.”
“May it not be possible,” Carmel said, sweetly, “that there are a
number of things you do not know?”
“Young woman, you are impertinent,” he said, drawing his shoulders
upward and his neck inward very much like a corpulent turtle in a
state of exasperation. He was laughable. Carmel smiled and he saw
the derision in her eyes. It must have been maddening to a man
accustomed for years to deference and to adulation—maddening
and not to be understood. “I have warned you,” he said. “My
patience nears the breaking point.”
“And then?” Carmel asked.
For the first time she saw the man, the real Abner Fownes. Lines,
cultivated by years of play-acting in a character part, disappeared
from his face. His chins seemed to decrease in number; his cheeks
to become less pudgy; his eyes less staring and fatuous. His jaw
showed strong and ruthless; his eyes turned cold and deadly and
intelligent. She saw in him a man capable of planning, of directing, of
commanding other men—a man who would pause before no
obstacle, a man whose absurd body was but a convenient disguise
for a powerful, sinister personality. He was no longer ridiculous; he
was dangerous, impressive.
“Miss Lee,” he said, “for reasons of your own you have gone out of
your way to antagonize me.... I was attracted to you. I would have
been your friend. I credited you with brains and ability. I would even
have made you Mrs. Fownes.... You would have been a credit to me
as my wife—I believed. But you are not intelligent. You are very
foolish.”
There was no threat, no rancor. There was even a certain courtesy
and dignity in his manner, but it frightened her more than rage and
bluster could have done. It was the manner of one who has made up
his mind. His eyes held her eyes, and a feeling of helplessness
spread over her like some damp, cold wrapping.
“If you do not return to Gibeon,” he said, “I will forget your
antagonism.”
“What are you saying?”
“Your presence in Gibeon has become an annoyance. If you do not
return—it will be wise.”
“Not return!... To Gibeon, and to the Free Press! You are absurd.”
“In a few days there will be no Free Press,” he said.
“There will be a Free Press in Gibeon,” she answered, “long after the
bankruptcy courts have settled the affairs of Abner Fownes.”
As she spoke she knew she had been again the victim of impulse;
she had betrayed knowledge which she should not have betrayed.
Fownes was expressionless, but his eyes glowed like sun upon
sullied ice.
“I have no more to say to you,” he said, and there was a finality in his
words which conveyed more than the sense of the words
themselves. It was as if he had spoken a death sentence.
He turned to the door and walked away from her with that pompous
waddle which was not so absurd when one realized how invaluable it
was to the man and how painstakingly he must have cultivated it.... A
servant peered into the alcove and entered with a yellow envelope in
his hand.
“Mr. Fownes?” he said.
“Yes.”
“A telegram, sir. The Governor said he saw you come in here, sir.”
“Thank you,” Fownes said and tore open the envelope. He read the
message slowly, then stood staring at it thoughtfully while Carmel
held her breath. She sensed a menace in the telegram, something
which threatened her and her enterprises.
He turned and peered at her, and there was something saturnine in
his eyes, almost mocking.
“I imagine this concerns you,” he said. “It is from Deputy Jenney. It
may interest you.” He read, “‘Whitefield out for sheriff. Miss Lee left
town in his automobile.’” He shrugged his shoulders. “I wondered
how you got here,” he said after a moment. Then, “How did you get
in here?”
“That is the Governor’s affair, not yours,” she said.
“True,” he answered. “Suppose we leave it with him.”
He turned to the waiting servant. “Ask the Governor to step here,
please. Tell him it is important.” Then to Carmel. “It will not be
embarrassing for you to see the Governor?”
“I came to see him.”
“Uninvited.”
She made no answer. She was frightened, quivering. What could
she say? What could she do? When the Governor appeared and she
was denounced to him as an intruder, as a woman who forced her
way into a private entertainment, how could she reach his ear with
her petition?... Would not the fact of her being an intruder make her
case hopeless? She set her teeth. At any rate she would make a
fight for it, and at worst there could be nothing but ignominious
expulsion at the hands of some servant. The thought of that was
unbearable. She was a woman, with a woman’s social
consciousness and a woman’s delicacy. It seemed more terrible to
her to be detected in such a breach of society’s laws than it would
have been to be detected in a crime.... For a moment she was
unnerved.
She thought of her mission; of the public importance of what she was
doing and the excellence of the motives which had brought her to do
the thing she had done. This availed little. The humiliation, the public
humiliation, would be as terrible. She meditated flight.... But then
there arose in her a stubbornness, a resolution. Back of it was this
thought—“He is depending on me. He sent me to do this. He looks to
me to succeed.” The he was emphasized. It did not occur to her to
wonder how Evan Bartholomew Pell came to be of such importance
to her in this moment, or why the fact that he was relying upon her
should sustain her in this crisis. Nevertheless, it was so. She felt she
would possess his approval, no matter what came, if she persisted, if
she did not give up so long as there was the shadow of a chance of
success. She felt, she knew, he would consider as negligible any
sneer of society, any personal humiliation sustained. She knew he
would persist, and from this she drew strength....
She saw a tall, handsome man approach the alcove. From dimly
remembered lithographs she knew him to be the Governor, and as
he approached in his dignified way, she studied him. He looked like a
Governor. He was smooth-shaven, appearing younger than his
years. He carried a look of authority, the presence of a personage. It
was a fine presence, indeed, and one of incalculable value to him. It
had been his chief asset in reaching the height to which he had
climbed.... Her scrutiny told her nothing more than this. The man
who approached might be a great man, a statesman, a man of
tremendous depth and character—or he might be nothing but an
appearance. She hoped he was a man.
He entered and extended his hand to Fownes. “Glad you ran up,” he
said, cordially. “I saw you come in, but couldn’t break away. How is
Gibeon?”
“Gibeon,” said Abner, “is flourishing.”
The Governor turned his eyes from Fownes to Carmel, and they
lighted an instant in tribute to her loveliness.
“Your daughter?” he asked.
“You don’t know the young woman?” Fownes said.
“It is my misfortune,” said the Governor.
“Um!... Possibly. Then, as I supposed, she is not here at your
invitation?”
The Governor looked from one to the other of them, and seemed
distressed, embarrassed. He sensed a tenseness, a situation, and,
of all things, he hated to face situations.
“I don’t understand,” he said.
Carmel stepped closer. “Governor,” she said, “I am not a guest. I
came to see you to-day on an important matter—a matter of life and
death. I went to your office, but you had gone. It was necessary to
see you to-night.... So I came. I am an intruder—but I will go as
quickly as I can.... After I have spoken with you.”
Fownes shrugged his shoulders and laughed.
“The young woman deserves to get ahead,” he said, “if effrontery
can win success.... But, unfortunately, I know her, Governor. She
owns a bankrupt, blackmailing rag in Gibeon.... That is unimportant,
but, otherwise, I am sure your wife would not care to have her
rubbing elbows with her guests.... In Gibeon——” he paused to allow
the innuendo to take effect. “To prevent unpleasantness, or any
chance of her recognition here, the best thing will be to call a servant
and show her quietly to the street.”
Carmel knew such hot rage as she had never known before. She
could have struck Fownes. Hot words sprang to her lips, but she
suppressed them, fought for self-control. She laid a tiny hand on the
Governor’s arm.
“Sir,” she said, “you occupy a great position this state. Thousands of
people look up to you for the qualities you must possess.... Fairness
must be among them. I insist that you listen to me now.... Abner
Fownes, you have lied, deliberately and maliciously. You know there
is no reason why I should not be here, no reason why any man or
woman should object to my presence. It was a cowardly lie—told
because you were afraid.”
“Shall I call a servant—to prevent a scene? Your guests may
overhear.... It wouldn’t read well in the papers.”
The Governor hesitated, for he was a vacillating man, timorous, a
mirror reflecting stronger images than his own.
“I—— Possibly you had better go quietly,” he said.
“I shall not go,” Carmel said. “You shall hear me. I will not leave
except by force—and then you will have your scene.... It is too late
for me to care what happens now. If you dare to eject me I promise
you a scene....”
“But—er—young woman——”
“My name is Miss Lee, and you will address me so,” she said. “If you
will listen to me five minutes, I will go.”
“Nonsense!” said Fownes.
“Why did she come? What is it all about? This is most unpleasant,”
said the Governor.
“Why did I come? What is it about.... It is about murder!”
“Murder!... What—murder?”
“The murder of Sheriff Churchill of Gibeon.”
“But he was not murdered. He ran away, absconded.”
Fownes laughed. “You have all the facts in that matter, Governor.”
“I think so....”
“You have no facts.” Carmel clutched his sleeve. “This man, if he has
given you the facts you have, has lied to you.... Sheriff Churchill is
dead. He did not abscond. He was killed doing his duty by men who
feared detection.”
“What are you saying? What is this, Fownes? What does she
mean?”
“Politics,” said Fownes, in a voice he tried to keep steady.
“It is not politics. Sheriff Churchill was lured from his home and killed.
I know. By the crowd of men in Gibeon who are making themselves
rich by smuggling whisky over the border.... There is a wholesale
traffic, Governor. I have seen it. I, myself, discovered a cache of
hundreds of bottles in the woods.... It is no petty bootlegging, but a
great, wholesale traffic....”
“Nonsense!” said Fownes.
“The headquarters of it is the Lakeside Hotel. That is the point of
distribution.... Deputy Sheriff Jenney, whom this man has come to
ask you to appoint sheriff in Mr. Churchill’s place, is a crony of the
proprietor. He is in it, as I shall prove. But he is not the head of it....
These men, because I printed in my paper what I discovered, came
to wreck my plant. I believe they are ready to do with me as they did
with Sheriff Churchill.... So I have come, I have forced my way to
you, to beg you not to make that appointment. It gives these
lawbreakers, these murderers, control of the legal machinery of the
county. Governor, do you know Jared Whitefield?”
“I—do,” said the Governor.
“He is a good man, a capable man, an honest man, and he has
agreed to accept the appointment as sheriff and to clean out this
association of lawbreakers. That is my purpose in coming here—to
ask his appointment of you.”
“Whitefield!—Whitefield!... What’s this? What’s this about Whitefield,
Fownes?” The Governor was bewildered. Whitefield’s name
completed his consternation. He despised conflict of any sort and
political conflict most of all. When influential men fell out it agitated
him, especially if he were asked to take sides. He had gone forward
in the world by keeping in mid-channel, making no contacts with
either shore. He had done extraordinarily well by never making up
his mind and by availing himself of the opportunities other people
dropped.... If there was trouble between Whitefield and Fownes it
would mean taking sides.... Whitefield! He knew what Whitefield was
capable of, and Fownes—Fownes was supposed to control his
county. He quite lost sight of the specific matter in hand in his
agitation over distant political aspects.
“Whitefield’s out of politics. This woman’s just raked up his name.
He’s dead.... She lies.”
“But—he’s got a following. Not only in his county. There was talk of
his running for Governor once.”
“There would be again if you gave him this appointment,” said
Fownes, adroitly. “Now Jenney deserves the place. He knows the
machinery of the office—and I want him to have the job.”
“Jenney’s a brute and a criminal. If you appoint him you’ll outrage the
decent people of the whole county—and I’ll take care they know how
and why you appointed him,” said Carmel. Her courage was in its
place again. She was not afraid, but she was desperate. “I’ll tell the
people how the Governor of this state rewards a man for being a
party to the murder of a public official. It won’t sound well.”
“But Churchill wasn’t murdered. He—he absconded,” said the
Governor.
“He was murdered. That man knows it.” Carmel cast off all
discretion. “I believe he ordered the murder. I know he is the head
and brains of this liquor-smuggling conspiracy.... I suspect he’s
plotting to put me out of the way.... He’s bankrupt. Do you know that,
Governor. He’s fighting off his creditors, keeping his head above the
surface with money he gets from smuggling and selling whisky....
That’s Abner Fownes. That’s the man who asked you to appoint his
Man Friday sheriff.... You dare not do it, Governor.... You’ll be a party
to murder if you do.... Oh, Governor, please, please see this thing as
it is. It’s an opportunity.... We can break this thing up; we can destroy
this traffic going on under the surface of Gibeon, turning decent
people into lawbreakers.... I tell you”—her voice lifted as she spoke
—“I tell you Abner Fownes is as guilty of Sheriff Churchill’s murder
as if he did it with his own hand.”
Fownes shrugged his shoulders and forced a laugh.
“I told you it was a blackmailing sheet,” he said.
“I know.... But Whitefield. That’s what worries me. I don’t want a war
on my hands.”
“Governor, have you listened to me?” Carmel said, fiercely. “Have
you heard what I have told you—and, hearing it, are you worrying
about petty political squabbles.... We are talking about murder.”
“I—I must go back to my guests. I’ll take this matter under
advisement.... I’ll have it investigated. Fownes, why did you get me
in this mess?”
“Governor,” said Fownes, “I’m going away from here with Jenney’s
appointment as sheriff in my pocket.... Think back. It was my county
put you where you are. I swung it for you. I can just as well swing it
against you—and election isn’t far off.... My county can keep you out
of the Senate.... If you listen to a fool girl who is trying to blackmail
me into marrying her—why, that’s your lookout, but you’re a dead
chicken in this state.... Either I get Jenney or I throw every dollar I
own and every ounce of my influence against you. You’re none too
strong.... You shilly-shally. You’ve listened to a pack of lies, and you
know they are lies. Who is Whitefield, to disturb you?”
“But if there was a murder?”
“Fiddlesticks!... Do I get Jenney or not? Fish, Governor, or cut bait.”
The Governor looked appealingly at Carmel, turned his eyes to
Abner Fownes. He was an exceedingly unhappy man.
“You—you have no evidence,” he said. “You make grave charges,
and on nothing but your unsupported word.... I—in fairness—I do not
see how I can consider them. Charges against a man of Fownes’s
standing.”
Carmel knew she was defeated. Her mission had been in vain. Such
a man as the Governor was to be reached only by underground
channels, by the political alleys and blind byways so well known to
him.... He was spineless, a figurehead, nothing.... Fownes would get
his man, Jenney would become sheriff, and Gibeon would be
abandoned into the arms of the liquor smugglers.... To her personally
it meant more than this. It meant imminent danger.... With the
machinery for detecting and apprehending criminals in his hands,
Fownes would find little difficulty in disposing of herself.... She made
one more desperate effort, pleading, cajoling, arguing—but in vain.
“Shall I call the servant?” Fownes said, with his cold eyes upon
Carmel. “I think we have had enough of this.”
“No scene. We must have no scene. Will you go quietly, Miss Lee.”
“I will go,” she said, “and Heaven help a state with such a man at its
head....”
She went out of the alcove, ascended the stairs, and found her wrap.
Her automobile drew up as its number was called, and she entered.
“The telegraph office, quickly,” she said.
At the office she sent two messages—one to Evan Pell, the other to
Jared Whitefield himself. They announced her failure.
“Can you—will you drive me back to Gibeon to-night?” she asked the
chauffeur.
“Mr. Whitefield said I was to do whatever you wanted.”
“The hotel, then, until I get my bag.”
In twenty minutes she was in the car again, speeding over the dark
roads toward home, heavy of heart, depressed, weighed down with
foreboding.... It was nearly eleven o’clock. She felt as if she could
not reach Gibeon soon enough, and repeatedly begged her driver for
more speed....
CHAPTER XX
THE east was glowing dully with approaching dawn when Carmel
alighted from the car at the hotel in Gibeon and hurried through the
deserted office and up the scantily illuminated stairs to her room.
She was weary, not in body alone, but with that sharper, more
gnawing weariness of the spirit. She had failed, and the heaviness of
failure sat upon her.... She could not think. It was only with an effort
she was able to force herself to undress and to crawl into her bed....
Then, because she was young and healthy, because she had not yet
reached an age and experience at which troubles of the mind can
stay the recuperative urge of the body, she slept.
It was nine o’clock when she awakened, and with a feeling of guilt
she dressed hurriedly, snatched a cup of coffee, and hastened to the
office. She dreaded to meet Evan Pell, to confess her inadequacy....
There was another reason, deeper than this, instinctive, why she
hesitated to meet him. It was a sort of embarrassment, an excited
desire to see him fighting with reluctance. She did not analyze it....
But she was spared the ordeal. Evan Pell was not in his place.
There was petty business to attend to, and an hour passed. Such
hours may pass even when one is in the midst of such affairs as
surround Carmel.... Her last night’s adventure seemed unreal,
dreamlike. Gibeon, going about its concerns outside her window,
seemed very real.... She looked out at Gibeon and her mind refused
to admit the fact that it could continue normally to plod and buy and
sell and gossip as she saw it doing, if there were anything beneath
its surface. Crime, plotting, trickery, sinister threat—these could not
exist while Gibeon looked and labored as it looked and labored this
morning. The town should have lagged and whispered;
apprehension should have slowed its steps and stilled its voice; a
shadow of impending catastrophe should have darkened the
streets.... But the streets were bright with sunlight.
She saw women marketing with baskets on their arms; she saw
farmers passing in automobiles and wagons; she heard children
shouting and laughing.... It was Gibeon—a normal, unexcited, placid
Gibeon. And yet, murder, or worse than murder, poised over the
village on its black wings, poisoning the air its people breathed!...
The whole thing was absurd.
“Where is Mr. Pell?” she asked Simmy, who came in to lay a galley
proof on her desk.
“Hain’t been in this mornin’,” Simmy told her. “Say, George
Bogardus’s been in twict to see you.”
Carmel smiled. She knew why George had called. It was the
Handsomest-Man contest.... She considered that farce, for it was a
farce—a makeshift to gain circulation, a trick played by herself with
her tongue in her cheek.... It had quickened the interest of Gibeon,
however. Gibeon could be made excited over an absurd voting to
decide upon its handsomest man! It could discuss the thing, gossip
about it, lay small wagers. More than one wife, feeling bound by self-
esteem, had entered her husband and deposited votes in his name.
This, Carmel judged, was an effort on the part of these women to
vindicate their own judgment; to elevate themselves in their own
esteem; to cry up their own possessions. Some there were, of
course, who laughed, who saw the absurdity of it, but more remained
to take it with utmost sincerity, and of these George Bogardus,
undertaker de luxe, was perhaps the most sincere. George
neglected his business to pursue votes. But then, so did Lancelot
Bangs!... Single men both, the mainstay of local haberdashers! The
contest had now arrived at a point where even admiring wives were
discouraged and hoped only to have a husband who ran third—for
Bogardus and Bangs seemed sure to outdistance the field.
Not only did these young men vie with each other in the pursuit of
votes, but in the purchase of apparel. If Bogardus imported a yellow
silk necktie made more beautiful by inch-broad polka dots of green,
Bangs answered the challenge with patent-leather shoes with gray
cloth tops cross-hatched with mauve.... Each spent his substance in
riotous garments, and neither neglected, at the busy hour in the post

Você também pode gostar