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A luta cotidiana contra o tempo

COLUNAS:: FÍSICA SEM MISTÉRIO

Colunista contesta alegações comuns na internet de que os dias


estariam passando mais rapidamente

Adilson de Oliveira,
Departamento de Física
Universidade Federal de São Carlos
20/06/2008

O relógio toca insistentemente às 6h15. São exatamente 40 minutos


para sair de casa e levar os filhos para a escola. Nenhum momento
pode ser perdido, pois há sempre os problemas praticamente
inevitáveis de todas as manhãs, como o trânsito. As crianças, ainda
sonolentas, tomam o café da manhã e quase não há tempo para
conversas. O tempo urge.

Ao sair de casa atrasado, encontra congestionamentos maiores que


os de costume. Quando faltam apenas cinco minutos para começar a
aula das crianças, a distância a ser percorrida é de três quilômetros.
Olha incessantemente para o relógio, na esperança de que os
ponteiros se movam mais devagar.

Depois de deixar as crianças em cima da hora na escola, outra corrida


contra o relógio se inicia. Para chegar ao local de trabalho, uma nova
batalha será travada. O tempo parece andar mais rapidamente
justamente quando estamos atrasados. No trabalho, o ritmo continua
acelerado. O tempo não é suficiente para as inúmeras tarefas que
precisam ser executadas. O relógio – um algoz, por mais acelerado
que seja o ritmo da rotina – indica que já está na hora do almoço.

Ao final do dia, quando retorna para casa, o trânsito faz com que a
viagem de volta seja mais longa e lenta. De nada adianta ter pressa.
O relógio marca 20h quando estaciona o carro na garagem,
completando mais um ciclo que durou cerca de 14 horas. A sensação,
que se repete todos os dias, é a de que o relógio andou muito
rapidamente e que poucas coisas foram realizadas.

A situação descrita acima é semelhante à que a maioria das pessoas


enfrenta nas grandes cidades. Todos nós, envolvidos cada vez mais
com nossas atividades, sentimos essa sensação de que o tempo está
passando mais rapidamente e que o relógio está sempre nos
oprimindo. Mas será mesmo que o tempo está passando mais
depressa? Será que o tempo realmente existe ou é uma criação
humana?

O dia e a noite como marcadores do tempo

O conceito de tempo é algo bastante complexo e fascinante. Ele pode


ser abordado sob o ponto de vista das mais diferentes áreas do
conhecimento, como a filosofia, a sociologia, a biologia, a história, a
psicologia e, em particular, a física, na qual esse conceito tem uma
enorme importância, pois é a base para muitas das suas teorias mais
importantes.

Uma das primeiras formas que utilizamos para marcar o tempo foi a
alternância entre o dia e a noite. Atualmente sabemos que esse efeito
se deve à rotação da Terra ao redor de um eixo inclinado
aproximadamente 23 graus em relação a uma linha perpendicular ao
plano de sua órbita em torno do Sol. A Terra completa uma rotação a
cada 23h56m04s. Esse período é chamado de dia sideral.

Por outro lado, 24 horas é o tempo médio que leva para que o Sol,
visto da Terra, volte ao mesmo ponto do céu. Esse período é chamado
de dia solar médio. Ao longo do ano, ele chega a variar até 15
minutos, para mais ou para menos. A diferença de 4 minutos entre o
dia sideral e o dia solar médio ocorre devido ao movimento de
translação da Terra ao redor do Sol. Isso significa que, para que o Sol
volte ao mesmo ponto do céu, ele gasta um tempo extra além do da
rotação, pois a Terra caminhou aproximadamente 2.500.000
quilômetros ao redor do Sol e, dessa forma, há uma mudança na sua
posição no céu.

A variação do período do dia solar se deve, por um lado, ao fato de a


órbita da Terra ser uma elipse (embora muito próxima de uma
circunferência). Além disso, a velocidade com que ela executa o
movimento de translação varia ao longo do ano, dependendo da sua
distância em relação ao Sol. Dessa forma, convencionou-se que o
nosso dia solar teria 24 horas.

Contudo, a velocidade de rotação da Terra não influencia de maneira


real a passagem do tempo para nós. Podemos encontrar em algumas
páginas na internet alegações de que a velocidade de rotação da
Terra está aumentando e, como conseqüência, o tempo estaria
passando mais rapidamente. De acordo com elas, isso explicaria a
sensação de que estamos ficando sem tempo para realizar as nossas
tarefas. Alguns desses endereços na internet chegam a veicular
informações de que a rotação real da Terra seria de 12 horas, embora
os relógios não a detectem!

O atraso na rotação da Terra

De fato, a rotação da Terra tem se alterado com o passar do tempo.


Ao contrário do que se alega, porém, o período tem aumentado e não
diminuído. O responsável por isso é o efeito de maré, que se deve à
influência gravitacional da Lua e do Sol sobre a Terra. Como a atração
gravitacional em dois extremos da Terra acaba sendo diferente (pois
estão em distâncias diferentes), o “puxão” gravitacional desses dois
astros faz com que ocorra o aumento e a diminuição das marés
oceânicas. Estas, por sua vez, contribuem para “frear” lentamente a
rotação da Terra.

Esse efeito, contudo é muito pequeno: o período de rotação da Terra


aumenta cerca de 0,002 segundo por século, ou seja, serão
necessários 100 mil anos para que ele aumente 2 segundos (um dia
sideral tem 86.164,08 segundos).

Alega-se ainda que a velocidade de rotação da Terra, que é cerca de


1.649 km/h no equador, alteraria a passagem do tempo. Segundo a
teoria da relatividade de Einstein, a velocidade com que nos movemos
altera a passagem do tempo, ou seja, relógios que estão em
movimento em relação a um determinado observador registram a
passagem do tempo mais lentamente.

Entretanto, esses efeitos somente são relevantes quando os corpos


estão se movimentando com velocidades próximas à da luz, que é
300.000 km/s (ou 1.080.000.000 km/h). No caso da velocidade de
rotação da Terra, esse efeito seria da ordem de 4 milésimos de
segundo por século, quando comparado com um relógio que
estivesse parado e distante relação à Terra.

Estamos perdendo tempo?

Mas o tempo realmente existe? Do ponto de vista da física, esse


conceito pode ser definido como o parâmetro que descreve a
mudança de um sistema a partir de um determinado estado, ou seja,
utilizamos relógios para medir o tempo, sejam mecânicos, eletrônicos
ou atômicos. Com a teoria da relatividade Einstein, os físicos
passaram a conceber o tempo como uma grandeza intimamente
relacionada com o espaço, de forma que não podemos nos referir a
um sem implicar o outro. A relatividade mostrou que o movimento e a
própria gravidade afetam a passagem do tempo.

Dessa forma, a sensação que temos de que o tempo está passando


mais rapidamente está relacionada com o estilo de vida que adotamos
e com a percepção que temos do mundo. Vivemos em um ambiente
saturado de informação em um grau sem precedentes na história da
humanidade – na internet, no rádio e na TV, nas ruas. Afogados nesse
turbilhão de informação, temos a impressão de que sobra menos
tempo para nós mesmos.

Entretanto, os relógios continuam marcando o tempo da mesma


forma: fisicamente, o tempo não está sendo alterado. Talvez a solução
para encontrarmos mais tempo para nós seja repensar um pouco os
rumos que a nossa sociedade tem tomado e o que de fato queremos
para nós. Esta é uma questão urgente: não há tempo a perder para
resolvê-la.

Adilson de Oliveira
Departamento de Física
Universidade Federal de São Carlos
20/06/2008

Fonte:
http://cienciahoje.uol.com.br/122254

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Viagem no tempo
20/11/2005

Para que 2100 não seja um pesadelo, outra revolução é


necessária, além da tecnológica: moral, e não material

Marcelo Gleiser,
é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover
(EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu"

Outro dia, durante uma entrevista, fizeram-me a seguinte pergunta:


"Marcelo, se você pudesse fazer uma viagem no tempo, para quando
escolheria ir?". Imagino que todo mundo já tenha se feito essa
pergunta. Afinal, viajar no tempo significa ter poder sobre nosso
destino, talvez poder compreender nosso passado, visitar pessoas
queridas que já se foram, fazer as perguntas que ficaram por fazer. Eu
costumava pensar que, se pudesse viajar no tempo, gostaria de voltar
ao passado, conhecer as origens da minha família na Ucrânia,
conversar com minha mãe, que morreu quando eu tinha seis anos.
Dessa vez, porém, minha resposta foi diferente. Se pudesse viajar no
tempo, gostaria de ir para o futuro. Mais precisamente, cem anos no
futuro, em torno de 2100, quando já estarei morto por algumas
décadas. (A menos, claro, que nos próximos 50 anos meus colegas
médicos desenvolvam curas e métodos que nos permitam chegar aos
150 anos com lucidez e dignidade.) Por algum motivo, talvez porque
tenha de certa forma resolvido alguns de meus problemas com o
passado, senti que seria mais relevante ir para a frente, que o
passado, bem ou mal, conhecemos um pouco, mas o futuro
permanece uma incógnita completa.

Certamente, parte de minha resposta é pessoal; hoje, preocupo-me


mais com meus filhos e seu futuro do que com o meu passado. Quero
conhecer meus bisnetos, ver que pessoas virão a ser. Contudo, não
foi em meus filhos ou bisnetos que pensei quando contemplei minha
resposta: foi no nosso destino coletivo, o futuro da humanidade.

Vejo a corrida nuclear se estendendo a nações pobres, controladas


por líderes radicais, motivados por preconceitos religiosos, cegos às
diferenças de fé, imunes ao conceito de liberdade de escolha. Vejo as
nações mais ricas explorando a mão-de-obra barata das nações mais
pobres, de modo a manter a qualidade de vida de seus cidadãos sem
qualquer preocupação com a dignidade daqueles que exploram. Vejo
a escassez dos combustíveis fósseis crescer, os preços aumentarem,
exacerbando as desigualdades sociais que hoje dividem o mundo.

Vejo o crescimento acelerado das tecnologias criando uma subclasse


social, aqueles que não têm acesso aos computadores de ponta, aos
produtos que disseminam informação e, conseqüentemente, poder.
Vejo a fome aumentando, a poluição causando os desequilíbrios
climáticos previstos por modelos de aquecimento global que hoje são
desprezados pelos políticos de países como os EUA. Vejo a hipocrisia
da liderança política corroendo a confiança da população. Vejo que,
moralmente, o homem é um animal primitivo.

Tudo isso vejo agora, com os olhos de quem vive em 2005. Por isso
gostaria de viajar até 2100, para que possa me surpreender com a
inventividade das pessoas, para provar que essa minha negatividade
toda é produto do nosso momento atual, que vai dar tudo certo, que
vamos conseguir sobreviver a nós mesmos. Se soubesse disso ficaria
em paz, acreditaria que o homem, finalmente, começou a evoluir
moralmente. Depositamos esperança demais nas tecnologias,
achamos que seremos capazes de resolver todos os problemas
através de soluções técnicas. Como cientista, é claro que apoio esse
esforço. É graças aos grandes avanços tecnológicos que temos luz
elétrica, telefones, antibióticos, vacinas, carros e aviões. Mas para que
2100 não seja o pesadelo que descrevi, outra revolução é necessária,
moral, e não material. Acredito que seja possível, mesmo se acusado
de ingenuidade. A alternativa é inaceitável.

Marcelo Gleiser, é professor de física teórica do Dartmouth College,


em Hanover (EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu"

Fonte:
Jornal Folha de São Paulo, Folha Mais! Página 9, Seção: Ciência,
Micro/Macro, 21 de novembro de 2005

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Livros recomendados::mg

“O fim da Terra e do Céu”, O apocalipse na Ciência e na Religião,


Marcelo Gleiser, 336 páginas, Editora Companhia das Letras, Rio de
Janeiro, 2002. www.companhiadasletrinhas.com.br/

“Cartas a um Joven Cientista”, O Universo, a vida e outras paixões,


Marcelo Gleiser, Rio de Janeiro, RJ, Editora Elsevier, 2007.

“Poeira das Estrelas”, De onde viemos? Para onde vamos?


Estamos sozinhos no Universo?, Marcelo Gleiser (Textos de apoio:
Frederico Neves), São Paulo, SP, Editora Globo, 2006.

“A Harmonia do Mundo”, Aventuras e desventuras de Johannes


Kepler, sua astronomia mística e a solução do mistério cósmico,
conforme reminiscências de seu mestre Michael Maestlin. Marcelo
Gleiser, São Paulo, SP, Editora Companhia das Letras, 2006.

“Micro Macro”, Marcelo Gleiser, Publifolha.

“Micro Macro 2”, Marcelo Gleiser, "Micro Macro 2" é uma reunião
das colunas de Marcelo Gleiser, publicadas no caderno "Mais!" da
Folha de S.Paulo de 2004 a 2007. Publifolha.

“O Livro do Cientista”, Col. Profissões. Marcelo Cipis / Marcelo


Gleiser, Companhia das Letrinhas.

“Mundos Invisíveis: da Aquimia à Física de Partículas”. Marcelo


Gleiser, 288 páginas. Editora Globo, 2008.
Depois do sucesso de Poeiras nas Estrelas, o físico Marcelo Gleiser
lança seu novo livro Mundos invisíveis: Da alquimia à física de
partículas, pela Editora Globo. Nesta obra, o autor analisa os
fenômenos físicos do micro para o macro, partindo das subpartículas
do átomo para desvendar o universo. Para explicar tudo isto, Gleiser
parte da simples pergunta: Do que tudo é feito?. Logo nas primeiras
páginas, o escritor nos apresenta a frase O essencial é invisível aos
olhos, de Antoine de Saint-Exupéry, sugerindo a idéia de que
geralmente não prestamos muita atenção naquilo que está ao nosso
redor.Posteriormente, ele explica ao leitor como a partir da simples
observação de um fenômeno natural, ou de algo que intrigava as
pessoas, foi possível chegar às principais descobertas do
conhecimento.Ao longo de dez capítulos, Gleiser, autor também de
um quadro no programa Fantástico, da Rede Globo, aborda os
principais questionamentos da ciência na história. A busca do elixir da
vida pelos alquimistas, os estudos sobre o cosmo, a eletricidade e o
magnetismo e a fascinante teoria da relatividade são alguns dos
temas abordados no livro.
Com exemplos e analogias simples, presentes no nosso cotidiano,
Gleiser explica as descobertas e experimentações de estudiosos
como Aristóteles, Isaac Newton e Albert Einstein, na busca de
desvendar um mundo invisível que determina a composição de tudo o
que existe na natureza. Além de fotos e ilustrações, que enriquecem
as teorias apresentadas, a obra também conta com textos de apoio,
escritos pelo jornalista Frederico Neves.Desde o pensamento de
Nicolau Copérnico, para quem o Sol, e não a Terra, era o centro do
cosmo, até o surgimento da bomba nuclear, na Segunda Guerra
Mundial, o autor propõe uma espécie de viagem no tempo para contar
a história dos mais antigos mestres da ciência e seus discípulos -
pessoas que foram capazes de trazer grandes descobertas para a
humanidade.O livro é essencial para todos aqueles que querem
conhecer os estudiosos que, movidos pela curiosidade e pelo seu
espírito criativo, foram corajosos o suficiente para desafiar todos os
conceitos de sua época e quebrar paradigmas.
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