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da
Antiscia & Contra-antiscia
Um dos primeiros astrólogos que nos deixou uma demonstração detalhada de antiscia na
prática foi o astrólogo romano Firmicus Maternus do 4º século, que dedicou várias páginas
para a descrição dos seus efeitos no segundo livro do seu Matheseos Libri VIII [1]. A
técnica e a filosofia é evidentemente muito mais antiga e há boas razões para acreditar
que foi introduzida numa fase muito anterior ao desenvolvimento do Zodíaco. Firmicus diz-
nos que é Grega em sua origem [2] e foi ensinada por Hipparchus no 2º século a.C. [3].
Referências às técnicas são encontradas nos textos astrológicos de Manilius, Ptolomeu,
Dorotheus [4], Antiochus, Palchus, Paulus Alexandrinus, e muitos outros.
A teoria subjacente à antiscia parece ter sido influenciada pela filosofia Pitagórica que
reivindicou que toda a força no universo tem uma contra força de equilíbrio, a qual
também coloca grande ênfase na importância simbólica dos números. Os Pitagóricos
consideraram o número dez, o Decad, como o mais importante e perfeito de todos os
números e as suas convicções eram que o universo consistia em dez esferas celestes.
Junto com os sete planetas visíveis, a Terra e a esfera das estrelas fixas, os Pitagóricos
mantiveram a presença de uma ‘contra Terra’, um oposto paradoxal que equilibrou os
movimentos da Terra e permaneceu invisivelmente localizado no lado oposto do Sol. Isto
era conhecido como o 'antiscion' de anti-cthon que significa ‘terra-oposta’.
O termo Grego 'scia' significa sombra [5]. Em alguma data desconhecida a filosofia de
‘sombras opostas’ ou ‘graus reflectivos’ estava incorporada na astrologia na convicção que
cada grau do Zodíaco tem o seu próprio contra grau, reflectindo a sua distância a partir do
eixo do solstício no lado oposto do mapa. O eixo do solstício vai de 0° de Caranguejo a 0°
de Capricórnio; assim, um planeta a 20° de Sagitário lançará o seu antiscion a 10° de
Capricórnio, ambos os planetas estando a uma distância igual a partir do ponto do
solstício do Sol a 0° de Capricórnio.
Reflexos das Antiscia: imagine que o mapa está dobrado na metade ao
longo do eixo do solstício – os planetas ligados pelas antiscia cairão um sobre
o outro. Por exemplo, 15° de Caranguejo terá seu grau contrário a 15° de
Gémeos; 3° de Touro o terá a 27° de Leão. Além das experiências comuns
destes graus acima descritos, o relacionamento de dois planetas conectados
desta forma recebem uma potência extra, pelo facto do seu ponto médio cair
sobre um grau do solstício.
Manilius descreve este esquema em Astronomica, onde declara que os signos que se
opõem um ao outro no eixo do solstício são capazes de se “verem” um ao outro – sua
terminologia derivou do facto de que ambos nascerão e se porão na mesma parte do
horizonte. Entretanto, a descrição de Manilius difere da de Firmicus, porque ele usa o meio
de Caranguejo e Capricórnio como seus pontos de referência, ligando o signo de Gémeos a
Leão, Touro a Virgem, Carneiro a Balança, Peixes a Escorpião e Aquário a Sagitário [6]. A
explicação óbvia para esta mudança de referência é que o uso das antiscia como uma
técnica astrológica tem uma história muito longa, tendo a sua origem no tempo em que os
15° de Carneiro marcava o Equinócio Vernal, e os graus do meio de Caranguejo e
Capricórnio correspondiam aos solstícios [7]. O esquema de Manilius é certamente o
mesmo de Firmicus, porque ambos criaram uma associação entre os períodos iguais do
nascer e pôr-do-sol. Manilius denomina-os de signos que se confrontam, e diz que eles
apreciam um ‘princípio de semelhança’ porque o dia é nivelado com a noite em cada um
[8].
O esquema como descrito por Manilius. Este eixo do solstício estava bastante
desactualizado na sua época, revelando que Manilius o retirou de fontes
muito mais antigas.
Ptolomeu também descreve este esquema, onde ele diz que ‘os signos que se contemplam
um ao outro’ são também signos de igual poder, desde que igualmente distantes dos
trópicos. Ele explica que eles se ‘contemplam’ mutuamente em parte porque eles nascem
e se põem na mesma parte do horizonte, e em parte porque:
“…quando o Sol entra em qualquer um deles, os dias são iguais aos dias, as noites às
noites, e a duração das suas próprias horas é a mesma.” [9]
Naturalmente, uma vez que os solstícios representam os pontos sobre a eclíptica onde o
Sol alcança a máxima declinação Norte (a 0° de Caranguejo) e Sul (a 0° de Capricórnio),
a sua declinação é paralela nos graus que são igualmente distantes em ambos os lados
(veja o diagrama abaixo).
Isto não significa, naturalmente, que dois planetas ligados entre si por um relacionamento
de antiscion irão partilhar o mesmo grau de declinação, como só o ciclo solar é restringido
à eclíptica não pode ter latitude. Contudo, alguns autores modernos têm admitido que
Ptolomeu estava descrevendo nesta passagem um relacionamento dependente de dois
planetas que têm o mesmo grau de declinação, e eles, dessa forma, usam o termo
‘antiscia’ para se referirem a isto. O que é bem diferente do conceito tradicional de
antiscia. Muitos têm sido influenciados pelo verbete ‘antiscion’ de Nicholas de Vore, em
sua Enciclopédia de Astrologia (1947), onde ele declara (incorrectamente) que o reflexo ao
longo do eixo do solstício é uma aplicação moderna, como a usada na ‘Astrologia
Uraniana’, mas que a definição original por Ptolomeu
“...é aplicada para dois planetas que têm a mesma declinação no mesmo lado do equador.
Um na mesma declinação no lado oposto era designado um contra antiscion.” [10]
Pode parecer que esta técnica caiu em descrédito na tradição posterior, mas de facto ela
nos dá as contra-antiscia, as quais Lilly nos diz para encontrarmos olhando simplesmente
para o ponto oposto ao antiscion. Isto é correcto porque o reflexo de um grau pelo eixo
equinocial encontra-se oposto àquele que reflecte ao longo do eixo tropical. O diagrama
abaixo demonstra isso.
As linhas verticais mostram os ‘signos que ouvem uns aos outros’, e inseri no
diagrama as posições da Lua e de Marte do exemplo de Firmicus, com as
suas antiscia (A) marcadas em azul, e as contra-antiscia (CA) marcadas em
vermelho. Note como as contra-antiscia, enquanto opostas às antiscia,
também caem directamente no relacionamento designado pela noção clássica
de signos ‘audentia’.
Em astrologia tradicional, a conjunção por latitude celestial (a qual ocorre quando dois
planetas estão no mesmo hemisfério e igualmente colocados a norte ou sul da eclíptica) é
importante; mas não fazia parte da técnica de antiscia, e não deveria ser confundida com
os modernos ‘paralelos de declinação’, que, ao contrário, são medidos a partir do equador.
Para os antigos astrólogos, a direcção e latitude de um planeta era muito significativa,
usada para revelar muito a respeito da força e fortaleza de um planeta. A melhor posição
planetária é estar no hemisfério norte, ascendendo em latitude; a pior no sul,
descendendo. Esta consideração é especialmente relevante para a Lua, que é mais
afortunada quando está no norte, ascendendo, e ao mesmo tempo aumentando em luz.
O antiscion nos dá, ao invés, uma noção de ‘semelhança’ [17] baseada na similaridade do
grau do Zodíaco, relacionando os tempos de ascensão e igualdade dos dias e noites. A
contra-antiscia é baseada em um reflexo inverso porque os dias de um são reflectidos
pelas noites do outro. Com o antiscion, um factor mais imediatamente equivalente está
envolvido; com o contra-antiscion é um princípio oposto, assim o relacionamento é mais
difícil, ou antipático. Estes princípios filosóficos concordam com as apreciações de William
Lilly:
“…e tal como há antiscia, as quais sendo de bons planetas consideramos iguais a sextis
ou trígonos, também há contra-antiscia, as quais consideramos como sendo da natureza
de uma quadratura ou oposição” [18].
Lilly não deixou nenhuma evidência do uso de aspectos de ou para as antiscia. Ou seja,
ele usa as antiscia onde elas caem directamente sobre um planeta ou cúspide de casa,
mas não onde elas caem sobre o trígono ou quadratura de um planeta ou cúspide, como
fez Firmicus. (Excepto a oposição, naturalmente, a qual revela o contra-antiscion).
A partir das referências que encontramos em Astrologia Cristã, podemos ver que ele
exigiu uma correspondência exacta ou uma orbe [19] muito próxima e tomou os contactos
das antiscia com planetas favoráveis como um apoio, mas contactos com planetas
impedidos como destrutivos, com os contactos de contra-antiscia a serem julgados menos
úteis. Por exemplo, a conjunção da Lua com o antiscion do Regente do Ascendente é um
factor promissor em assuntos de vida ou morte [20], mas a conjunção do regente do
ascendente com o antiscion do Regente da oitava casa favorece a morte [21], como faz a
conjunção do Sol com o antiscion de um planeta maligno [22].
[1]Firmicus Maternus, Matheseos Libri VIII, (‘Eight Books of the Mathesis or Theory of
Astrology’), 334 a.C., traduzido por Jean Rhys Bram, Noyes Press, 1975. Disponível
numa versão actualizada com observações e notas adicionais por David McCann, da
Ascella Publications, London.
[2] Matheseos, II. XXIX.II
[3] II. Praefatio.II: "Nosso Fronto, que publicou as regras para prognosticar pelas
estrelas, seguiu a teoria das antiscia de Hipparchus".
[4] É descrito por Dorotheus em seu quarto livro, onde ele se refere a contactos
planetários ‘através da revolução dos anos’, (o trânsito do Sol sobre os pontos do
solstício traz a mudança das estações). Dorotheus de Sidon, Carmen Astrologicum, trad.
David Pingree.
[5] Antiscia é plural; o singular é antiscion (grego) ou antiscium (latim).
[6]Manilius, Astronomica, Harvard Heinemann, (trad. G.P. Goold); Loeb Classical Library.
Intro. p.XLVI; 2,466-519.
[7]Referências ao ponto vernal a 15º de Carneiro está preservada nos escritos de Achilles
e Eudoxus. O ponto vernal cai próximo a 15º de Carneiro por volta de 800 a.C.; assim, é
a partir deste período que podemos presumir que o Zodíaco (12 signos igualmente
espaçados de 30°) começou a surgir como substituição para as constelações visíveis em
medição astronómica. Os diários astronómicos babilónicos, datados da metade do século
VI a.C., mostram que o Zodíaco estava a ser usado naquela época para o registo de
informações astronómicas, apesar de as constelações ainda serem referidas, havia uma
extensa sobreposição do uso dos signos zodiacais e das constelações visíveis antes do
Zodíaco estar igualmente definido e firmemente estabelecido. Para uma análise dos
vários pontos vernais veja Studies in the History of Mathematics and Physical Sciences,
Vol. I, por O. Neugebauer; p.593 ff.
[8] Manilius, 2.425-435.