Você está na página 1de 32

Memorial

do
Convento

Trabalho realizado por:


- Ana Lúcia Ferreira
- Mafalda Magro
- Diogo Sardinha
- Carlos Neto
- Dalton Souza
Introdução

A escrita de José Saramago caracteriza-se por possuir um estilo


que é bastante próprio e inconfundível.

Ao longo deste trabalho serão retratados a linguagem e o estilo


utilizados por José Saramago, os seus aspectos característicos
como a sua construção frásica, formas verbais, recursos
estilísticos, registo de língua, vocabulário, expressões e
provérbios populares, entre outros.
Iremos também desenvolver a relação que existe entre o narrador
e o autor, o narrador e narratário e o autor e leitor.

Estes aspectos por nós apresentados, são suportados por excertos


retirados da obra, que os exemplificam.
Comunismo

O comunismo é uma estrutura socioeconómica e uma ideologia


política utópica que pretenderia promover o estabelecimento de
uma sociedade igualitária, sem classes e apátrida, baseada na
propriedade comum e no controle dos meios de produção e da
propriedade em geral;

A apropriação pelo Estado das principais riquezas detidas


anteriormente pelas entidades privadas( produção de matérias-
primas, industria pesada, latifúndios, minas, banca entre outras) é
fundamental para atingir a socialização dos meios de produção.
Comunismo

O controlo das fábricas foram transferidos para os operários e todos


os estabelecimentos industriais de média e grande importância foram
nacionalizados pelo governo, sem lugar indemnizações aos
proprietários;

Como um movimento político, os regimes comunistas foram


governos historicamente autoritários e coercitivos envolvidos
principalmente com a preservação de seu próprio poder, sem
preocupação de fundo para o bem-estar do proletariado.
Comunismo

Como os pais não podiam pagar a escola, aos 13 ele estudou para
se tornar mecânico.

Trabalhou nas três décadas seguintes como serralheiro, numa


metalúrgica e numa agência de previdência, publicando seu primeiro
romance em 1947, sem sucesso.

No fim dos anos 60, José Saramago ingressa no Partido Comunista,
tornando-se vice-diretor do recém-nacionalizado Diário de Notícias
após a queda da ditadura fascista em Portugal, em 1974.
Comunismo
Grande parte da desconfiança dos intelectuais portugueses em
relação a Saramago vem desse período, pois ele supostamente
expurgou do jornal todos que se opunham ao Partido Comunista,
acusações que o escritor nega com veemência. Após ser demitido,
finalmente dedicou-se à literatura para sobreviver. Logrou mais que
isso.

O escritor afirma que o comunismo é um estado de espírito e


provoca afirmando que não adianta contestar os comunista,
afirmando que este foi um sistema cruel, mesmo porque muitos que
contestam o sistema são católicos ou cristãos, e mesmo com todas
as atrocidades cometidas por essas instituições continuam
acreditando – ”mesmo com alguns erros cometidos pelo sistema
ainda continuo fiel ao comunismo”.
Comunismo
“Sou um comunista hormonal, em meu corpo há hormonas que me
fazem crescer a barba e outros que me fizeram ser comunista.
Não quero me transformar em outra pessoa”.

“Assim é com o comunismo, falhou, mas não deixamos de


acreditar. Uma bela argumentação!!! Viva o comunismo!!!”
Narrador-Autor
▪ Da mesma forma que o ‘’Memorial do Convento’’ é uma obra
complexa, também o estatuto do narrador se reveste de uma
grande complexidade, pois neste, o autor e o narrador são entidade
distintas, o autor é aquele que escreve a obra, neste caso, o autor
é José Saramago e o narrador é quem narra a história;

▪ Deste modo, é frequentemente possível observar assistir-se à


fusão das vozes das instâncias da criação e de narração. O próprio
autor rejeita a omnipotência do narrador, pois não se trata de um
narrador que saiba tudo de todas as personagens e que esteja em
todos os lugares, mas sim um narrador que vai descobrindo a
própria história. E o próprio autor afirma: ‘’nos meus romances, há
pelo menos um homem dentro: Eu’’, ou seja, o autor sente-se
fazendo parte do desenrolar da história, vestindo a pele de várias
personagens
Narrador-Autor
▪ José Saramago defende igualmente que é o autor que conhece
o passado e o presente, daí que na obra haja muitas vezes um
plural de vozes, que tanto descreve como desmonta as situações,
que dialoga com o narratário ou manobra as personagens como se
fossem fantoches, que domina os acontecimentos da História ou se
sente limitado, ponderando ou ironizando;

▪O narrador/autor satiriza os métodos da Inquisição, a vaidade, a


ostentação e a ociosidade da nobreza e do clero, ridiculariza a
devassidão do clero e faz comentários depreciativos acerca do
próprio rei;
Narrador-Narratário (leitor)
▪ O narratário é uma personagem de ficção que não se confunde
com o leitor;
▪ O narrador apresenta uma pluralidade de vozes, assumindo um
papel critico e demonstrando a cumplicidade entre o narrador e o
narratário;
▪ José Saramago pretende pôr em confronto e em contacto o ser e
o tempo. Maria Alzira Seixo refere "...o que de menos se pode
acusar a obra de José Saramago é de que ela seja «passadista»,
pois nela justamente tem o passado uma função, diríamos
«brechtiana», de critica ao presente, e por isso é formada de
romances donde a contemporaneidade como preocupação e como
temática nunca anda ausente. Aliás ele consegue, de modo ímpar
na nossa actual ficção, que o seu discurso romanesco seja
atravessado pela História, produzindo um tipo de linguagem onde o
passado se contamina pelo presente crítico e perspectivante...".
Autor - leitor
▪Compreensão do mundo contemporâneo;
▪ Autor põe em causa o presente e o passado;
▪ Autor põe em causa a omnipotência do narrador:
“nos meus romances, há pelo menos um homem dentro: eu”

▪ Há uma mistura do autor empírico com o narrador, para melhor


envolver o leitor;

▪ Uso do aforismo e da profecia para levar o leitor a incorporar-se


no texto;

▪ O narrador torna-se o guia e a consciência do leitor;


Linguagem e estilo

Discurso
▪ A narrativa possui um ritmo fluente, maioritáriamente constituído por
frases bastante longas;

▪ São utilizados ditados populares e expressões que nos


demonstram uma sabedoria que é adquirida na vida quotidiana;

▪ As marcas de oralidade são, igualmente, utilizadas ao longo de toda a


obra.

▪ Esta obra possui um estilo muito próprio, dialogal e inconfundível;

▪ Muitas das passagens na obra remetem-nos para excertos com


elevada simbologia.

▪ Após a leitura da obra, é possível verificar que o autor “cria” um novo


discurso, proveniente da mistura dos discursos directo, indirecto e
indirecto livre, que, por vezes, torna difícil a sua diferenciação.
Linguagem e estilo

▪ As regras gramaticais do discurso são transgredidas, pois, os


textos são contínuos e têm diálogos neles inseridos.

“quantas vontades recolheste até hoje, Blimunda, perguntou o


padre nessa noite, quando ceavam, não menos de trinta, disse ela,
É pouco, e a mais são de homem ou de mulher, tornou a perguntar,
As mais são de homem.”

“Pontualmente escrevera o padre Bartolomeu Lourenço quando se


instalou em Coimbra, notícia só de ter chegado e bem, mas agora
viera uma nova carta, que sim, seguissem para Lisboa tão cedo
pudesse, que ele, aliviando o estudo, os iria visitar, tanto mais que
tinha obrigações eclesiásticas na corte, e então se aconselhariam
na obra magna em que estavam ocupados (…)”
Linguagem e estilo

Circularidade do discurso

“Com essa mão e esse gancho podes fazer tudo quanto quiseres
(…) e eu te digo que maneta é Deus, e fez o universo. (…) só eu te
digo que Deus não tem a mão esquerda, porque é a sua direita, à
sua mão direita, que se sentam os eleitos, não se
fala nunca da mão esquerda de Deus (…) e, levantando um pouco
os braços, disse, Se Deus é maneta e fez o universo, este homem
sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de voar”
Linguagem e estilo

▪ Existe uma alternância entre o discurso escrito e o discurso oral


onde, por vezes, está intercalado o monólogo interior.

“onde estás Blimunda, se não foste presa depois de mim, aqui hás-
de vir saber da tua mãe e eu te verei se no meio dessa multidão
estiveres, que só para te ver quero agora os olhos, a boca me
amordaçaram.”

“(...) não fales, Blimunda, olha só, olha com esses teus olhos que
tudo são capazes de ver, e aquele homem quem será, tão alto que
está perto de Blimunda e não sabe, ai não sabe não, quem é ele,
donde vem, que vai ser deles, poder meu, pelas roupas soldado,
pelo rosto castigado, pelo pulso cortado, adeus Blimunda que não
te verei mais (…)”
Linguagem e estilo

“De facto, José Saramago parece ter revertido ou radicado o


processo de escrita ao modo próprio da fala. Enquanto o discurso
escrito obedece a um conjunto de preceitos linguísticos segundo a
normatividade da língua, o discurso oral permite a libertação deste
modelo, deixando soltar a linguagem em improvisos sintácticos,
morfológicos, semânticos e até fonéticos, que exprimem a
vivacidade, a novidade e a originalidade da língua”

(in REAL, Miguel. Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em


Memorial do Convento de José Saramago. Caminho, Lisboa:
Janeiro de 1996
Linguagem e estilo

Pontuação
▪ O uso de vírgulas é o sinal gráfico que se sobrepõe a todos os outros,
substituindo a pontuação tradicional da escrita, e que vai marcar o ritmo e as
pausas necessárias do discurso.

É o próprio que diz “nós, quando falamos, não usamos sinais de pontuação.
É uma velha declaração minha: fala-se como se faz música, com sons e com
pausas; toda a música é feita de sons e pausas e toda a fala é feita de sons e
pausas”.

Nas passagens do discurso directo, o autor elimina o travessão, os dois


pontos as aspas e substitui o ponto de interrogação e outros sinais de
pontuação pela vírgula, o que acontece não só no discurso directo, mas
também no restante discurso, cabendo ao leitor esta “descodificação” de
sinais de pontuação: as exclamações e as interrogações são proferidas pelas
personagens (mas não são referidas pelo narrador) e o leitor deve ser capaz
de demarcar as suas manifestações e de descobrir a sua presença
Linguagem e estilo

“Daqui salienta-se a importância do emprego da vírgula que, sobrepondo-se


aos demais sinais de pontuação, separa as falas das personagens e ritmo do
texto, marcando as suas pausas mais ou menos longas. Também tem um
papel importante na aceleração do ritmo de leitura do texto, já que as
pausas definidas por vírgulas não serão nunca muito extensas e deixam
apenas tempo a leitor de acertar a sua respiração e preparar o fôlego.”
(Ana Margarida Ramos, Memorial do Convento, da leitura à análise, Edições
Asa)

Estas características peculiares tornam difícil identificar a quem pertencem as


vozes intervenientes, que comummente são interrompidas por comentários
do narrador.

"Perguntou el-rei, É verdade o que acaba de dizer-me sua eminência, que se


eu prometer levantar um convento em Mafra terei filhos, e o frade respondeu,
Verdade é, senhor, porém só se o convento for franciscano, e tornou el-rei,
Como sabeis, e frei António disse, Sei, não sei como vim a saber, eu sou
apenas a boca de que a verdade se serve para falar, a fé já não tem mais
que responder, construa vossa majestade o convento e terá brevemente
sucessão, não o construa e Deus decidirá."
Linguagem e estilo

Tempos verbais
▪ Utilização do Presente do Indicativo:
Normalmente, a utilização deste tempo verbal conduz o narratário para o
tempo da narrativa. Trata-se de uma marca do fluir constante do narrador
entre o passado e o presente.

“Quando chegou ao cais, era já sol-fora. Começara a vazante, o mestre da


barca gritava que ia largar para não tarda, Está a maré boa, quem embarca
para Lisboa (…)”

“Há aqui mais quem esteja dormindo, por essa razão não poderia falar, mas,
se acordado estivesse, talvez lho não consentissem, porque só tem doze
anos, pode a verdade estar na boca das crianças, mas para a dizerem têm
de crescer primeiro, e então passam a mentir, este é o filho que ficou, chega
à noite morto de dar serventia, andaime acima, andaime abaixo, acaba de
cear e adormece logo (…)”
Linguagem e estilo

▪ Utilização do Futuro do Indicativo:


É utilizado, por exemplo, nas profecias.

“ai o destino das flores, um. dia as meterão nos canos das espingardas” –
referência ao 25 de Abril de 1974.
“Também não se irão furtar vontades.”

▪ Utilização do Gerúndio:
Normalmente, o gerúndio é utilizado em situações em que existem acções a
decorrer, servindo como expressão de movimento ou sequencialização da
acção.

“Metem, quantas vezes forçadamente, estas mulheres em reclusão


conventual, aí ficas, por esta forma aliviando partições de heranças,
favorecendo o morgadio e outros irmãos varões, e, estando assim presas,
até o simples apertar de dedos à grade querem recusar-lhes, o clandestino
encontro, o suave contacto, a doce carícia, mesmo trazendo ela tantas vezes
consigo o inferno, abençoado seja.”
Linguagem e estilo

▪ Utilização do modo Imperativo:


Frequentemente, esta forma verbal encontra-se associada à ironia crítica.

“(…) vem com a infanta D. Maria Bárbara, mais o infante D. Pedro, este é
outro, com o mesmo nome do primeiro, frágeis mulheres, criança frágil,
expostas aos agravos do mau tempo, ainda dizem que o céu está com os
poderosos, vede, vede como é para todos a chuva quando cai.”

“Ah, gente pecadora, homens e mulheres (…) ajoelhai, ajoelhai, pecadores,


agora mesmo vos devíeis capar para não fornicardes mais (…) porém, eis-
me em pessoa, e também em pessoa os infantes meus manos e senhores
vossos, ajoelhai, ajoelhai lá, porque vai passando a custódia e eu vou
passando (…)”
Linguagem e estilo

Recursos estilísticos

▪ Adjectivação expressiva
“a tripa empedernida” ; “lama aguada e pegajosa”.
▪ Adjectivação múltipla
“aqui vou blasfema, herética, temerária, amordaçada”.
▪ Dupla adjectivação
“mãozinha suada e fria” ; “a boca (…) pequena e espremida”
“correm águas abundantes e dulcíssimas para o futuro pomar e horta…”
▪ Polissíndeto
“Isto que aqui vês são as velhas que servem para cortar o vento e que se
movem segundo as necessidades, e aqui é o leme com que se dirigirá a
barca (…) e este é o corpo do navio dos ares (…)”
Linguagem e estilo

▪ Eufemismo:
“que ele próprio poderá amanhã fechar os olhos para todo o sempre”
▪ Comparação:
“O sol está pousado no horizonte do mar, como uma laranja na palma da
mão” ;
“passadas as roupas de mão em mão tão reverentemente como relíquias de
santos que tivessem trespassado donzelas”
▪ Metáfora:
"O cântaro está à espera da fonte."
“Mas esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para
um lado e de escasso para o outro (…)”
▪ Hipérbole:
“é um mar de gente de um e outro lado, portugueses de cá, espanhóis de lá.”
▪ Gradação:
“O homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre, e um dia voará…”
Linguagem e estilo

▪ Anáfora ou repetição anafórica


“ (…) agora vai à casa do noviciado da companhia de Jesus, agora à igreja
paroquial de S. Paulo, agora faz a novena de S. Francisco Xavier, agora
visita a imagem de Nossa Senhora das Necessidades…”
▪ Quiasmo
“todos têm uma parte de ciência e outra de mando, a ciência por causa do
mando, o mando por causa da ciência”
▪ Enumeração
“Está o penitente diante da janela da amada, em baixo na rua, e ela olha-o
dominante, talvez acompanhada de mãe ou prima, ou aia, ou tolerante avó,
ou tia assadíssima”
▪ Antítese
“Via-se o castelo lá no alto, as torres das igrejas dominando a confusão das
casas baixas.”
“A obra é longa, a vida é curta”
Linguagem e estilo

▪ Onomatopeia
“truca-truca, truca-truca, com o cinzel e a maceta.”

▪ Sarcasmo:
"Porém, esta religião é de oratório mimoso, com anjos carnudos e santos
arrebatados, e muitas agitações de túnica, roliços braços, coxas adivinhadas,
peitos que arredondam, revirações dos olhos, tanto está sofrendo quem goza
como está gozando quem sofre, por isso é que não vão os caminhos dar
todos a Roma, mas ao corpo."
▪ Ironia:
A ironia é um dos recursos estilísticos que José Saramago privilegia.

"(...) com o que pretende sua majestade pôr cobro ao escândalo de que são
causa os freiráticos, nobres e não nobres, que frequentam as esposas do
Senhor e as deixam grávidas no tempo de uma ave-maria, que o faça D.
João V, só lhe fica bem, mas não um joão-qualquer ou um josé-ninguém."
Linguagem e estilo

Vocabulário
▪ Arcaísmos
“devia ser ledice”
▪ Diminutivos
“o bispo vai fazendo sinaizinhos na cruz” ; “fitinhas de cores”
“povinho derramado em pavores e súplicas”
▪ Expressões latinas
“Te Deum Iaudamus”
▪ Utilização de advérbios de modo
“secretamente”; “estrepitosamente”; “vigorosamente”; “naturalmente”;
“reverentemente”; “dramaticamente”
▪ Mistura deliberada de conotação com denotação
“O desacato ainda estava fresco, se assim se pode, pois as correntes de
onde tinham estado suspensas as roubadas lâmpadas oscilavam
devagarinho, dizendo, em linguagem de arame, Foi por pouco, foi por pouco.”
Linguagem e estilo

Registo de língua
▪ Popular
“de boca à banda”
“(…) E vossemessê, que idade tem; e Baltasar respondeu, Vinte e seis nos.”
▪ Calão
"Queres tu dizer na tua que a merda é dinheiro, Não, majestade, é o dinheiro
que é merda"
“(…) tanto como a merda e o mijo em que viviam.”
▪ Familiar
"correram o reino de ponta a ponta e não os apanharam"
“Meu querido filho, como foi isso, quem te fez isto..."
▪ Cuidado
"não havendo portanto mediano termo entre a papada pletórica e o pescoço
engelhado, entre o nariz rubicundo e o outro héctico"
"Tirando as expressões enfáticas esta mesma ordem já fora dada antes (...)"
Linguagem e estilo

▪ Vocabulário litúrgico-clerical
“quem eram aqueles, não vi, não reparei, frades eram, terceiros de S.
Francisco de Jesus, capuchinhos, religiosos de S. João de Deus,
franciscanos, carmelitas, dominicanos, cistercienses, jesuítas de S. Roque e
Santo Antão, com tantos nomes e cores (…) as cruzes douradas, as mangas
de bofes, os lenços brancos, as casacas 19 compridas, as meias altas, os
sapatos de fivela, os tufos, as toucas, as saias rodadas, os mantos de
fantasia, as golas de renda.”

▪ Importância dos numerais no rigor de pormenor


“com esta colunata de sessenta e uma colunas e catorze pilares, que não
têm menos de oito metros de altura, e em extensão excede o arranjo dos
seiscentos metros.”
Linguagem e estilo

Expressões e provérbios populares

► "Pela casca não se conhece o fruto, se lhe não tivermos metido o dente"

► "Se o pão fosse comido pelos que o semeiam, o mundo seria outro"

► "O mundo de cada um é os olhos que tem."

► “olho vê, mão pilha”

► “ainda agora a procissão vai na praça”


Linguagem e estilo

Jogos de palavras e trocadilhos


► “Já sabemos que destes dois se amam as almas, os corpos e as
vontades, porém, estando deitados, assistem as vontades e as almas
ao gosto dos corpos, ou talvez ainda se agarrem mais a eles para
tomarem parte no gosto, difícil é saber que parte há em cada parte,
se está perdendo ou ganhando a alma quando Blimunda levanta as
saias e Baltasar deslaça as bragas, se está a vontade ganhando ou
perdendo quando ambos suspiram e gemem, se ficou o corpo
vencedor ou vencido quando Baltasar descansa em Blimunda e ela o
descansa a ele, ambos se descansando.”

► “o capelão leva a cauda quando a cauda tem de ser levada.”


Linguagem e estilo

Marcas de oralidade
O narrador parece discursar oralmente, como se estivesse a falar para um
auditório.
► “Imagine, pois, quem lá não esteve, as galas do extensíssimo cortejo, os
frisões de crinas entrançadas puxando os coches (…)”

► “(…) cada qual sabe de si, Deus saberá de todos”

► “(…) e foi caso que certo clérigo, costumeiro de andar por casas de
mulheres de
bem fazer (…)”

► “Lá no alto, o mestre da manobra vai dar a voz, um grito que começa
arrastado e depois acaba secamente como um tiro de pólvora, sem ecos,
Êeeeeeiii-ô, se os bois puxarem mais de um lado que do outro, estamos mal
aviados, Êeeeeeiii-ô, agora saiu o
grito (…)”
Conclusão

No decorrer deste trabalho, foi possível verificar que José


Saramago apresenta um estilo e uma linguagem que se
desenvolve fora dos modelos convencionais.

As características da escrita de José Saramago originam um


discurso que é próximo da oralidade e é também espontâneo,
estabelecendo-se uma relação entre o narrador e o leitor.

Este escritor originou uma nova forma de utilizar a pontuação,


recorrendo a marcas características do discurso oral, construindo
efeitos irónicos, sarcásticos e humorísticos.

Você também pode gostar