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do
Convento
Como os pais não podiam pagar a escola, aos 13 ele estudou para
se tornar mecânico.
No fim dos anos 60, José Saramago ingressa no Partido Comunista,
tornando-se vice-diretor do recém-nacionalizado Diário de Notícias
após a queda da ditadura fascista em Portugal, em 1974.
Comunismo
Grande parte da desconfiança dos intelectuais portugueses em
relação a Saramago vem desse período, pois ele supostamente
expurgou do jornal todos que se opunham ao Partido Comunista,
acusações que o escritor nega com veemência. Após ser demitido,
finalmente dedicou-se à literatura para sobreviver. Logrou mais que
isso.
Discurso
▪ A narrativa possui um ritmo fluente, maioritáriamente constituído por
frases bastante longas;
Circularidade do discurso
“Com essa mão e esse gancho podes fazer tudo quanto quiseres
(…) e eu te digo que maneta é Deus, e fez o universo. (…) só eu te
digo que Deus não tem a mão esquerda, porque é a sua direita, à
sua mão direita, que se sentam os eleitos, não se
fala nunca da mão esquerda de Deus (…) e, levantando um pouco
os braços, disse, Se Deus é maneta e fez o universo, este homem
sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de voar”
Linguagem e estilo
“onde estás Blimunda, se não foste presa depois de mim, aqui hás-
de vir saber da tua mãe e eu te verei se no meio dessa multidão
estiveres, que só para te ver quero agora os olhos, a boca me
amordaçaram.”
“(...) não fales, Blimunda, olha só, olha com esses teus olhos que
tudo são capazes de ver, e aquele homem quem será, tão alto que
está perto de Blimunda e não sabe, ai não sabe não, quem é ele,
donde vem, que vai ser deles, poder meu, pelas roupas soldado,
pelo rosto castigado, pelo pulso cortado, adeus Blimunda que não
te verei mais (…)”
Linguagem e estilo
Pontuação
▪ O uso de vírgulas é o sinal gráfico que se sobrepõe a todos os outros,
substituindo a pontuação tradicional da escrita, e que vai marcar o ritmo e as
pausas necessárias do discurso.
É o próprio que diz “nós, quando falamos, não usamos sinais de pontuação.
É uma velha declaração minha: fala-se como se faz música, com sons e com
pausas; toda a música é feita de sons e pausas e toda a fala é feita de sons e
pausas”.
Tempos verbais
▪ Utilização do Presente do Indicativo:
Normalmente, a utilização deste tempo verbal conduz o narratário para o
tempo da narrativa. Trata-se de uma marca do fluir constante do narrador
entre o passado e o presente.
“Há aqui mais quem esteja dormindo, por essa razão não poderia falar, mas,
se acordado estivesse, talvez lho não consentissem, porque só tem doze
anos, pode a verdade estar na boca das crianças, mas para a dizerem têm
de crescer primeiro, e então passam a mentir, este é o filho que ficou, chega
à noite morto de dar serventia, andaime acima, andaime abaixo, acaba de
cear e adormece logo (…)”
Linguagem e estilo
“ai o destino das flores, um. dia as meterão nos canos das espingardas” –
referência ao 25 de Abril de 1974.
“Também não se irão furtar vontades.”
▪ Utilização do Gerúndio:
Normalmente, o gerúndio é utilizado em situações em que existem acções a
decorrer, servindo como expressão de movimento ou sequencialização da
acção.
“(…) vem com a infanta D. Maria Bárbara, mais o infante D. Pedro, este é
outro, com o mesmo nome do primeiro, frágeis mulheres, criança frágil,
expostas aos agravos do mau tempo, ainda dizem que o céu está com os
poderosos, vede, vede como é para todos a chuva quando cai.”
Recursos estilísticos
▪ Adjectivação expressiva
“a tripa empedernida” ; “lama aguada e pegajosa”.
▪ Adjectivação múltipla
“aqui vou blasfema, herética, temerária, amordaçada”.
▪ Dupla adjectivação
“mãozinha suada e fria” ; “a boca (…) pequena e espremida”
“correm águas abundantes e dulcíssimas para o futuro pomar e horta…”
▪ Polissíndeto
“Isto que aqui vês são as velhas que servem para cortar o vento e que se
movem segundo as necessidades, e aqui é o leme com que se dirigirá a
barca (…) e este é o corpo do navio dos ares (…)”
Linguagem e estilo
▪ Eufemismo:
“que ele próprio poderá amanhã fechar os olhos para todo o sempre”
▪ Comparação:
“O sol está pousado no horizonte do mar, como uma laranja na palma da
mão” ;
“passadas as roupas de mão em mão tão reverentemente como relíquias de
santos que tivessem trespassado donzelas”
▪ Metáfora:
"O cântaro está à espera da fonte."
“Mas esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para
um lado e de escasso para o outro (…)”
▪ Hipérbole:
“é um mar de gente de um e outro lado, portugueses de cá, espanhóis de lá.”
▪ Gradação:
“O homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre, e um dia voará…”
Linguagem e estilo
▪ Onomatopeia
“truca-truca, truca-truca, com o cinzel e a maceta.”
▪ Sarcasmo:
"Porém, esta religião é de oratório mimoso, com anjos carnudos e santos
arrebatados, e muitas agitações de túnica, roliços braços, coxas adivinhadas,
peitos que arredondam, revirações dos olhos, tanto está sofrendo quem goza
como está gozando quem sofre, por isso é que não vão os caminhos dar
todos a Roma, mas ao corpo."
▪ Ironia:
A ironia é um dos recursos estilísticos que José Saramago privilegia.
"(...) com o que pretende sua majestade pôr cobro ao escândalo de que são
causa os freiráticos, nobres e não nobres, que frequentam as esposas do
Senhor e as deixam grávidas no tempo de uma ave-maria, que o faça D.
João V, só lhe fica bem, mas não um joão-qualquer ou um josé-ninguém."
Linguagem e estilo
Vocabulário
▪ Arcaísmos
“devia ser ledice”
▪ Diminutivos
“o bispo vai fazendo sinaizinhos na cruz” ; “fitinhas de cores”
“povinho derramado em pavores e súplicas”
▪ Expressões latinas
“Te Deum Iaudamus”
▪ Utilização de advérbios de modo
“secretamente”; “estrepitosamente”; “vigorosamente”; “naturalmente”;
“reverentemente”; “dramaticamente”
▪ Mistura deliberada de conotação com denotação
“O desacato ainda estava fresco, se assim se pode, pois as correntes de
onde tinham estado suspensas as roubadas lâmpadas oscilavam
devagarinho, dizendo, em linguagem de arame, Foi por pouco, foi por pouco.”
Linguagem e estilo
Registo de língua
▪ Popular
“de boca à banda”
“(…) E vossemessê, que idade tem; e Baltasar respondeu, Vinte e seis nos.”
▪ Calão
"Queres tu dizer na tua que a merda é dinheiro, Não, majestade, é o dinheiro
que é merda"
“(…) tanto como a merda e o mijo em que viviam.”
▪ Familiar
"correram o reino de ponta a ponta e não os apanharam"
“Meu querido filho, como foi isso, quem te fez isto..."
▪ Cuidado
"não havendo portanto mediano termo entre a papada pletórica e o pescoço
engelhado, entre o nariz rubicundo e o outro héctico"
"Tirando as expressões enfáticas esta mesma ordem já fora dada antes (...)"
Linguagem e estilo
▪ Vocabulário litúrgico-clerical
“quem eram aqueles, não vi, não reparei, frades eram, terceiros de S.
Francisco de Jesus, capuchinhos, religiosos de S. João de Deus,
franciscanos, carmelitas, dominicanos, cistercienses, jesuítas de S. Roque e
Santo Antão, com tantos nomes e cores (…) as cruzes douradas, as mangas
de bofes, os lenços brancos, as casacas 19 compridas, as meias altas, os
sapatos de fivela, os tufos, as toucas, as saias rodadas, os mantos de
fantasia, as golas de renda.”
► "Pela casca não se conhece o fruto, se lhe não tivermos metido o dente"
► "Se o pão fosse comido pelos que o semeiam, o mundo seria outro"
Marcas de oralidade
O narrador parece discursar oralmente, como se estivesse a falar para um
auditório.
► “Imagine, pois, quem lá não esteve, as galas do extensíssimo cortejo, os
frisões de crinas entrançadas puxando os coches (…)”
► “(…) e foi caso que certo clérigo, costumeiro de andar por casas de
mulheres de
bem fazer (…)”
► “Lá no alto, o mestre da manobra vai dar a voz, um grito que começa
arrastado e depois acaba secamente como um tiro de pólvora, sem ecos,
Êeeeeeiii-ô, se os bois puxarem mais de um lado que do outro, estamos mal
aviados, Êeeeeeiii-ô, agora saiu o
grito (…)”
Conclusão