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5ª Semana de Engenharia e

Tecnologia
Patologias Estruturais: Falhas de projeto e/ou Execução
Eng. Civil Celio Ribeiro da Silva
E-mail: celio@otr.com.br

Apoio:
Contextualização histórica
 Conhecimento empírico – Mestres
construtores – Artistas – Engenheiros
práticos;
 Construções robustas, geralmente de
blocos de rocha;
 Demorava-se décadas para executar
uma obra;
 Sem métodos de prospecção do
subsolo;
 1418 - Filippo Brunelleschi usa anéis de
ferro na cúpula da catedral de
Florença.
 1855 – Barco de Lambot
 1877 - Thaddeus Hyatt decifra a relação
ferro/concreto.
 1908 – primeira obra feita com concreto
armado no Brasil (ponte com 9,0m no
RJ)
Torre de pizza – fonte: Cencil
turismo
Adoção de normas para projeto de
estruturas no Brasil
NB-1 Cálculo e execução 1980 – NBR 6118 Rev. NBR 6118/14
de concreto armado
Revisão da NB-1 Rev. NBR 6118/03
NORMA DA
ABCP

1937 1940 1960 1978 2003 2014

1958-19960 2008 Padrão


Brasília 1990 LEI 8.078 internacional
Patologia
 O termo Patologia, de origem grega (páthos, doença, e lógos, estudo), é
amplamente utilizado nas diversas áreas da ciência, com denominações
do objeto de estudo que variam de acordo com o ramo de atividade.
 Na medicina a patologia envolve tanto a ciência básica quanto a prática
clínica, e é voltada ao estudo das alterações estruturais e funcionais das
células, dos tecidos e dos órgãos que estão ou podem estar sujeitos a
doenças modificadoras do sistema. Todas as doenças têm causa (ou
causas) que age(m) por determinados mecanismos, os quais produzem
alterações morfológicas e/ou moleculares nos tecidos, que resultam em
alterações funcionais do organismo ou parte dele, produzindo sintomas.
 Foi exatamente este panorama vindo da medicina que inspirou
engenheiros civis a passarem a usar termos da medicina na engenharia
civil, sendo atualmente muitos deles já consagrados e usados inclusive em
livros adotados nos cursos de graduação em engenharia civil em todo o
mundo.
Onde está o erro?
Quanto custa corrigir?
Casos emblemáticos de falhas devido
à erros de projeto ou execução
 Pavilhão Gameleira, BH 1971, Maior acidente da
construção civil no Brasil;
 Projeto de Oscar Niemeyer;
 Calculo estrutural de Joaquim Cardoso (calculista das
obras de Brasilia);
 Governador de Minas à época, Eng. Isrrael Pinheiro;
 65 Operários morreram;
 50 Ficaram feridos.
Pavilhão Gameleira - BH
Pavilhão Gameleira - BH

“Constatou-se nos topos dos pilares P4-5-9-10 que apoiavam as vigas V103 e
V203 que ruíram, grande concentração de barras grossas, a nosso ver, causa
principal do acidente. Materiais que não tinham condições de um trabalho
conjunto, premissa fundamental para funcionamento como “concreto armado”.
As barras de ligação simplesmente escorregaram sobre o concreto da viga e
voltaram um pouco por recuperação elástica. Nota-se que apenas numa barra
um torrão de concreto permaneceu aderente ao aço.”
Pavilhão Gameleira - BH

“Vista do pilar P5 após o desabamento. Note-se a quantidade de barras da


viga V103 que atravessavam o apoio entre os ferros de ligação escondidos no
concreto que sobrou da viga. A inclinação sofrida pelo pilar é prova do enorme
esforço horizontal.”
Pavilhão Gameleira - BH

“Basta pensar que o abaixamento de temperatura a partir da temperatura


sob a qual se processou o endurecimento do concreto até a temperatura
ambiente de uma noite fria pode atingir facilmente 20 °C. A esta variação
corresponde uma deformação imposta de 0,20 mm/m que, em 65 m acarreta
um deslocamento global de 13 mm. A força horizontal que corresponde a este
efeito é imensa.” (960 tf)

“Esse concreto ao arrastar a viga sobre o apoio produziu nos ferros de ligação
com o pilar o efeito de corte puro. Pela quantidade, as 100 barras seriam
suficientes para resistir a este esforço e isto foi o mal! Se as barras tivessem
cisalhado antes do concreto romper, haveria apenas um deslocamento da viga
sobre o apoio.”
Pavilhão Gameleira - BH

DEFEITO DO PROJETO

“O exame do projeto mostrou uma série muito grande de falhas de


detalhamento e de disposições construtivas que não contribuíram de maneira
significativa para provocar a ruína. Por isso deixam de ser aqui mencionadas. Não
se pode, entretanto deixar de mencionar que a armadura de flexão efetivamente
colocada era o dobro da exigida pelo cálculo. Isto ocorreu porque a empresa
construtora tendo solicitado a mudança da armadura de aço CA-25, como havia
sido inicialmente projetada à estrutura, para aço CA-50, assim o fez sem que a
projetista tivesse modificado as quantidades.”
Pavilhão Gameleira - BH

“Se não tivesse sido colocada nenhuma barra de ligação entre super e meso
estrutura, como se costuma fazer nas pontes, com previsão de apenas um aparelho
de apoio de elastômero cintado, provavelmente nada teria acontecido na ocasião
do descimbramento. Poderia, entretanto acontecer mais tarde, com a estrutura em
serviço.”

Foi largamente divulgado pela imprensa da época a pressão do então


governador também engenheiro Israel Pinheiro para que a obra fosse entregue
antes do término de seu mandato, o que segundo os técnicos contribuiu
significativamente para o acidente, já que os operários e engenheiros não tinham
tempo suficiente para observar os sinais da estrutura.
Pavilhão Gameleira - BH

O autor do projeto estrutural, calculista Joaquim cardoso foi absolvido no


processo, no entanto, bastante abalado com o caso, abandonou a profissão,
vindo a falecer 7 anos depois.
As conclusões técnicas sobre o colapso da estrutura é que o concreto não
atingiu o tempo de cura necessário para que o escoramento pudesse ser
retirado e que a resistência não seguiu os parâmetros definidos pelo engenheiro-
calculista. Também aconteceram falhas no processo de destacamento das
escoras. É o que consta nos laudos periciais usados pela Justiça de Minas Gerais
para emitir a sentença em 2006 – 35 anos depois do acidente.
A NB-01, conhecida como a norma-mãe do concreto e hoje identificada
como ABNT NBR 6118 – Projeto de Estruturas de Concreto foi revisada em 1978,
passando a exigir verificações quanto a dilatação térmica e taxas de armaduras
entre outras.
Viaduto Guararapes – BH, 2014

Concepção artística do viaduto – construtora (CONSOL, 2014)


Viaduto batalha dos Guararapes

Esquema estrutural da alça sul do viaduto


Viaduto batalha dos Guararapes

Furos na laje superior não previstos em projeto

Fonte: R7.com

Fonte: G1.com
Viaduto batalha dos Guararapes

Como seria a ruptura caso o pilar P3 tivesse afundado primeiro, causando


a ruina da estrutura
Viaduto batalha dos Guararapes

Como seria a ruptura caso o pilar P3 tivesse afundado primeiro, causando


a ruina da estrutura

PILAR P3AFUNDADO

Região do tabuleiro sobre o P3, intacta


Região lateral do tabuleiro sobre o P3, intacta
Viaduto batalha dos Guararapes

Ruptura por compressão da mesa superior do tabuleiro entre os pilares P3 e P4,


furos reduzirão a área de concreto que não suportou as tensões.
Viaduto batalha dos Guararapes

Ruptura por compressão da mesa superior do tabuleiro entre os pilares P3 e P4,


furos reduzirão a área de concreto que não suportou as tensões.

Interior do tabuleiro – ver furo de grande


dimensão na mesa superior – foto antes do
desabamento.
Após o desabamento é possível observar a mesma
escada justo no local da ruptura da mesa
Viaduto batalha dos Guararapes

A Ruptura da mesa superior entre P3 e P4 flexiona todo o tabuleiro erguendo-o no


apoio P4 em consequência concentrando toda a carga em P3, que já estava
com as fundações subdimensionadas.
Viaduto batalha dos Guararapes
Viaduto batalha dos Guararapes

INCONFORMIDADES ENCONTRADAS NA OBRA

 Abertura de 42 furos na mesa superior do tabuleiro sem estarem previstas no


projeto;
 Mudança dos aparelhos de apoio;
 Ausência de cunhas para nivelamento dos aparelhos de apoio;
 Mudança do sistema de pretensão;
 Construção de paredes internas ao tabuleiros que não foram previstas no
projeto;
 Aplicação da proteção e retirada do escoramento sem o fechamento dos
furos;
 Falta de equipe de apoio e fiscalização para controle e execução de ensaios;
 Bainhas de pretensão não foram injetadas antes da remoção do escoramento;
 Retirada das escoras coordenada por um eng.º Agrônomo.
Edifício escolar, Goianésia - 2017
Faculdade com 4.332,00 m², edifício térreo com 152,00m de comprimento
Patologia: Recalque de Fundações
Tipo de fundação: Bloco sobre estacas.
Edifício escolar

Detalhes da fundação extraídos do projeto original


Edifício escolar

A estrutura da obra como encontrada na visita técnica.

Vista lateral

Vista do pórtico de entrada principal


Edifício escolar

Visão geral da estrutura.


Edifício escolar

Fundações apresentando patologia – recalques diferenciais graves.

Aterro executado h. aprox. 5,50m


apresentando recalque
Edifício escolar

Fundações apresentando patologia – recalques diferenciais graves.

Trincas nas vigas baldrames, rompimento


completo nos pilares.
Edifício escolar

Erros e falhas de concretagem

Juntas frias, vigas baldrames concretadas


separadamente dos pilares.
Edifício escolar

Erros e falhas de concretagem

Vigas superiores rompidas na ligação com os pilares – causa: concretagem separada.


Edifício escolar

Erros e falhas de concretagem

Vigas intermediária não executada.

Ferragem de espera (cabelo) das vigas divergente do projeto.


Edifício escolar

Solução de reforço proposta

Uma viga de transição que envolva o conjunto


pilar viga baldrame, recebendo os esforço e
transmitindo-os para as novas estacas escavadas
na diagonal, com profundidade de 5,00m
medidos após a camada de aterro.
Parque de vizinhança Faiçalville, 2015
Cobertura em concreto
armado em balanço
com 9,50m de largura
sustentada por 4 pilares
centrais, desabou em
nov. 2015, sem vitimas.
Parque de vizinhança Faiçalville

A obra como construída

Ao lado a estrutura que caiu, note que o pilar


é circular Ø 30cm posteriormente revestidos
com ACM para ocultar tubulação pluvial.
Parque de vizinhança Faiçalville

Ilustração de como ocorreu o colapso da estrutura.

Os pilares muito esbeltos não


suportaram as solicitações de flexão e
colapsou próximo ao piso, tombando a
estrutura sobre as edificações que
resistiram ao esforço da cobertura e a
mesma tombou em sentido contrário
esmagando por completo os 4 pilares.
Parque de vizinhança Faiçalville

Detalhe dos pilares circulares

A seção circular para pilares


deve ser usada com cuidado
pois a disposição das armaduras
compromete a resistência aos
esforços de tração, uma vez que
uma barra sempre vai estar mais
distante da linha neutra (D), por
isso a mesma será sempre mais
tracionada que as demais
considerando o esforço atuando
perpendicularmente à
superfície.
Parque de vizinhança Faiçalville

A estrutura tombada sobre as edificações.


Parque de vizinhança Faiçalville

A estrutura tombada sobre as edificações.

O projeto foi revisto e recalculado,


adotando-se um pilar em formato de X
mais robusto, a obra foi reconstruída e o
padrão replicado nos demais parques.

Estrutura idêntica a que desabou, construída no PV-02, setor Rio Formoso


Curriculum

Celio Ribeiro da Silva


Eng. Civil: CREA 1009730428D-GO
Graduado no Uni-Anhanguera, 2017 – turma 001
Perito em Avaliações de imóveis urbanos – INEEA, 2018.
Associado IBAPE-GO, 2018.
Pós graduando em Eng. De Seg. Prev. e combate a incêndio e Pânico. UCAM, 2018/2.
Gestor Ambiental, Estacio, 2018.
Técnico em eletrotécnica.
Sócio diretor CRC Projetos Ltda.
Sócio Proprietário OTR Engenharia Ltda.
Contatos:
Celio@otr.com.br
Instagran: otrengenharia
Tel. (62) 98406-4796 (wattsapp)
“Dai-me um ponto de apoio fixo e levantarei o mundo.”
(Arquimedes)

Obrigado a todos.

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