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DOENÇAS FALCIFORMES

Juan Felipe Castillo Schrul


Clinica Medica
Santa Casa de Franca
“De todas as
formas de
desigualdade, a
injustiça em
saúde é a mais
cruel e
desumana.”

Martin Luther King Jr.


Introdução
• Definição: Hemoglobinopatia hereditária onde
uma cadeia anormal de hemoglobina é produzida
(Hb S), devido a substituição de um único
aminoácido da cadeia  da hemoglobina. É
caracterizada pela hemólise acelerada e pela
presença de hemácias em foice, que ocorre em
condições de baixa tensão de oxigênio.
Introdução

• Homozigotos afetados (SS)  Anemia Falciforme


(anemia grave)

• Heterozigotos (AS)  Traço (Caráter) Falciforme


(normalmente assintomáticos)
Epidemiologia
• Gene mutante originário da população
negra da África. Ocidental.

• Distribuição e impacto do gene  S:


• malária
• transmissão pelo comércio de escravos.
Epidemiologia
• Distribuição:
• África, Oriente Médio, Mediterrâneo e Índia;

• Caribe, América do Norte e sul, Norte da


Europa.
Epidemiologia
• A prevalência de portadores é de 20-40 %
entre os africanos tropicais e de 8-10% nos
afro-caribenhos e afro-americanos.

• No Brasil alguns estudos encontraram


prevalência de 4-5% de recém-nascidos
com traço falciforme (Bragança Paulista).
FREQÜÊNCIA DA DOENÇA FALCIFORME NO PAÍS

1:1400
São Paulo 1:4000 1:1400
Pernambuco 1:1400
1:650
Rio de Janeiro 1:1200
Bahia- 1:650 1:1200

1:4000 1:1200

Salvador tem a mesma incidência da Bahia.


São cerca de 65 bebês com a doença
nascidos a cada ano na cidade.
Freqüência do traço falciforme no Brasil

PAÍS NEGRO
5O MAIOR PAÍS 1:23 1.9%
DO MUNDO
1:23
POPULAÇÃO
1:17
189 MILHÕES Salvador
0.2%

200.000 casos de traço ao/ANO 1:23


MG
1.8% 1:21
RJ

•Salvador maior incidência do país.


1 a cada 17 bebês nasce com traço
falciforme em Salvador.
Estrutura da hemoglobina
• Hemoglobina humana: tetrâmero de polipeptídeos
de globina - um par -símile () e um par não-
(,, ou ).

• Cada cadeia envolve um único heme.

• Cada heme liga-se a uma molécula de O2


Tipos de hemoglobina

• Hemoglobina A (22) - 92% em adultos.


• Hemoglobina A2 (22) - 2,5% em adultos.
• Hemoglobina F (22) - 50 a 85% em fetos e
recém-nascidos. Pequena quantidade em adultos.
Genética da anemia falciforme
• Gene falciforme resulta de uma mutação pontual
na sexta posição da cadeia da  globina (6),
causando a substituição de ác. Glutâmico para
valina (6GluVal).

• Alteração na segunda base do códon do ác.


Glutâmico: GAG para GTG.
Anemia Falciforme
Etiopatogenia
Síndromes Falciformes
• Anemia falciforme: mesma mutação genética,
porém, grande diversidade de manifestações
clínicas.
Por que? Fatores modificantes:
• Níveis de hemoglobina fetal (Hb F);
• Coexistência de outras hemoglobinopatias
hereditárias;
• Diferentes haplótipos para a hemoglobina S.
Níveis de hemoglobina fetal
• Correspondem a menos de 1% do total, mas podem
estar elevados devido a fatores hereditários.

• Quanto maior o nível, menos severo o quadro


clínico.

• Moléculas de Hb F não participam do processo de


polimerização.
Hemoglobinopatias hereditárias

1. Anemia falciforme (doença SS), onde os indivíduos


são homozigotos para o gene da hemoglobina S.

2. Traço Falciforme (doença AS), onde o paciente


possui um gene que sintetiza cadeias polipeptídicas
globínicas normais (A ) e um gene anormal (S),
com produção de ambas as hemoglobinas (A e S),
predominando a Hemoglobina A (Hb A).
Hemoglobinopatias hereditárias
3. AF associada a beta talassemia (AF-talassemia )

• AF-talassemia 0 : não há produção de


hemoglobina beta pelo gene da beta talassemia.

• AF-talassemia + : O indivíduo produz cadeias


beta normais porém em pequenas quantidades.
Hemoglobinopatias hereditárias
4. AF associada a hemoglobina C (Hb SC), onde o
paciente possui dois genes de cadeia beta alterados
(S e C ), o que faz com que haja a produção tanto
de Hb S quanto de Hb C.

5. AF associada com talassemia : deleção de um ou


dois genes da globina . Anemia hemolítica mais
discreta, menos complicações se comparada à AF.
Hemoglobinopatias hereditárias
6. AF associada com talassemia , condição
heterozigótica combinada que constitui uma das várias
deleções grandes dos genes das globinas  e , permite
o desvio de produção da Hb F para a Hb do adulto.

7. AF associada a PHHF (persistência hereditária da Hb


F), resulta de uma de várias deleções grandes dos genes
das globinas  e  que retardam o desvio da produção
de Hb F para a Hb do adulto.
Hemoglobinopatias hereditárias

8. AF associada a doença da Hb Lepore, produto de


fusão cruzada dos genes das globinas  e ,
similar a Hb S, associada a anemia menos grave.

9. AF associada a doença da Hb D (22121GluGln),


similar a Hb S, associada a anemia hemolítica
moderadamente grave.
Hemoglobinopatias hereditárias
10. AF associada a doença da Hb O Arab
(22121GluLys), similar a Hb SC, associada a anemia
hemolítica moderadamente grave.

11. AF associada a doença da Hb E (2226GluLys),


apresenta 30% de Hb E na doença Hb SE. Apesar
de provocar hemólise leve, nenhuma complicação
ou alteração eritrocitária é encontrada.
Haplótipos da Hb S
• Sítios polimórficos de endonucleases de restrição, localizados
no interior e ao redor da cadeia beta mutante.
Tipos:
• Senegal, Benin, CAR (Bantu), Asiático (Indu Arábico)
e Cameroon.
• No Brasil: Bantu (77%), Benin (30%) e Senegal (3%).
• Senegal - clínica mais branda;
• Benin - gravidade intermediária;
• CAR - formas mais severas.
Patogênese molecular
• Hemoglobina normal - Grandes concentrações na
hemáciabastante solúvel.

• Hemoglobina Sdesoxigenadainteração entre


moléculas de Hbagregação de polímeros.

• Evento primário, causa distorção do formato e perda


da deformabilidade da hemáciarigidez responsável
pelo fenômeno vaso-oclusivo.
Patogênese molecular
• Desoxigenação rápidapadrão granular não altera
formato da hemácia.

• Desoxigenação lenta e/ou parcialnúcleo


únicocrescimento e alinhamento de fibrascélula
em foice.

Taxa de formação de polímeros depende:


• grau de desoxigenação, [ ] de Hb, e nível de Hb F.
Patogênese molecular
• A polimerização causa dano à membrana e leva à
desidratação.
Mecanismos:
• Co-transporte potássio-cloreto
• Perda de potássio cálcio-dependente.

• Estágio final do processo: Célula irreversivelmente


falciforme.
Patogênese molecular
• Eventos vaso-oclusivos: dependem do tempo de trânsito
capilar.
• Além disso, hemácias SS aderem mais facilmente ao endotélio.
Ligantes responsáveis:
• Complexo de integrinas;
• fibronectina;
• VCAM-1 da célula endotelial;
• trombospondina;
• fator de von Willebrand de peso molec. notavelmente alto;
• imunoglobulina
Manifestações Clínicas
• Iniciam após a 10ª semana de vida, pois o RN é protegido pelos
elevados níveis de HbF.
• Paciente é anêmico, porém assintomático a maior parte do
tempo.
• Bem-estar é interrompido periodicamente por crises.
• Crises podem ser vaso-oclusivas (dolorosas), aplásicas e
megaloblásticas, de seqüestro, e hemolíticas.
Manifestações Clínicas
• Crises vaso-oclusivas
- mais comum e característica da AF.
- É causada pela obstrução dos vasos sanguíneos por hemácias
falciformes. Ocorre hipóxia tecidual que ocasiona a morte
tecidual e dor localizada.
- É diagnóstico de exclusão.
- Localização preferencial: ossos, tórax e abdome.
- Infartos de repetição no baço levam à sua fibrose e atrofia (auto-
esplenectomia).
- Infarto de vasos cerebrais resultando em AVC é a complicação
vaso-oclusiva mais grave.
Manifestações Clínicas
• Crise Aplásica
- Consiste em parada transitória da eritropoese, caracterizada por
quedas abruptas dos níveis de hemoglobina, contagem de
reticulócitos e precursores eritróides da medula óssea.
- Parvovírus B19 responsável por 68% das crises em crianças. Em
adultos a percentagem é menor.
- Necrose da medula óssea também provoca crise aplásica.
Manifestações Clínicas
• Crise de Seqüestro
- são caracterizadas pelo aprisionamento de eritrócitos,
especialmente no baço.
- exacerbação aguda da anemia, reticulocitose persistente, baço
hipersensível e de tamanho aumentado e, por vezes, hipovolemia.
- Alto risco em pacientes que não tem baço atrófico.
- Ocorreu em 30% das crianças durante 10 anos de seguimento,
sendo 15% delas fatais.
- Recidiva em 50% dos casos, sendo indicada esplenectomia.
Manifestações Clínicas
• Crise Hemolítica
- Taxa aumentada de hemólise com queda da hemoglobina e
elevação da contagem de reticulócito
- São raras e muitas vezes confundidas com outras causas de
icterícia como hepatite, litíase biliar,...
- deficiência concomitante da glicose-6-fosfato desidrogenase (?)
Manifestações Clínicas
•Anemia Crônica
- Os eritrócitos são destruídos randomicamente, com tempo de
sobrevida médio de 17 dias.
- A intensidade da anemia é mais grave na AF e na Hb S-
talassemia 0, mais leve na Hb S-talassemia + e na doença de Hb
SC e, entre pacientes com anemia falciforme, menos grave nos
que apresentam talassemia  concomitante e níveis elevados de
Hb F.
- Além da hemólise, os níveis inapropriadamente baixos de
eritropoetina contribuem para a anemia.
Manifestações Clínicas
• Exacerbações da anemia
- O grau bastante constante de anemia hemolítica pode ser
exacerbado agudamente por várias causas:
- crises aplásicas
- seqüestro agudo esplênico
- crises hemolíticas.
- As exacerbações crônicas da anemia podem estar relacionadas
com a insuficiência renal incipiente ou com a deficiência de
ácido fólico ou de ferro.
Manifestações Clínicas
•O Episódio Doloroso Agudo (“crise falciforme)
- Dor aguda: 1o sintoma da doença, causa mais comum de procura
de assistência médica.
- provocado por vaso-oclusão.
- A intensidade da dor varia desde insignificante a agonizante,
sendo a sua duração geralmente de poucos dias.
- 1/3 pacientes com AF raramente apresenta dor; em 1/3, a dor
exige internação 2-6 vezes/ano, e 1/3 apresenta mais de 6
internações relacionadas com a dor por ano.
Manifestações Clínicas

- Os níveis elevados de hemoglobina e os baixos níveis de Hb F


estão associados a crises mais freqüentes de dor.
- A dor pode ser precipitada por frio, desidratação, infecção,
estresse, menstruação ou consumo de álcool; todavia, a causa da
maioria dos episódios não é definida.
- A dor freqüente pode provocar desespero, depressão e apatia.
Manifestações Clínicas
• Crescimento e Desenvolvimento
- Crianças com AF apresentam retardo do crescimento e da
maturação sexual.
- A puberdade é atrasada, mas um crescimento considerável
ocorre na adolescência tardia de tal modo que ao atingir a idade
adulta, o indivíduo adquire uma altura normal, porém o peso
permanece anormalmente baixo
- O comprometimento do desenvolvimento pode resultar do
efeito da hemólise sobre as necessidades metabólicas basais
crescentes.
Manifestações Clínicas
• Infecções
- Principal causa de mortalidade.
- Predisposição devido à  função esplênica,  da capacidade de
fagocitação e defeito na ativação da via alternativa do
complemento.
- Bacteremia = S. pneumoniae, H. influenzae b, Gram-negativos
 20-50% mortalidade
- Meningite = S. pneumoniae, H. influenzae b
- Pneumonia = infecção mais comum. Mycoplasma
pneumoniae, vírus respiratórios, S. pneumoniae.
- Osteomielite = Salmonella, Staphylococcus aureus.
Manifestações Clínicas
• Complicações neurológicas
- Ocorrem em 25% dos pacientes com AF.
- Incluem: AIT, AVC, hemorragia cerebral, convulsões, coma.
- AVC - 1-15 anos de idade. Risco de 8% na AF, 2% na HbSC.
- Fatal em 20%, recorrência de 70%
- Trombose de grandes vasos
- Hemorragia intracraniana
- rigidez nuca, fotofobia, cefaléia intensa, vômitos, alteração
da consciência.
- Fatal em 50%.
- Vasos colaterais que são friáveis e vulneráveis à trombose e
hemorragia.
Manifestações Clínicas
• Complicações Pulmonares
- Síndrome torácica aguda
- dispnéia, dor torácica, febre, taquipnéia, leucocitose e infiltrado
pulmonar no RX.
- acomete 30% dos pacientes com AF.
- Causas: vaso-oclusão, infecção e embolia gordurosa da MO
infartada.

- Estado pulmonar crônico: doença pulmonar restritiva e/ou


hipoxemia e/ou hipertensão pulmonar.
Manifestações Clínicas
• Complicações hepatobiliares
- Acomete 1/3 dos pacientes com AF.
- Cálculos biliares pigmentados devido à hemólise crônica. Ocorrem
em 50-70%. Retira-se nos assintomáticos também.
- Hepatomegalia crônica e disfunção hepática devido ao
aprisionamento de eritrócitos falciformes, hepatite adquirida por
transfusão e sobrecarga de ferro  cirrose, hemossiderose.
- “Crise hepática” – rara. Hiperbilirrubinemia intensa (>100mg/dl),
febre, dor, anormalidades das provas hepáticas.
Manifestações Clínicas
• Complicações Renais
- Medula do rim – anóxia, hiperosmolaridade, baixo Ph – facilita
afoiçamento.
- Rim - único órgão afetado mesmo no traço falciforme (hematúria)
- 50% dos pacientes apresentam rins aumentados e algum tipo de
anormalidade calicinal.
- Oclusão dos vasa recta  fluxo sangüíneo para medula resultando
em  concentração urinária, infarto papilar, hematúria, acidose
tubular renal e  depuração K+  IRC
- IRC – média de início aos 23 anos na AF e aos 50 na Hb SC.
Manifestações Clínicas
• Priapismo
- Ereção dolorosa prolongada, não desejada.
- Afeta quase 2/3 dos indivíduos do sexo masculino com AF.
- Picos de incidência: 5-13 e 21-29 anos de idade.
- Pode resultar em impotência em 45% dos casos.
- Mais comum no genótipo SS que em outros.
Manifestações Clínicas
• Complicações Oculares
- Incluem sinuosidade dos vasos da conjuntiva, isquemia da câmara
anterior, oclusão das artérias retinianas, retinopatia proliferativa e
descolamento de retina.
- Exame oftalmológico deve ser feito de rotina.

• Úlceras de perna
- Aparecem espontaneamente ou por traumatismo
- Maléolos medial e/ou lateral. Geralmente bilaterais.
- São resistentes à cicatrização e recidivam em 50% dos casos.
- Podem infectar gerando infecção sistêmcia, osteomielite ou tétano.
Manifestações Clínicas
• Complicações Ósseas
- Síndrome “mão-pé”
- tumefação dolorosa das superfícies dorsais de mãos e/ou pés.
- acomete metade das crianças com AF. Incidência entre 1-4 anos.
- causada pela oclusão dos capilares nos ossos pequenos dos membros.
- a dor causada pelo infarto ósseo amiúde é o 1o sintoma da AF.
- Osteonecrose da cabeça do fêmur
- mais idosos.
- pode provocar sérios distúrbios da marcha.
- Infarto da medula óssea
- pode provocar exacerbação da anemia, pancitopenia, embolia gordurosa
pulmonar.
- a presença de necrose na MO pode favorecer o desenvolvimento de
infecções, especialmente por Salmonella e S. aureus
Manifestações Clínicas
• Complicações Cardíacas
- Não há uma miocardiopatia específica da AF.
- Aumento das câmaras cardíacas devido à compensação com alto
débito cardíaco para a anemia - ICC
- IAM – quando a demanda de O2 ultrapassa a limitada
capacidade de suprimento de O2, apesar das coronárias normais.
Gravidez
• Na mulher com AF há incidência aumentada de pielonefrite,
infartos pulmonares, pneumonia, síndrome dolorosa aguda,
hemorragia no ante-parto, prematuridade e morte fetal.
• Complicações fetais devido  fluxo placentário: aborto
espontâneo, atraso do crescimento intra-uterino, baixo peso ao
nascer, pré-eclâmpsia e morte.
• Mortalidade materna de ± 1,6%.
• Em alguns lugares ainda encontramos mortalidade materna
>9,2% e peri-natal >19,5%.
Prognóstico e Expectativa de Vida
• Há diminuição da expectativa de vida no paciente com AF.
• No passado era de 14,3 anos.
• Sobrevida atual é 42 anos para os homens e 48 anos para as
mulheres.
• Melhora na sobrevida resulta de melhor assistência médica geral.
• Em estudo prospectivo onde 307 pacientes com AF foram
seguidos até os 15 anos de idade foram verificados 61(19,9%)
óbitos sendo as causas mais comuns: síndrome torácica aguda,
septicemia/meningite e seqüestração esplênica aguda.
Prognóstico e Expectativa de Vida

• Stark et al. – não há diferença entre indivíduos normais e com


traço falciforme quanto à sobrevida e causas de mortalidade.
- Portanto não há justificativa para discriminação.
• Estudo realizado no Brasil constatou que os pacientes com AF
relataram uma qualidade de vida razoável. O maior problema
está centrado na falta de oportunidades profissionais.
Diagnóstico
• Em uma criança ate 6 meses com hemoglobinas
normais: Hb Fetal (α2γ2) 90 a 100%; Hb A (α2β2)
0 a 10% e Hb A2 (α2δ2) 0 a 1%.
• valores definitivos do indivíduo adulto: Hb A
(α2β2) 96-98%; HbA2 (α2δ2) 2,5 a 3,4%; Hb F
(α2γ2) 0-2%.
Diagnóstico

Hemograma completo com contagem de reticulócitos.


Concentrações de hemoglobina na faixa de 5 a 9 g/dl.
Reticulocitose acentuada.
Contagem total de leucócitos elevada com predomínio
de neutrófilos.
Esfregaço do sangue periférico contém células em alvo,
poiquilócitos e células irreversivelmente afoiçadas.
Contagem de plaquetas elevadas e vhs baixo.
Diagnóstico
Teste do Pezinho
• Eletroforese de Hemoglobinas

SS

Hemograma e Teste de falcemia não dão diagnóstico de


doença falciforme
Diagnóstico
Diagnóstico
• Identificar pacientes com AF ou com traço
falciforme que necessitem de terapia ou
aconselhamento.
• Buscar em pacientes de origem africana com
achados clínicos sugestivos.
• Com a miscigenação pode ser encontrada em
pessoas aparentemente caucasóides.
Diagnóstico
• AF é grave anemia hemolítica com icterícia:
• policromatocitose;
• reticulócitos > 15%;
• RDW alto;
• eritroblastos;
• fragmentos eritrocitários
• trombocitose;
• corpúsculos de Howell-Jolly;
• leucocitose;
• bilirrubina indireta elevada;
Diagnóstico
• Eritrócitos falciformes (drepanócitos) são
patognomômicos, mas presença não é constante;

• São normocrômicos. Presença de microcitose pode


indicar ferropenia ou talassemias concomitantes;
Diagnóstico
• Confirmação diagnóstica, com distinção segura
das síndromes falcêmicas, faz-se pela eletroforese
da hemoglobina;
• Identificação segura do fenótipo da Hb pelos
diferentes graus de migração em um campo
magnético;
• Eletroforese com pH alcalino (suporte acetato de
celulose) é o principal método utilizado.
•Eletroforese de Hb

 Indivíduo normal:
HbA (α2β2) – 97%
HbA2 (α2δ2) – 2%
HbF (α2γ2) – 1%
Anemia Falciforme:

HbA (α2β2) – 0%
HbS (α2 βs2) – 93%
HbA2 (α2δ2) – 2%
HbF (α2γ2) – 5%
Traço Falcêmico:
HbA (α2β2) – 57%
HbS (α2 βs2) - 40%
HbA2 (α2δ2) – 2%
HbF (α2γ2) – 1%
Distribuição da hemoglobina nas síndromes falciformes

Genótipo Diagnóstico Clínico Hb A Hb S Hb A2 Hb F


AA Normal 97-99% 0 1-2% < 1%
AS Traço falciforme 60% 40% 1-2% < 1%
SS Anemia falciforme 0 86-98% 1-3% 5-15%
S 0 talassemia AF- talassemia 0 70-80% 3-5% 10-20%
S + talassemia AF- talassemia 10-20% 60-75% 3-5% 10-20%
AS, talassemia Traço falciforme 70-75% 25-30% 1-2% <1%
Fonte: Current 2000, Medical Diagnosis and Treatment.
Diagnóstico
• Eletroforese em pH ácido (ágar citrato) serve
como método confirmatório;
• Testes de Solubilidade (Sickledex):
• fácil realização;
• rápido teste de triagem;
• grandes variações na sensibilidade e na
especificidade;
• apenas indica presença de Hb S.
Rastreamento
• Boas técnicas de diagnóstico e capacidade de
interrupção da gravidez após diagnóstico pré-
natal, têm levado à formação de programas de
rastreamento na população;
• Triagem populacional de heterozigotos
assintomáticos é procedimento controvertido, mas
programas-piloto têm mostrado bom índice de
aceitação.
Triagem de Recém-Nascidos
• Essencial para preparação de programas de prevenção
das complicações e para tratamento;
• redução na mortalidade;
• Só o RS e MG possuem programa de rastreamento
implementado;
• No período fetal e neonatal Hb F confunde a
caracterização das Hb do adulto presentes;
Triagem de Recém-Nascidos
• Devem distinguir Hb F, Hb S, Hb A e Hb C;
• Eletroforese em ágar citrato é o método de escolha
como procedimento de triagem inicial, pois Hb S,
Hb A e Hb F separam-se distintamente;
• Testes de eletroforese podem gerar resultados falso-
positivos pela limitação em identificar pequenas
quantidades de Hb;
Triagem de Recém-Nascidos
• Cromatografia Líquida de Alta Performace (CLAP):
• conveniente;
• rápida (automatizada);
• identifica precisamente Hb F, Hb A, Hb S, Hb C, D e E;
• alto nível de sensibilidade e especificidade;
Diagnóstico Pré-Natal
• Eficácia limitada dos tratamentos disponíveis
reforça importância do diagnóstico pré-natal;
• Se triagem diagnóstica na gravidez, apenas a
mulher é testada, se o resultado for negativo o
parceiro não é testado;
• Se ambos são heterozigotos são oferecidos
aconselhamento genético e triagem neonatal.
Diagnóstico Pré-Natal
• Diagnóstico pré-natal para anormalidades
de Hb é freqüentemente realizado com:
• Biópsia de Vilosidades Coriônicas (8-10
semanas de gestação):
– mais precoce, mais riscos para o feto e mais complicada
de ser realizada.
• Amniocentese (14-16 semanas de gestação):
– mais tardia e eleva os riscos de problemas emocionais
(decisão de abortar) pois a gestação está mais avançada.
Diagnóstico Pré-Natal
• Ambas técnicas identificam o genótipo fetal
em cerca de 48 horas, mas são inábeis em
predizer o curso clínico que a criança terá
no futuro, dificultando a decisão dos pais
em interromper a gestação;
• Nos EUA cerca de 70% das famílias
continuam uma gestação afetada com AF;
Preparo pre-cirurgico
• Hidratação, reavaliação das funções hepáticas e renais.
• Evitar drogas hipotensoras.
• Manter Hb 8-10 g/dl e [ ] HbS <50%
• Exsanguíneo transfusão manual
1. Flebotomia 500 ml sangue total
2. Infusão 300 ml solução salina
3. Nova flebotomia de 500 ml
4. Infusão 4-5 unidades de concentrado de hemácias
Tratamento da Anemia Falciforme

• Assistência médica de manutenção


• Tratamento das complicações
• Quimioterapia
• Terapia transfusional
• TMO
• Futuro – Terapia gênica
Assistência médica de manutenção
• Visitas clínicas de rotina
• Aconselhamento genético, psicossocial e relativo a
doença
• Ác. Fólico 1 mg VO ao dia
• Avaliação retiniana de rotina
Tratamento das complicações
• Dor
• Infecções
• Neuropatias
• Síndrome torácica aguda
• Litíase biliar
• Úlceras de perna
• Priapismo
Dor
• O tratamento deve ser feito em ambiente familiar,
internação apenas em casos de dor intensa
• Hidratação e opióides endovenosos
• Morfina ou Meperidina?
• Transfusões de concentrados de hemácias e
inalação de O2 estão contraindicados na dor aguda
Dor
• Pacientes com anemia falciforme metabolizam
mais rapidamente os opióides
• Abordagens biopsicossociais da dor:
• apoio psicossocial
• anestésicos locais
• Combinações de AINEs, opióides e antidepressivos
• Dor crônica: morfina de ação prolongada e
emplastros de fentanil
Infecções
• Crianças com febre >38,5oC:
• Internação
• Hemocultura
• Cultura de LCR
• Antibióticos via parenteral
• Tem-se demonstrado a eficácia da Ceftriaxona para
o tratamento ambulatorial destes pacientes, exceto:
• Toxêmicos
• Febre >40oC
• Penicilina profilática
Infecções
• A bacteremia em crianças teve sua incidência
reduzida devido a:
• Vacinação contra H. Influenzae do tipo B
• Penicilina profilática (padronizada)
• Ceftriaxona
Neuropatias
• Avaliação imediata por TC ou RMN para
diferenciar AIT, trombose cerebral ou hemorragia
• Atualmente a terapia transfusional por
exsangüíneo transfusão parcial é o melhor método
preventivo das recidivas
Quimioterapia

• Clotrimazol

• Hidroxiuréia
Clotrimazol
• Induz hiponatremia, que leva a um edema
eritrocitário e diminuição da concentração de
hemoglibina intracelular
• Requer monitorização laboratorial meticulosa
• Oferece altos riscos ao paciente
Hidroxiuréia
• Única droga com uso difundido para a estimulação
da síntese de hemoglobina fetal
• Fácil administração
• Poucos efeitos tóxicos
• Efeito mielossupressor que pode ser facilmente
revertido
Hidroxiuréia
• Reduz a freqüência e a intensidade das crises
dolorosas
• Diminui a incidência da síndrome torácica aguda
• Reduz a necessidade de transfusões de sangue
• Reduziu o número de internações hospitalares
Transplante de medula óssea
• Estudos iniciais demonstraram um índice de cura
em torno de 20% para pacientes com menos de 16
anos, e uma taxa aceitável de mortalidade e
morbidade pós-transplante
Terapia Transfusional
• Indicações de transfusão:
• Capacidade diminuída de transporte de O2
• Reposição de volume sangüíneo
• Indicações próprias da doença:
• Proteção contra perigo iminente
• Melhora das propriedades reológicas do sangue
Terapia Transfusional
• Complicações:
• Aloimunização
• Sobrecarga de ferro
• Transmissão de doenças virais
Terapia Transfusional
• Transfusão simples:
• Restaurar a capacidade de transporte de O2
• Restaurar o volume sangüíneo
• Exsangüíneo transfusões parciais:
• Melhorar a viscosidade do sangue
• Menor sobrecarga de ferro
Terapia Gênica
• Utilização de um oligonucleotídeo
quimérico(SC1) composto de DNA-RNA vem
sendo estudado para correção direta da mutação
no alelo da hemoglobina -S
• SC1 é introduzido no interior das células B
homozigotas para mutação -S
Terapia Gênica
• Após 6 horas há um nível detectável de conversão
gênica do alelo mutante em seqüência normal
• Para mensurar a eficiência da correção, foi
utilizado um PCR baseado na análise da restrição
de comprimento dos fragmentos polimórficos de
DNA (RFLPs).
“Embora ninguém
possa voltar atrás
e fazer um novo
começo, qualquer
um pode começar
agora e fazer um
novo fim”

Chico Xavier

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