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9.

Angela Davis

“Existe hierarquia nas formas de


opressão? É possível reivindicar
direitos civis para um grupo excluído
sem militar pela emancipação de
todos os oprimidos?”
Tópicos
1) Formação intelectual e política
2) “Libertem Angela Davis”
3) Obra
4) Feminismo e racismo
5) Crandall, Mott, Grimké
6) O complexo industrial prisional
7) Naturalização do encarceramento
8) Prisão e racismo
9) Prisão e sexismo
10) Abolicionismo penal
1) Formação intelectual e política
• Angela Davis (1944) –
Professora Emérita de
Filosofia do Departamento
de Estudos Feministas da
Universidade da Califórnia
• Partido Comunista dos
Estados Unidos, Panteras
Negras, Black Power
• Movimento dos Direitos
Civis
1) Formação intelectual e política
• Da vizinhança da dinamite (no Alabama) à
Universidade Brandeis
• Protesto contra a Crise dos Mísseis de Cuba
• “Herbert Marcuse me ensinou que era possível ser
uma acadêmica, uma ativista, uma intelectual, e
uma revolucionária”
1) Formação intelectual e política
• Temporada em
Frankfurt: “Adorno
sugeriu que meu desejo
de trabalhar
diretamente nos
movimentos radicais
daquele período era
semelhante a um
estudante de estudos
de mídia que decidiu se
tornar um técnico de
rádio”.
2) “Libertem Angela Davis”
• Presa em 1971 – caso
dos irmãos Soledad
• Movimento Libertem
Angela Davis (Angela,
de John Lennon e Yoko
Ono; Sweet Black
Angel, Rolling Stones)
• Julgamento colocou a
questão racial no
centro do debate
midiático
3) Obra
• Mulheres, raça e classe
(1981) – imbricações entre a
luta anticapitalista, a luta
feminista e a luta antirracista
 interseccionalidade
• Estudos sobre a voz da
mulher negra (o papel
emancipatório do blues, por
exemplo)
• Estudos sobre o sistema
prisional
4) Feminismo e abolicionismo
• O movimento antiescravagista e a
origem dos direitos das mulheres
• Epígrafe de Frederick Douglas,
“homem dos direitos das
mulheres” e “mais importante
abolicionista negro dos EUA”:
“Quando a verdadeira história da
causa antiescravagista for escrita,
as mulheres ocuparão um vasto
espaço em suas páginas; porque a
causa das pessoas escravas tem
sido particularmente uma causa
das mulheres”
4) Feminismo e abolicionismo
• “Havia algo especial no
abolicionismo que atraía as
mulheres brancas do século
XIX de um modo que
nenhum outro movimento
reformista havia
conseguido?”
• Culto do séc. XIX à
maternidade  negros,
crianças dóceis e servis;
mulheres, “mães e nada
mais”
4) Feminismo e abolicionismo
• Ideias racistas e sexistas  conteúdo
reacionário, apelo progressista
• Natureza contraditória da condição das
mulheres no séc. XIX: deterioração do
prestígio das mulheres
• De “trabalhadoras produtivas” (no contexto
da economia doméstica) a “mães e esposas”
(no capitalismo industrial)  “o lugar da
mulher é em casa”
4) Feminismo e abolicionismo
• Ideologia da “feminilidade”
• Serviçais de seus maridos, instrumentos
passivos para a reposição da vida humana
• “Metáfora da escravidão” utilizada pelas
mulheres brancas = natureza opressiva do
casamento
• 1830: “aliança entre a já estabelecida luta
pela libertação negra e a embrionária batalha
pelos direitos das mulheres”
5) Crandall, Mott, Grimké
• Prudence Crandall,
professora primária que
abriu escola para crianças
brancas e negras, meninos e
meninas
• Mulheres brancas nas
“dores do parto da
conscientização política” –
operárias; mulheres da
classe média e da burguesia
emergente (tempo livre)
5) Crandall, Mott, Grimké
• Abolicionismo, “protesto implícito contra o caráter
opressivo de seu papel no lar”
• Mulheres brancas sem experiência política anterior
• Sexismo na convenção de fundação da Sociedade
Antiescravagista Estadunidense (1833)
• Resposta de Lucretia Mott: fundação da Sociedade
Antiescravagista Feminina da Filadélfia
5) Crandall, Mott, Grimké
• Alternativa à vida doméstica:
defender seus direitos enquanto
mulheres, a fim de lutar pela
emancipação do povo negro
• Irmãs Grimké X Pastores da
Igreja Congressional de
Massachusetts: “O que a mulher
poderá fazer contra a escravidão,
quando ela mesma estiver
subjugada ao humem e
humilhada no silêncio?”
“Trabalhando no movimento abolicionista, as
mulheres brancas tomaram conhecimento da
natureza da opressão humana – e, nesse processo,
também aprenderam importantes lições sobre sua
própria sujeição. Ao afirmar seu direito de se opor à
escravidão, elas protestavam – algumas vezes
abertamente, outras de modo implícito – contra sua
própria exclusão da arena política. Se ainda não
sabiam como apresentar suas reivindicações
coletivamente, ao menos podiam defender a causa
de um povo que também era oprimido”.
5) Crandall, Mott, Grimké
• A opressão da mulher seria sustentada e
perpetuada pela continuidade do sistema
escravagista
• Codependência entre racismo e sexismo
• Caráter dialético da relação entre as duas
causas
6) O complexo industrial prisional
• Reforma prisional ou
abolição prisional?
• Prisão: característica
permanente e inevitável
de nossas vidas sociais?
• Abolicionistas: idealistas
e utópicos?
• O encarceramento é
eficaz na redução da
criminalidade?
6) O complexo industrial prisional
• Encarceramento em massa, na Era
Reagan (Guerra às Drogas) – criação de
9 prisões, entre 1984 e 1989
• Complexo industrial prisional
• Prisão: “solução geográfica para
problemas sócio-econômicos” (Ruth
Gilmore)
• Reduz as infrações? Promove
empregos? Estimula o desenvolvimento
econômico?
6) O complexo industrial prisional
• “O complexo industrial prisional é muito mais
que a soma de todas as cadeias e prisões
neste país. Ela é um espaço de relações
simbióticas entre comunidades correcionais,
corporações transnacionais, conglomerados
midiáticos, a polícia, e as agendas do
legislativo e do judiciário”.
7) Naturalização do encarceramento
• Ideologia – presença/ausência da prisão em
nosso imaginário
• Lugar para “criminosos” e “malfeitores” =
pessoas de cor
• Lugar abstrato onde os indesejáveis são
depositados, eximindo-nos da
responsabilidade de pensar as reais
condições que afligem as comunidades das
quais os prisioneiros são retirados
7) Naturalização do encarceramento
• Criminalidade & globalização:
migração das corporações 
desindustrialização 
desemprego  crise dos
serviços sociais
• “A prisão se tornou um
buraco negro no qual os
detritos do capitalismo
contemporâneo são
depositados”
• Mídia naturaliza a prisão
8) Prisão e racismo
• “As prisões são instituições racistas?”
• “O racismo está tão profundamente
entranhado na instituição da prisão que não
é possível eliminar o primeiro sem eliminar a
segunda?”
• Indício: detenção em massa de pessoas do
Oriente Médio, do Sul da Ásia, ou de herança
árabe, imediatamente após o 11 de setembro
8) Prisão e racismo
• No Antigo Regime, o encarceramento era prelúdio
para a punição, e não a punição mesma
• Foucault – A verdade e as formas jurídicas; Vigiar e
punir
8) Prisão e racismo
• Na Era da Razão, a prisão vira um espaço para que
o criminoso reflita sobre suas ações, reforme seus
hábitos e, mesmo, sua alma
• Reforma & prisão  três fatores: ascensão do
capitalismo industrial, protestantismo e
iluminismo
• Valor do trabalho (e da mercadoria) calculado em
termos de tempo  as sentenças também!
• Fé na relação entre desenvolvimento
tecnocientífico e aperfeiçoamento moral
8) Prisão e racismo
• Cesare Beccaria, Dos delitos e das penas
(1764)
• Jeremy Bentham, cartas sobre o panopticon
(1787 a 1791)
8) Prisão e racismo
• “As condições de possibilidade para esta nova
forma de punição eram fortemente
ancoradas em uma era histórica durante a
qual era necessário constituir a classe
trabalhadora como uma força de indivíduos
autodisciplinados capazes de desempenhar o
trabalho industrial requisitado pelo sistema
capitalista em desenvolvimento”
8) Prisão e racismo
• 13ª emenda: aboliu a
escravidão e a servidão
involuntária, “exceto como
punição para um crime”
• Black codes: condenavam a
trabalhos forçados negros que
não tivessem emprego, que
praticassem a mendicância, que
quebrassem contratos de
trabalho, que possuíssem armas
de fogo, que se embriagassem
etc.
8) Prisão e racismo
• Racialização do crime  controle do trabalho
negro
• “O racismo sub-repticiamente define as
estruturas sociais e econômicas de maneiras
que são difíceis de identificar”
• Transformação dos corpos aprisionados em
fontes de lucro
• Mercado da punição
• Mais-valia humana
9) Prisão e sexismo
• “Como o gênero estrutura o sistema prisional?” 
Invisibilização
• Situação da mulher: punição corporal doméstica
• Criminalidade masculina: normal
• Criminalidade feminina: aberrante (instituições
psiquiátricas)
9) Prisão e sexismo
• “Se os homens criminosos são considerados
indivíduos públicos que simplesmente
violaram o contrato social, as mulheres
criminosas parecem ter transgredido os
princípios morais fundamentais da
feminilidade”
• Reabilitação da mulher encarcerada =
assimilação de comportamentos “femininos”
(cozinhar, limpar, costurar)
9) Abolicionismo penal
• “A expectativa social
dominante é que jovens
homens negros, latinos,
indígenas e asiáticos – e,
cada vez mais, também
mulheres – desloquem-se
naturalmente do mundo
livre para a prisão, que é o
lugar, presume-se, ao qual
eles pertencem”.
10) Abolicionismo penal
• Alternativas:
- Descriminalização do uso de
drogas;
- Descriminalização da prostituição;
- Justiça restaurativa X justiça
punitiva
• É preciso explorar novos terrenos da
justiça!
• “Quando uma mulher negra se
movimenta, toda a estrutura da
sociedade se movimenta com ela”

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