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FUNDAMENTOS

MARXISTAS DA
CONCEPÇÃO DO
ESTADO

AULA 3
 Marx considerava as condições materiais (o modo
como as coisas são produzidas, distribuídas e
consumidas) de uma sociedade como a base de sua
estrutura social e da consciência humana. A forma
do Estado, portanto, emerge das relações de
produção, não do desenvolvimento geral da mente
humana ou do conjunto das vontades humanas.
 
 Não é o Estado que molda a sociedade, mas a
sociedade que molda o Estado. A sociedade, por sua
vez, se molda pelo modo dominante de produção e
das relações de produção inerentes a esse modo.
 O Estado, emergindo das relações de produção, não
representa o bem-comum, mas é a expressão política da
estrutura de classe inerente à produção.

 O Estado é a expressão política da dominação da classe


burguesa ou capitalista. É um instrumento essencial de
dominação de classes na sociedade capitalista.

 O Estado surge da contradição entre o interesse de um


indivíduo (ou família) e o interesse comum de todos os
indivíduos. O moderno Estado capitalista é dominado
pela burguesia.

 O Estado não é um complô de classe, mas evolui no


sentido de mediar as contradições entre os indivíduos e
a comunidade e, uma vez que a comunidade é dominada
pela burguesia, assim o é a mediação pelo Estado.
• No Estado moderno (capitalista) predomina a classe mais poderosa,
a classe econômica dominante que se torna a classe política
dominante.

• O Estado moderno é o instrumento do qual se serve o capitalismo


para explorar o trabalho assalariado.

• Na sociedade burguesa, o Estado representa o braço repressivo da


burguesia.

• A natureza de classe do Estado tem uma função repressiva, a qual,


no capitalismo, serve à classe dominante, à burguesia.

• É a noção do Estado como aparelho repressivo da burguesia que é a


característica tipicamente marxista do Estado.
MARX E A DEMOCRACIA
Há duas faces na questão da democracia. Essas duas
correspondem a duas classes que lutam no interior do
quadro político de classes.

1)A primeira consiste na “utilização” pela classe dominante


das formas democráticas (eleições, parlamento) como meio
para oferecer a ilusão de participação das massas no Estado,
enquanto que o poder econômico da classe dominante
garante a reprodução das relações entre o capital e o
trabalho na produção.

2)A segunda está na luta para dar às formas democráticas um


novo conteúdo social ou de massas, impelindo-as aos
extremos democráticos de controle popular a partir da
base, incluindo a extensão nas formas democráticas da
esfera política para toda a sociedade .
As formas democráticas são tanto um instrumento quanto
um perigo para a burguesia.

O Estado age no interesse da classe dominante, subordinando


todos os outros interesses aos dessa classe.

Por que o Estado deveria ser considerado como um instrumento


da classe dominante?
 
 Os membros do sistema de Estado tendem a pertencer à mesma
classe ou classes que dominam a sociedade civil.

 A classe capitalista domina o Estado através de seu poder


econômico global.

 Dada a inserção no modo capitalista de produção, não pode ser


diferente. A natureza do Estado é determinada pela natureza e
pelas exigências de produção.
MARX E A AUTONOMIA DO ESTADO
Há dois níveis da autonomia do Estado:

1. A condição “normal” – a burocracia do Estado tem alguma autonomia


frente à burguesia devido à aversão inerente da burguesia em atuar
diretamente no aparelho do Estado e devido aos conflitos entre os
capitais individuais ( esse caso exige uma burocracia independente
que pode atuar, como executora, para toda a classe capitalista.)

 2. A condição “congelada” – atinge-se este nível quando a luta de


classes é “congelada” pela incapacidade de qualquer classe dominante
em demonstrar seu poder sobre o Estado.
Nesse modelo de Estado autônomo, o Estado não é o instrumento da
burguesia, mas tem suas ações determinadas pelas condições da luta
de classe e pela estrutura de uma sociedade de classes.
Gramsci ajudando compreender o Estado

 Hegemonia, cujo significado tem a ver com o


predomínio ideológico dos valores e normas burguesas
sobre as classes subalternas através de um conjunto de
instituições, ideologias, práticas e agentes.  “A
hegemonia compreende as tentativas bem sucedidas da
classe dominante em usar sua liderança política, moral e
intelectual para impor sua visão de mundo como
inteiramente abrangente e universal, e para moldar os
interesses e as necessidades dos grupos
subordinados” (Carnoy , p95).
Sociedade civil - conjunto dos organismos
vulgarmente chamados “privados”, como os meios de
comunicação, entidades, etc.
 
Estado - não só como o aparelho repressivo da
burguesia, mas também como aquele que inclui a
hegemonia da burguesia na superestrutura. “O Estado
é o complexo das atividades práticas e teóricas com o
qual a classe dominante não somente justifica e
mantém a dominação como procura conquistar o
consentimento ativo daqueles sobre os quais ela
governa”(Carnoy p.99).
Superestrutura - é formada por dois níveis: o primeiro
é a sociedade civil e o segundo é a sociedade política ou
Estado.

Bloco histórico – relação dialética entre a infra e a


superestrutura; superestrutura como reflexo das
relações sociais de produção. Essa relação não se dá
abstratamente, mas sim de forma concreta e histórica.
Ex: “Hegemonia e função hegemônica do Estado
emanam ao mesmo tempo da natureza da burguesia
como uma classe ideologicamente abrangente e de sua
posição específica de poder econômico na sociedade
capitalista” (p.102).
 Invertendo a teoria de Marx e Lênin, “Gramsci enfatiza a supremacia
das superestruturas ideológicas sobre a estrutura econômica” (p.94);

 O predomínio do elemento ético-político no desenvolvimento


histórico em detrimento do elemento econômico.

 A rejeição de Gramsci quanto a esse aspecto do pensamento de Marx


vem do fato de considerá-lo incompleto e não adequado à situação
ocidental (Itália, pra ser mais específico), não negando, porém, a
vinculação da superestrutura com as relações de produção. Segundo
ele, para se obter o poder ao ponto de promover uma real
transformação na sociedade, era preciso dominar as consciências
(hegemonia; situadas na superestrutura) e não somente as forças de
produção (infra-estrutura) ou o Estado (força coercitiva); “ênfase na
supremacia da sociedade civil (consenso) sobre a sociedade política
(força)” (p.94). 
 “A força verdadeira do sistema não reside na violência da
classe dominante ou no poder coercitivo do seu aparelho de
Estado, mas na aceitação por parte dos dominados de uma
concepção de mundo que pertence aos seus
dominadores” (p.94).

 Domina-se e desenvolve-se de fato não com um Estado


repressivo, mas sim com um Estado “educador”, aquele capaz
de absorver toda sociedade e fazê-la, espontaneamente,
compactuar com seus valores e normas. E quando acontece
de um Estado não mais conseguir controlar as consciências,
ele tende a recorrer à força, à coerção.
• Revolução passiva, para Gramsci, não seria nada mais do
que uma constante readaptação do poder do Estado em
relação às classes subordinadas como forma de se preservar
sua hegemonia e evitar que as massas exerçam influência
sobre as instituições econômicas e políticas.

• Em outras palavras, é dar para as classes subalternas aquilo


que elas conseguiriam com uma possível revolução ativa,
vinda de baixo. No entanto, isso aconteceria de forma que
não prejudicasse a classe dirigente. Assim, quando um
Estado tiver sua hegemonia ameaçada, surtirá efeitos mais
positivos fazer essa revolução passiva do que apelar para a
força.
Para Gramsci, o processo de transformação da
sociedade pode ser resultado da:
 a) acrise de hegemonia – a teoria de Gramsci era bipolar;
um elemento positivo sempre faz gerar um negativo, isto
é, não há teoria sobre a hegemonia sem uma teoria sobre
a crise da hegemonia, por exemplo. Essa crise seria
resultado “de atos impopulares das classes dirigentes
(através do Estado) ou do intensificado ativismo político
de massas anteriormente passivas” (p.105).

Valer notar que Gramsci não acreditava que esta crise fosse
resultado de uma crise econômica; esta poderia criar
condições para que aquela ocorresse, no entanto, seria o
desenvolvimento da consciência das massas que
produziria a transformação revolucionária, e não a taxa
decrescente de lucro – “o empobrecimento cada vez
maior é apenas um elemento dentro das possibilidades de
elevar essa consciência” (p.107).  
b) a guerra de posição – estratégia para contornar o paradoxo
“proletariado mais extenso e menos desejoso de derrubar o
capitalismo”. Controlar o Estado não significa controlar a
sociedade, já que ele é apenas uma peça no sistema de
poder. Assim, mais do que isso, é preciso desenvolver
também a superestrutura ideológica. É aí que entra a guerra
de posição: a criação de uma nova consciência, uma
hegemonia da classe subalterna, gerada dentro dela mesma,
para que quando tomasse o poder do poder do Estado, não
ficasse um vácuo.

Essa nova cultura, concreta e consistente, com normas e


valores proletários, serviria de alicerce para a construção de
uma nova sociedade.
A guerra de posição tem 4 elementos
fundamentais:
01) Enfatiza que cada país particular exigiria um “reconhecimento
acurado”. Isto é, diferentemente de Marx, que acreditava numa
revolução de todos os trabalhadores do mundo utilizando,
simultaneamente, as mesmas estratégias, Gramsci dizia que “os
Partidos Comunistas de cada país tinham de desenvolver seu próprio
plano de como criar o socialismo dentro do seu contexto político
específico antes que qualquer ordem socialista mundial pudesse ser
alcançada” (p.109).
 
02) Baseia-se na idéia de sitiar o aparelho do Estado com uma contra-
hegemonia, criada pela organização de massa da classe trabalhadora e
pelo desenvolvimento das instituições e da cultura da classe operária.
Os burgueses tentariam manter sua consciência (hegemonia) enquanto
os proletários tentariam ascender a sua (contra-hegemonia); confronto
da hegemonia burguesa e proletária numa disputa pela posição de
dominante.
03) a guerra de posição é a luta pela consciência da classe operária;
consciência como ingrediente chave no processo de transformação. O
processo de consciência se dá em 3 níveis:
 
a) identificação profissional – “membros de um grupo profissional estão
conscientes de sua unidade e homogeneidade e da necessidade de
organizá-lo”(p.112) Classe em si.
 
b) solidariedade – todos de uma mesma classe social ajudam a defender
os interesses econômicos apenas inerentes a ela. “Neste nível de
consciência, a classe operária exige igualdade político-jurídica com os
grupos dominantes” (p.112).
 
c) transcendência –“o indivíduo se torna consciente de que seus próprios
interesses corporativos transcendem os limites corporativos de uma
classe econômica e se estendem a todos os grupos subordinados, que
compartilham a cultura da subordinação e podem unir-se para formar
uma contra-ideologia que os liberte da posição subordinada” (p.112).  
04) Tradução da tipologia do desenvolvimento ideológico em
ação, isto é, transformar idéia em ação. Dessa forma, Gramsci
via o “partido político como instrumento de elevação de
consciência e de educação junto à classe trabalhadora e de
desenvolvimento das instituições de hegemonia
proletária” (p.112).

Mas, diferentemente de Lenin, Gramsci acreditava na classe


trabalhadora, acreditava que sim, ela era capaz de
desenvolver seus próprios intelectuais, funcionando o partido
político como canalizador da atividade desses intelectuais. 
Gramsci escreve que há 3 elementos essenciais de um partido
político: 
a) a massa; os homens que o compõe. 
b) a coesão; “a união faz a força”.
 c) a articulação.
c) o papel dos intelectuais – intelectual pode ser qualquer pessoa
possuidora de uma capacidade técnica especifica. Portanto, como dito
acima, ele [Gramsci] acreditava nas qualidades intelectuais das massas
e em sua capacidade para criar, elas mesmas, a hegemonia de sua
classe, ao invés de verem isso feito em nome delas por um partido de
vanguarda, de elite ou por uma elite burocrática responsável pelas
teorias e táticas revolucionárias” (p.117). 

Dessa forma, eles tinham um importante papel para o processo de


transformação, já que ”tais intelectuais orgânicos, oriundos da classe
trabalhadora, mantendo seus laços com ela através da criação de
transformações políticas por meio e um partido revolucionário,
forneciam a base para a estratégia política de Gramsci – o
estabelecimento da superioridade moral e cultural do proletariado,
independente de seu poder político direto” (p.117).

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