Secretaria de Estado da Cultura Secretaria Municipal de Turismo e Cultura Bragança Paulista Créditos • Projeto realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo
Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo – PROAC
2009 A gestão cultural e os equipamentos • Há poucos estudos sobre o gerenciamento de instituições e equipamentos culturais.
• As discuções do setor cultural se concentram em aspectos
políticos e ideológicos mais do que em estudos de caso e dados da realidade.
• Faltam trabalhos que analizem experiências bem sucedidas,
expondo seus pontos fortes e obstáculos.
• A gestão cultural – uma profissão nova e difícil – requer
profissional com sensibilidade artística e, ao mesmo tempo, domínio de técnicas de gerenciamento específicas da área cultural.
• Este profissional conta com pouco apoio de textos
publicados. A biblioteca e a cidade • Os dirigentes de órgãos públicos de cultura, os responsáveis por ONGs e os profissionais de cultura têm que responder questões da biblioteca e da leitura:
• Por que a leitura não entusiasma as pessoas?
• Por que tão poucas pessoas conhecem a biblioteca da cidade? • Por que as bibliotecas são relegadas a um papel marginal entre os equipamentos públicos? • O que fazer para dar mais vida a este equipamento? • Como transformar-lá em um lugar atraente? Bibliotecas vão desaparecer? • Em plena sociedade da informação, não é raro que bibliotecas sejam fechadas por falta de freqüentadores.
• Será que as bibliotecas estão condenadas ao desaparecimento?
Será que os livros estão destinados ao esquecimento?
• Analizar e decidir sobre o papel da Biblioteca na cidade – o papel
que ela tem hoje e o papel que ela poderia ter – encobre muitas facetas que devem ser consideradas. Bibliotecas e informatização
• Muita gente acha que num mundo informatizado e
globalizado, a biblioteca tem que ser um ambiente também informatizado, moderno e dotado de inúmeros equipamentos digitais. Sua revitalização, portanto, deve começar pelo espaço físico e pela aquisição de equipamentos.
• Nossa equipe acha que por mais moderna que seja a
biblioteca, por mais digitalizada, se ela não dispuser de pessoas competentes para trabalhar essa relação com a população, não será bem sucedida. O livro já foi uma inovação tecnológica • Na Idade Média, o livro foi uma grande inovação tecnológica, mas o acesso era restrito a poucos; • Hoje em dia, novos suportes estão surgindo, de onde menos se espera: • O celular é hoje, mais usado para transmitir torpedos do que para falar. • “A ausência de leitura dificilmente poderá ser compensada com o desenvolvimento tecnológico, porque nosso convívio pessoal ou profissional jamais terá soluções eminentemente técnicas”. (Suzana Vargas) • Pouco importa o suporte, a leitura promove a grande Alquimia – transformar verbas do orçamento em neurônios! Clique para assistir ao vídeo : Suporte Técnico na Idade Média Os bibliotecários
• Os bibliotecários brasileiros ora são retratados como
pessoas acomodadas, cujo exercício profissional se pauta por atitudes e comportamentos parecidos ao da dona de casa: ordem, asseio, vontade de servir as pessoas. • Ora são apresentados como gestores de centrais de informação, que lidam diariamente com sistemas de informação, bases de dados e engenharia do conhecimento. Como um profissional deste pode trabalhar numa situação em que é necessário criar e atrair público para a Biblioteca? • Uma situação em que os atuais frequentadores da biblioteca são estudantes de segundo grau, donas de casa e aposentados – pessoas com tempo livre para frequentar uma biblioteca em dias de semana, no horário das 9 as 17 horas. Depósito de livros ou centro de atividades? • As bibliotecas brasileiras, principalmente as dos bairros e das cidades pequenas, são espaços que servem mais para a guarda e preservação de um conjunto de livros e papeis do que um lugar de atividades de leitura.
• Servem normalmente para a “pesquisa” escolar. A população
adulta se retraiu, também em função do horário de funcionamento, que coincide com o horário comercial.
• Se as bibliotecas querem continuar vivas, precisam
urgentemente atrair e formar público. O que fazer?
• Nosso ponto de partida foi a idéia de que é preciso
conquistar público tanto para a leitura como para a Biblioteca. • O brasileiro lê menos que o europeu e norte-americano, e também lê menos que o chileno, argentino e colombiano • Inicialmente se culpava o analfabetismo. Mas, o analfabetismo diminuiu e as taxas de leitura não subiram tanto assim. • Depois se culpou a televisão e sua ligação com a cultura oral. Mas as pesquisas mostram que quem assiste televisão também lê. Problema cognitivo e social
• Ler não está na moda. É uma atividade pouco valorizada por
vários setores da sociedade que não vêm na leitura uma obrigação do cidadão bem informado. Muitos jovens que lêem têm vergonha de reconhecer que são leitores. • Há uma grande quantidade de leitura que é feita sem que o leitor se dê conta: nome dos ônibus, cardápios de lanchonetes e restaurantes, caixas eletrônicos e, finalmente, a Internet, para a qual o texto é fundamental. • As pesquisas, no entanto, só contabilizam a leitura de livros. • A quantidade de livros lidos é um indicador de desenvolvimento do país. Bibliotecas e variedade
• O indivíduo que circula em uma cidade grande lê cartazes,
anúncios luminosos e outdoors, manuais de equipamentos, blogs, e-mails, faxes, messagens de celular, capas de revistas nas bancas. Essa leitura aumenta ano a ano. • Uma biblioteca que queira se tornar um verdadeiro centro de informações precisa dar acesso a revistas, manuais de equipamentos, Internet, filmes, séries de TV, programas especiais e grandes reportagens, audio-livros, ou seja uma grande variedade de materiais que não se limitam aos livros. Formação de leitores
• Se achamos que a leitura de livros é importante, precisamos formar
leitores para os livros e para a literatura. • Não significa botar todo mundo para ler os clássicos. Como diz Silviano Santiago – “Um mau livro pode ser objeto de uma boa leitura, e um bom livro pode ser objeto de uma leitura medíocre. Apenas os críticos ranhetas insistem que só os clássicos devem ser lidos”. • O acervo da biblioteca tem que ser rico e variado, oferecendo opções para todos os tipos e níveis de leitores, dando acesso aos vários gêneros de textos e de leitura. • Os “bons” leitores não nascem prontos. São formados através de conversas, referências, conhecimentos. O que é letramento? • “Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. • Letramento é diversão é leitura à luz de vela, ou lá fora, à luz do sol. • São notícias sobre o presidente • O tempo, os artistas da tevê e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. • É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na • geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. • É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. • É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. • Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser”. • Este texto de Kate M. Chong se encontra no livro Letramento, um tema em três gêneros, de Magda Soares (Editora Autêntica, 1998). Como e quando se dá a formação dos leitores? • A “formação” de leitores deve começar na infância. • Mas nem todos os leitores se formam na infância. Há jovens e adultos que descobriram os livros mais tardiamente, levados por outras influências, além dos pais ou dos primeiros professores. • Vejam o caso de Zé Moreno, pernambucano, para quem o contato com a leitura se fez através de serões realizados no engenho onde trabalhava, com os pais e tios, com a leitura em voz alta de folhetos de cordel. Mais tarde, Zé Moreno foi trabalhar como taxista, e adquiriu fome de conhecimento, passando a ler jornais, histórias em quadrinhos, romances policiais e até poesia. • Como taxista sempre pôde comentar as leituras que fazia, trocando idéias com passageiros e conseguindo assim melhorar a sua leitura inicial. Os cursos de formação de agentes de leitura • Os dirigentes culturais precisam se preocupar com a formação de “agentes de leitura” – pessoas que vão servir como intermediários entre os possíveis leitores e os livros, sabendo encontrar e indicar para o leitor o livro mais adequado para ele naquele momento. • Os cursos de formação de agentes de leitura estão na ordem do dia porque são considerados um dos maiores instrumentos de democratização da leitura e da cultura. • Os órgãos centrais estão criando e disseminando esses cursos – Ministério da Cultura e Secretarias de Estado. • O programa Mais Cultura exige que os projetos de criação ou de revitalização de bibliotecas incluam cursos de formação de agentes e também um calendário de atividades para as Bibliotecas que querem ser atendidas pelo programa. Papel do mediador
• A função do agente mediador da leitura não é apontar onde
está uma determinada informação, nem ensinar os leitores a consultar uma enciclopédia ou um dicionário. • O agente mediador deve conduzir atividades e indicar livros que possam contribuir para o lazer e o prazer da leitura. Fazer o leitor encontrar caminhos para sua vida afetiva, profissional ou espiritual. • O não-leitor não possui critérios para avaliar um livro. Se por acaso ele pega um livro que não o satifaz, ele não pensa que aquele livro não é adequado para ele naquele momento. • Ele passa a achar que todos os livros são ruins, chatos, ou que ele não se dá bem com os livros. Os agentes mediadores de leitura são importantes para que o indivíduos não abandonem a leitura depois da escola, chegando até a desaprender a ler. A melhoria da qualidade da leitura • O livro “certo” é relativo. Não se deve impor critérios, mas através da melhoria da qualidade da leitura, abrir caminho para a evolução do leitor com autonomia. • Um bom agente de leitura aprende a avaliar os livros tanto pelo seu aspecto material – formato, cores, ilustrações, material em que é impresso, acabamento – como pelo seu conteúdo: conhecer os gêneros literários, os autores, os leitores, seus perfis e os níveis de leitura. • Um aspecto é fundamental: os agentes de leitura devem gostar muito de ler e transmitir seu entusiasmo aos outros Atividades de estímulo à leitura
• Algumas atividades podem atrair leitores potenciais e ajudar
a melhorar a qualidade da leitura: • Leitura em voz alta • Saraus • Leitura e outras linguagens – leitura e cinema, leitura e artes plásticas, leitura e fotografia • Leitura no parque • Leitura e memória • O leitor crítico • As redes sociais Leitura em voz alta • É a forma mais antiga de leitura. Surgiu antes da leitura silenciosa e individual, que apareceu como forma de proteger os leitores dos controles da igreja. • A leitura em voz alta pode tomar vários contornos, um deles é a leitura dramática, onde diferentes leitores encarnam os personagens de uma historia. Outro contorno é o de grupo de amigos, vizinhos e colegas que se reúnem para ler, como uma importante forma de sociabilidade. • O grupo de leitura é um momento para ouvir e para falar. Ele convida ao debate de idéias tão necessário ao exercício da cidadania. • A Roda de leitura é um formato especial para os grupos de leitura. Roda de Leitura A Roda de Leitura pressupõe: • Uma liderança para formar o grupo e fixar os horários dos encontros • Comparecimento regular às reuniões que podem ser semanais, quinzenais ou mensais • Grupos de tamanho médio – 7 a 12 pessoas • Lugar confortável e relativamente isolado • Boa divisão do tempo entre leitura em voz alta e discussão • Leitor-guia para conduzir a reunião • Leitor-guia deve ser também provocador levantando questões curiosas, estimulantes e controversas • Será preciso também boa seleção de textos e divulgação • É importante haver um relator para as conclusões do grupo Saraus • O Sarau é um encontro, geralmente feito em locais de conversa – bares, cervejarias, auditórios – onde são realizadas leituras de poesias ou textos curtos, seguidas de muita conversa e apresentações musicais. • Os temas são os mais variados. O sarau elétrico de Porto Alegre já realizou sarau da televisão, sarau do silêncio, sarau do bye-bye verão, sarau da baixaria e outros temas inusitados e engraçados. • Em alguns lugares, são cobrados ingressos. Em outros lugares a entrada é livre e só se cobra pelas bebidas ou comidas consumidas. Leitura e outras linguagens • Muitas pessoas já disseram que mais importante que ler livros, é aprender a “ler o mundo”. • As ciências e as artes lêem o mundo. Consideramos texto tudo aquilo que é tecido, compreendido, interligado. Assim, deixamos uma concepção restrita de texto e passamos a uma concepção ampla. Texto, portanto, é tudo aquilo que pode ser lido, por possuir em si uma informação. Portanto, com essa maneira de conceituar, consideramos como textos possíveis de serem lidos os sons, as imagens, as palavras, expressões corporais e as realidades sociais. • Portanto, podemos estabelecer conexões entre literatura e música, cinema, dança, artes plásticas, fotografia, historia em quadrinhos. É um trabalho realizado em grupo, com convidados e outros eventos – exposições, sessões de cinema, audição de música. Leitura no Parque • É uma atividade importante de popularização da leitura, porque é feita num espaço tradicional de lazer – praças e parques. • Pode se resumir na criação de um lugar gostoso para a leitura – sombreado, com esteiras, almofadas, pufes, cadeiras – e um acervo disponível – de jornais, revistas, livros curtos etc. • Pode englobar também outras atividades como a “contação” de histórias, a dramatização, jogos e brincadeiras. • Pode ser feita com grupos separados de crianças, jovens e adultos. Leitura e memória • A leitura de cartas antigas, a análise de uma exposição de fotos antigas trazem sinais que emanam uma motivação e que nos fazem acionar a memória, criar laços com a alma, com o coração. • Esse acervo de histórias que fica em nossa memória nos faz refletir sobre o que lemos. Assim atribui-se à memória a condição de herança valiosa, que é renovada a cada dia. É como Helena Kolody diz sabiamente em um de seus poemas: no poema e nas nuvens, cada um descobre o que deseja ver. Abrir um livro, ver fotos antigas, ouvir músicas de outros tempos, é como abrir as muitas malas que contêm as bagagens da vida. É acessar memórias pessoais e coletivas e renová-las. • Fotos de escola, fotos de casamento, cartas de amor – são materiais de construção da identidade coletiva. O leitor - crítico • Passaporte da leitura é um exemplo de atividade de estímulo à formação do leitor independente e crítico. • É um concurso realizado entre os leitores: cada leitor organiza uma caderneta de resumos, registrando os livros lidos juntamente com seus comentários. Os passaportes são classificados por uma comissão de avaliação, com promessa de premiação para todos. O primeiro lugar de cada avaliação ganha livros e um prêmio especial, que pode ser uma excursão a outra cidade e a visita a um equipamento cultural especial – como o Museu da Língua Portuguesa; um jantar romântico em um restaurante da cidade, entradas para um espetáculo etc. • As indicações de cada leitor devem ser divulgadas através de mural ou através de boletins da biblioteca impressos ou via Internet. Redes Sociais • As redes sociais são uma forma atual para incrementar o diálogo, a troca de idéias e de experiências entre os responsáveis por projetos culturais de várias cidades, várias regiões e vários países. • Blogs, site no Orkut, Facebook, ligação com os Pontos de Leitura e outros instrumentos semelhantes, devem fazer parte das atividades de todas as bibliotecas. Resumo das atividades Para ativar a biblioteca local, algumas medidas se fazem necessárias: • Revisão do acervo para torná-lo variado e atraente • Aquisição de alguns equipamentos: DVD, televisão, telão e computadores • Formação de pessoal – corpo de funcionários e agentes de leitura • Criação de um calendário de atividades • Promoção de atividades que façam da biblioteca um centro cultural. Em Bogotá, a diretora do Programa Bibliotecas- Parque disse que a biblioteca tem que ser tão atraente quanto um shopping. Para isso elas promovem: exposições, palestras, concursos, cursos, grupos de leitura, saraus, sessões de cinema, mostras de vídeo, apresentações de leitores, divulgação via Internet etc. P.S. • Não se esqueça de criar um café que funcione junto à Biblioteca. Os cafés se tornaram padrão nas livrarias e devem ser trazidos para as bibliotecas também. Vejam este texto de Thereza C. R.Motta:
• “Há poucas coisas como tomar café numa livraria. Há um pouco de
displicência ao sentar-se a uma pequena mesa, ou numa banqueta, e saborear um café como nenhum outro. Seja o que o tiver trazido até ali – um livro, esperar por um amigo ou apenas estar sozinho – o café parece uma continuação da leitura ainda não iniciada. • Todos os detalhes do ambiente contam: o formato das cadeiras, feitas para acomodar donos de cabeças pensantes ou um bom papo. O desalinho dos freqüentadores nada tem a ver com o que fazem – estão de passagem, não vieram para um encontro – embora possam se deparar com vários amigos, também de passagem, ou não ver ninguém conhecido. Apenas tomam seu café – pingado, descafeinado, carioca – e saem sobraçando um livro, um cartão ou mais um CD ou DVD. Mas o que realmente lhes deu o prazer complementar de estar ali foi o café, além do que vieram fazer – mesmo que fosse só passar o tempo – até seu próximo compromisso”. Equipe Técnica • O Projeto Leitura Animada é uma criação da XYZ – Projetos especiais. Foi aplicado em Bragança Paulista, com o patrocínio do PAC - 2009 e gerou um relatório de atividades e mais este CD. • A XYZ – Projetos especiais – é uma empresa de elaboração, realização e acompanhamento de projetos culturais de diversas áreas, setores e formatos. Seu endereço atual é Rua Bartira, 59 – 21. São Paulo, SP Cep 05009 – 000.
• Em Bragança Paulista o projeto contou com a participação
das professoras Isis Valéria Gomes e Maria Alice Gouveia.
• Os agentes de Leitura: Luiza M. C. Falcão, Valquíria Oliveira
Paula, Márcia Angela Borges, Erich Tristini Loyola.