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COMPETÊNCIAS

PROFISSIONAIS

Questões conceituais e suas


implicações
PARTE I:

Explorando o conceito
de competência
COMPETÊNCIA: um pouco de
história
 Conceito cada vez mais presente na pauta
acadêmica e no mundo do trabalho.
 Duas principais vertentes:
 Vertente norte-americana:
 1973: McClelland: competência como uma característica
subjacente relacionada com um desempenho superior na
realização de uma tarefa
 Algo do indivíduo, diferente de aptidão, habilidade ou
conhecimento. Um estoque pessoal de recursos
 Vertente francesa:
 Anos 70 – questionamento ao conceito de
QUALIFICAÇÃO: como aproximar a educação de um
mundo do trabalho cada vez mais mutável
COMPETÊNCIA: ponto de
partida
 Diferentes níveis: dos indivíduos, das
organizações, dos países
 Conceito polissêmico – múltiplos
significados estão associados
 No senso comum: pessoa qualificada para
realizar alguma coisa

 COMPETÊNCIA – HABILIDADE
COMPETÊNCIA x HABILIDADE
 COMPETÊNCIA
 Conjunto de saberes – fazer, agir, ser – necessários ao longo
do tempo para o exercício de uma profissão.
 Capacidade de uma pessoa para desenvolver atividades de
maneira autônoma, planejando-as, implementando-as e
avaliando-as.
 Capacidade para usar habilidades, conhecimentos, atitudes e
experiências adquiridas para desempenhar bem os papéis
sociais.
 Capacidade para usar habilidades, conhecimentos e atitudes
em tarefas ou combinação de tarefas operacionais.
COMPETÊNCIA x HABILIDADE
 HABILIDADES
 Atributos relacionados a dimensões variadas:
cognitivas, motoras e atitudinais.
 Atributos básicos pra a geração de competências e
capacidades
 Podem ser categorizadas:
 Básicas (ler, escrever, calcular,ouvir, falar)
 Cognitivas (criar, decidir, resolver problema)
 Atitudinais (responsabilidade, integridade)
 Sociais (sociabilidade, trabalhar em grupo)
 Motoras (destrezas manuais)
COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL
 Um ponto de partida:
 Capacidade de utilizar conhecimentos e
habilidades adquiridas para o exercício de
uma situação profissional.
 “a competência profissional é uma
combinação de conhecimentos, de saber-
fazer, de experiências e comportamentos
que se exerce em um contexto preciso. Ela
é constatada quando de sua utilização em
situação profissional a partir da qual é
passível de validação...” (Medef, 1998)
Dimensões da competência
 Informação
Conhecimento  Know what
 Know why

COMPETÊNCIA

Atitudes
Habilidade
 Identidade
 Técnica  Desejo
 Capacidade
 Know how

Fonte: Durand (1998).


Desempenho Competente

Condições Ambientais Poder fazer

Desem-
Capacidades, Saber fazer/ penho
Habilidades, Atitudes Saber ser Compe-
tente

Motivações, Metas,
Querer fazer
Aspirações

Fonte: Abbad e Borges-Andrade, 2003


Explorando essa noção de
competência
 É algo do indivíduo (não do posto de trabalho);
 Central: como enfrenta situações profissionais
 Deixa de considerar as condições atuais de exercício
profissional, particularmente as redes de trabalho que
contribuem para preparar, cuidar, sustentar a atividade
– na competência há uma dimensão coletiva e
contextual.
 As competências apóiam-se em conhecimentos
(corpos de saberes) que possuem uma dinâmica de
renovação.
As idéias de Le Boterf (1995)
Competência numa encruzilhada
PESSOA:
Sua biografia,
socialização

COMPE-
TÊNCIA

EXPERIÊNCIA FORMAÇÃO
PROFISSIONAL EDUCACIONAL

É um saber agir responsável, que é reconhecido pelos


outros, e que envolve:mobilizar, integrar, transferir
conhecimentos, recursos, habilidades em um
contexto profissional determinado.
Competência: tentativa de
definição (Zarifian,2001)
 A competência é o ‘tomar iniciativa’ e ‘o assumir
responsabilidade’ do indivíduo diante de situações
profissionais com as quais se depara.
 Não é algo prescrito. Envolve AUTONOMIA E
AUTOMOBILIZAÇÃO.
 Ela implica em ‘envolvimento’ do indivíduo com o seu trabalho.
 Claras implicações pedagógicas dessa primeira noção
 Formar não pode ser sinônimo de adestramento para
realização de tarefas específicas
 Formação não pode ser reduzida a transmissão de
conhecimentos, informações, conteúdos
Competência: tentativa de
definição (Zarifian,2001)
 A competência é um entendimento prático de situações que
se apóiam em conhecimento adquiridos e os transforma na
medida em que aumenta a diversidade das situações.
 Entendimento não se restringe à dimensão cognitiva.
Há uma dimensão compreensiva – saber mobilizar o
conhecimento necessário para lidar com a situação.
 Entendimento prático: orientado pelo êxito a obter.

 Não significa apenas ‘aplicar conhecimentos’: ação


reflexiva – incerteza e insuficiência – abertura para
contestação e novas aprendizagens.
 Quanto maior a diversidade de situações, mais
intensamente os conhecimentos serão modificados.
Competência: um novo ´salto´
(Zarifian,2001)
 A competência é a faculdade de mobilizar rede
de atores em torno das mesmas situações, é a
faculdade de fazer com que esses atores
compartilhem as implicações de suas ações, é
fazê-los assumir áreas de co-responsabilidade.
 Qualquer situação um pouco mais complexa excede
as competências de um único indivíduo.
 Necessita de auxílios - solidariedade da ação
 Responsabilidade é sempre individual / pessoal. No
entanto, nas redes, exige-se co-responsabilidade.
COMPETÊNCIA (Sveiby,1998)
Cinco elementos mutuamente dependentes

 Conhecimento explícito:
explícito conhecimento dos fatos, adquirido
principalmente pela informação
 Habilidade:
Habilidade ‘saber fazer’, uma proficiência prática, adquirida
principalmente por treinamento e prática.
 Experiência:
Experiência adquirida sobretudo pela reflexão sobre erros e
sucessos passados.
 Julgamento de valor:
valor percepções do que o indivíduo acredita
estar certo – filtros para o processo de saber de cada pessoa.
 Rede Social:
Social relações com outras pessoas em um ambiente e
em uma cultura.
Síntese:
 Competência vem sendo definida considerando contextos
específicos de trabalho em que o profissional se insere
(especialmente, contextos organizacionais)
 Embora indispensável, como educadores ou gestores do
processo educacional, temos que ter outros focos mais
amplos:
 Uma profissão envolve uma diversidade potencial de
contextos e atuações;
 Ela deve ir além de uma preparação para um trabalho
específico – capacitar o indivíduo para ser agente ativo na
construção de sua trajetória de vida (que inclui sua
carreira/profissão).
PARTE II:
um exemplo

MODELO DE COMPETÊNCIAS:
base para definições
curriculares
Organizando um modelo de
competências
Competências
Competências Competências
Habilidades
intermediárias Finais
Básicas

Os eixos:
Instrumentos O eixo das Práticas
Os eixos:
e de procedimentos Profissionais
Gerais para o
Fundamentos
Fenômenos e Psicólogo
Processos em suas Recorte específico
´Habilidades´
interfaces da ênfase escolhida
ESTRUTURA GERAL -
exemplo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

NÚCLEO COMUM
Fund. Epist. e Históricos

Fenômenos e Processos Psicológicos

Fundamentos Teórico Metodológicos

Procedimentos para a invest.cientif. e prát. Prof.

Práticas Profissionais

Ênfase
Interfaces com campos afins
Curricular
Competências finais gerais
 Realizar diagnóstico e avaliação de processos psicológicos de
indivíduos, de grupos e de organizações.
 Realizar orientação, aconselhamento psicológico e psicoterapia
 Elaborar, coordenar e/ou participar da execução e avaliação de planos
de atuação profissional para contextos diferenciados.
 Coordenar e manejar processos grupais, considerando as diferenças
individuais e sócio culturais dos seus membros.
 Atuar inter e multiprofissionalmente, sempre que a compreensão dos
processos e fenômenos envolvidos assim o recomendar.
 Atuar dentro das normas éticas que pautam o exercício profissional da
psicologia.
 Elaborar laudos, pareceres técnicos, comunicações científicas e de
divulgação da psicologia.
Decisões curriculares:
 Algumas são transversais e não podem ser aprisionadas a um
único ´espaço´ curricular:
 Atuar inter e multiprofissionalmente...
 Atuar dentro das normas éticas....

 Outras requerem espaços específicos para o acesso e


reflexão sobre o corpo de conhecimento e de técnicas já
consolidadas no campo (´disciplinas´):
 Realizar diagnóstico e avaliação de processos
psicológicos
 Realizar orientação, aconselhamento psicológico e
psicoterapia
A escolha das ênfases
Escolha pela natureza do
Aprofundam as competências básicas do fenômeno:
psicólogo: Os processos de gestão do
 Elaborar, coordenar e/ou participar da trabalho e nas conseqüências
execução e avaliação de planos de para a saúde de indivíduos e
equipes de trabalho, em
atuação profissional para contextos
diferentes contextos
diferenciados.
organizacionais.
 Realizar diagnóstico e avaliação de
processos psicológicos de indivíduos,
de grupos e de organizações;
Escolha por segmento:
Atuar com crianças e
 Intervir em processos grupais em
adolescentes, em níveis
diferentes contextos.
preventivo ou remediativo, em
 Realizar diagnóstico e avaliação de diferentes contextos em que
processos psicológicos de indivíduos, fenômenos e dificuldades que
de grupos e de organizações. atingem a esses segmentos da
 [.....]
população podem ocorrer. .
Competências da ênfase
ÊNFASE 1: Gestão e Saúde no Trabalho
 Analisar os processos de gestão de pessoas em diferentes tipos de
organização e suas implicações para o desempenho e bem-estar de
indivíduos, grupos e organizações.
 Planejar e executar pesquisas sobre fenômenos psicossociais com a
finalidade de subsidiar a formulação de políticas e outras decisões
organizacionais, a exemplo de levantamentos sobre clima,
comprometimento, motivação, qualidade de vida e satisfação no
trabalho.
 Avaliar programas de mudança e inovação organizacional em termos
dos seus subprodutos psicossociais, de forma a fornecer subsídios
para a sua adequado monitoração e aperfeiçoamento.
 Avaliar e desenvolver habilidades sociais que assegurem interações
satisfatórias no interior dos grupos e equipes de trabalho.
 Diagnosticar necessidades de requalificação do trabalhador,
orientando-o na construção e desenvolvimento de suas carreiras.
 Elaborar, implementar em equipe, acompanhar e avaliar programas
especiais de melhoria das condições de trabalho de forma a prevenir
doenças ocupacionais.
Decisões curriculares (1):
 Todas requerem o desenvolvimento de habilidades e de
competências para ´saber fazer´ - como lidar com problemas em
situações específicas
 OS ESTÁGIOS DEVEM GARANTIR A DIVERSIDADE DE
CONTEXTOS E DE PRÁTICAS
 Todas requerem a mobilização de conhecimentos e de espaços
específicos para reflexão sobre o corpo de conhecimento
sistematizado (´disciplinas´):
 Saúde e Trabalho
 Pesquisa em Contextos organizacionais
 Consultoria e Inovação Organizacional
 Sociologia do Trabalho
 Ergonomia [....]
Competências da ênfase
ÊNFASE 2: Saúde psicossocial de crianças e
adolescentes
 Analisar e diagnosticar contextos de desenvolvimento (famílias e instituições, por
exemplo) em que se inserem as crianças e adolescentes, identificando situações
potenciais de risco ao crescimento e saúde psicológica;
 Realizar diagnóstico e avaliação de processos psicológicos de crianças e
adolescentes, dominando os quadros psicológicos que configuram crianças e jovens
em situação especial, quer nas dimensões cognitiva, afetiva como sócio-
comportamental;
 Avaliar e promover habilidades sociais em crianças e adolescentes, em diferentes
contextos em que eles se inserem, de forma a potencializar interações sociais mais
efetivas e saudáveis.
 Realizar diagnósticos de contextos organizacionais voltados para a atenção à saúde de
crianças e adolescentes e cujas características estruturais e/ou funcionais podem
afetar o bem estar e o desenvolvimento dos mesmos.
 Realizar orientação vocacional e profissional para jovens em momento de escolha da
profissão ou que se encontram excluídos do trabalho.
 Realizar psicoterapia com crianças, utilizando recursos psicoterápicos apropriados a
esse segmento etário e ao tipo de dificuldades de comportamento que apresentam.
Decisões curriculares (2):
 Todas requerem o desenvolvimento de habilidades e de
competências para ´saber fazer´ - como lidar com problemas em
situações específicas
 OS ESTÁGIOS DEVEM GARANTIR A DIVERSIDADE DE
CONTEXTOS E DE PRÁTICAS
 Todas requerem a mobilização de conhecimentos e de espaços
específicos para reflexão sobre o corpo de conhecimento
sistematizado (´disciplinas´):
 Psicologia da Família
 Orientação Vocacional e Profissional
 Distúrbios Psicológicos em Crianças e Adolescentes
 Crianças e Adolescentes em Contextos Institucionais
 Abordagem Terapêutica com Crianças [....]
Competências intermediárias
Instrumentos, procedimentos, Bases conceituais: processos,
técnicas fenômenos, interfaces
 Avaliar medidas em psicologia  Diagnosticar processos psicológicos
segundo os parâmetros de validade, e psicossociais nas dimensões de
fidedignidade e precisão ajustamento/desajustamento,
 Selecionar e aplicar diferentes normalidade/anormalidade e saúde/
procedimentos de coleta de dados em doença, apoiado em uma visão crítica
psicologia: observação, entrevista, de tais conceitos.
questionários, grupos focais, testes,  Compreender como os processos
dinâmica de grupo, etc. individuais influenciam e são
 Avaliar procedimentos de influenciados pelas interações
investigação científica à luz das sociais no âmbito das as relações
considerações éticas aplicáveis à interpessoais, grupais,
pesquisa com animais e seres organizacionais e societais.
humanos, adequando-os aos padrões  Analisar as interfaces entre a
morais e legais vigentes psicologia e as ciências biológicas e
 Utilizar procedimentos de análise de sociais na ótica das diferentes
dados quantitativos e qualitativos em matrizes do pensamento psicológico.
Psicologia.  Analisar a realidade social e cultural
 Elaborar e testar protótipos de brasileira identificando elementos
algumas medidas selecionadas em úteis para a compreensão de
psicologia fenômenos psicológicos e
psicossociais.
Decisões curriculares (3):
 Algumas requerem o desenvolvimento de habilidades e de competências
para ´saber fazer´ - como lidar com problemas em situações específicas
 O ESTÁGIO BÁSICO DEVE GARANTIR A INTEGRAÇÃO
 DEMANDAM ATIVIDADES PRÁTICAS (contextos controlados e
contextos naturais)

 Todas requerem a mobilização de conhecimentos e de


espaços específicos para reflexão sobre o corpo de
conhecimento sistematizado (´disciplinas´):
 Indivíduo, Cultura e Sociedade
 Psicologia do Desenvolvimento
 Processos psicológicos básicos
 Bases biológicas do comportamento (I, II....)
 Medidas e Avaliação em Psicologia
 Pesquisa em Psicologia (I, II, III....)
 Observação do comportamento
 Entrevista psicológica
Competências básicas

Habilidades
Identificar os pressupostos
epistemológicos e concepção de
 Espaços disciplinares
ciência subjacentes aos diferentes específicos:
sistemas em Psicologia.  Preparação para o
 Dominar as regras do pensamento trabalho acadêmico
lógico para analisar as afirmações  Bases epistemológicas
e conhecimentos que integram o
campo da psicologia. da Psicologia
 Levantar informação bibliográfica  Requerem contextos novos
em indexadores, periódicos, livros,
manuais técnicos e outras fontes e diversificados para o
especializadas através de meios desenvolvimento:
convencionais e eletrônicos
 Oficinas
 Ler e interpretar comunicações
científicas e relatórios na área da  Grupos de trabalho
Psicologia;  Visitas constantes a
 Manejar as informações coletadas: biblioteca
ordenar, resumir, comentar,
 Internete
sintetizar, comparar, agrupar,
reagrupar, analisar, deduzir,  Comunidades virtuais de
concluir, criticar. aprendizagem
Uma dimensão ´esquecida´
 Competências pessoais (do CBO):
1. Trabalhar em equipe
2. Manter imparcialidade e neutralidade
3. Demonstrar bom senso
4. Respeitar os limites de atuação
5. Ouvir ativamente (saber ouvir)
6. Manter-se atualizado
7. Contornar situações adversas
8. Respeitar valores e crenças dos clientes
9. Demonstrar capacidade de observação
10. Demonstrar habilidade de questionar
11. Demonstrar autonomia de pensamento
12. Demonstrar espírito crítico
13. Respeitar os limites do cliente
14. Tomar decisões em situações de pressão
PARTE IV:

CONCLUSÕES
O NOVO CURRÍCULO: DESAFIOS

 Construir um bom ‘modelo de competência’:


 Detalhado – Rico – Atual
 Que o modelo guie todas as decisões
curriculares
 Conceber as ênfases curriculares, definindo-as
 A partir de competências pertinentes
 Considerando a realidade regional e local
 Considerando o projeto institucional
 Definir de forma coerente a articulação entre a
formação básica e as ênfases escolhidas
O NOVO CURRÍCULO: DESAFIOS

 Pensar os contextos e experiências de aprendizagem


significativos para o desenvolvimento das competências
 Romper o modelo de ‘exclusivamente em sala de aula’ –
pensar em novos espaços de aprendizagem
 Romper o modelo ´taylorista´de divisão do trabalho
acadêmico
 Explorar a flexibilidade que a legislação assegura
 Articular as definições das condições específicas para a
formação ao modelo de profissional
 Caracterizar a importância de cada condição (laboratórios,
serviço etc.) para o desenvolvimento de habilidades e
competências

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