A importância da dúvida Separando o verdadeiro do falso Os níveis de aplicação da dúvida: o primeiro nível O segundo nível de aplicação da dúvida O terceiro nível de aplicação da dúvida A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável Teorias explicativas do conhecimento: a resposta do Fundacionalismo Racionalista de Descartes e do Fundacionalismo Empirista de Hume Ao estudarmos DESCARTES e HUME ( dois filósofos fundacionalistas) seremos orientados por quatro questões fundamentais: 1. O conhecimento é possível? 2. A razão dá-nos conhecimentos acerca da realidade, independentemente da experiência? 3. Qual a extensão do nosso conhecimento? Até onde pode ir o nosso conhecimento? Podemos conhecer a realidade tal como é em si mesma? 4.Como é justificado o conhecimento? Descartes : O projeto de fundamentação rigorosa do saber
Descartes, filósofo francês nascido a 31 de Março de
1596 na cidade francesa de La Haye, pretende efetuar uma reforma profunda no conhecimento humano.
A atitude de Descartes perante o saber do seu tempo
pode caracterizar-se segundo dois vectores:
1. O conjunto dos conhecimentos, que constituem o sistema do
saber ou o edifício científico tradicional, está assente em bases frágeis.
2. Esse edifício científico é constituído por conhecimentos que
não estão na sua devida ordem. Descartes : A importância da dúvida Trata-se de começar tudo de novo, do princípio. Esse princípio tem de ser um conhecimento que resista a todas a tentativas de o pôr em causa. Se o conseguirmos encontrar, teremos o alicerce ou a base que será o fundamento do sistema do saber que pretendemos firme, seguro e bem organizado.
Esse princípio deve possuir, em suma, as seguintes características:
● Deve ser de tal modo evidente que o pensamento não possa
dele duvidar. ● Dele dependerá o conhecimento do resto, de modo que nada pode ser conhecido sem, mas não reciprocamente. Descartes A importância da dúvida O que fazer então? Avaliar a firmeza ou a solidez das bases em que assentam os conhecimentos que me foram transmitidos. Essas bases são: 1. A crença de que a experiência é a fonte dos nossos conhecimentos, isto é, de que o conhecimento começa com a experiência sendo os dignos de confiança. 2. A crença de que existe um mundo físico que, por isso mesmo, constitui objecto de conhecimento. 3. A crença de que o nosso entendimento não se engana ou não pode estar enganando quando descobre conhecimentos verdadeiros Descartes A importância da dúvida Como avaliar a solidez destas bases ou destes alicerces? Vamos submetê-los a um exame impiedoso, ou seja, vamos tentar encontrar razões para duvidar da sua verdade, utilizando este critério duplo:
1. Considerar como absolutamente falso o que for
minimamente duvidoso; 2. Considerar como sempre nos enganando aquilo que alguma vez nos enganar. Descartes - Separando o verdadeiro do falso Descartes sempre se preocupou em dirigir bem o seu espírito na procura da verdade.
Para isso, inventou um método constituído por quatro
regras simples das quais se destaca a primeira.
Esta ordena que se se considere como falso o que não for
absolutamente verdadeiro ou evidente (claro e distinto). O primeiro nível de aplicação da dúvida
Apliquemos então o princípio hiperbólico que orienta a
aplicação da dúvida:
- se devemos considerar como sempre nos enganando o
que nos engana algumas vezes, então os sentidos não merecem qualquer confiança.
Os sentidos não são fonte segura de conhecimento
O segundo nível de aplicação da dúvida Neste nível de aplicação da dúvida, Descartes questiona a existência de uma realidade física independente do nosso pensamento. Será indubitável a nossa crença imediata na existência de realidades físicas ou sensíveis?
Há acontecimentos que, vividos durante o sonho, são vividos
com tanta intensidade como quando estamos acordados. Se assim é, não havendo uma maneira clara de diferenciar o sonho da realidade, pode surgir a suspeita de que aquilo que consideramos real não passe de um sonho.
Há razão para acreditar que toda e qualquer
realidade física é uma ilusão O terceiro nível de aplicação da dúvida Neste nível, Descartes vai pôr em causa aquilo que até então considera o modelo do saber verdadeiro: o conhecimento matemático.
O argumento que vai abalar a confiança depositada nas
noções e demonstrações matemáticas baseia-se numa hipótese ou numa suposição: a de que Deus, que supostamente me criou, criando ao mesmo tempo o meu entendimento, pode tê-lo criado de forma radicalmente pervertida, tomando por verdadeiro o que é falso e por falso o que é verdadeiro.
Há razão para acreditar que o nosso entendimento
confunde o verdadeiro com o falso A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável Podemos agora ver qual o resultado da aplicação da dúvida. Ela pôs em causa toda a dimensão dos objectos, quer sensíveis quer inteligíveis.
Nenhum objecto resistiu ao exame impiedoso da dúvida.
Neste momento, poderíamos julgar que reina o cepticismo: tudo é falso, nada é verdadeiro, ou seja, nada resiste à dúvida.
Contundo, essa conclusão é precipitada porque, quando
a dúvida atinge o seu ponto máximo, uma verdade indubitável vai impor-se. A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável Vejamos:
i) Duvidar é um acto que tem de ser exercido por alguém.
ii) Para duvidar, seja do que for e mesmo que seja de
tudo, é necessário que exista o sujeito que dúvida
iii) A dúvida é um acto do pensamento que só é possível se
existir um sujeito que a realiza.
Logo, a existência do sujeito que duvida é uma
verdade indubitável. A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável Assim, a célebre afirmação «Penso, logo existo» pode ser traduzida, neste momento, nos seguintes termos:
● Eu duvido de tudo, mas não posso duvidar da minha
existência como sujeito que, neste momento, duvida de tudo.
Duvido, logo, existo
A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável Vejamos algumas características desta primeira verdade:
1. Será o alicerce de todo o conjunto de conhecimentos
que a partir dela descobriremos. Será o primeiro princípio do sistema do saber.
2. É uma verdade puramente racional.
3. É uma verdade descoberta por intuição.
4. O «cogito» vai funcionar como um modelo de verdade:
serão verdadeiros todos os conhecimentos que forem tão claros e distintos como este primeiro conhecimento. A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável 5. Ao mesmo tempo que revela a existência de quem de tudo duvida menos da sua existência, a primeira verdade tem implícita outra: a essência do sujeito que duvida é ser uma substância meramente pensante.
6. Ao mesmo tempo que descubro a minha existência
como sujeito pensante, descubro que a alma é distinta do corpo.
7. O Cogito corresponde ao “grau zero” do conhecimento
no que respeita aos objectos físicos e inteligíveis.
8. A primeira verdade é a afirmação da existência de um
ser que é imperfeito. À descoberta da existência de algo que exista independentemente do sujeito pensante Sei que sou imperfeito porque duvido. Mas qual a condição necessária para considerar que duvidar é uma imperfeição? É a de que eu saiba em que consiste a perfeição. Só comparando as qualidades que eu possuo com a perfeição é que posso dizer que eu, que duvido e não conheço tudo, sou imperfeito. A ideia de um ser perfeito existe no meu pensamento. Corresponde à ideia de um ser que possui todas as perfeições em grau infinito.
Mas, se esta ideia existe, será que existe um ser perfeito?
À descoberta da existência de algo que exista independentemente do sujeito pensante • Se Descartes conseguir estabelecer a existência deste ser perfeito, terá alcançado uma nova verdade que se irá revelar de importância decisiva.
• Trata-se de saber como, a partir da ideia de um ser perfeito, vai o
sujeito pensante estabelecer a existência real de um ser perfeito (Deus).
Como só o que é perfeito pode ser a causa da ideia de perfeito,