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ΓΟΡΓΙΑΣ

(Η ΠΕΡΙ ΡΗΤΟΡΙΚΗΣ)
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO (UNICAP)
CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS (CTCH)
LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA
FILOSOFIA ANTIGA I
PROFESSOR: KARL-HEINZ EFKEN
ACADÊMICOS: CÍNTHIA E JOSÉ DE SÁ
DATA: 14/05/2019
Contextualização
 O diálogo, caso tenha correspondências na realidade, muito possivelmente tenha
ocorrido em 405 a.C., ou seja, seis anos antes da condenação de Sócrates à pena
capital pelo governo democrático de Atenas (399 a.C.).
 Contém páginas imprescindíveis para a ética platônica (472d ss; 506c ss) e o
primeiro grande mito escatológico sobre o destino das almas justas e injustas
depois da morte.
 Na subdivisão das obras de Platão em três períodos (Juvenil e socrático, maturidade e
velhice), Górgias pode ser encontrado em uma transição entre os períodos juvenil e
da maturidade.
 Não se sabe exatamente onde ocorrera a conversação, entretanto, é provável que
tenha sido em um lugar público, talvez em um ginásio ateniense.
O Diálogo Socrático
 Platão procurou reproduzir o espírito do diálogo de Sócrates, imitando as suas peculiaridade
de tal modo a fazer nascer o diálogo socrático como gênero literário. Ele pode, então, ser
considerado o autor e o maior expoente nesse gênero, pois é nele que são reconhecidos os
mais amplos e elaborados aspectos do filosofar socrático. É certo que as escolas socráticas
menores também desenvolveram essa forma de escrita, contudo, acabaram por recortar alguns
aspectos específicos e marginalizar outros, a tal ponto de deixarem a doutrina socrática
irreconhecível.
 Para Platão, o escrito filosófico por excelência era o diálogo, em que Sócrates, na maioria das
vezes, era o protagonista (máscara de Platão) que desenvolvia uma conversação com um ou
mais interlocutores; ao lado destes, igualmente importante será a função do leitor, ao qual,
muitas vezes, deixar-se-á a tarefa de tirar maieuticamente a solução de muitos problemas
discutidos.
O Sócrates dos diálogos platônicos de “pessoa histórica” passa a personagem da ação
dialógica. Por conseguinte, o Sócrates do diálogo, na verdade, é Platão em um de
seus períodos de escrita e, por isso, pode-se perceber alguns contrastes entre obras de
períodos distintos, muito embora seja cada obra um todo coerente.
O mito (“μυθος”) em Platão
 Os sofistas fizeram um uso funcional do mito, mas Sócrates condenou esse uso e exigiu
um procedimento rigorosamente dialético. Platão, em um primeiro momento, comungou
dessa posição socrática, contudo, em um segundo momento ( a partir do Górgias),
reavaliou o expediente mitológico e, sucessivamente, passou a usá-lo em seus diálogos.
 Em Platão, o mito é expressão de fé e crença e não de fantasia.
 Em muitos diálogos, do Górgias em diante, a filosofia de Platão, em determinados
temas, é uma forma de fé racionalizada: o mito busca esclarecimento no “logos”, e
este busca naquele um complemento.
 Quando a razão chega aos limites extremos das suas possibilidades, Platão confia à
força do mito a tarefa de superar intuitivamente esses limites, elevando o espírito a
uma visão, ou pelo menos a uma tensão que é, pode-se dizer, “metarracional”.
Personagens do Diálogo

 Cálicles;
 Sócrates;
 Querefonte;
 Górgias;
 Pólo.
Como tudo começou...
 O diálogo tem início com Cálicles, Sócrates e Querefonte chegando atrasados a uma festa na qual
Górgias acabara de discursar. Sócrates se mostra interessado em principiar uma discussão com o
eminente orador acerca da natureza de sua arte e se ela pode ser ensinada.
 Górgias gabava-se de ser capaz de responder a qualquer pergunta que lhe fizessem.
Querefonte, pertencente ao círculo de Sócrates, dirige-se a Górgias, mas é interrompido por Pólo,
sofista do seu círculo, afirmando que Górgias estaria cansado pelo longo discurso proferido.
 Querefonte faz a mesma pergunta a Pólo, e este responde que Górgias é mestre na mais nobre de
todas as artes.
 Sócrates, nesse momento, intervém ao afirmar que Pólo fez um elogio à arte e não esclareceu a sua
natureza.
 Górgias, então, afirma que a sua arte é a retórica (ΡΗΤΟΡΙΚΗ) e que é capaz de ensiná-la aos
outros.
Objetivo norteador do diálogo

 Definir a retórica e, logo mais, refletir sobre a diferença entre o uso filosófico e o retórico da palavra,
com suas implicações morais e políticas.
 Por meio de perguntas e respostas, Sócrates constrói, gradativamente, a definição de retórica: uma das
artes que cumprem sua função e exercem seu efeito inteiramente através do discurso.
 As interrogativas socráticas partem para o fim a que visa a retórica: arte produtora de persuasão
(para Górgias, o maior dos interesses humanos), toda a sua função e essência consiste nisso.
 Sendo Questionado, Górgias afirma que a persuasão a qual se refere é daquele tipo encontrado nos
tribunais e em quaisquer reuniões públicas e sua ocupação é com o que é justo (ΔΙΚΑΙΟΣ) e injusto
(ΑΔΙΚΑΙΟΣ).
Aprendizado e Crença
 Acerca disso, Sócrates questiona se aprendizado e crença são idênticos. Górgias responde que são
diferentes e que a retórica visa à persuasão para a crença sem conhecimento. Contudo, a
responsabilidade no uso dessa arte deve ser totalmente atribuída ao discípulo, não ao mestre, nem à
própria arte, porque ela deve ser usada com justiça.
 Sócrates considera incoerentes as últimas observações de Górgias quando comparadas às primeiras.
Com o entusiasmo e as manifestações positivas dos ouvintes, eles continuam o diálogo.
 Sócrates, interpelado por Pólo, responde que, segundo sua concepção, a retórica não é nenhuma arte,
mas uma certa habilidade bem experimentada, a qual visa produzir satisfação e prazer por meio
da adulação e impostura. Considera a retórica uma cópia vil de uma ramificação da política. Esta
visa à justiça, enquanto aquela ao que é mais prazeroso.
 Assim como a culinária atua no corpo, a retórica atua na alma. Com essa analogia, afirma que essa
habilidade não se importa com o que é o melhor, mas seduz a alma para o que é mais prazeroso no
momento, apresentando-o como bom.
Por suas palavras múltiplas e capciosas,
o orador consegue parecer, diante de um
público de ignorantes na matéria proferida,
mais sábio do que os próprios entendidos
em tal assunto.

Para persuadir, basta dizer aos ouvintes,


no momento e modo oportunos, o que lhes
agrada.
Uma “prova” apresentada por Górgias (456 a – 456
c)
 Sócrates: É precisamente isso que me surpreende, Górgias, e que levou a indagar-te todo
esse tempo o que, afinal, pode ser o poder da retórica. De fato, do modo como a vejo, sua
grandeza a mim se afigura como algo sobrenatural.
 Górgias: Ah, sim, se soubesses tudo a respeito, Sócrates... Como ela compreende em si
mesma de uma vez todos os poderes. E apresentarei a ti uma impressionante prova disso. Em
inúmeras ocasiões, acompanhando meu irmão ou outros médicos, visitava algum de seus
pacientes que se recusava quer a ingerir um medicamento, quer a submeter-se à cirurgia ou a
cauterização do médico. Esgotadas as tentativas por parte do médico de convencer o
paciente, era eu quem lograva êxito lançando mão de uma única arte entre todas: a retórica.
Continuação...

E sustento igualmente que se um orador e um médico adentrassem qualquer cidade que


escolhesses e nela fossem obrigados a disputar num discurso perante uma assembleia ou em
alguma outra reunião a designação de médico, o médico se apresentaria de maneira
inexpressiva, enquanto o mestre do discurso, se fosse seu desejo, seria o designado. E se
tivesse que competir com um membro de qualquer outra profissão, o orador persuadiria os
ouvintes a designá-lo de preferência a qualquer outro indivíduo presente; com efeito, não
existe um único tema sobre o qual o orador não pudesse disputar, dirigindo-se a uma
multidão, mais persuasivamente do que um integrante de qualquer outra profissão, tal a
grandeza e a estranheza do poder dessa arte.
A Retórica e a Antiguidade Clássica

 Na Antiguidade Clássica, a Retórica tinha uma enorme importância: era força civil e política de
primeira ordem.
 No diálogo em questão, afirma Platão que a Retórica (arte dos políticos atenienses e dos seus
mestres) é mera bajulação, lisonja, adulação e falsificação do verdadeiro. Pretende persuadir e
convencer a todos a respeito de tudo sem qualquer espécie de conhecimento: ela cria crenças vãs e
persuasão ilusória. A retórica deve ser substituída pela “verdadeira política”, que coincide com a
filosofia.
 Em um outro diálogo, Fedro, Platão chega a reconhecer a arte dos discursos, ou seja, a retórica
pode existir no Estado perfeito desde que se submeta ao verdadeiro e à filosofia.
Como Pólo considera que a retórica deve tornar alguém
todo-poderoso na cidade a fim de poder fazer o que deseja,
Sócrates contra-argumenta: “é possível a uma pessoa fazer o
que julga conveniente e, no entanto, não ter grande poder
nem fazer o que deseja” (468e).

Péricles foi um célebre e influente estadista, orador e


estratego da Grécia Antiga, um dos principais líderes
democráticos de Atenas e a maior personalidade
política do século V a.C. Viveu durante a Era de Ouro
de Atenas.
O maior mal: cometer ou sofrer uma
injustiça?
 Sócrates, dando sequência ao seu pensamento, também afirma que “agir
injustamente é o maior de todos os males” (469b). Imediatamente, Pólo o contraria,
pois sofrer uma injustiça seria um mal ainda maior. Então, Sócrates defende um
paradoxo: desejável mesmo é nem cometer, nem sofrer uma injustiça, mas, entre
as duas, é preferível sofrê-la a cometê-la.
 Para o filósofo, a educação e a justiça em um indivíduo indicam se ele é feliz ou não.
Assim, aquele que é nobre e bom só pode ser feliz; do contrário, não o será.
 Afirma Sócrates: “O agente da injustiça ou o injusto é, de qualquer modo, infeliz.
[...] Aqueles que cumprem sua pena o são menos. [...] Afinal, a verdade jamais é
refutada” (472e; 473b).
 Pelo método dialético, Sócrates confuta as posições de Pólo e, com a maiêutica, leva-
o a dar conta de si mesmo, conceber e dar à luz ao que consideram como verdade: a
injustiça, estado vicioso da alma, é o segundo mal maior, pois o primeiro é a injustiça
unida ao não pagamento da justa pena, porque esta é o que livra desse mal.
 Após, intervém Cálicles acusando Sócrates de demagogia, ou seja, dirigir-se ao seus
interlocutores com a intenção de enganá-los e manipulá-los. Um exemplo disso são
Pólo e Górgias que caíram nas armadilhas de Sócrates. Em seguida, sustenta que a
verdadeira justiça é a lei do mais forte, tal como prevalece na natureza. Assim, o que é
justo é a desigualdade, a dominação do mais do mais forte sobre o mais fraco, e as
convenções (ΝΟΜΟΙ) são contra a natureza, sendo criadas pelos mais fracos e
numerosos para impedir os mais fortes de dominar.
Filosofia e Sofística
 Cálicles também faz uma afirmação que deixa clara a diferença, posta por
ele e tantos outros (filósofos e sofistas), entre a filosofia e a sofística:

Se o indivíduo ocupar-se da filosofia de maneira moderada em sua juventude, não há dúvida


de que se revelará encantadora; contudo, se continuar despendendo o seu tempo com ela mais
do que o convém, o destruirá, já que se transforma na ruína da humanidade. [...] E, no entanto,
Sócrates, que sabedoria há “numa arte que encontrou um indivíduo bem dotado e o tornou pior
[?]” [...] (484d; 485b).
 Sócrates pede esclarecimentos acerca de quem Cálicles
considera superior e melhor. Respondendo, ao longo de
perguntas e respostas, afirma que, para ele, superior é o homem
mais conhecedor no que toca os negócios públicos e o modo
correto de administrá-los. Assim, “a justiça consiste [...] que
eles tenham mais do que as outras pessoas, ou seja, os que
governam mais do que os governados” (419d).
 Nesse momento do diálogo, Sócrates inicia o debate acerca da
“εγκρατεια”, ou seja, autodomínio, governo de si próprio. Ele
defende que “todo indivíduo governa a si mesmo” (419d), ou
seja, o homem (a sua essência, alma) deve dominar os apetites e
desejos do corpo.
 Cálicles contra-argumenta, dizendo que justo mesmo é o indivíduo permitir que
seus desejos sejam os mais intensos possíveis e não os refreie. Mais ainda,
virtude e felicidade consistem em “libertinagem, desregramento e licença, na
hipótese de contarem com o suporte da força” (492c).
 Sócrates deixa claro que intentará persuadi-lo de que “as pessoas cuja conduta é
pautada por regras são mais felizes do que as desregradas” (493d). Isto é, o
autodomínio, o aperfeiçoamento da alma mediante a virtude é o que dá ao
homem a “ευδαιμονια” (felicidade).

Dionísio era o deus do vinho e era


também associado às festas e
atividades relacionadas ao prazer
material.

Apolo, deus grego das artes, da música,


da profecia, da verdade, da poesia, da
harmonia, da perfeição e da cura.
 Ao longo do jogo dialógico entre Sócrates e Cálicles, alguns conceitos morais vão sendo
trabalhados. Em meio a isso, Górgias intervém exortando Cálicles a responder a tudo que
lhe for perguntado, visando a uma conclusão. Cálicles, então, faz uma afirmação de
conteúdo esclarecedor quanto ao modo de proceder de Sócrates: “Mantém-se fazendo
perguntas a respeito de pontos triviais, de pouca importância, até refutar o seu
interlocutor” (497b).
 Nessa dinâmica, Sócrates também conduz Cálicles a conceber uma ideia contrária ao que,
anteriormente, ele mesmo defendia: o bom não é idêntico ao prazeroso, nem o mau
idêntico ao doloroso.
 Sócrates também pontua que o debate entre eles abarca uma questão de suma
importância, até mesmo para “um indivíduo de pouca inteligência” (500c): qual é a
melhor forma de viver?
1. Aquela que Cálicles defende, ou seja, a prática da retórica visando à conquista do poder
e, por sua vez, à satisfação de todos os desejos e a dominação do mais fraco;

2. Aquela que Sócrates defende, ou seja, a filosofia, o conhecimento e o cuidado de si que


leva ao autodomínio e, por sua vez, torna o homem verdadeiramente livre e feliz. O
homem quanto menos necessidade possui, torna-se mais semelhante à divindade e livre.
Pois, a razão basta para que o homem seja o artífice de sua própria felicidade ou, na
ausência daquela (a razão), de sua infelicidade.
CÁLICLES SÓCRATES

Filosofia
Retórica


Conhecimento e Cuidado de si

Persuasão dos ouvintes
Virtude


Aperfeiçoamento da Alma
Conquista do Poder Político


Autodomínio

Satisfação de todos os desejos
LIBERDADE


FELICIDADE
FELICIDADE
 O diálogo segue. Cálicles deseja interrompê-lo, mas Sócrates acaba por fazer com que ele
retorne ao círculo do debate. Então, Sócrates pergunta-lhe qual o nome dado ao efeito da
organização ou ordenação do corpo. Responde Cálicles que é a saúde e a força.
 Com isso, Sócrates leva a questão para a alma, ou seja, a ordem produz na alma a “lei”, o
respeito por elas, e isso resulta nos estados de justiça e moderação. Ele defende que “ser
disciplinado é melhor para a alma do que a falta de disciplina” (505b). Segue, então, para
uma rememoração do que até então tinha tratado com Cálicles, mesmo diante de uma dura
resistência:
1. O prazeroso e o bom não são idênticos;
2. O prazeroso é realizado no interesse do bom;
3. O prazeroso é aquilo que, quando presente, nos faz sentir prazer;
4. Bom é aquilo que, quando presente, nos torna bons
5. Somos bons pela presença de alguma virtude em nós;
6. A virtude de cada coisa é determinada por uma ordem, correção ou arte que é o quinhão concedido a
cada uma;
7. Uma alma que é detentora de sua própria ordem é melhor do que uma alma desordenada;
8. A alma ordenada é moderada;
9. A alma ordenada é boa;
10. O indivíduo moderado, sendo justo, corajoso e religioso, constitui o homem perfeitamente bom. Este
homem é feliz, enquanto aquele mau e vicioso (alma desordenada que cede a desejos desregrados) é
infeliz, pois indisciplinado.
Justiça
(“δικαιοσυνη”)
 A Justiça, fundada na razão, é um princípio da ordem e da harmonia, cujo modelo nos fornece igualdade
geométrica, exigindo a cada um que esteja no seu lugar e cumpra a tarefa que lhe é própria a fim de
participar do bem do todo.
Na sua obra magna, “ПОЛΙΤΕΙΑ” (traduzida geralmente por “República”), Platão, por meio do método
dialética socrático, apresenta a justiça como um estado de harmonia instalado entre as faculdades da alma
(concupiscível, irascível e racional), ou entre os cidadãos e as classes (artífices, guardiões e governantes)
que compõem a “πολις”. A justiça, nessa obra, será aquela disposição da alma segundo a qual cada parte da
alma faz aquilo que deve fazer e como deve: “que cada um faça aquilo que lhe compete fazer”, os cidadãos
e as classes dos cidadãos na cidade, e as partes da alma, na alma. Portanto, a justiça só existe fora (na
cidade), em suas manifestações, se está presente dentro, na sua raiz, ou seja, na alma, essência do homem.
 O homem que comete injustiça não a comete voluntária e conscientemente, mas por ignorância, logo, contra
a sua própria vontade. Ou seja, intentando o bem, engana-se, pois pratica o mal por pensar que faz o bem.
Discorrendo sobre as mesmas questões, chega a afirmar:
“para uma pessoa corrupta mais vale não estar viva, pois tem que viver viciosamente [...] talvez
aquele que fosse verdadeiramente homem devesse parar de pensar quanto tempo viverá. [...]
Deveria se pôr a considerar de que forma viverá do melhor modo possível o período da vida que
lhe foi aquinhoado e que lhe resta” (512b; 512e).
 Sócrates também afirma que é vergonhoso cobrar uma remuneração pelo ensino do modo como é
descoberto o meio de ser tão bom quanto possível.
 Pode-se, certamente, inferir que aqueles que se aproximavam de Sócrates buscavam o aperfeiçoamento para
a vida pública. O filósofo, então, ensinava-lhes que o verdadeiro político é o homem perfeito moralmente e
que é capaz de cuidar da alma dos cidadãos.
Narrativa Escatológica
 Ao fim do diálogo, Sócrates procede com uma narrativa que toma com o fim de explicar
a doutrina que sustentou no diálogo. A narrativa, baseada em Homero, aborda o destino
das almas após a morte: para os homens que viveram uma existência justa e religiosa, a
Ilha dos Abençoados, onde vivem em plena felicidade; enquanto que para os que viveram
em injustiça e irreligiosidade, o Tártaro, onde são punidos severamente. Estes últimos,
dependendo do grau da injustiça praticada em vida, podem ser recuperáveis, tornando-se
melhores e libertando-se do Tártaro, ou irrecuperáveis, logo, eternamente lançados em
suplícios atrozes.
 Os juízes, Radamanto e Minos para a Ásia e Aeco para a Europa, filhos de Zeus, são os
que analisarão a alma e o que ela traz da vida passada.
Tártaro: morada das divindades banidas por
Zeus e dos injustos após a morte.
Atrozes suplícios.

Ilhas dos Abençoados: Morada dos deuses e


dos justos após a morte. Plena felicidade.
Aeco, Radamanto e Minos respectivamente.
Todos são filhos de Zeus com uma mortal. Aeco,
sendo o mais justo e mais piedoso; Radamanto, o
mais centrado no comportamento dos julgados. E
Minos, o mais experiente, respeitoso e fiel ao
cargo.

“[...] designei [Zeus] alguns de meus próprios filhos para serem


juízes, dois da Ásia, Minos e Radamanto, e um da Europa, Aeco.
Estes, findas suas vidas, julgarão na campina da encruzilhada,
onde nascem os dois caminhos, um deles conduzindo às ilhas dos
abençoados, o outro ao Tártaro. Aqueles provenientes da Ásia
terão Radamanto como Juiz, enquanto caberá a Aeco julgar os
provenientes da Europa. A Minos concederei o privilégio da
decisão fina, caso os dois fiquem em dúvida. Que o julgamento
dessa jornada da humanidade seja maximamente justo” (524a).
 Esclarecendo, Sócrates sustenta como verdade inabalável: “devemos nos esquivar mais
cuidadosamente de cometer injustiça do que de sofrê-la; que, acima de tudo, uma pessoa
deve estudar não para parecer, mas para ser boa tanto na vida privada quanto na pública”
(527b). Também defende que a retórica (e qualquer outra atividade) deve ser instrumento que
indique somente o que é justo.
 Por fim, convida Cálicles a seguir este caminho que vê como o melhor: “viver e morrer
praticando igualmente a justiça e todas as demais virtudes” (527e), sendo também um dever
lançar o convite a todas as outras pessoas. Do contrário, Cálicles seguirá por uma via sem
valor algum.
 Não se tem a resposta de Cálicles...
 Parece caber ao leitor extrair maieuticamente as conclusões possíveis!
Fim do Diálogo!
Dialética Socrática
IRONIA Sócrates, admitindo não saber,
PROPOSIÇÃO CONFUTAÇÃ
DE UM TEMA
SOCRÁTIC força o interlocutor a expor sua
A opiniões tidas como certezas. O

Sócrates, habilmente, confunde o


APERFEIÇOAMENT “ΕΥΔΑΙΜΟΝΙΑ” interlocutor, colocando em quentão as
O DA ALMA Felicidade suas obscuras certezas.

“ΕΠΙΣΤΗΜΗ” O interlocutor, confuso,


MAIÊUTIC admite que as suas certezas
Autoconhecimento PURIFICAÇÃ
A eram, na verdade, ilusão. O DA ALMA

“ΑΡΕΤΗ”
Virtude
A alma só pode alcançar a verdade se estiver grávida
dela. Sócrates é como uma espécie de obstetra Expulsão de tudo o que
espiritual que ajuda a verdade a vir à luz. afasta a alma dela mesma.
Bibliografia

 Diálogos II: Górgias, Eutidemo, Hípias Maior, Hípias Menor/ Platão; tradução,
textos complementares e notas: Edson Bini. Bauru, SP: EDIPRO, 2007.
 REALE, Giovanni; DÁRIO, Antiseri. Filosofia: Antiguidade e Idade Média, Vol
I. São Paulo: Paulus, 2017.
 PEREIRA, Isidro. Dicionário Grego-Português e Português-Grego. Braga:
Livraria A.I., 8º ed., 1998.
 http://kratosemitologia.blogspot.com/2011/04/gow-3-parte-2-minosradamanto-e-
eaco.html.
 Anotações pessoais.

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